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O CANCIONEIRO DE

AUTA DE SOUZA

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Claudio Galvão(Pesquisa, Grafia Musical e organização)

O CANCIONEIRO DE

AUTA DE SOUZA2000 ‒ Cem anos de publicação do Horto

2001 ‒ Centenário do falecimento de Auta de Souza

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Pesquisa, grafia musical e organização: Claudio GalvãoCapa: José AyranRevisão: Sara FracchiaGrafia musical eletrônica: Gabriel FracchiaSupervisão editorial: Claudio MachadoSupervisão gráfica: Carol Queiroz

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Galvão, Cláudio Augusto Pinto.O Cancioneiro de Auta de Souza: 2000 Cem anos de publicação do Horto, 2001 Centenário de falecimento de Auta de Souza ⁄ Pesquisa, grafia musical e organização: Claudio Galvão. ‒ Natal (RN): 2ª Edição.1. Música Popular Brasileira. I. Galvão, Cláudio76 p.

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O Seresteiro de Auta

Nenhum nome, entre os poetas e prosadores que fizeram a história intelectual do Rio Grande do Norte, da segunda metade do séc.19 até hoje, reuniu em torno de sua produção, e tendo apenas um único livro, uma fortuna crítica mais importante do que Auta de Souza. Até hoje, de Jackson de Figueiredo a Nestor Victor, de Câmara Cascudo, seu biógrafo, a Olavo Bilac, de Tristão de Athayde e Alfredo Bose ou de Massaud Moisés, de Manoel Bandeira e Sérgio Faraco, ninguém foi mais lida e estudada, quer sob os olhos da crítica impressionista ou universitária, além de figurar em praticamente todas as grandes antologias produzidas nos últimos cem anos.

Mas faltava uma visão, talvez muito nossa, que só poderia nascer aqui, nesse vale branco entre coqueiros, como queria o poeta Ferreira Itajubá. Ou nesses quintais parnasianos onde olhava a cidade, saudoso e irônico, o modernista Jorge Fernandes. E é esta, nascida do olhar e da sensibilidade de Claudio Galvão, o mais autorizado dos pesquisadores da nossa modinha. Porque só ele, com o seu violão acompanhador, e como um seresteiro moderno, seria capaz de reunir este Cancioneiro de Auta para enriquecer a sua extensa bibliografia. Claudio Galvão segue a linha de uma tradição que é nossa: dos bons pesquisadores. Desde o olhar pioneiro de Ferreira Nobre, passando por Luís Fernandes, Tavares de Lyra, Vicente Lemos, Antônio Soares, o antigo, o poeta de Noivos, até Câmara Cascudo, Hélio Galvão e Olavo de Medeiros Filho.

Um rigor técnico que revelou logo cedo, quando biografou o maestro Oswaldo de Souza, produzindo com uma pesquisa que fez do seu livro, o único a merecer figurar na coleção nacional de perfis da Fundação Nacional de Arte, a Funarte. Pesquisador obstinado e criterioso a custear suas próprias pesquisas, sem ele o Rio Grande do Norte não teria integrado o acervo dos grandes títulos em torno do homem nordestino da Fundação Joaquim Nabuco. A sua pesquisa histórica sobre a Modinha Norte-rio-grandense, publicada em coedição com a UFRN, reunindo em

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548 páginas toda a história da nossa música popular na fase romântica, incluindo letras e partituras, faz parte dos grandes livros que contam a história contemporânea desse homem potiguar das margens do Potengi.

Este O Cancioneiro de Auta de Souza que Claudio Galvão nos entrega não nasceu para se sobrepor à biografia que Câmara Cascudo escreveu como quem conta a história do seu próprio coração, ele que fora embalado pelos braços tépidos da poetisa do "Horto".

Não mede pioneirismos nem distâncias com o olhar afetivo e amoroso de Henrique Castriciano, a visão mística de Tristão de Athayde ou o corte acadêmico nas suas aproximações teóricas. É um livro indispensável porque é único. Fundador de uma ideia singular que é a de reunir, fixar, e estudar a sonoridade dos seus versos que atravessam as noites da cidade antiga e se projetam no arco moderno do seu céu anunciando sobre os morros o novo milênio. Porque Auta merecia um seresteiro erudito como ele.

Vicente Serejo

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SUMÁRIO

1 ‒ Breve cronologia ‒ Auta de Souza, 82 ‒ O cancioneiro de Auta de Souza, 93 ‒ Uma homenagem a Auta de Souza, 104 ‒ Publicações parciais do cancioneiro de Auta de Souza, 115 ‒ As fontes das melodias, 136 ‒ A Eugênia, 14-157 ‒ Ao cair da noite, 16-178 ‒ Agonia do coração, 18-199 ‒ Ao luar, 20-2110 ‒ Caminho do sertão (1), 22-2411 ‒ Caminho do sertão (2), 25-2612 ‒ Caminho do sertão (3), 27-2813 ‒ Desalento, 29-3014 ‒ Meu pai, 31-3215 ‒ Meu sonho, 33-3416 ‒ Nunca mais, 35-3617 ‒ Olhos azuis, 37-3818 ‒ Palavras tristes, 39-4019 ‒ Regina Coeli, 41-4220 ‒ Rezando, 43-4421 ‒ Teus anos, 45-4622 ‒ Sugestões de formas para acompanhamento das modinhas publicadas, 4723 ‒ Melodia ternária, 4824 ‒ Melodia quaternária, 4925 ‒ ANEXO I ‒ Hino a Auta de Souza, 50-5126 ‒ Hino a Auta de Souza (1), 5227 ‒ Hino a Auta de Souza (2), 5328 ‒ Dois poemas musicados (Sem partitura), 54-5529 ‒ No templo, 55-5630 ‒ Hino, 57-5831 ‒ Anexo II - Homenagem do autor, 5932 ‒ Cantiga, 60-6133 ‒ Trança loura, 62-64

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Breve cronologiaAuta de Souza

1876 ‒ 12 de setembro ‒ Nasce em Macaíba, filha de Eloy Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina1879 ‒ Após o falecimento da mãe (29/06) é levada, junto com os irmãos, para o Recife1888-1890 ‒ Estuda no Colégio São Vicente de Paula, na Estância, Recife1890 ‒ Contrai tuberculose, aos 14 anos. Volta para Macaíba com a avó e os irmãos1893 ‒ Atividade poética1894 ‒ Publica poemas na revista “Oásis”, de Natal1895 ‒ Viaja ao Recife1896 ‒ Começam a aparecer publicações no jornal A República1897 ‒ Colabora com a revista “A Tribuna”. Inicia a organizar o livro “Dhalias”1898 ‒ Publica poemas no “Oito de Setembro” e na “Revista do Rio Grande do Norte”1900 ‒ junho ‒ Publicado o “Horto” prefaciado por Olavo Bilac1901 ‒ 7 de fevereiro ‒ Falece em Natal, na casa da Avenida Rio Branco n. 441 (demolida), sendo sepultada no Cemitério do Alecrim1906 ‒ Transladados os seus restos mortais para a matriz de Macaíba1911 ‒ 2ª edição do “Horto”, publicada por D. O. Widhopff, Aillaud, Alves e Cia., Paris-França1936 ‒ 3ª edição do “Horto”, publicada pela Tipografia Batista de Souza, Rio de Janeiro1970 ‒ 4ª edição do “Horto”, publicada pela Fundação José Augusto, Natal-RN2000 ‒ 5ª edição do “Horto”, publicada pela Sociedade de Divulgação Espírita Auta de Souza, Brasília, 20002001 ‒ 6ª edição do “Horto”, pela Editora da UFRN, em preparo2001 ‒ 7ª edição do Horto, pela Prefeitura Municipal de Macaíba, em preparo

O CANCIONEIRO DE

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AUTA DE SOUZA

As partituras musicais aqui publicadas se originaram de uma pesquisa sobre a modinha de autor norte-rio-grandense, iniciada em 1979. O resultado integral do trabalho se encontra publicado em A MODINHA NORTE-RIO-GRANDENSE.

À conclusão da pesquisa, verificou-se que Auta de Souza era a poetisa que mais recebeu melodias de autores locais. Quatorze de seus poemas foram transformados em belíssimas canções, a maioria ultrapassando a fronteira estadual e sendo cantadas em pontos distantes do território nacional.

Isto levou a ideia de, seguindo a moda dos songbooks, publicar-se o CANCIONEIRO DE AUTA DE SOUZA, onde se pudesse encontrar com facilidade e segurança, estas tradicionais canções do Estado do Rio Grande do Norte.

Das partituras aqui incluídas, apenas uma fora publicada anteriormente: Caminho do sertão, como adiante se verá. As outras foram grafadas pelo pesquisador, seguindo o único caminho possível: gravar a canção a partir de uma fonte confiável, escrever a música e editá-la em computador. Isto sem dispensar a ajuda de amigos musicistas que ouviram as gravações e examinaram as partituras, oferecendo valiosas sugestões.

Para maior facilidade de acesso, as melodias trazem os poemas completos ‒ conforme se encontram na 4ª edição do “Horto”, e indicações harmônicas em forma de cifras, destinadas ao acompanhamento.

Uma página extra foi incluída, onde se encontram sugestões para o acompanhamento ao violão ou instrumentos de teclado.

Este trabalho, demorado e exigente, foi feito com a intenção de prestar um serviço à memória da cultura norte-rio-grandense.

Uma homenagem a

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Auta de Souza

No dia 14 de março de 1937, a escritora Palmyra Wanderley e um grupo de senhoras e senhoritas, prestaram uma homenagem a Auta de Souza. O evento, que se denominou “Festa do Horto”, foi realizado no Teatro Carlos Gomes e teve a renda dos ingressos revertida em favor do Dispensário Sinfrônio Barreto. Na ocasião, Palmyra Wanderley falou sobre o tema “Auta de Souza, a Trovadora do luar”.

Em seguida, foram cantadas as seguintes modinhas:

1 – Regina Coeli, cantada por um coro, com solo de Sílvia Paiva2 – Agonia do coração, coro, solo de Dulce Tavares3 – Ao cair da noite, coro, solo de Sílvia Paiva4 – Teus anos, solo de Elza Dantas5 – Meu sonho, solo de Clarice Palma6 – Nunca mais, solo de Dulce Tavares7 – Palavras Tristes, solo de Berta Guilherme8 – Eugênia, com Berta Guilherme (1ª voz) e Sílvia Paiva (2ª voz)9 – Ao luar, pelo coro

O coro estava formado por Dulce Tavares, Berta Guilherme, Elza Dantas, Clarice Palma, Sílvia Paiva, Maria de Lourdes Lago, Maria Amorim, e as irmãs Zenaide, Alba e Maria do Carmo Soares.

O Acompanhamento por violões esteve a cargo do conjunto Bando Alegre, com a participação do bandolinista João Martins.

Publicações parciais do

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cancioneiro de Auta de Souza

Alguns poemas de Auta de Souza e respectivas partituras musicais se encontram em publicações realizadas em diversas partes do País.

A mais antiga é a partitura de Caminho do sertão, música de Abdon Álvares Trigueiro, publicada pela Casa Bevilacqua do Rio de Janeiro. Esta publicação foi realizada como prêmio por haver sido classificada em primeiro lugar em concurso realizado em 1922, conforme adiante se verá.

Das publicações em livro, as primeiras são as que se encontram em “MODINHAS DO PASSADO” (Folha Carioca Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1979), da autoria do maestro João Batista Siqueira, catedrático da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nela estão publicadas Ao luar e Desalento. As melodias contidas nas partituras têm semelhanças com as que constam do presente cancioneiro. É citado apenas o compositor de Desalento. O autor não informa o local onde coletou as duas melodias; por ser sertanejo, paraibano de nascimento, é provável que o tenha feito em seu próprio estado.

A modinha Ao luar está publicada em “AS MAIS BELAS MODINHAS”, Volume II, de Milene Antonieta Coutinho Maurício (Imprensa Oficial, Belo Horizonte, 1982). Nela se encontra transcrita a mesma versão publicada por “MODINHAS DO PASSADO”. Não se faz, tampouco, menção ao autor da música.

Uma partitura da canção Rezando (Róseo menino), com melodia inteiramente diferente da que se canta no Rio Grande do Norte, está publ icada por Wagner Ribeiro na “ENCICLOPÉDIA DO FOLCLORE MUSICAL”, 5º volume (Editora FTD, São Paulo, 1965). Não há indicação do autor da música nem onde foi coletado.

A mesma Rezando (Róseo menino), porém com melodia idêntica à que se canta no Rio Grande do Norte, foi gravada pela cantora Maria Augusta Calado no LP “FONTES CULTURAIS DA MÚSICA DE GOIÁS ‒ 4 Cantos de Presépio”,

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(Goiânia, 1985). Não há referência a Auta de Souza nem ao autor da música. Informa-se que é cantada em festas natalinas em cidades do interior goiano. Pode-se ver no fato uma manifestação do processo de folclorização, que se verifica quando uma obra de autor conhecido passa ao domínio popular, esquecendo-se da sua verdadeira origem. É, sem dúvida, uma evidência da força de comunicação da poesia de Auta de Souza.

O encontro desta melodia, em tais circunstâncias e em local tão distante do seu ponto de origem, é fato digno de um registro especial.

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AS FONTES DAS MELODIAS

As melodias que aqui se encontram foram cantadas por pessoas de reconhecida vivência na área da música popular norte-rio-grandense, mais particularmente, da modinha de autor local.

O autor manifesta seu agradecimento a:

Adail Melo (Olhos azuis)

Ana Maria de Lima Fernandes (Caminho do sertão, versão de Deolindo Lima)

José de Almeida (Ao cair da noite, Agonia do coração, Ao luar, Desalento, Meu pai, Palavras tristes, Teus anos)

Maria Dulce Coelho ‒ Madre Calvário (Rezando)

Silvia Barbosa de Paiva (Nunca mais)

Valnício Medeiros (Caminhos do sertão, versão de Eduardo Medeiros)

Vicentina de Araújo Castro (A Eugênia, Meu sonho, Regina coeli)

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A EUGÊNIA(Música de autor não identificado)

A primeira das canções deste “Cancioneiro” não é uma modinha que apresente as formas típicas do fim do séc. 19 e início do 20. As suas características melódicas e rítmicas levam a imaginar que o seu autor – infelizmente não identificado –, não tenha sido pessoa ligada aos grupos seresteiros da época.

Fonte da música: Vicentina de Araújo Castro

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A EUGÊNIA

Meu doce amor! Calhandra maviosaQue canta dentro em mim;

Minha esperança tímida e formosa,Meu sonho de marfim!

Amaranto do céu, flor encantada,Mimoso colibri;

Minha açucena pálida e magoadaMeu níveo bogari;

Gota de orvalho a tremular num lírioQue mal começa abrir;

Ó tu que apagas meu cruel martírioE me fazes rir;

Madressilva entreaberta, lira de ouro,Celeste beija-flor;

Minha camélia, meu sorriso louro,Amor de meu amor;

Guarda estes versos que só dizem mágoaE tristezas sem fim...

Deixa-os no seio como gota d’águaNo cálice de jasmim...

FONTEMúsica: Vicentina de Araújo CachoLetra: “Horto”

Música: autor não identificado Letra: Auta de Souza

VOZ4

4

sem

I ma

pre, a can

gem san

tar, Cri

ta que en

a tu

Que me en si nas te a a mar! I ma

tre ve jo em

ra i no

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cen te,an jo

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ri so nho,

pre,

gem san ta que en tre ve jo em son ho,

sem

Que

pre,

me en

sem

si

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nas

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tar Cri

mar!

Que me en si nas

a tu

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tu

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AO CAIR DA NOITE(Música de Heronides de França)

Heronides Álvares de França foi o compositor norte-rio-grandense que musicou o maior número de poemas de Auta de Souza.

Nascido em Natal, a 13 de setembro de 1860, era filho de Francisco Otílio Álvares da Silva e Sophia Joaquina Álvares da Silva.

Funcionário da Alfândega desde 1890, exerceu as suas funções de Fiscal Aduaneiro em Natal até 1917, quando passou a residir no Recife, ali falecendo a 3 de abril de 1926.

Casado a 8 de fevereiro de 1892 com Rachel Zulmira de Melo Açucena, teve duas filhas, Neuza e Dalila.

Fonte da música: José de Almeida

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AO CAIR DA NOITE

Eu junto as mãos, serena,A murmurar contrita,A saudação benditaDo anjo do Senhor;Enquanto a lua plenaNo azul, formosa e casta,Um longo manto arrastaDe lúrido esplendor.

Minhas saudades todas Se vão mudando em astros...A mágoa vai de rastrosMorrer na escuridão...As amarguras doudasFogem como um lamentoLonge do pensamento,Longe do coração.

E a noite desce, desceComo um sorriso doce,Que em sonhos desfolhou-seNa voz cheia de amor,Da mãe que ensina a prece,Ao filho pequenino,De olhar meigo e divinoE lábio aberto em flor.

Ah! Como a noite encanta!Parece um santuário,Com o lindo alampadárioDe estrelas que ela tem!Recorda-me a luz santa,Imaculada e pura,Da grande noite escuraDo olhar de minha mãe!

Ó noite embalsamadaDe castas ambrosias...No mar das harmoniasMeu ser deixa boiar.Afasta, ó noite amada,A dúvida e o receio, Embala-me no seioE deixa-me sonhar.

FONTEMúsica: José de AlmeidaLetra: “Horto”

Música: Heronides de França Letra: Auta de Souza

Voz4

4

re

Não sei

za,

que paz

Nes ta

i men

ho dera

de pe sar. Minh' al

sa

tris te

En vol

za,

ve a na

De dor

tu

e

ma, rin do, sapen Que a

som bra é um

Num

gran

rai

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o de

Que vira

lu

gem

ar.

traz do céu

Eu

D.S. al Fine

Am

Dm

E7 Am

E7

Am G7

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Am E7

C

G7

Am

C

E7

A7

Am

Dm

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AGONIA DO CORAÇÃO(Música de Heronides de França)

Heronides nasceu em 1860. Auta de Souza, em 1876. A partir do momento em que a poetisa residiu em Natal, o compositor deve tê-la visitado muitas vezes, decerto para fazê-la ouvir os seus poemas que ele musicara.

Não há relatos históricos sobre o fato, apenas uma referência feita pelo escritor Virgílio Trindade (1887-1969), em artigo publicado pela Revista da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras n.2: Heronides fez Auta de Souza cair em prantos, numa tarde fria e tristonha, quando cantou para ela, com música de sua autoria: Eu tenho a treva dentro do seio / Astros, velai-vos que eu vou morrer. É a modinha Agonia do coração.

Palmyra Wanderley, que ocupava a cadeira n. 23 da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, em seu discurso de posse na cadeira cuja patrona é Auta de Souza afirmou, ainda na Revista da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras n. 4: Agonia do Coração foi a sua primeira poesia musicada e uma das mais sentidas expressões do Horto e talvez a mais popular.

Não pode haver dúvida de que, por sua letra e música, Agonia do Coração, é uma das mais tristes canções da língua portuguesa.

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AGONIA DO CORAÇÃO

Ao longo cantam. São almas purasCantando à hora do adormecer...E o eco triste sobe às alturas...Moças! Não cantem que eu vou morrer!

Pássaros tremem no ninho santoPedindo a graça do alvorecer...Enquanto eu parto desfeita em pranto...Aves! suspirem, que eu vou morrer!

De lá do campo cheio de rosasVem um perfume de entontecer...Meu Deus! que mágoas tão dolorosasFlores! Fechai-vos que eu vou morrer!

FONTEMúsica: José de AlmeidaLetra: “Horto”

Música: Heronides de França Letra: Auta de Souza

Voz3

4

lou

Es lastre

ros ara

ful gem

der...

da noi

E eu ho aten

As tros! ve vos,lai que eu vou

te em omei

tre va

Lem bran

den tro

do cí

do sei

rios

o...

mor rer! E eu ten ho a tre va

Den dotro o...sei tros!As ve voslai que eu vou mor rer!

D.C.

Am E7

Am G7

Dm C G7

Am E7

C

C E7 Am

E7 Am Dm Am E7 Am

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AO LUAR(Música de Heronides de França)

Heronides de França musicou, ao que se sabe, nove poemas de Auta de Souza. Outros poetas também tiveram melodias deste autor em seus versos, entre eles Segundo Wanderley, Lourival Açucena, Gothardo Netto, Francisco Palma, Augusto Leite, Calixtrato Carrilho de Vasconcelos, Manoel Coelho, José Rodrigues Leite, Carlos Policarpo, Padre Antônio Arêas, e José Alcino.

Informações não comprovadas indicam-no como autor de melodias em poemas de autores não norte-rio-grandenses, como Casimiro de Abreu (A), Gonçalves Dias (A Nuvem doirada), Fagundes Varela (Ave Maria), Castro Alves (Boa-noite), Pinheiro Chagas (Flor do val).

A beleza das melodias e a harmonização equilibrada e segura, levam a considerá-lo um dos mais completos compositores modinheiros do Rio Grande do Norte.

Esta modinha está publicada pelo maestro João Baptista Siqueira (em “Modinhas do Passado”, Folha Carioca Editora, Rio de Janeiro, 1979) e a partitura que ali se encontra é muito parecida com a que aqui se publica. Está igualmente publicada por Milena Antonieta Coutinho Maurício (em “As mais belas modinhas”, Editora São Vicente, Belo Horizonte, 1982, Volume II); a partitura é igual a que se encontra em “Modinhas do Passado”.

Fonte da música: José de Almeida

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AO LUAR

Quanta tristeza pela noite clara!Quanta saudade pelo azul boiando!Cuida-se ouvir, num dolorido choro,As preces tristes de um magoado coro,De almas penadas ao luar rezando.

O céu parece uma igrejinha antigaQue a lua branca vai alumiando...E essas estrelas, muito além dispersasSão rosas brancas no Infinito imersas,Monjas benditas, ao luar chorando.

Os pirilampos, pelas moitas tristes,Voam calados e sutis, brilhando...Lembram descrenças, a bailar sombrias,Ilusões mortas de esquecidos dias,Almas de loucos ao luar passando.

Flocos de nuvens pela esfera adejam,Barcos de neve pelo azul formando...Semelham preces que se vão da terra,Almas mimosas, que este mundo encerra,De criancinhas, ao luar sonhando.

Eles parecem também velas brancasSoltas, à toa pelo mar vogando...Leves e tênues, a correr imensas,Folhas de lírios pelo ar suspensas,Aves saudosas, ao luar chorando.

Ai, quem me dera ser também criança!Ai, quem me dera andar também voando!Fazer dos astros um barquinho amado,Nele vagar por todo o céu dourado,As minhas dores ao luar cantando!

FONTEMúsica: José de AlmeidaLetra: “Horto”

Música: Heronides de França Letra: Auta de Souza

Voz4

4

lu

As cetros

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Ou se aove

maisE, a lém, num so çarlu

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Gi no esram

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do te,len Can ções se re nas,

ao lu ar vo an do. Quan ta tris

D.S. al Fine

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CAMINHO DO SERTÃO(Música de Abdon Álvares Trigueiro)

O governo do Estado do Rio Grande do Norte, no ano de 1922, em comemoração do 1º centenário da Independência do Brasil, organizou uma série de eventos, dentre eles um concurso destinado a premiar musicistas norte-rio-grandenses que musicassem poemas de três autores locais: Olhos, de Segundo Wanderley, De Natal ao Pará de Ferreira Itajubá, e Caminho do sertão de Auta de Souza.

O primeiro lugar para este último poema foi conquistado por Abdon Trigueiro, que recebeu o primeiro prêmio, também para o poema Olhos. Além de um prêmio em dinheiro, esta canção, assim como as outras duas premiadas, teve a sua partitura editada pela Casa Bevilacqua, do Rio de Janeiro. Foi cantada em público, pela primeira vez, a 6 de setembro, durante as festividades realizadas no Teatro Carlos Gomes, acompanhada por uma orquestra-serenata regida pelo próprio autor.

Abdon Álvares Trigueiro nasceu em Guarabira, na Paraíba, a 16 de abril de 1868 e faleceu em São José de Mipibu, a 7 de julho de 1941.

Iniciou sua carreira militar no exército, ainda na Paraíba, em 1890. Já residindo em Natal e integrando o 34º Batalhão de Infantaria, participou da campanha de Canudos (1897) como 2º sargento regente da banda de música. Desligando-se em 1900, entrou para o Batalhão de Segurança do Rio Grande do Norte (Polícia Militar), sendo nomeado regente da banda pelo governador Alberto Maranhão. Reformou-se como capitão, em janeiro de 1929.

Em Natal dirigiu e participou de orquestras, ensinou e compôs músicas, e ocupou importantes funções na maçonaria. Evangélico, regeu durante muitos anos o coro da Igreja Presbiteriana Independente, onde deixou muitas partituras de músicas apostas a textos bíblicos e poemas do reverendo Jerônimo Gueiros.

Nos últimos anos da sua vida, residiu em São José de Mipibu e visitava outras cidades em pregação evangélica.

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Fonte da música: Partitura publicada pelo governo do Estado em 1922, na Casa Bevilacqua, do Rio de Janeiro.

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CAMINHO DO SERTÃO (1)

Obs.: transcreve-se aqui apenas a parte da mão direita da partitura para piano e canto, editada em 1922, pela Casa Bevilacqua, do Rio de Janeiro.

Música: Abdon Álvares Trigueiro

4

7

10

Letra: Auta de Souza

14

17

21

28

34

4

4

3

4

can ço Vê la a tra vés da ma ta.

des ce, e, sem a char des can so,

Tão lon ge a

Nos

ca sa!

ca mi

Nem querse

nhos A

al

som bra

Va mos nós dois, meu po bre ir mão, so

a

zi

man

ves

nhos!

nos

so, Pa ra

tre las. To

pe que

É

nos

noi

não susas tar

ni

te já.

nhos...

Co

os

do océu pa re ce Re

Re zar de

de ses pe ro e à

ejo lhos a cho ro

dor... Ao lon age,

Va

mo em

mos

fe

pas sa ri

liz

mais

re

de

man

va

nhos.

zar de jo e lhos a

gar

so,

de

dor

man

men

Bri

so e

as

lham es

cho ro sa pre ce

sa pre ce Que a

lu a vem dou ran

te ennoi si na ao

do a tre va... Tu

3

3

3

3

6

33

33

3

A7

Dm/F

A7/G A7

F B♭ F

A7

Dm F

A7

A7/G

Dm

Dm

B♭

Gm

F

A7

C7

Dm Gm

A7

B♭/F

A7

F

F

Dm

C7

A7

A7 % C7

Dm

A7/C♯

%

Dm

%

Gm

F

A7

Dm

F

F C7 F

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CAMINHO DO SERTÃO(Música de Eduardo Medeiros)

Eduardo Medeiros foi um dos mais populares compositores do Rio Grande do Norte. Músico profissional, ensinava, tocava em bailes, festas religiosas e profanas.

Executava com exímia habilidade o violão e clarinete. Compôs nos mais variados ritmos, mas se notabilizou pelas melodias que apôs a poemas de autor local, como foi o caso da Serenata do pescador (Praieira), poema de Othoniel Menezes.

A melodia de Eduardo Medeiros para Caminho do sertão de Auta de Souza tem uma estrutura mais popular, vizinha à forma das velhas modinhas, o que a diferencia da versão de Abdon Trigueiro, que tem mais inclinações para o erudito.

Eduardo nasceu em Itapassaroca, município de Touros, a 21 de junho de 1887 e faleceu em Natal, a 20 de junho de 1961.

Fonte da música: Valnício Medeiros (filho do compositor)

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CAMINHO DO SERTÃO (2)

FONTEMúsica: Valnício MedeirosLetra: “Horto”

Música: Eduardo Medeiros Letra: Auta de Souza

Voz4

4

Tão lon

ma ta. Nos ca

ge a sa!ca

min hos

Nem se quer

A som

Va mos nós dois, meu po

al can

bra des ce;

ço Vê

e, sem

la a tra vés

chara des can

da

so,

bre ir mão, so zin hos! É noi te

nin

já.

hos...

Co

não

mo em

as sus

To do o céu pa

Que a noi te en

Va

fe

tar

mos

liz re

os

mais

man

de

pas sa

va

so,

rin

re ce

si na

Re zar de

ao de ses

vem dou ran do a

O in

tre va... Tu bulo irí

cen so a gres te

gar...

hos.

de

Dor

man

mem

so e

as a

man

ves

Bri lham

jo lhose

pe ro e à dor...

a cho

so,

nos

es

pe

tre

Pa

que

ra

nos

las.

ro sa pre

Ao lon ge, a

ce

lu a

men so pa ra

da ju re

Deus e le va

ma em flor.

Fine

F♯7

E7

Bm

Bm E

E7 A

A7

D Dm

A

F♯

A

F♯

Bm

Bm

E7

E

D

A

E

Dm

Dm

E7

Dm

Am

A

Dm

Am

Dm/F

F♯

Am

E7

Am

A7

A

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CAMINHO DO SERTÃO(Música de Deolindo Lima)

Umas das figuras mais populares do Natal dos começos do séc. 20, foi, sem dúvida, Deolindo Ferreira Souto dos Santos Lima.

Nascido em Assu, a 9 de março de 1885, veio muito jovem com a família para Natal. Comerciário, jornalista, cantor, ator teatral, poeta, compositor, carnavalesco, boêmio e seresteiro, era presença marcante nos movimentos culturais e artísticos da cidade.

Concor reu ao concurso do 1 º cen tenár io da Independência, com a terceira versão musical de Caminho do sertão.

Musicou muitos de seus versos e versos de outros autores, transformando-os em canções populares. Deixou inédito o livro "Minha Serenata", e teve alguns poemas musicados por outros autores.

Faleceu em Natal, a 10 de abril de 1944.

Fonte da música: Ana Maria de Lima Fernandes (filha do compositor)

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CAMINHO DO SERTÃO (3)

FONTE:Música: Ana Maria de Lima FernandesLetra: "Horto"

Música: Deolindo Lima Letra: Auta de Souza

Voz4

4

Tão lon

vés da ma

ge a ca sa! Nem

ta. Nos ca min hos

can so, Va mos nós dois, meu po

se quer al can ço

A som bra des ce;

Vê la a tra

e sem a char des

bre ir mão, so zin hos! É noi te

nin

já.

não

hos...

Co

as

mo em

sus tar

re

noi

ce

te en si na ao

Va

fe

mos

liz

os

re

mais

pas sa

man

rin

de

so,

va

hos.

Re zar de

de ses pe

joe lhos

ro e à dor...

tre va... Tu

gres te da ju

rí bulo i men so

re ma em flor. Ao

gar...

Dor

de

mem

man

as

lhamBri

so e

a

es

man

ves

tre las.

a cho ro

Ao

sa pre

lon ge, a lu

so,

nos

To

pe

Pa

que

do o céu

ra

nos

pa

ce

a vem dou ran

Que a

do a

pa ra Deus e le va

gres te da ju re ma

O in cen so a

em flor.

Fine

E7

Em

B7

Am

B7

Em B7

Em

E7

B7

Am

G

B7

Am

Am/C

Em

D7

Em

Am/C

B7

D7

Em

G

E7

Em

B7 Em1. 2.

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DESALENTO

Desalento é a única composição que restou de Cirineu de Vasconcelos, canção popularíssima nas serenatas e saraus da velha Natal.

Músico diletante, tocava violão e contrabaixo na orquestra do Clube Carlos Gomes – a mais antiga instituição musical do Rio Grande do Norte, fundado em 1892 –, onde teve funções em quase todas as diretorias e participando intensamente das suas atividades até a sua extinção, em 1914.

Nascido em Canguaretama a 27 de dezembro de 1867, faleceu em Natal a 21 de janeiro de 1939.

São conhecidas, pelo nome apenas, algumas de suas outras composições. Natal guardou na memória a melodia de Desalento, música de forte teor emocional, que combina perfeitamente com a tristeza contida no poema de Auta de Souza.

Esta modinha também foi recolhida pelo maestro João Baptista Siqueira e publicada no já citado “Modinhas do Passado”, com melodia semelhante à presente.

Fonte da música: José de Almeida

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DESALENTO

É que vejo morrerem, uma a uma,Santas aspirações,

E voarem como os pássaros saudososAs minhas ilusões...

Nunca julguei que a terra fosse um túmuloDe sonhos juvenis,

Sorrindo acreditei que aqui, no mundo,Podia ser feliz...

Enganei-me: ‒ a tristeza, que me oprimeO coração sem luz...

Como do sol derradeiro raioNos braços de uma cruz...

A trêmula saudade que entristeceE faz desfalecer;

Essa agonia lenta que me inspiraDesejos de morrer...

Tudo me diz que a vida é o desengano,A morte da ilusão,

E o mundo um grande manto de tristezasQue enluta o coração.

FONTE Música: José de AlmeidaLetra: “Horto”

Música: Cirineu Joaquim de Vasconcelos Letra: Auta de Souza

Voz4

4

de a

Quando o

lém mar,

meu pen mensa to

toSin peino

Que man da me cho rar.

transse por

to um

ta

trisa te

Ás prai

za i men

as

sa

Sin noto pei to um trisa

te za i men sa Que man da me cho rar. queÉ

D.S. al Fine

Em

Em B7

D7 G

Em

B7

Am

Em

B7

Em B7 Em

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MEU PAI(Música de Heronides de França)

O poema Meu pai recebeu de Heronides de França uma de suas mais belas melodias. Carregado daquela melancolia típica de sua época, está estruturada em uma sólida e rica harmonia, qualidades sempre encontradas em suas composições.

Nesta modinha Heronides explora, em sua primeira parte, todos os acordes do tom (lá menor) em que parece ter sido composta, passa para o relativo (dó maior) com a mesma versatilidade retornando, em seguida, para o original.

Não é sem justa causa que Heronides de França é considerado como um dos mais completos compositores populares do seu tempo. Era conhecido, também, como exímio acompanhador e solista ao violão.

Fonte da música: José de Almeida

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MEU PAI

Então voltei-me para o grande espaçoE perguntei à minha avó, sorrindo:“Assim, às pressas, sem levar-me ao braço,Por que vai ele para o azul fugindo?”

Ela beijou-me a fronte docementeE a sua voz em lágrimas ungida,Disse baixinho, dolorosamente:“Vai ver no céu a tua mãe querida.”

Eu espero por ti há tantos anos,Ó mãe piedosa que me abençoaste!Todos os dias chegam desenganosE ao lar deserto nunca mais voltaste!

FONTEMúsica: José de AlmeidaPoema: “Horto”

Música: Heronides de França Letra: Auta de Souza

Voz4

4

sauda

Ves te de

de eda ter

lu to a

na; To

min ha

minh'da al ma,

vir a do ce voz pa ter na. Meu

po bre li

trê mu

ra E can

susla, pi

ta a en dei

ra Cui dan

xa

do ou

ve lho pai! Li gei ro co mo um a a ve

teu

Cru zan

per fil

do os

su a

céus

ve,

à

Mas

ho

nem ao

ra do

me

sol

nos

pos to,

pu de o lhar

Eu

teu ros

vi pas

to!

sar

En

O

tão vol

D.S. al Fine

_

Dm Am

E7

E7

E7 Am G7

Am

Am

E7

C Dm

A7

G7

Dm Am E7

C

Am

E7

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MEU SONHO(Música de Heronides de França)

Participante ativo da vida social da cidade, Heronides de França era convidado obrigatório das festas, saraus familiares e serenatas ao luar do Natal do seu tempo.

Descrito pelos seus contemporâneos como sendo baixo, magro, moreno, rosto encovado e bigode ralo, possuía um tom de voz meio fanhoso, mas muito agradável.

Era reconhecido como exímio violonista. Além de acompanhar cantores, acompanhava-se a si próprio e executava com perfeição peças de sua autoria. Infelizmente não foi possível recuperar nenhuma das suas composições como solista.

O delicado conteúdo poético de Meu sonho recebeu de Heronides um tratamento à altura através de uma melodia de comovente ternura.

Fonte da música: Vicentina de Araújo Cacho

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MEU SONHO

Eu vivo sempre, sempre sonhando,O mesmo sonho de noite e dia,O mesmo sonho suave e brandoDe minha vida toda a alegria.

Quando soluço, quando minh’alma,Cheia de angústia, fica a chorar,O sonho amado me traz a calmaE, então, minh’alma põe-se a rezar.

Quando, nas noites frias de inverno,Eu tenho medo da tempestade,Ele, meu sonho, consolo eterno,Transforma as sombras em claridade.

Quando, no seio, choroso e louco,Palpita, incerto, meu coração...O sonho doce vem, pouco a pouco,Trazer-me a graça de uma ilusão.

E eu canto e rio na luz dispersaDeste dilúvio de fantasias...Minh’alma voa no azul imersaBuscando a pátria das harmonias.

Imagem doce, visão sagrada,Quimera excelsa dos meus amores,Pérola branca, delícia amada,Bálsamo puro das minhas dores.

Ele, o meu sonho, farol que encanta,Guia-me à pátria da salvação,Sorriso ingênuo, relíquia santa,Do relicário do coração!

FONTEMúsica: Vicentina de Araújo CachoLetra: “Horto”

Música: autor não identificado Letra: Auta de Souza

Voz3

4

fei

Eu ten

de ato

ho um son

mor, Um

ho que

son ho

Um son ho lin do mo umco

céuno mo

ró seo

ra Fei

mo umco

deto luz

a au ro

e

ra.

a flor. Um son ho ró seo

co mo um a au ro ra Um son ho lin codo mo um a flor.

D.C.

G D7

G

D7

G C

E7

D7

Am

G D7

G C D7 G

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NUNCA MAIS(Música de Heronides de França)

No ano de 1913, a cidade de Natal viveu agitados dias quando o capitão José da Penha entendeu de empreender uma forte campanha popular em oposição à política e candidatos apoiados pelo Governador Alberto Maranhão, considerados sempre imbatíveis. Era a primeira vez no Estado que alguém tinha a audácia de enfrentar e se opor a um governador.

Heronides de França, figura muito popular na cidade, aderiu à mensagem oposicionista de José da Penha e mereceu uma suave crítica do “Jornal da Manhã”, adiante transcrita:

Heronides de França, este distinto violonista, por uma dívida de gratidão, resolveu também ser salvador. É incrível. Em todo caso, o Herodes [apelido de Heronides] velho não é um penhista desabusado e, como é profundamente e ingenuamente supersticioso, talvez não leve em conta as doces promessas do audacioso Capitão Penha.

O Heronides saiu-se agora, um outro Heronides; e não vemos razão para que ele despreze o seu excelente violão que tem o sagrado esse executor admirável.Talvez Heronides tome outra resolução: essa solução não lhe fica bem.(Jornal da Manhã, Natal, 28 de maio de 1913)O último verso do poema Nunca mais, por um artifício da

autora, ao invés de dez sílabas como as outras, tem apenas seis. Para solucionar o problema que se forma para o cantor, sugere-se que se repita “Minh’alma”, ficando o verso, apenas para efeito de ser cantado: “Minh’alma, minh’alma pobre morta”.

Fonte da música: Sílvia Barbosa de Paiva

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NUNCA MAIS

Ele passou como uma nuvem passa,Roçando o azul em flor do firmamento...Ele partiu, e apenas o tormento,Sobre minh’alma triste, inda esvoaça.

Meu casto sonho! Lá se foi cantando,Talvez em busca de uma pátria nova.Deixou-me o coração como uma cova,E, dentro dele, o meu amor chorando.

Nunca mais voltará... Pois, que lhe importaEsta morada lúgubre e sombria?Não pode agasalhar uma alegriaMinh’alma, pobre morta!

FONTEMúsica: Sílvia Barbosa de PaivaLetra: “Horto”

Música: Heronides de França Letra: Auta de Souza

Voz4

4

ro

Que é fei

sa e fei

to

to de ala

do meu son

bas tro,

as tro, Pe la noi te sem

ho,um son

Qui me

ho pu

ra que bri

ro Fei

lha va, co

to de

mo um

fim do meu fu tu ro? Que é

fei

pran

to des

to,

te son

Ba

di das na so

ho,

gas

co fre a

de or

ber

va

to

lho,

li dão do meu de

Que

fo

re ce

lhas de

bi

ama

a

rant

ser to

as go

o,

tas de meu

Per

E le pas

D.S. al Fine3

_

G7

Am E7

C

Am E7

Am

E7

Am

E7

G7

E7

Am

C

E7

Am

Am

Am

E7

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OLHOS AZUIS(Música de Heronides de França)

Outra vez, Heronides de França esbanja sua musicalidade em mais um poema de Auta de Souza. Desta vez é Olhos azuis a receber sua vestimenta musical.

Como sempre acontece, o compositor tece uma delicada melodia que percorre todos os acordes do tom menor original, emprega uma modulação ocasional para o relativo maior e retorna, em seguida, ao tom original.

Fonte da música: Adail Melo

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OLHOS AZUIS

Eu cuido ver todo o encanto,Toda a beleza do Céu,Nestes teus olhos sem pranto,Nestes teus olhos sem véu.

Sinto uma doce ventura,Uma alegria sem fim,Se deles a chama puraÀs vezes cai sobre mim.

São flores azuis boiandoÁ tona d’água, de leve,Esses dois olhos beijando,O teu semblante de neve!

FONTEMúsica: Adail MeloLetra: “Horto”

Música: Heronides de França Letra: Auta de Souza

Voz3

4

O

teuO o

lhobri ful

alhar zul

te egen ra

rocla

ro

teuO o alhar zul rocla

fleRe

Do go omei

nãote quesei

lhar Jede

luz,

sus.

fleRe te seinão que luz,

O lhobri ful te egen ra ro meiDo go o lhar Jede sus.

D.C.

Am

A7

E7 Am

Dm

G7 C

Dm

Am E7

Am

Am

G7 C

A7 Dm E7 Am

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PALAVRAS TRISTES(Música de Heronides de França)

É uma típica modinha da lavra de Heronides de França. A marcante melodia corretamente estruturada em sua harmonia, criou uma das canções mais populares de Auta de Souza.

É importante que se observem alguns detalhes. Em primeiro lugar, as estrofes têm cinco versos e não quatro, como sempre fazia a autora, quando não versificava em forma de soneto. Observa-se, também, que o quinto verso é, em todo o poema, a repetição do primeiro.

Isto levou o compositor a recorrer a um artifício musical pouco comum na modinha tradicional, onde é mais frequente a repetição do penúltimo e último versos. O compositor faz as repetições de uma forma inesperada e rara: ao terminar de cantar cada grupo de cinco estrofes, o intérprete deverá repetir o segundo verso, porém com melodia diferente da que foi cantada a primeira vez.

Este recurso traz ao cantor alguma dificuldade, vez que ele é obrigado a memorizar uma frase musical diferente. Entretanto, estas diferenças são o produto de um poema de forma diferenciada, o que levou o compositor à melodia igualmente diferenciada.

Fonte da música: José de Almeida

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PALAVRAS TRISTES

És a estrela gentil das minhas noites,Noites que mudas no mais claro dia.Não tenho medo aos gélidos açoitesDa escuridão se tua luz me guia,Ó estrela gentil das minhas noites!

Quando eu deixar a terra, dá-me floresBoiando à tona de um sorriso teu;Que o riso das crianças são andoresOnde os anjos nos levam para o céu…Quando eu deixar a terra, quero flores!

Flores e risos me tecendo o manto,Manto celeste feito de esperanças... Quando eu daqui me for, não quero pranto,Só quero riso, preces de criança:Flores e risos me tecendo um manto!

Anjo moreno, de alma cor de lírio,Mais branca do que a estrela da alvorada…Meu coração na hora do martírioPede o consolo de uma prece amada,Anjo moreno, de asas cor do lírio!

Quando eu deixar a terra, anjo inocente,Ó meu formoso lírio perfumado!Reza por mim, de joelhos, docemente,Postas as mãos no seio imaculado,Quando eu deixar a terra, anjo inocente!

FONTEMúsica: José de AlmeidaLetra: “Horto”

Música: Heronides de França Letra: Auta de Souza

Voz4

4

mo

Quan do eu

so lí

dei xar

rio per

a ter

fu do!ma

e lhos, cedo men te, Pos

ra, an jo i cenno te,

Re porza

Oh! meu

mim,

for

jode

tas as mãos no sei o i cuma

la do,

Oh

Quan

formeu

do eu

mo

dei

so

xar

lí rio

tera

per fu

ra, an

do!ma

jo i cenno te!

És es a

D.S. al Fine

_

Am

Am

Dm

E7

A7

G7

C

Dm Am E7

E7

Am

A7

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REGINA COELI(Música de Heronides de França)

O lado místico de tão presente na poesia de Auta de Souza e tão bem exemplificado em Regina coeli, recebeu de Heronides de França a marca constante das suas composições, sem apresentar, entretanto, aquele acento e sabor seresteiros que lhe são peculiares. Isto leva a concluir que havia modinhas para serem cantadas em alegres e sentimentais serenatas ao luar, e outras que parecem naturalmente destinadas ao aconchego dos saraus familiares, onde podiam caber até mesmo canções inspiradas em motivos religiosos.

Neste exemplo, uma delicada melodia passa de um tom maior (sol maior) para outro maior (ré maior), retornando, em seguida, ao tom de origem.

São melodias como estas que fazem Heronides de França o compositor mais adaptado à sensibilidade de Auta de Souza.

Fonte da música: Vicentina de Araújo Cacho

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REGINA COELI

Teu nome santo, ó Maria,Tem a doçura inocenteDe uma carícia macia,De uma quimera dolente.

Nele se embala a esperançaNuma meiguice dileta,Como no berço a criança,Como no verso do poeta.

Do céu teu nome nos desceNuma harmonia divina,Como um cicio de preceNos lábios de uma menina.

Teu nome é cetíneo laçoPrendido em formoso véu,Qual branca nuvem no espaço,Qual uma estrela no céu.

Teu nome reflete a imagemDa melodia serenaQue passa rindo n’aragemE no voejar da falena.

Uma blandícia suaveNele cantando divaga,Como no azul uma ave,Como no mar uma vaga.

Teu nome, cheiroso lírio,No níveo cálice encerraTodo o mistério do EmpíreoToda a alegria da terra.

Como um contraste do encanto,Neste teu nome divisoToda a saudade do prantoE todo afago do riso…

Ah! todo o perfume amado,Toda a fragrância mimosaQue o colibri namorandoBebe no seio da rosa.

Toda a pureza do amor,Todo o feitiço do olhar,Orvalho a cair na flor,Sereno a cair no mar…

Tudo em teu nome palpita,Tudo embriaga e seduz,Como a delícia infinitaDe um paraíso de luz.

E, num canto repassadoDe lirismo que extasia,Teu nome vive embalado,Teu nome santo ó Maria!

FONTEMúsica: Vicentina de Araújo CachoLetra: “Horto”

Música: Heronides de França Letra: Auta de Souza

Voz3

4

cen

Teu no

te

me to, ósan

De um a

Ma ri

ca rí

me ra do te. len Nê se emle

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macia ci

Tem doa

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De um a

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la aba es pe ran ça

an ça,

Nu ma

Co

mei cegui

mo

di

no

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ver

ta,

so

moCo

podo

no

e

ber

ta.

ço a cri

D.C.

G

G

D7 G

D7

A7

G A7

D

D7

D

Am D7 G

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REZANDO(Música de autor não identificado)

Mais um exemplo de um poema místico de Auta de Souza que alcançou o gosto popular, esta canção não é uma modinha típica do começo do século XX. Cantada em solenidades religiosas durante as festas natalinas, Róseo menino atravessou o país e foi encontrada no Estado de Goiás, sendo gravada pela pesquisadora e cantora Maria Augusta Calado, no LP “FONTES CULTURAIS DA MÚSICA DE GOIÁS ‒ 4 Cantos de Presépio”, Goiânia, 1985. Informa-se no encarte do disco que as músicas gravadas são cantadas durante o Natal, principalmente nas cidades de Pirenópolis e Vila Boa de Goiás. Informação pessoal da cantora revelou que naquela região se desconhece ser Auta de Souza a autora dos versos. Ao invés de dez estrofes, são cantadas no disco apenas seis. A melodia ouvida na gravação é, entretanto, idêntica à que se canta no Rio Grande do Norte.

Róseo menino foi, também, incluída na “Enciclopédia do Folclore Musical”, 5º volume, Editora FTD, São Paulo, 1965, publicada por Wagner Ribeiro. Nesta edição o nome de Auta de Souza está referido e a música é indicada como “Música popularizada”. A partitura encontrada naquela edição mostra uma melodia diferente da que se canta aqui em Natal e em Goiás.

Estes dois exemplos mostram a divulgação do poema e da sua autora, associados aos méritos da melodia da qual, infelizmente, não foi possível identificar o autor. A divulgação desta canção pelo território nacional e a sua identificação como elemento folclórico, são a prova da sua popularidade.

Fonte da música: Madre Calvário (Maria Dulce Coelho)

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REZANDO (RÓSEO MENINO)

Meu cravo olente,Cor de marfim,Pobre inocente,Branco jasmim!

Entre as palhinhas,Pequeno amor, Das criancinhasTu és a flor.

Cabelo louro,Olhos azuis...És meu tesouro,Manso Jesus!

Estrela pura,Santo farol,Flor de candura,Raio de sol...

Dá-me a esperançaNum teu olhar: Loura criança,Me ensina a amar.

Sonho formosoCheio de luz,Jesus piedoso,Meu bom Jesus...

Como eu te adoro,Pequeno assim!Jesus, eu choro,Tem dó de mim.

No doce encantoDe um riso teu,Jesus tão santoLeva-me ao céu!

Em ti espero,Mostra-me a luz...Leva-me, eu queroVer-te, Jesus!

FONTEMúsica: Madre CalvárioLetra: “Horto”

Música: Autor não identificado Letra: Auta de Souza

Voz2

4

vi no,

seo nime

San to

no

Je sus!

Fei to de luz,

San to

Lí rio

sus!Je

di

D.C. al Fine

A

A

E A

E7 A

A7 D

E7 A1.

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TEUS ANOS(Música de Cirilo Lopes da Silva)

O autor desta melodia, Cirilo Lopes, nasceu na terra de Auta de Souza – Macaíba –, em 1887. Tocou contrabaixo na banda de música do Batalhão de Segurança (Polícia Militar), entre 1907 e 1912.

Transferindo-se para o Pará, formou um duo com o conhecido violonista João Santa Cruz, apresentando-se em vários Estados e, em Natal, no Teatro Carlos Gomes (Alberto Maranhão), em 1927.

Faleceu no Pará, em data não localizada.A repetição de um ou mais versos de uma canção foi um

artifício muito utilizado pelos compositores da modinha brasileira, em geral. A forma mais comum é a repetição do último ou dos dois últimos versos. Ocorre, com menos frequência, repetir-se o segundo, ou mesmo o primeiro e segundo versos. Nesta modinha, o compositor emprega a rara repetição dos três últimos versos de cada estrofe. É a única modinha de autor norte-rio-grandense a apresentar tal peculiaridade.

Embora sendo músico militar, o autor deu à melodia que fez para Teus Anos aquele doce acento das velhas modinhas seresteiras, tornando a canção uma das mais populares do cancioneiro de Auta de Souza.

Fonte da música: José de Almeida

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TEUS ANOS

Mas... o que dirás tu quando, de leve,Bem cedinho batendo à tua porta,Vires meu coração frio, de neve,Pobre flor sem perfume e quase morta?

Manda-o entrar... E dize, ó doce amada!Que ele se aqueça desse olhar no brilho...Vai de tão longe te pedir pousada:Deixa-o ficar no berço de teu filho...

FONTEMúsica: José de AlmeidaLetra: “Horto”

Obs.: Estrutura musical rara na modinha: são repetidos os três últimos versos do quarteto e não os dois, como é mais comum. A grafia dos poemas foi conferida com o texto do Horto, em sua 3ª edição, 1936. Mesmo obedecendo a grafia atualizada, procurou-se manter, no que foi possível, a forma original.Atualizaram-se algumas palavras grafadas com inicial maiúscula.

Música : Cirilo Lopes Letra : Auta de Souza

VOZ4

4

Teus

co mo

a nos

pro cu

mana hã.

rei topor

des se... e a chei, menso te,

Fui ver

da te)par

con te,ten

Um mi mo

(E

teque

Meu tetris co ra ção, mi semmo

te!)

te.ar

Um

tris te

mi mo

(E

desque

co

se... e

mo

raco ção,

a

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chei

cu

so

rei

men

por

mi mo sem ar

te,

dato par

Meu

te. Mas...

D.S. al Fine

G♯7

E B7

B

E

C♯m F♯7

B7

E

B7

F♯7

G♯

B

E

C♯m

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Sugestões de formas para acompanhamento das modinhas publicadas

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Sugestões de formas para acompanhamento ao violão. Para teclado, considerem-se os baixos como mão esquerda.

Melodia ternária em modo menor: OLHOS AZUISMelodia de Heronides de França

Primeiro exemplo:

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Segundo exemplo:

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Terceiro exemplo:

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Quarto exemplo:

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Melodia quaternária em modo maior: TEUS ANOSMúsica de Cirilo Lopes

Primeiro exemplo:

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Segundo exemplo:

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Terceiro exemplo:

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Quarto exemplo:

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Estes exemplos, bem como os da página anterior, são calçados nas formas tradicionais de acompanhamento de modinhas. Os desenhos melódicos dos baixos ficam a cargo da criatividade do acompanhante. É aconselhável a utilização dos acordes tradicionais, evitando-se o emprego da harmonia moderna

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ANEXO I

HINO A AUTA DE SOUZAVERSÕES I E II

Não foi possível obter nenhuma informação sobre os autores da música e letra deste hino. O jornal “A República”, de 18 de novembro de 1911, ao publicar o programa da retreta da banda do Batalhão de Segurança (Polícia Militar), anuncia um Hino Escolar Auta de Souza. O compositor é o clarinetista espanhol José Bernardo Borrajo (1880-1938), que exercia a função de regente daquele conjunto. Esse musicista esteve em Natal entre os anos de 1903 e 1919. Não se pode afirmar se a composição referida é uma das que aqui estão publicadas.

Fontes: Berenice de Souza Guedes, de Luzanira Lima Araújo e Leonor

Dantas de Oliveira (Macaíba).

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Hino a Auta de Souza

Nesta terra humilde e pequeninaOnde nasceste para a nossa glória,Rende, no dia do teu natalício,Sincera homenagem à tua memória.

Repousa Auta, com o Senhor,Anjos te embalem, com muito amor,Anjos te embalem, com muito amor,Repousa Auta, com o Senhor.

Durante a permanência aqui na terraDeixaste, Auta, um rastro de luz,Viveste pouco porque precisavasVoltar depressa aos pés de Jesus.

Repousa, Auta, com o Senhor...

Salve do Horto a grande poetisaQue viveu neste mundo a sonharNo coração de toda MacaíbaTeu nome eternamente há de estar.

Repousa, Auta, com o Senhor...

Teu jasmineiro ainda conservamosComo relíquia da tua existênciaSempre viçoso, aroma exalandoAs aves o festejam com frequência.

Repousa, Auta, com o Senhor...

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HINO A AUTA DE SOUZA (1)Versão 1

Música e letra de autor não identificado

Voz4

4

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ces te

ta ter ra milhu

rapa sanos gló

teu tana ciolí Sin race

de e quepe ni na

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dino a do

meho na gem a metua mó ria. Re

lem

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Ausa

mui to a

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mor.

Com o horSen

Du mui mor.to a

An jos te em ba

FIM

A C♯7

A D7

F♯m

E7

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A E A A7

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E7

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E7 A A1.

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HINO A AUTA DE SOUZA (2)Versão 2

Música e letra de autor não identificado

VOZ4

4

Nes

ces te

ta ter ra milhu

rapa nos sa gló

tana li cio Sin ce hora

de e quepe ni

ria Ren node

na deOn nas

di doa teu

me na gem a metua mó ria.

muiCom

pouRe

to a

sa

pouRe sa

mor.

Au ta

Au ta

An

com

te emjos

o

com Seno

horSen

lemba

hor.

An

muicom

jos

Du com

to a

te em

mor

lemba

o hor.Sen

FIM

D

F♯m

A

C♯7

C♯7

A E7

D7 A

Bm

F♯m

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E7

Bm

A

A

A1.

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Dois poemas musicados(Sem partitura)

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O poema “No Templo”, datado de Jardim ‒ 1895, está publicado na revista “Oásis”, edição de 15 de abril de 1897, com o título de “Na igreja”. Foi cantado por Carolina Wanderley na festa de 10º aniversário do Grupo Escolar “Frei Miguelinho”, a 21 de abril de 1923. Não foi possível saber quem o musicou nem encontrar-se quem conhecesse sua melodia.

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NO TEMPLOQue suave harmonia

Em tua voz...Tu roubaste-a, Maria,

Aos rouxinóis?

Aqui na igreja santa,Se vens rezar,

Quanta piedade, quanta!Trazes no olhar.

Maria! Como és bela,Junto a Jesus!

O teu olhar de estrela Parece luz.

E que doce brancuraNa tua cor...

Tens a pálida alvuraDe um lírio em flor.

Junta estas mãos, formosa!Assim... Assim...

Deixa o lábio de rosaPedir por mim.

Vale tanto uma prece,Dita por ti!

Mas... A noite já desce,Vamos daqui.

Olha que eu tenho medo,Da escuridão...

Vamos: termina cedoTua oração.

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Em 1900, o Rio Grande do Norte pertencia à Diocese da “Parahyba”. O bispo D. Adaucto Aurélio de Miranda Henriques vinha sempre ao Estado, em visita pastoral. Naquele ano, chegou a Natal no dia 14 de janeiro. Recebido na estação ferroviária por muita gente e moças vestidas de branco, dirigiu-se à Matriz, onde cantou solene Te-Deum. O poema “Hino” foi publicado no jornal OITO DE SETEMBRO, edição de 16 de janeiro de 1900.

O maestro Luís de França Coelho foi o autor da melodia, infelizmente perdida. Era professor de música no Atheneu, regente da orquestra do Club Carlos Gomes e ensinava particular. Exerceu a função de amanuense da Secretaria de Polícia. Em 1901 organizou a Filarmônica “Luís Coelho”, que participou de muitos eventos da cidade. Faleceu em Natal, a 22 de janeiro de 1924.

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HINOCantado por ocasião da chegada do Exmo.

Reverendíssimo Bispo D. Adaucto Aurélio de Miranda Henriques. Música de Luís Coelho.

O bom Deus quando andava no mundoAfagando as crianças e as flores,Trouxe alívio ao tormento profundoE um sorriso para todas as dores.

O bom Deus quando andava no mundo Afagando as crianças e as flores.

E vós sois o levita inspiradoNa palavra do meigo Jesus.Pelas mãos do Senhor consagradoGuia e mestre da pátria e da luz.

E vós sois o levita inspiradoNa palavra do meigo Jesus.

Ama a terra o sereno que desceSobre os ramos, as flores e os ninhos,Nós amamos a bênção da prece,Que ilumina da vida os caminhos.

Ama a terra o sereno que desceSobre os ramos, as flores e os ninhos,

E noss’alma ajoelha e se inclina,Desdobrando das mágoas o véu,Vem pedir-vos a bênção divinaQue o bom Deus nos envia do céu.

E noss’alma ajoelha e se inclina,Desdobrando das mágoas o véu.

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ANEXO II

HOMENAGEM DO AUTOR

1 ‒ Cantiga 2 ‒ Trança loura

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CANTIGA

Natal, 1989 Auta de Souza

Voz

Piano

6

8

6

8

6

8

Que bus cas

Meu son ho

tu a vo ar?

dou ra do e le

Um nin

ve,

ho bran co de

Música e harmonização: Cláudio Galvão

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E em bus ca

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das nu vens be

Meu so nho

las Lá vai

cor das es tre

meu so nho a can

las,

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2

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Pergunto ao sonho chorando,Por que foges a cantar?E ele responde, cantando:Por que foges a cantar?

E em busca das nuvens belasFoi-se o meu sonho a cantar...Meu sonho cor de estrelas,Meu sonho cor do luar.

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ne ve On de me dei xem can tar.

E em bus ca

tar...

das nu vens be

Meu so nho

las Lá vai

cor das es tre

meu so nho a can

las,

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2

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soMeu cornho do lu ar. ar

Do S ao FIM

FIM

1.

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3

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TRANÇA LOURA

Música e harmonização: Cláudio Galvão Natal, 1985 Auta de Souza

Voz

Piano

6

8

6

8

6

8

Que eu dovi

A dalin

min go à noi nha,ti

tran ça dou dara

Guar da va a ciezma a

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da,ma Das pe nas ma ande u do nha.ri

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daBor da

cor da va u ma es

com osfi de ou ro...

pe ran ça

Ó ce edo mi mo sa

2

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Ventura, sonho, alegria,Tudo se resume ali...Para tecer serviriaO ninho de um colibri.

Era noite já, e, no entanto,A loura madeixa olhando,Cuidei que, cheio de encanto,O dia vinha raiando.

Deus fê-la numa redomaDe beijos, de luz, de amor,E deu-lhe o sagrado aromaDas madressilvas em flor.

Ah! sobre aqueles risonhos,Dourados, macios folhos,Quem dera embalar meus sonhos,Quem dera cerrar meus olhos!

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ça,tran Meu rai deo sol tão lou ro!

D.S. al Fine

FIM

3