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Livro lucas final leve

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Universidade Federal de Uberlândia

INSTITUTO DE ARTESCurso de Artes Visuais

Uberlândia 2012

Vias do silêncio

Lucas Dilan Martins Corrêa

O que torna tão difícil às vezes decidir para onde va-mos caminhar? Acredito que existe um magnetismo sutil na natureza que, se cedermos inconscientemente, nos dará a direção certa. THOREAU, Henry David. Caminhando

Lições da deriva. Primeiro: sem barro não há texto. Segunda: sem paisagem não há conto. Terceira: sem solo não há sonho.Remoinho de pó e primavera. Babel invertida.Cones devorando o céu. No ar alvoroçado de fuligem tudo é rastro.

Um dia o México foi isto. Os nopales já não mostram a língua para os turistas, os agaves morrem entre ereções estéreis e o gusano se extinguiu. Deixemos de rodeios: o tempo nos varre. A história é esta: não há moral da história. Quem puder que entenda.

As obras são remoinhos: deslocamento sem programa, abismo de signos,Esconderijos de palavras. Se esta foto ou este texto não devem estar aqui é porque o ar os arrastou. Estes embates e quedas são por fim seu poder de re-volta. Procurar o silêncio no relâmpago/ Semear de rumores a terra Notas, recortes, palavras, interrupções e sobressaltos. Horrores, confusões, destroços do cotidiano. O gesto são somente os passos de um rito onde as ilusões se pisoteiam/ se tapeiam.Ali nos lomeríos um esforço pertinaz: pescar claridade numa idade turva enlameada de vermelho. Francis Alys cidade do México, verão de 2010

Do meio não linear...

,

...

,

Acalmar para tentar se compreender por caminhos e vias do desassossego. Ficar dentro de casa com suas paredes, quartos, cozinha, sala, quintal. A estabilidade acontecia, precisava revirar a relação do meu corpo em busca de um LUGARoutro do corpo e assim mudar suas orientações pelo desconhecido. O que ali acontecia me direcionava ao seguro, confortável, ao previamente organizado, estabelecido, tudo conhecido. E é esse andar cheio de imprecisão que meu corpo em tumulto carregava e pedia para se lançar para outro lugar menos confortável, cheio de surpresas e com as suas devidas variações de ordens entre ruas, semáforos, faixas, avenidas, becos, códigos, vielas, pessoas, casas, prédios, carros etc. E que tudo aquilo de alguma maneira me provocava uma concentração e ofuscava o excesso dessas informações externas disciplinadoras. A cidade ajudava a simplificar esses pensamentos do corpo fluindo intensamente em produção de sentidos. Era difícil movimentar a desordem do corpo que vibrava e trepidava por uma necessidade de sair silenciosamente sozinho em andanças pela cidade. Se não fizesse essas escolhas pelo andar por outros lugares, poderia propor a minha existência apenas desordem por desordem, de pedaços soltos “ilegíveis” e não uma desordem viva “à duração de minha existência dou uma significação oculta que me ultrapassa.” Via 4:LISPECTOR, Clarice. Água Viva – ficção

Eu precisava dessa significação para dar um sentido sensível à minha vida. E dessa maneira os pensamentos precisavam se confrontar intensamente com outras regiões, que nesse caso era a cidade com as suas devidas estruturas, definições, organização espacial, topográfica, arquitetônica, repleta de interferências e direções variadas.Surgiram então os primeiros vestígios da necessidade de sair e andar, que não era o andar apenas na superfície das necessidades rotineira como ir para determinados lugares, casa de pessoas conhecidas, trabalho, escola, padaria, quadra entre vários outros originários das demarcações convencionais do corpo na cidade. Esse andar era a manifestação de não suportar em si toda uma desordem do pensamento que bombardeava o corpo constantemente e onde se fazia necessário andar. Em outra ordem não linear, uma ordenação sensível do meu corpo. “Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível do fazer sentido. Eu não; quero uma verdade inventada.” Via 4:LISPECTOR, Clarice. Água Viva – ficção

Eu caminhava horas e horas por alguma necessidade que era ainda mais desconhecidaAndar era, e ainda é, como se eu estivesse inventando, investigando, conectando, agenciando maneiras sensíveis de entender o tornado que me move em meio ao caos.

trecho7 Andava horas e horas, coletava materiais, objetos, pedaços, coisas, pensamentos. Nada era visível, tudo ainda muito escuro nas minhas andanças. Só sabia que desejava caminhar.

“Para praticar o pensamento deste modo, aquilo para o que temos de nos tornar dotados é então, fundamentalmente, a capacidade de nos deixarmos estranhar pelas marcas; ora, para isso não há método, mas um longo e sutil aprendizado que só acaba na morte: uma delicada preparação onde se opera uma verdadeira torsão em nosso modo de subjetivação, torsão que nunca está definitivamente conquistada.” ROLNIK, Suely. Pensamento, corpo e devir

“Assim, neste tipo de trabalho com o pensamento o que vem primeiro é a capacidade de se deixar violentar pelas marcas, o que nada tem a ver com subjetivo ou individual, pois ao contrario, as marcas são os estados vividos em nosso corpo no encontro com outros corpos, a diferença que nos arranca de nós mesmos e nos torna outro.” ROLNIK, Suely. Pensamento, corpo e devir

trecho7 Andava horas e horas, coletava materiais, objetos, pedaços, coisas, pensamentos. Nada era visível, tudo ainda muito escuro nas minhas andanças. Só sabia que desejava caminhar.

Comecei o desenvolvimento da performance Bus-ca: via de tráfego e silêncio enquanto cursava a disciplina ateliê : Corpo e Expressão, ofe-recida pelo curso de Artes Visuais da Univer-sidade Federal de Uberlândia, ministrada pelo professor Paulo Buenoz, no primeiro semestre de 2009. A primeira proposta feita pelo professor foi que colocássemos no papel palavras gerado-ras de desejos, vontades e necessidades. Desta forma começaríamos a perceber e revirar luga-res em que cada um sentiria o desejo de tra-balhar, rascunhando caminhos de aproximação e de reconhecimento do processo de invenção. As palavras que escolhi para iniciar o processo de desenvolvimento do trabalho proposto ini-cialmente foram:

A partir de então lancei meu corpo no desassossego e busquei no escuro descobrir o que essas palavras, geradoras de uma possível vontade de invenção, poderiam vir a provocar, re-virar e mobilizar no meu corpo trepidações de uma possível forma uma possibilidade de um corpo-outro, um vira ser outro. E em direção a essas aproximações que potencializa afetos e encontros mobilizadores de obra. A rasgar, abrir, provocar no meio outras variações, frestas foscas e fachos de luz que mais à frente começo a identificar o que seria o andar por uma necessidade de caminhar, mais agora um caminhar de outra maneira, caminhar por lugares que revelam essas frestas de

fluxo da compreensão diante das palavras geradoras e mobili-zadoras de uma matéria caótica no corpo. Matéria essa que desnorteia fluxos pré-trajados de territó-rios conhecidos, confortáveis das possibilidades já reconhe-cíveis do corpo que pisa em terrenos seguros, estáveis, ina-baláveis. O desejo maior era pelo caminhar, vivo e cheio de for-ça e vontade de invenção, por percorrer outros territórios. É por essas vias que me aproximo da linguagem da performan-ce, percebendo a necessidade do meu corpo estar em confronto direto com e em possíveis afetos. O professor pergunta com que linguagem sente vontade de tra-balhar? Digo: performance. A disciplina era aberta para discutir e trabalhar vá-rias possibilidades de linguagens a partir do que era cabível e incabível ao corpo. Em que cada um estaria poroso, a permi-tir se atravessar. A maneira de reconhecimento e aproximação desse trabalho foi a de colocar o corpo em processo de acon-tecimento em performance.

E me perguntei: que caminhos eram esses?

E o porquê desses caminhos?

Trecho 0 ou os declínios do existir :Parte sobre tráfego e lugar de confronto Parei deitei fiquei a esperar Lugar de conforto o meu corpo sentia a necessidade de ter uma aproximação das “coisas”: bueiro areia pedra carro faixa de pedestre e sinalização lixo galho cimento asfalto grama arvore pedra grade Arquitetura outro flor poste luz humano cachorro diacaçamba caixa lixeira ar vídeo foto ônibus prédio banco policia carro moto bicicleta fonte pare ponto de ônibus avenida rua terreno baldio existir dia noite madrugada semáforo textura topográfica buzina esquina ação silêncio potência lixeira muro grade árvore caminhada

mundo corpos ...

As multiplicidades se definem pelo fora: pela linha abstrata, linha de fuga ou de desterritorialização segundo a qual elas mudam de natureza ao se conectarem às outras. DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Mil platôs – capitalismo e esquizofrenia

Trecho 0 ou os declínios do existir :Parte sobre tráfego e lugar de confronto Parei deitei fiquei a esperar Lugar de conforto o meu corpo sentia a necessidade de ter uma aproximação das “coisas”: bueiro areia pedra carro faixa de pedestre e sinalização lixo galho cimento asfalto grama arvore pedra grade Arquitetura outro flor poste luz humano cachorro diacaçamba caixa lixeira ar vídeo foto ônibus prédio banco policia carro moto bicicleta fonte pare ponto de ônibus avenida rua terreno baldio existir dia noite madrugada semáforo textura topográfica buzina esquina ação silêncio potência lixeira muro grade árvore caminhada

mundo corpos ...

As multiplicidades se definem pelo fora: pela linha abstrata, linha de fuga ou de desterritorialização segundo a qual elas mudam de natureza ao se conectarem às outras. DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Mil platôs – capitalismo e esquizofrenia

Trecho3 Nesse processo de disritmia em busca de algo VIVO...

trecho5 Uma inquietude pela violência de se lançar...

Um sujeito é um receptáculo de formas, urna de devires fabulador incansável de estados, rastreador de possíveis.

Força viva que deseja produzir-se como forma que dê passagem à articulação de pensamentos furiosos,

palavras insubordinadas, sintaxes tumultuosas, que espantem por momento a obrigatoriedade

de um eu - nome, esse contrato formalizado no cotidiano, que , de repente se plasma e acomoda um eu blindado,

que blefa, promete uma infinita trégua a essa mediação sempre tensa entre um nome, uma forma, um mundo.

Um sujeito é um receptáculo de formas, urna de devires fabulador incansável de estados, rastreador de possíveis.

que deseja produzir-se como forma que dê passagem à articulação de pensamentos furiosos,

palavras insubordinadas, sintaxes tumultuosas, que espantem por momento a obrigatoriedade

de um eu - nome, esse contrato formalizado no cotidiano, que , de repente se plasma e acomoda um eu blindado,

promete uma infinita trégua a essa mediação sempre tensa entre um nome, uma forma, um mundo.

Rua 3: PRECIOSA, Rosane. Rumores discretos da subjetividade – Sujeito e escritura em processo.

As engrenagens rangem por vontades de idas e vindas de um fluxo outro em meio a uma desordem do pensamento. O conflito da vida em busca do vivo ,

de uma ordenação sensível diante da existência

...

“Da mesma forma, ninguém se pergunta-ria por que a ordem existe se não se concebesse uma desordem que teria se desdobrado à ordem e que, por conse-guinte, a precederia, ao menos ideal-mente. A ordem teria, portanto, neces-sidade de ser explicada, ao passo que a desordem, existindo de direito, não existiria explicação. É esse o ponto de vista em que se corre o risco de ficar caso se preocupe apenas compre-ender. Mas tentemos, além disso, gerar (coisa que só poderemos fazer, evi-dentemente, pelo pensamento). À medi-da que dilatamos nossa vontade, que tendemos a reabsorver nela nosso pen-samento e que simpatizamos mais com o esforço que gera as , coisas , esses enormes problemas recuam , diminuem, desaparecem”. Marginal 6: BERGSON, Henri. Memória e vida; texto: A intuição como método

O desejo por ser uma performance começou a (re)ativar fortemente os acontecimentos na minha relação com o caminhar, emergindo a necessidade de pedir obra e de agenciar maneiras, métodos de invenção do trabalho. Passaram-se várias semanas e comecei a perceber que esse era o caminho. De ruas cruzadas a becos sem saídas, calçadas, avenidas bifurcadas, de mão dupla, contramão, faixa duplas, tri-plas, quádruplas...E que é o próprio caminhar que me move pelo lugar de confronto, que luta por uma necessidade do vivo dentro do processo de invenção. Percebo mais forte que quando caminho, de alguma maneira, reconheço que ele me ajuda a perceber e dar uma ordenação sensível àquilo que é a necessidade do ser, e vir a ser e trepidar lugares por necessidade de inven-ção. Antes de prosseguir essa primeira saída pelas ruas, surgiu a vontade de acalmar os gritos do corpo. Fiquei deitado horas no chão em silêncio, sem pronunciar nenhuma palavra, e deixando os pensamentos inventarem, revirarem, se deformarem e excederem o corpo. Buscando o máximo de aproximação do que era desejado pelo percurso a desempenhar com o corpo em execução do trabalho, sem deixar as armadilhas do pensamento me desviassem do ato mobilizador, das vontades que eram vibrantes. E ao máxi-mo tentar perceber, reconhecer e identificar essas arma-dilhas de desvio. E prosseguir rumo ao envolvimento do rigor ético, político e poético que o trabalho pedia. Saí pelas ruas de encontro a outros corpos, outra forma relacional por encontros afetivos que desesta-bilizassem, oscilassem e desabassem. Durante as saídas pelas ruas no processo de investigação, sentia o desejo de propor ao meu corpo um primeiro momento em busca de calmaria para o corpo-pensamento-ação. Desatolando-o dos estados desnecessários, permitindo vazões do se fazer fluxo de sentidos.

Na primeira saída fui sozinho, eu em relação com as coisas que eram selecionadas de acordo com os embates do que era forte diante dos confrontos afetivos. Vá-rios momentos percebia que estava desnorteado, lançado sobre estrondos, escombros, atoleiros de várias epi-dermes relacionais do encontro sobre o possível.Na segunda saída pedi para que um amigo a registrasse em vídeo, de modo que eu pudesse assisti-la e perce-ber, através de outros meios, o processo de preparação e reconhecimento da presença do corpo. Buscando apro-ximação do que era executado.

Sai caminhando...

Nas primeiras aproximações eu deitei no chão e come-cei a rolar por cima de um monte de areia que era in-terligado por outro monte de pedras britas. Esse encon-tro de poros e de corpos me levou a ou-tra maneira de deslocamento pelas ruas, saindo de uma verticalidade e inventando outras manei-

ras de percor-rer caminhos a serem inventa-dos. Uma des--verticalização do caminhar, dos lugares, das relações.

Agora revirado...

Na primeira saída as relações se instauravam e rompiam muito rápido, perdendo a duração do encontro entre os corpos. Os registros através dos vídeos ajudaram nas etapas seguintes, pois quando eu os assistia percebia mais claramente os momentos de desvio, de concentração e as relações desnecessárias de embates sem potência de aproximação.

Um ônibus vem rapidamente e para a poucos centímetros do meu corpo. Uma cegueira momentânea aconteceu nesse encontro tenso, de um limiar que suspendeu o fôlego, o tempo. Evacuando, revirando, inventando algo presente por um estado de uma exigência enorme de concentração. Começo a perceber que algo se transformou nessas saídas, e que é tudo repleto de uma violência bruta por espaço. Foi um momento muito forte para mim esse acontecimento, o movimento do ônibus provocou um grande deslocamento do afeto e, nesse momento, percebi que ali tinha provocado um reconhecimento do estado de concentração mais atento no meu corpo.

Agora revirado...

Eu comecei a perceber que a força dessa relação partia da concentração do corpo num estado performático. Esse estado não estava no óbvio do confrontar ônibus, carros, pessoas, ruas, pedras etc., mas de me infiltrar de maneira mais intensa no meio relacional, uma maneira sem nome.

Nessas caminhadas sentia que, em alguns momentos, perdia o estado de concentração do corpo diante de toda interferência das ruas em suas mais distintas variações de movimentos. A presença era a única estrutura que me manteria vivo em potência, num estado performático a continuar trajando outros caminhos.

Havia o terreno baldio da existência que precisava ser acordado, não pelo troar épico de um bandeirante afoito, rasgando espaços, indo se estabelecer sólido em alguma casa pré-moldada. Mas de forma diversa, interrogando os espaços , fuçando como um bicho faz. Apalpando aquela geologia de formas estratificadas que em surdina vão cedendo.E enormes placas se desprendem , redesenhando o solo. Um jeito de se mover sutil e tumultuoso, apenas percebido pelo ligeiro tremor que vai se comunicando aos corpos que nele pisam empenhados nesses vitais des-lizamentos.

Rua 3: PRECIOSA, Rosane. Rumores discretos da subjetividade – Sujeito e escritura em processo.

Trecho2 Sempre caminhei....Por uma vontade que não era só caminhar.....................Caminhar era e é como se estivesse inventando, investigando, conectando, agenciando maneiras de entender o caos vivo, que lança e me leva por algum tipo de movimento com solavancos , quedas, quebras em uma desestabilidade pura.

Trecho2 Sempre caminhei....Por uma vontade que não era só caminhar.....................Caminhar era e é como se estivesse inventando, investigando, conectando, agenciando maneiras de entender o caos vivo, que lança e me leva por algum tipo de movimento com solavancos , quedas, quebras em uma desestabilidade pura.

Trecho4 Daí vêm as caminhadas que, de alguma maneira, inventam um outro corpo. Para penetrar na turbulência e aceitá-la sem o medo do risco de ser derrubado... Pois negar seria um refúgio, um duplo refúgio. Uma mera sobreposição, de fragmento por fragmento e não um fragmento pela necessidade viva de tentar ser legível, por uma ordenação sensível em meio ao caos e aos pedaços possíveis.

Aproximação das coisas que eram intensas naquele mo-mento: galhos, lixos, bueiros, faixas, pessoas, carros etc., em que tudo atravessava de maneiras distintas e variadas. Percebi os excessos invasivos que podem ser chamados de vida e por esse encontro eu comecei a se-lecionar aproximações de outras massas desejadas. Em uma dessas aproximações deitei sobre um monte de galhos secos e um caminhão passou rapidamente rente ao meu corpo, deslocando-me para outras regiões. Nesses espaços de extremas transformações e mu-tações era possível ver a fosca relação desses embates com a coisa viva que propunha ao meu corpo, uma outra atenção, uma outra maneira de ser vivo e manter-se em relação viva nas ruas. Eu deslocava no contrafluxo das ruas, isso por si só era uma força oposta que tinha que ser aderida ao meio para se permitir e ser permitido caminhar pelas vias dos fluxos.

Pela conversas que tive no ateliê Corpo e Expressão, e também fora dele, comecei a me atentar para detalhes despercebidos, como o fato de que quem estava regis-trando o processo deveria me acompanhar a certa dis-tância para que permitisse respirar e não ser um meca-nismo a criar subterfúgios de defesa para meu corpo, mas sim de ser um material de reconhecimento do pro-cesso de trabalho que registra sutilmente a caminhada. Como as pessoas poderiam acompanhar essa minha traje-tória? Era necessário dizer previamente que percurso seria realizado?

Em três saídas fui sem nenhum mecanismo que iria registrar meu caminhar, sendo que

na minha primeira saída não havia pensado em nenhum mecanismo e na quarta optei por

caminhar sem o recurso do vídeo e, pela primeira vez, risquei o trajeto que faria

em um mapa. Antes só imaginava o percurso, pois ele se definia ao longo do percur-

so. Na quinta saída percebi que meu corpo aderia, aproximava e encontrava com o que

era forte e incomum. Percebia, então, tudo mais silencioso.

O caminhar começa a se fazer mais ativo, mais presente, mais reconhecível de

seus lugares. Desobstruindo a escuridão e clareando a ativação do estado de presen-

ça do corpo e do trajeto a ser percorrido...

Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los BARROS Manoel

Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los BARROS Manoel

trecho6 O meu processo de invenção é derivado tanto de explosões de informações quanto de uma nebulosidade no compreender

e reconhecer o ato mobilizador. Em que tudo poderia ser e ter possibilidades. Reviro o que é primeiramente colocado e

começo a investigar o que está por baixo, retorcido, entre, o meio da potencialidade vibrante, onde posso perceber e chamar de

pólvora, estopim, disparador que não é dado na ansiedade primeira, mas no revirar

da primeira forma a busca pela invenção potente.

Trecho1Não prender a trepidação do corpo sobre concretos de memórias passadas, ou seja, memórias já capturadas...Sem potência de invenção, captável apenas pelo visível. Quebrar, destroçar todas como uma britadeira arrebentando solos duros e estáveis para possivelmente inventar outros solos, sempre em desmanches, declínio.

“Pois um problema especulativo está resolvido a partir do momento em que está bem formulado. Quero dizer com isso que a solução existe imediatamente, embora possa permanecer escondida e, por assim dizer, coberta: resta apenas descobri-la. Formular o problema, porém, não é simplesmente descobrir, é inventar. A descoberta incide sobre o que já existe, atual ou virtualmente; portanto, era certo que aparecesse cedo ou tarde. A invenção dá o ser ao que não era, poderia não ter ocorrido Marginal 6:BERGSON, Henri. Memória e vida; textos, A intuição como método ...

Caminhar para superar o pensamento. O fluxo dominante. O andar para aliviar e encarar o que mais desconheço.

Virei uma rua não sabia aonde poderia chegar

A performance...dia 27/06/09 ás 10h da manha :

Busca: vias de tráfego e silêncio

Sair...

Seguir

Busca

Trafegar

Silenciar Caminhar

Pelas vias da ordenação do sensível

entre

Vídeo performance – Busca: vias de tráfego e silêncio

Vídeo performance – Busca: vias de tráfego e silêncio

Dicionário Aurélio: Ex.ces.so sm . 1. Diferença para mais entre duas qualidades . 2. Aquilo que excede o permitido, o legal, o normal. 3. Sobra (1).4. Violência, desmando.

O excesso de um corpo na arte e na vida, que se dá pelo transbordar, derramar e aglomerar no encontro com o mundo de varias sobreposições de camadas do desejo. De expressividade furiosa que transborda as normas e condutas pré-estabelecidas. Maneira essa, que move o corpo a executar, a potência do processo em arte.Esse exceder não parte de uma lógica trajada previamente estabelecida mais de uma potência do vivo, afetado pelo mundo que gera uma ordenação sensível. Sem trajetos configurados em mapas gráficos, bem orientados por esquemas organizacionais, de rotas da objetividade, bem aparada e com legendas bem organizadas.

Esse corpo sobra...

No meio de estruturas e esquemas definidos. Transtornado o corpo violenta e provoca mundos possíveis onde a invenção se define como o caminho. O choque do corpo que provoca oscilações das placas de orientação, onde não há regras definidas e sim um longo caminho que faz da intuição o método de provocar encontros com o mundo e corpo em oscilação bruta pelo vivo.

“Fui para os bosques viver de livre vontade para sugar todo tutano da vida...Para aniquilar tudo o que não era vida, e para, quando morrer, não descobrir que não vivi!”1 (Henry David Thoreau)

Ir de encontro a outros corposcorpo do desejo corpo outros corposcorpo cartográfico o movimento antropófago da vida

cruzamento(1):

Por que essa maneira de caminhar ?Em busca de quê?

Às vezes os pensamentos são tão fortes que o disparador vem pela vontade de caminhar, por algum tipo de reorganização no campo do pensamento-ação,do que penso do que torna açãodo que venho a pensar mas nada separado do corpoComo escrever? Pela mobilização do caminhar na imersão do tráfego-pensamento-ação...

E assim possibilitar o desnorteamento dos afetos.A potência do que mobiliza, como do que me percorre, penetra e infiltra. Escancarando e tornando assim po-roso o caminhar, que interfere por ser interferido. E que se forma pelo encontro... Pela vontade de comer, deglutir, digerir e expelir um possível “vir a ser outro” ativado pela percepção do corpo. E dessa busca surgem trajetos/teias/novas teias a se inventar.

Trajeto para lugares

Baldios

Baldios

LATÊNCIA de criação direcionada para in-venção, no meu processo de escrita, escrita na arte e de pesquisa aca-dêmica.Antes considero tudo,

como produzir caminhada do afetar e contaminar.

POR

andar pelo lugar da escu-ta, andar pela resposta ao silêncioandar pela relação andar pelo estimulo do agir...

“As questões e os proble-mas não são atos especula-tivos que, por esta razão, permaneceriam totalmente provisórios e marcariam a ignorância momentânea de um sujeito empírico. São atos vivos, investindo as objetividades especiais do inconsciente, destinado a sobreviver ao estado pro-visório e parcial que, ao contrário, afeta as res-postas e soluções’’ cruzamento7:DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição

. . .aproximando de só caminhar pela cida-de.

“imersões intransigentes” que me fez e faz andar . . .

Caminhar. . .

Percorrer. . .

Passar

. . .

Trafegar

. . .

O corpo que sai a campo sempre em busca de trafegar... Para e com a intransigência...

Inventando possibilidades diante da vida em sua matéria bruta onde o vivo vibra, por uma vontade de caminhar. E através do caminhar dar ordenação sensível na execução

de invenção em arte

“Ora o que estou chamando de marcas são exatamente estes estados inéditos que se produzem em nosso corpo, a partir das composições que vamos vivendo. Cada um destes estados constitui uma diferença que

instaura uma abertura para a criação de um novo corpo, o que significa que as marcas são sempre gênese de um devir”2. (Suely Rolnik)

rua(2): ROLNIK, Suely. Pensamento, corpo e devir. Uma perspectiva ético/estético/política no trabalho acadêmico

“O devir é sempre de uma ordem outra que a da filiação, ele é da ordem outra que a da filiação. Ele é da ordem da aliança se a evolução comporta verdadeiros devires, é no vasto dominadas simbioses que coloca em jogo seres de escalas e rumos inteiramente diferentes sem qualquer filiação possível”3DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Mil platôs – capitalismo e esquizofrenia

Revelar “marcas” - conceito Suely Rolnik Percebendo não as marcas literais de impressos concretos, mas as que criam uma inversão do que foi sobreposta a uma possível camada retorcida, penetrável.

“Em toda o discurso da minha vida só encontrei uma ou duas pessoas que compreendia a arte de andar, isto é de dar passeios a pé”4 (Henry David Thoreau)

Só conheci uma ou duas pessoas no curso da minha vida que entenderam a arte de caminhar, isto é, de fazer caminhadas...Rodovia 4: THOREAU, Henry David. Caminhando A aproximação... ...acolhimento do corpo desestabilizado pela necessidade de andar a pé no fluxo e contra fluxo.

A intuição como método.

... vestígios de interferência das sensações da “memória do invisível” que chamo de confronto dos afetos.

CaminhostrajetosandarcaminharcaminhostrajetosandarcaminhacaminhostrajetosaandarporoutroslugaresCaminhostrajetosandarcaminharcaminhostrajetosandarcaminhacaminhostrajetosaandarporoutroslugares

Tudo sobre os difíceis terrenos De acesso...Camada pele, chão que salta, arrebenta, quebra, trinca o chão de cimento, asfalto, pedra.Piso diversas peles invólucro envoltório a invadir o que é difícil o acesso

CaminhostrajetosandarcaminharcaminhostrajetosandarcaminhacaminhostrajetosaandarporoutroslugaresCaminhostrajetosandarcaminharcaminhostrajetosandarcaminhacaminhostrajetosaandarporoutroslugares

Tudo sobre os difíceis terrenos De acesso...Camada pele, chão que salta, arrebenta, quebra, trinca o chão de cimento, asfalto, pedra.Piso diversas peles invólucro envoltório a invadir o que é difícil o acesso

a aproximação acolhimento do corpo desestabilizado pela necessidade de an-dar a pé no fluxo e contra fluxo

De pedras e outros lugares que tornam a arrebentar as

Camadas

,

A capa de proteção

o transferir do corpo para a terra das oscilações subje-tivas

vibrações permeáveis as rachaduras que o corpo provoca, passa e deixa pene-trar dentro do menos encharcadoem que o mais despercebido torna-se

um outroescrever andandocaminhando é umamaneira de desassossegaro corpo pensamentocomo possibilidade de destroços

como fendas , rachaduras , fissuras

como antropo-cartografia

aquele que sempre esta em busca, inconformado ...O silenciar do corpo diante do tráfego dos encontros, aproximando-se das intransigências do complexo desati-vo das diversas texturas topográficas, das relações de primeiros impactos das respostas do momento, o instan-te como potência de vida e de invenção .

“corpus” de outra instância

Desmaterialização inicial sem transcendências e divisões do “EU” / Em desmanche...

,

desabamento dos afetos.

Ou morte para vidaPermanente a natureza do ser Tudo ligado a partir de novas configurações dos estilha-ços pela ideia de fragmento, que vão criando aspectos de percurso e que são inventados pelas diversas maneiras de atravessar terrenos

• • • Depoisdadefesadoprojeto1fuitomadoporumlongo processo reflexivo. O processo me pedia outra relação diante do trabalho, uma relação digestiva do que eu havia comido. Pedia para descobrir maneiras de expelir a invenção de outras formas.

. Como inventar recolhendo os estilhaços espalhados pelo chão, de todos os escritos que havia capturado. Movidos enquanto caminhava pela cidade. Base intensa do método de escrita e invenção de obra.

. A máquina de invenção do possível, parte grosseira do pensar e inventar um livro.

.

Possibilidade

De demarcações

E

Reconhecimento

De

Possíveis

Trajetos

Percorrendo

Por

Serem

Percorridos

A

Caminhar

Possibilidade

De demarcações

E

Reconhecimento

De

Possíveis

Trajetos

Percorrendo

Por

Serem

Percorridos

A

Caminhar

Vazar os espaços com o corpo necessárioProvocando a rebelião do corpo, que desvia a potência na imersão das turbulências(Des)naturalizar as afeições do próprio natural “constructo social” E o natural? (Des)naturalizar o quê?Abalar as armaduras Provocar furos como uma peneira, deixando escorrer possibilidade de vontades para dentro do tecido social retorcidodescobrir novos trajetos topográficos e arquitetônicos sobre espaços-corpos baldios híbridos em “SI”

...

• Os desenhos de mapas nas folhas começaram a ser percebidos como excesso de recursos estéticos. Uma estratégia primeira a per-mitir atravessar, passar e se guiar por outros mapas. Mapeamentos subjetivos do corpo nos era preciso in-filtrar os mapas da cidade feitos em transparência, por grafismo, em papel, por recortes e por cima dos textos escritos.

• Retiro todo grafismo dos mapas, tantos os que eram recortados nas folhas quanto os desenhados sobre o texto e sobre a transparência. E escrevo aquilo que percebo mais forte, mais devorador. Coloco essas escolhas todas num texto corrido e ainda não sei se os mapas estão nesse outro movimento do processo. Qual é a relação a se estabelecer com eles?

• Comoaproximaroleitor dessa matéria vibratória, caótica em desmanche? Como inventar e propor movimento ao corpo do outro, para que possam se infiltrar, penetrar e entrar em qualquer buraco do trabalho que esteja em desmanche?

o corpo desassossegado

o corpo desassossegado

o significado de coisas nunca é estável. Algo pode querer dizer algo.Você não estar fixo em um lugar ou em outro, de que você não constrói padrões mais está apenas fluindo. E quanto mais você flui , mais desprendido você fica quanto mais flui, mais você consegue ver e ter consciência da totalidade.Para se comunicar, o homem usa a linguagem, gestos, meios.

Dar um novo alento aos deprimidos, unir o que está separado, eliminar todas as fronteiras; substituir o ‘eu’ pelo ‘nós’, recuperar aquilo que está

perdido, reviver os mortos, tornar real o abstrato, tornar lógico o irracional, liberar os conquistados, tornar possível o impossível. É esse o papel do

artista.Quando eu proponho que uma pessoa ande dentro de um penetrável cheio

d’água ou ande dentro de um penetrável com areia e pedrinhas quer dizer que na verdade eu estou sintetizando minha experiência da descoberta de rua através do andar é uma descoberta assim do espaço urbano através do

detalhe do andar um detalhe do andar ..]Aberto ao destino, aberto a tudo. Porque é incrível o quanto e quão rápido nós conseguimos construir as nossas estruturas, estar tão completamente

imbricados nas estruturas que não conseguimos ver. A abertura é extremamente importante, e essa situação permite abertura. Para mim os lugares mais interessantes para observar as pessoas são as estações de trem, aeroportos e rodoviárias, mais do que as casas das pessoas .

Porque nesses espaços elas estão vulneráveis, estão abertas; nesses lugares qualquer coisa pode acontecer , elas abandonam essa proteção. Esse é o

estado entre lugares no qual as coisas podem acontecer. Em outras situações as coisas não acontecem.

Algumas vezes fazer algo não leva a nada.Algumas vezes fazer nada leva a alguma coisa

Quais meios usar para uma ação política? Eu escolhi a arte. Fazer arte é, portanto, um meio de trabalhar para o homem no campo do pensamento.

Este é o lado mais importante do meu trabalho. O resto, objetos, desenhos, performances, vem em segundo lugar. No fundo, não

Tenho muito a ver com a arte. A arte me interessa apenas enquanto“Possibilidade de dialogar com o homem.

cruzar fronteiras, Deslocar valores e hierarquias, revelar a vida diária Suspensa (...)

Eu descobri o seguinte, a relação da rua com o que eu faço é uma coisa que eu sintetizo na idéia de “delírios Ambulatório”. O negocio assim de andar

pelas ruas é uma coisa, que a meu ver, me alimenta muito e eu encontro , na realidade a minha volta ao Brasil .

Hélio oiticica: ( OITICICA Hélio. museu é o mundo pag 16 e pag18)Francis Alys: (FRANCIS Alÿs Walks; Passeos. México, 1997. (catálogo)p.5 (catálogo)p. 48;50)Joseph Beuys: (BEUYS Joseph.A revolução somos nós www.sescsp.org.br/beuys) marina abramovic : ( ABRAMOVIC Mariana. CADERNO VIDEOBRASIL performance.) Ana medieta: (MEDIETA Ana. www.sescsp.org.br/medieta)

Andar pelo incabível ao pensamento-ação-escritaA pulsãoA pulsão que pede

. A contradição começa ser cada vez mais explicita pela maneira de me relacionar com as matérias que ha-bitam este trabalho. Esse trabalho começa ser cheio, repleto, atolado... Lançado de contradições e é daí que começo a inventar

,

A invenção como método de em SI manter vivo. A arte .........

A invenção como método de em SI manter vivo. A arte .........

Por

em

si

trafegar pelos terrenos

terrenos do silêncio

Pede pausa

Pede silêncio

Pela dificuldade dos acessos das vias interrompidas cheias de entulho e sem saída

O vazio pelo desassossego um outro corpoAs diversas paisagens do corpo como imersões arquitetônicas e topográficas de armações concreto, tintas, encanamento retorcido, vazados a revelar outras paisagens

• Buscodealgumamaneirapropora abertura de buracos para que outras pessoas possam entrar pelos pedaços que norteiam e desnorteiam as ruas, avenidas, cruzamentos etc.. Que habi-tam o trabalho.

• Otempocomeçaasermuitodi-latado no TCC 2. Difícil e escuro. Onde o encontro com os fachos de luz o movimenta. Alavanque o fluxo possibi-litando a invenção, a encarnar a coi-sa viva nas camadas da matéria, bruta matéria.

• Éprecisosairdomeiofioeirpara o meio da rua. Como atravessar sem se desviar da vontade mobilizadora do fluxo de acontecimento da matéria viva? Percebo que essa é a minha maior preocupação no trabalho

Qualquer perspectiva de despertar ou voltar à vida faz com que todos os tempos e lugares sejam indiferentes para um homem morto.Rodovia 1: THOREAU, Henry David. Walden, ou, A vida nos bosques

Atravessar o risco da vida?

O que é inventivo e vivo?

Devinir devir Termino de leitura de um livro de poemas não pode ser o ponto final, também não pode ser a pacatez burguesa do ponto seguinte meta desejável alcançar o ponto de ebulição

morro e transformo-me leitor eu te reproponhoa legenda de gooethe:Morre e devém Morre e transforma-te(waly Salomão)

Permear e ser permeado por outros corpos

“ “

,andar por solo arenoso, fácil de ser permeado e difícil de caminhar, espaço denso colocando contraposições relevantes e provocando uma imagem dupla de paisagens, com posições favoráveis e desfavoráveis pela forma que aproxima, instaurando resposta por alguma forma de relação da água que escorre pelo asfalto e do meio fio que se delimita entre duas margens, mas que pode a qualquer instante invadir ou apenas “secar ou desertificar” pelas contenções, fechando, apossando, propondo outros lugares......“lugares de estancamento”

Encontrar novos tráfegos através destes estancamentos e congestionamentos do pensar, agindo do deixar penetrar, abrir as fendas para vazão dos caminhos do silêncio pelo desassossego latente.

...A TERCEIRA MARGEM, AS OUTRAS MARGENS

Começo a ter clareza ao ler que tudo que foi escrito não é apenas uma

memorização de processo, mas sim uma atualização da memória do invisível.

...A TERCEIRA MARGEM, AS OUTRAS MARGENS

Acreditamos que a verdadeira função da performance reside na dimensão do desejo inconsciente. O que nós temos acesso, em termos externos, num plano exclusivamente critico, é somente a aparência de um fenômeno cuja essência não conhecemos em sua verdadeira magnitude rua 1 de 2:GLUSBERG, Jorge. A arte da performance

Quando decido inventar maneiras e lugares para que seja a forma mais próxima de estar aberto e deixar ser afetado, ao que me pede o momento e as maneiras de vida, um movimento de movimentos em sua pluralidade do que esse corpo começa a reconhecer como processo de arte e os agenciamentos a partir de fragmentos, sensações das possibilidades de saídas para escrita e sobre um primeiro processo que é a performance busca: vias de tráfego e silêncio.

Na performance há uma acentuação muito maior do instante presente do momento da ação (o que acontece no tempo “real”). Rua 2 de 1:COHEN, Renato. Performance como linguagem

,

,

...

• Retiroconceitosqueenrijeciamotrabalho,epor essa necessidade começo a dar nomes a partir do entendimento digestivo no meu corpo. Penso em como revelar esses nomes sem ser uma estratégia de cobrir, tampar e esconder as alianças que foram feitas com pensadores, artistas e etc. Durante meus trajetos ne-cessitados por buscar o que seja vivo nesse e em ou-tros processos de invenção de obra.

Reconheço essa escrita como ma-neira de escrever não só sobre lugares mais específicos,

como venho escrevendo acima. Que a priori em um dos lugares de convergência pulsava pela per-formance “busca: vias de trafego e silêncio” que disparou pela necessidade de andar e escrever andando. E assim transcrever pedaços de pensamentos.E quando junto esses pedaços co-meço foscamente a perceber que escrevo pela maneira possível de reconhecer o meu corpo enquanto artista e sujeito nas suas tor-mentas relacionais, sociais. E agenciar esses pedaços de pa-péis picados e de alguma maneira aproximar e possibilitar entrada, o mergulho do corpo do outro...

Nas camadas de rachaduras de tempos

A ética com o que o corpo pede

O rigor pela intransigência

Deflagração dos difíceis vazamentos

Como uma rede de distribuição de água que confrontada desencadeia retenção de água, con-

tenção, entupimento...

outras retenções...

Encanamento que precisa desobstruir,

criar fluxo,

outros fluxos

Estar submersoDificultando a percepção das teias que a cidade configura no espaço-indivíduo, tornando visível a parte mais chapada que oferece direções definidas, sinalizações precisas, faixas contidas, semáforos regimentais, instrumentos de poder que para o corpo torna-se próprio, para comportar diante das relações de choques não afetivos que não provocam aprofundamento, contato das camadas “peles”O que não comporta e estoura com a estrutura pele e inventa maneiras de cartografar incisivamente pelo incabível

Andar pelo incabível ao pensamento-ação-escrita A pulsão

A pulsão que pede

Pede pausa

Pede silêncio

Pela dificuldade dos acessos das vias interrompidas,

cheias de entulhos e sem saída

Propor ao corpo as possibilidades do “observador

sensível”

As definições de como comportar e ser comportado

Trajeto ‘”sociohistoricorporal”

Da mecânica desejável, despertando o reconhecimento

das armadilhas

Apropriando dos lugares pela zona de afetos

Necessidade de causar novos encontros...

Desobstruções de canais não acessados, que criam resquícios que aglomera e obstrui a vazão do desejo,

Um mapa tem múltiplas entradas contrariamente ao decalque que volta sempre “ao mesmo”. Um mapa é uma questão de performance enquanto, que o decalque remete sempre a uma presumida “competênciaAV (5): DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Mil platôs – capitalismo e esquizofrenia

Imersões arquitetônicas e topográficas, de armações, concreto, tintas, encanamento retorcido, vazados a revelar outras paisagens... Paisagens nebulosas em que uma fenda não se defina como sinal de uma ferida cronológica da memória do passado, mas pela maneira presente a se inventar como fenda, sendo essa outra memória das ruas enfumaçadas, nebuloso...

Lugar da reconciliação não reconciliávelSempre fechando os lugares que busca trafegarOutra configuraçãoFenda estimulante

Como possibilidade de logo a frente perceber ruínas em transformações outras paisagens, paisagens outras. Invadindo sobre os caminhos que atravessam lugares de confronto das vias de passagens.

Projeto para trajetos 1

• Otrabalhoquevenhodesenvolvendonãoéummanual explicativo de um processo de escrita, nem uma defesa da performance executada. São as varias maneiras de sentir a vibração sensível, reflexiva, do que chamo lá no inicio processo de escrita e invenção de corpo-pensamento-ação, do que se inventam nomes para se orientar no processo do artista dentro da academia e fora dela.

Sobre os difíceis terrenos de acesso chão que torna a

saltar trincar

o chão como “teias/outras teias” por onde sempre é um

atualizar o lugar de passagem...

chão que arrebenta e trinca pela ativação do corpo

peregrino entre diversas paisagens

• Conquistamos a multiplicidade como atributo e não como substantivo: no fundo, continua funcionando uma política de captura do desejo , sempre a impedir que a formação dos territórios seja a própria passagem e efetuação das intensidades atuais. AV 5: ROLNIK,Suely. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo

Sair da grossa camada do EU, para não ensimesmar-se e ser atropelado pelo corpo que já esta habitado . Sobre os difíceis terrenos de acesso, chão que torna a saltar, trincar o chão como “teias/outras teias” por onde sempre é um atualizar o lugar de passagem... chão que arrebenta e trinca pela ativação do corpo peregrino entre diversas paisagens

• Nesse tópico dilacerador do transver . Manuel de

barros diz para mim o seguinte:

Olho vê

A lembrança revê

e a imaginação transvê

é preciso transver o mundo... ( Manoel de barros )

Tudo está num grande processo de passagem da vida numa outra dinâmica da existência onde a lógica primeira é convertida destruída acidentada e lançada para outro lugar distante, multifurcado, dobrado de existência onde meu corpo. Desconhece e se reconhece dos trajetos em meio à inquietude que é o existir na vida e na arte...

•Nesse tópico dilacerador do transver. Manuel de barros diz o seguinte: “Olho vêA lembrança revêe a imaginação transvêé preciso transver o mundo...” ( Manoel de barros )

No que o homem se torne coisal - corrompem-se nele/Os veio comuns do entendimento./Um subtexto se aloja./Instala-se uma gramaticalidade quase insana, que empoema os sentidos das palavras./Aflora uma linguagem de defloramento, um inauguramento de falas./Coisa tão velha como andar a pé./Esses vareios do dizerManoel de barros

No que o homem se torne coisal - corrompem-se nele/Os veio comuns do entendimento./Um subtexto se aloja./Instala-se uma gramaticalidade quase insana, que empoema os sentidos das palavras./Aflora uma linguagem de defloramento, um inauguramento de falas./Coisa tão velha como andar a pé./Esses vareios do dizerManoel de barros

É no meio que há o devir,

o movimento, a velocidade, o turbilhão.

O meio não é média, e sim, ao contrario, um excesso. É pelo meio que as coisas crescem. DELEUZE, Gilles. Sobre teatro: Um manifesto de menos; O esgotado

DAS REFERÊNCIAS...

BARROS, Manoel. O guardador de águas. Rio de Janeiro: Record, 2003.

BARROS,Manoel. Livro sobre nada.Rio de Janeiro: Record,2004.

BERGSON, Henri. Memória e vida; textos escolhidos por Gilles Deleuze; tradução Claudia Berliner; revisão técnica e da tradução Bento Prado Neto. – São Paulo: Martins Fontes, 2006.

CADERNO VIDEOBRASIL performance. Associação de autores, SESC – São Paulo, 2005.

CARLSON, Marvin. Performance: uma introdução crítica; tradução Thais Flores Nogueira Diniz, Maria Antonieta Pereira. – Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. (Humanitas).

DELEUZE, Gilles. Sobre teatro: Um manifesto de menos; O esgotado; tradução Fátima Saadi, Ovídio de Abreu, Roberto Machado. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,2010.

DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição; tradução Luiz Orlandi, Roberto Machado. – Rio de Janeiro: Graal, 1ª edição, 2ª edição, 2006.

THOREAU, Henry David. Walden, ou, A vida nos bosques; tradução de Astrid Cabral. – São Paulo: Global, 1984.

ALYS, Francis. Numa dada situação.São Paulo: Cosac & Naif, 2010.

DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Mil platôs – capitalismo e esquizofrenia; tradução de Aurélio Guerra e Célia Pinto Costa. – Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995.

GLUSBERG, Jorge. A arte da performance. – São Paulo: Editora perspectiva s.a., 1987.

LISPECTOR, Clarice. Água Viva – ficção. – Rio de Janeiro: editora artenova s.a. , primeira edição em agosto de 1973.

PRECIOSA, Rosane. Rumores discretos da subjetividade – Sujeito e escritura em processo. – Porto Alegre: Sulina: Editora da UFRGS, 2010.

ROLNIK, Suely. Pensamento, corpo e devir. Uma perspectiva ético/estético/política no trabalho acadêmico. ARTIGO

ROLNIK,Suely. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. – Porto Alegre: Sulina; editora da UFRGS, 2011.

THOREAU, Henry David. Caminhando; tradução de Roberto Muggiati. – Rio de Janeiro: José Olympio, 2006. (Sabor literário).

SALOMÃO, Waly. Tarifa de embarque. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

Orientação:Paulo Buenoz

Registro oficial de fotos e vídeo da performance:Luana magrela

LúDiagramação do livro:

Alexandre CarvalhoEdição de vídeo:Samuel Giacomelli

Outras fotos da performance;Pricila bello