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[email protected] @jornallona lona.up.com.br O único jornal-laboratório DIÁRIO do Brasil Ano XII - Número 661 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo Curitiba, terça-feira, 11 de outubro de 2011 Para estimular o crédito, o governo brasileiro vem reduzindo a taxa de juros, que atingiu em setembro sua menor cotação desde 1995. Mesmo com ações para estimular o consumo, a de- manda por crédito caiu, segundo estudo do Serasa. Segundo economistas, a crise financeira mundial faz com que a população seja mais cautelosa ao gastar dinheiro. Pág. 3 Governo reduz taxa de juros mas consumo não aumenta Fotografia As luzes oníricas da noite,porSofiaRicciardi Pág. 8 Caso Rafinha Bastos A polêmica piada de Rafinha Bastos e sua repercussão Pág. 4 e 5 Cinema A trajetória de Bob Dylan através da óti- ca de Martin Scorsese Pág. 7 Inclusão social A dificuldade social de compreender as pes- soas com deficiência Pág. 3

LONA 661 - 11/10/2011

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JORNAL-LABORATÓRIO DIÁRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO.

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Curitiba, terça-feira, 11 de outubro de 2011

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O único jornal-laboratório

DIÁRIOdo Brasil

Ano XII - Número 661Jornal-Laboratório do Curso de

Jornalismo da Universidade Positivo

Curitiba, terça-feira, 11 de outubro de 2011

Para estimular o crédito, o governo brasileiro vem reduzindo a taxa de juros, que atingiu em setembro sua menor cotação desde 1995. Mesmo com ações para estimular o consumo, a de-manda por crédito caiu, segundo estudo do Serasa. Segundo economistas, a crise fi nanceira mundial faz com que a população seja mais cautelosa ao gastar dinheiro.Pág. 3

Governo reduz taxa de juros mas consumo não aumenta

Fotografi a

As luzes oníricas da noite, por Sofia Ricciardi Pág. 8

Caso Rafi nha Bastos

A polêmica piada de Rafi nha Bastos e sua repercussãoPág. 4 e 5

Cinema

A trajetória de Bob Dylan através da óti-ca de Martin Scorsese Pág. 7

Inclusão social

A dificuldade social de compreender as pes-soas com deficiência Pág. 3

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Editorial

J

2 2 2

Expediente

Editorial

Reitor: José Pio Martins | Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração: Arno Gnoatto | Pró-Reitora Acadêmica: Marcia Sebastiani | Coordenação dos Cursos de Comunicação Social: André Tezza Con-sentino | Coordenadora do Curso de Jornalismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira | Professores-orientado-res: Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima | Editores-chefes: Daniel Zanella, Laura Beal Bordin, Priscila Schip

O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jorna-lismo da Universidade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 -Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba -PR CEP 81280-30 Fone: (41) 3317-3044.

Ombudsman

Para se tomar cuidado com as patrulhas ideo-lógicas e com o esquerdismo mais radical.

O filósofo francês Henry Bergson dizia que o humor é a quebra da lógica. Tim Maia dizia que o Brasil não pode dar certo. Um país onde prosti-tuta se apaixona, cafetão tem ciúmes e traficante se vicia... As melhores piadas de judeu são conta-das, geralmente, por judeus. Por Helena Kolody, a maior poetisa paranaense. E judia.

O caso Rafinha Bastos e a sua infame piada sobre a gravidez de Wanessa Camargo – que, consideremos, nunca teve tanta exposição, haja vista a relevância de sua obra musical – é exem-plar do ditado latino de boa causa, mas excesso nos modos.

Sim, a piada do jornalista e apresentador foi ruim, péssima, pode se argumentar, e desperta um sentimento de asco em diversas camadas so-ciais por se tratar de um tema considerado tabu, assim como incesto. Entretanto, a repercussão é desmedida e, exceto o próprio comediante, qua-se todas as outras partes envolvidas se compor-tam de modo fundamentalista, com ameaças de anunciantes, afastamento de Bastos do programa e execução pública de todo o seu trabalho como comediante.

É fato: o humor não existe para ser a favor. Humor de papagaio, de estações do ano, de pe-ruca, não serve para nada. É preferível um humor ruim e absurdo a um humor que seja a favor dos dominantes, um humor que não causa discussão, incapaz de alertar para as incongruências genera-lizadas que permeiam o nosso cotidiano.

Naturalmente, a piada de Rafinha Bastos não cumpre nenhuma função nobre. Entretanto, as críticas desiguais ao seu trabalho são repre-sentativas do espírito conformista às avessas. Quando as próprias ideologias são utilizadas como instrumento de censura – e de manuten-ção do status quo.

A função primordial do Lona é informar, mos-trar todos os espectros da informação, dialogar e promover o contraditório, até como projeto de contestação e questionamento da objetividade. A repercussão de um opinativo publicado na sema-na passada refletida nas páginas de nosso jornal de hoje é a prova contundente de que o impresso é o espaço do debate. Soltemos os cães violentos.

Uma boa leitura a todos

DrOps

DIRETRAN

Nova Secretaria A Diretoria de Trânsito de Curi-tiba (Diretran) será extinta e os servidores serão incorporados à Secretaria Municipal de Trânsi-to. A nova Secretaria deve ser criada a partir de janeiro de 2012. A Secretaria Municipal de Trânsito será responsável pela fiscalização e pela engenharia de tráfego na capital.

Ainda esse ano A Diretran continuará a ser ad-ministrada pela Urbanização de Curitiba S.A. até o fim de 2011.

Fim da DiretranO anúncio da extinção da Dire-tran ocorreu após o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) pu-blicar, em setembro deste ano, a sentença que impede que a Urbs de aplicar multas de trân-sito. Mas, apesar da decisão, os agentes da Diretran continuam autuando os motoristas nas ruas.

Prefeitura de CuritibaA assessoria de imprensa da prefeitura de Curitiba negou que a criação da secretaria te-nha relação com a decisão do TJ-PR. Segundo a prefeitura, a Secretaria Municipal de Trânsi-to surge para melhorar a fisca-lização do trânsito na capital e também por causa das mudan-ças viárias que ocorreram em Curitiba.

Decisão do TJ-PR sobre as multas O Tribunal de Justiça do Para-ná (TJ-PR) decidiu que a Urbs não poderia fiscalizar e multar no trânsito de Curitiba. A ação direta de inconstitucionalidade tramita na Justiça há 16 anos. O caso chegou a ser analisado pelo Supremo Tribunal Fede-ral (STF), que devolveu o caso ao Paraná sob o argumento de que a legislação municipal (e não federal) é que estava sendo questionada.

Mais uma semana daquelasJulius Nunes, jornalista e professor de jornalismo

Gosto bastante do Lona. Mas ainda noto muitos er-ros ortográficos, de concor-dância, acentuação, pontua-ção, diagramação. É preciso mais atenção quanto à fina-lização do jornal. No geral o periódico evolui com pautas interessantes, mas erra ao não publicar alguns assun-tos factuais.

Na reportagem de capa de terça: greves, assim como em diversas outras, os ge-rúndios imperam. Se pode-mos substituí-los, assim o façamos. A matéria merecia mais destaque, mais expli-cações e entrevistados, afi-nal é a matéria da capa. Os bancários já recebem PLR, o que eles querem é maior Participação nos Lucros e Resultados. A análise mais parece um artigo/crônica do que um texto analítico da situação. O perfil do Nelsão foi bem escrito, é curioso.

Na edição de quarta, na capa já temos um erro de concordância, o correto é “Dados... apontam o cres-cimento” e não “aponta”. Senti falta de dados do Pa-raná, de Curitiba, que é o que interessa ao público do Lona. A matéria sobre pri-meiro emprego ficou leve, mas ficou no comum. Qual a fonte da pesquisa mencio-nada? O site indicado não existe, o correto é meucurri-culum.com. Na reportagem do “Minha Casa, Minha Vida”, há erro no sobreno-me da presidenta: é Rousse-ff. O texto está bem escrito, mas dá pouco destaque ao que chamou no título, qual o motivo para o aumento no tamanho das residências? Muito bom o obituário do Jornal do Brasil.

Quinta-feira: boa estru-turação da edição. Matéria sobre Fruet foi destaque em todos os veículos e não poderia faltar. Texto sobre aborto ficou raso, poderia ter apresentado números e ouvido as duas opiniões. Nesta edição temos dois textos que tratam do abor-to, poderiam estar próximos e serem complementares. Muito boa a entrevista com o estudante de astronomia. Belíssima a página “Litera-tura”: ótimos textos e fotos. Bacana também o texto so-bre Inter 2.

Na edição de sexta senti falta de conteúdo factual. A matéria sobre o CONEF ficou interessante, mas re-pete informações. O Lona não publicou nada referente ao orçamento do Paraná em 2012, que vai aumentar os gastos na área de segurança pública, saúde e educação (assunto de destaque em to-dos os veículos e anunciado na quinta).

Fim de semana: na capa os textos na cor preta em cima da foto não dão boa leitura. Penso ser funda-mental divulgar as questões que envolvem a prática do jornalismo, como fizeram. Gostei bastante do tema, texto e diagramação da edi-toria “História”. Na matéria “a nova maneira de votar”, as declarações não estão bem ligadas às frases da re-pórter, há uso de, em vários momentos, “fulano nos con-ta”, o que evitamos, mas o ponto positivo foi a divul-gação da não necessidade de realizar o cadastro no mês do aniversário, como o TRE vinha divulgado.

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Curitiba, terça-feira, 11 de outubro de 2011

ECONOMIA

As taxas de juros voltaram a cair em setembro e representa-ram o menor nível desde 1995. De acordo com a pesquisa da Associação Nacional dos Exe-cutivos de Finanças, a Anefac divulgada nesta segunda-feira a taxa de juros média para pessoa física passou de 6,75% no mês de agosto para 6,69% no mês seguinte. Para o economista do Sindicato dos Economistas do Estado do Paraná, José Augus-to Soavinsky, as taxas de juros baixas são o resultado de uma ação do governo para proteger a moeda e manter o comércio em alta. “Com a queda do dólar, o governo brasileiro toma uma atitude para proteger o merca-do interno, que é consumidor”. Para Soavinsky, essa é uma ati-tude válida, já que a intenção do governo é que a população con-suma, e não poupe. “Com juros mais altos, a principal atitude das pessoas é poupar e é isso que o governo quer evitar”, diz o eco-nomista. Nas taxas de juros ana-

Caem taxa de juros e demanda por créditoA taxa de juros é a menor em 16 anos, mas o consumidor está cauteloso e com medo de se endividar

lisadas, a única que se manteve estável foi a do cartão de crédi-to, que ficou em 10,69% ao mês, as outras apresentaram queda.

Mesmo com os juros baixos, a demanda por crédito caiu no país. De acordo com o indicador da Serasa também divulgado nesta segunda-feira, a demanda do consumidor por crédito caiu 10,7% em setembro, em com-paração com agosto. Segundo José Augusto Soavinsky, as pessoas estão cautelosas e não querem gastar no momento, que é de crise no mundo. “Mes-mo com essa queda de juros, a Caixa Econômica Federal apre-

sentou um superávit na pou-pança, o que quer dizer que as pessoas continuam poupando”.

Para Soavinsky, o crédito muito alto também não é bom, pois causa inflação. “Mesmo es-timulando o consumo, é essen-cial que o governo combata esse bicho que é a inflação”, explica o economista. A diminuição da busca por crédito atingiu todas as faixas, mas a redução foi maior com consumidores com menor renda. Um comportamento que é considerado normal, já que em períodos de turbulências os con-sumidores de baixa renda não possuem reservas financeiras.

Laura Beal Bordin

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Marcos Monteiro

Caleidoscópio humanoSofia Ricciardi

De acordo com a Divisão de População das Nações Unidas, no fim de 2011 se-remos cerca de 7 bilhões de pessoas no mundo. Infeliz-mente, dentro desse número não podemos distinguir a quantidade de Pessoas com Deficiência (PCDs) em cada país. Em 2000, o IBGE esti-pulou através de uma amos-tragem que este grupo de pessoas equivalia a 15% da população brasileira, indo contra os grupos de inclusão social do país que garantem existir mais de 30 milhões de portadores de deficiência.

Essa pequena divergência

talvez seja uma das mais cla-ras provas de que é preciso alterar a nossa cultura. Como podemos exigir igualdade, se o nosso próprio Instituto de Estatística exclui um grupo tão importante para referên-cias nas áreas de saúde, in-clusão social e economia?

É possível que o erro este-ja na dificuldade de enxergar as contribuições deste grupo para o nosso dia-a-dia. A de-ficiência depende das con-dições oferecidas aos PCDs. São elas que determinam o grau de auxílio e dependên-cia. Algumas empresas já no-taram isso e aderiram um nú-mero ainda maior que a cota obrigatória de funcionários portadores de deficiência em suas equipes. Melhor ainda,

muitas empresas já notaram que oferecer espaços adequa-dos e materiais de trabalho condizentes com as capaci-tações, abre espaço para re-alizações de destaque dentro do ambiente de trabalho. Ou seja, basta que ofereça ao PCD, condições de trabalho adequadas, que todas as suas dificuldades serão desapare-cidas e então ele se tornará tão bom e tão competitivo quanto os demais.

No entanto, é preciso tra-balhar uma sociedade inteira. No Brasil, dentro e fora das empresas ainda há muitos desafios até que se compre-enda e se alcance a interde-pendência. Romper as idéias paralisantes que insiste em fazer com que todos falem

dos PCDs, sem falar com os PCDs. Ainda há certa resis-tência que impede que o gru-po faça parte das próprias decisões a serem tomadas por eles. Na Inglaterra, com todas as guerras presentes em sua história, o número de PCDs é enorme, ultrapassando as fronteiras do dia-a-dia e por isso é comum vê-los sozinhos fazendo todas as suas tarefas pela cidade, é comum vê-los assumindo cargos impor-tantes nas empresas, porque tudo é adaptado a todos. Há uma enorme participação da população para essa indepen-dência pessoal, de forma que não se veja mais diferença das atividades entre uns e outros.

Claro que isso tudo foi re-sultado de um longo período,

que modificou pensamentos, conceitos e culturas, mas como faremos para a popu-lação brasileira se conscienti-zar e mobilizar para mudan-ças, se o próprio IBGE não divulga exatamente quantos PCDs o Brasil possui? Acre-dito que seja preciso escanca-rar este número, para exibir o grupo que durante tanto tempo esteve oculto e que agora aparece para cobrar seu direito. Não aquele que sugere criações de cotas e bolsas assistenciais, mas o direito de acessibilidade e principalmente de ser dife-rente.

Em um país de tantas sin-gularidades, é preciso refletir mais sobre a nossa condição de gente no mundo.

INCLUSÃO SOCIAL

Taxa de jurosPara pessoa físicaComércio: 5,54%Cartão de crédito: 10,69%Cheque especial: 8,23%CDC (bancos): 2,24%Empréstimo pessoal (bancos): 4,47%Empréstimo pessoal (finan-ceiras): 8,94%Média: 6,69%

Para pessoa jurídicaCapital de giro: 2,79%Desconto de duplicatas: 3,09%Conta garantida: 6,02%Média: 3,97%

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Curitiba, terça-feira, 11 de outubro de 2011 4

POLÊMICA

Rafinha Bastos: desdobramentos de uma polêmicaPiada envolvendo Wanessa Camargo - e o seu futuro filho - traz à tona os limites do humor e a sua influência social

Marcelo FontineleDaniel Zanella

PerfilRafael Bastos Hocsman

nasceu em Porto Alegre, em 1976, família judaica. Jornal-ista e humorista. Tentou ser jogador profissional de bas-quete. Viajou aos Estados Unidos para investir na car-reira, ficando até os 25 anos. Largou as quadras. Nos EUA teve o primeiro contato com Stand-up Comedy. Atual-mente apresenta dois pro-gramas: “A Liga” e o “Custe o que Custar”, mais conhecido como CQC. Em 2010, A Liga foi eleito o melhor programa jornalístico pela APCA (Asso-ciação de Paulista de Críticos de Artes

Em março deste ano, Rafinha Bastos foi consid-erado pelo periódico norte-americano New York Times como a personalidade mais influente do twitter no mun-do. Seu perfil na rede social conta com mais de 3 milhões de seguidores.

Caso19 de setembro. Rafinha

Bastos é afastado do programa CQC, da Band, logo após a veiculação de uma matéria so-bre a gravidez de Wanessa Ca-margo. A piada: “Eu comeria ela e o bebê. Não tô nem aí”.

O comentário repercutiu tanto que a emissora acabou afastando o apresentador por tempo indeterminado e o seu futuro na emissora está indefinido. A emissora reaf-irmou a sua presença em A

Liga. Rafinha Bastos pode ser

tanto alvo de uma ação do Ministério Público de São Paulo – o senador Magno Mal-ta (PR-ES) anunciou a possibi-lidade em plenário na última quinta, mas na sexta-feira o MP paulista ainda não tinha uma posição a respeito – como de Wanessa e seu marido, o empresário Marcus Buaiz.

O comediante diz ainda não ter recebido nenhuma no-tificação.

Rafinha Bastos recente-mente fez uma brincadeira

sobre a aparência da popula-ção de Rondônia, o que gerou grande controvérsia. Sobre o assunto, o comediante disse em diversas entrevistas que recebeu 27 processos. Alega que ganhou todos, porque os processos vieram com foto em anexo...

Rafinha Bastos é casado e pai de um bebê.

Desdobramentos internosNa última quinta-feira, o

Lona publicou opinativo de Pedro Lemos, estudante de 4° de jornalismo da manhã

sobre o assunto.Nele, Lemos defende

Rafinha Bastos e alega que gostaria de viver em um mundo onde piadas fossem apenas piadas, e não consi-deradas apologia a crimes. Afirma que o comediante tem o direito de se expressar livremente.

Trecho: “Humor tem limites? Não.

Não tem limites se algo é en-graçado. Se não é engraçado, logo não é humor. Matemá-tica simples... Será que se a piada fosse feita com alguém

que não é famoso, teria tanta repercussão? Wanessa é can-tora, esposa do empresário Marcelo Buaiz, sócio de Ro-naldo Fenômeno, que cogi-tou a hipótese de tentar tirar anunciantes da Band”.

Lemos também se diz decepcionado com a condu-ta da Bandeirantes, pois ela sempre passou uma imagem positiva, afinal é a casa do stand-up comedy na televi-são aberta, mas sucumbiu à pressão popular e acabou por afastar Rafinha da bancada do CQC.

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Curitiba, terça-feira, 11 de outubro de 2011

Rir pra quê?Luma Bendini

Piada não tem limite. Entre argumentos e exem-plo, essa foi a ideia defen-dida por Pedro Lemos no seu opinativo publicado dia 6/10/2011 no LONA. Gostaria de propor um contraponto ao pensa-mento de Pedro: será que o riso justifica mesmo qualquer tipo de conteú-do?

Rir é sempre uma ques-tão de referência. Repare nas comédias stand up, por exemplo. Os temas cotidianos fazem a pla-teia gargalhar exatamen-te porque falam de algo comum a elas, próximo, conhecido. Nos palcos, esse cotidiano teatraliza-do, exagerado, gera o riso. Corri para o youtube, a procura de um exemplo para justificar isso e, sem demora, encontro um des-ses humoristas da moda fazendo um número sobre garçons e o peculiar ges-tual com o qual os clien-tes se comunicam com eles nos restaurantes. Na platéia, as pessoas riem a cada ponto final como que dizendo: “Sim, é bem as-sim que acontece”. Rindo de si mesmo, como que numa pequena reflexão de como as coisas simples da vida são cômicas, risí-veis.

E essa é o grande trun-fo da comédia: fazer o pú-blico rir de si mesmo, dos seus erros. Há tempos os

grandes gênios desse gê-nero nos ensinam isso. Joe Jackson, George Carl e o próprio Chaplin, usaram a si mesmo para produzir o riso. E este é o grande trun-fo da comédia: você ri do palhaço e rindo dele ri de si mesmo, ri de suas próprias práticas.

Hoje, porém, por uma inversão típica da contem-poraneidade, os humoris-tas estão apontando no pú-blico o motivo da risada. A comédia está na falha do outro, na atitude do outro e não mais no próprio ator. E aí que mora o perigo: fá-cil legitimar estereótipos e preconceitos quando você aponta no outro o erro, o desconcerto.

Retomando o raciocínio de Lemos, fazer “apologia” ao racismo ou à pedofilia é simplesmente usar de refe-rências que historicamen-te legitimaram esses tipos de preconceito. Ou então, porque riríamos da tal pia-da d’Os Trapalhões se em nossa memória o negro não tivesse uma construção de preconceito e inferiorida-de? Para além do politica-mente correto, é preciso repensar no conteúdo do risível, com o que está sen-do produzido o riso. Caso contrário, vamos continu-ar reproduzindo, por um meio aparentemente ino-cente, violência e desigual-dades.

Impor limites a quem julgaHumberto Frasson

Mamãe já dizia: “Em boca fechada não entra mosqui-to”. Além deste, há milhões de outros ditados a respeito da moralidade de quem fala. O que não há em bom nú-mero por aí são ditados ou ensinamentos a respeito de quem julga. Opa! Lembrei-me de um: “Olhai o rabo em que sentas, antes de falar do rabo do vizinho”.

Antes de pensar em cer-to ou errado, pensemos no fato. O ator, comediante e apresentador Rafinha Bas-tos tentou fazer uma pia-da a respeito da tão bem-sucedida cantora, e filha de Zezé de Camargo, Wanessa Camargo. Não soou muito bem. Talvez a intenção tenha sido boa, mas a prática foi falha. Mas falha de quem? De quem fez ou de quem in-terpretou?

Ninguém colocou o mi-crofone na boca do apre-sentador e o perguntou o

que ele quis dizer. Nunca fizeram. De todas as outras piadas consideradas infames e mal intencionadas, todas passaram. E agora, quando o peso aumenta e os católicos se assustam, querem desen-terrar todos os pecados de quem não liga em ir para o inferno.

Lembre-se que Rafinha Bastos não foi afastado por exigência da população que-rendo mais moralidade e éti-ca no humor. Tampouco pelo posicionamento ortodoxo da emissora em que trabalha. O que bastou para afastar Bas-tos foi uma ligação e uma ameaça de Ronaldo Nazário em tirar alguns patrocínios do programa. Pois o marido da dita cantora é seu sócio. Dinheiro, não moral. Em um país que se leva a piada a sé-rio e o resto a gargalhadas, não se deve impor limites apenas ao julgado, mas tam-bém aos julgadores.

Festival de hipocrisiasAna Paula MiraJornalista e professora universitária

Num país que viveu tan-to tempo sob regime mili-tar e cuja democracia ainda é bastante insipiente, pare-ce natural a confusão entre bom senso e liberdade de expressão. Muito recente-mente, viu-se isso na Mar-cha da Maconha liberada pelo STF e no caso Bolso-naro. E, agora, vemos no-vamente no imbróglio em que se meteu o humorista Rafinha Bastos. O fato de a crítica ser tratada como uma violação à liberdade de expressão parece dar a qualquer um o direito de falar o que bem entende, sem levar em conta o mí-nimo respeito necessário e nenhum pingo de bom senso. Sempre acreditei que é nas brincadeirinhas ditas “inofensivas” que

se enraíza e se perpetua o preconceito. Se no seio de nossas famílias achamos graça de piadas racistas e sexistas, vamos crescer achando que o preconceito é digno de piada, e não de indignação. Rafinha exa-gerou. Muito. Mas não foi apenas no caso da Wanessa Camargo, que infelizmen-te só o “derrubou” porque mexeu com gente que tem grana e injeta dinheiro na Band. Ele exagerou antes, ao dizer que mulher feia tem que agradecer ao estu-prador; e exagerou quando insinuou, em uma “brinca-deirinha”, que bateria em mulher. Nesse festival de hipocrisias, preconceito é piada, Wanessa Camargo faz justiça, e desrespeito é só uma “cãibra” na língua.

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Curitiba, terça-feira, 11 de outubro de 2011

Uma seleção utópica, morou mano?

Brasil, meu Brasil bra-sileiro, terra de craques que sambam com a bola nos pés, que gingam mali-ciosamente entortando os adversários, encantando o mundo com seu futebol arte, sua classe em campo.

Saudades, né? Da épo-ca que víamos os jogos da seleção com alegria, von-tade, com a certeza que ve-ríamos o belo futebol e que não nos importávamos com o resultado, mas sim com o espetáculo proporciona-do pelo escrete canarinho.

Naquela época, distan-te época, que só vejo pelos vídeos no youtube, o Brasil tinha realmente craques, su-avam, davam o sangue pela seleção... igual hoje, né, ga-lera? Ok, brincadeira, hoje não vemos o suor dos joga-dores, talvez pelas moderni-dades dos uniformes, feitos sob medida para o corpo dos atletas que não os dei-xam transpirar, pura bale-la, queria ver eles jogarem com camisa de algodão e bola de couro e uma chutei-ra hiperpesada, além de um campo repleto de buracos parecido com os das várzeas.

Hoje, creio que nossos “queridos” atletas estão mais preocupados com em saber a quantidade de seguidores no twitter, em quantos “cur-tir” sua página do facebbok recebeu, mas jogar bola... Vixi! anda feio o negócio.

Esporte LITERATURA

Danilo Georgete Daniel Zanella

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@danilogeorgete

Cursa o 6º período da noite e publica seus textos no endereço tonaresenha.blogspot.com/

@jornalrelevo

Cursa 4° período da noite e publica seus textos no endereço letrasnumcanto.com.br

Manos do meu Brasil, dor-mir durante um jogo da sele-ção como aconteceu comigo na última sexta é inadmissí-vel. E sei que muitos outros torcedores fizeram o mes-mo. Levar pressão da Costa Rica, é brincadeira “mano”.

Hoje me pergunto: como pode um técnico entender menos do que nós meros tor-cedores? É óbvio que certos jogadores estão na seleção por interesse, nada contra, mas o Ralf na seleção é pia-da, Elias? Por favor Mano, acorde para o mundo, ligue pro Zagallo, Parreira, Feli-pão, Luxa, qualquer técnico, até mesmo o Roth pois ele tem uma Libertadores e você Mano, o título de maior ex-pressão é uma Copa do Brasil.

A seleção renovada do Mano é totalmente utópi-ca, não passa de plantel pra inglês ver, não saber usar as armas que tem em mãos. Abre os olhos é seleção, se-gue o lema do Muricy “Aqui é trabalho”. Se a carruagem continuar andando dessa forma é como o pentacam-peão Rivaldo falou sere-mos um fiasco em 2014.

Será utopia ou realidade? É a seleção canarinho reno-vada, no time dos micos do futebol mundial! Bom agora vou correr para o youtube e ver Pelé, Garrincha, Romário e os decentes técnicos que já treinaram nossa seleção por-que “mano” tá feio o negócio!

Para uma menina com uma flor

Poeta, diplomata, músico, compositor, dramaturgo, apre-ciador de uísque, charuto, nove casamentos, um dos maiores in-telectuais brasileiros do século XX: Vinicius de Moraes foi um dos mais versáteis personagens a atravessar a história cultural nacional.

Também um grande cronista. Antes: Toquinho, um dos

principais parceiros musicais do Poetinha, alcunha carinho-sa dada por seus amigos, conta uma história muito curiosa so-bre a personalidade de Vinicius. Certa vez, num ensaio em Ita-poã, depois de alguns tragos e cigarros, Vinicius sugeriu a To-quinho um projeto de álbum em que todos os principais cantores nacionais poderiam fazer uma música em homenagem a ele próprio. Naturalmente, a ideia não vingou.

Para uma menina com uma flor, coletânea de crônicas publicadas entre 1941 e 1966, principalmen-te as integrantes de sua popular coluna do Última Hora, editado

pela editora de José Olýmpio, é um atestado simbolista de vigor poético.

Depois da Guerra, a segunda crônica do livro, começa assim:

Depoisa da Guerra vão anscer lírios nas pedras, grandes lírios cor de sangue, belas rosas desmaiadas.

Sobre a morte do poeta e amigo Augusto Schmidt:

Ele era um poeta como quem se afoga. E ele morria em seu noturno aquário, esmagado pelo teto do infi-nito, náufrago de si mesmo.

São 55 crônicas, doces e le-ves como a sugestão de hori-zonte marítimo em um dia de calor. Humberto Werneck - ele próprio um grande cronista e ex-editor da Playboy, Werneck, o meu louvor - costuma definir um grande cronista, um crônica autêntico, da estirpe de um João do Rio e de um Rubem Braga, como um cronista puro-sangue.

Vinicius é uma cavalaria in-teira, sem arranques de força, já que estamos a falar de um ho-mem em espírito permanente de lirismo.

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Curitiba, terça-feira, 11 de outubro de 2011 7

CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA

Coração selvagemJornada ao sangue da canção através das lentes de Martin Scorsese

Los Angeles, dezembro de 1965.Jornalista: - Quantos músicos fazem música de protesto como você?Bob Dylan: - Quantos?Jornalista: - Sim.Bob Dylan: - Cerca de 136.Jornalista: - Cerca ou exatamente 136?Bob Dylan: - Ou são 136 ou são 142.

Quando Martin Scorsese, um dos mais icônicos e autorais cineastas norte-america-nos, decidiu documentar a trajetória de Bob Dylan, provavelmente sabia da densidade e enigmática personalidade de seu personagem.

As três horas e meia de “No Direction Home: Bob Dylan” (EUA, 2005) são uma crôni-ca e lapidar registro da intensidade e profun-didade de um dos maiores compositores da música popular do século XX. O filme aborda a carreira de Dylan entre 1961 e 1966, ano esse em que o cantor se acidentou de moto e aca-bou ficando mais de oito anos sem se apresen-tar em turnês, em uma espécie de retiro espiri-tual anti-mainstream. Em tempo: Bob Dylan ainda é vivo, seu último álbum é de 2009 – se chama Together Through Life, seu 33° disco de estúdio e 53° ao longo da carreira –, e neste

ano esteve cotado para receber o Nobel de Literatura, que é o prêmio milionário conce-dido todo ano por obscuros suecos. A láurea acabou concedida ao poeta local Tomas Tran-stomer.

Torna-se cada vez mais raro o encontro com pessoas que sabem narrar alguma coisa direito. É cada vez mais frequente espalhar-se em volta o embaraço quando se anuncia o desejo de ouvir uma história. É como se uma faculdade, que nos parecia inalienável, a mais garantida entre as coisas seguras, nos fosse re-tirada. Ou seja: a de trocar experiências.

Narrar histórias é sempre a arte de as continuar contando e esta se perde quando as histórias já não são mais retidas. Perde-se porque já não se tece e fia enquanto elas são escutadas. Quanto mais esquecido de si mesmo está quem escuta, tanto mais fundo se grava nele a coisa escutada.

Walter Benjamin

A narrativa escolhida por Scorsese para desvelar Bob Dylan é primorosa. O cineasta remonta todas as influências artísticas do músico e concilia a construção da sua carreira através da ótica de amigos, produtores, po-etas, levantando valioso material de arquivo, como apresentações, discursos e momentos

específicos das turnês mundiais. Seu olhar é de distanciamento e questionamento, na busca por um caminho de entendimento. E o não-entendimento é o fascínio maior.

No Direction Home é bem mais do que a soma de imagens raras e segredos de liquificador. É a entrega cinematográfica de um artista em sua totalidade intelectu-al, um personagem de si que sempre se ne-gou a pertencer a partidos, ideologias, co-modismos, um ideólogo à sua maneira que sempre negou a patrulha, desafiou a lógica de mercado e as expectativas de seus fãs. (Like a Rolling Stone, uma de suas princi-pais canções, tem mais de 50 versos e foi acusada por seus primeiros fãs de folk de se vender ao pop rock.)

“Nunca fui um artista que gostaria de ter sido um artista, um ser na multidão. Os artistas querem aplausos? Sim, sim e não. Depende do tipo de artista que você é. O que importa é estar em constante trans-formação. Querem respostas? Não as ten-ho. O que posso fazer?”

E assim está dita toda a doutrina de Bob Dylan, um coração selvagem em busca do inalcançável.

Daniel Zanella

Page 8: LONA 661 - 11/10/2011

Curitiba, terça-feira, 11 de outubro de 2011

ENSAIO FOTOGRÁFICO 8

Um dos principais redutos da cena musical al-ternativa de Curitiba, o James concentra caracterís-ticas e simbologias da noite. A noite como emanci-pação, ampliação de tons e sobretons, e busca por algo intangível.

A substância onírica da noiteFotos: Sofia Ricciardi Texto: Daniel Zanella