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109 UnB Contábil – UnB, Brasília, vol. 10, n o 1, jan/jun – 2007 Como Classificar as Reservas de Capital na Demonstração dos Fluxos de Caixa? * Paulo Roberto Barbosa Lustosa e Ariovaldo dos Santos ** Resumo Este artigo analisa as características de cada uma das reservas de ca- pital obrigatórias do sistema contábil brasileiro e apresenta, a partir dessa análise, alternativas para a classificação, entre os três grupos de atividades da Demonstração dos Fluxos de Caixa - DFC, das movimentações físicas e virtuais de dinheiro presentes nos even- tos geradores de reserva de capital. As principais normas contábeis estrangeiras sobre o modelo de fluxos de caixa realizados, como a americana FAS-95 – Statement of Cash Flows, do FASB – Financial Accounting Standards Board e a norma internacional IAS-7 revi- sada – Cash Flow Statements, do IASB – International Accounting Standards Board, não contêm referências específicas sobre a classi- ficação das reservas de capital na DFC e, além disso, algumas dessas reservas são típicas do sistema contábil adotado no Brasil. O traba- lho utiliza uma abordagem metodológica crítico-investigativa do referencial teórico e normativo sobre reservas de capital e ilustra a discussão com um exemplo que contempla todas as reservas discu- tidas, a partir do qual são elaboradas as DFC por uma das alternati- vas propostas na análise e pelos critérios do FAS-95. Conclui-se que a alternativa apresentada promove uma maior integração da DFC com as demais demonstrações contábeis do que a abordagem que vem sendo utilizada. Palavras-chave: Reservas de Capital. Demonstração dos Fluxos de Caixa. Demonstrações Financeiras. * Artigo originalmente apresentado no XXVIII EnANPAD, 2004, Curitiba PR. ** Paulo Roberto Barbosa Lustosa é professor doutor no Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais da Universidade de Brasília CCA – UnB – DF, e-mail: [email protected] . Ariovaldo dos Santos é professor livre-docente no Departamento de Contabilidade e Atuaria da Universidade de São Paulo FEA – USP – SP, e-mail: [email protected]

Lustosa Santos 2007 Como Classificar as Reservas d 20227

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  • 109UnB Contbil UnB, Braslia, vol. 10, no 1, jan/jun 2007

    Como Classifi car as Reservas de Capital na Demonstrao dos Fluxos de Caixa?*Paulo Roberto Barbosa Lustosa e Ariovaldo dos Santos**

    Resumo

    Este artigo analisa as caractersticas de cada uma das reservas de ca-pital obrigatrias do sistema contbil brasileiro e apresenta, a partir dessa anlise, alternativas para a classifi cao, entre os trs grupos de atividades da Demonstrao dos Fluxos de Caixa - DFC, das movimentaes fsicas e virtuais de dinheiro presentes nos even-tos geradores de reserva de capital. As principais normas contbeis estrangeiras sobre o modelo de fl uxos de caixa realizados, como a americana FAS-95 Statement of Cash Flows, do FASB Financial Accounting Standards Board e a norma internacional IAS-7 revi-sada Cash Flow Statements, do IASB International Accounting Standards Board, no contm referncias especfi cas sobre a classi-fi cao das reservas de capital na DFC e, alm disso, algumas dessas reservas so tpicas do sistema contbil adotado no Brasil. O traba-lho utiliza uma abordagem metodolgica crtico-investigativa do referencial terico e normativo sobre reservas de capital e ilustra a discusso com um exemplo que contempla todas as reservas discu-tidas, a partir do qual so elaboradas as DFC por uma das alternati-vas propostas na anlise e pelos critrios do FAS-95. Conclui-se que a alternativa apresentada promove uma maior integrao da DFC com as demais demonstraes contbeis do que a abordagem que vem sendo utilizada.

    Palavras-chave: Reservas de Capital. Demonstrao dos Fluxos de Caixa. Demonstraes Financeiras.

    * Artigo originalmente apresentado no XXVIII EnANPAD, 2004, Curitiba PR.** Paulo Roberto Barbosa Lustosa professor doutor no Departamento de Cincias Contbeis e Atuariais da Universidade de Braslia CCA UnB DF, e-mail: [email protected] . Ariovaldo dos Santos professor livre-docente no Departamento de Contabilidade e Atuaria da Universidade de So Paulo FEA USP SP, e-mail: [email protected]

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    Como Classifi car as Reservas de Capital na Demonstrao dos Fluxos de Caixa?

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    1 INTRODUO

    A classifi cao dos fl uxos de caixa de um determinado perodo em trs grupos de atividades Operaes, Investimentos e Finan-ciamentos como requer o modelo de Demonstrao dos Fluxos de Caixa (DFC) societrio utilizado em quase todo o mundo, parece ser mais til, em termos informativos, do que o tradicional formato de fontes e usos de recursos (NURBERG; LARGAY III, 1996). como se o dinheiro que transita pela empresa em um dado perodo fosse carimbado segundo esses trs grupos de atividades: o primei-ro, indicando o volume de recursos fi nanceiros que foi internamen-te gerado (valor positivo) ou consumido (valor negativo) pelas ope-raes da empresa; o segundo, mostrando as aplicaes consumidas (valor negativo) ou geradas (valor positivo) nos investimentos; e o terceiro, sinalizando os fl uxos de capital, entre a empresa e as fontes externas a ela, que foram gerados (valor positivo) ou consumidos (valor negativo) nas transaes de fi nanciamento.

    O modelo desdobrado de fl uxos de caixa segundo essa es-trutura trplice de atividades , de fato, informativamente valioso, posto que suas variveis permitem uma srie de anlises interes-santes sobre a situao de liquidez, solvncia e fl exibilidade fi nan-ceira da empresa, sendo tambm muito utilizado no campo de avaliao de empresas e em estudos que buscam explicar o retorno das aes a partir de nmeros contbeis (LIVNAT; ZAROWIN, 1990; BAHNSON; BARTLEY, 1991; DECHOW, 1994). H, porm, aspectos polmicos envolvendo a defi nio dos tipos de transa-es de caixa que devem compor cada um dos trs grupos de atividade. Conforme demonstrado por Santos e Lustosa (1999a, 1999b, 1999c e 2000), a objetividade e utilidade informativa da demonstrao dos fl uxos de caixa podem alterar-se bastante em razo de mudanas no enquadramento, conceitualmente defen-svel, de certos fl uxos de caixa entre esses diferentes grupos de atividade. Esses autores analisaram o impacto de diferentes classi-fi caes entre os grupos de vrias transaes fi nanceiras, como requerido pelas principais normas contbeis mundiais sobre DFC e luz da teoria contbil. Este artigo avana nessa problemtica

    How To Classify Capital Reserves in the Statement of Cash Flows?Paulo Roberto Barbosa Lustosa e Ariovaldo dos Santos

    Abstract

    Th is paper analyses the characteristics of each required capital reser-ves according to Brazilian fi nancial reporting system, and presents, following such analyses, alternatives for classifying the companies physic and virtual cash fl ows among the three groups of activities of the Cash Flow Statement CFS. Th e main foreign accounting stan-dards about realized cash fl ow reporting, as the US-FASB SFAS-95 Statement of Cash Flows, and the IASB IAS-7 revised Cash Flow Statements, do not have specifi c references about the classifi cation of the capital reserves in the CFS, and aside of this, some of such reserves are typical of the Brazilian accounting fi nancial reporting system. Th is study draws on a critical-investigative approach of the normative and theoretical grounds dealing with capital reserves and illustrates the discussion with an example containing transactions that cover all the previously discussed capital reserves, from which a special model of CFS, as proposed in the article, is elaborated, as well as the standard CFS according to SFAS-95 model. We conclude that the proposed alternative results in a much better alignment among CFS, balance sheet and profi t and loss statements, as compared with the current required CFS models.

    Keywords: Capital Reserves. Cash Flows Statement. Noncash Tran-sactions.

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    tacar que algumas das reservas classifi cadas, em nossa legislao e prticas contbeis, como de capital no respeitam rigorosamente esse conceito.

    Trata-se de um conceito contbil pouco utilizado no mundo. O modelo contbil adotado nos Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, no prev a fi gura das Reservas de Capital. Nesses pases, a contabilidade tende a seguir a diretriz geral do all-inclusive con-cept, segundo a qual todas as mutaes patrimoniais da empresa devem transitar pela demonstrao do resultado (DRE). De acordo com o FASB Financial Accounting Standards Board, principal r-go normatizador das prticas contbeis americanas, mesmo aque-las variaes patrimoniais no realizadas, cujo registro contbil requerido, como o ajuste a valor de mercado de ttulos fi nanceiros disponveis para venda (FAS 115 Accounting for Certain Investi-ments in Debt and Equity Securities), ou os ajustes decorrentes da converso de demonstraes contbeis de uma moeda para outra (FAS 52 Foreign Currency Translation), so evidenciados primei-ro em uma DRE ampliada, aps o lucro lquido realizado, e depois so destacados dentro do patrimnio lquido sob o ttulo outros resultados abrangentes (others comprehensive income), conforme preconiza o FAS 130 Reporting Comprehensive Income.

    O IASB International Accounting Standards Board, que edita normas de contabilidade para serem utilizadas em uma perspectiva internacional, no defi ne formalmente o termo reserva na estru-tura conceitual de suas normas. Mas, porque as normas do IASB tendem a incorporar prticas diversas adotadas ao redor do mun-do, h recomendaes especfi cas para a evidenciao das reservas. Por exemplo:

    [...] a entidade deve evidenciar em uma demonstrao das mutaes do patrimnio lquido, elaborada separadamente, as mudanas de valor referentes s reservas de fair value, hedging, reavaliao de imobilizado e converso de demonstraes em moeda estrangeira (IAS 1.86-f).

    [...] qualquer restrio sobre a apropriao ou distribuio das reservas deve ser evidenciada. Se o estatuto da empresa,

    analisando o efeito na DFC das transaes que envolvem as reser-vas de capital.

    Nessa linha, o objetivo deste artigo discutir, com base na anlise das normas americana e internacional, e com suporte na teoria da contabilidade, a classifi cao na DFC das transaes que no Brasil so registradas como reserva de capital dentro do patri-mnio lquido.

    Este artigo, alm de levantar, contribui para esclarecer aspec-tos polmicos relacionados classifi cao na DFC das reservas de capital, que ou no so tratados ou o so de modo superfi cial pelas principais normas contbeis estrangeiras. No momento em que se discute a substituio, no Brasil, como demonstrao contbil obri-gatria, da Demonstrao das Origens e Aplicaes de Recursos (DOAR) pela DFC, esse tema assume grande relevncia.

    Adota-se uma metodologia crtico-investigativa das exigncias normativas relacionadas ao tema, confrontando-as com a teoria contbil, ilustrando a anlise com um exemplo completo que con-templa as reservas de capital.

    O restante do artigo est assim organizado: a seo 2 aprofun-da a abordagem do problema da pesquisa e apresenta os funda-mentos tericos que do suporte s proposies para o tratamento, na DFC, das transaes envolvendo as reservas de capital; a seo 3 apresenta e analisa um exemplo contemplando os principais ele-mentos que, no Brasil, so tratados como reserva de capital; por fi m, a seo 4 apresenta as concluses da pesquisa e sugestes para futuras pesquisas.

    2 FUNDAMENTAO TERICA

    2.1 Reservas de Capital

    As Reservas de Capital so acrscimos patrimoniais recebidos pela companhia dos acionistas que no transitam pelo resultado como receitas, portanto desvinculadas de qualquer esforo da em-presa em termos de entrega de bens ou de prestao de servios (IUDCIBUS; MARTINS; GELBCKE, 2003, p. 295). Deve-se des-

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    na DFC segundo as normas do FASB e do IASB (se for o caso), e a posio dos autores.

    2.2 Anlise do Tratamento na DFC por Tipo de Reserva de Capital

    2.2.1 gio na Emisso de Aes

    Quando uma ao emitida vendida por um valor superior ao seu valor nominal ou a ela atribudo (no caso de no existir va-lor nominal), essa diferena contabilizada em conta separada do capital social, dentro do patrimnio lquido, denominada gio na emisso de aes, que no Brasil tratada como uma reserva de ca-pital. Nos Estados Unidos e Inglaterra, esse gio registrado em uma conta denominada paid-in surplus ou aditional paid-in capital, logo aps a conta de capital social. Talvez essa seja a mais genuna das reservas de capital, posto que efetivamente uma contribui-o dos scios, que s no agregada de imediato ao capital social porque este est limitado ao valor nominal (ou estabelecido) da ao (KIESO; WEYGANDT, 1998, p.765; STICKNEY; WEIL, 2001, p.629-630).

    Na Demonstrao de Fluxos de Caixa, esse valor adicional que a empresa recebe pela venda das aes que ela emite representa um ingresso de disponibilidades das atividades de fi nanciamento, no existindo polmicas quanto a esse tratamento. O FAS 95 State-ment of Cash Flows, e o IAS 7 Cash Flow Statements no fazem referncia explcita ao gio sobre aes, mas estabelecem que as entradas de caixa referentes emisso de aes so exemplos de fl uxos das atividades de fi nanciamento.

    2.2.2 Reserva Especial de gio na Incorporao

    Esta uma fi gura utilizada no sistema contbil brasileiro, por isso ser apresentada uma proposta para refl exo sobre sua classifi -cao, j que as normas sobre DFC do FASB e do IASB no contm prescries sobre esse tipo de transao.

    ou resolues dos seus acionistas, restringem a destinao de lucros acumulados e reservas, tal empresa deve divulgar os ter-mos especfi cos de tais restries, referentes a cada item [(IAS 1.74(a-v)].

    Uma vez que as reservas de capital ou no so previstas e di-vulgadas, como no FASB, ou so apenas divulgadas, como no IASB, natural que as normas especfi cas sobre fl uxos de caixa realizados desses dois organismos no contemplem nenhum tratamento es-pecfi co, em termos de classifi cao entre os grupos de atividades, para essas reservas. A classifi cao das movimentaes de caixa que do origem a algumas dessas reservas, como ser visto adiante, in-tegra o conjunto dos elementos que, segundo a norma, devem fazer parte de um determinado grupo de atividades.

    No Brasil, ao contrrio, as reservas de capital, alm de for-malmente defi nidas na Lei 6.404/76, que trata dos procedimentos contbeis obrigatrios das Sociedades por Aes, so tambm clas-sifi cadas por tipo. Segundo o pargrafo 1o. do artigo 182 da Lei 6.404/76, complementado pelas Instrues 247/96 e 319/99, da Co-misso de Valores Mobilirios, so contabilizados como reservas de capital, os seguintes eventos:

    gio na emisso de aes Reserva especial de gio na incorporao Alienao de partes benefi cirias Alienao de bnus de subscrio Prmio na emisso de debntures Doaes e subvenes para investimentos

    H certos tipos de reservas de capital, como a reserva especial de gio na incorporao e as reservas de subvenes para inves-timentos, que so especfi cas da realidade brasileira, e por isso re-querem uma anlise apropriada para que se possa defi nir o enqua-dramento mais adequado das movimentaes de caixa associadas a essas reservas pelos grupos de atividades da DFC. Na seo seguin-te sero analisadas cada uma das reservas de capital previstas no sistema contbil brasileiro, a sua natureza, o tratamento requerido

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    2.2.3 Alienao de Partes Benefi cirias

    As partes benefi cirias so valores mobilirios que asseguram ao seu possuidor participar em at 10% nos lucros da empresa que os emite. Servem como instrumento de captao de recursos pe-las empresas, alternativamente emisso de ttulos de dvida e de aes. Esses papis podem ser concedidos gratuitamente ou serem alienados, e so resgatveis ou no em uma data futura. Caso sejam alienados e resgatveis, a empresa emitente contabiliza, no passi-vo, no ato da alienao e sem prejuzo da constituio da reserva, a proviso correspondente ao resgate (IUDCIBUS; MARTINS; GELBCKE, 2003, p. 276). As partes benefi cirias, nos termos da Lei 6.404/76, no conferem ao seu possuidor direitos privativos dos acionistas, salvo a fi scalizao dos atos dos administradores.

    A classifi cao das movimentaes de caixa associadas ne-gociao de partes benefi cirias requer uma anlise mais acura-da. A empresa em geral no devolve os recursos captados atravs desses papis, e quando h resgate este representa uma parcela muito pequena do volume de recursos captados. Por isso, esse tipo de captao aumenta o patrimnio da empresa, sendo no Brasil classifi cado como reserva de capital. Uma das alternativas para a classifi cao, tanto dos ingressos decorrentes da alienao de par-tes benefi cirias como de eventuais desembolsos referentes ao seu resgate parcial, so as atividades operacionais da DFC. Outra al-ternativa seria a atividade de fi nanciamento, com tratamento equi-valente aos recursos recebidos e pagos aos fi nanciadores externos da empresa.

    Para a empresa que adquirir esses ativos emitidos por outras empresas, diretamente ou no mercado secundrio, a classifi cao dos fl uxos de caixa ir depender da inteno registrada em relao ao papel. Se a inteno for a revenda no curto prazo, no mercado secundrio, das partes benefi cirias adquiridas, uma classifi cao possvel ser nas atividades operacionais, tanto da aquisio (sada de caixa), quanto da venda (entrada de caixa). Este raciocnio faz analogia com a classifi cao requerida pelo FAS 102 - Statement of Cash Flows - Exemption of Certain Enterprises and Classifi cation of

    Incorporao um tipo de combinao de negcios, caracteri-zado pela absoro dos ativos de uma empresa por outra. A socie-dade absorvida extinta, remanescendo a sociedade que incorpo-rou os ativos da outra. A reserva especial de gio na incorporao uma nova reserva de capital, alm das originalmente previstas na Lei 6.404/76, disciplinada pela Instruo CVM 319, de 03/12/1999. Segundo essa regulamentao, se houver gio em uma transao de incorporao de uma sociedade controladora por sua controlada, tal gio dever ser registrado como ativo no balano da incorporadora, obedecidos uma srie de critrios (vide Art. 6o da Instruo CVM 319/99), tendo como contrapartida essa reserva especial de capital.

    Est implcito nessa transao que a sociedade incorporadora B (a companhia controlada) no pagou pela aquisio da incorpo-rada A (a companhia controladora), pois se o tivesse feito a con-trapartida do gio seria em disponibilidades e no em reserva de capital. Para haver o gio, nessa situao, o valor do Patrimnio Lquido da sociedade incorporadora B, subsidiria integral de A, aps a transao de incorporao de A, ter que ser maior do que o Patrimnio Lquido que seria obtido se tivesse havido apenas uma consolidao dos balanos de A e B.

    Embora no haja movimentao fsica de dinheiro nesse tipo de transao, a existncia do gio caracteriza uma movimentao virtual de caixa na sociedade incorporadora. O acrscimo patri-monial derivado do gio reconhecido corresponde, na sociedade incorporadora, a uma entrada de caixa, com simultnea sada. O saldo de caixa no sensibilizado, mas os diferentes grupos de ati-vidades da DFC o so. As normas do FASB e do IASB no permi-tem que as transaes virtuais de caixa sejam registradas no corpo da DFC, mas conforme demonstrado por Santos e Lustosa (1999a), a DFC pode perder muito da sua utilidade informativa se nela no so evidenciadas tais transaes. Assim, restaria a discusso de onde classifi car esses eventos, at por que essa classifi cao tambm no pacfi ca. As alternativas que se apresentam para tal classifi cao so as seguintes: as entradas e sadas dentro de um mesmo grupo (operacional ou investimentos) ou as entradas de caixa nas ativida-des operacionais e as sadas nas atividades de investimento.

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    atividades operacionais. Este procedimento, se aplicado todas as transaes que passam pela demonstrao do resultado, produzir uma correlao perfeita entre o fl uxo de caixa das operaes e o lucro lquido, quando se considera toda a vida de um empreendi-mento ou da empresa, o que no ocorre segundo as regras atuais para a classifi cao dos fl uxos de caixa prescritas nas normas do FASB e do IASB.

    2.2.4 Alienao de Bnus de Subscrio

    Os bnus de subscrio so valores mobilirios que conferem ao seu possuidor o direito de subscrever aes da companhia que os emite por um preo certo em uma data futura. So, em essncia, um derivativo, uma opo de compra de aes, que s ser exercida se o preo de mercado da ao, na data da efetivao da compra, estiver superior ao preo estabelecido no bnus de subscrio.

    Similarmente s partes benefi cirias, os bnus de subscrio podem ser concedidos gratuitamente ou vendidos. Quando ofere-cidos gratuitamente, nenhum efeito haver sobre o fl uxo de caixa da companhia. Quando vendidos, haver uma entrada de caixa que produzir um aumento na riqueza da empresa. O valor que o inves-tidor paga pelo bnus de subscrio assemelha-se ao prmio pago pelo direito de exercer uma opo. Este lanado no resultado dire-tamente, mas aquele tratado, no Brasil, como reserva de capital.

    As normas do FASB e do IASB sobre a DFC no contm exi-gncias especfi cas sobre a classifi cao dos fl uxos de caixa de de-rivativos que no se destinem a proteger posies patrimoniais ex-postas a risco, como o caso de um bnus de subscrio. Quando se trata de um derivativo destinado a hedging, os fl uxos de caixa deste so classifi cados no mesmo grupo onde so classifi cados os fl uxos de caixa dos elementos que ele visa proteger (FAS 104 - Sta-tement of Cash Flows - Net Reporting of Certain Cash Receipts and Cash Payments and Classifi cation of Cash Flows from Hedging Tran-sactions). Todavia, o FAS 95 Statement of Cash Flows estabelece que devem ser classifi cadas nas atividades operacionais, em geral, as transaes que passam pela demonstrao do resultado, alm de

    Cash Flows from Certain Securities Acquired for Resale para os ttu-los patrimoniais e no patrimoniais destinados negociao.

    Se a inteno da empresa for permanecer com a parte benefi ci-ria em seu ativo at a baixa do papel, poder-se- utilizar o seguinte tratamento:

    na aquisio ( vista) das partes benefi cirias sada de caixa a. nas atividades de investimento;no recebimento das participaes nos lucros das empresas emi-b. tentes das partes benefi cirias entrada de caixa nas atividades operacionais. Alternativamente, semelhana do que ocorre com o recebimento de dividendos, que o IASB faculta classifi -car nas atividades operacionais ou de investimentos, o recebi-mento da participao nos lucros de outras empresas pode ser interpretado como uma remunerao dos investimentos nas partes benefi cirias emitidas por essas empresas, podendo por isso ser tambm classifi cado nas atividades de investimento; na venda ( vista) no mercado secundrio da parte benefi ci-c. ria, por um preo diferente do seu custo entrada de caixa nas atividades de investimento, pelo valor da venda; ou, alternati-vamente, se: a) venda superior ao custo entrada de caixa nas atividades operacionais, pelo valor que excede a recuperao do custo, e entrada de caixa nas atividades de investimento pela recuperao do custo; e b) venda inferior ao custo entrada de caixa nas atividades de investimento pelo valor do custo e sada de caixa nas atividades operacionais pela diferena entre o preo de venda e o custo.

    A classifi cao do ingresso das vendas de partes benefi cirias, independentemente do valor, nas atividades de investimento, segue o tratamento prescrito pelo FASB e IASB. A alternativa proposta, de segregar o custo do ganho ou perda e classifi car estes ltimos nas atividades operacionais tem como base racional a separao dos fl uxos de caixa correspondentes renda emanada do ativo, dos desembolsos e recuperaes associados ao custo do prprio ativo. Rendas afetam o resultado e alteram o estado de riqueza da empre-sa, por isso a dimenso fi nanceira destas pode ser classifi cada nas

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    Nos Estados Unidos, como visto, no h a fi gura da reserva de capital. Pelo FAS 95 (pargrafos 22 e 23), os juros pagos e recebidos oriundos de instrumentos fi nanceiros devem ser classifi cados nas atividades operacionais. O IAS 7 (pargrafo 31) fl exibiliza a clas-sifi cao dos juros na DFC: se pagos, podem compor o grupo das atividades operacionais ou de fi nanciamento; se recebidos, podem ser lanados no grupo das operaes ou de investimentos.

    O prmio recebido na emisso de debntures pode ser enten-dido como uma reduo dos juros que a empresa ter que pagar pelo dinheiro captado. Ele faz com que a taxa efetiva de juros da empresa tomadora do recurso seja menor do que a taxa contratada dos juros que ela ter que pagar ao debenturista (KIESO; WEY-GANDT, 1997; STICKNEY; WEIL, 2001). Assim, se tais juros so classifi cados nas atividades operacionais, o prmio, isto , a reduo destes, tambm poderia compor o grupo das operaes, na linha do que prescreve o FAS 95.

    2.2.6 Doaes e Subvenes para Investimento

    2.2.6.1 DoaesQuando uma empresa recebe a doao de um ativo qualquer,

    no importa sua fi nalidade, h um imediato aumento em seu pa-trimnio. Nos Estados Unidos, na linha do all-inclusive concept, as doaes so contabilizadas diretamente no resultado, como recei-tas. No Brasil, so reservas de capital. Para o FASB, o efeito no caixa das doaes depende da natureza do bem recebido.

    Quando a doao em dinheiro, o FAS 117 Financial State-ments of Not-for-Profi t Organizations determina que a sua classifi -cao na DFC deve seguir a fi nalidade estabelecida formalmente pelo doador para a destinao do recurso. Nesse caso, a classifi cao dessa entrada de caixa pode ser nas atividades operacionais (aquisi-o de produtos e servios), atividades de investimento (aquisio de imobilizado) ou atividade de fi nanciamento (liquidao de uma dvida).

    Uma alternativa para a classifi cao dessas doaes em dinhei-ro que sejam sempre classifi cadas, na DFC, nas atividades ope-

    todas as transaes em que no houver determinao explcita para classifi cao nas atividades de investimento e fi nanciamento.

    O pargrafo 19, alnea a, do FAS 95 inclui as entradas de caixa decorrentes da emisso de instrumentos patrimoniais nas ativi-dades de fi nanciamento. Nessa mesma linha, o pargrafo 17, alnea a do IAS 7 exemplifi ca entre as entradas de caixa das atividades de fi nanciamento a emisso de aes e de outros instrumentos patrimoniais. Os bnus de subscrio podem no ser entendidos como instrumentos patrimoniais, pois apenas garantem aos seus titulares o direito de adquirir aes, no futuro, em condies favo-rveis. Se o valor da ao permanecer inferior ao preo de exerccio da opo, o valor desta ser zero, e por isso sequer seria um ativo. Conseqentemente, a entrada de caixa proveniente da alienao de bnus de subscrio, assim como o prmio recebido pela venda de opes de compra ou de venda, no integraria o rol das transaes classifi cveis nas atividades de investimento e fi nanciamento, logo, cairia na vala comum das transaes classifi cveis nas atividades operacionais. Esta abordagem est coerente com os critrios do FASB de se replicar, no fl uxo de caixa das operaes, todas as tran-saes que integram a demonstrao do resultado, sob regime de competncia.

    Por isso, uma alternativa para classifi cao do dinheiro rece-bido na alienao de bnus de subscrio de aes, na DFC, so as atividades operacionais. Quando do exerccio do direito de com-pra de aes assegurado pelo bnus, ocorrer uma nova entrada de caixa, mas a j ser uma venda de aes, cuja classifi cao nas atividades de fi nanciamento.

    2.2.5 Prmio na Emisso de Debntures

    O prmio na emisso de debntures, de acordo com o item c do art. 182, da Lei n 6.404/76, deve ser classifi cado como reserva de capital, mas tecnicamente, conforme Iudcibus, Martins e Gelb-cke (2003, p. 297), seria mais correto tratar esse item como receita diferida a ser apropriada proporcionalmente at o vencimento da debnture.

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    (PDTA), Programa Nacional de Apoio Cultura (PRONAC) e em favor de atividades audiovisuais, alm de serem consideradas des-pesas fi scalmente dedutveis, podem tambm ser deduzidas do im-posto devido na proporo da alquota do imposto aplicada sobre as doaes efetuadas. Caso a doao seja feita em favor do Fundo dos Direitos da Criana e do Adolescente, todo o valor doado pode ser deduzido do imposto devido, mas, nesse caso, tal gasto no considerado uma despesa fi scalmente dedutvel para fi ns de apu-rao do lucro real. Cabe observar, por outro lado, que o registro contbil das doaes incentivadas pelo governo, nas entidades que recebem tais benefcios, no so registrados como reserva de capi-tal, j que tais rendas constituem a sua principal fonte de receita.

    Quanto ao impacto na DFC, entende-se que a doao incen-tivada, independentemente de sua fi nalidade, seja classifi cada nas atividades operacionais, conforme argumentado na seo 2.2.6.1 deste artigo. J o benefcio fi scal, uma vez que ele deduzido di-retamente do imposto devido, no produz efeito no caixa, por isso no transita pela DFC.

    A segunda forma de benefcio fi scal so os incentivos fi scais regionais, pelos quais a empresa pode aplicar parte do imposto de-vido, at certos limites defi nidos em lei, em fundos regionais para o desenvolvimento do Nordeste (FINOR), Amaznia (FINAM) e Esprito Santo (FUNRES). Decorrido certo prazo, a empresa recebe um certifi cado de investimento (CI) correspondente a tais aplica-es, que pode ser trocado por aes na bolsa de valores. Alm des-ses incentivos, h vrios outros, como aplicar parte do imposto para reinvestimento em reas de atuao da Superintendncia do Desen-volvimento da Amaznia (Sudam) e Superintendncia de Desen-volvimento do Nordeste (Sudene), direito de reembolso do imposto de renda sobre remessas ao exterior em pagamento de royalties, as-sistncia tcnica ou cientfi ca e de servios especializados, em con-tratos vinculados ao PDTI ou PDTA (NAKAO, 2003, p.95).

    Nesse caso, a contrapartida do ativo que a empresa obteve pelo incentivo fi scal, que aumentou o seu patrimnio, uma reserva de capital segundo as regras contbeis brasileiras. A classifi cao na DFC dos fl uxos de caixa correspondentes ao incentivo fi scal de-

    racionais, independentemente da sua fi nalidade. Essa classifi cao parece ser mais consistente com o raciocnio que se est seguin-do nos Estados Unidos onde tais doaes transitam pelo resulta-do. Portanto, classifi c-las em grupos diferentes do das atividades operacionais na DFC faz com que o lucro apurado pelo regime de competncia fi que diferente do lucro pelo regime de caixa, contra-riamente ao que se tem buscado ao evidenciar o fl uxo de caixa das atividades operacionais.

    Quando a doao no em dinheiro, o FASB e o IASB consi-deram que ela no sensibiliza o caixa e por isso no integra o corpo da DFC, sendo obrigatria sua evidenciao apenas em notas expli-cativas. Contudo, Santos e Lustosa (1999a) demonstraram que esse tipo de transao, assim como um conjunto de outras similares, so transaes virtuais de caixa, em que o dinheiro entra e sai simul-taneamente da empresa. Portanto, qualquer doao de ativo dife-rente de dinheiro que ingressa, deveria idealmente ser registrada na DFC, pois se entende que ela sensibiliza o caixa, embora no pro-duza alteraes no saldo de caixa. Para qualquer ativo no fi nan-ceiro doado, o ingresso virtual de caixa seria sempre nas atividades operacionais, mas a simultnea sada virtual seria em qualquer dos trs grupos, conforme a fi nalidade da doao.

    2.2.6.2 Subvenes para InvestimentosNo Brasil, as subvenes ocorrem mais comumente sob a for-

    ma de incentivos fi scais, com o objetivo de estimular determinadas atividades ou regies geogrfi cas. Os incentivos fi scais so de trs tipos: renncia fi scal, iseno e imunidade (NAKAO, 2003, p.94).

    Na renncia fi scal, o governo incentiva, atravs de benefcios fi scais, que as empresas tributadas pelo lucro real apliquem parte do imposto devido em certas atividades e regies, o que pode ocor-rer de duas formas: deduo do imposto devido e incentivos fi scais regionais.

    Na primeira (deduo do imposto devido), as doaes que a empresa faz em favor do Programa de Alimentao do Trabalha-dor (PAT), Programa de Desenvolvimento Tecnolgico Industrial (PDTI), Programa de Desenvolvimento Tecnolgico Agropecurio

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    Como Classifi car as Reservas de Capital na Demonstrao dos Fluxos de Caixa?

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    alienao de 10 partes benefi cirias, a $ 100,0 cada, resgatveis 2. a 10% do preo de alienao ao fi nal do exerccio de X0. O conjunto das partes benefi cirias participa em 10% nos lucros da empresa B;alienao de 1.000 bnus de subscrio, para os atuais acionis-3. tas, a $ 0,10 o bnus;doao de $ 1.000,0 para o Programa Nacional de Incentivo 4. Cultura (PRONAC);recebimento de uma doao de $ 1.000,0, sendo $ 200,0 em 5. dinheiro sem objetivo especfi co, e $ 800,0 em um terreno com a fi nalidade especfi ca de expanso das operaes da empresa;aquisio de partes benefi cirias de outras empresas, por $ 6. 500, com a inteno de mant-las em carteira como investi-mento permanente;ao longo do exerccio de X0, a empresa A vendeu servios no 7. valor de $ 20.000, dos quais 20% sero recebidos apenas no exerccio seguinte;ao longo do exerccio de X0, a empresa A incorreu em custos 8. operacionais e administrativos, no valor de $ 15.000, dos quais 10% sero pagos no exerccio seguinte;a alquota do imposto de renda de 15%, que apurado e pago 9. no ltimo dia de X0;a empresa decidiu aplicar 10% do imposto de renda que ter 10. que pagar no FINOR;as partes benefi cirias emitidas foram resgatadas no ltimo dia 11. de X0;metade das partes benefi cirias adquiridas foram vendidas, no 12. ltimo dia de X0, por $ 350;no ltimo dia de X0, a empresa B incorporou a sua controla-13. dora A, cujo patrimnio lquido era de $ 11.000 nessa data, por $ 12.000. O fundamento econmico do gio de $ 1.000 foi diferena no valor de mercado dos estoques ($ 500 superior ao custo registrado na empresa A) e imobilizado ($ 500 superior ao custo registrado na empresa A). O patrimnio lquido da incorporada (empresa A) estava assim distribudo: disponibi-lidades = $ 460; Clientes = $ 3.000; estoques = $ 5.000; investi-

    pende da natureza desse incentivo. Se for um reembolso parcial de imposto sobre remessas ao exterior em pagamento de royal-ties, assistncia tcnica ou cientfi ca e de servios especializados, em contratos vinculados ao PDTI ou PDTA, so entradas de caixa nas atividades operacionais, uma vez que o imposto originalmente pago tambm foi classifi cado como uma sada de caixa nesse mes-mo grupo. Se for uma destinao de parte do imposto de renda de-vido para um fundo de desenvolvimento regional, o que h uma movimentao virtual de caixa, cujo registro na DFC poderia ser uma entrada de caixa nas atividades operacionais, com simult-nea sada de caixa nas atividades de investimento. Pelas regras do FASB e do IASB, repete-se, as movimentaes virtuais de caixa no so registradas no corpo da DFC.

    Por fi m, h ainda, no campo dos incentivos fi scais, as isenes e imunidades. Segundo Nakao (2003, p.95), atualmente h isen-es de imposto de importao (IPI) na aquisio e de imposto de exportao de mercadorias para o exterior, e tambm do IPI para consumo interno, para a Zona Franca de Manaus e Amaznia Oci-dental, e para parte do lucro de explorao nas regies Norte, Nor-deste e Centro-Oeste. Alm disso, esto imunes de pagar impostos os partidos polticos, entidades sindicais, instituies de educao e de assistncia social sem fi ns lucrativos. Tanto as isenes como as imunidades no produzem movimentaes de caixa, por isso no sensibilizam a DFC.

    3 EXEMPLO

    As observaes sobre a adequada classifi cao dos fl uxos de caixa das reservas de capital, feitas com base na anlise terica da seo anterior, sero agora ilustradas atravs de um exemplo. O exemplo contempla todos os tipos de transaes discutidas.

    A empresa B inicia as suas atividades em 01.X0, emitindo 1.000 aes de valor nominal $ 1,00, vendidas todas para a empresa A, a $ 1,10 cada ao. Ao longo de X0, a empresa B realiza os eventos elencados nos itens 2 a 14;

    venda de 100 debntures a $ 11,0 cada, valor de face $ 10,0;1.

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    DRE X0 Empresa B EventoVendas 20.000 8 Desp. Oper. e Adm. (15.000) 9 Res. bx. ptes benef. 100 13 Prov. resg. ptes benef. (100) 3 Doaao Pronac (1.000) 5 Lucro antes IR 4.000 IR (15%) * (450) 5 e 10Part. lucro ptes benef. (355) 3 Lucro liquido 3.195

    (*) 0,15 x 4.000 - 0,15 x 1.000

    Balano 31.12.X0 da Empresa B aps incorporao da Empresa A

    ProcessoContbil

    Disponibilidades 4.405

    A + B, mais $500 (gio) nos saldos das contas Estoques e Imobilizado

    Clientes 7.000 Estoques 5.500 Investimento pt. benef. 250 Investimento FINOR 45 Imobilizado 6.300 ATIVO 23.500 Fornecedores 5.000 Desp. adm. a pagar 1.500 Debntures 1.000 Emprstimo LP 4.000 Capital 4.000

    PL emp. B anula cta Invest. emp. B em A; gio incorporao A ($1.000) somado ao PL de A, com ajustes nos saldos anteriores

    Reserva de Capital 3.345 gio na emisso de aes 100 Alienao de partes benefi cirias 1.000 Alienao de bnus de subscrio 100 Prmio na emisso de debntures 100 Doaes e subvenes para investimentos 1.045 gio em incorporao 1.000 Lucros acumulados 4.655 PASSIVO + PL 23.500

    mento na empresa B =6.540; imobilizado = $ 5.000; fornece-dores = 5.000; emprstimo de longo prazo = $ 4.000; Capital = $ 4.000; Lucros Acumulados = $ 7.000.

    Sero apurados o balano, demonstrao do resultado e de-monstrao dos fl uxos de caixa, ano X0, da empresa B. apresenta-do, ainda, o balano da controladora (empresa A), imediatamente antes de ela ser absorvida por sua controlada B. O exemplo restrin-ge os lanamentos apenas aos elementos que so discutidos neste estudo. Para facilitar o entendimento de como as demonstraes contbeis foram obtidas, so apresentadas colunas adicionais com a indicao do nmero do evento (conforme exemplo) e esclareci-mentos sobre o processo contbil de incorporao.

    Na elaborao da Demonstrao dos Fluxos de Caixa deste exemplo, segundo a discusso terica anterior, adotada a premis-sa de classifi car todas as alteraes patrimoniais que sensibilizam o caixa, direta ou indiretamente, nas Atividades Operacionais, na linha da idia do all-inclusive concept, presente no FAS 130 Repor-ting Comprehensive Income.

    3.1 Demonstraes contbeis do Exemplo

    Balanos individuais empresas A e B; Balano empresa B aps a. incorporao de A; e Demonstrao do Resultado do Exerc-cio X0 da Empresa B;

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    O novo PL da empresa B, aps a incorporao da empresa A, de $ 12.000, equivalente a $ 11.000 do PL de A mais o gio de $ 1.000 na incorporao. O valor de lucros acumulados, de $ 4.655, pode ser obtido diretamente, deduzindo-se do valor total do PL as parcelas conhecidas do capital social e reservas de capital (4.655 = 12.000 4.000 3.345). Obtm-se o mesmo valor analiticamente: o investimento da empresa A em B foi de $ 1.000, mais o gio de $ 100. O PL de B no fi nal do perodo era de $ 6.540, que comparado ao valor de investimento de $ 1.000 resultou em uma Receita de Equivalncia Patrimonial, reconhecida em A, de $ 5.540. Assim, a conta de lucros acumulados de $ 7.000 em A, refere-se a $ 5.540 de equivalncia e $ 1.460 de resultados realizados com terceiros. Logo, os lucros acumulados consolidados sero obtidos atravs da soma de $ 1.460 mais $ 3.195 (ambos realizados com terceiros), que to-taliza $ 4.655. Outra forma de se apurar tal valor somando-se os lucros acumulados de $ 7.000 (da empresa A) e $ 3.195 (da empresa B) e excluindo-se o valor do resultado de equivalncia patrimonial de $ 5.540.

    Demonstrao dos Fluxos de Caixa da Empresa B (incluindo o b. saldo da conta Caixa absorvido da Empresa A).

    Balano 31.12.X0 da Empresa B EventoDisponibilidades 3.945 vide DFCClientes 4.000 8Investimento pt. benef. 250 7 e 13Investimento FINOR 45 11Imobilizado 800 6ATIVO 9.040Desp. adm. a pagar 1.500 9IR a pagar 0 10Ptes benefi cirias a pagar 0 12Debntures 1.000 2Capital 1.000 1Reservas de capital 2.345

    gio na emisso de aes 100 1Alienao de partes benefi cirias 1.000 3Alienao de bnus de subscrio 100 4Prmio na emisso de debntures 100 2Doaes e subvenes para investimentos 1.045 6 e 11

    Lucros acumulados 3.195 PASSIVO + PL 9.040

    Balano 31.12.X0 Empresa ADisponibilidades 460 Clientes 3.000 Estoques 5.000 Investimento na Emp.B 6.540 Imobilizado 5.000 ATIVO 20.000 Fornecedores 5.000 Emprstimo LP 4.000 Capital 4.000 Lucros acumulados 7.000 PASSIVO + PL 20.000

    Figura 1 Balanos Individuais das Empresas A e BFonte: elaborao prpria.

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    3.2 Anlise do Exemplo

    A alternativa adotada na elaborao da Demonstrao dos Fluxos de Caixa do exemplo foi a de classifi car todos os ingressos de caixa das reservas de capital (com exceo do gio na emisso de aes), sejam estes fsicos ou virtuais, nas atividades operacionais. Esta apenas uma entre outras possibilidades mostradas na discus-so terica da seo 2. Observe que o saldo fi nal das disponibilida-des, de $ 4.405 no balano da empresa B, aps esta ter incorporado a sua controladora A, explicado por uma gerao de caixa de $ 3.940 pelas atividades operacionais, que foi parcialmente aplicado nas atividades de fi nanciamento ($ 2.095). A diferena, de $ 1.845, mais o caixa obtido nas atividades de fi nanciamento, de $ 2.100, produziu um incremento nas disponibilidades da empresa B de $ 3.945, que somado ao saldo de caixa resultante da incorporao da empresa A, de $ 460, resultou no saldo fi nal apresentado no balan-o, de $ 4.405.

    O exemplo incorpora a anlise feita na seo 2 deste artigo. O fl uxo de caixa das operaes evidenciaria, em um determinado perodo, a realizao fi nanceira dos acrscimos de riqueza da em-presa j registrados contabilmente na demonstrao do resultado e como reservas de capital. As reservas de capital so acrscimos patrimoniais que, no Brasil, no transitam pela DRE, contrariando tendncia mundial nesse sentido (all-inclusive concept). A alterna-tiva utilizada na DFC do exemplo fundamenta-se em classifi car no fl uxo de caixa das operaes do perodo corrente as transaes as-sociadas realizao de resultados de perodos passado, corrente e futuro mais eventuais reservas de capital formadas no perodo cor-rente. No exemplo, o lucro (vide DRE) foi de $ 3.195, mas $ 4.000 das receitas de vendas de servios (20%) no foram recebidas no perodo; similarmente, 10% dos custos operacionais e administrati-vos ($ 1.500) no foram pagos. Logo, a parcela realizada do lucro do perodo corrente foi de $ 695 (3.195 - 4.000 + 1.500), que somada s reservas de capital, de $ 3.345, totaliza $ 4.040, valor superior ao fl uxo de caixa das operaes ($ 3.940) em $ 100. Essa diferena de $ 100 corresponde reserva de capital gio na emisso de aes

    DFC X0 Empresa B: Mtodo DiretoOperaes

    Realizao do lucro 695Recebimento clientes 16.000 Lucro bx. partes benefi cirias 100 Pagto desp. oper. e administrativas (13.500)Pagto imposto de renda (450)Pagto part. lucro ptes benefi cirias (355)Pagto de doao ao Pronac (1.000)Resgate de partes benefi cirias (100)

    Reservas de capital 3.245 Alienao de partes benefi cirias 1.000 Alienao de bonus de subscrio 100 gio na emisso de debentures 100 Incorporao de empresa com gio 1.000 Recbto de doao em dinheiro 200 Recbto de doao em terrenos 800 Incentivo fi scal do IR para o FINOR 45

    Caixa gerado pelas ativ. operacionais 3.940 Investimentos

    Aquis. ptes benefi cirias de terceiros (500)Aplicao no FINOR c/incentivo fi scal (45)Terreno recebido em doao (800)gio na incorporao de controladora (1.000)Venda de ptes benefi cirias adquiridas 250

    Caixa consumido nas ativ. investimento (2.095)Financiamentos

    Emisso de aes 1.100 Emisso de debentures 1.000

    Caixa gerado nas ativ. de fi nanciamento 2.100 Aumento das disponibilidades no perodo 3.945 Caixa absorvido da emresa incorporada 460Saldo Final de Caixa na Incorporadora 4.405

    Figura 2 - Demonstrao dos Fluxos de Caixa da Empresa BFonte: elaborao prpria.

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    DFC Empresa B: Mtodo Direto (Modelo FAS 95)OperaesRecebimento clientes 16.000 Alienao de bonus de subscrio 100 Recbto de doao em dinheiro 200 Pagto desp. oper. e administrativas (13.500)Pagto imposto de renda (450)Pagto part. lucro ptes benefi cirias (355)Pagto de doao ao Pronac (1.000)Resgate de partes benefi cirias (100)Caixa gerado pelas ativ. operacionais 895 InvestimentosAquis. ptes benefi cirias de terceiros (500)Venda de ptes benefi cirias adquiridas 350 Caixa consumido nas ativ. investimento (150)FinanciamentosEmisso de aes 1.100 Emisso de debentures 1.100 Alienao de partes benefi cirias 1.000 Caixa gerado nas ativ. de fi nanciamento 3.200 Aumento das disponibilidades no perodo 3.945 Caixa absorvido da emresa incorporada 460 Saldo Final de Caixa na Incorporadora 4.405

    Figura 3 - DFC segundo o modelo do FAS 95Fonte: elaborao prpria.

    A variao total das disponibilidades, evidentemente, a mes-ma, de $ 4.405, porm os fl uxos de caixa dos trs grupos de ativi-dades so completamente diferentes. Pelo modelo do FAS 95, as operaes da empresa geraram apenas $ 895, ao invs dos $ 3.940 da alternativa proposta. Essa diferena, de $ 3.045, resulta da no considerao das movimentaes virtuais de caixa no modelo do FASB e do reenquadramento de alguns fl uxos para outros grupos. Pelo modelo do FASB, o gio na emisso de debntures ($ 100) lanado junto com o principal captado atravs desses ttulos nas atividades de fi nanciamento, onde tambm so classifi cados os

    que, conforme mostrado no item 2.2.1 deste artigo, a mais genu-na das reservas de capital, j que esse tipo de gio pode ser consi-derado uma extenso do capital social. Para fi ns de clareza na evi-denciao dessa idia, o fl uxo de caixa das atividades operacionais foi desmembrado em dois componentes (vide DFC do exemplo), o primeiro contemplando a parcela do lucro apurado pelo regime de competncia que foi realizada no perodo, e o segundo mostrando o efeito das reservas de capital. A integrao entre o lucro (ou pre-juzo) e o fl uxo de caixa das operaes (FCO) requer que os fl uxos virtuais de caixa sejam representados no corpo da DFC, conforme mostrado neste artigo. Essa integrao, se estendida para todas as transaes que passam pela demonstrao do resultado, fornece in-formaes relevantes sobre o desempenho da empresa, pois atravs do acompanhamento no tempo do lucro e do FCO o analista pode avaliar o grau com que as rendas apuradas pelo regime de compe-tncia so transformadas em dinheiro. Por outro lado, a incluso das movimentaes virtuais na DFC contribui no s para integrar a DRE com o FCO, mas tambm os fl uxos de caixa dos investimen-tos (FCI) com os ativos e os fl uxos de caixa dos fi nanciamentos (FCF) com os passivos. A propsito, observe que o FCI, de $ 2.095, corresponde exatamente ao acrscimo dos ativos da empresa B no perodo ($ 1.300 no imobilizado + $ 500 nos estoques + $ 45 no investimento FINOR + $ 250 das partes benefi cirias).

    3.3 Modelo do FASB

    Para fi ns de comparao com a alternativa proposta neste ar-tigo, apresenta-se a seguir a DFC do exemplo anterior segundo o modelo do FAS 95 (vide Figura 3).

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    LUSTOSA, P. R. B.SANTOS, A.

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    Este artigo faz uma anlise terico-descritiva de todas as reser-vas de capital previstas na estrutura contbil brasileira e prope, a partir dessa anlise, alternativas para classifi car os fl uxos de caixa dessas reservas na DFC. Uma das alternativas propostas adota a premissa de que a mais importante das variveis da DFC o fl uxo de caixa das operaes (FCO) deve correlacionar-se perfeitamen-te com o lucro lquido da empresa ou de um empreendimento iso-lado, quando estes chegarem ao fi nal de suas vidas. Nesse sentido, qualquer transao que passar pela Demonstrao do Resultado (DRE) deve tambm passar pelo FCO quando da sua transforma-o em dinheiro. Por extenso desse raciocnio, tambm ao se con-siderar toda a vida do empreendimento, a segunda varivel da DFC o fl uxo de caixa dos investimentos (FCI), se correlacionaria com o total dos ativos (exceto as disponibilidades), e o fl uxo de caixa dos fi nanciamentos (FCF) com o total dos passivos.

    Como compatibilizar essa idia com as reservas de capital, se estas no passam pela DRE? A alternativa escolhida para ilustrar o exemplo apresentado trata todas essas reservas como se transitas-sem pela DRE, na linha do all-inclusive concept, uma vez que elas aumentam o estado de riqueza da empresa (com exceo do gio na emisso de aes, que, como visto, a mais genuna das reservas de capital), e por isso deveriam sensibilizar o resultado, a exemplo do que j ocorre no conceito do resultado amplo (comprehensive income) adotado pelo FASB.

    Muitas reservas de capital, no entanto, no sensibilizam o saldo de caixa (doaes que no sejam em dinheiro, gio na incorpora-o de empresas, incentivos fi scais regionais etc). Mas esses tipos de reservas aumentam o patrimnio da empresa e por isso deveriam idealmente passar pelo resultado. Nesse sentido, tais reservas pode-riam ser interpretadas, em termos de fl uxos de caixa, como ingresso de recursos fi nanceiros no FCO que simultaneamente so alocados nos investimentos. So as chamadas transaes virtuais de caixa. Este artigo, a exemplo do que fi zeram Santos e Lustosa (1999a) com outros tipos de transaes virtuais de caixa, prope que todas as transaes virtuais de caixa transitem pela DFC. O exemplo apre-sentado mostra que esse tratamento contribui para a integrao da

    ingressos da venda das partes benefi cirias; o ganho na baixa de partes benefi cirias ($ 100), similarmente ao que ocorre no ganho na venda de imobilizado, deduzido do lucro lquido e o total da venda ($ 350) lanado como uma entrada de caixa nas atividades de fi nanciamento [no h segregao entre renda ($ 100 = opera-es) e capital ($ 250 = recuperao do investimento)]. Em outras palavras, apesar de o investimento lquido desembolsado em todas as transaes feitas pela empresa B em X0 ter sido de $ 2.905 (vide modelo proposto), o modelo de DFC do FASB s mostra $ 150.

    4 CONCLUSES

    A Demonstrao dos Fluxos de Caixa compe o conjunto das demonstraes contbeis obrigatrias em quase todo o mundo, mas esse relatrio contbil ainda no foi adotado de forma obrigatria no Brasil. Certamente o ser, quando o Projeto de Lei 3.741/00, que prope a harmonizao das regras contbeis brasileiras com os padres internacionais, for transformado em lei.

    Enquanto isso, vrias empresas brasileiras vm, espontanea-mente, publicando as suas DFCs, seguindo ou os padres america-nos ou os padres do IASB, este ltimo reproduzido parcialmente no pronunciamento NPC-20, do Instituto dos Auditores Indepen-dentes do Brasil Ibracon.

    Ocorre que a norma do IASB sobre DFC (IAS 7) fl exibiliza a classifi cao entre diferentes grupos dos juros pagos e recebidos e dos dividendos recebidos e, nos demais aspectos, segue substancial-mente as determinaes da norma do FASB (FAS 95), que embora mais completa e sem a fl exibilidade da norma do IASB, d margem a muitos questionamentos sobre os procedimentos que determina, principalmente no que diz respeito classifi cao dos fl uxos de cai-xa pelos grupos de atividades.

    Por outro lado, o Brasil possui certas especifi cidades em seus padres contbeis que no encontram respostas, nas normas atuais sobre DFC do FASB e do IASB, sobre a forma mais adequada de trat-las. Este o caso das movimentaes de caixa presentes nas reservas de capital.

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    DFC com o balano e a DRE e aumenta consideravelmente a utili-dade informativa da demonstrao dos fl uxos de caixa.

    Uma das limitaes desse estudo, que no compromete as suas concluses, a ausncia de um exame emprico em empresas brasi-leiras para aferir o impacto que as reservas de capital produzem na DFC. Sugere-se que futuras pesquisas contemplem este aspecto e que tambm sejam analisadas outras transaes presentes na DRE que atualmente so tratadas em grupos diferentes do FCO, como o caso da depreciao, lucro na venda de imobilizado, resultado de equivalncia patrimonial etc. Acredita-se que todos esses estudos contribuiro para aperfeioar a qualidade do modelo de DFC que o Brasil adotar no futuro.

    REFERNCIAS

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    LUSTOSA, P. R. B.SANTOS, A.

    UnB Contbil UnB, Braslia, vol. 10, no 1, jan/jun 2007 139

    Como Classifi car as Reservas de Capital na Demonstrao dos Fluxos de Caixa?

    UnB Contbil UnB, Braslia, vol. 10, no 1, jan/jun 2007

    ENDEREO DOS AUTORES

    Paulo Roberto Barbosa LustosaDepartamento de Cincias Contbeis e Atuariais Universidade de Braslia.Campus Universitrio Darcy Ribeiro, Prdio da FACE, sala B1-02, Braslia, DF, CEP 70910-900

    Ariovaldo dos SantosDepartamento de Contabilidade e Aturia da FEA-USPAv. Professor Luciano Gualberto, 908, Prdio III, Butant, So Pau-lo, SP, CEP 05508-900

    Recebido: janeiro/2007Aprovao da ltima verso: novembro/2007

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    STICKNEY, C.P.; WEIL, R. L. Contabilidade Financeira Uma In-troduo aos Conceitos, Mtodos e Usos. So Paulo: Atlas, 2001.