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LIVRO VERDE
Para uma Estratégia Europeia de Segurança do Aprovisionamento Energético
COMISSÃOEUROPEIA
ISBN 92-894-0323-3
9 789289 403238
127
14K
O-35-01-045-P
T-C
SERVIÇO DAS PUBLICAÇÕES OFICIAISDAS COMUNIDADES EUROPEIAS
L-2985 Luxembourg
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ético
COMISSÃOEUROPEIA
LIVRO VERDEPara uma Estratégia Europeia de Segurançado Aprovisionamento Energético
Uma ficha bibliográfica figura no fim desta publicação
Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, 2001
ISBN 92-894-0323-3
© Comunidades Europeias, 2001Reprodução autorizada mediante indicação da fonte
Printed in Italy
Encontram-se disponíveis numerosas outras informaçõessobre a União Europeia na rede Internet, via servidor Europa(http://europa.eu.int)
O presente livro verde foi adoptado pela Comissão Europeia em 29 deNovembro de 2000 [COM (2000) 769 final]. A Comissão convida todas aspessoas que pretendam reagir ao texto, dirigir comentários ou apresentarpropostas a fazê-lo antes de 30 de Novembro de 2001 (de preferência pore-mail, utilizando o formulário preparado para o efeito).
E-mail: [email protected]
Endereço postal: Comissão EuropeiaDirecção-Geral da Energia e TransportesMme Nina Commeaurue de la Loi 200B-1049 Bruxelles
Telecópia: (32-2) 295 61 05
A página web deste livro verde e o formulário podem ser consultados noendereço: http://europa.eu.int/comm/energy_transport/fr/lpi_fr.html
32
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
SÍNTESE
União Europeia consome cada vez mais energia e importa cada vez mais produtosenergéticos. A produção comunitária é insuficiente para assegurar a satisfação das
necessidades energéticas da União. Deste modo, a dependência energética externa está emcontínuo aumento.
O aumento brutal dos preços do petróleo observado desde Março de 1999, susceptível de impedir arecuperação da economia europeia ao triplicar os preços do petróleo bruto, revela uma vez mais asfraquezas estruturais do aprovisionamento energético da União Europeia: a crescente taxa dedependência energética da Europa, o papel do petróleo como base para a fixação do preço daenergia e os resultados decepcionantes das políticas de controlo do consumo. A União Europeia nãopoderá livrar-se da sua dependência energética crescente sem uma política energética activa.
Se nada se fizer, dentro de 20 a 30 anos a UE estará a cobrir 70% das suas necessidades energéticascom produtos importados, contra os actuais 50%. A dependência reflecte-se em todos os sectores daeconomia. Assim, os transportes, o sector residencial e a electricidade dependem largamente doshidrocarbonetos e estão à mercê das variações erráticas dos preços internacionais. O alargamento iráacentuar estas tendências. As consequências da dependência são importantes em termoseconómicos. Representam, em 1999, 240 mil milhões de euros, isto é, 6% do total de importações e1,2% do PIB. Em termos geopolíticos, 45% das importações de petróleo provêm do Médio Oriente e40% das importações de gás natural da Rússia. Ora a União Europeia não dispõe ainda de todos osmeios para modificar as tendências do mercado internacional.
A estratégia a longo prazo de segurança do aprovisionamento energético da União Europeia deveprocurar assegurar, tendo em vista o bem-estar dos cidadãos e o bom funcionamento da economia, adisponibilidade física e contínua dos produtos energéticos no mercado a um preço acessível a todosos consumidores (privados e industriais) respeitando as preocupações ambientais e a perspectiva dodesenvolvimento sustentável consagrada no Tratado da União Europeia (artigos 2.º e 6.º).
A finalidade da segurança do aprovisionamento não é obter a máxima autonomia energética nemreduzir ao mínimo a dependência, mas sim diminuir os riscos associados a esta última. Entre osobjectivos a atingir figura o equilíbrio e a diversificação das várias fontes de aprovisionamento (porprodutos e por regiões geográficas) e a adesão dos países produtores à OMC.
Actualmente, a União Europeia deve fazer face a novos desafios característicos de um período deprofunda transição da economia europeia.
Nos próximos 10 anos, os investimentos em energia, tanto de substituição como para dar respostaa necessidades energéticas crescentes, impõem às economias europeias a necessidade de fazerescolhas que, dada a inércia dos sistemas energéticos, condicionarão os 30 seguintes.
As escolhas energéticas da União Europeia são condicionadas pelo contexto mundial, pelo possívelalargamento a cerca de 30 Estados-Membros com estruturas energéticas diferenciadas, mas
A
principalmente pelo novo quadro de referência do mercado da energia: a liberalização do sector e as
preocupações de ordem ambiental.
As preocupações ambientais, hoje partilhadas pela maior parte da opinião pública e constituídas
pelos danos causados pela cadeia energética, quer de origem acidental (marés negras, acidentes
nucleares, fugas de metano) quer ligados às emissões poluentes, vieram chamar a atenção para as
fraquezas dos combustíveis fósseis e as dificuldades da energia nuclear. Por seu lado, a luta contra
as alterações climáticas representa um desafio. É um combate a longo prazo para a comunidade
internacional. Os objectivos fixados no Protocolo de Quioto são apenas a primeira fase. A União
Europeia estabilizou as suas emissões de gases responsáveis pelo efeito de estufa em 2000, mas
para além desta data as emissões aumentam tanto na UE como no resto do mundo. A inversão
desta tendência é tarefa bem mais difícil do que poderia parecer há três anos. O regresso a um
crescimento económico sustentado, de ambos os lados do Atlântico e na Ásia, bem como a
evolução da estrutura do consumo energético, sobretudo de electricidade e transportes —
consequência do nosso modo de vida —, contribui para aumentar as emissões destes gases e, em
especial, de dióxido de carbono. Esta situação constitui um grande obstáculo a uma política de
protecção do ambiente.
Além disso, a realização do mercado interno da energia reserva um novo lugar e papel à vertente
da procura. Surgem novas tensões, para as quais a sociedade deverá encontrar compromissos viáveis:
a baixa dos preços da electricidade é contrária às políticas de enquadramento do aumento da
procura e de luta contra as alterações climáticas; a concorrência introduzida pelo mercado interno
altera as condições de concorrência das várias vertentes energéticas (carvão, nuclear, gás natural,
petróleo, fontes de energia renováveis).
Hoje, os Estados-Membros são interdependentes, tanto nas questões de luta contra as alterações
climáticas como na realização do mercado interno da energia. Qualquer decisão de política
energética tomada por um Estado-Membro terá inevitavelmente repercussões no funcionamento do
mercado nos outros Estados-Membros. A política energética assumiu uma nova dimensão
comunitária sem que tal se traduza em novas competências comunitárias. Neste contexto, convém
considerar a possibilidade de abordar a política energética europeia de forma diferente da
proporcionada pelo mercado interno, harmonização, ambiente ou fiscalidade.
A União Europeia deve controlar melhor o seu destino energético. Temos que reconhecer que, apesar
das várias crises que abalaram a economia europeia dos últimos 30 anos, não houve um verdadeiro
debate sobre as escolhas energéticas e ainda menos uma política energética no contexto da
segurança do aprovisionamento. Actualmente, a dupla pressão exercida pelas preocupações
ambientais e o novo funcionamento do mercado europeu da energia torna inevitável esse debate. A
crise dos preços do petróleo desde 1999 confere-lhe um carácter urgente.
O debate deve ser lançado tendo em conta que o actual consumo de energia é coberto por 41% de
petróleo, 22% de gás natural, 16% de combustíveis sólidos (carvão, lenhite e turfa), 15% de energia
nuclear e 6% de fontes de energia renováveis. Se nada se fizer, o balanço energético continuará até
2030 a apoiar-se nos combustíveis fósseis: 38% de petróleo, 29% de gás natural, 19% de combustíveis
sólidos, e apenas 6% de energia nuclear e 8% de fontes de energia renováveis.
O livro verde esboça o esquema de uma estratégia energética a longo prazo, segundo a qual:
— a União deve reequilibrar a política da oferta através de acções claras a favor de umapolítica da procura. Com efeito, as margens de manobra sobre o aumento da oferta comunitária
são fracas tendo em conta as necessidades, ao passo que as margens de manobra sobre a
procura parecem mais promissoras;
— no que respeita à procura, o livro verde apela a uma verdadeira modificação dos
comportamentos dos consumidores, salienta o interesse dos mecanismos fiscais para orientar a
procura para consumos melhor controlados e mais respeitadores do ambiente. Preconizam-se
medidas fiscais ou parafiscais destinadas a penalizar o impacto ambiental das energias. Os
54
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
sectores dos transportes e residencial deverão ser objecto de uma política activa de poupança deenergia e de diversificação a favor de energias não poluentes;
— no que respeita à oferta, deve ser dada prioridade à luta contra o aquecimento climático. Odesenvolvimento de energias novas e renováveis (incluindo os biocombustíveis) é a chave damudança. Aumentar de 6% para 12% a sua participação no balanço energético e passar de 14%para 22% a produção de electricidade é um objectivo a atingir até 2010. Nas condições actuais,estas energias estagnarão em torno dos 7% dentro de 10 anos. Só através de medidas financeiras(auxílios estatais, deduções fiscais e apoio financeiro) será possível contribuir para um objectivotão ambicioso. Entre as pistas a explorar e poderia ser considerado o financiamento pelasenergias rentáveis (petróleo, gás e energia nuclear) do desenvolvimento das energias renováveisque não beneficiaram, como as outras energias convencionais, de apoios consequentes.
A contribuição a médio prazo da energia nuclear deve, por sua vez, ser objecto de análise. Entre oselementos que farão certamente parte do debate, figura a decisão da maior parte dos Estados--Membros de abandonar esta forma de energia, a luta contra o aquecimento climático e ainda asegurança do aprovisionamento e o desenvolvimento sustentável. Sejam quais forem as conclusõesdesta reflexão, deve ser activamente prosseguida a investigação sobre as tecnologias de gestão dosresíduos e a sua prática nas melhores condições de segurança.
Para os hidrocarbonetos, caracterizados por importações crescentes, convém prever um dispositivoreforçado de reservas estratégicas, bem como novas rotas de importação.
Todos os avanços tecnológicos virão reforçar os efeitos deste novo esboço de estratégia energética.
A Comissão propõe o lançamento de um debate durante o ano de 2001 em torno das questõesessenciais para esclarecer as escolhas a fazer no domínio da energia. Não se trata de propor umaestratégia de segurança do aprovisionamento «pronta a utilizar», mas sim de lançar uma discussãoexaustiva e inovadora sobre as questões que se esforçará por identificar, entre outras, como asprincipais.
76
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 11
Primeira parte — Os principais dados energéticos da União Europeia 15
I — UMA AUTONOMIA ENERGÉTICA IMPOSSÍVEL 15
A — Economia consumidora de energia 151. A indústria afasta-se do petróleo 152. Dependentes dos hidrocarbonetos: os sectores residencial, terciário e dos transportes 163. Diversificação energética: electricidade e energia térmica 17
B — Recursos comunitários limitados 181. Incertezas quanto à produção de hidrocarbonetos 182. Declínio da produção mineira 203. Abundância potencial de energias renováveis 21
C — Um gigante vulnerável ou o aprovisionamento energético da União Europeia 221. Dependência externa da União 222. A União Europeia tributária da sua situação geográfica: as trocas comerciais
de produtos energéticos 253. A União Europeia no mercado mundial 28
II — OPÇÕES ENERGÉTICAS IMPERFEITAS 32
A — Desconfiança face à energia nuclear e aos combustíveis sólidos 321. A energia nuclear colocada em questão 322. Carvão: um passado glorioso 36
B — Continuação da preferência pelo petróleo 381. A dependência em relação ao petróleo 392. Aspectos geopolíticos do petróleo 403. O efeito dos preços do petróleo 41
C — Alternativas sedutoras: o gás natural e as energias renováveis 421. Gás natural: em direcção a uma nova dependência 422. Energias novas e energias renováveis: uma prioridade política 44
Segunda parte — Um novo quadro de referência para a energia 49
I — O DESAFIO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS 49
A — Novas questões 491. Urgência da luta contra as alterações climáticas 492. Respeitar os compromissos internacionais: um desafio 51
B — Respostas inadaptadas 531. A desordem a nível fiscal 532. Falta de transparência dos auxílios estatais 593. Falta de controlo da procura 60
II — INTEGRAÇÃO PROGRESSIVA DOS MERCADOS DA ENERGIA 62
A — O mercado interno do gás natural e da electricidade 621. Dinâmica do mercado 622. Obstáculos a vencer 63
B — O mercado interno dos produtos petrolíferos 671. A estrutura do mercado 672. A política de concorrência 67
Terceira parte — Esboço de uma estratégia energética para assegurar o futuro 69
I — AS FALHAS DO ACTUAL APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO 69
A — As dificuldades da segurança do aprovisionamento 691. Os riscos físicos 692. Os riscos económicos 693. Os riscos sociais 704. Os riscos ambientais 70
B — As projecções ilustram as potenciais instabilidades 701. Apresentação 712. Conclusões do cenário de referência actualizado 72
II — PRIORIDADES PARA O FUTURO 74
A — Controlar o aumento da procura 741. Políticas horizontais 742. Políticas sectoriais 75
B — Gerir a dependência em relação à oferta 771. Oferta interna 772. Manutenção da concorrência 793. Assegurar o aprovisionamento externo 79
ORIENTAÇÕES PARA O DEBATE 81
Anexos 83
— Documento técnico de referência sobre a segurança do aprovisionamento energético 85— Nota sobre o impacto da tributação dos combustíveis sobre a escolha das tecnologias
(estudo) 93— O papel do carvão após o termo de vigência do Tratado CECA 107
1110
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
INTRODUÇÃO
presente livro verde nasceu de umaconstatação: o aumento inquietante da
dependência energética europeia.
Ele procura lançar o debate sobre o tema dasegurança do aprovisionamento energético, quecontinua bem actual. O recente aumento dospreços do petróleo bruto para o triplo nomercado internacional veio recordar essaactualidade e a importância da energia naeconomia europeia. A segurança doaprovisionamento não procura obter a máximaautonomia energética nem reduzir ao mínimo adependência, mas sim diminuir os riscosassociados a esta última. Embora o problema dadependência energética não seja fácil deresolver em si mesmo, o conceito de segurançado aprovisionamento consagrado no Tratadoque institui a Comunidade Europeia (artigo100.º) impõe uma reflexão sobre a diversificaçãodas várias fontes de aprovisionamento (porprodutos e por regiões geográficas).
Há que reconhecer que a União Europeia émuito dependente do seu aprovisionamentoexterno. Importa actualmente energia parasatisfazer 50% das suas necessidades e em 2030este valor será próximo dos 70%, com umadependência ainda maior no caso doshidrocarbonetos, caso se mantenham as actuaistendências. Em 1999, ela representa 240 milmilhões de euros, isto é, 6% do total deimportações e 1,2% do PIB. Tendo em vista obem-estar dos cidadãos e o bom funcionamentoda economia, a segurança energética deveprocurar assegurar que os produtos energéticosestejam fisicamente disponíveis no mercado deforma contínua e a um preço acessível (tantopara os consumidores privados como para aindústria), respeitando o objectivo dedesenvolvimento sustentável fixado no Tratadode Amesterdão.
O Coloca-se, portanto, a questão da importância adar pela União Europeia à segurança do seuaprovisionamento. Esta questão torna-se aindamais premente com o alargamento e aredefinição das relações entre a UE e os seusparceiros (fornecedores e país de trânsito):
— É possível ignorar uma dependência de maisde 40% do petróleo importado provenientedos países produtores da OPEP?
— É possível suportar a profunda perturbaçãoexercida pelos aumentos erráticos dopetróleo e do gás sobre a economia dospaíses da UE e dos países emdesenvolvimento não produtores?
— É aceitável que a configuração das redes detransporte de hidrocarbonetos seja fonte deinstabilidade do abastecimento?
Na próxima década, serão necessáriosinvestimentos na energia, tanto para substituiras infra-estruturas obsoletas como pararesponder a necessidades energéticascrescentes no novo quadro do mercado daenergia (a abertura do sector à concorrência eas preocupações ambientais). Deve aproveitar-sea oportunidade para promover uma políticaenergética coerente à escala comunitária.
A União Europeia continua a ter falta demeios e instrumentos para fazer face a estesdesafios. O presente livro verde descreve estasfraquezas e propõe para reflexão os váriosinstrumentos que poderão ser mobilizados. Noentanto, as preocupações energéticas estavampresentes desde as primeiras fases daconstrução europeia. Dois dos três Tratadosconstitutivos das Comunidades Europeiasabordam a questão: o Tratado CECA e o TratadoEuratom. A adopção destes dois Tratados
baseava-se, nomeadamente, na necessidade deassegurar à Comunidade um abastecimentoregular e equitativo de carvão e de combustíveisnucleares. Em contrapartida, no Tratado queinstitui a Comunidade Económica Europeia, osEstados-Membros não quiseram lançar as basesde uma política comum da energia. As tentativasulteriores de inserção de um capítulo relativo àenergia nas negociações dos Tratados deMaastricht e de Amesterdão não tiveram êxito. Aenergia acaba por ser mencionada apenas nopreâmbulo ao Tratado de Amesterdão.
Nunca houve, portanto, um verdadeiro debatecomunitário sobre as linhas de força de umapolítica da energia. Assim, face às dificuldadesque não deixaram de surgir desde a adopção doTratado de Roma, nomeadamente após osprimeiros choques petrolíferos, a problemáticaenergética foi abordada quer no contexto domercado interno quer sob o ângulo daharmonização, do ambiente ou da fiscalidade.
As preocupações ligadas à segurança doaprovisionamento não são, contudo, alheias aoTratado, na medida em que desde o Tratado deRoma se previa a possibilidade de intervir àescala comunitária para resolver as dificuldadesde aprovisionamento (ex-artigo 103.º). Recorde-seque a decisão sobre as existências petrolíferas erabaseada neste artigo. No entanto, desde o Tratadode Maastricht (1), a aplicação destas medidasexige uma tomada de decisões por unanimidadee já não, como antes, por maioria qualificada(artigo 100.º do Tratado que institui aComunidade Europeia).
Hoje, os Estados-Membros sãointerdependentes, tanto nas questões de lutacontra as alterações climáticas como narealização do mercado interno da energia.Qualquer decisão de política energética tomadapor um Estado-Membro terá inevitavelmenterepercussões no funcionamento do mercadonos outros Estados-Membros. A políticaenergética assumiu uma nova dimensãocomunitária. Neste contexto, interessa saber setem sentido adoptar a nível nacional decisõesnão coordenadas de política energética. Talcomo sublinhou o presidente da ComissãoEuropeia, Romano Prodi, em 3 de Outubro de2000 perante o Parlamento Europeu, «não sepode lamentar, por um lado, a ausência de acçãoeuropeia unitária e eficaz e, por outro, acusar defraqueza os instrumentos de que dispõe aComunidade para actuar. É exemplo disso arecente crise no mercado dos produtospetrolíferos».
A análise feita no presente livro verde procuramostrar, da forma mais objectiva possível, que asmargens de manobra da União Europeia sãoreduzidas no que toca à oferta de energia.Procura também demonstrar, sem ideiaspreconcebidas, que os grandes esforços arealizar a favor das fontes de energia renováveiscontinuarão a ser, apesar de tudo, muitolimitados face ao aumento da procura. O papeldas fontes convencionais de energia continuaráa ser incontestável durante muito tempo ainda.O esforço deve consistir em orientar aprocura energética para que esta respeite oscompromissos de Quioto e tenha em mente asegurança do aprovisionamento.
Que medidas concretas podem ser tomadas,para além das declarações de princípio? É esse otema sobre o qual o livro verde deseja lançar odebate, tomando, nomeadamente, como pontode partida as treze questões que concluem odocumento e que, para a facilidade do leitor,aqui são reproduzidas.
(1) O novo artigo exige a unanimidade para «decidir dasmedidas adequadas à situação económica, caso surjamdificuldades graves no aprovisionamento de certosprodutos».
1312
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
A análise efectuada no presente livro verde conduz a três conclusões:
— a União Europeia será cada vez mais dependente de fontes de energias externas; oalargamento nada altera a este dado; com base nas actuais previsões, a taxa dedependência atingirá 70% em 2030;
— a União Europeia dispõe de fracas margens de manobra para actuar sobre ascondições de oferta de energia; é essencialmente a nível da procura que a Uniãopoderá agir e, sobretudo, sobre a poupança de energia no sector residencial e dostransportes;
— a União Europeia não está, actualmente, em condições de fazer face ao desafio dasalterações climáticas a longo prazo nem de respeitar os compromissos por elaassumidos neste sentido em Quioto.
Neste contexto, a Comissão desejaria que o debate sobre a segurançado aprovisionamento fosse organizado em torno das seguintesgrandes questões:
1. A União Europeia pode aceitar um aumento da sua dependência de fontes deenergias externas sem comprometer a segurança do aprovisionamento e acompetitividade europeia? Que fontes de energia deveriam, eventualmente, serobjecto de uma política de enquadramento das importações? Neste contexto,convirá privilegiar uma abordagem económica (o custo da energia) ou geopolítica(o risco de ruptura do abastecimento)?
2. A realização de um mercado interno europeu, cada vez mais integrado e em que asdecisões adoptadas num Estado têm impacto nos outros Estados, implicará umapolítica coerente e coordenada a nível comunitário? Quais deveriam ser oselementos de tal política e o papel das regras de concorrência?
3. A fiscalidade e os auxílios estatais no domínio da energia colocam ou não entrave àcompetitividade na União Europeia? Perante o fracasso das tentativas deharmonização da fiscalidade indirecta, não deveria ser totalmente reexaminada aquestão da energia tendo em conta, nomeadamente, objectivos energéticos eambientais?
4. No quadro de um diálogo permanente com os países produtores, qual deve ser oconteúdo dos acordos de abastecimento e de promoção do investimento? Tendo emconta a importância a dar, nomeadamente, a uma parceria com a Rússia, comogarantir a estabilidade das quantidades, dos preços e dos investimentos?
5. A constituição de existências de reserva, já realizada para o petróleo, deve serreforçada e alargada a outras energias, por exemplo o gás ou o carvão? Seriapossível uma gestão mais comunitária das existências e, em caso afirmativo, quaisseriam os seus objectivos e modalidades? O risco de ruptura física doaprovisionamento de produtos energéticos deveria justificar medidas maisonerosas de acesso aos recursos?
6. Como assegurar um desenvolvimento e um melhor funcionamento das redes detransporte de energia na União e nos países vizinhos obedecendo ao mesmo tempoaos imperativos do bom funcionamento do mercado interno e da segurança doaprovisionamento?
7. O desenvolvimento de certas energias renováveis supõe grandes esforços emtermos de investigação e desenvolvimento tecnológico de auxílio ao investimentoou de auxílio ao funcionamento. Um co-financiamento destes auxílios não deveriaimplicar a contribuição dos sectores cujo desenvolvimento beneficiou à partida deauxílios consideráveis e que são hoje muito rentáveis (gás, petróleo e energianuclear)?
8. Na medida em que a energia nuclear é um dos elementos no debate sobre a lutacontra as alterações climáticas e a autonomia energética, como poderá a UniãoEuropeia fornecer uma solução para o problema dos resíduos, o reforço dasegurança nuclear e o desenvolvimento da investigação sobre os reactores dofuturo, nomeadamente de fusão?
9. Que políticas deverão permitir à União Europeia cumprir as obrigações por elaassumidas no âmbito do Protocolo de Quioto? Que medidas poderão ser adoptadaspara explorar plenamente o potencial de poupança de energia que permita reduzirao mesmo tempo a nossa dependência externa e as emissões de CO
2?
10. Um programa ambicioso a favor dos biocombustíveis e de outros combustíveis desubstituição, incluindo o hidrogénio, para 20% do consumo total de combustíveisaté 2020 pode continuar a depender dos programas nacionais ou passa por decisõescoordenadas a nível da fiscalidade, da distribuição e das perspectivas para aprodução agrícola?
11. A poupança de energia nos edifícios (40% do consumo de energia), públicos ouprivados, novos ou em renovação, deve ser objecto de incentivos, por exemplofiscais, ou pressupõe também medidas de ordem regulamentar, tal como sucedeu nocaso das grandes instalações industriais?
12. A poupança de energia nos transportes (32% do consumo de energia) pressupõeque se corrija o desequilíbrio crescente entre os modos de transporte demercadorias a favor da estrada e em detrimento dos caminhos-de-ferro. Estedesequilíbrio deve ser considerado uma fatalidade ou implica medidas correctivas,mesmo que impopulares, nomeadamente para racionalizar a utilização doautomóvel nas cidades? Como conciliar a abertura à concorrência, os investimentosem infra-estruturas para a supressão de pontos de estrangulamento e aintermodalidade?
13. Como desenvolver visões mais concertadas e integrar a perspectiva a longo prazona reflexão e actuação por parte das autoridades e dos operadores a fim de seevoluir para um sistema de aprovisionamento energético sustentável? Comopreparar as opções energéticas do futuro?
1514
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
PRIMEIRA PARTE
OS PRINCIPAIS DADOSENERGÉTICOS
DA UNIÃO EUROPEIA
As escolhas energéticas da União Europeia sãocondicionadas pelos limites da sua autonomia energética e das tecnologias disponíveis.
I — Uma autonomia energética impossível
Desde o primeiro choque petrolífero, o
crescimento do consumo de energia dissociou-
-se do crescimento económico europeu. Apesar
desse avanço, as necessidades crescentes da
União Europeia confrontam-se com a falta, a
nível interno, de opções energéticas satisfatórias.
A EU-15, tal como a que resultará do
alargamento, consome muito mais do que pode
produzir (2).
A — Economia consumidorade energia
A procura de energia da União Europeia aumenta
desde 1986 ao ritmo de 1% a 2% ao ano. Reflexo
da passagem de uma economia industrial a uma
economia de serviços, a estabilidade do consumo
da indústria é largamente compensada pelo
aumento do consumo de electricidade,
transportes e aquecimento por parte das famílias
e do sector terciário.
Os países candidatos não se distinguem da
União quanto à evolução a longo prazo do seu
consumo, apesar de apresentarem actualmente
um atraso evidente em matéria de poupança de
energia. Contudo, uma vez ultrapassado o
período de crise, parecem sujeitos a uma maior
pressão do aumento da procura de energia,
devido nomeadamente ao crescimento
económico até 2010, que será sensivelmente
mais elevado que o esperado nos Estados-
-Membros (entre 3% e 6% ao ano, enquanto o
da União será de 2% a 4% ao ano). Este período
de transição poderia ser uma oportunidade para
estes países modernizarem os seus sistemas de
energia.
1. A indústria afasta-se do petróleo
O investimento na modernização permitiu à
indústria europeia fazer progressos na poupança
de energia. Houve um esforço de afastamento em
relação ao petróleo (que representa 16% do
consumo de energia total da indústria) e de
diversificação energética a favor do gás natural e
da electricidade. A intensidade energética (3)
deste sector baixou 23% entre 1985 e 1998.
A estabilidade do consumo entre 1985 e 1998 (4)
é favorecida, nomeadamente, pela introdução da
(2) O presente livro verde considera as perspectivasenergéticas da União num horizonte de 20 a 30 anos eadmite que a União possa nessa data incluir cerca detrinta Estados-Membros.
(3) A intensidade energética é um indicador de consumo deenergia em relação ao PIB.
(4) 264 a 262 milhões de toneladas equivalentes de petróleo(tep).
co-geração e de tecnologias mais eficientes, mas
resulta também da transição das economias
europeias para uma sociedade de serviços. Após
uma forte crise económica, a indústria dos PECO
deveria drenar 2% do aumento da procura de
energia por ano até 2020.
2. Dependentes doshidrocarbonetos: os sectoresresidencial, terciário e dos transportes
a) Sectores residencial e terciário:tecnologias mais eficientes
Os sectores residencial e terciário representam a
maior faixa de consumo final de energia em
termos absolutos. Têm apresentado, até agora,
um crescimento moderado, acompanhado de
uma baixa de intensidade energética
parcialmente compensada pelo progresso
sistemático do conforto. Esta tendência induz
neste mercado um consumo per capita mais
elevado, nomeadamente no que respeita à
electricidade. Nos países candidatos, o consumo
per capita é menos elevado, embora sejam
inferiores os resultados em matéria de
poupança de energia. Isto explica-se pelo atraso
no investimento e no desenvolvimento
económico destes países.
No sector residencial e excluindo o transporte
individual, 63% da procura é coberta pelos
hidrocarbonetos. Este é o maior consumidor de
gás natural (um terço do gás consumido,
correspondendo a 40% das necessidades
domésticas) e representa cerca de 18% do
petróleo consumido (um quarto das
necessidades).
b) Os transportes
Os transportes constituem certamente a grande
incógnita energética do futuro. Dependente do
petróleo (98% do consumo dos transportes, o
que representa 67% da procura final de
petróleo), este sector encontra-se numa fase de
importante aumento da procura de energia.
Entre 1985 e 1998, esta passou de 203 a 298
Mtep e o número veículos, privados e
comerciais, aumentou de 132 milhões para 189
milhões, acompanhado do aumento explosivo
dos transportes aéreos. A intensidade
energética (7) do sector apresentou um
aumento de 10% entre 1985 e 1998 (8). O
0
250
500
750
1 000
1 250
1 500
1 750
1990 2000 2010 2020 2030
Indústria
Transportes
Sectordomésticoe terciário
EU-30 (5): consumo final de energia (em Mtep) (6)
(5) Os números que constam do presente livro verde sãoextraídos das projecções contidas na terceira parte,capítulo I, secção B.
(6) Mtep: milhões de toneladas equivalentes de petróleo.(7) 355 a 384 milhões de tep entre 1980 e 1998.(8) Entre os factores que explicam este fenómeno figura em
primeiro lugar o aumento do comércio intracomunitáriopor estrada, sobretudo nos últimos anos, entre a PenínsulaIbérica e o resto da União, mas igualmente o aumento dostransportes rodoviários para os PECO.
1716
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
crescimento deste sector deverá prosseguir,num futuro previsível, a um ritmo de 2% nospróximos dez anos. Na União Europeia, prevê-seaté 2010 um crescimento dos transportes depassageiros de 19%, repartido principalmenteentre o automóvel (+16%) e o avião (+90%). Ostransportes de mercadorias deverão aumentar+38% (por estrada: +50%, por via marítima:+34%). Os esforços realizados pela indústriaautomóvel nos termos do acordo assinado coma Comissão para reduzir as emissões de CO
2no
caso dos veículos de turismo serão umacontribuição importante para reduzir estastendências. Contudo, estes progressos nãobastarão para reduzir nem para estabilizar aprocura energética dos transportes.
Nos países candidatos, este crescimento seráainda mais dinâmico. Após o alargamento, aUnião deverá assegurar a mobilidade de mais de170 milhões de novos habitantes num territórioque passa a ter mais 1,86 milhões de km2. Tendoem conta a diferença de desenvolvimento emrelação à União, é de esperar uma fortedinâmica de recuperação do atraso.Considerando as actuais tendências, prevê-seassim um crescimento económico dos paísescandidatos duas vezes superior ao da EU-15, ouseja, aproximadamente 5% a 6% por anodurante os próximos 10 anos. O seu corolário é oaumento previsível — superior ao crescimentoeconómico — da procura de transportes.
O crescimento da procura, associado a lacunasnas infra-estruturas e no sistema de transportes,nomeadamente no que diz respeito ao tráfegointernacional e à distribuição dos fluxos entremodos de transporte, faz aumentar os
fenómenos de congestionamento (saturação
das cidades, redes rodoviárias e aeroportos) e
tem repercussões negativas no ambiente e
qualidade de vida dos cidadãos europeus.
Assim, os custos externos da poluição devida
aos transportes foram avaliados em cerca de 2%
do PIB.
3. Diversificação energética:electricidade e energiatérmica
a) A electricidade
Nos últimos anos, a procura de electricidade
aumentou mais rapidamente que para todas as
outras formas de energia. Irá continuar a um
ritmo sustentado e comparável ao do PIB até
2020. As perspectivas de crescimento dos países
candidatos são mais elevadas ainda. A
electricidade deverá aumentar 3% por ano (9)
até 2020.
As capacidades instaladas na União Europeia
deverão atingir 800 a 900 GWe (10) por volta do
ano 2020, contra os 600 GWe actuais. Cerca de
300 GWe deverão ser instalados nos próximos
vinte anos para substituir as centrais que
chegam ao fim de vida, para além dos 200 a 300
GWe necessários para fazer face ao aumento do
consumo. Estas necessidades de novas
capacidades poderiam, evidentemente, ser
Nuclear Combustíveis sólidos Gás natural Produtos petrolíferos Renováveis Outros
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
B DK D EL E F I L NL A P FIN S UK
TWh
IRL
Produção de electricidade por fonte de energia e por Estado-Membro
(9) «European Energy Outlook to 2020»: números com baseem sete países da Europa Central, exceptuando a Bulgária,a Eslováquia e a Roménia.
(10) GWe: gigawatt eléctrico.
reduzidas graças a uma política de controlo da
procura.
Na falta de avanços tecnológicos
revolucionários, o excedente da procura deverá
ser coberto pelos produtos energéticos
disponíveis no mercado: gás natural, carvão,
petróleo, energia nuclear e energias renováveis.
A actual produção de electricidade divide-se
entre a energia nuclear (35%), os combustíveis
sólidos (27%), o gás natural (16%), a energia
hidroeléctrica e outras (15%), o petróleo (8%). As
novas capacidades serão caracterizadas pela
predominância das centrais a gás e pela
continuação do recuo das centrais alimentadas
por produtos petrolíferos e combustíveis sólidos.
O crescimento da energia nuclear parece, de
momento, improvável. A sua contribuição a
longo prazo depende da continuação da política
de luta contra o aquecimento climático, da sua
competitividade em relação às outras energias,
da aceitação pública desta forma de energia e
da solução dada ao problema dos resíduos. A
contribuição da energia nuclear nas actuais
circunstâncias políticas (decisões de abandono
do nuclear adoptadas por alguns Estados-
-Membros) deveria limitar-se até 2020 à
manutenção do statu quo. A médio prazo, a
possível perda de interesse na energia nuclear
poderá traduzir-se, na ausência de novos
investimentos, numa taxa de utilização mais
elevada das centrais térmicas. Contudo, estas
previsões poderiam ser revistas graças a uma
maior contribuição das energias renováveis e da
actuação a nível da procura.
Nos países candidatos, a taxa de substituição ou
de modernização das capacidades de produção
de electricidade — difícil de avaliar — deverá
ser elevada, dada a vetustez de grande parte do
parque existente.
— Em princípio, o parque de centrais térmicas
cuja capacidade é de momento excedentária
deverá ser amplamente modernizado e uma
parte das centrais térmicas alimentadas a
combustíveis sólidos poderá ser substituída
por centrais a gás. No entanto, um aumento
constante do preço do gás no mercado
internacional poderá dificultar as decisões
de investimento e contribuir para a
manutenção de uma parte substancial dos
combustíveis sólidos e da energia nuclear
nestes países. Com efeito, de acordo com o
cenário de referência (11), um aumento dos
preços do gás natural poderá conduzir a
uma redução do crescimento do gás de
24%.
— O desenvolvimento da energia nuclear é
condicionado pelos esforços realizados em
matéria de segurança nos países em causa.
Observa-se que nos países candidatos
diminui a parte da energia nuclear no
conjunto das energias, devendo passar dos
actuais 15% a 8,1% em 2020 (12).
b) A energia térmica
A energia térmica é o maior mercado de
consumo de energia final, representando cerca
de um terço da energia consumida.
Compreende o aquecimento doméstico
(incluindo a água quente) e a produção de
vapor para fins industriais. O balanço energético
da produção de calor é muito diferente do
balanço da produção de electricidade.
Ao contrário do mercado da electricidade, o da
energia térmica é largamente descentralizado. A
sua geração pode resultar de uma produção
individualizada, quer em sistemas de co-
-geração (13) quer ainda em centrais de
aquecimento e redes de aquecimento
associadas, sendo estas últimas mais frequentes
nos países candidatos que nos países da União
Europeia.
B — Recursos comunitárioslimitados
Apesar de progressos consideráveis na sua
exploração, as reservas convencionais europeias
continuam muito fracas e a sua extracção é
dispendiosa. No futuro, é previsível uma rápida
baixa tendencial dos recursos energéticos
fósseis na Europa.
1. Incertezas quanto à produçãode hidrocarbonetos
a) As reservas petrolíferas repartem-se de
forma muito desigual à escala mundial. A
União Europeia é particularmente pouco
dotada destes recursos, e os países
candidatos à adesão ainda menos. Calcula-se
(11) Ver terceira parte, capítulo I, secção B.(12) Esta taxa tem em conta ao mesmo tempo o crescimento
da procura e as previsões de encerramento e demodernização de centrais nucleares.
(13) Produção combinada de calor e electricidade.
1918
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
que as reservas comunitárias provadas
chegarão para oito anos de consumo ao
nível actual (sem alteração do consumo nem
dos desempenhos tecnológicos). A UE
produz, graças à sua exploração do mar do
Norte (essencialmente Reino Unido), 158,3
Mtep (1997), o que não ultrapassa 4,4% da
produção mundial. Hoje, os custos de
extracção da produção europeia são de 7 a
11 dólares por barril contra 1 a 3 dólares por
barril no Médio Oriente.
b) As reservas de gás natural estão
relativamente melhor repartidas a nível
mundial, mas a União Europeia dispõe
apenas de 2% das reservas do globo, ou seja,
o equivalente a 20 anos ao ritmo actual. A
UE extraiu 223,2 Mtep em 1997 (12% da
produção mundial). As principais reservas
situam-se nos Países Baixos (56%) e no Reino
Unido (24%).
c) O ritmo de esgotamento dos recursos
comunitários depende das reservas
provadas mas também do preço dos
hidrocarbonetos no mercado internacional e
do progresso tecnológico. Quanto mais
elevado for o preço, mais as companhias
petrolíferas investirão na
exploração-produção. Se os actuais preços
do gás natural e do petróleo se mantiverem
no mercado internacional (em torno de 30
0
250
500
750
1 000
1 250
1990 2000 2010 2020 2030
Petróleo
Gás natural
Combustíveissólidos
Renováveis
Nuclear
EU-30: produção de energia por combustível (em Mtep)C
ust
o (U
SD/b
arri
l)
14
12
10
8
6
4
2
010 20 30 40 50 60 70 80 90
Produção (milhões de barris/dia)
Custo da produção mundial petrolífera
dólares em 2000), ficará comprometida aexploração de importantes reservas. Noentanto, seja qual for a incerteza ligada àconjuntura internacional, dentro de 25 anos,ao actual ritmo de produção, os jazigos degás e de petróleo no mar do Norte estarãoesgotados. O alargamento não oferecenenhuma perspectiva de melhoria daprodução interna (14).
Estas perspectivas pessimistas poderiameventualmente ser atenuadas por um novoesforço de investimento. Em geral, as previsõessão sempre ultrapassadas, nomeadamente emresultado da inovação tecnológica, como se vêno gráfico acima. As novas tecnologias deextracção permitem esperar que, com o tempo,a taxa de recuperação dos jazigos passe de 20%-40% a 60%.
2. Declínio da produção mineira
a) Os combustíveis sólidos
Em termos absolutos, as reservas mundiais decombustíveis sólidos são consideráveis,equivalendo a quatro a cinco vezes as dopetróleo, ou 200 anos de consumo. Das reservaseuropeias de energias convencionais, 80% sãoconstituídas por combustíveis sólidos (incluindocarvão, lenhite, turfa e xisto betuminoso). Apesardestas perspectivas optimistas, não se deveesquecer a qualidade variável dos combustíveissólidos e os seus custos de produção.
A produção comunitária de turfa atinge 1,2milhões de tec, a lenhite 50 milhões de tec e o
carvão 60 milhões de tec (5% da produção
mundial). Para a União alargada, a produção de
carvão aumentará para mais do dobro. Embora a
lenhite e a turfa sejam rentáveis, não é esse o
caso do carvão extraído no continente europeu,
que se situa muito abaixo do limiar de
competitividade em relação ao carvão
importado.
As condições geológicas difíceis, conjugadas com
a regulamentação de cobertura social da União
fazem com que o custo médio de produção do
carvão seja cerca de três a quatro vezes o preço
do mercado internacional (150 dólares/tec,
contra 40 dólares/tec). Neste contexto, o carvão
europeu não pode ser competitivo face aos
grandes países exportadores de carvão como os
Estados Unidos, a Austrália, a África do Sul ou a
Colômbia. Este fosso conduziu os países
produtores a cessar toda a produção em
Portugal, na Bélgica e em França (em 2005) ou a
decidir reestruturar a sua indústria a fim de
reduzir progressivamente a actividade extractiva
(Alemanha e Espanha) ou tornar a produção
competitiva face ao carvão importado (Reino
Unido).
Dado o seu carácter pouco competitivo, dentro
de alguns anos a indústria carbonífera europeia
só contribuirá, mesmo com o alargamento
NWECS — Previsões de produção de petróleoTrês cenários: comparação
Milh
ares
de
bar
ris/
dia
12 000
10 000
8 000
6 000
4 000
2 000
0
1965 1975 1985 1995 2005 2015 2025 2035 2045
Previsões de produção no mar do Norte em 1983 Baixa Provável Alta
Previsões de produção no mar do Norte
(14) Em 1999, a Noruega dispunha de 1,77 mil milhões de m3
de reservas provadas de gás natural que, ao actual ritmode exploração, chegam para 23 anos de consumo; asreservas provadas de petróleo são calculadas em 11milhões de barris e chegam para mais 10 anos. Contudo,há importantes reservas por explorar no mar de Barents.
2120
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
(Polónia, República Checa e Roménia), para uma
parte muito reduzida do seu aprovisionamento
energético. Apesar da importância das reservas
de combustíveis sólidos dos países candidatos,
estes não resistirão à concorrência internacional
e deverão alinhar-se pelas políticas de
regressão da actividade mineira da União
Europeia.
Deverão ser adoptadas decisões difíceisquanto ao futuro da indústria carboníferaeuropeia, dada a sua ausência decompetitividade. Uma via a explorar poderiaser a de preservar o acesso a certas reservas.Por razões ligadas à segurança doaprovisionamento energético, uma via aexplorar poderia ser a manutenção do acessoa certas reservas. Para esse fim, poderiaprever-se a conservação de capacidadesmínimas de produção carbonífera,acompanhada das medidas sociaisadequadas. Seria assim assegurada amanutenção do equipamento e, portanto, acontinuidade e o bom funcionamento dasminas seleccionadas. Manter-se-ia destemodo a posição privilegiada da tecnologiaeuropeia em matéria de extracção e decombustão limpa do carvão.
b) O urânio
As reservas provadas de urânio natural, única
parte do ciclo do combustível nuclear em que a
UE não é auto-suficiente, são calculadas em 2
milhões e meio de toneladas, isto é, 40 anos de
consumo ao ritmo actual (o preço actual é de
cerca de 20 dólares/kg). Os recursos adicionais
conhecidos, ainda por explorar, são da ordem
das 850 000 toneladas (isto é, 15 anos de
consumo) nesta categoria de preço e situam-se,
principalmente, na Austrália, no Cazaquistão, no
Usbequistão e no Canadá.
A União Europeia dispõe apenas de 2% das
reservas mundiais de urânio natural (52 000 t),
mas a produção irá terminar por volta do ano
2005 em França e em Portugal. O encerramento
das minas de urânio na Europa explica-se em
grande parte pelo esgotamento dos jazigos cujo
custo de exploração é elevado em relação ao
preço mundial e à ampla disponibilidade física
internacional de reservas de combustível nuclear.
É possível dispor de maiores reservas de urânio,
mas a um custo mais elevado. Existem,
efectivamente, suficientes reservas não
convencionais a longo prazo. Isto teria um
impacto limitado no custo de produção do
kW/hora, tendo em conta a pequena
participação do urânio no custo total de
produção de electricidade.
O carácter reciclável do combustível irradiado
permite uma previsão optimista das reservas. O
combustível nuclear distingue-se das outras
energias primárias por ser reciclado após
irradiação, reduzindo assim as necessidades de
importação. Depois de separados dos resíduos
(cerca de 4%) provenientes da sua primeira
utilização, o urânio e o plutónio recuperados
podem ser reciclados e reutilizados para
produzir electricidade (96%). Por último, os
materiais resultantes do desmantelamento das
armas nucleares podem também ser reciclados
como combustível nuclear.
3. Abundância potencial de energias renováveis
As energias renováveis como a madeira
combustível ou a energia hidroeléctrica ocupam
um lugar modesto na economia dos países da
UE. Representam uma parte mais significativa
nos países candidatos e podem constituir, em
certas regiões isoladas como as ilhas, a única
fonte de conforto. No entanto, a sua
NEI EUA
Gabão + Níger Outros
Austrália
Canadá
Namíbia +África do Sul
Origem das importações de urânioconsumido na UE
contribuição energética e económica está ainda
por desenvolver.
Quanto às energias renováveis tecnológicas,
nomeadamente as associadas a tecnologias
avançadas, estão ainda a dar os primeiros
passos, ainda que, graças ao apoio das
autoridades públicas, estejam a ganhar
amplitude desde há alguns anos. Neste
contexto, salienta-se a energia eólica, hoje
plenamente reconhecida, enquanto que a
energia fotovoltaica é promissora mas está
ainda longe de atingir o nível de
competitividade comercial.
A questão dos recursos em matéria de energias
renováveis coloca-se apenas para os que
funcionam fora dos elementos naturais, como a
biomassa (incluindo biocombustíveis), a madeira
e todos os tipos de resíduos biodegradáveis. Tal
como o nome indica, não se colocam em
princípio verdadeiros problemas quantitativos
de aprovisionamento para as energias
renováveis. Os resíduos domésticos estão em
crescimento constante e poderiam oferecer uma
oportunidade de utilização considerável, e o
mesmo se passa com os subprodutos da
indústria da madeira e da indústria
agroalimentar. Mas a sua utilização não está
isenta de efeitos negativos no ambiente e só
poderá ser desenvolvida graças à alta
tecnologia, devido às dificuldades tecnológicas
que ainda hoje é difícil ultrapassar. Seria
conveniente dar atenção à questão dos tipos de
resíduos que podem ser incinerados.
No actual estado das tecnologias, os recursoscomunitários de energias primáriasconvencionais não permitem prever aautonomia energética para a Europa. Só osrecursos renováveis de alta tecnologia poderãolimitar a tendência para uma dependênciaquantitativa energética cada vez maior.
Conclusão
Em 1998, a União Europeia consumiu 1 436 Mtep
de todas as fontes de energia para uma
produção comunitária de 753 Mtep. O consumo
de energia dos PECO é de 285 Mtep, para uma
produção de 164 Mtep. Se não abrandar oaumento do consumo nos sectores de maiorexpansão que são os transportes, o sectorresidencial e o terciário, a dependênciaenergética da União continuará a aumentar.Com efeito, a disponibilidade física na União
Europeia, embora tenha aumentadosensivelmente desde a primeira crise petrolíferagraças às políticas de enquadramento da procurae de exploração dos recursos internos (15), deverádiminuir. O esgotamento dos recursos do mardo Norte e um abandono parcial do nuclear,mais ou menos acentuado, apenas irá reforçaro fenómeno a longo prazo. Mesmo após oalargamento e incluindo a Noruega, a UniãoEuropeia continuará a ter uma taxa dedependência superior à actual em cerca de 20pontos percentuais (70%).
C — Um gigante vulnerávelou o aprovisionamentoenergético da UniãoEuropeia
A União Europeia é um actor de peso no mercadointernacional dos produtos energéticos (segundoconsumidor mundial e primeiro importador) (16).Depende da procura no mercado mundial, dageopolítica, da posição geográfica e daestabilidade dos países de trânsito.
1. Dependência externa da União
Apesar do aumento do consumo global deenergia, a União Europeia reduziu a suadependência energética desde a primeira crisepetrolífera. Passou de uma dependência de 60%em 1973 a 50% em 1999. As políticas de gestãoda procura (melhoria da poupança de energia),de desenvolvimento das energias internas(exploração das reservas do mar do Norte) e dediversificação das fontes de energia(relançamento dos programas nucleares (17) eesforços a favor das energias renováveis, etc.)produziram frutos.
(15) Exploração dos recursos no mar do Norte para oshidrocarbonetos, relançamento dos programas nucleares edesenvolvimento das energias renováveis.
(16) A título de comparação, os EUA importam 24% das suasnecessidades energéticas e o Japão 80%.
(17) Por seu lado, a capacidade electronuclear instalada veioreforçar a política de menor dependência externa. Estacapacidade era de 45 GWe em 1980 e atinge hoje 125 GWena União Europeia. Esta evolução é o resultado dosprogramas de investimento adoptados em resposta àsduas crises petrolíferas de 1973 e 1979. O objectivo erasubstituir pela energia nuclear o petróleo para a produçãode electricidade e reduzir assim a vulnerabilidade externados países que optam pela energia nuclear. A poupançaassim realizada pode ser calculada em mais de 200milhões de tep para o ano 2000, ou seja, uma poupançade 30 a 45 mil milhões de euros a nível da balançacomercial da União Europeia.
2322
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
a) Uma dependência elevada emtodos os vectores energéticos
Com o reavivar do crescimento a longo prazo, é
de esperar que a dependência energética global
da União Europeia se acentue de novo e atinja
70% num período de 20 a 30 anos. Para o
petróleo, poderia representar 90%, para o gás
70% e para o carvão poderá atingir o limiar
máximo dos 100%.
O alargamento irá reforçar esta tendência. As
importações de gás natural para satisfação da
procura dos países candidatos poderão
aumentar de 60% para 90% e as de petróleo de
90 para 94%. Para o carvão, os países candidatos,
0
200
400
600
800
1 000
1 200
1 400
1 600
1 800
2 000
2 200
2 400
1990 2000 2010 2020 2030
Produção
Importação líquida
Consumo
EU-30: balanço energético (em Mtep)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Combustíveis sólidos Petróleo Gás Total
1990 2000 2010 2020 2030
EU-30: dependência por produtos energéticos
actualmente exportadores líquidos, poderão ser
levados a importar 12% das suas necessidades
em 2020 devido às reestruturações drásticas do
sector.
b) Grau de dependência
A importância desta dependência varia com os
Estados-Membros e a estrutura do mercado
internacional dos produtos energéticos em
questão.
— A sensibilidade à instabilidade do
aprovisionamento energético de um Estado-
-Membro será directamente proporcional ao
seu grau de dependência (18). Essa
sensibilidade será tanto mais acentuada
quanto o abastecimento é proveniente de
países fornecedores susceptíveis de levantar
problemas de natureza geopolítica.
— O grau de internacionalização do produto
importado é também um factor que
influencia a variação dos preços. Do petróleo
consumido, 57% é objecto de trocas
internacionais, contra 20% para o gás natural
e 15% para o carvão.
— A estrutura de mercado dos produtos
energéticos, um dos factores da formação
dos preços, é também fortemente
diferenciada.
Para o carvão, pode falar-se de mercadomundial concorrencial, para o petróleo omercado é dominado por um «cartel» (19) epara o gás natural existe uma situação suigeneris que poderia ser qualificada deoligopólio regional formando cartel em queintervém o petróleo.
Para o petróleo, a dependência comunitária é a
mais elevada, representa quase 76% da procura.
A diversificação geográfica a longo prazo não é
tão fácil como para o gás natural e no futuro as
reservas mundiais concentrar-se-ão no Médio
Oriente (20). O aumento sensível da oferta a
curto prazo parece limitado. A maior parte dos
países exportadores não dispõe de reservas
suplementares de capacidade de produção a
curto prazo, excepto a Arábia Saudita, o Iraque e,
em certa medida, a Rússia.
Em relação ao gás natural, a União Europeia tem
actualmente uma dependência moderada, de
40%. Para tentar compensar o aumento (70%) da
dependência nos próximos 20 a 30 anos, aUnião Europeia é dotada, por um lado, defornecedores variados e geograficamentepróximos, mas de recursos limitados (Rússia,Noruega e África do Norte, nomeadamente aArgélia e a Líbia). Note-se, aliás, que apesar dasmais diversas dificuldades, a URSS — e depois aRússia — sempre cumpriu as suas obrigações defornecimento à UE através de contratos a longoprazo. Por outro lado, a maiores distâncias, aUnião Europeia encontra-se rodeada de vastosrecursos de gás, nomeadamente na Rússia(Sibéria Ocidental), na região do Cáspio,incluindo o Irão, no Médio Oriente e na Nigéria,sendo os custos de transporte a longo prazo,somados aos custos de produção, consideradoseconomicamente viáveis.
Para o carvão, a União importa mais de 50% dassuas necessidades. Apesar da baixa constante daprocura em termos absolutos, a dependênciaem termos relativos continuará a crescer nospróximos anos. Prevê-se que a dependênciacarbonífera da União em 2020 será superior a70%. Há mesmo quem sugira uma taxa próximados 100%, dado que a produção carboníferacomunitária sobrevive graças a elevadassubvenções públicas. As características domercado mundial do carvão (distribuiçãogeográfica, geopolítica da oferta e ausência depressão sobre os preços) são tranquilizadoras noque respeita à dependência externa crescente.Neste contexto, pode falar-se de estabilidade doabastecimento físico e económico.
No que respeita ao aprovisionamento demateriais nucleares, a Europa depende em 95%do seu aprovisionamento externo de urânio.Contudo, a indústria europeia domina atotalidade do ciclo do combustível. O que nãodomina ainda é a gestão dos resíduos. AAgência de Aprovisionamento da Euratom tempor missão velar essencialmente pelaautorização dos contratos e pela diversificaçãodas fontes de aprovisionamento e evitar toda adependência excessiva. Além disso, asexistências de materiais nucleares na posse dosdiferentes operadores da União representamalguns anos de funcionamento para o parque
(18) Em contrapartida, a sua sensibilidade aos preços dependemenos deste factor, devido à associação dos preçosinternos aos preços internacionais.
(19) Para certos economistas, é incorrecta a denominação de«cartel» para a OPEP, dado que não é efectivamente umórgão de fixação dos preços mas procura evitar, com maisou menos sucesso, a concorrência entre países produtores.
(20) Arábia Saudita, Irão, Iraque, Emirados Árabes Unidos,Koweit e Catar.
2524
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
de centrais nucleares (o urânio é fácil dearmazenar e tem encargos financeirosreduzidos).
A política de diversificação geopolítica dosabastecimentos europeus não libertou aUnião de uma dependência centrada noMédio Oriente, para o petróleo, e na Rússia,para o gás natural. Alguns Estados-Membrose, em especial, os países candidatos à adesãosão totalmente dependentes de um sófornecedor por gasoduto.
2. A União Europeia tributária da sua situação geográfica:as trocas comerciais de produtos energéticos
O aumento da dependência energética externada Europa e o afastamento geográfico dosrecursos irão aumentar o peso do transporte edo trânsito da energia para a Europa. Os desafioscolocados pelo problema do trânsito são, alémdisso, particularmente dificultados peloaparecimento na cena internacional dos novosEstados independentes (NEI) após adesagregação da União Soviética.
a) As trocas comerciais de produtosenergéticos
O desenvolvimento do transporte dos produtosenergéticos coloca problemas a nível doambiente, tendo em conta os riscos que gerapara a saúde e o ambiente: marés negras, fugasnas redes de gasodutos e oleodutos, transportede materiais nucleares e congestionamento decertas zonas de trânsito, como a do Bósforo.
O comércio marítimo é motivo de preocupação.É por via marítima que se efectua 90% docomércio internacional de petróleo e de carvãoe um quarto do comércio de gás natural (GNL).Entre os produtos energéticos, só o carvão foiexcluído da lista dos produtos perigosos pelaOrganização Marítima Internacional (OMI). Otráfego marítimo de hidrocarbonetos nas águaseuropeias representa 800 milhões detoneladas/ano. Efectua-se ao largo das costas doAtlântico e do mar do Norte (70%) e noMediterrâneo (30%).
Está demonstrada uma correlação estreita entrea idade dos navios e o número de acidentesocorridos. Dos 77 petroleiros perdidos no mar
entre 1992 e 1999, 60 tinham mais de 20 anosde idade.
O naufrágio do petroleiro Erika em Dezembro de1999 veio chamar a atenção para certas falhasdo transporte marítimo do petróleo. A Comissãoreagiu, adoptando uma comunicação sobre asegurança marítima do transporte de produtospetrolíferos e propondo diversas medidasdestinadas a reforçar os controlos técnicosdestes navios. Prevê-se também que ospetroleiros de casco simples que apresentammaior risco de poluição em caso de acidentesejam eliminados das águas europeias em duasfases (2010 e 2015) de acordo com a suatonelagem.
Estas medidas serão completadas por novaspropostas legislativas da Comissão com oobjectivo de reforçar a vigilância da circulaçãodos navios que transportem mercadoriasperigosas ou poluentes e alargar as condiçõesde responsabilidade dos principaisintervenientes no transporte de petróleo(nomeadamente os fretadores) em caso deacidente causador de poluição grave.
Neste contexto, deve ser cuidadosamenteexaminada a construção de novos terminaispetrolíferos que possam criar problemasambientais aos países vizinhos. É o caso,nomeadamente, do projecto de construção pelaRússia de um novo terminal petrolífero emPrimorsk, no golfo da Finlândia, cujo impactoambiental nos países do mar Báltico deve seravaliado.
b) O trânsito
A manutenção de relações adequadas com ospaíses de trânsito é uma das condições doabastecimento regular da União. Este éespecialmente o caso para o gás natural, cujasegurança do aprovisionamento dependemais da manutenção do trânsito e dacontinuação da diversificação das rotas detransporte que do estado das reservasmundiais.
Para os recursos provenientes da Rússia, dabacia do mar Cáspio, do Norte de África e doMédio Oriente, duas regiões merecem especialatenção: a Europa Oriental e Setentrional, porum lado, e a bacia mediterrânica, por outro.
Embora a Rússia desempenhe um papelessencial, fornecendo à UE 42% das suasnecessidades externas de gás natural, é
EU–15
16
41
22
15
6
%
%
%
%
%
Dinamarca
26
46
20
0
8
%
%
%
%
%
Bélgica
15
42
22
20
1
%
%
%
%
%
Áustria
11
43
23
0
23
%
%
%
%
%
Alemanha
25
41
21
11
2
%
%
%
%
%
Finlândia
17
34
10
17
22
%
%
%
%
%
França
7
36
13
37
7
%
%
%
%
%
Itália
14
11
59
0
16
%
%
%
%
%
Irlanda
22
54
22
0
2
%
%
%
%
%
Grécia
35
60
0
0
5
%
%
%
%
%
Portugal
14
67
3
0
16
%
%
%
%
%
Países Baixos
13
37
47
1
2
%
%
%
%
%
Luxemburgo
4
71
23
0
2
%
%
%
%
%
Reino Unido
24
45
15
15
1
%
%
%
%
%
Suécia
5
32
1
34
28
%
%
%
%
%
Espanha
16
54
11
13
6
%
%
%
%
%
Consumo interno bruto (em %) — 1998 (EU-15)Combustíveis sólidos
Petróleo e produtos petrolíferos
Gás natural
Nuclear
Renováveis
2726
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
Turquia
30
43
12
0
15
%
%
%
%
%
Bulgária
38
23
15
21
3
%
%
%
%
%
República Checa
51
20
19
8
2
%
%
%
%
%
Chipre
1
99
0
0
0
%
%
%
%
%
Estónia
53
25
12
0
10
%
%
%
%
%
Letónia
42
24
0
33
1
%
%
%
%
%
Hungria
16
29
40
14
1
%
%
%
%
%
Lituânia
37
17
35
6
5
%
%
%
%
%
Malta
0
100
0
0
0
%
%
%
%
%
Polónia
66
19
10
0
5
%
%
%
%
%
Roménia
18
29
38
3
12
%
%
%
%
%
Eslováquia
27
19
33
18
3
%
%
%
%
%
Eslovénia
20
42
11
19
8
%
%
%
%
%
EU-30
19
40
21
14
6
%
%
%
%
%
Consumo interno bruto (em %) — 1998 (EU-30)Combustíveis sólidos
Petróleo e produtos petrolíferos
Gás natural
Nuclear
Renováveis
também importante o potencial de produção de
hidrocarbonetos que representam os países da
bacia do mar Cáspio. Como produtor, a Rússia é
o primeiro exportador mundial de gás e
pretende aumentar as suas vendas de petróleo
— ou de electricidade — para a Europa
estabelecendo novas vias de exportação. Além
disso, a abertura dos recursos da bacia do mar
Cáspio exigiria a diversificação das rotas de
trânsito. Por isso, deve ser dada especial atenção
aos países de trânsito como a Turquia, os PECO, a
Ucrânia, os países bálticos e os países do
Cáucaso.
O Norte de África é também uma
importante região produtora para a Europa
(Argélia e Líbia).
Na perspectiva da sua adesão à União Europeia,
importa examinar o apoio que a Europa poderia
dar ao desenvolvimento do trânsito pela
Turquia, Bulgária e Roménia para o
abastecimento de gás e de petróleo proveniente
da bacia do mar Cáspio (21), em complemento
ao abastecimento proveniente da Rússia (22). O
projecto de interconexão entre a Grécia e a
Turquia para o transporte de gás natural abre
perspectivas de novas fontes de
aprovisionamento de gás para o mercado
europeu e oferece uma solução alternativa ao
transporte marítimo de gás natural, bem como
para o trânsito dos recursos provenientes do
Médio Oriente.
Neste contexto, reveste-se de grande
importância a dimensão da política energética
no que toca aos países da Europa Setentrional,
da Europa Central e da região mediterrânica.
3. A União Europeia no mercadomundial
A sua dependência face às fontes de energia
torna a União Europeia vulnerável à evolução
das condições mundiais de procura e oferta de
energia. Esta dependência é em certa medida
compensada pelo peso das exportações da
União para os países terceiros exportadores de
produtos energéticos.
a) Importância da UE comoconsumidor no mercadointernacional
A União representa 14% a 15% do consumo
mundial de energia, para apenas 6% da
população mundial. Absorve 19% de petróleoconsumido no mundo, 16% do gás natural, 10%do carvão e 35% do urânio.
A União importou 16% do gás natural que foiobjecto de troca comercial em 1999 no mercadointernacional (450 mil milhões de m3), umquarto do volume de carvão (150 dos 500milhões de tec) e de petróleo (9,7 dos 40,4milhões de barris/dia). O alargamentoaumentará ainda a percentagem que representaa União no mercado mundial, excepto para ocarvão.
Em 1997, a União transferiu cerca de 120 milmilhões de euros no âmbito das suasimportações de energia, que representam 6% dovalor total das importações. A factura dopetróleo representa três quartos da facturaenergética. Em 1997, a factura do petróleo daUnião atingiu 94 mil milhões de euros, cerca demetade dos quais (45%) foram pagos afornecedores do Médio Oriente (mais de 40 milmilhões de euros). Em 1999, esta factura eleva-sea 240 milhões de euros. O montante destafactura foi, nomeadamente, agravado pelaevolução da paridade do euro em relação aodólar desde Janeiro de 2000.
b) A União Europeia semautoridade sobre a formação do preço internacional
A longo prazo, as escolhas energéticas dospaíses em desenvolvimento, nomeadamente daChina, da Índia (23) e da América Latina, quesuportarão a maior carga da expansãodemográfica e do aumento da procura deenergia, irão determinar de forma duradoura ascondições dos produtos energéticos nomercado internacional.
Os peritos consideram que, até 2020, apopulação total do globo será de 8 mil milhõesde habitantes, ou seja, mais 2 mil milhões dehabitantes que em 2000. De acordo com astendências actuais, a procura mundial deenergia poderá crescer rapidamente,impulsionada pelos países em desenvolvimento,que serão responsáveis por nove décimos do
(21) Por bacia do mar Cáspio entendem-se os hidrocarbonetosprovenientes do Sul da Rússia, Cáucaso, Ásia Central e Irão.
(22) O acordo em matéria de trânsito foi assinado pelo paísescandidatos e pela maior parte dos países do Mediterrâneono âmbito do acordo geral lançado pelo programaInogate.
(23) A China e a Índia consomem um total de 1,115 Mtep(respectivamente 844 Mtep e 271 Mtep).
2928
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
aumento das necessidades. A procura deveria
aumentar cerca de dois terços em 20 anos,
passando de 9,3 mil Mtep em 2000 a 15,4 mil
Mtep em 2020. As consequências sobre os
preços internacionais das energias fósseis
podem ser muito significativas. Esta tendência
poderia, contudo, ser reduzida graças aos
esforços internacionais destinados a promover
as energias renováveis e o controlo da procura,
por exemplo na luta contra as alterações
climáticas.
Prevê-se, por exemplo, a duplicação do parque
automóvel mundial até 2020. Este aumento seria
principalmente imputável aos países em
desenvolvimento. Enquanto na OCDE o número
de veículos per capita é aproximadamente de
seis para 10 habitantes, ele é apenas de dois
para cem habitantes na maior parte das regiões
fora da OCDE. Podemos, pois, concluir que,
mesmo se o fenómeno de correcção for apenas
parcial, exercerá num prazo relativamente curto
uma enorme pressão sobre a procura de
produtos petrolíferos.
Por isso, os acordos com os países em
desenvolvimento devem ter em conta a
dimensão relativa à segurança do
aprovisionamento energético (24).
Para além das tendências gerais do mercado, as
pressões sobre os preços dos produtos
energéticos no mercado internacional
(petróleo, gás natural, carvão e urânio) podem
resultar de outros factores que alterem o
mercado: a actuação deliberada dos países
exportadores (como a OPEP), as alterações
geopolíticas ou os efeitos das taxas de câmbio.
As súbitas alterações de preço e as crises
profundas que estas podem gerar estão
associadas à intensa volatilidade dos preços, à
periodicidade das tensões sobre estes últimos,
à aptidão da economia para as absorver e à
capacidade de fazer pressão no mercado em
questão e no mercado das energias de
substituição.
Embora as economias da União Europeia
estejam agora mais adaptadas que
anteriormente à variação errática dos preços,
escapa-lhes ainda o controlo dos factores
geopolíticos ou especulativos, bem como
do futuro desenvolvimento do mercado
mundial.
No plano geopolítico, os recentes problemas
no processo de paz no Médio Oriente, o
embargo feito ao Iraque e a incerteza da
situação no Irão e na Líbia influenciam o
comportamento da OPEP sem que seja possível
definir o seu alcance exacto.
No plano financeiro, o impacto do
movimento especulativo gerado pela
multiplicação de transacções individuais nos
mercados a prazo (de futuros) é também um
fenómeno preocupante nas flutuações
brutais dos preços e leva, tal como a
Comissão já previu, a colocar a questão do
possível aspecto antiespeculativo das
reservas (25).
Somos forçados a reconhecer que faltam à
União Europeia meios de negociação e de
pressão. A União sofre ainda da falta de
competências e de coesão comunitária no
domínio energético.
Na falta de uma clara competência europeia
em matéria energética para além da
resultante dos Tratados CECA e Euratom, não
foi possível durante 40 anos mobilizar meios
adequados — tanto a nível da União como
da Agência Internacional da Energia — para
dar provas de uma coesão equivalente à que
têm hoje os países produtores de petróleo e
face a outras fontes de energia no futuro.
Na ausência de uma verdadeira política
energética, o poder de negociação da União
Europeia é reduzido. Face às grandes
empresas exportadoras de hidrocarbonetos,
os importadores europeus actuam de forma
dispersa num mercado onde os preços são
largamente predeterminados. O
desenvolvimento do mercado interno
deverá contribuir para atenuar a influência
dos países exportadores, graças à
concorrência entre exportadores,
promovendo a abertura e o aumento das
trocas comerciais de produtos energéticos,
sobretudo para o gás natural.
Enquanto a União Europeia não dispuser deinstrumentos que lhe permitam reduzir apressão exercida pelo mercado internacional,esta situação continuará a ser um pontovulnerável da economia europeia e serãoreduzidas as suas possibilidades de
(24) Ex:emplo: comunicação sobre a cooperação energéticacom a Ásia [COM(96) 308].
(25) Comunicação da Comissão de 11 de Outubro de 2000 «Oaprovisionamento em petróleo da União Europeia».
influência no debate a nível mundial. Talcomo declarou o actual presidente da UniãoEuropeia no Conselho Europeu de Biarritz, orecente aumento dos preços do petróleolevou os Estados-Membros a tomarconsciência da necessidade de uma respostacoordenada em caso de crise.
c) Ausência de uma política de prevenção satisfatória
A segurança do aprovisionamento energético ea manutenção tanto quanto possível daautonomia energética sempre tem sido um dospilares da política energética dosEstados-Membros. Este objectivo consagradonos Tratados CECA e Euratom tem sido ocimento do entendimento europeu tal comoconcebido pelos pioneiros da construçãoeuropeia.
Para compensar esta dependência quantitativa,os Estados-Membros e a União Europeia criaram,na sequência do primeiro choque petrolífero,diversos dispositivos de apoio a produçõesnacionais não competitivas, políticas deexistências, programas de eficiência e dedesenvolvimento tecnológico, mas essasmedidas não foram prosseguidas e, portanto,suficientes para corrigir a tendência a longoprazo.
A INDÚSTRIA CARBONÍFERA
O que acabámos de dizer é particularmenteevidente para a indústria carbonífera, onde asconsiderações sociais e regionais a favor dodeclínio controlado, mas inevitável, destaactividade se sobrepuseram à contribuiçãodeste combustível para a segurança doaprovisionamento no contexto de um mercadointernacional sem tensões. Há que reconhecerque o aumento dos custos de produção reduziuconsideravelmente a credibilidade dosargumentos a favor da sua contribuição para asegurança do aprovisionamento.
MEDIDAS DE RESPOSTA À CRISE PETROLÍFERA
O abastecimento físico temporário de petróleo anível mundial pode, a qualquer momento, serinterrompido por acontecimentos — porexemplo, de natureza política e/ou militar —numa região de produção ou de trânsito depetróleo. As reservas de segurança e as medidasde crise previstas no âmbito da AgênciaInternacional da Energia (AIE) e na legislaçãocomunitária são uma resposta parcial a este tipo
de ameaça: os esforços neste domínio devemser prosseguidos ou mesmo acentuados.
As principais medidas em matéria de reservasestratégicas foram criadas em 1974 com aassinatura do «Acordo relativo a um programainternacional da energia», que fundou a AgênciaInternacional da Energia (AIE). Esta decisãoesteve na sequência das medidas de embargodecididas pela OPEP em relação a certos paísesindustrializados no contexto político do fim doano de 1973.
Um dos principais compromissos assumidospelos Estados-Membros da AIE é manter umnível de existências equivalente a 90 dias deimportações líquidas de petróleo e/ou produtospetrolíferos, utilizáveis no caso de crise deabastecimento para substituir toda ou parte daoferta em falta. A maior parte dos Estados--Membros dispõe de existências superiores aos90 dias indicados.
São três as directivas que organizam, emcooperação com a AIE, a constituição pelosEstados-Membros de reservas nacionais:
— duas directivas (26) criam a obrigação para osEstados-Membros de manter um nível deexistências equivalente a 90 dias de consumopara cada uma das três categorias principaisde produtos petrolíferos utilizados para finsenergéticos. Prevê-se a organização pelaComissão de uma consulta dos Estados--Membros quando as existências sãoinferiores a 90 dias (27);
— uma outra directiva (28) obriga os Estados--Membros a estar prontos a actuar,estabelecendo planos de intervenção,criando órgãos adequados e conferindopoderes que permitam, nomeadamente,colocar as existências no mercado, restringiro consumo, assegurar o abastecimento deconsumidores prioritários e regulamentar ospreços. Em caso de crise, a Comissão éencarregada de organizar uma consultaentre Estados-Membros para fins decoordenação por um grupo deaprovisionamento de petróleo. A Comissãodeve também verificar se os vários sistemas
(26) A Directiva 68/414/CEE, alterada pela Directiva 98/93/CE.(27) Note-se também que vários Estados-Membros dispõem
actualmente de um nível de existências superior a 90 diase que pode, portanto, ser «libertado» sem necessidade deconsulta comunitária.
(28) A Directiva 73/238/CEE.
3130
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
nacionais não criam distorções deconcorrência e entraves ao comérciointracomunitário.
Este mecanismo não se destina de formaalguma a tratar situações como o actualaumento dos preços do petróleo. A legislaçãocomunitária em matéria de existênciascontinua, pois, relativamente limitada no querespeita às questões de segurança doaprovisionamento.
Considerando os efeitos da decisão tomadapelos EUA em Setembro de 2000 de fazer escoarno mercado 30 milhões de barris de petróleobruto, parece bastante limitada a eficácia dosmecanismos criados a nível internacional parafazer face a choques que são muito mais vezesperturbações económicas que perturbaçõesfísicas. Embora ninguém conteste a importânciade uma boa coordenação entre paísesconsumidores de petróleo, a experiência da AIEmostra que tal cooperação e coordenação sãoextremamente difíceis de realizar. Tanto durantea guerra do Golfo como na actual fase deaumento dos preços do petróleo, foi a StrategicPetroleum Reserve (29) (SPR) americana quetomou a iniciativa de desencadear a intervençãono mercado petrolífero.
Os instrumentos comunitários revelam serinadequados face às tensões no mercado dosprodutos energéticos. Não existe, porexemplo, um poder de decisão centralizadopara escoar as existências no mercado. Aactual margem de manobra da UniãoEuropeia no caso de aumento dos preços dopetróleo para além do razoável éextremamente limitada. A fim de limitar osriscos de crise ligada à dependênciaenergética, certos Estados-Membros criaram,aliás, dispositivos de armazenamento oureservas estratégicas para alguns dosprodutos energéticos. Assim, foi aplicadapelos Países Baixos uma política deexploração responsável das pequenasreservas de gás natural, permitindosalvaguardar as possibilidades de uma maiorexploração das reservas de Groningen (30)
(calculadas em 1 100 milhões de m3). Na suarecente comunicação sobre oaprovisionamento petrolífero da UniãoEuropeia, a Comissão anunciou a suaintenção de examinar a forma como poderáser reforçado o dispositivo de reservasestratégicas de petróleo mediante uma«comunitarização» da sua utilização.
Conclusão
Os factores de risco externos (quantidades,
preços, investimentos e condições geopolíticas,
etc.) mostram que a melhor garantia de
segurança do aprovisionamento consiste em
preservar a diversidade das energias e das
fontes de aprovisionamento. Efectivamente, de
acordo com as actuais previsões, não parece ser
possível conter a dependência quantitativa da
União e o alargamento não permite reduzi-la.
Este último irá fragilizar a diversificação das
fontes de abastecimento externo. Ao mesmo
tempo, a forte baixa dos preços dos produtos
petrolíferos no início dos anos 80 e a diminuição
dos esforços a favor da promoção da poupança
de energia e das energias renováveis
mantiveram a dependência da União a um nível
elevado. A melhoria da eficiência energética
entre 1975 e 1985 foi de 24%, ao passo que é de
10% entre 1985 e 1999. Isto sublinha a
importância de actuar ao nível da procura e de
garantir a segurança do aprovisionamento
energético no quadro de uma política
coordenada a nível comunitário.
(29) Foi em 1975, após a sua adesão à AIE e dois anos após ochoque petrolífero, que os EUA criaram a «StrategicPetroleum Reserve». A legislação americana prevê aconstituição de reservas estratégicas da ordem dos milmilhões de barris de petróleo, a utilizar em caso de guerraou de grandes perturbações que conduzam a uma rupturado abastecimento. Esta reserva conta actualmente 571milhões de barris, o que representa ao preço actual uminvestimento da ordem dos 20 mil milhões de dólares. Estásituada no golfo do México (Luisiana e Texas), ondeexistem mais de 500 cavernas de sal, ideais para oarmazenamento. Esta reserva foi utilizada por ocasião daguerra do Golfo em 1991 e, pela segunda vez, emSetembro de 2000, com a retirada de 30 milhões de barris,equivalentes a cerca de dois dias de consumo.
(30) Esta política é acompanhada de um incentivo àexploração no mar do Norte.
Até 2010, numerosos Estados-Membros, bemcomo os países candidatos à adesão, deverãofazer escolhas energéticas de investimento,principalmente no sector da electricidade. Asredes existentes condicionam as opções deinvestimento, na falta de grandes avançostecnológicos que venham alterar a paisagemenergética. A produção descentralizada deelectricidade por miniturbinas a gás ou pilhas decombustível poderia estar na origem dessasmudanças. Estas escolhas são fundamentais pordefinirem, para os próximos 30 a 50 anos, aestrutura do consumo de energia. Devem sermaduramente ponderadas e reflectidas.
No fim dos anos 70, o carvão e a energia nucleareram considerados a única alternativa aopetróleo. Os países participantes na cimeira doG7 em Tóquio (Maio de 1979) assumiram ocompromisso de incentivar a poupança deenergia, a produção do carvão e a energianuclear. Do mesmo modo, a resolução doConselho de 1980 fixava como objectivo «cobrirpor meio de combustíveis sólidos e de energianuclear 70% a 75% das necessidades de energiaprimária para a produção de electricidade».Actualmente, esta perspectiva encontra-seultrapassada. O século XX nasceu com asupremacia energética do carvão, desenvolveu--se graças à predominância do petróleo eterminou com a ascensão do gás natural.
A — Desconfiança face àenergia nuclear e aoscombustíveis sólidos
A energia nuclear e os combustíveis sólidos são,de entre os produtos energéticos, os menosapreciados, apesar da sua contribuiçãopreponderante para o balanço energéticoglobal, quase exclusivamente no sector dageração de electricidade. Estas duas fontes deenergia representam, respectivamente, 35% e26% da electricidade produzida.
1. A energia nuclear colocadaem questão
As esperanças criadas pela descoberta da cisãonuclear para fins civis na segunda metade doséculo XX são patentes nos investimentos feitosneste sector e nas realizações energéticas etecnológicas que esta descoberta suscitou.Independentemente da sua dotação natural deprodutos energéticos, todos os países commeios para o fazer deram início a programasnucleares civis de grande envergadura. Para terem conta os riscos associados à dupla utilização(civil e militar) que caracteriza o ciclo docombustível, o desenvolvimento do sectornuclear é enquadrado pelo Tratado Euratom,
0
50
100
150
200
250
300
1990 2000 2010 2020 2030
EU-30: energia nuclear (produção em Mtep)
II — Opções energéticas imperfeitas
3332
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
pelo Tratado de não Proliferação de 1968 (queentrou em vigor em 1970) e pelas regras daAIEA.
a) O acervo do Tratado Euratom
O Tratado Euratom, assinado em 1957, tinha porobjectivo dotar a Comunidade Europeia de umafonte alternativa de abastecimento de energiaendógena para compensar a crescentedependência externa face ao petróleo do MédioOriente. O Tratado devia permitir à Europadesenvolver os seus conhecimentos e dotar-sedos meios necessários para explorar a energianuclear para fins civis. A utilização comum dosmeios (conhecimentos, infra-estruturas e meiosde financiamento e de controlo) devia permitiravançar mais rapidamente e a menor custo.
Este Tratado apresenta um aspecto originalimportante em relação ao Tratado CEE; éorganizado em torno de objectivos de carácterindustrial específico e recorre a instrumentos quederrogam por vezes aos do Tratado de Roma.
Cedo surgiram dificuldades na aplicação dasdisposições do Tratado Euratom, nomeadamenteno capítulo relativo ao aprovisionamento, masessas dificuldades não devem fazer esquecer oacervo já adquirido.
No plano da investigação e dodesenvolvimento tecnológico, o dinamismocriado pelo Tratado Euratom é evidente. O Acto Único inspirou-se neste precedente decriação de um quadro para a investigação nodomínio nuclear e baseou nele todo o programa de investigação e de desenvolvimento tecnológico comunitário.Realizada no quadro da Euratom, a integração de todas as actividades europeiassobre a energia de fusão contribuiu fortemente para a posição destacada dainvestigação europeia neste domínio (31).
Desde o início do Tratado, foram necessáriosinvestimentos importantes para a construção de novas centrais nucleares ou a sua manutenção. O Tratado confiou à Comissão a missão de examinar os planos deinvestimento previstos nos Estados--Membros, o que a levou a pronunciar-se atéagora sobre 238 projectos de investimento,cujos méritos e compatibilidade com o Tratado Euratom foram por ela verificados.
Estes investimentos ultrapassam os 400 milmilhões de euros. Por seu lado, o orçamento
comunitário deu uma contribuição de 2,9 milmilhões de euros. Foi assim dada umacontribuição para o desenvolvimento industrialda Comunidade, que controla hoje todo o ciclodo combustível nuclear exceptuando a gestãodos resíduos.
As centrais electronucleares instaladas noterritório da Comunidade cobrem 35% das suasnecessidades de electricidade. Devido aoprolongamento do período de vida dos reactoresem relação às previsões iniciais, tornado possívelnomeadamente pelo melhor conhecimento daresistência dos materiais, o sector da energianuclear tornou-se competitivo e é uma fonte dereceitas apreciáveis para os operadores. Estesdeixaram de necessitar de auxílios estatais etambém já não recorrem aos empréstimosEuratom (32). Estes são actualmente utilizados afavor dos países candidatos para a modernizaçãodas suas instalações.
As normas sanitárias e de protecção contra as radiações estabelecidas a nível comunitário são transpostas para a legislação de cada Estado-Membro. Para além das actividades estreitamente ligadas àindústria atómica, estas normas referem-setambém à utilização de materiais radioactivos para aplicações médicas, ainvestigação ou a indústria.
Por último, as salvaguardas da Euratompermitem à Comunidade atingir umacredibilidade incontestada em matéria de não proliferação dos materiais nucleares. Amissão de diversificação das fontes deabastecimento estabelecida pela Agência deAprovisionamento Euratom permite tambémque a Comunidade não dependa de formaexcessiva de uma só região geográfica para as suas necessidades de urânio (ver gráfico da primeira parte, capítulo I, secção B, ponto 2,alínea b).
Pode, pois, dizer-se que, nas suas principaisdisposições, a aplicação do Tratado Euratom —
(31) O Joint European Torus (JET), empresa comum na acepçãodo Tratado Euratom, foi um elemento essencial doprogresso científico e técnico para dominar a energia defusão. Os seus resultados permitem à União encarar apossibilidade de realizar, juntamente com os seusparceiros internacionais (EUA, Japão e Rússia), um projectode investigação como o ITER (reactor termonuclearexperimental internacional).
(32) O sistema que consiste em estabelecer um limite para omontante da responsabilidade civil dos operadores emcaso de acidente grave poderia ser associado a um auxílioestatal.
embora fosse difícil — apresenta um balançopositivo. Presentemente, um interesse renovadopelo Tratado Euratom e a alternativa por eleoferecida para a produção de electricidadefazem com que este continue a ser actual. Osconhecimentos adquiridos serão preciosos,nomeadamente no âmbito do processo dealargamento.
b) A indústria nuclear em suspenso
Os potenciais perigos sanitários e ambientais dacisão nuclear suscitam hoje a oposição de umaparte da opinião pública. Em 1979, o acidente deThree Miles Island nos Estados Unidos esteve naorigem do referendo sueco sobre a energianuclear.
A entrada de grupos de pressão e dos partidosecológicos na vida política dos Estados--Membros e o acidente de Chernobil (26 deAbril de 1986), incontestavelmente o maisgrave da história do átomo, marcaram ummomento decisivo no desenvolvimento daindústria nuclear na Europa. Dos oito Estados--Membros dotados de energia nuclear, cinco jáadoptaram ou anunciaram a adopção de umamoratória (33). A França, o Reino Unido e aFinlândia não se pronunciaram a favor doencerramento do nuclear, mas não deverá serconstruído nos próximos anos nenhumreactor, excepto eventualmente na Finlândia. AItália abandonou a energia nuclear nasequência do referendo de 1987, a Alemanhaanunciou a sua decisão de encerrar os seusúltimos reactores em 2021 e na Bélgica umacordo político prevê o encerramento em2025.
Os países candidatos, alguns dos quaisadoptaram perante a União Europeia ocompromisso de encerrar os seus reactoresnucleares pouco seguros (34), têm uma posição pouco clara quanto às escolhasalternativas à energia nuclear, devido àsconsequências para a sua economia. A Turquiaadiou sine die a construção de uma centralnuclear, mas já a Polónia deseja manter estaopção em aberto. Não devemos excluir queoutros países candidatos encarem apossibilidade de novas centrais. Por estemotivo, o problema da segurança dasinstalações nucleares dos países candidatos eda desclassificação das centrais nãomodernizáveis é importante e será examinadoatentamente no contexto da adesão destespaíses à União Europeia.
O Conselho Europeu de Colónia (3 e 4 deJunho de 1999) sublinhou que «importa queas normas de segurança nuclear sejamelevadas na Europa Central e Oriental», o querepresenta um grande esforço deinvestimento. Esse nível elevado de segurançadeve ser visto em comparação com o nível desegurança em vigor em cada um dos Estados--Membros dotados de energia nuclear. Emresposta ao pedido formulado pelo ConselhoEuropeu de Helsínquia para que sejamestudados os meios de tratar a questão dasegurança nuclear no quadro do processo dealargamento, a Comissão deu início aostrabalhos necessários.
A Comissão está empenhada neste processocom as autoridades de segurança dosEstados-Membros com o objectivo de prepararuma posição negocial.
Contudo, o futuro da energia nuclear é incerto,sobretudo na Europa. Depende de váriosfactores, como a resolução do problemacolocado pela gestão e o armazenamento dosresíduos radioactivos, a rentabilidade económicadas novas gerações de centrais, a segurança dosreactores nos países do Leste europeu,nomeadamente nos candidatos à adesão, a lutacontra a proliferação nuclear nos países daantiga União Soviética. As orientações daspolíticas contra o aquecimento climáticodeverão também desempenhar um papelfundamental.
As preocupações suscitadas por esta questãomodificaram a percepção das limitações que secolocam ao aprovisionamento energético. Aquestão põe-se mais particularmente para aenergia nuclear, que permite evitar 312 milhõesde toneladas de emissões de CO
2por ano na
União Europeia (7% do total de gasesresponsáveis pelo efeito de estufa emitidos naUnião), o que corresponde à produção deemissões de CO
2 de um parque automóvel de
100 milhões de unidades (35).
(33) Suécia: 1980; Espanha: 1984; Países Baixos: 1994; Alemanha:1998; Bélgica: 1999.
(34) Lituânia: Ignalina 1 e 2; Bulgária: Kozloduy 1 a 4;Eslováquia: Bohunice 1 e 2.
(35) Por exemplo, a decisão do Governo sueco de encerrar aunidade nuclear de Barsebäck em 30 de Novembro de1999, após 23 anos de funcionamento, cria um défice deprodução de 4 mil milhões de kWh/ano, devendo estaperda ser compensada pela importação de electricidadede centrais dinamarquesas e alemãs a carvão. Isto provocaum aumento indirecto das emissões de CO
2da Suécia em
cerca de 4 milhões de toneladas de CO2/ano, o que
representa cerca de 8% do total das emissões na Suécia.
3534
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
c) Os resíduos nucleares
Desde o início da utilização da energia nuclear,considera-se que o período de exploração dascentrais deve ser acompanhado da definição deuma política de armazenamento definitivo,armazenamento temporário e tratamento dosresíduos. Na maior parte dos países do mundo, aquestão está centrada nos resíduos altamenteradioactivos, que representam 5% do volumetotal dos resíduos nucleares e 95% daradioactividade.
O armazenamento definitivo é viável e astécnicas de construção e de funcionamentoestão suficientemente amadurecidas para seremaplicadas. Neste domínio, os países maisavançados parecem ser os Estados Unidos, aSuécia e a Finlândia. Contudo, não estãoresolvidos todos os problemas práticos ligadosao armazenamento a longo prazo.
As estimativas dos custos de armazenamentovariam com os países, mas representam umaparte reduzida do custo total de produção dokW/h. Por outro lado, o grau de concentração(no caso de um cenário de elevada utilização daenergia nuclear, a superfície necessária aoarmazenamento de todos os resíduos é de cercade 300 km2) permite limitar o problema emtermos de dispersão ao contrário de outrasfontes de produção de electricidade.
Algumas investigações, como as dedicadas àseparação-transmutação, têm por objectivo
reduzir a presença de elementos de vida longa.
As investigações orientadas para tecnologias de
gestão dos resíduos devem ser prosseguidas
mas não parecem ser uma alternativa ao
armazenamento em camadas geológicas que
possa ser utilizada a curto e médio prazo.
Para estabelecer um programa integrado de
gestão dos resíduos, é necessário responder às
questões colocadas pelo público em matéria de
segurança da cadeia que vai desde o transporte
dos materiais até o armazenamento
propriamente dito, bem como à questão da
reversibilidade, a fim de permitir que as futuras
gerações recorram, se o julgarem necessário, a
novas técnicas mais eficazes de tratamento dos
resíduos, em função dos progressos científicos.
Nesta matéria, só será possível chegar a um
consenso com base numa informação clara e
precisa da população e sobretudo dos seus
representantes, e graças a uma intervenção
credível por parte das autoridades de segurança
de cada um dos Estados-Membros. Só elas
podem garantir ao público que as decisões
adoptadas o são no interesse das gerações
actuais e futuras.
O sector nuclear não se pode desenvolversem um consenso que lhe permita beneficiarde um período de estabilidade suficiente,tendo em conta as limitações económicas etecnológicas que caracterizam a suaindústria. Isto só será possível se a questãodos resíduos tiver uma solução satisfatória
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200
300
400
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1990 2000 2010 2020 2030
EU-30: combustíveis sólidos (consumo em Mtep)
dentro da maior transparência. Ainvestigação neste domínio deverá serorientada para as tecnologias de gestão dosresíduos.
A União Europeia deve conservar o controloda tecnologia nuclear civil para dispor dacompetência necessária para desenvolverreactores de cisão mais eficazes e permitirque a fusão venha a ser uma realidade.
2. Carvão: um passado glorioso
a) Antecedentes
Devido à sua importância nas economiaseuropeias (produção de electricidade esiderurgia), o carvão (36) e o aço foramconsiderados pelos fundadores da Europa ocimento da harmonia europeia. Por ocasião daassinatura do Tratado de Paris em 1951, areconstrução da Europa tornava necessáriasquantidades consideráveis de produtosenergéticos. A procura era muito superior àoferta e o receio de escassez dominava aspolíticas na matéria. Assim, a Alta AutoridadeCECA encorajava o aumento da produção pelaabertura de novas minas e a celebração decontratos de fornecimento a longo prazo.
Porém, a partir dos anos 60, a indústriaprodutora de carvão teve um rápido declíniodevido à concorrência do carvãoextracomunitário e à entrada no mercado deoutros combustíveis para a produção deelectricidade e de calor. Assim, e na sequênciadas reestruturações sucessivas da indústriacarbonífera, a Europa dos Quinze passou de umaprodução carbonífera de cerca de 600 milhõesde toneladas no início dos anos 60 para menosde 86 milhões de toneladas em 2000. Aconcorrência dos produtos energéticos, oabrandamento a partir de 1986 das limitaçõesimpostas ao petróleo e as preocupaçõesambientais contribuíram para pôr em destaqueos pontos fracos dos combustíveis sólidos.
b) As limitações
O carvão tem limitações que lhe são inerentes eo colocam numa posição desfavorável emrelação aos hidrocarbonetos, seus concorrentesdirectos. Sendo um minério sólido e pesado,torna-se volumoso e exige grandes áreas dearmazenamento. Com um valor calorífico inferiorao dos hidrocarbonetos, não apresenta asvantagens de utilização que tem um
combustível líquido ou gasoso. Por último, égerador de poluição em todas as fases do ciclode produção e de utilização (37). A seu favor,importa sublinhar que o transporte marítimo decarvão (90% do carvão comercializado nomercado mundial são transportados por viamarítima) não implica os riscos ambientais dotransporte dos hidrocarbonetos.
Os inconvenientes físicos do carvão reduziramconsideravelmente os seus mercados deexpansão. No entanto, no sector da produção deelectricidade, quando o carvão não é um vectorenergético dominante, como na Dinamarca, naAlemanha, na Grécia, na Irlanda e no ReinoUnido (mais de 45% da electricidade éproduzida nestes países a partir do carvão),serve frequentemente de combustível auxiliar.Assim, em 1996, a escassez de energiahidroeléctrica no Norte da Europa e asreparações do parque nuclear francêsprovocaram uma procura suplementar decarvão. As flutuações que caracterizam a energiahidroeléctrica têm implicações nãonegligenciáveis sobre o consumo de carvão. Ospaíses mais sensíveis a estas variações são aÁustria, a Suécia, Portugal, a Finlândia, a Itália, aFrança e a Espanha.
c) As vantagens
Existem amplas razões de ordem regional esocial para se prosseguir a opção da produçãocarbonífera na Europa. O custo do carvãoimportado, a diversidade dos fornecedoresexternos (38) e a estabilidade relativa dos preçosem relação aos hidrocarbonetos são factores quepermitem compensar o efeito das consideráveislimitações que pesam sobre o carvão.
Vendido num mercado internacionalconcorrencial, o preço do carvão importado
(36) O termo carvão designa os combustíveis sólidos em geral.Distinguem-se quatro famílias de carvão, em função dasua capacidade calorífica por ordem decrescente: aantracite, a hulha, a lenhite e a turfa. Recorda-se que ahulha, a antracite e os aglomerados de lenhite são dacompetência do Tratado CECA, enquanto que a lenhite e aturfa se regem pelo Tratado CEE.
(37) Todas as manipulações do carvão desde a extracção àutilização final são geradoras de poeiras. Oarmazenamento ao ar livre pode provocar poluição porescoamento das águas de chuva. A sua combustão geracinzas e provoca a emanação de gases nocivos para aqualidade do ar, da água e do solo (CO
2,NO
x, SO
2).
(38) Dada a diversificação geográfica do aprovisionamento decarvão na UE, vieram juntar-se aos exportadorestradicionais de carvão (Europa, EUA, Rússia e Ucrânia) oCanadá, a África do Sul e a Austrália. Mais recentemente,surgiram novos exportadores como a Indonésia, aColômbia e a Venezuela.
3736
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
apresenta uma estabilidade incomparável em
relação aos outros produtos energéticos
importados. Por exemplo, a amplitude de
variação dos preços do carvão-vapor foi de 16
dólares (entre 54 dólares/tec e 38 dólares/tec)
em 10 anos (1986-1996). O preço médio dos 10
anos foi de 47 dólares. Durante o mesmo
período, os preços do óleo combustível pesado,
expressos em toneladas de equivalente carvão,
variaram a um nível mais elevado, com
oscilações mais frequentes e uma maior
amplitude, entre 41,11 dólares e 100,67 dólares.
Os efeitos dessa diferença de preço sobre a
balança de pagamento não devem ser
subestimados, sobretudo para os países
desprovidos de produtos energéticos internos. A
opção carbonífera dinamarquesa dos 20 últimos
anos marca certamente um ponto a favor das
vantagens económicas do carvão.
A flexibilidade dos contratos no sector do
carvão e o desenvolvimento de um mercado a
pronto pagamento permitiram que o preço do
carvão se adaptasse permanentemente à
situação do mercado. A ausência de desafios
económicos e políticos e a abertura do mercado
da oferta a um maior número de intervenientes
explicam a diminuição das flutuações dos
preços do carvão, tanto em termos de aumento
como de baixa, em relação aos do petróleo oumesmo do gás natural. A manutenção dospreços dos hidrocarbonetos a um nível elevadoe um maior recurso ao carvão importado naEuropa poderão exercer uma pressãoconsiderável sobre os preços.
d) O futuro
A ausência de competitividade actual e futurada produção carbonífera europeia levou váriosEstados-Membros a renunciar à sua exploração.Isto coloca problemas incontestáveis de ordempolítica a outros países, como a RepúblicaFederal da Alemanha. Recorde-se que ocompromisso carbonífero celebrado em 1997entre os representantes do Governo federal, dosLänder e das empresas em causa prevê umaredução dos auxílios estatais, que deveriampassar de 9,1 mil milhões de marcos em 2000 a5,5 mil milhões de marcos em 2005. Por seulado, a produção ficaria reduzida ao nível de 26milhões de toneladas. O emprego não deveriaultrapassar os 36 000 trabalhadores.
A inevitabilidade das decisões de encerramentojá adoptadas ou a adoptar por váriosEstados-Membros da União Europeia deverá,mutatis mutandis, ser transposta para os paísescandidatos, em especial a Polónia.
Caracterizada por forte intensidade de mão-de--obra, esta indústria participou na economia dopleno emprego das regiões carboníferas do pós--guerra. A política de reestruturação respeitadoradas regiões e do homem prosseguida pela UniãoEuropeia no quadro estabelecido pelo TratadoCECA deverá ser adaptada aos países candidatosprodutores de combustíveis sólidos quandoestes tiverem aderido à União Europeia.
Com efeito, o primeiro objectivo do TratadoCECA, assinado em Paris em 1951, é permitir oestabelecimento de um mercado comum docarvão e do aço, contribuir para a expansãoeconómica, o aumento do emprego e do nívelde vida nos Estados-Membros. Neste quadro, asinstituições comunitárias têm, nomeadamente,por missão promover uma política deexploração mais racional, a modernização daprodução e a melhoria da qualidade.
Hoje, o futuro do carvão na Europa coloca-se emtermos globais de segurança doaprovisionamento, na medida em que nem naUnião nem nos países candidatos o carvãoapresenta perspectivas de competitividade.Nestas condições, convém perguntar se não
Indonésia
Ex URSS
Outros
África do Sul
Colômbia
Polónia
Austrália
EUA
35,5 %
20,4 %
14,4 %
8,6 %
6,6 %
5,5 %
4,6 %4,4 %
EU-15: importações de carvão-vapor depaíses terceiros — 1999
seria necessário manter um nível mínimo de
produção que, em caso de crise grave, permitiria
preservar o acesso aos recursos e ao mesmo
tempo aperfeiçoar as tecnologias mais
avançadas. A UE deveria examinar a
possibilidade de inserir este conceito no quadro
previsto pela directiva relativa à liberalização do
mercado da electricidade no âmbito da
segurança do aprovisionamento.
É também neste contexto que convém examinar
o controlo dos auxílios estatais à produção após
o termo de vigência do Tratado CECA em 2002.
Uma das soluções poderia consistir em definir
um regime de controlo dos auxílios nacionais à
indústria adaptado ao imperativo de segurança
do aprovisionamento com a manutenção de um
acesso mínimo às reservas e tendo em conta
as perspectivas sociais e regionais.
Embora não existam, a curto e médio prazo,grandes problemas de segurança doaprovisionamento de combustíveis sólidos, ofuturo do carvão depende largamente dodesenvolvimento de técnicas que permitamfacilitar a sua utilização (como a gaseificação)e reduzir o seu impacto ambiental em termosde emissões poluentes graças a tecnologiasde combustão limpa e à captura do CO2.
A produção de carvão com base em critérioseconómicos não tem perspectivas, tanto na
União como nos países candidatos. O seufuturo só pode ser preservado no quadro dasegurança do aprovisionamento da União.
Conclusão
Pressionados por argumentos ecológicos, oscombustíveis sólidos e a energia nuclearmostram sinais de declínio na produção deelectricidade. No actual estado dosequipamentos e das tecnologias, a reduçãosimultânea destas duas fontes de energia correo risco de criar tensões económicas e a nível doaprovisionamento na falta de uma política activade gestão da procura.
B — Continuação da preferência pelo petróleo
As vantagens do petróleo em termos caloríficose de facilidade de utilização explicamlargamente a sua rápida penetração naseconomias ocidentais logo a seguir ao pós--guerra. As suas propriedades deram o grandeimpulso aos transportes rodoviários, que deledependem em 99%. O petróleo substituiu, maisou menos rapidamente, o carvão noaquecimento e, seguidamente, na produção deelectricidade.
975
900
825
750
675
600
525
450
375
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225
150
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390
360
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270
240
210
180
150
120
90
60
30
0EUA África
do SulAustrália Canadá Reino
Unido (*)França Espanha Alemanha Pólonia Rússia
Pro
du
ção
em
milh
ões
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ton
elad
as
Mão
-de-
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ra e
m m
ilhar
es
Fontes: Comissão Europeia e Agência Internacional da Energia. (*) Unicamente dados de RJB Mining para o Reino Unido.
Produção Mão-de-obra
Produção e mão-de-obra na indústria carbonífera
3938
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
Ainda que as economias europeias se estejam a
afastar em certa medida do petróleo, devido às
crises petrolíferas, ele continua a ser uma
componente económica essencial dos Estados-
-Membros, sobretudo no sector dos transportes.
Estes absorvem hoje mais de metade do
consumo de petróleo. Embora o mercado do
petróleo seja caracterizado por tensões, a nível
do diálogo produtor-consumidor, dos preços no
mercado internacional, das quantidades
disponíveis, do seu impacto ambiental e ainda
dos acidentes marítimos largamente divulgados
pelos meios de comunicação, verifica-se que
continua a beneficiar da indulgência da opinião
pública.
As perspectivas do mercado petrolífero são
condicionadas pelo melhoramento da
eficiência energética e pelo desenvolvimento
das energias alternativas nos transportes.
A análise das actuais tendências sugere
que o consumo europeu irá crescer
sensivelmente, com uma percentagem de
crescimento bastante mais elevada nos países
candidatos, motivada pelo processo de
recuperação destes países no sector dos
transportes individuais e de mercadorias. O
esgotamento dos recursos internos irá agravar
na mesma proporção a dependência externa
face ao petróleo. Neste contexto, a evolução
da oferta no mercado internacional do
petróleo é determinante.
1. A dependência em relação ao petróleo
Mais de 70% das reservas mundiais de petróleo
estão localizadas nos países membros da OPEP.
Em 2020, a OPEP poderá cobrir 50% das
necessidades da UE com uma produção de
aproximadamente 55 milhões de barris por dia
(32 milhões de barris por dia em 2000). Esta
disponibilidade da OPEP justifica-se por um nível
de custo de produção que continuará a ser
extremamente vantajoso, mesmo num cenário de
preços baixos. Note-se que o custo médio de
produção da OPEP é actualmente da ordem dos 2
dólares por barril. As margens beneficiárias
importantes constituirão um estímulo a que será
difícil resistir.
Quanto à produção não OPEP, cujo custo médio é
actualmente de 5 dólares por barril, mas com um
custo marginal superior a 10 dólares, o volume de
produção estará estreitamente ligado à evolução
dos preços, continuando as reservas a ser
abundantes (incluindo o petróleo não
convencional). Algumas zonas de produção
petrolífera na Rússia ou na bacia do mar Cáspio
assumem, neste contexto, uma importância muito
especial para a União Europeia. Calcula-se que um
preço do petróleo bruto da ordem dos 20 dólares
permitiria assegurar o investimento na produção
nas regiões não pertencentes à OPEP, exigido pelo
aumento da procura nos próximos 20 anos.
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200
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400
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Produção
Importaçõeslíquidas
Consumo
EU-30: petróleo (em Mtep)
2. Aspectos geopolíticos do petróleo
Os recentes acontecimentos ocorridos no
mercado petrolífero tendem a provar que,
embora a OPEP seja por vezes qualificada de
«cartel» fraco e pouco homogéneo, predominam
actualmente as forças centralizadoras, e isto
apesar de, nas decisões adoptadas nos dois
últimos anos, ter pesado no debate a influência
da Arábia Saudita, da Venezuela, do Irão e do
Koweit. Os interesses e as limitações dos países
que compõem a OPEP são múltiplos e
complexos, e em grande medida divergentes.
Com efeito, alguns desses países, dispondo de
reservas fracas (Argélia, Venezuela e Irão), são a
favor de uma maximização dos preços a curto
prazo, de uma grande capacidade de absorção
dos rendimentos petrolíferos e de um nível
elevado de utilização das capacidades de
produção. Outros, como a Arábia Saudita ou os
outros produtores do Golfo Pérsico, dispondo de
reservas elevadas, preferem moderar os preços a
mais longo prazo para evitar a penetração das
energias de substituição e preservar ao mesmo
tempo o papel desempenhado pelo petróleo na
paisagem energética mundial a médio e longo
prazo, bem como as suas partes de mercado.
Não são estranhos a esta evolução os
elementos geopolíticos. As divergências na
OPEP, que já eram patentes no momento da
guerra do Golfo, as tensões internas na OPEP
sobre o embargo petrolífero ao Iraque, a
incerteza quanto aos desenvolvimentos no Irãoe na Líbia, bem como a posição comum dospaíses árabes sobre o conflito israelo--palestiniano, são factores que não facilitam obom funcionamento do mercado petrolífero.
O papel que desempenhará o Iraque nospróximos anos constitui, de resto, uma grandeincógnita. Durante o ano de 1999, este paísconseguiu aumentar a sua produção a um nívelde 2,8 milhões de barris por dia a fim de atingiro nível ligeiramente superior a 5,2 mil milhõesde dólares em exportações de petróleoautorizado pelas resoluções do Conselho deSegurança das Nações Unidas no âmbito doprograma «comida contra petróleo». É decalcular que, em caso de levantamento dassanções e com a auxílio de investidoresestrangeiros, a produção possa aumentar deforma relativamente rápida para mais 3 a 4milhões de barris/dia.
Embora não devamos, portanto, recear umasituação de penúria física num futuro previsível,não é possível prever ao mesmo tempo ocomportamento da OPEP enquanto cartel e asconsiderações políticas que poderão influenciarepisodicamente a sua atitude. Observam-se,contudo, vários factores que são de molde aexercer uma influência determinante sobre onível dos preços, nomeadamente: o ritmo decrescimento económico dos paísesimportadores, os progressos realizados emmatéria de gestão da procura, a introdução denovas reservas e o reforço das normas deprotecção do ambiente.
51%
21%
18%
2% 8%
4%
4%
7%
2%2%
13%
10% 9%
OPEP
Noruega
Ex-URSS
México
Outros
Irão
Iraque
Nigéria
Venezuela
Koweit
Argélia
Arábia Saudita
Líbia
EU-15: 1999 — Origem das importações de petróleo bruto
4140
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
A longo prazo, tendo em conta a concentraçãodas reservas nos países membros da OPEP, sãoos desenvolvimentos tecnológicos queconstituirão o principal perigo para a OPEP,nomeadamente novas técnicas de produção emzonas difíceis e com base em petróleo nãoconvencional, bem como o desenvolvimentodos novos combustíveis de substituição e dastecnologias que lhes estão associadas,principalmente no sector dos transportes.
O papel dos países da antiga União Soviéticapoderia também ser particularmenteimportante para a União Europeia, dado que em1989 estes eram ainda os primeiros produtoresmundiais de petróleo, com uma produçãosuperior a 11 milhões de barris por dia. Aprodução nesta região poderia durante ospróximos 20 anos duplicar e passar de 7,8milhões de barris por dia em 2000 a 14 milhõesde barris por dia em 2020. As reservas provadasde petróleo da bacia do mar Cáspio (25 milmilhões de barris) são da ordem das reservas domar do Norte ou dos Estados Unidos. Asreservas possíveis poderiam ultrapassar 200 milmilhões de barris, ou seja, 25% das reservasprovadas do Médio Oriente.
3. O efeito dos preços do petróleo
Embora após as duas crises petrolíferas (1973 e1979) os países industrializados tenham estado àbeira da asfixia, já não é esse o caso actualmente(aumento do preço do petróleo para o triplo no
espaço de um ano): a diversificação energética, aexclusão quase geral dos produtos petrolíferosda produção de electricidade e as mudançasestruturais ocorridas na economia europeia, quepassou de uma sociedade industrial a umasociedade de serviços, reduziram o impacto dasvariações erráticas dos preços do barril. Deveriaser iniciada uma reflexão sobre os modos depagamento, tendo em conta nomeadamente aeventualidade de facturação em euros dasaquisições energéticas da União de modo areduzir o impacto da variação das taxas decâmbio. Além disso, o nível elevado dosimpostos sobre os produtos petrolíferos naEuropa Ocidental reduz consideravelmente oimpacto do aumento dos preços na inflação.Para o conjunto dos países emdesenvolvimento não produtores, a factura éainda mais pesada e pode impedi-los dequebrar o círculo vicioso do empobrecimento.
O aumento dos preços do petróleo afecta mais marcadamente as populações no limiar da pobreza. Pode, pois, contribuir para a sua maior exclusão no plano económico e social. A Comissão tenciona promover a troca de experiências sobre práticas adequadaspara atenuar os efeitos do aumento dos preços dopetróleo para quem dele mais precisa e reduzir osriscos de exclusão social tendo em conta asconclusões da cimeira de Lisboa.
Na ausência de medidas específicas para ummenor recurso ao sector petrolífero,nomeadamente nos transportes, a
36
33
30
27
24
21
18
15
12
9
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USD
/bar
ril
70 72 74 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 2000(JANEIRO-
-OUTUBRO)
Preço nominal Preço constante, 1973
Petróleo bruto: cabaz de preços OPEP — 1970-2000
dependência do petróleo poderia atingir90% até 2020.
É indispensável a intensificação do esforçopara a substituição do petróleo por fontesalternativas de energia e o controlo doconsumo, nomeadamente no sector dostransportes rodoviários, cuja participação noconsumo de petróleo passou de 18% a 50%entre 1973 e 2000. Com efeito, a actualausência de um verdadeiro substituto dopetróleo (biocombustíveis, gás natural),principalmente no sector dos transportes,agudiza qualquer crise petrolífera prolongada.
A economia europeia deverá habituar-se aviver com preços do petróleo superiores a 20dólares/barril.
C — Alternativas sedutoras: ogás natural e as energiasrenováveis
1. Gás natural: em direcção a uma nova dependência
a) A expansão do gás natural
O gás natural, descoberto no início dos anos 50,levou dezenas de anos a obter aceitação nosector energético. Considerado um produtoenergético de segunda categoria (subproduto
da exploração do petróleo), tornou-se um vector
energético de largo espectro. De fácil utilização,
graças nomeadamente à sua distribuição em
rede, penetra actualmente todos os sectores de
consumo de energia, sejam eles a electricidade
(24% do gás consumido, incluindo a co-geração),
a produção de energia térmica ou, mais
recentemente, os transportes. Actualmente,
cerca de 70% do gás natural são consumidos no
sector industrial (26%) e no sector residencial
(30%). No entanto, o seu sector de expansão é a
produção de electricidade, no qual participa em
15% da produção.
Alguns países estão a ter um rápido
desenvolvimento da participação do gás natural
na produção de electricidade. Esta participação
deverá crescer rapidamente e conduzir à
substituição parcial do carvão para a produção
de electricidade. Até ao fim da presente década,
as centrais térmicas alimentadas a gás natural
deveriam absorver cerca de dois terços do
aumento da procura (investimento em centrais
mistas e turbinas a gás de ciclo combinado). Por
extrapolação das tendências do mercado,
espera-se que em 2020-2030 cerca de metade
da electricidade seja produzida a partir do gás
natural (40%), o que representa 45% do gás
natural consumido.
b) O mercado internacional do gás
Embora o gás natural apareça hoje como o
produto de diversificação energética
0
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200
300
400
500
600
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1990 2000 2010 2020 2030
Produção
Importaçõeslíquidas
Consumo
EU-30: gás natural (em Mtep)
4342
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
indispensável a um bom equilíbrio do consumo
de energia, o seu rápido crescimento em certos
mercados como o da electricidade, o residencial
e o da produção de calor pode fazer recear um
novo enfraquecimento estrutural da União. Até
2010, a procura deverá aumentar 85 Mtep, para
atingir 410 Mtep. Nos países candidatos da
Europa Oriental, a procura de gás deverá
aumentar 40%, atingindo 80 milhões de tep em
2010.
O mercado do gás natural em pouco se
assemelha ao do petróleo, para além de estar
indexado sobre o preço deste último. A sua
frequente proximidade geológica coloca-o
imediatamente nas mãos das companhias de
exploração petrolífera, o que explica as razões
históricas desta indexação, ligadas à
concorrência que o gás irá fazer ao petróleo (39).
Esta indexação era apresentada, no início da
penetração do gás natural nos mercados, como
um meio de introduzir este produto de forma
progressiva, mas hoje este mecanismo já não
tem justificação económica e deveria ao longo
do tempo ser substituído por um preço
estabelecido pelas leis do mercado da oferta e
da procura de gás. Isso só será possível com a
constituição de um mercado interno
verdadeiramente integrado do gás e que não se
limite a ser liberalização dos mercados
nacionais.
Ainda que o mercado internacional do gás
natural não apresente, a médio prazo, perigo de
«cartelização» entre países produtores que são,
aliás, muito diferentes, devemos contudo
observar que se trata de um mercado rígido. A
combinação simultânea da indexação do preço,
do fornecimento ao abrigo de contratos «take or
pay» a longo prazo e da sua importação através
sobretudo de gasodutos na União Europeia
torna o mercado do gás semelhante a um
mercado regional de concorrência reduzida
entre os exportadores, que são principalmente a
Rússia, a Noruega e a Argélia e, sem dúvida, no
futuro o Irão e o Turquemenistão. Tendo em
conta as importantes reservas situadas na Rússia
(um terço das reservas mundiais), parece
inevitável um certo aumento da dependência
em relação a este país. Note-se, neste contexto,
que desde há 25 anos os fornecimentos da
antiga URSS e depois da Rússia dão provas de
uma estabilidade exemplar. Uma estratégia a
longo prazo no quadro de uma parceria com a
Rússia seria uma etapa importante a favor da
segurança do aprovisionamento.
De futuro, são de esperar mudanças profundasno mercado internacional do gás. Alguns peritospredizem um aumento dos preços do gásnatural de cerca de 20% até 2010. Sob o efeitoconjugado do surgimento de um mercado apronto pagamento na União Europeia graças àrealização do mercado interno, da pressãoexercida pela procura, exacerbadanomeadamente pelas preocupações ligadas aoaquecimento climático, são de esperarmodificações nas regras de formação dos preços(desindexação dos preços do gás em relação aospreços do petróleo), quer num sentido maisconforme a um mercado concorrencial,reflectindo os custos de produção, quer nosentido da constituição de um «cartel do gás».Actualmente, a probabilidade de tal fenómeno édifícil de avaliar, pelo que é necessário evitartoda e qualquer tendência estrutural deaumento excessivo do preço e assegurar umabastecimento abundante e diversificado.
c) As redes de transporte
O aumento da procura e a multiplicação docomércio intracomunitário provocados pelomercado interno irão gerar com o tempo uma
5%
41%
29%
25%
Ex-URSS Argélia
Noruega Outros
EU-15: importações de gás natural de países terceiros — 1999
(39) A indexação faz-se por um mecanismo de cálculo «net-back», método de conversão que tem em conta o preçodos produtos petrolíferos em concorrência nos mesmosmercados, a que as companhias de gás chamam «marketvolume approach», repercutido no preço de importaçãona fronteira.
maior necessidade de infra-estruturas detransporte (redes de transporte intra-europeiase transeuropeias, infra-estruturas portuárias parao gás natural liquefeito, GNL), cujofinanciamento está ainda por encontrar. Note-seque os custos de transporte do gás diferemsegundo é transportado por gasodutos ou pornavio (GNL). O seu transporte exige em ambosos casos infra-estruturas cuja construção é muitocara. A rentabilidade destes dois tipos detransporte depende, nomeadamente, dadistância.
Quanto às suas importações de gás, a UniãoEuropeia está geograficamente bem situada,graças à existência de gasodutos, em relação aoscentros de exportação: a Noruega, a Rússia e aArgélia. A oferta de GNL completa e diversifica aoferta de gás natural proveniente do MédioOriente, do Magrebe e do Atlântico (Nigéria eTrindade). De futuro, o Médio Oriente (Irão eCatar) e a Ásia Central poderão vir a serimportantes fornecedores de gás natural.
A análise da situação das reservas dos principaisfornecedores, actuais e potenciais, da Uniãorevela um desequilíbrio tendencial deaprovisionamento a partir da Rússia, de ondeprovêm actualmente 41% das importações degás da União Europeia. Esta taxa dedependência deverá aumentar sob o efeito doalargamento da UE e da pressão exercida peloconsumo, até atingir 60%.
Considerando o número dos países produtores,a diversidade do aprovisionamento de gáspoderia parecer limitada na Comunidade. Note--se, contudo, que em 1996 eram 33 ascompanhias de gás distintas que produziamcerca de 94% do volume total de gás da EuropaOcidental a partir de um número muito elevadode poços. Três das maiores companhias de gásproduzem 10% a 15% da produção europeia.Além disso, as importações de gás de outrasregiões geográficas, incluindo as importações deGNL, deverão aumentar no futuro. Isto mostrabem o potencial existente a nível da oferta,tanto dentro como fora da União Europeia.
A construção, actualmente em estudo, de novasrotas de importação por gasoduto ou por GNL(Irão e Catar) (40) permitiria aumentar adiversificação geográfica do abastecimento degás e manter um mercado de compra. Contudo,o seu custo elevado não deixará de terconsequências sobre o preço a pagar peloconsumidor e o aumento do risco em relaçãoaos países de trânsito.
O aprovisionamento de gás da Europa corre orisco de, com o tempo, criar uma novadependência, que será tanto mais marcada sefor acentuada a tendência para um consumomenos intensivo em carbono. O aumento doconsumo do gás poderia ser seguido de umatendência para o aumento dos preços efragilizar a segurança do aprovisionamento daUnião Europeia.
Na medida em que o abastecimento externo degás da UE depende em 41% das importaçõesprovenientes da Rússia e em cerca de 30% daArgélia, parece desejável um esforço dediversificação geográfica do nossoabastecimento, nomeadamente no que respeitaao GNL. Comparativamente, são maisdiversificadas as fontes de abastecimentoeuropeu de petróleo e de carvão. Odesenvolvimento de uma parceria energética alongo prazo com importantes fornecedorescomo a Rússia é, portanto, essencial.
2. Energias novas e energiasrenováveis: uma prioridadepolítica
As energias renováveis apresentam umpotencial considerável (41) para reforçar asegurança do aprovisionamento europeu. Odesenvolvimento da sua utilização depende,contudo, de esforços políticos e económicosextremamente importantes. Estes esforços sódarão resultados se forem acompanhados deuma verdadeira política de procura a favor deuma racionalização e estabilização doconsumo de energia. A médio prazo, asenergias renováveis são a única fonte deenergia sobre a qual a União Europeia dispõede certa margem de manobra para aumentar aoferta nas actuais circunstâncias. A União nãose pode dar ao luxo de negligenciar esta formade energia.
a) Um potencial a explorar
As energias renováveis asseguram actualmentecerca de 6% do aprovisionamento europeu,representando a energia hidroeléctrica, por sisó, 2%. O objectivo de aumentar para o dobro aparticipação das energias renováveis na
(40) O Catar dispõe de reservas provadas três vezes superioresàs da Argélia ou da Noruega.
(41) Ver primeira parte, capítulo I, secção B.
4544
SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
produção de electricidade, regularmenteafirmado desde 1985, não pôde ser atingido (42).É indispensável que os Estados-Membrosconsiderem seu este objectivo e fixem metasnacionais em uníssono com a União, o que nãoé ainda o caso em todos os Estados-Membros. Énecessário avançar nesse sentido.
Entre 1985 e 1998, o aumento da produção deenergia a partir de fontes renováveis éimportante em termos relativos (+30%), mas emtermos absolutos é ainda fraco (65 a 85 Mtep —incluindo a energia hidroeléctrica). Esta fracapenetração global oculta uma grande variaçãoentre países. Quatro países recorrem às energiasrenováveis numa proporção significativa:Portugal (15,7%), a Finlândia (21,8%), a Áustria(23,3%) e a Suécia (28,5%) apoiam-se nautilização do seu potencial florestal ehidroeléctrico.
A parte das energias renováveis no consumoglobal está estreitamente ligada à evolução doconsumo e à poupança de energia. Osprogressos realizados no sector das energiasrenováveis foram absorvidos pelo aumento doconsumo, estagnando em torno de 6% doconsumo global, apesar de um crescimentoanual contínuo de 3% neste sector e deaumentos espectaculares, como o registado pelaenergia eólica em 10 anos, da ordem dos2 000%. Há que reconhecer que os esforços porparte da oferta só terão resultado seacompanhados de políticas de racionalização daprocura de energia.
Nos próximos anos, a participação das energias
renováveis no consumo de energia deverá
aumentar em termos absolutos. A sua proporção
(em termos relativos) no balanço energético irá
depender em grande medida da sua ligação à
rede eléctrica e da sua competitividade no
desenvolvimento da produção descentralizada.
A Comissão assumiu o objectivo de aumentar
para o dobro a parte das energias renováveis no
consumo global de energia, passando de 6% em
1997 a 12% em 2010. Esta evolução deverá dar
um novo impulso às PME e exercerá igualmente
efeitos benéficos sobre o emprego e permitirá a
criação de tecnologias europeias que possam
ser exportadas para os países em
desenvolvimento.
Por este motivo, é importante que cada Estado-
-Membro adopte os objectivos nacionais
previstos na proposta de directiva relativa à
electricidade produzida a partir de fontes
renováveis.
b) Diferentes potenciais de crescimento
O objectivo de duplicação da parte das energias
renováveis no balanço energético europeu
insere-se numa estratégia de segurança do
aprovisionamento e de desenvolvimento
sustentável. Exige, contudo, um grande esforço:
os investimentos necessários para atingir este
0
25
50
75
100
125
150
175
200
1990 2000 2010 2020 2030
EU-30: energias renováveis (produção/consumo em Mtep)
(42) JO C 241 de 25.9.1986.
objectivo foram calculados pela Comissão em
165 mil milhões de euros entre 1997 e 2010. Um
esforço particularmente importante deverá ser
realizado no domínio da electricidade para
alcançar a meta de 24% de electricidade «verde»
em 2010, contra os actuais 12%, fixada na
proposta de directiva relativa à electricidade
produzida a partir das fontes renováveis.
Este objectivo será tanto mais difícil de atingir se
considerarmos que são de momento
praticamente nulas as possibilidades de
expansão da energia hidroeléctrica, que
representa um terço das energias renováveis,
dada a forte resistência, a nível local, ao
equipamento de novos sítios exploráveis. Só as
centrais hidroeléctricas de pequena dimensão
podem apresentar algumas perspectivas. Assim,
são as outras formas de energias renováveis
(biomassa, energia eólica, solar e geotérmica) que
deverão fornecer a quase totalidade do aumento
necessário. Na realidade, é necessário multiplicar
por quatro e não por dois a sua parte relativa.
Por seu lado, a biomassa poderia contribuir de
maneira significativa para o reforço de uma
segurança sustentável do aprovisionamento. A
biomassa é um recurso amplamente disponível
e polivalente, que pode ser utilizado tanto para
a energia térmica como eléctrica. As fontes de
aprovisionamento de bioenergia incluem os
resíduos agrícolas, florestais, os fluxos de
resíduos e ainda novas culturas energéticas. O
enorme potencial dos resíduos florestais e
agrícolas continua até agora inexplorado.
Apesar do seu custo elevado, é necessário
assegurar de um modo especial a contínua
disponibilidade e o aumento dos
biocombustíveis e outros combustíveisalternativos no mercado dos produtos
combustíveis. Os biocombustíveis são
essencialmente o biogasóleo (proveniente em
70% a 80% de óleos orgânicos e do girassol, etc.)
e os álcoois (provenientes em 20% a 30% da
beterraba, do trigo, do sorgo, etc.). Numerosas
opções de produção são possíveis, sendo dada
preferência às culturas de alto rendimento e
fraco consumo intermédio, que respeitem a
biodiversidade. O biogasóleo pode ser utilizado
para substituição do gasóleo normal, sem
grandes problemas técnicos. Quanto aos álcoois,
podem ser misturados com a gasolina
convencional numa percentagem que pode ir
até cerca de 15%, sem necessidade de
modificações técnicas dos veículos.
No que respeita ao seu impacto ambiental, osbiocombustíveis são muito interessantes:emitem menos 40% a 80% de gasesresponsáveis pelo efeito de estufa que osoutros combustíveis fósseis. Emitemigualmente menos partículas, monóxido ehidróxido de carbono. Os biocombustíveis sãotambém criadores de emprego nas zonas ruraise contribuem para preservar o tecido rural,oferecendo novos mercados à produçãoagrícola. Neste contexto, é necessário assegurarque os biocombustíveis não conduzam a umaexploração demasiado intensiva das terrasagrícolas. A mais longo prazo, deveriam serexploradas as possibilidades de outras fontesrenováveis, como o hidrogénio, para otransporte rodoviário.
Na União Europeia, a parte representada pelosbiocombustíveis é ainda fraca: 0,15% doconsumo total dos óleos minerais combustíveisem 1998. O obstáculo principal à sua utilizaçãoé a diferença de preços em relação aoscombustíveis fósseis, que varia actualmenteentre 1,5 (biogasóleo) e 4 para os produtoslivres de impostos. No quadro do objectivo deduplicação da parte representada pelasenergias renováveis até 2010, a Comissãoavaliou no seu livro branco de 1997 (43) sobreas fontes de energias renováveis a contribuiçãoda bioenergia em 7% do consumo total até2010. Sublinhava-se que esse aumento dopapel dos biocombustíveis só seria possível,contudo, se estivessem reunidas as seguintescondições:
— os Estados-Membros deveriam assumir ocompromisso firme de atingir o objectivoambicioso e realista do livro branco atéao ano 2010 (7% de biocombustíveis) efixar um objectivo de 20% até 2020 paratodos os combustíveis de substituição;
— a discrepância entre os preços dosbiocombustíveis e dos produtosconcorrentes deveria ser reduzida pormedidas que poderiam ser, numaprimeira fase, de ordem fiscal;
— as companhias petrolíferas deveriamcomprometer-se a facilitar a suadistribuição em grande escala no âmbitode contratos de carácter voluntário, depreferência a fazê-lo ao abrigo deregulamentação comunitária;
(43) Documento COM(97) 599, de 26 de Novembro de 1997.
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SEGURANÇA DO APROVISIONAMENTO ENERGÉTICO
— deveria ser intensificada a investigaçãoneste domínio, nomeadamente com oobjectivo de explorar novas soluções ligadas àutilização de vectores energéticos alternativoscomo o hidrogénio (que é, juntamente com ometanol, utilizado nas pilhas de combustível epode ser produzido a partir de múltiplasfontes de energias primárias, entre as quais asenergias renováveis).
Deveria também ser dedicado esforço aodesenvolvimento da energia eléctrica de origemeólica mas não esquecendo a ajuda aosprojectos no domínio da energia hidroeléctrica,incluindo os de pequenas dimensões (menos de10 MW), até agora negligenciados.
Até agora, a promoção das energias renováveistem sido objecto de programas variados, deimportância desigual a nível nacional ecomunitário. Esta abordagem, mesmo queindispensável, é insuficiente e pode sercompletada por um dispositivo global quearticule o apoio à investigação, os auxílios aoinvestimento, ao funcionamento e à utilizaçãodestas energias, nos termos dos artigos 87.º e88.º do Tratado que institui a ComunidadeEuropeia. A Comissão, ao propor a directivarelativa às energias renováveis, estabeleceu oquadro no qual a produção de electricidade apartir de certas fontes de energias renováveis,nomeadamente a eólica, poderá vir a sercompetitiva e fazer concorrência às energiasconvencionais. Esta abordagem será completada(dentro dos limites autorizados pelaregulamentação comunitária em vigor) por umanova proposta sobre a poupança de energia naconstrução, que permitirá promover outrasfontes de energia (solar e biomassa) de umamaneira muito mais descentralizada, dado queos recursos neste domínio devem ser apreciadosa nível local.
c) Os obstáculos ao desenvolvimento das energias renováveis
Qualquer que seja a fonte de energia renovávelconsiderada, convém ter presente que há, emprimeiro lugar, obstáculos de ordem estrutural aoseu desenvolvimento. O sistema económico esocial foi concebido e desenvolvido de formacentralizada em torno das energias convencionais(carvão, petróleo, gás natural e energia nuclear) esobretudo da produção de energia eléctrica.
Mas o principal problema é de ordem financeira.Há que reconhecer que certas energias
renováveis exigem grandes investimentosiniciais, à semelhança dos que beneficiaram nopassado outras energias como o carvão, opetróleo e a energia nuclear. Uma daspossibilidades de financiamento das energiasrenováveis a explorar poderia ser a sujeiçãodas fontes de energia mais rentáveis —energia nuclear, petróleo e gás — a uma formade contribuição para o desenvolvimento dasenergias renováveis. Poderia imaginar-se, porexemplo, uma taxa parafiscal para financiar umfundo regional ou nacional destinado aosnecessários investimentos iniciais. Além disso,várias fontes de energia renováveis poderão, atéque possam atingir um nível de rentabilidade,ter necessidade de auxílios ao funcionamentodurante períodos relativamente longos.Actualmente, esta contribuição já se encontrainstaurada em alguns Estados-Membros, queratravés de tarifas fixas para as energiasrenováveis, quer da obrigação de compra decertificados verdes, ou ainda através dolançamento de concursos para a criação dedeterminadas capacidades.
Por último, e este é um problema a resolver noâmbito da subsidiariedade, as regulamentaçõesnacionais, regionais e locais deveriam seradaptadas em termos de urbanismo e deocupação dos solos, de modo a dar umaprioridade clara à implantação de instalações deprodução das energias renováveis. É um tantoparadoxal que no início do desenvolvimento daenergia nuclear as populações não tenhampodido opor-se à instalação de reactoresnucleares e estejam hoje em condições deobstruir o desenvolvimento de instalaçõesdestinadas às energias renováveis. Note-setambém que os obstáculos administrativos eambientais são hoje muito maiores que na fasede desenvolvimento das energias convencionaise se traduzem em custos de investimentosuplementares.
Estão a surgir várias tendências em diferentesdomínios. Enquanto que as energias renováveis,no passado, estavam associadas a uma energiadescentralizada e de produção restrita, hoje acriação de parques eólicos, eventualmente off-shore, começa a desenvolver-se. Isto permiteintegrar as energias renováveis num esquemade produção e de consumo centralizado emgrande escala.
Na falta de novas descobertas tecnológicas, aposição das energias renováveis no mercadopoderia também ser reforçada por evoluções
espontâneas dos custos, quer devido a um nívelelevado dos preços do petróleo quer pelacontabilização do «preço dos certificados deemissão» nos custos de investimento nasenergias convencionais.
Contudo, não será possível um desenvolvimentoregular do mercado das energias renováveis naUnião Europeia sem uma política resoluta amédio prazo da parte das autoridades. Estapolítica pode inserir-se num leque de decisões,que vão desde as medidas fiscais drásticas afavor das energias renováveis, ou das obrigaçõesde compra pelos produtores e distribuidores deelectricidade de uma percentagem mínima deelectricidade produzida a partir de energiasrenováveis, até aos auxílios à investigação ou aofinanciamento (bonificação de juros, fundo degarantia e taxa parafiscal sobre as outras fontesde energia). Certas energias renováveisdeveriam beneficiar de um auxílio que lhespermita atingir mercados comparáveis aos dasenergias convencionais, no quadro dasdisposições comunitárias em matéria deconcorrência.
O arranque das energias renováveis exigeincentivos financeiros ou fiscais.
As metas estabelecidas para os combustíveisde substituição (20% em 2020) ficarãoprovavelmente por atingir, o que significaque terão de ser adoptadas medidas fiscais aseu favor e uma regulamentação sobre a suadistribuição pelas companhias petrolíferas,bem como acordos voluntários com aindústria.
É de lamentar que não exista a nívelcomunitário uma harmonização dafiscalidade a favor dos biocombustíveis, tantomais que a Comissão apresentou umaproposta nesse sentido em 1992, e que, pelocontrário, os esforços feitos neste sentido noâmbito de alguns programas tenham sidocolocados em questão por motivos jurídicos.
Conclusão
Nenhum sector pode responder por si só àsnecessidades energéticas da União ou da UEalargada. A natureza das relações entre osvectores energéticos está em profunda mutação.Entre petróleo e carvão pode falar-se deespecialização divergente, entre carvão eenergia nuclear de complementaridade. O gásestá em concorrência com todos os produtosenergéticos em todos os mercados.
A pressão exercida pela procura global de gásnatural, as capacidades de exportação dospaíses produtores (Argélia, Rússia, Noruega ePaíses Baixos) e dos novos produtores (como ospaíses do Médio Oriente), o esgotamentogradual das reservas de hidrocarbonetos, oaumento correlativo dos preços, as dificuldadesencontradas na realização dos programasnucleares, o desafio ambiental colocado pelautilização do carvão são factores queinfluenciam as condições de aprovisionamentoda União Europeia.
Actualmente, o consumo de energia é cobertopor 41% de petróleo, 22% de gás natural, 16%de combustíveis fósseis (carvão, lenhite e turfa),15% de energia nuclear e 6% de fontesrenováveis. Se nada se fizer, o balançoenergético continuará a apoiar-se até 2030 noscombustíveis fósseis: 38% de petróleo, 29% degás natural, 19% de combustíveis sólidos eapenas 6% de energia nuclear e 8% de fontesrenováveis.
A União Europeia tem falta de meios paraactuar sobre as condições da oferta eassegurar a melhor gestão possível dasegurança do aprovisionamento. Embora sejapouca a margem de manobra, duas pistaspodem ser exploradas.
Em primeiro lugar, a União Europeia pode,porque é um mercado atraente, negociarcom os países fornecedores uma parceriaestratégica que melhore a segurança do seuaprovisionamento. É o que começou a fazercom a Federação da Rússia, oferecendo-lheauxílio para a melhoria das redes detransporte e o desenvolvimento de novastecnologias num quadro político quepoderá permitir a estabilidade doaprovisionamento e garantir oinvestimento.
Seguidamente, a União Europeia deve darespecial atenção à mobilização de auxíliosfinanceiros para as energias renováveis quesão, a muito longo prazo, as maispromissoras para a diversificação doaprovisionamento.
Apesar disso, a União Europeia só reduzirá asua dependência externa através de umapolítica determinada de gestão da procura.
Esta política de gestão da procura é tantomais necessária quanto só ela permitiráfazer face ao desafio das alteraçõesclimáticas.