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Poesia é brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio,pião. Só que bola, papagaio,pião de tanto brincar se gastam. As palavras não: quanto mais se brinca com elas mais novas ficam. como a água do rio que é água sempre nova. como cada dia que é sempre um novo dia. Vamos brincar de poesia? Convite

Livro de poesias

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Trabalho elaborado por Iraci e Luana da Secretaria Municipal de Educação de Ibiúna, para o HTPC Noturno da Rede!

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Page 1: Livro de poesias

Poesia

é brincar com palavras

como se brinca

com bola, papagaio,pião.

Só que

bola, papagaio,pião

de tanto brincar

se gastam.

As palavras não:

quanto mais se brinca

com elas

mais novas ficam.

como a água do rio

que é água sempre nova.

como cada dia

que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?

Convite

Page 2: Livro de poesias

MISTÉRIOS DO PASSADO

Quando Cabral o descobriu,

será que o Brasil sentiu frio?

Diz a História que os índios comeram o bispo

Sardinha.

Mas como foi que eles conseguiram abrir a latinha?

Qual o mais velho, diga num segundo:

D. Pedro I ou D. Pedro II?

De que cor era mesmo (eu nunca decoro)

o cavalo branco do Marechal Deodoro?

Page 3: Livro de poesias

Gato da China

Era uma vez

um gato chinês

que morava em Xangai

sem mãe e sem pai,

que sorria amarelo

para o Rio Amarelo,

com seu olhos puxados,

um pra cada lado.

Era um gato mais preto

que tinha nanquim,

de bigodes compridos

feito mandarim,

que quando espirrava

só fazia "chin!"

Era um gato esquisito:

comia com palitos

e quando tinha fome

miava "ming-au!"

mas lambia o mingau

com sua língua de pau.

Não era um bicho mau

esse gato chinês,

era até legal.

Quer que eu conte

outra vez?

Page 4: Livro de poesias

Pescaria

Um homem

que se preocupava demais

com coisas sem importância

acabou ficando com a cabeça cheia de minhocas.

Um amigo lhe deu então a idéia

de usar as minhocas numa pescaria

para se distrair das preocupações.

O homem se distraiu tanto

pescando

que sua cabeça ficou leve

como um balão

e foi subindo pelo ar

até sumir nas nuvens.

Onde será que foi parar?

não sei

nem quero me preocupar com isso.

Vou mais é pescar.

Page 5: Livro de poesias

PIÃO

um pião se equilibra

na palma da mão,

no chão, na calçada,

e alado vai rodando

por cima dos telhados,

gira entre as nuvens,

cada vez mais alto,

até que num salto

alcança a lua

e rola

até o seu lado oculto.

Faz a curva o pião

e ruma para saturno,

tropeça nos anéis,

dá três cambalhotas,

se pendura

numa estrela cadente

e, sem graça,

volta para a palma da mão.

Page 6: Livro de poesias

A PALAVRA É DE PRATA

E O SILÊNCIO É DE

OURO O silêncio é uma caixa

imensa onde cabem

e ressoam

todas as palavras

e há que pescá-las com

cuidado.

Existem as redondas

e macias,

palavras vaga-lumes,

que iluminam a boca

de amor e doçura,

e outras com espinhos,

essa é melhor deixar

no fundo da caixa do

mundo.

Dentro do silêncio

as palavras iluminadas

nadam

como peixes dourados.

Caixinha Mágica

Fabrico uma caixa mágica para guardar o que não cabe em nenhum lugar: a minha sombra em dias de muito sol, o amarelo que sobra do girassol, um suspiro de beija-flor, invisíveis lágrimas de amor... Fabrico a caixa com vento, palavras e desequilíbrio, e para fechá-la com tudo o que leva dentro, basta uma gota de tempo..O que é que você quer esconder na minha caixa?

Page 7: Livro de poesias

A BAILARINA

Caminha na ponta dos pés

a bailarina,

como se o circo fosse feito

de neblina:

Vai bailar a bailarina,

vai voar a bailarina

e é tão fina, tão fina...

vira vento a bailarina,

vira nuvem, vira ilha,

e num último salto

ilumina o palco,

transformando o silêncio

em maravilha.

Page 8: Livro de poesias

COMIDA DE SEREIA

O que será que a sereia come

em seu castelo de areia?

Enquanto penteia os cabelos

a panela esquenta na cozinha:

será que a sereia come anêmonas,

ostras, cavalos-marinhos?

Ou delicados peixinhos de olhos

dourados?

Algas marinhas, lulas, sardinhas?

Polvos, mariscos, enguias,

ou será que a sereia come poesia?

Page 9: Livro de poesias

A Foca

Quer ver a foca

Ficar feliz?

É pôr uma bola

No seu nariz

Quer ver a foca

Bater palminha?

É dar a ela

Uma sardinha

Quer ver a foca

Comprar uma briga?

É espetar ela

Bem na barriga

Lá vai a foca

Toda arrumada

Dançar no circo

Pra garotada

Lá vai a foca

Subindo a escada

Depois descendo

Desengonçada

Quanto trabalha

A coitadinha

Pra garantir

Sua sardinha

Page 10: Livro de poesias

A Porta

Eu sou feita de madeira

Madeira, matéria morta

Mas não há coisa no

mundo

Mais viva do que uma

porta.

Eu abro devagarinho

Pra passar o menininho

Eu abro bem com cuidado

Pra passar o namorado

Eu abro bem prazenteira

Pra passar a cozinheira

Eu abro de supetão

Pra passar o capitão.

Só não abro pra essa gente

Que diz (a mim bem me importa…)

Que se uma pessoa é burra

É burra como uma porta.

Eu sou muito inteligente!

Eu fecho a frente da casa

Fecho a frente do quartel

Fecho tudo nesse mundo

Só vivo aberta no céu!

Page 11: Livro de poesias

Natal De repente o sol raiou

E o galo cocoricou:

- Cristo nasceu!

O boi, no campo

perdido

Soltou um longo

mugido:

- Aonde? Aonde?

Com seu balido tremido

Ligeiro diz o cordeiro:

- Em Belém! Em Belém!

Eis senão quando, num

zurro

Se ouve a risada do

burro:

- Foi sim que eu estava

lá!

E o papagaio que é gira

Pôs-se a falar: - É

mentira!

Os bichos de pena, em

bando

Reclamaram

protestando.

O pombal todo

arrulhava:

- Cruz credo!

Cruz credo!

Brava

A arara a gritar

começa:

- Mentira! Arara. Ora

essa!

- Cristo nasceu! canta

o galo.

- Aonde? pergunta o

boi.

- Num estábulo! - o

cavalo

Contente rincha onde

foi.

Bale o cordeiro

também:

- Em Belém! Mé! Em

Belém!

E os bichos todos

pegaram

O papagaio caturra

E de raiva lhe

aplicaram

Uma grandíssima surra.

Page 12: Livro de poesias

A Chácara do Chico Bolacha

Na chácara do Chico Bolacha,

o que se procura nuca acha.

Quando chove muito,

o Chico brinca de barco,

porque a chácara vira charco.

Quando não chove nada,

Chico trabalha com a enxada

e logo se machuca

e fica de mão inchada.

Por isso, com o Chico bolacha,

o que se procura nunca se acha.

Dizem que a chácara do Chico

Só tem mesmo chuchu

e um cachorrinho coxo

que se chama caxambu.

Outras coisas, ninguém procura

porque não se acha.

Coitado do Chico bolacha !

Page 13: Livro de poesias

A Língua de Nhem

Havia uma velhinha

que andava aborrecida

pois dava a sua vida

para falar com alguém.

E estava sempre em

casa

a boa velhinha

resmungando sozinha:

nhem-nhem-nhem-

nhem-nhem-nhem...

O gato que dormia

no canto da cozinha

escutando a velhinha,

principiou também

a miar nessa língua

e se ela resmungava,

o gatinho a

acompanhava:

nhem-nhem-nhem-

nhem-nhem-nhem...

Depois veio o cachorro

da casa da vizinha,

pato, cabra e galinha

de cá, de lá, de além,

e todos aprenderam

a falar noite e dia

naquela melodia

nhem-nhem-nhem-

nhem-nhem-nhem...

De modo que a velhinha

que muito padecia

por não ter companhia

nem falar com

ninguém,

ficou toda contente,

pois mal a boca abria

tudo lhe respondia:

nhem-nhem-nhem-

nhem-nhem-nhem...

Page 14: Livro de poesias

A AVÓ DO MENINO

A avó

vive só.

Na casa da avó

o galo liró

faz "cocorocó!"

A avó bate pão-de-ló

E anda um vento-t-o-tó

Na cortina de filó.

A avó

vive só.

Mas se o neto meninó

Mas se o neto Ricardó

Mas se o neto travessó

Vai à casa da avó,

Os dois jogam dominó.

Page 15: Livro de poesias

Leilão de Jardim

Quem me compra um jardim

com flores?

borboletas de muitas cores,

lavadeiras e passarinhos,

ovos verdes e azuis

nos ninhos?

Quem me compra este caracol?

Quem me compra um raio de sol?

Um lagarto entre o muro e a hera,

uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?

E este sapo, que é jardineiro?

E a cigarra e a sua canção?

E o grilinho dentro do chão?

(Este é meu leilão!)

Page 16: Livro de poesias

O mosquito escreve

O mosquito pernilongo

trança as pernas, faz um M,

depois, treme, treme, treme,

faz um O bastante oblongo,

faz um S.

O mosquito sobe e desce.

Com artes que ninguém vê,

faz um Q,

faz um U, e faz um I.

Este mosquito

esquisito

cruza as patas, faz um T.

E aí,

se arredonda e faz outro O,

mais bonito.

Oh!

Já não é analfabeto,

esse inseto,

pois sabe escrever seu nome.

Mas depois vai procurar

alguém que possa picar,

pois escrever cansa,

não é, criança?

E ele está com muita fome.

Page 17: Livro de poesias

Sonhos da menina

A flor com que a menina sonha

está no sonho?

ou na fronha?

Sonho

risonho:

O vento sozinho

no seu carrinho.

De que tamanho

seria o rebanho?

A vizinha

apanha

a sombrinha

de teia de aranha . . .

Na lua há um ninho

de passarinho.

A lua com que a menina sonha

é o linho do sonho

ou a lua da fronha?

Page 18: Livro de poesias

"Canção de nuvem e vento": Medo da nuvem

Medo Medo

Medo da nuvem que vai crescendo

Que vai se abrindo

Que não se sabe

O que vai saindo

Medo da nuvem Nuvem Nuvem

Medo do vento

Medo Medo

Medo do vento que vai ventando

Que vai falando

Que não se sabe

O que vai dizendo

Medo do vento Vento Vento

Medo do gesto

mudo

Medo da fala

Surda

Que vai movendo

Que vai dizendo

Que não se sabe

Que bem se sabe

Que tudo é nuvem que tudo é vento

Nuvem e vento Vento Vento!

Page 19: Livro de poesias

Canção da Garoa

Em cima do meu telhado,

Pirulin lulin lulin,

Um anjo, todo molhado,

Soluça no seu flautim.

O relógio vai bater;

As molas rangem sem fim.

O retrato na parede

Fica olhando para mim.

E chove sem saber por quê...

E tudo foi sempre assim!

Parece que vou sofrer:

Pirulin lulin lulin...

Page 20: Livro de poesias

A gente não Sabia

A gente ainda não sabia que a Terra era redonda.

E pensava-se que nalgum lugar, muito longe,

Deveria haver num velho poste uma tabuleta

qualquer

— uma tabuleta meio torta

E onde se lia, em letras rústicas: FIM DO

MUNDO.

Ah! Depois nos ensinaram que o mundo não tem fim

E não havia remédio senão irmos andando às tontas

Como formigas na casca de uma laranja.

Como era possível, como era possível, meu Deus,

Viver naquela confusão?

Foi por isso que estabelecemos uma porção de fins

de mundo…

Page 21: Livro de poesias

A boneca Deixando a bola e a peteca,

Com que inda há pouco brincavam,

Por causa de uma boneca,

Duas meninas brigavam.

Dizia a primeira : "É minha!"

— "É minha!" a outra gritava;

E nenhuma se continha,

Nem a boneca largava.

Quem mais sofria (coitada!)

Era a boneca. Já tinha

Toda a roupa estraçalhada,

E amarrotada a carinha.

Tanto puxavam por ela,

Que a pobre rasgou-se ao meio,

Perdendo a estopa amarela

Que lhe formava o recheio.

E, ao fim de tanta fadiga,

Voltando a bola e a peteca,

Ambas por causa da briga,

Ficaram sem a boneca...

Page 22: Livro de poesias

A rã e o touro

(fábula de Esopo)

Pastava um touro enorme e forte, a beira d'água.

Vendo-o tão grande, a rã, cheia de inveja e magoa,

Disse: "Por que razão hei de ser tão pequena,

Que aos outros animais só faça nojo e pena?

Vamos! Quero ser grande! Incharei

tanto, tanto,

Que, imensa, causarei às outras rãs

espanto!"

Pôs-se a comer e a inchar. E ás rãs

interrogava:

Já vos pareço um touro?" E inchava,

inchava, inchava!

Mas em vão! Tanto inchou que, num

tremendo estouro,

Rebentou e morreu, sem ficar como

o touro.

Essa tola ambição da rã que quer ser forte

Muitos homens conduz ao desespero e à morte.

Gente pobre, invejando a gente que é mais rica,

Quer como ela gastar, e inda mais pobre fica:

— Gasta tudo o que tem, o que não tem consome,

E, por querer ter mais, vem a morrer de fome.

Page 23: Livro de poesias

As Formigas Cautelosas e prudentes,

O caminho atravessando,

As formigas diligentes

Vão andando, vão andando

Marcham em filas

cerradas;

Não se separam; espiam

De um lado e de outro,

assustadas,

E das pedras se desviam.

Entre os calhaus vão

abrindo

Caminho estreito e

seguro,

Aqui, ladeiras subindo,

Acolá, galgando um muro.

Esta carrega a migalha;

Outra, com passo

discreto,

Leva um pedaço de palha;

Outra, uma pata de

inseto.

Carrega cada formiga

Aquilo que achou na

estrada;

E nenhuma se fatiga,

Nenhuma para cansada.

Vede! enquanto

negligentes

Estão as cigarras

cantando,

Vão as formigas

prudentes

Trabalhando e

armazenando.

Também quando chega o

frio,

E todo o fruto consome,

A formiga, que no estio

Trabalha, não sofre fome

...

Recorde-vos todo o dia

Das lições da Natureza:

O trabalho e a economia

São as bases da riqueza.

Page 24: Livro de poesias

A casa de meu avô. Ah como é doce essa vida Na casa do meu avô!

Vou de ônibus, de carro De barco,

Vou pegar um avião

Vou de ônibus, de carro De barco,

vou de charrete

De lambreta, motoneta Patinete, bicicleta

Plantado pelo seu Júlio Além de ter um cachorro

Na casa do meu avô

Além de jardim florido

Plantado pelo seu Júlio Além de ter um cachorro

Dengoso mas furioso

Das conversas lá no quarto

Do tio Nená que é tantã

Do piano da vovó

Tocando misterioso

De tantos livros bonitos

Da comida da Geralda...

Na casa do meu avô

Ou melhor, na casa ao lado Mora uma certa pessoa

Que se chama Isildinha.

Ah como é boa essa vida

Na casa do meu avô

Bem melhor do que sorvete

Mais gostosa que bombom

Que refresco, chocolate Bolo, bala, caramelo.

Ah como é doce essa vida Na casa do meu avô!

Page 25: Livro de poesias

O medo do menino

Que barulho estranho,

vem lá de fora,

vem lá de dentro?!

Que barulho medonho

no forro,

no porão,

na cozinha,

ou na despensa!...

Será fantasma

ou alma penada ?

Será bicho furioso

ou barulhinho de nada ?

E o menino olha

na escura escada

e não vê nada.

Travesseiro

E olha na vidraça

e uma sombra o ameaça.

Quem se esconde ?

Esconde onde?

Se vem alguém passo a

passo

Na rua deserta

O medo aumenta.

Passos de gente de casa

Encolhe o medo.

Se somem vozes e passos

De gente de casa,

No ato, no quarto,

Vem o arrepio

E o menino encolhe,

Fica todo enroladinho.

E se embrulha nas

cobertas,

Enfia a cabeça no

travesseiro

E devagar, devagarinho,

Sem segredo,

Vem o sono

E some o medo

Page 26: Livro de poesias

Caixa mágica de surpresa

Um livro

é uma beleza,

é caixa mágica

só de surpresa.

Um livro

parece mudo,

Mas nele a gente

descobre tudo.

Um livro

tem asas

longas e leves

que, de repente,

levam a gente

longe, longe

Um livro

é parque de diversões

cheio de sonhos

coloridos,

cheio de doces

sortidos,

cheio de luzes e

balões.

Um livro é uma

floresta

com folhas e flores

e bichos e cores.

É mesmo uma festa,

um baú de feiticeiro,

um navio pirata do mar,

um foguete perdido no

ar,

É amigo e companheiro.

Page 27: Livro de poesias

A casa e o seu Dono

Essa casa é de caco

Quem mora nela é o macaco.

Essa casa tão bonita

Quem mora nela é a cabrita.

Essa casa é de cimento

Quem mora nela é o jumento.

Essa casa é de telha

Quem mora nela é a abelha.

Essa casa é de lata

Quem mora nela é a barata.

Essa casa é elegante

Quem mora nela é o elefante.

E descobri de repente

Que não falei em casa de gente.

Page 28: Livro de poesias

As Tias A tia Catarina

Cata a linha

A tia Teresa

Bota a mesa

A tia Ceição

Amassa o pão

A tia Lela

Espia a janela

A tia Cema

Teima que teima

A tia Maria

Dorme de dia

A tia Tininha

Faz rosquinha

A tia Marta

Corta batata

A tia Salima

Fecha a rima

Page 29: Livro de poesias

Nas ruas da cidade Lá na rua 21,

O pipoqueiro solta um pum.

Lá na rua 22,

O português diz: pois-pois.

Lá na rua 23,

João namora a bela Inês.

Lá na rua 24,

A Aninha tirou retrato.

Lá na rua 25,

Caiu um barraco de zinco.

Lá na rua 26,

O sorveteiro quer freguês .

Lá na rua 27,

Pedro chama a prima Bete.

Lá na rua 28,

A Verinha vende biscoito.

Lá na rua 29,

A molecada só se move.

Lá na rua 30,

Paro, pois a rima já num pinta.

Page 30: Livro de poesias

Viagem

Quem lê vai em frente

quem escreve vai também.

O poeta segue contente

quando dirige esse trem.

Piuíííííí! Piuííííííí!

Toca o apito da estação

bem na hora de partir,

lá vai o trem... Vamos também...

Você entra, sai e brinca

com palavras em movimento.

Pára. À esquerda. À direita.

Poesia a gente inventa.

Page 31: Livro de poesias

O peixe que ri

Nado na água

Quase nada

vejo

no nado.

Só a água do rio

rola

enrola a areia

do fundo.

Quase nada

vejo a água

cada pedra

um olho.

A água

na pele nado em nada

do mundo

e rio.

Page 32: Livro de poesias

Poesia na varanda

Brotou do chão a poesia

na forma de uma

plantinha

espigada, perfumosa,

se abrindo toda pra mim:

mensageiro da alegria,

era um pé de alecrim

que dourou a minha vida...

na forma de uma gatinha

amarela, tão macia!,

uma bola peludinha

que chegou bem de

mansinho...

Batizei-a de Chiquinha,

fiquei com ela pra mim.

Entrou em mim a poesia

na forma de uma canção

que falava de uma rua

com pedrinhas de

brilhantes

e de um anjo solitário

que vivia por ali

e roubou um coração.

Gritou no mato a poesia

quando caiu a noitinha:

tantos astros em seresta,

pois era dia de festa,

e dentro da boca da noite

cantaram um coro sem

fim...

Brilhou pra mim a poesia

na forma de lua cheia

e de um céu estrelado

despencando no telhado

de zinco do avarandado,

pronto pra ser pisado

por alguém bem

distraído...

Cresceu em mim a poesia

na forma de uma tristeza,

Page 33: Livro de poesias

um chorinho derramado

no silêncio da varanda.

Veio vindo, foi chegando

-carregada pelo vento?-

e tomou conta de mim.

Caiu do céu a poesia

na forma de uma

chuvinha,

pingos grossos, cheiro

doce,

que molhou as

redondezas,

encharcou os meus

cabelos,

inundou a minha vida

e levou minha tristeza.

Sorriu pra mim a poesia

na forma de um amigo

-mão estendida, carinho,

e estar juntos, quietinhos

ou ouvindo, ou contando,

ou rindo e barulhando...-

e abraçou minha vida.

Me arrebatou a poesia

trazida pelas palavras

abrigadas entre as

páginas

do livro que alguém lia

e que deixou por ali:

mundo entrando pelos

olhos,

enriqueceu minha vida.

Agora, sempre que quero

saber cadê a poesia,

dou um pulo na varanda,

me debruço - e espero:

quem sabe se de repente

ela volta e, simplesmente,

vem contar por onde

anda...

Page 34: Livro de poesias

Quem tem medo de

dizer não?

A gente vive aprendendo

A ser bonzinho, legal,

A dizer que sim pra tudo,

A ser sempre cordial...

A concordar, a ceder,

A não causar confusão,

A ser vaca-de-presépio

Que não sabe dizer não!

Acontece todo dia,

Pois eu mesma não escapo.

De tanto ser boazinha,

Tô sempre engolindo

sapo...

Como coisas que não

gosto,

Faço coisas que não

quero...

Deste jeito, minha gente,

Qualquer dia eu

desespero...

Já comi pamonha e angu,

Comi até dobradinha...

Comi mingau de sagu

Na casa de uma vizinha...

Comi fígado e espinafre,

De medo de dizer não.

Qualquer dia, sem querer,

Vou ter de comer sabão!

Eu não sei me recusar,

Quando me pedem um

favor.

Eu sei que não vou dar

conta,

Mas dizer não é um

horror!

E no fim não faço nada

E perco toda razão.

Fico mal com todo mundo,

Só consigo amolação.

Quando eu estudo a lição

E o companheiro não

estuda,

Na hora da prova pede

Que eu dê a ele uma ajuda

Embora ache desaforo,

Eu não consigo negar...

Meu Deus, como sou

boazinha...

Vivo só para ajudar...

Page 35: Livro de poesias

Se alguém me pede que

empreste

O disco do meu agrado,

Sabendo que não

devolvem

Ou que devolvem riscado...

Sou incapaz de negar,

Mas fico muito infeliz...

Qualquer um, se tiver

jeito,

Me leva pelo nariz...

Depois que eu estou na

fila

Pra pagar o

supermercado,

Já estou lá há muito

tempo...

Aparece um engraçado...

Seja jovem, seja velho,

Se mete na minha frente,

Mas eu nunca digo nada...

Embora eu fique doente!

A gente sempre demora

A entender esta questão.

Às vezes custa um bocado

Dizer simplesmente não!

Mas depois que você disse

Você fica aliviada

E o outro que lhe pediu

É que fica atrapalhado...

Mas não vamos esquecer

Que existe o "por outro

lado"...

Tudo tem direito e

avesso,

Que é meio

desencontrado...

Quero saber dizer NÃO.

Acho que é bom para mim.

Mas não quero ser do

contra...

Também quero dizer SIM!

Page 36: Livro de poesias

O Galo Nestor

Nestor era o galo

Mais Garboso que havia.

Morava na fazenda

E era ele que, todo dia,

Cantava par acordar

Os bichos para trabalhar...

Subiu na cerca

Todo cheio de si,

E estufou o peito...

Mas, na hora da cantoria,

Cof, cof, cof...

Seu canto não saía.

Veio a coruja,

Que era sua amiga,

Com um chá de romã

Para o Nestor tomar

E a voz soltar.

O Galo, angustiado,

O chá bebeu.

Estufou novamente o

Peito... Bateu as asas,

E Cocoricóóóóóóó!

Ele todo empolgado

Com o resultado

Não parava mais de cantar.

E assim os animais

Foram acordando,

Na hora em que o sol nascia.

Era então um novo dia

Na fazenda do Senhor

Malaquias.

Page 37: Livro de poesias

Orestes, o Leão

O Leão Orestes

Achava-se o fortão.

Era o rei da floresta

E ele sempre tinha razão.

Andava todo impotente!

Com seu focinho reluzente

E sua enorme juba,

Que penteava com o pente.

E ficava sempre a balançar,

para trás e para frente.

Seu rugido era estrondoso!

E todo bicho ficava medroso

Quando Orestes chegava,

Por que tinha um medo

horroroso

Do leão poderoso!

Ele sentia uma satisfação

Em medo causar.

Até que um dia

Sua sorte resolveu mudar.

Correndo na mata,

Um espinho entrou na sua pata.

Orestes tentou, tentou e

nada...

O espinho ele não tirava.

Berrou, chorou, gritou

Até que toda bicharada veio

ver

O que passava

E por que o leão chorava.

Foram todos chegando perto,

O enorme leão foi ficando

quieto...

E os bichos, com pena,

Resolveram fazer o certo!

Então vieram o coelho e o rato

Logo atrás a raposa e o pato!

E todos juntos: Um, dois,

três!!!

Arrancaram o espinho de vez.

Que alívio Orestes sentiu

Quando o espinho da pata saiu.

Ficou tão agradecido

Aos seus novos amigos!

E a partir desse dia

O leão Orestes, que era um

chato,

Virou o amigo protetor

De todos os bichos do Mato!