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Calheiros, M.M. (2006). A construção social do mau trato e negligência: do senso-comum ao conhecimento científico. Fundação Calouste Gulbenkian/Fundação para a Ciência e Tecnologia. Imprensa de Coimbra Lda. (ISBN 972-31-1132-2; Depósito Legal N.º 248487/06) A Construção Social do Mau Trato e Negligência Parental: do Senso - Comum ao Conhecimento Científico M. Manuela de Amorim Calheiros Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa Lisboa, 2002

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Calheiros, M.M. (2006). A construo social do mau trato e negligncia: do senso-comum ao conhecimento cientfico. Fundao Calouste Gulbenkian/Fundao para a Cincia e Tecnologia. Imprensa de Coimbra Lda. (ISBN 972-31-1132-2; Depsito Legal N. 248487/06)

A Construo Social do Mau Trato e Negligncia Parental: do Senso - Comum ao Conhecimento Cientfico

M. Manuela de Amorim Calheiros

Instituto Superior de Cincias do Trabalho e da Empresa Lisboa, 2002

Dissertao apresentada ao Instituto Superior de Cincias do Trabalho e da Empresa com vista obteno do grau de Doutora em Psicologia Social e Organizacional, na especialidade de Psicologia Social, Ambiental e Comunitria

Orientao: Professora Doutora Maria Benedicta Monteiro

Este trabalho foi parcialmente financiado pela Fundao para a Cincia e a Tecnologia, atravs do Programa PRAXIS XXI, Processo BD/2611

Ao Simo

Agradecimentos Professora Maria Benedicta Monteiro, pelo constante rigor e exigncia, pelo incentivo renovao e pela capacidade de, em simultneo, partilhar a sua experincia e saber com o estmulo de um crescimento autnomo e confiante, um reconhecimento muito especial. Agradeo Fundao para a Cincia e Tecnologia, que, atravs de uma bolsa de Doutoramento do programa PRAXIS possibilitou a minha inteira disponibilidade para a recolha de todos os dados deste trabalho e agradeo ainda s vrias instituies Universidades e Institutos Politcnicos, Escolas do Ministrio da Educao, Comisses de Proteco de Menores e Instituto de Reinsero Social do Ministrio da Justia onde me foram facultados os participantes dos diferentes estudos desenvolvidos. Agradeo a todos os tcnicos que trabalham nestas instituies, pela disponibilidade demonstrada, revelando grande sensibilidade e interesse pelo problema do mau trato infantil. Estou igualmente muito grata a todos os que contriburam, quer atravs da discusso Prof Luisa Lima, Prof Adelina Lopes da Silva, Prof. Jorge Vala e Prof. Leonel Garcia Marques, quer atravs da leitura de alguns dos Captulos Prof Paula Castro, Prof Isabel Correia e ao Dr Diniz Lopes. A todos os meus colegas do ISCTE, quero ainda agradecer o bom ambiente de trabalho e o nimo amigo com que sempre me ajudaram e motivaram, especialmente Joana, Margarida, Isabel, Diniz, Susana, Ana, Snia e Silvia. A esta ltima no posso deixar de referir a generosidade amiga com que sempre partilhou as aprendizagens e momentos mais difceis. Aos meus amigos, Salom, Telmo, Lena, Clara e Duarte, que partilharam comigo ao longo de todo este percurso os momentos difceis, especialmente a Salom, com quem tambm discuti algumas das questes inerentes concretizao dos estudos, estarei sempre grata e expresso o meu carinho e apreo. Tambm Madalena pelo apoio com o Simo e Tnia e Filipa Arbuez pela ajuda inestimvel nesta fase final do trabalho. minha famlia agradeo o imenso respeito que demonstraram ter por este trabalho, que to pouco me pediram quando tanto precisavam. Ao Pedro e Ana um obrigado muito especial. O amor no se pode nem deve agradecer, por isso, no h palavras para dizer ao Rui e ao Simo, que em todas as horas estiveram presentes e cuja confiana e serenidade redobradas me ajudaram a chegar at ao fim.

Resumo O presente trabalho analisa um conjunto de questes relativas definio e avaliao do mau trato e negligncia e estuda os determinantes da parentalidade abusiva. Foram realizados quatro estudos. Os dois primeiros estudos so relativos definio e avaliao do mau trato e da negligncia numa abordagem ecolgica e multissistmica. O Estudo 1 incide sobre a definio intra-cultural do mau trato, negligncia e abuso sexual e sobre os factores psicossociais responsveis pela variabilidade da atribuio de gravidade dos diferentes indicadores obtidos. O Estudo 2 inicia a validao do instrumento de avaliao do mau trato, negligncia e abuso sexual em contexto familiar, de crianas entre os 0 e 15 anos, com uma amostra de famlias portuguesas e identifica os factores socioecolgicos das famlias sinalizadas s Instituies de Proteco de Menores. O Estudo 1 foi desenvolvido com estudantes universitrios na rea das cincias sociais atravs de um questionrio de atribuio de gravidade sobre as dimenses obtidas na anlise de contedo das definies do Direito portugus, dos relatrios tcnicos e do senso-comum. O Estudo 2 foi desenvolvido com o instrumento de avaliao do mau trato e negligncia construdo a partir do Estudo 1, com dados obtidos na anlise documental de processos e entrevistas aos tcnicos. Os dois ltimos estudos so relativos aos determinantes da parentalidade abusiva. O Estudo 3 - analisa o pensamento do senso-comum sobre as causas do abuso dos pais aos filhos, e o segundo - o Estudo 4 - testa empiricamente um conjunto de determinantes causais do mau trato e da negligncia parental. Quer num, quer no outro estudo, o enquadramento terico proposto advm das perspectivas contextualistas (e.g., Belsky, 1980, 1984; Cicchetti & Rizley, 1981) e sociocognitivas (e.g., Goodnow & Collins, 1990). O Estudo 3 tem por objectivos analisar as dimenses e a estrutura de um conjunto de crenas causais sobre a parentalidade abusiva, e analisar quais so os pontos de ancoragem para a variabilidade dessas crenas no senso-comum. O Estudo 4 tenta responder a duas questes que orientam a investigao sobre os determinantes da parentalidade. Em primeiro lugar, pretende-se saber se existem associaes entre variveis quer de ordem pessoal, familiar e social, quer de ordem sociocognitiva e as prticas maternas de mau trato e negligncia. Em segundo lugar, pretende-se estudar os processos subjacentes e o significado das relaes entre as variveis includas nos vrios modelos. Ou seja, iremos procurar saber que tipo de relaes existem, qual a sua magnitude, e quais os factores que afectam a direco e a magnitude da associao. Usmos para estes dois estudos sobre os determinantes da parentalidade abusiva dois conjuntos de dados. O Estudo 3 foi desenvolvido com um questionrio elaborado para a investigao em causa, tendo-se recorrido s dimenses tericas propostas pelas diferentes abordagens sobre a etiologia do mau trato. O Estudo 4 provm de um conjunto de instrumentos elaborados a partir de investigao emprica com pais ou em reas relacionadas com a parentalidade. Dadas as caractersticas especficas da amostra, alguns dos instrumentos foram submetidos a estudos prvios. Uma vez que, a discusso dos resultados apresentada na parte final de cada Estudo, esta dissertao termina com uma discusso geral do trabalho onde se salientam as limitaes e as implicaes dos presentes resultados para futuras investigaes, salientando tambm os dados mais relevantes para o planeamento de intervenes comunitrias e preventivas que tenham por objectivo promover nas famlias um maior envolvimento social e um melhor desempenho parental.

ndice Introduo ..................................................................................................................... 11. Construo social das prticas parentais de mau trato e de negligncia: definio do problema e enquadramento terico geral...................................................................................................................... 3 2. Objectivos do trabalho ........................................................................................................................... 9 3. Apresentao do plano do trabalho ...................................................................................................... 16

Captulo 1 Socializao e parentalidade: o espao conceptual da Psicologia Social do DesenvolvimentoApresentao do Captulo ........................................................................................................................ 21 Introduo ................................................................................................................................................ 23 1. Os pressupostos sobre a natureza humana e a sua relao com o meio ............................................... 26 1.1. Perspectivas inatistas e diferenciais ....................................................................................... 29 1.2. Perspectivas cognitivas .......................................................................................................... 30 1.3. A viso contextualista do desenvolvimento humano ............................................................. 33 1.4. Perspectivas sociocognitivas ................................................................................................. 35 2. A parentalidade abusiva ....................................................................................................................... 37

Captulo 2 A interface entre o contexto social e as cincias sociais na construo do mau trato e neglignciaApresentao do Captulo ........................................................................................................................ 45

Parte 1 - A definio social do mau trato e negligncia1. Contexto histrico: conceito de criana maltratada como um problema social e a sua evoluo at aos anos 60 ..................................................................................................................................................... 47 2. Contexto cultural: variao entre culturas nos valores educacionais e nas prticas disciplinares ....... 52 2.1. Diferenas culturais nas prticas de educao ....................................................................... 52 2.2. Investigao sobre os factores que influenciam as definies culturais ................................ 55 3. Contexto institucional e as definies tcnicas .................................................................................... 58 3.1. As diferentes cincias sociais e as definies tcnicas .......................................................... 58 3.2. O impacto dos contextos de definio: factores que influenciam as definies tcnicas nos estudos sobre incidncia ............................................................................................................... 62 3.1.1. Investigao sobre factores profissionais......................................................................... 63 3.1.2. Investigao sobre factores situacionais da famlia e criana .......................................... 66 3.1.3. Investigao sobre os critrios de avaliao do mau trato, negligncia e abuso sexual ... 72 4. Problemas associados s definies de senso-comum e tcnicas na designao oficial de abuso e constituio das amostras para investigao ............................................................................................ 73

Parte 2 - O contexto acadmico de definio1. Perspectiva desenvolvimentista: abordagem centrada nas prticas e nos estilos parentais abusivos ... 76 1.1. Abordagem das interaces pais filhos ............................................................................... 77 1.2. Abordagem das tcnicas disciplinares ................................................................................... 79 1.3. Abordagem tipolgica ........................................................................................................... 80 2. Perspectiva centrada na conceptualizao do mau trato e negligncia: critrios de definio e avaliao em investigao ....................................................................................................................... 85 2.1. Subtipos e dimenses do mau trato e da negligncia ........................................................... 86 2.1.1. Mau trato fsico ................................................................................................................ 86 2.1.2. Mau trato psicolgico ...................................................................................................... 87 2.1.3. Negligncia ...................................................................................................................... 88 2.1.4. Abuso sexual ................................................................................................................... 89 2.1.5. Dimenses na avaliao do mau trato e negligncia........................................................ 90 2.2. Conceptualizao do mau trato e negligncia ........................................................................ 92 2.2.1. Perspectiva centrada nas consequncias para a criana ................................................... 92

2.2.2. Perspectiva centrada no comportamento parental ........................................................... 94 2.2.3. Perspectiva centrada no comportamento parental e nas consequncias para a criana .. 96 2.3. Instrumentos de avaliao e mtodos de recolha de dados para investigao ....................... 97 2.3.1. Avaliao com tcnicos .................................................................................................. 98 2.3.2. Avaliao com pais e crianas ........................................................................................ 99 3. Perspectiva ecolgica: definio de matriz multissistmica ............................................................. 101 3.1. Definio Intracultural ........................................................................................................ 104 3.1.1. Contnuo de parentalidade adaptada/inadaptada ........................................................... 104 3.1.2. Definio intracultural do mau trato e negligncia ...................................................... 106 3.1.2.1. Critrios relativos ao mau trato e negligncia ................................................. 107 3.1.2.2. Critrios relativos ao contexto social e familiar do mau trato e da negligncia. 112 Concluso do Captulo .......................................................................................................................... 115

Captulo 3 A conceptualizao e avaliao do mau trato e negligncia - estudos empricosApresentao do Captulo ..................................................................................................................... 121

Estudo 1- Definio intra-cultural do mau trato e da negligncia e elaborao de um instrumento de avaliao1. Objectivos especficos....................................................................................................................... 123 2. Definio intra-cultural do mau trato, negligncia e abuso sexual.................................................... 125 2.1. Sistema de categorizao .................................................................................................... 125 2.2. Descritores de gravidade do mau trato, negligncia e abuso sexual ................................... 127 2.3. Elaborao e pr-teste do instrumento de avaliao da gravidade do mau trato, negligncia e abuso sexual ............................................................................................................................... 127 2.3.1.Instrumento, descrio da amostra e procedimento ....................................................... 127 2.3.2. Resultados do pr-teste e elaborao final do questionrio de avaliao da gravidade 128 2.4. Estudo da gravidade do mau trato, negligncia e abuso sexual........................................... 129 2.4.1. Descrio da amostra e procedimento ........................................................................... 129 2.4.2. Resultados ..................................................................................................................... 130 2.4.2.1. A variabilidade da ordenao da gravidade e as caractersticas dos sujeitos ..... 130 2.4.2.2.Definio intra-cultural de mau trato, negligncia e abuso sexual ..................... 136 2.5. Elaborao do Questionrio de Avaliao do Mau Trato, Negligncia e Abuso Sexual .... 137 3. Concluses do Estudo 1 .................................................................................................................... 138

Estudo 2 - Avaliao do mau trato e da negligncia e contextos socioecolgicos das famlias sinalizadas s instituies de proteco de menores1. Objectivos ......................................................................................................................................... 147 2. Mtodo .............................................................................................................................................. 148 2.1 Amostra, procedimento e instrumento de avaliao ............................................................ 148 3. Resultados ......................................................................................................................................... 151 3.1. Estatstica descritiva das variveis independentes .............................................................. 151 3.1.1. Contexto de interaco .................................................................................................. 151 3.1.2. Caractersticas sociodemogrficas das crianas e famlias ........................................... 153 3.1.3. Contexto comunitrio .................................................................................................... 159 3.2. Estrutura e contedo das dimenses do mau trato e negligncia ........................................ 164 3.3. Factores socioecolgicos associados s dimenses de mau trato e de negligncia ............. 167 3.3.1. Anlises multivariadas .................................................................................................. 168 3.3.2. Anlises univariadas ..................................................................................................... 169 3.3.2.1.Contexto das interaces do mau trato e negligncia ......................................... 169 3.3.2.2.Variveis sociodemogrficas .............................................................................. 170 3.3.3.Contexto comunitrio ..................................................................................................... 175 4. Concluses do Estudo 2 .................................................................................................................... 177 4.1. Questionrio de avaliao do mau trato, negligncia e abuso sexual .................................. 178 4.2. Factores socioecolgicos e prticas parentais de mau trato e negligncia .......................... 180

Captulo 4 Perspectivas tericas sobre os determinantes da parentalidadeApresentao do Captulo ...................................................................................................................... 187

Parte 1 - Perspectivas contextualistasIntroduo .............................................................................................................................................. 189 1. Perspectivas ecolgicas ..................................................................................................................... 190 1.1. Modelo ecolgico dos antecedentes dos maus tratos e negligncia nas crianas ................ 193 2. Perspectivas transaccionais ................................................................................................................ 195 2.1. Modelo transaccional sobre os antecedentes dos maus tratos e negligncia nas crianas ... 198 3. Consideraes ecolgico-transaccionais sobre o impacto das mudanas na famlia ......................... 200 3. 1. Acontecimentos de vida, stress, risco e resilincia na famlia ............................................ 203 3.1.1. O stress como processo transaccional entre a pessoa e o meio ...................................... 203 3.1.2. O stress como processo de risco, resilincia e desenvolvimento ................................... 206

Parte 2 - Perspectivas sociocognitivasIntroduo .............................................................................................................................................. 213 1. Contedos e estrutura das cognies parentais .................................................................................. 215 2. Funes das cognies: relao com as prticas parentais ................................................................ 224 3. Origens das cognies parentais ........................................................................................................ 228 3.1. Perspectivas centradas nas experincias dos pais ................................................................ 229 3.1.1. Perspectivas centradas nas interaces dos pais com os filhos ...................................... 230 3.1.2. Perspectivas centradas nas experincias anteriores dos pais.......................................... 235 3.2. Perspectivas centradas na influncia cultural ...................................................................... 241 Concluso do Captulo ........................................................................................................................... 243

Captulo 5 Determinantes da parentalidade abusiva - estudos empricosApresentao do Captulo ...................................................................................................................... 247 Introduo .............................................................................................................................................. 249

Estudo 3 - Crenas do senso-comum sobre as causas do mau trato e factores de variabilidade1. Objectivos especficos ....................................................................................................................... 252 2. Mtodo............................................................................................................................................... 257 2.1. Sujeitos e procedimento ....................................................................................................... 257 2.2. Descrio das variveis ....................................................................................................... 257 3. Resultados.......................................................................................................................................... 259 3.1. Estrutura e contedo das crenas parentais .......................................................................... 259 3.2. Factores de variabilidade das crenas .................................................................................. 260 4. Concluses do Estudo 3 ..................................................................................................................... 264

Estudo 4 - Factores ecolgicos e sociocognitivos do funcionamento parentalIntroduo .............................................................................................................................................. 269 1. Mtodo............................................................................................................................................... 274 1.1. Amostra e procedimento ...................................................................................................... 274 3.2.Medidas ................................................................................................................................ 277

Parte 1 - Modelos contextualistas da parentalidade abusiva1. Sub-sistema familiar e prticas maternas abusivas ............................................................................ 296 1.1. Objectivos ............................................................................................................................ 297 1. 2. Modelo 1. - Estrutura familiar e prticas maternas abusivas: o papel moderador do sexo e da idade da criana .......................................................................................................................... 302 1.2.1.Resultados - Efeitos da estrutura familiar na parentalidade: o papel moderador do sexo e idade dos filhos ........................................................................................................................ 304 1.3. Modelo 2. - Contexto exo-sistmico, estrutura familiar e prticas maternas abusivas: o papel mediador das relaes familiares................................................................................................ 306 1.3.1. Resultados - Efeitos das variveis do exossistema e da estrutura familiar na parentalidade: o papel mediador da violncia domstica, conflito e coeso familiar .............. 309 1.4. Modelo 3 Relaes familiares e prticas maternas abusivas: o papel mediador do suporte social institucional e informal .................................................................................................... 313

1.4.1. Resultados - Efeitos das relaes familiares na parentalidade: o papel mediador do suporte social institucional e informal .................................................................................... 315 1.5. Modelo 4 Relaes familiares e prticas maternas abusivas: o papel mediador das competncias maternas .............................................................................................................. 318 1.5.1. Resultados - Efeitos das relaes familiares na parentalidade: o papel mediador das competncias maternas ........................................................................................................... 319 1.6. Modelo 5 Estrutura e relaes familiares e prticas maternas abusivas: o papel moderador da avaliao do significado, dos recursos e das estratgias comportamentais ........................... 321 1.6.1.Resultados - Efeitos da estrutura familiar e relaes familiares na parentalidade: o papel moderador da avaliao cognitiva e estratgias comportamentais .......................................... 326 1.7. Modelo 6 Atribuies maternas sobre a situao conjugal e prticas maternas abusivas: o papel mediador da satisfao com a situao conjugal .............................................................. 333 1.7.1. Resultados - Efeitos das atribuies na parentalidade: o papel mediador da satisfao familiar .................................................................................................................................... 335 1.8. Concluses dos modelos que testam as relaes entre o sub-sistema familiar e as prticas maternas abusivas ...................................................................................................................... 337 2. Sub-sistema do trabalho e prticas maternas abusivas ...................................................................... 346 2.1. Objectivos ........................................................................................................................... 349 2.2. Modelo 1. - Estatuto e horas de trabalho e prticas maternas abusivas: o papel moderador da avaliao cognitiva da situao perante o trabalho .................................................................... 353 2.2.1.Resultados - Efeitos do estatuto e horas de trabalho na parentalidade abusiva: o papel moderador da avaliao primria, dos recursos, das atribuies e das estratgias comportamentais na situao de trabalho ............................................................................... 358 2.3. Modelo 2. - Estatuto e horas de trabalho, avaliao cognitiva e prticas maternas abusivas: o papel mediador das estratgias comportamentais na situao de trabalho ................................. 364 2.3.1. Resultados - Efeitos das variveis estatuto e horas de trabalho e da avaliao cognitiva de significado na parentalidade: o papel mediador das estratgias comportamentais na situao de trabalho............................................................................................................................... 365 2.4. Modelo 3. Nvel socioeconmico, horas e satisfao com o estatuto de trabalho, e prticas maternas abusivas: o papel mediador das competncias maternas e do suporte marital ............ 367 2.4.1. Resultados - Efeitos do nvel socioeconmico, horas de trabalho e satisfao com a situao de trabalho na parentalidade: o papel mediador do suporte conjugal e das competncias maternas ........................................................................................................... 369 2.5. Modelo 4. Nvel socioeconmico, horas e satisfao com o estatuto de trabalho, e prticas maternas abusivas: o papel moderador do suporte conjugal, informal e institucional ............... 371 2.5.1. Resultados - Efeitos do nvel socioeconmico, horas e satisfao no trabalho na parentalidade abusiva: o papel moderador do suporte marital, informal e institucional ......... 373 2.6. Concluses ......................................................................................................................... 379 3. Sub-sistema das interaces pais-filhos, prticas maternas abusivas e desenvolvimento da criana 384 3.1. Resultados - Efeitos das percepes maternas sobre o comportamento dos filhos no desenvolvimento e rendimento escolar: o papel mediador das prticas maternas abusivas ....... 387 3.2. Concluses .......................................................................................................................... 389

Parte 2 - Modelos sociocognitivos da parentalidade abusiva1. Experincia materna com a criana, ideias e prticas maternas abusivas ......................................... 391 1.1. Objectivos ........................................................................................................................... 395 1.2. Experincia e percepo materna dos filhos, desenvolvimento da criana e prticas maternas abusivas Resultados das anlises dos valores, crenas e atribuies maternas ....................... 400 1.2.1. Experincia e percepo materna dos filhos, desenvolvimento da criana, valores maternos sobre educao e prticas maternas abusivas .......................................................... 402 1.2.2. Experincia e percepo materna dos filhos, desenvolvimento da criana, crenas maternas sobre educao e prticas maternas abusivas........................................................... 407 1.2.3. Experincia e percepo materna dos filhos, desenvolvimento da criana, atribuies maternas e prticas maternas abusivas .................................................................................... 413 1.3. Experincia e percepo materna dos filhos, desenvolvimento da criana e prticas maternas abusivas comparao de dois modelos de ideias maternas sobre educao ............................ 418 1.3.1. Modelo molecular das ideias maternas ......................................................................... 419 1.3.2. Estrutura do sistema de ideias maternas ........................................................................ 420 1.3.3. Modelo molar das ideias maternas ................................................................................ 422 1.4. Concluses .......................................................................................................................... 427 2. Experincia da me na infncia, contexto social, ideias maternas e prticas abusivas .................... 435

2.1. Modelo 1. Experincia da me na infncia e prticas maternas abusivas: o papel mediador das ideias maternas ..................................................................................................................... 435 2.1.1. Resultados...................................................................................................................... 440 2.2. Modelo 2. Insero social e identidade materna e prticas maternas abusivas: o papel mediador das ideias maternas ..................................................................................................... 443 2.2.1 Resultados....................................................................................................................... 446 2.3.. Modelo 3. Experincia materna na infncia, insero social e identidade materna e prticas maternas abusivas: o papel mediador das ideias maternas ......................................................... 449 2.3.1.Resultados....................................................................................................................... 450 2.4.Concluses ............................................................................................................................ 452

Captulo 6 Discusso geral do trabalho...................................................................................... 457 Referncias ................................................................................................................ 481 Anexos.521

ndice de QuadrosQuadro 3.1 - Descrio da amostra do pr-teste do questionrio de gravidade .......................................... 128 Quadro 3.2 - Descrio da amostra do estudo ............................................................................................. 129 Quadro 3.3 - Resultados da comparao das duas amostras (pr-teste e estudo)........................................ 130 Quadro 3.4 - Efeitos da idade e sexo na avaliao da gravidade dos descritores de negligncia (valores de F e nveis de significncia) ............................................................................................................................... 131 Quadro 3.5 - Mdias e desvios-padro da gravidade do descritor da habitao nos dois grupos etrios por sexo ................................................................................................................................................................ 132 Quadro 3.6 - Efeitos da idade e sexo na avaliao da gravidade dos descritores de Mau Trato Psicolgico (valores de F e nveis de significncia) ......................................................................................................... 132 Quadro 3.7 - Mdias e desvios-padro da gravidade do descritor de desenvolvimento scio-moral nos dois grupos etrios por sexo ................................................................................................................................. 133 Quadro 3.8 - Efeitos da experincia profissional e do contacto com situaes prximas na avaliao da gravidade dos descritores de negligncia (valores de F e nveis de significncia)....................................... 134 Quadro 3.9 - Efeitos da experincia profissional e do contacto com situaes prximas na avaliao da gravidade dos descritores de mau trato psicolgico (valores de F e nveis de significncia) ...................... 135 Quadro 3.10 - Cronicidade do mau trato e negligncia (tempo de referncia s instituies - CPM e IRS) 151 Quadro 3.11 - Tipo de abuso (mau trato e negligncia) que motiva a referncia e a permanncia das famlias nas instituies de proteco de menores (CPM e IRS) ................................................................................ 152 Quadro 3.12 - Perpetradores do abuso......................................................................................................... 152 Quadro 3.13 - Idade da me nascena da criana..................................................................................... 153 Quadro 3.14 - Distribuio das crianas por grupos de idade e sexo .......................................................... 154 Quadro 3.15 - Tipo de famlia e dimenso do agregado familiar ................................................................. 155 Quadro 3.16 - Nmero de crianas no agregado e posio da criana na fratria ....................................... 156 Quadro 3.17 - Escolaridade e situao profissional da me ........................................................................ 156 Quadro 3.18 - Escolaridade e profisso da famlia ...................................................................................... 157 Quadro 3.19 - Fonte principal de rendimento familiar................................................................................. 158 Quadro 3.20 - Tipo de habitao e local de residncia ................................................................................ 158 Quadro 3.21 - Nvel socioeconmico das famlias ........................................................................................ 158 Quadro 3.22 - Grupo tnico das crianas ..................................................................................................... 159 Quadro 3.23 - Tempo de residncia na comunidade..................................................................................... 161 Quadro 3.24 - Estrutura do suporte por instituies avaliadas .................................................................... 162 Quadro 3.25 - Funo do suporte por instituies avaliadas ....................................................................... 163 Quadro 3.26 - Estrutura do suporte por reas avaliadas ............................................................................. 163 Quadro 3.27 - Funo do suporte por reas avaliadas ................................................................................ 164 Quadro 3. 28 - Estrutura e contedo das dimenses do mau trato, negligncia e abuso sexual .................. 165 Quadro 3.29 - Mdias, desvios-padro e valores mximos e mnimos dos 5 factores .................................. 166 Quadro 3.30 - Valores de Lambda de Wilk, de F e de p para a relao entre o conjunto de variveis independentes e os factores de mau trato e negligncia ............................................................................... 168 Quadro 3.31 - Resultados da anlise Univariada - Factores de mau trato e negligncia e perpetradores e cronicidade - F univariados e coeficientes standardizados da funo discriminante ................................... 169 Quadro 3.32 - Mdias nos factores de Mau Trato e Negligncia em funo da cronicidade ....................... 170 Quadro 3.33 - Resultados da anlise Univariada - Factores de mau trato e negligncia e sexo e idade da criana - F univariados e coeficientes standardizados da funo discriminante .......................................... 170 Quadro 3.34 - Resultados da anlise Univariada - Factores de mau trato e negligncia tipo de famlia e nmero de adultos - F univariados e coeficientes standardizados da funo discriminante ........................ 171 Quadro 3.35 - Resultados da anlise Univariada - Factores de mau trato e negligncia e n de crianas e posio da criana na fratria - F univariados e coeficientes standardizados da funo discriminante ....... 172 Quadro 3.36 - Mdias nos factores de Mau Trato e Negligncia em funo do nmero de crianas .......... 172 Quadro 3.37 - Resultados da anlise Univariada - Factores de mau trato e negligncia e escolaridade e situao profissional da me - F univariados e coeficientes standardizados da funo discriminante ........ 173 Quadro 3.38 - Mdias nos factores de Mau Trato e Negligncia em funo da escolaridade da me ......... 173 Quadro 3.39 - Resultados da anlise Univariada - Factores de mau trato e negligncia e etnia e nvel socioeconmico - F univariados e coeficientes standardizados da funo discriminante ............................ 174 Quadro 3.40 - Mdias nos factores de Mau Trato e Negligncia em funo do nvel socioeconmico da famlia............................................................................................................................................................ 175

Quadro 3.4 - Resultados da anlise Univariada - Factores de mau trato e negligncia e as variveis tempo de residncia, estrutura e funo do suporte - F univariados e coeficientes standardizados da funo discriminante.................................................................................................................................................. 176 Quadro 3.42 - Mdias nos factores de Mau Trato e Negligncia em funo do tempo de residncia ......... 176 Quadro 3.43 - Mdias nos factores de Negligncia em funo da estrutura do suporte ............................... 177 Quadro 5.1 - Nvel socioeconmico das famlias .......................................................................................... 257 Quadro 5.2 - Nmero de filhos ...................................................................................................................... 258 Quadro 5.3 - Contacto pessoal e formal com o mau trato ............................................................................. 258 Quadro 5.4 - Estrutura factorial das crenas dos pais sobre as causas do mau trato na famlia ................. 259 Quadro 5.5 - Estatstica descritiva dos quatro factores de crenas .............................................................. 260 Quadro 5.6 - Efeitos do estatuto socioeconmico e meio na adeso a diferentes tipos de crenas (valores de F e nveis de significncia) ............................................................................................................................ 261 Quadro 5.7 - Mdias das crenas ontognicas e ideolgicas segundo o estatuto socioeconmico............... 261 Quadro 5.8 - Efeitos do estatuto, experincia parental e contactos com o mau trato na adeso a diferentes tipos de crenas (valores de F e nveis de significncia) ............................................................................... 261 Quadro 5.9 - Efeitos da experincia pessoal e contacto formal com o mau trato na adeso a diferentes tipos de crenas (valores de F e nveis de significncia)........................................................................................ 263 Quadro 5.10 - Comparao das mdias do mau trato e negligncia e das variveis controladas ............... 275 Quadro 5.11 - Estrutura factorial dos factores de segunda ordem ............................................................... 277 Quadro 5.12 - Resultados das regresses da varivel preditora, estrutura familiar, e das variveis de moderao, sexo e idade da criana, na predio das prticas maternas abusivas...................................... 305 Quadro 5.13 - Resultados das regresses das variveis, estrutura familiar e variveis do exossistema, e das variveis de mediao de relao familiar na predio das prticas abusivas maternas ............................. 311 Quadro 5.14 - Resultados das regresses das variveis preditoras, estrutura familiar e variveis do exossistema na predio da violncia, conflito e coeso familiar ................................................................. 312 Quadro 5.15 - Resultados das regresses das variveis, violncia, conflito e coeso familiar, e das variveis de mediao, suporte institucional, conjugal e informal na predio das prticas abusivas maternas ........ 316 Quadro 5.16 - Resultados das regresses das variveis preditoras, violncia, conflito e coeso familiar, na predio das competncias maternas ............................................................................................................ 320 Quadro 5.17 - Resultados das regresses das variveis preditoras, violncia, conflito e coeso familiar, e das variveis de mediao, competncias maternas na predio das prticas maternas abusivas............... 320 Quadro 5.18 - Resultados das regresses das variveis preditoras, estrutura familiar, conflito, coeso e violncia familiar e da varivel de moderao, satisfao, na predio das prticas maternas abusivas ... 327 Quadro 5.19 - Resultados das regresses das variveis, estrutura familiar, conflito, coeso e violncia familiar e da varivel de moderao, avaliao dos efeitos, na predio das prticas maternas abusivas.. 328 Quadro 5.20 - Resultados das regresses das variveis, estrutura familiar, conflito, coeso e violncia familiar e da varivel de moderao, avaliao de recursos, na predio das prticas maternas abusivas 330 Quadro 5.21 - Resultados das regresses das variveis, estrutura familiar, conflito, coeso e violncia familiar e da varivel de moderao, estratgias comportamentais, na predio das prticas maternas abusivas ......................................................................................................................................................... 331 Quadro 5.22 - Resultados das regresses das variveis, atribuies sobre a situao familiar, e da varivel de mediao, satisfao materna, na predio das prticas maternasabusivas ............................................ 336 Quadro 5.23 - Resultados das regresses das variveis preditoras, estatuto e horas de trabalho e da varivel de moderao, avaliao primria da situao profissional, na predio das prticas maternas abusivas 359 Quadro 5.24 - Resultados das regresses das variveis, estatuto e horas de trabalho e da varivel de moderao, avaliao de recursos na situao profissional, na predio das prticas maternas abusivas . 360 Quadro 5.25 - Resultados das regresses das variveis preditoras, estatuto e horas de trabalho e da varivel de moderao, atribuies sobre a situao profissional, na predio das prticas maternas abusivas...... 361 Quadro 5.26 - Resultados das regresses das variveis preditoras, estatuto e horas de trabalho e da varivel de moderao, estratgias comportamentais, na predio das prticas maternas abusivas......................... 363 Quadro 5.27 - Resultados das regresses das variveis, estatuto e horas de trabalho, satisfao, recursos e atribuies, e das variveis de mediao, estratgias comportamentais, na predio das prticas maternas abusivas ......................................................................................................................................................... 366 Quadro 5.28 - Resultados das regresses das variveis, nvel socioeconmico, horas de trabalho e satisfao, e das variveis de mediao, competncias maternas e suporte conjugal, na predio das prticas maternas abusivas ............................................................................................................................ 370 Quadro 5.29 - Resultados das regresses da varivel, nvel socioeconmico da famlia e das variveis de moderao, suporte conjugal, informal e institucional, na predio das prticas maternas abusivas ......... 373 Quadro 5. 30 - Resultados das regresses da varivel satisfao com o estatuto profissional, e das variveis de moderao, suporte conjugal, informal e institucional, na predio das prticas maternas abusivas..... 375

Quadro 5.31 - Resultados das regresses da varivel preditora horas de trabalho, e das variveis de moderao, suporte conjugal, informal e institucional, na predio das prticas maternas abusivas ......... 377 Quadro 5.32 - Resultados das regresses das variveis preditoras, percepo materna do comportamento actual, e das variveis de mediao, prticas maternas abusivas, na predio do desenvolvimento e rendimento escolar das crianas ................................................................................................................... 388 Quadro 5.33 - Resultados das regresses das variveis preditoras, nmero de filhos, percepo do desenvolvimento e comportamento anteriores, das variveis de mediao, percepo do comportamento actual dos filhos e desenvolvimento cognitivo das crianas, na predio dos valores maternos ................. 403 Quadro5.34 - Resultados das regresses das varivei, percepo do comportamento actual dos filhos e desenvolvimento cognitivo das crianas, das variveis de mediao, valores maternos, na predio das prticas maternas abusivas ........................................................................................................................... 405 Quadro 5.35 - Resultados das regresses das variveis, nmero de filhos, percepo do desenvolvimento, sade e comportamento anteriores dos filhos, das variveis de mediao, percepo do comportamento actual dos filhos e desenvolvimento cognitivo das crianas, na predio das crenas maternas ................. 408 Quadro 5.36 - Resultados das regresses das variveis preditoras, percepo do comportamento e sade actuais dos filhos e desenvolvimento cognitivo das crianas, das variveis de mediao, crenas maternas, na predio das prticas maternas abusivas................................................................................................. 410 Quadro 5.37 - Resultados das regresses das variveis, nmero de filhos, percepo do desenvolvimento e comportamento anteriores dos filhos, das variveis de mediao, percepo do comportamento e sade actual dos filhos e desenvolvimento cognitivo das crianas, na predio das atribuies maternas ........... 415 Quadro 5.38 - Resultados das regresses das variveis, percepo do comportamento actual dos filhos e desenvolvimento cognitivo das crianas, das variveis de mediao, atribuies maternas, na predio das prticas maternas abusivas ........................................................................................................................... 416 Quadro 5.39 - Resultados das regresses das variveis, percepo do comportamento actual dos filhos e desenvolvimento cognitivo das crianas, das variveis de mediao, valores, crenas e atribuies maternas na predio das prticas maternas abusivas................................................................................................. 419 Quadro 5.40 - Estrutura factorial de segunda ordem ................................................................................... 421 Quadro 5.41 - Resultados das regresses das variveis, nmero de filhos, percepo do desenvolvimento e comportamento anteriores dos filhos, das variveis de mediao, percepo do comportamento e sade actuais dos filhos e desenvolvimento cognitivo das crianas, na predio das ideias maternas .................. 423 Quadro 5. 42 - Resultados das regresses das variveis de percepo do comportamento e sade actuais dos filhos e desenvolvimento cognitivo das crianas, das variveis de mediao, ideias maternas, na predio das prticas maternas abusivas ..................................................................................................... 425 Quadro 5.43 - Resultados das regresses das variveis de experincia na infncia, capacidade econmica de origem, acontecimentos na infncia e adultos de referncia na predio das ideias maternas ............... 441 Quadro 5.44 - Resultados das regresses das variveis ideias maternas, na predio das prticas maternas abusivas ......................................................................................................................................................... 441 Quadro 5.45 - Resultados das regresses das variveis preditoras, experincia materna na infncia, das variveis de mediao, ideias maternas, na predio dasprticas maternas abusivas................................. 442 Quadro 5.46 - Resultados das regresses das variveis preditoras, nvel socioeconmico, n de instituies, suporte institucional e identidade na predio das ideias maternas ............................................................. 447 Quadro 5.47 - Resultados das regresses das variveis preditoras, insero social, das variveis de mediao, ideias maternas na predio das prticas maternas abusivas ..................................................... 448 Quadro 5.48 - Resultados das regresses das variveis, experincia materna na infncia, das variveis de mediao, ideias maternas e insero social actual da famlia na predio das prticas maternas abusivas ....................................................................................................................................................................... 451

ndice das FigurasFigura 1.1. - Pressupostos sobre a natureza do desenvolvimento e relao com o meio....28 Figura 2.1. - Contnuo de disciplina fsica. 105 Figura 2.2. - Critrios utilizados na definio do mau trato e negligncia..113 Figura 3.1. - Contextos da definio intra-cultural dos conceitos.139 Figura 3.2. - Esquema conceptual da definio portuguesa...142 Figura 4.1. - Determinantes do abuso: factores de risco e compensatrios193 Figura 4.2. - Modelo dos determinantes parentais...194 Figura 4.3. - Factores de risco do mau trato........199

Figura 5.1. - Modelo de moderao do sexo e idade dos filhos na relao entre a estrutura familiar e as prticas maternas abusivas304 Figura 5.2. - Modelo das relaes familiares (violncia, coeso e conflito) na relao entre a estrutura familiar e variveis do exossistema (acontecimentos de vida e nvel socioeconmico) e as prticas maternas abusivas..309 Figura 5.3. - Resultados do modelo de mediao das relaes familiares (violncia, coeso e conflito) na relao entre a estrutura familiar e variveis do exossistema e as prticas maternas abusivas. 313 Figura 5.4. - Modelo de mediao do suporte social na relao entre as relaes familiares e as prticas maternas abusivas 315 Figura 5.5. - Resultados do modelo de mediao do suporte social na relao entre as relaes familiares (violncia, coeso e conflito) e as prticas maternas abusivas.. 317 Figura 5.6. - Modelo de mediao da competncia materna na relao entre as relaes familiares (violncia, coeso e conflito) e as prticas maternas abusivas.. 319 Figura 5.7. - Resultados do modelo de mediao da competncia materna na relao entre as relaes familiares (violncia, coeso e conflito) e as prticas maternas abusivas321 Figura 5.8. - Modelo de moderao da avaliao cognitiva e estratgias comportamentais na relao entre a estrutura familiar e as relaes familiares (violncia domstica, coeso e conflito) e as prticas maternas abusivas. 325 Figura 5.9. - Modelo de mediao da satisfao na relao entre as atribuies sobre a situao familiar (internas, externas e de responsabilidade) e as prticas maternas abusivas. .335 Figura 5.10. - Resultados do modelo de mediao da satisfao na relao entre as atribuies sobre a situao familiar (internas, externas e de responsabilidade) e as prticas maternas abusivas. 337 Figura 5.11. - Modelo de moderao da avaliao primria, atribuies, recursos e estratgias comportamentais na relao entre a situao perante o trabalho e horas de trabalho e as prticas maternas abusiva.. 358 Figura 5.12. - Modelo de mediao das estratgias comportamentais na relao entre o estatuto e horas de trabalho, a avaliao de significado (satisfao, recursos e atribuies) e as prticas maternas abusivas 365 Figura 5.13. - Modelo de mediao das competncias maternas e suporte conjugal na relao entre o contexto socioeconmico e a satisfao com o trabalho e as prticas maternas abusivas.. 368 Figura 5.14. - Resultados do modelo de mediao das competncias maternas e suporte conjugal na relao entre o contexto socioeconmico e a satisfao com o trabalho e as prticas maternas abusivas.. 371 Figura 5.15. - Modelo de moderao do suporte social na relao entre o contexto socioeconmico e de trabalho e as prticas maternas abusiva..373 Figura 5.16. - Modelo de mediao das prticas maternas abusivas na relao entre as percepes do comportamento da criana e o desenvolvimento e rendimento da criana..387 Figura 5.17. - Resultados do modelo de mediao das prticas maternas abusivas na relao entre as percepes de comportamento das crianas e o desenvolvimento cognitivo e escolar. 389 Figura 5.18. - Modelo de mediao das percepes do comportamento e desenvolvimento actual na relao entre a experincia materna e a percepo do comportamento e desenvolvimento anteriores dos filhos e as ideias maternas e destas na relao entre as percepes do comportamento e desenvolvimento actual das crianas e as prticas maternas abusivas... 398 Figura 5.19. - Resultados do modelo de mediao das percepes do comportamento e desenvolvimento actual na relao entre a experincia materna e percepo do comportamento e desenvolvimento anteriores dos filhos e os valores maternos e destes na relao entre as percepes do comportamento e desenvolvimento actual das crianas e as prticas maternas abusivas406 Figura 5.20. - Resultados do modelo de mediao das percepes do comportamento e desenvolvimento actual na relao entre a experincia materna e percepo do comportamento e desenvolvimento anteriores dos filhos e as crenas maternas e destas na relao entre as percepes do comportamento e desenvolvimento actual das crianas e as prticas maternas abusivas.412 Figura 5.21. - Resultados do modelo de mediao das percepes do comportamento e desenvolvimento actual na relao entre a experincia materna e percepo do comportamento e desenvolvimento anteriores dos filhos e as atribuies maternas e destas na relao entre as percepes do comportamento e desenvolvimento actual das crianas e as prticas maternas abusivas 417 Figura 5.22. - Resultados do modelo de mediao das percepes do comportamento e desenvolvimento actual na relao entre a experincia materna e percepo do comportamento e desenvolvimento anteriores dos filhos e as ideias maternas e destas na relao entre as percepes do comportamento e desenvolvimento actual das crianas e as prticas maternas abusivas426 Figura 5.23. - Modelo de mediao das ideias maternas na relao entre a experincia materna na infncia e a capacidade econmica da famlia de origem e as prticas maternas abusivas.440

Figura 5.24. - Resultados do modelo de mediao das ideias maternas na relao entre a experincia materna na infncia e as prticas maternas abusivas.. 443 Figura 5.25. - Modelo de mediao das ideias maternas na relao entre a insero social e identidade materna e as prticas maternas abusivas446 Figura 5.26. - Resultados do modelo de mediao das ideias maternas na relao entre a insero social (n de instituies e nvel socioeconmico), identidade materna e as prticas maternas abusivas.. 449 Figura 5.27. - Modelo intergeracional de mediao das ideias maternas, insero social e identidade materna na relao entre as experincias e a origem social na infncia e as prticas maternas abusivas...450 Figura 5.28. - Resultados do modelo intergeracional de mediao das ideias maternas, insero social na relao entre as experincias e a origem social na infncia e as prticas maternas abusivas.. .452

Introduo

Introduo

1. Construo social das prticas parentais de mau trato e de negligncia: definio do problema e enquadramento terico geralUma das tarefas sociais considerada como mais relevante nas sociedades contemporneas a educao das crianas. Sendo a famlia, mas sobretudo os pais, uma das fontes mais importante de socializao e educao, a parentalidade uma das funes mais centrais na vida de muitos adultos e constitui um dos papis mais exigentes e desafiantes da sua vida. Este papel, paralelo a tantos outros da idade adulta, nico, pela diversidade de caractersticas que o distinguem das outras relaes. Uma das caractersticas da relao pais-filhos que a torna nica a sua assimetria. Embora hoje em dia j se reconhea a influncia mtua que existe entre pais e filhos, e que esta relao requer mudanas das duas partes, h uma diferena enorme na responsabilidade, competncia e poder entre os dois, sobretudo nos primeiros anos de vida. Assim, as funes parentais e a sua adaptao s mudanas de desenvolvimento dos filhos so conduzidas social e normativamente para que sejam exercidas atravs dum poder funcional que tenha por objectivo um harmonioso e integral desenvolvimento fsico, intelectual, social e moral das crianas. Mas tambm pode conduzir a que o seu exerccio muitas vezes no seja livre, mas sim, vinculado e socialmente controlado (Cdigo Civil, 1995) dado que, estas e outras funes da parentalidade, nem sempre so garantidas de forma a promoverem o bem-estar e desenvolvimento da criana. A necessidade de proteco das crianas e a defesa dos seus direitos em relao aos pais, famlia e sociedade tm sido abordada ao longo da histria, embora s em 1989 sejam, definitivamente, contemplados na Conveno dos Direitos da Criana pela Assembleia Geral das Naes Unidas (ratificada, em 1990 pela Assembleia da Repblica Portuguesa). Esta Conveno, sendo adoptada pela maioria dos pases ocidentais com carcter vinculativo, marca uma viragem importante em relao defesa dos direitos da criana, pois concilia direitos civis e polticos com direitos econmicos, sociais e culturais, e convenciona uma viso das crianas, no s como membros da famlia, mas tambm como indivduos nicos com direitos prprios. Esta concepo de especificidade de criana distinta dos adultos enquanto indivduo, que agora reiterada formalmente a nvel internacional, reflecte aquilo que Aris (1962) j havia denominado sentimento moderno de infncia. Sentimento colectivo que, ao longo do sculo XX, foi acompanhado socialmente duma institucionalizao e

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definio das necessidades e do valor da criana (Chombart de Lauwe & Feuerhahn, 1989) e das obrigaes e tarefas de educao que as sociedades, especialmente a famlia e os pais, tm para com ela (Maccoby, 1992). Mas reflecte tambm o papel importantssimo desempenhado pelas Cincias Sociais, e pela Psicologia em particular, que contribuem definitivamente para esta construo de ideia de criana e do papel parental na educao, motivando um vasto interesse pelas condies que favorecem o bem-estar e o desenvolvimento das crianas de forma a que sejam, no futuro, adultos saudveis e adaptados sociedade. neste contexto social, cientfico e poltico que se desenvolve o interesse pelas circunstncias que colocam as crianas em risco. E, entre as crianas em risco, as crianas maltratadas e negligenciadas pelas famlias so especialmente referidas, sendo enfatizada a responsabilidade do Estado na sua proteco, assim como na implementao de programas de preveno e interveno de forma a atingir estes objectivos (Conveno dos Direitos da Criana, art. 19, 1989). Em Portugal, o facto dos maus tratos e negligncia a crianas constituir um problema com uma certa relevncia (Infante, 1997), e deste ser uma das principais causas de separao das crianas do meio familiar, tem levado a que a comunidade e a comunicao social debatam o problema e a que os acadmicos, e os tcnicos em particular, sintam a necessidade de que as prticas parentais abusivas se tornem um tema forte de investigao. No entanto, por no haver tradio de investigao neste domnio, e no existir um sistema de recolha de dados que fornea estatsticas actualizadas, no se conhece a dimenso e incidncia real do problema a nvel nacional, embora o nmero de crianas maltratadas e negligenciadas aumente todos os anos (Infante, 1997). A grande maioria dos maus tratos mantm-se ainda na esfera do privado ou, semelhana do que acontece noutros pases (Smiths, 1990), muitos dos casos sinalizados no chegam aos Tribunais, por se julgar no estarem reunidas as condies consideradas necessrias para tal. A conjugao destes factores, bem como o facto de se terem relegado para segundo plano as decises polticas indispensveis no mbito da interveno social e comunitria tm conduzido a que as crianas maltratadas sejam detectadas, na maioria das vezes, tardiamente pelos hospitais, j em situao de risco grave. Mais preocupante ainda pensar-se que os servios de proteco infncia criados para a interveno nesta rea parecem estar em ruptura e no dar resposta ao problema (Calheiros, 1996). E o mesmo se pode pensar relativamente situao das instituies de proteco infncia no estrangeiro (Thompson, 1993a).-4-

Introduo

Vrias razes podem explicar esta irresoluo. O aumento dramtico de sinalizaes tem motivado que o sistema de proteco se focalize primeiramente na investigao e substanciao do mau trato, votando pouca ateno aos recursos de interveno e avaliao da sua eficcia (Thompson, 1993a). A imagem denegrida de que o sistema de colocao institucional das crianas mais do que prevenir o risco pode perpetu-lo envolve um clculo difcil entre custos e benefcios no processo de tomada de deciso dos tcnicos sobre a interveno. Acrescente-se o facto de muitas situaes de mau trato na famlia, j por si to complexas, apresentarem uma dificuldade maior pelos problemas sociais graves a que esto associadas (e.g. toxicodependncia, deficincia mental, bairros de risco, pobreza), necessitando da interveno de outros recursos institucionais, quantas vezes insuficientes (Calheiros & Monteiro, 2001). Esta situao ainda agravada pela natureza dos efeitos negativos da violncia familiar, no s para os prprios perpetradores dos maus tratos e negligncia (Sigel, 1993), como para as suas vtimas no desenvolvimento psicolgico e social a curto e a longo prazo (Ammerman, 1990; Cicchetti, 1989; Rutter, 1989). O confronto com estas realidades tem orientado o interesse para o estudo dos contextos educativos e sociais do problema, pela importncia que lhes cabe nos processos explicativos do risco de mau trato e negligncia na relao pais-filhos, assim como na definio de estratgias concertadas com vista clarificao e interveno no problema. As concluses destes estudos tm levado a que se opte cada vez mais por uma interveno comunitria, de caractersticas mais preventivas, desenvolvendo-se programas de investigao e interveno ao nvel do risco (Olds & Henderson, 1989; Wolfe, 1991). A propsito dos contextos educativos e sociais do problema, Daro (1993) refere que a investigao sobre a natureza e causas do mau trato e negligncia dos pais aos filhos define duas orientaes gerais que devem guiar as polticas e os sistemas de interveno, quer sejam legais, comunitrias, ou preventivas. Uma apela a que se tome em considerao os valores dos pais e da comunidade que enquadram a vida familiar e a educao; outra considera essencial a articulao das diversas disciplinas. Thompson, (1993a) acrescenta ainda um outro pressuposto fundamental na rea da Psicologia Social Comunitria: a construo e difuso do conhecimento atravs da articulao entre o conhecimento tcnico e o conhecimento cientfico. Ao nvel dos valores, resultante da investigao sobre as definies e os padres causais do abuso, muitos investigadores salientam o reconhecimento das diferenas culturais nos padres de parentalidade e na sua organizao social, cujos valores e crenas-5-

acerca da educao e do mau trato e negligncia apresentam importantes implicaes societais (e.g., Daro, 1993; Thompson, 1993b). A investigao tem mostrado que as prticas parentais se baseiam em concepes sobre a criana e a educao. Estas podem depender de um conjunto de factores, que no estando relacionados com a natureza real da criana, so antes funo da histria cultural, da histria pessoal e da maior ou menor articulao entre o conhecimento formal e cientfico acerca do desenvolvimento e da educao (Gergen, Gloger-Tippelt & Berkowitz, 1990). Esta questo traz, para a discusso do tema em Portugal, um debate j antigo noutros pases acerca da necessidade de servios sociais culturalmente competentes (Daro, 1993), especialmente na rea da interveno familiar e nos servios de apoio infncia. Nos programas de interveno deve ser dado particular relevo s concepes de famlia e educao, sustentadas pelos diferentes grupos e ao reconhecimento de que as escolhas educativas dos pais so baseadas em valores. Se os servios negarem estas escolhas ou as desprezarem, as intervenes podem apenas compr ou remediar, mais do que resolver os dilemas parentais (Daro, 1993). A diversidade cultural, mesmo dentro de uma mesma sociedade, pode pr em causa a adopo de padres demasiado rgidos de bem-estar familiar e de mtodos correctos dos pais interagirem com os filhos (Garbarino, Cohn, & Ebota, 1982; Mann, 1990), muitas vezes impostos pelos prprios tcnicos, instituies de interveno social e grupos sociais maioritrios. Contudo, a questo dos valores culturais no se coloca especfica e exclusivamente em relao aos alvos da interveno. Esses valores funcionam como quadros de referncia para as aces, no s dos pais, mas tambm das instituies e das polticas sociais (Gergen et al., 1990). Os julgamentos de valor misturam-se ainda com o conhecimento e com a experincia dos tcnicos, assim como com os valores das disciplinas e das instituies onde trabalham (Thompson, 1993b). Valores sociais gerais e institucionais que dizem respeito s crianas, famlia, parentalidade e Estado, mas sobretudo valores sobre o que constitui mau trato e negligncia, sobre as causas e consequncias das prticas parentais abusivas e sobre os mtodos mais apropriados de interveno que so assumidos pelos tcnicos de diferentes disciplinas. Estes esto na base das decises diversificadas relativamente aos factores que constituem as razes de designao para interveno e de como esta deve ser realizada. Neste sentido, vrios autores tm sugerido que sendo as definies de mau trato e negligncia modeladas pelos valores da comunidade (e.g., Korbin, 1987; Polansky, Chalmers, Buttenwieser, & Williams, 1981) e pelas polticas socioeducativas (Sigel, 1993)-6-

Introduo

a investigao deve ter a preocupao de analisar at que ponto estes valores funcionam como guies da avaliao e da interpretao que os profissionais fazem dos padres educativos das famlias, particularmente quando esto em causa padres familiares de desvio, poucos recursos sociais, classes sociais baixas (Polansky, Ammons, & Weathersby, 1983) ou minorias tnicas (Erickson & Egeland, 1996; Giovannoni & Becerra, 1979). Na mesma linha, e agora a propsito da necessidade de articulao entre disciplinas, Dubowitz e colaboradores (Dubowitz, Klockner, Starr, & Black, 1998) salientam que as dificuldades encontradas nas definies de negligncia, e Erickson e Egeland (1996), nas definies de mau trato, no podem ser atribudas somente a factores culturais, mas tambm s diferentes vises partilhadas pelos profissionais das diversas disciplinas sobre as prticas parentais abusivas e sobre os comportamentos parentais adequados. Gelles (1982), por exemplo, refere diferenas significativas nas definies de negligncia entre diferentes disciplinas: os pediatras esto preocupados com a negligncia quando no existe seguimento ou cumprimento das orientaes mdicas no tratamento; os servios de proteco de menores s se envolvem nas situaes se houver dano ou ameaa de dano para a criana; o sistema legal pode envolver-se somente se existirem circunstncias mais severas. Esta divergncia tem aumentado o interesse pela clarificao de uma definio de mau trato e negligncia, de forma a poder chegar-se a um consenso entre as diferentes disciplinas tcnicas envolvidas (Erickson & Egeland, 1996), embora, alguns profissionais considerem inevitvel que estas empreguem diferentes definies devido aos diferentes objectivos que prosseguem (Giovannoni, 1989). Por isso no difcil adivinhar o debate pblico suscitado por leigos e peritos sobre questes como estas: que comportamentos parentais caem fora do que aceitvel; que importncia devem assumir as circunstncias dos pais (e.g. toxicodependncia, pobreza, divrcio) na designao de abuso; os pais devem ser punidos severamente ou tratados farmacologicamente; a integridade e a privacidade da famlia devem ou no ser salvaguardadas em determinadas situaes. E apesar daquelas orientaes j serem generalizadas, os autores (e.g., Daro, 1993; Thompson, 1993a) assinalam que a investigao na rea da avaliao e da interveno do mau trato e negligncia continua a ser pautada pela ausncia de informao especfica sobre que factores dos tcnicos e que factores das famlias podem influenciar a sinalizao do abuso, a respectiva programao da interveno e o impacto que os servios tm em populaes especficas.-7-

Por outro lado, quando se consideram os antecedentes do mau trato, embora vrios agentes causais sobre o abuso parental tenham sido terica e empiricamente analisados, persistem ainda questes especficas relacionadas com o conhecimento formal necessrio, nem sempre disponvel, para o processo de tomada de deciso dos tcnicos sobre quando e como a interveno deve ser realizada e planeada (Thompson, 1993b). Conhecimento, por exemplo, sobre que factores podero determinar uma investigao imediata sobre a situao (baseada no risco da criana ou no dano j observado), ou sobre que factores da famlia, perpetrador e/ou da criana melhor predizem a incidncia ou reincidncia do abuso, e como que diferem tendo em considerao os diferentes tipos de mau trato e negligncia (mau trato fsico, psicolgico, negligncia educacional, etc.). Este problema da falta de debate cientfico com os tcnicos, sendo reconhecido no estrangeiro nas diferentes reas dos servios de proteco (servios legais, tcnicos em geral e servios de interveno comunitria), (Thompson, 1993a), parece-nos ser tambm um problema geral em Portugal. Isto porque em Portugal a investigao nesta rea ainda escassa. Para Thompson (1993a), a investigao nesta rea, de uma forma geral, no tem contribudo para a implementao de solues dos problemas prticos dos tcnicos, pelo facto de os acadmicos frequentemente no desenharem nem conceberem a investigao para esse fim. Como consequncia, as recomendaes dos investigadores no so levadas em conta pelos tcnicos, dado que muitas vezes parecem irrelevantes para os dilemas com que estes se deparam no dia a dia profissional. Segundo aquele autor, e como j referimos, para os investigadores fornecerem conhecimento usvel tem que existir um processo de duas vias na construo e disseminao de conhecimento na interveno comunitria - dos investigadores para os tcnicos e destes para os investigadores (Thompson, 1993a, pag. 78). De uma forma geral, estas questes remetem-nos para as ideias defendidas por duas das perspectivas tericas que mais se tm debruado sobre o estudo dos pais, e que vo ser centrais na abordagem que fazemos do mau trato e negligncia dos pais aos filhos ao longo deste trabalho: as perspectivas ecolgico - transaccionais, e a perspectiva sociocognitiva da parentalidade. Nas perspectivas ecolgicas e transaccionais, a preveno e interveno no mau trato envolvem mudanas simultneas nos vrios sistemas de interaco: os pais, a criana, a famlia, o meio e a cultura em que esto envolvidos (e.g., Belsky, 1980, 1984; Cicchetti, 1989; Cicchetti & Rizley, 1981; Wolfe, 1987, 1991).

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Introduo

Nas perspectivas sociocognitivas, a natureza da informao de que dispomos, sendo social, resulta tanto da experincia directa, como da transformao da informao cientfica e das ideias com que os indivduos se depararam nos seus grupos sociais (Goodnow & Collins, 1990). Alm disso, a relao entre as concepes sobre a criana e a educao parece ser pautada por convenes sociais. Se a cultura impe um conjunto particular de significaes, as crenas de senso-comum acerca da natureza da criana e da educao do o contexto e os limites da compreenso cientfica sobre o problema (Gergen et al., 1990). Desta forma, sendo a famlia, mas sobretudo os pais, uma das fontes mais importantes de socializao e de educao, a par da articulao das concepes formais e cientficas sobre a criana e a educao, o papel dos pais e as funes parentais devem ser compreendidos a partir da histria do seu desenvolvimento pessoal (McGillicudy-DeLisi, & Sigel, 1995) e da histria que partilhada pelos indivduos da sua cultura de pertena (LeVine, 1988). Por sua vez, se as vrias perspectivas da Psicologia sobre a natureza humana, o desenvolvimento, a educao e a parentalidade, vo sendo interiorizadas e enfatizadas na sociedade pelos tcnicos, pais e senso-comum, e se os costumes do dia a dia da funo parental do os contextos para compreender a natureza da parentalidade, cada teoria ou abordagem sobre o papel dos pais no pode ser separada do meio social e cultural no qual foi construda. E se estes pressupostos tm dado contributos importantes para o estudo da educao e da parentalidade, tambm atravs destes processos de construo social que tentamos compreender o mau trato e negligncia dos pais aos filhos.

2. Objectivos do trabalhoDesde a publicao do artigo The Battered-Child Syndrome (Kempe, Silverman, Steele, Droegemueller, & Silver, 1962) numa revista mdica, altura em que se comeou a manifestar interesse cientfico pelo tema, o mau trato e negligncia tm sido alvo de alguma controvrsia, o que faz com que seja um objecto de interesse a nvel cientfico (Knutson, 1995). O facto do mau trato e da negligncia constituirem uma rea abordada por disciplinas distintas (Medicina, Psicologia, Direito e Servio Social, entre outras) tem conduzido produo duma grande quantidade e variedade de investigao. Os temas em estudo tm includo uma srie de reas que vo desde a definio, incidncia e prevalncia do mau trato, aos factores que influenciam a tomada de deciso para referenciar e abrir

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processos no contexto dos servios sociolegais, s caractersticas da criana e do perpetrador, s causas e impacto do mau trato e sua transmisso inter-geraes, at eficcia dos programas de preveno e interveno. No entanto, este esforo de produo emprica, quer isolada, quer a partir de modelos tericos, tem sido acompanhado por um nmero central de questes colocadas pelas diferentes disciplinas envolvidas. Ento vejamos. Apesar dos avanos feitos durante os ltimos anos no mbito da investigao e da teorizao nos diferentes domnios do mau trato e negligncia, s recentemente, na rea do estudo do risco, emergiram diversas tentativas para se desenvolverem modelos tericos integrados capazes de explicar um fenmeno to complexo. Deste modo, na rea da Psicologia tm-se desenvolvido modelos multidimensionais orientados para a explicao do processo do mau trato (Cicchetti & Rizley, 1981; Wolfe, 1987), e tambm modelos de integrao baseados em investigao multivariada. Contudo, as lacunas que persistem a nvel cientfico, pela ausncia de um trabalho crtico em termos tericos e conceptuais, tem resultado num corpo de trabalho, que, como um todo, fragmentado, desorganizado e muitas vezes metodologicamente fendido (Knutson, 1995), o que no facilita a desejada integrao do tema pelas vrias disciplinas, nem a emergncia do teste de modelos integradores capazes de explicar e minimizar os problemas levantados. Associado a estas questes constata-se ainda o facto das definies de abuso e negligncia serem, na maior parte das vezes, deixadas ao critrio dos tcnicos e instituies que intervm, sendo recrutados os participantes para as investigaes atravs destes recursos, embora os resultados de investigao indiquem que os critrios de sinalizao do abuso fsico, psicolgico, sexual e da negligncia difiram entre profissionais (Giovannoni, 1989). Consequentemente, uma primeira grande dificuldade no enquadramento da literatura sobre o mau trato e a negligncia desenvolvida at (e durante) aos anos 80, a inexistncia de definies operacionais e claras do conceito e o uso de amostras pobremente definidas ou a agregao de diferentes formas de abuso numa simples categoria. Embora o mau trato, a negligncia e o abuso sexual possam ter caractersticas em comum existem diferenas importantes entre estes tipos de mau trato (Crittenden, Claussen & Sugarman, 1994; Wolfe & McGee, 1994). De facto, os maus tratos e a negligncia so conceitos que podem ser to amplos e flutuantes (Ammerman, 1990; Cicchetti, 1989) que as definies realizadas por tcnicos e instituies, embora possam ser teis para alguns fins prticos, em investigao reflectem a variabilidade das diferentes fontes de referncia. Estas inconsistncias tm tornado difcil a- 10 -

Introduo

constituio das amostras com caractersticas especficas, a avaliao do problema, o estabelecimento de relaes consistentes entre variveis e a generalizao e comparao dos resultados (Ammerman, 1990; Knutson, 1995; Wolfe & McGee, 1994). Face a estas questes, nos anos 90, os investigadores reapropriaram-se da rea da definio, at a deixada aos tcnicos, com vista construo de instrumentos de medida que permitissem a seleco dos participantes para investigao de forma a possibilitar investigao minimamente controlada noutras reas do mau trato e negligncia, sobretudo nas reas de risco e consequncias do mau trato. Dada a necessidade de conjugao entre o meio cientfico e tcnico, tem-se simultaneamente alertado a comunidade tcnica e cientfica para a questo da definio e avaliao do mau trato e da negligncia a nvel intra-cultural e inter-disciplinar, de forma a representar um construto que reflita a ancoragem social do problema. No mbito da Psicologia, o tema da criana maltratada tem sido abordado do ponto de vista terico pela Psicologia do Desenvolvimento e pela Psicologia Clnica. Contudo, no que diz respeito definio e avaliao do construto, se, por um lado, as designaes dos tcnicos levantam problemas metodolgicos graves para a investigao, por outro, as definies feitas pelos investigadores nem sempre assumem o significado de mau trato fora do mbito da investigao - no meio tcnico, institucional e social. Apesar da investigao que utiliza parmetros de desenvolvimento ser utilizada para fins acadmicos, constata-se que a sua utilidade e validade na compreenso do mau trato, tal como ele conceptualizado pelos pais, tcnicos e instituies, tem sido bastante questionada (Giovannoni, 1989). Segundo este autor, as definies dos investigadores desenvolvimentistas so puras no sentido cientfico, mas so ineficazes e inapropriadas fora do contexto de investigao. Neste sentido, e dado que o mau trato e a negligncia so conceptualizados na literatura como ancorados nos quadros especficos em que so definidos (instituies, tcnicos, senso-comum e investigadores) e em que se desenvolvem, inserimos este trabalho no quadro da Psicologia Social. Em primeiro lugar, porque as diferentes definies e as dimenses em que o construto se organiza tm reflectido no s as diversas fontes cientficas (mdicas, psicolgicas, legais, etc.) e a sua evoluo, como uma srie de outros factores: o tempo histrico (Aris, 1962), a cultura (Korbin, 1987), as normas sociais (Knutson, 1995), os valores educacionais (Goodnow & Collins, 1990) e a insero social dos sujeitos (Polansky, Chalmers, Buttenwiser & Williams, 1981). Por outro lado, uma vez que as- 11 -

definies do problema reflectem o sistema conceptual dos indivduos, a compreenso do mau trato e negligncia pressupe a anlise do processo e do estado actual da negociao social desta realidade, bem como a importncia dada aos actores sociais (populao, tcnicos, instituies) nessa negociao, na sua definio, na anlise das suas causas, interveno, preveno, etc.. tambm a este processo negocial que se vo buscar as dimenses para a construo do problema. Em segundo lugar, o contexto dominante em que o mau trato e negligncia se desenvolvem - interaco pais/filhos - tem vindo a ser analisado atravs dos quadros sociais em que o processo educativo decorre, integrando os sistemas principais de interaco - famlia, criana e meio onde se inclui, no espao da definio do problema, os mltiplos cenrios institucionais em que os menores se encontram de forma mais permanente ou transitria. Alm disso, semelhana de outros autores (Giovannoni, 1989; Korbin, 1987; Wolfe, 1991), considera-se o mau trato e negligncia num contnuo de prticas educativas que varia entre mtodos de disciplina aceites socialmente e mtodos definidos pela comunidade como abuso. Por isso, parte-se da ideia de que estas aces dos pais maltratantes e negligentes, semelhana de outros pais, so internamente organizadas, por variveis cognitivas como as atribuies (e.g., Dix & Grusec, 1985; Bugental, Blue, & Cruzcosa, 1989), as crenas e os valores sobre mtodos de disciplina (Trickett & Kuczynski, 1986; Trickett & Susman, 1988), educao (Newberger & Cook, 1983), e controlo educacional (Segal, 1985; Iverson & Segal, 1992). Dado que, no mbito da Psicologia Social do Desenvolvimento, as revises de literatura revelam investigao neste domnio que no conduz ideia definitivamente comprovada da relao entre o pensamento parental e as prticas de educao (e.g. Goodnow & Collins, 1990; McGillicudy-DeLisi, & Sigel, 1995; Miller, 1995), e que a investigao sobre esta relao praticamente inexistente na rea do abuso parental, este trabalho constitui tambm um momento de caracterizao destas aces (critrios de definio de aces, tipos e natureza das aces, alvo das aces) (Goodnow & Collins,1990), analisando-se posteriormente as possveis representaes (valores, crenas e atribuies) que medeiam ou interagem nestas relaes. Assim, o presente trabalho visa concretizar os seguintes objectivos gerais: 1. Definir o mau trato e a negligncia a nvel intra-cultural e elaborar um instrumento para tcnicos e investigadores, de forma a poderem avaliar e caracterizar os diferentes tipos de mau trato e negligncia em crianas dos 0 aos 15 anos;

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Introduo

2. Caracterizar com esse instrumento de avaliao o mau trato, a negligncia e o abuso sexual, e analisar os factores socioecolgicos associados aos diferentes tipos de abuso em crianas designadas s instituies de proteco de menores; 3. Identificar as ideias sobre as causas que levam os pais a maltratarem os filhos, tendo em conta uma amostra de portugueses, analisar as fontes da sua variabilidade e verificar a sua correspondncia com as propostas cientficas de explicao do mau trato; 4. Analisar os factores socioecolgicos ao nvel dos vrios sub-sistemas de influncia parental (contexto social, relaes familiares, trabalho e interaces pais-filhos) e analisar as fontes de variabilidade das ideias parentais sobre educao (valores, crenas e atribuies) e a sua relao com as prticas maternas abusivas. So trs as razes de fundo que nos levaram a definir estes objectivos globais e que atravessam o conjunto de estudos por ns desenvolvidos. A primeira, conceptual, surge na sequncia dos dilemas tcnicos e sociais referidos anteriormente e ir atravessar os dois temas centrais deste trabalho a conceptualizao do mau trato e negligncia (Estudo 1) e a identificao das ideias sobre as causas das prticas parentais abusivas (Estudo 3). Trata-se de perceber as concepes dos portugueses sobre o mau trato e a negligncia e as causas e factores que so considerados importantes na explicao destes fenmenos. Vrios autores (e.g., Dubowitz et al., 1998; Erickson & Egeland, 1996; Giovannoni, 1989) referem que as prticas parentais abusivas tm sido conceptualizadas de diversas formas no havendo correspondncia entre as definies tericas e as definies dos peritos e leigos (tcnicos e senso-comum). Para alm disso, como foi referido anteriormente, o debate cientfico nesta rea tem muitas vezes definido a natureza dos problemas que interessam para a investigao social somente do ponto de vista terico, podendo estes enunciados ter pouca correspondncia com aqueles que dizem respeito aos leigos, e aqueles que so construdos pelos peritos. Em Portugal, a rea de investigao sobre a definio dos conceitos de mau trato e negligncia praticamente inexistente. Salvo a excepo do estudo de Almeida, Andr e Almeida (1999, 2001) que representa um contributo importante para a definio de tipologias de mau trato, as restantes referncias encontradas dizem respeito a descries de situaes observadas e a estudo de casos (Canha, 2000; Seco de Pediatria Social da Sociedade Portuguesa de Pediatria, 1987).

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Passemos ento agora a explicitar os objectivos especficos relacionados com este princpio:

ESTUDO 1 A partir dos contedos que definem os conceitos de maus tratos e de negligncia em Portugal, obtidos num estudo qualitativo sobre definio intra-cultural (senso-comum, tcnicos e Direito portugus) anteriormente desenvolvido (Calheiros & Monteiro, 2000) procurou-se: 1. Categorizar teoricamente os vrios sub-tipos de mau trato, negligncia e abuso sexual, e definir os contedos obtidos num contnuo de gravidade, atravs de uma amostra de estudantes estagirios de cursos vocacionados para a interveno no problema; 2. Analisar se as diferenas de gravidade atribudas aos contedos que compem os sub-tipos reflectem as caractersticas sociodemogrficas e a experincia pessoal e profissional dos definidores com situaes de mau trato e negligncia; 3. Construir um instrumento de avaliao que reflicta as dimenses obtidas nas vrias fontes que debatem o problema (normativa, tcnica e social), tendo subjacente critrios cientficos de validade; A segunda explicao metodolgica, pois o mau trato e a negligncia, tradicionalmente, tm sido avaliados duma forma dicotmica, baseando-se nas caractersticas mais salientes de cada criana ou famlia como, por exemplo, na evidncia do abuso fsico (e. g., Hoffman, Plotkin & Twentyman, 1984; Manly, Cicchetti & Barnett, 1994). Desta forma, cada tipo diferente de mau trato avaliado como uma varivel singular, quando na realidade tais acontecimentos muitas vezes co-ocorrem e esto relacionados (Wolfe & McGee, 1994). Alm disso, a abordagem categorial comea a ser bastante criticada por no facilitar a identificao de outros factores relevantes, tais como as diferentes dimenses de mau trato e/ou as experincias familiares que podem ter impacto no desenvolvimento da criana, ou por obscurecer diferenas de gravidade e coocorrncia de muitas formas de mau trato na vida da criana (McGee & Wolfe, 1991). Como em Portugal no se conhecem instrumentos de avaliao do mau trato e negligncia, a partir de investigao realizada noutros pases sobre instrumentos de medida contnua (Wolfe & McGee, 1994) e a partir de estudos intraculturais (Barnett, Manly, & Cicchetti, 1993), o estudo de um instrumento para a populao portuguesa permite, no s- 14 -

Introduo

caracterizar todas as formas de mau trato e negligncia que tenham sido definidas pela nossa populao, contribuindo para o aumento da exactido descritiva do problema, como possibilita o seu uso na prossecuo dos restantes objectivos desta investigao e em investigaes futuras. Ao mesmo tempo permite iniciar uma primeira reflexo sobre os factores de risco associados ao mau trato e negligncia ao nvel dos contextos socioecolgicos referidos na literatura como razes determinantes da sinalizao das situaes s instituies de proteco de menores.

ESTUDO 2 1. Iniciar a validao do instrumento de avaliao do mau trato, negligncia e abuso sexual em contexto familiar, de crianas entre os 0 e 15 anos, com uma amostra de famlias portuguesas, com base em informao obtida por tcnicos que trabalham na rea da proteco de menores, e caracterizar os diferentes tipos de mau trato, negligncia e abuso sexual com esse instrumento. 2. Identificar os factores socioecolgicos associados referncia dos casos s instituies de proteco de menores que podem condicionar a avaliao do mau trato e negligncia. Se alguma ateno tem sido dada s concepes intraculturais na definio do mau trato e negligncia, nenhuma ateno tem sido dada s teorias do senso-comum sobre os motivos que levam os pais a maltratarem os filhos. Assim, a questo que se coloca a de saber, quais so as teorias existentes prevalecentes no senso-comum para a