Livro - o Professor Mediador

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANPROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO

    SETOR DE EDUCAO PPGE

    MESTRADO EM EDUCAO

    MARCOS MEIER

    O PROFESSOR MEDIADOR NA TICA

    DOS ALUNOS DO ENSINO MDIO

    CURITIBA

    AGOSTO - 2004

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    MARCOS MEIER

    O PROFESSOR MEDIADOR NA TICA

    DOS ALUNOS DO ENSINO MDIO

    Dissertao apresentada como requisito parcial

    obteno do ttulo de Mestre em Educao do

    Programa de Ps-Graduao em Educao. rea de

    Concentrao: Educao, Cultura e Tecnologia.

    rea Temtica: Cultura e Processos de Ensino-

    Aprendizagem. Linha de pesquisa: Cognio e

    Aprendizagem. Programa de Ps-Graduao em

    Educao PPGE, Setor de Educao da

    Universidade Federal do Paran, em Curitiba, PR.

    Orientador: Prof. Egdio Jos Romanelli, Doutor

    em Educao.

    CURITIBA

    AGOSTO - 2004

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    TERMO DE APROVAO

    MARCOS MEIER

    O PROFESSOR MEDIADOR NA TICA

    DOS ALUNOS DO ENSINO MDIO

    Dissertao de Mestrado aprovada como requisito parcial obteno do grau de Mestre em

    Educao, do Programa de Ps-Graduao em Educao, rea de Concentrao: Educao,

    Cultura e Tecnologia, do Departamento de Ps-Graduao do Setor de Educao, pela

    seguinte banca examinadora:

    Orientador: Prof. Egdio Jos Romanelli, Ps-Doutorado em Neuropsicologia pela

    Universite de Montreal, U. M., Montreal, Canad.

    Universidade Federal do Paran , Setor de Cincias Humanas Letras e Artes ,

    Departamento de Psicologia UFPR.

    Prof. Snia Ana Charchut Leszczynski, Doutorada em PhD in Education,

    University of Iowa, U.I, Iowa City, Estados Unidos.

    Centro Federal de Educao Tecnolgica do Paran, Gerncia de Ensino e

    Pesquisa, Programa de Ps Graduao Em Tecnologia - CEFET/PR.

    Prof. Paulo Ricardo Ross, Doutor em Educao Especial, USP.

    Universidade Federal do Paran, Setor de Educao, Departamento de

    Planejamento de Administrao Escolar UFPR.

    Curitiba, 25 de agosto de 2004.

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    DEDICATRIA

    Ao professor David Sasson que, por meio desua grande cultura e humildade, soube mediar

    com sabedoria o desafio de aprofundar-me na

    Teoria da Modificabilidade Estrutural

    Cognitiva.

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    AGRADECIMENTOS

    minha esposa Maria Rita Breus Meier pelo apoio incondicional; aos meus filhos Martin,

    Rebecca e David pela compreenso e vibrao desde as pequenas vitrias.

    Ao Colgio Marista Santa Maria pelo investimento em minha formao continuada e por

    propiciar-me um ambiente estimulante para as reflexes sobre Educao.

    Ao meu orientador Professor Egdio Jos Romanelli pela sabedoria em dirigir meus passos

    apoiando-me nas dificuldades e afastando-se quando necessrio para que a criatividade

    pudesse ter espao.

    Ao professor Paulo Ricardo Ross por desafiar-me a conhecer e aprofundar os temas relativos

    solidariedade humana dentro da Educao.

    professora Sonia Ana Charchut Leszczynski pela prontido em investir seu tempo na

    avaliao desse trabalho.

    professora Ana Tereza Naspolini por acreditar em meu potencial incentivando-me na busca

    por novos caminhos e novas experincias na Mediao da Aprendizagem.

    Ao jornalista Jos Wille por abrir-me novos horizontes na atuao profissional, confiando e

    incentivando-me na comunicao do conhecimento.

    s famlias Breus e Meier pela mediao do sentimento de competncia.

    Aos alunos do Colgio Marista Santa Maria que, voluntariamente dedicaram-se s entrevistas

    pessoais compartilhando suas opinies a respeito da forma de ensinar de seus professores. Soeles: Francisco Beraldi de Magalhes, Lucas Longhini Seckler, Mariana Gonalves Arsie,

    Marina Obladen, Nicole Johnson e Rafael da Rocha Borba.

    Aos amigos que, de seu jeito prprio, permaneceram ao meu lado nessa trajetria acreditando

    na possibilidade da conquista.

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    No devemos permitir que uma s criana

    fique em sua situao atual sem desenvolv-la

    at onde seu funcionamento nos permite

    descobrir que capaz de chegar. Os

    cromossomos no tm a ltima palavra!

    Reuven Feuerstein

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    RESUMO

    A construo do conhecimento realizada pelo aluno, especialmente em sala de aula,tem a participao direta da mediao exercida pelo professor. Essa forma especial de

    interao professor-aluno caracterizada por alguns aspectos fundamentais diretamenterelacionados qualidade do processo de aprendizagem.Um dos tericos mais significativos na anlise da Experincia de Aprendizagem

    Mediada tem sido o psiclogo e doutor em Psicologia do Desenvolvimento ReuvenFeuerstein. Ex-colaborador de Piaget, Feuerstein desenvolveu um corpo de conhecimentosrelativos ao desenvolvimento das funes cognitivas do sujeito. Esse trabalho foi por eledenominado de Teoria da Modificabilidade Estrutural Cognitiva e tem como base a mediaoda aprendizagem. Estudando os aspectos particulares da mediao, Feuerstein evidencia aexistncia de doze caractersticas especiais denominadas por "Critrios de Mediao".

    O presente trabalho prope a investigao da percepo que o aluno do Ensino Mdiotem a respeito da forma de mediao exercida por seus professores, e como esses aspectos oauxiliam em sua aprendizagem. Tais resultados sero analisados em relao proposta de

    Feuerstein objetivando encontrar semelhanas e diferenas que possam ser significativas nacompreenso do processo de interao professor-aluno no contexto da aprendizagem.Segundo esse pesquisador, o principal fator que interfere no desenvolvimento cognitivo deuma criana a qualidade e quantidade de experincias de aprendizagem mediada que essacriana tenha recebido em sua vida. Entretanto, apesar de uma pessoa estar com funescognitivas no plenamente desenvolvidas, ainda possvel por meio de uma intervenocognitiva apropriada permeada pela mediao, conseguir avanos no desenvolvimento,modificaes significativas em suas estruturas cognitivas. A essa possibilidade, o autordenomina "Modificabilidade" e prope que esse termo seja substituto da limitada concepode "Inteligncia".

    PALAVRAS-CHAVEMediao da Aprendizagem; Modificabilidade; Cognio; Aprendizagem.

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    ABSTRACT

    The knowledges construction of the student, especially in classroom, has the directparticipation of the mediation from the teacher. This special form of interaction teacher-student is characterized by some basic aspects directly related to the quality of the learning

    process. One of the most significant theoreticians in the analysis of the Mediated LearningExperience has been the psychologist and doctor in Psychology of the Development, ReuvenFeuerstein. Ex-collaborator of Piaget, Feuerstein developed a body of knowledges relatives tothe development of the cognitive functions of the person. This work Feuerstein called asTheories of Structural Cognitive Modifiability and its base is the Mediated Learning.Studying the particular aspects of the mediation, Feuerstein evidences the existence of twelvespecial characteristics called by "Criteria of Mediated Learning Experience".

    The present work considers the perception that the students of High School has aboutthe form of mediation of its teachers, and how these aspects are in its learning. Such resultswill be analyzed in relation to the proposal of Feuerstein objectifying to find similarities anddifferences that can be significant in the understanding of the interaction process teacher-student in the context of the learning. According to this researcher, the main factor that

    intervenes with the cognitive development of a child is the quality and amount of mediatedlearning experiences that this child has received in its life. However, although the cognitivefunctions of a person are not fully developed, is possible, through an appropriate cognitiveintervention (through mediation), to obtain significant advances in the development,modifications in its cognitive structures. To this possibility, the author calls "modifiability"and considers this term as a substitute of the limited conception of "Inteligence".

    KeywordsMediated Learning; Modifiability; Cognition; Learning.

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Generalizao de conceito..................................................... 41

    Figura 2 A transferncia segundo Meir Ben-Hur................................ 42

    Figura 3 Construo de princpios a partir de diferentes contextos..... 44

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Diferenas entre avaliao tradicional e dinmica...... 29

    Tabela 2 Critrios de mediao.................................................. 36

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AM...... Teoria dos Ambientes Modificantes.

    CDCP... Centro de Desenvolvimento Cognitivo do Paran. Autorizado por Feuersteinpara divulgar e formar aplicadores dos instrumentos especficos do PEI.

    EAM.... Experincia de Aprendizagem Mediada.

    ICELP The International Center for the Enhancement of Learning Potential (CentroInternacional para o Desenvolvimento do Potencial de Aprendizagem).

    LPAD.... Learning Propensity Assesment Device (Avaliao Dinmica da Propenso Aprendizagem).

    PEI......... Programa de Enriquecimento Instrumental.

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    SUMRIO

    DEDICATRIA

    AGRADECIMENTOS

    RESUMO

    ABSTRACT

    LISTA DE FIGURAS

    LISTA DE TABELAS

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    SUMRIO

    1 Introduo................................................................................... 14

    1.1 Justificativa.................................................................................. 141.2 Abordagem do problema.............................................................. 151.3 Hipteses de pesquisa.................................................................. 171.4 Objetivos...................................................................................... 17

    1.4.1 Objetivo geral............................................................................... 171.4.2 Objetivo especfico...................................................................... 17

    1.5 Definio operacional de termos.................................................. 172 Reviso Bibliogrfica................................................................. 18

    2.1 Contextualizao da Teoria de Reuven Feuerstein...................... 182.1.1 Inatismo, Ambientalismo e Interacionismo................................. 18

    2.2 Biografia de Feuerstein................................................................ 212.3 A Teoria da Modificabilidade Estrutural Cognitiva.................... 25

    2.3.1 O PEI Programa de Enriquecimento Instrumental.................... 262.3.2 O LPAD Avaliao Dinmica do Potencial de Aprendizagem 282.3.3 A Teoria dos Ambientes Modificantes........................................ 31

    2.4 A mediao da aprendizagem...................................................... 322.4.1 Uma contribuio da Neuropsicologia construo do conceito

    de mediao..................................................................................32

    2.4.2 A mediao da aprendizagem segundo Feuerstein...................... 352.4.3 Os critrios de mediao.............................................................. 362.4.4 Os objetivos da mediao............................................................ 59

    3 Metodologia................................................................................ 603.1 Campo de estudo.......................................................................... 603.2 Seleo de sujeitos....................................................................... 60

    3.3 Procedimento de coleta de dados................................................. 603.4 Procedimento de anlise de dados............................................... 61

    3.4.1 Anlise das respostas do questionrio.......................................... 613.4.1.1 Anlise do critrio 1. Perguntas 1.1 a 1.5.................................... 613.4.1.2 Anlise do critrio 2. Perguntas 2.1 a 2.3.................................... 623.4.1.3 Anlise do critrio 3. Perguntas 3.1 a 3.3.................................... 623.4.1.4 Anlise do critrio 4. Perguntas 4.1 a 4.3.................................... 633.4.1.5 Anlise do critrio 5. Perguntas 5.1 a 5.3.................................... 63

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    3.4.1.6 Anlise do critrio 6. Perguntas 6.1 a 6.3.................................... 633.4.1.7 Anlise do critrio 7. Perguntas 7.1 a 7.4.................................... 643.4.1.8 Anlise do critrio 8. Perguntas 8.1 a 8.3.................................... 643.4.1.9 Anlise do critrio 9. Perguntas 9.1 a 9.2.................................... 64

    3.4.1.10 Anlise do critrio 10. Pergunta n. 10........................................ 65

    3.4.1.11 Anlise do critrio 11. Perguntas 11.1 a 11.2............................. 663.4.1.12 Anlise do critrio 12. Perguntas 12.1 a 12.4............................. 663.4.2 Anlise das entrevistas. ............................................................... 673.4.2.1 Anlise da entrevista n 1 Ana, aluna do 1 ano do Ensino

    Mdio...........................................................................................67

    3.4.2.2 Anlise da entrevista n 2 Bernardo, aluno do 2 ano doEnsino Mdio. .............................................................................

    67

    3.4.2.3 Anlise da entrevista n 3 Carla, aluna do 2 ano do EnsinoMdio. .........................................................................................

    68

    3.4.2.4 Anlise da entrevista n 4 Daniela, aluna do 1 ano do EnsinoMdio. .........................................................................................

    68

    3.4.2.5 Anlise da entrevista n 5 Emerson, aluno do 3 ano do

    Ensino Mdio. .............................................................................

    69

    3.4.2.6 Anlise da entrevista n 6 Fernando, aluno do 3 ano doEnsino Mdio...............................................................................

    69

    4 Resultados e discusses.............................................................. 714.1 Concluses com base no questionrio. ....................................... 71

    4.1.1 Concluses com base na pergunta aberta. ................................... 724.2 Concluses com base nas entrevistas. ......................................... 72

    5 Concluses................................................................................... 746 Referncias Bibliogrficas......................................................... 767 Anexos......................................................................................... 78

    7.1 Questionrio aplicado.................................................................. 797.2 Tabulao da pergunta aberta...................................................... 847.3 Grficos da pergunta aberta......................................................... 877.4 Grficos de cada pergunta............................................................ 907.5 Grfico de cada critrio................................................................ 1287.6 Grficos do valor de cada critrio................................................ 1407.7 Grfico da ordem dos critrios segundo os alunos...................... 1457.8 Transcrio das entrevistas.......................................................... 147

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    1 INTRODUO

    1.1 - JUSTIFICATIVA

    Scrates (470 a.C 399 a.C) filsofo ateniense era filho de Sofronisco, um escultor, e

    de Fenarete, uma parteira. Seu mtodo de ensino, a Maiutica, era, de certa forma, produto da

    interao entre as duas habilidades representadas nos pais: esculpir e ajudar a nascer. Ao

    ensinar, solicitava que o discpulo declarasse sua prpria opinio a respeito de um tema,

    expusesse suas idias, defendesse seu ponto de vista. Assim, as idias podiam nascer, odiscpulo gerava conceitos. Em seguida, por meio de uma seqncia de perguntas e convites

    reflexo, levava o prprio aluno a lapidar essas idias, respostas e opinies at que o estado

    bruto, caracterstico da primeira verso das idias, atingisse a qualidade e a adequao

    conceitual esperada, ao ponto de se tornar uma imagem, uma escultura.

    Com estemtodo, Scrates auxiliava seus discpulos no ato de gerar idias e na ao

    de esculpi-las. Entretanto, o trabalho em si, no era dele, era do discpulo. O mestre era

    apenas um mediador do processo de construo do conhecimento, da formao de

    conceitos.O conceito de mediao no novo. Certamente anterior a Scrates, pois faz parte

    do agir humano. A me que ensina seu filho a andar, a comer, a falar e a estabelecer relaes

    com o mundo, faz mediao. A criana, que orienta seu irmo nos primeiros passos em um

    jogo ou brincadeira, faz mediao. E essa mediao que possibilita o desenvolvimento

    emocional, afetivo, fsico e cognitivo da criana. Quando ela no acontece, ou por alguma

    razo, insuficiente, o sujeito sofre as conseqncias desta falta e apresenta dificuldades na

    aprendizagem, na inter-relao, e em muitos outros aspectos afeto-cognitivos.

    a mediao o mecanismo, por excelncia, responsvel pela transmisso da cultura de

    um povo, de um grupo social. Por esse motivo, muitos tem se dedicado ao estudo desse

    mecanismo de interao: historiadores, antroplogos, psicolingistas, educadores e outros.

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    Um dos pesquisadores que mais tem trabalhado nos processos pelos quais se d a

    transmisso da cultura e do desenvolvimento cognitivo de uma pessoa, o Psiclogo e Doutor

    em Psicologia do Desenvolvimento Reuven Feuerstein1.

    Segundo esse autor, o sujeito que recebeu Mediao inadequada por parte dos adultos

    que com ele conviviam, pode desenvolver um baixo funcionamento cognitivo e beneficiar-se

    muito pouco da transmisso de sua prpria cultura. Como conseqncia, apresentar

    "dificuldades de aprendizagem".

    Assim, um aluno com dificuldades de aprendizagem fruto, segundo este autor, de

    mediao inadequada.

    1.2 - ABORDAGEM DO PROBLEMA

    Para que as Funes Cognitivas possam desenvolver-se adequadamente, necessrio

    que a criana, ou o aluno, vivencie uma educao em casa e na escola, permeada pela

    mediao. a mediao da aprendizagem que possibilitar ao aluno desenvolver-se de forma

    integral, principalmente no que diz respeito aos aspectos cognitivos e emocionais.

    Na escola, a criana aprende, fundamentalmente, por meio da ao de um professor

    que ensina os contedos, habilidades, competncias ou estratgias necessrias para seu

    progresso dentro da vida acadmica e da sociedade. Portanto, na escola as experincias deaprendizagem mediada adquirem um carter de essencialidade.

    Em minha experincia como professor, tenho percebido fatos que comprovam a

    necessidade de o professor interagir com seus alunos de uma forma especial, exercendo a

    mediao. Percebi que h professores extremamente eficientes em seu ensino e h outros que

    mesmo tendo os mesmos objetivos desses primeiros, apresentam srios problemas

    relacionados aos nveis de aprendizado, qualidade e quantidade de contedos trabalhados

    em sala, e principalmente, dificuldades em auxiliar seus alunos no desenvolvimento da

    capacidade criativa e autnoma em relao construo do saber.

    1 Feuerstein nasceu na Romnia, imigrou para Israel em 1944 e atualmente reside em Jerusalm onde dirige o instituto depesquisas na rea da mediao da aprendizagem e do desenvolvimento da inteligncia ICELP. (International Center ofEnhancement Learning Potential). Trabalhou com Jean Piaget em pesquisas a respeito das dificuldades de aprendizagem,alm de criar uma metodologia prpria para que as crianas possam desenvolver suas funes cognitivas.

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    Observar tais fatos sempre me induziu a pensar a respeito das possveis causas, das

    razes subjacentes ao que era visvel. Minha curiosidade em desvendar tais origens fez surgir

    algumas questes como: Quais so as caractersticas principais de um professor e de sua

    ao pedaggica que o tornam mais eficaz?; O que h na interao professor-aluno que

    facilita a aprendizagem do aluno?; "O aluno percebe a existncia ou ausncia destas

    caractersticas em seus professores"?

    Essas perguntas tm-me inquietado e me direcionado a pesquisar a Mediao da

    Aprendizagem no que diz respeito s questes tericas e prticas que possam fundamentar e

    sistematizar a ao pedaggica do professor enquanto mediador.

    Nesses ltimos anos, percorrendo caminhos que me aproximassem de possveis

    respostas, entrei em contato com as contribuies tericas e prticas de Reuven Feuerstein.

    Percebendo uma possibilidade de encontrar respostas a essas inquietaes, busqueicapacitao especfica. Cursei os programas tericos e prticos da Teoria da Modificabilidade

    Estrutural Cognitiva (nomenclatura j difundida internacionalmente) de Reuven Feuerstein

    tanto no Paran2, quanto em Israel3, diretamente com o autor e sua equipe, onde constatei

    contribuies significativas que vieram ao encontro de minhas questes relativas mediao

    da aprendizagem.

    Entretanto, ter encontrado algumas respostas no significou o fim, mas sim o comeo

    de uma srie de indagaes. Neste sentido, percebi a necessidade de aprofundar estudos na

    rea da inter-relao professor/aluno, essencialmente na mediao da aprendizagem, com opropsito de enriquecer as discusses neste mbito, e, com elas, crescer.

    Conhecer a forma como ocorre e a forma como o aluno percebe a mediao sendo

    exercida pelos seus professores, torna-se importante nessa pesquisa.

    Para atender a essa demanda, optou-se por aprofundar o conhecimento e a reflexo a

    respeito da mediao, segundo o autor j citado, Reuven Feuerstein.

    Entretanto, apenas conhecer a contribuio feuersteniana no campo da mediao da

    aprendizagem no possibilita saber como o aluno percebe a mediao. esta preocupao que

    se torna objeto desta pesquisa constituindo-se na questo norteadora apresentada a seguir:

    2 A formao (210 horas/aula) dada pelo Centro de Desenvolvimento Cognitivo do Paran, autorizado porFeuerstein para atuar com a Teoria da Modificabilidade Estrutural Cognitiva e seus sistemas componentes.

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    PROBLEMA

    "Como o aluno do Ensino Mdio percebe as caractersticas da mediao exercida pelos

    seus professores?

    1.3 - HIPTESES DE PESQUISA

    Os alunos identificam na atuao de seus melhores professores as mesmas

    caractersticas que Feuerstein prope como critrios de mediao.

    1.4 - OBJETIVOS

    1.4.1 Objetivo geral:

    Conhecer a forma como o aluno percebe as caractersticas feuerstenianas de mediaoda aprendizagem em seus professores.

    1.4.2 Objetivo especfico:

    Caracterizar a Mediao da Aprendizagem na obra de Reuven Feuerstein.1.5 - DEFINIO OPERACIONAL DE TERMOS

    Mediao da aprendizagem: Forma especial de interao entre um sujeito que ensina e outro

    que aprende, caracterizada pelos critrios de mediao definidos por Reuven Feuerstein e que

    possibilitam o aprendiz a aprender a aprender.

    Funes Cognitivas: Potencialidades do Sujeito em relao ao pensamento que funcionam

    como pr-requisitos da Operao Mental.Operao Mental: Principal ao cognitiva na execuo de uma tarefa especfica.

    3 Em Israel os cursos de aperfeioamento so desenvolvidos em Jerusalm pelo International Center of

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    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 Contextualizao da Teoria de Reuven Feuerstein.Faz-se necessrio evidenciar o contexto ao qual est inserido o trabalho de Feuerstein

    para que se possa conhecer suas origens, seus pressupostos e a dimenso de suas reflexes a

    respeito do tema central dessa dissertao, a mediao da aprendizagem. Um dos aspectos

    fundamentais da contribuio feuersteniana , sem dvida, a proposta que faz de substituir-se

    a palavra inteligncia pela palavra modificabilidade. Sua justificativa vem do fato de que

    o conceito de inteligncia traz dentro de si a idia de adaptao, de modificao, mas, poroutro lado, carrega dentro de si a idia de limite, de barreira. S se inteligente at certo

    ponto, no se pode evoluir alm dele. Tal concepo no pode servir de base ao educador que

    precisa acreditar no potencial de mudana do sujeito, na capacidade de desenvolver-se,

    evoluir.

    Assim, a idia de modificabilidade atende melhor aos objetivos da educao pois

    alm de carregar dentro de si as idias de adaptao, modificao, evoluo, no tem o

    problema do conceito anterior. Em outras palavras, no traz dentro de si a idia de limite,

    permitindo dessa forma que o educador acredite no potencial de mudana e dedesenvolvimento do sujeito com o qual interage.

    A concepo de inteligncia, ou de desenvolvimento da inteligncia tem, na histria da

    educao, basicamente trs posturas frente ao desenvolvimento da inteligncia do sujeito: a

    postura inatista, a ambientalista e a interacionista.

    2.1.1 Inatismo, Ambientalismo e InteracionismoNa primeira concepo, a "Inatista", percebe-se a inteligncia como algo hereditrio,

    fruto de herana gentica, e o desenvolvimento do sujeito, por melhor que seja, s poderalcanar os limites pr-estabelecidos pelos cromossomos. Nessa forma de ver o sujeito, o

    professor se exime de modificar estratgias ou de possibilitar trabalhos especficos ou

    Enhancement of Learning Potential ICELP. Sob a direo de Reuven Feuerstein. (www.icelp.org)

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    personalizados, pois, se h dificuldades de aprendizagem, o "problema" do aluno. Ele que

    possui ou no a capacidade de aprender, de assimilar contedos novos. Nessa tica, o aluno j

    nasce com o nvel de inteligncia pr-estabelecido. O professor apenas contribui para que o

    conhecimento, e no a inteligncia de tal aluno, seja ampliado.

    O Inatismo, ou tambm conhecido como Apriorismo defende a idia de que o

    sujeito ao construir seu conhecimento por meio das sensaes que recebe do meio, o faz

    segundo a ao da conscincia cognoscente que comea por introduzir a ordem no tumulto

    das sensaes, ordenando-as no espao e no tempo, numa justaposio e numa sucesso.

    (HESSEN, 1980, p. 79). Essa organizao realizada pelo sujeito por meio de sua conscincia

    cognoscente est determinada pelas leis imanentes ao pensamento, pelas formas a priori daconscincia. (HESSEN, 1980, p. 79) Ainda, segundo esse autor, o apriorismo o que torna

    possvel a experincia, isto , o conhecimento prprio das cincias reais.

    Segundo Marilena Chau,

    a tese central dos inatistas a seguinte: se, desde nosso nascimento, no possuirmos em nosso

    esprito a razo com seus princpios e leis e algumas idias verdadeiras das quais todas as

    outras dependem, nunca teremos como saber se um conhecimento verdadeiro ou falso, isto ,

    nunca saberemos se uma idia corresponde ou no realidade a que ela se refere. No teremos

    um critrio seguro para avaliar nossos conhecimentos.(CHAU, 2003, p.71).

    Como conseqncia desse tipo de postura, as dificuldades de aprendizagem por partede um aluno so vistas pelo professor como dificuldades estruturais diretamente relacionadas

    deficincia da razo e de seus princpios j existentes no sujeito desde seu nascimento.

    Portanto, um professor com princpios inatistas em sua forma de agir, de interagir com seus

    alunos, pode no dedicar esforos suficientes para auxiliar um aluno em dificuldades, j que

    essas dificuldades seriam fruto de uma estrutura mental, construo cerebral j definida,

    recebida como herana de seus pais e, portanto, imutvel.

    Na segunda concepo, a "Ambientalista", ou, Empirista, o sujeito nasce como uma

    "tbula-rasa", expresso que John Locke (1632-1704) consagrou, mas que j era conhecida

    desde a poca dos esticos. (HESSEN, 1980). Nessa concepo, o sujeito no traz nada

    consigo e a escola que precisa "ensin-lo". O papel da estimulao ambiental o de fornecer

    ao indivduo a possibilidade de se tornar inteligente. No h a necessidade de se considerar o

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    aluno em seus mltiplos aspectos, pois o que realmente importa a qualidade do estmulo e

    do contedo a ser ensinado. A preocupao est em dar boas aulas, boas exposies dos

    assuntos a serem assimilados. A experincia, segundo os empiristas, a nica fonte do

    conhecimento, e, portanto, o sujeito precisa de uma grande quantidade de experincias em sua

    vida para que possa obter conhecimento. Nessa concepo, o conhecimento se d por meio da

    ao de experimentar as sensaes, que so a base do conhecimento. A associao das

    sensaes a outras sensaes ou conhecimentos j adquiridos d origem s percepes que,

    levadas memria do origem aos pensamentos. (CHAU, 2003, p. 71). Se o aluno no

    aprende, faltaram-lhe percepes, sensaes, que possam ser associadas, interligadas,

    formando idias. O professor se exime de sua responsabilidade de promover a aprendizagem

    j que o problema se encontra fora dele e de sua ao. O problema est no ambiente que

    desfavorvel ao desenvolvimento de seu aluno.Nessas duas formas de se ver o aprendiz, ou o foco da limitao est no sujeito

    (Inatismo) ou no objeto (Ambientalismo). Nas duas concepes h a idia de limitao, de

    barreira que no pode ser transposta, de desenvolvimento estagnado por uma limitao

    orgnica por um lado, ou ambiental por outro.

    H, porm, uma terceira possibilidade. Tal concepo a "Interacionista". A nfase

    no est nem no sujeito nem no objeto, mas na interao entre eles. O sujeito aprende por

    meio de sua interao com o objeto de aprendizagem. Nesta concepo, os dois autores mais

    conhecidos so Piaget e Vygotsky.Piaget, epistemlogo gentico, ao estudar as caractersticas da lgica e do

    desenvolvimento do raciocnio de uma criana, percebeu que o sujeito em seu

    desenvolvimento passa por fases distintas , as quais denomina estdios.4

    Segundo Piaget h quatro estdios bem definidos e com caractersticas prprias. A

    idade do sujeito em cada estdio pode variar, porm a seqncia da construo dos

    "esquemas" mentais no varia. Essa idia de construo d teoria o nome de

    construtivismo.

    Vygotsky tambm interacionista e refora o papel da linguagem como heranacultural histrica no desenvolvimento da inteligncia do sujeito. Inteligncia e linguagem

    4 Alguns autores utilizam o termo "estgio". Porm tal palavra sugere "perodo de estudos prticos",distanciando-se do conceito pretendido. O sentido figurado da palavra estdio sugere fase, perodo de umprocesso, o que mais adequado definio piagetiana.

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    crescem interagindo. Os grupos sociais desenvolvem a linguagem em seu contexto e auxiliam

    seus componentes na apropriao de seus rudimentos e de sua complexidade. Para ele,

    O caminho do objeto at a criana e desta at o objeto passa atravs de outra pessoa.

    Essa estrutura humana complexa o produto de um processo de desenvolvimentoprofundamente enraizado nas ligaes entre histria individual e histria social(VYGOTSKY, 1989, p.33).

    As escolas atuais tm crescido no estudo e no desenvolvimento de uma metodologia de

    concepo interacionista, pela qual so valorizadas as aes individuais, os trabalhos em

    equipe, o desenvolvimento de projetos que envolvam a construo do conhecimento inter e

    transdisciplinar. Nesse contexto, o professor necessita transformar sua postura "cognitivista"

    para adotar a postura de mediador da aprendizagem tanto quanto necessita mediar as relaes

    entre os sujeitos da aprendizagem quanto aos seus conflitos, emoes, resistncias,

    preferncias e repulsas.

    Em relao defesa do papel mediador da interao humana, entre sujeitos, vemos

    que Vygotsky observa um caminhar do social para o individual, valorizando as relaes entre

    as pessoas, o que caracteriza e fundamenta a sua forma de perceber a mediao:

    Um processo interpessoal transformado num processo intrapessoal. Todas asfunes no desenvolvimento da criana aparecem duas vezes: primeiro, no nvel social, e,depois, no nvel individual; primeiro entre pessoas (interpsicolgica) e, depois, no interior dacriana (intrapsicolgica). (...) Todas as funes superiores originam-se das relaes reais entreindivduos humanos. (VYGOTSKY, 1989, p.64).

    A partir dessa concepo vigotskiana de que as funes superiores originam-se em

    primeiro lugar no nvel social para s ento serem incorporadas pelo indivduo que se pode

    sustentar a idia de que o professor precisa mediar processos intrapessoais, precisa interagir

    com seus alunos para que eles possam aprender por meio dessa interao.

    Feuerstein em seu trabalho prope que o desenvolvimento do ser humano precisa

    passar pelas experincias de aprendizagem mediada. E esse conjunto de experincia que

    permite ao sujeito desenvolver-se a ponto de se beneficiar das experincias de aprendizagem

    direta.

    2.2 Biografia de Feuerstein

    Reuven Feuerstein nasceu em 1921 em Botosan, na Romnia. De famlia judia,

    imigrou para Israel em 1944. Casou com Berta Guggenheim Feuerstein, e com ela, teve 4

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    filhos. Atualmente mora em Jerusalm, Israel onde dirige o Instituto para o Desenvolvimento

    do Potencial de Aprendizagem (ICELP), rgo internacionalmente reconhecido por seu

    trabalho de referncia na rea de interveno cognitiva junto aos indivduos com a sndrome

    de Down. Alm desse trabalho, o Instituto tem realizado anualmente um congresso

    internacional em que so divulgados os resultados das pesquisas no campo da interveno

    cognitiva e da mediao da aprendizagem. Esse ano, em julho de 2004, o encontro foi

    realizado em Amsterd na Holanda.

    Educao

    De 1940 a 1941 freqentou o Teachers College em Bucareste e em 1944 formou-se

    em Psicologia no Onesco College na mesma cidade. De 1944 a 1945 freqentou o Teacher

    Training Seminary em Jerusalm. Voltou aos estudos em 1949 na Sua onde participou depalestras de Carl Jaspers, Carl Jung e L. Szondy. De 1950 a 1955 estava na Universidade de

    Genebra sob a orientao de Andre Rey e Jean Piaget completando sua graduao em

    Psicologia Clnica e Geral.

    Em 1970 Feuerstein obteve seu doutorado em Psicologia do Desenvolvimento em

    Sorbonne. Seus principais campos de pesquisa foram Psicologia do Desenvolvimento,

    Psicologia Clnica e Psicologia Cognitiva a partir de uma perspectiva trans-cultural.

    AtualmenteDe 1970 at agora (2004), Feuerstein professor de Psicologia Educacional na Bar

    Ilan University School of Education em Ramat Gan, Israel.

    A partir de 1978 tem sido professor Adjunto na Vanderbilt Universitys Peabody

    College of Education em Nashville, USA.

    o diretor do Instituto Hadassah-WISO-Canada Research Institute desde 1965. Este

    instituto faz parte desde 1993 do Centro Internacional para o Desenvolvimento do Potencial

    de Aprendizagem ICELP International Center for the Enhancement of Learning Potential

    com sede em Jerusalm. O Hadassah um rgo internacional que tem contribudofinanceiramente com o trabalho e com as pesquisas realizadas no ICELP. Foi fundado em

    1983 pelo prprio Feuerstein e colaboradores.

    Seu principal trabalho ocorre no ICELP onde pesquisa e desenvolve a teoria da

    Modificabilidade Estrutural Cognitiva, as experincias de aprendizagem mediada, a avaliao

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    dinmica do potencial de aprendizagem (LPAD), o sistema de interveno cognitiva

    denominado PEI - Programa de Enriquecimento Instrumental e, ainda, o campo relacionado

    aos ambientes modificantes.

    Tem realizado tambm inmeros trabalhos, pesquisas e aes com populaes de indivduos

    com dificuldades cognitivas, incluindo vrios projetos de integrao da populao de

    imigrantes judeus vindos de outros pases, como da Etipia e outros.

    Experincia e atividades profissionais

    De 1940 a 1944, Feuerstein foi vice-diretor e professor na escola para crianas com

    distrbios e deficincias em Bucareste. De 1945 a 1948, professor de educao especial e

    conselheiro em Israel, trabalhando com crianas sobreviventes do Holocausto.

    Durante o perodo de 1950 a 1954, Feuerstein trabalhou como Diretor dePsychological Services of Youth Aliyah5 na Europa, responsvel pela integrao dos

    imigrantes vindos do Marrocos, Tunsia, Arglia, Egito e de vrios pases da Europa nos

    programas educacionais disponveis em Israel. No incio dos anos 50, envolveu-se com

    pesquisas com crianas judias marroquinas, em colaborao com vrios membros da escola de

    Genebra, incluindo professores como Andr Rey, Marc Richelle e Maurice Jeannet. Foi

    durante esse perodo que muitos dados de pesquisa foram recolhidos por ele e que

    contriburam para o desenvolvimento de conceitos relacionados s diferenas entre privao

    cultural e diferenas culturais. Tambm nesse perodo comeou a desenvolver suashipteses de trabalho a respeito de crianas com baixo nvel de funcionamento e de seus

    potenciais de mudana.

    Desde o incio dos anos 50, o professor Feuerstein tem se envolvido ativamente na

    criao de condies para a integrao pluralstica de diversos grupos culturais por meio de

    processos educacionais orientados ao aumento da identidade cultural e competncia funcional.

    As condies para tal integrao e o desenvolvimento de sistemas aplicados na avaliao e

    interveno tm justificado seu trabalho como um dos principais no campo da Psicologia

    Cognitiva, Desenvolvimento Educacional e das experincias trans e interculturais.Entre as atividades e as pesquisas desenvolvidas por Feuerstein esto os estudos dos

    efeitos dos programas de Youth Aliyah nos sobreviventes do Holocausto, programas para

    5 Youth Aliyah Instituio que trabalhava com a recepo e integrao de crianas judias rfs, sobreviventesdo holocausto durante e aps a guerra.

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    preparao de jovens Sindrmicos de Down, ou outras deficincias no trabalho, para que

    possam atuar como monitores, auxiliares ou atendentes a idosos ou deficientes, ou como

    auxiliares no trabalho com o Programa de Enriquecimento Instrumental para adultos com alto

    nvel de funcionamento tanto quanto para crianas pr-escolares.

    Continua desenvolvendo pesquisas com o PEI, a Experincia de Aprendizagem

    Mediada, e o LPAD (Avaliao Dinmica do Potencial de Aprendizagem) em diversas

    populaes, desde indivduos com danos cerebrais at superdotados.

    O trabalho de Feuerstein tem sido reconhecido por milhares de pessoas que tm

    estudado suas teorias e programas e seu trabalho pioneiro no desenvolvimento de um modelo

    de avaliao dinmica. Tais trabalhos tm sido adaptados e desenvolvidos em todo o mundo.

    Seu programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) j foi traduzido para 18 lnguas

    diferentes.No mundo todo, h mais de 45 centros autorizados e afiliados ao ICELP, que

    continuam a trabalhar no desenvolvimento de programas de treinamento, formao e

    desenvolvimento dentro da Mediao da Aprendizagem e dos sistemas integrantes da teoria

    da Modificabilidade Estrutural Cognitiva.

    Honras e reconhecimento

    Segue uma lista resumida:

    1986 Comenda especial das Escolas Pblicas de Detroit.1990 Medalha de ouro de Aix-les-Bains, Frana.

    Medalha de ouro de Nevers, Frana.

    1991 Variety Clubs International Humanitarian Award, Vancouver,

    Canada.

    1992 Yakir Yerushalaim (Cidado Distinto de Jerusalm)

    New York Academy of Sciences Israel Prize in Education

    1997 Honra ao estudo e pesquisa no campo da formao profissional pela NationalOrganization for Professional Training, Valencia, Espanha.

    Special Resolution of Commendation, Assembly, Estado da California, USA.

    1998 Membro de honra da Universidad Diego Portales, Chile

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    1999 Doutor Honoris Causa, Universidade de Torino, Itlia.

    Publicaes

    O professor Feuerstein, individualmente ou com a contribuio de inmeros autores,

    publicou mais de 80 artigos, captulos em livros ou monografias.

    Conferncias

    Tem realizado inmeras conferncias em todo o mundo. Nos Estados Unidos, por

    exemplo, tem realizado as conferncias principais nos eventos realizados pela Associao

    Americana de Psicologia, Associao para Superviso e desenvolvimento de Currculo,

    Associao Americana de Pesquisas Educacionais e no evento anual Conferncias para o

    Ensino do Pensar. Ele tem sido a principal influncia na criao da Associao Internacionalpara Educao Cognitiva (USA) e Associao Europia de Aprendizagem Mediada e

    Modificabilidade Cognitiva. Alm disto, tem palestrado na sia, Amrica do Sul e Austrlia.

    2.3 A Teoria da Modificabilidade Estrutural Cognitiva

    A Teoria da Modificabilidade Estrutural Cognitiva incorpora trs sistemas. So eles: O

    PEI Programa de Enriquecimento Instrumental, o LPAD Um sistema de Avaliao

    Dinmica da Propenso Aprendizagem, e a teoria dos Ambientes Modificantes. Uma

    breve sntese de cada um deles ser apresentada no prximo item. Entretanto, faz-senecessrio abordar os conceitos presentes no nome da teoria. Feuerstein diz que a

    Modificabilidade Estrutural Cognitiva descreve

    a capacidade , privativa dos seres humanos, de trocar ou modificar a estruturade seu funcionamento cognitivo com a finalidade de adaptar-se s demandas demodificaes das situaes da vida. A Modificabilidade Estrutural Cognitiva nosomente um reflexo da resposta de uma pessoa aos estmulos externos e s mudanasproduzidas nas condies internas, mas tambm o produto de uma srie de atosvolitivos. (FEUERSTEIN, p.3, 1993)

    A Modificabilidade Estrutural Cognitiva no deve ser confundida com as mudanasbiolgicas ou de maturao a que o sujeito afetado, nem com as mudanas transitrias ou

    pontuais que podem ocorrer no sujeito. Segundo Feuerstein,

    a modificabilidade Estrutural quando as mudanas parciais afetam o todo;quando existe uma transformao do prprio processo de mudana, de seu ritmo, suaamplitude, sua direo, e quando a mudana auto-perpetuante, refletindo assim sua

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    natureza autnoma e auto-reguladora. A Modificabilidade Estrutural Cognitiva secaracteriza pois pela permanncia, carter impregnante do todo e centralidade dasmudanas que tem lugar. (FEUERSTEIN, p.3, 1993)

    Assim, o que o autor defende no uma mudana localizada, pontual e passageira, mas uma

    mudana de outra ordem, com caractersticas bem especficas que a tornam auto-perpetuante,

    ou seja, com a possibilidade de continuar a desenvolver-se como mudana ou como novo.

    Alm disso, precisa afetar o todo, outros sistemas do sujeito, outras reas de sua vida ou

    forma de pensar. Sistmica.

    Como exemplo de mudana estrutural em relao a uma mudana comum

    poderamos avaliar a aprendizagem que uma criana realiza de um rtulo memorizado como

    Nescau, Coca-Cola, Ita ou outras palavras muito conhecidas por ela. Essa

    aprendizagem uma mudana local, pontual, no se perpetua nem se auto-regula. Por

    outro lado, a aprendizagem da leitura exemplo de mudana estrutural, pois tem as

    caractersticas que Feuerstein apresenta como necessrias para ser considerada Estrutural.

    2.3.1 O PEI Programa de Enriquecimento Instrumental

    O PEI um programa de interveno cognitiva. Seu objetivo principal desenvolver a

    capacidade do organismo humano de tornar-se modificvel atravs da exposio direta aos

    estmulos do ambiente e s experincias da vida e de modificar-se pelas oportunidades

    formais ou informais de aprendizagem (FEUERSTEIN, 1980, p.115). Em outras palavras,

    objetiva corrigir funes cognitivas deficientes e possibilitar o desenvolvimento damodificabilidade estrutural cognitiva do indivduo. composto de 14 instrumentos a serem

    aplicados por um mediador formado por meio de um centro autorizado pelo ICELP, num

    perodo recomendado de dois a trs anos com 2 a 5 encontros semanais de uma hora,

    aceitando-se variaes na carga horria desde que no venha a comprometer o

    desenvolvimento do trabalho. (FEUERSTEIN, 1980, p.125)

    Um instrumento composto de aproximadamente 22 pginas que incluem algumas

    tarefas a serem realizadas com lpis e borracha sob a interveno de um mediador que vai

    auxiliando o individuo a desenvolver sua autonomia, sua independncia, sua capacidade degerar novas informaes e sua capacidade de aprender a aprender.

    Os instrumentos do PEI so:

    1 Organizao de pontos. Pontos a serem organizados em figuras geomtricas.

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    2 Orientao espacial I. Sistemas de referncia particulares que permitem a localizao de

    objetos no espao e em relao uns com os outros.

    3 Orientao espacial II. Sistemas de referncia universais que permitem a localizao de

    objetos no espao e em relao uns com os outros.

    4 Comparaes. Caractersticas e atributos dos objetos, similaridades, diferenas e

    identidade.

    5 Percepo Analtica. Estratgias cognitivas de anlise e de sntese. Raciocnio dedutivo e

    indutivo.

    6 Classificaes. Caractersticas comuns de objetos. Critrios de classificao,

    categorizao. Organizao de elementos pertencentes a um conjunto.

    7 Relaes familiares. Codificao e generalizao das relaes de pertinncia, de

    familiaridade nos grupos familiares. Regras de parentesco e suas generalizaes para outroscontextos.

    8 Relaes temporais. Orientao e percepo de eventos no tempo. Relaes temporais e

    a capacidade de registrar, processar e comunicar eventos no tempo. Relatividade das noes

    de medida temporal.

    9 Progresses Numricas. Busca, deduo e induo das relaes entre nmeros numa

    ordem determinada ou no por leis e regras internas.

    10 Instrues. Codificao e decodificao da linguagem verbal. Interpretao e criao de

    instrues.11 Silogismos. Gerao de novas informaes por meio de inferncia, deduo ou induo.

    12 Relaes transitivas. Transitividade das relaes entre objetos ou nmeros. Percepo

    da relao do todo com suas partes numa seqncia. Conjuntos ordenados.

    13 Desenho de padres. (RSDT sobreposio de estruturas espaciais). Projeo mental de

    relaes espaciais tridimensionais e bidimensionais. Anlise e sntese de figuras geomtricas e

    suas relaes no espao e no tempo.

    14 Ilustraes. Percepo da existncia de problemas. Conscincia da ruptura de

    expectativas numa seqncia de eventos.Segundo Vitor da Fonseca, os seis primeiros instrumentos enfatizam o trabalho no

    desenvolvimento de funes cognitivas de entrada, de percepo (Input). Os instrumentos de

    7 a 10 focam as funes cognitivas relacionadas elaborao das informaes (Elaboration),

    e os instrumentos de 11 a 13 focam as funes cognitivas de sada, de comunicao, no nvel

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    de tomada de decises (Output). (FONSECA, 1998, p.115). Entretanto, em todos os

    instrumentos possvel perceber a utilizao das funes cognitivas das trs fases, input,

    elaboration e output.

    2.3.2 O LPAD (Learning Propensity Assessment Device) Avaliao Dinmica da

    Propenso Aprendizagem.

    O LPAD um mtodo usado para avaliar a propenso de um indivduo a tornar-se

    modificvel, estudando as razes do seu baixo nvel de funcionamento e provendo orientaes

    possveis para tornar mais eficientes suas funes cognitivas. (FEUERSTEIN, RAND, 1997,

    p.219).

    A avaliao escolar tanto quanto a psicopedaggica tem historicamente avaliado

    apenas (salvo excees) o Nvel de Desenvolvimento Real do sujeito. (segundo o conceitovygotskyano). O professor em seu trabalho de avaliar busca informaes a respeito do que o

    aluno consegue fazer, o que ele j domina sem ajuda. Aps a aplicao de testes envolvendo

    os conceitos trabalhados em sala de aula, o professor atribui uma nota (escala de 0 a 100)

    segundo a quantidade de erros cometidos nos testes, segundo a mdia de acertos. Essa forma

    de avaliar possibilita apenas verificar o desenvolvimento real desse aluno. No se sabe qual

    o potencial de aprendizagem nem por quais vias ele se beneficiaria mais da interveno do

    professor. Com essa preocupao, Feuerstein desenvolve o LPAD.

    Segundo Feuerstein e Yaacov Rand, o LPAD, ou avaliao dinmica, baseado emuma forte crena na modificabilidade humana, e faz uma clara distino entre o nvel de

    funcionamento observvel do indivduo (Nvel de Desenvolvimento Real) e sua possibilidade

    de modificar-se. (Nvel de Desenvolvimento Potencial) (FEUERSTEIN, RAND, 1997,

    p.220).

    Feuerstein desenvolveu o LPAD como uma resposta necessidade de se conhecer o

    potencial de mudana do sujeito alm do repertrio de comportamentos observveis.

    (FEUERSTEIN, 1980, p.61) A avaliao dinmica, pois avalia o sujeito durante sua

    caminhada entre o no aprendido ao aprendido. Esse processo recebe a interferncia domediador que focaliza os passos e as necessidades do sujeito, observando aspectos que

    possam ser teis ao sujeito em sua aprendizagem. Em outras palavras, avalia-se o tamanho da

    Zona Proximal (conceito de Vygotsky) do sujeito, desvelando quais caminhos possibilitam a

    esse sujeito uma maior aprendizagem.

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    H trs nveis de inferncia na aplicao do LPAD:

    1. Medio dos nveis de funcionamento manifesto.2. Explorao das condies que podem melhorar o funcionamento

    manifesto, ou seja, busca das caractersticas das situaes de

    aprendizagem em que o indivduo possa utilizar suas funes cognitivas

    de forma correta, eficaz.

    3. Avaliao da modificabilidade, provocando uma mudana real nasestruturas cognitivas por meio da mediao de funes e estratgias

    com a subseqente avaliao dos efeitos produzidos pelo ensino tanto

    nos processos generalizveis do pensamento como em seu

    funcionamento manifesto. (FEUERSTEIN, 1993, p.9)

    Segundo Feuerstein, na avaliao dinmica no se quer saber algumas respostas

    tradicionais, mas sim, respostas segundo uma nova forma de perceber o sujeito. Veja-se:

    Tabela 1 Diferenas entre avaliao tradicional e dinmica.

    No se quer: O que se procura:

    Qual o rendimento manifesto tpico doindivduo a ser avaliado?

    Qual o rendimento manifesto mximodesse indivduo?

    Quanto sabe esse indivduo? Quanto esse indivduo pode aprender?

    Com que facilidade essa pessoa a ser

    avaliada provavelmente aprender de forma

    independente, sem ajuda?

    Que tipo de ensino se necessita para

    capacitar uma pessoa para que possa

    aprender em um nvel aceitvel?

    Quais reas de contedo no esto

    dominadas, conhecidas?

    Que deficincias no processo de

    aprendizagem subjazem ao fracasso da

    aprendizagem e como podem ser corrigidas?

    Adaptado de (FEUERSTEIN et al, 1993, p. 13)

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    A avaliao dinmica do potencial de aprendizagem do sujeito uma estratgia geral, no

    um conjunto de testes especficos, tarefas ou instrumentos de avaliao. (FEUERSTEIN et al,

    1993, p. 13) O que Feuerstein quer dizer com essa afirmao que h uma necessidade de se

    ter um sistema de crenas subjacente ao ato de avaliar. Crena no ser humano como uma

    entidade modificvel, com possibilidades de modificar-se independentemente de quaisquer

    fatores orgnicos, funcionais, sociais ou culturais que poderiam servir como justificativa para

    a inatividade do professor, do mediador.

    Entretanto, para que se possa conhecer melhor o LPAD, relaciona-se abaixo o que

    tradicionalmente se utiliza na avaliao dinmica criada por Feuerstein:

    1. Organizao de Pontos (Feuerstein, adaptado de Andr Rey)2. Matrizes Progressivas Coloridas de Raven. Sries A, AB e B (Raven)3.

    Matrizes Progressivas Clssicas de Raven. Sries A,B,C,D,E (Raven)

    4. Grupo I de variaes do LPAD (Feuerstein)5. Grupo II de variaes do LPAD (Feuerstein)6. Teste do Desenho de Padres (Feuerstein, adaptado de Grace Arthur)7. Progresses Numricas (Feuerstein)8. Desenho da figura complexa de Rey (Rey)9. Teste da aprendizagem de Posio (5x25) (Rey)10.Memria Associativa: Teste I de reduo funcional (Feuerstein)11.Memria Associativa: Teste da parte e do todo (Feuerstein)12.Teste de abstrao verbal (Semelhanas) (TAV) (Haywood)13.Bandejas (Rey)14.Teste da memria de palavras. (Rand, adaptado de Rey)15.O Organizador (Feuerstein)16.Teste de Raciocnio por Silogismos (Feuerstein)

    (Listagem traduzida de: (FEUERSTEIN et al, 1993, p. 14))

    Numa situao de avaliao dinmica, aplica-se o teste de forma tradicional, sem apreocupao de obter os escores padres (FEUERSTEIN, RAND, 1997, p.221), e em seguida,

    por meio de mediao, auxilia-se o avaliado a perceber detalhes que possam ajud-lo na

    continuidade das tarefas propostas pelos testes. A forma de interao possibilita ao mediado

    conscientizar-se de seus processos cognitivos na resoluo das tarefas ampliando seu

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    potencial de aprender com seus erros e, dessa forma, progredir. O mediador anota detalhes

    como as formas de interao, tipos de interferncia, conceitos que necessitaram ser

    explicados, e uma srie de outras caractersticas para que se possa fornecer uma viso geral do

    sujeito a respeito do que realmente pode auxili-lo em sua caminhada na aprendizagem. Em

    suma, com a avaliao dinmica, conhece-se um pouco mais a respeito da Zona Proximal

    de cada sujeito.

    2.3.3 A Teoria dos Ambientes Modificantes

    Este terceiro sistema que integra a Teoria da Modificabilidade Estrutural Cognitiva

    ainda est em desenvolvimento. Inmeras conferncias tm sido realizadas a respeito

    evidenciando no mundo todo uma tendncia a se aprofundar e construir um corpo de

    contribuies terico-prticas com o objetivo de auxiliar o mediador a criar, formar,desenvolver um ambiente que possa auxiliar a modificabilidade do indivduo.

    Algumas contribuies j foram divulgadas na obra (FEUERSTEIN e RAND, 1997)

    no captulo 16. Em sntese so elas:

    Um ambiente modificante deve ser marcado por um alto grau de igualdade,

    sinceridade e franqueza, onde todos os indivduos, mesmo com nveis diferentes de prejuzo

    em sua performance possam ter acesso igualitrio s oportunidades da sociedade. Deve

    basear-se no respeito s caractersticas individuais ao invs de diferenciar sujeitos por seus

    bens ou status.Segundo, um ambiente deve oferecer um nvel otimizado de quantidade e qualidade de

    tarefas e responsabilidades ao qual o sujeito necessita adaptar-se.

    Terceiro, um ambiente modificante deve oferecer um encontro planejado e controlado

    do sujeito com tarefas novas, produzindo uma tenso positiva entre o que se sabe e o que se

    precisa ainda aprender.

    Em quarto lugar, um ambiente modificante deve considerar a individualizao,

    especializao e adequao das instrues, da mediao do tipo de interao mediador-

    mediado e as particularidades de cada sujeito.Esses quatro fatores devem ser considerados sempre com cuidado, simpatia e objetivos

    altrustas, acreditando na possibilidade de mudana do sujeito, escolhendo as alternativas

    positivas e mediando o sentimento de competncia.

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    glandular, muscular ou um outro neurnio. Essa regio terminal especial: o "boto

    sinptico".

    A conexo no por contato direto, pois existe uma pequena distncia entre o

    neurnio transmissor e o receptor, a "fenda sinptica". Essa regio, e o processo pelo qual se

    d a "transmisso" do impulso nervoso, denominada de "Sinapse".

    O potencial eltrico - matria prima da transmisso de informaes no corpo humano -

    construdo no soma, conduzido pelo axnio e, ao contrrio do que se poderia imaginar, no

    transmitido ao prximo neurnio, prxima clula. Ele encerra suas funes no prprio

    neurnio, no boto sinptico.

    Esse potencial eltrico, corrente eltrica ou impulso nervoso, ao chegar no boto

    sinptico, tem a funo de abrir estruturas orgnicas especializadas que contm os

    neurotransmissores: as vesculas sinpticas. Tal abertura s ocorre se o potencial eltrico forsuficientemente forte para essa ao. Uma vez aberta, a vescula sinptica libera o

    neurotransmissor na fenda sinptica, justificando o trabalho exercido pelo impulso nervoso.

    Em seguida o neurotransmissor, tambm chamado de mediador qumico, reage com

    estruturas especializadas da prxima clula, ou prximo neurnio, chamadas de "receptores".

    Os receptores, ao reagirem presena do mediador qumico, possibilitam a construo de um

    impulso eltrico nessa nova clula, nesse novo neurnio. Assim, continuamente, o impulso

    nervoso "percorre" inumerveis caminhos pela rede de neurnios at que encontre sua razo

    de existir: move um msculo, age em uma glndula, ou participa da construo dopensamento.

    Transcendendo da neurologia para a aprendizagem, percebe-se que para a construo

    do conceito de mediao da aprendizagem, importante destacar a funo mediadora do

    neurotransmissor: ele inicia sua ao como conseqncia da chegada de um impulso nervoso

    e age nos receptores da membrana ps-sinptica (a prxima clula) possibilitando a

    construo, pela clula receptora, de seu prprio impulso nervoso. No h a transmisso do

    impulso, h uma "reconstruo" no neurnio receptor.

    A compreenso desse mecanismo fundamental para a compreenso do processo deaprendizagem, pois a essncia do ato de aprender est em uma construo prpria de

    conceitos, de teorias, de conhecimento, em oposio recepo passiva de informaes. o

    que Paulo Freire critica quando cria a expresso "educao bancria" em que a aprendizagem

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    ocorre pelo "depsito" de informaes na cabea do aluno pelo professor "transmissor",

    "detentor" do conhecimento, do poder e das informaes.

    O oposto dessa "educao bancria", o que denominamos "construo do

    conhecimento" que se potencializa quando o ensino incentiva a autonomia do aluno em

    relao sua prpria caminhada na construo da aprendizagem. E, segundo Feuerstein, essa

    construo potencializada pela mediao da aprendizagem.

    Em sntese, e retornando Neuropsicologia, o professor no "passa" informaes, no

    "transmite" conhecimento, no "ensina". O que faz, provocar, incentivar, disparar e

    possibilitar ao aluno a prpria construo do conhecimento, a prpria aprendizagem. Esse

    processo deve constituir as bases tericas da ao consciente do professor mediador.

    medida que o professor compreende a dimenso desse fator, pode, de forma

    consciente, interagir com o aluno compreendendo suas idiossincrasias e suas particularidadesna forma como aprende.

    Mediar significa, portanto, possibilitar e potencializar a construo do conhecimento

    pelo mediado. Significa estar consciente de que no se transmite conhecimento. estar

    intencionalmente entre o objeto de conhecimento e o aluno de forma a modificar, alterar,

    organizar, enfatizar, transformar os estmulos provenientes desse objeto a fim de que o

    mediado construa sua prpria aprendizagem, que o mediado aprenda por si s.

    Transcendendo a NeuropsicologiaA concepo da mediao, como possibilitadora da construo pessoal do

    conhecimento, deve trazer consigo algumas mudanas na ao do professor. Posturas no

    mediadoras precisam ser revistas, integradas e contextualizadas. H que se promover

    transformaes no trabalho docente que garantam a mediao da aprendizagem como opo

    consciente de ao pedaggica ou, por que no dizer, andraggica7. O fator de "construo"

    como parte integrante e integradora do conceito de mediao da aprendizagem um passo

    necessrio nesse caminho.

    Quando o professor fala em sala de aula, realiza, sob o ponto de vista fsico, alteraesno meio ambiente por meio de ondas sonoras. Essas ondas movimentam-se pelo ar e causam

    7 O conceito "Andragogia" foi proposto pela UNESCO para designar a educao de adultos, sem referncia aotermo "Pedagogia" cujo significado o da educao de crianas. (A referncia apenas quanto educaocontnua e permanente do ser humano.) Do grego paids = criana e Andr = homem.

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    perturbaes nos tmpanos do sistema auditivo dos alunos de acordo com o que foi produzido

    pelo professor. Uma vez havendo movimento do tmpano, o sistema auditivo transforma essa

    alterao fsica em qumico-eltrica. A corrente eltrica percorre os neurnios at a rea

    primria da audio localizada no lobo temporal no crebro. A partir da decodificao

    realizada na rea primria tem-se a sensao auditiva que, em seguida, encaminhada,

    tambm por meio de corrente eltrica, rea secundria onde h uma nova decodificao

    criando uma "imagem auditiva". Da rea secundria da audio, essa imagem auditiva segue

    para a rea terciria e associa-se s imagens provenientes das outras sensaes - visuais por

    exemplo. Esse conjunto de associaes, juntamente com imagens provenientes da memria e

    do crtex frontal, responsvel pela ao de pensar, imaginar e raciocinar, cria a conscincia e

    a compreenso do conceito inicialmente explicado pelo professor. Ocorre aprendizagem.

    Vale lembrar que, em todos os caminhos percorridos pelos sinais eltricos, houvesinapses e, portanto, mediao qumica e reconstruo de impulsos nervosos. No possvel

    imaginar que em todo esse processo haja "transmisso" de conceitos, de informaes. S h

    construes.

    As construes conceituais, de todos os estmulos recebidos do meio ambiente, so

    prprias, particulares e idiossincrticas. Incluindo as melhores explicaes dos melhores

    professores.

    Assim, essa idia de construo no conceito de mediao precisa ser considerado em

    todos os aspectos relativos aprendizagem e ao ensino. Em suma, precisa ser compreendido eintegrado ao de mediar.

    2.4.2 A mediao da aprendizagem segundo Feuerstein

    A mediao da aprendizagem um tipo especial de interao entre algum que ensina

    (o mediador) e algum que aprende (o mediado). Essa interao deve ser caracterizada por

    uma interposio intencional e planejada do mediador que age entre as fontes externas de

    estmulo e o aprendiz. A ao do mediador deve selecionar, dar forma, focalizar, intensificar

    os estmulos e retroalimentar o aprendiz em relao s suas experincias a fim de produziraprendizagem apropriada intensificando as mudanas no sujeito. (FEUERSTEIN, FALIK e

    FEUERSTEIN, 1998, p.15)

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    A mediao dever caracterizar-se pela existncia dos 4 critrios universais de mediao

    descritos adiante e focalizar a interveno no objetivo de modificabilidade do sujeito.

    2.4.3 Os critrios de mediao

    Tabela 2 Critrios de mediao

    Nmerodo

    critrio.Critrio

    1 Intencionalidade e reciprocidade.2 A transcendncia.3 Mediao do significado.4 Mediao do sentimento de competncia.5 Mediao do controle do comportamento.

    6 Mediao do comportamento de compartilhar.7 Mediao da individuao e diferenciao psicolgica.8 Mediao da busca, planejamento e alcance dos objetivos.

    9Mediao da busca da adaptao a situaes novas e complexas. Odesafio.

    10 Mediao da conscincia da modificabilidade.11 A mediao da alternativa positiva.12 Mediao do sentimento de pertena.

    Fonte: Traduzido de (FEUERSTEIN, 1994)

    A mediao da aprendizagem uma forma especializada de interao entre um sujeito

    que aprende e um sujeito que ensina. O mediador, agindo entre o mediado e o objeto a ser

    aprendido, promove uma modificao, regulao, adaptao ou adequao dos estmulos, do

    conceito a ser aprendido, objetivando a aprendizagem. Essa ao de alterar os estmulos, de

    propiciar a modificao na forma como sero percebidos, funo do mediador.

    Por ser uma forma especial de interao, a mediao incorpora algumas caractersticas

    que a particularizam. Segundo a Teoria da Modificabilidade Estrutural Cognitiva de Reuven

    Feuerstein, essas caractersticas so doze8 no total. Entretanto h quatro delas que so

    concebidas por ele como "Universais", ou seja, esto sempre presentes em um ato mediado.

    Se essas quatro caractersticas, ou critrios, fizerem parte de uma interao, ela j uma

    8 Atualmente, na teoria de Feuerstein, so doze caractersticas (tambm chamadas de critrios) j relacionadas eestudadas. Porm h uma abertura para que se possa propor algum novo aspecto ou novo critrio que, segundo oautor, precisa apenas ser reconhecido como importante ao de mediar.

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    mediao. Mas, para uma mediao ainda mais eficaz, de melhor qualidade, necessrio que

    os outros critrios estejam presentes.

    Segundo (FEUERSTEIN, KLEIN, TANNENBAUM, 1994, p.15) os 3 primeiros

    critrios que so universais, entretanto, no Congresso Internacional promovido pelo ICELP,

    na Holanda em 2001, o dcimo critrio tambm foi considerado universal.

    1)Intencionalidade e reciprocidade.

    O mediador precisa ter o objetivo de ensinar e, por meio de suas aes, garantir que o

    que est sendo ensinado realmente seja aprendido. No apenas a declarao de um objetivo

    de ensino mas, juntamente com o objetivo, uma tomada de posio por parte do mediador em

    que ele, de forma consciente, assume a responsabilidade por colocar em prtica as estratgias

    sua disposio para garantir o alcance das metas e dos objetivos.Em relao intencionalidade, a doutora em educao Silvia Zanatta da Ros afirma

    que Feuerstein prope, para qualificar as interaes sociais entre mediador e mediado, com o

    objetivo de um salto qualitativo nos sujeitos envolvidos, o uso da mediao.

    Assim, e sem dissociar afeto e intelecto, descortina-se a possibilidade de compreender arealizao simultnea e instrumentalizada de um trabalho pedaggico que vislumbre a modificabilidadeestrutural. No se trata, em Feuerstein, de realizar um trabalho cognitivista, que privilegia apenas oexerccio intelectual, nem algo de cunho psicoterpico (que privilegia o estabelecimento de novasrelaes afetivas). Trata-se de algo mais complexo, denotando uma perspectiva pedaggica para arelao do sujeito, que simultaneamente intelecto, afeto, corpo, eu, outro, com sua realidade social,

    histrica e cultural.No foi porque houve um acrscimo ao que se possua como referencial terico e metodolgicoque se efetivou a nova experincia9. Foi, sim, sobre essa base, ainda que no tenha sido ela que impeliua enfrentar o No me aceite como eu sou. Isso foi produto de uma grande luta terica e afetiva, daqual resultou a ruptura para fazer o novo. Essa luta foi necessria porque o mediador precisa estarinvestido de uma intencionalidade clara, que embase a empreitada rumo modificabilidade. por issoque Feuerstein ressalta, sobremaneira, a necessidade da crena naquilo que o professor/mediador seprope a realizar, rumo modificabilidade. (Da ROS, 2002, p.109)

    A intencionalidade mencionada por Da ROS, deixa de ser apenas uma caracterstica da

    interao, mas permite que a modificabilidade possa ser colocada, como objetivo, em bases

    slidas.

    Por outro lado, a reciprocidade garante o estabelecimento de uma certa cumplicidade:o mediado precisa querer aprender. Assim, a reciprocidade, parte integrante do "contrato

    9 A autora est falando de seu trabalho com um grupo de adultos com histria de deficincia intelectual em queaplicou o Programa de Enriquecimento Instrumental de Feuerstein estudando seus efeitos na modificabilidadedos sujeitos, como pesquisa para seu doutorado em Psicologia da Educao na PUC/SP.

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    didtico", que possibilita a aprendizagem. Se o sujeito no quer aprender, de nada servem os

    esforos contnuos do professor para auxiliar o aluno a construir o conhecimento. Portanto, a

    reciprocidade tambm deve ser um dos objetivos a serem conquistados pelo mediador. Este,

    precisa provocar essa postura em seus alunos. Deve conquistar seus alunos para a vontade de

    aprender.

    A intencionalidade e a reciprocidade so, segundo o autor da teoria, as principais

    condies para que uma interao seja uma mediao. A intencionalidade do mediador deve

    ser compartilhada com o mediado a fim de torn-lo consciente dela. As formas pelas quais

    poder fazer permitem perceber uma postura geral por trs das falas que admite a

    modificabilidade:

    Eu quero que voc veja isso, por isso que o fiz maior. Eu quero que voc oua o

    que digo, por isso que falei mais alto. Eu quero que voc veja a ordem em que os eventosocorrem, por isso repito minhas idias vrias vezes. (FEUERSTEIN, KLEIN,

    TANNENBAUM, 1994, p.17) A intencionalidade uma postura geral de querer realmente

    que o aluno aprenda e que aparece aqui como pano de fundo das falas. A reciprocidade, por

    outro lado, uma resposta explcita do mediado a essa posio implcita do mediador em

    querer ensinar.

    Uma anlise mais profunda dos processos mentais gerados por uma interao caracterizadapela intencionalidade e reciprocidade revela que esta modalidade de interao, a mediao, mesmo queocorra nos nveis mais elementares, cria no mediado uma conscincia do processo mental e dos

    princpios didticos subjacentes a esses processos. (FEUERSTEIN, KLEIN, TANNENBAUM, 1994,p.20)

    Interessante realar aqui os processos metacognitivos que se espera desenvolver no

    sujeito.

    Os componentes metacognitivos formam uma parte importante na interao mediada,

    possibilitando auto-reflexo, insight, e articulao entre o todo e suas partes componentes. Esta

    orientao, uma vez internalizada, torna-se uma poderosa ferramenta para um aprendizado mais

    eficiente, e assim, conduz a nveis mais altos de modificabilidade. (FEUERSTEIN, KLEIN,TANNENBAUM, 1994, p.17).

    So esses processos metacognitivos a base para o processo de aprender-a-aprender, poispermitem o desenvolvimento das condies bsicas para o crescimento da autonomia e da

    independncia.

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    Transferncia.11

    No passado, Thorndyke props que se pesquisasse se o Latim realmente to

    importante para o desenvolvimento do raciocnio quanto se pregava. Como resultado dessas

    pesquisas, concluiu-se que no era verdade tal hiptese. Como conseqncia, precipitada,

    recomendaram que s fossem ensinadas coisas prticas. Deixou-se de lado a valorizao da

    Transferncia. Aliado a essa corrente iniciou-se o Behaviorismo12 que acabou fortalecendo

    essa postura do praticismo em detrimento do abstrato, da Transferncia e do

    desenvolvimento do raciocnio. Os anos 60 e 70 reforaram essa concepo utilitarista.

    Subitamente a palavra transferncia comeou a ganhar vida novamente. Foi a retomada de

    novas perguntas: Como garantir que a transferncia ocorra?, Como ensinar matemtica

    de forma que o ensino de um conceito em um contexto possa levar o aluno a utiliz-lo em

    outro contexto?.A chave nos achados sobre transferncia a teoria dos esquemas da transferncia.

    Basicamente existem dois tipos de transferncia:

    1 por analogia.

    2 por esquema.

    1- Por analogia.

    Quando o exerccio semelhante ao novo, resolve-se com o mesmo processo. Mas,

    com mudanas pequenas, porm estruturais, o aluno no consegue mais resolver.Esse tipo de transferncia linear, resolve-se a que permite resolverb que permite

    resolverc etc.

    a b c ...

    11 Ben-Hur usa o termo Transferncia. Porm o termo Transcendncia mais abrangente, insere o conceitode Transferncia. Nessa concepo, transferncia seria fruto de analogia e transcendncia, fruto de esquema,como se pode verificar adiante.12 O Behaviorismo clssico s admitia estudar o comportamento visvel, perceptvel (Incio do sculo XX).Evoluiu e passou a considerar tambm o comportamento mental porm com dificuldades metodolgicasevidentes. Nessa concepo, o objeto de estudo da Psicologia o comportamento visvel. Assim, pode-seimaginar a dificuldade em promover e incentivar pesquisas na rea da Transferncia como Ben-Hur prope.

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    2 Por esquema.

    O sujeito aprende no pelas semelhanas, mas a partir das variaes, a partir do

    contato com diferentes estruturas possveis a ponto de extrair o conceito que une13 os

    exemplos.

    Esse tipo esquemtico, resolve-se a,b,c... e por generalizao, por construo do

    conceito, pode-se resolver quaisquer outrosd,e,f,g... .

    Figura 1 Generalizao de conceito.

    Fonte: Palestra do prof Ben-Hur em Salvador, Bahia, 2001 A Matemtica e o PEI.

    Exemplificando, multiplicao adio, integral adio, todas as operaes

    importantes na matemtica originaram-se na adio. As duas operaes adio e subtrao so

    a me de todas as outras. Da rea de um retngulo origina-se a rea do tringulo. Essa

    dependncia, essa relao, deve ficar evidente no processo de mediao de um conceito, no

    somente a apresentao do conceito em si.

    Princpios para ocorrer a Transferncia por esquema:

    1 Variabilidade. (Em modalidade de apresentao de um conceito, complexidade,

    abstrao,...)

    O aluno deve experienciar diversos tipos de exerccios e contextos at que possa

    generalizar.

    O trabalho de casa (tarefa) deve conter no somente exerccios para automatizao,

    mas para reflexo tambm. Em sala de aula o professor pode dar corpo a essas reflexes jiniciadas, mediar o significado.

    13 Se pensarmos em interseco de conjuntos, o conceito seria a nica coisa comum a todos os exemplos. Essa a idia de extrair o conceito. E reside a a importncia de estabelecer diversas modalidades de apresentao deuma tarefa e estruturas diferentes onde se possa perceber o conceito.

    d...

    b

    conceito

    a c

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    2 Processo.

    O professor dever oferecer atividades em que seja possvel ao aluno

    descontextualizar. Essa mltipla apresentao de diferenas estruturais e contextuais

    requisito para a descontextualizao. No seria honesto apresentar o contexto diferenteunicamente na prova, na avaliao. Observe o esquema da transcendncia abaixo:

    funo do professor ATIVAR o processo de descontextualizao. No apenas falar

    ou incentivar, mas ATIVAR. A forma de desencadear no aluno seu processo de

    tarefa

    Princpio 1

    Princpio 2

    gene

    ra

    li

    za

    o

    desconte

    xtu

    ali

    zao

    recontextuali

    zao

    significado

    Transferncia lateral

    Transfernci

    avertical

    Esquema ilustrativo da Transferncia (Aprendizagem). Meir Ben-Hur

    aplicaes

    realizao

    Figura 2 A transferncia segundo Meir Ben-Hur.

    Fonte: Palestra do prof Ben-Hur em Salvador, Bahia, 2001 A Matemtica e o PEI.

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    generalizao, de descontextualizao a ao de perguntar. H algumas perguntas chave

    para esse procedimento.

    Cinco perguntas para lembrar sempre nas atividades:

    O que foi mais difcil? Por que foi difcil? O que funcionou? Por que funcionou? O que isso nos ensina sobre raciocnio?

    Segundo Ben-Hur h algumas orientaes que podem auxiliar a aprendizagem: difcil para o professor esperar pela resposta. necessrio praticar! Ao perguntar, no d a palavra ao primeiro que levantar a mo. Espere.14 Ao ouvir, d ateno, integre a fala dele na sua. Nunca complete frases ou pensamentos. Pergunte a outro aluno (talvez daqueles que levantaram a mo) o que foi que o

    primeiro falou.

    Admita o silncio aps sua pergunta. Quando reajo com frases como excelente resposta!, muito bom, timo,

    exemplo perfeito!, etc.. estou eliminando o que est por trs da resposta, o processo

    todo, o caminho percorrido. Devo perguntar Ok, porque voc pensa assim? ou outro

    tipo de solicitao para ver o processo. Isso d nfase no processo e no na resposta. A

    mensagem que fica para os alunos a de que eu estou mais interessado na forma como

    constroem suas respostas do que propriamente na resposta. Alm disso, as

    explicaes que eles prprios produzem, ajuda os que ainda no entenderam pois

    uma explicao com palavras mais simples, mais prxima a eles.

    14 Pelo princpio do condicionamento por reforo positivo (Psicologia Comportamental), dar ateno ao primeiroque responde ou ao primeiro a levantar a mo, refora o comportamento de impulsividade! O ideal esperar porrespostas mais reflexivas, melhor construdas e, comentando-as, valorizar a reflexo. Depois, importanteretomar aquelas respostas primeiras e integr-las em seu discurso.

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    A construo de princpios generalizveis:

    Usar Sempre ou Nunca. Frases que comeam com s vezes ou geralmente,

    implicam numa segunda pergunta; quando? e ento possvel haver casos em que o que foi

    dito no vlido.

    Uma frase desse tipo (princpio) pode sempre ser escrita na forma

    Se______ento_______.

    Outro princpio para a transferncia levar os alunos a aplicarem os princpios que

    construram, em outros contextos, em outras situaes. Eles devem construir, criar exemplos

    de aplicao. Isso se denomina Pontes15.

    Exemplo: Voc sabe um exemplo onde se pode usar esse princpio que no seja esse que

    vimos agora? Isso gera ofazer pontes.

    Um Sistema Unificado a construo de um princpio em um contexto, como o

    PEI, por exemplo, interligado ao mesmo princpio em outro contexto como a Matemtica.

    Veja o esquema do Sistema Unificado:

    Figura 3 Construo de princpios a partir de diferentes contextos.

    Fonte: Palestra do prof Ben-Hur em Salvador, Bahia, 2001 A Matemtica e o PEI.

    No exemplo dado por Ben-Hur, a partir de tarefas realizadas em dois contextos

    diferentes, o PEI e a Matemtica, generaliza-se princpios por meio de uma

    15 Em Ingls o termo bridging indica algo como pontear, fazer pontes. Esse foi o verbo usado aqui.

    Princpio

    PEI Matemtica

    Princpio.

    rea de recontextualizao.

    Princpio "unificado".

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    descontextualizao que considere aspectos essenciais em cada uma dessas reas. Em seguida,

    h uma nova abstrao, uma nova generalizao em que os dois princpios so de certa forma,

    unificados, transformados em um nico princpio, conceito ou regra geral.

    3) Mediao do Significado.

    Segundo Vitor da Fonseca, mediar significado a essncia da transmisso cultural:

    Sem significaes, a transmisso cultural de umas geraes para outras no seriavivel. Deixar os indivduos na pura explorao das tarefas no lhes vai permitir atingir assignificaes, preciso orient-los no sentido de delas se apropriarem. O mediatizador(psiclogo ou professor, reeducador ou terapeuta) est incumbido, e culturalmentecomprometido, de transmitir significaes. Sem tais atribuies, as tarefas de aprendizagem,por si s, no produzem a desejada modificabilidade cognitiva. (FONSECA, 1998, p. 71)

    Crianas aprendem o "modus operandi" de uma cultura porque seus pais, ou outras

    pessoas, do significado s aes e crenas do grupo ao qual esto inseridas. So as tradies

    repetidamente valorizadas e revividas. A negao do passado, ou a falta de receber

    informaes sobre o passado, faz com que a criana tenha uma viso unidimensional

    horizontal da vida. Vive-se o aqui-e-agora. No se tem um projeto de vida, no se tem

    memria e, portanto, no se valoriza a experincia dos mais velhos.

    Ao ensinar um conceito, um valor, uma forma de fazer, o adulto no apenas explica o

    conceito em si, mas o redimensiona dentro de uma estrutura de valores, crenas e ideais

    permitindo que a criana entenda o conceito e as inter-relaes que mantm com outros

    conceitos inseridos em outros contextos, teorias ou momentos histricos.

    Mediar significado construir com a criana (aluno, aprendiz, mediado) o aprendizado

    dos conceitos que transcendem o objeto, dos conceitos que so atribudos ao objeto e que o

    inserem num contexto. A atribuio de significados produto do grupo cultural, subjetiva.

    No prprio do objeto, no caracterstica dele. Entretanto essa atribuio subjetiva que

    possibilita a integrao da criana ao grupo, pois ambos, criana e grupo cultural, partilham

    dos significados comuns.

    Para Paulo Freire, a escola que ensina contedos vazios, inertes, exclusivamenteaprendidos pela via da memorizao, est servindo aos interesses da opresso, da dominao,

    da alienao. Ao contrrio, a escola precisa abrir espaos para que seus sujeitos possam ser

    criativos, transformadores, construtores de sua histria. Esse tipo de educao caracterizado

    pelo significado.

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    Na concepo bancria que estamos criticando, para a qual a educao o ato dedepositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos, no se verifica nem podeverificar-se esta superao. Pelo contrrio, refletindo a sociedade opressora, sendo dimenso dacultura do silncio, a educao bancria mantm e estimula a contradio. (FREIRE,p.67, 1983)

    Mediar significado opor-se de todas as formas possveis a essa educao bancria

    que transmite informaes ao invs de auxiliar o aluno na construo do conhecimento, que

    manda memorizar ao invs de compreender, que diz aceite ao invs de dizer debata, que

    transfere ao invs de problematizar, que descontextualiza ao invs de falar da histria e de

    suas relaes com o sujeito que aprende.

    Feuerstein prope a mediao do significado como fator necessrio modificabilidade

    cognitiva. Vitor da Fonseca, explicando os critrios propostos por Feuerstein, diz:

    O mediatizador

    16

    (psiclogo ou professor, reeducador ou terapeuta) est incumbido, eculturalmente comprometido, de transmitir significaes. Sem tais atribuies, as tarefas deaprendizagem, por si s, no produzem a desejada modificabilidade cognitiva. S comsignificaes inerentes s tarefas, elas penetram no indivduo como fator energtico e comorazo e motivao do comportamento. O poder de significao das tarefas permite, em ltimaanlise, as inter-relaes dos critrios da intencionalidade e reciprocidade e da transcendncia,da a sua relevncia como critrio da EAM17. S proporcionar as tarefas e mais nada, no chegapara produzir modificaes cognitivas estruturais, h necessidade de manter os nveismotivacionais elevados atravs das significaes que se transmitem pelas tarefas deaprendizagem. (FONSECA, p. 71, 1998)

    A transmisso cultural de uma gerao outra s possvel pela significao de

    contedos, de fatos, da histria do sujeito, da relao do aprendido com a realidade do sujeito.

    4) Mediao do sentimento de competncia.

    Uma das caractersticas principais no desenvolvimento saudvel do ser humano sua

    capacidade de olhar para si mesmo e perceber-se como algum competente. No basta ser

    competente, preciso sentir-se competente. muito comum em sala de aula um aluno desistir

    de uma atividade antes mesmo de inici-la apenas por no se sentir capaz de realiz-la. E,

    muitas vezes, um pequeno incentivo por parte do professor suficiente para que o aluno tenha

    sucesso.

    16 Vitor da Fonseca, portugus, utiliza a expresso mediatizador, ao invs de mediador consagrada no Brasil.17 EAM Experincia de Aprendizagem Mediada, ou, mediao.

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    Sentir-se capaz de realizar uma tarefa difcil pr-requisito para que o sujeito invista

    esforos para obter xito. Quando o sujeito no acredita ser capaz, quando no se sente

    competente, ele desiste a priori.

    Segundo Feuerstein, a competncia no necessariamente implica o sentimento de

    competncia, pois freqentemente indivduos com conquistas muito positivas em sua vida,

    acabam transferindo o mrito de suas conquistas afirmando que foram beneficiados pela

    sorte ou pela vontade de Deus. (FEUERSTEIN, 1994, p.29)

    Infelizmente atitudes que no promovem o sentimento de competncia na criana so

    encontradas tambm na escola. Muitos dos sistemas de avaliao, ou de promoo na escola

    so baseados somente no produto final da criana. Do a ela um feedback a respeito de suas

    falhas, seus erros, suas lacunas, da distncia que ainda necessita percorrer at que possa ser

    considerada adequada. (FEUERSTEIN, 1994, p.31). Tal procedimento no contribui para odesenvolvimento do sentimento de competncia. Pelo contrrio, acaba promovendo um

    sentimento negativo, o de no ser capaz de novas conquistas, de continuar a ser promovido na

    escola. Infelizmente esse foco na falta pode promover na criana um sentimento negativo

    em relao s possibilidades em sua vida e determinando uma espcie de limite, de barreira

    intransponvel em diversas outras reas.

    Feuerstein diz que a escola deve prover criana oportunidades de conquistas reais,

    dentro de suas capacidades, para que ela desenvolva um sentimento positivo em relao a si

    mesma j que o nmero de experincias bem sucedidas grande. (FEUERSTEIN, 1994,p.32). A escola deveria ser um lugar especial de experincias de sucesso, de realizaes

    pessoais, de conquistas alcanadas, de desenvolvimento de uma auto-imagem positiva e real.

    Entretanto, somente as experincias de sucesso no garantem o desenvolvimento do

    sentimento de competncia. necessrio que o mediador interprete para a criana o

    significado de seus sucessos. preciso mostrar criana que suas conquistas esto vindo no

    da sorte, ou da facilidade da tarefa, mas da capacidade da criana em interpretar

    corretamente a tarefa, de sua capacidade em colher os dados necessrios para a execuo da

    tarefa, da capacidade da criana em focar, prestar ateno, concentrar-se na execuo e emsua criatividade em demonstrar os resultados a que chegou. Esse tipo de feedback possibilita

    criana perceber a dimenso do seu envolvimento, de sua responsabilidade no sucesso,

    afastando hipteses relacionadas sorte, facilidade da tarefa, ou de outras razes externas ao

    sujeito. Em outras palavras, o sujeito precisa saber que o sucesso em uma tarefa demonstra em

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    parte sua prpria competncia. E isso que vai possibilitar o desenvolvimento de um

    sentimento adequado de competncia, de acreditar em si mesmo.

    Feuerstein prop