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SIMONE ALBUQUERQUE DA ROCHA

OS PROFESSORES LEIGOS E O PROFORMAÇÃO: UMA ALTERNATIVA

POSSiVEL A PARTIR DO PROJETO PILOTO DE MATO GROSSO.

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

CAMPUS DE MARÍLIA

JULHO DE 2001

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R672p Rocha, Simone Albuquerque da Os professores leigos e o Proformacão: uma

altemativa possivel a partir do projeto piloto de Mato Grosso / Simone Albuquerque da Rocha ; orientadora: Profª Dra. Cleide Nébias. - Marilia, SP, 2001.

312p.; il, tab.

Tese (Doutorado): Universidade Estadual Paulista (UNESP - Campus de Marilia)

Bibliografia

1. Proformacão 2. Professor leigo 3. Educação a distancia I. Nébias, Cleide, orient. II. Programa de Formação de Professores.

379.81

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SIMONE ALBUQUERQUE DA ROCHA

OS PROFESSORES LEIGOS E O PROFORMAÇÃO: UMA ALTERNATIVA

POSSÍVEL A PARTIR DO PROJETO PILOTO DE MATO GROSSO.

Tese apresentada como exigência parcial para a

obtenção do título de Doutor em Educação

Brasileira à Banca Examinadora da Universidade

Estadual Paulista, Campus de Marília, São Paulo,

sob a orientação da Profª. Drª. Cleide Nébias.

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

CAMPUS DE MARÍLIA

JULHO DE 2001

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E por falar em sonhos...

À Mindé, pelo desenho do sonho de muitos.

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À Wilsa, por ter assumido também o sonho,

transformado-o em realidade e ter me incluído

nele...

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À Alvana, por estender esse sonho a muitos e

convidar-me a continuar no sonho...

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À Maria Umbelina Salgado, pela parceria no

desenho dos sonhos...

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Aos Leigos, que inspiraram os sonhos e, ao

vivenciá-los. possibilitaram-me desvendar

outras realidades...

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Ao Walter, meu companheiro, que enfrentando

a solidão solidarizou-se com o meu sonho...

À Trícia, Jeruza e Naíla, minhas filhas, que

mesmo distantes alimentaram o meu sonho...

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BANCA EXAMINADORA

ORIENTADORA:

Profª. Drª. CLEIDE NÉBIAS

MEMBROS TITULARES

Prof. Dr. ANTONIO CARLOS MAXIMO

Profª. Drª. VIVIANE GALVÃO VILLANI

Prof. Dr. JOSÉ MANOEL MORAN

Profª. Drª. SELMA GARRIDO PIMENTA

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AGRADECIMENTOS

À Professora Drª. Cleide Nébias, por ter-me permitido usufruir um outro modelo de

orientação, pautado na exigência com um misto de compreensão.

Ao Doutor José Manoel Moran, pelas orientações na qualificação, contribuindo para

que a presente pesquisa tivesse um rumo diferenciado do proposto, ampliando os

meus conhecimentos em EAD.

Ao Doutor Dagoberto Arena, que muito contribuiu na qualificação indicando novos

caminhos a ser trilhados e permitindo-me atribuir um novo olhar para os

depoimentos e Memoriais dos Cursistas.

À Professora Selma Garrido Pimenta, educadora dedicada às questões da

Formação de Professores, que contribuiu para a construção dos Centros de

Formação/MT, pela adesão a interlocução do meu trabalho no momento final.

À Professora Drª. Viviane Galvão Villani por ter aceitado contribuir com este trabalho

na fase de discussão final.

À Professora Marlene de Oliveira Santos, por possibilitar-me partilhar do processo

de construção dos Centros de Formação de Professores e do PROFORMAÇÃO,

objetos da presente pesquisa.

Ao Colega Antonio Carlos Máximo, cujo envolvimento nas políticas públicas de Mato

Grosso é notório, por ter aceitado o convite para contribuir com este trabalho nas

discussões finais.

Ao Consultor Michael Moore, consultor do Banco Mundial, pela entrevista concedida

para complementar o presente trabalho.

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À CAPES, pela contribuição para a pesquisa científica no Brasil, incentivando, e

auxiliando este e tantos outros projetos de Pós-Graduação.

Ao Departamento de Educação, pelo apoio dos seus professores e da secretária

Anabel ao longo da pesquisa.

A amiga Nanci, companheira de muitas horas, pela amizade, atenção, otimismo e

sobretudo pelas emoções partilhadas na vida de estudantes e consultoras.

Ao colega Javert, pelo apoio na revisão bibliográfica, a Sorahia, Márcio Tadeu e a

Elisabete, pelas discussões e pelo acervo gentilmente cedido.

A equipe da CNP, pela atenção dedicada quando da solicitação de informações e

dados, e em especial a Alvana e a Harineide pelas traduções. .

A SEDUC/MT e a Evanildes de Arruda Bordalho e sua equipe, Ana Lúcia,

Conceição, Lúcia e Tânia, por termos partilhado, juntas, tantos problemas e muitas

construções.

A Cida, Rita, Beti, Francisco, Fani, José Carlos, Édina, Cézar, Wilma,Terezinha Fin,

Tadeu, Mauri, Alda, Ângela, Débora, Gerusa, José Alesando, Marilaine e suas

equipes, pela força e dinamismo que tiveram à frente do Programa, o que

possibilitou a superação de muitas dificuldades e o registro dessa trajetória na tese.

À amiga e companheira Jaime, pelos momentos de descontração que me

propiciaram a retomada dos trabalhos.

A Fani e ao CEFAPRO de Rondonópolis, pela contribuição que têm prestado à

Formação de Professores, e pela história que ajudaram a construir.

Às minhas irmãs, Leda, Gugú e Eridan, que têm compartilhado das minhas

dificuldades e me incentivado na luta.

A Vagno, Marilza e Karlos, pela preciosa ajuda nos momentos finais da Tese.

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LISTA DE SIGLAS

AGF- Agência Formadora

CEFAPRO- Centro de Formação e Atualização do Professor

CEP- Comissão Estadual do PROFORMAÇÃO

CNP- Coordenação Nacional do PROFORMAÇÃO

COEP- Coordenação Estadual Executiva do Programa FUNDESCOLA

EAD- Educação a Distância

EEG- Equipe Estadual de Gerenciamento

FNDE- Fundo Estadual de Desenvolvimento da Educação

FUNDESCOLA- Fundo de Fortalecimento da Escola

CEE- Conselho Estadual de Educação

IMA- Instituição de Monitoramento e Avaliação

MEC- Ministério da Educação e do Desporto

OME- Órgão Municipal de Educação

PC- Professor Cursista

PF- Professor Formador

PROFORMAÇÃO- Programa de Formação de Professores em Exercício

SEDUC- Secretaria de Estado de Educação

SEE- Secretaria de Estado da Educação

SEED- Secretaria de Educação a Distância

SEF- Secretaria de Educação Fundamental

SME- Secretaria Municipal de Educação

TR- Tutor

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Material Instrucional do PROFORMAÇÃO 59

Figura 2 - Mapa dos Estados Participantes do PROFORMAÇÃO 57

Figura 3 - Mapa do Trajeto da Viagem a Confresa 75

Figura 4 - Mapa de Localizacão dos Polos dos CEFAPROS 80

Figura 5 - Fase Presencial - Juina 86

Figura 6 - Reuniao com Tutores - Juina 86

Figura 7 -Album de Formatura 139

Figura 8 - Formatura - Barra do Garcas 139

Figura 9 - Expansao do PROFORMAÇÃO 187

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Suporte Pedagógico aos Professores Cursistas e Tutores 57

Quadro 2- Matriz Curricular do PROFORMAÇÃO 61

Quadro 3- Estrutura Curricular dos Módulos I e II 62

Quadro 4- Estrutura Curricular dos Módulos III e IV 62

Quadro 5- Quilometragem de Cuiabá aos CEFAPROs 79

Quadro 6- Evasão do PROFORMAÇÃO 141

Quadro 7- Evasão do PROFORMAÇÃO- gráfico de colunas 144

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RESUMO

A proposta do presente trabalho teve como objeto a análise dos efeitos do

PROFORMAÇÃO na Prática do Professor Leigo no estado de Mato Grosso. O

Programa de Formação de Professores em Exercício em Nível Médio foi implantado

e coordenado pelo MEC/FUNDESCOLA como experiência Piloto em Mato Grosso. A

análise foi baseada na avaliação dos instrumentos e outros documentos

prioritariamente nos Memoriais, registros dos Professores Cursistas sobre os

avanços e dificuldades enfrentadas durante o Programa, sendo complementada com

depoimentos e entrevistas. O papel do Tutor, na função de orientador e incentivador

da aprendizagem, constituiu-se também em elemento de avaliação. A metodologia, o

material instrucional e as parcerias para a manutenção do aluno no Programa têm se

constituído em pontos nevrálgicos, nos Programas de Formação de Professores, e

por este motivo foram estudados no conjunto das análises. O trabalho, porém, não

isentou o olhar da pesquisadora enquanto participante do processo. A conclusão a

que se chegou, foi de resultados positivos, apesar dos problemas enfrentados na

experiência Piloto, a observar pelo índice mínimo de evasão, atitudes e posturas

inovadoras na prática dos Professores. É importante ressaltar que o presente estudo

permitiu, ainda, analisar, paralelamente ao PROFORMAÇÃO, a recente política de

Formação dos Professores da Secretaria de Educação de Mato Grosso, o Centro de

Formação e Atualização do Professor (CEFAPRO), instituídos em pólos regionais

onde se desenvolveu o Programa, o qual encontrou no PROFORMAÇÃO um grande

aliado para a sua estruturação.

Palavras-chave: PROFORMAÇÃO; Professor Leigo; Educação a Distância; Tutor;

Agência Formadora; Memorial; CEFAPRO.

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ABSTRACT

The purpose of this study was to analyze the effects derived from PROFORMAÇÃO

Program on lay teachers' classroom practice in the State of Mato Grosso.

Proformação - Training Program for in-service teachers - is a distance teacher

certification course aimed at providing training to uncertified teachers already

teaching the first four years of primary education. The Program started as a pilot in

Mato Grosso state, and was coordinated by the Ministry of

Education/FUNDESCOLA. This analysis is based on evaluation instruments and

other documents, particularly the Memorial, a journal written by trainees during the

course, and teacher trainees' records about their progress and difficulties faced

during the Program. The Tutor's role, specifically regarding to his (her) guiding a

motivational learning support, constitutes another matter of evaluation. The

methodology of Instructional materiais and the partnerships established to support

trainees in the Program are crucial éléments in teacher training Programs, and were,

therefore, included in this analysis. The research, however, is not exempted from the

researchers point of view as a participant in the implementation process. The

conclusion of the study was that the program experience was positive, despite the

problems faced during the pilot experiment. This conclusion is based on the fact that

the dropout rate was very low, and there were Several positive Changes that could be

observed in the trainees' attitudes and classroom practice. It's important to

emphasize that the présent study has also allowed the researcher to make

considerations about a recent policy related to teacher training in the state of Mato

Grosso, that is, the creation of teacher training Centers (Centros de Formação e

Atualização do Professor - CEFAPROS). These Centers are located in Several

regions of the state, and were the training and learning support agencies of

Proformação. The study found that the implementation of Proformação helped them

to be structured and institutionalized.

Key words - PROFORMAÇÃO; in-service teacher training; distance learning; Tutor;

Training Agencies; distance teacher training; journal (memorial);CEFAPRO.

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RESUME

La proposition du présent travail avait comme sujet 1'analyse des effets du

PROFORMAÇÃO - Programme pour Ia Formation des Professeurs en Exercice - sur

Ia pratique du Professeur Laíque dans 1'état de Mato Grosso, Brésil. Le

PROFORMAÇÃO, programme en niveau moyen pour Ia formation des professeurs, a

été coordonné par MEC/FUNDESCOLA et a été implanté dans Mato Grosso, comme

experience pilote. L'analyse de cet travail sera basée sur l'évaluation des certains

instruments et autre documents, notamment le Mémorial - document pour le

enregistrement du progresse et des difficultes qui ont les apprenantes pendant le

Programme -, pour être complete avec les dépositions et les entrevues. Le papier du

Tuteur, dans Ia fonction de conseiller et motivant d'apprentissage, est aussi un

élément d'évaluation. La méthodologie des matériels d'instructions et les

associations pour l'entretien de l'étudiant dans le Proformação, sont les points

névralgiques dans les Programmes de Formation de Professeurs, et pour cette

raison ils seront étudiés dans 1'ensemble des analyses. Cependant, le travail il n'est

pas exempte le coup d'oeil du chercheur comme participant du processus. La

conclusion celui qui est été arrivé, c'était des résultats positifs, malgré les problèmes

vécu dans 1'expérience Pilote. Cet résultats c'est évident au 1'index minimum de fuite,

attitudes et postures innovatrices dans Ia pratique des Professeurs. Cest important

de signaler que Ia presente étude a permis, encore, parallèlement à

PROFORMAÇÃO, faire d'analyse sur les recentes politiques de Formation des

Professeurs de Ia Secretaria de Educação de Mato Grosso, le Centre de Formation

et d'Actualisation du Professeur (CEFAPRO), distribue par le région, ou le

PROFORMAÇÃO a trouvé un grand allié pour leur développement.

Les mots clef: PROFORMAÇÃO; Professeur Laíque; Education a Distance;

Professeur; Agence Formatrice; Memorial; CEFAPRO.

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SUMÁRIO

ABRINDO NOSSO DIÁLOGO 1

PARTE 1 18

SITUANDO NOSSO TEMA 18

CAPÍTULO 1 19

A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES 19

1.1. Formação de Professores no Brasil em EAD na década de 90 28

1.2. A Formação de Professores em EAD no Mato Grosso 30

1.3. A Formação de Professor Leigo no Mato Grosso na década de 90 35

CAPÍTUL02 .46

PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EXERCÍCIO: UM

BREVE HISTÓRICO 46

2.1. PROFORMAÇÃO 53

2.2. Estrutura organizacional do PROFORMAÇÃO: competências 55

2.3. O material instrucional 58

2.4. Os objetivos 59

2.5. A Matriz Curricular 60

2.6. A avaliação 63

2.7. Estados que participam do PROFORMAÇÃO 66

CAPÍTULO 3 68

O PROFORMAÇÃO NO MATO GROSSO 68

3.1. O contexto político, econômico e educacional 68

3.2. PROFORMAÇÃO no Mato Grosso: uma via de mão dupla 83

PARTEM 96

DEFININDO NOSSO CAMINHO 96

CAPÍTULO 1 97

METODOLOGIA: ALGUMAS REFLEXÕES 97

1.1. O objeto de pesquisa 99

1.2. Algumas hipóteses 103

1.3. Os objetivos da pesquisa 104

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1.4. Os instrumentos no contexto da pesquisa 104

1.5. A coleta de dados: forma e conteúdo 107

1.6. O tratamento destinado aos instrumentos 111

1.7. Categorias de análise 115

PARTE III 117

CONSTRUINDO NOSSA APRENDIZAGEM 117

CAPÍTULO 1 118

A TRAJETÓRIA DO PILOTO: A APRENDIZAGEM DO

TRABALHO COLETIVO 118

1.1. O trabalho fundamental do Tutor 122

1.2. As revelações das entrevistas 132

1.3. Os resultados da evasão do Piloto/2000 139

CAPÍTULO 2 145

A ANÁLISE DOS INSTRUMENTOS 145

2.1. O primeiro instrumento 147

2.2. O segundo instrumento 152

2.3. O terceiro instrumento 161

2.4. O quarto instrumento 163

2.5. O quinto instrumento 172

2.6. Ainda algumas falas 179

CAPÍTULO 3 182

A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES EM EXERCÍCIO 182

3.1. As contribuições do Piloto para a expansão do PROFORMAÇÃO 186

RECONSTRUINDO NOSSA APRENDIZAGEM 189

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 208

BIBLIOGRAFIA 218

ANEXOS 224

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SUMARIO DE ANEXOS

1. GUIAS DE ESTUDO: SUGESTÕES PARA A ELABORAÇÃO

DO MEMORIAL 225

1.1. Elaboração do Memorial Módulo 1 -Un idade4 225

1.2. Elaboração do Memorial Módulo 2-Unidade 7 226

1.3. Elaboração do Memorial Módulo 2-Unidade 8 227

1.4. Elaboração do Memorial Módulo 3-Unidade 1 228

2. NARRATIVAS DE ALGUMAS TRAJETÓRIAS DA PESQUISADORA 228

2.1. A façanha partilhada com o Tatu 229

2.2. Quem diria, um bicho-de-péü! 232

3. ENTREVISTA COM OS COORDENADORES 235

3.1. Entrevista com: Marlene de Oliveira Santos 235

3.2. Entrevista com: Michael Moore 237

3.3. Entrevista com: Alvana Bof 240

3.4. Entrevista com: Evanildes Arruda Bordalho 248

3.5. Entrevista com: Mindé Badauy de Menezes 252

3.6. Entrevista com: Professor Oreste Preti 259

3.7. Entrevista com: Wilsa Maria Ramos 267

4. ENTREVISTA COM OS DIRETORES 272

4.1. Entrevista com: Ângela dos Santos das Mercês 272

4.2. Entrevista corn: Fani de Almeida Assunção 275

4.3. Entrevista com: Profª. Maria Alda Antonelli 277

4.4. Entrevista com: Prof Cézar Augusto Espíndola 279

4.5. Entrevista com: Débora Oliveira Santos 282

4.6. Entrevista com: Inês Elisabete Wagner de Souza 283

4.7. Entrevista com: Maria Aparecida de Souza Aiza 285

4.8. Entrevista com: Tadeu Buzanello 287

4.9. Entrevista com: Maria Terezinha Fin 290

4.10. Entrevista com: Vilma Vilela Shuingel 292

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5. ENTREVISTA COM OS PROFESSORES CURSISTAS 293

5.1. Entrevista com: Profª. Diana 293

5.2. Entrevista com: Vitória 299

5.3. Entrevista com: José 303

5.3.1 Depoimento do Professor Cursista José 307

5.4. Entrevista com: Joana 309

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ABRINDO NOSSO DIÁLOGO

Çosto de ser gente porque a Justaria em que me faço com os outros e de cuja feitura tomo parte é um tempo de possibilidade e não de determinismo. (...) Çosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais aCém dete.

Paulo Freire

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O trabalho de docência, especificamente na área de Formação de Professores, tem-

me sido significativo durante estes 30 anos de carreira. Trabalhando com as

disciplinas de Didática e Práticas de Ensino desde 1971, primeiramente no curso de

Magistério e posteriormente na Universidade, meu olhar voltava-se para as

disciplinas trabalhadas e sua contribuição para a prática docente, tendo como foco

primordial o espaço da sala de aula e o entorno da escola.

Quando fixei residência em Mato Grosso, especificamente na cidade de

Rondonópolis, a partir de 1985 fui convidada a trabalhar na Escola Estadual

Sagrado Coração de Jesus, também no Magistério, com Didática e Estágio

Supervisionado, continuando portanto, na área de atuação. Posteriormente ingressei

na Universidade Federal de Mato Grosso/UFMT, assumindo as disciplinas de

Currículo, Prática de Ensino e Estágio Supervisionado, sem, no entanto, descolar

totalmente o olhar da escola.

Ao mesmo tempo, junto à docência da Universidade, realizava o acompanhamento

das atividades de estudos de Formação Continuada da escola, num trabalho

conjunto que se operacionalizava pela especial atenção em destinar os estágios

supervisionados do curso de Pedagogia para ações e projetos que visassem

melhoria da formação dos professores naquela unidade escolar.

Não só a intenção de permanecer ligada à escola fazia com que as propostas

fossem direcionadas a ela, mas também a preocupação em aproximar os alunos da

universidade a uma realidade mais concreta, junto aos professores da rede pública

de ensino. Dessa forma, estariam partilhando a realidade, os problemas e as

dificuldades da prática docente nos locais de trabalho. Por outro lado, preparavam-

se os universitários para discutir com a escola produções atualizadas e novas

metodologias propostas por teóricos da área, a fim de que se propiciasse a seus

professores investir práticas inovadoras.

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Assim, a partir da equipe da escola, construímos uma proposta de Formação

Continuada para os docentes, recebendo o total apoio do Departamento de

Educação da UFMT na discussão dos temas e teorias educacionais que auxiliam o

professor a compreender melhor a dinâmica da sala de aula e as relações que

propiciam a construção do conhecimento.

A necessidade de qualificação em nível de Mestrado, em 1993, deu-se em meio a

esse envolvimento com a Formação Continuada, motivo pelo qual meu objeto de

pesquisa tratou de resgatar a trajetória histórica do grupo de professores da Escola

Estadual Sagrado Coração de Jesus, na sua luta pela melhoria da qualidade do

curso de Magistério, na reestruturação curricular, bem como no investimento em

alternativas de atualização permanente para seus professores. Tendo participado

ativamente desse processo, concluí pela necessidade do registro e avaliação da

travessia que contagiou os professores das escolas de Rondonópolis numa

expressão capaz de despertar o interesse do Sindicato dos Professores e da

Secretaria de Estado de Educação.

O tema da dissertação tratou das Contribuições do CEFAM de Rondonópolis para a

reestruturação curricular do curso de Magistério. Do momento da defesa, durante os

trabalhos de argüição, fatos marcantes ficaram registrados na memória, tais como a

solicitação da Profª. Drª. Selma Garrido Pimenta, Livre Docente da FE/USP, membro

da Banca, para que grifasse os parágrafos que, segundo sua análise, situavam

momentos históricos da construção da identidade profissional do grupo de

professores da escola, e estavam a acenar um possível movimento cultural em torno

da Formação de Professores. Um desses parágrafos traz o seguinte registro:

Estava ganhando corpo o trabalho coletivo no Magistério da Escola Sagrado Coração de Jesus com a metodologia adotada. As decisões e inovações nas disciplinas ocorriam naturalmente, como uma conseqüência de todo o processo que se vivenciava. É um grupo que inclusive no Estado está demonstrando, garantindo e justificando a necessidade da hora-atividade (...), mas se esgota a força desse grupo pela ausência de política pública nesse sentido (1996, p. 100-136).

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Lembro-me também de quando a Profª. Drª. Cleide Nébias, do programa de Pós-

graduação da UNESP, também membro da Banca, salientava como relevante, na

análise do movimento do grupo, a consciência de classe e a consciência coletiva do

grupo, que se fortalecia apesar da situação enfrentada. A respeito de tal observação,

a professora assinalou o que está transcrito abaixo:

(...) esse grupo com coragem de desafiar as dificuldades que estão passando, o atraso salarial, a defasagem salarial e ainda terem coragem de levar adiante a Formação de Professores (...) Trabalhar sem recursos, sem motivação, só encontrando dentro de si, essa consciência é muito doída... mas muito bem formada (p.136).

Ao finalizar a defesa, a orientadora da dissertação de Mestrado, Profª. Drª. Sônia

Grego, manifestava junto aos demais componentes da Banca, julgar que o trabalho

desenvolvido deveria sofrer continuidade; sugerindo dessa forma, que se eu

continuasse a pesquisa. As reflexões levantadas na dissertação e a motivação para

a continuidade da pesquisa fizeram com que no ano seguinte, eu prestasse a

seleção e entrasse no Programa de Doutorado da UNESP/Marília, tendo como

objetivo acompanhar a trajetória do movimento pedagógico desse Centro de

Formação Permanente, enquanto indicador da redimensão da prática do professor.

Concluindo o Mestrado e retornando às atividades docentes, continuei integrada à

equipe da Escola Estadual Sagrado Coração de Jesus, e juntos avançamos na

criação de um espaço onde se discutissem os temas relacionados à Educação,

tendo surgido o Programa de Formação Permanente enquanto iniciativa do grupo de

professores, aberto aos profissionais das demais escolas públicas, uma vez que não

havia instância no Estado que possibilitasse tal reflexão entre os professores.

A procura dos docentes pelas reuniões de atualização na hora-atividade tornou-se

expressiva a ponto de iniciar-se a experiência com dois turnos, no semestre seguinte

com cinco turnos e no ano letivo posterior com nove turnos. Estava constituindo-se

um efervescente movimento de busca de uma cultura de Formação Continuada, o

que alertou a Secretaria de Estado de Educação para um investimento na proposta,

ainda que inexpressivo inicialmente, até se concretizar em oportunidade de

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institucionalização enquanto política pública de Formação de Professores da

Secretaria de Estado de Educação.

Da iniciativa deste, a Secretaria no sentido de montar uma proposta aproximada da

desenvolvida na Escola resultou o convite para que eu contribuísse na construção

do Projeto, ao qual acenei positivamente, iniciando as discussões no âmbito da

Secretaria até definirmos a proposta de criação dos Centros de Formação e

Atualização do Professor, um projeto de muitas parcerias.

Neste ponto, convém enfatizar que, com o desejo de registrar a trajetória desse

movimento até se consolidar em Política Pública, associado à necessidade de

investigar a respeito de sua contribuição enquanto espaço estadual de Formação

Continuada, apresentei ao programa de Pós-graduação da UNESP de Marília um

projeto de Doutorado nessa área, obtendo aprovação.

Na realidade, o meu campo de atuação, enquanto docente das disciplinas de

Práticas de Ensino e Estágio Supervisionado, limitava-se às discussões no espaço

da Universidade e da escola. Aceitar esse convite representava a oportunidade para

que eu vivenciasse a reflexão acerca do tema, numa dimensão macro, o que era

instigante ao olhar do pesquisador devido ao um interesse muito grande em registrar

como é que se dava o processo de construção de uma proposta em nível de estado.

Exercendo a função de Consultora na Secretaria de Estado de Educação e

partilhando há dois anos das discussões e da recente construção do Programa de

Formação de Professores, acompanhei a equipe da Coordenação Nacional do

Programa de Formação de Professores em Exercício (PROFORMAÇÃO), quando de

suas visitas ao Mato Grosso para efetuar o convite, a fim de que se constituísse em

experiência Piloto. Com a resposta afirmativa do Estado às coordenadoras do

Programa, essas me fizeram o convite para que assessorasse no monitoramento de

implantação do Programa.

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O PROFORMAÇÃO destina-se à Formação de Professores Leigos, área até então

nunca explorada durante os longos anos da minha experiência profissional. O

convite incitou-me a cogitar sobre os referenciais de discussão relacionados à

Formação do Professor nas escolas de Magistério. Por que esse tema nunca foi

abordado no currículo destes cursos?

A minha experiência vem de dois estados, portanto a percepção do problema de

essa discussão não acontecer nos cursos de formação superior, não advém de uma

única análise. Qual era o tratamento destinado aos Leigos a ponto de não

merecerem referência nos cursos de formação?

O Magistério então se configurava como um curso para a classe média e, portanto

os profissionais de baixa renda, nem sequer mereceriam referência no currículo?

Essa reflexão suscitou uma análise no currículo dos cursos de Formação de

Professores, no sentido de se instituírem espaços de discussão sobre esses

profissionais no estados onde existe a demanda. Este fato nos leva a questionar o

currículo desses cursos, pelo menos das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste.

As universidades demonstravam alguma intenção clara de resgatar esse tema e

trazê-lo à discussão nos cursos de formação de Ensino Médio? Para quem

formamos os nossos professores? O exercício da sua profissão estaria sempre

direcionado à zona urbana? De que forma os temas acerca da formação do

professor da zona rural são tratados nos cursos de Formação para Professores das

séries iniciais?

A Universidade tem apresentado proposta de investigação da realidade referente às

condições de formação e de ensino-aprendizagem do Professor Leigo? Quais as

experiências reais de investigação nessa área?

Na Universidade, enquanto docente, discutia junto aos alunos da Pedagogia, na

disciplina de Currículos e Programas, acerca das classes multisseriadas. Eu

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percebia a necessidade de discutir sobre o despreparo do professor da zona rural,

sobre a falta de acesso a oportunidades de titulação e atualização e sobre a

ausência de políticas públicas na área. Por conta dessa percepção, eu introduzia

alguns textos para serem discutidos, mas era uma iniciativa própria, não constava no

programa da disciplina; tratava-se de uma discussão ainda muito incipiente. Lembro-

me das reflexões geradas a partir dos textos que tratavam sobre o currículo na zona

rural, dentre eles os de autores como Teresa Roserley Neubauer da Silva, Dácio

Tavares Lobo Júnior, Lobo Neto, das contribuições dos Cadernos Cedes, dos

Cadernos de Educação, da Revista Educação e Sociedade, entre outros que tratam

de alguma forma sobre a educação no meio rural.

Em geral, os enfoques acerca do currículo na zona rural vêm associados à formação

do professor ao ponderar a fragilidade do ensino no interior, onde a necessidade de

profissionais com habilitação se faz presente, a fim de que possam contribuir para a

reflexão sobre a política agrícola, as formas de fixar o homem no campo, a

construção da cidadania do homem rural e a valorização de uma cultura que se

constrói nos espaços ecológicos do saber.

Tais considerações a respeito do ensino no meio rural eram calorosas, porém

estéreis em experiências e vivências, tanto por parte do alunado quanto pela

docente. Não raras vezes, incorria-se no risco de falar sobre a realidade do Leigo a

partir tão somente do texto. Com a assessoria ao Programa, comecei a partilhar da

realidade desse professor, das suas carências, da falta de oportunidades de acesso

ao saber, da ausência de políticas consistentes e possibilitadoras de formação em

serviço.

Sendo assim, as inquietações foram surgindo e, dentre elas, as que mais me

instigavam eram as seguintes:

Por que, ao longo dos anos, não houve políticas consistentes de Formação de

Professores Leigos que de fato oportunizassem a sua habilitação?

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Seria o PROFORMAÇÃO a política que instrumentalizaria o Professor Leigo teórica

e metodologicamente, para refletir, propor e redimensionar a sua prática?

Quais os indicadores que revelariam esse comportamento?

Quantos de nós, docentes da rede pública de ensino e das universidades, já tivemos

contato com a realidade vivenciada pelo Professor Leigo nas múltiplas atividades de

docente, ministrando aulas para as quatro séries do Ensino Fundamental, realizando

na precariedade das escolas as atividades de merendeiro, faxineiro, diretor,

conselheiro comunitário e conciliador?

O dicionário Aurélio define como Leigo aquele que é estranho ou alheio ao assunto.

Esse conceito pode ser atribuído a esse professor sem uma análise mais profunda

da sua atividade docente?

Qual a concepção de alfabetização possível nestas condições de trabalho?

A clareza de que havia um espaço ainda não explorado em minha experiência

profissional fez com que eu mergulhasse no PROFORMAÇÃO não só com o olhar

do educador que executa um trabalho, mas com o olhar do educador que busca, no

trabalho, vivenciar profundamente uma realidade até então não partilhada.

À medida que desenvolvia o trabalho junto aos "Leigos" sentia a necessidade

profunda do registro de tais experiências, da trajetória do Programa, da narrativa do

desenvolvimento dos Centros de Formação nos mais longínquos municípios do

Estado, das características de cada um deles e de como segundo suas

peculiaridades, desenvolviam o PROFORMAÇÃO.

A minha preocupação também se prendia à necessidade de registrar uma política

que parecia ser consistente na área de Formação do Professor Leigo, profissional

este que havia passado por tantas iniciativas fracassadas, ou ainda, em algumas

localidades, nem tido acesso a projetos que lhes oportunizasse cursos de habilitação

por mais de 15 anos, conforme o relato de muitos.

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Afinal, quem eram estes professores? Em sua grande maioria, oriundos do interior

dos municípios, da zona rural, dos garimpos, do sertão, da mata, das glebas de

assentamento, da floresta, das regiões ribeirinhas, enfim, cada um com a sua

história, com o seu espaço e a sua vida para contar. Muitos deles, ex-alunos da

comunidade, com o primário incompleto e, hoje, professores. Suas escolas, quando

não eram na residência do professor, consistiam, em sua maioria, de casas sem a

mínima estrutura para o ensino, sendo elas de pau-a pique, ou cobertas por lona,

palha, muitas sem paredes, só com a cobertura, e nesse espaço os Leigos deveriam

ministrar as aulas, ensinando os alunos a ler, escrever e resolver as contas, segundo

seus depoimentos.

Vida e profissão discriminadas pela ausência da sua história nos livros escolares,

nos currículos dos cursos de Formação de Professores, nas Universidades e na

História da Educação Brasileira.

Quando iniciei o trabalho de Assessora Técnica do PROFORMAÇÃO, percebi a

importância de se estar regressando à trajetória do Programa no Estado por três

motivos, o primeiro era a necessidade de se documentar a apropriação e construção

do conhecimento por parte dos Leigos a partir dos conteúdos propostos no Curso.

O segundo, decorrente do primeiro, envolvia a observação da aplicação do

conhecimento construído na prática pedagógica e a avaliação do Cursista acerca da

nova experiência.

O terceiro consistia no objetivo primordial do PROFORMAÇÃO, que era o de

oferecer um curso de qualidade com uma proposta de dois anos no Estado. Isso

para mim, enquanto educadora, significava um momento histórico na formação do

Leigo, portanto precisava ser registrado.

A opção pela pesquisa acerca do PROFORMAÇÃO e suas contribuições na

Formação de Professores Leigos teve o seu marco no momento em que, em uma

conversa com a orientadora Profª. Drª. Cleide Nébias, solicitei que se aprofundasse

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o projeto inicial que tratava do resgate e da trajetória da política de Formação de

Professores, os Centros de Formação e Atualização do Professor (CEFAPRO), para

o PROFORMAÇÃO, também um Programa de Formação de Professores, que se

desenvolveria nos Centros, objeto de estudo.

Refletimos juntas e a Drª. Cleide Nébias concordou com essa possibilidade, fato

esse que permitiu que eu desenvolvesse o trabalho de Assessora Técnica com o

olhar também de pesquisadora, o que dá à atividade outra performance, permitindo

investigar hipóteses, dar um tratamento científico às informações e à análise dos

dados.

Assim decidido, para chegar ao estudo e investigação do Programa do

MEC/FUNDESCOLA, o qual aceitei monitorar, torna-se necessário, num primeiro

momento, informar ao leitor que se trata de um Programa de Formação de

Professores em Exercício, de Habilitação em nível médio, que se desenvolverá nos

estados em Agências Formadoras, as Escolas Normais. No entanto, desde 1996 o

estado de Mato Grosso extinguiu o curso de Magistério e instituiu, em dezembro de

1997, os Centros de Formação e Atualização do Professor/ CEFAPROs, instâncias

responsáveis pelo desenvolvimento de Programas de Formação Continuada de

Professores e de Formação Inicial.

O PROFORMAÇÃO desenvolveu-se no estado de Mato Grosso, nos Centros de

Formação, pois este era o único estado que se encontrava com as discussões

avançadas acerca dos destinos do Magistério.

Tais Centros de Formação e Atualização do Professor são instituições localizadas

em regiões pólos do Estado e têm a finalidade de absorver todos os municípios nas

atividades propostas. No total são doze Centros que foram criados e estavam em

fase de estruturação quando o Estado aderiu ao PROFORMAÇÃO. Os municípios

onde os Centros se instalaram foram: Rondonópolis (como experiência inicial),

Cuiabá, Diamantino, Cáceres, Barra do Garças, Sinop, Matupá, Alta Floresta, Juína,

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Juara, São Félix do Araguaia e Confresa. Os Centros são considerados pelo

Sistema, como escolas de formação, com quadro de professores específico,

estrutura e legislação própria.

Dada esta situação, de caracterizar-se como realidade ímpar, considerei pertinente

historiar, na tese, como o estado de Mato Grosso estava estruturado para

desenvolver o PROFORMAÇÃO. Daí a necessidade de relatar e registrar a história

da construção dessa política de formação no Estado, cuja implementação se dá

paralelamente à experiência Piloto da Formação de Professores Leigos em Mato

Grosso.

Tal fato possibilita que a pesquisa se apresente com dupla contribuição social, uma

vez que, ao investigar o PROFORMAÇÃO como objeto central do trabalho, não se

pode prescindir de uma análise sobre o papel dos Centros de Formação, enquanto

responsáveis pela condução do Programa nos pólos. Dessa forma, a pesquisa

aborda, tanto em nível estadual quanto em nível nacional, programas de políticas de

Formação de Professores que se entrelaçam, interagem e se completam, num

campo fértil em diversidade, disparidades regionais e multiplicidade cultural como o

estado de Mato Grosso.

No entanto, esse trabalho exigirá de mim muita clareza a respeito da vigilância que

se deve ter no momento do registro das observações realizadas. Ao partilhar dos

sucessos, entusiasticamente colocados pelos Professores Cursistas durante a sua

trajetória, é possível que em alguns momentos, despercebidamente e contagiada

pela alegria dos Leigos, possa ter transferido para o texto uma atmosfera totalmente

positiva do Programa.

Esse fato poderá acontecer devido ao posto de observação em que se situa o meu

olhar, isto é, o de pesquisadora olhando de dentro do processo e envolvida

enquanto elemento de articulação do Programa no Estado. O olhar construído nessa

vivência não possibilita uma crítica mais acirrada, no entanto a questão da

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subjetividade do autor não se deu de forma ingênua, uma vez que há clareza quanto

aos riscos da análise.

O fator subjetividade tornou o relato diferente daquele que olha de fora o Programa,

o que segundo FAZENDA é:

Diferente porque já impregnado por um crivo, ou uma seleção que não garante a precisão da objetividade, garante a riqueza da subjetividade que, igualmente é fidedigna (...) porque substitui o propósito de precisão por outro: o de selecionar do quadro aquilo que mais marcou (...) ou que parece ter sido mais significativo a ponto de ser inesquecível e inesgotável. (1991, p.3l).

E, ciente da inegável subjetividade na pesquisa de investigadores envolvidos com o

objeto de estudo, coloquei como reflexões as seguintes questões:

Será que a análise criteriosa de um Programa é atributo somente do pesquisador

que está num posto de observação de fora do processo?

O fato de o pesquisador ser participante de um Programa e, portanto, compreender

as dimensões, a operacionalização, avanços e limites, torna a pesquisa menos

crítica, devido ao teor de subjetividade?

Nessa trama de posições, penso que o risco ocorrido foi tanto para quem esteve no

posto de observação de dentro quanto no de fora da pesquisa, haja vista que, o de

fora poderá pecar pela falta de detalhes, por um olhar mais abrangente e pela

dificuldade na obtenção dos dados importantes para a pesquisa os quais são muitas

vezes, ocultados pelos atores. Tais reflexões fizeram com que me situasse enquanto

pesquisadora que faz parte da teia que constrói o Programa, acompanhando-o no

mais longínquo espaço geográfico onde se operacionaliza, vivenciando dificuldades,

avanços e as emoções dos envolvidos.

Essa experiência ímpar é exclusiva do Assessor Técnico, o qual faz uma

interlocução com todas as Agências Formadoras e com esta visão global pode trazer

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para a tela o resgate de pontos fundamentais nos quais a subjetividade, com

certeza, estará presente.

Este trabalho, que pretendeu explorar a primeira turma do PROFORMAÇÃO no

Mato Grosso, foi organizado em três partes, tendo cada uma delas um título que foi

extraído dos Guias de Estudo do PROFORMAÇÃO, no sentido de convidar o leitor a

mergulhar junto com o autor e interlocutor na leitura, no conhecimento e na

construção dos referenciais para a análise acerca do tema desenvolvido.

A Introdução do trabalho - ABRINDO NOSSO DIÁLOGO - visa explicitar ao leitor as

razões que me levaram a investir no tema. É um esboço do problema a ser

investigado e as questões que se colocam como inquietudes com relação à

formação do Professor Leigo.

Antecedendo o desenvolvimento de cada uma das partes, julguei pertinente utilizar

citações extraídas da obra de Paulo Freire (1997), Pedagogia da autonomia, pelo

relacionamento do conteúdo destas com o tema abordado. Tal julgamento baseou-

se também no fator de familiarização com o tema em estudo, uma vez que se trata

de um novo olhar de adultos acerca da prática exercida: o trabalho de docência dos

Professores Leigos.

Assim estão desenvolvidas as partes:

Na Parte I - SITUANDO NOSSO TEMA - abordo a Educação a Distância (EAD)

antes de discorrer sobre o problema que optei por investigar, porque o Programa de

Formação de Professores em Exercício - PROFORMAÇÃO, na modalidade a

Distância, requer que os participantes fiquem a par das discussões e dos assuntos

tratados relativos a essa temática.

Os capítulos que se seguem sobre a Formação do Professor abordam o tema de

forma dedutiva, partindo da realidade brasileira e, posteriormente, centrando o foco

das atenções para o estado de Mato Grosso.

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Em se tratando de Formação do Professor na modalidade a Distância, em nível

superior, recebi a sugestão do membro da Banca, professor Dr. José Manoel Moran,

na Qualificação, para que eu trouxesse à tela as universidades brasileiras que estão

desenvolvendo projetos nessa área; destacando principalmente a de Mato Grosso,

diante do fato de a UFMT ser a primeira a investir na Formação de Professores em

EAD, em nível superior - Licenciatura, observei a necessidade de detalhar o

Programa para que os leitores obtivessem maiores informações.

Ainda nesta parte apresento a dimensão do PROFORMAÇÃO, objeto de estudo

deste trabalho, a fim de que o leitor se situe a partir do referencial apresentado na

proposta, podendo assim acompanhar a trajetória do Mato Grosso na execução do

Programa.

Na Parte II - DEFININDO NOSSO CAMINHO - apresento a proposta metodológica

da pesquisa, propondo-me refletir sobre os possíveis caminhos e definir-me pela

pesquisa qualitativa; neste espaço, projeto minhas indagações e reflexões com

respeito à escolha do método. A seguir, apresento os objetivos, hipóteses,

categorias de análise, coleta de dados, descrevendo as circunstâncias em que estes

ocorreram. Nesta parte, situo os instrumentos como sendo as entrevistas e os

depoimentos, os quais não têm um momento determinado para serem lançados no

trabalho, já que eles permeiam a tese, aparecendo nas ocasiões em que se

constituem em fontes esclarecedoras de assuntos levantados no decorrer da

pesquisa. Os Memoriais, por serem um instrumento de especial destaque na coleta

de dados, serão situados predominantemente em um capítulo específico.

A Parte III - CONSTRUINDO OS RESULTADOS - constitui-se essencialmente no

desenvolvimento da investigação do trabalho, em que se constata de forma mais

clara a metodologia utilizada, o valor dos instrumentos coletados inseridos no texto e

a trajetória do programa Piloto no estado de Mato Grosso. Nesse momento, projeto

as entrevistas e os Memoriais, destacando-os como instrumentos que evidenciam os

avanços e os recuos do Programa no Estado e dos Professores Leigos na sua

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trajetória, apresentando ainda, os índices de aprovação e evasão dos Professores

Cursistas, bem como as contribuições do Estado para a expansão da proposta.

Destaco, nesta parte, os Memoriais, devido ao fato de se constituírem em

documentos pessoais e subjetivos que me propiciaram avaliar não só os avanços e

dificuldades, como já assinalei, mas também as sensações e emoções dos

Professores Cursistas.

Desta forma, este é o espaço no qual o Cursista se projeta no trabalho e fala sobre o

Programa através de seus depoimentos, entrevistas e, principalmente, dos

Memoriais. É a parte para a qual o Prof. Dr. Dagoberto Arena, membro da Banca de

Qualificação, muito contribuiu, ao orientar sobre os depoimentos, entrevistas e coleta

dos Memoriais de forma que o pesquisador estivesse não à frente, mas atrás do

Leigo, a ponto de captar a impressão tão somente dele, daquele que vive a ação do

Programa para então poder julgar e avaliar sobre as contribuições, ou não, na sua

prática docente.

Continuou Arena a orientar-me associando minha coleta de dados e minha análise a

uma câmera de filmagem cuja posição, quando utilizada, incidirá decisivamente nos

resultados obtidos. Procurei justamente ser a câmera por trás dos atores (Leigos), e

tal procedimento possibilitou coletar depoimentos que extrapolavam a esfera

profissional, ao falarem de si mesmos, de seus avanços enquanto pessoas, dos

seus valores que se modificaram, das posturas de enfrentamento da vida e por aí

adiante. O papel do Tutor, por ser elemento chave nesse processo de crescimento,

também é observado nesse espaço no qual a trama das relações dos envolvidos e

sua subjetividade ganham corpo como fontes de investigação.

A Conclusão - RECONSTRUINDO NOSSA APRENDIZAGEM - apresenta ao leitor

as novas aprendizagens adquiridas por mim no trajeto de acompanhamento do

Programa, bem como tece algumas constatações importantes de situações que

afloraram na execução da exploração dos Memoriais.

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Apropriando-me da metodologia já utilizada para essa exploração, concluo o

trabalho numa proposta semelhante à dos Professores Leigos, em que projeto as

minhas sensações durante o caminho trilhado junto a eles nos dois anos e meio de

duração da pesquisa.

É relevante dizer que adotei, no presente trabalho, letra maiúscula na inicial das

palavras que se referem aos envolvidos, aos materiais e aos instrumentos utilizados

no PROFORMAÇÃO. Isto se deve ao interesse que tenho em aproximar o leitor da

forma como se apresentava a escrita destas palavras no Programa. Assim sendo,

será observada, no decorrer do texto, a grafia das palavras da forma como se segue:

Professor(es) Cursista(s), Professor(es) Leigo(s), Cursista(s), Leigo(s), Piloto,

Tutor(es), Matriz(es) Curricular(es), Área(s) Temática(s), Guias de Estudo, Projeto(s)

de Trabalho, Professor (es) Formador (es), Formação de Professores, Formação

Inicial, Formação Continuada, Proposta, Programa, Memorial, Reuniões Quinzenais,

Caderno de Verificação, Agência Formadora (AGF), Centros de Formação,

Centro(s), Equipe Estadual de Gerenciamento (EEG), Assessor Técnico do

PROFORMAÇÃO (ATP), CEFAPRO.

A seguir, estão descritas as REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, que se constituem

de obras citadas no trabalho, e a BIBLIOGRAFIA, que se constitui de obras de

apoio teórico que subsidiaram todo o desenvolvimento da pesquisa.

Optei pela inclusão do Sumário de Anexos no corpo da tese a fim de facilitar ao leitor

usufruir os conteúdos das entrevistas e de outros instrumentos que julguei pertinente

acrescentar. Foram transcritas as entrevistas dos Coordenadores, Diretores e

também de alguns Professores Cursistas. Constitui-se ainda como corpo do Anexo

algumas ilustrações das orientações para a elaboração do Memorial contidas nos

Guias de Estudo e algumas trajetórias percorridas durante o desenvolvimento do

meu trabalho nos pólos regionais do interior de Mato Grosso.

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A escolha do título da tese - Os Professores Leigos e o PROFORMAÇÃO: uma

alternativa possível a partir do projeto Piloto de Mato Grosso teve como intenção

concitar o leitor a não só identificar as definições do Projeto em si, mas de

proporcionar um diálogo entre a proposta original e a dinâmica da implantação

efetivada no Estado. O projeto Piloto desenvolveu-se em Mato Grosso e Mato

Grosso do Sul, dessa forma, foi necessário situar que a análise se dará a partir das

experiências de Mato Grosso, uma vez que esse é o locus do objeto da

pesquisadora.

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PARTE I

SITUANDO NOSSO TEMA

Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar.

Paulo Freire

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CAPÍTULO 1

A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

A Educação a Distância surge como uma alternativa para suprir as necessidades do

mundo empresarial, uma vez que, nos países desenvolvidos, pelo menos 40% da

força de trabalho adulto depende de algum tipo de Formação Continuada, e este

contingente não pode ser absorvido pelas instituições de ensino formal.

Segundo Michael Moore1, em recente entrevista concedida para este trabalho, a

Educação a Distância é objeto de seus estudos, tendo estes se iniciado com uma

preocupação sua, de possibilitar às pessoas pobres e moradoras de localidades

distantes do acesso à educação. Como pesquisador das formas de realizar a

educação fora do sistema formal de sala de aula, Moore viajou para Washington a

fim de procurar algum método, ou teoria, nesse sentido. Nada encontrando, após

muitos estudos, o Consultor comenta:

(...) escrevi uma teoria sobre como aprender fora da sala de aula e quando fui procurar por um título para essa teoria, descobri em estudos em alemão que eu havia realizado, o termo que significava Educação a Distância (demoraria muito tempo te explicando como cheguei a esse conceito). Então apresentei num fórum em que consistia a minha compreensão sobre a teoria criada com o nome de Educação a Distancia Essa foi a primeira teoria escrita em inglês desde 1972 (...). Desde então me dedico, exclusivamente, aos estudos de Educação a Distância há trinta anos (Entrevista: 2000, em anexo, p.237).

A Educação a Distância é uma modalidade de ensino destinada a profissionais

adultos com escolaridade; possibilita aproximar distâncias, otimizar horários e

tempo, respeitando o ritmo de aprendizagem, além de se constituir numa estratégia

Michael Moore é especialista em Educação a Distância, Professor Doutor da Universidade da Pensilvânia e Consultor do Banco Mundial e foi designado Consultor do Programa PROFORMAÇÃO no Brasil, visitando periodicamente o Mato Grosso, participando dos encontros, colhendo depoimentos e realizando avaliações.

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peculiar que vai até onde esses adultos estão. É também considerada uma

metodologia de ensino, segundo a qual as relações de aprendizagem não têm a

ação direta do professor, sendo mediatizadas por um sistema de apoio tecnológico,

compreendendo materiais auto-instrucionais, impressos, vídeos, TV, fax, telefone,

micro-computadores, softwares, Internet, dentre outros.

Essa modalidade de ensino desponta como um novo paradigma de educação e está

exigindo, dos educadores, a construção de novos referenciais, já que as relações

presenciais entre alunos e professores não são imprescindíveis para que ocorra a

aprendizagem. Não se quer dizer que os professores serão substituídos pela

tecnologia; no entanto, eles deverão ter compreensão e conhecimentos devidos para

exercer as novas funções que a metodologia exige, bem como saber sobre as

diferenças existentes entre o sistema de ensino presencial e o Ensino a Distância.

Sendo assim, podemos afirmar com PRETI (1996) que ainda que a comunicação

multimídia favoreça a aprendizagem, ela não a garante, (...) apenas se produz entre

o mediador (professor, orientador, Tutor, autor) e o aluno (1996, p. 29). E, para tanto,

é preciso que o mediador inclua em seus conhecimentos as novas tecnologias para

direcionar o seu trabalho.

As universidades, compreendidas enquanto espaços de discussão de saberes e

construção do conhecimento, formação e atualização, acompanham o processo de

formação contínua de profissionais, incluindo, entre estes, os da educação.É

verdade que a competência para atuar em programas de Educação a Distância não

se dá em curto prazo, mas também não se pode prescindir da emergência na

aquisição dos conhecimentos básicos, uma vez que a revolução da informação via

"on line" está criando um reino educacional novo e distinto, representando o futuro

da educação .

Essa revolução eletrônica traz consigo uma gama de informações e conhecimentos

em fração de segundo; a educação não formal e/ou supletiva já não atende mais as

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exigências dos que estão afastados da escola, com ou sem a devida escolarização;

a alfabetização hoje não mais é concebida como o domínio dos códigos da

linguagem e escrita, mas também da linguagem digital. Estes fatos, entre outros,

evidenciam que o mundo "on line" está impondo uma nova cultura, novos

comportamentos, habilidades e domínios.

Neste contexto, e ciente de que a democratização do saber diz respeito, também, à

preocupação com o acesso daqueles que estão fora do ensino formal, o governo

brasileiro investiu nos últimos meses, em Educação a Distância, aproximadamente

72 milhões de dólares, além de criar um poo/de 63 instituições com o lançamento da

Universidade Virtual Pública.

No entanto, há uma diferença entre a Educação a Distância nos países de primeiro

mundo e no Brasil. Conforme o pesquisador Walter Garcia (1997), nos países de

primeiro mundo, ela se apresenta como uma opção de enriquecimento profissional

para quem deseja novos conhecimentos e habilidades, ou como uma razão para

preencher o tempo nas horas de lazer. Já no Brasil, ela se destina ainda à

complementação da formação escolar, visando suprir carências ainda do ensino

formal, geradas pela falta de escolas ou pela falta de políticas de acesso e

permanência nos estudos do aluno trabalhador, o que ocasionou, por décadas, a

exclusão dos jovens e adultos da educação formal.

Fazer uma apologia à Educação a Distância, como a redentora dos problemas

educacionais de escolaridade do país, significa situá-la teoricamente sob a égide da

neutralidade tecnológica, isenta, portanto, de tendências e ideologias. O rigor da

análise deve perpassar tanto uma, quanto outra modalidade de ensino.

Neste sentido, JOHSON alerta com muita clareza para a análise criteriosa acerca da

Educação a Distância ao acentuar que:

Sua disponibilidade é tomada possível apenas porque ela é, e presumivelmente continuará a ser, subsidiada por interesses econômicos transnacionais por suas próprias razões. A possibilidade de tomar-se

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genuinamente educacional depende de seus consumidores poderem estar preparados para lidar com ela construtivamente, ao invés de serem usados por ela (1996, p. 103).

Diante desse fato, emerge a necessidade de se avaliar detidamente em que

condições a Educação a Distância é introduzida no panorama educacional dos

países e dos estados, a fim de se evitar que não se opere como mais um modismo

e/ou como um processo de alienação.

Estariam os professores preparados para trabalhar com a metodologia de educação

a distância?

Os professores que têm a concepção de ensino como a transmissão de

conhecimentos e que formam um contingente ainda muito alto no Brasil estão

fadados ao declínio de sua função, visto que as informações estão disponíveis na

mídia, portanto não haverá mais necessidade desse tipo de profissional, em curto

período de tempo. No entanto, se estes mesmos professores se alertarem para isso

e utilizarem a mídia como um subsídio para a aprendizagem, ela servirá no sentido

de criar ambientes de aprendizagem em que os alunos possam ser orientados, não

só sobre onde encontrar as informações, mas também, sobre como avaliá-las,

analisá-las, organizá-las (CHAVES, 2000, p.12).

O que deve ficar muito claro para o professor é que não se trata de desprezar um

modelo de ensino por outro mais interativo e avaliado por muitos como o mais eficaz

e mais moderno. Trata-se de ter padrões para avaliar, tanto em um modelo quanto

em outro, até que ponto os alunos estão envolvidos nas reflexões e inseridos nos

ambientes de aprendizagem e se as propostas de avaliação envolvem a pesquisa e

a interação do aluno na construção do conhecimento.

Para participar de um programa desta natureza é preciso que todos os envolvidos

tenham a compreensão social, filosófica e conceituai da Educação a Distância como

uma metodologia alternativa, ou ainda prática pedagógica que está intrinsecamente

associada ao projeto da instituição educativa. Portanto, não é a técnica pela técnica,

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simplesmente. Torna-se mister que o professor esteja preparado para atingir um

determinado patamar de compreensão, a fim de entender a tecnologia como um

elemento facilitador para a articulação do currículo e da construção do

conhecimento, o que, segundo POPPOVIC (1996), parece não ocorrer visto que

pesquisas têm indicado que 75% dos professores estão num continuum e que além

destes, há 15% "fóbicos", que odeiam computadores.

No entanto, esse quadro tem a sua origem na Formação de Professores, não sendo

prerrogativa apenas brasileira, uma vez que a filósofa e escritora na área de

Educação a Distância, Mabel Zanga, comenta:

(...)no se prepara a los estudiantes de los profesorados para trabajar com Ia ensenanza a distancia (...) si menos aun podemos esperar que los instruya sobre metodologias especiales (...) por Io general se sigue preparando al docente para Ia escuela mejor ubicada el centro cívico más cercano (ln: HELLERS: 2000, p. 01).

Eis aí um desafio também para as universidades introduzirem no currículo dos

cursos presenciais de Formação de Professores disciplinas e conteúdos que

discutam sobre metodologias especiais e ensino semipresencial, principalmente a

EAD, que vem atingindo níveis de destaque como alternativa de estender as

oportunidades de estudo a uma clientela maior, em espaços diversos, que não a

sala de aula.

O professor precisa ser orientado para as novas alternativas de educação a fim de

que possa não só acompanhar o processo de evolução tecnológica, como também

se sentir partícipe de uma nova forma de ensinar, de aprender e de se atualizar.O

desconhecimento dos professores acerca da Educação a Distância, faz com que

tenham um entendimento deturpado, ao entendê-la como o mero uso de tecnologias

e/ou concebendo-a como substituta do seu trabalho. O mesmo ocorre nos cursos de

formação de ensino presencial ao considerarem que, gradativamente, serão

substituídos pelo Ensino a Distância. A este respeito, o MEC alerta para o fato

importante de que, para instituir um curso de educação a distância, é necessário que

este se desenvolva em regime presencial.

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Entretanto, a EAD não pode ser definida como tecnologia na educação: vai muito

mais além, trata-se de uma organização de ensino envolvendo métodos

diferenciados, abordagens de conteúdos associadas ao material instrucional, com

uma linguagem totalmente direcionada à interatividade. MORAN traz uma reflexão

importante acerca desse posicionamento:

(...) se ensinar dependesse só de tecnologias já teríamos achado as melhores soluções há muito tempo. Elas são importantes, mas não resolvem as questões de fundo. Ensinar e aprender são os desafios maiores que enfrentamos em todas as épocas e particularmente agora em que estamos pressionados pela transição do modelo de gestão industrial para o da informação e do conhecimento (2000, p.12).

Na área educacional, no que se refere à atualização/capacitação de professores em

Programas de EAD, as instituições que se destacaram no trabalho do EAD foram:

• a Multirio, com o trabalho de atualização em serviço de seus professores;

• a Escola do Futuro da USP, com a proposta de capacitação de professores

em projetos telemáticos;

• a experiência relevante da UNB em cursos de Pós-graduação lato sensu na

área de Avaliação, Ciências, Matemática e EAD;

• a produção de softwares e programas para capacitação de professores da

UFSCAR;

• o projeto EducaDi/CNPq na produção de software e na produção/aplicação de

novas metodologias em EAD para professores;

• o programa de capacitação de professores a Distância da UFSC e o

programa recente na área de formação do professor.

Um fator marcante que impulsionou a EAD no Brasil, na década de 90, foi a criação

da Secretaria de Educação a Distância, a SEED, no MEC e com ela a

implementação dos programas de capacitação a distância. Embora o programa

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Vídeo Escola já estivesse em desenvolvimento na década de 80 com esse perfil, o

programa Um Salto para o Futuro, em 1991, surge com uma proposta interativa ao

possibilitar a participação dos professores, nos horários do Programa, organizado

sob a forma de cursos de capacitação, com direito a certificado.2

Seguindo na proposta de capacitação/atualização, a SEED levou ao ar, a partir de

1996, o programa educativo TV ESCOLA, interfaceando pesquisas, entrevistas e

experiências de professores, trazendo um referencial até então não explorado nos

programas educativos no Brasil. Pensou-se que a distribuição de Kits Tecnológicos

para as escolas públicas, contendo TV, videocassete, antena parabólica, um

receptor de satélite e fitas virgens, bastasse para que as escolas manifestassem o

interesse em assistir e gravar os programas da TV ESCOLA, com a finalidade de,

posteriormente, serem utilizados pelos professores em sala de aula.

A receptividade esperada para o Programa não foi de todo atingida, devido à falta de

equipamentos nas escolas e de capacitação dos professores para o uso da

tecnologia, pois houve a carência de uma orientação e discussão mais profundas

acerca das possibilidades de exploração dos conteúdos dos vídeos na sala de aula.

Diante do exposto, pode-se dizer que na experiência inicial o Programa não obteve o

sucesso almejado, uma vez que somente a distribuição do equipamento não garante

o uso, necessitando, portanto, vir associada a uma adequada política de divulgação

e de capacitação.

A probabilidade da utilização da TV/Escola nas unidades escolares está afeta a uma

série de fatores, dentre os quais se destacam:

• espaços nas escolas para a sala ambiente;

A Dissertação de Mestrado de Márcio Tadeu Magalhães (1997) ressalta as dificuldades de implantação e desenvolvimento do programa Um Salto para o Futuro no estado de Mato Grosso.

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• a aquisição do Kit Tecnológico;

• a disponibilidade do professor para a gravação, catalogação e divulgação do

material;

• a capacitação do professor para a utilização do equipamento e, o que tem

sido mais difícil, a exploração da imagem e das mensagens em sala de aula;

• a criação de um espaço para discussão e utilização dos vídeos passíveis de

adequação às situações de ensino, refletindo com os professores sobre os

resultados da associação do vídeo para a aprendizagem significativa dos

conteúdos escolares.

Acredito que foi a partir dos levantamentos realizados nas escolas, entre outras

constatações, que a SEED/MEC vem travando ações no sentido de reverter esse

quadro, isto é, incentivar os professores e as escolas a assistirem e a gravarem os

programas como uma forma de auxiliar a reflexão sobre o tema da formação do

professor e das propostas de intervenção no entorno escolar. Uma delas é um

programa de grande dimensão, o curso de especialização da TV ESCOLA na

UniRede, trazendo à tona as discussões acerca da EAD e criando canais de

divulgação dessa cultura nas Universidades, nas Secretarias de Educação e nas

escolas.

A criação de dois grandes consórcios universitários também evidencia a iniciativa

brasileira no ensino em rede, oferecendo inicialmente cursos em nível superior, na

área de Formação de Professores para as séries iniciais. Os consórcios das IES

brasileiras compreendem dois grandes grupos, a Universidade Virtual Brasileira

(UVB), composta por dez instituições privadas de ensino superior, e a UniRede,

consórcio de 63 instituições públicas. Pode-se constatar que se trata do momento

histórico onde está sendo definido o DNA do ensino a distância no Brasil, assinala

ABDALA (2000).

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Verifica-se constantemente que as universidades estrangeiras estão na luta pela

venda de programas traduzidos para a Universidade Virtual Brasileira. No entanto,

alerta o diretor-executivo da UVB, João Vianney, que os cursos importados podem

ter excelente conteúdo, mas não têm a didática para atender o aluno brasileiro. Pois

estamos empenhados em desenvolver conteúdo próprio (apud ABDALA: 2000, p.2).

O que se observa é o potencial das universidades brasileiras, no mercado "on line",

e a preocupação com a qualidade. A procura por cursos de extensão também existe,

prova disso foi a oferta do primeiro curso da UniRede, tendo por tema a TV Escola e

as novas tecnologias em sala de aula, para cujas vagas o número de inscritos

excedeu em 140 000.

No entanto, de nada adianta existir o programa se não se democratizar o acesso;

daí a necessidade de intensificar a distribuição de micros, de se instalar a Internet

nas escolas públicas e, ainda, de se investir na oferta de PCs financiados a longo

prazo aos professores, a preços e juros menores do que os que têm sido oferecidos.

Quanto à Pós-graduação, há a necessidade de se expandir o número de bolsas do

PAPED - Programa de Apoio à Pesquisa de Educação a Distância - SEED/MEC,

incentivando o envolvimento de um número maior de pesquisadores nos programas

de EAD existentes no Brasil.

Se, de um lado, somos julgados jurássicos por termos poucas experiências em

Educação a Distância, de outro, podemos dizer que entramos tarde nessa

modalidade, embora com um perfil atualizado. A expressão do especialista do Banco

Mundial em EAD, Michael Moore, na entrevista concedida para este trabalho

evidencia que:

O que mais aprecio aqui no Brasil é que estão fazendo uma Educação a Distância extremamente moderna. Nós temos o antigo método de correspondência ainda vigente no mundo, as formas do rádio e televisão. Nas décadas de 70 e 80 você vê o gênero da Open University da Inglaterra e em vários países ainda o uso desses recursos, mas hoje o novo modelo é o de rede e. no momento do desenho atual do PROFORMAÇÃO, nós estamos trabalhando, no Brasil, na forma de rede (...) isto não é comum. Por

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isso eu acredito que o Brasil é o novo lider mundial nessa maneira de fazer Educação a Distância (Entrevista: 2000, em anexo, p.238).

Há que se ter cautela quanto ao fascínio que a mídia exerce, a ponto de

entendermos que a EAD poderá contribuir para avançar rapidamente pelos degraus

do desenvolvimento, mas terá o mesmo poder de alienação da denominada

educação tradicional se os governos e os gestores educacionais controlarem o

currículo dos sistemas de transmissão dos Programas pela Internet, adverte

DRUCKER (2000, p.8).

1.1. Formação de Professores no Brasil em EAD na década de 90

Os cursos de Formação de Professores em EAD no Brasil são ainda uma

experiência recente, o que está mais divulgado e acessível nos sites de algumas

universidades virtuais tem sido a Formação Continuada e a Pós-graduação lato

sensu. No entanto, no final da década de 90, algumas universidades investiram na

Formação de Professores para as séries iniciais do Ensino Fundamental, em cursos

de Bacharelado em Pedagogia ou de Licenciatura Plena.

Segundo MORAN, há poucos cursos de Formação de Professores em EAD.

Estamos aprendendo fazendo, experimentando, pesquisando. É uma área de

grande futuro, mas nos encontramos atualmente em uma fase embrionária (...)

(2001, p.10).

Dentre as experiências mais significativas no Brasil, destaca-se como uma das

pioneiras a Universidade Federal de Mato Grosso, iniciando a experiência em 1995 e

contando, portanto, com uma primeira turma de professores já formados. O curso da

UFMT teve a sua autorização no Parecer 95/01 CEB/CNE e a Portaria publicada no

D.O. da União publicada sob o n° 372 de 05/03/01. A respeito do curso de Mato

Grosso, detalharemos adiante, por tratar-se de atividade de EAD no Estado no qual

se realiza a presente pesquisa.

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Outra experiência que se destaca é a de Santa Catarina, que iniciou suas atividades

na área de Formação de Professores em 1999, com uma turma Piloto com mais de

4000 alunos no curso de Pedagogia. Segundo dados capturados no site e no e-mail

de contato com a Universidade, o curso é semipresencial, intercalando encontros

presenciais que se efetivam nos núcleos de formação, com a presença do Tutor, e

atividades a distância. O curso é oferecido no prazo de 3 a 7 anos e habilita em

Magistério para as séries iniciais do Ensino Fundamental e/ou da Educação Infantil.

O Programa oferece vagas para a rede pública e privada, mediante convênios. É um

curso de Licenciatura Plena, reconhecido pelo MEC pela Portaria n° 769, de 1o de

junho de 2000, publicada no D.O. da União.

O estado do Paraná também desenvolve a Formação de Professores em EAD na

Universidade Federal, por meio do Núcleo de Educação a Distância. Trata-se do

curso de Pedagogia, Licenciatura Plena para as séries iniciais do Ensino

Fundamental na Modalidade de Educação a Distância, reconhecido pelo MEC. O

Curso teve sua turma Piloto iniciada no ano de 2000 e desenvolve-se nos Centros

associados distribuindo inicialmente 600 vagas para professores em exercício,

sendo 400 para a rede pública e 200 para o convênio estabelecido com instituições

confessionais. O Curso combina educação a distância com fases presenciais e conta

com a orientação de um Tutor.

Continuando a pesquisa sobre a lista de cursos de Formação de Professores do site

do MEC, encontramos a Universidade Federal do Pará com o curso de Licenciatura

Plena e Bacharelado em Matemática e enviamos um e-mail solicitando informações

sobre o histórico do curso, modalidade, objetivos, entre outras. A resposta veio

brevemente com a explicação de que ainda não havia sido iniciada atividade

alguma, devido ao fato de estarem aguardando o contrato para assinarem com a

Open University. A experiência pretende envolver fases a distância e presenciais e

conta também com a participação de um Tutor. O material do curso está sendo

traduzido para o português com adequações ao currículo brasileiro.

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Verificamos, também, que a Universidade Federal do Ceará apresenta propostas

para desenvolver cursos de Licenciatura em Biologia, Matemática e Química na

forma de convênio com a Open University da Inglaterra e a Memorial do Canadá.

Corn os cursos já autorizados pelo MEC, a UFC pretende brevemente abrir as

primeiras turmas, oferecendo vinte e sete vagas para cada uma das dez turmas em

cada curso, perfazendo um total de oitocentas e dez vagas na experiência inicial. A

proposta é de educação a distância utilizando videoconferências com fases

presenciais. Uma vez por mês em cada disciplina haverá aulas práticas de

laboratório, além das provas, o que exigirá do aluno que resida em um dos nove

pólos onde se desenvolverá o curso. A experiência está em fase de implantação.

O que se pode depreender do exposto é que de fato a EAD se configura como uma

experiência em fase embrionária no Brasil, ao analisarmos o pequeno número de

instituições públicas de Ensino Superior envolvidas e a inexpressiva oferta,

simbolizada por apenas cinco instituições credenciadas, sendo que, entre elas,

apenas três estão desenvolvendo a Formação de Professores.

1.2. A Formação de Professores em EAD no Mato Grosso

Nas últimas décadas a Universidade Federal de Mato Grosso e a Universidade

Estadual de Mato Grosso têm atingido de forma muito tímida a meta de diminuir o

índice de professores sem formação superior para o exercício no magistério nas

séries iniciais. Tal fato deve-se ao crescimento desordenado da população do

Estado, predominantemente em fase de colonização nas últimas décadas, o que

contribuiu para que as políticas investidas na área de Formação de Professores, não

tivessem o impacto desejado.

Apesar de as ações terem se tornado mais intensas na década de 90, com o

desenvolvimento dos projetos de Qualificação Docente e de Interiorização e com as

Parceladas (cursos de Licenciatura e Bacharelado da UFMT que se efetivam em

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pólos regionais no período de férias) há ainda uma demanda de professores em

exercício sem habilitação.

Vários fatores levaram o Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato

Grosso a implementar e intensificar as ações no sentido de pensar em formas

diferenciadas e mais abrangentes para a formação dos docentes em exercício;

dentre os mais significativos.

Segundo PRETI em comentários em nossa entrevista, dentre as principais causas

da intensificação das ações da UFMT encontram-se:

• a análise dos resultados dos levantamentos realizados pela Secretaria de

Estado de Educação, em 1991, demonstrando que o maior índice de

professores em exercício no ensino de Primeiro Grau, sem habilitação (53%),

dava-se no nível superior e não no Segundo Grau, como se pensava;

• a pesquisa de NEDER (1992) sobre a atuação dos professores em Cuiabá,

retratando o quadro de fragilidade curricular dos cursos de Magistério como

sendo devido, entre outros fatores, à falta de consistência teórico-

metodológica e de domínio de conteúdos, ocasionando uma prática presa a

manuais didáticos;

• os índices elevados de evasão (23%) e repetência (20%) dos alunos das

séries iniciais do Ensino Fundamental das escolas públicas;

• a inexistência de um curso de Licenciatura Plena para as séries iniciais do

Ensino Fundamental;

• a necessidade de pensar uma proposta que atingisse um maior contingente

de professores como forma de atender a demanda com maior rapidez, com

vistas não só à habilitação, como também à qualidade da formação como

possibilitadora da diminuição dos índices de evasão e repetência.

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Associe-se a estes fatores o empenho da Secretaria de Estado de Educação em

formar parcerias para implementar as políticas de Formação de Professores em

nível superior. Assim, na intenção de atender a demanda do Estado, o Instituto de

Educação da UFMT buscou formas e intensificou as ações em busca de uma

educação de qualidade para a rede pública de ensino, propondo, para tanto,

parcerias entre municípios, Estado, Universidade Estadual de Mato Grosso

(UNEMAT) e a SEDUC.

No entanto, sabia-se que o ensino regular não daria conta de tamanha demanda,

uma vez que o número acentuado de Professores Leigos concentrava-se na região

Norte, local ainda desprovido de formação em nível superior. Frente à realidade do

estado de Mato Grosso, com distâncias enormes, e com um quadro de carência na

Formação de Professores em vários níveis e em regiões diferenciadas, pensar um

projeto que atendesse a demanda consistia em uma medida emergencial. Alie-se a

esse fato, a necessidade de se precaver para não incorrer na proposta de

programas infrutíferos, como tantos já implantados, que não têm permitido o acesso

e a continuidade dos professores na sua formação.

ALONSO&NEDER, em artigo publicado sobre o assunto, assim se expressam:

O estado de Mato Grosso apresentou um fluxo migratório interno muito grande...O Estado hoje é um mosaico de diferenças culturais: existem os povos indígenas, "nordestinos", "sulistas" e estrangeiros em conflito na sociedade. Esta série de fatores nos impõe a necessidade de organizar e pensar algo novo, com características diferenciadas dos programas existentes no pais (1996, p. 120-121).

PRETI&ARRUDA (1996) comentam que os programas nacionais de Educação a

Distância apresentam resultados aparentemente positivos, em relação ao número de

aprovados, mas muito criticados, uma vez que o material é uniforme, desatualizado,

além de carecerem tais programas de um atendimento sistematizado aos alunos.

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Daí a necessidade de se pensar em políticas de formação que atendessem as

especificidades regionais, no que se refere à metodologia, material, apoio e

avaliação, para que o novo programa não caísse na mesma ineficácia dos demais.

Assim pensando, o IE/UFMT, após muitos estudos, ousou propor um curso de

Licenciatura Plena para as séries iniciais do Ensino Fundamental, numa modalidade

diferente da usual, em educação a distância, com o intuito de superar as dificuldades

e distorções dos programas até então desenvolvidos. A idéia de uma proposta em

educação a distância, surgiu em uma visita do reitor da Universidade de Mato

Grosso ao Canadá, especificamente a Telé Université/Quebéc/Téluq, junto com o

Secretário de Estado de Educação e o assessor internacional, ambos de Mato

Grosso.

Na visita chamou-lhes a atenção o programa de Educação a Distância, pela

possibilidade de adaptá-lo à situação brasileira.Daquele encontro, no final de 1991,

surgiu o interesse dos dirigentes mato-grossenses em uma assessoria da Telé

Université na criação de um Programa dessa natureza para os professores em

exercício. Sensíveis ao pedido a Téluq/UFMT iniciam as negociações, agora

contando também com o apoio da professora Maria Dulce Borges, Chefe da Seção

de Formação Superior da UNESCO. Em 1992 o professor Dr. Guy Provost, diretor

de Ensino e Pesquisa da Telé Université/Téluq veio a Mato Grosso conhecer as

reais condições para se viabilizar um convênio e deixou a equipe muito otimista com

o interesse por ele demonstrado.

Criou-se um núcleo de estudos e pesquisas na UFMT, para que os professores

aprofundassem os seus conhecimentos na área de EAD, o qual posteriormente

assume a identidade de NEAD - Núcleo de Educação Aberta e a Distância. Os

integrantes dessa equipe contaram com o apoio do Canadá, e particularmente da

Téluq, para participarem de seminários de capacitação, depois no Stage Intensif en

Education a Distance, em Montreal, em Quebec, na Costa Rica e na

UNED/Espanha. Segundo PRETI, em entrevista gravada para este trabalho:

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(...) foram momentos muito enriquecedores, porque não somente passamos a acreditar no que vimos, que é realmente possível o ensino de EAD, como percebemos que em todas essas instituições eles frisavam isso, que nós tínhamos que dar ao nosso curso a cara regional. Eles não nos aconselhavam a ficarmos copiando, isso foi até positivo, eles insistiram muito nisso. (...) Nós tínhamos que fazer o nosso desenho, a nossa proposta, ao final desse percurso, que ficou quase mais de um ano, conseguimos elaborar o Projeto, a licenciatura em EAD. Não nos aventuramos em fazer a experiência com grande número de professores, nesse aspecto tivemos as garantias tanto da universidade como do Estado, de somente iniciar o Curso quando sentíssemos preparados e prontos para isso (Entrevista: 2000, em anexo, p.260).

O projeto do curso de Licenciatura Plena em Educação Básica contou com a

importante contribuição do Professor Roger Bédard e da professora Onilza Borges

Martins, da Universidade Federal do Paraná, e do grupo de professores envolvidos

na construção da proposta. Avaliações têm sido realizadas durante o processo de

execução do Programa pelo professor francês Michel Brault. Pode-se dizer que é um

projeto de muitos colaboradores e que não se dá por completo, está sempre sendo

reconstruído a cada avaliação.

Um ponto de destaque na proposta tem sido o Orientador Acadêmico, o qual antes

de ingressar no Programa passa por uma seleção e cuja capacitação acontece em

um curso de especialização na área de EAD, com um currículo voltado ao domínio

da concepção da modalidade, da metodologia do projeto, de teorias subjacentes à

proposta e orientação sobre avaliação, manuseio do material, entre outras áreas do

conhecimento.

A experiência Piloto aconteceu em 1995, sendo realizada em Colíder, pólo regional

do Programa, no norte do Mato Grosso. Mato Grosso configura-se no cenário

nacional como o primeiro estado a investir em formação de professores em nível

superior em EAD. Nessa primeira experiência foram matriculados 300 professores.

Em 1999 deu-se a formatura da primeira turma, com um total de 280 professores,

uma vez que os 20 restantes continuam os estudos em um ritmo mais lento. Isto se

dá devido a uma característica do Programa, que consiste em respeitar o ritmo de

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aprendizagem do aluno, possibilitando-lhe concluir o curso no período de 4 a 6 anos

letivos.

No plano de expansão do NEAD, o Programa matriculou no ano 2000 cerca de 3000

professöres no curso de Formação de Professores para as séries iniciais, em

diversos pólos no Estado em parceria com a SEDUC/MT, UNEMAT/UFMT e

municípios. Jamais, no ensino presencial, seria atingida esta estimativa de

profissionais em exercício cursando o ensino superior. Assim, vê-se que a EAD

surge como uma alternativa pedagógica adequada à realidade de Mato Grosso.

A respeito do trabalho desenvolvido pelo NEAD, Walter Garcia assim se pronunciou,

em artigo publicado no 1o Fórum de EAD em Mato Grosso/1999:

(...) Mato Grosso, em razão das ações desenvolvidas pela Universidade Federal, em parceria com o estado e municípios, é hoje referência nacional-especialmente na Formação de Professores - quando se discute Educação a Distância em nosso país. Na condição de educador e agora como Presidente da Associação Brasileira de Tecnologia Educacional, sou testemunha da seriedade do trabalho realizado em Mato Grosso, o que tem ajudado outros estados e universidades a organizarem seus programas de EAD.

A experiência do NEAD/MT em Ensino Superior a distância, Licenciatura Plena para

professores em exercício nas séries iniciais do Ensino Fundamental, tem sido de

relevância para o Estado e de expressivo interesse para outros gestores quanto ao

investimento na Formação de Professores em nível superior. Por conta disso, o

NEAD, atualmente, presta assessoria em programas de Educação Superior a

Distância, sob a forma de convênios, a Maringá (Paraná), Ouro Preto (Minas Gerais)

e se encontra em negociação com São Luiz (Maranhão).

1 3. A Formação do Professor Leigo no Mato Grosso na década de 90

Durante as décadas de 70 e 80, no estado de Mato Grosso observou-se a omissão e

o descompromisso dos gestores quanto ao investimento em políticas de Formação

de Professores Leigos, manifestado pela falta de propostas e/ou pela inadequação

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dos programas. Talvez isso tenha se dado devido à estrita relação existente entre a

atividade econômica e a educação.

Nessa época, a atividade econômica principal no Estado consistia na exploração do

garimpo, ainda na forma artesanal, desenvolvido com a extração das pedras nos

leitos dos rios e em escavações de pequeno porte; a educação formal não era fator

primordial para os governantes e patrões, uma vez que a atividade não requeria

saber algum, pelo contrário, havia a necessidade de permanência do trabalhador a

baixos salários, ou mesmo em sistema de escravidão branca como garantia do lucro

do extrativista, freqüentemente denunciada no Mato Grosso.

No entanto, devido ao volume das explorações, as extrações passaram a exigir

mecanização e portanto, oneraram a coleta. Garimpar virou atividade de poucos.

Dessa forma, a economia gerada pelo movimento dos garimpos das cidades foi

definhando, devido ao abandono dos trabalhadores em busca de fortuna fácil,

gerando-se um déficit muito grande no orçamento financeiro dos municípios.

Nas décadas de 70 e 80, quando a vinda dos sulistas tornou-se mais intensa, as

"cidades de garimpo", então em fase de decadência foram, aos poucos, assimilando

uma nova atividade, surgindo assim uma nova economia, a do cultivo de grãos, além

da criação de gado, trazendo matrizes importadas, fortalecendo o rebanho existente.

Neste período, as cobranças por escolas para os filhos dos colonizadores geraram

providências dos governantes para o atendimento às reivindicações.

No entanto, as medidas de investimento nessa área não foram adequadas, seja pela

falta de professores titulados e/ou pela inadequação das políticas de formação que

não possibilitavam a permanência dos professores nos programas. Tanto em um

quanto em outro, verifica-se a intencionalidade de garantir a situação de

dependência da categoria com relação aos gestores, pela proposta de uma

formação alijada de conhecimentos que possibilitassem análise crítica, gerando um

quadro há muito conhecido, isto é; existia a oferta, no entanto imputava-se ao Leigo

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a culpabilidade pela não permanência no programa de formação docente, sem ater-

se à análise da adequação da proposta.

Dessa forma, além de tímidas, eram ineficazes as políticas de educação,

especificamente de educação a distância, desenvolvidas nas décadas de 70 e 80.

Acerca dessa realidade, a pesquisadora Geni Aparecida de Lima, em sua

dissertação de Mestrado sobre Identification des Conditions de réussite d'un systéme

de formation à distance des enseignants "Leigos" du pantanal au Brésil, assim se

expressa:

A situação dos Leigos no sistema educativo do pantanal parece extremamente complexa, em razão principalmente do conflito entre os interesses do governo que deseja aumentar a qualidade do ensino de base pela via da formação dos Leigos e a das autoridades locais que parecem, ao contrário, prontos a manter ou aumentar seu poder do controle que exercem sobre os Leigos (1990, p.124).

Sabe-se que a formação docente tem estreita relação com a qualidade do ensino

oferecido às crianças; os dados estatísticos de 1989 da Secretaria de Estado de

Educação vêm confirmar essa afirmativa, ao registrar que, dos 100.943 alunos

matriculados, 20.207 repetem o ano e 20.852 alunos se evadem da escola, o que

permite avaliar um percentual de descontinuidade de estudos de uma série para a

outra aproximadamente de 41%.

Na área educacional, no início da década de 90, segundo dados da SEE/MT o

contingente de Leigos atuando nas séries iniciais do Ensino Fundamental, na rede

municipal e estadual de ensino, extrapolava o número de 5000 professores. A

preocupação das prefeituras municipais com esta demanda objetivou buscar junto

ao estado de Mato Grosso formas para estabelecer convênios e parcerias, no

desenvolvimento do projeto INAJÁ, com assessoria da Unicamp, seguido pelo

projeto HOMEM NATUREZA, GerAção na área de Magistério e pelo projeto TUCUM

para professores indígenas. Sem a pretensão de se fazer uma análise de tais

programas, uma vez que não há referenciais, relatos e pesquisas sobre o

desenvolvimento dos mesmos, salvo o INAJÁ, procederei a uma descrição para

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situá-los no quadro decenal dos programas de formação de professores em nível

médio no Estado.

O projeto INAJÁ I, iniciado em 1987, e o INAJÁ 11/1993-1996, tema da tese de

Doutorado da professora Dulce Maria Pompêo de Camargo, do programa de Pós-

graduação da Unicamp, hoje Livro "Mundos Entrecruzados: Formação de

Professores Leigos", consistiu em um programa criado especificamente para a

região menos favorecida com relação à formação em nível médio no Mato Grosso, o

Médio Araguaia.

Tratava-se de um projeto de currículo flexível e metodologia construída ao longo do

curso com objetivos claramente definidos, sendo um deles o de "possibilitar a

formação em nível de segundo grau que capacite os Professores Leigos a assumir

um projeto educacional adequado à realidade específica da região".

O Projeto contou com a parceria da Unicamp, da Secretaria de Estado de Educação,

a das Secretarias Municipais de Educação. Segundo a autora Dulce Pompêo de

Camargo, o INAJÁ deixou muitos frutos para o estado de Mato Grosso; destaca

como o principal, a cobrança dos Leigos para prosseguirem seus estudos, gerando a

criação do programa das Parceladas. Esse Programa se constitui em convênios do

Estado com as universidades para oferecer o Ensino Superior em períodos de férias

muito próximo dos moldes do INAJÁ.

A metodologia do INAJÁ foi ainda adotada, em outros estados, com outros nomes.

Segundo a pesquisadora, este fato se deve ao seu caráter inovador que propõe, na

prática, o rompimento com o ensino convencional ao trabalhar conteúdos integrados,

sem programas e conteúdos pré-fixados utilizando a estratégia denominada de

Laboratório Vivencial no qual o observador percebe a realidade a partir de seus

referenciais e de sua vivência sob a forma de pesquisa, assim caracterizada:

A pesquisa proposta aos candidatos do curso (...) tinha a finalidade de levantar dados para subsidiar a organização dos programas a serem desenvolvidos nas diferentes áreas do conhecimento e. além disso, levar o

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pesquisador a desenvolver uma atitude crítica diante dessa realidade. Uma vez conhecidos os fenômenos naturais e sociais, o passo seguinte poderá será vontade de atuar sobre a realidade, modificando-a. (...) A construção do conhecimento, tendo como ponto de partida e como matéria-prima a realidade, aumenta a consciência e a capacidade de iniciativa transformadora dos grupos. Por isso, começar com uma pesquisa de campo é uma estratégia que nos permite desenvolver um trabalho a partir da percepção de realidade do Cursista, entendendo e respeitando as suas referências, para dialogar e refletir com ele sobre aspectos novos do problema (CAMARGO: 1997, p.35).

Seguiu-se a essa experiência de trabalhar a partir da pesquisa, o projeto HOMEM

NATUREZA, de Formação de Professores em nível de Magistério, o qual não se

afastava muito da proposta do INAJÁ.

Efetivava-se em Períodos Intensivos com um mês de duração em que eram

trabalhadas 48 horas de cada componente curricular nos períodos de férias letivas e

Períodos denominados de estágio, quando o aluno-professor retornava a sua sala

de aula e recebia um acompanhamento não sistematizado pelo orientador-monitor.

O Programa iniciou na década de 90 com a duração de 6 etapas intensivas e 6

intermediárias, somando um período de três anos letivos. Segundo fonte de uma

Professora Formadora, o curso se pautava em atividades e pesquisas

interdisciplinares que possibilitava ao aluno investigar a partir da necessidade de

aprofundar os conhecimentos das áreas de estudo.

Dessa forma a aprendizagem se tornava significativa e interessante para se

desenvolver a pesquisa do interesse do aluno. O Programa se desenvolveu em três

microrregiões no Estado e habilitou 216 alunos.

Outro programa de relevância na Formação de Professores Leigos no estado de

Mato Grosso, foi o GerAção, na modalidade de suplência, desenvolvendo-se em 49

municípios e absorvendo 1019 Cursistas. O GerAção era composto por duas

equipes de coordenação, sendo uma pedagógica e outra financeira, pois era um

projeto financiado pelo PRODEAGRO/Banco Mundial. Dentre os objetivos

primordiais do Programa, destaca-se o seguinte:

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(...) desenvolver formas de conhecimento, tomando como base o seu próprio meio social, para que os Professores Cursistas conheçam e controlem uma variedade de padrões culturais e intraculturais e de conhecimento ampliando sua compreensão crítica da realidade e sua capacidade de atuação sobre ela (GerAção, SEDUC/1985).

A proposta pedagógica do GerAção tinha como fator principal a estratégia de unir a

realidade à ação, pela qual a percepção e a representação estão intimamente

ligadas. O currículo é trabalhado como função do momento social em que está

inserido, observando-se as relações espaço-tempo e conteúdo-método.

O curso previa etapas letivas intensivas, etapas letivas intermediárias e etapas de

formação e planejamento. Os instrumentos de avaliação eram planejados e

executados pelos Monitores e coordenados pelo Assessor Pedagógico, havendo um

destaque especial para o caderno de campo e relatório de atividades.O curso tinha a

duração de seis semestres (três anos), tendo sofrido descontinuidade pela falta do

repasse de verbas, formando-se as últimas turmas no ano de 2000.

Outro programa de Formação de Professores Leigos que se operacionalizou no

Mato Grosso na década de 90 foi o TUCUM, o qual formou sua última turma em

2001. Este Projeto é destinado a uma clientela muito especial, formar professores

índios, em exercício, uma vez que os povos (indígenas) não estavam mais aceitando

o professor branco nas aldeias, impondo novas culturas e não valorizando a cultura

dos índios.

Já se encontravam lecionando índios sem titulação, motivo pelo qual o Governo do

estado de Mato Grosso se comprometeu em atender a reivindicação dos povos e

destinar-lhes um curso específico para a Formação de Professores índios que

atuavam nas áreas indígenas.

O nome do projeto, foi indicado pelos índios, e relaciona-se ao trabalho artesanal

realizado com a palmeira TUCUM, trabalho que exige atenção, cuidado, criatividade,

Procedimentos que eles consideram importantes na profissão de docente.

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O projeto TUCUM iniciou-se no Mato Grosso em 1995, sendo um curso de

Magistério bilíngüe e consistiu em um conhecimento integrado às práticas vividas.

Segundo MENDONÇA&VANUCCI (1997), este tinha por fundamento três eixos

norteadores: Terra, Língua e Cultura. Consiste em um curso parcelado, que

alternava etapas presenciais intensivas, que se efetivam na cidade e nas aldeias

com os professores índios e o orientador. A carga horária do curso era de 2800

horas desenvolvidas em oito etapas intensivas e oito etapas intermediárias.

Assessoraram o Projeto a Universidade Federal de Mato Grosso, a Universidade

Estadual de Mato Grosso, a Universidade Estadual de Campinas e a Universidade

Federal de Santa Catarina. É um projeto financiado pelo Programa de

Desenvolvimento Agroambiental- PRODEAGRO- do Banco Mundial, que formou

aproximadamente 200 índios-professores de 10 etnias.

O currículo do curso respeitava as culturas indígenas ao abordar os conteúdos de

suas culturas, assim como permitia a apropriação dos conhecimentos universais. O

Projeto rompe com a concepção dicotômica entre educação e prática social,

constituindo-se em um processo de conhecimento integrado às práticas vividas

(TUCUM/SEDUC, 1997, p.89).

Mato Grosso pretendia atender a diversidade na Formação de Professores Leigos

em nível médio, mas os programas não davam conta de atingir a enorme extensão

territorial; havia ainda um universo de 1600 professores em exercício sem a devida

habilitação para lecionar, motivo pelo qual alguns municípios buscavam soluções,

firmando convênios com instituições privadas de ensino.

Um exemplo foi o projeto CRESCER, curso de Magistério, na modalidade de Ensino

a Distância, do Centro Educacional de Niterói, firmado em meados de 96 com alguns

municípios da região norte do Estado. Tal projeto, no entanto, absorvia uma mínima

fração da demanda, por exigir como condição de ingresso, a formação de segundo

grau completa. Dessa forma, matriculavam-se professores que necessitavam

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realizar um curso direcionado prioritariamente ao bloco pedagógico para a formação

de Magistério.

O projeto CRESCER, na modalidade de EAD, se operacionalizava em 15 meses,

sendo que a sua metodologia consistia em um encontro mensal de dois dias

presenciais, estudos posteriores e, no próximo encontro, a realização da prova.

Como o convênio era firmado diretamente entre o Município e o Instituto de Niterói,

para posteriormente ser encaminhado ao Conselho Estadual de Educação, quando

o curso já estava em andamento, a proposta começou a sofrer entraves quanto a

legislação, a ponto de se esgotarem as tentativas de permanência do programa no

Estado em 1999.

Tendo em vista a atribuição da responsabilidade pelo Ensino Fundamental aos

municípios, os gestores investiram na contratação de profissionais para a

alfabetização inicial, mas encontraram, em sua grande maioria, pessoas sem a

formação necessária para assumirem o cargo. Tal realidade fez com que o exercício

da docência nas séries iniciais, que deveria ser realizado por profissionais com maior

experiência, fosse ocupado por aqueles que detinham menor qualificação, ou ainda,

não tinham a habilitação mínima.

A procura tornou-se mais acentuada com a Lei n° 9294/96, denominada Lei do

FUNDEF, que dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de Valorização do Magistério e estipula aos municípios o prazo de 5

anos (até 2001) para habilitar, em nível médio, os Professores Leigos, utilizando os

recursos do Fundo para este fim.

No ano de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é publicada e,

em seu artigo 87,§4, determina que até o fim da década da educação somente

sejam admitidos "professores habilitados em nível superior ou formados por

treinamento em serviço". A situação dos municípios da região Norte do Estado se

apresentava diferenciada, pois alguns professores não possuíam o Ensino

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Fundamental, havendo, portanto, a exigência de investir nesse grau de ensino e,

posteriormente na habilitação em Ensino Médio, o que significava um investimento,

de no mínimo, dez anos. A exigência de programas que dessem conta dessa

demanda em prazo hábil gerava inquietação nas prefeituras.

Não distante da preocupação dos municípios, estava o Ministério de Educação e

Cultura, por meio da SEF e SEED, em parceria com o FUNDESCOLA, estudando

formas de viabilizar um programa de formação a distância que atendesse à

constante solicitação dos municípios, visto que a precariedade na Formação Inicial

de Ensino Médio era uma realidade que atingia os estados do Centro-Oeste, Norte e

Nordeste.

A professora Mindé Badauy de Menezes, Diretora do Departamento de

Desenvolvimento de Projetos da Secretaria de Educação a Distância do MEC, vinha

travando uma discussão desde 1996 com os municípios do Nordeste, região de

maior incidência de Leigos, no sentido de criar, em parceria, um programa de

Formação que atendesse as solicitações dos Secretários Municipais de Educação.

No entanto, a morosidade das negociações e do trâmite dos projetos no MEC

associada a dificuldade na liberação das verbas, fizeram com que os municípios

fossem buscando soluções nem sempre as mais plausíveis e fechando convênios

com instituições de Ensino a Distância para formar o quadro de professores, sem a

preocupação com a legalidade das mesmas.

Em Mato Grosso, nesse período a preocupação com a formação continuada e inicial

de professores resultava em estudos e discussões sobre a necessidade de se

criarem Centros de Formação de Professores que atingissem esse objetivo, uma vez

que os cursos de Magistério estavam extintos. Foi um ano de estudos até serem

criados os Centros de Formação e Atualização do Professor em 1997.

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Em meados de 1998, o MEC/FUNDESCOLA apresenta o Projeto de Formação de

Professores em Exercício e a Distância, o PROFORMAÇÃO3, como experiência

piloto ao Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, convidando-os para se constituírem

em experiência piloto, tranqüilizando com isso, os gestores desses estados quanto à

capacitação dos Leigos.

Representavam o Programa na Coordenação Nacional do PROFORMAÇÃO-CNP, a

professora Mindé Badauy de Menezes, da SEED/MEC, e a professora Wilsa Maria

Ramos do FUNDESCOLA, as quais, em audiência com o Secretário de Estado de

Educação, Dr. Fausto Faria e com a Chefe do Gabinete, professora Marlene de

Oliveira Santos, levam a resposta positiva para a implantação da proposta em Mato

Grosso em 1999.

A respeito desse fato as coordenadoras assim se manifestaram:

No Mato Grosso achamos interessante que foi muito rápido, porque tinha antecedentes que era o projeto GerAção, que estava encerrando por falta de recursos financeiros. Eu fico até pensando se lá não deveríamos ter bancado o GerAção e ter deixado ele, hoje eu penso que isso não aconteceu porque naquela época nem de lá, nem de cá surgiu esta idéia de solicitar esse procedimento possível (MENEZES: 2000. Entrevista, em anexo, p.256).

Esses dois estados desenvolveram programas de Formação de Professores na modalidade de educação a distância no passado, mas principalmente eles demonstraram interesse em adotar o projeto Piloto com grande compromisso (RAMOS: 2000. Entrevista, em anexo, p.270).

A partir de agosto de 1998, começaram as reuniões para a implementação do

PROFORMAÇÃO em Mato Grosso. Na Secretaria de Estado de Educação, as

pessoas responsáveis por este processo eram a professora Luzinete Barrozo-

coordenadora do Proformação no Mato Grosso e a professora Orlene Silva, da

equipe de Formação e Capacitação, as quais participavam do processo de

preparação para a implantação da proposta.

O Programa de Formação de Professores em Exercicio, PROFORMAÇÃO, objeto de pesquisa do presente trabalho será detalhado nos capítulos seguintes

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Os trabalhos consistiam inicialmente na divulgação do Programa no Estado, no

contato com a UNDIME e com as prefeituras e na montagem do processo para a

aprovação no Conselho Estadual de Educação. O volume de atividades era intenso,

o que demandava das técnicas um trabalho exaustivo e de muita responsabilidade.

Podia-se observar o apoio inconteste dos gestores, visto que o Programa traria uma

contribuição expressiva por apresentar soluções para o impasse criado no que se

refere.à política da formação dos Leigos no Estado. Essa fase de intensa

preparação foi acompanhada muito de perto pela professora Wilsa Ramos, da CNP,

no Mato Grosso, e pela professora Mindé Badauy de Menezes, no Mato Grosso do

Sul.

É interessante ressaltar a estratégia da CNP, visto que em alguns momentos as

reuniões aconteciam em Mato Grosso do Sul, com a participação de MT, e em

outros, no Mato Grosso, com a participação de MS.

Essa interação entre os estados sobre a experiência Piloto, instituída desde o início

das discussões, foi muito produtiva, uma vez que aproximando as distâncias permitiu

o fortalecimento do Piloto e possibilitou que um buscasse no outro as formas para

resolverem problemas comuns.

No entanto, algumas questões nos inquietavam:

Na obrigatoriedade do prazo, haveria proposta que em dois anos revertesse o

quadro de fracassos da Escola Pública, formando o Leigo para conceber a

alfabetização enquanto letramento?

Estaria o Leigo assistido nas suas necessidades, recuperando as defasagens dos

seus conhecimentos nas áreas da didática, fundamentos e metodologia em dois

anos?

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Seria essa mais uma política estéril na proposta de Formação de Professores sem

tiulacão? Que programa era esse que estavam a oferecer ao Mato Grosso?

O PROFORMAÇÃO estaria apenas substituindo o algoz das décadas de 60/70,

porém com nova roupagem?

Seria esse Programa do FUNDESCOLA/Banco Mundial mais um pacote?

Estava ele caindo de pára-quedas? Como ele surgiu? Serviria para a nossa

realidade? Quem foi o autor da proposta: o Banco Mundial?

Será que o estado de Mato Grosso estava em condições de implantar o Programa?

Como os Centros de Formação se estruturariam com tamanha rapidez a fim de

desenvolver a proposta conforme o desenho previsto?

CAPÍTULO 2

PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EXERCÍCIO:

UM BREVE HISTÓRICO

A preocupação de educadores

brasileiros e dos secretários e

prefeitos da região Nordeste

provocou uma série de

discussões a respeito de uma

proposta de curso de

formação para este

contingente, em caráter

emergencial, uma vez que

essa região contava com a

maior demanda nacional de

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Leigos A SEED/MEC tinha uma estimativa, em 1998, de aproximadamente 70 000

Professores Leigos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o que gerou uma

parceria entre SEED/MEC, UNDIME, CONSED e UNESCO, na organização de um

documento preliminar que apresentasse alternativas de solução para o problema da

titulação destes professores. Na realidade, os gestores acreditavam que a TV

Escola, em 1996, viria atender a este contingente de professores com dificuldade de

acesso e permanência em cursos de formação formal e/ou a distância; no entanto,

quando constataram ser uma proposta de Formação Continuada, as cobranças se

intensificaram.

Tal preocupação prendia-se também, ao fato apresentado pela exigência da Lei

9424/96, denominada a Lei do FUNDEF (Fundo do Ensino Fundamental), a qual

estabeleceu, conforme já ressaltamos, o prazo de 5 anos para que os estados e

municípios formassem seus professores em nível médio, possibilitando, no entanto,

a utilização dos recursos do Fundo para essa ação.

Por outro lado, havia também a cobrança da titulação em nível superior para o

exercício do magistério, posta pela Lei 9394/96, estipulando o prazo para seu

cumprimento após uma década de sua edição, portanto em 2006.

A professora Wilsa Maria Ramos, Coordenadora de Projetos Especiais do

FUNDESCOLA (Fundo de Fortalecimento da Escola), quando em trabalho com os

gestores na região Nordeste, assim relata:

(...) participei da implantação do FUNDEF no Nordeste com os Secretários de Educação e eu estava muito sensibilizada com a Formação de Professores. O tema que eu discutia nesses seminários nacionais era Plano de Carreira. Sempre que se discutia plano de carreira, desaguava na questão de como colocar o Professor Leigo no Plano de Carreira. Não é possível colocar o Professor Leigo, tem que estar habilitado para entrar na carreira. Não existe carreira para quem não tem habilitação para o cargo. Então eu vinha muito sensibilizada com uma discussão com vários secretários e eles perguntavam se o MEC não iria apoiá-los na Formação de Professores Leigos. E foi vindo dessa experiência que eu pensava muito que esses secretários precisavam de duas coisas: de formar os professores e do plano de carreira (Entrevista: 2000, em anexo, p.267).

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Assim sendo, com a premência da Lei, as discussões foram tomando vulto e

cassaram a contar com lideranças significativas para cobrar uma postura do MEC

corn a maior brevidade possível. O CONSED era representado pelos 19 Secretários

Estaduais de Educação das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste os quais

indicaram a Secretária de Educação, professora Silke Weber, para negociar junto à

SEED/MEC com a Diretora do Departamento de Planejamento e Desenvolvimento

de Projetos, Prof. Mindé Badauy de Menezes, a formulação de uma proposta que

viabilizasse a construção de um curso de Formação de Professores, em nível de

Ensino Médio.

O movimento de discussão em busca de experiências bem sucedidas na área de

formação em serviço, e a distância, levou as professoras a pesquisar, em vários

estados, subsídios necessários para montarem o Programa, fato esse relatado pela

professora Mindé Badauy de Menezes no seguinte trecho de sua entrevista:

Eu falo que este Projeto é um projeto de muitas mãos, porque os pilares dele foram construídos muito na conversa com parceiros, então eu digo que não é o governo, os professores e a SEED. Eu tinha visto o projeto GerAção e tive muita inspiração com aquele projeto, foi em 1997. (...) Também me inspirei em muita coisa do Instituto Kennedy, do Rio Grande do Norte. Veio de lá a idéia de contar o exercício da docência como componente do curso. Este curso era também programado para professores sem formação. (...) Eu fui visitar esses Centros em Minas Gerais junto com a Maria Inês Laranjeira da SEF/MEC e lá encontramos a Umbelina e a Nilza, começamos a conversar e logo trouxemos a Umbelina para consultora do Projeto e a partir dessa reflexão com os parceiros deu para ter uma idéia de como manter este projeto em pólos (Entrevista: 2000, em anexo, p.254).

O Projeto de Formação de Professores Leigos foi sendo construído e no final de

1997 obteve-se o primeiro esboço, uma vez que não estavam ainda definidas as

diretrizes para os cursos de formação profissional em nível de Ensino Médio, em

âmbito nacional. A intenção de se levar o Projeto para um grupo maior auxiliar na

discussão, na sua construção, foi um dos objetivos no seminário da Paraíba.

Dessa forma, no final de 1997, o Projeto já tinha alocado verba para a execução do

seminário junto ao FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação)

quando a SEED recebe a notícia da suspensão da verba. Foi um momento de

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grande desespero para a equipe, que a professora Mindé expressa com clareza,

ressaltando a luta pela implantação do Programa:

Nós temos um compromisso, nós temos um seminário convocado, pois eu já tinha me reunido com o CONSED, com a professora Iara, do Ensino Fundamental, com a UNDIME porque os professores eram da rede municipal, e tínhamos definido que teríamos um seminário na Paraíba, para marcarmos uma posição política, dado que era um dos estados que apresentavam maior índice de professores não habilitados. Então fizemos uma reunião com a UNDIME e com o CONSED e não conseguimos, de forma alguma, segurar o recurso que foi devolvido para o FNDE. Aí eu me comuniquei rapidamente com a comissão do Banco Mundial em Washington e eles disseram que era para fazermos um plano em prazo recorde e "coloquem aqui que nós vamos encaminhar e dar uma solução rápida", o que deu a entender um alto desejo do Banco Mundial no Programa (Entrevista: 2000, em anexo, p.253).

Nesse momento a professora Wilsa Ramos (Coordenadora de Projetos Especiais do

FUNDESCOLA/ Banco Mundial) alia-se à professora Mindé, para que juntas

pudessem viabilizar mecanismos para desenvolver o Projeto, tendo em vista o

envolvimento e a expectativa que este já havia gerado nos parceiros mentores e o

adiantado nível de desenvolvimento para a estruturação final e implantação nos

estados. Por outro lado, o Projeto parecia sanar uma falha dos programas de

treinamento e capacitação do Banco Mundial, uma vez que os altos investimentos

em cursos de 40 horas não davam conta de diminuir os índices de evasão e

repetência. Segundo depoimento da professora Mindé, os fatos transcorreram da

seguinte forma:

A estas alturas o MEC em férias, a Wilsa e eu, (...) trabalhamos muito, montamos esse Projeto e colocamos no Banco Mundial em Washington. No dia 14 de janeiro de 1998 já tivemos a informação da aprovação do Projeto, e em fevereiro já tivemos em mãos o recurso para fazer o Seminário. Foi uma coisa assim, muito forte, é uma conjuntura astral com o nosso interesse e de alguns estados com os quais já tínhamos um diálogo (Entrevista: 2000, em anexo p.254).

O seminário da Paraíba era primordial para a estratégia de participação dos

interessados na construção do Projeto; Mato Grosso participou, eu estava junto à

equipe da SEDUC, e o objetivo do Workshop era mostrar que a idéia não era de um

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projeto acabado, mas que fosse sendo construído junto aos parceiros. Acerca dessa

concepção, Wilsa Ramos assim se posiciona:

Então nós saímos com o Projeto e o lançamos num Fórum Nacional na Paraíba com representantes da UNDIME, Conselhos Estaduais de Educação, Pró-reitores de extensão, ANFOPE, representantes de vários segmentos. Lá nós apresentamos o Projeto e colocamos na mesa para abrir mesmo, para discutirem, darem sugestões e vimos que foi muito bem recebido. Claro que houve muitas sugestões para aprimorarmos, mas houve também muita reciprocidade, o que foi um aceno muito positivo para nós. Foi o primeiro momento que indicou que estávamos no caminho certo. A partir desse encontro nós retornamos, detalhamos mais o Projeto, trouxemos um consultor internacional na área de Educação a Distância que foi o Michael Moore, recomendado pelo Banco Mundial. Michael ajudou muito no desenho da estratégia e do material do Programa. Nós sabíamos que tínhamos um público específico, uma clientela com um perfil muito delineado. Nós queríamos oferecer um Programa específico para essa clientela, então o material tinha que ser impresso e (...) que chegasse onde o Cursista estivesse (Entrevista: 2000, em anexo, p.268).

O Programa foi construído com a colaboração muito importante da Consultora,

professora Umbelina Salgado, que já havia participado de um Programa de

Formação de Professores com Agências Formadoras em Minas Gerais, com

resultados positivos e elogiados pelo Banco Mundial, a qual deu um impulso para a

definição da proposta.

Subsidiado pelo suporte legal do Parecer 15/98 da CEB - Câmara do Ensino Básico

do Conselho Nacional de Educação, do Referencial para Formação de Professores

da SEF/MEC e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, o Programa de Formação

de Professores em Exercício, PROFORMAÇÃO, ficou pronto, em meados de 1998,

para a sua fase inicial. Tratava-se, no momento, de definir quais os estados que

implantariam a proposta, seguindo-se o critério de menor número de Leigos,

proximidade com Brasília, experiência anterior com programas dessa natureza, para

facilitar o monitoramento e avaliação, aliado ao fator mais importante: disponibilidade

dos governos em desenvolver a proposta.

A região Centro-Oeste preencheu todos os requisitos necessários à implantação da

proposta, e a Coordenação Nacional do PROFORMAÇÃO, composta pela

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professora Mindé Badauy de Menezes, da SEED/MEC, e a professora Wilsa Maria

Ramos, do FUNDESCOLA, foi aos estados apresentar o Programa e fazer o convite.

Receberam o convite da comissão de implantação do Programa, para experiência

piloto, os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Observou-se que o

estado de Goiás não teve muita receptividade com relação ao Programa, fato esse

deduzido da morosidade nas respostas. Como o Projeto tinha prazo para a

implantação, Goiás não foi incluído, o que resultou no Mato Grosso e Mato Grosso

do Sul como experiência Piloto do PROFORMAÇÃO.

A partir da definição dos estados que participariam dessa experiência, a expansão

do Programa se daria nas regiões Norte e Nordeste, as quais não mediam suas

ações na busca de caminhos alternativos para formar seus professores. Este fato é

revelado na fala da professora Mindé, da seguinte forma:

Houve estado por exemplo, que tinha 27 instituições com curso a distância com a maior facilidade, e nós trabalhando num projeto com o rigor do PROFORMAÇÃO em estados que se sabia da existência de 6 000 a 7 000 Leigos e você não conseguia 800 pessoas matriculadas. As prefeituras não acreditavam mais que o PROFORMAÇÃO fosse sair e ao mesmo tempo, fez vir à tona essas situações de ilegalidade desses programas e o empresariamento da educação (Entrevista: 2000, em anexo, p.256).

Essas constatações permitem concluir que, se antes o descompromisso era a

atitude dos gestores, atualmente é a incoerência que se manifesta, o que incide em

afirmar que o descompromisso e a má qualidade da formação dos Leigos continua.

A proposta de um curso do MEC/FUNDESCOLA com um consistente programa de

Formação de Professores em Serviço, surgiu no cenário nacional acenando como

redentora para a formação do Leigo e, por ser assim considerada, exigia da equipe

que não incorresse nos erros dos programas anteriores, o que significava pensar

em:

• um modelo de proposta de Educação a Distância que fosse até onde o aluno

estivesse, permitindo estudos individuais com material que faça a interlocução

necessária;

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• uma estrutura de Programa que permitisse ao aluno revisar constantemente

seus estudos e associá-los à prática, instituindo momentos de interação com

seus pares para o fortalecimento das relações e inclusão do Leigo no ciclo de

discussões acerca da profissão magistério;

• uma estratégia de permanência do Professor Leigo em exercício no Programa

e de valorização da sua prática docente como componente curricular,

permitindo a ação refletida do seu fazer pedagógico;

• instituir um orientador para apoiar o aluno nas situações de dificuldades e

dúvidas durante o curso, evitando com isto sua evasão do Programa;

• um termo de compromisso dos gestores em manter financeiramente o

professor no Programa, subsidiando transporte e estada nos encontros do

Curso;

• uma proposta que atendesse as especificidades regionais e individuais dos

participantes, estabelecendo mecanismos de acompanhamento ao ritmo de

aprendizagem e ao espaço cultural do professor-estudante;

• um projeto que propiciasse uma formação geral e específica que permitisse

associar à titulação o conceito de Formação Continuada em serviço;

• e, acima de tudo, um Programa que assegurasse a inclusão na carreira do

magistério, com criticidade, politização e conhecimento da legislação básica,

contribuindo para a construção da identidade profissional, da autonomia

intelectual e da cidadania do Professor Leigo.

No entanto, o PROFORMAÇÃO deveria passar por uma pré-testagem, uma

experiência Piloto, a fim de que se pudesse aprimorar a proposta para lançá-la em

escala macro como é a demanda do Norte e Nordeste. Mato Grosso inicia então a

experiência, juntamente com Mato Grosso do Sul, num contingente aproximado de

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1200 Leigos, o que significou a espera das outras regiões por mais um ano até que

se obtivessem alguns resultados positivos.

2.1. PROFORMAÇÃO

Em que consiste a proposta? Quais os seus

objetivos? De que forma o Curso propõe a

permanência do aluno no Programa? É possível

que o Curso vá onde o aluno está? De que forma é

proposta a interação do aluno com os colegas e

com o seu orientador?

O PROFORMAÇÃO é um curso de Magistério a

Distância, com duração de dois anos letivos, destinado aos professores em exercício

no Sistema Público de Ensino, sem habilitação específica de Magistério, com Ensino

Fundamental completo4. É um Programa do MEC/SEED/FUNDESCOLA/SEF em

parceria com os estados e municípios e que se desenvolve em quatro módulos

(semestres de estudos), cada um com 800 horas, cinco Áreas Temáticas, Projetos

de Trabalho e prática pedagógica como estágio supervisionado, de 620 horas. A

carga horária total do Curso compreende 3200 horas

Por que a distância? Porque outras alternativas de formação docente para esses

professores haviam fracassado e se tornavam inviáveis na medida em que exigiam o

afastamento do professor das suas atividades, resultando na falta ao trabalho ou na

colocação de alunos mais adiantados para tomarem conta da sala, o que, de certa

No estado de Mato Grosso houve a reivindicação de que o Programa se estendesse também aos professores sem o Ensino Fundamental completo, visto que os municípios tinham grande interesse em formar em nível de Magistério os professores da Educação Infantil, na sua maioria com o Fundamental incompleto, o que se constituía em uma grande demanda. A Coordenação Nacional permitiu que esse procedimento se efetuasse devido à história que Mato Grosso registrava em cursos de Formação de Professores com essa clientela, como o INAJÁ e o GerAção. Também ficou acordado que o Estado e os municípios destinariam maior atenção e um programa de recuperação aos alunos com dificuldades de acompanhamento além dos oferecidos pelo Programa.

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forma, preenchia uma lacuna mas criava outra, a da má qualidade do ensino gerada

pela substituição temporária desqualificada.

Devido aos problemas geográficos, que têm sido considerados como empecilhos ao

acesso do professor ao curso de formação, nas regiões Centro-Oeste, Norte e

Nordeste, Educação a Distância oferece vantagens como:

• democratização do acesso ao ensino, porque vai até onde o aluno está,

abrindo oportunidade para que as pessoas estudem, independentemente da

localização geográfica;

• valorização da profissão do Cursista, ao considerar o ambiente de trabalho

como importante espaço para a interação dos estudos com a prática

pedagógica e como processo de ação-reflexão-ação;

• interatividade, ao possibilitar que o Cursista associe multimeios ao processo

ensino-aprendizagem, tornando-o mais rico devido à multiplicidade de

informações oferecidas acerca de um tema;

• material instrucional específico produzido para o Curso.

O ingresso do professor ao Curso se dá pela indicação da Secretaria Municipal e/ou

Estadual de Ensino, a qual atesta que o docente se encontra em exercício na pré-

escola ou nas séries iniciais do Ensino Fundamental. O Acordo de Participação

firmado entre os municípios, estados e o Ministério de Educação sintetiza o

compromisso dos sistemas com o Programa, situando as competências de cada

segmento, bem como as formas de manutenção dos seus Cursistas e Tutores no

PROFORMAÇÃO, custeando-lhes as despesas de estada e transporte durante a

vigência do Curso .

O quadro a seguir situa a estrutura organizacional do PROFORMAÇÃO e as

competências de cada sistema:

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2 2 Estrutura organizacional do PROFORMAÇÃO: competências

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o professor matriculado no Curso é denominado de Professor Cursista, e o início de

suas atividades se dá nas Agências Formadoras (instituições estaduais), cujas

responsabilidades são:

• desenvolver as capacitações nas fases presenciais;

• acompanhar e subsidiar os trabalhos dos Tutores;

• manter o arquivo atualizado com dados dos alunos;

• acompanhar as Reuniões Quinzenais dos Cursistas por amostragem;

• realizar a capacitação continuada mensal dos Tutores e coordenadores

nacionais;

• receber e enviar correspondências para a EEG e CNP;

• divulgar as atividades do Programa nos municípios e Estado;

• acompanhar o aproveitamento dos alunos por Tutor e por Área Temática,

providenciando sua recuperação;

• propor atividades de interiorização da equipe para a AGF nos municípios dos

pólos;

• distribuir o material instrucional do Programa aos Cursistas e Tutores.

Na Fase Presencial, os alunos participam de estudos e discussões acerca das

exigências requeridas e das competências a serem desenvolvidas, bem como

efetuam uma visualização das Áreas Temáticas para aquele semestre do Curso.

O Programa instituiu a orientação pedagógica na figura do Tutor, reconhecido como

a peça chave do processo ensino-aprendizagem do aluno, e sua função é orientar a

aprendizagem e motivar o Professor Cursista, acompanhando as suas atividades e

supervisionando a prática pedagógica. O Tutor é um profissional, preferencialmente,

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formação superior em docência, exercício comprovado, que no Piloto foi

indicado pelos prefeitos e/ou secretários para exercer a função. É também o

elemento dinamizador dos Encontros Quinzenais, espaços criados pelo Programa

para encontros coletivos com a finalidade de socializar experiências, discutir

avanços e dificuldades, fortalecendo as relações grupais e possibilitando um clima

de incentivo para a adoção de novas práticas pedagógicas.

Ele é orientado sobre as suas funções e a respeito das atividades desenvolvidas no

módulo, em capacitações que se dão em cada Fase Presencial que antecede o

desenvolvimento das atividades no semestre e nos encontros mensais de Tutores. É

assistido por um corpo de professores que atuam nas Agências Formadoras do

PROFORMAÇÃO para os casos de dúvidas e orientado no desempenho do seu

trabalho. O Programa oferece a ele o Manual do Tutor, subsídio que orienta todas as

atividades e instrumento de acompanhamento ao Professor Cursista.

Sintetizando, o PROFORMAÇÃO proporciona suporte pedagógico tanto para os

Professores Cursistas como para os Tutores, a cada módulo, o que está disposto no

quadro a seguir:

Quadro 1: Representação do Suporte Pedagógico do Programa aos Professores Cursistas e

Tutores.

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2 3. O mater ia l instrucional

O material instrucional e de apoio pedagógico que são distribuídos aos Cursistas e

Tutores no início do Curso são o Guia Geral e Manual de Implementação do

PROFORMAÇÃO.

No início das atividades letivas em cada módulo o aluno recebe 8 Guias de Estudos;

8 Cadernos de Verificação de Aprendizagem.Os Tutores recebem entre os seus

materiais os Guias de instrução sobre o Programa, o Manual do Tutor, textos de

apoio e em cada módulo, 8 vídeos para serem discutidos nos Encontros Quinzenais.

O material informativo e didático, bem como os Cadernos de Orientações produzidos

pela equipe de treinamento e suporte da CNP (Coordenação Nacional do

PROFORMAÇÃO) servem para auxiliar os participantes no exercício das suas

atividades.

Os vídeos foram criados especialmente para o Programa e têm a função de

visualizar as várias possibilidades de trabalhar os temas abordados nos Guias,

sintetizando, de forma reflexiva, os estudos de cada unidade temática. Foram

programados para ser utilizados em cada Reunião Quinzenal e se constituem em

apoio pedagógico.

A elaboração do material obedeceu a um processo de construção sempre precedido

de pré-testagem pelos Cursistas de Mato Grosso, passando pela utilização durante

um módulo, coletando-se ainda os possíveis erros para a construção definitiva. Os

alunos no decorrer do Curso foram sinalizando questões dúbias, de difícil

entendimento, indicando ainda as que necessitavam de melhor detalhamento para

que pudessem responder. Esse processo de construção participativa do Material

Instrucional aconteceu somente no Piloto.

A foto a seguir ilustra, de forma sintética, os materiais adotados no Curso.

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Figura 1: Material Instrucional do PROFORMAÇÃO

2.4. Os objetivos

Os objetivos propostos pelo Programa dividem-se em Gerais e Específicos. Os

objetivos gerais são:

• habilitar em Magistério, no nível médio, os professores que exercem

atividades docentes nas séries iniciais do Ensino Fundamental e classes de

alfabetização:

• elevar o nível do conhecimento e da competência profissional dos docentes

em exercício;

• contribuir para a melhoria do processo ensino-aprendizagem e do

desempenho escolar dos alunos das redes estaduais e municipais;

• valorizar o Magistério pelo resgate da profissionalização docente e melhoria

da qualidade do ensino (Fonte: Guia Geral do PROFORMAÇÃO. 2000:13).

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Dentre os objetivos específicos da proposta pedagógica do Programa, conforme

documento de Diretrizes Gerais do PROFORMAÇÃO/2000, destaco os seguintes:

• tematizar a própria prática e refletir criticamente a respeito dela;

• conhecer e aceitar as características de seus alunos;

• respeitar a diversidade cultural e lidar bem com ela;

• ser comprometido com o sucesso dos alunos e com o funcionamento

democrático da escola em que atua;

• valorizar o saber que produz em seu trabalho cotidiano e ter consciência de

sua dignidade como ser humano e como profissional;

• conhecer os fundamentos da cidadania;

• dominar princípios científicos e tecnológicos que sustentam a moderna

produção da vida contemporânea.

2.5. A Matriz Curricular

Para atingir os objetivos estabelecidos, a proposta curricular do Curso organiza de

forma integrada, as Áreas Temáticas, que são seis, sendo elas da Base Nacional do

Ensino Médio e da Formação Pedagógica: Linguagens e Códigos; Matemática e

Lógica; Fundamentos da Educação; Organização do Trabalho Pedagógico;

Identidade, Sociedade e Cultura; Vida e Natureza. Há, também, os Eixos

Integradores e os Projetos de Trabalho, entendidos como atividades de pesquisa de

temas para aprofundar os estudos nas áreas do conhecimento ou ainda, como

projetos de integração com a comunidade. A Língua Estrangeira Moderna,

obrigatória nos cursos de Ensino Médio, fica à escolha do Estado.

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A Matriz Curricular compreende:

Quadro 2: Matriz Curricular do PROFORMAÇÃO

FONTE: Manual de Operacionalização- F U N D E S C O L A - S E E D / M E C , Brasilia-2000

A seguir, estão expostos os Quadros 3 e 4, que demonstram a Estrutura dos

módulos I - Il e III - IV, respectivamente, com as atividades a serem desenvolvidas e

o cronograma para as mesmas.

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quadro 3: Estrutura Curricular dos módulos I e II

FONTE: Manual de Operacionalização- FUNDESCOLA-SEED/MEC. Brasilia-2000

Quadro 4: Estrutura Curricular dos módulos III e IV

FONTE Manual de Operacionalização- FUNDESCOLA-SEED/MEC. Brasilia-2000

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Pode-se observar na Matriz Curricular o detalhamento das Áreas Temáticas no que

diz respeito aos estudos, à docência e aos Projetos de Trabalho. O Curso valoriza a

prática docente como componente curricular, situando-o enquanto espaço de

validação das orientações e sugestões de atividades inovadoras. Os Projetos de

Trabalho consistem em pesquisas que o aluno realiza durante o curso, podendo

optar por temas de aprofundamento teórico em determinada área ou de intervenção

na comunidade. A parte profissionalizante do Magistério não aparece definida na

Matriz Curricular; ela está incorporada na área de Fundamentos da Educação e

Organização do Trabalho Pedagógico, e nos Eixos Integradores.

2.6. A avaliação

A avaliação no Programa de Formação de Professores em Exercício é processual,

contínua, alternando momentos de atividades individuais e coletivas. Uma proposta

de auto-avaliação, construída junto com os Memoriais, está incluída no Curso, e

apresenta-se com uma forma reflexiva, que permite aos Professores Cursistas

analisarem o seu percurso no Programa e dissertarem acerca do sucesso ou

insucesso na investida em práticas inovadoras, bem como do seu aprendizado dos

conteúdos dos Guias de Estudo. Outros instrumentos compõem a avaliação global

do Professor Cursista, que são as atividades do Caderno de Verificação, a

Observação da Prática Pedagógica e do Planejamento Didático, Provas Bimestrais e

Projetos de Trabalho.

Os resultados dos instrumentos de avaliação são registrados pelo Tutor nas fichas

de acompanhamento e enviados para a AGF, a qual deverá revisar os resultados e

arquivá-los na pasta individual do aluno. Tal monitoramento deverá realizar o

levantamento dos alunos que fracassam no desenvolvimento de alguma etapa do

Curso, o que exige uma proposta de recuperação imediata a fim de que a

defasagem dos conteúdos não se estenda à unidade seguinte. Este

acompanhamento é realizado pelo Tutor e encaminhado à Agência Formadora

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(AGF), que intervém nos casos de necessidade de atendimento aos Cursistas no

municipio.

Tal proposta é realmente desafiadora e requer dos envolvidos constante vigilância;

resta ver como isso se operacionalizará na prática. Para tanto, os instrumentos de

avaliação deverão corresponder ao desenho do Curso, devendo ser criados os

mecanismos de acompanhamento permanente da situação de aprendizagem dos

alunos. Consistem tais instrumentos de avaliação no seguinte:

• Cadernos de Verificação - consistem em blocos de questões elaboradas com

a finalidade de revisar o aprendizado dos alunos acerca dos conteúdos

estudados em cada Área Temática dos Guias de Estudo. Essas questões

devem ser respondidas individualmente, na residência ou no trabalho do

Cursista, com consulta, devendo ser entregues nas Reuniões Quinzenais.

Cada caderno corresponde a uma unidade trabalhada, totalizando um número

de oito no módulo. As dúvidas quanto à resolução das atividades poderão ser

sanadas com o auxílio do Tutor. Nos casos de insucesso no C.V., o aluno terá

a oportunidade de recuperar os conteúdos.

• Memorial - é o exercício de auto-avaliação e de reflexão sobre os avanços do

aluno, realizado de forma descritiva, abordando os conteúdos dos Guias de

Estudo associados às experiências realizadas na prática da sala de aula e ao

contexto social. A socialização desses textos, nos Encontros Quinzenais,

permite que o Professor Cursista tenha uma visão social do seu trabalho e do

seu crescimento no Curso, partilhada com o grupo de colegas. A recuperação

do Memorial consiste na análise, junto ao Tutor, sobre nova forma de

construção do texto quando o mesmo não expressar clareza, coesão e/ou a

relação do aprendizado dos conteúdos com a prática pedagógica.

• Provas Bimestrais - são blocos de questões sobre os conteúdos das Áreas

Temáticas, 12 de cada área, aplicadas bimestralmente, que deverão ser

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respondidas individualmente, sem consulta, em data única para todo o

Estado. O aluno que não atingir aproveitamento suficiente nas provas terá

direito à recuperação e ainda, na insuficiência desta, será oportunizado

realizar uma prova final.

• Prática Pedagógica - a metodologia de Educação a Distância considera o

espaço de trabalho do Cursista como parte integrante do currículo do Curso e

como local onde se efetiva a aplicação das noções estudadas nos Guias de

Estudo e nas Reuniões Quinzenais com o suporte dos vídeos; assim, é na

Prática Pedagógica que se pode observar a dimensão do envolvimento do

aluno no Programa, evidenciada nas investidas em novas formas de conduzir

o processo ensino-aprendizagem, na habilidade de planejar as aulas e no

desenvolvimento das competências necessárias para um ensino eficaz. A

recuperação da Prática Pedagógica é realizada através do replanejamento

das atividades propostas no plano de aula e da melhoria na organização e

administração da sala de aula, no sentido de aplicar as orientações

metodológicas do Programa no espaço de trabalho, de forma contextualizada

quando da visita do Tutor.

• Projetos de Trabalho - consistem em pesquisas realizadas pelo Cursista no

sentido de aprofundar os conteúdos dos Guias de Estudo e/ou na pesquisa

de temas que sejam relevantes na comunidade onde ele atua. Os projetos

podem ser de natureza científica para aprofundamento de estudos e/ou de

intervenção na comunidade envolvendo o resgate da história do município, da

cultura, dentre outras.

• O Programa exige, como requisito fundamental para a aprovação dos alunos,

a média mínima de 50% em cada instrumento de trabalho e de 60% na média

geral. A aprovação no módulo é condição para prosseguir os estudos, uma

vez que não há matrícula por dependência e nem casos de alunos

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reprovados que ingressaram em turma anterior, pois o Programa compreende

o lançamento de turma única nos estados5.

2 7 Estados que participam do PROFORMAÇÃO

Conforme já se sabe, no projeto Piloto participaram do PROFORMAÇÃO os estados

de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, somando aproximadamente 1500

Professores Leigos.

A partir da experiência do Piloto, a Coordenação Nacional do PROFORMAÇÃO

iniciou a divulgação nos estados do Norte e Nordeste para incentivá-los a aderirem

ao Programa. Muitas vezes fui convidada a dar palestras nos estados. Ao todo,

participei de 9 palestras expondo o Programa nessas regiões.

A implementação do PROFORMAÇÃO deu-se no ano de 2000, após a adesão dos

estados e prefeituras ao Programa. Iniciaram as suas atividades em janeiro de 2000

no PROFORMAÇÃO 8 estados das regiões Norte e Nordeste sendo que os demais

entraram em julho, conforme a legenda do mapa a seguir. Os novos estados bem

como o Piloto estão sob a Coordenação Nacional do PROFORMAÇÃO sediada em

Brasília/SEED/MEC.

Atualmente o Programa conta com a adesão de cerca de 27 000 professores e de

1400 municípios.

No estado de Mato Grosso, pela condição de Piloto, houve a concordância quanto ao ingresso de uma segunda turma do PROFORMAÇÃO devido ao pedido das prefeituras. Assim, tem-se a turma Que concluirá os estudos em dezembro de 2000 e a de julho de 2001.

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Finura 2: Mapa dos Estados Participantes do PROFORMAÇÃO

Estados Part ic ipantes

Fonte: Home Page do MEC na internet- http//www.mec.gov.br

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CAPÍTULO 3

O PROFORMAÇÃO NO MATO GROSSO

Neste ponto, as reflexões se voltam para a EAD e a Formação de Professores no

estado de Mato Grosso, como pioneiro na área, conforme já salientei no texto

anterior.

Assim, após detalhar o contexto político, econômico e educacional do Estado,

momento em que se implantou o PROFORMAÇÃO, as dificuldades e os avanços

constatados ao longo do percurso, vejo que devido ao grau de contribuições que as

partes tiveram na construção do Programa, trata-se de um projeto, em Mato Grosso,

como uma "via de mão dupla".

No entanto, torna-se necessário resgatar as condições que o Estado apresentava

para a implantação do Programa, uma vez que a estrutura recentemente viabilizada

sob a forma de Centros de Formação e Atualização do Professor, situados em 12

pólos regionais, contribuiu positivamente para o desenvolvimento da proposta.

Entretanto há que se registrar a trajetória histórica e política da construção desses

Centros como um resgate dessa política e das formas como um Programa foi

complementando o outro no desenvolver do PROFORMAÇÃO.

3.1. O contexto político, econômico e educacional

O contexto político, econômico e educacional quando da implantação do

PROFORMAÇÃO no Mato Grosso expressava-se em efervescentes discussões uma

vez que a Secretaria de Educação estava implantando a partir de 1995, uma série

de Programas e Projetos coordenados pela então Subsecretaria de Educação

Marlene de Oliveira Santos. Nesse momento, o Programa de Gestão Única,

Avaliação Institucional, Perspectivas para o Ensino Médio, Ciclo Básico de

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Alfabetização, Avaliação Institucional e Centros de Formação do Professor

centralizavam as atenções.

No que se refere à formação do professor, objeto de estudo nesse trabalho, a

instituição dos Centros de Formação os CEFAPROs, estavam resgatando pontos

nevrálgicos resultantes das discussões a respeito da extinção do curso de Magistério

no Mato Grosso. Como essa polêmica em torno do curso Magistério consistia em

uma discussão em nível nacional, o Estado representava naquele momento a

preocupação dos educadores com a formação de qualidade do seu quadro docente.

Antes de o Mato Grosso extinguir os cursos de Magistério, a Secretaria de Estado de

Educação já discutia a possibilidade de se criarem espaços de Formação

Continuada para os seus professores e a intenção de adotar programas pontuais de

Formação Inicial e/ou Profissional para atender a demanda existente na educação

pública.

O curso de Magistério apresentava problemas em Mato Grosso e havia a

necessidade de rever a proposta curricular. Este fato acontecia também em outros

estados. Conforme NÉBIAS (1993):

O despreparo do professor alfabetizador é um fato evidenciado em uma prática pedagógica fragmentada, repetitiva, desestimulante e sem articulação com a teoria. Entre as causas deste despreparo está a sua formação, que vem sofrendo perdas qualitativas (p.31).

A busca de experiências significativas, inclusive de espaços para os professores

discutirem a sua formação, num processo coletivo de reflexão da ação desenvolveu-

se na Escola Estadual de 1o e 2o graus Sagrado Coração de Jesus. A instituição

mantinha um locus de discussão com sucesso evidenciada pela busca crescente

dos professores da rede pública pela inscrição em turmas de estudos, há dois anos.

Este fato levou a Secretaria de Estado de Educação a investir no grupo, subsidiando

algumas ações, até que se construísse uma proposta estadual no sentido da

instituição de Centros de Formação.

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Adotando muito da experiência da escola, e ainda buscando visitar projetos e

programas de outros estados que permitissem adequar algumas metodologias à

realidade do Mato Grosso, foi desenhado pela primeira vez o Projeto, contando com

a equipe de Formação e Capacitação da SEDUC, e inicialmente com a minha

contribuição, enquanto consultora da política de Formação de Professores. A

discussão de construção da proposta dos Centros de Formação em 1997, partia

sempre do Gabinete, da professora Marlene de Oliveira Santos, uma das

coordenadoras da Proposta Educacional para a gestão do então Governador Dante

de Oliveira. Quando consultada sobre esse período em entrevista, a professora

Marlene de Oliveira Santos assim se manifestou:

Em 1995, quando assumi a Subsecretaria de Educação, coordenei a proposta de política educacional para esta gestão. (...) a discussão centrava-se em dois eixos: o primeiro deles era o da Formação Continuada, e o segundo o da Formação de Professores Leigos. (...) O que se pensava era uma proposta em que a Formação de Professores de segundo grau em cursos regulares iria aos poucos sendo absorvida por estas duas frentes, uma vez que não havia mais demanda de mercado de trabalho para o professor das séries iniciais do 1° grau, com habilitação Magistério de 2o

grau, no Município (Entrevista: 1998, em anexo, p.235).

Paralelamente à construção do documento, a política do Ensino Médio no estado de

Mato Grosso estava em evidência, e entre as discussões centrava-se a preocupação

sobre o direcionamento dos Centros frente à indefinição da política educacional do

país para a Formação Inicial dos Professores, uma das finalidades do novo projeto.

O documento da SEDUC/MT sobre as Novas Perspectivas para o Ensino Médio,

tendo como Consultores o Prof. Dr. Antonio Carlos Máximo e a Profª. Drª. Acácia

Küenzer (1997), destaca alguns pontos nevrálgicos da questão, que de certa forma

serviram também para a construção da proposta dos Centros de Formação.

O Ensino Médio, simplesmente profissionalizante, cumpriria a função de represar a demanda pelo ensino superior, oferecido pelo poder público (...) insinuando que é possível resolver os problemas da economia, do mercado de trabalho, através do ensino profissionalizante, além de constituir-se em raciocínio perverso para com a maioria da população ao atribuir a idéia de terminalidade em termos de Ensino Médio (p.20-21).

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Houve grande preocupação da equipe para que os cursos de Formação Inicial de

professores, quando desenvolvidos pelos Centros, não tivessem o caráter de

terminalidade bem como não se constituíssem em um trampolim para o curso

superior. O caráter de atualização permanente, proposto pelo Projeto era entendido

como uma política de Formação Continuada, com uma concepção de estudo

permanente, o que consiste na possibilidade de os professores se apropriarem do

que a ciência lhes proporciona para analisarem questões educacionais.

A elaboração do documento obedecia ao movimento constante de redigir, de

submeter à apreciação da equipe, da Chefe do Gabinete e do Consultor, até que em

determinado momento sentiu-se a necessidade de que alguém ligado às discussões

nacionais na área de Formação de Professores contribuísse na construção da

proposta. A pessoa indicada foi a Profª. Drª. Selma Garrido Pimenta, Livre-Docente

da USP, para que procedesse a uma análise do que havia sido produzido até então,

e posteriormente, se marcasse encontros de discussão do documento. A decisão

sobre o momento oportuno em que o texto se apresentava em condições de ser

enviado, partiu do Consultor, Prof. Dr. Antonio Carlos Máximo, o qual, de uma

maneira informal, assim se expressou:

Cara professora Simone. Acho que cabe agora, uma última olhada sua antes de mandar o texto para a Selma e para a Marlene. Eu poderia fazer isso, mas não gostaria. Se eu o fizer, ele perde a sua feição original. Depois dessa sua última olhada...acho que ele estará em condições de ser passado para o poder. E, então, ele perderá a mãe, será filho órfão, jogado na lama do debate para ser corrigido, emendado e, no limite, até engavetado... Mas ê assim mesmo. A história não muda somente com os nossos desejos e vontades (1997, p.1).

Guardei este "parecer" pelas reflexões que ele provocou levando-me a perceber a

minha ingenuidade política acerca de políticas públicas. O texto, que denomino de

"quase um bilhete" passou a gerar um quadro de inquietações que me desafiou a

pesquisar os destinos dos Centros de Formação e Atualização do Professor,

enquanto política de Secretaria de Estado:

O que leva um projeto a ser engavetado?

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Mesmo apontando alternativas de solução para problemas apresentados, poderia

ele ser encostado?

Será que o mesmo gestor que solicita poderá também ser aquele que engaveta um

projeto?

Embora tivesse clareza de que, em se tratando de política pública, cada novo gestor

dá a ela o seu perfil ao decidir pela sua permanência, as palavras ficaram muito

marcadas na minha mente, "a história não muda só com as nossas vontades" e a

nossa vontade, minha e de muitos professores, naquele momento era que o Projeto

fosse institucionalizado no Estado. A ingenuidade era iminente!

Prosseguindo com a caminhada da construção do documento, o submetemos à

apreciação da então convidada para a Consultoria, a Profª. Drª. Selma Garrido

Pimenta, a qual, em um primeiro momento, após a leitura, assim se manifesta:

Corn referência ao Projeto...além de fundamentar-se numa concepção educacional progressista, a Proposta responde aos anseios manifestados pelos educadores brasileiros, e vários fóruns do magistério, nacionais e internacionais, inclusive consagrados na nova LDB (...) Valorizando a prática docente, o Centro de Formação e Atualização do Educador propõe programas de formação e qualificação dos professores que já atuam nas escolas públicas, de modo a assegurar-lhes avanço teórico, para a revisão e proposição de novas práticas (PIMENTA, parecer n° 11/1997).

Como a proposta apresentava indícios de análise positiva, marcou-se o primeiro

encontro sobre a apreciação, juntamente com a professora Selma Garrido Pimenta,

que levantou o questionamento sobre os objetivos e finalidades do Centro que, na

sua leitura minuciosa, estava a indicar ações de um projeto voltado aos professores,

sendo que, no entanto, o nome do Centro se referia ao Educador, o que resultaria

em uma proposta mais abrangente. A discussão novamente se fez presente e

concluiu-se que o Centro seria do professor, prioritariamente, o que não o eximia de

desenvolver ações pontuais com os demais segmentos da escola, quando

evidenciada a necessidade do Sistema Público.

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A outra etapa da construção do projeto dos Centros foi a de submetê-lo à apreciação

demais instituições, órgãos e Conselhos educacionais a fim de que pudessem

contribuir para a melhoria da proposta. Dessa forma, o Projeto foi discutido em

reunião corn representantes da UNDIME, Equipes da SEDUC, Sindicato dos

Trabalhadores da Educação Pública de Mato Grosso, Secretaria Municipal de

Educação de Cuiabá, Conselho Estadual de Educação, Universidade Federal de

Mato Grosso e Consultores. A partir desse momento, com as contribuições dos

participantes e com a revisão e coordenação da professora Marlene de Oliveira

Santos, o documento foi concluído e instituídos os primeiros Centros de Formação,

em 1997, sob a gestão do então Secretário de Educação, Dr. Fausto de Souza

Faria.

Na realidade, os Centros estavam institucionalmente criados, mas, ainda não

instalados, sendo que a agilização desse processo em alguns pólos se deu devido

ao apoio logístico dos Secretários Municipais de Educação. O grau de envolvimento

dos Secretários Municipais nas políticas públicas do Estado tinha estreita relação

com a concepção de educação e com o modelo de gestão educacional, projeto

implantado pela Secretaria de Estado de Educação, enquanto experiência inicial,

consistindo numa proposta de:

(..) integração dos poderes constituídos, interação política, normativa e executiva dos serviços públicos, a fusão dos recursos financeiros e tecnológicos, materiais e humanos, a unificação das redes escolares, sem distinção de unidades estaduais e municipais localizadas no Estado, de modo a evitar os paralelismos, as discriminações no atendimento aos alunos e no trato aos profissionais da educação, a duplicidade de meios para fins idênticos e as atividades concorrenciais (MT, 1996, p.4).

Na Gestão Única, auxiliar na implantação dos Centros era um procedimento

observável, uma vez que o Secretário Municipal concebia o gerenciamento da

educação enquanto compromisso de todos, centrando o foco nas necessidades das

escolas (Centros), e não na rede, a qual pertencem as unidades. Nos municípios

onde o projeto de Gestão Única não se desenvolvia, raríssimos gestores tinham esta

visão, exercendo os restantes, uma administração da educação dividida em sistema

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estadual, a quem competia à responsabilidade dos CEFAPROs, única e

exclusivamente ao Estado.

Dessa forma entendido o apoio e a gestão dos Secretários de Educação, os Centros

instalados com maior rapidez iniciaram também suas atividades de formação com os

professores da rede pública em curto espaço de tempo, envolvendo-os nas

discussões mais rapidamente.

O ano de 1998 foi de consolidação dos Centros criados e da institucionalização de

mais unidades no Estado, ainda que de forma gradativa, chegando-se até o final do

ano com 10 Centros instalados. A necessidade da delimitação dos municípios que

comporiam a jurisdição de cada Centro veio da exigência do PROFORMAÇÃO, pela

necessidade de ter que se comunicar aos municípios a que pólo seus Cursistas

pertenceriam.

O momento dessa demarcação dos municípios atendidos pelos Centros foi histórico,

e deu-se durante o mês de setembro/98, quando os professores e diretores dos

CEFAPROs, acompanhados pela equipe da SEDUC, Coordenadora Wilsa Ramos

do PROFORMAÇÃO e consultoria, com o mapa do estado de Mato Grosso em

mãos, foram definindo coletivamente os municípios que cada Centro absorveria, de

forma a atender as atividades do PROFORMAÇÃO, tendo se pautado essa

definição, prioritariamente, a partir dos critérios de acesso e de afinidade dos

professores com o município pólo.

O fator acesso no estado de Mato Grosso é importantíssimo, devido à inexistência

de uma malha viária que permita o fluxo de um município ao outro, em estradas de

asfalto e/ou de terra em condições transitáveis. A carência de empresas aéreas e a

falta de continuidade de seus serviços fazem com que o deslocamento de um

município ao outro, quando possível, sempre se operacionalize via Cuiabá, capital

do Estado. Há ainda, uma situação esdrúxula imposta ao indivíduo que queira

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deslocar-se ao pólo de São Félix do Araguaia e de Confresa, este distante 1200Km

da capital, ao impor-lhe as seguintes condições ao perfazer a rota aérea:

Cuiabá=> Brasília F.100

Brasília=>Palmas F100

Palmas=> Gurupi aeronave Caravan 12 lugares

Gurupi=>São Félix

São Félix=>Vila Rica Caravan 12 lugares

Vila Rica=>Confresa é realizada de carro, em estrada de terra de difícil acesso

perfazendo 102 Km em média 5 horas de viagem.

Figura 3: Mapa do trajeto Confresa

LEGENDA:

1 - Cuiabá - Brasília 2 - Brasília - Palmas 3 - P a l m a s - S . Félix 4- S. Fé l i x -V . Rica 5 - V. Rica - Confresa

Outro dado preponderante para a discussão dos municípios sob a jurisdição dos

Centros. relacionou-se à afinidade em trabalhos já partilhados naquela região. Este

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fato foi importante, por se tratar de um programa novo, e portanto se travaria uma

série de dificuldades, que teriam melhores condições de ser amenizadas quando da

existência de um relacionamento prévio entre os executores da ação.

o projeto inicial dos Centros previa o atendimento aos municípios da região onde

estavam instalados e, assim sendo, as 10 unidades tiveram naquele momento a sua

região de atendimento ampliada, bem como o número de docentes, devido à

necessidade de se selecionar, urgentemente, professores para trabalharem nas

disciplinas das áreas do PROFORMAÇÃO. O que se pode concluir é que a

aceleração da implementação dos Centros, enquanto política de Estado, se iniciou a

partir dessa reunião, isto é, das exigências para a implantação do PROFORMAÇÃO.

Em meio às atividades de preparação para o lançamento do Programa, pôde-se

contar com a UNDIME/MT, a qual teve um papel fundamental na implantação do

Programa realizando o trabalho de parceria junto a SEDUC e à Coordenação

Nacional, no que diz respeito à informação, divulgação e implementação, junto aos

Secretários de Educação e aos prefeitos municipais, tendo sido intermediada com a

especial atenção da professora Alaídes Alves Mendieta. O Conselho Estadual de

Educação, também amplamente envolvido, participava das reuniões e se

predispunha a subsidiar a implementação no que dizia respeito às questões legais.

O PROFORMAÇÃO, assim, configurava-se na área educacional do Estado como

uma proposta implantada por muitos parceiros.

O marco na apresentação do Programa aos municípios do estado de Mato Grosso

deu-se em novembro de 1998, na reunião da UNDIME com os secretários

municipais de educação e pôde contar com a professora Wilsa Maria Ramos do

FUNDESCOLA, equipe da SEDUC, Consultoria da Formação de Professores e o

Secretário de Estado de Educação, Dr. Fausto Faria, foi então firmado o primeiro

documento de adesão ao Programa pelo Estado e pelos municípios.

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Até a implantação do PROFORMAÇÃO no Mato Grosso, 66 municípios estavam

comprometidos e aproximadamente 980 Professores Cursistas inscritos. A

assinatura de um acordo oficial aconteceria ainda no decorrer do primeiro semestre

letivo documento este denominado de Acordo de Participação, em que o Ministro da

Educação, os prefeitos e o Secretário de Estado de Educação registrariam suas

assinaturas.

No início de janeiro de 1999, um novo fato marcava a política educacional no estado

de Mato Grosso: o governador Dante de Oliveira fora reeleito e a reorganização do

quadro de secretários de estado designou para a pasta da Educação o então

deputado Antonio Joaquim. A expectativa de todos, com relação à permanência dos

CEFAPROs criados na gestão anterior, era muito grande e algumas questões

pairavam no ar:

O novo gestor seria favorável à permanência da política dos Centros de Formação?

O acordo firmado para a implantação do PROFORMAÇÃO, permaneceria com o

próximo gestor?

Os professores e diretores dos Centros de Formação que saíram de suas escolas

para trabalhar nos CEFAPROs retornariam?

Para onde os diretores e professores seriam destinados, já que as escolas de

origem tinham preenchido suas vagas?

Como uma nova política implantada em órgãos de gestão pública, a equipe dos

CEFAPROs enfrentava o clima de incertezas a respeito da permanência ou não do

Projeto de Formação de Professores. E quanto aos Leigos, foco central do

Programa, passariam eles por desilusões ao verem desfeitas mais uma vez as

promessas de um programa que viria contribuir para a sua formação docente em

serviço?

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A Coordenação Nacional do PROFORMAÇÃO, no entanto, deu prosseguimento ao

cronograma normal de implantação, uma vez que, no seu entendimento, o acordo

firmado na UNDIME pelo Estado, municípios e MEC/FUNDESCOLA não fora

revogado. No entanto, com respeito aos professores dos Centros de Formação, o

clima de instabilidade era sentido no coletivo. Num misto de expectativas e

incertezas, os Professores Formadores participaram do primeiro encontro de

capacitação do PROFORMAÇÃO em Cuiabá, tendo comparecido, o Mato Grosso do

Sul, a CNP e os especialistas de cada Área de Trabalho, cujo objetivo principal foi a

preparação dos docentes para trabalharem na primeira Fase Presencial do

Programa com os Tutores e Professores Leigos.

Durante o Encontro do PROFORMAÇÃO foi passada a notícia de que a professora

Marlene de Oliveira Santos, defensora da proposta dos CEFAPROs, aceitara o

convite para o cargo de Subsecretária de Educação, o que deixou a todos mais

tranqüilos. Já nos últimos dias do evento, houve a confirmação de que o

PROFORMAÇÃO estava assegurado e que os Centros de Formação e Atualização

do Professor teriam sua continuidade garantida.

A educadora Marlene de Oliveira Santos tem uma história de relevantes

contribuições na política educacional implantada sob a forma de projetos e

programas no Estado a partir de 1995, uma vez que foi uma das coordenadoras do

Plano de Metas da Educação e da Política Educacional para o estado de Mato

Grosso. Ocupando cargos sempre ligados a Secretaria de Estado de Educação,

SOUTO assim comenta:

Marlene Santos destaca-se pela lucidez com que encaminha as propostas e pela sua capacidade de estabelecer relações entre os vários agentes do processo educativo na rede de ensino. Hoje, no segundo mandato do governo Frente Cidadania e Desenvolvimento, ocupa o cargo de sub­secretária e é Presidente do Conselho Estadual de Educação (2001, p.98).

A trama política existente no poder fazia com que a política educacional da

Secretaria de Estado de Educação, em determinados períodos, emperrasse e se

restringisse ao espaço da secretaria, já em outros, havia a possibilidade de projetá-la

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social e politicamente, adentrando as escolas, envolvendo professores e

comunidade, consistindo em uma democratização da escola e sua autonomia (...)

democratização entendida não apenas como a melhoria da qualidade do ensino, o

que significava antes de tudo a necessidade de expansão orçamentária (apud

SOUTO: 2001, p.58).

Com o novo Secretário de Educação, deputado Antonio Joaquim (dessa forma

denominado na Secretaria de Estado de Educação) surge o pedido político da

criação de mais dois CEFAPROs, o de Confresa e o de Juara. Determinada a

criação destes novos Centros, iniciou-se o Programa de Formação de Professores

em Exercício nos 12 Centros de Formação e Atualização do Professor no estado de

Mato Grosso, cujas distâncias e localizações estão a seguir dispostas:

Quadro 5: Quilometragem de Cuiabá aos CEFAPROs

DE

CUIABÁ

PARA:

MUNICÍPIO

Rondonópolis

Cáceres

Diamantino

Barra do Garças

Sinop

Matupá

Alta Floresta

Juína

Juara

São Félix do Araguaia

Confresa

KM

218

244

195

494

481

612

765

805

697

1110

1165

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Figura 4: Localização dos pólos dos CEFAPROs

D I S T R I B U I Ç Ã O D O S C E N T R O S

LEGENDA:

1

2

3

4

5

6

Alta Floresta

Barra do Garças

Cáceres

Confresa Cuiabá

Diamantino

7 Juara

8 Juína

9 Matupá

10 Rondonópolis

11 São Félix do Araguaia

12 Sinop

Fonte Centro de Formação e Atualização do Professor: Implementação (mimeo ) 2000 SEDUC/MT

Os CEFAPROs (denominados no PROFORMAÇÃO como Agências Formadoras-

AGFs) iniciaram suas ações de desenvolvimento do Programa pela Fase Presencial,

Quando a SEDUC passava por momentos de intensa movimentação interna, com

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ovas equipes sendo constituídas, pessoal remanejado, incluindo-se entre estes

elementos da equipe da Formação e Capacitação, motivo pelo qual assume como

coordenadora dos CEFAPROs a professora Evanildes de Arruda Bordalho.

A abertura do Curso teve uma expressão nacional; o MEC divulgou o evento na

imprensa e através da fala do Sr. Ministro de Educação Paulo Renato, sendo que no

estado de Mato Grosso a imprensa televisiva também noticiou o acontecimento, que

contou com a presença do Secretário de Estado de Educação e da Subsecretária.

Em todos os CEFAPROs, o início das atividades foi amplamente divulgado, além de

se fazerem presentes representantes do MEC, FUNDESCOLA, prefeitos e

Secretários de Educação.

A abertura dos trabalhos no PROFORMAÇÃO foi marcada por muito otimismo tanto

dos alunos Cursistas quanto dos Professores Formadores das AGFs-Agências

Formadoras: os Professores Cursistas, por se verem, finalmente, freqüentando um

curso que os habilitaria na profissão, e os Professores Formadores dos CEFAPROs

(AGFs) devido a vários motivos que passaremos a citar:

O primeiro deles foi o de diminuírem-se as tensões geradas pela troca do Secretário

de Educação, que estavam causando um certo grau de instabilidade aos

professores, pois cinco gestores assumiram a pasta da Educação a partir de 1995,

no Governo de Mato Grosso. Dessa forma, desenvolver um programa de dois anos

significava, no entendimento dos professores, gerava uma certa tranqüilidade pela

permanência da política dos CEFAPROs, resultando em uma pré-disposição para

desenvolver o Programa.

O segundo, porque acreditavam que, com a reeleição do Governador, a indicação

do atual Secretário seria por um tempo maior, uma vez que o mesmo fazia parte do

quadro político-partidário, terminando dessa forma com a troca quase anual dos

Secretários de Educação no Mato Grosso.

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O terceiro foi a expectativa em ver se o Programa de fato cumpriria o que vinha

divulgando, isto é, a capacitação dos professores nas áreas de formação

pedagógica e da base do currículo nacional do Ensino Médio, proporcionada por

especialistas selecionados especialmente para o Programa, o que dava à proposta

um caráter de qualidade.

O quarto viria pela concepção que os Centros tinham de experiência Piloto, a qual

consistia em testar um programa com determinados parceiros, destinando-lhes

especial atenção e pronto atendimento às dificuldades que se apresentassem

durante o seu percurso. Aliado a esse fato, o Piloto se sentia muito prestigiado em

ter como parceiros, o MEC/FUNDESCOLA pela possibilidade de um canal direto

com os programas educacionais atualizados. Tais programas de certa forma,

poderiam, em curto prazo serem destinados aos CEFAPROs.

De Brasília vinham as orientações, o material instrucional e as cobranças de uma

estrutura mínima para desenvolver o Programa, a qual consistia inicialmente, na

existência de dependências físicas, corpo docente completo para o atendimento das

Áreas Temáticas, telefone, linha 0800, fax, computador, biblioteca básica, entre

outras. Ao Estado, cabia implantá-la, o que acontecia a passos lentos devido à nova

gestão que se encontrava em fase de adaptação aos programas desenvolvidos pela

Secretaria de Educação.

Com o novo gestor e no processo de reorganização da Secretaria de Estado de

Educação, houve a designação do professor Abílio Camilo Fernandes Neto para a

Coordenadoria de Política Pedagógica, sob cuja gestão ficou subordinada a Equipe

Estadual do PROFORMAÇÃO e os Centros de Formação e Atualização do

Professor.

Essa coordenação, atendendo às solicitações do deputado Antonio Joaquim, traçou

um plano de implementação para os CEFAPROs, no que se refere à estrutura,

quadro de pessoal, material de expediente, mobiliário, entre outras ações, a fim de

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atender às especificidades do Programa dos CEFAPROs e às solicitações do

MEC/FUNDESCOLA em curto prazo. No entanto, a Coordenadoria cumpriu apenas

em parte suas propostas, não contemplando as necessidades pedagógicas dos

Centros e gerando para estes uma série de dificuldades para administrar o

Programa.

Após quinze meses de gestão, ocorre nova troca de Secretário de Educação, o que

dispensa demais comentários; dessa vez menos sentida pelos professores dos

CEFAPROs, por estarem eles em pleno desenvolvimento do Programa, no entanto

não houve como impedir que o assunto sobre a permanência dos Centros viesse à

tona novamente.

O novo gestor, também deputado estadual, Carlos Carlão Nascimento, convidou a

professora Marlene de Oliveira Santos a permanecer no cargo de subsecretária. O

Centro de Formação e Atualização do Professor teve aprovada a sua continuidade e

a partir de então, tem resultado em uma política que contou com o apoio de três

gestões.

Dessa forma, aos sobressaltos, os Centros foram se constituindo em instituições de

formação continuada e inicial que, sob o nome de AGF, desenvolveram o

PROFORMAÇÃO no Mato Grosso.

3.2. PROFORMAÇÃO no Mato Grosso: uma via de mão dupla

Quando das providências para a preparação da Fase Presencial e da abertura do

Programa de Formação de Professores em Exercício no Estado, a preocupação em

estar com o quadro de Tutores completo para atuarem no Programa era tanto dos

Secretários de Educação quanto das Agências Formadoras (CEFAPROs), pois

esses profissionais passariam por uma capacitação anterior a dos alunos na Fase

Presencial e se constituiriam em pessoas chave necessárias ao acompanhamento

dos Cursistas.

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No dia 22 de fevereiro de 1999, ocorreu o lançamento oficial do Programa de

Formação de Professores em Exercício no estado de Mato Grosso. Em todos os

Centros, esta data de abertura foi um marco na área educacional dos municípios. A

Fase Presencial, início do lançamento do Programa nos pólos, resultou em um

qrande movimento político dos municípios, incluindo nos CEFAPROs, onde os

prefeitos, comparecendo à aula inaugural, manifestavam o empenho das prefeituras

na valorização do magistério ao investirem como parceiras no Projeto, juntamente

corn o MEC/FUNDESCOLA.

Para acompanhar a Fase Presencial, coube-me elaborar, na função de assessora,

um cronograma que possibilitasse visitar todos os pólos durante os 15 dias. Um dos

problemas de maior vulto foi a Fase Presencial do pólo de Confresa, uma vez que a

Agência Formadora daquele pólo foi criada posteriormente e, por este motivo, não

tinha ainda um quadro capacitado de professores para trabalhar nesta fase, todas as

Áreas Temáticas do Programa. Havia uma solução para o problema, a qual consistia

em enviar os alunos ao pólo de São Félix do Araguaia mas, infelizmente, não havia

concordância do Prefeito.

Quando fui solicitada a resolver o impasse operacional e político, a única alternativa

para manter o Curso em Confresa, foi a de que o prefeito providenciasse o traslado

de Professores Formadores de outro pólo para aquela cidade, cabendo-lhe o ônus

de tal procedimento. Prontamente ele aceitou, e então agendei os Professores

Formadores que já haviam trabalhado as Áreas Temáticas no pólo de Rondonópolis,

que por ser o de menor número de alunos, tinha maior disponibilidade para o

atendimento a Confresa.

As equipes das AGFs tiveram um papel primordial nesta primeira Fase Presencial,

sendo assistidas pelos Tutores, até a chegada dos Guias de Estudos. Inesquecível

foi ver a emoção dos Cursistas quando chegou o material. Olhavam a aparência, a

textura, o formato, as cores e o conteúdo. Observei-os folheando interessadamente

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Guias, até que os levassem para o quarto à noite para dar mais uma olhada.Tudo

era muito novo para eles, e euforia era um sentimento visível em todos os Cursistas.

A partir da Fase Presencial o Professor Cursista realizaria os estudos individuais,

resolveria as questões dos Cadernos de Verificação de Aprendizagem e faria os

Encontros Quinzenais coletivos. A avaliação do Cursista consistiria na correção dos

Cadernos de Verificação, em uma Prova semestral, no Memorial e na Prática

Pedagógica Supervisionada.

Eles mesmos procediam, em cada AGF, à criação do Hino do PROFORMAÇÃO,

que se tornou canto oficial antes de cada encontro na Fase Presencial. Assim o hino

abaixo, criado pelos alunos de Matupá, tal como foi escrito, será exposto.

Me chamastes a participar do PROFORMAÇÃO,

Decidi deixar a família e estar aqui.

Eu senti uma brasa no peito e uma flecha na alma,

É difícil agora viver sem o PROFORMAÇÃO.

Na minha profissão, na minha profissão!

Sentirei seguro se participar do PROFORMAÇÃO!

Eu pensei muitas vezes calar e não dar resposta,

Eu pensei em ficar com a família e não vir aqui,

Mas a tua força venceu e afinal eu fiquei seduzido,

Ê dificil agora viver sem o PROFORMAÇÃO.

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ambiente não afetava a motivação dos alunos para os encontros. Daí termos

Ias em salões de igreja, ambientes de festas rurais, choupanas, salas de aula,

Em alguns locais que visitei, realizei encontros com os Tutores à sombra das

árvores, pois não havia salas disponíveis: já em outros, as condições eram muito

boas.

Figura 5: Fase Presencial Figura 6: Reunião com Tutores - Juína

No entanto, nenhum desses fatores diminuiu o ânimo dos Cursistas, que, com

grande entusiasmo, fizeram a noite cultural com muita criatividade, expressando o

momento de esperança que estavam passando em poemas e paródias, levando

consigo a fé e a força de vontade para enfrentar os desafios do Programa e na

próxima Presencial estarem juntos novamente

O desenvolvimento do PROFORMAÇÃO no Mato Grosso apresentou algumas

surpresas já na fase inicial No primeiro módulo veio a constatação de que o Curso

ainda não estava pronto para ser lançado na experimentação, o que veio a ser

comprovado ao longo do semestre

O atraso do material, na primeira Fase Presencial, gerou muitas improvisações,

inclusive porque se exigiu (por parte da Equipe Estadual) que os estudos se

realizassem dentro da área temática prevista, de forma que os conteúdos previstos

eram viabilizados sob a forma de palestras agendadas de imediato, até que

chegassem os Guias de Estudo. Tais problemas não previstos pela CNP estavam

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dificultando o trabalho do Piloto, que se esforçava para manter a qualidade do Curso

a expectativa dos Cursistas. Na entrevista para este trabalho obtive informação de

forma detalhada sobre esse episódio, isto é a justificativa do atraso, que será

transcrito no trecho em que a professora Mindé Badauy de Menezes comenta sobre

os motivos do problema surgido:

É muito complexa a produção de material. Quando você se dispõe a organizar o material que compreende desde a produção, um processo de revisão, ajustamento, pré-testagem...São muitas etapas. Temos um planejamento e se um da cadeia não funcionar, pronto, você perde todo o prazo. E o projeto gráfico atrasou, ê o especialista que não entregou ou a revisão foi mais profunda, levou mais tempo. A firma que venceu o projeto gráfico fez um valor mais barato e entregou trabalhos a "free lance", então você tem cinco conteúdos e cada um deles trabalhado por um especialista, não dá o conjunto que você almeja. Isto tudo não previmos. Exigiu revisão para darmos uma unidade nos trabalhos e com isto mais tempo que não se havia previsto. Trabalhávamos com um programa cronometrado, fomos surpreendidos com gravações, cujos prazos não foram observados. Era o primeiro ano que a revisão do projeto gráfico era realizado via correio, sedex. Tivemos problemas no Natal, o material sumiu e o pessoal não tinha mais os originais, estavam em férias, foi uma loucura (Entrevista: 2000, em anexo, p.257).

As equipes das AGFs foram extremamente dedicadas em providenciar para que os

Professores Cursistas ficassem constantemente em atividades oportunizando,

inclusive, momentos de vivências, nas quais cada um falava de si, de sua trajetória

de vida e de profissão a fim de socializarem o trabalho escolar com os demais

sofridos professores. Coloco sofridos, porque esse momento possibilitou

conhecermos uma maioria que atravessava rios, caminhava mais de 10 quilômetros,

acordava antes das cinco horas da manhã a fim de realizar a atividade de docência.

Presenciei muitos encontros nesta primeira fase e colhi depoimentos interessantes.

Os sentimentos dos alunos eram um misto de sonho, coragem, força para vencer na

vida, esperança, melhoria de vida, progressão na carreira, fé, integração e

admiração. O depoimento da professora Vera ilustra um pouco da travessia dos

Leigos.

Caminho 30Km a pé, em picada e serra, pois não tem estrada. Água, bebo no córrego, pois a casa mais próxima às vezes está a 5 Km. O pé enche de

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bolha, o sol é muito quente. Cavalo, nem pensar, não agüenta o batidão, a serra é muito em pé. A gente se sacrifica para os Encontros Quinzenais do PROFORMAÇÃO, mas está valendo a pena! Minha esperança é me ver formada no Magistério. (Vera: 1999-Professora Cursista)

Mais adiante, ainda no primeiro módulo, a indefinição da avaliação consolidou nas

AGFs uma realidade em que ser experiência Piloto no PROFORMAÇÃO consistia

em construir juntos, muitas etapas, entre elas a de um desenho ainda em construção

a respeito da avaliação, a do material de estudo em fase de pré-testagem, e a da

inexistência de instrumentos que norteassem as ações dos Tutores de forma mais

detalhada. Esta realidade gerou uma articulação entre a EEG (Equipe Estadual de

Gerenciamento) e as AGFs na tentativa de manter uma atenção redobrada ao

trabalho do Tutor. Estava muito claro para o Piloto o esforço que teria a despender

no primeiro módulo para desenvolver o Programa naquelas condições. A respeito

desse período, a professora Evanildes Bordalho, Coordenadora Estadual do

PROFORMAÇÃO, comenta:

Tinhamos como uma das dificuldades a indefinição do desenho pedagógico, o desenho das disciplinas que estruturariam o Programa. Tínhamos dificuldades no processo de avaliação (...) e em conseqüência disso a questão do Memorial importantíssimo no processo avaliativo; as provas que foram pauta de muita discussão,(...) porque eram muito problemáticas (...)a questão dos prazos tanto para a entrega quanto aos prazos que estabeleciam para nós mandarmos os resultados que também ficavam prejudicados, porque se o material não chegava, as provas também não chegavam no período que deveriam. Eles queriam que obedecêssemos a um cronograma e era impossível obedecê-lo, pois eles mesmos não cumpriam os prazos por eles propostos. Então, essa questão do prazo, principalmente do envio do material didático, foi pauta de várias reuniões e discussões do grupo (Entrevista: 2001, em anexo, p.248).

O processo de avaliação e acompanhamento da aprendizagem dos alunos estava

sendo colocado à prova. A experimentação de cada proposta de avaliação vinha

acompanhada de um referencial de estudo e de fichas de acompanhamento ao

Cursista nos quatro instrumentos do Programa, sendo eles: os Cadernos de

Verificação; os Memoriais; a Prática Pedagógica e a Prova. Definido o modelo, os

instrumentos começaram a evidenciar a falta de sintonia com a proposta avançada,

dialógica, construtivista dos Guias de Estudo, que até então apresentavam raros

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problemas, pois eram sempre pré-testados pelos Cursistas. O primeiro sinal a

respeito da avaliação veio muito rapidamente dos Professores Cursistas ao

denunciarem a incoerência, que conforme eles, existia nas questões da prova. A

respeito desse problema há o relato do Diretor Cézar Espíndola, da AGF de

Diamantino:

(...) uma questão que foi gritante no PROFORMAÇÃO, foi a da avaliação. No Programa que tinha todo um projeto político-pedagógico embutido, percebemos que os especialistas foram muito bem selecionados, eram pessoas que tinham opção ética, opção política, um material escrito muito bom enquanto projeto, todavia, (...) a avaliação de nota, rotulativa, classificatória. E nesse sentido, os próprios Cursistas, no decorrer do Programa, começaram a fazer questionamentos, e bastou colocarmos para a Coordenação Nacional e ser modificado, e muitas outras questões foram sendo alteradas no decorrer do Programa. É nesse ponto da avaliação que nós servimos muito bem como Piloto, e tenho certeza de que os outros estados não vão enfrentar tantos problemas como nós enfrentamos (Entrevista: 2001, em anexo, p.281).

No entanto, o que se alterou enquanto solicitação dos professores, foi à adequação

das questões ao modelo de construção adotado nos Guias de Estudo. O que o aluno

questionava e ainda questiona é o distanciamento entre as formas de condução do

raciocínio e da aprendizagem contidas nos Guias e as questões colocadas nas

provas. Além disso os Cursistas reclamaram do número de questões, pois em um

final de semana, durante dois dias, teriam que responder a prova dos conteúdos de

oito Guias de Estudos e oito Cadernos de Verificação relativos às cinco Áreas

Temáticas do módulo I. O questionamento deles encontra justificativa em LIBÂNEO:

a avaliação do rendimento escolar deve centrar-se no entendimento de que as

capacidades se expressam no processo da atividade do aluno em situações

didáticas. Por essa razão, é insuficiente restringir as verificações e provas nos finais

de bimestres (1990, p. 202).

No que se refere ao atendimento aos sinais dos alunos, a CNP acenou

positivamente, admitindo dividir em duas provas bimestrais o conteúdo dos Guias de

Estudo para os módulos seguintes. Porém ainda persistia a reivindicação no que diz

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respeito à estrutura das questões da prova, uma vez que permaneciam as do tipo de

múltipla escolha e de Verdadeiro e Falso.

A Coordenação Nacional respondia as indagações com a defesa da permanência

desse tipo de questão porque exige maior cuidado do aluno ao responder, uma vez

que envolve a leitura, a observação, a atenção, a reflexão, a análise e a decisão.

Segundo os alunos, num programa com uma proposta dialógica, não deveria haver

provas e sim outros mecanismos que permitissem ao professor observar e

acompanhar a aprendizagem. Destacavam, no entanto, que, na necessidade de se

aplicar provas, que estas fossem elaboradas de forma que se pudesse perceber a

seqüência do raciocínio do aluno e que isso somente seria possível em respostas

dissertativas.

O que os Cursistas estavam a reivindicar era a possibilidade de que as suas

contribuições, inclusive a respeito da avaliação, fossem incorporadas no desenho do

projeto Piloto, motivo pelo qual a todo encontro colocavam alternativas para que o

Programa retirasse esse "mal-estar" histórico que a prova provocava neles. Na

realidade, o entrave (assim colocado por eles no que se refere à existência desse

tipo de instrumento) trazia para eles recordações de dissabores sofridos em outros

programas já partilhados e abandonados, além de representar constantemente a

ameaça de sua não permanência no Curso.

Neste momento, é oportuno retomar um registro que fiz no início do capítulo, sobre a

abertura da Fase Presencial em Cuiabá, momento em que se anunciou que o

PROFORMAÇÃO seria um Programa de aprovação. O aluno, a todo tempo,

questionava essa afirmação ao atacar de forma veemente a prova como um oposto

ao anunciado. Na realidade, a conotação atribuída a essa fala que trouxe ao aluno o

entendimento de que não haveria reprovação, significava mais um juízo de valor

acerca da avaliação do Programa, por parte das idealizadoras do desenho inicial, o

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que foi muito bem explicitado pela professora Mindé Badauy de Menezes no trecho

que transcrevo:

Queríamos um projeto que entrasse com 100% e saísse com 100% de aprovação, então tudo no PROFORMAÇÃO foi feito, escrito e pensado nesta perspectiva. Era uma meta muito ambiciosa; primeiro pretendia absorver 100% dos não titulados, que não se configurou em lugar algum; segundo de ter aproveitamento 100%, de não ter abandono. Eu diria que o abandono num programa desse tipo com um nível de enfrentamento que ele coloca para as pessoas, seria muito baixo. O Cursista é muito assistido, quando ele começa a cair ele é puxado. Eu diria que os resultados seriam efetivamente bons se chegasse ao final do Programa e o Mato Grosso pudesse dizer que concluíram 98% e todos com qualidade aceitável, além do esperado (Entrevista: 2000, em anexo, p.256).

O instrumento prova oferecia ao aluno cinco oportunidades de aprovação, ao

possibilitar a cada prova bimestral uma recuperação e ainda, no caso de insucesso,

a realização de uma prova final. Segundo os especialistas responsáveis pela

elaboração da proposta de avaliação, esse procedimento consistia em um

referencial democratizador, emancipador e totalmente inovador nos cursos de

Formação de Professores a Distância.

Questionada a esse respeito, a Coordenadora Nacional de Implementação do

PROFORMAÇÃO, Profª. Drª Alvana Bof, que assumiu o Programa na fase de

implementação, assim respondeu:

(...) nós que vivemos em educação nesses últimos 15 anos, tem os visto correntes bem fortes que acham que a prova é muito conservadora, que ela não mede conhecimento do aluno. Mas ela é mais um instrumento, ela não se completa em si, que bom que o PROFORMAÇÃO tem a prova e tem os outros que completam a visão do todo. Ela não deve ser considerada o instrumento, ela é mais um instrumento. (...) quando temos as nossas turmas, temos condições de fazer provas com questões dissertativas. Mas nesse caso nós vamos corrigir as provas (...)o critério é o mesmo, porque é a mesma pessoa que está corrigindo. Agora você imagina dois mil Tutores, dois mil e quinhentos, multiplique pelas Agências Formadoras. Então há uma dificuldade na prova que é mais subjetiva. Não é que não pode ser feito, mas exige um pouco mais de tempo (...) teríamos que ter programado isso com antecedência, então sim. Orientar toda uma equipe lá das Agências Formadoras para fazer avaliação das questões abertas nas provas que é o que se faz no vestibular. Você não pode simplesmente lançar a questão aberta e deixar que a Simone avalie de um jeito, a Alvana de outro, entende? E quanto maior o Programa, maior a dificuldade nesse sentido. Então quando me colocam essa questão da prova eu sou uma das

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defensoras até por essa questão, porque não se sabe em que nível de maturidade está o Tutor para avaliar dessa forma (...) Eu não acho que a prova é o vilão, acho que é mais um instrumento (Entrevista: 2001, em anexo, p.243).

Na realidade, no desenho, o Programa era destinado aos professores com o

Fundamental completo. No entanto isto não refletia a realidade de toda a demanda

dos municípios; os prefeitos foram os primeiros a sinalizar que o Programa deveria

ser destinado a todos os níveis de formação dos Leigos. Diante desse pedido, a

CNP permitiu que no programa Piloto se matriculasse este contingente, desde que o

Estado investisse em mecanismos para prestar uma assistência mais próxima a

esses profissionais.

A CNP via um certo impedimento a tal ação, devido à falta de condições de se

redesenhar o Programa para adequá-lo a esta clientela, o que no meu entendimento

deveria se apresentar em duas opções: um curso de 3 anos para os Leigos que

possuíam o Ensino Fundamental incompleto e um de 2 anos para os de

Fundamental completo.

No entanto, na experiência do Piloto este procedimento não se evidenciava como

uma solução ao problema apresentado, uma vez que houve casos em que alunos de

segundo grau completo sairam-se com menor rendimento do que os de

Fundamental completo, o que dá um entendimento de que a aprendizagem não se

limita exclusivamente ao pré-requisito da formação anterior.

Tivemos casos, ainda, nos quais o portador de segundo grau completo, professor da

zona rural, desprovida de energia elétrica, essencial para o acesso aos meios de

comunicação mais comuns e, portanto, em condições de isolamento, apresentava

rendimento inferior ao Leigo sem o Fundamental completo que atuava em

localidades próximas do acesso aos meios de comunicação. Estas variáveis não

vislumbradas no Programa, causaram alguma surpresa nos resultados da avaliação.

Por outro lado, pode-se também interpretar a resposta da professora acima citada

sob outro prisma, quando a mesma aponta para a possibilidade de se fazer a prova

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dissertativa, que o desenho inicial não apresentava, invalidando porém, a

oportunidade de se criar essa alternativa para um Programa em andamento, pois

requereria determinado tempo.

Ressaltou ainda a coordenadora, os riscos das correções desse tipo de questões

em um Programa macro com aproximadamente 1300 Tutores o que representava

ter-se uma multiplicidade de entendimento das questões gerada pela subjetividade

dos seus avaliadores.

Tal risco também ocorre na correção dos Memoriais, que se efetivam num processo

de construção e servem também para que se reflita acerca dos avanços e

dificuldades dos alunos; essa avaliação realizada pelos Tutores vem sendo

questionada até o presente momento.

O que se tem observado, pelos encaminhamentos que o Programa vem tomando, no

sentido de grande aceitação pelos estados e de expansão em curto prazo, é que

esta revisão apontada como necessária pelos alunos, Tutores e AGFs do Piloto não

se constitui em aspecto relevante para a Coordenação Nacional do

PROFORMAÇÃO e está fora de cogitação.

Na realidade, o que salta aos olhos é uma clara visão da ingerência do Banco

Mundial que, no objetivo de agilizar implementação do PROFORMAÇÃO para

projetá-lo em outras instâncias, acelera a experiência e fixa formas de visualização

mais rápida dos resultados, tais como a correção em gabaritos que fornece

resultados a curto prazo.

Deduz-se desse posicionamento o que VESPOOR (1991) coloca: experiências

inovadoras assim selecionadas costumam ser tomadas fácil e rapidamente como

modelo (com freqüência) sem ter superado a fase de experimentação que significa

ainda levar a inovação em escala (ln: TORRES, 1996, p.80). Embora haja

contradições, há uma evidência dessa questão ser verdadeira a ver pela

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intransigência no estudo de re-avaliação do tema - prova, com questões de múltipla

escolha, no Programa de Formação de Professores Leigos em Exercício.

A próxima solicitação do Piloto partiu dos Tutores no sentido de se atenuar o grau de

complexidade das fichas de acompanhamento aos Cursistas. Como tudo estava em

teste e esta questão não envolvia modificação no desenho do Curso, fato esse que a

CNP prontamente atendeu ao pedido já no segundo semestre. Assim sendo, cada

orientação era acompanhada por alterações, motivo pelo qual os Tutores solicitaram

uma reunião mensal com a AGF a fim de socializarem suas dúvidas, dificuldades e

experiências bem sucedidas.

A CNP concordou prontamente, produzindo material e orientações aos Tutores, e no

semestre seguinte, como texto de apoio. No entanto, a AGF conduziu muito bem

este espaço conquistado, capacitando melhor o Tutor e possibilitando a ele uma

Formação Continuada em serviço nos encontros mensais a fim de proporcionar

maior segurança no exercício da função.

Do Piloto eram emitidos os sinais dos pontos nevrálgicos em que se deveria

aperfeiçoar o Programa. Todas as solicitações, exceto aquela relativa à prova, foram

incorporadas no Programa.

Frente a essa análise pode-se concluir que o PROFORMAÇÃO no Mato Grosso foi

uma via de mão dupla, no sentido de que, assim como Mato Grosso é servido pelo

por toda uma estrutura que o Programa propicia, devolve a ele as informações, na

condição de experiência-piloto, para melhorar as estratégias possíveis a serem

implementadas em outras instâncias do Programa.

Além de todos os impasses administrados, a equipe dos CEFAPROs enfrentava

ainda a falta de uma estrutura física e equipe pedagógica que possibilitasse realizar

um trabalho a contento. O espaço de algumas AGFs precisava ser reestruturado

urgentemente; a linha telefônica ainda não instalada em alguns pólos dificultava o

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acesso à equipe da SEDUC e à CNP; a falta de um quadro de pessoal para as áreas

trabalhadas gerava um problema muito grande no atendimento ao Cursista.

Esse quadro gerou dificuldades aos Cursistas sendo necessário recorrer-se a

profissionais de outras escolas, os quais muitas vezes não dominavam a

metodologia do Programa e não haviam passado pela capacitação.

Nesse ambiente de problemas, experimentação de modelos e solidificação de

posturas, eu visitava as equipes, enquanto assessora, nos mais longínquos espaços

geográficos, muito colada aos seus trabalhos, assumindo juntas os problemas.

Estávamos construindo o conceito do eu coletivo.

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PARTE II

DEFININDO NOSSO CAMINHO

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. (Pesquiso para constatar, constatando, intervenha, intervindo educo e me educo.

Paulo Freire

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CAPÍTULO 1

METODOLOGIA: ALGUMAS REFLEXÕES

O presente trabalho se caracteriza por uma intervenção da pesquisadora no seu

campo de pesquisa e pelo mergulho na ação investigada. Inicialmente pensei que a

metodologia que orientaria meus passos seria a pesquisa-ação, pois havia um

objetivo prático de promover mudanças na ação dos professores e um objetivo de

conhecimento que era o de obter informações mais aprofundadas sobre uma

questão não muito acessível por meios comuns de observação (Cf. THIOLLENT,

1986, p.18).

A idéia de mudança e transformação de uma realidade foi o ponto de apoio que me

fez pensar que a pesquisa-ação seria uma boa alternativa metodológica. Segundo

THIOLLENT, essa metodologia possibilita o estudar dinamicamente os problemas

que ocorrem durante o processo de transformação (idem, p.19), o que parecia ser

muito adequado aos meus propósitos. Na busca de maiores informações, em

FIORENTINI, observei que o mesmo aponta para a pesquisa-ação como:

(...) uma prática que ocorre quando os facilitadores ou agentes relacionavam-se cooperativamente com os professores ajudando-os a articular suas próprias preocupações, a planejar a ação estratégica para a mudança (...). A finalidade deste tipo de pesquisa é desenvolver o raciocínio e o juizo prático dos professores (2000, p.328).

No entanto, havia um aspecto na minha investigação que destoava dos princípios

que orientam a pesquisa-ação. A questão estava na minha atividade, ora julgada

como pesquisadora, ora como pertencente a uma instituição pública que desenvolvia

uma tarefa de monitorar e informar a CNP para as devidas re-estruturações,

levando-me a questionar se as contribuições para modificar a realidade para melhor

advinham da função na instituição e/ou enquanto pesquisadora. Neste momento

pensei ser a minha atividade mais política, entendida enquanto pertencente a um

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órgão federal de política educacional, motivo esse que me levou a investigar sobre a

pesquisa participante.

Contudo, o PROFORMAÇÃO não consistia em uma questão coletiva, nem fora uma

decisão que envolvesse o pesquisador e os pesquisados em discussão conjunta,

mas surgiu de uma demanda coletiva dos estados do Nordeste, sem no entanto

caracterizar a sua construção nesse coletivo.

De certa forma, a análise não estaria no objeto da elaboração do Programa, e sim no

resultado, nos efeitos desse Programa na prática de seus beneficiados.

Outras reflexões foram feitas no sentido de buscar adequar melhor os objetivos da

pesquisa aos meios de desenvolvê-la, obter e tratar os resultados. Num segundo

momento pensei que a pesquisa participante fosse mais adequada, uma vez que

esta visa implementar uma ação e proporcionar melhoria a um determinado grupo. E

é válido dizer que partir de um problema claramente definido pelo grupo e usar

instrumentos técnicos de pesquisa para resolvê-lo envolve um comprometimento

político (Brandão apud André: 1995, p.32) que novamente se afastava do enfoque

pretendido para a presente pesquisa. Além disso, o argumento que me fez desistir

da pesquisa-ação permanece válido para a pesquisa participante.

Refletindo sobre a pesquisa participante e investigando sua epistemologia em vários

trabalhos, verifiquei que o presente estudo não se caracterizava dentro dessa

concepção, visto que segundo SILVA:

O qualificativo do participante se refere à questão da participação popular na pesquisa e da participação da pesquisa num projeto popular. O essencial não é que a pesquisa se origine de questões populares, mas que os seus resultados sirvam para instrumentalizar a luta no sentido de denunciar as condições de opressão e de exploração. O termo participante se refere muito mais a uma postura do pesquisador na intenção de reverter o seu trabalho a serviço dos setores oprimidos (1986, p.50).

Esta pesquisa precisaria envolver observação participante, entrevista e análise de

documentos. E para isso precisaria ter um certo grau de interação com a situação

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estudada que me permitisse interferir nela, deixando-me influenciar pela mesma,

respondendo ativamente às circunstâncias, reorientando e revendo questões no seu

desenvolvimento, a fim de compreender o fenômeno e explicar suas vinculações

mais profundas.

A pesquisa do tipo etnográfico, além de atender às necessidades já expostas,

caracteriza-se pela ênfase no processo. Preocupa-se com o significado e com a

maneira pessoal de as pessoas olharem para si mesmas e para suas próprias

experiências. Identifiquei em GEERTZ (1989) a natureza do meu trabalho como

sendo etnográfico uma vez que o autor caracteriza a etnografia como uma descrição

densa (...) e o relatório etnográfico não repousa tanto na capacidade do autor em

captar os fato primitivos em lugares distantes e levá-los para casa (...) mas no grau

de detalhamento que ele é capaz de esclarecer o que ocorre em tais lugares (...).

O fator determinante na etnografia é o caráter antropológico, e se ela de fato oferece

condições de interpretação dos fatos que apresenta ao leitor. O que a define como

etnográfica é tipo de esforço por uma descrição densa e rica em detalhes. Segundo

Erikson (1993), uma das abordagens do trabalho etnográfico é a utilização de

informações interativas, vídeos, entrevistas, vinhetas e o relatório de pesquisa

deverá contemplar as descrições dos afazeres diários das pessoas envolvidas, das

citações literais de suas falas, em entrevistas, depoimentos e documentos,

identificando de forma clara as vozes presentes no relatório dentre outros requisitos

(apud André, 1995, p. 118).

1 1 . O objeto de pesquisa

O PROFORMAÇÃO, programa de tamanha dimensão e multiplicidade de situações

a serem investigadas, gerou uma "excitação pedagógica" na pesquisadora. A

Princípio o termo chocou, tanto quanto impressionou a expressão "sedução no ato

de ensinar", utilizada pela psicóloga MORGADO, em sua dissertação de Mestrado,

hoje livro publicado, ao tratar a sedução como a afinidade que a criança sente

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pelo(a) professor(a) e a necessidade de ser correspondida, gerando como resposta

positiva a aprendizagem.

O termo excitar, segundo o dicionário Aurélio, significa estimular, despertar, ativar a

ação, atitude esta que se manteve presente em meu comportamento a todo

momento no Programa. Assim sendo, a "excitação pedagógica" se fez sentir nos

encontros com os alunos, nas leituras dos seus Memoriais, no compartilhar as

mudanças de postura de alguns professores e no partilhar com eles a esperança de

se verem formados.

No entanto, a excitação não tem o poder de vedar os olhos da pesquisadora para o

universo de temas que podem ser investigados na abrangência do

PROFORMAÇÃO; pelo contrário, o conhecimento e o entusiasmo serviram para

aguçar a exploração dos limites possíveis no campo de investigação, cujos

questionamentos poderiam suscitar; em novos pesquisadores, encaminhamentos de

projetos de Mestrado e de Doutorado. Dentre os espaços ainda não explorados no

entorno do PROFORMAÇÃO, destaco :

Quais são os comportamentos indicadores da mudança na prática dos Professores

Cursistas? E quais os pressupostos que serviram como análise para atribuir este

procedimento ao PROFORMAÇÃO?

De que forma o PROFORMAÇÃO influencia os Professores Cursistas, a ponto de

gerar um contágio entre seus pares nas escolas onde atuam, provocando uma

redimensão coletiva na prática dos professores?

Os Guias de Estudo do PROFORMAÇÃO, produzidos por especialistas, para

interagirem com o Professor Cursista em seus momentos de estudo individual, têm

dado conta de ser um documento norteador da redimensão da prática pedagógica,

além de se apresentar como um subsídio para o estudo dos conteúdos nas áreas do

conhecimento do Ensino Médio?

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A metodologia de trabalho apresentada no PROFORMAÇÃO tem possibilitado a

permanência do Professor Cursista no Programa, em exercício, caracterizando-se

como uma Formação Inicial possível?

Quais as competências que foram consideradas imprescindíveis para o Tutor, para

que o Programa desenvolva o trabalho de orientador, estimulador e dinamizador da

aprendizagem dos Cursistas ao longo do Programa?

Como os Secretários de Educação dos municípios avaliam o impacto do

PROFORMAÇÃO na rede pública de ensino? E quais os indicativos que eles

levantam como reveladores de uma nova postura?

Que condições foram possibilitadas aos Cursistas para que eles construíssem seus

Memoriais, de forma a serem os testemunhos da "endo-metamorfose" pedagógica?

E qual a formação do Tutor para "ler" os Memoriais em toda a sua profundidade?

Os Memoriais se configuram como um rico material capaz de registrar e possibilitar

avaliar as dificuldades e avanços dos Professores Cursistas, no decorrer do Curso?

Os instrumentos de avaliação têm se demonstrado eficaz para avaliar o Programa

de Formação e Atualização do Professor?

Como se pode observar, o grau de envolvimento do pesquisador com o objeto a ser

investigado amplia o campo de visão acerca do universo dos temas passíveis de

exploração. No entanto, o objeto primordial da presente pesquisa tem o seu foco nas

contribuições do PROFORMAÇÃO para a redimensão da prática dos Professores

Leigos de Mato Grosso, avaliando a trajetória de construção e reconstrução do seu

fazer pedagógico.

A escolha do Memorial como um possível instrumento para a análise deu-se pelo

fato de ser uma proposta de registro em que não há rigor na sua estruturação, e sim

linhas norteadoras a serem seguidas. Ao tratar-se de uma construção, permite que

haja maior liberdade de expressão e um certo grau de subjetividade ao referir-se às

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práticas pedagógicas e sua relação com o meio cultural do Professor Cursista

envolvendo o registro de sua trajetória.

justifica-se ainda a utilização do Memorial por permitir ao leitor, uma interlocução

com o instrumento e expressar a visão de alguém "de dentro do processo" que sofre

a ação e que reflete a ação no seu espaço de trabalho, o que para a análise é muito

enriquecedor.

No entanto, apoiar-se num único olhar fragilizaria a pesquisa, motivo pelo qual será

também abordado o papel do Tutor sobre o Programa e sobre as formas como ele

entende, acompanha e registra o crescimento dos Professores Cursistas na

trajetória de sua formação profissional. O olhar do Tutor traz consigo um juízo dos

avanços e das dificuldades dos alunos, ao mesmo tempo em que implementa ações

para a recuperação de pontos primordiais para a conquista de uma prática

emancipadora.

Essa trama de olhares se completa com a análise de quem participa do Programa

em todas as instâncias e unidades onde ele se desenvolve, a Assessora Técnica.

Trata-se, portanto, de um olhar de totalidade que contém especificidades do

Programa possibilitando um detalhamento maior que contribua com uma análise

mais coerente.

Devido à riqueza de informações contidas em outros instrumentos coletados, os

Memoriais não serão exclusivos neste trabalho: associar-se-ão a estes os

depoimentos, as entrevistas e as observações realizadas durante os dois anos de

coleta de dados. No entanto, os Memoriais mantêm o caráter de prioridade e de

relevância, por serem eles documentos pessoais e, como assinalam

ANDRÉ&DARSIE, (...) mobiliza reflexões, tomada de consciência e reelaboração

dos conhecimentos e aprendizagens, favorecendo a construção de novos

conhecimentos (1998, p.461).

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1.2. Algumas hipóteses

« Os Memoriais dos Professores Cursistas, os depoimentos e entrevistas

realizadas com os envolvidos no Programa permitem ao leitor uma viagem no

tempo e no espaço, ao contemplar, sob a forma de registro oral e escrito, os

momentos significativos da trajetória do aluno no Curso, situando momentos

de dificuldades e avanços, bem como as situações em que se deu a

construção do conhecimento e a reestruturação da prática na sala de aula,

além de concentrarem dados relevantes para avaliar os instrumentos, o

material e a metodologia do Programa;

• o Tutor, orientador e articulador da aprendizagem, elo integrador entre o aluno

e as instâncias de gerenciamento do Programa, orienta a aprendizagem,

incentiva a progressão nos estudos, proporcionando condições aos Cursistas

de refletirem sobre o seu desempenho no Curso;

• o PROFORMAÇÃO possui metodologia que permite a permanência do

Professor Leigo no Programa, contribui para a reflexão da sua prática

pedagógica, para a construção da consciência profissional e inclusão do

Leigo na carreira do Magistério;

• o programa PROFORMAÇÃO se constituiu em um desafio para os

CEFAPROs (Centros de Formação e Atualização do Professor), política

instituída recentemente pela SEDUC voltada para programas de Formação

Inicial e Continuada dos professores;

• os fatores que predispõem os professores a investir mais ou menos tempo

nos estudos, indicativo do sucesso e/ou insucesso no Curso, estão

intimamente ligados a uma atitude interior, que envolve o querer abrir os olhos

e, associado a isso, o interesse, a vontade de vencer na vida, na carreira e na

profissão, atitudes essas intimamente ligadas às emoções.

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1. 3. Os objetivos da pesquisa

Identificar, nos diversos instrumentos da pesquisa, os momentos em que o

professor-estudante reflete e atribui a redimensão da sua prática pedagógica às

contribuições dos estudos e sugestões do Programa de Formação de Professores

em Exercício.

Avaliar de que forma o Professor Leigo se beneficia das orientações do Tutor para

construir sua aprendizagem e organizar suas experiências na prática pedagógica, a

partir das orientações dos Guias de Estudo e da socialização das experiências nos

encontros coletivos.

Investigar o PROFORMAÇÃO enquanto uma proposta que propicia a permanência

do Professor Cursista em exercício no Programa, possibilitando a sua inclusão na

carreira do magistério e a construção de sua identidade profissional.

Analisar a trajetória do PROFORMAÇÃO nos Centros de Formação e Atualização do

Professor evidenciando as dificuldades e avanços das equipes envolvidas.

Observar a influência da sensibilidade e das emoções dos alunos como propulsoras

das condições de enfrentamento dos desafios para a permanência no Curso.

1.4. Os instrumentos no contexto da pesquisa

Os Memoriais se constituem em investigação da prática, através de uma indagação

reflexiva, uma vez que, ao redigi-los, o Professor Cursista realiza a análise de como

se expressava a sua prática anteriormente e de como se modificou subsidiado pelos

referenciais de novas metodologias. Ao efetuar esse movimento, o professor utiliza-

se da memória para resgatar elementos preciosos que, pela reflexão, promovem a

retomada necessária dos pontos obscuros, elevando a qualidade do registro escolar.

Esse procedimento envolve uma cumplicidade com a história, com a sociedade e

com o entorno educacional onde se encontra o Cursista.

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Os documentos pessoais instituídos nos cursos de Formação de Professores, como

uma forma de refletir a ação na ação, consistem em uma metodologia recente e em

experiências esparsas. Autobiografias, biografias e diários de classe têm sido os

mais utilizados. Conforme ANDRÉ & DARSIE, os documentos pessoais

Não são somente documentos de registros das reflexões, mas por vezes é nele e por ele que se desencadeia o próprio processo de reflexão. Isto acontece, por exemplo, nos casos em que o sujeito ao fazer uso dele, inicia um determinado registro sobre uma determinada aula, apenas relatando o que e como aconteceu, mas na continuação, inicia-se um processo de reflexão que vai se ampliando pelo próprio processo da escrita (1998, p. 282).

No entanto, a reflexão da ação forma sulcos mais profundos quando há a

associação de alguma forma de registro que envolva uma determinada forma de

linguagem escrita, o que, segundo as considerações de BARTH, significa dizer que:

Cada indivíduo entra numa situação nova, com sua compreensão, o seu modo de ver as coisas, com a sua música e vai interpretar esta situação a partir da sua história cognitiva,a partir da sua partitura. (...) As primeiras compreensões começam sempre como uma experiência, aprendemos sempre na ação. A transformação deste saber activo em linguagem só acontece mais tarde (...). A linguagem é uma ferramenta para compreender o mundo e, ao mesmo tempo, esta linguagem constitui o mundo (1993, P.72).

De acordo com GARCIA (1997), a reflexão é, na atualidade, o conceito mais

utilizado por investigadores, formadores de professores e educadores diversos, para

se referirem às tendências da Formação de Professores. No entanto, os Memoriais

não traduzem somente a contribuição dos conteúdos para a apropriação do

conhecimento dos Professores Leigos: eles também expressam as contribuições do

Curso na vida pessoal quando registram os sentimentos, ideais, sensações e

conflitos. Para GÓMEZ:

A reflexão não é um processo puro, mas sim um conhecimento contaminado pelas contingências que rodeiam e impregnam a própria experiência vital. (...) A reflexão amplia a imersão consciente do homem no mundo de sua experiência, um mundo carregado de conotações, valores, intercâmbios simbólicos, correspondências afetivas, interesses sociais e cenários políticos (1997, p 103).

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para proceder a uma análise cautelosa dos Memoriais, foi necessário buscar as

formas de orientação que subsidiariam a sua construção, uma vez que não há um

procedimento uniforme pelo Cursista na sua elaboração. Tal fato se deu porque, no

início do Programa, não havia uma orientação sistematizada a respeito da

construção do Memorial. Dizia-se inicialmente, no Curso, que o Memorial deveria

assemelhar-se a um diário em que o aluno deveria registrar os acontecimentos do

seu dia-a-dia. Essa orientação, entendida como uma história de vida do aluno, é

visível nos Memoriais quando estes resgatam a sua infância, adolescência,

casamento e formação, até o início na profissão.

Os Guias de Estudo trazem algumas contribuições ao propor alguns

encaminhamentos na construção do Memorial. Mas como era uma proposta ainda

muito recente, tanto para os Professores Formadores quanto para os Tutores e

Cursistas, as dúvidas eram constantes.

Durante o Módulo I, portanto no processo, o Piloto foi recebendo orientações mais

detalhadas a fim de que os registros pessoais consistissem em uma reflexão do

aluno acerca do Curso, da sua aprendizagem, das contribuições dos conteúdos para

a prática docente, etc...Tais orientações foram modificando o texto dos alunos até se

tornarem os registros do movimento teórico-prático, ação-reflexão-ação com o

auxílio valioso dos textos de apoio construídos pela CNP. Na parte dos anexos,

estarei ilustrando algumas sugestões.

Redigir não é um trabalho comum entre professores, isto é, criar textos, elaborar

com coesão, coerência e lógica, em se tratando de Leigos a dificuldade é

acentuada; pois se trata de uma redação muito especial e não comum à proposta

nos Memoriais, que é a de falar de si, expor a sua intimidade profissional aos seus

colegas nos momentos de discussão coletiva, instituída nas Reuniões Quinzenais.

Segundo SHÕN (1997), refletir sobre a reflexão da ação de forma coletiva é um

processo de autoformação imprescindível para que o professor possa redimensiona-

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Ia No entanto exige um despojar-se de preconceitos, conflitos, medos, temores,

requerendo que esse processo se dê em um clima de amizade, participação e

disponibilidade de seus participantes, portanto, não se dando em curto prazo, mas

sendo conquistado passo a passo.

1.5 A coleta de ciados: forma e conteúdo

A minha visita aos Centros consistia em, acompanhar, supervisionar e encaminhar

relatórios ao MEC/FUNDESCOLA. No entanto, além dessas atividades, desenvolvi

uma observação aguçada nos fatos e nas pessoas e busquei informações que iam

além das que o sistema solicitava, a fim de que pudesse atender aos objetivos da

presente pesquisa. Participava, também, das reuniões com os Cursistas com o

intuito de colher seus depoimentos e ouvi-los nas suas manifestações de

dificuldades e avanços no Programa.

Na busca de documentos que pudessem contribuir para o objeto deste trabalho,

solicitava os Memoriais e passava madrugadas a fio lendo-os e selecionando os

mais adequados à pesquisa, pedindo permissão aos alunos para xerocopiá-los no

dia seguinte. Ouvi-los antes da leitura do Memorial favorecia o entendimento deste,

em cada parágrafo lido, sendo possível verificar que a leitura da vida era contada e

se refletia nesses Memoriais. Estes se configuravam no meu olhar, como cita

ZABALZA, em um espaço pessoal, individual de cada sujeito que se converte em

objeto de estudo (1994, p. 83).

Com a coleta realizada dessa forma, por essa metodologia, a subjetividade dos

Memoriais exerceu um certo fascínio para mim, e eles se tornaram determinantes

enquanto instrumentos de pesquisa, a ponto de atribuir-lhes destaque principal, por

serem documentos que expressavam fatos e acontecimentos passíveis de serem

comprovados na observação da prática pedagógica. Com esse cunho de veracidade

e com a possibilidade de aliar o registro à observação, a reflexão dos Memoriais

possibilitava que se consistissem em uma rica fonte de dados.

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No entanto, além de um registro, os Memoriais relembravam as vozes, a expressão

e os sentimentos dos Cursistas, captados na sua intimidade. Isso era percebido

quando os acompanhava e ficávamos a conversar sobre suas trajetórias, no

dormitório e em outros momentos, debaixo das árvores ou na mesa do almoço, entre

outros pontos que vivificavam a coleta. Os Memoriais tinham vida e como histórias

de vida procurei tratá-los na pesquisa.

Segundo ZABALZA, ultimamente a utilização de documentos pessoais nas

pesquisas qualitativas tem sido referenciada; consistem em documentos pessoais as

biografias, autobiografias, histórias de vida, diários, etc, juntamente com outros

documentos menores como cartas ou relatórios (1994, p. 82). Os Memoriais, como

registros de experiência profissional, enquadram-se perfeitamente na condição de

documentos pessoais, com a grande contribuição de serem uma escrita que permite

ao autor refletir também sobre a sua profissão, conforme comenta DARSIE:

Os diários não são somente documentos de registros das reflexões, mas por vezes é nele e por ele que se desencadeia o próprio processo de reflexão. Isto acontece, por exemplo nos casos em que o sujeito ao fazer uso dele, inicia um determinado registro (...) apenas relatando o que é e como aconteceu, mas, na continuação, inicia-se um processo de reflexão que vai se ampliando pelo próprio processo da escrita (1998, p.282).

No entanto, não me detive somente nos registros dos alunos, pois era preciso

também contar com uma avaliação de quem acompanhou com maior proximidade o

Programa, o Tutor como a pessoa-chave para a aprendizagem dos Cursistas no

Programa. A forma como ele assessorou os alunos, as impressões, os relatórios

foram também coletados, além de participar de muitas reuniões mensais de Tutores

e de colher seus depoimentos.

Muitas cenas foram possíveis de se captar na filmadora, o que possibilitou que eu

pudesse registrar as reuniões, entrevistas, depoimentos e expressões inesquecíveis

que o gravador não contempla. A postura de observador participante se fez presente

na maioria dos momentos em que se deu o acompanhamento às atividades dos

professores. Segundo BOSI,

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(...) tal expressão observador participante, pode dar origem a interpretações apressadas. Não basta a simpatia (sentimento fácil) pelo objeto de pesquisa, é preciso que nasça uma compreensão sedimentada no trabalho, na convivência (1995, p.38).

As coletas de materiais se deram da região Sul de Mato Grosso até a região vizinha

do Pará, na Floresta Amazônica, em escolinhas de alvenaria e pau-a-pique, e ainda

nas belezas situadas às margens do rio Araguaia, numa convivência ímpar com os

índios Xavante em Barra do Garças e Carajás em São Félix. As experiências nas

viagens e na coleta de dados foram interessantes e, por que não dizer, radicais.

Viajei em aviões de 100 lugares, de 12 lugares, e, posteriormente, no famoso e

antigo teco-teco de 4 lugares, em caminhões e caminhonetes, canoas e, muito a

contragosto, enfrentei travessias com água pelos joelhos devido ao desabamento de

pontes na época das chuvas.

Nenhum dos fatos que narro demoveu-me da vontade de prosseguir o trabalho,

porque por trás da intenção do monitoramento estava também a pesquisa e esta

concedia ao trabalho uma aguçada vontade de observar e registrar os avanços dos

Cursistas.

Além de depoimentos e entrevistas, filmes, fotos, documentos oficiais e pessoais,

fornecidos com muita disponibilidade, eu partilhava com eles de momentos íntimos

como as conversas nos alojamentos, refeições em bandejões nos refeitórios e, por

que não, uma cervejinha na beira do rio à noite. Na informalidade e na formalidade

dos encontros, a coleta de dados se efetivava, e, entre estes, o desabafo dos alunos

acerca do descontentamento com o trabalho de alguns Tutores, na condução da

Fase Presencial pela AGF. As reuniões, no dia seguinte, possibilitavam tomar as

providências para a melhoria dos pontos que consistiam em obstáculos aos avanços

da aprendizagem dos Leigos.

A postura de observador participante, não pode ser entendida como uma simples

Participação em algo, mas o desempenho de um papel ativo na própria realidade

dos fatos observados (THIOLLENT, 1988, p.16). A observação participante se fez

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presente em todos os momentos de acompanhamento ao Programa, e conforme já

observamos, consistiu em elemento imprescindível para se constatar a veracidade

dos dados levantados nos outros instrumentos.

A análise documental, enquanto técnica exploratória que complementa e/ou valida

informações, constitui-se num instrumento muito valioso, justamente por contribuir

para a leitura detalhada do volume de material escrito: Guias de Estudo, Manuais,

Textos.de Apoio, Grades Curriculares, Legislações, Fichas de Acompanhamento,

Relatórios, Jornais, Boletins, entre outros. Segundo HOLSTI, a análise documental

constitui-se em uma técnica para estudar o problema a partir da expressão dos

individuos, a linguagem escrita (apud ANDRÉ & LUDKE:1996, p.39).

Depoimentos e entrevistas, considerados como registros orais sinalizadores dos

avanços e recuos das experiências dos docentes, foram utilizados como

instrumentos na coleta de dados, sendo estas últimas de forma escrita e oral. Estes

tipos de instrumento permitem que se tenha maior clareza no julgamento de

determinados fatos e resultados, uma vez que possibilitam que o depoente e o

entrevistado exponham suas opiniões sem formalidades, fluindo com maior rapidez

as informações.

A pesquisa contou com depoimentos gravados e entrevistas, sendo aqueles,

realizados por Tutores, Professores Cursistas e membros da AGF que trabalharam

mais diretamente com o Programa. As entrevistas consistiram em resgate oral da

história do Programa e foram realizadas com o interesse de detalhar o

PROFORMAÇÃO dentro de um contexto histórico, social e educacional.

Nas entrevistas com os Cursistas foram contempladas as questões como interesse,

dedicação aos estudos, formação, requisitos básicos para a permanência no

Programa, ambiente, vontade de modificar a sua prática, participação ativa nos

Encontros Quinzenais, não sendo despiciendas as atitudes e emoções que

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acompanham os Cursistas e que interferem positiva ou negativamente nos índices

de aprendizagem.

Foram ainda entrevistados os diretores, a fim de se obterem as impressões daqueles

que levaram a efeito o Programa no Estado e também para que manifestassem as

suas dificuldades em implantar dois programas simultaneamente, sendo um o

PROFORMAÇÃO e o outro os CEFAPROs. As entrevistas, segundo

ANDRÉ&LUDKE, oferecem uma vantagem sobre outras técnicas é que ela permite a

captação direta e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo

de informante (1986, p. 34).

1.6. O tratamento destinado aos instrumentos

O desenvolvimento do PROFORMAÇÃO no Mato Grosso pode ser percebido por

vários aspectos, levando-se em conta os segmentos que compõem o Programa. No

entanto, nos deteremos ao olhar do aluno Cursista, à luz das contribuições de

alguns teóricos e da minha análise. Os depoimentos e as entrevistas serão

projetados na tela do trabalho como informações valiosas e servirão para

diagnosticar os avanços e impasses no desenvolvimento do Programa em Mato

Grosso.

Os instrumentos coletados oralmente, em sua grande maioria gravados, somam a

quantia de 117, sendo que 19 foram utilizados no presente trabalho. Os

depoimentos não aparecerão com identificação quando se tratarem de alunos, a fim

de garantir-lhes a privacidade, o mesmo acontecendo para as entrevistas.

Os Memoriais, também enquadrados na classificação de documentos pessoais, no

Brasil, têm sua história de utilização, como exigência para a inscrição em curso

Superior ou de Pós-graduação, ou em contrato de trabalho na área de humanas,

etc. O seu momento de reflexão encerra-se no ato da entrega para fins de seleção,

isto porque, quando o aluno é aprovado, via de regra, não se retoma o Memorial.

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Há no entanto, o Memorial utilizado como tese de Livre Docência intitulada

Metamernória-memória, defendida pela Profª. Drª. Magda Soares em 1991, trabalho

este relevante que tem se constituído em constantes leituras principalmente pelos

profissionais da área de Linguagem.

No PROFORMAÇÃO, o Memorial expressa outra concepção, ele é um elemento

catalisador do processo de reflexão que permeia todo o desenvolvimento do Curso.

É um referencial de reflexão permanente, que não se restringe em registrar a

reflexão da ação na prática da sala de aula em uma disciplina, como tem sido

realizada ultimamente esta investigação didática em documentos pessoais, tais

como diários de classe.

Até o presente momento não se tem a notícia da inclusão de Memoriais ao longo do

curso de Formação de Professores em outros programas - esta proposta de

avaliação dentre as demais, atribui ao PROFORMAÇÃO o caráter de ineditismo ao

utilizar-se desse instrumento.

Instituído no Programa como uma função diagnóstica para a avaliação do Cursista, e

como um documento basilar para a constatação da mudança do olhar e do

comportamento do docente sob a ação do Curso, o Memorial apresenta ainda outras

contribuições:

• permite ao aluno expressar como se deu a apreensão dos conceitos básicos

das áreas do conhecimento do Curso e como ele reconstrói o conhecimento a

partir deles;

• possibilita ao aluno expressar os resultados obtidos a partir da articulação

entre as metodologias e a prática docente, ao experienciá-las;

• provoca a reflexão sobre o fazer pedagógico anterior e os efeitos das atuais

investidas, levando o Cursista a um posicionamento pedagógico ao optar pela

reconstrução da prática.

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nessa forma, o Memorial se constitui em um referencial prenhe de situações a

serem investigadas, e por certo, o presente trabalho não dará conta de explorá-lo

corn tamanha profundidade e multiplicidade de aspectos. E por ter esta natureza, os

Memoriais, tal qual os diários, têm a vantagem do imediatismo, de penetração

experiencial no fato narrado por quem o narra (ZABALZA: 1994, p.19).

Devido ao fato de terem sido muitos os Memoriais coletados, ao estipular critérios

para a análise foi necessário selecionar alguns. No total foram lidos nos pólos mais

de 500 Memoriais em dois anos de trabalho. Ainda na AGF havia uma seleção

quando eu solicitava a permissão para xerocopiar alguns, cuja triagem obedecia ao

critério de maior incidência de dados registrados que me permitissem, com maior

grau de clareza, avaliar as contribuições do PROFORMAÇÃO para a apropriação

dos conteúdos das Áreas Temáticas do Curso e para a redimensão da prática

docente.

Com os documentos xerocopiados, procedia-se a mais uma análise, desta vez com

mais calma e mais tempo para observar entre os registros, os de maior pertinência

aos objetivos da pesquisa.

Restou desse procedimento uma coleta intencional de 10% dos Memoriais, sendo

que, para a análise exposta na tese, privilegiei, quatro Memoriais e uma Entrevista

que trabalho de forma detalhada, 7 para análise de fragmentos e 4 fragmentos de

depoimentos de Cursistas. Tendo em vista que todos os Memoriais abordavam

como se dava a apreensão dos conteúdos dos Guias de Estudo por parte dos

alunos, sendo uns relatados de forma muito restrita, e outros mais detalhados,

resolvi procurar algo novo que o Curso não havia vislumbrado atingir e que pudesse

perceber nos relatos dos Memoriais. A busca pelo novo logo se evidenciou pela

escolha dos instrumentos, nos quais o Cursista deixava transparecer sinais de

autonomia profissional, de fortalecimento da identidade profissional e de

reconstrução de conceitos.

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Na realidade, essas manifestações não se davam ao acaso, uma vez que tais

comportamentos foram construídos a partir da apropriação dos conhecimentos

especificos do Curso, dos saberes pedagógicos e profissionais, possibilitados por

um currículo que trabalhava as áreas temáticas em eixos articuladores e com

Projetos de Trabalho.

Ainda preocupada com a seleção dos Memoriais, além de escolher os menos

comuns, procurei colocar um critério que tenho observado durante a minha prática

pedagógica. Trata-se da resistência às inovações pedagógicas manifestada pelos

professores de idade mais avançada, motivo pelo qual selecionei alguns com idade

entre 40 e 50 anos e com exercício de magistério constando de tempos variados,

para a análise.

Há alguns Memoriais dos quais extraí fragmentos de texto que extrapolam os

selecionados para análise, pelo fato de evidenciarem a redimensão de conceitos e

conterem dados interessantes não vislumbrados pelo Programa.

Para salientar e distinguir as falas dos profissionais analisados nos diversos

diferentes instrumentos, instituí estilos de fonte diferenciadas, quando se tratar de

dar destaque àqueles envolvidos diretamente no Programa, cujo olhar e registro

demonstra as transformações ocorridas na sua prática docente e na vida pessoal,

ocorridas a partir do desenvolvimento do Curso. Dessa forma foi selecionado:

• para os Professores Cursistas - fonte Lúcidas Hanwriting

• para os Tutores - fonte signet roundhard.

É válido frisar que, em sua grande maioria, os Memoriais quase não apresentaram

correções, estas só foram necessárias em um único registro cuja escrita

comprometia o Cursista.

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1 7. Categorias de análise

Os depoimentos, entrevistas e Memoriais serão analisados como pontos confluentes

com as categorias de análise. Segundo BARDIN, a técnica de análise de conteúdos

por categorias é a mais antiga; na prática é a mais utilizada. Funciona por operações

de desdobramentos do texto em unidades (1977, p. 153), o que serve para dar ao

julgamento um caráter de unicidade, de lógica e de organização. No entanto, tal

formulação de categorias é flexível, não há um rigor teórico na sua constituição.

Outra importante contribuição acerca da utilização de categorias para a análise de

conteúdos vem de EZPELETA, ao considerar que:

(...) as categorias organizam, sintetizam, com algum sentido, fatos, momentos ou processos da realidade. A articulação necessária e lógica das categorias, permite, por sua vez, a construção da teoria ou setores da teoria (1989, p.89).

No sentido de encaminhar a análise na intenção apontada pela autora citada, foram

selecionadas as seguintes categorias para a leitura dos Memoriais e demais

documentos:

• apropriação e construção do conhecimento específico sobre a sua área de

atuação, cujos indicadores serão observados nos dados coletados pela

análise dos registros orais e escritos que evidenciem a opção do aluno por

posturas inovadoras;

• avaliação do papel do Tutor como elemento fundamental à aprendizagem dos

alunos na organização das atividades coletivas, de acompanhamento e de

discussão dos avanços dos professores na trajetória do Programa;

• análise de situações em que os Cursistas demonstrem ser o Programa

adequado aos professores em exercício, possibilitando sua permanência e

formação, contribuindo para sua profissionalização e para o fortalecimento da

identidade pessoal;

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constatação da contribuição das atividades expressas em sensações,

emoções e afetividades como indicativos de permanência dos professores no

Curso;

o fortalecimento das equipes e a estruturação dos Centros como um processo

não vislumbrado.

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PARTE III

CONSTRUINDO NOSSA APRENDIZAGEM

É que lido com gente. Lido, porisso mesmo, independente do discurso ideológico, com os sonhos, as esperanças, tímidas às vezes, mas às vezes, fortes dos educandos. Se não posso, de um lado, estimular os sonhos impossíveis, não devo, de outro, negara quem sonha o direito de sonhar. Lido com gente e não com coisas.

Paulo Freire

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CAPÍTULO 1

A TRAJETÓRIA DO PILOTO: A APRENDIZAGEM DO TRABALHO

COLETIVO

A construção do eu coletivo, tanto da Assessora Técnica quanto das equipes das

AGFs, toma corpo quando são desenvolvidos os encontros do Piloto com a

finalidade de administrar as dificuldades e de dar uniformidade às decisões em todos

os CEFAPROs, uma vez que o Programa apresentava um nível complexo de

operacionalização. Tais encontros foram propostos pelo Mato Grosso e atendidos

pela CNP mediante a reprogramação do PTA (Plano de Trabalho Anual).

Os encontros permitiram que as equipes dos Centros resolvessem o

encaminhamento de questões que estavam sendo tratadas com certa indefinição e

morosidade em Brasília, justamente porque a proposta ainda se encontrava em

construção e qualquer alteração de maior profundidade no desenho pedagógico

necessitava de uma reunião da CNP e especialistas, cujo agendamento nem sempre

era possível em curto prazo.

A necessidade de se pensar urgentemente na complementação curricular do

Programa, constituída por conteúdos e áreas introduzidas pelo Estado, no sentido

de que atendesse às especificidades regionais, ainda não estava contemplada na

Proposta, e esse gerou no Piloto uma certa inquietação e a busca de alternativas

que resolvessem o impasse. Uma delas foi a introdução da Língua Estrangeira

(espanhol); outra foi a de Recreação e Jogos e, em seguida, a Informática e Projetos

de Trabalho na área de Cultura Mato-grossense.

Enquanto o Piloto apresentava sinais de autonomia, a CNP terminava de desenhar a

nova Grade Curricular, adotando o Espanhol (deixando para os estados a escolha

do material) e Projetos de Trabalho (sem a obrigação de vincular-se a esta ou

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àquela disciplina), como forma de introduzir a pesquisa estipulada na proposta e de

amplia a carga horária, prevista em determinação legal para os cursos

profissionalizantes durante o desenvolvimento do Programa.

A Matriz Curricular atualmente desenvolvida pelo PROFORMAÇÃO não é a mesma

executada pelo Piloto, ela foi construída durante o primeiro ano de desenvolvimento

da experiência e se consolidou no final do ano letivo de 1999, para ser executada

nos novos estados, quando Mato Grosso já tinha desenvolvido o primeiro ano do

Programa na sua trajetória. A reformulação da carga horária, a instituição da Língua

Estrangeira e a implementação dos Projetos de Trabalho foram revisões ocorridas

durante a execução da experiência no Mato Grosso.

Havia uma preocupação com o tempo para a complementação da carga horária e

com a indefinição das formas de desenvolvimento dos conteúdos específicos criados

pelo Estado e previstos na Proposta do Curso. Havia se passado quase um

semestre e ainda não estava claro como se daria esta proposta. Assim sendo, nos

encontros coletivos com todas as AGFs e na parcela de autonomia destinada ao

Piloto pela CNP, criou-se disciplinas, metodologias, ampliando a carga horária de

forma a atender as especificidades do Estado. As inovações curriculares adotadas

pela Estado deveriam envolver a comunidade e a pesquisa qualitativa, definiu-se

que Recreação e Jogos e Cultura Mato-grossense seriam desenvolvidas em projetos

realizados na e com a comunidade.

Quando tais procedimentos e estudos dos especialistas ficaram definidos,

aprimorou-se a forma de desenvolver os Projetos de Trabalho no quarto módulo do

Piloto. O PROFORMAÇÃO no Mato Grosso constituiu-se em autonomia e

aprendizagem até o final do Curso. As duras penas, as AGFs reconceitualizaram o

que a palavra experiência Piloto representa e foram muito além: executaram este

Programa, num trabalho de gigantes. Muito do que se construiu, muito do que se

aprimorou, deve-se a esses professores das AGFs, aos coordenadores do Programa

nos CEFAPROs (AGFs), aos Diretores e à Coordenação Estadual pelo trabalho de

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Hércules da equipe e da Coodenadora, professora Evanildes de Arruda Bordalho. A

contribuição dos Tutores foi primordial para que o Programa atingisse os níveis de

aprovação no Mato Grosso.

Mato Grosso teve uma certa autonomia para desenvolver o Programa e isto surtiu

resultados altamente positivos. A ingerência do Banco Mundial na tutela do

programa no Estado foi ínfima. Acredito que isso se deu devido à preocupação dos

gerenciadores com o término do desenho do Programa, às negociações para a

implementação em outros estados ou ainda à ocupação das equipes de

gerenciamento da CNP em providenciar e construir subsídios pedagógicos para

nortear a fase de implementação nos estados do Norte e do Nordeste. O Piloto

então viveu uma situação ímpar. Primeiro não recebeu os materiais necessários a

uma implantação do Programa a contento e, segundo, quando estes foram

construídos, a preocupação da CNP era com a eficácia destes instrumentos quando

da sua implantação no Norte e Nordeste. O Piloto ficou por determinado período

desassistido pela Coordenação Nacional.

Atualmente quando se manuseia o material instrucional, o Manual do Tutor, da AGF,

os textos de orientação para o Tutor sobre como orientar e avaliar o Memorial, como

orientar e avaliar a Prática Pedagógica, como orientar as Reuniões Quinzenais,

observa-se a riqueza dessas produções para o melhor desempenho das funções de

todos os segmentos que compõem o Programa. Acerca disso o Piloto se questiona

sobre como teria sido diferente se este material estivesse disponível durante a sua

trajetória, o que, certamente, teria contribuído para um melhor nível de

desenvolvimento do Programa no Mato Grosso.

No entanto, não se pode atribuir um valor diminuído ao trabalho do Piloto, pois

diante das condições em que pôde desenvolver o Programa, o nível de

aproveitamento atingido pelos alunos revela o esforço das Agências Formadoras,

dos Tutores e do Estado. Se, de um lado não se obteve o material necessário, de

outro, a construção do trabalho coletivo tomou vulto. Daí poderia se questionar:

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Teria-se instituído uma postura de decisões coletivas, cuja cultura iniciou-se no

PROFORMAÇÃO e atualmente fortalece e permeia o trabalho dos CEFAPROs?

Os Professores Formadores e os Tutores teriam trabalhado, refletido e construído

juntos os encaminhamentos, os instrumentos e os procedimentos didáticos

necessários ao desenvolvimento do Programa, adequando-os à realidade do

Estado?

Haveria a aprendizagem em vivenciar impasses e criar alternativas para administrar

as dificuldades e a postura coletiva hoje construídas nos CEFAPROs, as quais têm

servido para melhor encaminhamento dos programas de Formação Continuada?

Os professores da zona rural teriam a oportunidade de aprofundar seus

conhecimentos, organizando, participando e expondo os resultados de seus estudos

e pesquisas em seminários regionais?

Assim sendo, o que se pôde observar foi a presença de sinais de autonomia

manifestados pelas AGFs nos trabalhos em que as diferenças deram tom e cor ao

Programa no Mato Grosso. Corrobora minhas indagações, o relato da Coordenadora

Nacional do PROFORMAÇÃO, professora Alvana Bof, em entrevista para este

trabalho, da qual destaco o trecho a seguir:

O que eu vi no Piloto, em primeiro lugar, foi uma equipe extremamente comprometida com o Programa, e percebi imediatamente que o Piloto tinha avançado em função dessa equipe que tinha sido criativa o suficiente, determinada o suficiente, esforçada o suficiente para tentar resolver os problemas operacionais que um programa nesse nível de implementação oferecia.(...) Porque na verdade, ele entrou sem uma proposta clara e sem instrumento de implementação.(...) Na realidade elas, (a equipe da EEG e das AGFs) é que foram criadoras de muitas coisas.(...) Tudo estava em teste. Nós tínhamos os Guias e o sistema de avaliação sendo testados (...) e o Tutor tendo que absorver tudo aquilo sem uma diretriz realmente clara (...). Então eu acredito que ver isso e ver tudo o que a equipe tinha crescido para fazer o processo andar (...). Eu admiro muito o trabalho que foi feito lá. Eu não vou dizer que não haja coisas que não poderiam ter sido melhores (....) Tem coisa que poderia ter sido melhor e sempre vai ter. Mas eu considero que eles fizeram muito e contribuíram diretamente para o aprimoramento da experiência. E isso você não pode negar (...) olha o quanto de "feedbacks" que foram recebidos O quanto de problemas que

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foram surgindo e que tiveram de ser administrados, e que vocês teriam que dar respostas, e administraram.(...) Poderia ter sido um desastre, poderia ter sido um caos, poderia ter sido desmantelado, mas isso não aconteceu. Isso só não aconteceu, como vocês conseguiram fazer isso com êxito. E isso tem um valor enorme, não dá para negar (Entrevista: 2001, em anexo, p.240).

Sem sombra de dúvida o Piloto foi fundamental para que o Programa Nacional

chegasse até onde chegou, mas o que acredito ter sido de igual valor foi a atuação

dos Tutores, muitos deles com a experiência do projeto GerAção e portanto

familiarizados com este tipo de trabalho e com a natureza dos problemas de um

projeto em implementação. O Tutor é o interlocutor entre a tecnologia, o material

instrumental e o aluno. Um bom material impresso poderá criar oportunidades para

que o aluno aprenda a aprender, mas não se pode esquecer que os materiais

instrucionais consistem em livros ou Guias fabricados em série, e para atender ao

aluno individualmente é preciso de um orientador que o auxilie a caminhar nessa

metodologia de ensino, ordenar o ritmo e o tempo peculiar a cada situação.

1.1. O trabalho fundamental do Tutor

A Educação a Distância não pode se restringir à relação isolada com os Guias de

Estudo e com a interatividade, uma vez que o calor humano das relações

interpessoais é motivador da elevação da auto-estima e ainda tem sido o maior

responsável pela permanência dos alunos nos programas e conseqüente sucesso

na aprendizagem. Os Tutores, orientadores de aprendizagem, monitores ou

articuladores são pessoas-chave para que ocorram essas relações. Sua participação

no Curso é fundamental para que o aluno possa transitar com maior facilidade por

entre os instrumentos do Curso, facilitando-lhe adaptar-se à metodologia de EAD.

Segundo NEDER, o orientador tem papel fundamental :

(...) principalmente no que diz respeito ao acompanhamento do percurso do aluno: como estuda, que dificuldades apresenta, quando busca orientação, se relaciona com outros alunos para estudar, se consulta bibliografia de apoio, se realiza as tarefas e exercícios propostos, se coloca como sujeito que participa da construção do currículo do curso, se é capaz de relacionar teoria/prática, etc. O orientador deve, nesse processo de acompanhamento,

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estimular, motivar e, sobretudo, contribuir para o desenvolvimento da capacidade de organização das atividades (2000, p.118).

O Tutor foi responsável pela motivação do aluno para a permanência no Curso, foi o

elemento que mais sofreu desvalorização no percurso do Piloto. Quanto à

possibilidade de atualizar-se em novas metodologias e práticas de ensino e

aprofundar o seu conhecimento nas áreas do conhecimento do Ensino Médio, o

Programa foi satisfeito plenamente. No entanto, foi cobrado dele um esforço enorme,

principalmente no primeiro módulo, no que tange à rapidez para assimilar as

alterações da proposta de avaliação em construção de as constantes modificações

das fichas de acompanhamento e dos conceitos atribuídos ao desempenho dos

alunos, à flexibilidade e disponibilidade para que mantivesse o acompanhamento e o

atendimento aos Cursistas sem grandes prejuízos de continuidade do Programa.

O atendimento às dificuldades de cada aluno só era possível mediante o relatório do

Tutor. Essa era uma das contribuições mais importantes para que o Leigo se

mantivesse no Programa, conforme salienta a Diretora Alda Antonelli, da AGF de

Matupá:

O papel do Tutor foi muito importante também nesse trabalho de orientação. Eles contribuíram muito e foram valiosos, nós crescemos muito com eles, porque quando fazem a visita e vêem a necessidade e a dificuldade do professor, eles trazem para a AGF esses problemas, ficando mais fácil de estarmos pensando em ações para desenvolver junto com os professores individualmente, porque tem que se pensar no Programa, nos professores como um todo, mas cada professor com a sua particularidade e sua dificuldade na escola. E esses dados quem nos forneciam eram os Tutores (Entrevista: 2001, em anexo, p.277).

As contribuições para que o Programa se efetivasse com um mínimo de conturbação

no "mar revolto" do primeiro módulo devem-se a ele, o grande colaborador no

processo ensino-aprendizagem dos Cursistas e o mais sofrido nas suas lutas

salariais durante o Programa. Conforme o depoimento do Diretor Cézar Espíndola,

da AGF de Diamantino:

O papel do Tutor foi de extrema importância, é fundamental no Projeto. E o impacto que aconteceu é percebido, é notável a mudança comportamental dos professores, mudança pedagógica mesmo, percebemos nos Memoriais,

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nas práticas em sala de aula, nos seminários (Entrevista: 2001, em anexo, P.279).

Ao Tutor cabia o trabalho de acompanhamento ao Cursista, orientando-o nas visitas

à prática pedagógica, discutindo as questões dos Cadernos de Verificação aos

sábados, em Reuniões Quinzenais, bem como levantando e orientando os

professores nas suas dificuldades.

No Mato Grosso, nem todo Tutor era professor. A dificuldade em se encontrar um

professor formado em nível médio no interior da região norte do Estado e /ou o fato

de a escolha do Tutor ser atribuída aos Secretários de Educação dos municípios,

foram as causas para que esse fato acontecesse. Tal realidade fez emergir a

dificuldade obtida por aqueles Tutores detentores de um segundo grau, que não era

o Magistério, exigindo da AGF que se destinasse maior atenção a esses

profissionais e uma observação mais detida aos seus trabalhos.

No entanto, em um Estado de situações díspares, podia-se contar, em alguns pólos,

com Tutores formados em nível superior, inclusive fazendo especialização; e outros

com segundo grau propedêutico. Os reflexos da formação do Tutor se tornaram

evidentes no rendimento dos alunos e, como já explicitei, exigiu esforço redobrado

da AGF. Devido a essa experiência no Piloto, a CNP instituiu a seleção dos Tutores

no Programa e a exigência da formação em nível superior em docência. Só os

saberes pedagógicos da profissão poderiam conferir ao trabalho do Tutor a

qualidade necessária ao entendimento das questões da prática da sala de aula, bem

como tornar possível a adequação das orientações por ele propostas aos Cursistas.

Entretanto, uma questão tem que ser observada como fundamental ao desempenho

das funções da tutoria: o ser professor.

A autonomia no trabalho do Tutor tinha uma relação visível com o nível de

escolaridade. Havia os que se limitavam à execução do que se estabelecia, e que

via de regra, eram detentores do segundo grau. No entanto, observa-se que os

Tutores com formação em nível superior apresentavam criatividade para superar as

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Houve Tutores que realizavam as ações previstas no Programa, observando o

aluno, elaborando, preenchendo as fichas e a seguir atribuindo um conceito ao

aluno. No entanto outros, muito questionadores, não se limitavam a esses

procedimentos e investiam na elaboração de instrumentos Complementares à sua

observação, tais como um relatório dissertativo com gráficos de acompanhamento

ao aluno por Área Temática. Este último foi adotado, posteriormente pela CNP.

dificuldades, instituíam registros mais detalhados dos alunos e criavam seminários

de estudos com os Cursistas. Os encontros mensais consistiam em trocas de

experiências que fortaleciam o investimento em novas ações e implementavam

outras já em andamento. O nível de encaminhamento das ações e as propostas

inovadoras foram perceptíveis em alguns pólos onde os Tutores se empenhavam

nas reuniões,e na busca de alternativas que propiciassem a melhor qualidade da

aprendizagem dos alunos.

Assim, obteve-se a experiência de uma Tutora com o levantamento do

aproveitamento do Cursista por módulo, por instrumento e por Área Temática, em

forma de gráfico e parecer descritivo. Já outra Tutora criou um caderno de campo

das atividades dos alunos, como iniciativa própria, advinda da experiência nos

projetos INAJÁ e GerAção, em que a avaliação era descritiva, registrando os

avanços, o desempenho e as dificuldades, bem como ações investidas. Após a

leitura do relatório da Tutora, destaquei alguns fragmentos que a seguir transcrevo,

respeitando-lhe a identidade:

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A riqueza dos detalhes registrados pelo Tutor que adotou o caderno de campo a

respeito do desenvolvimento do aluno permite avaliar com clareza o

desenvolvimento do aluno no Curso. Esse procedimento foi iniciativa de alguns

Tutores e consistia em experiências pontuais nos pólos. Em encontro anual de

Em descrição, de outro aluno, o mesmo Tutor assim se revela a respeito:

Descreve sua avaliação o Tutor B da seguinte forma, ao referir-se a uma aluna

Cursista:

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Cursista e Tutores de Mato Grosso elas foram socializadas e incorporadas pelos

demais. Dessa forma, chegou-se a registros mais aperfeiçoados e muito

interessantes, a partir dos Tutores, constituindo-se em experiências incorporadas no

Programa, limitando-se as linhas para o registro, perdendo-se muita riqueza da

descrição. Tal fato, no entanto, não demoveu da idéia dos Tutores pela continuidade

desse procedimento, havendo o seu parecer completo do aluno e o sintético exigido

pela CNP.

Com o desenvolvimento do Programa, tanto o Piloto quanto a CNP foram

amadurecendo idéias e criando melhor suporte para as orientações ao trabalho dos

Tutores. Os textos de apoio, elaborados com esse objetivo, subsidiam melhor as

atividades dos Tutores, podendo-se dizer que a partir de então o trabalho ficou mais

claro e melhor executado, porém menos dissertativo.

Uma forma de apoio ao Cursista evidenciada pelo trabalho de uma Tutora que

acompanhei que mais me sensibilizou, ao ver o seu incentivo ao Professor com

dificuldades de expressar-se e de escrever o seu Memorial. Transcrevo, alguns

trechos a seguir, alternando o texto do Cursista e o apoio do Tutor a ver pelas

diferentes fontes. Os parágrafos representam literalmente a extensão do texto

escrito pelo aluno na quinzena de trabalhos:

A palavra de incentivo do Tutor C :

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A resposta do aluno ao incentivo do Tutor é evidente, a se observar pela extensão

ja produção textual e o interesse em atender as orientações. Numa abordagem

ainda que superficial sobre o seu aproveitamento nas Áreas Temáticas do Curso, o

professor Cursista assim redige em seu Memorial:

A resposta do Cursista mais uma vez atendeu as solicitações da Tutora, provocando

uma atividade com os pais ao buscar apoio para o desenvolvimento de sua nova

prática pedagógica:

A partir desse momento o Memorial do aluno se tornou mais completo, passando a

ocupar de duas a três páginas no seu caderno, e suas atividades em sala de aula

tornaram-se mais dinâmicas. O que se pode afirmar é que de fato o Tutor tem uma

função primordial para o desenvolvimento do professor na tarefa de apoio, incentivo

e subsídio das atividades na prática pedagógica. Outras situações similares a esta

foram constatadas, porém o maior grau de dificuldade que eu percebi nesta trajetória

que me permitiu observar os Memoriais, foi o caso de Vitor.

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Segundo MAIA, a tutoria e a avaliação se constituem em pontos cruciais dos cursos

de Educação a Distância e não podem ser vistas separadamente; completa a autora

que há requisitos para se desenvolver uma tutoria conforme o desejado, entre eles:

(...) fazer da Tutoria uma presença, um fator de apoio ao aluno, comunicar uma imagem de suporte, de auxílio. Para tanto é preciso que se personalize a Tutoria, que o aluno ligue a possibilidade de consultar pessoas com nomes, identificâveis.f...) serão importantes: a interação positiva, ou empatia, o retorno ao aluno, a segurança (1998, p.465).

O trabalho pedagógico dos Tutores no PROFORMAÇÃO, conforme podemos

verificar, foi de grande valia; muitos se destacaram pela qualidade do

acompanhamento que realizavam. Segundo Wilsa Ramos, o papel do Tutor é apoiar

os alunos em todos os sentidos, até emocionalmente, para que eles não desistam.

Revela a Coordenadora do Programa no FUNDESCOLA que o bom Tutor é aquele

que ensina a autonomia, quanto menos o Cursista precisar dele, melhor (2001, p.9).

Embora todo o trabalho do Tutor tenha sido relevante, deve-se destacar que houve a

troca de alguns Tutores pela ineficiência na função. No entanto, apesar de todo um

trabalho pedagógico relevante desenvolvido no Programa, não houve a

contrapartida financeira para ao seu trabalho. Houve controvérsias criadas pela

própria CNP na legalização do acordo de Participação, o qual determina as

competências dos municípios no Programa, dentre estas a manutenção financeira e

o suporte às atividades do Tutor no Programa, as quais passo a descrever.

Na realidade, o Tutor não ficou satisfeito com a sua remuneração no Programa, a

qual não saiu conforme o combinado no início do Programa. Tal afirmação se

justifica pelo Termo de Adesão, que viria oficializar o acordo realizado formalmente

no início das atividades, sendo que nele deveria constar uma cobertura de 30,00 por

aluno orientado e um contrato de trabalho. Caso este contrato já existisse, o

profissional ficaria à disposição do Programa, somando-se a esse o valor do

atendimento por Professor Cursista. Quando o Termo de Adesão chegou aos

municípios, uma pequena palavra na redação do mesmo modificou o panorama do

acordo e colocou em crise a remuneração do Tutor. Na redação do Termo, ficou

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registrado que as prefeituras realizariam com os Tutores acordo de gratificação por

aluno e/ou contrato remunerado. Este fato bastou para que os prefeitos se

apropriassem de um termo legal para diminuir os valores destinados ao pagamento

dos Tutores.

Houve prefeitos que apesar do Termo mantiveram o acordo; no entanto, alguns

optaram pela manutenção de apenas um tipo de pagamento. Outro fato relevante foi

o relacionado às diárias para a manutenção do Tutor na Fase Presencial. Na

primeira etapa o Programa financiou todos os doze dias da permanência,

compreendidos como o período destinado à sua capacitação e ao acompanhamento

da capacitação dos seus Cursistas, o que é previsto no Programa.

No entanto, o fato de os Tutores conseguirem acomodações junto aos Cursistas que

tiveram o período de capacitação subsidiado pelas prefeituras durante o primeiro

módulo, tendo com isto economizado o montante destinado às suas despesas em

forma de diárias pagas pela CNP, gerou uma especial atenção por parte desta, que

destinou para o segundo módulo menor valor de cobertura para as despesas.

Esta ação gerou uma revolta dos Tutores, que na sua investida em busca do valor

perdido não lograram êxito, uma vez que ouviram da CNP fortes argumentos, no

sentido de que as verbas eram para cobrir despesas deles e que se as prefeituras as

estavam assumindo não haveria razão para o desperdício de verba pública.

Durante os trabalhos da tutoria, os profissionais se deparavam com a falta de

subsídio das prefeituras para desenvolverem as atividades de supervisão

pedagógica nas escolas dos Cursistas. A falta de transporte para se chegar até as

escolas e o não pagamento das despesas dos Encontros Quinzenais foram os

principais entraves, aliando-se ao fato do não pagamento dos Tutores ao longo de

três, quatro e até cinco meses pelas prefeituras.

Havia municípios em que o atraso no repasse das verbas era alarmante, motivo pelo

qual as AGFs solicitaram minha colaboração na visita ao gestor. Em algumas vezes,

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lograva-se êxito; em outras, não havia como sensibilizá-los. Isso se deve ao fato de

a educação neste país não ter o merecido respeito: a situação se reflete também nas

instâncias menores, e nem a ameaça dos cortes das verbas do FUNDEF pela

Coordenação Nacional tem sido motivo para reverter em curto prazo a posição das

prefeituras.

O descompromisso de alguns prefeitos tem dado um relativo desgaste tanto para as

AGFs, quanto para a Coordenação Nacional do Programa, a qual tem envidado

esforços incalculáveis com o fim de sensibilizar tais prefeituras, usando inclusive

para este fim, de correspondências oficiais em espaço televisivo, onde o Ministro de

Educação se dirige aos prefeitos no sentido de que assumam suas

responsabilidades.

Algumas negociações têm surtido resultados positivos. No entanto, ainda há muitos

casos a serem solucionados. Os Tutores têm relação direta com o fato, pela

natureza do seu trabalho: a AGF cobra deles o acompanhamento, a CNP, o envio

dos dados e sobra a eles a denúncia. Denunciar em ano eleitoral é suicídio

(entendido aqui como demissão inconteste); de fato, alguns Tutores foram demitidos,

o que gerou um movimento muito grande das AGFs, as quais aliadas a CNP,

buscavam alternativas ao estabelecer que as demissões fossem plenamente

justificadas em ofício e a substituição do Tutor sujeita a seleção. Esta medida

provocou uma redução significativa nas demissões, porém não as eliminou

totalmente.

O PROFORMAÇÃO no estado de Mato Grosso deve muito ao trabalho do Tutor,

que, apesar das contingências, manteve o ritmo do acompanhamento e conseguiu

atribuir ao Programa um nível de qualidade.

As fichas de acompanhamento do Cursista inicialmente eram muito complexas e se

constituíam em dados e conceitos a respeito do aluno. Alguns Tutores construíram

referenciais interessantes que mais tarde a CNP adotou em nível nacional. Isto

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constituiu atividade de iniciativa de duas Tutoras, sem que houvesse comunicação,

inclusive, entre elas, diferenciando-se os trabalhos, mas contendo a mesma

essência, que era um detalhamento maior do aproveitamento do aluno.

12. As revelações das entrevistas

Em se tratando de Políticas Públicas, administrar dois programas sendo implantados

ao mesmo tempo foi um desafio para os diretores dos CEFAPROs. Percebi ao longo

desse processo que a exigência de que haja toda uma condição estrutural para se

desenvolver uma proposta é um fator inibidor de investimentos em qualquer área.

Muitas vezes, inicia-se pela intenção, pelas idéias e aos poucos se vai dando corpo

ao Programa. Exige um esforço maior de quem o executa, esforço esse que deve

ser avaliado para que não se converta em extremos. Um exemplo dessa militância

pela política dos CEFAPROs e do PROFORMAÇÃO em sua simultaneidade é a

entrevista da Profª. Ângela Mercês da AGF de Juína, a qual descreve toda a sua

trajetória na consolidação dos Centros, hoje referência no Estado.

O CEFAPRO naquele momento consistia em uma cópia do D.O. de criação e algumas fichas de professores que pretendiam compor o quadro de formadores, que me foi entregue em uma pasta transparente. (...) No início trabalhei na sede da assessoria de Juina, porém pelo fato de a antiga assessora não acreditar nesta proposta, tive que colocar o CEFAPRO no porta-malas do meu carro e fazê-lo itinerante, visitando escolas, conversando com professores, discutindo quais as perspectivas dos professores com a implantação de um Centro de Formação e Atualização do Professor em nosso município (...) pode não ser a melhor das políticas públicas de Formação de Professores, mas com certeza está entre as melhores. E eu me orgulho muito de fazer parte desta história, a história de educação de Mato Grosso.O PROFORMAÇÃO, não apenas foi o primeiro programa de Formação de Professores que o Centro desenvolveu, mas acredito que foi o que levantou os Centros de Formação, colocando-os em destaque no cenário estadual e nacional. (...) Foi ele que nos possibilitou estabelecer a relação de credibilidade junto aos municípios. É por ele em grande parte que a própria SEDUC, MEC e universidades nos respeitam enquanto Agências Formadoras de Professores (Entrevista: 2001, em anexo, p.272).

O que se pode dizer é que mesmo com os problemas elencados, que serviram para

ilustrar e detalhar a travessia do Piloto, muitos avanços e muitas construções,

divulgações, trabalhos junto aos professores do município e do pólo se deve ao

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trabalho dos diretores, que concebiam o Centro em sua proposta inicial como uma

causa sua e o fizeram acontecer com muita força, muito empenho, interesse e um

esforço descomunal.

Associar a construção pedagógica dos Centros, prever estrutura e gerenciar

dificuldades além de administrar um novo Programa que se efetivava neste espaço

recentemente constituído não foi um processo fácil para os diretores. A respeito das

dificuldades encontradas tanto no entendimento inicial do PROFORMAÇÃO, quanto

estruturais das AGFs (CEFAPROs), pode-se observar na entrevista da Diretora Fani

do município de Rondonópolis.

De início houve muitas dúvidas, mas no decorrer do tempo vimos que era um Programa muito bom. Tivemos apenas quinze alunos matriculados, mas esses alunos participaram com entusiasmo e esperança de melhoria em seu trabalho(...)Dificuldades, nós tivemos várias, mas conseguimos superá-las, tais como: deslocamento para ir aos municipios; a questão do pagamento, do repasse dos municípios (...) a dificuldade de os alunos virem até o CEFAPRO para receberem orientações do Professores Formadores, que na medida do possivel os Centros estiveram atendendo-os nos municípios (Entrevista: 2001, em anexo, p.275).

Entre as contribuições do PROFORMAÇÃO para os CEFAPROs, que foram

inúmeras, além do já citado fortalecimento das equipes, algumas não estavam

previstas e ficaram significativamente registradas nos depoimentos dos diretores,

como o da Diretora de Matupá, Profª. Alda Antonelli:

Na verdade, o CEFAPRO de Matupá criou-se a partir do PROFORMAÇÃO, com a necessidade de desenvolver esse projeto com os Professores Leigos de Matupá. As duas coisas iniciaram juntas. E quando se iniciou o PROFORMAÇÃO ainda não tinha uma estrutura básica do CEFAPRO. A partir dele que foi criado o CEFAPRO. Então se pode dizer que ele foi um programa que contribuiu muito, foi essencial. (..) todo o desenho do PROFORMAÇÃO foi muito elaborado e estruturado, e mesmo sendo um projeto em construção, em que teve que ter a participação, a opinião dos professores, formadores e Tutores, mas foi uma proposta muito bem desenhada que contemplou a parte pedagógica, o desenvolvimento do projeto dos professores, a participação da comunidade na escola; então nós sentimos uma diferença muito grande na parte pedagógica do professor, ou seja, houve realmente um crescimento lá na sala de aula, o que é mais importante (Entrevista: 2001, em anexo, p.277).

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A cada olhar, a cada dimensão em que se dava a contribuição do Programa nos

pólos regionais, seguia-se uma opinião do Diretor, conforme exemplifica Cézar

Espíndola, da AGF de Diamantino, quando fala da cultura que o PROFORMAÇÃO

deixa para o CEFAPRO:

Os conteúdos do PROFORMAÇÃO são extremamente atuais e isso possibilitou uma série de reflexões, em que o professor pôde estabelecer a relação de teoria e prática e foi modificando a sua prática gradativamente. Nesses dois anos percebemos que houve uma mudança muito rápida, que costumeiramente não acreditamos que o professor possa ter em apenas dois anos. Mas presenciamos isso aqui no estado de Mato Grosso e temos que agradecer isso ao PROFORMAÇÃO. Sem dúvida foi uma das melhores políticas públicas educacionais implantadas aqui no Estado, nos últimos anos junto com outras. Mas o PROFORMAÇÃO trouxe um caráter muito especial, uma cultura muito especial, que é a cultura do autodidatismo, em que os profissionais, hoje, eles querem continuar a estudar, eles querem curso superiora distância, eles querem continuar estudando, e isso eu acho fundamental quando o profissional começa a gerenciar a sua autoformação, a sua Formação Continuada. E um dos grandes responsáveis por isso foi o PROFORMAÇÃO, a equipe, o trabalho que foi feito, os Tutores. (Entrevista: 2001, em anexo, p.280).

A AGF de Alta Floresta se refere ao PROFORMAÇÃO com um outro enfoque, ao

citar que, além da contribuição da estrutura, o Programa apontou metodologias

importantes e a oportunidade de utilizar o material em outras ações nos municípios

do seu pólo, conforme registra a Diretora Vilma Shuingel:

Eu acredito que o PROFORMAÇÃO foi o motivo até do CEFAPRO ser uma instituição de fato no Município, isto porque havia a necessidade de formação do professor nâo titulado. O município fez parceria, e com isso fortaleceu o CEFAPRO (...). O PROFORMAÇÃO contribuiu até para a formação da prática do próprio docente do CEFAPRO. Andamos fazendo algumas análises dos módulos, como foram estruturados, e que possibilitavam _ enfim, uma interdisciplinaridade no curso do PROFORMAÇÃO. E isso deu subsídio também para trabalharmos essa questão da interdisciplinaridade na Formação Continuada dos demais professores da rede. Segundo um depoimento de um professor da AGF, que trabalhou Ciências Naturais, ele fez uma análise do módulo, (...) da forma como ele foi montado, possibilita claramente para o docente trabalhar a interdisciplinaridade (...). Inclusive algumas questões da área de Ciências Naturais que estamos encontrando de trabalhar com a escola jovem no Ensino Médio, está recomendando um módulo para que os professores estejam observando como estão sendo colocados os conteúdos dentro do módulo, para possibilitar a interdisciplinaridade (Entrevista: 2001, em anexo, p.292).

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A Agência Formadora de Sinop, por meio da entrevista da Diretora Débora Oliveira

Santos, aponta, além das já citadas, como a melhor das contribuições àquela

prestada aos alunos, Professores Cursistas, ao referir-se a ela desta maneira:

Essa (contribuição) foi fora do comum, recebemos professor no início do Programa bastante despreparado, sem nenhuma formação e orientação quanto ao planejamento, quanto à fundamentação teórica, basicamente sem nenhuma visão da educação e cidadania. E o PROFORMAÇÃO fez com que esses professores passassem a ter uma fundamentação teórica, uma formação bastante significativa, despertou nele o interesse pela continuidade aos estudos, tanto que após o término em julho, eles pretendem prestar vestibular e dar continuidade ao nível superior. Nós pudemos observar também uma contribuição muito significativa quanto ao relacionamento, a relação professor/aluno quando das orientações do PROFORMAÇÃO no sentido de que eles passaram a conhecer de acordo com suas faixas etárias, com as suas possibilidades, também uma visão heterogênea de cada turma, de uma possibilidade de estar prestando atendimento mais individualizado a cada aluno como indivíduo, com suas características e necessidades próprias (Entrevista: 2001, em anexo, p.282).

Ainda se referindo às contribuições do Programa aos Cursistas, a Diretora Maria

Aparecida Aiza, da AGF de Cuiabá, revela que os Memoriais expressam as

contribuições do Programa para a reflexão da prática dos Professores, quando

descreve:

Tivemos oportunidade de ver nos vários Memoriais, os relatos desses professores, da forma como eles pensavam que ocorria o processo ensino­aprendizagem, e através do Projeto, estudando, eles perceberam que todos podem aprender, que vai depender da forma como o professor trabalha a sua metodologia dentro da sala de aula. Isso é percebido em quase todos os relatos dos Memoriais. A oportunidade que eles tiveram também de estarem aprofundando os estudos em Linguagens, Matemática e Ciências. Isso é o que eu acho de positivo para o professor (Entrevista: 2001, em anexo, p.286).

Corn o sistema de avaliação ainda não definido e a necessidade de se recuperar

alunos de aproveitamento insuficiente nas provas, a AGF de Barra do Garças

investe em uma atividade interessante e significativa para os alunos, a primeira

experiência em Projetos de Trabalho, conforme a descrição da Diretora Inês

Elisabete Wagner:

Nós não conhecíamos o Projeto, até as primeiras capacitações que tivemos também não nos deram embasamento certo de como trabalhar. Mas, depois

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que fomos lendo os módulos, recebendo a capacitação e discutindo foi clareando mais. (...) E trabalhando com os Tutores, eles trazendo os problemas de lá e acompanhando alguns professores no desenvolvimento desses trabalhos, é que fomos vendo o processo de desenvolvimento deles, tanto é que nós tivemos uma experiência enriquecedora, na discussão da avaliação do primeiro módulo, e como nós não tínhamos diretrizes definidas ainda, o grupo mesmo discutiu o como estar fazendo, porque não seria através de uma nota, mas desenvolvendo o Projeto mesmo. E aí acompanhamos, orientamos nós mesmos. A AGF mesmo elaborou esquema junto com os Tutores de como deveria ser a recuperação. Acreditamos que essa foi a melhor forma de trabalhar de recuperação dentro do Projeto elaborado pela AGF acompanhado, porque pudemos observar como esses professores se dedicaram. Então não é através de um estudo de uma Área Temática, ou fazendo uma prova, que saberíamos se um professor aprendeu ou não aquela disciplina. (...) E o que nos compensou foi, depois, socializar com as outras AGFs a nossa primeira experiência do Projeto de Trabalho. Portanto, foi bastante enriquecedor para a própria AGF, e o que nós podemos perceber, levamos também a experiência para socializar em Brasília, num encontro que houve em 2000 (Entrevista: 2001, em anexo, p.283-284).

O PROFORMAÇÃO proporcionou, por meio da metodologia utilizada, uma riqueza

de experiência não só para as AGFs, mas principalmente para o Cursista da zona

rural, uma vez que muitos deles não haviam vivenciado e participado de momentos

em que pudessem expressar abertamente seus fracassos e ampliar a sua visão de

mundo, vislumbrando outras realidades e outras práticas. A AGF, por outro lado,

também não havia realizado um trabalho com os professores da zona rural, uma vez

que os Centros de Formação, locus de desenvolvimento do Programa, vivenciavam

sua primeira experiência na área de Formação de Professores. Acerca desse

trabalho a Diretora da AGF de São Félix, Terezinha Fin, relata:

Quanto à prática do Professor Cursista, mudou. Nós tínhamos professores que estavam em sala de aula, e que há 20 anos tinham saído do banco escolar. Então com o programa PROFORMAÇÃO, eles tiveram a oportunidade de retomar e se formar na área em que estavam trabalhando. E em relação à prática, mudou a questão do conhecimento, dos questionamentos, eles tinham uma visão crítica, mas hoje ela está bem maior e mais ampla.Outra coisa também que o programa PROFORMAÇÃO contribuiu foi quanto ao relacionamento, a troca de experiências entre aquele professor que estava na zona rural e o professor da zona urbana, e até o grupo de Professores Formadores. Nós nunca tínhamos trabalhado com essa clientela, portanto nos deparamos com uma clientela diferente, o que foi um trabalho rico, tanto para os professores da zona rural quanto para os professores da AGF. (Entrevista: 2001, em anexo, p.290).

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Um dos depoimentos importantes foi constatado na entrevista do Diretor da AGF de

Confresa, Tadeu Buzanello no que diz respeito às contribuições do Curso para a

autonomia, segurança, fortalecimento da cidadania do Cursista, no seguinte trecho:

Acredito que foi fundamental (o curso), muito importante devido ao que o professor cresceu nesses dois anos. Ele saiu de um grau de escolaridade e também teve uma capacitação jamais vista. Então nesses dois anos, devido ao crescimento obtido, o professor pôde levar ao aluno, enquanto aluno e cidadão, a formação que recebeu. É colocado nos cadernos e nos livros do PROFORMAÇÃO, que o professor tem que levar o aluno a crescer não sô no ensino didático, mas na formação futura para cidadão. Também tivemos em 2000, candidatos Cursistas ao cargo de vereador no Municipio, foram três candidatos Cursistas que participaram do pleito eleitoral, sendo que uma obteve votação suficiente para o cargo de vereadora. Hoje, ela não está mais no quadro docente, mas está no quadro de vereadores, que por sinal vem nos ajudando muito dentro da AGF, reivindicando melhorias para a nossa AGF, melhores condições para os nossos professores, transporte e merenda escolar. Então é muito importante termos um vereador eleito pela categoria dos professores, e temos um reforço maior, uma pessoa que está dentro do poder legislativo ajudando a nossa classe, interferindo por nós, e que há pouco tempo era uma Professora Leiga (Entrevista: 2001, em anexo, p.288).

Na realidade, o que foi exposto até o presente momento propicia ao leitor condições

para que possa avaliar o PROFORMAÇÃO no Mato Grosso, um projeto do

MEC/FUNDESCOLA, com um olhar não somente da pesquisadora, mas também

dos que participaram e construíram o Programa no Estado. A fim de que não se

tenha o entendimento de que foram colhidos somente pontos positivos do Programa,

colocamos Cursistas que apresentaram dificuldades em alguns instrumentos.

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Seria imaturo de nossa parte negar o valor social de um megaprograma pelo fato de

um instrumento não corresponder a uma dimensão qualitativa de avaliação, o qual

não deve invalidar a apreciação do todo, uma vez que há outros três instrumentos

que caminham nessa direção. Foi um procedimento marcante, durante o Curso, no

entanto, essa questão deverá servir de objeto para a CNP repensar, se houver

receptividade para tal proposta.

Alguns instrumentos até o final do projeto Piloto ainda não foram viabilizados: em

primeiro lugar, são os vídeos do Programa, desenhados para subsidiar os estudos e

a prática pedagógica nas Reuniões Quinzenais. Eles chegaram às AGFs no final de

2000, faltando a coleção de um módulo.

O segundo ponto se refere ao Sistema de Informatização do PROFORMAÇÃO, SIP,

que consiste em um programa de informática desenhado para o monitoramento da

avaliação dos alunos. É um software interessante onde são digitados os

rendimentos dos alunos em todos os instrumentos de avaliação, bem como os dados

da AGF, dos municípios participantes, prefeitos, secretarias municipais, Tutores,

entre muitos outros dados de relevância. O SIP é um programa instalado nos

computadores das AGFs no qual se cadastram todos os dados dos alunos, bem

como do aproveitamento no Curso, havendo uma opção para exportar e importar

dados. Isso permite que a AGF envie os dados para Brasília e também pela Internet,

importe seus dados para conferir, ler e até mesmo compará-los. Ainda não funciona

a contento, embora a equipe não tenha medido esforços no sentido de corrigir

falhas.

O Piloto continua apresentando contribuições, desta vez sinalizando os erros do SIP

para que se possa concluir o Programa com êxito.

Continuando a análise, hão de me perguntar por que ainda não me aprofundei no

elemento Professor Cursista. A resposta vem no sentido de justificar que, sendo ele

o elemento de maior valor na investigação, mereceu um capítulo à parte.

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O PROFORMAÇÃO terminou no final de 2000, com a formatura da primeira turma,

tão sonhada pelos Professores Cursistas. As atividades propostas no Curso nos

últimos meses foram se desenvolvendo com maior normalidade, o material

chegando aos pólos dentro do prazo previsto, as Agências Formadoras com uma

certa tranqüilidade para executar o Programa. Enfim, ATP, AGF e EEG chegamos

ao final do Programa, e este momento foi muito forte para todos, a ponto de se

poder concluir que ser experiência Piloto significa construir juntos uma proposta

ainda não definida, ou ainda, que ser Piloto é descobrir no final de uma construção.

por onde teria sido mais fácil iniciá-la.

Figura 7: Álbum de formatura Figura 8: Formatura - Barra do Garças

FONTE: Boletim FUNDESCOLA v 6. n°45 - 2001 FONTE: Acervo das fotos da formatura de B. do Garça

13. Os resultados da evasão do Piloto/2000:

Os programas de Formação dos Professores Leigos no Mato Grosso na década de

90 tiveram uma média de evasão acentuada Segundo PRETI&ARRUDA (1996

P 100) o INAJÁ apresentou uma média de evasão de 34,4% e o projeto HOMEM

NATUREZA 34.3%. Conforme fonte da SEDUC/CPP/Assessoria de Educação

Escolar Indígena/2001, o projeto TUCUM destinado a Formação do Professor índio

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foi um dos que apresentou o menor índice de evasão, uma média de 10,5%. No que

se refere projeto GerAção não se teve acesso à informação.

É válido frisar que um dado importante que aparece nos índices é o da aprovação no

vestibular.Embora o Núcleo de Educação Aberta e a Distância da Universidade

Federal de Mato Grosso, em parceria com a SEDUC e Universidade Estadual de

Mato Grosso, estivesse aberto para atender toda a demanda de Professores Leigos,

o procedimento do ingresso do aluno não se deu de forma individual.

Há a necessidade de que haja um convênio que os municípios devem firmar

anteriormente à seleção, comprometendo-se a manter o aluno no Curso, bem como

a cumprir determinadas exigências para formar o quadro de professores em

exercício em Licenciatura para as séries iniciais do Ensino Fundamental.

O número de alunos aprovados no vestibular é inexpressivo tendo-se em vista que

nem todas as prefeituras onde havia professores formados pelo Programa tinham

firmado o convênio com o NEAD. O que considero importante é avaliar quantos

prestaram e quantos foram aprovados no vestibular. Conforme dados fornecidos

pelas diretoras de Matupá e de Barra do Garças, todos os ex-alunos do

PROFORMAÇÃO que prestaram vestibular obtiveram aprovação.

O PROFORMAÇÃO atingiu resultados positivos, uma vez que apresentou o menor

índice de evasão entre os programas de Formação de Professores em nível de

Ensino Médio desenvolvidos no Mato Grosso, na última década. As porcentagens

que representam os números de evasão, reprovação e aprovação no vestibular para

o Ensino Superior estão descritos nos gráficos a seguir:

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QUADRO DE EVASÃO DO PROFORMAÇÃO

1a TURMA-1999 A 2000

FONTE: SEDUC/CPP/2001

As desistências que geraram a evasão, se deram por motivos particulares em que se

incluem os casos de doença; incompatibilidade com o Programa criada pela falta de

condições de organizar o tempo com tarefas de casa, trabalho rural para a

subsistência da família e os estudos; falta dos pré-requisitos básicos para o

acompanhamento aos conteúdos e atividades do Programa; falta de condições de

acesso ao meio de transporte, gerando longas caminhadas; falta de apoio familiar

para a continuidade dos estudos, pela ausência de apoio para o atendimento à prole

e intransigência do cônjuge.

Quadro nº 6: Evasão do PROFORMAÇÃO

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n detalhamento do gráfico em porcentagens torna possível observar o trabalho das

AGFs e os níveis diferenciados de aprovação, reprovação, bem como o índice dos

aprovados no vestibular nas localidades onde está se desenvolvendo o programa do

Núcleo de Educação Aberta e a Distância da UFMT em parceria com a SEDUC e

municípios.

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143

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Quadro 7: Evasão do PROFORMAÇÃO

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CAPÍTULO 2

A ANÁLISE DOS INSTRUMENTOS

Os Memoriais, selecionados para a análise, consistem em textos extensos, pois se

trata do registro de dois anos de atividades do Professor Cursista no curso de

formaçao. Portanto, a necessidade de selecionar algumas passagens foi

determinante, motivo pelo qual o farei, denominando-as de fragmentos de texto.

Tais fragmentos, no entanto, não devem ser entendidos enquanto extrações do todo,

sem vínculo ou relação com as demais partes, pois há que se ter cuidado com

extrações de partes de textos, justamente para que se garanta a logicidade, a

seqüência, a coesão e a coerência com o todo, e este detalhe procurei observar nas

análises.

Os fragmentos das entrevistas e dos depoimentos, quando analisados, receberam o

mesmo tratamento; na análise dos instrumentos observar-se-á ênfase nos

Memoriais, pelo fato de serem uma fonte de dados mais completa, uma vez que se

referem à trajetória do Cursista durante todo o Curso, de maneira sistemática,

contínua e processual.

A análise poderá conter mais de um instrumento; isso se dará quando os

instrumentos tiverem pontos relevantes a respeito da categoria que estará sendo

observada.

Para preservar a identidade dos alunos nos instrumentos analisados, atribuindo-lhes

um nome diferente do que realmente possuem, optei pela utilização de

pseudônimos. É importante ressaltar que os instrumentos tiveram sua análise

autorizada pelos autores, por escrito.

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A seguir será exemplificada a forma como se dará a identificação dos trabalhos a

serem analisados:

A letra => M indica que o instrumento é um Memorial.

A letra => E, que se trata de uma entrevista.

A letra => D identifica os depoimentos.

Ex: Pedro ou Marta=> indica o nome fictício do autor do instrumento

F1=> indica que é o primeiro fragmento extraído do instrumento

Com a pretensão de que os memoriais estudados representem maior proximidade

com os registros dos Cursistas, os quais são manuscritos, utilizarei a fonte:

Alguns fragmentos virão com palavras em negrito, isso se dá por um destaque que

intencionalmente realizo para chamar a atenção do leitor para a expressão utilizada

pelo Cursista ao falar de si e de sua trajetória.A análise dos instrumentos dar-se-á

pelo movimento alternado entre os fragmentos dos Memoriais e as minhas reflexões

apoiadas, em determinados momentos, em alguns educadores. Em algumas

ocasiões, partes dos fragmentos estarão negritadas; isto acontece pela necessidade

que senti em destacar a importância do registro do Cursista nos Memoriais.

Assim sendo, na ordem de exploração dos instrumentos, teremos o primeiro, como

sendo um Memorial de um Professor Cursista de pseudônimo José; o segundo, o

Memorial da Sônia; o terceiro instrumento, é uma entrevista da aluna Diana; o

quarto, o Memorial da Nina; o quinto, o Memorial do Rui.

Haverá ainda a apresentação de outros fragmentos dos Memoriais que serão

lançados para a análise do leitor, abordando aspectos não referenciados nas

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observações anteriores, sendo considerados importantes para complementar os

efeitos e contribuições do Programa na prática e na vida do Professor Leigo.

2 1 . O primeiro instrumento

MEMORIAL do Cursista- José

O primeiro Memorial que passaremos a analisar consiste no registro das

experiências de um Professor Cursista, de 50 anos, sendo que estava afastado dos

estudos há 30 anos quando iniciou o PROFORMAÇÃO. Sua escolaridade era até a

quarta série primária, e nos últimos anos estava realizando o Provão, no qual foi

aprovado em todas as disciplinas, atingindo, dessa forma, a conclusão do segundo

grau. Leciona há oito anos em escola urbana, em turma de série única.

O Cursista evidencia ter desenvolvido os estudos no PROFORMAÇÃO e ter-se

apropriado de conteúdos específicos na área de linguagem; é um aluno que reflete

suas ações e investe em posturas inovadoras quando assim relata:

M-José- F1

A primeira manifestação no Memorial do aluno é afetiva, mostrando-se abalado pela

discriminação que os Professores Leigos têm enfrentado na sua vida profissional.

Vitimados pelas contingências da falta de oportunidade de acesso à habilitação,

esses profissionais encaram um fardo maior quando estão em trabalho com os

demais colegas. A oportunidade de se desvencilhar desse estigma é logo

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apresentada pelo autor. No primeiro registro, ele revela sua apreciação pelo novo, a

dimensão dada ao conhecimento sobre o qual recentemente refletiu e a surpresa

corn a forma como se apresentou o conteúdo para ele. Prosseguindo ainda na

mesma Área Temática de Linguagem e Códigos, destaco :

M-José- F2

Propiciar climas de reflexão na sala de aula não era um procedimento normal para o

professor. A atividade proposta possibilitou ao professor analisar, refletir e, se

necessário, modificar a sua prática.

A educadora Sandra Azzi comenta a respeito desse processo de interação que os

professores estabelecem com os alunos a partir da própria prática pedagógica, como

sendo o saber que o professor constrói no cotidiano do seu trabalho e que

fundamenta a sua ação docente, ou seja, é o saber que possibilita ao professor

interagir com seus alunos (1999, p. 43).

Em outra Área Temática, Matemática e Lógica, o Cursista assim se manifesta com

relação à apropriação de novos conhecimentos, relacionando-os com a prática

docente:

M-José- F3

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A postura até então desenvolvida pelo professor, denominada de sistema, está

agora sendo investigada. Pelo que se observa, vinha associado ao sistema adotado

o paradigma do fracasso escolar, atribuído aos alunos, como tendo por motivos

alguma doença, pobreza. Essa concepção subjaz às palavras colocadas pelo

professor, quando ele apresenta como resgate a uma prática opressora à convicção

de que o fracasso estava mais nele (no professor), que ao refletir e ao dar-se conta

disso, aposta no sucesso dos alunos, ao expressar que estes, ao serem sadios, com

certeza irão aprender.

Os avanços do Cursista são expressivos, bem como visíveis as formas de

investimento em um trabalho diferenciado. Quanto aos indicadores que denotem

terem os estudos contribuído para a sua profissionalização, fortalecimento da

identidade e autonomia, encontra-se no Memorial a seguinte expressão:

M-José- F4

M-José- F5

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A constatação do aluno acerca da parcela de saber construída no decorrer do Curso

lhe conferiu certa autonomia e determinada postura que tem relação estrita com a

elevação da auto-estima do professor, associada à segurança proporcionada pela

aquisição de novas metodologias que se tornaram expressivas na escola. Outro fator

importante que também será aqui transcrito é a evidência, novamente, do processo

reflexivo por parte do aluno, quando se reporta à família, fazendo a relação entre

teoria e a prática, isto é, sobre as suas atitudes. É uma instância visível em que se

dá a aprendizagem-reflexiva e um novo olhar para o pai, agora reconstruído a partir

dos conhecimentos sobre cultura discutidos nos Guias de Estudo:

M- José-F6

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A seguir, destaco um trecho de uma entrevista com o mesmo aluno, que considero

importante porque evidencia a forma como ele reflete os conhecimentos aprendidos

nos Guias de Estudo. Na redação do Cursista é possível perceber a reflexão acerca

da profissão e da re-construção do conceito do que é ser bom professor.

E- José- F1

Essa forma de expressar-se incluindo sempre a reflexão sobre sua vivência pessoal,

demonstra as contribuições do Programa para a Formação do Professor com

relação a questões importantes, como as interações sociais na construção do

conhecimento, o lugar do saber na formação de uma concepção de vida e de

cidadania.

No fragmento 2 da entrevista, aflora uma mudança de postura do professor frente ao

meio ambiente. Ao analisar o seu trabalho de garimpeiro, atribuindo-lhe juízo de

valor, o Cursista estabelece um paralelo entre a ação impensada do garimpeiro e do

professor. Neste fragmento é possível visualizar o nível de reflexão que o aluno

desenvolve, cujo resultado o leva a uma tomada de decisão, a qual considero como

a construção da consciência ecológica pelo Cursista.

E- José- F2

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O Professor Cursista reflete a sua prática também fora da escola e depois, como

professor, aborda questões da ética profissional, na postura frente ao meio

ambiente, na consciência de saber em que consistia o seu erro, à luz dos estudos

realizados. A construção da autonomia e da identidade profissional não se dá

descolada do contexto social. Conforme PIMENTA:

Uma identidade profissionai se constrói, pois, a partir da significação social da profissão, da revisão constante dos significados sociais da profissão; da revisão das tradições.(...) Constrói-se também pelo significado que cada professor, enquanto ator e autor, confere a atividade docente no seu cotidiano a partir de seus valores; de seu modo de situar-se no mundo, de sua história de vida, de suas representações, de seus saberes, de suas angústias e anseios, do sentido que tem em sua vida o ser professor (1999, P-19).

0 sentido das ações e das reflexões apontam a natureza do ato reflexivo,

novamente observado no esforço da construção textual acerca de como os

conhecimentos e discussões do Curso interferem e contribuem na

reconceptualização de uma nova prática docente, é um dos procedimentos

constantes nos Memoriais.

2.2. O segundo instrumento

MEMORIAL da Cursista- Sônia

O Memorial que passaremos a analisar é de uma professora Cursista, de 52 anos,

que estudou até a quinta série do Ensino Fundamental. Ausente dos estudos por 30

anos, Sônia é professora da rede municipal como contratada a seis anos. O que o

seu Memorial apresenta, que o distingue dos demais, é uma reflexão da aluna

acerca dos conteúdos estudados estabelecendo uma relação com a sua vida

profissionai, além de manter, com o Memorial, um vínculo afetivo ao dirigir-se a ele

como um ouvinte passivo de suas experiências. Ao referir-se à sua aprendizagem, a

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aluna toma consciência da importância dos conteúdos, analisando-os e adequando-

os ao contexto em que está inserida.

M. Sônia- F1

Prosseguindo com a sua reflexão no Memorial, Sônia, ao mesmo tempo em que fala

da necessidade de uma alimentação ponderada, faz uma avaliação da viabilidade de

se conciliar o proposto e a realidade da trabalhadora de dois turnos para subsidiar

as despesas da casa e a seguir realiza a sua crítica, sempre no movimento de

interlocução com o seu Memorial:

M- Sônia- F2

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Reflexão, razão, senso crítico e responsabilidade com os conteúdos trabalhados são

posturas evidenciadas neste fragmento do Memorial de Sônia.Sua aprendizagem,

que é resultado de suas reflexões, apresenta-se cada vez mais organizada e

evidenciada por uma clareza inquestionável de que os conteúdos estão desafiando a

aluna a investir em novas práticas. Na medida em que analisa, reflete sobre a sua

concepção de avaliação antes e depois dos estudos no Curso. A respeito da

avaliação, novamente a Cursista estabelece a relação teoria-prática ao abordar o

conteúdo estudado.

M- Sônia- F3

No Memorial de Sônia está visivelmente posta a contradição que discutimos no

capítulo 3.1, da Parte I, com referência à prova! O conteúdo dos Guias sugere

atividades diversificadas para a avaliação, sem efeito traumático, no entanto a aluna,

no Curso, vive a dicotomia. No mesmo parágrafo, ela se refere à sua tensão ao ter

que se submeter a uma prova no curso de Formação de Professores. A contradição

entre o proposto nos estudos e a prova instituída no Curso é visível no Memorial da

aluna. Essa visão reducionista da prova concebe a ação avaliativa como um

Procedimento que se resume a um momento definido do processo educativo,

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ocorrido a intervalos estabelecidos e exigidos burocraticamente (HOFFMANN: 1991,

p.30).

O que chama a atenção e instiga a nós professores para uma análise mais

detalhada dos fragmentos é a reflexão e a crítica da aluna sobre a política dos

gestores para com os destinos da educação. Na simplicidade de uma professora que

nâo concluiu o Ensino Fundamental, os registros refletem uma vontade enorme de

vencer na vida e na profissão, o que evidencia o compromisso com o curso de

formação que realiza.

As reflexões da aluna, caracterizadas por uma interlocução íntima com o seu

Memorial, expressam muito claramente a forma como ela vem incorporando os

conceitos de profissionalização e de cidadania, como indissociáveis do trabalho

escolar, a ver pelo fragmento que transcrevo:

M- Sônia- F4

O que considero interessante para nós, enquanto educadores com um certo grau de

conhecimento já adquirido, incorporado e discutido ao longo da carreira, é o

processo de reflexão sobre a ação que a Cursista registra, o qual nos submete

também a uma reflexão. Segundo ALARCÃO, só se pode dizer que alguém ensinou,

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se efetivamente alguém tiver aprendido. Só nesse caso é lícito falar em mediação do

saber (1998, p.27). A relação entre o ensinar e o aprender, que a aluna estabelece

nas últimas perguntas do fragmento acima, evidencia que ela passa a deslocar o

eixo do fracasso escolar, antes centrado no aluno, para o professor.

No entanto, somente o deslocamento do eixo significa substituir os pólos aos quais é

atribuído o fracasso. Ter a clareza de que é necessário analisar o insucesso sobre

outra ótica, é importante, mas torna-se inócuo o procedimento se não vier

acompanhado da reflexão sobre os motivos que levaram a tais resultados. A reflexão

é preponderante para que haja a ressignificação da prática.

Na leitura do Memorial, por diversas vezes me surpreendi numa busca, na memória,

sobre em que momento tive clareza acerca das reflexões que a aluna leiga

desencadeia sobre a prática docente. Conforme FAZENDA, a memória retida,

quando ativada, relembra fatos, histórias particulares, épocas (...) Isso fortalece a

busca de sua identidade pessoal, profissional, sua atitude primeira (1998, p.14). Ao

relembrar onde e quando me apropriei desses conceitos, revivi a minha formação e

concluí o quanto esta, por um bom período de tempo, foi destituída da crítica e da

reflexão.

Os registros que Sônia Cursista expressa no seu Memorial parece submeter a nós,

profissionais leitores, a uma osmose, evidenciada pelo movimento das duas

reflexões de densidades diferenciadas: a do Professor Cursista que reflete a sua

aprendizagem e a do professor leitor que é provocado a uma reflexão histórica de

sua prática, a partir da leitura dos Memoriais. Esse momento proporciona a fruição

das reflexões, das lembranças e das análises, as quais se interagindo, possibilitam a

reconstrução de conceitos.

No fragmento seguinte, Sônia evidencia a busca de um trabalho que extrapole os

muros da escola, buscando na comunidade pontos de apoio para o trabalho

Pedagógico.

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M- Sônia- F5

No decorrer deste Memorial, a tomada de consciência de Sônia é percebida quando

se desprende do conteúdo escrito e se propõe a relacioná-lo com a sua visão de

mundo, com o seu contexto, deixando visível que o processo de apropriação dos

conceitos e conteúdos se dá de forma reflexiva e dialógica:

M-Sônia- F6

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Tais revoltas citadas pela aluna têm estrita relação com a vida que levam e com as

condições que enfrentam para o exercício da profissão, a ver pelo que ela expressa

a seguir e pelo que tenho acompanhado junto aos Leigos. A Cursista reflete e

reconhece a existência de segregação social no exercício da sua profissão. Na tese

há ilustração das "escolas" de muitos Leigos, as quais visitei e que estão a confirmar

os registros da aluna:

M- Sônia- F7

A relação estabelecida pelo Cursista entre o conhecimento construído a partir dos

Guias de Estudo e a sua profissão atinge a aluna de forma intensa, como a todos

nós educadores. Será que a formação docente, a habilitação o retirará dessa

condição? Com certeza não é a titulação que restabelecerá as condições estruturais

de trabalho, mas sim o compromisso dos políticos, dos gestores com a educação.

Quando formados, os professores se submeterão a essas condições de trabalho?

Embaixo de lona preta num clima de 30 a 40 graus? Estive nessas "escolas" e não

suportei, tratava-se de uma agressão à saúde, ao profissional e sobretudo às

crianças. Visitar os locais onde os professores trabalham permite relacionar o que

escrevem à realidade em que vivem. Conforme ZABALZA:

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(...) se utilizarmos o diário (documentos pessoais) como fonte de dados para investigar o andamento real das aulas dos professores que o realizam (o diário como documento descritivo, como fonte de informação verídica), então interessar-nos-á muito assegurar a fidelidade dos dados que o diário oferece (que o professor não altere a realidade, ao contrário, ao contá-la), precisando de, como cuidado metodológico, contrastar tais dados com outros obtidos por meio da observação direta da realidade narrada (1994, P.98).

AIguns locais que visitei, as escolas não têm paredes e a cobertura é de palhas com

espaços que passa a chuva; o que dizer dessas condições? Até quando os gestores

destinarão este tratamento às escolas rurais? E o descaso com os professores?

Qual tem sido o respeito ao direito da criança? Segundo a aluna, está muito claro

que depende do compromisso dos gestores o empreendimento em ações que

propiciem melhor estrutura às escolas rurais.

Seria essa luta um atributo somente dos Professores Leigos? Qual é, na realidade, o

peso político dessa categoria que reivindica melhores condições de trabalho e

salário em dia?

A legislação educacional, no que tange à profissão docente, trata de dispositivos que

visam o fortalecimento da autonomia profissional, da identidade profissional e da

valorização do professor. Sônia registra estes estudos em seu Memorial, trazendo à

tona a realidade vivida pelos Professores Leigos no interior dos municípios.

M-Sônia- F8

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Na fase Presencial visitei, a convite das Cursistas, o alojamento onde estavam

hospedadas. Em conversa à noite, após o jantar no dormitório, Sônia falava-me que

os Professores Leigos deveriam engajar-se numa luta política por melhores

condições de trabalho, mas o temor gerado pela possibilidade de perder o emprego

os enfraqueceu. No entanto, no coletivo, surgiu a idéia de somarem-se aos outros

professores na luta por melhores condições de trabalho como uma alternativa

possível e isso logo aconteceu. Pela primeira vez na história da luta sindical desse

município os Leigos se aliaram aos professores efetivos, sentindo-se incluídos nessa

categoria, integrando-se aos grevistas e realizando vigília na frente da prefeitura.

Quando o prefeito os viu junto ao movimento fez represálias, ameaçando-os quanto

à continuidade do Curso. Neste momento os Cursistas e o Coordenador da AGF me

ligaram solicitando que eu intercedesse por eles e eu o fiz, conversando com o

prefeito por telefone, o qual estava intransigente. Ligamos para Brasília e obtivemos

um atendimento rápido, afinal o PROFORMAÇÃO não poderia se constituir em

barganha de greve. Terminada a ameaça, o Coordenador acalmou os cursistas e o

movimento dos Leigos junto aos demais continuou. Segundo eles foi um dia

histórico, memorável, que simbolizou o momento da inclusão dos Leigos na luta de

classe.

O que é feito de Sônia? Sônia formou-se e pelo fato de ter realizado campanha

contra a permanência do prefeito e sendo ele re-eleito, despediu-a. Ao saber disso,

fiquei perplexa: as contribuições que um curso propiciava ao aluno para a

construção do pensamento crítico e posicionamento político implicava, naquele

momento, em ônus para a Cursista que o colocou em prática.

Indignação e impotência foram sentimentos que se apossaram de mim no momento

da notícia. As duras penas Sônia sentiu o resultado do investimento em posturas

construídas ao longo do Curso.

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2.3. O terceiro instrumento

Entrevista da Cursista Diana

O instrumento aqui analisado consiste na entrevista de uma professora de 30 anos

de idade, afastada dos estudos há dez anos aproximadamente, que tem o primeiro

grau completo e 11 anos de magistério. A entrevista de Diana traz dados também

interessantes, não de cunho político, mas reveladores enquanto sinalização da

construção de novos conceitos capazes de resgatar junto aos alunos, outras formas

menos traumáticas de avaliar e de desenvolver a prática pedagógica. É uma

Cursista que teve a oportunidade de lecionar aos mesmos alunos da segunda série,

na quarta série, obtendo uma condição ímpar: a de reparar seus erros junto aos

mesmos alunos.

Quando em visita à sala de Diana, esta assim se manifestou:

E- Diana- F1

A Cursista, a partir da reflexão da ação e com o aporte teórico possibilitado pelos

conteúdos dos Guias de Estudo e das discussões das Reuniões Quinzenais, avança

significativamente na sua análise e na redimensão de sua postura quando inicia sua

reflexão "sobre" e "a partir" do erro. Segundo SHÕN, aprender a partir do erro é um

fator estimulante ao empreendimento em práticas inovadoras (1997, p.86).

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NO entanto, a reflexão de Diana no seu Memorial continua quando ela percebe o

erro e investe na recuperação do aluno como uma forma de resgate e de superação

de uma prática discriminadora e alienante. No fragmento seguinte, veremos como

Diana abriu espaços para a construção da identidade e da autonomia do seu aluno a

partir da reflexão dos conteúdos que reorientou sua prática. A entrevista não relata

esse episódio da eleição, foi em nossa visita à escola da professora, em seu local de

trabalho, conversando com ela e com os alunos, especialmente o aluno a que a

professora se referiu, que constatei o fato.

E, constatando in loco a prática pedagógica de Diana, colhi a entrevista, visitei

alunos, conversei com familiares. Destaco abaixo o texto em que ela revela a sua

postura com os alunos:

E- Diana- F2

A partir da conscientização do papel do professor com alunos que exigem uma

educação diferenciada, a Cursista investe na redimensão da sua prática. Conforme

PERRENOUD:

A diferenciação é pensada como uma micro-orientação, com a diferença de que não se trata de dividir os alunos entre formações hierarquizadas, que cristalizam e ampliam as diferenças, mas entre grupos ou dispositivos que supostamente trabalham para assegurar a igualdade dos níveis de

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aquisição, pela diversificação dos procedimentos e dos atendimentos (2000, p. 41).

A importância do registro se dá pelo fato de se poder captar, a partir do Cursista, o

seu exercício de refletir sobre a ação da forma como ele trabalhou com os seus

conflitos, incertezas, investidas e de como foi obtendo sucesso nessas tentativas, a

ponto de se configurarem como propostas definidoras de suas ações. Convicta de

suas posições e, portanto, com determinada clareza, a aluna assim se revelou:

E-Diana- F 4

A Cursista demonstra ter interagido com as informações recebidas, num diálogo

profundo consigo mesma. Essa interação permitiu que ela assimilasse e

acomodasse essas informações, projetando-as para um outro patamar em que

foram refletidas, tendo como objeto a prática pedagógica que abriu espaço para

novas aprendizagens.

2.4. O quarto instrumento

MEMORIAL da Cursista Nina

O próximo documento analisado é um Memorial da aluna Nina. Trata-se de uma

Cursista com 24 anos de idade, com Ensino Fundamental completo, experiência em

magistério de 4 anos em sala multisseriada, sendo que estava afastada dos estudos

Por 8 anos, quando entrou no PROFORMAÇÃO.

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A característica principal desse documento é a forma como a professora assimila os

conteúdos e os relaciona com a prática docente. O seu Memorial é uma alternância

desses movimentos conforme refletem os fragmentos:

M- Nina- F1

A aluna relata a importância que têm tido os conteúdos aprendidos para a

construção de uma nova postura, fruto da conscientização e da reflexão de como

era antes a sua prática pedagógica e da evolução que vai apresentando no decorrer

do Programa. Nina revela em seus registros a causa de sua mudança, o que permite

avaliar que ela não se deu no vazio. A implantação de uma nova postura só é

possível a partir de uma compreensão clara dos conteúdos e dos encaminhamentos

requeridos que estão intimamente ligados à autonomia profissional.

M- Nina- F2

M-Nina-F3

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O que a Cursista expressa como avanços, atribuindo-os a um acompanhamento do

Tutor às suas dificuldades, é ao mesmo tempo, uma denúncia da falta de uma

política de assistências ao Professores Leigos pelos municípios. Devido ao difícil

acesso às suas escolas, ficam eles marginalizados, sem orientações e informações,

realizando um trabalho muito mais baseado em modelos e presos a um livro. Na

zona rural o descompromisso de alguns municípios toma dimensões maiores. Isso

se dá porque o Leigo é submisso, devido à falta de conhecimento da legislação,

inclusive no que se refere aos seus direitos profissionais; essa realidade aliada à sua

baixa auto-estima, gera um quadro de inanição profissional: ele não se atualiza e por

conseguinte, não faz exigências e não cobra investimentos.

Outro fato que não o leva a uma atitude mais incisiva é a clareza de que a sua

situação é de contratado, ou melhor, interino, o que o sujeita ao personalismo dos

gestores, fazendo com que o Leigo seja aquele professor que traz poucas

preocupações, salvo quando houver a intervenção da comunidade, o que não é

comum.

A metodologia do Curso, ao instituir o acompanhamento sistemático do Tutor e os

Encontros Quinzenais, permitiu aos Cursistas investir, na prática, as sugestões dos

Guias de Estudos. O apoio do Tutor e a socialização das experiências nos encontros

dos sábados têm incentivado os Leigos em seu processo de construção da

autonomia docente, o que de certa forma representa o início de uma caminhada

para requererem seus direitos profissionais.

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Prosseguindo na análise do Memorial de Nina, verifica-se que o próximo fragmento

aponta de forma muito simples, porém fundamental, a apropriação pela aluna dos

conteúdos dos Guias de Estudo e suas implicações na prática escolar:

M - Nina - F4

Nina apresenta sinais de determinação ao pretender desmistificar certos tabus e

crenças construídos ao longo de sua vida. A partir dos estudos dos Guias, a aluna

demonstra não só ter compreendido os conteúdos como revelado a sua intenção em

adotá-los de forma muito positiva. Segundo BARTH:

O saber não existe sem o real, o interessante é perceberão mesmo tempo o aspecto abstrato e o aspecto concreto através de um processo de comparação dos dois.(-) o saber não é um objeto fixo, é relativo e varia segundo as circunstâncias e o olhar que lhe dirigimos (1993, p.63-64).

Nina estava exatamente realizando esse movimento entre o abstrato e o concreto,

refletindo sobre seu conhecimento anterior e o presente utilizando comparações e

exemplificações. O valor da utilização dos documentos pessoais na esfera

profissional, como registro das formas pelas quais o Professor Cursista se apropria

do conhecimento e o reconstrói a partir de suas reflexões e análises, serve como um

forte indicador da redimensão da prática pedagógica do observado. Dessa forma,

pode-se imputar aos Memoriais um expressivo valor para os pesquisadores na área

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de Formação do Professor, especificamente quanto aos estudos das teorias que são

subsidiárias ao conhecimento profissional.

Associar ao cotidiano do professor os estudos de teorias que subsidiem a sua

prática é fundamental para que as reconstruam a partir das reflexões de como eram

praticadas as suas ações e de como poderiam ser diferentes a partir dos

conhecimentos adquiridos.

As propostas contidas nos Guias de Estudo orientam o Cursista sobre as

possibilidades de reorganizar os espaços de aprendizagem dos alunos. As

mudanças na organização espacial supõe nova concepção pedagógica e a opção

por um novo modo de trabalhar a prática. Conforme ZABALZA:

A forma como organizamos e administramos o espaço físico de nossa sala de aula, constitui, por si só, uma mensagem curricular, reflete o nosso modelo educativo (...) além disso, diz muito em relação ao tipo de comportamento instrutivo e transmite o que esperamos de nossos alunos (1998, p.249).

M-Nina-F5

Os cantinhos aos quais a aluna se refere são sugestões contidas nos Guias de

Estudo, que incentivam a criação de espaços que auxiliem as crianças na

compreensão dos conteúdos, trabalhados nas séries iniciais, a fim de favorecer a

aquisição de aprendizagens significativas. Dessa forma os Cursistas têm em suas

salas o cantinho da matemática, o cantinho da leitura, o cantinho de Vida e

Natureza, dentre outros e todos com materiais trazidos pelas crianças, inclusive o

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cantinho dos remédios caseiros, das plantas medicinais, com pesquisa, sobre a

utilização desses pela comunidade, e assim por diante.

A Cursista Nina evidenciou a utilização dos cantinhos para a organização do seu

espaço de trabalho, o que se constituiu em interessante relato que constatei, de

forma muito detalhada, em seu Memorial e nos demais registros dos seus colegas.

Nina continua a chamar a atenção com respeito às análises que procede sobre os

conteúdos das áreas do conhecimento, que passarei a descrever a seguir.

Em Linguagens e Códigos, Nina reflete sobre as suas dificuldades no que se refere

à assimilação dos conteúdos ao longo da sua formação, mostrando-se empenhada

em propiciar aos seus alunos condições para que posteriormente não enfrentem

este tipo de obstáculo.

M - Nina - F6

Podemos observar as conclusões que a aluna realiza a partir das reflexões sobre o

significado dos novos conhecimentos como reveladores de situações de dificuldades

Que o Cursista enfrenta. Conforme AZZI:

Ao defrontar com os problemas de sala de aula, que são bastante complexos,(o professor) lança mão dos conhecimentos que possui, de uma

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maneira original e,muitas vezes criativa, elaborando sua própria forma de intervenção na sala de aula. Mas esse processo de elaboração do professor é ainda empírico, faltando-lhe uma organização intencional do saber que constrói (1999, p.44).

Na área de Vida e Natureza, o registro da aluna é relevante ao referir-se às

condições do atendimento aos alunos portadores de necessidades educacionais

especiais auditiva:

M - Nina - F7

A situação colocada pela aluna, ao mesmo tempo em que evidencia a sua falta de

conhecimento e de condições para trabalhar com o aluno portador de deficiência

auditiva, denuncia a falta de estrutura dos municípios para destinarem uma atenção

ao professor do interior que possui em sua sala alunos com necessidades

educacionais especiais. Na medida em que o governo propõe a integração dos

mesmos em salas regulares, há que se avaliar as capacitações oferecidas aos

docentes para que estes se apropriem dos saberes específicos que são exigidos

para a docência com esses alunos. A formação do professor constitui-se em um

fator fundamental para a inclusão desses alunos em salas regulares. Segundo a

LDB 9394/96, no artigo 59:

Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos para atender suas necessidades; (...) bem como professores do

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ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns.

Para o docente habilitado trabalhar com alunos portador de necessidades especiais

consiste em uma preocupação devido às condições de acolhimento e

relacionamento que deve propiciar na sala de aula. O que dizer de um Professor

Leigo, lecionando para alunos com necessidades educacionais especiais? O que

fazer quando o aluno reside em locais desprovidos de professores preparados para

trabalhar com casos especiais? A quem cabe a responsabilidade pelo caso?

A garantia dos direitos constitucionais desses alunos tem sido apregoada em toda a

sociedade, mas tem se constituído em um grande desafio para o sistema

educacional. Segundo RIBEIRO:

O processo de integração em suas dimensões fundamentais é muito mais amplo do que simplesmente garantir o convívio de pessoas portadoras de deficiências e normais num mesmo espaço e tempo. Supõe comunicação e participação social legitimadas pelo grupo. (...) Supõe a remoção de barreiras desde arquitetônicas até psicológicas e administrativas, estruturais e organizacionais. (...) Supõe o querer conhecer o outro e reconhecer que se pode enriquecer convivendo com aquele que é diferente. (...) Supõe vontade política (1991, p.127).

Nina admite ter dificuldades e não saber como explicar o problema para os colegas

do aluno. Para ela, estudar esse assunto nos Guias de Estudo foi fundamental para

entender a doença e diminuir a discriminação junto aos colegas, uma vez que agora

ela podia falar sobre o problema. No entanto o Curso não oferece subsídios

suficientes para o atendimento adequado e o aprofundamento teórico na área de

educação especial.

Como se pode observar, o Memorial traz à tona as dificuldades e as situações pelas

quais passam alunos e professores no sistema público de ensino, ocasionados pela

implantação de medidas sem o suporte necessário para que estas se efetivem com

um mínimo de responsabilidade. A seguir Nina aborda as áreas de Identidade,

Sociedade e Cultura e Fundamentos da Educação, apreciando a forma como os

conteúdos são construídos nos Guias de Estudo; faz as seguintes reflexões:

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M- Nina-F8

O fato a que a aluna se refere é a abordagem histórica, antropológica e

interdisciplinar contida no desenvolvimento dos conteúdos dos Guias. Os indícios da

tentativa de um trabalho globalizado se tornam visíveis quando Nina inicia o seu

relato da seguinte forma ao trabalhar com as áreas de Matemática e Lógica, Língua

Portuguesa e Vida e Natureza:

M-Nina- F9

O que Nina estava a desenvolver em sua prática pedagógica era justamente a

quebra de barreiras entre as disciplinas, ao se propor a trabalhar com uma postura

que se efetiva por meio de uma prática emancipadora, sem a hierarquização das

disciplinas e dos saberes.

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2.5. O quinto instrumento

MEMORIAL- Rui

Propositalmente selecionei o Memorial de um Professor Cursista de uma localidade

corn o maior índice de reprovação e evasão no Programa6. Com uma população de

migrantes de todos os estados do Brasil, o município teve um crescimento

vertiginoso. Segundo dados fornecidos pelo Prefeito, em seis anos a população, que

era de 9 mil habitantes, passou para aproximadamente 20 mil habitantes.

Se, de um lado, este fato apresenta-se como promissor para o desenvolvimento da

cidade, de outro representa a precariedade dos serviços sociais e de infra-estrutura.

Este município, segundo informações dos moradores, foi o que mais teve

assentamentos do INCRA nos últimos anos, o que gerou a vinda de famílias

carentes para Mato Grosso em busca de moradia e terra para a sobrevivência. Os

migrantes em sua grande maioria são pessoas de um poder aquisitivo muito baixo.

Os problemas que o município enfrenta com salas de aula são imensos. As escolas

na zona urbana são ínfimas, motivo pelo qual a prefeitura aluga igrejas, salões e

divide grandes salas. Na zona rural as improvisações de escolas são freqüentes, até

que se construam em número suficiente para o contingente de alunos. Dados

fornecidos pelo Censo 2000 revelaram que em Mato Grosso esse município consta

entre os mais carentes, justamente pela inesperada expansão populacional.

É interessante ressaltar essas informações, porque foi nesse município que se deu o

maior número de Professores Leigos com dificuldades de aprovação e de evasão no

Curso. Dificuldades estas que se apresentavam pelas distâncias que os alunos

enfrentavam ao percorrer a pé, subindo serra, atravessando matas e rios, e também

na falta dos conhecimentos prévios necessários à compreensão dos conteúdos. A

escolaridade que possuíam foi conquistada de forma descontinuada, interrompida

Para preservar o anonimato do Cursista não identificarei o município. No entanto será revelado para a Banca Examinadora

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constantemente pela busca de melhores condições de vida que se dava em viagens

e mudanças para outros lugares à procura de trabalho.

Os Tutores do município fizeram um esforço enorme para acompanhar os alunos e

trabalharam até onde lhes foi possível, convivendo com a falta de carro, com

plantões diários na Secretaria de Educação e com a dificuldade de acesso aos

Cursistas do interior, onde ainda não se havia aberto estradas. É levando em conta

esse contexto que analisaremos o registro que se segue.

O Memorial de Rui traz para o leitor uma outra forma de ver o Curso. Sendo a

expressão oral e escrita uma peculiaridade individual, procurei, ao selecionar os

Memoriais, formas diferenciadas de registro. Rui apresenta as suas emoções, as

suas preocupações com o Curso, podendo observar no seu relato a viagem que faz

no tempo ao comparar o ensino atual com o que cursou. Seu documento pessoal

permite observar que ele realiza um processo de reflexão que não foge aos até

então analisados; entretanto, apresenta uma outra forma de registrar a sua trajetória.

Rui tem 36 anos, com experiência de 5 anos de docência em sala multisseriada,

possui o Ensino Fundamental incompleto e está afastado dos estudos há 10 anos.

M-Rui- F1

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O professor expressa a sua satisfação ao entrar no Programa ao mesmo tempo em

que comenta a repercussão dos primeiros dias das aulas da Fase Presencial em seu

municipio. É interessante observar que a esperança do aluno em continuar os

estudos já é observada na primeira semana. Ele ainda não sabe os resultados do

Curso, aceita a posição de "cobaia" e se pergunta se tudo vai continuar. O sentido

da pergunta foi realmente este, uma vez que eu estava lá no município no primeiro

encontro quinzenal e pude conversar com o professor e lermos juntos o seu

Memorial. A seguir, reproduzirei o que o professor comenta:

M - Rui - F2

Rui explicita em seu registro a sua dificuldade em administrar o tempo para os

estudos. Casado e pai de familia, o professor planta em sua pequena área e é dela

que colhe os frutos para o sustento da família. Morando no interior e sem energia,

ele aproveita quando clareia o dia na serra, às 4 horas da manhã, para ir à roça,

trabalha até às 7 horas, quando retorna, se alimenta e vai para a escola. À tarde, Rui

realiza outras atividades e senta-se para estudar, uma vez que no local onde mora, o

sol se põe às 17 horas, quando então só há o lampião ou velas para que ele possa

prosseguir os estudos individuais. O Memorial do professor tem um dado que me

chamou a atenção: estava manchado de querosene que havia derramado da

luminária, e isso provocava o odor do combustível.

O documento teve para mim um valor redobrado, porque continha, impregnado em

suas folhas, a batalha e as dificuldades do aluno para se manter no Curso, as quais

só vim a saber pelo interesse em ler o seu Memorial. O quadro que se revelava no

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nosso encontro era de um lado eu, na função de Assessora do MEC/FUNDESCOLA

valorizando o trabalho do Leigo e de outro a desconfiança do professor,

desacreditando no que via, pois considerava impossível que alguém pudesse

apreciar o seu trabalho. O olhar do Leigo Rui era um misto de admiração com receio,

uma vez que ele não poderia prever o que aconteceria após a leitura do seu

Memorial, naquelas condições, pela visitante.

A sua alternativa, que eu respeitei, uma vez que todos estavam me oferecendo os

Memoriais para ler, foi a de sentar-se comigo à noite e ler, explicando em cada parte

do seu Memorial o que ele queria dizer com aqueles registros. Lucrei muito com isto,

pois não só li com o Rui o Memorial, como partilhei de sua vida nas leituras que iam

muito além do texto.

Segundo ele, o incidente com o combustível ocorreu no abastecimento do lampião, à

noite, em meio ao sono e aos estudos. Daí eu ter me expressado na Parte II da tese

que os Memoriais, para mim, eram mais que simples registros, continham a vida dos

alunos, os seus sentimentos, os seus esforços e as suas dificuldades. Pude

observar o quanto está impregnada nos professores a conotação depreciativa do

termo Leigo, a ponto de lhes impedir acreditar que alguém possa avaliar a sua

prática com alguns indícios de sucesso.

Acreditamos que a expressão de BARTH reflete um pouco do que presenciamos

com Rui, quando a autora assim explicita:

O saber é afectivo. Toda a nossa sensibilidade funciona como uma grelha que pode recusar ou alterar a informação transmitida pelos sentidos. Existe igualmente a situação inversa: se percebermos o nosso saber pessoal como não sendo valorizado no meio onde se encontra, em vez de a ele nos agarrarmos, podemos ser levados a pensar que não tem valor e que também nós próprios não temos valor (1993, p.85).

Rui, em meio a toda essa adaptação, é capaz de avaliar os pequenos avanços na

sua trajetória. Ao trabalhar de uma forma em que os conteúdos vão se inter-

relacionando aos outros, Rui dá indícios de uma prática interdisciplinar, que se

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caracteriza como uma postura que ele vai assumindo gradativamente. De acordo

com FAZENDA:

O ensino interdisciplinar nasce da proposição de novos objetivos, de novos métodos, de uma nova pedagogia cuja tônica primeira é a supressão do monólogo e a instauração de uma prática dialógica. Para tanto se faz necessário a eliminação das barreiras entre as disciplinas e entre as pessoas que pretendem desenvolvê-las (1991, p. 33).

O pensamento interdisciplinar de Rui vai sendo observado, ainda que de forma muito

frágil, como se observa nos próximos fragmentos.

M - Rui - F3

O professor evidencia seus avanços na prática pedagógica e ao mesmo tempo

reflete sobre as condições de ensino a que era submetido ao compará-las com as

atuais:

M - Rui - F4

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Em vários episódios, em seu Memorial, Rui utiliza-se da memória para estabelecer a

sua reflexão sobre a prática docente. Yinger, ao referir-se às características dos

registros pessoais (diários, Memoriais, biografias, etc), comenta:

De algum modo, o acto de escrever obriga aquele que escreve a expressar em símbolos um conhecimento e recordação que, originariamente, tinham sido representados e conservados na memória e medida de um modo diferente (Apud ZABALZA: 1994, p. 93).

Após discorrer sobre os conteúdos das Áreas Temáticas, novamente Rui apresenta

momentos em que reflete sobre o ontem e o hoje, ao realizar o seu relato associado

às suas reflexões.

M - Rui - F5

O comentário de Rui parte do conteúdo estudado, acerca dos direitos do cidadão,

passando ao relato em que se reporta a sua vida de estudante. O material do Curso

demonstra estar propiciando o movimento de análise retrospectiva dos alunos frente

à realidade vigente. Os Guias de Estudo estão interagindo com os professores nos

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seus estudos individuais, uma vez que, nas Reuniões Quinzenais, as discussões são

fervorosas a respeito das discrepâncias entre a realidade e as leis. Esses encontros

têm permitido aos professores a construção do conhecimento que parte do individual

ao coletivo, possibilitando ao Cursista posicionar-se assumindo uma postura em

favor da cidadania dos seus alunos.

M - Rui - F6

O que se pode observar nas reflexões do Cursista é que está muito presente o

compromisso e a responsabilidade que ele chama para si, como maiores e mais

profundas depois de formado, isto é, habilitado. Isto se dá porque Rui sente que a

titulação o fará mais comprometido com as causas da educação. É a identidade

profissional que está sendo construída a partir dos conteúdos e das reuniões

coletivas que o Curso propicia. Discutir os Memoriais nas Reuniões Quinzenais com

os colegas permite socializar opiniões, estilos e formas de expressão, dificuldades e

avanços, possibilitando também o fortalecimento da consciência coletiva do

professor.

Os Memoriais como instrumentos reflexivos desencadeiam a reflexão do professor

nâo só sobre si, mas também sobre os demais envolvidos no entorno educacional

onde estão inseridos. Neste tipo de registro, podemos conhecer ainda como a

reflexão sobre a aprendizagem leva o aluno-professor à reflexão sobre a prática e

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como suas vivências, como alunos e como professor estão presentes nessa reflexão

(DARSIE&CARVALHO: 1996, p. 98).

2.6. Ainda algumas falas...

Ao encerrar a análise dos instrumentos, cujo critério foi o de que eles

contemplassem no seu corpo textual as condições de explorar as categorias

propostas, há ainda muitos aspectos a serem observados e que fazem parte dos

registros dos alunos em Memoriais e entrevistas que não correspondiam ao requisito

proposto. No entanto, julguei pertinente registrá-los pela importância dos dados que

eles revelam.

Assim sendo, criei este espaço onde colocarei alguns fragmentos dos instrumentos,

sem a minha análise, permitindo ao leitor, dessa forma, apropriar-se de mais

informações sobre os Leigos e proceder a sua interpretação acerca dos registros

lançados, a fim de que participe comigo de mais um momento de relevância da vida

pessoal, da vida profissional e da realidade vivida pelo Professores Leigos.

As dificuldades...

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A determinação...

Isabel- secretária de escola, professora, diretora, acumulando 10 anos de experiência, afastada dos estudos há 16 anos, têm 33 anos, estudou até a 6a série do Ensino Fundamental e foi eleita vereadora nas últimas eleições).

Da reflexão para a crítica...

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O momento da descoberta...

A exposição dos Cursistas neste capítulo evidencia a autonomia conquistada a

partir da apropriação dos conhecimentos apreendidos no decorrer do Curso, o que

lhes permitiu re-elaborar conceitos do senso comum até então tidos como

verdadeiros para o saber elaborado, elevando-lhes a auto-estima, promovendo a

cidadania, a identidade política, a postura como cidadãos na sociedade onde atuam

e principalmente, o fortalecimento da identidade profissional.

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CAPÍTULO 3

A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES EM EXERCÍCIO

A formação de professores nos últimos anos têm consistido em relevantes

preocupações por parte de todos os segmentos ligados à educação. A questão

passa pela precariedade da formação dos docentes, a qual se reflete nos índices de

evasão e retenção das crianças, principalmente nos anos iniciais do Ensino

Fundamental. Isto quer dizer, que a preocupação com a formação está centrada

naqueles que estão em exercício no magistério público estadual e municipal.

Portanto, não se trata de oferecer uma proposta de formação desvinculada do

contexto, o qual consiste em um fator primordial na formação dos professores em

exercício. A partir desse pressuposto, a necessidade de políticas que possibilitem a

formação inicial e continuada em serviço têm conduzido estados e prefeituras a

estudos de alternativas com a finalidade de formar seus professores. A formação de

professores em exercício deverá permitir que os professores teorizem as suas

práticas e pratiquem a teoria num movimento de aprender a aprender, uma vez que,

conforme CACHAPUZ:

Há saberes que não podem ser ensinados na formação inicial, já que só podem ser construídos pelos professores. Por isso mesmo parece importante que a nível da investigação, se conheça melhor em que contextos e circunstâncias os professores se apropriam do conhecimento e do modo como ele influencia o seu ensino, ou seja, iluminar a questão da contextualização e recontextualização do conhecimento (1997, p.230).

O que se pode depreender é que a prática é um elemento fundamental para se

discutir os saberes profissionais, mas por si só, não se constitui em saber

profissional. É a reflexão da prática e na prática que viabiliza a reconstrução de

saberes pedagógicos.

Os cursos de formação de professores devem pautar-se em currículos que

Permitam ao professor a apropriação dos conhecimentos básicos, avaliar e refletir

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sobre as suas contribuições. A reflexão é um requisito importantíssimo para a

formação dos professores, porque propicia o repensar do fazer pedagógico.

Portanto, trata-se de recurso privilegiado para o tratamento dos conteúdos de todos os âmbitos do conhecimento profissional. Trata-se de uma atividade intelectual que se aprende pelo próprio exercício, em situações de reflexões sobre a atuação profissional nas suas diferentes dimensões (Referenciais para a formação de professores, 1999, p.126).

A reflexão permite estabelecer uma referência entre os saberes da prática e os

saberes da profissão, uma vez que os professores chegam aos programas de

formação com as idéias das práticas que executam, as quais, via de regra,

constituem-se em modelos copiados de outros mestres. Então, o universo da prática

desses professores, principalmente dos Leigos, têm sido o que adotam.

Os professores em exercício, ao experienciarem outras alternativas de trabalho

propostas por novas metodologias e, ao aprenderem os conteúdos, iniciam novas

formas de ensinar, isto é, continuam aprendendo a como ensinar os seus alunos,

bem como continuam aprendendo com as matérias que ensinam. Ensinar e

aprender consiste, portanto, em uma ação permanente na vida profissional dos

professores. Observe-se no entanto, que o teor e a profundidade das reflexões da

prática pedagógica têm estrita relação com o conhecimento que os professores

possuem, e podem contribuir para uma melhor compreensão e investigação acerca

do que ocorre na sala de aula.

Tal constatação leva a concluir que o investimento na formação dos professores em

exercício, seja na sua habilitação e/ou na sua formação contínua, eleva os níveis de

qualidade da prática pelo estabelecimento de melhores condições de análise e de

relações, as quais possibilitam aos professores perceber as contradições nela

existentes. Dessa forma, os conhecimentos contribuem, decisivamente, para a

reflexão da ação. No entanto, serão ainda mais esclarecedores, se proporcionarem

aos professores em exercício as condições necessárias ao entendimento de como

°s saberes foram construídos historicamente, como são utilizados pelos

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profissionais, e quais as relações existentes entre as diferentes formas de saberes e

as suas implicações na prática pedagógica.

Aprender, então, envolve a relação e a construção de significados e a valorização

das experiências que reconstruirão a prática dos professores, mas mantém estreito

vínculo com a atividade que desenvolvem. É importante dar atenção às vidas dos

professores. A teoria fornece-nos indicadores e grelhas de leitura, mas o que o

adulto retém como saber de referência está ligado a sua experiência e a sua

identidade (NÓVOA 1997, p.25).

Em vista disso, ao mesmo tempo em que o professor já exerce uma profissão,

necessita de uma formação que lhe dê amplitude e profundidade. Então, formar

professores em exercício deve ter uma característica de habilitação profissional e de

formação continuada, uma vez que a formação desses professores é entendida

como um processo permanente de aprendizagens profissionais, a fim de que

possam se apropriar das condições necessárias para uma interpretação do que

acontece na sala de aula.

A formação em serviço deve garantir, portanto, solidez e profundidade na aprendizagem profissional de os professores, de tal modo que a titulação represente, sobretudo, um ganho para o professor em termos de compreensão e atuação profissional(...) A formação continuada é uma necessidade intrínseca aos professores, pois é responsável por promover atualizações, aprofundar temáticas educacionais e apoiar-se em uma reflexão sobre (e durante) a ação docente (Referencias para a formação de professores: 1999, p.70).

Dessa forma, não basta somente propor políticas aligeiradas para a formação de

Professores Leigos, pois estas resultam em uma habilitação de emergência.

Portanto, o que dará sustentação a esses cursos será, sem sombra de dúvidas, a

instituição de processos de reflexão permanente para os professores em exercício,

principalmente para os Leigos recentemente formados. A formação continuada

manterá o ciclo de discussões instituídas nos cursos de Formação Inicial, pouco

aprofundadas pela restrição do tempo determinado às áreas e disciplinas

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pedagógicas, e contribuirá, decisivamente, trazendo novos significados aos

conteúdos apreendidos, uma vez que o processo de reflexão será permanente.

Resta saber se os gestores possibilitarão a formação continuada aos professores

recentemente titulados em exercício, uma vez que a habilitação em nível médio,

obrigatória por lei, se constituiu em uma série de problemas tanto para os Cursistas,

quanto para a Coordenação Nacional do PROFORMAÇÃO. No entanto, não se pode

generalizar, pois há ainda, a grande maioria compromissada que deverá investir na

formação continuada para os seus professores. Só a implementação de políticas de

formação continuada darão outro sentido à prática dos professores e validarão os

conhecimentos obtidos nos cursos de Formação Inicial.

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3.1. As contribuições do Piloto para a expansão do PROFORMAÇÃO

A partir dos resultados do Piloto, e principalmente pelas dificuldades que este

sinalizava, a Coordenação Nacional do PROFORMAÇÃO foi construindo

instrumentos, fortalecendo a metodologia do Programa, melhorando os

instrumentos de avaliação, implementando as capacitações e criando materiais de

apoio até se chegar ao desenho final do PROFORMAÇÃO.

O mérito do Piloto é indiscutível no que se refere às contribuições para a

construção da proposta, principalmente pelas condições em que o Programa se

iniciou. Conforme Evanildes Bordalho, coordenadora do Programa na SEDUC:

Nós demos conta de fazer acontecer, porque todos decidiram coletivamente (...). Então acho que foi uma linha de trabalho que deu sustentação ao que havia sido planejado (...) quando tomávamos uma decisão, ajudava Brasília a traçar também a traçar o caminho. E aí tínhamos uma parceria muito grande nesse sentido, porque eles não nos viram como alguém que estava executando, mas alguém que estava pensando junto com eles, ajudando a traçar os caminhos para que outros estados pudessem seguir (Entrevista:2001,em anexo, p.250).

Nesse sentido, Mato Grosso pôde contribuir de maneira significativa, em muitos

aspectos, principalmente no indicativo da necessidade de se criarem mecanismos

para orientar melhor o Tutor em suas atividades, fortalecendo sua autonomia

intelectual e segurança no desempenho da função.

Ainda outras contribuições que se pode enumerar como sinalizadas pelo Piloto,

foram o repensar do período para aplicação das provas, antes semestrais para

bimestrais; as sugestões de como desenvolver a pesquisa com os Leigos; a

dinâmica dos projetos de trabalho integrando-os à comunidade; a necessidade de

criar as reuniões mensais para orientar e subsidiar as ações dos Tutores ao longo

do curso; o auxílio na pré-testagem e a sinalização na construção dos Guias de

Estudo de forma a se tornarem adequados e acessíveis aos Cursistas; a

necessidade de se instituir a seleção para Tutores e determinados requisitos

fundamentais ao desempenho da função; a criação e a adoção de um modelo de

histórico escolar e de diploma específicos para o Programa PROFORMAÇÃO, têm

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auxiliado aos outros estados; a grande contribuição na reestruturação das questões

das provas e dos Cadernos de Verificação; a constatação da necessidade de

determinados prazos para que o material chegasse as AGFs, redimensionando o

cronograma de quem os produz e reproduz. Todas estas contribuições e outras aqui

não referenciadas, auxiliaram para que o Programa, durante o processo fosse se

estruturando e tivesse condições de criar mecanismos e suportes para se lançar em

nível nacional, conforme a proporção que tomou na sua implementação

representada no mapa que segue.

Total de cursistas: 27.372

Figura 9: Expansão do PROFORMAÇÃO

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Em resposta à correspondência eletrônica enviada para a Coordenadora Nacional

de implementação do PROFORMAÇÃO, Profª. Drª. Alvana Bof, esta confirmou a

projeção do Programa em nível internacional ao informar que no ano de 2000 a CNP

recebeu a visita de representantes de vários países interessados no Programa. Em

setembro, técnicos de Cabo Verde vieram conhecer a proposta, em novembro o

Timor Leste participou de um curso sobre a modalidade de Ensino a Distância para

ver a aplicabilidade do Programa naquele País. Ainda em novembro, a CNP recebeu

representantes do Peru que além de conhecer os aspectos conceituais e

operacionais do PROFORMAÇÃO, visitaram algumas Agências Formadoras.

No ano de 2001, o PROFORMAÇÃO foi projetado na mídia internacional durante a

Conferência Mundial da ICDE (Internacional Council for Open and Distance

Education Düsseldoford), na Alemanha. Segundo a Coordenadora Alvana, essa é a

maior organização de instituições educacionais, na área de Educação a Distância,

com mais de 140 países representados. A apresentação do Brasil com a Profª. Drª.

Alvana Bof e o Consultor Michael Moore chamou-se Brazil's PROFORMAÇÃO;

Project: a case study of an integrated virtual sistem for delivering in-service teacher

education.

A CNP recebeu o convite para participar do X Encuentro Internacional de Educación

a Distancia, em Guadalajara, no México, neste ano. No momento atual, a CNP, além

de seu trabalho no Brasil, está se preparando para lançar um Programa no Timor

Leste, com base no PROFORMAÇÃO.

Como se pode observar, o Programa de Formação de Professores em Exercício

está se projetando muito rapidamente nos países onde a demanda de Leigos é

expressiva, e tal fato só se tornou possível a partir da experiência Piloto de Mato

Grosso e de Mato Grosso do Sul devido à imprescindível parceria dos municípios, ao

desafio dos CEFAPROs/SEDUC/MT, ao intenso trabalho da CNP e, antes de tudo, a

quem desenhou a proposta, que segundo a professora Mindé: foi um projeto de

muitas mãos.

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RECONSTRUINDO NOSSA APRENDIZAGEM

A minha resposta à ofensa à educação é a luta política consciente, crítica e organizada contra os ofensores (...) a questão que se coloca, obviamente, não é parar de lutar mas, reconhecendo-se que a luta é uma categoria histórica, reinventar a forma também histórica de lutar.

Paulo Freire

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Com a minha aposentadoria, o distanciamento da universidade não se constituiu em

um afastamento da academia, uma vez que continuei mantendo o diálogo e o

convívio junto aos professores. Esse envolvimento incitava-me a continuar os

estudos, pois me sentia ainda incluída nas discussões, e precisava manter-me

atualizada, inclusive, para acompanhar os professores.

Outro ponto relevante para essa decisão é o de que a aposentadoria para mim não

significou a parada histórica do trabalho e tampouco das buscas e das

investigações. Consiste em um direito do profissional, que não obrigatoriamente

significa a ruptura com o trabalho.

Embora o período do Doutorado tenha-se constituído em afastamento dos familiares,

uma vez que o trabalho realizado exigia viagens constantes e o retorno ao lar

significava o tempo necessário para a produção da tese, desenvolver a pesquisa

junto ao trabalho permitiu-me investigar com maior freqüência, sentir-me mais

próxima da situação, do contexto, das dificuldades e avanços vividos pelas pessoas

e das instituições envolvidas. O fato de estudar enquanto trabalhava, aproximava-me

muito da situação sentida pelos Professores Leigos. A partir dessa aproximação era

possível entendê-los nas suas dificuldades, principalmente quanto à organização do

tempo.

Ao longo desses dois anos e meio em que participei do Programa, o reconstruir da

prática não se deu só com relação aos Professores Leigos, pois consistiu em uma

experiência em que reavaliei posturas, redimensionei conceitos e construí novos

conhecimentos e aprendizagens. Esse processo permitiu que eu pudesse referir-me

aos Leigos com um outro olhar, subsidiado por novos referenciais.

Retomando algumas indagações levantadas no trabalho, observo a necessidade de

se refletir principalmente sobre o índice de Professores Leigos apontado pelo INEP

(1996), abordado nos Referenciais para a Formação de Professores do

MEC/SEF/1999, o qual revela que há, no Brasil, desenvolvendo a função docente na

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Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental, 154.438 Professores

Leigos, com o Ensino Fundamental completo e incompleto. Se somarmos a esta

estimativa os 25.734 professores atuando com outra formação, teremos uma

demanda de 180.172 Leigos em exercício. Embora tenha havido um decréscimo nos

índices de 1991 para 1996, a preocupação com o contingente de Leigos continua

emergencial nas políticas de Formação de Professores nos estados e municípios.

De acordo com o censo de 1997, das 154.633 escolas de 1a a 4a séries do Ensino

Fundamental existentes no País, 122.691 estão situadas na zona rural. Daí

questionar-se sobre a falta de políticas consistentes para a Formação de

Professores Leigos evidenciada por um contingente projetado em aproximadamente

90.000 desses professores atuando nas séries iniciais nas regiões Centro-Oeste,

Norte e Nordeste.

O descaso com a zona rural não é isento do caráter ideológico e tem-se manifestado

no sentido de fixar o homem no campo desconsiderando, muitas vezes, os seus

anseios e sonhos, pretendendo, dessa forma, evitar o êxodo rural. Para atingir este

intento, uma formação carente dos professores tem contribuído para a falta de

condições de análise e de crítica por parte dos futuros trabalhadores rurais, as quais

se efetivam a partir da escola. Manter os pequenos produtores no campo evitaria

problemas sociais para as metrópoles, além de garantir a subsistência de setores

secundários e terciários nas cidades. A violência simbólica está presente na zona

rural e conta com a contribuição dos professores na suposta neutralidade da prática

educacional.

Infelizmente, as duras penas, constatei a discriminação e as condições desumanas

de trabalho a que são submetidos os Professores Leigos no exercício de sua

profissão. A precariedade das escolas, os atrasos salariais, a falta de uma Formação

Inicial e Continuada aos Leigos constituem-se em estratégia dos gestores para a

manutenção do quadro de submissão desses docentes. A partir deste fato retomo as

indagações apresentadas no primeiro capítulo, na Parte I, quando a pesquisadora

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Geni Lima, em 1990, assim comentava em sua Dissertação de Mestrado sobre a

Identification des Conditions de réussite d'un systeme de formation à distance des

enseignants "Leigos"du pantanal au Brésil:

A situação dos Leigos no sistema educativo do pantanal parece extremamente complexa, em razão principalmente do conflito entre os interesses do governo que deseja aumentar a qualidade do ensino de base pela via da formação dos Leigos e a das autoridades locais que parecem, ao contrário, prontos a manter ou aumentar seu poder do controle que exercem sobre os Leigos (1990, p. 124).

Ao constatar que esse quadro permanece por mais de uma década, preocupo-me

com as artimanhas políticas dos gestores mesmo com a vigência da Lei 9424/96,

sobre a exigência de que em cinco anos os estados e municípios tenham, no Ensino

Fundamental, professores habilitados em nível médio, podendo os municípios, para

cumprir esta meta, utilizar as verbas do FUNDEF.

Tal preocupação se reveste de verdade ao vermos que, em julho de 1999 entrava no

PROFORMAÇÃO a parcela que faltava para se absorver o contingente de Leigos

sem habilitação no Estado; assim sendo, a demanda de Professores Leigos do

estado de Mato Grosso estaria em 2000/2001 habilitada em nível médio. No entanto,

após as eleições de 2000, os novos prefeitos solicitaram a abertura de novas

turmas, indicando haver ainda professores sem habilitação nos seus municípios e

levantando uma estimativa de aproximadamente 500 professores para 2002.

Observe-se que o pedido não é exclusivo de Mato Grosso, é mais expressivo nas

regiões Norte e Nordeste.

Estando a proposta de continuidade sob análise pela CNP, poder-se-ia questionar

se a demanda de Leigos estaria sendo mantida enquanto as prefeituras pudessem

utilizar as verbas do FUNDEF para esse fim. Ou ainda, se essa demanda existente

teria sua procedência devido à demissão dos professores formados, contratando-se

novamente Leigos pela mão-de-obra mais barata e/ou por apadrinhamentos políticos

em ano eleitoral. Tanto em um quanto no outro caso, ocorre visivelmente o óbvio: a

demanda de Leigos beneficia os gestores descompromissados.

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Tal fato leva-me novamente a retomar as indagações do início do trabalho e a

constatar que o Programa absorveu a demanda existente em dois anos e meio,

conforme sua meta de trabalho no Mato Grosso, habilitando os professores em

tempo hábil ao cumprimento do prazo da Lei. No entanto, no período inicial da

pesquisa, não tínhamos visualizado os problemas com determinados políticos cujas

ações poderiam estar construindo anualmente novas demandas.

Há que se afirmar, no entanto, que existe uma fração desse contingente que é

legítima, representada pela necessidade de habilitar os professores que trabalham

na Educação Infantil. O PROFORMAÇÃO poderia absorver a demanda, mas teria

que haver reformulação e/ou adaptação na sua Matriz Curricular, no tempo de oferta

do Programa, etc... e ao que me parece, o Programa não foi criado com esta

finalidade e não há indicativos de revisão para os pontos questionados.

O PROFORMAÇÃO é um programa de Educação a Distância destinado à formação

de professores em exercício nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Na sua

proposta estão desenhados como instrumentos de apoio a essa metodologia, os

vídeos, o material instrucional, Guias de Estudo e informativos, Reuniões Quinzenais

e a tutoria, dentre outros.

Praticamente, o Piloto concluiu o Curso com apenas um kit de vídeo, referente ao

módulo 2, pois o restante não chegou em tempo de ser executado pela primeira

turma no Mato Grosso. No entanto, ao utilizá-lo, os Cursistas procederam a uma

avaliação positiva, valorizando o seu conteúdo pela possibilidade de rever as

questões já estudadas e discutindo-as mais claramente com o auxílio das reflexões

que proporcionou. Questionaram sobre a importância desse material ser

contemplado concomitante ao estudo do módulo para o aprofundamento dos

conteúdos das Áreas Temáticas.

Em breve análise, pode-se dizer que, na falta dos vídeos, de uma programação

interativa e do uso de tecnologias no PROFORMAÇÃO, ele comparou-se, na sua

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estratégia de execução, aos programas anteriormente desenvolvidos no Mato

Grosso, a ver pelo INAJÁ, que previa etapas intensivas e intermediárias, estudos

individuais, a presença de um monitor e a Coordenadoria da assessoria pedagógica

dos municípios; e o GerAção, com as etapas presenciais e semi-presenciais,

material para estudos, monitoria, pesquisa e caderno de campo. Os dois programas

tiveram alunos aprovados em nível superior, inclusive um na Unicamp/SP.

No entanto, é de se questionar porque o nível de evasão do PROFORMAÇÃO foi

menor que o nível dos demais cursos no Mato Grosso, mesmo sem o uso da

tecnologia e de vídeos? E ainda, porque habilitou um número maior de professores,

embora a demanda existisse em número maior nos programas anteriores?

O que o tornou um Programa de aprovação, de apreensão dos conteúdos e de

redimensão da prática dos professores, visivelmente percebida pelos Tutores,

coordenadores e secretarias municipais?

É preciso, contudo, esclarecer que não se pode afirmar que houve uma mudança

acentuada e igualitária por todos os Cursistas; o que de fato se evidenciou foi a

mudança do pensamento e da prática em todos eles, ressaltando-se os níveis em

que se efetivaram tais mudanças, sendo estes com maior ou menor intensidade.

Respondendo as questões, pode-se dizer que houve fatores primordiais que levaram

o Programa a esse nível de contribuição para uma formação de qualidade dos

professores em exercício da rede pública no Mato Grosso. A associação de

elementos constitutivos do Programa, de tal forma articulando Guias Curriculares,

Memorial, tutoria, Reuniões Quinzenais e instrumentos de avaliação foram pontos

fundamentais pelo que se segue:

• A estratégia em se instituir Agências Formadoras em pólos no Estado, de

forma a atender todos os municípios, foi primordial para que em uma única

turma se pudesse matricular toda a demanda de Leigos do Mato Grosso.

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• O material instrucional elaborado com uma clareza de linguagem, de dados,

de orientações sobre como o Programa se desenvolvia, possibilitou ao

Cursista inteirar-se da proposta, bem como se situar sobre as experiências do

Curso, da Matriz Curricular, da avaliação, das exigências e das competências

desenvolvidas em cada módulo.

• Os Guias de Estudo, que considero um dos principais responsáveis pela

apreensão e construção do conhecimento pelos Cursistas, ao meu ver,

superaram as expectativas até de quem os redigiu. Essa afirmação

fundamenta-se na fala dos Leigos, ao dizerem que os Guias pareciam

conversar com eles nos estudos individuais. Depreende-se então, que o

material escrito pôde estabelecer essa interlocução, devido a sua construção,

que além de oferecer uma linguagem clara, adequada e acessível ao

entendimento dos Cursistas, contou com ótima apresentação e ilustração.

Outra questão também importante foi a forma como os conteúdos se

apresentavam nos Guias, obedecendo a uma proposta em que o resgate à

cultura, à história dos conteúdos e das disciplinas se fazia presente. O

Cursista Junior expressa a contribuição dessa preocupação dos escritores, a

ver pelo que segue:

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Ainda nos Guias de Estudos, na parte final, há a contribuição advinda das

orientações para os alunos construírem os Memoriais e para investirem em

experiências na sala de aula, a partir dos conteúdos estudados. Na realidade, esta

parte final consiste em um chamamento aos Cursitas para que invistam em

atividades diferenciadas ao trabalharem os conteúdos na sala de aula.

O trabalho do Tutor previsto no PROFORMAÇÃO supera a monitoria dos demais

programas já desenvolvidos no Estado. No Programa, a tutoria é muito presente, ela

se constitui em uma atenção sistematizada nos encontros quinzenais e nas visitas

mensais à sala de aula do Cursista, possibilitando-o sentir-se amparado e assistido,

pois o fator segurança é um forte componente para que continue no Curso. O papel

do Tutor, definido como aquele que orienta, assiste, incentiva e contribui para a

aprendizagem do aluno, foi percebido pelos Cursistas da forma como registrou

Marisa:

• As Reuniões Quinzenais, não previstas nos outros cursos de formação do

Estado e presentes no PROFORMAÇÃO, fortaleceram a auto-estima,

enriqueceram o trabalho dos Cursistas, possibilitaram a auto-afirmação, a

interação, a troca de experiências, e se constituíram em espaços de

revitalização dos ânimos para prosseguirem os estudos frente às dificuldades

enfrentadas pelos Cursistas, conforme elenquei no decorrer do trabalho.

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Nessas reuniões, os Cursistas socializaram e tiraram as dúvidas, expuseram

os sucessos e compartilharam com os demais colegas as suas iniciativas.

Instituir as Reuniões Quinzenais de forma obrigatória no Curso foi fundamental, uma

vez que uma das críticas ao programa do NEAD/MT (de Ensino Superior) tem se

referido à freqüência do encontro com o Tutor, o qual acontece conforme a

necessidade do Cursista e, assim sendo, ora por falta de transporte, ora por

comodismo, o aluno não se desloca até o município para o encontro, acontecendo o

acúmulo de dúvidas e o desânimo na continuidade do Curso.

O que se pode concluir é que as Reuniões Quinzenais desenhadas no Programa,

foram essenciais para a permanência dos alunos no Curso, por se constituírem em

espaços de incentivo. A respeito das reuniões, Joana assim se expressa:

• Os Memoriais colocados no Curso com a intencionalidade de que se

revertesse em uma função diagnóstica, que possibilitasse aos responsáveis

acompanhar o desenvolvimento do Cursista no Programa, constituíram-se em

reflexão permanente e interdisciplinar do aluno, e alguns apontaram

aprendizagens e construções além do que se estimava. Os textos

apresentaram a conquista gradativa da autonomia intelectual e da construção

da identidade profissional do professor, bem como da rediscussão e

formulação dos conceitos de cidadania, respeito, ecologia, democracia,

discriminação, segregação e outros.

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O Programa previa a recuperação do aluno no processo de ensino-aprendizagem,

assim sendo, sentia-se muito presente a cobrança do Programa às AGFs, no sentido

de uma vigilância permanente aos Cursistas com aproveitamento insuficiente, para

que se realizasse um trabalho de recuperação junto ao Tutor. Nesse momento

retomo as palavras da professora Mindé Menezes (2000), em entrevista para este

trabalho, quando dizia que o PROFORMAÇÃO tem tudo para ser um programa de

aprovação, pois quando o aluno cai, tem sempre um mecanismo pronto para puxá-lo

para cima.

Embora o Piloto tenha realizado esse procedimento de vigilância, ainda apresentou

um índice de 8% de evasão. Talvez esse resultado pudesse apresentar um índice

menor se houvesse um suporte pedagógico para a recuperação, para o trabalho das

quinzenais e para as atividades da AGF e do Tutor. Acredito que se iniciasse a

experiência hoje, com todo o material construído, e os vídeos prontos, os resultados

seriam animadores. Resta aguardar as avaliações das regiões Norte e Nordeste,

onde o nível de expectativa da CNP deva ser maior, justamente pelas condições em

que o Programa iniciou e está se desenvolvendo nestes locais, isto é, com o material

já construído e com equipes de suporte, treinamento e monitoramento da CNP já

constituídas.

Ressalte-se entretanto, que o fator de permanência do Cursista no Programa não se

deve estritamente à metodologia e ao apoio pedagógico desenvolvidos. A estrutura

criada pelo PROFORMAÇÃO, atribuindo competências aos sistemas municipais,

estadual e nacional contribuíram significativamente. No que concerne aos

municípios, o subsídio financeiro para a locomoção, hospedagem e alimentação do

aluno nas atividades do Curso foi fundamental, assim como o não cumprimento de

tais atribuições contribuiu para alguns casos de evasão.

O PROFORMAÇÃO aparece no cenário nacional como um Programa emergencial,

corn a finalidade de resolver os problemas dos municípios a curto prazo, seguindo o

perfil do Banco Mundial. A partir dessa e de outras afirmativas corn respeito às

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políticas educacionais dessa instituição investi em leituras que faziam essa

denúncia, tais como TORRES, WORDE, TOMMASI, VESPOOR, HADDAD,

MOREIRA, LUDKE entre outros. Pude constatar que o Piloto fugia à regra geral,

uma vez que foram mínimos tais procedimentos, o que acredito poder-se atribuir ao

fato de o Programa ter sido idealizado e desenhado inicialmente por educadores

brasileiros e complementado por consultores e especialistas contratados pelo Banco

Mundial. No entanto, a Coordenadora Alvana Bof comentou em entrevista anexa que

a contribuição do Consultor Michael Moore foi primordial no que se refere à

produção do material tendo como foco os objetivos do Programa.

Algumas outras questões ainda são relevantes com referência aos Professores sem

habilitação, o que me leva a indicar quatro pontos importantes para a reflexão. O

primeiro é o de se refletir sobre o destino dos Leigos, se não houvesse a exigência

da Lei 9424/96, o que por certo, seria a permanência no quadro de desvalorização,

discriminação e submissão por mais uma década.

O segundo refere-se ao que a Lei desencadeou, isto é, a busca dos prefeitos por

alternativas que viessem ao encontro da resolução dos seus problemas, originando

a cobrança mais intensiva para que o MEC atendesse as suas reivindicações.

O terceiro é o de que o Programa fez emergir a situação do Leigo em nível nacional,

uma vez que a realidade do Mato Grosso constitui-se parte integrante do mesmo

cenário que abrange o Norte e Nordeste.

O quarto ponto que a situação ressalta é a falta de uma política que garanta a

conclusão do Ensino Fundamental e Médio para os alunos da zona rural, os quais só

encontram como alternativa a ruptura na progressão dos estudos ou a busca de

continuidade na zona urbana.

Em se tratando da Formação do Professor com Habilitação Magistério em nível

médio, as políticas se tornam ainda mais carentes, o que se pode observar pela

dimensão das escolas rurais, as quais se constituem em aproximadamente 75% do

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montante da rede de Ensino Fundamental do País, com uma estimativa de 90.000

Leigos atuando nas séries iniciais.

A crise persiste, e investir em programas de formação de professores leigos ainda é

uma necessidade da educação nacional. Um quadro crítico como se apresentou no

censo de 1996, conforme já foi evidenciado neste trabalho, não vem de apenas uma

década, o que leva a crer que o descaso é histórico. Há que se ter um olhar mais

afincado para a educação rural, tanto para os alunos quanto para a Formação de

Professores, o que incide em criar mecanismos de cobrança mais ostensiva às

prefeituras, fato esse que deverá constituir-se em uma política macro na área

educacional do País.

O PROFORMAÇÃO resolve o problema da Formação de Professores, mas as

questões estruturais do Ensino Fundamental e da Formação de Professores

persistem no meio rural, onde a carência dos alunos é maior e a necessidade de

professores qualificados se torna premente.

No entanto, só formar também não resolve a questão da evasão e retenção, é

necessária a implementação dos programas de Formação Continuada também para

os professores da zona rural, a maioria na rede municipal, para que estes

profissionais continuem investindo na sua formação. Os CEFAPROs foram criados

com a finalidade de trabalhar com a formação inicial e continuada dos professores

da rede pública de ensino. Há que se ver mecanismos para viabilizar o acesso

desses professores aos programas dessa natureza, pelas prefeituras.

Os Centros de Formação e Atualização do Professor tiveram, no PROFORMAÇÃO,

um grande aliado para construir a sua identidade e o seu referencial como centros

de formação contínua dos professores no Estado e em nível nacional. Esse

entendimento parte do trabalho realizado pelos CEFAPROs, com 72 municípios,

Prefeituras e secretarias municipais de educação, MEC/FUNDESCOLA e SEDUC

durante dois anos e meio de Programa, envolvendo 1172 formandos.

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201

Quando se questiona acerca dos destinos dos Centros após o PROFORMAÇÃO,

torna-se mister esclarecer que os Centros consistiam em uma política de formação

inicial e continuada da SEDUC antes do PROFORMAÇÃO. Portanto, os Centros,

seguiram o seu trabalho na área para a qual foram criados: formação de professores

da rede pública, e o tem feito ainda com as atividades do PROFORMAÇÃO, com os

programas Parâmetros em Ação, EJA, PROFA, GESTAR, capacitação dos diretores

das escolas públicas de MT, Programa Arara Azul, que se destina à

profissionalização dos servidores administrativos da rede pública do Estado, dentre

outros programas e projetos de formação.

Em se tratando da formação dos formadores, pode-se observar que os cursos em

nível superior não têm incluído nos seus currículos, temas que abordem a formação

do professor Leigo em exercício, tampouco pesquisas in loco para averiguar as

condições em que se efetiva a docência, bem como a precariedade de material e

assistência pedagógica e a ausência de uma política de atendimento dos municípios

a esses profissionais. Atualmente, frente às exigências da lei 9294/96, poder-se-ia

dizer que é uma preocupação infrutífera, uma vez que se findou o prazo para os

municípios formarem os seus Leigos. No entanto, em recente pesquisa realizada

pela UNESCO em julho de 2001, entre os 18 países avaliados, o Brasil foi o

"campeão" em Professores Leigos.

Há então, a necessidade de se rever a questão de formação dos Leigos no Brasil e

de se instituir tais discussões nos cursos de formação de formadores, a fim de que

não se incorra no risco de a universidade estar formando Leigos (no

desconhecimento da realidade educacional rural). Se a universidade não instituir no

currículo esse tema, que seja então de responsabilidade daqueles que lidam com a

educação. A não inclusão dessa discussão nos currículos é uma questão ideológica

corn a qual não se pode compactuar.

Concluir que o PROFORMAÇÃO é um Programa de sucesso me parece prematuro,

Porque ainda não temos pesquisas que evidenciem isso. Dizer que o aluno investiu

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e continuará investindo em novas práticas, também é uma atitude ingênua, pois o

Cursista estava submetido a um processo de avaliação para obter a sua aprovação,

e, não se pode olvidar que existe a intencionalidade em realizar as atividades

conforme a proposta do Programa, uma vez que a sua habilitação está em jogo.

Acredito que se terá uma avaliação fidedigna do impacto do PROFORMAÇÃO na

prática dos Professores Leigos se uma pesquisa revelar que, mesmo depois de

formados, os investimentos em novas posturas se efetivam e os comportamentos

observados durante a vigência da Proposta perduram, sem a supervisão do Tutor e

das AGFs.

A Coordenação Nacional do PROFORMAÇÃO contratou especialistas para a

avaliação externa do Programa, que iniciou seus trabalhos com as turmas que

entraram nas regiões Norte e Nordeste, por amostragem. A comissão de avaliação,

inicialmente conta com a Profª. Drª. Marli André e com a Profª. Drª. Bernadete Gatti,

profissionais de reconhecida competência na área.

Partindo da sedução que os Memoriais representaram para mim nessa trajetória, ao

concluir este trabalho, me aproprio do instrumento Memorial para registrar as minhas

emoções na trajetória do PROFORMAÇÃO, uma vez que, segundo JACOBSON, os

diários (Memoriais) expressam:

(...) uma reflexão sobre si próprio, sobre o narrador (uns fazem-na considerando o eu como actor e, por conseguinte, como protagonista dos fatos descritos,, e fazem-na enquanto pessoa e, por conseguinte capazes de sentir, e de expor emoções, desejos, intenções, etc.) Ê o que eu denomino de componente expressiva dos diários (apud ZABALZA: 1994, p.96).

MEMORIAL- Simone

Reconstruí nesta trajetória o sentido do olhar coletivo, antes entendido como o olhar

de todos, inquestionavelmente dirigido para uma causa, e agora vivenciado como o

olhar de cada um, que só encontra sentido na causa quando os seus anseios e

sonhos estão nela contemplados.

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Observei de forma muito clara como a criatividade, a tomada de decisões e as

lideranças se evidenciam na crise. A respeito desse momento pode-se dizer que

fomos acometidos da "coragem criativa" que, segundo MAY (1975), exigia

intensidade de emoção, a descoberta de novas fórmulas, novos símbolos, novos

padrões, cuja intensidade é proporcional ao grau de mudança requerido {apud

MORAES: 1975, p.165).

Testemunhei a legitimação de líderes, de coordenadores, a construção de

estruturas para darem sustentação aos programas um suporte necessário para

sobreviver na instabilidade, nas indefinições dos desenhos e das competências, bem

como o início da gestão coletiva nos CEFAPROs. Observei, junto aos demais, a

CNP construir alguns referenciais significativos para a metodologia do Programa

contribuindo para a implementação nas regiões Norte e Nordeste, a partir dos

procedimentos criados pelo Piloto.

Acompanhei toda a trajetória de implementação e estruturação dos Centros de

Formação e Atualização do Professor, que teve como principal aliado o

PROFORMAÇÃO, uma vez que cobrava do Estado as condições para desenvolver a

proposta e subsidiava as ações do Programa com o acordo firmado pelos

municípios.

Constatei a falta da história dos programas de formação de professores no acervo

da SEDUC/MT, ocasionando a busca de dados em acervos particulares. Esse fato

levou-me a registrar a trajetória do CEFAPRO e do PROFORMAÇÃO de forma mais

detalhada e contribuir social e cientificamente com o registro de tais Programas para

que possa se incorporar subsidiar pesquisas futuras.

Redimensionei a partir dessa pesquisa a concepção de que um projeto para ser

colocado em prática deve ter todas as condições necessárias para a sua execução.

Concluí que esse pressuposto tem um caráter inibidor no investimento das propostas

e que as condições podem ser construídas no percurso. No entanto, há que se

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considerar o grau de desenvolvimento do projeto quando de sua implantação para

que o ônus atribuído aos parceiros envolvidos não se constitua em um trabalho

descomunal.

Retomando a idéia de trabalhar no meu Memorial os sentimentos, sensações e

emoções, percebi com uma certa angústia a ausência da experiência com os

Professores Leigos na minha vida profissional, no sentido de vivenciar in loco a sua

realidade até então desconhecida.

M-Simone- F1

Estava muito claro que para executar o meu trabalho, eu deveria passar por

determinadas dificuldades, caso contrário não chegaria aos locais por mim

desenhados, uma vez que sempre me foi dada a liberdade de decidir sobre os

trajetos necessários ao bom acompanhamento do Programa, o que significava dizer

que, onde estivesse o PROFORMAÇÃO, até lá eu deveria ir.

Na segunda fase veio a euforia com relação ao Programa, os sucessos que os

Leigos começavam a evidenciar pareciam compilar um álbum de emoções, a ponto

de se embargar a voz ao contar como os vi trabalharem nas primeiras semanas e

como estavam suas salas atualmente.

Essa fase, ao mesmo tempo em que atribuía a todos os responsáveis uma parcela

de co-responsabilidade pelo sucesso, instigou-me a querer ver e observar se o

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mesmo sucedia em outros pólos. Neste período o meu olhar era para as emoções,

as sensações, os sentimentos dos Leigos e suas histórias de dificuldades.

M-F2-Simone

A terceira fase que vivi foi permeada de indignação pelas condições a que eram

submetidos os Leigos, quando comecei a partilhar de suas realidades, ao presenciar

as condições em que o Programa se desenvolvia no Estado, na gestão de alguns

líderes municipais. Projeto na tela este momento, para que não só eu, mas também

o leitor sinta emoções ao ler o trecho da entrevista da Cursista Vitória (nome fictício),

Professora Leiga há 24 anos, com 52 anos.

Vitória aguarda a aposentadoria, mas seus comprovantes (holerites) a prefeitura

fornece somente há quatro anos. Sem dar-se conta do que ainda terá que enfrentar,

acalenta o sonho da aposentadoria após formar-se. Levando-se em conta a idade da

Cursista e os anos de contribuição aos interesses da prefeitura, o descaso ao

trabalho que realiza é algo descomunal. Transcrevo a seguir o trecho de sua

entrevista:

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Uma outra forma de indignação também foi observar as condições de trabalho dos

Leigos; à submissão ao personalismo por parte dos gestores em ano eleitoral, sob

pena de perderem seus contratos; à constatação da construção de uma postura

crítica pelos Professores Cursistas e às conseqüências de a terem exercido,

marcadas por demissões; ao descompromisso de alguns prefeitos em não

cumprirem o Acordo de Participação.

M-Simone-F3

A penúltima fase é a da impotência, ao me sentir engessada frente à realidade,

assistindo as estratégias utilizadas pelas prefeituras para manter o contingente de

Leigo sob controle, submissão e vigilância a fim de utilizar mão-de-obra barata na

educação no interior.

Os Cursistas trazem à tela de uma forma muito clara a questão política que inibe o

desenvolvimento da autonomia profissional, as lutas pelos direitos do professor e

pelo fortalecimento da identidade profissional. Portanto essa questão teve que ser

abordada pelo teor de envolvimento com a realidade partilhada pelos Leigos e pela

minha opção em não me calar frente ao que observei. A alternativa apresentada

pela pesquisadora no próximo fragmento parece ser um tímido indício de alternativa

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para se repensar a questão da Formação dos Leigos, no entanto poderá ter

repercussões profundas:

M-Simone-F4

Essa é a última fase, a da denúncia, mas também da esperança de que esse

quadro dos Professores Leigos que o PROFORMAÇÃO fez emergir do subsolo das

prefeituras possa gerar algumas inquietações nos administradores educacionais e

com isso provocar investimentos na área, substituindo as cores pardas do quadro

recentemente pintado no Mato Grosso por cores quentes, como se um processo de

vivificação dos Leigos estivesse sendo instaurado. Tal expectativa revela-se pela

implantação de uma política de assistência e apoio pedagógico, financeiro e político

aos Professores Leigos que ainda restam no Estado, uma vez que há o contingente

da Educação Infantil a habilitar-se. Mas até que esse sonho se torne realidade,

permito ainda sentir-me incluída entre aqueles que discutem a política de Formação

de Professores, o que significa dizer que a luta continua... e a produção tem que

dar conta de legitimar os interesses políticos da pesquisa.

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ANEXOS

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1 Guias de Estudo: Sugestões para a elaboração do Memorial

1.1 . Elaboração do Memorial Módulo 1 - Unidade 4

Depois de tudo o que estudou e produziu nesta quinzena, você deve ter observações interessantes e importantes para registrar no seu Memorial. Temos várias sugestões de perguntas para orientar suas reflexões e o registro delas em seu caderno. Você já sabe que não é necessário responder a todas as questões. Vale escolher uma ou mais, conforme seu interesse e sua experiência. Vale também registrar outra coisa bem diferente que tenha chamado sua atenção. Mas é necessário que você deixe claras as razões de sua escolha, mostrando o que o tema escolhido tem a ver com o seu trabalho e com a experiência no PROFORMAÇÃO. Vamos às sugestões:

- Lembre sua relação com a arte na infância. Você era incentivado pela família ou pela escola a criar e expressar-se artisticamente? Havia oportunidades de fruição da arte (você assistia a espetáculos de dança e teatro, ouvia música, ia ao cinema, lia ou ouvia histórias)? Que experiências mais o marcaram nesse campo? Se não teve essas oportunidades, explique por quê. Nesse caso, sente falta disso?

• Como a arte é tratada em sua escola? E nas suas aulas? Você procura levar a seus alunos várias formas de arte? Eles têm oportunidades freqüentes de criar? Como eles reagem a essas experiências? Você acha que as unidades estudadas até aqui em seu curso, nas várias áreas, têm ajudado sua prática pedagógica no tocante à expressão artística?

• Considerando o que dissemos sobre o trabalho do professor, registre em seu Memorial um parágrafo que amplie e reforce a seguinte afirmação:

Ser professor(a) é o meu trabalho, sim, senhor!

Depois de jogar com seus alunos os jogos sugeridos na área de Matemática e Lógica, registre essa experiência no Memorial. Conte o que aconteceu e o que você achou. Todos seus comentários são importantes.

Registre em seu Memorial suas observações sobre as perguntas que você costuma fazer a seus alunos. Elas estimulam a reflexão? Que perguntas você faz com a intenção de desafiar os alunos? E com a intenção de despertar a curiosidade deles? O que você faz quando os alunos não entendem suas perguntas?

Pense um pouco sobre as limitações e as dificuldades para a seleção de conteúdos escolares que você enfrentava até o início do PROFORMAÇÃO. Você selecionava apenas os conteúdos do livro didático? Utilizava algum critério para a seleção desses e de outros conteúdos? Levava em conta as três categorias de conteúdos: conceitos, procedimentos e atitudes? Considerando a realidade de sua escola, de sua comunidade, do seu município, do seu Estado, que iniciativas você pensa tomar para ampliar a seleção de conteúdos em sua escola?

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1.2 . Elaboração do Memorial Módulo 2 - Unidade 7

Esperamos que você tenha gostado de estudar esta Unidade, aprendido coisas interessantes e ampliado seus conhecimentos. Esperamos, também, que o tenhamos ajudado a compreender melhor os conteúdos das Áreas Temáticas, para que possa trabalhá-los de forma criativa e prazerosa com seus alunos. Veja as questões que lhe sugerimos para orientar a redação do Memorial. Como sempre, você pode utilizá-las ou, se preferir, guiar-se por outras.

• Procure refletir sobre suas atitudes em relação aos diferentes tipos de erro de seus alunos, comparando-as aos comportamentos adequados de um professor de Língua Portuguesa.

• Na área de Matemática e Lógica, procuramos desenvolver esta Unidade utilizando diversas situações do nosso cotidiano e acreditamos que você tenha encontrado várias outras formas de trabalhar com a congruência de figuras geométricas. Conte como foi isso, comentando as dificuldades que encontrou ao estudar esse assunto e como buscou superá-las. Relate também os comentários de seus alunos, se gostaram das atividades, se encontraram utilidade prática para esse conteúdo e se sentiram ter ampliado seus conhecimentos.

• Sugerimos que você registre o que mudou e o que permaneceu, até agora, no seu modo de viver e trabalhar. Na unidade 4 do Módulo 1 , você refletiu sobre o que se espera do seu trabalho como professor ou professora. Já se passaram alguns meses, você mudou; a sua vida mudou, você está estudando. Então perguntamos: "O que mudou na sua prática de sala de aula? O que permaneceu da mesma forma? O que este curso está mudando na sua vida e no seu trabalho?". Registre! Você faz a História!

• Como você viu nos conteúdos de Psicologia Social, desde pequenos nós participamos de diferentes grupos sociais e estabelecemos relações com diversas pessoas. As experiências dessas relações contribuem para a formação de nosso mundo interno ou de nosso "aparelho psíquico". Isso é mais forte na infância, mas continua ao longo de toda a vida. Relate como tem sido a experiência de participar de um grupo nas Reuniões Quinzenais com os colegas do PROFORMAÇÃO e o Tutor. Como as relações vividas no grupo têm contribuído para mudar seu jeito de relacionar-se com as outras pessoas, de ver o mundo e de ver você mesmo?

• Você já aprendeu que a subjetividade está presente em nossos pensamentos, idéias, crenças, relações, ou seja, em nosso modo de vida. Ao final da Unidade 7, você realizou uma atividade em que pôde observar a influência da subjetividade na comunicação de uma mensagem em grupo. O que conseguiu notar em seus alunos durante o exercício? Que traços de subjetividade apareceram ao final do exercício?

• À medida que fomos discutindo a identidade do professor, você deve ter-se lembrado de quando ingressou no magistério e dos caminhos que já percorreu até hoje em sua profissão. Com certeza, essa reflexão o fez perceber que ser professor é estar sempre com uma identidade em construção. Assim, sugerimos que você registre:

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1.3. Elaboração do Memorial Módulo 2 - Unidade 8

A escrita do Memorial é muito interessante, não é? Ele é importante porque vai retratando as mudanças no seu desempenho escolar e no seu crescimento pessoal e profissional. Por isso, ele é também um instrumento de construção da identidade profissional. Vamos então enriquecê-lo?

Reflita sobre os avanços de sua participação na construção do Projeto Político-pedagógico da escola onde você atua. Veja a sugestão seguinte para orientá-lo.

• A partir do eixo integrador do Módulo - A escola como instituição social - procure relembrar seu nível de participação nas discussões dos problemas da escola, no início de sua carreira.

• A seguir, descreva como você tem ampliado essa discussão e as ações adotadas para levá-lo a opinar mais sobre essa realidade.

• Em um terceiro momento, procure comparar os avanços que existem entre a participação apontada no início de sua carreira e a que você tem hoje, ao discutir os rumos da escola

• Para concluir, identifique os fatores que o levaram a crescer, cada vez mais, ao participar da construção da Proposta Pedagógica de sua escola.

• Analise os seguintes aspectos, focalizando-os do ponto de vista de um profissional da educação:

- os problemas atuais de sua escola;

- a forma como você gostaria que ela atuasse hoje;

- as alternativas que, se adotadas, poderiam alterar essa situação.

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1.4. Elaboração do Memorial Módulo 3 - Unidade 1

No Módulo III, queremos que você desenvolva cada vez mais sua competência para produzir saberes pedagógicos, utilizando os conhecimentos desenvolvidos no PROFORMAÇÃO para compreender melhor as condições da prática pedagógica e as relações entre contexto social e educação.

1) Nesta primeira quinzena, sugerimos que você comente principalmente sua experiência com a organização dos tempos escolares, situando esta questão no Projeto Político-pedagógico (PPP) de sua escola. Se sua classe for multisseriada ou

sua escola for unidocente, não se esqueça de fazer considerações a respeito desse fato. Faça uma análise dos principais problemas que identificar e pense em como encaminhar sua solução. Caso sua escola ainda não tenha um PPP, tente explicar por que isso acontece.

2) Fale também sobre seu crescimento pessoal e profissional, sobre sua história no PROFORMAÇÃO. De tudo que vem estudando, o que mais tem contribuído para enriquecê-lo pessoal e profissionalmente? Veja a seguir algumas sugestões para orientar esta segunda análise.

• Qual tem sido sua relação com a arte e em especial com a literatura? O PROFORMAÇÃO tem ajudado você a ler melhor, com mais sensibilidade, com mais gosto, e a desenvolver nos seus alunos atitudes positivas com relação à leitura literária?

• Que pontos chamaram mais sua atenção na área de Matemática e Lógica? Por exemplo, você sentiu interesse pela discussão sobre a data do final deste século e deste milênio? Você tinha alguma idéia sobre essas coisas? Qual era? E agora, você tem outra compreensão desses fatos? Comente esses pontos ou outros que você queira.

• Você desenvolveu com seus alunos alguma das atividades de prática pedagógica sugeridas na área de Vida e Natureza? Qual foi? Faça um relato de como eles reagiram. Que dificuldades eles tiveram? E você? Após estudar a Unidade, houve alguma mudança em relação ao que pensava sobre o nosso planeta? Que dúvidas surgiram? Como você procurou resolvê-las? O que você aprendeu sobre a Terra modificou alguma coisa no seu trabalho na sala de aula? O quê? Você passou a ensinar novos conteúdos sobre a Terra? Quais?

Uma dos temas importantes estudados em Psicologia Escolar foi a relação entre o conhecimento adquirido na vida cotidiana e o conhecimento produzido com a mediação da escola. Entender isso ajuda no planejamento e uso de metodologias de ensino que valorizam o conhecimento trazido pelo aluno, mas também tratam de levá-lo a alcançar outros níveis, por meio do conhecimento construído na escola, de forma organizada e sistematizada. De que modo você pode considerar esses tipos de conhecimento no planejamento de suas aulas? Você procura relacioná-los entre si? Como aproveitar e valorizar os conhecimentos prévios dos alunos fazendo essa articulação, no dia-a-dia da escola?

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2 Narrativas de algumas trajetórias da pesquisadora

2.1. A façanha partilhada com o TATU

Numa de minhas andanças pelo PROFORMAÇÃO, cheguei a Matupá com o intuito de visitar a Agência Formadora, participar de um encontro de Professores Cursistas e ver uma escolinha do interior com um Professor Leigo lecionando. A ida a Matupá se fez pelo vôo Cuiabá-Matupá em um avião Caravan de 12 lugares. Lá chegando, o prefeito e comitiva nos recepcionaram no aeroporto e marcaram a viagem ao interior no dia seguinte. Disse o prefeito Sérgio que tal visita deveria ser realizada de avião devido ao caráter quase intransitável das estradas de lá, estradas ainda não abertas, pois se tratava de um assentamento.

No dia seguinte, com muita curiosidade, fomos eu e dois repórteres do FUNDESCOLA e do Estadão visitar a gleba. Quando chegamos ao aeroporto, tivemos "aquele" impacto: o avião era o famoso e antigo teco-teco de 4 lugares, em um estado mais para a sucata do que para a ativa. Mas, enfim, confiamos no prefeito e fomos em direção à gleba de assentados.

Sentei-me na frente, junto ao piloto, e íamos conversando. No vôo foi permitido o uso do celular, pois não atrapalharia aquela "tecnologia"; liguei para a Coordenadora do FUNDESCOLA, a professora Wilsa Ramos, em Brasília, e contei somente um pouco da nossa excitação, uma vez que se perdeu o sinal do aparelho.

Seguimos mais ou menos uma hora de viagem, enquanto o piloto manejava um aparelhinho e me mostrava dizendo que eram as coordenadas do vôo que estavam ali. Embaixo só víamos árvores, estávamos em plena floresta amazônica e eu pensava: se este teco-teco cair aqui nunca nos acham, pois as árvores eram tão grandes e a floresta tão fechada que o aviãozinho sumiria no meio daquela imensidão.

Conversa vai, conversa vem, perguntei ao piloto o seu nome e ele respondeu-me que era Tatu. Dei uma risadinha sem saber o porquê e também não quis saber. Mais adiante Tatu comunica: Preparem-se que vamos descer. Pensei cá com os meus botões: preparar-nos como, se nem cinto de segurança havia naquele avião? Mas acreditei que era para ficarmos bem atentos. Eu na frente, e o barulho ensurdecedor do motor não permitia que eu conversasse com os companheiros da parte traseira. Sobrava apenas o Tatu para...

Quando o Tatu dá o aviso, olhei para baixo e disse: Tatu, cadê a pista? E este me respondeu: A senhora não se preocupe, a clareira é pequena, a pista está encoberta pela vegetação, mas eu a localizo, não fique com medo porque tenho 28 anos de garimpo! Já desci por lá!

A firmeza do piloto ao atestar sua experiência de 28 anos de garimpo se configurava em uma competência inquestionável em seu domínio da aeronave e eu, Sabedora do que significa aterrissar e decolar em pistas clandestinas de garimpo, denunciadas mensalmente no Mato Grosso, comunguei com ele aquela segurança e, como se diz popularmente, relaxei.

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Aquele pouso deu-me a resposta sobre o apelido do piloto, Tatu, isto é, cavava pista onde não existia...e eu ali, partilhando e "curtindo" tudo isso com o "farejador".

Mal saímos do avião apareceram dois caboclos de dentro da mata e logo perguntaram se o piloto iria precisar do toco e da corda, sendo que ele respondeu que era para deixar no jeito que na hora veria se precisaria ou não. Mais uma inquietação minha: por que o toco e a corda? Bem, como toda boa curiosa, perguntei ao Tatu e este me respondeu que é um procedimento normal "neste tipo de aviação", uma vez que a clareira é pequena e o peso da mercadoria do garimpo é grande, exige-se muito do motor do avião, então o deixamos ligado, acelerando cada vez mais, para pegar força no motor, com a sua traseira amarrada no toco, e em determinado momento de forte aceleração faço um sinal, o caboclo corta a corda e o "bichinho" decola numa boa.

Verdadeiras aulas de aviação eu obtive com o Tatu neste episódio. Logo adiante uma Toyota veio buscar-nos para levar-nos até a escola. Achei interessante o fato de ela vir com um equipamento de viagem, ou seja, moto-serra, facão, operador de vídeo, cesta de alimentos, água, dando-nos uma idéia do que viria pela frente. De fato, os homens que iam na carroceria cortavam árvores caídas na trilha, quando havia estradas era uma pedreira só e muito buraco até chegarmos à escola, que muito nos chamou a atenção, pois era uma escolinha de pau-a-pique. A professora, pasmem os leitores, já havia escrito alguns livros de história infantil no Paraná e estava morando e lecionando para aquelas crianças, naquele lugar, nos turnos da manhã e da tarde.

Na sala de aula, de taboca e barro, havia estante com livros e cartazes sobre as sugestões contidas nos guias curriculares na parede. A professora estava utilizando a metodologia proposta no curso e deu o depoimento de que agora com o PROFORMAÇÃO, além de se aprender muito, não se tem medo de perguntar e de dizer que não sabe, fato esse que por serem Leigos, omitiam para não caírem no ridículo junto a outros colegas. Ao poder expor as dúvidas aprendemos melhor, e o Tutor como intermediador tem possibilitado uma firmeza aos professores-Leigos, disse ela.

As crianças estavam com os cadernos em ordem, fiz leitura com aIguns e muito espontaneamente falavam de si e de suas vidas. Estavam ali, aproximadamente quatro famílias, muitos irmãos na classe multisseriada dividiam os livros e a leitura das historinhas infantis.

No entanto, o que mais me chamou a atenção foi que embaixo das cadeiras dos alunos e na cozinha ao lado, estavam os seus cachorros, que eram em média uns 4 animais. Perguntei-lhes por que traziam os cachorros para a escola e os pequenos responderam que os pais treinavam os cães para atacarem as onças a fim de protegerem as crianças que atravessavam a mata para virem à escola.

Se eu não tivesse visto, ouvido e acompanhado as crianças a alguns metros da saída para irem embora com os cães, não acreditaria jamais naquela realidade. Isso tudo foi filmado e documentado em vídeo que possuo. São os muitos Brasis que tantos desconhecem...

Após a visita a essa escola, fomos a outra já construída com melhores condições de estudo e à tarde retornamos à famosa pista, sendo que eu estava com curiosidade de saber se haveria ou não a necessidade da corda e do toco. Entramos na aeronave, e mais um

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expediente: o Tatu pediu para que eu ficasse de porta aberta até atingir uma certa altitude, sendo que ele avisaria quando era para fechar; segundo ele, esse também era um procedimento normal nesse tipo de vôo, e assim eu fiz.

Quanto aos caboclos, não precisaram amarrara corda no toco, apenas seguraram a cauda do avião e em determinado momento a soltaram. O "bichinho"subiu bem, embora me desse certo medo ao ver seus pneus quase tocarem nas copas das árvores devido ao pequeno espaço da clareira para a decolagem.

O Tatu e a história dos cães ficaram marcados para sempre na minha memória. Vivências no PROFORMAÇÃO...

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2.2. Quem diria, um bicho-de-pé!!!

prezada Luciana,

Recentemente em visita a Confresa, município a aproximadamente 1200km de Cuiabá, deparei com uma situação muito desconfortável.

Em primeiro lugar, para sair de Cuiabá e visitar um município no norte de Mato Grosso (portanto, no mesmo estado) preciso passar por outros três estados para chegar ao destino.

Saí de Cuiabá de avião F100 da TAM, chego a Brasília; de lá pego outro vôo até Tocantins; novamente, agora em um avião menor (12 lugares) vou a Gurupi, onde descemos e aguardamos abastecer e então chegamos a São Félix do Araguaia, quando novamente descemos para abastecer e até que enfim, chegamos a Vila Rica, município a 110Km aproximadamente de Confresa.

Lá chegando, havia um carro que a prefeitura de Confresa enviou para buscar-me a fim de realizar o trabalho de supervisão do Programa Proformação naquele município.O carro era uma caminhonete de um sitiante com uma pequena carroceria atrás, cujas portas ao serem fechadas eram posteriormente amarradas com arame (por questão de segurança, disse-me o dono) e os vidros não baixavam e portanto não subiam....

Seguimos por uma estrada de chão, cujos buracos me faziam pular que nem iô iô, ide tantos solavancos. Lá pelas tantas o senhor Jorge (dono da condução) comunica: vou parar para abastecer, trocar o combustível...olhei e não vi posto de gasolina, paramos exatamente no meio da estrada quando este senhor pegou um botijão de gás da carroceria e realizou a troca do combustível.

Querendo curtir tudo o que aquela experiência me apresentava, desci e assisti ao abastecimento completo sem sequer imaginar o perigo!

Comia-se pó mesmo sem ter vontade e lá adiante uma pancada de chuva apareceu. Conclusão: a lama se fez na roupa, no rosto e tomamos banho de chuva dentro da caminhonete.

Nesse ínterim, fugindo da chuva estava um bando de marimbondos, os quais entraram no carro e dois socializaram o seu pânico comigo em fortes ferroadas...ai...ai

Chegando a Confresa, não haviam reservado hotel e estava acontecendo uma festa do peão, motivo pelo qual não havia quarto vago.. O dono do hotel me disse que tentaria levar um hóspede para a sua casa e então conseguiria um quarto para mim.

Com muito jeitinho, uma vez que eu já havia me hospedado lá, consegui junto ao dono do hotel um quarto pequeno, sem janela, com um ventiladorzinho, num calor de 38o...Que nooooiiiiiteeeeeü! Somente no outro dia foi que consegui um quarto melhor, aliás muito bom, com ar condicionado.

Nada disso tirou o meu humor e a minha vontade de trabalhar, monitorando o programa Proformação e, veja só, naquele distante lugar, instalando computadores para implantar o

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Sistema Informatizado do Programa Proformação (Formação de Professores Leigos em Exercício).

Esse programa possibilitará, via internet, que no momento em que se cadastrasse a nota do aluno, em Brasília pudesse acessar e acompanhar o seu rendimento, e também os índices de aproveitamento dos alunos nas áreas temáticas. Imagine sô um município com tamanha precariedade ter o privilégio de beneficiar-se desse tipo de serviço, uma vez que os computadores e a internet permitiriam que seus professores navegassem na informação.

Mas Luciana, as duras penas isso será possível, pois as viagens a Confresa são traumáticas, ora cai a ponte e tenho que atravessar rios com água pelos joelhos, ora é o avião que cancela o trecho aéreo e tenho que pegar carona em aeronave pequena, enfrentado perigo e aterrissando em pistas inusitadamente.Tudo isso deixa a gente um pouco desanimada.O que move o meu entusiasmo para ir até lá e levar-lhes algum avanço ou benefício, é a carência daqueles professores e a receptividade que têm quando me vêem. Parecem dizer: alguém, de algum lugar importante, se interessa por nós. Isso não é populismo, é o que eles manifestam e que me levam a um comportamento recíproco.

Implantei o SIP e deixei a internet instalada, faltou pagarem a conta da linha telefônica que estava bloqueada. Além desse trabalho, realizei reunião com o Prefeito, com o Secretário de Educação e posteriormente fui ao encontro dos professores-cursístas do programa, os quais estavam em reunião no salão paroquial de uma igreja.

Lá chegando eu, de sandálias, fui abordada pela coordenadora do programa na localidade a qual comunicou-me que eu deveria ter calçado sapato fechado, pois lá tinha pulga de bicho-de-pé. Eu então perguntei-lhe o que isto significava, afinal existe dois tipos de pulga? Ao responder-me, disse ela que de fato há dois tipos de pulgas, e essa era identificável por ter a traseira mais afinada do que as pulgas comuns. Ri da nova aprendizagem e pensei: com tanta gente aqui, porque ela escolheria a mim? Eu imaginei "cá com os meus botões:" imagine só que eu vou pegar isso aqui!

Bem, realizei meu trabalho durante três dias e depois, fazendo o mesmo trajeto de retorno, porém agora num carro gol, bem melhor e sem sacolejos, cheguei ao aeroporto e, claro tive que tomar um banho no banheiro do zelador, pois não havia condições de embarcar no vôo devido ao estado de pó. O banheiro era externo e ficava exatamente embaixo da estrutura da caixa dágua, isto é media 80X80cm.,o que dá para se ter uma idéia dos apuros que se passa. Quando se abre a porta, dá de frente para o pátio ( de terra) que é acesso à sala do aeroporto, e portanto, passagem das pessoas, fato esse que exige o tomar banho, secar-se e vestir-se no mesmo "amplo ambiente".

Dá para você imaginar o que passei ali dentro, com uma bica feito chuveiro, sem pregos para dependurar roupas, toalha.etc... Mas enfim, saí dali arrumadinha, de batom, água de cheiro para voltar aos aviões, aeroportos internacionais e vans com ar condicionado.

Quem nestes ambientes e transportes teria noções de supor o que enfrentei?

Esse fato é corriqueiro para o pessoal do Nortão, mas para nós, acostumados a vida urbana, isso se constitui em pesadelos!

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Este fato relato, para que vocês aí de Brasília tenham uma noção do que acontece nas andanças com o PROFORMAÇÃO, as quais, muitos não se submeterão se não houver um grande interesse em questão. A forma coloquial e humorada de escrever é uma característica minha, e revela a forma que gosto de falar sobre as minhas proezas pelo interior

Outras histórias vocês ouvirão, mas esta, penso que deveria ficar registrada. Sobre os dados técnicos e relatórios do trabalho realizado, segue no formulário em anexo.

Um abraço

Simone/Assessora Técnica de Mato Grosso.

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3 ENTREVISTA COM OS COORDENADORES

3.1. Entrevista com: Marlene de Oliveira Santos

Cargo: Subsecretária de Educação do Estado de Mato Grosso.

Data: Outubro de 1998

Local: Cuiabá

Simone: Profª. Marlene, como surgiu a idéia da criação dos Centros de Formação no estado de Mato Grosso?

Marlene: Em 1995, quando assumi a subsecretaria de Educação, coordenei a proposta de política educacional para esta gestão. No final de 1995 ainda como subsecretária, publicamos uma portaria que cancelava as matrículas nos cursos de Magistério na rede Estadual. Esta medida gerou uma grande polêmica e reação na rede. No entanto, a maioria acatou a determinação terminando o Magistério e optando pelo Propedêutico. Duas cidades manifestaram muita resistência, foram elas, Barra do Garças e Rondonópolis.

Em Rondonópolis, a resistência maior vinha da escola das irmãs Franciscanas, por ser um colégio de tradição e de reconhecida seriedade educacional. A Escola Estadual Daniel Martins de Moura, também manifestava interesse em continuar com o curso, com um quadro docente qualificado, representava um potencial muito grande, pois sua localização estratégica, atenderia um dos bairros mais populosos do Município.

Na ocasião do contato da SEDUC com as escolas, foi sugerido que estas construíssem um novo projeto que tivesse como essência a Formação de Professores voltada para o sistema público.

Em 1996 a discussão centrava-se em dois eixos: o primeiro deles era o da Formação Continuada, e o segundo o da Formação de Professores Leigos. Foi solicitado às escolas que construíssem conosco este Projeto. A primeira escola, de fato a tentar a execução desta proposta, foi a Escola Sagrado Coração de Jesus, atendendo apenas a Formação Continuada.

Simone: A proposta de Formação Continuada atendia as expectativas do Projeto da SEDUC?

Marlene: Ela não conseguia pensar num projeto que fugisse dos moldes tradicionais da estrutura do Magistério. Tanto é que não seguiu o projeto sugerido, que era o de transformar a formação do professor em Formação Continuada e Formação de Leigos. O que se pensava era uma proposta em que a Formação de Professores de segundo grau em cursos regulares iria aos poucos sendo absorvida por estas duas frentes, uma vez que não havia

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mais demanda de mercado de trabalho para professor das séries iniciais 1o grau com habilitação Magistério de 2o grau, no Município.

A escola, no entanto, fazia questão da permanência do curso. Foi quando a secretaria fez uma provocação que consistia em uma condição: só manteria o curso de Magistério se ela introduzisse o projeto.

A escola então foi construindo o Projeto não como a proposta da SEDUC, que era a de incorporar o Magistério no projeto para as necessidades da demanda do Estado, introduzindo gradativamente a Formação Continuada, dando um novo perfil a Formação de Professores, e sim como uma proposta paralela a partir do curso de Magistério. Existia então o curso de Magistério e o projeto de Formação Continuada de Professores sem um elo de ligação entre os dois.

Mesmo assim a SEDUC investiu no projeto com o pagamento de assessoria da Universidade para o projeto e no pró-labore dos palestrantes, além de pagar horas excedentes para os professores da escola que coordenavam o Projeto e destinaram um coordenador geral com 40 horas semanais exclusivamente para o Programa.

Simone: Quais foram os avanços deste Projeto nessa conjuntura?

Marlene: O Projeto teve um avanço significativo na discussão política dos professores e contribuiu muito na cultura geral dos docentes. As dimensões do impacto dele na prática pedagógicas não podem ser diagnosticadas por nós, pois não consistia num programa pedagógico, numa proposta curricular. Um ponto positivo que vemos em tudo isto é, sem dúvida, a contribuição da proposta para elevar o nível de discussão dos professores, e outro de grande importância foi o do desafio da escola Sagrado Coração de Jesus em aceitar a construção de um novo projeto.

Simone: Qual foi a dimensão que este Projeto tomou no Estado?

Marlene: Quando o atual Secretário de Educação assumiu, o Dr. Fausto Faria, em 1997, determinou a extinção total do curso de Magistério no estado de Mato Grosso e qual o lugar deste, a criação de Centros de Formação com as interfaces propostas pelo Projeto no Estado.

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3.2 Entrevista com Michael Moore

Cargo: Consultor do Banco Mundial para assuntos de Educação a Distância

Data: 29/09/2000

Local- SEED/MEC/PROFORMAÇÃO em Brasília-DF

Simone: Michael, por favor, fale sobre a sua experiência em Educação a Distância, como iniciou seu envolvimento nessa área e qual o trabalho que você desenvolve atualmente?

Michael: O artigo que vou imprimir para dar a você, Simone, vai responder a estas questões. Há quarenta anos atrás eu era um educador na África, onde tinha uma grande necessidade de educação e era a região mais pobre do mundo. E lá descobri que usar o rádio permitiria atingir a um maior número de pessoas.

Depois de sete anos na África, eu fui para os Estados Unidos fazer pesquisa sobre tecnologia em educação, algo que pudesse auxiliar a população das regiões mais necessitadas a terem acesso à educação e descobri depois de todas as pesquisas realizadas que não havia nada sobre como se estudar fora da sala de aula. Estou falando isso aqui, rapidamente, mas minhas pesquisas e meus estudos levaram muito tempo, alguns anos, foi um longo processo.

A partir dos estudos realizados, escrevi uma teoria sobre como aprender fora da sala de aula e quando fui procurar por um título para essa teoria, descobri em estudos em alemão que eu havia realizado, o termo que significava Educação a Distância (demoraria muito tempo te explicando como cheguei a esse conceito).

Então apresentei num Fórum em que consistia a minha compreensão sobre a teoria criada com o nome de Educação a Distância. Essa foi a primeira teoria escrita em inglês, desde 1972 e divulgada no meio científico e por causa disso, eu estou trabalhando no setor há trinta anos. Desde então me dedico, exclusivamente, à Educação a Distância. A maior parte do mundo não está interessada em Educação a Distância porque isso ainda é muito recente. Agora, Simone, você quer falar sobre hoje ou fazer outra pergunta?

Simone: Sim, eu gostaria que você falasse sobre seu trabalho hoje.

Michael: Eu tenho uma posição na Universidade da Pensilvânia, hoje, na qual eu posso pensar, escrever, fazer pesquisa, ensinar e orientar estudantes de Mestrado e Doutorado em Educação a Distância.

Tenho também uma turma de alunos em Educação a Distância em 14 países diferentes e atualmente sou o diretor do Centro de Educação a Distância, e a atividade que considero de

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maior importância é a publicação de um jornal americano em Educação a Distância, editado por um grupo de pesquisadores do qual faço parte.

Também gosto de trabalharem programas de Educação a Distância e não apenas ficar em sala de aula. Eu me lembro muito das necessidades que passava o povo da África para ter acesso à educação e a partir dessa vivência, tenho dado muita importância às pessoas que não têm condições de acesso aos estudos, principalmente as que estão em situação de pobreza. Por isso continuo trabalhando na Índia, Egito, Rússia e agora na América do Sul. Vim para o Brasil a convite, como especialista de um programa de Educação a Distância.

Simone: Michael, qual a sua opinião sobre as críticas de Peter Drucker acerca das universidades e do ensino formal, ao colocar que estarão obsoletos, serão relíquias, museus, em 30 anos?

Michael: Eu acho Drucker um dos maiores críticos das universidades no momento atual. Ele é capaz de ficar a noite inteira criticando a universidade. Eu não concordo inteiramente com esta posição. Há um lugar para as universidades, mas, sob o ponto de vista da análise, penso que a universidade, especificamente a americana, está sendo corrompida. Perdeu-se a alma da universidade e um dos pontos positivos para o crescimento da Educação a Distância é provocar um desafio à universidade, que vai compelir as universidades a se redescobrirem.

Algumas entrarão em colapso, outras, após análise da sua função, irão mudar, portanto não se tomarão relíquias ou museus. Há um lugar específico para a universidade naquilo que ela tem de fazer como função específica.

Simone: MICHAEL, a Educação a Distância vem sendo largamente expandida em vários países. Como você vê o desenvolvimento dessa área no Brasil?

Michael: Eu considero extremamente satisfatório trabalhar no Brasil por várias razões. Existe um contexto social, econômico e de necessidade das pessoas de acesso à educação que podemos encontrar na Educação a Distância. O que mais aprecio no Brasil é que estão fazendo uma Educação a Distância extremamente moderna.

Nós temos o antigo método de correspondência ainda vigente no mundo, as formas de utilização do rádio e da televisão. Nas décadas de 70 e 80 você vê o gênero da "Open University" da Inglaterra e em vários países, ainda o uso desses recursos, mas hoje o novo modelo é o de rede e, no momento do desenho atual do PROFORMAÇÃO, nós estamos trabalhando no Brasil em forma de rede.

Eu me reúno com diversos profissionais de diversas cidades para realizarem um trabalho conjunto e esse trabalho é todo em rede, hoje nós temos na implementação dessa rede tudo funcionando, isso não é comum.

Por isso eu acredito que o Brasil é o novo líder mundial nessa maneira de fazer Educação a Distância. Outra coisa que aprecio ao trabalhar no Brasil é a competência das pessoas em planejamento para desenhar um programa e também a criatividade das pessoas na criação gráfica dos desenhos dos materiais instrucionais do curso, fato esse que eu não achei em outros países. Estas são as coisas que considero mais relevantes aqui no Brasil.

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Simone: MICHAEL, o PROFORMAÇÃO é um programa de Formação de Professores em nível médio, do qual você é consultor. Como surgiu o Projeto e de que forma você se sentiu envolvido nesse trabalho?

Michael: É muito simples de explicar como é que fui envolvido desde o princípio no PROFORMAÇÃO. Sendo eu reconhecido como "expert" no campo da Educação a Distância, tenho sido consultado para dar orientações e pareceres a pedido do Banco Mundial em programas e projetos que solicitam financiamento e fui convidado pelo Banco para dar parecer no Programa que queriam implantar no Brasil e para fazer parte da equipe que iria trabalhar no Brasil com este Projeto.

Simone: Qual o diagnóstico que você faz do Programa PROFORMAÇÃO no Piloto de Mato Grosso?

Michael: Mato Grosso tem um pedaço do meu coração. No encontro do PROFORMAÇÃO na Chapada dos Guimarães, participei e dancei a música típica da região com o grupo de dança, tirei foto e passo estas fotos nos meus encontros e palestras de Educação a Distância.

Eu acho que existe um pequeno problema na Educação a Distância, que é o de se desejar fazer tudo muito rapidamente. Em vários países vejo que eles esperam progressos em curto espaço de tempo. Eu entendo as razões de querer resolver as coisas muito rapidamente, mas isso causa problemas.

Quando conheci você, Simone, senti que muita coisa vocês gostariam que fosse feita nesses dois anos de PROFORMAÇÃO. O PROFORMAÇÃO é um programa muito importante, tanto para professores Cursistas, Tutores, Agências Formadoras, estados e municípios e para você, Simone. Todo mundo tem que aprender e muito rapidamente. E devemos estar muito orgulhosos com o sucesso já alcançado até aqui. Claro que as coisas poderiam ser melhores, mas vamos olhar para o que já conquistamos até o momento. Outras partes do país estão se beneficiando com a experiência do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul.

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3.3. Entrevista corn: Alvana Bof

CARGO: Coordenadora de implementação do PROFORMAÇÃO.

DATA: 20/02/2001

LOCAL Teresina (PI)

Simone: Alvana, em que situação estava o programa Piloto quando você assumiu o Programa? Foi em agosto de 1999, não foi? Estávamos com sérias discussões com questão da avaliação, lembra?

Alvana: O que eu vi no Piloto, em primeiro lugar, foi uma equipe extremamente comprometida com o Programa, e percebi imediatamente que o Piloto na verdade, tinha acontecido e avançado em função dessa equipe que tinha sido criativa o suficiente, determinada o suficiente, esforçada o suficiente para tentar resolver os problemas operacionais que um Programa nesse nível de implementação oferecia. Porque o Piloto na verdade, testou mais da parte nacional, digamos assim, ele estava testando mais o material. Mas, ele entrou sem uma proposta clara e sem instrumentos de implementação. Então isto, digamos assim, havia uma distância muito grande, uma coisa que se queria fazer, mas para ter definida uma, eu diria assim, até mecanismos operacionais definissem para que se fizesse.

Simone: E quem criou esses mecanismos?

Alvana: Justamente a equipe da EG ou ATP e as Agências Formadoras que estavam lá. Então, na verdade, elas é que foram as criadoras de muitas coisas.

Tudo estava em teste. Nós tínhamos os Guias e o sistema de avaliação sendo testados e também aprimorados no processo. Tanto é que chegou o momento que não deu para trabalhar dessa maneira, sendo trocado. Na verdade ele atendeu as mesmas demandas dos objetivos do curso, mas se viu que trabalhar daquela maneira por objetivos, era complicado demais, operacionalmente.

Simone: Eram instrumentos extensos para que entendesse, absorvesse?

Alvana: E o pior, esse Tutor tendo que absorver tudo aquilo sem uma diretriz realmente clara, precisa, com instrumentos que pudessem dar essa clareza a ele. Então, eu acho que ver isso e ver tudo que a equipe tinha crescido para fazer o processo andar, tão grande mesmo, que o esforço fosse um pouco, eu acho, atenuado e que o processo pudesse ser mais sistemático no sentido até de dar mais tranqüilidade a quem estava implementando. Então, certamente o Piloto sim, foi uma lição, ver o que tinha sido feito e que foi feito assim, tudo o que foi feito eu diria que foi muito em função dessa equipe que montou as coisas, fazendo-as acontecer.

Simone: No início falavam em disciplinas específicas dos estados, tanto é que o Piloto criou disciplinas específicas, depois é que veio a concepção de Projetos de Trabalho. O Piloto ainda conseguiu pegar um último módulo de Projeto de Trabalho? Essas disciplinas

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colocadas pelo Estado, que poderiam ser transformadas em Projeto de Trabalho, propiciaram alguma forma de crescimento para os cursistas ?

Alvana: Olha, eu acho que na verdade, felizmente, as duas coisas casaram muito bem, porque o Projeto de Trabalho não era nada mais do que a experiência de investigação do professor Cursista em relação a algum tema, e alguma coisa. E felizmente Mato Grosso estava trabalhando aqui, a cultura mato-grossense. Então, as duas coisas se casam perfeitamente. Eu acho que se casaram tão bem, sabe Simone, porque eles tiveram embasamento com a disciplina, com aquilo que nós fizemos lá, lembra? Foi um embasamento que eles precisavam até para montar os seus projetos depois, então as duas coisas casaram perfeitamente. Eu acho que foi um casamento muito feliz, foi ocasional, mas feliz. Ele aconteceu assim, numa sintonia muito feliz.

Simone: Como é que esta equipe sentiu que precisaria fazer, urgentemente, o material de apoio instrucional? Porque nós estávamos, inclusive, sem orientação de Reunião Quinzenal, Memoriais, mesmo como trabalhar Cadernos de Verificação. Como é que esta equipe foi vendo isso e preparando esse material?

Alvana: Olha, isso na verdade vem com a experiência de implementação, porque eu já implementava outros projetos, e quando você fala em implementação, você tem que ter um processo muito claro, principalmente quando é grande. Pois quando a coisa é pequena, ainda você faz muita coisa no improviso e às vezes funciona, mas quando você pensa em implementação, você tem que visualizar, realmente, todo o processo de implementação, como ele vai se dá. E como a minha formação é esta, então eu já tinha passado por um processo de implementação antes. Trabalhávamos com isso e sabíamos que tinha que ter. Então, na verdade, sabe-se que nós mudamos, inclusive, o próprio repasse do especialista.

Nós começamos a ver, por exemplo, que o repasse que o especialista fazia era muito solto, não estava ainda com aquele objetivo maior, que é o de o especialista estar trabalhando uma maneira muito acessível de fazer o professor Cursista compreender aqueles conteúdos que estavam no guia. Era esse o objetivo da Fase Presencial.

Então, já partindo daí é que começaram a surgir as diretrizes para o próprio especialista. Nós fizemos um planejamento até com a ajuda deles; não foi nada criado. Mas, na verdade, nós sabíamos que havia diretrizes mais claras do trabalho que ele faria naquele momento do repasse para as AGFs, para que a AGF também fizesse um trabalho mais centrado com os Cursistas, na Fase Presencial. E isso feito, nós tivemos uma especialista que nos ajudou muito nisso, porque ela tinha todo um planejamento. Nós vimos como é que ela havia feito, discutimos com outros especialistas e saiu a diretriz.

E a partir daí, todo especialista seguia aquelas orientações. E isso foi muito bom também para o Professor Formador que tinha aí uma diretriz comum. Então, quando ele programava depois da Fase Presencial, isso ajudava muito e vocês talvez sentiram o mesmo, porque vocês não tinham multiplicadores. Nós, que tínhamos os multiplicadores aí no processo no meio, nossa! Aquilo foi vital.

Então, no caso dos Tutores, se existe no seu programa, em qualquer programa, se você tiver parceiros envolvidos e esses parceiros tiverem que desempenhar funções, melhor você pensar como é que você vai dar a instrução, de como é que eles vão desempenhar essas

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funções. Essa é uma mentalidade de implementação, seja quem for que estiver envolvido, o seu objetivo é que eles saibam exatamente o que eles têm a fazer e como que eles podem fazer aquilo que têm a fazer, porque isso dá muita tranqüilidade ao processo; a pessoa não se sente perdida, dá muita tranqüilidade.

Então, desde o começo nós fomos desenvolvendo aos poucos, porque era muita coisa para se fazer, mas como o Tutor foi caracterizado como o primeiro que precisaria de uma ajuda, porque ele estava lá na ponta e estava ajudando o professor Cursista. E o que ele tinha que fazer? Tinha que realizar a Reunião Quinzenal, tinha que avaliar o Memorial e a prática pedagógica e estava sem referencial para fazer aquilo. Começamos com aquilo, chamamos o nosso especialista, e vamos lá, vamos ter que dar uma diretriz concreta operacional de como é que o Tutor vai executar aquilo que ele tem que desempenhar.

Começamos com o Tutor, depois fomos para a AGF, como é que a AGF vai desempenhar sugestões, concorda Simone? Sabe que tudo que se colocou nesses livros, na verdade são sugestões, diretrizes para que sirvam de referenciais. Ainda sobra muito espaço para a criatividade. Sobra espaço para que as equipes locais ainda vejam coisas que têm de ser feitas, mas ao menos, aquilo é o essencial, é a base. A partir daquilo, outras coisas são criadas. E percebemos que isso ajudou muito. O Tutor, que no começo da primeira capacitação, ficou meio perdido, quando nós entramos com a Capacitação Continuada, e entramos com os "manuaizinhos", os pequenos textos de apoio que nós chamamos, e lá nós discutimos, fizemos oficinas concretas.

Vamos avaliar Memoriais. Fizemos a experiência concreta com eles, com a instrução escrita, como é que fazemos isso. Aí as dúvidas também foram redimidas, foram diminuídas, se não foram todas solucionadas, mas certamente, eles tiveram uma diretriz. Isso facilitou o trabalho da AGF, que seguia a mesma diretriz, sendo todos auxiliados a seguir a mesma diretriz. E isso é fundamental em qualquer programa. E quando se trata de um programa tão grande quanto a PROFORMAÇÃO, isso é muito mais que fundamental, é essencial. E se você não tiver isso, corre o risco de ter pesos e medidas diferentes. Você não quer isso, você quer ter os mesmos pesos e as mesmas medidas. Você quer que todos os Cursistas tenham o mesmo tratamento. Você quer justiça, nas suas avaliações, no atendimento que eles têm. E você quer, principalmente manter a qualidade mínima do Programa. Então, isso é fundamental. Você não consegue pensar em implementação, sem ter uma visualização clara de qual é o processo que eles têm que percorrer, as funções definidas e mais do que isso, as diretrizes, orientações para execução das próprias funções. É isso que dá tranqüilidade do processo que ajuda realmente quem está com a "mão na massa" a implementar.

Simone: Em todo o Programa nós temos um ponto crucial. Eu vejo, pela minha experiência de monitoramento, que o PROFORMAÇÃO já obteve melhoras com esse material instrucional. Mas, vejo muitas críticas a respeito da avaliação, dela ser ainda dessa forma, de marcar as questões. Você vê a possibilidade de ser de uma outra forma num programa dessa natureza?

Alvana: Olha, com esse tamanho é mais complicado, pois você pode ver que todos os grandes programas de Educação a Distância pegam um "open universiti", pega outras experiências. Você tem testes, e testes dessa natureza. Por quê? Porque você tem que ter uma certa homogeneidade no critério. E quanto mais aberto você faz, mais difícil de você

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controlar o elemento "subjetividade" na avaliação. Então quando você faz um programa tão grande como esse, ainda, o teste da sistemática, haver uma prova, ele ainda é uma solução.

Só que é o seguinte Simone, no caso do PROFORMAÇÃO, é importante frisar isso, o teste não é o principal. Nós temos 4 instrumentos de avaliação, todos eles, com diretrizes para se avaliar. Nós estamos avaliando o conteúdo sim, nós estamos avaliando práticas pedagógicas; prática de experiência de vida, que é o Memorial, e os caderninhos. Então de maneira alguma, quando eu olho o sistema de avaliação do PROFORMAÇÃO, eu diria que ele é conservador. Porque, primeiro: ele mistura várias maneiras de avaliar. Assim como você vê a cruzinha, você lê o Memorial, você vê a prática pedagógica. Então de maneira alguma é o fator limitante.

Simone: Será que esse fator limitante, que eles reclamam tanto, sria pelo tabu, pela tradição que a prova tem sido na prática dos professores? O que lhes dá a sensação de serem avaliados apenas pela prova?

Alvana: Olha, eu acho muito interessante a sua colocação. Eu acho que é isso mesmo que nós que vivemos em educação nesses últimos 15 anos, temos correntes bem fortes que acham que a prova é muito conservadora, que ela não mede os conhecimentos do aluno. Mas no final, ela é um instrumento. Ela não se completa em si. Que bom que o PROFORMAÇÃO tem a prova e tem os outros que completam a visão do todo, que é complementar. Ela não deve ser considerada o instrumento, ela é mais um instrumento. Então o PROFORMAÇÃO é muito feliz. É aquele negócio, nas nossas salas de aula, quando nós temos as nossas turmas temos condições de fazer provas com questões dissertativas.

Simone: Eles querem uma prova dissertativa num programa dessa natureza.

Alvana: Mas, nesse caso Simone, nós vamos corrigir todas as provas, não vamos? Não somos nós que estamos corrigindo? Então o critério é o mesmo, natural mesmo, porque é a mesma pessoa que está corrigindo. Agora, você imagina dois mil Tutores, dois mil e quinhentos Tutores, multiplique pelas Agências Formadoras. Então há uma dificuldade na prova que é mais subjetiva. Não é que não pode ser feito, mas exige um pouco mais de tempo, assim como nós orientamos para a avaliação do Memorial, por exemplo, que eu acho que é um instrumento um pouco mais difícil de ser avaliado, mas que nós tentamos ao menos diminuir o grau de subjetividade e tentar considerar realmente aquilo que é essencial no Memorial, preservar a natureza do Memorial. Da mesma maneira, nós teríamos que ter programado isso com antecedência, então sim, orientar toda uma equipe lá das Agências Formadoras, para fazer avaliação das questões abertas nas provas, que é o que se faz no vestibular.

Eu já participei do vestibular, e é o que se faz. Mas, o quê que acontece? Há um treinamento. A equipe é preparada para ter o mesmo peso e a mesma medida. Você não pode simplesmente lançar uma questão aberta e deixar que a Simone avalie de um jeito, a Alvana avalie de outro jeito, entende? E quanto maior o Programa, maior a dificuldade, nesse sentido.

Simone: Então, na realidade, no seu entendimento, este tipo de questões resguardaria, o aluno de uma interpretação infrutífera do Tutor?. Sabemos que a formação do Tutor, não lhe

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permite ainda condições de estar avaliando a questão dissertativa, tanto é que nós tivemos casos de reprovação no Memorial, que é um processo de construção.

Alvana: E mesmo a Formadora, no caso, a prova é corrigida pela Agência Formadora, mas mesmo aí. Você imagina ter 209 Agências Formadoras, e cada uma utilizando um critério para avaliar uma questão. É uma questão de homogeneizar as oportunidades no Programa, ser justo com todo mundo, de ter os mesmos pesos e medidas.

Eu não acho que a prova é o vilão. Eu acho que é só um instrumento, mas um instrumento que se tem para usar e que se pode usar. Eu, na minha prática docente, muitas vezes utilizei provas, e acho que é um instrumento.

Simone: O Programa que eu estou vendo agora se diferenciou muito do original, do Piloto. Enfim, de que forma o Piloto contribuiu para este novo formato ou, este novo formato é decorrente de uma visão do todo, do macro que vocês tiveram?

Alvana: Vamos ver quais são as diferenças. Por exemplo, nós mudamos Fase Presencial, mas nós mudamos em virtude da demanda, pois quando implementa também você tem isso, você tem que ter um planejamento muito bom, mas, você tem que estar aberto para corrigir no percurso. Se você vê que alguma coisa não está funcionando, você tem que ter agilidade de promover um mecanismo de mudança e orientar. Então, a Fase Presencial mudou, o número de horas mudou, mas foi em função de uma característica local. Nós tínhamos muitas reclamações de prefeitos, de Cursistas que tinham que ficar muito tempo fora de casa e dos próprios Professores Formadores, que achavam que o rendimento dessa fase descia, depois da segunda semana ele já tinha um declínio, o que é verdade, nós sabemos que é verdade. Então, esse foi um ajuste que veio com "feedback". Outros ajustes vieram com essa necessidade de um pouco mais de regras, de diretrizes.

O Programa tem uma base pedagógica lindíssima, isso nunca foi questionado e o que nós fizemos, na verdade, foi tentar sempre respeitar, tentar pensar mecanismos operacionais de viabilizar essa base. Então, tudo o que foi criado, foi no sentido de garantir que as coisas acontecessem, e acontecessem bem, dentro daquela proposta pedagógica o tempo todo. Mesmo no começo, aquele negócio da avaliação, quando nós vimos aquela loucura nós tentamos, nós ficamos o primeiro mês quebrando cabeça pra ver como que aquilo podia funcionar. Olha tentamos, para respeitar justamente a proposta pedagógica. Quando alguém da equipe falou: "quem sabe alguém dê uma oportunidade, vamos tentar novamente, vamos ver uma outra maneira de fazer".

Então, eu acho assim, a evolução do Programa é uma evolução e vem muito da experiência. O Programa, hoje, é mais sistemático, com procedimentos mais sistemáticos. E para que isso desse certo e mais tranqüilidade a todos, eu imagino, e até porque os números cresceram.

São vinte e sete mil. Então ele necessariamente, deveria ser mais sistemático para que pudéssemos ter o acompanhamento, o monitoramento efetivo, e tudo isso. Necessariamente, não tinha escapatória nesse sentido, agora é claro, eu sempre falo assim, se tivéssemos a opção de implementar melhor, menor, de começar menor seria ótimo. Infelizmente nós tivemos que pegar, e simplesmente da experiência de vocês, tentar imaginar como fazer funcionar de maneira organizada e sistemática aquele universo todo.

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Mas eu acho que o Piloto foi crucial, por exemplo, a necessidade do sistema de informações, já pelo Piloto vimos pela experiência de vocês. Vocês com a dificuldade das aulas que nós tínhamos naquele começo, a dificuldade de saber o que estava acontecendo, de ter um controle daquilo, vimos que necessariamente tinha que ter um sistema de informações. E que para esse tamanho tinha de ser informatizado, não havia outra maneira de acontecer.

Acho que os treinamentos cresceram bastante, até com o "feedback" de vocês. Vendo as necessidades. Acho que foi assim, uma experiência muito valiosa.

Simone: Nas outras entrevistas que eu tenho feito, o pessoal tece comentários sobre a contribuição do consultor, do Michael, mas na realidade, não entram em pormenores. Qual foi realmente a grande contribuição dele com o Programa?

Alvana: Ele orientou a formulação do material, por exemplo, desde o começo. E o Michael é um caso de Educação a Distância. Então, ele direcionou este Programa de uma maneira sistemática, por exemplo, todo o Programa foi direcionado a objetivos de aprendizagem. Isso parece trivial, mas não é. E se você olhar para a nossa Universidade e para os nossos cursos, você vai ver que nem todos eles começam traçando objetivos mais especificos do que você pode alcançar, e depois tentar construir o material, construir aquilo vai levar o Cursista a atingir aquele objetivo de aprendizagem. Essa foi uma grande contribuição do Michael. Desde o começo a batalha dele era tentar tirar o especialista daquilo que ele já fazia, mas tentar direcioná-lo, dizendo assim: "Olha, vamos tentar definir agora os nossos objetivos especificos. Aonde nós queremos chegar, o que nós queremos que o cursita domine no final do curso". Isso parece trivial, mas não é.

Simone: É a questão das competências, não é? Tem que definir.

Alvana: Das competências, dos resultados esperados específicos. E aí pegar e construir aquele material, o material e os vídeos, tudo em função de levar ao cumprimento, ao alcance desses objetivos. Então isso foi um trabalho exaustivo, não só do Michael, mas com Michael direcionando Wilsa, Belina e Mindé. E olha, nós conhecemos um pouco da realidade universitária dos especialistas, não é uma coisa que foi realmente complicada, foi um processo longo. E o Michael sempre fala que ele foi até onde podia.

Chega um momento que o próprio especialista não agüenta mais. Chega um ponto de saturação mesmo. É como nem nós nas nossas férias; chegamos a um ponto que não conseguimos ler o capítulo.

Então, ele direcionou muito com a experiência dele, com a experiência vivida por ele. direcionando muito bem essa questão da formulação, como é que você formula um curso de Educação a Distância; como é que você sabe de onde parte, como é que você monta isso, certamente, isso aí é claríssimo.

Ele também chamou a atenção para a estrutura de implementação. Ele viu a necessidade, que não era simplesmente jogar o material e deixar acontecer. Porque isso não era suficiente. Então ele também nos orientou na necessidade de você ter uma estrutura mais sistemática.

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Ele viu uma função fundamental, e eu acho que não há nenhum desmerecimento ao nosso país em reconhecer isso. Mas eu acho que nós não tínhamos realmente um profissional como o Michael pra direcionar esses programas. E se hoje nós sabemos, o que nós sabemos em Educação a Distância, se nós fugimos dos outros problemas, isso se deve muito a esse "now hal", que nós adquirimos fora. Foi trazido pelo Michael, foi com as experiências que fomos trazendo para dentro.

Então, acho com clareza, por exemplo, o Michael tinha uma clareza veemente assim.

Nós temos objetivos de aprendizagem, nós temos material que vai tentar levar o Cursista a esse objetivos de aprendizagem. E nós precisamos de uma estrutura que dê apoio à aprendizagem desse Cursista, tão simples quanto isso. E aí nós temos que ver isso no material. Você pode escrever e aí acontece. No sistema, você tem que ter esse apoio, como é que tem que funcionar esse apoio? Interessantíssimo isso.

Simone: Qual é a sua avaliação com referência ao Piloto que está terminando?

Alvana: Olha, acho que o Piloto foi desenvolvido da melhor maneira que podia ser desenvolvido. Eu admiro muito o trabalho que foi feito lá. Eu não vou dizer que haja coisas que não poderiam ter sido melhores, por exemplo, a sistematicidade dos treinamentos e da própria Agência Formadora, de ser mais bem orientada para a função que deveria ser. Tem coisa que poderia ter sido melhor, sempre tem e sempre vai ter. Mas, eu considero que eles fizeram muito e contribuíram diretamente para o aprimoramento da experiência. E isso você não pode negar. Acho assim, que a contribuição dos professores, olha o quanto de "feedback" que foram recebidos. O quanto de problemas que foram surgindo e que tiveram de ser administrados, e que vocês teriam que dar respostas, e administraram.

Então, acho também, que o crescimento do próprio Cursista, pois se sabe, que o fato de o Piloto ter abraçado o Programa assim e ter colocado para funcionar, e ele ter funcionado, para eles concluíram. Poderia ter sido um desastre, poderia ter sido um caos, poderia ter sido desmantelado, mas isso não aconteceu. Isso só não aconteceu, porque vocês conseguiram fazer isso com êxito. E isso tem um valor enorme, não dá para negar.

A única coisa que eu gostaria de oferecer ao Piloto era um pouco mais de estrutura, um pouco mais de diretrizes, para que você não tivesse sofrido muito no caminho. É só isso.

Simone: È o que sempre digo, eu gostaria de estar começando agora, de eu ter os vídeos, uma coleção só que veio, foi maravilhosa, enquanto suporte para prática pedagógica. A discussão dele na quinzena, pois o Piloto terminou sem receber o restante dos videos..

Alvana: Exatamente. São com essas questões que você vê que na verdade as coisas que poderiam ser melhoradas são da parte operacional mesmo. Teria sido assim, talvez o planejamento um pouco mais cuidadoso. Mas também era necessário testar o material. Alguém tinha que testar, alguém tinha que fazer isso.

Simone: E uma questão cultural também, social que até Mindé colocou na entrevista, uns municípios já estavam recorrendo a recursos até ilegais, na ânsia de formar seus professores. E se o PROFORMAÇÃO não tivesse saído naquele ano, que a demanda era de noventa mil, isso no Nacional. Quer dizer, se não saísse naquele ano sería um caos.

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Alvana: Estava em teste.

Simone : Ele disse-me que eu não poderia ser ansiosa, um programa leva dois anos para ser desenhado. E vocês ajudaram a construir esse desenho.

Alvana: É verdade. Ele foi construído em tempo recorde, e no processo ele foi sendo ajustado, foi tentando suprir as carências, causando também o sacrifício daqueles que o implantaram. E é por isso que eu acho que o que vocês fizeram foi um movimento heróico, é uma coisa que não é terrível, é uma coisa que deve ser reconhecida. Vocês fizeram, vocês criaram certas estruturas, vocês resolveram problemas, vocês administraram a sede, e quantas tiveram que ser administradas. Isso tem um valor enorme, e graças a Deus, graças a vocês e a esse empenho todo, que também o processo foi melhorando, sendo o primeiro módulo bem mais catastrófico do que o último.

Simone: No último, o pessoal estava mais tranqüilo, e eles diziam que agora estavam prontos para começar.

Alvana: Mas é isso. E conseguiram formar seus alunos. Acho que o Programa teve repercussão no Estado, os resultados foram bons. E agora é torcer e preparar para que o próximo seja assim, maravilhoso.

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3.4. Entrevista com: Evanildes Arruda Bordalho

CARGO: Coordenadora da Equipe Estadual de Gerenciamento do PROFORMAÇÃO no estado de Mato Grosso.

DATA: 18/05/2001

LOCAL: Cuiabá

Simone: Eva, como é que foi o início do seu trabalho, na Equipe Estadual do PROFORMAÇÃO? Qual era a expectativa que você tinha com o Programa? O que a equipe, a SEDUC, esperava desse Programa para a secretaria, para os Professores Leigos? E como é que vocês foram montando, organizando a equipe para trabalhar no Programa?

Evanildes: A secretaria começou esse trabalho com a intenção de estar intensificando o Programa que ela já havia traçado no que diz respeito à Formação de Professores. Então foi a oportunidade que a secretaria teve de concretizar uma ação já planejada. Com a parceria com o MEC/FUNDESCOLA isso veio fortalecer a implementação dessas ações.

Quando nós assumimos a coordenação do Programa, ele estava já na primeira semana da Fase Presencial. Portanto, essa equipe foi formada rapidamente com a saída da pessoa que coordenava até então. Então nós conseguimos um espaço, ficando eu na coordenação e mais duas pessoas que ajudavam nas questões mais administrativas do Programa. A expectativa da secretaria, no que diz respeito ao Programa, era que nós tínhamos certeza de que esse Programa iria beneficiar muito mais os municípios do que a secretaria do Estado, porque no levantamento feito era bem provisório o número de professores do estado que possuía formação, especificamente o magistério. Então 99% dos professores que participavam do Programa era do município. Com isso, a secretaria queria estar mais presente nos municípios, mostrar a importância da articulação de uma Secretaria de Estado e ter presença nesses municípios no processo de articulação entre Secretaria de Estado e Secretaria Municipal.

Simone: Quando começou o Programa, quais foram as maiores dificuldades que a equipe teve para estar trabalhando conforme o desenho que o projeto requeria?

Evanildes: Tínhamos como uma das dificuldades a indefinição do desenho pedagógico, o desenho das disciplinas que estruturariam o Programa. Tínhamos dificuldades no processo de avaliação, como ele seria desencadeado com todas as atividades, com todos os encaminhamentos que os Professores Cursistas tinham que fazer. Outra questão era a das disciplinas específicas no Estado, que Brasília não havia definido, e como éramos Piloto e estávamos ainda começando, Brasília não tinha definido essa questão de que disciplinas poderíamos estar trabalhando no Estado; e como elas iriam desencadear esse processo junto ao Professor Cursista. Outra dificuldade que tínhamos também foi a questão de não termos um espaço dos centros adequado ao atendimento dos Professores Cursistas, porque como alguns centros foram organizados rapidamente para atender esse Programa, não tinha uma estrutura física e até de pessoal necessária. Mas, com o processo e encaminhamento do Programa isso foi resolvido.

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Mas, uma das coisas que mais acompanhou em longo prazo foi a questão do sistema de avaliação, e em conseqüência disso a questão do Memorial, que era um elemento importantíssimo no processo avaliativo; as provas que foram pauta de muita discussão em várias reuniões dos professores dos centros e da equipe de Brasília, porque as provas eram muito problemáticas, isto é, as primeiras que foram elaboradas; esse problema foi apresentado por mim. Então, acho que esses foram alguns pontos que eu vi e coloco como entraves, mas não posso esquecer de um detalhe... A questão dos prazos tanto de entrega do material didático que não eram cumpridos, quanto aos prazos que eles estabeleciam para nós para mandarmos os resultados que também ficavam prejudicados, porque se o material não chegava, as provas não chegavam no periodo que deveriam. Eles queriam que obedecêssemos a um cronograma e era impossível obedecê-lo, pois eles mesmos não cumpriam os prazos por eles propostos. Então, essa questão do prazo, principalmente do envio do material didático, foi pauta de várias reuniões e discussões do grupo, porque elas vinham para o Estado e depois tínhamos que mandá-las para os professores.

Simone: Como é que você vê o grupo do Piloto nesse processo todo? Como que esse grupo foi se construindo?

Evanildes: Foi uma trajetória muito bonita, porque em nenhum momento nós vimos o Piloto passivo a todas as coisas que aconteciam; pelo contrário, foi um grupo extremamente ativo, crítico, e que começou a andar com as próprias pernas. Tomávamos as decisões com o grupo, coletivamente; nós tínhamos encontros de 40 em 40 dias com todos os diretores, coordenadores e algumas vezes com todos os professores, onde nós tomávamos as decisões. Nenhuma decisão foi tomada, no que diz respeito ao encaminhamento do processo, por mim ou pela assessora técnica; isoladamente, sem discussão anterior com as pessoas que executavam o Programa. Então nós tínhamos essa preocupação de sentarmos e definir sobre o assunto.

Um dos momentos mais interessantes que vivenciamos no começo do Programa foi uma reunião que fizemos para definir quais as disciplinas do Estado que fariam parte da grade das áreas definidas nacionalmente, chamadas de núcleo comum. Foi numa dessas reuniões coletivas que decidimos que trabalharíamos com a questão de recreação e jogos; esta disciplina já voltada parta a pesquisa, na qual o professor faria o resgate da cultura da comunidade, das brincadeiras que as crianças usavam antigamente, das coisas que faziam aquela comunidade ser do jeito que ela era. Seria estar resgatando e valorizando a cultura daquela comunidade. Esse era o objetivo da disciplina de recreação e jogos.

Outra disciplina que implementamos também foi a História e Geografia do Mato Grosso, porque os professores entendiam que todos os professores do estado tinham poucos referenciais com relação a essa temática. A questão do material é sempre uma dificuldade consegui-lo. Então nós decidimos, naquele momento, que iríamos trabalhar essas disciplinas e além disso, nós íamos produzir o material a ser trabalhado.

A questão do estudo de língua no Programa, nós decidimos que a língua estrangeira seria o espanhol para nós, pelo fato de estarmos envolvidos e mais próximos da questão do Mercosul, da língua dos povos do Chile, da Bolívia que são vizinhos nossos. Assim, decidimos pelo espanhol.

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A informática também foi uma decisão da equipe, porque foi até uma discussão de como a mesma seria trabalhada pedagogicamente, porque não queríamos que o professor só aprendesse a alfabetização da informática, mas que a partir disso eles pudessem ter o entendimento de como que a informática pode ajudá-lo no dia-a-dia. Então mais do que ser alfabetizado, é saber, conhecer essa área de conhecimento e conseguir entender que dela podemos trabalhar pedagogicamente.

Simone: Então você considera esses encontros como fundamentais para a construção do grupo?

Evanildes: Esses encontros foram importantes porque era nesse momento que as pessoas podiam pensar na trajetória do Programa no Estado, em cada AGF, em cada CEFAPRO e tomar as decisões coletivas. Acho que isso é importante. Nós demos conta de fazer acontecer, porque todos decidiram coletivamente e tiveram a clareza de que era aquilo que queríamos. Então acho que foi uma linha de trabalho que deu sustentação ao que havia sido planejado, pois todos se envolveram, decidiram e correram atrás de material, não ficou só para a Coordenação Estadual viabilizar os materiais. Ficamos responsáveis pelo material, mas todos eles tinham material de suporte além do que foi elaborado pelos especialistas que convidamos para elaborar, porque cada área dessa é feita por especialistas das áreas que elaboraram o material que seria trabalhado em Mato Grosso.

Simone: E Brasília, o que dizia dessas decisões? Homologava essas decisões de autonomia do Piloto?

Evanildes: Brasília homologava, porque não tinha conhecimento do fato. Então quando tomávamos uma decisão, ajudava Brasília a traçar também o caminho. E aí tínhamos uma parceria muito grande nesse sentido, porque eles não nos viram só como alguém que estava executando, mas alguém que estava pensando junto com eles e ajudando a traçar os caminhos que os outros estados pudessem seguir, tanto que temos como reflexo disso, a questão da recreação e jogos, não havia na grade, e depois que implantamos, foi colocada. A questão do Projeto nasceu daí, quando nós pensamos em recreação e jogos e quando um CEFAPRO nosso, de Barra do Garças iniciou um trabalho nessa linha. Então, Brasília que também tinha na grade com outro nome, interação com a comunidade, mas não deixava claro que era aquela interação com comunidade. Nós concretizamos aquilo e denominamos que estaríamos trabalhando com os projetos de pesquisa que iriam propiciar essa interação e integração de escola/comunidade. Mas, uma coisa que eu não canso de dizer, e sempre digo nos lugares que temos oportunidade de falar nos CEFAPRO, é que Mato Grosso teve uma participação importantíssima na definição do que se chama, hoje, a Matriz Curricular do PROFORMAÇÃO que aí está.

Simone: Quais são os avanços que você considera do Programa em Mato Grosso?

Evanildes: Do Programa com o Mato Grosso, eu entendo que ele, em primeiro lugar, ajudou Mato Grosso a implantar, se não construir pelo menos adquirir knowhow para poder construir uma política de Formação Inicial. Ajudou Mato Grosso a enxergar melhor a importância dos Centros de Formação. Favoreceu com que a SEDUC, a Secretaria e até os municípios que fazem parte do nosso Estado, sentiram importância dos CEFAPROS no interior do Estado e na capital, isto é, da importância dele enquanto Centro de Formação, tanto a Formação Continuada quanto a inicial.

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E a partir desse projeto, os professores dos centros começaram a ter oportunidade de se preparar e ter a sua Formação Continuada, os professores do estado também precisavam. E o PROFORMAÇÃO foi uma oportunidade porque nós não ficávamos preocupados apenas com o pontual do pontual do PROFORMAÇÃO, oferecíamos sempre encontros que vinham ampliar o conhecimento do professor para aquela prática que ele estava realizando. Mais que isso, acho que oportunizou os professores dos centros a saída de seu local de trabalho e conhecer na base, a realidade dos professores que estão na zona rural, porque os professores do CEFAPROs, a experiência deles é mais como professores do município-sede, e com o Programa eles tiveram oportunidade de se deslocar, de conhecer a dificuldade; enfim, de tomar conhecimento de uma realidade que até então não conheciam, só sabiam de ouvir falar.

Penso que para a Secretaria de Estado, o Programa trouxe como benefício uma parceria interessante com o MEC e com o FUNDESCOLA que favoreceu a vinda de outros projetos para cá, até porque o FUNDESCOLA e o MEC conhecendo a estrutura dos Centros de Formação via nisso a possibilidade de estar implementando outros projetos e programas, tanto que Mato Grosso é convidado. Todo programa novo que surge no Mato Grosso está na lista para entrar e implementar como Piloto. Eu vejo que essas foram algumas vantagens dessa parceria entre MEC, FUNDESCOLA e Secretaria de Estado na execução do PROFORMAÇÃO.

Simone: Evanildes, você permite e dá a sua autorização para publicar essa entrevista?

Evanildes: Permito.

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3.5. Entrevista com: Mindé Badauy de Menezes

Cargo: Diretora do Departamento de planejamento e desenvolvimento de projetos SEED/MEC no período da implantação do PROFORMAÇÃO.

Data: 30/12/2000

Local: Goiânia (GO)

Simone: Mindé, você é uma das pessoas que faz parte da história da criação do projeto PROFORMAÇÃO. Poderia nos contar como é que surgiu este Programa?

Mindé: O projeto PROFORMAÇÃO, desde 1996 começa a ser uma demanda efetiva. Quando a TV Escola entrou no ar, os professores tinham uma expectativa de que aquele programa titulasse. Como a TV Escola tinha uma função exatamente de atender os segmentos mais distantes, numa perspectiva de equalização, dado que as escolas distantes são mais pobres e os professores têm menor possibilidades de Formação Continuada, essa demanda veio muito rapidamente colocada dentro do MEC, no sentido de fazer um curso a distância para titular, uma vez que se tratava de pessoas que não tinham a titulação mínima, mas que eram docentes.

Desde 1996 nós colocamos uma linha no Programa do componente nacional, porque se tratava de um programa para atender as regiões mais amplas do projeto Nordeste compreendendo um programa de Formação de Professores em exercício sem titulação mínima, e já era uma questão colocada na Lei de Diretrizes e Bases no final de 1996 e durante esse ano, até 1997, ficamos negociando.

Saiu um primeiro recurso e este foi recolhido, mas o Banco Mundial tinha ouvido falar que tinha alguém que estava investindo em um projeto diferente no Brasil e eu falava da necessidade de se executar esse curso e todos me diziam: Mindé, isso é sonho, e eu dizia: Gente, mas é tudo o que se precisa fazer para os setores mais distantes onde a formação se chegar, vai chegar muito incipiente.

Bem, em função de estar no componente nacional do projeto Nordeste, eu recebi um dia o Word, que era chefe da missão do Banco aqui no Brasil, o qual falou que lá em Minas Gerais ficou sabendo que alguém estava interessada num programa assim e veio até Brasília falar comigo acompanhado de Wilsa Ramos e pediu-me para expor.

Eu falei que era um projeto ainda em construção só que o que eu tinha muito claro é que era para professores em exercício e que pretendia associar a prática cotidiana com a formação, numa perspectiva para ver em que medida e de que forma esses professores introjetam a formação que recebem no curso, na sua prática pedagógica.

Bem, ele ficou visivelmente fascinado com a proposta e disse que é muito idealista este projeto, mas eu acredito muito pois eu estou trabalhando com programas de professores que vem, faz uma reciclagem e volta para sala de aula e retoma para a reciclagem e volta para a sala de aula e nada muda, enfim, esse projeto me fascina, disse ele.

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Em cinco dias vem o Michael enviado lá de Washington, do Banco Mundial, porque tinha ouvido o Word falar e veio me ouvir, com aquele jeitão aparentemente frio, distante.

passados uns dias estou em pleno processo de organização do Projeto, o dinheiro no MEC tinha entrado, véspera de Natal e o Secretário de Educação a Distância do MEC, Pedro Paulo Poppovic me chamou e disse: Mindé, este projeto é prioritário dessa Secretaria para 1998.

Simone: Mindé, nesse momento, que cargo você ocupava no MEC?

Mindé: Eu estava no mesmo cargo de Diretora do Departamento de Desenvolvimento de Projetos e nós tínhamos feito o levantamento de todas as alternativas para fazer esse curso sem ter que produzir materiais, sem ter que construir Matriz Curricular, porque o MEC não tinha diretrizes no âmbito da Formação de Professores em nível médio, ele estava aparentemente em discussão, embora a lei não tenha extinguido o Magistério, os estados estavam todos fechando suas escolas de Ensino Médio.

Passados três ou quatro dias me ligam da Contabilidade do Financeiro e falaram no telefone:

_Olha, professora Mindé, o dinheiro do Projeto terá que ser recolhido. Eu falei, como? Ele respondeu:

_É porque tem uma determinação que tem que recolher o dinheiro alocado do FNDE porque vão ser limitados os prazos. Eu disse:

_Mas como? Nós temos um compromisso, nós temos um seminário convocado. Pois eu já tinha me reunido com o CONSED, com a professora Iara, do Ensino Fundamental, com a UNDIME, porque os professores eram da rede municipal, e tínhamos definido que teríamos um seminário na Paraíba, para marcarmos uma posição política, dado que era um dos estados que apresentavam maior índice de professores não habilitados.

Então fizemos uma reunião com a UNDIME e com o CONSED e não conseguimos, de forma alguma, segurar o recurso, que foi devolvido para o FNDE.

Aí eu me comuniquei rapidamente com a comissão do Banco Mundial em Washington e eles disseram que era para fazermos um plano em prazo recorde e "coloquem aqui que nós vamos encaminhar e dar uma solução rápida", o que deu a entender um alto desejo do Banco Mundial no Programa, uma vez que eles tinham acabado de fazer uma avaliação do projeto Nordeste, no qual investiram massivamente na capacitação sem a conseqüente titulação, pois a cada momento participava um grupo diferente, sem se configurar na capacitação continuada de professores.

O projeto Nordeste, que já estava começando a virar FUNDESCOLA e incluindo a região Norte e Centro-Oeste, optou por fazer capacitações que tivessem conseqüências, ou seja, capacitações que pudessem construir um certo nível de autonomia e que oferecesse condições para que o professor sozinho tivesse oportunidade de construir um processo de formação. Então a opção era investir em programas de longa duração em vez de cursos de

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30 horas porque esse tipo de investimento tinha um custo muito alto. Neste momento tínhamos uma estimativa muito alta, eu diria que era quase o custo do PROFORMAÇÃO.

Então era um custo muito alto e os resultados no Nordeste onde o projeto Nordeste investia há oito anos, continuava com um dos índices de reprovação o mais alto do país e a profissionalização do Magistério não existia. Então juntando estes dados com a nossa intenção de fazer o projeto, o Banco disse para enviar a proposta.

A estas alturas o MEC em férias, a Wilsa e eu, em menos de dez dias do Natal, trabalhamos muito, montamos esse Projeto e colocamos no Banco Mundial em Washington.

No dia 14 de janeiro de 1998 já tivemos a informação da aprovação do projeto, e em fevereiro já tivemos em mãos o recurso para fazer o Seminário.

Foi uma coisa assim, muito forte, é uma conjuntura astral com o nosso interesse e de alguns estados com os quais já tínhamos um diálogo muito fecundo, o que foi permitindo reescrever o Projeto, uma vez que alguns estados já tinham alguns projetos para os seus professores. Muitos estados enviaram seus projetos para o MEC para aprovação, tentávamos uma interação com estes estados.

Eu falo que este Projeto é um projeto de muitas mãos, porque os pilares dele foram construídos muito na conversa com parceiros, com atores, então eu digo que não é o governo, os professores, a SEED... eu tinha visto o projeto GerAção e tive muita inspiração com aquele projeto, foi em 1997. Entrou tudo do GerAção, também me inspirei em muita coisa do Instituto Kennedy, do Rio Grande do Norte. Veio de lá a idéia de contar o exercício da docência como componente do curso. Este Curso era também programado para professores sem formação, e isso se constituiu num cenário onde as informações se completavam e os caminhos foram se complementando tanto que, quando fomos a Minas Gerais, encontramos e trouxemos a Umbelina Salgado como consultora e ela disse:

_Mindé o projeto é seu, eu vou dar a forma nessa andança toda.

O Word achou que tínhamos que visitar em Minas Gerais o Projeto de Formação Permanente de Professores a Distância, sustentado em pólos que eram as universidades e que atendia toda a demanda do estado.

Eu fui visitar esses Centros junto com a Maria Inês Laranjeira da SEF/MEC, e lá encontramos a Umbelina e a Nilza, começamos a conversar e logo trouxemos a Umbelina para consultora do Projeto e a partir dessa reflexão com os parceiros deu para ter uma idéia de como manter este projeto em pólos.

Alguns locais tivemos dificuldades com os pólos, contatamos a Universidade de Mato Grosso, que tinha uma referência muito boa de Educação a Distância e eles manifestaram que o interesse deles é na formação de ensino superior e que só entrariam no Ensino Médio se tivessem condições muito boas, etc.

No entanto convidamos a UFMT e muitas pessoas que pudessem associar experiências e levantar resultados e estruturas mais ágeis para detalhar melhor o projeto para o Banco Mundial.

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O que queríamos no encontro da Paraíba era que se pudesse contribuir para uma reflexão em cima dos projetos referenciais que estavam em curso, por exemplo o de Mato Grosso, o de Maranhão, o do Rio Grande do Norte; tinham 5 ou 6 projetos e lá nasceu uma comissão para a montagem dessa proposta de curso e de currículo e naquele ano trabalhamos nisso, pois tínhamos dinheiro para a consultoria e o nosso plano era de começar em 1999.

Simone: Mindé, porque vocês escolheram Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para Piloto?

Mindé: Nós escolhemos o Centro-Oeste por duas razões fundamentais. Uma era o número dos estados onde teria a cobertura do FUNDESCOLA e era a região onde havia o menor numero de Leigos, dando uma expectativa de abarcar 100% da demanda; outra, a proximidade, o que nos dava a possibilidade de fazer um melhor acompanhamento ao projeto dada a região ser próxima de Brasília.

Se pegássemos estados variados, nós íamos trabalhar com uma gama de variáveis para as quais nós não tínhamos competência nem encaminhamentos bem delineados. Essas foram as razões determinantes.

Tínhamos uma boa referência do projeto Magister de Goiás e a do Mato Grosso com uma cultura muito adequada às necessidades regionais porque queríamos que esse projeto ganhasse vida e condições e que cada estado estivesse aperfeiçoando, o que aliás esteve muito presente, que seria de dar liberdade para os estados de conferir uma certa identidade ao projeto.

A idéia não era de um projeto acabado, mas que você estaria acumulando uma experiência ao longo dele, tanto que pensamos em desenvolvê-lo junto a instituições que dessem, conta de fazer isso, mas na prática não aconteceu.

Simone: Mindé, por que Goiás não entrou no projeto?

Mindé: Tivemos a maior dificuldade em encaminhar o projeto com Goiás. Posso estar equivocada, mas a Secretaria de Educação já tinha dificuldades com os encaminhamentos de projetos. Toda a vez que vínhamos para negociar e as parcerias o projeto estava com outras pessoas.

Aí numa quarta, quinta vez, eu disse que tínhamos prazo finito e temos providências a serem tomadas, que Goiás estava com atraso. Então a Secretária de Educação enviou um fax ao MEC dizendo que não iriam participar do Projeto.

Simone: E a receptividade de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul como foi?

Mindé: Mato Grosso foi fantástico, Mato Grosso do Sul foi puxado, mais complicado. Lá tínhamos condições muito boas, poderia fazer um excelente projeto com o número reduzido de pessoas, já havíamos iniciado a discussão do projeto com o pessoal da Secretaria anterior que entrou afoitamente na proposta.

Depois o governo mudou, as pessoas alegaram que não tinham condições estruturais e bancamos Mato Grosso do Sul. Eram receptivos, porém distantes, não sabiam quando fazer o projeto e de fato a capacitação inicial deles teve que ser lá em Cuiabá. Foi complicada a

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negociação com o Governo novo, popular, com uma certa desconfiança de tudo. Foi uma pena, poderíamos acompanhar caso a caso, mas não conseguimos o que esperávamos lá.

No Mato Grosso achamos interessante que foi muito rápido, porque tinha antecedentes que era o projeto GerAção que estava encerrando por falta de recursos financeiros. Eu fico até pensando se lá não deveríamos ter bancado o GerAção e ter deixado ele, hoje eu penso que isso não aconteceu porque naquela época nem de lá, nem de cá surgiu esta idéia de solicitar esse procedimento possível. Parecia que o GerAção tinha características interessantes, mas ele não conseguiu chegar com toda a estimativa que se pensava, havia desistentes.

Queríamos um projeto que entrasse com 100% e saísse com 100% de aprovação, então tudo no PROFORMAÇÃO foi feito, escrito e pensado nesta perspectiva. Era uma meta muito ambiciosa; primeiro pretendia absorver 100% dos não titulados, que não se configurou em lugar algum; segundo de ter aproveitamento 100% , de não ter abandono.

Eu diria que o abandono num programa desse tipo com um nível de enfrentamento que ele coloca para as pessoas, teria um abandono muito baixo. O Cursista é muito assistido, quando ele começa a cair ele é puxado . Eu diria que os resultados seriam efetivamente bons se chegassem ao final do Programa, e o Mato Groso pudesse dizer que concluíram 98% e todos com qualidade aceitável, além do esperado.

Nós tínhamos expectativas de que no final de 98 o Projeto estivesse muito bem deliNEADo, materiais prontos, e isso não ocorreu no Piloto. Pedro Paulo, Secretário da SEED, foi muito prudente em não iniciar o Programa em grande escala. Tivemos muitos problemas com a questão do atraso em colocar o Programa para executar, foi uma pena, sabe, pois as prefeituras começaram a achar soluções com instituições nada consistentes e nem sabíamos da legalidade delas.

Houve estado por exemplo, que tinha 27 instituições com curso a distância com a maior facilidade, e nós trabalhando num projeto com o rigor do PROFORMAÇÃO em estados que se sabia da existência de 6 000 a 7 000 Leigos e você não conseguia 800 pessoas matriculadas. As prefeituras não acreditavam mais que o PROFORMAÇÃO fosse sair e, ao mesmo tempo, fez vir à tona essas situações de ilegalidade desses programas e o empresariamento da educação.

Tínhamos um público de 70 000 a 80 000 e ficamos reduzidos a um público de 30 000 e sabíamos que este efetivo é de 80 000.

Simone: Em Mato Grosso surgiu um fato interessante, as prefeituras que haviam investido em outros projetos, muitas delas ao verem a qualidade do PROFORMAÇÃO, resolveram transferir os recursos e os alunos para o PROFORMAÇÃO. O resultado disso foi uma segunda turma do Programa em Mato Grosso, com a expectativa de uma terceira turma em 2001

Isso é privilégio só de Mato Grosso, pois o recurso do Projeto é finito a não ser que os estados assumam as condições estruturais. Eu particularmente acho que, considerando os resultados do Piloto, esse projeto não pode ter um declínio rapidamente, terminando o projeto, entra em declínio, acabou, o ano termina.

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Esse material, com o potencial que tem, o pessoal fica maravilhado com o uso e análise dele. Eu acho que esse material é para 10 anos e até por conta disso, e por conta de eu ser missionária, eu formulei junto ao meu trabalho no COMPED, que é uma linha editorial dentro do INEP, com um movimento de reprodução de material de formação que são reconhecidos e na conversa com a comissão pedimos a inclusão do PROFORMAÇÃO, como um material de nível médio e superior. Com a minha saída do MEC não sei como é que ficou.

O material é bom porque você dá um período de utilidade maior, ele é bom também porque é uma evidência de qualidade do Programa. Ninguém está buscando o Programa porque ele é fácil, mas porque ele representa uma inserção efetiva na rede de ensino no sentido de mudanças qualitativas, substantivas.

Simone: Mindé, a estrutura do Mato Grosso em Centros de Formação é diferente dos outros estados? Você que tem a visão do todo, poderia analisar?

As condições do Mato Grosso são excepcionais, isso foi um fator determinante. Por outro lado, foi também determinante para ele aderir ao Programa. Eles viam nos CEFAPROs uma potencialidade para cuja condição estrutural eles não vislumbravam concluírem curto prazo. Lá também teve uma conjugação astral. Aqui em Goiás a conjugação astral se deu agora.

As Agências Formadoras viraram NUREG, núcleos de tecnologia e de Formação Continuada, conjugando o NTE, TV Escola com todo o aparato, que na realidade vai reproduzir a estrutura lá de vocês. O fato desses recursos se agregarem, potencializa cada um deles e torna possível estender com melhor qualidade todos os programas de assistência pedagógica e de Formação Continuada.

Simone: Mindé, sempre que perguntamos aos Cursistas sobre a qualidade do Programa, são unânimes em avaliá-lo como muito bom, de significativa repercussão na prática docente. No entanto, eles consideram como pontos a serem melhorados o prazo no repasse do material e os vídeos, que até hoje só chegaram às mãos do Piloto a unidade I. A que você atribui estes atrasos?

Mindé: É muito complexa a produção de material. Quando você se dispõe a organizar o material que compreende desde a produção, um processo de revisão, ajustamento, pré-testagem...São muitas etapas. Temos um planejamento e se um da cadeia não funcionar, pronto, você perde todo o prazo.

E o projeto gráfico atrasou, é o especialista que não entregou ou a revisão foi mais profunda, levou mais tempo. A firma que venceu o projeto gráfico fez um valor mais barato e entregou trabalhos a free lance, então você tem cinco conteúdos e cada um deles trabalhado por um especialista, não dá o conjunto que você almeja. Isto tudo não previmos. Exigiu revisão para darmos uma unidade nos trabalhos e com isto mais tempo que não se havia previsto.

Trabalhávamos com um programa cronometrado, fomos surpreendidos com gravações cujos prazos não foram observados. Era o primeiro ano que a revisão do projeto gráfico era realizado via correio, sedex. Tivemos problemas no Natal, o material sumiu e o pessoal não tinha mais os originais, estavam em ferias, foi uma loucura.

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Aí tivemos que mudar a estratégia, levamos os especialistas para definirem o projeto gráfico em São Paulo e isso exigia uma pessoa permanentemente na revisão do processo todo para dar unidade. O ano passado o Secretário da SEED, Pedro Paulo, estava extremamente desgastado comigo e com a Wilsa por conta disso. Quando ele percebeu que não era incompetência, nem falta de cuidado, ele não quis que o controle ficasse no MEC, continuou comigo e com a Wilsa.

Mas a capa deu um desentendimento tão grande que tomou proporções enormes e mais tempo do que previmos. Eu estava em Pernambuco quando escolheram a capa, que não tinha nada a ver com o PROFORMAÇÃO. Aí tivemos que rever tudo isso, e levou tempo, melindrou muita gente. Então houve muitos incidentes de percurso que impediram aquele cronograma.

Os outros estados vão levar vantagem. Agora o problema é com os vídeos. Foi sustado o contrato com a firma que estava produzindo. O Norte e o Nordeste também ficarão sem vídeo porque a produção não estava atendendo aos requisitos de qualidade e de conteúdo. Poderíamos ter pensado em fazer o Programa antes, levaria dois anos para aprontar, mas o prazo do FUNDEF estaria expirando e as prefeituras teriam partido para outros investimentos.

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3.6. Entrevista com: Professor Oreste Preti

Cargo: Coordenador do NEAD

Data: 25/01/2001

Local: Instituto de Educação-UFMT

Simone: Fale sobre da história de Educação a Distância na UFMT como um projeto pioneiro na área de Formação de Professores em nível superior. Como começou o NEAD aqui no Instituto de Educação?

Oreste; Essa idéia de Educação à Distância já nasceu, em sua origem, em parceria. Não foi uma idéia da Universidade, já foi uma idéia que nasceu de uma viagem que a Reitoria fez junto com o secretário de Educação ao Canadá para verem outras coisas, não foi nem para discutir EAD, foram ver uns programas, uns projetos e casualmente foram visitar A TELÉ UNIVERSITÉ e daí tanto o secretário quanto o reitor se entusiasmaram com essa possibilidade da Universidade funcionar dentro de novos paradigmas. Então a Reitoria através de seu assessor, começou a mobilizar todos os departamentos, convidou todo mundo, cada departamento quem quisesse estar discutindo EAD.

Ele reuniu uma porção de gente no salão perto da Reitoria, foi o pessoal da secretaria também, um grande número de pessoas naquela perspectiva de que vinha dinheiro, era um projeto com o Canadá, já fechado, pronto, só para executar. Logo de cara colocado que não, que era um começo, de se pensar, havia possibilidade de fazer acontecer EAD aqui no Estado, sem saber ainda como, nem o quê. Então começou a fazer uma discussão sobre EAD, muitos eram contra, eu era contra. Havia aquelas leituras de EAD que o MEC tinha desenvolvido na década de 70. Minerva, Logus que tínhamos muitas críticas da forma como havia sido implementado. Mas no caminhar o grupo foi afunilando e viabilizando as pessoas que tinham realmente interesse em discutir EAD, que queriam um projeto alternativo de educação. Ao final do 1o semestre conseguimos fechar até o que seria este projeto, para que tipo de aluno seria, que tipo de população.

A decisão foi a partir de dados que nós levantamos que a própria secretaria nos forneceu para identificar onde estava a maior lacuna, a maior demanda em nível de Formação de Professores. Apareceu que o estrangulamento era a formação de nível 3o grau, embora tínhamos inicialmente uma idéia de que era em nível de Magistério, e os dados revelaram que não, que havia mais de 6, 7 mil professores em sala de aula sem curso superior, enquanto em nível de Magistério não chegava a 2 mil na época. Ficou evidente que para um curso de EAD era muito mais significativo trabalhar com a demanda maior, porque o grupo pequeno você poderia atender através de outros projetos muito mais presenciais. Então a definição foi ficando dentro dessas características. O grupo, dentro dessa discussão, foi encontrando pontos comuns que congregaram as pessoas, mas finalmente estava o grupo da EAD, 4 ou 5 pessoas e mais umas outras de alguns departamentos da Universidade que se interessaram, que já tinham a prática.

Esse era outro ponto comum de todas as pessoas que ficaram. Eram pessoas que já vinham fazendo trabalhos na Formação de Professores no interior, viajando com projetos.

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Acho que isso acabou sensibilizando, tornando a equipe coesa, pensando coletivamente, rompendo aquelas coisas de cada departamento, estar oferecendo cursos no interior. E a decisão onde ficaria depois esse núcleo, optamos pela idéia de um núcleo inicialmente, não de um departamento de uma pró-reitoria, como o reitor havia cogitado inicialmente.

A idéia de um núcleo, um grupo que pudesse convergir os esforços em direção a uma dimensão prioritária, foi definida a partir da sensibilidade que o grupo percebeu que o Instituto de Educação tinha com essa abertura para se pensar uma nova modalidade e que os outros institutos eram mais resistentes. O nosso também tinha resistência no interior, mas é o que abria mais espaço, porque tanto o assessor do reitor na época era do Instituto, também já estava um processo de criação dos institutos e o Paulo era candidato a ser diretor do Instituto. Estavam postas condições para que o Projeto pudesse se estabilizar e a partir daí nos encontramos perante um dilema, conhecemos a vontade de trazer a EAD, atender esse 6 mil professores. Mas de que jeito, ninguém de nós tinha experiência, nem conhecimento do que é um curso de EAD , um curso superior via internet.

Entretanto, ao longo dessa discussão do grupo tínhamos todos os contatos, muito esporádicos com a Unesco e a Tele Université. A Tele Université quando o presidente da instituição na época foi fazer uma visita a uma instituição, vindo ao Brasil e aproveitou para fazer um desvio não sei se no Rio ou SP, então veio até Cuiabá para conhecer esse grupo que estava começando a querer discutir EAD e ver quais eram as condições objetivas da Instituição, para ver se era possível ou não uma parceria com a Tele Université e a Unesco. A assessora por Assuntos Educativos da regional também veio fazer visita aqui no Brasil. Na época que visitou, veio até a Universidade e conversou. Então os dois sentiram que o grupo era um grupo que realmente estava acreditando, um grupo com potencial, porém sem formação.

O primeiro objetivo que se definiu e forma estratégica por definição, era formar o grupo, dar uma qualificação ao grupo. Pensaram-se diversos caminhos, um deles foi a Tele Université, que ofereceu um curso de EAD, o outro era o de visitar, primeiro aqui no Brasil, sabíamos que tinha instituição, que já vinha há muito tempo fazendo EAD por rádio, jornal e outros, então começamos a visitar Rio, SP, Santa Catarina, mais no sul visitou um pouco essas experiências, depois no exterior também, fomos a Costa Rica, Tele Université, Unesco na Espanha, mas sempre associando essas visitas a estágios, não ir lá só para olhar, visitar; aproveitamos para ficar lá 2 meses, fazendo cursos, cujo tempo dos programas deles era de formação. Foi aí que o grupo começou a ter uma idéia do que seria EAD e pensar como é , eu seria favorável este projeto aqui.

Na elaboração deste projeto pesaram muito nas contribuições da Tele Université -nesse curso a distância_, depois o próprio assessor, o professor Roger Bédard, para fechar o curso e discutir a parte mais operacional do Projeto. Ele está hoje no Piauí. A ida à UNED nos deu uma idéia porque eram instituições que trabalhavam diferentemente EAD. Acabamos assimilando um pouco da Tele e um pouco da UNED (Universidade Estatal da Espanha) em termos de Educação. Acho que foram momentos muito enriquecedores, porque não somente passamos a acreditar no que vimos, que é realmente possível o ensino de EAD, como percebemos que em todas essas instituições eles frisavam isso, que nós tínhamos que dar ao nosso curso a cara regional. Eles não aconselhavam a ficarmos copiando. Isso foi até positivo, eles insistiram muito nisso.

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Daí concluir que não é certo você transferir tecnologias, sistemas de EAD de um país para outro. Nós tínhamos que fazer o nosso desenho, a nossa proposta; ao final desse percurso, que ficou quase mais de um ano, conseguimos elaborar o Projeto, a licenciatura em EAD. Nâo nos aventuramos em fazer a experiência com grande número de professores, nesse aspecto tivemos as garantias tanto da Universidade como do estado, de somente iniciar o Curso quando nos sentíssemos preparados e prontos para isso.

Embora tivesse interesses políticos, tanto da Universidade e, sobretudo do Estado, já estavam em final de governo, para iniciar o quanto antes o curso e nas próprias prefeituras havia essa pressão de prefeitos, secretários, sempre fomos respeitados nas decisões. Fizemos o passo que podia dar, não seguindo pressão, só começamos quando tínhamos a equipe de MT preparada, fizemos durante um ano curso de especialização para os orientadores, aqui precisamente e indo à região, e também com os autores do material sentamos dois anos para discutir e ler o material. Os orientadores participaram da leitura desse material.

Só depois quando já estávamos com todas essas condições, com o material já impresso, com os orientadores capacitados, o centro de apoio preparado, é que falamos que podíamos começar. Começamos um ano depois do que havíamos previsto e acho que isso foi o que realmente amadureceu o Projeto e envolvimento das pessoas. Ali no local, os orientadores se sentiram compromissados com o Projeto, porque eles participaram da elaboração do mesmo, do material, pensar como fazer todo esse trabalho nos municípios.

Simone: E os orientadores quem são?

Oreste: Eram todos os professores do estado.

Simone: Que no caso seriam monitores, Tutores?

Oreste: Chamamos orientadores, esta foi outra discussão que tivemos, porque tem horas que enunciar o termo Tutor fica muito carregado.

Simone: Quais eram os critérios para a pessoa entrar no Programa ou professor entrar, havia seleção?

Oreste: Falando do aluno que entraria? O critério básico era ser professor de 1 a 4, estar em sala de aula. Esse era o critério fundamental, o segundo critério era ser efetivo, caso não fosse efetivo, mas tivesse contrato nas prefeituras ou com o Estado, e o terceiro era o vestibular, que é o processo legal para se entrar em uma universidade, o que por um lado até que é bom. Inicialmente queríamos ter eliminado o vestibular, depois nós vimos que politicamente foi importantíssimo porque nos eximiu de qualquer decisão, entra esse, entra aquele.

Disponibilizamos um número x de vagas por município conforme as possibilidades de ter orientador naquele município. É claro que isso estabelecia toda uma questão de quem entraria ou não. Então o vestibular tirou um pouco essa intermediação política, tanto local, como a nível nosso da Instituição, e também de um caráter sério e acadêmico que, se a pessoa entrou por um processo de seleção, entrou; assim não é qualquer curso, que a EAD tem um preconceito que no interior as particulares fazem questão de vender, qualquer

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cursinho de fim de semana, entra qualquer um, então o vestibular deu essa característica, e também obrigou o professor a estudar, a se preparar para o vestibular. Recebemos o aluno um pouco mais preocupado com a questão de estudar, de ler. Esses eram os critérios básicos, porque o Projeto foi pensado todo em cima da prática do professor.

Simone: E os professores que lecionam, são todos da Universidade, ou entra algum da Secretaria de Educação para lecionar no NEAD por conta do convênio?

Oreste: Lecionar em que sentido?

Simone: Ah, vocês não têm a presencial?

Oreste: Não.

Simone: Como é que funciona o NEAD?

Oreste. A própria figura do orientador, rompemos com os padrões clássicos do orientador, que é um especialista na área. Nós selecionamos o orientador por um processo, uma prova escrita, depois entrevista e depois um curso de especialização, e não selecionamos porque ele é especialista naquela área, sendo professor com titulação superior, demonstrando qualidades para nós, interessa isso. Porque a nossa visão não era de aquele que vai discutir especificamente o conteúdo. É mais um articulador. Partimos do princípio que o material é suficiente, básico e que o orientador também dá conta ao ler o material e discutir o que está ali.

Simone: Se o aluno passa no vestibular, onde é o primeiro contato dele, com quem é esse primeiro contato, onde é esse primeiro contato?

Oreste: O primeiro contato, nós criamos pólos, uma sede onde fica toda parte administrativa, burocrática. Nós tínhamos concentrado toda estrutura de acompanhamento num pólo, Colíder, por exemplo. Então os orientadores de princípio se deslocavam, ao longo do processo nós fomos mudando, colocando no município dos orientadores. Agora essa estrutura é distribuída nos municípios-pólo, figura só como ponto aglutinador desses orientadores para discussões pedagógicas, para arquivamento de documentação do aluno, mas todo trabalho de acompanhamento é feito no município.

O aluno quando passa no vestibular, o primeiro contato é vir ao próprio pólo, a coordenação manda uma carta, um convite, então é feito o primeiro encontro, a primeira reunião com esses alunos, onde damos uma idéia do que é o EAD, o que significa estudar a distância. Eles recebem o Projeto para terem dois meses antes de começar o curso, e depois que lerem isso, ir ao centro, conversar com o orientador, para pegar o espírito do que seja EAD. Depois que começa o curso, é aquele estilo clássico: segue o material, tem um prazo, tem uma data, os alunos vão até o centro, os orientadores vão até onde ele está, conforme a distância.

Nós temos um processo de avaliação que se dá em três instrumentos: um é esse de acompanhamento diário do orientador com o acadêmico, quando ele vem com a ficha para acompanhar essa discussão, para ver o que "rola", isso chamamos de meio 1, é todo esse registro cotidiano, que o aluno faz.

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O meio 2, são essas provas mais presenciais, que o aluno se encontra aqui, tem que marcar entrevista no calendário, mas não vai no centro, o próprio município, ele faz aquela prova que pode ser em grupo, com consulta, sem consulta, cada avaliação fazemos diferente, conforme a temática.

Simone: A orientação para avaliação parte daqui?

Oreste. Mandamos para os pólos diversas questões , orientações, com um roteiro para como ele interpretar as respostas, não uma chave resposta, um roteiro para como ele interpretar que "o aluno se conseguir colocar essas idéias assim, conceito tal" se ele trabalhar neste outro meio, não extrapolar no conceito, então dá algumas orientações básicas. Depois tem o meio 3, que é o seminário de pesquisa de temáticas, que é feito no fechamento da área. Esse ano nós não fizemos nenhum. Foram só seminários integradores, fizemos dois. São seminários para o grupo se encontrar, tem uma palestra, debate, oficinas, baile, churrasco, são recursos para eles se sentirem parte do mesmo projeto.

A partir de agora, deste ano, não temos seminários integradores. Na reunião de texto já definimos qual vai ser o tema, dentro do fechamento de Fundamentos, que quase é estratégia para poder dar conta de atender. Neste semestre ele vai preparando o seminário, fazendo pesquisa na sua escola, na sua comunidade e depois ele vai apresentar o resultado dessa pesquisa nesse seminário. Por isso aquele material "aventura", porque já começa a colocar todo esse trabalho acadêmico de você escrever, fazer um resumo, fichamento, apresentar, fazer pesquisa.

Simone: Esse material é proporcionado, pesquisado por vocês ou já existia, esse "aventura"?

Oreste.' Eu que escrevi, é que minha disciplina é Metodologia da Pesquisa. Essa avaliação que é o final desse percurso, que o orientador fecha na gestão. Embora nós tenhamos sistema no computador, ele vai lançando todas as informações, o computador vai somando.

Simone: Vocês têm este material aqui na gestão? Gostaria de ver depois.

Oreste: Está sendo testado agora, porque o que nós tínhamos anteriormente não funciona bem, nós refizemos, o rapaz que tem põe uma versão mais nova, mais moderna. Tem toda a vida do acadêmico e também a parte do acompanhamento. O sistema, ele fecha por ele, mas o conceito final quem registra é o orientador. Com todo esse material ele dá o conceito final na área. Essa forma de avaliação acompanhamos muito de perto o orientador, embora mandemos todas essas orientações, sempre vamos lá. Acontece avaliação sábado, então marcávamos para terça, quarta, quinta que íamos lá no pólo, todos vêm e já deram uma olhada na avaliação dos alunos, já leram e estávamos pegando inicialmente uma discussão coletiva. Que tipo de problema, dificuldades, o aluno escreveu assim ou assado, como é que faz, como que não faz, considero, não considero, quais são os critérios.

Simone: O curso é anual, seriado?

Oreste: Não é seriado, e vamos dando material conforme as pernas de cada um.

Simone: Em quanto tempo um aluno-prodígio, que se dedica bastante, termina o curso?

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Oreste: Quatro anos e o máximo seis. Esse aluno, por exemplo, trabalhamos antropologia que eram quatro fascículos, Sociologia três e algum município já entrou com Psicologia no primeiro fascículo, os outros vão entrar agora em fevereiro com primeiro fascículo. Não tem semestre tal fecha aqui, vai indo, nós temos alunos que tem Psicologia e outros que estão na antropologia, vai diferenciando. Quando você marca avaliação vai ter um grupo de um, um grupo de outro, de outro. Por isso não queremos orientador especialista na questão. Você fica louco, está toda hora mudando a equipe. Ele é orientador, está lá para discutir, ajudar o aluno, se ele tem dúvidas, nós temos o plantão, ele tira dúvidas com o especialista; ele não tem obrigação de ser especialista em tudo, mas pelo menos o que está no fascículo tem que conhecer, o que está escrito, interpretação, e ficamos surpresos porque tem pessoas que se dedicam àquilo, que lêem, e no fim sabem até mais que nós.

Simone: O material que eles utilizam é todo produzido aqui ou vocês fazem uma coletânea de textos?

Oreste: Não, todos os fascículos foram produzidos aqui praticamente, não necessariamente por professores só da Universidade. Convidamos também professores de fora, por causa da Matemática foi um pessoal da Federal de Belo Horizonte, História e Geografia foi um pessoal de São Paulo, mas a maior parte do material foi escrito por nossos professores. Tem outra coisa que colocamos como ponto que teríamos que insistir, obrigar nossos professores a escrever, acreditar nas nossas potencialidades, caso o grupo não desse, tudo bem, mas sempre estimulamos o pessoal a escrever.

Simone: O resultado, a primeira turma de vocês se formou quando?

Oreste. Em dezembro de 99, formaram 312, dos 330 alunos, mas faltam só uns 18 que não formaram ainda e estão vindo aí.

Simone : O Projeto tem uma característica interessante com respeito ao ritmo do aluno...

Oreste: O aluno tem que ter um prazo, ele de repente está entravado em uma série. Quando ele está com dificuldades, doença, tranca meio semestre, depois retoma o curso.

Simone: No caso os livros, os Guias, são divididos em unidades ou têm outro nome?

Oreste. Não, não seguimos o esquema do PROFORMAÇÃO, é como se fosse um livro. Acho que o PROFORMAÇÃO, ele é interessante até pela experiência que vivi, porque o obriga um pouco a estabelecer os objetivos, como é que você vai avaliar depois o que está posto aí; mas deixamos a liberdade para cada autor organizar o material como quisesse; colocamos alguns em termo de quantidade, parâmetros, mas em termo de estilos, formas e o aluno (interessante) começa a perceber que Antropologia por exemplo, fizeram uma avaliação muito positiva, já Sociologia "desceram a lenha", mas esse material aqui não está dentro da disciplina da EAD, porque no final os autores que são sociólogos colocaram questões muito objetivas como: Conte como ele (o aluno) entende a ação social. Já antropologia não. Colocaram texto de um jornal, de um livro didático, faziam um pequeno comentário ligando um com o outro, pedindo para o aluno "sacar" algum aspecto da identidade, da questão racial e o outro era mais questão de ler o texto e descobrir o que o autor pensa sobre isso. Isso "é legal" para começar a ser crítico do próprio material do curso, que o projeto, acho que é ótimo.

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Simone: Interessante porque hoje o aluno vê o que está escrito, se não estiver ali a palavra certa, nas entrelinhas ele não é capaz de ver, pelo menos tem sido assim.

Oreste: Temos deixado, não tem prazo o curso. Área de Antropologia tem quatro fascículos, estamos agrupando 1 e 2, 3 e 4; antes fazíamos 1, lição 2, uma lição 3 e 4. Percebemos que toda hora tem que se fazer avaliação; cada três semanas, achávamos que ficava muito pesado; a cada 40 dias fica um espaço bom para ele e aquele material. Vamos supor que 1 e 2 ele não consiga avançar; fez uma avaliação e não passou na segunda, na terceira esquece 1 e 2; vamos pegar 3 e 4, lê o 3 e 4, de repente dá certo.

Simone: Eu queria saber como é que se deu a união entre UFMT e UNEMAT, já nasceu um projeto com essa união de vocês, já nasceu com a UNEMAT ou depois que ela entrou?

Oreste: A UNEMAT é outra história. A UNEMAT já nasceu junto porque como foi feito o convênio desde o começo com a Secretaria, claro que a Secretaria pensou em termos de sua própria Universidade; desde o começo eles participam da discussão do Projeto, todo trabalho de acompanhamento; só que foi uma coisa mais de fachada, do tempo da instituição até hoje, ela não acredita, não aposta, não se envolve, eram mais as pessoas que estavam no NEAD que tinham interesse, porque realmente queriam tocar o projeto, mas não a instituição. Primeiro, acho que porque na época o presidente da UNEMAT, o reitor que não acreditava nesse tipo de proposta, ele sonhava muito alto e achava que EAD era novas tecnologias, computador, uma rede de televisão, que nossas propostas eram obsoletas, com inferioridade. Então ele nunca investiu e agora, com a nova equipe que está lá, embora assumiram agora esses pólos, mas sentimos que eles têm muitas dificuldades para caminhar, vive mudando a coordenação da equipe, a instituição não dá, as pessoas que estão lá desanimam, desistem, saem.

O projeto inicial era esse, a equipe fazer parte do NEAD para ganhar experiência e depois eles assumissem; só que quem está assumindo não participou do projeto inicial, não tem experiência nenhuma, então está num processo de ensaio e erro, e o que deveria continuar a existir em termos de troca não está acontecendo. Estão caminhando sem discutir conosco, sem conversar. Realmente estão acontecendo coisas que não deveriam estar acontecendo.

Simone: Os materiais produzidos são avaliados pelos alunos após a aplicação?

Oreste: Sim. Depois que ele usou a Antropologia, avalia o material, onde ele encontrou dificuldade, e página tal, palavras tais, até para identificar essas coisas que são mínimas. Depois o aluno avalia o orientador. Nos seminários nós aplicamos e depois recolhemos, não passa nem pelo orientador. Para ele fazer uma avaliação na parte pedagógica, na parte afetiva, de conteúdos e depois tem todo um perfil se fizermos um questionário de 6, 8 páginas de todo esse orientador, que serve como material de pesquisa, tanto para o orientador quanto para nós. Ele está produzindo pesquisa no próprio processo do curso. Agora elaboramos um documento básico, suas linhas de pesquisa, onde cada um de nós vai se responsabilizar sobre uma dessas linhas, envolvendo os orientadores que quiseram no seu pólo, para começar a pesquisar também o próprio processo do curso.

Simone: O PROFORMAÇÃO tem uma proposta de pesquisa na comunidade com Projetos de Trabalho. O programa do NEAD orienta as linhas de pesquisa do aluno ou é uma pesquisa independente?

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Oreste: Não. Essa linha é do orientador conosco. Depois ele vai orientar as pesquisas dos alunos, mas são pesquisas em cima da prática dele.

Simone: E é incentivada essa pesquisa com o orientador? Ela é implementada para se levar adiante? Que tipo de pesquisa? Quais são as linhas de pesquisa que são realizadas com os orientadores?

Oreste: Nós estamos discutindo um documento, nós definimos três grandes linhas. Uma seria a questão da instituição, a dimensão institucional, para discutir a questão do sistema de EAD; questão das parcerias, essa coisa maior; a EAD nesse processo de globalização, as políticas de EAD. A outra seria a parte de dimensão curricular, do curso, parte pedagógica, conteúdo, material, serviço de orientação, mais a parte pedagógica. E uma terceira seria as novas tecnologias, como é que estão entrando. São os três que nós estamos propondo, mas não fechamos ainda, está no rascunho o documento.

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3.7. Entrevista com: Wilsa Maria Ramos

Cargo: Coordenadora de projetos especiais do FUNDESCOLA/BANCO MUNDIAL

Data: 10/10/2000

Local: Cuiabá-MT

Simone: WILSA, como é que você se viu envolvida no PROFORMAÇÃO, qual é a sua história na origem do Projeto e em que época isso aconteceu?

Wilsa: Tudo começou com uma discussão sobre o que o projeto Nordeste tinha investido em capacitação num acordo do Banco Mundial. Os resultados foram muito incipientes, muito se tinha investido e pouco retorno se teve na capacitação dos professores. A partir dessa discussão, no momento em que nós estávamos pensando e planejando um novo projeto com o Banco Mundial, essa posição de cursos pontuais e de 40 horas, decidimos que não deveriam mais existir.

Em 1998 nós estávamos diante dos dados básicos da Formação de Professores, do censo, indicando uma quantidade enorme sem habilitação e o FUNDEF apontando a necessidade de gastar o recurso de forma intencional com a Formação de Professores. Tínhamos um cenário político, econômico e social para um programa mais duradouro, mais consistente, que de fato deixasse um produto que interessa a toda a sociedade, que é o professor habilitado, qualificado.

Então essa discussão já vinha ocorrendo no projeto Nordeste, FUNDESCOLA e junto com a SEED, com a professora Mindé que já possuía um projeto antigo dela principalmente, que era uma pessoa que vinha fazendo uma interlocução com os estados e municípios. A Mindé tinha uma demanda bem clara da necessidade desse projeto. Então ela começou uma busca no FUNDESCOLA para saber como se poderia articular um programa conjunto.

E foi dessa necessidade que a Mindé já tinha desenhado um projeto para a Formação de Professores, embora ainda incipiente, mas tinha um projeto e nós na contrapartida com o recurso, com o acordo a ser assinado e com o interesse muito grande de promover um programa mais consistente de Formação de Professores.

Nós nos juntamos, tínhamos idéias muito parecidas, eu também participei da implantação do FUNDEF no Nordeste com os Secretários de Educação e eu estava muito sensibilizada com a Formação de Professores. O tema que eu discutia nesses seminários nacionais era o Plano de Carreira.

Sempre que se discutia Plano de Carreira, desaguava na questão de como colocar o Professor Leigo no Plano de Carreira. Não é possível colocar o Professor Leigo, tem que estar habilitado para entrar na carreira. Não existe carreira para quem não tem habilitação para o cargo. Então eu vinha muito sensibilizada com uma discussão com vários secretários e eles perguntavam se o MEC não iria apoiá-los na Formação de Professores Leigos.

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E foi vindo dessa experiência que eu pensava muito que esses secretários precisavam de duas coisas: de formar os professores e do Plano de Carreira. Em relação à carreira, eu ajudei a produzir o "software" para apoiá-los e na Formação de Professores foi uma parceria interessante com a professora Mindé, da SEED.

A partir desse encontro nós vimos que o Projeto precisava ter um desenho, algo mais estruturado, porque o projeto tinha linhas gerais do que era a proposta. Nós começamos a investir no desenho desse projeto e fomos bastante influenciados pelo desenho de projetos de outros estados, principalmente Minas Gerais, que tinha feito recentemente um programa de Formação de Professores em serviço da rede estadual e municipal.

Lá nós visitamos as Agências Formadoras deles, que eram universidades, não tinham Tutores, mas monitores de aprendizagem, e então nós juntamos essas coisas e a Mindé tinha a percepção de outros programas que ela havia participado.Nós chamamos uma pessoa que foi muito importante para o Programa lá de Belo Horizonte, a Umbelina Salgado, que havia acompanhado o projeto PROCAP de Minas Gerais.

Nós sabíamos que era um número muito grande de professores, muito pulverizado e em muitos municípios. Na época nós tínhamos os dados do SAEB de 1996 com um total de 100 mil professores não habilitados de 1a a 4a séries, então sabíamos que poderia ser um programa com uma cobertura excelente.

A partir dessa realidade, investimos no projeto no primeiro esboço definindo as competências em nível Federal, Estadual e Municipal. Nós achamos que era o momento urgente de chamar representantes da sociedade educacional para fazer uma discussão sobre o Programa.

Então nós saímos com o Projeto e o lançamos num Fórum Nacional na Paraíba com representantes da UNDIME, Conselhos Estaduais de Educação, Pró-reitores de extensão, ANFOPE, representantes de vários segmentos. Lá nós apresentamos o Projeto e colocamos na mesa para abrir mesmo, para discutirem, darem sugestões e vimos que foi muito bem recebido.

Claro que houve muitas sugestões para aprimorarmos, mas houve também muita reciprocidade, o que foi um aceno muito positivo para nós. Foi o primeiro momento que indicou que estávamos no caminho certo.

A partir desse encontro nós retornamos, detalhamos mais o Projeto, trouxemos um consultor internacional na área de Educação a Distância que foi o Michael Moore, recomendado pelo Banco Mundial. Michael ajudou muito no desenho da estratégia e do material do Programa.

Nós sabíamos que tínhamos um público específico, uma clientela com um perfil muito delineado. Nós queríamos oferecer um programa específico para essa clientela, então o material tinha que ser impresso e tinha que ser um material que chegasse onde o Cursista estivesse.

Simone: WILSA, o PROFORMAÇÃO é um programa que inicialmente contou com a sua participação e com a da professora Mindé. Qual a contribuição de cada uma no processo da implantação e que trabalho exerciam no desenvolvimento do FUNDESCOLA?

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Wilsa: O recurso financeiro do Projeto foi do FUNDESCOLA acordo de negociação com o Banco Mundial; assim, eu como coordenadora respondia por todo tipo de contratação, controle e acompanhamento dos serviços contratados, pagamento e prestação de contas através de relatórios.

Atividades desenvolvidas:

A estratégia de trabalho da Coordenação de Programas Especiais envolve a organização de uma equipe de consultores preparada para a elaboração de materiais, a saber:

Coordenações pedagógicas: coordenar a produção e a avaliação do curso, sendo que foi dividida em três funções, uma que supervisionou e orientou os trabalhos por área, uma que organizou o manual do Tutor e a outra que coordenou a elaboração dos roteiros de vídeos.

Apoio técnico-administrativo: responsável pela organização e atualização dos arquivos referentes às várias versões do material, bem como o recebimento do material por correio eletrônico e a redistribuição e realização do pré-teste e outras atividades correlatas.

Secretaria: responsável pela expedição e arquivamento de correspondências, organização de viagens, hotéis, "tickets", bem como pelos trabalhos de digitação.

Equipe de professores especialistas: responsável pela concepção e produção de material didático de cada Área Temática, variando de 2 a 3 membros, totalizando 12 especialistas que elaboraram as ementas dos módulos, redigiram os Guias de Estudo e os manuais e elaboraram os conteúdos para subsidiar a elaboração dos roteiros de vídeo.

Assim, a responsabilidade da minha coordenação para a área de Programas Especiais foi a integração e articulação das diversas atividades internas e externas para a viabilização de Programas de Formação de Professores inicial e continuada, assim como pela definição de procedimentos e tomada de decisões para que os objetivos e cronogramas fossem cumpridos.

Resultados:

Resultado(s) final(ais) esperado(s) da(s) atividade(s) a ser(em)desenvolvida(s) pelo consultor:

1- Coordenação, acompanhamento, supervisão, controle e correção de estratégias e procedimentos de todas as atividades afins da área de Programas Especiais.

Descrição do(s) produto(s) e da(s) atividade(s):

1- Atividade: Coordenar a Equipe de Especialistas responsáveis pela elaboração e revisão (reedição) dos materiais escritos, videográficos e outros, necessários à implementação do PROFORMAÇÃO.

Produto: Gerenciar os contratos e avaliar os produtos dos especialistas para os Módulos do Programa.

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2- Atividade: Providenciar processos de licitação para a impressão e reprodução dos materiais escritos, videográficos e outros, necessários à implementação e divulgação do PROFORMAÇÃO, bem como providenciar a distribuição do material impresso e videográfico para os estados.

Produto: Materiais impressos e videográficos.

3- Atividade: Prestar cooperação técnica à SEED/Coordenação Nacional do PROFORMAÇÃO.

Produto - Assistência Técnica à Equipe de Implementação

4- Atividade: Promover e/ou propor encontros, "workshops", seminários para elaboração dos materiais e discussão do PROFORMAÇÃO e dos PCNs.

Produto: Relatório completo sobre os eventos (local de realização, lista de freqüência, material utilizado, programação, custos, etc)

5- Atividade: Instituir avaliação referente à utilização dos materiais de ensino nos estados Piloto viabilizando a revisão do material, bem como sua reedição.

Produto: Relatórios de avaliação sobre usabilidade e aplicabilidade dos materiais impressos.

6-Atividade: Cumprir as atividades gerenciais necessárias à execução do PROFORMAÇÃO e de outros programas, conforme estabelecido no Projeto.

Produto: Controle e acompanhamento das atividades pelo Projeto.

7- Atividade: Prestar contas ao órgão federal competente dos recursos federais aplicados no PROFORMAÇÃO.

Produto: Prestação de Contas através de controles internos dos orçamentos e despesas.

8-Atividade: Apresentar relatórios técnicos e gerenciais à Direção Geral do Projeto referente à execução do PROFORMAÇÃO.

Produto - Relatórios de produtividade.

Simone: WILSA, por que foram escolhidos Mato Grosso e Mato Grosso do Sul como Piloto do PROFORMAÇÃO e como se deu à acolhida dos estados a um programa até então desconhecido?

Wilsa: Esses dois estados desenvolveram programas de Formação de Professores na modalidade de Educação a Distância no passado, mas, principalmente, eles demonstraram interesse em adotar o projeto Piloto com grande compromisso.

Simone: Que contribuições você atribui ao Piloto de Mato Grosso para o aprimoramento do Programa implantado nos outros estados9

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Wilsa: As contribuições foram enormes, pudemos avaliar os materiais e sua utilização, avaliar as estratégias de implementação e reavaliarmos as nossas ações enquanto órgão central. Enfim, sem o Piloto não poderíamos ir para a expansão com a certeza de que o Programa daria certo.

O sucesso do Programa foi assegurado por meio da avaliação detalhada dos Cursistas, AGFs e assessores técnicos, como você, que contribuíram imensamente para que o curso fosse revisado.

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4. Entrevista com os diretores

4.1 Entrevista com: Ângela dos Santos Mercês

Cargo: Diretora do CEFAPRO de Juína

Data: 25/02/2001

Local: Cuiabá

Simone: Ângela, fale sobre como você recebeu o convite para dirigir um Centro de Formação e qual foi a ressonância dessa notícia no seu município.

Ângela: O convite para dirigir o Centro de Formação do Pólo de Juína, aconteceu da seguinte maneira: quando os CEFAPROs, criados pelo Decreto Governamental n° 2319/98 do Diário Oficial de 08/06/98, enfrentamos as dificuldades de estar em momento de transição política. Transição que poderia comprometer a implantação desta política pública da SEDUC/MT, caso não acontecesse a reeleição do governador Dante de Oliveira.

Mesmo com os esforço da então Secretária de Educação de Juina, professora. Bernardete Zeni, que reuniu todos profissionais da rede estadual, efetivos e habilitados em Pedagogia, propondo o compromisso de, em parceria, assumirmos esta política pública. Infelizmente pela particularidade do momento político, nenhum dos que se fizeram presentes, inclusive eu, se comprometeu em assumir o CEFAPRO-JUINA.

Alguns dias mais tarde,recebi o convite para assumir uma vaga na equipe da assessoria pedagógica de Juina. Quando me preparava para assumir a vaga, fui convidada pela Secretária Bernardete a assumir a direção do CEFAPRO-JUINA.com o compromisso de implantá-lo no Pólo, construindo a relação de parceria com os municípios com os quais trabalharíamos. O CEFAPRO naquele momento consistia em uma cópia do D.O. de criação e algumas fichas de professores que pretendiam compor o quadro de formadores, que me foi entregue em uma pasta transparente, a qual guardo até,hoje,como registro e fonte de energia que precisei para enfrentar todas as dificuldades em fazer e acontecer o CEFAPRO.

No início trabalhei na sede da assessoria de Juina, porém pelo fato de a antiga assessora não acreditar nesta proposta, tive que colocar o CEFAPRO no porta-malas do meu carro e fazê-lo itinerante, visitando escolas, conversando com professores, discutindo quais as perspectivas dos professores com a implantação de um Centro de Formação e Atualização do Professor em nosso município, ficando surpresa em sentir que todos estavam ansiosos em concretizar esta ação.

Bem, realizamos muitos levantamentos para construir um retrato da formação ou titulação dos professores da rede pública do pólo, com o objetivo de, quando constituíssemos a equipe, tivéssemos dados que nos ajudariam a encaminhar projetos de formação continuada, dentro das políticas públicas do Estado. Marcamos a seletiva para o mês 12/98, momento que foi dirigido pelas professoras Simone Albuquerque (consultora dos CEFAPROs/MT), Luzinete Barroso (Coord, dos CEFAPROs/SEDUC/CPP/98).

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Tínhamos realizado vários momentos de divulgação na imprensa local, o que gerou imensa expectativa na população de Juína para apoiar esta nova situação na Formação de Professores.

Confesso que por muitas vezes tive medo em estar assumindo uma proposta nova, na qual estaria construindo-a paulatinamente, tirando-a do D.O. (como algo abstrato), passando-a para o plano concreto. Muito ou quase tudo dependia de mim, do que eu poderia oferecer ao CEFAPRO e aos municípios, buscando a credibilidade contínua no Centro de Formação, em suas propostas de Formação Inicial e continuada. Foi aí que tive a participação da amiga Denise Maria, que me incentivou a tomar o "boi pelo chifre", como se costuma dizer, e assumir de vez esta, que hoje pode não ser a melhor das políticas públicas de Formação de Professores, mas com certeza está entre as melhores. E eu me orgulho muito de fazer parte desta história, a história de educação de MT.

Simone: O PROFORMAÇÃO foi o primeiro programa de Formação de Professores que o Centro desenvolveu. Quais as dificuldades e avanços evidenciados no seu pólo? Como foi a trajetória da sua equipe durante a vigência do Programa.

Ângela: O PROFORMAÇÃO, não apenas foi o primeiro programa de Formação de Professores que o Centro desenvolveu, mas acredito que foi o que levantou os Centros de Formação, colocando-os em destaque na cenário estadual e nacional. O PRÓ (que escola heim amiga?...) proporcionou momentos mágicos, desde aquele em que recebemos o futuro PC para a matrícula, com aquele brilho no olhar de quem diz a si mesmo: agora eu tenho a minha oportunidade, vou ser professor mesmo, com diploma e tudo!

Até o momento de visitá-los nas Reuniões Quinzenais ou mensais, ou ainda na visita a escola do PC, nestas muitas vezes me senti a madrasta da Branca de Neve, mas sempre defendemos que nossas visitas se faziam necessárias para conhecer a realidade do PC, suas condições de trabalho e apoio que recebia do Tutor e das SMECs.

A equipe formadora infelizmente não foi a mesma desde o início do Programa, o que não comprometeu a qualidade do PRÓ, mas com certeza dificultou o entendimento de como seria o papel do Formador no processo de formação, está aí o ponto falho da SEDUC/MT, que constituiu os Centros mas não garantiu a equipe formadora com pelo menos um professor em cada área do conhecimento para iniciar a participação no Programa.

Outra dificuldade enfrentada foi o apoio dos municípios que não se prepararam para concretizar o PRÓ, mas com a persistência da AGF/Tutor/PCs, conseguimos fazer o PROFORMAÇÃO atravessar atoleiros, rios, ponte caindo, queimadas e pinguelas, tudo pelo fato de que acreditávamos muito no Programa e tínhamos a certeza de que ele, sem desmerecer os demais, foi o melhor. Lembrei-me do 1o. encontro de avaliação em Chapada/99, quando Jorcelina nos dizia que o Programa em todo momento propunha a construção da identidade profissional do PC, e que ao mesmo tempo consolidava a nossa, lindo não?

Simone: O CEFAPRO e o PROFORMAÇÃO foram duas políticas implantadas concomitantemente, que apreciação você faz do trabalho de Juína nesse contexto educacional e político?

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Ângela: O PROFORMAÇÃO foi o cartão de visitas e a menina dos olhos dos CEFAPROs. Foi ele que nos possibilitou estabelecer a relação de credibilidade junto aos municípios, dando sustentação financeira, o que possibilitou a implementação dos Centros, uma vez que a SEDUC/MT não agilizou este processo. É por ele em grande parte que a própria SEDUC, MEC e universidades nos respeitam enquanto Agências Formadoras de professores.

Estas duas situações, como já frisei, foram de uma amplitude que com certeza farão do CEFAPRO a política pública de vanguarda que ofereça sustentação às diversas propostas de Formação Inicial e continuada de professores que são ou serão desenvolvidas pelo estado de MT em parceria com os governos: federal e municipal.

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4.2. Entrevista com: Fani de Almeida Assunção

Cargo: Diretora do CEFAPRO de Rondonópolis

Data: 20/12/2000

Local: Centro de Formação de Rondonópolis

Simone: Como foi a aceitação do PROFORMAÇÃO pelos professores? E quais foram as dificuldades e os avanços que você identifica no grupo durante esse processo do PROFORMAÇÃO?

Fani: Foi um Programa muito bem aceito. De início houve muitas dúvidas, mas no decorrer do tempo vimos que era um Programa muito bom. Tivemos apenas quinze alunos matriculados, mas esses alunos participaram com entusiasmo e esperança de melhoria em seu trabalho. Desses quinze, treze foram aprovados e dois reprovados. E desses treze alunos, nós vimos que houve alguma mudança no seu trabalho dentro da sala de aula.

Dificuldades, nós tivemos várias, mas conseguimos superá-las, tais como: deslocamento para ir aos municípios; a questão do pagamento, do repasse dos municípios de dez reais por aluno para o CEFAPRO, que no final conseguimos receber de todos os municípios, não ficando nenhum devedor; a dificuldade de os alunos virem até o CEFAPRO para receberem orientações do Professores Formadores, que na medida do possível estiveram atendendo-os nos municípios.

Acho que o resultado foi muito bom, pois o Programa veio para ajudar os professores que estavam sem habilitação no magistério.

Simone: Vocês tiveram algum aluno que se destacou dos demais? No caso de ter acontecido, o que você considera fundamental para que o aluno tenha sucesso no Curso.

Fani: Nós tivemos alguns alunos que se destacaram.mas em particular, o aluno José do município de Poxoréo, que foi um aluno que desde o início, desde o primeiro módulo se destacou. Ele é um professor que está sempre buscando algo mais, aquilo que ele via no PROFORMAÇÃO, ele realmente procurava levar para a sua escola, para os seus colegas e para os seus alunos. Ele foi um garimpeiro que passou a ser professor e se acha realizado dentro dessa profissão. O PROFORMAÇÃO para ele veio trazer uma ajuda muito grande, pois inclusive, agora ele está fazendo um curso superior.

Simone: Do PROFORMAÇÃO para o CEFAPRO, o Programa trouxe algumas contribuições? Você colocaria algumas?

Fani: Sim, ele trouxe várias contribuições. Em primeiro lugar, nós avaliamos o crescimento com relação ao conhecimento, porque o material era tão bom que chegamos a retirar vários assuntos e usá-los até em nossos cursos de Formação Continuada e nas Capacitações dos municípios na Escola Ciclada.

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Tivemos também a ajuda através do PROFORMAÇÃO, com a colaboração dos municípios, das verbas que eles tinham que repassar, pois através delas tivemos condições de visitar os municípios, dando atendimento aos Professores Cursistas em visitas nas escolas e em Reuniões Quinzenais, tirando as maiores dificuldades dos alunos. E pudemos também com essas verbas ter maiores condições de trabalho no CEFAPRO.

Simone: Então na realidade, essa verba de manutenção auxiliou também na estrutura do CEFAPRO?

Fani: Ajudou na estrutura do CEFAPRO porque na Fase Presencial, nós usávamos dessa verba até para dar lanche e cafezinho para os alunos. Portanto, essa contribuição foi muito importante.

Simone: Você autoriza a publicação da sua entrevista na minha tese?

Fani: Sim. Perfeitamente, com o maior prazer.

Simone: Obrigada.

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4.3. Entrevista com: Profª. Maria Alda Antonelli

Cargo: Diretora do CEFAPRO - Centro de Formação de Matupá

Data: 30/03/2001

Local: Cuiabá

Simone: Como é que desenvolveu o PROFORMAÇÃO no pólo de Matupá? Quais são os encaminhamentos e as opiniões que você pode emitir a respeito das contribuições do PROFORMAÇÃO para o CEFAPRO de Matupá?

Alda: Na verdade, o CEFAPRO de Matupá criou-se a partir do PROFORMAÇÃO, com a necessidade de desenvolver esse projeto com os Professores Leigos de Matupá. As duas coisas iniciaram juntas. E quando se iniciou o PROFORMAÇÃO ainda não tinha uma estrutura básica do CEFAPRO. A partir dele que foi criado o CEFAPRO. Então se pode dizer, foi um programa que contribuiu muito, foi essencial.

Simone: E quais as contribuições desse Programa ao longo desses dois anos para os Professores Leigos, para os Tutores e para os professores de Matupá?

Alda: Houve um grande avanço na parte pedagógica dos professores de Matupá. Não se pensou apenas no Programa, na titulação. Mas todo o desenho do PROFORMAÇÃO foi muito elaborado e estruturado, e mesmo sendo um projeto em construção, em que teve que ter a participação, a opinião dos professores, formadores e Tutores, foi uma proposta muito bem elaborada que contemplou a parte pedagógica, o desenvolvimento do projeto dos professores, a participação da comunidade na escola; então nós sentimos uma diferença muito grande na parte pedagógica do professor, ou seja, houve realmente um crescimento lá na sala de aula, o que é mais importante.

O papel do Tutor foi muito importante também nesse trabalho de orientação. Eles contribuíram muito e foram valiosos; nós crescemos muito com eles, porque quando fazem a visita e vêem a necessidade e a dificuldade do professor, eles trazem para a AGF esses problemas, ficando mais fácil de estarmos pensando em ações para desenvolver junto com os professores individualmente, porque tem que se pensar no Programa, nos professores como um todo, mas cada professor com a sua particularidade e sua dificuldade na escola. E esses dados quem nos forneciam eram os Tutores

Simone: Você considera o papel do Tutor como fundamental no Programa? Como você pode descrever o trabalho do Tutor, principalmente, nos módulos iniciais em que o Programa não estava ainda bem desenhado com aquelas fichas de avaliação em mudança? Como aconteceu nos semestres iniciais?

Alda: Nós, no pólo de Matupá, fomos felizes com a escolha dos Tutores; formou-se assim uma equipe coesa, em que todos discutiam a necessidades e nós começamos a partir da Presencial, já com Encontros Quinzenais de Tutores. E nesses encontros eram socializados os avanços, as dificuldades, as necessidades e se entrava em consenso na tomada de decisão. E o Tutor, se ele é nem preparado e bem trabalhado, ele é fundamental no

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Programa, porque ele além de ajudar o professor na parte pedagógica e na parte de conhecimento, ele também incentiva o professor a continuar. Porque os professores do PROFORMAÇÃO do nosso pólo, eram aqueles professores que estavam muito distantes da cidade, da sede do Município, e sentiam-se sozinhos. A maioria faz a merenda da escola, a limpeza, então são professores que precisam de muita ajuda. Além de terem salas multisseriadas, com mais de uma série, fica difícil para o professor, sendo assim o PROFORMAÇÃO, através do Tutor, veio ajudá-lo a planejar melhor as suas aulas para diversificar as atividades e atender melhor os alunos individualmente, ficando melhor preparado para desenvolver essas atividades com mais competência

Simone: O quê o PROFORMAÇÃO deixa para a rede Municipal de Matupá?

Alda: Deixou uma semente muito bonita. Os professores da rede Municipal, os que iniciaram estão incentivando outros professores do assentamento que não puderam participar, porque as escolas em que eles atuam agora foram abertas depois de iniciado o Programa. Tem incentivado muito os professores, e nós temos professores do PROFORMAÇÃO trabalhando como coordenadores pedagógicos nas escolas e como coordenadores de grupo dos parâmetros em ação. Então são pessoas ativas, críticas e que têm contribuído para a educação de um modo geral, nas discussões das escolas.

No desenvolvimento dos projetos, os professores do PROFORMAÇÃO têm contribuído. Nós temos também professores que estão participando do conselho tutelar, no município de Peixoto de Azevedo, então são professores que estão contribuindo para a sociedade que tiveram melhoria da educação de modo geral.

Para o CEFAPRO de Matupá foi muito importante além da nossa capacitação como Professores Formadores, que nós tivemos com os especialistas do MEC, isso nos ajudou muito enquanto Professores Formadores do CEFAPRO, contribuíram nos avanços das nossas reflexões e dos nossos conhecimentos.

Estamos utilizando material do PROFORMAÇÃO, na Formação Continuada. Muitos Cursistas estão retomando agora aqueles módulos que deixaram alguma coisa para trás, agora no dia-a-dia eles estão preparando aula em cima daquelas sugestões de atividades. Então o PROFORMAÇÃO é um programa muito rico em todos os sentidos, com referência à capacitação de professores, à parte pedagógica dos formadores e dos Tutores, à habilitação dos professores Cursistas, mais o material e o desenvolvimento de todas as pessoas da SEDUC, Assessoria Técnica, MEC. Então nós tivemos um crescimento muito grande enquanto os profissionais do PROFORMAÇÃO nos possibilitaram isso, e abriu para o pólo de Matupá, que são seis municípios, as portas para trabalharmos a Formação Continuada em todos os municipios. Nós devemos isso ao PROFORMAÇÃO

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4.4. Entrevista com: Prof Cézar Augusto Espíndola

CARGO: Diretor do Centro de Formação e Atualização do professor no município de Diamantino.

DATA: 10/10/2000

LOCAL: Palace Hotel

Simone: Cézar, qual foi o seu envolvimento na origem do PROFORMAÇÃO no estado de Mato Grosso?

Cézar: No início Simone, nós começamos a desenvolver esse trabalho em função do CEFAPRO que já existiam que era o Diamantino, de Rondonópolis. Historicamente de Rondonópolis, e de Cuiabá. Nós estávamos organizados na época para trabalhar mais com a Formação Continuada e pretendíamos gradativamente expandir a Formação Continuada em todo o Estado; todavia a demanda de profissionais habilitados no Ensino Médio para atuar nas séries iniciais era muito grande no estado de Mato Grosso, apesar de já existirem políticas anteriores, como "Logos I", "Logos II", enfim. Mas o PROFORMAÇÃO veio casar como uma luva o nosso projeto. Isso porque os CEFAPROs previam dois eixos, um eixo de Formação Inicial e outro de Formação Continuada. E na Formação Continuada já estávamos trabalhando, estava vago portanto o espaço da Formação Inicial. O que aconteceu é que o CEFAPRO, a implantação dos demais CEFAPROs do estado foi acelerada neste momento histórico, porque se precisava implantar o PROFORMAÇÃO em todo Estado. Nesse sentido, foi decisivo numa noite aqui no Palace Hotel, professora Simone, nossa consultora, a professora Luzinete que hoje está atuando em outro setor, mas continua trabalhando na SEDUC, onde discutimos os pólos políticos e onde seriam implantados os CEFAPROs, e conseqüentemente o PROFORMAÇÃO; isso foi extremamente positivo, porque forçou, acelerou uma política pública no estado de Mato Grosso que é de Formação de Professores e foi acelerada nesse momento histórico. Portanto o PROFORMAÇÃO já trouxe isto como um aspecto positivo, que foi acelerar o Centro de Formação, a implantação dos CEFAPROs no estado de Mato Grosso.

Simone: Como você viu a participação da UNDIME neste momento inicial?

Cézar: Foi extremamente importante porque os representantes da UNDIME se faziam presentes nas reuniões, convocaram os secretários municipais e houve um envolvimento muito bom mesmo, onde a grande maioria dos secretários municipais, em função das carências que existiam em relação aos professores da zona rural, foi muito sensível e adotou o Projeto quase que imediatamente.

Simone: Como você avalia, agora com dois anos de Programa, a prática desses professores em sala de aula e o impacto na rede municipal do programa PROFORMAÇÃO com os professores Cursistas e com os Tutores?

Cézar: O papel do Tutor foi de extrema importância, é fundamental no Projeto. E o impacto que aconteceu é percebido, é notável a mudança comportamental dos professores, mudança pedagógica mesmo, percebemos nos Memoriais, nas práticas em sala de aula,

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nos seminários. Os conteúdos do PROFORMAÇÃO são extremamente atuais e isso possibilitou uma série de reflexões, em que o professor pôde estabelecer a relação de teoria e prática e foi modificando a sua prática gradativamente. Nesses dois anos percebemos que houve uma mudança muito rápida, que costumeiramente não acreditamos que o professor possa ter em apenas dois anos. Mas presenciamos isso aqui no estado de Mato Grosso e temos que agradecer isso ao PROFORMAÇÃO.

Simone: Além do impacto na Rede Municipal, como é que você avalia a política do PROFORMAÇÃO de formação dos professores em serviço, associando essa política maior de Coordenadoria de política pedagógica do SEDUC?

Cézar. Sem dúvida foi uma das melhores políticas públicas educacionais implantadas aqui no Estado, nos últimos anos junto com outras. Mas o PROFORMAÇÃO trouxe um caráter muito especial, uma cultura muito especial, que é a cultura do autodidatismo, em que os profissionais, hoje, querem continuar a estudar, querem curso superior a distância, querem continuar estudando, e isso eu acho fundamental e foi isso que deu a cultura do autodidatismo onde o profissional começa a gerenciar a sua autoformação, a sua Formação Continuada. E um dos grandes responsáveis por isso foi o PROFORMAÇÃO, a equipe, o trabalho que foi feito, os Tutores, todo um trabalho de equipe. Isso foi muito importante e o mais importante mesmo é essa questão que os profissionais colocam para eles continuarem com os estudos, de gerenciarem, de serem responsáveis por sua auto-aprendizagem.

Simone: O papel das secretarias municipais de educação no apoio ao PROFORMAÇÃO, qual é a sua avaliação?

Cézar. Nós tivemos secretárias, como a professora Rosaneide que se envolveu imediatamente com o PROFORMAÇÃO, deu todas as respostas necessárias. E tivemos alguns problemas com alguns municípios, mas foram coisas superáveis, até pela formação do próprio profissional, isto é, em caráter institucional e não em função do conteúdo do Programa ou dos encaminhamentos do Programa. Era uma questão mais burocrática, de financiamento de prefeituras que não cumpria, às vezes, o acordo de participação. Inclusive deixamos essa ressalva para o MEC como um ponto negativo e que deve ser observado nos outros estados onde for implantado o PROFORMAÇÃO; é um cumprimento imediato de acordo de participação desde a sua implantação e que não se demore muito para se decidir sobre o acordo, porque isso realmente cria um percalço no futuro. É bom que já se assine isso antes de começar o Programa, essa foi a recomendação que nós deixamos para as coordenadoras do MEC, no sentido que se veja isso desde o início, porque o problema financeiro sabemos que provoca empecilhos no futuro em programas de encaminhamento, acompanhamento, onde muitas vezes o material escrito não dá conta de resolver as questões, até em função dos pré-requisitos que o Cursista possui, pois é necessário você deslocar o Professor Formador até o local de trabalho desse profissional, e isso demanda dinheiro, recurso financeiro. Por isso que esse acordo de participação é fundamental e essa articulação entre as prefeituras é vital para o Projeto.

Simone: Na sua opinião, o quê Mato Grosso deixa enquanto Piloto de sinalização para o projeto PROFORMAÇÃO ser operacionalizado em nível nacional com menos saldo de problemas de percurso?

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Cézar: Em primeiro lugar gostaria de dizer que a equipe nos deixou muito à vontade, tanto a consultora do estado de Mato Grosso, a professora Simone, como também a equipe da SEDUC, no sentido de estarem propondo alterações, e Mato Grosso tenho certeza que foi o estado que mais fez alterações no Programa, no sentido de melhorá-lo, e isso é fundamental. Por exemplo, uma questão que foi gritante no PROFORMAÇÃO, foi a da avaliação. No Programa tinha todo um projeto político-pedagógico embutido, percebemos que os especialistas foram selecionados, muitos bem selecionados, eram pessoas que tinham uma opção ética, uma opção política, um material escrito muito bom enquanto projeto, todavia a avaliação era burocratizada, avaliação de nota rotulativa, classificatória. E nesse sentido, os próprios Cursistas no decorrer do Programa, começaram a fazer esses questionamentos, e bastou colocarmos isso para a Coordenação Nacional e ser modificado, e muitas outras questões foram alteradas no decorrer do programa. É esse ponto da avaliação que nós servimos muito bem como Piloto, e tenho certeza de que os outros estados não vão enfrentar tantos problemas como nós enfrentamos.

Simone: Vamos recordar Cézar, nós que somos frutos dessa história, da origem. Eu penso que Mato Grosso começou a sinalizar a partir das provas, no primeiro semestre letivo ele começa a acusar que precisaria de duas provas bimestrais, que era muito conteúdo para estudar e essa sugestão das PBs surgiu do Piloto. A outra sugestão foi do encontro mensal dos Tutores que foi instituído nacionalmente. E agora começamos a lembrar a capacitação do Tutor na Fase Inicial também, uma capacitação à parte, pois antes era junto, às vezes até no período noturno, e depois o Piloto sinalizou que fosse à parte desse processo, você lembra de mais alguma coisa?

Cézar. Basicamente foram essas alterações que nós produzimos. As provas, as questões que não eram bem elaboradas, fomos aprendendo, inclusive, reaprendendo com esse projeto a reelaborar questões, eu acho que isso foi fundamental também.

Simone: O respeito às nossas peculiaridades regionais, as instâncias nossas, inclusive originado outro calendário para eles de provas, que antes era mais rápido, mais curto o período de aplicação entre uma e outra. Aí o Piloto sinaliza que deveria ser com um intervalo maior, para que desse tempo de ir até o Cursista e retomar com este tempo com a prova para ser corrigida.

Cézar. As nossas políticas eram simples. Nesse sistema de formação do PROFORMAÇÃO, quase "matamos" o Edivaldo de tanto questionamento, mas eu acho que foi fundamental que uma questão informada de como cadastra os dados do sistema de formação do PROFORMAÇÃO e com isso nós conseguimos mudar muita coisa. Houve um processo de simplificação do Programa, sendo várias versões editadas e, finalmente agora nós estamos atingindo a versão final. E eu acho que os outros estados vão receber isso já pronto, não vão ter essa problemática que nós tivemos de ter que muitas vezes digitar duas, três vezes, perder um mês, dois de digitação. Acho que valeu a pena, porque hoje nós vamos estar entregando um trabalho bem mais elaborado, mais lapidado para os demais estados.

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4.5. Entrevista com: Débora Oliveira Santos

Cargo: Diretora da AGF de Sinop

Data: 30/03/2001

Local: Cuiabá

Simone: Débora, eu gostaria que você fizesse uma análise do desenvolvimento dos impactos do PROFORMAÇÃO na AGF de Sinop.

Débora: Foram significativas as contribuições, dentre outras, contribuições pedagógicas de fundamentação teórica que nós pudemos ter referências bibliográficas dos materiais editados pelo Ministério da Educação. Também uma contribuição em materiais e equipamentos pelos repasses efetuados pelas prefeituras municipais que permitiu que adquiríssemos materiais que ainda não possuíamos.

Simone: Na formação dos professores na capacitação que o MEC ofereceu com esse Programa para a Formação de Professores e dos Tutores, qual é a análise que você faz dessa formação para eles? É interessante? Consolidou alguma proposta de trabalho, algum estilo de Formação Continuada?

Débora: Serviu como referência para nós estruturarmos alguns trabalhos, dentre eles a Formação Continuada, porque a metodologia possibilitou que nós olhássemos de forma diferente para outros programas que desenvolvemos, tanto que algumas ações nossas, a forma de estarmos encaminhando essas ações e nos apropriando de certa forma da(s) metodologia (s) do PROFORMAÇÃO.

Simone: Quais são as contribuições que você viu que o PROFORMAÇÃO trouxe para a prática do Professor Leigo?

Débora: Essa foi fora do comum, recebemos professor no início do Programa bastante despreparado, sem nenhuma formação e orientação quanto ao planejamento, quanto à fundamentação teórica, basicamente sem nenhuma visão da educação e cidadania. E o PROFORMAÇÃO fez com que esses professores passassem a ter uma fundamentação teórica, uma formação bastante significativa, despertou nele o interesse pela continuidade aos estudos, tanto que após o término em julho, eles pretendem prestar vestibular e dar continuidade ao nível superior.

Nós pudemos observar também uma contribuição muito significativa quanto ao relacionamento, a relação professor/aluno, quando das orientações do PROFORMAÇÃO no sentido de que eles passaram a conhecer de acordo com suas faixas etárias, com as suas possibilidades, também uma visão heterogênea de cada turma, de uma possibilidade de estar prestando atendimento mais individualizado a cada aluno como individuo, com suas características e necessidades próprias.

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4.6. Entrevista com: Inês Elisabete Wagner de Souza

Cargo: Diretora da AGF de Barra do Garças

Data: 30/03/2001

Local: Cuiabá

Simone: Bete, como é que você descreve o PROFORMAÇÃO no pólo de Barra do Garças desde o início do Programa? Quais as contribuições dele com a estruturação do pólo,com a formação dos professores? E qual o impacto dele na formação do Cursistas? Disserte.

Elisabete: Primeiro foi bastante difícil, porque não tínhamos a prática de trabalhar com Educação a Distância. Nós não conhecíamos o Projeto; até as primeiras capacitações que tivemos também não nos deram embasamento certo de como trabalhar. Mas, depois que fomos lendo os módulos, recebendo a capacitação e discutindo foi clareando mais. E depois o próprio trabalho entre os Professores Formadores foi muito bom, porque discutíamos o material e víamos os problemas. E trabalhando com os Tutores, eles trazendo os problemas de lá e acompanhando alguns professores no desenvolvimento desses trabalhos, é que fomos vendo o processo de desenvolvimento deles, tanto é que, nós tivemos uma experiência enriquecedora, na discussão da avaliação do primeiro módulo, e como nós não tínhamos diretrizes definidas ainda, o grupo mesmo discutiu o como estar fazendo, porque não seria através de uma nota, mas desenvolvendo o projeto mesmo. E aí acompanhamos, orientamos nós mesmos. A AGF mesmo elaborou esquema junto com os Tutores de como deveria ser a recuperação. Acreditamos que essa foi a melhor forma de trabalhar a recuperação dentro do projeto elaborado pela AGF acompanhado, porque pudemos observar como esses professores se dedicaram. Então não é através de um estudo de uma Área Temática, ou fazendo uma prova, que saberíamos se um professor aprendeu ou não aquela disciplina.

Então desenvolvendo o Projeto com os alunos, realmente se percebeu pelo relatório e pelo desenvolvimento, que é possível aplicar os módulos. E o que nos compensou foi, depois, socializar com as outras AGFs a nossa primeira experiência do Projeto de Trabalho. Portanto, foi bastante enriquecedor para a própria AGF, e o que nós podemos perceber, levamos também a experiência para socializar em Brasília, num encontro que houve em 2000.

Outra coisa que nos deixou bastante surpresos, foi a conscientização e a participação dos nossos Cursistas nas atividades sociais, educacionais e políticas dentro do Município. Agora alunos Cursistas, Tutores são secretários municipais de Educação, diretores de escolas, vereadores, presidentes de câmara, e com isso podemos ver que eles têm uma consciência maior do envolvimento e da responsabilidade deles dentro da comunidade. E quem proporcionou esse avanço foi o PROFORMAÇÃO através do módulo e da própria preparação para o ensino superior, que agora estão cursando. Pode-se dizer que o material é riquíssimo, pois além de ter preparado para o vestibular e para o concurso público, está sendo utilizado até por outras pessoas na própria escola.

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Simone: E na estruturação do corpo docente de vocês, as contribuições na Formação Continuada desse corpo e do Programa em si para a estruturação do seu pólo, qual é a análise que você faz?

Elisabete: Eu acredito que conseguimos nos estruturar através do PROFORMAÇÃO enquanto CEFAPRO, porque nós tivemos que estudar e ter a mesma linguagem dentro do grupo, e também como construção da identidade do CEFAPRO do nosso pólo. Então, acreditamos que o PROFORMAÇÃO veio consolidar esse trabalho e somente pela Secretaria é que agora está sendo consolidado pela escola ciclada. Mas, o PROFORMAÇÃO ajudou na criação da identidade quanto Formação Inicial.

Agora o que está faltando muito em nosso CEFAPRO é essa formação continuado específica dos problemas das escolas.

Simone: Qual a repercussão do PROFORMAÇÃO na prática do professor Cursista?

Elisabete: Pelo que conseguimos acompanhar com os 230 alunos, foi grande, inclusive, tem uma certa rivalidade, boa até dentro da escola, entre os alunos que fizeram e os que não fizeram o PROFORMAÇÃO . Então gera uma discussão maior entre os alunos, havendo assim, também um envolvimento maior, pois os alunos percebem essas mudanças com o próprio professor, portanto, foi riquíssimo.

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4.7. Entrevista com: Maria Aparecida de Souza Aiza

Cargo: Diretora do CEFAPRO de Cuiabá

Data: 30/03/2001

Local: Cuiabá

Simone: Cida como é que você descreve o PROFORMAÇÃO no CEFAPRO de Cuiabá? E que contribuições ele trouxe para o CEFAPRO?

Maria Aparecida: O PROFORMAÇÃO, quando chegou no CEFAPRO de Cuiabá era um projeto novo. Nós ficamos um pouco temerosos de estar enfrentando-o porque trabalharíamos com a formação do professor. Por ser um projeto Piloto, não sabíamos como ia ser o seu desenvolvimento, se iria dar certo ou não. Mas, a medida que o tempo foi passando, pudemos perceber que aquele projeto realmente estava conseguindo atingir cada Professor Cursista, lá na sala de aula, na mudança das suas metodologias, das suas formas de trabalhar com o aluno. Então percebemos que estávamos no caminho certo e que o Projeto estava realmente atingindo os seus objetivos.

Ele contribuiu para o nosso crescimento. O PROFORMAÇÃO foi assim, uma experiência muito grande, muito satisfatória para todos nós, pois crescemos muito, conseguimos ver como é que aqueles professores, lá naquelas regiões afastadas trabalhavam; a dificuldade com que trabalhavam e a vontade que tinham de fazer as coisas bem feitas. O que faltava a eles era essa oportunidade de estarem aprofundando, de estarem vendo que há formas diferentes de pensar na Educação. E isso o Projeto proporcionou não só aos Professores Cursistas, mas a todos nós, porque passamos por várias capacitações, tivemos oportunidade de estarmos juntos com especialistas do MEC, estarmos discutindo estas metodologias.

E o PROFORMAÇÃO também trouxe benefícios para as nossas AGFs, que chamamos de CEFAPRO. Ele equipou o CEFAPRO com computadores, impressoras, e a mensalidade que o Município pagava para cada aluno também ajudou muito com cópias e muitas coisas que pudemos estar adquirindo e usando com os Professores Cursistas, e agora também na nossa Formação Continuada, no nosso trabalho.

Simone: Quais foram os maiores entraves que teve no PROFORMAÇÃO do pólo de Cuiabá?

Maria Aparecida: Não sei se seria um entrave. Eu acho que foi a questão da comunicação, o atraso dos materiais, isso prejudicou um pouco. Eu acho que o fator comunicação deveria ter mais agilidade; as coisas tinham que funcionar mais rapidamente, pois a burocracia de papel que vem e papel que vai é muito grande. Então não temos uma resposta mais rápida daquilo que mandamos, um retomo mais rápido para que tenhamos a rapidez na correção da nossa forma de fazer e encaminhar o Programa.

Simone: O que você poderia estar colocando que não foi rápido como o centro do CEFAPRO gostaria? O que atrasou a comunicação?

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Maria Aparecida: Vou colocar quanto a questão do SIP, que é um dos entraves. Telefonamos, pedimos, colocamos que o Programa estava com um problema ou outro, e demoramos demais para receber a resposta e a informação de como agir e tudo mais. Então isso colabora para o atraso das nossas colocações dessas 1nformações em dias.

Simone: Qual é o respaldo que o PROFORMAÇÃO deixa para a prática do Professor Leigo? O quê que você acha que ele deixa de contribuição para a prática desse professor?

Maria Aparecida: Tivemos oportunidade de ver nos vários Memoriais, o relatos desses professores, da forma como eles pensavam que ocorria o processo ensino-aprendizagem, e através do Projeto, estudando, eles perceberam que todos podem aprender, que vai depender da forma como o professor trabalha a sua metodologia dentro da sala de aula. Isso é percebido em quase todos os relatos dos Memoriais. A oportunidade que eles tiveram também de estarem aprofundando os estudos em Linguagens, Matemática e ciências. Isso é o que eu acho de positivo para o professor.

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4.8. Entrevista com: Tadeu Buzanello

Cargo: Diretor do CEFAPRO da AGF de Confresa

Data: 30/03/2001

Local: Cuiabá

Simone: Que análise você faz do PROFORMAÇÃO no município de Confresa?

Tadeu: O PROFORMAÇÃO veio enriquecer a educação no Município, visto que, a maioria dos professores municipais e especificamente da zona rural, não tinham habilitação para atuar nas quatro séries iniciais. Então o PROFORMAÇÃO proporcionou um grande enriquecimento e contribuiu na Educação do Município através da formação de turmas.

Simone: Na AGF de Confresa, os Professores Formadores também receberam capacitação? Que análise você faz?

Tadeu: É muito importante, devido ao fato de haver um distanciamento muito longo entre o Centro (capital de Cuiabá) e o município de Confresa, que tem aproximadamente uma distância de 1200 km. E a nossa comunicação também é deficitária. Então para que tivesse a formação no Município, a AGF recebeu formação para atuar com os Professores Cursistas que não tinham habilitação no Magistério.

Simone: E que contribuição você vê que teve na prática do Professor Cursista com o PROFORMAÇÃO?

Tadeu: Muito significativo, percebemos a partir do segundo módulo que começamos o PROFORMAÇÃO, com as visitas que fazíamos nas escolas percebíamos até a sala de aula, a mudança do professor em relação ao ambiente físico e muito mais pedagógico; constatamos um crescimento muito grande do professor e também dos seus alunos. O crescimento na prática pedagógica do professor e também os alunos, houve principalmente das séries iniciais, na alfabetização, onde percebemos a metodologia diferenciada do professor, em que ele colocava os cartazes, no quadro, na parede; trazia novas idéias para a sala de aula, ocorrendo uma interação muito maior em relação ao professor-aluno e ao aluno-professor.

Simone: E que avaliação você faz dos Encontros Quinzenais?

Tadeu: De início, nós fazíamos Encontros Quinzenais com os Professores Cursistas que chegavam ao CEFAPRO para tirar as dúvidas encontradas nos cadernos de atividades, juntamente com os Tutores, com os professores e conosco. E depois a Prefeitura solicitou que as reuniões, ao invés de serem quinzenais, passassem a ser mensais, sendo realizadas em dois dias no final do mês.

Acredito e acompanhei a sociabilidade dos Professores Cursitas, a dúvida que um tinha, na sociabilização o outro Professor Cursista chegava, apresentava, discutia, colocava a sua sugestão. Então, no meu modo de ver, foi uma socialização muito grande em relação aos

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Professores Cursistas, muitas vezes, sem a intervenção do Tutor e do professor titular da AGF. Isso foi muito importante.

Simone: Que contribuição você acha que o PROFORMAÇÃO trouxe para o conceito de cidadania do aluno.

Tadeu: Acredito que foi fundamental, muito importante devido ao que o professor cresceu nesses dois anos. Ele saiu de um grau de escolaridade e também teve uma capacitação jamais vista. Então nesses dois anos, devido ao crescimento obtido, o professor pôde levar ao aluno, enquanto aluno e cidadão, a formação que recebeu. É colocado nos cadernos e nos livros do PROFORMAÇÃO, que o professor tem que levar o aluno a crescer não só no ensino didático, mas na formação futura para cidadão.

Também tivemos em 2000, candidatos Cursistas ao cargo de vereador no Município, foram três candidatos Cursistas que participaram do pleito eleitoral, sendo que uma obteve votação suficiente para o cargo de vereadora. Hoje, ela não está mais no quadro docente, mas está no quadro de vereadores, que por sinal vem nos ajudando muito dentro da AGF, reivindicando melhorias para a nossa AGF, melhores condições para os nosso professores, transporte e merenda escolar. Então é muito importante termos um vereador eleito pela categoria dos professores, e temos um reforço maior, uma pessoa que está dentro do poder legislativo ajudando a nossa classe, interferindo por nós, e que há pouco tempo era uma Professora Leiga.

Simone: Quais foram os maiores entraves e dificuldades do PROFORMAÇÃO no seu município?

Tadeu: O CEFAPRO, a AGF de Confresa, começou com a política do governo municipal com o governo estadual, então foi criado o CEFAPRO. Depois o maior entrave foi a estrutura da AGF, pois no início em 99, não tínhamos um prédio específico para a AGF que funcionava junto com a Secretaria. Neste ano, nem diretor tínhamos. E somente no final de 99, que a prefeitura alugou um espaço pequeno e inadequado, o qual funcionou uns quatro meses; após isso alugou um prédio específico para o CEFAPRO. Então os maiores entraves, para nós, foram as questões de organização e estrutura física de espaço.

Após isso, faltou também a comunicação. Tivemos uma dificuldade muito grande de a AGF se comunicar com a Central, que é Cuiabá, e com a nossa consultora, professora Simone. Nós não tínhamos à disposição uma linha telefônica, o que dificultava pela AGF de Cuiabá, para a nossa consultora também entrar em contato conosco, sendo necessário deixar recados em outros telefones para que fossem repassados. Essas foram as nossas maiores dificuldades.

E para o Tutor, em relação ao Professor Cursista, foram as visitas mensais que deveriam ser feitas nas escolas, pois era um grande número de escolas e Cursistas, e não tinha disponível para a AGF, um transporte específico.

Simone: O quê que você considera no PROFORMAÇÃO, no programa do MEC, que tem de ser melhorado para atender melhor o Professor Cursista?

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Tadeu: Acredito que através do MEC, passando o Centro de Cuiabá, o que deve ser melhorado é a estruturação do CEFAPRO, haja vista que ainda temos dificuldades quanto à aquisição de armários e até espaço físico de sala de aula, pois as nossas salas ainda não são adequadas.

Nós já solicitamos, via coordenação estadual, um transporte para o CEFAPRO, para que nós pudéssemos acompanhar melhor não só o PROFORMAÇÃO que tivemos, mas outros cursos e projetos que podemos e estamos desenvolvendo no Município.

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4.9. Entrevista com: Maria Terezinha Fin

Cargo: Diretora da AGF do CEFAPRO de São Félix do Araguaia

Data: 30/03/2001

Local: Cuiabá

Simone: Quais foram as contribuições, qual é a análise que você faz do PROFORMAÇÃO no seu pólo?

Terezinha: Pode-se dizer que houve várias contribuições, como a questão do material permanente, do laboratório de informática, do kit tecnológico, que hoje nós estamos fazendo um trabalho não só com o pessoal do PROFORMAÇÃO, mas atendendo tanto a rede municipal quanto a estadual, com esse material. E também há outros materiais, os próprios módulos do Programa contribuíram bastante para a formação dos Professores Cursistas e agora estão contribuindo para estudo e reflexão de outros professores que estão na rede estadual.

Simone: Como é que iniciou o PROFORMAÇÃO no seu pólo? Ele já existia sem o CEFAPRO?

Terezinha: Ele existia no papel, mas nós iniciamos mesmo as atividades com o programa PROFORMAÇÃO. Nós formamos uma equipe para trabalhar na Fase Presencial, e com o passar dos dias, foi formada a equipe do CEFAPRO. No primeiro momento nós formamos a equipe para trabalhar no PROFORMAÇÃO.

Simone: E a capacitação que essa equipe recebia, acha que de certa forma contribuiu com o CEFAPRO? A equipe mudou muito, essa atual ficou com as capacidades essenciais do Programa?

Terezinha: Sim, contribuiu. A maioria do pessoal que trabalha no programa PROFORMAÇÃO, hoje faz parte da minha equipe do CEFAPRO. E mesmo aqueles professores que não fazem parte do quadro do CEFAPRO, sempre estão contribuindo para o trabalho do CEFAPRO.

Simone: E sobre a prática dos alunos Cursistas, o que você tem a falar a respeito do PROFORMAÇÃO e da relação da prática do Professor Cursista?

Terezinha: Quanto à prática do Professor Cursista, mudou. Nós tínhamos professores que estavam em sala de aula, e que há 20 anos tinham saído do banco escolar. Então com o programa PROFORMAÇÃO, eles tiveram a oportunidade de retomar e se formar na área em que estavam trabalhando.

E em relação à prática, mudou a questão do conhecimento, dos questionamentos, eles tinham uma visão crítica, mas hoje ela está bem maior e mais ampla.

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Outra coisa também que o programa PROFORMAÇÃO contribuiu foi quanto ao relacionamento, a troca de experiências entre aquele professor que estava na zona rural e o professor da zona urbana, e até o grupo de Professores Formadores. Nós nunca tínhamos trabalhado com essa clientela, portanto nos deparamos com uma clientela diferente, o que foi um trabalho rico, tanto para os professores da zona rural quanto para os professores da AGF.

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4.10. Entrevista com: Vilma Vilela Shuingel

Cargo: Diretora do CEFAPROs e da AGF de Alta Floresta

Data: 30/03/2001

Local: Cuiabá

Simone: Qual é a sua análise do PROFORMAÇÃO do pólo de Alta Floresta? Como é que ele começou, como é que estava preparada a sua AGF para trabalhar com o PROFORMAÇÃO? Como é que você avalia esse processo do PROFORMAÇÃO em Alta Floresta?

Vilma: Eu acredito que o PROFORMAÇÃO foi o motivo até do CEFAPRO ser uma instituição de fato no Município, isto porque havia a necessidade de formação do professor não titulado. O município fez parceria, e com isso fortaleceu o CEFAPRO que é um centro criado pelo governo, mas é uma Agência Formadora, que é assim que o MEC chama, de professores. Com isso ganhamos uma estrutura razoável para trabalhar a formação dos professores em geral. O PROFORMAÇÃO para os professores que não possuíam a formação para o Magistério, possibilitou ao professor, rever e fazer uma análise teórica da sua prática, que eles não tinham até então esta visão.

Simone: E na prática dos professores do CEFAPRO, modificou alguma coisa, esse grupo já tinha uma concepção de educação? Houve alguma contribuição do PROFORMAÇÃO nesse sentido?

Vilma: O PROFORMAÇÃO contribuiu até para a formação da prática do próprio docente do CEFAPRO. Andamos fazendo algumas análises dos módulos, como foram estruturados, e que possibilitavam enfim, uma interdisciplinaridade no curso do PROFORMAÇÃO. E isso deu subsídio também para trabalharmos essa questão da interdisciplinaridade, na Formação Continuada dos demais professores da rede. Segundo um depoimento de um professor da AGF, que trabalhou Ciências Naturais, ele fez uma seguinte análise do módulo que possibilita claramente para o docente trabalhar a interdisciplinaridade, a forma com que o módulo foi montado, possibilita isso. Inclusive algumas questões da área de Ciências Naturais que estamos encontrando para trabalhar com a escola jovem no Ensino Médio, está recomendando um módulo para que os professores estejam observando como estão sendo colocados os conteúdos dentro do módulo, para possibilitar a interdisciplinaridade dentro da própria área de ciências da natureza.

Simone: Quais foram os maiores entraves que teve o programa PROFORMAÇÃO em Alta Floresta? Houve algum entrave, algum problema maior?

Vilma: No início tivemos entraves sim, com o problema de comunicação, em que nós não tínhamos a linha telefônica. E depois, graças a pressão que o próprio MEC fez aqui com a SEDUC, nosso CEFAPRO foi abastecido com duas linhas telefônicas, e agora, quanto a isso, estamos gratificados porque possibilitou a comunicação. E um problema que ainda temos é o programa CIP que é de conhecimento geral.

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3. Entrevista com os Professores Cursistas

5.1. Entrevista com: Profª. Diana

CARGO: Professora

DATA: 17/11/2000

LOCAL: Pontes e Lacerda

Simone: Diana como você avalia o PROFORMAÇÃO?

Diana: Eu tenho vontade de fazer essa transformação e para mim é uma grande transformação. Porque eu não tinha magistério, eu vim do Paraná e fui dar aula numa fazenda. Eu não tinha noção de como lecionar, mas comecei. Ofereceram-me e eu fui

Simone: Até que série você cursou?

Diana: Eu tinha 2o grau, só que lá onde eu morava só existia Educação Geral. O meu conceito em sala de aula como professora era aquela imagem dos professores que eu tive. Eu imaginava que eu tinha que ser igual a eles em relação à nota, avaliação, tratamento dos alunos. Eu tinha aquela concepção de que os alunos tinham que ficar quietinhos e que eu tinha que explicar bem a matéria. Eu ia num curso e não ouvia o que as pessoas falavam, não mudava minha maneira de pensar, eu pensava que tinha que ser como foi comigo. Os alunos tinham que ficar quietinhos, ouvindo eu explicar e entenderem. Eu achava que a avaliação devia ser aquela escrita em que o aluno estuda e tira nota.

Hoje com o PROFORMAÇÃO eu vejo que não é bem assim; fui mudando minha maneira de pensar, minhas idéias. E eu comecei a ver as coisas de uma maneira diferente e agir diferente e vi que estava dando resultado. Percebi que eu estava errada e que eu deveria mudar, fazer diferente e tive bons resultados. Hoje eu sinto que muitos alunos foram prejudicados por minha culpa, pela minha falta de conhecimento das coisas. Hoje se eu pudesse voltar atrás e fazer diferente, tenho certeza de que eles não teriam sido prejudicados. Mas agora sei como agir, pois tenho mais conhecimento e não vou agir como antigamente. Vou tentando melhorar, mudar, fazer minhas aulas diferentes.

Em relação aos alunos que faziam muita bagunça, que não tinham atenção, eu achava que eram alunos que não queriam saber de nada, não queriam estudar e eram "safados" mesmo. Hoje eu sei que não é assim, sei que os alunos têm problemas, cada comportamento do aluno tem uma conseqüência, tem um motivo. Eu mudei muito, até para o meu desenvolvimento pessoal; hoje o meu comportamento mudou muito, eu falava muito pouco, era muito retraída.

E estou sentindo uma melhora muito grande graças ao PROFORMAÇÃO. Eu era uma professora que fazia o meu plano de aula, chegava na sala e dava aquela aula lá, e se os alunos falavam: "professora você assistiu tal coisa na televisão?", eu falava "assisti, mas agora não é hora disso, eu vou dar a minha aula e se sobrar tempo no final da aula vocês contam". Coitados, meus alunos tinham que chegar, sentar, comportar-se e escutar o que

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eu estava falando, era ouvir, memorizar e "se aprendesse bem, se não aprendesse amém". Eu não me preocupava com o aluno, se ele aprendesse, o mérito era meu e se ele não aprendesse, a problema era dele. Os pais me criticavam, eu não tinha esse negócio de chegar e "passar a mão" na cabeça de menino. Eu pensava que se eu fizesse um carinho num aluno, eu iria tirar toda aquela qualidade que eu tinha, o respeito do aluno por mim.

Com o PROFORMAÇÃO, a diretora do ano passado, que era uma professora muito culta e entendia bem do assunto e a Sueleide, que é a nossa Tutora, me ajudaram muito nessa parte e hoje eu sou uma professora que, graças a Deus, eu tive a oportunidade de corrigir com os alunos o que eu estou passando no 4o ano. Os alunos falam "professora, mas como a senhora mudou, de primeiro a senhora não brincava, não dava um sorriso, era sempre a senhora lá na frente falando, enchendo o quadro, nós não tínhamos essa liberdade de sentar, brincar e fugir um pouco da aula, hoje a senhora mudou, é diferente, a senhora é amiga nossa". Eu agradeço o PROFORMAÇÃO que me ajudou muito, eu errei e tive a oportunidade de corrigir, e isso com a mesma turma. Hoje eu vejo que na minha aula tem menos alunos reprovados, o resultado é maior.

Simone: A questão da indisciplina, como é que tem sido na sala de aula com você?

Diana: Mudou muito. Eu gritava, até hoje eu grito, só que eu estou mudando. Eu tenho uma colega que é bem calma na sala de aula e ela estava me falando, isso é a importância de ter essa coletividade do PROFORMAÇÃO, "você grita muito com os alunos" e eu nunca tinha parado para pensar nisso. E quando estávamos estudando sobre esse assunto, vimos que eu tinha que mudar, era mais um ponto que eu teria que mudar e já no final do ano, nas últimas aulas, os alunos estavam comentando: "a professora está mais calma, parou de gritar". Eles percebem, o resultado maior, o objetivo maior, o conhecimento maior vem deles, eles falam e são sinceros.

Simone: Você era super autoritária, conduzia a disciplina, as crianças eram quietas e depois se soltaram um pouco. Você, começou a valorizar as crianças e mesmo assim você conseguiu manter o nível da disciplina?

Diana: Eu era assim, eles ficavam quietinhos, sentadinhos em fila, depois do PROFORMAÇÃO eu mudei e consegui manter a disciplina na sala.

Simone: A forma como você avaliava antes e como você avalia agora modificou muito? Você se sente segura avaliando dessa forma ou você acha que ainda tem alguma coisa que deve ser mudado?

Diana: Em nível de avaliar, nós aprendemos não só no PROFORMAÇÃO como nós tivemos um curso. Eu achava que nós teríamos que avaliar o aluno só pela nota da prova dele, por exemplo, você aplica a avaliação e a nota que ele tirou você vai fazer aquele processo todo. Eu não avaliava a participação do aluno, a criatividade dele, cada coisa que ele fazia dentro da sala. Depois eu vi que era diferente, desde o momento que o aluno sai da casa e está na sala de aula, ele está fazendo alguma coisa e cada coisa que ele faz na sala de aula, uma atividade, uma pergunta que ele faz, isso já é uma nota que você tem que dar para ele. Na avaliação o importante não é você fazer uma lista de perguntas e dar para o aluno responder; o importante é a experiência, o conhecimento que ele foi adquirindo. Hoje, eu posso dizer que mudei muito minha maneira de avaliar, porque atualmente eu avalio cada

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coisa que eles fazem, por exemplo, eu não dou mais as perguntas pedindo para eles trazerem no outro dia na "ponta da língua". Hoje eu nem aviso mais que amanhã vai ter prova, eu chego na sala, passo um trabalho, reúno em grupo, por exemplo, em Estudos Sociais e Ciências eu posso contar uma, duas ou três vezes que eu dei uma avaliação para eles fazerem sem se reunirem em grupo, sem estarem discutindo, aquela tradicional, mas nas outras eles abriam os livros, pesquisavam. Eu percebi que esta é uma maneira muito melhor, enriquece muito mais o conhecimento deles, porque eles vão estar lendo, procurando aquilo que eles querem, não vão apenas decorar para aplicar na prova. Eu tinha um aluno que não sabia nem abrir o livro, não sabia por onde começar a fazer uma pesquisa para responder uma pergunta e quando eu cheguei no quarto bimestre, já não precisava nem falar, apenas dava o trabalho e eles faziam. Eu percebi que eles vão aprendendo por si mesmos, é igual aqui no curso quando começamos a fazer um trabalho e depois tem que explicar. O conhecimento é muito maior do que aquele em que o professor chega ali na frente e fala, fala, tornando a aula cansativa. Já quando nos reunimos em grupo, discutimos, um aprende uma coisa o outro outra, o conhecimento é muito maior e esta é uma forma de avaliação.

Antigamente eu pensava que se ele respondia era porque ele sabia; mas ele podia pedir ajuda para o colega. Hoje eu sei identificar aquele aluno que consegue, que tem mais facilidade nas minhas aulas. No início do ano eu ainda estava meio parado nesta questão, eu aprendi muito. Até na área de Fundamentos eu comecei a trabalhar com a subjetividade do aluno, a facilidade que ele tem de desenvolver. Eu aprendi que com alguns alunos tem que trabalhar de maneira diferente, especial, pois alguns não conseguem acompanhar a turma. Hoje eu identifico cada aluno meu, o que ele consegue e não consegue fazer. Agora eu não chego na sala e vou dando matéria, primeiro eu converso, pergunto como foi o dia deles, tiro uns quinze ou vinte minutos para conversar com eles. Aprendi a trabalhar com o pensamento do aluno, preocupo-me mais com eles, se estão gostando ou não da maneira como está sendo feita a aula e até pergunto como que gostariam que fosse. Até falava que eles tinham que dizer alguma coisa, participar da aula e hoje eles aprenderam a defender o que querem, ou seja, participam, dão idéias.

O que eu aprendo aqui eu passo para eles. Acho que só temos a ganhar com o curso.

Simone: Diana, como era a sua postura como professora antes de entrar no PROFORMAÇÃO?

Diana: Eu cobrava muito da sala, mas tinha um aluno que não fazia, e esse eu deixava de lado, eu não sei se os seus pais não ligavam para ele e por isso ele era assim. Mas isso não vem ao caso. Hoje em dia, depois que eu comecei o PROFORMAÇÃO eu vejo por outro lado. Hoje ele é "danado", continua "sapeca", terrível, só que faz, participa.

Simone: Como que você conseguiu essa mudança?

Diana: Eu sento, eu converso com ele quando ele tem alguma coisa para falar da casa dele, ele gosta de estar falando. Coloco-o na frente quando faço alguma coisa. Dei autoconfiança para ele, uma valorização, até mesmo agora eu comento com outro professor que me ajuda aqui de manhã, ele também o conhecia porque ele sempre me substituía aqui no ano passado. Aí eu mostro, eu estava conversando com ele, ontem, ele estava fazendo uma

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avaliação, e eu estava mostrando que quando ele quer ele faz. Então eu tive que criar uma maneira dele estar ali, parado, fazendo.

Simone: Você criou uma forma diferente para ele?

Diana: Isso, eu o valorizei, eu tenho que estar escrevendo, tomando todo aquele cuidado. Mas a questão é que ele mudou totalmente. Ele ainda é "danado", ele é terrível, mas na hora de fazer, ele faz.

Simone:No que o PROFORMAÇÃO contribuiu com você na prática pedagógica? Que pontos você coloca como fundamentais na mudança da prática pedagógica com o PROFORMAÇÃO?

Diana: O importante foi que eu mudei mesmo, hoje eu até reflito sobre minhas aulas depois que eu termino Eu não ligava, não refletia antes, mas agora não, mudou totalmente, eu reflito, vejo quais são os meus objetivos. Antes eu planejava, tinha o plano de aula, mas não refletia qual era o meu objetivo. Eu só queria passar aquela aula e não me importava com os alunos, eu só queria terminar.

Simone: A sua preocupação era o conteúdo?

Diana: Sim, mas agora não. Eu ficava preocupada principalmente no final do ano, se eu tinha terminado o livro, dado aquilo que estava no plano que eles tinham nos mandado e vinha prontinho. Eu não me preocupava se eles estavam aprendendo ou não. Hoje em dia eu vejo tudo diferente.

Simone: Você está preocupada agora com a qualidade?

Diana: Sim, e não com a quantidade. Não fico com aquela preocupação em terminar o livro, em fazer tudo que estava no plano de aula. Mas sim com eles, como eles estão indo.

Simone: O que você considera significativo? O que mais o PROFORMAÇÃO mudou em você como pessoa?

Diana: Eu era muito quieta, quase nunca falava nada. Então nisso contribuiu muito, eu me vejo agora totalmente diferente. Se tivesse alguma reunião, algum encontro aqui, alguma coisa, eu já ficava de lado, eu não participava de nada. Então neste ponto, como pessoa, eu mudei, hoje em dia eu vou atrás, estou mais consciente.

Simone: E como professora? Profissional?

Diana: Como profissional eu vejo que antigamente, antes do PROFORMAÇÃO, eu dava aula só por dar mesmo. Hoje não, vejo que cada vez mais eu tenho que me valorizar e ter novos conhecimentos. Prosseguir e não ficar parada no tempo. Antigamente eu pensava que eu tinha segundo grau e que estava bom. Hoje eu penso totalmente diferente, penso que eu preciso cada vez mais estudar, atualizar, pois se eu ficar parada, como que eu vou passar coisas atualizadas para os meus alunos?

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Simone: E agora com o fim do PROFORMAÇÃO o que você pretende? Quais são os seus planos?

Diana: Eu pretendo continuar na medida do possível. Até já prestei o vestibular, mas não sei o que vai ser ainda. Mas não fiz o que eu gostaria de fazer. Eu fiz Biologia, mas queria Matemática.

Simone: Então por que fez Biologia?

Diana: Questão de opção. Aqui tem Letras na faculdade. E Biologia é através de um programa da UNIVAG, particular, e nesse programa não tem Matemática. Então eu optei por biologia.porque tem um pouco de matemática também.

Simone: Você sempre gostou da Matemática?

Diana: Sempre, desde pequena meu sonho era fazer Matemática.

Simone: Você é uma aluna bem sucedida, está conseguindo acompanhar bem, vai passar direto sem recuperação. Fale sobre os pontos você acha fundamentais para uma pessoa ir bem no PROFORMAÇÃO?

Diana: O fundamental é a dedicação, tem que se dedicar muito aos estudos.

Simone: Quantas horas de estudo você acha necessário?

Diana: Na minha opinião depende de cada aluno. Depende de cada disciplina que ele está estudando, como ele está lendo, o entendimento de cada um, se ele precisa reler novamente ou não.

Simone: Quantas horas você se dedica?

Diana: Eu me dedico sempre mais à noite, porque dou aula de manhã e à tarde. Então eu me dedico à noite e nos finais de semana. Faço duas horas e meia, três horas por dia.

Simone: Você falou dedicação e tempo, o que mais é fundamental para o aluno acompanhar bem o Programa!?

Diana: Dedicação, tempo e muito esforço, do contrário não consegue.

Simone: Você acredita que é um Programa que exige muito do aluno ou dá para acompanhar perfeitamente.

Diana: Não, dá para acompanhar, não exige tanto do aluno. O ponto mais importante que eu achei, na minha opinião, é o tempo. O tempo é especial, principalmente para quem dá aula nos dois períodos. O Programa tem que continuar sim, só que tendo um apoio da Prefeitura ou de vocês para os professores que estão entrando no Programa, para que dêem aula só um período e se dediquem no outro período, porque é muito cansativo.

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Simone: Um aluno disse que não adiantaria dedicação, tempo, os conteúdos, se não colocasse em prática.

Diana: Lógico, se você está estudando tem que colocar em prática, senão não adianta.

Simone: E você consegue colocar em prática a maioria dos conteúdos?

Diana: Eu consigo. Antes mesmo do Programa, a Matemática eu levava muito bem, agora melhorei mais ainda. Eu deixava um pouco os outros conteúdos e dedicava mais à Matemática. Mas depois eu vi a importância.

Simone: Você disse que era preocupada em passar a matéria, concluir, conseguir acabar. Em termos de conteúdo, você mudou sua maneira de lecionar em função do PROFORMAÇÃO? Dê um exemplo?

Diana: Tenho vários exemplos. Antigamente era só carteira uma atrás da outra de segunda à sexta-feira, não mudava a não ser que fosse um dia de festinha. Eu não levava os meu alunos para ter aulas fora, para estar passeando se não fosse na sexta-feira. Também, quando o aluno tinha curiosidade, por exemplo, numa aula de Português se ele perguntava alguma coisa de Matemática, eu logo cortava porque não era a aula. Tudo isso eu vi e mudei muito.

Simone: A diversidade tem sido um tema difícil de ser trabalhado, especialmente, na sala de aula, como você tem conseguido?

Diana: Antes eu trabalhava com todos, hoje em dia não. Hoje eu trabalho com eles individualmente, mas não deixando que eles percebam. Antigamente eu não ligava, o que vinha, vinha para todos. Agora trabalho com eles valorizando cada cultura, respeitando e abrangendo todos. Eu tento abranger todos na minha aula sempre colocando que cada um tem a sua cultura. Sendo assim, nunca desvalorizando, discriminando. Eles não são tão diferentes aqui, são todos agricultores. Eles, praticamente, moram aqui há muito tempo, desde pequenininhos. Eu tenho um aluno que começou comigo na primeira série, terminou a quarta e agora que está indo para a cidade.

Simone: O que você gostaria de colocar sobre o PROFORMAÇÃO?

Diana: Eu gostaria de colocar que ele foi de suma importância para nós, que eu gostei muito, pois nos valorizou bastante e com ele vou mudar cada vez mais.

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5.2. Entrevista com: Vitória

Cargo: Aluna Cursista de Diamantino

Data: 28/04/2001.

Local: Diamantino

Simone: Dona Vitória, há quanto tempo a senhora leciona?

Vitória: Está completando vinte e quatro anos. Eu iniciei em 77.

Simone: A senhora leciona em que lugar?

Vitória: Em Cambaiúva, município de Alto Paraguai, a 80 km de Alto Paraguai.

Simone: A senhora leciona sempre no mesmo lugar?

Vitória: Sempre.

Simone: E a sua escola onde é?

Vitória: A escola é na minha casa. Há 24 anos eu cobro uma escola da prefeitura, e ela sempre dá a mesma desculpa, que não veio a verbas, outra hora a desvia para outro cargo.

Simone: Há quanto tempo a senhora dá aula na sua casa?

Vitória: Há vinte e quatro anos.

Simone: Há vinte e quatro anos que a senhora pede escola e não ganha?

Vitória: Nunca ganhei.

Simone: Quantos alunos a senhora tem?

Vitória: Foram matriculados vinte e dois, mas houve um problema lá, e ultimamente estão freqüentando mesmo, oito alunos.

Simone: Oito?

Vitória: Mas as crianças estão todas lá, isso é falta de entendimento dos pais.

Simone: E a senhora consegue administrar bem essa história de sala de aula na própria casa? E a merenda escolar é a senhora que prepara?

Vitória: Eu mesma faço ou minha filha me ajuda, pois eu sempre cobrei merendeira, mas eles dizem que não tem condições, porque se não tem escola, não tem jeito de pagarem merendeira.

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Simone: E eles lhe dão ajuda de custo por ser em sua casa, ou não?

Vitória: Não. Nunca me ajudaram em nada. Agora, até os trinta reais que o prefeito passado me pagava de ajuda de custo para eu vir, como Cursista, agora o prefeito tirou.

Simone: Há dificuldade para vir ao curso PROFORMAÇÃO?

Vitória: Enfrento muita dificuldade, quando chove demais, tem o rio Paris que enche. Eu já atravessei-o até com água no pescoço, na mata. Tem quase um km de mata que atravessamos, que tem até jacaré. Já chutei até sucuri na estrada, porque enche tudo de água. Eu subo a serra a pé e vou até o Brumado para pegar o ônibus e vir até aqui.

Simone: Brumado é o quê?

Vitória: É um lugarejo. No mês de setembro, ia vindo eu e o meu filho me trazendo; às vezes, eu venho com a menina, mas sempre o menino me traz até o Brumado, e dali em diante eu venho sozinha.

Simone: Por quê? É muito perigosa a estrada?

Vitória: É perigosa porque é longe.

Simone: Quantos km dá até o Brumado?

Vitória: Uns doze km.

Simone: E a senhora vem a pé doze km?

Vitória: É. Na estrada eu encontrei uma onça; eu ia vindo e ela estava deitada ao lado do caminho. E quando eu vi já estava pertinho dela. A minha sorte é que vinha um cachorro junto e o menino vinha lá atrás. E quando a vi, eu parei, olhei para trás e mostrei para o cachorro que correu atrás dela. Ela não correu, subiu uma rampa, desceu, e logo o cachorro começou a latir e ela subiu na árvore.

Ainda fiquei umas duas horas esperando, e mandei o menino ir lá embaixo chamar um fazendeiro para ver se matava. Eles vieram, mas no momento que eles iam chegando perto, ela pulou no chão e correu .

Simone: Então a senhora passa por tudo isso para vir para o encontro quinzenal? Mas o quê que a senhora está achando do PROFORMAÇÃO?

Vitória: Pelo menos para mim, estou achando ótimo. Porque eu não tinha experiência nenhuma, inclusive nem o primeiro grau eu havia concluído. Eu tinha vontade de terminar, mas não havia jeito porque eu sou professora na zona rural e não tinha como vir para o Alto Paraguai fazer algum cursinho, e quando sabíamos de algum, já havia terminado. Então para mim está sendo ótimo, com toda dificuldade que estou encontrando, graças a Deus estou terminando e espero vencer.

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Simone: A senhora modificou alguma forma de dar aula? Melhorou o seu conhecimento nas disciplinas?

Vitória: Muito. Desde o plano de aula, que eu não sabia fazer. Eles sempre cobravam, mas nunca sentavam para ensinar. Então com o PROFORMAÇÃO eu aprendi muito, pois a minha Tutora sempre está trabalhando e nos ensinando. Agora eu não vou falar que eu já sei bem mesmo, mas já melhorei muito. O modo de ensinar, pois recebíamos aquelas regrinhas que tinha que seguir, agora graças a Deus já temos outros conhecimentos a passar para os alunos.

Simone: A senhora está conseguindo trabalhar na sua escolinha? É multisseriada?

Vitória: É primeira, segunda, terceira e quarta séries.

Simone: A senhora me autoriza a utilizar a sua foto que tirei hoje, a foto da sua escola e a foto da senhora com as crianças em meu trabalho, em minha tese de Doutorado?

Vitória: Autorizo.

Simone: O que mais a senhora acha que está interessante no curso e que ajudou a senhora na sua profissão de professora? E na sua vida de mãe, de mulher e cidadã?

Vitória: Ajudou muito. Para falar sinceramente, eu tinha medo de cobrar da secretaria alguma coisa, pois eu pensava que se cobrássemos eles poderiam não achar bom. Mas eu vi que para termos um trabalho melhor e aquisição de conhecimento, temos que cobrar. Temos mais oportunidade também para desenvolver o trabalho.

Simone: E a senhora vai cobrar melhor agora a sua escola, para sair da sua casa?

Vitória: Eu já tenho cobrado a Secretaria. Ainda ontem eles me falaram que não está tendo jeito agora, que está tendo muito serviço e não tem jeito de levar material; e que as estradas não estão boas.

Simone: Quem é que leva merenda escolar para suas crianças?

Vitória: Sempre foi a prefeitura. Mas há uns quatro anos a prefeitura parou de trazer a merenda, eles levam até o lugarejo e eu com os meus alunos trazemos na cabeça. Nesses doze km que eu caminho até hoje para eu vir para cá, já levei a merenda que eles deixam lá atrás da serra, no Brumado. Cheguei até levar carteiras, quadro, merenda, eu já sofri muito.

Simone: Levou na cabeça, quadro, carteira? Não tem estrada até lá?

Vitória: Agora tem. Mas antigamente não tinha. Então, para eu iniciaras aulas, tive que carregar na cabeça. Até pouco tempo eu carregava carteiras e merenda.

Simone: A senhora quer dizer mais alguma coisa?

Vitória: Pela dificuldade, tenho achado meu salário muito pouco, não sei se é correto isso.

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Simone: A senhora está com sua vida regularizada? Onde é que está escrito que a senhora tem vinte e quatro anos, que poderá aposentar no ano que vem? Onde é que está registrado?

Vitória: Agora penso que está perto de eu me aposentar, não tenho comprovante, há vinte e quatro anos leciono, mas só há quatro a prefeitura dá holerite. Olha, eu não tenho uma certeza, porque de quatro anos para cá, é que nós estávamos recebendo holerite, antes não tinha comprovante de nada.

Simone: A prefeitura tem documentado que a senhora leciona há vinte e quatro anos em algum lugar para lhe dar aposentadoria no ano que vem?

Vitória: Não tenho certeza.

Simone: A senhora tem que ver isso.

Vitória: Eu tenho que ir atrás.

Simone: Então agradeço a entrevista da senhora, obrigada!

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5.3. Entrevista com: José

Cargo; Professor

Data: 16/11/2000

Local: Escola Municipal Guiomar Maria da silva

Simone: Quais são as habilidades, as competências, os hábitos, os comportamentos que devem ter um aluno do PROFORMAÇÃO para se sair bem no Programa?

José: Primeiro, tem horário para tudo. Se é de manhã que vai estudar, que estude duas horas. E depois, tudo que aprende, coloque em sala de aula, até a motivação na sala de aula. Por exemplo, eu, como você pode ver, sou a única na sala de aula que trabalha até o modo diferenciado de sentar as crianças, a maneira de socializar, a maneira de um estar olhando no olho do outro, e o professor estar fazendo realmente este trabalho.

Eu acredito que, se colocarmos tudo em prática que vem escrito naqueles módulos, é um sucesso.

Simone: José, o quê fica do PROFORMAÇÃO como contribuição na sua prática como professor?

José: Eu estou acabando de fazer o PROFORMAÇÃO, estou recebendo o diploma, mas eu falei comigo mesmo: "vou voltar a fazer o PROFORMAÇÃO novamente, porque cada vez que eu abro um módulo é uma nova leitura e uma nova visão. Quer dizer, eu tenho certeza de que o sucesso da minha vida aconteceu a partir do momento em que fiz o PROFORMAÇÃO".

Simone: Você já lecionava quando começou o PROFORMAÇÃO?

José: Quando entrei no PROFORMAÇÃO tinha oito anos de docência, porém eu nunca fiz o Magistério. E pelo que eu vejo e sinto, passei muitas coisas erradas para os meus alunos como professor, e isso eu percebi através do Programa.

Simone: Por que você tem essa opinião? Dê-me um exemplo, alguma coisa que você já fazia, aí parou para pensar e viu que não era isso.

José: O modo como eu procedia, ou seja, querendo que as pessoas fizessem aquilo que eu sabia, pois achava que eu era o bom. Não adiantava o meu aluno, o meu amigo, a pessoa que estava na sala falar o que ele sentia; eu chegava, jogava e queria aquilo de volta, quer dizer, achava que eu era o "sabichão", e na realidade não é nada disso, pois hoje a troca de conhecimento é que oferece crescimento para todos nós indivíduos. Quero dizer, na realidade, talvez eu nunca tenha formado nenhum cidadão até entrar no PROFORMAÇÃO.

A partir do PROFORMAÇÃO você sabe o que é fazer essa diferença, por exemplo, hoje eu pego um aluno aqui em baixo e já quero mostrar para ele o porquê que ele deve estudar, o porquê que ele deve aprender, que conhecimento a escola traz, qual a o papel da escola na

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vida desses alunos. Porque para muitos, a Escola Pública acabou, enquanto na realidade não é nada disso. O que houve foi uma inversão de valores.

E mais, com o PROFORMAÇÃO eu aprendi que o saber é aprender a aprender, eu não tinha parado para pensar nisso antes. Aprendi que a maneira como eu lecionava antes, não era correta, mas eu achava que do jeito que eu trabalhava estava ótimo. Quero dizer, aprender a aprender com o cotidiano. Se tivesse aprendido a separar essas coisas, fazer essa diferença, eu não me aproximaria jamais dos alunos.

Simone: Como é o seu relacionamento com os alunos, você aprende com eles?

José: Até a palavra respeito, por mais que você queira falar, há a hora de você falar e de você ouvir. Nós queríamos chegar e passar uma ordem para os alunos "fiquem quietos", ou seja, queremos que uma sala seja ótima, enquanto na realidade não é isso, não acontece, pois existe o tempo de falar e de ouvir. Então tudo isso o aluno também percebe e se irrita com o professor. Se eu grito com eles, eles também gritam comigo.

Simone: No Memorial você menciona que deu uma aula sobre cultura, como foi?

José: Sim, sobre cultura, mostrando o que é cultura, porque que a cultura lá no campo é uma coisa, passou, veio para dentro da sala. Fiz na minha sala um laboratório, fui garimpeiro, já fiz barraca de palha, e palha naquele barraco era cultura, feita de folha de coqueiro. Então eu trouxe e fizemos a barraca dentro da escola, dentro da sala de aula. Na barraca trabalhamos até Matemática, pois os alunos fizeram bolo de arroz e venderam lá dentro. Trabalhamos as quatro operações, o dinheiro, o real, trabalhou-se com o real, vendendo e comprando.

Simone: José, você prestou vestibular e passou para o curso de Geografia, por que Geografia?

José: Porque eu fui garimpeiro e fiz mais de 600 buracos, arrebentei com o meio ambiente e agora, como quero ficar no município, pretendo ver se faço alguma coisa.

Simone: Você trabalhava aonde naquela época? Quanto tempo tem que você foi garimpeiro?

José: Tem um ano e meio. Eu era professor e trabalhava como garimpeiro.Eu larguei o garimpo quando eu tomei consciência, já estudando, que eu só estava destruindo, preocupado só comigo; igual o professor hoje que vai para sala de aula e se preocupa só com ele e com a sabedoria que tem, quer passar aquilo e acabou. Por isso existe aquela distância, o professor não passa a ser aquele mediador que tem que ser, que é para ser o papel dele.

Simone: Como que você dava aula antes do PROFORMAÇÃO? Como é que eram as suas aulas antes de voltar a estudar?

José: Antes, eu pegava um livro, punha debaixo do braço, copiava, escrevia no quadro e pronto. Livro antigo, principalmente aquele livro que já tínhamos passado e repassado. Totalmente diferente, hoje eu programo a aula, converso com eles dez, cinco minutos e

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mostro qual é o trabalho de hoje. Eu tenho que fazer tudo, já levar tudo pronto. Por exemplo, esses dias nós fizemos uma aula com bolacha, caramelo, quero dizer, balinha, tudo para mostrar, introduzir dezena e unidade. Hoje eu quero mostrar para eles que a embalagem da bolacha é um texto e cada um vai ver esse texto de uma maneira diferente. Com essa embalagem também posso trabalhar as cores, o formato. E tudo isso para mostrar que o texto escrito também tem um conteúdo e hoje meus alunos já conseguem assimilar isso. E eu como professor há muito tempo nâo sabia o que era conteúdo, não sabia de nada disso.

Simone: Você estudou até que série?

José: Estudei até a quarta série, bem antiga.

Simone: Você mencionou no Memorial que antes de começar o PROFORMAÇÃO, você tinha uma turma e agora tem outra. Por quê?

José: Quando eu comecei a fazer o PROFORMAÇÃO tinha uma outra direção na escola que foi eleita pela comunidade. Então o diretor, me chamou e disse: "Estou vendo o seu esforço no curso e estou sentindo que você vai dar certinho no pensamento que eu tenho; vou colocá-lo com os meninos que estão aí "empacados", que já estão fora de idade e que os professores só vêm reprovando, vê o que você pode fazer com essa turma". E assim me deram a turma.

Primeiro eu trabalhei com uma quarta série de alunos problemáticos, agora tenho uma quarta série. Esse agora é o meu desafio, está escrito no meu Memorial que eu peguei essa turma como um desafio. Eu me sinto hoje, até falei para a secretária ontem, que eu me sinto uma pessoa segura. Entro para lecionar e não tenho problema. Eu vejo pessoas, professores dizendo que não podem dar aula em tal série porque não dominam o conteúdo, não conseguem. Hoje, não tenho mais esse tipo de problema, qualquer que seja a série eu entro, porque hoje eu estou preparado para fazer esse trabalho. Então, primeiro é conhecer o aluno, ver a realidade dele e começar a fazer o trabalho.

Simone: Você já chegou a ir na casa de um aluno?

José: Isso é de praxe com os alunos problemáticos. É preciso estar sempre em contato com a mãe para mostrar, falar o que está acontecendo.

Simone: O PROFORMAÇÃO tem esse Projeto de Trabalho agora no quarto módulo em que os alunos têm que fazer um Projeto de Trabalho. Esse trabalho pode ser pesquisa para fundamento do conhecimento ou pode ser de intervenção na comunidade, no município, que tema você escolheu?

José: Eu escolhi turismo.

Simone: Por que turismo?

José: Escolhi o turismo porque o nosso Município passa por um momento difícil. Saímos do garimpo. Quando eu vim para cá, vim por causa do garimpo, vim olhando lá na frente, achando que ia ficar rico logo. Aí colocamos, viemos com várias máquinas, já tentando

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mecanizar. Na realidade eu não tive prejuízo no garimpo, achei diamante, construí duas casas. O único prejuízo no garimpo é o que eu mesmo fiz para a natureza e para mim.

Simone: De novo eu estou fazendo esta pergunta, porque eu não vi ainda a resposta. Você começou a se conscientizar que não dava mais para o garimpo quando começou a ser professor, isso não tem nada a ver com o PROFORMAÇÃO, ou tem?

José: Tem, porque no PROFORMAÇÃO eu ainda mexia com garimpo. O PROFORMAÇÃO me deu uma outra visão. Hoje para fazer o garimpo, tenho que fazer por via certa, ver quem vou atrapalhar, se eu vou estragar a natureza. Eu não sou contra, só não pode fazer como fazíamos.

Simone: Você já deu aula para os seus alunos sobre garimpo?

José: Sim, o ano passado, na minha turma os filhos eram garimpeiros. Então eu fiz um trabalho de conscientização com os alunos.

Simone: Teve algum aluno seu que saiu e voltou?

José: Teve aluno que saiu mas voltou até pela própria convivência com a escola. A escola hoje tem que observar porque que o aluno não está dentro da instituição escolar, o que está acontecendo e porque que ele não está aqui. Por isso que as aulas têm que ser interessantes e é esse trabalho que temos que fazer para que o aluno não saia da escola.

Simone: Os seus alunos têm mostrado evolução nas notas? Você os acompanha de perto?

José: Sim, eles têm mostrado evolução nas notas e eu acompanho até mesmo os alunos do ano passado. Tenho até uns relatos que os alunos escreveram. Este trabalho que você está fazendo comigo eu fiz com os meus alunos. Eu tenho relatos de alunos que mostram como eles eram antes e com estão hoje. Tem uma menina que hoje ela está com 13 para 14 anos. Inclusive a mãe dela também gosta de pinga e esses dias ela falou para mim, que eu sou um "camarada" diferente, um professor diferente que lembrou da filha dela. Eu procurei saber da filha dela, o aniversário. Então, no dia do aniversário dela eu fiz umas palavras para ela mostrando o porquê que o seu aniversário é o dia mais importante da sua vida, que ela devia estudar e valorizar isso tudo. Essa também estudou comigo o ano passado; e ela brigava de tapa; hoje ela mudou totalmente.

Simone: Você é um aluno que está indo bem no PROFORMAÇÃO, nós podemos dizer que você está sendo um aluno que está tendo sucesso, a que você atribui esse seu aproveitamento no PROFORMAÇÃO?

José: Em primeiro lugar eu quero dizer que é a fome com a vontade de crescer, então uniu as duas coisas. O PROFORMAÇÃO é um ensino a distância que lido, ou seja, se você ler, memorizar o Programa, passar para o aluno, ele vai ter sucesso. A partir do momento que a pessoa deixa acumular uma lição, deixa de escrever o que se pede, fica difícil. Hoje eu me sinto realizado pelo que aprendi e venho fazendo em sala de aula. Acredito que tudo foi em cima do que aprendi nos módulos que eu estudei.

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Simone: Agora como é que os mesmos alunos, nas mesmas condições, com o mesmo material, com o mesmo Tutor, por que é que uns se saem bem e outros não? Por que você se saiu bem?

José: Eu procurei dentro do que o Programa pede, e seguir tudo a risca; é como eu sempre digo, é como um remédio, você tem a hora de fazer tudo. Se você fizer tudo como se pede, você se interessa cada vez mais pelo que vem e pelo que vai realizar. Colocando tudo isso que eu aprendi no PROFORMAÇÃO, o retorno os alunos passam para mim, aquilo que eu estou aprendendo e passando para eles. Então esse conhecimento através do PROFORMAÇÃO que eu conheci, e expondo isso na sala de aula, é o retomo. Essa é uma das motivações que faz com que eu trabalhe cada vez mais, aprimorando os meus conhecimentos. Agora, desde que a pessoa não coloque em prática aquilo que aprende, não adianta nada capacitar.

5.3.1. Depoimento do Professor Cursista José

Eu sou José, tenho 49 anos e estou há quase dois anos no PROFORMAÇÃO. O que tenho a relatar com essa transformação que vi na minha vida de professor foi fantástica, primeiro porque eu não tinha Magistério e estava trabalhando há oito anos, e para permanecer em sala de aula eu precisava desse curso. Aceitei o desafio e procurei estabelecer dentro do que manda as regras que o PROFORMAÇÃO pede, dentro dos módulos, dentro de cada volume, dentro de cada disciplina, como se deve fazer para estudar no PROFORMAÇÃO. Passou a ter uma receita no meu dia-a-dia, como se eu estivesse num estágio de um doente, optei, acreditei e vi o trabalho. E hoje vejo que no conteúdo que o PROFORMAÇÃO trouxe me mudou radicalmente, e hoje posso, como eu escrevi no meu Memorial, que eu estava engatilhando, e quero ser um professor, e um professor competente e você tem que criar essa parte. Vejo que o meu trabalho em sala de aula mudou totalmente, hoje eu sinto alegria em dar aula, pois os meus alunos vêem em mim não aquele professor que só chega dando ordens, pois aprendi que a criança realmente traz alguma coisa de casa e você precisa aproveitar isso e fazer disso uma boa aula. Tenho colocado para os meus alunos e feito com que eles realmente cresçam e possam fazer essa cidadania, pois o que esse Brasil e a sociedade precisam é de pessoas críticas, e essas eu procuro estar proporcionando dentro da minha sala de aula.

Eu estou agora, visto a tudo isso que me aconteceu, e tem mais um desafio, foi com um provão, uma prova em massa, no segundo grau, e graças a Deus fui bem sucedido, e aí aceitando um desafio por estar com um manifesto, tentei um vestibular, numa universidade, no qual passei e já estou trabalhando e fazendo, e sinto-me bem preparado, pois com as disciplinas que o PROFORMAÇÃO proporcionou não estou tendo nenhuma dificuldade, pois optei peia Geografia e o meu Município precisa de pessoas nessa área, para ver como que nós vamos acabar com essa briga que estamos tendo com o meio ambiente, pois a nossa terra é garimpeira e precisamos que dela saia o que é necessário para o nosso rendimento, ou seja, nós precisamos, corn a nossa produção, criar renda, pois o garimpo aqui já está em fase de esgotamento, nós não temos mais como trabalhar o garimpo manualmente.

Eu era professor e garimpeiro, assim que surgiu o PROFORMAÇÃO eu tive que decidi.ou eu estudava realmente para ser um professor, ou eu vivia a minha vida de garimpeiro. E decidi, optei pelo PROFORMAÇÃO e pelo que vejo hoje, posso falar e garantir que

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tenhamos prazer em estudar. Isso faz com que voltemos a ter novamente essa visão de um novo mundo. E este novo mundo no qual estou penetrando, estou agora vivendo, e levo até meus colegas dessa entrevista que eles podem tirar proveito, e eu lhe falo, se vocês estão no PROFORMAÇÃO, e estão convictos de que querem ser professores, podem pensar com vontade, com fé e vocês estarão com manifestos bem feitos para ser um professor realmente na sala de aula.

E para o meu Município, eu estou voltando a falar, o que ele investe em mim hoje, eu tenho certeza que neste final de curso, assim formado, estarei devolvendo tudo que estão investindo em mim. Eu tenho certeza que estou não só com o caminho, mas com o conteúdo que o professor precisa, que é a bagagem. E depois verão que por ali está andando um mestre, poderão dizer que um mestre deu aula para o seu filho. E isso tudo eu adquiri iniciando tomando posição na minha vida, olhando de frente aquilo que um homem tem que fazer, que é o estudo. E o PROFORMAÇÃO garante e lhe dá tudo isso.

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Entrevista com: Joana

Cargo: Aluna Cursista do município de Diamantino

Data: 28/04/2001

Local: Diamantino.

Simone: Joana, quanto tempo de magistério você tem?

Joana: Dez a doze anos.

Simone: O que você achou mais importante do que você cursou até agora no PROFORMAÇÃO? Os conteúdos, a prática, as Reuniões Quinzenais?

Joana: O conjunto de tudo, a forma de colocarem as lições, a elaboração dos conteúdos, os fascículos em si, as apostilas ajudam bastante. Eles trazem possibilidades de se colocar na prática o que vemos na teoria; o que nenhum outro curso me deu.

Simone: Você já pensou em fazer outros cursos de Formação de Professores, ou não?

Joana: Eu fiz vários cursos. Logo que eu comecei a dar aula, eu fiz um curso chamado "Capacitação de recursos humanos em primeiro e segundo graus", em 77. Eu o fiz em Tangará da Serra e pela prefeitura na época. Só que nenhum trouxe as facilidades que esse daqui me deu.

Simone: Nenhum? Você considera que ele tem essa flexibilidade de poder colocar em prática o que vem nos guias?

Joana: As Reuniões Quinzenais são essenciais para, não só tirarmos as dúvidas, mas favorecem o relacionamento. É a integração do grupo que faz com que permaneçamos, inclusive eu já tinha falado antes: eu acho que se não fossem as reuniões, eu já teria desistido.

Simone: Por quê?

Joana: Porque o fato de você estudar sozinha desanima, pois às vezes você tem dúvida, e podemos deixar para saná-la na quinzenal. Lá você vai, encontra o professor, o Tutor, sempre para ensinar; além de encontrar aquelas trocas de experiências, em que uns dizem: "eu fiz na minha sala de aula e deu certo". Outro diz: "eu também fiz na minha". Essas orientações que os guias trazem, a maioria, você pode aplicar em sala e vê resultados. E isso faz corn que você veja que deu certo; e falo sempre em sala: "isso aqui eu fiz lá no meu curso, vamos fazer aqui e vocês vão ver que legal!". Eu levo os fascículos, as apostilas e os módulos para eles verem. A partir do tangram e da geometria, eles fizeram a festa, e quando levei, eles disseram: "nossa professora, é isso que a senhora está estudando? Isso é gostoso, aí é bom fazer curso". Então eles ficam curiosos, e quando você fala que vai ter curso, eles sempre perguntam quando voltarei. Hoje, inclusive, eu tinha aula lá.

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Simone: Então você leva o material para eles? E manuseia também o seu material?

Joana: Levo. Também. Quando eu vou trabalhar a Prática, mostro a eles o porquê de fazerem, em que área que estamos trabalhando, porque para eles, se você fala por exemplo em Linguagem e Código, para eles é o português; eles conhecem como Língua Portuguesa. Portanto, mostro-lhes que é português, mas eu falo Linguagem e Código porque está escrito aqui no material que trabalho e estudo.

Aquelas dinâmicas de grupo que fazemos aqui, na parte de identidade e sociedade,OTP, eu mostro como fizemos. E muitas das dinâmicas que eu uso, levei daqui. Eu nunca tinha feito isso, eu era, até antes de fazer o curso, até uns seis anos atrás, quando eu trabalhei no município de Sapezal, aquela professora que pegava o livro, olhava, brincava com eles, fazia um joguinho; mas não tinha aquela integração, aquele grupo, o aluno não tinha aquele espaço para participar.

Hoje, tem gente que fala que a minha aula é bagunçada. "Ah; essa professora só faz bagunça!". Um dia um pai chegou em mim e perguntou: "o caderno dele está em branco, cadê a matéria de História, Estudos sociais?". Eu falei: "por que que o senhor não conversa com o seu filho? Eu garanto ao senhor que o que ele estudou ele sabe, e vai responder". E na próxima reunião, ele voltou e me deu os parabéns, dizendo: "realmente, a senhora tem razão, o que o meu filho estudou estava nele, e não no caderno". Eu disse que era esse o nosso objetivo: o aluno tem que aprender, e não copiar e deixar só no caderno.

Simone: Ele estava te cobrando os pontos?

Joana: Ele queria, e dizia: "no ano passado, até não sei que bimestre, o seu filho tinha escrito dois cadernos de cem folhas, dois de cinqüenta folhas; agora está lá tudo em branco, só tem data e escrito 'fale sobre isso. Cadê o conteúdo?". Daí mostrei os cartazes, os trabalhos que eles tinham feito e entregues fora do caderno e pedi para que ele conversasse com o filho. Depois ele voltou, não esperou nem a próxima reunião, o Beninho, pode conversar com ele, você o conhece, dizendo que eu tinha razão e o que ele havia questionado com o menino; não aquela questão de datas, aquelas coisas, mas a questão de entender o porquê que hoje é assim. Quando se fala em História por exemplo, o porquê que hoje acontece isso; de quê nós somos frutos; porque nós estamos aqui; porque que agimos assim; porque falam em sociedade escravista, preconceituosa e subdesenvolvida, este tipo de coisa.

E eles conseguem colocar isso, responder para os pais deles. Então o pai falou: "nossa! a senhora tem razão. O danadinho tem tudo na cabeça, ele aprendeu de verdade, ele não copiou". E isso o PROFORMAÇÃO me deu, não só para mim, mas para o meu crescimento pessoal.

Simone: O quê que ele deu como crescimento pessoal?

Joana: Para mim, enquanto mãe, professora, aluna, filha; meus pais inclusive falam. A primeira coisa que obtive através do PROFORMAÇÃO foi a paciência. Sempre fui muito apressada, apavorada, se alguma coisa estava marcada para tal dia, tinha que ser para aquele dia. E aqui não, você aprende a esperar; você começa a ler, pára, espera aí, "eu vi alguma coisa no outro conteúdo que tem isso daí", você começa a folhear. Eu não estudo

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por área, eu não sei pegar Linguagem e Código por exemplo, eu estou em Linguagem e Código e tem alguma coisa lá em identidade que me lembrei, então vou lá e busco aquilo, estudo e faço.

Então aprendi a fazer as coisas pausadamente, sem aquela pressa, aquela sede. E isso me ajudou, inclusive no vestibular, porque o diretor veio e disse-me que eu estava inscrita, que iria fazer e não iria pagar nada e já estava tudo certo. E eu não tinha mais tempo, já estava em cima da hora, portanto, falei: "tá bom, eu não sei, mas se é para fazer, vamos fazer!". E cheguei, fiz, passei e graças a Deus estou no curso superior. Está puxado, mas vou levando...

Simone: A diferença que você vê entre os dois cursos, é a questão da falta, que o outro é exclusivamente à distância?

Joana: Isso. Não é que ele não tenha essa assessoria, essa orientação, mas ele não lhe cobra isso e geralmente o ser humano faz aquilo que lhe é cobrado, até a nossa prática mesmo, fazemos aquilo que a sociedade e os alunos precisam. É uma questão de cobrança. O outro o material é muito bom, excelente, mas não é expansivo tanto quanto o PROFORMAÇÃO. Eu não estou questionando o outro curso em si, eu acho que é um excelente curso, e se eu tivesse que fazer, faria tudo outra vez. Eu estou falando no sentido de estar comparando os dois. E nesse daqui, 80% do que vejo, eu já vi aqui. Talvez é mais amplo pelo fato deste ser o PROFORMAÇÃO, digamos o Magistério, e o outro ser um curso superior. Então este é mais abrangente, aberto, dá mais espaço, idéias e cobra mais a sua presença junto aos professores. E lá não, você vai quando você precisa e, geralmente não é sempre que precisamos e podemos vir, a não ser que seja no caso da cobrança. Hoje por exemplo, não era para estar aqui, eu vim porque ela disse para eu vir, você estaria aqui e não queria que faltasse ninguém. Saí às quatro da manhã, peguei gasolina emprestada; cheguei já meio atrasada, só tomei um banho e vim para cá, isso devido ao fato de estar bem longe daqui.

E lá não, não tem isso, se você precisar, venha. Eu tenho que me virar, só que é difícil abastecer um veículo para fazer trezentos quilômetros do bolso com o salário que ganhamos.

Simone: Quais as contribuições do PROFORMAÇÃO para a sua prática pedagógica? Modificou? Pelo que você está colocando, você está tendo uma atitude interdisciplinar, você não consegue ler um conteúdo sem a busca do outro.

Joana: Eu não tinha parado para analisar desse ângulo que você está colocando, eu tinha ido pela necessidade: "eu vi ali, então vou lá", e não é porque estou em Identidade ou OTP que não posso voltar em Linguagem e Código ou vice-versa. Mas eu não tinha analisado por esse ângulo, e sabe que é verdade? E a prática, eu não tinha observado isso antes. Tanto que no próprio material eu procuro reparar. Antes eu registrava apenas o que eu via dentro de Linguagem e Código, depois, não sei se foi a Vilma ou a Tutora Márcia, que disse que não havia necessidade de especificar o módulo e a área, tinha que falar da prática, era para voltar para a prática pedagógica. E eu passei a fazer isso, não é que está tudo misturado, mas está sendo feita a interdisciplinaridade.

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Simone: Então você já está com a atitude interdisciplinar. A outra coisa que eu queria lhe perguntar, então você tem plena condição de colocar o que tem no guia, na prática pedagógica? Você não sente dificuldades com isso?

Joana: Olha, dificuldade existe, devido ao fato de não termos a informática, fitas de vídeo; pois as fitas ficaram aqui muito longe para eu levar e voltar somente daqui a vinte dias. Têm coisas que eu gostaria de colocar os outros professores para assistirem e verem o resultado do curso; porque ainda há pessoas que dizem que o curso é fraquinho, que é o Magistério a distância, que onde já se viu! Mas a dificuldade maior é a falta de livros de consulta, eu pego os fascículos, eu levo os módulos do curso trabalhamos em cima dele e do livro didático da escola. E o restante é no pátio, na sala e na cozinha. Esses dias fomos à cozinha e fizemos uma reviravolta com a cozinheira que foi logo perguntando: "o que vocês querem?", e nós logo respondemos: 'queremos sabão em pó, detergente, vinagre". E fomos buscar limão, juntamos tudo e fizemos a experiência que tem em Vida e Natureza. E ficou superinteressante, fizemos aqui na Presencial e fiz lá. Os alunos perguntaram onde eu tinha aprendido, e eu sempre dizia que aprendi no curso. Eles se surpreendiam: "mas não acredito! Então é isso que a senhora vai aprender lá?". E cada vez que você leva uma coisa, eles questionam; "nossa, professora, que engraçado, como é diferente!".Antes do PROFORMAÇÃO, trabalhávamos só em cima do livro.

Simone; Qual é o conceito que você faz de você mesma, como professora, antes de participar do PROFORMAÇÃO? E agora?

Joana: Eu não me sentia completamente satisfeita com o que eu fazia, só que ao mesmo tempo, eu achava que o que eu fazia era o bastante. Sabe quando você vê um paradigma? Eu sabia que eu devia fazer mais, mas achava que o que eu estava fazendo era o suficiente. Depois que eu vim para cá, a coisa mudou, e eu não quero nem pensar no que eu fazia antes.

Simone: Fale um pouco sobre o que você fazia antes.

Joana; Na época em que eu estudei, na quinta, sexta série, era aquela coisa de fileirinha tradicional; só o livro. Depois eu fiz o segundo grau, terminei em 99; então já era uma coisa mais dinâmica e atualizada, mas ainda havia tradicionalismo.

E como professora, eu passava para os alunos aquilo que eu tinha aprendido lá na época em que eu estava fazendo o curso que eles estão fazendo hoje. Eu não trazia o cotidiano para a sala de aula, o importante era a gramática, a leitura, a escrita, a tabuada. E depois que eu fiz o segundo grau, depois que eu passei a fazer o PROFORMAÇÃO, que graças a Deus foi uma seqüência, saí de um e entrei no outro, eu tenho vergonha de falar o que eu fazia antes, porque os alunos realmente ficavam presos.

Simone: Você autoriza colocar alguns trechos do seu depoimento em minha tese de Doutorado?

Joana: Sim.

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