86
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS SUSCEPTIBILIDADE IN VITRO DE ISOLADOS DE CAMPO DE Plasmodium falciparum Á INFUSÃO (CHÁ) DE Artemisia annua CULTIVADA NA REGIÃO AMAZÔNICA LUIZ FRANCISCO ROCHA E SILVA MANAUS 2009

Luiz Francisco Rocha e Silva

  • Upload
    vuduong

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Luiz Francisco Rocha e Silva

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS

SUSCEPTIBILIDADE IN VITRO DE ISOLADOS DE CAMPO DE Plasmodium falciparum Á INFUSÃO (CHÁ) DE Artemisia annua CULTIVADA NA REGIÃO

AMAZÔNICA

LUIZ FRANCISCO ROCHA E SILVA

MANAUS

2009

Page 2: Luiz Francisco Rocha e Silva

i

LUIZ FRANCISCO ROCHA E SILVA

SUSCEPTIBILIDADE IN VITRO DE ISOLADOS DE CAMPO DE Plasmodium falciparum Á INFUSÃO (CHÁ) DE Artemisia annua CULTIVADA NA REGIÃO

AMAZÔNICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em Convênio com a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, para a obtenção do título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas.

Orientador : Prof. Pedro Paulo Ribeiro Vieira, PhD

Co-orientador: Prof. Adrian Martin Pohlit, PhD

MANAUS 2009

Page 3: Luiz Francisco Rocha e Silva

Ficha Catalográfica Ficha catalográfica elaborada por Maria Eliana N. Silva – CRB- 11/248

S586s Silva, Luiz Francisco Rocha e Susceptibilidade in vitro de isolados de campo de

Plasmodium falciparum à infusão (chá) de Artemisia annua cultivada na Região Amazonica. / Luiz Francisco Rocha e Silva -- Manaus: Universidade do Estado do Amazonas, 2009.

Xiv, 74f. : il. Dissertação (Mestrado) - Universidade do Estado Amazonas - Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical – UEA/FMT, 2009. Orientador: Prof. Dr. Pedro Paulo Ribeiro Vieira. 1. Malaria 2. Plasmodium falciparum 3.Artemisia annua L. I. Titulo CDU:616.92

Page 4: Luiz Francisco Rocha e Silva

ii

FOLHA DE JULGAMENTO

SUSCEPTIBILIDADE IN VITRO DE ISOLADOS DE CAMPO DE Plasmodium falciparum Á INFUSÃO (CHÁ) DE Artemisia annua

CULTIVADA NA REGIÃO AMAZÔNICA

LUIZ FRANCISCO ROCHA E SILVA “Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas”.

Banca Julgadora:

______________________________ Prof. Dr. Pedro Paulo Ribeiro Vieira

Presidente

__________________________________ Prof. Dr. Valter Ferreira de Andrade Neto

Membro

_______________________________ Prof. Dr. João Vicente Braga de Souza

Membro

Page 5: Luiz Francisco Rocha e Silva

iii

À Dijane, Luiz Daniel, Maria Luiza e aos povos da Amazônia

Page 6: Luiz Francisco Rocha e Silva

iv

AGRADECIMENTOS

Á Deus, Criador e Mantenedor de todas as coisas, por tudo o que Ele fez por

mim durante a realização de mais este objetivo.

Este trabalho foi realizado em sua maior parte na Fundação de Medicina

Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) e foi financiado pelo projeto: “Estudo

multidisciplinar do Chá padronizado de Artemisia annua sobre cepas clínicas

regionais de Plasmodium spp. a partir do cultivo da planta em escala comunitária em

três ecos-sistemas Amazônicos,” e foi financiado pelo CNPq (Edital MCT- CNPq /

MS-SCTIE-DECIT – Nº 25/2006). Para sua realização foi fundamental o apoio e

colaboração de diversas pessoas e instituições, ás quais desejo expressar os meus

sinceros agradecimentos:

Ao Professor Doutor Pedro Paulo Ribeiro Vieira, Pesquisador da Fundação de

Medicina Tropical do Amazonas, pela orientação deste trabalho bem como por todo

o apoio, paciência e disponibilidade, os quais foram fundamentais para sua

realização.

Á Doutora Mônica Regina Farias Costa, Gerente da Gerência de Malária da

Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, juntamente com toda a sua equipe de

pesquisadores, técnicos e demais funcionários, pelo apoio logístico na Fundação.

Aos Professores Doutores Pedro Melillo de Magalhães(UNICAP-SP), Adrian

M. Pohlit (INPA) e Francisco Célio Cruz (EMBRAPA-AM) e instituições ás quais

fazem parte, pela coordenação do projeto maior e apoio á realização deste trabalho.

Ás bolsistas Michele Ferreira, Valdelice H. Salgado, Michele Rodrigues e Ana

Lúcia Silva, pelo apoio e disponibilidade e auxílio nos os estudos experimentais aqui

descritos .

À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas FAPEAM pela

concessão da bolsa de estudos através do programa RH-INTERIORIZAÇÃO.

Page 7: Luiz Francisco Rocha e Silva

v

Á Comissão Organizadora dos Seminários Laveram & Deane pela importante

colaboração no delineamento da pesquisa.

Á Dra. Maria das Graças Vale Barbosa, Coordenadora do Programa de Pós-

Graduação em Medicina Tropical (PPGMT) da Universidade do Estado do

Amazonas, e sua equipe, pela disponibilidade e colaboração.

Aos meus pais: Luiz Francisco e Elane Rocha; Irmaos: Luiz Bruno e Luane; e

filhos Luiz Daniel e Maria Luiza, pelo apoio incondicional, á eles devo a realização

de mais este objetivo.

À Dijane....

Page 8: Luiz Francisco Rocha e Silva

vi

“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria”. Provérbios 9:10

Page 9: Luiz Francisco Rocha e Silva

vii

RESUMO

A Artemisia annua é uma planta de origem chinesa, que é utilizada a mais de 2000 anos para o tratamento de febre e malária. Das suas folhas é isolada a artemisinina, a principal droga utilizada para tratar cepas multi-resistentes de Plasmodium falciparum. O presente trabalho avaliou a suscetibilidade in vitro de isolados de campo amazônicos de P. falciparum à infusão de A. annua proveniente de cultivo em três ecos-sistemas amazônicos: várzea, terra preta de índio e terra firme. Foi utilizado, também, um hibrido cultivado em Paulínia, São Paulo. O material vegetal seco e pulverizado foi caracterizado quanto ao teor de artemisinina por cromatografia em camada delgada (CCD)-fotodensitometria. A infusão foi preparada na proporção de 5g de folhas secas, para 1L de água fervente. Para o teste in vitro foram utilizadas as cepas padronizadas de P. falciparum K1(resistente à cloroquina, CQR) e Dd2 (sensível a cloroquina, CQS), e nove isolados de campo da cidade de Manaus-AM, previamente estabilizados em cultivo contínuo. Os parasitas foram cultivados como descrito por Trager & Jensen (1976) e testados in vitro frente a sete diluições da infusão de A. annua dos ecos-sistemas amazônicos e de Paulínia. As diluições da infusão utilizadas nos ensaios variaram de 1:10 a 1:1,5×105. Foi avaliada também a suscetibilidade dos isolados frente as drogas antimaláricas cloroquina, quinina e artemisinina. O teor de artemisinina nas folhas foi de 1,13±0,05; 1,1±0,07; 0,9±0,1 e 0,9±0,1% (m/m), para as plantas cultivadas em Paulinia, terra preta, terra firme e várzea respectivamente. A concentração de artemisinina nas infusões das quatro plantas variou entre 40 e 46mg/L. Os isolados de campo de P. falciparum apresentaram médias de concentração de inibição (CI50) de 268±129, 172±40 e 2,1±1nM frente à cloroquina, a quinina e a artemisinina, respectivamente, sendo todos os isolados de campo considerados resistentes à cloroquina e sensíveis à quinina e à artemisinina. As médias de CI50 das infusões frente aos isolados de campo de P. falciparum foram de 0,11±0,03; 0,11±0,02; 0,13±0,1 e 0,14±0,04μL/mL (μL de infusão por mL de meio de cultura) para as infusões preparadas a partir de planta cultivada em Paulinia, na terra preta de índio, na terra firme e na várzea, respectivamente. Não houve diferença significativa nas respostas (CI50) dos isolados de campo frente aos chás das plantas de diferentes origens. Também, não houve diferença significativa no perfil de suscetibilidade entre os isolados de campo para cada chá. Os isolados de campo e as cepas padrão demonstraram alto grau de suscetibilidade a todas as infusões. Palavras-chave: malária, Plasmodium falciparum, isolados de campo, Artemisia annua, infusão, Amazônia.

Page 10: Luiz Francisco Rocha e Silva

viii

ABSTRACT

Artemisia annua is a medicinal plant from China. Artemisinin is isolated from the leaves of this plant. In this study, in vitro susceptibility of Amazonian field isolates of Plasmodium falciparum to infusions prepared from A. annua cultivated in three Amazonian ecosystems (várzea, terra preta de índio and terra firme) were evaluated. Also, a standardized A. annua hybrid cultivated in Paulínia, São Paulo State was used for comparison. Artemisinin in dry, powdered leaves and also in infusions was determined semi-quantitatively by thin-layer chromatography (TLC)-photodensitometry. Infusions were prepared with 5g of dried, ground leaves and 1L of boiling water. For in vitro susceptibility tests, standard P. falciparum K1(chloroquine-resistant, CQR) and Dd2 (chloroquine-sensitive, CQS) strains and nine field isolates from Manaus, Amazonas State were initially stabilized in continuous culture according to the method described by Trager & Jensen (1976). Seven dilutions of A. annua infusions ranging from 1:10 a 1:1,5×105 were evaluated in vitro in field isolates and standard strains. Also, the susceptibility of field isolates to antimalarial drugs chloroquine, quinine and artemisinin was evaluated. Artemisinin levels in dry leaves were found to be 1.13±0.05, 1.1±0.07, 0.9±0.1 and 0.9±0.1% (m/m) for plants cultivated in Paulínia, terra preta, terra firme and várzea, respectivamente. The concentration of artemisinin in infusions of plants from all four cultivation environments varied from 40 to 46 mg/L. Field isolates of P. falciparum presented average median inhibition concentrations (IC50) of 268±129, 172±40 and 2.1±1nM to chloroquine, quinine and artemisinin, respectively. All Amazonian field isolates were considered resistant to chloroquine and sensitive to quinine and artemisinin. Average IC50 of A. annua infusions to P. falciparum field isolates were 0.11±0.03, 0.11±0.02, 0.13±0.1 and 0.14±0.04μL/mL (μL of infusion per mL of culture medium) for infusions prepared from plant cultivated in Paulinia, terra preta de índio, terra firme and várzea, respectively. There was no significant difference in the responses (IC50) of field isolates towards infusions of plants cultivated in different environments. Also, there was no significant difference in the susceptibility profile of field isolates to individual infusions. Amazonian field isolates and standard strains exhibited a high degree of susceptibility to all A. annua infusions. Keywords: malaria, Plasmodium falciparum, field isolates, Artemisia annua, infusion, The Amazon.

Page 11: Luiz Francisco Rocha e Silva

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Ciclo biológico do Plasmodium sp..................................................... 03

Figura 2 Estimativa dos casos de malária por 1000 habitantes em 2006....................................................................................................

06

Figura 3 Artemisia annua e sua classificação científica................................... 18

Figura 4 Artemisinina e seus derivados semi-sintéticos ................................. 21

Page 12: Luiz Francisco Rocha e Silva

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Data de introdução e primeiros casos registrados da resistência do P. falciparum aos antimaláricos mais utilizados ......................

10

Tabela2 Teor de artemisinina nos chás de A. annua segundo Räth et al., 2004...............................................................................................

23

Tabela 3 - Condições cromatográficas utilizadas para quantificação de artemisinina em extratos de Artemisia annua...............................

34

Tabela 4 Cepas Padrão de P. falciparum..................................................... 35

Tabela 5 Concentração das drogas Cloroquina, Quinina e Artemisinina nos testes de avaliação da susceptibilidade in vitro......................

40

Page 13: Luiz Francisco Rocha e Silva

xi

LISTA DE ABREVEATURAS, SÍMBOLOS E UNIDADES DE MEDIDA

°C - Grau Célsios CO2 - Dióxido de carbono CPQBA - Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agronômicas DP - Desvio padrão EDTA - Ácido etileno diamino tetra acético EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FMTAM - Fundação de Medicina Tropical do Amazonas g – grama HEPES - Ácido N-2-hidroxietilpiperacina-N-2-etanossulfónico HPLC - Cromatografia líquida de alta eficiência (high performance liquid chromatography) CI50 - Concentração que inibe o crescimento de 50% dos parasitas INPA - Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia L – Litro Log - Logaritmo base 10 mg – miligrama mL - mililitro N° – número O2 – Oxigênio rpm - rotações por minuto RPMI 1640 - Meio de cultura TRIS - Tris (hidroximetil) aminometano UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas v/v - Volume/ volume ng – Nanomolar nL – Nanomolar nM – Nanomolar μg – Micrograma μL – Microlitro μM – Micromolar

Page 14: Luiz Francisco Rocha e Silva

xii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 01

1.1 Malária: Aspectos Gerais ......................................................................... 01 1.1.1 Vetor ...................................................................................................... 02 1.1.2 Ciclo evolutivo do Plasmodium ............................................................ 03 1.1.3 Epidemiologia ........................................................................................ 05 1.1.4 Diagnóstico ............................................................................................ 07 1.2 Resistência ............................................................................................... 08 1.2.1 Resistência á artemisinina e derivados ................................................ 12 1.3 Cultivo in vitro do P. falciparum ............................................................... 13 1.3.1 Ensaios de atividade antimalárica in vitro ............................................. 14 1.3.1.1. Teste in vitro por análise fluorimétrica ............................................. 16 1.4 Artemisia annua L., ................................................................................ 18 1.4.1 Aspectos Botânicos ............................................................................... 18 1.4.2 Artemisinina, o princípio ativo da A. annua ........................................... 19 1.4.3 A tradicional preparação de A. annua, o Chá ....................................... 22 1.4.3.1 Aspectos farmacológico e eficácia do chá ......................................... 24 1.4.4 Cultivo e produção de A. annua ............................................................ 25 1.5 Plantas antimaláricas amazônicas ........................................................... 26

2 OBJETIVOS ............................................................................................... 30 2.1 Objetivo Geral .......................................................................................... 30 2.2 Objetivos Específicos .............................................................................. 30

3 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................... 31 3.1 As áreas de cultivo de Artemisia annua. 31 3.2 Determinação do teor de artemisinina nas folhas secas de A. annua por HPLC ..............................................................................................................

33

3.2.1 Preparo das amostras para análise ...................................................... 33 3.2.1 Preparo fase móvel ............................................................................... 33 3.2.3 Condições cromatográficas ................................................................... 33 3.2.4 Preparo da curva analítica .................................................................... 34 3.3 Determinação do teor de artemisinina no chá por densitometria ............. 34 3.4 Amostras de P. falciparum ...................................................................... 35 3.4.1 Cepas padrão ........................................................................................ 35 3.4.2 Obtenção dos isolados de campo ......................................................... 36 3.4.3 Descongelamento ................................................................................. 36 3.5 Manutenção da cultura de P.falciparum ................................................... 37 3.6 Protocolo de estabilização e acompanhamento da parasitemia .............. 38 3.6.1 Sincronização ........................................................................................ 38 3.7 Avaliação da susceptibilidade das cepas padrão e dos isolados de campo ao Chá de A. annua, e ás drogas antimaláricas padrão. ...................

39

3.7.1 Preparação das soluções estoques das drogas padrão ....................... 40 3.7.2 Preparação dos chás para o teste in vitro ............................................. 40 3.7.3 Microteste de susceptibilidade in vitro .................................................. 41

Page 15: Luiz Francisco Rocha e Silva

xiii

3.8 Análise dos Dados .................................................................................. 42 4 RESULTADOS ............................................................................................ 43 5 CONCLUSÕES ........................................................................................... 62 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 62 7 ANEXOS 69 7.1 Parecer de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa ........................ 69 7.2 Confirmação da Submissão ..................................................................... 70 7.3 Artigos Publicados como autor e coautor relacionados a dissertação ..... 71 7.3.1 In Vivo and In Vitro Antimalarial Activityof 4-Nerolidylcatechol……….. 71

Page 16: Luiz Francisco Rocha e Silva

1

1 INTRODUÇÃO 1.1 Malária: Aspectos Gerais

A malária ou paludismo é uma doença infecciosa, não contagiosa, de

evolução crônica, com manifestações episódicas de caráter agudo, que

acomete milhões de pessoas nas zonas tropicais e subtropicais do globo. Os

parasitas da malária pertencem ao gênero Plasmodium, da família

Plasmodiideae, filo Apicomplexa, classe Sporozoea, ordem Eucocciida. Das

150 espécies de Plasmodium descritas, prioritariamente quatro parasitam o

homem: P. malariae, P. vivax, P. falciparum e P. ovale (1). Outras espécies de

Plasmodium estudadas (P. yoelii, P. berghei, P. chabaudi, P. cynomolgi) tem

como hospedeiros mamíferos selvagens (2).

A espécie de Plasmodium mais amplamente disseminada em todo o

mundo é o P. vivax. Esta espécie se encontra em quase todas as regiões onde

a malária é endêmica. O Plasmodium falciparum causa a forma mais grave da

doença, sendo o principal responsável pelas causas de óbito (3).

A transmissão ao homem ocorre por meio da picada da fêmea do

mosquito do gênero Anopheles no momento do repasto sangüíneo pois

precisam de sangue para a maturação dos ovos. O parasita passa por

diferentes estágios no mosquito e no sangue do hospedeiro (4).

Os primeiros sintomas da malária são inespecíficos, e semelhantes aos

da maioria das doenças virais. As manifestações clínicas variam de acordo

com a espécie de plasmódio e o estado imunológico do hospedeiro. Os

sintomas envolvem dor de cabeça, dores musculares, náuseas e tonturas,

seguidos de uma sensação de frio, acompanhada de tremor, febre, suor e um

aumento da temperatura. Nos casos complicados, podem ocorrer dores

abdominais fortes, sonolência e redução da consciência e até coma, como na

malária cerebral. Não é comum ocorrer malária severa causada por P. vivax, P.

malarie ou P.ovale, mas infecções agudas em um hospedeiro não-imune

podem ser preocupantes (1).

Page 17: Luiz Francisco Rocha e Silva

2

Fatores relacionados diretamente ao plasmódio como: resistência às

drogas, variação e polimorfismo antigênicos, capacidade de roseteamento e

citoaderência associados a fatores do próprio homem como imunidade,

produção de citocinas inflamatórias, aspectos genéticos, idade e gravidez,

também são importantes e responsáveis pelas diferentes respostas clínicas à

infecção (5).

1.1.1 Vetor

Todos os transmissores de malária dos mamíferos são insetos da ordem

Diptera, da família Culucidae e do gênero Anopheles. Este gênero compreende

cerca de 400 espécies, das quais apenas reduzido número tem importância

para a epidemiologia da malária em cada região. No Brasil, cinco espécies são

consideradas como vetores principais (4).

• Anopheles (Nyssorhynchus) darlingi;

• Anopheles (Nyssorhynchus) albitarsis;

• Anopheles (Nyssorhynchus) aquasalis;

• Anopheles (Kertesia) cruzi;

• Anopheles (Kertesia) bellator;

De acordo com o trabalho desenvolvido por Tadei e Dutari-Tatcher (6),

que tinha o objetivo de determinar a importância da transmissão da malária,

várias espécies de Anopheles foram estudadas e das 33 espécies de

ocorrência na Amazônia, apenas oito foram encontradas infectadas por

Plasmodium, sendo o Anopheles darlingi, o principal vetor na região. Essa

espécie é capaz de manter a endemia malárica, mesmo em baixa densidade,

devido à alta eficiência na transmissão do P. vivax e P. falciparum.

O controle vetorial é uma das principais estratégias da Organização

Mundial de Saúde (OMS) para o controle e erradicação da malária. Existem

duas principais abordagens neste sentido: o uso de mosquiteiros impregnados

Page 18: Luiz Francisco Rocha e Silva

3

com inseticidas e a pulverização. Tais intervenções podem ser

complementadas em locais específicos com outros métodos como controle de

larvas e gestão ambiental (7).

1.1.2 Ciclo evolutivo do Plasmodium O ciclo evolutivo dos plasmódios (Figura 1) se caracteriza por duas

fazes: uma fase assexuada que ocorre no hospedeiro vertebrado, e uma fase

sexuada que ocorre no hospedeiro invertebrado(3).

Figura 1. Ciclo biológico do Plasmodium sp. (8)

O ciclo assexuado ou esquizogônico inicia-se quando os esporozoítas,

formas infectantes contidas na saliva do mosquito, são inoculados no homem

durante o repasto sangüíneo. Uma vez injetados na pele, os esporozítas usam

sua mobilidade ativa para alcançar os capilares sanguíneos e terminam sua

jornada até o fígado, período que pode levar cerca de 30 a 60 minutos. Nem

todos os esporozoítas inoculados deixam a pele. Isto depende da espécie de

parasita e do grau de vascularização no sítio de inoculação. Outros eventos

que ocorrem durante a jornada do esporozoíta, tais como a passagem através

das barreiras endoteliais da pele e do fígado precisam ser esclarecidas, assim

Gametócitos

Zigoto

Oocisto Esporozoita

Gametócitos

Ciclo Heritrocítico Assexuado

Esporozoita

Merozoitas

Page 19: Luiz Francisco Rocha e Silva

4

como é controversa a interação entre estas formas do parasita com as células

de Kupffer (3, 9).

O esporozoítas penetram as células do hospedeiro formando um

vacúolo parasitófago com a membrana do hepatócito. A composição molecular

desta junção é pouco conhecida, com apenas algumas proteínas identificadas.

Duas proteases utilizada pelo parasita na invasão estão muito bem

caracterizadas: a proteína do circunsporozoíto (CS) e a proteína de superfície

do esporozoíto 2 (SSP2), também conhecida como TRAP (9).

Dentro dos hepatócitos, os esporozoítas sofrem sucessivas divisões

mitóticas dando origem ao esquizonte hepático, com milhares de merozoítas

em seu interior. Estes merozoítas deixam os hepatócitos e vão infectar os

heritrócitos na corrente sanguínea, onde tem início uma nova fase de

reprodução assexuada (10).

Nas infecções causadas por P. falciparum e P. malariae, os esquizontes

se rompem todos ao mesmo tempo e não persistem no interior dos hepatócitos.

Já no P. ovale e no P. vivax, algumas formas exoeritrocíticas, denominadas

hipnozoítas permanecem latentes no fígado por meses ou anos, e estas formas

parecem ser responsáveis pelas recidivas tardias da doença (1).

Após a penetração nos eritrócitos, os merozoítos transformam-se em

trofozoítas jovens na forma de anel, e se desenvolvem. Em determinado

momento ocorrem divisões do núcleo, dando origem ao esquizonte sanguíneo

que origina um número variável de merozoítos. Os eritrócitos se rompem

liberando os merozoítos, que invadem outros eritrócitos, reiniciando o ciclo

eritrocítico. Depois de alguns ciclos um pequeno número de merozoítos

diferenciam-se em gametócitos femininos (macrogametócitos) e masculinos

(microgametócitos), que permanecem na membrana dos eritrócitos até serem

ingeridos pelos mosquitos (10).

Page 20: Luiz Francisco Rocha e Silva

5

Os gametócitos continuam circulando na corrente sanguínea por algum

tempo e, ao serem ingeridos pelo Anopheles, dão início ao ciclo sexuado ou

esporogônico.

A transformação dos gametócitos em gametas, ocorre no interior do

intestino do mosquito logo após a ingestão do sangue. A formação do gameta

macho (microgameta) é propiciada por fatores como queda da temperatura e

modificação do pH. O microgametócito sofre um processo chamado de

exflagelação, originando os microgametas, flagelados e móveis, que

fecundarão o macrogameta desenvolvido. A fertilização dos gametas gera um

zigoto e posteriormente uma forma invasiva, o oocineto, que pode movimentar-

se em direção ao epitélio estomacal do mosquito, atravessando-o e

permanecendo entre o mesmo e a lâmina basal, em uma forma vegetativa,

chamado de oocisto. Este cresce e sofre divisões (esporogonia) produzindo de

2 a 8000 esporozoítos. Estes esporozoítos rompem a parede do oocisto e

migram para as glândulas salivares através da hemolinfa, tornando-se a forma

infectante para o homem (5).

A grande complexidade do ciclo de vida do parasita explica as enormes

dificuldades que tem vindo a ser experimentadas, ao longo dos tempos, para o

estabelecimento de uma terapia antimalárica eficaz e segura.

1.1.3 Epidemiologia A malária está amplamente distribuída nas regiões tropicais e

subtropicais do planeta, e é considerada uma das doenças parasitárias mais

importantes.

A Organização Mundial de Saúde estima que 40 % da população

mundial, isto é, 3,3 bilhões de pessoas vivem em áreas com alto risco de

transmissão da malária em 109 países onde a doença é considerada

endêmica. Em 2006 foram registrados 247 milhões de casos, causando um

Page 21: Luiz Francisco Rocha e Silva

6

milhão de mortes, sendo 90% destas, crianças africanas com idade inferior a

cinco anos. Isto significa que a cada 40 segundos uma criança morre de

complicações decorrentes da doença, provocando um prejuízo diário de mais

de 2000 vidas (11).

Em 2004, o Plasmodium falciparum esteve entre as principais causas de

morte no mundo inteiro a partir de um único agente infeccioso. Os grande

números que delineiam a epidemiologia da malária tornaram-se pautas comuns

nos fóruns de discussão da saúde pública global (11).

A figura 2 demonstra que a malária está amplamente distribuída pelo

globo, mas sua incidência está limitada a um grupo razoável de países,

estando a maioria deles na África-subsaariana. Esta região acumula 93% dos

casos de malária do planeta. A doença é quase ausente na América do Norte e

Europa, depois de ter sido erradicada nestes locais até meados do século 20

(12).

Figura 2. Estimativa dos casos de malária por 1000 habitantes em 2006.

Fonte: (WHO, 2010)

Page 22: Luiz Francisco Rocha e Silva

7

Em grande parte dos países na África (Sub-Saara), os casos de

malária são diagnosticados e notificados de forma presuntiva, sem

comprovação laboratorial, tendo como base os aspectos clínicos e

epidemiológicos da doença. Nas Américas e na maioria dos países da Ásia e

Norte da África, todos os casos notificados são confirmados por meio de

diagnóstico laboratorial por microscopia ótica(13).

Nas Américas, no ano de 2006, foram notificados 917.828 casos de

malária, sendo que 59,7% no Brasil, 13,5% na Colômbia. Aproximadamente

99,5% dos casos de malária no Brasil ocorrem na Amazônia Legal, que é

composta pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia,

Roraima, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão (11).

A malária continua sendo um grave problema de Saúde Pública na

Região Amazônica, devido à alta incidência e aos efeitos debilitantes para as

pessoas acometidas por essa doença, com um importante potencial de

influenciar o próprio desenvolvimento da região. Nos últimos anos, o Ministério

da Saúde, em parceria com estados e municípios, temintensificado as ações de

controle da malária na Amazônia, alcançando resultados positivos. Apesar

desses avanços, a incidência da doença na região continua elevada com um

IPA de 19,9/1000 (2005). Esta alto nível de incidência associado a

persistência de fatores ambientais e socioeconômicos predisponentes exigem o

permanente aperfeiçoamento do Programa Nacional de Controle da Malária

(PNCM) (7, 14).

Em 2007 foram registrados 458.624 de caso no Brasil, com uma

redução significativa no ano de 2008 para 306.347, indicando que no último

ano, mais de cento e cinqüenta mil pessoas deixaram de adoecer de malária.

Dos casos notificados no país, 73,4 % foram causados pelo P. vivax (7).

Os estados do Amazonas e Rondônia concentram 60 % dos casos do

Brasil. Nos últimos anos, Manaus e Porto Velho apresentam extensas áreas de

Page 23: Luiz Francisco Rocha e Silva

8

aglomerados urbanos em regiões periféricas, indicadas como rurais. Essas

áreas têm se configurado importantes locais de infecção por receberem intenso

fluxo de pessoas que se deslocam de outros municípios em busca de

oportunidades de trabalho ou necessidades comerciais. Assim, esses

municípios concentraram 26,9% e 22,9% dos casos de malária da Região

Amazônica nos anos de 2007 e 2008 respectivamente (7).

A malária diagnosticada, notificada e atendida na Fundação de Medicina

Tropical do Amazonas manteve-se elevada em 2004 e 2005. Dos 153.206

diagnósticos de gota espessa desse período, 58.412 (38,13%) apresentaram

resultado positivo para malária, sendo o P. vivax responsável por 74,3 % dos

casos, cabendo ao P. falciparum 25,7 % dos diagnósticos positivos. De janeiro

a setembro de 2006 apresentou marcante redução (35,6%), quando

comparado ao mesmo período de 2005, representando uma diminuição de

8.946 casos primários (15).

A malária causada pelo P. falciparum é considerada a forma mais grave,

porém, a gravidade e complicações clínicas causadas pelo P. vivax, embora

não muito comuns, já são relatadas na literatura (16). Decorrente dessas

manifestações o P. vivax tem liderado a causa de internação na FMTAM.

1.1.4 Diagnóstico

O diagnóstico laboratorial da malária consiste na detecção do plasmódio

utilizando sangue concentrado, desemoglobinizado, e corado através de

corantes biológicos baseados no azul de metileno, que permitem visualizar as

formas sanguíneas do parasito; técnica conhecida como “Gota Espessa”, que

até hoje continua sendo o método de escolha “padrão ouro” para o diagnóstico

da doença por ser um método satisfatório em termos de especificidade, de

baixo custo, prático (17).

A gota espessa é um método sensível capaz de detectar 0,001% de

parasitemia, ou seja, acima de 1 parasita/μL de sangue. Contudo, o método

Page 24: Luiz Francisco Rocha e Silva

9

torna-se pouco sensível quando os parasitas estão presentes em número muito

reduzido (< 1/μL de sangue) ou quando o indivíduo está infectado por mais de

uma espécie de plasmódio, apresenta também dificuldade de diagnóstico

quando existe mais de uma espécie por infecção e em condições de

acondicionamento de reagentes e equipamentos de maneira inadequada (18).

Nos últimos anos, as técnicas moleculares como PCR tradicional e Real

Time PCR, tem sido consideradas as técnicas com maior sensibilidade e

especificidade. Através de uma única reação, é possível diagnosticar a

presença de mais de uma espécie de Plasmodium.(19).

Várias pesquisas têm sido realizadas para o desenvolvimento de novos

métodos laboratoriais para o diagnóstico da malária, contudo, sem desprezar o

valor do método convencional da gota espessa, pois ainda é a técnica de

escolha para a realidade dos países em desenvolvimento (20).

1.2 Resistência

A resistência do P. falciparum às drogas antimaláricas emergiu como um

dos maiores desafios a ser enfrentado para o controle da malária, com

implicações no aumento de mortalidade nas áreas hiper e holoendêmicas e

contribuiu para o aparecimento e ampliação de novos focos de malária

causada pelo P. falciaparum, mas acima de tudo foi identificado como um fator

de contingenciamento econômico do controle da malária (21).

A diminuição da sensibilidade do Plasmodium spp. aos fármacos é

produto de vários fatores como: farmacocinética da droga, resistência cruzada

entre drogas, tratamentos inadequados, seja por má prescrição, administração,

não adesão do tratamento ou pobre absorção (22).

Historicamente a resistência do P. falciparum aos antimaláricos é

conhecida desde o início do século passado quando Neiva (23) assinalou no

Page 25: Luiz Francisco Rocha e Silva

10

Brasil os primeiros insucessos no tratamento da malária com quinino. Em 1947

começaram a surgir referências ao aparecimento de plasmódios resistentes de

regiões tratadas com antimaláricos sintéticos. Entretanto, a partir de 1961,

constatou-se o aparecimento de plasmódios resistentes a cloroquina e a outras

aminoquinolinas no Brasil, na Colômbia e no Sudeste da Ásia e a situação

agravou-se sobre maneira (4).

No Brasil, no início da década de 60, foram descritos os primeiros casos

de resistência à cloroquina, em pacientes com malária causada pelo P.

falciparum procedentes da região Amazônica e do Nordeste (24). Na década

de 80, Alecrim (25), em estudos in vitro e in vivo sobre a resistência às drogas

antimaláricas na Amazônia, demonstrou 100% de resistência in vitro a

cloroquina. A tabela 1 relata os primeiros registros da resistência no mundo:

Tabela 1: Data de introdução e primeiros casos registrados da resistência do P. falciparum aos antimaláricos mais utilizados.

Fármaco Introduzido em Primeiro registro

de resistência Diferença (anos)

Quinino 1632 1910 278

Cloroquina 1945 1957 12

Proguanil 1948 1949 1

Sulfadoxina-

Pirimetamina 1967 1967 0

Mefloquina 1977 1982 5

Artemisinina e

derivados 1980 - -

Fonte: (26)

O P. falciparum continua apresentando diminuição da sensibilidade às

drogas habitualmente usadas, constituindo sério problema para o controle e

erradicação da malária. Atualmente todos os países com áreas malarígenas

apresentam cepas resistententes de P. falciparum tanto à cloroquina como aos

Page 26: Luiz Francisco Rocha e Silva

11

demais antimaláricos, além do que também há registros da diminuição da

sensibilidade do P. vivax a estas drogas. Outro fenômeno preocupante é a

identificação de fenótipos de parasitas resistentes a duas ou mais drogas

simultaneamente, fato conhecido como Multidrug resistance (MDR), ou

resistência a múltiplas drogas, e é bem caracterizado no sudoeste asiático,

América do Sul e África (27).

Com a rápida evolução do perfil de sensibilidade do parasita aos

diferentes antimaláricos, torna-se fundamental compreender os mecanismos

utilizados pelo Plasmodium para evita a ação do fármaco sobre si. Este

conhecimento auxilia na implementação de estratégias racionais na síntese de

novos fármacos e na re-estruturação de compostos já existentes. Além disso,

informações sobre os mecanismos de resistência podem ser aplicado na

monitorização e controle do aparecimento e propagação da quimio-resistência

em população de parasitas naturais (22, 26).

Diferentes mecanismos podem modificar o padrão de sensibilidade de

vários organismos às drogas. No caso particular do Plasmodium falciparum, o

aparecimento da resistência, é atribuído em primeiro lugar à ocorrência de

mutações gênicas espontâneas e em segundo lugar à pressão seletiva

desenvolvida pelos medicamentos sobre as populações de parasitos sensíveis

e parasitos resistentes, independente da dose utilizada (28).

As abordagens moleculares tem se mostrado uma ferramenta

fundamental no monitoramento da evolução e desenvolvimento da resistência a

drogas. Análises moleculares são partes fundamentais nos principais estudos

de eficácia e segurança de drogas. Estudos com mutações pontuais ou SNPs

(Single Nucleotide Polimorphism) no gene pfcrt do P. falciparum associado com

resistência á cloroquina colaborou com a retirada desta droga dos esquemas

de tratamento para malária causada pelo P. falciparum em muitos países (29).

Este conhecimento tem uma importante implicação na saúde pública,

pois se a emergência de resistência for detectada precocemente, pode-se

Page 27: Luiz Francisco Rocha e Silva

12

tentar impedir a dispersão regional e intercontinental da mesma, prolongando

assim a vida útil de importantes drogas antimaláricas (30).

1.2.1 Resistência á artemisinina e derivados

A artemisinina e seus derivados semi-sintéticos são os compostos mais

efetivos disponíveis para o tratamento de pacientes portadores de cepas multi-

resistentes de P. falciparum. Até o presente, ainda não há relatos de

resistência clínica aos derivados artemisinico, porém acumulam-se evidencias

do possível surgimento da mesma.

Nos últimos anos, espécies de Plasmodiun de roedor resisistentes a

artemisinina e seus derivados tem sido produzidos em laboratório com o intuito

de se conhecer os possíveis mecanismos de desenvolvimento de resistência a

estas drogas. Clones geneticamente estáveis de P. chabaudi foram

selecionados a partir de prolongada exposição de cepas sensíveis á doses

sub-terapêuticas de artemisinina, sendo comprovada sua transmissão através

do mosquito vetor (31, 32).

Estudos de sensibilidade in vitro á artemisinina com isolados de campo

da China tem demonstrado concentrações inibitórias em 1999 até 3,3 vezes

maior que em 1988. Isolados de campo do Camboja, Guiana Francesa e

Senegal apontaram uma elevação significativa dos valores de IC50 á droga

(33), o mesmo foi observado em outro estudo realizado com amostras de São

Tomé e Príncipe, onde detectou-se em algumas amostras valores de IC50 até

15 vezes maiores que a média para artemisinina e artemeter (34).

A diminuição da susceptibilidade in vitro não significa ineficácia clinica,

porém são os primeiros indícios para a possível emergência de resistência,

sendo necessário maior vigilância e controle quanto ao uso destas drogas.

Page 28: Luiz Francisco Rocha e Silva

13

Estudos de monitoramento da resistência in vitro e in vivo, juntamente com

estudos moleculares, são ferramentas importantes para esta vigilância (33).

A principal molécula candidata a alvo de ação da artemisinina e,

conseqüentemente envolvida no mecanismo de desenvolvimento da resistência

a esta droga, é uma proteína do retículo sarcoendoplasmático Ca+2 ATPase

(SERCA), codificada pelo gene pfatp6 (35). Esta proteína foi expressa em

oocistos de Xenopus laevis onde foi possível observar que a artemisinina

interage com esta enzima inibindo completamente sua ação Estudos adicionais

em X. leavis comprovaram que o ponto de mutação L263E está diretamente

associado com a modulação da resposta a artemisinina. Outras mutações

induzidas neste gene comprovam que dependendo do aminoácido mutado a

resposta terapêutica da artemisinan in vitro pode diminuir drasticamente (34).

Seis dos sete isolados de campo da Guiana Francesa que apresentaram

altos valores de IC50 frente o artemeter apresentaram a mutação S769N,

enquanto as demais amostras não apresentaram tal polimorfismo(33). Em um

estudo conduzido com amostras de São Tomé e Príncipe, Ruanda e Brasil

foram identificadas mais 8 mutações que ainda não tinham sido descritas,

porém estas mutações não apresentaram correlação com os valores IC50

elevados para Artemeter e Artemisinina, e não apresentaram o polimorfismo

S769N encontrado na Guiana Francesa (34).

No estado do Amazonas, foram estudadas amostras de P. falciparum de

pontos geográficos distintos em busca de mutações no gene pfatp6, nas quais

foram encontradas 3 mutações: T1204G, G1888T e T2694A. Ao agrupar as

mutações encontradas com as demais mutações descritas para este gene

observou-se três haplótipos distintos do gene pfatp6, comprovando assim a

diversidade genética dos parasitas da Região Amazônica (34).

1.3 Cultivo in vitro do P. falciparum

Page 29: Luiz Francisco Rocha e Silva

14

Em 1976 foi descrito pela primeira vez por Trager e Jensen (36)o cultivo

contínuo do Plasmodium falciparum, e esta possibilidade revolucionou as

investigações sobre a malária humana, dando início à uma nova fase de

grande importância no estudo da doença.

A capacidade de cultivar o P. falciparum in vitro representou um avanço

importante para a evolução de muitos estudos na farmacologia das drogas

antimaláricas, seja nos estudos de resistência ou triagens de novas drogas,

além de estudos de imunologia no desenvolvimento de vacinas, elucidação de

mecanismos patogênicos, desenvolvimento genético e o conhecimento da

biologia celular a molecular do parasito (37, 38).

O cultivo in vitro de Plasmodium spp. requer a simulação das condições

nas quais o parasita de desenvolve. Como em cada fase do ciclo, o parasita

passa por condições diferentes, tais como tecido parasitado, temperatura e os

líquidos com os quais entra em contato, de acordo com a fase que se deseja

cultivá-lo, as condições devem ser adaptadas (37).

Grandes esforços e tempo tem sido dedicado para a reprodução in vitro

das formas da fase eritrocítica do ciclo de vida do Plasmodium. Esta forma

requer especial atenção por está diretamente relacionada com a patogênese

da doença, e é o principal alvo para o desenvolvimento de vacinas e de ação

das principais drogas antimaláricas, sendo muito importante para a

compreensão dos mecanismos de susceptibilidade e resistência á drogas (2).

1.3.1 Ensaios de atividade antimalárica in vitro

Tradicionalmente os testes in vitro de susceptibilidade do plasmódio à

drogas tradicionais e a novas drogas são todos baseados na medida do efeito

das substâncias no crescimento e desenvolvimento dos parasitas da malária.

Tal efeito permite observar o grau de inibição do crescimento e/ou morte

parasitário, refletindo o grau de susceptibilidade do parasito a um determinado

fármaco a uma determinada concentração (39).

Page 30: Luiz Francisco Rocha e Silva

15

O primeiro ensaio de avaliação da atividade de uma droga antimalárica

in vitro em parasitas da malária humana foi realizado em 1922. A técnica

compreendia o cultivo de isolados de campo de P. falciparum e a exposição

destas culturas á uma única concentração de quinina por 29 horas de

incubação para demonstrar seu efeito esquizonticida. O uso deste ensaio

protótipo foi limitado por várias décadas (39).

Cerca de 40 anos depois, com a emergência da resistência á drogas

pelo P. falciparum, Rieckmann (40) desenvolveram o primeiro ensaio

laboratorial descrito capaz de medir a capacidade do parasito de se

desenvolver da fase de anel jovem para esquizonte, usando as mudanças

morfológicas para o monitoramento dos antimaláricos, conhecido como

macroteste. Dez anos depois, vislumbrado em determinar áreas cloroquino-

resistentes, Rieckmann e colaboradores (41) simplificaram o procedimento em

microcultura para medir a inibição de maturação dos esquizontes em 24 horas,

que passou a ser conhecida como microtécnica.

Desde então, o microteste tem sido a principal ferramenta dos estudos

de campo da Organização Mundial da Saúde para o monitoramento da

resistência in vitro do P. falciparum, sobretudo em países sub-desenvolvidos

que não possuem recursos para a implementação de técnicas mais

dispendiosas. A grande dificuldade na microtécnica que utiliza a análise

microscópica está não somente em quantificar os eritrócitos parasitados, mas

também identificar em qual estágio do ciclo de vida o parasito se encontra (42).

O aprimoramento da técnica teve por objetivo tornar sua execução mais

prática e de baixo custo, e permanece até o presente como uma das técnicas

mais simples para avaliação de sensibilidade e triagem de novas drogas in vitro

(43).

Desjardins e colaboradores (44) desenvolveram um ensaio para o

estudo da susceptibilidade do P. falciparum com o emprego de material

Page 31: Luiz Francisco Rocha e Silva

16

radioativo baseado na inibição da incorporação da hipoxantina tritiada pelo

parasito para demonstrar o efeito das substâncias testadas. Este método tem

alto grau de reprodutibilidade, além ser possível testar uma grande quantidade

de compostos em menos tempo por ser consideravelmente mais rápido na sua

execução do que o teste baseado na avaliação morfológica de crescimento do

parasito, além de ser mais sensível e objetivo, reduzindo os fatores

relacionados a falha humana. Porém esta técnica apresenta limitações para ser

executada em campo, por necessitar de equipamentos específicos, envolve a

manipulação de materiais radioativos, e apresenta muitas etapas no protocolo

de execução (69).

Nos últimos anos vários métodos têm sido desenvolvidos para aprimorar

os estudos in vitro de resistência e de triagem de novas drogas antimaláricas.

Destacam-se entre eles o método enzimático que mede a atividade da lactato

desidrogenase do Plasmodium (pLDH) através de espectrofotometria (45), é o

método fundamentado na medida quantitativa da Proteína 2 Rica em Histidina

(HRP2) produzida pelo Plasmodium (46).

Estes testes têm demonstrado alta sensibilidade no monitoramento da

resistência, porém apresentam limitações quando se trata de screening de

novas drogas a partir de produtos naturais. Os métodos colorimétricos são

baseados em atividades enzimáticas específicas do parasita, porém estão

sujeitos á interferência de artefatos tais como os pigmentos presentes em

extratos brutos de plantas, que são freqüentemente usados em programas de

screening de drogas (47, 48).

Atualmente os sistemas de ensaios in vitro com P. falciparum podem ser

agrupados de acordo com o método utilizado para quantificar o crescimento

parasita em relação a concentração da droga: contagem visual por

microscopia, incorporação de precursores radioativos pelo parasita e métodos

não radioativos, conforme descrevemos anteriormente (39).

1.3.1.1. Teste in vitro por análise fluorimétrica

Page 32: Luiz Francisco Rocha e Silva

17

Paralelamente aos ensaios radioisotópicos e aos testes colorimétricos,

tem sido desenvolvidos ensaios envolvendo corantes fluorescentes que

intercalam-se nas cadeias de ácidos nucléicos, tais como SYBR-Green I,

PicoGreen e YOYO-I, para mensurar a atividade inibitória in vitro de

antimaláricos tradicionais e novos (47).

A técnica de teste in vitro baseada na fluorimetria para análise de

susceptibilidade do P. falciparum tem sido utilizada para monitorar a resistência

aos antimaláricos, assim como também para identificar novos compostos com

atividade antimalárica. Esta técnica promove um alto processamento de

“screening” para atividade de substâncias contra o P. falciparum. As vantagens

do ensaio incluem: simplicidade, economia, aplicabilidade de análise

automatizada e rapidez (47, 49).

O princípio do ensaio consiste no contraste entre os eritrócitos do

hospedeiro que não possuem DNA e RNA, e os parasitos da malária que são

deste modo marcados por um corante que mostra o aumento da fluorescência

na presença de ácidos nucléicos (50).

O SYBR- Green I é um dos marcadores mais sensíveis disponíveis hoje

para fita dupla de DNA. O uso do SYBR- Green I para ensaios in vitro com P.

falciparum é conhecido com MSF ensaios (Malaria SYBR-Green I-Based

Fluorescence) (51).

Nos estudos realizados com objetivo de validar o MSF, culturas de

cepas de P. falciparum foram tratadas com drogas antimaláricas conhecidas, e

foram determinados as concentrações que inibem 50 % (IC50s) delas. Na

maioria dos trabalhos publicados, os valores de IC50, obtidos com SYBR-Green

I foram comparados com os valores gerados pelo método radioativo, obtendo-

se grande correlação entre as técnicas (49). Bacon (50), comparou o a técnica

com SYBR-Green I com o teste que utiliza a Proteína 2 Rica em Histidina

(HRP2), e os resultados foram semelhantes.

Page 33: Luiz Francisco Rocha e Silva

18

As vantagens do método fluorimétrico frente ás demais técnicas são

expressivas, e aplicáveis tanto no monitoramento da resistência como no

screening de novas drogas, porém é imperativo a padronização da técnica, e

adaptação das condições laboratoriais onde quer que seja aplicada.

1.4 Artemisia annua L., 1.4.1 Aspectos Botânicos

A Artemisia annua L. é uma planta de porte herbáceo da família

Asteraceae, originária do norte da China, sendo predominante nas províncias

de Chahar e Suiyuan onde é conhecida popularmente como “quinghao” (erva

verde)(52).

A família Asteraceae é a segunda maior família do mundo de plantas

que produzem flores. O gênero Artemisia compreende mais de 400 espécies,

algumas das quais são conhecidas por suas propriedades aromáticas e gosto

amargo. As plantas deste gênero são na sua maioria ervas robustas ou

arbustos. Na Figura 3 observamos a A. annua e sua classificação científica

(53).

Figura 3. Artemisia annua e sua classificação científica

Classificação Científica

Reino: Plantae

Filo: Magnoliophyta

Classe: Magnoliopsida

Ordem: Asterales

Família: Asteraceae

Gênero: Artemisia

Espécie: A. annua

Page 34: Luiz Francisco Rocha e Silva

19

O nome do gênero Artemisia está relacionado á deusa grega Ártemis, e

o da espécie annua foi dado pelo fato de ser a única da família com ciclo anual.

Seu porte arbustivo alcança aproximadamente 2 metros de altura, e cresce

principalmente em climas temperados, sendo naturalmente encontrada na

China e no Vietinã (52, 54).

Esta erva é utilizada pela medicina tradicional chinesa à mais de 2000

anos para o tratamento de febre e malária. A atual Farmacopéia da China

descreve as folhas secas da planta como um remédio para febre, incluindo

malária (55).

Pesquisadores chineses estudaram mais de trinta espécies do gênero

Artemisia pesquisando uma possível atividade antimalárica, porém, só

Artemisia annua L. e Artemisia apiacea Hance provaram ser eficazes contra o

P. falciparum e P. vivax. A busca por novos compostos antimaláricos incentivou

o estudo de outras espécies de Artemisia, tais como Artemisia ludovica,

A.vulgaris, A. schmidtiana, A. pontica, A. arbuscula e A. drancunculus,

entretanto, nenhuma destas espécies apresentou atividade farmacológica

contra o Plasmodium (56).

1.4.2 Artemisinina, o princípio ativo da A. annua

A busca dos compostos químicos responsáveis pela atividade

antimalárica levou o isolamento de várias classes de sustâncias como

sesquiterpenóides, flavonóides, cumarinas, terpenóides, fenóis, purinas,

lipídeos e compostos alifáticos provenientes de diversas partes da planta (57).

Dentre estes metabólitos, a artemisinina foi considerada o componente

ativo principal. Seu nível pode variar consideravelmente dependendo da parte

da planta, condições de crescimento e variações sazonais e geográficas: altos

níveis de artemisinina são encontradas nas folhas e flores, principalmente no

período imediatamente anterior a floração (0,01 – 1,4%) (58).

Page 35: Luiz Francisco Rocha e Silva

20

A demanda mundial pela artemisinina, no tratamento da malária, cresceu

nas duas últimas décadas, devido a suas vantagens em relação a outros

compostos antimaláricos, tais como eficácia, baixa toxicidade, baixo custo (Bilia

et al., 2002). A artemisinina possui ação rápida atuando contra P. vivax e P.

falciparum, inclusive sobre as cepas multirresistentes e em casos de malária

cerebral (59).

A artemisinina é o antimalárico de ação mais rápida, originando

melhoras significativas do estado febril em apenas 32 horas, em contraste

como os dois ou três dias que os outros antimaláricos clássicos demoram para

provocar efeito semelhante. A artemisinina é, fundamentalmente, um

esquizonticida sanguíneo com uma ação muito rápida e mais potente que a da

cloroquina ou da quinina. Atua também eliminando as formas sexuadas do

parasito, sendo assim gametocida (10).

A substância foi isolada do extrato etéreo das folhas da planta em 1972

por pesquisadores chineses e teve sua estrutura elucidada em 1979 (60).

A molécula artemisinina é definida quimicamente como uma lactona

sesquiterpênica com um grupo 1,2,4-trioxano (Figura 4), contém um grupo

peróxido, o qual é essencial para sua atividade. A lactona pode ser facilmente

reduzida com boridrato de sódio, resultando na formação de dihidroartemisinina

que possui maior atividade antimalárica que a artemisinina sozinha. Muitos

derivados artemisínicos tem sido produzidos a partir da dihidroartemisinina

(60).

A artemisinina é pouco solúvel em água e óleo, sendo assim só pode ser

administrada de forma oral. Em pacientes com malária severa o tratamento oral

é freqüentemente impossível, sendo necessárias formulações parenterais. Para

resolver este problema, vários derivados artemisinínicos semissintéticos foram

desenvolvidos, dos quais os principais são o artesunate, solúvel em água, e o

artemeter, solúvel em óleo (53). Na figura 4 observamos a estrutura química da

artemisinina e dos seus principais derivados.

Page 36: Luiz Francisco Rocha e Silva

21

Apesar de sua eficácia, o tratamento com os artemisínicos isolados

produz altas taxas de recrudescência, sendo desaconselhada a monoterapia.

Uma forma de potenciar a ação do fármaco reside na sua combinação com

outros antimaláricos, como a mefloquina, a lumefantrina e os antifolatos (11).

Figura 4. Artemisinina e seus derivados semi-sintéticos (53)

As principais combinações recomendadas pela Organização Mundial de

Saúde para o tratamento da malária não-complicada são:

- Artemeter + Lumefantrina (20mg/120mg) duas vezes por dia durante

três dias;

- Artesunate + Amodiaquina (20mg/153mg) uma dose por dia durante

três dias;

Artemisinina Dihidro- artemisinina

Artemeter Artesunate

Page 37: Luiz Francisco Rocha e Silva

22

- Artesunate + Mefloquina (50mg /250 mg) uma dose por dia durante três

dias;

- Artesunate + Sulfadoxina-Pirimetamina (50mg /500mg/25 mg) uma

dose ao dia por três dias.

O mecanismo de ação, aspectos clínicos e toxicidade da artemisinina

têm sido extensamente estudados nos últimos anos, assim como estudos

agrotecnológicos, farmacológicos e químicos (elucidação estrutural) de outros

compostos sesquiterpênicos presentes na planta (61).

A artemisinina está agora disponível comercialmente na China, Vietinã e

outros países e, embora seja possível sintetizá-la artificialmente o isolamento

da substâncias a partir das folhas da planta ainda representa a melhor

alternativa (10).

1.4.3 A tradicional preparação de A. annua, o Chá

Os primeiros registros do uso de A. annua na China datam de 200 A.C.,

mas representa uma conhecimento acumulado do uso de ervas medicinais que

havia sito transmitido oralmente durante muitos séculos (62).

A atual farmacopéia chinesa descreve que as folhas secas de A. annua

servem como remédio para febre e malária; para seu uso terapêutico as folhas

devem ser expostas a água quente de acordo com os conhecimentos da

medicina tradicional chinesa. A dose recomendada varia de 4,5 á 9 gramas da

folha seca a cada litro de água por dia (55).

Nos principais estudos referidos na literatura envolvendo o chá de A.

annua, tem se utilizado 5 ou 9 gramas da planta seca para um litro de água

(55, 63, 64).

Page 38: Luiz Francisco Rocha e Silva

23

Em um estudo realizado para determinar parâmetros farmacocinéticos

da artemisinina em indivíduos após a administração do chá, o mesmo foi

preparado de três formas (64):

A. Foi adicionada água fervente nas folhas secas e pulverizadas. A

mistura foi agitada e deixada em repouso em temperatura ambiente,

sendo posteriormente as folhas removidas por filtração.

B. As folhas foram fervidas em água por 30 minutos e deixadas em

repouso a temperatura ambiente até que a mistura esfriasse.

Posteriormente as folhas foram removidas por filtração.

C. Após a adição de água fervente nas folhas, a mistura foi agitada e o

conteúdo foi coberto por 10 minutos. Subseqüentemente as folhas

foram removidas por filtração e gentilmente prensadas para a retirada

do máximo de resíduo de água.

A quantidade de artemisinina presente nas três formas de preparação

está expressa na tabela 2. O método C foi considerado o melhor método pela

seu melhor eficiência de extração

Tabela2. Teor de artemisinina nos chás de A. annua segundo Räth (64).

Método de

Preparação

Massa das folhas

secas de A. annua

(g)

Concentração de

artemisinina no

Chá (mg/L)

Eficácia da

Extração (%)

A 5,0 57,5 83

9,0 88,2 71

B 5,0 36,5 53

9,0 37,8 30

C 5,0 60,0 86

9,0 94,5 76

A artemisinina isolada é pouco solúvel em água, mas tem seu

coeficiente de solubilidade aumentado na presença de outros constituintes da

Page 39: Luiz Francisco Rocha e Silva

24

planta com propriedades anfifílicas como flavonóides ou saponinas, os quais

podem melhorar sua solubilidade em água (53).

Ao longo das duas últimas décadas foi proposto que o potencial

antimalárico da A. annua L. estaria ligado ao sinergismo existente entre vários

compostos presentes no chá. Vários polimetoxiflavonóides como casticin,

artemetin, crisosplenetin, podem contribuir para a atividade in vitro da

artemisinina frente ao Plasmodium falciparum. Porém dados relativos ao

mecanismo relacionado ao efeito sinérgicos destas substâncias ainda não tem

sido bem estudados(57).

1.4.3.1 Aspectos farmacológico e eficácia do chá

Poucos são os estudos que avaliam de forma científica o chá de A.

annua, no seu contexto farmacológico.

Foi realizado um estudos clínico com voluntários sadios para determinar

a concentração plasmática de artemisinina após a administração oral do chá

preparado de acordo com as orientações da Farmacopéia Chinesa. A

quantidade de artemisinina encontrada no chá foi de 94,5 mg/L, cerca de 19%

da dose diária recomendada para adultos (500 mg). A artemisinina foi

absorvida rapidamente e a concentração máxima foi encontrada após 30

minutos (240 ηg/mL), em comparação com o comprimido de 500 mg de

artemisinina pura, que resultou em um pico máximo de 531 ηg/mL após 2,3

horas (64).

A concentração mínima requerida para inibir o crescimento da P.

falciparum in vitro tem sido estimada em 9 ηg/mL. A concentração de

artemisinina no plasma encontrada no referido estudo, excedeu claramente

este valor por pelo menos 4 horas após a administração do chá (64).

Page 40: Luiz Francisco Rocha e Silva

25

Em outro estudo realiza na África central, a A. annua foi cultivada

localmente, e a preparação tradicional foi testada em pacientes com malária

causada pelo P. falciparum. O teor de artemisinina nas partes aéreas da planta

seca foi de 0,63 – 0,70 %, e aproximadamente 40 % da droga pode ser

extraída pelo método simples da preparação do chá. Cinco pacientes tratados

com o chá de A. annua demonstraram um rápido desaparecimento da

parasitemia entre o segundo e o quarto dia. No mesmo estudo, um ensaio

adicional com 48 pacientes, demonstrou a negativação da parasitemia em 44

indivíduos (92%) no quarto dia. Em ambos os ensaios houve uma significativa

melhora dos sintomas (55). Os autores só relatam os resultados da parasitemia

até o final do tratamento, ou seja, até o quarto dia, não sendo possível

determinar as taxas de recrudescência.

Mueller colaboradores (63) conduziram outro ensaio onde foi avaliado a

eficácia e segurança do uso do chá de A. annua para o tratamento de malária

não complicada causada pelo P. falciparum. Duas doses foram utilizadas; 5g

das folhas secas em 1L de água por dia (correspondendo á 47 mg de

artemisinina) e 9g das folhas secas em 1L de água por dia ( correspondendo á

94 mg de artemisinina). O grupo controle utilizou quinina como terapia. Após 7

dias de tratamento as taxas de cura foram de 74% para os pacientes que

tomaram o chá de A. annua enquanto 91% dos pacientes tratados com quinina.

As taxas de recrudescência foram altas para os pacientes tratados com o chá.

Todos os estudos citados acima que utilizaram o chá de A. annua,

concluem que o uso do chá como monoterapia é desaconselhado, e não deve

ser utilizado como alternativa substituta dos antimaláricos modernos, e alertam

quanto ao possível surgimento de resistência. Diante dos resultados

encontrados, os autores sugerem que mais estudos são necessários para se

aumentar o conhecimento científico sobre o chá, que é largamente utilizado em

muitos países (53, 55, 62-64).

1.4.4 Cultivo e produção de A. annua

Page 41: Luiz Francisco Rocha e Silva

26

Devido á importância concedida á planta após a descoberta da

artemisinina, folhas de A. annua foram intensamente coletadas o que levou a

quase extinção da planta em determinadas regiões. Em resposta a esta grande

demanda, a A. annua tem sido plantada em larga escala na China, Vietnam,

Turquia, Irã, Afeganistão e Autralia, além de alguns paises na Europa e

América (65).

Diante da possível diminuição da oferta de artemisinina causada pelo

aumento da demanda, o cultivo da planta, sobretudo em áreas endêmicas,

pode representar uma alternativa para a produção da droga (55).

Vários trabalhos tem demonstrado que a concentração de artemisinina

muda não somente durante o crescimento vegetativo, mas os diferentes

componentes da planta variam consideravelmente dependendo da origem do

híbrido. Tem-se observado também que altos níveis de artemisinina ocorrem

imediatamente antes da floração, ou no ponto em que a floração está completa.

Estas diferenças podem ser atribuídas á condições climáticas, tipo de

ecossistema, a maneira como é cultivada ou a combinação de todos estes

fatores (58).

Em regra para se maximizar o teor de artemisinina, o ponto crítico são

os dias longos, por que a planta freqüentemente cresce nos dias longos de

verão e em altas latitudes. Nestas condições a floração ocorre tardiamente.

Nos trópicos os dias são curtos mesmo no verão, a floração ocorre

precocemente, reduzindo a biomassa. Embora a concentração de artemisinina

seja afetada pelo clima e período da colheita, a maior influencia ocorre pela

variação genética (62).

A demanda mundial de artemisinina aumentou de 22,000 tratamentos

em 2001 para uma estimativa de 200 milhões de 2008. A relação custo

benefício representa o maior problema para síntese da artemisinina, sendo o

isolamento da substância a partir da folhas da planta a melhor alternativa (11).

Page 42: Luiz Francisco Rocha e Silva

27

A planta tem sido introduzida e estudada no Brasil desde a década de

80, e resultou em genótipos selecionados de altos rendimentos em princípios

ativos para serem cultivados em região intertropical. Embora alguns desses

genótipos já tenham sido ensaiados na região Amazônica, se faz necessário e

oportuno desenvolver pesquisas multidisciplinares visando o melhoramento

genético adequado aos ecossistemas amazônicos

1.5 Plantas antimaláricas amazônicas

Os Produtos Naturais tem sem mostrado fontes promissoras de

compostos antimaláricos. O conhecimento popular do uso de plantas

medicinais conduziu à identificação e isolamento dos principais antimaláricos

em uso na atualidade (43).

Antes da chegada dos europeus ao continente americano, os índios

peruanos usavam a casca da quina para o tratamento da malária. Em 1677, a

casca de quina foi incluída na Farmacopeia de Londres sob a designação

Cortex peruano, sendo este o primeiro registo oficial, na Europa, sobre

quimioterapia da malária. Em 1820, os químicos franceses Pelletier e Caventou

isolaram a substância activa da casca da quina, o alcalóide quinina, trabalho

que foi reconhecido e premiado pelo Instituto Francês de Ciências (10).

Durante os últimos 25 anos, extratos de um grande número de espécies

de plantas, entre elas as usadas na medicina tradicional, tem sido avaliadas

quanto a sua atividade antiplasmodial in vitro e algumas tem sido testadas in

vivo em camundongos infectados com P. berghei ou P. yoelii. Em alguns caso,

os constituintes responsáveis por esta atividade tem sido isolados, mas poucas

pesquisas avançam no sentido de explorar estes compostos como protótipos

para novas drogas (38).

Um estudo conduzido no Brasil em 1988, várias espécies de planta

foram testadas in vivo para atividade antimalárica. Quando as amostras foram

Page 43: Luiz Francisco Rocha e Silva

28

selecionadas randomicamente, 3% das espécies se mostraram ativas, o

número de espécies ativas cresceu para 18% quando elas foram selecionadas

por critérios etnofarmacológicos. Estes resultados indicam que a abordagem

etnofarmacológica pode ser o método mais eficientes para a seleção de plantas

medicinais (66).

A Amazônia é única no mundo e possui a maior biodiversidade do

planeta. A Floresta Amazônica é a maior floresta tropical do mundo tendo um

vasto e complexo ecossistema com uma área aproximada de 5,5 milhões de

km², dos quais 60 % estão em território brasileiro. Atualmente representa o

maior reservatório de diversidade biológica do planeta, das 100 mil espécies de

plantas existentes em toda a América Latina, 30 mil estão nessa região, além

de uma fauna riquíssima, sendo o seu conhecimento um dos maiores desafios

para o desenvolvimento do Brasil (43). Algumas espécies de plantas amazônicas tem sido estudadas pelo

nosso grupo no sentido de se elucidar a possível atividade antimalárica de seus

extratos, substâncias isoladas e derivados semi-sintéticos.

Plantas da família Simaroubaceae são amplamente usadas na medicina

tradicional para o tratamento de malária, câncer, disenteria, e outras doenças

em países ao redor o mundo. Um dos p rincipais grupos químicos nestas

espécies responsáveis pela atividade biológica dos extratos, são os

quassinóides. A atividade antimalárica de alguns quassinóides como o brusatol,

glaucarubiona e quassin foi demonstrada anteriormante. As substâncias

Neosergiolida e Isobruceína e alguns de seus derivados semi-sintéticos já

possuem sua atividade antimárica in vitro, e atividade larvicida para A.aegypti

muito bem caracterizadas (43).

As espécies da família Piperaceae ocorrem com freqüência na flora

amazônica, e são conhecidas na medicina popular por possuírem propriedades

antiinflamatórias e antimaláricas. Extratos de Potomorphe peltata e

Potomorphe umbelata, conhecidas popularmente como “capeba” ou “capeba

Page 44: Luiz Francisco Rocha e Silva

29

do norte”, já foram testados in vitro e in vivo frente a espécies de Plasmodium,

demonstrando atividade antimalárica (Ferreira-da-Cruz et al., 2000). O

composto majoritário na planta é o 4-nerolidilcatecol (4-NC), um terpeno/fenil

propanóide, a quem é atribuída a atividade biológica da planta. Este composto

já foi estudado in vitro frente a cepa cloroquinorresistente K1 de P. falciparum,

demonstrando uma alta atividade frente esta linhagem e quatro de oito de seus

derivados semi-sintéticos apresentaram considerável ação antiplasmodial (43,

67).

Uma vez que a ação terapêutica de drogas antimaláricas permanece

como principal instrumento de combate e controle da malária em áreas

endêmicas, a avaliação da atividade in viitro dos medicamento de primeira e

segunda linha de tratamento, assim como a descoberta de novas alternativas

para o tratamentos são atividades essenciais no êxito dessas ações de

controle.

Atualmente a A. anua está sendo cultivada nos ecos-sistemas

amazônicos, e o acompanhamento da qualidade destes híbridos tem sido pelo

teor de artemisinina na planta. O presente trabalho contribui com a avaliação

da susceptibilidade dos plasmódios da Região Amazônica ao Chá padronizado

de Artemisia annua L. buscando compreender a interação parasito extrato

vegetal, preconizando também a atividade biológica como parâmetro de

seleção. A implementação no Laboratório da Gerência de Malária da FMTAM

de metodologias para realização sistemática de testes in vitro para avaliação

de atividade antimalárica também foram resultados alcançados.

Page 45: Luiz Francisco Rocha e Silva

30

2 OBJETIVOS 2.1 Geral

Avaliar a susceptibilidade in vitro de isolados de campo e cepas

padrão de P. falciparum ao chá padronizado de Artemisa annua L.

cultivada em ecossistemas amazônicos.

2.2 Especificos

Analisar o perfil de estabilização em cultivo contínuo de isolados de

campo de P. falciparum integrantes do criobanco mantido pela gerência

de Malária da FMT-AM.

Adaptar protocolos de teste in vitro que permitam a avaliação de

susceptibilidade antiplasmodial de produtos naturais a partir da

aplicação de metodologia de contagem microscópica;

Obter a Concentração que Inibe 50 % do crescimento do parasito (IC50)

in vitro dos chás de A. annua proveniente dos ecossistemas Terra

Firme, Várzea e Terra preta de Índio, frente aos isolados de campo e as

cepas de P. falciparum;

Correlacionar as concentrações inibitórias obtidas in vitro dos chás, com

as concentrações inibitórias in vitro dos medicamentos padronizados

utilizados como terapêutica antimalárica no Estado do Amazonas, tais

como cloroquina, quinina, e artemisinina.

Page 46: Luiz Francisco Rocha e Silva

31

3 MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de um estudo descritivo, prospectivo, de avaliação laboratorial

da atividade antimalárica de uma infusão de Artemisia annua cultivada em três

ecossistemas amazônicos.

3.1 As áreas de cultivo de Artemisia annua.

As áreas de cultivo de Artemisia annua são três ecossistemas amazônicos,

definidos como (68):

a) Terra firme: são aqueles ecossistemas que não são inundados pelas

cheias dos rios. Neles, predominam os Latossolos e Argissolos representando

cerca de 75 % dos solos da região, e em sua maioria são pobres em nutrientes.

b) Áreas de várzeas: consistem em áreas inundadas periodicamente por

rios de água barrentas, como o Rio Solimões, possuindo solos geralmente ricos

em nutrientes. As várzeas são formadas basicamente por solos hidromórficos e

representam 14% dos solos da Amazônia.

c) Terra preta de índio: estes solos se caracterizam por possuírem alto teor

de matéria orgânica devido a deposição de resíduos a partir da ação antrópica,

provavelmente realizada por populações indígenas em tempos remotos.

O cultivo de Artemisia annua na Amazônia teve coordenação geral do Dr.

Pedro Melillo de Magalhães do CPQBA/UNICAMP –SP, com colaboração local

do Dr. Célio Chaves e sua equipe.

Os estudos de cultivo em campo aberto foram realizados em várzea e terra

preta de índio no Campo Experimental do Caldeirão (no município de Iranduba

– AM) pertencente a Embrapa Amazônia Ocidental. Este campo fica situado no

Km 12 da Rodovia Manoel Urbano.

Page 47: Luiz Francisco Rocha e Silva

32

Sementes selecionadas de A. annua provenientes do CPQBA/UNICAMP

foram semeadas em bandejas de polietileno expandido (128 células) contendo

substrato comercial e terrição, na proporção de 3 para 1. Aos 10 dias da

germinação, foi feita a repicagem para bandejas de 72 células. Desde a

germinação até o plantio definitivo no campo, as bandejas permaneceram em

condições de viveiro, com irrigação diária.

Quando as plantas alcançarem a altura de 8-10 cm, foram plantadas

definitivamente no campo no espaçamento de 1,0 x 0,5 m. Em cada tipo de

solo foi instalada uma área de cultivo com 300 plantas.

As áreas foram colhidas totalmente no mês de maio de 2008 quando a

maioria das plantas apresentaram os primeiros sinais de diferenciação para a

formação dos botões florais, deixando-se, no entanto, 10 plantas em cada

ensaio visando a obtenção de sementes.

O corte das demais plantas foi realizado na altura das primeiras folhas

verdes (de baixo para cima), deixando no campo apenas o “pé” das plantas

(hastes da base, sem folhas). O material colhido, constituído de folhas e hastes

(talos), foi submetido á secagem em estufa para evitar contaminações por

microorganismos. Após a secagem foi realizada a separação das folhas e talos,

determinando-se o peso destas frações secas.

As folhas secas seguiram para a moagem em moinho de facas com peneira

de 2mm. Todo o material rasurado foi embalado em saco duplo de papel Kraft

com interior de polipropileno, de onde se retiraram 3 amostras para as

determinações do teor de artemisinina por HPLC no CPQBA, e uma amostra

de cada eco-sistema foi enviada para os testes de atividade antimalárica in

vitro na Fundação de Medicina Tropical de Amazona.

O cultivo em terra firme foi realizado na Fazenda Experimental da

Universidade Federal do Amazonas, situada no Km 38 da BR 374 (Manaus –

Boa Vista). Os mesmos procedimentos anteriores foram adotados.

Page 48: Luiz Francisco Rocha e Silva

33

3.2 Determinação do teor de artemisinina nas folhas secas de A. annua por HPLC A determinação do teor de artemisinina nas amostras de folhas secas de

A. annua foram realizadas no CPQBA na Universidade de Campinas, pela Dr.

Mary Ann Foglio, coordenadora da divisão de química, e a técnica Ilza Maria de

Oliveira Souza.

3.2.1 Preparo das amostras para análise

O material vegetal foi previamente moído, pesado em triplicatas, e

submetido ao processo de “clean-up” para remoção das clorofilas e graxas. As

amostras foram avolumadas em balão volumétrico de 5,00mL e completou-se o

volume com MeOH grau cromatográfico. Em seguida foram filtradas em

membrana descartáveis MILLEX® produto JBR6 10222 de 0,45µm e analisadas

por cromatografia líquida de alta resolução com detector de índice de refração.

As limpezas foram feitas e injetada 20µL, o pico entre 7,8- 8,4 minutos

corresponde a artemisinina. Os resultados foram obtidos através da curva de

calibração.

3.2.1 Preparo fase móvel

A misturas dos solventes (H2O: MeOH) na proporção de 60:40 , foi

filtrado em membrana Millipore® artigo HVLP04700 de 0,45µm e sonificada

sob vácuo.

3.2.3 Condições cromatográficas.

As análises foram realizadas por CLAE WATERS modelo 515 acoplada

a detector de índice de refração WATERS modelo 2414 . As condições

cromatográficas utilizadas estão descritas na Tabela 1.

Page 49: Luiz Francisco Rocha e Silva

34

Tabela 3 - Condições cromatográficas utilizadas para quantificação de

artemisinina em extratos de Artemisia annua.

Equipamentos e acessórios Especificação

Bomba CLAE Waters 515 Coluna - CN 100A°, Agilent

- (250mm x 4,6 mm x 5µm) Volume de injeção 20µL

Fluxo 1 mL/min Fase móvel - H2O: Metanol (60:40 v/v)

Detector Índice de Refração Waters 2414 Sensibilidade 32

Temperatura interna detector 35°C Software Empower

Tempo de retenção 7,8-8,4 minutos

3.2.4 Preparo da curva analítica

Pesou-se exatamente 25,0 mg e dilui-se em 10 mL de metanol grau

CLAE, obtendo uma concentração mãe de 2500µg/mL com diluição de

concentração de 50µg/mL a 1250µg/mL. Os pontos da curva analítica foram

injetados em triplicata , obtendo se a curva através do sofware Empower

3.3 Determinação do teor de artemisinina no chá por densitometria

A determinação do teor de artemisinina nas amostras de folhas secas de

A. annua e na infusão foram realizadas por cromatografia em cama delgada

por detecção densitométrica como descrito em (69), com pequenas

modificações. Para quantificação de artemisinina nas folhas, foram utilizados

200 mg do material vegetal aos quais foram adicionados 10 mL de tolueno e a

mistura foi submetida a extração num ultra-turrax por 30 segundos. A

suspensão foi centrifugada por 6 minutos a 3200rpm. Após a centrifugação,

foram aplicados 3μL da amostra em duplicata em uma cromatoplaca. Foram

aplicados na mesma placa, quatro volumes de solução padrão de artemisinina

(0,25mg/mL) que variaram de 1,5 á 3,0μL. A placa foi eluída em uma mistura

de clorofórmio/metanol (98,5:1,5; v/v). A placa foi aquecida por 6 minutos a

Page 50: Luiz Francisco Rocha e Silva

35

100°C e revelada utilizando solução de anisaldeído. Em seguida, utilizou-se um

densitômetro para escanear a cromatoplaca e avaliar por comparação da

densidade ótica dos padrões (calibração externa) e das amostras utilizando-se

o software CQTL (GE Healthcare).

Para quantificar a artemisinina na infusão, foram utilizados 100 mL de

infusão, os quais foram evaporados totalmente. O extrato foi suspenso em 10

mL de metanol. 3 μL desta suspensão foram aplicados na cromatoplaca e

avaliados como descrito acima.

3.4 Amostras de P. falciparum 3.4.1 Cepas padrão

No presente estudo foi utilizado como modelo experimental o parasita

P. falciparum mantido em cultivo in vitro e criopreservado no Laboratório da

Gerência de Malária da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. As

cepas padrão utilizadas foram cedidas pelo no Malaria Research and

Reference Reagent Resource Center (MR4), Manassas Virginia, Estados

Unidos, e são previamente caracterizadas quanto á sua susceptibilidade á

várias drogas. As cepas são K1, Dd2 e 3D7 (Tabel 4).

Tabela 4: Cepas Padrão de P. falciparum.

Cepa Origem Fenótipo

Sensível Resistente

K1 Tailândia Mefloquina

Quiniana Cloroquina

Dd2 Indochina -

Cloroquina

Mefloquina

Quinina

3D7 Desconhecida

Cloroquina

Mefloquina

Quinina

Page 51: Luiz Francisco Rocha e Silva

36

3.4.2 Obtenção dos isolados de campo

Os isolados de campo utilizados são integrantes do criobanco mantido

pela Gerência de Malária da Fundação de Medicina Tropical do Estado do

Amazonas (FMT-AM).

As amostras de sangue infectado são do município de Manaus, e foram

obtidas por punção venosa de pacientes da demanda passiva da FMTAM, após

a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, durante a

vigência do projeto PPG7. Foram utilizados 44 isolados de campo.

Os pacientes com o diagnóstico da gota espessa positiva acima de uma

cruz para P. falciparum que concordaram em participar do estudo, foram

encaminhados para coleta de sangue. O material foi coletado por via

endovenosa em tubo com anticoagulante (EDTA). O tubo com o sangue foi

centrifugado á 3000 r.p.m. por cinco minutos, o plasma e o creme leucocitário

foram desprezados. Da papa de hemácias foram feitas duas alíquotas de 500

μL e acondicionadas em criotubos contendo o mesmo volume de solução

criopreservadora de Glycerolyte 57 Baxter®, gota a gota e sob leve agitação

para homogeneização. As amostras foram devidamente rotuladas e

criopreservadas em botijas com nitrogênio líquido á - 187 °C, conforme

metodologia descrita na literatura (70).

3.4.3 Descongelamento O descongelamento das amostras de P. falciparum criopreservadas foi

realizado seguindo-se o processo de reconstituição de isotonia por fases. Os

tubos com o papa de hemácias parasitadas foram retirados do nitrogênio

líquido e deixados á temperatura ambiente até o descongelamento completo. O

conteúdo dos tubos foi transferido para tubos cônicos de centrífuga de 15 ml e

adicionou-se lentamente com homeogeneização constante, 0,4 mL de uma

solução de NaCl 12 %, deixando repousar por 5 minutos. Em seguida,

Page 52: Luiz Francisco Rocha e Silva

37

adicionou-se 9 mL de solução de NaCl á 1,6%, e procedeu-se uma

centrifugação á 2.500 r.p.m por 10 minutos. O Sobrenadante foi desprezado e

ao pellet de hemácias adicionou-se 9 mL de solução de NaCl á 0,9 %,

procedendo-se com um centrifugação a 2.500 r.p.m.. O sobrenadante foi

desprezado e o pellet de hemácias foi ressuspendido em 4,5 mL de meio de

cultura RPMI 1640 enriquecido com plasma. Adicionou-se então 500 μL de

suspensão de hemácias parasitadas á 50 %.

3.5 Manutenção da cultura de P.falciparum

A metodologia de cultivo in vitro de P.falciparum utilizada foi uma

modificação da técnica de Trager e Jensen (36) adaptada pelo laboratório de

malária da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas e baseia-se no

desenvolvimento laboratorial dos estágios eritrocitários desta espécie

parasitária.

Após o descongelamento das amostras, os parasitos foram mantidos a

37 oC em frascos de poliestireno de 60 mL hermeticamente fechados, aos

quais foi adicionada uma mistura de gases para manter uma micro-atmosfera

de baixa tensão de oxigênio (5% de O2, 5% de CO2 e nitrogênio balanceado).

Em cada frasco de cultivo foi adicionada suspensão de eritrócitos tipo A+ com

um hematócrito de 50% suficiente para a obtenção de 500 µL de sangue

parasitado e um hematócrito final no frasco de no máximo 6%. Foram

adicionados também 4,5 mL de solução composta por meio RPMI 1640

suplementado com 32 mM NaHCO3, 25 mM Hepes (C8H18N2O4S), 12 mM

TES (ácido sulfônico-N-tris[hidroximetil]-metil-2-aminoetano), 37 mM

hipoxantina, 2 mM glutamina, 10 mM glicose e 10% de plasma humano tipo A+

inativado á 56 °C.

Foi realizada troca diária de meio RPMI 1640 suplementado com plasma

humano inativado, sendo a retirada desse meio efetuada por sucção a vácuo

com o auxílio de uma pipeta Pasteur estéril. Todo o procedimento de

Page 53: Luiz Francisco Rocha e Silva

38

descongelamento e manutenção das culturas foi feito em ambiente de total

assepsia (câmara de fluxo laminar).

A adição de suspensão de hemácias não parasitadas foi feita em

períodos de 48 horas, e sempre que a cultura apresentou predomínio de

esquizontes e/ou parasitemia maior do que 2%.

3.6 Protocolo de estabilização e acompanhamento da parasitemia

O acompanhamento do crescimento parasitário das culturas de P.

falciparum foi realizado através da contagem de parasitas viáveis em

estendidos sanguíneos confeccionados durante o procedimento de troca do

meio de cultura e adição da mistura de gases. Os estendidos foram corados

pelo método Panótico®. A parasitemia foi calculada através de percentual de

formas eritrocíticas parasitadas observadas durante a contagem de 2000

hemácias totais. Da cultura das cepas padrão foram realizado esfregaços

sanguíneos para avaliação á cada 24 horas.

No processo de estabilização dos isolados de campo foram feitos

estendidos sanguíneos a cada 24 horas até a parasitemia reduzir á 0 %, e a

cada 48 horas quando as parasitemias estavam entre 0 e 0,5%. Acima desta

parasitemia foram feitos estendidos sanguíneos a cada 24 para o

acompanhamento.

O primeiro splite da cultura foi realizado quando as parasitemias

alcançaram níveis acima de 3 %. Quando as culturas atingiram níveis acima

de 5% de parasitemia com predomínio de trofozoitas jovens de P. falciparum,

foram sincronizadas.

As culturas dos isolados de campo que durante vinte dias não

apresentaram parasitas na avaliação diária lâmina, foram desprezadas e

consideradas como não estabilizadas.

Page 54: Luiz Francisco Rocha e Silva

39

3.6.1 Sincronização

Na cultura in vitro de P. falciparum estão presentes simultaneamente

todas as formas eritrocitárias do parasita (esquizontes e trofozoítas). Por esta

razão foi necessário realizar um processo de sincronização da cultura, pra a

realização dos testes, e a criopreservação dos parasitas.

Após a estabilização dos isolados de P. falciparum em cultivo contínuo e

estável, realizou-se a sincronização do desenvolvimento dos parasitos

utilizando solução de sorbitol 5% segundo Lambros e Vanderberg (71), com

algumas modificações do protocolo original.

O princípio do teste está no fato dos heritrócitos parasitados com

esquizontes apresentarem uma maior fragilidade osmótica, sendo mais

sensíveis a ação do sorbitol, o que promove uma destruição seletiva dos

mesmos.

Ao se observar no estendido sanguíneo confeccionado a partir da

cultura, que havia um predomínio de trofozoítas jovens (anéis) em relação aos

esquizontes, a cultura foi centrifugada por 5 minutos a 2000 r.p.m.. O

sobrenadante foi desprezado, e ao pellet de hemácias foi adicionado gota a

gota sob constante homogeneização, 2,5 mL de solução de sorbitol á 5% para

cada 0,3 mL de hemácias. A suspensão foi incubada por 10 minutos á 37 °C, e

posteriormente centrifugada e lavada com RPMI por duas vezes, até a

eliminação da solução de sorbitol. Os eritrócitos recuperados após a ultima

centrifugação foram cultivados como descrito anteriormente.

3.7 Avaliação da susceptibilidade das cepas padrão e dos isolados de campo ao Chá de A. annua, e ás drogas antimaláricas padrão.

Os chás da A. annua L. proveniente da Terra Firme, Vázea e Terra Preta

de Índio e da UNICAMP (SP), foram testados in vitro frente aos isolados de

campo e as cepas padrão de P. falciparum.

Page 55: Luiz Francisco Rocha e Silva

40

Foi avaliada também a susceptibilidade in vitro dos isolados de campo

estabilizados ás drogas Cloroquina, Quinina e Artemisinina, para traçar o perfil

de sensibilidade destes isolados aos antimaláricos tradicionais.

3.7.1 Preparação das soluções estoques das drogas padrão

As soluções estoques das drogas padrão foram preparadas na

concentração de 1 mg/mL, da seguinte maneira:

Pesou-se 5 mg de cloroquina, quinina e artemisinina. As duas ultimas

foram solubilizadas em 5 mL de etanol á 70 %, e submetidas ao banho de ulta-

son por 10 minutos. A cloroquina foi primeiramente dissolvida em 1,5 mL de

água destilada, submetida a sonicação. Posteriormente completou-se o volume

para 5 mL com etanol absoluto. A partir destas soluções foram realizadas

séries de diluições para obtenção das concentrações finais de teste, baseado

em protocolos internacionais (72) (Tabela 4).

Tabela 5: Concentração das drogas Cloroquina, Quinina e Artemisinina nos

testes de avaliação da susceptibilidade in vitro.

Droga Concentração em ηg/mL

Cloroquina 2.500 833,3 277,7 92,6 30,8 10,3 3,4 0

Quinina 500 166,6 55,5 18,5 6,2 2,0 0,6 0

Artemisinia 100 20 4 0,8 0,16 0,032 0,006 0

3.7.2 Preparação dos chás para o teste in vitro

A partir de folhas secas de A. annua provenientes dos ecos-sistemas

várzea, terra preta de índio e terra firme e Campinas, caracterizadas quanto ao

teor de artemisinina (HPLC), foi preparada a infusão.

Page 56: Luiz Francisco Rocha e Silva

41

A proporção seguida, foi a indicada pela Farmacopéia Tradicional Chinesa:

Foram pesadas 5 g de folhas secas, e adicionou-se 1L de água fervente,

deixado-se em repouso por 15 minutos. Posteriormente o chá foi filtrado e

diluído para o teste, utilizando-se como diluente o meio de cultura.

O chá foi testado nas diluições: 1:10; 1:50; 1:2,5 x 102; 1:1,2 x 103; 1:6,2

x 103; 1:3,1 x 104; 1:1,5 x 105 com um fator de 1:5 entre elas..

3.7.3 Microteste de susceptibilidade in vitro

O microteste foi realizado segundo metodologia descrita por Rieckmann

(41), com modificações descritas por Andrade-Neto (43).

Foram aplicados, em micro-placa de 96 poços, 180 μL de suspensão de

hemácias parasitadas com predomínio de trofozoítos jovens (anéis) em meio

de cultura com hematócrito de 3% e parasitemia inicial de 1,5% provenientes

dos frascos de cultivo contínuo de P. falciparum. Logo após foram adicionados

20 μL de solução com droga ou chá, obtendo o volume final de 200 μL por

poço. Cada concentração foi testada em triplicata.

Poços contendo somente hemácias parasitadas suspensas em meio de

cultura completo representaram o controle de crescimento. A placa foi incubada

por 48 horas à 37 °C e baixa tensão de O2 em câmara acrílica e estufa

bacteriológica.

Ao fim de cada período de incubação foram confeccionados esfregaços

sanguíneos com alíquotas de sedimento de hemácias retiradas de cada poço.

Os esfregaços foram corados pelo Panótico® e examinados no microscópio

óptico, onde se contou a quantidade de parasitos presentes num total de 2.000

hemácias.

Page 57: Luiz Francisco Rocha e Silva

42

A parasitemia foi expressa em porcentagem, calculada a partir do

número de hemácias parasitadas no total de hemácias contadas, segundo a

fórmula abaixo:

Parasitemia em % = Nº de Hemácias parasitadas x 100

Nº de Hemácias totais

As parasitemias resultantes dos poços testes foram comparadas com as

parasitemias dos poços controles para se avaliar a viabilidade de crescimento

do parasito frente a cada concentração, calculada a partir da razão entre a

parasitemia dos poços testes e a parasitemia dos poços controle que foi

expressa em porcentagem, calculada segundo a fórmula:

% de Inibição = Parasitemia do Teste x 100

Parasitemia do controle

3 .8 Análise dos Dados

A inibição do crescimento dos parasitos foi determinada pela

comparação da média das triplicatas de cada concentração, com a média dos

controles sem droga, e o IC50 (Concentração que inibe 50% do crescimento) foi

calculado mediante regressão linear utilizando o software Microcal Origin®.

O coeficiente de correlação entre variáveis quantitativas foi determinado

pelo teste paramétrico de Pearson ou pelo teste não-paramétrico de Spearman.

Page 58: Luiz Francisco Rocha e Silva

43

4 RESULTADOS

Os resultados estão apresentados na forma de Artigo que foi submetido

para publicação na revista Mem Inst Oswaldo Cruz, Online

SUSCEPTIBILIDADE IN VITRO DE ISOLADOS DE CAMPO DE Plasmodium falciparum Á INFUSÃO (CHÁ) DE Artemisia annua CULTIVADA NA

REGIÃO AMAZÔNICA

Luiz Francisco R Silva1,5,7, Adrian M Pohlit2*, Pedro Melillo de Magalhães3,

Francisco Célio Cruz6, Ari de F Hidalgo4, Mônica RF Costa1, Maria das Graças

C Alecrim5, Pedro Paulo R Vieira1,5 1 Laboratório da Gerência de Malária, Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, FMTAM, Manaus, AM, Brasil; 2 Laboratório de Princípios Ativos da Amazônia - LAPAAM, Coordenação de Pesquisas em Produtos Naturais - CPPN, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA Manaus, AM, Brasil; 3 Centro de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas da Universidade Estadual de Campinas (CPQBA/UNICAMP),Paulinia, SP, Brasil. 4 Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Manaus, AM, Brasil; 5 Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazônas, Manaus, AM, Brasil; 6 Embrapa Amazonia Ocidental, 69010-970, Manaus, AM, Brazil.

7 Centro Universitário do Norte, UNINORTE, Manaus, AM, Brasil. * Autor de Correspondência: [email protected]

RESUMO

A Artemisia annua é a planta da qual é extraída a artemisinina, a principal

droga utilizada para tratar cepas multi-resistentes de Plasmodium falciparum. O

presente trabalho avaliou a suscetibilidade in vitro de isolados de campo

amazônicos de P. falciparum à infusão (5g de folha seca em 1L de água

fervente) de A. annua proveniente de cultivo em três ecos-sistemas

amazônicos: várzea, terra preta de índio e terra firme e um hibrido cultivado em

Page 59: Luiz Francisco Rocha e Silva

44

Paulínia, São Paulo. Para o teste in vitro foram utilizadas as cepas de P.

falciparum K1 e 3D7, e nove isolados de campo da cidade de Manaus-AM,

previamente estabilizados em cultivo contínuo. Foi avaliada também a

suscetibilidade dos isolados frente as drogas antimaláricas cloroquina, quinina

e artemisinina. O teor de artemisinina nas folhas variou de 1,13±0,05 a

0,90±0,1% (m/m), nas plantas cultivadas. A concentração de artemisinina nas

infusões das quatro plantas variou entre 40 e 46mg/L. Os isolados de campo

de P. falciparum apresentaram médias de concentração de inibição (CI50) de

268±129, 172±40 e 2,1±1,0nM frente à cloroquina, a quinina e a artemisinina,

respectivamente, sendo todos os isolados de campo considerados resistentes

à cloroquina e sensíveis à quinina e à artemisinina. As médias de CI50 das

infusões frente aos isolados de campo de P. falciparum foram de 0,11±0,03;

0,11±0,02; 0,13±0,1 e 0,14±0,04μL/mL para as infusões preparadas a partir de

planta cultivada em Paulínia, na terra preta de índio, na terra firme e na várzea,

respectivamente. Não houve diferença significativa nas respostas (CI50) dos

isolados de campo frente aos chás das plantas de diferentes origens. Também,

não houve diferença significativa no perfil de suscetibilidade entre os isolados

de campo para cada chá. Os isolados de campo e as cepas padrão

demonstraram alto grau de suscetibilidade a todas as infusões.

Palavras-chave: Plasmodium falciparum, isolados de campo, Artemisia annua,

infusão, Amazônia.

INTRODUÇÃO A malária ou paludismo é uma doença infecciosa, que acomete milhões

de pessoas nas zonas tropicais e subtropicais do globo. A Organização

Mundial de Saúde (OMS) estima que 40% da população mundial, isto é, 3,3

bilhões de pessoas vivem em áreas com alto risco de transmissão da malária

em 106 países onde a doença é considerada endêmica. Em 2009 foram

registrados 225 milhões de casos, causando quase um milhão de mortes,

sendo 90% destas, crianças africanas com idade inferior a cinco anos (WHO

2010). Na Amazônia brasileira, a doença continua sendo um grave problema

Page 60: Luiz Francisco Rocha e Silva

45

de Saúde Pública devido à alta incidência e aos efeitos debilitantes para as

pessoas acometidas por essa doença, com um importante potencial de

influenciar o próprio desenvolvimento da região (Ferreira et al. 2010).

A resistência do P. falciparum às drogas antimaláricas emergiu como um

dos maiores desafios a ser enfrentado para o controle da malária, com

implicações no aumento de mortalidade nas áreas hiper e holoendêmicas e

contribuiu para o aparecimento e ampliação de novos focos de malária

causada pelo P. falciaparum, mas acima de tudo foi identificado como um fator

de contingenciamento econômico do controle da malária (Trape et al. 2002).

Grandes esforços e tempo têm sido dedicados para a reprodução in vitro das

formas da fase eritrocítica do ciclo de vida do Plasmodium, como ferramenta

fundamental para a compreensão dos mecanismos de suscetibilidade e

resistência a drogas, bem como a screening para a identificação de novas

drogas (Girard et al. 2007).

Os produtos naturais tem se mostrado fontes promissoras de compostos

antimaláricos. O conhecimento popular do uso de plantas medicinais conduziu

à identificação e isolamento dos principais antimaláricos em uso na atualidade

como a quinina, que foi extraída da Cinchona spp, e a artemisinina, que foi

isolada das folhas de Aartemisia annua (Vale et al. 2005).

A A. annua (Asteraceae) é uma planta, originária do norte da China,

sendo predominante nas províncias de Chahar e Suiyuan onde é conhecida

popularmente como “qinghao” (erva verde) (Hsu 2006). Esta erva é utilizada

pela medicina tradicional chinesa a mais de 2000 anos na forma de infusão

para o tratamento de febre e malária. A atual Farmacopéia da China descreve

as folhas secas da planta como um remédio para febre, incluindo malária

(Mueller et al. 2000). Pesquisadores chineses estudaram mais de trinta

espécies do gênero Artemisia pesquisando uma possível atividade

antimalárica, porém, só A. annua e A. apiacea Hance provaram ser eficazes

contra o P. falciparum e P. vivax (Rodrigues et al. 2006). Dentre os metabólitos

presentes na planta, a artemisinina foi considerada o componente ativo

Page 61: Luiz Francisco Rocha e Silva

46

principal. Seu teor pode variar consideravelmente dependendo da parte da

planta, condições de crescimento e variações sazonais e geográficas. Altos

teores de artemisinina são encontrados nas folhas e inflorescências,

principalmente no período imediatamente anterior a floração (0,01 – 1,4%)

(Baraldi et al. 2007). A maior parte desta variação pode ser atribuída a fatores

genético, mas mesmo variedades high-yelding podem ter sua produção de

artemisinina reduzida influenciada por condições ambientais. Altitude, latitude,

nutrientes, pH do solo, comprimento do dia, tempo de floração, tempo de

secagem e condições de armazenamento, inevitavelmente determinam o

conteúdo de artemisinina da planta (Ferreira et al. 2005, Wilcox et al. 2004).

A demanda mundial de artemisinina e derivados aumentou de 11,2

milhões tratamentos em 2005 para aproximadamente 158 milhões em 2009. A

relação custo benefício representa o maior problema para síntese da

artemisinina, sendo o isolamento da substância a partir da folhas da planta a

melhor alternativa para a obtenção da substância (WHO 2010). Diante da

possível diminuição da oferta de artemisinina causada pelo aumento da

demanda, o cultivo da planta, sobretudo em áreas endêmicas, pode

representar uma alternativa para a produção da droga (Mueller et al. 2000). A

planta tem sido introduzida e estudada no Brasil desde a década de 80, e

resultou em genótipos selecionados de altos rendimentos em princípios ativos

para serem cultivados em região intertropical (Magalhães et al. 1997). Embora

alguns desses genótipos já tenham sido ensaiados na região Amazônica, se

faz necessário e oportuno desenvolver pesquisas multidisciplinares visando o

melhoramento genético adequado aos ecossistemas amazônicos, que são de

composição variada.

A infusão de A. annua é a forma indicada pela atual Farmacopéia

Chinesa e é a principal forma de uso popular. A dose recomendada varia de

4,5 a 9g da folha seca a cada litro de água fervente. (Ridder et al. 2008). Nos

principais estudos referidos na literatura envolvendo o chá de A. annua, tem se

utilizado 5 ou 9 g da planta seca para um litro de água por dia, durante 5 a 7

dias. Em estudos clínicos utilizando o chá, a eficácia terapêutica foi de até

Page 62: Luiz Francisco Rocha e Silva

47

70%, porém com altas taxas de recrudescência, sendo desaconselhando pelos

autores o uso do chá como monoterapia (Mueller et al. 2000, Mueller et al.

2004, Räth et al. 2004).

Ao longo das duas últimas décadas foi proposto que o potencial

antimalárico da A. annua estaria ligado ao sinergismo existente entre vários

compostos presentes no chá. Polimetoxiflavonóides como casticina,

artemetina, crisosplenetina podem contribuir para a atividade in vitro da

artemisinina frente ao P. falciparum. Porém dados relativos ao mecanismo

relacionado ao efeito sinérgicos destas substâncias ainda não tem sido bem

estudados (Bilia et al. 2006).

Atualmente a A. annua está sendo cultivada nos ecos-sistemas

amazônicos no projeto Artemisia, financiado pelo governo brasileiro. O

acompanhamento da qualidade destes híbridos tem sido realizado pela

avaliação da biomassa das plantas, bem como pela avaliação do teor de

artemisinina nas folhas. O presente trabalho avaliou a suscetibilidade de

isolados de campo de P. falciparum da região Amazônica a infusões de A.

annua cultivada nos ecos-sistemas amazônicos várzea, terra firme e terra preta

de índio, buscando compreender a interação parasito-infusão, preconizando

também a atividade antimalárica in vitro como parâmetro de análise.

MATERIAL E MÉTODOS Material vegetal e teor de artemisinina - A A. annua utilizada neste estudo foi

cultivada nos ecossistemas amazônicos várzea, terra firme e terra preta de

índio nos campos experimentais de Empresa Brasileira de pesquisa

Agropecuária na região de Manaus. Foi utilizado também um híbrido from

Chemical, Biological and Agricultural Researches, University of Campinas,

Brazil. Para o estudo, as partes aéreas das plantas foram colhidas

imediatamente antes da floração e secas em estufa a 40 °C. A determinação

do teor de artemisinina nas amostras de folhas secas de A. annua e na infusão

foram realizadas por densitometry-thin layer cromatography (TLC) como

Page 63: Luiz Francisco Rocha e Silva

48

descrito em Marchese et al., 2001, com pequenas modificações. Para

quantificação de artemisinina nas folhas, foram utilizados 200 mg do material

vegetal aos quais foram adicionados 10 mL de tolueno e a mistura foi

submetida a extração num ultra-turrax por 30 segundos. A suspensão foi

centrifugada por 6 minutos a 3200rpm e após a centrifugação, foram aplicados

3μL do sobrenadante em duplicata em uma cromatoplaca. Na mesma placa

foram aplicados também quatro volumes de solução padrão de artemisinina

(0,25mg/mL) que variaram de 1,5 á 3,0μL para se obter a curva de calibração.

A placa foi eluída em uma mistura de clorofórmio/metanol (98,5:1,5; v/v), e

aquecida por 6 minutos a 100°C, sendo revelada com solução de anisaldeído.

Em seguida, utilizou-se um densitômetro Image Scanner® GE para escanear a

cromatoplaca e avaliar por comparação da densidade ótica dos padrões

(calibração externa) e das amostras utilizando-se o software Image Quant TL®

GE. Para quantificar a artemisinina na infusão, foram utilizados 100 mL de

infusão, os quais foram evaporados totalmente. O extrato foi suspenso em

10mL de metanol. 3 μL desta suspensão foram aplicados na cromatoplaca e

avaliados como descrito acima.

Cultivo contínuo de P. falciparum – Foram utilizadas duas cepas de P.

falciparum, obtidas do Malaria Research and Reference Reagent Resource

Center (MR4), Manassas Virginia, Estados Unidos: a cepa cloroquino-

resistente K1 (Tailândia), e a cepa cloroquino-sensível 3D7 (origem

desconhecida). Foram utilizados nove isolados campo de P. falciparum da

região amazônica, obtidos de pacientes sintomáticos do município de Manaus,

após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Os isolados

de campo estão armazenados no criobanco mantido pela Gerência de Malária

da Fundação de Medicina Tropical do Estado do Amazonas (FMT-AM).Os

pacientes com o diagnóstico da gota espessa positiva acima de uma cruz para

P. falciparum que concordaram em participar do estudo, foram encaminhados

para coleta de sangue. 10 mL de sangue de pacientes com o diagnóstico de

gota espessa positiva acima de uma cruz para P. falciparum foram coletados

por via endovenosa em tubo com anticoagulante (EDTA). O sangue foi

centrifugado a 3000rpm por cinco minutos e depois o plasma e o creme

Page 64: Luiz Francisco Rocha e Silva

49

leucocitário foram desprezados. Do pellet de hemácias foram feitas duas

alíquotas de 500 μL e essas última foram acondicionadas em criotubos

contendo o mesmo volume de solução criopreservadora de Glycerolyte 57

Baxter®. As amostras foram criopreservadas em nitrogênio líquido a -187°C,

conforme metodologia descrita na literatura (Vieira et al. 2001). O

descongelamento das amostras de P. falciparum criopreservadas foi realizado

como descrito em Diggs et al., 1975, utilizando-se concentrações crescentes de

NaCl. O método de cultivo in vitro de P.falciparum utilizado foi uma modificação

da técnica de Trager e Jensen (1976) adaptada pelo laboratório de malária da

Fundação de Medicina Tropical do Amazonas e baseia-se no desenvolvimento

laboratorial dos estágios eritrocitários desta espécie parasitária. Após o

descongelamento das amostras, os parasitos foram mantidos a 37oC em

frascos de poliestireno de 60 mL hermeticamente fechados, aos quais foi

adicionada uma mistura de gases para manter uma micro-atmosfera de baixa

tensão de oxigênio (5% de O2, 5% de CO2 e nitrogênio balanceado). Em cada

frasco de cultivo foi adicionada suspensão de eritrócitos tipo A+ com um

hematócrito de 50% o que foi suficiente para a obtenção de 500 µL de sangue

parasitado e um hematócrito final no frasco de no máximo 6%. Foram

adicionados também 4,5 mL de solução composta por meio RPMI 1640

suplementado com 32 mM NaHCO3, 25 mM Hepes (C8H18N2O4S), 12 mM

TES (ácido sulfônico-N-tris[hidroximetil]-metil-2-aminoetano), 37 mM

hipoxantina, 2 mM glutamina, 10 mM glicose e 10% de plasma humano tipo A+

inativado a 56°C. Foi realizada troca diária do meio de cultura. A adição de

suspensão de hemácias não parasitadas foi feita em períodos de 48 horas, e

sempre que a cultura apresentou predomínio de esquizontes e/ou parasitemia

maior do que 2%. Após a estabilização dos isolados de P. falciparum em cultivo

contínuo e estável, realizou-se a sincronização do desenvolvimento dos

parasitos utilizando solução de sorbitol 5% segundo Lambros e Vanderberg

(1979).

Teste de suscetibilidade in vitro – As infusões de A. annua provenientes de

terra firme, várzea e terra preta de índio e Paulinia foram preparadas na

Page 65: Luiz Francisco Rocha e Silva

50

proporção de 5g das folhas secas e pulverizadas para 1L de água fervente. As

infusões foram posteriormente diluídas e testadas in vitro frente aos isolados de

campo e as cepas padrão de P. falciparum em sete diluições que variaram de

1:10 a 1:1,5 x 105 com um fator de 1:5 entre elas. Foram também testadas as

drogas cloroquina (Sigma Aldrich), quinina (Sigma Aldrich) e artemisinina

(Sigma Aldrich) nas faixas de concentração de 2500-3,4; 500-0,7; e 100-

0,0064ng/mL, respectivamente. O microteste foi realizado segundo

metodologia descrita por Rieckmann et al. (1978), com modificações descritas

por Andrade-Neto et al. (2007). Em micro-placa de 96 poços foram aplicados

180 μL de suspensão de hemácias parasitadas com predomínio de trofozoítos

jovens (anéis) em meio de cultura com hematócrito de 3% e parasitemia inicial

de 1,5%. Logo após foram adicionados 20 μL de solução com droga ou infusão

diluída, obtendo o volume final de 200 μL por poço. Cada teste foi feito em

triplicata. Poços contendo somente hemácias parasitadas suspensas em meio

de cultura completo representaram o controle de crescimento. A placa foi

incubada por 48 horas a 37°C e baixa tensão de O2 em câmara acrílica e

estufa bacteriológica. Após a incubação foram confeccionados esfregaços

sanguíneos com o conteúdo de cada poço. Os esfregaços foram corados pelo

Panótico® e examinados no microscópio óptico, onde se contou a quantidade

de parasitos presentes num total de 2.000 hemácias. A parasitemia foi

expressa em porcentagem. As parasitemias resultantes dos poços testes foram

comparadas com as parasitemias dos poços controles para se avaliar a

viabilidade de crescimento do parasito frente a cada concentração de infusão

de A. annua ou droga padrão, calculada a partir da razão entre a parasitemia

dos poços testes e a parasitemia dos poços controle.

Análise dos dados – A inibição do crescimento dos parasitos foi determinada

pela comparação da média dos testes em triplicata de cada concentração de

infusão ou droga padrão, com a média dos controles sem droga, e o CI50

(concentração que inibe 50% do crescimento) e o desvio padrão com 95% de

intervalo de confiança, foi calculado mediante regressão linear utilizando o

software Microcal Origin®.

Page 66: Luiz Francisco Rocha e Silva

51

RESULTADOS Os três híbridos de A. annua cultivados nos ecos-sistemas amazônicos

várzea, terra preta e terra firme apresentaram um bom teor de artemisinina nas

folhas secas. Os resultados indicam que o teor de artemisinina destas plantas

variou entre 1,1±0,07% e 0,9±0,1% conforme a determinação por

fotodensitometria, como representado na Tabela 1. A planta padronizada

cultivada em Paulinia, de onde vieram as sementes que originaram as plantas

cultivadas na Amazônia, apresentou um teor de artemisinina de 1,13±0,05%.

Tabela 1. Teor de artemisinina nas folhas e na infusão de A. annua cultivada

em quatro ecos-sistemas e teor extrativo da infusão.

Origem da

Planta

Teor de

artemisinina

nas folhas (%)

Concentração de

artemisinina na

infusão (mg/L)

Teor extrativo de

artemisinina da

infusão (% m/v)

Paulinia 1,13±0,05 46±2 81,4

Terra Preta 1,1±0,07 43±1 78,2

Terra Firme 0,9±0,1 41±2 91,0

Várzea 0,9±0,1 40±1 90,0

A concentração de artemisinina nas infusões de A. annua cultivada nos

ecos-sistemas estudados variou entre 46 e 40 mg/L (Tabela 1). Como

observado, não houve grandes variações nas concentrações de artemisinina

na infusão das plantas estudadas, sendo a infusão da planta cultivada em

Paulinia o que apresentou maior concentração, proporcional ao teor de

artemisinina das folhas secas. O teor extrativo de artemisinina na infusão

variou de 78,2% a 91% nas infusões da planta cultivada na terra preta e na

terra firme. O teor extrativo de artemisinina do chá se refere a percentagem de

artemisinina presente no chá em relação ao total de artemisinia presente nas

folhas.

Os nove isolados de campo estudados tiveram seus perfis de

sensibilidade avaliados para as drogas cloroquina, quinina e artemisinina

através da determinação da CI50 (Tabela 2). A média das CI50 dos nove

Page 67: Luiz Francisco Rocha e Silva

52

isolados de campo para cloroquina foi de 268 ± 129nM sendo que o menor

nível de CI50 foi de 166nM. Todos os isolados de campo foram considerados

resistentes à cloroquina. Para a quinina, a média das CI50 foi de 172 ± 40nM

variando entre 110 e 238nM, como demonstrado na tabela 2. Todos os

isolados de campo foram considerados sensíveis à quinina. Os níveis de CI50

de artemisinina dos isolados de campo amazônicos não variou

significativamente, sendo a média 2,1±1nM. Levando em consideração o

número de amostras estudadas, os níveis de sensibilidade dos isolados de

campo à artemisinina está de acordo com a literatura. Na figura 1 estão

representadas as curvas de dose resposta do maior e menor IC dos isolados

de campo frente a cloroquina (A), quinina (B) e artemisinina (C), sendo estas

curvas representativas para os demais isolados.

Tabela 2. CI50 das drogas cloroquina, quinina e artemisinina frente às cepas

padrão e os isolados de campo.

Droga IC50 dos Isolados de Campo (nM) IC50 das Cepas (nM)

Mean (n=9) Lower/higher K1 3D7

Cloroquina 268,4 116/460 136±10 60±6

Quinina 173,9 110/259 160±8 110±10

Artemisinina 2,1 0,9/3,5 2,9±1 1,7±1

Figura 1. Curvas de dose resposta dos isolados de campo de P. falciparum

(lowe and higher valor de IC50) frente ás drogas padrão. A: Cloroquina; B:

Quinina; C: Artemisinina.

As 11 amostras de P. falciparum (duas cepas padrão e nove isolados de

campo) tiveram seus perfis de suscetibilidade avaliados frente o chá da A.

1 10 100

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0 Lowe

Higher

P. fa

lcipa

rum

sur

vival

Concentration ηg/mL1 10 100 1000

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2 Higher Lowe

P. fa

lcipa

rum

sur

vival

Concentration ηg/mL1E-3 0,01 0,1 1 10 100

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2 Lower Higher

P. fa

lcipa

rum

sur

vival

Concentração ηg/mL

A B C

Page 68: Luiz Francisco Rocha e Silva

53

annua originária dos quatro ecos-sistema. Imediatamente após a preparação

da infusão, a mesma foi aplicada diretamente na placa de teste, sem qualquer

tratamento, sendo a CI50 calculada em microlitros de infusão por cada mililitro

de solução total nos poços da placa (μL/mL). Utilizando-se o teor extrativo dos

chás foi feita a conversão da CI50 de μL/mL para ng/mL. A tabela 2 apresenta

as CI50 das infusões nas duas concentrações. A média das CI50 das infusões

frente às amostras de P. falciparum foi de 0,11±0,03; 0,11±0,02; 0,13±0,1 e

0,14±0,04 μL/mL, respectivamente, para a A. annua cultivada em Paulinia, e na

terra preta, terra firme e várzea. Não houve diferença significativa entre as CI50

dos isolados de campo frente às infusões das plantas de diferentes origens,

assim também como não houve diferença significativa no perfil de

suscetibilidade entre os isolados de campo em cada chá. Na figura 4 estão

apresentadas as curvas de dose resposta de um isolado de campo frente às

diferentes infusões de A. annua. Essas curvas são representativas dos isolados

de campo de P. falciparum. A resposta biológica deste isolado de campo frente

à infusão das plantas cultivadas na terra firme e na várzea foi ligeiramente mais

tardia, resultando em CI50 maiores.

Tabela 3. CI50 da infusão de A. annua preparada a partir das plantas cultivada nos ecos-sistema terra preta, terra firme, várzea e Paulinia, frente às cepas e isolados de campo amazônicos de P. falciparum.

Droga IC50 dos Isolados de Campo IC50 das Cepas

Mean (n=9) Lower / higher K1 3D7

µL/mL ɳg/mL µL/mL µL/mL µL/mL

Paulínia 0,11 18,2 0,18 / 0,08 0,09 0,10

Terra Preta 0,11 20,7 0,08 / 0,15 0,10 0,09

Terra Firme 0,13 15,4 0,07 / 0,36 0,08 0,11

Várzea 0,14 19,9 0,09 / 0,20 0,10 0,13

Page 69: Luiz Francisco Rocha e Silva

54

Figura 2. Curva de dose resposta de um isolado de campo frente à infusão de

A. annua cultivada nos diferentes ecos-sistemas estudados.

Discussão

Grande importância foi concedida à A. annua após a descoberta da

artemisinina nas folhas da planta, que foi intensamente coletada levando a

quase extinção da planta em determinadas regiões. Em resposta a esta grande

demanda, a A. annua tem sido plantada em larga escala na China, Vietnam,

Turquia, Irã, Afeganistão e Austrália, além de alguns países na Europa e

América (Bhakuni et al. 2001). Diante da possível diminuição da oferta de

artemisinina causada pelo aumento da demanda, o cultivo da planta, sobretudo

em áreas endêmicas, pode representar uma alternativa para a produção da

droga (Ridder et al., 2008). Nosso estudo mostra que o material vindo da A.

annua cultivada nos solos amazônicos possui alto teor de artemisinina. Esse

dado, junto com dados agronômicos de biomassa fortalece a noção de que A.

annua pode ser cultivado nessa região equatoriana. O híbrido de A. annua

cultivado em Paulínia-SP (UNICAMP/CPQBA) é considerado estável, pois já

está em cultivo há várias gerações e possui suas condições ideais de

crescimento já estabelecidas. É relatado na literatura que estas plantas

possuem teor de artemisinina entre 0,8 e 1,2% (Magalhães et al. 1997;

0,01 0,1 1 10 100

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2 Terra Preta Paulínia Várzea Terra Firme

P. fa

lcipa

rum

sur

vival

Concentration µL/mL

Page 70: Luiz Francisco Rocha e Silva

55

Marchese et al. 2001). Não houve grandes variações no teor de artemisinina

entre os híbridos dos solos amazônicos, embora haja grandes diferenças na

composição nutricional dos solos da várzea, terra preta e terra firme (Sanchez

et al. 1982).

Conforme observado, os teores de artemisinina encontrados nestes

híbridos cultivados na Amazônia são semelhantes aos encontrados no seu

progenitor de Paulinia que já está estabilizado e padronizado. As plantas

utilizadas neste estudo são resultados da primeira geração de A.annua

cultivada nestes solos e essas plantas ainda estão em processo de adaptação

às condições climáticas e geológicas desta região. O método utilizado para

determinar o teor de artemisinina nas folhas e no chá foi a técnica

semiquantitativa de CCD-fotodensitometria, que possui alta correlação com o

resultado de escolha, HPLC (Marchese et al. 2001) e possui a vantagem da

rapidez, baixo custo e fácil adaptação às condições de campo, sendo ideal

para o processamento de uma grande quantidade de amostra durante um

processo de seleção de plantas. Este método também tem sido utilizado para

mensurar artemisinina em outros estudos que avaliam a atividade biológica do

chá de A. annua (Atmnkeng et al. 2009).

A artemisinina pura é pouco solúvel em água e conforme foi

demonstrado acima, a infusão das folhas secas de A. annua preparada como

recomenda a farmacopéia chinesa, contém quantidade significativa de

artemisinina (Tabela 1). Estes achados se assemelham com os de Rath et al.

(2004), que conduziram um estudo farmacocinético utilizando a infusão de A.

annua, para determinar a concentração plasmática de artemisinina após a

administração oral da infusão. Neste estudo, a concentração de artemisinina na

infusão preparada de maneira análoga ao método adotado no presente

trabalho foi de 57,5mg/mL, partindo de uma planta com teor de artemisinina de

1,39%. Atmnkeng et al. (2009) encontraram no chá uma concentração de

artemisinina 34 mg/L em uma planta com teor de 1,12% do princípio ativo.

Apesar da baixa solubilidade da artemisinina em água, as altas quantidades da

droga no chá se justificam pela presença de outros constituintes da planta com

Page 71: Luiz Francisco Rocha e Silva

56

propriedades anfifílicas (flavonóides e/ou saponinas) os quais aumentam a

solubilidade da artemisinina em água (Ridder et al. 2008).

Durante o processo de adaptação de plantas medicinais a novas

condições climáticas e geológicas, o acompanhamento do controle de

qualidade através do doseamento do princípio ativo é uma prática comum.

Para o controle de qualidade das safras de A. annua, a determinação do teor

de artemisinina nas folhas é uma atividade essencial (Celeghini et al. 2006). No

presente estudo, foi proposta uma abordagem de acompanhamento da

qualidade destes híbridos cultivados na Amazônia, baseado também na

atividade antimalárica das infusões destas plantas sobre o P. falciparum in

vitro. A literatura relata alguns estudos conduzidos in vivo com o chá de A.

annua (Mueller et al. 2000, Mueller et al., 2004; Räth et al., 2004, Atemnkng et

al. 2009), porém, relatos de atividade in vitro para a infusão são escassos.

A estabilização de populações geograficamente específicas de P.

falciparum em cultivo contínuo permite a avaliação do real perfil de

suscetibilidade dos parasitas circulantes em determinadas regiões a drogas

tradicionais e a produtos naturais (Andrade-Neto et al. 2007). No presente

estudo foi possível estabilizar em cultivo contínuo 9 (16%) de 55 isolados de

campo de P. falciparum cultivados. O aumento das taxas de fracassos

terapêuticos de várias drogas antimaláricas na maioria das áreas malarígenas

requer um monitoramento da epidemiologia e dinâmica de resistência à drogas.

Informações sobre a epidemiologia de resistência podem ser aplicadas no

monitoramento e controle do aparecimento e propagação da quimio-resistência

em população de parasitas naturais, tanto a drogas utilizadas no local, como a

novas opções de tratamento, sobre tudo, pelo parasita apresentar o fenômeno

de resistência cruzada (Ferreira et al. 2007, Chiyaka et al. 2008).

Os isolados de campo estabilizados demonstraram um perfil de

sensibilidade semelhantes entre si frente às três drogas testadas. Como era de

se esperar, todos se mostraram resistentes à cloroquina in vitro, pois

atualmente a cloroquina é contra-indicada para o tratamento das infecções pelo

Page 72: Luiz Francisco Rocha e Silva

57

P. falciparum em razão do elevado nível de resistência por parte desta espécie

parasitária em diferentes regiões do mundo, assim como na Amazônia (WHO

2006). Embora haja relatos de resistência in vivo e in vitro à quinina na região

Amazônica (Alecrim et al. 1981), no presente trabalho, não foi possível detectar

resistência, embora duas amostras tenham revelado altos valores de CI50 (224

e 214 nM). Para as amostras estudadas, os níveis de inibição frente à

artemisinina concordam com os achado na América do Sul e no Brasil, estando

a média de CI50 do isolados em 2,1±1nM (Jambou et al. 2005, Ferreira et al.

2007). Ao se avaliar a suscetibilidade dos isolados de campo estudados frente

às drogas tradicionais, objetivou-se não monitorar a resistência local do P.

falciparum, mas conhecer o perfil de sensibilidade das amostras de parasitos

que estavam sendo testadas frente às infusões.

As amostras de P. falciparum avaliadas neste estudo tiveram alto grau

de suscetibilidade frente à infusão de A. annua cultivada em todos os

ecossistemas. Mesmo altas diluições da infusão (1:6,2 x 103) chegaram a

apresentar níveis de inibição de até 100 % em quase todos os isolados (dados

não mostrados). Os níveis de CI50 das infusões chegaram a 0,11 ± 0,2μL/mL, o

que equivale a 20,7±4ng/mL de extrato. Estes valores foram observados na

infusão preparada com a planta cultivada na terra preta. A homogeneidade das

CI50 obtidas nos testes in vitro utilizando as infusões (Tabela 3) está

relacionada aos teores de artemisinina nas plantas dos diferentes locais

(Tabela 1) que además é noção reforçada pelas CI50 de artemisinina pura

frente os diversos isolados estudados (Tabela 2). Desta forma, as plantas

tiveram teores de artemisinina muito semelhantes, assim como foram

semelhantes as respostas biológicas das amostras de P. falciparum frente às

quatro infusões estudadas.

O importante desenvolvimento de genótipos de A. annua com altos

teores de artemisinina deve ser realizado, sobretudo em áreas endêmicas,

porém a artemisinina não é a única substância ativa presente na planta,

tornando-se relevante a avaliação de atividade antimalárica também da infusão

preparada com as plantas em processo de adaptação. Estudos têm

Page 73: Luiz Francisco Rocha e Silva

58

demonstrado que flavonóides presentes na planta também estão envolvidos na

atividade antimalárica, desta forma também é importante o uso de outras

técnicas de avaliação para assegurar a qualidade e estabilidade das plantas

(Willcox et al. 2004, Bilia et al. 2006).

As plantas cultivadas na Amazônia demonstraram respostas químicas

semelhantes no que se refere aos altos teores de artemisinina encontrados,

demonstrando que os solos amazônicos também podem produzir plantas com

qualidade. As amostras vegetais presentes no estudo são a primeira geração

de A. annua cultivada na Amazônia, e precisam de melhoramentos

agronômicos, principalmente no que se refere à biomassa e homogeneidade

genética (dados não apresentados). Os testes in vitro de atividade antimalárica

foram uma ferramenta importante no controle de qualidade destas plantas,

visto a atividade antimalárica da infusão está relacionada com os altos teores

de artemisinina na planta que são detectados pelo parasita. As concentrações

inibitórias das infusões da A.annua que está sendo adaptada aos solos

amazônicos foram semelhantes às concentrações inibitórias obtidas pela

infusão preparada com a planta já estabilizada cultivada em Paulinia. Os

isolados de campo e as cepas padrão demonstraram alto grau de

susceptibilidade a todas às infusões.

Referências Bibliográficas

Alecrim MGC 1981. Estudo da resistência do P. falciparum às drogas antimaláricas in vivo e in vitro na Amazônia, MSc Thesis, Universidade de Brasília, Brasília, 116 pp. Andrade-Neto FV, Pohlit MA, Pinto ACS, Silva EC, Nogueira KL, Melo MRS, Henrique MC, Amorim RCN, Silva LFR, Costa MRF, Nunomura RCS, Nunomura SM, Alecrim WD, Alecrim MGC, Chaves FCM, Viera PPR 2007. In vitro of Plasmodium falciparum by substances isolated from Amazonian antimalarial plants. Mem Inst Oswaldo Cruz 102: 359-365. Atemnkeng AM, Chimanuka B, Dejaegher B, Heyden YV, Plaizier-Vercammen J 2009. Evaluation of Artemisia annua infusion efficacy for the treatment of malaria in Plasmodium chabaudi chabaudi infected mice. Experimental Parasitology 122: 344–348

Page 74: Luiz Francisco Rocha e Silva

59

Baraldi R, Isacchi B, Predieri S, Marconi G, Vinvieri FF, Bilia AR 2008. Distribution of artemisinin and bioactive flavonoids from A. annua during plant growth. Biochem System Ecol 36: 340-348. Bhakuni RS, Jain DC, Sharma RP, Kumar S 2001. Secondary metabolites of Artemisia annua and their biological activity. Curr Sci 80: 35-48. Bilia AR, Melillo de Magalhães P, Bergonzi MC, Vincieri FF 2006. Simultaneous analysis of artemisinin and flavonoids of several extracts of Artemisia annua L. obtained from a commercial sample and a selected cultivar. Phytomedicine 13: 487-493. Celeghini RMS, Silva AP, Sousa IMO, Foglio MAM 2006. Evaluation of Artemisia annua L. clean-up methods for artemisinin quantification by HPLC. Rev Bras Pl Med 8:119-122. Chiyaka C, Garira W, Dube S 2009. Effects of treatment and drug resistance on the transmission dynamics of malaria in endemic areas. Theoretical Population Biology 75: 14-29. Ferreira ID, Lopes D, Martinelli A, Ferreira C, Rosário VE, Cravo P 2007. In vitro assessment of artesunate, artemether and amodiaquine susceptibility and molecular analysis of putative resistanceassociated mutations of Plasmodium falciparum from São Tomé and Príncipe. Tropical Medicine and International Health 1: 353-362. Ferreira I, Martinelli A, Rodrigues L, do Carmo E, do Rosário V, Póvoa M, Cravo P 2008. Plasmodium falciparum from Pará state (Brazil) shows satisfactory in vitro response to artemisinin derivatives and absence of the S769N mutation in the SERCA-type PfATPase6. Trop Med Int Health 13: 199-207. Ferreira JFS, Laughlin JC, Delabays N, Magalhaes PM 2005. Cultivation andgenetics of Artemisia annua L. for increased production of the antimalarial artemisinin. Plant Genetic Resources 3: 206–229. Girard MP, Reed Z, Friede M, Kieny MP 2007. A review of human vaccine research and development: Malaria. Vaccine 25: 1567–1580. Hsu E 2006. The history of qing hao in Chinese materia medica. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene 100: 505-508. Jambou R, Legrand E, Niang M, Khim N, Lim P, Volney B, Ekala MT, Bouchier C, Esterre P, Fandeur T, Mercereau-Puijalon O 2005. Resistance of Plasmodium falciparum field isolates to in-vitro artemether and point mutations of the SERCA-type PfATPase6. Lancet 366: 1960-1963. Lambros C, Vanderberg JP 1979. Synchronization of Plasmodium falciparum erythrocytic stages in culture. J Parasitol 65: 418-420.

Page 75: Luiz Francisco Rocha e Silva

60

Magalhães PM, Delabays N, Sartoratto A 1997. New hybrid lines of antimalarial species Artemisia annua L. guarantee its growth in Brazil. Ciên Cult 49: 413–415. Marchese JA, Rehder VLG, Sartoratto A 2001. Quantificação de artemisinina em A. annua-Uma comparação entre as técnicas de cromatografia em camada delgada com detecção densitométrica e cromatografia líquida de alta eficiência com detecção no ultravioleta. Rev Bras Pl Med 4: 81-87. Mueller MS, Runyambo N, Wagner I, Borrmann S, Dietz K, Heide L 2004. Randomized controlled trial of a traditional preparation of Artemisia annua L. (Annual Wormwood) in the treatment of malaria. Trans Royal Soc Trop Med Hyg 98: 318-321. Mueller MS, Karhagomba IB, Hirt HM, Wernakor E, Li SM, Heide L 2000. The potential of Artemisia annua L. as a locally produced remedy for malaria in the Tropics: agricultural, chemical and clinical aspects. J Ethnopharmacol 73: 487–493. Oliveira-Ferreira J, Lacerda MV, Brasil P, Ladislau JL, Tauil PL, Daniel-Ribeiro CT 2010. Malaria in Brazil: an overview. Malaria J 9: 115. Oliveira TC, Silva DAO, Rostkowska C, Béla SR, Ferro EAV, Mellilo-de-Magalhães P, Mineo JR 2009. Toxoplasma gondii: Effects of Artemisia annua L. on susceptibility to infectionin experimental models in vitro and in vivo. Experimental Parasitology 122: 233–241. Räth K, Taxis K, Walz G, Gleiter CH, LI SM, Heide L 2004. Pharmacokinetic study of artemisinin after oral intake of a traditional preparation of Artemisia annua L. (Annual Wormwood). Am J Trop Med Hyg 770:128–132. Ridder S, Kooy F, Verpoorte R 2008. Artemisia annua as a self-reliant treatment for malaria in developing countries. J Ethnopharmacol 120: 302–314. Rieckmann KH, Vampbell GH, Sax LJ 1978. Drug Sensitivity of P. falciparum an “in vitro” microtechnique. Lancet 7: 22-23. Rodrigues RAF, Foglio MA, Júnior SB, Santos AS, Rehder VLG 2006. Otimização do processo de extração e isolamento do antimalárico artemisinina a partir de Artemisia annua L. Quim Nova 29: 368-72. Sanchez PA, Bandy DE, Villachia JH, Nicholaids JJ 1982. Amazon basin solis: management for continuous crop production. Science 216: 821-827. Trager W, Jensen JB 1976. Human malaria parasites in continuous culture. Science 193: 673-75.

Page 76: Luiz Francisco Rocha e Silva

61

Trape JF, Pison G, Spiegel A, Enel C 2002. Combating malaria in Africa. Trends Parasitol 18: 224-230. Vale N, Moreira R, Gomes P 2005. Quimioterapia da malária um século no desenvolvimento de antimaláricos. Química Nova. 99: 57-69. Vieira PP, Ferreira MU, Alecrim MG, Alecrim WD, da Silva LH, Sihuincha MM, Joy DA, Mu J, Su XZ, Zalis MG 2004. Pfcrt polymorphism and the spread of chloroquine resistance in Plasmodium falciparum populations across the Amazon Basin. J Infect Dis 190: 417-424. Willcox M, Bodeker G, Bourdy G, Dhingra V, Falquet J, Ferreira JFS, Graz B, Hirt HM, Hsu E, Magalhães PM, Damien Provendier, Wright CW 2004. Artemisia annua as a Traditional Herbal Antimalarial. In: Willcox M, editor. Traditional Medicinal Plants and Malaria. CRC Press. p. 43-59. WHO - World Health Organization 2010. World Malaria Report 2010 [homepage on the internet]. Available from: who.int/malaria/world_malaria_report_2010/en/index.html. WHO - World Health Organization 2007. Field application of in vitro assays for the sensitivity of human malaria parasites to antimalarial drugs. Library Cataloguing-in-Publication Data.

Page 77: Luiz Francisco Rocha e Silva

62

5 CONCLUSÕES

• As plantas cultivadas na Amazônia demonstraram respostas químicas

semelhantes no que se refere aos altos teores de artemisinina

encontrados, demonstrando que os solos amazônicos também podem

produzir plantas com qualidade.

• As amostras vegetais presentes no estudo são a primeira geração de A.

annua cultivada na Amazônia, e precisam de melhoramentos

agronômicos, principalmente no que se refere à biomassa e

homogeneidade genética (dados não apresentados).

• Os testes in vitro de atividade antimalárica foram uma ferramenta

importante no controle de qualidade destas plantas, visto a atividade

antimalárica da infusão está relacionada com os altos teores de

artemisinina na planta que são detectados pelo parasita.

• As concentrações inibitórias das infusões da A.annua que está sendo

adaptada aos solos amazônicos foram semelhantes às concentrações

inibitórias obtidas pela infusão preparada com a planta já estabilizada

cultivada em Paulinia.

• Os isolados de campo e as cepas padrão demonstraram alto grau de

susceptibilidade a todas às infusões.

Page 78: Luiz Francisco Rocha e Silva

63

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Ferreira MS. Malária: Conceito, Etiologia e Ciclo Evolutivo. In: Veronesi R, editor. Tratado de infectologia. 3a ed. São Paulo: Atheneu; 2005. p. 1589-93.

2. Girard MP, Reed ZH, Friede M, Kieny MP. A review of human vaccine research and development: malaria. Vaccine 2007;25(9):1567-80.

3. Markell EK, John DT, Krotoski WA. Parasilogia Médica. 8a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003.

4. Ferreira E. Malária: Aspectos Gerais e Quimioterapia. São Paulo: Atheneu; 1982.

5. Weatherall DJ, Miller LH, Baruch DI, Marsh K, Doumbo OK, Casals-Pascual C, et al. Malaria and the red cell. Hematology Am Soc Hematol Educ Program 2002:35-57.

6. Tadei WP, Dutary Thatcher B. Malaria vectors in the Brazilian amazon: Anopheles of the subgenus Nyssorhynchus. Rev Inst Med Trop Sao Paulo 2000;42(2):87-94.

7. Oliveira-Ferreira J, Lacerda MV, Brasil P, Ladislau JL, Tauil PL, Daniel-Ribeiro CT. Malaria in Brazil: an overview. Malar J 2010;9:115.

8. Su X, Hayton K, Wellems TE. Genetic linkage and association analyses for trait mapping in Plasmodium falciparum. Nat Rev Genet 2007;8(7):497-506.

9. Menard R, Heussler V, Yuda M, Nussenzweig V. Plasmodium preerythrocytic stages: what's new? Trends Parasitol 2008;24(12):564-9.

10. Vale N, Moreira R, Gomes P. Quimioterapia da Malária um século no desenvolvimento de antimaláricos. Química Nova 2005;99:57-69.

11. World Health Organization 2010. World Malaria Report 2010 [homepage on the internet]. Available from: who.int/malaria/world_malaria_report_2010/en/index.html.

12. World Health Organization 2010. World Malaria Report 2009.

13. WHO - World Health Organization. . World Malaria Report 2005. 2005 [cited 2007 jun 26] Disponível em: URL: < http://www.rbm.who.int/wmr2005/pdf/adv_e.pdf>.

14. Loiola C, Mangabeira-da-Silva C, P T. Controle da malária no Brasil: 1965 a 2001. Rev Panam Salud Publica 2002;11:235-244.

15. Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. Informe epidemiológico. 2006; (6)II

Page 79: Luiz Francisco Rocha e Silva

64

16. Alecrim MG. Estudo clínico, resistência e polimorfismo prarasitário na malária pelo P. vivax, em Manaus-AM [Tese]. Brasília (DF): Universidade de Brasília; 2000.

17. Arcanjo A. Estudo da aplicabilidade dos testes imunocromatográficos como diagnóstico da malária na atenção básica de saúde no município de Manaus [Dissertação]. Manaus (AM): Universidade do Estado do Amazonas; 2004.

18. Costa RFC, Vieira PPR, Ferreira COF, Lacerda MVC, Alecrim WD,Alecrim MGC. Diagnóstico molecular da malária em uma unidade de atenção terciária na Amazônia Brasileira. Rev. Soc. Bras. Med. Trop 2008;41(4):381-385.

19. Veron V, Simon S, Carme B. Multiplex real-time PCR detection of P. falciparum, P. vivax and P. malariae in human blood samples. Exp Parasitol 2009;121(4):346-51.

20. Ochola LB, Vounatsou P, Smith T, Mabaso ML, Newton CR. The eliability of diagnostic techniques in the diagnosis and management of malaria in the absence of a gold standard. Lancet Infect Dis 2006;6(9):582-8.

21. Trape JF, Pison G, Spiegel A, Enel C, Rogier C. Combating malaria in Africa. Trends Parasitol 2002;18(5):224-30.

22. Chiyaka C, Garira W, Dube S. Effects of treatment and drug resistance on the transmission dynamics of malaria in endemic areas. Theor Popul Biol 2009;75(1):14-29.

23. Neiva A. Ueber die Bildung einer chinin resistenten Rasse dês Malaria parasiten. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 1910;2:131- 40.

24. Silva JR. Resistência do Plasmodium falciparum à ação da cloroquina. O Hospital 1961;60:43-58.

25. Alecrim MG. Estudo da resistência do P. falciparum às drogas antimaláricas in vitro e in vivo na Amazônia [dissertação]. Brasília: Universidade de Brasília (DF); 1981.

26. Cravo P, Rosário V. Aspectos de genética molecular da resistêmcia aos fármacos antimaláricos. Boletim de Biotecnologia. Lisboa; 2003.

27. Guerin PJ, Olliaro P, Nosten F, Druilhe P, Laxminarayan R, Binka F, et al. Malaria: current status of control, diagnosis, treatment, and a proposed agenda for research and development. Lancet Infect Dis 2002;2(9):564-73.

28. Mackinnon MJ. Drug resistance models for malaria. Acta Trop 2005;94(3):207-17.

29. Beck HP, Tetteh K. Molecular approaches to field studies of malaria. Trends Parasitol 2008;24(12):585-9.

30. Plowe CV. The evolution of drug-resistant malaria. Trans R Soc Trop Med Hyg 2009;103 Suppl 1:S11-4.

Page 80: Luiz Francisco Rocha e Silva

65

31. Afonso A, Hunt P, Cheesman S, Alves AC, Cunha CV, do Rosario V, et al. Malaria parasites can develop stable resistance to artemisinin but lack mutations in candidate genes atp6 (encoding the sarcoplasmic and endoplasmic reticulum Ca2+ ATPase), tctp, mdr1, and cg10. Antimicrob Agents Chemother 2006;50(2):480-9.

32. Golenser J, McQuillan J, Hee L, Mitchell AJ, Hunt NH. Conventional and experimental treatment of cerebral malaria. Int J Parasitol 2006;36(5):583-93.

33. Jambou R, Legrand E, Niang M, Khim N, Lim P, Volney B, et al. Resistance of Plasmodium falciparum field isolates to in-vitro artemether and point mutations of the SERCA-type PfATPase6. Lancet 2005;366(9501):1960-3.

34. Ferreira ID, Lopes D, Martinelli A, Ferreira C, do Rosario VE, Cravo P. In vitro assessment of artesunate, artemether and amodiaquine susceptibility and molecular analysis of putative resistance-associated mutations of Plasmodium falciparum from Sao Tome and Principe. Trop Med Int Health 2007;12(3):353- 62.

35. Fidock DA, Eastman RT, Ward SA, Meshnick SR. Recent highlights in antimalarial drug resistance and chemotherapy research. Trends Parasitol 2008;24(12):537-44.

36. Trager W, Jensen JB. Human malaria parasites in continuous culture. Science 1976;193(4254):673-5.

37. Schuster FL. Cultivation of plasmodium spp. Clin Microbiol Rev 2002;15(3):355-64.

38. Wright CW. Traditional antimalarials and the development of novel antimalarial drugs. J Ethnopharmacol 2005;100(1-2):67-71.

39. World Health Organization 2007. Field application of in vitro assays for the sensitivity of human malaria parasites to antimalarial drugs. Library Cataloguing-in-Publication Data.

40. Rieckmann KH, McNamara JV, Frischer H, Stockert TA, Carson PE, Powell RD. Effects of chloroquine, quinine, and cycloguanil upon the maturation of asexual erythrocytic forms of two strains of Plasmodium falciparum in vitro. Am J Trop Med Hyg 1968;17(5):661-71.

41. Rieckmann KH, Campbell GH, Sax LJ, Mrema JE. Drug sensitivity of plasmodium falciparum. An in-vitro microtechnique. Lancet 1978;1(8054):22-3.

42. Diaz G, Gonzalez FA, Romero E. A semi-automatic method for quantification and classification of erythrocytes infected with malaria parasites in microscopic images. J Biomed Inform 2009;42(2):296-307.

43. Andrade-Neto VF, Pohlit AM, Pinto AC, Silva EC, Nogueira KL, Melo MR, et al. In vitro inhibition of Plasmodium falciparum by substances isolated from Amazonian antimalarial plants. Mem Inst Oswaldo Cruz 2007;102(3):359-65.

Page 81: Luiz Francisco Rocha e Silva

66

44. Desjardins RE, Canfield CJ, Haynes JD, Chulay JD. Quantitative assessment of antimalarial activity in vitro by a semiautomated microdilution technique. Antimicrob Agents Chemother 1979;16(6):710-8.

45. Shanhez PA, Bandy DE, Villachia JH, Nicholaids JJ. Amazon basin solis: management for continuous crop production. Science 1982;216:821-827.

46. Makler MT, Hinrichs DJ. Measurement of the lactate dehydrogenase activity of Plasmodium falciparum as an assessment of parasitemia. Am J Trop Med Hyg 1993;48(2):205-10.

47. Noedl H, Bronnert J, Yingyuen K, Attlmayr B, Kollaritsch H, Fukuda M. Simple histidine-rich protein 2 double-site sandwich enzyme-linked immunosorbent assay for use in malaria drug sensitivity testing. Antimicrob Agents Chemother 2005;49(8):3575-7.

48. Corbett Y, Herrera L, Gonzalez J, Cubilla L, Capson TL, Coley PD, et al. A novel DNA-based microfluorimetric method to evaluate antimalarial drug activity. Am J Trop Med Hyg 2004;70(2):119-24.

49. Kaddouri H, Nakache S, Houze S, Mentre F, Le Bras J. Assessment of the drug susceptibility of Plasmodium falciparum clinical isolates from africa by using a Plasmodium lactate dehydrogenase immunodetection assay and an inhibitory maximum effect model for precise measurement of the 50-percent inhibitory concentration. Antimicrob Agents Chemother 2006;50(10):3343-9.

50. Izumiyama S, Omura M, Takasaki T, Ohmae H, Asahi H. Plasmodium falciparum: development and validation of a measure of intraerythrocytic growth using SYBR Green I in a flow cytometer. Exp Parasitol 2009;121(2):144-50.

51. Bacon DJ, Latour C, Lucas C, Colina O, Ringwald P, Picot S. Comparison of a SYBR green I-based assay with a histidine-rich protein II enzyme-linked immunosorbent assay for in vitro antimalarial drug efficacy testing and application to clinical isolates. Antimicrob Agents Chemother 2007;51(4):1172-8.

52. Smilkstein M, Sriwilaijaroen N, Kelly JX, Wilairat P, Riscoe M. Simple and inexpensive fluorescence-based technique for high-throughput antimalarial drug screening. Antimicrob Agents Chemother 2004;48(5):1803-6.

53. Hsu E. The history of qing hao in the Chinese materia medica. Trans R Soc Trop Med Hyg 2006;100(6):505-8.

54. Ridder S, van der Kooy F, Verpoorte R. Artemisia annua as a self-reliant treatment for malaria in developing countries. J Ethnopharmacol 2008;120(3):302-14.

55. Ferreira JFS, Simon JE, Janick J. Artemisia annua: botany, horticulture, pharmacology. Horticult. Rev 1997;19:319-71.

Page 82: Luiz Francisco Rocha e Silva

67

56. Mueller MS, Karhagomba IB, Hirt HM, Wemakor E. The potential of Artemisia annua L. as a locally produced remedy for malaria in the tropics: agricultural, chemical and clinical aspects. J Ethnopharmacol 2000;73(3):487- 93.

57. Rodrigues RAF, Foglio MA, Júnior SB, Santos AS, Rehder VLG. Otimização do processo de extração e isolamento do antimalárico artemisinina a partir de Artemisia annua L. Química Nova 2006;29:368-72.

58. Bilia AR, Melillo de Malgalhaes P, Bergonzi MC, Vincieri FF. Simultaneous analysis of artemisinin and flavonoids of several extracts of Artemisia annua L. obtained from a commercial sample and a selected cultivar. Phytomedicine 2006;13(7):487-93.

59. Baraldi R, Isacchi B, Predieri S, Marconi G, Vinvieri FF, Bilia AR. Distribution of artemisinin and bioactive flavonoids from A. annua during plant growth. Biochem System Ecol 2008;36:340-348.

60. Tzeng TC, Lin YL, Jong TT, Chang CMJ. Ethanol modified fluids extraction of scopoletin and artemisinin from Artemisia annua L. Separation and Purification Technology 2007;56:18-24.

61. van Agtmael MA, Eggelte TA, van Boxtel CJ. Artemisinin drugs in the treatment of malaria: from medicinal herb to registered medication. Trends Pharmacol Sci 1999;20(5):199-205.

62. Covello PS, Teoh KH, Polichuk DR, Reed DW, Nowak G. Functional genomics and the biosynthesis of artemisinin. Phytochemistry 2007;68(14):1864-71.

63. Willcox M, Bodeker G, Bourdy G, Dhingra V, Falquet J, Ferreira JFS, et al. Artemisia annua as a Traditional Herbal Antimalarial. In: Willcox M, editor. Traditional Medicinal Plants and Malaria: CRC Press; 2004. p. 43-59.

64. Mueller MS, Runyambo N, Wagner I, Borrmann S, Dietz K, Heide L. Randomized controlled trial of a traditional preparation of Artemisia annua L. (Annual Wormwood) in the treatment of malaria. Trans R Soc Trop Med Hyg 2004;98(5):318-21.

65. Rath K, Taxis K, Walz G, Gleiter CH, Li SM, Heide L. Pharmacokinetic study of artemisinin after oral intake of a traditional preparation of Artemisia annua L. (annual wormwood). Am J Trop Med Hyg 2004;70(2):128-32.

66. Bhakuni RS, Jain DC, R.P. S, Kumar S. Secondary metabolites of Artemisia annua and their biological activity. Current Science 2001;80(1):35-47.

67. Krettli AU, Andrade-Neto VF, Brandao MG, Ferrari WM. The search for new antimalarial drugs from plants used to treat fever and malaria or plants ramdomly selected: a review. Mem Inst Oswaldo Cruz 2001;96(8):1033-42.

Page 83: Luiz Francisco Rocha e Silva

68

68. Pinto AC, Silva LF, Cavalcanti BC, Melo MR, Chaves FC, Lotufo LV, et al. New antimalarial and cytotoxic 4-nerolidylcatechol derivatives. Eur J Med Chem 2009;44(6):2731-5.

69. Shachez PA, Bandy DE, Villachia JH, Nicholaids JJ. Amazon basin solis: management for continuous crop production. Science 1982;216:821-827.

70. Marchese JA, Rehder VLG, A. S. Quantificação de artemisinina em A. annua-Uma comparação entre as técnicas de cromatografia em camada delgada com detecção densitométrica e cromatografia líquida de alta eficiência com detecção no ultravioleta. Rev Bras Pl Med 2001;4:81-87.

71. Vieira PP, das Gracas Alecrim M, da Silva LH, Gonzalez-Jimenez I, Zalis MG. Analysis of the PfCRT K76T mutation in Plasmodium falciparum isolates from the Amazon region of Brazil. J Infect Dis 2001;183(12):1832-3.

72. Lambros C, Vanderberg JP. Synchronization of Plasmodium falciparum erythrocytic stages in culture. J Parasitol 1979;65(3):418-20.

73. World Health Organization. In vitro micro-test (MARK III) for the response of Plasmodium falciparum to cloroquine, mefloquine, quinine, amodiaquine, sulfadoxine/pyrimethamine and arteminisin. CTD/MAL/97.20 Rev. 2001.

Page 84: Luiz Francisco Rocha e Silva

69

7 ANEXOS 7.1 Parecer de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa

Page 85: Luiz Francisco Rocha e Silva

70

7.2 Confirmação da Submissão

Page 86: Luiz Francisco Rocha e Silva

71

7.3 Artigos Publicados como autor e coautor relacionados a dissertação

7.3.1 In Vivo and In Vitro Antimalarial Activityof 4-Nerolidylcatechol