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Ano XXVII - Nº 121 - maio/jun 2014 NOTÍCIAS DO CBG Carlos Eduardo Barata no Fórum de Genealogistas em Porto Alegre-RS – O evento, realizado pelos: Oficina das Origens, Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul e Cúria Metropolitana de Porto Alegre, aconteceu no dia 17 de maio, na capital gaúcha, com o objetivo de 'conhecer e difundir grandes pesquisadores do Rio Grande do Sul que consolidaram a genealogia em suas obras; e debater sobre o legado desses pesquisadores e os rumos da genealogia na atualidade'. Da Mesa Redonda “Vida e Obra”, que ocupou manhã e boa parte da tarde, participaram genealogistas e historiadores que discorreram sobre seis grandes nomes da genealogia sul- riograndense: Jorge Godofredo Felizardo (1901-1966), por Vanessa Gomes de Campos; José de Araújo Fabrício (1903- 1988), por Miguel Frederico do Espírito Santo; Paulo Jaurés Pedroso Xavier (1917-2007), por Gustavo Py Gomes da Silveira; Moacyr Domingues (1924-1996), por Vera Lúcia Maciel Barroso; Carlos Henrique Hunsche (1913-1986), por sua viúva Maria Astolfi; e Carlos Grandmasson Rheingantz (1915-1988), Fundador e Presidente Perpétuo do CBG, que foi apresentado por nosso Vice- Presidente, citado à epígrafe. Note-se que todos os destacados em negrito foram associados do Colégio e, além disso, Felizardo é o Patrono da Cadeira nº 5 e Paulo Jaurès foi o segundo Titular desta mesma Cadeira. Da programação constou também palestra de abertura e, após a Mesa Redonda, o debate Rumo ao Futuro: quem são os genealogistas?, sendo o evento encerrado com o coquetel de lançamento do livro Ascendências Rio-grandenses: Jerônimo de Ornellas Menezes e Vasconcellos, de autoria de João Eduardo Monteiro Gomes. Representando oficialmente o CBG na ocasião, Carlos Eduardo Barata ainda teve oportunidade de apresentar outros vários gaúchos associados CBG, com obra significativa, surpreendendo a assistência, já encantada com documentos originais de Rheingantz e fatos por ela desconhecidos que o vice-presidente havia reservado especialmente para sua atuação no Fórum. Novos associados - O CBG dá as boas vindas aos novos associados colaboradores, aprovados pela Diretoria para integrar o Quadro Associativo CBG: Andréa Santos Costa, de Belo Horizonte – MG e Antonio Carlos de Oliveira Lima, de Valença - RJ, este retornando ao CBG. Biblioteca - Informamos aos novos associados - e recordamos aos antigos - que o Estatuto CBG traz em seu Art. 12 - item b a obrigação do associado em "doar à biblioteca um exemplar das publicações de sua autoria nas áreas de interesse do Colégio". Em razão do exíguo espaço para guarda, só temos como adicionar a nosso acervo obras eminentemente genealógicas ou que tenham, em seu conteúdo, pelo menos uma boa parte que trate de genealogia, nossa precípua razão de existência. Registramos nossos agradecimentos aos que enviaram volumes de sua autoria e/ou de outrem, para ampliar o acervo CBG. São os seguintes os livros registrados no período. - Sangue, suor, superação, simpatia, sucesso - A saga de uma família vista através da mídia e da tradição oral - de Heitor Luiz Murat, doação do autor. Um guia para pesquisa genealógica e histórica de ascendentes e descendentes de Domingos José Meirelles e Joanna Unden Raming Vianna, visando uma análise da percepção de uma família sobre uma parte da História do Brasil nos séculos XIX e XX. CBG - Carta Mensal 121 - maio/jun 2014 • 01

Maio/Jun 2014

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Ano XXVII - Nº 121 - maio/jun 2014

NOTÍCIAS DO CBG

• Carlos Eduardo Barata no Fórum de Genealogistas em Porto Alegre-RS – O evento, realizado pelos: Oficina das Origens, Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul e Cúria Metropolitana de Porto Alegre, aconteceu no dia 17 de maio, na capital gaúcha, com o objetivo de 'conhecer e difundir grandes pesquisadores do Rio Grande do Sul que consolidaram a genealogia em suas obras; e debater sobre o legado desses pesquisadores e os rumos da genealogia na atualidade'.

Da Mesa Redonda “Vida e Obra”, que ocupou manhã e boa parte da tarde, participaram genealogistas e historiadores que discorreram sobre seis grandes nomes da genealogia sul- riograndense: Jorge Godofredo Felizardo (1901-1966), por Vanessa Gomes de Campos; José de Araújo Fabrício (1903-1988), por Miguel Frederico do Espírito Santo; Paulo Jaurés Pedroso Xavier (1917-2007), por Gustavo Py Gomes da Silveira; Moacyr Domingues (1924-1996), por Vera Lúcia Maciel Barroso; Carlos Henrique Hunsche (1913-1986), por sua viúva Maria Astolfi; e Carlos Grandmasson Rheingantz

(1915-1988), Fundador e Presidente Perpétuo do CBG, que foi apresentado por nosso Vice-Presidente, citado à epígrafe. Note-se que todos os destacados em negrito foram associados do Colégio e, além disso, Felizardo é o Patrono da Cadeira nº 5 e Paulo Jaurès foi o segundo Titular desta mesma Cadeira.Da programação constou também palestra de abertura e, após a Mesa Redonda, o debate Rumo ao Futuro: quem são os genealogistas?, sendo o evento encerrado com o coquetel de lançamento do livro Ascendências Rio-grandenses: Jerônimo de Ornellas Menezes e Vasconcellos, de autoria de João Eduardo Monteiro Gomes.Representando oficialmente o CBG na ocasião, Carlos Eduardo Barata ainda teve oportunidade de apresentar outros vários gaúchos associados CBG, com obra significativa, surpreendendo a assistência, já encantada com documentos originais de Rheingantz e fatos por ela desconhecidos que o vice-presidente havia reservado especialmente para sua atuação no Fórum.

• Novos associados - O CBG dá as boas vindas aos novos associados colaboradores, aprovados pela Diretoria para integrar o Quadro Associativo CBG: Andréa Santos Costa, de Belo Horizonte – MG e Antonio Carlos de Oliveira Lima, de Valença - RJ, este retornando ao CBG.

• Biblioteca - Informamos aos novos associados - e recordamos aos antigos - que o Estatuto CBG traz em seu Art. 12 - item b a obrigação do associado em "doar à biblioteca um exemplar das publicações de sua autoria nas áreas de interesse do Colégio". Em razão do exíguo espaço para guarda, só temos como adicionar a nosso acervo obras eminentemente genealógicas ou que tenham, em seu conteúdo, pelo menos uma boa parte que trate de genealogia, nossa precípua razão de existência.Registramos nossos agradecimentos aos que enviaram volumes de sua autoria e/ou de outrem, para ampliar o acervo CBG. São os seguintes os livros registrados no período.- Sangue, suor, superação, simpatia, sucesso - A saga de uma família vista através da mídia e da tradição oral - de Heitor Luiz Murat, doação do autor.Um guia para pesquisa genealógica e histórica de ascendentes e descendentes de Domingos José Meirelles e Joanna Unden Raming Vianna, visando uma análise da percepção de uma família sobre uma parte da História do Brasil nos séculos XIX e XX.

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LANÇAMENTO DE LIVROS

• No dia 19 de maio, na Fundação Scheffel em Hamburgo Velho, na cidade de Novo Hamburgo-RS, o jornalista e escritor Felipe Kuhn Braun apresenta novo livro: Alemães no Brasil. O autor, de 26 anos, jornalista e autor de outros livros, é Diretor de Genealogia do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo e colaborador do Instituto de Estudos Históricos da Universidade de Mainz, na Alemanha. Nesta oba, escreve sobre imigrantes nascidos no final do século XVIII e início do século XIX, registrando vivências daqueles que chegaram nas primeiras levas do processo imigratório para o Sul do país, os primeiros pastores e professores, líderes e demais

- Famílias do Sertão Paraibano, de Cornélio Ferreira da Cruz - doação do autorDesenvolvimento da primeira obra "Laços Genealógicos da Família de João Cruz", a presente obra, de mais de 800 páginas, parte do 11º avô do autor, Pedro Soares da Silva, e abrange o vasto sertão da Paraíba e inúmeros ramos familiares. Recebida pelo CBG no ano de 2009, já constando do acervo, e, por lapso, não foi informado o recebimento na ocasião.

- Família Formiga, de Cornélio Ferreira da Cruz - doação do autor.A obra desenvolve a família, de origem Pombal-PB, e suas principais ramificações Queiroga, Ribeiro, Assis e Jurema.

• Notas de Falecimento - Faleceu na madrugada de 25 de maio, em Porto Alegre-RS, o médico Pedro Almiro Fauth, nascido a 21.03.1951, associado do Instituto Genealógico do Rio Grande do Sul – INGERS, dedicado pesquisador da genealogia das famílias germânicas que se estabeleceram no RS, participando da digitalização de livros de registros das comunidades e do levantamento das lápides dos antigos cemitérios das colônias.

- Luiz Alberto Franco Junqueira – falecido no dia 20 de junho, em Belo Horizonte, onde residia. Nascido em 1929, foi co-autor do livro Família Franco: genealogia e história, com Gabriel Franco; e autor de Famílias de Ituiutaba e Memórias dos Esquecidos. Biografia na página CBG, seção O Colégio/História/Galeria de associados.

• Aos Sócios Colaboradores, e Correspondentes brasileiros residentes no exterior – sua biografia está sendo aguardada para compor nossa página. Que tal colaborar com o Colégio de modo efetivo?

colonizadores do Vale do Caí, do Vale dos Sinos e do Vale do Taquari. Felipe também traz informações sobre o modo de vida e a trajetória de cada um deles, hábitos culturais do século XIX e do começo do século XX, além de muitas fotos.

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• No dia 5 de junho, em Vitória-ES, foi lançado o livro Presença de Judith Leão Ribeiro, organizado por Ester Abreu Vieira. A obra trata dessa que foi a primeira mulher a ocupar uma vaga no parlamento capixaba, primeira mulher membro da Academia Espírito-santense de Letras e fundadora da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras.

• Novo Dicionário Biográfico de Minas Gerais: 300 Anos de História - organizado por Amilcar Vianna Martins Filho.

O livro tem mais de 500 páginas e reúne 1.600 biografias de profissionais de diversas áreas que influenciaram a história do Estado de Minas Gerais desde os tempos do Império até os dias de hoje. Há nomes de imediato reconhecimento, como Juscelino Kubitschek de Oliveira, até anônimos professores, engenheiros e empresários. Além organizador, são responsáveis também pela obra os professores da UFMG Veralice Cardoso Silva, João Antônio de Paula, Alexandre Cunha e Marcelo Godoy, além de Maria do Carmo Salazar e Cleber Araújo, com o reforço de discentes do curso de história da universidade. Editado pelo Instituto Cultural Amilcar Martins, pode ser encontrado nas livrarias Quixote e Ouvidor, na capital mineira.

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CURIOSIDADES EM ASSENTOS DE BATISMO

Brasil, Minas Gerais.Aos vinte e dois de dezembro de mil setecentos e oitenta e dois, nesta Matriz de Campanha, o Reverendo Coadjutor Domingos da Silva Lobo batizou e pôs os santos óleos ao inocente José, filho legítimo de José angola e Maria crioula, escravos do Furriel Manuel José Ramos, nascido de oito dias. Foram padrinhos Silvestre José Ramos e Madalena, filha de Isabel Maria de Oliveira. Declara o dito Furriel Manuel José Ramos que, por desencargo de sua consciência, ter prometido à dita crioula Maria que em lhe dando dez crias, ficaria fôrra, e aquela ter dado os dez, e o dito inocente onze, e por isso de sua parte não quer faltar a quem deve ao benefício da alforria da dita mãe e filho batizado, porém que sua mulher Catarina Maria de Jesus repugna a alforria de ambos por ser a mãe do batizado produto do seu dote, e não convém que sejam forros, e de como o declarou o dito furriel assinou comigo. O Vigário Bernardo da Silva Lobo, Manuel José Ramos.O assentamento acha-se na página 215 do 3º livro de batizados da Campanha, Minas Gerais.Colaboração do †Monsenhor José do Patrocínio Lefort, publicada no Mensário do Arquivo Nacional nº 105, setembro de 1978.

Portalegre, Portugal.Batismo de Maria, em Campo Maior, freguesia do distrito de Portalegre, Portugal. Observação na margem do assento, recolhida por Silvia Buttros:Esta Maria, filha de M.el Roiz e Ana de Almeida constou ser Mafrodito e que prevaleceu o sexo masculino dos quatorze anos por diante o que me constou por Certidão de Medicos e o Ilmo. Sr. Bispo D. João de Souza de Castello Branco o crismou e lhe pos o nome de Manoel e o dito mandou que se declarasse aqui para constar. Campo Maior, 24 de fevereiro de 1723.

O primeiro casamento religioso registrado na Freguesia de Nossa Senhora do Desterro (Florianópolis-SC) ocorreu em 7 de janeiro de 1714. Foi oficiante frei Agostinho da Trindade, e contratantes Domingos Martins e Domingas da Costa, esta filha de José Tinoco, um dos integrantes da expedição de Francisco Dias Velho. Fonte: Boletim 181, 2014, IHGSC

• Em Curitiba, dia 19 de maio, a autora Marion Aranha Pacheco Muggiati lançou seu livro sobre imigração alemã no Paraná: O Alvorecer nos Pinheirais – Imigrantes Alemães na Terra das Araucárias. A narrativa mescla ficção com fatos históricos, curiosidades e casos marcantes na sociedade de modo a ambientar o leitor em cada época e lugar. Cerco da Lapa, Guerra do Contestado, Primeira e Segunda Guerras Mundiais, Ditadura Militar e Redemocratização: esses são alguns dos eventos que servem de palco às

aventuras, descobertas, dificuldades, conquistas e cenas simples do cotidiano de personagens (fictícios) que retratam um pouco da história da imigração alemã no Paraná.

• Autor do célebre quadro Primeira Missa no Brasil, Victor Meirelles terá uma nova biografia, escrita pela associada IHGSC Teresinha Sueli Franz, após anos de pesquisa em arquivos na América do Sul e da Europa. O livro, com importantes revelações sobre a vida e a obra do mais importante artista catarinense de todos os tempos, será lançado em breve com o selo da Caminho de Dentro Edições, sob o título Victor Meirelles – Biografia e legado artístico.

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LÁGRIMAS MEDITERRÂNEAS

A saga dos clãs Conti e Marquis

Por Mario Sergio ContiPublicado no jornal O Globo em 05.06.2014

Nas terras e nos tempos de Vittorio Emmanuelle III, rei da Itália pela graça de Deus e vontade da Nação, Marino veio ao mundo. Nasceu em San Lucido, comuna na costa da Calábria, em agosto de 1879. Pertencia a uma estirpe de marinheiros e pescadores, gente bronca formada no confronto com cimitarras sarracenas, empunhadas por infiéis afinal expulsos da península. Neste passaporte esmaecido, emitido há mais de um século, está registrada a profissão de Marino: marinaro, homem do mar.

San Lucido fica numa faixa litorânea sujeita a sismos cíclicos. Volta e meia, mar e terra tremem. O solo é esturricado, estéril. A duras penas, vive-se da pesca. É raro o povo que ali se enraíza. Quando Marino nasceu, a vila contava com três mil almas. No ano passado, não chegavam a seis mil. Em setembro de 1903, o mundo acabou em San Lucido. O terremoto seguido de um vagalhão pôs abaixo as casas e afundou os barcos. Numa noite, foram-se todos os haveres do clã de Marino, os Conti. O que fazer?

Luigi, o primogênito, decidiu partir para a América. Marino quis ir com ele. O mais moço preferia embarcar para Nova York, mas o mais velho decidiu que o destino seria outro. Aventuroso, Luigi já dera a volta ao mundo. Calhou de estar no Rio em 15 de novembro de 1889. Como todos os estrangeiros ancorados em terras cariocas naquele dia de glória, foi agraciado pela República nascente com a nacionalidade brasileira. Fazia mais sentido, pois, voltar ao Rio. Pelo menos seria cidadão. Fizeram escala em Nápoles, Gênova, Marselha, e lá tomaram o transatlântico. Vieram na terceira classe.

Chegaram ao Rio com uma mão na frente e outra atrás. Deram-se mal. O pouco dinheiro acabou e dormiram em bancos de praça. Viviam da venda de bilhetes de loteria na rua. Mas se ergueram. Fizeram rolos e juntaram uma grana. Marino foi para Santos, onde se deu bem, prosperou. Montou um armazém de secos e molhados, que logo virou uma firma de importação de artigos da Itália. Subiu a Serra do Mar e se estabeleceu na capital. Montou uma casa bancária, financiava o café, ficou podre de rico.

Construiu um palacete em Higienópolis que ocupava quase um quarteirão. Casou-se com Rosa, moça calabresa vinda de San Lucido, e teve cinco filhos — o caçula, Mario, era levado à escola de limusine e chofer de botas e luvas brancas. Marino tinha frisa no Teatro Municipal e não perdia uma ópera de companhia italiana. Em 1921, voltou a San Lucido a passeio e tirou um novo passaporte. É este aqui, com a fotografia dele na maior estica, de bigode de pontas empinadas, rejubilando-se consigo mesmo.

Veio a crise de 1929. Ela teve o mesmo efeito na sua vida que a hecatombe que o forçara a fugir da Calábria. Marino perdeu o banco, a mansão, a limusine, a frisa, a pose, tudo. Terminou os dias morando de favor na casa do caçula, Mario, que se formara médico devido à ajuda do irmão mais velho, Menotti. Depois do jantar, esticava-se no sofá, fumava charuto e contava histórias incompreensíveis. Nunca vi olhos verdes tão claros.

François Marquis foi outro homem do mar na virada do século passado. Francês metropolitano, pied-noir no Marrocos, ele fazia contrabando de Gibraltar, do outro lado do Mediterrâneo, para a África. Teve problemas com a polícia — de natureza nunca especificada — e fugiu para o sul, para Santos. Era um homem alto, de cabelos e barba ruiva. François Marquis também logo subiu a Serra, abrasileirou o sobrenome para “Marques” e se casou com uma portuguesa, Maria.

Perambulava por centenas de cidades do interior, onde repetia o mesmo ritual: ia à barbearia, informava-se do lugar e se apresentava como médico e farmacêutico, disciplinas que jamais estudara. Enquanto isso, seu quinto filho, outro caçula que se chamava Mario, distribuía nos arredores folhetos anunciando a chegada do renomado Dr. François. Ele atendia os pacientes na barbearia, vendia-lhes beberagens e unguentos. Seguia adiante antes que as poções fizessem efeito.

Um dia, François cansou. Abandonou a família e foi-se embora em silêncio. Soube-se que casou de novo

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no interior do Paraná e teve outros cinco filhos. Sem imaginação, deu a eles os mesmos nomes das crianças que tivera com Maria.

Sem mais nem menos, décadas depois François voltou a São Paulo. A barba rubra embranquecera. Achou na Farmácia Paraíso o filho caçula. Ao contrário do pai, Mario virara farmacêutico de verdade. O velho lhe disse que estava só e sem vintém; pediu-lhe amparo. Do outro lado do balcão, os olhos frios do filho o mediram de cima abaixo. Respondeu-lhe que não daria abrigo a quem o abandonara. Expulso da Paraíso, François sumiu para sempre. O filho de Marino veio a se casar com a neta de François. São todos agora lágrimas no mar do tempo.

NOTAS DE FALECIMENTO SE TRANSFORMAM EM DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Por Tino Ansaloni, publicação da página online Jornal A Voz Ativa.

A mestranda em Letras do ICHS (Instituto de Ciências Humanas e Sociais) e aluna do curso de jornalismo do ICSA (Instituto de Ciências Sociais Aplicadas), ambos institutos da Universidade Federal de Ouro Preto - Ufop, defendeu no dia 26 de março a primeira dissertação do curso de Mestrado em Letras daquela instituição, na linha da linguagem e memória cultural. O tema abordado por Elisabeth Maria de Souza Camilo é considerado inédito no país quanto ao corpus utilizado, a saber, as cartas fúnebres que anunciam a morte e as missas de ressurreição (sete dias, trinta dias e outras datas). Utilizando esse material impresso e afixado em postes, muros e paredes das cidades de Ouro Preto e Mariana (MG), a mestranda conseguiu validar a hipótese de que as mulheres possuem apelidos mais delicados do que os homens.

Este tratamento carinhoso é chamado de “hipocorístico” e uma das argumentações de validação é a de que os apelidos femininos se mantêm mais estáveis desde a Idade Média e isso não mudou com a colonização do Brasil e mesmo nos períodos atuais. Contudo, a mestranda, ao dividir o corpus em duas vertentes de análise (pessoas mortas e parentes presentes nas cartas), conseguiu perceber que os homens também têm sido tratados mais carinhosamente no tempo atual, o que pode ser consequência da entrada das mulheres no trabalho fora do lar e da presença cada vez mais perceptível dos homens em casa. O título da pesquisa da aluna foi “Estudo da Onomástica em Anúncios Fúnebres Impressos das Cidades de Ouro Preto e Mariana-MG: Análise da Frequência de Hipocorísticos Diante de Nomes Femininos”, sendo que Onomástica é o campo das ciências da linguagem que estuda a denominação de pessoas e lugares, antroponímia e toponímia, respectivamente.

A aluna afirmou que pretende continuar a pesquisa, usando um viés diferente do mestrado, mas utilizando o mesmo corpus, em um futuro curso de doutorado. A orientadora da pesquisa foi a professora Dra. Ana Paula Antunes Rocha, do ICHS/Ufop.

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OS JUNGMANN DE PERNAMBUCO

Por Regina Cascão

No Diário de Pernambuco de 7 de junho de 1966, portanto há 48 anos, o grande genealogista Orlando Cavalcanti, Patrono da Cadeira nº 28 do Colégio Brasileiro de Genealogia que - também por causa dele - eu me orgulho de ocupar, publicou um de seus muitos artigos sobre famílias e personagens pernambucanos.

Intitulado “Os Jungmann” e incluído pelo Instituto Genealógico, Histórico e Geográfico Pernambucano – IAHGP no livro “Gente de Pernambuco” vol. 2, do ano de 2000, versa o artigo sobre o estabelecimento e a descendência de Georg Friedrich Hermann Jungmann /Jorge Jungmann no Estado de Pernambuco.

Apresento, a seguir, o artigo de Orlando Cavalcanti em itálico, acrescido dos dados de minhas próprias pesquisas, que se iniciam pelas minhas iniciais RC. Este trabalho é pequena parte de meu próximo livro a ser publicado: Raízes à beira do Capibaribe – Os Moura Mattos, onde, evidentemente, estará mais desenvolvido.

OS JUNGMANN de Pernambuco são oriundos de Otto Jungmann, Coronel do exército prussiano, já por mim referido em notícia divulgada através de “Famílias Brasileiras de Origem Germânica”, órgão conjunto de publicidade do Instituto Genealógico Brasileiro e do Instituto Hans Staden, de São Paulo. O Cel. Jungmann casou duas vezes, sendo que a primeira com Paulina Otilia Shopf e a segunda com Hermínia, ambas alemãs. Nasceram-lhe do primeiro matrimônio os filhos Jorge (de quem me ocuparei a seguir), Paulo, Eric, Lothar, Johann Bolko e Valeska, que viveram na cidade de Goerlitz.

Jorge Jungmann, cujo nome completo na pátria de origem era Georg Friedrich Hermann Jungmann, nasceu em Goerlitz e professava o credo luterano, tomou parte no cerco de Paris durante a guerra de 1870, e foi três vezes ferido. Condecorado com a Cruz de Ferro. Era poliglota e conhecia o mundo inteiro. Químico e Farmacêutico, formado na Alemanha. Vindo para o Brasil, em Pernambuco foi químico de algumas empresas industriais, sobretudo as denominadas Estreliana e Beltrão.

No Recife, a 23.4.1881 (Boa Vista 5, 85) casou com Maria do Carmo Coelho Leite, filha de Augusto Coelho Leite e de Clélia Elvira Augusta de Moura Mattos; neta paterna de José Claudino Leite e de Francisca Justina Coelho dos Santos; neta materna de Francisco Sérgio de Mattos, Inspetor da Alfândega do Recife, e de Maria Salomé de Moura Mattos (meia-irmã do Desembargador Firmo José de Mattos, Barão de Casalvasco.

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RC: Maria do Carmo Coelho Leite nasceu no Recife em dezembro de 1857, não sendo possível determinar o dia preciso em razão de o assento de batismo, realizado a 01.08 na Matriz do SSmo. Sacramento da Boa Vista (BV 9, 128), dizer apenas que contava sete meses de idade. Foram seus padrinhos o avô José Claudino Leite, viúvo e Marcolina Coelho Leite, solteira, presumivelmente sua irmã. No casamento, foram os noivos dispensados do impedimento "cultus disparitas": o noivo era luterano.

Filha do médico Augusto Coelho Leite, fal. 27.01.1888 e de sua mulher Clélia Augusta de Moura Mattos, nasc. 28.08.1833, casados no oratório privado dos pais da noiva em 06.12.1856 (Sto.Antônio 7, 13v). Não se encontrou em anotação alguma que Clélia Augusta – mãe de Maria do Carmo - portasse outro prenome (Elvira), como OC apresenta, podendo-se supor que haja ocorrido certa confusão com uma de suas sobrinhas, Elvira Clélia de Moura Mattos Lima.

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Filhos (1 a 6):

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RC: será necessário alterar a ordem dos filhos apresentada por OC. De acordo com os documentos encontrados, seria esta a ordem:

Orlando Cavalcanti Regina Cascão1. João Jungmann 1. Paulina Otilia Leite Jungamnn2. Carmen Jungmann Pinto 2. Jorge Jungmann Filho3. Augusto Leite Jungmann 3. Amélia Leite Jungamnn4. Jorge Jungmann 4. Carmen Leite Jungmann5. Paulina 5. Augusto Leite Jungmann6. Amélia 6. João Leite Jungmann / João Jungmann

1 / OC 5 – Paulina, faleceu aos 15 anos.

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RC : Paulina Otilia Leite Jungamnn faleceu a 10.01.1900 no Recife-PE, cfe. jornal "A Provincia" de 14.01.1900, anúncio de missa de 7º dia em 17. A informação de OC, de que teria falecido aos 15 anos de idade, nos leva a seu nascimento c.1885.

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2 / OC 4 – Jorge Jungmann. Funcionário da Secretaria de Segurança Pública em Pernambuco. Casou com Elvira Alves da Silva, sem filhos.

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RC: Jorge Jungmann Filho nasceu a 05.08.1887, Recife-PE , batiz. 30.12.1888 (Sto Antonio-Recife 27, 2v) na Capela do Engº Vicente Campelo, Escada – PE, de propriedade de Eutália Ismênia de Moura Mattos, segunda mulher e viúva de Manoel Gonçalves Pereira Lima, tendo sido padrinhos Engenheiro José Claudino Leite e Amélia Leite, representada por Elvira de Mattos Lima. A data de nascimento foi estimada a partir do assento de batismo: “com 1 ano e 4 meses"; e de publicação na coluna social do jornal “A Provincia” de agosto de 1915, que diz que se festejou seu aniversário no dia 05.

Casou a 05.10.1914 (Recife, 2ª Vara Casamentos 26, 80) com Elvira Alves da Silva, filha de João Alves da Silva e Josepha Alves da Silva.

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3 / OC 6 – Amélia, faleceu aos 2 anos e meio.

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RC: Amelia Leite Jungmann nasceu a 26.09.1889, Recife-PE, batiz. 26.05.1891 na Matriz SSmo. Sacramento de Sto.Antônio (SAnt 27, 92), tendo sido padrinhos Arthur de Siqueira Cavalcanti e s/m Elvira Lima Cavalcanti.

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FIM DA 1ª PARTE- continua no próximo número Carta Mensal nº 122 Jul-Ago

O atual ocupante da Cadeira nº 4 CBG Adauto Ramos é paraibano como o seu Patrono, Maurílio Augusto de Almeida. Médico, professor titular e fundador da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba, Maurílio foi membro de diversos institutos e academias de letras e artes, e, além de inúmeros trabalhos na área médica publicados, foi autor de representativas obras em história e genealogia. Associou-se ao CBG em 1988, foi eleito Titular em 1989 e faleceu aos 72 anos em 1998, deixando – apaixonado por livros que sempre foi - uma biblioteca com cerca de 50 mil livros catalogados.

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FRAGMENTOS CULTURAIS

Boletim InformativoCOLÉGIO BRASILEIRO DE GENEALOGIA

Av. Augusto Severo, 8 - 12º andar - Glória20021-040 - Rio de Janeiro - RJTel.: (21) 2221-6000Diretoria: Presidente Regina L. Cascão Viana

Vice-Presidente Carlos Eduardo de Almeida Barata1º Secretária Patrícia de Lima Bocaiúva2º Secretária Eliane Brandão de Carvalho1º Tesoureiro Antonio Cesar Xavier2º Tesoureiro Guilherme Serra Alves Pereira

Dir. Publicações Leila OssolaAuxiliares Cinara Maria Bastos J. A. do Nascimento

Clotilde Santa Cruz TavaresEliana Quintella de LinharesGilson FlaeschenLaura de Saint-Brisson Ferrari

Conselho Fiscal: Attila Augusto Cruz MachadoHugo Forain JuniorVictorino C. Chermont de Miranda

Dias e horários de funcionamento:2ª-feira de 13 às 17 horas / 3ª-feira de 14 às 17 horasPágina: www.cbg.org.brEmail: [email protected]ção: Escale Serviços de InformáticaImpressão: Letras e Versos

EXPEDIENTE

08 • CBG - Carta Mensal 121 - maio/jun 2014

Colaboração da pesquisadora Josimeire Baggio.

• Mecanismos de buscas em hemerotecas digitais nacionais: possibilidades e desafios para a pesquisa histórica - Leandro Antonio de Almeida"O objetivo deste artigo é refletir sobre as possibilidades abertas para a pesquisa histórica pelos mecanismos de busca nas hemerotecas digitais brasileiras, avaliando um processo em curso do ponto de vista de um historiador e usuário dessas hemerotecas." - Revista de História e Estudos Culturais, v. 10, n. 2, jul-dez/2013http://www.revistafenix.pro.br/PDF32/ARTIGO_08_SECAO_LIVRE_LEANDRO_ANTONIO_DE_ALMEIDA_FENIX_JUL_DEZ_2013.pdf

• Histórias da (I)migração: Imigrantes e migrantes em São Paulo entre o final do século XIX e o início do século XXI - Odair da Cruz PaivaDe caráter didático-pedagógico, o livro é parte da coleção Ensino & Memória, e "analisa a migração, a imigração, os diferentes migrantes e imigrantes na formação da sociedade paulista entre o final do século XIX e o início do século XXI. Busca apontar um equilíbrio entre fatores político-econômicos e os sonhos e utopias que incitam os sujeitos e grupos sociais a se deslocarem. Traz também as transformações ocorridas no território urbano da cidade de São Paulo, as formas de sobrevivência encontradas pelos migrantes e imigrantes, bem como as migrações contemporâneas."

- Arquivo Público do Estado de São Paulo, 2013 (lançado em 15/05/2014) - gratuito http://www.arquivoestado.sp.gov.br/difusao/editorial_download.php

• Sírios e libaneses e a expulsão de estrangeiros na Primeira República - Julio Bittencourt Francisco e Sérgio LamarãoO artigo "retrata, através de apresentação e análise dos processos de expulsão de sírios e libaneses do Brasil, a vida privada de alguns membros dessa comunidade de imigrantes no país, nas primeiras décadas do século XX. Percebe-se como intrigas de ordem familiar, conflitos e divisões no interior do grupo contribuíram para o decreto de expulsão."

- Revista Acervo, v. 26, n. 2, 2013 http://revistaacervo.an.gov.br/seer/index.php/info/article/view/636