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Livro Reflexões de um Imigrante

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Reflexões de um Imigrante é uma coletânea de textos escritos ao longo da vida de um sábio Português, que chegou ao Brasil há mais de 60 anos e fez desse país sua pátria. A palavra de ordem desse livro é "Honestidade", infelizmente algo raro nos dias de hoje. Espero que a leitura deste, possa auxiliar o amigo leitor a pensar não somente em sí, mas também no próximo e como podemos fazer em pequenos atos individuias, uma soma de ações para transformar a sociedade em que vivemos num paraíso, como no sonho desse imigrante. Boa leitura.

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Reflexões de um imigrante

AGRADECIMENTOS

Pai, eu como primogenito tenho em minha personalidade cravada as marcas de teu bom carater, bondade, equilíbrio e bom humor; Será genético? Tenho certeza que sim, um gene predominante que nos confere tais qualidades e que estão

impressas em meus irmãos também. Se a explicação científica não é suficiente, então só posso concluir que se somos assim tão parecidos com você porque aprendemos a querer ser como você.

Deus continue te abeçoando mais e mais!João Luiz Cavalotti Rodrigues

Que este livro simbolize uma pequena homenagem a um grande pai, sempre tão carinhoso e dedicado, que nos ensinou na calmaria de seus atos, na ternura de sua voz e com os seus

exemplos a sermos adultos responsáveis, equilibrados e honestos.

Agradeço a Deus por você ser meu pai.Denise Cavalotti Rodrigues

Pai, duas coisas na sua personalidade sempre me chamaram a atenção: seu bom humor e seu caráter. E não por acaso, seus

filhos e netos seguem e continuarão seguindo seus passos. Te amo.

Parabéns! Obrigado pelos ensinamentos e pelo amor que sempre nos presenteou.

Fábio Cavalotti Rodrigues

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NOTA DO AUTOR Todo aquele que vive em sã consciência, isso é, que se dispõe a estabelecer o objetivo de realizar suas tarefas e obrigações diá-rias com resultados satisfatórios, sem ter a intenção de prejudicar seu semelhante, está automaticamente, vivendo sem ganância e colocando seu coração em tudo que realiza.

Está, portanto, agindo com honestidade!A tônica deste trabalho está exatamente nesta palavra:HONESTIDADE.

Assim, neste relato de um sonho e da realidade, encontram-se algumas situações fora da realidade, já que são imaginadas e elaboradas com pouco conhecimento técnico.O trabalho, como o amigo leitor vai perceber na medida em que vai lendo, foi elaborado aos poucos, isto é, conforme iam sur-gindo as idéias extraídas das notícias e acontecimentos diários.Confesso, no entanto, que a primeira parte foi extraída de um artigo escrito por MEISHU-SAMA (Mokiti Okada), escrito em 1948 e publicado no Jornal Messiânico de julho de 1997.

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SUMÁRIO

1. O PARAÍSO ................................................................................................ 7

2. UMA LINDA VIAGEM ........................................................................ 18

3. VOLTANDO A REALIDADE .............................................................. 23

4. PASSAM-SE OS ANOS E POUCA COISA MUDA ..................... 36

5. APESAR DE TUDO, AMO ESSE PAÍS ............................................ 42

6. POR QUE ACONTECEM TANTAS DESGRAÇAS NESSE PAÍS? ............................................................... 47

7. COMPARE E FAÇA SUA ANÁLISE ................................................. 51

8. OS POLÍTICOS E SUAS PROMESSAS .......................................... 55

9. PROPAGANDA ENGANOSA .......................................................... 58

10. O PESADELO ....................................................................................... 60

11. A ESPERANÇA .................................................................................... 62

12. CADA UM TEM DE FAZER A SUA PARTE ............................... 64

13. PALAVRA DE ORDEM: HONESTIDADE .................................. 73

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1. O PARAÍSO

Deitei-me na cama e liguei a TV como faço todas as noites antes de dormir. Assisti ao noticiário e, como acontece há muito tempo, as notícias foram fartas em desgraças e calamidades.Assassinatos, roubos, golpes no Governo, CPIs que não levam a nada, greves em todas as classes trabalhadoras e até na Polícia etc. Pensei então no dia que cheguei ao País como imigrante, junto com meus pais e irmãos. Fazia exatamente 51 anos, dos quais pelo menos 40 anos eu contribuí para que o Governo me desse uma aposentadoria digna, para que eu pudesse viver os últimos dias da minha vida. Como faço todas as noites, antes de dormir, agradeci a Deus por tudo que Ele me ofereceu durante o dia. Quando acordei, depois de fazer a barba, lavar o rosto e tomar meu café da manhã, peguei o jornal e li a manchete da primeira página, que anunciava a eleição de um novo Presidente.Deparei com algo inesperado. Quase não existiam artigos sobre crimes. Dava-se grande destaque a parte relativa às diversões. As prisões e penitenciárias haviam sido transformadas em acomo-dações populares, com toda infra-estrutura de moradia, abolin-do-se assim todas as favelas no País. As armas apreendidas outrora foram transformadas em ferramentas para a lavoura. Não havia mais conflitos com os “sem terra”, já que o Governo tinha procedido à Reforma Agrária, resultado de um comum acordo entre Governo, Latifundiários e os próprios Sem Terra. Dava gosto entrar numa fazenda onde parte dela era cul-tivada pelos novos residentes. Toda a colheita era armazenada em silos e armazéns, a cargo de cooperativas que, além disso, assessoravam os agricultores no financiamento, cultivo e comer-cialização. Tudo acontecia de comum acordo, mesmo porque tudo era dividido entre as partes e controlado por computadores. Em cada propriedade rural havia uma escola onde os filhos dos tra-

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balhadores faziam o Primário. À noite, as dependências da escola eram ocupadas para treinamento das Donas de Casa, em artes culinárias e outros afa-zeres de casa. Enfim, a simples mudança de raciocínio dos homens en-volvidos nas questões de invasão de terras, que outrora só ti-nham um objetivo, que era a ganância pela supervalorização de suas terras, tornou mais fácil e digno pois, além de ser de total interesse dos proprietários, chega-se à conclusão que nenhum pedaço de terra sairá do lugar. Mas somente sai dela o fruto do trabalho de todos, em benefício de todos. Os artigos no jornal não eram complexos, mas redigidos numa linguagem simples e precisa, restringindo-se unicamente ao necessário. Assim, gastava-se muito pouco tempo para ler e compre-ender. À medida que ia lendo, fui entendendo o porquê da trans-formação. É que a maneira de governar o País era feita com toda a honestidade possível, visando somente o bem-estar do povo. Assim é que a partir do nascimento da criança, cria-se uma certidão com um número, que servirá para todas as fazes de sua vida, até o seu óbito. Isso dá condições absolutas, reais e dinâmicas, de quantos habitantes há em cada município, a qualquer hora que se queira. A criança, ao chegar à idade escolar, terá uma ficha na qual é re-gistrada pelos seus mestres, sinteticamente, as suas aptidões na medida em que forem surgindo. Assim, ao entrar na faculdade, as suas qualidades já a di-recionam para a profissão adequada. Desta forma, desde criança ela veio despontando como um bom químico, um engenheiro ou mesmo um bom atleta, por exemplo.Lendo nas páginas classificadas também era diferente. Quase não havia propaganda de remédios. O que havia em abundância eram propaganda de livros, ferramentas, máquinas e sementes para a lavoura. A razão disso, fora a mudança de estrutura social. Já que

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tinham sido abolidos alguns setores públicos responsáveis pela saúde, educação e desenvolvimento social. Assim é que todos os sindicatos de classe passaram por uma reorganização, de saneamento e de conscientização, para desenvolverem suas verdadeiras tarefas. Em lugar do INSS - Instituto Nacional de Seguridade So-cial - entrou o Sindicato com a responsabilidade no atendimento ao seu associado. A todo sindicato é atribuída à responsabilida-de de zelar pelo seu sócio e sua família. Assim, quando o associado necessitar de um médico, o sindicato tem convênio com um hospital (ou tem hospital pró-prio), deixando de existir também os tais planos de saúde, que eram um abuso, já que quanto mais se precisava deles (depois dos 60 anos de idade) menos condições você tinha. Pois é apo-sentado ou inválido. Estas associações médicas foram criadas exatamente pela incapacidade de atendimento do “tal” INSS. Mas tudo ficou mui-to pior. Por outro lado, chegava a ser injusta, a remuneração dos Médicos, pagos pelas tais associações. Em contrapartida, o “cam-balacho” feito nas guias de atendimento dos médicos, provocava as razões secretas para aumento das mensalidades. E daí, mais dificuldades para o associado, que passou a ser mal atendido nas duas formas. Outras obrigações dos sindicatos de classe. Quando o só-cio necessita de um advogado, este o tem gratuitamente; quan-do o sócio entra em férias, tem colônias de férias na praia ou no campo. Enfim, todo o trabalhador está amparado pelo seu sindicato. Já que a verba para o desenvolvimento destas tarefas é a mesma que outrora era arrecadada pelo INSS, e mais a contri-buição mensal, como sócio do sindicato, que já vem descontado de seu pagamento. No que tange o desempenho comercial, está num estágio bastante satisfatório e desenvolvendo-se de maneira ordenada. Já que seus lucros são reduzidos, mas constantes. Não havendo

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grandes euforias de vendas somente em dias ou épocas espe-ciais, como: Dia das Mães, Dia da Criança, Natal e Fim de Ano. A razão disso é em virtude da mudança na política social, quando só os ricos tinham dinheiro. O Governo e os “poderosos” entenderam que a maioria do povo não tinha condições econô-micas para seu próprio sustento, muito menos seu desenvolvi-mento, mas auxiliados agora pelos sindicatos, sobrava tempo para o Governo analisar e pôr em prática um plano de melhoria na distribuição de renda e das riquezas. O plano foi executado da seguinte forma: maiores inves-timentos da classe rica, portanto maior produção. Havendo mais produção, tornou-se necessária a mobilização de mais trabalha-dores. Se havia mais pessoas envolvidas na maior produtividade, ocasionava maior volume de dinheiro em circulação. Um dos motivos dos bons resultados obtidos foi em razão da nova política de importação e exportação. Antes a balança comercial estava sempre em déficit devido às excessivas impor-tações de mercados viciados em “cambalachos” onde o contra-bando imperava, prejudicando os resultados comerciais internos e levando ao desemprego milhares de trabalhadores. Contudo, agora, o novo Governo providenciou melhor policiamento e fiscalização mais rigorosa em nossas fronteiras e alfândegas. Outro item que contribui para o sucesso comercial e in-dustrial do País a implantação do IMPOSTO ÚNICO, que veio fa-cilitar a arrecadação e consequentemente melhor definição dos compromissos. Enfim: mais verba para comprar e vender com resultados sempre ativos. Outro fator muito importante para a transformação da vida no País foi a mudança nas atividades bancárias, onde antes os banqueiros eram as pessoas mais privilegiadas pelas riquezas, pois os juros cobrados por suas transações eram exorbitantes, levando muitos habitantes (principalmente pequenas indústrias) à falência e seus proprietários e empregados à miséria.

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Agora, o Governo, os empresários, banqueiros e o povo em geral, imbuídos de boas intenções, sem aquela ganância e desonestidade, vivem felizes, amáveis e atenciosos. Eu não acreditava no que o jornal noticiava. Terminei a leitura e saí de carro. Fiquei surpreso com a beleza da cidade. Parecia um jardim. Engraçado é que, além dos automóveis, não se via ne-nhum outro veículo. O que não era de se admirar, pois os trens e ônibus trafegavam no subsolo, enquanto os veículos pesados de carga transitavam somente pelos eixos marginais. Além da pouca poluição ambiente, também a poluição sonora não era sentida. A força motora dos automóveis era produzida por um minério do tamanho da ponta de um dedo, muito parecido com o urânio e o plutônio. Causava admiração a saúde das plantas e nas ruas e ave-nidas havia sempre o ajardinamento com todos os tipos de ár-vores. Viam-se, além das árvores frondosas cobertas de flores, também árvores frutíferas como: macieiras, pereiras, figueiras, caquizeiros e árvores mais baixas de ornamentação. As flores ofereciam um colorido e um perfume que até parecia que eu estava passando pelo paraíso. Havia um enca-namento de água que tornava a irrigação quase automática. Bastava para isso abrir-se um registro e todas as plantas eram regadas ao mesmo tempo em poucos minutos. Em cada bairro havia um ou dois parques públicos, onde as crianças brincavam alegremente. Em diversos pontos da cidade havia construções de ca-sas bem planejadas, cheias de beleza e altivez, proporcionando uma impressão muito agradável. Em destaque via-se um edifício surpreendentemente suntuoso: que era o centro comunitário. Nele havia teatro, res-taurantes, locais de diversões etc., onde os membros se reu-niam para trocar idéias. Naturalmente avaliavam propostas so-bre o plano de expansão da cidade.

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Em contato com alguns membros deste centro, fui inteira-do da reorganização dos municípios. O mapa do País foi seccionado em regiões, as quais se deram o nome de províncias. Então, entende-se que cada estado era composto por províncias. E cada província por diversos mu-nicípios. Anteriormente era comum existir um município com fra-quíssimo desenvolvimento. O que cada vez mais dependia do município vizinho, que ao contrário, tinha um desenvolvimento constante, que o tornava automaticamente um município líder, causando sem querer, desequilíbrio social e econômico entre os vizinhos. Assim, em todo País foram feitos estudos de mercado, agrupando-se todos os municípios às províncias, atribuindo-se a capital ao município melhor situado em todos os sentidos.Dessa forma, todo esforço para o desenvolvimento era vertica-lizado à província. Enquanto os governos estaduais e o federal supervisionavam todo o processo no que é de suas responsabi-lidades. É incrível verificar-se o respeito às leis pelo cidadão. Assim como é fácil entender as leis que o governo regulamentou. Pois são todas baseadas na Constituição. Não é como antigamente que toda infração do cidadão era sempre “aliviada” com recursos ou emendas nada convencionais. Deficiências em questões sociais eram incrivelmente apa-rentes e escandalosas. Haja vista a remuneração dos professores e militares (não graduados), além dos aposentados.Conduzir um automóvel sem Carteira de Habilitação era mais que motivo penal. Mas a situação do policial encarregado de fazer a fiscalização era tão deprimente por causa do baixo salário que recebia, que por si só era motivo para “relaxar” a multa em troca de alguns trocados a mais, caracterizando-se a todo instan-te subornos desta natureza em todas as atividades do governo. Outro exemplo era do pobre professor, que tinha todo di-reito de serem lembrados com carinho, ternura e respeito, como

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o principal ponto de honra e desenvolvimento do País, já que eram eles que transmitiam os ensinamentos e a educação neces-sária para todo cidadão se tornar digno de respeito. Pois nada disso era considerado como foi na minha infân-cia, quando o médico, o professor e o padre, além do prefeito, eram as pessoas mais importantes da cidade. Desde que foi definida a Constituição, foram definidas as leis. Entende-se então que toda lei tem que ser respeitada: o ci-dadão que comete uma infração, seja ela qual for, tem que pagar. Submetendo-se ao castigo imposto pela justiça, sem perdão. A vida é mais fácil e prazerosa. Todo cidadão está cons-ciente de suas obrigações e deveres, já que é sempre evidente o senso de responsabilidade em todas as coisas. As riquezas do País eram agora distribuídas de forma in-vertida, os municípios formavam e recolhiam a receita às provín-cias; as províncias por sua vez, direcionavam parte desta receita para o estado, cabendo ao estado prestar contas à União, que agora tinha bem menos encargos. Ficando a maior parte para o desenvolvimento da Província. No governo anterior, a política de importação e expor-tação, se por um lado favoreceu a estabilidade da moeda e da inflação, por outro lado, prejudicou a liberdade de progresso da maioria dos trabalhadores. Isto por causa das facilidades de se fazer importações de mercadorias que ao chegarem ao País para comercialização eram oferecidas por preços até de 80% menor do que os produtos produzidos no País. Por outro lado, as mercadorias exportadas encontravam dificuldades em todo percurso que, além de terem impostos al-tíssimos, eram agravadas ainda pelo transporte terrestre, muito mais caro, sem considerar as greves constantes nas alfândegas e aduanas. Considerando que a estabilização da moeda deu ao go-verno alguns pontos positivos, resolveram “congelar” todos os salários dos trabalhadores, funcionários públicos e aposentados. Só não foi congelado o salário do Presidente, dos governadores,

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dos senadores, dos deputados, dos prefeitos, vereadores e do poder judiciário. Arrepio-me só em pensar nos resultados causa-dos por esta situação. Se por um lado, os ricos continuavam mais ricos e com seu dinheiro se valorizando pela constante equivalência das mo-edas estrangeiras, os pobres trabalhadores iam perdendo seus empregos. Chegando ao desespero total e levando-os a praticar roubos e furtos e quase sempre acompanhados de assassinatos. Por outro lado, ainda restava alguma esperança ao traba-lhador que perdia seu emprego. Era transformar-se em vendedor ambulante ou camelô. Em contrapartida o governo criava medidas que eram ver-dadeiros subterfúgios. Criando o vale refeição, o passe escolar, o salário desemprego, a merenda escolar, a cesta básica, etc. Tudo isso eram apenas pretextos para alguns esperta-lhões se aproveitarem e darem um “jeito” de embolsar parte das verbas que eram destinadas para estes fins. Enquanto eu visitava as dependências do centro comu-nitário, ia percebendo a movimentação das lojas existentes no edifício. As compras eram feitas com a maior facilidade, pois todas as mercadorias expostas tinham preços afixados e folhe-tos orientativos quanto ao seu uso. Não sendo necessária nem a interferência do vendedor. Tudo era automático. Colocava-se a mercadoria no balcão e apertava-se um botão, logo o pacote era feito. O pagamento era por meio de um depósito nas caixas coletoras. O importante também é que a nota fiscal saía automa-ticamente e nela já constava o valor do imposto (único) que você pagou. Foi-se esclarecendo em minha mente a razão da felicida-de do povo, pois outrora tudo era tão difícil e complicado. Só se viam crianças nas ruas pedindo esmolas. Muitas vezes para finan-ciar e sustentar o vício dos seus parentes e até do seu próprio. A falta de escolaridade, assim como a falta de amor, a mi-séria em que viviam, aliada à completa “liberdade”, tornavam-nas perigosas e difíceis de recuperar.

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Na medida em que iam crescendo, tornavam-se assaltan-tes, ladrões e criminosos de toda espécie. As cadeias eram abalroadas com lotação sempre acima de 100% de sua capacidade.O tráfico de entorpecentes como: maconha, cocaína, crack, entre outros, encontravam cada vez maior mercado consumidor. Por sua vez, a mídia fazia questão de divulgar o valor das drogas apreendidas, dando sempre maior incentivo para os tra-ficantes. Pelo que vi agora tudo está mudado, pois tudo tem sua ordem respeitada. Os parques e jardins estão sempre lotados de gente, con-vivendo uns com os outros, da forma mais sincera e agradável possível. Os teatros e cinemas fazem a sua parte, exibindo os me-lhores espetáculos. Até o circo contribui com o desenvolvimento cultural e artístico, oferecendo aos jovens, treinamento circense. Como é triste a gente pensar no passado. Principalmen-te na época de eleições. Meu Deus, tudo eram promessas dos candidatos. Durante o tempo da propaganda eleitoral gratuita, sentíamos, a cada fala de cada candidato, pura demagogia. De-monstravam claramente (em sua maioria) falta de preparo, falta de vergonha (no popular: cara de pau), além de demonstrarem quais as suas verdadeiras intenções. Que não eram outras senão interesses particulares. Patriotismo, só por parte dos eleitores, que não obstante serem obrigados a votar, o faziam na certeza do dever cumprido e na esperança que tudo iria melhorar. Depois de eleitos, come-çava a vergonhosa safadeza. Além de pouco fazerem em prol do País, aproveitavam-se das vantagens e imunidades que passavam a ter, para promoverem fraudes de toda espécie. O pior é que eles mesmos convocavam grupos entre si, para averiguar certos escândalos levados ao conhecimento do público por meio da imprensa. Escândalos estes que não resul-tavam em nada. Uma vez que as CPIs eram desenvolvidas de forma tão enrolada que acabavam no esquecimento, sem haver

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condenação alguma, pois os culpados sempre encontravam uma válvula de escape. Indagando dos diretores do centro comunitário sobre os aposentados, fui levado até uma sala de projeção, onde exibi-ram um filme sobre uma das colônias de férias dos aposentados, mantida pelo sindicato da classe. Lá todos participavam de brincadeiras: bailes, teatro, ci-nema e tudo mais que os aposentados tinham direito. Já que tinham contribuído com seu trabalho e sua participação mone-tária durante muitos anos. Fora das colônias, era comum encontrar aposentados en-sinando gratuitamente a sua profissão aos jovens. Com toda li-berdade, um operário aposentado comparece à indústria onde trabalhou e munido de material de proteção exigido, chega até a máquina que foi sua companheira durante muitos anos, para ensinar os “macetes” ao companheiro que ficou em seu lugar. Outra ocupação constante dos aposentados é a visitação a hospitais, para levar conforto espiritual aos doentes e visitar escolas primárias para se dedicarem à distração das crianças. Tudo isto é feito com muita alegria e satisfação, pois, além de ser tudo gratuito, havia no ar uma grande confiança em sua capacidade e no seu conhecimento das causas. Por outro lado, não havia preocupação alguma por parte dos aposentados, já que sua remuneração era satisfatoriamente condizente com aquilo que conquistou em sua vida profissional. Ao sair do prédio do centro comunitário, vi na galeria do saguão diversos quadros e mapas. Percebi então o desenvolvi-mento da rede ferroviária, onde se notava diversas estradas de ferro direcionadas a grande parte do País. O mais importante é que havia algumas (as principais) fer-rovias, em que circulavam trens de alta velocidade, chegando até a 300 km/h. Continuando meu passeio pela cidade, fui percebendo a limpeza das ruas e calçadas, assim como, nas paredes já não ha-via aquelas desagradáveis pichações, cujas letras em código não

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explicavam absolutamente nada a ninguém, além de deixarem uma sujeira incrível. Em lugar desta desagradável “arte” são realizados pelas prefeituras concursos aos quais comparecem os artistas de ver-dade, para fazerem murais que ilustram a cidade, representando algum ato ou figuras, que são elaboradas dentro das normas preestabelecidas. Esses murais eram feitos somente em espaços reservados e autorizados. Sendo premiados os melhores trabalhos. Localizei em um mapa um albergue. Como era pertinho de onde eu estava, fui caminhando e aproveitando para manter meu espírito alegre. Já que tudo o que eu via só me dava satisfação. Na entrada do albergue, havia um grande portão de ferro, bem pintado. Como estava aberto, entrei, cumprimentando um senhor bem uniformizado que estava ali para dar informações e orientar os visitantes. Constatei então que o albergue era apenas uma das de-pendências de enorme parque. Caminhando ia percebendo que em quase todos os pontos havia pessoas uniformizadas, com cestos na mão e que iam pegando as folhas das árvores que caíam ao solo. As ruas do parque não tinham asfalto ou calçadas com pedras. Eram somente compactadas com areia grossa. Os meios-fios das calçadas, esses sim, eram feitos de pedra, mas cuidadosamente conservadas e pintadas. Assim também como todas as árvores, até a altura de um metro e meio. Além das dependências que serviam como dormitórios, havia um grande salão montado como refeitório, onde crianças, adultos e idosos faziam suas refeições. Todos os internos eram pessoas órfãs, retirantes que ali permaneciam por alguns dias, até organizarem sua nova vida nesta cidade, e idosos que preferiam viver sua vida a depende-rem do amparo de suas famílias. Enfim, a agradável visita a este parque completou-se ao atingir a praça dos esportes, onde encontrei campo para futebol e ginásio coberto, onde se desenrolavam todas as modalidades

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de esportes, tais como: vôlei, basquete, ginástica, futsal entre outras. Ao retornar para minha casa, decidi fazer um passeio de trem no dia seguinte. Fiz a mala com pouca roupa, já que preten-dia viajar dois dias apenas.

2. UMA LINDA VIAGEM Ao chegar à estação, notei o asseio que lá havia, pois nem uma ponta de cigarro se via no chão. Dirigi-me ao guichê e adquiri uma passagem de ida e volta, para os dois dias, para o primeiro trem que de lá saísse. Quarenta minutos mais tarde, lá estava eu sentado em uma con-fortável poltrona, que me servia para dormir, quando chegasse à ocasião. Na hora marcada, sem atrasar (ou adiantar) um segundo, saiu o trem suavemente. Tão suavemente que me provocou a curiosidade de me deslocar até o carro restaurante, e constatar, para minha surpresa, que quando o trem parou e depois partiu na próxima estação, nem as flores dos vasos nas mesas, nem se-quer os copos (alguns com água) estremeciam. O conforto oferecido à classe em que viajava era de pri-meira. Isto me levou a visitar os vagões de segunda classe. Lá constatei que a única coisa que mudava, eram as poltronas. Ao invés de serem estofadas e reclináveis, eram feitas de material plástico, mas de forma bem anatômica, bem como o assento era forrado com espuma, dando ao viajante um acomodamento satisfatório. Já estávamos chegando à segunda estação e eu não tinha ainda percebido que lá fora o dia era lindo e o sol brilhava.Acomodei-me em minha poltrona, que ainda tinha a vantagem de poder virá-la para a janela, deliciando-me com a paisagem que mudava a todo o instante. Viam-se grandes pastagens onde o gado bovino, princi-palmente, eram de rebanhos uns maiores que outros. Gado Ho-landês, Nelore, Zebu, Búfalos e outros. Viam-se também grandes manadas de cavalos e carneiros. Grandes searas de milho, trigo,

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soja e grandes cafezais eu ia admirando pelo caminho. Em meio à alegria de admirar tanta beleza e tanta fartura, considerando que, o que eu estava presenciando durante a via-gem, era somente ao longo dos trilhos daquela ferrovia, lamentei não poder ver a fartura que existe espalhada em todo território. Como podiam os governos deixarem de considerar to-das essas possibilidades de fartura quando uma grande parte do povo passa fome? Depois de ter já viajado uns 800 km, fiz baldeação para outra linha. Desta vez em direção leste. Notei que grandes com-boios passavam por nós carregados de minérios, em direção ao Atlântico. A maior parte destinada à exportação. Fui percebendo então que nos horizontes que minha vis-ta alcançava, grandes montanhas de minério se desfaziam aos poucos. De lá saíam carvão, ferro, cobre, chumbo, ouro, prata, manganês, etc. Quantas riquezas o País concentra somente nestes pou-cos lugares por onde passei! Imaginem as outras fontes de ri-queza como: calcário, mármore, madeira, pescado etc. Sem falar na fonte de riqueza ainda pouco explorada, que é o turismo. Muitas vezes os trilhos da ferrovia seguiam paralelamente aos rios, onde se viam em muitos trechos enormes jangadas.Estas jangadas não eram aquelas que se conhecem nos grandes centros. Pois são apenas o agrupamento de grandes toras de ár-vores que os madeireiros comandam rio abaixo, rumo às serrarias. Grandes usinas hidroelétricas e termoelétricas eram vistas como verdadeiros espetáculos feitos pela engenharia humana. De lá saindo grandes torres que faziam a transmissão da eletrici-dade para todas as localidades da região. No conforto da poltrona no vagão onde eu viajava, re-costado, fechei os olhos e procurei trazer ao meu pensamento o criador de tudo aquilo que tinha a satisfação de ver e sentir. Tentando definir Deus, começou a se desenvolver em minha mente uma confusão que não me deixava chegar a conclusão alguma. Assim é que Deus é... Deus não é... isto é, Deus é o céu e

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a terra; o mar, as matas, as estrelas; é a lua e o sol. Enfim: é tudo que se vê, se sente e se toca. ELE É O ÚNICO ESPÍRITO PERFEITÍSSIMO!!! Deus não tem cheiro nem imagem. Mas Ele poderá estar em todo lugar ao mesmo tempo. Desde que exista somente uma coisa: AMOR PURO. Deus não tem voz para se comunicar, porém, todos nós podemos nos comunicar com Ele a qualquer momento. É só fixar o pensamento humildemente. De épocas em épocas, Deus atribui a um ser criado por Ele missões que se desenvolvem através dos tempos, alterando ou mudando os hábitos dos povos. Como exemplo, registramos alguns como: os Papas (da igreja Católica); Meishu-Sama (da igreja Messiânica); Alan Kar-dek (da religião Espírita); etc. Além destes, cito: Padre Cícero, Frei Damião, Francisco Xavier, Madre Teresa e muitos outros, que vie-ram com sua missão de ensinar a viver, através principalmente de seus exemplos. Pelo que entendo, no começo de tudo, Deus criou o ho-mem para que vivesse no paraíso. Mas passado alguns séculos, o homem confundiu tudo e o paraíso virou uma desordem total.Mas Deus, em sua infinita bondade, fez com que Moisés fosse até o Monte Sinai e lá, intuitivamente, Moisés registrou os DEZ MANDAMENTOS DA LEI DE DEUS, que são os seguintes:

1 - Amar a DEUS sobre todas as coisas;2 - Não jurar o seu nome em vão;3 - Guardar domingos e festas de guarda;4 - Honrar Pai e Mãe; 5 - Não matar;6 - Não pecar contra a castidade;7 - Não furtar;8 - Não levantar falso testemunho;9 - Não desejar a mulher do próximo;10 - Não cobiçar as coisas alheias.

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Estes dez mandamentos eram, como se fosse hoje, a Constituição de um País. Para melhor desenvolvimento destas “ordens”, Deus fez acontecer o que os homens consideram mila-gre. Que foi a concepção e nascimento de JESUS CRISTO como homem comum. Mas muito especial. O menino Jesus foi cres-cendo e se tornando adulto na medida em que recebia a intuição de Deus, para desenvolver e doutrinar aos homens do mundo, pelo que era recomendado pelos Dez Mandamentos. Infelizmente, a única coisa que conseguimos entender foi que Jesus Cristo era e é um ser especial, emanado de Deus, não obstante termos presenciado e sentido o enorme sofrimento porque passou em vida. Nós cremos nisso, mas os seus ensinamentos ninguém respeita, nem segue corretamente. Senão, vejamos seguindo os 10 mandamentos:

1. Amar a DEUS sobre todas as coisas - Poucos se con-centram em Deus em primeiro lugar no momento de de-cidir qualquer coisa em sua vida. Só clamamos por Ele quando estamos em dificuldades;

2. Não jurar o seu nome em vão - Cansamos de ouvir juras em nome de DEUS, sem sequer sentir a responsabi-lidade de expressar o seu nome;

3. Guardar domingos e festas de guarda - Os fins de semana e os dias santificados são sempre motivos de abusos. Brigas nos campos esportivos, sujeira nas matas e rios, palavrões e espetáculos indecentes na TV, nos cine-mas, teatros, etc.;

4. Honrar Pai e Mãe - Ficam sempre em segundo pla-no, pois o egoísmo dos homens, cada vez mais, supera a honra;

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5. Não matar - Este mandamento (e os seguintes) é tão vergonhosamente desrespeitado que Deus já teria moti-vos de sobra para nos exterminar por completo;

6. Não pecar contra a castidade - Quantas vezes por dia nós fazemos ou pensamos em coisas, maliciosamente? Sem falar nos estupros e pedofilia;

7. Não furtar - Roubar ou furtar é coisa mais comum hoje em dia. Começando pelos governantes;

8. Não levantar falso testemunho - Mentir para tomar vantagens de nossos semelhantes, constitui-se uma roti-na descarada;

9. Não desejar a mulher do próximo - Quando não é o homem que cobiça a mulher do próximo, é a mulher do próximo que cobiça o homem;

10. Não cobiçar as coisas alheias - A inveja é o senti-mento mais pecaminoso que o homem possui.

Jesus Cristo, durante o tempo que viveu na terra como homem, procurou transmitir ao povo tudo que os Dez Manda-mentos queriam dizer. E a melhor forma, foi sofrer todo o tipo de castigos injustificáveis e desta forma mostrar-nos todos os exemplos de como poderíamos cumprir as Leis de Deus, para voltarmos a viver no paraíso. Abri os olhos e continuei a admirar as paisagens lá fora.As maravilhas, que a natureza me mostrava, davam-me a convic-ção de realmente já estar vivendo no paraíso. Mal percebendo que havia chegado o fim da minha viagem.

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3. VOLTANDO A REALIDADE Passarinhos cantando, papagaios falando, cães latindo, percebi que estava acordando, como acontece todos os dias.Aquele cheirinho de café, que vinha da cozinha, fazia minha bar-riga roncar de fome. E, aos poucos, eu ia sentindo que tudo não tinha passado de um sonho. Levantei-me um pouco triste e um pouco feliz, por pelo menos, ter sonhado com as coisas que meu coração mais se sente feliz. Por outro lado, voltei à realidade da minha vida de aposentado. O jornal agora era real. E nele as manchetes mais horríveis, da primeira à última página. Anunciava na primeira página um empréstimo de um bilhão e cem milhões de dólares. Ora, se o País já está superindividado, pagando uma cen-tena de milhão de dólares de juros, sobre aquilo que já deve, como é que ficará a situação do País daqui para frente?Não seria melhor analisar-se a situação do País e estabelecer um programa de desenvolvimento com os recursos que há em abundância? Considerando a extensão territorial, constata-se que exis-tem mil e uma formas de se conseguir bons resultados financeiros, através do trabalho, fortalecendo nossas reservas econômicas. Alguém já parou para pensar, por exemplo, quantas pes-soas perdem pelo menos meia hora nas filas dos bancos? Multi-plique-se milhares de pessoas paradas nas filas, somadas às pes-soas desocupadas nas praças públicas. Sem contar com milhares de aposentados que ainda podem contribuir para a riqueza da nação.Só isto seria suficiente para nem pensar em empréstimos de ban-cos, nem do FMI, cuja dívida cada vez aumenta mais. As importações deveriam ser restringidas ao mínimo, pois como estão sendo feitas prejudicam a produção nacional, geran-do o desemprego. Se em todo caso, as importações fossem praticadas den-tro de um critério honrado, talvez não chegasse a afetar tanto

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a situação. Porém, escandalosamente se verifica que junto com uma importação real, chega dez vezes mais a quantidade de mercadorias, como contrabando. Desta forma, os fabricantes nacionais, que ainda perma-necem em operação, vão diminuindo sua produção até o míni-mo, pois não podem concorrer com as mercadorias “importa-das”, já que os preços de venda destes produtos estão abaixo do preço de custo das mercadorias nacionais. Assim, as produtoras nacionais fecham e o empregado vai para a rua, engrossando o contingente de eleitores desem-pregados. Por falar em eleitores, nesta ocasião em que eu estou dan-do uma de Jorge Amado (que ele me perdoe pela comparação), o que mais se destaca nos noticiários dos jornais e TVs, é a cam-panha dos candidatos. É uma verdadeira enxurrada de balelas que fica difícil para os eleitores saberem em quem votar. É uma quantidade tão gran-de de candidatos a presidente, governador, deputado e senador, que chega a criar uma confusão tão grande no eleitorado, que quando chega o dia de votar, muitos eleitores não votam direito, tal a confusão que se cria. Agrava-se mais ainda, pela forma que se desenvolve a campanha explicativa de como se vota pela urna eletrônica. Por outro lado, analisando a quantidade de partidos e candidatos, só para Presidente, já cria um mal-estar para o elei-tor, que chega a revoltar.Há tantos candidatos que não têm destaque algum, mas mesmo assim, colocam em xeque a inteligência dos eleitores. E por falar em inteligência, tem um candidato que se diz o mais inteligente de todos! Estabelecendo até um percentual de inteligência para os demais candidatos que mais se destacam, que são quatro. Considerando que o menos inteligente tem somente 19%, o que dizer dos outros candidatos, somente para Presidente? Pelo que podemos entender, ser candidato a qualquer

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cargo público neste País, deve ser a coisa mais importante, por-que a “briga” que se desenrola para ser eleito é dentro das regras do “vale tudo”. No seu tempo gratuito na televisão, vem um candidato, que ajudado por empresas especializadas em marketing, expõe seu plano de governo, chegando a convencer a maioria dos elei-tores. Em seguida, vem o outro candidato cujo objetivo prin-cipal é destruir o que o primeiro candidato falou. Anunciando em seguida o seu próprio plano. Aí vem o terceiro candidato e... atormenta o eleitor com a mesma baboseira. Pior é que além de esbanjarem milhões nas campanhas, ainda têm a cara de pau de pedir ao eleitor determinada quantia para ajudar na sua eleição. Ora: pergunto eu! Por que tantos partidos? E tantos can-didatos? Não seria melhor haver somente três partidos? Um par-tido defenderia a situação; outro partido faria a oposição; e o terceiro partido apresentaria a terceira opção de governo. Assim, as eleições não seriam mais motivo para “mamatas” e “camba-lachos”, que geram gastos excessivos. Além de se obter melhor conscientização do eleitor para definir seu candidato, na hora de votar. No jornal que a gente lê, no rádio ou na tv há sempre no-tícias desagradáveis que nos mostram constantemente quanta injustiça é cometida entre nós. Exemplo: aposentadoria (no qual eu me encontro) em que o trabalhador contribui trinta anos ou mais. Ou ainda o pobre trabalhador que em meio a sua jornada foi paralisado e afastado do trabalho por invalidez, passando a depender, às vezes, de um mísero salário mínimo (a média é de 1,8 s.m.). Enquanto que o Presidente, Juiz, Senador, Deputado, Ministro e outros políticos, além de receberem seus polpudos salários, por estarem ainda em atividade, recebem ajuda disso, ajuda daquilo, auxílios dos mais variados e absurdos, que mul-tiplicam e muito seus ganhos. E, após aposentados, recebem de 50, 80 e até de 100 salários mínimos.

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Outro desajuste social se refere ao preconceito social.To-dos sabemos que a lei foi feita para todos, mas tratando-se da gente negra, é uma lástima. Se a lei iguala o negro ao branco ou a qualquer outra raça, entende-se que o negro tem livre acesso a qualquer clube, teatro e a qualquer atividade profissional. Porém, é a partir dele pró-prio que o preconceito acontece, pois é o próprio negro que não tem coragem de se colocar em igualdade de condições. Por ou-tro lado, se o negro se sente ofendido por qualquer motivo que se considere como preconceito e tiver a coragem de apresentar queixa de racismo, o Delegado registra; o Promotor denuncia; e o Juiz insiste em acordos. E tudo fica como estava antes. Não é meu direito crucificar o governo por causa desta situação, mas é hora de começar a mentalizar a forma de educa-ção, a partir da escola pré-primária. As crianças brancas, negras ou índias devem receber exa-tamente os mesmos ensinamentos, enfatizando-se a igualdade entre todos. A cor ou o estado social é igual perante Deus! Portanto:“Em tua doce vida não poderão existir horas amargas”. Mas o que! Na medida em que você folheia o jornal ou liga seu aparelho de televisão, mais motivos encontra para temer pelo destino das pessoas. Particularmente das crianças e jovens.São latrocínios, chacinas, assaltos a bancos e a caminhões de car-ga. Contrabando e tráfico de entorpecentes com pessoas públi-cas envolvidas, principalmente policiais e políticos. Crianças que desde os sete anos de idade são flagradas fumando crack ou maconha. Raptos acontecidos em plena luz do dia. Pessoas desa-parecidas durante vários anos sem serem encontradas etc. Tudo isso vem demonstrar a falta de organização no País, que já há muito tempo se encontra na “bancarrota”. Da mesma forma que um trabalhador desempregado, que recebe em média 1,8 salário mínimo, não tem condições de sustentar sua família e muito menos satisfazer seus filhos, com um presente.

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Pelo que está demonstrando a campanha eleitoral, apre-sentando somente as intenções individuais dos candidatos vi-sando unicamente seus próprios interesses, fica fácil saber, por mais que os eleitores se esforcem em escolher seu melhor candi-dato, que a vida do povo não mudará ou ficará ainda pior. Talvez o meu sonho ofereça aos futuros governantes al-gumas idéias que possam ajudar a melhorar a vida no País. Logi-camente, o que foi escrito na primeira parte deste modesto tra-balho, há muitas coisas que são sobejamente conhecidas pelos homens que decidem. Mas infelizmente são ignoradas pelo lado sério e honesto. Contudo, são usadas em benefício próprio ou de pequenos grupos já privilegiados. É claro que, muitas críticas, muitas reportagens, muitos livros, muitos filmes e muitos homens foram envolvidos para chegar-se a essa situação, ou para evitar-se tudo o que aí está, e nada melhorou. Quando existe um imóvel antigo no centro da cidade, que está de certa forma estorvando o progresso ou enfeando o local, derruba-se. Limpa-se o terreno para lá se construir um “arranha-céu” mais adequado à situação e por conseguinte melhor aproveita-mento. Desse modo, aquele pedaço de terra foi reorganizado e todos se beneficiaram. O País terá de ser reestruturado. Não é coisa simples. Mas desde que se selecione bem os homens que irão trabalhar para esta finalidade, tudo será possível. Mesmo assim, terão os eleitores de analisar cada um dos candidatos a cada cargo público, tomando por base os Dez Man-damentos da Lei de Deus.

1. O candidato deve amar o trabalho para o qual se com-prometeu ao ser eleito;

2. O candidato deve ser justo e não prometer coisas que não possa cumprir;

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3. O candidato, depois de eleito, deverá aproveitar os dias de folga para relaxar e refletir sobre suas responsabilidades para com a Nação;

4. Honrar os votos recebidos na urna, bem como honrar o seu País e seu povo;

5. Estabelecer política de “Boa vizinhança”, para evitar desordens internas ou guerras entre os povos;

6. Definir uma justiça criteriosa, a fim de que não haja penalidades injustificadas;

7. Dar notícias corretas das contas públicas;

8. Reconhecer os seus erros, acatando as penalidades humildemente;

9. Seu cargo foi definido nas urnas. Portanto, se é insigni-ficante, aguarde as próximas eleições e candidate-se a um cargo mais importante;

10. O candidato eleito que se revela ganancioso deve ser rejeitado. Está de olho nas coisas alheias.

Esta fórmula seria a mais justa, honesta e pura, para o País se transformar na nação mais civilizada do planeta. Mas como é possível, se os candidatos apresentados aos eleitores, na sua maioria, têm grau de inteligência tão pequeno? Haja visto que, há candidatos com nomes tão indecentes, que por si só os tornam derrotados. É o caso do “Vadão do Je-gue” e “Zé Louquinho”, candidatos a deputado. Podem até serem homens honrados e capacitados, mas... sei lá. Tudo pode acontecer. Tanto é que, em outras eleições pas-sadas foi eleito um tal de “Chico Ferramenta”, que por sinal, não

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tem decepcionado os seus eleitores. Na época das eleições somos obrigados a ver na televisão ou ouvir no rádio, as piores incoerências. Vem um candidato e desfila um rosário de acusações ver-gonhosas contra outros candidatos. E o pior de tudo é que apre-senta, para quem quiser, provas verídicas, que por si só, seriam motivos para se cancelar sua candidatura, como primeiro passo. Nem o telespectador ou ouvinte teve tempo para respi-rar, vem o segundo candidato (o acusado) e como se não tives-se conhecimento das acusações que lhe foram feitas, apresenta uma série de promessas, como forma de programa de governo e ocupa seu espaço também, pondo para baixo a competência e a honestidade do primeiro candidato. E o mais interessante é que comprova também as falcatruas do seu opositor. Mal saíram os primeiros e lá vêm outros candidatos a ou-tros cargos e repetem tudo novamente, uns contra os outros. O preparo dos principais candidatos até que poderia ser considerado como qualificados para governar. Porém, pelo que demonstram nas campanhas eleitorais, é motivo suficiente para que nenhum eleitor neles votasse. Mas, como diz o ditado: “Deus dá o frio conforme o cober-tor”. Considerando o grau de instrução divulgado pelo TSE, fica-mos sabendo que do total da população, mais de 70% dos elei-tores têm escolaridade abaixo do primeiro grau. Ainda conforme dados do TSE, desse total, cerca de 8,5 milhões são analfabetos e 24,8 milhões sabem apenas ler e escrever precariamente. Graças à astúcia dos candidatos que souberam aproveitar a “deixa” do outro candidato, durante a campanha, chega-se ao fim e são eleitos os candidatos já conhecidos e alguns até reeleitos. Conclusão: gastaram-se rios de dinheiro na campanha eleitoral, para que nada ou quase nada se modificasse. Isto é: continua tudo como dantes. É de se esperar, portanto, que o desemprego, a seguran-ça, a educação, a saúde, a crise econômica e tudo mais, vão continuar no negativo por mais quatro anos. E o pior, não seria

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diferente se os candidatos opositores fossem eleitos. Todos sabemos que a crise atual não afeta somente esta nação. Ela atinge também outras nações no mundo. Mas nossa ação deverá ser concentrada em nossa casa. Poderíamos começar pela mudança de comportamento e de ação dos candidatos, quando vão aos debates na televisão, ao invés de ficarem no campo das acusações morais, os candidatos apresentassem os seus programas de governo, mais ou menos da seguinte forma: O candidato “A” procuraria saber do candidato “B” qual o valor que poderia obter em seu governo em questão de receita. Se o candidato “B” tem definido dentro de seu programa algo em torno da melhoria no setor de saúde. E qual a verba desti-nada para esse fim. No setor que atinge o desemprego, qual é o programa que o candidato “B” teria para melhorar. Se a receita é estimada pelos serviços de estatística num valor “x”, e o candi-dato “B” apresenta um valor muito mais alto, como ele vai con-seguir o valor previsto em seu orçamento? As despesas conhecidas pelo público encontram-se mui-to elevadas e por este motivo gerando e/ou agravando a crise econômica do País. Qual é a condição para baixar o percentual, de modo que, no fim de cada exercício, não haja déficit para ser coberto no ano seguinte. Em seu programa de governo consta a previsão para a melhoria salarial e a melhoria do equipamento e do armamento da polícia? Esta previsão tem um orçamento previsto de valor excessivamente maior do que, por exemplo, a melhoria nas escolas em seu aspecto físico e na sua condição técnica para aprendizagem? Sem contar a melhoria salarial dos professores, que devem ser remunerados conforme o grau de capacidade. Como se explica isto? A transformação tecnológica havida no decorrer das úl-timas décadas, com a implantação do computador e da robóti-ca, foi a principal causa da demissão de trabalhadores do setor produtivo industrial. Também interferiu na agricultura pela sua mecanização e automatização.

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Como resolver ou diminuir o desemprego que atinge to-dos os setores de atividades no País? Estas e outras perguntas técnicas dariam um debate mais sério e objetivo, dando condições aos candidatos de demons-trarem sua capacidade de resposta e ao mesmo tempo, daria ao telespectador ou ao rádio-ouvinte ou mesmo ao leitor, posições de análise para definir o seu voto mais conscientemente. Uma certa religião oriental se define com três pilares ema-nados de Deus ao seu discípulo líder. Que são: a erradicação da doença, do conflito e da pobreza. Objetivamente, a religião procura sanar a doença espiri-tual de seus adeptos, já que, se o espírito não está bem, o corpo físico estará pior. Uma vez melhorada a saúde, o homem tem condições de trabalhar e progredir, pois o faz com toda a dedicação e amor (sem razões de negatividade). Se tiver saúde e trabalho, torna-se um homem feliz e rico. Senão materialmente, pelo menos e principalmente espiritual-mente. Dessa forma se transforma o homem em um ser positivo.Pelo que sentimos da situação da nação em todos os setores, sabemos que continua sendo difícil organizar e criar boas condi-ções de desenvolvimento coerente com problemas existentes. Porém, partindo-se do princípio religioso que relatamos anteriormente, talvez seja mais fácil. Para tanto, será necessário manter-se sempre em mente os três objetivos: doença, conflito e pobreza.Para transformar a doença em saúde, deverão os governantes depositar sua constante atenção nas escolas primárias. Porque lá é que começa a boa educação e, consequentemente, os bons exemplos de conduta e higiene. Igualmente, nada adiantará se as salas de aula não estive-rem adequadamente instaladas com seus móveis e equipamen-tos sempre atualizados com a época. Assim como, se não houver professores qualificados, e, neste caso, bem remunerados.

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Ainda mais, deverão os governantes proporcionar às es-colas técnicas e universidades condições de acessibilidade a qualquer estudante, independente da cor ou religião e se pos-sível gratuitamente. Se o homem crescer desde a fase primária até se formar na faculdade, desta forma, temos a certeza que se transformará num homem saudável (de corpo e alma) bem condizente com sua responsabilidade. E desta maneira, será útil à nação contri-buindo com seu trabalho, contribuindo monetariamente, como compensação, através dos impostos devidos. Deus dá ao homem condições de vir a este mundo, crian-do-o dentro de uma perfeição insofismável. As pernas para se locomover para onde quiser. As mãos para operar coisa e a cabeça para pensar. Por que então não ocupamos estas dádivas corretamente? Se ao ocupar nossa visão, nós captarmos uma imagem para o nosso cérebro, de maneira pura e cristalina, será progra-mada uma ação séria e satisfatória. Por que então ao olharmos numa direção, quase sempre programamos em nossa mente um ato de selvageria ou de se-gundas intenções? Se ao sentarmos à mesa, nós não selecionarmos o tipo de comida, bem como a quantidade de alimentos, mas exagerar-mos na quantidade e na qualidade, estaremos automaticamen-te prejudicando todo o sistema criado por Deus. E dessa forma, criando ou gerando sintomas indesejáveis a nós e à sociedade. Assim são os homens que se candidatam a cargos públi-cos, ou até entre os executivos civis, ou em qualquer grupo que tem o livre arbítrio que Deus lhe concedeu. Seria demais exigir a correta execução das atividades de um candidato eleito, dentro das normas criadas por Deus? Mas seria elogiável, pelo menos, se cumprissem seus afazeres dentro de uma fidelidade e honestidade, isso é, o que é dele é dele! Mas o que é dos outros, que seja respeitado. Aquele País que foi relatado lá atrás, todos percebem que

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é fruto de um lindo sonho. Mas em compensação, o País que relato agora, não obstante amá-lo como o mais patriota, mesmo não sendo nato, tem sido sempre o País da esperança. Portanto, nunca tem dado satisfação absoluta ao seu povo. Entram governantes saem governantes e a situação é sempre a mesma. Fica-se sempre na expectativa de que os próximos gover-nantes organizem a casa em benefício de todos. O problema principal é o tal do dinheiro! Logo, as pri-meiras medidas para se equilibrar as despesas com a receita, é apelar-se para o FMI (Fundo Monetário Internacional), que em minha opinião, o nome certo deveria ser FMI (Fundo para Meu Império). Pois até agora não vi benefício nenhum com o emprés-timo deste orgão. Mesmo assim, e para não fugir à regra, os governantes dessa nação concluíram mais uma vez, que seria necessário uns trinta bilhões para estabilizar adequadamente o orçamento do País. Para tanto, anunciam detalhadamente o programa de ação, através da imprensa, o que alguns preferem chamar de “pacote”. Aí, para satisfazer as exigências do FMI não encontram outra saída, senão aumentar a carga de impostos, sobrecar-regando as responsabilidades do contribuinte, principalmente o assalariado. Eu não sei exatamente quantos deputados (Federais, Dis-tritais ou Estaduais), quantos Senadores, Governadores, Juízes, Ministros, Prefeitos, Vereadores, Procuradores, Advogados, Mé-dicos, Diretores de bancos, Empresários, Gerentes e outros tan-tos homens e mulheres que têm salários bem gordos, além das mordomias que têm, incluindo-se os jogadores de futebol (sem considerar aqueles que ainda não chegaram ao estrelato), os bi-cheiros, os traficantes, os contrabandistas etc. e etc... Se toda essa “turminha”da pesada contribuíssem com um dia do seu salário, tenho a certeza absoluta que nos quatro anos

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de governo, os governantes eleitos equilibrariam as finanças de-finitivamente. Sem terem a necessidade de apelar para os traba-lhadores de baixa renda, muito menos para o FMI. Por outro lado, todos reclamam dos juros altos, que em minha opinião atua como faca de dois gumes. Se eu vivesse em outro País e tivesse muito dinheiro para investir, eu procuraria uma nação que, pela sua grandeza, me garantisse os meus in-vestimentos. E principalmente, me daria melhor rentabilidade em virtude dos juros altos, como acontece aqui. Assim, o País se beneficia devido ao dinheiro que os capi-talistas estrangeiros colocam em circulação. Isto implica no en-carecimento das mercadorias produzidas internamente, além de tornar as operações financeiras internas muito elevadas no seu custo. Isso tudo dificulta as negociações em torno das exporta-ções. Torna-se imperativo (e isso não é de hoje), que os gover-nantes se esforcem em baixar gradativamente a taxa de juros e, por outro lado, tornarem possível o aumento da produtividade e da qualidade dos artigos, a fim de que os investidores sejam, em sua maioria, empresários nacionais e não estrangeiros. Criar-se vida própria em razão de medidas implantadas com esse objetivo, temos a certeza de que, quando houver qual-quer desequilíbrio financeiro em alguma parte do mundo, não afetará as reservas do País. Pois quando isso acontece, duas coi-sas acontecem incontinentemente. Uma: o governo aumenta ainda mais os juros, a fim de segurar o dinheiro dos investidores. Outra: o investidor retira o seu dinheiro, remetendo-o ao seu país de origem ou o aplica em outros países onde lhes oferecem melhores garantias. Tudo isso que estou relatando do País onde vivo e amo, não é novidade para ninguém. E tudo já foi escrito e falado por gente muito mais sábia e conhecedora dessas situações. Além disso, os governantes também têm conhecimento. Mas infeliz-mente existem muitos e diferentes interesses, que levam os go-vernantes a seguir caminhos opostos, ou a caminhos não con-

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dizentes com o correto. Assim, nesse jogo de empurra para lá, puxa para cá, lá se vão milhões de prejuízo pelo tempo perdido, além do desvio de grande parte do valor programado. Se acontecesse uma vez durante uma gestão governa-mental, até que seria considerado como normal e perdoável. Já que todos nós estamos sujeito a errar. Mas não é nada disso! Isso é uma constante, não só no governo atual, mas também, como acontecido nos governos anteriores. Não é a toa que esse País ostenta o segundo pior lugar na distribuição de renda (só perdendo para Serra Leoa, na África) o que se verifica que 50% da riqueza circulante está nas mãos de 10% dos habitantes. Os outros 50% estão distribuídos entre os 90% dos habitantes. Destes 90%, pelo menos 40% dos habitan-tes, nada possuem e dependem exclusivamente de um salário mínimo (ou menos) para sustentarem suas famílias (em 1994 era de 21%). Desde quando foi implantada a Caderneta de Poupança, só se tem notado que o governo é quem tem levado vantagem, pois constata-se que o dinheiro poupado forma um bolo, cuja maior parte fica como “usos e frutos” do governo. Cabendo-lhe pagar ao poupador um percentual muito pequeno, que não oferece vantagem alguma, individualmente. Essa operação bancária tem a mesma concepção das ou-tras, em que só os bancos são favorecidos. Apenas muda o nome da operação. Entendo eu como poupança tudo aquilo que sobra como resultado de um plano. Se você compra 30 sacos de cimento para usar numa obra e sobram 03 sacos (10%), foi em virtude de um trabalho bem planejado que resultou em poupança. Mas como o povo pode fazer poupança, se 90% dos habi-tantes mal ganham para comer! Conclui-se que o dinheiro conseguido por meio da Ca-derneta de Poupança é resultante de investimento e não de pou-pança. Creio que é produzido pelos 50% dos trabalhadores que

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têm rendimentos muito acima do salário mínimo, somados aos 10% com altos investimentos.

4. PASSAM-SE OS ANOS E POUCA COISA MUDA Todas as noites, ao deitar-me, desejo que meus sonhos se realizem da mesma forma que aconteceu anteriormente. Mas o quê, nada disso acontece mais! Só pesadelos enquanto durmo. E quando acordo e durante o dia só ouço ou vejo coisas ruins. Vejo a suntuosa mata virgem e toda sua fauna - aves e animais livres -, vivendo e aparecendo para o mundo, dando-nos sempre bons exemplos de boa convivência e sobrevivência. Vejo madeireiros com suas moto-serras derrubando as árvores, tiran-do o sustento dos animais e diminuindo o oxigênio dos homens. Vejo também pescadores usando meios completamente impróprios, acabando com os peixes. Vejo mineradores procurando ouro nos leitos dos rios ou perto deles, usando produtos químicos, como mercúrio, por exemplo, para fazer surgir o metal que procuram, sem se impor-tarem com o envenenamento das águas e, por sua vez, a morta-lidade dos peixes e das pessoas que bebem dessas águas. Vejo políticos bem intencionados, criando CPIs para investigar crimes contra a economia popular, que vieram ao conhecimento da po-pulação graças às denúncias feitas pela imprensa, e no decorrer do tempo, tudo é esquecido e arquivado. O que significa que os políticos encarregados dessas investigações também entraram para o esquema do “cambalacho”, ou foram ameaçados e desis-tiram. Não foi uma só vez que eu vi acontecer isso! Foram algu-mas dezenas de vezes. Vi monumentos históricos serem restaurados, às vezes por empresas particulares e até pelo próprio povo. E passados alguns dias, esses monumentos serem pichados por pessoas sem escrúpulos. Vi estradas serem abertas ou reformadas para melhorar o fluxo dos veículos e de repente estas obras pararem por falta

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de verbas. O interessante é que eu nunca vi as obras públicas pararem por falta de trabalhadores. Compreende-se que para se construir uma grande rodo-via será necessário fazer-se estudos em todas as etapas para se estabelecer um valor que seja suficiente para terminá-la. Tratan-do-se de obras de grande porte, é compreensível que se estabe-leça um percentual acima do calculado, que em minha opinião, não deve ultrapassar os vinte por cento. Mas o quê! A obra para porque já foi ultrapassado o seu custo preliminar, incluindo o adicional. É que ao longo do tempo gasto até parar a obra, houve, por certo, muita gente “metendo a mão na massa”. Descobre-se o escândalo, faz-se a CPI, passa o tempo e nada se conclui (nem a obra). Vejo acontecer rebeliões nos presídios, muita gente sendo morta ou maltratada, e os estabelecimentos penais sendo des-truídos pelos presos, que acham que esta é a forma melhor para protestar. Tudo isto acontece por diversas razões, além da super lo-tação. Pelo que lemos na imprensa, conclui-se que os maiores responsáveis são os próprios carcereiros que, em grande parte, são presidiários que foram indultados por diversos motivos in-ternos e admitidos como funcionários para “trabalharem” como guarda-celas. Constato também, em épocas de eleições, que os candi-datos apresentam ao público pela televisão a conclusão de obras de dezenas de hospitais bem instalados e com toda infra-estru-tura para funcionar. Só que no meu dia a dia o que vejo é mau atendimento ao doente. Filas intermináveis de gente de todas as idades; doentes deslocando-se para outros hospitais, porque no primeiro não foi atendido por falta de aparelhagem ou de médicos competentes. Vejo todos os anos o desfile de viaturas novas da polícia, que são mostradas ao público como prova de reestruturação da segurança.

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Mas, por outro lado, vejo nos pátios intermináveis esta-cionamentos de veículos “fora de combate” às vezes por falta de parafusos nas rodas ou de pneus. Dá pena ver aquilo tudo enferrujar no tempo, até acabar.Vejo fabricantes de remédios manipularem os preços sempre para cima, sem dó nem piedade e produzirem remédios que não passam de simples mistura de farinha.Mais uma vez eu vi a ação fiscalizadora do governo atuar somen-te enquanto a imprensa estava acompanhando. Depois tudo se esquece e ninguém paga pelos erros. Outro assunto que movimenta a imprensa é o caso do “grampo” nos telefones dos homens do governo, em torno da privatização das teles, sendo objeto de muitas manifestações por parte dos políticos de oposição. Esse assunto não tinha sido es-gotado até a ocasião deste registro. Como diz o ditado: “onde há fumaça, há fogo”. Fato é que o tempo vai passando e eu não vejo resultado algum. Principal-mente de quem foi à autoria do grampo. A saída dos três assessores do governo, principalmente o da área de comunicações, deixa transparecer que o ditado popu-lar é verdadeiro. Só para o amigo leitor fazer uma “ginástica mental”, eu lembro que o ex-ministro das comunicações fundou um banco no ano de 1993, com capital inicial de 7,5 milhões. Em 1995 este banco passou para 100 milhões de capital registrado e foi pre-miado com o troféu de “O mais rentável banco da nação”, com retorno de 44,4% sobre o capital. Neste caso, fico em dúvida se o parabenizo ou duvido de sua ação, pois entre 1993 e 1995, temos 1994, que foi o ano da mudança da moeda. Será que foi a simples conversão da moeda que resultou neste aumento de capital nesse banco? Ou foi resultado de ne-gociatas do mesmo jeito que se leva a crer pelas conversações ouvidas nas ligações clandestinas, sobre a venda das teles. Por-que pelo trabalho puro e simples, desenvolvido por esse banco,

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não acredito que, na década de 90, tenham acontecido tantos milagres de multiplicação. Há tantas coisas negativas que poderiam ser relatadas como alerta, mas batendo sempre na mesma tecla, acaba-se gastando o tipo da máquina e causa a impressão de que só vejo as coisas más. Então vejamos: Dá prazer e satisfação quando dirigimos um automóvel por uma estrada bem acabada e bem sinalizada. Dá prazer e satisfação quando passamos por um túnel ou por um viaduto e verificamos o fluxo do trânsito contínuo. Dá prazer e satisfação quando passamos por um bairro de casas populares, construídas pelo governo com toda infra--estrutura. Dá prazer e satisfação quando passamos por um campo bem cultivado de milho, soja ou trigo, graças ao financiamento feito pelo governo. Mas o que nos entristece é saber que para termos esses prazeres e a satisfação de ver as coisas, cujo objetivo era o de melhorar a vida do povo, durante a implantação dessas obras, os desonestos responsáveis por elas, se valeram das “artimanhas” costumeiras para se enriquecerem. Os interesses particulares sempre superam os interesses públicos, quando estão sendo desenvolvidas discussões em tor-no da aprovação de uma lei. Está em votação na câmara dos deputados um item referente aos impostos a serem descontados dos funcionários públicos, que é de total interesse do governo a sua aprovação, pois se arrecadaria no próximo ano, um valor de cinco bilhões aproximadamente, se aprovado, porém, tenho a certeza que não vai ser aprovada! Visto que, isso viria prejudicar o funcionalismo público, inclusive os aposentados. Estando os próprios deputados incluídos no contexto. O que eu não entendo é que os dirigentes dessa nação viajam constantemente por via aérea e não prestam atenção à grandiosidade de tudo que vêem. Eles têm a oportunidade de ver imagens aéreas de outros

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países e podem estabelecer uma comparação entre essas ima-gens. A menos que só se ocupem do copo de uísque ou de sua contabilidade particular. Será que numa viagem dessas, os governantes ou os ho-mens que fazem as leis, não seriam despertados pela a idéia de que o turismo é uma grande medida para gerar um grande percentual de receita tão necessária, como medida para não se mexer no salário dos funcionários públicos ou privados? Muito menos no salário dos aposentados? Para reforçar essa ideia, lembro que há países na Europa e também nas Américas, de proporções bem menores, tanto em sua superfície como em população, que se desenvolvem exata-mente graças ao turismo. Na década de cinquenta, na euforia do progresso, o go-verno se verticalizou, exclusivamente à indústria automobilística, deixando de lado a indústria ferroviária e as próprias ferrovias. Por outro lado, nem sequer se falava em hidrovias. É o mesmo que um pai, que tem quatro filhos, querer deixar sua he-rança para um só. Mesmo assim, hoje já podemos contar com o transporte hidroviário, embora em pequena escala, já que os meios de levar as cargas até os portos são dificultados principalmente por causa da burocracia. Burocracia essa que leva os usuários deste transporte ao temor de perderem seus produtos, visto que na maioria são pro-dutos agrícolas com tempo limitado de duração. Quanto ao transporte ferroviário de carga, só as de gran-de volume e produtos químicos que têm vagões especiais. Até 1960 havia ainda despachos de mercadorias em pe-quenos volumes, sendo transportados por via férrea. Depois disso, os veículos rodoviários se valorizaram por fazerem chegar estas encomendas em tempo muito menor, embora seu custo fosse mais elevado. Essa verticalização à indústria automobilística despertou

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cada vez mais a ganância dos fabricantes de veículos a motor, até encherem os pátios das fábricas até o “teto”, como se verifica já há algum tempo. Imaginemos então se a situação econômica e financeira do País não estivesse como está, como poderíamos andar nas ruas e estradas, com tanto veículo rodando por aí? Então, a situação em que nos encontramos hoje é tão so-mente porque os governantes deram atenção para um só seg-mento no desenvolvimento do País. Temos, pois, três coisas a lamentar.

Primeira: se o País estivesse bem de suas finanças e não houvesse desemprego, haveria por certo muito mais gente pro-duzindo, inclusive na indústria de autos. Aí seria uma calamidade em virtude da superprodução que causaria um caos nas ruas e estradas do País.

Segunda: como o País está em dificuldades financeiras, não há dinheiro para se implantar programas alternativos para se sair dessa situação. Está aí o desemprego cada vez maior e os estoques de mercadorias sem movimentação. Principalmente de veículos. Além disso, a política mal aplicada sobre as importa-ções e exportações, que oferecem aos fabricantes estrangeiros muitas facilidades comerciais de seus produtos aqui.

Terceira: “se correr o bicho pega. Se parar o bicho come”.

Esta é a situação do País. E não seria se os governantes con-centrassem esforços para desenvolver e aperfeiçoar o transporte ferroviário, marítimo e fluvial, desde aquela época. Como exemplo da falta de estrutura, tivemos recente-mente a última viagem de um trem expresso entre duas capitais importantes. Isso seria mais do que certo, pois um trem expres-so, que trafega nos mesmos trilhos dos trens de carga, deixa de ser um trem expresso. Logicamente, deixa de ser interessante

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para os viajantes e/ou turistas, como também para a ferrovia. Já que trafegando vazio e, de vez em quando, só pode dar prejuízo.Isto é um exemplo de tudo que acontece sem um planejamento adequado, pois tudo que se tem implantado, através de leis ou MPs, tem sempre vínculos com interesses particulares e até pes-soais. O Novo Código Nacional de Trânsito já devia ter sido re-gulamentado há muitos anos. Porém, só agora está sendo co-locado em prática. E como não podia fugir à regra, o objetivo principal deste novo código é o de proporcionar um volume de multas que revertem em jogo de interesses, preliminarmente, entre as autoridades do trânsito e o motorista infrator, para de-pois, reforçar os cofres públicos. Tudo bem: o código está aí. E todos nós temos a obriga-ção de respeitar. Mas seria muito mais bem aceito, se fosse dire-cionado ao motorista e ao pedestre como repreensão e não como castigo.

5. APESAR DE TUDO, AMO ESSE PAÍS. É lamentável que, logo agora quando eu resolvi dar uma de “escritor”, só ter encontrado temas em torno do negativo exis-tente em todas as faces da vida dessa nação. Dá até a impressão de que estou “cuspindo no prato que comi”. Mas, sinceramente, não é nada disso. Fato é que, há tantos anos eu vivo e trabalho nesse País, onde eu tive e continuo a ter muitas alegrias, não obstante as dificuldades, que chego a me confundir sobre a minha naciona-lidade, agindo e pensando como qualquer cidadão nato desse País. Por isso, o meu comportamento identificado com aquilo que escrevo não deve ser considerado como “revolucionário” ou “mal agradecido” ou coisa assim, pois minhas intenções são tão somente as de transmitir sugestões em termos simples e hones-tos. Apesar do esforço, amor e dedicação, desde o dia que

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aqui cheguei, não obstante os gestos de afeto por parte das pes-soas que cruzam comigo, não logrei o sucesso que todos dese-jamos, ou seja: uma vida de aposentado digna e sem injustiças. E por falar em injustiças, a gente nem se esquece de um escândalo nos meios governamentais, já vem outro para nos dei-xar indignados. Segundo se tem propagado, está o governo empenhado nas reformas administrativas, a fim de reduzir as despesas que se encontram bastante elevadas. Um dos itens do programa é a redução do número de funcionários públicos e o congelamento dos salários, como já acontece com os trabalhadores civis. Mas o quê? O poder Judici-ário já está em entendimentos para aumentar seus salários, que já são altos, estabelecendo a princípio um teto de quase quator-ze mil, fora as mordomias. Isso virá sobrecarregar as despesas em mais cento e trinta milhões, calculadamente, no orçamento público. Como não pode deixar de ser, logicamente, essa ganância se estenderá também aos vereadores, prefeitos, etc. Sei que endireitar o mundo é muito difícil. Mas se cada um de nós respeitar ao máximo os Dez Mandamentos tenho a certeza absoluta que, não só nesse País, mas também em todo o mundo, poderão os homens sonhar com coisas reais e cristalinas. Enquanto isso, vamos lembrar o que o Sétimo Manda-mento diz: Não furtar! É que furtar, roubar, assaltar são ações que constantemente acontecem na vida do cidadão desse País. Onde se constatam essas ações é na distribuição de ren-da. Onde poucos têm muito, e muitos têm pouco. Isso é consta-tado também no pagamento das pensões dos aposentados, de forma geral. Especialmente no que se refere aos combatentes da grande guerra, terminada em 1945. Eu até concordo que os pracinhas sejam recompensados com pensões especiais, que não ultrapassem os oito mil. Pois es-tiveram na frente de combate, aguentando tudo de mal que uma guerra oferece. Além de terem ido defender a sua Pátria.

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Já os chamados “combatentes da praia”, que são os prá-ticos que guiam os navios nos portos até estes se distanciarem, estarem gozando de benefícios de vinte e sete a quarenta mil, considero um absurdo. Pior é que grande parte dessas pessoas já faleceram. En-quanto outras entraram nos “esquemas” da mesma forma que tal deputado que “ganhou” na loteria mais de duzentas vezes. E não são poucos. São “só” 84 mil beneficiários! O absur-do é tão grande, que até agora se paga pensões aos descenden-tes de combatentes da guerra do Paraguai, encerrada em 1870. Contra-sensos como esses acontecem em todas as áre-as. Também na regulamentação do trânsito, nós temos algumas aberrações! Uma delas é a obrigatoriedade de se usar o kit para primeiros socorros. Este kit nada mais é que uma simples mali-nha com uma cruz vermelha desenhada. E dentro dela, um es-paradrapo, dois pacotes de algodão, dois pacotes de gaze, dois ou três band-aid, uma atadura, um vidro de mertiolate e uma tesoura sem ponta, que mais parece de brinquedo. Ora! O que eu faria com este kit na mão ao socorrer alguém acidentado na estrada? Mesmo que o ferimento fosse pequeno. Além disso, se-ria muito grave se eu tentasse locomover o acidentado, já que poderia haver alguma fratura interna, que poderia agravar-se. O mais certo, seria a instalação de mais telefones à margem das estradas, o que facilitaria a chamada do “Resgate”, que foi uma das coisas mais bem implantadas e eficientes que aconteceu até agora. Mas como acontece quando se estabelecem as leis aqui, é sempre com a intenção principal de “faturar” e não de ordenar. Assim é o exemplo do kit de primeiros socorros, cujo principal objetivo é fazer alguns ricos mais ricos ainda. Quanto a sua utili-dade, há... há... há. Ainda durante as últimas eleições, havia dois candidatos a deputado, que desenvolveram suas campanhas em torno do “slogan”: “O povo gosta de quem trabalha”. Realmente, o povo

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gosta de quem trabalha em benefício do próprio povo. Não de quem trabalha somente em benefício próprio. Esse “slogan” cai sempre bem em cada candidato. Pois todos eles só se interessam pelos seus próprios benefícios. Com-prova-se a toda hora a razão da má distribuição de rendas, re-sultando nos acontecimentos diários das desgraças humanas, como: chacinas, suicídios, desemprego, endividamento etc. Che-gando até a envolver os governos municipais, estaduais e federal. Essa ganância cada vez maior entre políticos é tão eviden-te, que chegam a assassinar o político eleito, para ocuparem o lugar dele. Como pode então um País como esse, que tem tantos recursos internos, que por si só são suficientes para proporcionar a todos os seus cidadãos uma vida digna? Mas não proporciona! Embora eu já tivesse dezesseis anos de idade quando cheguei a esse País, ainda era um menino sem objetivos. Já que toda responsabilidade de adaptação e desenvolvimento da famí-lia cabia aos meus pais. Desde então, passei a viver e a amar esse País como qual-quer cidadão nato. Minhas expectativas com relação ao progres-so da Nação eram e continuam a ser iguais a de qualquer cida-dão, sem obrigação nenhuma. Pois nunca fui considerado como estrangeiro. Infelizmente, depois de ter visto passar pelos go-vernos tantos homens que prometiam e poderiam desenvolver o País, de modo honrado e mais qualificado perante o mundo, sinto que os meus anos vão passando e poucas esperanças me trazem para vê-lo exatamente como sonhei. Mas, enquanto isto não acontece, continuo na expectati-va que um dia alguém resolva colocar em prática, de uma hora para outra, medidas como aquela que em 1994 alterou o valor da moeda e que resultou na contenção da inflação. É claro que medidas como esta deixam muita gente de “calça curta” e são prejudiciais a algumas ramificações. Porém, é no “estalo” que tudo se modifica para melhor ou para pior. Só precisa ser feito com boas intenções. O fato é que alguém tem que fazer alguma

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coisa. Assim como está não é possível continuar. Desde a época da mudança para a nova moeda, cujo obje-tivo principal era conter a inflação, os salários dos trabalhadores ficaram de certa forma congelados. Dessa maneira, quem já ti-nha um salário acima dos mil, continua com seu salário valoriza-do, mas quem tinha salários baixos, ficou sacrificado. Favorecen-do assim os já favorecidos. Enquanto que os menos favorecidos, ficaram menos favorecidos ainda. Porque pela simples conversão os salários desses se fixaram insuficientes. Em consequência, a comercialização dos produtos manufaturados tornou-se mais lenta e em menor escala, provocando o início do desemprego. Em contrapartida abriram-se (com muitas vantagens) as importações, cujas mercadorias chegam com os custos bem re-duzidos. Concorrendo com os fabricantes nacionais que, por sua vez, são obrigados a demitir seus funcionários. Aumenta o desemprego e o desespero toma conta das mentes desocupadas concluindo no aumento da criminalidade. Enquanto isso enfraquecem-se os cofres públicos, faltando re-cursos para assistência médica, educação e segurança, principal-mente. Edifícios de apartamentos, casas comerciais e residências com placas de “vende-se” ou “aluga-se”, se vêem em todo lugar. Porque não há condições financeiras para comprar ou alugar. Em compensação, aumenta o numero de malocas que são cons-truídas sem o mínimo de segurança e em lugares proibidos. O que eu não consigo entender é por que as prefeituras “fecham”os olhos quando uma família está construindo um bar-raco na beira de um córrego. Não é obrigatório ter uma planta de localização e construção das casas? O pior é que essa mudança repentina do dólar veio pôr mais lenha na fogueira, isso é, os aproveitadores de situações já estavam com saudades dessa “brecha”. Foi só a moeda nacio-nal se desvalorizar um pouquinho para acomodar uma situação do governo para eles, os aproveitadores, darem uma mãozinha para o dólar se valorizar mais ainda. E a partir daí, arranjar-se

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desculpas para se aumentar os artigos comercializados, sejam eles nacionais ou estrangeiros. Estamos, pois sujeitos a voltar àquela época em que as “mercadorias” que mais se negociavam eram as aplicações e a compra e venda de dólares. Enquanto isso fica-se na expectativa dos resultados que venham a acontecer, o que com toda certeza, quando o empre-gado não tiver mais condições de sobreviver com o seu salá-rio ainda mais desvalorizado ou quando o patrão não tiver mais condições de aguentar a carga de responsabilidade, acabará fe-chando as suas portas e dispensando seus empregados. Infelizmente isso não vai demorar muito! Pois, bastou o governo alterar o valor de sua moeda em relação ao dólar, para os especuladores se aproveitarem da situação e provocarem a famigerada corrida aos estoques existentes de mercadorias para a “remarcação preventiva”. Carnes, frangos, ovos, frutas, cereais etc... Até girassol, que é o alimento do meu “louro”, subiu 25%, alegando o dono do estabelecimento que é produto importado.

6. POR QUE ACONTECEM TANTAS DESGRAÇAS NESSE PAÍS? Mendicância, assassinatos, assaltos, fugas de prisões, sequestros, crianças sem escola, escolas sem professores, hospitais públicos (e privados) dando péssimo atendimento, governantes rodeados de pessoas sem dignidade, leis mal elaboradas, impostos sobrecarregados, cambalachos de toda espécie, corrupção em todas atividades públicas etc. etc... Desejaria parar por aqui e não continuar registrando os acontecimentos e as consequências de quase tudo que acon-tece no País. Fechar meus olhos e tapar meus ouvidos durante algum tempo, como fazem os ursos na hibernação e quan-do despertar, encontrar um País completamente mudado, a exemplo do que relatei anteriormente! É lógico que tudo isso pode ser mudado. Para tanto, é necessário que todos nós

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deixemos de ser tão egoístas, distribuindo melhor a renda. Em toda parte do mundo existem pobres e ricos. Mas nesse País existem milionários, ricos e paupérrimos. Nem pobres existem mais! Como exemplo vejamos: enquanto um artista ou um jogador de futebol ganha cem mil, há trabalhadores (em sua maioria) que ganham cem Reais ou menos ainda. Ora, se o go-verno estabelece que nenhum servidor público deva ter salário maior do que o Presidente e os salários estabelecidos por lei para deputados, senadores, governadores etc. são suficientes para manter suas famílias com conforto e dignidade. Por que não se elabora uma lei para melhorar os salários dos trabalhadores de todas as áreas? De modo que todos tenham também condi-ções de manter e educar seus filhos de maneira mais adequada e sem humilhações. É... Mas, diferente do País dos meus sonhos, as falcatruas são tantas que não há possibilidade de se acompanhar os escân-dalos gerados todos os dias! Haja visto que nessa ocasião, somam-se trinta e oito CPIs em desenvolvimento no Judiciário, no Executivo, no Legislativo, em Prefeituras, em Câmaras Municipais, em órgãos públicos de fiscalização, nos processos de privatização, enfim, em todo lugar. Mas não se pode criticar a justiça pela demora ou pelo critério de julgamento dos processos, já que, passados dezoito anos, foram julgados os culpados do chamado “escândalo da mandioca”. Já é um bom começo! Mais recentemente surgiu outro “cambalacho”. O que se refere aos fiscais que tomavam propinas dos camelôs. Estão en-volvidos nessa trama a maior parte de vereadores e alguns poli-ciais graduados. Como pode o povo viver feliz num País onde as autorida-des, os homens que dirigem o governo, os homens que fazem as leis, os líderes religiosos, os banqueiros, os empresários, as pes-soas que dirigem o esporte, enfim, toda essa gente que deveria dar os exemplos (bons), usa suas posições para se beneficiar, não importando para eles as desgraças dos outros?

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Aí vem o homem bem intencionado e diz que o povo é que é o culpado! Pois na época das eleições não sabe votar. Eu até concordo que grande parte dos eleitores não sabe votar. Mas se eles tivessem consciência de como votar e para quem votar, seria tempo perdido, pois pelo que entendi até agora, toda a pessoa que se candidata a um cargo público, só o faz pensando nas vantagens que vai obter, ou, mesmo os que são bem inten-cionados, entram no esquema do sistema ou são banidos rapida-mente. Aí não há técnica que ensine ao eleitor como votar bem. Outro assunto que me causa tristeza é o resultado que as chuvas trazem à população quando caem com maior intensida-de. As chuvas causam enchentes em todas as partes do mundo. Avalanches de neve também acontecem onde o clima é frio. Terremotos são constantes e desastrosos em alguns países vizinhos, mas nesse País, qualquer chuva constante ou mais in-tensa deixa tudo alagado. Quando eu escrevia esse trecho, estava chovendo mui-to. Eu estava ouvindo no rádio as notícias sobre as enchentes e desmoronamentos que estavam acontecendo na zona sul da cidade. O locutor dizia que alguns homens se empenhavam no salvamento de mulheres e crianças da enxurrada que acontecia numa rua da cidade, que mais parecia um rio e que desenvolvia uma correnteza perigosa. Todos os dias dessa semana e alguns da semana anterior, choveu quase sempre na mesma hora da tarde. E todo o dia as águas invadiam as lojas e moradias em todos os lugares da cidade, ocasionando monstruosos engarra-famentos no tráfego, além de causar prejuízos aos proprietários dos veículos, residências e estabelecimentos. Infelizmente, quando liguei a tevê, reparei que as enchen-tes estavam acontecendo nos bairros pobres da zona sul. Ve-readores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, enfim, homens públicos não devem sentir na pele a desgraça causada pela invasão das águas sujas e lamacentas nas casas e casebres das pessoas simples, como: serventes, carpinteiros, pedreiros, comerciários, feirantes, camelôs, garis, garçons etc.

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Não devem imaginar que depois de tanta luta honesta, conseguiram adquirir um aparelho de tevê, uma geladeira, uma máquina de costura, um ferro de passar, um jogo de sofá ou ou-tros aparelhos tão úteis na casa do humilde. Não devem imaginar como é gostoso para o homem sim-ples e trabalhador construir sua casa com a ajuda dos parentes e vizinhos. Não devem imaginar o quanto é difícil para um traba-lhador desempregado sair todos os dias para arranjar um novo emprego e não conseguir. E depois de tudo isso, chegar em casa ou perto dela, e ver que está toda submersa.É claro que a chuva cai em toda parte do mundo. Por isso mes-mo, devemos tomar todas as precauções para diminuir as des-graças dos cidadãos. Se você tem um automóvel limpinho e brilhante, com cer-teza evitará passar com ele numa rua cheia de lama. Se você chega a sua casa e encontra-a limpa e cheirosa, não terá cora-gem de entrar nela sem limpar os sapatos. Se você estiver pas-sando numa rua limpa e bem conservada, tenho a certeza que não terá a ousadia de jogar lixo no chão. Pois então, por que nós, os cidadãos, recolhemos impostos para o governo, senão para proporcionar ajuda para manter a cidade limpa. Por que nós, os eleitores, elegemos os vereadores, senão para apontarem ao prefeito o que precisa ser feito para conser-var a cidade limpa? No Brasil (principalmente no sul e sudeste), notadamente nos grandes centros, as chuvas caem com maior intensidade nos meses de janeiro e fevereiro (chuvas de verão) e março e abril. Portanto, temos oito ou nove meses praticamente sem chuva. Livres das enchentes. Então por que nesse período as prefeituras não contratam homens (que estão aí sobrando sem emprego) para fazerem a limpeza dos bueiros, ruas, parques, jardins, esgo-tos (principalmente), rios e riachos das cidades? A Vila onde eu moro, durante os últimos 50 anos, cresceu pelo menos umas quarenta vezes, mas as galerias mestras do

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esgoto são as mesmas. O rio que por lá passa diminuiu na largura e na profundidade. Resultado: toda vez que chove, há enchentes que resultam em desgraças para seus habitantes. Sabemos que há projetos, inclusive com obras em andamento para a retifica-ção dos rios que cercam a capital e atingem outros municípios. São obras que se arrastam já por longos anos e só têm melhor desenvolvimento em épocas de eleições. Com referência ao leito principal desses rios, existem em suas marginais vias expressas de tráfego, que congestionam a todo instante, devido ao grande fluxo de veículos. Para diminuir esse fluxo, o governo implantou um sistema de rodízio, em que cada número final da placa do veículo tem um dia específico proibido de circular. Em minha opinião, esse sistema não melhorou o tráfego além de 5%, portanto, poucos resultados está trazendo, senão o de “faturar”. Sabemos que o sistema metroviário é um sistema que deu certo. E bem administrado, dá bom lucro. Por que então não se constrói uma linha de cada lado, beirando os rios que margeiam a cidade? Ao mesmo tempo, poderiam desenvolver obras de re-tificação dos leitos dos rios, aproveitando-se o leito da ferrovia como limite da margem dos rios.

São obras muito caras? São!Mas outras obras faraônicas foram feitas ou estão sendo cons-truídas, sem terem a mesma importância que estas teriam.

7. COMPARE E FAÇA SUA ANÁLISE.A partir daqui, abro espaço para registrar, na íntegra, a entrevista do então candidato a governador do estado de maior importân-cia do País, São Paulo, acontecida em 25/10/98, para sua análise. O que respondeu então o governador às perguntas sobre os se-guintes itens:

Segurança: continuar os planos iniciados na gestão atual,

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com objetivo de reduzir em 50% os índices de criminalidade; ex-pandir o projeto de polícia comunitária; incrementar métodos de inteligência na investigação policial e aumentar o aparelhamento técnico das polícias. Serão investidos 7,5 bilhões ou 8% do orça-mento no próximo mandato.

Saúde: investir 12 bilhões nos próximos quatro anos (nos últimos 4 anos foram aplicados 9,6 bilhões); priorizar a política preventiva de saúde, ampliando o programa médico de família para dois milhões de pessoas nos bolsões mais carentes da ca-pital; dar continuidade ao programa de distribuição de remédios gratuitos.

Educação: investir no ensino para a população jovem, com o aumento de 300 mil vagas (nível médio). Melhorar o en-sino básico, com o objetivo de fazer com que 50% das vagas das universidades públicas sejam preenchidas por alunos da rede pública. Ampliar o uso da informática no ensino público, o aperfeiçoamento de professores e a qualidade profissional para jovens.

Habitação: ampliar investimentos de 2,5 bilhões atuais para 4,5 bilhões nos próximos quatro anos. Construir 250 mil uni-dades habitacionais, beneficiando um milhão de pessoas. Parte das residências será destinada a idosos e a famílias com deficien-tes físicos.

Emprego: atrair investimentos privados de 50 bilhões, su-ficientes para criar 1,25 milhão de empregos diretos e indiretos. Outros 2,2 milhões de empregos serão criados como estímulo à microempresa, ao banco do povo e à qualificação de mão-de--obra. Também fazem parte desse plano de empregos os cargos gerados em parcerias com a iniciativa privada em obras do me-trô, além da construção do rodoanel e duplicação da Rodovia dos Imigrantes.

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Criança e Adolescente: manter baixos índices de evasão e de repetência das crianças na rede pública. Criar o “Estado em Rede” - Rede de Organizações Sociais, com o objetivo de cui-dar da criança carente. O Estado participa do financiamento do programa. Para a criança infratora, descentralizar as unidades da Febem para ter unidades menores com objetivo de garantir mais atenção pedagógica.

Terceira Idade: associar-se em 99 às comemorações do ano do idoso. Criar projetos que mobilizem os idosos, com espa-ços culturais. Dinamizar projetos já existentes, como: “Agita São Paulo”, “Terceira Idade Viaja”, para manter os idosos em ativida-de, Política de Saúde Específica, com a prevenção de gripes e pneumonias. Distribuição de cesta básica gratuita de remédios.

Pedágio: o objetivo é fazer com que a operação de um serviço público como as estradas seja paga por quem usa - as rodovias terão que prover sua sustentação. A operação da estra-da não deve onerar o tesouro público. Correções de preços se houver falhas nas taxas de cobranças.

Privatização: será mantido o programa de privatização das empresas energéticas, incluindo usinas. Fica com o Estado a transmissão de energia – geração e distribuição serão privatiza-das. Não há planos de privatização da Sabesp.

Guerra Fiscal: o governo é contra a isenção fiscal por en-tender que ela prejudica as finanças públicas, além de criar desi-gualdade com as empresas já instaladas no Estado. Entende que a guerra fiscal beneficia apenas a empresa, cria poucos empre-gos e não gera recursos para obras de infra-estrutura do parque industrial.

Transportes: concluir três quartos do Rodoanel, duplicar a Imigrantes com recursos da iniciativa privada e com conces-

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são de exploração. Investir 120 milhões/ano na construção de 4 mil km de estradas vicinais. Estender o metrô para 87 km com a construção de novos 32 km da linha de trem (espanhol) em pa-drão de qualidade do metrô. Metrô e trem terão rede de 134 km.

Agricultura: aumentar a área plantada no Estado em um milhão de hectares com grãos e fibras, incluindo arroz, soja, mi-lho, feijão, trigo e algodão. Reduzir as perdas pós-colheitas de 30% para 10%, mediante programas de qualidade e produtivida-de na agricultura.

Reforma Agrária: a meta é assentar mais de 8.000 fa-mílias de “sem terra” em todo Estado. Foram assentadas 2.796 famílias nos últimos quatro anos.

Cultura: transferir para organizações sociais a mobiliza-ção das atividades culturais, como a Orquestra Sinfônica do Es-tado e museus. Criar a Escola Superior de Música. Utilizar as leis de incentivo à cultura para manter a produção de festivais de música sem ônus para o tesouro do Estado.

Meio Ambiente: compatibilizar desenvolvimento e cria-ção de empregos com a preservação do meio ambiente. Conti-nuar com o programa de rodízio de veículos para reduzir a po-luição na cidade (capital). Agilizar processos de licenciamento de novos empreendimentos para facilitar a instalação de empresas no Estado. Implantar o plano emergencial dos mananciais.

Turismo: descentralizar as atividades de turismo, realiza-das em cooperação com os municípios. Fortalecer o turismo do grande círculo da capital.

Esporte: ampliar os projetos “basquete na escola” e o “menor pelo esporte maior”, que utiliza educação física e esporte como instrumento para a educação de crianças carentes. Parceria com iniciativa privada em vários projetos esportivos.

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Através deste planejamento de autoria do Sr. Governador do Estado, tem o caro leitor a condição de comparar, a essa al-tura, se o que está sendo feito ou o que já foi realizado, está de acordo com suas previsões.Deve o leitor já ter entendido que a tudo que me refiro nesse trabalho, é na maior parte, referente à situação e aos aconteci-mentos vividos na capital desse importante estado.Assim sendo, fácil será imaginar a situação dos outros estados. Notadamente aqueles do norte/nordeste que não têm recursos suficientes para cumprir as metas dos planos elaborados pelos seus governantes.

8. OS POLÍTICOS E SUAS PROMESSAS No dia 26/5/99, num desses programas políticos gratui-tos de TV, o partido ao qual pertence o governador exibiu farto material cinematográfico, que demonstrava o que já foi feito e o que está se desenvolvendo pelo governo do Estado. Demons-trou que havia sido construído certo número de cadeias ou peni-tenciárias. Anunciou também o aumento de leitos hospitalares e consequentemente melhor aparelhamento. Falou-se em aumen-to de salas de aulas, matrícula de todos os alunos, melhoria sala-rial dos professores, etc. Em questão de habitação, falou-se em milhares de casas populares já construídas e entregues e muitas outras em cons-trução. Sobre empregos para 1,25 milhão de trabalhadores, fo-ram anunciados alguns estudos e estatísticas que definiram uma grande redução de desempregados. Com referência à criança e ao adolescente, não me lembro de ter visto ou ouvido qualquer coisa a respeito. Continua, pois a super-lotação nos abrigos, além dos maus-tratos costumeiros. Em relação à terceira idade, pou-co se abordou. Apenas campanhas de vacinação e atendimento médico aos doentes dos olhos. Mas, sabemos nós, os idosos, quanto é difícil chegar até ser consultado. Outros itens constan-tes do programa anunciado nas eleições, pouco se abordou du-rante o programa exibido na TV.

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Exibiram-se imagens de duplicação de rodovias e outras obras. Mas todos nós sabemos que nas grandes cidades, nota-damente nas capitais, é cada vez mais difícil o tráfego de veícu-los. Basta acontecer um abalroamento nas pistas de rolamento ou chover com alguma intensidade, para que o trânsito se torne confuso e caótico. Recentemente, mais uma vez em virtude do desemprego, começaram a aparecer algumas vans e peruas para o transporte alternativo de passageiros. Hoje esse tipo de transporte conta--se às centenas. Umas oficializadas e autorizadas, outras (em sua maioria) funcionando clandestinamente. Entende-se que os “perueiros” têm o direito à sobrevi-vência. Mas à medida que vai aumentando o número desses ve-ículos, vai-se agravando a situação das empresas de transportes de passageiros, que já operam há muito tempo. Muito antes de surgir esse “quebra-galho”. Todos têm o direito de sobreviver. Por isso, se tornou di-fícil de resolver o problema causado agora que já criou raízes. Mais uma vez é demonstrada a falta de atenção por parte dos homens que fazem as leis, que nada fazem antes que os proble-mas se agravem. O que deveria ser feito, quando surgiu a idéia de usar es-sas peruas no transporte de passageiros, seria o empenho dos senhores homens das leis em analisar a viabilidade desse tipo de transporte e convocar os empresários de ônibus para implantar nos itinerários atendidos por cada um, vans, peruas e microôni-bus. Dando assim condições de trabalho aos motoristas e cobra-dores desempregados, que por força da situação se tornaram “perueiros”. Por outro lado, seriam os passageiros bem melhor atendidos, já que seriam transportados com seguro de vida. No meu dia-a-dia tomo conhecimento das coisas que acontecem. Mas, infelizmente, a maior parte de tudo que é noti-ciado, é motivo de crítica aos governantes e/ou aos homens que fazem as leis. Às vezes, até aos homens que têm de fazer cumprir as leis.

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Registrei anteriormente que estavam sendo desenvol-vidas trinta e oito CPIs. Estas Comissões Parlamentares de In-quérito, como o próprio nome já indica, são desenvolvidas por parlamentares, que investigam amparados pelo o que as leis lhe facultam. O exemplo da CPI dos fiscais, que tinham cobertura e eram liderados por vereadores, ia se desenvolvendo normalmen-te. Aparecendo aqui ou acolá a culpabilidade dos chefões da má-fia, chegando até a ser preso um vereador pela sua comprovada culpa. Só que, como vereador, tinha o direito de comparecer ao Plenário nas sessões da casa. Imagine só o caro leitor, um representante seu na Câma-ra Municipal, comparecer ao trabalho escoltado por policiais e depois voltar para trás das grades! O fato é que, enquanto eram acusados os pequenos infratores da lei como: pequenos co-merciantes, feirantes, camelôs, fiscais e até vereadores e alguns policiais, a CPI continuava a impressionar o povo. Mas, quan-do começou a surgir provas de falcatruas exercidas por grandes empresários, banqueiros, ex-prefeitos, ex-governadores, aí sim! Com a maior cara-de-pau, consegue-se reunir a maioria dos vereadores que apóiam o governo e votam pela suspensão da CPI, alegando que há assuntos em pauta na Câmara que não podem ser mais adiados, devido a sua grande importância. As-suntos esses, como: criar uma lei para dar-se um nome a uma rua ou uma praça. Ou ainda, diplomar um cidadão por esse ter dado uma esmola a um ceguinho.

E as outras trinta e sete CPIs? Como será que estão? Terão tido bons resultados? Para quem?

A palavra “honestidade” deveria ser lembrada a todo ins-tante. Mas infelizmente não é possível! Pois a todo o momento se criam motivos para se agir desonestamente. É o motorista particular que usa o “carrão” do patrão para

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fazer serviços particulares. É o copeiro que de vez em quando toma uma “birita” atrás do balcão. É o dono do restaurante que aproveita o pedaço de filé que o cliente não quis, para servi-lo de maneira disfarçada a outro freguês. É o deputado ou senador que vai e volta de avião às custas das contas públicas para re-solver assuntos particulares. É ministro ou secretário de estado que se aproveita de aviões da frota do governo para passar dias ou semanas em ilhas retiradas do continente. É o comprador de empresas particulares ou governamental que facilita a concor-rência para o fornecedor de sua preferência, em troca de gorda propina. É o construtor que usa materiais com fraca mistura ou de segunda qualidade, para tornar o custo da obra mais baixo, não se importando sequer com a responsabilidade que tem so-bre um possível desabamento. É o posto de abastecimento que vende combustível adulterado, pondo em risco o funcionamento dos motores, além de contribuir para o aumento da poluição atmosférica. Por outro lado, há um grande desleixo na manutenção dos tanques e tubulações subterrâneas, pondo em constante perigo a população vizinha, pelos incêndios ou explosões que podem acontecer. Enfim, são tantos os motivos para não se praticar a hones-tidade que, sinceramente, não acredito que esse País chegue a ser o País dos meus sonhos. Embora eu não tenha ainda perdido as esperanças. Só me resta fechar os olhos, esquecer o que tenho visto e concentrar-me na natureza farta e prodigiosa, abundante e prazerosa, dessa imensidão cheia de luz do sol e da lua.

9. PROPAGANDA ENGANOSA Outra atividade que fundamenta a desonestidade é a propaganda constantemente desenvolvida na televisão sobre remédios “made in USA”. Divulga-se a todo instante a procedên-cia dos produtos por serem produzidos nos Estados Unidos da América que, segundo alegam, são totalmente aprovados tam-bém na Europa, como princípio básico para aceitação pelo povo

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daqui. Como se isso fosse imperativo. São remédios para calvície, para mau hálito, para gorduras localizadas, para emagrecer, contra a celulite, contra a impotên-cia sexual, contra cabelos brancos, para os ossos, para os nervos, contra o reumatismo, até para a cura do câncer. Enfim, para to-dos os males. A título de promoção, é só telefonar, pagar pela remessa e regozijar-se pelo desconto de 50%. Contratam-se atores e atrizes famosas para a divulgação desses produtos. Eles decoram com toda sua capacidade de artistas os scripts mais mentirosos e ab-surdos, mas tem infelizmente, muita gente acredita. Nesse País, onde a natureza é pródiga e onde os explo-radores e cientistas estrangeiros “deitam e rolam” nas florestas imensas e cheias de plantas medicinais, levando enormes quan-tidades e variedades, por que o governo não facilita, incentiva e dá cobertura financeira a projetos na área dessa ciência aos cientistas da terra? Pelo menos quando um paciente de diabete, por exemplo, tomar um chá feito das folhas da árvore popular-mente conhecida como “Pata de Vaca”, terá a certeza que está tomando alguma coisa eficiente para essa doença. Ou quando um paciente com dor de estômago tomar “Boldo”, terá a certeza das principais propriedades dessa erva. É fácil encontrar-se em vários pontos da cidade, barracas com bancas montadas com grande variedade de plantas medici-nais, que se apresentam em embalagens inadequadas, além de serem identificadas muito precariamente e até com erros de or-tografia. Quanto ao material de propaganda e de divulgação, mui-to depende do vendedor conseguir transmitir a credibilidade su-ficiente ao cliente. Mesmo assim, o freguês leva para sua casa aquela “erva milagrosa” e, como quase sempre acontece, encon-tra barreiras entre seus familiares, que desaprovam e o conven-cem que aquilo é pura “charlatanice”. Mas se o governo desse apoio necessário até a cobertura de todas as fases do marketing, como acontece com os produtos “made in USA”. Tenho a certeza

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que o povo viveria mais saudável e gastaria muito menos em re-médios originários de fábricas estrangeiras, que a princípio vão para lá como produto básico e depois voltam já manipulado e prontos para o consumo. Infelizmente, onde impera os altos interesses, não é nada interessante reverter-se essa situação. Senão como ficariam os laboratórios estrangeiros instalados no País? Seria fácil se houvesse mais honestidade desde o princí-pio! É lamentável que o País esteja nessa situação, tudo que se faz leva quase sempre a resultados que beneficiam os infratores. É o Presidente que nomeia um alto funcionário, cujo cur-rículo não seria aprovado nem nas pequenas empresas. São os Deputados que se reúnem quando lhes convém para votar uma lei, e mais tarde concluir que essa lei não pode ser cumprida à risca pela sua inconstitucionalidade. Ora são os Senadores da República que produzem entre si a discórdia, já que uns apóiam o governo e outros não. Além disso, o que mais lhes interessa é a sua liderança ou os seus ob-jetivos quanto às próximas eleições. Há Governadores que não concordam com ações de outros Governadores, ou são contrá-rios à atuação dos prefeitos, por pertencerem a outros partidos, ou por terem outros objetivos, etc. Enfim, desde o pequeno posto de atendimento de saúde, ou pequeno departamento de atendimento ao público, passan-do por secretarias, autarquias, delegacias, escolas, universidades, hospitais ou prefeituras, onde atuam médicos e enfermeiros, ad-vogados, professores, engenheiros, diretores de empresas nacio-nais ou multi e principalmente os políticos.

10. O PESADELO Tudo isso é uma vergonha tão grande que, a essa altura, depois de ter escrito tantas lamentações, não me resta outra al-ternativa, senão parar por aqui e procurar respirar profundamen-te, para não sofrer outro infarto e deitar-me tranquilamente. Dormi, mas infelizmente quando acordei no dia seguinte,

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confesso que não tive bons sonhos. A partir do atendimento à mulher grávida nas maternidades e ao nascimento de seus filhos, que já vêm ao mundo traumatizados, já que nem mãe nem filhos são tratados com carinho e respeito. Muito menos com amor. Pois, com raras exceções, os médicos e atendentes hospitalares estão sempre de mau-humor. Porque seus objetivos principais são os resultados comerciais. Quando a criança chega à idade escolar, parece que aí começa sua vida pregressa. Pois passa a conviver com colegas armados, com professores mal remunerados e medrosos pelo que pode acontecer de uma hora para outra. E chega a criança aos 15/16 anos com pouca instrução, mas intencionado a partir para a “bandidagem”, já que os exemplos que recebeu desde o berço, foram sempre nestsa direção. Assaltos às pessoas nas ruas, roubos a residências e casas comerciais, cofres de bancos destruídos com bombas, seques-tros, contrabando, tráfico de entorpecentes, sem contar com crimes violentos, estupros, chacinas, rebeliões de presos nas ca-deias, e daí por diante. Nas ruas não se encontram mais policiais. E quando se vê algum, não é respeitado como autoridade. A me-nos que usem da condição que lhes garante a identificação e partam para a agressão. De vez em quando se destacam algumas ações de coman-do. As chamadas “blitz”. Que surtem algum efeito moralizador, desde que nestas ações os policiais não confundam as ordens e passem a brutalizar e humilhar os cidadãos investigados. Mas pouco adiantam, porque não há continuidade.A liberdade dos bandidos (que nasceram também puros) é de revoltar. As armas que usam são sempre mais sofisticadas e efi-cientes que as da polícia. O cinismo e a crueldade nos crimes que cometem são de deixar qualquer cidadão assustado. O que obriga os moradores a colocar grades em todas as portas e janelas de suas casas, pa-recendo até que são os cidadãos de bem que estão presos e os bandidos em liberdade. As autoridades não se organizam para

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pelo menos diminuir essa “guerra”. A essa altura, só neste ano de 1999 (até junho) se contabiliza o recorde de 45 chacinas, com média de 3 mortos em cada. Juntando a pouca instrução dos jovens de hoje, com os jovens do passado que ainda tentam sobreviver nesses dias, mais um contingente de aposentados que necessitam ainda trabalhar, resultam, só no Estado de maior importância do País, na totalida-de de um milhão e meio de pessoas sem emprego.

11. A ESPERANÇA Seria bom, se daqui pra frente, se modificasse a mentalida-de do povo, principalmente dos governantes e se estabelecesse um programa de trabalho para a conscientização das obrigações de cada um, principalmente no que diz respeito ao cumprimento das leis corretamente. Teríamos, então, o governo definindo as leis com base na constituição. Os empresários respeitando as leis e pagando seus impostos sem usar recursos criminosos. Os fiscais atuando de acordo com a regulamentação (autuando quando for justa a infração ou corrigindo erros que forem perdoáveis). O povo em geral cumprindo suas obrigações honestamente. Para isso, seria necessário que o País passasse por uma reorganização total e sincera nos principais setores, como: Educação Saúde Trabalho Política Social Política Econômica Política Externa.

Para melhorar a saúde do povo, que é o principal ponto do programa, teria o governo de dar condições de atendimento gratuito desde a gravidez da mulher até a velhice e falecimento da pessoa, conforme sugerido anteriormente e com os sindica-tos atuando nessa área.

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Quando a criança alcançasse a idade escolar, estaria então em boas condições de saúde, psicologicamente preparada para ser uma pessoa de bem e ciente de suas obrigações.Assim, quanto mais bem preparado o homem, mais valor teria profissionalmente. E dessa forma, seria obrigado a restituir, atra-vés dos seus justos impostos, os valores que a ele foi atribuído como despesa pela sua formação. Povo criado com boa saúde e educação, entende-se que é um povo qualificado para todos os setores de trabalho. Portanto, é um povo capaz de gerar boa produtividade com alta qualida-de. Boa política social nos setores da saúde, da educação e do traba-lho, estendida também à vida pública, por certo, alcançará bons resultados. Com essa infra-estrutura criada a partir do nascimento da criança e da sua preparação intelectual, fácil será estabelecer-se uma política econômica com resultados satisfatórios, entenden-do-se, no entanto, que tudo será desenvolvido dentro das leis criteriosamente honestas. Quanto ao estabelecimento da política externa, seria mui-to mais respeitada e proveitosa, sem ter que depender de fundos econômicos externos, desde que houvesse total autonomia nos consulados em cada país e neles fossem desenvolvidos progra-mas direcionados à divulgação das coisas do nosso País, das fon-tes de riqueza disponíveis e interessantes a outros países. Enquanto isso, infelizmente, está o governo constante-mente processando mudanças de seus assessores, conforme conveniências de cada momento político. Nessa ocasião, está o governo empenhado na mudança de seu ministério, empossan-do, inclusive, um novo secretário que, aliás, terá status de mi-nistro. Sua função principal vai ser de articulador político, em conjunto com o Ministro das Comunicações. Ora, se um já atra-palhava, imaginem dois. Se até aqui eram ministros que se de-sentendiam com senadores e vice-versa, daqui por diante vai ser pior, pois vai entrar na parada mais um homem forte.

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Enquanto isso, como nada muda, tudo vai continuar como antes. É como se um homem qualquer chegasse em casa depois do trabalho, tomasse seu banho, fizesse a barba, vestisse um ter-no com camisa e gravata e com os sapatos bem engraxados, saísse para um importante jantar. Quando sai de sua casa, assim todo “chic”, parece-lhe que é um outro homem muito mais im-portante. E assim permanece enquanto estiver na sociedade que o acompanha. Mas quando volta para sua casa, e despe toda aquela “farpela”, volta a ser o mesmo homem simples de antes. Assim tem acontecido com as mudanças de homens no governo (seja federal, estadual ou municipal). Já que todo o iní-cio são promessas com credibilidade. Depois tudo se acomoda, conforme interesses de cada um.

12. CADA UM TEM DE FAZER A SUA PARTE Não é só na área governamental que existe o jogo de in-teresses. Na vida dos cidadãos comuns também. E muito mais, nos setores do comércio. Haja visto que, só em um município limítrofe à capital do estado, constata-se que somente em 50 empresas, há uma sonegação de ICMS no valor de 70 milhões. Muito embora o estado, mesmo assim, seja o que mais arrecada. Atingindo um valor de 8,8 bilhões, participando sua capital com 49,5 %. Mesmo assim, constata-se que existe ainda para receber de impostos atrasados a quantia de 1,5 bilhão só no referido município. Esses são números referentes a um só município. Imagine-mos então se somarmos os demais municípios que constituem essa nação. A roubalheira é tão grande em todos os setores de atividade que, no município em questão, todos os vereadores estão envolvidos em “mutretas” como nepotismo por exemplo. Os “caras-de-pau” arrecadam para sua receita particular mais de 17 mil com a participação dos parentes, que nem sequer se apresentam para bater o cartão de ponto. Além de um vereador que tem, como assessores, a ex-es-posa e a atual noiva. Isto é o que nós podemos chamar “demo-

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cracia conjugal”. Ainda para completar a total falta de honestida-de, quase todos os vereadores estão envolvidos em escândalos, que motivaram a instalação de uma C.E.I. (Comissão Especial de Inquérito) cujo resultado de apuração de suas culpas não deu em nada. Como dizem por aí: acabou tudo em pizza, pois os mem-bros da comissão investigatória também estavam envolvidos. Em outro município vizinho, também o escândalo vem dos vereadores. Depois de ter sido presa em flagrante por porte ilegal de armas e grande quantia de dinheiro, cuja procedência não foi explicada, uma vereadora pagou fiança e foi posta em li-berdade. O mais incrível é que um juiz anulou a prisão e mandou devolver a quantia da fiança (possivelmente com juros e corre-ção monetária). “Vício insanável” foi o ponto que garantiu a liberdade da vereadora. “Declaração do condutor, declaração das testemu-nhas e por último o interrogatório do preso”. Conforme artigo 304 do C.P.P. por ter acontecido inversão da ordem lógica for-mal, deu-se a razão da decisão do Sr. Juiz. Nem contrariar o que o código 304 da C.P.P. esclarece. Porém, quando há condições financeiras para se contratar um bom advogado, com toda certe-za, ele conseguirá achar uma “válvula de escape” para inocentar o culpado. Oras bolas! Por que os negros e os pobres não têm a mes-ma chance?

Outro assunto, publicado nos jornais, que requer reflexão e acompanhamento por parte de todo cidadão, é o que se refere à implantação de um centro de pesquisas. Registrei anteriormente a exploração e produção de re-médios extraídos das plantas medicinais por cientistas e labora-tórios estrangeiros. Em todo caso, menos mal! Hoje (13/8/99), li nos jornais que foi inaugurado um moderno centro de pesqui-sas farmacêuticas, que consumiu investimentos de 85 milhões de dólares e gerando empregos para 50 cientistas, inicialmente. Tendo previsão para mais 200 empregos dentro de 3 anos. É elo-

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giável a coragem do grupo empresarial desse centro de pesqui-sas pois, além de tudo, não precisou “importar” nenhum cien-tista do exterior. Por outro lado, também tomei conhecimento sobre o recorde de arrecadação pela Receita Federal em julho último. Foram arrecadados quase 14 bilhões vindos de impostos e contribuições, sem considerar receitas de privatizações e ou-tras fontes extraordinárias, superando em 1,7 bilhão a estimativa. Ora, se considerarmos mais ou menos este valor, podere-mos prever um montante de 150 bilhões no ano. Estabelecen-do um paralelo entre a receita arrecadada, somente na esfera federal e o valor gasto na construção e montagem do centro de pesquisas farmacêuticas ora inaugurado, podemos imaginar quantos centros de pesquisas, também de outras áreas, pode-riam ser construídos, assim como: hospitais, escolas e outras obras públicas tão necessárias. É só aproveitar bem o dinheiro da contribuição do povo, que tudo seria bem melhor. É que embora esse País não tenha grandes catástrofes, mesmo assim, o vento que sopra, parece que é sempre direcio-nado para cima dos cofres públicos, e o dinheiro voa para sumir nos horizontes. Só para lembrar mais alguns detalhes da vida desse País, refiro-me aos encargos sociais que incidem sobre a folha de pagamento, que são gigantescos. Imaginem que para cada R$100,00 de salário, paga-se mais R$102,55 de tributos. Impos-sível competir com outras nações. Na Argentina, os encargos sobre salários também são al-tos, 70,27%, porém, menores que nesse País. Já nos Estados Uni-dos são de 10% apenas. Assim, 53% da mão-de-obra utilizada não tem carteira de trabalho assinada, para fugirem desses pesados encargos sociais. Consequentemente, prejudica o recolhimento do imposto devi-do à Previdência e, por outro lado, deixa fora de competição os produtos de fabricação nacional. Infelizmente, os escândalos e os desequilíbrios que acon-tecem nesse País são de toda natureza, e não adianta pensar

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em melhorar as coisas, pois me parece que aqui só se imita dos outros países o que há de pior. Na TV vemos filmes que exibem cenas de crueldade ex-trema, que logo são traduzidas para a realidade por pessoas que fazem questão de praticá-las com maior brutalidade ainda. Gostaria de registrar somente coisas alegres e positivas, e para tanto, de repente, dou uma trégua de 2 ou 3 meses, para aguardar se acontece em algum lugar alguma coisa digna de se registrar. Mas, o que procurar para escrever se não encontro nada de positivo, senão mais chacinas, mais assaltos, mais roubos, mais CPIs sem resultados honestos, mais escândalos políticos, mais injustiças sociais, mais racismo, mais pobreza, mais dese-quilíbrio na distribuição de renda etc... etc. Limito-me, pois a registrar um trecho da literatura bíbli-ca. “O que então prediz a bíblia concernente ao atual sistema de coisas no mundo? Ela diz: “Lembre-se que nos últimos dias virão momentos difíceis. Os homens se tornarão egoístas, gananciosos, cheios de si, orgulhosos, injuriadores de Deus, desobedientes aos pais, ingratos e maus. Não terão mais afeição, nem espírito de união... mais amigos dos prazeres do que de Deus. “Alguns conser-varão a aparência de religião, mas não a viverão na prática”. Pois é exatamente o que está acontecendo! Ainda hà-poucos dias presenciei na TV uma cena em que um assaltante apontava uma arma de fogo para a cabeça de uma menina que mantinha como refém. Gritava esse bandido para todos ouvirem: “querem ver o tombo dela”? Essas cenas e até muito piores são comuns nos dias de hoje! São pessoas que já perderam a condi-ção de ser humano, desprezando o presente que Deus lhes deu, que é a própria vida. Quando se trata de chacinas, então, é inacreditável o que acontece no ato. Mata-se por motivos banais e sem compaixão, e na maior parte, acontecem para acerto de contas pelo tráfico e/ou consumo de drogas. É claro que essa situação não surgiu de uma hora para

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a outra. Quando eu era jovem, ao voltar para casa, depois do trabalho, eu tinha vários amigos, e quase sempre nos encontrá-vamos para “bater um papo”. Como dizem os moços de hoje, naquela época só “rolava” conversas sadias. Hoje, em todos os lugares por onde passamos, encontramos “rodinhas” de jovens desempregados e mal-educados que só se entendem por gírias. E o que “rola” é “papo” duvidoso, além de consumirem drogas e álcool, na maioria desses encontros. Daí sai todas as ações nega-tivas que se traduzem quase sempre em crimes de toda a espé-cie. Infelizmente, vai ser muito difícil mudar esse estado de coisas ruins, pois os homens que hoje estão provocando essa calamidade são os meninos de ontem que não estudaram cor-retamente e consequentemente, não tiveram a educação correta para um bom comportamento agora. Será difícil, portanto, mo-dificar-se os costumes, já que na base não há estrutura consis-tente. Mas, volto a repetir, podemos alcançar algumas melhoras a médio e longo prazo, se os governos se conscientizarem das responsabilidades a partir do Ministério da Educação, paralela-mente com o Ministério da Saúde. O aluno deve ter, desde o começo, a condição de estudar, sem se preocupar com os custos, com a acomodação, e principalmente com a segurança. Quanto à saúde, também será necessário estruturar-se as condições para oferecer assistência médica e dentária a cada alu-no, sem distinção de cor, situação financeira ou religiosa. Caberá, no entanto, ao Ministério da Justiça a segurança dos cidadãos, protegendo-os e processando com rigor os malfeitores. Mesmo assim, nada se conseguirá se os políticos responsáveis diretos por essa situação, não se conscientizarem de suas obrigações e agirem com amor à pátria, deixando de lado os interesses parti-culares. Mas de que jeito nós vamos sentir melhorias das situa-ções em que nos encontramos? Ainda agora, mais uma vez, se discute o valor do salário mínimo. Acha o governo que, qualquer aumento, por pequeno

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que seja, vai provocar um desequilíbrio entre a arrecadação e a folha de pagamento dos aposentados e/ou desempregados. Eu não entendo porque os aposentados e pensionistas pe-sam tanto para o governo! Ou será que os deputados, senadores, juízes e altos funcionários não pesam nessa balança? Parece que não! Pois os juízes foram recentemente, contemplados com uma ajuda para moradia, no valor de R$3.000. E os deputados e senado-res pleiteiam um teto salarial de R$11.500, porque R$8.500 é pouco para eles. Coitados!!! Não é suficiente o salário deles para a sua sobrevivência, imagine-se então quem ganha um ou dois salários mínimos. Mais interessante é que nesse País quando se trata de me-lhorar as condições de vida do trabalhador de baixa remuneração, discute-se por vários dias até concluírem o mínimo possível. En-quanto isso, o custo de vida é sentido, cada vez mais no bolso do pobre, pois qualquer percentual, por pequeno que seja, repercute bastante para quem ganha pouco. Imagine-se então a repercussão no bolso dos aposentados e pensionistas ou desempregados. Estamos já no ano 2000 e chegou à época de eleições mu-nicipais. Na televisão (horário gratuito ou pago) desfilam nomes de candidatos a prefeito e a vereador. Além das besteiras e frases mal empregadas que soltam no ar, voltam as promessas que sempre anunciam, mas nunca cumprem. Há um candidato que só se preocupa em denegrir os seus adversários, dizendo que eles, quando foram prefeitos, pararam as obras importantes iniciadas pelos prefeitos anteriores. Mas, ele mesmo não aparece na tela da televisão e, muito menos, apresenta sua plataforma de governo. É tão cara-de-pau que usa o nome pelo qual outro candida-to era conhecido em eleições passadas. Outro candidato aproveitou o apelido que lhe deram de “Xerife” e foi pedir a benção do “Tio San”, que lhe entregou a estre-la usada como símbolo da polícia daquele País do norte. Pelo conteúdo de sua campanha e pelo tempo que ocupa

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na televisão, me parece que não foi só a estrela de “Xerife” que ele recebeu do “Tio San”. Tem outro candidato que deveria ser apelidado de “Zé da Bronca”, pois no pequeno espaço de tempo que tem direito na televisão, é só “bronca” que dá, e termina dizendo: eu sou fulano... Um homem culto e inteligente como ele, uma vez candi-dato a cargo público, deveria usar simplesmente um diálogo de professor que é com um “toquinho” de política eleitoreira. Aí sim! Teríamos um forte candidato em quem acreditar. Nas últimas eleições para Governador, extraí de um jornal o plano de trabalho do Governador eleito, registrando-o na ínte-gra, nas páginas anteriores. Tem agora o caro eleitor, uma oportunidade de analisar o que foi prometido e o que foi realizado, já que o seu vice é tam-bém candidato a prefeito nessas eleições. Tem outro candidato a prefeito que foi expurgado da Presidência da República, teve seus direitos políticos cassados e conseguiu, sabe-se lá como, o registro de sua candidatura nessas eleições municipais. O surpreendente é que suas bases políticas são no nordeste do País, de onde ele é procedente, arraigado e estabelecido. Mas como político cínico e golpista, registrou sua candidatura aqui no sudeste do País. Enfim, candidatos a prefeito e a vereador nesse municí-pio não faltam! Tenho a certeza que a maioria desses candidatos continuam a ter os mesmos interesses dos seus antecessores, ou seja, o seu próprio. E nunca os interesses do povo pelo desenvol-vimento do município. Todos os candidatos, durante a campanha, fizeram visitas à dezenas de favelas existentes na cidade. E se tiveram alguma sensibilidade ao presenciarem o estado em que vivem aqueles pobres moradores, terão, com toda a certeza, motivos de sobra para alcançarem o respeito e admiração do povo. É só trabalhar com humanidade e honestidade. Incêndios em favelas são constantes, principalmente quando estão localizadas embaixo de viadutos. Além da desgra-

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ça que sofrem esses infelizes, que perdem tudo, do pouco que têm, temos que contabilizar os mortos e feridos. As estruturas das pontes e viadutos, devido ao calor ex-cessivo, abalam-se, tornado-se perigosas ao tráfego de veículos. Não é só isso que é lamentável. Mas principalmente pelo dinhei-ro que será necessário para recuperar as estruturas. Como diz o ditado: “Depois da porta arrombada não adianta pôr a tranca”. Esses incêndios só acontecem porque o governo permite (ou fecha os olhos) que se construa ali os “casebres” totalmente feitos de madeira, e logicamente, de fácil combustão. Pelo menos um exemplo pode-se obter dessas desgraças. Se considerarmos o dinheiro gasto para recuperar os viadutos, daria para se construir muitas casas populares com toda infra--estrutura, onde esses pobres trabalhadores poderiamviver com mais dignidade e segurança. Em contrapartida, as pon-tes e viadutos não ficariam tão expostos a esses desastres. Por outro lado, não é demais abordar a questão social no que tange à distribuição de renda do povo no País. Pesquisas anunciadas na imprensa dizem que, enquanto os trabalhadores de baixo salário gastam em média 33% de seus vencimentos, só em alimentação, os trabalhadores, que ganham em torno de trinta salários mínimos, gastam apenas 10%, embo-ra esses tenham de pagar maior percentual de imposto. Sendo assim, é fácil entender quem é e porque vivem embaixo de pon-tes ou viadutos. Recuperar os adultos que vivem nas favelas, no sentido de se elevarem socialmente, não seria tão importante, já que como diz o ditado: “Pau que nasce torto não endireita”. Mas as crian-ças, essas sim, deveriam ser melhor assistidas. Pouco custaria ao Governo instalar próximo das favelas (desde que transformadas em núcleos de casas populares) um pronto-socorro bem apa-relhado e uma escola, para dar assistência à criança desde sua concepção. Definidas as eleições para vereadores no município de maior importância do País, o qual se encontra em lamentável

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situação econômica, social e administrativa, podemos sentir es-peranças melhores nos próximos 4 anos. Não só pelos novos nomes dos eleitos, mas principalmente, pelos nomes dos que saíram. Já que foram estes, envolvidos em constantes falcatruas e desvio de verbas. A mescla de capacidades dos eleitos, desde que bem co-ordenados, poderá surtir bons resultados em favor do municí-pio, já que fazem parte da nova Câmara: advogados, professores, médicos, engenheiros, militares e religiosos. Pelo resultado das eleições municipais, logo no primeiro turno, verificou-se uma tendência favorável à oposição e, com-provada no segundo turno.Isso significa, uma vez por todas, que os governantes atuais (no-vembro 2000) não estão agradando. Um dos presidentes anteriores, que vivia somente em al-tas atmosferas, em uma das suas constantes viagens ao exterior, sentiu-se humilhado ao constatar que os automóveis de lá eram, de certa forma, mais bem acabados, do que os produzidos por aqui, qualificando-os de “carroças”. Já o atual presidente também não foge à regra. Pois re-centemente fez um discurso como se estivesse dirigindo sua fala somente para a alta sociedade a que pertence, declarando: “O povo precisa libertar-se da mentalidade colonial”. Embora eu tenha grandes esperanças pelas mudanças que os novos eleitos devem fazer, conforme promessas nas cam-panhas eleitorais que foram basicamente mais empregos, mais segurança, melhor saúde, mais escolas etc. Temo que nada vai alterar-se, porque para se fazer algo nesse sentido, os governan-tes precisariam sentir em seu meio, o que o povo já está cansado de sentir, vivendo na escravidão desde os tempos coloniais. Chacinas, assassinatos, roubos, assaltos, revolta de presos, greves constantes, sequestros, contrabando, tráfico, insegurança, pobreza, desemprego etc. Tudo isso prova um desequilíbrio social tão grande e tão complexo, que o povo não tem como evitar esses desastres.

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Grande causador dessa situação é, sem dúvida, a má distribuição de renda. O governo faz questão de “inventar” o décimo terceiro salário, o passe escolar, a passagem livre nos ônibus e trens para idosos, o vale refeição, a bolsa de estudos, a cesta básica, a me-renda escolar, e tantos outros subterfúgios. Essa política praticada desde muitos anos atrás, cada vez mais agrava o comportamento do trabalhador, pois aumenta a dependência do patrão e/ou do governo. Você chama um trabalhador rural para refazer o seu jar-dim e por isso lhe paga a menor quantia possível, em razão dessa situação. Mas se houvesse uma qualificação profissional, você contrataria um jardineiro e lhe pagaria pelo trabalho contratado. Isso é, de igual para igual, com consideração. Se a política de salários fosse modificada, incluindo-se os itens dados como “ajuda”, o trabalhador se autovalorizaria, sen-tindo-se mais integralizado à sociedade.

13. PALAVRA DE ORDEM: HONESTIDADE Dessa forma, levando-se em consideração as sugestões anteriormente registradas e partindo-se do princípio do gover-no atribuir aos sindicatos de classe (totalmente reestruturados) a responsabilidade de amparar seus associados desde o nasci-mento de seus filhos, considerando-se ainda que o País seja di-vidido em Estado; os Estados em Províncias; as Províncias em Municípios, tenho a certeza que esse País, passando por essa re-organização, seria transformado, de verdade, no País que sempre sonhei.

Para tanto, terão os governantes de agir com o coração. Pois quem age com o coração, está agindo com H O N E S T I D A D E.

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