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0 LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

LÍNGUA PORTUGUESA – 9. ANOdiga a verdade, quem sou eu? Se às vezes me estilhaço, se às vezes viro mil, se quero mudar o mundo, se quero mudar o rosto, se tenho sempre na boca

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0LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

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1LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

MARCELO CRIVELLAPREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

CÉSAR BENJAMINSECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

MARIA DE NAZARETH MACHADO DE BARROS VASCONCELLOSSUBSECRETARIA DE ENSINO

MARIA DE FÁTIMA CUNHAGERÊNCIA DE ENSINO FUNDAMENTAL

GINA PAULA BERNARDINO CAPITÃO MOR SARA LUISA OLIVEIRA LOUREIROELABORAÇÃO

LEILA CUNHA DE OLIVEIRAREVISÃO

FÁBIO DA SILVAMARCELO ALVES COELHO JÚNIORDESIGN GRÁFICO

EDIGRÁFICAIMPRESSÃO

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS(IMAGENS DA CAPA):E.M. ALICE DO AMARAL PEIXOTOE.M. ÁLVARO ALVIME.M. BÉLGICAE.M. CÂNDIDO PORTINARIE.M. DEODOROCIEP ENG. WAGNER GASPAR EMERYE.M. GASTÃO PENALVAE.M. GUILHERME TELL

E.M. JOAQUIM NABUCOCIEP MARGARET MEEE.M PROF. HELTON A. VELOSO DE CASTROE.M. PROF.ª ZELIA CAROLINA DA SILVA PINHOE.M. RIBEIRO COUTOE.M. TATIANA CHAGAS MEMÓRIAE.M. TENENTE RENATO CÉSAR

ESCOLA MUNICIPAL _________________________________________________________________________________________ TURMA ______________

NOME: ____________________________________________________________________________________________________________________________

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2LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

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Prezado(a) Aluno(a), seja bem-vindo(a) ao 9.º Ano!

Receba este ano como um presente: inteirinho para você viver! Será, certamente, um ano de muito aprendizado e de mudanças.

Este caderno de apoio pedagógico foi organizado especialmente para você!

O desejo é que a leitura, cada vez mais competente, se torne o seu instrumento de estudo e de prazer durante este ano letivo... e pela vida

afora.

Nas próximas páginas, há textos de diferentes gêneros. E vários assuntos – tempo, sonhos, identidade, memória... Há também propostas de

escrita para que você, cada vez mais, se aproprie da língua portuguesa e se assuma autor.

O primeiro texto é um poema. Como você responderia ao questionamento feito na primeira estrofe? Ou então: o que o espelho responderia a

você? Seguindo uma das propostas, escreva um pequeno texto que também servirá para apresentá-lo aos seus colegas.

Texto 1ESPELHO

Espelho, espelho meu:diga a verdade,quem sou eu?

Se às vezes me estilhaço,se às vezes viro mil,se quero mudar o mundo,se quero mudar o rosto,se tenho sempre na bocaum gosto de água e de céu,se às vezes sou tão sóquando me viro do avesso,se às vezes anoiteçoem plena luz do solou então amanheçocom vontade de voar,

espelho, espelho meu:diga a verdade,quem sou eu?

MURRAY, Roseana. Recados do Corpoe da Alma, São Paulo: FTD, 2003.

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3LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

1 – Você percebeu que o primeiro verso do poemadialoga com outro texto? Qual? Converse com seuscolegas ou pesquise para descobrir.____________________________________________________________________________________

2 – O poema começa com uma dúvida, expressaem uma pergunta. Que palavra é utilizadarepetidamente e ajuda a reforçar essa dúvida do eulírico?______________________________________________________________________________________________________________________________

3 – Indique um trecho do poema em que se percebeo uso figurado da linguagem:______________________________________________________________________________________________________________________________

4 – A HIPÉRBOLE é a figura de linguagem queconsiste no exagero de uma expressão para causarum efeito expressivo. Indique uma hipérbolepresente no texto:__________________________________________

5 – Indique, no texto, o uso de ideias opostas. Oque esse uso reforça?____________________________________________________________________________________

6 – Qual o tema do texto?__________________________________________

Texto 2A maior riqueza do homemé a sua incompletude.Nesse ponto sou abastado.Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas,que puxa válvulas, que olha o relógio,que compra pão às 6 horas da tarde,que vai lá fora, que aponta lápis,que vê a uva etc. etc.PerdoaiMas eu preciso ser Outros.Eu penso renovar o homem usando borboletas.Manoel de Barros, poeta, In: "Retrato do Artista Quando Coisa", Editora Record, 1998 .

Agora, releia o texto 1 guiado pelas perguntas quese seguem.

1 – Qual o significado da palavra “incompletude”?__________________________________________________________________________________________________________________________________

2 – Perceba que há várias ações marcadas por uma estrutura repetitiva,iniciada pelo “que”. Essas ações são especiais ou cotidianas, corriqueiras?___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3 – Qual o efeito do uso de “etc. etc” (*Verso 8)?__________________________________________________________________________________________________________________________________

4 – Observe essa estrutura: “Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas /puxa válvulas/olha o relógio/compra pão às 6 horas da tarde/vai lá fora/aponta o lápis/vê a uva”

Como é, então, o sujeito que o eu poético não aguenta ser?__________________________________________________________________________________________________________________________________

5 – O que significa no texto ser “Outros”?__________________________________________________________________________________________________________________________________

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Texto 3MORTE E VIDA SEVERINA (Início)João Cabral de Melo Neto

O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI

— O meu nome é Severino,como não tenho outro de pia.Como há muitos Severinos,que é santo de romaria,deram então de me chamarSeverino de Maria;como há muitos Severinoscom mães chamadas Maria,fiquei sendo o da Mariado finado Zacarias.Mais isso ainda diz pouco:há muitos na freguesia,por causa de um coronelque se chamou Zacariase que foi o mais antigosenhor desta sesmaria.Como então dizer quem faloora a Vossas Senhorias?Vejamos: é o Severinoda Maria do Zacarias,lá da serra da Costela,limites da Paraíba.

Mas isso ainda diz pouco:se ao menos mais cinco haviacom nome de Severinofilhos de tantas Mariasmulheres de outros tantos,já finados, Zacarias,vivendo na mesma serramagra e ossuda em que eu vivia.Somos muitos Severinosiguais em tudo na vida:[...]Somos muitos Severinosiguais em tudo e na sina:a de abrandar estas pedrassuando-se muito em cima,a de tentar despertarterra sempre mais extinta,a de querer arrancaralgum roçado da cinza.Mas, para que me conheçammelhor Vossas Senhoriase melhor possam seguira história de minha vida,passo a ser o Severinoque em vossa presença emigra. [...]

MELO NETO, João Cabral de. Obra completa.Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.xm

p33.co

1 – Observe a presença do travessão (—), iniciando o poema. O queesse sinal indica?______________________________________________________________________________________________________________

2 – Em que verso o personagem explica ter sido batizado com esseúnico nome “Severino”?_______________________________________________________

3 – Observe, nas formas como o personagem diz que era conhecidopelos outros e na forma como tenta, primeiramente, se apresentaraos leitores, que ocorre o que chamamos de processo deGRADAÇÃO. Gradação é uma figura de linguagem caracterizadapor um encadeamento de ideias de forma gradativa, que podeseguir a ordem crescente ou decrescente. Diga que formas sãoessas e como se dá a gradação.________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4 – Ao procurar dizer ao leitor quem é, o personagem faz umatentativa para, logo depois, se opor a ela, reconhecendo que aindadiz pouco. Transcreva do poema a palavra que indica tratar-se deuma tentativa e a que indica a oposição que faz a ela (ou suacontradição)._______________________________________________________

O próximo texto é o início de um poema de João Cabral de Melo Neto. João Cabral de Melo Neto foi um poeta e diplomata brasileiro.Nasceu na cidade do Recife, a 6 de janeiro de 1920 e faleceu nodia 9 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro, aos 79 anos.

Conhecido como “poeta engenheiro”, ele fez parte da terceirageração modernista no Brasil.

Adaptado de http://www.academia.org.br/academicos/joao-cabral-de-melo-neto/biografia

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5 – Transcreva do poema os versos que expressam o motivo da dificuldade de o personagem dizer aos outros quem eleé:_______________________________________________________________________________________________________________

6 – Que forma de tratamento o personagem usa para se dirigir aos leitores (ouvintes)?_________________________________________________________________________________________________________________7 – Nos versos “Mais isso ainda diz pouco: / há muitos na freguesia,” com que sentido foi usada a palavra em destaque? _________________________________________________________________________________________________________________8 – Nos versos “Somos muitos Severinos / iguais em tudo e na sina:”, que significado tem a palavra em destaque?_________________________________________________________________________________________________________________9 – Transcreva os versos que indicam que o lugar onde o personagem estava era de terra ressequida, de difícil cultivo:_________________________________________________________________________________________________________________10 – Transcreva os versos que expressam a finalidade do personagem ao procurar se apresentar aos leitores:_________________________________________________________________________________________________________________11 – Observe os versos finais “passo a ser o Severino / que em vossa presença emigra.”. Que outra palavra, no poema, tem um sentido quese relaciona com o sentido da palavra em destaque, “emigra”?_________________________________________________________________________________________________________________

O nome próprio, nome registrado, nome de identidade, não personaliza seu portador. Quantos Joões e quantas Marias agente conhece? O que vai nos identificar em nosso grupo, em nossa turma, é justamente a nossa diferença em relação aos demais.Quer dizer, a questão da identidade está na diferença, naquilo que nos distingue uns dos outros, no que nos dá personalidade, masestá também no que nos iguala e nos inclui como seres de uma coletividade.

Como ser o “um” entre iguais e como se saber igual sem se perder no todo?Dá uma boa conversa, não é mesmo? Boa e importante.Leia os textos de apoio a seguir e, orientado pelo(a) Professor(a), organize uma Roda de Conversa, um debate sobre o

assunto. Combine com o(a) Professor(a) a melhor forma de se fazer o registro do debate.

“No mundo em que vivemos, a expressão oral tem sido cada vez mais valorizada e, muitas vezes, é o critério decisivo para o sucesso profissional de muitas pessoas.Contudo, em algumas situações, as práticas sociais de linguagem são regradas e a escola pode desempenhar um importante papel no sentido de criar vivências quepermitam o conhecimento e a apropriação de falas mais padronizadas. É o caso dos gêneros orais públicos, como a discussão em grupo, a exposição oral, o seminário, aentrevista oral, o debate regrado e muitos outros.”

http://portuguescereja.editorasaraiva.com.br/oralidade-e-generos-orais/

Sugestões de leitura sobre os gêneros orais:MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros e tipos de discurso: considerações psicológicas e ontogenéticas. In ROJO Roxane (Tradução e organização) Gêneros orais e escritos

na escola - Bernard Schneuwly, Joaquim Dolz e colaboradores. Campinas: Mercado de Letras, 2004.Você também pode assistir a este vídeo: http://bit.ly/2Au2tJi

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6LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

TRADUZIR-SEFerreira Gullar

Uma parte de mimé todo mundo:outra parte é ninguém:fundo sem fundo.

Uma parte de mimé multidão:outra parte estranhezae solidão.

Uma parte de mimpesa, pondera:outra partedelira.

Uma parte de mimalmoça e janta:outra partese espanta.

Uma parte de mimé permanente:outra partese sabe de repente.

Uma parte de mimé só vertigem:outra parte,linguagem.

IGUAL – DESIGUALCarlos Drummond de Andrade

Eu desconfiava: todas as histórias em quadrinho são iguais.Todos os filmes norte-americanos são iguais.Todos os best-sellers são iguaisTodos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol sãoiguais.Todos os partidos políticossão iguais.Todas as mulheres que andam na modasão iguais.[...]

Todas as guerras do mundo são iguais.Todas as fomes são iguais.Todos os amores, iguais iguais iguais.Iguais todos os rompimentosA morte é igualíssima.Todas as criações da natureza são iguais.Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.

Ninguém é igual a ninguém.Todo ser humano é um estranhoImpar.

ANDRADE, Carlos Drummond de. A paixão medida. Rio de Janeiro: Record, 2002.

Textos de apoio para o debate:

Traduzir uma partena outra parte— que é uma questãode vida ou morte —será arte?

Caminhos do CoraçãoGonzaguinha

Há muito tempo que eu saí de casaHá muito tempo que eu caí na estradaHá muito tempo que eu estou na vidaFoi assim que eu quis, e assim eu sou feliz

Principalmente por poder voltarA todos os lugares onde já chegueiPois lá deixei um prato de comidaUm abraço amigo, um canto pra dormir e sonhar

E aprendi que se depende sempreDe tanta, muita, diferente genteToda pessoa sempre é as marcasDas lições diárias de outras tantas pessoas

E é tão bonito quando a gente entendeQue a gente é tanta gente onde quer que a gente váE é tão bonito quando a gente senteQue nunca está sozinho por mais que pense estar

É tão bonito quando a gente pisa firmeNessas linhas que estão nas palmas de nossas mãosÉ tão bonito quando a gente vai à vidaNos caminhos onde bate, bem mais forte o coração

https://www.letras.com.br/gonzaguinha/caminhos-do-coracao

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980.

“Na realização de um debate, os participantes devem falar e também ouvir sem interromper o outro. Cada umtem direito de expor suas ideias, as quais devem ser respeitadas.

É importante planejar a conversa e estabelecer regras. O tempo disponível para falar deve ser o mesmo paratodos e deve-se evitar que as discussões avancem para o nível pessoal. O debate deverá ser coordenado por ummoderador para garantir o bom andamento e a participação de todos os debatedores [...]”

Adaptado de http://www.filosofia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=247

Existem diferentes formas de debater um tema. Seguem algumas dicas:

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7LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Texto 4CONTRANARCISO

em mimeu vejo o outroe outroe outroenfim dezenastrens passandovagões cheios de gentecentenas

o outroque há em mimé vocêvocêe você

assim comoeu estou em vocêeu estou neleem nóse só quandoestamos em nósestamos em pazmesmo que estejamos a sós

LEMINSKI, Paulo. Caprichos & relaxos. São Paulo: Brasiliense, 1983.

Texto 5NARCISOLuiz Eduardo RiconVocê sabe o que significa a palavra “narcisista”? É alguém que amademais a si mesmo. Essa palavra tem origem no mito de Narciso, umahistória da Grécia Antiga que nos ensina que a beleza e a vaidadepodem ser uma combinação muito perigosa.Narciso era filho de Cefiso, o deus do rio, e da ninfa Liríope. Antes deele nascer, seus pais procuraram um oráculo, que lhes revelou umaprofecia sinistra: Narciso teria uma vida longa e feliz, desde que jamaisolhasse a própria imagem. Felizmente, não havia espelhos na GréciaAntiga...E assim Narciso cresceu e se tornou o mais belo de todos os rapazes,atraindo a cobiça e a inveja de mulheres, homens e até das ninfas,como Eco, que ficou perdidamente apaixonada por ele.Mas além de belo, Narciso era muito orgulhoso e vaidoso,desprezando o amor e a atenção que lhe eram dedicados.Magoadas, as ninfas pediram aos deuses que o castigassem. Paraisso, a deusa Nêmesis (que significa “inimigo” ou “destruição”) ocondenou a se apaixonar pelo próprio reflexo. E não teve jeito: quandoNarciso viu sua imagem refletida na lagoa onde vivia a ninfa Eco,apaixonou-se perdidamente por si mesmo.Encantado com a própria beleza, o jovem permaneceu na beira dolago dias e noites sem fim, sem comer ou beber nada. Com o tempo,foi definhando, definhando e acabou morrendo ali mesmo, apaixonadopelo seu reflexo.No local onde o jovem morreu, nasceu uma flor, chamada Narciso,como uma forma de lembrar a todos nós o que acontece quandodamos mais atenção a nossa vaidade e orgulho do que ao mundo e àspessoas a nossa volta.http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/interaja/multiclube/9a11/diz-a-lenda/10307-narciso

Narciso Por Caravaggio, 1594-1596. Galeria Nacional deArte Antigahttp://www.galleryintell.com/artex/narcissus-by-caravaggio/

Texto 6Agora você vai ler e comparar três textos.

1 – Sobre o poema, qual o efeito da repetição em “eu vejo o outro/e outro/e outro” e em “é você/você/ e você”? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2 – Que imagem, no poema, reforça quemuitas pessoas deixam marcas que constituemo eu do texto?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3 – Sublinhe, no poema, uma expressãoque liga ideias, estabelecendo uma relaçãode oposição (ideia adversativa).

4 – Quanto à forma, compare os textos 4 e 5._________________________________________________________________________________________________________

5 – Quanto à linguagem, compare os textos 5 e 6.__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Você, agora, vai ler um texto que defende uma opinião. Observe que ele possui uma linguagem informal e apresenta uma tese quenos faz pensar no nosso modo de ser, de viver.

Texto 7UMBIGOLÂNDIA

Dias desses encontrei uma amiga que me disse que está achando tudo e todo mundo chato. Que a violência está demais, que o dinheiro não dápra nada, que o trânsito está uma loucura, que o amor já era, que ninguém mais quer amar ninguém, homem é uma raça em extinção e por aí vai.Em seguida abanou os braços, gritou “Táxi!” e, antes de entrar no carro, arrematou:─ E ainda tem esses táxis uó de vidro preto que a gente nunca sabe se estão vazios ou ocupados! Beijão, vê se me liga você também, pô!E foi embora, largando no meu colo aquela corbeille de reclamações e uma cobradinha final. Fiquei ali, parado, pensando nas palavras dela,

enquanto o táxi de vidro preto empacava no trânsito uma quadra adiante. É, minha amiga, certamente a vida não anda nada fácil, quem sai decasa não sabe se volta, namorar está brabo e ai de quem reagir a qualquer tipo de violência. Reagir é um perigo mesmo. Principalmente se areação for de ordem mais, digamos, psicológica, tipo reagir-a-algum-comentário-maldoso-sobre-você-na-sua-cara. Neste quesito eu tenho muitadificuldade: ou não reajo ou só reajo uma semana depois. Naquele breve encontro, só minha amiga falou. Despejou suas reclamações em cima demim e se mandou. E eu fiquei sem reação.

Bem, reagir como, se ela não me deu chance? Só ela falou e eu fiquei ali de “vinagrete” – só de acompanhamento. E o que é reagir? Pensoque, ao pé da letra, reagir significa agir novamente, ou “agir de volta”. E por que reagir é um perigo? Porque a reação confere ao outro o poder detomar posição. Ter atitude. Trocar. Crescer. Será? Talvez. Mas está tão difícil reagir. Trocar. Crescer. Está difícil dialogar. Vivemos a era domonólogo, do “eu” exacerbado, do “meu espaço”, da “minha individualidade”, do “meu momento”, enfim, da Umbigolândia.

E é cada vez maior a população desta estranha terra, ocupada por um único habitante, rei e súdito ao mesmo tempo: o ego. Na Umbigolândia,só uma pessoa interessa: o eu. O outro é mera circunstância. O assunto é um só. Só um fala e ponto. Eu sei que estou generalizando, e meperdoem por isso. Mas do jeito que a coisa está, não me resta pensar em outra coisa.

Foi minha amiga quem, involuntariamente, trouxe essas questões à minha mente. A escuta está virando artigo de luxo. Aquele que tem o dom daescuta – sim, nos dias de hoje escutar o outro é honrar um dom ─ tem aberto o canal da inteligência. Do crescimento. Do autoconhecimento e doconhecimento do outro. Do mundo. E é INCRÍVEL como a indústria do consumo corteja sem parar o individualismo desenfreado. A internet, então, éa fada madrinha dos solitários. Bibiti-bobiti-bum! E lá está você diante do mundo. Sozinho. E o universo faz a sua parte conspirando a favor.Conspirando e pirando. É muita gente no mundo. Muita gente procurando. Buscando. Querendo. Pouca gente escutando. Encontrando. Suprindo.E quanto mais gente, mais ego. E quanto mais ego, mais solidão.

A INTERTEXTUALIDADE ocorre quando há uma referência explícita ou implícita de um texto em outro. Além do texto verbal,podemos perceber esse diálogo entre outras linguagens, como a música e a pintura, por exemplo. Quem lê mais, aumenta seu repertóriode textos, amplia seu conhecimento de mundo, e fica mais competente para perceber o diálogo entre os textos. Fique ligado!

6 – Após ler os três textos, explique a escolha do título do poema.______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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9LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

1.O primeiro e o segundo parágrafos revelam o estado de espírito da amiga do cronista. Como ela está encarando a vida?____________________________________________________________________________________________________________________

2 – Que sentido tem, no texto, a expressão “corbeille de reclamações” ?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3 – A que trecho se refere a palavra “cobradinha”, no terceiro parágrafo?____________________________________________________________________________________________________________________

4 – Há, no texto, algumas marcas típicas da linguagem informal e oral. Retire alguns exemplos que confirmem essa afirmativa:________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5 – Que trecho do texto confirma que o cronista tem dificuldade em reagir a algum comentário maldoso?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6 – Que associação é feita em “Só ela falou e eu fiquei ali de “vinagrete” – só de acompanhamento.”, no quarto parágrafo?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7 – Segundo o texto, por que reagir é perigoso?____________________________________________________________________________________________________________________

8 – A que palavra estão relacionados os termos “a era do monólogo” , ‘do “eu” exacerbado’, “meu espaço”, minha individualidade”, “meumomento”, no quarto parágrafo?____________________________________________________________________________________________________________________

Na Umbigolândia, ego gera ego. E o profeta disse que gentileza gera gentileza. Pra minha amiga, que está (espero eu) passando umatemporada na Umbigolândia, isso não interessa, até porque quem mora lá não enxerga um palmo adiante do umbigo. Pra quem mora aqui naTerra mesmo, a premissa do profeta é um toque. Gentileza gera gentileza. Que gera escuta. Que gera troca. Que torna mais suportáveisproblemas modernos como egolatria, consumo desenfreado, falta de amor, de companhia, de solidão. Se bem que a solidão não sente falta decompanhia. Até porque ela está sempre ao lado de alguém.

Aloísio de Abreu - Revista O Globo 23/03 /2008.

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10LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

9. A que se refere, no quarto parágrafo, a expressão “estranha terra”?_______________________________________________________________________________________________________________

10. Quem é o único habitante dessa “estranha terra”?_______________________________________________________________________________________________________________

11 – Segundo o texto, qual a consequência de saber ouvir o outro?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

12 – Por que a internet é considerada “fada madrinha dos solitários”?_______________________________________________________________________________________________________________

13 – A que está relacionada a expressão “Bibiti-bobiti-bum”?_______________________________________________________________________________________________________________

14 – O trecho “[...] não enxerga um palmo adiante do umbigo” está associado a que dito popular?_______________________________________________________________________________________________________________

15 – Qual a premissa do profeta, presente no texto?_______________________________________________________________________________________________________________

16 – Num texto que defende uma ideia, essa ideia recebe o nome de TESE. Qual a tese defendida neste texto?_______________________________________________________________________________________________________________

17 – Observe a estrutura do trecho “Gentileza gera gentileza. Que gera escuta. Que gera troca. Que torna mais suportáveis problemasmodernos...”. Qual o efeito da repetição dos termos destacados?_______________________________________________________________________________________________________________

18 – No trecho que se segue, identifique os fatos e a opinião:“Fiquei ali, parado, pensando nas palavras dela, enquanto o táxi de vidro preto empacava no trânsito uma quadra adiante. É, minha amiga,certamente a vida não anda nada fácil [...]”______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Opinião (do grego δόξα, doxa) ou conjectura é a ideia confusa acerca da realidade e que se opõe ao conhecimento verdadeiro. Comoverbete de dicionário, define-se opinião como a maneira pessoal de julgar; conceito formado a respeito de um assunto, tema ouconversa, seja ele refletido ou infundado; julgamento de valor.

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11LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Texto 8

O VERDADEIRO PREÇO DE UM BRINQUEDO

Carlos Eduardo Lopes Marciano

É comum vermos comerciais direcionados ao público infantil. Com a existência depersonagens famosos, músicas para crianças e parques temáticos, a indústria de produtosdestinados a essa faixa etária cresce de forma nunca vista antes. No entanto, tendo em vista aidade desse público, surge a pergunta: as crianças estariam preparadas para o bombardeio deconsumo que as propagandas veiculam?

O próximo texto também defende uma ideia. Siga lendo e aprendendo cada vez mais.

Qual a função dessaspalavras destacadas notexto?________________________________________________________________________________________________________________________

Há quem duvide da capacidade de convencimento dos meios de comunicação. No entanto, tais artifícios já foram responsáveis por mudar o curso da História. A imprensa, no século XVIII, disseminou as ideias iluministas e foi uma das causas da queda do absolutismo. Mas não é preciso ir tão longe: no Brasil redemocratizado, as propagandas políticas e os debates eleitorais são capazes de definir o resultado de eleições. É impossível negar o impacto provocado por um anúncio ou uma retórica bem estruturada.

O problema surge quando tal discurso é direcionado ao público infantil. Comerciais para essa faixa etária seguem um certopadrão: enfeitados por músicas temáticas, as cenas mostram crianças, em grupo, utilizando o produto em questão. Tal manobra de“marketing” acaba transmitindo a mensagem de que a aceitação em seu grupo de amigos está condicionada ao fato de ela possuir ou nãoos mesmos brinquedos que seus colegas. Uma estratégia como essa gera um ciclo interminável de consumo que abusa da poucacapacidade de discernimento infantil.

Fica clara, portanto, a necessidade de uma ampliação da legislação atual a fim de limitar, como já acontece em países comoCanadá e Noruega, a propaganda para esse público, visando à proibição de técnicas abusivas e inadequadas. Além disso, é precisofocar na conscientização dessa faixa etária em escolas, com Professores(as) que abordem esse assunto de forma compreensível eresponsável. Só assim construiremos um sistema que, ao mesmo tempo, consiga vender seus produtos sem obter vantagem abusiva daingenuidade infantil.

Adaptado de https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/enem-e-vestibular/enem-2014

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12LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

TESE é a ideia que defendemos, pois a argumentação implica posicionamento, defesa do ponto de vista, o que pode implicar,

evidentemente, divergência de opinião. Os argumentos de um texto são, em geral, facilmente localizáveis.

Identificada a tese, faz-se a pergunta por quê? (Ex.: o texto afirma isso (tese) por vários motivos (argumentos).

Os argumentos utilizados para fundamentar a tese podem ser de diferentes tipos: exemplos, comparações, dados históricos, dados

estatísticos, pesquisas, causas socioeconômicas ou culturais, depoimentos – enfim, tudo o que possa demonstrar que o ponto de vista

defendido pelo autor tem consistência.

1 – No trecho “No entanto, tendo em vista a idade desse público [...]”, (primeiro parágrafo), a que se referem os termos destacados?___________________________________________________________________________________________________________________

2 – Que manobra de marketing é citada no terceiro parágrafo?_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3 – Transcreva do terceiro parágrafo um trecho em que há ideia de tempo:___________________________________________________________________________________________________________________

4 – Marque, no texto, as partes que compõem a introdução, o desenvolvimento e a conclusão.

5 – Qual a tese defendida no texto?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6 – Que argumento, no terceiro parágrafo, foi utilizado para fundamentar a tese?___________________________________________________________________________________________________________________

7 – O que o autor sugere na conclusão do seu texto?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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13LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

1 – No primeiro quadrinho, por que o texto dentro do balão está entre aspas?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2 – Repare que o formato do balão é diferente nos dois últimos quadrinhos. Explique porquê.________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3 – Qual o significado de “fazendo turismo dentro de mim” ?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Continuando as leituras, vejamos o que nos diz Mafalda, uma menina muito esperta!

“Mafalda é uma personagem de

histórias em quadrinhos escrita e

traduzida em imagens pelo cartunista

argentino Joaquín Salvador Lavado,

mais conhecido como Quino. Ela animou as tiras

cultuadas por fãs em todo o Planeta de 1964

a 1973. Esta personagem, que logo se tornou célebre entre

os leitores de suas histórias, é uma garota

constantemente inquieta com a trajetória do ser

humano e a paz no mundo.[...]

No dia 25 de junho de 1973 Quino encerrou a publicação das tiras de

Mafalda.[...]”http://www.infoescola.com/biog

rafias/mafalda/

Texto 9

Texto 10

1 – Explique a mudança da expressão de Filipe a cada quadrinho.___________________________________________________________________________________________________________________

2 – No último quadrinho, Filipe se assusta com a possibilidade de não gostar de si mesmo. Que conectivo indica que isso é uma possibilidade?___________________________________________________________________________________________________________________

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14LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Texto 12

“Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive.”

Ricardo Reis

PESSOA, Fernando. Poesia; poesias de Ricardo Reis. São Paulo: Companhia das Letras, 2000

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Você reparou quem é o autor do texto 12? Observe a referência do texto. É um livro de Fernando Pessoa (1888–1935), um importante

escritor português. Uma das características desse escritor é ter tido mais de 127 heterônimos.

Heterônimo é um nome imaginário, utilizado por um escritor, para escrever como se fosse outra pessoa, criando para si uma outra

identidade. Ricardo Reis é um dos principais heterônimos de Fernando Pessoa, junto de Alberto Caeiro e Álvaro de Campos. Vale a pena ler seus poemas!

1 – Qual o sentido da palavra “grande”, no primeiro verso do poema?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2 – Segundo o poema, o que é necessário para ser “grande”?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Texto 11

1 – Como Miguelito entendeu a afirmativa de Mafalda?______________________________________________________________________________________________________________________________________

2 – Como Miguelito entendeu a palavra “conhecer”?___________________________________________________________________

PARA SABER MAIS...O universo dos quadrinhos é tema de um dos

programas da série “Morde a Língua”, produzida pelaMultiRio.

“Morde a LínguaSérie de Língua Portuguesa dirigida a alunos do

6º ao 9º ano. No formato dramaturgia e inspirada nalinguagem dos vlogs, aborda temas como: linguageme identidade, variações linguísticas, intertextualidade,estratégias de leitura, poemas, contos, crônicas,histórias em quadrinhos, romances e a multiplicidadede gêneros em jornais e revistas.”

Você não pode perder!Acesse Multirio http://bit.ly/2nTI9hk

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15LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Texto 13VOANDO PARA O RIO

Quando Clarice Lispector tinha 15 anos, um ano depois de descobrir a possibilidade de escrever, seu pai fez sua última mudança.O destino agora era o Rio de Janeiro.

O Rio estava no auge de sua reputação internacional. Se anteriormente os navios que viajavam a Buenos Aires anunciavam quenão faziam escalas no Brasil – a mente estrangeira, quando pensava no país, imaginava um lugar infestado de macacos, febre amarela e cólera –,o Rio tinha se transformado num dos destinos mais chiques do planeta. Cruzeiros afluíam para a Baía de Guanabara, descarregando seusabastados passageiros nos novos hotéis que imitavam os brancos bolos de noiva originais da Riviera francesa: o Hotel Glória, perto do Centro,inaugurado em 1922; o lendário Copacabana Palace, inaugurado um ano depois, numa praia que ainda ficava fora da cidade.[...]

Pedro Lispector tinha mais em comum com os imigrantes portugueses do que com aqueles que agora eram seus companheirosnordestinos. Depois de anos de trabalho, seus negócios ainda não estavam prosperando, e ele tinha esperança de que a capital do paísoferecesse um campo mais amplo para suas ambições. Esperava também que o Rio de Janeiro, com uma grande comunidade judaica, pudesseoferecer maridos apropriados para suas filhas. Elisa agora tinha 24 anos, Tania estava com vinte e Clarice, quinze.[...]

Clarice nunca descreveu a partida do Recife, onde ela passara toda a sua infância. Lembrava-se do barco inglês que as levara aoRio na terceira classe: “Foi terrivelmente exciting. Eu não sabia inglês e escolhia no cardápio o que meu dedo de criança apontasse. Lembro-mede que uma vez caiu-me feijão-branco cozido, e só. Desapontada, tive que comê-lo, ai de mim. Escolha casual infeliz. Isso acontece”. [...]

Depois de chegar ao Rio, em 1935, ela passou um breve tempo numa precária escola de bairro na Tijuca antes de entrar, em 2 demarço de 1937, no curso preparatório para a Faculdade de Direito da Universidade do Brasil. [...] No Brasil inteiro, a carreira no direito era redutoda elite, e nenhuma escola do país tinha mais prestígio do que a da capital. [...]A carreira, porém, não foi o que motivou Clarice a entrar na escola de Direito. A ânsia de justiça estava inscrita em seus ossos. Tinha visto ahorrível morte da mãe, e seu brilhante pai, incapaz de estudar, reduzido ao comércio ambulante de tecido. Cresceu pobre no Recife, mas sempreteve consciência de que sua família, apesar das dificuldades, estava melhor de vida que muitas outras. [...] “E eu sentia o drama social com tantaintensidade que vivia de coração perplexo diante das grandes injustiças a que são submetidas as chamadas classes menos privilegiadas”. [...]Ela mudara de perspectiva pouco antes de começar o curso. Durante o primeiro ano na faculdade descobrira um canal para dar vazão a suaverdadeira vocação, e, em 25 de maio de 1940, publicou seu primeiro conto conhecido, “Triunfo”, na revista Pan.

MOSER, Benjamin. Clarice, uma biografia. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

1 – Com que idade Clarice Lispector descobriu a possibilidade de se tornar escritora?__________________________________________________________________________________________________________________

2 – Clarice, aos 15 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro com sua família. Como a cidade era vista na época?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3 – O que motivou Clarice Lispector a ingressar na escola de Direito?__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

O próximo texto é um trecho da biografia de Clarice Lispector. Você sabe o que é uma biografia? Siga refletindo...

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16LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

4 – Que sentido tem a expressão em destaque no trecho “A ânsia de justiça estava inscrita em seus ossos”?__________________________________________________________________________________________________________________

5 – Por que foram utilizadas as aspas no trecho ““E eu sentia o drama social com tanta intensidade que vivia de coração perplexo diante dasgrandes injustiças a que são submetidas as chamadas classes menos privilegiadas”?__________________________________________________________________________________________________________________

6 – Nesse trecho da biografia, percebe-se uma sequência temporal dos fatos. Retire do texto expressões que marcam essa sequência dotempo da narrativa, configurando a progressão dos fatos da vida de Clarice Lispector:______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Sugerimos que você vá à Sala de Leitura e procure por biografias. Existem várias no acervo! Escolha uma pessoa importante e descubramais sobre ela! Depois, combine com o seu Professor(a) e leia para os colegas os fatos mais importantes da vida da pessoa que você escolheu.Você também pode acessar o site http://www.e-biografias.net/ . Que tal elaborar um mural na sala com o resultado das pesquisas?

ESPAÇO PES UISA

Texto 14 Texto 15

1 – No texto, Calvin conversa com o seu Tigre Haroldo. O que constrói o humor da tirinha?________________________________________________________________________________________________________________

1 – No texto, a menina conversa com o cãozinho Snoopy. O queconstrói o humor da tirinha?__________________________________________________________________________________________________________________

Livro Box Calvin e Haroldo – 7 volumes. Editora Conrad. Caixa Especial Peanuts Completo - Vols. 1 e 2 Schulz, Charles MonroeL&PM

Vários textos deste caderno são de base narrativa, contam histórias ou fatos.Uma das características básicas do texto narrativo é a progressão temporal entre os acontecimentos relatados. Paraisso é importante a utilização de palavras e/ou expressões que marcam a passagem do tempo. Os verbos também sãofundamentais. A narrativa utiliza verbos preferencialmente no tempo passado.A proposta de produção textual a seguir é uma AUTOBIOGRAFIA.

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17LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Nossa história de vida nos ajuda a nos construirmos a cada dia. Você já pensou nos fatos que marcam a sua história de vida? Existem pessoasque registram a sua história de vida em textos, em BIOGRAFIAS ou AUTOBIOGRAFIAS, gêneros discursivos de base narrativa muitointeressantes.

A palavra AUTOBIOGRAFIA se origina de BIOGRAFIA – termo derivado de “bio” que significa vida, e “grafia” que significa escrever oudescrever. A BIOGRAFIA é um texto que objetiva contar a vida de uma pessoa. Já a AUTOBIOGRAFIA é o texto em que a própria pessoa conta asua vida (AUTO – radical grego que significa si mesmo).

A biografia é escrita pelo biógrafo através de pesquisas em documentos, cartas, depoimentos de testemunhas e do próprio biografado. Aautobiografia é resultado do levantamento das memórias da própria pessoa que a escreve, podendo, também, envolver pesquisa em documentos─ cartas, fotos etc.

A biografia de uma pessoa pode ser escrita sem o seu consentimento. Ela é chamada, então, de BIOGRAFIA NÃO AUTORIZADA. Em geral, asbiografias não autorizadas causam polêmica, trazendo segredos que o biografado não gostaria de revelar e/ou diferentes versões para os fatos.

PARA SABER AINDA MAIS...Sugerimos que você visite o site http://www.sodez.com.br/Esse filme se autodenomina a “desbiografia” oficial de Manoel de Barros, autor do segundo poema deste caderno.“Só Dez Por Cento é Mentira é um original mergulho cinematográfico na biografia inventada e nos versos fantásticos do poeta Manoel de Barros.Alternando sequências de entrevistas inéditas do escritor, versos de sua obra e depoimentos de “leitores contagiados” por sua literatura o filme constrói um painel

revelador da linguagem do poeta, considerado o mais inovador em língua portuguesa.”Pense na estrutura da palavra “desbiografia”... O que seria uma “desbiografia”?

Sugerimos também a leitura do livro “Emília — Uma biografia não autorizada da Marquesa de Rabicó” . Leia um trecho deuma notícia sobre o livro:Boneca Emília ganha biografia 'não autorizada’Escritora cearense lança livro com histórias e curiosidades sobre a personagem do "Sítio do Picapau Amarelo”RIO - Emília era muda e começou a falar. Ela não tem coração — literalmente — e se casou por interesse, só porque queria

ser marquesa. Torce pelo Palmeiras, pesa cinco quilos [...]. Sua dona, Narizinho, a define assim: algodão por fora, asneira pordentro. Dona Benta, mais doce, diz que ela é “uma fadinha” que anda pelo mundo fantasiada de boneca de pano. Espevitada,tagarela, atrevida — politicamente incorreta, por vezes —, a personagem de Monteiro Lobato (1882-1948) entrou para oimaginário brasileiro a ponto de parecer ter vida própria. Tanta vida própria que acaba de ser radiografada em um livro, “Emília— Uma biografia não autorizada da Marquesa de Rabicó” (Casa da Palavra), no qual a cearense Socorro Acioli revê toda aobra de Lobato para narrar a trajetória da personagem — mais agitada que a de muita gente de carne e osso, diga-se.[...]É bom lembrar que, apesar do título, a biografia de Emília é, sim, autorizada pelos herdeiros de Monteiro Lobato. O título, dizSocorro, é uma brincadeira com a recente polêmica sobre a publicação de biografias não autorizadas e também com apersonagem. É que Emília uma vez contratou o Visconde de Sabugosa para escrever suas memórias, mas desistiu quandoviu o sabugo de milho escrevendo umas verdades sobre ela e assumiu o posto, começando a inventar aventuras que jamaishaviam acontecido. Quando é confrontada por Dona Benta, ela responde: “Minhas memórias são diferentes de todas asoutras. Eu conto o que houve e o que deveria acontecer”.Leia mais: https://glo.bo/2Cu9awI

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18LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

1.º passo – Escreva, numa folha separada, uma lista com os principais fatos que marcaram a sua vida (real ou inventada) e queconstarão da sua autobiografia.

Agora, é a sua vez!Pense nos fatos que marcam a sua história de vida... Seu desafio é escrever a sua autobiografia. Seu texto deve ser uma

narrativa em prosa. Você deve escolher uma das propostas:1 – Escrever sua autobiografia real.2 – Escrever sua autobiografia fictícia, inventada.3 – Escrever sua autobiografia inventada, contando a sua vida como se você vivesse no ano 2050.Vamos, passo a passo, para que seu texto fique muito interessante.

2.º passo – Escolha a ordem em que esses fatos aparecerão no seu texto.

Uma boa maneira de organizar o texto é pensar na construção de, pelo menos, três parágrafos – começo, meio e fim. Outra questão paravocê pensar é se você vai optar pela ordem cronológica (ordem dos acontecimentos, seguindo o tempo cronológico, sequência de fatosordenados como no calendário).

Decida-se e se organize!

MU

LTIR

IO

COMEÇO MEIO FIM

Revise seu texto.Ele cumpre a função de

uma autobiografia?

Verifique também a pontuação, a concordância

e a ortografia.

Reescreva seu texto e compartilhe com os

colegas!

Combine com o (a)Professor(a).

Pense em qual é o seu

leitor.

3.º passo – Escreva, no seu caderno, a sua autobiografia. Lembre-se de dar a ela um título que desperte a atenção do leitor. Após a escrita, siga os passos sugeridos abaixo:

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19LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

O próximo texto foi publicado na Revista Superinteressante. Compare-o com o poema que virá logo a seguir. Perceba a diferença quantoao uso da língua portuguesa e quanto à sua finalidade. Converse com seu (sua) Professor(a) de Ciências sobre o conteúdo do texto.

1 – Sublinhe, no texto, a ideia principal a partir da

qual se desenvolve o primeiro parágrafo.

2 – A que se refere o termo destacado em

“...somos poeira das estrelas.”?

________________________________________

________________________________________

________________________________________

________________________________________

3 – Ainda no primeiro parágrafo, explique a

relação de causa e consequência:

________________________________________

________________________________________

________________________________________

________________________________________

________________________________________

________________________________________

4 – No segundo e no terceiro parágrafos, há

termos destacados. Você sabe que, num texto,

evitamos a repetição desnecessária e, para

retomarmos uma ideia, nos utilizamos de

estratégias de coesão textual.

Marque, então, os termos que retomam o que foi

destacado em cada parágrafo.

Texto 16SOMOS POEIRA DE ESTRELAS

A matéria-prima do ar, das rochas e da vida foi e continua sendo forjada pelas pressõesgigantescas que existem no coração das maiores estrelas.

O astrônomo americano Carl Sagan, provavelmente o maior divulgador científico de todos ostempos, costumava dizer que nós – humanos, seres vivos da Terra, o próprio planeta e todo osistema solar – somos poeira das estrelas. Era o modo lírico dele de explicar nossas origens noUniverso. Só surgimos porque outras estrelas morreram há bilhões de anos, espalhando pelo espaçomatéria composta de elementos químicos que viriam a nos constituir tempos depois.

Esse, na verdade, é o processo de vida e morte que permeia todo o Cosmo. AS PRIMEIRASESTRELAS nasceram [...] em condições bastante diferentes das que formam novas estrelas hoje. Foia morte delas, no entanto, em eventos violentos e espetaculares, que abriu caminho para aformação de sistemas solares como o nosso. Nos primórdios do Universo só havia no espaço oselementos químicos hidrogênio e hélio. Foi o calor gerado pela explosão dessas primeiras estrelas,mais ou menos 1 bilhão de anos depois, que ajudou a produzir e espalhar os elementos necessáriosà vida: carbono, nitrogênio e oxigênio, além de ferro, fósforo etc. Até o surgimento da Terra, noentanto, passou-se mais um bom tempo.

Essas explosões espetaculares de estrelas são conhecidas como supernovas. Elas ocorrem, porexemplo, quando ESTRELAS ENORMES, com massa superior a 8 vezes a do nosso Sol, consomemtodo o combustível em seu interior e ficam incapazes de se sustentar. Sem o suporte, a matéria deseu exterior acaba despencando em direção ao núcleo, e a estrela sofre um colapso. Isso provocaum aumento de temperatura e pressão e ela explode, lançando estilhaços de carbono, oxigênio etc.Nesse momento, o brilho é tão forte que lembra mais o de um cometa – sem cauda, claro.

Essas explosões acabam funcionando como os grandes motores das transformações cósmicas.O material jogado no espaço vai formar outras estrelas, outros planetas. [...]

Giovana GirardiRevista Superinteressante - Edição 245ª novembro de 2007.

Converse com o seu Professor(a) de Ciências sobre a evolução dos conceitos científicos. A ciência está sempre descobrindo novos caminhos.

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20LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

1 – A quem se dirige o eu poético?_____________________________________________________________________

2 – Para que servem os parênteses em “(direis)”, no primeiro verso? _____________________________________________________________________

3 – Como é marcado o diálogo no texto?_____________________________________________________________________

4 – Qual o estado de espírito do eu poético nas duas primeiras estrofes do texto?_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

5 – Qual a explicação para o eu poético ouvir estrelas? Que palavra marca essaexplicação?_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

6 – Compare os textos 16 e 17 no que se refere à linguagem. Qual deles é literário? Explique._____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

Texto 17VIA LÁCTEA (XIII)

“Ora (direis) ouvir estrelas! CertoPerdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,Que, para ouvi-las, muita vez despertoE abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquantoA via láctea, como um pálio aberto,Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!Que conversas com elas? Que sentidoTem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!Pois só quem ama pode ter ouvidoCapaz de ouvir e de entender estrelas.”

BILAC, Olavo. Antologia Poética. Porto Alegre: L&PM, 2012.

E por falar em estrelas...

Podemos utilizar a nossa língua portuguesa para informar,objetivamente, de forma utilitária, ou trabalhar o modo de dizer de formaartística, para causar, no leitor, uma emoção, um efeito estético.

Quando a palavra é utilizada de forma predominantemente artística,subjetiva e figurada, temos o texto literário.

Essas formas de utilização da linguagem marcam a diferença entre otexto literário e o não literário.

“Olavo Bilac (Olavo Braz Martins dosGuimarães Bilac), jornalista, poeta,inspetor de ensino, nasceu no Rio deJaneiro, RJ, em 16 de dezembro de 1865,e faleceu, na mesma cidade, em 28 dedezembro de 1918. Um dos fundadores daAcademia Brasileira de Letras, criou acadeira nº. 15, que tem como patronoGonçalves Dias. [...]”

http://www.academia.org.br/academicos/olavo-bilac/biografia

www.academia.org.br

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21LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Texto 18

Livro Box Calvin e Haroldo – 7 volumes. Editora Conrad.

Texto 20

http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/27431-tiras-de-armandinho#foto-449325

1 – Que crítica você pode perceber no texto 19?__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

http://www.porliniers.com/tiras/browse

Texto 19

http://www.porliniers.com/tiras/browse

Texto 21

1 – A tirinha mostra Calvin conversando com seu tigre Haroldo. Queinformação da tirinha se relaciona ao texto 16?__________________________________________________________________________________________________________________

2 – A imagem do terceiro quadrinho se diferencia. Que efeito elaproduz?__________________________________________________________________________________________________________________

3 – Explique o último quadrinho, tomando por base o texto verbal e onão verbal.__________________________________________________________________________________________________________________

1 – Qual o sentido de “alcançar” no último quadrinho?________________________________________________________________________________________________________________________________________________

1 – Qual o sentido de “estrelas” no texto?______________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________

Ainda estrelas...

Eu fico com minha vida mil estrelas...

Você viu toda essa gente

que se mata por uma vida

cinco estrelas?

Pensar que existem pessoas que creem

que as estrelas estão na televisão.

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22LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

O sonho domado Thiago de Mello

Sei que é preciso sonhar.Campo sem orvalho, secaa fronte de quem não sonha.Quem não sonha o azul do vooperde o seu poder de pássaro.A realidade da relvacresce em sonho no serenopara não ser relva apenas,mas a relva que se sonha.Não vinga o sonho da folhase não crescer incrustadono sonho que se fez árvore.

Sonhar, mas sem deixar nuncaque o sol do sonho te arrastepelas campinas do vento.É sonhar, mas cavalgandoo sonho e inventando o chãopara o sonho florescer.

Nossos sonhos também fazem parte do que somos.Leia os textos desta página e se inspire. No início deste novo ano, que sonhos aquecem o seu coração? Você já traçou metas

para o ano que começa? O que deseja conquistar? O que pretende mudar? Seu desafio vai ser escrever os seus sonhos.Combine com seu (sua) Professor(a) uma forma de “guardar” esses sonhos. Ao final do ano, você poderá reler esse texto erefletir sobre sua caminhada. Essas são funções importantes da escrita: registrar, guardar.

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Livro Box Calvin e Haroldo – 7 volumes. Editora Conrad.

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23LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Seguimos falando de sonhos, agora retomando o poema de Thiago de Mello.

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983.

1 – O que significa o sonho para o eu do texto?______________________________________________________________________________

2 – O que significaa) sonho domado________________________________________________________

b) o sonho florescer ________________________________________________________

3 – Qual a palavra no texto que está no mesmo campo semântico de “domado” ?_______________________________________________________________________________

4 – Qual o tema do texto?_______________________________________________________________________________

5 – Agora, relacione o texto à letra do samba-enredo “Sonhar não custa nada”. Qual o verso ou oconjunto de versos do texto 20 que se aproxima do sentido dos versos “Transformar o sonho emrealidade/E sonhar com a mocidade/É sonhar com o pé no chão”?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Você observou que, em vários textos deste início do caderno pedagógico, é utilizada a linguagem conotativa? Você foi

levado a imaginar...

O que seria “Viajar nos braços do infinito”?

Como seria “...sonhar, mas cavalgando o sonho...”?

A linguagem conotativa é também chamada de linguagem figurada exatamente porque ela evoca imagens, provoca o leitor

para que ele associe ideias, indo além do sentido objetivo, denotativo.

Não perca!Morde a Língua - O poeta é

um fingidor: poesia.Acesse http://bit.ly/2nTI9hk

Texto 22O SONHO DOMADO Thiago de Mello

Sei que é preciso sonhar.Campo sem orvalho, secaa fronte de quem não sonha.Quem não sonha o azul do vooperde o seu poder de pássaro.A realidade da relvacresce em sonho no serenopara não ser relva apenas,mas a relva que se sonha.Não vinga o sonho da folhase não crescer incrustadono sonho que se fez árvore.

Sonhar, mas sem deixar nuncaque o sol do sonho te arrastepelas campinas do vento.É sonhar, mas cavalgandoo sonho e inventando o chãopara o sonho florescer.

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24LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Agora, você vai ler um texto escritopor um jovem como você.

Texto 23SONHANDO EM SER FELIZ

Muitos adolescentes sentem-se perdidos quando o assunto éo futuro.

Todos projetamos uma vida feliz, de acordo com critériospessoais de felicidade, porém, ao mesmo tempo, nossos projetossão preenchidos por dúvidas e temores.

Muitas vezes me pergunto quais são os meus objetivos e oque espero conquistar. Já perdi as contas de quantas vezesmudei de ideia e imagino que aconteça a mesma coisa com amaioria dos adolescentes da minha idade. É como um “tiro noescuro”, não temos certeza de nossas escolhas. Apaixonamo-nos e desapaixonamo-nos, sempre nos perguntando onde está o“amor de nossas vidas”. Nós, adolescentes, queremos tudo nahora; não gostamos do termo “esperar” [...].

Quantos de nós, quando éramos pequenos, dizíamos quemoraríamos sozinhos aos 17 anos, dividindo apartamento comnossos amigos, e seríamos independentes? E percebemos que,na verdade, não é assim tão fácil.

A maioria dos meus amigos tem dificuldade para escolher umaprofissão. Ás vezes se perguntam: “será que é isso mesmo?”.Imagino que isso deva acontecer com todos nós.

Acredito que a autoconfiança é um fator fundamental paraalcançarmos qualquer objetivo. Se não confiarmos em nós, quemhá de confiar?

Portanto, devemos nos empenhar, independente do queescolhermos fazer: devemos dar tudo de nós.

Monique Barbosa de OliveiraCIEP Francisco Cavalcante Pontes de Miranda.Projeto RedaçãoFolha Dirigida, 2010.

Você já deve ter estudado que uma forma básica de organizar umtexto de base argumentativa é estruturá-lo em três partes: introdução,desenvolvimento e conclusão. De forma geral, pode-se pensar assim:

Introdução Apresenta a ideia central.

Desenvolvimento São apresentadas as ideias secundárias. É a linhaargumentativa,

Conclusão Retoma a ideia central e, tendo em vista aargumentação anterior, a conclui, reafirmando o que foidito, propondo, criticando, abrindo uma nova questãosobre o tema etc.

1 – Marque, no texto, a introdução, o desenvolvimento e a conclusão.

2 – Qual a ideia principal do texto?______________________________________________________________________________________________________________________

3 – Cite um argumento utilizado para defender essa ideia:______________________________________________________________________________________________________________________

4 – Por que são utilizadas aspas no trecho ‘. É como um “tiro no escuro” ”,não temos certeza de nossas escolhas.’?______________________________________________________________________________________________________________________

5 – O que significa a expressão “tiro no escuro”?______________________________________________________________________________________________________________________

6 – Qual a ideia expressa pelo termo destacado em “Portanto, devemosnos empenhar, independente [ ...]._________________________________________________________

7 – Indique um trecho do texto em que se percebe a interação com oleitor._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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25LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

O próximo texto é uma crônica. A crônica tem, como traço marcante, o olhar para o cotidiano, registrado em um texto geralmenteconciso. A vivência do cronista e suas observações sobre a vida, sobre fatos banais – “pitorescos ou irrisórios” – do dia a dia, sãoassuntos de uma crônica.

Antônio Cândido nos conta um pouco mais sobre a história da crônica: “Antes de ser crônica propriamente dita foi “folhetim”, ouseja, um artigo de rodapé sobre as questões do dia – políticas, sociais, artísticas, literárias. [...] Aos poucos o “folhetim” foi encurtando eganhando certa gratuidade, certo ar de quem está escrevendo à toa, sem dar muita importância. Depois, entrou francamente pelo tomligeiro e encolheu de tamanho, até chegar ao que é hoje.”

In: Crônicas, 5/ Carlos Drummond de Andrade... [et al.]. São Paulo: Ática, 2011. (Para gostar de ler).A palavra CRÔNICA tem sua origem em khrónos, vocábulo grego que significa tempo. Ela é, em geral, publicada em jornais, em

revistas, em blogs, que são publicações que obedecem a uma periodicidade de tempo.

Não perca!Um vídeo sobre a nossa vida: crônica . Acesse Multirio

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Texto 24A MENSAGEM NA GARRAFA

Como outros escritores veteranos recebo muitas obras de estreantes. Livros de contos, de poesia, crônicas, um ou outro romance; ediçõesmodestas, precárias até, várias delas obviamente pagas pelos próprios autores ─ é difícil arranjar editora quando se está começando. Sempreque posso mando algumas linhas para o remetente, ao menos para dizer que o livro chegou e que, se possível, vou lê-lo. Faço isso porque lembroo jovem escritor que fui, a ansiedade com que procurava fazer chegar meus textos às mãos de pessoas que conhecia e admirava. Esses diasrecebi de um contista do Nordeste uma carta em que ele me agradece o fato de lhe ter respondido. E diz: “O difícil não é a gente escrever; difícil,mesmo, é encontrar alguém que leia o que a gente escreve. Pior do que não ter a quem contar o que a gente sente é contar o que a gente sentea quem não sente o que a gente conta.”

***Nestas frases está todo o drama da incomunicabilidade humana. Todos nós temos os nossos sofrimentos, as nossas angústias; todos nósqueremos expressar essas coisas sob a forma de palavras, faladas ou, como acontece em alguns casos, escritas. Se há talento nisso, se odesabafo se transforma em literatura, é outra questão. O ponto crucial é que temos mensagens a transmitir, precisamos transmiti-las e nãosabemos se alguém vai recebê-las. Aí se aplica a clássica metáfora do náufrago na ilha deserta que escreve um bilhete, e coloca-o numa garrafae joga-a ao mar. Essa garrafa chegará a alguém? E esse alguém fará alguma coisa pelo náufrago? Ou estará o potencial salvador tão envolvidocom seus próprios problemas que jogará fora garrafa e bilhete?Nós temos, sim, a capacidade de entender o outro, de corresponder a seu anseio. Chama-se empatia isso. Mas a capacidade de ser empáticovaria de pessoa a pessoa, e, numa mesma pessoa, varia com sua disposição momentânea. Há momentos em que estamos dispostos a recolher agarrafa da areia da praia e ler a mensagem que ali está. E, em outros momentos, passamos pela mesma garrafa e a vemos como prova de que aspessoas jogam lixo em qualquer lugar.

***

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26LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

1 – Transcreva do primeiro parágrafo uma frase em que há

a) uma comparação ___________________________________________________________________________________________________

b) uma opinião _______________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________

c) uma condição ______________________________________________________________________________________________________

2 – Segundo o cronista, o que todos nós desejamos? (segundo parágrafo)____________________________________________________________________________________________________________________

3 – Qual a definição de empatia presente no texto?____________________________________________________________________________________________________________________

4 – A que se refere o termo destacado em “E, em outros momentos, passamos pela mesma garrafa e a vemos como prova de que as pessoas jogam lixo em qualquer lugar” ?____________________________________________________________________________________________________________________

5 – No trecho que se segue, marque a causa: “Kafka pediu ao amigo Max Brod quedestruísse os originais ainda inéditos: era coisa que não valia a pena”.

_________________________________________________________________________

6 – Retire do texto um trecho que explicita o diálogo com o leitor._________________________________________________________________________

Os cientistas dizem que os humanos são feitos de átomos, mas a mim um passarinho contou que somos feitos de histórias.

Eduardo Galeanohttp://bit.ly/2lXq5Rp

Os escritores não estão imunes a essas dúvidas e ansiedades. Ninguém escreve para a gaveta; todo mundo escreve para ser lido. Nãonecessariamente por multidões; cem leitores já me bastariam, dizia o grande Flaubert, que hoje é lido por milhões. Franz Kafka , um dosescritores mais revolucionários do século XX, tinha um público muito reduzido; conta-se que, quando foi publicada uma de suas obras, eleperguntou numa livraria próxima à sua casa quantos exemplares haviam sido vendidos. Onze, foi a resposta do livreiro. “Dez fui eu quecomprei”, replicou Kafka, acrescentando: “Eu só queria saber quem foi o décimo primeiro.” Ao morrer (ainda jovem, de tuberculose), Kafkapediu ao amigo Max Brod que destruísse os originais ainda inéditos: era coisa que não valia a pena. Brod não atendeu a esse pedido e ahumanidade lhe agradece: graças a ele, temos acesso a uma obra extraordinária.

[...] Só vivemos realmente se contraímos laços com outras pessoas, e para estabelecer esses laços usamos a palavra falada ou escrita. Éa nossa mensagem na garrafa. Só resta esperar que as mensagens cheguem a seu destino.

SCLIAR, Moacyr. Contos e crônicas para ler na escola.Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.

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27LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Texto 25PARA CONTAR ESTRELAS

─ Pai, como é que a gente conta estrelas do céu?, perguntou Lelê. O pai, baixando o jornal, foi logo fazendo pose de explicação.

─ Bem, existem equipamentos especiais para isso. Eles tiram fotos do céu e fazem medições. E tem o Hubble, que é o bambambã dos telescópios! Mas só

os cientistas podem usá-lo. Então, cada um conta com o que tem à mão.

─ Ah!, disse Lelê com admiração, mesmo sem ter entendido muito bem (ele ainda estava no segundo ano).

A mãe o chamou na cozinha para um lanche. Ele se sentou à mesa pensando ainda no que o pai tinha dito. Decidiu perguntar para ela também.

─ Isso seu pai deve saber. Por que não pergunta para ele?

─ Já perguntei. Ele falou várias coisas, mas não entendi direito: o que cada um tem nas mãos e...

─ Ora, nas mãos a gente tem dedos! Por que você não conta nos dedos?, disse a mãe, que era bem mais esperta que o pai nos assuntos práticos.

─ Hum..., pensou Lelê. Assim eu sei! E foi logo devorando o sanduíche.

Uns minutinhos depois, Lelê já estava no quintal. Olhava para o alto, bem fundo no céu de estrelas. Para começar, mirou a mais brilhante e passou a contar

em voz alta: Um... Dois... Três..., recolhendo um dedo de cada vez. Chegou até dez. Olhou para as mãos, olhou para o céu.

Suspirou. O problema é que ele tinha só dez dedos, e o céu tinha muito mais estrelas.

Desanimado, sentou-se na varanda, apoiando o queixo nas mãos. Sua avó, que sempre observava tudo bem quietinha, foi lá falar com ele.

─ O que foi, filho?

─ Nada...

─ Hum. Sabe, eu conheço um jeito de fazer caber todas as estrelas na mão, de uma só vez.

Lelê olhou desconfiado, mas ficou atento, esperando o resto da história.

─ Está vendo as estrelas lá em cima? São tão pequenininhas, não é mesmo? Pois então. Basta você olhar bem para elas, como se fossem grãozinhos de

areia. Daí você passa a mão, assim, por todo o céu, como se estivesse varrendo, e fecha de uma vez no final! Depois, chacoalha bem e põe em cima do

coração, pegando emprestado um pouco da luz delas.

Ela deu então uma piscadela e foi se levantando para entrar em casa.

Lelê percebeu uma emoção estranha no peito, sentiu uma saudade imensa da avó, queria que ela morasse com ele para sempre.

Desde então, sempre que tinha vontade, Lelê contava todas as estrelas do céu. E num punhado só.

Dieter Mandarin

http://abr.ai/2CGSsyi

Você, agora, é convidado a ler algumas histórias. Recupere, na sua memória, a estrutura do conto, que já foi estudada em anos anteriores.

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28LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

1 – No texto que você acabou de ler, pode-se perceber as falas de quatro personagens. Quem são eles?__________________________________________________________________________________________________________________

2 – Qual o conflito gerador da narrativa? E o desfecho?__________________________________________________________________________________________________________________

3 – No trecho “─ Bem, existem equipamentos especiais para isso.”, a que se refere o termo destacado?__________________________________________________________________________________________________________________

4 – Qual o objetivo dos parênteses e de seu conteúdo no terceiro parágrafo?__________________________________________________________________________________________________________________

5 – No trecho “Então, cada um conta com o que tem à mão.”, qual o significado da expressão contar com o que se tem à mão?__________________________________________________________________________________________________________________

6 – Que diferença de sentido há em: contar com o que se tem à mão e contar o que cada um tem nas mãos?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7 – Por que o menino sentiu-se desanimado quando começou a contar as estrelas?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8 – Qual foi a sugestão da avó para que o menino pudesse contar todas as estrelas?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9 – Transcreva do último parágrafo a expressão indicadora de tempo:__________________________________________________________________________________________________________________

10 – O uso das reticências é expressivo no texto. Releia os trechos e diga para que foram usadas as reticências.a) “─ Já perguntei. Ele falou várias coisas, mas não entendi direito: o que cada um tem nas mãos e...─ Ora, nas mãos a gente tem dedos! Por que você não conta nos dedos?, disse a mãe, que era bem mais esperta que o pai nos assuntospráticos.” _________________________________________________________________________________________________________b) “─ O que foi, filho?

─ Nada...” ______________________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________

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29LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

11 – No texto, várias vezes, aparecem palavras no diminutivo. Qual o efeito que esse uso provoca nestes trechos?

“Sua avó, que sempre observava tudo bem quietinha, foi lá falar com ele.”

“São tão pequenininhas, não é mesmo? Pois então. Basta você olhar bem para elas, como se fossem grãozinhos de areia.

_______________________________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________________________

Agora, você vai ler mais um conto. Observe a estrutura do texto.

Texto 26DE MUITO PROCURAR

Aquele homem caminhava sempre de cabeça baixa. Por tristeza, não. Por atenção. Era umhomem à procura. À procura de tudo o que os outros deixassem cair inadvertidamente, umamoeda, uma conta de colar, um botão de madrepérola, uma chave, a fivela de um sapato, umbrinco frouxo, um anel largo demais.Recolhia, e ia pondo nos bolsos. Tão fundos e pesados, que pareciam ancorá-lo à terra. Tãoinchados, que davam contornos de gordo à sua magra silhueta.Silencioso e discreto, sem nunca encarar quem quer que fosse, os olhos sempre voltados para ochão, o homem passava pelas ruas despercebido, como se invisível. Cruzasse duas ou trêsvezes diante da padaria, não se lembraria o padeiro de tê-lo visto, nem lhe endereçaria a palavra.Sequer ladravam os cães, quando se aproximava das casas.Mas aquele homem que não era, via longe. Entre as pedras do calçamento, as rodas dascarroças, os cascos dos cavalos e os pés das pessoas que passavam indiferentes, ele era capazde catar dois elos de uma correntinha partida, sorrindo secreto como se tivesse colhido uma fruta.À noite, no cômodo que era toda sua moradia, revirava os bolsos sobre a mesa e, debruçadosobre seu tesouro espalhado, colhia com a ponta dos dedos uma ou outra mínima coisa, paraque à luz da vela ganhasse brilho e vida. Com isso, fazia-se companhia. E a cabeça só se punhapara trás quando, afinal, a deitava no travesseiro.Estava justamente deitando-se, na noite em que bateram à porta. Acendeu a vela. Era um moço.Teria por acaso encontrado a sua chave? Perguntou. Morava sozinho, não podia voltar para casasem ela.Eu... Esquivou-se o homem. O senhor, sim, insistiu o moço acrescentando que ele próprio jáhavia vasculhado as ruas inutilmente.Mas quem disse... resmungou o homem, segurando a porta com o pé para impedir a entrada dooutro.

1 – O homem, personagem principal dotexto, é descrito ao longo do conto. Comoele é?

___________________________________

__________________________________

__________________________________

2 – A que se referem os adjetivos “fundos epesados” e “inchados”?

___________________________________

__________________________________

3 – No trecho “Mas aquele homem quenão era, via longe.” (4.º parágrafo), a quecaracterística do homem o narrador serefere com a expressão em destaque:

___________________________________

__________________________________4 – Escreva, de outra forma, a frase “Com

isso, fazia-se companhia”, no quintoparágrafo, substituindo o SE por aquilo aque ele se refere:

___________________________________

__________________________________

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30LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Foi a velha da esquina que se faz de cega, insistiu o jovem semempurrar, diz que o senhor enxerga por dois.

O homem abriu a porta.Entraram. Chaves havia muitas sobre a mesa. Mas não era

nenhuma daquelas. O homem então meteu as mãos nos bolsos,remexeu, tirou uma pedrinha vermelha, um prego, três chaves. Eramparecidas, o moço levou as três, devolveria as duas que não fossemsuas.

Passados dias bateram à porta. O homem abriu, pensando quefosse o moço. Era uma senhora.

Um moço me disse... Começou ela. Havia perdido o botão de pratada gola e o moço lhe havia garantido que o homem saberia encontrá-lo.Devolveu as duas chaves do outro. Saiu levando seu botão na palma damão.

Bateram à porta várias vezes nos dias que se seguiram. Pouco apouco espalhava-se a fama do homem.

Pouco a pouco esvaziava-se a mesa dos seus haveres.Soprava um vento quente, giravam folhas no ar, naquele fim de

tarde, nem bem outono, em que a mulher veio. Não bateu à porta,encontrou-a aberta. Na soleira, o homem rastreava as juntas dosparalelepípedos. Seu olhar esbarrou na ponta delicada do sapato, nabarra da saia. E manteve-se baixo.

Perdi o juízo, murmurou ela com voz abafada, por favor, me ajude.Assim, pela primeira vez, o homem passou a procurar alguma

coisa que não sabia como fosse. E para reconhecê-la, caso desse comela, levava consigo a mulher.

Saíam com a primeira luz. Ele trancando a porta, ela já a esperá-lona rua. E sem levantar a cabeça ─ não fosse passar inadvertidamentepelo juízo perdido ─ o homem começava a percorrer rua após rua.

Mas a mulher não estava afeita a abaixar a cabeça. E andando, ohomem percebia de repente que os passos dela já não batiam ao seulado, que seu som se afastava em outra direção. Então parava, e semerguer o olhar, deixava-se guiar pelo taque-taque dos saltos, atéencontrar à sua frente a ponta delicada dos sapatos e recomeçar, juntodeles, a busca.

COLASANTI. Marina. Histórias de um viajante. São Paulo: Global, 2005.

5 – Repare que há um diálogo no trecho que vai do oitavo aodécimo parágrafo. Escreva-o, usando a pontuação característicade um diálogo:____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8 – O que significa o termo “ seus haveres”? (16.º parágrafo)?____________________________________________________

9 – A chegada da mulher provocou inicialmente duas mudançasna vida do homem. Quais?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6 – O que significam as reticências nesse trecho?________________________________________________________________________________________________________

7 – A quem se refere a palavra destacada em: “Devolveu as duas chaves do outro”?____________________________________________________

10 – O que significa a expressão “afeita a abaixar a cabeça”, no último parágrafo?________________________________________________________________________________________________________

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31LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

13 – Leia os quadros que se seguem e preencha cada um deles, analisando o conto “De muito procurar”.

12 – Analise o narrador dos contos, preenchendo o quadro:

Para contar estrelas De muito procurar

Foco narrativo

O narrador pode se apresentar como narrador-personagem, ou seja, aquele que participa das ações, dos fatos; ou comonarrador-observador, que não participa da história, somente a observa. O narrador-observador se caracteriza pelo uso doa verbosem terceira pessoa e o narrador-personagem pelo uso dos verbos em primeira pessoa. O tipo de narrador constitui o foco narrativo.

Como você já sabe, um conto, em geral, possui uma estrutura mais ou menos composta pelos seguintes momentos: situaçãoinicial (ou apresentação), complicação (do conflito gerador ao clímax), desfecho.

De maneira geral, o conto é mais breve que um romance e apresenta número reduzido de personagens. O tempo e o espaçoem que se desenvolve a história também são mais restritos. Podemos dizer que esse gênero textual apresenta sequências defatos, que são vividos pelas personagens, num determinado tempo e lugar. Existe também um narrador, aquele que conta ahistória.

Esses são os elementos do texto de base narrativa: personagem, tempo, lugar, ação e narrador.

Momentos da narrativa Trechos do conto “De muito procurar”

1 - Situação inicial (ou apresentação)

Geralmente, o início do texto de base narrativa, em que podem ser

apresentados os elementos da narrativa (espaço, tempo,

personagens), situando o leitor.

Complicação

2 - Conflito gerador

Momento em que surge um fato novo que muda o rumo da história.

3 - Clímax Momento culminante, de maior

tensão dentro da história.

4 - DesfechoConclusão da história,

normalmente apresentando a solução do conflito.

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32LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

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Seu desafio é escrever um conto. O conteúdo desse conto é você que vai escolher. Você deve escolherentre - um conto de mistério - uma aventura - um encontro especial.

Para isso, vamos passo a passo.

1.º passo

Planeje seu conto. Escreva uma lista de assuntos que poderiam virar um conto. Faça uma tempestade de ideias.

2.º passo

Analise as ideias que você listou e escolha a que vai virar um conto.Em seguida, você pode utilizar uma estratégia para contá-la de forma rápida, fazendo uso das perguntas apresentadas

abaixo. Assim, vai ficar mais fácil ir construindo seu texto e melhorando-o.O quê? Como? Quando? Onde? Por quê?

O narrador

Quem vai narrar o seu texto?O narrador será observador ou

personagem?

O tempo

Em que tempo se dá essa história?

Agora, pare um pouco e reflita sobre os elementos que vão constituir a sua narrativa.

Os personagensQuem será o protagonista de

seu conto?“Protagonista é o personagem

principal da narrativa.”Defina suas características

para que você possa mostrá-lo aos seus leitores.

3.º passo

4º passo

O espaçoEm que cenário vai se passar a sua

história? Em que ambiente vão acontecer os fatos?

Definir o espaço é importante para que os leitores possam imaginar o ambiente no

qual a ação ocorre.Seu desafio é escrever um conto carioca!

Agora, organize seu texto, segundo a estrutura clássica do conto:apresentação, complicação (do conflito gerador ao clímax), desfecho.

5.º passo

Escreva a primeira versão do seu conto. Lembre-se do título!

Verifique também a

pontuação, a concordância e a ortografia.

Reescreva o seu texto, e compartilhe

com os colegas!6.º passo

Combine tudo com o(a)

Professor(a).

Revise seu texto.

Ele possui as características de um conto?

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33LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Texto 28LEMBRE-SE: RECORDAR É VIVERA memória humana é capaz de armazenar bilhões de informações. Graças a ela somos capazes não só de fazeralgo, como também de relacionar as coisas entre si, de estabelecer associações, sem as quais seria impossívela própria sobrevivência.

Já pensou se, cada vez que fosse assinar o nome, você tivesse de recordar as primeirasletras, aprendidas na infância? Pois é exatamente isso que acontece, embora não seperceba: escrever é como pressionar no cérebro a mesma tecla da cartilha do curso primário,desenhar novamente as palavras do jeito que a Professora ensinou. A rigor, fazer qualquercoisa, qualquer coisa mesmo, é voltar inconscientemente à primeira experiência deaprendizado. A memória está presente em tudo. Graças a ela somos capazes não só de fazeralgo, como também de relacionar as coisas entre si, de estabelecer toda sorte deassociações, sem as quais a própria sobrevivência seria impossível. Todos nós, enfim,vivemos de recordações.O dia de sol evoca a praia, o céu cinzento adverte que pode chover, a música reanima umantigo sentimento. Dito desse modo, é como se os responsáveis pelas lembranças ou pelasmemorizações sempre estivessem fora da pessoa, no sol, no céu, no som, por exemplo. Fazsentido: a memória é uma interação entre o ambiente e o organismo. Essa interação altera osistema nervoso de tal modo que lhe permite reviver uma experiência. Naturalmente, todosos sentidos – tato, paladar, olfato, audição e visão – são instrumentos da memória. Mas asede das lembranças é massa gelatinosa, com cerca de 1 quilo e meio que mal seacomodaria na palma da mão. Ou seja, o cérebro.[...]Normalmente, o esquecimento é um recurso do cérebro para não ficar entulhado deinformações inúteis. Trata-se, portanto, de uma limpeza de arquivos. Ocorre que nemsempre, alguns diriam raramente, os critérios dessa seleção do que deve ser guardadopassam pelo racional. Se já não bastassem as teorias de Freud e a prática da psicanálise, aexperiência pessoal de cada um demonstra que aquilo que mexe com as emoções ficaguardado no cérebro por mais tempo e com uma riqueza maior de detalhes. Ficar guardadonão quer dizer necessariamente que se consiga evocar certas memórias com facilidade. Aocontrário: lembranças associadas a emoções básicas ou poderosas demais tendem apermanecer bloqueadas.

Adaptado de Lúcia Helena de Oliveira – Revista Superinteressante - Edição 11 - Agosto de 1988 http://super.abril.com.br/ciencia/lembre-se-recordar-e-viver

Assim como seus sonhos o constituem, constroem sua identidade, assim também suas memórias fazem parte de você! Vamos ler um pouco sobre a memória?

Glossário:olvido: sm. esquecimento.tangível: adj. palpável, que pode ser sentido,apalpado.finda: adj. que findou: concluída, acabada.Adaptado de Dicionário Escolar da LínguaPortuguesa.

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34LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

1 – Releia o poema, agora de posse dos significados apresentados no glossário. Qual o sentido da expressão “à palma da mão”, no 9.º verso?

___________________________________________________________________________________________________________________

2 – Você sabe o que é paráfrase? Com certeza você já parafraseou algo. Veja só:

Paráfrase: substantivo feminino 2. lit interpretação, explicação ou nova apresentação de um texto que visa torná-lo mais inteligível ou que

sugere novo enfoque para o seu sentido. Parafraseie a terceira estrofe do poema:

___________________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________

3 – No poema há uma oposição entre as coisas “tangíveis” e as coisas “findas”. Que palavra estabelece essa relação de oposição? Segundo o

texto, quem sai ganhando nesse confronto presente X passado?

___________________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________

4 – Qual a informação principal do primeiro parágrafo do texto 27?

___________________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________

5 – No trecho “Graças a ela somos capazes não só de fazer algo, como também de relacionar as coisas entre si [...]”, que expressões

estabelecem um paralelismo?

___________________________________________________________________________________________________________________

6 – No trecho “Faz sentido: a memória é uma interação entre o ambiente e o organismo.” qual a função dos dois pontos?

___________________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________

7 – Qual o sentido da expressão destacada no trecho “[...] de estabelecer toda sorte de associações, sem as quais a própria sobrevivência

seria impossível.”?

___________________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________

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35LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Texto 29LER É O MELHOR EXERCÍCIOSegundo especialistas, o hábito de leitura exercita as funções cerebrais e éuma ótima solução para manter a mente saudável.

Amália Dornellas

O melhor exercício para a mente é a leitura. Quando os olhospassam pelas letras, uma série de atividades cerebrais éativada. O pensamento e a mente são acionados, exercitandotodas as funções do cérebro. A memória visual, auditiva, deleitura, dos sentimentos e todas as demais entram em açãoquando a primeira frase é lida.De acordo com um dos maiores especialistas em memória noBrasil, Ivan Izquierdo, ter o hábito de leitura é a melhor soluçãopara se manter a mente e a memória saudáveis. Doutor emmedicina, Izquierdo é um dos maiores pesquisadores do mundona área de fisiologia da memória e coordena o Centro deMemória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande doSul (PUCRS).“No momento em que lemos uma palavra que começa com A, océrebro faz um mapeamento de tudo o que começa com A. Seem seguida vem a letra M, ele faz uma segunda seleção, eassim por diante”. Neste processo o cérebro seleciona ossignificados das palavras para a leitura, relaciona os sistemas,como o idioma, e busca na memória tudo o que estárelacionado às palavras, como imagens, sons e sentimentos.“A memória é uma das funções cerebrais mais importantes euma das que ficam mais lentas com a idade. Pensamos porconta do que recordamos”, diz. Quanto mais a pessoa lê,menos prejuízo a memória tem com o tempo. Segundo opesquisador, isso já está mais do que comprovado. “Nasprofissões que exigem leitura, como a de Professor(a)e de ator,nota-se menor perda de memória e o desenvolvimento dedoenças como o alzheimer é bem mais lento e suportável para oportador.”[...]

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w.gazetadopovo.com

.br/saude/ler-e-o-melhor-exercicio-1w

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http://www.coisadebibliotecario.com.br/category/artigos/page/2/

Você acabou de ler um texto de base argumentativa. Nesse texto, existe uma tese e argumentos que a sustentam

1 – No primeiro parágrafo encontramos a tese defendida. Transcreva-a.___________________________________________________________

2 – Ainda no primeiro parágrafo encontramos argumentos que sustentam a tese. Cite um deles.______________________________________________________________________________________________________________________

3 – Em textos de base argumentativa, muitas vezes, existem argumentos de autoridade: aqueles que são baseados na opinião de especialistas, de autoridades no assunto abordado. Cite dois desses argumentos._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4 – No último parágrafo, sublinhe um trecho em que se estabelece umarelação de proporção.

TEXTO 30

1 – Relacione a tirinha ao texto 28. Que opinião eles compartilham?________________________________________________________

2 – Que elementos constroem o humor do texto?______________________________________________________________________________________________________________________________

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36LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Texto 31

Quando o Rio não era Rio

Naquele tempo o Rio não era o Rio. Eu me lembro muito bem quando começou essa moda de dizer: vou ao Rio, cheguei doRio. Até então nós todos dizíamos solenemente: Rio de Janeiro. E nos debruçávamos sonhadoramente sobre os cartões-postais que aspessoas que iam ao Rio de Janeiro mandavam: o bondinho do Pão de Açúcar (que era de Assucar) e o Corcovado, ainda sem o Cristo.

Mas havia dois palácios de maravilha para a nossa imaginação; seus nomes soavam belíssimos: a Galeria Cruzeiro e oPavilhão Mourisco. Não consigo refazer a ideia que eu tinha da Galeria Cruzeiro, creio que era uma ideia que variava muito. Um granderecinto sem plateia mas com muitas galerias, ou um palácio em forma de túnel com um Cruzeiro do Sul aceso na fachada, algo de estranho eimenso, pois toda gente encontrava toda gente na Galeria Cruzeiro. O Pavilhão Mourisco, este para nós era feérico, cheio de minaretes*,odaliscas, bandeiras e punhais, talvez camelos, pelo menos grandes camelos pintados entre oásis.

As pessoas grandes que chegavam do Rio traziam malas fabulosas, cheias de presentes para todos, além de dezenas deencomendas, todas escritas cuidadosamente em uma lista com letra feminina. Nós juntávamos todos para assistir à abertura das malas.

“Isto é para você”! Era fascinante receber um embrulho de presente com o nome da loja impresso na fita que o amarrava.Mas o que mais me impressionou foi a sopa juliana. Eu nunca tinha ouvido falar de sopa juliana, não era prato que se usasse

em minha casa. E não gostei da sopa: era de verduras e legumes. Mas o espantoso é que vinha seca, em um envelope, e quando se punhan’água crescia, tomava cores. As coisas do Rio de Janeiro eram assim, cheias de milagres e de astúcias. E à noite, quando vinham visitas,os viajantes contavam as últimas anedotas do Rio de Janeiro, pois naquele tempo não havia rádio.

Lembro-me que, apesar de sentir esse fascínio do Rio de Janeiro, eu não pensava nunca em vir aqui. Isso simplesmente nãome passava pela cabeça; o Rio era um lugar maravilhoso, onde vinham pessoas grandes e até eu pensava vagamente que no Rio de Janeirosó devia haver pessoas grandes. Era verdade que havia, por exemplo, um menino, o Zezé, filho de seu Osvaldo, que vinha ao Rio deJaneiro; ele usava sapatos, quando nós todos usávamos botinas. Mas, mesmo pelo fato de usar sapatos e vir ao Rio era como se ele fosseuma pessoa de outra raça, não uma criança como nós. Eu não chegava sequer a invejá-lo, tão diferente de nós eu o achava. Zezé tinha atéum sapato de duas cores, branco e vermelho; e nós com nossas botinas pretas, sempre de bico esbranquiçado de tanto chutar pedra na rua,sempre com os cadarços meio arrebentados, difíceis de enfiar.

Fiquei muito espantado quando minha irmã, que vinha ao Rio com o marido, me convidou para vir também. Ela disse que eraum prêmio porque eu tinha tirado boas notas nos exames. Lembro-me de que minhas notas tinham sido apenas regulares, de maneira queachei aquele convite uma honra, uma distinção que eu mesmo sabia que não merecia muito. Eu tinha nove anos, e essa irmã era minhamadrinha.

[...]BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Record, 1987.

*Minaretes: pequenas torres de mesquita

A próxima sequência de textos terá como fio condutor a memória. A memória nos leva a passear por diferentes fases davida. Você vai ler textos de diferentes gêneros que, de alguma forma, tocam no assunto: infância.

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37LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

1 – Na crônica de Rubem Braga que você acabou de ler, o cronista relata fatos de sua infância. Transcreva aexpressão indicadora de tempo passado que aparece no texto:_____________________________________________________________________________________________

2 – Que aspecto da paisagem do Rio Janeiro do passado está presente no primeiro parágrafo?_____________________________________________________________________________________________

3 – Ainda no primeiro parágrafo, que trecho revela a paixão pelo Rio de Janeiro?______________________________________________________________________________________________

4 – Que palavras do texto pertencem ao campo semântico de MOURISCO?_____________________________________________________________________________________________

5 – Com relação à culinária, o que espantou o cronista quando era menino?_____________________________________________________________________________________________

6 – A quem se refere a palavra VIAJANTES, no quinto parágrafo?_____________________________________________________________________________________________

7 – Ainda no quinto parágrafo, o que revela um tempo do passado distante?_____________________________________________________________________________________________

8 – Que trecho do texto mostra que o cronista morava no Rio no momento em que escrevia a crônica?______________________________________________________________________________________________

9 – A que se refere a palavra ISSO, no sexto parágrafo?______________________________________________________________________________________________

10 – Aos olhos do cronista menino, o que distinguia Zezé das outras crianças?______________________________________________________________________________________________

11 – No último parágrafo, por que o cronista menino considerava uma honra que ele não merecia?______________________________________________________________________________________________

12 – No último parágrafo, substitua a expressão DE MANEIRA QUE por outra equivalente, sem mudar o sentido dotrecho:______________________________________________________________________________________________

Seu desafio agora é

pesquisar sobre a

memória da Cidade

Maravilhosa.

Reunido em um grupo

de trabalho, com seus

colegas, combine com

o (a) Professor(a) uma

época histórica, um

período do passado de

nossa cidade, para

pesquisar.

Converse, também,

com seu(sua)

Professor(a) de

História e busque

fontes confiáveis de

pesquisa.

O acervo da Sala de

Leitura será de grande

ajuda com certeza!

ESPAÇO PES UISA

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38LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Texto 32RÚSSIA – BRASILEu não nasci no Brasil: sou imigrante. Nasci na Rússia, na então capital, que já não se chamava São Petersburgo, como quando foifundada e construída pelo imperador Pedro, o Grande, e ainda não se chamava Leningrado – agora São Petersburgo, recuperandoassim seu nome original. Quando eu nasci, dois anos depois da Revolução Russa, um ano após o término da Primeira Guerra Mundial, acidade se chamava Petrogrado – “cidade de Pedro”, em russo. O país estava em plena guerra civil, havia mesmo fome na cidade, osalimentos estavam racionados, a vida era muito difícil. Então meus pais, que eram cidadãos letonianos, resolveram voltar para Riga,capital da Letônia, um dos pequenos países do Mar Báltico. E foi assim que, de um ano de idade até os dez vivi com meus pais e meusdois irmãos [...] na bonita cidade de Riga, conhecida principalmente pela madeira que exportava para o mundo inteiro, o famoso pinho-de-riga.Mas também em Riga a vida não era fácil. A situação econômica era ruim, a política, pior ainda, e as coisas não andavam boas parameus pais, gente de classe média remediada. Até que a situação se tornou insustentável, e meus pais resolveram sair do país, tentararrumar a vida em outra terras.[...]Então sou – ou fui – imigrante. Mas sou brasileira, como consta no meu “RG” – casada com brasileiro, com filhos e netos brasileiros:marido santista, filhos, netos e bisnetos paulistanos.[...]Só que eu não virei brasileira de repente, do dia para a noite, sem mais nem menos. Quando cheguei ao Brasil, tinha pouco mais de dezanos e todo um passado europeu atrás de mim: toda uma vida, todo um “caldo de cultura”. Clima, costumes, educação, idioma, até amaneira de vestir e de morar eram muito diferentes. E levei algum tempo até me “aclimatar” e acostumar com todas as coisas novas queme esperavam no Brasil, na cidade de São Paulo e, principalmente, na Rua Jaguaribe [...].Hoje – e já há muito tempo –eu não trocaria o Brasil por nenhuma espécie de “paraíso terrestre” em qualquer outra parte do mundo. (E,note-se que eu viajei muito, vi muitos países, coisas bonitas e interessantes...) [...]

Viajar para o Brasil! Foi o que nos disseram papai e mamãe, naquele dia: nós íamos viajar para o Brasil, um país que ficava na América,muito longe, do outro lado do oceano. E que nós íamos navegar até lá num navio transatlântico – que coisa romântica e empolgante![...]Papai de fato partiu antes de nós – para “apalpar o terreno” e, finalmente, três meses depois, chegou também a hora da nossa partida.[...]Saímos de Riga de trem noturno, até Berlim, de onde iríamos para Hamburgo, e de lá, desse velho porto alemão, embarcaríamos rumoao Brasil.As despedidas na estação ferroviária de Riga foram emocionadas e emocionantes. De repente a gente se deu conta de que estávamosdeixando para trás toda a nossa grande família, boa parte da qual se apinhava na plataforma: vovô e vovó, tios e tias, primos e primas,adultos e crianças – toda uma multidão de pessoas próximas e queridas, que sempre fizeram parte integrante da nossa vida – e dasquais de repente íamos ficar separados e distantes, não sabíamos por quanto tempo.

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39LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Por fim, vinte e um dias depois de alçarmos âncora em Hamburgo, chegamos! Chegamos ao Rio de Janeiro. O General

Mitre entrou na Baía de Guanabara ao anoitecer e ficou fora da barra à espera da licença de ancorar até a manhã do dia seguinte. Todo

mundo correu para as amuradas, e ficamos olhando de longe aquela vista incomparável: a linha harmoniosamente curva da praia de

Copacabana, toda faiscante no seu “colar de pérolas”, como era chamada, carinhosamente, a iluminação da Avenida Atlântica. [...]

O nosso primeiro contato com a paisagem brasileira foi o Rio de Janeiro, e não podia ter sido mais encantador.

BELINKY, Tatiana. Transplante de menina. São Paulo: Uno Educação, 2008.

1 – Observe que, no primeiro parágrafo, aparecem os diferentes nomes que a cidade russa, São Petesrburgo, teve ao longo de sua

história. Organize-os em ordem cronológica:

______________________________________________________________________________________________________________

2 – Qual o significado de Petrogrado?

_______________________________________________________________________________________________________________

3 – Por que os pais da narradora resolveram voltar para a cidade de Riga, na Letônia?

______________________________________________________________________________________________________________

4 – Como era a vida em Riga?

______________________________________________________________________________________________________________

5 – Por que os pais da narradora decidiram sair de seu país?

______________________________________________________________________________________________________________

6 – Por que a narradora afirma que não virou brasileira, de repente, de uma hora para outra?

________________________________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________________________________

7 – A expressão “caldo de cultura” se refere a que aspectos presentes no texto?

________________________________________________________________________________________________________________

8 – Que parágrafo do texto mostra que a narradora gosta do Brasil?

________________________________________________________________________________________________________________

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40LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

9 – O que, no quinto parágrafo, os parênteses e o que eles contêm nos revelam?_________________________________________________________________________________________________________________

10 – Qual o efeito de sentido das exclamações no sexto parágrafo?_________________________________________________________________________________________________________________

11 – Retire do sexto parágrafo um fato e uma opinião:_________________________________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________________________________

12 – Qual o efeito de sentido das aspas na expressão “apalpar o terreno” no sétimo parágrafo?_________________________________________________________________________________________________________________

13 – A que se refere “desse velho porto alemão” no oitavo parágrafo?__________________________________________________________________________________

14 – Qual a diferença entre EMOCIONADA e EMOCIONANTE, no décimo parágrafo?__________________________________________________________________________________

15 – No décimo primeiro parágrafo, a que se refere General Mitre?__________________________________________________________________________________

16 – A que a iluminação da Avenida Atlântica era comparada?__________________________________________________________________________________

Agora, você será desafiado!Fazendo uso das informações quevocê reuniu no espaço pesquisa,escreva uma história com narrador -personagem. Esse narrador serávocê! Você fará uma viagem notempo... ao Rio de Janeiro dopassado.

Escreva, em uma folha separada.Combine com o(a) Professor(a) aorganização de uma Roda de Leituracom os textos produzidos por você epelos seus colegas.

Sugerimos que utilize o roteiro derevisão textual apresentado naescrita do conto anterior.

ESPAÇOCRIAÇÃO

Você percebeu que o ponto de exclamação foi usado no texto de forma expressiva, para causarum efeito de sentido? Desse modo, ao ler, fique ligado nos sinais de pontuação e nos efeitos queeles podem produzir.

O uso de negrito, itálico, caixa alta também pode sugerir um sentido, reforçar uma ideia,ironizar...Você, como leitor competente, deve desconfiar dessas pistas que o texto dá e se perguntar:essa marca serve para quê?

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41LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Texto 33UMA ESPERANÇA

Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica que tantas vezes verifica-se ser ilusória, emboramesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem concreta e verde: o inseto.

Houve um grito abafado de um de meus filhos:– Uma esperança! e na parede bem em cima de sua cadeira! Emoção dele também que unia em uma só as

duas esperanças, já tem idade para isso. Antes surpresa minha: esperança é coisa secreta e costuma pousardiretamente em mim, sem ninguém saber, e não acima de minha cabeça numa parede. Pequeno rebuliço: mas eraindubitável, lá estava ela, e mais magra e verde não podia ser.

– Ela quase não tem corpo, queixei-me.– Ela só tem alma, explicou meu filho e, como filhos são uma surpresa para nós, descobri com surpresa que

ele falava das duas esperanças.Ela caminhava devagar sobre os fiapos das longas pernas, por entre os quadros da parede. Três vezes

tentou renitente uma saída entre dois quadros, três vezes teve que retroceder caminho. Custava a aprender.– Ela é burrinha, comentou o menino.– Sei disso, respondi um pouco trágica.– Está agora procurando outro caminho, olhe, coitada, como ela hesita.– Sei, é assim mesmo.– Parece que esperança não tem olhos, mamãe, é guiada pelas antenas.– Sei, continuei mais infeliz ainda.Ali ficamos, não sei quanto tempo olhando. Vigiando-a como se vigiava na Grécia ou em Roma o começo

de fogo do lar para que não apagasse.– Ela se esqueceu de que pode voar, mamãe, e pensa que só pode andar devagar assim.Andava mesmo devagar - estaria por acaso ferida? Ah não, senão de um modo ou de outro escorreria

sangue, tem sido sempre assim comigo.Foi então que farejando o mundo que é comível, saiu de trás de um quadro uma aranha. Não uma aranha,

mas me parecia “a” aranha. Andando pela sua teia invisível, parecia transladar-se maciamente no ar. Ela queria aesperança. Mas nós também queríamos e, oh! Deus, queríamos menos que comê-la. Meu filho foi buscar a vassoura.Eu disse francamente, confusa, sem saber se chegara infelizmente a hora certa de perder a esperança:

– É que não se mata aranha, me disseram que traz sorte...– Mas ela vai esmigalhar a esperança! respondeu o menino com ferocidade.– Preciso falar com a empregada para limpar atrás dos quadros – falei sentindo a frase deslocada e ouvindo

o certo cansaço que havia na minha voz. Depois devaneei um pouco de como eu seria sucinta e misteriosa com aempregada: eu lhe diria apenas: você faz o favor de facilitar o caminho da esperança.

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w.re

vist

abul

a.co

m

“A palavra é o meu domínio sobre o mundo.”

Clarice Lispector

Agora você vai ler um texto de uma escritora já citada neste caderno. Aproveite!

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42LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

O menino, morta a aranha, fez um trocadilho com o inseto e a nossa esperança. Meu outro filho, que estava vendo televisão, ouviu e riude prazer. Não havia dúvida: a esperança pousara em casa, alma e corpo.

Mas como é bonito o inseto: mais pousa que vive, é um esqueletinho verde, e tem uma forma tão delicada que isso explica por que eu,que gosto de pegar nas coisas, nunca tentei pegá-la.

Uma vez, aliás, agora que me lembro, uma esperança bem menor que esta, pousara no meu braço. Não senti nada, de tão leve que era,foi só visualmente que tomei consciência de sua presença. Encabulei com a delicadeza. Eu não mexia o braço e pensei: “e essa agora? quedevo fazer?” Em verdade nada fiz. Fiquei extremamente quieta como se uma flor tivesse nascido em mim. Depois não me lembro mais o queaconteceu. E acho que não aconteceu nada.

LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

1 – A qual esperança a narradora se refere em “Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica que tantas vezes verifica-se ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre” ?

_________________________________________________________________________________________________________________

2 – Qual o sentido do trecho destacado “[...] esperança é coisa secreta e costuma pousar diretamente em mim, sem ninguém saber, e não

acima de minha cabeça numa parede” ?

_________________________________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________________________________

3 – Por que motivo um dos filhos da narradora disse que a esperança era burrinha?

________________________________________________________________________________________________________________

4 – Qual o sentido das aspas no termo destacado do trecho ‘Não uma aranha, mas me parecia “a” aranha’?

________________________________________________________________________________________________________________

5 – A que esperança(s) refere-se o trecho “Ela queria esperança. Mas nós também queríamos e, oh! Deus, queríamos menos que comê-la.”?

_________________________________________________________________________________________________________________

6 – Como a cronista descreve o inseto?

__________________________________________________________________________________________________________________

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43LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Texto 34ESPERANÇA

Características - produzem som, e são ouvidas geralmente à noite. O som produzido pelas esperanças difere do dos grilos, pois parece um som

estridente e não musical. Já o canto dos grilos é musical. Possuem antenas longas e as fêmeas possuem o ovipositor longo e semelhante a uma

espada. Saltador de longas distâncias. Antenas mais longas que o corpo. Coloração, normalmente, verde. [...]

Habitat - zonas rurais e urbanas, em áreas abertas ou em matas.

Ocorrência - em todo o Brasil.

Hábitos - noturnos. Imitam folhas secas. A simulação chega a um tal grau de perfeição que as "folhas" contêm lesões e recortes nas bordas, como

uma folha de verdade que foi roída ou atacada por fungos. Em certas esperanças, a imitação de folha é apenas a primeira defesa. Quando

descobertas, elas abrem as asas e assustam o predador com um clarão de cores.

Alimentação – Alimentam-se de diversas espécies de plantas. Durante todo o verão, as esperanças comem e crescem. [...]

Predadores naturais - pássaros, aves, primatas, lagartos, anfíbios.

Ameaças - destruição do habitat e agrotóxicos.

Adaptado de http://www.vivaterra.org.br/insetos_2.htmlAcesso em 12/10 /2011.

Glossário:Ovipositor - estrutura final do canal por onde são eliminados os ovos.

Identificar a finalidade do texto é pensar sobre a sua intencionalidade. Para que ele foi escrito? Para que ele é utilizado na sociedade? Qual o seu propósitocomunicativo? Um texto pode ter a finalidade de informar, narrar um acontecimento, convencer alguém de uma ideia, divulgar um produto, divertir, contar umahistória...

Assunto TEXTO 33 TEXTO 34

Linguagem

Finalidade

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44LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

Os próximos textos são trechos de um ROMANCE. O romance é outro gênero de base narrativa, como o conto. Podemos dizer queuma diferença essencial entre eles é que o conto possui somente um conflito gerador e o romance pode ter vários.

Fique atento, pois os textos são o PRÓLOGO – parte inicial , introdutória – e o EPÍLOGO – parte final, conclusão – de um romance.

Texto 35PRÓLOGOO menino e o homem

Quando chovia, no meu tempo de menino, a casa virava um festival de goteiras. Eram pingos do teto ensopando o soalho de todas as salas equartos. Seguia-se um corre-corre dos diabos, todo mundo levando e trazendo baldes, bacias, panelas, penicos e o que mais houvesse paraaparar a água que caía e para que os vazamentos não se transformassem numa inundação. Os mais velhos ficavam aborrecidos, eu nãoentendia a razão: aquilo era uma distração das mais excitantes.E me divertia a valer quando uma nova goteira aparecia, o pessoal correndo para lá e para cá, e esvaziando as vasilhas que transbordavam.Os diferentes ruídos das gotas d´água retinindo no vasilhame, acompanhados do som oco dos passos em atropelo nas tábuas largas do chão,formavam uma alegre melodia, às vezes enriquecida pelas sonoras pancadas do relógio de parede dando horas.Passado o temporal, meu pai subia ao forro da casa pelo alçapão, o mesmo que usávamos como entrada para a reunião da nossa sociedadesecreta. Depois de examinar o telhado, descia, aborrecido. Não conseguia descobrir sequer uma telha quebrada, por onde pudesse penetrartanta água da chuva, como invariavelmente acontecia. Um mistério a mais, naquela casa cheia de mistérios.[...]

EPÍLOGOO homem e o menino

Paro de escrever, levanto os olhos do papel para o relógio de parede: cinco horas. As sonoras pancadas começam a soar uma a uma, comoantigamente em nossa casa.É um relógio bem antigo. Foi do meu avô, depois do meu pai, hoje é meu e um dia será do meu filho. Seu tique-taque imperturbável meacompanha todas as horas de vigília o dia inteiro e noite adentro, segundo a segundo, do tempo vivido por mim. [...]Cansado de tantas recordações, afasto-me do relógio e caminho até a janela, olho para fora.Assombrado, em vez de ver os costumeiros edifícios, cujos fundos dão para o meu apartamento em Ipanema, o que eu vejo é uma mangueira─ a mangueira do quintal de minha casa, em Belo Horizonte. Vejo até uma manga amarelinha de tão madura, como aquela que um dia quis darpara a Mariana e por causa dela acabei matando uma rolinha. Daqui da minha janela posso avistar todo o quintal, como antigamente: a caixade areia que um dia transformei numa piscina, o bambuzal de onde parti para o meu primeiro voo. Volto-me para dentro e descubro que já nãoestou na sala cheia de estantes com livros do meu apartamento, mas no meu quarto de menino: a minha cama e a do Toninho, o armário decujo espelho um dia se destacou um menino igual a mim...

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45LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

1 – Qual a causa do corre-corre na casa do menino?______________________________________________________________________________________

2 – Qual o trecho do texto que nos deixa perceber que havia muitas goteiras?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3 – Como os mais velhos e o menino encaravam as goteiras da casa?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4 – Após ler o prólogo e o epílogo, responda quem é o narrador em cada uma das partes do romance: ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Saio para a sala. Vejo meus pais conversando de mãos dadas no sofá, como costumavam fazer todas as tardes,antes do jantar. Comovido, dirijo-me a eles:

─ Papai... Mamãe...Mas eles não me veem. Nem parecem ter-me ouvido, como se eu não existisse. Ganho o corredor, passo pela

copa onde o relógio está acabando de bater cinco horas. Atravesso a cozinha, vendo a Alzira a remexer em suaspanelas, sem tomar conhecimento da minha existência. Desço a escada para o quintal e dou com um garotinhoagachado junto às poças d´água da chuva que caiu há pouco, entretido com umas formigas. Dirijo-me a ele, e ficamosconversando algum tempo.

Depois me despeço e refaço todo o caminho de volta até o meu quarto. Vou à janela, olho para fora. O que vejoagora é a paisagem de sempre, o fundo dos edifícios voltados para mim, iluminados pelas luzes do entardecer emIpanema. Ouço o relógio soando a última pancada das cinco horas. Viro-me, e me vejo de novo no meu apartamento.

Caminho até a mesa, debruço-me sobre a máquina que abandonei há instantes. Leio as últimas palavras escritasno papel:

... Até desaparecer em direção ao infinito.Sento-me, e escrevo a única que falta:

FIMSABINO, Fernando. O menino no espelho. Rio de Janeiro: Record, 1998.

sine

stes

iar.b

logs

pot.c

om

PARA SABER MAIS...

O universo dos romances é tema

de um dos programas da série “Morde a Língua”,

produzida pela MultiRio.

O programa é: “Um mergulho no

espelho: romance”.Você não pode

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46LÍNGUA PORTUGUESA – 9.° ANO

5 – Um jogo de palavras foi utilizado em cada uma das partes para antecipar essa informação. Onde ocorre e como se dá o jogo de palavras?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6 – No trecho do epílogo “Cansado de tantas recordações, afasto-me do relógio e caminho até a janela, olho para fora.” A que se refere apalavra destacada?___________________________________________________________________________________________________________________

7 – Onde morou o narrador-personagem?__________________________________________________________________________________________________________________

8 – Da janela do seu apartamento, em Ipanema, o que o narrador-personagem imagina que vê e, depois do momento de recordação, o que vêrealmente?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9 – Que elementos são característicos desse quintal, na infância, em Belo Horizonte?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

10 – Que efeito causa no narrador suas lembranças da infância?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

11- Por que os pais do narrador-personagem e Alzira não o veem?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

12 – Ao longo do epílogo, podemos perceber, explicitamente, palavras que representam os estados físicos e emocionais do narrador. Localize etranscreva essas palavras.___________________________________________________________________________________________________________________

13 – Que elemento do apartamento do narrador, em Ipanema, proporciona a viagem ao passado e o retorno ao presente?___________________________________________________________________________________________________________________

Até o próximo bimestre!!

Page 48: LÍNGUA PORTUGUESA – 9. ANOdiga a verdade, quem sou eu? Se às vezes me estilhaço, se às vezes viro mil, se quero mudar o mundo, se quero mudar o rosto, se tenho sempre na boca

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