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Trabalho elaborado por Iraci e Luana da Secretaria Municipal de Educação de Ibiúna, para o HTPC Noturno da Rede!
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Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio,pião.
Só que
bola, papagaio,pião
de tanto brincar
se gastam.
As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.
como a água do rio
que é água sempre nova.
como cada dia
que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?
Convite
MISTÉRIOS DO PASSADO
Quando Cabral o descobriu,
será que o Brasil sentiu frio?
Diz a História que os índios comeram o bispo
Sardinha.
Mas como foi que eles conseguiram abrir a latinha?
Qual o mais velho, diga num segundo:
D. Pedro I ou D. Pedro II?
De que cor era mesmo (eu nunca decoro)
o cavalo branco do Marechal Deodoro?
Gato da China
Era uma vez
um gato chinês
que morava em Xangai
sem mãe e sem pai,
que sorria amarelo
para o Rio Amarelo,
com seu olhos puxados,
um pra cada lado.
Era um gato mais preto
que tinha nanquim,
de bigodes compridos
feito mandarim,
que quando espirrava
só fazia "chin!"
Era um gato esquisito:
comia com palitos
e quando tinha fome
miava "ming-au!"
mas lambia o mingau
com sua língua de pau.
Não era um bicho mau
esse gato chinês,
era até legal.
Quer que eu conte
outra vez?
Pescaria
Um homem
que se preocupava demais
com coisas sem importância
acabou ficando com a cabeça cheia de minhocas.
Um amigo lhe deu então a idéia
de usar as minhocas numa pescaria
para se distrair das preocupações.
O homem se distraiu tanto
pescando
que sua cabeça ficou leve
como um balão
e foi subindo pelo ar
até sumir nas nuvens.
Onde será que foi parar?
não sei
nem quero me preocupar com isso.
Vou mais é pescar.
PIÃO
um pião se equilibra
na palma da mão,
no chão, na calçada,
e alado vai rodando
por cima dos telhados,
gira entre as nuvens,
cada vez mais alto,
até que num salto
alcança a lua
e rola
até o seu lado oculto.
Faz a curva o pião
e ruma para saturno,
tropeça nos anéis,
dá três cambalhotas,
se pendura
numa estrela cadente
e, sem graça,
volta para a palma da mão.
A PALAVRA É DE PRATA
E O SILÊNCIO É DE
OURO O silêncio é uma caixa
imensa onde cabem
e ressoam
todas as palavras
e há que pescá-las com
cuidado.
Existem as redondas
e macias,
palavras vaga-lumes,
que iluminam a boca
de amor e doçura,
e outras com espinhos,
essa é melhor deixar
no fundo da caixa do
mundo.
Dentro do silêncio
as palavras iluminadas
nadam
como peixes dourados.
Caixinha Mágica
Fabrico uma caixa mágica para guardar o que não cabe em nenhum lugar: a minha sombra em dias de muito sol, o amarelo que sobra do girassol, um suspiro de beija-flor, invisíveis lágrimas de amor... Fabrico a caixa com vento, palavras e desequilíbrio, e para fechá-la com tudo o que leva dentro, basta uma gota de tempo..O que é que você quer esconder na minha caixa?
A BAILARINA
Caminha na ponta dos pés
a bailarina,
como se o circo fosse feito
de neblina:
Vai bailar a bailarina,
vai voar a bailarina
e é tão fina, tão fina...
vira vento a bailarina,
vira nuvem, vira ilha,
e num último salto
ilumina o palco,
transformando o silêncio
em maravilha.
COMIDA DE SEREIA
O que será que a sereia come
em seu castelo de areia?
Enquanto penteia os cabelos
a panela esquenta na cozinha:
será que a sereia come anêmonas,
ostras, cavalos-marinhos?
Ou delicados peixinhos de olhos
dourados?
Algas marinhas, lulas, sardinhas?
Polvos, mariscos, enguias,
ou será que a sereia come poesia?
A Foca
Quer ver a foca
Ficar feliz?
É pôr uma bola
No seu nariz
Quer ver a foca
Bater palminha?
É dar a ela
Uma sardinha
Quer ver a foca
Comprar uma briga?
É espetar ela
Bem na barriga
Lá vai a foca
Toda arrumada
Dançar no circo
Pra garotada
Lá vai a foca
Subindo a escada
Depois descendo
Desengonçada
Quanto trabalha
A coitadinha
Pra garantir
Sua sardinha
A Porta
Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no
mundo
Mais viva do que uma
porta.
Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de supetão
Pra passar o capitão.
Só não abro pra essa gente
Que diz (a mim bem me importa…)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.
Eu sou muito inteligente!
Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Fecho tudo nesse mundo
Só vivo aberta no céu!
Natal De repente o sol raiou
E o galo cocoricou:
- Cristo nasceu!
O boi, no campo
perdido
Soltou um longo
mugido:
- Aonde? Aonde?
Com seu balido tremido
Ligeiro diz o cordeiro:
- Em Belém! Em Belém!
Eis senão quando, num
zurro
Se ouve a risada do
burro:
- Foi sim que eu estava
lá!
E o papagaio que é gira
Pôs-se a falar: - É
mentira!
Os bichos de pena, em
bando
Reclamaram
protestando.
O pombal todo
arrulhava:
- Cruz credo!
Cruz credo!
Brava
A arara a gritar
começa:
- Mentira! Arara. Ora
essa!
- Cristo nasceu! canta
o galo.
- Aonde? pergunta o
boi.
- Num estábulo! - o
cavalo
Contente rincha onde
foi.
Bale o cordeiro
também:
- Em Belém! Mé! Em
Belém!
E os bichos todos
pegaram
O papagaio caturra
E de raiva lhe
aplicaram
Uma grandíssima surra.
A Chácara do Chico Bolacha
Na chácara do Chico Bolacha,
o que se procura nuca acha.
Quando chove muito,
o Chico brinca de barco,
porque a chácara vira charco.
Quando não chove nada,
Chico trabalha com a enxada
e logo se machuca
e fica de mão inchada.
Por isso, com o Chico bolacha,
o que se procura nunca se acha.
Dizem que a chácara do Chico
Só tem mesmo chuchu
e um cachorrinho coxo
que se chama caxambu.
Outras coisas, ninguém procura
porque não se acha.
Coitado do Chico bolacha !
A Língua de Nhem
Havia uma velhinha
que andava aborrecida
pois dava a sua vida
para falar com alguém.
E estava sempre em
casa
a boa velhinha
resmungando sozinha:
nhem-nhem-nhem-
nhem-nhem-nhem...
O gato que dormia
no canto da cozinha
escutando a velhinha,
principiou também
a miar nessa língua
e se ela resmungava,
o gatinho a
acompanhava:
nhem-nhem-nhem-
nhem-nhem-nhem...
Depois veio o cachorro
da casa da vizinha,
pato, cabra e galinha
de cá, de lá, de além,
e todos aprenderam
a falar noite e dia
naquela melodia
nhem-nhem-nhem-
nhem-nhem-nhem...
De modo que a velhinha
que muito padecia
por não ter companhia
nem falar com
ninguém,
ficou toda contente,
pois mal a boca abria
tudo lhe respondia:
nhem-nhem-nhem-
nhem-nhem-nhem...
A AVÓ DO MENINO
A avó
vive só.
Na casa da avó
o galo liró
faz "cocorocó!"
A avó bate pão-de-ló
E anda um vento-t-o-tó
Na cortina de filó.
A avó
vive só.
Mas se o neto meninó
Mas se o neto Ricardó
Mas se o neto travessó
Vai à casa da avó,
Os dois jogam dominó.
Leilão de Jardim
Quem me compra um jardim
com flores?
borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis
nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
(Este é meu leilão!)
O mosquito escreve
O mosquito pernilongo
trança as pernas, faz um M,
depois, treme, treme, treme,
faz um O bastante oblongo,
faz um S.
O mosquito sobe e desce.
Com artes que ninguém vê,
faz um Q,
faz um U, e faz um I.
Este mosquito
esquisito
cruza as patas, faz um T.
E aí,
se arredonda e faz outro O,
mais bonito.
Oh!
Já não é analfabeto,
esse inseto,
pois sabe escrever seu nome.
Mas depois vai procurar
alguém que possa picar,
pois escrever cansa,
não é, criança?
E ele está com muita fome.
Sonhos da menina
A flor com que a menina sonha
está no sonho?
ou na fronha?
Sonho
risonho:
O vento sozinho
no seu carrinho.
De que tamanho
seria o rebanho?
A vizinha
apanha
a sombrinha
de teia de aranha . . .
Na lua há um ninho
de passarinho.
A lua com que a menina sonha
é o linho do sonho
ou a lua da fronha?
"Canção de nuvem e vento": Medo da nuvem
Medo Medo
Medo da nuvem que vai crescendo
Que vai se abrindo
Que não se sabe
O que vai saindo
Medo da nuvem Nuvem Nuvem
Medo do vento
Medo Medo
Medo do vento que vai ventando
Que vai falando
Que não se sabe
O que vai dizendo
Medo do vento Vento Vento
Medo do gesto
mudo
Medo da fala
Surda
Que vai movendo
Que vai dizendo
Que não se sabe
Que bem se sabe
Que tudo é nuvem que tudo é vento
Nuvem e vento Vento Vento!
Canção da Garoa
Em cima do meu telhado,
Pirulin lulin lulin,
Um anjo, todo molhado,
Soluça no seu flautim.
O relógio vai bater;
As molas rangem sem fim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.
E chove sem saber por quê...
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin...
A gente não Sabia
A gente ainda não sabia que a Terra era redonda.
E pensava-se que nalgum lugar, muito longe,
Deveria haver num velho poste uma tabuleta
qualquer
— uma tabuleta meio torta
E onde se lia, em letras rústicas: FIM DO
MUNDO.
Ah! Depois nos ensinaram que o mundo não tem fim
E não havia remédio senão irmos andando às tontas
Como formigas na casca de uma laranja.
Como era possível, como era possível, meu Deus,
Viver naquela confusão?
Foi por isso que estabelecemos uma porção de fins
de mundo…
A boneca Deixando a bola e a peteca,
Com que inda há pouco brincavam,
Por causa de uma boneca,
Duas meninas brigavam.
Dizia a primeira : "É minha!"
— "É minha!" a outra gritava;
E nenhuma se continha,
Nem a boneca largava.
Quem mais sofria (coitada!)
Era a boneca. Já tinha
Toda a roupa estraçalhada,
E amarrotada a carinha.
Tanto puxavam por ela,
Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela
Que lhe formava o recheio.
E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando a bola e a peteca,
Ambas por causa da briga,
Ficaram sem a boneca...
A rã e o touro
(fábula de Esopo)
Pastava um touro enorme e forte, a beira d'água.
Vendo-o tão grande, a rã, cheia de inveja e magoa,
Disse: "Por que razão hei de ser tão pequena,
Que aos outros animais só faça nojo e pena?
Vamos! Quero ser grande! Incharei
tanto, tanto,
Que, imensa, causarei às outras rãs
espanto!"
Pôs-se a comer e a inchar. E ás rãs
interrogava:
Já vos pareço um touro?" E inchava,
inchava, inchava!
Mas em vão! Tanto inchou que, num
tremendo estouro,
Rebentou e morreu, sem ficar como
o touro.
Essa tola ambição da rã que quer ser forte
Muitos homens conduz ao desespero e à morte.
Gente pobre, invejando a gente que é mais rica,
Quer como ela gastar, e inda mais pobre fica:
— Gasta tudo o que tem, o que não tem consome,
E, por querer ter mais, vem a morrer de fome.
As Formigas Cautelosas e prudentes,
O caminho atravessando,
As formigas diligentes
Vão andando, vão andando
Marcham em filas
cerradas;
Não se separam; espiam
De um lado e de outro,
assustadas,
E das pedras se desviam.
Entre os calhaus vão
abrindo
Caminho estreito e
seguro,
Aqui, ladeiras subindo,
Acolá, galgando um muro.
Esta carrega a migalha;
Outra, com passo
discreto,
Leva um pedaço de palha;
Outra, uma pata de
inseto.
Carrega cada formiga
Aquilo que achou na
estrada;
E nenhuma se fatiga,
Nenhuma para cansada.
Vede! enquanto
negligentes
Estão as cigarras
cantando,
Vão as formigas
prudentes
Trabalhando e
armazenando.
Também quando chega o
frio,
E todo o fruto consome,
A formiga, que no estio
Trabalha, não sofre fome
...
Recorde-vos todo o dia
Das lições da Natureza:
O trabalho e a economia
São as bases da riqueza.
A casa de meu avô. Ah como é doce essa vida Na casa do meu avô!
Vou de ônibus, de carro De barco,
Vou pegar um avião
Vou de ônibus, de carro De barco,
vou de charrete
De lambreta, motoneta Patinete, bicicleta
Plantado pelo seu Júlio Além de ter um cachorro
Na casa do meu avô
Além de jardim florido
Plantado pelo seu Júlio Além de ter um cachorro
Dengoso mas furioso
Das conversas lá no quarto
Do tio Nená que é tantã
Do piano da vovó
Tocando misterioso
De tantos livros bonitos
Da comida da Geralda...
Na casa do meu avô
Ou melhor, na casa ao lado Mora uma certa pessoa
Que se chama Isildinha.
Ah como é boa essa vida
Na casa do meu avô
Bem melhor do que sorvete
Mais gostosa que bombom
Que refresco, chocolate Bolo, bala, caramelo.
Ah como é doce essa vida Na casa do meu avô!
O medo do menino
Que barulho estranho,
vem lá de fora,
vem lá de dentro?!
Que barulho medonho
no forro,
no porão,
na cozinha,
ou na despensa!...
Será fantasma
ou alma penada ?
Será bicho furioso
ou barulhinho de nada ?
E o menino olha
na escura escada
e não vê nada.
Travesseiro
E olha na vidraça
e uma sombra o ameaça.
Quem se esconde ?
Esconde onde?
Se vem alguém passo a
passo
Na rua deserta
O medo aumenta.
Passos de gente de casa
Encolhe o medo.
Se somem vozes e passos
De gente de casa,
No ato, no quarto,
Vem o arrepio
E o menino encolhe,
Fica todo enroladinho.
E se embrulha nas
cobertas,
Enfia a cabeça no
travesseiro
E devagar, devagarinho,
Sem segredo,
Vem o sono
E some o medo
Caixa mágica de surpresa
Um livro
é uma beleza,
é caixa mágica
só de surpresa.
Um livro
parece mudo,
Mas nele a gente
descobre tudo.
Um livro
tem asas
longas e leves
que, de repente,
levam a gente
longe, longe
Um livro
é parque de diversões
cheio de sonhos
coloridos,
cheio de doces
sortidos,
cheio de luzes e
balões.
Um livro é uma
floresta
com folhas e flores
e bichos e cores.
É mesmo uma festa,
um baú de feiticeiro,
um navio pirata do mar,
um foguete perdido no
ar,
É amigo e companheiro.
A casa e o seu Dono
Essa casa é de caco
Quem mora nela é o macaco.
Essa casa tão bonita
Quem mora nela é a cabrita.
Essa casa é de cimento
Quem mora nela é o jumento.
Essa casa é de telha
Quem mora nela é a abelha.
Essa casa é de lata
Quem mora nela é a barata.
Essa casa é elegante
Quem mora nela é o elefante.
E descobri de repente
Que não falei em casa de gente.
As Tias A tia Catarina
Cata a linha
A tia Teresa
Bota a mesa
A tia Ceição
Amassa o pão
A tia Lela
Espia a janela
A tia Cema
Teima que teima
A tia Maria
Dorme de dia
A tia Tininha
Faz rosquinha
A tia Marta
Corta batata
A tia Salima
Fecha a rima
Nas ruas da cidade Lá na rua 21,
O pipoqueiro solta um pum.
Lá na rua 22,
O português diz: pois-pois.
Lá na rua 23,
João namora a bela Inês.
Lá na rua 24,
A Aninha tirou retrato.
Lá na rua 25,
Caiu um barraco de zinco.
Lá na rua 26,
O sorveteiro quer freguês .
Lá na rua 27,
Pedro chama a prima Bete.
Lá na rua 28,
A Verinha vende biscoito.
Lá na rua 29,
A molecada só se move.
Lá na rua 30,
Paro, pois a rima já num pinta.
Viagem
Quem lê vai em frente
quem escreve vai também.
O poeta segue contente
quando dirige esse trem.
Piuíííííí! Piuííííííí!
Toca o apito da estação
bem na hora de partir,
lá vai o trem... Vamos também...
Você entra, sai e brinca
com palavras em movimento.
Pára. À esquerda. À direita.
Poesia a gente inventa.
O peixe que ri
Nado na água
Quase nada
vejo
no nado.
Só a água do rio
rola
enrola a areia
do fundo.
Quase nada
vejo a água
cada pedra
um olho.
A água
na pele nado em nada
do mundo
e rio.
Poesia na varanda
Brotou do chão a poesia
na forma de uma
plantinha
espigada, perfumosa,
se abrindo toda pra mim:
mensageiro da alegria,
era um pé de alecrim
que dourou a minha vida...
na forma de uma gatinha
amarela, tão macia!,
uma bola peludinha
que chegou bem de
mansinho...
Batizei-a de Chiquinha,
fiquei com ela pra mim.
Entrou em mim a poesia
na forma de uma canção
que falava de uma rua
com pedrinhas de
brilhantes
e de um anjo solitário
que vivia por ali
e roubou um coração.
Gritou no mato a poesia
quando caiu a noitinha:
tantos astros em seresta,
pois era dia de festa,
e dentro da boca da noite
cantaram um coro sem
fim...
Brilhou pra mim a poesia
na forma de lua cheia
e de um céu estrelado
despencando no telhado
de zinco do avarandado,
pronto pra ser pisado
por alguém bem
distraído...
Cresceu em mim a poesia
na forma de uma tristeza,
um chorinho derramado
no silêncio da varanda.
Veio vindo, foi chegando
-carregada pelo vento?-
e tomou conta de mim.
Caiu do céu a poesia
na forma de uma
chuvinha,
pingos grossos, cheiro
doce,
que molhou as
redondezas,
encharcou os meus
cabelos,
inundou a minha vida
e levou minha tristeza.
Sorriu pra mim a poesia
na forma de um amigo
-mão estendida, carinho,
e estar juntos, quietinhos
ou ouvindo, ou contando,
ou rindo e barulhando...-
e abraçou minha vida.
Me arrebatou a poesia
trazida pelas palavras
abrigadas entre as
páginas
do livro que alguém lia
e que deixou por ali:
mundo entrando pelos
olhos,
enriqueceu minha vida.
Agora, sempre que quero
saber cadê a poesia,
dou um pulo na varanda,
me debruço - e espero:
quem sabe se de repente
ela volta e, simplesmente,
vem contar por onde
anda...
Quem tem medo de
dizer não?
A gente vive aprendendo
A ser bonzinho, legal,
A dizer que sim pra tudo,
A ser sempre cordial...
A concordar, a ceder,
A não causar confusão,
A ser vaca-de-presépio
Que não sabe dizer não!
Acontece todo dia,
Pois eu mesma não escapo.
De tanto ser boazinha,
Tô sempre engolindo
sapo...
Como coisas que não
gosto,
Faço coisas que não
quero...
Deste jeito, minha gente,
Qualquer dia eu
desespero...
Já comi pamonha e angu,
Comi até dobradinha...
Comi mingau de sagu
Na casa de uma vizinha...
Comi fígado e espinafre,
De medo de dizer não.
Qualquer dia, sem querer,
Vou ter de comer sabão!
Eu não sei me recusar,
Quando me pedem um
favor.
Eu sei que não vou dar
conta,
Mas dizer não é um
horror!
E no fim não faço nada
E perco toda razão.
Fico mal com todo mundo,
Só consigo amolação.
Quando eu estudo a lição
E o companheiro não
estuda,
Na hora da prova pede
Que eu dê a ele uma ajuda
Embora ache desaforo,
Eu não consigo negar...
Meu Deus, como sou
boazinha...
Vivo só para ajudar...
Se alguém me pede que
empreste
O disco do meu agrado,
Sabendo que não
devolvem
Ou que devolvem riscado...
Sou incapaz de negar,
Mas fico muito infeliz...
Qualquer um, se tiver
jeito,
Me leva pelo nariz...
Depois que eu estou na
fila
Pra pagar o
supermercado,
Já estou lá há muito
tempo...
Aparece um engraçado...
Seja jovem, seja velho,
Se mete na minha frente,
Mas eu nunca digo nada...
Embora eu fique doente!
A gente sempre demora
A entender esta questão.
Às vezes custa um bocado
Dizer simplesmente não!
Mas depois que você disse
Você fica aliviada
E o outro que lhe pediu
É que fica atrapalhado...
Mas não vamos esquecer
Que existe o "por outro
lado"...
Tudo tem direito e
avesso,
Que é meio
desencontrado...
Quero saber dizer NÃO.
Acho que é bom para mim.
Mas não quero ser do
contra...
Também quero dizer SIM!
O Galo Nestor
Nestor era o galo
Mais Garboso que havia.
Morava na fazenda
E era ele que, todo dia,
Cantava par acordar
Os bichos para trabalhar...
Subiu na cerca
Todo cheio de si,
E estufou o peito...
Mas, na hora da cantoria,
Cof, cof, cof...
Seu canto não saía.
Veio a coruja,
Que era sua amiga,
Com um chá de romã
Para o Nestor tomar
E a voz soltar.
O Galo, angustiado,
O chá bebeu.
Estufou novamente o
Peito... Bateu as asas,
E Cocoricóóóóóóó!
Ele todo empolgado
Com o resultado
Não parava mais de cantar.
E assim os animais
Foram acordando,
Na hora em que o sol nascia.
Era então um novo dia
Na fazenda do Senhor
Malaquias.
Orestes, o Leão
O Leão Orestes
Achava-se o fortão.
Era o rei da floresta
E ele sempre tinha razão.
Andava todo impotente!
Com seu focinho reluzente
E sua enorme juba,
Que penteava com o pente.
E ficava sempre a balançar,
para trás e para frente.
Seu rugido era estrondoso!
E todo bicho ficava medroso
Quando Orestes chegava,
Por que tinha um medo
horroroso
Do leão poderoso!
Ele sentia uma satisfação
Em medo causar.
Até que um dia
Sua sorte resolveu mudar.
Correndo na mata,
Um espinho entrou na sua pata.
Orestes tentou, tentou e
nada...
O espinho ele não tirava.
Berrou, chorou, gritou
Até que toda bicharada veio
ver
O que passava
E por que o leão chorava.
Foram todos chegando perto,
O enorme leão foi ficando
quieto...
E os bichos, com pena,
Resolveram fazer o certo!
Então vieram o coelho e o rato
Logo atrás a raposa e o pato!
E todos juntos: Um, dois,
três!!!
Arrancaram o espinho de vez.
Que alívio Orestes sentiu
Quando o espinho da pata saiu.
Ficou tão agradecido
Aos seus novos amigos!
E a partir desse dia
O leão Orestes, que era um
chato,
Virou o amigo protetor
De todos os bichos do Mato!