Livro mamíferos do brasil

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  • 1. Mamferos do Brasil

2. EDITORES Nelio Roberto dos Reis Doutor em Cincias pelo INPA - 1981. Titular da rea de ecologia da Universidade Estadual de Londrina. rea - Ecologia de Mamferos. Adriano Lcio Peracchi Doutor em Cincias pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro 1976. Livre Docente da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro 1976. rea - Zoologia de Mamferos. Wagner Andr Pedro Doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de So Carlos 1998. Livre Docente em Cincias do Ambiente da Unesp Araatuba. rea - Diversidade e Histria Natural de Vertebrados. Isaac Passos de Lima Mestre em Cincias Biolgicas pela Universidade Estadual de Londrina 2003. Doutorando em Zoologia Animal pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. rea - Zoologia e Ecologia de Mamferos. 3. Nelio R. dos Reis Adriano L. Peracchi Wagner A. Pedro Isaac P. de Lima editoresMamferos do BrasilLondrina - Paran 2006 4. ESTADO DO PARAN SECRETARIA DE ESTADO DA CINCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIORUNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAUIlustrao da capa: Dr. Hernn Fandinho-Mario Foto da Ilustrao: Jorge C. Santos Design grfico e Diagramao: M.Sc. Isaac Passos de LimaCatalogao na publicao elaborada pela Diviso de Processos Tcnicos da Biblioteca Central da Universidade Estadula de Londrina. Dados internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP) M265Mamferos do Brasil / Nelio R. dos Reis ...[et al.]. - Londrina: Nelio R. dos Reis, 2006. 437 p. :il. ; 27 cm. Vrios Colaboradores. Inclui bibliografia e ndice. ISBN 85 - 906395 - 0 - 9 1. Mamfero - Classificao - Brasil. 2. Taxonomia animal - Brasil 3. Zoologia - Brasil. I. Reis, Nelio R. dos. CDU 599(81) Depsito legal na Biblioteca Nacional Impresso no Brasil/ printed in Brazil 5. Apresentao A elaborao de um livro o resultado da dedicao de vrios profissionais que se unem em torno de um objetivo comum que, no caso deste livro, o conhecimento sobre a diversidade dos mamferos de nosso pas. O livro uniu pesquisadores de diferentes instituies de pesquisa e ou ensino na tarefa de detalhar informaes que possam levar ao maior nmero de pesquisadores, estudantes de graduao ps-graduao e organismos governamentais, o resultado de experincias que podem colocar em destaque medidas que resultem na conservao de espcies que esto sob srio risco de extino. Vivemos em pas considerado megadiverso, e os desafios que envolvem a conservao e a investigao sobre animais silvestres tm a mesma dimenso. Os editores do livro, o Prof. Dr. Nlio Roberto dos Reis (Titular da rea de Ecologia da Universidade Estadual de Londrina), Prof. Dr. Adriano Lcio Peracchi, (Livre Docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro), Prof. Dr. Wagner Andr Pedro (Livre docente em Cincias do Ambiente da UNESP) e o Doutorando Isaac Passos de Lima (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) assim como os diversos autores desta obra devem ser parabenizados pelo resultado de seu trabalho que conseqncia da dedicao e do envolvimento na difcil tarefa de revelar a nossa Biodiversidade. Para SBZ de extrema importncia e honra a apresentao deste livro.Prof. Dr. Mrio Antonio Navarro da Silva Presidente da SBZ 6. DedicatriaEste livro dedicado aos pesquisadores que investiram sua vida ou parte dela trabalhando em prol dos animais silvestres, representados aqui, na pessoa do doutor Warwick Estevam Kerr, que muito lutou no sentido de preservar a Amaznia, o maior bero de animais silvestres do mundo. Criou no INPA, em 1976, um curso de ecologia que muito contribuiu na proteo da natureza.Dos Editores medida que o conhecimento biolgico cresa, a tica mudar fundamentalmente para que em todos os lugares, a fauna e a flora de um pas sejam consideradas uma parte da herana nacional to importante quanto sua arte, seu idioma e aquela estonteante mistura de conquistas e farsas que sempre definiram nossa espcie. E. O. Wilson (1984). 7. Agradecimentos Aos revisoresAdreana Dulcina Platt (Dra), Pedagoga, Professora adjunta do Departamento de Educao do Centro de Educao, Comunicao e Artes da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Adriano Garcia Chiarello (PhD), Zootcnico, Professor Adjunto do Departamento de Cincias Biolgicas da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais (PUC Minas). Edson Aparecido Proni (Dr.), Bilogo, Professor associado do Departamento de Biologia Animal e Vegetal da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Fernanda Simes de Almeida (Dra.), Biloga, Professora adjunta e Pesquisadora convidada do Laboratrio de Gentica Molecular do Departamento de Biologia Geral Universidade Estadual de Londrina (UEL). Lenice Souza Shibatta (M.Sc.), Biloga, Docente do Centro Universitrio Filadlfia (UNIFIL). Mario Luis Orsi (Dr.), Bilogo, Professor Adjunto do Centro Universitrio Filadlfia (UNIFIL). Marta Elena Fabian (Dra.), Licenciada em Histria Natural, Professora Adjunta do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Oilton Dias Macieira (Dr.), Eclogo, Professor associado do Departamento de Biologia Animal e Vegetal da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Ricardo Cardoso Benine (Dr), Bilogo, Professor Adjunto Universidade Estadual de Londrina (UEL). Rogrio Grassetto Teixeira da Cunha (Dr.), Bilogo. Agradecimentos especiais SEMA-PR - Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Paran, na pessoa do Dr. Rasca Rodrigues, atual secretrio e ao seu antecessor, Dr. Luiz Eduardo Cheida. SETI-PR - Secretaria de Estado da Cincia, Tecnologia e Ensino Superior do Paran, na pessoa da Professora Lygia Lumina Pupatto, atual secretria. UEL - Universidade Estadual de Londrina - na pessoa do Magnfico reitor Dr. Wilmar Sachetin Maral. UNIFIL - Centro Universitrio Filadlfia - na pessoa do Magnfico reitor Dr. Eleazar Ferreira. Ao Programa de Ps-Graduao em Cincias Biolgicas da UEL. FURB - Universidade Regional de Blumenau - na pessoa do Magnfico Reitor - Prof. Egon Jos Schramm SCHERING-PLOUGH por ter financiado parte da editorao. SBZ - Sociedade Brasileira de Zoologia - pela apresentao, na pessoa do presidente, Dr. Mario Navarro . s demais Universidades, Institutos de Pesquisa e Extenso que deram apoio e estrutura aos pesquisadores que deste livro participaram. Ao CNPq, a CAPES e a FAPERJ pelo apoio e concesso de bolsas a pesquisadores envolvidos neste projeto Aos grandes mestres pelos grandes exemplos que nos tornaram o que hoje somos. 8. Lista dos AutoresAdriano Lcio Peracchi (Dr.) Agrnomo, Professor Livre Docente do Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Camila Domit (M.Sc) Biloga, Doutoranda em Zoologia, Universidade Federal do Paran (UFPR); Instituto de Pesquisas Canania (IPeC). Carolina Carvalho Cheida (M.Sc.) Biloga, Instituto de Pesquisas Canania (IPeC): Projeto Carnvoros. Cibele Rodrigues Bonvicino (Dra.) Biloga, Departamento de Medicina Tropical do Instituto Oswaldo Cruz, (FIOCRUZ); Diviso de Gentica do Instituto Nacional de Cncer (INCA). Daniela Fichtner Gomes (M.Sc.) Biloga, Laboratrio de Primatologia da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Eduardo Nakano-Oliveira (Dr.) Bilogo, Instituto de Pesquisas Canania (IPeC): Projeto Carnvoros. Emygdio Leite de Arajo Monteiro-Filho (Ps-doutor) Bilogo, Professor adjunto do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paran (UFPR); Instituto de Pesquisas Canania (IPeC). Fabiana Rocha-Mendes (M.Sc.) Biloga, Laboratrio de Biologia da Conservao (LaBiC); Universidade Estadual Paulista (UNESP Rio Claro). Flvio Henrique Guimares Rodrigues (Dr.) Bilogo, Professor Adjunto Departamento de Biologia Geral da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Instituto Pr-Carnvoros. Gislaine de Ftima Filla (M.Sc.) Biloga, Doutoranda em Zoologia,Universidade Federal do Paran (UFPR); Instituto de Pesquisas Canania (IPeC). Gledson Vigiano Bianconi (M.Sc.), Bilogo, Doutorando em Cincias Biolgicas, Zoologia, da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (UNESP Rio Claro-SP). Guilherme de Miranda Mouro (Dr.) Bilogo, Laboratrio de Fauna da Embrapa Pantanal - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa). Guilherme Silveira (M.Sc.) Bilogo, Laboratrio de Ecologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Henrique Ortncio Filho (M.Sc.) Bilogo, Doutorando em Ecologia de Ambientes Aquticos Continentais da Universidade Estadual de Maring (UEM), Professor Adjunto do Curso de Cincias Biolgicas da Universidade Paranaense (UNIPAR), Campus Cianorte. Hernn Fandio-Mario (Dr.) Graduado em Cincias da Natureza e da Vida, Professor adjunto do Departamento de Biologia Animal e Vegetal da Universidade Estadual de Londrina (UEL). 9. Lista dos AutoresIsaac Passos de Lima (M.Sc.) Bilogo, Doutorando do Curso de Biologia Animal do Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). sis Meri Medri (M.Sc.) Biloga, Doutoranda em Ecologia, Universidade de Braslia (UnB). Joo Alves de Oliveira (Ph.D.) Bilogo, Professor adjunto do Departamento de Vertebrados, Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Juliana Quadros (Dra.) Biloga, Mlleriana: Sociedade Fritz Mller de Cincias Naturais; Professora da Universidade Tuiuti do Paran (UTP). Jlio Csar Bicca-Marques (PhD), Bilogo, Laboratrio de Primatologia, Professor adjunto da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul ( PUCRS). Liliani Marilia Tiepolo (M.Sc.), Biloga, Doutoranda em Zoologia no Museu Nacional; Universidade Federal do Paran Litoral; Mlleriana: Sociedade Fritz Mller de Cincias Naturais. Lisa Vasconcelos de Oliveira (M.Sc.) Biloga, Instituto de Pesquisas Canania (IPeC). Marcelo Rodrigues Nogueira (Dr.) Bilogo, Ps-doutorando e Pesquisador associado da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF). Margareth Lumy Sekiama (Dra.) Biloga, Ambincia - Klabin Florestal Paran. Nlio Roberto dos Reis (Dr.) Biomdico, Professor Titular do Departamento de Biologia Animal e Vegetal da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Oscar Akio Shibatta (Dr) Bilogo, Professor Associado do Departamento de Biologia Animal e Vegetal da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Roberto Fusco-Costa, Bilogo, Mestrando em Ecologia de Agroecossistemas, Universidade de So Paulo/Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP/ESALQ); Instituto de Pesquisas Canania (IPeC): Projeto Carnvoros. Rogrio Vieira Rossi (Dr.) Bilogo, Mastozoologia, Museu de Zoologia da Universidade de So Paulo (MZUSP). Valeska Martins da Silva (M.Sc.) Biloga, Laboratrio de Primatologia da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Vlamir Jos Rocha (Dr.) Bilogo, Bioecologia de pragas florestais - Klabin Florestal Paran. Wagner Andr Pedro (Dr.) Bilogo, Professor Livre Docente, Laboratrio de Chiroptera, Departamento de Apoio, Produo e Sade Animal da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNESP - Araatuba - SP). Walfrido Moraes Tomas (M.Sc.) Mdico Veterinrio, Doutorando em Gesto de Biodiversidade, University of Kent (UK), Gr-Bretanha; Centro de Pesquisa Agropecuria do Pantanal; Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (EMBRAPA Pantanal). 10. SumrioSUMRIO CAPTULO 01 - SOBRE OS MAMFEROS DO BRASIL ......................................................... 17 Nelio R. Reis; Oscar A. Shibata; Adriano L. Peracchi; Wagner A. Pedro e Isaac P. de Lima.Introduo............................................................................................................................................................. 17 Caractersticas Gerais dos Mamferos ............................................................................................................... 18 A Origem dos Mamferos ................................................................................................................................... 20 Diversidade de Mamferos Brasileiros .............................................................................................................. 22 Referncias Bibliogrficas ................................................................................................................................... 24 CAPTULO 02 - ORDEM DIDELPHIMORPHIA ................................................................... 27 Rogrio V. Rossi; Gledson V. Bianconi e Wagner A. Pedro.Famlia Didelphidae ............................................................................................................................................. 27 Subfamlia Caluromyinae .................................................................................................................................... 28 Subfamlia Didelphinae ....................................................................................................................................... 32 Referncias Bibliogrficas ................................................................................................................................... 60 CAPTULO 03 - ORDEM SIRENIA .......................................................................................... 67 Emygdio L. A. Monteiro-Filho; Gislaine F. Filla; Camila Domit e Lisa V. de Oliveira.Referncais Bibliogrficas ................................................................................................................................... 69 CAPTULO 04 - ORDEM XENARTHRA ................................................................................. 71 sis M. Medri; Guilherme Mouro e Flvio H. G. Rodrigues.Famlia Myrmecophagidae .................................................................................................................................. 72 Famlia Bradypodidae .......................................................................................................................................... 77 Famlia Megalonychidae ...................................................................................................................................... 81 Famlia Dasypodidae ........................................................................................................................................... 83 Referncias Bibliogrficas ................................................................................................................................... 94 CAPTULO 05 - ORDEM PRIMATES ..................................................................................... 101 Jlio C. Bicca-Marques; Valeska M. da Silva e Daniela F. Gomes.Infraordem Platyrrhini ...................................................................................................................................... 101 Famlia Cebidae .................................................................................................................................................. 102 Famlia Aotidae................................................................................................................................................... 117 Famlia Pitheciidae ............................................................................................................................................. 119 Famlia Atelidae .................................................................................................................................................. 126 Referncias Bibliogrficas ................................................................................................................................. 133 CAPTULO 06 - ORDEM LAGOMORPHA ............................................................................ 149 Nlio R. dos Reis; Henrique O. Filho e Guilherme Silveira.Famlia Leporidae ............................................................................................................................................... 150 Referncias Bibliogrficas ................................................................................................................................. 152 CAPTULO 07 - ORDEM CHIROPTERA .............................................................................. 153 Adriano L. Peracchi; Isaac P. de Lima; Nelio R. dos Reis; Marcelo R. Nogueira e Henrique O. Filho.Famlia Emballonuridae .................................................................................................................................... 155 Subfamlia Emballonurinae .............................................................................................................................. 155 Famlia Phyllostomidae ..................................................................................................................................... 162 Subfamlia Desmodontinae .............................................................................................................................. 162 11. Mamferos do BrasilSubfamlia Glossophaginae .............................................................................................................................. 165 Subfamlia Phyllostominae................................................................................................................................ 171 Subfamlia Stenodermatinae ............................................................................................................................. 189 Famlia Mormoopidae ....................................................................................................................................... 202 Famlia Noctilionidae ........................................................................................................................................ 203 Famlia Furipteridae ........................................................................................................................................... 204 Famlia Thyropteridae ....................................................................................................................................... 205 Famlia Natalidae ................................................................................................................................................ 206 Famlia Molossidae ............................................................................................................................................ 207 Famlia Vespertilionidae .................................................................................................................................... 214 Referncias Biblogrficas .................................................................................................................................. 220 CAPTULO 08 - ORDEM CARNIVORA ................................................................................. 231 Carolina C. Cheida; Eduardo Nakano-Oliveira; Roberto Fusco-Costa; Fabiana Rocha-Mendes e Juliana Quadros.Subordem Feliformia ......................................................................................................................................... 233 Famlia Felidae .................................................................................................................................................... 233 Subordem Caniformia ....................................................................................................................................... 241 Famlia Canidae .................................................................................................................................................. 242 Famlia Otariidae ................................................................................................................................................ 250 Famlia Mephitidae............................................................................................................................................. 259 Famlia Procyonidae .......................................................................................................................................... 261 Referncias Bibliogrficas ................................................................................................................................. 266 CAPTULO 09 - ORDEM PERISSODACTYLA ...................................................................... 277 Margareth L. Sekiama; Isaac P. de Lima e Vlamir J. Rocha.Famlia Tapiridae ................................................................................................................................................ 277 Referncias Bibliogrficas ................................................................................................................................. 280 CAPTULO 10 - ORDEM ARTIODACTYLA .......................................................................... 283 Liliani M.Tiepolo e Walfrido M. Tomas.Familia Tayassuidae ............................................................................................................................................ 284 Famlia Cervidae ................................................................................................................................................. 287 Espcies exticas estabelecidas ........................................................................................................................ 297 Famlia Suidae ..................................................................................................................................................... 297 Famlia Bovidae .................................................................................................................................................. 299 Referncias bibliogrficas ................................................................................................................................. 300 CAPTULO 11 - ORDEM CETACEA ....................................................................................... 305 Emygdio L. A. Monteiro-Filho; Gislaine F. Filla; Camila Domit e Lisa V. de Oliveira.Subordem Mysticeti ........................................................................................................................................... 306 Famlia Balaenidae.............................................................................................................................................. 306 Famlia Balaenopteridae .................................................................................................................................... 308 Subordem Odontoceti ....................................................................................................................................... 313 Famlia Physeteridae .......................................................................................................................................... 313 Famlia Ziphiidae................................................................................................................................................ 316 Famlia Delphinidae ........................................................................................................................................... 321 Famlia Phocoenidae.......................................................................................................................................... 338 Famlia Iniidae .................................................................................................................................................... 339 Famlia Pontoporidae ........................................................................................................................................ 340 Referncias Bibliogrficas ................................................................................................................................. 341 12. SumrioCAPTULO 12 - ORDEM RODENTIA ................................................................................... 347 Joo A. de Oliveira e Cibele R. Bonvicino.Famlia Sciuridae ................................................................................................................................................ 348 Subfamlia Sciurillinae ....................................................................................................................................... 348 Subfamlia Sciurinae ...........................................................................................................................................348 Famlia Cricetidae ............................................................................................................................................... 350 Subfamlia Sigmodontinae ................................................................................................................................ 350 Famlia Muridae .................................................................................................................................................. 377 Subfamlia Murinae ............................................................................................................................................ 377 Famlia Caviidae ................................................................................................................................................. 378 Subfamlia Caviinae ............................................................................................................................................ 378 Subfamlia Hydrochoerinae .............................................................................................................................. 379 Famlia Ctenomyidae ......................................................................................................................................... 381 Famlia Cuniculidae ............................................................................................................................................ 382 Famlia Dasyproctidae ....................................................................................................................................... 382 Famlia Dinomyidae ...........................................................................................................................................385 Famlia Erethizontidae ...................................................................................................................................... 385 Subfamlia Chaetomyinae .................................................................................................................................. 385 Subfamlia Erethizontinae................................................................................................................................. 386 Famlia Echimyidae ............................................................................................................................................ 387 Subfamlia Dactylomyinae ................................................................................................................................ 387 Subfamlia Echimyinae ...................................................................................................................................... 388 Subfamlia Eumysopinae ................................................................................................................................... 392 Famlia Myocastoridae ....................................................................................................................................... 399 Referncias bibliogrficas ................................................................................................................................. 400 CLASSIFICAO DOS MAMFEROS BRASILEIROS ......................................................... 407 NDICE ..................................................................................................................................... 427 13. Mamferos do Brasil 14. Reis, N. R. dos et al.01 - Sobre os Mamferos do BrasilNlio Roberto dos Reis (Dr.) Biomdico Professor Titular do Departamento de Biologia Animal e Vegetal Universidade Estadual de Londrina (UEL) Oscar Akio Shibatta (Dr) Bilogo Professor Associado do Departamento de Biologia Animal e Vegetal Universidade Estadual de Londrina (UEL) Adriano Lcio Peracchi (Dr.) Agrnomo Professor Livre Docente do Instituto de Biologia Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Wagner Andr Pedro (Dr.) Bilogo Professor Livre Docente do Laboratrio de Chiroptera, Departamento de Apoio, Produo e Sade Animal Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNESP Araatuba-SP) Isaac Passos de Lima (M.Sc.) Bilogo Doutorando do Curso de Biologia Animal do Instituto de Biologia Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)Captulo 01 Sobre os Mamferos do BrasilIntroduo Os mamferos sempre despertaram interesses nas pessoas, devido sua diversidade, beleza, utilidade, ou pelos problemas que podem causar. Os roedores, representados por ratos e camundongos, esto em cada faculdade de cincias mdicas ou biolgicas do Brasil e do mundo, servindo de cobaias a inmeros experimentos em cincias biolgicas e mdicas, e para o treinamento de futuros profissionais, mas tambm podem ser poderosas pragas que destroem plantaes. Os macacos, pela sua semelhana gentica com os humanos, so procurados para experimentos em farmacologia, treinamento de cirurgies, aperfeioamentos de transplantes, entre outros fins. senso comum que pessoas idosas que possuem ces vivem mais tempo emelhor do que aquelas que no os tm. As crianas especiais tm seu quadro clnico melhorado com a equitao. Os morcegos fornecem guano para adubo, so dispersores de plen e de sementes e reguladores das populaes de insetos. Os coelhos, h sculos, so companhias para crianas. Os porcos selvagens serviram de alimento para os ndios e caboclos por toda uma vida. Entretanto, alguns mamferos podem transmitir a raiva e ces sem treinamento e agressivos podem matar. A espcie humana teve contato com algumas das formas mais incrveis de mamferos que ocorreram na Amrica do Sul, ao conviverem com espcies gigantes que constituam a megafauna neotropical (NEVES & PIL, 2003), mas tambm teve a desventura de acompanhar a sua extino. Aparentemente, os homens no foram os principais causadores da extino daqueles17 15. Mamferos do Brasilseres extraordinrios, e sim as variaes climticas que ocorreram durante o perodo Pleistoceno (DE VIVO & CARMIGNOTTO, 2004). Estudos sobre mamferos brasileiros iniciaramse com os primeiros exploradores europeus, sendo DE GNDAVO (2004) o primeiro a publicar uma obra que inclua a caracterizao de alguns mamferos brasileiros, no ano de 1576. Foi grande a surpresa dos jesutas que encontraram uma fauna completamente diferente da conhecida por eles da Europa, sia e frica. Ateno especial foi dada s espcies de carnvoros, devido suposta ameaa que elas representavam (MIRANDA, 2004). Entretanto, a descrio formal das espcies brasileiras inciou-se com Linnaeus em 1758, que descreveu 47 espcies nativas, alm de 3 espcies exticas introduzidas (Sus scrofa, Mus musculus e Rattus rattus) em sua obra denominada Systema Naturae (conforme pode ser depreendido das listas atuais de mamferos brasileiros). A maioria das espcies presentes no Brasil, alis, foi descrita entre os sculos 18 e 19 (SABINO & PRADO, 2005). Outras obras de especial interesse aos mastozologos brasileiros foram publicados posteriormente, incluindo um manual de captura e preparao de pequenos mamferos (MOOJEN, 1943), um dicionrio sobre mamferos (CARVALHO, 1979), o livro de SANTOS (1984), que abrange muitas espcies do Pas, e o de SILVA (1984), sobre as espcies do Rio Grande do Sul. Destaca-se tambm, a lista de mamferos brasileiros compilada por FONSECA et al. (1996). Apesar do grande conhecimento acumulado durante todos esses anos, muito esforo ainda necessrio para se conhecer a real diversidade de espcies, sua classificao, evoluo e biologia. Nenhuma obra que sintetizasse o conhecimento a respeito das espcies de mamferos brasileiros foi publicada at o momento e, neste sentido, este livro a primeira contribuio que poder indicar o que se conhece, assim como o que se desconhece sobre esse grupo de animais.18Caractersticas Gerais dos Mamferos Ao contrrio do continente africano, onde os grandes mamferos podem ser vistos nas savanas, no Brasil a maioria de pequeno porte e dificilmente observada. Geralmente vivem camuflados entre a vegetao, iniciando suas atividades no incio da noite e se recolhendo ao amanhecer. Para se camuflar os plos desempenham papel primordial, uma vez que apresentam colorao semelhante do ambiente. Outra funo importante dessas estruturas auxiliar na termorregulao, ao manterem uma camada de ar em torno da pele que reduz a perda de calor. Essas estruturas tm origem em clulas drmicas e so reforadas com queratina, cobrindo parte ou grande parte de seus corpos, ocorrendo at mesmo nas espcies cobertas com placas sseas como os tatus. Os plos so periodicamente renovados e as diferentes tonalidades de castanho dependem do tipo de grnulo pigmentar no crtex (principalmente melaninas e xantinas) que, ao estarem ausentes, acarretam a cor branca (STORER & USINGER, 1974). Mesmo os cetceos apresentam plos, ao menos na fase embrionria. Nestes, no entanto, a camuflagem possibilitada pela cor da pele, e a termorregulao, por um espesso tecido adiposo. Alm dessa funo, este tecido serve para reserva de energia e de gua, que vm a ser muito importante para todos os mamferos em tempos de crise, como invernos rigorosos, ou em certas pocas em que necessrio um maior empenho em suas atividades, tais como nos perodos reprodutivos. Poucas espcies brasileiras so gregrias, constituindo grupos apenas no perodo reprodutivo, onde a me e seus filhotes permanecem juntos at que eles adquiram independncia necessria sobrevivncia. Essa independncia determinada pelo desmame e pelo desenvolvimento de habilidades de captura de alimentos. Alis, dos diversos tipos de glndulas encontradas nos mamferos, sem dvida as mais caractersticas so as glndulas mamrias. Elas so ainda constitudas por um 16. Reis, N. R. dos et al.sistema de ductos por onde passam o leite, que apresenta uma proporo adequada de protenas, gorduras, carboidratos e outros nutrientes (vitaminas e sais minerais), que proporcionam o desenvolvimento adequado dos filhotes. Em muitas espcies de mamferos, como os das ordens Carnivora e Primates, o perodo de convivncia com os pais tambm aquele de aprendizagem. Isso possvel graas ao sistema nervoso central e seus componentes sensoriais, que tiveram a complexidade e o tamanho aumentados. Esse desenvolvimento proporcionou uma rede de clulas nervosas mais ramificadas e eficientes, fazendo com que os cinco sentidos clssicos, viso, olfao, tato, gustao e audio, se diferenciassem aos de outros vertebrados quanto eficincia (POUGH et al., 1993). A fecundao nos mamferos sempre interna. Os machos apresentam um rgo copulador (pnis) e dois testculos comumente armazenados no escroto externo, mas poucas vezes no abdome. As fmeas tm dois ovrios atrs dos rins e passam por um estro peridico (cio). No Brasil no temos exemplares que colocam ovos, mas sim aqueles em que os embries se desenvolvem no tero. Nos placentrios os vulos aps serem fecundados, se implantam e os embries so nutridos pela me. Em marsupiais, como o gamb, este perodo de implantao extremamente breve ou ausente e os filhotes nascem ainda como embries e se fixam ao mamilo, que s vezes se encontram dentro de uma bolsa, para serem nutridos. Normalmente os mamferos apresentam estaes de reproduo definidas e parem de uma cria a grandes ninhadas. O perodo de gestao varia de alguns dias para roedores (camundongos) at 270 nos artiodctilos (e.g. cervdeos) e 439 em perissodctilos (e.g. a anta). Alguns carnvoros so frteis por poucos dias, a cada seis meses e outros, como certos roedores, se reproduzem em qualquer estao do ano. A diversidade de espcies de mamferos brasileiros possibilita a observao de vrios hbitos alimentares.01 - Sobre os Mamferos do BrasilDestacam-se, entretanto, os da ordem Chiroptera, em que ocorrem quase todos os tipos. Estes animais possuem um aparelho digestrio complexo, comeando na cavidade bucal, onde aparecem os dentes que diferem conforme o hbito alimentar, mas nunca excedendo a 44. Ainda na boca, situa-se a lngua, muscular e flexvel, presa e sustentada por estrutura ssea que, nas espcies nectarvoras, muito eficiente. O esfago um tubo muscular que liga a faringe ao estmago que, por sua vez, se liga atravs da vlvula pilrica ao intestino delgado (que dividido em duodeno, jejuno e lio). A regio anterior do intestino recebe ductos do fgado, um rgo glandular mpar, volumoso e de cor avermelhada, que exerce funes vitais, entre as quais a secreo da blis, que auxilia na digesto de lipdeos, e do pncreas, que secreta o suco pancretico e enzimas digestivas. Seguese ao intestino delgado, fino e enrolado, o intestino grosso que compreende o ceco, o clon, terminando no sigmide e reto. Os mamferos brasileiros no tm cloaca, pois os aparelhos digestrio, excretor e reprodutor tm aberturas externas separadas. Os quirpteros ainda apresentam a espetacular capacidade de vo, que evoluiu graas aos sistemas muscular e respiratrio eficientes, caractersticos dos mamferos. Quando comparados com os vertebrados inferiores, os mamferos tm menor volume de msculos segmentares nas costelas e vrtebras, mas em compensao, tm msculos mais desenvolvidos e aperfeioados nas patas traseiras e dianteiras, tambm no pescoo e cabea, que lhes permitem um maior grau de expresso em relao aos estados emocionais (STORER & USINGER, 1974). Em relao ao sistema respiratrio, mesmo nos morcegos a respirao se d principalmente por pulmes, que so grandes e prximos ao corao, separados da cavidade abdominal por um diafragma muscular. O diafragma, que uma caracterstica exclusiva dos mamferos, um msculo transversal coberto pelo peritnio que separa o celoma (cavidade geral do corpo), em uma cavidade torcica anterior que contm o corao e os pulmes, e a cavidade19 17. Mamferos do Brasilabdominal posterior com as outras vsceras. Durante a respirao o ar entra pelas narinas e chega aos pulmes pela traquia seguindo pelos brnquios e bronquolos, indo at os alvolos onde ocorrem as trocas gasosas, com o sangue transportando o oxignio para o resto do corpo. Alm disso, esses animais tm um sistema circulatrio de alta eficincia e com completa separao da circulao pulmonar, pois o corao est dividido em quatro cmaras, contendo dois sistemas de bombas que permitem a completa separao do sangue venoso do sangue arterial. Caracterstica destacvel nos mamferos o aumento da capacidade do crnio correlacionada com o maior tamanho do encfalo. A maioria dos seus ossos est firmemente unida, exceo da mandbula, hiide e ossculos auditivos. O nmero de ossos menor do que na maioria das formas inferiores, em geral reduzido a 35, como resultado da perda de alguns e fuso de outros (desapareceram os pr-frontais, ps-frontais e psorbitais; fundiram-se vrios outros formando o osso temporal). As fossas nasais so grandes, correlacionadas com o bom desenvolvimento do olfato, estando rodeadas pelos ossos pr-maxilares, maxilares e nasais. Os dentes so inseridos nos ossos maxilares, pr-maxilares e na mandbula. A mandbula dos mamferos se articula com o escamosal, e no com o quadrado, como nos demais vertebrados (ROMER & PARSONS, 1985). Os primatas, morcegos e perissodctilos apresentam as duas metades da mandbula verdadeiramente fundidas. Em alguns mamferos h uma crista sagital, que vai desde a parte posterior at a anterior do crnio, sobre a linha mediana dorsal. Em outros pode haver uma crista lambdoidea transversal, na unio dos parietais com o supra-occipital. Ambas as cristas servem para a insero de msculos. H um complexo occipital rodeando o forame magno. Existem dois cndilos occipitais articulados com a vrtebra atlas. A coluna vertebral se compe das regies cervical, com sete vrtebras (excees so a preguiade-trs-dedos com nove, o tamandu com oito, e a preguia de dois dedos e o peixe-boi, com seis); torcica,20variando de nove a 25 vrtebras; lombar, duas a 24, sendo geralmente entre quatro a sete; sacra, com trs a cinco vrtebras (exceto as baleias) e caudal (trs a quatro no homem, que unidas formam o coxis, e at 50 no pangolim, que no ocorre no Brasil). Essas caractersticas anatmicas e fisiolgicas dos mamferos possibilitaram a grande diversidade observada. Entretanto, a despeito do seu sucesso evolutivo, eles so bem menos numerosos que a maioria dos outros grupos animais. Isso se deve ao grande tamanho de cada uma das suas espcies, ao alto custo de energia que a endotermia exige e, por fim, a inabilidade de conseguir explorar alguns nichos ecolgicos restritos (VAUGHAN et al., 2000). Mesmo assim, com exceo dos cetceos e sirnios, que so aquticos, todas as outras ordens exploram amplamente os recursos do territrio brasileiro de norte a sul, leste a oeste, desde o alto das montanhas at o interior das florestas.A Origem dos Mamferos O surgimento do mnio (saco membranoso cheio de lquido) e do ovo cleidico (protegido com casca, lquidos e reserva de nutrientes) foi o grande avano evolutivo que permitiu a conquista definitiva do ambiente terrestre pelos vertebrados. Essas caractersticas permitiram o nascimento em terra seca, pois o embrio ficava protegido de choques e aderncias (VAUGHAN et al., 2000). Os anfbios, por sua vez, sempre mantiveram uma estreita relao com o ambiente aqutico, por no produzirem ovos com essas caractersticas. Embora os primeiros amniotas tenham aparecido no Pensilvaniano, perodo do Paleozico, foi no arqueano que a classe floresceu. Os primeiros mamferos apareceram h 220 milhes de anos, no perodo Trissico, de uma linhagem de vertebrados conhecidos como Sinapsida, rpteis predadores ativos que se originaram dos primeiros amniotas h cerca de 300 milhes de anos, na era Paleozica (VAUGHAN et al., 2000). Os Sinapsida deram 18. Reis, N. R. dos et al.origem aos Terapsida que, por sua vez, deram origem aos Cynodontia (animais com aumento da agilidade de locomoo e na especializao das maxilas e dentes), dos quais se originaram os mamferos atuais (POUGH et al., 1993). Entretanto, esses mamferos no se difundiram em funo da ocupao dos ambientes pelos dinossauros. Tradicionalmente, as provas da origem dos mamferos so encontradas no estudo das partes sseas, que podem fossilizar-se, principalmente o crnio. A caracterstica essencial do crnio das populaes que deram origem aos mamferos a presena de um orifcio, a fossa temporal inferior, localizada no revestimento sseo das laterais do crnio, abaixo da regio temporal, primariamente situada em posio inferior aos ossos escamosal e ps-orbital, que estavam em contato por cima dela. Posteriormente, em grupos mais avanados, a fossa temporal se alonga bastante, fusionando-se com a rbita (condio sinpsida modificada) (YOUNG, 1980). Segundo GORE (2003), os mamferos comearam a se diversificar em um perodo de apenas 270 mil anos, aps a extino dos dinossauros. At o Eoceno, entretanto, eles no eram maiores que um porco moderno. A exploso da diversidade de mamferos ocorreu logo em seguida, acompanhando o aumento de florestas devido elevao da temperatura do planeta. Com esses novos mamferos surgiram os primeiros primatas na frica, h cerca de 50 milhes de anos. O fssil mais antigo do primata da linhagem humana (antropide), denominado Eosimias, foi encontrado na China, datado de 45 milhes de anos (perodo Eoceno), quando o planeta estava comeando outro perodo de resfriamento. Ou seja, oito milhes de anos antes do Catopithecus exumado por Elwin Simons na depresso de Fayum na frica, que era considerado at ento o mais antigo fssil da linhagem (BEARD, 1995). A linhagem dos antropides apresenta a disposio dentria de dois incisivos, um canino, dois pr-molares e trs molares, tpica dos humanos. No fim do Mioceno a Terra01 - Sobre os Mamferos do Brasiltornou-se mais fria e seca, o que restringiu os primatas s zonas equatoriais mais aquecidas. H sete milhes de anos, um ramo dos primatas adotou a postura bpede e evoluiu at a espcie humana. O centro de origem dos placentrios que ocorriam ou ocorrem no Brasil so os mais diversos, conforme indicam os registros fsseis. A frica contribuiu com os macacos, elefantes e seus parentes. Os ancestrais dos gatos surgiram na Eursia, e de l se dispersaram pelo globo. J o camelo, o cavalo e o co surgiram na Amrica do Norte e chegaram na Amrica do Sul aps o soerguimento do istmo do Panam. A linhagem dos cavalos surgiu no Mioceno, que durou de 23,5 a 5,3 milhes de anos atrs, quando o planeta voltou a se aquecer e os campos comearam a surgir em altitudes mais elevadas. Como a relva era abrasiva, esses mamferos com dentio mais resistente e que possibilitava o consumo desse recurso foram selecionados (GORE, 2003). Resumidamente, a evoluo da diversidade de mamferos sul-americanos pode ser dividida em trs etapas principais (VAUGHAM et al., 2000; POUGH et al., 2003; GORE, 2003). A primeira, no Paleoceno, quando a Amrica do Sul se separou da Amrica do Norte, grupos como os dos marsupiais, desdentados e ungulados, permaneceram na Amrica do Sul. Desde ento, at o Oligoceno, essa fauna se diversificou, possibilitando o surgimento de criaturas incrveis como a preguia-gigante, o gliptodonte e o megatrio (Edentata), a boriena (Marsupialia), o toxodonte e a macrauqunia (ungulados), que tanto fascinaram Darwin em sua passagem pela Amrica do Sul. Durante o Oligoceno, cerca de nove milhes de anos atrs, algumas ilhas se formaram entre a Amrica do Norte e a do Sul e alguns pequenos mamferos migraram para o Sul. Entre eles estavam roedores histricomorfos (e.g. capivara, paca e ourio-cacheiro), alm de primatas e carnvoros prociondeos. Quando o istmo do Panam se formou h cerca de trs a dois e meio milhes de anos (Plioceno superior), houve uma grande disperso de animais em21 19. Mamferos do Brasilambas as direes, com um aporte de placentrios carnvoros como os felinos, artiodctilos e perissodctilos. Aparentemente houve um enriquecimento das faunas tanto do hemisfrio norte quanto do sul. Entretanto, poucas espcies do hemisfrio sul prosperaram no hemisfrio norte, embora aproximadamente metade dos mamferos do hemisfrio sul tenha se originado na Amrica do Norte. Alguns carnvoros como os candeos e os felinos podem ter contribudo para a extino de alguns marsupiais como a boriena e de ungulados arcaicos. De sessenta e cinco milhes de anos para c, durante todo o Tercirio e grande parte do Quaternrio, a Amrica do Sul tinha vinte ordens de mamferos terrestres enquanto que atualmente, aps o soerguimento do istmo do Panam, apresenta apenas onze. Muitos atribuem essa extino mudana climtica, mas outros acreditam que foram as doenas introduzidas pelas espcies invasoras (FERIGOLO, 1999), a competio entre as espcies, ou at mesmo pelas mos humanas (POUGH et al., 2003). Na Amrica do Sul no existem evidncias que os grandes mamferos tenham desaparecido por causa dessa ltima causa. DE VIVO & CARMIGNOTTO (2004) sugerem que foi o clima o principal fator de extino. Entretanto, a teoria mais antiga preconizava que eles se extinguiram em um momento de seca, durante algumas eras glaciais, mas DE VIVO & CARMIGNOTTO (2004) acreditam que foi o contrrio, quando o aumento da temperatura possibilitou a expanso das florestas, dizimando os grandes mamferos que viviam nos Cerrados.Diversidade de Mamferos Brasileiros A diversidade biolgica do Brasil ainda pouco conhecida, embora seja considerada a maior do planeta. O estado de conhecimento da diversidade de mamferos segue a mesma tendncia geral, podendo aumentar conforme os inventrios sejam intensificados e anlises citogenticas e moleculares sejam implementadas. En-22tretanto, segundo SABINO & PRADO (2005), esse conhecimento se encontra desequilibrado, com algumas ordens menos conhecidas que outras. As quatro ordens mais diversificadas e com expectativas de aumento do nmero de espcies so Rodentia, Chiroptera, Didelphimorphia e Primates, sendo as trs primeiras com a taxonomia ainda mal definida. Mesmo assim, recentemente foram descobertas novas espcies em ordens relativamente pequenas no pas, como Xenarthra e Artiodactyla. Digno de meno a ordem Lagomorpha, que apresenta apenas uma espcie no Brasil, Sylvilagus brasiliensis, mas que est amplamente distribuda nos diferentes biomas do pas. Embora a geografia no possa ser utilizada como principal critrio para determinao de novas espcies, o fato de uma espcie ocorrer em regies to distintas e isoladas geograficamente, pode ser um indcio de que ela, na realidade, represente um complexo de espcies crpticas. Espera-se que o aumento do nmero de espcies ocorra com o levantamento da fauna em regies pouco estudadas, embora duas espcies fossem descobertas em regies consideradas bem conhecidas como foi o caso do mico-leo-caiara (Leontopithecus caissara) e o veado bororo (Mazama bororo) nos estados do Paran e So Paulo, respectivamente (SABINO & PRADO, 2005). A diversidade de mamferos no Brasil atinge nmeros expressivos, constituindo-se numa das maiores do mundo. At pouco tempo atrs, eram conhecidas 22 ordens de mamferos no mundo, das quais 11 encontradas no Brasil, representadas por 524 espcies (FONSECA et al., 1996). Neste livro o nmero de espcies nativas elevou-se para 652, representando um aumento de 24,61%. So elas: Didelphimorphia (cucas e gambs, 1 famlia, 55 espcies); Sirenia (peixe-boi, 1 famlia, 2 espcies); Xenarthra (tatus e tamandus, quatro famlias, 19 espcies); Primates (macacos, 4 famlias, 97 espcies); Lagomorpha (coelhos e lebres, 1 famlia, 2 espcies); Chiroptera (morcegos, 9 famlias, 164espcies); Carnivora (cachorro-do-mato, lobo, raposa, quati, lontra, furo, gatos e onas, 6 famlias, 29 espcies); 20. Reis, N. R. dos et al.Perissodactyla (anta, 1 famlia, 1 espcie); Artiodactyla (porco-do-mato e veado, 4 famlias, 12 espcies); Cetacea (baleias, 8 famlias, 41 espcies) e Rodentia (rato, pre, capivara, cutia e paca, 7 famlias, 235 espcies). A seqncia das ordens est de acordo com WILSON & REEDER (2005), contudo as ordens Cingulta e Pilosa esto ainda unidas na ordem Xenarthra. Embora a listagem de FONSECA et al. (1996) inclua apenas as espcies nativas, enquanto que este livro tambm relacione seis espcies exticas que retornaram condio selvagem, ainda assim o nmero de espcies nativas se elevou substancialmente (Tabela 1). A reduo no nmero de espcies de carnvoros deste livro em relao ao trabalho de FONSECA et al. (1996), deveu-se excluso de espcies de Otariidae e Phocidae de ocorrncias duvidosas. Estas tm distribuio entre a Antrtica e a Amrica do Sul e a ocorrncia no Brasil na maioria das vezes se d por animais errantes que, perdidos, vm parar no pas. Embora muitas dessas espcies possam vir a expandir suas reas de distribuio e atividades, no existem confirmaes suficientes de que essas atividades j estejam ocorrendo (excluindo os mortos ou errantes)01 - Sobre os Mamferos do Brasilpara consider-las no pas. Na tabela 1 encontra-se o total de espcies de mamferos brasileiros conhecidos at 1996 (FONSECA et al., 1996), o nmero de espcies ameaadas de extino divulgada recentemente e sua porcentagem em relao ao total levantado neste livro. Observa-se que os primatas e carnvoros so os mais ameaados com 26 e 10 espcies respectivamente. Isso significa que 26,8% do total de primatas e 34,5% do total de carnvoros esto em perigo de desaparecer do Brasil. Considerando que os primatas possuem uma ntima relao com as grandes florestas, esses nmeros podem significar uma reduo perigosa de nossas matas. O fato dos carnvoros estarem em perigo pode representar uma ameaa a todo o ecossistema, ao perder grandes reguladores de populaes de espcies herbvoras, que por sua vez se tornam ameaadoras s espcies vegetais, significando o colapso do ambiente em mdio ou longo prazo. Segundo MMA (2002), no Brasil os ambientes terrestres foram classificados em 6 Biomas (Mata Atlntica, Campos Sulinos, Cerrado, Pantanal, Caatinga e Amaznia). Os ambientes com maior nmero de espcies foram a Amaznia e a Mata Atlntica, com 311Tabela 1: Total de espcies de mamferos brasileiros conhecidos em 1996 e atualmente, ameaadas (segundo MACHADO et al., 2005; MMA, 2006) e suas porcentagens em relao aos nmeros atuais (exceto as introduzidas). Total Brasil Total Brasil Ordens (FONSECA et al. 1996) (neste trabalho) Ameaadas Didelphimorphia 44 55 1 Sirenia 2 2 2 Xenarthra 19 19 4 Primates 75 98 26 Lagomorpha 1 2* 0 Chiroptera 141 164 5 Carnvora 32 29 10 Perisodactyla 1 1 0 Artiodactyla 8 12** 2 Cetcea 36 41 7 Rodentia 165 235*** 12 Total 524 658 69 * = 1 espcie extica; ** = 2 espcies exticas; *** = 3 espcies exticas% ameaadas 1,8 100,0 21,1 26,8 0,0 3,0 34,5 0,0 20,0 17,1 5,223 21. Mamferos do BrasilTabela 2: Nmero de espcies, nmero de espcies endmicas e sua proporo, por bioma brasileiro (Fonte: MMA, 2002). N de espcies Proporo de espcies Bioma N de espcies endmicas endmicas Amaznia 311 174 55,9 Caatinga 148 10 6,8 Campos Sulinos 102 5 4,9 Cerrado 195 18 9,2 Mata Atlntica 250 55 22,0 Pantanal 132 2 1,5 e 250 espcies respectivamente. O Cerrado foi o terceiro Bioma em nmero de espcies (195), seguido pela Caatinga (148), Pantanal (132) e Campos Sulinos (102). As reas com maior taxa relativa de endemismo so: Amaznia (55,9%), Mata Atlntica (22%), Cerrado (9,2%), Caatinga (6,8%), Campos Sulinos (4,9%) e Pantanal (1,5%) (Tabela 2). Agradecimentos M.Sc.Lenice Souza Shibatta pela leitura crtica e sugestes que melhoraram substancialmente a clareza do manuscrito, aos rgos de fomento, CNPq, FAPERJ e CAPES, pelas bolsas concedidas Adriano L. Peracchi, Isaac P. de Lima e Wagner Andr Pedro.and Antarctic Peninsula, Roterdam, 12 (1996-1997): 1999, p.279-310. FONSECA, G. A. B.; HERRMANN, G.; LEITE, Y. L. R.; MITTERMEIER, A. B. R.; PATTON, J. L. Lista anotada dos mamferos do Brasil. Occasional Papers in Conservation Biology, v.4 Washington: 1996, p.1-38. GORE, R. A ascenso dos mamferos. National Geographic Brasil. v. 36: 2003, p. 26-61. MACHADO, A. B. M., MARTINS, C. S. & DRUMMOND, G. M. Lista da fauna brasileira ameaada de extino: incluindo as espcies quase ameaadas e deficientes em dados. Belo Horizonte, Fundao Biodiversitas, 2005.158p. MIRANDA, E. E. O descobrimento da biodiversidade: a ecologia de ndios, jesutas e leigos no sculo XVI. So Paulo: Edies Loyola, 2004, 183p. MMA. 2002. Biodiversidade brasileira. Ministrio do Meio Ambiente, Braslia, 404p.Referncias BibliogrficasMMA. 2006. Lista nacional das espcies da fauna brasileira ameaadas de extino. Disponvel em . Acessado em 8/3/2006.BEARD, K. C. Asian Anthropoids strike back. Sciences, v.270, n.5238. 1995, p. 1-918.MOOJEN, J. Captura e preparao de pequenos mamferos para colees de estudo. Manuais do Museu Nacional, srie A, n. 1, Rio de Janeiro: 1943, 97 p.CARVALHO, C. T. Dicionrio dos mamferos do Brasil. 2 ed. So Paulo:, Livraria Nobel S.A. 135 p. 1979. DE GNDAVO, P. M. 2004. A primeira histria do Brasil: Histria da Provncia Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 207p. DE VIVO, M.; CARMIGNOTTO, A. P. Holocene vegetation change and the mammal faunas of South America and Africa. Journal of Biogeography, v.31, Oxford:: 2004, p.943-957. FERIGOLO, J. Late Pleistocene South America land-mammal extinctions: the infection hypothesis. Quaternary of South America24NEVES, W. A. & PIL, L. B. 2003. Solving Lunds dilemma: new AMS dates confirm that humans and megafauna coexisted at Lagoa Santa. Current Research in the Pleistocene, Michigan, v. 20, p. 57-60. POUGH, F. H., HEISER, J. B. & McFARLAND, W. N. 1993. A vida dos vertebrados. Atheneu Editora So Paulo, So Paulo, 834p.+ anexos e ndice. POUGH, F. H., JANIS, C. M. & HEISER, J. B. 2003. A vida dos vertebrados. Atheneu Editora So Paulo, So Paulo, 699p. + anexos e ndice. 22. Reis, N. R. dos et al.01 - Sobre os Mamferos do BrasilROMER, A. S. & PARSONS, T. S. Anatomia comparada dos vertebrados. So Paulo: Atheneu Editora Ltda. 1985.559 p. SABINO, J.; PRADO, P.I.K.L. Vertebrados. Captulo 6. Pp 53-144. In: Avaliao do Estado do Conhecimento da Diversidade Brasileira. T. LEWINSOHN (Org.), Srie Biodiversidade, v.15. Ministrio do Meio Ambiente (MMA). 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Bilogo Doutorando em Cincias Biolgicas em Zoologia Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (UNESP Rio Claro-SP) Wagner Andr Pedro (Dr.) Bilogo Professor Livre Docente Laboratrio de Chiroptera, Departamento de Apoio, Produo e Sade Animal Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNESP Araatuba-SP)Captulo 02 Ordem DidelphimorphiaA ordem Didelphimorphia compreende a grande maioria dos marsupiais americanos viventes, distribudos do sudeste do Canad ao sul da Argentina na altura da latitude 47oS (NOWAK, 1999). HERSHKOVITZ (1992) reconheceu quatro famlias dentro desta ordem: Marmosidae, Caluromyidae, Glironiidae e Didelphidae. Foi seguido por NOWAK (1999), mas no por GARDNER (1993), que reconheceu Didelphidae como a nica famlia de marsupiais viventes desta ordem, dividida em duas subfamlias: Caluromyinae e Didelphinae. GARDNER (1993) baseou-se na classificao de KIRSCH (1977) e APLIN & ARCHER (1987) e foi seguido por diversos autores subseqentes (EMMONS & FEER, 1997; EISENBERG & REDFORD, 1999; BROWN, 2004; GARDNER, 2005). Recentemente, JANSA & VOSS (2000) e VOSS& JANSA (2003) comprovaram o monofiletismo de Didelphidae e Didelphinae, com base em dados moleculares e dados combinados (moleculares e morfolgicos). A subfamlia Caluromyinae, por outro lado, parece representar um grupo parafiltico, cuja composio dever ser revista caso os resultados encontrados por estes autores sejam corroborados por anlises futuras que incluam um nmero maior de caracteres. No presente trabalho seguimos a classificao adotada por GARDNER (2005).Famlia Didelphidae A famlia Didelphidae, a nica dentro da ordem Didelphimorphia, composta por 17 gneros e 87 espcies (GARDNER, 2005). No entanto, dois novos27 25. Mamferos do Brasilgneros (VOSS et al., 2004a; VOSS et al. 2005), duas novas espcies (SOLARI, 2004; VOSS et al., 2004b) e trs espcies revalidadas (VOSS et al. 2005) devem ser acrescidas a estes nmeros, totalizando 19 gneros e 92 espcies atualmente reconhecidas. Dentre eles, 16 gneros e 55 espcies ocorrem no Brasil. Todas as espcies apresentam a mesma frmula dentria: i 5/4, c1/1, p3/3, m4/4 = 50, alm de uma morfologia dentria bastante conservativa. Os marsupiais desta famlia podem ser caracterizados como mamferos de pequeno a mdio porte (10 a 3000 g; EMMONS & FEER, 1997). Possuem mos e ps com cinco dedos, sendo o primeiro dedo do p desprovido de garra ou unha e geralmente opositor, usado para agarrar e escalar galhos. A cauda geralmente longa e prensil, podendo conter plos longos ou diminutos e invisveis a olho nu. A ausncia de polegar opositor, cauda curta e aumento de massa muscular nas patas posteriores constituem adaptaes ao hbito terrcola neste grupo. Por outro lado, cauda longa e aumento de massa muscular nas patas anteriores constituem adaptaes ao hbito arbreo (GRAND, 1983). A maioria das espcies noturna e apresenta uma dieta onvora que pode incluir frutos, nctar, artrpodes e pequenos vertebrados. As espcies de Caluromyinae alimentam-se principalmente de frutos, ao passo que as espcies de Didelphinae apresentam uma variedade maior de dietas, sendo que uma delas alimenta-se primariamente de peixes. Aps um breve perodo de gestao, as fmeas de todas as espcies do luz diminutos filhotes que escalam sua pelagem at atingirem as mamas, onde se fixam por vrias semanas para completarem o seu desenvolvimento. Os jovens de algumas espcies so protegidos por uma dobra de pele que recobre as mamas formando uma bolsa, denominada marspio. Filhotes mais velhos podem ser transportados nas costas das mes.28Subfamlia Caluromyinae A subfamlia Caluromyinae composta por trs gneros e cinco espcies, das quais apenas uma (Caluromys derbianus) no ocorre no Brasil (GARDNER, 2005). Distribui-se pelas Amricas Central e do Sul, estendendose do sul do Mxico ao Paraguai, sul do Brasil e provncia de Misiones, na Argentina. Os representantes desta subfamlia apresentam hbitos estritamente arborcolas e noturnos, rostro curto, cristas supraorbitais muito desenvolvidas que se estendem como uma asa sobre a cavidade orbital, rbitas aumentadas, caixa craniana inflada, palato largo com fenestras pouco desenvolvidas ou ausentes, caninos pouco desenvolvidos e retos, molares superiores igualmente largos entre si, alm de outras caractersticas dentrias (REIG et al., 1987). Segue, abaixo, a lista comentada das espcies de Caluromyinae presentes no Brasil. Greno Caluromys Allen, 1900Caluromys lanatus (Olfers, 1818) - cuca-lanosa, gambazinho Possui ampla rea de distribuio que inclui o norte e o centro da Colmbia, o noroeste e o sul da Venezuela, o leste do Equador, do Peru e da Bolvia, o oeste, o sudeste e o sul do Brasil, o sul do Paraguai e a provncia de Misiones, na Argentina (BROWN, 2004). Tem porte mediano, com comprimento da cabea e corpo entre 201 e 319 mm, comprimento da cauda entre 341 e 446 mm e massa corporal entre 350 e 520 g (CABRERA & YEPES, 1960; EISENBERG & REDFORD, 1999; PATTON et al., 2000). A face cinza, com um anel marrom avermelhado ao redor dos olhos e uma listra marrom que se origina prxima ao focinho, segue por entre os olhos e desfaz-se no topo da cabea, j com um tom mais alaranjado. Seu plo fino, longo e macio, de aspecto lanoso. A colorao do dorso 26. Rossi, R. V. et al.02 - Ordem Didelphimorphiademonstrou marcada preferncia por frutos. A maturidade sexual alcanada no stimo ms de vida (AURICCHIO & RODRIGUES, 1994) e, a partir da, este marsupial reproduz-se o ano todo gerando de um a quatro filhotes por cria (AURICCHIO & RODRIGUES, 1994; PATTON et al., 2000). Quando no agarrados s mamas, os filhotes podem ser transportados no dorso das fmeas ou agarrados em suas pernas ou cauda (CABRERA & YEPES, 1960). uma espcie essencialmente Caluromys lanatus (Foto: Alonso Quevedo Gil/Fundacin ProAves) arborcola, como atestam os 20 exemplares marrom-avermelhada mesclada com tons de cinza, e a capturados por PATTON et al. (2000) nas margens do do ventre branco-amarelada, tambm com traos rio Juru, Brasil, nos estratos arbustivo e arbreo, entre cinzas. A cauda, prensil e longa, recoberta por plos 5 e 15 m acima do solo, em matas de terra firme e de (de mesma colorao que os do corpo) em sua parte vrzea. um animal bastante gil e de hbitos noturnos, superior at metade de seu comprimento, e em sua parte abrigando-se em ocos ou ramos de rvores geralmente inferior em apenas um quinto de seu comprimento. As prximas a crregos e outros hbitats florestais midos fmeas desta espcie possuem marspio formado por (NOVAK, 1999). pregas de pele bem desenvolvidas (LANGE & Consta como quase ameaado na lista da IUCN JABLONSKI, 1998) que so unidas em sua extremidade (2006), presumivelmente ameaado em Minas Gerais posterior, deixando a abertura do marspio deslocada (MINAS GERAIS, 1995), provavelmente ameaado no para a extremidade anterior (VOSS & JANSA, 2003). estado de So Paulo (SO PAULO, 1998), com dados Caluromys lanatus foi classificado como frugvoro- insuficientes no Paran (MARGARIDO & BRAGA, onvoro por FONSECA et al. (1996). GRIBEL (1988) 2004) e vulnervel no Rio Grande do Sul (VIEIRA & observou a espcie em visita a flores de Pseudobombax IOB, 2003). tomentosum (Bombacaceae) no Cerrado do Brasil Central e JANSON et al. (1981) observaram-na em visita a flores Caluromys philander (Linnaeus, 1758) - cucade Quararibea cordata e Q. stenopelata (Bombacaceae) na lanosa Estao Biolgica Cocha Cashu, Peru, sugerindo seu potencial como polinizadora. CCERES (2005), Possui ampla rea de distribuio que, segundo estudando as propores do tubo digestivo de sete BROWN (2004), inclui Venezuela, Trinidad e Tobago, espcies de marsupiais neotropicais, sugere para C. lanatus Guiana, Suriname, Guiana Francesa e Brasil, com uma maior especializao para o consumo de itens exceo dos estados da regio sul e do Mato Grosso do vegetais, com intestino grosso e ceco relativamente Sul. LANGE & JABLONSKI (1998), no entanto, citam grandes e estmago pequeno. CABRERA & YEPES a sua presena para o Paran e CHEREM et al. (2004), (1960) referem-se a um exemplar em cativeiro que para Santa Catarina.29 27. Mamferos do BrasilPossui porte mediano, com comprimento da cabea e corpo entre 160 e 258 mm, comprimento da cauda entre 245 e 362 mm e massa corporal entre 142 e 350 g (CABRERA & YEPES, 1960; LEITE et al., 1996; LANGE & JABLONSKI, 1998; EISENBERG & REDFORD, 1999). Tem a cabea pequena e cinza e os olhos grandes circundados por um anel pardo; de sua nuca, parte uma listra longitudinal escura que se estende at o focinho, passando por entre os olhos. Seu dorso pardo, mais ou menos intenso, tornando-se gradualmente amarelo nas partes inferiores. O ventre varia do alaranjado ao acinzado. A pelagem corporal, constituda de plos suaves e lanosos, estende-se na base da cauda por um quinto ou um sexto de seu comprimento total. Sua cauda prensil. As fmeas desta espcie possuem marspio rudimentar segundo LANGE & JABLONSKI (1998). VOSS & JANSA (2003), no entanto, no fazem nenhuma meno presena de marspio rudimentar nesta espcie e o descrevem como uma bolsa de pele aberta na linha mediana. Em relao dieta, FONSECA et al. (1996) classificaram Caluromys philander como frugvoro-onvoro. LEITE et al. (1996) registraram o consumo freqente (94,1% das 34 amostras examinadas) e abundante de frutos, seguido de artrpodes (26,5%), na Floresta Atlntica do estado do Rio de Janeiro. Em rea prxima, CARVALHO et al. (1999) e CARVALHO et al. (2005) registraram o consumo majoritrio de insetos (Coleoptera e Hymenoptera), seguido por frutos, incluindo aqueles das famlias Piperaceae e Cecropiaceae. Estudos com esta espcie na Guiana Francesa revelaram uma relao positiva entre a disponibilidade de frutos na floresta e a proporo de fmeas reprodutivamente ativas (ATRAMENTOWICZ, 1982). Na Floresta Atlntica do Esprito Santo, a reproduo parece iniciar mais cedo do que para outras espcies da famlia (Gracilinanus microtarsus, Marmosops incanus, Didelphis aurita e Philander frenatus), sendo encontrada maior proporo de fmeas em atividade reprodutiva no perodo chuvoso (PASSAMANI, 2000). O nmero30mdio de filhotes por fmea quatro. Atingem a maturidade sexual aproximadamente no stimo ms de vida e sua gestao dura, em cativeiro, de 20 a 28 dias (AURICCHIO & RODRIGUES, 1994). Caluromys philander primariamente arborcola, utilizando os estratos arbustivo e arbreo de florestas primrias ou secundrias, de terra firme ou vrzea (MALCOLM, 1991; PASSAMANI, 1995; LEITE et al., 1996; PASSAMANI, 2000; VOSS et al., 2001; GRELLE, 2003). Estudos de rdio-telemetria indicam uma rea de uso que varia de 2000 m2 a 21000 m2 (COSTA et al., 1992 apud MARGARIDO & BRAGA, 2004). citado como quase ameaado na lista da IUCN (2006) e considerado com dados insuficientes no estado do Paran (MARGARIDO & BRAGA, 2004). Greno Caluromysiops Sanborn, 1951Caluromysiops irrupta Sanborn, 1951 - cuca, cucade-colete Esta espcie est presente na regio amaznica do sul da Colmbia, oeste do Brasil e sudeste do Peru (BROWN, 2004). Apresenta porte mediano, com comprimento da cabea e corpo entre 250 e 330 mm e comprimento da cauda entre 310 e 340 mm (EMMONS & FEER, 1997; EISENBERG & REDFORD, 1999; NOWAK, 1999). Possui manchas marrons indistintas entre os olhos e o focinho. Sua pelagem longa e densa, marrom-acinzada no dorso e mais clara nas laterais. Destaca-se um par de manchas escuras que tm incio no dorso de cada mo e continuam pela poro interna dos membros anteriores at alcanarem os ombros, onde se encontram e se estendem posteriormente at as ancas. Sua cauda prensil, coberta por plos ligeiramente mais escuros que os plos corporais em dois a trs quartos de seu comprimento na poro superior. O restante da pelagem caudal amarelo- claro. Na poro inferior a cauda possui plos apenas no primeiro quarto de seu comprimento 28. Rossi, R. V. et al.basal. As fmeas desta espcie apresentam marspio (IZOR & PINE, 1987). Em relao dieta, FONSECA et al. (1996) classificaram Caluromysiops irrupta como frugvoroonvoro. Indivduos em cativeiro aceitaram uma variedade de itens alimentares, incluindo itens animais (COLLINS, 1973), e em vrias ocasies este marsupial foi observado visitando flores de Quararibea cordata (Bombacaceae; JANSON et al., 1981), o que indica a presena de nctar em sua dieta. Segundo JANSON et al. (op. cit.), este marsupial apresenta movimentos lentos e pode gastar vrias horas em uma mesma rvore florida. uma espcie extremamente rara e pouco se conhece sobre sua bionomia, incluindo dados reprodutivos. Tem hbitos noturno e arborcola, provavelmente utilizando o dossel da floresta. Seu perodo mximo de vida, registrado em cativeiro, de aproximadamente sete anos (COLLINS, 1973; IZOR & PINE, 1987). Consta como vulnervel na lista da IUCN (2006) e como espcie criticamente em perigo na Lista da Fauna Brasileira Ameaada de Extino (MACHADO et al., 2005). Gnero Glironia Thomas, 191202 - Ordem Didelphimorphiaposterior das orelhas, passando pelos olhos e formando uma espcie de mscara. A pelagem dorsal pode ser acinzada ou amarronzada e a ventral cinza-clara. Sua cauda prensil e toda recoberta de plos, exceto em sua poro terminal inferior. No possui marspio (VOSS & JANSA, 2003). Em relao dieta, esta espcie foi classificada como insetvora-onvora por FONSECA et al., (1996). De fato, outros autores sugerem que sua dieta inclui itens como insetos, ovos, sementes e frutos (AURICCHIO & RODRIGUES, 1994; EMMONS & FEER, 1997; NOWAK, 1999). No existem informaes sobre os padres reprodutivos e as preferncias de hbitat desta espcie. Os relatos de visualizao de G. venusta indicam comportamento noturno, arborcola e solitrio, com agilidade na locomoo e salto entre galhos de rvores (EMMONS & FEER, 1997; NOGUEIRA et al., 1999). Embora EMMONS & FEER (1997) sugiram um hbito exclusivamente arborcola para a espcie, um exemplar foi capturado em armadilha-de-queda (balde com capacidade de 200 litros e 90 cm de altura) instalada no municpio de Espigo do Oeste, Rondnia (BERNARDES & ROCHA, 2003). considerada vulnervel pela IUCN (2006) e deficiente em dados no Brasil (MACHADO et al.,2005).Glironia venusta Thomas, 1912 - cuca A rea de ocorrncia desta espcie inclui o leste do Equador e do Peru, a metade norte da Bolvia e a bacia amaznica do Brasil, nos estados do Amazonas, Par e Rondnia (NOGUEIRA et al., 1999; BERNARDES & ROCHA, 2003; BROWN, 2004). nica espcie do gnero, Glironia venusta um marsupial de pequeno porte, com comprimento da cabea e corpo entre 160 e 205 mm, comprimento da cauda entre 195 e 226 mm e massa corporal em torno de 104 g (NOWAK, 1999; NOGUEIRA et al., 1999). Sua face adornada por duas linhas marrons bastante escuras que se estendem do focinho at a parteGlironia venusta (Foto: Paulo Srgio Bernarde)31 29. Mamferos do BrasilSubfamlia Didelphinae Esta subfamlia composta por 16 gneros e 85 espcies (GARDNER, 2005; mas veja comentrio acima), dos quais 13 gneros e 51 espcies tm ocorrncia confirmada para o Brasil. Sua rea de distribuio corresponde da ordem Didelphimorphia, que se estende do sudeste do Canad ao sul da Argentina na altura da latitude 47o S (NOWAK, 1999). Os representantes desta subfamlia apresentam hbitos arborcola, escansorial ou terrcola, noturno ou diurno. Possuem rostro mais alongado que os Caluromyinae, cristas supraorbitais ausentes a desenvolvidas, sem se estenderem como uma asa sobre a cavidade orbital, caixa craniana relativamente estreita, palato relativamente estreito com fenestras bem desenvolvidas, caninos desenvolvidos e geralmente curvos, molares superiores posteriores nitidamente mais largos que os anteriores, alm de outras caractersticas dentrias. Segue, abaixo, a lista comentada das espcies de Didelphinae presentes no Brasil. Gnero Chironectes Illiger, 1811Chironectes minimus (Zimmermann, 1780) cuca-dgua, chichica-dgua, mucuradgua Apresenta ampla rea de distribuio, que se estende dos estados de Oaxaca e Tabasco no sul do Mxico at o sul do Peru, centro da Bolvia, sul do Paraguai, do Brasil e nordeste da Argentina. No h registros desta espcie no nordeste e em grande parte da Amaznia brasileira, com exceo das reas marginais (BROWN, 2004). Possui comprimento da cabea e corpo entre 259 e 400 mm, comprimento da cauda entre 310 e 43032mm e massa corporal entre 550 e 790 g (EISENBERG & REDFORD, 1999; NOWAK, 1999; GONZLEZ, 2001). A pelagem moderadamente curta, fina e densa, com notvel impermeabilidade gua, ou seja, adaptada ao seu hbito semi-aqutico. Nesse sentido destaca-se tambm a presena de membranas interdigitais, facilitando seu nado. Sua face escura, cortada transversalmente por uma faixa clara logo acima dos olhos. Apresenta um grande nmero de vibrissas robustas e longas. Sua colorao dorsal nica dentre os marsupiais: o dorso acinzado ou cinza-amarronzado, marcado de forma bem definida com reas arredondadas negras, ou marrom-escuras, unidas a uma linha longitudinal central. A cauda, no-prensil, negra em sua maior parte e branca na ponta, coberta por escamas grossas com plos curtos e duros, embora a base seja revestida de plos iguais aos do corpo. Machos e fmeas possuem marspio, que utilizado pelos machos para proteger os testculos enquanto nada. De acordo com VOSS & JANSA (2003), nesta espcie o marspio fechado na sua extremidade anterior e aberto na extremidade posterior. Esta espcie foi classificada como piscvora por FONSECA et al. (1996). Sua alimentao baseada em pequenos peixes, crustceos e outros animais aquticos,Chironectes minimus (Foto: Luciano M. Castanho) 30. Rossi, R. V. et al.podendo consumir tambm algumas plantas aquticas e frutos (CABRERA & YEPES, 1960; EMMONS & FEER, 1997; NOWAK, 1999). O nmero mais comum de filhotes por perodo reprodutivo dois ou trs, os quais a fmea mantm protegidos em seu marspio enquanto nada. A maturidade sexual alcanada prximo aos dez meses de idade e a longevidade mxima registrada em cativeiro de dois anos e 11 meses (MARSHALL, 1978). Chironectes minimus habita reas de floresta, estando sempre prximo gua, geralmente riachos isolados. Nada com a cabea e as orelhas acima do nvel da gua, porm com o corpo submerso. Pode fazer ninhos com folhas para repousar durante o dia, dando preferncia a lugares calmos e escuros. Segundo CABRERA & YEPES (1960), anotaes mais completas e interessantes sobre o comportamento deste marsupial foram feitas por Miranda-Ribeiro, em Jacarepagu, Rio de Janeiro. De seus escritos, podemos destacar os seguintes trechos: Era um animal perfeitamente noturno (...); sua incapacidade para correr e fugir durante o dia parece provar que no v bem de dia. Se perturbado, limita-se a abrir a boca e roncar, sem saber se defender de outra forma (...); quando nada conserva o corpo e a cauda em linha reta. Este marsupial citado como quase ameaado na lista da IUCN (2006), criticamente em perigo no Esprito Santo (ESPRITO SANTO, 2005), em perigo de extino em Minas Gerais (MINAS GERAIS, 1995), ameaado de extino em So Paulo (SO PAULO, 1998), presumivelmente ameaado no Rio de Janeiro (BERGALLO et al., 2000), vulnervel no Rio Grande do Sul (VIEIRA & IOB, 2003) e com dados insuficientes no Paran (MARGARIDO & BRAGA, 2004). Os maiores fatores de ameaa a esta espcie so a alterao ou a destruio de seus hbitats naturais e a poluio dos ambientes aquticos (MARGARIDO & BRAGA, 2004).02 - Ordem DidelphimorphiaGnero Cryptonanus Voss, Lunde & Jansa, 2005Cryptonanus agricolai (Moojen, 1943) - catita, guaiquica Esta espcie, referida como Gracilinanus agricolai por GARDNER (2005), distribui-se nos biomas Cerrado e Caatinga do leste e centro do Brasil (VOSS et al., 2005). Trata-se de um pequeno marsupial com comprimento da cabea e corpo entre 82 e 89 mm, comprimento da cauda entre 104 e 105 mm e massa corporal em torno de 18 g (VOSS et al., 2005). Apresenta uma estreita faixa de plos escuros ao redor dos olhos, pelagem dorsal marrom-acinzada e ventral, em geral, homogeneamente esbranquiada, sem base cinza. Sua cauda prensil, coberta por diminutos plos quase invisveis a olho nu. No possui marspio. No h informaes sobre hbitos alimentares, reproduo, preferncias de hbitats e estado de conservao desta espcie.Cryptonanus chacoensis (Tate, 1931) - catita, guaiquica Distribui-se pelo Paraguai, norte da Argentina e norte do Pantanal, no Brasil (ROSSI et al., 2003, identificada como Gracilinanus sp.1; VOSS et al., 2005). Possui porte pequeno, com comprimento da cabea e corpo entre 82 e 100 mm, comprimento da cauda entre 95 e 126 mm e massa corporal entre 14 e 16 g (VOSS et al., 2005). Apresenta uma estreita faixa de plos escuros ao redor dos olhos, pelagem dorsal marrom-acinzada e pelagem ventral homogeneamente esbranquiada, sem base cinza. Sua cauda prensil, coberta por diminutos plos quase invisveis a olho nu. No possui marspio. Esta espcie est aparentemente relacionada a ambientes abertos dominados por gramneas e sazonalmente inundveis (ROSSI et al., 2003; VOSS et al., 2005). No h informaes sobre seus hbitos33 31. Mamferos do BrasilCryptonanus sp. (Foto: Ana Paula Carmignotto)alimentares, reproduo e estado de conservao.Cryptonanus guahybae (Tate, 1931) - catita, guaiquica Ocorre apenas na poro leste do estado do Rio Grande do Sul, no sul do Brasil (VOSS et al., 2005). Possui porte pequeno, com comprimento da cabea e corpo em torno de 92 mm e cauda com cerca de 113 mm (VOSS et al., 2005). Apresenta uma estreita faixa de plos escuros ao redor dos olhos, pelagem dorsal marrom-avermelhada e pelagem ventral constituda de plos com base cinza e pice creme. Sua cauda prensil, coberta por diminutos plos quase invisveis a olho nu. No possui marspio. No h informaes sobre hbitos alimentares, reproduo, preferncias de hbitats e estado de conservao desta espcie. Gnero Didelphis Linnaeus, 1758Didelphis albiventris Lund, 1840 - gamb, raposa, saru, serigu, micur A distribuio geogrfica desta espcie inclui as pores leste e centro-oeste do Brasil, o Paraguai, o34Uruguai, as regies norte e central da Argentina e o sul da Bolvia (LEMOS & CERQUEIRA, 2002). Sua ocorrncia na Colmbia, Equador e Peru, mencionada por GARDNER (2005), no corroborada pela anlise de centenas de espcimes depositados em colees zoolgicas realizada por LEMOS & CERQUEIRA (2002). Possui porte mdio, com comprimento da cabea e corpo entre 305 e 890 mm, comprimento da cauda entre 290 e 430 mm e massa corporal entre 500 e 2750 g (SILVA, 1994; EMMONS & FEER, 1997; EISENBERG & REDFORD, 1999; CCERES & MONTEIRO-FILHO, 1999; GONZLEZ, 2001; G. V. BIANCONI, obs. pess.). H variaes considerveis na colorao, com alguns indivduos mais escuros do que outros. Ainda assim predomina a colorao grisalha, conferida por plos negros misturados a plos esbranquiados. A face apresenta trs listras pretas, duas delas sobre os olhos e uma na fronte. As orelhas so pretas na base e branco-rosadas na metade distal. Sua cauda prensil e provida de plos em at dois teros basais, sendo o restante nu. As fmeas possuem marspio, com abertura voltada para a extremidade anterior (VOSS & JANSA, 2003). Didelphis albiventris foi classificada como frugvoraonvora por FONSECA et al. (1996). Pode consumir roedores e aves de pequeno porte, rs, lagartos, insetos, caranguejos e frutos (LANGE & JABLONSKI, 1998; EISENBERG & REDFORD, 1999; NOWAK, 1999). freqentemente relacionada predao de aves domsticas, especialmente galinhas (CABRERA & YEPES, 1960). solitria, como outros marsupiais, com exceo da poca reprodutiva, que ocorre pelo menos uma vez ao ano. A gestao varia de 12 a 14 dias e o nmero de filhotes gerados, de quatro a 14. Aps aproximadamente 60 dias os filhotes iniciam o desmame, que se completa entre 70 e 100 dias. Apresenta hbitos crepusculares e noturnos, buscando abrigo em ocos de rvores, entre suas razes, ou debaixo de troncos cados. 32. Rossi, R. V. et al. considerada como de baixo risco de extino pela IUCN (2006), subcategoria preocupao menor.Didelphis aurita (Wied-Neuwied, 1826) - gamb, raposa, saru, serigu Distribui-se na poro leste do Brasil, do estado de Alagoas a Santa Catarina, estendendo-se a oeste at o Mato Grosso do Sul, ocupando ainda o sudeste do Paraguai e a provncia de Misiones, na Argentina (CERQUEIRA & LEMOS, 2000; BROWN, 2004). Apresenta porte mdio, com comprimento da cabea e corpo entre 355 e 450 mm, comprimento da cauda entre 298 e 470 mm e massa corporal entre 670 e 1882 g (VIEIRA, 1997; LANGE & JABLONSKI, 1998; PASSAMANI, 2000). Em sua face v-se uma listra escura na fronte e outra sobre cada olho. A orelha grande, desprovida de plos e o pavilho auditivo completamente negro. Sua colorao dorsal poder ser negra ou grisalha, devido presena de plos-guarda brancos que se sobressaem aos plos de cobertura negros. A pelagem ventral creme-amarelada. A cauda prensil, preta em sua parte basal seguida por um branco-amarelado; est coberta de plos apenas na regio prxima ao corpo. As fmeas possuem marspio. Didelphis aurita tem uma dieta onvora, com certa variao no consumo dos itens. J foram registrados para sua alimentao: aves, rpteis, pequenos mamferos, vrios invertebrados, sementes e frutos (CABRERA & YEPES, 1960; SANTORI et al., 1995; CHEREN et al., 1996; LEITE et al., 1996; CARVALHO et al.,1999; CCERES & MONTEIRO-FILHO, 2001; CCERES, 2004). SANTORI et al. (1995) encontraram no estmago desta espcie um pedao de pele de um02 - Ordem Didelphimorphiagamb jovem. CCERES & MONTEIRO-FILHO (2001) destacaram o consumo de invertebrados fossoriais e tambm de uma serpente fossorial, Liotyphlops beui, e CABRERA & YEPES (1960) observaram o consumo de crustceos marinhos em reas prximas costa. As informaes reprodutivas para a espcie indicam ninhadas de outubro a janeiro, com o nmero de filhotes variando de 4 a onze (CHEREN et al., 1996; PASSAMANI, 2000). PASSAMANI (2000) encontrou para a Estao Ecolgica de Santa Lcia, Esprito Santo, 1 macho para 1,3 fmeas, estando a maioria das fmeas (75%) em atividade reprodutiva (com filhotes no marspio) na estao de maior pluviosidade. uma espcie bastante comum em toda sua rea de distribuio. Possui hbitos noturnos e solitrios. Demonstra grande eficincia adaptativa aos mais variados hbitats, vivendo at mesmo em grandes centros urbanos. Em comparao a Metachirus nudicaudatus, Philander frenatus e Micoureus paraguayanus, D. aurita foi a espcie com maiores deslocamentos entre fragmentos de Floresta Atlntica no estado do Rio de Janeiro (PIRES et al., 2002). Pode ser observada escalando ou andando pelo solo, sendo capturada em vrios estratos da vegetao (PASSAMANI, 1995; CHEREN et al., 1996;Didelphis aurita (Foto:Thomas Pttker)35 33. Mamferos do BrasilLEITE et al., 1996; PASSAMANI, 2000; CUNHA & VIEIRA, 2002; GRELLE, 2003; G. V. BIANCONI, obs. pess.). Geralmente vive prxima a cursos dgua, abrigando-se em ocos de rvores, entre razes ou debaixo de folhas secas. A rea de uso observada para a espcie na Floresta com Araucria do sul do Brasil variou de 0,2 ha (para fmeas) a 3,0 ha (para machos), e a mdia da densidade populacional foi de 1,4 indivduos/ha (CCERES & MONTEIRO-FILHO, 1998; CCERES, 2003). considerada como de baixo risco de extino pela IUCN (2006), subcategoria preocupao menor.Didelphis imperfecta Mondolfi & PrezHernndez, 1984 - gamb, saru, mucura Esta espcie encontra-se na Venezuela ao sul do rio Orinoco, sudoeste do Suriname, Guiana Francesa e extremo norte do Brasil (CERQUEIRA & LEMOS, 2000; GARDNER, 2005). Possui porte mdio, com comprimento total entre 670 e 800 mm, cauda entre 310 e 410 mm e massa corporal entre 600 e 1000 g (MOLDOLFI & PREZHERNNDEZ, 1984). A pelagem da cabea branca com faixas negras sobre os olhos que contrastam fortemente com a pelagem geral branca. A orelha negra na poro basal e branca na extremidade distal. A pelagem dorsal preta ou grisalha, neste ltimo caso constituda de plos de cobertura pretos e plos-guarda brancos. A pelagem ventral creme-amarelada. A cauda prensil e nua, de colorao preta na poro basal e branca na distal. As fmeas possuem marspio. No h informaes sobre os hbitos alimentares, a reproduo, as preferncias de hbitat e o estado de conservao desta espcie.Didelphis marsupialis Linnaeus, 1758 - gamb, saru, mucura Esta espcie possui ampla rea de distribuio,36que se estende do estado de Tamaulipas, no nordeste do Mxico, at as regies centrais do Brasil e da Bolvia (CERQUEIRA & LEMOS, 2000; BROWN, 2004). Possui porte mdio, com comprimento da cabea e corpo entre 405 e 500 mm, comprimento da cauda entre 366 e 497 mm e massa corporal entre 1025 e 1700 g (VOSS et al., 2001). Em sua face v-se uma listra escura na fronte e outra sobre cada olho. A orelha grande, desprovida de plos e o pavilho auditivo completamente negro. Sua colorao dorsal pode ser negra ou grisalha, devido presena de longos plos brancos que se sobressaem aos plos de cobertura negros. A pelagem ventral creme-amarelada. A cauda prensil, preta em sua parte basal seguida por um branco-amarelado. Est coberta de plos apenas na regio prxima ao corpo. As fmeas possuem marspio, com abertura voltada para a extremidade anterior (VOSS & JANSA, 2003). Este marsupial foi classificado como frugvoroonvoro por FONSECA et al. (1996). EMMONS & FEER (1997) afir mam que ele se alimenta principalmente de pequenos animais insetos, vermes e pequenos vertebrados, incluindo cobras , com cerca de 1/4 da dieta composta de frutos. JANSON et al. (1981) observaram-no visitando inflorescncias de Quararibea cordata (Bombacaceae) procura de nctar. Didelphis marsupialis reproduz-se de janeiro a agosto no leste da Colmbia, perodo no qual produz duas ninhadas com um a 11 filhotes no marspio, nmero modal igual a sete (TYNDALE-BISCOE & MACKENZIE, 1976). Na regio de Belm, Par, PINE (1973) reportou a presena de uma fmea com 12 embries, duas fmeas com trs a seis filhotes no marspio e exemplares juvenis no ms de junho. Nas margens do rio Juru, Brasil, PATTON et al. (2000) capturaram fmeas com quatro a sete filhotes no marspio nos meses de agosto a novembro, fevereiro, maro e junho, que correspondem s estaes seca e chuvosa nesta regio. uma espcie comum na regio de Belm, Par, 34. Rossi, R. V. et al.02 - Ordem Didelphimorphiavivendo inclusive em reas urbanizadas (PINE, 1973). Foi capturada com freqncia no solo ou em estratos arbustivo e arbreo na regio de Manaus, Amazonas, nas margens do rio Juru, Brasil, e em Paracou, Guiana Francesa (MALCOLM, 1988; PATTON et al., 2000; VOSS et al., 2001). Segundo PATTON et al. (2000), D. marsupialis parece preferir florestas de terra firme, mas ocorre em uma ampla variedade de hbitats, incluindo florestas de vrzea e florestas secundrias alteradas pela ao humana. considerada como de baixo risco de extino pela IUCN (2006), subcategoria preocupao menor. Gnero Gracilinanus Gardner & Creighton, 1989Gracilinanus agilis (Burmeister, 1854) - cuca, catita, guaiquica, cuiquinha A rea de distribuio desta espcie estende-se da fronteira do Panam com a Colmbia em direo ao Peru, Bolvia, nordeste, centro-oeste e sudeste do Brasil, Paraguai e bacia do rio Paran na Argentina (BROWN, 2004). Sua presena na Colmbia est baseada em um nico exemplar coletado na fronteira deste pas com o Panam. Este exemplar no foi reconhecido porGracilinanus agilis (Foto: Leonora Costa)GARDNER (2005) como Gracilinanus agilis, que considera o Peru como o limite norte de sua rea de ocorrncia. Similarmente, os limites oeste e sul da rea de distribuio deste marsupial no esto estabelecidos de maneira confivel, uma vez que contm exemplares de Cryptonanus chacoensis e C. unduaviensis considerados sinnimos de G. agilis por BROWN (2004) e GARDNER (2005). Nestes termos, a presena da espcie nos estados do Paran (NICOLA et al., 1999) e Rio Grande do Sul (VIEIRA & YOB, 2003) tambm necessita confirmao. De acordo com COSTA et al. (2003) e ROSSI et al. (2003), a rea de ocorrncia certamente inclui a fronteira entre o Brasil e a Bolvia na poro norte do Mato Grosso do Sul. Apresenta porte pequeno, com comprimento da cabea e corpo entre 81 e 115 mm, comprimento da cauda entre 110 e 158 mm e massa corporal entre 13 e 40 g (COSTA et al., 2003). Possui uma faixa de plos escurecidos ao redor dos olhos, pelagem dorsal marromacinzada e pelagem ventral constituda de plos de base cinza e pice creme que se estendem do nus ao peito. Sua cauda prensil, coberta por diminutos plos quase invisveis a olho nu. No possui marspio. Gracilinanus agilis foi classificado como insetvoroonvoro por FONSECA et al. (1996). No h informaes mais precisas sobre os hbitos alimentares desta espcie. Sua reproduo parece ocorrer preferencialmente na estao de maior pluviosidade, perodo em que fmeas gestantes ou lactantes e indivduos juvenis foram capturados por MARES et al. (1989) e MARES & ERNEST (1995) em diferentes reas do Brasil central. Encontra-se geralmente associado a formaes florestais tpicas do bioma Cerrado, c