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1 Projeto piloto sobre a Crise Humanitária em Roraima: um estudo dos efeitos da relação Civil-Militar para a eficiência da Força-Tarefa Logística Humanitária na Operação Acolhida 2018 Luís Henrique Vighi Teixeira 1 Resumo: a crise humanitária que assola o Estado de Roraima, fronteira com a Venezuela, apresenta desafios inéditos ao País. Nesse contexto, o Exército Brasileiro, por intermédio da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, desencadeou a Operação Acolhida, na qual coordena os esforços civis e militares para assistir a presença desses refugiados em território nacional. Esse estudo visa analisar os efeitos da relação Civil-Militar para a logística humanitária da Operação. Para tal, apresenta os atores relevantes e suas ações logísticas e busca caracterizar o nível de integração civil-militar e seu efeito para o sucesso desse esforço conjunto. Através de uma revisão bibliográfica sobre o tema Logística Humanitária, foram analisados os dados colhidos por intermédio de questionários aplicados a dez Oficiais de Estado Maior envolvidos na coordenação da Operação. Os resultados apontam as virtudes desse esforço conjunto e apresentam os principais desafios para potencializar seus resultados. Palavras-Chave: Logística Humanitária, Coordenação civil-militar e Crise na fronteira Brasil-Venezuela 1. INTRODUÇÃO O Exército Brasileiro (EB) é uma instituição nacional permanente com renomada tradição de participação em ações humanitárias, em território nacional, em apoio aos órgãos civis que atuam nessa atividade. São inúmeros os casos de calamidades, crises ou desastres em que o Exército teve papel fundamental no socorro imediato às vítimas, como por exemplo na enchente em Blumenau e Itajaí, em 2008, em um cenário de grave calamidade, ou em ações de combate à seca no semiárido, com caráter prolongado. Normalmente tais crises exigem uma atuação de múltiplas entidades, governamentais ou não, que necessitam de integração e coordenação para obterem êxito em seus propósitos. 1 Discente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares e aluno do 1º ano do Curso de Comando e Estado-Maior do Exército.

Luís Henrique Vighi Teixeira - ABED · 2018. 9. 24. · sanitárias, segurança e apoio de saúde. Nos abrigos, as famílias acolhidas recebem barracas e colchões, kit de higiene

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Projeto piloto sobre a Crise Humanitária em Roraima: um estudo dos

efeitos da relação Civil-Militar para a eficiência da Força-Tarefa Logística

Humanitária na Operação Acolhida 2018

Luís Henrique Vighi Teixeira1

Resumo: a crise humanitária que assola o Estado de Roraima, fronteira com a

Venezuela, apresenta desafios inéditos ao País. Nesse contexto, o Exército

Brasileiro, por intermédio da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, desencadeou a

Operação Acolhida, na qual coordena os esforços civis e militares para assistir

a presença desses refugiados em território nacional. Esse estudo visa analisar

os efeitos da relação Civil-Militar para a logística humanitária da Operação. Para

tal, apresenta os atores relevantes e suas ações logísticas e busca caracterizar

o nível de integração civil-militar e seu efeito para o sucesso desse esforço

conjunto. Através de uma revisão bibliográfica sobre o tema Logística

Humanitária, foram analisados os dados colhidos por intermédio de

questionários aplicados a dez Oficiais de Estado Maior envolvidos na

coordenação da Operação. Os resultados apontam as virtudes desse esforço

conjunto e apresentam os principais desafios para potencializar seus resultados.

Palavras-Chave: Logística Humanitária, Coordenação civil-militar e Crise na

fronteira Brasil-Venezuela

1. INTRODUÇÃO

O Exército Brasileiro (EB) é uma instituição nacional permanente com

renomada tradição de participação em ações humanitárias, em território

nacional, em apoio aos órgãos civis que atuam nessa atividade.

São inúmeros os casos de calamidades, crises ou desastres em que o

Exército teve papel fundamental no socorro imediato às vítimas, como por

exemplo na enchente em Blumenau e Itajaí, em 2008, em um cenário de grave

calamidade, ou em ações de combate à seca no semiárido, com caráter

prolongado. Normalmente tais crises exigem uma atuação de múltiplas

entidades, governamentais ou não, que necessitam de integração e

coordenação para obterem êxito em seus propósitos.

1 Discente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares e aluno do 1º ano do Curso de Comando e Estado-Maior do Exército.

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Recentemente, o Estado de Roraima, que faz divisa com a Venezuela,

vive um drama provocado pelo vertiginoso aumento de refugiados que migram

de seu país em busca de melhores condições de vida em território brasileiro.

Segundo dados oriundos da Polícia Federal2, somente em 2017, o número de

pedidos de refúgio de venezuelanos no Brasil evoluiu conforme o quadro 1.

Quadro 1 – Evolução das solicitações de refúgio por Venezuelanos no Brasil.

Ano Solicitações de Refúgio

2017 17.865

2016 3.375

2015 822

2014 201

2013 43

2012 1

2011 4

2010 4

Tal fenômeno tem origem na forte crise política, econômica e social que

se agrava no país vizinho no governo do presidente Nicolás Maduro e que gera

sérias consequências ao Brasil. Assim, o Estado de Roraima, que não possui

infraestrutura adequada para receber tantos imigrantes, passa a encarar uma

situação emergencial de calamidade pública.

Um estudo apresentado por Simões (2017), promovido pelo Conselho

Nacional de Imigração, com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas

para refugiados (ACNUR), traça o perfil sócio demográfico e laboral dos

imigrantes venezuelanos até o início do segundo semestre de 2017.3

Nesse contexto, o EB, por intermédio da 1ª Brigada de Infantaria de Selva

(1ª Bda Inf Sl), com sede em Boa Vista – RR, desencadeou a Operação Acolhida,

2 Dados apresentados no documento “O refúgio em números” – 3ª edição, 2018, da Secretaria Nacional de Justiça (SNJ) do Ministério da Justiça. 3 Destacam-se os seguintes dados obtidos nesse estudo: 72% são jovens (entre 20 e 39 anos); a maioria do sexo masculino e solteiro (56,4%); 76,4% relatam a crise política e econômica da Venezuela como o motivo da imigração; os principais estados originárias são Bolívar (26,3%), Monagas (16,3%), Distrito Federal de Caracas (15,4%); 82,4% solicitaram refúgio no Brasil, dos quais 77% aceitam deslocar-se para outros pontos do território nacional; 67,1% estão desempregados ou trabalham por conta própria e 5,9% são estudantes; 50,4% vivem com menos de um salário mínimo; 61,5% não falam nenhum idioma além do espanhol; 52,9% apresentam dificuldade no idioma como fator de inserção laboral; 44,3% moram em residências com mais de 5 habitantes; e 62,9% relatam sofrer discriminação no Brasil.

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um esforço do governo federal, conjunto a diversos órgãos civis, estatais e não

governamentais, sob sua coordenação.

Assim, o presente trabalho destaca a cooperação logística Civil-Militar na

Operação Acolhida 2018, tendo como ponto de partida o seguinte problema de

pesquisa: quais as características da relação Civil-Militar e como ela pode ser

aprimorada para as ações de logística humanitária atualmente desenvolvidas em

Roraima?

Para isso, este estudo visa analisar os efeitos da relação Civil-Militar na

Operação Acolhida para a eficiência da logística humanitária empregada no

Estado de Roraima. Para tal, inicialmente, serão apresentados os atores

relevantes nesse processo e as suas principais ações. Na sequência, serão

caracterizados diversos aspectos que permeiam a coordenação civil-militar na

Operação e analisados os possíveis óbices e os principais pontos passíveis de

melhoria.

A relevância desse estudo está no fato de abordar, com relativo

ineditismo, um tema atual e de grande relevância para a Força Terrestre, que

colocou o Brasil em estado de alerta para o que ocorre com seu vizinho

fronteiriço, a Venezuela. Ademais, os fatos estudados se encontram em pleno

desenrolar e, portanto, os resultados dessa pesquisa podem colaborar para o

trabalho em andamento, além de permitir o registro e a análise do que vem sendo

desenvolvido na região de acordo com o que há de mais atual na literatura

científica.

Ademais, a coordenação interagências é uma temática de grande

relevância na atualidade para a Força, permeando praticamente todos os

ambientes operacionais em que o EB atua, independente do contexto. Ainda, o

enfoque na relação civil e militar da Operação direciona esse estudo para

possíveis avanços no emprego das Forças Armadas.

2. METODOLOGIA

Este projeto piloto refere-se a uma pesquisa sobre a relação civil-militar

na Força-Tarefa Logística Humanitária que atua na Operação Acolhida no

estado de Roraima, e está sendo desenvolvida em duas fases. A primeira fase

é de revisão bibliográfica, visando consolidar conceitos importantes a respeito

dos efeitos da relação Civil-Militar em atividades de logística humanitária, para

fundamentar a análise dos dados colhidos em campo. Além disso, estão sendo

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pesquisados os principais meios de comunicação oficial do EB e de outras

entidades, para levantar as principais ações desenvolvidas.

Em uma segunda fase, serão colhidos dados sobre a temática em análise

a partir de um questionário. Até o momento, este instrumento já foi aplicado a

uma amostra de dez Oficiais de Estado Maior do EB e os resultados parcialmente

analisados. Esses militares exercem funções chave na Operação, sendo os

responsáveis diretos pelo planejamento, execução e coordenação da Operação

Acolhida 2018, em seus aspectos gerenciais, operacionais, logísticos, de

inteligência, de informações e de assuntos civis. Nesse ínterim, está sendo

realizada uma coleta de dados análoga, junto a diversas instituições civis

partícipes desse esforço conjunto de ajuda humanitária.

Por fim, os dados obtidos serão categorizados e analisados em uma

subseção específica, onde serão confrontados com conceitos da relação civil-

militar que, segundo a literatura pesquisada, costumam apresentar óbices ou

falhas. Tudo isso com a finalidade de compreender o papel dos diversos atores

que atuam nessa crise, qualificar sua integração e cooperação e concluir sobre

as possibilidades de melhorias.

3. OPERAÇÃO ACOLHIDA 2018 – PRINCIPAIS ATORES E SUAS AÇÕES DE

LOGÍSTICAS HUMANITÁRIA

A presente seção visa apresentar os principais atores e suas respectivas

ações de logística humantirária na Operação Acolhida 2018, deflagrada no dia

12 de março de 2018. Na ocasião, foi constituída a Força-Tarefa Logística

Humanitária, integrando vários órgãos da esfera federal, estadual e municipal e

entidades diversas de cunho humanitário, assistêncial, religioso e Organizações

Não Governamentais (ONG), em um ambiente tipicamente interagencias.4

O enfoque principal da Força-Tarefa é o esforço de logística humantitária.

Para tal, o comandante da 1ª Bda Inf Sl contou com suas frações orgânicas e,

posteriormente, com meios diversos recebidos em reforço de outras

Organizações Militares do territótio nacional. O 6º Batalhão de Engenharia de

Construção, por exemplo, atua na melhoria da infraestrutura dos abrigos,

enquanto uma equipe do 7º Batalhão de Polícia do Exército, Manaus (AM), está

4 Disponível em < http://www.eb.mil.br/operacao-acolhida/noticias>. Acesso em: 10 jun. 2018.

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lotada em Boa Vista e em Pacaraima, realizando patrulhamento, controle de

trânsito, escoltas e segurança dos abrigos.5

As três Forças Armadas atuam em apoio à causa humanitária. Em abril,

uma equipe médica e cerca de 26 toneladas de remédios chegaram em um

Boeing da Força Aérea Brasileira (FAB) visando atender às necessidades

emergenciais no Estado. Essa equipe de médicos foi composta por cinco

militares das três Forças.6

Os dados colhidos nos questionários apontam uma gama de funções

logísticas desempenhadas pelo EB, sendo elas: saúde, suprimento

(alimentação), transporte, manutenção, engenharia, segurança, comunicações,

recursos humanos, finanças e auxílio na interiorização. Alguns dados obtidos

nessa pesquisa relativos à atuação de diversos atores civis e militares foram

compilados no quadro 2.

Desde dezembro de 2017, a ONG Fraternidade sem Fronteiras iniciou um

projeto de acolhimento aos imigrantes, operando um Centro de Acolhimento que

desenvolve atendimento emergencial, retirando os imigrantes das ruas e praças

da cidade e oferecendo um local para que possam viver com dignidade. Nesse

sentido, o ACNUR, juntamente com a organização não governamental

Fraternidade Internacional Humanitária, realiza o cadastramento de quem entra

no Brasil oriundo da Venezuela, inclusive de currículos profissionais.7

Quadro 2 – Principais atores e suas funções na Operação Acolhida, além das

Forças Armadas.

Nome do Órgão Vinculação Funções

Governo Federal

Governamental

Casa Civil; 12 Ministérios,

destacando-se o Ministério da Saúde

Governo Estadual Funções Estaduais em Roraima

Governo Municipal

Funções municipais com destaque em

Pacaraima e Boa Vista

5 loc. cit. 6 loc. cit. 7 loc. cit.

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Polícia Federal Controle de Fronteira e Fiscalização de crimes

Bombeiros do Estado Atendimento à população

SAMU8 Atendimento de saúde emergencial

ONU9

Supranacional

ACNUR; OIM10;

UNFPA11

Fraternidade Internacional

Não-Governamental e Instituições Religiosas

Ajuda Humanitária

Fraternidade Sem Fronteira

Acolhimento, cadastro e operar abrigos

MORMONS

Ajuda humanitária e apoio religioso

ROTARY Serviço humanitário

CÁRITAS

Defesa dos direitos humanos e segurança

alimentar

FUNASA12 Saneamento, saúde e inclusão social

Igrejas Apoio religioso e caridade

Uma das prioridades do trabalho da Força Tarefa Humanitária, em

coordenação com órgãos de governo, é a estruturação dos abrigos que recebem

os refugiados. Essa ação é fundamental para permitir a retirada de imigrantes

das ruas, oferecendo espaços com infraestrutura, alimentação, instalações

sanitárias, segurança e apoio de saúde. Nos abrigos, as famílias acolhidas

recebem barracas e colchões, kit de higiene pessoal e as alimentações diárias.

Além disso, são oferecidas aulas de Português, canto, música, dança nacional

Venezuelana e balé clássico.13

Em abril de 2018, teve início o processo de interiorização de

venezuelanos. Atuando conjuntamente, a Força-Tarefa Humanitária, o Governo

Federal e o ACNUR já realizaram o embarque de dois grupos para o interior do

8 Serviço de Atendimento Móvel de Urgência 9 Organização da Nações Unidas 10 Organização Internacional para as Migrações 11 Fundo de População das Nações Unidas 12 Fundação Nacional de Saúde 13 Disponível em < http://www.eb.mil.br/operacao-acolhida/noticias>. Acesso em: 10 jun. 2018.

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Brasil. A Força Aérea Brasileira foi a responsável por conduzir cerca de 500

imigrantes para suas cidades de destino.14

No dia 18 de maio, em audiência pública na Assembléia Legislativa de

Roraima, o Assessor de Comunicação Social da Força-Tarefa apresentou os

dados recentes da Operação Acolhida. Segundo ele, até aquela data, as ações

conjuntas retiraram 1.105 imigrantes desassistidos das praças e ruas de Boa

Vista, contando com 9 abrigos, que acolheram o total de 3.905 refugiados, além

de ter propiciado a interiorização de 527 imigrantes.15

4. A RELAÇÃO CIVIL-MILITAR NA OPERAÇÃO ACOLHIDA

Dentro do campo emergente da logística humanitária, a interface logística

civil-militar ainda tem atenção reduzida na literatura acadêmica, embora seja de

grande importância. Em comparação com as demais atuações em ambientes de

cooperação, a coordenação na ajuda humanitária provou ser mais difícil do que

outras relações interagências, e seus efeitos são sentidos em diversos aspectos.

(HEASLIP e BARBER, 2016)

Assim, a seguir serão apresentados os aspectos que, segundo Kovacs e

Spens (2012), podem afetar negativamente a relação civil-militar em operações

de logística. Tais óbices serão consubstanciados pela análise dos dados

colhidos nos questionários aplicados nessa pesquisa e de acordo com os

conceitos extraídos da literatura científica.

4.1 COORDENAÇÃO

Ambientes de ajuda humanitária costumam envolver intrinsecamente

múltiplos tomadores de decisão e uma variedade de atores, cada um com suas

peculiaridades, missões e capacidades logísticas, executando ações

interdependentes que necessitam ser coordenadas (ZEIMPEKIS, 2014).

Segundo Balcik (2010), muitos fatores contribuem para dificuldades de

14 loc. Cit. 15 loc. Cit.

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coordenação na ajuda aos desamparados, como o ambiente caótico, o grande

número e variedade de atores envolvidos e a carência de recursos.

Segundo Czajkowski (2007) apud Idris et al. (2014) a coordenação ocorre

quando um grupo de organizações considera que o objetivo geral desejado é o

mesmo, e passa a trabalhar em conjunto, mesmo em missões separadas que

sejam compatíveis. Os dados colhidos apontam que 70% dos oficiais

consideram predominantemente como muito boa a coordenação de esforços

entre o EB e as entidades civis, ao passo que 20% consideram excelente e 10%

boa.

Para Kovacs e Spens (2012), devido à premência de tempo e escassez

de meios, é preciso evitar esforços duplicados ao longo da cadeia de

abastecimento. Essa questão foi levantada entre os participantes, sendo que as

respostas apresentaram uma relativa variação. Enquanto 30% responderam que

não há duplicação, 10% consideram que há e 60% julgam que essa duplicação

é parcial. Entre os que responderam a opção parcial, 10% alegam que existem

complementações de ações, 10% consideram que isso ocorre porque a

demanda está superior à capacidade das entidades e 10% afirmam que quando

verificadas, elas são otimizadas para que não se repitam.

Sendo assim, conclui-se que a redução dos esforços duplicados, por

intermédio de um planejamento conjunto e de uma execução coordenada, pode

ser uma importante oportunidade de otimização dos trabalhos da Operação,

sendo esse um desafio aos seus líderes e planejadores.

4.2 NÍVEL DE COOPERAÇÃO

Segundo Heaslip e Barber (2014), a Cooperação refere-se a um estado

máximo de coordenação civil-militar, em que existe uma variedade de relações

cooperativas entre a comunidade humanitária e a força militar. Para esse autor,

atingi-se esse nível quando há planejamento conjunto, divisão de trabalho e

compartilhamento de informações.

Nesse sentido, a pesquisa de campo em Roraima verificou, entre os três

aspectos supracitados, qual se apresenta em melhores e qual está em piores

condições na Operação Acolhida. Os resultados são expressivos no sentido de

que a divisão do trabalho é o ponto mais forte da cooperação civil-militar,

enquanto que o compartilhemento de informações é o ponto mais fraco. O

planejamento conjunto foi considerado em posição intermediária. Tais

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constatações indicam para onde os esforços dos planejadores das ações que

envolvem a cooperação civil-militar podem ser direcionados.

De acordo com Kovacs e Spens (2012), os militares tendem a ocupar uma

posição dominante em situações de socorro humanitário de emergências

complexas. Nesse ínterim, os dados colhidos em Roraima confirmam esse

pressuposto teórico e apontam de forma unânime o EB como excercendo uma

posição de liderança perante as demais agências envolvidas, sendo esta

condição bem aceita pelas demais entidades na ótica dos participantes. Em

especial, devido às especificidades de infraestrutura da região Norte do Brasil,

essa condição de liderança do EB é previsível, ocorrendo em nome do Governo

Federal.

Além disso, os resultados de campo no ambiente de Roraima apontam

que 70% dos participantes reconhecem que o EB busca ampliar a integração

entre civis e militares, explicando suas intenções e capacidades aos demais, em

um nível ótimo, enquanto 30% consideram que isso ocorre em nível bom.

Ainda em relação à cooperação entre militares e civis, Stephenson (2004)

apud Kovacs e Spens (2012) afirma haver uma forte competição entre agências

por atenção de mídia, que pode ser um fator que compromete a integração. Dos

dados obtidos, 60% confirmam essa possibilidade, afirmando que percebem

essa competitividade, mesmo que de forma parcial. Por outro lado, 40% dos

participantes não reconhecem uma atitude competitiva entre as agências

presentes.

Outro fator evidenciado na pesquisa foi a atitude de busca por

imparcialidade de entidades civis em relação aos militares, evitando expor sua

imagem junto à tropa, ao ponto de comprometer as ações conjuntas. Isso foi

relatado em 40% das respostas, com destaque para a ACNUR e a Fundação

Nacional do Índio (FUNAI).

Assim, verifica-se que, no contexto da Operação Acolhida, os militares

percebem um bom nível de cooperação com os civis, mesmo com alguns dados

apontando aspectos a serem trabalhados. Segundo Heaslip et al (2012), esses

melhoramentos exigem maior cooperação na comunicação, coordenação e

colaboração entre os atores humanitários e requerem um melhor conhecimento

dos mandatos, capacidades e limitações de cada um.

4.3 RECURSOS, CAPACIDADES E DEFICIÊNCIAS

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As capacidades quase que excluivas das Forças Armadas são o principal

fator que as colocam como pioneiras nas ações logísticas humanitárias.

Segundo Eriksson (2000) apud Kovacs e Spens (2012), os militares têm vários

recursos peculiares, podendo proteger e defender-se, tendo acesso rápido a

meios de transporte, como aeronaves e embarcações, inteligência e redes de

comunicações eficazes, sendo auto-suficientes por períodos prolongados.

Na pesquisa realizada junto aos coordenadores da Operação Acolhida

lhes foi questionado se o EB possui os recursos adequados para cumprir aquela

missão. Em 70% das respostas foi apontado que em parte possui (dos quais

10% acrescentaram que foi adquirido o que era necessário, pois alguns materiais

não faziam parte da cadeia de suprimento) e 30 % responderam que sim.

Analisando esses dados, conclui-se que, diante da realidade de unidades

militares sediadas em Faixa de Fronteira, havendo a ameaça, cabe um

planejamento para a aquisição e o fornecimento dos mateirais necessários com

antecedência às crises, o que demanda celeridade à reação e poupa esforços

desnecessários.

Entre as principais dificuldades ou lacunas de capacidades apresentadas

pela Força Terrestre, de acordo com os participantes da pesquisa, destacam-se:

a carência de Recursos Humanos, seja em quantidade, em função da grande

demanda, seja em treinamento para tal cenário; a falta de habilidade com o

idioma espanhol, dificultando a interação com os refugiados; as dificuldades

inerentes ao trabalho interagências e com os entes nas três esferas de poder,

inclusive no tocante à relação civil-militar, das quais muitas estão sendo

exploradas neste trabalho; a pesada burocracia do processo público de

aquisição de bens e serviços; a distância física entre o Estado de Roraima e os

grandes centros do País; o fato de que grande parte do material necessário não

fazer parte da cadeia de suprimento; os assuntos civis e a carência de pessoal

de saúde, nas mais diversas funções, para participar das diversas operações,

havendo a necessidade de contratação emergencial.

4.4 RECURSOS HUMANOS

Os recursos humanos incluem fatores relacionados com pessoal, tais

como recrutamento, habilidades, experiência dos funcionários, motivação para o

trabalho, treinamento, avaliação de desempenho e remuneração, entre outros.

Fitzgerald e Walthall, 2007 citados por Heaslip et al. (2012) defendem que o

pessoal militar e civil deve ser incentivado a participar de workshops e exercícios

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conjuntos para estudar assuntos de interesse mútuo e aprender sobre as

perspectivas uns dos outros.

Segundo Idris et al. (2014), o treinamento é um componente crítico no

gerenciamento de recursos humanos voltados às atividades de ajuda

humanitária. No tocante à preparação dos Recursos Humanos para essa

modalidade de emprego, quando perguntados se houve algum treinamento

prévio desse tipo de Operação que tenha preparado os militares para a

integração Civil-Militar nas ações de logística humanitária, 70% dos participantes

afirmamaram que não, ao passo que 30% disseram que sim.

Isso denota a necessidade de realização de mais exercícios dessa

natureza, inclusive no nível de Comando e Estado-Maior, para justamente

integrar e promover o conhecimento mútuo entre as diversas entidades que

atuam neste cenário. Sendo assim, isso pode ser priorizado em Unidades de

fronteira consideradas como pontos críticos ou que estejam na iminência de

enfrentar crises como esta, não dispensando as demais de também se

prepararem.

Por fim, selecionar as habilidades das pessoas envolvidas na

coordenação da ajuda humanitária é importante para os resultados. Heaslip et

al. (2012) sugerem que, além de apurados conhecimentos e talentos logísticos,

a seleção de profissionais deve enfatizar aptidões que incluam negociação,

gestão de conflitos, capacidades de liderança, de relacionamento interpessoal e

de comunicação.

4.5 PERSONALIDADES E INTERAÇÃO MÚTUA

Segundo Olson & Gregorian (2007) apud Kovacs e Spens (2012), o

sucesso na colaboração no campo das relações civis-militares em operações de

ajuda humanitária, depende muitas vezes das personalidades do pessoal

envolvido e das estruturas de ligação que são estabelecidas. Não é incomum

observar atitudes não cooperativas dentro e entre organizações. Isso pode

resultar da competição por recursos, pelo poder e pela notoriedade, mas também

pode surgir de gostos pessoais, de preconceitos, antipatias ou estereótipos.

Beauregard (1998), em seu estudo das atividades civis-

militares durante uma série de desastres, identifica seis fatores

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principais que dificultam a coordenação e a cooperação. Estes incluem

diferenças de culturas e ideologias, diferenças nas estruturas

organizacionais e cadeia de comando, falhas de comunicação devido

a equipamento incompatível ou ausência de procedimentos de

comunicação, recusa das organizações humanitárias de assistência

militar para proteger a independência e imparcialidade e a ameaça ou

uso da força por parte do militar. Ele conclui sugerindo uma gama de

soluções (treinamento, melhor comunicação e processos de consulta

por meio de eventos que melhoram a compreensão mútua, equipes de

ligação) para melhorar o relacionamento civil-militar. (KOVACS E

SPENS, 2012, p. 163. Tradução Nossa)

Visando verificar a ocorrência desses seis fatores supracitados como

dificultadores para o bom andamento da Operação Acolhida, os participantes

dessa pesquisa manifestaram-se a esse respeito. Em 100% das respostas foram

identificadas as “diferenças de estrutura organizacional” como problema. Na

sequência, “as diferenças na cadeia de comando” foram apontadas por 70%, as

“diferenças culturais e Ideológicas” por 40%, as “falhas de comunicação por

equipamentos” em 10%, a “recusa das organizações humanitárias de assistência

militar para proteger a independência e imparcialidade” foi respondida em 20%

dos casos, e “as necessidades de uso ou ameaça de uso da força” não foram

apontadas. Esses números sugerem os aspectos que podem receber maior

atenção em planejamentos fututros.

Para Heaslip et al. (2012) os militares carecem de compreensão das

distintas doutrinas das ONG e entidades civis, enquanto estas criticam os

militares e não entendem suas hierarquias. Nesse sentido foi questionado aos

participantes dessa pesquisa se consideram que há compreensão mútua entre

os papéis das instituições envolvidas nas ações de logística humanitária em

Roraima, sendo que 90% concordaram que há tal compreensão, e os 10%

restantes concordaram plenamente que há esse mútuo entendimento. Esses

resultados contrariam as tendências apresentadas na literatura e apresentam um

ponto forte do trabalho das lideranças da Operação.

4.6 COMUNICAÇÃO

Uma barreira importante para o bom andamento da ajuda humanitária é a

falta de comunicação. Esse óbice pode ser proveniente tanto da carência de

infraestrutura de comunicações, como das dificuldades óbvias associadas às

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diferenças de idioma entre as partes. (MOORE & ANTILL, 2002 apud KOVACS

E SPENS, 2012).

No entanto, para a cooperação civil-militar, as tecnologias de ambas as

organizações devem ser compatíveis. Além disso, ambos devem estabelecer

uma linguagem comum em relação às missões de ajuda (Barry & Jeffrys, 2002,

apud KOVACS & SPENS, 2012)

Essa pesquisa procurou avaliar a percepção dos participantes quanto ao

nível da comunicação entre civis e militares. Ao serem questionados sobre o

nível de qualidade da comunicação, 10 % consideram que é excelente, 70%

consideram muito boa e 20% consideram boa. Os números revelam uma

percepção positiva da comunicação entre os atores envolvidos nas atividades de

logística humanitária, o que pode gerar reflexos positivos para a coordenação

logística da Operação. Em 10% das respostas o idioma foi apresentado como

uma barreira para o contato com os imigrantes, sugerindo uma oportunidade de

melhoria no preparo e seleção dos recursos humanos quando possível.

4.7 DIFERENÇAS CULTURAIS ENTRE ORGANIZAÇÕES

Rondon et al. (2012) entende a cultura como consistindo de três

dimensões: sistemas de significado, normas de comportamento e relações de

poder. Uma cultura profissional pode ser retratada como um conjunto de valores,

crenças, regras, práticas e atitudes que os membros da profissão compartilham

e que moldam sua prática operacional.

A cultura militar e as culturas civis geralmente não se encaixam

perfeitamente nos ambientes de socorro. Há estressores inerentes entre eles

devido às divergências de mandatos, objetivos, métodos de operação e

vocabulário. Quando as diferenças culturais se confrontam no terreno, a

incapacidade de comunicar eficazmente, causada pela falta de compreensão

mútua, cria tensão. (KOVACS E SPENS, 2012)

Quando perguntado aos militares participantes dessa pesquisa se as

diferenças culturais entre civis e militares causam tensões ou dificultam a

cooperação, os dados obtidos foram, de certa forma, divergentes. Enquanto 70%

deles consideram que não há essa tensão, outros 30% concordaram que há.

Isso leva a crer que as experiências de cada função de Estado-Maior envolvem

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diferentes vivências, com diferentes atores civis, gerando percepções distintas

em relação a essas diferenças culturais e seus efeitos para as atividades. Cabe

a todos buscar a superação dessas diferenças com compreensão e cooperação.

4.8 GESTÃO DE RESULTADOS E EFICIÊNCIA

Segundo Kovacs e Spens (2012, p. 160. Tradução Nossa) “sem padrões

de desempenho, os agentes não têm meios de avaliar seu sucesso e nenhuma

referência para melhorar suas operações”. Cantillo (2008) apud Idris et al. (2014)

também sugere a medição do desempenho como fator de sucesso que afeta os

recursos humanos positivamente nas ações de ajuda humanitária.

Foi indagado na pesquisa a respeito da utilização ou não dos indicadores

de desempenho. Os resultados obtidos demonstraram que em 70% dos casos

há a utilização desses recursos, ao passo que nos outros 30% não há. Acredita-

se que o desenvolvimento desse instrumento pode redirecionar positivamente os

planejamentos e gerar resultados.

Outra feramenta de gestão igualmente importante para o aprimoramento

da interação civil-militar são os modelos de cooperação, ou seja, os checklist

desenvolvidos a partir de experiências anteriores para auxiliar planejamentos e

evitar esquecimentos. Segundo Heaslip et al. (2012, p. 379, Tradução Nossa),

para os atores e seus líderes, os modelos podem contribuir para o

desenvolvimento de listas de verificação, um maior entendimento dos

conflitos no processo de cooperação e elementos para procedimentos

que aumentam o desempenho da cooperação. Os modelos podem

fornecer orientações sobre como os parceiros podem promover e

gerenciar relacionamentos que alcançarão resultados favoráveis; ou

pode ter idéias sobre relacionamentos dinâmicos.

No tocante a esse aspecto, os dados colhidos mostram que apenas 30%

dos participantes fazem uso de modelos capazes de guiar o gerenciamento do

relacionamento civil-militar, enquanto 70% relatam não possuírem. Esse é outro

importante aspecto que pode ser trabalhado em prol do melhoramento do

trabalho.

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Por fim, foi perguntado aos inquiridos se há o registro de boas práticas

nas relações civis-militares, fruto de análises após as ações desenvolvidas,

justamente para subsidiar modelos de gestão e dirimir equívocos futuros, sendo

obtidos os seguintes resultados: 40% responderam que fazem esse registro,

40% responderam que em parte isso ocorre e 20% responderam que não fazem.

Da mesma forma, esse é um procedimento interessante que pode evitar

repetição de equívocos e gerar bons frutos quando utilizado por todos.

5. CONCLUSÃO

Neste trabalho, se observou que a logística humanitária compreende uma

integração complexa de uma gama de indivíduos e organizações. De uma forma

sintética, se pode constatar que civis e militares, apesar de suas diferenças,

apresentam capacidades complementares para a realização de esforços

conjuntos de ajuda humanitária. Tais diferenças devem ser articuladas de forma

a promover uma sinergia de forças, superando óbices e desafios.

Verificou-se nessa pesquisa que, em ajuda humanitária, a coordenação

civil-militar é complexa, tendo sido analisadas, ao longo das oito subseções

deste trabalho, as possíveis barreiras a serem superadas. Para os militares, o

primeiro passo é obter uma melhor compreensão dos demais atores

humanitários, de suas capacidades, atitudes e papéis. Vale ressaltar que a

cooperação civil-militar vem ganhando força e evoluindo nos últimos anos.

Nesse ínterim, é necessário que lições aprendidas sejam incorporadas e

treinamentos aconteçam de forma conjunta.

Assim, a Operação Acolhida tem demonstrado ser um importante campo

de pesquisa para coleta de dados e de ensinamentos para os mais diversos

segmentos de atuação. Nesse sentido, foi possível constatar que, em muitos

aspectos, o trabalho que lá é desenvolvido está alinhado com conceitos

internacionalmente reconhecidos como referências no campo das relações civis-

militares em ajuda humanitária. Isso demonstra o amadurecimento institucional

e é resultado, também, de experiências de sucesso como no Haiti e e em

operações de adestramento como a AmazonLog16, laboratórios para o desafio

enfrentado em Roraima.

A partir dessa pesquisa, um campo de possibilidades se abre para novas

abordagens, seja no tocante à relação civil-militar ou a qualquer outro fator que

16 Exercício de Logística Multinacional Interagências, inédito na América do Sul, conduzido pelo Comando Logístico (COLOG) na Amazônia em 2017.

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compõe a Operação Acolhida. Um importante viés que pode ser abordado em

novas pesquisas é a percepção das diversas entidades civis a repeito da relação

civil-mlitar lá vivenciada, pois isso fornecerá um importante contra-ponto para as

conclusões aqui obtidas e conduzirá à ampliação dos resultados.

Por fim, conclui-se que a participação das Forças Armadas em ações de

socorro às vítimas de calamidades, cooperando com agências civis, é uma

realidade solidificada no País, mas que pode e deve ganhar qualidade e

eficiência, desde a fase da preparação até a obtenção de ótimos resultados,

gerando o bem-estar e garantindo segurança à sociedade.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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