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[email protected] @jornallona lona.up.com.br O único jornal-laboratório DIÁRIO do Brasil Ano XII - Número 634 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo Profissão: profes- sor. Os jovens que buscam a carreira, suas dificuldades e sonhos Pág. 4 e 5 Coluna Especial Conferência expõe preocupações com desenvolvimento sustentável Fábio Muniz As novas ferramen- tas de divulgação musical e a força da internet Kakané Porã: o retra- to da primeira aldeia indígena urbana do Sul do país Pág. 8 Retrato Nesta última semana, Curitiba recebeu a Conferência Internacional de Cidades Inova- doras (CICI), evento que contou com palestrantes dos cinco continentes do mundo. Fritjof Capra, físico austríaco, enfatizou a necessidade de combinar o conhecimento ecológico com a participação direta da democracia. Pág. 3 Análise do seriado global “Divã” e as virtudes de Lilian Cabral Pág. 6 Curitiba, segunda-feira, 23 de maio de 2011

LONA 634 - 23.05.11

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Jornal-Laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo.

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Curitiba, segunda-feira, 23 de maio de 2011

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lona.up.com.br

O único jornal-laboratório

DIÁRIOdo Brasil

Ano XII - Número 634Jornal-Laboratório do Curso de

Jornalismo da Universidade Positivo

Profi ssão: profes-sor. Os jovens que buscam a carreira, suas difi culdades e sonhos

Pág. 4 e 5

Coluna

Especial

Conferência expõe preocupações com desenvolvimento sustentável

Fábio Muniz

As novas ferramen-tas de divulgação musical e a força da internet

Kakané Porã: o retra-to da primeira aldeia indígena urbana do Sul do país

Pág. 8

Retrato

Nesta última semana, Curitiba recebeu a Conferência Internacional de Cidades Inova-doras (CICI), evento que contou com palestrantes dos cinco continentes do mundo. Fritjof Capra, físico austríaco, enfatizou a necessidade de combinar o conhecimento ecológico com a participação direta da democracia.

Pág. 3

Análise do seriado global “Divã” e as virtudes de Lilian Cabral

Pág. 6

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Expediente

Reitor José Pio Martins

Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto

Pró-Reitora de Graduação Marcia Sebastiani

Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Bruno Fernandes

Coordenação dos Cursos de Comunicação SocialAndré Tezza Consentino

Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira

Professores-orientadores Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima

Editores-chefes Daniel Zanella, Laura Bordin, Priscila Schip

O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universi-dade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 -

Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba -PR CEP 81280-30

Fone: (41) 3317-3044.

EditorialNessas três semanas de edi-

ções diárias do Lona, tivemos um panorama bem interessan-te dos desafios de produzir jor-nalismo impresso.

Das matérias factuais do dia, algumas com problemas de fontes, outras com insufici-ência de produção, passando por matérias especiais com pouca profundidade de análi-se, tivemos contato com uma série de percalços e dilemas.

Se os percalços são até ne-cessários e muito úteis em nos-so processo universitário - não podemos esquecer que somos um jornal-laboratório e que as falhas encaixam-se em um pro-cesso pedagógico - alguns di-lemas são bem mais complexos de administrar.

Um dos pontos que mais suscitam polêmicas no dia a dia do jornal é a diagramação das matérias enviadas pelos nossos companheiros de curso.

O material que publicamos obedece, geralmente, uma or-dem pré-estabelecida e agen-dada com os professores das disciplinas de Jornalismo Grá-fico e,são entregues dentro de normas básicas de publicação.

Alguns problemas aconte-cem nessa etapa, já que bus-

camos adaptar o material ao conjunto da nossa edição e ao nosso padrão de diagrama-ção geral, muitas vezes, cri-térios mais subjetivos do que definitivos: são jogos de cores que são mudados, textos que são revisados, fotografias que não se encaixam num padrão de publicação adequado. Pa-rêntese: estamos buscando ao máximo não publicar mate-rial de divulgação - haja vista que não existe tecnicamente material de divulgação, al-guém tem direito autoral so-bre a fotografia - entre outras rusgas que sobressaem após cada edição.

O que queremos dizer com todas essas constatações é que integrar a equipe de edição do Lona é uma tarefa compli-cada e, ao mesmo tempo, ex-tremamente proveitosa. Ter a oportunidade de receber críti-cas, sugestões e análise de um ombudsman a cada semana está sendo um grande apren-dizado para toda a equipe e cremos que para todos que acompanham o Lona diaria-mente.

Na busca por um jornal plural e bom de ler.

Boa leitura a todos.

Os tricolores precisam acreditarLuiz Fernandes

Opinião

Estive lendo no site Futebol Interior o Guia do Brasileirão da Série B 2011. Li e vi todas as escalações e contratações dos clubes e cheguei a uma cons-tatação: o Paraná Clube vai brigar pelo acesso neste ano.

Confesso que pensei mui-to sobre a situação do clube que acabou de ser rebaixado no Campeonato Paranaense. Mas digo isso com convicção, analisando alguns elementos: o nivelamento das equipes, as contratações dos outros clubes e principalmente as do Paraná.

Só para relembrar, o time fraco que rebaixou o Paraná esteve em campo somente no 1° turno. Depois disso, a di-retoria foi atrás de reforços, e mesmo não conseguindo salvar o tricolor, apresentou um elenco mais competitivo.

Começo pelo gol. Zé Car-los, antes no Avaí, voltou para

ser o grande goleiro que foi no Paraná em 2009. Será essencial nessa caminhada. Foi também buscar em São Paulo os zaguei-ros Cris, Paulo Mirando e Ama-rildo, muito bons jogadores.

Já aqui mesmo no estado, trouxe três destaques do esta-dual: Lisa, Cambará e Gian-carlo. Uma lateral, volante e um atacante. Além deles, Welington e Thiago Santos, dois meias, também contri-buirão muito para o tricolor.

E não nos esqueçamos dos que aqui ficaram, como o bom atacante Léo, Kelvin, Diego, o lateral esquerdo Henrique (atualmente na reserva, mas que logo recuperará sua po-sição) e a presença de Ker-lon, que se tiver menos lesões, será de extrema importância.

Esse elenco me enche de es-peranças em um bom campeo-nato. Porém, acho que o clube

tem ainda tem que buscar três objetivos: o primeiro é tentar repatriar o meia Ricardinho, para ser o maestro desse time.

O segundo é manter a base e não perder jogadores, buscar sempre se reforçar. Quando era líder em 2010, acabou tendo os salários atrasados, perdeu jo-gadores e despencou na tabela. Erros primários como esses, não podem acontecer novamente.

O terceiro e mais importante é trazer o torcedor para a Vila. Sei que o momento vivido não é dos melhores, mas promoções para a torcida lotar o estádio precisam acontecem. Vencer em casa é primordial para buscar o acesso.

Analisando as outras equipes, nada muito diferente. Clubes do mesmo nível, com uma leve pre-ferencia por Goiás, Vitória e Sport. Por isso, acho que é hora de acre-ditar, pois o Paraná pode sim vol-tar a Série A do futebol Brasileiro.

neste dia, boa abordagem de um tema a princípio bastante no inverno – a alimentação.Na terça, dia 17, chamou a atenção a matéria sobre o Lupaluna. Pareceu-me uma cobertura um tanto quan-to deslumbrada do evento, algo até compreensível em uma cidade extremamente carente de grandes shows e festivais por falta de espaço. A matéria especial sobre a camisinha foi criativa, porém pecou ao referenciar infor-mações. Termos como “uma pesquisa feita com jovens” são vagos e demonstram falta de informação (o que, muitas vezes, pode não ser o que realmente aconteceu).

Primorosa a edição de quarta, dia 18. Ótima matéria sobre a viagem a Buenos Ai-res, envolvente, explicativa e criativa. Além disso, os diver-sos olhares sobre os artistas de rua derrubaram meu pre-conceito ao ler o título. Ima-ginei que seria mais daquelas matérias falando sobre como viver com arte na rua, mas o texto foi muito além disso.

A matéria especial de quinta, dia 19, foi a melhor da semana. Nunca é demais falar sobre a magia de con-

OMBUDSMAN

Uma grande evoluçãoPor Ana Mira, jornalista e professora

tar histórias, principalmente a um público que cada vez mais conta suas aventuras em 140 caracteres. Pertinen-te a pauta sobre dificuldades dos calouros ao entrarem na faculdade, porém, com pou-ca contribuição no quesito informação. A quinta teve, ainda, uma bela matéria so-bre meninos que fazem ballet.

Na sexta, 20, para fechar a semana, o LONA, ao publicar a entrevista com Ratinho Jr., soube pensar no seu público e explorou o que havia de mais importante na conversa: a ne-cessidade de descobrir novos líderes na política. Além dis-so, o perfil emocionante de um ex-alcoólatra, que demons-trou a sensibilidade – e não deslumbramento – do pró-prio repórter com a história.

Destaque merecido tam-bém aos textos opinativos da semana, especialmen-te “Mas e aqueles caras?” (16/5), “É hora de metalin-guagem, sim” (19/5) e a colu-na Internacional do dia 20/5.

Senti falta do assunto do momento: a inflação. No en-tanto, isso não tira a compe-tência e a inegável evolução no conteúdo produzido para o LONA neste ano de 2011.

Não acompanho o LONA há tanto tempo quanto outros professores da Universidade, mas, com certeza, percebo o salto de qualidade no jornal, em 2011. As discussões so-bre público, linha editorial e sobre qual jornal gostaría-mos realmente de fazer pare-cem, finalmente, estar refle-tidas nas páginas do LONA.

Como ombudsman desta semana, divido minha análise no âmbito macro e micro da produção. No âmbito macro, ponto para o jornal no que diz respeito à escolha das pautas e adequação ao seu público. No entanto, peca ainda na questão gráfica, principal-mente com mau aproveita-mento das páginas centrais que podem ser em 4 cores.

No âmbito micro, acho per-tinente destacar algumas con-siderações sobre cada edição da semana. Na segunda, dia 16 de maio, uma falha na ma-téria sobre a Feiarte, ao usar assessor de imprensa como fonte – o erro é lição básica para quem vai depender de assessorias em 99,9% do seu tempo como jornalista. Ainda

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EVENTO 3

Em busca do desenvolvi-mento sustentável, a confe-rência foi palco de inúmeras discussões sobre o futuro das cidades e trouxe temas de im-portância ambiental e tecnoló-gica para os grandes centros urbanos. O arquiteto e urba-nista Jaime Lerner fez um pa-norama das cidades, segundo ele uma cidade sem sonhos não pode ser inovadora. Além disso, ressaltou que a palavra sustentabilidade não é bem entendida pela maioria das pessoas que acabam simplifi-cando ou não sabendo o que fazer a respeito do assunto.

As Redes de Desen-volvimento Local de Curitiba e Região Metro-politana apresentaram o pro-grama de formação de agen-tes e o impacto desse trabalho nos bairros da cidade e RMC.

O programa, que visa for-mar e capacitar universitários, principalmente da área de hu-manas, em líderes mobilizado-res nas comunidades, mostrou que é auto-multiplicador, pois distribui o conhecimento das redes entre a sociedade. Para a agente de Colombo, Dalila Hennel, as redes têm contribu-ído para que as pessoas se tor-nem protagonistas na socieda-de. “Cidadania é a palavra que expressa melhor o trabalho das redes. As pessoas come-çam a ver que têm um papel importante e que podem fazer algo para promover mudan-ças em suas próprias locali-dades”. Completa a estudante de Ciências Sociais da UFPR.

Um debate entre Augus-to de Franco e Parag Khanna apresentou o tema ‘Reflo-rescimento das Cidades ‘, o destaque foi para o papel das cidades e suas mudanças no

cenário mundial, a importân-cia do potencial humano na contribuição de uma cidade auto-organizada e protago-nista nas relações mundiais.

O físico Fritof Capra re-sumiu bem o enfoque do evento em sua palestra na quinta-feira (19). “Precisa-mos ensinar crianças, jovens, líderes, empreendedores e políticos a habilidade crítica com relação ao ecossistema”. O físico afirmou ainda que é preciso combinar o conheci-mento ecológico com a parti-cipação direta da democracia.

Que modelos biológicos do ecossistema são exemplos de organização - trabalham em rede em um sistema de cooperação. Falou também que as redes não são estrutu-ras lineares, são modelos de relacionamento, e, portanto, conceituais. Com o tempo, os seres humanos se dividiram, deixaram de agir em comuni-dade. A chave para a mudan-ça é o relacionamento entre os sistemas e o meio ambiente, disse Capra. Em outras pala-vras, o austríaco ressaltou a importância de nos manter-mos conectados localmente, pensando sempre num mun-do globalizado, sendo que cada parte tem sua caracterís-tica que não pode ser redu-zida nem igualada ao todo, e, sustentabilidade ecológica é o que tem de mais impor-tante a se pensar atualmente.

Educação na América Latina

Representantes de diversas cidades do continente mostra-ram a situação do ensino em suas localidades. No segundo dia da CICI diversos estran-geiros estavam presentes, tan-to para assistir quanto para pa-lestrar. Dentre esses últimos, estavam os representantes de várias cidades da América Latina, que vieram apresentar

Conferência Internacional de Cidades Inovadoras discute desenvolvimento sustentávelCuritiba recebeu na última semana a Conferência Internacional de Cidades Inovadoras (CICI), palestrantes dos cinco continentes estiveram presentes na edição de 2011

Ehnaeull E. G. Gonçalves Luzimary Cavalheiro

“Com o tempo, os seres huma-

nos se dividiram, deixaram de agir

em comunidade. A chave para a mu-dança é o relacio-namento entre os sistemas e o meio

ambiente”.

Fritjof Capra

as iniciativas de educação de suas localidades. Da Colôm-bia até a Argentina, passando pelo interior paulista, foram muitas as contribuições mú-tuas entre os que discursaram.

A secretária de educação do Atlântico, Lilian Ogliastri, mostrou os avanços no ensi-no em várias cidades colom-bianas. O destaque foi dado para o aparato tecnológico educativo, que alavancou con-sideravelmente a educação. Já reconhecida internacional-mente pelo seu trabalho na área, ela destacou a impor-tância da especialização dos profissionais do ensino, para que possam saber usar didati-camente os novos equipamen-tos. “É necessária uma for-mação sólida, para beneficiar alunos e professores”, coloca.

A mesma ideia é compar-tilhada pelo representante do município argentino de Rafae-la, Marcelo Sanches. De acor-do com ele, essa capacitação é o motor para o avanço da

educação. No caso da cida-de, houveram aulas especiais com o objetivo de orientar os docentes sobre a utilização dos instrumentos digitais de

aprendizado. Os pais dos alu-nos também foram conscien-tizados sobre o material. “A tecnologia propicia uma opor-

tunidade única para nossa educação”, concluiu Marcelo.

Por parte das cidades brasileiras, São Caetano do Sul esteve presente. Maris-tela Alcântara, diretora do Centro Digital do município, exibiu os projetos da localida-de. Com o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, São Caetano do Sul tem grande investi-mento em educação, com 36% dos professores pós-gradua-dos. Iniciativas como a Rede do Educador, método de en-sino a distância, são marcar da cidade. O Centro Digital, uma delas, surgiu para que os alunos pudessem ter edu-cação tecnológica de qualida-de, desenvolvendo também a produção e a criatividade. Tantos recursos não deixam de ser integrados ao currícu-lo escolar – o que se deve ao esclarecimento dos docentes. “Não é a tecnologia que vai guiar o processo, mas sim o professor”, afirma Maristela.

O físico austríaco Fritjof Capra palestrou no evento

Fábio Muniz

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Curitiba, segunda-feira, 23 de maio de 2011 4

Deputados federais do Norte e do Nordeste estão se articulando para a criação de pelo menos mais cinco esta-dos no país. Eles seriam gerados por subdivisões do Pará,

Piauí, Maranhão e Bahia.

Os dois nasceriam de divisões do Pará. A Câmara já aprovou a realização de um

plebiscito sobre o desmembramento.

Novos estados Carajás e Tapajós

EDUCAÇÃO

Quem quer ser um professor?Encontrar jovens que queiram seguir carreira de professor está mais difícil do que ganhar na loteria, mas ainda há os que se “aventuram”

Laura Beal BordinRotina difícil. Salários bai-

xíssimos. Alunos desinteres-sados. Falta de recursos. Estes são apenas alguns dos desafios que milhares de professores enfrentam todos os dias, em milhares de salas de aulas es-palhadas pelo Brasil inteiro. Se-gundo dados do Censo Escolar 2010, o país tem hoje cerca de 52 milhões de alunos matricu-lados na educação básica. São 200 mil escolas e 2,5 milhões professores de educação básica para atender a demanda edu-cacional brasileira. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), cerca de 40 mil vagas por ano são abertas para docentes. Com tantas dificulda-des e pouquíssimo reconheci-mento pelo trabalho que exer-cem, cada vez menos pessoas veem na docência uma opção de realização profissional.

Cada vez mais o trabalho do professor fica mais complexo, e o prestígio da profissão dimi-nui. Cada vez mais o abis-

mo entre a definição ideal de docência e a realidade da educação brasileira aumenta, e com ele aumentam também o desânimo e a frustração do pro-fissional.

Muitos veem a docência como uma vocação, uma habi-lidade inata. Outros acreditam que o professor tem um papel fundamental na transformação social. Mas, com a falta de po-líticas de formação do docen-te, precarização do trabalho, a massificação da educação, bai-xos salários, violência nas esco-las, e aumento de horas traba-lhadas, hoje em dia, quem quer fazer parte desta transformação?

Um levantamento realizado pela Fundação Vitor Civita em 2009, mostra uma queda do in-gresso de jovens em cursos de licenciatura. A pesquisa ouviu 1.051 alunos de ensino médio de 18 escolas brasileiras, deter-minadas por áreas de abran-gência regional e revelou que, no espaço de tempo de um ano, caiu cerca de 10% o número de estudantes que procuram as

licenciaturas. Além disso, den-tro destes cursos, há quem não pense em seguir a carreira de professor. É o caso da estudante de teatro Fernanda Caldas. Para ela, a licenciatura foi uma opção e não uma vocação. “Sempre gostei de teatro e na Faculdade de Artes do Paraná (FAP) temos a opção em bacharelado em ar-tes cênicas e licenciatura em teatro. Como eu sei que a vida de atriz não é fácil, pelo menos com o diploma em licenciatu-ra eu estaria mais protegida.” Para Fernanda, o profissional é muito cobrado e pouco re-compensado. “É bem difícil dar atenção, controlar toda a turma, às vezes ter que berrar pra ser ouvida. O professor não é valo-rizado, e o desgaste físico e psi-cológico é muito grande por um salário tão baixo.”

Dados da fundação Vitor Ci-vita mostram que, dos estudan-tes que ingressarão no ensino superior, apenas 2% indicaram um curso de pedagogia ou al-guma licenciatura como pri-meira opção. Quando se soma

o número de estudantes que indicam uma opção de cursos ligados a disciplinas da escola básica, como história, matemá-tica ou educação física (a mais comum entre os estudantes) sem explicitar um curso de li-cenciatura, este número cresce para 11%. Ainda assim, o total de estudantes que optaram por carreiras claramente desvincu-ladas do magistério é de 83%.

A pesquisa revela um dado ainda mais alarmante: dos estu-dantes entrevistados, 32% dis-seram já ter pensado em seguir a carreira de docente, mas de-sistiram devido à falta de condi-ções de trabalho. Os principais motivos das desistências destes alunos foram a baixa remune-ração, a falta de valorização social e a rotina desgastante. E de fato é. Para Josemary Mo-rastoni, coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Positivo, essa desvalorização é antiga. “De dez, quinze anos pra cá, a escola [e o professor] ficaram sobrecarregados. Foi uma mudança social”. Para Jo-

semary, o principal motivo para a desvalorização do professor é a falta de organização da ca-tegoria. “Não há na educação uma organização como se vê, por exemplo, no direito ou na engenharia”.

Segundo a coordenadora, o cenário ideal da educação e da docência no Brasil é valorizar mais o professor de educação infantil. “Hoje, a valorização do professor brasileiro funcio-na como uma pirâmide: valo-riza-se o professor de ensino superior, e se esquece do pro-fissional da educação infantil”, afirma. A pedagoga explica que, em países referência em educação, como a Finlândia, a pirâmide é ao contrário da do Brasil. “Na Finlândia, quem tem que ter mestrado, douto-rado, é o professor de educa-ção infantil. Uma inversão na valorização dos profissionais mudaria muita coisa. Não é a toa, que os alunos chegam no ensino superior e não sabem escrever. É tudo uma questão de base”.

Laura Beal Bordin

Fundação Victor CivitaATRATIVIDADE DA CARREIRA DOCENTE NO BRASIL

Relatório Premilimar, outubro de 2008

A coordenadora de pedagogia da UP, Josemary Morastoni

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Curitiba, segunda-feira, 23 de maio de 2011

Gurgueia, englobaria 87 municípios do Sul do Piauí. Já há projeto sobre a divisão na Câmara. E Maranhão do Sul abrangeria 49 municípios do Maranhão, também

há proposta sobre o tema em análise.

Gurgueia e Maranhão do SulO estado seria criado no oeste da

Bahia, com 35 municípios, já existe um projeto que deve formalizá-lo

nos próximos dias.

São Francisco

Laura Beal Bordin

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_____________________“

Cristopher faz a chamada, mesmo acreditando que este é só um artifício para obrigar os alunos a virem às aulas.

Cinco e meia da tarde. O tubo. A fila. O ônibus. Fazen-dinha/Tamandaré. Lotado. As pessoas. Empurrando. Sentar? Impossível. Uma hora. De pé. Apertado. Mais meia hora. Ainda de pé. Ainda apertado. Sete horas da noite. O toque do sinal indica que todos devem ir para suas salas de aula. Cris respira fundo, pega seu cader-no de presenças e se dirige a sala do primeiro ano do ensi-no médio. Cris é Cristopher Ramos, formado em Ciências Sociais pela Universidade Fe-deral do Paraná, professor de sociologia em uma escola pú-blica em Almirante Tamanda-ré. Formado desde julho de 2009, Cris sempre sentiu prazer em dar aulas. “Vocação? Não, não gosto da palavra vocação. Prefiro, hm... facilidade de ex-pressão.” Apesar desta faci-lidade, Cris não escolheu seu curso pensando em dar aulas. “Entrei na Universidade pen-sando em pesquisa, querendo ser um pesquisador. Ao longo dos anos fui sentindo que que-ria dar aulas. Levava jeito. Até substitui professores nas aulas da graduação. Gostava de estar lá, discutindo as teorias socio-lógicas com os alunos. Achava instigante.”

O peso da viagem de ôni-bus ainda o acompanha. Cris dá boa noite à turma e pega seu caderno de classe pra fazer chamada. “Odeio fazer chama-da, me sinto como se estivesse obrigando os alunos a estarem ali. E sei que a maioria está ali por obrigação. Nada mais que obrigação.” Cris tenta iniciar a aula. A turma é difícil, não se acalma. Hoje, a missão é fazer com que os alunos comprem um livro. Um livro de bolso, baratinho. A turma se agita. Não tenho dinheiro professor! “Tudo bem, nós podemos ti-rar um Xerox, sai muito mais

“Lecionar hoje não é viver, é sobreviver”Um dia na vida de um professor da rede pública

Cheguei prepara-do para mudar,

mas a escola não quer mudar a edu-

cação. Eu faço a minha parte, mas

uma andorinha não faz verão.

barato”, diz Cristopher. “Eles esperam que tudo deve chegar em suas mãos por meio do Es-tado. A escola mesmo os educa assim.”

A aula continua. Cris deve utilizar o livro didático, extre-mamente superficial. A classe divaga e ele se pergunta qual é o seu papel dentro da sala de aula. “Eu gosto de ser ativo, não gosto quando todos ficam de olhando. Sei que de 40 alu-nos, 6 estão entendendo o que estou falando.”

Cristopher conta como che-gou àquela sala de aula. “Eu fiz o Processo Seletivo Simpli-ficado, da Secretaria Estadual da Educação... dar aulas para ensino médio não era a minha primeira opção, mas precisava de um emprego para me sus-tentar e juntar dinheiro para minha pesquisa de campo no mestrado.” Cris começou a dar aulas de história em uma escola diferente, na mesma Al-mirante Tamandaré. “Muitos professores dão aulas que não correspondem a sua formação. Conheço um que é formado em

educação física e dá aulas de geografia, história, o que vier.”

Ele achou que dar aulas em escola pública ia ser muito di-ferente. “Achei que teria liber-

dade, que poderia fazer meus alunos pensarem, e não só reproduzir.” Encontrou uma realidade diferente. Uma rea-lidade que quer que os alunos passem de ano, que enfatiza números e não formação. “Eu acho que a falta de liberdade, de uma escola que esteja pre-ocupada com a formação do aluno cidadão é o que mais desmotiva. Cheguei prepara-do para mudar, mas a escola não quer mudar a educação. Eu faço a minha parte, mas uma andorinha não faz ve-rão.”

A aula continua e Cris se frustra em perceber quantos alunos estão ali forçados. Seja pelos pais, pelo mercado de trabalho, ou pela própria es-cola. Para ele, o professor não é mais um transformador da sociedade. É um mero instru-mento de estagnação. “A esco-la não quer mudar. Há muita política envolvida.” Cris conti-nua a aula, e a discussão sobre

o livro que o professor insiste que os alunos leiam. “Se eu pu-desse, eu compraria um livro para cada um. Mas e aí, como eu fico?”. Ele tem uma jornada de 21 horas por semana. É ape-nas pago por 20 delas. O salá-rio? Setecentos reais. “Se vale a pena? Em curto prazo eu diria que não. Mas penso, no meu futuro, no meu mestrado... aí vale.” E desabafa: “Hoje, lecio-nar é apenas sobreviver.”

Mesmo com tantos desa-fios, o professor não pretende largar a docência. “Assim que terminar meu mestrado, quero dar aula na universidade. Os alunos são mais interessados, têm um motivo maior para estar ali. Não é apenas uma obrigação social.” Esperan-ça na mudança da educação? “Sabe, quando eu era um dos alunos que sentava naquelas cadeiras sem um propósito so-fria muito. Não tinha motiva-ção”.

Quando Cristopher entrou

na Universidade encontrou a motivação, encontrou e enten-deu o propósito da educação. “Tudo o que quero é que meus alunos passem pelo o que eu passei”. Cris ainda não desis-tiu. “Posso não mudar a educa-ção, mas faço a minha parte”. Essa é a missão do professor. Com certeza seus quarenta alunos não mudarão a forma de ver o mundo. Mas se um mudar e se tornar um cidadão consciente, vale a pena.

O sinal toca outra vez. Ago-ra, dez e meia da noite. Cris dá boa noite à turma e segue para o ponto de ônibus. Fazendinha/Tamandaré. Dessa vez não tão lotado. O cansado é evidente, e quando Cris percebe, já está pró-ximo de casa. Lentamente, os ponteiros do relógio se juntam. Quase meia-noite. Agora é hora de descansar, por que amanhã as provas devem ser corrigidas e as notas fechadas. E a sociedade precisa ser transformada, pouco a pouco, aluno por aluno.

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Autopromoção

musical na internet

No divã

Milhares e milhares de ban-das desconhecidas disputando espaço na Internet. Como fazer para se destacar? Eis alguns fatores que podem ajudar.

Saber utilizar o Twitter é essencial. Se uma banda come-ça a tuitar coisas engraçadas, envolventes e inusitadas, seus seguidores começam a retuitá-la (o retweet é uma forma ex-tremamente simples e eficaz de propaganda, por mais que não pareça). Assim, os twe-ets dela chegam a um público que não a conhece e que torna-se potencial simpatizante do grupo. Daí ao tuiteiro curioso clicar em algum link e ir pa-rar na página do conjunto do Myspace, é um piscar de olhos.

Então chegamos a outro ponto importante: material de qualidade. A banda pode fazer o melhor trabalho de autopro-paganda do mundo mas pro-vavelmente não irá a lugar ne-nhum se não tiver músicas boas e bem gravadas disponibiliza-das em algum lugar na Inter-net (uma boa imagem também vale muito, mas isso pode ficar em segundo plano). Veja o caso do Homemade Blockbuster: o conjunto indie-rock curitibano botou apenas duas músicas em seu Myspace – ambas grava-ções caseiras mas com boa qua-lidade técnica, além de serem ótimas composições – e agora já vai longe, com shows pelo país afora e contrato assinado com um selo do Rio de Janeiro.

Mais um fator importante: sorte. E com esta é difícil lidar. Mas o caso é que se as pesso-as certas por algum motivo não passarem pela página da

Pense em uma mulher comum , na faixa dos 40 anos, com pro-blemas críveis – totalmente reais. Essa mulher é Lilia Cabral, ou me-lhor, Mercedes. A personagem de sucesso saiu do livro de Martha Medeiros, ganhou uma peça que foi montada por mais de 10 anos, um filme nacional de grande su-cesso, e agora chega à televisão na série escrita por Marcelo Saback e dirigida por José Alvarenga Jr.

Li em algum lugar, e repro-duzo, que Lilia Cabral é uma mulher tão simples, tão próxima, que a gente poderia chamá-la para tomar um café na esquina. Lilia já declarou que empres-tou muito dela para a Mercedes. Mercedes é uma personagem deliciosa, divertida, e que en-frenta os mais diversos proble-mas. Quem nunca viu ou pas-sou por situações como as dela?

“Divã” – o seriado – é um dos momentos raros de qualidade ex-trema da televisão brasileira nos últimos tempos. E isso acontece porque cada episódio é filmado como se fosse um filme, empres-tando da sétima arte linguagem e movimentos de câmeras ainda inexplorados na televisão. José Alvarenga Jr, por ter dirigido mais seriado do que novelas, também faz a diferença, já que ele não tem o vício da lingua-gem técnica de televisão – como close, super close – e outros en-

Música Televisão

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banda, ela também não sairá do lugar. E por pessoa “certa”, entenda-se qualquer tipo de pessoa que possa apaixonar-se pelo som e empolgar-se com ele já na primeira audição, e que esteja com disposição (esta depende do dia, do clima etc) para divulgar a banda por con-ta própria para os amigos, para a namorada, para o cachorro.

Junte-se tudo isso e você tem um produto infalível. Não há anonimato que resista a uma combinação de música boa, autopromoção certeira e acaso. O mais recente e incrí-vel caso é o de um grupo curi-tibano chamado A Banda Mais Bonita da Cidade: eles vinham trilhando um bom caminho ao disponibilizar registros de qua-lidade, ao fazer ótimos shows e ao utilizar com esperteza os recursos da Internet (com certa frequência eles fazem Twitca-ms para conversar diretamente com o público, por exemplo).

Mas de uma hora para outra um vídeo que a banda subiu no Youtube na última quarta virou febre. O clipe da música “Ora-ção” apresenta uma canção agradável e imagens extrema-mente felizes e emocionantes. Alguém publicou algum link; outra pessoa viu, gostou muito e divulgou outro link. O efeito foi viral e em poucas horas o cli-pe era assunto em incontáveis tweets e posts no Facebook. No dia seguinte, o vídeo já estava em blogs importantes e sites es-palhados pelo país. Em apenas dois dias e meio, foram mais de 350 mil views no Youtube.

Prova de que a combina-ção dos fatores funciona bem.

quadramentos tão comuns vistos a exaustão nas nossas novelas.

O texto de Marcelo Saback, por sua vez, é delicioso e une drama e comédia numa dose perfeita e não deixa nada a desejar em relação aos seriados americanos, bem di-ferente da atração que a antecede no horário, “Tapas & Beijos”, que é uma diversão fácil e popular.

“Divã” poderia ter corrido o risco pelo que muitos best-sellers passam ao serem adaptados para outras mídias: o esgotamento de assunto e o desinteresse pelo pú-blico. Felizmente, isso não aconte-ceu, porque Mercedes é uma mu-lher comum que tem problemas que todos nós temos. Ela lida com traição, se relaciona (sem querer) com o namorado da sua melhor amiga, e tem que aguentar a na-morada mais velha de seu filho.

Os conflitos são universais, mas as tônicas do texto e da dire-ção dão o brilho especial e único a esse seriado que, infelizmente, não terá vida longa. Amanhã vai ao ar o último episódio da pri-meira temporada. A curta dura-ção é explicada por dois motivos: o primeiro é o sistema de rodízio de seriados. E o segundo é que Lí-lia Cabral vai brilhar na próxima novela das 21h, “Fina Estampa”. Para você que não acompanhou, vale a pena dar uma olhada na última conversa que Merce-des terá com Lopes no divã.

Felipe Gollnick Willian Bressan@felipegollnick

Cursa o 3ºperíodo da manhã e publica seus textos no endereço: www.defenestrando.com,

@willian_bressan

Cursa o 5º período da manhã.

Divulgação

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Curitiba, segunda-feira, 23 de maio de 2011

O jovem que escolheu viver da luz

Amanda Queiroz

Nilo Biazzetto Neto. Um cara aparentemente muito novo, mas com uma grande história e experiência de vida. Quem olha para ele não diz que, por trás daquela barba por fazer e a aparência de moleque, existe um homem com muitos sonhos e ambições, e existiu um meni-no que traçou um destino para si e acreditou, sendo um verda-deiro empreendedor. Com ape-nas 36 anos, ele é o fundador e proprietário da maior e melhor escola de fotografia de Curitiba, a Portfólio, e é um dos mais re-quisitados profissionais na área. Como ele conseguiu? Com mui-ta força de vontade, mas princi-palmente, tendo amor pelo que faz. A história da vida de Nilo começou em Curitiba mesmo, cidade onde nasceu no dia 2 de março de 1975. Cresceu e começou a despertar interesse pela fotografia aos 19 anos, na faculdade, enquanto cursava Publicidade e Propaganda na PUC-PR. Formou-se em 1996 destinado a seguir a carreira de fotógrafo, e desde então passou a estudar fotografia e lingua-gem realizando diversos cursos em Curitiba e São Paulo. Dois anos após se formar,

empenhado a realizar seu so-nho, fundou a Portfolio, que hoje é uma das mais conceitu-adas escolas de fotografia do Brasil. Desde 1999, quando se especializou em fotografia pu-blicitária pelo SENAC-SP, atua no mercado nacional da área. Tem seu trabalho profissional direcionado para a fotografia de moda e gastronomia. Mas a paixão por viajar fez com que desenvolvesse um conceito próprio para sua fotografia: Liberdade Fotográfica, um dos cursos que Nilo mais gosta de lecionar. Mas seus projetos não pa-raram por aí, Nilo é um pro-fissional de grande currículo. Sua ambição o ajudou a cres-cer e conseguir trabalhos cada vez melhores. Na medida em que seus feitos iam ganhan-do maior importância, Nilo adquiria mais experiência no mercado. Em 1999, desenvol-veu o trabalho Paixão Rubro-Negra, quando fotografou a torcida do Atlético Paranaense por uma temporada, e realizou a exposição na Arena da Bai-xada, com 64 imagens e mais de 15.000 visitantes em 30 dias. Esse foi até então, um de seus maiores trabalhos, e um salto para a sua carreira.

Conforme ia sendo reco-nhecido, mais projetos impor-tantes surgiam. O ano de 2000 foi de muitas conquistas. Nesse ano, Nilo foi o fotógrafo da Ex-pedição às Terras do Sul, reali-zada pelo amigo e aventureiro, Mauro Rocha, uma viagem de 45 dias pelo interior de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que deu origem à exposição fotográfica Terras do Sul. Tam-bém idealizou e organizou a I Maratona Fotográfica de Curitiba, hoje um dos maiores eventos de fotografia do Brasil, que se repetiu pelos próximos anos. Em 2005, o evento teve o apoio da Lei Rouanet e recur-sos de patrocinadores. Em 2001 foi o fotógrafo en-viado especial do Clube Atlé-tico Paranaense, para cobrir o fechamento da Cápsula do Tempo. O projeto criado pelo The New York Times e pelo American Museum of Natural History, reuniu elementos da civilização do ano 2000, que fo-ram colocados em uma cápsula que será aberta apenas no ano 3000. A Camisa do Atlético, um disco de Tom Jobim e uma garrafa de água Ouro Fino, fo-ram alguns dos elementos do Brasil, incluídos na cápsula. O material fotográfico gerou uma

exposição e uma revista comemo-rativa. No ano se-guinte, participou da exposição fo-tográfica Coletiva Água, Fonte de Vida, que reuniu 19 Fotógrafos da Abrafoto e Du-plas de Criação de Agências de Pro-paganda do Para-ná, num grande evento cultural. Em 2003, recebeu, junto com a ami-ga e artista plás-tica Maria Regina Maluf, o Grand Prix Du Júri, no Concurso Inter-nacional de Arte

Nilo fotografando com sua lente preferida, a 50 mm de abertura 1.8.

Foto: Nilo Biazzetto N

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oda Fundação Domenico Chie-sa, na Basiléia, Suíça. Também no mesmo ano, inaugurou o Estúdio Portfolio, um espaço moderno de produção, projeta-do pelo irmão e arquiteto Guto Biazzetto. Em 2008, teve três imagens selecionadas entre as 51 finalistas da categoria cor do Premio Leica - Fotografe. Hoje, continua com os tra-balhos externos, mas seu foco principal é dar aulas. Dirige a Escola Portfolio e ministra cursos nas áreas de fotografia

de moda, gastronomia e foto publicitária, além do Curso Liberdade Fotográfica. Como fotógrafo comercial atua prin-cipalmente nas áreas de moda, gastronomia e retratos publi-citários. Além do trabalho co-mercial tem diversos projetos autorais em andamento. Nilo é para seus alunos, além de professor, um exemplo. Ele mostrou que não é impossível realizar os seus sonhos, só bas-ta ter força de vontade e não desistir. “O caminho pode ser sinuoso, mas que se encontra no final é extremamente gratifi-cante, é o que eu sempre digo”, comenta Nilo, que criou uma espécie de filosofia de vida. E há quem diga que a aula dele faz qualquer um se apaixonar por fotografia, pois ele ensina uma arte, e não um produto a ser comercializado. “Não tem uma pessoa que não sai dessa escola apaixona-da por fotografia. As aulas dele são demais, dá até pra ver que ele fala da profissão com um brilho nos olhos, ele realmente ama o que faz. Mas também, ele nasceu pra isso né, tira cada foto incrível” comenta a aluna do curso de Fotografia Avan-çada Publicitária, Juliana Batis-tella. Mas o mais gratificante ainda é para as filhas de Nilo. O pai conta que elas são novi-nhas, e que toda vez que estão com uma amiguinha diferen-te e passam por um outdoor do restaurante Madero, apon-tam e gritam cheias de orgu-lho: “Olha, meu pai que tirou aquela foto!”

PERFIL7

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Curitiba, segunda-feira, 23 de maio de 2011

Kakané Porã : As dificuldades de uma aldeia de concreto

Kakané Porã é a primeira aldeia urbana do sul do Brasil. No espaço cedido pela prefei-tura, vivem hoje 35 famílias de três etnias: caingangues, guaranis e descendentes de xetas. São 150 pessoas, sendo 40 crianças, morando em uma área de 44 mil metros quadra-dos, 9 mil metros quadrados de bosque, e área para culti-vo e reflorestamento. Antes disso, o grupo viveu por seis anos na Reserva Ecológica do Cambuí, próxima de São José dos Pinhais, local inóspito no qual muitos índios pereceram.

A moradora caingangue, Camila da Silva, conta que não havia o menor conforto na an-tiga aldeia. “Lá no Cambuí era horrível, muita gente morria por causa das péssimas con-dições. Não tínhamos casas, nem mesmo um banheiro para usar”, lembra. Durante esse tempo, o cacique Carlos Luis dos Santos e a ONG Aldeia Brasil travaram uma luta in-cessante para conseguir um lo-cal melhor para os indígenas. Oswaldo Eustáquio, presiden-te da Aldeia Brasil lembra das muitas reuniões com a pre-

A primeira aldeia urbana do sul do Brasil luta para preservar a cultura indígena

Dilcélia Queiroz

Dilcélia Queirozfeitura e a Cohab: “Algumas pessoas davam risada da gen-te. Achavam-nos sonhadores. Mas, mesmo assim, nunca pen-samos em desistir do projeto”.

Em 28 de novembro de 2008 os índios do Cambuí fo-ram transferidos para a aldeia urbana Kakané Porã, no bairro Campo do Santana, em Curi-tiba. Além de tirar os indíge-nas de áreas de risco, onde a maioria morava, a aldeia tam-bém facilita a manutenção da cultura indígena. Para o caci-que Carlos, a principal pre-ocupação dos moradores é a preservação da língua nativa: “Aqui dá para resgatar mui-tas coisas que estão perdidas, uma delas é a língua. Essa é a principal preocupação de nosso povo, passar nossa lín-gua para as crianças”, afirma.

A socióloga Eliane Basílio também acredita que a vivên-cia dos índios em meio urba-no contribui para a crescente perda de suas raízes culturais. “As condições oferecidas nas cidades para a população indígena são precárias, por isso temos que criar espaços adequados para eles. A im-portância da cultura indígena tem que ser destacada dentro da sociedade para que possa

ser valorizada e respeitada pelos brasileiros.”, explica.

Outro traço mantido pela aldeia é o trabalho com o arte-sanato. A maioria das mulhe-res confeccionam cestos que são vendidos em feiras. Já os homens trabalham nas indús-trias próximas ao local e as crianças estudam nos colégios da região do Tatuquara. Em

breve a aldeia ganhará um pro-fessor bilíngüe, responsável por ensinar as línguas nativas para os pequenos indígenas.

Kakané Porã, ou “fruto bom da terra” em guarani, tem um desafio pela frente, ser um ninho de disseminação da cultura indígena e não ser engolida pelos problemas da periferia da cidade, problema

que já acabou com muitas outras aldeias urbanas do Brasil. “A cultura indígena está na base da formação da identidade e da cul-tura brasileira. Defender essa diversidade cultural é uma maneira de resistir ao processo de dominação das grandes nações capi-talistas.”, reforça Eliane.

Dilcélia QueirozDilcélia Queiroz

As crianças de Kakané terão aulas de sua língua nativa

Na nova aldeia os indígenas lutam pela preservação de sua culturaAs construções em cimento possuem dois quartos, banheiro, cozinha e uma varanda.

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