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7/25/2019 Livro10 conceitos e aplicacoes a educacao
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Psicologia e Anlise do Comportamento:
PSICOLOGIA E ANLISE
DO COMPORTAMENTO:Conceituaes e Aplicaes Educao, Organizaes, Sade e Clnica
Vernica Bender Haydu | Silvia Aparecida Fornazari | Clio Roberto Estanislau
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Ndina Aparecida Moreno
Berenice Quinzani Jordo
R
V-R
COMISSO CIENTFICA
Os captulos desta obra foram avaliados e receberam pareceres ad hoc
dos seguintes membros da comisso cientfica:
Prof. Dr. Alexandre DittrichProf. Dr. Alex Eduardo Gallo
Prof. Dr Edneia Perez HayashiProf. Ms. Elen Gongora Moreira
Prof. Dr Eliza Dieko Oshiro anakaProf. Dr. Elizeu Borloti
Prof. Dr. Elizeu Coutinho de Macedo
Prof. Dr Elsa Maria Mendes Pessoa PullinProf. Dr. Joo Juliani
Prof. Dr Josiane Ceclia LuziaProf. Dr Josy de Souza Moriyama
Prof. Dr. Kester CarraraProf. Dr Maria Rita Zoga Soares
Prof. Dr Maura Alves Nunes GongoraProf. Dr Rosana Aparecida Salvador Rossit
Prof. Dr Silvia Cristiane MurariProf. Dr Silvia Regina de Souza Arrabal Gil
Prof. Dr Solange Maria Beggiato MezzarobaProf. Dr Vernica Bender HayduProf. Dr. Wagner Rogrio da Silva
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Psicologia e Anlise do Comportamento:
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CapaIvan Inagaki Aristides
Editorao EletrnicaHumanidades Comunicao Geral
Impresso e AcabamentoMidiograf
500 exemplares
Catalogao elaborada pela Diviso de Processos cnicosBiblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina
Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)
O contedo do texto de responsabilidade de seus autores.
P974 Psicologia e anlise do comportamento : conceituaes e aplicaes
educao, organizaes, sade e clnica / Vernica Bender
Haydu, Silvia Aparecida Fornazari, Clio Roberto Estanislau
(organizadores). Londrina : UEL, 2014.
568 p. : il.
Vrios autores.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7846-267-3
1. Psicologia. 2. Comportamento Anlise. 3. Psicologiaeducacional. 4. Psicologia clnica da sade. I. Haydu, Vernica Bender.
II. Fornazari, Silvia Aparecida. III. Estanislau, Clio Roberto.
CDU 159.9.019.43
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Sumrio
Apresentao ...............................................................................
Seo 1 - Conceituaes, Teoria e Modelos
Crtica neutralidade cientfica e suas consequncias para a prtica
cientfica em psicologia .........................................................................
Carolina Laurenti
O comportamento como dimenso biolgica dos organismos
Amauri Gouveia Junior
Uma discusso sobre a concepo de cincia no livro Science and
Human Behavior ...................................................................................
Carlos Eduardo Lopes
Histria Comportamental: definies e experimentao ......................
Carlos Eduardo Costa; Paulo Guerra Soares
Modelos animais de ansiedade: o labirinto em cruz elevado e a
microestrutura do comportamento de limpeza ....................................
Clio Estanislau, Naiara Fernanda Costa; Paula Daniele Ferraresi; Heloisa
Maria Cotta Pires de Carvalho
Seo 2 - Educao e Organizaes
Anlise do comportamento aplicada s pessoas com necessidades
educacionais especiais: programa de capacitao para profissionais da
sade .....................................................................................................
Silvia Aparecida Fornazari; Raquel Akemi Hamada; Carolina Martins Rizardi;
Francislaine Flmia Incio; Maria Beatriz Carvalho Devides; Marina Rodrigues
Salviati; Marcio Francisco Dias
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Ansiedade e atitudes relacionadas disciplina matemtica em
estudantes do ensino fundamental: implicaes de um instrumento
de avaliao ...........................................................................................Alessandra Campanini Mendes; Joo dos Santos Carmo
Produo de sentenas: uma contribuio da anlise do
comportamento .....................................................................................
Grauben Jos Alves de Assis; Diogo Rodrigues Corra; Suzana Ferreira Barbosa
O modelo da equivalncia de estmulos na forma de jogos educativos
para o ensino leitura e escrita em contexto coletivo .............................
Vernica Bender Haydu
Psicologia e educao: contribuies do behaviorismo e do cognitivismo
para a ao docente ...............................................................................
Katya Luciane de Oliveira; Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin; Sueli di Rufini
Pedagogia construtivista para condicionar o comportamento dos
alunos? pontos de aproximao e afastamento entre duas correntes
psicolgicas ...........................................................................................Paulo Srgio eixeira Prado; Mrcia Josefina Beffa; Tais Pondaco Gonsales
Desafios organizacionais: a utilizao do modelo de gesto por
competncias .........................................................................................
Nicole Calsavara omazella; Valria Roncon; Vilma Pimenta Cirilo Munh
Seo 3 - Sade
Uso de medidas diretas e indiretas para avaliao de problemas de
comportamento em crianas com dermatite atpica ...........................
Robson Zazula; Mariana Salvadori Sartor; Natlia Guimares Dias; Mrcia
Cristina Caserta Gon
Cncer de mama e distrbios de sono: anlise de produo cientfica ..
Maria Rita Zoga Soares; Renatha El Rafihi Ferreira; ayana Fleury Orlandini;
Leilah SantAna Sabio
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Psicobiologia do sono e processos de alerta, aprendizagem, memria e
emoo ...................................................................................................
Maria Laura Nogueira Pires; Raquel de Oliveira Luiz; Guilherme BracarenseFilgueiras; Renatha El Rafihi Ferreira; Ana Amlia Benedito-Silva; Clio
Estanislau
A primeira experincia com lcool entre adolescentes escolares:
quando, onde comea e alguns fatores associados ...................................
Maria Laura Nogueira Pires; Aline Figueiredo Nunes; Las Stocco Zancanaro;
Guilherme Augusto Campesato; Jair Izaas Kappann
Fatores neurobiolgicos da dislexia do desenvolvimento ......................
Magda Solange Vanzo Pestun
Problemas de sono no autismo: um estudo exploratrio .......................
Maria Laura Nogueira Pires; Mrcia Pradella-Hallinan; Andr Luiz Damio de
Paula
Seo 4 - Clnica
A psicoterapia comportamental dialtica DBT e sua incluso naspsicoterapias comportmantais da terceira onda ...........................Yara Kuperstein Ingberman
Terapia analtico-comportamental: a anlise funcional como indicativo
de eficcia para diferentes contextos clnicos.........................................
Bruna de Moraes Aguiar; Cristina iemi Okamoto
Hipteses de relaes funcionais: um estudo de caso ............................
Juliana Accioly Gavazzoni; Olivia Justen Brandenburg
Pacientes portadores de esquizofrenia e terapia da aceitaco e do
compromisso: o uso da desfuso como ferramenta clinica .....................
Vinicius Reis de Siqueira
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Treinamento em entrevista clnica inicial: avaliao preliminar dos
resultados ...............................................................................................
Annie Wielewicki; Mariana de oledo Chagas; Renata Grossi
Superviso para terapia comportamental .............................................
Luc Vandenberghe
Avaliao e estratgias comportamentais para o tratamento dos
problemas de sono em crianas ..............................................................
Renatha El Rafihi Ferreira; Maria Rita Zoga Soares; Caroline Batista Vilela;
Mariana Fernandes Moschioni; Maria Laura Nogueira Pires
As amarras da terapia: esquiva emocional e estratgias alternativas de
bloqueio ..................................................................................................
Josy de Souza Moriyama; Kellen Escaraboto Fernandes; Nicole Calsavara
omazella
Suporte comportamental positivo e treino em comunicao funcional
no tratamento de comportamentos-problema .......................................
Ana Carolina Sella
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Apresentao
Este livro uma coletnea de captulos em que so apresentados
estudos cientficos tericos/conceituais e aplicados que foram
apresentados em conferncias, mesas redondas e simpsios durante
o I Congresso de Psicologia e Anlise do Comportamento (I CPAC),
o IV Encontro Paranaense de Anlise do Comportamento (IV EPAC)
e o
I Encontro Brasileiro de Estudos sobre as Psicoterapias Analtico
Comportamentais da erceira Onda (I EBEPAC-3 O). Na Seo 1, esto
os captulos tericos/conceituais em que so feitas anlises crticas eestudos epistemolgicos, revises da literatura, e descrio de modelos
experimentais em Psicologia, os quais fundamentam a ao do psiclogo
e do analista do comportamento em suas intervenes e estudos. Na
Seo 2, so apresentados estudos voltados para a Educao e a rea
Organizacional, contendo a descrio de programas de interveno,
modelos e mtodos de ensino e estudos empricos que visam avaliar as
contribuies da Psicologia e da Anlise do Comportamento a essas reas
de atuao do psiclogo. Na Seo 3, so descritos estudos que mostram
as possibilidades de atuao do psiclogo em questes de sade que vo
desde problemas de sono, uso de bebidas alcolicas, dislexia, dermatite e
cncer. Na Seo 4, so descritos e avaliados mtodos de interveno na
clnica psicolgica, anlises de comportamentos relevantes no contexto
clnico e o treinamento de estudantes de Psicologia para atuarem nesse
tipo de contexto.
A coletnea reuniu autores de diversas regies do Brasil, a maioriaest ligada a instituies de Ensino Superior, nas quais atuam como
docentes, pesquisadores e orientadores de ps-graduao. Uma parte dos
autores de profissionais que atuam no mercado de trabalho oferecendo
servios que so fundamentados nas teorias psicolgicas e cientficas,
conforme mostram os estudos por eles descritos nos captulos desta obra.
Vernica Bender Haydu
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Crtica neutralidade cientfica e suas consequnciaspara a prtica cientfica em psicologia
Carolina Laurenti1
Universidade Estadual de Maring.
O modelo de cincia moderna foi considerado ao longo de ao menos
trs sculos (XVII, XVIII e XIX) o paradigma dominante de conhecimento
cientfico (Kche, 2002; Santos, 1987/2004). Boa parte dos projetos
de Psicologia cientfica nasceu luz da cincia moderna, herdando, porconseguinte, o compromisso com alguns pressupostos basilares desse
modelo de cincia (Figueiredo, 2003). Um dos preceitos do paradigma
cientfico moderno consiste na noo de neutralidade cientfica a ideia
de que a cincia, mediante a adoo de mtodos e tcnicas especializados,
capaz de produzir conhecimento objetivo, isento da interferncia de
qualquer tipo de valor particular, sejam eles pessoais, sociais, econmicos
ou polticos.
Considerando esses aspectos, este texto pretende examinar
basicamente dois pontos. O primeiro deles consiste em apresentar
algumas crticas tecidas pela filosofia da cincia contempornea ao
modelo moderno de cincia, mais especificamente, aquelas que atingem
o preceito de neutralidade cientfica. O segundo ponto insere essa
discusso no terreno psicolgico, extraindo algumas consequncias da
crtica contempornea neutralidade do cientista para a prtica cientfica
em Psicologia.O texto segue apresentando algumas caractersticas gerais da
idea de neutralidade cientfica, que serviro como pano de fundo para a
descrio de algumas objees endereadas a ela e aos seus conceitos
correlatos. Por fim, sero discutidos alguns desdobramentos desse debate
para as pretenses cientficas do conhecimento psicolgico.
1 Endereo para correspondncia: Rua Vereador Nelson Abro, 2025. Zona 05. Cep. 87015-230.
Maring, PR. E-mail: [email protected]
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Psicologia e Anlise do Comportamento:
A busca pela neutralidade cientfica na cincia moderna
A teoria dos dolos de Francis Bacon (1561-1626) parece ser oeptome da busca da neutralidade na cincia moderna. Nessa teoria,
Bacon (1620/1979) especifica algumas condies prvias para a produo
de conhecimento cientfico. Uma delas consiste em uma purificao dos
fatores (dolos) que obstruiro o alcance das formas leis universais
que especificam relaes de necessidade e suficincia causal entre os
elementos da natureza. So quatro dolos: da tribo, da caverna, do foro
e do teatro. Os dolos da tribo dizem respeito s deficincias oriundas da
prpria constituio humana. rata-se da ideia de que os sentidos e aspercepes, sem o devido tratamento, conduzem a iluses e falsidade,
e de que sentimentos e afetos podem corromper o acesso verdade (cf.
Bacon, 1620/1979, pp. 21, 25-26). Os dolos da caverna restituem os
erros provenientes das idiossincrasias do homem, fruto da histria de
vida do indivduo, das suas relaes interpessoais, de sua personalidade
e da educao recebida (cf. Bacon, pp. 21-22, 26-28). J os dolos do foro
do relevo s falhas decorrentes das imprecises da linguagem, como
o emprego de conceitos e palavras ambguos, ou de termos que no
correspondam a coisas (fices) (cf. Bacon, pp. 22, 28-30). Por fim, os
dolos do teatroso erros decorrentes de sistemas filosficos ou teorias que
so empregados de maneira acrtica obedecendo, no raro, ao princpio de
autoridade (cf. Bacon, pp. 22-23, 30-37).
A teoria baconiana dos dolos sugere, ento, que sentimentos,
afetos, percepes, personalidade, valores, e teorias contaminam
a constituio do conhecimento verdadeiro. Esse, por sua vez, s alcanado por aqueles capazes de se livrar dessas fontes de erro, tornando-
se, metaforicamente, to puros quanto uma criana: o intelecto deve
ser liberado e expurgado de todos eles [dolos], de tal modo que o acesso
ao reino do homem, que repousa sobre as cincias, possa parecer-se ao
acesso ao reino dos cus, ao qual no se permite entrar seno sob a figura
de criana (Bacon, 1620/1979, p. 38, grifos do autor). Livre, portanto,
das distores da realidade (dolos), o pesquisador poderia dedicar-se
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Psicologia e Anlise do Comportamento:
metdica, sistemtica e exaustivamente observao dos fenmenos da
natureza (Bacon, 1620/1979; Kche, 2002).
Esse processo de purificao dos pr-conceitos na produo deconhecimento cientfico subscreve as clssicas dicotomias entre fatos e
valores, e entre fatos e teorias tpicas da cincia moderna. No caso da
distino radical entrefatos e valores,o modelo cientfico moderno entendeque os fatos encerram descries causais entre eventos observveis, cujo
carter inexoravelmente ordenado pode fundamentar o conhecimento
legtimo. J os valores incorporam emoes e sentimentos; e por serem
pessoais, relativos e irregulares no podem alicerar o conhecimento
verdadeiro. Essa desqualificao dos valores, anunciada desde Bacon,esteve presente em Coprnico e Newton, e foi atualizada pelo programa
positivista lgico de cincia, que no outorgou aos valores significado
cognitivo (Mariconda, 2006). Com efeito, as questes de fato (objetivas)
foram reservadas cincia; e as de valor (subjetivas) aos campos da tica,poltica, esttica, religio e senso comum.
No caso da dicotomia entre fatos e teorias, os primeiros so
vistos como slidos e imutveis, e, por isso, so os rbitros decisivos de
disputas tericas, o ltimo tribunal de recursos (Kuhn, 2006, p. 135).As teorias, diferente dos fatos, so fluidas e mutveis, pois so calcadas
na interpretao de pesquisadores individuais. A interpretao, por ser
um processo humano, difere de pessoa para pessoa. Nessa tica, dois
observadores muito bem equipados fariam as mesmas observaes, e
possveis discordncias residiriam somente nas eventuais diferenas desuas convices tericas. Em outras palavras, se os fatos no mudam,
as diferentes descries dos fatos devem-se unicamente s diferentes
interpretaes daquilo que visto igualmente por observadores normais
(Hanson, 1975, p. 130, grifos do autor). Em suma, para a cincia moderna
os fatos so o fundamento das teorias, pois so puros; j as diferenas
entre os fatos se manifestam apenas na atividade de interpretao, que
impinge teorias distintas a essa plataforma arquimediana (os fatos).
Sendo a cincia capaz de descobrir fatos slidos isentos de qualquer
compromisso com uma forma de valor particular, o conhecimento
cientfico , pois, objetivo. Objetividade, aqui, pode ser entendida como
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Psicologia e Anlise do Comportamento:
sinnimo de neutralidade. A objetividade, por seu turno, a garantia de
acesso verdade, isto , a uma representao fiel do objeto conhecido,
posto que livre das perturbaes do intelecto humano. Desse modo,a produo de conhecimento no modelo cientfico moderno segue o
itinerrio da neutralidade, objetividade e verdade. Nessa tica, a cincia
considerada a nica forma de produo humana capaz de receber, com
justia, a designao de conhecimento. Sendo contaminadas por valores,
as outras formas de compreenso da realidade so passveis de falsidade,
e, portanto, sequer so merecedoras de serem tratadas como formas
de conhecimento. No limite, recebem a alcunha de opinio. O cientista
moderno pensava, ento, ter descoberto o caminho do conhecimentocerto e verdadeiro. E esse caminho era o da cincia (Kche, 2002, p. 58).
A cincia moderna inaugura o cientificismo o dogmatismo moderno ,
que consiste na crena de que o nico conhecimento vlido o cientfico,
no admitindo outras formas de se atingir o saber seno aquelas
consagradas pelos cnones do mtodo cientfico.
Crticas noo de neutralidade cientfica
A despeito do sucesso de suas aplicaes tericas e prticas, o
modelo de cincia moderna tem sofrido cidas crticas, advindas da
prpria cincia (Earman, 1986; Mayr, 2004/2005; Prigogine, 2003), e
tambm da histria, filosofia e sociologia das cincias (Bourdieu, 1983;
Kuhn, 2006; Santos, 1987/2004). Um dos alvos de crtica , justamente,
a noo de neutralidade cientfica e de seus correlatos, como a dicotomia
entre fatos e valores (ou fatos e teorias), bem como sua postura dogmticacientificista.
Diferente da viso de cincia moderna, que entende os fatos como
sendo acessveis e indubitveis para qualquer observador bem equipado,
Kuhn (2006) critica a demarcao rgida entre fatos e teorias. Defende
que os fatos da cincia no so slidos, mas fluidos, j que dependem
das crenas e teorias existentes: produzi-los [os fatos] exigia uma
aparelhagem, ela prpria dependente de teoria, na maioria das vezes
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dependente da teoria que os experimentos iriam, supostamente, testar
(Kuhn, 2006, p. 136). Kuhn tambm impugna o itinerrio empirista
que advoga a prioridade dos fatos em relao s teorias primeiro tem-se os fatos, e depois, as teorias, que esto assentadas em fatos. Longe
dessa concepo tradicional de cincia, a prpria demarcao dos fatos
j est circunscrita em uma teoria. Assim, fatos e teorias so construdos
concomitantemente: as teorias moldam a descrio dos fatos ao mesmo
tempo em que os fatos moldam as teorias deles extradas.
Considerando essa relao de interdependncia, a delimitao
dos fatos e das teorias produto de um processo de negociao do qual
participam fatores biogrficos, sociais, polticos, bem como processosadvindos da observao da natureza (Kuhn, 2006). Hanson (1975)
complementa: elas [observao cientfica e a interpretao] no podem,
em princpio, separar-se e seria conceitualmente intil tentar a ciso. A
observao e a interpretao vivem uma vida de simbiose mtua, de modo
que cada uma sustenta a outra, conceitualmente falando, e a separao
redunda em morte de ambas (p. 138).
Com efeito, diferente da teoria dos dolos baconiana, a discusso
cientfica contempornea sugere que as teorias so inerentes delimitao
dos fatos das cincias. Isso significa que ao processo de produo de
conhecimento cientfico cumpre explicitar essa participao e como ela
afeta o delineamento dos fatos, ao invs de se voltar para sua aniquilao,
como parece propor Bacon (1620/1979).
Embora tenha sinalizado um abandono gradativo do princpio de
autoridade da escolstica, sendo responsvel pelo prprio surgimento
do campo da cincia natural (Mariconda, 2006), a distino absolutaentre fato e valor j no apresenta mais esse carter progressista. O
abismo entre o conhecimento produzido por cientistas e o conhecimento
produzido pelo homem comum, que salvaguardava a neutralidade do
prprio empreendimento cientfico, no parece mais se sustentar. Isso
porque h um circuito de retroalimentao entre cincia e sociedade:
o desenvolvimento social e a aplicao da cincia determinam, em
considervel medida, o posterior desenvolvimento conceitual interno da
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Psicologia e Anlise do Comportamento:
cincia (Marcuse, 1966/2009, p. 161). O trecho que segue esclarece esse
ponto:
A cincia est hoje em uma posio de poder que traduz quaseimediatamente avanos puramente cientficos em armas polticase militares de uso global e eficiente. O fato de que a organizaoe o controle de populaes inteiras, tanto na paz quanto na guerra,tornou-se, em sentido estrito, um controle e organizao cientficos(dos aparelhos domsticos tcnicos mais comuns at os maissofisticados mtodos de formao da opinio pblica, da publicidadee da propaganda) une inexoravelmente a pesquisa e os experimentoscientficos com os poderes e planos do establishment econmico,
poltico e militar. Consequentemente, no existem dois mundos: omundo da cincia e o mundo da poltica (e sua tica), o reino da teoriapura e o reino da prtica impura existe apenas um mundo no quala cincia, a poltica e a tica, a teoria e a prtica esto inerentementeligadas. (Marcuse, 1966/2009, p. 160)
Nessa perspectiva, dizer que a inteno do pesquisador pura,
que motivado simplesmente pela curiosidade; que ao trabalhar em
seu gabinete ou laboratrio no pode antever se suas descobertas tero
efeito benfico ou destrutivo para a sociedade, e que, em ltima anlise, aaplicao de seus achados ser feita por tcnicos com o aval de polticos,
no justifica a neutralidade e a irresponsabilidade do cientista perante
as consequncias sociais da cincia (Marcuse, 1966/2009). Desse modo,
a questo da responsabilidade social da cincia e dos cientistas passa a
ser vista como algo inseparvel da prpria atividade cientfica. Mais umavez, a teoria baconiana dos dolos colocada em xeque, pois essas crticas
sugerem que aspectos polticos e econmicos participam, ativamente, do
processo de constituio do conhecimento cientfico. Por conseguinte,
a cincia no pode mais ser um conhecimento desinteressado
desinteressado pelos interesses polticos e econmicos que se utilizam do
conhecimento cientfico (Morin, 1990/2008).
A distino rgida entre fatos e valores, e fatos e teorias da cincia
moderna no escapa a mais uma crtica. Bourdieu (1983) d visibilidade
disputa de interesses no apenas polticos e econmicos no interior dacincia, mas tambm aos interesses pessoais de cientistas e grupos de
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Psicologia e Anlise do Comportamento:
cientistas particulares. Bourdieu v a cincia como um campo,que pode
ser entendido como um sistema de relaes objetivas entre posies
adquiridas por pesquisadores que concorrem pelo monoplio de umaespcie particular de capital simblico: a autoridade cientfica o poder
de impor os critrios que definem o que e o que no cientfico. A
autoridade ou competncia cientfica consiste na capacidade tcnica e nopoder social de agir e falar em nome da cincia. Esse tipo de autoridade
atribudo a um dado pesquisador ou grupo de pesquisadores no apenas
pela sua competncia tcnica, mas tambm em funo de sua posio
atual no campo, de sua origem social e capital cultural e simblico herdado
e acumulado ao longo de sua trajetria de vida acadmica. Alm disso, oprprio Bourdieu (1983) destaca que a avaliao da capacidade tcnica
influenciada pelos ttulos escolares, distines e rituais de consagrao
cientfica.
Em funo desses fatores, a distribuio do capital cientficono interior do campo no igualitria, a ponto de poder inscrever os
praticantes da cincia em dois plos: dominantes e dominados (Bourdieu,
1983). Os dominantes, que detm o capital cientfico, procuram preserv-
lo por meio de estratgias de conservao, com vistas a perpetuar a ordemcientfica com a qual compactuam. Em outro extremo encontram-se os
dominados, os que no detm o capital, mas que, por meio de estratgias
de subverso, lutam para alcan-lo. Por meio de um golpe de estado, os
dominados procuram acumular capital cientfico desviando em proveito
prprio o crdito que outrora beneficiava os antigos dominantes. Aqui,acumular capital fazer um nome conhecido e reconhecido, que destaca seu
portador de um fundo indiferenciado, no qual se perde o homem comum.
pelo confronto entre dominantes e dominados ou entre ortodoxias e
heterodoxias que vo se definindo os contornos e os limites de um dado
campo cientfico, bem como se explicam parte das transformaes que
ocorrem nas teorias, nos objetos e nos mtodos (Bourdieu, 1983).
Essa distribuio desigual da autoridade cientfica explica, por
um lado, a tendncia dos pesquisadores em se concentrar em torno dos
problemas de pesquisa mais prestigiosos. E, por outro, ajuda a elucidar o
fluxo de migrao de pesquisadores para objetos que, mesmo sendo menos
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Psicologia e Anlise do Comportamento:
prestigiosos, tm a vantagem de atrair um menor nmero de adeptos.
Isso pode acarretar um nvel de competio mais fraco e, justamente por
isso, maiores possibilidades de reconhecimento (Bourdieu, 1983).A descrio da cincia como um campo no qual participam disputas
pela autoridade cientfica desmorona o mundo puro da cincia e da
infalibilidade de seus produtos. Por outro lado, faz ressurgir a cincia
como uma prtica social atravessada por interesses nem sempre explcitos,
por posies em luta que, em ltima anlise, vo dando os contornos
e os limites do universo cientfico. As anlises de Bourdieu (1983) do
campo cientfico mostram que, diferente da teoria dos dolos baconiana,
idiossincrasias, desejos humanos por reconhecimento e poder interferemno processo de tomada de deciso da cincia.
Em suma, a filosofia da cincia contempornea faz objees
severas noo de neutralidade do pensamento cientfico moderno. A
teoria dos dolos baconiana colocada em dvida quando se explicita a
participao de sentimentos, afetos, interesses particulares, aspectos
sociais, econmicos e polticos no processo de produo de conhecimento
cientfico.
A crtica neutralidade cientfica pode encorajar uma concepo
que decreta o fim da cincia, instalando o relativismo e o obscurantismo.
O argumento parece ser o seguinte: para que um dado conhecimento
seja classificado como cientfico, o seu processo de produo deve estar
assentado na neutralidade do cientista. Como essa neutralidade foi
impugnada pelas crticas de natureza epistemolgica e sociolgica,
a possibilidade do prprio empreendimento cientfico foi colocada
em suspeita. Enfim, se o conhecimento no puder ser objetivo (isto ,neutro), ento, no pode ser cientfico. No obstante, as objees
idea de neutralidade cientfica no implicam necessariamente nessa
ilao. Declarar o fim da cincia com base na impossibilidade de se
cumprir o preceito da neutralidade subscreve uma relao entre cincia e
neutralidade passvel de desidentificao.
A filosofia da cincia contempornea parece investir na possibilidade
de um empreendimento cientfico cuja objetividade no mais pautada
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Psicologia e Anlise do Comportamento:
pela noo de neutralidade cientfica (Santos, 1987/2004). Com efeito,
trata-se de decretar o fim de uma concepo especfica de cincia aquela
que define cincia como um conhecimento purificado de valores e decrenas, e que leva verdade acerca de um mundo externo que independe
das aes humanas.
Nesse sentido, a cincia contempornea no abdica do ideal
cientfico de objetividade, mas o coloca em outras bases. Objetividadeno
mais sinnimo de neutralidade. A objetividade decorre da aplicao
sistemtica de mtodos que permitam identificar os pressupostos os
preconceitos os valores e os interesses que subjazem investigao
cientfica supostamente desprovida deles [sic] (Santos, 2000, p. 31). Nessalinha de raciocnio, dizer que no h fato puro, pois todo fato cientfico
um recorte da realidade orientado por teorias, significa afirmar que no
exista fato objetivo? No!, responde Morin (1990/2008), que completa:
preciso dizer que graas s ideias bizarras, graas s hipteses, graas
aos pontos de vista tericos que, efetivamente, conseguimos selecionar
e determinar os fatos nos quais podemos trabalhar e fazer operaes de
verificao e falsificao (p. 43).
Essa concepo alternativa de cincia tambm investe na busca
por critrios de validao do conhecimento cientfico. Kuhn (2006),
por exemplo, discute critrios de exatido, amplitude de aplicao,
consistncia, simplicidade, etc (p. 149). odavia, esses critrios no
servem para selecionar proposies (ou crenas) conflitantes que
correspondam a um mundo exterior imutvel e absoluto. Esses critrios
selecionam crenas ou teorias concorrentes em relao sua capacidade
de satisfazer os objetivos da cincia, sancionados pelas prticas doscientistas em um dado contexto.
Na esteira dessas anlises, parece ainda ser possvel advogar a
favor de uma distino entre conhecimento cientfico e outras formas
de conhecimento sem que isso endosse o dogmatismo cientificista.
Na viso cientificista da cincia moderna a assimetria entre cincia e
outras formas de saber era pautada por uma relao desigual, unilateral
e hierrquica, j que o conhecimento cientfico dispunha de um acesso
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privilegiado ao real. A filosofia da cincia contempornea parece encorajar
outra relao: trata-se de uma relao de diferena e no de superioridade
entre cincia e outros tipos de conhecimento. Diferena porque osobjetivos, as expectativas e os interesses da cincia, suas formas de
dialogar com a realidade natural e social, bem como seus mtodos de
aferir as potencialidades e as limitaes desse dilogo so distintos deoutros campos do saber, mas isso no significa dizer que so sublimes.
Afastando-se, pois, do cientificismo da cincia moderna, a filosofia da
cincia contempornea incita a cincia a dialogar com outras formas de
conhecimento, reconhecendo nelas virtualidades para enriquecer sua
relao com o mundo (Santos, 1987/2004, 2000).Em suma, a crtica neutralidade cientfica no inviabiliza o
empreendimento cientfico. Diferente disso, ela lana o desafio de a
cincia encontrar tcnicas, mtodos e teorias que deem visibilidade
complexidade de elementos (cognitivos, afetivos, volitivos, econmicos,polticos) participantes da construo do conhecimento cientfico, e que
geralmente so considerados como pano de fundo ou questes secundrias
a esse processo. Em tese, isso significa que o exame da histria da cincia
tambm o estudo da histria de cientistas individuais ou de grupos decientistas na defesa dos limites do que e do que no cientfico.
A problemtica da neutralidade cientfica no contexto psicolgicocientfico
A maioria dos projetos de Psicologia cientfica originou-se no
cenrio da cincia moderna (Figueiredo, 2003). Com efeito, o preceito
da neutralidade cientfica imps-se tambm s propostas psicolgicas
com pretenses cientficas, trazendo a elas dificuldades suplementares.
A Psicologia teria, desde o incio, a tarefa inglria de estudar tudo aquilo
que as outras cincias desprezam ou evitam, pois a noo de neutralidade
cientfica assenta-se na crena de que aspectos subjetivos ou psicolgicosso fontes de desvio e erro para a construo de um conhecimento
objetivo, uma vez que levariam o cientista a confundir o que com o que
ele espera ougostaria que fosse (Bacon, 1620/1979).
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Psicologia e Anlise do Comportamento:
Nesse contexto, a Psicologia moderna parece sofrer o seguinte
impasse. Por um lado, quanto mais a Psicologia tenta se ajustar aos
cnones da cincia moderna, como o da neutralidade cientfica, menospsicolgica ela parece se tornar. Por outro lado, quanto mais se aproxima
das questes psicolgicas, menos prxima da cincia ela se coloca. Na
tentativa de resolver esse embarao, a Psicologia acaba assentando-se em
um pensamento dicotmico: ou se assume como cincia no-psicolgica,
ou como psicologia no-cientfica (Figueiredo, 2003). Como decorrncia
disso, a Psicologia moderna constantemente obrigada a tomar posio
diante de dicotomias clssicas, quais sejam: objetivo ou subjetivo, externo
ou interno, fatos ou valores, cincia ou misticismo.No obstante, a escolha por um dos elementos dessas dades parece
ainda ser subsidiria da relao de implicao entre cincia e neutralidade
prpria do modelo cientfico moderno. Sob esse prisma, para ser cientfico,
o processo de produo de conhecimento psicolgico deve ser encorajado
pela neutralidade cientfica. Aquelas vertentes psicolgicas que optam
pelo objetivo e externo, isto , pelos fatos, tm grandes chances de serem
cientficas. J aquelas abordagens que se pautam pelo subjetivo e interno,
enfim, pelos valores, so privadas de estatuto cientfico.
A desidentificao entre objetividade e neutralidade operada
pela filosofia da cincia contempornea inaugura outras possibilidades
ao campo de conhecimento psicolgico. A Psicologia contempornea
no precisa abdicar do ideal cientfico de objetividade. No parece
haver inconsistncia entre objetividade e fatores psicolgicos como
pensamentos, afetos, crenas, disposies, e expectativas. Isso porque a
filosofia da cincia contempornea sugere que a objetividade da cinciareside justamente na sua capacidade terico-metodolgica de expor
essas fontes de produo de conhecimento. Assim, ao lado da sociologia
e histria das cincias, a Psicologia parece ter condies de instruir o
discurso da filosofia da cincia elucidando os condicionantes psicolgicos
da produo de conhecimento cientfico. No entanto, para que essas
potencialidades se concretizem, necessrio que a Psicologia invista
em algumas prticas. preciso que a Psicologia busque alternativas
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ao cientificismo dogmtico por um lado, sem incorrer na defesa de um
relativismo, por outro. Para tanto, ela precisa se familiarizar com o
discurso cientfico-filosfico contemporneo, que envolve no apenas oinvestimento em novas tcnicas e mtodos de investigao, mas tambm,
e principalmente, em uma reflexo sobre os pressupostos filosficos
(ontolgicos, epistemolgicos e ticos) do fazer cientfico. Assim, longede buscar sua objetividade s no acmulo de fatos, a Psicologia deve
empregar esforos no estudo de histria da cincia, lgica e filosofia
analtica, buscando tambm uma concepo menos dogmtica e mais
ampla de mtodo (Machado, Loureno, & Silva, 2000).
Na esteira dessa anlise, a superao da dicotomia entre fatos eteorias da cincia moderna reclama por parte da Psicologia o abandono de
uma confiana exacerbada no mtodo cientfico como um meio de alcanar,
quase que de maneira mecnica, verdades empricas (Machado, Loureno
& Silva, 2000). Em outro extremo, a Psicologia deve tambm evitarinvestigaes tericas como mera verbiagem e especulao ingnua
(Machado, Loureno & Silva, 2000, p. 02). Nesse sentido, a comunicao
entre fatos e teorias, e no a reduo de um a outro, requer da Psicologia
a busca pelo equilbriode vrios tipos de investigao, como as tericas, asconceituais e as empricas (Machado, Loureno & Machado, 2000). Se os
fatos psicolgicos so moldados pelas teorias psicolgicas, e estas, por sua
vez, so igualmente moldadas pelos fatos, ento, a Psicologia deve, mais
do que nunca, buscar critrios de correo do conhecimento produzido
para que essa relao no redunde em um crculo vicioso.Se, de acordo com a filosofia da cincia contempornea, no h uma
separao absoluta entre fatos e valores, a Psicologia deve refletir os valores
cognitivos, sociais, polticos e econmicos que subjazem produo do
conhecimento psicolgico. rata-se, pois, de dar visibilidade aos aspectos
responsveis pelos contornos do campo psicolgico aspectos que
incluem no apenas reflexes tericas, metodolgicas e tecnolgicas, mas
tambm interesses em luta pela busca de autoridade cientfica, isto , pelo
poder dizer o que e o que no cientfico no mbito psicolgico.
A Psicologia deve rever sua relao com outros campos do saber,
notadamente, com o senso comum. Sob a tica do cientificismo, o
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conhecimento psicolgico contrasta com o conhecimento do senso
comum. O primeiro superior, objetivo e verdadeiro. O segundo inferior,
subjetivo e passvel de falsidade, j que est merc das impressessuperficiais dos sentidos e das idiossincrasias individuais. Destoando dessa
concepo, a filosofia da cincia contempornea estabelece uma diferena
entre senso comum e cincia, sem subscrever uma relao unilateral entre
esses tipos de saber. certo que o senso comum pode aprender com a
Psicologia. Com o conhecimento psicolgico, o homem comum pode ter
uma relao mais crtica com a realidade social, questionando aquilo que
sempre lhe foi transmitido como algo natural, independente de aes
humanas. Ele pode entender tambm os condicionantes psicolgicos desuas aes, e, a partir desse conhecimento, vislumbrar possibilidades de
mudana de sua prpria vida, de seu entorno e, qui, de sua cultura.
Mas, inversamente, a Psicologia pode aprender com o senso comum.
O senso comum afeito a conviver com a diferena, com a pluralidade de
crenas e opinies. Nesse contexto, o respeito um exerccio constante
para promover a convivncia mtua. Isso no significa que no h
debate ou conversa acalorada, mas, ao menos, o dilogo iniciado com
o outro sem desqualific-lo de antemo. O senso comum curioso, mas
ressabiado; precisa da conversa para formar um julgamento, mesmo que
esse seja pautado por impresses iniciais e superficiais.
A Psicologia, tal como o senso comum, convive com uma
diversidade de crenas ou teorias psicolgicas, o que para o prprio Kuhn
(1962/2003) foi visto como um sinal da fraqueza do campo psicolgico.
Mas diferente do dilogo que se v no senso comum, o terreno psicolgico
parece ser alvo de uma falta de comunicao. Muitas vezes, essa ausnciade interlocuo travestida de superespecializao. A comunicao entre
diferentes abordagens psicolgicas evitada como uma questo poltica.
Cada uma desenvolve uma linguagem prpria, passvel de ser entendida
apenas em seu prprio raio de atuao. Os problemas internos tornam-se
cada vez mais tcnicos e cada vez menos interessantes para os de fora.
No limite, a falta de dilogo cria um campo protetor a cada abordagem
psicolgica que se torna imune a qualquer crtica externa.
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alvez, a fragilidade da Psicologia no esteja em sua pluralidade
terico-metodolgica, mas em sua dificuldade de colocar essa diversidade
para dialogar. Um debate orientado por reflexes dos pressupostoscientfico-filosficos do conhecimento psicolgico dificilmente redundar
em ecletismo ou reducionismo. Esse dilogo capaz de colocar diferenas
e afinidades entre abordagens psicolgicas em bases conceituais mais
claras. Com efeito, a pluralidade do campo psicolgico pode ser revertida
a favor da Psicologia com a adoo de posturas muito similares s do
senso comum, quais sejam: a curiosidade pelo outro, pelo diferente,
sem desqualific-lo a priori;a necessidade do dilogo e do debate como
condio para a formao de julgamento alheio; e o exerccio do respeitono debate acalorado de ideas.
com atitudes semelhantes a essas que a Psicologia pode dar
passos largos na constituio de um conhecimento objetivo, mesmo
que esse conhecimento no seja calcado na neutralidade cientfica. Em
outras palavras, a Psicologia pode ser uma cincia objetiva no sentido de
ser capaz de expor de modo cada vez mais sistemtico os condicionantes
cognitivos, afetivos, polticos e econmicos do processo de produo do
conhecimento psicolgico.
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O comportamento como dimensobiolgica dos organismos
Amauri Gouveia Junior2
Universidade Federal do Par
O que comportamento? Esta pergunta que tem sido a tnica
de muitos cursos, livros palestras (eu mesmo ministrei alguns cursos e
palestras com esse nome) esconde uma armadilha clara: qual o status
do comportamento. Em geral, quase todos os autores concordam comalguns pressupostos: o comportamento algo que o organismo faz, ele
depende de detonadores (internos ou externos, segundo a cor terica do
autor) para sua ocorrncia, tm frequncias diversa quando em contextos
diversos, e pode ser estudado em vrios cortes epistemolgicos. Na
verdade, falamos de comportamento de uma forma frouxa, largada.
Nossos cortes epistemolgicos tanto podem chamar de comportamento o
disparo de um neurnio (por exemplo, Waters & Birner, 1983 ou Schultz,
1998) como algo complexo como pensar (Catania, 1997) ou reproduzir-se (por exemplo, Schrer, Littlewood, Waeschenbach, Yoshida, & Vizoto,
2011). al fato j foi apontado na literatura (por exemplo, Levitis, Lidicker
Jr, & Freund, 2009), indicando que os prprios pesquisadores que se
consideram estudioso de comportamento no se entendem sobre o que
significa o comportamento.
Uma das polmicas que envolvem o comportamento o seu status
causal: o comportamento causado por uma alterao de ambiente ou
por uma alterao de uma condio interna? E esta condio interna
biolgica ou no? Atrevo-me a indicar que quem comeou esta confuso foi
Descartes (2005, obra original de 1637) quando definiu que a res extensa,
mas no a res cogitanspoderia ser estudado por seu mtodo. Desta forma,
ele acabou com a possibilidade de uma cincia do comportamento que
estivesse na mesma matriz epistemolgica que a Biologia: uma cincia
2 Endereo para correspondncia: R. Augusto Corra, 01, Campus bsico, Belm, PA, E-mail:
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da mente, do comportamento mexia com uma substancia diferente do
corpo. E isto marca o estudo do comportamento at hoje (Gouveia Jr.,
Maximino, & acolinni, 2008; Gouveia Jr & acolinni, 2008).Claro que Descartes no o nico culpado: a estrutura da religio e
seu mundo espiritual reforaram a idea que a mente (a identificada com
alma ou esprito) no era material. A pesquisa na rea de Neurocincias
tambm no ajudava: at a dcada de 50 toda a Fisiologia realizava
seus estudos com animais anestesiados e os estudos da Morfologia, por
inexistncia de tcnicas de imagens, com animais mortos (Afinal, mortos
no tem comportamento). A idea de uma Psicologia como cincia da
mente ou e uma cincia do comportamento isolada tambm no foi til.A primeira levou a uma idea hierrquica, de que um comportamento, um
afeto ou algo assim teria que primeiro existir como uma representao
em uma mente (nem sempre material) para depois existir enquanto
comportamento motor, observvel, a segunda idea, levou a crr que o
comportamento poderia existir como uma coisa divorciada de sua base
material. Fazamos uma Psicologia sem sangue, sem vsceras ou crebro.
Mas a confuso estava montada. Ao contrario dos antipodianos de
Rorty (1994), nossa filosofia andou mais rpido que nossa Neurologia e
esse fato gerou um vocabulrio sobre o mental que no corresponde e
no pode ser reduzido as funes fisiolgicas adjacentes. Desta forma,
grande parte da pesquisa das bases biolgicas do comportamento gasta
seu tempo tentando traduzir termos entre linhas de psicologia e desses
pras funes orgnicas.
Assim j temos dois pontos de confuso: por um lado, a idea que
um mental (no necessariamente orgnico) gerar o comportamento, poroutro, uma forma de falar do comportamento que une diversas funes
orgnicas e atribui a elas uma unidade que no existe. O comportamento
a resultante de funes diversas que ocorrem em um contexto especfico
e que no podem ser reduzidas a um nico fator orgnico. Desta forma,
sempre um comportamento se estrutura em mltiplos sistemas orgnicos,
e o entendimento de cada um dos sistemas no capaz de expressar ou
explicar o comportamento (confira, sobre isso em Luria, 1966), mas isso
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no nos autoriza ou permite que o comportamento seja tratado como
uma dimenso diversa do orgnico, ou seja: o comportamento o que um
organismo faz.Neste ponto, voc deve estar pensando que o qu trato aqui chover
no molhado, afinal, todos os principais tericos da psicologia insistem
nisso. Mas gostaria de levar o argumento para que ns entendssemos as
suas consequncias para a psicologia.
Para que os animais se comportam? A pergunta parece retrica,
mas ela central: muitos seres vivos no apresentam comportamento, ao
menos no com (a) deslocamento observvel de seu corpo ou parte desse
em um curto espao de tempo gerado por eventos fisiolgicos internosainda que disparados por eventos externos ao organismo (algumas
plantas apresentam respostas desse tipo, como as que capturam inseto,
e um outro tipo de deslocamento chamado tropismo para uma reviso,
confira Firn & Digby, 1980); e com (b) uma alterao significativa do
organismo em reao a um estado mdio normal.
Entre os seres vivos que apresentam esse tipo de ao, em geral
possvel identificar um evento antecedente que dispara uma resposta
especifica e uma consequncia desse que pode mant-lo. Aps a emisso do
comportamento, o organismo volta ao seu estado mediano anterior. Por
exemplo, um escorpio est no sol. Quando o sol se torna mais quente, esse
estmulo (calor) faz com que o animal se desloque para um lugar mais frio.
Dessa forma, seu organismo se mantm em um equilbrio dinmico em
relao a um estado de temperatura media ideal, que pode ser suportada
dentro de um desvio padro especfico. O comportamento a forma ativa
que o organismo tem para manter isso. Assim, o comportamento umelemento da homeostase do organismo. Os organismos se comportam
para manter a sua homeostase de forma ativa.
Homeostase um termo que designa a ao de um organismo
param manter, dentro de certos limites, suas condies internas estveis.
Para tanto, ele usa um sistema de feedbacke feedforward,formado por uma
mirade de sistemas e eventos. (Lambert & Kinsley, 2006). Desta forma,
o comportamento uma maneira de garantir as condies fisiolgicas
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estveis e dependente dessa Fisiologia, sem se confundir com ela. O
comportamento a Fisiologia de todo organismo e no de um tecido,
rgo ou sistema. uma Fisiologia de segunda ordem.Assim, o comportamento , utilizando as palavras de Palmer (2003),
udo que um organismo faz e ele pode ser visto com uma somatria
de mltiplos contribuintes [(determinaes)] e mltiplos resultados (...) O
comportamento definido por uma resposta, que a sada do sistema, uma
entrada de estimulao (interna ao organismo ou externa a este), e um
conjunto de sistemas e subsistemas que, em certa medida, podem ser
mapeados no crebro (itlicos no original).
Desta forma, temos uma estrutura que nos popular: [umaentrada] X- [uma sada]. Nesse modelo podemos escrever como S-R-S
(Skinner, 1969), SXR (Vigotzki, 1984 e Freud, 1971) ou qualquer outra
notao que preferimos. O que temos de importante aqui que S, X e R
no so unidades discretas.anto os estmulos como o processamento desses no organismo e
a resposta gerada, suas consequncias e provveis estmulos gerados por
essa e posteriormente processados em uma espiral infinita so elementos
compostos. Cada estmulo composto de muitas dimenses que interagementre si e que, em geral, no tm o controle discreto de partes da resposta
emitida. O processamento no organismo feito por diversas partes do
Sistema nervoso, como que rgos que sentem, percebem, atribuem valores
e checam isso com a histria de vida (memria) fixada quimicamente nos
organismos, selecionando respostas que so adequadas. ais respostasimplicam na ativao de diversas partes do Sistema Nervoso, alm de
outros sistemas, como o endcrino, o msculo esqueltico e o visceral,
apenas para localizar os mais conhecidos. A mesma complexidade
encontrada nos estmulos ps-resposta. Essa diversidade e complexidade
de processos correlatos unidade comportamento explica os vrios
cortes epistemolgicos possveis no comportamento e escondem uma
armadilha, pois tendemos a achar que os eventos, embora complexos,
so temporalmente diversos, assim, em uma situao potencialmente
ansiognica como um assalto, eu primeiro perceberia o perigo (entrada),
para depois selecionar a resposta, emiti-la e checar a consequncia. Como
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qualquer um que j fugiu com medo de uma situao, sabemos que os
eventos se sobrepem: a percepo, a seleo de resposta, sua emisso, a
checagem de seu efeito. No existe uma hierarquia temporal clara entreesses eventos, embora possam ser divididos didaticamente em seus
elementos. A diviso didtica no a diviso real.
Se a situao de ansiedade se prolonga por muito tempo, claramente
meu comportamento e minha sensibilidade a esses estmulos deve
tambm modificar-se. Assim, posso teorizar que se o comportamento
uma resposta de ODOS os sistemas fisiolgicos, que visa a homeostase,
ele necessita que haja um conjunto de subsistemas: de percepo (interna
e externa), de regulao (de curto prazo/longo prazo) e de alterao decondies externas ou internas. Para o primeiro sistema, elementos
sensoriais e perceptuais e aquilo que chamamos de auto-descritores
e crenas podem ser colocados; para o segundo, reflexos, emoes e
aprendizagem, para o terceiro, a atribuio de valor, comportamentos
complexos e a cultura. Vejam que no distingo entre elementos fisiolgicos
diretos e comportamentais. Assumimos que ambos so subsistemas do
comportamento.
Assumindo isso, chegamos a um modelo de ato comportamental
que j foi proposto por Lehner (1996). Esse modelo tem a vantagem
de ser genrico, podendo ser aplicado a vrias situaes de estudo do
comportamento e apresentado como elementos o organismo que emite
o comportamento, estmulos (internos ou externos), a resposta do
organismo e o contexto de ocorrncia desses. A Figura 1 apresenta um
modelo geral desse e de suas aplicaes. Cremos que a utilizao de um
modelo geral o primeiro passo para uma cincia total do comportamento,que abarcaria tanto os elementos propriamente comportamentais como
(a) sua base antomo-fisiolgica e sua dimenso cultural. Claro que esse
tipo de forma de pesquisar no daria conta de todas as dimenses do
comportamento. O pensamento neurobiolgico tem um limite claro que
a subjetividade, o contedo de um comportamento qualquer. Mas isso
no invalida a pesquisa em busca das grandes leis do comportamento ou
de seus aspectos espcies especficos e de diferenas individuais e grupais.
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Mas como fazer isto?
Costumo dizer que a Neurocincias faz o que os behavioristas
fizeram, mas pra dentro. Explico: talvez o grande mote de toda pesquisaem AEC seja: que tipo de propriedade do estmulo controla que tipo de
resposta? A grande pergunta das Neurocincias do comportamento
pode ser: que tipo de subsistema comportamental controlado por que
conjunto de partes do organismo? A resposta a isso envolve uma leitura em
camadas: anatomia, bioqumica, histologia, biologia celular farmacologia
so parte das ferramentas que ajudam a entender o correlato fisiolgico
do comportamento.
Figura 1. Proposta de distribuio das formas de estudo do comportamento emrelao a sua nfase na representao ou na observao e em estudo de bases do
fenmeno ou tecnologia deste.
Mas isso deve ser feito em ao menos duas perspectivas: por umlado, de terminar quais os subsistemas comportamentais que esto sendoutilizados, por outro, determinar os mdulos funcionais (o correlatobiolgico) que sustenta cada mdulo comportamental. Vamos pegar umexemplo simples, como reagir a pisada em um estmulo doloroso quandose anda na praia.
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Voc est l, folgazo, andando na praia, quando pisa em um ourio(pra que no sabe, o ourio-do-mar tem espinhos que possui substancias
urticantes que podem ser bem dolorosas). Na sequncia, voc tira o p decima do ourio, gira o corpo, grita, sente dor, identifica o que ocorreu, epede ajuda.
Vamos ver o comportamento que voc tem s no modulo inicial:andar (Figura 2).
Resposta Estimulo DecomposioModulo
FuncionalBioquimica Farmacologia
Andar ????
1. Levantar ps2. Melodiacintica3. Equilbriodinmico4. Percepo desolo e dureza5. Controlevisual6. Mapacognitivo
Crtex/ cerebelo/gnglios dabase/sistemavestibular/receptoresde presso /sistema visual/hipocampo/tlamo/ placasmotoras/Ncleos damedula
GABADopaminaNoradrenalina
AcetilcolinaAPetc
Alterda deforma x ou
Y pela drogatal/
A droga Ksuprimeparte daresposta, etc
Figura 2.Sistema e subsitemas envolvidos no comportamento de andar.
Percebam que a definio de um comportamento simples: andar,
implica na anlise em muitos nveis, que se inicia pelo estmulo detonador
(?, na tabela), a definio dos subsistemas comportamentais, que podem
ser mais detalhados do que o que pomos ai, ou menos, A definio dos
mdulos funcionais, dos estmulos de manuteno desse comportamento
e da relao entre subsistemas pode ser subdividida ad nauseam. Aopenetrarmos na histria, a identificao de elementos de fabrica (inatos)
e aprendidos (epigenicos) passa a ser necessria, indo mais longe ao longoda histria, o valor desse comportamento para a espcie e para o sujeitoemissor. Quando vamos para a base biolgica, elementos de anatomia(onde esse comportamento ocorre?) de Fisiologia e Bioqumica (como?)e de Farmacologia (que drogas alteram esse comportamento) se tornamum mundo a ser explorado.
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Psicologia e Anlise do Comportamento:
Uma cincia integral do comportamento s pode existir se forassim: levando em considerao todas as partes que so relacionadas
com o Comportamento, todas as disciplinas relacionadas, todos osdeterminantes possveis. Isso nos tira da malandragem de atribuir queparte deste estudo no nosso, mas da biologia ou da sociologia. Somosns, estudiosos do comportamento que devemos fazer isto, explicaro comportamento. E para tanto, conhecer a ecologia dos animais, aFisiologia, a Farmacologia, a Bioqumica, entre outras, se faz necessrio,obviamente.
Uma abordagem total do comportamento que seguisse estes
elementos impediria algumas bobagens que lemos sobre a relao crebroe comportamento, com, por exemplo, a localizao de um gene gay(genes fazem protenas, a relao desse com o comportamento muitodistante....), que a depresso somente alterao de serotonina (5-Ht)(ningum deprime com serotonina, mas sim como organismo, ou a buscade locais especficos para funes complexas como a msica ( ainda quetenhamos um crtex especializado em perceber tons, musica percebidapor uma serie de sistemas concatenados).
Para entender o comportamento, precisamos criar um vocabulriointer-terico mnimo e sumarizar o que realmente sabemos sobre ocomportamento para que possamos intervir de forma clara e eficaz. Mas oproblema no acaba ai: no comearemos a estruturar uma Nova cinciado comportamento do zero. O estudo do comportamento acompanhao estudo da filosofia e da psicologia h tempo suficiente para quetenhamos uma histria longa e complexa, que trata do comportamentoem duas perspectivas diferentes, por um lado temos os estudos sobre o
comportamento como um fenmeno, por outro, a tecnologia que trataesse comportamento com vistas a otimiz-los (como nos programas deaprendizagem), melhorar a adaptao ou a teraputica de comportamentosconsiderados desviantes (como nas terapias psicolgicas), ou que tentam
controlar aspectos pontuais da escolha comportamental (como na
propaganda), entre muitas outras. Essas diferenas se tornam mais agudasno Brasil, onde diversas influncias geraram uma mirade de linhas deestudos comportamentais ligada a diversas tradies importadas. Assim
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Psicologia e Anlise do Comportamento:
temos um quadro onde Diversas teorias do comportamento tentam seras estudiosas de seus fenmenos, por um lado, e as tecnologias para
modificar, controlar, terapeutizar, alterar o comportamento, do outro.Como se a fsica tivesse que ser a engenharia ao mesmo tempo.
No entanto, o problema ainda no se complicou o suficiente:entre as escolas que estudam o comportamento, algumas enfatizam apercepo do fenmeno para o sujeito (ou seja, a representao) e outrasos elementos que geram, controlam ou so correlatos ao comportamentoobservado. Gostaria de propor uma modesta proposta que creio que podevir a ser til. odo mundo conhece a questo baseada em Berkeley, sobre
a rvore que cai na floresta. E no h observador, ela faz barulho ou no?Ora, h duas respostas a esta pergunta, a do prprio Berkeley (ela nofaz barulho, pois no h observador) e a resposta de qualquer fsico (elafaz barulho, pois barulho uma propriedade do deslocamento de ondasno ar). Isso pode ser disposto em dois extremos em um eixo, tendo deum lado aqueles que acham que a percepo do fato o determinantedo fato (chamaremos aqui esses de representacionistas) e aqueles quecreem que o fato acontece de forma independente do observados (que
chamaremos aqui, de realistas). Rapidamente, podemos dispor as teoriasdo comportamento ao longo desse eixo, no entanto, teremos ai teoriasque visam o fenmeno e algumas que so tecnolgicas e visam a alterao.Ento, dispomos um novo eixo perpendicular ao primeiro, e colocamosnele em um extremo o interesse pelo fenmeno (bases) e do outro, ointeresse pela tcnica (tecnologia). Isso permite dividir a produo emestudo com o comportamento em nfases que facilitariam nosso trabalho.A Figura 1 apresenta nos eixos estes elementos, no horizontal, a nfase
terica (realista ou representacionalista) e no vertical o interesse final, (seum conhecimento de bases ou tecnolgico). A nossa rea de interesse aomenos inicial assinalada pela elipse. Ali esto todos os estudos sobre aestrutura, representao do comportamento, sem estar preocupado comsua aplicao.
Se quisermos fazer uma cincia integral do comportamento, que
de conta de suas dimenses todas (e no isole parte dele apenas) teremos
que integrar a rigidez metodolgica das psicologias experimentais
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Psicologia e Anlise do Comportamento:
duras como a AEC, a psicofsica e a neurocincias cognitivas com os
conhecimentos de biologia (tanto evolutiva, como do desenvolvimento,
a Fisiologia, a Bioqumica e a Farmacologia dos organismos), elementossociais, que em geral so estudados pela Antropologia e a Sociologia. E
termos que superar mais uma praga: as linhas ou correntes em psicologia.
Ou seja, criar um vocabulrio inter-terico que permita-nos conversar
entre ns.
um longo caminho....
Resta-nos faz-lo.
Por fim, gostaria de acabar com uma histria da mitologia Yoruba: O
Orix criador dos cus e da terra, Ododua fez algumas coisas incompletas.empos depois, Obatal fez os homens de lama, mas eles tinham genitais,
respiravam, agiam no mundo, mas no tinham as cabea, que foram feitas
posteriormente por Ajal, por ordem de Olodumar, assadas (Prandi,
2001) As cincias do comportamento so assim, temos estudado o que
fazemos, inclumos at a sexualidade, mas nos falta incluir a cabea e o
estudo dos sistemas de manuteno nelas, de forma que sejam completas.
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Uma discusso sobre a concepo de cincia no livroScience and Human Behavior
Carlos Eduardo Lopes3
Universidade Estadual de Maring
O modelo cientfico moderno, cujo primeiro esboo atribui-se a
Bacon (1620/1979), consolidou-se no sculo XVIII como a forma genuna
de fazer cincia (Kche, 2002; Santos, 1987/2004). Embora se trate de
um modelo amplo, com caractersticas variadas, Santos (1987/2004)considera que a cincia moderna pode ser sinteticamente definida
como: um conhecimento causal que aspira formulao de leis, luz de
regularidades observadas, com vista a prever o comportamento futuro
dos fenmenos (p. 29). Essa definio geral tem por detrs algumas
noes filosficas tpicas da modernidade.
Um mundo imutvel e ordenado
Em primeiro lugar, toda construo do conhecimento cientfico da
busca pelas leis gerais at a defesa de previsibilidade assenta-se em uma
crena irrestrita na completa estabilidade e ordenao do mundo (Santos,
1987/2004). rata-se de uma concepo antiga, que atrela conhecimento
a imutabilidade (Chau, 2002), e, embora a modernidade seja um perodo
marcado por profundas mudanas culturais, essa identificao parece
ter sido mantida. O prprio Galileu Galilei (1564-1642) muitas vezesreconhecido como um dos principais representantes das rupturas de
pensamento ocorridas durante a modernidade (e.g., Kche, 2002)
manteve-se fiel tradio escolstica, que via na ordenao uma
caracterstica fundamental do mundo:
3 Professor adjunto da Universidade Estadual de Maring, Departamento de Psicologia, Laboratriode Filosofia e Metodologia da Psicologia LAFIMEP. Endereo para correspondncia: Rua Vereador
Nelson Abro, 2025. Zona 05. Cep. 87015-230. Maring-Paran. E-mail:[email protected]
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Mas suspendendo por ora o argumento de Aristteles, queretomaremos a seu tempo para examin-lo por partes, afirmo que, doque ele disse at aqui, concordo com ele e admito que o mundo seja umcorpo dotado de todas as dimenses e, por isso mesmo, perfeitssimo;e acrescento que como tal necessariamente ordenadssimo, ou seja,formado de partes dispostas entre si com mxima e perfeitssimaordem, concluso que no creio poder ser negada nem por vs, nempor outros. (Galilei, 1632/2004, p. 99)
Assim, a busca por leis no contexto do pensamento cientficomoderno significa desvendar o funcionamento universal e imutvel domundo. Isso quer dizer que do incio ao fim dos tempos as leis que regema natureza sempre foram e sempre sero as mesmas, no h, pois, espaopara variao, para desvio dessas leis.
Mecanicismo: a natureza como mquina perfeita
Essa concepo de um mundo completamente regular, cujofuncionamento no sofre desvios, explica uma segunda caractersticado pensamento cientfico moderno: a adoo do mecanicismo. Nessecontexto, o mecanicismo consiste em uma viso de mundo que adota amquina como modelo para a explicao dos fatos do mundo (Pepper,1942/1961).
A escolha da mquina como modelo explicativo justifica-se, em boamedida, porque ela ajusta-se crena na imutabilidade do funcionamentodo mundo: a boa mquina aquela que no surpreende, que continuafuncionando da mesma maneira por tempo indeterminado. Alm disso,a idea de que para compreendermos o funcionamento de uma mquinadevemos desmont-la, harmoniza-se com o procedimento analtico,tpico da cincia moderna, uma das regras propostas por Descartes(1937/1973): dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse emtantas parcelas quantas possveis e quantas necessrias fossem para
melhor resolv-las (p. 45-46).
Dessa forma, a despeito de sua complexidade, e at mesmo de sua
aparente irregularidade, o mundo pode ser compreendido como uma
mquina perfeita, um relgio que no atrasa ou adianta, uma conjuno
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de engrenagens que operam infinitamente da mesma maneira (Santos,
1987/2004).
Otimismo preditivo e eliminao da probabilidade
Partindo da crena de que no h mudana no modo de
funcionamento do mundo, e da adoo de um modelo mecanicista, a
cincia moderna torna-se extremamente confiante em sua capacidade
preditiva: isolando e mantendo sob controle as condies iniciais, ser
possvel prever com total certeza o que vai ou no acontecer. E, se hoje isso
ainda no possvel, porque a cincia ainda no avanou o suficiente.Esse otimismo vai se fortalecendo medida que a cincia moderna avana.
Um bom exemplo da consolidao desse otimismo, no sculo XIX, pode
ser encontrado nas palavras John Stuart Mill (1806-1873):
Devemos nos lembrar de que a probabilidade de um evento no qualidade do prprio evento, mas mero nome para uma medida defundamento que ns ou qualquer outra pessoa tem para esper-lo.
(...) odo evento em si mesmo certo, no provvel; se soubssemostudo, ou saberamos positivamente que iria acontecer, ou saberamospositivamente que no. (Mill, 1843/1979, p. 249)
Esse otimismo preditivo tem como contrapartida a negao de
um estatuto legtimo para a probabilidade. Em outras palavras, se o
mundo completamente regular e previsvel, uma mquina perfeita, s
podemos falar de probabilidade como medida de nossa ignorncia sobre
esse funcionamento. Dessa forma, quanto mais a cincia avanar, menos
falaremos em termos de probabilidade. A cincia trabalha em busca da
certeza e, portanto, da eliminao da probabilidade.
Mtodo e neutralidade cientfica
Uma das principais contribuies da cincia moderna foi reconhecer
as limitaes de nosso conhecimento, apresentando propostas para
contorn-las. Nesse contexto, Francis Bacon (1561-1626) , geralmente,
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considerado um dos pioneiros da modernidade (Kche, 2002). De acordo
com o Bacon (1620/1979), as influncias de fatores culturais, pessoais
e at mesmo biolgicos - os chamados dolos - impedem que o homemconhea a natureza de maneira correta, e, no limite, nos leva a tomar o
que gostaramos que fosse pelo que :
os dolos e noes falsas que ora ocupam o intelecto humano e nelese acham implantados no somente o obstruem a ponto de ser difcilo acesso da verdade, como, mesmo depois de seu prtico logrado edescerrado, podero ressurgir como obstculo prpria instauraodas cincias, a no ser que os homens, j precavidos contra eles, se
cuidem o mais que possam. (pp. 20-21)
No basta, portanto, querer conhecer, preciso regular nosso
conhecimento, evitando ao mximo essas influncias: Porque o intelecto
no regulado e sem apoio irregular e de todo inbil para superar a
obscuridade das coisas. (Bacon, 1620/1979, aforismo XXI, p. 17).
Essa necessidade de evitar que as influncias do homem atrapalhem
a descoberta cientfica conduzir ao emprego de um mtodo cientfico, um
instrumento que ao mesmo tempo amplia e regula a capacidade cognitivados homens, evitando seus erros:
Nem a mo nua nem o intelecto, deixados a si mesmos, logram muito.odos os feitos se cumprem com instrumentos e recursos auxiliares,de que dependem, em igual medida, tanto o intelecto quanto asmos. Assim como os instrumentos mecnicos regulam e ampliam omovimento das mos, os da mente aguam o intelecto e o precavm.(Bacon, 1620/1979, aforismo II, p. 13)
O que est por detrs do raciocnio baconiano a uma ciso radical
entre natureza e homem4. De um lado, encontra-se a natureza como o
campo dos fatos, da necessidade, das leis, do mecanicismo; de outro, o
homem com seus valores, repleto de preconceitos, vieses, dolos. Nesse
4 Essa ciso foi a forma moderna de tentar resolver um problema muito discutido por filsofosmedievais: como conciliar o mal do mundo com a existncia de Deus? Em linhas gerais, oargumento que sintetiza esse problema tenta provar que se Deus criou tudo, ele responsvel pelo
mal do mundo, o que contraditrio com sua benevolncia (Mora, 1994/2001).
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contexto, o mtodo cientfico moderno tenta garantir a objetividade do
conhecimento, de modo que na dade homem-natureza ou sujeito-objeto,
mantm a cincia sempre do lado da natureza, do objeto, evitando asinterferncias do homem ou sujeito.
Dessa forma, o emprego do mtodo na cincia moderna tem
como funo neutralizar a participao do cientista na produo do
conhecimento. Evidentemente, a neutralizao total do cientista
impossvel, uma vez que preciso algum para aplicar o mtodo. Por
outro lado, esse algum no pode ser um sujeito concreto, comum, que
se deixa levar por seus preconceitos e desejos. A sada para esse impasse,
construda no decorrer da modernidade, ser a crena na existncia deum cientista neutro, isento, controlado, passivo diante da natureza, um
sujeito epistemolgico, que simplesmente conhece.
Justamente por ser produto desse sujeito isento, neutro,
incorruptvel, a cincia moderna ganha o status de conhecimento
verdadeiro, inquestionvel, pautado exclusivamente em fatos, que,
no contexto da viso de mundo da cincia moderna, so imutveis e
incorruptveis. Assim, na cincia moderna, conhecimento cientfico
torna-se sinnimo de neutralidade.
Crise do modelo moderno de cincia
A partir da virada do sculo XX diferentes propostas no interior da
cincia natural comearam a abalar a hegemonia do modelo moderno de
cincia. A teoria dos quanta de Max Planck, os princpios de relatividade
e simultaneidade de Albert Einstein, o princpio de complementaridadede Niels Bohr, o modelo de tomo de Erwin Schrdinger, o princpio de
incerteza de Werner Heisenberg, as investigaes sobre incompletude
de Kurt Gdel, a teoria das estruturas dissipativas de Ilya Prigogine,
entre outros, apresentaram formas de lidar com a Matemtica, a Fsica,
a Qumica e a Biologia que no se ajustavam aos parmetros da cincia
moderna (Kche, 2002; Santos, 1987/2004). A partir disso, tornou-se cada
vez mais comum falar de um modelo de cincia contemporneo (Kche,
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2002) ou ps-moderno (Santos, 1987/2004), que embora se mantenha no
campo cientfico, distancia-se cada vez mais das caractersticas basilares
da cincia moderna.Assim, os pilares da cincia moderna comearam a ser ameaados.
A noo de um mundo regido por leis universais e imutveis deu lugar
a uma viso cada vez mais contextualizada pela natureza do prprio
fenmeno (Prigogine, 2003), por fatores epistemolgicos (Heisenberg,
2000/2004), ou por condies histrico-culturais (Kuhn, 1962/2003). O
mecanicismo tem sido substitudo por modelos dinmicos, que envolvem
princpios como os de auto-organizao, autopoiese, entropia (Khler,
1947/1959; Maturana & Varela, 1984/2002; Prigogine, 1996). A buscapela certeza tem sido colocada em xeque, e as noes de incerteza,
probabilidade, variao so adotadas, agora, de maneira positiva e no
como meros rudos na construo do conhecimento cientfico (Mayr,
2004/2005; Popper, 1956/1988; Prigogine, 1996, 2003).
A Psicologia estaria acompanhando esse debate? De acordo com
Kvale (1992), o interesse da Psicologia no debate ps-moderno teve
seu apogeu na dcada de 1970, praticamente desaparecendo na dcada
seguinte. Mas a despeito desse desinteresse, esse autor aponta que
o modelo moderno de cincia psicolgica tem mostrado cada vez mais
sinais de esgotamento. Como resultado disso, a Psicologia Cientfica
tem perdido espao para as artes e as humanidades na compreenso de
assuntos humanos. Alm disso, a separao entre Psicologia Acadmica
(cientfica) e atuao profissional do psiclogo estaria acentuando-se cada
vez mais, levando, de um lado, a um conhecimento incuo e, de outro,
a prticas profissionais irrefletidas5
. Por fim, temos presenciado umaintensa fragmentao do conhecimento psicolgico: parece que a cada
dia multiplicam-se as teorias psicolgicas, geralmente, com a justificativa
de que as novas explicam o que foi, supostamente, ignorado por outras5 Um estudo publicado recentemente, sugere que no Brasil a situao no parece ser diferente
(Gondin, Bastos, & Peixoto, 2010). De acordo com esse estudo, o ecletismo terico - a combinaode duas ou mais abordagens tericas distintas para atuao profissional - adotado acriticamentepela maioria dos psiclogos entrevistados. Os autores ainda destacam que no Exame Nacional deDesempenho do Ensino Superior (ENADE) de 2006, Fundamentos Histricos e Epistemolgicosregistrou um dos piores desempenhos entre os eixos temticos avaliados, sugerindo que uma
assimetria entre teoria e atuao est presente desde a formao dos psiclogos.
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propostas. No entanto, a resoluo efetiva de problemas concretos tem
sido cada vez mais rara (Machado, Loureno, & Silva, 2000). Isso sugere
que o modelo cientfico adotado pela Psicologia no seja adequado paralidar com a realidade.
No entanto, falar de psicologia de maneira generalizada sempre
arriscado. Dada a pluralidade desse campo, afirmaes gerais encontramsempre tantas excees, que acabam tornando-se sem sentido. Por isso,
nos voltaremos, aqui, para uma proposta de psicologia especfica, a Anlise
do Comportamento, buscando elementos presentes no debate entre os
modelos moderno e ps-moderno de cincia no texto de seu principal
representante, B. F. Skinner (1904-1990). O alvo de nossa discusso ser,especificamente, o livro Science and Human Behavior,que parece sofrer de
um impasse em relao ao modelo de cincia adotado para o estudo do
comportamento humano.
Science and Human Behavior: Cincia Moderna ou Ps-moderna?
Em meados da dcada de 1940, a obra de Skinner parece sofrer uma
guinada, abandonando pretenses de um modelo tipicamente modernode cincia, ao mesmo tempo em que adota elementos do discurso ps-
moderno (Laurenti, 2009; Moxley, 1999, 20001a, 2001b). Nesse sentido,
o livro Science and Human Behavior situa-se em um perodo de transioem que caractersticas marcadamente ps-modernas conflitam com traos
modernos na proposta skinneriana de uma cincia do comportamento
(Laurenti, 2009).
Um exemplo desse impasse diz respeito ao determinismo (Laurenti,
2009), cuja defesa tem grande afinidade com o modelo de cincia
moderno. Isso porque uma das expresses do determinismo, que aparece
no texto skinneriano, est relacionada com a natureza do fenmeno
comportamental e com o estatuto da probabilidade na sua descrio: se
o comportamento for plenamente determinado, sem qualquer espao
para desvios, imprecises, novidades imprevisveis (tal como o mundo
na cincia moderna), o tratamento probabilstico dos fenmenos
comportamentais refletir, apenas, nossa incapacidade de falar da
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totalidade das causas. Em outras palavras, se pudssemos conhecer todas
as causas do comportamento, no restariam dvidas quanto ocorrncia
de uma resposta; nossa previso seria exata e infalvel.
Modelo operante de comportamento: abandono de caractersticas modernas?
Alguns autores j apontaram que uma das importantes mudanas
ocorridas na obra skinneriana entre as dcadas de 1940 e 1950 foi a
adoo do operante como um tipo de comportamento diferente do
reflexo (Laurenti, 2009; Moxley, 2001a, 2001b). A noo de operante
encerraria uma nova lgica de explicao do comportamento, em que asconsequncias ganham um papel de destaque, ampliando o escopo de um
tratamento comportamental dos assuntos humanos:
Os reflexos, condicionados ou no, esto principalmente envolvidoscom a fisiologia interna do organismo. Entretanto, na maioria dasvezes estamos mais interessados no comportamento que tem algumefeito sobre o mundo circundante. al comportamento d origem maioria dos problemas prticos nos assuntos humanos e tambm
de particular interesse terico por causa de suas caractersticas. Asconsequncias do comportamento podem retroagir [feed back]sobre o organismo. Quando elas o fazem, podem mudar a probabilidadede que o comportamento que as produziu ocorra novamente. (Skinner,1953, p. 59)
Alm disso, se a inevitabilidade do reflexo ainda o atrelava a um tipo
de mecanicismo, o operante poderia ser, agora, legitimamente dinmico
e probabilstico6
. Se assim for, a adoo do operante marcaria realmenteo incio de uma virada no modelo skinneriano de comportamento. Essa
interpretao pode ganhar alguma fora quando encontramos no livro
de 1953 uma novidade em relao ao reflexo. Agora, as consequncias
tambm participam da explicao desse tipo de comportamento, mais
6 Dinmico usado aqui em oposio mecanicista, tal com proposto por Khler (1947/1959). Deacordo com essa posio a dinmica uma explicao da ordem encontrada na natureza mesmo naausncia de controles restritivos, tpicos dos modelos mecnicos. rata-se, portanto, de mostrar
que sistemas dinmicos apresentam regularidades que no se ajustam a explicaes mecanicistas.
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especificamente, as consequncias de sobrevivncia: indivduos que
apresentam uma maior probabilidade de comportar-se dessa maneira
[reflexa] so presumivelmente os que tm maior probabilidade desobreviver e transmitir a caracterstica adaptativa para sua prole (Skinner,
1953, p. 54). Em suma, da mesma forma que a consequncia reforadora
explica a origem dos operantes, a consequncia de sobrevivncia explicaria
a origem dos reflexos.
Ser que a adoo do modelo operante para explicar o
comportamento hu