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1 LUCIANE CANESTRARO INDÚSTRIA E MEIO AMBIENTE NO PARANÁ (1994-1998) CURITIBA 2001

luciane canestraro · ... criando deste modo um excedente de mão de obra barata ... mercado consumidor desaparecera. ... os países exportadores de matéria-prima e produtos agrícolas,

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LUCIANE CANESTRARO

INDÚSTRIA E MEIO AMBIENTE NO PARANÁ (1994-1998)

CURITIBA 2001

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LUCIANE CANESTRARO

INDÚSTRIA E MEIO AMBIENTE NO PARANÁ (1994-1998)

Monografia apresentada à Disciplina de Estágio Supervisionado em Pesquisa Histórica como requisito parcial à conclusão do Curso de História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. Orientador: Profº Dennison de Oliveira

CURITIBA 2001

3

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................1

2 CENÁRIO INDUSTRIAL CONTEMPORÂNEO:

da Primeira Revolução Industrial à Crise de 29...........................................................3

2.1 AMÉRICA LATINA..................................................................................................... 6

2.2 O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO NO PARANÁ........................................12

3 O DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE, A GLOBALIZAÇÃO

DAS QUESTÕES AMBIENTAIS...............................................................................19

4 O PODER POLÍTICO DO GOVERNO ESTADUAL...............................................31

5 CONCLUSÃO................................................................................................................47

REFERÊNCIAS.................................................................................................................50

4

1 INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea vem dando progressiva importância para as questões

ambientais, produção de bens de consumo e a dinamização do mercado internacional.

Nesse contexto, indústria/meio ambiente produzem um debate complexo em torno desta

relação e suas questões problemáticas. Por um lado, a industrialização impulsiona o

desenvolvimento econômico e social, mesmo na proporções de maior ou menor escala da

industrialização entre os países.

Por outro, as preocupações ambientais estão voltadas ao esgotamento e a poluição

dos recursos naturais, principalmente os finitos e os não renováveis. Esta preocupação tem

sua razão de ser: o bem estar social. O equilíbrio da natureza tem influência direta sobre a

vida saudável da sociedade. Concomitante a estas questões estão as políticas públicas

nacionais e internacionais implementadas tanto para o meio ambiente como para o setor

industrial.

Portanto o objetivo desta pesquisa monográfica é analisar a luz do contexto

histórico, como o governo do Paraná no período 1994-1998 direcionou a política pública

no estado diante do embate: processo de industrialização e legislação ambiental. Os

subsídios para esta análise estarão permeados pela influência e importância política que os

governadores adquiriram, principalmente no processo de redemocratização do país.

A discussão do papel dos governadores de estado no processo político, conta com a

excelente obra de Abrucio1 que contribui para melhorar a compreensão do sistema político

brasileiro na relação entre a União, os estados e os municípios, e como se repercute essa

relação entre as instituições e práticas governamentais. Um dos pontos que faz parte do

1 ABRUCIO, F. L. Os barões da federação: os governadores e a redemocratização brasileira. São Paulo :

HUCITEC/Depto de Ciências Políticas, USP, 1988

5

conjunto da obra está em mostrar a importância decisiva dos governadores nos importantes

processos de mudanças ou a preservação de padrões políticos e institucionais. Outro

aspecto se traduz no poder que os governadores têm sobre as lideranças locais e até mesmo

sobres os outros poderes, como o Legislativo estadual, aliados no Congresso Federal e no

Judiciário. Desta forma irá “desvendar” quais são os recursos usados pelos governadores

para exercerem tal poder.

Partindo deste contexto, formularemos a hipótese de que o governo do Paraná no

período de 1994-98 “usa” da prática de controlar os órgãos fiscalizadores (Legislativo e

Judiciário) do executivo através da neutralização desses órgãos. O objetivo deste controle

estaria na pretensão de aprovação dos projetos do governo. No caso do período aqui

estudado, será enfocado o projeto de instalação da planta Renault do Brasil em São José

dos Pinhais.

Para se verificar as proposições pertinentes, a análise se dará mediante investigação

e avaliação das documentações advindas das discussões, das denúncias e ações impetradas

junto aos órgãos públicos de fiscalização do Executivo Estadual. A origem destas fontes

estão no Movimento Ambientalista, Partido Verde, Subcomissão de Meio Ambiente da

OAB-Paraná, Sindicato Estadual dos Servidores Públicos lotados e vinculados a Secretaria

da Agricultura e do Abastecimento e afins (SINDI/SEAB) e o Protocolo de Acordo

Renault – Estado do Paraná. Além da bibliografia pertinente ao estudo.

6

2 CENÁRIO INDUSTRIAL CONTEMPORÂNEO: DA PRIMEIRA REVOLUÇÃO

INDUSTRIAL À CRISE DE 29

A História Contemporânea tradicionalmente iniciou-se na segunda metade do

século XVIII, e convencionou-se atribuir a esse marco o ano de 1789. Século marcado por

profundas modificações no comportamento social, econômico e político, onde a sociedade

estava sendo forjada pela Revolução Industrial, além de outras revoluções que fizeram

parte do cenário do século XVIII, como a Revolução Francesa (1789), e a Revolução

Americana (1776), juntamente responsáveis pelas transformações que se processavam

tanto no projeto de uma classe social denominada Burguesia, como no mundo do trabalho

com o proletariado.

Mas enfocaremos principalmente a Revolução Industrial que incrementou o

aumento da produtividade em várias atividades relacionadas aos bens de consumo não

duráveis que passaram da produção artesanal e manufaturada para a industrializada, com

baixo custo para o consumidor.

A primeira nação a se industrializar foi a Inglaterra. Reuniu condições próprias

advindas de processos anteriores desde o século XV, como a erradicação das terras

comunais apropriadas cada vez mais pelos produtores de lã e de produtos agrícolas.

O século XVII é forjado na produtividade do setor agrícola, de uma economia local

com base em práticas capitalistas de técnicas produtivas, redução de mão de obra,

pagamento aos trabalhadores pelos serviços prestados e apropriação de terras, como por

exemplo a já citada diminuição de terras de uso comum.

Outro vetor que proporcionou a Revolução Industrial foi o constante crescimento

da população, somada a pobreza que generalizou-se nos campos, embora muitos

preferissem continuar neles. Houve uma intensa migração para as pequenas e grandes

7

cidades em busca de trabalho, criando deste modo um excedente de mão de obra barata

disponível para a indústria, dando início a uma sociedade industrial e urbana.

O desenvolvimento industrial proporcionou condições para o desenvolvimento

comercial, os países industrializados importavam matérias-primas e produtos agrícolas de

países agrários exportadores como os da América Latina, Ásia, África e Oceania, os quais

importavam seus produtos industrializados. A Grã-Bretanha torna-se o centro do

industrialismo e já a partir do século XIX exportava máquinas a vapor, carvão e material

ferroviário. A partir daí, o século XX nos idos de 1870 segue contagiante o processo de

industrialização em boa parte da Europa Ocidental e Estados Unidos.

O mundo viria a processar a Segunda e a Terceira Revolução Industrial. As

pesquisas, o desenvolvimento tecnológico e as transformações sociais não cessavam. O

Volume de produção industrial aumentava, a navegação a vapor trazia a matéria-prima de

todas as partes do mundo, e levava os bens de consumo processados pela industria aos

países importadores, incrementando a integração internacional. Novas técnicas

empreendidas nas minas da Europa aumentavam a produção de carvão e ferro e a

humanidade viria a conhecer o aço em 1856.

A partir de então a ciência e a tecnologia não cessam novas descobertas em prol de

uma progressiva introdução de técnicas e máquinas, que se generalizam por todas as partes

em maior ou menor escala. A indústria pôde contar com a introdução de motores movidos

a energia elétrica e a explosão, fazendo com que a indústria produzisse em maior

quantidade. Em 1906 com o aperfeiçoamento dessas novas conquistas da tecnologia o

homem já podia ver em maior circulação os automóveis, as motocicletas e os aviões.

Tivemos também a expansão dos transportes, tanto ferroviário como o marítimo,

que por sua vez promoveram a integração progressiva entre as várias partes do mundo.

Com isso, favorecendo a comercialização em escala mundial tanto de matéria-prima vinda

8

dos países primários exportadores, como os produtos manufaturados dos países

industrializados.

A terceira fase seria marcada pela informática, pela robótica e pela energia nuclear,

“causando uma outra modificação revolucionária na maneira pela qual os bens serão

produzidos, envolvendo a substituição do homem na fábrica pelo robô e outros

equipamentos automatizados”2

O desenvolvimento tecnológico, nos transportes, na produção de bens de consumo

duráveis e não-duráveis, nas comunicações e nos armamentos levou alguns países, que

participaram ativamente desse processo, a se tornarem potências mundiais (Inglaterra,

países da Europa e EUA). Atritos entre essas potências, decorreram de nacionalismos,

insatisfações, choques de interesses, que já vinham acontecendo desde o século XIX com a

insatisfação nacional na Europa dos desmandos do Congresso de Viena em 1815.

Princípios nacionais haviam sido sacrificados diante dos interesses das potências. Entre

estes e muitos outro fatores importantes, eclodiu a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

No pós-guerra a ruína dos países Europeus possibilitou a hegemonia dos EUA no

campo comercial e financeiro. As dívidas da I Guerra Mundial esvaziou os cofres europeus

devido as despesas de guerra, diminuindo assim as possibilidades de importações e

exportações desses países. Onde, segundo Hobsbawm3, (...) ”Os britânicos haviam perdido

cerca de um quarto de seus investimentos globais durante a guerra, sobretudo os aplicados

nos EUA, os quais tiveram de vender para comprar suprimentos de guerra; os franceses

perderam mais ou menos metade dos deles, em grande parte devido às revoluções e

colapsos na Europa. Enquanto isso os americanos, que tinham começado a guerra como

um país devedor, terminaram-na como o principal credor internacional” O crescimento

econômico dos EUA, favorecido durante a guerra e depois pela produção em massa e

2 KENNEDY, Paul. Preparando para o século XXI. Rio de Janeiro : Campus, 1993, p.82

9

ampliação das exportações para a Europa perdeu força devido o reerguimento da Europa e

o protecionismo que se generalizava, dificultando a troca de produtos. Deste modo o

mercado consumidor desaparecera. Desde então estava configurada a crise que teria o seu

auge de 1929 a 1932.

Outros importantes fatores políticos e econômicos desencadearam a Crise de 29,

mas não nos interessa aqui aprofundá-los. Nos deteremos um pouco mais na sua

repercussão na América Latina, e de que modo os países latinos reagiram frente as

dificuldades de importarem os produtos produzidos nos centros industriais.

2.1 AMÉRICA LATINA

Com a Crise mundial de 1929 os países da América Latina que tradicionalmente

eram exportadores de produtos agrícolas e matéria-prima, sentiram os efeitos na economia

com a baixa geral dos preços dos produtos que exportavam. Com as dificuldades que

imperavam nesse contexto de crise econômica mundial, houve uma queda na capacidade

dos países da América do Sul de importarem os produtos industrializados que não eram

produzidos ou tinham produção suficiente.

Diante da realidade, os países exportadores de matéria-prima e produtos agrícolas, -

dependentes da dinâmica do mercado internacional, que se encontra debilitado, e ainda

mais, diante do crescimento populacional urbano exigindo melhor organização no mercado

de trabalho e de mercadorias, da necessidade do desenvolvimento econômico e social, -

esses fatores traduziram-se no favorecimento ao fomento da industrialização dos bens de

consumo.

3 HOBSBAWM, Eric. Rumo ao abismo econômico. In : HOBSBAWM, Eric A era dos extremos. São

Paulo : Cia das Letras, 1998, p 101-102

10

Países como a Argentina, Brasil, Colômbia e México tiveram um crescimento

industrial considerável entre o período de 1930 e 1945, apesar da crise. No entanto, os

principais produtos de exportação da América Latina eram os decorrentes do extrativismo

e da agro industria, que como já dissemos tiveram seus preços reduzidos mais que os

manufaturados.

As dificuldades de importação e exportação em conseqüência da guerra e a crise de

29, pelos quais passavam as economias ditas periféricas, subdesenvolvidas, - pois assim

eram caracterizados os países que não haviam atingido um determinado nível de consumo

de bens e serviços, alimento, energia, alfabetização, renda equivalente a alguns países da

Europa e dos EUA – levou os economistas da Comissão Econômica para a América Latina

(CEPAL) a adotarem políticas econômicas voltadas ao setor de bens de produção. Seria o

fortalecimento de uma indústria nacional, isto é, o investimento interno na produção de

bens de consumo em substituição as importações.

Nesse momento o Estado da periferia capitalista terá participação e autonomia

relativa frente aos Estados capitalistas do centro (países que se tornaram potências

industrializadas como os EUA). Isso se dá com a ascensão da burguesia industrial no

aparelho de Estado para intervir nas regras de investimentos no setor de produção de bens

de equipamentos. Já nos anos 50 esse Estado vai assegurar o domínio do capital industrial

no processo de acumulo de capital e a entrada de investimentos estrangeiros para o

fomento da indústria

A experiência da Argentina é um bom exemplo na América Latina de como esse

país se configurou a partir de 29. Segundo Pierre Salama, a Argentina esboçou um reação

por parte da oligarquia exportadora que abarcou o poder em 1930, a fim de preservar as

posições e privilégios que seriam ameaçados se as camadas urbanas médias continuassem

no governo. Estabeleceu-se então uma aliança entre esta oligarquia e a burguesia industrial,

11

reagrupada em torno da União Industrial Argentina e dominada pelas firmas

multinacionais.

O Estado a partir daí, tentou garantir os privilégios desta aliança de classes. A

manutenção desses privilégios exigia uma submissão mais completa à Inglaterra em crise.

Mas, por outro lado, exigia também uma industrialização específica. Para não sofrer os

efeitos da crise, a aliança de classes que estava no poder levou o Estado a exercer uma

função anticrise. A realização deste projeto exigiu uma reorganização das condições de

exploração da força de trabalho. Para tanto, foi preciso estimular indiretamente a produção

industrial.

Esta industrialização, no entanto, não se realizou senão a partir do potencial

industrializante de uma economia de exportação. E é este fato que lhe deu sua

especificidade e também suas contradições. A aliança entre a oligarquia e a burguesia

submetida aos interesses estrangeiros encontrou, com efeito, vários obstáculos. O

desentendimento aconteceu entre o proletariado, a política da oligarquia, as camadas

urbanas médias e uma parte a burguesia industrial. Além de uma parte das forças armadas.

Esta oposição teve sua origem na necessidade de se alargar as funções do Estado.

Este deveria estimular a produção de equipamentos, e portanto, encorajar a produção do

setor metalúrgico. Sendo assim as funções exercidas pelo Estado alavancaram o

desenvolvimento acelerado da industrialização. No entanto entre 1930-1946 o Estado foi se

mostrando incapaz de enfrentar as exigências e contradições que suscitavam das camadas

sociais.

A entrada de Perón (1946) na presidência da Argentina foi baseada nestas

oposições. As respostas as contradições passaram pelo alargamento das funções do Estado

e uma nova reorganização das condições de produção e de exploração da força de trabalho.

E através de um governo populista a burguesia industrial se abarcou do aparelho de Estado

12

e de promover a industrialização.4

No Brasil mais especificamente na década de 50, entre 1956 e 1961 no governo de

Juscelino Kubitschek a característica principal da economia brasileira foi a consolidação da

industrialização. Nesse período se instala a indústria pesada, principalmente a

automobilística, a indústria de base ganha novo impulso e ainda há o desenvolvimento da

indústria da construção naval. Nesse período o forte da economia brasileira está na

produção e exportação agrícola e de matéria-prima, principalmente do café.

Mas a partir da década de 60 o ciclo cafeeiro começa a entrar em decadência devido

ao excesso de produção no país e nos demais países que o cultivavam, ocasionando assim o

excesso do produto no mercado interno e externo, o que acarretaria futuras baixas dos

preços. Já, na política de Juscelino Kubitschek o setor cafeeiro sofre nova medida, a de

confisco cambial dos lucros dos produtores com as exportações, além de sofrer com as

geadas no fim da década de 60 e metade da década de 705. No entanto o problema do café

não seria o único a ser enfrentado pelo governo.

Ao assumir a presidência Kubitschek encontra problemas de queda de taxas, crise

econômica - financeira advinda de uma estrutura de produção caótica, de desequilíbrios e

graves pontos de estrangulamento (interno e externo), além da contestação sobre a

legalidade de sua eleição e oposição radical. Sendo assim, orientará sua política econômica

para tentar resolver esses problemas. Atuará através do aumento das exportações,

valorização do café, e desenvolvimento industrial; investimento em infra-estrutura e

recursos de capital externo contra os pontos de estrangulamento (Programa de Metas6);

4 SALAMA, Pierre. Além de um falso debate: reflexões sobre a articulação dos Estados/Nação na América

Latina. In : PADIS, Pedro Calil (Org.) América Latina: cinqüenta anos de industrialização. São Paulo : HUCITEC, 1979, p.184-185

5 OLIVEIRA, Dennison. Urbanização e industrialização no Paraná. Inédito 6 Podemos encontrar explicações sobre o Plano de Metas do governo JK em BENEVIDES, Maria V. de M.

O governo Kubitschek: desenvolvimento econômico e estabilidade política 1956 – 1961. Rio de Janeiro : Paz e terra. 1976, p.210-220

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atuará também no controle da inflação com políticas de redução de gastos supérfluos,

seleção rigorosa dos investimentos (Programa de Metas).

Um dos pontos de sua política consiste na agregação da iniciativa privada,

principalmente a de capital e tecnologia estrangeira, para alavancar o processo de

substituição das importações com o fomento da industrialização do país. Isso será

estimulado com a intervenção do Estado como orientador desses investimentos através de

planejamento e poder de decisão do executivo. Como lembra Benevides (1976) sobre a

análise de Otávio Ianni, “durante o governo Kubitschek verificou-se o desenvolvimento de

mais uma etapa no processo de hipertrofia do Executivo... A manipulação dos ministérios,

autarquias, grupos executivos, empresas e conselhos, além de todos os instrumentos

regulares e excepcionais de política financeira, fiscal, tarifária, cambial e salarial

conferiram novas dimensões ao Poder Executivo... Numa ‘democracia representativa’ de

estilo presidencialista, o presidente da República detinha e exercia a maior parcela de

poder"7

Assim a política econômica do governo Kubitschek, voltada ao

desenvolvimentismo, num processo de industrialização que já vinha desde os anos 30, é

alavancada pelo Plano de Metas e a construção de Brasília. Deixa evidente assim a sua

pauta de prioridades. Para tornar possível essas prioridades, o governo cria uma

Administração Paralela8 através de decretos, regulamentos e instruções dividida em:

Grupos de Trabalho, Grupos Executivos, Conselho do Desenvolvimento, Banco Nacional

de Desenvolvimento Econômico (BNDE), o Conselho de Política Aduaneira (CPA) e a

Superintendência do Desenvolvimento Econômico do Nordeste (SUDENE), a

7 IANNI, Otávio. Estudo e planejamento no Brasil (1930-1970). Rio de Janeiro : Civilização Brasileira,

1971, p.178. Citado em “O governo Kubitschek...”, Op. Cit. P.202-203 8 Administração Paralela ver “O governo Kubitschek...” op cit pp.224-232

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Administração Paralela foi essencial para a implementação da política desenvolvimentista

de JK.

O papel da ideologia desenvolvimentista na ação governamental joga

simultaneamente com a ideologia nacionalista (desenvolvimento com o capital nacional e

empresas nacionais) e uma política de abertura ao investimento estrangeiro no campo

econômico. Ideologia esta que por um lado trouxe a possibilidade de superação do

subdesenvolvimento, e por outro aumentou as diferenças regionais e contribui para o

enfraquecimento da “burguesia nacional”, que já se encontrava fragilizada. Para o governo,

o desenvolvimentismo foi usado como um recurso para garantir a estabilidade do sistema,

tanto para sua mobilização como para sua legitimação.

Foi importante também para o período 1956-1961 a aliança entre o PSD/PTB, a

política militar e uma certa estabilidade política. Fruto de uma conjuntura especial na qual

as Forças Armadas e o Congresso Nacional atuaram de certa maneira convergente,

apoiando a política econômica que se realizava principalmente no Programa de Metas. Isso

não significou ausência de crises. No final do mandato de Kubitschek a crise

política/econômica pressupunha que a estabilidade política estava ameaçada.

Mesmo assim podemos destacar que no governo JK o poder Executivo assume aos

poucos as funções referentes à política econômica, principalmente em detrimento do poder

Legislativo, o qual não participa praticamente do processo decisório.

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2.2 O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO NO PARANÁ

No Paraná podemos considerar que o processo de extração, beneficiamento e a

comercialização da erva-mate, já no início do século XIX, tem efeitos favoráveis ao início

da industrialização do Estado. Processo este que se torna mais intenso a partir de 1960 na

tomada de medidas da administração pública estadual com a política que iria atrair mais

indústrias para o Estado. No entanto, entre esse período do início do século à 1960, além

da erva-mate, há também outras culturas que intermediarão o desenvolvimento do Paraná.

As atividades empregadas para o obtenção do produto final, derivado das folhas do

mate, passavam por etapas que iam desde a colheita, a transformação em erva, o

acondicionamento em embalagens, além do transporte e a comercialização. Cada uma

dessas fases requeria mão de obra remunerada, se assim podemos dizer, contribuindo para

a concepção da produção capitalista.

A então relação capitalista de produção, teve impulso na medida em que se forjava

as relações trabalhistas com o aparecimento, ou em escala mais “formal”, de uma

burguesia industrial e o trabalho assalariado. E ainda o melhoramento na produtividade e o

modo de produção. A organização da produção ervateira impulsionou outros setores

ligados a essa cultura. Isto é, o setor madeireiro, para o fabríco de barricas que

acondicionaria o mate para a exportação, do setor gráfico para a impressão de rótulos na

identificação do produto, além dos transportes terrestre e marítimo através da Estrada da

Graciosa concluída em 1873 e do porto, que movimentavam o comércio das exportações.

O Ciclo ervateiro alavanca a economia paranaense até os anos de 1930, quando

entra em decadência as exportações no período da crise de 1929. A partir daí começa a se

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intensificar a indústria da madeira e do café.

No Paraná a indústria madeireira contava com considerável área de Mata Atlântica

e Mata de Araucária (pinheiro do Paraná), além de outras variedades de madeiras nobres.

Portanto, a indústria da madeira se tornaria um novo ciclo econômico no Estado,

possibilitando realçar as arrecadações públicas. Pois a partir da extração da madeira outros

setores foram impulsionados, como a produção de papel, papelão, móveis... Na medida em

que aumentava o volume de produção e comercialização destes setores desde a extração da

madeira com o beneficiamento nas serrarias até o produto final para o consumidor, veio

também progressivamente o atendimento a necessidade de se aumentar a malha rodoviária

e ferroviária importantes para o desenvolvimento.

A indústria da madeira já havia se dissiminado por todo o Paraná. No entanto, por

volta de 1970, devido ao esgotamento das matas paranaenses, as serrarias passariam a

beneficiar cada vez mais a madeira vinda de outros estados ou de reflorestamentos.

Concomitantemente ao Ciclo da erva-mate e da madeira, havia o cultivo do café. O

setor cafeeiro faz parte do rol de produtos primários que deram origem ou intensificaram a

diversificação do parque industrial do Paraná devido ao beneficiamento e produtos que

deles derivaram.

Já por volta de 1860 o café se dissiminara pela região Norte do Estado. Neste

momento esta região era considerada a extensão das plantações de São Paulo, devido a

ocupação dessas terras serem feitas por produtores de café mineiros e paulistas. Por

ocasião destes produtores estarem mais ligados a São Paulo, o escoamento do café era feito

pelo porto de Santos, fazendo com que o Paraná deixasse de arrecadar com as exportações.

Só a partir de 1924 o Norte começa a se integrar economicamente ao resto do Estado.

17

A expansão da cafeeicultura se dá mais efetivamente à outras regiões do Estado a

partir de 1927, com o Norte Novo e mais tarde com o Norte Novíssimo em 1960 no

noroeste do Paraná. Fatos que corroboraram para o aumento da população, impulsionando

a colonização e dando início ao surgimento à cidades. Podemos dizer que em grande parte

a Companhia de Terras Norte do Paraná foi importante para esse evento. Pois comprou do

governo do estado, terras nessas áreas, loteando-as e revendendo-as para pequenos e

médios produtores.

Após contribuir para o desenvolvimento econômico, industrial e demográfico do

Paraná, o café tornou-se um dos produtos de maior exportação do Estado até 1969. Mas a

cafeeicultura na década de 70 conhece seu declínio, que já vinha desde a década de 60,

apesar de ainda ser um dos maiores produto de exportação até 69.

Fatos que contribuíram para esse declínio de produção e exportação estão ligados

ao excesso de produção no Brasil e no exterior, ocasionando a baixa dos preços; a política

cambial de JK (1956-1961) de confisco dos lucros dos cafeeicultores que exportavam; e as

intensas geadas ocorridas no final dos anos 60 e princípio da década de 70.

Os governos, principalmente os militares, já haviam percebido o declínio da

lucratividade com as exportações do café, derivados dos problemas mencionados que as

plantações vinham enfrentado. A partir de então na esfera do governo federal desde 1964

estava-se implementando políticas de fomento as exportações entre as quais a de

financiamento ao plantio da soja.

Sendo assim, o Paraná passa por uma transição do seu principal cultivo agrícola,

intensificando a cultura da soja, onde na década de 70 acontece o “boom” no crescimento

do seu cultivo. O Paraná entre 1970 e 1976 torna-se o Estado com o maior índice

progressivo de produção frente ao país. Com esta diversificação em maior escala da cultura

18

agrícola paranaense, surgem novas indústrias de transformação dos produtos agropecuários

no Estado, isto é, a agroindústria.

Não podemos deixar de mencionar que a partir da década de 60, mais precisamente

na administração de Ney Braga (1961-1966), o governo estadual sente a emergência de

adotar um projeto de desenvolvimento econômico voltado à indústria de bens de consumo.

Processo que será melhor entendido a seguir.

Inserido no contexto nacional, o Paraná, na década de 60 através do órgão criado

pelo governo do Estado, a CODEPAR (Companhia de Desenvolvimento Econômico do

Paraná) em 1962, busca pôr em prática um projeto de desenvolvimento econômico.

Conforme a política nacional o Estado quer substituir as importações pela produção

interna de bens de consumo, principalmente os não duráveis. A política do Paraná em

convergência com a política nacional, orientada pelas propostas da CEPAL, cria condições

para a industrialização do Estado. A intenção era impulsionar a pequena e média empresa

para tornar o Estado auto-suficiente em bens que tinha que comprar em São Paulo.

Evidenciando assim o processo de industrialização. Pois São Paulo era o pólo industrial do

Brasil sendo um dos principais fornecedores de boa parte da manufatura adquirida pelo

Paraná.

O Paraná era um dos grandes produtores e exportadores agrícola do país, atividades

que alavancavam a economia do Estado, mas este via suas divisas saírem de suas fronteiras

por não ter indústrias suficientes para a produção de bens de consumo, ocasionando assim

a compra destes produtos em outros Estados, como já nos referimos. Outro problema

enfrentado refere-se as exportações escoadas pelo Porto de Santos - devido aos produtores

do Norte do Paraná, a principal região de plantio do café, estarem mais ligados aos

produtores de café de São Paulo do que com o resto do Paraná - deixando o Estado privado

da arrecadação com as exportações do produto. Outra preocupação seria em relação a

19

integração territorial do Estado9. Esses foram os principais fatores que levaram a

administração pública à emergência de desenvolver um projeto de industrialização.

Com o objetivo de proceder a realização do projeto de desenvolvimento do Estado

cria-se a CODEPAR em 1962, para a captação e financiamento de recursos no Estado que

mais tarde, em 1968, é substituída pelo BADEP (Banco de Desenvolvimento do Paraná),

que terá maior mobilidade para movimentar os recursos advindos do governo federal e

empréstimos estrangeiros. No princípio o projeto paranaense de desenvolvimento industrial

tinha uma política voltada ao capital local com a implantação de pequenos e médios

empreendimentos.

Mas, em 1966 intensifica-se a centralização administrativa federal que, segundo

Fabrício Oliveira (1995), a reforma do sistema tributário e demais instrumentos de política

econômica, readequaria à nova realidade sócio-econômica, advinda do período do Plano de

Metas, como também o novo papel que o Estado deveria desempenhar. Mas essa reforma

só seria possível a partir do “movimento de 64”. É a partir de então que se reordenam as

alianças políticas, a classe dominante aliada ao capital multinacional redefine seus

interesses, e para a classe trabalhadora resta o descontentamento e a luta, devido ao

cerceamento de sua participação às decisões políticas. Desta forma está composto o

cenário para as reformas instrumentais e tributárias.

Os objetivos da reforma foram colocados na Exposição de Motivos, onde na época

o Ministro da Fazenda era Otávio G. de Bulhões. Os motivos se destacavam: em primeiro

lugar, a prioridade era expandir a carga tributária sobre a sociedade, para a captação de

recursos ao Estado. Em segundo, o sistema deveria ser reformado para que deste modo

pudesse diminuir a desigualdade de renda entre as regiões, criando-se um mecanismo de

compensação entre a economia e as maiores tributações regionais. Em terceiro, modernizar

9 AUGUSTO, Maria Helena Oliva. Intervencionismo estatal e ideologia desenvolvimentista. São Paulo :

Símbolo, 1978

20

o sistema, redefinindo tributos e suas origens, corrigindo outro e criando-se tributos mais

adequados à nova estrutura econômica. E um quarto objetivo, dizia respeito a centralização

da política econômica e tributária na esfera do poder federal, além das decisões referentes a

tais políticas. Pois antes da reforma, havia autonomia tributária no âmbito do poder

municipal, estadual e federal.

Essa nova reforma tributária levou o Paraná a redefinir seu projeto inicial

adequando-se à aspectos como a captação de recursos estrangeiros e ou nacionais e a

implantação de grandes indústrias. Sendo assim, as decisões políticas de desenvolvimento

paranaense são tomadas a partir das ações empreendidas através da CODEPAR e depois

pelo BADEP, agora norteadas pelo projeto federal, explicitando o "novo" papel a ser

desempenhado pelo Paraná frente à economia nacional.

Uma das prioridades para a implementação do processo de industrialização

empreendido pelo projeto da CODEPAR, foi o investimento do governo estadual numa

estrutura adequada à ela, principalmente nos setores de energia elétrica e transportes –

criação da COPEL, rodovias, ferrovias e o porto de Paranaguá – rumo ao desenvolvimento

econômico. Era importante que as indústrias se integrassem ao mercado nacional, para

tornar o Paraná numa complementaridade do pólo industrial do Brasil.

Para tanto, o BADEP priorizará na sua política, o financiamento às empresas que

no Paraná pudessem obter vantagens comparativas em relação aos outro Estados do Brasil.

E além do mais, proporcionar uma produção que pudesse competir no mercado nacional,

procedendo a auto-suficiência do Estado em bens de consumo. Desde então, concedeu-se

financiamento às grandes empresas de capital estrangeiro ou associado a ele.

A instalação e ampliação do parque industrial, impulsionou a dinamização da

economia paranaense, fazendo com que os empresários se tornassem um grupo forte no

Estado. Pois a indústria sendo compreendida como o motor do desenvolvimento

21

econômico, logo, as demandas do setor industrial são entendidas como as que emanam da

sociedade.

Com o processo de industrialização, além de o Paraná se adequar à política de

desenvolvimento do país, alavancar sua participação na economia nacional, havia ainda o

interesse no crescimento econômico, na arrecadação de impostos, oferta de trabalho,

aumento da produção de bens de consumo e o reconhecimento de ser um dos Estados

industrializados do país, isso só seria possível a partir da implementação do setor

secundário.

22

3 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE, A GLOBALIZAÇÃO DAS

QUESTÕES AMBIENTAIS

Sem sombra de dúvidas o setor secundário tem importante papel na economia de

um Estado. Mas de acordo com Warren Dean10 os projetos desenvolvimentista dos

governos militares durante a década de 70, tiveram uma velocidade que resultou não

apenas em crise econômica, mas também em um agressivo desastre ambiental.

A partir de 1974 o então Presidente da República Ernesto Geisel implementou o II

Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) que fazia parte do projeto de desenvolvimento

do país. Esse plano dava ênfase a desconcentração espacial das atividades econômicas que

se encontravam estabelecidas mais fortemente em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas

Gerais. Os objetivos da desconcentração econômica era conseguir apoio sólido de outros

estados para o governo federal. Consistia também a médio e longo prazo fortalecer

economicamente outros estados da federação e enfraquecer os mais ricos, principalmente o

estado de São Paulo. Desta forma contrabalançando o poder político e econômico entre os

Estados e destes com a União. Esta estratégia teve também a intenção de obter apoio

político necessário para controlar o processo de liberalização ou mesmo acalmar as críticas

de setores descontentes com o regime militar que eram mais fortes nos estados mais

industrializados.

As progressivas agressões do PND se configuraram no investimento da expansão

das exportações; programa para alcançar a auto-suficiência energética; sondagem de

petróleo com plataformas marítima; usina de energia nuclear; programa de conversão de

cana-de-açúcar em álcool combustível; expansão do desenvolvimento hidrelétrico. Tais

23

programas repercutiram em sua maioria de modo prejudicial sobre o meio ambiente. O

programa do álcool, por exemplo, contribuiu para que aumentasse o desmatamento.

Projeto este, que pretendia tornar o Brasil auto-suficiente ou menos dependente dos

produtos importados. Pretensão que já vinha desde os anos 30, implementados pelo

governo brasileiro e convergente com os estudos da Comissão Econômica para a América

Latina (CEPAL). Os Estados da federação, mesmo aqueles que já estavam desenvolvendo

ou pondo em prática seu projeto de industrialização, como o Paraná com a CODEPAR

(1962), nortearam suas políticas de acordo com as principais metas do governo federal.

Desde a instalação das primeiras fábrica, seja ela nacional ou internacional, o meio

ambiente vem sendo progressivamente poluído. Concomitantemente a esse fato, vem

ocorrendo a preocupação por parte de órgãos nacionais e internacionais criados para

desempenhar a árdua tarefa de promover discussões e encontrar amenizações para os

problemas que atingem o meio ambiente. Além de parcelas da sociedade mais esclarecidas,

não apenas ligada à política econômica que também vêem levantando questões ambientais

e de qualidade de vida, muitas vezes poucas discutidas e implementadas pelos projetos de

desenvolvimento econômico como os já citados. Como a crítica que encontramos sobre o

projeto de desenvolvimentismo do governo militar no artigo de Leila da Costa Ferreira e

Lúcia da Costa Ferreira, “O Desenvolvimentismo, com a estagnação, passa de mito do

desenvolvimento para a imagem da devastação”11. Isto é, depois que passou a “euforia” do

crescimento, a sociedade percebeu que não havia acontecido o pleno desenvolvimento,

com a distribuição de renda, saúde pública, alimentação e educação. O resultado do

crescimento havia se concentrado ainda mais nas mãos de poucos.

10 DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo :

Companhia das Letras, 1996, p.307-308

24

Para complicar ainda mais, o que aumentou também foi a dívida externa impagável,

tornando o país dependente de órgãos financeiros internacionais. Outra conseqüência que

afetou e afeta a sociedade é a destruição ambiental, onde seu equilíbrio é importante para o

bem estar da população. Esta além de sofrer com a falta das condições básicas de que o ser

humano necessita, têm que conviver com o aumento da poluição do ar, água e solo,

contando com uma parte reduzida do ônus dessa poluição. a exemplo disso podemos citar a

cidade de Cubatão, uma das mais poluídas da América Latina na década de 80.

No cenário internacional os desafios à conscientização ecológica se evidenciam na

década de 70, quando em junho 1971 o Encontro de Founex fez parte do processo de

preparação da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em

Estocolmo em 1972. O Relatório de Founex identificou os principais tópicos da

problemática entre meio ambiente e desenvolvimento, presentes até hoje na agenda

internacional.

Na década de 70 era comum alertar para o esgotamento dos recursos não-

renováveis. Hoje contamos com estudos, estatísticas e sentimos no próprio dia a dia os

resultados do processo de crescimento no que diz respeito a degradação ambiental. O que

era um alerta para o perigo do esgotamento dos recursos não-renováveis, tornou-se um

ponto de pauta importante nas discussões internacionais e nas diretrizes para o

desenvolvimento sustentável. Não que o homem tenha que se decidir entre o crescimento

econômico ou a conservação ambiental, mas a emergência está em se encontrar formas de

desenvolvimento sensíveis ao meio ambiente.

Segundo Ignacy Sachs, embora reconhecendo a complexidade e a gravidade dos

desafios sociais e ambientais enfrentados pela humanidade, o Relatório de Founex, a

Declaração de Estocolmo e a Declaração de Cocoyoc (resultante do Simpósio do Programa

11 FERREIRA, Leila da Costa; FERREIRA, Lúcia da Costa. Limites ecossistêmicos: novos dilemas e

desafios para o Estado e para a sociedade. In : HOGAN, Daniel Joseph; VIEIRA, Paulo Freire (Orgs).

25

das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente - PNUMA – e da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e

Desenvolvimento, realizado no México em 1974) continham uma mensagem de esperança

com respeito ao planejamento e à implementação de estratégias ambientalmente viáveis

para promover um desenvolvimento socioeconômico eqüitativo, ou para o

“ecodesenvolvimento”, termo que mais tarde é denominado também como

“desenvolvimento sustentável.”12

Vale a pena mencionar a Declaração de Cocoyoc para ilustrar como se estava

encaminhando o pensamento diante do desafio das necessidades básicas da humanidade e

os recursos físicos do planeta nas discussões internacionais.

Reconhecemos as ameaças tanto aos ‘limites internos’ das necessidades humanas básicas como aos ‘limites externos’ dos recursos físicos do planeta. Mas também acreditamos que um novo sentido de respeito aos direitos fundamentais do homem e à preservação do nosso planeta está-se desenvolvendo por trás das furiosas cisões e confrontos de nossos dias. Temos fé no futuro da humanidade neste planeta. Acreditamos na possibilidade de modos de vida e sistemas sociais mais justos, menos arrogantes em suas exigências materiais, mais respeitadores do ambiente planetário. O caminho à nossa frente não se assenta nem no desespero da simples contemplação da ruína nem no otimismo leviano de ajustes tecnológicos sucessivos. Baseia-se, sim, na delimitação cuidadosa e desapaixonada dos ‘limites internos’ dos direitos humanos fundamentais, na construção de estruturas sociais que os expressem e no paciente trabalho de invenção de técnicas e estilos de desenvolvimento que enriqueçam e preservem nossa herança planetária13.

Percebemos através da declaração que as organizações que discutem os problemas

do meio ambiente e da qualidade de vida do homem no planeta, estão conscientes da

Dilemas sócio ambientais e desenvolvimento sustentável. São Pulo : UNICAMP, 1992, p. 15

12 SACHS, Ignacy. Estratégia de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio ambiente. São Paulo : Studio Nobel, 1993, p.12

13 UNEP, 1981, citado em SACHS, Ignacy. Estratégia de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio ambiente. São Paulo : Studio Nobel, 1993, p.

26

complexidade do desafio social/ambiental. E ainda acreditam que o homem encontrará

meios para crescer sem destruir, além de acreditar que o que precisamos são ações

concretas.

Em meio a todas as dificuldades de se encontrar soluções ou amenizações, em 1979

e 1980 o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) realizou, com a

colaboração das Comissões Econômicas Regionais das Nações Unidas, uma importante

série de seminários sobre estilos alternativos de desenvolvimento. Esses esforços

refletiram-se no Relatório Brundtland (1987), editado no Brasil como Nosso Futuro

Comum pela Fundação Getúlio Vargas, levando à convocação da Conferência do Rio de

Janeiro em 1992.

Mesmo com todos os esforços realizados pelos organismos internacionais o meio

ambiente nos anos 70 não teve influência significativa no debate global dos problemas

nacionais, quando se diz respeito a todas as classes e grupos sociais e ainda nas ações e

decisões governamentais, principalmente nos países em desenvolvimento. Pois os debates

estavam acontecendo no meio intelectualizado, político, nos congressos e comissões.

Outro fator, é o não tratamento diferenciado dos problemas nacionais, isto é, não se

levava ou não se leva em consideração as necessidades e diferenças sociais, culturais e

ambientais de cada região ou país. Pois os países dependem da dinâmica do mercado

mundial. Como se referem Eduardo J. Viola e Hector R. Leis sobre esse mercado:

Na última década a dinâmica da ordem mundial tem sido profundamente marcada por duas tendências estruturais: 1) a erosão dos Estados nacionais por parte do mercado mundial, incluindo o enfraquecimento de ideologias e forças políticas estadistas diante das liberais – o mercado triunfou sobre o Estado, sobre o debate histórico, sobre a alocação eficiente de recursos produtivos embora precise da complementação do Estado e das organizações das sociedades civil para que possa levar em conta valores de justiça social e proteção ambiental. 2) a emergência ou intensificação dos problemas sócio ambientais globais (...)14

14 VIOLA, Eduardo J.; LEIS, Hector R. A evolução das políticas ambientais no Brasil, 1971 – 1991: do

bissetorialismo preservacionista para o multissetorialismo orientado para os desenvolvimento

27

No entanto a questão ambiental é indissociável da pauta de prioridades dos

programas de desenvolvimento sejam eles nacionais ou internacionais.

Já nos anos 80 as preocupações não se voltaram tão somente às discussões

econômicas no cenário político. A sociedade civil também clamou pela qualidade

ambiental, que havia ganhado força em nível internacional, influenciando grupos da

sociedade brasileira. As informações e preocupações estavam mais difundidas. Com isso

gradativamente cresce a conscientização da opinião pública e a pressão dos movimentos

civis e dos partidos verdes que desempenharam papel significativo nesse processo. Mas,

diga-se de passagem, ainda eram poucas as pessoas ou segmentos da sociedade que

estavam esclarecidos quanto a importância da questão ambiental.

Os reflexos começam aparecer na política federal de meio ambiente com avanços

na legislação. Entre as décadas de 70 e 80 no auge das críticas nacionais e internacionais à

gestão ambiental brasileira, provocadas principalmente pelas queimadas na Amazônia e

pelo assassinato de Chico Mendes, fatos que repercutiram no exterior. Desta forma

contribuíram para que o governo tomasse medidas como a criação do Instituto Brasileiro

de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) fundindo a SEMA junto

com os órgãos de floresta, pesca e borracha. A partir daí há um aumento da importância

ambiental na estrutura estatal, de controle mais rigoroso da poluição industrial, de planos e

manejo integrado de microbacias hidrográficas.

No decorrer dos anos, mesmo tendo um notável avanço nas ações governamentais,

institucionais e principalmente das leis ambientais, ainda se está longe de termos

assegurado a harmonia entre o desenvolvimento, justiça social e ecologia15. Talvez por não

sustentável. In : HOGAN, Daniel Joseph; VIEIRA, Paulo Freire (Orgs). Dilemas sócio ambientais e

desenvolvimento sustentável. São Paulo : UNICAMP, 1992, pp.74 - 75 15 FERREIRA, Leila da Costa; FERREIRA, Lúcia da Costa. Limites ecossistêmicos: novos dilemas e

desafios para o Estado e para a sociedade. In : HOGAN, Daniel Joseph; VIEIRA, Paulo Freire (Orgs). Dilemas sócio ambientais e desenvolvimento sustentável. São Pulo : UNICAMP, 1992, pp. 15-31

28

termos estas e outras demandas sociais em sintonia, encontramos questões como as

levantadas por Ricardo Toledo Neder. Segundo o autor houve aumento da industrialização

nos anos 80 e acúmulo de capital que não significou melhoria na vida da população. Além

do mais trouxe a degradação da vida urbana com a contaminação do solo, do ar e da água

dos centros urbanos e regiões metropolitanas16.

No contexto nacional, o discurso dos comportamentos individuais, institucionais e

de políticas públicas não estão no mesmo nível de discussão. A importância da questão

ambiental, em sua diversidade de aspectos e opiniões, está hoje bem estabelecida no

discurso dos formadores de opinião e no conjunto da população que se considera

informada. Sendo que uma grande maioria dos que possuem a informação é favorável a

uma relação equilibrada entre meio ambiente e desenvolvimento. Mas há também uma

minoria que prioriza o meio ambiente e outra o desenvolvimento de acordo com suas

demandas de curto e médio prazo.

Apesar das complexas divergências entre os discursos de grupos e setores da

sociedade, todo esse clima de debates contribuiu para uma legislação das mais avançadas

no Brasil. A exemplo disso é a Constituição promulgada em 1988 que traz um capítulo

sobre o meio ambiente, antes nunca tão destacado entre as principais leis que regem o país.

Porém a legislação não assegura o comportamento individual que está muito aquém da

consciência ambiental presente no discurso e nas leis, sendo muito poucas as pessoas –

inclusive ambientalistas militantes e até mesmo negligenciamentos nas ações de

governos – que pautam conscientemente seu cotidiano pelos critérios não coerente com um

ambiente equilibrado.

16 NEDER, Ricardo Toledo. Limites políticos administrativos ao desenvolvimento sustentável no Brasil.

(Des) centralização e espaço público em municípios de São Paulo. In : HOGAN, Daniel Joseph; VIEIRA, Paulo Freire (Orgs). Dilemas sócio ambientais e desenvolvimento sustentável. São Paulo : UNICAMP, 1992, pp 38-43

29

As políticas públicas estão hoje entre um discurso/legislação bastante favorável, e

um comportamento ainda predatório, sendo que por um lado as políticas públicas têm

contribuído para estabelecer um sistema de proteção ambiental no país, e por outro o poder

público não tem disposição necessária, seja ela de efetivo ou de estrutura física para fazer

cumprir ao menos proporções importantes da legislação ambiental17. O que dificulta

também o gerenciamento da proteção ambiental é a falta de consciência, de internalização

por parte da população, empresários e outros setores da sociedade, da emergente

importância de se preservar o meio ambiente.

A questão ambiental não é um caso isolado no Brasil. Se tratando da ação do setor

público em matéria ambiental é algo relativamente recente, os problemas e conflitos de

interesses divergentes poucos esclarecidos são difíceis de serem enfrentados. Constata-se

ainda uma certa fragilidade instrumental. Esses problemas são comuns em quase todos os

países onde se tenta implantar uma ação regulamentadora do uso dos recursos ambientais.

Marcel Bursztyn se refere aos problemas enfrentados pelo Estado no aspecto

ambiental, enfatizando que apesar da tendência generalizada da proliferação das agências

governamentais, em tempos de neoliberalismo, no Brasil o crescimento relativo do setor

ambiente na estrutura governamental, encontra problemas graves que comprometem o bom

funcionamento das instituições. Como já nos referimos anteriormente na análise de Edurdo

J. Viola e Hector R. Leis a esse respeito. Bursztyn também aponta alguns dos problemas

que convergem nas dificuldades que os Estados enfrentam para implementar as leis e

decretos de proteção ambiental.

Tais problemas são relativos degeneração das instituições públicas, isto é, com a

desestatização o Estado se vê em crise diante da implementação de medidas

17 VIOLA, Eduardo J.; LEIS, Hector R. A evolução das políticas ambientais no Brasil, 1971 – 1991: do

bissetorialismo preservacionista para o multissetorialismo orientado para os desenvolvimento sustentável. In : HOGAN, Daniel Joseph; VIEIRA, Paulo Freire (Orgs). Dilemas sócio ambientais e

desenvolvimento sustentável. São Paulo : UNICAMP, 1992, pp. 93-94

30

regulamentadoras de caráter ambiental que exige instituições públicas fortes, sólidas e

legitimadas política e socialmente. Faz parte também dos problemas institucionais, o de

recursos humanos qualificados. Problemas relativos à cultura burocrática do aparelho de

Estado, isto é, várias funções de competência dos órgãos formuladores e executores da

política de meio ambiente tangenciando e/ou “atravessando” horizontes tradicionalmente

ocupados por organismos de ação setorial.

Os instrumentos são essenciais à implantação da política de meio ambiente, que

podem ser de caráter econômico ou normativo (leis, normas), tanto um quanto outro tem

dificuldades de se impor. A adoção de certas práticas exige uma complexa adaptação de

leis, normas e estruturas organizacionais, que por vezes encontram obstáculos tanto na

esfera governamental como no próprio setor produtivo. A superação destas limitações

depende, em grande medida, da legitimidade da autoridade investida do poder de

implementação do instrumento em questão (leis, normas, decretos), bem como do jogo de

pressões sociais (que passa tanto pelo poder econômico quanto pelas demandas da

sociedade civil).

As questões políticas também merecem ser analisadas, pois representam

importantes aspectos da situação institucional do meio ambiente no Brasil. Tendo em vista

a situação de penúria de recursos por que passa o aparelho de Estado, e considerando a

tradição de troca de favores entre políticos, na divisão de fundos públicos, há um forte

risco de a área de meio ambiente tornar-se vetor de transferências de verbas segundo

critérios não necessariamente ambientais. Políticos clientelistas, mas também cientistas

oportunistas podem se ver tentado a uma adesão pouca útil ao sucesso das políticas

ambientais. A esse fenômeno poder-se-ia chamar “fisiologismo ecológico”18

18 BURSZTYN, Marcel. Estado e meio ambiente no Brasil: desafios institucionais. In : BURSZTYN,

Marcel (Org.). Para pensar o desenvolvimento sustentável. São Paulo : Brasiliense, 1994, pp. 93-97

31

Os fatores que dificultam uma boa administração pública são muitos, alguns já

mencionados. No cenário das discussões, demandas sociais, adoção de decisões..., acaba-se

amenizando problemas por um lado na concessão de “benefícios” a uma parcela da

sociedade, e por outro pode aumentar as diferenças sociais a degradação ambiental. O

processo de industrialização pode gerar crescimento econômico sem promover o

desenvolvimento, a exemplo disso podemos nos referir a década de 80, conhecida como “a

década perdida” na América Latina, em conseqüência do endividamento, do

desfavorecimento do comércio, do protecionismo dos países industrializados redundando

no crescimento as custas da desigualdade social, do uso indiscriminado dos recursos

naturais e diversos outros fatores que retrataram o caos social e da administração pública.

Contudo, o crescimento de regiões urbano industrial analisado no contexto sócio

ambiental nos revela que as preocupações políticas estão tentadas a priorizar o crescimento

da economia via industrialização, quase sempre em detrimento à integridade da natureza.

Um fator que beneficiaria a natureza nesse processo, seria a procura do desenvolvimento

com equilíbrio entre indústria e meio ambiente, como por exemplo, através do consumo

alternativo de energia.

Tais critérios de crescimento só fazem aumentar ainda mais a desigualdade

econômica e social pela má distribuição de renda, pelo modelo de sociedade de consumo, e

o inchaço das periferias. Isto é, pessoas atraídas pela possibilidade de emprego nas novas

indústrias, que por vezes acabam sofrendo com a carência de infraestrutura básica e

degradação ambiental nas já problemáticas periferias e regiões metropolitanas. Não

podemos reduzir, é claro, os problemas sócio ambientais ao crescimento demográfico e aos

critérios econômicos/políticos, mas eles respondem por boa parte do agravamento de

impactos gerados pela ineficiência política e da falta de internalização da prevenção

ambiental por parte das empresas e da própria sociedade civil.

32

A desigualdade social e econômica na esfera internacional esta dividida entre os

países industrializados/desenvolvidos e os países em desenvolvimento, isto é, países do

Terceiro Mundo, países periféricos onde podemos encontrar em Ignacy Sachs os

percentuais que retratam essa condição:

O abismo entre o Norte e o resto do mundo se evidencia no fato de os países da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento – OCED, com 16% da população do mundo e 24% da área terrestre, concentrarem 72% do produto bruto global, 73% do comercio internacional, 78% de todos os automóveis e 50% do consumo de energia. Ao mesmo tempo, respondem por 45% das emissões totais de óxido de carbono, 40% das de óxido sulfúrico, 50% das de óxido de nitrogênio e 60% da emissão de resíduos industriais (OCDE, 1991)19

Esse volume de desenvolvimento reflete na economia dos países periféricos, que

lutam para alcançar maiores índices de produção e exportação, esforço este, que não

depende apenas de seus próprios esforços mas de um conjunto de condições internacionais

como assinala Maurice Strong “os países do Sul, sobretudo os menos desenvolvidos,

tornaram-se vítimas e não beneficiários da globalização da economia mundial. A

interdependência deixou suas frágeis economias altamente vulneráveis a mudanças nas

condições econômicas mundiais, sobre os quais não têm qualquer controle”20

Nesse contexto encontramos países como o Brasil que tenta alcançar os padrões de

produção, consumo e tecnologia dos países industrializados tornando-se competitivo no

mercado internacional. Para verificar essa questão podemos nos basear por exemplo, na

política de atração da indústria automobilística do governo federal na década de 90, que

levou vários Estados da Federação a “disputarem” as indústrias que aqui se instalariam.

Estados estes, que como o Paraná, através da administração do poder executivo estadual

19 OCDE, 1991. In : SACHS, Ignacy. Estratégia de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio

ambiente. São Paulo : Studio Nobel, 1993, p. 15 20 SACHS, Ignacy. Estratégia de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio ambiente. São

Paulo : Studio Nobel, 1993, p. 15

33

travou acirrada “Guerra Fiscal”21 com outros Estados, além de outras concessões e

benefícios para que montadoras automotivas se instalassem no Paraná.

Em tempos de mercado global, necessidade de crescimento econômico com

expectativa no desenvolvimento, seguramente é relevante para a economia paranaense que

empresas se instalem no Paraná. Mas o que dá margem ao questionamento é, de que forma

está se implantando a política de atração e incentivos às indústrias. A maneira política de

agir de nossos governantes deixa transparecer a sua relação com a sociedade, desta forma,

que setores ou setor desta sociedade têm ou tem posição privilegiada junto ao poder

executivo e na política pública.

21 Sobre Guerra Fiscal ver, OLIVEIRA, Dennison. Urbanização e industrialização no Paraná. Inédito; e

ABRUCIO, F. L. Os barões da federação: os governadores e a redemocratização brasileira. São Paulo : HUCITEC/Depto de Ciências Políticas, USP, 1998

34

4 O PODER POLÍTICO DO GOVERNO ESTADUAL

No Paraná a década de 90 foi marcada pela atração e incentivos à grande indústria,

principalmente a automotiva, além da incorporação de várias empresas privadas

paranaense à empresas privadas estrangeiras de grande porte que aqui investiram seu

capital. Quanto a vinda da indústria automotiva, nos referiremos em particular a Renault do

Brasil, e principalmente a questão intrigante da licença para se iniciarem os trabalhos de

terraplanagem para a construção da planta Renault. O enfoque será dado aos critérios

ambientais e o “uso” do poder que o executivo teve para cuidar pessoalmente das

negociações entre o Estado e a Empresa, envolvendo todo um clima de mistério em torno

do assunto.

Na reflexão a respeito desse episódio não podemos nos deixar levar pelo

extremismo ambiental ou pelo econômico, mas faz-se necessário refletirmos sobre a

harmonia entre o desenvolvimento e a minimização do impacto desse desenvolvimento

sobre a natureza. Isto porque as condições do meio ambiente influi diretamente no bem

estar da sociedade.

Além dos problemas de política ambiental que envolve a instalação da Renault, há

ainda as questões financeira e de incentivos proporcionados pelo Estado, sendo muito

criticado pelos diversos setores da sociedade paranaense, bem como do setor político dos

Estados que “disputavam” diretamente com o Paraná a instalação da referida montadora,

como é o caso de São Paulo. Caberá analisar as questões que se referem diretamente a

política ambiental e se o executivo teve influência sobre os órgãos ambientais, Judiciário e

o Legislativo municipal de São José dos Pinhais e do Estadual do Paraná.

A vinda da indústria francesa e suas fornecedoras de auto peças trouxeram também

contradições e polêmicas diante do quadro “construído” em que se encontra o Paraná. Isto

35

é, o reconhecimento ecológico, mais especificamente Curitiba, no que diz respeito aos

aspectos da conservação do meio natural e de planejamento. Fatos que têm sua parcela de

verdade.

Até então, esse mesmo governo que negociou com a Renault, já esteve tantas vezes

a frente da administração pública como prefeito e como governador (está no segundo

mandato), conta com vários aliados políticos que já o sucederam tanto na prefeitura de

Curitiba como no governo do estado. Tanto Jaime Lerner como seus sucessores ficaram

conhecidos pelos seus projetos ambientais e urbanisticos. Por isso atrelou-se a esse grupo e

principalmente na pessoa de Jaime Lerner a fama nacional e internacional da Curitiba

“Capital Ecológica” pelas suas realizações a respeito do meio ambiente. Hoje “luta” para

elevar o Paraná como um dos principais pólos industriais do Brasil.

Devemos frisar que a questão não perpassa pelo extremismo ecológico em

detrimento ao desenvolvimento econômico via industrialização. A questão é porquê optar

por uma medida e não outra totalmente possível para diminuir o impacto ambiental. No

caso que estamos analisando essas medidas foram tomadas no propósito de mudar a lei de

proteção de determinada área de manancial e a criação de um distrito industrial a partir

desta mudança.

No episódio da Renault percebe-se nitidamente que a política ambiental sede

espaço ou até mesmo recuou para dar lugar, não a necessidade do desenvolvimento social

que presa as condições ambientais, qualidade de vida, eqüidade social e econômica, mas ao

interesse de crescer economicamente mesmo que isso traga futuros problemas a uma

parcela da sociedade. Pois o governo tinha outras opções, que iremos elencar

posteriormente, para implementar a instalação desta planta.

Constata-se principalmente através do movimento ambientalista e adversários

políticos, que desde os primeiros passos tomados pelo governo para a instalação da

36

Renault, houveram descumprimentos às leis ambientais, além do cerceamento à

democracia, isto é, foi vetado a comunidade civil e política de se inteirarem e discutirem os

acordos feitos entre o governo do Paraná e a empresa. Acordo este assumido em forma de

protocolo que traz clausulas que ferem as próprias leis ambientais, assinado pelo governo

do Estado, prefeito de São José dos Pinhais e a Renault.

Apenas se referindo ao aspecto ambiental do protocolo toda a problemática

levantada envolvia o acordo fechado em torno do local onde a empresa se instalaria. Os

problemas seriam: − Em primeiro lugar a criação de um Distrito Industrial em área de

manancial protegida por lei, importante para o futuro abastecimento de água para a Região

Metropolitana de Curitiba (RMC). Em segundo, o não cumprimento em tempo hábil do

Estudo Prévio de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EPIA/RIMA)

para a implementação do Distrito Industrial e instalação da Renault. Fato que não permitiu

que se debatesse amplamente na Audiência Pública os impactos ambientais que uma

empresa desse porte poderia causar ao manancial. O que se fez foi apenas o estudo de

impacto do Distrito Industrial de São José dos Pinhais e não da Renault, e ainda a não

exigência do estudo de impacto para as empresas fornecedoras da montadora que lá vierem

a se instalar. Terceiro a alteração da lei ambiental para que se pudesse criar esse distrito.

Exposto a forma como se deu a instalação da planta Renault, cabe aqui nos

perguntarmos: Por quê os mecanismos de controle de equilíbrio entre os poderes

(Assembléia Legislativa, Tribunal de Contas do Estado e o Ministério Público, além da

opinião pública) fracassaram?

Recuando sucintamente no contexto histórico político do Brasil, refletiremos como

os governadores adquiriram poder para controlar os órgãos que deveriam fiscalizá-los. Fato

que vem desde a Constituição de 1891 quando se instituiu a estrutura federativa no Brasil

em detrimento do unitarismo imperial. Desde então, em períodos com maior ou menor

37

influência na esfera da política nacional, através dos deputados federais e senadores os

Governadores de Estado tinham importante influência no sistema político do país.

Essa influência variava de acordo com a centralização ou descentralização do Poder

Executivo Federal, mas sem deixar de existir. Isto é, o Governo Federal com a

centralização administrativa detinha mais firmemente em suas mãos o poder financeiro,

administrativo e político, resultando maior controle político nos estados. Os períodos de

maior centralização de poder do executivo federal podem ser representados: na Primeira

República (1898-1930); no Estado Varguista-desenvolvimentista (1930-1945); na Segunda

República (1945-1964), mas neste período os estados voltam a ser forte com o equilíbrio

entre União e os Estados; e o regime militar (1964-1984).22

O regime militar até 1974 esteve no controle da Federação implementando o

modelo unionista-autoritário23 através da concentração administrativa em três pontos

principais: o financeiro, político e administrativo. Este modelo teve seu apogeu de 1965 a

1974. Mesmo neste período apesar da diminuição dessas três autonomias da

governabilidade, os governadores estaduais não perderam o seu poder de fazer política.

O período de descentralização do poder Executivo federal inicia ainda durante o

Regime Militar a partir de 1974 com o declínio do modelo unionista-autoritário e o início

da redemocratização que culmina com a Constituição de 1988. Ou ainda anterior a essa

data com as eleições diretas para governador em 1982. A década de 80 foi marca pelo

aumento do poder dos governadores, que segundo Abrucio24 está relacionada “a

coincidência temporal entre as crises do Estado Varguista-desenvolvimentista e a do

regime militar; o contínuo fortalecimento financeiro das unidades sub-nacionais, rompendo

com o antigo modelo unionista-autoritário; o papel dos governadores na transição

22 Para entender o embate entre as forças regionais e o Poder Central no período 1891-1964, ver: ABRUCIO,

F. L. Os barões da federação: os governadores e a redemocratização brasileira. São Paulo : HUCITEC/Depto de Ciências Políticas, USP, 1998, pp. 31-57

23 ABRUCIO, 1998 op cit pp. 59-90

38

democrática; o lugar das eleições de governador no sistema político; e a crise do

presidencialismo brasileiro durante a década de 80 e começo da de 90.” Esse contexto nos

revela os momentos em que os governadores tinham amenizado os seus poderes e quando

se fortaleceram novamente no poder.

Para fins de análise da hipótese, de que o governo do Paraná (1994-1998) “usa” da

prática de controlar os órgãos fiscalizadores através da neutralização desses órgãos, nos

deteremos em observar como tais práticas se apresentam a partir da Constituição de 1988,

adotando esta data como um dos mais importantes passos dados redundante do progressivo

processo de redemocratização. Além de nos basearemos para investigar esta hipótese no

Paraná em 1994-1998 na análise de documentos que foram impetrados junto a

Procuradoria da República do Estado do Paraná, Documento enviado pelo Partido Verde

ao Juiz da Vara Fazenda Pública do Paraná, as denúncias feitas pelo movimento

ambientalista e oposicionistas ao governo para outros órgãos públicos.

Segundo Abrucio25, (...)“o Poder Executivo, e mais especificamente o governador,

era um centro político incontrastável no processo de governo, por meio do controle dos

outros Poderes e de toda a dinâmica da política estadual. O Poder Executivo torna-se

hipertrofiado, praticamente eliminando o princípio constitucional da separação e

independência entre os Poderes.”

O poder Legislativo Federal teve importante papel no conjunto do processo de

redemocratização do país, e a partir da Constituição de 1988 tem sua participação

consolidada na decisão do sistema político e de fiscalização do Executivo. Desde então

observa-se na esfera do poder federal que os poderes Executivo, judiciário e Legislativo

adquiriram um certo equilíbrio de poder entre si. Já na esfera estadual esse equilíbrio entre

os poderes não se encontra na prática de forma bem definida. Os governadores estaduais ao

24ABRUCIO, 1998 op cit, pp.95

39

longo da redemocratização, e bem antes disso desde 1891, vêm adquirindo poderes que

principalmente a partir de 1988 conseguem neutralizar a ação fiscalizadora do Judiciário e

do Legislativo no processo decisório.

A análise de Fernando Luiz Abrucio vem mostrando claramente como os

governadores de estado estão adquirindo este poder de neutralização dos órgãos de

fiscalização do Executivo Estadual. Poder que dá ao executivo quase o controle total do

processo de decisão. E como o governo de estado consegue esse controle? A partir de 1982

com as eleições diretas para governador restaurou-se seu tradicional poder no sistema

político brasileiro. Esse poder está relacionado aos recursos financeiros, administrativos e

políticos que possibilitam ao governo usá-los na cooptação da classe política estadual e

também federal.

Dentre os instrumentos usados pelos governadores estão os Bancos Estaduais,

verdadeiras fontes de recursos financeiros, onde podia-se fazer empréstimos para usar na

conquista de novos aliados políticos. Outro meio de fonte de poder está no preenchimento

de cargos públicos, redundando no inchaço do setor, o objetivo é a conquista de cabos

eleitorais e consequentemente futuros votos. Isso se dá principalmente com relação aos

cargos de confiança, preenchidos através de critérios políticos eleitorais em detrimento a

própria qualificação técnica do ocupante do cargo.

Esse poder estende seus tentáculos também no âmbito municipal com a distribuição

de cargos na segurança, saúde e educação. Fato que torna o governo mais forte para

negociar com seu Legislativo por ter o controle da base eleitoral dos deputados estaduais.

Podemos dizer que deste modo está formada uma rede de favores entre o Executivo

Estadual, Prefeitos e líderes locais.

25 ABRUCIO, F. L. Os barões da federação: os governadores e a redemocratização brasileira. São Paulo :

HUCITEC/Depto de Ciências Políticas, USP, 1988, pp.111

40

Constitui-se também em forma de controle por parte do Executivo Estadual diante

do Legislativo o sistema eleitoral. Os candidatos a deputados estaduais fazem suas

campanhas eleitorais e buscam também auxílio do governador que por sua vez espera o

apoio destes para seu candidato à sucessão do governo. Outra maneira é através do “reduto

eleitoral” dos candidatos estaduais. Isto é, os municípios, mediante recursos dispensados

pelo governo do estado fazem com os líderes locais, que são verdadeiros cabos eleitorais,

garantam as decisões dos deputados estaduais a favor dos projetos do governo.

Os mecanismos usados pelos governadores para fazerem aumentar os seus poderes

vão além dos já elencados. Se somará ainda para contribuir para o alastramento do poder

executivo estadual, a ausência de exclusividade da representação do deputado estadual em

uma região ou em um município do seu estado. Diferente, por exemplo do que ocorre com

um deputado federal que trabalhará para atender as demandas do estado pelo qual se elegeu

e pretende se reeleger ou avançar na carreira política. Ele tem delimitado o lugar de sua

campanha, as alianças que poderá fazer e as demandas a serem atendidas. Já o deputado

estadual terá como concorrente os prefeitos e líderes locais que estão aliados ao governo de

estado. Com isso, os deputados estaduais têm como alternativa menos prejudicial a

continuidade de sua carreira política a aprovação de projetos do governo que beneficiam a

sua base eleitoral muitas vezes já cooptadas pelo executivo estadual.

Os parlamentares estaduais são vulneráveis ao poder que os governadores têm não

apenas pelos motivos já descritos, mas pela própria fragilidade da instituição Assembléia

Legislativa. Esta fragilidade se dá pela falta de um completo ajuste após a constituição de

1988, ficando o Legislativo estadual muito parecido com o do regime militar, isto é, um

poder secundário.

Outra parcela desse poder se atribui também ao débil interesse da opinião pública

em fiscalizar as ações do governo do estado. Os motivos que explicam essa debilidade

41

pública está na pequena quantidade de atribuições definidas para o Legislativo e para o

Executivo Estadual. Isto é, não está bem claro de qual poder deve emanar esta ou aquela

decisão. Desta forma torna-se mais difícil para o cidadão saber quais são as reais

atribuições do governo estadual. Outro fator que dificulta o interesse público encontra-se

na cobrança de impostos estaduais. Ao estado cabe cobrar o Imposto sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços (ICMS), cobrado do cidadão indiretamente na compra e venda de

mercadorias e serviços repassados ao Estados pelos comerciantes. Muitas vezes a

população nem sabe qual é o percentual da alíquota deste imposto cobrado pelo governo.

Fato este que corrobora na ineficiência da fiscalização da opinião pública, pois é mais

difícil controlar as alterações das alíquotas que o governo venha a fazer, comparado a

outros impostos cobrados pela União e os municípios, como o Imposto de Renda e o IPTU

respectivamente.

Um terceiro aspecto encontra-se na relação estabelecida entre os governadores e

importantes personalidades locais com os meios de comunicação. Estes sucumbem ao

poder dos governadores porque muitas vezes dependem das verbas estaduais destinadas à

publicidade, principalmente as pequenas empresas na área da comunicação. As rádios do

interior são um bom exemplo de cooptação do executivo estadual junto a estes formadores

de opinião. Por fim, outro elemento que alavanca o poder dos governadores é o fato de os

conflitos políticos estarem poucos vinculados ao Executivo Estadual, isto porque os

governadores exercem o poder de controlar os prefeitos e deputados estaduais.

Os deputados estaduais pela inorganicidade dos partidos na Assembléia Legislativa

ficam vulneráveis a dependência dos governadores para a aquisição de verbas públicas a

serem investidas em benfeitorias junto ao seu eleitorado, uma de suas preocupações é o seu

fortalecimento na base eleitoral para se reeleger. Os deputados sabem da importância que

há em apoiar o governo para a obtenção dessas verbas. Desta forma se estabelece uma

42

relação de favores, onde o deputado passa a aprovar as proposta do governo em

retribuição. Esse contato entre o governo e o deputado se dá geralmente de forma

individual, talvez pudéssemos dizer que as negociações acontecem nos bastidores do

poder, onde são negociadas as verbas e os projetos a serem homologados.

Outro fato que culmina na troca de favores entre Executivo Estadual e Legislativo,

é a negociação do governo do Estado diretamente com os municípios, pressionando assim

a base de sustentação eleitoral dos deputados e estes consequentemente a aprovar os

projetos do governo por pressão de prefeitos e líderes locais. Estabelece-se uma rede onde

o governo tem o poder financeiro para barganhar a aprovação de projetos na Assembléia

Legislativa sem maiores dificuldades. E às minorias de oposição resta o questionamento da

legitimidade do processo.

Portanto para que o governador pudesse eliminar a ação fiscalizadora do Poder

Legislativo e ainda do Ministério Público e do Tribunal de Contas, ele agia e age de forma

a cooptar, tornar aliados os agentes desses setores. A neutralização do Ministério Público

(MP) e do Tribunal de Contas de contas (TCE) se dá pela sua influência na escolha dos

conselheiros e da nomeação do Procurador-Geral.

No Tribunal de Contas do Estado os conselheiros são escolhidos uma parte pelo

governador e outra pela Assembléia Legislativa, mas como essa é dominada na sua maioria

pelo executivo na prática o governador escolhia todos os membros, isto é, quase sempre

seus correligionários. O TCE que deveria ser o órgão auxiliar do Legislativo na

fiscalização do Executivo tem desta forma sua função de controle neutralizada na maioria

dos estados brasileiros. E além do mais em alguns Estados o TCE passou a ser usado

também como órgão de controle de prefeitos que poderiam vir a se desviar da política

adotada pelo governador.26

26 ABRUCIO, 1998 Op cit pp.141

43

Já no Ministério Público o governador tem o poder de nomear o Procurador-Geral

que é responsável em comandar os processos contra a Administração Pública Estadual. A

escolha do procurador é feita mediante lista com três nomes elaborada por integrantes de

carreira. No entanto, não é necessário que o nome mais votado seja o eleito e que o nome

escolhido seja aprovado pelo Legislativo. Fato que abre precedente ao executivo em

“participar” da eleição para procurador-geral apoiando um candidato ligado ao Governo

Estadual. Com a aprovação do candidato com vínculos políticos ao Executivo, o

governador podia contar com um “aliado” dentro do Ministério Público.27

Também encontramos o fortalecimento dos governadores em nível nacional. Isso

vem acontecendo ao longo da redemocratização do país, e é concomitante a esse fato a

influência dos governadores principalmente junto aos deputados federais. O canal de poder

dos chefes dos Executivos Estaduais, como constata Abrucio28 está na mais importante

forma de expressão desse poder que é a formação das “bancadas dos governadores” no

Congresso Nacional. Como os governadores obtêm influência sobre os parlamentares

federais?

A atuação política do deputado federal acontece em nível nacional, mas a sua

sobrevivência política depende de seu desempenho perante os eleitores do seu Estado. Por

vezes o deputado é mais conhecido numa determinada região deste Estado, sendo essa

região o provável local em que o candidato vá conquistar o maior número de votos que irá

elegê-lo. Portanto para uma próxima eleição esse deputado precisa ter minimamente

atendido as demandas de suas bases eleitorais. Desta forma os governadores ganharam o

poder, pois podiam “ajudar” na relação deputado/bases eleitorais locais e suas demandas.

Em troca os deputados votavam no Congresso Nacional segundo os interesses do

Executivo Estadual.

27 ABRUCIO, 1998 Op cit pp 142 28 ABRUCIO, 1998 Op cit pp 171

44

A “ajuda” do governador aos deputados federais se dá a partir da distribuição de

empregos públicos estaduais com o objetivo de ganhar cabos eleitorais; distribuição de

verbas e/ou construção de obras públicas vinculadas aos deputados, como se eles fossem os

empreendedores das obras; a fiscalização por parte do governo estadual dos recursos

angariados pelos deputados federais e aplicados na sua localidade eleitoral; e o controle

dos deputados estaduais e prefeitos que por vezes são importantes cabos eleitorais dos

deputados federais.

Outra maneira que alavancava o poder dos governadores perante o Congresso

Nacional estava posta quando se passou a partir de 1982 a se eleger o governador, o

deputado estadual e o deputado federal no mesmo pleito eleitoral. No momento das

campanhas eleitorais ocorriam alianças de candidatos afins entre os três níveis do poder

que disputavam o pleito. Principalmente dos deputados federais em relação aos candidatos

a governador. Se tivesse êxito nas eleições essa aliança o governador contaria com o apoio

do deputado federal no Congresso e vice – versa.

Havia e ainda há outras formas de conquistar o poder político nacional por parte

dos governadores estaduais. Ela consiste na organização das ações políticas dos deputados

que acontecem mais pela via regional do que pela via partidária. Os partidos políticos não

são fortes o suficiente para atender as demandas individuais de seus políticos em favor de

seus Estados ou locais eleitorais, desta forma o parlamentar fica mais ligado ao

governador. Outro fator é o enfraquecimento do presidente da República durante o

processo de redemocratização. Isso se deu devido ao enfraquecimento financeiro,

administrativo e político do poder central. Os estados passaram a partir da

redemocratização a dividir progressivamente esses três pontos importantes da

administração pública. Além disso os poderes Legislativo, Judiciário e o Executivo na

esfera federal adquiriram maior equidade entre si.

45

Muitos desses fatos são encontrados na maioria dos estados da federação segundo

Abrucio. Detendo-se em sua pesquisa de forma mais detalhada, encontramos uma análise

do poder dos governadores entre 1991-1994 feita em 15 estados, inclusive o Paraná.

Segundo o autor verifica-se vários pontos em comum no fortalecimento do poder dos

estados e dos governadores nos casos analisados.

No Paraná verificaremos se houve essa influência por parte do Executivo Estadual

sobre o Legislativo Estadual e Judiciário, e a Prefeitura Municipal e Câmara de Vereadores

de São José dos Pinhais, quando da implementação do Distrito Industrial de São José dos

Pinhais e instalação da Renault. O governo diretamente ligado às negociações dependia

desses órgãos e ainda do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) para a fiscalização e

aprovação deste projeto. Para isso usaremos os caminhos percorridos pelo Executivo na

conquista de seu objetivo.

Através de denúncias e ações impetradas junto aos órgãos públicos de fiscalização

do Executivo Estadual – o movimento ambientalista com suas diversas entidades e fórum

de discussão, o Partido Verde, o Sindicato Estadual dos Servidores Públicos lotados e

vinculados a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento e afins (SINDI/SEAB), a

Subcomissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil – estiveram a frente

das discussões e das informações de opinião pública a respeito das negociações e

instalação da Renault no Paraná.

Tivemos também de forma bastante atuante membros do senado federal e da

Assembléia Legislativa, ambos oposicionistas do então governador que realizou as

negociações. Estes intervieram para que os processos tanto político-financeiro como de

proteção ambiental se tornassem transparentes diante da opinião pública. As críticas foram

proferidas até mesmo por políticos aliados do governo estadual.

A questão da instalação da Renault no Paraná criou uma polêmica que mobilizou ao

46

menos as entidades já citadas e estas por sua vez acionaram os órgãos públicos − Tribunal

de Contas do Paraná, a Procuradoria de Proteção de Meio Ambiente, a Superintendência

Regional do IBAMA no Paraná, a Procuradoria da República no Estado do Paraná e o

Instituto Ambiental do Paraná (IAP) − que deveriam tomar as medidas cabíveis na

apuração das irregularidades no aspecto ambiental e financeiro apontados pelos

denunciantes.

Após o embate ocorrido entre os Estados da Federação detonando uma verdadeira

“guerra fiscal” já mencionada no capítulo anterior, o Governo do Paraná com participação

da Prefeitura de São José dos Pinhais firmaram o Protocolo de Acordo em março de 1996

com a Renault. Cabe lembrar o contexto em que foi elaborado e formalizado tal protocolo.

Isto é, a maior abertura da economia nacional e a necessidade de os Estados atraírem

investimentos para sua economia a fim de garantirem dinamicidade e desenvolvimento

para suas regiões. E em se tratando do setor automobilístico a política federal a partir de

1995 foi decisiva para os investimentos de montadoras estrangeiras no país. Só no Paraná

instalaram-se três grandes empresas: a Audi, Chrysler e a Renault e suas futuras

fornecedoras de acessórios e auto-peças. O referido protocolo dá um exemplo de como os

governos estaduais têm se utilizado dos instrumentos de política econômica e de poder

político na atração de investimentos privados.

Uma das arbitrariedades do governo na negociação com a Renault foi o caráter

sigiloso dado ao processo de negociação. Além do próprio governador alguns poucos

membros do Executivo Estadual e o prefeito de São José dos Pinhais participaram deste

processo. Os pedidos para que se tornasse público os termos da negociação não surtiram

efeito até mesmo por via judicial no Estado do Paraná. A oposição, o movimento

ambientalista e o cidadão paranaense e até mesmo o Poder Legislativo pretendiam obter

êxito nesta questão quando o governo precisou de aprovação da Comissão de Assuntos

47

Econômicos do senado federal para empréstimos internacionais.

Então os senadores oposicionistas vincularam a pretendida aprovação à divulgação

do conteúdo do tal protocolo. O governo se utilizou de manobras políticas para obter

vitória diante da situação, uma delas foi filiar-se ao PFL, apoiar a candidatura de Fernando

Henrique Cardoso à reeleição, com isso deu um importante passo para conseguiu o parecer

favorável do Ministro da Fazenda ao empréstimo e votos no senado para a aprovação do

mesmo. Após as manobras políticas, a conquista da aprovação do pretendido empréstimo e

da não obrigatoriedade da divulgação do protocolo não são meras coincidências.

O fracasso da oposição na conquista da ampla divulgação do protocolo ao menos

deixou uma lição. De que o governo estadual negocia o seu poder político e com o seu

poder político para obter apoio, no caso em discussão, no âmbito federal. As manobras

políticas partidárias situacionistas e uso do poder político não são exclusivos do governo

paranaense, elas estão presentes na maioria dos estados da federação. Isto é, de um modo

ou de outro o Poder Executivo Estadual exerce influência sobre os Legislativos através do

prestígio político na região eleitoral tanto dos deputados Estaduais como dos Federais.

O episódio da negociação e da não divulgação do conteúdo do Protocolo de Acordo

Renault – Estado do Paraná foi apenas uma das demonstrações do poder de influência

política que o governo tem sobre os órgãos Legislativo e Judiciário do Estado. Essa

influência recairia sobre uma parte específica da Legislação Ambiental do Paraná., isto é a

mudança da lei que diminuía a área de proteção do manancial de São José dos Pinhais.

Outra evidência que demonstra a fragilidade dos órgãos fiscalizadores do poder Executivo

no Paraná diz respeito as irregularidades no licenciamento do Distrito Industrial a ser

criado, sem antes ter concluído o Estudo Prévio de Impacto Ambiental e Relatório de

Impacto Ambiental (EPIA/RIMA) da planta Renault e também do referido distrito. Deste

modo fica caracterizado o descumprimento da Lei Federal 6938/81 Art.9º e a Resolução

48

001/86 CONAMA que dispõe sobre o EPIA/RIMA para obras potencialmente poluidoras.

Fato que podemos verificar no documento que varias entidades ambientalistas assinaram e

enviaram ao Procurador Chefe da República do Paraná, doutor Dilton Carlos Eduardo

França.

Verificamos, através de inúmeros fatos, que a Lei não vem sendo cumprida no Estados do Paraná, pelos próprios Órgãos Oficiais, que deveriam ser aqueles a dar o exemplo. Através de muitos casos de transgressão da Lei, omissão, distorção e silêncios intermináveis quando é cobrado o cumprimento da Legislação, instaura-se uma situação caótica, onde prevalecem o cinismo, a farsa e a impunidade.

Um dos maiores crimes contra a coletividade, com clara transgressão da Lei, é o caso da implantação da indústria automobilística da Renault em área protegida por Lei, enquanto manancial, em São José dos Pinhais, a água daquela região era prevista para o abastecimento futuro da cidade de Curitiba.29

Outro aspecto que deu margem à desconfianças e/ou certezas de manobras do

Executivo foi quando se marcou a Audiência Pública, prevista em lei, para o debate do

EPIA/RIMA. A primeira audiência foi cancela a pedido dos ambientalistas pelo motivo da

falta de conclusão do EPIA/RIMA. Na segunda audiência novamente não se cumpriu a

legislação para a convocação da Audiência Pública, que prevê um prazo de até 45 dias de

antecedência. No caso da discussão do RIMA do Distrito de São José dos Pinhais a

convocação foi de 10 dias de antecedência com a liberação do Relatório de Impacto

Ambiental pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Foi considerado um prazo curto para

a análise do RIMA, que além de tudo, deveria ter ampla divulgação dos estudos realizados

para enriquecer as discussões e avaliações dos impactos por toda a sociedade.

Além dos atropelos às legislações quanto ao cumprimento de prazos, ainda há que

se destacar que mesmo antes da conclusão e discussão pública do RIMA, foi criado o

29 Solicitação das Entidades Ambientalistas. junto à Procuradoria da República do Paraná. Curitiba, 18/09/96;

49

Distrito Industrial de São José dos Pinhais. Assim se referiu ao episódio a solicitação

enviada ao Procurador Chefe da República no Paraná30:

Evidencia-se a premeditação na tentativa de descaracterização da área de manancial, já que a Lei Estadual não permite um tipo de empreendimento como o da Renault em área de manancial. Foi, então, criada a 18 de março de 1996, a lei Municipal nº3 estabelecendo a criação do Distrito Industrial de São José dos Pinhais, apenas alguns dias antes da discussão do Relatório de Impacto Ambiental-Rima da obra e mesmo antes de sua complementação. São visíveis as tentativas de burlar a Lei. Lembramos que as fontes de água natural, as áreas de manancial, são consideradas patrimônio da coletividade e uma vez identificadas não podem ser alteradas em sua existência através de Leis ou Decretos.

Este fato demonstra mais uma vez a inoperante atuação dos órgãos públicos, que

por vezes fizeram vistas grossas a todos os tipos de irregularidades, e apenas homologaram

o projeto do Executivo Estadual. Fato que pode ser verificado na própria mudança da Lei

de preservação do manancial de São José dos Pinhais e a Lei que criou o distrito industrial,

esta aprovada pelo Legislativo Municipal, e no tocante a Lei do manancial e ao protocolo

assinados pelo governador e homologados pelo Legislativo Estadual.

Na analise dos diversos documentos reunidos das entidades que estavam

representando a sociedade, no caso Renault, encontramos um ponto em comum: a maioria

deles estão denunciando irregularidades administrativas, pedindo providências dos órgãos

públicos, e criticando as atitudes políticas do governo do estado.

30 Solicitação das Entidades Ambientalistas. junto à Procuradoria da República do Paraná. Curitiba, 18/09/96;

50

5 CONCLUSÃO

A sociedade contemporânea está cada vez mais preocupada em discutir os

problemas ambientais decorridos da industrialização, aumento da população, falta de

projetos de desenvolvimento sustentável... O quadro que hoje visualizamos é de uma

sociedade urbana e industrial. Como não poderia deixar de ser, com o crescimento

desordenado das cidades aumentaram os problemas ambientais e sociais de favelização,

transportes, saúde, alimentação, desemprego e saneamento básico. Cabe aqui ressaltar que

apesar de a tendência mundial estar representada por um urbanismo industrial, há a

necessidade de se respeitar nas análises o contexto histórico das diferenças das

nacionalidades, em termos político, econômico e social.

O processo de industrialização se forjou e se expandiu por todas as partes do

mundo, em maior ou menor escala. A partir, principalmente, desse processo a humanidade

viu impulsionar ao longo da História o desenvolvimento político, social e econômico. Mas

esse desenvolvimento não se processou de forma igualitária entre os países, e nem mesmo

dentro das unidades dos territórios nacionais.

Os países desenvolvidos detêm melhores condições financeiras e com isso as

pesquisas, desenvolvimento e o controle tecnológico. Já os países em desenvolvimento

ficam dependentes da importação dessas tecnologias, que por vezes não são adaptadas as

condições ambientais dos países que o estão recebendo. Pois se torna mais barato a

instalação de multinacionais em seus territórios, a investir no próprio potencial tecnológico

nacional. As dificuldades não param por aí, mesmo com o crescimento econômico a

desigualdade social ainda permanece pela má distribuição da renda, redundando na

precariedade da saúde pública, educação, alimentação, segurança e saneamento básico.

A importação e exportação dos produtos industrializados, a globalização do

51

mercado são tendências modernas que os governos não podem se furtar de seguí-las. Por

isso, a necessidade da atração de investimentos estrangeiros na industrialização de

produtos que comparativamente possam competir no mercado internacional.

Cumpre lembrar que não vivemos apenas para as discussões econômicas, hoje esta

evidente a globalização dos problemas ambientais, bem como das suas discussões. Mesmo

porque as políticas econômicas estão intrinsecamente, ou deveriam estar, ligadas às

políticas ambientais. Mas talvez não estejamos totalmente conscientes deste propósito,

como bem analisa Carlos Gomes de Carvalho31, (...) “no possível confronto entre a política

de crescimento econômico e os interesses dos cidadãos é que se definem os limites e

avanços ou recuos da Política Ambiental”.

E a partir das informações acumuladas ao longo do tempo, percebemos que os

projetos implementados pelos governos, - como por exemplo os projetos

desenvolvimentista dos governos Vargas, JK e do regime militar no Brasil - sejam eles no

setor agrário ou industrial, na sua maioria provocam danos ambientais. Como o cultivo do

café, soja, a extração da madeira no Paraná desde a década 30, provocaram a destruição

das matas nativas do Estado. A indústria também tem sua parcela de contribuição, talvez a

maior, na poluição das águas, solo e ar.

Os anos 90 no Brasil é marcado pelo incentivo na atração de indústrias estrangeiras,

principalmente o setor automotivo e de auto peças. Só no Paraná instalaram-se três grande

montadoras, a Audi, a Chrysler e a Renault, além das fornecedora de auto peças e

acessórios. Esse incentivo veio a calhar com a política de industrialização do governo do

Paraná no período 1994-98.

Deste período podemos concluir que o governo do Estado usa de todos os meios ao

seu alcance para implementar o “seu” projeto. Isso ficou visível no processo de criação do

Distrito Industrial de São José dos Pinhais e a instalação neste distrito da planta Renault. O

52

que está em jogo, não é a vinda da empresa para o Paraná, mas as circunstancias política,

financeira e social decorridas deste projeto. E como o governo se portou diante desses três

importantes pontos?

No aspecto político o Executivo Estadual fez valer o seu poder e influência entre os

outros dois poderes do Estado, o Legislativo e o Judiciário. Esses dois órgãos de

fiscalização das ações do executivo se mostraram inoperantes diante das várias

irregularidades técnicas e de transgressões de Leis. A contestação mais acirrada que o

governo teve que enfrentar, veio principalmente do movimento ambientalista, que por

vezes acabava fracassando devido as manobras política.

No quesito financeiro o obstáculo a ser superado não estava apenas na burocracia

do empréstimo para obtenção do dinheiro, mas novamente na manobra política – partidária

para que o objetivo se cumprisse. O governador mudou até mesmo de partido tornando-se

aliado político da situação na esfera federal para atingir sua meta, o desengavetamento do

pedido de aprovação do empréstimo junto a Comissão de Assuntos Econômicos.

E por fim o social, o governo alterou a lei que protegia o manancial situado em São

José dos Pinhais, um dos principais para o abastecimento de água a Região Metropolitana

de Curitiba, considerado um bem coletivo. Isto ocorreu porque seria criado um Distrito

Industrial onde se instalaria um empresa automobilística e suas fornecedoras. Além de não

fazer cumprir a legislação referente ao EPIA/RIMA para a empresa.

O evidente silêncio e negligenciamento dos órgãos públicos do Estado perante as

denúncias e exigências dos movimentos que estavam informados e participando das

discussões sobre a instalação da Renault, demonstra que o governo tem no mínimo uma

grande influencia sobre esses órgãos.

31 CARVALHO, Carlos Gomes de. Introdução ao direito ambiental. São Paulo : Letras e Letras, 1991

53

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