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direito penal militar para o juiz

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  • PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR Gilmar Luciano Santos

    Primeira Edio agosto de 2013

    Para aquisio desta obra entre em contato com o autor pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (31) 9134-0280.

    Todos os direitos reservados

    Texto Gilmar Luciano Santos

    Reviso e Produo Editorial Francis Bossaert Gilmar Luciano Santos

    Reviso Jurdica Everton Luciano Santos Silva - Bacharel e Especialista em Direito Processual. Rommel Trevenzoli de Abreu - Bacharel e Especialista em Direito Pblico; Especialista

    em Segurana Pblica. Srgio Jacob Braga - Bacharel e Mestre em Direito Processual. Lzaro Tavares de Melo da Silva - Bacharel em Direito. Especialista em Cincias Criminais.

    Especialista em Segurana Pblica. Doutor em Cincias Jurdicas e Sociais.

    Reviso Gramatical Karla Fernanda de Oliveira Morais Viviane Martins Santos

    Colaborao Centro de Oratria Gilmar Luciano

    Editorao Grfica Probabilis Assessoria Ltda. / Francis Bossaert [email protected] / (31) 9266-6303

    Impresso Grfica O Lutador

    Santos, Gilmar Luciano Prtica Forense para o Juiz Militar / Gilmar Luciano Santos. Belo Horizonte: Editora Inbradim, 2013 155 p. 1. Direito MilitarPenal e Processual Penal 2. Direito Constitucional 3.

    Direito Penal Comum. CDD341.75 CDU344.3 (81)

  • Esta obra foi escrita por inspirao do Esprito Santo,

    pois faz parte de uma das minhas obrigaes

    CRISTS, capaz de tornar mais humano o tratamento

    profissional entre as pessoas.

    Agradeo a DEUS, por dar-me o gosto pela pesquisa

    e a oportunidade de publicar mais esta obra, e a Seu

    filho, JESUS CRISTO, meu mestre e guia.

    Dedico este livro, especialmente, minha famlia:

    Viviane, minha esposa, Ana Lusa e Manuela, minhas

    filhas, Edna, minha me, Jos Luciano, meu pai, e

    Eunice, minha sogra.

    Meus agradecimentos especiais aos revisores

    jurdicos desta obra, em especial ao meu irmo

    Everton Luciano Santos Silva.

    Aos meus irmos Marcelo e Emerson, s minhas

    cunhadas, aos meus cunhados, afilhados e

    sobrinhos.

    Ao professor Ten. Cel. QOR Joo Bosco de Castro,

    meu padrinho e confrade na Academia de Letras

    Joo Guimares Rosa.

    Minha madrinha e revisora de portugus, MAJ Karla

    Fernanda de Oliveira Morais.

    Aos meus alunos da graduao, especializao e

    curso preparatrio para ingresso nas carreiras

    jurdicas militares. Espero que apreciem a presente

    obra e que ela os ajude nesta linda labuta na seara

    policial militar.

  • NOTA DO AUTOR

    Q uando me formei na Academia de Polcia Militar, no Curso de

    Formao de Oficiais, em 1993, imaginei estar dotado de

    todos os conhecimentos do mundo, necessrios ao exerccio

    da profisso de policial militar. Grande foi o engano!

    No auge da minha arrogncia, pensava que iria mudar o mundo, aplicar

    a lei e corrigir tudo o que estava torto. Estava cego e no enxergava minha

    prpria ignorncia.

    O primeiro tombo veio em 1999, quando, servindo no Batalho de

    Misses Especiais e tentando libertar alguns refns em uma rebelio na

    Penitenciria Nelson Hungria, um dos rebelados me disse em claro e bom

    tom: negociador, voc t querendo me enganar? O que voc est

    prometendo a lei no permite! Voc acha que somos trouxas?. Essa doeu

    forte e mexeu com meus brios. Percebi que faltava muita coisa e que a

    jornada somente estava comeando.

    A segunda experincia veio no ano de 2000, quando fui sorteado para

    compor um Conselho Especial de Justia na Justia Militar Estadual e, ao

    me deparar com os ritos e as formalidades, no sabia NADA! Na audincia

    de julgamento, ao proferir o meu voto, fiz uma coisa odiosa e que me

    marcou profundamente: covardemente, disse que acompanhava o voto do

    Juiz Auditor. Acompanhei, no por concordar com os argumentos

    jurdicos, mas por no saber, sequer, o motivo pelo qual estava ali naquele

    lugar!

    Percebi que teria que me aperfeioar, estudar, labutar, evoluir!

    Ingressei no Curso de Direito no mesmo ano, com o propsito de ser um

    profissional melhor e um Cristo, efetivamente, voltado a fazer a vontade

    do Pai.

    A presente obra foi escrita com o propsito de auxiliar os Juzes

    Militares e atores do Direito Militar a prestarem a jurisdio de maneira

    mais tcnica e consciente.

  • uma obra bsica, com teoremas claros e simples, apresentando o

    dispositivo legal baseado no qual se deve tomar a deciso jurdica.

    Na realidade, escrevi pensando em qual deveria ser, na poca em que

    fui sorteado a compor o Conselho de Justia (e at hoje nos atuais

    Conselhos), o contedo de um livro que pudesse orientar-me e tirar as

    principais dvidas pertinentes aos trabalhos na Auditoria.

    Por fim, esclareo que no quis fazer um manual, apenas colaborar

    com o trabalho dos nossos oficiais e, quem sabe, fomentar e despertar o

    interesse de outros oficiais para o tema, a fim de que possam aperfeioar

    o estudo sobre este ramo especializado do Direito, que o Militar.

  • NOTA DO INBRADIM

    D ireito Militar o ramo do Direito relacionado legislao

    das Foras Armadas. Tem a sua origem no Direito Romano,

    onde era utilizado para manter a disciplina das tropas

    da Legio Romana. Por vezes conhecido como Direito Castrense, palavra

    de origem latina, que designa o direito aplicado nos acampamentos

    do Exrcito Romano (Wikipdia).

    O Direito Militar passou a adquirir importncia no solo ptrio com a

    vinda da famlia real portuguesa para o Brasil em 1808, onde foi criado o

    primeiro Tribunal da Nao, o Conselho Militar e de Justia, que depois

    se transformou no Superior Tribunal Militar, STM, atualmente com sede

    em Braslia (Wikipdia).

    O Instituto Brasileiro de Estudo e Pesquisa de Direito Militar, tambm

    designado pela sigla INBRADIM, constitudo em 28 de outubro de 2011,

    tendo como Presidente e fundador o Tenente Coronel Murilo Ferreira dos

    Santos, tem como objeto inaugural, promover o estudo e desenvolvimento

    do Direito Militar no meio acadmico e na prxis. A Constituio da

    Repblica de 1988 consagrou o Estado Democrtico de Direito,

    propiciando grande avano na incluso de grupos que por razes

    meramente profissionais eram diferenciados no trato processual. Todavia,

    o ambiente acadmico em geral despreza profundamente o estudo do

    direito militar colocando os operadores na condio de autodidatas

    quanto por questes processuais se veem na obrigao de operar este

    direito.

    O Instituto Brasileiro de Estudo e Pesquisa de Direito Militar, pretende

    preencher esta lacuna, atuando na qualificao de operadores e

    promovendo a crena na utopia. Sonhar que o investimento na

    qualificao dos operadores do direito militar provoque as Universidades

    e faculdades espalhadas pelo Brasil e coloque o estudo da temtica como

    disciplina.

  • A prtica Forense para o Juiz Militar apenas o comeo deste

    esforo que nasce da parceria entre o INBRADIM, o autor e a Associao

    de Oficiais e Bombeiros Militares do Estado de Minas Gerais com o

    escopo de dar vida concreta aos objetivos do Instituto que passa pela

    atuao na rea da pesquisa, do ensino, da qualificao e capacitao

    profissional, da gesto, implementao e promoo das polticas sociais

    ligadas defesa dos interesses da cidadania e dos diversos ramos do

    direito e suas aplicaes.

    Prof. Mestre: Murilo Ferreira dos Santos

  • PREFCIO

    O Major Gilmar Luciano Santos premia a Escola da Paz Social

    e o Foro Castrense Estadual, especialmente o de Minas

    Gerais e prioritariamente o de primeira instncia, com a

    publicao impressa de PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR:

    Livro to pragmtico e lcido quo imprescindvel dignidade

    axiodeontolgica do Oficial de Fora Auxiliar de Polcia Militar ou de

    Corpo de Bombeiros Militar, notadamente como juiz militar integrante do

    Conselho Permanente de Justia (Militar) ou do Conselho Especial de

    Justia (Militar).

    Conheo o Major Gilmar Luciano Santos desde o inicio de 1993,

    quando fui dele Professor de Lngua Portuguesa e Teoria da Literatura

    oh! Quantas saudades luminosas daquele C-Efe- profissionalismo,

    rigorosssimo e respeitabilssimo, graas quela malha curricular

    entremeada tica e Deontologia de Policiologia, Postura e Compostura

    Militares, Letras Jurdicas (relevantemente as afeitas ao Direito Militar e

    Polcia Judiciria Militar) e Humanidades!... em suas bisonhas labutas

    de Cadete em direo s polimorfas e profcuas fornalhas do Oficialato

    Policial Militar. Naqueles tempos, o Curso de Formao de Oficiais da

    Academia de Polcia Militar do Prado Mineiro humanizava os Gestores da

    Paz Social com razo e sensibilidade: Filosofia, Cincias Sociais, Teoria

    de Polcia, tica e Deontologia, Prtica de Policiamento, Cerimonial

    Militar, Letras Jurdicas (aplicveis ao exerccio militar e civil), Leitura

    Sinfrnica, Laboratrios e Oficinas de Produo de Texto, Teoria da

    Literatura, Oratria, Literatura Brasileira, Historiografia Policial-Militar e

    duzentas e dez horas-aula de Lngua Portuguesa, na estrutura de curso

    superior singularssimo ao longo de quatro anos letivos com trs mil e

    oitocentas horas-aula, em dois turnos dirios (comparativamente com a

    atual organizao anmica e falaciosa da educao superior brasileira

    presencial, datada de apenas um turno dirio, aquele C-Efe-

  • prodigioso era ministrado em malha curricular apropriada para oito ano

    letivos) -, afora as proficientes escalas de servio e extensos estgios

    profissionalizantes, complementados por ricas sesses de Lazer Erudito

    promovidas e animadas pelo Diretrio Acadmico Euclides da Cunha

    ainda no transformado de grmio educativo em sua situao mercante

    de emprio de camisetas, chaveiros, quinquilharias e quermesses

    destinadas ao custeio de festanas incompatveis com designaes

    acadmicas. O C-Efe- de agora remoderniza-se na troca de razo e

    sensibilidade por habilitao e tecnologia, mediante malha curricular

    desprovida de contedos humanizantes como Lngua Portuguesa,

    Estudos Literrios, tica e Deontologia, Posturas e Composturas Militares,

    como se o futuro Oficial da Polcia Ostensiva e Preservao da ordem

    Pblica j nos viesse doutor nesses Conhecimentos indispensveis ao

    Comunitarismo e Cidadanizao, absolutamente pronto para o exerccio

    profissional fundado na Hierarquia e Disciplina militares, exmio articulador

    da Lngua de Cames, com experincia polida pela mais fina expresso

    de esprito, apesar de avesso melhor redao e transformadora

    transgresso positiva somente absorvidas pelos Suores da Inteligncia

    nos Templos da Leitura Sinfrnica de ordem concomitantemente tica e

    esttica. Quem no l no pensa!

    Bons anos depois daquele C-Efe- iniciado em 1993, lecionei ao j

    Capito Gilmar tica e Doutrina Policial-Militar, no Treinamento Policial

    Bsico realizado no revolucionrio e proativo Centro de Treinamento

    Policial da festejada Academia de Polcia Militar do Prado Mineiro, aps

    ter Ele acumulado relevante vivncia tecnoprofissional em proveitosas

    peregrinaes pelo Dcimo Segundo Batalho de Polcia Militar sediado

    em Passos, Grupo de Aes Tticas Especiais e Estado-Maior

    Estratgico, alm de notveis desempenho do Juiz Militar de Primeira

    Instncia em Conselhos da Justia Castrense Estadual de Minas Gerais e

    a amadurecidos trabalhos docentes realizados em segmentos da

    mencionada Academia de Polcia Militar, mais acentuadamente na

    respectiva Escola de Formao de Oficiais, e em Instituies de Educao

    Superior particulares, aps qualificar-se para isso em Oratria e Direito,

    em cursos de graduao e ps-graduao, e publicar trs Livros dentre

    os quais O Sniper Policial Quem Autoriza o Disparo Letal, graas a cuja

    excelncia o j Major Gilmar Luciano Santos ocupa, desde 4 de abril de

  • 2013, como Acadmico Efetivo-Curricular, a honrosa Cadeira

    Areopagtica n 16 da Academia de Letras Joo Guimares Rosa, da

    Polcia Militar de Minas Gerais, patroneada pelo Fillogo Aires da Mata

    Machado Filho, mediante indicao prazerosamente firmada por Mim,

    com vistas no enriquecimento da Terceira Seo Acadmica

    Policiologia da referida Casa Rosiana da qual sou fundador e atual

    Presidente.

    Em todas essas importantes fases da vida, o Major Gilmar sobressai

    pela inconfundvel lhaneza pessoal, inteligncia aguda, compromisso com

    todos os aspectos da probidade indissociveis do Cidado, Oficial,

    Professor e Judicante Militar, indiscutvel devoo lealdade, amor

    excelncia tecnoprofissional e acadmica, nimo inovador e oratria

    esmerada, mas sua marca superior de diuturno engajamento na

    utilidade social acoplada com sua elegncia interior.

    Todos esses predicados esplendem na totalidade epistmica e

    tecnojurdica de PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR, compndio

    alicerado em pesquisa confivel merc de sumosas e esclarecedoras

    citaes e edificado sobre eficaz estrutura bibliopeica e jurdico-

    pedaggica, funcional e clara, para oferecer ao Leitor-Consulente efetivas

    informaes e orientaes necessrias ao magistrio do Direito Penal-

    Militar e Direito Processual Penal Militar,e, acima de tudo, ao

    cumprimento impecvel dos sagrados misteres judicatrios atribudos ao

    Oficial de Fora Militar Estadual como Juiz fardado competente para bem-

    desincumbir-se, com domnio tecnojurdico e profunda autonomia

    profissional, dos afazeres tpicos do Conselho Permanente (para

    processo e julgamento de Praas) ou Conselho Especial (para processo e

    julgamento de Oficiais) na primeira instncia da justia Militar Estadual.

    O esforo intelectual do Juiz Militar Gilmar Luciano Santos, alm de

    oportunas referncias historiogrficas sobre justia militar e militarismo,

    exalta os ncleos axiolgicos e teleolgicos da Justia Castrense

    Estadual, em face da realidade ftico-social, como Segmento Judicial

    moderno, srio e bem-preparado, cuja dignidade institucional torpedeia o

    fazer somente por fazer, merc do elevado nvel profissional e acadmico

    de seus togados Talentos Judicantes, situao a ser necessariamente

    repetida por seus Juzes Militares, principalmente quanto ao apuro

  • exegtico de leis e normaes especficas aos procedimentos

    caractersticos do Rito Processual Penal-Militar, sem nenhum descaso

    aos atos de ler (na acepo maiscula de colher e compreender a

    mensagem recebida e submetida a seu exame, com habilidade crtica e

    imparcialidade rigorosa) e, com elegncia, clareza, apropriao

    vocabular, domnio dialtico, densidade, coerncia, coeso e correo

    morfossinttica, pensar inteligivelmente lgica e o decoro lusofnico, em

    benefcio dos melhores padres exigidos pelo Foro Castrense Estadual,

    sempre em regime de proveitosa e dinmica interdisciplinaridade.

    O Juiz Militar no pode ficar infenso ao contedo cultural e cientfico

    das coisas do mundo e precisa, antes de agir ou fazer, buscar a

    amplitude prtica e perquirir a fundamentao finalstica do modelo

    jurdico-militar, para, arrimado no entendimento de valores, meios e fins,

    decidir com autonomia, inteligncia e honradez, sem acanho nem

    subservincia, e no tornar-se o lamentoso boizinho de presepe do

    Thtre du Grand Guignol. O Juiz Militar de verdade tem de modelar-se

    na expresso profissional suficientemente arejada pelos prodgios da

    Teoria do Conhecimento e solidamente confivel e sobranceira por

    nutrida na seivas da Moral, tica, Axiologia e Deontologia indispensveis

    ao Direito Militar.

    Somente assim, o Juiz Militar adquire honorabilidade e legitimidade

    judicantes, entre seus pares fardados e o Juiz de Direito do Juzo Militar

    Estadual, e evita a repetio analgica daquele maculoso e deprimente

    Voto com o Sapuca, papagaiado pelo Marechalssimo Lus Alves de

    Lima e Silva, o Duque de Caxias, no Senado Imperial Brasileiro. O

    Senador Caxias nunca elaborou nem proferiu, naquela Casa Legislativa,

    nenhum voto verdadeiramente seu, por inpcia ou conveniente preguia.

    Sempre tartamudeava, nas votaes do Senado do Imprio, o

    vergonhoso (Eu) voto com o Sapuca! em referncia elevada

    erudio do Senador Cndido Jos de Arajo Viana, visconde e marqus

    de Sapuca, gema intelectual daquela Oficina de Leis e preceptor do

    Menino Dom Pedro II -, ao ponto de o Presidente da citada Casa, coleta

    dos votos (quela poca, no Brasil, os Legisladores no conviviam muito

    bem com o hediondo voto secreto!), o voto de eminente Marechalssimo,

    com impiedoso chiste:

  • J sei, Comandante!, o Senhor vota com o Marqus Senador de

    Sapuca!...

    O autntico e legtimo Juiz Militar profere, altaneiro e autnomo, o

    prprio voto, em vez de eternizar o deleixo imperdovel do eminente

    Marechalssimo, ainda hoje muito imitado por incuriosos Oficiais

    integrantes de conselhos permanentes ou especiais de justia militar

    estadual, nos espaos de Minas gerais, na mais lamentosa manifestao

    de preguia, despreparo tecnojurdico, estultcia, desrespeito Farda e ao

    Foro Castrense, desdouro e subservincia: - Voto com o Excelentssimo

    Senhor Juiz de Direito do Juzo Militar, Presidente deste Egrgio Conselho

    Permanente de Justia Militar!

    Santo oprbrio! No pode ser egrgio nenhum conselho de justia

    militar entre cujos conselheiros-judicantes haja algum juiz militar assim to

    indolente, incuo e intil!

    Exatamente para extirpar essas funestas manchas da Gloriosa Justia

    Militar Estadual, necessrio e bem-aceito este excelente PRTICA

    FORENSE PARA O JUIZ MILITAR, DO Major Gilmar Luciano Santos:

    poderoso VADE-MCUM do Oficial de Fora Auxiliar cnscio de suas

    elevadas misses de Juiz Militar, segundo o Cdigo Penal-Militar, o

    Cdigo de Processo Penal-Militar e, em Minas Gerais, a Lei

    Complementar n 59/2001 (Lei de Organizao Judiciria).

    Em Minas Gerais, a partir dos primeiros fulgores deste Sculo XXI, a

    Justia Militar Estadual recobre-se de importncia e necessariedade

    nunca vistas, como esteio insupervel da justia e disciplina militares, em

    razo de aquele profcuo moderno Regulamento Disciplinar haver sido

    substitudo pelo Cdigo de tica e Disciplina Militares Estaduais,

    verdadeira tartaruga em areia movedia dos procedimentos respeitantes

    sano das transgresses disciplinares, tal a quantidade de graus de

    recursos e a enormeza das filigranas burocrticas retardatrias das

    providncias cabais e indispensveis punio, reeducao,

    humanizao e reabilitao dos transgressores. Esse tal Cdigo de tica

    e Disciplina, com tantos entraves e muletas, j se transforma em

    tenebrosa indstria de indisciplina, sob o nefasto vu do deboche.

    No existisse, nestas Alterosas, a Justia Militar Estadual, ao nvel dos

  • Conselhos de Justia e dos Juzes de Direito do Juzo Militar, as Foras

    Auxiliares Mineiras principalmente a Polcia Militar, responsvel pela

    polcia ostensiva e preservao da ordem pblica, alm de copartcipe da

    defesa interna e defesa territorial estariam no mais asqueroso

    calhandro dos dejetos sociomorais, se no se transformassem em

    perigosssimos e incontrolveis bandos celerados, sob a tutela

    perniciosamente reforada por educao policial-militar vazia de contedo

    eticodeontolgico e humanizante, inclusive nos cursos de formao de

    oficiais e habilitao ao oficialato.

    Por isso, PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR, DO Juiz Militar

    Major Gilmar Luciano Santos, refulga como Livro importante para a Paz

    Social e pronto-socorro necessrio efetividade do magistrio do Direito

    penal-Militar, Direito Processual Penal-Militar e Polcia Judicirio-Militar, e

    da moralizao plena e efetiva do desempenho do Oficial de Fora

    Auxiliar como autoridade judicante na Primeira Instncia da Justia Militar

    Estadual.

    Tal Livro pode ser a pedra-fundamental de disciplina profissionalizante

    no contedo programtico de cursos de oficiais das academias da Defesa

    Social, sob o rtulo de Conhecimentos de Judicatura Militar.

    Assim, dizimar-se-iam os negligentes repetidores do vergonhoso (Eu)

    voto com o Sapuca!.

    Joo Bosco de Castro

    Joo Bosco de Castro policilogo e professor de lnguas e literaturas romnicas. Livre-Docente por notrio saber em Teoria da tica e em Crtica Textual aplicada s Cincias Militares da Defesa Social e Polcia Ostensiva na Academia de Polcia Militar do Prado Mineiro. Presidente da Academia de Letras Joo Guimares Rosa da PMMG e da Academia Epistmica de Mesa Capito-Professor Joo Batista Mariano (FGR). Vencedor do Prmio de Cincias Militares da Polcia Ostensiva Coronel Alvino Alvim de Menezes FGR/2007, pela excelncia ensastico-epistmica de seu Livro GLORIOSO TORMENTRIO. Autor de, entre outros livros, os quatro volumes da Coletnea Policiolgica ESSNCIA DOUTRINRIA, enfaticamente nutrida por duas recenses sobre Justia Militar Estadual: Justia Militar Apedrejada e Uma Outra Festa no Cu.

  • SUMRIO

    Nota do autor .................................................................................................5

    Nota do Inbradim ...........................................................................................7

    Prefcio ..........................................................................................................9

    Captulo 1 - Histrico da Justia Militar ...................................................... 17

    Captulo 2 - Estado Democrtico Brasileiro ............................................... 19

    2.1 Teoria do Estado .................................................................. 19

    2.1.1 Conceito de Estado ...................................................... 19

    2.1.2 Elementos do Estado ................................................... 20

    2.1.3 Evoluo histrica do Estado ....................................... 21

    2.1.4 Estado Democrtico de Direito Brasileiro ..................... 25

    Captulo 3 - Estrutura do Poder Judicirio e da Justia Militar no

    Brasil e em Minas Gerais ......................................................... 31

    3.1 Noes preliminares Justia Militar da Unio ........................ 31

    3.2 Justia Militar da Unio ........................................................ 32

    3.3 Justia Militar Estadual ........................................................ 39

    Captulo 4 - Conceito de crime militar ........................................................ 49

    4.1 Conceito de crime ................................................................ 49

    4.2 Conceito de crime militar ...................................................... 66

    Captulo 5 - Penas no Cdigo Penal Militar e no Cdigo Penal Comum ... 71

    5.1 Penas previstas no Cdigo Penal Militar ............................... 73

    5.2 Penas no Cdigo Penal Comum ........................................... 77

    5.3 Dosimetria da Pena .............................................................. 83

    5.4 Concurso de Crimes............................................................. 88

    5.5 Suspenso Condicional da Pena: SURSIS ......................... 90

    Captulo 6 - Do Processo Penal Militar ....................................................... 93

    6.1 Princpios Processuais Penais.............................................. 94

    6.1.1 Inafastabilidade de jurisdio ....................................... 94

    6.1.2 Proibio de Juzo ou Tribunal de Exceo .................. 94

    6.1.3 Princpio do Juzo Competente .................................... 95

    6.1.4 Princpio do Devido Processo Legal ............................. 95

    6.1.5 Princpio da ampla defesa e contraditrio ..................... 96

    6.1.6 No admisso, no processo, das provas obtidas

    por meios ilcitos .......................................................... 97

  • 6.1.7 Princpio da Inocncia .............................................. 97

    6.1.8 Princpio da publicidade dos atos processuais.......... 98

    6.1.9 Princpio da razovel durao do processo .............. 99

    6.1.10 Princpio do livre convencimento, mas, motivado,

    dos atos judiciais ..................................................... 99

    6.1.11 Princpio da busca da verdade real ........................ 100

    6.1.12 Princpio da Dignidade da Pessoa Humana............ 101

    6.1.13 Princpio da Razoabilidade e Proporcionalidade ..... 101

    6.2 Etapas do Processo Penal Militar ...................................... 102

    6.2.1 Primeira Etapa: violao ao direito material

    (cometimento do crime militar) ............................... 103

    6.2.2 Segunda Etapa: Priso do autor do crime:

    APFD ou IPM ......................................................... 104

    6.2.3 Terceira Etapa: Envio dos autos de APFD

    ou IPM JME. Art. 125, 5, CF/88 + Art. 23 do CPPM .. 108

    6.2.4 Quarta Etapa: vista dos autos de APFD

    ou IPM ao titular da Ao Penal ............................. 110

    6.2.5 Quinta Etapa: Provocao da Jurisdio ................ 112

    6.2.6 Sexta Etapa: incio do devido processo penal ........ 114

    6.2.7 Stima Etapa: Compromisso do Conselho

    (art.400 CPPM) + Interrogatrio do ru

    (art. 402, 403 e 404 do CPPM) ............................... 116

    6.2.8 Oitava Etapa: Inquirio de testemunhas e

    diligncias processuais .......................................... 118

    6.2.9 Nona Etapa: Fim da instruo e vista s partes para

    alegaes finais e diligncias ................................. 123

    6.2.10 Dcima Etapa: Sesso de Julgamento ................... 124

    Captulo 7 - Lei 9099/95 e a Justia Militar Estadual .............................. 137

    Consideraes finais ................................................................................ 143

    Referncias ............................................................................................... 145

    Anexo nico .............................................................................................. 149

  • 17

    PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    Captulo 1

    HISTRICO DA JUSTIA MILITAR

    O militarismo, seus costumes e o prprio Direito Militar remontam

    perodos anteriores a Cristo.

    Alguns historiadores apontam os Sumrios como os primeiros povos a

    constiturem exrcitos organizados, mas a profissionalizao militar

    aconteceu no Imprio Romano e com o Gregos.

    Com a criao dos exrcitos, surge o militarismo e, como

    consequncia natural, os problemas relacionados conduta tica e ao

    comportamento dos combatentes em face do inimigo e diante do

    cumprimento das ordens de treinamento.

    Do militar exigia-se, e at hoje se exige, comportamento exemplar,

    tica, apresentao visual e abnegao sui generis, o que o tornava um

    ser humano diferenciado e, como diferenciado, algum que deve ter seus

    atos analisados de maneira especial. Surge, ento, a chamada Justia

    Castrense, ou seja, aquela dos campos de batalha, gil, proativa, capaz

    de manter a hierarquia, a disciplina e o dever militar acima da prpria vida

    do combatente.

    Segundo Clio Ferreira Romo (2009),

    (...) o militarismo nasceu no ano de 142 a.C na Grcia Antiga, criado por Domus II, e tinha o objetivo de organizar as hostes subordinadas do rei, com obedincia absoluta, pois, juravam, os componentes, servir dando a prpria vida em favor da disciplina e hierarquia a que estavam subordinados..

    Abstraindo-se o lapso temporal histrico, em 1808, aps a chegada ao

    Brasil da Famlia Real Portuguesa, o Rei D. Joo VI, por meio do Alvar

    de 1 de abril, cria a Justia Militar como o primeiro rgo jurisdicional

    brasileiro, mas ao Poder Judicirio, atravs do Alvar de 1 de abril.

  • PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    18

    A primeira estrutura da Justia Militar, no Brasil, foi o Conselho

    Supremo Militar, com sede na cidade do Rio de Janeiro, cuja competncia

    inicial era a de processar e julgar os crimes militares praticados contra a

    Colnia e nos limites territoriais desta.

    Com a Constituio de 1891, aps a proclamao da Repblica, o

    Conselho Supremo Militar passou a se denominar Supremo Tribunal

    Militar, mas ainda, como rgo do Poder Executivo e, a mencionada

    Carta Constitucional, instituiu os Conselhos de Justia, com competncia

    para julgar, em primeira instncia, exclusivamente os crimes militares

    praticados por militares.

    Com a Constituio de 1934, a Justia Militar passou a integrar o

    Poder Judicirio, como ramo especializado do Direito, ao lado do Eleitoral

    e doTrabalhista.

    Em 1936, a Lei Federal n 192, de 17 de janeiro de 1936, autorizou a

    criao da Justia Militar nos Estados-Membros da Repblica, tendo sido

    constitucionalizada a mencionada previso na norma do art. 124, XII, da

    Constituio de 1946.

    A Justia Militar em Minas Gerais foi criada por meio da Lei Estadual

    n 226, de 9 de novembro de 1937, compondo-se, inicialmente, de um

    Juiz Auditor e dos Conselhos Especial e Permanente de Justia.

    Como naquela poca (1937) no havia um rgo especializado de

    segunda instncia, o ento Tribunal Criminal do Estado, atual Tribunal de

    Justia, fazia o papel recursal.

    Portanto, a primeira Constituio da Repblica que previu a Justia

    Militar Estadual como rgo do Poder Judicirio dos Estados foi a de

    1946. Atualmente, essa previso est contida no art. 125 da Carta Magna

    de 1988.

    Hoje, a Justia Militar possui estrutura em mbito da Unio (Justia

    Militar da Unio), com a competncia constitucional de julgar o crime

    militar, e estrutura estadual, cuja competncia de julgar o policial

    militar e o bombeiro militar quando cometerem o crime militar definido

    em lei.

    Em captulo especfico abordaremos a estrutura da Justia Militar no

    Brasil e, especificamente, em Minas Gerais.

  • 19

    PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    Captulo 2

    ESTADO DEMOCRTICO BRASILEIRO

    2.1 TEORIA DO ESTADO

    Para melhor compreenso dos papis exercidos pelos vrios rgos

    encarregados de prestar a jurisdio, a partir da Constituio Federal de

    1988, imprescindvel compreender-se a formatao, estrutura e funo

    do prprio Estado que, a seguir, sero abordadas.

    2.1.1 CONCEITO DE ESTADO

    Axiologicamente, a palavra Estado vem do latim, status, que significa

    condio, modo de ser, ordenao e hierarquia.

    Para De Plcido e Silva (2000, p. 321), [...] Estado a expresso

    jurdica mais perfeita da sociedade, mostrando tambm a organizao

    poltica de uma nao ou de um povo.

    O Estado, na realidade, uma abstrao jurdica criada pelo homem,

    insculpida a partir da prpria essncia epistemolgica do Direito, tendo

    por finalidade reger a vida de seu povo a partir de um padro nacional

    aceitvel de convivncia harmnica e social (SANTOS, 2009).

    Na Antiguidade romana, a palavra estado era empregada para

    designar uma situao ou condio de uma pessoa ou coisa (res). Logo,

    os romanos utilizavam classificaes, a partir de estado, para qualificar as

    pessoas ou coisas em suas relaes jurdicas, sendo que o status civitatis

    referia-se classificao das pessoas em romanas e estrangeiras (no

    romanas), de acordo com a posio que ocupavam na sociedade poltica.

    O status familiae fazia distino entre os incapazes (alieni jris) e os

    capazes (sui jris) de exercer os direitos previstos. J o status libertatis

    classificava os indivduos em livres, escravos e libertos, de acordo com a

    sua autonomia pessoal perante o direito romano (CARVALHO, 2009).

  • PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    20

    Na Idade Mdia, a acepo de Estado era diferente da insculpida no

    Direito Romano, pois o Estado era estruturado de maneira rgida e

    hierarquizada, sob domnio absoluto da Igreja Catlica, atravs do Clero.

    Em 1513, Maquiavel deu nova interpretao ao Estado ao trazer o

    conceito poltico de unidade deste.

    Para Azambuja (1980, p. 6), Estado a organizao poltico-jurdica

    de uma sociedade para realizar o bem pblico, com governo prprio e

    territrio determinado.

    Segundo Meirelles (2000, p. 54),

    O conceito de Estado varia segundo o ngulo em que considerado. Do ponto de vista sociolgico, corporao territorial dotada de um poder de mando originrio (Jellinek); sob o aspecto poltico, comunidade de homens, fixada sobre um territrio, com potestade superior de ao, de mando e de coero (Malberg); sob o prisma constitucional, pessoa jurdica territorial soberana (Biscaretti di Ruffia); na conceituao do nosso Cdigo Civil, pessoa jurdica de Direito Pblico Interno (art. 14, I) [...].

    Enfim, vrios so os conceitos doutrinrios para a palavra Estado.

    Contudo, contemporaneamente, impossvel referir-se a Estado sem

    fazer uma anlise de seus elementos constitutivos, conforme consta na

    literatura clssica, a saber: povo, territrio e soberania.

    2.1.2 ELEMENTOS DO ESTADO

    Conforme j dito, para uma perfeita compreenso do Estado edas

    suas atribuies, fundamental o entendimento acerca de seus

    elementos constitutivos, pois a partir e em funo deles que a vida das

    pessoas dentro de uma nao influenciada e direcionada,

    principalmente na construo do Direito ptrio.

    O primeiro elemento de um Estado o seu povo. Povo diferente de

    populao, pois povo o elemento subjetivo dotado de capacidade

    poltica dentro da nao, ou seja, exerce em alguma fase da vida a

    cidadania. J a populao constituda por pessoas nacionais e no

    nacionais residentes em um Estado, no necessariamente possuindo os

    atributos da cidadania.

  • 21

    PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    Cidado atributo jurdico dado quele nacional que est no gozo de

    seus direitos polticos (total ou parcial), ou seja, participa da vida poltica

    da nao de maneira passiva (podendo ser votado) ou ativa (podendo

    votar).

    Para Carvalho (2009, p. 108),

    O conceito de povo no se confunde com o de populao. Como se viu, o povo consiste numa unidade que corresponde a conceito jurdico-poltico. Populao envolve um conceito econmico-demogrfico apenas. o conjunto de residentes (nacionais e estrangeiros) no territrio do Estado.

    O outro elemento constitutivo o territrio, que a unidade material,

    tangvel, geograficamente delimitada, sobre a qual o povo habita e exerce

    internacionalmente sua soberania. O territrio abrange solo, subsolo, rios,

    lagos, ilhas, faixa de mar delimitada, espao areo, golfos e baas.

    O ltimo elemento a soberania. Para De Plcido e Silva (2000,

    p.763) [...] soberania o supremo poder ou o poder poltico de um

    Estado, e que nele reside com um atributo de sua personalidade

    soberana [...].

    Posto isso, os trs elementos fundamentais - povo, territrio e

    soberania - so o supedneo sobre o qual o Estado assenta seu

    nascedouro e, assim, estabelece suas normas estruturais, a fim de

    proporcionar aos seus nacionais segurana jurdica e vida social

    harmnica.

    2.1.3 EVOLUO HISTRICA DO ESTADO

    Para se chegar ao atual Estado Democrtico de Direito Brasileiro,

    insculpido a partir da promulgao da Constituio da Repblica

    Federativa do Brasil, de 1988, necessrio compreender a evoluo, ao

    longo da histria, da prpria sociedade e da necessidade e

    indispensabilidade do Estado.

    Neste tpico sero abordados o Estado Oriental, o Grego, o Romano,

    o perodo medieval, o Estado Moderno e o Estado Democrtico de

    Direito.

  • PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    22

    O Estado Oriental refere-se Idade Antiga, tendo como expoentes os

    povos persa, hebraico, egpcio, fencio, mesopotmico, dentre outros. O

    poder fundamentava-se na teocracia, ou seja, havia uma prevalncia do

    poder religioso sobre o poder poltico, atravs de uma monarquia

    absolutista que mitigava os direitos e garantias individuais, em prol de um

    poder monrquico quase ilimitado. Os monarcas eram tidos como

    representantes dos deuses na Terra (CARVALHO, 2009).

    Para os gregos, o Estado era representado pela polis, ou urbis, que,

    na traduo para o Portugus, seria Cidade-Estado, altamente centrada

    no culto aos antepassados, com uma religio politesta presente e

    dominante.

    Havia uma rgida diviso social entre os habitantes da polis, que

    congregava os homens livres (cidados gregos participantes da vida

    poltica), os estrangeiros e os escravos.

    Segundo Carvalho (2009, p. 85),

    [...] a democracia grega baseava-se numa concepo de liberdade distinta da liberdade de pensamento constitucional dos sculos XVIII. A liberdade para os gregos era a prerrogativa conferida aos cidados de participar das decises polticas. No significava liberdade-autonomia, entendida como a independncia individual em face do Estado. O absolutismo da polis absorvia a liberdade individual. A cidade-estado era uma parte essencial da vida humana [...].

    Os romanos mantinham uma estrutura de Estado muito semelhante

    dos gregos, cultuando os antepassados e o agrupamento familiar como

    base social a se manter. Contudo, percebia-se ntida separao entre o

    poder pblico e o poder privado, oscilando o poder, ora na Repblica, ora

    na Monarquia.

    Nesse mesmo sentido, Carvalho (2009, p. 86) afirma que:

    [...] destaca-se ainda no Estado romano a conscincia da separao entre o poder pblico e o poder privado. Assim, quando surge o imprio, o poder poltico visto como supremo e uno, compreendendo o imperium (poder de mandar), a potestas (poder modelador e organizador) e majestas (grandeza e dignidade do poder). A idia de auctoritas est presente na concepo de poder para os romanos e significa autoridade, mando consentido pelo

  • 23

    PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    prestgio de quem exerce o poder e no apenas pela imposio da fora.

    Na Idade Mdia, no havia uma unidade estatal, estando o poder

    concentrado nas mos dos senhores feudais, pois, com a queda do

    Imprio Romano, a partir da tomada de Constantinopla, em 1453, pelos

    Turcos, os romanos encontraram no interior no continente a forma de vida

    mais segura, tendo o feudalismo a principal estrutura social-poltica

    vigente.

    Em substituio polis, nesse perodo, tem-se a regnum, que se

    caracteriza pelo aparecimento de um prncipe com domnio sobre seus

    sditos, notadamente impondo seu poder financeiro e territorial feudal.

    O Cristianismo assume um papel importante no cenrio social-poltico

    dessa fase histrica. Para Carvalho (2009, p. 87),

    [...] a cristandade afirma-se, no perodo medieval, como poder espiritual que governa as conscincias com independncia do poder temporal, pois com este no se confunde, embora seja aquele invocado como limitao do poder, no plano poltico, eis que o governo deve ser exercido para o bem comum.

    O modelo feudal apresentava srios problemas, como a ausncia de

    uma moeda unida, diferenas imensas entre a converso dos preos e

    pesos das mercadorias de feudo para feudo, ausncia de autonomia e

    soberania locais, dentre outros.

    Em face desses problemas, o modelo feudal cedeu lugar a um novo

    modelo de governo, autnomo e soberano, capaz de harmonizar as

    relaes com outros governos, reduzindo as diferenas de cmbio e

    oferecendo mais segurana aos mercadores em trnsito. Surge, ento, o

    Estado Moderno.

    A principal caracterstica do Estado Moderno foi centralizao do

    poder poltico nas mos do rei, surgindo o ideal local, territorialmente

    soberano, ou seja, a noo da criao do pas, no caso, o Estado Nao.

  • PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    24

    Carvalho (2009, p. 87) tambm afirma:

    [...] o Estado passa a corresponder nao; h referncia territorial. No plano religioso, a autoridade do Papa contestada pela Reforma; no econmico, verifica-se a ascenso da burguesia, com o desenvolvimento do capitalismo.

    Por um lado, o Estado Moderno proporcionou ao cidado uma

    estabilidade nacional, por outro, concentrou nas mos de uma pessoa um

    poder poltico quase ilimitado, gerando um sub-estado chamado

    Absolutista, totalitrio, que no reconhecia poder algum ao povo.

    No Estado Moderno, a vontade do rei era a lei, o que gerava uma

    grande instabilidade jurdica ao cidado e insatisfao relativa tomada

    das decises, muitas vezes divorciada do interesse geral.

    Na mesma linha de pensamento, Carvalho (2009, p. 89) declara que:

    [...] o Estado absoluto sem vnculo surge com o predomnio do monarca, cuja vontade passa ser lei e as regras limitadoras do poder so vagas e imprecisas, apenas encontrando o poder limite no Direito Natural. A razo de Estado invocada como principal critrio de ao poltica. Historicamente, o Estado absoluto conduziu unidade do Estado e coeso nacional inexistentes no perodo medieval.

    Assim, a partir da necessidade de esvaziar o poder das mos do

    monarca, evitando os abusos ocorridos e, para assegurar maior

    segurana jurdica imparcial e cosmopolita, surge a noo de lei como o

    mdium ideal do Estado, formado a partir da vontade do povo e no como

    uma expresso unipessoal. A, inicia-se o processo de

    constitucionalizao do poder pelas mos do povo.

    A Frana a primeira nao a se ver como um Estado Constitucional,

    que impe a limitao de poder ao governante, a partir do liberalismo

    econmico e poltico, ocorrido no final do sculo XVIII. Na mesma poca,

    a Alemanha inaugura o chamado Estado de Direito.

    Com a constitucionalizao, o poder passa a pertencer nao ou ao

    seu povo, dando origem mxima da soberania nacional, ou popular, e

    s Constituies escritas, formas de materializar o novo pacto social e

    limitar o poder estatal.

  • 25

    PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    Acerca desse assunto, Carvalho (2009, p. 88) assegura que:

    [...] a lei o limite da ao do poder, expresso da vontade geral. So reconhecidos os direitos fundamentais para todos os indivduos. O princpio da separao de Poderes tambm inerente concepo de Estado Constitucional, como limitador do poder poltico, que deixa de ser absoluto. No plano econmico, o Estado se caracteriza pelo absentesmo, capitalista e burgus: no h interferncia do

    poder poltico no domnio econmico, pois o Estado apenas rbitro do livre jogo econmico, onde se garante a propriedade privada e se valoriza a liberdade, que se torna absoluta .

    a partir desse ponto, ou seja, do surgimento do Estado

    Constitucional liberal e posterior evoluo, que o Juiz Militar deve

    entender seu papel institucional, bem como os direitos e garantias dos

    cidados e jurisdicionados.

    2.1.4 ESTADO DEMOCRTICO DE DIREITO BRASILEIRO

    Estado Democrtico de Direito aquele formado a partir das mos do

    povo, que, ao criar suas normas jurdicas, respeita-as e as cumpre

    fielmente.

    Para De Plcido e Silva (2000, p. 323):

    [...] Estado Democrtico. Assim se diz do Estado cujo governo se constitui sob os moldes da democracia [...] Estado de Direito a organizao de poder que se submete regra genrica e abstrata das normas jurdicas e aos comandos decorrentes das funes estatais separadas embora harmnicas. E expresso Estado Democrtico de Direito significa no s a prevalncia do regime democrtico como tambm a destinao do Poder garantia dos direitos [...].

    a partir do entendimento do que vem a ser o Estado Democrtico de

    Direito que o aplicador da lei, o jurista e o cidado encontram supedneo

    para cada ato, pensamento, justificao e modo de convivncia social.

    No h como o Juiz Militar estabelecer um discurso jurdico sem o

    pleno entendimento axiolgico dos fundamentos e princpios

    estruturadores desse Estado, pois, ao contrrio, estaria sofismando ou

    apresentando ponto de vista individual dissociado da realidade jurdica

    vigente.

  • PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    26

    Moraes (2006, p. 17), comentando o primeiro artigo da Constituio

    Federal de 1988 (CF/88), declara que:

    [...] O Estado Democrtico de Direito, que significa a exigncia de reger-se por normas democrticas, com eleies livres, peridicas e pelo povo, bem como o respeito das autoridades pblicas aos direitos e garantias fundamentais, proclamando no caput do artigo, adotou, igualmente, no seu pargrafo nico, o denominado princpio democrtico, ao afirmar que todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituio.

    Em relao a princpio democrtico, pode-se entend-lo como aquele

    capaz de externalizar, exatamente, a necessidade fundamental da

    participao de todas as pessoas (cidados na acepo tcnico-jurdica)

    na vida poltica da nao.

    A exteriorizao e instituio do Estado Democrtico de Direito se d,

    de maneira universal, a partir da criao de uma Carta Jurdico-Poltica,

    chamada de Constituio.

    A palavra Constituio derivada do latim, constitutio, constituere

    (formar, construir, edificar, estruturar, criar). No caso da Constituio,

    enquanto carta poltica que cria uma nao, um pas juridicamente,

    chamada pelos doutrinadores de Magna Carta, como meno Carta

    Magna do Rei Joo Sem Terra, publicada em 1215, na Inglaterra

    (SANTOS, 2009).

    Explicando o termo Constituio, De Plcido e Silva (2000, p.208)

    assim se manifesta:

    [...] assinala ou determina a lei constitucional, que evidencia a Lei Magna de um povo, politicamente organizado, desde que nela se assentem todas as bases do regime escolhido, fixando as relaes recprocas entre governantes e governados. Como sinnimas, podem ser aplicadas as expresses: lei fundamental, cdigo supremo, magna carta

    ou estatuto bsico. Dessa forma, a constituio estabelece todas as formas necessrias para delimitar a competncia dos poderes pblicos, impondo as regras de ao das instituies pblicas, e as restries que devem ser adotadas para garantia dos direitos individuais.

  • 27

    PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    Na realidade, a Carta Constitucional a maior norma jurdica, que cria

    o Estado, o direito ptrio, estipula os direitos basilares, ditos

    fundamentais, do homem, oponveis ao poder do Estado, limitando-o, e,

    ainda, rege as relaes entre o poder pblico e o povo, estabelecendo

    regras de ao, atribuies dos rgos e o modo de participao popular

    na vida poltica e social. Para se entender um pas, uma nao, basta

    conhecer a sua Constituio.

    Silva (1989, p.37) assegura que:

    A Constituio do Estado, considerada sua lei fundamental, seria, ento, a organizao dos seus elementos essenciais: um sistema de normas jurdicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisio e o exerccio do poder, o estabelecimento de seus rgos e os limites de sua atuao.

    O poder criador de uma Constituio uno e vem das mos do povo,

    ou seja, o titular do Poder Constituinte Originrio o nacional do pas e,

    atualmente, somente ele aceito como legtimo entre as naes do

    mundo contemporneo.

    O Poder Constituinte Revolucionrio (aquele que cria o Estado a partir

    da tomada do poder por meio de revoluo ou guerra.) no est sendo

    aceito pelas naes do mundo contemporneo por no expressar a

    vontade do povo.

    A Constituio cria toda a estrutura da nao, inclusive a jurdica, ou

    seja, o Direito vigente no pas. Assim, deve-se ressaltar que toda norma

    jurdica produzida pelo pas deve obedecer estritamente aos ditames

    constitucionais de sua elaborao, edio, semntica e contedo, sob

    pena de ser declarada contrria aos interesses do Estado, em face de

    sua inconstitucionalidade.

    Quando se promulga uma nova Constituio, cria-se uma nova ordem

    jurdica no pas, o que no significa que as normas existentes, anteriores

    edio da nova Magna Carta, no tenham validade.

    O que ocorre que as normas anteriores compatveis com o novo

    texto constitucional so convalidadas, o que significa, no jargo jurdico,

    que foram recepcionadas pela Constituio e continuam a vigorar e a

    produzir seus efeitos jurdicos. Aquelas que no esto em consonncia

  • PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    28

    com a nova ordem vigente so retiradas do ordenamento por no terem

    sido recepcionadas pela Carta Constitucional.

    Uma Constituio, segundo os doutrinadores, pode ser classificada de

    vrias maneiras: quanto ao modo de elaborao, quanto origem, entre

    outras.

    Para fins didticos, apresenta-se a seguinte classificao da CFB/88:

    quanto forma, escrita (toda matria constitucional est condensada

    em um nico texto constitucional); quanto origem, promulgada (veio

    das mos do povo atravs do Poder Constituinte Originrio); quanto ao

    modo de elaborao, dogmtica (exprime idias e princpios bsicos e

    fundamentais, esculpidos a partir da vontade do povo); e, por fim, quanto

    estabilidade, rgida (para mudar o texto constitucional, preciso um

    processo legislativo solene, dificultoso e formal, previsto no art. 60 da

    prpria CF/88).

    importante ressaltar que o Poder uno, ou seja, o povo o poder e

    dele titular, conforme est disposto no pargrafo nico do art.1 da

    CF/88 art. 1 [...] Pargrafo nico Todo o poder emana do povo, que o

    exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos

    desta Constituio.

    Outro ponto importante a ser destacado que, mesmo sendo uno o

    Poder, as atribuies para o seu exerccio, na maioria dos Estados

    contemporneos, foram divididas, como forma de evitar a concentrao

    nas mos de um nico rgo ou pessoa, bem como a ocorrncia de

    abusos e distores em face do seu uso.

    Assim, a CF/88, em seu artigo segundo, in verbis, explica que so

    Poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o

    Executivo e o Judicirio.

    A CF/88, alm de prever a separao dos poderes, estabeleceu as

    competncias de cada um. Em breve sntese, pode-se afirmar que ao

    Judicirio cabe prestar a jurisdio em todo o territrio nacional (art. 92 a

    125 da CF/88) Ao Legislativo, como rgo de representao mxima do

    povo, cabe, precipuamente, a fiscalizao do Executivo e a atividade

    legislativa (art. 44 e seguintes da CF/88). Por fim, ao Executivo, cabe a

  • 29

    PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    execuo das atividades fundamentais vida social harmnica, pacfica,

    digna e estruturada, como a construo de ruas, estradas, escolas,

    regulao de funcionamento da polcia, dentre outras, conforme est

    preconizado no art. 76 e seguintes da CF/88.

    Como exposto at aqui, a Constituio a Carta Poltica que cria o

    Estado, e este o responsvel por proporcionar ao seu povo as

    condies ideais de vida em seu territrio delimitado e soberano. Mas, a

    vida em sociedade no seria possvel se neste Estado no houvesse

    regras de conduta social. Essa necessidade faz surgir o Direito Ptrio.

    De fato, com o surgimento do Estado, surge o Direito (palavra derivada

    do latim directum e que significa aquilo que reto, correto, conforme

    justia), a ser aplicado nos limites de sua soberania e sobre seu povo e

    populao.

    Estado e Direito so uma criao humana, uma verdadeira abstrao

    jurdica, pois ambos so intangveis, mas presentes na vida cotidiana de

    qualquer pas, e inseparveis.

    No mesmo mister do que j foi exposto, Carvalho (2009, p. 183)

    leciona:

    O Estado no pode subsistir sem o Direito, porque uma organizao jurdica. Se o Estado existisse sem regras jurdicas, no haveria como solucionar conflitos de competncia entre os seus diversos rgos. Por outro lado, cabe ao Direito regulamentar as tarefas do Estado. Sem o Direito, as funes do Estado no teriam contedo predeterminado, e no haveria como atingir seus fins. Nesta perspectiva, o Estado aparece como instrumento de realizao do Direito. Por outro lado, o Direito se funda na coero estatal. Sem Estado, seria absolutamente impossvel a aplicao do Direito. O Estado influencia na criao do Direito, mesmo que no tenha a sua exclusividade. E, graas a seu poder coercitivo, o estado assegura a aplicao do Direito quando ele violado, ou ameaa utilizar a fora para evitar a sua violao. O Estado contribui, assim, para a realizao do Direito, de um ponto de vista ainda que tcnico-organizacional. Exatamente porque o Estado instrumento de realizao do Direito que este no pode existir sem aquele. Estado e Direito tm, desse modo, uma dupla relao. De um lado o Estado influencia o Direito, de outro lado o Direito atua sobre o Estado.

  • PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    30

    na Magna Carta que esto presentes as normas jurdicas que regem

    toda a vida do cidado. Logo, para que o Juiz Militar possa prestar sua

    jurisdio, conforme o pensamento democrtico-jurdico, e embasar seus

    votos e decises jurdicas, imprescindvel o domnio da Carta

    Constitucional, sob pena de nulidade de seu parecer.

    Mais frente, abordaremos o processo penal militar e explanaremos

    sobre os princpios que o norteiam. Mas, adiantamos que o supedneo de

    todo o pensamento jurdico deve estar alinhado CF/88, sob pena de ser

    declarado inconstitucional ou no recepcionado (lei/decreto/etc.) pela

    mencionada carta jurdico-poltica.

  • 31

    PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    Captulo 3

    ESTRUTURA DO PODER JUDICIRIO E DA JUSTIA MILITAR NO BRASIL E EM

    MINAS GERAIS

    3.1 NOES PRELIMINARES

    Como j apresentado, a jurisdio no Estado Democrtico de Direito

    pertence com exclusividade ao Poder judicirio e a Justia Militar o

    integra , que tem por competncia a tutela jurisdicional do direito militar.

    Como instrumento jurdico-normativo, devemos buscar a competncia

    jurisdicional exclusivamente na Carta Magna de 1988, pois apenas ela

    que pode ditar a estrutura de um poder no Brasil.

    As leis infraconstitucionais, como por exemplo as que tratam do

    processo e dos procedimentos, no podem trazer em seu corpo a

    competncia dos rgos jurisdicionais, pois tal matria regulada,

    exclusivamente, pela Constituio.

    O art.92 da CF/88, in verbis, traz:

    Art. 92. So rgos do Poder Judicirio: I - o Supremo Tribunal Federal; I-A - o Conselho Nacional de Justia; II - o Superior Tribunal de Justia; III - os Tribunais Regionais Federais e Juzes Federais; IV - os Tribunais e Juzes do Trabalho; V - os Tribunais e Juzes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juzes Militares; gn VII - os Tribunais e Juzes dos Estados e do Distrito Federal

    e Territrios. 1 O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional

    de Justia e os Tribunais Superiores tm sede na Capital Federal.

    2 O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores tm jurisdio em todo o territrio nacional.

  • PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    32

    No interessa a esta obra a anlise dos demais rgos do Poder

    Judicirio, motivo pelo qual ficaremos adstritos estrutura da Justia

    Militar.

    3.2. JUSTIA MILITAR DA UNIO

    Importante salientar que a Emenda Constitucional n. 45/2004,

    responsvel pela chamada Reforma do Poder Judicirio, alterou

    substancialmente a estrutura nacional da Justia Militar.

    Antes da edio da Emenda, a estrutura da Justia Militar era a

    mesma para o Estado-Membro e para a Unio, diferindo apenas em

    relao segunda instncia. Para a Justia Militar da Unio, o Superior

    Tribunal Militar (STM) funcionava (e continua funcionando, mesmo com a

    EC/45) como Tribunal Superior e instncia recursal das decises

    proferidas em primeiro grau pelas auditorias.

    Para a Justia Militar dos Estados-Membros, a instncia recursal era o

    Tribunal de Justia ou o Tribunal de Justia Militar.

    Como explanado, faremos a abordagem a partir da EC/45.

    A Justia Militar da Unio (JMU) possui competncia para julgar o

    crime militar, ou seja, a jurisdio militar aplicada a qualquer pessoa

    que cometa o delito.

    In verbis, o art. 124 da CF/88 diz: ... Justia Militar compete

    processar e julgar os crimes militares definidos em lei.

    Roth (2011, p.767) afirma que ..sobre matria criminal, a Justia

    Militar da Unio tem como jurisdicionados os integrantes das Foras

    Armadas (Marinha, Exrcito e Aeronutica) e os civis que venham a

    praticar crimes militares, enquanto a Justia Militar estadual tem como

    jurisdicionados apenas os integrantes das Foras auxiliares (Polcia

    Militar e Corpo de Bombeiro Militar), ou seja, os militares estaduais que

    venham a praticar crime militar.

    A primeira instncia da JMU formada pelos Conselhos de Justia

    Especial e Permanente.

    O Conselho de Justia composto por um Juiz Togado, chamado

  • 33

    PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    Auditor, um Oficial Superior e mais trs oficiais de posto superior ao do

    acusado, ou, se do mesmo posto, mais antigos, por obedincia ao

    princpio do juzo hierrquico da Justia Militar. Cada oficial sorteado para

    compor o conselho recebe o nome jurdico de Juiz Militar, gozando de

    todos os direitos e obrigaes inerentes funo jurisdicional exercida,

    exceto em relao aos vencimentos e remunerao do magistrado civil.

    O Conselho Especial o rgo de primeira instncia com

    competncia para processar e julgar os oficiais das Foras Armadas e

    demais pessoas que com estes tenham agido em concurso para

    cometimento do crime militar. O Oficial sorteado para compor o Conselho

    Especial prestar a jurisdio como Juiz Militar at o final do processo,

    com a prolao da sentena.

    O Conselho Permanente o rgo de primeira instncia com

    competncia para julgar as praas das Foras Armadas e demais

    pessoas, exceto os oficiais, que com elas cometam o crime militar em

    concurso. Chama-se Permanente, pois os oficiais sorteados para

    comp-lo ficam disposio da Justia por um perodo de trs meses e

    deliberam em todos os processos que a ele forem submetidos.

    A essa estrutura mista de julgamento em primeira instncia, formada

    por juzes militares e Juiz Togado, d-se o nome de Escabinato ou

    Escabinado.

    A Lei Federal n 8.457/92 detalhou a estrutura dos Conselhos da JMU,

    a saber:

    Art. 16 - So duas as espcies de Conselhos de Justia:

    Conselho Especial de Justia, constitudo pelo Juiz-Auditor e quatro juzes militares, sob a presidncia, dentre estes, de um oficial-general ou oficial superior, de posto mais elevado que o dos demais juzes, ou de maior antigui-dade, no caso de igualdade;

    Conselho Permanente de Justia, constitudo pelo Juiz-Auditor, por um oficial superior, que ser o presidente, e trs oficiais de posto at capito-tenente ou capito.

    Art. 17 - Os Conselhos Especial e Permanente funcionaro na sede das Auditorias, salvo casos especiais por motivo relevante de ordem pblica ou de interesse da Justia e pelo tempo indispensvel, mediante deliberao do Superior Tribunal Militar.

  • PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    34

    Art. 18 - Os juzes militares dos Conselhos Especial e Permanente so sorteados dentre oficiais de carreira, da sede da Auditoria, com vitaliciedade assegurada, recorrendo-se a oficiais no mbito de jurisdio da Auditoria se insuficientes os da sede e, se persistir a necessidade, excepcionalmente a oficiais que sirvam nas demais localidades abrangidas pela respectiva Circunscrio Judiciria Militar.

    Art. 19 - Para efeito de composio dos Conselhos de que trata o artigo ante-rior, nas respectivas Circunscries, os comandantes de Distrito ou Comando Naval, Regio Militar e Comando Areo Regional organizaro, trimestralmente, relao de todos os oficias em servio ativo, com respectivos postos, antiguidade e local de servio, publicando-a em boletim e remetendo-a ao Juiz-Auditor competente.

    1 A remessa a que se refere esse artigo ser efetuada at o quinto dia do ltimo ms do trimestre e as alteraes que se verificarem, inclusive os nomes de novos oficiais em

    condies de servir, sero comunicadas mensalmente.

    2 No sendo remetida no prazo a relao de oficiais, sero os Juzes sorteados pela ltima relao recebida, consideradas as alteraes de que trata o pargrafo anterior.

    3 A relao no incluir:

    a) os oficiais dos Gabinetes dos Ministros de Estado;

    b) os oficiais agregados;

    c) os comandantes, diretores ou chefes, professores, instrutores e alunos de escolas, institutos, academias, centros e cursos de formao, especializao, aperfeioamento, Estado-Maior e altos estudos;

    d) na Marinha: os Almirantes de Esquadra e Oficiais que sirvam em seus gabinetes, os Comandantes de Distrito Naval e de Comando Naval, o Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada, o Chefe do Estado-Maior do Comando de Opera-es Navais e os oficiais embarcados ou na tropa, em condies de, efetivamente, participar de atividades operativas programadas para o trimestre;

    e) no Exrcito: os Generais-de-Exrcito, Generais Comandantes de Diviso de Exrcito e de Regio Militar, bem como os respectivos Chefes de Estado-Maior ou de Gabinete e oficiais do Estado-Maior Pessoal;

    f) na Aeronutica: os Tenentes-Brigadeiros, bem como seus Chefes de Estado-Maior ou de Gabinete, Assistentes e Ajudantes de Ordens, ou Vice-Chefe e o Subchefe do Estado-Maior da Aeronutica.

  • 35

    PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    Art. 20 - O sorteio dos juzes do Conselho Especial de Justia feito pelo Juiz-Auditor, em audincia pblica, na

    presena do Procurador, do Diretor de Secretaria e do acusado, quando preso.

    Art. 21 - O sorteio dos juzes do Conselho Permanente de Justia feito pelo Juiz-Auditor, em audincia pblica, entre os dias cinco e dez do ltimo ms do trimestre anterior, na presena do Procurador e do Diretor de Secretaria.

    Pargrafo nico - Para cada Conselho Permanente, so sorteados dois juzes suplentes, sendo um oficial superior - que substituir o Presidente em suas faltas e impedimentos legais - e um oficial at o posto de capito-tenente ou capito, que substituir os demais membros nos impedimentos legais.

    Art. 22 - Do sorteio a que se referem os arts. 20 e 21 desta Lei, lavrar-se- ata, em livro prprio, com respectivo resultado, certificando o Diretor de Secretaria, em cada processo, alm do sorteio, o compromisso dos juzes.

    Pargrafo nico - A ata assinada pelo Juiz-Auditor e pelo Procurador, cabendo ao primeiro comunicar imediatamente autoridade competente o resultado do sorteio, para que esta ordene o comparecimento dos juzes sede da Auditoria, no prazo fixado pelo juiz.

    Art. 23 - Os juzes militares que integrarem os Conselhos Especiais sero de posto superior ao do acusado, ou do mesmo posto e de maior antiguidade.

    1 O Conselho Especial constitudo para cada processo e dissolvido aps concluso dos seus trabalhos, reunindo-se, novamente, se sobrevier nulidade do processo ou do julgamento, ou diligncia determinada pela instncia superior.

    2 No caso de pluralidade de agentes, servir de base constituio do Conselho Especial a patente do acusado de maior posto.

    3 Se a acusao abranger oficial e praa ou civil, respondero todos perante o mesmo Conselho, ainda que excludo do processo o oficial.

    4 No caso de impedimento de algum dos juzes, ser sorteado outro para substitu-lo.8

    Art. 24 - O Conselho Permanente, uma vez constitudo, funcionar durante trs meses consecutivos, coincidindo com os trimestres do ano civil, podendo o prazo de sua jurisdio ser prorrogado nos casos previstos em lei.

  • PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    36

    Pargrafo nico. O oficial que tiver integrado Conselho Permanente no ser sorteado para o trimestre imediato, salvo se para sua constituio houver insuficincia de oficiais.

    Art. 25 - Os Conselhos Especial e Permanente de Justia podem instalar-se e funcionar com a maioria de seus membros, sendo obrigatria a presena do Juiz- Auditor e do Presidente, observado o disposto no art. 31, alneas a e b desta lei.

    1 As autoridades militares mencionadas no art. 19 desta Lei devem comunicar ao Juiz-Auditor a falta eventual do juiz militar.

    2 Na sesso de julgamento so obrigatrios a presena e voto de todos os juzes.

    Art. 26 - Os juzes militares dos Conselhos Especial e Permanente ficaro dispensados do servio em suas organizaes, nos dias de sesso.

    1 O Juiz-Auditor deve comunicar a falta do juiz militar, sem motivo justificado, ao seu superior hierrquico, para as providncias cabveis.

    A Lei Federal n 8.457/1992 estruturou a Justia Militar da Unio em

    doze circunscries judicirias (auditorias), distribudas em todo o

    territrio nacional.

    In verbis, o Art. 2 estabelece:

    Para efeito de administrao da Justia Militar em tempo de paz, o territrio nacional divide-se em doze Circunscries Judicirias Militares, abrangendo:

    a) a 1 - Estados do Rio de Janeiro e Esprito Santo;

    b) a 2 - Estado de So Paulo;

    c) a 3 - Estado do Rio Grande do Sul;

    d) a 4 - Estado de Minas Gerais;

    e) a 5 - Estados do Paran e Santa Catarina;

    f) a 6 - Estados da Bahia e Sergipe;

    g) a 7 - Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraba e Alagoas;

    h) a 8 - Estados do Par, Amap e Maranho;

    i) a 9 - Estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso;

    j) a 10 - Estados do Cear e Piau;

  • 37

    PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    l) a 11 - Distrito Federal e Estados de Gois e Tocantins;

    m) a 12 - Estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondnia.

    Vale a pena salientar que temos a Justia Militar da Unio para

    atuao em tempo de paz e em tempo de guerra. No faremos

    comentrios acerca da estrutura em tempo de guerra.

    A CF/88, em seus artigos 122 e 123, apresenta a estrutura da Justia

    Militar da Unio:

    Art. 122 - So rgos da Justia Militar:

    I - o Superior Tribunal Militar;

    II - os Tribunais e Juzes Militares institudos por lei.

    Art. 123 - O Superior Tribunal Militar compor-se- de quinze Ministros vitalcios, nomeados pelo Presidente da Repblica, depois de aprovada a indicao pelo Senado Federal, sendo trs dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exrcito, trs dentre oficiais-generais da Aeronutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira, e cinco dentre civis.

    Pargrafo nico. Os Ministros civis sero escolhidos pelo Presidente da Repblica dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo:

    I - trs dentre advogados de notrio saber jurdico e conduta ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional;

    II - dois, por escolha paritria, dentre juzes auditores e membros do Ministrio Pblico da Justia Militar.

    Pargrafo nico. A lei dispor sobre a organizao, o funcionamento e a competncia da Justia Militar.

    O Art. 1 da Lei n 8.427/92 traz a seguinte estrutura da Justia Militar

    da Unio:

    Art. 1 - So rgos da Justia Militar:

    I - o Superior Tribunal Militar;

    II - a Auditoria de Correio;

    III - os Conselhos de Justia;

    IV - os Juzes-Auditores e os Juzes-Auditores Substitutos.

  • PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    38

    O STM tanto Tribunal Superior, como instncia originria para

    julgamento de matria especfica, quanto segundo grau (instncia

    recursal), em face das decises das auditorias militares.

    H previso de tribunais militares regionalizados, mas, at o

    momento, no foram institudos.

    Uma questo importante a celeuma atual, principalmente aps a

    EC/45, de 2004, acerca da competncia constitucional para julgamento

    do crime doloso contra a vida de civil, praticado por militares das Foras

    Armadas (FA). Seria da competncia do Tribunal do Jri ou da JMU? A

    mencionada emenda constitucional no alterou a competncia da Justia

    Militar da Unio para processar e julgar o militar (FA) quando este for o

    sujeito ativo de um crime doloso contra a vida de um civil. Logo, o

    pargrafo segundo do art. 82 do Cdigo de Processo Penal Militar

    constitucional apenas para a Justia Militar Estadual, pois esta sim teve

    sua competncia alterada substancialmente pela EC/45.

    O pargrafo segundo do Art. 82 do CPPM diz:

    2 Nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justia Militar encaminhar os autos do inqurito policial militar justia comum. (Pargrafo includo pela Lei n 9.299, de 7.8.1996)

    Corroborando o acima exposto, apresentamos a seguinte

    jurisprudncia do STM:

    EMENTA: Habeas Corpus. Priso preventiva. Excesso de prazo. Inconstitucionalidade do art. 9 do CPM. Homicdio doloso. Competncia. Falta de amparo legal. Civil e mais

    dois comparsas, armados com arma de fogo, entram em vila militar e, de surpresa, atiram em Soldado da Aeronutica, em servio de sentinela, tirando-lhe a vida. Inconstitucionalidade. Inexistncia. Crime praticado por civil contra militar das Foras Armadas em servio da competncia da Justia Militar da Unio, conforme preceitua o art. 9, inciso III, do CPM, lei autorizada a dispor sobre a matria. As alteraes trazidas pela Lei n 9.299/96 no atingiram a competncia da Justia Militar da Unio, nem poderia, posto que esta estabelecida pela Constituio Federal (art. 124). Priso preventiva. Excesso de prazo. No configura constrangimento ilegal o excesso de prazo que se baseia na periculosidade do indivduo, bem como na conduta dos advogados dos rus, in casu, responsveis pelos inmeros adiamentos de audincias. Preliminar de

  • 39

    PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    incompetncia rejeitada. Denegada a ordem. Falta de amparo legal. Deciso unnime. (Num: 2006.01.034286-9 UF: BA Deciso: 27/02/2007, Proc: HC - HABEAS CORPUS Cd. 180, Data da Publicao: 04/04/2007 Vol: Veculo: Min. Relator MARCOS AUGUSTO LEAL DE AZEVEDO).

    No mesmo sentido, o STF decidiu:

    EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL MILITAR. PROCESSUAL PENAL MILITAR. CRIME DOLOSO PRATICADO POR CIVIL CONTRA A VIDA DE MILITAR DA AERONUTICA EM SERVIO: COMPETNCIA DA JUSTIA MILITAR PARA PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DA AO PENAL: ART. 9, INC. III, ALNEA D, DO CDIGO PENAL MILITAR: CONSTITUCIONALIDADE. PRECEDENTES. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. A jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal no sentido de ser constitucional o julgamento dos crimes dolosos contra a vida de militar em servio pela justia castrense, sem a submisso destes crimes ao Tribunal do Jri, nos termos do o art. 9, inc. III, "d", do Cdigo Penal Militar. 2. Habeas corpus denegado. (HC 91003, Relator(a): Min. CRMEN LCIA, Primeira Turma, julgado em 22/05/2007, DJe-072 DIVULG 02-08-2007 PUBLIC 03-08-2007 DJ 03-08-2007 PP-00087 EMENT VOL-02283-04 PP-00753).

    3.3 JUSTIA MILITAR ESTADUAL

    Diferentemente da Justia Militar da Unio, a Justia Militar Estadual

    no possui competncia ampla para julgar qualquer pessoa que seja

    sujeito ativo do crime militar.

    A JME possui competncia restrita para processar e julgar o policial e

    o bombeiro militares quando estes forem os sujeitos ativos dos delitos

    militares previstos na lei militar, ou seja, a JME no possui competncia

    para julgar militares das Foras Armadas, nem civis que cometam crime

    militar, mesmo que em concurso com os militares dos estados.

    A justia militar Estadual possui, ainda, competncia para conhecer as

    aes judiciais contra atos disciplinares aplicados pela administrao das

    Instituies Militares Estaduais (IMEs).

  • PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    40

    Salienta-se que a JME no possui competncia para processar e

    julgar os militares estaduais que praticarem crimes dolosos contra a vida,

    em que as vtimas sejam civis, nem os crimes no tipificados no CPM,

    como por exemplo o crime de tortura (Lei n 9.455/97). Tal competncia

    da Justia Comum.

    Tais afirmativas encontram supedneo no pargrafo quarto do artigo

    125 da CF/88:

    4 Compete Justia Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as aes judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competncia do jri quando a vtima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduao das praas.

    A JME est dividida em duas instncias de jurisdio. A primeira

    instncia possui dois rgos: os Conselhos de Justia (Especial e

    Permanente) e os juzes de Direito do Juzo Militar (Titular e Substituto). A

    segunda instncia formada pelo Tribunal de Justia Militar (TJM) ou

    pelo Tribunal de Justia do Estado, de acordo com o preconizado pela

    Magna Carta de 1988.

    A segunda instncia da JME, nos Estados cujo efetivo militar seja

    superior a vinte mil integrantes, exercida pelo Tribunal de Justia Militar

    (TJM), nos Estados que o criaram, ou pelo prprio Tribunal de Justia do

    Estado, naquelas unidades federativas cujo efetivo militar seja inferior a

    vinte mil integrantes, ou que no criaram o TJM.

    O art. 125, 3, da CF/88 sustenta essa informao:

    3 A lei estadual poder criar, mediante proposta do Tribunal de Justia, a Justia Militar estadual, constituda, em primeiro grau, pelos juzes de direito e pelos Conselhos de Justia e, em segundo grau, pelo prprio Tribunal de Justia, ou por Tribunal de Justia Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes.

    Em Minas Gerais, o art. 184 da Lei Complementar 59/2001 (Lei de

    Organizao Judiciria de MG) prev que:

    Art. 184 - A Justia Militar Estadual, com jurisdio no territrio do Estado de Minas Gerais, constituda, em 1 grau, pelos Juzes de Direito do Juzo Militar e pelos Conselhos de Justia, e, em 2 grau, pelo Tribunal de Justia Militar.

  • 41

    PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    Art. 184-A - Compete Justia Militar processar e julgar os militares do Estado nos crimes militares definidos em Lei e as aes judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competncia do jri quando a vtima for civil, cabendo ao Tribunal de Justia Militar decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduao das praas.

    Pargrafo nico. Compete aos Juzes de Direito do Juzo Militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as aes judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justia, sob a presidncia do Juiz de Direito, processa julgar os demais crimes militares.

    Apenas trs Estados da Federao criaram tribunais de Justia Militar,

    sendo eles: Minas Gerais, So Paulo e Rio Grande do Sul. Nos demais, o

    Tribunal de Justia Comum funciona como grau recursal das auditorias

    militares instaladas.

    Em Minas Gerais, a estrutura do Tribunal de Justia Militar a

    seguinte, de acordo com art. 186 LC 59/2001-MG:

    Art. 186 - O Tribunal de Justia Militar, com sede na Capital e jurisdio em todo o territrio do Estado de Minas Gerais, compe-se de sete membros, dentre eles trs Juzes oficiais da ativa do mais alto posto da Polcia Militar e um Juiz oficial da ativa do mais alto posto do Corpo de Bombeiros Militar do Estado, integrantes de seus respectivos quadros de oficiais, e trs Juzes civis, sendo um da classe dos Juzes de Direito do Juzo Militar e dois representantes do quinto constitucional.

    Pargrafo nico. Os Juzes oficiais e os integrantes do quinto constitucional so nomeados por ato do Governador do Estado, e o da classe dos Juzes de Direito do Juzo Militar promovido, alternadamente, por antigidade e merecimento, por ato do Presidente do Tribunal de Justia.

    Em todas as Unidades da Federao foram criadas e instaladas as

    auditorias militares (primeira instncia), com jurisdio para processar e

    julgar os militares dos estados quando do cometimento do crime militar

    definido em lei.

    Como apresentado, a primeira instncia formada pelos Conselhos de

    Justia (Especial e Permanente) e pelo Juiz de Direito do Juzo Militar.

  • PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    42

    O Conselho Especial de Justia (CEJ) um rgo colegiado

    (escabinato ou escabinado) formado por um Juiz de Direito do Juzo

    Militar (juiz civil) e quatro oficiais Juzes Militares.

    A presidncia do Conselho Especial cabe ao Juiz de Direito. Os

    demais Juzes Militares sero sorteados de uma lista especial

    encaminhada Auditoria, devendo, necessariamente, ser mais antigos

    que o ru e acompanhar o processo at a prolao da sentena.

    O Oficial, Juiz Militar, enquanto no exerccio de sua jurisdio, goza de

    todas as garantias jurdicas previstas para os membros da magistratura

    nacional, exceto em relao aos vencimentos e remunerao . O Juiz

    Militar continua recebendo os vencimentos pagos pela Instituio Militar a

    que pertencer.

    In verbis, o art. 209 da LC 59/2001-MG prev:

    Art. 209 - O oficial escolhido para compor Conselho de Justia fica dispensado de qualquer outra funo ou obrigao militar durante o perodo de sua convocao, devendo seu comandante ou oficial ao qual estiver subordinado observar e respeitar essa disposio.

    Pargrafo nico. Os Juzes Militares sorteados trimestralmente para compor o Conselho Permanente de Justia ficaro disposio da Justia Militar.

    O CEJ possui competncia para processar e julgar os oficiais das

    instituies militares estaduais (IMEs) quando forem sujeitos ativos de

    crime militar tipificado, exclusivamente, na lei penal militar (CPM

    Decreto Lei 1001/69), e as praas que tenham cometido o mesmo crime

    ou crime conexo, em concurso com o Oficial.

    Em Minas Gerais, o art. 203 da LC 59/2001 estabelece:

    1 - Os Conselhos Especiais de Justia so constitudos por um Juiz de Direito do Juzo Militar, que exerce a sua presidncia, e por quatro Juzes Militares, sendo um oficial superior de posto mais elevado que o dos demais Juzes, ou de maior antigidade, no caso de igualdade de posto, e de trs oficiais com posto mais elevado que o do acusado, ou de maior antigidade, no caso de igualdade de posto.

    O Conselho Permanente de Justia (CPJ) recebe esse nome devido

    ao fato de os Juzes Militares ficarem disposio da JME, aps o sorteio

    efetuado pelo Juiz de Direito do Juzo Militar, por um perodo de trs

  • 43

    PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    meses, prestando jurisdio em todos os processos submetidos sua

    apreciao.

    O CPJ um rgo colegiado (escabinato/escabinado) formado por um

    Juiz de Direito do Juzo Militar (juiz civil) e quatro oficiais Juzes Militares.

    A presidncia do Conselho Permanente de Justia cabe ao Juiz de

    Direito do Juzo Militar, e os demais Juzes Militares sero sorteados,

    devendo, necessariamente, um deles ser Oficial Superior. o que se

    depreende da leitura do pargrafo segundo do art. 203 da LC 59/2001-

    MG:

    2 - Os Conselhos Permanentes de Justia so constitudos por um Juiz de Direito do Juzo Militar, que exerce a sua presidncia, por um oficial superior e por trs oficiais de posto at Capito, das respectivas corporaes.

    O CPJ possui competncia para processar e julgar as praas das

    IMEs quando forem sujeitos ativos de crime militar tipificado,

    exclusivamente, na lei penal militar (CPM Decreto Lei 1001/69).

    Na LC 59/2001-MG, a competncia dos Conselhos est assim

    definida:

    Art. 204-A - Os Conselhos de Justia tm as seguintes competncias:

    I o Conselho Especial de Justia, a de processar e julgar os oficiais nos crimes militares definidos em Lei, exceto os cometidos contra civis;

    II o Conselho Permanente de Justia, a de processar e julgar as praas, nestas includas as praas especiais, nos crimes militares definidos em Lei, exceto os crimes militares cometidos contra civis.

    1 O Conselho Permanente de Justia funcionar durante trs meses consecutivos, contados da data de sua constituio.

    2 Se, na convocao para composio dos Conselhos

    de Justia, estiver impedido de funcionar algum dos Juzes, ser sorteado outro oficial para substitu-lo.

    3 Por acmulo de servio, o Tribunal de Justia Militar poder convocar Conselhos Extraordinrios de Justia, (gn) que funcionaro com um Juiz de Direito do Juzo Militar, quatro juzes militares, escolhidos na forma do art. 209 desta Lei Complementar, um Defensor Pblico e um

  • PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    44

    Promotor de Justia, dissolvendo-se os conselhos logo aps o julgamento dos processos enumerados no edital de convocao.

    Art. 205 - Os Conselhos Especiais ou Permanentes funcionaro nas sedes das Auditorias, salvo casos especiais, por motivo relevante de ordem pblica ou de interesse da Justia, e pelo tempo indispensvel, mediante deliberao do Tribunal de Justia Militar.

    H, ainda, previso da instalao dos Conselhos Extraordinrios,

    caso haja grande demanda judicial, como por exemplo, elevado ndice de

    prescries. A determinao de sorteio e convocao de Conselhos

    Extraordinrios cabe ao Tribunal de Justia Militar, conforme prev o

    pargrafo terceiro do art. 204-A da LC 59/2001-MG, acrescentado pela

    Lei Complementar n 85, de 28/12/2005:

    3 - Por acmulo de servio, o Tribunal de Justia Militar poder convocar Conselhos Extraordinrios de Justia, que funcionaro com um Juiz de Direito do Juzo Militar, quatro juzes militares, escolhidos na forma do art. 209 desta Lei Complementar, um Defensor Pblico e um Promotor de Justia, dissolvendo-se os conselhos logo aps o julgamento dos processos enumerados no edital de convocao.

    O Juiz de Direito do Juzo Militar possui, ainda, competncia para

    processar e julgar singularmente os delitos militares praticados contra

    civis e as aes ajuizadas contra atos disciplinares aplicados pela

    administrao militar ao militar estadual.

    Essa afirmativa est insculpida no pargrafo quinto do artigo 125 da

    Carta Magna:

    5 - Compete aos juzes de direito do juzo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as aes judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justia, sob a presidncia de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares.

    Pela LC 59/2001-MG, modificada pela Lei Complementar n. 85, de

    28/12/2005, o Juiz de Direito (Titular e Substituto) possui as seguintes

    competncias:

    Art. 199 - Compete ao Juiz de Direito Titular do Juzo Militar:

    I processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as aes judiciais contra atos disciplinares, inclusive os mandados de segurana;

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    PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

    II expedir avisos e portarias necessrios ao regular andamento das atividades da Secretaria pela qual responde na condio de Juiz de Direito Titular;

    III exercer a presidncia dos Conselhos de Justia, Especial ou Permanente, nos demais crimes militares previstos no Cdigo Penal Militar e nas Leis Especiais Militares;

    IV decidir sobre recebimento de denncia, aditamento de denncia, pedido de arquivamento de processo e devoluo de inqurito ou de representao;

    V relaxar, nos casos previstos em lei, por meio de despacho fundamentado, a priso que lhe for comunicada por autoridade militar estadual encarregada de investigaes policiais;

    VI decretar, em despacho fundamentado, a priso preventiva de indiciado em fase de inqurito, a pedido do respectivo encarregado;

    VII converter em priso preventiva a deteno do indiciado ou ordenar-lhe a soltura;

    VIII requisitar das autoridades civis ou militares as providncias necessrias ao andamento do processo e ao esclarecimento dos fatos;

    IX requisitar a realizao de exames e percias aos Institutos Estaduais ou Federais;

    X determinar as diligncias necessrias ao esclarecimento do processo;

    XI nomear peritos;

    XII relatar processos nos Conselhos de Justia, Especial ou Permanente, interrogar o acusado, inquirir as testemunhas e redigir as sentenas e decises;

    XIII proceder, na forma da lei, em presena do Promotor de Justia, ao sorteio dos membros de Conselho

    Permanente e de Conselho Especial de Justia;

    XIV expedir mandados e alvars de soltura;

    XV decidir sobre o recebimento de recursos interpostos pelas partes;

    XVI executar as sentenas, exceto as proferidas em processo originrio do Tribunal de Justia Militar, salvo delegao deste;

    XVII renovar, pelo menos semestralmente, diligncia s autoridades competentes para captura de condenado, revel ou foragido;

  • PRTICA FORENSE PARA O JUIZ MILITAR

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    XVIII comunicar autoridade a que estiver subordinado o acusado as decises a este relativas, logo que lhe cheguem ao conhecimento;

    XIX decidir sobre o livramento condicional, observadas as disposies legais;

    XX remeter Corregedoria os autos de inqurito que mandar arquivar, no prazo de vinte dias contados da deciso de arquivamento;

    XXI aplicar penas disciplinares, aps assegurar a ampla defesa e o contraditrio, aos servidores que lhe so subordinados;

    XXII apresentar Corregedoria, no primeiro decndio de cada ms, relatrio dos trabalhos da Auditoria realizados no ms anterior;

    XXIII dar cumprimento s normas legais sobre registros e gesto de pessoal, material e finanas;

    XXIV praticar outros atos que, em decorrncia do Cdigo de Processo Penal Militar e outras disposies legais, forem de sua competncia.

    Art. 200 - Compete ao Juiz de Direito Substituto do Juzo Militar:

    I substituir, na forma regulada pelo Tribunal de Justia Militar, Juiz de Direito Titular do Juzo Militar nas suas licenas, faltas ocasionais, frias, impedimentos ou suspeio jurada no processo;

    II atuar na Auditoria Judiciria Militar para a qual for designado por ato do Juiz Corregedor da Justia Militar;

    III auxiliar o Juiz de Direito Titular do Juzo Militar na produo dos relatrios destinados Corregedoria e em outros servios administrativos;

    IV atuar em Conselho de Justia, Permanente ou Especial, como Juiz Cooperador na Auditoria Judiciria Militar para qual for designado, por determinao do Juiz Corregedor;

    V atuar, singularmente, para processar e julgar as aes judiciais contra atos disciplinares, como Juiz Cooperador na Auditoria Judiciria Militar para a qual for designado, por determinao do J