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Instituto Politcnico de Viseu
Escola Superior de Educao de Viseu
Projeto de Desenvolvimento Comunitrio
Maceira uma Aldeia Cultural
- MESTRADO DE ANIMAO ARTSTICA -
Elsa Fortunato Cardoso Fulgncio
Viseu, 2012
Projeto de Desenvolvimento Comunitrio
Maceira uma Aldeia Cultural
Dissertao apresentada para obteno do Grau
de Mestre no Curso de Mestrado em Animao
Artstica pela Escola Superior de Educao de
Viseu
Orientador: Doutor Lus Sousa
Elsa Fortunato Cardoso Fulgncio
Viseu, 2012
O Projeto, no uma simples representao do futuro, mas um futuro para fazer, um
futuro a construir, uma ideia a transformar em ato.
Jean Marie Barbier
Dedicatria
Dedico este trabalho a algum muito especial que me faz
acordar todos os dias e sentir que estou viva e pronta para
enfrentar mais uma batalha..
Minha filha Raquel.amo-te muito
Dedico tambm minha famlia que me est no corao
diariamente.
Dedico finalmente aos meus amigos que me ajudam a ser quem
sou!
Obrigada!
Agradecimentos
Como todos ns sabemos sempre ingrata a tarefa de um agradecimento,
principalmente quando se sente que esta corre o risco de ter muitas omisses.
No entanto quero deixar aqui o meu reconhecimento a todas as pessoas e
entidades pelo auxlio, compreenso e considerao que me dispensaram ao longo de
todo este percurso do Mestrado em Animao Artstica, cuja ltima etapa foi a
elaborao deste projeto.
Desejo expressar, em primeiro lugar, os meus agradecimentos ao Professor
Jorge Fraga, Coordenador do Curso e ao Professor Lus Sousa, orientador do projeto,
no s pelo interesse, compreenso e total disponibilidade demonstrada nas etapas
percorridas na elaborao deste projeto, mas tambm pela sua exigncia e rigor. As
suas palavras foram encorajadoras neste percurso, revelando-se fundamentais para
atingir os objetivos.
Um sentido obrigado aos colegas do Curso de Mestrado de Animao Artstica
pela sua amizade, apoio e partilha de conhecimentos.
Aos amigos sempre presentes em todos os momentos, Ana Pinto e Lus Filipe,
pelas suas sugestes apresentadas, bem como o apoio, fora e coragem que sempre
me manifestaram.
Por ltimo, um agradecimento muito especial ao meu marido, Jos Rodrigues,
e minha filha Raquel, pela sua compreenso e carinho incondicional que sempre me
deram fora para trilhar esta caminho. O seu estmulo, apoio e pacincia revelaram-se
importantes para superar esta prova.
Resumo
Maceira, considerada por muitos uma das mais lindas aldeias do concelho. SantAnna Dionsio anotou no guia de Portugal: Maceira, aldeia tranquila de altitude (700m), rodeada de terrenos frteis, com muita gua de rega e bons ares. A paisagem campesina que envolve a pequena aldeia respira to ntima doura que mesmo sem querer se lembrar Bernardim (Dicionrio Enciclopdico das Freguesias, 1997, p.278).
No entanto, um exemplo vivo do fenmeno que a desertificao. Possuidora de um riqussimo patrimnio quer natural, quer construdo, sem esquecer todo o seu patrimnio imaterial, pelo que rene as condies essenciais para dinamizar um projeto de carcter social, cultural, de desenvolvimento e educativo.
Uma vez que a descoberta faz parte do passeio e caminhar um meio de descobrir uma regio, a implementao de itinerrios tursticos neste territrio rural, contemplando atividades ldico-pedaggicas e ambientais so uma mais valia para a sua dinamizao, promoo e valorizao, aliado sua preservao, respeito e transmisso dos valores incutidos na cultura deste territrio.
Abstract
Maceira, is considered by many one of the prettiest villages in the country. Sant'Anna Dionysius noted in the "Guide of Portugal:" Maceira, a quiet village, at an altitude of 700m, surrounded by fertile land, with plenty of water for irrigation and good air. The landscape that surrounds the small peasant village breathes so intimate sweetness that even accidentally will Bernardim remember "(Encyclopedic Dictionary of the Parishes, 1997, p.278).
However, a living example of the phenomenon that is desertification. Possessing a rich heritage whether natural or constructed, without forgetting all their intangible heritage by bringing together the essential conditions for a project to boost social, cultural, and educational development.
Once that the discovery is part of the walk and walking is a way to discover a region, the implementation of tourist routes in this rural area, including recreational activities and environmental-education, is an added value for its dynamism, promotion and enrichment, combined with the its preservation, respect and transmission of the instilling values in the culture of this territory.
Palavras-chaves: Comunidade, desenvolvimento endgeno, animao, percursos
Keywords: Community, endogenous development entertainment, pathways
NDICE
Agradecimentos __________________________________________________________ 5
Resumo ________________________________________________________________ 6
Abstract ________________________________________________________________ 6
ndice __________________________________________________________________ 7
ndice de Figuras _________________________________________________________ 9
ndice de Grficos ________________________________________________________ 9
ndice de Quadros ________________________________________________________ 9
Tabela de Siglas ________________________________________________________ 10
INTRODUO __________________________________________________________ 11
CAPITULO I APRESENTAO E JUSTIFICAO DO ESTUDO ________________ 14
I.1 - A problemtica do Estudo ___________________________________________ 14
I.2 Objeto de Estudo __________________________________________________ 16
I.2.1 Objetivo Geral: __________________________________________________ 17
I.2.2 Objetivos Especficos: ____________________________________________ 17
I.3 - Metodologia ______________________________________________________ 20
I.4 - Destinatrios _____________________________________________________ 23
I.4.1 - O Papel dos seniores no meio rural ________________________________ 24
I.4.2 - O papel dos jovens no meio rural __________________________________ 26
CAPTULO II ENQUADRAMENTO TERICO CONCEPTUAL __________________ 28
II.1 Comunidade _____________________________________________________ 28
II.2 Desenvolvimento Local / Comunitrio _________________________________ 30
II.3 Cultura, Identidade e Memria _______________________________________ 32
II.3.1 - Cultura ______________________________________________________ 32
II.3.2 - Identidade ____________________________________________________ 33
II.3.3 - Memnia _____________________________________________________ 35
II.4 Patrimnio, territrios rurais e turismo _________________________________ 36
II.4.1 Patrimnio e territrios rurais _____________________________________ 36
II.4.2 Patrimnio Cultural ____________________________________________ 38
II.4.3 O patrimnio ao servio do turismo ________________________________ 40
II.5 - Animao Artstica como Instrumento Mobilizador ________________________ 42
II.6 - O papel do animador artstico enquanto agente promotor de desenvolvimento
comunitrio __________________________________________________________ 45
II.7 - A Animao Artstica no contexto das aldeias culturais ____________________ 46
II.8 - Os processos artsticos e a qualidade de vida da populao ________________ 48
CAPTULO III. - CARACTERIZAO DA ALDEIA DE MACEIRA __________________ 49
III.1 Enquadramento __________________________________________________ 49
III.1.1 - Caracterizao Fsica __________________________________________ 51
III.1.2 - Caracterizao Scio-Econmica _________________________________ 53
III.1.3 - Demografia __________________________________________________ 55
III.1.4 - Caracterizao da estrutura urbanstica ____________________________ 60
III.1.5 Principais traos culturais _______________________________________ 61
III.1.5.1 Artesanato _________________________________________________ 61
III.1.5.2 Gastronomia _______________________________________________ 62
III.1.5.3 Tradies __________________________________________________ 62
III.1.6 Recursos Patrimoniais da freguesia de Maceira _____________________ 67
III.2 Anlise SWOT ___________________________________________________ 74
CAPTULO IV. PROJECTO DE INTERVENO NA FREGUESIA DE MACEIRA ___ 76
IV.1 - Apresentao ____________________________________________________ 77
IV.2 - Estratgias ______________________________________________________ 78
IV.3 - Diagnstico _____________________________________________________ 80
IV.4 - Implementao de itinerrios em Maceira _______________________________ 82
IV.4.1 - Itinerrios Culturais e Ambientais _________________________________ 84
IV.4.1.1 - Itinerrio Cultural ______________________________________________ 85
IV.4.1.2 - Itinerrio Ambiental ____________________________________________ 91
IV 2 Impactos da implementao do projeto _________________________________ 92
CONCLUSES _________________________________________________________ 93
BIBLIOGRAFIA _________________________________________________________ 97
ANEXOS _____________________________________________________________ 105
ndice de Figuras
Figura 1 - Plano de Investigao Metodolgica ...........................................................23
Figura 2 - Interao nos itinerrios ..............................................................................85
Figura 3 - Itinerrio Cultural .........................................................................................86
Figura 4 - Itinerrio Ambiental .....................................................................................92
ndice de Grficos
Grfico N 1 - Grfico da Evoluo da populao entre 1940 e 2011 ..........................57
Grfico N 2 - Grfico da Populao residente (2011) por escalo etrio ....................58
ndice de Quadros
Quadro 1 - Anlise Swot do territrio de Maceira ........................................................74
Quadro 2 - Fases de elaborao do Projeto ................................................................79
Quadro 3 Workshops a implementar ........................................................................87
Quadro 4 Encontro Inter-geracional e Lanche - convvio ..........................................90
Quadro 5 Jogos tradicionais .....................................................................................90
Quadro 6 - Impactos do projeto na aldeia de Maceira .................................................93
Tabela de Siglas
ADL Associaes se Desenvolvimento Local
BTT Bicicleta Todo-o-Terreno
CCDRC Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional do Centro
EM Estrada Municipal
EN Estrada Nacional
GAL Grupos de Ao Local
ICOMOS International Council on Monuments and Sites
IGESPAR Instituto de Gesto do Patrimnio Arquitetnico e Arqueolgico
INE Instituto Nacional de Estatstica
PACTA Associao Portuguesa de Empresas de Animao Cultural e Turismo
de Natureza e Aventura.
PDM Plano Diretor Municipal
PRODER Programa de Desenvolvimento Rural
TER Turismo em Espao Rural
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
UNIDROIT Instituto Internacional para a Unificao do Direito Privado
11
INTRODUO
A maioria das caractersticas que nos identificam, enquanto elementos
pertencentes a um determinado grupo social e a um local especfico, sedimentado
atravs dos tempos e transmitido por outros indivduos j pertencentes a esse local, ou
seja, os nossos antepassados.
dessa comunidade que recebemos grande parte dos testemunhos materiais
e as memrias intangveis ou imateriais. Esses testemunhos fazem parte da herana
patrimonial, dado especial destaque herana cultural e histrica, uma vez que se
trata de territrio rural com caractersticas sui generis, na medida em que vivemos
numa sociedade cada vez mais envelhecida, onde os territrios rurais se encontram
cada vez mais desertificados.
As transformaes que atingiram Portugal nos ltimos anos, modificaram a
paisagem rural portuguesa. Mudanas essas de ordem espacial e demogrfica, que se
traduzem pelo fenmeno crescente de litorizao, de progressivo envelhecimento e de
desertificao, quer fsica, quer humana, sendo esta ltima a mais preocupante. De
opinio idntica Gaudiano (2005) que considera, (...) os territrios rurais esto
vinculados a imagens e modos de vida peculiares, confundem-se com sociedades
marcadas por arcaismos, indissociveis de economias vulnerveis, merc do xodo
e do despovoamento (Gaudiano, 2005, p. 54).
Considerando o despovoamento um dos principais problemas com o qual se
debate o mundo rural portugus, a procura de respostas aponta para uma maior
diversificao e dinamizao de atividades no meio rural, de forma a limitar os efeitos
perversos das transformaes sociais e a revitalizar, numa perspetiva de valorizao e
preservao todo o patrimnio.
De acordo com a definio da UNESCO (Organizao das Naes Unidas para
a Educao, Cincia e Cultura, 1972) patrimnio uma legado cultural e natural que
recebemos dos nossos antepassados, vivemo-lo no presente e transmitimo-lo s
geraes futuras, e esta mesma organizao, na conveno do Patrimnio Mundial,
Cultural e Natural (1972), classificou-o em patrimnio natural e cultural, sendo este
ltimo subdividido em patrimnio tangvel (monumentos, artesanato, entre outros) e
em patrimnio intangvel (tradies, usos e costumes), inerente a estes territrios.
Maceira, considerada alto concelho e a povoao fica na encosta nascente
com belas vistas para um vale e para a Serra da Estrela. Avista-se Celorico, Guarda,
Seia e algumas terras do concelho de Trancoso, uma aldeia pertencente ao
12
concelho de Fornos de Algodres, da qual dista, aproximadamente 15Km, e que muito
embora possua um riqussimo patrimnio quer natural, quer construdo, sem esquecer
todo o patrimnio social do qual faz parte a sua populao, repleta de sabedorias e
simultaneamente to frgil e humilde, tambm ela caracterizada pela baixa
densidade populacional afeta aos territrios rurais.
Como descreve Monsenhor Pinheiro Marques, no seu livro "Terras de
Algodres"." uma das mais lindas aldeias do concelho de Fornos. Situada no alto da
Serra que segue Infias, como esta e Algodres a uma altitude de 700 metros, num
suave declive do monte que se quebra quase a um horizonte, com vistas sobre a
cidade da guarda a nascente e a Serra da Estrela ao sul." (Marques, 2001, p. 302).
De forma a atenuar o despovoamento desta aldeia e visto a Animao ter um
papel fulcral no desenvolvimento destes territrios, j que se apresenta, segundo
Ander-Egg (2001, p.19), () como uma tecnologia social, que se baseia numa
pedagogia participativa e que tem como finalidade atuar em diferentes sentidos da
qualidade de vida, mediante a participao das pessoas no seu prprio
desenvolvimento sociocultural. E, visto o Animador ter um importante papel na criao
de estratgias que permitam contribuir ativa e efetivamente, de forma a promover e
desenvolver dinmicas nestes espaos vitais, com a finalidade destes permanecerem
vivos e ativos. De encontro a isto, e tal como refere, Cubero (1991, p.35), () A
terceira idade procura na atividade de animao poder sentir-se til, dar um novo
sentido sua vida. O idoso necessita de participar, mover-se, atuar, sentir-se vivo.
Por sua vez a Animao Artstica como metodologia de interveno atravs
das artes, poder exercer um papel catalisador de sinergias, potencializadoras de
transformao, quer a nvel pessoal como no meio social, o que certamente se refletir
no desenvolvimento desta comunidade.
A Animao Artstica foca-se na problemtica da interpenetrao entre os
universos formais e informais de educao, de arte e de cultura, entendidos como
espaos potenciais de criatividade e de desenvolvimento pessoal e comunitrio,
particularmente atravs do contributo das linguagens e dos instrumentos da animao
recreativa, cultural e artstica. Os conceitos centrais de comunidade e de animao,
balizam a conceo, a implementao e a avaliao de projetos orientados para
populaes e grupos, em funo de necessidades e de aspiraes devidamente
contextualizadas e identificadas como objetivos e percursos de desenvolvimento.
A arte simultaneamente manifestao de cultura e meio de conhecimento
cultural. Cada cultura possui as suas expresses artsticas e as suas prticas culturais
13
especficas. A cultura, na sua diversidade, e os seus produtos criativos e artsticos,
representam formas contemporneas e tradicionais de criatividade que contribuem de
forma incomparvel para a nobreza, o patrimnio, a beleza e a integridade das
civilizaes humana (Comisso Nacional da UNECO, 2006, p. 8).
Pelo papel relevante que exerce na dinamizao pessoal e social, a Animao
Artstica pode constituir um modelo do aumento da auto-estima individual e coletiva,
pela valorizao de capacidades, contribuindo assim para a qualidade de vida, de
forma a responder aos grandes desafios do mundo atual, nomeadamente, a
construo de um futuro mais sustentvel.
H quem afirme que a criatividade expressa atravs da cultura o recurso
mais equitativamente distribudo no mundo (Comisso Nacional da UNESCO, 2006,
p.16).
De acordo Bernard K. (1994, p.45) As diferenas entre regies, localidades,
aldeias, entre geraes e entre grupos sociais so sobretudo diferenas culturais. Em
vez de procurar esquec-las, ou deix-las esquecer, no ser melhor procurar afirm-
las e promov-las? preciso deixar de considerar o desenvolvimento cultural como
um luxo suprfluo e reconhec-lo como um motor do desenvolvimento econmico e
social leva-nos a reconhecer a cultura como uma alavanca para o desenvolvimento
local.
Neste sentido, implementar um projeto de Animao, designado Maceira- Uma
Aldeia Cultural e desta forma, conceber dinmicas ldico-pedaggicas, integradas em
dois itinerrios (cultural e ambiental) que visam envolver a populao autctone e os
visitantes, entre eles, crianas e jovens estudantes em meios urbanos e desta forma,
impulsionar atividades inter-geracionais, que possibilitem populao,
fundamentalmente, idosa a transmisso das tradies rurais, da cultura sui generis
desta comunidade, a estes jovens, que por sua vez podem contribuir, no s, para a
alegria e vivacidade desta aldeia, mas tambm para a preservao e divulgao deste
territrio.
As prticas ldico-pedaggicas contempladas no presente projeto, visam
desenvolver nos jovens, enquanto pessoas atuantes na sociedade e especialmente
por serem os cidados do amanh, um conjunto de valores, atitudes e competncias
para viverem em harmonia e solidariedade. De acordo com Carlise (1985), () O
valor destas experincias normalmente avaliado atravs do conhecimento obtido por
parte dos jovens, daquilo que os estudantes dizem, das perguntas que fazem, das
discusses que iniciamisto , julgamos a qualidade da experincia atravs do
14
envolvimento dos jovens, da sua excitao ou prazer expresso pela curiosidade e da
sua aplicao nas atividades presentes () (Carlise 1985, cit. por Almeida 1998, p.
25).
Cavaco (1995), salienta que, () aproveitar os espaos de liberdade
diversificando e enriquecendo as situaes de aprendizagem alargando criativamente
o espao escolar, implicando os alunos em projetos com sentido (Cavaco, 1995, p.
127).
O presente estudo organizado em quatro captulos distintos.
O Captulo I, correspondente, na sua essncia, identificao da problemtica
e objeto de estudo, para a implementao deste projeto, quais os objetivos que se
pretendem alcanar com a implementao do mesmo, bem como definio dos
destinatrios.
O Captulo II um captulo onde efetuamos o enquadramento conceptual que
circunscreve esta anlise onde sero abordados os conceitos utilizados ao longo do
estudo.
O Captulo III, caracteriza o territrio em anlise procedendo a uma
apresentao da freguesia de Maceira de uma forma geral, onde exposto todo o
potencial para a implementao de uma aldeia cultural visando contribuir para o
desenvolvimento sustentvel.
A ltima parte, correspondente ao Captulo IV, consiste na apresentao da
proposta de interveno, onde so definidas vrias estratgias de ao que se
pretendem implementar. Por ltimo, feita uma reflexo sobre a problemtica e
definidas algumas linhas de orientao para trabalho futuro.
CAPITULO I APRESENTAO E JUSTIFICAO DO ESTUDO
I.1 - A problemtica do Estudo
Em consequncia do fenmeno da desertificao e envelhecimento da
populao existe o risco de desaparecerem algumas aldeias situadas no interior do
Pas de Portugal. Exemplo vivo deste fenmeno contemporneo, diminuio da
populao residente, a freguesia de Maceira, povoao do concelho de Fornos de
Algodres. Porm esse facto no invalida que seja senhora de um riqussimo
patrimnio cultural, variado e vasto, fruto do conhecimento tradicional acumulado pelos
15
habitantes, um verdadeiro Museu Cultural a Cu Aberto digno de ser transmitido s
geraes vindouras.
Apesar das muitas personalidades histricas e os acontecimentos marcantes
que esto ligadas histria desta aldeia, que em muito contribuem para a riqueza
patrimonial e cultural, ter que haver esforos no sentido de inverter esta tendncia,
pelo que se torna necessrio e urgente a criao de mecanismos que no s atenuem
como contrariem essa realidade, de forma a impedir esse problema e os demais que
lhe esto subjacentes.
neste contexto que o patrimnio fator primordial no desenvolvimento de
projetos de mbito comunitrio e cultural, pois a cultura assume-se cada vez mais
como uma forma de lazer, e nos dias de hoje assiste-se a uma conscincia mais
generalizada da importncia da mesma como agente de desenvolvimento das
sociedades.
A cultura participa hoje, de forma decisiva, no desenvolvimento das
sociedades. Ela responsvel pelo alargamento do espao de participao do
indivduo, pelo fortalecimento da conscincia social, pela elevao da qualidade de
vida, pelo progresso cientfico dos povos. (Figueiredo, 1997, p. 9)
A cultura que constitui o presente que reflete o passado, e ao mesmo tempo
um passado trazido ao conhecimento, ao encontro e ao deleite de uma actualidade
que bebe esse conhecimento revisitado.
Tendo como cenrio Maceira urge pensar que necessrio implementar
estruturas que possibilitem a divulgao, promoo de todo o patrimnio desta aldeia,
numa vertente de desenvolvimento comunitrio e tambm numa perspetiva artstica,
considerando para tal todos os grupos sociais que constituem parte integrante desta
populao.
Pensar na implementao de um projeto de mbito cultural como condio de
desenvolvimento comunitrio e visto que na sociedade contempornea, os territrios
rurais constituem, cada vez mais, instrumentos insubstituveis para a preservao de
usos e costumes, de um modus viendi muito particular, ou seja, de uma identidade.
O desenvolvimento local um processo de transformao da realidade
sustentado na capacitao das pessoas para o exerccio da cidadania ativa e
transformadora da vida individual e em comunidade. de capital importncia que os
grupos no sejam meros utentes de servios, mas, atores e autores das prticas de
desenvolvimento local (Viveiros, A. L. N., 2008, p. 2).
16
Este esboo acadmico assenta no seu prprio objeto de estudo Maceira uma
Aldeia Cultural onde inclui a prpria aldeia como produtor e difusor de criaes
artsticas, numa ligao estrutural e orgnica com o Concelho a que pertence,
contribuindo para a construo de experincias perdurveis no tempo.
Na Constituio da Repblica Portuguesa, no Artigo 78. (1999, p. 38) pode ler-
se que:
1. Todos tm direito fruio e criao cultural, bem como ao dever de preservar,
defender e valorizar o patrimnio cultural.
2. Incumbe ao Estado, em colaborao com todos os agentes culturais.
Nos nossos dias temos vindo a assistir a um gradual desinteresse e
desresponsabilizao do Estado, relativamente a esta matria. Assim, o colmatar
desta lacuna passa muitas vezes pelos agentes culturais, os criadores, os artistas, a
comunidade.
Por outro lado, no devemos, no entanto esquecer que a criao artstica ,
muitas vezes condicionada pelas polticas culturais, cabendo enumeras vezes s
comunidades intervir e agir neste contexto.
A aldeia de Maceira enquadra-se no que acabamos de explanar, cabendo a
dinamizao de atividades artsticas aos membros da comunidade, no sentido da
criao de uma aldeia cultural com ao onde no se pretende que a arte comente a
vida, mas que participe dela!
I.2 Objeto de Estudo
A formulao de um projeto deve ser o mais precisa e concreta possvel, exige
uma conjugao harmnica de todos os passos que nos levam prossecuo do
mesmo, especificando os seus objetivos, metas, calendrio de execuo e recursos.
Podemos dizer que um projeto um avano antecipado das aes a realizar para
conseguir determinados objetivos.
A criao de um projeto comunitrio na aldeia de Maceira tem um carcter,
fundamentalmente, social e cultural, nasce como consequncia do desejo de melhorar
a realidade onde estamos inseridos. Com efeito, pretende-se que a elaborao do
mesmo siga uma orientao para a resoluo de problemas sociais, com o objetivo de
tentar satisfazer as necessidades do indivduo e, desta forma, melhorar as condies
de vida, as relaes com outros sistemas de valores, ou seja, contribuir para a
configurao da cultura de um povo, este conceito entendido por Ander-Egg ()
17
como criao de um destino pessoal e coletivo (), (Ander-Egg, 1980, p, 71). O
aumento progressivo da procura dos espaos rurais para o consumo e desempenho
de atividades de turismo e de lazer, um outro facto a ter em ateno.
Numa tentativa de dar resposta a estas questes, estabeleceram-se os
seguintes objetivos:
I.2.1 Objetivo Geral:
O projeto tem como principal objetivo criar uma Aldeia Cultura na freguesia de
Maceira, no mbito de desenvolvimento comunitrio deste territrio.
I.2.2 Objetivos Especficos:
Tendo em linha de conta o objetivo geral, podemos definir vrios objetivos
especficos:
Fomentar o desenvolvimento scio-econmico e histrico-cultural da
freguesia, bem como para a afirmao enquanto destino de turismo
cultural;
Promover e preservar o patrimnio existente, de forma a privilegiar o
turismo sustentado a partir de metodologias pedaggicas;
Proteger a natureza e os seus recursos;
Preservar, respeitar e transmitir a cultura e tradio associada freguesia
de Maceira, bem como contactar diretamente e ativamente com os seus
usos e costumes, de forma a imortalizar tradies;
Fomentar a participao estimulando o projeto de ao, numa sociedade
que deve crescer em solidariedade em comunicao inter-geracional, no
sentido da valorizar a presena do snior na comunidade restabelecendo a
identidade local.
Desenvolver Processos Artsticos, promovendo o desenvolvimento de
competncias pessoais e sociais.
Porque a criao fica sempre a cargo de algum, neste caso eu, e como eu
sou produto das minhas vivncias e experincias de vida gostaria de salientar a
importncia que a atividade profissional que exero teve na minha motivao e
sensibilizao para este projeto. Por um lado, o exercer funes num estabelecimento
de ensino, onde estou diariamente em contacto com a populao jovem e onde
verifico, ano aps ano, o decrscimo do nmero de alunos e o desenraizamento
destes ao meio. Por outro, na sequncia da minha Licenciatura desempenho o Cargo
18
de Animadora Sociocultural de um Centro de Dia onde verifico o potencial cultural da
populao-alvo, onde o fenmeno da transmisso de conhecimentos observvel no
rosto e passvel de ser sentida a necessidade latente de partilha, por sua vez sendo
situado num meio rural apuro o oposto, ou seja, o aumento do nmero de utentes.
Mas atravs de parcerias, neste caso com as autarquias, escolas e
associaes ou empresas na rea do turismo e lazer, que devemos promover as
respostas s problemticas rurais e ao sedentarismo dos jovens das escolas em
meios urbanos.
Desta forma, a freguesia de Maceira, pela sua multifuncionalidade, possuidora
de um patrimnio quer natural, quer construdo, sem esquecer o seu patrimnio
imaterial, tem as condies essenciais para a dinamizao de um projeto de carcter
social, cultural, ambiental e educativo, de revitalizao da aldeia, criando atratividades
populao existente, a novos residentes e visitantes, atravs de eventos como,
encontros Etnogrficos e outras formas de dinamizao antropolgica. Passando por
espaos museolgicos vivos, processos artsticos, oferta gastronmica tradicional,
dinmica de jogos tradicionais, participao em prticas agrcolas, descoberta da
fauna e flora, o desfrutar do lazer e bem estar, caminhadas ecolgicas, prticas
desportivas, entre outras.
Perante isto, o projeto a desenvolver, tem como principal objetivo criar
iniciativas de desenvolvimento no meio rural e deste modo valorizar numa perspetiva
inter-geracional e socialmente integrada a presena do snior na comunidade, como
reportrio vivo da memria coletiva local e garantia da identidade, separando perda de
autonomia, de inibio do direito participao na vida local, por via de processos de
animao que os englobem. Pelo que a viabilidade deste projeto passe, no s, pela
integrao da populao autctone, mas tambm, pela participao de jovens em
idade escolar a residir em meios urbanos de qualquer ponto do Pas. Ao mesmo
tempo que se pretende valorizar os saberes e prticas da populao idosa,
envolvendo-os na prpria animao, pretende-se tambm permitir aos jovens, que no
contacto com a populao e com a natureza desfrutem e aprendam as tradies do
mundo rural, pois este possuidor de uma riqueza cultural digna de ser transmissvel.
O sucesso deste projeto passa, ainda, que de forma gradual, reanimar a
economia local, tornando o projeto sustentvel, com a venda do artesanato local e
produtos do mundo rural, incluindo, servios inerentes ao TER (Turismo em Espao
Rural), que se define em termos jurdicos como o () conjunto de atividades, servios
de alojamento e animao a turistas, em empreendimentos de natureza familiar,
19
realizados e prestados () em zonas rurais (). (Decreto Lei n 54/2002) e todas
as variantes que possibilitem o desenvolvimento integrado sem adulterar este espao
to especial e genuinamente nico.
A aldeia pode adquirir a valncia de Aldeia Cultural e desta forma, transmitir
aos mais novos os saberes da cultura Beir, a Etnografia, a Antropologia, em sntese,
os usos e costumes mais genunos do meio rural, ou seja, a cultura.
pois, importante no esquecermos que necessrio salvaguardar e
revitalizar o mundo rural, combatendo o imobilismo, a desertificao, de forma a criar
uma relao perfeita entre o homem e o seu habitat, uma afirmao cultural do mundo
rural.
A necessidade de desencadear dinmicas que estimulem o desenvolvimento
sustentado, foi o principal motivo de um estudo de caso efetuado na freguesia de
Maceira, um espao rural paradigmtico do Interior de Portugal, que alberga elevado
potencial cultural, patrimonial e humano.
Por outro lado a arte parte integrante do nosso quotidiano, apresentando-se
muitas vezes como ponto de partida para questes, reflexes e projetos artsticos a
desenvolver na comunidade. Sendo a cultura parte integrante no desenvolvimento de
qualquer ser humano. A arte um modo de apreender o que nos rodeia e ajuda-nos a
desenvolver. Assim torna-se cada vez mais pertinente a incluso das artes e de toda a
dinmica artstica neste processo de divulgao e promoo de um territrio no
sentido do desenvolvimento do mesmo, bem como no processo de construo
permanente do Ser humano.
Assim, sendo o ser humano, um ser predominantemente cultural a arte revela-
se um meio importante para a adaptao ao meio, comunidade que o envolve, no
sentido da preservao e promoo do seu territrio, da sua identidade local e difusor
cultural.
Falar de cultura falar de patrimnio, pois a cultura parte integrante do
patrimnio imaterial de qualquer comunidade ou territrio, neste sentido nunca
demais lembrar que ao defendermos o patrimnio estamos a defender o progresso,
pois o patrimnio um dos principais fatores de desenvolvimento endgeno e
exgeno.
De referi que estes espaos rurais, de que exemplo vivo a freguesia de
Maceira so smbolos de qualidade de vida (despoluio, quietude, sade) e de
identidade (tradies ancestrais, usos e costumes) sendo as pessoas os verdadeiros
protagonistas destes locais.
20
Assim, a difuso cultural, a criao artstica aliada ao patrimnio contribuem
para a capacitao do local em causa para gerar e promover desenvolvimento, e
citando Delors (1998) que refere que aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender
a interagir e aprender a ser, pretende impulsionar e conduzir ao desenvolvimento de
vrias competncias inerentes comunidade.
I.3 - Metodologia
A metodologia resume-se a um conjunto de procedimentos e regras para
formar conhecimento. a maneira de se aderir ao problema a investigar, o modo
como o abordamos, articulando assim um conjunto de operaes incluindo variadas
tcnicas.
Citando Gonalves (1998, p.105): A investigao um processo, um conjunto
hierarquizado de atividades interdependentes. O que se faz em cada passo deve ter
em considerao o que j fez, o que tambm se est a fazer e o que, previsivelmente,
se far. A investigao pode ser ainda associada a uma estratgia. Trata-se de
escolher o melhor caminho (mtodo) a percorrer, numa mirade de pequenas e
grandes decises orientadas para o melhor alcance dos objetivos mediante uma
otimizao dos recursos mobilizados e disponveis.
No que concerne ao mtodo, este baseia-se na forma consistente de se
organizar a pesquisa, sendo um conjunto de princpios que orientam a escolha do
objeto de estudo, a formao dos pareceres apropriados. O mtodo permite fazer a
adaptao intelectual do objeto, ou seja, atravs do mtodo chegamos ao nvel
intelectual do objeto. O mtodo o caminho que deve seguir a nossa investigao, ou
seja, o procedimento que se utilizar Ander-Egg (2000, p.75).
Segundo Pardal e Correia (1995, p.10) o mtodo, consiste essencialmente
num conjunto de operaes, situados a diferentes nveis, que tem em vista a
consecuo de objetivos determinados, (), que torna possvel a seleo e a
articulao de tcnicas, no intuito de se poder desenvolver o processo de verificao
emprica. Por outras palavras, consiste num guia orientador do trabalho a
desenvolver.
A combinao de sentimentos de pertena, experincias profissionais com a
problemtica em causa, o fenmeno da desertificao, foram os fatores primordiais
que geraram a oportunidade de investigar, ao mesmo tempo que se elabora um
projeto de interveno que tem como objetivo contrariar a tendncia de abandono dos
21
espaos rurais. Como afirma Serrano (2004, p. 102) A investigao em animao
orienta-se para a mudana, o aperfeioamento e a transformao da realidade social
Com base no objetivo geral do presente trabalho criar uma Aldeia Cultural na
freguesia de Maceira, no mbito do desenvolvimento comunitrio deste territrio,
tornou-se inevitvel a aplicao de uma metodologia de anlise.
Este projeto de desenvolvimento comunitrio contempla a conceo de dois
itinerrios, um de mbito cultural-pedaggico e outro de mbito ambiental.
A metodologia de investigao escolhida para este projeto uma investigao
qualitativa, mais voltada para a compreenso dos fenmenos culturais, sociais,
ambientais e patrimoniais, tendo em conta a perspetiva dos participantes. Segundo
Bogdan e Biklen (1982, p. 23), Os dados (qualitativos) referem-se aos materiais em
bruto (rough materials) que os investigadores recolhem da realidade.
Trata-se, de uma investigao num territrio, ou seja, um estudo de caso pois
pretende-se compreender, explorar todo o contexto em que est inserido este
territrio, mais concretamente um territrio rural com caratersticas muito prprias que
lhe conferem uma identidade.
Em qualquer tipologia de animao artstica e sociocultural a investigao
particulariza-se pela multidisciplinaridade metodolgica que utiliza para responder
problemticas a abordar.
De acordo com Yin (1994, p. 13) que define estudo de caso com base nas
caractersticas do fenmeno em estudo e com base num conjunto de caractersticas
associadas ao processo de recolha de dados e s estratgias de anlise dos mesmos.
Ainda de acordo com a classificao do mesmo autor (Yin, 1993), trata-se um estudo
de descritivo, uma vez que se trata da anlise de um fenmeno dentro do seu
contexto.
Para Ponte (2006) estudo de caso uma investigao que se assume como
particularstica, isto , que se debrua deliberadamente sobre uma situao especfica
que se supe ser nica ou especial, pelo menos em certos aspectos, procurando
descobrir a que h nela de mais essencial e caracterstico e, desse modo, contribuir
para a compreenso global de um certo fenmeno de interesse. (Ponte, 2006, p.2)
A componente emprica deste estudo: a anlise documental, como a questo
do desenvolvimento comunitrio assume especial destaque neste estudo, foi
consultada bibliografia e documentao especfica relativa a este contedo. Mas
constituem o corpus analtico deste trabalho, alm da reviso conceptual que
22
circunscreve esta anlise, documentos como o Plano Diretor Municipal, Pr
diagnstico do Municpio de Fornos de Algodres.
Perante a lacuna cultural que se faz sentir na atualidade, a perda de
identidades dos territrios rurais, esquecidos entre montes e serras, a no valorizao
destes museus de histria ao vivo1, necessrio contrariar esta tendncia com a
implementao de um projeto de desenvolvimento comunitrio na freguesia de
Maceira.
De referir, ainda, que para a elaborao do projeto a implementar na freguesia
de Maceira procedeu-se ao levantamento do patrimnio local, quer tangvel como
intangvel e, aplicaram-se alguns pressupostos do plano estratgico e da elaborao
de uma anlise SWOT2 Base de sustentao da aplicao do projeto, identificando
atores fundamentais para o objeto de estudo, assim como estratgias de ao.
As tcnicas de investigao so comportamentos operacionais e instrumentos
para fornecer dados. A tcnica utilizada para o desenvolvimento deste projeto
constitui-se num processo de observao no participante. Tratando-se de um estudo
direcionado para as problemticas do desenvolvimento sustentado de uma regio
concreta, assente na base do patrimnio, memrias e identidades locais, ser
defendido que a implementao de uma aldeia cultural no territrio rural que a aldeia
de Maceira poder constituir-se como forma de contrariar a atual tendncia de
desertificao, j mencionada, atuando como fator de desenvolvimento social, cultural
e econmico.
Como o projeto abrange um pblico especfico, este mtodo de investigao
afigura-se como o mais adequado para aplicao da tcnica de investigao - a
observao no participante, que e de acordo com Quivy aquela em que o
investigador procede diretamente recolha das informaes, no entanto no h
interveno dos sujeitos observados.
Isto , o observador no est diretamente envolvido na situao a observar,
no interage nem afeta de modo intencional o objeto de observao e os sujeitos no
sabem que esto e ser observados, pois o investigador observa do exterior (Quivy,
2003).
1So poucos os exemplos de territrios rurais direcionados para aldeia cultural-pedaggica, so
conhecidos no pas: A Aldeia Pedaggica est em Portela, no distrito de Bragana. - Aldeia Pedaggica do Museu do Milho - Aboim - Aldeia Pedaggica da Montanha e do Centeio 2 SWOT significa Stregth: foras ou pontos fortes, Weaknessess: fraquezas ou pontos fracos,
Opportunities: oportunidades e Threats: ameaas.
23
De acordo com Quivy a observao uma etapa intermdia entre a
construo dos conceitos e das hipteses e o exame dos dados utilizados para as
testar (Quivy e tal. 1998, p. 163), pois segundo Mximo-Esteves esta permite o
conhecimento directo dos fenmenos tal como eles acontecem num determinado
contexto (Mximo-Esteves 2008, p. 87) e isto conseguido atravs de uma
observao atenta e reflexiva, ou seja, um olhar rotineiro no o suficiente para
entendermos a realidade. A observao tem a vantagem de permitir que se veja o que
as pessoas realmente fazem e no o que dizem fazer; esta tcnica possibilita que se
chegue mais perto da perspetiva dos indivduos. a apreenso dos comportamentos
e acontecimentos no prprio momento em que se produzem. A recolha de material, de
informao espontnea, existe autenticidade dos dados.
Pelo acima exposto a metodologia a utilizada qualitativa, atravs o mtodo de
estudo de caso e a tcnica observao no participante, o que em termos de etapas
do projeto poder ser traduzido da seguinte forma:
Figura 1 - Plano de Investigao Metodolgica
Fonte: Elaborao prpria
I.4 - Destinatrios
Este projeto de animao, pretende, como j foi dito anteriormente, integrar a
populao de Maceira (numa participao voluntria), seniores, crianas e jovens (a
frequentarem escolas em meios urbanos ou de outras aldeias). No entanto, e ainda
Investigao
constante, coerente e consciente da teoria (problemtica)
Estudo de Caso
Reviso da Literatura -Pesquisa Bibliogrfica
Projeto de Desenvolvimento Comunitrio
Maceira uma Aldeia Cultural
Anlise SWOT
24
que no previstos no projeto, uma vez que este se dirige institucionalmente escolas e
prpria populao, o presente projeto est recetivo a receber qualquer visitante que
pretenda integrar esta iniciativa. Visto que nos encontrarmos perante dois coletivos
que apresentam caractersticas muito especificas convm salientar a importncia de
ambos numa perspetiva individual e na sua relao de interao.
Uma das funes chave da Animao consiste, precisamente, no facto de as
pessoas e os coletivos se transformarem em agentes e protagonistas do seu prprio
desenvolvimento e um dos factos que particularmente interessa nos processos de
animao gerar processos de participao, criando, desta forma, espaos e
dinmicas que proporcionem a comunicao dos grupos e das pessoas, tendo em
vista estimular os diferentes coletivos a empreenderem o desenvolvimento social
(resposta s suas necessidades num espao, tempo e em situaes determinadas) e
cultural (construindo a sua prpria identidade coletiva, criando e participando nos
diferentes projetos e atividades culturais).
Maceira possuidora de inmeros recursos patrimoniais, mas para valorizar
esse mesmo patrimnio necessrio e imprescindvel recorrer a uma ferramenta
denominada comunicao3 que serve para sensibilizar os vrios grupos sociais,
tornando-se um processo essencial de toda a atividade humana, tendo um papel
importante no desenvolvimento da personalidade. Serve ainda de meio de
aproximao entre povos e culturas, criando um suporte educativo que tem como base
potenciar e aumentar o sentido de pertena de um lugar.
I.4.1 - O Papel dos seniores no meio rural
Nos ltimos anos temos assistido a um processo acelerado de transformao e
mudana em Portugal, com efeitos sobre a sociedade e as populaes.
Um destes efeitos o agravamento dos desequilbrios de desenvolvimento
regional e local, com fenmenos como a desertificao do espao rural e a
concentrao da populao nas reas urbanas, com todos os problemas de
desemprego, segurana e ambiente que comportam. Reconhece-se, claramente, que
3 Considerando que comunicao, segundo Simes, B o processo psicolgico pelo qual se realiza a transmisso interpessoal de ideias, sentimentos e atitudes que possibilitam e garantem a dinmica grupal e a dinmica social. A comunicao poder por isso mesmo, ser verbal ou no verbal. A comunicao verbal realiza-se por intermdio da linguagem que, graas sua estrutura simblica, permite aos elementos de um grupo a comparticipao nas experincias actuais ou tradicionais desse grupo. (Simes, B., s.d., p. 1172)
25
o desenvolvimento futuro no mundo rural passa pela necessidade de dar mais nfase
dimenso humana, portadora de grande sabedoria, cultura e tradies ancestrais.
J foram encetadas vrias aes e diligncia destinadas s pessoas idosas no
sentido da valorizao da dimenso humana, mas no entanto, e de acordo com o
Programa Nacional para a Sade das Pessoas Idosas (2004, p. 11) no existe, ainda,
uma estratgia nacional, regional e local, verdadeiramente consolidada, que promova
o envolvimento das vrias medidas numa perspetiva integrada, ao longo da vida, para
um envelhecimento ativo.
Da que o isolamento da pessoa idosa uma realidade da nossa sociedade,
sendo o mesmo a causa de inmeras formas de excluso social de que so alvo uma
grande parte de pessoas idosas, dificultando, desta forma, o desenvolvimento de uma
sociedade onde o envelhecimento possa ser vivido com maior qualidade de vida
(Fernandes, H.J., 2007)
Um dos princpios das Naes Unidas diz respeito terceira idade, defendendo
que estas devem ter direito independncia, participao, auto realizao e
dignidade, perante a sociedade (ONU, 2002). Observa, ainda, princpios de que o
envelhecimento ocorre ao longo de toda a vida, de que as pessoas idosas so um
grupo heterogneo e que a diversidade individual, se acentua com a idade, deve ser
respeitada, assim como preservada a sua intimidade.
de salientar, ainda, que necessrio valorizar a ideia da pessoa idosa como
algum que no produz e cuja senilidade faz parte da tradio arcaica pelo contrrio
ela repositrio de uma grande sabedoria, um patrimnio vivencial que pode em muito
ajudar os mais novos, constitudo para a preservao da nossa cultura,
nomeadamente da tradio oral como contos, lendas antigas, provrbios, medicina
tradicional, jogos tradicionais. Tal como nos diz J. Trilla () Animao para que os
habitantes de um dado territrio se envolvam na resoluo dos problemas dessas
zonas, cuidem do seu territrio, protejam o patrimnio, intervenham nas decises
relativas a esse espao e, sobretudo, sejam cidados activos para uma melhor
qualidade de vida nas zonas onde vivem () (Trilla, J. 1994, p. 54).
Pelo que qualquer projeto de desenvolvimento, mais precisamente no mundo
rural, aliado a todo o patrimnio envolvente, impensvel, e jamais ter qualquer
sucesso se o mesmo no for desenvolvido com o intuito de preservao da memria
atravs da valorizao do legado histrico com a participao dos atores locais.
As questes da presena humana encerram, em si mesmo, uma importncia
relevante nos territrios rurais.
26
I.4.2 - O papel dos jovens no meio rural
Como se sabe, os jovens de hoje, essencialmente os que vivem em meios
urbanos, so de certa maneira, desconhecedores das formas de vida no meio rural.
H no entanto, uma crescente preocupao no que respeita ao desinteresse por parte
destes jovens e crianas relativamente s tradies, aos modos de vida, ao
quotidianas e essencialmente no que respeita mais antiga atividade de subsistncia,
a atividade agrcola.
A escola acaba tambm por ser um entrave a esta aprendizagem. O facto de
ter uma forma de ensino, to formal e to convencional, acaba por criar mtodos de
aprendizagem que pouco potenciam as tcnicas e os saberes dos alunos na sua
prpria experincia fora da escola.
Promover, criar dinmicas de trabalho dentro e fora da sala de aula que
desenvolvam projetos de investigao e trabalhos de campo, utilizando metodologias
ativas de aprendizagem, esto amplamente desenvolvidas em vrios pases nrdicos,
no entanto, s agora comeam a estar em voga em Portugal. Apesar de a Educao
Ambiental estar contemplada no nosso sistema de ensino, quer na Constituio da
Repblica Portuguesa, artigo 66- Ambiente e Qualidade de Vida, quer na Lei de
Bases do Sistema Educativo no art 5 e 7 e no Decreto Lei n 6 e 7 de Janeiro de
2001, existem ainda muitas falhas na promoo deste sistema de ensino. No entanto,
existem j alguns professores, entre eles, Cameira Serra, que comeam agora a
potenciar atividades de trabalho e prticas ldicas nos territrios rurais que nos
cercam, segundo Serra (2001), () inegvel interesse antropolgico e histrico e
ainda de reconhecido valor pedaggico Serra (2001, p.23).
inegvel que os jovens de hoje tm modos de vida algo extenuantes e ao
mesmo tempo sedentrios, mas estes mesmos jovens so pessoas visivelmente
abertas a novas experincias.
O estmulo por parte dos educadores sem dvida um fator importante para
que estes jovens, possam tambm eles participar mais ativamente no processo de
desenvolvimento do meio rural. Atendendo ao exposto autores como Cavaco (1995)
salientam que: () se predominam, ainda, nas nossas escolas modelos pedaggicos
e prticas dominantemente transmissivos, tambm verdade que um pouco por todo
o lado encontramos grupos de professores que sabem aproveitar os seus espaos de
liberdade diversificando e enriquecendo as situaes de aprendizagem alargando
criativamente o espao escolar, implicando os alunos em projectos com sentido()
(Cavaco, 1995, p. 127).
27
A cultura destes lugares precisa de seguidores, de jovens que atravs da
interao com a populao autctone aprenda e valorize no presente o sentido do
passado, para transmitir no futuro. preciso dar nimo a estes lugares e manter acesa
a chama da alegria e da vida.
As relaes inter-geracionais neste projeto tm como objetivo fundamental
reforar os laos da solidariedade entre as geraes, preservando deste modo a
cultura local, laos de afetividade e de identidade bem como os valores do passado. A
relao que se estabelece entre seniores e crianas, participantes de atividades, em
espaos rurais deve ser entendido como um enriquecimento.
O relacionamento inter-geracional um caminho para a preservao da
cultura, compreendendo-se esta como a troca de significados e a preservao de
smbolos, necessrios sobrevivncia humana.
possvel compreender o significado da relao que se estabelece entre o
snior e a criana por intermdio das memrias individuais e coletivas, mediadas pela
sociabilidade, constituindo-se em processo educativo mtuo, em sentido amplo.
Desta forma, podemos concluir que os valores relacionados com o contacto
entre seniores e crianas remetem a questes cruciais, tais como: a pertinncia do
respeito sabedoria preservada pelos seniores e construo do dilogo com as
novas geraes. Para Rojas (1999): () O relato oral o mais antigo registo de
informao e conservao do saber. (...) A transmisso do saber implica,
necessariamente, a existncia de um narrador e de um pblico ouvinte (Rojas, 1999,
p. 89).
Os seniores sentem prazer no contato que estabelecem com os jovens, no
dilogo e na realizao atividades de interao com as crianas e jovens, sendo desta
forma de elevada importncia a possibilidade de criar situaes e espaos que
possibilitem a interao entre geraes. Existindo, no entanto, trabalho a fazer
relativamente a recetividade dos mais jovens. As escolas tm, neste sentido, um papel
de destaque que pressupe um investimento em termos educativos e de socializao
promovendo a ligao entre a escola e a comunidade para fomentar a mudana de
atitudes.
A sustentabilidade de projetos desta importncia s possvel se todos os
intervenientes estiverem mentalizados para a importncia das consequncias e dos
benefcios que da possam advir.
28
CAPTULO II ENQUADRAMENTO TERICO CONCEPTUAL
Tratando-se de um trabalho cientifico-pedaggico assume-se indispensvel a
investigao de conceitos tericos, essencial a realizao da reviso da literatura
existente sobre os conceitos gravitacionais problemtica em estudo, nomeadamente
comunidade, desenvolvimento comunitrio, cultura, identidade, memria, patrimnio,
territrios rurais, turismo e animao artstica.
Desta forma neste Captulo abordam-se os vrios termos com o intuito de
situar e de obter justificao para as afirmaes e ainda para orientar os leitores
delimitando o mbito conceptual.
De referir que por se tratar de uma problemtica scio-cultural os conceitos
prestam-se a interpretaes diversas pelo que esta reviso no intensiva
propositadamente, mas antes pretende definir as linhas orientadoras do estado da
arte.
II.1 Comunidade
O poeta Ingls John Donne (1624), em pleno Renascimento, refere nos seus
poemas que nenhum homem uma ilha, completo em si prprio; cada ser humano
uma parte do continente, uma parte de um todo, o que leva a concluir que j nesta
poca existia a perceo de que o ser humano no consegue viver isolado, faz parte
de um todo, de uma comunidade.
Seguindo o que Fragoso prope o conceito de comunidade continua a ser
ambguo, muito pela quantidade de definies utilizadas para a definir. com
frequncia que encontramos este termo aplicado para designar pequenos agregados
rurais - aldeias, freguesias, ou urbanos - quarteires, bairros, mas tambm grupos
profissionais - comunidade mdica, comunidade cientfica, a organizaes, como a
comunidade escolar, ou sistemas mais complexos como pases - comunidade
nacional, ou mesmo o mundo visto como um todo - comunidade internacional ou
mundial.
Para Ander-Egg comunidade um agrupamento organizado de pessoas que
se entendem como unidade social, cujos membros participam de alguma
caracterstica, interesse, elemento, objetivo ou funo comum, com uma conscincia
de pertena, situadas numa determinada rea geogrfica na qual a pluralidade das
pessoas interage mais intensamente entre si que noutro contexto (Ander-Egg 1982,
29
cit. por Fragoso, 2005, p. 25). Esta definio refere elementos frequentes na definio
de comunidade, como o lugar geogrfico e unidade social, que existem em funo de
vrios fatores, nomeadamente os objetivos comuns e o sentimento de pertena.
J Kershaw (1992) refere que toda comunidade idntica no que diz respeito
s diferenas internas que acolhe e ao papel de mediao que assume entre o
indivduo e a sociedade. Neste sentido, qualquer comunidade teria a funo estrutural
e ideolgica, de mediar os indivduos e a sociedade em geral.
O mesmo autor (1992) define ainda dois tipos de comunidade: - uma
comunidade constituda por uma rede de relacionamentos formados por interaes
face a face, numa rea demarcada geograficamente, a que chama comunidade local;
e uma outra comunidade que formada por uma rede de associaes que so
predominantemente caracterizadas pela sua responsabilidade em relao a um
interesse comum, a que chama, comunidade de interesse.
Podemos referir que a comunidade no se define apenas em termos de
localidade. a entidade qual as pessoas pertencem, maior que as relaes de
parentesco, mas mais imediata do que a abstrao a que chamamos "sociedade". a
arena onde as pessoas adquirem as suas experincias mais fundamentais e
substanciais da vida social, fora dos limites do lar (Cohen, 1985, p. 15).
A comunidade o nervo central para a sustentabilidade da construo de
alternativas de desenvolvimento dos territrios, capaz de gerar sinergias criativas
localizadas no envolvimento das populaes.
Segundo Habermas, Tourine e Bauman Se tem que existir uma comunidade
no mundo dos indivduos, esta s pode ser ( e tem que ser) uma comunidade tecida
de partilha e preocupao mtua, uma comunidade preocupada e responsvel pelo
direito igual de se ser humano e pela capacidade igual de agir de acordo com esse
direito (Tourine e Bauman citadodo por Delanty, G. in Kuppers, P. and Gwen, R.
2007, p. 31).
Na generalidade podemos dizer que comunidade implica ter algo em comum,
podendo esse algo, serem pessoas, um local, um interesse. Nesta conjuntura,
podemos referir que a comunidade parte integrante de um todo e que a sua
participao ativa contribui para o bem comum.
30
II.2 Desenvolvimento Local / Comunitrio
O desenvolvimento local um processo de transformao da realidade
sustentado na capacitao das pessoas para o exerccio de uma cidadania ativa e
transformadora da vida individual e em comunidade. de capital importncia que os
grupos no sejam meros utentes de servios, mas, atores e autores das prticas de
desenvolvimento local.
Este modelo de desenvolvimento caracteriza-se por um processo de melhoria
das condies culturais, econmicas, educativas e sociais das populaes atravs de
iniciativas de base comunitria, de valorizao dos recursos humanos e materiais em
ligao privilegiada com as populaes locais e as instituies do territrio em zonas
rurais ou urbanas, no litoral ou interior.
() o Desenvolvimento deve ser um processo integrado, envolvendo as
dimenses econmica, social, cultural, ambiental e poltica, privilegiando para essa
integrao o trabalho a nvel local, em meios desfavorecidos, atuao que no se
esgota na componente econmica do Desenvolvimento, incluindo tambm com
destaque a educao para a auto-estima, a cidadania ativa e a valorizao da cultura
local (Viveiros, A. L. N., 2008, p. 2)
Ainda segundo o mesmo autor, falar em desenvolvimento4 local implica refletir
sobre o desenvolvimento comunitrio ou desenvolvimento da comunidade. Os
modelos e princpios metodolgicos subjacentes aos conceitos de desenvolvimento
so anlogos na sua ao de base comunitria.
A forma consensual de definio de desenvolvimento comunitrio passa
invariavelmente por duas fases: comea-se a definir o que comunidade e por uma
espcie de acrescento, um passo num degrau qualitativo, chegamos ao
desenvolvimento da comunidade. (Fragoso, 2005, p. 24).
Rudolf Rezsohazy (1988, p.18) afirma que, () o Desarrollo Comunitrio es
una accion coordinada y sistemtica que, en resposta a las necesidades o a la
demanda social, trata organizar el progreso global de una comunidad territorial de una
poblacin-objectivo, com la participacin de los interesados.
O desenvolvimento comunitrio o esforo para melhorar as condies de vida
daqueles que habitam um local (a comunidade e o seu espao geogrfico e cultural)
tomando em linha de conta a especificidade desse local. Procura o desenvolvimento
4 Baseando-nos no que nos indica o dicionrio de Lngua Portuguesa, desenvolvimento implica movimento, movimento para a frente, uma dinmica que ajuda a progredir, implica avano.
31
equilibrado e integrado de uma comunidade, com o mximo respeito pelos seus
valores prprios e procurando tirar partido da sua riqueza histrica.
O desenvolvimento comunitrio, enquanto ao concertada que produz a
tomada de conscincia acerca das potencialidades locais, promove,
consequentemente, iniciativas geradoras de riqueza e de emprego que correspondem
a um plano local de desenvolvimento integrado, neste sentido podemos referir que
acima de tudo, a concertao de estratgias e metodologias de ao que pretendem
alterar, para melhor o contexto e o nvel de vida das pessoas duma comunidade.
Silva (1964) refere que devemos s Naes Unidas a seguinte definio: O
desenvolvimento comunitrio uma tcnica pela qual os habitantes de um pas ou
regio unem os seus esforos aos dos poderes pblicos com o fim de melhorarem a
situao econmica, social, e cultural das suas coletividades, de associarem essas
coletividades vida da nao e de lhes permitir que contribuam sem reserva para os
progressos do pas (Silva, 1964, p. 506).
Para esta autora, o desenvolvimento comunitrio, parte das necessidades
sentidas pela populao e sobre elas constri o plano de ao contando, desde o
comeo, com a iniciativa, a responsabilidade e liberdade de escolha por partes dos
interessados.
Todo o desenvolvimento comunitrio tem por objetivo proporcionar aos
intervenientes, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, que visa mudanas nas
estruturas polticas, econmicas, sociais, educativas e culturais.
No fundo estamos a operar transformaes substanciais no modo de vida dos
povos e a preparar uma mentalidade nova favorvel ao progresso, capaz de o
assimilar e apta cooperao, sem esquecer as origens, o passado.
Nunes Viveiro (2008) vai ao encontro das ideias de Silva, quando afirma que o
desenvolvimento comunitrio um desafio permanente, espao de construo de uma
cidadania ativa e fundamento da democracia participativa. A comunidade o nervo
central da sustentabilidade da construo de alternativas de desenvolvimento dos
territrios, capaz de gerar sinergias criativas localizadas no envolvimento das
populaes (Viveiros, A. L. N., 2008, p. 4)
O desafio do desenvolvimento comunitrio reside no axioma pensar global,
agir local, ou seja, baseando-nos na realidade social existente que devem procurar
solues participadas, integradoras e valorizadoras das gentes e dos recursos. (Nunes
Viveiro, 2008)
32
E um desafio permanente, espao de construo de uma cidadania ativa e
fundamento da democracia participativa. O desenvolvimento de iniciativas no sentido
da capacidade produtiva e bem-estar da comunidade; bem como outras direcionadas
para a dinamizao num mbito mais social e cultural.
II.3 Cultura, Identidade e Memria
A sociedade tem sido, ao longo dos tempos, testemunha de muitas mutaes,
sendo os conceitos de patrimnio, patrimnio cultural e identidade exemplos das
mesmas. O patrimnio entendido como representao e afirmao de uma
determinada identidade consolidou-se com a Nova Histria, aps a Segunda Guerra
Mundial, altura em que a compreenso do papel do indivduo na sociedade se altera
(Stefanello, L. Z., e Padoin, M. M. s/d)
O patrimnio, constitudo por ideias e por objetos com os quais as sociedades
afirmam as suas diferenas perante os outros, hoje fundamental na celebrao da
memria e na construo/reconstruo das identidades. Mas, se verdade que os
conceitos de cultura e identidade so olissmicos, a verdade que s vezes se
tornam muito pouco operatrios, na medida em que se basifica, tantas vezes, o seu
uso, mesmo entre a comunidade dita letrada e intelectual. Identidade e cultura, na
boca de tantos sujeitos, so tudo e so quase nada.
.
II.3.1 - Cultura
Vamos agora refeltir sobre o conceito de cultura um determinado conjunto
de modelos de comportamentos, de usos e costumes, de instrumentos e objectos,
usados por uma populao, geralmente confinada num espao geogrfico definido
(Ferreira, J. M., 1983, p. 23).
Assim entendida, cultura uma realidade precisa e concreta, isto , diz sempre
respeito a uma populao assinalada por caractersticas peculiares, que a distinguem
doutras populaes. Se falarmos de cultura portuguesa queremos referir um conjunto
de elementos que caracteriza os portugueses, poderamos at dizer que cultura
portuguesa aquilo que faz com os portugueses sejam portugueses. Hoje diz-se
frequentemente que a cultura dum povo aquilo que constitui a sua identidade.
Essa identidade, a cultura que a define, como refere o mesmo autor no
fruto dum projecto racional, elaborado maneira como se pode projectar e realizar, de
raiz, uma fbrica, um complexo industrial, uma urbanizao (idem).
33
Uma cultura o resultado dum processo histrico (homem - outros homens,
homem ambiente), longo e lento, de acordo com condicionalismos de vria ordem:
geofsicos, econmicos, delimitaes de espaos e fronteiras, tecnologias, produes,
valores, etc (idem). Nesse processo vo-se integrando, afeioando, compondo, os
vrios elementos at constituirem um todo coerente.
Ao referirmos que uma cultura um todo relativamente corente, devemos dizer
o seguinte:
por um lado os seus elementos tm relaes mtuas e se explicam e
completam uns aos outros, isto , os monumentos com os seus estilos,
romnico, gtico, etc., tm a ver com o universo em que se inserem, com
os costumes e aspiraes das terras e gentes contempotneas, com os
seus modos de pensar e sentir, de trabalhar e comunicar.
por outro lado a coerncia interna da cultura como um todo apenas
relativa: no fixa nem imvel. Cultura realidade dinmica: um povo
em movimento, em evoluo, nessa evoluo os elementos integrantes
vo-se alterando: uns perdem significado e funes, outros aparecem e
afirmam-se.
A cultura tem por principal objetivo identificar o modo como em diferentes
lugares e momentos uma determinada realidade social construda e pensada
(Ribeiro, 1998):
Cultura inanimada, que no envolve diretamente a atividade humana (ex:
edifcios histricos);
Cultura refletida na vida quotidiana, que constitui motivao habitual do
indivduo que pretende observar as atividades habituais de lazer, sociais e
econmicas dos habitantes;
Cultura especialmente animada, que pode envolver acontecimentos
especiais (ex: festivais de msica).
II.3.2 - Identidade
Considerando que hoje identidade um termo comum, vulgarmente invocado,
mas raramente definido no plano conceptual.
Etimologicamente, o termo provm do Iatim, cujo sentido semntico, pela
significao conjugada que contm, apresenta-se polissmico, complexo, contraditrio
e paradoxal, praticamente em oposio entre a semelhana e a diferenciao. O
prefixo idem com entis remete para idntico a si prprio, semelhante; e identem com
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o sufixo dade, remete para qualidade do que nico, prprio, singular. Identidade
significa portanto que cada um se define por caractersticas comuns a todos aqueles
que so semelhantes a si e por modos de ser e caracteristicas prprias que permitem
distingui-lo de todos os outros.
O mesmo sentido paradoxal reconhece-se tambm em outros termos com um
signifcado prximo de identidade, tal como pessoa, que se refere a qualquer ser
humano e a nenhum outro e o termo indivduo, considerado ao mesmo tempo exemplo
de uma srie que possui traos comuns de membros da mesma espcie e a um corpo
indivisvel, nico, sem outro igual a si mesmo. (Ribeiro, s/d, cit. por Lipiansky, 1992),
refere que se torna mesmo necessrio que o paradoxo no se resolva, o que poderia
assinalar a perda de identidade.
A construo da identidade na sociedade contenpornea vincula-se a interao
do sujeito com o meio social no qual est inserido, o que permite que este se localize
socialmente.
Os investigadores como Josep Ballart (1997; 2001); Jos Amado Mendes (1
999), Elsa Silva (2000) ou Joo Ramos (2002) contribuem significativamente para a
compreenso das relaes que se podem estabelecer entre patrimnio e identidade,
na medida em que referem que o conceito de patrimnio s tem sentido quando os
indivduos se identificam com os objectos que o compem. Neste sentido, estes
objectos patrimonializados so aproprados pelo grupo, no sentido de tornar visvel o
seu sentimento colectivo de pertena. Eles constituem, portanto, os elementos sob os
quais se funda a identidade de um grupo e o diferencia dos demas.
Claude Cluzeau refere-se ao patrimnio como tudo o que merece ser
conservado ou, mais precisamente, como os componentes materiais e imateriais de
identidade de toda a sociedade humana constitutivos da sua identidade (Cluzeau,
1998, p. 41).
A questo da identidade passa por uma elaborao permanente, no esttica,
nem correspondendo a uma viso conservadora e nostlgica. O patrimnio edificado
um elemento de referncia na construo da identidade. A partir dele, como referncia
simblica essencial, devemos poder ler o fluir da histria, o passado, o presente e o
futuro em construo.
Ora aqui importa referir o termo identidade cultural que segundo a conferncia
Mundial sobre as Polticas Culturais (UNESCO, Mxico, 1982) a Identidade cultural
parece propor-se hoje como um dos principais motores da histria: no se trata nem
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de um patrimnio fossilizado nem de simples reportrio de tradies, mas de uma
dinmica interna, do processo de criao permanente de uma sociedade.
Assim, a identidade cultural representa a memria, a conscincia coletiva de
um grupo, a respeito dos quais cada um extrai, espontaneamente, determinados
comportamentos e atitudes que todos consideram significativos.5
A Identidade Cultural de uma sociedade: pode ser captada, tanto do exterior
como do interior da mesma, atravs da histria, dos seus costumes, da sua produo
literria e artstica, da sua msica, dos seus monumentos, das suas tradies orais.
Alm destas manifestaes tangveis, a identidade cultural o sentimento que
experimentado pelos membros de uma coletividade que se reconhecem nessa cultura.
II.3.3 - Memnia
dificuldade na definio do objeto patrimonial, a qual advm das
interferncias entre memria e histria, soma-se a complicao trazida pela crescente
valorizao e progressivo alargamento do conceito de patrimnio cultural, que fazem
da conservao um dogma e um culto do nosso tempo.
Culto este, que se iniciou com o Renascimento italiano, quando surgiu um novo
valor de rememorao e os objetos da antiguidade (mas tambm as curiosidades)
comeou a ser apreciado pelo valor artstico e histrico, e quando surgiram um pouco
por toda a Europa os tesouros de prncipes e magnatas, geralmente pequenos
palcios especiais, onde se acumulavam preciosidades e raridades.
O homem descobrira-se a si prprio, deslumbrado pela riqueza da sua
natureza e pela variedade das suas virtualidades, e o ecletismo dessas primeiras
colees traduziu, de certo modo, a prpria diversidade das possibilidades humanas.
Este culto ganhou, no obstante, muitas e novas dimenses, mas o que o
alimentou j no a hipertrofia da histria, mas a hipertrofia da memria. De facto, a
memria tornou-se uma obsesso cultural de enormes propores e tornou-se uma
chave fundamental para compreendermos a sensibilidade do nosso tempo.
5 Vallbona e Costa (2003, p.11) identidade cultural um Sistema de contedos, crenas, de ideias e pensamentos, de valores, de normas, de conhecimentos, de intenes, de desejos explcitos e conscientes, de emoes e paixes, de iluses e motivos inconscientes presentes numa dada comunidade (local, regional ou nacional) e num momento histrico determinado. Ander-Egg (1999) Toda a identidade cultural como distintivo pessoal, grupal ou nacional configura-se a partir de cinco factores principais que constituem o ncleo vivente de uma cultura Ander-Egg (1999, p. 66) Vieira (2005) A identidade no igual nem a cultura material nem a cultura imaterial. A identidade serve-se da cultura para marcar a diferena; para distinguir os de aqui dos de fora, os que classificamos como outros [...] (Vieira, 2005, p. 28).
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Esta febre mnemnica fez da poca em que vivemos a era das
comemoraes, como afirmou Pierre Nora (1984). O que est em jogo, assim, na
questo da memria, a negociao do passado, o uso (cultural, poltico, ideolgico)
do passado no presente, o privilgio das representaes relativamente aos factos e s
prticas.
O investimento que a sociedade local faz no que define como seu patrimnio,
sendo substancial, demonstra como aquele se tomou basilar na definio da
identidade local, regional, nacional, e, mais recentemente, global. Neste sentido, o
patrimnio encerrado ou no, remete-nos automaticamente para a questo da
memria, e esta a ncora que d substncia ao sentimento subjectivo de pertena. A
memria do passado permite o presente e projecta o futuro da sociedade local. Assim,
o patrimnio tomou-se, ao longo de uma modernidade caracterizada pelo efmero,
pela produo e destruio acelerada de bens de consumo (cf. Casal, 1999), num
veculo de transmisso, conservao e reproduo da memria social, a qual , como
refere Paul Connerton (1993), fundamental para Iegitimar a ordem social presente.
Neste sentido, por intermdio dos artefactos, podemos observar como uma
comunidade constri e reconstri a sua memria cultural (cf. Branco e Oliveira, 1993;
Branco, 2003).
Da que existam inumeros estudos que procuram compreender os lugares
como meios de acesso a uma memria, que no memria, histria, porque est
reconstituda atravs de vestgios. Essa memria no mais construda na
comunidade, mas para a comunidade pela histria, para que esta possa encontrar
nela, elementos que legitimem a sua aco poltica no presente (Arevalo, 2007).
Devido importncia da preservao da memria, da necessidade de
reconstituio de si mesma, encarada como algo do passado para o presente e por
isso preservar vestgios. Nesse ponto, observamos a importncia que adquire o
patrimnio como materializao de uma identidade, que , acima de tudo, imaterial,
pois deve estar constituda na memria das pessoas.
II.4 Patrimnio, territrios rurais e turismo
II.4.1 Patrimnio e territrios rurais
O conceito de patrimnio tem tido, ao longo dos tempos, vrios significados.
Comeou por estar ligado sua origem etimolgica do(do romano patrimonium) e dizia
respeito apenas herana material e sua transmisso legal de gerao em gerao
37
(Carvalho, 2005). O patrimnio no s aquilo que herdamos, mas tambm aquilo
que determinada gerao pretende deixar no futuro.
Podemos dizer que o patrimnio a herana do passado, com que vivemos
hoje, e que passamos s geraes vindouras.
Como escreve Yves Champetir (1998), () quer seja natural ou cultural,
paisagstico ou arquitectnico, histrico ou artstico, o rico patrimnio dos territrios
rurais europeus representa efectivamente, um recurso a valorizar e a colocar ao
servio de um novo desenvolvimento (Yves Champetir (1998, p.47).
Se, tomando letra a expresso habitual nos meios de comunicao social e
na opinio pblica, o passado uma reinterpretao para o presente, ou dito de outra
maneira, segundo Micoud (1995, p.65), () as sociedades modernas reinterpretam a
tradio (), o sentido de ambas as expresses conduz-nos ao reconhecimento de
que, por exemplo, as regies e as comunidades rurais, aparentemente inertes, so na
realidade sistemas em equilbrio, complexos mas tambm instveis.
Os significados de patrimnio rural so variados e assumem diferentes
modalidades. Porm, tende a prevalecer uma ideia base: a de que o mesmo
patrimnio rural tende a ser equacionado, cada vez mais, enquanto varivel
importante, seno mesmo determinante em alguns espaos rurais, sobretudo no
mbito de processos de revitalizao econmica e social.
Para falar de patrimnio rural temos que referir que este um importante
repositrio da cultura material e imaterial do interior do Pas. Trata-se normalmente de
patrimnio no monumental, relacionado com o trabalho pr-industrial e com os
valores das sociedades tradicionais, por isso a sua identificao e interpretao
complexa dado o sincretismo nas realizaes populares entre forma, funo,
mentalidade e imaginrio.
Alm de ser imperativo o seu conhecimento e inventariao, este patrimnio
constitui um valor incontornvel de qualificao dos territrios e de afirmao de
identidades, possuindo um aprecivel potencial diferenciador e aumentando a
atractividade e competitividade regional. pois cada vez mais um desafio a sua
integrao adequada nos instrumentos de planeamento local e regional e nas
consequentes polticas de desenvolvimento.
A necessidade de defender o patrimnio6 legado por geraes dos pequenos
aglomerados rurais de construes despojadas e frgeis de cariz simplista mas
6 Segundo, Yves Champetier (1998, p.65), () para certos territrios o patrimnio constitui o recurso em torno do qual
podero articular-se a estratgia de(re)desenvolvimento e a vontade de forjar uma nova identidade local ().
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extremamente eficaz no que se refere a singularidade, originalidade e genuinidade,
como na forma criativa de gerar formas e volumes definindo espaos nicos, que
podemos denominar por arquitetura feita pelos no arquitetos.
A freguesia de Maceira possui todo um variadssimo patrimnio, quer
construdo, natural e mesmo, se no o mais importante, recursos humanos, em
quantidade e qualidade para se tornar possvel uma reinveno, ou seja, dar vida
quilo que se julga estar num estado adormecido.
Maceira , sem dvida, uma aldeia detentora de um vasto patrimnio,
potenciador de inmeras aes de carcter ldico-pedaggica integradas tambmno
mbito do patrimnio rural que pode ser potencializado atravs da animao. no
mbito da Animao
II.4.2 Patrimnio Cultural
Ao longo dos tempos, tm sido vrios os conceitos para definir patrimnio
cultural, sendo que alguns conceitos sero mais amplos que outros, e at mais
complexos comparativamente a outros.
A proposta de definio de Pierre-Laurent Frier diz que o patrimnio um: ...
conjunto de marcas ou vestgios da actividade humana que uma dada comunidade
considera essenciais para a sua identidade e memria colectivas, a preservar e
transmitir s geraes vindouras. (Frier, 1997, p.23).
Por outro lado o Instituto Internacional para a Unificao do Direito Privado
(UNIDROIT) define o patrimnio cultural como: ... os bens que, por motivos religiosos
ou profanos possuem importante valor arqueolgico, pr-histrico, literrio, artstico ou
cientfico e que integram uma das categorias enumeradas em anexo presente
Conveno. (Conveno UNIDROIT, 1995, Art. 2)
Ora, esta definio aparentemente bastante rgida, inflexvel e limitada
quanto abrangncia daquilo que se poder considerar como patrimnio cultural, no
obstante, a Conveno para a Salvaguarda do Patrimnio Cultural Imaterial da
UNESCO, em 2003, propem uma viso bastante mais ampla desta noo admitindo
a existncia de patrimnio cultural imaterial7
7 (...) prticas, representaes, expresses, conhecimentos e aptides bem como os instrumentos, objectos, artefactos e espaos culturais que lhes esto associados que as comunidades, os grupos e, sendo o caso, os indivduos reconhecem como fazendo parte integrante do seu patrimnio cultural. Esse patrimnio cultural imaterial, transmitido de gerao em gerao, constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funo do seu meio, da sua interaco com a natureza e da sua histria, incutindo-lhes um sentimento de identidade e de continuidade, contribuindo, desse modo, para a promoo do respeito pela diversidade cultural e pela criatividade humana. (Conveno para a Salvaguarda do Patrimnio Cultural Imaterial, 2003, Art. 2, n. 1)
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Deste modo, a partir desta noo de patrimnio cultural, pode entender-se que
todos os bens (a nvel histrico, arqueolgico, arquitetnico e lingustico), sejam eles
herdados ou criados, so testemunhas civilizacionais e, por isso, so portadores de
interesse cultural.
A perceo que as sociedades modernas tm do patrimnio cultural o
resultado de uma evoluo rpida de conceitos, motivaes e prticas. O patrimnio
cultural sai de uma esfera elitista para comear a interessar e a motivar os cidados
que procuram, nos vestgios do passado, explicaes e respostas para o presente e
para o futuro.
H cada vez mais a conscincia e preocupao com a efemeridade do
patrimnio, da a gnese de polticas e iniciativas que visam a preservao e a
valorizao do patrimnio.
Ao longo do sculo XX assistiu-se a uma progressiva mudana de atitude das
comunidades face ao patrimnio.
A recuperao de patrimnio deixou de ser simplesmente a recuperao de um
determinado bem material, passou a ser a recuperao de uma identidade, que pelo
seu valor representa um testemunho de geraes anteriores que necessita ser
preservado. A sua preservao como valor de capacidade humana, deve ser uma
preocupao contgua de todas as geraes (Aires-Barros, 2003).
Segundo Costa (2003), a partir do patrimnio devemos poder ler o fluir da
histria, o passado, o presente e o futuro em construo (Costa, 2003, p. 54)
Porm, em 2003 que teve lugar, pela UNESCO, a Conveno para a
Salvaguarda do Patrimnio Cultural Imaterial onde se reconheceu que o patrimnio
apenas existe como tal se houver o reconhecimento pblico do valor de determinado
objeto material ou imaterial, sendo importante a existncia desses mesmos objetos
para a identidade de um determinado grupo de pessoas, contribuindo para o
reconhecimento da importncia da defesa da diversidade cultural. Ou seja,
reconheceu-se que este patrimnio cultural imaterial manifesta-se atravs de tradies
e expresses orais, usos sociais, rituais e atos festivos, tcnicas tradicionais, artes e
espetculos, conhecimentos e usos, sendo que o ser humano o centro de toda esta
atividade e atravs destes elementos consolida a diversidade cultural que auxilia na
distino dos povos e das suas identidades prprias.
Todos estes aspetos apenas detm algum valor pela presena do elemento
humano.
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E a presena do elemento humano e toda a diversidade cultural a base para
a prossecuo de um projeto de desenvolvimento comunitrio assente num territrio
rural, onde recuperar patrimnio produzi-lo para o turismo. Assim, os espaos
culturais devem ser vividos e incorporados na experincia da populao local como
espaos sociais, funcionar como elementos unificadores e de divulgao da identidade
desse territrio no sentido do seu prprio desenvolvimento.
O patrimnio cultural o espelho de valores de memria, de autenticidade e
singularidade, integrando neste contexto os bens intangveis que representam partes
da identidade e memria de uma comunidade. Em suma, inclui-se no patrimnio
cultural todos os bens tangveis ou intangveis, dotados de valor prprio, relevantes
para o testemunho da identidade, cultura e histria de cada comunidade.
II.4.3 O patrimnio ao servio do turismo
O mundo rural detentor de todo um patrimnio cultural vivo, diversificado e
dinmico e que so afinal as suas tradies, memrias e objetos que, por vezes, no
so reconhecidos como cultura. Mas como nos refere Alosio Magalhes, citado por
Maria Clia Santos, a partir deles que se afere o potencial, se reconhece a vocao
e se descobrem os valores mais autnticos de uma nacionalidade. Alm disso, deles
e de sua reiterada presena que surgem expresses de sntese de valor criativo que
constitui o objeto de arte. (Santos, 1994, p.79).
O patrimnio necessita de ser entendido em todas as suas transversalidades.
Podendo, assim, entender toda a cultura de uma comunidade, e dos elementos que
so parte integrante do seu patrimnio vivo e imaterial, afinal, a sua grande riqueza.
Neste sentido, h que recolher esses elementos para os estudar, valorizar e
preservar para finalmente os divulgar s geraes vindouras, pois a gradual e
paulatina modernizao das comunidades rurais contribuir, inevitavelmente, para o
desaparecimento das tradies, dos saberes e do saber-fazer da cultura local,
contribuindo para a consequente diminuio da diversidade cultural e a diluio das
populaes nas massas uniformizadas.
Num mundo onde a globalizao tem trazido graves problemas na perda das
identidades locais, a revitalizao dos espaos rurais adquirem uma importncia vital
para a sua preservao, contribuindo em simultneo para que essas mesmas
identidades possam permitir aos cidados refletirem sobre a sua comunidade, a sua
identidade e os problemas quotidianos vividos por eles mesmos.
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O patrimnio, sendo um recurso endgeno, poder ser considerado como um
produto exclusivo das comunidades rurais e locais. Pode, por isso, ser encarado
como um produto competitivo pela sua exclusividade.
Ao ser preservado tanto o seu patrimnio tangvel como intangvel, est-se a
contribuir com produtos que, postos ao