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3 cmLIANE MEDEIROS KANASHIRO

NELSON TERUYUKI KANASHIRO

2 cm3 cm

PERFIL NUTRICIONAL DAS MULHERES JOVENS DA ETNIA TERENA

AQUIDAUNA– MS

2 cm2011

LIANE MEDEIROS KANASHIRO

NELSON TERUYUKI KANASHIRO

PERFIL NUTRICIONAL DAS MULHERES JOVENS DA ETNIA TERENA

Projeto de Intervenção apresentado à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, como requisito para conclusão do curso de Pós Graduação , especialização em Atenção Básica em Saúde da Família.

Orientador (a): Prof. Orientador Edilson José Zafalon

AQUIDAUANA– MS

2011

RESUMO

A obesidade representa um problema nutricional preocupante, sendo considerada uma doença de base para muitas outras doenças crônicas não-transmissíveis. Percebemos nas comunidades indígenas grandes modificações na alimentação e a presença cada vez mais freqüente de doenças crônicas não transmissíveis tais como: câncer, obesidade, hipertensão arterial e diabetes mellitus tipo 2. O objetivo deste estudo é propor ações sobretudo, educativas na tentativa de reduzir os altos índices de sobrepeso e obesidade, bem como prevenir Doenças Crônicas Não-Transmissíveis hoje encontradas na população adulta de mulheres jovens da etnia Terena pertencentes às nove aldeias do município de Aquidauana. As ações educativas serão realizadas nas unidades de saúde de cada aldeia. Mensalmente serão abordados temas relacionados às várias patologias decorrentes de sobrepeso e obesidade durante o primeiro semestre de 2012

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Palavras-chave: Sobrepeso. Obesidade. Índios sul-americanos.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................................05

REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................................07

OBJETIVOS...........................................................................................................10

Objetivo Geral.............................................................................................. .......10.1

Objetivos Específicos...........................................................................................10.2

METODOLOGIA...................................................................................................11

RESULTADOS.......................................................................................................12

CONCLUSÕES.......................................................................................................17

CRONOGRAMA....................................................................................................18

REFERÊNCIAS......................................................................................................21

INTRODUÇÃO

O estado de Mato Grosso do Sul possui a segunda maior população indígena do país com mais de 70 mil indígenas e os Terena representam a segunda maior etnia com cerca de 20 mil habitantes, espalhados por sete municípios do estado.

A principal característica da etnia Terena é o papel desempenhado pela agricultura na sua economia. As atividades de caça, pesca e coleta de frutos silvestres ou mel foram praticadas até a década de 1970, quando a região ainda preservava áreas de matas, rios e córregos (RIBAS, 2007). Atualmente a prática da agricultura ainda é freqüente, mas só é capaz de suprir as necessidades somente do núcleo familiar. As principais fontes de renda dos povos Terena, da área estudada e na qual atuamos, é o comércio excedente da agricultura, trabalho em usinas sucroalcooleiras, fazendas de pecuária, sendo que algumas famílias dependem dos benefícios da aposentadoria dos idosos.

O pólo base de Aquidauana presta assistência sistematizada de atenção básica à população de 7.768 indígenas da etnia Terena que estão distribuídos em 14 aldeias localizadas em três municípios, sendo nove em Aquidauana, quatro em Nioaque e uma em Anastácio .

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Observamos que o constante contato com os ‘’purutuyes’’ [1] expõem os povos indígenas a transformações ambientais e socioeconômicas acarretando situações de alta vulnerabilidade frente aos problemas alimentares e nutricionais.

As modificações ocorridas no perfil nutricional da população têm colocado a obesidade em papel de destaque no quadro epidemiológico mundial, de tal forma que a Organização Mundial de Saúde (OMS) já considera como uma epidemia global. Apesar da escassez de estudos sobre o a situação de saúde dos povos indígenas podemos observar o aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis como a diabetes tipo II, hipertensão arterial e dislipidemias, obesidade, desnutrição infantil e carência de nutrientes. São vários os fatores desencadeantes, mas está estritamente ligado a algumas mudanças no perfil nutricional e são observadas nas populações indígenas que em contato com a sociedade envolvente modifica os seus hábitos de vida levando a quebra de regras tradicionais, assalariamento, adotando uma dieta inadequada com grande quantidade de alimentos industrializados somados a menores níveis de atividades físicas(HAQUIM, 2008)

Geralmente, por terem acesso facilitado aos mercados da região, adquirem alimentos com elevado teor de açúcar, sal, gorduras e pobres em fibras, vitaminas e minerais, pois alimentos de maior valor nutricional não são economicamente acessíveis a essa população. Ao analisarmos as implicações dessas mudanças observamos um número freqüente de diabetes, hipertensão e obesidade (RIBAS, 2008).

Apesar das doenças infecciosas ainda ocuparem uma posição relevante no perfil epidemiológico indígena no Brasil, há evidências da ampliação e da expressão das doenças crônicas não transmissíveis como obesidade, hipertensão e diabetes mellitus, entre outras, podendo acarretar transformações no perfil da morbi-mortalidade.

Entre os xavantes (um dos povos indígenas mais estudados) podemos apontar mudanças significativas no perfil de morbi-mortalidade, pois é possível encontrar doenças infecto contagiosa, como parasitoses intestinais, diarréia e doenças respiratórias ao lado de doenças crônica não transmissíveis como a diabetes, hipertensão arterial e obesidade (COIMBRA, SANTOS , 2000).

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, 80% da população adulta é sedentária e 52% dos adultos brasileiros estão acima do peso, sendo 11% obesos, o que explica o aumento da morbidade e mortalidade, já que a obesidade é um fator de risco para várias doenças crônicas não-transmissíveis (MARIATH et al., 2007).

Estudos realizados por meio de censo populacional ou estudos amostrais são as melhores fontes de dados e informações do perfil nutricional dessas populações (GUGELMIN et al., 2007). Observamos que, dos vários inquéritos populacionais com avaliação antropométrica realizados a nível nacional, sobretudo na Pesquisa Nacional de Demografia em Saúde (PNDS) e Pesquisa sobre Padrão de Vida (PPV), não foram incluídas as populações indígenas. De acordo com Coimbra Júnior (2000) a escassez de informações para esse grupo tem como conseqüência, uma “invisibilidade epidemiológica”.

REFERENCIAL TEÓRICO

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A Organização Mundial de Saúde caracteriza a obesidade como uma epidemia mundial que não respeita fronteiras (WHO, 1997). Dados da Força Tarefa Internacional sobre obesidade –International Obesity Task Force [2] (IOTF), publicados no relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), indicavam, no final do século passado, a existência de aproximadamente 250 milhões de adultos obesos (7% da população mundial) e, pelo menos, 500 milhões com sobrepeso (WHO, 1997).

A obesidade é considerada como um problema de saúde pública que afeta tanto países desenvolvidos como em desenvolvimento (SICHIERI, 1998). É definida como sendo um acúmulo excessivo de gordura corporal devido ao desequilíbrio crônico entre a energia ingerida através dos alimentos e bebidas e o gasto energético (MARQUES-LOPES et al., 2004).

O tipo de obesidade mais frequente associado à hipertensão arterial é a andróide, isto é, aquela que acumula gordura, preferencialmente, na região abdominal. Assim, associa-se ao risco aumentado de hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes e na maior mortalidade por doença arterial coronariana (RIEIRA, 2000).

Em função da magnitude da obesidade e da velocidade de sua evolução em vários países do mundo, esse agravo tem sido considerado uma pandemia, atingindo países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento, entre eles o Brasil (SWIBURN ET AL.,1999; IBGE,2004).

Atualmente, 12,7% das mulheres e 8,8% dos homens adultos brasileiros são obesos, sendo esta prevalência mais elevada nas regiões sul e sudeste do Brasil. O aumento da obesidade foi registrada para ambos os sexos de todas as faixas de renda entre 1974 a 1989. Já no período de (1989-2003), os homens continuaram apresentando aumento da obesidade independente de sua faixa de renda, enquanto as mulheres somente aquelas com baixa escolaridade e situadas nas faixas de renda mais baixas (entre as 40% mais pobres) apresentaram este aumento (IBGE, 2004).

No Brasil, os estudos epidemiológicos sobre a prevalência de sobrepeso e obesidade são escassos, considerando-se a imensidão do problema. Os trabalhos nacionais mais consistentes mostraram um crescimento alarmante e um aumento de 56,3% de sobrepeso entre os homens e 39,7% entre as mulheres. Em relação à obesidade, os dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição realizada em 1999, apontaram uma prevalência correspondente a 5,7% e 18,2% em homens e mulheres, respectivamente (TAVARES; ANJOS, 1999). Monteiro et al. (2003) identificaram obesidade em 6,9% dos homens e 12,5% das mulheres das regiões Sudeste e Nordeste. Mais recentemente, pesquisa de orçamento familiar (POF) do biênio 2002-2003 demonstrou que 40,6% e 11,3% da população se encontravam com sobrepeso e obesidade, respectivamente (IBGE, 2004).

A transição alimentar e nutricional no Brasil indicaram, de modo geral, um ponto favorável em relação aos problemas associados à subnutrição e, desfavorável, no que se refere à obesidade e as demais doenças crônico-degenerativas. As doenças crônico-degenerativas são de etiologia multifatorial e compartilham vários fatores de risco modificáveis como tabagismo, inatividade física, alimentação inadequada, obesidade e dislipidemia (BARRETO et al., 2005).

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Analisando o gráfico abaixo do IBGE, para a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, verificamos que a evolução do sobrepeso e da obesidade foi significativamente preocupante, nas últimas décadas:

Faixa etária

> 20 anos

Período

1974-1975

Período

1989

Período

2002-2003

Período

2008-2009

M Sexo F

%

M Sexo F

%

M Sexo F

%

M Sexo F

%Sobrepeso 18,5 %

28,7% 29,9 % 41,4%

41,4 % 40,9%

50,1% 48,0%

Obesidade 2,8% 8,0% 5,4% 13,2% 9,0% 13,5% 12,4% 16,9%

Prevalência de sobrepeso e obesidade na população com 20 anos ou mais de idade, por sexo.

BRASIL – períodos 1974-1975, 1989, 2002-2003 e 2008-2009 - IBGE- POF 2008-2009.

De acordo com o I Inquérito Nacional de saúde e Nutrição dos Povos indígenas realizado pela Associação Brasileira De Pós-Graduação Em Saúde (ABRASCO) e o “Institute of Ibero-American Studies, Goteborg University” [3] , Suécia, nos anos de 2008-2009, a distribuição das mulheres de 14 a 49 anos por categoria de IMC, na região Centro-Oeste foram as seguintes:

Baixo peso 11 mulheres, correspondendo a 1%, peso adequado 545 mulheres, 46.9%, sobrepeso 409 mulheres, 34.7% e obesidade 207 mulheres , 17,5%.

Somando-se as mulheres que estão em sobrepeso e obesidade temos 52,2% ,ou seja, mais da metade da população avaliada.

Assim como o I inquérito Nacional de Saúde e nutrição dos Povos Indígenas vários outros trabalhos em comunidades indígenas demonstram elevados percentuais de sobrepeso e obesidade, sobretudo na população feminina. Entre os índios Parkatêjê que vivem no Pará ao avaliarem 99 adultos maiores de 20 anos de ambos os sexos constatou-se a prevalência de 50% de sobrepeso em mulheres e 23,7% em homens, e a obesidade de 12,5% e 1,7%, respectivamente. .Esses percentuais demonstram que mais da metade da população feminina (62,5%) mostrou excesso de massa corporal total. ( CAPELLI e KOIFMAN,2001,p.3)

Evidenciamos a necessidade de propor intervenções visando a prevenção de sobrepeso e obesidade. Acreditamos que a melhor maneira de sensibilizar a população em relação aos fatores de risco decorrentes de sobrepeso e obesidade seja de traçar estratégias de educação em saúde.

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Existem diversos caminhos educativos no cotidiano dos serviços. Os espaços educativos estão inseridos nas consultas, nas visitas domiciliares, na sala de espera, nas discussões de casa e nas inúmeras reuniões. Os elementos constitutivos desse processo incluem o diálogo, a participação, a problematização e a construção compartilhada de conhecimento (FREIRE, 2004).

OBJETIVOS

Objetivo Geral:

-Analisar o perfil nutricional das mulheres jovens da etnia Terena das nove aldeias localizadas no município de Aquidauana.

Objetivos Específicos:

- Sensibilizar a população sobre a importância da prevenção de sobrepeso e obesidade;

- Incentivar a população adulta de mulheres jovens a substituir os alimentos industrializados pelos naturais disponíveis na aldeia;

- Realizar oficinas culinárias com a população de mulheres nas faixas etárias de 20 a 59 anos;

- Formar grupos de caminhada com o propósito de redução de peso.

-Realizar exames de hemograma, colesterol (total e frações), glicemia e triglicérides, nas

mulheres com obesidade grau III.

METODOLOGIA

Por meio do Sistema de vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) foi realizado um levantamento de dados básicos: idade, sexo, peso e altura das mulheres de 20 a 59 anos das nove aldeias situadas no município de Aquidauana., coletados no primeiro semestre de 2011. Através dessas informações foi traçado o perfil nutricional das mulheres jovens, utilizando o Índice de Massa Corporal (IMC). A população total de mulheres nesta faixa etária é de 1.279; destas, foram avaliadas 867 mulheres.

Será realizado nas nove aldeias do município de Aquidauana (MS) um projeto de intervenção de vigilância alimentar e nutricional com mulheres de 20 a 59 anos. Através da análise dos resultados coletados, está sendo proposta a realização de grupos de trabalho nas unidades de saúde da aldeia para reflexão dos resultados e proposta de intervenção. Nos grupos educativos, pretendemos enfatizar a importância da prevenção com o objetivo de diminuir a incidência de doenças metabólicas e cardiovasculares.

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Contaremos com uma equipe multidisciplinar composta por uma nutricionista, três enfermeiros, dois médicos, dois odontólogos, dois auxiliares de consultório dentário, dezoito agentes de saúde indígenas, nove auxiliares de enfermagem, todos trabalhando em conjunto com a equipe de educação em saúde ( composta por dois educadores em saúde) que realizarão oficinas educativas, bimestralmente , durante o ano de 2012.

RESULTADOS

A população de mulheres jovens 9 aldeias na faixa etária de 20 a 59 anos é de .1.279 pessoas. Foi realizado um diagnóstico nutricional da população adulta no serviço de vigilância nutricional em que participaram 867 pessoas (68% do total da população de mulheres), sendo que 412 estavam ausentes ou não quiseram participar.

Após avaliação do IMC das 867 mulheres constatamos os seguintes estados nutricionais:

ESTADO NUTRICIONAL N %BAIXO PESO 2 0,23ADEQUADO 217 25,03SOBREPESO 323 37,25OBESIDADE I 214 24,68OBESIDADE II 78 9,00OBESIDADE III 33 3,81TOTAL 867 100,00

Tabela 1 – Estado Nutricional das Mulheres Indígenas Terena

Fonte: Pólo Base de Aquidauana, FUNASA, 2011

Os resultados obtidos, com 37,25% de mulheres com sobrepeso e 37.49% com obesidade, se compararmos com os dados do IBGE para a última POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares): mulheres com sobrepeso 48% e obesas 16,9% - podemos verificar que o número de mulheres obesas na população indígena Terena é bem superior (mais que o dobro) em relação à população brasileira de mulheres, embora o resultado de mulheres Terena com sobrepeso tenha sido menor que o da população brasileira ( 37,25% e 48%, respectivamente). Entretanto, somando-se os resultados das mulheres com sobrepeso àquelas com obesidade temos os seguintes dados: População brasileira com sobrepeso e obesidade (64,9%) e população de mulheres indígenas Terena com sobrepeso e obesidade (74,74%).

Estado

nutricional

Mulheres

Indígenas

(Terena)

%

População

de mulheres

Brasileiras

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(POF 2008-2009)

%Sobrepeso 37,25% 48,0%Obesidade 37,49% 16,9%TOTAL 74,74% 64,9%

Tabela 2 –Comparação do estado nutricional

entre mulheres indígenas Terena e a população

de mulheres brasileiras.

Fontes: Pólo Base de Aquidauana, FUNASA e

IBGE – POF 2008-2009 .

Analisando estes dados podemos sugerir as seguintes hipóteses:

1ª - As mulheres indígenas Terena estão mais obesas do que a população geral de mulheres brasileiras. Porém, se compararmos estas mulheres indígenas, obesas, de classe sócio-econômica e cultural baixa, com a população brasileira de mulheres de mesma classe sócio-econômica e cultural , os resultados seriam semelhantes. Isto se explica em função de que as classes sócio-econômicas mais baixas são as que mais consomem alimentos de alto teor calórico. A população indígena Terena já está há muitas décadas em contato com a população não-indígena das cidades, tendo incorporado quase que totalmente os hábitos alimentares e culturais da população urbana. Alguns estudos sugerem que as alterações do estilo de vida dos indígenas com a mudança da dieta tradicional, com carboidratos complexos ( frutas, folhas, raízes, sementes, etc.), pelos de absorção rápida dos alimentos industrializados e a diminuição da atividade física (tornaram-se sedentários devido à fixação do seu território, não mais se deslocando para lugares onde a caça e pesca eram abundantes) foram responsáveis pelo surgimento de doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT), tais como a obesidade, diabetes e hipertensão arterial. Portanto, para muitos povos indígenas, na origem dos distúrbios nutricionais estão as mudanças culturais e o abandono da alimentação tradicional. Todas as mudanças que vem ocorrendo com a população indígena, acarretam situações de insegurança alimentar, assim como, a particularidade do perfil nutricional e epidemiológico desses povos.

2ª – Segundo Vieira Filho, os indígenas brasileiros possuem o genótipo econômico ou “Thrifty Genotype”. (Neel JV. Diabetes Mellitus: a “thrifty” genotype rendered detrimental by “progress”. Am J Hum Genet. (1962;14:353-62.). Os genes que predispõem atualmente os indígenas ao diabetes foram vantajosos entre seus ancestrais que viviam em ambientes onde a disponibilidade alimentar era muito irregular. A rápida resposta insulínica ao estímulo da glicose favorecia a capacidade de converter a glicose em gordura de reserva, conferindo uma vantagem de sobrevivência durante períodos de escassez. Esta adaptação

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genética, para garantir a sobrevivência em períodos de fome passou, frente a alterações ambientais atuais, a ser a causa de ganho excessivo de peso e acúmulo de gordura (Vieira Filho J.P.B. Contribuição à Secretaria Especial índios Paracanã do Xingu, Araweté, Assurini e Xikrin do Bacajá, 2011 (mimeo)). de Saúde Indígena (SESAI) e à Eletronorte (Norte Energia) para um avanço na assistência à saúde dos

Com relação a esses genes “Thrifty Genotype”, podemos exemplificar como sendo semelhantes aos genótipos que os Ursos Polares devem possuir. Estes ursos que vivem no Circulo Polar Ártico, ambiente inóspito de frio intenso no inverno, quando a disponibilidade de alimentos é inexistente, para enfrentar esta adversidade usa o recurso da hibernação, entrando em sono profundo, onde a atividade metabólica do organismo cai a níveis mínimos, com o objetivo de economizar energia (calorias), pois o inverno se prolonga por mais de quatro meses e durante esse período ele não se alimenta. O organismo, sem disponibilidade de alimentos, usa a reserva de gordura que foi acumulada durante o outono, para transformar esta gordura em nutrientes necessários para a sobrevivência. Por isso, os ursos polares , para poderem acumular grande reserva de gordura, se alimentam em quantidades máximas possíveis antes de o inverno chegar, facilitada pela abundância de peixes, nesta época, a sua dieta básica. Nesta época, engordam muito. Em compensação, quando termina o inverno estará muito magro, pois gastou toda a reserva de gordura.

<20 Abaixo do peso20 a 24,9 Peso ideal25 a 29,9 Sobrepeso30 a 34,9 Obesidade grau I (moderada)35 a 39,9 Obesidade grau II (severa)>40 Obesidade grau III (mórbida)

Tabela 2 – Índice de Massa Corporal.

Fonte: Pólo-Base de Aquidauana, FUNASA, 2011

Com relação aos exames laboratoriais, realizados entre as mulheres com obesidade grau III (obesidade mórbida), foram colhidas amostras de dez pacientes, com os seguintes resultados:

Paciente Glicemia

Mg/dl

Colesterol

Total

Mg/dl

Colesterol

HDL

Mg/dl

Colesterol

LDL

Mg/dl

Triglicérides

Mg/dl

Eritrócitos

Mi/ml

HB

g/dl

HM

%T

A 161 217 48 129 203 5,0 13,0 41B 94 190 35 112 206 4,2 12,0 37C 97 148 31 69 230 4,4 13,3 40D 98 172 48 105 95 4,1 12,6 38

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E 74 120 34 63 115 3,3 9,8 30F 81 152 43 83 130 4,5 13,8 41G 90 150 50 77 118 4,4 14,0 42H 70 139 37 70 160 4,5 14,0 40I 62 125 55 52 90 4,8 15,0 44J 97 196 36 168 219 4,7 14,0 43

Fonte: Pólo Base de Aquidauana, FUNASA, 2011.

Obs.: Foram coletadas apenas dez amostras de pacientes com obesidade grau III, devido à indisponibilidade dos aparelhos de laboratório, por estarem temporariamente estragados.

O quadro acima com o resultado das amostras de pacientes com obesidade grau III:

- Paciente A: Glicemia, colesterol total, triglicérides elevados e colesterol HDL baixo, Colesterol LDL normal. Resultados compatíveis com paciente portador de diabetes (Glicemia e Triglicérides elevadas); colesterol total elevado e colesterol HDL baixo, sugerindo possibilidades de ocorrência de doenças cardio-circulatórias.

- Paciente B: Triglicérides pouco elevados, glicemia no limite e colesterol HDL baixo apontando para a necessidade dessa paciente de condutas no sentido de evitar uma diabete, além de eventos cardiovasculares.

- Pacientes C e J: Triglicérides elevados, colesterol HDL baixos e glicemias no limite alto. Também com necessidade de controle para evitar diabetes, hipertensão arterial, coronariopatias, etc.

- Paciente E: Com quadro de anemia.

- Demais pacientes: a maioria com colesterol HDL baixos e, sendo obeso grau III, precisam, como todos os acima citados, de um plano para o tratamento da obesidade, com mudanças de conduta como a adoção de uma dieta apropriada, exercícios físicos, etc.

Numa análise superficial dos resultados laboratoriais acima, poder-se-ia esperar por resultados muito mais alterados do que os encontrados, principalmente os triglicérides e o colesterol, sendo os pacientes, portadores de obesidade mórbida (grau III). Entretanto, os exames laboratoriais nem sempre acompanham as alterações clínicas de imediato, só se alterando algum tempo depois, daí porque a clínica é soberana. Mas os exames laboratoriais são importantes, na medida em que, o colesterol, por exemplo, estando alterado, sinaliza para uma possível patologia cardio-vascular, hipertensão arterial, futuramente. Assim, também, os triglicérides elevados, geralmente precedem uma possível alteração da glicemia.

As mudanças ocorridas no modo de vida dos indígenas decorrentes de mudanças sócio-culturais e econômicas resultantes da interação com a sociedade não indígena provocaram impactos na saúde desses povos e são associadas à emergência de doenças crônicas não

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transmissíveis, como obesidade, hipertensão arterial, diabetes mellitus, entre outras, podendo trazer modificações no perfil de morbi-mortalidade (COIMBRA JR, SANTOS, 2001).

CONCLUSÕES

No Brasil há cerca de 220 povos indígenas, falantes de 180 línguas, revelando diversidade ecológica, sociocultural, política e econômica (Ricardo). Devido à heterogeneidade dos povos indígenas brasileiros constata-se a dificuldade em traçar um perfil nutricional para toda a população, mas constata-se que o sobrepeso e a obesidade, bem como alguns tipos de câncer, hipertensão e diabetes mellitus são evidenciados, principalmente entre o sexo feminino em vários estudos populacionais demonstrando a maior suscetibilidade de grupos que estão submetidos à modernização de seu estilo de vida, sobretudo a de mudanças de hábitos alimentares e redução de atividades físicas.

Na etnia Terena pertencente ao pólo base de Aquidauana constatamos que um grande número de mulheres, sobretudo jovens, encontram-se em sobrepeso e obesidade e, consequentemente, em risco de desenvolverem doenças cardiovasculares e até mesmo alguns tipos de câncer ligados ao excesso de peso.

Percebemos que nas estratégias para enfrentar os problemas identificados não podemos nos restringir ao setor saúde, mas existe a necessidade de realizar ações intersetorial, interinstitucional e multiprofissional.

CRONOGRAMA

No primeiro semestre do ano de 2012 serão realizadas na sala de palestra da unidade de saúde da aldeia Limão Verde as seguintes atividades:

Abordagem Médica

Período Temas das oficinas educativasConceito de sobrepeso e obesidade e as doenças que podem ser desencadeadas (hipertensão, diabetes, infarto, AVC, gestação de alto risco e dislipidemia). Relação do acúmulo de gordura abdominal X doenças metabólicas.

Objetivo: Que sejam capazes de identificar os principais sinais e sintomas das doenças decorrentes de sobrepeso e obesidade.

Estratégias: Apresentação de figuras dos órgãos alvos (cérebro, coração, rins e vasos sangüíneos), exercício do cálculo do IMC (Índice de Massa Corporal) e montagem de painel com colagem dos órgãos alvos prejudicados mais precocemente por essas patologias. O que é Diabetes e Hipertensão X Sobrepeso e Obesidade e o Índice de incidência e prevalência destas doenças na sua aldeia (divulgação

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do número de diabético e hipertenso em sobrepeso e obesidade).

Objetivo: Sensibilizar a população quanto aos riscos de sobrepeso e obesidade.

Estratégias: Formação de grupos para desenhar as conseqüências que uma alimentação inadequada e a falta de exercícios físicos podem acarretar no organismo; também, a realização de dinâmica de perguntas e resposta (elaboração de perguntas em relação ao tema apresentado e sorteio de brindes para resposta correta). Doenças Cardiovasculares X Sobrepeso e Obesidade.

Objetivo: Que sejam capazes de relacionar sobrepeso e obesidade como causadores de doenças cardiovasculares.

Estratégias: Relacionar os três tipos de doenças e agrupar os sintomas utilizando figuras.Incentivar a participarem das oficinas de culinária realizadas pela equipe de enfermagem com a colaboração da nutricionistaOrientar a buscarem parcerias para realização de um projeto comunitário para fabricação de polpas de frutas que são abundantes e, muitas vezes, desperdiçadas (caju,manga,tamarindo,acerola,entre outras)

Estratégia: Convidar para o encontro as lideranças indígenas e o conselho local de saúde indígena.

Abordagem de Enfermagem

Filme relacionado sobre sobrepeso e obesidade (partes do filme Dieta do Palhaço).

Objetivo: Fixar os conteúdos abordados.

Estratégias: Utilizando televisão 29” e DVD. Solicitar aos participantes que façam comentários sobre o que entenderam do filme.Importância da Alimentação Saudável e Atividade Física. Substituição de alimentos industrializados pelos alimentos naturais.

Objetivos: Que sejam capazes de relacionar alimentação saudável e atividade física como medidas de prevenção das doenças não-transmissíveis.

Estratégias: Construir uma pirâmide alimentar com desenhos de alimentos disponíveis na aldeia com orientação da nutricionista.

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Oficina educativa com exercícios aeróbicos com apoio do educador físico da Escola, oferecimento e incentivo de consumo de suco de frutas da época.

Objetivo: Que sejam capazes de incorporar no cotidiano o hábito de exercícios físicos e uso de alimentos naturais existentes na aldeia.

Estratégias: Ensinar o preparo de sucos naturais.Estimular as mulheres em sobrepeso e obesidade a realizarem consulta com a enfermeira e nutricionista para participarem de uma proposta de formação de um grupo com acompanhamento de peso semanal e encontros mensais visando a redução de peso e medidas

REFERÊNCIAS

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[1] Palavra da língua Terena que traduzida para o português significa homem branco ou, não indígena.

[2] Força Tarefa Internacional de Obesidade.

[3] Instituto Ibero Americano de Estudos.