livro paraiba antropologia

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    GGEEOOGGRRAAFFIIAA ::TTeexxttooss,, CCoonntteexxttooss ee PPrreetteexxttooss

    ppaarraa oo PPllaanneejjaammeennttoo AAmmbbiieennttaall

    Belarmino Mariano Neto

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    O velho mgico de cabelos brancos e curtos sorriu, escondido

    atrs de sua expresso enigmtica. Virou o rosto, como em

    cmara lenta, para o belo chapu na mo esquerda. Piscou-me o

    olho e, em meio a uma exploso de luz, tirou minha alma, a qual

    gentilmente me devolveu. (Autor desconhecido)

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    Belarmino Mariano Neto

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    Grfica So PauloGuarabira Paraba Brasil

    2003

    Copyright by Belarmino Mariano Neto, 2003

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    Mariano Neto, BelarminoS86p1 ed.

    Geografia: Textos, Contextos e Pretextos para o Planejamento Ambiental/Belarmino Mariano Neto. 1 ed. Guarabira/Pb: Grfica So Paulo, 2003.

    Fotografia da capa: Belarmino Mariano Neto. (Imagens do Sr. Z Biato e dona Belinha,Na porta da casa de taipa, construda em 1925, no Stio Vertente, Vale do Rio do Peixe,Alto Serto Paraibano, municpio de Triunfo, fronteira com o Cear e o Rio Grande doNorte.Diagramao: Marcondes Souza da Costa

    Contatos:[email protected] (83) 255-0678, Rua Cel. Arthur Amrico Cantalice, 45-

    Bancrios (conj. dos Professores), Joo Pessoa/PB. Cep. 58051-100

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    Sumrio

    1. Iniciais 07

    2. A Geografia e o Planejamento Ambiental 09Referncias 15

    3. A Que se Reduz a Cincia? das coisas as palavras 17Ponto de Par tida 17Brincando com o Sagrado 18Passos contrrios na lgica do fazer cientfico 20A cincia Amor daada 22Pensando nas Cores Cinzas da Cincia 23Referncias 24

    4. A Questo Ambiental no Contexto Social: um olhar geoecolgico 25Referncias 27

    5. Informao Ambiental: novas linguagens e globalidade 29Semeadura de palavras 29Metfora do Liqidificador 30Da linguagem banal a informao ambiental 33Cultural da Pobreza Submundializada 38Referncias 42

    6. Capitalismo Maduro e Feridas no Espao Tempo: Globalizao ouSubmundializao?...44

    Espao, tempo e complexidade 44Tempo do lugar mundial 45Submundializao e culturas fragmentadas, desenraizadas do mundo natural47Escala das relaes economia/meio ambiente 50Referncias 51

    7. Geografia da Paraba e Desenvolvimento Insustentvel 53A Paraba no Nordeste: contradies scio-ambientais 53Ambiente degradado 55Formao Territorial 56Contextos Territoriais 57O territrio cultural como ambiente das afetividades 67Joo Pessoa Cidade Velha: Seu Traado e suas Funes 68Zona costeira da Paraba: uma idia de Regio Litornea 72

    O preo da ocupao atual 76As modificaes da paisagem 80Referncias 84

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    Uma representao da Terra em riscos, o espao geogrfico em toda sua dinmica cultural,

    scio-econmica, ideolgica e poltica. O meio ambiente enquanto uma questo do agora,

    os geossistemas e a natureza em cheques ou em xeque nos coloca diante da necessidade de

    aprofundamentos em nossas pesquisas e aes diretas. O Grupo terra nasce da preocupao

    em iniciar jovens universitrios da Universidade Estadual da Paraba - Campus de

    Guarabira, na arte do fazer cincia com conscincia e compromissos terrenais.

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    RESUMO

    Este livro foi produzido de forma objetiva para atender ao curso de especializao em

    Anlise Ambiental da Paraba, promovido pelo Departamento de Geocincias e

    Departamento de Geografia da UEPB, campus III em Guarabira. Como trabalhei com a

    disciplina de planejamento e anlise ambiental, apresento aqui um conjunto de pequenos

    textos que englobam desde as questes locais do meio ambiente paraibano, at

    preocupaes ambientais de conotao global. O trabalho se divide em seis captulos.

    Inicialmente voltados para a questo do mtodo e das preocupaes epistemolgicas da

    cincia geogrfica e reas de afinidade. um trabalho que chama a ateno para os

    cuidados com o uso das palavras ou expresses. Em especial as relativas ao meio ambiente.

    Esse trabalho Vaz uma anlise do atual estgio de desenvolvimento da sociedade deconsumo e as crises ambientais instaladas a partir dos avanos do sistema capitalista. Para

    finalizar apresento um captulo especificamente sobre a organizao do espao geogrfico

    paraibano na perspectiva do planejamento ambiental.

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    RESUMO

    Este livro foi produzido de forma objetiva para atender ao curso de especializao em

    Anlise Ambiental da Paraba, promovido pelo Departamento de Geocincias e

    Departamento de Geografia da UEPB, campus III em Guarabira. Como trabalhei com a

    disciplina de planejamento e anlise ambiental, apresento aqui um conjunto de pequenos

    textos que englobam desde as questes locais do meio ambiente paraibano, at

    preocupaes ambientais de conotao global. O trabalho se divide em seis captulos.

    Inicialmente voltados para a questo do mtodo e das preocupaes epistemolgicas da

    cincia geogrfica e reas de afinidade. um trabalho que chama a ateno para os

    cuidados com o uso das palavras ou expresses. Em especial as relativas ao meio ambiente.

    Esse trabalho Vaz uma anlise do atual estgio de desenvolvimento da sociedade deconsumo e as crises ambientais instaladas a partir dos avanos do sistema capitalista. Para

    finalizar apresento um captulo especificamente sobre a organizao do espao geogrfico

    paraibano na perspectiva do planejamento ambiental.

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    1. IniciaisBelarmino Mariano Neto1

    O tempo voc que se espalha em chamas e ardente(mente) cria expectativas para o NADA. Os homens tecem suas teias e

    formam um telhado de arranha(cus) que arranha(mente) e mentirosamente os tornam vivos da trama que se constri, em que os atores

    so autores da autodestruio construtiva alucinada(mente) perdida no espao de um tempo ESFNGICO. Rpida, sorrateira explode uma

    geogrfica catica e sem ponto de partida. o caleidoscpio, a complexidade das formas simples, a incerteza em todos os sentidos.

    O caleidoscpio, espao tridimensional construdo a partir de trs lminas de vidro espelhadas,

    postas em oposio, (re)produzem ilusrias imagens. Colocados cacos de vidro coloridos, miangas e outros

    fragmentos, sem ordem de distribuio, estes representam o caos, a completa desordem, mesmo limitados a

    cnico espao de reduzidos dimetros. Mas se movimentamos este cilindro, observando a posio dos

    fragmentos, notamos uma verdadeira ordem universal, ou seja, o cosmo em um vitral harmnico, mesmosabendo que o mecanismo pura geometria euclidiana.

    Em diversas salas de aula, trabalho a partir deste espao de contradies, percebo o quanto a

    sociedade tem de caleidoscpio em sua composio e o quanto a natureza puro calesdoscpio em fractais

    multicoloridos. As relaes ou comportamentos parecem caos, cosmos. Isto , (des)ordem. A sociedade

    humana, apresenta um trivium de sustentao individual e coletiva que estruturado em Pensamento-

    Sentimento-Vontade. Por mais que tente-se controlar aes e estudar reaes desse controle, deparamo-me

    com a incerteza. O paradigma da complexidade incerta, colocando as cincias bastante distantes do (ir)real.

    Dependendo do grau da lente de observao, embaa-se completamente a vista.

    A sociedade/natureza caleidoscpio em cacos multicoloridos, pluraridade. Por mais que tenha-se odomnio dos mecanismos para mover o caleidoscpio, ele quem sempre estabelece que combinaes de

    cacos e cores aparecem ao olhar de seu manipulador. Complica-se ainda mais, quando aparecem alguns para

    afirmarem que o mundo total chegou, com essa nova fase do capitalismo simulacro, no qual, cincia,

    tecnologia e informao se fundem e massificam um espao de idias e de concrectudes enfumaadas, mas,

    no reverso, as particularidades se mostram cada vez mais fortes, testemunhando que a diversidade a

    destruio do mono. A massificao vem causando um mal estarcapaz de mudar radicalmente a cara do que

    hoje parece ordem nova. e chegar a concluso anrquica que, ser dos pequenos grupos de afinidades que se

    construir um grande mundo, so alguns dos ideais que persigo todos os dias.

    Todos os textos, contextos e pretextos aqui expostos resultaram dos Cursos de: graduao,especializao, mestrado, pesquisas e leituras feitas ao longo de minha vida acadmica e profissional

    realizadas especialmente no mbito da Universidade Federal da Paraba, Campus I, Joo Pessoa, na

    Universidade Federal de Campina Grande e em outros espaos de trabalho como a Universidade Estadual da

    Paraba, na qual estou trabalhando.

    1 Professor Adj-4 do Centro de Humanidades da UEPB. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.UFPB. Doutorando em Sociologia pela UFPB/UFCG. Coordenador do TERRA Grupo de Pesquisas Ruraise Ambientais/CNPq e Organizador do OLHO Coletivo de Estudos sobre Essencialismo e Fenomenologia.

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    O mais importante nesse trabalho que, apesar de estar assumindo esta fisionomia ou composio,

    na verdade como um caleidoscpio multicolorido, em que os pequenos fragmentos de vidros coloridos vo

    dando diferentes formas. As imagens aqui arranjadas poderiam se apresentar de outras maneiras caso outrostivessem o manipulando mais diretamente. As imagens mais prximas do que aqui aparecem resultam das

    divergncias e convergncias de opinies colhidas do (con)viver acadmico com pessoas (amigos de cursos

    e profisso, professores e alunos) que direta ou indiretamente se envolveram com minha vida e que esto

    presentes nestes fragmentes sobre geografia, regionalizao, gesto territorial e ambiental.

    Estes fragmentos so o resultado de um trabalho forjado em metais que confrontam o acadmico

    com a realidade vivida no cotidiano de um espao que se faz geogrfico pela interveno dos homens em

    sociedade. So textos os mais diversos que trabalham temas como o meio ambiente, as questes do territrio,

    do Estado, dos espaos urbano, rural, e as questes scio-econmicas, culturais e polticas, alm de algumas

    propostas de gesto e planejamento ambiental para lugares especficos do territrio paraibano.Alm do que chamo texto ou pretexto, reproduzo em anexo alguns resumos interpretativos ou por

    tpicos, especialmente os que tratam de questes sobre o Estado, Questo Agrria e o Consenso de

    Washington, abordados pelos professores Ivan Targino, Emlia de Rodat e Ana Madruga, durante o curso de

    especializao em Gesto Territorial.

    Este trabalho pode ser fotocopiado para fins individuais de estudo. Nesse sentido,

    venho destacando em cada captulo, autoria e fontes bibliogrficas que reuni como

    principal interlocuo terica de monodilogo direto. Autores, sem os quais seria difcil

    construir tais textos.

    2. A Geografia e o Planejamento Ambiental

    Belarmino Mariano Neto

    Pensar a cincia geogrfica nos dias atuais, passa pela compreenso dos diferentes estgios de

    desenvolvimento da sociedade humana em sua direta relao com a natureza. Quatro elementos fundamentamo conhecimento geogrfico: Espao, Tempo, Sociedade e Natureza. Estes so bases para a construo material

    e formal da cincia geogrfica.

    O espao geogrfico representado como sendo a relao espacial que processa a interao entre os

    elementos da paisagem natural ( meio fsico ou ambiental) e os elementos da paisagem humana (meio

    sociocultural, poltico-econmico e tcnico-informacional)2. Este como uma construo histrica da

    sociedade em suas diversidade, contradies, consensos e conflitos. Para realizar seus estudos e prticas

    cientficas, o gegrafo colhe dados e informaes para suas anlises atravs do sensoriamento remoto e

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    aerofotogramentria; trabalhos e pesquisas de campo para o estudo do meio; levantamentos estatsticos; anlise

    de mapas e cartas topogrficas; entrevistas, questionrios, relatrios de pesquisas e reflexes do seu olhar

    geogrfico que apontem para uma geografia fenomenolgica e da percepo. O estudo da geografia cultural a partir de diferentes elementos como religio, herana cultural, experincias comunitrias e tradies que

    marcam a organizao dos povos, so essenciais para um estudo de geografia em sentido amplo.

    O Tempo aqui pensado como processo continuo de transformaes ritmados pela dinmica scio-

    econmica, tcnico-cientfica e informacional categorizados pela histria e cultura humana na natureza. O

    tempo pensado tambm nos ritmos da natureza e em seu quase que completo atropelamento pela lgica de

    tempo tecnolgico do humano. Tempo enquanto idia de compartimentao, fragmentao, rapidez e fluidez

    em constante metamorfose (SANTOS, 2001:80-83).

    A sociedade como todo o complexo de relaes humanas, conflitos, convergncias, valores e atitudes

    de indivduos ou comunidades que associam ou desassociam segundo interesses ou presses, disputas econtroles estabelecidos pelo poder poltico estabelecido pelos grupos, aceitos ou contestados ao longo dos

    eventos de cada sociedade. Esta enquanto uma construo histrico-cultural e poltica. As marcas cotidianas e

    as idias de cidadania em lugares e vazios territoriais representados pelo artifcio do poder, tcnica e

    dominao. A sociedade, a comunidade e o indivduo enquanto marcas e desafios para a cooperao,

    solidariedade e utopias.

    A natureza enquanto idia de vida sistematizada em elementos biticos e abiticos que interagem

    num constante fluxo de energia em infinitas possibilidades de desenvolver a vida ou a no vida. A natureza

    cientificamente pensada em grandes e pequenos sistemas que se constrem a partir dos elementos fogo, ar,

    gua e terra e estes se manifestam em diferentes estados e combinaes at atingirem o estado biolgico emmltiplos estados e formas. A natureza pensada como suporte fsico dos vrios fenmenos geogrficos,

    ecolgicos, biolgicos, geolgicos, hidrolgicos, fitolgicos e qumicos. Que serve como princpio elementar

    da cincia dos humanos. As dimenses tempo/espaciais manifestadas em elementos da natureza e a

    possibilidade de teorias calcadas em sistemas, geossistemas, ecossistemas. Estes no apenas enquanto

    ordenaes, mas tambm como desordem, complexidade, acaso, destruio, estagnao e teoria das

    catstrofes. (ATLAN, 1992:184).

    Um grande nmero de pessoas, contudo, desconhece as vrias aplicaes da geografia em diferentes

    atividades humanas, e, na medida em que se torna cada vez mais complexa a evoluo, a dinmica e a

    organizao do espao geogrfico em escala regional e mundial, o gegrafo deve ser solicitado cada vez mais

    a contribuir no seu planejamento, pois ele o especialista que tem a viso global e particular das mltiplas

    interaes do espao.

    O profissional em Geografia pea chave na anlise e planejamento ambiental. Dentre as diversas formas

    de atuao do gegrafo, importante chamar a ateno para algumas delas:

    A anlise das relaes entre as atividades e sistemas econmicos, sociais e culturais na relao com omeio ambiente. fundamental compreender as aes da sociedade e seu modelo de desenvolvimento

    2 Cf. SANTOS, 2001:23.

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    econmico no conjunto dos fenmenos que se processam na zona de contato entre as massas slidas,

    lquidas e gasosas do planeta em que a sociedade exerce um forte papel de transformadora das condies

    naturais dessa ecosfera socialmente transformada. A responsabilidade no mapeamento de recursos naturais, demogrficos, transportes, industriais,

    comunicaes e energticos. A cartografia e os recursos tecnolgicos modernos do base para que o

    profissional em Geografia possa subsidiar informaes precisas ao planejamento ambiental.

    Quanto a organizao do espao geogrfico, diviso poltico-administrativa e gesto territorial em escalalocal, regional e macrorregional. As diferenas e valores polticos que marcam a complexidade do globo.

    Estgios diferentes de desenvolvimento, disputa ou cooperao so elementos que o gegrafo utiliza na

    anlise dos arranjos espaciais.

    Anlise do papel dos investimentos e intervenes no meio ambiente: pblicas, privadas, nacionais einternacionais. Muitos so os interesses na apropriao e explorao da natureza. Na maioria dos casos,os impactos aos ecossistemas afeta o patrimnio natural de forma irremedivel. Quando ocorre um

    investimento lucrativo, representando desenvolvimento econmico e progresso tecnolgico sem

    planejamento, as populaes do presente, as geraes futuras e o meio ambiente esto comprometidos em

    seus xitos de continuidade. O Especialista em geografia tem papel relevante na anlise das polticas

    internacionais, nacionais, regionais e locais. Compreender as direes e dinmicas da complexidade

    humana representa criar condies cientficas e tcnicas para melhor gerir o territrio.

    Um exemplo o planejamento urbano. A cidade representa o mais forte espao das

    interaes humanas. Um sistema eminentemente cultural, extremamente marcado pelos

    interesses e valores econmicos.

    O urbano, edificado em suas vrias esferas estabelece valores econmicos, polticos, socioculturais que variam em funo da infra-

    estrutura. A cidade vive a constante metamorfose do espao mercadoria em todos os seus arranjos. Nos dias atuais existe uma grande

    preocupao em torno das questes do ambiente urbano. O planejamento urbano, o cdigo urbano e funes urbanas. Os problemas da

    cidade e o conhecimento aprofundado dos mesmos, pode representar uma alternativa de gesto desses espaos de forma mais racional,

    como a cidade se tornou no espao privilegiado das aes humanas, sua organizao em escala ampliada passa pelo olhar geogrfico.

    O administrador de uma cidade que no conta com planejadores gegrafos em suas equipes administrativas, pode dar muitos passos

    errados. Os avanos da geografia na produo cientfica que enfoca o espao urbano sem sombra de dvidas significativa. No

    querendo diminuir o papel de outros agentes do urbano como arquitetos ou engenheiros. Estes conseguem produzir na viso escalar da

    prancheta o projeto da habitao e construo em geral. Muitos destes arquitetos projetam reas inteiras e at cidades que sero depois

    ocupadas. Ao gegrafo cabe analisar os arranjos espaciais do urbano na escala real ou cartogrfica de uma cidade, uma zona

    metropolitana, ou uma regio inteira. Eminentes gegrafos, no mundo todo dedicaram dcadas de estudo cotidiano da cidade. Milton

    Santos um dos maiores produtores de analises e reflexes para compreender o espao urbano e seus diferentes estgios.

    O meio ambiente e o desenvolvimento so nos dias atuais duas questes de interface para todas as

    cincias. So duas foras antagnicas: o desenvolvimento econmico e a preservao ambiental. Processos

    como industrializao, urbanizao e crescimento demogrfico, degradao e poluio ambiental disputam o

    espao limitado da terra e da natureza. Os ecossistemas naturais, sistemas agrcolas e sistemas urbanos so

    focos de diferentes estudos.

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    A Geografia tem importante papel na anlise e planejamento ambiental. O gegrafo indispensvel na

    elaborao de avaliaes de impactos ambientais (AIA, EIA OU RIMA)3, consistindo no estudo do

    funcionamento dos diferentes geossistemas terrestres e das formas de utilizao desses sistemas pelasatividades das sociedades e economias humanas.

    A gesto territorial e ambiental, seja em escala privada ou estatal, deve contar com a participao do

    profissional em geografia. O atual modelo de desenvolvimento econmico adotado em escala global, reflete

    os valores culturais da indiscriminada explorao do patrimnio natural e cultural estabelecido pelas

    diferentes civilizaes. Sem sombra de dvidas, o capitalismo foi (e estar sendo) o sistema econmico que

    mais modificou o espao geogrfico. Tanto em velocidade tempo/espao, quanto em destruio dos sistemas

    naturais e de sociedades consideradas nativas em territrios da frica, Amrica, sia e Oceania.

    O papel da geografia enquanto cincia moderna nos primeiros estgios do capitalismo

    (comercial/mercantil e industrial/imperialista), foi servi de base tcnica e cientfica para consolidao dosistema e seus interesses nos vrios territrios ocupados internacionalmente. Na busca de espao vital 4 e

    consolidao do imperialismo capitalista, as marcas despreocupadas de explorao das florestas tropicais,

    escravido (gencidio/etnocdio) dos povos nativos e acumulo crescente de riquezas na Europa e Amrica do

    Norte (EUA/Canad), deixaram um saldo contaminante de pobreza e destruio global. A submundializao5

    convive lado a lado com o desenvolvimento. Pases pobres acumulam elevadas taxas de pobreza (IDH/ONU

    ndice de Desenvolvimento Humano). Pases descapitalizados, dependentes econmica e tecnologicamente,

    tentam acessar o mercado com os recursos naturais e de solo (agropecuria) que ainda restam em seus

    territrios (petrleo, gs natural, carvo mineral, outros minerais e vegetais). Para gerar alguma infra-estrutura

    urbana ou rural recorrem a emprstimos internacionais, comprometendo suas balanas comerciais e a frgilsoberania nacional.

    Empresas estrangeiras (multinacionais ou transacionais) estabelecem relaes de produo em

    diversos territrios do globo. Um princpio norteia estas empresas, lucro fcil e rpido. Assim conseguem

    mo-de-obra e matria-prima baratas e abundantes; mercado consumidor em estgio de crescimento; recursos

    energticos; facilidade no envio de lucro para a matriz do capital investido; facilidades fiscais ou tributrias e

    leis ambientais que frouxas ou que no sejam cumpridas efetivamente. So verdadeiros parasos para as aes

    do capitalismo monopolista em sua trajetria global.

    Estes so apenas alguns argumentos de compreenso geogrfica. O conhecimento geogrfico a

    base para qualquer avaliao, percia ou planejamento ambiental.

    Mesmo sabendo que nem sempre, o conhecimento geogrfico agrada os agentes investidores ou

    exploradores da natureza e da sociedade. Isso talvez justifique que no existe um reconhecimento do papel do

    gegrafo, pois este reconhecimento pode comprometer os interesses e as decises do Estado ou empresas em

    suas aes e prticas de poder.

    3 Avaliao de Impactos Ambientais; Estudos de Impactos Ambientais ou Relatrios de Impactos do MeioAmbiente.4 Cf. MORAES, In.: Ratzel e a Antropogeografia, 1991: 56.5 Cf. MARIANO NETO, 2001, 61.

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    Tanto os currculos universitrios como a legislao vigente habilitam o GEGRAFO a atuar nas

    seguintes reas:

    1. Planejamento Ambiental Elaborao de Estudos e Relatrios de Impacto Ambiental ( EIAs, RIMAs ); Avaliaes, pareceres, laudos tcnicos, percias e gerenciamento de recursos naturais; Plano e Relatrio de Controle Ambiental ( PCA e RCA );Monitoramento Ambiental.

    2. Meio Fsico Caracterizao do meio fsico; Planos de recuperao de reas degradadas; Estudos e pesquisas geomorfolgicas; Climatologia; bacias hidrogrficas, ambientes de represas; Clculo de energia, elementos fitogeogrficos e pedolgicos.3. Cartografia Mapeamento Bsico; Mapeamento Temtico; Cartografia Urbana; Delimitao do espao territorial municipal, distrital e regional; Cartas de declividade e perfil de relevo; Clculo de reas; transformao e clculo de escalas; locao de pontos ou reas por coordenadas

    geogrficas;

    Interpretao de fotografias areas e imagens de satlite; Geoprocessamento e cartografia digital.4. Hidrografia Delimitao e Plano de Manejo de Bacias hidrogrficas; Avaliao e estudo do potencial de recursos hdricos; Controle de escoamento, eroso e assoreamento dos cursos dgua. Recuperao de encostas, margens e nascentes, etc.5. Planejamento Planos diretores urbanos, rurais e regionais; Cadastro tcnico urbano e rural multifinalitrio; Ordenamento territorial; Elaborao e gerenciamento de cadastro rurais e urbanos; Implantao de gerenciamento de sistemas de Informaes geogrficas ( SIG ); Estruturao e reestruturao dos sistemas de circulao de pessoas, bens e servios; Pesquisa de mercado e intercmbio regional e interregional; Delimitao e caracterizao de regies para planejamento;

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    Estudos populacionais e geoeconmicos.6. Turismo Levantamento do potencial turstico; Projeto e servios de turismo ecolgico (Identificao de trilhas, hospedagem, meios de transportes,

    riscos, cuidados, etc.);

    Gerenciamento de plos tursticos.7. Instrumental e Mtodo de Trabalho

    O Gegrafo acrescentou ao seu tradicional mtodo de trabalho, que compreende a pesquisa de campo

    e a anlise em gabinete, uma srie de avanados instrumentos tcnicos: fotografias areas, imagens de

    satlites, software de Geoprocessamento, Sistema de Informaes Geogrficas, Bancos de Dados e Cadastros

    Multifinalitrio, bem como o uso do GPS/DGPS (Sistema de Posicionamento Global Via Satlite). Alm de

    outros meios que so comuns as cincias sociais e humanas.

    Se o profissional caminha com tica na preciso dos seus laudos ou percias em estudos ambientais,

    ele compromete os interesses racionais, descarta as facilidades, exige mudanas nos planos de interveno do

    meio ambiente. Reconhecer o gegrafo enquanto profissional indispensvel no planejamento ambiental far

    uma grande diferena para o futuro do planeta e da prpria humanidade.

    BIBLIOGRAFIA

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    3. A Que se Reduz a Cincia? das coisas as palavras.

    Belarmino Mariano Neto

    Ponto de Par tida

    ...As palavras so o veculo obrigatrio na transmisso dosconhecimentos. Atravs delas, as geraes vo-se transmitindo osseus erros e verdades, os primeiros mais que os segundos. Imitadoresuns dos outros, no acertamos a empregar na luta mais que asmesmas armas de nossos contraditores. Com palavras pretendemosdestruir o imprio das palavras.(MELLA: 79-80).

    Este trabalho fruto de uma calorosa discusso sobre as problemticas do fazer cientfico,

    ocorrida no curso de Lgica e Crtica da Investigao cientfica, ministrado pela professora Maristela de

    Oliveira, no Curso de Ps-Graduao em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

    O objetivo fazer um resgate de alguns fragmentos das questes abordadas na sala de aula, coisa

    que geralmente no ocorre e em muitos casos so levados pelos ventos do esquecimento, perdendo-se nos

    muitos caminhos da academia e corredores da cincia, sem o devido valor de contributo a ser

    coletivizado ou no.

    Para transformar os fragmentos de discusso em uma corrente contextualizada, me ative a

    algumas leituras extra-classe, anelando alguns pensamentos e dando uma verso particular ao temacolocado.

    Ser utilizado o mundo infantil do aprender e do brincar, no qual se desafia com metforas as

    imposies de um mundo pr-pensado e que vai sendo absorvido pelos espritos infantis dos futuros

    cientistas, aqueles que comandaro os centros de pesquisas da humanidade em todos os seus nveis e

    reas.

    Entender ou pensar a cincia em sua atual estrutura, passa por considerar todos os elementos

    scio-culturais, filosficos, polticos e econmicos que engendraram o desenvolvimento da humanidade

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    no desenrolar de sua histria. Como as relaes homens/homens/natureza/homens permitiram as

    sociedades avanarem em seus fazeres/aprenderes civilizatrios.

    Este texto questiona o tempo todo, no se d por satisfeito e chega ao extremo de duvidar dacincia instituda. Colocando as instituies cientficas em sua maioria, enquanto postos avanados de

    uma sociedade autoritria e desigual, tendo nesse sistema do fazer conhecimento, um dos meios de

    reproduo ideolgica e manuteno do poder e das idias nas mos de uns poucos. Muitas vezes

    acredita-se estar cumprindo-se os papeis de pensador, pesquisador, e se atento, logo nota-se como mero

    (re)produtor dos valores e idias institudos.

    Esta produo se prope enquanto metfora, demonstrar o quanto as palavras podem esconder

    em seus signos a real significncia das coisas, isto , os que ensinam por que no sabem constrem

    homens quimricos, egostas e sem pontos de partida, ao passo que os que sabem, fazem e no fazer se

    constri no dia da conscincia, a cons(cincia) de cada um. Por reconhecer a importncia do fazercientfico no ensinar/fazer/aprender, colocando algumas UTOPIAS para reflexes e aes que apontem

    para a ALTERATIVIDADE do fazer (cons)cincia.

    Brincando com o Sagrado

    O homem ainda menino e j brincava com os segredos do fogo, brinquedo sagrado que tornava

    Deus enquanto homem imortal e o homem enquanto Deus mortal6. Assim podem ter sido seus

    primeiros passos no brincar de evoluir, brinquedos de pedras. Teotas7 fantsticos na arte/tcnica de polir

    e unir madeira, cip e outros adereos da natureza para um melhor se divertir no ato do primitivo viver.Com sua moleque pedrada o humano vai quebrando as vidraas do desconhecido e mesmo

    desprovido de razo plena, ensaia gritos de guerra e planos riscados nas paredes do morar das pedras

    sobre pedras. So os primeiros mapas mentais, riscos e rabiscos das trilhas a serem trilhadas. Seguir os

    caminhos do sol e brincar de caar ou ser caado pelas leis da selva.

    Do brincar de se esconder pelas cavernas escuras, assim tambm eram as suas entranhas do no

    explicar as imagens e sonhos em constante movimento. O escuro aprisionava no humano criana a sua

    vontade de ver a noite. Logo, este se voltava para sua chama interior, coletivizada na fogueira do centro

    da caverna. As palavras disformes davam lugar a outras expresses e signos de comunicao. Da carne

    chamuscada, a luta pelo melhor pedao, dos ossos e pedradas nas cabeas nasceram os risos8, todos filhos

    do trgico e do medo. Assim desabrocharam os andaluzes para florear o futurismo dos tcnicos da

    destruio.

    No filme a Guerra do Fogo, o diretor consegue de forma sutil nos mostrar que o primeiro ato de

    desenvolvimento da civilizao humana em relao aos diversos graus de conhecimento das tribos ou

    bandos, quando ainda bandos ou tribos das cavernas ou dos pntanos, vai ser no encontro desses grupos,

    6 Frase extrada de um cartaz esotrico (Gnostico) em quadro de avisos na ufpb.7 Teo ( Deus), tas (de Pedras). Relao homens das cavernas e pedras com o sagrado.8 O riso uma expresso dossentimentos tambm impulsionados pelo racional.

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    os choques culturais e a expresso do riso. Arte expressa no combinar das pessonas desconhecidas. O

    sorriso marca a fisionomia dos primeiros latejos de pensamento. O riso nasce das diferenas, e da

    despreocupao, os filhos do medo e do (des)conhecido se esqueciam do medo quando comeavam asorrir, ou quando algo de trgico os afetavam. O brincar de mascaras, o pintar as pedras paredes da

    caverna e o ato de se pintar vo despertando no primata a construo mental dos signos. Da para a

    organizao das idias para as palavras s alguns passos a mais. A saga humana vai sendo construda nos

    encantos com o fogo que ao queimar e aquecer via escrevendo em brasas o destino dessa raa de animais

    que caam na infantil escurido imagens incompreendidas.

    A caverna e seus entornos era um imenso universo nico verso de uma poesia com sons

    desconexos. O verbo ainda no se fazia carne humana, mas mesmo sem verbo a criao j tinha poderes

    em meio as trevas do desconhecido mundo dos humanos/animais. O Sagrado ainda era segredo e do

    segredo guardava-se instintivamente os fios do medo e o controle das chamas. O fogo apagava as trevaspara queimar a noite e criar sobras. Luz e sombra um alimento para depois da caa, a sombra que nasce

    da luz impressiona os animais humanos, filhos do escuro nascem para o fogo e passam a brincar de

    deuses.

    Pensar crianas brincando nas cavernas, pedras, ossos, folhas, insetos, pedras, ossos. Brincar o

    primeiro ato de criao, ensinar brincando, brincando de conhecer. Como seriam as primeiras crianas

    que habitavam as cavernas humanas? As primeiras formas de aprender buscadas no erro e na

    curiosidade? Os feitios virando contra os feiticeiros, as pores mgicas dessa divina raa que quando

    no matava curava. Arte e magia a flor da pele, humanos espiritualmente amadores.

    So muitas as tentativas de reconstituio e descobertas dos primeiros humanos. Os escritossobre a possvel forma de vida primitiva abundam as bibliotecas do moderno mundo das idias, e em

    meio as tantas descobertas predominam as histrias adultas do trabalho em pedras e guerras pelo fogo. O

    fazer infantil dos primatas ainda encontra-se sagrado em algum lugar das vrias camadas etno-geolgicas

    de vrios pontos da terra. Enquanto isso brincar preciso e uma das coisas mais srias no fazer de uma

    criana. Assim a (cons)cincia, muito jovem e com todos os direitos de errar.

    Passos contrrios na lgica do fazer cientfico

    A academia enquanto locus do saber, no fazer moderno um dos espaos que se pretende

    enquanto organizadora de meios para uma compreenso da realidade. A linguagem e a lgica racional

    cientficas permitem as poucos da academia tal entendimento, em especial para aqueles que foram

    moldados (formados ou colocados na forma) desde cedo a absorver alguns valores como verdadeiros. Os

    humanos desse tempo foram crianas. Se foram e perderam essa qualidade, precisam entender que no

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    aprenderam os mistrios do fogo, no se queimaram no brincar de toca9. como no ter histria nem

    experincia para contar. Sendo assim, como criar e transformar a realidade?

    Toda cincia seria suprflua se o real fosse transparente. Ascrianas aplicam no brinquedo toda sua sensibilidade sem duvidardaquilo que dado, daquilo que aparente. Brincando, ela nega oempirismo comum nos adultos. aquilo que , no . Um carrinhono apenas um carrinho; uma boneca no apenas uma boneca. tudo aquilo que sua imaginao quiser. As crianas com suarefinada sensibilidade percebem desde cedo que os dados imediatosrepresentam to-somente uma das dimenses do real, mas no soo real. A descoberta do real uma viagem que vai muito alm domundo das aparncias. No brinquedo, o empirismo dos significadosbvios e visveis no capaz de contentar as crianas. elas querem

    sonhar, exercitar todos os sentidos com seus brinquedos e, junto aeles, explorar, sentir e conhecer o mundo. Tudo merece oenvolvimento infantil. O brinquedo capaz de revelar, assim,muitas das contradies existentes entre a perspectiva adulta e ainfantil. Negando o significado aparente do brinquedo, a criananega tambm a interpretao adulta do brinquedo.(OLIVEIRA,1984: 9)

    O aguar a curiosidade, o contato com os desafios do mundo, as viagens pela imaginao, o

    moldar e dar formas aos diferentes elementos que podem se transformar em brinquedos. O simples ato de

    quebrar um brinquedo na tentativa de mudanas, leva a criana a elaborao ou contato com o fazer. No

    ato destrutivo, a (des)construo, que muitas vezes duramente recriminada pelos adultos, demonstra

    uma relao diferente entre a criana e o adulto na compreenso real do brinquedo e da vida. No dizer de

    (BAKUNIN, 1986:128) A desordem, ou a ordem livre, fundamental para qualquer pensamento,

    sentimento e vontade. Assim o fazer infantil, um fazer que sabe, e que dispensa o ensinar de quem no

    sabe. A cincia do linguajar difcil se afasta do real e tenta com palavras construir esse tempo, essa lgica

    consegue apenas simulaes aceitas enquanto cdigos de valores institudos.

    Do brinquedo as brincadeiras, do objeto individualizado ao brincar coletivo, tudo isso uma

    constante no aprender. Nas brincadeiras, as crianas fazem suas prprias regras ou entram em contato

    com vrias regras e prticas de convvio social. nesse momento de contato com as regras que o poder

    ideolgico vai organizando sua ao de alienao ou conscincia no que estar por vir. O brinquedo que

    at o momento aparecia como um elemento apenas para brincar ganha nova verso no processo de

    construo das identidades e concepes de mundo.

    A indstria da destruio faz tudo igual e em srie. Os brinquedos perdem sua identidade mas

    mesmo assim fascinam, uma grande fbrica de sonhos que ensina as crianas quais so os primeiros

    passos para o consumo. Do osso, galhos e pedras, artesanatos para brincar, que se tm em fase de

    9 Brincar de toca, o mesmo que pega, as crianas treinam sua resistncia e agilidade. Comea com um nicogaroto(a) que tenta tocar nos outros, os que vo sendo tocados passam a formar uma corrente humana at que todos

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    desaparecimento, importantes momentos da histria dos homens arteses, que brincando com alguns

    elementos da natureza faziam suas formas de encantar crianas, em um mundo cheio de fantasias

    realmente mgicas, em que o real e as imagens em ao se misturavam.Ser que ainda somos as mesmas crianas que brincvamos como os nossos pais? Somos as

    cavernas ou as cavernas somos ns, nossos pais e nossos avs?

    Levado mais uma vez ao pensar nas cavernas e nos pequenos primatinhas. uma distncia

    muito grande, mas como possvel brincar com as palavras e com os pensamentos, mesmo correndo

    todos os riscos das imaginadas aventuras. Ao ponto de poder pensar no mundo humano enquanto macro,

    brincar com os elementos da natureza para construo de carros, manequins, viadutos, vidas e mais.

    Brincar de construir cidades e fazer guerras, brincar de ser natureza e fazer agricultura, brincar

    de civilizao e fazer cultura. At chegar a macro-fsica do poder para no mais poder brincar, pois s uns

    podem. Ou melhor, resta no ldico mundo das idias o brincar de bandidos e heris para na construodas leituras das histrias em quadrinhos, a representao da realidade. As imagens projetadas nas telas ou

    na TV conformam espectadores que se virtualizam. Personagens da antigidade, medievais, mitolgicos e

    andrginos lutam nos games, dando vida as mos e mentes mais geis de crianas e adolescentes. Armas

    superpoderosas e cenrios fantsticos completam cenas recheadas de sonoplastia e adrenalina com poucos

    movimentos corporais de cada jogador e fortestress cerebral, emocional e ou psicolgico.

    A cincia Amor daada

    O mundo contemporneo, no tendo mais cavernas nem florestas para deixar seus filhos, osdeixa nas academias para serem futuros cientistas. Enquanto isso, no tendo mais caa livre, todos,

    homens e mulheres, vo brincar de construir as suas megalomanacas selvas de pedras ou suas

    monoculturas agro-industriais. Uns brincam de dar ordens e outros brincam de obedecer, estas so as

    regras. Nas escolas os filhos no podem brincar pois precisam aprender a repetir, e no futuro construrem

    as suas prprias pedras de selvas e flores de plstico. Estas so as regras, reguladas, carimbadas,

    rotuladas, avaliadas, e mais. Feitos de sonhos, na escola enquanto crianas, prefem sonhar. Repetir a

    escola quantas vezes as regras quiserem, assim poder entrar no mundo dos metais para construir os mapas

    mentais, (des)caminhos com dois tempos: a espera do intervalo e a espera da sada.

    A criana vista como um adulto em miniatura, arrastada de sua caverna, seus ossos, pedras e

    at brinquedos industrializados para, na escola da submisso apreender a transmisso de um conjunto de

    valores socialmente admitidos. A nasce a educao proselitista de propaganda, sem fomentar a liberdade

    de pensamento, nem sequer uma atitude cientfica, mesmo sabendo, que somos filhos dos sculos de

    maiores poderes intelectuais. Estes elementos perpassam a lgica do poder e autoridade do adulto, seja o

    professor ou demais envolvidos no processo ensino-aprendizagem e ou conhecimentos.

    se unam, ou sejam tocados.

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    A tica e a moral infantil, quando ainda no empregnadas pelos valores e signos sistemticos da

    ideologia dominante, so uma essncia da liberdade, que lentamente vai sendo tragada pela autoritria

    desigual sociedade adulta. um sistema que se baseia em forjar inteligncias segundo um modelo pronto,se prope a nada menos que, saquear da criana a faculdade de pensar com sua prpria iniciativa. Este

    fazer ciente amordaa um futuro cientfico, encurralando a emoo da descoberta a servio de humanos

    aparentemente livres.

    Para as crianas talvez no sirva um livre arbtrio metafsico, abstrato ou fictcio, este escamoteia

    a realidade e na certa os colocar enquanto escravos de uma moral divina e negadora de humanos

    (re)produtos das relaes da sociedade com a natureza e vice versa. A verdade de hoje pode ser o erro de

    amanh10. E a verdade para a criana s existe enquanto experimento. o brincar com o fogo e se

    queimar, jogar as brasas para o ar e sentir-se moleque que desafia o sagrado, assim a verdade infantil e

    a de quem desafia-la, pois na razo, para cada acerto h no mnimo cem erros. Pensar assim pelomenos querer quebrar estas mordaas da verdade pronta. Parece uma defesa da ingenuidade cientfica,

    onde no h lugar para a maldade dos homens, mas para uma sociedade de mercadores, a cincia que

    apronta produtos a serem consumidos pelo valor do mercado, deixa de estar inserida nos quatro pilares do

    conhecimento universal: arte, filosofia, mstica e cincia. Ou seja, pode ser outra coisa, enfrascada e com

    rtulo que no representam contedo algum.

    Pensando nas Cores Cinzas da Cincia

    Pode-se comear perguntando a que se reduz a cincia? Significa o modelar criaturas medidade seus erros e preconceitos?

    Logo, o fazer cientfico pode incorrer no dogmatismo ou propaganda de idias preconcebidas.

    Da observar que este fazer passa tambm por princpios preestabelecidos e doutrinrios. Assim como

    Deus nos fez a sua imagem e semelhana, para muitos a cincia teria este papel de transformar os jovens

    sua imagem e semelhana, a partir de leis, dogmas, pensamentos filosficos, e ou opinio scio-cultural

    e poltica idealizadas e impostas via ensino por exemplo, para serem aceitas como verdades pela

    comunidade seleta de cientistas, at tornarem-se populares, chegando ao ponto de serem aceitas como leis

    universais. Assim caminha a humanidade.

    Enquanto individualidade o homem deve ser livre para desenvolver todas as suas possibilidades,

    levando em conta os aspectos mentais, fsicos, intelectuais ou afetivos, pois a busca do aprender uma

    caracterstica natural do humano.

    Enquanto seres coletivos, se forem moldados pelos parmetros das idias pr concebidas, nada

    mais sero que uma cpia mal arranjada de uma sociedade que desrespeita a liberdade de pensamento e

    de ao, eliminando dos jovens e velhos cientistas o direito ou desejo de saber por si mesmos, de

    formar suas prprias idias.

    10 Ditados populares e frases sem fontes.

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    A Cincia divulgada na academia poder se reduzir a lies das coisas e ou lies de palavras.

    As palavras podem no mximo servir para algumas explicaes, e as explicaes geralmente so dadas a

    partir de idias feitas, e ensinar a partir de idias prontas ou semi-acabadas interferir dogmaticamente naliberdade mental das pessoas, por mais bem intencionado que se queira repassar um conhecimento

    cientfico. Este fazer enquanto simulao das coisas no tem como princpio a experimentao, a

    comprovao cientfica e a realidade vivida quotidianamente.

    Para (WILDER, 1979: 7), Um mapa do mundo que no inclua a UTOPIA no merece nem ser

    olhado, pois deixa de fora o pas no qual a humanidade est sempre a desembarcar. Pensar estas formas

    apontar para a superao de alguns obstculos por que passa a cincia hoje, so desafios que podem

    mexer com as estruturas do bem arquitetado sistema. Colocar em evidncia o paradigma da dvida, da

    incerteza nos (des)caminhos da cincia de alguns. Mas esta a tarefa dos que querem diferentes maneiras

    de pensar o mundo. Viva, atuante, participativa. S assim inicia-se o processo de (des)construo de umanova sociedade, na qual, menina(o), mulher e homem tenham como base: a solidariedade, a cooperao e

    a reciprocidade das pequenas coisas, pilares de construo da GRANDE PIRMIDE QUE SONHAMOS

    HUMANIDADE.

    Referncias:

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    4. A Questo Ambiental no Contexto Social: um olhar geoecolgico

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    Belarmino Mariano Neto

    Os desequilbrios produzidos pelo homem do mundo natural tmsua origem nos desequilbrios do mundo social(BOOCKHIN, In.FREYRE, 1992:56)

    Entender os problemas ambientais do planeta terra de forma genrica e propor

    algumas alternativas de manejo e recuperao para suas reas degradas, passa por um

    estudo de seu ambiente holstico e pela profunda compreenso da histria de ocupao

    scio-econmica poltica, cultural e tcnica estabelecidas, levando em conta os processos

    de apropriao da natureza em seus vrios nveis.Pensar em analisar as condies de vida e trabalho, moradia e problemas ambientais

    de uma dada sociedade, passa pela necessidade de saber quais as relaes de produo que

    se estabeleceram e que hoje predominam no meio ambiente e como as camadas sociais se

    percebem dentro desse processo produtivo. Alm da percepo dos que fazem a produo,

    ser fundamental levantar informaes sobre as condies ambientais que refletem-se na

    vida, levando-se em conta condies de moradia, sade, educao, padro alimentar, lazer,

    liberdade, prazer, e sonhos do que a humanidade.

    Estes escritos, meramente tericos, objetivam identificar os principais atores sociais

    que interferem sobremaneira no meio ambiente e questionar as contradies dos regimes de

    agresso a vida na terra, seja a vida de um simples inseto como borboletas ou abelhas,

    chegando at os vertebrados, mamferos e os racionais que ocupam territorialmente a terra.

    Pensar a questo scio-ambiental atual, passa por ter que entender o processo de

    desenvolvimento da sociedade urbana que vem se formando no decorrer dos ltimos dois

    sculos. A cidade forjada nas entranhas da modernidade, deixa de lado a natureza e

    privilegia os interesses econmicos que determinados espaos posam subsidiar ao modelode produo capitalista monopolista internacional. Logo o meio ambiente passa a ter um

    carter de economia ambiental via seus recursos, indispensveis ao movimento de matrias

    primas, base para a maioria das mercadorias que circulam no mercado mundial.

    Este documento pode ser visto como um ato libertrio de protesto contra o modo

    vergonhoso de agresses ao meio ambiente praticado pelos (banqueiros, empresrios,

    industriais, governos estados e empresas em geral), responsveis pelos desastres ecolgicos

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    que foram e esto sendo provocados por esse conjunto de inconseqentes generalizadas

    como capitalistas e autoritrios. Na verdade estes grupos muitas vezes se colocam em

    defesa da natureza, mas no fundo, so apenas eco-facistas11, tentando reparar seus absurdos

    ou colocando para debaixo do tapete os problemas ambientais por eles provocados.

    As agresses ao meio ambiente - poluio atmosfrica, poluio dos mares,

    poluio dos rios, poluio dos alimentos, desmatamento, extino de espcies da fauna e

    da flora, etc. So quase todas permitidas pelos Estados Modernos e praticadas indireta ou

    diretamente por empresas capitalistas, que obedecendo as normas do mercado, buscam o

    maior lucro, custe o que custar para a natureza e para os seres humanos.

    Esta farsa ecolgica de defesa da natureza, por parte de alguns dos meios decomunicao, empresas e governos uma tentativa vergonhosa de encobrir essa sociedade

    baseada na concorrncia, no consumismo e na explorao tirnica do planeta e da

    humanidade.

    Os pases desenvolvidos falam em proteo ambiental, organizam fruns

    internacionais para se discutir a problemtica, mas no admitem uma s mudana nas

    estruturas dessa decadente e destrutiva sociedade de consumo e desperdcio.

    Os pases subdesenvolvidos carregam sobre os ombros uma escabrosa dvida

    externa, mas ainda no atinaram para a idia de que so as naes ricas as maiores

    responsveis pela grande dvida ecolgica, que iniciou-se com a velha histria da

    colonizao (destruio das culturas indgenas, saque de suas riquezas naturais,

    desmatamento e poluio generalizada). Tudo o que hoje vejo como segregao, apartao,

    violncia, fome e subdesenvolvimento de quase todo o Hemisfrio Sul e regies tropicais

    do globo, obra dos mais de quinhentos anos de explorao capitalista, dvida que s ser

    paga com o fim desse desajustado sistema.

    Os diferentes estgios da humanidade so os diferenciais sociais e culturais em diferentes espaos. A produo dos espaossociais so extremamente contraditrios e afrontam diretamente a natureza em todos os sentidos. A noo de que o homem deve dominar

    a natureza vem diretamente da dominao do homem pelo homem (BOOCKHIN, In. FREIRE, 1992:57).

    O termo homem aqui usado, parece generalizar para a humanidade os desmandos provocados por

    alguns mercadores da natureza, que tanto exploram o meio ambiente, como a sociedade e as diferentes

    culturas que formam a humanidade, constituindo ideologicamente uma sociedade aparentemente una.

    11 Cf. FREYRE, A farsa ecolgica, 1992.

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    Esta sociedade baseada no produzir por produzir, do lucrar em detrimento da natureza e do humano

    me coloca diante de uma posio radical, to grande a urgncia em socorrer o planeta das garras assassinas

    desses mercadores da comunal me terra. fundamental uma sociedade que no seja mercadoria de uns poucos, que o reino natural no seja

    uma mera manufatura para o desenfreado mundo comercial e concorrencial.

    A questo da pobreza humana no ambiente urbano, e mais particularmente, sua estrutura, as mudanas

    recentes em nvel de padro tcnico e as condies de vida, trabalho, moradia na periferia das cidades na perspectiva

    da Ecologia Social, podem apontar para estudos srios e que visem quebrar com estas gigantescas estruturas

    ingovernveis.

    Os ambientes urbanos representam uma verdadeira catstrofe para a natureza,

    especialmente os grandes centros e suas redes urbanas, a medida que vo ampliando suas

    funes, os interesses dos grupos pelo controle dos solos urbanos, passam por cima da

    natureza, desmatando florestas, poluindo rios, exterminando animais e criando um

    verdadeiro mal estar scio-ambiental.

    O sculo XX marcou profundamente a forma de viver das pessoas, dinamizando

    novos valores e mentalidades de organizao social. O urbano passou a servir de modelo

    para a organizao da sociedade, criando uma mentalidade de melhoria nas condies de

    vida, desenvolvimento cultural e ampliao do padro de consumo dos seres humanos.

    Com Isso, instalaram-se milhares de indstrias, deslocaram-se milhes de habitantes parareas sem as mnimas condies de vida ideal.

    Como romper as travas da propriedade privada sobre o espao geogrfico? A base

    de uma nova sociedade ser o fim da dualidade cidade x campo e a completa

    descentralizao do espao urbano, especialmente as grandes metrpoles internacionais.

    preciso responsabilizar por esta situao de desajustes scio-naturias estes sistemas

    farsistas, autoritrios e ante naturais que atualmente formam um grande imprio de

    explorao da terra e do humano. A lgica pode ser a de uma sociedade ecolgica e de

    economia sustentvel, baseado no socialismo comunitrio autogestionrio e planetrio.

    Referncias

    AZEVEDO, M. C. de (org.).Ateno Signos Graus de informao. In: Cadernos Universitrios n.4.Porto Alegre: Edies URGS, 1973.CAPPELLETTI, Angel J.La Ideologia Anarquista. Buenos Aires: 1992.FERRY, Luc. A Nova Ordem Ecolgica. So Paulo: Editora Ensaio, 1994.FREIRE, Roberto. A Farsa Ecolgica. Rio de Janeiro, RJ: Editora Guanabara, 1992.

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    GONALVES, Carlos Walter Porto. Os (Des)caminhos do Meio Ambiente. So Paulo:Contexto, 1996LUIZZETTO, Flvio. Utopias Anarquistas. So Paulo: Brasiliense, 1987.

    MORIN, Edgar & KERN, Anne Brigitte. Terra - Ptria. Porto Alegre, RS: Editora Sulina,1995. NETO, Belarmino Mariano. Manifesto Ecolgico. Joo Pessoa: Jornal O Correio daParaba, pp 04, 30 de Julho de 1993.

    5. Informao Ambiental: novas linguagens e globalidadeBelarmino Mariano Neto

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    Semeadura de Palavras

    no existe sujeitos, nem subjetividades fora da histria e dalinguagem, fora da cultura das relaes de poder (SILVA, TomazTadeu da. 2000:12).

    Fiz a opo em trabalhar com o debate sobre a teoria dos sistemas. Relacionei ao tema a

    tecnocincia, globalizao e informao. busquei relacionar nesse primeiro momento apenas aspectos que

    dizem respeito a sociedade e a natureza transformada, fazendo um paralelo entre os sistemas agrcolas

    modernos (complexos agro-industriais) e a chamada agricultura familiar ecolgica em meio aos pressupostos

    da linguagem e da informao, do meio ambiente e do desenvolvimento. A questo do desenvolvimento a

    qualquer custo, do desenvolvimento sustentvel e suas contradies. Estes elementos so os princpios

    norteares de minha pesquisa em nvel de doutorado. Apenas me ative ao aspecto da chamada informao

    ambiental enquanto idia de banalidade da linguagem e do discurso ecolgico atual.

    Uma das bases tericas desse trabalho o livro de LVY, Pierre, Cibercultura, um material que

    discute com profundidade toda a experincia humana da era digital chegando a atribuir ao humano de hoje

    uma condio virtual de ser. Uma temtica que envolve a cincia, tecnologia e o humano enquanto um ser

    plugado nas novas tecnologias do mundo micro-eletrnico em escala local, regional e global.

    Sei dos riscos que estou correndo na tentativa de produzir este texto sobre uma temtica to atual e

    to recheada de contradies, um experimento de profundas dvidas e incertezas em relao ao cientfico,

    tecnolgico e scio-cultural nos dias atuais, em meio aos elementos de representao e subjetividade dos

    novos paradigmas do conhecimento social.

    Comeo questionando: At que ponto o debate sobre a ps-modernidade j foi superado?

    A linguagem de fato a grande marca da ps-ps-modernidade?

    At que ponto a globalizao uma realidade cientfica que se enquadra na teoria de sistemas ou

    uma produo ideolgica do sistema de poder12?

    Como entender a teoria de sistema em meio aos sistemas tcnicos, informacionais e aos sistemas

    filosficos, sociais e culturais?

    No pretendo responder estas questes, at porque as reflexes ainda so por demais verdosas,

    aqui, quero apenas acrescentar a elas mais elementos de dvidas ao debate, pois entendo que minhas lentes de

    alcance so constantemente ofuscadas pelo universo da subjetividade latente em toda a cincia da atualidade.

    Outro aspecto dos questionamentos o pouco tempo do curso, o que me pede um amadurecimento posterior

    das reflexes feitas no calor dos debates.

    12 Estas duas ltimas questes so levantadas em minha pesquisa, no foram diretamente tratadas noseminrio.

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    Metfora do Liqidificador

    O atual estgio de profundos avanos tecnolgicos e acelerao contempornea no campo dainformao (ciberntica, informtica e eletrnica)13 seguidos pela dinmica das relaes sociais em escala

    mundial so os eixos temticos que me alimentam de preocupaes em querer entender melhor esse rico

    estgio de incertezas do humano, muito recheado de representaes e discursos divergentes.

    Estou entre a metfora do liqidificador e a ps-modernidade como sendo esse grande liqidificador.

    Assim vejo que na idia de globalidade componho-me, decomponho-me e recomponho-me em fractais de

    uma totalidade com-nexa e des-com-nexa, em meio a unicidade e a totalizante fragmentao liquidificante do

    lugar e do no-lugar, das pessoas e das no-pessoas, enquanto indivduos, comunidades e sociedades. Sejam

    secretas, annimas, virtuais ou simplesmente tribais. No conceito mais atual de tribo, gueto e linguagens que

    o mundo da informao e lingstica nem sempre conseguem decifrar com facilidade, mas que j soidentificadas como comunidades virtuais. Expresses, impresses e revelaes com sentidos que nem mesmo

    estas palavras conseguem dizer. O universo de informaes que foi sendo aprendido, apreendido e

    compreendido no convvio, nos contatos e re-viver dos relatos e experincias lidas ou de fato experimentadas

    em meu cotidiano foram fundamentais para o que reflito agora.

    Um filme sem roteiro prvio e definido se desenrola dentro de mim. Meu caderno de capa preta e

    pginas numeradas vai ficando repleto de aspas ( ) e fragmentos plurais do dizer e do pensar. Um texto des-

    com-nexo, apenas um pr-texto para este texto que no deixa de ser tambm um pretexto de minhas

    apreenses.

    Como a temtica muito instigante, me sinto um pouco no olho de um furaco14, mesmo sabendo

    que esse debate todo sobre ps-modernidade em meio ao lido, extremamente introdutrio de outras

    profundidades a posteriori. Sem esquecer de um rebuscar da importncia em trabalhar a lingistica,

    hermenutica e a informao para a construo da subjetividade, o que me deixa de olhos esbugalhados

    (arregalados), mesmo sabendo que olhos so pontos de vistas, imagens do olhar ou espiar, viso reflexiva da

    exterioridade interior, para alm do simples olhar, seja do olho dgua ou do olho do furaco. Esse olhar ps-

    moderno como um olhar de deciso provisria e em infinitas direes.

    Nesse jogo de palavras o brilho solar engravida a lua em fases meio cheias, meio nuas, enquanto

    minha identidade vai sendo propositadamente perdida, roubada, des-encontrada em sua digital e imagem

    fotogrfica, agora colorida pelo artifcio da tecnologia.

    Sem identidade me sinto engolido pelas digitais dos cdigos de barras em branco e preto e cartes

    magnticos multicoloridos que alimentam sonhos da era digital, que estava na digital de minha identidade

    roubada. Sem digital, mas com a ris dos olhos digitalizada e lida pelo caixa-rpido 24 horas da esquina, sinto

    13 Como exemplos: WWW World Wide Web e htt//: (hipertexto imagem, son, texto e comunidadesvirtuais).14 Cf. expresso do Prof. Durval Muniz na palestra sobre Complexidade social e diversidade deinterpretaes. Do Curso Seminrios Avanados de Sociologia II/UFCG, 2002.

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    o tempo ritmado pela ps-modernidade marcando meu corpo com seu lazer/flesh em arco e flecha a flechar a

    ris do meu olhar de arco-ris.

    Enquanto busco um amadurecimento de minhas sementes nos esconderijos profundos da alma, tambm busco um viver mais tranqilamente o sentido e o dizer as

    coisas. Mas, a velocidade supersnica e seus pacotes tecnolgicos ignoram minha razo

    inocente, dizendo que no ando apenas HERECTUS. Vivo o estgio do andar sentado e em

    alta velocidade, sobre duas rodas, quatro rodas, ou sobre asas. Ando sentado, me deslocado

    em tempo real pela net world (sistema htt// e www) com capacidade para resoluo de

    milhares de problemas que levariam muito tempo e que necessitariam do deslocamento

    fsico em muito espao. Estes pacotes tecnolgicos me deixam perplexo, fascinado,

    encantado e apreensivo diante de um mundo virtual de informaes com imagem, som e

    texto em uma velocidade tempo-real com direito a incurses de terceira dimenso. Um

    desafio para um olhar ainda centrado no ato de ver com as mos do tocar, que apalpam o

    objeto observado. O Agora um tocar digital recheado de virtualidades to reais e objetivos

    quanto a subjetividade da lingistica.

    Este o tempo e o lugar da GLOBALIDADE, em que o contemporneo ou o ps-

    moderno nesse debate representa uma longa transio para o que estou nomeando de

    IDADE GLOBAL ou GLOBALIDADE. Este presente-presente da era informacional querequer da linguagem novos significados e alegorias. Talvez o que (FOUCAULT: ),(

    DELEUZE: ), (PIERRE LEVY: ), (BOAVENTURA: ), (CASTELLS: ), (LEVI STRAUSS:

    ), (LAYTARD: ), entre outros, levantaram em suas interpretaes e nos sentidos que deram

    as coisas, as palavras, smbolos, signos, significados, imagens representadas ou

    contextualizadas pela filosofia da diferena e pela forma de dize-la.

    No inteno criar ou continuar com uma classificao, mas, apenas dizer que em meio aos

    diferentes e aceitos sistemas, organizaes, redes, associaes e sociedades como ordem aceitas pela cincia e

    pela sociedade, sinto um certo delinear de global-idade ou idade global, da chamada contempone-idade e ou

    ps-modern-idade; da modern-idade e ou idade moderna; da medieval-idade e ou idade medieval; da antigu-

    idade e ou idade antiga, bem como dos estgios mais distantes do desenrolar das sociedades humanas em

    diferentes espaos e tempos. No significa que esteja querendo voltar ao essencialismo e ao revelacionismo

    da mitologia do encantamento. Ou melhor, no estou querendo voltar para lugar nenhum ou tempo sem

    linearidade, mas apenas sentir e refletir sobre este presente-presente que se afutura a cada instante em

    sistemas cada vez, mais complexos. Sistemas que fogem da lgica dual (metade deus, metade diabo), que

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    questiona a exata medida das coisas e da vida num nico espao/tempo provisrio. Um Ciberespao (LVY,

    2000:31).

    A vida cotidiana vai sendo vivida aos bilhes nos quatro cantos do planeta, em meioa tudo isso, estou a tentar compreender os fios que tecem a subjetividade humana, e

    tambm suspeitar de sua existncia e de sua importncia para estes dias. As contradies e

    embaraos marcam este estgio em que o natural e o artificial permeiam os seres, sujeitos

    ou no de uma condio humana de ser. A humanidade em questo se alimenta de

    alimentos geneticamente modificados. Hbridos e clones so cada vez mais comuns em

    nosso presente-presente que se afutura enquanto me choco com a totalidade do verbo que se

    faz e desfaz em cada palavra, ato ou pensar.

    A natureza do humano j mquina em diferentes estgios de desenvolvimento e

    agora de evoluo. O organismo humano e todo o ambiente no qual ele estar envolvido se

    reveste de elementos artificiais ao ponto de no se identificar mais dicotomias do ser e do

    no ser.

    A experincia dos implantes, transplantes, enxertos, prteses e rgos artificiais

    engendram uma gerao de seres em estados artificiais que colocam em xeque a

    originalidade ou naturalidade do humano15. Estas so algumas das preocupaes

    apresentadas por (DONNA, in.: TADEU, 2000:131) em seu tratado sobre ciborgue. Esteselementos vo para alm da cincia e tecnologia, para alm da biologia e da mquina e se

    encontram com a prpria lgica do divino no humano e os valores ticos da sociedade.

    Do p nuclear a engenharia gentica; dos hbridos aos clonados. Estes paradoxos

    esto todos conectados ao chamado ciberespao e a cibercultura16 controladas por um

    rigoroso sistema de informaes e capitais que seguem a lgica do simulacro a nos encantar

    apenas pela ma, esquecendo a rvore do conhecimento. o que DONNA, 2000:133)

    identifica como C-3 (Comando-controle-comunicao-inteligncia). Elementos conectados

    a teoria da linguagem, do controle e suas contradies identitrias como construo social e

    poltica da linguagem.

    Da linguagem banal a informao ambiental

    15 Cf. Silva, Tomaz Tadeu da. 2000:1416 Cf. LEVY, Pierre. Cibercultura. So Paulo, editora 34, 2000.

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    A partir de agora, centralizarei meu texto nos elementos da informao ambiental como uma das

    marcas do atual estgio de globalidade pelo qual passa e vive o humano em seu presente. A idia relacionar

    a linguagem como elemento envolvente dos sistemas de informaes e da prpria cincia que at certo pontose torna refm do discurso e da representao. A informao ambiental como banalidade do discurso uma

    tentativa de conectar os limiares da ps-modernidade com a super informao, seus veculos em rede e todo o

    emaranhado de contradies do presente-presente.

    Incio, meio e fim. Estou aqui diante de trs coisas. Tendo que comear a dizer sobre um tema que

    vem se tornando cada vez mais banal; no meio de um verdadeiro bombardeio de informaes sobre a

    importncia de preservar a natureza e muito preocupado com o fim de tudo isso, pois enquanto as pessoas

    falam ou discutem o meio ambiente, muitos esto com o cigarro aceso ou acabaram de jogar o papel do

    bombom pela janela.

    Vivo o paradoxo da ps-modernidade em que a linguagem, a informao ou o discurso ocupam ocentro da cincia. A linguagem a ponte na criao das relaes. A teia com os outros mundos e o espao do

    dizer e da produo cultural. A informao passou a ser o elemento de maior importncia para o mundo

    contemporneo. Um mundo visual que produz a conscincia da sensibilidade, o conhecimento dos primrdios

    e as imagens construdas pela vida de cada pessoa.

    A linguagem constri cincia, (des)constri o censo de verdade ou de realidade alimentando idias e

    utopias. A linguagem cria condies, quebra fronteiras e desafia a constante idia de ponto final. A

    capacidade cultural e tecnolgica de dizer, de falar, de escrever, de informar e de estabelecer conexes

    intervencionando a lgica do tempo e do espao, abrindo portas para a tele-distncia na arte da idia do

    humano como sendo um programa de palavras ditas, no ditas e por dizer, imagens e representaes ensaiadasem cada ato do cotidiano.

    Se a espcie humana ainda precisa de uma alavanca para modificar o mundo. Modificar,

    no. Para salvar o mundo, ela j reencontrou. Essa ferramenta, usada e demonstrada com

    competncia pelos cinco mil jornalistas que fizeram a cobertura da Cpula Mundial sobre

    Desenvolvimento Sustentvel, a Rio+10, em Johannesburgo, na frica do Sul, tem um novo

    nome: informao ambiental. (Cf. FIRMINO, Hiram. Pp. 06:2002).

    A grande questo : at que ponto a totalidade da informao ambiental tem surtido algum efeito real

    nas atitudes humanas, em seus Estados, Governos, Sociedades e Empresas?

    Sem sombra de dvidas, a informao ambiental foi totalmente democratizada. Internet, televiso,

    vdeos, rdios, revistas, jornais, folhetos, etc. So produzidos diariamente com temas que esto relacionados

    com o meio ambiente e sua preservao.

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    J so mais de 6,8 bilhes de seres humanos, e de um jeito ou do outro a informao ambiental chega

    at as pessoas. A questo em que condies de vida est a grande maioria da sociedade humana para

    transformar informao em prtica cotidiana para preservar o meio.

    A tirania da informao e do dinheiro so apresentadas como pilares de uma situao em que o progresso tcnico aproveitado porum pequeno nmero de atores globais em seu benefcio exclusivo. (SANTOS, 2001:38)

    Assim, o discurso do sustentvel se torna insustentvel para a grande maioria das pessoas

    aparentemente inseridas na globalizao do planeta.

    Mas, at que ponto as pessoas se importam com estas questes a ponto de mudarem

    de atitudes? claro que a conscincia no se faz num dia, mas no dia da conscincia de

    cada um e estas so questes relevantes para o momento pelo qual passa a humanidade.Estou percebendo que o problema no de (cons)cincia - conhecimento. A questo maior que

    existe uma poluio da informao em todos os sentidos. A massificao da informao ambiental

    acompanhada de uma massificao ainda maior do consumismo. Ao lado de uma informao do tipo defenda

    a natureza, so produzidas dezenas de informaes sobre compre, compre, compre, consuma, consuma,

    consuma, compre, consuma, compre, consuma, compre. A sociedade de mercado monopolista e de

    consumismo a qualquer preo j descobriu as marcas ecolgicas, que geralmente tambm so dezenas de

    vezes mais caras. J existe nos supermercados, sees inteiras de produtos ecologicamente corretos: caf

    ecolgico, acar demerrio e mascavo, acar orgnico claro, arroz integral e ecolgico, verduras orgnicas

    e sem agrotxicos, etc. Estas marcas disputam espao com os ligthes, dietticos, transgnicos, enlatados,estabilizados, e todas as marcas envenenadas e turbinadas do mercado tecnolgico dos alimentos.

    Se as pessoas continuarem pensando globalmente, mas no fizerem nada localmente, enquanto

    indivduo, comunidade, cidado e nao, o fim no ser surpresa. A situao do planeta de alto risco, mas as

    prticas da superproduo capitalista despreocupada dos efeitos sobre o meio ambiente me deixa perplexo,

    impotente de qualquer ao efetiva contra este estado e velocidade destrutiva.

    A aparente ao de muitas empresas que esto investindo em defesa do meio ambiente,

    principalmente empresas com elevado nvel de poluio. Fazendo uma meia culpa. Mas no geral continuam

    com suas atividades a todo vapor. Ou seja, no basta um programa paliativo. preciso de uma radical

    mudana de atitudes. Uma sociedade ecolgica, uma humanidade ecolgica precisa ser pensada e praticada

    em todos os sentidos. Mas o que ser esta tal sociedade e humanidade ecolgica? Ser s mais um

    emaranhado de palavras tpicas da ps-modernidade? At que ponto os alimentos e agrotxicos combinam? O

    humano avanar ao ponto de dispensar o ar, alimento e gua? Ou ter que criar as condies para garantir a

    natureza dessa necessidade bsica do ser vivo.

    A explorao abusiva dos recursos naturais coloca a humanidade diante de uma natureza fnebre. A

    natureza como ambiente dos lugares estragados, a natureza como um depsito de lixo a cu aberto.

    (MARIANO NETO, 2000:73).

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    A informao ambiental uma prtica que comea a ser espacializada pela mdia a partir da reunio

    do Clube de Roma, anos 70, primeiro passo para a percepo de que os recursos naturais no so renovveis,

    e que a super explorao dos recursos renovveis coloca em risco a vida na Terra. Desse encontro tira-se odocumento que aponta para o Crescimento Zero. Em que os pases ricos alertam o mundo para os problemas

    ambientais globais, causados pela sociedade urbano-industrial e crescente dinmica demogrfica dos pases

    subdesenvolvidos, colocando em risco o desenvolvimento econmico e o meio ambiente, especialmente para

    as naes com dependncia tecnolgica e atraso econmico que propagam o desenvolvimento a qualquer

    custo (Brodhag, 1997:49-55).

    Em 1972, a Organizao das Naes Unidas - ONU, convoca a Conferncia de Estocolmo (Sucia),

    que marcou a mundializao das questes ecolgicas. (Sene & Moreira, J. C. 1998:407) Nessa Declarao do

    Ambiente, so perpassados os primeiros acordes para as preocupaes com o desenvolvimento sustentvel,

    com um forte apelo aos direitos fundamentais do homem - vida, liberdade e igualdade de condies em umambiente racionalmente protegido, em que o desenvolvimento deve ser planejado pelo Estado no sentido de

    melhorar o ambiente em benefcio das populaes; fazer uma gesto dos recursos, preservar e melhorar o

    ambiente, assegurando s geraes atuais e vindouras uma melhor qualidade de vida.

    Foram aprovados 26 princpios gerais e pouca ao por parte dos diferentes pases. O importante que

    Estocolmo marcou a viso ecolgica global, tendo sido, de fato, uma conferncia de carter planetrio.

    Na seqncia, acontece Rio 92, (Brasil) Conferncia Internacional da ONU sobre Meio Ambiente e

    Desenvolvimento, com a presena de 106 chefes de Estados ou representantes e mais de 35 mil pessoas. Este

    encontro resultou na Agenda 21, com quarenta captulos, 800 pginas, muitas sugestes e poucos

    compromissos firmes. Pois este documento no fixou objetivos, estimativas, custos, nem modalidades. Estesso os fios invisveis que manipulam as contradies de uma poltica ecolgica mundial. As ONGs e outros se

    contrapuseram ao encontro patrocinado pela ONU, mas o que prevaleceu foram as decises do G-7 (o grupo

    dos sete pases mais ricos)17 e suas instituies financeiras. Os crimes ecolgicos e o modelo de

    desenvolvimento continuam, apesar do compromisso das naes em gradualmente diminuir tais crimes

    (Brodhag, 1997:61). O desperdcio da sociedade de consumo forma esse novo caldo de cultura, que no total,

    mas fragmentado nos indivduos de cada canto do mundo como em um processo sem fim. Incorporadores de

    valores, rugosidades, sentidos e ritmos do existir.

    Se a Rio 92 deixou claro que a natureza finita, limitada e que funciona dentro de um sistema

    interdependente e que precisa do princpio do equilbrio, pergunto o que de fato os governos, empresas e

    sociedade civil fizeram para reverter a velocidade de suas prticas econmicas anti-ecolgicas?

    J se passou uma dcada da Rio-92. Naquele perodo vrios ecologistas apontavam para esta situao

    de descaso com o meio ambiente. (FREIRE:1992) divulgou um manifesto intitulado a FARSA ECOLGICA.

    A ECO-92, Encontro Ecolgico paralelo ao Rio-92, foi fortemente criticado como divisionismo de radicais,

    mesmo assim e com a participao de ONG,s e outras entidades polticas e ambientais, produziram uma

    verso crtica ao encontro oficial das Naes Unidas.

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    Do dia 26 de agosto a 04 de setembro de 2002, em Johannsburgo, na frica do Sul, foi realizada a

    Rio + 10. Uma Reunio da Cpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentvel. Reuniu mais de 160 chefes

    de estados, 45 mil delegados e 7 mil ONGs representantes de 185 pases.

    18

    Em nvel de representaointernacional, essa foi sem dvidas a maior conferencia mundial sobre o tema.

    Hoje entendo porque a Rio+10 foi um fracasso frustrante. No s a Rio+10. Mais o

    Protocolo de Kyoto, e outros foruns menores promovidos pela ONU.

    A guerra Anglo-americana contra o Iraque e o descompromisso do Governo Bush e

    dos seus colaboradores em relao ao meio ambiente so os melhores exemplos de

    desrespeito a tudo que natural e humano. Isto , as potncias que controlam o mundo,

    usam o discurso para justificar seus interesses, mas no efetivam uma preocupao

    sustentvel para a humanidade e para o planeta.Para o Greenpeace, o Rio + 10 pode ter sido a 2 chance. Ser que existir uma terceira, quarta,

    quinta chance? Com esse capitalismo turbinado, os impactos locais, regionais, nacionais e globais j esto

    totalmente sistematizados. O pequeno Rio de minha cidade estar cheio de pneus pirelle, farestone, garrafas

    pet de coca-cola, latas de leo da Texaco, Shelle todas as grandes marcas, mundiais. O Rio 92, dez anos

    depois, encontra-se mais poludo, mais violento, mais pobre. A frica 92, dez anos depois, apresenta uma

    situao bem pior. O Rio+10 a pura constatao de que a agenda 21 foi mais gasto de papel, energia e

    utopias de um mundo ambientalmente vivel, socialmente justo e economicamente sustentvel.

    Para concluir esse quase manifesto, deixo aqui registrado a denncia de que no Brasil j existe uma

    nova indstria parecida com aquela da seca. a Indstria Ambiental. Os recursos para salvar os rios, as

    florestas, os animais, a quase uma dcada aparecerecem nas placas dos governos federal/estadual e local, mas

    o ambiente continua degradado. Entidades esto sendo criadas para defender o meio ambiente com recursos

    estrangeiros, mas muitas so escritrios para carrear recursos para fins ilcitos e de particulares. Tanto os

    problemas ambientais, quanto as questes sociais, esto na mira de uma verdadeira indstria de manipulao

    das vontades e anseios de um humano enquanto senhor do seu destino.

    Cultural da Pobreza Submundializada

    Misria misria em qualquer quanto. Riquezas so diferentes. Afome est em toda parte. (...) ndio, mulato, preto, branco. (...) Amorte no causa mais espanto (...) Cores, raas, castas. Riquezas sodiferentes. (Arnaldo Antunes/Srgio Brito/Paulo Miklos, Tits,BMG/Ariola, So Paulo, 1992)

    17 Na atualidade se fala do G-8: os sete pases mais desenvolvidos e a Rssia, uma potncia nuclear mundialque foi aceita no clube dos pases capitalistas desenvolvidos.18 Cf. JB Ecolgico, Setembro de 2002.

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    Este texto objetiva relacionar idias sobre a cultura da pobreza e a pobreza propriamente dita. Neste

    sentido, uso os escritos de Lewis (1969)19, A Cultura da Pobreza. E Mueller (1997)20 em um artigo que trata

    da Degradao da Pobreza no Brasil. Alm de variados exemplos pertinentes ao tema, para substanciar a viso

    de pobreza enquanto uma condio social com vis fsico ou material, e cultural. Sendo representado nos dias

    atuais como parmetro para uma cidadania incompleta, cada vez mais banalizada pela experincia de humanos

    descartveis, descapitalizados e empobrecidos em todos os sentidos do existir.

    Antes de enveredar pelos conceitos de Cultura da Pobreza, propostos por Lewis, ou pela degradao

    da pobreza de Mueller, enfatizarei alguns cultuadores da pobreza como padres, poetas e pintores. Isto ,

    aqueles que vivem da cultura da pobreza e que geralmente no vivem na pobreza ou em sua cultura.

    Os irmos por fazerem seus votos de pobreza em uma viso do Cristo Primitivo, defensor de um

    reino em que os pobres seriam os bem aventurados. Pois para o cristianismo, seria mais fcil um camelo

    passar pelo buraco de uma agulha, de que um rico entrar no reino do cu. A crtica aqui no mera

    degradao das aes verdadeiramente franciscanas, pois tenho o maior respeito por todo e qualquer trabalho

    pelos excludos. No entanto, muita gente banaliza o ato de caridade, sem de fato se preocupar com aes

    diretas para mudanas radicais no seio da sociedade em que a grande maioria pobre, descapitalizada e

    negada de desenvolvimento pleno.

    Os poetas quando falam dos moribundos que perambulam pelas caladas da vida, ou quando se

    alimentam com as folhas de repolho podres do cho do mercado central. Ou quando escrevem sobre camas de

    papelo nos quartos de caladas das grandes lojas de departamento que embalam os sonhos de cola dos

    meninos e meninas de rua.

    Os pintores que povoam suas telas com uma geografia dos miserveis, expresses de desconcerto do

    olhar, crianas barrigudas e casebres de taipa enquadrados e fixos, seguem expostos pelas ruas avenidas dos

    mais recnditos lugares.

    O jans sado das fbricas e oficinas carregados de graa e fuligem em corpos operrios, ganharam as

    ruas e passarelas da moda mundial. A cultura da pobreza lida pelo rstico e pela simplicidade do no ter, do

    despossuir. O sonho de casamentos e amores impossveis entre protagonistas ricos e pobres so os motivos de

    vasta literatura em que os tramas, tragdias e comdias parecem enquadrados pelos sonhos dos pobres

    encarcerados em seu real e pela fome dos meninos que tm fome21.

    Lewis (1969), conceitua a Cultura da pobreza como sendo tanto uma adaptao quanto uma reaodos pobres a sua posio marginal numa sociedade estratificada em classes, altamente individualista,

    capitalista. Representa um esforo para enfrentar os sentimentos de desesperana e desespero que se

    desenvolvem quando verificam a impossibilidade de alcanar xito de acordo com os valores e objetivos da

    sociedade envolvente.

    19 LEWIS, Oscar. La Vida: a Puerto Rican Family in the Culture of Poverty: San Juan & New York, London (PantherBooks), 1969. Traduo de F. Moonem.20 MUELLER, Charles C. Problemas Ambientais de um Estilo de Desenvolvimento: A Degradao da Pobreza no Brasil.UnB/ Braslia: Ambiente e Sociedade - Ano I - n 1 - 2 semestre de 1997.21 Cf. Adriana Calcanhoto, Esquadros. Senhas. So Paulo: BMG/Ariola, 1996.

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    Nesse contexto, a estrutura lgica da cultura da pobreza parte do modo de vida de parte da sociedade,

    onde suas caractersticas se materializam em diferentes momentos histricos, emergindo com maior fora na

    sociedade moderna, na qual, a idia de pobreza e a natureza da pobreza toma maior corpo fsico.Tanto do ponto de vista de indivduos, como de famlias, passando por regies e pases. A cultura da

    pobreza assume perfil espacial ou territorial, influenciada pelas condies de classe, valores e atitudes que os

    pobres assumem tanto individualmente como coletivamente. Essa pobreza enquanto privao e dificuldades

    materiais vai se transformando em um modo de vida a ser transmitido pela sociedade e pela famlia.

    Pensar na origem da cultura da pobreza e no conseguir data-la, mas a lgica aponta para os

    primeiros passos da histria de excluso, escravido e submisso de povos ao longo das civilizaes.

    Na atualidade, posso pensar nos Astecas do Novo Mxico e nos negros de algum morro do Rio de

    Janeiro e lhes colocar to distantes e to prximos, pois ambos esto inseridos no contexto histrico da Cultura

    da pobreza. Pois foram submetidos aos choques culturais do incio da modernidade. Um tempo to presenteque em menos de quinhentos anos globalizou a pobreza e condicionou homens, mulheres e crianas a

    condio sub-humana de alienao material e intelectual.

    A quebra dos modelos tradicionais de organizao social, pautados na comunho, na solidariedade e

    no coletivismo, so condies favorveis a instituio da cultura da pobreza. Estas so as funes dos ritmos

    acelerados de modernizao. Nessa quebra se processa, o florescer da cultura da pobreza como uma sub-

    cultura da sociedade.

    O mudo social desajustado, cria relaes de dominao do homem pelo homem. Estes so os pr

    requisitos mnimos para uma forte carga poltica e ideolgica das experincias humanas. Contextualizar ento,

    as condies de segregao, violncia, fome, subdesenvolvimento e explorao como molas propulsoras dacultura da pobreza. Os pobres vo em meio a sua realidade, incutindo gerao aps gerao, um forte

    sentimento de marginalidade, de desamparo, de dependncia, de inferioridade, de infortnio e falta de

    aspiraes.

    No contexto Brasileiro, noto uma acentuada presena da cultura da pobreza, produzida legitimamente

    pelo modelo de desenvolvimento adotado neste pas. Para entender a cultura da pobreza e sua materializao

    no Brasil, a