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Maldição ou Dádiva? Os dilemas do desenvolvimento sustentável a partir de uma base

mineira

Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez Tese de Doutorado.

Brasília – DF, agosto /2007

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – CDS

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Maldição ou Dádiva? Os dilemas do desenvolvimento sustentável a partir de uma base mineira

Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez

Orientador: José Augusto Drummond

Tese de Doutorado

Brasília – D.F, agosto /2007

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Ficha catalográfica

É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta tese e

emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O(a)

autor(a) reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta tese de doutorado

pode ser reproduzida sem a autorização por escrito do(a) autor(a).

Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez

ENRÍQUEZ, Maria Amélia R. da S.

Maldição ou Dádiva? Os dilemas do desenvolvimento sustentável a partir de uma base mineira. / Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez. Brasília, 2007.

Número de páginas p. 449 Tese de Doutorado. Centro de Desenvolvimento

Sustentável, Universidade de Brasília, Brasília. 1. Palavras-chave: mineração – desenvolvimento sustentável – municípios – royalties - Brasil - Canadá. I. Universidade de Brasília. CDS.

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – CDS

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

MALDIÇÃO OU DÁDIVA? OS DILEMAS DO DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL A PARTIR DE UMA BASE MINEIRA

Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez

Tese de Doutorado submetida ao Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade

de Brasília, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Grau de Doutor em

Desenvolvimento Sustentável, área de concentração em Política e Gestão Ambiental.

Aprovado por: __________________________________________ José Augusto Drummond, PhD (Universidade de Brasília. Centro de Desenvolvimento Sustentável) (Orientador) ___________________________________________ Fabiano Toni, PhD (Universidade de Brasília. Centro de Desenvolvimento Sustentável) (Examinador Interno) ___________________________________________ Saulo Rodrigues Pereira, PhD (Universidade de Brasília. Centro de Desenvolvimento Sustentável) (Examinador Interno) ___________________________________________ Noris Costa Diniz, PhD (Universidade de Brasília. Faculdade de Engenharia Civil) (Examinador Externo) ___________________________________________ Roberto Villas-Bôas, PhD (Centro de Tecnologia Mineral) (Examinador Externo) ___________________________________________ Marcel Bursztyn, PhD (Universidade de Brasília. Centro de Desenvolvimento Sustentável) (Examinador Interno - Sulpente) ___________________________________________ Elimar Nascimento, PhD (Universidade de Brasília. Centro de Desenvolvimento Sustentável) (Examinador Interno - Sulpente) Brasília-DF, 16 de agosto de 2007

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Ao Gonzalo, amor, companheirismo e incentivo de sempre!

A minha mãe Maria do Carmo inspiração primeira ...

A Nina e Cecé, futura geração já presente.

A Ruth Rodrigues in memoria .

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador José Augusto Drummond por sua competente orientação e

presença certa em todas etapas da tese, aos professores Fabiano Toni e Saulo Pereira por

suas construtivas críticas e sugestões que muito contribuíram para o aperfeiçoamento do

trabalho. Meus especiais agradecimentos aos professores do CDS Marcel Bursztyn, Maria

Augusta, Elimar Nascimento, Antônio Brasil, Herve Thiré, José Aroudo Motta, Laura Duarte,

Magda Wehrmann e Argemiro Procópio. Aos colegas de turma do doutorado de 2003

Simone Shiki, Irineu Tamaio, Victor Hugo, Cláudia Selier, Bruno Agapito, Darcton Damião,

Mônica Mello e Rossane Cardoso pelo aprendizado conjunto e convivência fraterna.

Agradeço também a Josiane Aguiar, colega da turma de 2004, por seu apoio com o

programa Philcarto. Meus especiais agradecimentos aos funcionários do CDS, Norma,

Antônio, Maurício, Willian e Ana Paula.

Agradeço de todo coração aos meus amigos Eugênia Cabral, Sérgio Gomes e

Elizabeth Reymão, pelo apoio sempre presente, seus comentários e valorosas sugestões

foram estímulos fundamentais para seguir em frente com este estudo. Aos colegas Márcio

Santos, Kátia Leão e Elaine Marques, apoio constante na busca de informações.

Aos colegas do departamento de Economia da Universidade Federal do Pará

(UFPA), pela minha liberação e incentivo. A Superintendência de Pesquisa da UniverDidade

da Amazônia (UNAMA), especialmente a Professora Núbia Maciel e ao professor Francisco

Cardoso, ex-coordenador do Centro de Estudos Sociais Aplicados (CESA).

Agradeço a equipe da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa

Tecnológica (ABIPTI), em especial a Cristina por sua ajuda incansável nas correções do

texto e a Leoni pelo auxílio na formatação final e na impressão, além do Sérgio, João e

Eugênia que também participaram da maratona da impressão das várias versões da tese.

Agradeço a toda equipe do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) de

Brasília, pelo valoroso apoio logístico durante os trabalhos de campo no Brasil, meus

especiais agredecimentos ao Diretor-Geral Adjunto João César por acreditar e apoiar o

trabalho, ao diretor da Divisão de Planejamento e Arrecadação (DIPAR) Marco Antônio

Valadares, muito abrigada à Karenina Miranda e à Glória Salignac que agendaram as visitas

com eficiência e gentilieza. Agradeço aos funcionários do DNPM dos Distritos de Goiás,

Minas Gerais, Santa Catarina, Pará, Amapá, Mato Grosso do Sul, Bahia e Sergipe (a

relação dos nomes está no Anexo 6) , pelo profissionalismo e pelo interesse em colaborar

com o trabalho, em especial aos que me acompanharam e que facilitaram a ida aos

municipios mineradores estudados. Meus sinceros agredecimentos aos diretores das

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empresas, que gentilmente concederam seu tempo para as entrevistas, bem como os

representantes do poder público muncipal e da demais organizações da sociedade civil que

estão relacionados no Anexo 5 desta tese.

Meu muito abrigada aos colegas do Canadá que me receberam afetuosamente e que

auxiliaram no que foi possível para o bom êxito do estudo, em especial aos professores

Michael Doggett e Gema Oliva (Departamento de Geologia da Queens University), Peter

van Straaten (University of Guelph), Peter Bekett (Laurentian University), Graeme Spiers

(Minarco e Laurentian University, em Sudbury), Marcello Veiga, Malcolm Scoble e John

Meech (Departamento de Engenharia de Minas da British Columbia University), aos colegas

Steve Roberts, Carolina Silva, Carol O’Dell e Silvana Costa. Meu muito abrigada ao Neco e

Isabella que tão gentilmente me hospedaram em Vancouver. Meus especiais

agradecimentos a Joan Kuyek (coorderadora da ONG MiningWatch Canada) por suas

excelentes sugestões. Agradeço também aos diretores das empresas, INCO, Phelps Dogett,

Kirland Lake Gold, Highland Valley Cooper que cederem gentilmente o seu tempo

Em diferentres momentos esta pesquisa contou com o apoio de diversas instituições

entre as quais: International Council for Canadian Studies (ICCS) que financiou os trabalhos

de dois meses no Canadá, esse apoio foi obtido a partir de concurso promovido pela

Embaixada Canadense por intermédio do “Programa do Governador Geral”; Fundação

Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia (FIDESA) que financia a capacitação dos

docentes da UNAMA; Fundo Estadual de Ciência e Tecnologia (FUNTEC) do Governo do

Estado do Pará, apoio obtido através de edital público; além do apoio da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por intermédio da UFPA, nos

últimos dois anos do curso.

Sem a contribuição dessas instituições e pessoas e tantas outras que possivelmente

não foram mencionadas, como os motoristas, por exemplo, que foram fundamentais para o

bom êxito do trabalho, esta tese jamais poderia ser realizada. Meus agradecimentos de

coração a todos!

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RESUMO

A atividade extrativa mineral de larga escala é maldição ou dádiva para o processo de

desenvolvimento sustentável de municípios de base mineira no Brasil? Que efeito tem o uso

dos royalties minerais (Contribuição Financeira pela Exploração Mineral - CFEM)? Para

responder a essas questões foram estudados os 15 maiores municípios mineradores do

Brasil, além de quatro municípios canadenses, com o propósito de fundamentar as análises

comparativas. A partir de uma série de indicadores ambientais, econômicos, sociais e de

governança, comparou-se a trajetória dos municípios mineradores brasileiros nas últimas

duas décadas com a dos seus entornos não-mineradores. Os resultados demonstram que a

pressão do mercado internacional e os marcos regulatórios ambientais têm contribuído para

o surgimento de uma atividade mineradora mais responsável com a dimensão ambiental do

desenvolvimento. Foi constatado ainda que a mineração é um importante fator de

crescimento econômico e de estímulo ao desenvolvimento do capital humano dos

municípios de base mineira, achado que contraria vários estudos sobre o tema que enfocam

os países mineradores, muito embora no Brasil haja um viés que faz com que a intensidade

desses efeitos varie fortemente de acordo com a região geográfica do empreendimento

mineiro. Outro achado é que a mineração, por si só, não resolve automaticamente dois

graves desafios do processo de desenvolvimento sustentável – o de geração de emprego e

o de garantias de eqüidade na distribuição de benefícios entre a atual e as futuras gerações.

A conclusão é que a CFEM é um importante instrumento econômico de que dispõem os

municípios brasileiros de base mineradora, mas o seu bom uso requer certas condições

institucionais favoráveis para que os municípios mineradores não caiam na “armadilha do

caixa único” e percam a possibilidade de diversificação produtiva e de eqüidade

intergeracional.

Palavras-chave: mineração – desenvolvimento sustentável – municípios de base mineradora

– royalties - Brasil – Canadá

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ABSTRACT

Is large-scale mining a curse or a gift for the process of sustainable development of mining

communities in Brazil? What are the effects of mining royalties (“Contribuição Financeira

pela Exploração Mineral” - CFEM)? In order to find answers to these two questions, this

thesis examines the 15 largest Brazilian mining communities, besides four Canadian

municipalities, seeking a comparative analyses. Using environmental, economic, social and

governance indicators, the study compares the trajectory of the 15 selected mining

communities with that of their neighboring, non-mining communities, over a span of two

decades. Results shows that the pressure of international markets and the environmental

regulation frameworks have contributed to the emergence of a more environmentally

responsible mode of mining. It was found also that mining is an important factor for economic

growth and for human capital formation in the affected communities. This finding is at

variance with several studies that focus on mining countries, although in the Brazilian case

there is a bias in the manner by which these effects operate – they vary strongly with the

geographical regions in which mines are situated. A related finding is that mining, on its own,

does not solve automatically two serious challenges of the process of sustainable

development – the creation of jobs and the equitable distribution of benefits among present

and future generations. The major conclusion is that the CFEM is an important economic

instrument for Brazilian mining municipalities, but its adequate use demands certain

favorable institutional conditions that allow municipalities to escape the “single treasury trap”

that leads to the impossibility of productive diversification and of inter-generational equity.

Key words: mining – sustainable development – mining communities – royalties – Brazil -

Canada

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RESUME

Est-ce que l’exploitation minière à grande échelle est une malédiction ou une bénédiction

pour le processus de développement durable des municipalités minières au Brésil? Quels

sont les effets des royalties, especialment de la Compensation Financière pour l’Exploration

Minérale (CFEM), un type de royalty ad valorem dont les taux atteignent jusqu’à 3% du revenu

liquide de la production minérale? Afin de trouver des réponses à ces deux questions, cette

thèse examine les 15 plus grandes municipalités minières brésiliennes, en plus de quatre

municipalités canadiennes, dont l’objectif est d’appuyer les analyses comparatives. A partir

d’une série d’indicateurs environnementaux, économiques, sociaux et de gouvernance,

l'étude compare la trajectoire des 15 municipalités minières choisies avec celle des

municipalités non-minières avoisinantes, sur les deux dernières décennies. Les résultats

montrent que la pression de marchés internationaux et les structures de régulation de

l'environnement ont contribué à l'apparition d'un mode écologiquement responsable

d’exploitation minière. Il a aussi été constaté que l’exploitation minière est un facteur

important pour croissance économique et pour le développement humain dans les

municipalités concernées. Cette découverte s’oppose avec plusieurs études concernant les

pays miniers, malgré qu’il y ait dans le cas brésilien, un parti pris dans la manière par

laquelle ces effets opèrent : ils varient fortement selon les régions géographiques dans

lesquelles les mines sont situées. D’ailleurs, il a été constaté que l’exploitation minière, à elle

seule, ne résoud pas automatiquement deux sérieux défis du processus de développement

durable : la création d’emplois et la distribution équitable d'avantages parmi les générations

actuelles et futures. La conclusion majeure est que le CFEM est un instrument économique

important pour les municipalités d’exploitation minière brésiliennes, mais son usage adéquat

requiert certaines conditions institutionnelles favorables permettant aux municipalités

d’échapper au "piège de la caisse unique », qui rend impossible la diversification des

productions et l’équité entre générations.

Mots-clefs: exploitation minière - développement durable - municipalités minières - royalties

- Brésil - Canada

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Tipos de setores e os seus potenciais de conexões produtivas 58 Quadro 2: Economias extrativas e economias produtivas, segundo Bunker 64 Quadro 3: Padrões de crescimento econômico e os seus impactos 77 Quadro 4: Valores das elasticidades de substituição para algumas commodities minerais 83 Quadro 5: Interligações entre as liberdades instrumentais e os seus efeitos sobre o desenvolvimento

econômico 96 Quadro 6: Países e seus setores produtivos predominantes, selecionados por Shafer 115 Quadro 7: Categorias utilizadas na análise setorial de Shafer e os seus efeitos sobre a reestruturação

da base produtiva. 117 Quadro 8: Tipologia e desempenho do PIB per capita das economias mineiras no período 1990-1999,

de acordo com o Banco Mundial 123 Quadro 9: Recomendações de práticas sustentáveis feitas pelo Banco Mundial quanto ao uso da

rendas mineiras 137 Quadro 10: Evolução da Institucionalização do conceito de desenvolvimento sustentável voltado para

a indústria mineral 151 Quadro 11: Delimitação dos estudos de campo no Canadá (2005) 162 Quadro 12: Aspectos comparados da política minerária: Brasil e Canadá (2005) 184 Quadro 13: Ganhos econômicos e novas oportunidades de negócios decorrentes do processo de

certificação ambiental e gestão ambiental 228 Quadro 14: Exemplos de mudanças na rotina das companhias mineradoras após a obtenção das

certificações 234 Quadro 15: Base de incidência e alíquotas praticadas dos royalties sobre a mineração nos países

selecionados 342 Quadro 16: Tributos e royalties sobre a mineração: distribuição da receita gerada, restrições ao uso,

instrumentos legais que disciplinam a cobrança e o uso de royalties e outros tipos de tributação sobre o setor mineral, em alguns países selecionados 345

Quadro 17: Uso da CFEM pelos maiores municípios mineradores do Brasil – 2005 351 Quadro 18: FUNDESI – evolução dos marcos regulatórios 353 Quadro 19: Percepção dos principais atores sociais dos 15 maiores municípios mineradores do Brasil:

sobre o sistema da CFEM 363 Quadro 20: Entendimento de “responsabilidade social”, por parte das companhias mineradoras

visitadas. 365 Quadro 21: Exemplo de ações implementadas pelas companhias mineradoras na área social 366 Quadro 22: Sugestões para melhoria da efetividade da CFEM, pelos principais atores sociais dos 15

maiores municípios mineradores do Brasil. (2005 e 2006) 368 Quadro 23: Problemas e sugestões apontados pelos principais atores sociais da mineração nos 15

maiores municípios mineradores do Brasil para melhorar a regulamentação da CFEM. 371

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Canadá - valor da produção da indústria mineral, 2000 e 2006 (CAD$ milhões) .............. 160 Tabela 2: Canadá - valor da produção das principais commodities minerais, 2005 (CAD$ 106) ....... 162 Tabela 3: Ações ambientais das companhias mineradoras estudadas no Canadá (2005) ............... 171 Tabela 4: Ações sociais das companhias mineradoras estudadas no Canadá (2005) ...................... 181 Tabela 5: Receitas públicas: Canadá, Ontario, British Columbia e municípios estudados (2004)..... 187 Tabela 6: Valor das vendas e dos impostos recolhidos pelas quatro maiores companhias mineradoras

canadenses (2002/2003) em US$ milhões ................................................................................ 189 Tabela 7: Brasil - exportações de minerais (2005) ............................................................................. 199 Tabela 8: Brasil Unidades da federação: VPM, mão-de-obra, número de minas, CFEM (2004)....... 201 Tabela 9: Área desflorestada (% da área total) dos municípios mineradores do Pará e de seus

entornos (2000 e 2005) .............................................................................................................. 206 Tabela 10: Incidência de morbidade hospitalar, por causa de internação – média dos municípios

mineradores e não-mineradores (em % do total de internações). (2005).................................. 209 Tabela 11: Incidência de morbidade hospitalar, por causa de internação de doenças infecto-

contagiosas – média dos municípios mineradores das regiões Norte e Nordeste e das demais regiões (em % do total de internações). (2005) ......................................................................... 209

Tabela 12: Indicadores sobre a condição do meio ambiente nos municípios mineradores e dos entornos não-mineradores (2002) - Continua ............................................................................ 213

Tabela 13: Programas ambientais das companhias mineradoras estudadas (2005-2006). Continua224 Tabela 14: PIB per capita médio – 1980 e 2003 – municípios mineradores e não mineradores das

regiões Norte e Nordeste e das regiões do Centro-Sul (em R$ 1,00 constante de 2000) ........ 242 Tabela 15: Médias do indicador população ocupada, por município minerador ................................ 261 Tabela 16: População ocupada média, como proporção do total da população, nos municípios

mineradores e não-mineradores estudados – 1980 e 2000....................................................... 262 Tabela 17: Vitória do Jari (AP) e entorno não-minerador – população ocupada 1980 e 2000 (como %

da população total) ..................................................................................................................... 264 Tabela 18: Jaguarari (BA) e entorno não-minerador – população ocupada....................................... 265 Tabela 19: Serviços contratados pela Mineração Caraíba(2004)....................................................... 266 Tabela 20: Crixás e Minaçu (GO) e entorno não-minerador – população.......................................... 267 Tabela 21: Corumbá (MS) e entorno não-minerador – população ocupada ...................................... 269 Tabela 22: Itabira, Mariana, Paracatu e Santa Bárbara (MG) e entorno não-minerador ................... 269 Tabela 23: Canaã dos Carajás, Ipixuna do Pará, Parauapebas e Oriximiná (PA) ............................. 271 Tabela 24: Números de empregados diretos da CRVD Carajás ........................................................ 272 Tabela 25: Números de empregados da MSS – Canaã dos Carajás, 2002-2006 ............................. 274 Tabela 26: Forquilhinha (SC) e entorno não-minerador – população ocupada 1980 e 2000 (como %

da população total) ..................................................................................................................... 275 Tabela 27: Rosário do Catete (SE) e entorno não-minerador – população ocupada......................... 276 Tabela 28: Itens de receita per capita média: diferença entre municípios mineradores e não-

mineradores, em R$ 1,00 (2003)................................................................................................ 277 Tabela 29: 15 Maiores municípios mineradores do Brasil: arrecadação da CFEM e CFEM per capita –

1998 e 2003................................................................................................................................ 279 Tabela 30: componentes rotacionais da matriz do cluster.................................................................. 281 Tabela 31: IDHM médio para o conjunto de municípios mineradores e não-mineradores, de acordo

com a região de origem (1991 – 2000) ...................................................................................... 286 Tabela 32: 15 municípios mineradores do Brasil: IDHM 1991/2000 e ranking dentro dos Estados. . 287 Tabela 33: 15 Municípios mineradores do Brasil: dimensões e variações dos componentes do IDHM

1991/2000 – educação, longevidade e renda. ........................................................................... 289 Tabela 34: Média de percentual de pobres e de concentração de renda (índice de Gini) entre os

municípios mineradores e não-mineradores das regiões Norte e Nordeste e Centro-Sul (1991-2000)........................................................................................................................................... 297

Tabela 35 : Média de percentual de pobres e de concentração de renda (índice de Gini) entre os municípios mineradores das regiões Norte e Nordeste e Centro-Sul (1991-2000) ................... 298

Tabela 36: 15 maiores municípios mineradores do Brasil: percentual e variação de pobres e concentração de renda, no período 1991 - 2000. ...................................................................... 299

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Tabela 37: Funcionários públicos por 1.000 habitantes – média de 2005 e variação (2001/2005) nos municípios mineradores e não-mineradores do estudo ............................................................. 311

Tabela 38: Tipos de impostos e sua compatibilidade com a descentralização fiscal......................... 330 Tabela 39: 15 maiores municípios mineradores do Brasil e o seu grau de dependência e de

vulnerabilidade em relação à mineração (2005) ........................................................................ 348 Tabela 40: Usos dos recursos da CFEM pela Prefeitura Municipal de Forquilhinha (SC) - 2005...... 356 Tabela 41: Projetos Implementados pela Secretaria de Agricultura de Minaçu (2001 a 2004) ......... 358 Tabela 42: Quantidade produzida, valor da produção, área plantada e área colhida da lavoura

temporária de Minaçu (1998-2003) ............................................................................................ 358 Tabela 43: Efetivo dos rebanhos, por tipo de criação, Minaçu – 1999 - 2003.................................... 359

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Canadá - valor da produção de minerais (metálicos, não-metálicos e energéticos), por

província, em CAD$ 1.000 - 2006. ............................................................................................. 161 Gráfico 2: INCO - emissão de dióxido de enxofre (1930-2002).......................................................... 167 Gráfico 3: Dispêndios realizados pelos parceiros para os programas de recuperação ambiental de

Sudbury (1978-2004).................................................................................................................. 169 Gráfico 4: Dispêndios realizados pelos parceiros para os programas de recuperação ambiental de

Sudbury (2004) ........................................................................................................................... 169 Gráfico 5: Renda média anual da população maior de 15 anos para as cidades mineradoras visitadas,

suas províncias e para o Canadá, ano 2001.............................................................................. 173 Gráfico 6: Índice de crescimento populacional das cidades mineradoras visitadas, suas províncias e

Canadá - 1996-2006 (1996=100). .............................................................................................. 177 Gráfico 7: Taxa de desemprego nas cidades mineradoras visitadas, nas suas províncias e no Canadá

- 2001.......................................................................................................................................... 179 Gráfico 8: Acesso ao ensino secundário da população de 15 a 19 anos e população na faixa dos 20

aos 34 anos com nível pós-secundário para o ano de 2001...................................................... 180 Gráfico 9: Brasil: participação dos estados no valor da produção mineral brasileira – 1996- 2004... 200 Gráfico 10 Brasil e alguns estados, indicadores de produtividade da mineração: mão-de-obra, número

de minas, CFEM (2004).............................................................................................................. 201 Gráfico 11: Índice de crescimento econômico, gerado a partir de análise de cluster (2000)............. 242 Gráfico 12: Evolução do PIB per capita de Vitória do Jari (AP) e dos municípios do entorno (1970,

2000, 2003) R$ 1,00 de 2000..................................................................................................... 244 Gráfico 13: Evolução do PIB per capita de Jaguarari (BA) e dos municípios do entorno (1970, 2000,

2003). R$ 1,00 de 2000. ............................................................................................................. 245 Gráfico 14: Evolução do PIB per capita de Crixás e Minaçu (GO) e dos municípios do entorno (1970,

1980, 2000, 2003) R$ 1,00 de 2000........................................................................................... 246 Gráfico 15: Evolução do PIB per capita de Corumbá dos municípios do entorno (1970, 2000, 2003) R$

1,00 de 2000............................................................................................................................... 247 Gráfico 16: Evolução do PIB per capita de Itabira, Mariana, Paracatu e Santa Bárbara (MG) e dos

municípios do entorno (1970, 2000, 2003) R$ de 2000 ............................................................. 248 Gráfico 17: Evolução do PIB per capita de Canaã dos Carajás, Parauapebas, Oriximiná e Ipixuna do

Pará (PA) e dos municípios do entorno (1970, 2000, 2003) R$ de 2000 .................................. 249 Gráfico 18: Evolução do PIB per capita de Forquilhinha (SC) e dos municípios do entorno (1970,

2000, 2003) R$ de 2000............................................................................................................. 250 Gráfico 19: Evolução do PIB per capita de Rosário do Catete (SE) e dos municípios do entorno (1970,

2000, 2003) R$ de 2000............................................................................................................. 251 Gráfico 20: Evolução das taxas de crescimento populacional de Vitória do Jari (AP) e dos municípios

do entorno não-minerador (1970 - 2003) ................................................................................... 253 Gráfico 21: Evolução das taxas de crescimento populacional de Jaguarari e dos municípios do

entorno não-minerador (1970 - 2003) ........................................................................................ 254 Gráfico 22: Evolução das taxas de crescimento populacional de Itabira, Mariana, Paracatu, Santa

Bárbara e dos municípios do entorno não-minerador (1970 - 2003) ......................................... 255 Gráfico 23: Evolução da taxa de crescimento populacional de Corumbá e dos municípios do entorno

não-minerador (1970, 2000, 2003)............................................................................................. 256 Gráfico 24: Evolução das taxas de crescimento populacional de Parauapebas, Canaã dos Carajás,

Oriximiná, Ipixuna do Pará e dos municípios do entorno não-minerador(1970 - 2003) ............ 257 Gráfico 25: Evolução da taxas de crescimento populacional de Forquilhinha e dos municípios do

entorno não-minerador (1970 - 2003) ........................................................................................ 259 Gráfico 26: Evolução das taxas de crescimento populacional de Rosário do Catete e dos municípios

do entorno não-minerador (1970 - 2003) ................................................................................... 260 Gráfico 27: Classificação dos municípios de base mineradora de acordo com os fatores de

crescimento econômico e de desenvolvimento.......................................................................... 282 Gráfico 28: Anos de estudo e taxa de analfabetismo de Vitória do Jari (AP) e entorno não-minerador

(1970 a 2000) ............................................................................................................................. 291

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Gráfico 29: Anos de estudo e taxa de analfabetismo - Jaguarari (BA) e entorno não-minerador (1970 a 2000)........................................................................................................................................... 292

Gráfico 30: Anos de estudo e taxa de analfabetismo - Minaçu e Crixás (GO) e entorno não-minerador (1970 a 2000) ............................................................................................................................. 292

Gráfico 31: Anos de estudo e taxa de analfabetismo - Itabira, Mariana, Santa Bárbara e Paracatu (MG) e entorno não-minerador (1970 a 2000) ........................................................................... 293

Gráfico 32: Anos de estudo e taxa de analfabetismo - Corumbá (MS) e entorno não-minerador (1970 a 2000)........................................................................................................................................ 294

Gráfico 33: Anos de estudo e taxa de analfabetismo - Parauapebas, Oriximiná, Canaã dos Carajás e Ipixuna do Pará (PA) e entorno não-minerador (1970 a 2000).................................................. 295

Gráfico 34: Anos de estudo e taxa de analfabetismo de Forquilhinha (SC) e entorno não-minerador (1970 a 2000) ............................................................................................................................. 295

Gráfico 35: Anos de estudo e taxa de analfabetismo de Rosário do Catete (SE) e entorno não-minerador (1970 a 2000) ............................................................................................................ 296

Gráfico 36: Funcionários públicos por cada 1000 habitantes, nos municípios de base mineradora – variação 2001/2005 (%).............................................................................................................. 310

Gráfico 37: Índice de preços dos metais – 1998/2006 (1998=100) .................................................... 327

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1: Divisão territorial do Canadá................................................................................................. 160 Mapa 2: Localização dos municípios estudados no norte de Ontario: Sudbury, Timmins e Kirkland

Lake. ........................................................................................................................................... 163 Mapa 3: Renda per capita dos estados brasileiros (R$1,00 de 2000)................................................ 198 Mapa 4: Instituições ambientais nos municípios mineradores do Brasil e entorno não-minerador

(2002).......................................................................................................................................... 205 Mapa 5: Índices de desflorestamento nos municípios mineradores do Pará e entorno não-minerador

(2000-2005) ................................................................................................................................ 207 Mapa 6: Desflorestamento na Amazônia Legal (1997-2005) ............................................................. 208 Mapa 7: Incidência de doenças respiratórias e infecciosas nos municípios mineradores do Brasil e

entorno não-minerador (2005).................................................................................................... 211 Mapa 8: Áreas reservadas no entorno da CVRD................................................................................ 232 Mapa 9: Zoneamento da Flona de Carajás......................................................................................... 233 Mapa 10: Variação populacional nos municípios mineradores do Brasil e entorno não-minerador

(1980 e 2003) ............................................................................................................................. 252 Mapa 11: População ocupada nos municípios mineradores do Brasil e entorno não-minerador (1980 e

2000)........................................................................................................................................... 263 Mapa 12: População ocupada nos municípios mineradores do Pará e entorno não-minerador, em

2000............................................................................................................................................ 270 Mapa 13: Receita per capita e ISSQN per capita nos municípios mineradores do Brasil e entorno não-

minerador, em 2000.................................................................................................................... 278 Mapa 14: IDHM (2000) e PIB (2003) dos 15 maiores municípios mineradores do Brasil e entorno não-

minerador.................................................................................................................................... 286 Mapa 15: Associação entre pobreza, anos de estudos, população ocupada e analfabetismo nos 15

maiores municípios mineradores do Brasil e entorno não-minerador........................................ 300 Mapa 16: Associação entre analfabetismo e doenças infecciosas nos 15 maiores municípios

mineradores do Brasil e entorno não-minerador........................................................................ 306 Mapa 17: Associação entre pobreza, anos de estudos, população ocupada e analfabetismo nos 15

maiores municípios mineradores do Brasil e entorno não-minerador........................................ 307 Mapa 18: Associação entre anos de estudo, pobreza e despesa per capita com educação nos 15

maiores municípios mineradores do Brasil e nos seus entornos (2000 e 2003) ....................... 313 Mapa 19: Associação entre índice de Gini de concentração de renda (2000) e despesas com saúde

per capita (2003), taxa de analfabetismo (2000), gastos em investimento per capita (2003); IDHM (2000) e taxa de participação nas eleições (2006) nos 15 maiores municípios mineradores do Brasil e seus entornos ........................................................................................................... 315

Mapa 20: Municípios mineradores selecionados de Minas Gerais e os seus entornos não-mineradores: IDHM (2000), população ocupada (2000), anos de estudo (2000) e funcionários municipais por cada 1.000 habitantes (2001) ............................................................................ 322

Mapa 21: Municípios mineradores selecionados de Minas Gerais e os seus entornos: doenças infecciosas e respiratórias (2003), despesa com saúde per capita (2003) e participação nas eleições (2006) ........................................................................................................................... 323

Mapa 22: Municípios mineradores selecionados de Minas Gerais e os seus entornos: índice de Gini de concentração de renda (2000) , PIB per capita (2000), Conselho Ambiental ativo (2002), áreas reservadas municipais(2002), percentual de pobres (2000), gastos com investimento (2000).......................................................................................................................................... 324

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Efeitos em cadeia do consumo.............................................................................................. 58 Figura 2: Influência de setores produtivos sobre o desempenho governamental e as possibilidades de

desenvolvimento econômico ...................................................................................................... 120 Figura 3: Renda mineral como variável estratégica para o desenvolvimento .................................... 124 Figura 4: Critérios para sustentabilidade em mineração .................................................................... 148 Figura 5: Quadrado da sustentabilidade ............................................................................................. 150 Figura 6: Geografia do cluster mineiro de Ontario .............................................................................. 190 Figura 7: Institucionalização do meio ambiente nos municípios mineradores.................................... 204 Figura 8: Institucionalização do meio ambiente nos municípios não-mineradores ............................ 204 Figura 9: Associação entre pobreza, população ocupada e índice de concentração de renda (Gini)

para os municípios do estudo..................................................................................................... 302

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LISTA DE FOTOGRAFIAS Fotografia 1 – Sudbury: histórico de extração de recursos madeireiros, final do século XIX. ........... 165 Fotografia 2 – Sudbury: descoberta do níquel durante a construção da ferrovia TransCanada, 1884.

.................................................................................................................................................... 165 Fotografia 3: Fundições de Sudbury nos anos 1950 .......................................................................... 166 Fotografia 4: Paisagem devastada de Sudbury nos anos 1960 – erosão, acidificação dos solos..... 166 Fotografia 5: Smelters de Sudbury nos anos 1960............................................................................. 166 Fotografia 6: Paisagem desoladora dos solos de Sudbury nos anos 1960: erosão, contaminação por

metais pesados e acidez ............................................................................................................ 166 Fotografia 7: Neutralização da acidez do solo com uso de calcário agrícola (10 t/ha) ...................... 168 Fotografia 8: Os primeiros trabalhos voluntários de revegetação envoveram as crianças ................ 168 Fotografia 9: Sudbury: paisagem desértica nos anos 1960................................................................ 168 Fotografia 10: Sudbury: recuperação da paisagem 25 anos depois .................................................. 168 Fotografia 11: Sudbury: paisagem nos anos 1981 ............................................................................. 169 Fotografia 12: Sudbury: a mesma paisagem nos anos 2000 ............................................................. 169 Fotografia 13: Centro de Logan Lake – província de British Columbia (outubro de 2005) ................ 171 Fotografia 14: Highland Valley Copper – vista da principal frente de lavra (outubro de 2005) .......... 171 Fotografia 15: Mina de caulim da CADAM, no Morro do Filipe, município de Vitória do Jari – AP .... 217 Fotografia 16: Município de Vitória do Jari (AP) – más condições de saneamento da população que

vive sobre a várzea..................................................................................................................... 217 Fotografia 17: Área inundada pela barragem da Usina Hidrelétrica Serra da Mesa, Minaçu (GO) ... 218 Fotografia 18: Praia do Sol – praia artificial construída às margens do lago da barragem Cana Brava,

Minaçu (GO) ............................................................................................................................... 218 Fotografia 19: Mina de ferro (Mineração Urucum - CVRD), Corumbá (MS)....................................... 220 Fotografia 20: Vista panorâmica da Mina de Ferro (Mineração Urucum - CVRD), Corumbá (MS) ... 220 Fotografia 21: Rio Sangão contaminado com drenagem ácida das minas de carvão – Forquilhinha

(SC)............................................................................................................................................. 221 Fotografia 22: Área degradada com rejeitos das minas de carvão – Forquilhinha (SC).................... 221 Fotografia 23: Vista aérea da mina da RPM S/A, Paracatu (MG), ocupando uma vasta área urbana

.................................................................................................................................................... 222 Fotografia 24: Centro de Itabira – ao fundo mina de ferro da CVRD (maio/2005) ............................. 222 Fotografia 25: Vista aérea da mina de cobre da MSS (CVRD), Canaã dos Carajás (PA), ao fundo a

Floresta Nacional de Carajás. .................................................................................................... 223 Fotografia 26: Mina Ferro-Carajás (CVRD) . Parauapebas (PA)........................................................ 223 Fotografia 27: Processo de antropização da área de influência de Estrada de Ferro Carajás/Ponta da

Madeira (imagem Landsat – 1975)............................................................................................. 233 Fotografia 28: Processo de antropização da área de influência de Estrada de Ferro Carajás/Ponta da

Madeira (imagem Landsat - 1995) ............................................................................................. 233 Fotografia 29: Crescimento desordenado das aglomerações humanas em Parauapebas (bairro

Altamira – 2004) ......................................................................................................................... 258 Fotografia 30: Crescimento desordenado das aglomerações humanas em Parauapebas (bairro

Altamira - 2006) .......................................................................................................................... 258 Fotografia 31: Acampamento do MST, ao longo da estrada Marabá / Parauapebas. ....................... 303

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LISTA DE BOXES

BOX 1 - A controvérsia sobre a raridade dos recursos exauríveis ....................................................... 84 BOX 2 - O pensamento de Herman Daly.............................................................................................. 90 BOX 3 - Sudbury : um exemplo de cluster mineiro............................................................................. 175 BOX 4 - Super Flow Trough Program ................................................................................................. 185 BOX 5 - o sistema ISO 14000............................................................................................................. 227 BOX 6 - O caso da Licença Operacional Corretiva (LOC) da CVRD - Itabira (MG)........................... 229 BOX 7 - O caso da Carbonífera Criciúma S/A – Forquilhinha (SC).................................................... 231 BOX 8 - Mineração de cobre da CVRD e a relação Estado/município em Canaã dos Carajás (PA) 238 BOX 9 - Interação da empresa com a sociedade local....................................................................... 284 BOX 10 - Exemplo de relação preço dos minerais, lucro e imposto................................................... 328 BOX 11 - Eficiência gasto público versus gasto privado .................................................................... 329 BOX 12 - Representação esquemática da cadeia produtiva mineral ................................................. 336

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APA Área de Preservação Ambiental APMII Associação de Proteção à Maternidade e à Infância de Itabira BEE Black Economic Empowerment BID Banco Interamericano de Desenvolvimento BM Banco Mundial CADAM Caulim da Amazônia CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados CAMESE Canadian Association of Mining Equipament and Services CDL Clube de Dirigentes Lojistas de Itabira CENTEC Centro Técnico Interescolar CEPAL Comissão Econômica para América Latina e o Caribe CETEM Centro de Tecnologia Mineral CFEM Compensação Financeira pela Exploração Mineral CGU Controladoria Geral da União CIA Central Intelligency Agency CIMAs Comissões Internas de Meio Ambiente CMMA Conselho Municipal de Meio Ambiente COFINS Contribução para o Financiamento da Seguridade Social COPAM Conselho Estadual de Política Ambiental de Minas Gerais CVRD Companhia Vale do Rio Doce DATASUS Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde DIPAR Diretoria de Planejamento e Arrecadação DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral DS Desenvolvimento Sustentável EIR Extractive Industry Review FEAM Fundação Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais FIDE Fundação Itabirana Difusora de Ensino FINBRA Finanças do Brasil FLONA Floresta Nacional FPIC Free, Prior and Information Consent FPM Fundo de Participação dos Municípios GMI Global Mining Iniciative HDSA Historically Disadvantaged South Africans HHS Hicks-Hartwick-Solow IBAMA Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBRAM Instituto Brasileiro de Mineração ICME International Council on Metais and Environment ICMM International Council on Mining & Metals ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços IDH Índice de Desenvolvimento Humano IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IFC International Financial Corporation IIED International Institute for Environment and Development INCO International Nickel Company of Canada INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPEA Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano ISO International Organization for Standartization ISSQN Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza ITCE Investment Tax Credit for Exploration IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos

Naturais LOC Licença Operacional Corretiva MAC Mining and Comunities MCT Ministério da Ciência e Tecnologia MME Ministério de Minas e Energia MMSD Mining, Minerals and Sustainable Development

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MPP Mineração Pirâmide Participação MRN Mineração Rio do Norte MSG Mineração Serra Grande MSS Mineração Serra do Sossego MST Movimento dos Sem Terra MTE Ministério do Trabalho e Emprego NOHFC Fundo de Pensão do Norte de Ontário NOSA National Occupational Safety Association OMIC Ontario Mineral Industry Cluster Council ONU Organização das Nações Unidas PARTZANS People Against RTZ PDAC Propectors and Developers Association of Canada PIB Produto Interno Bruto PIS Programa de Integração Social PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PPSA Pará Pigmentos S/A RAIS Relação Anual de Informações Sociais RCCSA Imerys Rio Capim Caulim S/A REBIO Reserva Biológica RT Rio Tinto SECTAM Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SESI Serviço Social da Indústria SGA Sistemas de Gerenciamento Ambiental SPSS Statistical Package for the Social Sciences STN Secretaria do Tesouro Nacional TSE Tribunal Superior Eleitoral UCS Unidades de Conservação VAF Valor Adicionado Fiscal WBCSD World Business Council for Sustainable Development WMI Whitehorse Mining Iniciative WSSD World Summit on Sustainable Development WWF World Wildlife Fund for Nature

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SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS........................................................................................................................... 11 LISTA DE TABELAS ............................................................................................................................ 12 LISTA DE FIGURAS............................................................................................................................. 17 LISTA DE BOXES ................................................................................................................................ 19 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .............................................................................................. 20 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 25 1 DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE EM REGIÕES RICAS EM RECURSOS NATURAIS, MAS POBRES NOS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS......................................... 34

1.1 PANORAMA GERAL DAS EXPLICAÇÕES TEÓRICAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO....... 34 1.2 TEORIAS CLÁSSICAS DE CRESCIMENTO.............................................................................. 37

1.2.1 As fórmulas para o crescimento (desenvolvimento): Harrod & Domar e Solow ................. 37 1.2.2 Teoria da modernização...................................................................................................... 40 1.2.3 Teoria dos pólos de crescimento......................................................................................... 43 1.2.4 A causação circular e cumulativa de Myrdal ....................................................................... 44

1.3 TEORIAS DE INSPIRAÇÃO MARXISTAS OU NEO-MARXISTAS............................................. 48 1.3.1 A visão da CEPAL ............................................................................................................... 49 1.3.2 Teorias da dependência ...................................................................................................... 51 1.3.3 O excedente econômico como a chave para o desenvolvimento, em Baran ..................... 54 1.3.4. Os efeitos em cadeia de Hirschman................................................................................... 56 1.3.5 As economias extrativas e produtivas, em Bunker ............................................................. 62 1.3.6 A “quadratura do círculo” e o “prodequisus”, em Altvater ................................................... 67

1.4 TEORIAS INSTITUCIONALISTAS OU NEO-INSTITUCIONALISTAS........................................ 71 1.5 AS PROPOSTAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .................................................. 74

1.5.1. Ecodesenvolvimento e desenvolvimento includente, sustentado e sustentável em Sachs75 1.5.2 Sustentabilidade e suas derivações.................................................................................... 79

1.5.2.1 Sustentabilidade fraca e a regra de Hicks-Hartwick-Solow (HHS)............................................... 80 1.5.2.2 Sustentabilidade em Solow ......................................................................................................... 84 1.5.2.3 Sustentabilidade forte e a inadequação do critério de eficiência ................................................. 88 1.5.2.4 Teses econômico-ecológicas - tentativa de complementaridade entre sustentabilidade fraca e forte. ........................................................................................................................................................ 92

1.6 OUTROS ENFOQUES................................................................................................................ 94 1.6.1 Desenvolvimento como liberdade, de Amartya Sen ........................................................... 94 1.6.2 Desenvolvimento como emergência sistêmica, em Boisier ................................................ 98

1.7 UMA VISÃO CONJUNTA DAS TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO ...................................... 103 2 MINERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO – PRINCIPAIS ABORDAGENS ...................................... 109

2.1 A MINERAÇÃO COMO UMA ATIVIDADE NEFASTA............................................................... 110 2.1.1 Maldição dos recursos e doença holandesa ..................................................................... 111 2.1.2 Natureza efêmera das economias extrativas .................................................................... 114 2.1.3 A mineração como um setor perdedor .............................................................................. 114 2.1.4 Expectativas eufóricas de desenvolvimento com base na mineração.............................. 121 2.1.5 Péssimo desempenho econômico das economias mineiras ............................................ 123

2.2 A MINERAÇÃO COMO UM TRAMPOLIM PARA O DESENVOLVIMENTO ............................. 125 2.2.1 A visão do Banco Mundial (BM) ........................................................................................ 125 2.2.2 O setor mineral como um perdedor revisitado por Davis .................................................. 127

2.2.2.1 Influência dos minerais sobre a capacidade burocrática do estado e sobre a flexibilidade estrutural................................................................................................................................................ 127 2.2.2.2 Causalidade entre o desempenho estatal e o crescimento econômico ..................................... 128 2.2.2.3 Extrair minérios ou industrializá-los? ......................................................................................... 129 2.2.2.4 Desempenho geral das economias mineradoras....................................................................... 129

2.2.3 Acelerar o timing da extração mineral ............................................................................... 132 2.3 DESAFIOS PARA COMBINAR MINERAÇÃO E SUSTENTABILIDADE................................... 133

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2.3.1 Determinação e uso das rendas minerais: o calcanhar de aquiles das economias de base mineira ........................................................................................................................................ 133

2.3.2.1 Necessidade de fortalecer e diversificar produtivamente a comunidade ................................... 141 2.3.2.2 Necessidade de adicionar valor às comunidades...................................................................... 143

2.4 A CONSTRUÇÃO DA IDÉIA DE UMA MINERAÇÃO SUSTENTÁVEL..................................... 144 2.4.1 Iniciativas recentes sobre desenvolvimento sustentável e mineração.............................. 150

2.4.1.1 Global mining initiatives (GMI)e minerals, mining and sustainable development (MMSD) ........ 152 2.4.1.2 Declaração de Londres.............................................................................................................. 153 2.4.1.3 Extractive industry review (EIR)................................................................................................. 154

3 MUNICÍPIOS MINERADORES E DESENVOLVIMENTO - A EXPERIÊNCIA CANADENSE........ 158 3.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO CANADÁ............................................................................ 159 3.2 OS MUNICÍPIOS MINERADORES CANADENSES E AS DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ......................................................................................... 164

3.2.1 A dimensão ambiental ....................................................................................................... 164 3.2.2 A dimensão econômica ..................................................................................................... 173

3.2.2.1 A dinâmica populacional............................................................................................................ 176 3.2.3 A dimensão social.............................................................................................................. 180 3.3.4 A dimensão da governança (política minerária)................................................................ 183

4 MINERAÇÃO DE LARGA ESCALA NOS MAIORES MUNICÍPIOS-MINERADORES DO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM AS DIMENSÕES CLÁSSICAS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL195

4.1 A DIMENSÃO AMBIENTAL....................................................................................................... 202 4.1.1 Indicadores de institucionalização da dimensão ambiental .............................................. 203 4.1.2 Municípios mineradores e os indicadores de desmatamento ........................................... 206 4.1.3 Municípios mineradores e incidência de doenças............................................................. 209 4.1.4 As condições do meio ambiente em municípios mineradores .......................................... 212 4.1.5 Políticas de meio ambiente das empresas nos municípios mineradores ......................... 223

4.2 A DIMENSÃO ECONÔMICA..................................................................................................... 241 4.2.1 Município minerador e crescimento econômico ................................................................ 241

4.2.1.1 Comportamento do PIB per capita dos municípios de base mineira e seus entornos, por Estado.............................................................................................................................................................. 243

4.2.2 Município minerador e dinâmica populacional .................................................................. 251 4.2.2.1 Dinâmica populacional dos municípios de base mineira e seus entornos, por estado .............. 253

4.2.3 Mineração e população ocupada ...................................................................................... 260 4.2.3.1 Município minerador e população ocupada por Estado............................................................. 263

4.2.4 Municípios mineradores e receitas públicas ..................................................................... 277 4.2.4.1 Indicadores de receita e receita per capita da CFEM nos municípios mineradores .................. 279

4.3 A DIMENSÃO SOCIAL.............................................................................................................. 280 4.3.1 Mineração e os indicadores de desenvolvimento humano ............................................... 285

4.3.1.1 Desempenho do IDHM – uma visão de conjunto entre os municípios mineradores.................. 287 4.3.1.2 Desempenho da educação - uma visão de conjunto entre os municípios mineradores e não-mineradores........................................................................................................................................... 290 4.3.1.3 Mineração, pobreza e concentração de renda .......................................................................... 297 Dada a limitação de informações estatísticas para a comparação das médias com o entorno não-minerador é importante focar mais atentantamente no interior dos municípios mineradores................ 298 4.3.1.4 Mineração, pobreza e concentração de renda nos municípios mineradores............................. 298 4.3.1.6 Mineração e pobreza, suas interrelações e complementaridades ............................................. 305

4.4 A DIMENSÃO DA GOVERNANÇA............................................................................................ 308 4.4.1 Eficiência da gestão da administração pública ................................................................. 309 4.4.2 Eficiência no uso de receita e nas despesas públicas...................................................... 312

4.4.2.1 Interrelações entre dispêndios públicos e os indicadores do desenvolvimento......................... 312 4.4.3 Desconstrução e reconstrução do capital social e institucional de Itabira ........................ 317

5 ROYALTY MINERAL COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA MINERÁRIA ................................. 326 5.1 RENDA MINERAL E TRIBUTAÇÃO MINERÁRIA..................................................................... 326

5.1.1 Conceito de Tributação Minerária ..................................................................................... 329 5.1.2 Tipos de tributação incidentes sobre o setor mineral........................................................ 330 5.1.3 O que são royalties minerais? ........................................................................................... 331 5.1.4 As bases de incidência para a cobrança dos royalties ..................................................... 332 5.1.5 As bases de incidência da tributação minerária................................................................ 334 5.1.6 Diferentes níveis de cobrança dos tributos ....................................................................... 334

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5.1.7 A Tributação mineral ao longo da cadeia produtiva .......................................................... 335 5.1.8 Os royalties da mineração no Brasil – a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) ....................................................................................................................................... 337 5.1.9 A política de royalties em países mineradores selecionados ........................................... 339

5.1.9.1 Outras experiências na implantação de royalties nas economias latino americanas: Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile e Peru ............................................................................................................. 342 5.1.9.2 Regulamentação e uso da renda proveniente dos royalties em países selecionados............... 344

6 O USO DA RENDA MINERAL PELOS MAIORES MUNICÍPIOS MINERADORES DO BRASIL – O CASO DA CFEM................................................................................................................................. 347

6.1 GRAU DE DEPENDÊNCIA E VULNERABILIDADE ASSOCIADOS À MINERAÇÃO............... 347 6.2 USOS DA CFEM ....................................................................................................................... 350 6.3 PERCEPÇÃO DO INSTRUMENTO CFEM PELOS PRINCIPAIS ENVOLVIDOS .................... 362

CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 373 REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 381 ANEXOS ............................................................................................................................................. 397

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INTRODUÇÃO

A mineração é uma das mais antigas atividades produtivas exercidas pela

humanidade. Não é casual que a história da civilização adote as suas diferentes

modalidades como marcos divisórios de suas eras: idade da pedra lascada (paleolítico),

idade da pedra polida (neolítico) e idade dos metais (cobre, bronze e ferro). Consciente ou

inconscientemente, o consumo de bens minerais está presente em quase todos os setores

da vida moderna: de insumos para agricultura até os sofisticados materiais para indústria

eletroeletrônica; de bens de consumo aos grandes equipamentos industriais; da produção

de medicamentos e cosméticos até a indústria aeroespacial, entre tantos outros usos.

Não obstante a sua importância histórica e atual, há muita polêmica quanto ao

efetivo papel da mineração para o desenvolvimento dos espaços territoriais onde ela ocorre.

Uma corrente de pensamento (LEWIS, 1984; BUNKER, 1988; SHAFER, 1994;

FREUBENBURG, 1998; GYLFASON, 2000; WHITEMORE, 2006) afirma que economias de

base mineradora têm muito mais problemas do que vantagens para conduzir o seu processo

de desenvolvimento. Segundo essa visão, as fartas rendas provenientes da extração dos

recursos minerais produzem uma espécie de maldição por limitarem a capacidade

expansiva de outros setores produtivos. Adicionalmente, elas induzem a permanência no

poder de uma elite atrasada e parasitária que não consegue deslanchar políticas para

diversificar a economia e deixá-la menos dependente do setor mineral. Essa corrente se

inspira em duas fontes: as teorias sobre o processo de acumulação capitalista global

(BARAN, 1965; CARDOSO & FALETTO, 1970; ALTVATER, 1995; ARRIGHI, 1997) e as

teorias estruturadas a partir do paradigma de termodinâmica (ALTVATER, 1995;

CLEVELAND & RUTH, 1997; DALY, 1997).

Com o mesmo ímpeto, outra corrente, radicalmente oposta (RADETZKY, 1992;

DAVIS, 1995, 1998; DAVIS & TILTON, 2002; PEGG, 2006; STIJNS, 2006), defende a idéia

de que a mineração é um trampolim para o desenvolvimento. O argumento central é o de

que não pode haver desenvolvimento sem os meios adequados para financiá-lo e que a

extração mineral é um dos setores produtivos que tem grandes possibilidades de gerar

vultosos recursos financeiros. Portanto, regiões que foram privilegiadas com jazidas

minerais receberam verdadeira benção que, por sua vez, deve ser utilizada em prol de seu

desenvolvimento. Essa visão tem o seu principal ponto de apoio na teoria econômica

convencional (HARROD/DOMAR apud HUNT, 1989; SOLOW, 1956, 1986; ROSTOW,

1960), além do próprio processo histórico das atuais economias desenvolvidas, que

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contaram, e ainda contam, com um forte setor minerador, como Inglaterra, Canadá,

Austrália e os Estados Unidos (INIS, 1956; MACHADO, 1989).

Há ainda uma terceira via cujo lema seria - “nem tanto ao mar, nem tanto à terra” -,

que percebe as oportunidades, mas que também vê os desafios que as regiões de base

mineradora precisam enfrentar para superar os problemas colocados pela busca do

desenvolvimento (AUTY & WARHURST, 1993; WARHURST, 1999; HILSON, 2000; VEIGA

et al., 2001). Essa perspectiva emergiu juntamente com a nova concepção do

desenvolvimento sustentável que alerta para a necessidade imperiosa de incluir as futuras

gerações nas decisões do presente e, dessa forma, promover um crescimento econômico

comprometido com os limites ecossistêmicos e com a melhor eqüidade social, ou seja, para

a necessidade de harmonizar as dimensões econômica, ecológica e social do

desenvolvimento (WECD, 1987; SACHS, 1986, 1993, 2004; PROOPS et al., 1997). Essa

proposta comporta diferentes nuances, desde a “sustentabilidade fraca” (SOLOW, 1993;

TILTON, 1996), a Escola de Londres, a “sustentabilidade sensata” (PEARCE, 1993;

PEARCE, & ATKINSON 1992, SERAGELDIN, 1995), à economia ecológica (FAUCHEUX E

NÖEL, 1995; ALIER, 1997).

Essas concepções analíticas, entretanto, estão muito mais direcionadas ao estudo

de países monoprodutores de bens minerais, com grande destaque para os produtores de

petróleo, ou a estudos pontuais de comunidades mineiras. São escassos os estudos

voltados especialmente para conhecer o que ocorre com uma escala não tão ampla como

um país, nem tão restrita como uma comunidade, como é o caso dos municípios de base

mineradora. As jazidas minerais são espacialmente concentradas e, dada sua rigidez

locacional, os estabelecimentos mineradores precisam estar localizados próximos a elas.

Esse atributo faz com que os municípios que abrigam atividades de extração mineral

adquiram características próprias. Será que essas características assumem contornos de

maldição, isto é, de atraso econômico, empobrecimento social e depleção dos recursos

naturais; ou, ao contrário, assumem feição de dádiva, isto é, de desenvolvimento sustentado

e sustentável, como afirma SACHS (2004)?

Não existe dádiva sem expectativa de retribuição (MAUSS, 1974). O sentido de

dádiva aqui adotado é a perspectiva de que a extração dessas jazidas gere oportunidades

de desenvolvimento. A noção de desenvolvimento assumida nesta tese recebeu muitas

influências teóricas. Tem a perspectiva humanista de Amartya Sen, para quem o

desenvolvimento, muito mais do que acumulação de riqueza, de crescimento do PIB e de

variáveis associadas à renda, é a diminuição das privações ou a ampliação da capacidade

de escolhas ligadas ao alargamento das liberdades reais (substantivas e instrumentais) de

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que as pessoas desfrutam. Essa noção de desenvolvimento incorpora ainda a perspectiva

do desenvolvimento includente, sustentado, sustentável, não-mimético e capaz de

desencadear o potencial de desenvolvimento endógeno, conforme Ignacy Sachs.

Adicionalmente, inclui a perspectiva da racionalidade processual na busca da conciliação do

desenvolvimento econômico com os limites ecossistêmicos, conforme alerta a economia

ecológica. Na linha da nova economia institucionalista, trabalha-se também com a forte

convicção de que a qualidade das instituições e os custos de transação a elas associados

interferem intensamente nas possibilidades do desenvolvimento.

Considerando a natureza exaurível intrínseca do recurso mineral, para que a

mineração possa ser considerada uma atividade sustentável, de acordo com a perspectiva

da sustentabilidade sensata, ela precisa promover a eqüidade intra e intergeração (AUTY &

WARHURST, 1993). Da perspectiva da geração atual, a mineração pode ser considerada

sustentável se ela minimizar os seus impactos ambientais (mantiver certos níveis de

proteção ecológica e de padrões ambientais) e garantir o bem-estar socioeconômico no

presente (crescimento da renda, melhoria das condições de educação e de saúde,

minimização da pobreza, melhor distribuição da renda, redução da exclusão e aumento do

emprego, entre outros). Da perspectiva das gerações futuras, a mineração pode ser

considerada uma atividade sustentável se ela garantir o bem-estar das gerações futuras, o

que pode ser feito a partir do uso sustentado das rendas que a mineração proporcionou.

É este o principal problema que esta tese se propõe a responder, qual seja, saber se

para os maiores municípios de base mineradora do Brasil a atividade de extração mineral

tem se convertido em dádiva (desenvolvimento sustentável) ou em maldição.

Adicionalmente, ela pretende verificar se o uso da Compensação Financeira pela

Exploração Mineral (CFEM), importante parcela das rendas mineiras que fica com o

município, contribui para isso.

No Brasil, por volta de 1.700 municípios (30,6% do total) recebem recursos financeiros

da CFEM. Deste universo, apenas 27 municípios respondem pela maior parte da

arrecadação (81%). Destes, foram escolhidos 15 para compor a amostra da pesquisa

empírica. Eles foram selecionados a partir de três critérios: 1) valor anual da CFEM que

cabe ao município ser superior a R$ 1 milhão (valores de 2003); 2) peso da CFEM na

receita pública municipal ser entre 5% a 30%; e 3) visando uma melhor representatividade

nacional, levou-se em conta a região geográfica do município.

Para melhor compreender a dinâmica dos municípios mineradores no Brasil, é muito

inspirador conhecer outras experiências que tiveram êxito a partir de uma forte base

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mineradora. Para isso, o Canadá foi o país escolhido, pois ele lidera o ranking da produção

de muitas commodities minerais, tem longa tradição em conviver com um forte setor mineral

e o sucesso de suas políticas minerais tem servido de exemplo para muitas novas

economias de base mineradora. Além disso, desperta curiosidade saber como um país rico

e altamente desenvolvido como o Canadá fomenta e estimula o crescimento da mineração,

já que a atividade é considerada degradadora dos recursos naturais, altamente poluidora e

geradora de muito mais custos sócio-ambientais do que benefícios. Assim, a experiência

canadense possibilita saber de que maneira a política mineral adotada pelo poder público e

pelas empresas está enfrentando o desafio de conciliar a atividade de extração mineral com

os imperativos do desenvolvimento sustentável.

Os procedimentos metodológicos adotados na parte empírica do estudo, tanto no

Brasil como no Canadá, estão descritos no Anexo 1.

A tese parte de três hipóteses: 1) após a institucionalização da questão ambiental no

mundo e, por conseqüência, no Brasil, a dimensão ambiental (biofísica) do desenvolvimento

não é o mais grave problema que os municípios de base mineradora enfrentam para seguir

uma trajetória de sustentabilidade; 2) o principal problema que atinge municípios

mineradores está relacionado às questões socioeconômicas, pois, diferentemente da

questão ambiental, ainda não há um aparato legal e institucional consolidado (mecanismos

indutores) que discipline de que forma a atividade mineradora deve contribuir para a

sustentabilidade do município produtor; e 3) a CFEM é um instrumento de grande potencial

para contornar os problemas que os municípios mineradores enfrentam e, se bem aplicada,

pode contribuir para a melhoria da eqüidade intergeração na distribuição dos benefícios da

extração mineral.

O Brasil, acompanhando a evolução internacional das questões ligadas ao meio

ambiente, elaborou importantes marcos regulatórios ambientais, com amplos efeitos sobre o

setor mineral. No entanto, para a dimensão socioeconômica não há o mesmo tratamento.

Esse é um problema global que atinge não somente o Brasil e outras economias periféricas,

mas também países ricos, como o Canadá, por exemplo.

Quanto à dimensão socioeconômica, concordamos com autores clássicos do

desenvolvimento. Eles afirmam que a dinâmica econômica, deixada ao seu livre jogo, ou

seja, sem mecanismos indutores das políticas públicas, tende a favorecer e reforçar atores

que já estão em vantagem (MYRDAL, 1972; HIRSCHMAN, 1977). Portanto, sem

mecanismos indutores, é pouco provável que o desenvolvimento de regiões com fracos

indicadores socioeconômicos ocorra espontaneamente, a reboque do crescimento do setor

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mineral. Essa situação é de particular importância, porque no Brasil a mineração está se

expandindo para áreas muito deprimidas socioeconomicamente.

Considerando-se que é o bom uso da renda mineira a ponte para viabilizar a

distribuição eqüitativa dos benefícios minerais entre as gerações, a CFEM assume um papel

central. Não obstante representar apenas uma pequena porção da renda mineira, a CFEM1

tem a vantagem de beneficiar majoritariamente o município produtor (65% da arrecadação)

e de não estar vinculada a gasto específico, o que permite ampla flexibilidade para o gestor

público usá-la a partir de uma perspectiva de sustentablidade. Convém ressaltar que,

embora a legislação minerária brasileira tenha abrangência nacional, o uso dessas rendas

varia muito entre as cidades mineradoras. Portanto, conhecer essas práticas é de

fundamental importância para o estudo.

Desde a sua criação, pela lei no. 7.990/90, que regulamentou o artigo 20 da

Constituição Federal de 1988, este é o primeiro estudo abrangente realizado sobre a

efetividade da CFEM no Brasil. O Brasil foi um dos primeiros a criar um sistema de partilha

dos benefícios da explotação mineral com as regiões produtoras. Assim, a avaliação dessa

experiência tem uma grande importância para outros países que ainda estão implantando

seu sistema de royalties da mineração, como o Peru, em 2004, o Chile, em 2005, na

América Latina, e a África do Sul, entre outros.

Definidos o pano-de-fundo analítico e o problema da tese, o principal objetivo deste

estudo é apresentar um conjunto de indicadores capazes de captar a influência da atividade

mineradora nas dimensões clássicas do desenvolvimento – ambiental (ou ecológica),

econômica, social e governança – a fim de verificar a veracidade das hipóteses assumidas.

Um dos principais desafios para o desenvolvimento sustentável é conhecer a base

socioespacial em que os fenômenos ocorrem. Sem isso, as propostas de desenvolvimento

sustentável se fragilizam pela inadequação aos fatos. Daí a importância do uso de

indicadores, enquanto ferramentas que permitem aferir a realidade com isenção.

Indicadores que revelem a trajetória ao longo do tempo do município minerador são

importantes para verificar as transformações ocorridas. No entanto, como saber se essas

transformações se devem à existência de atividade mineral ou a outros fatores? Como uma

alternativa para contornar essa dificuldade, recorremos à comparação dos mesmos

indicadores para os municípios não-mineradores do entorno do município estudado. Por

estarem estabelecidos na mesma região geográfica, é provável que o município minerador e

1 Outras parcelas das rendas mineiras ficam com os lucros das companhias mineradoras, com os dividendos dos acionistas, com os royalties aos superficiários e outros.

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o seu entorno recebam influências espaciais semelhantes em seu processo de

desenvolvimento. Por ter uma atividade de extração mineral, é admissível que municípios de

base mineradora apresentem peculiaridades. Quais são essas peculiaridades? Como elas

afetam as dimensões clássicas do desenvolvimento desses espaços? Estas são algumas

das questões norteadoras desta tese.

Foram selecionados 50 municípios brasileiros, distribuídos por oito estados. Quinze

deles apresentam atividade mineral de grande porte e recebem a CFEM, enquanto que os

outros 35 estão no entorno dos primeiros2. Para esse conjunto foram analisados indicadores

ambientais, econômicos, sociais e de governança, que constituem a base de dados do

Anexo 3. Essa base foi elaborada a partir de informações recolhidas junto aos sites do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisas Econômicas

Aplicadas (IPEA), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),

Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), da Secretaria do

Tesouro Nacional (STN), entre outros listados no Anexo 2. Convém observar que muitos

municípios estudados são de criação recente (anos 1990), o que impede a análise de sua

trajetória ao longo do tempo e permite que se faça apenas uma análise estático-comparativa

com o seu entorno em um determinado ponto do tempo.

Os indicadores ambientais utilizados, ou proxies destes, foram: existência ou não de

legislação ambiental municipal, existência ou não de secretaria municipal de meio ambiente,

dispêndios municipais com o meio ambiente (2003), área desmatada (apenas para os

municípios da Amazônia Legal). É importante destacar que esses indicadores ainda são

muito precários e não permitem estabelecer um quadro fidedigno da situação ambiental do

município. As informações ambientais relevantes foram as obtidas a partir de entrevistas e

coleta de documentação feita durante os trabalhos de campo, porém essas informações não

permitem estabelecer um quadro comparativo com o rigor que requer o objetivo do estudo.

Os indicadores econômicos usados foram: PIB (para dez momentos do tempo –

1970, 1975, 1980, 1985, 1996, 1999, 2000, 2001, 2002 e 2003), PIB per capita (para os

mesmos anos do PIB) e finanças públicas municipais - receitas e dispêndios públicos para

os anos de 1998, 20033 e para 2005.

2 Originalmente, estavam selecionados 42 municípios de entorno para a comparação. Porém, descobriu-se que eles também recebiam CFEM, o que determinou a sua exclusão. 3 Esses anos foram escolhidos por dois motivos: em primeiro lugar, pela disponibilidade de informações no site da Secretaria do Tesouro Nacional e, em segundo lugar, pela existência de um estudo nacional para avaliação das finanças municipais antes e depois da Lei de Responsabilidade Fiscal, o que permite realizar comparações nacionais.

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Os indicadores sociais adotados foram: Índice de Desenvolvimento Humano

Municipal (IDHM) e sub-índices de educação, renda e longevidade (1970, 1980, 1991 e

2000), percentual de pobres (1991 e 2000), índice de Gini para concentração de renda

(1991 e 2000), população total (para os anos censitários desde 1970 a 2000), população

ocupada (para os mesmos anos da população total), posição do IDHM em relação ao seu

Estado, número de anos de estudo, taxa de analfabetismo e principais incidências de

doenças.

Os indicadores de eficiência do setor público (utilizados como proxy da governança)

foram: presteza orçamentária, número de funcionários públicos por habitante e padrão de

gasto público.

Essa base de indicadores foi trabalhada a partir da técnica da cartografia estatística,

com a utilização do programa Philcarto4, que permite combinar indicadores e espacializar

informações estatísticas na escala dos municípios. Para as regressões estatísticas e a

análise de cluster, o programa adotado foi o programa Statistical Package for the Social

Sciences (SPSS), cujos cálculos estão no Anexo 6.

Os resultados obtidos a partir desse conjunto de indicadores foram confrontados com

o uso da CFEM, com o objetivo de verificar a existência de associação entre o padrão do

gasto da CFEM e as dimensões do desenvolvimento municipal. O levantamento de campo

foi muito importante para responder a outro conjunto de questões norteadoras, do tipo: qual

a política de uso dessas rendas por parte dos municípios beneficiários? O seu uso está

vinculado a alguma estratégia de sustentabilidade? Além da CFEM, as companhias

mineradoras realizam outras despesas reveladoras de uma perspectiva de responsabilidade

social e ambiental, no município ou na comunidade onde atuam?

A tese está estruturada em seis capítulos. O Capítulo 1 apresenta um panorama

amplo das principias teorias de desenvolvimento. A revisão dessa vasta literatura clássica

lança muitas luzes para melhor compreender os desafios e as possibilidades de

desenvolvimento de regiões de base mineira. As visões teóricas sobre o desenvolvimento

revelam grande diversidade de interpretações, mas muitas interseções entre perspectivas

opostas, especialmente no que diz respeito ao conceito de desenvolvimento. Desse

manancial, é possível extrair ferramentas valiosas para entender os dilemas das regiões de

base mineradora. É possível verificar quais os argumentos que estão por trás da idéia de

que a mineração é um trampolim para o desenvolvimento e, ao contrário, da idéia de que é

4 Software francês de uso livre criado por Philippe Waniez, disponibilizado no site http://philgeo.club.fr/Index.html

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um setor atrasado e formador de enclaves. É possível também extrair conceitos importantes

para a análise do desenvolvimento, em geral, e das regiões mineradoras, em particular, os

arranjos institucionais de North, os encadeamentos de Hirschman, a apropriação e o uso da

renda em diversos autores, a importância das liberdades constitutivas e instrumentais de

Sen, e tantos outros. O mais relevante, entretanto, é a compreensão de que

desenvolvimento é multidimensional e que receitas simplórias e unidisciplinares não têm

alcance para abarcar a extensão dos problemas que a superação da condição de

subdesenvolvimento requer.

O Capítulo 2 reforça muitas das idéias contidas no anterior, mas ele trata

especificamente a perspectiva de desenvolvimento de regiões de base mineradora. Ele

enfoca desde a discussão clássica das teses da maldição dos recursos e da doença

holandesa, em contraposição à visão que considera a atividade como um motor do

desenvolvimento, até o debate contemporâneo em torno da construção da idéia de uma

mineração sustentável. Neste capítulo são abordadas também as iniciativas recentes

promovidas por organizações internacionais, como o Conselho Global de Empresários para

o Desenvolvimento Sustentável e o Banco Mundial, entre outros, na tentativa de

estruturação da idéia de sustentabilidade e mineração, bem como os desdobramentos que

isso tem gerado.

O Capítulo 3 apresenta a experiência de quatro municípios mineradores canadenses

das províncias de Ontario e British Columbia. Ele começa com uma breve caracterização do

país e uma contextualização de seu setor mineral para, em seguida, adentrar nas

dimensões ecológica, econômica, social e de governança dos municípios estudados. O

tempo da visita ao Canadá foi muito curto e, portanto, não foi possível realizar um estudo

comparativo com o entorno não-minerador, mas apenas dos municípios mineradores entre

si e em relação às suas províncias e ao próprio Canadá. Conhecer a experiência canadense

é de grande importância para a melhor compreensão dos problemas dos municípios

mineradores no Brasil. O caso de Sudbury é muito ilustrativo de como a pressão social e a

força da lei passaram a ser o grande divisor de águas entre as práticas predatórias e as

atitudes ecológicas mais responsáveis adotadas pelo setor mineral. O caso de Logan Lake

mostra que tão importantes quanto as atitudes ecológicas são as atitudes em relação aos

aspectos socioeconômicos. Finalmente, a experiência canadense desmistifica a idéia de que

um país rico de longa tradição mineradora tem a melhor receita do que deve ser uma

política minerária.

O Capítulo 4 trata exclusivamente dos indicadores de desenvolvimento dos

municípios de base mineira no Brasil, em relação aos seus entornos não-mineradores. Com

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o uso de uma vasta base de dados, que procurou abarcar as dimensões ecológica,

econômica, social e de governança, foi possível verificar que muito mais do que

divergências de base produtiva, o principal fator de diferenças entre os municípios é o

regional. A partir dessa constatação, houve a necessidade de separar analiticamente os

municípios das regiões Norte e Nordeste dos municípios das demais regiões do Brasil, com

o objetivo de captar as peculiaridades da atividade mineradora sobre o desenvolvimento

municipal. Municípios de base mineradora têm pior, ou melhor, desempenho do que o seu

entorno não-minerador? Como essa dinâmica vem se desdobrando nos maiores municípios

mineradores brasileiros nas últimas décadas? Essas são algumas questões que o capítulo

se propõe a responder.

O Capítulo 5 trata dos royalties da mineração como parte da renda mineral que pode

ser utilizada como instrumento de promoção ao desenvolvimento de regiões de base

mineradora. São descritos os tipos de royalties, os limites da política tributária sobre os

minerais e algumas experiências internacionais na captação, no controle e no uso desses

royalties.

O Capítulo 6 apresenta as informações coletadas em campo sobre a CFEM nos

municípios brasileiros de base mineradora escolhidos para o estudo (Anexo 4) . Ele é o

resultado das entrevistas feitas com os atores sociais locais e apresenta a descrição do

atual quadro de uso da CFEM, descreve de que forma esses municípios estão

administrando essas rendas e indaga até que ponto a gestão pública municipal reconhece o

caráter cíclico, passageiro e de vida útil determinada da mineração? O que estimula o uso

responsável e comprometido dessas rendas por parte do município minerador? Esse

capítulo apresenta também as críticas feitas a esse instrumento pelos atores sociais

entrevistados, bem como as sugestões para melhorias tanto no seu uso quanto na sua

implementação.

Finalmente, as conclusões sintetizam os principais achados da tese.

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1 DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE EM REGIÕES RICAS EM RECURSOS NATURAIS, MAS POBRES NOS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS

No final do século XX a idéia de desenvolvimento sustentável emergiu como

alternativa para solucionar os problemas da civilização pós-moderna, ou como uma “nova

utopia”, no sentido proposto por Santos (1994). Desde a publicação, em 1987, do

documento Our Common Future do World Comission on Environment and Development

(WCED), mais conhecido como Relatório Brundtland, o debate sobre o tema tem se

intensificado, resultando em uma série de princípios e definições de processos sustentáveis,

embora os indícios apontem haver mais retórica do que implementação prática e muito mais

dissensos que convergências. A maior parte das discordâncias tem raízes na própria idéia

de desenvolvimento, cuja compreensão está longe de ser consensual. Tampouco há um

entendimento comum sobre as causas e as medidas necessárias para o seu alcance,

especialmente por parte das sociedades pobres ou subdesenvolvidas.

Este capítulo se propõe a discutir a idéia do desenvolvimento, a fim de analisar quais

os novos desafios para o alcance do tão desejado desenvolvimento sustentável, por parte

de sociedades cujas bases produtivas estão assentadas no uso de recursos naturais e

particularmente de recursos não-renováveis.

1.1 PANORAMA GERAL DAS EXPLICAÇÕES TEÓRICAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO

As teorias de desenvolvimento que serão revistas nesta tese são aquelas que

influenciaram e, em muitos casos, ainda exercem forte influência nas explicações do

(sub)desenvolvimento de regiões ricas em recursos naturais, porém com graves deficiências

nos seus indicadores socioeconômicos, as “ricas regiões pobres”. Convém deixar claro que

qualquer tentativa de sistematização a respeito das teorias de desenvolvimento é arbitrária,

pois há elementos em comum mesmo entre escolas radicalmente opostas. A divisão aqui

discutida objetivou resgatar um pouco da rica e inspiradora literatura sobre o tema para

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captar os elementos que, de alguma forma, exercem influência sobre as explicações do

(sub)desenvolvimento de regiões cuja base produtiva depende da exploração de recursos

naturais, em geral, e de recursos minerais, em particular.

Nesse sentido, o recorte teórico feito abrange quatro principais linhas de abordagem:

1) teorias clássicas de crescimento da economia convencional (mainstrean), também

denominadas teorias ortodoxas dominantes. Para elas, desenvolvimento é o mesmo que

crescimento econômico, que, por sua vez, depende do nível de investimentos produtivos

realizados na economia. Portanto, boas políticas de desenvolvimento devem estimular a

poupança que, por sua vez, se converterá automaticamente em investimentos. Essas

teorias servem de base para autores que concebem os investimentos produtivos em

mineração como um trampolim para o desenvolvimento econômico, conforme descrito na

seção 2.2. As maiores expressões desse bloco de pensamento são os modelos de

crescimento clássicos de Harrod e Domar e de Robert Solow, além da teoria das etapas de

crescimento de Rostow. A lógica é a seguinte:

Dotação mineral → atrativo de novos investimentos → ampliação do capital → expansão do crescimento → desenvolvimento econômico

2) teorias de inspiração marxista, ou neo-marxista, que representam uma crítica

devastadora aos modelos dominantes de crescimento. Vêem a possibilidade do

“desenvolvimento do subdesenvolvimento”, para usar uma expressão de André Gunder

Frank. Essas abordagens influenciaram os modelos que enxergam a mineração como uma

maldição ou como um setor perdedor. Para elas ao invés de soluções, economias de base

mineira, têm muitos problemas a administrar. Nessa linha destacam-se as teses

estruturalistas da CEPAL, as distintas interpretações dependentistas e as teses de Stephen

Bunker e, até certo ponto, de Elmar Altvater. Essas interpretações vêem com bastante

ceticismo a perspectiva de desenvolvimento das economias de base mineira. Nesta corrente

também se incluem as teses de Albert Hirschman por seu “parentesco” com as idéias

estruturalistas da CEPAL. De uma forma bastante genérica e agregada podemos dizer que

explicação lógica é a seguinte:

Extração mineral → enclave → escassos efeitos de encadeamento de produção e de consumo → estrutura de governo burocrática e fraca→ rendas minerais captadas pelos encadeamentos fiscais são dissipadas → atraso no crescimento e no desenvolvimento econômicos

3) teorias institucionalistas ou neo-institucionalistas, para as quais a qualidade das

instituições interfere diretamente nos custos de transação e, consequentemente, na

eficiência econômica e nas possibilidades do desenvolvimento. Essa abordagem influencia o

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estudo das economias de base mineira, por ser um marco analítico que permite entender

mudanças no desenvolvimento a partir de uma perspectiva que se descola da base

puramente material do processo de desenvolvimento. O principal objeto de estudo da

análise institucionalista são as instituições políticas, econômicas e, principalmente, as regras

formais e informais que se plasmam na cultura, no comportamento e nas organizações

sociais. Esse conjunto pode favorecer ou impor obstáculos ao processo de desenvolvimento

econômico, quando um setor produtivo como, por exemplo, a mineração adquire dinamismo.

Nessa perspectiva iremos enforcar especialmente as teses de Douglass North e de Robert

Putnam, além fazer algumas breves referências sobre Ronald Coase. A lógica causal é a

seguinte:

Investimento mineral → rendas minerais e demais benefícios e oportunidades que se abrem com o investimento mineral → qualidades das instituições → custos de transação → bom ou mau gerenciamento dos benefícios e das novas oportunidades → subordinação à trajetória do desenvolvimento ou do subdesenvolvimento.

4) propostas de desenvolvimento sustentável e a busca de incorporação de outras

dimensões até então negligenciadas, ou pouco exploradas, pelas teorias tradicionais do

desenvolvimento. Nessa perspectiva, há interpretações diametralmente opostas que vêem a

impossibilidade de desenvolvimento sustentável em geral e, especialmente em regiões

periféricas que exploram os recursos naturais. Para Goldsmith, por exemplo,

desenvolvimento é uma nova palavra para “colonialismo”; Herman Daly descarta

completamente a possibilidade de um crescimento sustentável, para Altvater

desenvolvimento sustentável é o mesmo que a “quadradura do círculo”. No entanto, há

escolas e autores que vêem a sustentabilidade de regiões extrativas como uma construção

viável (Escola de Londres), desde que respeitados os critérios de justiça social, eficiência

econômica e prudência ecológica (Ignacy Sachs). Essas abordagens influenciam nas

análises sobre desenvolvimento e mineração de acordo com o seguinte esquema:

Indústria mineral { → critérios e condições sociais, ecológicos e econômicos que envolvam empresa, governo e comunidades → indicadores de sustentabilidade.

Há ainda autores importantes que não estão necessariamente enquadrados nas

quatro vertentes descritas acima, mas que exerceram e, em alguns casos, ainda exercem

papel decisivo nas interpretações sobre o desenvolvimento em geral. Autores como Amartya

intrinsecamente insustentável

possibilidade de sustentabilidade fraca ou sustentabilidade sensata

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Sen, Sérgio Boisier e outros serão abordados na parte final deste capítulo por seu

importante aporte para a discussão do desenvolvimento de regiões de base mineira e, por

conseqüência, para se pensar o desenvolvimento das ricas regiões pobres.

1.2 TEORIAS CLÁSSICAS DE CRESCIMENTO

Para os autores analisados nesta seção, o crescimento econômico é o principal meio

para alcançar o desenvolvimento econômico, portanto, esses conceitos são equivalentes. O

PIB per capita é a medida central desse crescimento (desenvolvimento). Esses autores e

escolas têm em comum a ausência de uma perspectiva histórica do capitalismo e acreditam

que as categorias básicas de suas análises se encontram em um plano “universal” da teoria

econômica. Dessas abordagens se depreende estratégias de desenvolvimento que

enfatizam a coordenação do crescimento de diferentes setores. Os seus resultados serviram

para fundamentar várias ações da cooperação técnica e financeira internacionais. Nessa

perspectiva são discutidos os modelos de Harrod e Domar, Robert Solow, Walt Whitman

Rostow, François Perroux, além de, com ressalvas, os trabalhos de Gunnar Myrdal.

1.2.1 As fórmulas para o crescimento (desenvolvimento): Harrod & Domar e Solow

Harrod apud Hunt (1998, p. 28) apresentou uma nova perspectiva à discussão sobre

a possibilidade de uma economia crescer a uma mesma taxa a cada ano, sem desvio de

rota de recessão ou expansão explosiva. Nesse mesmo período, Domar apresentou

resultados semelhantes, demonstrando as circunstâncias que uma economia pode, ou não,

sustentar um pleno emprego. Juntos esses autores concluíram ser possível um crescimento

econômico contínuo e estável.

O medelo parte do pressuposto de que os fatores trabalho (L) e capital (K) são

combinados em proporções fixas para gerar um montante (Y) de produto. Daí o crescimento

de Y ficar limitado à taxa do crescimento do fator relativamente escasso. Nas economias

subdesenvolvidas o fator escasso é K, portanto, é o ritmo do crescimento de K que

determina a taxa de crescimento de Y. Assim, o crescimento de Y, que é resultante de K,

depende do coeficiente técnico que mede a relaçao entre K e Y. A fórmula desse

crescimento está expressa na equação 1, na qual a taxa de crescimento garantida (Gw) é

definida por duas variáveis-chave = 1) pelo montante total de poupança (S), que é a parcela

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da renda desviada do consumo, e 2) pela razão capital/produto (cp), que é o coeficiente

técnico que garante o crescimento equilibrado, conforme a seguir:

Gw = ____ (equação 1)

Essa fórmula foi rapidamente difundida entre os organismos de ajuda internacional

como a solução para resolver o problema do crescimento. Porém, recebeu diversas críticas,

tanto do pensamento conservador como das correntes alternativas.

Para Hirschman, o modelo de crescimento econômico proposto por Harrod e Domar

teve um papel crucial na definição de proposições de políticas de

crescimento/desenvolvimento:

[...] o crescimento dependia fundamentalmente de injeção de capital em doses apropriadas, fosse doméstico ou estrangeiro, tornou-se artigo de fé, e mais convincente ainda, sobretudo, ao levar-se em conta a rápida recuperação e crescimento (então entendido desse modo) da Europa ocidental e oriental, no período após a Guerra. Toda uma geração de planejadores e funcionários de organismos de ajuda externa passou a crer na realidade e na possibilidade de manipulação da propensão a poupar e da razão capital-produto; e nessa convicção permaneceu por um período surpreendentemente longo, pela simples e boa razão de que era essencial, para que mantivessem o seu status de expertos, persistir na representação da realidade em termos desses conceitos. (HIRSCHMAN,1977, p. 68).

Uma outra forte reação partiu da corrente neoclássica, por intermédio de Robert

Solow, que apresentou o seu modelo de crescimento no final dos anos 1950.

O modelo de crescimento de Solow

Para Solow (1956), a instabilidade latente no modelo de Harrod-Domar ocorre

porque os autores partem da hipótese de que a produção se realiza a partir de proporções

fixas dos fatores de produção (trabalho e capital). Portanto, na impossibilidade de substituir

trabalho por capital, só haveria uma relação compatível com o crescimento equilibrado. Essa

hipótese é rejeitada por Solow, pois o seu modelo admite a perfeita substituição entre os

fatores produtivos. Desta forma, não há outros limites para o crescimento que não o imposto

pela escassez de capital. A hipótese da perfeita substituição de fatores produtivos de Solow

é um poderoso argumento para liberar o crescimento econômico das amarras da escassez

relativa de recursos.

S

cp

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O modelo de crescimento apresentado por Solow (1956) mostra como a relação

entre poupança, crescimento demográfico e avanço tecnológico influenciam sobre a

acumulação de capital e sobre o crescimento econômico. O modelo parte de três

pressupostos:

1. a população e a força de trabalho crescem a uma taxa (n) constante,

determinada por fatores biológicos e independentes de outras variáveis e

aspectos econômicos;

2. a poupança e o investimento são proporções fixas do PIB líquido, em um dado

período;

3. a tecnologia é afetada por dois coeficientes constantes: a força de trabalho por

unidade de produto e o capital por produto

A produção (Y), no modelo de Solow (equação 2), é função do trabalho (L) e do

estoque de capital (K), conforme expressa a seguir:

y = F (K, L) (equação 2)

Com base nos pressupostos do modelo, as principais conclusões que podem ser

extraídas de Solow são (LADESMA, 2004):

– variação na taxa de crescimento da população – o seu crescimento implica na queda

do capital per capita, pois uma maior parte da poupança deverá ser utilizada para

manter os novos trabalhadores com as mesmas dotações de capital anteriores. O

contrário também se verifica. Uma redução populacional provoca aumento do capital

per capita. Por esta razão, países pobres com alta taxa de natalidade tem baixo PIB

per capita, o que significa dizer que carecem de capital suficiente para toda a sua

força laboral;

– variação no nível de capital – um crescimento na taxa de poupança provoca : a) um

aumento transitório na taxa de crescimento do produto de curto prazo; 2) uma

elevação no nível de renda per capita “n” de longo prazo e 3) uma elevação no

coeficiente capital/trabalho.

– variação na tecnologia – a mudança tecnológica incrementa a qualidade do trabalho

e do rendimento dos trabalhadores mediante a especialização, a educação e os

outros fatores. O progresso técnico permite um crescimento sustentado da produção

por trabalhador porque desloca a função de produção que, por sua vez, modifica a

função de poupança. Na hipótese de que a economia se encontre em um estado

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estacionário, a taxa de crescimento da produção por trabalhador depende apenas da

taxa do progresso tecnológico. Assim o modelo de Solow demonstra que o progresso

tecnológico é a única explicação do constante aumento do nível de vida.

A conclusão geral do modelo de Solow (1956) é que apenas um baixo crescimento

da população e uma acelerada mudança tecnológica são capazes de gerar um aumento

permanente na taxa de crescimento econômico. Aumentar a poupança e o investimento, por

outro lado, resulta em um aumento apenas transitório no crescimento.

As críticas feitas a esses modelos são diversas: ilustra somente o exemplo dos

países industrializados; não considera o papel das expectativas nas tomadas de decisão

sobre investimentos; revela uma profunda diferença com a explicação Keynesiana quanto

ao papel exercido pelo crescimento da população (para Keynes o efeito é favorável, por sua

influência sobre a demanda).

Em trabalhos posteriores, Solow (1986) incluiu o uso de recursos naturais não-

renováveis em seus modelos de crescimento, sem mudar estruturalmente os seus

resultados. Em fase mais recente trata da resposta neoclássica a respeito da

sustentabilidade (SOLOW, 1992). Nesse último trabalho o autor objetiva mostrar como a

teoria econômica pode oferecer uma sugestão sobre a relação entre a economia e a

dotação de recursos naturais. Ele destaca também a importância dos trabalhos empíricos

como indutores da política econômica de longo prazo.

1.2.2 Teoria da modernização

A tentativa de explicar a transição de uma sociedade tradicional para moderna, a

partir de uma perspectiva política, sociológica e econômica, ficou conhecida como “teoria da

modernização”. Um dos principais expoentes dessa teoria foi Walt Whitman Rostow. As

suas idéias influenciaram profundamente as políticas de promoção ao desenvolvimento nos

países subdesenvolvidos. De acordo com Rostow (1960), é possível classificar todas as

sociedades, a partir de seus aspectos econômicos, em cinco categorias, ou etapas:

1. sociedade tradicional;

2. pré-condições para a decolagem (take-off);

3. decolagem (take-off) a um crescimento auto-sustentado;

4. caminho para a maturidade;

5. elevado consumo de massa.

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Essas etapas, alerta Rostow (1960, p. 3), não são apenas descritivas, ou meras

formas de generalizar observações de certos fatos sobre a seqüência do desenvolvimento

em economias modernas. Elas têm a sua própria lógica interna e continuidade. “Estas

etapas constituem tanto uma teoria sobre o crescimento econômico como uma teoria mais

geral (ainda que parcial) de toda a história moderna”. Segundo Hunt (1988, p. 96), a

pretensão de Rostow, de acordo com as palavras do próprio autor, era a de apresentar um

modelo alternativo à teoria de Marx sobre a história moderna.5

Conforme descrito a seguir, o fator crucial que retira a economia da estagnação

provocada pelo baixo nível de renda e promove o crescimento sustentado é um crescente

aumento da parcela de poupança (investimento) em relação ao PIB. As principais

características de cada etapa, com base em Rostow (1960, p. 2-10), são:

1. sociedade tradicional – ou “pré-Newtoniana”, sua estrutura é definida a partir de

limitadas condições de produção. O ponto central que distingue esta das outras

etapas é o baixo teto do PIB per capita. Isso resulta da impossibilidade de

expansão das potencialidades econômicas latentes, por causa das deficiências

no sistema de ciência e tecnologia que, além de não estar disponível, quando

existe é irregular e não-sistemático. O resultado disso é a baixa produtividade,

típica das sociedades agrárias tradicionais.

2. pré-condições para a decolagem (take-off) - é característica das sociedades

em transição, nas quais estão se desenvolvendo as condições necessárias para

a “arrancada” rumo ao desenvolvimento. Essas condições são dadas,

principalmente, pela utilização da ciência e da tecnologia que fornecerão os

meios para explorar os frutos de ciência moderna e superar os entraves da baixa

produtividade. Essas condições não emergem de forma endógena, mas a partir

de alguma “intromissão” (intrusion) provocada por economias mais avançadas.

Essas intromissões – literal ou figurativamente – chocam a sociedade tradicional

e iniciam ou agilizam a sua trajetória rumo à decolagem. O confronto do

tradicional e do moderno faz surgir a noção de que o progresso econômico não é

apenas possível, mas é condição necessária para outros propósitos tais como:

dignidade nacional, ampliação do lucro privado, bem-estar geral, melhoria de vida

para os filhos etc. Esta etapa se caracteriza pelo surgimento de: novos tipos de

empreendedores dispostos a assumir riscos para obter os ganhos da

modernização; instituições financeiras; expansão dos investimentos em

5 “. an alternative to Karl Mar’x theory of modern history” (ROSTOW, 1960, p. 2) apud Hunt (1988, p. 96).

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transporte, comunicações e na exploração de matérias–primas que outras

nações mais avançadas têm interesse em adquirir, além do surgimento da

moderna manufatura. No entanto, estas atividades ainda estão restritas a uma

sociedade caracterizada por baixa produtividade, velhas estruturas sociais e

instituições políticas de base regional desenvolvidas no contexto da sociedade

tradicional. Não obstante serem as mudanças econômicas e sociais as mais

expressivas durante a etapa de transição, são as mudanças políticas que se

constituem nas mais decisivas pré-condições rumo à decolagem. Politicamente, é

a construção de um estado nacional centralizado, com base na coalizão, em

oposição aos interesses regionais (forças coloniais), que proporciona as

condições efetivas para a decolagem.

3. decolagem (take-off) – é o grande divisor de águas. É a etapa na qual os velhos

blocos de resistência para o crescimento estável são finalmente dominados.

Rostow ilustra esta fase com a experiência dos EUA e do Canadá. Nessas

experiências, o estímulo para a decolagem veio fundamentalmente da tecnologia

que penetrou tanto na indústria como na agricultura. Esta etapa se caracteriza

pela acelerada expansão da poupança (investimentos), que cresce de um piso de

5% para 10%, ou mais, em relação ao PIB. Verifica-se uma intensa expansão das

indústrias líderes e os seus lucros são reinvestidos em novos estabelecimentos

industriais, o que contribui para a ampliação de novos empreendimentos e para o

aumento da demanda por trabalho e capital. Recursos naturais e novos métodos

de produção, até então não-usados, são adotados nesta etapa.

4. rumo à maturidade - após a decolagem, surge um longo intervalo de progresso

sustentado. Os investimentos se elevam de 10% para 20% do PIB, o que permite

o crescimento do PIB per capita. A configuração da economia se transforma

incessantemente com as melhorias tecnológicas. Novas indústrias aceleram o

seu ritmo, ao mesmo tempo em que desmoronam as velhas e ultrapassadas. A

economia encontra o seu lugar no mercado internacional; bens importados

passam a ser produzidos internamente; transformam-se os requisitos de

importação, bem como de novas exportações. Rostow estima que somente 60

anos após a decolagem é que se pode afirmar que a economia está madura.

5. consumo de massa – é a última etapa, característica das sociedades hoje

desenvolvidas.

Rostow, portanto, reforça a idéia do aumento da poupança (que automaticamente se

transformará em investimentos) e do papel dos investimentos em setores líderes como

alavancas que impulsionarão a economia, muito embora enfatize, em diversos momentos, a

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importância crucial da aplicação da ciência e da tecnologia à produção para garantir um

crescimento estável e sustentado.

1.2.3 Teoria dos pólos de crescimento

Nos anos 1960, o conceito de “pólos de desenvolvimento” passou a constituir o

centro de interesses de análises estratégicas do desenvolvimento regional, nacional e

supranacional.

A teoria dos pólos de desenvolvimento foi elaborada em meados dos anos 1950 pelo

francês François Perroux em um momento histórico de crise do sistema capitalista mundial

já dominado pelos EUA e em pleno processo de reorientação das colônias recém-

independentes. Perroux (1973, p. 10) parte da “amarga verdade” que o crescimento não

aparece em todas as partes ao mesmo tempo; ele se manifesta em pontos ou pólos de

crescimento, com intensidade variável, se difunde por meio de diferentes canais, com

distintos efeitos terminais sobre o conjunto da economia.

O instrumento-chave na teoria dos pólos de Porroux é a “indústria motriz”, entendida

como aquela que impulsiona toda a economia gerando “efeitos desestabilizadores”, ou

economias externas, tanto positivos quanto negativos, que se propagam por todo o sistema

econômico. Nas palavras de Perroux (1973, p. 14) “a aparição de uma ou de várias

indústrias muda a atmosfera de um período de cria um clima conducente ao crescimento e

ao progresso”. A idéia de pólo está, portanto, relacionada ao fato de que os ganhos de uma

empresa não resultam apenas de sua própria produção, mas sim da produção e dos gastos

de outras empresas, que são induzidas pelo surgimento da indústria motriz. Assim,

“A inovação gerada pela indústria motriz, introduz variantes diferentes e suplementárias no horizonte econômico e nos planos dos agentes e dos grupos de agentess dinâmicos, tem um efeito desestabilizador. A inovação bem realizada por certos agentes serve como valioso exemplo para outros e dá origem a imitações que, por sua vez, são criativas. Finalmente a inovação realizada com êxito, ao deixar patente a desigualdade entre os agentes que a aplicam e os que não, desperta nestes o desejo de ganho e de um poder semelhante”. (PERROUX, 1973, p 15).

O desenvolvimento conseqüente dependerá do nível e da qualidade dos efeitos

sobre as estruturas preexistentes, ou das conexões existente entre a indústria motriz e as

indústria afetadas. A atividade produtiva resultante se constituirá em um “pólo” para a

região, na medida em que prevalecem os efeitos positivos e que eles se concentrem no

subsistema regional. Entretanto, tais efeitos positivos estão sujeitos a filtrações que podem

estar relacionadas a: prejuízos para outras empresas ou setores por causa da implantação

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da indústria motriz, utilização de fatores menos produtivos, não-absorção da força de

trabalho regional, entre outros. Dessa forma, se os efeitos negativos se concentrarem mais

fortemente, a atividade passa a se constituir em um enclave para a região.

Assim, a noção de enclave em Perroux está relacionada à essas filtrações dos

potenciais efeitos positivos de uma dada atividade motriz. A região apenas se transforma em

um pólo de desenvolvimento se a resultante de efeitos for benéfica, demonstrado pelo

crescimento de indicadores específicos; porém se a resultante de efeitos for negativa, trata-

se de um enclave ou um pólo de subdesenvolvimento.

Coraggio (1974) interpreta de forma crítica a concepção da teoria dos pólos. Para ele

a listagem parcial dos efeitos mencionados por Perroux apenas reflete a ausência de uma

teoria dinâmica da polarização. Para ele, trata-se de uma concepção neocolonialista que

relaciona o acoplamento do espaço territorial dominado pela “constelação dominante de

pólos” (através da exportação de capitais) com o necessário acoplamento interno. Nesse

sentido,

O pólo-coisa não é mais que um fragmento desprendido do aparato produtivo do verdadeiro pólo, que, por sua vez, forma parte de uma nação dominante, a qual se insere nos acoplamentos como espaços dominados, ao assentar livremente as máquinas, os capitais, os técnicos. Porque o aparato produtivo funciona em um marco das relações sociais e não como mecanismo socialmente neutro. (CORAGGIO, 1974, p. 55).

A partir da perspectiva de Perroux os investimentos em extração mineral de larga

escala (independente da origem do capital) podem exercer o papel da indústria motriz e

promover a criação de um pólo de crescimento, mas, para que este se transforme em um

pólo de desenvolvimento, é necessária a promoção de transformações significativas na

estrutura regional. Ele requer adoção de outras medidas complementares que potencilizem

os efeitos benéficos, caso contrário pode degenerar para um pólo de subdesenvolvimento

(uma maldição).

1.2.4 A causação circular e cumulativa de Myrdal

Gunnar Myrdal, economista sueco, teve grande influência no debate sobre o

subdesenvolvimento nos anos 1960-70. As idéias de Myrdal representam uma continuidade

do pensamento econômico convencional, por causa de seu foco no PIB per capita como

medida de desenvolvimento e da prescrição de aumento de poupança como meio para

crescer. Entretanto, ele representa também uma ruptura com esse pensamento, na medida

em que insiste que não há uma única causa explicativa do subdesenvolvimento e tampouco

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uma garantia para sua superação, uma vez que os mecanismos automáticos de mercado

tendem a reforçar tanto a condição de desenvolvimento quanto a de subdesenvolvimento.

Myrdal (1972) parte da constatação de que, ao longo do tempo,6 têm aumentado as

desigualdades econômicas entre um pequeno grupo de países prósperos e um grande

grupo de países extremamente pobres. Os países do primeiro grupo se encontram em

processo de desenvolvimento econômico contínuo, enquanto os do segundo estão sob

permanente ameaça da estagnação e de o progresso médio, quando exista, ser muito mais

lento (MYRDAL,1972, p. 23).

Como hipótese metodológica ou teoria social7 para analisar os problemas do

(sub)desenvolvimento, Myrdal propõe o que denominou de “causação circular e cumulativa”.

Ela pode tanto promover “efeitos regressivos” - causação circular e cumulativa da pobreza –

como gerar “efeitos propulsores centrífugos” – levando a um ciclo de causação circular e

cumulativa do desenvolvimento. Segundo essa hipótese (teoria), para a explicação do

processo de subdesenvolvimento:

[...] é inútil buscar um ‘fator predominante’, um ‘fator básico’, tal como ‘fator econômico’. Quando se estuda (...) um problema social partindo desta hipótese, é difícil perceber como pode ser entendido, precisamente, por ‘fator econômico’ isolado, e ainda menos compreender como pode ser básico, pois tudo é causa de tudo, de maneira circular e interdependente. (MYRDAL, 1972, p. 42).

Myrdal (1972) defende a idéia de que desenvolvimento é resultado de múltiplos

fatores. Daí vem a sua crítica à fragilidade das explicações unilaterais e disciplinares para

tratar de um assunto tão complexo. Para ele, o problema do subdesenvolvimento é social e

econômico e as suas possíveis soluções são de natureza política. Portanto, as teorias

econômicas convencionais não têm alcance para resolvê-lo. Assim, uma das vantagens da

adoção do princípio da causação circular e cumulativa é alertar para a necessidade de se

conhecer como se interrelacionam os diferentes fatores que geram e reforçam a situação de

subdesenvolvimento.

Para Myrdal, a única alternativa para reverter a causação circular e cumulativa da

pobreza (efeitos regressivos) e iniciar um novo ciclo de causação circular e cumulativa do

desenvolvimento (efeitos propulsores centrífugos) é a ação planejada do setor público.

Apenas o planejamento estatal “inteligente e eficaz”, que objetive abraçar a decisão de

elevar os investimentos destinados a expandir a capacidade produtiva do país, pode reverter

6 O seu período de análise são os anos 1960. 7 Ele usa indistintamente essas duas tipologias.

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os efeitos regressivos da causação circular da pobreza e gerar efeitos propulsores do

desenvolvimento. Esse plano, no entanto, deve seguir os exemplos dos países

industrializados.

Myrdal (1972, p. 62) afirma que quanto mais alto o nível de desenvolvimento que um

país alcance, mais fortes tenderão a ser os seus efeitos propulsores. “O progresso rápido e

contínuo se torna quase automático quando um país alcança rapidamente um alto nível de

desenvolvimento”. Entretanto, o contrário também se verifica, ou seja, quanto mais baixo o

nível de desenvolvimento de um país, maiores tenderão a ser os efeitos regressivos. Assim,

[...] o livre jogo das forças de mercado em um país pobre funcionará mais poderosamente no sentido de criar desigualdades regionais e de ampliar as existentes. O fato de um baixo nível de desenvolvimento econômico ser acompanhado, em geral por grandes desigualdades econômicas representa, por si mesmo, grande obstáculo ao progresso. Esta é uma das relações interdependentes, por meio das quais, no processo acumulativo ‘a pobreza se torna sua própria causa’. (MYRDAL, 1972, p. 63).

De acordo com Myrdal (1972, pp. 129-133) “a hipótese da causação circular, que

pode levar ao desespero os países mais pobres, no caso de permitirem que os fatores

sigam seu curso natural, proporciona magníficas recompensas à política de interferências

deliberadas”. Myrdal, dessa forma, comunga da idéia comum de que,

[...] não há outra solução para o desenvolvimento econômico fora do aumento compulsório da parte da renda nacional que é retirada do consumo e consagrada ao investimento. Isso implica uma política de extrema austeridade, independentemente de saber se o acréscimo das poupanças resulta dos altos níveis de lucros, reaplicados na expansão industrial, ou decorre do aumento da tributação. (MYRDAL, 1972, p. 133).

Myrdal esclarece que a maior parte dos investimentos necessários para gerar os

efeitos propulsores não é lucrativa do ponto de vista do mercado, pois o seu propósito é

gerar economias externas para as indústrias ainda inexistentes, mas que estão

programadas. Myrdal faz uma declaração que se choca totalmente com idéia apresentada

cinqüenta anos depois por Amartya Sen (2000):

[...] assistir os incapazes – os doentes, os inválidos, os velhos e, o que é mais valioso, as crianças – será importante no esforço geral de fortalecimento dos investimentos racionais. Mas é necessário fazê-lo de maneira econômica. Um país pobre, subdesenvolvido não pode, nas etapas iniciais de seu desenvolvimento econômico, empenhar-se muito nesse tipo de medidas redistributivas, que, nos países adiantados, se conhecem sob o nome de ‘previdência social’. (MYRDAL, 1972, p. 129)

No entanto, Myrdal (1972) reconhece que existem problemas para um eficiente

planejamento estatal nos países pobres. Em primeiro lugar, por causa da crescente

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demanda social provocada pela grave situação de pobreza (“sem similar na história dos

países ricos”). Em segundo lugar, pela ideologia disseminada de que o propósito do

desenvolvimento é elevar a qualidade de vida da população. Em terceiro lugar, pelas

restrições impostas pelo jogo democrático e pela necessidade de se fazer concessões às

massas que elegem os governantes.

Myrdal também se refere a ocorrência de enclave nos países colonizados:

[...] o capital, a iniciativa e a mão-de-obra qualificada que um país colonizador enviava a um país dependente, tendiam, por motivos óbvios, a formar núcleos (enclaves) separados e isolados da economia circundante, e se mantinham ligados à economia da metrópole. Suas relações econômicas com a população nativa limitavam-se a empregá-la como mão-de-obra comum. As diferenças raciais e culturais e o nível muito baixo de salários e a maneira de viver tornavam a segregação rigorosa conseqüência natural até mesmo dentro dos próprios núcleos. (MYRDAL, 1972, p. 96).

Trata também do papel preponderante das instituições herdadas pelos países

colonizados de suas metrópoles:

[...] o colonialismo tinha réplicas em certas estruturas institucionais do poder dentro de cada país: um sistema de castas, as dissensões raciais e religiosas, a dependência das regiões rurais ao centro urbano mais rico e, na ordem feudal e semi-feudal, a submissão dos camponeses ao senhor da terra, ao comerciante, ao agiota ou ao coletor de impostos. Essas inflexíveis instituições que mantêm desigualdades são inimigas do progresso econômico, em cada país subdesenvolvido. Se impedem os ‘efeitos propulsores’ dentro desses países, essas instituições, ao mesmo tempo criam dificuldades ao ritmo expansionista vindo do exterior dos países adiantados. (MYRDAL, 1972, p. 98).

De forma sintética, pode-se afirmar que as teorias de crescimento aqui analisadas

exerceram e ainda exercem forte influência tanto no imaginário dos elaboradores de

políticas, quanto no conteúdo das efetivas propostas de promoção ao desenvolvimento.

Quase todas as teorias subseqüentes que serão revisadas, embora discordem total ou

parcialmente dessa visão, não deixam de se referir à rota do crescimento econômico,

enquanto caminho para o desenvolvimento e à necessidade de adoção de medidas austeras

para alcançá-lo – retirar renda do consumo presente, reduzir benefícios sociais, ampliar a

poupança e direcioná-la aos investimentos de capital etc.

Por essa ótica, o papel da indústria motriz (Perroux) poderia ser exercido pela

indústria mineral. Os investimentos em mineração, quer estrangeiros ou nacionais, criariam

a possibilidade de romper com a causação circular e cumulativa da pobreza (Myrdal), pela

possibilidade de elevação do PIB per capita (Solow) e proporcionar as condições para a

decolagem das ricas regiões pobres para estágios mais avançados do desenvolvimento, de

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acordo com as etapas de Rostow. A partir dessa perspectiva, a rota para a superação do

subdesenvolvimento seria a seguinte:

Aumento da poupança (igual a investimento) -> indústria líder ou motriz -> acumulação de capital -> aumento da produtividade -> crescimento -> desenvolvimento

O problema dessa visão é que é uma “meia-verdade”. A sua força está na

proposição de ingredientes universais que, por si só, são difíceis de contestar,

principalmente porque se verificaram empiricamente, em época e espaço historicamente

determinados. No entanto, os próprios autores clássicos como Perroux e Myrdal

reconhecem que essa possibilidade pode ser comprometida pela formação de economias de

enclave, ou por filtrações dos efeitos positivos do crescimento. Mas, a despeito desse

reconhecimento, eles não apresentam fórmulas para sair dessa situação.

Um outro aspecto dos autores referidos é que eles não fazem nenhuma alusão

explícita à questão ambiental. Os recursos naturais são vistos apenas como fatores de

produção e são considerados plenamente substituíveis por outros fatores de produção,

como bem enfatiza Robert Solow.

1.3 TEORIAS DE INSPIRAÇÃO MARXISTAS OU NEO-MARXISTAS

A perspectiva desta escola conflita quase que radicalmente com as visões anteriores,

tanto pela ênfase na questão histórica, pela rejeição de fórmulas “universais” e pela

exposição do caráter político subjacente à idéia de desenvolvimento. Paul Baran apud

Hirschman (1977, p. 69) argumentava que:

[...] sem revolução social seria impossível o crescimento nos países subdesenvolvidos. O capital estrangeiro privado era explorador, parasita; ou então as elites consumidoras locais eram incapazes, ou não desejavam fazer investimentos produtivos – nessas circunstâncias a ajuda estrangeira tinha o efeito exclusivo de reforçar a estrutura de poder existente, face a qual o crescimento seria impotente. (HIRSCHMAN,1977, p. 69).

Os autores aqui agrupados, além da crítica à visão precedente, têm em comum uma

forte descrença na possibilidade de que sociedades que se integraram tardiamente à

dinâmica global de acumulação possam superar os graves problemas do

subdesenvolvimento, como é o caso das ricas regiões pobres.

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Nesse bloco analisaremos as teses estruturalistas da Cepal, as interpretações

dependentistas, as teses de Setephen Bunker e as interpretações de Elmar Altvater. Nesta

corrente também se incluem as teses de Hirschman, por causa de seu “parentesco”, como

ele mesmo afirma, com as idéias estruturalistas da CEPAL8.

1.3.1 A visão da CEPAL

Criada em 1948, pelas Nações Unidas, a Comissão Econômica para América Latina9

(CEPAL) gerou um pensamento econômico latino-americano autóctone que ficou conhecido

como estruturalismo. O pensamento da CEPAL, segundo Santos (2000, p. 125)

“representou uma etapa extremamente avançada da reflexão da região sobre a sua

evolução histórica, experiência política e posição na evolução do sistema econômico e

político mundial”. A nova teoria proposta pela Cepal enfatizava problemas tanto na estrutura

econômica como na natureza da exposição das economias subdesenvolvidas ao mercado

internacional (HUNT, 1988).

Grande parte do sucesso do pensamento Cepalino se deve às idéias desenvolvidas

pelo economista argentino Raúl Prebisch10. De acordo com Santos (2000, p. 30), o

pensamento Prebisch transcendia a visão puramente econômica do economicismo

tradicional e revelava fortes implicações sociais e políticas.

Com base nas informações das Nações Unidas, Prebisch demonstrou que a troca

entre produtos primários e manufaturados conduzia a uma “deterioração nos termos de

intercâmbio”. Isso significava que os preços agrícolas e das demais matérias-primas

tendiam à queda secular, enquanto os preços dos produtos industrializados tendiam à

estabilidade ou mesmo à alta. As razões desse processo estavam relacionadas aos limites

da expansão do consumo, tanto dos produtos agrícolas - caracterizados por baixa

“elasticidade-renda da demanda” - como das matérias-primas, largamente substituídas por

produtos sintéticos. As teses de Prebisch e Singer representaram uma afronta às “verdades

inquestionáveis” da economia ortodoxa das vantagens comparativas, que, por sua vez, não

via a necessidade de que países exportadores de matérias-primas adotassem medidas para

8 De acordo com Hunt (1989), os cepalinos não consideram Hirschman como membro da escola estruturalista. As suas análises, entretanto, podem ser vistas como justificativa teórica ex post facto para o modelo de substituição de importação adotado por diversos países latino-americanos nos anos 1950. 9 Em 1984 os países do Caribe também passaram a integrar a CEPAL e sua denominação atual é “Comissão Econômica para América Latina e o Caribe”. 10 É importante destacar a importante contribuição de Hans Singer na elaboração e disseminação dessas idéias.

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promover a sua industrialização para obter benefícios nas trocas internacionais e, por

conseguinte, para aproveitar as vantagens do crescimento econômico.

As alternativas propostas para superar a situação de subdesenvolvimento exigiam

reformas estruturais e, principalmente, a promoção da industrialização, pois somente assim

se superaria a condição de vulnerabilidade das economias latino-americanas. Para Santos

(2000, p. 127), essa proposta era perfeitamente justificável ao se levar em consideração o

contexto mundial da época, quando se falava de uma “civilização industrial”, identificando o

funcionamento do capitalismo dos países centrais da economia mundial com a sua base

material, que era a indústria moderna.

Nesse sentido, os cepalinos sugeriram medidas sociais, políticas e econômicas para

superar os obstáculos estruturais à expansão do mercado interno. Algumas dessas ações,

destacadas por Roxborough (1979, p. 37 - 38), foram: medidas protecionistas como a

redução de tarifas para a indústria interna e a manipulação cuidadosa da taxa de câmbio;

reforma agrária, que significava um confronto com as velhas oligarquias agrárias e o apoio

aos setores progressistas; diversificação das exportações, como forma de reduzir as

vulnerabilidades, além de redistribuição de renda, para aumentar a demanda dos

consumidores por bens manufaturados de preços relativamente baixos.

Os resultados e críticas dessas políticas (ou tentativas de) tornaram-se mais

evidentes com a posterior análise dos dependentistas e da própria autocrítica cepalina. Elas

podem ser sintetizadas como se segue (ROXBOROUGH, 1979, p. 41-42).

• As reformas foram incompletas, houve muitas concessões à oligarquia agrária e

o problema da concentração fundiária persistiu.

• Quando as barreiras tarifárias eram manipuladas para encarecer as importações

de produtos manufaturados e favorecer a indústria nascente, as companhias

multinacionais criavam subsidiárias nos países latino-americanos, favorecidas

pelas políticas de atração ao crescimento.

• O modelo de industrialização (capital-intensivo) transplantado dos países ricos

demonstrou-se inadequado às necessidades de emprego na periferia (abundante

em mão-de-obra).

• A demanda suntuosa dos ricos dos países subdesenvolvidos, baseada em

produtos de luxo e caros, gerava um elevado custo de importação e não

contribuía para o crescimento (desenvolvimento) em uma base sólida.

• O aumento da necessidade de importações acabou gerando problemas com o

balanço de pagamentos, além de maior penetração estrangeira na economia,

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aumento do desemprego, ampliação (e não redução) das diferenças de renda,

maior vulnerabilidade da economia aos movimentos cíclicos, contínua

dependência da exportação de uma gama limitada de matérias-primas ou

produtos agrícolas, e crescimento industrial limitado e flutuante. Como resultante

final dessas condições, verificou-se que a massa da população não estava

participando dos benefícios do crescimento econômico.

1.3.2 Teorias da dependência

As interpretações sobre a natureza dependente do capitalismo latino-americano

conhecidas como “teoria da dependência”, surgiram nos anos 1960. Segundo Santos

(2000), visava explicar as novas características do desenvolvimento socioeconômico

iniciado nos anos 1930-45 e ser uma síntese do movimento intelectual e histórico

predominante na América Latina anos 1950 e 1960. Essa abordagem questiona a idéia

comum, na época, inclusive por parte da escola estruturalista, de que subdesenvolvimento

significava a falta de desenvolvimento. Ela propõe uma interpretação alternativa de que

desenvolvimento e subdesenvolvimento são, na realidade, o “resultado histórico do

desenvolvimento do capitalismo”.

O pensamento dependentista não formou um bloco homogêneo. O elemento comum

que une os dependencistas é a idéia de que o sistema mundial capitalista produz

simultaneamente desenvolvimento e subdesenvolvimento, ou seja, a periferia

subdesenvolvida seria apenas a outra face do desenvolvimento dos países centrais. Isso

faria parte da própria natureza da dinâmica capitalista.

Os dependentistas têm também em comum a crítica à proposta de industrialização

recomendada pela CEPAL. As promessas de distribuição de renda, criação de centros

nacionais de decisões autônomas e de acumulação capitalista e a criação de condições

democráticas que viriam a reboque da industrialização não ocorreram, principalmente

porque “o centro de poder continuava nos pólos centrais da economia mundial” (SANTOS,

2000, p. 127). Além disso, as tecnologias importadas eram poupadoras de mão-de-obra,

portanto, incapazes de criar empregos suficientes para incorporar as massas de

desempregados liberados do campo e das atividades de autoconsumo.

A tarefa mais importante dos dependentistas era revelar as contradições que

ocorriam no interior do desenvolvimento capitalista dependente latino-americano. Um

aspecto fundamental das teorias da dependência estava relacionado ao controle do

excedente econômico gerado na região dependente. A falta de autonomia para determinar a

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apropriação e o uso do excedente é a peça-chave para a compreensão do

subdesenvolvimento das ricas regiões pobres, conforme será aprofundado em outras

seções. No entanto, os dependentistas divergem sobre esse e outros pontos.

Uma importante forma de apropriação do excedente, evidenciada na obra de

Cardoso & Faletto (1984, p. 46-51) são as “economias de enclave”. De acordo com os

autores, as economias de enclave se formam a partir de um duplo processo: 1) da

desarticulação dos setores econômicos pré-existentes, por causa da incapacidade local de

reagir e competir internacionalmente com a produção de bens que exigem condições

técnicas, sistemas de comercialização e capitais de grande vulto; 2) do projeto de expansão

das economias centrais. Em ambos os casos, o enclave expressa o dinamismo das

economias centrais e, por conseguinte, o caráter capitalista global, independentemente dos

grupos locais.

O impulso dinâmico possibilitado por enclaves externos permite à economia local a

formação de um “setor moderno”, que é uma espécie de prolongamento tecnológico e

financeiro das economias centrais; entretanto,

[...] na medida em que as economias locais tenderam a organizar-se em torno desse tipo de sistema produtivo apresentaram, em grau elevado, características que tornavam compatível um relativo êxito do sistema exportador com uma grande especialização da economia e fortes saídas de excedentes. Nesses casos, o êxito do crescimento orientado ‘para fora’ nem sempre permitiu criar um mercado interno, pois levou à concentração da renda no setor do enclave. (CARDOSO & FALETTO, 1984, p. 48).

Cardoso & Faletto (1984, p. 48) distinguem dois tipos de enclave e as suas

características, conforme a seguir:

1) enclave agrícola – emprega muita mão-de-obra, pode haver pouca

concentração de capital, mas apresenta tendência à pouca distribuição de

renda. A expansão e a modernização da economia provocam expansão da

fronteira agrícola, o que, por sua vez, afeta negativamente a economia de

subsistência e a própria produção para o mercado interno.

2) enclave mineiro – o nível de ocupação da mão-de-obra é reduzido, a

concentração de capital é muito elevada, o nível de produção tende a se

expandir e os salários são mais elevados para os técnicos especializados. Da

mesma forma, apresenta tendência à pouca distribuição de renda, porém não

afeta o setor da economia orientado para o mercado interno, uma vez que não

compete com as outras formas de uso e ocupação do solo, como no enclave

agrícola.

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Conforme o tipo de enclave e o seu processo de formação, ele pode provocar

distintos efeitos sociais e políticos, em decorrência das alianças entre os grupos e classes

que o tornam possível. Em geral, o sistema de alianças, típico do enclave, fortalece muito

mais as funções políticas, administrativas e reguladoras do Estado do que as funções

econômicas do setor privado, possibilitando a formação de uma pesada burocracia de

Governo a partir dos impostos cobrados do setor de enclave.

As principais características das economias de enclave podem ser assim sintetizadas

(CARDOSO & FALETTO, 1984, p. 51):

• a produção é um prolongamento direto da economia central, tanto no controle

das decisões de investimento, como na apropriação dos lucros gerados pelo

capital;

• não existem conexões com a economia local. Existem apenas conexões com o

sistema de poder, que define as condições de concessão;

• as relações econômicas são estabelecidas no âmbito dos mercados centrais.

Conforme será revisado nas teorias especialmente focadas na discussão entre

desenvolvimento e indústria mineral, a idéia de enclave, originalmente sugerida por Perroux

e difundida na América Latina por Cardoso & Faletto, exerceu e ainda exerce uma profunda

influência nas análises explicativas sobre o porquê do atraso das regiões ricas em recursos

naturais, porém pobres no aspecto socioeconômico.

A principal contribuição da teoria da dependência foi o seu alerta para a necessidade

de entender o subdesenvolvimento das regiões periféricas como resultado do sistema de

acumulação global. Além de sua crítica à idéia de que apenas a industrialização é capaz de

gerar desenvolvimento.

O atual momento do mercado das commodities minerais demonstra essa

interdependência global. Um outro fator relevante para a compreensão do

subdesenvolvimento das periferias, principalmente das exportadoras de matérias-primas, é

a importância do controle do excedente. Não obstante a difusão da idéia do enclave da

produção mineral, muito pouco é discutido sobre o uso do excedente como elemento capaz

de reverter e/ou amenizar a situação de dependência. Nesse sentido, verifica-se forte visão

determinista do processo histórico, com poucas perspectivas para as regiões dependentes.

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1.3.3 O excedente econômico como a chave para o desenvolvimento, em Baran

Contrariamente aos que vêem o desenvolvimento como uma ilusão ou mito, como

algo impossível de alcançar quando se considera a composição das forças globais e as

assimetrias entre os países, Baran (1964, p. 332) vê o desenvolvimento econômico “como

uma necessidade mais urgente e vital da esmagadora maioria da raça humana. Cada ano

perdido representa a perda de milhões de vidas humanas. Cada ano de inatividade significa

maior enfraquecimento e mais desesperança para os povos que vegetam nos países

subdesenvolvidos”.

A idéia de desenvolvimento, para Baran (1964, p. 70), é muito semelhante à noção

da economia convencional, como fica evidenciado por sua definição - “definamos

crescimento (ou desenvolvimento) econômico como um aumento ao longo do tempo da

produção per capita de bens materiais”. No entanto, as suas causas são bem distintas.

Problemas como, escassez de poupança, excesso de população, desequilíbrio entre a taxa

de natalidade e de mortalidade, entre outros, são veementemente rejeitados por Baran

enquanto fatores explicativos do atraso das economias periféricas, principalmente, quando

esses indicadores são comparados aos das economias centrais. Para Baran, a variável-

chave para entender o processo de acumulação do capital é o conceito de excedente

econômico. Portanto, para compreender as possibilidades de desenvolvimento das regiões

periféricas, é de fundamental importância conhecer a origem, a distribuição (apropriação) e

a destinação (uso) dada ao excedente.

Segundo Baran o excedente econômico não se confunde com os lucros observáveis

estatisticamente. Há dois principais tipos de excedentes econômicos: o efetivo e o potencial.

• O excedente econômico efetivo é aquele que se origina a partir da diferença

entre o produto social efetivo de uma comunidade e o seu consumo. É idêntico à

poupança ou à acumulação e se materializa em ativos de diversas espécies que

se adicionam à riqueza da sociedade durante o período determinado. Nas

sociedades atrasadas, o excedente econômico efetivo participa do processo

produtivo e contribui, de maneira modesta, para o incremento da produtividade da

economia.

• O excedente econômico potencial é a diferença entre o produto social que

poderia ser obtido com o auxílio dos recursos produtivos realmente disponíveis e

produto existente. É aquele que estaria disponível para os investimentos se o

produto nacional, com os mesmos recursos que não são hoje empregados, fosse

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utilizado com mais eficiência e de forma consciente, ou seja, se não fosse

desperdiçado em consumo suntuoso e todas as formas de gastos improdutivos .

O excedente econômico potencial pode assumir quatro formas (BARAN, 1964, p.

76): 1) consumo supérfluo das sociedades, 2) produção que deixa de ser realizada por

causa do trabalho improdutivo, 3) produção desperdiçada por causa da organização

irracional e 4) produção que não se obtém devido à deficiência de procura efetiva.

Baran (1964) se foca nas economias periféricas produtoras de petróleo e de

matérias-primas, principalmente minerais. A conclusão geral a que ele chega é a de que,

[...] em primeiro lugar, ao contrário do que comumente se sustenta com grande destaque na literatura ocidental sobre países subdesenvolvidos, o principal obstáculo ao seu desenvolvimento não é a escassez de capital. O que é escasso em todos esses países é o que denominamos excedente econômico efetivo investido na ampliação de seu aparelho produtivo. O excedente econômico potencial, que poderia ser utilizado com esse objetivo, é grande em todos esse países. Note-se que ele não é grande em termos absolutos, isto é, quando comparado à ordem de grandeza do excedente de nações adiantadas como, por exemplo, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, embora existam algumas áreas subdesenvolvidas onde ele é considerável até mesmo quando medido por esse padrão. (BARAN, 1964, p. 308).

Dessa forma, ele critica a noção, amplamente difundida, de que “a escassez de

capital é o mais importante fator limitativo do desenvolvimento econômico dos países

atrasados e que a deterioração das relações de troca das áreas de produção primária tem

comprometido seriamente o seu progresso econômico” (BARAN, 1964, p. 314). O problema

mais crítico para o desenvolvimento das nações periféricas é a distribuição e de uso desse

excedente, já que uma grande parcela dele é canalizada para fora da região produtora por

intermédio das empresas multinacionais e dos endividamentos externos. Assim,

[...] o principal obstáculo ao rápido desenvolvimento econômico dos países atrasados é o modo de utilização de seu excedente econômico potencial, ele é absorvido por várias formas de consumo suntuoso da classe capitalista, é utilizado para acrescer as quantidades já entesouradas tanto no país quanto no exterior, para manter a vasta e improdutiva burocracia e uma força militar. (BARAN, 1964, p. 309).

Embora Baran (1964, p. 314 - 15) reconheça a existência de uma tendência à queda

nos termos de trocas, conforme argumentação da CEPAL, ele questiona até que ponto essa

tendência possa ser responsabilizada pela ausência de desenvolvimento da América Latina.

Para isso ele usa o seguintes argumentos:

1) pouco sentido se pode atribuir às relações de troca. As companhias de

petróleo, por exemplo, podem manipular os seus lucros e, em conseqüência,

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o preço FOB de seus produtos, com o objetivo de minimizar o montante de

royalties devidos aos países onde operam. Isso também ocorre com

empresas exportadoras de outras matérias-primas;

2) para a maioria das nações subdesenvolvidas exportadoras de matérias-

primas por intermédio de empresas estrangeiras, modificações nas relações

de troca têm pouco significado, na medida em que essas variações dependem

muito mais de alterações dos preços das matérias-primas que dos preços dos

bens importados;

3) a importância do montante de lucros para o bem-estar dos países

subdesenvolvidos ou para o desenvolvimento econômico depende

exclusivamente de quem se apropria desses lucros e do emprego que lhes dá.

Se o montante dos lucros vai para os acionistas estrangeiros, as suas

variações em pouco ou em nada afetarão as condições de vida da população

local.

As categorias desenvolvidas por Baran (1964) lançam verdadeiros holofotes para a

compreensão do subdesenvolvimento de regiões produtoras de bens minerais,

especialmente no que se refere ao papel crítico exercido pelo excedente econômico – ou

renda mineira. Quanto é gerado? Quem se apropria? Como ele é usado? São questões

fundamentais. Essa discussão remete à necessidade do controle das rendas mineiras.

Porém, a partir da leitura de Baran se conclui que são remotas as possibilidades de isso

ocorrer e, por conseguinte, de se alcançar o desejado desenvolvimento da periferia. Por

outro lado, a história é farta em exemplos de nacionalização e de apropriação estatal do

excedente dos recursos naturais, sem que os problemas do subdesenvolvimento tenham

sido solucionados. É possível que existam outros motivos que estão muito além do simples

acesso ao excedente econômico.

1.3.4. Os efeitos em cadeia de Hirschman

Hirschman (1958, 1977) inaugurou uma perspectiva teórica que abriu um novo

caminho metodológico para a análise empírica dos efeitos do investimento, bem como para

a definição de critérios objetivos para embasar políticas de promoção do desenvolvimento.

Ele considera que as recomendações para desenvolver um país devem ser analisadas caso

a caso, pois impor um padrão uniforme, sem considerar as circunstâncias locais, repetir

sempre a mesma receita e a mesma terapia para resolver diversos tipos de doenças, não

admitir a complexidade e querer reduzí-la a todo o custo, quando o mundo real é um pouco

mais complicado, é uma receita certeira para o desastre, afirma Hirschman.

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Para Hirschman (1977), as decisões empresariais de investimento, tanto públicas

quanto privadas, não são determinadas exclusivamente pela perspectiva dos rendimentos

provenientes da demanda, mas por fatores provocados pelos efeitos em cadeia que ocorrem

do lado da produção. A esses encadeamentos denominou “efeitos retrospectivos e efeitos

prospectivos (para frente – ou a jusante – e para trás – ou a montante)”. Atividades

econômicas, cujos bens ou serviços sirvam de insumo para outras atividades produtivas têm

a capacidade de gerar fortes efeitos para frente. Por outro lado, atividades econômicas, que

requerem bens ou serviços de outras atividade produtivas para a sua produção final11 têm a

capacidade de gerar fortes efeitos para trás.

Uma cadeia produtiva existe sempre que uma atividade em andamento provoca

pressões econômicas, ou de outra natureza, que levam ao surgimento de uma nova

atividade. Dessa forma:

[...] efeitos em cadeia de uma dada linha de produto são definidos como forças geradoras de investimento que são postas em ação, por intermédio das relações insumo-produto, quando as facilidades produtivas que suprem os insumos necessários à mencionada linha de produto, ou que utilizam sua produção, são inadequadas ou inexistentes. Os efeitos em cadeia a montante levam a novos investimentos no setor de fornecimento de insumos (input-supplying) e os feitos em cadeia a jusante levarão a investimentos no setor da utilização da produção (output-using). (HIRSCHMAN, 1977, p. 12).

O conceito de efeitos em cadeia em Hirschman (1977), embora tenha a indústria

como referência, pode também ser usado como método de análise da tese do produto

primário de exportação12 (staple thesis). A tese do produto primário de exportação procura

demonstrar como a experiência do crescimento econômico de um país “novo” é moldada, de

forma concreta, por produtos primários exportados para os mercados internacionais. A

aplicação da análise dos efeitos em cadeia é uma tentativa para descobrir, em seus

pormenores, como o produto primário de exportação induz a criação de novas atividades

econômicas, por meio de suas exigências, influências, facilidades de transporte e modelos

de acordos, entre outros (HIRSCHMAN, 1977).

Conforme será visto na seção 2.1.3, é possível que esse tipo de abordagem tenha

influenciado as análises setorialistas, pois há muitas semelhanças entre os enfoques.

11 O que determina se um bem ou serviço é final é a natureza do consumidor e a finalidade para o qual será utilizado. 12 A tese do produto primário de exportação, originalmente desenvolvida por Harold Innis e aprofundada por economistas e historiadores canadenses.

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Hirschman (1977) identificou três tipos de efeitos em cadeia, ou encadeamentos: 1)

os efeitos da produção, ou efeitos diretos, para frente (a jusante) e para trás (a montante)

que podem ser fracos ou fortes; 2) efeitos de natureza fiscal e 3) efeitos do consumo.

Os encadeamentos da produção, ou efeitos físicos, decorrem diretamente do

investimento, que é capaz de induzir as outras atividades produtivas. Baseado em

Hirschman, Drummond (2002) classificou as conexões potenciais de acordo com o tipo de

setor econômico, conforme com o Quadro 1.

tipos de setores econômicos potenciais de conexão indústrias de produtos intermediários para trás – fortes

para frente – fortes indústrias de produtos finais para trás – fortes

para frente – fracos produção primária de bens intermediários

para trás – fracos para frente – fortes

produção primária de bens finais para trás – fracos para frente - fortes

Quadro 1: Tipos de setores e os seus potenciais de conexões produtivas Fonte: Drummond (2002)

A partir dessa perspectiva se abre a possibilidade de os países periféricos

desencadearem processos de desenvolvimento industrial, se forem tomadas decisões

corretas. Para acelerar o desenvolvimento, as decisões empresariais e as políticas públicas

deveriam favorecer as atividades capazes de gerar os maiores números de conexões.

Assim, uma economia desenvolvida seria aquela formada por uma rede complexa de

empreendimentos especializados, distintos e interdependentes. (DRUMMOND, 2002).

Os encadeamentos fiscais se referem à habilidade de o Estado regular o fluxo de

rendimento entre os diferentes agentes econômicos, taxar esses rendimentos e canalizá-los

para outros investimentos produtivos.

Os efeitos em cadeia do consumo, se drenarem recursos para fora do país, podem

resultar em aumento das importações e transformarem-se em negativos e não apenas em

efeitos fracos ou inexistentes (Figura 1).

Figura 1: Efeitos em cadeia do consumo Fonte: baseado em Hirschman (1977)

Produto primário de exportação

Novos rendimentos Novas demandas Positivos:

substituição de importações pelas

indústrias

{

Negativos: aumento das importações ,

devido ao consumo imitativo

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A interação desses três efeitos - produção, de consumo e fiscais - gera uma estrutura

que conduz os exportadores de produtos primários a trajetórias de desenvolvimento ou de

subdesenvolvimento. Para Hirschman (1977), a combinação mais favorável seria aquela em

que um produto primário de exportação produzisse fortes encadeamentos de todos os tipos.

Porém, nem sempre ocorre essa combinação ideal e economias dependentes de um único

produto de exportação ficam sujeitas à situação do tipo “enclave”.

Em Hirschman, assim como em outros autores já revisados, reaparece a idéia de

enclave como uma ducha de água fria nas pretensões de desenvolvimento das regiões ricas

em recursos naturais, mas pobres do ponto de vista socioeconômico. Hirschman (1977)

define enclave como:

[...] a ausência de envolvimento com o restante da economia, isto é, pela ausência de outros tipos de elos em cadeia (...) O enclave é um corpo estranho, freqüentemente de propriedade de estrangeiros, com o fim exclusivo de tirar proveito, e poucos dentre eles tomarão a defesa de seus interesses uma vez que o Estado tenha adquirido a disposição e autoridade para apropriar-se de parte do fluxo de rendimentos, originário do enclave, para seus próprios projetos. (HIRSCHMAN, 1977, p. 74).

Nem tudo é negativo no enclave. Diversamente de outras atividades produtivas que

têm muitos elos com o restante da economia, é muito mais fácil taxar o enclave,

principalmente, se ele for de propriedade estrangeira. Hirschman (1977), todavia, chama

atenção para o fato de que a capacidade de taxar o enclave dificilmente pode ser

considerada condição suficiente para promover um intenso crescimento econômico. Para

que os efeitos fiscais sejam mecanismos eficazes de desenvolvimento, a habilidade de taxar

deve ser combinada com a capacidade de investir produtivamente. “E aqui se encontra

precisamente o ponto fraco dos efeitos fiscais comparados aos efeitos mais diretos da

produção e do consumo”, adverte Hirschman (1977, p. 74), pois a possibilidade de mal

aplicação ou de desperdício dos recursos podem simplesmente levar a uma ampliação do

aparato burocrático, ao invés de gerar desenvolvimento.

Para Hirschman isso acontece,

[...] não porque os fundos que acabam nas mãos do governo sejam ‘sistematicamente’ desperdiçados, mas porque os empreendimentos assumidos pelos governos através dos efeitos fiscais são intrinsecamente mais difíceis do que os usualmente assumidos pelo capital privado, em conjunto com os efeitos de produção e de consumo. (HIRSCHMAN,1977, p. 77).

Ou seja, Hirschman enfatiza que os efeitos de encadeamentos fiscais somente

podem ser potencializados e se constituírem em mecanismos desenvolvimentistas eficazes,

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60

se o Estado desenvolver, simultaneamente à capacidade de tributar, a competência para

investir em atividades que gerem os mais numerosos e mais fortes encadeamentos

possíveis. Ele conclui que a propensão a taxar o produto primário é um tipo de

comportamento desenvolvimentista assumido pelo Estado. Contudo, o Estado apenas surge

em cena como um autêntico ator do desenvolvimento quando passa a assistir os

exportadores de produtos primários, ao invés de apenas taxá-los. As áreas típicas para a

assistência são as dos bens públicos, em especial, na área de infra-estrutura (fornecimento

de energia, transporte, irrigação, educação e saúde pública).

Hirschman (1977, p. 87- 88) faz duas importantes advertências quanto à questão de

o tipo de produto primário (café, cana-de-açúcar, cacau, minérios etc.) para exportação

condicionar o tipo de desenvolvimento experimentado pelos países que nele se

especializam:

1. ao buscar propriedades gerais nos produtos primários, que tenham probabilidade

de conferir características distintivas ao processo de desenvolvimento, o método

mais adequado não é tomar emprestadas as propriedades de qualquer campo

alheio, como o da botânica ou da climatologia, porém procurar as propriedades

que surjam do próprio processo de desenvolvimento, e, em seguida, conduzir a

análise, segundo essas propriedades;

2. é mais revelador saber se o produto primário de exportação de um país é ou não

o centro de uma constelação de efeitos em cadeia, do que a informação de que o

produto primário é um produto agrícola ou mineral, por exemplo.

Essa observação se choca com as análises setorialistas13 desenvolvidas 40 anos

mais tarde. Hirschman deixa claro que não é a natureza do produto – minérios, matérias-

primas agrícolas etc – que define as reais possibilidades de desenvolvimento de uma região,

mas sim a capacidade de este produto gerar fortes efeitos em cadeia de todas as naturezas

– de produção, de consumo e fiscais. Ele acrescenta que não existe nada intrinsecamente

em uma dada mercadoria agindo como uma “conspiração multidimensional” a favor ou

contra o desenvolvimento, dentro de certo quadro histórico e sócio-político.

Hirschman (1977) utiliza a abordagem dos efeitos em cadeia também como um

quadro de referência para a discussão da tese do “desenvolvimento do

subdesenvolvimento”, sugerido por André Gunder Frank. Essa possibilidade se revela

explicitamente por intermédio do mecanismo dos encadeamentos. O contexto social e

13 Ver seção 2.1.3

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político em que ocorrem o investimento e a combinação de efeitos em cadeia são os fatores

que determinarão a possibilidade de desenvolvimento ou, ao contrário, do “desenvolvimento

do subdesenvolvimento”.

Ao contrastar o seu modelo analítico com a teoria clássica do comércio internacional,

Hirschman (1977, p. 91) afirma que o seu modelo “não ignora a possibilidade de

empobrecimento e, é nesse respeito, bastante diferente da teoria clássica do comércio

internacional, a qual pode conceber, no pior dos casos, uma ausência de ganhos (um ganho

zero) decorrente das relações comerciais para qualquer país que participa do comércio

mundial”.

Para Hirschman (1977, p. 91), “um dos grandes méritos da tese do desenvolvimento

do subdesenvolvimento foi a crítica devastadora e definitiva feita ao conceito de ‘sociedade

tradicional’, um ‘construto’ a-histórico endêmico na maior parte da literatura anterior sobre

desenvolvimento, a qual supostamente prevalecia onde quer não tivesse ocorrido uma

forma de desenvolvimento dinâmico”.

Assim, nos dizeres do próprio Hirschman,

[...] consideradas minhas distâncias das teorias neomarxistas contemporâneas sobre os países periféricos, posso agora reivindicar certo grau de parentesco intelectual entre meu esquema de abordagem e o sistema marxista”. Acrescentar “‘micro-marxismo’ pode ser um bom modo de descrever a tentativa de mostrar como a forma que assume o desenvolvimento econômico, incluindo os seus componentes sociais e políticos, pode ser referida às atividades econômicas específicas de um país. (HIRSCHMAN, 1977, p. 92).

Há muita semelhança entre a metodologia proposta por Hirschman e as abordagens

setorialistas dos anos 1980. As análises dos efeitos em cadeia realçam o poder das

conexões fiscais para induzir desenvolvimento, mas também alertam que os efeitos podem

ser nulos ou mesmo provocar influências adversas se os recursos fiscais forem mal

empregados. A natureza e os requisitos tecnológicos do principal produto da economia

podem induzir fortes efeitos de encadeamento e, dessa maneira, resultar em crescimento e

desenvolvimento ou, ao contrário, contribuir para o aumento das importações, gerar fracos

efeitos de encadeamento e até resultar em “desenvolvimento do subdesenvolvimento”.

Essas idéias, originalmente exploradas por Hirschman, estão presentes com algum

grau de sofisticação nas interpretações setorialistas.

Quanto ao papel exercido pelo Estado, enquanto agente indutor de desenvolvimento,

Hirschman revela uma dualidade na avaliação da eficiência dos gastos públicos. Em

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determinado contexto sugere que o governo não tem competência para usar os recursos

fiscais de forma eficiente. Em outro, afirma que o tipo de gasto público é mais complexo que

o gasto privado. De qualquer forma, sua a idéia é de que apenas os encadeamentos fiscais

são inadequados ou insuficientes, enquanto mecanismos indutores de desenvolvimento.

Dessa forma, para maximizar a taxa de desenvolvimento, Hirschman sugere que os

governos devem estimular investimentos nos ramos de produção que tenham potencial

elevado de gerar encadeamentos para frente e/ou para trás.

Na tipologia dos efeitos em cadeia de Hirschman se percebe certa hierarquização, de

acordo com o tipo de produto (final, intermediário ou commodity) e com o setor, no qual o

setor industrial gera encadeamentos maiores e mais fortes que o setor agrícola, por

exemplo. Com a maior integração dos mercados, resultado do fenômeno da globalização,

essa divisão categórica ficou fragilizada. Não é possível dizer que os encadeamentos

gerados na produção de flores da Holanda são mais fracos que os gerados pela obsoleta

indústria siderúrgica dos EUA. O mesmo se pode dizer do cultivo de frutas do Chile. Para

que esses tradicionais produtos primários cheguem com rapidez, eficiência, segurança e,

acima de tudo, com qualidade aos exigentes mercados consumidores internacionais é

necessária ampla gama de serviços just in time, de controle de qualidade, de logística de

transportes eficiente, enfim, de uma série de serviços que subvertem a simples

hierarquização de operações industriais e “operações não-industriais”, conforme Hirschman

denomina os serviços de transporte, comércio e financiamento.

1.3.5 As economias extrativas e produtivas, em Bunker

As teses de Bunker (1988) analisam o (sub)desenvolvimento de regiões

dependentes da exploração de seus recursos naturais. Um de seus espaços privilegiados é

a Amazônia. Para explicar o processo de subdesenvolvimento dessa região, Bunker parte

da crítica às teorias econômicas tradicionais. Ressalta as deficiências das teorias da

modernização, das teorias da dependência e das próprias teses marxistas, por seu enfoque

excessivo na lógica econômica e no foco exclusivo no trabalho incorporado como fonte de

valor.

Na visão de Bunker (1988, p. 21), essas interpretações não permitem tratar a

dinâmica interna de uma formação social não-capitalista, das relações de classe, ou da

complexa e custosa organização burocrática do moderno estado periférico. Afirma que as

teorias de desenvolvimento não reconhecem a absoluta dependência material das

economias baseadas na extração dos recursos.

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A partir dessa idéia, ele desenvolve o seu conceito de “modo de extração” que se

contrapõe à categoria marxista “modo de produção”. Segundo Bunker, “modo de produção”

é uma noção ortodoxa que deve ser reformulada para considerar as interdependências

ecológicas que ocorrem na base sócio-produtiva, conforme a seguir,

Eu não acredito que nós possamos integrar adequadamente essas perspectivas a menos que sejam remodeladas e incorporadas em modelos ecológicos e evolucionários de mudança social que considerem simultaneamente a dependência física da produção da extração (de recursos naturais) e a interação entre os sistemas regional e global. (BUNKER, 1988, p. 21).

Para Bunker, o conceito “modo de extração” revela as conexões sistêmicas entre a

extração de recursos naturais e os fenômenos que ocorrem tanto na “base produtiva” quanto

na “superestrutura”, tais como relações de classe, organização do trabalho, sistemas de

troca e de propriedade, ações do Estado, dinâmica e distribuição populacional,

desenvolvimento da infra-estrutura física, além das crenças e ideologias às quais as

organizações sociais moldam o seu comportamento.

Bunker (1988) considera essencial a existência de um modelo teórico14 que

considere a seqüência histórica dos efeitos de uma economia extrativa, ou seja, uma

economia que depende da extração de seus recursos naturais, vis-à-vis à de uma economia

produtiva, cuja base econômica está fundamentalmente assentada na transformação desses

recursos naturais. O Quadro 2 , a seguir, é uma tentativa de síntese dos aspectos básicos

dessas economias no que se refere a participação de trabalho na formação do valor, ao

comportamento em relação aos ciclos econômicos, à trajetória da escala de produção, à

distribuição espacial da indústria, aos recursos humanos, à formação de encadeamentos e

outros, conforme a perspectiva de Bunker (1988) .

14 Bunker (1988) denomina seu modelo de commodity-based model for underdevelopment.

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elementos comparativos

economias extrativas economias produtivas

Participação de trabalho e capital na formação do valor

baixa Alta

Comportamento em relação aos ciclos econômicos

Auge e colapso (boom and bust).

É possível neutralizar os extremos.

Trajetória da escala de produção

O aumento da escala de produção provoca aumento de preço dos fatores e estimula o desenvolvimento de substitutos, já que os custos unitários tendem a subir.

O aumento da escala de produção reduz o preço dos fatores e os custos unitários tendem a cair, estimulando o maior consumo do produto.

Distribuição espacial da indústria

Próxima às fontes dos recursos naturais que serão explotados, onde não há externalidades positivas.

Próxima às outras indústrias, que compartilham os custos de infra-estrutura, gerando externalidades positivas e economias de escopo.

Recursos humanos Dificuldade para recrutar mão-de-obra qualificada.

Mão-de-obra qualificada é facilmente recrutável.

Geração de encadeamentos locais

Poucos. A atividade extrativa gera enclaves.

Muitos encadeamentos.

Organização socioeconômica

Dependente e desarticulada. Economias socialmente articuladas.

Regime de posse da terra e de acesso aos recursos

Importância excessiva. Importância normal.

Papel do Estado Burocracia custosa, irracionalidades e falhas na intervenção do Estado central nas periferias.

Burocracia moderna, formada por agências especializadas.

Razões da falha/êxito do Estado

A exigüidade dos encadeamentos políticos e econômicos e a instabilidade demográfica e infra-estrutural impedem a participação e administração racional do Estado. Além do que não há suficiente oferta energética.

O oposto das economias extrativas.

Dinâmica populacional Sua distribuição limita, ao invés de melhorar, as forças de produção.

O oposto das economias extrativas.

Quadro 2: Economias extrativas e economias produtivas, segundo Bunker Fonte: baseado em Bunker (1988)

A partir da leitura do quadro acima, fica explícito que, na visão de Bunker (1988), as

peculiaridades dos arranjos econômicos, políticos e sociais das economias extrativas as

tornam muito mais frágeis e vulneráveis em termos econômicos, institucionais, sociais e

ambientais do que as economias produtivas.

No caso das economias extrativas exportadoras, denominadas por Bunker (1988)

“desarticulação dependente”, a situação se agrava, por causa da razão trabalho/capital na

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composição final do valor ser extremamente baixa. Na fase inicial da produção, essa baixa

razão pode induzir um rápido crescimento da renda nacional. Entretanto, esse processo

pode ser seguido por um colapso igualmente rápido, na medida em que os recursos

facilmente acessíveis se esgotem e requeiram incrementos adicionais de trabalho e capital,

sem o correspondente incremento no volume e no valor da produção. O rápido aumento no

custo de extração geralmente estimula a pesquisa de substitutos ou de novas fontes de

oferta. Ambas as alternativas provocam profundas fraturas na economia da região

exportadora. Essa situação é potencializada pela drenagem da energia das economias

extrativas para as economias produtivas, agravando a situação das primeiras.

No caso das economias extrativas, Bunker (1988) estabelece ainda uma

subcategorização - “periferia extrema”. Nela as condições citadas acima são ainda piores.

Nessas “periferias extremas de base extrativa”, é muito baixa a proporção de trabalho e de

capital incorporado no valor total da produção, por causa do nível restrito de conexão com

outras atividades econômicas e organizações sociais. Mesmo quando os custos da

ampliação da escala se elevam, acrescenta Bunker, ainda assim compensa aumentar a

escala de produção, uma vez que esses custos representam uma parcela ínfima dos preços

finais. Para ele, esse é, por excelência, o caso da produção de commodities minerais.

As economias extrativas provocam o empobrecimento do ambiente do qual as

populações locais dependem para sua própria reprodução e para a extração de commodities

para o mercado exportador. Bunker (1988, p. 25) adverte que quando um sistema extrativo

responde ao crescimento da demanda externa, ele tende a se empobrecer, por três

principais razões: 1) pelo esgotamento dos recursos não-renováveis; 2) pela extração dos

recursos renováveis para além da sua capacidade de regeneração e, 3) pelo estímulo ao

desenvolvimento de sintéticos ou alternativas cultiváveis em outras regiões, em função da

brusca alta dos custos unitários da extração material.

Nas economias produtivas, por sua vez, como os empreendimentos ficam

localizados próximos uns aos outros, os custos de transporte, de comunicação e de

transmissão de energia são rateados entre várias empresas. Novas empresas podem iniciar

suas atividades sem ter de assumir os custos totais da infra-estrutura que ela requer. As

populações atraídas para esses locais fornecem força de trabalho que pode ser facilmente

mobilizada entre as empresas com diferentes taxas e direções de crescimento.

Enfim, para Bunker (1988), as economias extrativas geram configurações próprias

em termos de dinâmica populacional, econômica, de infra-estrutura e do conseqüente

potencial de desenvolvimento que provocam sérias desarticulações demográficas,

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ambientais e infra-estruturais, sem produzir a contrapartida do desenvolvimento

socioeconômico. Tudo isso é agravado devido à natureza efêmera dessas economias

extrativas, que não possibilitam a formação de organizações sociais e políticas que

contribuam para reverter essa situação. Para Bunker (1988), é um fato irreversível a

impossibilidade de desenvolvimento Amazônico. Ele afirma que:

De toda a energia extraída durante a longa história amazônica de suprimento de commodities para o mercado mundial, muito pouco foi incorporado em projetos duradouros e valorosos de organização social e de infra-estrutura física, e nem há perspectivas de que isso vá ocorrer no futuro. Pelo contrário, a Bacia Amazônica é uma das áreas mais pobres do mundo e o sistema econômico e social do qual muitos de seus habitantes dependem está seriamente ameaçado pela desestruturação ou extinção. O empobrecimento tende a continuar a despeito e, em muitas instâncias, por causa dos próprios programas governamentais. (BUNKER, 1988, p. 55).

Bunker (1988) critica as teorias tradicionais pelo excesso de importância dada às

variáveis econômicas. As suas idéias parecem fortemente influenciadas pelos conceitos da

termodinâmica introduzidos no campo econômico por Georgescu-Roegen’s:

[...] matéria e energia, os componentes essenciais da produção, não podem ser criados, apenas transformados, e cada transformação eleva a entropia, ou seja, transforma energia livre em energia humanamente inutilizável. (Georgescu-Roegen’s apud Bunker, 1988, p. 32).

No entanto, Bunker (1988) não incorpora, de fato, essas dimensões no seu modelo

teórico de “modo de extração”. Os seus principais marcos analíticos estão ancorados nas

esferas econômica (mercado, custo, preço, escala de produção) e política (burocracia

estatal, direcionamento das políticas públicas). O seu conceito “modo de extração” se baseia

nas condições concretas de reprodução da vida material e, portanto, nos aspectos ligados à

operacionalidade da produção, às condições de mercado e outras variáveis econômicas,

conforme ele mesmo destaca: “eu proponho que diferentes níveis de desenvolvimento

regional resultam da interação entre mudança na demanda do mercado global por

commodities específicas e a reorganização local dos modos de produção e extração”.

(BUNKER, 1988, p. 21).

Bunker (1988) reconhece que as sociedades humanas dependem de uma

combinação de valores naturais e de trabalho complexa e variável. A energia, como uma

medida, pode ser aplicada para a mensuração de ambos os tipos de valores, por possibilitar

simplificá-los a um denominador comum. No entanto ele admite que:

É forçoso reconhecer que não é possível a realização de um cálculo unidimensional do valor e que a manutenção da vida humana no longo prazo depende do processo de transformação de energia, ao qual nós ainda não estamos bem atentos. Ainda não podemos mensurar todo o

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complexo processo de troca de energia na cadeia biótica que forma o ecossistema do qual participamos. (BUNKER, 1988, p. 36).

Bunker pretendeu apresentar uma teoria unificada que abarcasse todas as

especificidades de uma economia extrativa. No entanto, dependendo do tipo de recurso

natural extraído - renovável ou não-renovável - há diferenças profundas na estruturação

econômica, ambiental, social e política em que são geradas. No caso das jazidas minerais,

por exemplo, o aumento da escala de produção provoca queda nos preços unitários. Isso

contraria um dos pilares de sua tese a respeito da dinâmica das economias extrativas de

que o aumento da escala tende a elevar os custos unitários de produção e gerar substitutos.

A sua perspectiva de que as economias extrativas são efêmeras e inviáveis, nem

sempre parece coincidir com a realidade. Ele cita o Alaska como um território, baseado em

economia extrativa, cuja proteção social e redes de bem-estar são realizadas com muito

menos sucesso do que em outras regiões dos EUA (BUNKER, 1988, p. 29). Essa análise

não condiz com a articulação institucional criada para o tratamento das rendas petrolíferas e

a conseqüente preocupação com a eqüidade intergeracional que se observa naquele Estado

norte-americano (ENRÍQUEZ, 2006).

O engessamento em duas categorias – “economias extrativas” e “economias

produtivas” - parece minimizar a importância do processo histórico e da trajetória das

economias que hoje fazem parte do centro hegemônico, pois elas já foram economias

extrativas. Economias como o Canadá, a Austrália, além do próprio EUA, embora tenham

desenvolvido outras formas produtivas de maior valor agregado, ainda mantêm uma forte

base extrativa e, em muitos casos, ainda são altamente competitivas no mercado

internacional de commodities. O que faz com que, naquelas economias, extrair commodities

seja uma atividade socialmente importante e, via de regra, estimulada pelos próprios

governos? Por que nas regiões periféricas a extração de minérios está, ao contrário,

associada ao atraso e ao subdesenvolvimento? É provável, portanto, que as respostas a

esses questionamentos não estejam apenas na natureza da base extrativa ou produtiva,

mas sim em outras esferas.

1.3.6 A “quadratura do círculo” e o “prodequisus”, em Altvater

Em contraposição aos que defendem a idéia de que grandes teorias sobre

desenvolvimento tornaram-se obsoletas e que se deve privilegiar pequenos estudos de caso

comparativos (“resignação teórica”), Altvater (1995, p. 17) defende a tese da imprescindível

necessidade de seguir a linha da “grande teoria”. Ao menos, se deve apreender o panorama

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social mundial que é objeto das propostas de projetos de desenvolvimento e de política

ambiental, pois, para Altvater “a ignorância teórica é articulada à arrogância prática”.

Altvater (1995, p. 295) rejeita as teses, muito comuns no debate ambiental e nas

propostas de políticas de desenvolvimento, de que a miséria, a falta de eficiência e de

participação ou a ausência de instituições da sociedade civil seriam responsáveis pelos

danos ao meio ambiente. Para ele a pobreza é apenas o reverso da afluência e as “relações

caóticas” constituem somente o outro lado da coerência e da ordem.

Embora as teses de Altvater revelem forte influência marxista e do paradigma da

termodinâmica, ele considera que as atuais teorias não podem simplesmente remeter às

categorias tradicionais, ou ampliá-las ‘trans e interdisciplinarmente’.

Ao contrário, impõe-se a formação de um novo discurso, a produção teórica de novas distinções, apropriadas para ordenar a multiplicidade dos processos de desenvolvimento no fim do século XX, possibilitando sua reprodução categorial. A questão ecológica é uma questão social; e hoje a questão social pode ser elaborada adequadamente apenas como questão ecológica. (ALTVATER, 1995, p. 18)

Altvater vê com bastante ceticismo a possibilidade de regiões periféricas trilharem

uma rota de desenvolvimento e, ainda por cima, sustentável. Para ele, desenvolvimento

significa industrialização15, e

[...] sistemas industriais não constituem apenas artefatos técnicos que podem ser levados de um local a outro pela transferência de tecnologia (...) são complexos modos técnicos, sociais, econômicos, culturais, políticos e ecológicos de regulação e produção, em cada região, no espaço nacional e no sistema global em conjunto. (ALTVATER, 1995, p. 25-26).

Altvater (1995, p. 28) reforça a idéia de que a industrialização é um “bem

oligárquico”16. Nesse sentido, as sociedades industriais só podem ter as benesses que

usufruem, enquanto o mundo não-industrializado assim o permanecer.

15 Essa visão é totalmente questionada por Giovanni Arrighi, para o qual “essa conceituação se baseia num número de suposições extremamente questionáveis, tanto por razões apriorísticas quanto históricas. A primeira suposição questionável é que ‘industrialização’ é o equivalente de ‘desenvolvimento’ e que o ‘núcleo orgânico’ é o mesmo que ‘industrial’. É interessante que essa suposição atravesse a grande linha divisória entre as escolas da dependência e da modernização. Para ambas as escolas, “desenvolver-se” é “industrializar-se”, por definição. Desnecessário dizer, as duas escolas discordam vigorosamente a respeito de como e por que alguns países se industrializaram e outros não, ou se desindustrializaram, mas a maioria dos profissionais aceita como verdadeiro que desenvolvimento e industrialização são a mesma coisa” (ARRIGHI, 1997, p. 208) 16 A distinção entre riqueza “democrática” e “oligárquica” é atribuída a Roy Harrod (1958) apud Arrighi (1997, p. 216). Para ele, “a riqueza democrática é o tipo de domínio sobre os recursos que, em princípio, está disponível para todos, em relação direta com a intensidade e eficiência de seus esforços. A riqueza oligárquica, em contrapartida, não tem qualquer relação, com a intensidade e

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Portanto, segundo Altvater, é impossível universalizar o padrão de consumo que a

sociedade capitalista afluente produziu no Norte, ordeiro, desenvolvido e industrializado, ao

Sul, agrário, subdesenvolvido, desordenado e caótico. Para Altvater, esse padrão se baseia

em um elevado consumo energético e material; precisa de sistemas de transformações

eficientes e inteligentes e precisa realizar e organizar nesta base uma prática de vida ao

estilo europeu-ocidental, com os correspondentes modelos ideológicos e de pensamento e

instituições políticas e sociais reguladoras.

Nesses moldes, para Altvater, pensar em um desenvolvimento que seja compatível

com o meio ambiente é uma quimera. As razões que ele aponta são: 1) qualquer estratégia

de desenvolvimento, e, portanto, de industrialização, traz conseqüências para o meio

ambiente, em todas as regiões do mundo; 2) os recursos naturais e ambientais se esgotam;

e 3) a capacidade de suporte da Terra já está alcançando o seu limite. (ALTVATER, 1995, p.

25-29).

Assim, a possibilidade de um desenvolvimento sustentável é veementemente

rejeitada por Altvater. Para ele, eficácia ecológica com justiça distributiva e eficiência

econômica com base na alta produtividade do trabalho, eis de fato o que seria a quadratura

do círculo. (ALTVATER, 1995, p. 304). A sua descrença quanto à perspectiva de uma ordem

ao mesmo tempo ecológica, social e democrática vem da certeza da não-adoção, por parte

da atual sociedade industrial, de princípios, tais como: igualdade, liberdade, participação,

aproveitamento da sintropia, rejeição da entropia, diminuição do consumo de recursos

naturais e de descarga de emissões tóxicas, entre outros, que caracterizariam uma

sociedade moderna e de baixa entropia. Nesse sentido, para Altvater, conceitos como

“ecodesenvolvimento” e “desenvolvimento sustentável” são apenas “fórmulas vazias”

(ALTVATER, 1995, p. 282).

Altvater (1996, p. 284) criou o neologismo prodequisus (que é junção dos prefixos

dos termos produtividade, eqüidade e sustentabilidade) para denominar a estratégia

necessária à criação de uma estrutura social e econômica que considere as restrições

sistêmicas que o desenvolvimento sustentável requer. Para ele, “o termo é tão improcedente

lingüisticamente quanto o comportamento que pretende descrever ser de ‘difícil realização’

quando não simplesmente impossível”. O prodequisus é, portanto, a expressão do fracasso

das teorias e estratégias tradicionais de desenvolvimento, pelas quais se esperava uma

prosperidade (individual e social) e partir da industrialização (econômica) e da modernização

eficiência dos esforços de seus receptores e nunca está disponível para todos não importa quão intensos e eficientes são os seus esforços (...) Assim, a luta para conseguir riqueza oligárquica é, portanto, inerentemente auto-fracassada”.

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(social e política). Altvater (1995, p. 308) admite que “o prodequisus pode ser até

temporariamente bem sucedido, delimitado regional e nacionalmente, mas no plano global

trata-se de um projeto estritamente impossível”.

Altvater reforça essa visão afirmando que, historicamente, sempre foi o descaso com

a natureza que beneficiou a origem e a expansão capitalista, via o modelo fordismo, que, por

sua vez, se baseia no esbanjamento de matérias-primas minerais e energéticas fósseis e no

descarte de rejeitos gasosos, líquidos e sólidos. O fordismo forjou toda uma organização

social, política e cultural que está profundamente enraizada nas aspirações dos povos,

inclusive aqueles que estão nas regiões mais “miseráveis e caóticas da Terra”. Essa

“superestrutura” tende a se propagar a despeito de pequenas mudanças na forma de

produzir.

As teses deterministas de Altvater (1995), em alguns aspectos, se assemelham às de

Bunker (1988). Ambos receberam influência do paradigma da termodinâmica e do marxismo.

As economias extrativas de Bunker (1988) podem ser consideradas como as “ilhas de

sintropia” de Altvater (1995). Só que, para Bunker, as economias produtivas encarnam a

expressão do desenvolvimento, representam o que as economias extrativas não têm

possibilidade de alcançar, por causa das peculiaridades de sua configuração. A análise de

Altvater é sistêmica e para ele o processo de acumulação global implica que a melhoria de

uma região somente possa ocorrer à custa da piora de outra região.

Nesse sentido, é impossível, na visão de Altvater, implementar estratégias de

desenvolvimento das ricas regiões pobres, já que a pobreza é o reverso do que está

ocorrendo com o lado da afluência. Não há espaço para que uma região periférica possa

fazer algo em seu próprio benefício. Ela está inexoravelmente atada aos ditames do que

ocorre com o lado “ordeiro”. Ela é reflexa, e não autora de seu destino.

A trajetória histórica e o acompanhamento dos indicadores de desenvolvimento

mostram, de fato, um distanciamento cada vez maior entre o Norte e o Sul. No entanto, esse

não é o foco de discussão desta tese, mas sim o da possibilidade de desenvolvimento de

municípios cuja base produtiva depende da extração de minérios. Quanto a esse aspecto,

Altvater até que faz uma concessão e considera factível que alguma região rompa as

amarras do determinismo da lógica da acumulação global. Porém, ele afirma

categoricamente que qualquer avanço isolado será provisório.

Não obstante a lucidez e a atualidade das críticas de Altvater, não apresenta

alternativas para que as regiões periféricas (que abrigam “ilhas de sintropia”) conduzam o

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seu processo de desenvolvimento. Para ele, a ecologia é política e, portanto, sua gestão

deve ser tarefa do Estado. No entanto, ele afirma também que o Estado não está em

condições de compensar o seu estrutural desconhecimento sobre as questões ecológicas.

Assim, ele elimina, de antemão, qualquer possibilidade para enfrentar os graves problemas

de ordem social, política, econômica e ambiental que a questão do desenvolvimento de

economias dependentes da extração de minérios coloca.

1.4 TEORIAS INSTITUCIONALISTAS OU NEO-INSTITUCIONALISTAS

Douglass North17 é um dos principais expoentes do denominado “neo-

institucionalismo”. Para os institucionalistas, a análise econômica convencional (neoclássica)

é limitada para explicar a realidade do desenvolvimento, pois abusa de supostos

simplificadores que não têm alcance para revelar as diferenças entre países e regiões. Para

o institucionalismo, em geral, e para o neo-institucionalismo, em particular, o conceito de

instituição é a chave explicativa da evolução e do desenvolvimento econômicos. No sentido

amplo, “instituição” pode ser entendida como “as normas implícitas ou explícitas que

regulam a adoção de decisões pelos indivíduos e que limitam, voluntária ou

involuntariamente a capacidade de escolhas” ou simplesmente como “as regras da

sociedade que moldam as interações humanas” (NORTH,1990). Assim, as instituições são

importantes porque reduzem as incertezas e proporcionam uma estrutura para a vida

cotidiana, por definir e limitar o conjunto de escolhas humanas.

North (1990) faz uma distinção entre instituições e organizações. Se as instituições

são as regras do jogo, diz ele, as organizações e os seus atores são os jogadores. É da

interação entre instituições e organizações que se estabelece a evolução institucional de

uma economia.

As organizações consistem de grupos de indivíduos unidos por um propósito comum,

com o fim de obter certos objetivos. Dentre outras, se destacam as: políticas (partidos

políticos, assembléias municipais, os corpos reguladores), econômicas (empresas,

sindicatos, cooperativas), sociais (igrejas, clubes, associações esportivas) e educativas

(escolas, universidade, centros de ensino técnicos) - (NORTH, 1993). As organizações 17 Vencedor do prêmio Nobel de economia de 1993, juntamente com Robert W.Fogel, por suas contribuições originais ao campo da investigação da história econômica, com o uso de métodos quantitativos para explicar as mudanças econômicas e institucionais.

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refletem as oportunidades oferecidas pela matriz institucional. Isto quer dizer que, se o

marco institucional premia a pirataria, emergirão organizações piratas. Ao contrário, se o

marco institucional premiar as atividades produtivas, surgirão organizações – empresas –

voltadas para essa modalidade.

Para os institucionalistas é possível que a chave para se alcançar o crescimento e o

desenvolvimento econômico e social, estável e sustentável, não esteja apenas na

manipulação das variáveis macroeconômicas e sim na lenta reelaboração das instituições

que regem o comportamento e as relações entre os indivíduos e as suas atividades

cotidianas, tanto no interior das empresas como no do Estado. O benefício da instituição é

maior quanto mais eficiência gere na economia e quanto mais minimize os custos de

transação e de informação (NORTH, 1993).

Além do conceito de instituição, um outro fundamental para os institucionalistas é o

de “custo de transação”. Os custos de transação podem ser definidos como os custos de se

transferir os direitos de propriedade ou custos de estabelecer e manter os direitos de

propriedade (COASE, 1960). Assim, instituições afetam o desempenho econômico por

intermédio de seus efeitos sobre os custos de transação e, por conseqüência, sobre os

custos de produção (NORTH, 1990).

O enfoque institucionalista considera a existência dos custos de transação não

somente nas trocas de mercado, mas também nos intercâmbios no interior das empresas e

das organizações18.

Segundo North (1990), em Coase (1960) o resultado neoclássico de mercados

eficientes (alocação ótima dos recursos) só pode ser alcançado com a inexistência de

custos de transação. Considerando essa impossibilidade no mundo real, as instituições

exercem um papel decisivo. De acordo com a sua eficiência, elas podem reduzir ou

aumentar esses custos e, portanto, favorecer ou dificultar o processo de desenvolvimento

econômico.

Essas análises podem levar a interpretações equivocadas de que basta “criar”

instituições eficientes para que os custos de transação sejam minimizados e, dessa forma,

sejam geradas as condições necessárias para se promover um competente programa de

desenvolvimento econômico. No entanto, a análise institucionalista atribui uma importância

18 Para o enfoque neoclássico, custo de transação é o somatório dos custos envolvidos para realizar a referida transação, tais como: busca de informações sobre os preços e alternativas existentes nos mercados, a fiscalização e a medida do intercâmbio, a comunicação entre as partes e os custos de assessoramento legal.

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decisiva aos fatores culturais que estão profundamente arraigados no seio das sociedades e

que não são facilmente modificáveis.

Esse tema foi muito bem explorado por Robert Putnam (1996), a partir da

observação sistemática de 20 anos da política italiana. O trabalho de Putnam (1990, p. 19-

22) trata de algumas questões controversas exploradas pelos institucionalistas, tais como:

de que modo as instituições formais influenciam a prática da política e do governo e,

conseqüentemente, o desenvolvimento? Mudando-se as instituições, mudam-se também as

práticas? Quais as condições necessárias para se criar instituições fortes, responsáveis e

eficazes? A prosperidade social e econômica é causa ou conseqüência de uma sociedade

cívica?

De acordo com Putnam (1996, p. 30), a comunidade cívica que se “caracteriza por

cidadãos atuantes e imbuídos de espírito público, por relações políticas igualitárias e por

uma estrutura social firmada na confiança e na colaboração”, é a causa tanto do bom

desempenho institucional quanto do desenvolvimento socioeconômico.

A parte mais polêmica da tese de Putnam é a afirmação de que as raízes dessa

sociedade cívica estão fincadas na milenária história, no caso específico, da sociedade

italiana. Ele formula essa suposição por intermédio da “tese da subordinação à trajetória”

que diz que: aonde você pode chegar depende do ponto onde você está; portanto, há certos

lugares impossíveis de serem alcançados a partir do ponto no qual você está. Essa tese

está muito bem fundamentada com exemplos da história italiana. Todavia, deixa uma

sensação incômoda de impotência diante da inevitabilidade do determinismo histórico e,

portanto, das reduzidas chances de se promover mudanças institucionais profundas. Se a

pré-condição para melhorias institucionais e socioeconômicas é a existência de uma

“comunidade cívica” é evidente que ela não se forma do dia para noite. Muito pelo contrário,

está fincada na história.

Nesse sentido, North (1993) adverte que as categorias analíticas institucionalistas

conseguem explicar razoavelmente o processo de desenvolvimento no longo prazo. No

entanto, há uma grande deficiência em estudos que investiguem como isso ocorre como

curto prazo. Para North, a questão é saber como, a partir do ponto em que uma sociedade

adota uma determinada trajetória, ela tende a permanecer nela.

As teses institucionalistas adicionam outras questões importantes no debate sobre o

desenvolvimento e abrem uma perspectiva analítica que permite enxergar além das

variáveis econômicas. Sem arranjos institucionais que favoreçam o desenvolvimento

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econômico, apenas os investimentos produtivos (no setor mineral, por exemplo) terão pouco

alcance para transformar a realidade socioeconômica. Pode-se indagar: o que são boas

instituições para potencializar os benefícios da mineração? Quando inexistem inovações

institucionais podem ser criadas ou estimuladas de alguma forma? North (1990), sustenta

que as mudanças nos arranjos institucionais são conseqüências de tentativas de maximizar

utilidades. A oportunidade de obter utilidades por intermédio das inovações institucionais se

apresenta quando se produzem deslocamentos exógenos de demanda, variações no custo

de organizar ou operar uma inovação ou mudanças no poder político de grupos particulares.

No entanto, esse é ainda um campo aberto e o próprio North reconhece que:

[...] as organizações políticas moldam o desempenho econômico porque definem e implantam as regras econômicas. Portanto, parte fundamental de uma política de desenvolvimento é a criação de instituições políticas que, por sua vez, criam e fazem cumprir os direitos de propriedade eficientes. No entanto, sabemos muito pouco como criar essas organizações políticas porque a nova economia política (a nova economia institucional aplicada à política) tem estado predominantemente enfocada nos Estados Unidos e nas organizações políticas de países desenvolvidos. Uma desafiante linha de investigação é moldar as organizações políticas do Terceiro Mundo e da Europa do Leste. (NORTH, 1993, p. 12).

A análise institucionalista, por intermédio da “tese da subordinação à trajetória”,

também lança luzes para compreender o porquê do atraso de certas economias,

independemente de sua base produtiva. Ou seja, não é apenas a base econômica em si,

mas as instituições que se plasmaram ao longo do tempo que permitem compreender a

trajetória de desenvolvimento ou de subdesenvolvimento das regiões.

1.5 AS PROPOSTAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A conceitualização de desenvolvimento sustentável difundida pelo Relatório

Brundtland (1987), apresenta considerações universais, das quais em um nível filosófico

bem amplo, ninguém discorda. Como grandes objetivos, o desenvolvimento sustentável

pretende sustentar ou elevar, simultaneamente, o meio ecológico – incluindo a qualidade

ambiental e o estoque dos recursos – o bem-estar econômico e a justiça social.

Na prática, esforços em direção à sustentabilidade em suas três dimensões clássicas

(ecológica, econômica e social) envolvem conflitos e tradeoffs. Atividades que mantêm ou

elevam apenas o bem-estar econômico ocorrem às expensas de degradação ecológica. A

melhoria da qualidade ecológica, em algum ponto do tempo, implica em dispêndios de

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recursos financeiros que poderiam ser gastos para a melhoria do bem-estar econômico ou

da justiça social. Uma atividade comercial, como a mineração, pode beneficiar a economia

nacional às expensas de danos nos valores culturais das comunidades locais. Alguns

autores consideram a idéia de um desenvolvimento sustentável uma verdadeira “quadratura

do círculo”. Outros a consideram como uma “emergência sistêmica” e uma necessidade

trazida pelo processo civilizatório.

1.5.1. Ecodesenvolvimento e desenvolvimento includente, sustentado e sustentável em Sachs

O tema desenvolvimento tem assumido diferentes denominações na obra de Sachs

(1986, 2004), tais como: desenvolvimento endógeno, ecodesenvolvimento19,

desenvolvimento sustentável e sustentado, desenvolvimento includente, entre outros.

Apresentar alternativas de desenvolvimento “não-mimético”, voltado para a satisfação das

reais necessidades da sociedade, e que seja realizado em harmonia com a natureza, é o

elemento comum entre essas distintas designações.

Sachs (1986) parte da crítica aos modelos clássicos de crescimento, muito embora

reconheça a importância estratégica das variáveis-chave componentes, como a poupança

(investimento), por exemplo. Mas ele questiona a finalidade do seu uso, onde e por quem

ela será investida e quais serão os seus beneficiários. Ou seja, ressalta a importância de se

conhecer a “eficácia social do investimento”, e não simplesmente a crença cega de que seu

aumento conduzirá automaticamente ao crescimento e ao desenvolvimento econômico.

Para Sachs, os modelos de crescimento neoclássicos,

[...] gozam de muito prestígio junto às autoridades que decidem sobre as grandes orientações, graças à sua simplicidade conceitual, mas, sobretudo em virtude da aparência de ‘objetividade’ que conferem às decisões eminentemente políticas relativas à distribuição dos encargos e dos benefícios do crescimento.(SACHS, 1986, p. 32).

Em trabalhos mais recentes, Sachs (2004) se dedica não apenas a criticar o modelo

dominante de desenvolvimento, mas, acima de tudo, a propagar os princípios e os critérios

para operacionalização de sua proposta de desenvolvimento includente e sustentável.

Nesse sentido, o seu trabalho é muito mais normativo do que comprometido com o rigor

teórico.

19 Termo adotado pela primeira vez por Maurice Strong, então primeiro Secretário das Nações Unidas, na época da primeira conferência mundial das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em 1972.

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É sobre esse caráter normativo que recaem as principais críticas aos seus trabalhos,

como as de Altvater (1995), por exemplo. Para ele, ninguém discorda das boas intenções do

desenvolvimento sustentável; no entanto, para equacioná-lo é preciso se distanciar do

princípio do lucro e, no caso das economias dependentes, das restrições monetárias

externas, o que é muito pouco provável. Altvater ressalta que:

[...] qualquer concretização da palavra mágica “sustentável” provoca, inevitavelmente, um recuo da análise teórica frente a considerações normativas: o desenvolvimento deve ser economicamente eficiente, ecologicamente suportável, politicamente democrático e socialmente justo. Posicionamentos normativos deste tipo são consensualmente sustentáveis inclusive no plano global, apesar das diferenças e contextos culturais, de posições política e de correntes acadêmicas – até o ponto, evidentemente, em que precisam ser explicitadas as implicações éticas dessa norma. (ALTVATER,1995, p. 283)

Sachs (2004, p. 23), por sua vez, rechaça veementemente aqueles que consideram

que o desenvolvimento é “uma armadilha ideológica construída para perpetuar as relações

assimétricas entre as minorias dominadoras e as maiorias dominadas, dentro de cada país e

entre os países”. Essas críticas, segundo Sachs (2004), “tratam de verdades óbvias que não

dizem muito sobre o que deveríamos fazer nas próximas décadas para superar os dois

principais problemas herdados do século XX: o desemprego em massa e as desigualdades

crescentes”. A essas propostas, afirma Sachs (2004) “falta conteúdo operacional concreto”.

Nesse sentido, as idéias de Sachs (1986; 2004) se distinguem pela recusa ao

reducionismo e pela estreiteza do referencial analítico do desenvolvimento, tanto dos

“otimistas tecnológicos sem raias”, como dos “pessimistas ecológicos”. No seu ponto de

vista, ambos pecam pelo reducionismo e pela ignorância histórica, já que selecionam no

passado certas tendências e as extrapolam para chegar a uma visão diametralmente

oposta, mas igualmente falsa.

Sachs (1986) ressalta que não se pode falar em desenvolvimento de longo prazo

desconectado de um “projeto coerente de civilização”, o que requer que as escolhas dos

objetivos e dos meios sejam constantemente reavaliados à luz dos resultados concretos e

dos novos conhecimentos. Um dos principais desafios para a promoção do

“desenvolvimento includente, sustentável e sustentado”, segundo Sachs (1986, 2004), é

estimular o “potencial de desenvolvimento endógeno”.

De acordo com Sachs (1986, p. 86) um dos primeiros documentos a usar a

expressão “desenvolvimento endógeno” foi o Relatório Dag Hammarksjold (Que Faire?).

Consoante o referido relatório, três condições devem ser associadas ao termo: 1) o primado

da lógica das necessidades sociais sobre a do produtivismo estreito; 2) a procura de

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estratégias socioeconômicas que permitam viver em harmonia com a natureza; e 3) uma

ampla abertura à inovação social e às reformas institucionais.

A idéia de endogeneidade em Sachs (1986, p. 81),

[...] não deve, de forma nenhuma, ser compreendida como um convite à autarquia econômica, à recusa de intercâmbios culturais, científicos ou técnicos com o exterior, nem como retorno incondicional à tradição. Ela conduz essencialmente à autonomia do processo de definição do projeto nacional e de tomada de decisões (inclusive as que se referem ao grau de abertura da economia e da sociedade à escolha de parceiros) assim como à importância primordial da comunicação e da cultura na elaboração de estilos de desenvolvimento, isto é, de uma escolha coerente de objetivos e meios de acordo com uma escala de valores que, sem ser prisioneira do passado, representa um belo papel no sentido da identidade e da especificidade nacionais. (SACHS, 1986, p. 81).

Para operacionalizar o “potencial de desenvolvimento endógeno”, são necessários

enfatiza três elementos: 1) a capacidade cultural de pensar-se a si mesmo e de inovar; 2) a

capacidade político-administrativa de tomar decisões autônomas e de organizar a execução

das mesmas e 3) a capacidade do aparelho de produção para assegurar a sua reprodução

ampliada em conformidade com os objetivos sociais do desenvolvimento. (SACHS, 1986, p.

84)

Segundo Sachs (1986, p. 102), o desenvolvimento se apresenta cada vez mais como

conceito “pluridimensional”, cujas diferentes facetas não são redutíveis a um denominador

comum. Sachs (2004, p. 36) afirma que “desde os anos 70, a atenção dada à problemática

ambiental levou a uma ampla reconceitualização do desenvolvimento, em termos de

ecodesenvolvimento, recentemente renomeado de desenvolvimento sustentável”20.

Assim , o desenvolvimento sustentável deve obedecer ao duplo imperativo ético da

solidariedade com as gerações presentes e futuras, e exigir a explicitação de critérios de

sustentabilidade social e ambiental e de viabilidade econômica. O Quadro 3 sintetiza os

critérios, conforme os impactos sociais e ambientais, que determinarão se o crescimento

econômico é considerado sustentável, selvagem ou algo entre esses dois qualificativos.

tipo de crescimento impactos sociais impactos ambientais 1) desenvolvimento + + 2) selvagem - - 3) socialmente benigno + - 4)ambientalmente benigno - +

Quadro 3: Padrões de crescimento econômico e os seus impactos Fonte: Sachs (2004, p. 36) 20 Não é consensual essa visão. Originalmente o ecodesenvolimento foi uma proposta feita para as regiões periféricas dos países pobres, enquando que a proposta de desenvolvimento sustentável, de acordo com o Relatório “Nosso Futuro Comum”, é bem mais ampla, abrangendo regiões ricas e pobres.

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As pesquisas sobre o desenvolvimento devem se revestir de caráter mais realista e

superar três grandes limitações: 1) tendência a tomar a Europa como ponto exclusivo de

referência; 2) noção demasiado estreita de desenvolvimento, a qual deve passar do

crescimento, ao conceito de projeto de civilização; e 3) dificuldade de se pensar

interdisciplinarmente. (SACHS, 1986, p. 31).

Nesse sentido, Sachs (1986, p. 34 - 35) chama atenção para a necessidade de se

estabelecer algumas prioridades da pesquisa no campo das ciências sociais, quais sejam:

1. institucionalizar o processo de planejamento, enquanto mecanismo de decisão e

baseado na participação;

2. inserir a dimensão política no modelo explicativo; mas para isso é preciso superar

a tendência de incorporá-la apenas de maneira pró-forma e acessória e/ou

reduzí-la a uma escolha ideológica;

3. preencher as condições necessárias para uma abordagem verdadeiramente

interdisciplinar.

A noção de desenvolvimento sustentável, para Sachs (2004, p. 17), deve, portanto,

estar assentada em cinco pilares – social, ambiental, territorial, econômico e político. Para

alcançar adequadamente essas dimensões, é necessário passar por uma etapa de

transição. Assim, a transição para o desenvolvimento sustentável requer uma mudança

imediata de paradigma, “passando-se o crescimento financiado pelo influxo de recursos

externos e pela acumulação de dívida externa para o do crescimento baseado na

mobilização de recursos internos, pondo as pessoas para trabalhar em atividades com baixo

conteúdo de importações e para aprender a ‘vivir com lo nuestro’”.

Da mesma forma que Myrdal (1972), Sachs (1986, 2004) considera que a

ferramenta-chave para melhor preparar a transição para o desenvolvimento sustentável é o

planejamento. Contudo, ele alerta para não confundi-lo com o fracassado planejamento

autoritário do tipo soviético. O planejamento moderno é participativo e dialógico e exige uma

negociação quadripartite entre os atores envolvidos, conduzindo a arranjos contratuais entre

autoridades públicas, empresas, organizações de trabalhadores e sociedade civil

organizada. O processo de planejamento deve compatibilizar três objetivos importantes

SACHS, 2004, p. 88)

1. consolidar e modernizar o “núcleo modernizador” da economia, representado por

empresas industriais, mineradoras, e, por vezes agrícolas, intensivas em

conhecimento, de alta tecnologia e de alto valor agregado;

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2. direcionar ações para a geração de emprego em todos os níveis, considerando-

se que o “núcleo modernizador” normalmente é poupador de mão-de-obra,

visando aumentar a elasticidade emprego/crescimento;

3. determinar maneiras e meios para a ação direta focalizada no bem-estar das

pessoas – educação, saúde, saneamento e habitação, bem como apoiando-as na

modernização de suas atividades de subsistência fora do mercado.

1.5.2 Sustentabilidade e suas derivações

De acordo com Faucheux & Nöel (1995, p. 285-286), poucos conceitos atraíram

tanto a opinião pública e acadêmica como o do desenvolvimento sustentável, tornando-se

um importante objetivo nas agendas nacionais e internacionais. Esses autores apresentam

uma abordagem mais formalizada da proposta de desenvolvimento sustentável a qual

abrange os modelos da “sustentabilidade fraca” e da “sustentabilidade forte”. Primeiramente,

eles afirmam que:

• o que está em causa é, antes de mais nada, um desenvolvimento econômico

sustentável, indicando o adjetivo sustentável a permanência, a continuidade;

• o desenvolvimento econômico pode ser definido estritamente em termos de PIB

per capita, mas pode também ser alargado a fim de incluir outras dimensões

como a educação, a saúde, a qualidade de vida e, obviamente, a qualidade do

meio ambiente;

• o desenvolvimento sustentável é multidimensional, visto que conduz teoricamente

às dimensões econômica, social e ecológica;

• ele é um conceito normativo, ou um vetor de objetivos sociais desejáveis, ou seja,

uma lista de atributos que a sociedade pretende maximizar ou alcançar. A

escolha desses objetivos é baseada nos valores predominantes e nas normas

éticas

Faucheux & Nöel chamam atenção para o fato de que,

[...] definir o desenvolvimento sustentável não permite determinar as condições necessárias e suficientes para alcançar nem medir a sustentabilidade. Trata-se então de propor, não só regras, mas também indicadores de sustentabilidade. Isso implica determinar primeiramente as condições em que se encontra o país numa via de desenvolvimento sustentável, seguidamente medir o grau de sua sustentabilidade em função da distância entre o sentido efetivo em que se encontra e o sentido sustentável. É então evidente que o modo de abordar o desenvolvimento sustentável tem conseqüências sobre a escolha das regras e dos indicadores de sustentabilidade. (FAUCHEUX & NÖEL ,1995, p. 286).

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Para esses autores, há três modos de abordar o desenvolvimento sustentável: 1)

sustentablidade fraca, que conduz à regra de Hicks-Hartwick-Solow (HHS), e trata da

sustentabilidade como uma nova forma de eficiência econômica; 2) sustentabilidade forte,

que considera que a eficiência é um critério inadequado e 3) teses econômico-ecológicas,

que propõem certa complementaridade entre as análises da sustentabilidade fraca e forte.

1.5.2.1 Sustentabilidade fraca e a regra de Hicks-Hartwick-Solow (HHS)

O conceito de sustentabilidade fraca segue os preceitos teóricos da economia

neoclássica e está associado ao conceito hicksiano de renda sustentável. Para Hicks (1946)

apud Faucheux & Nöel (1995, p. 289), “o rendimento de uma pessoa não é outra coisa

senão aquilo que ela pode consumir durante um período, contando sempre ser tão rica no

fim como no início do período”.

Nesse sentido, o objetivo do desenvolvimento sustentável, no que se refere à

eqüidade intertemporal, é o não-decréscimo do bem-estar per capita. O conjunto de

recursos naturais e de serviços ambientais pode, dessa forma, ser agregados nos modelos

neoclássicos de crescimento e estão sujeitos às mesmas regras que outros fatores de

produção (capital e trabalho). Para essa abordagem, a preservação do capital natural não

está associada aos imperativos éticos, mas sim à lógica da maximização. Os modelos da

sustentabilidade são, portanto, extensões dos modelos de crescimento econômicos

neoclássicos. Os mais representativos, de acordo com análise de Faucheux & Nöel (1995,

p. 290 - 300), são:

• modelo de Stiglitz (1974), considerado o primeiro a integrar os recursos não-

renováveis em um modelo de crescimento econômico. A introdução desse fator

não é impeditivo para que a economia continue crescendo Os resultados deste

modelo diferem, em parte, daqueles de crescimento equilibrado sem recursos

esgotáveis. Na ausência de recursos não-renováveis, a taxa de crescimento se

torna independente da taxa de poupança. No caso da inclusão destes, aumentos

de poupança conduzem permanentemente a taxas de crescimento mais

elevadas. O elemento comum é que taxas de poupanças mais altas resultam em

consumo mais fraco no presente, porém mais elevado no futuro;

• o modelo de Hotelling (1931), ou regra de Hotelling, embora datado do início dos

anos 1930, foi revitalizado como peça fundamental na discussão sobre

sustentabilidade de recursos não-renováveis. Apresenta as condições para que

os recursos exauríveis sejam esgotados a uma “taxa ótima”. A condição para isso

é que a taxa de utilização do recurso seja igual à diferença entre a taxa de juro

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social21 e a taxa de crescimento da população. Por exemplo, se a taxa de juros

for 12% e a taxa de crescimento da população 2%, a taxa ótima de uso dos

recursos exauríveis será de 10%. Assim, quanto mais elevada for a taxa de juros,

mais rapidamente o recurso será esgotado;

• da junção do modelo de Stiglitz com a regra de Hotelling se deduz que é sempre

possível manter um rendimento per capita constante, período a período, mesmo

na presença de um recurso exaurível, desde que respeitada uma das seguintes

condições quanto à elasticidade de substituição22 entre recursos naturais e

capital e/ou trabalho:

1. elasticidade constante ou crescente (superior à unidade);

2. elasticidade constante e igual - a unidade é a parte do produto que

remunera o capital, que é mais importante do que a que remunera o

recurso exaurível;

3. elasticidade não-constante, mas há um progresso técnico positivo que

permite restringir o uso do recurso, o que equivale a considerar que o

estoque aumenta.

• Outra consideração importante é a de que esses modelos admitem apenas uma

“trajetória convergente”, ou seja, a trajetória ótima é instável. Isso quer dizer que

“qualquer desvio temporário para fora desta trajetória se traduz por um desvio

definitivo; nenhuma força de mercado é capaz de recolocar a economia no rumo

dessa trajetória. Isso pressupõe que desde a partida, quando se começa a utilizar

o estoque dos recursos , há que se situar na trajetória correta”;

• no modelo de Hartwick (1977, 1978a, 1978b) o progresso técnico e,

principalmente, os investimentos alternativos em bens de capital são os dois

meios propostos para atenuar os efeitos do esgotamento e/ou da degradação do

capital natural. Os meios financeiros para os investimentos devem vir da “renda

de escassez” dos recursos não-renováveis. Este princípio ficou conhecido como

“regra de Hartwick”. Para que essa regra seja satisfeita, é necessário haver uma

política deliberada de incentivo ao investimento em bens de capital. Os bens de

capital a serem investidos não precisam ser substitutos perfeitos23 do recurso

21 Taxa de juro média do mercado. Taxa de juros elevadas reapresentam forte preferência pelo consumo presente, o contrário ocorre com taxas mais baixas, ou seja, preferência pelo futuro. 22 Entende-se por elasticidade de substituição,a variação percentual dos fatores produtivos usados como reação a uma variação percentual dos preços relativos. 23 Substitutos perfeitos são denominados backstop technologies (tecnologia de fundo), obtidas por meio do progresso técnico, e não apenas pelo aumento do investimento. Para alguns autores, o

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exaurível, por causa do progresso técnico que permite a substituição entre o

capital técnico e o capital natural;

• o modelo de Solow (1986, 1992) não considera que haja incompatibilidade

intrínseca entre o modelo de crescimento e o capital natural (Kn). Basta que este

seja entendido como um componente do capital total (Kt). O Kt, por sua vez, é

composto pelo capital manufaturado ou reproduzível (Km), pelo capital humano

ou estoque de conhecimentos ou capacidades (Kh) e pelo Kn, ou pelos recursos

renováveis, não-renováveis e pelos serviços ambientais. Em tese, esses capitais

podem ser mensurados. De acordo com a teoria do capital e com a regra de

Hartwick, a repartição dos capitais entre as gerações é regular e a

sustentabilidade estará assegurada se o estoque inicial de capital (Kt) for

constante, ou aumentar, de forma a garantir a manutenção de um potencial bem-

estar ao longo do tempo. Esta regra traz implícita a hipótese de substituição

quase ilimitada entre o Kn e Km e Kh. Isso significa que as rendas provenientes

do uso do capital natural pela geração atual devem ser reinvestidas sob a forma

de capital reprodutível que será transmitido às gerações futuras em proporções

que permitam manter os reais níveis de consumo do recurso ao longo do tempo

(FAUCHEUX e NÖEL 1996, p. 307).

A partir desses modelos clássicos, a abordagem da sustentabilidade fraca propõe

indicadores que objetivam mensurar o crescimento sustentável. São eles: o preço de

mercado (bem como a renda de escassez), a elasticidade de substituição entre o capital

natural e o capital reprodutível e a taxa de progresso técnico.

No caso da elasticidade de substituição, o Quadro 4, abaixo, apresenta valores

(calculados nos anos 1970) para alguns metais e para o papel. As elasticidades mais

elevadas (elásticas) ocorrem entre os recursos naturais e o trabalho, e as menores

(inelásticas) acontecem entre o capital técnico e trabalho. Uma elevada elasticidade significa

que pequenas alterações nos preços relativos provocam substituições mais que

proporcionais à taxa de variação do preço. Uma baixa elasticidade significa que grandes

alterações nos preços relativos provocam substituições menos que proporcionais à taxa de

variação do preço.

período de uso dos recursos esgotáveis é transitório, antes do advento de uma tecnologia que os substitua (por exemplo: madeira – carvão – petróleo –energia nuclear – outra fonte???)

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elasticidade entre

ferro alumínio cobre papel

Kh e kn 4,5 3,0 15,1 1,9 Km e kn 3,0 3,4 9,4 6,0 Km e kh 1,0 1,4 0,6 0,8

Quadro 4: Valores das elasticidades de substituição para algumas commodities minerais Kh : trabalho; kn: recursos naturais; km :capital técnico Fonte: Brown e Field (1979, p. 24) apud Faucheux & Nöel (1995, p. 311).

Faucheux & Nöel (1995, p. 311) admitem que, na prática, se conhece muito pouco

a respeito da substituição do capital natural pelo capital manufaturado e das suas

implicações. Isso ocorre, em primeiro lugar, por causa da imprecisão das avaliações quanto

ao preço dos recursos (a parte relativa ao capital sempre é mais fraca). Em segundo lugar,

há riscos e injustiças intergeracionais. Esses riscos são provocados bem menos pela

escassez dos recursos em si do que pela capacidade de absorção do meio ambiente natural

(por exemplo, capacidade de absorção do carbono pela atmosfera) e das perdas da

biodiversidade. Esses problemas são muito mais preocupantes, pois não há substitutos para

certos ativos naturais que são “suporte da vida” e que têm função de “sobrevivencialidade”.

Nesse sentido, as teses a respeito da escassez dos recursos (BOX 1) não podem ajudar na

determinação do consumo sustentável, reconhecem os autores.

Quanto ao progresso técnico, é reconhecido que o desenvolvimento sustentável é

impossível no mundo HHS se a taxa de progresso técnico for inferior à taxa de crescimento

da população; esse ponto é admitido por Solow (1986, p. 145) apud Faucheux & Nöel (1995,

p. 312). No entanto, inexiste meio simples de medir progresso técnico e, portanto, para

avaliar a sua contribuição (histórica e futura) para a aceleração (ou para o abrandamento)

do esgotamento do capital natural.

Outro indicador difícil de ser mensurado adequadamente é a renda de escassez, ou

renda de raridade. A pergunta a ser respondida é “como proceder com os estoques de bens

e serviços ambientais que não têm preços?”. Segundo a teoria neoclássica,

[...] há que se distinguir entre o capital natural mercantil, já criado pelo sistema de preços (recursos exauríveis e alguns recursos renováveis, como os recursos florestais madeireiros) e capital natural não mercantil (recursos renováveis tais como o ar e os serviços ambientais, ou seja, as amenidades, os serviços ambientais e as capacidades de assimilação da biosfera). (FAUCHEUX & NÖEL, 1995, p. 315).

Dessa forma, essa visão de sustentabilidade, além de parcial, revela muitas lacunas

de difícil solução no âmbito estreito da visão econômica convencional que dá suporte às

suas análises.

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BOX 1 - A controvérsia sobre a raridade dos recursos exauríveis

Até os anos 1970, predominou a opinião de que os recursos naturais não podiam constituir um limite ao crescimento

econômico, por causa do progresso técnico, da descoberta de novas jazidas e da substituição dos recursos mais raros pelos

mais abundantes. No final dos anos 1970, foram feitos diversos estudos teóricos e empíricos sobre as vantagens e os

inconvenientes dos diferentes indicadores econômicos passíveis de refletir a raridade de um recurso natural no longo prazo. Os

principais trabalhos nesta linha se dividem em três correntes: 1) os índices que privilegiam os custos de extração, 2) os índices

baseados nos preços dos recursos e 3) os índices sobre a renda de escassez (ou custo marginal da utilização).

1) índices de custos de extração: os trabalhos de Barnett e Morse (1963) são referência nessa área. Para eles o

custo de extração unitário é definido como o custo em trabalho (pessoas-hora trabalhadas) e em capital (fixo e variável)

necessários para produzir uma unidade de recurso natural. Estudos empíricos por eles realizados, para o período 1870-1957,

sugerem que, à exceção da floresta (para a qual os resultados são às vezes ambíguos), os custos de extração unitários de

numerosos recursos naturais – renováveis e não-renováveis – diminuíram. A partir desse resultado, os recursos exauríveis

ficaram mais abundantes, e não mais raros. Os possíveis fatores explicativos são: a substituição de recursos de baixa

qualidade, mas abundantes, por recursos de alta qualidade, mas de pouca quantidade; a descoberta de novas jazidas, as

mudanças tecnológicas na exploração, na extração e no processo de produção dos recursos, permitindo uma produção

acrescida a custos marginais decrescentes. No entanto, esses fatores foram mais tarde questionados. A mudança tecnológica

pode tornar ambígua a interpretação do custo unitário, pois ele não é a única causa das suas alterações. Por exemplo, quando

se aproxima o esgotamento físico de um recurso natural, é possível que os custos unitários aumentem à medida que as jazidas

se tornem mais difíceis de encontrar, porém pode ser que o esforço para encontrar novas jazidas provoque mudanças

tecnológicas que permitam reduzir os custos de exploração. A conclusão a que se chegou é de que nenhum sinal

verdadeiramente claro sobre a raridade dos recursos pode ser deduzido a partir da medição do custo unitário.

2) índices baseados em preços dos recursos (de mercado e real) – o preço é considerado um bom indicador de

escassez, por incluir o custo de extração e o custo de oportunidade da extração corrente. No entanto, os preços podem refletir

uma série de alterações econômicas (grau de monopólio, intervenções governamentais, ação de sindicatos etc.),

independentemente do grau de raridade dos recursos naturais, além do que a escolha do deflator (no caso dos preços reais)

pode enviesar a análise.

3) índices que fazem intervir a renda de escassez (ou o custo marginal da utilização de um recurso) – eles são

preferíveis aos preços, porque incorporam os efeitos das mudanças tecnológicas e as possibilidades de substituição. O método

mais usual para encontrar a renda de raridade é calcular a diferença entre o preço de mercado e o custo marginal de extração.

Entretanto, há objeções quanto a esse método, especialmente para o caso das rendas do petróleo, por causa de fortes

influências da concentração da propriedade. Nesse caso, é melhor designar tal renda como “excedente energético” – composto

pela renda de raridade acrescido da renda de monopólio.

Fonte: baseado em Faucheux & Nöel (1995, p. 143-145)

1.5.2.2 Sustentabilidade em Solow

De acordo com Solow (1992), é lugar comum pensar que o produto e a renda

nacionais apresentam uma imagem distorcida do valor da atividade econômica das nações.

Para ele, o PIB e o PNB não são indicadores ruins para estudar as flutuações do nível de

emprego, ou para analisar a demanda por bens e serviços. No entanto, eles são

incompletos quando se quer medir o bem-estar dos habitantes de um país. A mais óbvia

omissão é a depreciação dos ativos de capital fixo. Se duas economias produzem o mesmo

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PIB, mas uma delas desperdiça os seus estoques e deprecia rapidamente os seus

estabelecimentos e equipamentos industriais, enquanto que outra usa apenas uma pequena

parcela destes ativos, é óbvio que esta última está fazendo muito mais por seus cidadãos,

afirma Solow. O sistema de contas nacionais reconhece estes pontos e desenvolveu os

conceitos de agregados líquidos para dar uma resposta apropriada a estas questões. Sabe-

se, no entanto, que a depreciação do capital fixo pode ser mensurada erroneamente e que o

erro pode afetar a mensuração da produção líquida, muito embora tenha sido feito um

esforço de superar esse problema.

Para Solow (1992), esse mesmo princípio deve ser estendido para a análise do

estoque de recursos não-renováveis e para os ativos ambientais, como ar puro e água

limpa. Imagine-se duas economias que produzem o mesmo PIB, diz Solow, com a

possibilidade de depreciar os seus ativos fixos, mas uma deles desperdiça os seus recursos

naturais e permite a deterioração de seu meio ambiente, enquanto a outra conserva

recursos e preserva o seu ambiente natural. Neste caso, não há problemas de afirmar que a

primeira proporciona menos abundância aos seus cidadãos do que a segunda. Dessa

forma, é necessário um ajustamento para medir o estoque e o fluxo dos recursos naturais e

dos ativos ambientais não-incluídos no sistema convencional de contas nacionais.

Entretanto, é necessário um ajustamento para medir o estoque e o fluxo dos recursos

naturais e dos ativos ambientais não-incluídos no sistema de contas nacionais. Algum

esforço já foi feito nesse sentido. A natureza desses problemas tem sido pesquisada há

algum tempo. Isso começou com William D. Nordhaus e James Tobin, em 1972. No entanto,

Solow (1992) enfatiza que há uma maneira correta de fazer esses ajustes, não

necessariamente de forma mais simples e direta, mas de forma a incorporar na economia o

consumo da dotação de recursos naturais. Entretanto, ele alerta que as correções são mais

fáceis de definir do que de realmente fazer. Os cálculos necessários podem ser mais

equivocados do que os cálculos para estimar a depreciação dos ativos fixos. Porém, se o

país, o governo ou a comunidade estão empenhados em fazer a coisa certa, as dotações de

recursos naturais e ambientais e a própria medida de estoque e de fluxos devem estar no

topo da lista dos passos a serem dados na direção de decisões inteligentes e prudentes.

Se “sustentabilidade” é algo mais que um slogan ou expressão emotiva, afirma Solow

(1992), o conceito deve estar relacionado a uma injunção para preservar a capacidade

produtiva para um futuro indefinido. Isso só é compatível com o uso de recursos não-

renováveis se a sociedade como um todo substituir o uso desses recursos por outros

recursos. Dessa forma, o mesmo cálculo requerido para construir um ajuste no produto

nacional líquido para a avaliação corrente dos benefícios econômicos é também essencial

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para a construção de uma estratégia de sustentabilidade. Além do próprio Solow,

importantes economistas têm contribuído para essa linha de estudos, tais como: John

Hartwick, Partha Dasgupta, Karl-Göran Mäler, Martim L Weitzman, Robert Repetto e

Nordhaus, em trabalhos pioneiros.

Os pressupostos do modelo de Solow (1992) para encontrar o produto líquido

verdadeiro de uma economia simples num futuro longínquo são:

1. estoque fixo de recursos naturais não-renováveis;

2. esses recursos são essenciais para produção futura;

3. descartam-se as possibilidades de descobertas futuras e outras particularidades,

como localização, facilidade de extração, teor etc.

4. é sempre possível substituir grandes insumos de trabalho, capital reprodutível e

recursos renováveis por pequenas quantidades de insumos de recursos fixos;

5. estabilidade populacional no longo prazo;

6. a cada ano são acrescidos mais estabelecimentos e equipamentos industriais

(investimentos líquidos);

7. a cada ano diminui o estoque de recursos remanescente;

Prevalece a hipótese de substituição entre os fatores produtivos. No entanto, ela deve

ser vista em termos razoáveis, uma vez que os processos de substituição acarretam custos

elevados. Porém, sem essa possibilidade de substituição, a conclusão a que se poderia

chegar é que a economia funciona como um relógio, com uma programação fixa do número

de tic-tacs. Quando estes cessarem, o relógio para, definitivamente, comenta Solow. Sem a

possibilidade de substituição, diz ele, não é possível se pensar em sustentabilidade e a

única escolha possível é entre uma vida curta e feliz e uma vida longa, porém infeliz. Para

essa economia, a vida consiste em usar todo o seu estoque de capital e de trabalho e

exaurir o seu estoque remanescente de recursos a cada ano (PIB). Parte da produção anual

é consumida e proporciona satisfação para os consumidores correntes. O restante é

investido em capital reprodutível, para ser utilizado no futuro. Existem várias hipóteses que

podem ser feitas sobre a evolução da população e do emprego. A hipótese assumida é a de

estabilidade.

A cada ano existem duas novas decisões: 1) quanto poupar e investir? 2) que parte do

estoque remanescente de recursos não-renováveis usar? Os consumidores desse ano

fizeram uma troca com a posteridade. Eles usaram parte dos estoques de recursos não-

renováveis, e em troca eles pouparam e investiram; dessa forma, a posteridade herdará um

amplo estoque de capital reprodutível.

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Essa troca intergeracional pode ser bem ou mal gerenciada, pode ser eqüitativa ou

pode promover iniqüidades. Supondo-se que a troca é feita com eqüidade, isso significa

duas coisas:

1) nada é desperdiçado, a produção é feita com eficiência;

2) a noção de eqüidade intergeracional é muito mais complicada e não se pode

esperar uma explicação completa. A idéia é de que cada geração concede a favor de

si mesma no futuro, mas não demais. Cada geração pode, por seu turno, descontar o

bem-estar das futuras gerações. Cada geração sucessiva aplica a mesma taxa de

desconto para o bem-estar de seus sucessores. A taxa de desconto não pode ser

muito elevada, para garantir a preservação em um nível razoável.

Com o objetivo de tornar o debate em torno da sustentabilidade mais pragmático e

menos emocional, Solow recorre aos teoremas de Hotelling e de Hartwick, como métodos

indicados para se proceder a uma adequada contabilidade do estoque de capital natural

exaurido. O valor sombra dos recursos exauridos é exatamente o das rendas agregadas de

Hotelling, que é igual à quantidade que deve deduzida da contabilidade usual para revelar a

“renda líquida real”. A regra de Hartwick, por sua vez, diz o seguinte: uma sociedade que

investe as rendas agregadas dos recursos em capitais reprodutíveis está preservando a

capacidade de manter o seu nível de consumo. O mesmo procedimento deve ser adotado

em relação aos recursos ambientais.

Assim definido, o montante exaurido deve ter uma contrapartida. Os países ricos

devem separar uma dotação de recursos equivalentes para investimentos em substitutos e

os países pobres exportadores de minerais devem deixar à parte as rendas hotellianas para

realizar investimentos produtivos, e isso deve ter uma alta prioridade. Nesse sentido, o

pecado primordial não é a mineração, mas sim o consumo das rendas mineiras (SOLOW,

1992, p. 20).

Solow reconhece que a sustentabilidade é um objetivo difícil de ser alcançado pelos

países pobres. Para ele, os países pobres enfrentam um grande dilema, pois é muito mais

difícil eles serem competitivos se adotarem os mesmos padrões ambientais dos países

ricos. Dessa forma, o dilema que os países pobres enfrentam é ser condescendente com a

pobreza e preservar o meio ambiente ou utilizar o seu meio ambiente para ter mais

competitividade, e assim combater a pobreza. Quando o meio ambiente afetado é

pontualmente localizado, esse dilema é menos grave, porém, quando as opções produtivas

implicam em danos ambientais difusos, o problema se agrava, admite Solow.

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Solow insiste em que a mesma metodologia utilizada no tratamento dos recursos

naturais não-renováveis deva ser utilizada para os recursos ambientais. No entanto, ele

reconhece que nesse campo há muito mais complexidade, por diversas razões. Uma delas

é que os ativos ambientais têm valor intrínseco, como o caso dos monumentos naturais

(Grand Canyon ou o Parque Nacional Yosemite), para cuja paisagem ambiental não existe

substituto – não havendo, portanto, possibilidade de trade-offs. Os recursos minerais

utilizáveis estão em uma categoria mais utilitária; por conseguinte, são passíveis de

substituição. Outra grande dificuldade está relacionada às incertezas a respeito dos custos e

dos benefícios ambientais.

De acordo com Müller (2007) ,

“[...] essa visão que Solow tentou passar a ambientalistas nada mais é do que uma versão, em linguagem mais fácil para o público em geral compreender, de mensagens que há mais de trinta anos o autor passou a economistas então preocupados com a insustentabilidade do padrão contenporâneo de crescimento da economia mundial”.

1.5.2.3 Sustentabilidade forte e a inadequação do critério de eficiência

Os defensores do primado da sustentabilidade forte usam dois conjuntos de

argumentos para se contrapor às receitas sugeridas pela sustentabilidade fraca, de acrodo

com Faucheux & Nöel (1995, p. 335):

1) há incertezas a respeito dos principais indicadores apresentados pela escola da

sustentabilidade fraca, quais sejam: valor de elasticidade de substituição, taxa

de progresso técnico e valor da renda de escassez;

2) existe uma assimetria fundamental entre o capital manufaturado e o capital

natural no que se refere à irreversibilidade do seu uso.

A sustentabilidade forte incorpora uma aversão à incerteza e uma preferência pelo

“princípio da precaução” nas tomadas de decisão sobre questões que envolvam o uso de

recursos naturais e ambientais. Essa preferência por opções mais prudentes visa permitir a

preservação dos potenciais de escolha das futuras gerações. (FAUCHEUX & NÖEL, 1995,

p. 336).

As principais teorias representantes dessa abordagem são 1) as interpretações

conservacionistas - Herman Daly (1985, 1996, 1997) e Cleveland e Ruth (1997) - e 2) as

análises da Escola de Londres – Pearce & Atkinson (1992).

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A primeira visão defende a manutenção do estoque de capital natural (estado

estacionário), para essa corrente é importante desenvolver indicadores de sustentabilidade

não-monetários, baseados em medidas físicas materiais e energéticas24. Essa percepção

não aprofunda a discussão a respeito das implicações das propostas de taxas de

crescimento econômicos e demográficos nulas.

As hipóteses de modelo de desenvolvimento sustentável de Daly apud Faucheux &

Nöel (1995, p. 337) são as seguintes: 1) a taxa de desconto é nula, pois o direito das

gerações futuras é o mesmo das gerações presentes; 2) a elasticidade de substituição entre

o capital reprodutível e o capital natural é nula, já que as funções de produção têm fatores

complementares e não substitutos (o capital manufaturado não é independente do capital

natural, pois este cumpre as funções de sobrevivência que não podem ser substituídas pelo

capital manufaturado, por exemplo, a camada de ozônio). A tese essencial de Daly é que

nos encontramos em um mundo onde o fator limitador já não é mais o capital criado pelo

homem, mas sim o capital natural; 3) O progresso técnico apenas pode ter impactos

extremamente limitados no que respeita ao capital natural; 4) Os preços das rendas de

escassez não têm qualquer significado; em matéria de gestão de capital natural, o mercado

deve ser substituído por instituições encarregadas de regulamentar o seu uso e de elaborar

indicadores biofísicos; 5) O desenvolvimento sustentável é definido como o desenvolvimento

máximo que pode ser atingido sem diminuir os ativos de capital natural da nação, que são

os seus recursos de base.

Cleveland & Ruth (1997, p.158) seguem os preceitos de Georgescu-Roegen’s e sua

devastadora crítica aos fundamentos da economia convencional. Para esses autores, a

substituição entre o capital natural e capital construído pelo homem deve ser restrita devido

ao pouco conhecimento do papel desempenhado pelos serviços ecossistêmicos. O atual

nível de desenvolvimento tecnológico é também insuficiente para fazer face à depleção dos

os recursos não-renováveis como os combustíveis fósseis, por exemplo; as tecnologias

renováveis que têm sido saudadas como uma panacéia, muitas delas não passam nos

testes rudimentares de energia líquida e exigências ambientais. Essa visão é compartilhada

pela escola da Economia Ecológica, que será vista a seguir.

24 Esse tipo de proposição encontra total amparo nos fundamentos da segunda lei da termodinâmica. De acordo com essa lei, o processo econômico é considerado como uma transformação contínua da baixa entropia em direção à alta entropia. Isto significa que toda a energia utilizada pelo sistema econômico reaparece inevitavelmente após a produção, sob uma forma degradada (fumaça, cinzas, resíduos, lixo etc.), ou seja, enquanto poluição. Daí o interesse em recorrer a indicadores energéticos a fim de monitorar simultaneamente o esgotamento da energia e das matérias-primas e a criação de desperdícios pelo sistema econômico. (FAUCHEUX & NÖEL,1995, p. 347)

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Esses autores, todavia, fazem concessão para o caso dos países pobres, conforme

pode-se contstatar pelas declaraçãoes de Daly (Box 2).

BOX 2 - O pensamento de Herman Daly

De acordo com Daly (1996), “é impossível à economia mundial crescer sem pobreza e degradação ambiental. Por

outras palavras, o crescimento sustentável é impossível”. Para ele é “politicamente muito difícil admitir que o crescimento, com

as suas quase religiosas conotações de bem supremo, tenha de ser limitado. Mas é precisamente a não-sustentabilidade do

crescimento que torna premente o conceito de desenvolvimento sustentável”. Para Daly (1996) crescimento “significa aumentar

naturalmente no tamanho, com a adição de material, através da assimilação ou aumento”; já desenvolvimento “significa

expandir, ou realizar o potencial de: fomentar gradualmente para um estádio mais pleno, maior, ou melhor,”. Acrescenta que

“quando alguma coisa cresce, fica maior. Quando algo se desenvolve, fica diferente!”. Dessa forma, a proposta de

desenvolvimento sustentável é uma adaptação cultural feita pela sociedade à medida que se percebe a emergente

necessidade de não-crescimento.

Muito embora as análises de Daly estejam associadas à propagação das idéias de crescimento zero ou mesmo de

decrescimento econômico, ele tem uma visão bastante realista a respeito das assimetrias do desenvolvimento global e da

necessidade de crescimento econômico das regiões pobres do mundo. Isso ficou bem evidente no seu clássico discurso,

quando abandonou a carreira de economista-chefe do Banco Mundial, em 1994. Nesse discurso, Daly oferece quatro

recomedações para que o Banco Mundial consiga ser um agente difusor do desenvolvimento sustentável. São as seguintes as

suas recomendações (DALY, 1997):

Não considerar como receita o consumo do capital natural. Contabilizar o capital natural como um bem gratuito pode

ter feito algum sentido no mundo vazio de antigamente, mas no planeta “cheio” de hoje isto é claramente anti-econômico.

2 - Taxar menos o trabalho e a receita e taxar mais o fluxo de recursos naturais. O sistema atual incentiva as

empresas a diminuírem o número de empregados e substituir mais capital e fluxo de recursos enquanto for possível. Seria

melhor economizar no fluxo dos recursos, pelo alto custo externo do seu próprio esgotamento e por causa da poluição gerada

e, ao mesmo tempo, utilizar mais mão-de-obra, pelos benefícios sociais decorrentes da redução do desemprego. Ao mudar a

base de impostos em direção ao fluxo de recursos, induz-se uma maior eficiência neste fluxo e internaliza-se, ainda que

grosseiramente, as externalidades da exaustão destes recursos e da poluição. Esta mudança deveria, antes de mais nada, ser

iniciada nos países do Norte. De fato, o próprio desenvolvimento sustentável deveria ser estabelecido em primeiro lugar nestes

países. É um absurdo esperar qualquer sacrifício em direção à sustentabilidade no Sul se medidas similares não tiverem sido tomadas no Norte. A maior fraqueza do Banco, ao propalar o desenvolvimento sustentável, é que ele só tem

influência no Sul, não no Norte. O Banco deve achar alguma forma de afetar o Norte também. Os países nórdicos e a Holanda

já começaram a serem afetados.

3 - Maximizar a produtividade do capital natural no curto prazo e investir no aumento de seu suprimento no longo

prazo. Para obter recursos renováveis e não-renováveis, é necessário investimento para fortalecer a produtividade do fluxo de

recursos. Aumentar a produtividade dos recursos é também um bom substituto para novas descobertas de depósitos. A

incapacidade do Banco de cobrar dos usuários os custos do capital natural certamente desestimula investimentos em projetos

de recuperação desse capital natural.

4 - Abandonar a ideologia de integração econômica global pelo livre comércio, livre mobilidade de capital e

crescimento baseado na exportação, em favor de uma orientação mais nacionalista, que procure desenvolver produção

doméstica para mercados internos como primeira opção, recorrendo ao comércio internacional quando isso for claramente

muito mais eficiente.

Um dos principais representantes da Escola de Londres é David Pearce (1992). Essa

escola teve o mérito de avançar na proposição de articular a preservação ambiental às

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exigências do crescimento econômico. Porém, seus resultados podem conduzir tanto à

recomendação prescrita pela sustentabilidade fraca como aos preceitos da sustentabilidade

forte.

A Escola de Londres admite a substituição entre os recursos naturais e outras formas

de capital (manufaturado e humano); porém, reconhece que há limites para esta

substituição, por causa da “multifuncionalidade”25 do “capital natural não-mercantil”26 e da

escala do prejuízo potencial que essa substituição gera (reversível ou irreversível).

O capital natural, cuja degradação é reversível e se manifesta em pequena escala,

pode ser tratado por intermédio de critérios tradicionais de eficiência econômica. Mas, para

aqueles capitais cujo uso gera irreversibilidade e atinge grande escala, deveria haver

limitação prévia. É nesse sentido que a Escola de Londres defende a necessidade da

preservação de um limite mínimo de “capital natural crítico”.

A hipótese de substituição entre capital manufaturado e capital natural é considerada pertinente quando as funções econômicas e produtivas do capital natural estão relacionadas. Todavia, quando as funções sobrevivência do capital natural estão em jogo, esta hipótese deve ser abandonada em proveito da complementaridade. (FAUCHEUX & NÖEL, 1995, p. 360).

A partir dessa proposição, emerge a questão de saber qual o limite de capital natural

crítico que deve ser mantido, uma vez que os critérios provenientes tanto da

sustentabilidade fraca quando da sustentabilidade forte não oferecem respostas adequadas.

Para a Escola de Londres, o “capital natural crítico deve estar submetido às normas

mínimas de salvaguarda”, que se exprime por três “barreiras ecológicas”, são elas: 1) a taxa

de utilização dos recursos naturais renováveis não pode exceder a sua taxa de renovação;

2) os recursos exauríveis devem ser extraídos a uma taxa que permita a sua substituição

por recursos renováveis; e 3) as emissões de desperdícios devem ser inferiores à

capacidade de assimilação do meio. Os modelos existentes (FAUCHEUX & NÖEL, 1995, p.

362 - 365) revelam que apenas os critérios de eficiência de mercado não permitem o

alcance da sustentabilidade.

25 Um mesmo recurso pode exercer funções econômicas, recreativas, biológicas, de tratamento da poluição etc. Um exemplo disso é um riacho. O progresso técnico não pode se aplicar uniformemente a todas essas funções. 26 O capital natural pode também ser classificado como: mercantil (há um mercado definido) e não-mercantil (não há um mercado definido). Essa classificação pode contribuir para hierarquizar o grau de substituição entre eles. Por exemplo, pode-se substituir petróleo por álcool, mas não há um substituto para a camada de ozônio.

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A principal crítica feita à Escola de Londres é de que ela não dedicou atenção

necessária aos problemas da medida do estoque de capital natural crítico a ser preservado.

Segundo David Pearce e sua equipe,

[...] a medida física do estoque de ativos naturais é problemática devido à dificuldade que existe em homogeneizar unidades de medidas físicas heterogêneas. Efetivamente, é difícil associar quantidades físicas expressas em unidade diferentes. Por exemplo, se o estoque de madeira aumentar, ao mesmo tempo que as reservas de petróleo diminuírem, como é que se pode afirmar que o estoque de ativos naturais aumentou, diminuiu ou permaneceu o mesmo? De igual modo, se as emissões de CO2 diminuírem enquanto as de SO2 aumentarem, como é que se pode afirmar que o estado do meio ambiente melhorou, se degradou, ou permanece o mesmo? (PEARCE apud FAUCHEUX & NÖEL, 1995, p. 366)

Dadas essas dificuldades, uma alternativa possível é a avaliação monetária. No

entanto, esta recai no mesmo receituário da sustentabilidade fraca e dissocia a fixação dos

objetivos ambientais, determinada em termos físicos, dos meios necessários para alcançá-

los. Nesse sentido, de acordo com Faucheux e Nöel (1995, p. 367), o quadro do modelo de

desenvolvimento sustentável da Escola de Londres oscila em torno de duas possibilidades:

1. se as barreiras incidentes sobre o capital natural crítico são determinadas

unicamente em termos físicos, então haverá uma tendência para a

sustentabilidade forte;

2. se as barreiras incidentes sobre o capital natural crítico são determinadas

unicamente em termos econômicos, então haverá uma tendência para a

sustentabilidade fraca.

As alternativas de usar indicadores ainda não fiscos não obtiveram êxito esperado.

Assim, os instrumentos propostos pela Escola de Londres estão voltados para a

contabilidade ambiental e para os indicadores ambientais que descrevem os efeitos

ambientais das mudanças de política e as tendências gerais da economia.

1.5.2.4 Teses econômico-ecológicas - tentativa de complementaridade entre sustentabilidade fraca e forte.

A abordagem de desenvolvimento sustentável da economia ecológica enfatiza que

“qualquer escolha política a respeito do desenvolvimento sustentável é confrontada com a

incerteza, a irreversibilidade e a complexidade, ou ainda com a multimensionalidade dos

critérios de ordem ecológica, econômica e social” (FAUCHEUX & NÖEL, 1995, p. 372-373).

Para a economia ecológica, a economia é um subsistema de um ecossistema mais amplo.

Disso deriva a necessidade de conhecer os limites do crescimento econômico para não

provocar danos irreversíveis ao ecossistema. Para essa tarefa, a economia ecológica adota

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conceitos centrais da economia (custo de oportunidade, substituição, preferências

temporais), da física - termodinâmica (definição de sistemas e dos seus limites, avaliação de

fluxos de matéria e de energia através dos seus limites, por meio das leis da termodinâmica,

distinção de sistemas detentores de diferentes níveis de ordem) e da ecologia (ciclo de

matéria, fluxos de energia, complexidade das interações sistemas/meio ambiente).

A economia ecológica aceita os indicadores ambientais propostos pela

sustentabilidade forte, mas discorda do viés estritamente conservacionista desta escola. Por

outro lado, embora utilize elementos da racionalidade e da eficiência econômicos, discorda

do privilégio exclusivo dado à dimensão econômica.

Por isso, ela adota a denominada “racionalidade processual”, que consiste:

• na possibilidade da substituição de um objetivo global, não-mensurável, por

objetivos intermediários, ou até por sub-objetivos (subgoals) intermediários, cujo

alcance pode ser observado e medido. Cada um desses objetivos intermediários

pode, ele próprio, ser fragmentado em vários sub-objetivos intermediários que

tomam a forma de normas a respeitar. O processo de dissociação não pára no

momento em que cada sub-objetivo intermediário é mensurável de modo

homogêneo;

• na possibilidade da substituição de escolhas “ótimas” por “escolhas satisfatórias”

do ponto de vista ecológico, econômico, sociais e outros.

Para definir qual política de desenvolvimento sustentável deva ser adotada, o gestor

é confrontado com incerteza, complexidade e multidimensionalidade dos critérios (Faucheux

& Nöel, 1995, p. 382), assim “devido às incertezas que implicam, políticas de controle da

poluição deveriam ser vistas como um processo iterativo de pesquisa baseado no princípio

da satisfação preferencialmente ao princípio da otimização”. (PEARCE & TURNER, 1990 p.

20 apud FAUCHEUX & NÖEL, 1995, p. 384).

As diferentes abordagens teóricas sobre o desenvolvimento, em maior ou menor

grau, estão voltadas para quatro aspectos do assunto: 1) definição, 2) mensuração, 3)

avaliação e 4) proposição. No que se refere ao desenvolvimento sustentável, a maioria dos

estudos ainda está voltada para o primeiro aspecto. Já é praticamente consensual a idéia de

que o desenvolvimento sustentável requer uma abordagem muldimensional e de que se

trata de um conceito muito mais ético e, portanto, normativo, do que resultante de uma

proposição teórica. Quanto aos outros aspectos, há muitas críticas, especialmente no que

se refere à fragilidade dos mecanismos concretos de mensuração e de avaliação. Dessa

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forma, as proposições ficam comprometidas por não estarem embasadas em medidas de

avaliação mais consistentes.

Os modelos de desenvolvimento sustentável, na ótica da “sustentabilidade fraca”,

são, na realidade, os mesmos modelos neoclássicos de crescimento com a adição da

variável recurso natural específico (capital natural). Os modelos dão ênfase ao aspecto

quantitativo, ignoram questões éticas e ecossistêmicas. Os modelos de “sustentabilidade

forte”, baseados na contabilidade energética, não apresentam alternativas factíveis para as

economias que dependem economicamente da extração e do uso de seus recursos naturais

e ambientais. O “caminho do meio”, como diz Veiga (2005), talvez esteja em algum ponto

entre a Escola de Londres e outras abordagens como, a de Sachs e de Amartya Sen, entre

outras.

1.6 OUTROS ENFOQUES

Nesta seção serão apresentados alguns autores importantes que tratam do

desenvolvimento a partir de enfoques distintos dos até então apresentados.

1.6.1 Desenvolvimento como liberdade, de Amartya Sen

Uma perspectiva mais humanista do desenvolvimento tem sido atribuída a Dudley

Seers, cuja obra teve grande influência nos anos 1960. Seers (1969) apud Nafzider (2005)

teve o mérito de propor, de forma direta e simples, os três principais indicadores para

mensurar o desenvolvimento: 1) pobreza, 2) iniqüidade e 3) desemprego. Isso representou

um grande avanço nas tentativas de medir o desenvolvimento, além de uma agenda em prol

do desenvolvimento. Nessa perspectiva, dentro de certos limites, o trabalho de Amartya Sen

representa uma continuidade de Seers.

A obra de Amartya Sen, economista indiano, prêmio Nobel de 1988, é considerado

uma das grandes contribuições para o restabelecimento da dimensão ética na discussão

dos problemas econômicos (NAFZIGER, 2005). Como a maioria dos autores que trata do

tema desenvolvimento, Sen (2000, p. 51) inicia a sua obra com críticas à visão precedente à

sua. Ele distingue duas atitudes gerais a respeito do processo de desenvolvimento: 1) é um

processo feroz, conquistado com muito “sangue, suor e lágrimas”, isto é, requer sacrifícios

que comprometem redes de segurança sociais, fornecimento de serviços sociais para a

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população, direitos democráticos etc.27, e 2) é um processo “amigável”, construído a partir

de trocas mutuamente benéficas. Ele se identifica com esta última abordagem.

Sen (2000) compartilha da idéia, ressaltada por Furtado (1974), Hirschman (1977),

Sachs (1986, 2004) e outros, de que uma concepção adequada de desenvolvimento deve

significar muito mais do que a simples acumulação de riqueza e o crescimento do PIB e de

variáveis associadas à renda. Ainda assim, tanto esses autores como Sen (2000) não

desconsiderem a importância do crescimento econômico. Eles reforçam a idéia de que é

necessário enxergar além dele.

Para Sen (2000), o principal propósito do desenvolvimento é reduzir as privações, ou

ampliar as escolhas. O sentido do termo privação extrapola a idéia usual de pobreza,

entendida apenas como baixo nível de renda per capita. A pobreza, enquanto privação,

segundo Sen (2000), não significa um baixo nível de bem-estar, mas a incapacidade de

perseguir o bem-estar. A privação é um conceito multidimensional que inclui: fome,

analfabetismo, sujeição às doenças, saúde fraca, exclusão, ausência de poder, humilhação,

insegurança, deficiência de acesso à infra-estrutura básica, barreiras para a ascensão

econômica das mulheres, violação das liberdades políticas, ameaças ao meio ambiente,

entre outros. É lógico que a elevação da renda per capita pode resolver grande parte dessas

privações. No entanto, embora necessária, ela não é condição suficiente. Os exemplos

disso abundam no livro Desenvolvimento como Liberdade que é considerado uma síntese

das principais idéias de Sen.

Desenvolvimento para Sen (2000, p. 51 - 71), é um processo de expansão das

liberdades reais de que as pessoas desfrutam. A liberdade é o fim, o objetivo e o meio para

se alcançar o desenvolvimento. A liberdade, portanto, assume um duplo papel na obra de

Sen: o papel constitutivo e o papel instrumental na determinação do desenvolvimento. O

papel constitutivo relaciona-se à importância das “liberdades substantivas” para o

enriquecimento da vida humana. As liberdades substantivas estão relacionadas às

capacidades elementares tais como: ter condições de evitar fome, subnutrição, morbidez

evitável, morte prematura, além de saber ler e fazer cálculos aritméticos, ter participação

política e liberdade de expressão, entre outros.

O papel instrumental relaciona-se à contribuição das liberdades para o progresso

econômico, ou seja, a liberdade é também um meio para se obter o desenvolvimento. Sen

(2000, p. 54 - 71) destaca os cinco mais relevantes tipos de liberdades instrumentais:

27 Conforme ficou explícito nos trabalhos de Myrdal, Rostow e outros.

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1. liberdades políticas – direitos civis e políticos associados á democracia;

2. facilidades econômicas – oportunidades para utilizar recursos econômicos

para consumo, produção ou troca. Sen (2000, p. 56) ressalta que o modo

como as rendas são distribuídas faz uma profunda diferença;

3. oportunidades sociais – condições existentes nas áreas da educação, da

saúde, da segurança etc. que influenciam a liberdade substantiva de o

indivíduo viver melhor;

4. garantias de transparências - referem-se às necessidades de sinceridade

que as pessoas esperam. Elas são inibidoras da corrupção, da

irresponsabilidade financeira e das transações ilícitas;

5. segurança protetora – proporciona uma rede de seguridade social,

impedindo que a população excluída seja reduzida à miséria abjeta.

Essas liberdades se complementam umas às outras. Portanto, apreender as

interligações que existem entre elas é de fundamental importância para deliberar sobre

políticas de desenvolvimento (SEN, 2000, p. 57). O Quadro 5, a seguir, ilustra algumas

dessas interligações e os seus efeitos sobre o desenvolvimento.

liberdade instrumental interligação efeito sobre o desenvolvimento

oportunidades sociais

Ampliação da educação pública, da saúde pública e da imprensa livre e ativa → redução das taxas de natalidade e de mortalidade infantil.

Elevação do nível de emprego, elevação da renda per capita, redução da mortalidade infantil.

liberdades individuais

Garantia social das liberdades→ tolerância e possibilidade de troca e de transações econômicas.

Formação e aproveitamento das capacidades humanas.

transações econômicas

Crescimento do PNB per capita → elevação das rendas privadas→financiamento dos programas sociais do governo→ elevação das rendas dos pobres→gastos públicos com serviços de saúde em geral.

Elevação da expectativa de vida.

Quadro 5: Interligações entre as liberdades instrumentais e os seus efeitos sobre o desenvolvimento econômico Fonte: Baseado em Sen (2000, p. 57 - 71)

As possibilidades de combinações entre as liberdades instrumentais são muito

amplas. Um dos aspectos importantes para o qual Sen (2000) chama a atenção é o

mecanismo da forte correlação entre aumento do PNB per capita e elevação da expectativa

de vida. Essa relação, diz ele, não é automática, mas intermediada pelo gasto feito para

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reduzir a pobreza e elevar dispêndios na área da saúde pública. É nesse sentido que Sen

(2000, p. 61) alerta que “o impacto do crescimento econômico depende muito do modo

como os seus frutos são aproveitados”.

O contraste entre China e Índia, ressaltado por Sen (2000, p. 59), ilustra o papel das

oportunidades sociais como meio para se galgar o desenvolvimento. Desde que a China

iniciou o seu processo de crescimento acelerado, no final dos 1970, ao contrário da Índia,

ela já contava com a massificação do sistema de educação e de saúde, ou seja, havia uma

população alfabetizada e em boas condições de saúde28. Ele também destaca as

desvantagens reais da China, em relação à Índia, por causa da ausência de liberdades

democráticas.

Sen (2000, p. 65 - 66), questiona o argumento geralmente usado da falta de recursos

para realizar investimentos socialmente importantes como universalização da saúde e do

ensino, entre outros. Para ele, o parâmetro para a determinação de quanto um país pode ou

não gastar é a relação entre preços e custos relativos. Esses serviços relevantes, do ponto

de vista socioeconômicos, são altamente trabalho-intensivos e, portanto, relativamente

baratos nas economias pobres, onde os salários são baixos. De acordo com Sen (2000), o

país - ou região - não precisa ficar rico para iniciar a tarefa de realizar os investimentos nas

áreas–chave que permitam ampliar as interligações entre as liberdades instrumentais e,

assim, potencializar os efeitos sobre o desenvolvimento. O papel do gasto público é de

crucial importância para acionar os encadeamentos e, dessa forma, promover a expansão

da liberdade humana, ou o desenvolvimento.

Os fins e os meios do desenvolvimento exigem que a perspectiva da liberdade seja colocada no centro do palco. Nessa perspectiva, as pessoas têm de ser vistas como ativamente envolvidas – dada a oportunidade – na conformação de seu próprio destino, e não apenas como beneficiárias passivas dos frutos de engenhosos programas de desenvolvimento. (SEN, 2000, p. 71)

Sem diminuir a importância do gasto público, Sen (2000) reconhece que

investimentos socialmente importantes, mediados pelo crescimento econômico, têm a

vantagem de oferecer mais em relação ao exclusivo custeio destes investimentos por parte

do setor público, uma vez que há muito mais privações diretamente vinculadas aos baixos

níveis de renda. No entanto, ele mostra uma série de exemplos de casos em que não é

preciso haver altas taxas de crescimento econômico para iniciar esse tipo de ação.

28Para Sen (2000, p. 60) o atraso social da Índia, com sua avconcentração elitista na educação superior,a sua vasta negligência com relação à educação elementar e o descaso substancial para com os serviços básicos de saúde, deixou o país despreparado para uma expansão econômica amplamente compartilhada.

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A questão do dispêndio público, enquanto meio para promoção do desenvolvimento,

ressaltado com grande propriedade por Sen, tem sido abordada sob diferentes ângulos

pelos teóricos do desenvolvimento, entre os quais Baran, Hirschman, Myrdal e outros. A

qualidade deste gasto público é de fundamental importância para a argumentação desta

tese. Até que ponto as rendas minerais repassadas para as administrações públicas são

utilizadas em prol do desenvolvimento? Elas estão sendo usadas para a ampliação das

liberdades constitutivas e instrumentais? As interligações entre gastos e essas liberdades

estão sendo potencializadas?

1.6.2 Desenvolvimento como emergência sistêmica, em Boisier

Boisier (1999, 2003), constata que qualquer que seja a definição de desenvolvimento

que se utilize, a proporção da população mundial que vive em um marco qualificado como

de desenvolvimento não supera 12%29. Portanto, a conclusão lógica é que as políticas de

estímulo ao desenvolvimento resultaram em completo fracasso. Essa comprovação tem

levado muitos autores a renegar a idéia de desenvolvimento. Para Goldsmith (1996, p. 271),

por exemplo, “desenvolvimento pouco mais é do que o caminho pelo qual o Ocidente tem

guiado, durante séculos, o resto da humanidade (..) é apenas uma nova palavra para o que

os marxistas chamavam de imperialismo e que nós podemos referir genericamente como

colonialismo”.

Outros autores apontam para a concepção errada de objetivos, ou para o desenho

equivocado dos programas e projetos, mas, segundo Boisier (2003, p. 3) tanto os objetivos

como os instrumentos de estratégias de desenvolvimento têm sido mal definidos30. Boisier

(2003, p.19) acrescenta outras causas do fracasso das políticas de desenvolvimento, tais

como: posturas radicais da esquerda sobre a impossibilidade de um desenvolvimento

regional no marco das economias capitalistas dependentes de industrialização tardia;

posturas igualmente radicais que se fundamentam em uma suposta sobredeterminação

sistêmica (para espaços subnacionais), no mesmo marco anterior, que não deixaria espaço

de manobra, em nível local, para conduzir processos de desenvolvimento.

O ponto de vista de Boisier (2003, p. 19), é de que carências cognitivas e

epistemológicas impediram a formulação de intervenções assentadas em um conhecimento

29 “somando com generosidade a América do Norte (Estados Unidos e Canadá), a União Européia, o Japão, a Austrália, a Nova Zelândia, Israel e dois pequenos países asáticos e talvez um punhado de países europeus”(BOISIER, 2003, p. 3). 30 Na América Latina, as primeiras políticas públicas em pról do desenvolvimento datam do final dos anos 1940. Como, por exemplo, em 1947 no México (Primeira Comissão das Bacias Fluviais do Rio Papaloapan ), em 1948 no Brasil (Idem para o Rio São Francisco). (BOISIER, 2003, p. 18).

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consistente das relações de causalidade ocultas por detrás dos fenômenos aparentes de

concentração, disparidades e centralização, fazendo das políticas públicas “simples apostas

com baixa probabilidade de êxito”. Nesse sentido, ele alerta para a necessidade de um novo

paradigma “cognitivo, construtivista, lingüístico, sistêmico, complexo, e necessidade de

novos procedimentos associativos”, uma vez que “fazer mais do mesmo só pode agravar a

situação da maioria das pessoas”.

Boisier (2003, p. 19), também considera que o mapa latino-americano de políticas

regionais contemporâneas mostra um conjunto vazio. Para Boisier (1999, p. 41), o

desenvolvimento é um fenômeno de ordem qualitativa que se tenta alcançar por intermédio

de ações de ordem quantitativa. Isso resulta da dificuldade de compreender a natureza

subjetiva e complexa do desenvolvimento. Assim, a idéia de “desenvolvimento” se confunde

com mais objetos materiais (mais casas, mais estradas, mais escolas, mais hectares para

cultivos etc.) e raras vezes se admite que o que interessa é mudar e melhorar situações e

processos.

Boisier (1999, p. 39), propõe o conceito de “capital sinergético”, que seria capaz de

colocar o território em um “caminho virtuoso do desenvolvimento”. Para ele, esse conceito

tem um vínculo muito mais estreito com a concepção contemporânea de desenvolvimento

do que apenas a construção de infra-estrutura e outras ações materiais que, valiosas em si

mesmas, não equacionam com o desenvolvimento. Capital sinergético, portanto, é,

[...] a capacidade social de promover ações em conjunto dirigidas a fins coletivos e democraticamente aceitos, com o conhecido resultado de se obter um produto final que é maior que a soma de seus componentes. Trata-se de uma capacidade normalmente latente em toda a sociedade organizada. Como toda a forma de capital, o capital sinergético é um estoque de magnitude determinada em qualquer território e tempo, que pode receber fluxos de energia, que aumenta este estoque do qual fluem outros fluxos de energia, dirigidos precisamente a articular outras formas de capital. (BOISIER, 1999, p. 42).

O capital sinergético decorre da combinação de nove outros capitais - econômico,

cognitivo, simbólico, cultural, institucional, psicossocial, social, cívico e humano. Boisier não

inclui o capital natural por considerá-lo como a mais primitiva e elementar forma de capital e

fator de primeira importância nos processos de crescimento e de desenvolvimento. Faz isso

para evitar polêmicas a respeito do determinismo do meio físico.

Uma pergunta que emerge naturalmente é como potencializar o capital sinergético?

Esse aspecto é pouco aprofundado na obra de Boisier. Ele remete à noção de “relações

sinérgicas” explorada por Peter Evans (1996), como análoga ao seu conceito de capital

sinergético. Ao analisar a origem das relações sinérgicas, Peter Evans apud Boisier

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considera que a dotação e a construção destas relações é o ponto mais fundamental. Para

Evans, o estoque limitado de capital social, a desigualdade social muito acentuada, os

regimes políticos pouco democráticos ou a natureza adversa das instituições

governamentais deixam pouco espaço para “engenharia da intervenção”. Mas, mesmo

assim, ele acredita na possibilidade de construção de relações sinérgicas, o que tem a plena

concordância de Boisier.

A resposta de como fazê-lo, para Boisier (1999. p. 4) passa, em primeiro lugar, por

avaliar empiricamente a existência do estoque disponível de cada forma de capital e, em

segundo, pela articulação e, inclusive, criação desses capitais (como sugere Evans)

mediante a preparação de um “projeto político” de desenvolvimento. No entanto, Boisier

afirma que “estamos em uma fase muito primária em relação à medição do estoque destas

diferentes formas de capital, ou de algumas delas”. É certo que, tratando-se de ativos

intangíveis, a tarefa não é nada fácil.

Como pré-condição para provocar o desenvolvimento, é necessário que a sociedade

faça uma “intervenção sobre si mesma” (BOISIER, 2003, p. 6). Porém, essa intervenção não

pode ser feita nos moldes tradicionais. Para Boisier,

[...] os conceitos de ‘plano de desenvolvimento regional’ e de ‘estratégia de desenvolvimento regional’, correntemente usados para descrever o conjunto de propostas para desencadear e estimular processos de crescimento e, eventualmente, de desenvolvimento, não têm correspondência com a complexidade da realidade atual e, por isso, é melhor usar o conceito de “projeto político” que é mais intersubjetivo e construtivista que os anteriores. O projeto político é por definição um projeto coletivo, concertado e consensuado (dentro dos limites da realidade possível), cumpre um dos requisitos básicos de uma proposta de desenvolvimento: por um lado, o projeto político exclui a questão do desenvolvimento em um território próprio do campo de azar (o que equivale a esperar um desenvolvimento que se produz por uma “boa sorte”) para colocá-lo em um campo probabilístico (ou seja, colocar o desenvolvimento nas mãos da sociedade) e, por outro, o projeto político transforma um conjunto massivo e desordenado, entrópico, de decisões individuais, em uma matriz decisional coerente com a própria visão de desenvolvimento. (BOISIER,1999, p. 51)

O projeto político é, portanto, de importância crucial para a criação, promoção e

articulação dos diferentes tipos de capitais. No entanto, não se trata apenas de “vontade

política”, mas de aprendizagem e de conhecimentos substantivos sobre processos capazes

de criar poder político para alterar o curso histórico dos acontecimentos.

Em trabalhos mais recentes, Boisier (2003, p. 25) apresenta a tese de que o

desenvolvimento endógeno é, na realidade, uma “emergência sistêmica”. Para isso, ele

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recorre aos fundamentos da teoria dos sistemas. Para entender essa idéia, é necessário

esclarecer de antemão alguns conceitos-chave, tais como:

• conhecimento estrutural – saber que permite compreender que um território

organizado (região, departamento, província, localidade etc.) é uma estrutura de

natureza sistêmica, aberta e complexa;

• conhecimento funcional – corpo cognitivo capaz de revelar a forma pela qual o

sistema se articula com o seu entorno e modela seus próprios processos de

mudanças, ou seja, a transformação do processo de crescimento econômico de

um território em um processo de desenvolvimento do território;

• sistema - segundo Johansen (1997, p. 54) apud Boisier (2003, p. 24) - “é um

conjunto de partes coordenadas e em interação para alcançar um conjunto de

objetivos, ou também, um grupo de partes e objetos que interagem e que formam

um todo, que se encontra sob a influência de forças em alguma relação definida”.

• subsistema – conjunto de partes que formam o sistema;

• supersistema – é sistema maior no qual se encontra imerso o sistema em

questão;

• propriedades emergentes – resultado da interação do conjunto de partes de um

sistema que funcionam como uma só entidade. Essas propriedades são distintas

das partes (subsistema) que constituem o sistema. Elas se sobressaem do

próprio sistema, quando este alcança certo nível de complexidade, e

desaparecem quando se trata de efetuar reducionismo analítico (cartesiano);

• abertura sistêmica – a maneira como o sistema se relaciona com o seu entorno

ou meio.

Do ponto de vista do estudo de regiões, os conceitos acima permitem extrair

importantes considerações práticas. Por exemplo, o estudo de uma região, a partir da

estratégia de examiná-la de cima para baixo (regiões, estados, microrregiões, municípios,

localidade etc.) resulta em certo momento que a região desaparece como tal. O que resta

nas mãos do analista é um conjunto não-estruturado de elementos que já não definem a

região, porque se desceu muito abaixo do nível de emergência. (BOISIER, 2003, p. 25).

Segundo Boisier (2003, p. 25 - 26), grande parte dos problemas da vida real tem uma

estrutura sistêmica. Isso significa que a sua provável solução deve necessariamente

envolver um enfoque sistêmico, pois não é possível obter soluções sistêmicas com ações

parciais, porque, em última instância, as causas se encontram na estrutura do sistema e não

nas suas partes. No entanto, é preciso considerar que os sistemas não funcionam de forma

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aleatória. O seu comportamento está regido por leis de funcionamento sistêmico. Estas leis

são cinco, segundo Johasen, 1996, apud Boisier, 2003.

1. Lei da viabilidade – relacionada à permanência da organização como um

fenômeno real;

2. Lei da complexidade – na medida em que uma organização aumenta a sua

especialização interna ela experimenta um incremento importante de sua

complexidade, o que tende a aumentar a incerteza dentro dela;

3. Lei da hierarquia da autoridade - relacionada com o aumento da variedade do

sistema e, em conseqüência, de sua complexidade, e com a necessidade de

estabelecer redutores da variedade, a fim de garantir a governabilidade da

organização;

4. Lei do conflito – resulta de que as partes especializadas (que visam à

maximização) se encontram em uma relação de interdependência e,

inevitavelmente, se envolvem em situação de conflito umas com as outras;

5. Lei da desmaximização - não é possível otimizar de forma simultânea todos os

subsistemas que compõem um sistema dado. A otimização do sistema completo

conduz à sub-otimização de algumas de suas partes.

O conceito de “abertura sistêmica” é de fundamental importância para compreender

a dinâmica sistema/entorno. Em termos práticos, significa uma profunda mudança na

perspectiva de análise da região e, por conseguinte, do desenvolvimento regional. Para

Boisier,

Sistemas territoriais pequenos (como a enorme maioria das regiões) tendem a mostrar uma elevada abertura sistêmica e a conseqüência mais significativa disto é transformar em exógeno o território e o seu processo de crescimento econômico, do ponto de vista da tomada de decisão. Assim, quanto mais aberto é o sistema, menores os graus de liberdade disponíveis endogenamente para o seu controle. (BOISIER, 2003, p. 27).

Isso significa que, dado o cenário de globalização atual, a matriz de decisão (sobre os

destinos do crescimento regional) está cada vez mais distante da matriz dos agentes locais,

ou seja, escapa ao controle regional as decisões sobre o seu próprio crescimento. Dessa

forma, é necessário ampliar a capacitação local, com o objetivo de influenciar os destinos de

seu próprio crescimento. Nesse sentido, uma estratégia de desenvolvimento endógeno deve

ter o fim de tornar mais complexo o sistema regional, para reduzir a complexidade do

entorno. Enquanto sistema aberto e complexo, toda região tem uma complexidade menor

que o entorno. Em termos práticos, significa a necessidade de introduzir mais diversidade,

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mais subsistemas no sistema regional, mais atividades e organizações dotando-as de

maiores níveis de autonomia (descentralização).

Nas palavras de Boisier,

[...] a região vê mais e mais distanciada a possibilidade de controlar o seu próprio crescimento e isso deveria obrigá-la a potencializar ao máximo a sua capacidade para influenciar nas decisões pertinentes. Por exemplo, o fluxo de capital que chega à região, o desenho de determinados instrumentos de política econômica, a colocação da produção no mercado global etc. Tal capacidade de influenciar está aliada a uma capacidade técnica de negociação e a uma verdadeira mudança cultural com relação a como a região se coloca face aos fatores exogenamente controlados (BOISIER, 2003, p. 30).

Boisier (1999; 2003), estrutura as suas proposições sobre desenvolvimento regional

em torno de duas idéias centrais: 1) que o desenvolvimento resulta muito mais de

dimensões intangíveis, mas que podem ser criadas e potencializadas pelo conhecimento; e

2) que é necessário mudar os instrumentos e os objetivos das políticas de desenvolvimento

à luz dos fundamentos da teoria dos sistemas. Nesse sentido, ele considera que a região é

um sistema aberto e que as decisões que influenciam diretamente o crescimento regional

são externas à matriz de decisões dos agentes locais. Dessa forma, é necessário reforçar a

capacidade de aprendizagem local e tornar mais complexo o sistema local – o que significa

no mínimo questionar a possível virtude de qualquer forma de “tradicionalidade local”, a fim

de reduzir a complexidade do entorno. Assim, o desenvolvimento passa a ser uma conquista

do contexto.

1.7 UMA VISÃO CONJUNTA DAS TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO

Uma síntese dos principais autores e escolas do desenvolvimento revisados neste

capítulo é feita a seguir. As principais idéias desses pensadores foram agregadas em cinco

tópicos: 1) concepção de desenvolvimento, 2) principais categorias/variáveis para avaliar o

desenvolvimento; 3) alternativas e soluções para superar o subdesenvolvimento e alcançar

o desenvolvimento; 4) perspectivas das regiões ricas em recursos naturais, mas pobres em

seus indicadores socioeconômicos e 5) contribuições para ententer o dilema das economias

de base mineira.

1) Quanto às concepções de desenvolvimento

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É interessante notar que autores e escolas que divergem radicalmente em certos

aspectos, como a escola neoclássica e a cepalina, por exemplo, convergem quanto à

concepção de que desenvolvimento é o aumento do PIB per capita. A CEPAL critica a visão

ortodoxa de que a especialização nas trocas internacionais conduz a um duplo dividendo

para periferia; no entanto, o receituário que aplica é o mesmo da economia convencional:

aumento da poupança, aumento do investimento via industrialização, crescimento (que é o

mesmo que desenvolvimento econômico). Essa visão não é exclusiva dessa vertente de

pensamento crítico. Autores marxistas, como Paul Baran, Altvater e os próprios

dependentistas também entendem que desenvolvimento é industrialização e ampliação da

renda per capita e, claro, algo mais.

Não obstante a forte fixação no PIB per capita como medida e fim do

desenvolvimento, em grande parte explicada pelo fato de ele ser um padrão universal que

permite a comparação entre países, nações, regiões e até municípios, a concepção

moderna de desenvolvimento se expandiu enormemente. A noção de desenvolvimento hoje

abarca uma visão pluridimensional, abrangendo desde o capital humano, o capital social, a

qualidade das instituições, as liberdades constitutivas, os diferentes tipos de capitais

intangíveis relacionados e, fundamentalmente, o equilíbrio ecossistêmico e a necessidade

de se atentar para as futuras gerações, conforme alertam as proposições do

desenvolvimento sustentável.

2) Quanto às principais categorias/variáveis para avaliar o desenvolvimento

Neste aspecto, as escolas apresentam um arsenal muito rico de conceitos e

categorias inovadoras para definir, caracterizar e mensurar o desenvolvimento. Esses

instrumentos e ferramentas analíticas são suportes teóricos que possibilitam interpretar a

realidade. Os exemplos são fartos e serão explorados ao longo da tese. Hirschman, por

exemplo, com suas categorias, amplia a nossa capacidade de percepção quanto às

possibilidades geradas pelas conexões produtivas induzidas por investimentos produtivos.

No entanto, esse mecanismo não é seguro e tampouco automático. Ele depende de

decisões de investimento que, para ocorrerem, exigem outros importantes pontos. É

possível, por exemplo, que as oportunidades abertas pela indução de novos investimentos

não sejam aproveitadas, por falta de decisão quanto a efetivação desses investimentos.

Baran reconhece que a deterioração dos termos de intercâmbio, mote da teoria

cepalina, pode ter sido uma tendência, mas ele sustenta que isso não é, por diversos

motivos, relevante para explicar o processo de subdesenvolvimento da periferia: 1) o

domínio da produção para exportação, por parte da periferia, é feito pelos grupos

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multinacionais, que manipulam preços; 2) a elevação dos preços dos produtos importados

afetaria a elite; 3) o que importa mesmo é o controle e o uso que se faz do excedente

econômico. Isso, sim, seria o mais relevante para entender o problema do

subdesenvolvimento.

3) Quanto às alternativas e soluções para superar o subdesenvolvimento e alcançar o desenvolvimento

Pode-se, grosseiramente, classificar as alternativas propostas para superação do

subdesenvolvimento em três direções, duas das quais não são excludentes entre si: 1) via

mercado, isto é, o crescimento econômico desencadeia forças que conduzem à superação

do subdesenvolvimento, 2) via atuação do governo, por intermédio de suas múltiplas

funções de: planejamento, regulação, gestão, taxação, indução de sinergias, fomento ao

capital humano e social, estímulo aos setores estratégicos, articulação institucional, definidor

das regras do jogo e, portanto, das instituições, estímulo ao desenvolvimento da ciência e

tecnologia etc. É importante constatar que pensadores de diferentes escolas convergem

completamente quanto ao papel estratégico do governo como entidade-chave no processo

de promoção ao desenvolvimento, principalmente, a ortodoxia, no que se refere ao papel de

definidor das regras do jogo e de regulação (CEPAL, North, Myrdal, Sachs, Sen, Boisier,

Perroux, Rostow e outros) e 3) a posição nada se pode fazer para contrapor às forças

inexoráveis da dinâmica de acumulação do capitalismo global e do crescimento da entropia;

assim as regiões periféricas estão condenadas ao eterno atraso socioeconômico, conforme

sugerem as teses de Altvater, Bunker e, com ressalvas, Daly.

4) Quanto às perspectivas das ricas regiões pobres

Dada a importância crucial do governo, a possibilidade de êxito, ou não das ricas

regiões pobres está estreitamente relacionada ao sucesso das políticas que ele adotar. Boa

vontade apenas não basta, como bem destaca Myrdal,

[...] sociedade alguma logrou reformar-se a si mesma, substancialmente, com movimento partido de cima ou com simples decisão voluntária de uma classe superior, originada em sua consciência social, de tornar-se igual às classes inferiores e permitir-lhes o livre acesso aos monopólios de classe. Os ideais e a consciência social desempenham papel muito importante, que não pode ser menosprezado; mas são fracos como forças autopropulsoras que iniciam reformas sociais em grande escala – necessitam do impulso de reivindicações que se definem e, por isso, passem a exercer pressão. (MYRDAL ,1972. p. 112)

A perspectiva desta tese é o caminho do meio, ou seja, acredita-se (1) na

possibilidade de margem de manobra para as ricas regiões pobres encontrarem uma via

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alternativa de desenvolvimento, e (2) que os governos exercem um papel fundamental para

o êxito de estratégias de desenvolvimento, por intermédio de suas múltiplas funções.

5) Quanto às contribuições para compreender o dilema das economias de base mineira

Para a discussão sobre as possibilidades de o setor mineral gerar desenvolvimento,

Hirschman é uma excelente referência metodológica, especialmente, quando aplicada à

teoria do produto primário de exportação. Ele esclarece muito sobre as possibilidades e os

desafios que as economias de base mineira devem enfrentar para promover o seu

desenvolvimento. Hirschman também chama atenção para os riscos dos requisitos

tecnológicos desses novos investimentos, que podem atuar como fator limitante e até

mesmo negativo para a potencialização dos efeitos de encadeamento.

Os conceitos de efeitos propulsores e regressivos, além da própria hipótese da

causação circular e cumulativa de Myrdal, são muito inspiradores para compreender o

problema do desenvolvimento de regiões mineiras. Essas categorias podem ser

relacionadas ao uso da CFEM, ou de uma forma mais ampla ao uso das rendas mineiras.

Myrdal também aporta com a idéia da necessidade premente do planejamento público para

romper com o mecanismo da causação circular.

Não obstante a contribuição dessas teorias clássicas, elas, não raras vezes,

apresentam uma visão excessivamente linear, não consideram as variáveis ambientais, as

possibilidades de irreversibilidades, o processo histórico de usos e ocupação de cada

região, conforme alertam as teorias sobre o desenvolvimento sustentável.

De forma transversal, há importantes conceitos, de interesse especial para a tese,

que são enfocados com mais ou menos ênfase pelas diferentes teorias, tais como:

Renda - a renda, ou o excedente, é variável estratégica em torno da qual convergem

distintas correntes do desenvolvimento e distintas cepas de autores (Paul Baran,

dependentistas, Solow, Hirschman, Bunker, Sachs, Sen, Boisier e outros). O processo de

cálculo, apropriação e distribuição da renda (renda de escassez no caso dos recursos

naturais não-renováveis) é decisivo para o crescimento e, por conseguinte, para o

desenvolvimento das ricas regiões pobres. Portanto, entender essa dinâmica é de

fundamental importância para se compreender os dilemas do desenvolvimento das ricas

regiões pobres. Se esta renda deve ser concentrada, ou bem distribuída não é uma questão

fechada. No entanto, o seu uso sustentado é condição sine qua non para se estabelecer

estratégias de desenvolvimento.

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Enclave - de acordo com as perspectivas de Hirschman, Perroux, Bunker,

dependentistas e outros, a noção de enclave está fortemente associada às atividades

primárias exportadoras. Para Hirschman, são os encadeamentos fiscais as mais fortes

conexões que se estabelecem entre esse tipo de atividade e o desenvolvimento das ricas

regiões pobres. Portanto, a “vocação natural” de regiões pobres exportadoras de minérios

deveria ser a de usar sabiamente esses fortes encadeamentos fiscais para promover o seu

desenvolvimento. No entanto, os fatos históricos revelam o fracasso dessa possibilidade.

Será que o fracasso associado à inabilidade de os governos locais utilizarem

produtivamente as receitas fiscais tem a ver apenas com a incompetência das elites locais?

Essa questão não é adequadamente respondida por Hirschman e outros autores que

seguem essa linha de argumentação. Embora sua análise seja altamente lúcida, ela não

aprofunda o porquê do mau uso dessas rendas.

Livre jogo das forças de mercado ou atuação pró-ativa do governo - o principal

elemento de divergência é o peso e o papel que o mercado exerce no processo de

desenvolvimento, conforme já mencionado. Drummond conclui que é possível extrair lições

relevantes das idéias clássicas e contemporâneas da “velha” sociologia do desenvolvimento

para os debates interdisciplinares em torno do desenvolvimento sustentável. O autor afirma

que

[...] existe fundamento de sobra para argumentar que a abundância de recursos naturais numa região ou num país (ou a sua grande participação nos outputs produtivos) se associa fortemente ao subdesenvolvimento ou ao menos a um nível de prosperidade e dinamismo relativamente menor do que ocorre em regiões industriais e de serviços. Essa constatação deve servir de advertência para os que esposam a contra-tendência de igualar conceitualmente os recursos naturais explorados ”sustentavelmente” ao bem-estar e à prosperidade. Enquanto essa igualdade não for comprovada empiricamente, essa contra-tendência se assemelhará a um “neo-fisiocratismo”, ou seja, a uma crença não comprovada de que as terras ricas em recursos naturais ’devem‘ ser habitadas por povos ricos. (DRUMMOND, 2001, p. 22).

Drummond (2001), chama atenção para o irrealismo do que denomina de atitude

“neo-fisiocrática”, uma vez que as evidências empíricas e teóricas indicam que regiões ricas

em recursos naturais, aproveitando essa vantagem comparativa, tornam-se extratoras de

recursos e, portanto, se condenam ao subdesenvolvimento. É justamente em cima dessa

questão que será dada seqüência a esta pesquisa (objeto de estudos posteriores), visando

aprofundar a discussão no sentido de investigar se houve, ou não, mudança de perspectiva,

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a partir da introdução da variável ambiental. Por enquanto, cabem algumas reflexões que

alertam para a necessidade de se repensar as posturas metodológicas, ou paradigmáticas.

Altvater bem adverte que:

[...] hoje, grandes teorias já não podem mais simplesmente remeter a categorias tradicionais, e, no melhor dos casos, ampliá-las ‘trans e interdisciplinarmente’. Ao contrário, impõe-se a formação de um novo discurso, a produção teórica de novas distinções, apropriadas para ordenar a multiplicidade dos processos de desenvolvimento no fim do século XX, possibilitando sua reprodução categorial. A questão ecológica é uma questão social; e hoje a questão social pode ser elaborada adequadamente apenas como questão ecológica. (ALTVATER, 1995, p. 18).

Furtado (1972), já destacava o papel que os mitos exercem na mente dos homens,

citando exemplos históricos, tais como o do “bon sauvage” de Rousseau, do

desaparecimento do Estado, de Marx, do princípio populacional de Malthus, do equilíbrio

geral de Walras. Para Furtado, o mito não deixa de ser necessário:

[...] o mito congrega um conjunto de hipóteses que não podem ser testadas. A função principal do mito é orientar, num plano intuitivo, a construção daquilo que Schumpeter chamou de visão do processo social, sem a qual o trabalho analítico não teria qualquer sentido. Os mitos operam como faróis que iluminam o campo de percepção do cientista social, permitindo-lhe ter uma visão clara de certos processos e nada ver de outros, ao mesmo tempo em que lhe proporciona conforto intelectual, pois as discriminações valorativas que realiza surgem ao seu espírito como um reflexo da realidade objetiva. (FURTADO, 1972, p. 15).

Santos (1994, p. 323), alerta que para se fazer ciência, é necessária a utopia,

entendida como a “exploração de novas possibilidades e vontades humanas, por via da

oposição da imaginação à necessidade do que existe, em nome de algo radicalmente

melhor que a humanidade tem direito de desejar e por que merece a pena lutar” acrescenta

que “uma compreensão profunda da realidade é assim essencial ao exercício da utopia,

condição para que a radicalidade da imaginação não colida com o seu realismo”.

Portanto, a utopia do desenvolvimento sustentável deve servir como um mito

necessário à busca de alternativas, tanto nos campos teórico-positivo como normativo, para

orientar as discussões sobre o desenvolvimento de regiões periféricas.

John Maynard Keynes, grande pensador e economista do início do século XX, dizia

que os homens que se consideram pragmáticos, na realidade, são escravos das teorias de

algum pensador já falecido. É nesse sentido que o resgate teórico das idéias sobre o

desenvolvimento é de fundamental importância para se expandir o entendimento das raízes

das concepções e explicações do (sub)desenvolvimento e para enquadrar adequadamente

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proposições aparentemente inovadoras, mas que, às vezes, são idéias antigas apenas

travestidas de novas. As teses que associam mineração e desenvolvimento que serão

apresentadas no capítulo seguinte, são exemplos disso. Nesse sentido, este capítulo reforça

muitas das idéias que serão aprofundadas no próximo capítulo. Seria injustiça, entretanto,

retirar o mérito dessas novas interpretações, uma vez que elas são referências em seus

campos. Mas é importante ressaltar que elas não emergem do nada e que as suas raízes

estão profundamente arraigadas nas teorias mais gerais que lhes deram origem.

O próximo capítulo, portanto, trata exclusivamente da relação entre desenvolvimento

e mineração. Ele aborda as principais teorias clássicas e contemporâneas sobre o tema e

finaliza com o recente debate sobre a construção da idéia de uma mineração sustentável.

2 MINERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO – PRINCIPAIS ABORDAGENS

Como uma das mais antigas atividades produtivas exercidas pela humanidade,

durante séculos a mineração movimentou e continua movimentando a economia de muitos

povos. No entanto, ela também provocou e ainda provoca graves distúrbios ecológicos e

sociais nos espaços onde ocorre. Os efeitos dos empreendimentos minerais, normalmente,

são de amplo alcance, abarcando desde a comunidade local até os grandes mercados

financeiros internacionais. Por esse histórico e abrangência é que há um intenso e vasto

debate a respeito da relação entre a atividade mineradora e os processos de

desenvolvimento socioeconômico, particularmente, sobre os processos de desenvolvimento

sustentável.

Nesse sentido, o objetivo deste capítulo é resgatar a contribuição do setor mineral

para o desenvolvimento. O debate atual obre este tema oscila entre duas posições opostas

dominantes e uma terceira via alternativa.

1. A mineração é uma atividade nefasta e as economias de base mineira apresentam

indicadores socioeconômicos inferiores aos das economias não-mineradoras.

Nessa linha de argumentação se destacam os trabalhos clássicos de Lewis (1984),

Bunker (1988), Shafer (1994) e, mais recentemente, Freudenburg (1998), Gylfason

(2000) e Whitemore (2006).

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2. A mineração é um trampolim para o desenvolvimento. Isso seria provado pela

experiência histórica de alguns países que se desenvolveram a partir da atividade

mineral. Diversos relatórios do Banco Mundial e os estudos de Davis (1995, 1998),

Radetzki (1992) e Pegg (2006) representam essa linha.

3. A mineração gera possibilidades de desenvolvimento, mas, para que seja

considerada uma atividade sustentável, há grandes desafios a superar, conforme

alertam os trabalhos clássicos de Hartwick (1975), Bomsel (1992) e os mais

recentes de Mikesell (1994), Eggert (2000), Veiga et al. (2001) e Curi (2002).

Um desdobramento dessas abordagens acontece quando se considera a escala

espacial onde ocorrem os efeitos da mineração: nacional (macro) e local (micro). Na escala

macro, a discussão está focada nas políticas nacionais. Nessa linha se destacam: a “tese da

maldição dos recursos”, a “doença holandesa”, as análises setorialistas e outras

denominações congêneres (LEWIS, 1984; BUNKER, 1988; SHAFER, 1994; e ALTVATER,

1995). Na escala micro, a discussão focaliza os impactos nos meios natural e

socioeconômico das comunidades afetadas, bem como as alternativas de políticas para

atenuar tais impactos (HILSON, 2000; VEIGA et al, 2001).

Os trabalhos sobre mineração e desenvolvimento sustentável estão focados nos

estudos de casos – mineração em países ricos, mineração em países pobres e mineração

de uma commodity específica – e na proposição de princípios e de medidas normativas que

levem ao desenvolvimento sustentável (DS).

2.1 A MINERAÇÃO COMO UMA ATIVIDADE NEFASTA

Há vários estudos que procuram demonstrar que o desempenho socioeconômico das

economias mineradoras é inferior ao das economias não-mineradoras e que elas têm muito

mais custos do que benefícios. Destacam-se os textos clássicos de Lewis (1984), com sua

conhecida “tese da maldição dos recursos”, as pesquisas de Bunker (1988) sobre as

economias extrativas, as teses dos denominados “setorialistas”, tais como Shafer (1994),

Snider (1996), Karl (1997), Mahon (1992) e Auty (1993, 1994), cujos estudos foram

investigados por Davis (1998), além de autores como Nankani (1979), Gelb (1988) e Nitsh

(1995). Da mesma forma, eles compartilham a idéia de que a mineração gera mais

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problemas do que vantagens para as regiões e países produtores. Vejamos os argumentos

usados por esses autores.

2.1.1 Maldição dos recursos e doença holandesa

As abordagens são conhecidas como “tese da maldição dos recursos” (resource curse

thesis) e “doença holandesa” (Ducth disease). Compartilham da idéia de que a abundância de

recursos minerais sabota o desenvolvimento da região onde esta riqueza está concentrada

(LEWIS, 1984, 1989 apud DAVIS, 1995; AUTY, 1993; GLEB, 1988 e NANKANI, 1979).

Lewis (1984), a partir dos fundamentos dos modelos clássicos de crescimento

econômico, afirma que a falta de capitais, ou de poupança interna, é um dos principais pontos

de estrangulamento para que países subdesenvolvidos alcancem o tão sonhado

desenvolvimento econômico. Adota também o receituário da economia convencional de que a

maneira de superação dessa dificuldade é o auxílio financeiro externo. Para uma economia

de base mineira, isso não deveria ser um problema, uma vez que a renda proveniente das

exportações de bens minerais equivaleria a esse auxílio. Entretanto, as evidências

demonstram que a renda mineral não é capaz de impulsionar o desenvolvimento econômico e

que, em muitos casos, até piora a situação.

Para Lewis (1984), países ricos em recursos minerais não têm “vantagens”, mas sim

“problemas” para alcançar o desenvolvimento econômico, pois a pujança da mineração acaba

dificultando o desempenho de outras atividades. As dificuldades provêm de várias

características intrínsecas à atividade mineradora. Freqüentemente, os indicadores de

economias de base mineira revelam má distribuição da renda, pouca diversificação

econômica, ganhos das exportações concentrados apenas nos produtos primários, além de

taxas de crescimento de seus setores econômicos não-mineiros inferiores aos das outras

economias não-mineradoras, entre outros. Além disso, a mineração gera um mercado de

trabalho monopsônico, ou seja, uma única grande companhia é a principal responsável direta

e indireta (por intermédio de suas empresas contratadas) pela absorção de uma força de

trabalho pulverizada e exerce um papel importante, porém servil, de captador de divisas para

financiar o desenvolvimento industrial em outras regiões do mesmo país.

Lewis (1984), chama de “maldição dos recursos” esse conjunto de efeitos negativos

típicos das economias de base mineradora. As causas dessa “maldição” estariam

relacionadas às características específicas do setor mineral, tais como: existência de renda

diferencial proveniente da qualidade das jazidas; baixa participação dos salários no valor

adicionado; grande parte das rendas mineiras vai para as empresas multinacionais ou para o

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governo, o que gera problemas de intermediação financeira e de alocação de poupança; a

instabilidade da receita mineral, devida às flutuações do mercado internacional (volátil por

natureza), o que faz com que muitas vezes as companhias mineradoras trabalhem no

vermelho, por causa da inelasticidade da produção no curto prazo.

Outra perspectiva que segue esta linha ficou conhecida como Dutch disease (“doença

holandesa”). Ela também sustenta que existe uma relação negativa entre mineração e

desenvolvimento. Segundo Bomsel (1992), a denominação “doença holandesa” foi inspirada

na experiência de produção de gás natural da Holanda, no Mar do Norte, nos anos 1970.

Para Auty & Warhurst (1993), a Dutch disease ocorre devido às altas taxas de lucratividade

do segmento mineral, possibilitado pela renda diferencial da mineração, o que provoca

excessiva valorização cambial e reduz a competitividade das atividades não-mineiras. Os

salários do setor mineiro também tendem a crescer e essa inflação de salários se espalha

para outros setores da economia que, por sua vez, acabam perdendo a mão-de-obra

qualificada para o setor mineral. Se quiserem continuar produzindo, esses outros setores

precisarão pagar salários equivalentes aos da indústria mineral. O resultado é a queda de

competitividade dos produtos não-mineiros no mercado internacional. Esses fatores

resultaram da simbiose negativa entre o setor mineral e os setores não-mineiros, tais como a

agricultura e a manufatura. Essa simbiose acaba por comprometer a competitividade destes

setores e por retardar o processo de crescimento econômico e de geração de investimentos

(AUTY & WARHURST, 1993).

Davis (1995), tenta estabelecer uma distinção entre as teses da “maldição dos

recursos” e da “doença holandesa”. Afirma que a segunda se refere à coexistência negativa

de um setor econômico dinâmico com outro atrasado, o que gera uma relação nefasta para

economia já que os ganhos de exportação do setor dinâmico provocam alta de inflação e

queda na taxa de crescimento de outros setores, ou uma desindustrialização da economia. A

tese da “maldição dos recursos”, por sua vez, revela que países bem dotados em minerais,

comparativamente aos países que não exploram tais recursos, têm sempre um pior

desempenho.

De acordo com Bomsel (1992), os efeitos negativos da Dutch disease podem ser

reduzidos, ou até mesmo evitados, se forem adotadas medidas capazes de controlar as altas

elevações do câmbio e dos salários. O problema é que em muitas economias mineiras as

políticas associadas ao uso das rendas mineiras tornam difícil ou até mesmo impossível a

implementação de tais medidas. Segundo essa visão, nesses países a abundância das

rendas gera uma elite que se favorece dessa bonança e que usa esses recursos com o

objetivo de se perpetuar no poder. Portanto, há uma tendência à adoção de políticas

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populistas baseadas no uso não-produtivo dessas rendas. Assim, as medidas necessárias

para se contrapor à doença holandesa seriam austeras e impopulares, como por exemplo,

limitar a expansão dos salários e controlar o câmbio (encarecendo o consumo suntuoso das

elites), entre outros.

Lewis (1984), seguindo uma linha de argumentação muito semelhante à de Hirschman

(1977), sustenta que o ponto forte da mineração é a tributação, mas, da mesma forma, afirma

que a potencialização desse benefício exige competência e qualificação dos governantes

para administrar essa renda adicional. Para Gelb (1988) o uso prudente da renda mineral é

muito mais exceção que regra. Para esses autores, o principal problema é o desperdício da

renda mineira nos períodos do boom mineral. As alternativas propostas para evitar esse

problema envolvem políticas macroeconômicas ortodoxas e o comprometimento com a

prudência fiscal e com uma taxa de câmbio competitiva.

Davis (1995), afirma que a tese da “maldição dos recursos” não é uma lei de ferro,

sendo muito mais uma exceção do que uma regra. É uma tendência forte que pode ser

evitada com uma cuidadosa política mineral. Davis (1998) aponta que os seguintes fatores

têm contribuído para que a mineração seja encarada como uma “atividade maldita”:

fortes variações dos preços dos produtos minerais, provocada pela instabilidade da

demanda, o que gera também instabilidade no fluxo de receitas públicas;

natureza “colonial” da mineração, devido ao controle do mercado mineral por

multinacionais;

mercado de trabalho monopsônico;

antigas regiões produtoras acabaram degenerando para uma situação de ultra-

subdesenvolvimento, devido à exaustão das minas.

As teses da doença holandesa e da maldição dos recursos são importantes alertas

para os feitos negativos do boom mineral. A partir desse alerta, muitas economias de base

mineradora, especialmente, as produtoras de petróleo (Noruega, província de Alberta, no

Canadá, Estado do Alaska, nos EUA e Reino Unido, entre outros) passaram a adotar medidas

para conter o excesso de liquidez que o saldo das exportações proporciona. Dessa forma, se

anteciparam aos efeitos indesejáveis do boom mineral e conseguiram potencializar os efeitos

benéficos que a mineração proporciona. Uma dessas medidas importantes foi a criação de

Fundos, com o objetivo de conter o excesso de liquidez, evitar a excessiva valorização

cambial, e gerar alternativas de renda para quando os recursos minerais se esgotarem

(ENRÍQUEZ, 2006).

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2.1.2 Natureza efêmera das economias extrativas

Para Nitsch (1995), por definição, a mineração é insustentável, já que os minerais são

recursos inevitavelmente exauríveis. Por isso, não faz sentido falar em “sustentabilidade” em

mineração. Bunker (1988), conforme já abordado no capítulo anterior, vê a mineração como

rota para um progressivo subdesenvolvimento. Ao analisar a evolução da atividade mineral na

Amazônia, nos anos 1980, afirma que a mineração tem permanecido largamente como um

enclave econômico, gerando poucos efeitos para frente e para trás e que as minas e a infra-

estrutura urbana de suporte somente podem ser mantidas enquanto os depósitos existirem.

Por causa dessa natureza efêmera, as economias extrativas têm tido muito pouco sucesso

em criar diferentes setores de produção.

Bunker (1988, p. 26) cita Levin (1960) para se referir à natureza de enclave das

economias extrativas. As argumentações que usa são as mesmas apresentadas

originalmente por Perroux, Baran e difundidas e por Cardoso & Falleto. Afirma que o enclave

é decorrente: 1) da baixa proporção de trabalho e capital no valor de mercado, o que

concentra os lucros na esfera da troca, e não na esfera da extração; 2) da falta de vantagens

locacionais que alimentem a mútua proximidade das empresas produtivas; 3) da rigidez

locacional dos recursos naturais que eleva custos de recrutamento de pessoal, de

subsistência, de infra-estrutura e de desenvolvimento, entre outros. Além disso, a importação

de insumos básicos também tende a reforçar a situação do enclave.

Como foi possível verificar no Capítulo um, é antiga e forte a idéia do enclave na

análise das economias de base mineradora. No entanto, esse tipo de interpretação privilegia

apenas um aspecto da dimensão econômica (o do crescimento), além de não apresentar

alternativas às regiões ricas em recursos naturais. Certamente que essa análise tem o mérito

de alertar para os perigos da falta de conexões produtivas e de consumo. Essas economias

contam, por sua vez, com a vantagem dos encadeamentos fiscais que, se bem geridos,

poderiam dinamizar outras dimensões do desenvolvimento não percebidas pela noção de

enclave. A rigidez locacional, ao invés de um problema, pode ser uma solução para o início

do processo de desenvolvimento de regiões remotas, mas isso não é percebido a partir da

ótica do enclave.

2.1.3 A mineração como um setor perdedor

Há uma vertente de estudiosos que têm na análise dos setores produtivos o seu

principal objeto de investigação, são os denominados “setorialistas” (DAVIS ,1998). Um dos

principais expoentes da análise setorial é Michael Shafer, autor do artigo Winners e Losers,

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de 1994. Nesse estudo, Shafer (1994) afirma que o desempenho econômico de um país

está intimamente vinculado ao setor produtivo predominante na economia, seja mineração,

agronegócios, indústria leve, ou pequena agricultura, entre outros. Ele relaciona a dinâmica

econômica ao tipo de especialização setorial desenvolvido pelo país. A sua análise é

baseada em dados empíricos de quatro países, cujos setores produtivos dinâmicos estão

descritos no Quadro 6.

país setor (atividade econômica predominante)

Zâmbia mineração (cobre) Sri Lanka agronegócios Costa Rica pequena agricultura Coréia do Sul indústria leve

Quadro 6: Países e seus setores produtivos predominantes, selecionados por Shafer Fonte: Shafer (1994)

Neste estudo comparativo, Shafer (1994), considera quatro variáveis-chave:

intensidade de capital31, economia de escala32, flexibilidade da produção33 e flexibilidade dos

ativos de produção34. A partir da combinação dessas variáveis, ele idealiza dois tipos de

estruturas setoriais: 1) setor “high/high”, caracterizado por alta intensidade de capital, alta

economia de escala, alta inflexibilidade de produção e alta inflexibilidade nos ativos

(mineração, agronegócios) e 2) setor “low/low”, marcado pelo oposto, ou seja, por baixa

intensidade de capital, baixa economia de escala, baixa inflexibilidade de produção e baixa

inflexibilidade nos ativos (indústria leve, pequena agricultura) (SHAFER, 1994, p. 10).

Conhecer essas combinações é importante porque elas revelam as diferentes

estruturas e competências do Estado e sua conseqüente capacidade de promover (ou não)

a necessária reestruturação em sua base produtiva, para não ficar dependente

exclusivamente da atividade mineral. Assim, a possibilidade de empreender a reestruturação

econômica é uma condição fundamental para os setorialistas. De acordo com Shafer,

Reestruturação significa um esforço deliberado do Estado para realocar recursos e reorientar a atividade econômica por intermédio das mudanças na composição setorial da economia, com o objetivo de reduzir a vulnerabilidade do país aos riscos associados ao principal setor exportador,

31 Elevada participação relativa do capital (ativos fixos, máquinas, equipamentos, instalações etc.) na composição da produção. 32 Ocorre quando a expansão da capacidade produtiva de uma indústria causa um aumento dos custos totais de produção menor que, proporcionalmente, os do produto; como resultado, os custos médios de produção caem, a longo prazo. 33 É a capacidade de realizar mudanças de curto prazo nas condições de oferta, por intermédio da variação dos níveis de produção. 34 Se refere aos recursos (instalações) típicos de um setor, infraestrutura de apoio, destreza da força de trabalho e outros que determinam as dificuldades de reestruturação no longo prazo.

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ou ampliar e assegurar oportunidades presentes em outros setores, ou ambos. (SHAFER, 1994, p. 11).

Além de aspectos econômicos, as referidas combinações envolvem aspectos

políticos que se refletem na distribuição (interna e externa) de poder e na formatação do

conjunto dos atores sociais (SHAFER, 1994).

Shafer (1994), avalia o desempenho das economias a partir de duas dimensões

(internacional e nacional) e seis categorias: 1) estrutura de mercado e estratégia setorial, 2)

governabilidade (maleabilidade de reestruturação), 3) capacidade absoluta de gerenciar os

setores produtivos, 4) capacidade de ação coletiva dos atores sociais, 5) autonomia e 6)

capacidade relativa para promover a reestruturação produtiva. O Quadro 7, a seguir, é uma

síntese das possíveis relações entre essas categorias e o setor produtivo dinâmico

(high/high ou low/low. Mostra também como essas relações se refletem sobre as estruturas

sociais e governamentais e, por conseguinte, como influenciam a capacidade de promover a

desejável reestruturação da base produtiva.

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efeitos sobre a possibilidade de implementar mudanças categoria definição setor high/high setor low/low

estrutura do mercado internacional e estratégia social

Possibilidade de acesso estável ao mercado internacional e de reestruturar a atividade econômica.

Altas barreiras para entrar; mercado oligopolista, dominado por multinacionais; tendência de apogeu e crise (boom na bust). As firmas nacionais ficam em desvantagem e os governos não podem ajudá-las, pois estão sujeitas à volatilidade dos mercados. Para escapar da crise, é necessário realizar mudanças na base setorial.

Não há barreiras à entrada; mercado altamente competitivo; pouca participação das multinacionais. As margens de lucro são pequenas, mas as empresas das economias subdesenvolvidas podem competir em pé igualdade com as economias ricas. A reestruturação requer desenvolvimento e diversificação, e não mudanças radicais.

governabilidade

Possibilidade de uma boa gestão no processo de reestruturação da base econômica.

A inflexibilidade impede que o setor responda rapidamente aos sinais de mercado. Crises assolam o mercado, provocam aumento da demanda pela ajuda das receitas públicas.

A flexibilidade na produção permite ajustes nos períodos de crise.

capacidade absoluta

Possibilidade de o Governo captar renda e gerir os setores produtivos.

O Governo se especializa em taxar, monitorar, regular e promover poucas grandes firmas, deixando em aberto a competência de fazer o mesmo com outros setores, o que limita a capacidade de reestruturação.

O grande número de empresas pequenas e diversificadas contribui para a flexibilidade de o Governo captar rendas, monitorar, regular e promover essas diversas atividades.

capacidade de ação coletiva dos atores sociais

Possibilidade de os atores sociais empreenderem ações coletivas.

Facilita a ação dos profissionais das poucas grandes companhias.

A ação coletiva de firmas ou trabalhadores é pouco provável, devido à dispersão das firmas.

autonomia

Possibilidade de tomada de decisão isenta e independente, por parte de Governo.

Os líderes têm pouca autonomia para tomar decisões em prol da reestruturação de seus setores por causa do forte grupo de influência (concentrado).

Os líderes têm grande autonomia para tomar decisões em prol da reestruturação de seus setores, por causa do fraco grupo de influência (pulverizado).

capacidade relativa

Possibilidade de autonomia e capacidade institucional para atuar e promover a reestruturação em momentos de crise.

O Governo tem deficiências (e nenhuma liderança) para realizar a reestruturação que não coincida com os interesses do setor líder. A inflexibilidade de produção e dos ativos piora a crise.

O Governo tem melhores perspectivas para realizar a reestruturação. A flexibilidade de produção e de ativos ameniza a crise.

Quadro 7: Categorias utilizadas na análise setorial de Shafer e os seus efeitos sobre a reestruturação da base produtiva. Fonte: Baseado em Shafer (1994)

A maneira como essas categorias se relacionam com o setor predominante

(high/high ou low/low) define as reais possibilidades de fortalecimento e de diversificação de

uma economia. No entanto, o autor adverte que estas possibilidades dependem também de

ações e do desempenho do Governo. Ou seja, a especialização setorial modela uma

determinada estrutura de governo que, por sua vez, tem características próprias, que estão

vinculadas ao setor dominante. Essa estrutura poderá facilitar ou dificultar a capacidade de

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reestruturação produtiva, que é de importância crucial para evitar o colapso das economias

extrativas, conforme esquema a seguir:

especialização setorial → estruturas de governo → capacidade de reestruturação

A conclusão é de que os setores low/low são mais flexíveis, mais suscetíveis aos

ajustes, mais favoráveis às ações coletivas. Eles possibilitam aos governos melhores

perspectivas de realizar a reestruturação; os setores high/high apresentam condições

opostas.

De acordo com Shafer (1994), os setores geram diferentes arranjos institucionais

que, por sua vez, regulam a distribuição dos ativos fixos, das instituições financeiras, das

agências regulatórias, além de definirem a identidade política dos grupos sociais aos quais

estão relacionados. Acrescenta que o grau de dificuldade para que uma economia promova

a sua reestruturação produtiva é maior em setores “ampla e profundamente

institucionalizados”, como ele considera que é o setor mineral.

Quanto ao setor mineral, Shafer (1994) sugere que até mesmo os governos mais

responsáveis e perspicazes de economias mineiras já partem em desvantagem na “corrida”

rumo ao desenvolvimento. Isso acontece porque o setor mineral e os seus componentes

moldam a capacidade institucional do Estado para monitorar, regular e dirigir a atividade

econômica, de tal forma que incapacitam os líderes de formular e implementar políticas

adequadas para a reestruturação necessária.

A mineração é considerada por Shafer (1994) um setor inflexível, porque requer

infra-estrutura própria (estradas, portos, energia, eletrificação etc.) e investimentos

especializados em capital físico e em capital humano, que depois não podem ser

diretamente empregados em outras atividades produtivas. Shafer (1994) afirma que a

inflexibilidade para reestruturar a economia mineral, inserida em uma economia global e

volátil, conduz à incapacidade governamental para responder rapidamente às crises de

mercado que ocorrem por causa da flutuação dos preços das commodities minerais. Isto faz

com que, freqüentemente, o Estado tenha que prestar socorro às companhias mineradoras,

por causa da inaptidão do setor mineral para administrar esses riscos.

Shafer (1994), defende o desenvolvimento conduzido pelo Estado, mas admite que,

devido às políticas de grupos de interesse, o Estado só é capaz de promover políticas

sábias quando a economia é envolvida em produção caracterizada pela baixa intensidade

de capital, baixa economia de escala, elevada flexibilidade de produção e pelo uso de

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fatores produtivos que podem ser usados indistintamente por quaisquer setores que não

aqueles considerados específicos de um setor.

Snider (1996)35 apud Davis (1998), segue a mesma linha de Shafer (1994). Para ele,

a mineração conduz muito mais ao atraso do que ao desenvolvimento, em razão das

debilidades das políticas de uso das rendas geradas pela mineração. No seu ponto de vista,

um governo forte pode induzir a um rápido crescimento econômico, porém a especialização

na produção mineral enfraquece o poder do Estado. O seu raciocínio é de que há baixo

incentivo a tributar em uma economia extrativa. Um governo fraco tem uma baixa

capacidade de tributar. Essa baixa capacidade resulta e, ao mesmo tempo, provoca

acomodação de não taxar outros setores produtivos da sociedade, por causa da magnitude

das rendas minerais. Porém, essa conduta enfraquece os go vernos, principalmente nos

momentos de crise. As seguras e fartas rendas provenientes da mineração inibem a

capacidade de os governos extraírem mais impostos da população. Em tempos de crise,

essas economias ficam em desvantagem, porque são menos capazes de mobilizar os

recursos humanos e materiais necessários para enfrentar as ameaças externas.

A análise de Karl36 (1997) apud Davis (1998), mescla elementos de Shafer (1994) e

de Snider (1996). As rendas mineiras que fluem para o governo favorecem o esbanjamento

do gasto público em programas sociais e de infra-estrutura, resultando em um Estado fraco

ou “politizado”. No momento de redução das reservas e das rendas mineiras, estes padrões

de gastos persistem, provocando dívida e causando déficit público. Como o estado é

incapaz de reformar a economia durante o declínio do ciclo econômico, a situação social,

política, e econômica se deteriora. Na visão de Karl, a extração do petróleo é a principal

causa da revolução no Irã, dos súbitos golpes militares na Nigéria, das crises de democracia

na Venezuela e da ameaça de guerra civil na Argélia, entre outros exemplos.

Para Auty37 (1994) apud Davis (1998), todos os países em desenvolvimento têm uma

elevada propensão a administrar mal o desenvolvimento econômico. Snider (1996)

compartilha de visão semelhante, de que governos dos países pobres têm uma tendência

de atuar como protetores ou provedores de favores, e não como organizadores de energias

produtivas da sociedade.

35 SNIDER, L.W. Growth, Debt, and Politics: Economic Adjustment and the Political Performance of Developing Countries. Westview Press: Boulder (CO), 1996. 36 KARL, T. L.The Paradox of Plenty: Oil Booms and Petro-States. University of California Press: Berkeley (CA), 1997. 37 AUTY, R. M. Industrial policy reform in six large newly industrializad countries: the resource curse thesis. In World Development, n.12, 1994 (p. 11-26).

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Com considerável determinismo, cada uma das análises precedentes vê na

abundância mineral o motivo para o mau desempenho econômico das economias de base

mineradora, por causa da incapacidade estatal de gerenciar os seus recursos minerais e,

principalmente, as suas rendas minerais. Shafer (1994) é provavelmente o mais pessimista

e determinista, enquanto Karl (1997), citando a Noruega como um exemplo, afirma que os

produtores de minerais podem escapar da degradação econômica se tiverem instituições

políticas fortes e consistentes, desde o instante em que as reservas minerais forem

descobertas.

As políticas indicadas para evitar o colapso das economias de base mineira são

aquelas que buscam diminuir o peso relativo da produção mineral, ou seja, que promovam a

diversificação produtiva. Auty (1994), recomenda usar as rendas mineiras para diversificar

rapidamente a base produtiva dos setores não-mineiros. Afirma que "o setor mineral não

deveria ser considerado como a coluna vertebral da economia; ao invés disso, ele deveria

ser visto como um bônus que permite acelerar o crescimento econômico e promover

mudanças estruturais saudáveis na economia" (AUTY, 1993, p. 258), enquanto " [o

governo] prudente pode evitar as armadilhas políticas” (AUTY, 1994, p. 24). No entanto, o

próprio Auty reconhece que predomina muito mais o mau uso das rendas mineiras e que, na

média, os governantes não têm se mostrado capazes de evitar as armadilhas associadas à

dependência mineral.

Em síntese, para a análise setorialista, o lento ou rápido desempenho econômico é

intermediado pelo governo que, por sua vez, pode ser forte ou fraco. Governos fortes têm

capacidade para implementar boas políticas, que resultam num desenvolvimento rápido.

Governos fracos são incapazes de realizar as políticas necessárias para a reestruturação

produtiva e as suas ações acabam resultando em um fraco desenvolvimento econômico.

Nas análises setorialistas, a produção mineral está majoritariamente associada a governos

fracos e, portanto, ao desenvolvimento lento, conforme Figura 2.

Figura 2: Influência de setores produtivos sobre o desempenho governamental e as possibilidades de desenvolvimento econômico Fonte: Davis (1998, p. 221)

Produção Mineral

Manufatura Leve

Governo Fraco

Governo Forte

Desenvolvimento Lento

Desenvolvimento Rápido

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A pergunta que emerge da análise setorialista é a seguinte: por que alguns governos

adotam boas políticas e outros adotam políticas ruins? O que faz um governo forte ou fraco?

Pare esse tipo de análise, a resposta está ligada ao tipo de setor produtivo predominante na

economia e à capacidade deste setor de influenciar a moldagem do governo.

Para fugir da “maldição dos recursos”, os setorialistas sugerem diversificar e

impulsionar a economia em direção aos setores vencedores e suprimir os setores

perdedores. A mineração é considerada um dos setores perdedores. Porém, a pergunta de

como pode um governo fraco suprimir um setor minerador poderoso, mesmo que perdedor

fica sem resposta.

2.1.4 Expectativas eufóricas de desenvolvimento com base na mineração

De acordo com Freudenburg (1998), a expectativa de que a exploração mineral

possa ser um antídoto contra a pobreza e uma rota para o desenvolvimento encontra

suporte nas teorias econômicas neoclássicas e gera “expectativas eufóricas” nas economias

de base mineira. No entanto, afirma o autor, as evidências que sustentam tais expectativas

são falsas. Ele afirma isso com base em estudos econométricos que revelam a associação

positiva entre crescimento da mineração e elevação da pobreza, principalmente nas zonas

rurais. Para o autor, há duas formas de a extração mineral contribuir para a prosperidade

das regiões extrativas:

1) benefícios provenientes das rendas dos salários e dos impostos, que são

temporários, restritos e existem apenas enquanto houver atividade

mineradora;

2) benefícios potenciais que vão além do período extrativo e que sobrevivem

ao esgotamento da mina - infra-estrutura (normalmente feita com

investimentos públicos) criada para dar suporte à mineração, entre os

quais: portos, estradas, parques industriais, centros de convenções,

investimentos em escolas e em serviços, entre outros. Podem ocorrer

ainda efeitos de encadeamento, a partir dos investimentos privados em

uma rede de outras indústrias independentes da extração dos recursos

naturais. Aqui, prevalece a idéia de que, uma vez estabelecida, uma

indústria tem potencial de desenvolver outros mercados e capacidades,

muitos dos quais independentes da extração dos recursos naturais, de

acordo com os efeitos em cadeia à la Hirschman, conforme verificado na

seção 1.3.4.

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No caso 1, o aumento da escala de produção38, possibilitado pelos incrementos das

tecnologias extrativas e dos sistemas de transporte, tende, cada vez mais, a encurtar o

período de vigência desses benefícios. Portanto, os benefícios dos salários e impostos não

podem ser considerados como um desenvolvimento duradouro.

No caso 2, a partir de autores como Bunker (1988) e Schurman (1993)39,

Freudenburg concorda que as regiões extrativas têm muito pouco sucesso em constituir

verdadeiras conexões industriais, o que Hirschman e outros vêem como pré-requisito para

um desenvolvimento bem sucedido. Além disso, até mesmo nos supostos casos exitosos,

nos quais ocorre a formação de cadeias, não ocorre a desejada independência em relação

ao setor extrativo, uma vez que as indústrias nascentes são altamente especializadas e

atreladas à indústria mineira original. São, portanto, sujeitas aos mesmos ciclos de boom

and bust, não podendo, dessa forma, ser considerados um autêntico fator de

desenvolvimento.

Freudenburg (1998), ilustra a sua hipótese com o caso da indústria de petróleo, no

estado da Louisiana (EUA), que é considerado um êxito de formação de efeitos de

encadeamento, a partir da mineração. O autor afirma que não se pode considerar que a

mineração promoveu o desenvolvimento, uma vez que os encadeamentos só se

concentraram em torno da indústria do petróleo, o que potencializou o seu colapso

generalizado, juntamente com a própria indústria de petróleo, quando este perdeu preço no

início da década de 1980.

As idéias defendidas por Freudenburg (1998), coincidem com as análises

setorialistas, para ambos os fatores desencadeantes do colapso das economias

mineradoras decorrem da excessiva especialização em um único setor que está sujeito às

intensas flutuações cíclicas (boom and bust) de demanda e dos preços, além de se tratar de

um mercado restrito, com limitadas possibilidades de diversificação. Coincide também com a

Dutch disease, ao relatar o caso de Louisiana, em que os lucros, os salários e as outras

altas rendas provenientes da extração mineral e das indústrias a ela conectadas acabaram

por desencorajar o crescimento de outras indústrias que poderiam oferecer maior

diversificação e, conseqüentemente, maior desenvolvimento econômico.

38 Freudenburg (1998, p. 572) apresenta estatísticas de que apenas um ano de exploração de carvão de uma mina no estado de Wyoming, em 1993, produziu o equivalente a toda extração de carvão realizada, no período de 1550 a 1800 na Inglaterra. 39 SCHURMAN, R. Economic development and class formation in an extractive economy: The fragile nature of the Chilean fishing industry, 1973 – 1990. Ph.D. diss, Univerdidade de Winconsin: Madison, 1993.

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As elevadas receitas públicas provenientes da mineração na fase do apogeu (boom),

declinam na fase do colapso (bust) e se tornam insuficientes para custear as despesas

previamente assumidas e outros investimentos de longo prazo. Os recursos humanos

formados também são profundamente atados ao setor mineral. Um pool de mão-de-obra

excessivamente especializada em uma atividade extrativa torna ainda mais difícil promover

a necessária diversificação produtiva.

2.1.5 Péssimo desempenho econômico das economias mineiras

Pesquisas empíricas recentes parecem confirmar a “tese da maldição dos recursos”.

Um estudo feito pelo Banco Mundial40 (BM) apud Pegg (2006) sobre 38 economias mineiras

demonstrou que, no período 1990 a 1999, todas elas apresentaram desempenho negativo

em suas taxas de crescimento do PIB per capita. O estudo revelou também que, quanto

maior o peso (medido pela participação nas exportações totais do país) da mineração na

economia, piores foram os resultados econômicos, conforme exposto Quadro 8.

tipologias de economias mineiras

(número de países)

participação do setor mineral nas exportações

taxa média anual de crescimento do pib per capita no período

1990-1999 relevante (18) 6% -15% -0,7% crítico (22) 15% - 50% -1,1% dominante (8) > 50% -2,3%

Quadro 8: Tipologia e desempenho do PIB per capita das economias mineiras no período 1990-1999, de acordo com o Banco Mundial Fonte: Baseado em Weber apud Pegg (2006)

Economias de base mineira “dominante” (com mais de 50% de participação das

commodities minerais nas suas exportações) tiveram queda média anual de 2,3% no PIB

per capita, enquanto que economias para as quais a mineração é “relevante” (entre 6% e

15% de participação das commodities minerais nas exportações) tiveram queda de 0,7%

nesse indicador. Pegg (2006) cita outros estudos que se tornaram clássicos por relacionar a

abundância mineral ao fraco desempenho econômico, entre os quais:

• Jeffrey Sachs e Andrew Warner41são autores citados como referência, por

documentarem estatisticamente uma associação forte e inversa entre a

intensidade de recursos naturais e o crescimento econômico, entre meados

dos anos 1970 a 1990.

40 WEBER, Fahar M. Treasure or Trouble? Mining in developing countries. Washington, DC: World Bank and International Finance Corporation, 2002. 41 SACHS, J. D. & WARNER, A. M. Natural resource abundance and economic growth. Harvard Institute for International Development. Discussion Paper n. 517a. Cambridge, MA 1995.

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• Thorvaldur Gylfason42 analisou a relação entre o crescimento econômico per

capita e a abundância de recursos naturais, no período de 1965 a 1988.

Demonstrou que o incremento de 10% na participação do capital natural na

produção econômica de um país, em relação ao outro, está associado a uma

redução no seu crescimento per capita de 1% ao ano, em média.

• Indra de Soysa43 demonstrou que a riqueza mineral tem um efeito forte e

negativo sobre o crescimento.

• Carlos Leite e Jens Weidmann’s44 constataram que a abundância de recursos

naturais tende a reduzir o crescimento no longo prazo.

• Michael Ross45 revela que

Estados mineral-dependentes têm níveis de iniqüidade significativamente maiores do que outros não-mineiros com similar condição de renda: quanto maior o peso da mineração nas exportações, menor é a parcela da renda que cabe aos 20% mais pobres da população. A natureza capital-intensiva de muitos projetos de mineração também significa que eles não conseguem ofertar empregos acessíveis aos pobres, que geralmente são pouco qualificados ou não apresentam nenhuma qualificação (ROSS apud PEGG, 2006, p. 377).

Em todas as análises precedentes (LEWIS, 1984; GLEB, 1988; BOMSEL, 1992;

AUTY & WARHURST, 1993; AUTY, 1993; SHAFER, 1994; SNIDER, 1996; KARL, 1997;

FREUDENBURG, 1998), quer direta ou indiretamente, o uso da renda mineral aparece

como variável estratégica e divisor de águas entre uma mineração que serve como um “freio

ao desenvolvimento” e uma “maldição” ou como um “motor para o desenvolvimento” (Figura

3).

Figura 3: Renda mineral como variável estratégica para o desenvolvimento Fonte: elaboração da autora

42 GYLFASON, T. Natural resources, education and economic development. European Economic Review 2001; 45(4-6): 947-59. 43 DE SOYSA, I. The resource curse: are civil wars driven by rapacity or paucity? In: Berdal M. Malone D. M., editors. Greed and grievance: economic agendas in civil wars. Boulder: Lynne Rienner Publishers, 2001. p. 113-35. 44 LEITE, C Weidmann J. Does mother nature corrupt? Natural resources, corruption and economic growth. International Monetary Fund Working Paper WP /99/85. Washington, DC. 45 ROSS, ML. Extractive sectors and the poor. Washington, DC: Oxfam America, 2001.

mineração renda mineral salários lucros impostos e contribuições trampolim para

o desenvolvi-mento

bom uso

mau uso maldição dos recursos e afins

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O elemento diferenciador é o bom ou o mau uso dessas rendas. O que é e o que

leva uma economia mineradora a usar de forma sábia as suas rendas mineiras? Conforme

será visto a seguir, a análise da mineração enquanto trampolim para o desenvolvimento lista

uma série de outros fatores que influenciam a resposta a essa pergunta.

2.2 A MINERAÇÃO COMO UM TRAMPOLIM PARA O DESENVOLVIMENTO

A idéia de que a mineração é um trampolim para o desenvolvimento encontra

amparo teórico nos modelos econômicos neoclássicos. Davis (1998), Radetzki (1992) e

diversos Relatórios do Banco Mundial reforçam esse entendimento.

2.2.1 A visão do Banco Mundial (BM)

Segundo Pegg (2006), a associação entre crescimento econômico e redução da

pobreza é uma verdade inquestionável para o BM. A convicção do BM é apoiada pelas

teorias econômicas neoclássicas, particularmente pelos modelos de crescimento na linha de

Harrod/Domar e de Solow, para os quais uma elevação no investimento conduz,

necessariamente, ao crescimento econômico. Dessa forma, a superação da pobreza é uma

decorrência natural desse crescimento, que se dá por intermédio do aumento da renda per

capita. Conforme ressalta o próprio Departamento de Mineração do BM apud Pegg (2006, p.

377), “em toda a parte, o desenvolvimento econômico per si é um pré-requisito, muito bem

documentado, para o desenvolvimento sustentável e para a redução da pobreza”.

Dessa forma, consoante a visão do BM, financiar projetos de mineração em

economias subdesenvolvidas é importante para o crescimento econômico e,

conseqüentemente, para a redução da pobreza. Pegg (2006), lista os sete argumentos mais

importantes do BM para financiar os empreendimentos mineradores:

1. Analogia histórica – países como Suécia, Finlândia, Inglaterra e, mais

recentemente, Austrália, Canadá e Estados Unidos contaram (e ainda contam)

com um forte setor mineral que, por sua vez, teria sido o principal impulsionador

para a trajetória de desenvolvimento.

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2. Criação de empregos – a mineração gera empregos diretos e indiretos. No Brasil,

por exemplo, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD)46 estima que, para cada

emprego gerado na indústria extrativa mineral, 13 postos de trabalho são criados

em outros setores da economia, nos serviços, ou em outras indústrias a montante

e a jusante. A associação entre a criação de empregos e a redução da pobreza

ocorre por intermédio da renda salarial que flui para a economia, contribuindo

positivamente para o aumento da renda per capita e, conseqüentemente, para a

redução da pobreza, conforme o esquema abaixo:

mineração → criação de emprego → geração de renda → redução da pobreza.

3. Geração de renda – além da renda dos salários, a renda obtida

principalmente por intermédio dos encadeamentos fiscais é um poderoso

elemento de combate à pobreza. A recuperação financeira do setor público

possibilita aos governos implementar programas voltados para a superação da

pobreza. A relação causal é a seguinte:

mineração → impostos, taxas, royalties para o governo → financiamento de programas de alívio à pobreza → redução da pobreza

4. Crescimento econômico – a lógica causal é a dos modelos de crescimento

econômico e do papel indutor dos investimentos, conforme esquema abaixo:

atividade mineral → crescimento econômico → redução da pobreza

5. Transferência de tecnologia – as atividades econômicas baseadas na

extração de recursos naturais podem se transformar em verdadeiras indústrias do

conhecimento. Segundo o BM, a mineração foi considerada uma “experiência de

aprendizado nacional” para os EUA; a sua conexão com a redução da pobreza

ocorre via expansão de oportunidades de negócios. A lógica causal dessa

relação é:

mineração → desenvolvimento tecnológico → expansão das oportunidades econômicas → redução da pobreza

46 Palestra proferida por Gabriel Stoliar, em nome do presidente da CVRD, durante o evento de comemoração pelo 30 anos do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), em 12/12/2006, em Brasília (DF).

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6. Desenvolvimento de infra-estrutura – Os investimentos necessários para a

extração dos recursos minerais catalisam melhorias na infra-estrutura física do

território em que estão instalados. A lógica causal é a seguinte:

mineração → melhorias na rede de infra-estrutura física → expansão das oportunidades econômicas → redução da pobreza

7. Criação de indústrias a jusante – a mineração pode criar oportunidades

econômicas na cadeia de valor paralela e a jusante da atividade extrativa,

promovendo investimentos em indústrias que processem e adicionem valor aos

bens minerais, antes que sejam exportados. A conexão com a redução da

pobreza é a seguinte:

empreendimentos a jusante → empregos, crescimento econômico, impostos e receitas públicas → redução da pobreza.

O próprio estudo de Pegg (2006), apresenta as críticas e contra-argumentações às

razões do BM. Grande parte das objeções já foi mencionada no item 2.1. Nesta seção nos

interessa averiguar a lógica que está por trás do incentivo às atividades mineradoras,

enquanto setor capaz de impulsionar o crescimento e o desenvolvimento econômicos.

2.2.2 O setor mineral como um perdedor revisitado por Davis

Os argumentos que Davis (1998) e Davis & Tilton (2002), usam para se contrapor às

teses setorialistas e aos outros estudos que procuram demonstrar a relação de causalidade

adversa entre desenvolvimento econômico e mineração se apóiam nas teorias e nos

conceitos da economia convencional. As próximas seções foram estruturada a partir da

leitura desses dois autores.

2.2.2.1 Influência dos minerais sobre a capacidade burocrática do estado e sobre a flexibilidade estrutural.

O excesso de pessimismo dos setorialistas, particularmente, a afirmação de que o

setor mineral engendra “incapacidade burocrática” e que esta impede o desenvolvimento

econômico e o desenvolvimento da indústria é muito criticado por Davis (1998). Para ele,

nem mesmo o estudo de Sachs e Warner (1995)47 apresenta fortes evidências de que a

47 Sachs e Warner (1995), em um amplo estudo empírico sobre abundância de recursos e crescimento econômico em 90 países, não encontraram qualquer evidência econométrica de que a abundância de recursos primários provoca subseqüente ineficiência burocrática, muito embora ambos

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abundância de recursos primários cause ineficiência burocrática. O que existiria entre

ambos é uma associação, e não uma relação de causalidade. Isto é, a abundância de

recursos está associada à ineficiência burocrática e tanto um como outro estão

correlacionados aos baixos índices de crescimento econômico.

A contra-argumentação mais consistente é de que as análises setorialistas são

limitadas para explicar as diferenças entre as economias mineiras. Indonésia, Namíbia e

Zâmbia, por exemplo, têm ampliado o peso do setor mineral nas suas exportações.

Entretanto, a Indonésia, segundo Davis (1998), é um caso de sucesso de relação favorável

entre mineração e desenvolvimento. Essa associação positiva ocorreu devido à existência

prévia de instituições de apoio ao crescimento econômico, antes e durante o boom mineral;

isso não aconteceu com as outras economias mineiras. Pelo contrário, em Namíbia e

Zâmbia a política predominante foi a de busca constante pelo aumento na parcela das

rendas mineiras captadas pelo setor público, conhecido como rent seeking.

Muito mais do que a presença de um setor mineral forte, é a diversidade étnica que

mais interfere na capacidade de o Estado adotar políticas públicas pró-desenvolvimento.

Esse argumento de Davis (1998) encontra suporte em Easterly e Levine (1997)48, que

demonstraram que um alto nível de diversidade étnica tanto retarda a adoção de políticas

que promovam o desenvolvimento, como está positivamente correlacionado com o

comportamento de rent seeking dos agentes econômicos, na forma de corrupção, e com a

ausência de regras institucionais claras e estáveis. Uma objeção a essa tese seria a de que

a mineração tende a se concentrar nesses tipos de países. No entanto, de 109 países

ranqueados pelo índice de diversidade étnica49, apenas 23 são economias mineiras.

Contudo, essas economias apresentavam os mais altos escores desse índice.

2.2.2.2 Causalidade entre o desempenho estatal e o crescimento econômico

Para os setorialistas, a prosperidade econômica depende de um “Estado forte”. Para

Davis (1998), a tendência das teorias modernas do desenvolvimento é considerar as

políticas públicas como indutores do desenvolvimento econômico. Ele concorda que boas

políticas estão associadas ao crescimento econômico, mas rejeita a tese de que economias

mineiras não favorecem boas políticas e criam Estados burocráticos e ineficientes. Ele

também discorda de que a relação de causalidade se dá no sentido da boa política para o (abundância de recurso e ineficiência burocrática) estejam fortemente correlacionados com o crescimento econômico mais lento. 48 Easterly, W, & Levine, R. Africa’s growth tragedy: politics and ethnic division. Quarterly Journal of Economics (November) 1997, (p. 1203-1250). 49 O índice mede a probabilidade de duas pessoas de um dado país, escolhidas ao acaso, não pertencerem ao mesmo grupo etnolinguistico.

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bom desempenho econômico. Para isso ele recorre a estudos que mostram que, de forma

inversa, é o bom desempenho econômico que favorece boas políticas, ou seja, é a

consistência política que sofre influência do crescimento econômico. No entanto, Davis

(1998, p. 223) reconhece que determinar a relação de causalidade nas interações político-

econômicas é uma tarefa empírica muito difícil. .

2.2.2.3 Extrair minérios ou industrializá-los?

Para os setorialistas, qualquer economia mineira que não consiga diversificar o seu

setor mineral é refém da elite dos empresários da mineração ou do sindicato dos

trabalhadores da mineração, ao invés de estar aderindo à doutrina das vantagens

comparativas. De acordo com Davis (1998), a decisão de extrair minérios ou diversificar a

economia com a criação de indústrias leves, por exemplo, deve estar subordinada ao livre

jogo das forças de mercado e não a uma deliberação voluntarista à revelia do mercado. A

sobrevalorização da taxa de câmbio provocada pelo boom mineral é também um importante

indicador de mercado, pois sinaliza o elevado custo de oportunidade de restringir o fluxo

natural de recursos do setor industrial tradicional em direção ao setor mineral exportador.

Segundo Auty e Evans (1994) apud Davis (1998, p. 224), durante a alta de preços

dos bens minerais dos anos 1970, as economias mineiras cresceram por volta de 6,2 % ao

ano por toda a década, o crescimento econômico este que caiu para 2,3% ao ano, em

média, durante o colapso dos preços dos anos 1980.

2.2.2.4 Desempenho geral das economias mineradoras

De acordo com a análise setorialista, as economias de base mineira sempre

apresentam um pior desempenho do que as não-mineradoras, por causa das características

intrínsecas da mineração. Para contestar essa tese, Davis (1998) revisa seis estudos que

correlacionam o desempenho econômico (PIB) e a base mineira e conclui que não há

evidência estatística consistente de que a dependência mineral conduza a um rápido ou a

um lento processo de crescimento econômico. Os estudos revisados por Davis são:

1. Wheeler50 (1984) - os níveis históricos da produção mineral são negativamente

correlacionados com o subseqüente crescimento econômico;

2. Sachs e Warner51 (1995) – 10% de aumento da participação do setor mineral no

PIB implicam em uma queda de 0,4% no desempenho econômico mensurado

pelo PIB per capita;

50 WHEELER, D. Sources of Stagnation in Sub-Saharan Africa. World Development 12,1, 1984, (p. 1-23)

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3. Mainardi52 (1995) - as economias mineiras apresentam o mesmo padrão de

crescimento que as economias não-mineiras;

4. Sala-i-Martin53 (1997) - o desempenho econômico cresce com o aumento da

atividade mineral;

5. Auty e Evans54 (1994) – compararam dois grupos de países mineiros e não-

mineiros e encontraram resultados mistos. Nos anos 1970, de boom mineral, o

crescimento das economias mineiras como um todo superou o grupo de

economias não-mineiras. Todavia, nos anos 1990, de bust mineral, o grupo de

economias mineiras teve um desempenho muito ruim. A análise de regressão

identificou que as exportações minerais estão negativamente correlacionadas

com o crescimento, porém apenas para o subconjunto de economias mineiras

maduras e apenas para certo período;

6. Askarin et al55 (1997) - verificaram que mudanças no PIB das economias mineiras

refletem as mudanças nos preços dos minerais;

Davis (1995), usa os indicadores de desenvolvimento “Hicks-Streeten” para estudar

o desempenho das economias mineradoras nas décadas de 1970 e 1990 e conclui que a

sua dinâmica econômica superou a das economias não-mineiras.

Após essa extensa revisão, as principais conclusões de Davis (1998) são:

• não existe evidência empírica de que a dotação mineral crie ineficiência

burocrática ou uma “prisão” setorial. A diversidade étnica parece dar melhores

respostas a perguntas sobre as diferenças entre economias mineiras e não-

mineiras;

• é muito difícil estabelecer alguma causalidade empírica entre o perfil burocrático

de um país e o crescimento econômico. O crescimento econômico é o fator

exógeno que influencia a qualidade da política;

• o desempenho das economias mineradoras é muito heterogêneo; elas estão

entre as que apresentaram os melhores e os piores desempenhos, nas décadas

51 SACHS, J. D & WARNER, A. M. op cit 52 MAINARDI, S. Mineral Resources and Growth: towards a long-term convergence? Resources Policy, 21. 1995. (p. 155-168). 53 SALA-I-MARTIN, XX. I just ran two million regressions. American Economic Review, 87. 1997 (p. 178-183) 54 AUTY, R.M. & EVANS, D . Trade and Industrial Policy for Sustainable Resource-based Development: Policy Issues, Achivements and Prospects, Report GE94-50979 prepared for UNCTAD, Geneva, 1994. 55 ASKARIN, H; NOWSHIRVANI, V & JABER, M. Economic Development in the GCC: The Blessing and the Curse of Oil, JAI Press, Greenwich, CT, 1997.

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passadas. Botswana, uma das 11 economias mineiras analisadas, apresentou

uma das maiores taxas de crescimento econômico nas décadas de 1970 e 1980

e é muito pouco mencionada pelos autores setorialistas;

• as recomendações finais dos setorialistas seriam: “mover a economia

rapidamente para a diversificação, independentemente da vantagem competitiva

que a economia mineira possa apresentar”. A recomendação da Davis (1998),

por sua vez, é “deixar fluir a dotação mineral e aproveitar as vantagens

comparativas”.

Davis (1998, p. 226) conclui que mesmo a mais passiva recomendação neoclássica

para corrigir externalidades e imperfeições de mercado das economias mineiras é poupar as

rendas mineiras o suficiente para, no mínimo, garantir o nível do consumo presente.

Essas diferentes recomendações são, em grande parte, decorrentes das distintas

bases de dados usadas pelos autores. Para os setorialistas, as crenças dos economistas

neoclássicos não resistem a um teste empírico sério. Davis, por sua vez, afirma o mesmo

sobre as conclusões dos setorialistas. O próprio Shafer nota que a capacidade de

persuasão de um estudo de caso depende da qualidade do caso escolhido. Ao selecionar

Zâmbia como um caso emblemático, Shafer ignorou economias mineiras como Chile e

Botswana, que superaram muitos problemas identificados em Zâmbia.

As interpretações dos setorialistas, segundo Davis, são reducionistas, na medida em

que pretendem examinar casos tão complexos e distintos sob o mesmo “guarda-chuva”,

ignorando o sucesso histórico de países que conseguiram gerar uma economia vigorosa a

partir de sua mineração, como o caso da Austrália, por exemplo.

É importante também relembrar que o próprio Hirschman, nos anos 1970, já alertava

para as impropriedades de se tentar tipificar uma economia a partir de seu produto. Para ele

não existe nada intrinsecamente inconcebível em uma dada mercadoria agir como uma

conspiração multi-dimensional a favor ou contra o desenvolvimento. Assim, é muito mais

provável que não seja não a natureza do produto – mineração, agricultura etc – mas sim a

capacidade de este produto gerar efeitos em cadeia fortes de todas as naturezas que é a

chave para se compreender o problema do desenvolvimento de economias de base mineira.

Essa capacidade é contextualizada, e não determinada ex-ante.

Uma limitação das análises de Davis, explicitada pelos argumentos que usa, assim

como pela maior parte dos teóricos neoclássicos, eles estão preocupados com o

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crescimento do PIB per capita, e não com as dimensões mais amplas do desenvolvimento

econômico.

2.2.3 Acelerar o timing da extração mineral

De acordo com Radetzki (1992), economias pobres, mas bem dotadas de recursos

minerais, devem extrair o quanto antes as suas jazidas, pois a mineração pode exercer um

papel crucial no progresso econômico. A argumentação de que é necessário conservar os

recursos minerais para as futuras gerações é veementemente refutada pelo autor, pelas

seguintes razões:

• as reservas minerais, quando utilizadas, podem ser facilmente ampliadas, como

decorrência do maior conhecimento do subsolo;

• depósitos minerais muito valiosos podem perder o valor em função das mudanças

tecnológicas. Isso ocorreu com o nitrato do Chile (substituído por sintéticos

desenvolvido na Alemanha) e o ferro da Suécia. No caso sueco, a perda de

competitividade das minas foi provocada pela redução dos custos de transporte de

carga a longas distâncias, possibilitado pelos avanços tecnológicos;

• a regra de Hotteling56 é uma falácia e não se aplica ao mundo real;

• quanto mais tardiamente se iniciar a extração, maiores serão os custos para criar

instituições e capital humano adequados para monitorar e gerenciar a atividade

mineradora. Sem essa rede de infra-estrutura, a renda gerada pela extração mineral

é provavelmente dissipada no mercado internacional ou desperdiçada de alguma

outra forma. Contudo, a inexistência dessa infra-estrutura não justifica o adiamento

da extração mineral, uma vez que ela não surgirá na ausência de uma forte atividade

mineral. O círculo virtuoso se dá a partir da extração, que conduz à criação de

instituições e de capital humano qualificados;

• adiar a extração, no curto prazo, para evitar um colapso de preços, pode ser

justificável.

A associação entre mineração e desenvolvimento, de acordo com a perspectiva de

Radetzki (1992), ocorre pelo surgimento de novas possibilidades econômicas a partir do

momento em que se inicia a atividade mineral, tais como: descobertas de novas jazidas,

multiplicação da renda e do emprego, criação, estruturação e fortalecimento institucional 56 A regra de Hotteling (1931) é um princípio da teoria dos recursos exauríveis que afirma que “o valor de uma unidade inexplotada (reserva mineral) sobe de acordo com a taxa de juros”, ou seja, as jazidas minerais do subsolo se valorizam na medida direta da variação da taxa de juros. Essa visão dá amparo às decisões de manter intocadas as jazidas na espera de uma queda na taxa de juros e, conseqüentemente, de uma alta dos preços unitários da produção mineral efetiva.

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(sistema fiscal, organizações de fomento e apoio, sistemas de regulação, sistemas de

financiamento, entre outros) e de capital humano capacitados para lidar com o setor e, por

conseguinte, utilizar produtivamente a renda mineral gerada.

Em síntese, para os que advogam que a mineração é um motor para o

desenvolvimento, não é simplesmente a natureza da atividade mineral em si que faz com

que o setor promova o desenvolvimento ou provoque o retrocesso econômico. As razões

para o êxito ou fracasso estão muito mais relacionados a fatores como a fragmentação

étnica (EASTERLY & LEVINE, 1997 apud DAVIS, 1998), a existência de instituições de

apoio ou de capacidade institucional (RADETZKI, 1992, IFC, 2004), a propensão a rent

seeking (EASTERLY & LEVINE, 1997 apud DAVIS, 1998), e a variação dos preços (AUTY &

EVANS, 1994 apud DAVIS, 1998).

2.3 DESAFIOS PARA COMBINAR MINERAÇÃO E SUSTENTABILIDADE

Os autores e instituições mencionados a seguir consideram que a mineração é uma

atividade que gera possibilidades de desenvolvimento. Porém, é necessário superar fortes

desafios, muitos dos quais se constituem em questões mal resolvidas em economias de

base mineradora.

2.3.1 Determinação e uso das rendas minerais: o calcanhar de aquiles das

economias de base mineira

Bomsel (1992) estudou 15 países de base mineira (minerais não-energéticos). O

critério de seleção foi o peso no total das exportações nacionais ser maior de 40%. Com

base nesse estudo, ele afirma categoricamente que os países exportadores de bens

minerais (Marrocos, Mauritânia, Papua Nova Guiné, Guiana, Peru, Bolívia, Togo, Chile,

Jamaica, Libéria, Botswana, Nigéria, Zaire, Guiné, Zâmbia e Suriname) são menos

diversificados, mais endividados e apresentam menor renda per capita do que grandes

países em desenvolvimento (Índia e Brasil) ou que países de base mineira industrial

(Austrália ou África do Sul). A razão para esse quadro sombrio resulta do mau uso dos

rents, ou rendas minerais. Bomsel define renda mineral como:

[...] renda econômica é o excedente obtido pelos fatores de produção que vai além do mínimo ganho necessário para induzir o seu emprego. Renda mineral, portanto, é o excedente obtido com um depósito mineral além do mínimo ganho requerido para atrair o capital e outros fatores de produção

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necessários para desenvolver e explotar um depósito. (BOMSEL, 1992, p. 62).

Para Bomsel (1992), o excedente surge porque as commodities minerais são

comercializadas no mercado internacional a um preço que reflete o equilíbrio entre a oferta e

a demanda, e não os custos de produção. Os custos de produção, por sua vez, variam de

acordo com a escolha das técnicas de extração e com a qualidade das jazidas.

A renda mineral pode ser dividida em dois componentes: 1) a diferença entre os

preços de mercado e os custos de produção (considerado o mais alto custo do produtor

marginal); 2) a diferença de custos entre os produtores. Portanto, a renda mineral pode

variar de negativa a muito elevada. Em 1988, por exemplo, quando o preço do cobre estava

a US$ 1,30 por libra, a renda mineral do Chile era de aproximadamente US$ 0,80 por libra;

já em Zâmbia, a renda era de apenas US$ 0,30 por libra. Essa diferença profunda refletia a

qualidade diferencial das jazidas.

Bomsel (1992) considera a renda mineral como uma transferência do consumidor

para o produtor. A magnitude dessa transferência depende, além da qualidade das jazidas,

da eficiência com que os depósitos são desenvolvidos e efetivamente utilizados. Para

Prébisch e Singer apud Bomsel (1992), os ganhos de produtividade obtidos pela mineração,

ou por outro produto primário qualquer, são em grande parte transferidos para os

consumidores, sob a forma de baixos preços, possibilitados pelos ganhos do setor

exportador.

Para Bomsel (1992, p. 65), o desenvolvimento econômico nos países mineradores

depende da geração e do uso das rendas mineiras. Mesmo nos casos das minas que estão

nas mãos do setor privado, o Governo tem um papel crítico: ele determina o regime fiscal e

a legislação mineira que decide a magnitude e a partilha das rendas, além das regras de

alocação e distribuição das rendas mineiras no âmbito do setor público.

Mais do que a determinação do montante da renda mineral, é o uso que se faz

dessas rendas o ponto mais nevrálgico sobre as possibilidades de desenvolvimento de uma

região de base mineira. Autores clássicos da área da economia dos recursos não-

renováveis, como Hartwick57 (1975), por exemplo, defendem a tese de que as rendas

minerais devem ser usadas em investimentos que gerem riqueza alternativa, para substituir

o patrimônio mineral esgotável. Hartwick demonstra que o custo de uso, ou renda da

57 John Hartwick virou referência no tema da reinversão das rendas mineiras em recursos reprodutíveis com o artigo Intergenerational equity and the investing of rent from exhaustible resources, publicado em 1975. (HARTWICK, 1975).

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escassez, resultante da extração dos minerais, deve ser reinvestido em outras formas de

capital, com a finalidade de manter o nível de produção econômica e, assim, preservar o

nível de bem-estar social já adquirido. Na mesma linha de argumentação, Sollow (1993)

enfatiza que se “sustentabilidade” é algo mais que uma “expressão emotiva”, a sua proposta

deve estar relacionada à preservação da capacidade produtiva para um futuro indefinido.

Isso só seria compatível com o uso de recursos não-renováveis se toda a sociedade

substituísse o uso desses recursos por algo distinto.

Eggert (2000) ressalta que, do ponto de vista da sustentabilidade econômica, a

efetiva contribuição da atividade mineral depende, a) da riqueza mineral gerada; b) do

reinvestimento em outras atividades para a manutenção do nível de bem-estar social,

quando a atividade mineral se encerrar; e c) das políticas governamentais para controle dos

potenciais efeitos macroeconômicos negativos.

Seguindo os preceitos de Hartwick (1975), Mikesell (1994) propõe a reinversão anual

do capital mineral exaurido em capitais reprodutíveis e em tecnologias. Para ele, as rendas

de um projeto mineral são as receitas da venda do minério menos os custos com a mão de

obra e com capital associados ao projeto. Poupando uma parcela da renda mineira anual

líquida e acumulando um determinado montante anual a uma taxa de juros compostos, pode

ser criado um fundo suficientemente grande para garantir às futuras gerações uma receita

líquida equivalente às rendas minerais, mesmo após a exaustão da mina. Para tanto, será

necessário apenas poupar e reinvestir o valor presente dessa receita líquida anual, mas

desde que as futuras gerações não necessitem fazer retiradas do fundo antes da exaustão

das reservas minerais. Se toda a receita líquida anual for poupada e acumulada a uma taxa

de juros compostas, a geração presente não receberá rendas líquidas da mineração e as

gerações futuras herdarão uma soma de capital muito maior do que a recebida pela atual

geração.

Para determinar o montante da renda mineral que deve ser poupada e reinvestida

anualmente, Mikesell (1994) parte do conceito de renda líquida, de acordo com o cálculo

proposto por El Serafi, no qual:

R = renda líquida anual do proprietário do depósito mineral X = componente renda mineral (receitas menos custos) R – X = componente exaustão do capital. É a parcela que deve ser poupada e reinvestida; equivale ao valor presente líquido de R.

Assim: R – X = R/(1 + r)n => onde r é a taxa de juros e n é vida útil da reserva mineral, medida em

número de anos.

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Dessa forma:

X = R - R/(1 + r)n

Então, o valor presente líquido (VPL), que deve ser investido anualmente, é expresso

pela seguinte fórmula:

R (1 – (1/(1 + r)n ) = R – (R/ (1 + r)n ) = X

onde o valor presente de R por ano, a taxa r por n anos, é igual a X/r. Esse montante

permitirá gerar uma renda anual perpétua de X, quando as reservas minerais estiverem

exauridas. Assim, o valor do capital dos depósitos minerais é mantido ao longo do tempo58.

Quanto maior a vida útil da jazida e quanto maior a taxa de juros, menor será a

proporção de R necessária para poupar. Essa proporção declina rapidamente com o

aumento da vida útil da reserva, n. Se n é 50 anos e se as outras variáveis permanecem

estáveis, a proporção que deve ser poupada anualmente diminui. Quanto ao preço que

dever ser adotado para o cálculo de R, se o preço atual de mercado ou algum preço futuro

esperado, o autor sugere considerar o preço corrente ou o preço médio dos três últimos

anos.

Mikesell (1994) indaga: como ter certeza que R – X será poupado e reinvestido a

cada ano de forma que n nunca se aproxime de zero e que os preços dos minerais não

disparem? Para ele, a maioria das companhias mineradoras quer preservar o seu capital

para permanecer no negócio. Portanto, elas devem poupar, a cada ano, o suficiente para

manter o valor do capital de seus ativos, ao invés de pagar aos seus stockholders quantias

que se traduzem na exaustão da reservas.

Para o vice-presidente do International Financial Corporation (IFC59), organização

financeira vinculada ao Banco Mundial, “o manejo das rendas dos recursos naturais, em

geral, e do petróleo, em particular, tem emergido como uma questão-chave para o 58 Mikesell (1994) apresenta um exemplo numérico, a fim de facilitar o entendimento. Se: R = U$250.000 por ano

Vida útil (n) = 20 anos R (taxa de juros) = 10%, Aplicando a fórmula acima, verifica-se que: O valor R por 20 anos é de U$2.130.000 R – X , ou R/ (1 + r)n = U$37.000 A renda anual X é de = U$213.000 Portanto, o valor que deve ser poupado e reinvestido anualmente, à taxa de juros de 10% por

20 anos, R –X, é igual U$2.100.000, possibilitando uma renda perpétua de U$213.000. 59 World Bank. Petroleum Revenue Manegement Workshop.Washington (DC): March, 2004

r r r

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desenvolvimento”. O bom ou mau uso das rendas pode ser o divisor de águas entre um

quadro de pobreza no meio da abundância de recursos (paradox of plenty) e uma

perspectiva sustentável de desenvolvimento. No entanto, acrescenta que o bom

gerenciamento das rendas mineiras está condicionado a diversos pré-requisitos, entre os

quais a capacidade institucional, considerado o fator decisivo. Esta, na sua visão, depende

da boa governança.

Para incentivar a boa governança, o Banco Mundial tem exigido em suas linhas de

financiamento programas de ajuda à criação e ao fortalecimento de capacidade institucional.

O BM recomenda também que as companhias mineradoras deixem totalmente

transparentes as contribuições, auxílios, taxas e impostos que repassam aos cofres

públicos. Essa atitude é considerada uma prática sustentável que deve ser premiada pelos

organismos financeiros e incluída nos critérios de elegibilidade de financiamento.

O Quadro 9 sintetiza as principais recomendações de práticas sustentáveis

incentivadas pelo Banco Mundial para diferentes grupos de interesse em torno da

mineração.

agente recomendações do Banco Mundial Argumento tipo de prática

sustentável

Companhias Mineradoras

Deixar plenamente transparentes todos os repasses feitos aos Governos.

Induzir novos níveis de responsabilidade.

Transparência no pagamento.

Governos Construir instituições fortes. Implementar regulação ativa.

Induzir a responsabilidade no uso das rendas minerais e sistemas de regulação eficientes.

Transparência no recebimento e no gasto. Prestação de contas das rendas mineiras separada de outras fontes.

Comunidades Locais

Fortalecer as comunidades locais para que elas entendam os mecanismos de receitas e despesas públicas.

Envolver a sociedade civil no bom uso das rendas.

Monitorar as contas públicas.

Agências de Financiamento

Transformar o financiamento em um instrumento efetivo de combate à pobreza.

Induzir práticas sustentáveis.

Vincular a concessão de empréstimos - tanto para o setor público quanto privado – às práticas sustentáveis.

Quadro 9: Recomendações de práticas sustentáveis feitas pelo Banco Mundial quanto ao uso da rendas mineiras Fonte: World Bank (2004)

Conceitos como “capacidade institucional” e “boa governança” têm sido amplamente

adotados como importantes ingredientes para uma estratégia de desenvolvimento

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sustentável, mas muitas vezes eles são destituídos de seu real significado. Por conseguinte,

as recomendações baseadas neles são frágeis. É correta a percepção do Banco Mundial de

que boas instituições são pré-condições para a prática de boas políticas. No entanto, qual o

significado e a melhor forma de construir instituições governamentais fortes? Conforme

verificado na seção 1.4, essa questão é o foco na análise institucionalista. Ela conduz a dois

tipos de respostas: 1) boas instituições dependem de capital social que, por sua vez não se

forma do dia para a noite, é produto da história (explicação de longo prazo) e 2) não se sabe

exatamente como se dá essa trajetória no curto prazo.

Nesse sentido, as iniciativas do Banco Mundial são válidas, mas estão longe de ser

“a” solução. O desenvolvimento sustentável, conforme afirma Boisier é, acima de tudo, uma

“emergência sistêmica”, pois muitas forças se conjugam para a sua materialização.

2.3.2 Reforçar e adicionar valor às comunidades mineiras, historicamente negligenciadas

Veiga et al. (2001) analisam as “comunidades mineiras”, tanto em países pobres,

quanto em países ricos. Para os autores, as comunidades mineiras, embora tendo

características culturais e históricas próprias, apresentam elementos comuns em todo o

mundo. Elas tendem a compartilhar uma percepção semelhante quanto aos impactos

sociais, culturais e ambientais provocados pelas companhias mineradoras.

O conceito de comunidade mineira é muito abrangente e por isso é difícil generalizar

os impactos de uma operação mineira e propor mecanismos universais para o incremento

dos benefícios líquidos e a eliminação ou mitigação dos efeitos adversos. Ritter (2003, p.

227 - 228) apresenta seis categorias de comunidades mineiras:

1. estabelecidas há muito tempo, com população isolada e dependente de uma

única companhia mineira;

2. estabelecidas há muito tempo e que foram construídas e desenvolvidas pelas

próprias companhias mineradoras;

3. estabelecidas há muito tempo e que têm bases econômicas diversificadas, com a

possibilidade de abrigar novas atividades mineradoras;

4. minas sem comunidades adjacentes, que adotam regime de trabalho pelo qual os

trabalhadores viajam e retornam periodicamente de seu local de origem para

trabalhar nas minas (fly in fly out);

5. comunidades temporárias, do tipo acampamento, criadas para realizar trabalhos

de exploração mineral e possivelmente de desenvolvimento da mina;

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6. grandes cidades mineiras de há muito estabelecidas, nas quais tenha sido

possível desenvolver um amplo leque de atividades econômicas relacionadas à

atividade mineira.

Segundo Veiga et al. (2001), para que uma comunidade mineira seja considerada

sustentável, ela deve seguir os princípios da sustentabilidade ecológica, da vitalidade

econômica e da eqüidade social. Progressos nessa direção ocorrem quando se adiciona

valor às comunidades durante o ciclo de vida da mineração. Para os autores, a herança

deixada para a comunidade mineira, após o fechamento da mina, está emergindo como uma

das mais significativas questões do planejamento da indústria mineral.

Nesse sentido, uma boa política de gerenciamento ambiental é importante, porém

insuficiente para alcançar todas as dimensões do desenvolvimento no nível local. Iniciativas

nas áreas da comunicação, educação, saúde e segurança, parcerias e diversificação são

elementos fundamentais para a sustentabilidade da comunidade no longo prazo.

As práticas mineiras acontecem no nível local, mas, devido ao caráter internacional

da indústria, elas são monitoradas globalmente pelos mais diversos atores (stakeholders):

organizações não-governamentais, companhias de seguro, investidores, bancos e a

sociedade em geral, podendo haver grande repercussão na mídia. Disso deriva a

importância estratégica das políticas locais.

De acordo com instituições globais respeitáveis, como o International Council on

Metais and Environment (ICME) e o Banco Mundial, as companhias mineradoras devem

perseguir os seus interesses de uma forma que também promovam os interesses das

comunidades locais.

O reconhecimento das necessidades e dos direitos das comunidades mineiras tem

se transformado em todo o mundo em um forte princípio para a tomada de decisão sobre os

investimentos minerais. Considerando-se o ambiente global em que as companhias

mineradoras operam, é natural que elas procurem conquistar uma boa reputação, para

serem percebidas como socialmente responsáveis, mas isso requer três condições

fundamentais (VEIGA et al., 2001, p. 192):

1. os impactos ambientais não devem representar um risco inaceitável para as

comunidades afetadas;

2. a comunicação entre companhia mineradora e comunidade deve ser transparente e

efetiva. Os cidadãos devem ser encorajados a partilhar das decisões que afetam

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diretamente o seu futuro. Isso contribuirá para que se evitem riscos à

sustentabilidade de ambos;

3. o desenvolvimento da mineração deve ser percebido como promotor de um benefício

líquido para a comunidade. Assim, a mitigação dos impactos, por si só, está longe de

ser suficiente. Para obter esse efeito, a diversificação produtiva da comunidade deve

fazer parte do planejamento, do desenvolvimento, da operação e do fechamento da

mina.

Como exemplos de negligência quanto às condições citadas acima, os autores

apresentam os seguintes casos:

1) Riscos ambientais inaceitáveis

a. OK Tedi Mine, na Papua Nova Guiné – uma associação entre

companhia BHP (52%), o Governo de Papua Nova Guiné (30%) e o Inmet Mining Co

(18%). A incapacidade de o empreendimento lidar com os resíduos e o estéril

provocou um dos maiores desastres ambientais da mineração no mundo;

b. Progera Mine, na Papua Nova Guiné – Placer Dome. A companhia

despejou os seus resíduos nas drenagens, provocando um sério desastre ecológico.

Essas práticas já haviam sido abolidas ha muito tempo em países como o Canadá e

a Austrália. Isso ocorre porque, muitas vezes, na ânsia de obter receitas e os outros

benefícios econômicos de curto prazo advindos da mineração, os governos acabam

consentindo certos crimes ambientais, como o ocorrido, mas a questão que se

coloca é a seguinte: é válido hipotecar o futuro em troca de pequenos benefícios de

curto prazo?

c. Island Copper Mine, no Canadá – BHP. No período de 1971 a 1995, a

companhia produziu cobre, ouro, prata e rênio. Os resíduos da mina foram

depositados no assoalho do oceano, a 200 m de profundidade, gerando um grave

passivo ambiental;

2) Problemas de comunicação e estabelecimento de uma relação de confiança

a. Cachoeira do Piriá (Brasil): companhia júnior do Canadá – Brazilian

International Goldfields (BGZ). A região havia sido um garimpo de ouro, durante os

anos 1980 e 1990. O tempo necessário para o desenvolvimento de uma mina não foi

bem compreendido pela população local, que perdeu as esperanças na instalação de

uma mineração empresarial. A comunidade rompeu o acordo entre a companhia e

prefeitura e acabou construindo as suas casas em cima dos antigos garimpos

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contaminados por mercúrio. A comunidade não soube reconhecer a distinção entre

uma grande mineradora e uma operadora júnior, com limitados recursos financeiros.

b. Yanacocha (Peru) – da companhia Newmont Mining Corporation,

mineração de ouro – um acidente provocou despejo de grande quantidade de

mercúrio próximo às comunidades. Muitas pessoas coletaram o material, alguns por

acreditarem que ela continha ouro e prata, e outros simplesmente para brincar,

ignorando os riscos. Isso ocorreu devido à grande deficiência de educação da

comunidade e às falhas no sistema de comunicação da empresa;

c. Rio Tinto (Espanha) – Rio Tinto (antiga RTZ). Na região, há um

histórico secular de danos ambientais provocados (o Ph do Rio Tinto é 2). Porém, o

grupo “reconhece que o nosso negócio pode acelerar mudanças sociais, e nós

aceitamos a obrigação de trabalhar com nossos vizinhos com o intuito de manejar

tais mudanças”. No Inglaterra, há uma ONG - a PaRTZans (People against RTZ60 e

suas subsidiárias) - que se dedica a combater os projetos da companhia RTZ.

Segundo essa ONG, “por sua natureza vasta, a mineração constitui um assalto ao

ambiente físico, ambiental, social e cultural”.

3) Necessidade de alternativas para a diversificação econômica das

comunidades

a. Las Cristinas (Venezuela) – houve co-habitação entre garimpeiros e

empresa, mas a crise ocorreu quando a mineração se esgotou, por falta de

planejamento de alternativas para a diversificação econômica;

b. Mineração na comunidade de Manitoba (Canadá) – mostra um

interessante exemplo de cooperação entre a Associação de Mineradores e o WWF e

outras iniciativas, no sentido de diversificar a economia; essas iniciativas constam do

documento denominado Whitehorse Mining Iniciative (WMI) e Manitoba Minerals

Guideline61.

2.3.2.1 Necessidade de fortalecer e diversificar produtivamente a comunidade

Veiga et al. (2001) destacam que toda companhia mineradora que já passou pela

experiência negativa de ter uma relação ruim com a população local sabe que uma

comunidade mineira sustentável é essencial para uma operação mineira efetiva e

respeitada. Uma comunidade mineira sustentável, por sua vez, deve estar assentada nos

60 População contrária à companhia Rio Tinto Zinco (RTZ). 61 Consultar site Propectors and Developers Association of Canada, PDAC (2000) (Diponível em http://www.pdac.ca/ )

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princípios da sustentabilidade ecológica, da vitalidade econômica e da eqüidade social. A

receita tradicional para a formação de uma comunidade dessas é baseada em três

preceitos: 1) estabelecimento de infra-estrutura para o apoio e capacitação de mão-de-obra;

2) geração e sustentação de emprego, por meio do aproveitamento de todas as jazidas

disponíveis; 3) legado de infra-estrutura física, tal como, estradas, energia e

telecomunicações, entre outros, quando a mineração se esgotar.

No atual contexto, destacam os referidos autores, a receita tradicional já não é mais

suficiente. Eles mencionam outras abordagens para formar comunidades mineiras

sustentáveis, tanto para as regiões desenvolvidas como para subdesenvolvidas. Um dos

valores importantes que agora se requer, afirmam, é a contribuição à integridade ecológica,

ou à viabilidade do meio ambiente biofísico, além de uma eficaz contribuição para

diversificação produtiva da economia local, sempre incorporando considerações sobre a sua

sustentabilidade no longo prazo.

Um outro aspecto importante se refere à natureza cíclica do mercado de bens

minerais. Comunidades e companhias mineiras erguidas no período do auge dos preços

podem não suportar períodos de crises. Como exemplo dessa situação, os autores citam as

comunidades da mineração do carvão na Europa e na América do Norte. Historicamente, as

comunidades mineradoras pouco ou nada opinam quanto aos processos que levam à

criação de projetos mineiros (flutuação dos preços, empresas estrangeiras, organizações

internacionais de comércio), apesar de terem suas vidas inexoravelmente afetadas junto

com o seu meio ambiente e o seu estilo de viver. No cerne do problema está a questão da

eqüidade. Dessa forma, afirmam Veiga et al (2001), é necessário promover a “resiliência em

direção à governança local”, ou seja, um processo flexível de adaptação ao local, no qual as

comunidades possam também rejeitar atividades potencialmente comprometedoras dos

seus recursos. Um sistema local de governança precisa ser estabelecido, ao invés de as

companhias mineradoras ou os governos determinarem o futuro ou a estrutura das

comunidades. Tal sistema deve incluir todos os grupos de atores da comunidade, e não

apenas os políticos. Tal participação deve ocorrer antes, durante e após o desenvolvimento

da mina. Warhust et al (1999) ressaltam que as avaliações dos impactos socioeconômicos

precisam ser realizadas continuamente durante toda a vida útil e após o encerramento do

empreendimento mineiro.

Dessa forma, o primeiro passo para uma comunidade mineira sustentável está

relacionado à capacidade local de construir e empreender governança. As comunidades

precisam conhecer os ganhos e perdas associados a uma base produtiva mineradora, os

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denomonados “trade-offs”62, que inevitavelmente irão ocorrer. Precisam desenvolver o senso

de controle dentro das comunidades, que é o que conduz à estabilidade local, política e

social. De acordo com Peget e Walister (1983) apud Veiga et al (2001, p. 200), a

governança local possibilita:

• novas oportunidades para que a comunidade amplie mais ainda seu conceito de

governança;

• elevar o desenvolvimento social a uma posição pelo menos igual a outros

objetivos do desenvolvimento; e

• envolver ativamente os residentes locais no processo de tomada coletiva de

decisão.

As companhias mineradoras, de acordo com Veiga et al (2001), também se

beneficiam desse processo, uma vez que a governança local reduz expectativas irrealistas,

isso favorece a possibilidade de se trabalhar com uma política local consistente, que esboce

claramente as suas necessidades e o que pode ser proposto realisticamente pelas

companhias mineradoras. No entanto, sem uma medida de empoderamento (empowerment)

local, as comunidades ficam reduzidas a uma posição de ignorância, desconfiança, e

inabilidade para efetivamente negociar.

2.3.2.2 Necessidade de adicionar valor às comunidades

Os benefícios que as comunidades podem ter com a mineração são vários: aumento

das oportunidades de diversificação da economia, ampliação do valor do território, expansão

dos benefícios tradicionais, tais como empregos diretos, apoio às atividades econômicas,

oferta de água e de energia, de transporte, de outras infra-estruturas, além de educação,

saúde e outras oportunidades. Entretanto, segundo Veiga et al (2001), as companhias

mineradoras precisam pensar muito além desses benefícios tradicionais. Necessitam

conhecer os benefícios biofísicos e socioeconômicos que o desenvolvimento de uma nova

mina pode gerar para a região mineradora, no longo prazo, e se certificar de que eles sejam

consistentes com os princípios da sustentabilidade. Isso significa que, para ser sustentável,

a decisão de se implantar uma nova mina não deve resultar em um jogo de soma zero,

principalmente porque existe um dramático trade-off entre as necessidades imediatas e a

integridade ecológica, no longo prazo. Essa questão e as soluções exigidas são complexas.

Ela requer atenção redobrada dos corpos dirigentes das companhias mineradoras, das

organizações internacionais, das instituições financeiras, governamentais, não-

governamentais e de associações mineiras, entre outras organizações. 62 O termo se refere às perdas e ganhos de uma tomada de decisão.

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Os desafios para que uma economia mineira siga uma trajetória de desenvolvimento

abrangem as escalas macro e micro. No plano macro, as rendas minerais aparecem como

variável nevrálgica; a sua determinação, a sua apropriação e, principalmente, o seu uso são

considerados por diversos autores e correntes (HARTWICH, 1975, BOMSELL, 1992;

MIKESELL, 1994; BANCO MUNDIAL, 2004) como estratégicos para o sucesso ou o

fracasso da tentativa de uma economia de base mineira promover o desenvolvimento

econômico. No plano micro, está se formando um consenso de que há um evidente

desequilíbrio entre os níveis nacional e local na partilha dos custos e dos benefícios gerados

pela atividade mineradora, cabendo a este último a maioria do ônus (reestruturação social,

cultural, política e ecológica, entre outras) e ao país como um todo o bônus (divisas, rendas

dos tributos, desenvolvimento tecnológico). Assim, surge a necessidade de cuidar melhor

dos impactos adversos e de potencializar os benefícios para as comunidades mineradoras,

historicamente negligenciadas.

É claro que nem sempre é nítida a separação entre as escalas macro e micro. O uso

das rendas, por exemplo, perpassa todas as escalas. Os impactos ecológicos e

socioeconômicos, aparentemente pontuais, são na realidade sistêmicos. A sua esfera de

abrangência extrapola o espaço local onde ocorrem. A tentativa de conciliar o

desenvolvimento sustentável com a atividade mineral requer a superação desses e de

outros desafios.

2.4 A CONSTRUÇÃO DA IDÉIA DE UMA MINERAÇÃO SUSTENTÁVEL

A expressão “desenvolvimento sustentável” revela uma preocupação ética com a

geração atual e, principalmente, com as gerações futuras. Porém, como dar garantias às

futuras gerações quando os recursos utilizados para promover o desenvolvimento são

exauríveis? O conceito normativo e amplamente difundido de desenvolvimento sustentável

(DS) aparentemente conflita com a atividade mineral, uma vez que os bens minerais, por

definição, são recursos não-renováveis. Para Eggert (2000), é, teoricamente, simples pensar

em sustentabilidade de recursos renováveis, porém isso fica mais complexo no caso de

recursos que existem em quantidades fixas.

Para Mikesell (1994) a proposta de DS deve apresentar definições rigorosas,

objetivos quantificáveis e indicadores de progresso ou de retrocesso em relação a esses

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objetivos. Acrescenta que uma das mais difíceis áreas para um tratamento analítico é a dos

recursos exauríveis, pela óbvia razão de que eles irão se esgotar.

Tilton (1996) afirma que o DS requer que o padrão atual de consumo de recursos

exauríveis não force as gerações futuras a reduzir o seu padrão de vida. Para ele, o debate

em torno da exaustão de recursos naturais e da conseqüente ameaça ao bem-estar das

futuras gerações está polarizado em dois “paradigmas”: o do estoque fixo e o do custo de

oportunidade.

• O paradigma do estoque fixo, defendido por ecologistas, cientistas e

engenheiros, vislumbra um futuro sombrio. Segundo essa perspectiva, o planeta

Terra não tem como suportar por muito tempo o nível de demanda atual e

previsto por combustíveis fósseis e outros recursos exauríveis. Mesmo que

descobertos novas reservas desses recursos, as jazidas são esgotáveis, pois sua

formação requer eras geológicas, com o agravante de os custos ambientais da

extração serem crescentes.

• O paradigma dos custos de oportunidade é assumido principalmente por

economistas e adota uma visão de futuro demasiadamente otimista. O fato de os

recursos exauríveis terem ou não uma oferta fixa é totalmente irrelevante63 para

essa abordagem, uma vez que será o custo de oportunidade64, subjacente à

exploração e ao processamento dos minerais, que indicará o nível ótimo da

extração e a sua possível substituição quando na fase do exaurimento. Segundo

essa perspectiva, o Planeta, com auxílio dos incentivos de mercado, das políticas

públicas adequadas e das novas tecnologias, pode ampliar indefinidamente a

provisão das necessidades materiais dos seres humanos.

Um dos adeptos do primeiro paradigma é Herman Daly65 (1994) apud Kumah (2006),

que alerta para a necessidade de que o uso dos recursos não supere a sua taxa de

renovação ou de substituição. Autores como Mikesell (1994), Gibson66 (2000) e Auty (1998)

apud Kumah (2006) parecem estar mais sintonizados com o segundo paradigma, embora

explorem aspectos complementares do uso sustentável de recursos exauríveis. Conforme

63 As estimativas de duração dos minerais podem oscilar muito, dependendo da variável calculada: sobre as reservas (medidas, estimadas, inferidas) ou sobre a base de recursos. As diferenças computadas podem ser de milhares de anos. 64 Também conhecido como “custo alternativo”. Significa que a decisão de usar um recurso do modo “A” sacrifica os modos alternativos “B”, “C” e “D” de uso (ou não-uso). 65 DALY, Herman E. Farewell lecture to World Bank. 1994. Disponível em http://dieoff.org/page64.htm 66 GIBSON, R . Favouring the higher test: contribituion to sustainability as the central criterion for reviews and decisions under the Canadians environmental assesssment act. Jounal of Environmental Law and Practice, 10 (1) :39-54, 2000

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mencionado, Mikesel (1994), por exemplo, alerta para a necessidade da destinação de uma

parte da renda mineral para a criação de alternativas produtivas sustentáveis, quando a

mineração se esgotar. Gibson (2000) argumenta que os custos socioambientais de curto

prazo suportados pelas comunidades mineradoras são amplamente recompensados pelos

aportes que a mineração gera. Auty (1998), da mesma forma, argumenta que os transtornos

causados às comunidades afetadas por empreendimentos mineradores são fortemente

compensados pelas rendas mineiras.

Esses diferentes “paradigmas” conduzem a posições opostas quanto à política

mineral. O paradigma do estoque fixo evoca o “princípio da precaução”, ou seja, havendo

dúvida, é melhor evitar atividades que comprometam, de forma definitiva, os recursos

naturais e ambientais. Embora reconheça que, em certa medida, é possível substituir

recursos naturais e ambientais por outras formas de capital, o paradigma do estoque fixo

questiona se tal substituição pode continuar indefinidamente, por causa dos limites físicos do

planeta. A adoção do paradigma do custo de oportunidade, por sua vez, favorece uma

política produtiva mais expansiva e, no limite, imprudente, pois desconsidera que o uso de

recursos naturais e ambientais de forma irrestrita pode resultar em irreversibilidades

ecossistêmicas. Os seus principais argumentos se resumem assim: mudanças tecnológicas,

substituição de recursos, novas descobertas e outras atividades induzidas pelo mecanismo

de preços de mercado podem auxiliar na manutenção do DS, mesmo com maior explotação

de recursos exauríveis.

O recente debate sobre sustentabilidade e mineração tem procurado superar essa

visão dicotômica resumida por Tilton (1996). Nos anos 1990, na tentativa de melhor qualificar

o termo “sustentabilidade”, pesquisas conduzidas, principalmente, pelo Banco Mundial

(SERAGELDIN, 1995; WARHURST, 1999) acrescentaram ao conceito os adjetivos “forte”,

“fraca” e “sensata ou prudente”. Esses adjetivos associam o conceito de desenvolvimento às

diferentes dimensões representadas pelo capital natural (dimensão biofísica), capital

manufaturado (dimensão econômica), capital social (dimensão política no sentido amplo) e

capital humano (dimensão que abrange as condições de saúde, educação e renda)67,

conforme descrito no Capítulo um.

Para a análise do desenvolvimento de regiões cuja base econômica está assentada

na exploração e uso de recursos não-renováveis, só podem ser adotados os conceitos de

67 Sachs (1996) considera que o processo de desenvolvimento deve atentar para cinco dimensões: social, econômica ecológica, espacial e cultural. Guimarães (1997), por sua vez, destaca a necessidade de se atentar para oito dimensões da sustentabilidade: planetária, ecológica, ambiental, demográfica, social, cultural, política e institucional.

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sustentabilidade fraca ou de sustentabilidade sensata. Eles podem ser usados a partir de

duas perspectivas: a da atual geração (intrageração), que pressupõe a minimização dos

danos ambientais e o aumento do bem-estar social; e a da geração futura (intergeração),

pela qual a atividade deve ser capaz de gerar um fluxo permanente de rendimentos, para

garantir o nível de bem-estar.

Essas propostas estão de acordo com Auty & Warhurst (1993), para quem a

mineração pode ser um vetor do desenvolvimento socioeconômico, mas que requer duas

condições: a primeira é promover investimentos que gerem riqueza alternativa, para substituir

o patrimônio mineral consumido; a segunda é a minimização dos danos ambientais

provocados pela atividade de mineração e de beneficiamento.

Essas duas condições são fundamentais para evitar a Dutch disease. Esses autores

apontam que o tema sustentabilidade e mineração tem sido enfocado erroneamente na idéia

de compensação pelo esgotamento das reservas minerais. Para eles, o problema do

esgotamento não é a questão-chave, uma vez que muitos exportadores de minerais têm

reservas para mais de cem anos. A abrupta marginalização do setor mineiro é a ameaça mais

imediata, dada a volatilidade dos preços, que não pode ser compensada por políticas

macroeconômicas.

Segundo Auty & Warhurst (1993), as vantagens que a mineração permite às

economias mineiras nos países subdesenvolvidos são: divisas e ampliação das receitas

governamentais, além de uma rota adicional para industrialização baseada nos recursos

(processamento de mineral, metalurgia e industrialização de produtos finais, conhecido como

RBI68). No entanto, as RBI’s apenas se justificam se os recursos naturais renderem no

processamento vantagens comparativas que compensem as outras deficiências, como a falta

de capital e de tecnologia.

Os requisitos básicos das duas perspectivas – intrageracional e intergeracional -

estão ilustrados na Figura 4.

68 Resource Base Industry (indústria baseada em recursos naturais).

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Figura 4: Critérios para sustentabilidade em mineração Fonte: Elaboração própria, com base em Auty & Warhurst,1993

Muito embora não esteja explícito em seu texto, Mikesell (1994) admite a hipótese da

sustentabilidade sensata, por causa do seu entendimento de que um caminho sustentável

para uma economia requer níveis mínimos de investimento em capital físico, em

conhecimento tecnológico e em capital humano, além da preservação da base ambiental.

Esses objetivos devem ser perseguidos nas escalas macro e micro.

Para Warhurst (1999), os impactos da atividade mineradora são distribuídos

desigualmente entre os diferentes stakeholders (grupos de interesse). As companhias

mineradoras se preocupam, tradicionalmente, com os seus empregados, acionistas,

governos e financiadores, porém muito pouca atenção é dada às questões relativas à

pobreza e vulnerabilidade das comunidades mineradoras.

Hilson (2000) cita a Declaração do Rio, que diz que os seres humanos devem estar

no centro das preocupações do DS. Portanto, um outro elemento crítico do DS é a

responsabilidade social. No contexto da indústria, isso implica considerar as necessidades

dos stakeholders mais vulneráveis. Hilson considera que as companhias mineradoras, mais

do que a média das outras indústrias, estão constantemente em contato com um grande

número de stakeholders. Desta forma, para estabelecer uma relação positiva com bancos,

companhias de seguros e outras organizações, elas precisam ajudar a criar um ambiente

harmônico nas comunidades em que operam. Este é um desafio para as mineradoras, cujas

operações são tidas como ambiental e ecologicamente destrutivas. Assim, Hilson & Murck

(2000) recomendam que as indústrias mineiras adotem as seguintes estratégias:

• captar a percepção das comunidades locais quanto ao desenvolvimento da mina;

Desenvolvimento Sustentável versus

Sustentabilidade Sensata

1o.critério intrageração 2o.critério intergeração

Minimização dos impactos negativos sobre o meio ambiente e aumento do bem-estar social

Investimentos em geração de riqueza alternativa

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• determinar de antemão os prováveis efeitos do desenvolvimento dos processos

evolutivos normais dentro da comunidade (modo de vida, relações sociais,

comportamentos e resiliência social);

• identificar os possíveis impactos sobre elementos históricos ou religiosos;

• prever a participação de pessoas locais na operação da mina;

• avaliar se há uma necessidade de realocação populacional como resultado do

projeto de mina;

• examinar o potencial para conflitos com a comunidade;

• calcular os custos econômicos para a proteção de valores culturais locais;

• identificar os prós e os contras do projeto sobre a comunidade.

Essas sugestões seguem as recomendações dos organismos internacionais que

formulam as políticas globais para a mineração, tais como o Conselho Internacional de

Metais e Meio Ambiente (ICME)69 e o Banco Mundial, conforme foi verificado Veiga et al.

(2001).

Portanto, desenvolvimento sustentável, no contexto das corporações mineiras,

requer a adoção das melhores práticas ambientais e socioeconômicas. Ambientalmente,

para que uma mina contribua para o DS, ela deve abandonar práticas de gestão ambiental

ad hoc e adotar uma posição preventiva e pró-ativa. Social, econômica e eticamente, a mina

deve identificar todas as partes potencialmente impactadas pelas suas operações e lidar

explicitamente com as necessidades de cada uma delas. Deve empregar residentes, prover

trabalho e serviços de treinamento e ajudar financeiramente os principais projetos de

desenvolvimento da comunidade (HILSON & MURCK, 2000).

A Figura 5 sintetiza as dimensões e implicações do DS para os diferentes

stakeholders. Ele ilustra as quatro dimensões do DS e as trajetórias ambientais, bem como

a perspectiva dos diferentes stakeholders, as oportunidades e os desafios criados a partir de

um projeto de mineral, procurando relacioná-los aos princípios da sustentabilidade –

ecossistemas saudáveis, justiça social e dinamismo econômico – por intermédio de

indicadores de desempenho social e ambiental (WARHURST, 1999).

69 Sigla em inglês de International Council on Metals and the Environment.

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Figura 5: Quadrado da sustentabilidade Fonte: Warhurst, 1999

Como a mineração é considerada uma das atividades mais impactantes, tanto social

quanto ambientalmente, a indústria mineira, em todo o mundo, é muito focalizada nos

debates sobre responsabilidade social e ambiental. Daí a crescente busca de incorporação

dos princípios do desenvolvimento sustentável nas práticas corporativas e das demais

organizações que se relacionam com a indústria mineira.

2.4.1 Iniciativas recentes sobre desenvolvimento sustentável e mineração

A idéia de uma mineração sustentável ou de uma mineração que gere um processo de

desenvolvimento sustentável é bem recente. Data do início dos anos 1990, com a II

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de

Janeiro, em 1992, e em 2002 (Rio+10, em Johanesburgo), sucedida por diversos fóruns

mundiais voltados para a discussão do tema. Os motivos que levaram as empresas a

abraçar a causa do desenvolvimento sustentável são de ordem econômica, política e sócio-

ambiental. No plano econômico, destacam-se a pressão exercida pelos investidores e

agentes financeiros, os grupos de influência e a mídia. No plano sócio-ambiental, destacam-

se o papel exercido pelos movimentos sociais e comunidades locais afetadas.

Operação

Comunidade Local

Comunidade Regional

Comunidade Nacional/Internacional

CAPITAL NATURAL CAPITAL

HUMANO

Projeto de Desenvolvimento

Mineral

CAPITAL MANUFATURADO

Indi

cado

res

de D

esem

penh

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mbi

enta

l e S

ocia

l

CAPITAL SOCIAL

ECOSSISTEMAS SAUDÁVEIS SISTEMAS SOCIAIS JUSTOS

DINAMISMO ECONÔMICO Parâmetros de

Sustentabilidade

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151

Eventos marcantes da trajetória da institucionalização de uma mineração sustentável

estão sintetizados no Quadro 10. Em 1998, as iniciativas das indústrias minerais líderes,

dirigidas pela companhia Rio Tinto, em prol de uma mineração sustentável ganharam

reforço com a resposta dos stakeholders, em 2001, e dos organismos financeiros

internacionais, também em 2001. Isso significa que as ações efetivas em favor de uma

mineração sustentável datam de menos duas décadas.

ano ou período instituição evento/documento conteúdo

1987 Organização das Nações Unidas (ONU)

World Commission on Environment and Development, Our Common Future (conhecido como Relatório Brundtland).

Difusão da idéia de desenvolvimento sustentável.

1991

World Business Council for Sustainable Development (WBCSD)

O documento-base da iniciativa das indústrias líderes em prol de uma mineração sustentável foi publicado no livro Changing Course: A global business perspective on development and the environment.

Começou na Noruega e atualmente reúne 180 companhias de porte internacional, estabelecidas em 30 países; envolve 20 setores comprometidos com o crescimento econômico e com desenvolvimento sustentável.

1992 Organização das Nações Unidas (ONU)

Earth Summit in Rio. Carta do Rio. Agenda 21

Consolidação da idéia de desenvolvimento sustentável.

1998

Grupo de companhias mineradoras líderes International Council on Metals and the Environment (ICME)*

Global Mining Iniciative (GMI)**

Dois anos de pesquisa e diálogo, denominada Mining, Minerals and Sustainable Development (MMSD).

2001 Mining and Communities (MAC) Declaração de Londres

Iniciativa dos atores impactados pela atividade mineral, como reação ao MMSD.

2001 - 2003 Banco Mundial, em parceria com a ONG Friends of the Earth

Extractive Industry Review (EIR).

Reavaliar o papel do BM no apoio às atividades extrativas, como meio de eliminação da pobreza.

2002 Organização das Nações Unidas (ONU)

World Summit on Sustainable Development (WSSD)

Necessidade de criar mecanismos para aferição dos avanços da proposta de desenvolvimento sustentável.

2005 Banco Mundial

Extractive Industries and Sustainable Development - an Evaluation of the World Bank Group Experience

Nortear a conduta do BM no financiamento das indústrias extrativas e no combate à pobreza.

Quadro 10: Evolução da Institucionalização do conceito de desenvolvimento sustentável voltado para a indústria mineral * www.icme.com ** www.iied.org/mmsd Fonte: Elaboração da autora, a partir das publicações disponíveis em (http://www.wbcsd.org) www.iied.org/mmsd

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2.4.1.1 Global mining initiatives (GMI)70 e minerals, mining and sustainable development (MMSD)

Segundo Whitemore (2006), a idéia de uma mineração sustentável entrou na agenda

de muitos acordos e interesses internacionais, graças ao patrocínio da indústria mineral. A

decisão de constituir uma iniciativa global (GMI) para tratar de assuntos críticos relacionados

especificamente à mineração e ao desenvolvimento sustentável ganhou força a partir da

reunião conduzida pela mineradora Rio Tinto, na sede de seu escritório de Londres, em

1998, com participacão de um grupo de lideres da indústria mineral. Os fundadores foram a

Anglo American, BHP Billiton, Freeport McMoRan, Newmont e WMC, além da Rio Tinto

(WHITEMORE, 2006, p. 310).

O GMI partiu do reconhecimento da existência da má reputação da indústria mineral

e de que são amplas as implicações deste segmento para o desenvolvimento sustentável,

acarretando a necessidade de um engajamento mais ativo das companhias mineradoras

com seus stakeholders. O projeto proposto pelo GMI denominou-se Minerals, Mining and

Sustainable Development (MMSD). Ele previa dois anos de pesquisas e iniciativas de

diálogo com os stakeholders em todo o mundo. O MMSD é considerado pela indústria

mineral como a maior análise independente das questões que a indústria tem enfrentado. A

principal pergunta que ele buscou responder foi: como a mineração e os minerais podem

contribuir melhor para o desenvolvimento sustentável?

O MMSD é um projeto do World Business Council for Sustainable Development

(WBCSD), efetivado pelo International Institute for Environmental and Development (IIED).

Os seguintes assuntos são abordados pelo MMSD:

• indicadores de desenvolvimento sustentável;

• manejo de resíduos;

• fluxos de materiais;

• pequenas e médias empresas de mineração;

• fechamento de minas;

• rendas da mineração e capacitação (empowerment) das comunidades.

Segundo Whitemore (2006), a iniciativa do GMI, por intermédio do MMSD, foi

profundamente criticada e boicotada por organizações de povos indígenas, ONG’s

70 (www.globalming.com.au e www.iied.org/mmsd)

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especializadas no assunto71 e pelas comunidades afetadas, por causa da não- inclusão

desses segmentos desde o início da concepção do projeto. Segundo esses atores, os

objetivos e os resultados do MMSD foram moldados de acordo com a agenda de prioridades

das indústrias e não refletem as aspirações dos afetados pelas atividades mineradoras.

Para Whitemore (2006), o MMSD não gozou de ampla aceitação e credibilidade enquanto

corpo independente. Portanto, o projeto falhou por não gerar um diálogo significativo entre a

maioria dos impactados pela mineração.

2.4.1.2 Declaração de Londres.

A “Declaração de Londres” é um documento gerado pela ONG Mining and

Comunities (MAC), a partir de um encontro de comunidades mineradoras ativistas, ocorrido

em maio de 2001, em Londres. A Declaração é a base das críticas à idéia de uma

“mineração sustentável” que passou a ser difundida pelas indústrias, por intermédio do

MMSD.

As quatro falácias por trás desses mitos, segundo Whitemore (2006, p. 310), são: 1)

a suposta necessidade de mais e mais minérios provenientes de mais minas; 2) a alegação

de que as minas catalisam desenvolvimento; 3) a crença de que as técnicas podem resolver

praticamente todos os problemas e. 4) a inferência de que aqueles que se opõem à

mineração são, principalmente, as comunidades “ignorantes e anti-desenvolvimentistas.

Segue-se uma síntese desses mitos ,de acordo com a visão da autora.

A suposta necessidade de mais e mais minérios provenientes de mais minas é uma

meia verdade. A questão-chave por trás disso é: como a lei da oferta e da demanda em um

mundo de consumo crescente pode resultar em uma indústria sustentável? Uma simples

mina na Papua Nova Guiné (OK Tedi, mina de cobre) gera diariamente uma quantidade de

200.000 toneladas de resíduos, o que significa uma média muito maior que todas as cidades

do Japão, da Austrália e o do Canadá juntas.

Indicadores de desempenho da indústria mineira dos anos 1990 revelam um balanço

negativo entre a mineração e a proposta de desenvolvimento sustentável. Nos anos 1990,

[...] a mineração consumiu perto de 10% do total da energia global, foi responsável por 13% das emissões de dióxido de enxofre e é estimado que ameace, aproximadamente, 40% das florestas tropicais das regiões subdesenvolvidas. A atividade mineral responde por tão somente 0,5% do emprego e 0,9% do PIB mundiais. (WHITEMORE, 2006, p. 311).

71 Com exceção de algumas ONGs sediadas no Norte, como o World Wildlife Fund for Nature (WWF), Care International, ICMM e IUCN.

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Diante dessas evidências, a proposta do MAC é o aumento do uso de materiais

reciclados e utilização apenas dos estoques já existentes. Essa é também a proposta da

principal ONG canadense, crítica da mineração, a Mining Watch Institute.

A alegação de que as minas catalisam desenvolvimento é também considerada uma

falácia, pois de acordo com as Nações Unidas, a proporção de pessoas vivendo com menos

de US$1 por dia nos países exportadores de base mineira se elevou de 61%, em 1981, para

82%, em 1999. Whitemore (2006, p. 311) cita um estudo da Britains’s Lancaster University

que conclui que países ricos em recursos minerais estão entre as economias de pior

desempenho econômico entre 1960 e 1993. Os argumentos do MAC também se amparam

em estudos desenvolvidos por outras ONG’s internacionais, tal como Oxfam American que,

na publicação Digging for Development rejeita a tese de que a mineração serviu como

elemento impulsionador do desenvolvimento de países, como o Canadá, EUA e Austrália.

A crença de que as técnicas podem resolver praticamente todos os problemas é

também rejeitada, uma vez que a tecnologia pode beneficiar a indústria, mas não

necessariamente o meio ambiente e as comunidades locais

A inferência de que aqueles que se opõem à mineração são, principalmente, as

comunidades “ignorantes e anti-desenvolvimentistas” e ONG’s – a questão-chave é: quem

tem o direito de tomar decisão sobre o futuro das comunidades: companhias, governos,

ONG’s ou as próprias comunidades? Nesse aspecto, o MAC propõe o conceito free, prior

and information consent (FPIC), que significa ter informação prévia para exercer o livre

consentimento. Isso quer dizer que é crucial que os representantes das companhias

mineradoras compreendam que precisam conhecer e lidar francamente com todas as

comunidades afetadas, desde a concepção do projeto. Isso significa também aceitar um

“não” ao projeto, se esse for o desejo das comunidades.

2.4.1.3 Extractive industry review (EIR)72

Em setembro de 2001, o Banco Mundial contratou uma consultoria independente

com a ONG Friends of the Earth para acompanhar a elaboração do documento The

Extractive Industries Review (EIR). O objetivo foi o de avaliar o futuro papel do BM em

relação às indústrias de petróleo e gás natural e demais minerais. As tarefas do EIR foram:

(1) identificar os impactos negativos das ações do BM nas operações extrativas;

72 http://bankwatch.ecn.cz/pdfdownloads/response_wbg_eir_draft_01-04.pdf (documento do Banco Mundial) consultado em 07/11/2006

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(2) avaliar se atividades do BM nesses setores podem avançar no sentido do

desenvolvimento sustentável e do alívio da pobreza;

(3) recomendar se e sob quais circunstâncias o BM deverá continuar a apoiar

projetos extrativos.

Em 2003, foi publicado o primeiro Relatório do EIR, coordenado pelo ministro do

Meio Ambiente da Indonésia, Emil Salim. É considerado pelo BM um divisor de águas sobre

como as indústrias extrativas podem promover a redução da pobreza. O documento

recomenda que o BM faça mudanças radicais quanto ao modo tradicional de conduzir os

projetos minerais, no que se refere à redução da pobreza.

O relatório adverte que o foco do BM sempre foi o crescimento econômico e o

reforço dos setores privados. No entanto, se a intenção é promover o DS e reduzir a

pobreza, é necessário que o BM mude o seu foco para colocar tais objetivos como alvos

centrais e explícitos de sua política, atribuindo a eles os mesmos pesos que dá aos

clássicos objetivos econômicos e financeiros. Adverte também que é necessário ter uma

clara moldura das pré-condições indispensáveis que devem ser atendidas antes do efetivo

processo de extração dos recursos minerais. Assim, as duas principais mensagens do

Relatório73 são:

• as indústrias extrativas podem contribuir para o desenvolvimento sustentável, se

os projetos forem implementados de forma adequada, se salvaguardarem os

direitos das pessoas afetadas e se fizerem o bom uso dos benefícios obtidos;

• o grupo do BM que cuida das indústrias extrativas deve exercer um papel

permanente de apoio a essas indústrias sempre e quando a sua participação

contribua com a luta contra a pobreza e em prol do desenvolvimento sustentável.

As recomendações feitas no documento Strinking a Better Balance, considerado

um novo paradigma das atitudes do BM em relação ao setor mineral, são as

seguintes:

– governanças corporativas e públicas voltadas para os pobres;

– maior efetividade das políticas ambientais e sociais; e

– respeito aos direitos humanos.

Segundo Pegg (2006, p. 386), são os seguintes os problemas potenciais para a

consecução desses objetivos: 1) as respostas iniciais da indústria mineira e do próprio BM

73 Hacia un Mejor Equilibrio:El Grupo Del Banco Mundial y las Industrias Extractivas. informe final de la reseña de las industrias extractivas. respuesta del Equipo de Gestión del Grupo del Banco. Setembro de 2005 (site do Banco Mundial)

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não parecem muito favoráveis a essas mudanças, pois rejeitam a idéia de no-go em certas

áreas e a necessidade de reformas prévias à explotação. Eles argumentam que o problema

não é o resource curse, mas a governance curse; 2) a transparência, em termos de riscos e

de compromissos com os stakeholders, parece não ser uma atitude muito bem aceita pela

indústria; e 3) programas sociais e ambientais voluntários são importantes, mas não

suficientes para atingir os objetivos sociais. São necessários regulamentos obrigatórios para

o alcance de metas sociais e ambientais, uma vez que as tentativas voluntárias têm se

mostrado insignificantes.

De acordo com avaliação da ONG Friends of the Earth74 a elaboração do Extractive

Industry Review (EIR) é criticável em vários aspectos relativos tanto à elaboração como ao

conteúdo do documento:

• as informações oferecidas pela sociedade civil durante as consultas regionais

foram ignoradas ou menosprezadas;

• o coordenador do estudo esteve ausente das discussões e não orientou a revisão

das questões centrais, centrando o seu foco em questões periféricas;

• a revisão não cumpriu com todos os compromissos do plano de trabalho;

• esses acontecimentos acabaram por corroer a confiança da sociedade civil de

que os seus pontos de vista seriam considerados e de que o EIR realmente está

em uma posição de entregar um produto final suficientemente rigoroso para ser

levado a sério por todos os stakeholders.

A maioria das explicações que associa o mau desempenho socioeconômico à

atividade de mineração usa variáveis como: apreciação do câmbio, ação de grupos de

interesses que resistem a mudanças na política minerária, mau uso das divisas

proporcionadas pela mineração, mau desenho da política tributária para a mineração, entre

outros. Essas explicações são muito importantes, em termos macro, porque proporcionam

elementos para se pensar estratégias de desenvolvimento na esfera de abrangência

nacional.

Há um outro conjunto de estudos focados para a esfera micro, preocupados com os

pormenores do que ocorre com a comunidade que está sendo impactada pelo

empreendimento mineiro. Nesse sentido, esses estudos dizem pouco sobre o que ocorre

com o município minerador e seu entorno, espaço que não é tão restrito como uma

74 Friends of The Earth. The World Bank Extractive Industry Review: Update and Interim Assessment. World Bank, Abril, 2003 (disponível em http://bankwatch.ecn.cz/pdfdownloads/response_wbg_eir_draft_01-04.pdf)

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comunidade e tampouco tão abrangente quanto uma nação. Conhecer o que ocorre na

escala municipal é importante porque é o município que recebe boa parte dos resultados

fiscais da mineração e é ele que decide como esses recursos devem ser gastos.

Pensar o desenvolvimento é acima de tudo pensar o espaço. A atividade mineradora

é espacialmente concentrada em algumas partes do território. Para fins deste estudo, o

município minerador foi adotado como unidade de análise. Por conseguinte, os argumentos

apresentados para a economia nacional nem sempre são válidos quando se considera a

escala municipal.

Nesse sentido, um conjunto de novas questões emerge: quais as variáveis

relevantes para compreender a dinâmica municipal? Quais lições podem ser extraídas? As

teorias são válidas para diferentes níveis de governo?

Dessa forma, verifica-se que as pesquisas precisam avançar na direção de (1)

conhecer melhor o que ocorre com a “área de influência da mineração”, espaço que não

abrange todo o território de um país (como ressaltam as análises focadas na escala

nacional) e tampouco apenas áreas locais (como ressaltam os estudos de caso sobre a

comunidade), e (2) de discutir em quais contextos ou circunstâncias certas políticas são

exitosas e outras não o são, além de (3) analisar quais os instrumentos e os atores

relevantes para desencadear os casos de sucesso. É sobre esses temas que os demais

capítulos desta tese serão desenvolvidos. Um outro aspecto que precisa ser aprofundado

nas análises sobre mineração e desenvolvimento é de que a maioria dos textos analisados

não faz, ou faz muito pouca, referência às questões sócio-ambientais que atualmente são

variáveis estratégicas para se analisar o desenvolvimento econômico.

O capítulo seguinte enfoca parte dessas questões. Ele trata da da experiência de

quatro municípios de base mineradora das províncias de Ontario e British Columbia, no

Canadá. Conhecer a experiência canadense é importante porque o país ostenta uma das

primeiras posições no ranking global do desenvolvimento humano, porém faz questão de

incentivar o desenvolvimento de sua atividade mineral, que tem longa tradição em seu

território. Portanto, conhecer a experiência canadense é importante para fundamentar o

estudo dos municípios mineradores no Brasil, o que contribuirá para enriquecer tanto o

debate a respeito da influência da mineração para o desenvolimento como para o uso das

rendas minerais.

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3 MUNICÍPIOS MINERADORES E DESENVOLVIMENTO - A EXPERIÊNCIA CANADENSE

Como um dos principais produtores de minerais e metais do mundo, o Canadá

acumulou ampla experiência de como se beneficiar das vantagens possibilitadas por um

setor mineral forte. Nesse sentido, o objetivo dete capítulo é conhecer e avaliar esse

exemplo que é de grande importância para novos estudos sobre a influência da mineração

no desenvolvimento regional.

A pesquisa no Canadá se restringiu às províncias de Ontario e British Columbia. A

idéia original era de que o estudo sobre a realidade canadense permitisse conhecer as

estratégias e os instrumentos utilizados pelas províncias e municípios para captar as rendas

minerais, bem como conhecer o destino dado a essas rendas e, dessa forma, sober como

elas têm promovido o desenvolvimento regional. Além de examinar a captação e uso das

rendas minerais, o objetivo também foi o de conhecer como a política mineral canadense

está enfrentando o desafio social e ambiental da mineração, especialmente as novas minas

que estão sendo abertas no norte do país, predominantemente povoado por populações

aborígenes ou, pela “Primeira Nação” (First Nations), como eles denominam. Porém, não foi

possível verificar in loco essa experiência. No entanto, há uma excelente produção científica

sobre o assunto que, de certa forma, suprimiu essa limitação.

A mineração tem uma importância histórica e atual para o Canadá. Fundamental

para a expansão da fronteira, a mineração representa hoje uma atividade econômica

estratégica para o país e, de um significado local, ela passou a ter uma dimensão global,

influenciando as políticas minerarias de todo o mundo.

Segundo Innis (1956), a crescente importância dos minerais para civilização

moderna deu ao estudo da indústria mineira nas mais diversas nações do Novo Mundo um

lugar de destaque. Isso é particularmente relevante para a formação socioeconômica

canadense.

A conquista de América pelos europeus foi o resultado da procura por metais

preciosos e o caráter de sua ocupação foi profundamente influenciado por essa busca. A

mineração, portanto, teve um papel histórico decisivo para as colônias canadenses:

distâncias curtas entre ontre os principais mercados mundiais e navegação fluvial de baixo

custo tornaram possível exportar commodities pesadas e baratas como o carvão, o granito,

pedras para pavimento, além de calcário (para restabelecer as terras exauridas de diversas

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cidades inglesas). Innis (1956) destaca que a construção de estradas de ferro para o

desenvolvimento do norte canadense, juntamente com o comércio da madeira, via lago

Ontario, foi seguida pela remessa de fosfato para atender a crescente demanda por

fertilizante da Europa, além de minério de ferro pelo Canal de Welland. Apesar do peso,

foram exportados minerais básicos e não-metálicos para regiões altamente industrializadas,

tais como: carvão, sal, e amianto para os Estados Unidos; cobre para a Inglaterra e para os

Estados Unidos; petróleo para a Europa, gesso e calcário para diversos outros países da

Europa, entre outros.

De acordo com Carrington (2005), a indústria mineira continua sendo muito

importante para o Canadá. A mineração ajudou construir o país, abriu fronteiras

canadenses. Baía Glacê, Rouyn-Noranda, Val d'Or, Chibougamau, Setembro-Iles e

Labrador City, Sudbury, Timmins, Kirkland Lake, Cobalto, Flin-Flon, Thompson, Forte

McMurray, Rastro, Kimberley, Dawson City - todas essas cidades começaram mineiras, e

hoje são municípios fortes.

De acordo com Hessing et al (2005), o tamanho e a riqueza do Canadá são de

significação global, porque o país tem uma das maiores massas de terra e um dos mais

longos litorais do planeta. Tem ainda quantidades enormes de água doce, madeira, recursos

pesqueiros, minerais e petróleo. As políticas gestadas dentro do Canadá tiveram, e

continuarão tendo, um grande impacto em outros países. Além disso, os canadenses são os

segundos cidadãos mais ricos em Terra, quando é levado em conta o valor em recursos

inexplorados e relativamente baixo contingente populacional.

3.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO CANADÁ

O Canadá tem uma área total de 9.984.670 Km2 (17% maior que o Brasil). A sua

população é de 32.730 mil (2006), com uma taxa média anual de crescimento de 1,5%

(entre 2001 e 2006). A taxa de alfabetização de adultos é mais de 99%, ou seja, há em torno

de 1% de analfabetismo que estão restritos às populações indígenas do extremo norte do

país; a expectativa de vida ao nascer é de 80 anos, a população abaixo da linha da pobreza

é de 16%75 e o índice de concentração de renda é de 0,331 (índice de Gini de concentração

de renda para o ano de 1998). Esses indicadores são relativamente bem distribuídos ao

longo de suas Províncias e Territórios.

75 Esta é uma estimativa da Central Intelligency Agency (CIA), pois no Canadá não existe um indicador oficial sobre a linha da pobreza (https://www.cia.gov/cia/publications/factbook/geos/ca.html )

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O Canadá é formado por 10 províncias e três territórios*: Alberta, British Columbia,

Manitoba, New Brunswick, Newfoundland e Labrador, Nortwest Territories*, Nova Scotia,

Nunavut*, Ontario, Prince Edward Island, Quebec, Saskatchewan e Yukon Terrotory* (Mapa

1).

Mapa 1: Divisão territorial do Canadá Fonte: NRCan

O PIB do Canadá é de US$ 1,089 trilhão (2006) e vem registrando uma taxa média

anual de crescimento 3%, os anos 2000. Em 2006, o valor da produção mineral (exclusive

petróleo e gás) foi de CAD$ 33,6 bilhões (ou US$ 26,4 bilhões), o equivalente a 3% do PIB

(exclusive a produção de petróleo e gás). Conforme ilustra a Tabela1, a seguir, é crescente

o valor da produção mineral do Canadá, com o predomínio dos minerais metálicos.

Tabela 1: Canadá - valor da produção da indústria mineral, 2000 e 2006 (CAD$ milhões)

categoria 2000 2006(p) taxa média anual de crescimento (2000/2006)

minerais metálicos 10.980,0 21.199,3 9,9% minerais não-metálicos 7.427,5 10.199,0 4,6% energéticos* 1.427,40 2.205,0 6,4% total de minerais 19.834,90 33.603,3 7,8%

*exclui petróleo e gás natural. Taxa de câmbio = U$1,00= CAD$1,31. (p) preliminar Fonte: Natural Resources Canadá (www.nrcan-nrcan.gc.ca ); Statistics Canada (www.statcan.ca ).

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161

O Gráfico 1 apresenta a produção mineral por província. Ontario, British Columbia e

Quebec são as mais expressivas, respondendo por 32%, 19% e 16%, respectivamente, do

valor da produção mineral canadense.

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

7.000.000

Ontario

British

Colu

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ries

Yukon

Alberta

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land

Nova S

cotia

Metálicos Não-metálicos Energéticos

Gráfico 1: Canadá - valor da produção de minerais (metálicos, não-metálicos e energéticos), por província, em CAD$ 1.000 - 2006. (*) exclusive a produção de petróleo e gás natural Fonte: Minerals and Mining Statistics on Line (http://mmsd1.mms.nrcan.gc.ca/mmsd/production/production_e.asp)

A Tabela 2 apresenta as dez principais commodities minerais produzidas no Canadá,

bem como sua participação no mercado global. Elas representam 76% do valor da produção

mineral do Canadá. O principal destaque é para o níquel, que isoladamente responde por

14% do valor da produção mineral canadense.

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162

Tabela 2: Canadá - valor da produção das principais commodities minerais, 2005 (CAD$ 106) minerais valor da

produção classificação no

Canadá classificação

mundial níquel 3.303 1 2 potássio 2.838 2 1 cobre 2.455 3 8 carvão 2.329 4 12 ouro 2.042 5 7 calcário 1.691 6 nd diamante 1.684 7 3 minério de ferro 1.496 8 9 brita e areia 1.665 9 nd rochas 1.133 10 nd total 20.636

nd – dados não-disponíveis Fonte: Facts & Figures, 2006 (Mining Association of Canada – MAC - http://www.mining.ca )

As exportações de bens minerais e metais representam 16% da pauta de

exportações do Canadá, chegando a US$ 55 bilhões anuais (2004). O país é o líder global

na produção de potássio e urânio, o terceiro em diamente, concentrado de titânio, alumínio,

gipsita, níquel e minerais do grupo da platina, o quarto na produção de amianto, zinco,

cádmio, molibdênio e o quinto lugar na produção de cobre, ouro e chumbo.

A partir desse panorama da economia mineral canadense foram escolhidas para a

realização dos trabalhos de campo as províncias de Ontario e British Columbia. Os

municípios escolhidos, bem como as companhias mineradoras estudadas, estão descritos

no Quadro 11, a seguir:

item província

município visitado

(população*)

companhia mineradora mineral início da

produção

previsão de exaustão da

jazida Sudbury (158.000) INCO cobre, níquel

e cobalto final do

século XIX por volta de

2040 Timmins (43.000) Placer Dome ouro 1909 2020 Ontario

Kirkland Lake** (8.200) Kirkland Lake Gold ouro início dos

anos 1970 2011

British Columbia

Logan Lake (2.200)

Highland Valley Copper

cobre e molibdênio 1970 2013

Quadro 11: Delimitação dos estudos de campo no Canadá (2005) (*) referente ao ano de 2006 (**)o município produz ouro desde 1933 Fonte: Pesquisa de campo (setembro e outubro de 2005)

A mineração na província de Ontario existe há mais de 130 anos. Ontario lidera o

ranking da produção mineral canadense, especialmente de minerais metálicos. De CAD$

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163

5,7 bilhões, em 2000, o valor da produção mineral saltou para CAD$ 9,4 bilhões76, em 2006,

o que significa uma taxa média de crescimento de 9% ao ano.

Na província de Ontario foram visitados três municípios mineradores localizados no

norte da província (Mapa 2).

Mapa 2: Localização dos municípios estudados no norte de Ontario: Sudbury, Timmins e Kirkland Lake. Fonte: Fonte: http://www.timminsedc.com/1location.html (consultado em 20/03/2007)

1) Sudbury é considerado um dos casos de maior sucesso de conversão de uma

simples cidade mineradora em um modelo de cluster mineral77, muito embora, tenha pago

um pesado pedágio ecológico para isso.

2) Timmins é uma cidade de base mineira intermediária que, talvez pela proximidade

de Sudbury, não enveredou por uma trajetória de cluster, não obstante esteja em uma

região muito rica em jazidas minerais. A cidade é a base de um programa chamado

Discover Abitibi78, cujo objetivo é promover a cooperação e a revitalização do setor mineral,

por intermédio da expansão das reservas e do incremento da vida útil das minas existentes,

visando manter a viabilidade da economia mineral do município.

76 OMIC http://www.omicc.ca/about-2.html 77 De acordo com o Ontario Mineral Industry Cluster (OMIC), cluster é definido como um arranjo de indústrias e organizações interrelacionadas que compartilham tecnologias, conhecimentos, informações, clientes e fornecedores, além de idéias em áreas de interesse comum, visando ampliar a produtividade e a competitividade de seu segmento (disponível no site da OMIC http://www.omicc.ca/about-2.html ) 78 É um programa regional de desenvolvimento econômico baseado em investigações geocientíficas. Envolve 19 projetos desenvolvidos e direcionados por stakeholders locais, tais como: representantes municipais da área de influência, investidores do setor empresarial, Corporação do Fundo de Pensão do Norte de Ontário (NOHFC) e outros.

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3) Kirkland Lake é uma pequena cidade mineradora, cuja base econômica oscila em

volta de uma grande empresa produtora de ouro que irá encerrar suas atividades em 2010.

A cidade também faz parte do programa Discover Abitibi.

Roberts (2005) destaca que, em British Columbia, a mineração exerceu e continua

exercendo um papel central no desenvolvimento da economia regional. Muitas comunidades

desta província devem a sua existência à presença de depósitos minerais, dentre os quais

se podem destacar as cidades de Nanaimo, Kimberly, Trail, Granisle, Thumbler Ridge e

Logan Lake, entre outras. Apesar de alguns anos de declínio relativo nos anos 1990, a

província se mantém como a segunda maior da indústria mineira do Canadá. Em 2006, o

valor da produção mineral foi CAD$ 5,6 bilhões; em 2000, esse valor era CAD$ 2,8 bilhões,

o que significa uma taxa de crescimento médio de 12% ao ano. De acordo com o órgão

oficial do governo canadense responsável pelas informações referentes aos recursos

naturais, Natural Resources Canada (NRCan), há em torno de de 9.300 pessoas

empregadas diretamente na mineração e outras 8.000 em setores relacionados.

Na província de British Columbia, por causa das longas distâncias, Logan Lake foi a

única cidade mineradora visitada. O município abriga uma das maiores minas de cobre e

molibdênio da província – Highland Valley Copper – que está em vias de fechamento, por

exaustão. O fechamento está previsto para o ano de 2013.

3.2 OS MUNICÍPIOS MINERADORES CANADENSES E AS DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

3.2.1 A dimensão ambiental

No Canadá, a institucionalização da questão ambiental (marcos regulatórios,

legislações específicas, determinação de padrões de emissão, definições de procedimentos

e normas de condutas, entre outros) parece ser o divisor de águas entre uma mineração

ecologicamente agressiva e uma mineração comprometida com a qualidade do meio

ambiente onde se está localizada. No Canadá, a pressão social e a força da lei parecem ser

os principais indutores dessa nova conduta.

Nas novas áreas, a mineração é menos agressiva por causa:

• da pressão dos stakeholders;

• da rigorosa legislação ambiental;

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• do processo de aprendizagem ocorrido nas antigas áreas mineradas;

• da disponibilidade do uso das novas tecnologias voltadas para o meio ambiente;

No entanto, a atividade mineradora deixou muitos passivos ambientais. De acordo

com o MiningWatch Institute, em todo o Canadá há em torno de 10.000 minas

abandonadas. O custo para recompor as áreas degradadas apenas de minas sob a

responsabilidade federal é de, pelo menos, um bilhão de dólares. A MAC (Associação

Mineira do Canadá) calculou que o custo de recomposição de todas as minas abandonadas

no Canadá é de seis bilhões de dólares canadenses. Apenas para efeito de comparação,

nos EUA estes custos estão ao redor 40 bilhões de dólares (MiningWatch, Below the

Surface - 2001). Segundo o Ministério de Minas de Ontário, há na província por volta de

6.000 minas abandonadas. Considerando apenas as minas de gande porte, esse número

cai para 600, o que não deixa de ser um grave problema

Um dos casos mais emblemáticos de passivo ambiental legado pela atividade

mineral é o de Sudbury, na província de Ontário, sede da mineradora International Nickel

Company of Canada (INCO), recentemente adquirida pela CVRD.

O Caso de Sudbury (Província de Ontario)

As origens de Sudbury datam de 1883, quando se estabeleceu como um pequeno posto de

apoio ao desenvolvimento da estrada de ferro transnacional. As primeiras atividades econômicas da

região foram baseadas na extração madeireira (Fotografia 1). Os trabalhos na ferrovia possibilitaram

a descoberta, em 1884, de uma formação geológica conhecida como a “Bacia de Sudbury” rica em

polimetálicos, principalmente, níquel e cobre (Fotografia 2). O crescimento posterior da cidade

somente foi possível graças aos vastos recursos minerais da região.

Fotografia 1 – Sudbury: histórico de extração de recursos madeireiros, final do século XIX. Fonte: Laurentian University (Sudbury) e CEM (Environmental Monitoring) - imagem gentilmente cedidas pelo professor Graeme Spiers

Fotografia 2 – Sudbury: descoberta do níquel durante a construção da ferrovia TransCanada, 1884. Fonte: Idem

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Sem fugir a regra de cidades mineiras cujas atividades começaram há mais de um século e,

principalmente, porque as unidades de fundição (os smelters) para a concentração dos minerais

foram construídos dentro da cidade, Sudbury pagou um pesado pedágio ecológico. O efeitos foram

sentidos no solo (acidificação, contaminação por metais pesados, erosão e destruição da paisagem),

no ar (emissão de materiais particulados e de gases poluentes), nas águas (acidificação, perda da

ictiofauna) e, conseqüentemente, na perda da biodiversidade e no comprometimento da qualidade de

vida da população local e adjacente. As Fotografias 3 e 4 ilustram o cenário desolador da cidade nos

anos 1950, com o ar extremamente poluído e os solos completamente devastados.

Fotografia 3: Fundições de Sudbury nos anos 1950 Fonte: Laurentian University (Sudbury) e CEM (Environmental Monitoring) - imagens gentilmente cedidas pelo propfessor Graeme Spiers

Fotografia 4: Paisagem devastada de Sudbury nos anos 1960 – erosão, acidificação dos solos Fonte: Idem

As Fotografias 5 e 6 revelam que a paisagem devastada e poluição dos anos 1960 continuam

sendo as marcas registradas de Sudbury. O nível de acidez dos solos alcançou médias inferiores ao

pH 4, além de haver contaminação por metais pesados, tais como arsênio, níquel, cobre, cobalto e

outros em níveis excessivos. Esse quadro foi a resultante de mais 60 anos de anos de emissões dos

smelters das empresas INCO e Falconbridge.

Fotografia 5: Smelters de Sudbury nos anos 1960 Fonte: Laurentian University (Sudbury) e CEM (Environmental Monitoring) - imagem gentilmente cedidas pelo professor Graeme Spiers

Fotografia 6: Paisagem desoladora dos solos de Sudbury nos anos 1960: erosão, contaminação por metais pesados e acidez Fonte: Idem

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No final dos anos 1970, a emissão de dióxido de enxofre na atmosfera, apenas da companhia

INCO, alcançou a marca histórica anual de 2,3 milhões de toneladas de (Gráfico 2).

Gráfico 2: INCO - emissão de dióxido de enxofre (1930-2002) Fonte: Laurentian University (Sudbury) e CEM (Environmental Monitoring) Imagem gentilmente cedidas pelo professor Graeme Spiers

O subseqüente processo de recuperação ambiental da cidade resultou da força da

lei, por intermédio da definição regras e da imposição limites máximos de emissão, e,

principalmente, da pressão social. A meta de emissão de SO2 da INCO para o ano de 2015

é o máximo de 66 kg, o que representa apenas 0,003% do total emitido durante o pico nos

anos 1960. Essa determinação legal somente não inviabilizou a companhia por causa de um

grande avanço tecnológico que permitiu à empresa manter a produção gerando menos

poluente. No entanto, qualquer expansão extra de capacidade, que extrapole os limites

legalmente estabelecidos, sujeita a empresa a multas muito elevadas. No período da visita à

empresa, em setembro de 2005, época em que os preços do cobre estavam em plena fase

ascendente, a INCO estava operando com mais de 10% de capacidade ociosa, o que

significava uma perda de oportunidade. No entanto, se ela aumentasse a produção, as

emissões também aumentariam, implicando em multas e outras penalidades.

A lição mais interessante do caso de Sudbury, todavia, foi a da participação da

população local, principalmente das crianças (Fotografia 8) que, incentivados pelos

professores das escolas públicas primárias, iniciaram, voluntariamente, os primeiros

trabalhos de recuperação das áreas devastadas. Essa iniciativa se expandiu e acabou se

transformando em um amplo e bem sucedido programa, resultado de parceria entre a

sociedade civil, as diferentes esferas de governo, as entidades não-governamentais,

universidades e centros de pesquisas e as companhias mineradores, entre outras.

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A Fotografia 7 exibe a técnica de neutralização da acidez do solo desenvolvida por

pesquisados e professores da Laurentian University (consiste na adição de 10 toneladas de

calcário agrícola por cada hectare impactado). Esse trabalho é feito normalmente por

voluntários. Desde que o programa se iniciou, em 1978, até o ano de 2004, em torno de

5.000 pessoas já haviam realizado trabalhos voluntários nas diversas etapas do processo de

recuperação ambiental de Sudbury.

Fotografia 7: Neutralização da acidez do solo com uso de calcário agrícola (10 t/ha) Fonte:Laurentian University (Sudbury) e CEM (Environmental Monitoring) - imagem gentilmente cedidas pelo professor Peter Beckett

Fotografia 8: Os primeiros trabalhos voluntários de revegetação envoveram as crianças Fonte: Laurentian University (Sudbury) e CEM (Environmental Monitoring) - imagem gentilmente cedidas pelo Prof. Peter Beckett

As Fotografias 9 a 12 refletem a diferença de paisagem antes dos trabalhos de

recuperação ambiental e 25 anos após.

Fotografia 9: Sudbury: paisagem desértica nos anos 1960 Fonte: Laurentian University (Sudbury) e CEM (Environmental Monitoring) - imagem gentilmente cedidas pelo professor Graeme Spiers

Fotografia 10: Sudbury: recuperação da paisagem 25 anos depois Fonte: Laurentian University (Sudbury) e CEM (Environmental Monitoring) - imagem gentilmente cedidas pelo professor Graeme Spiers

O sucesso do programa, reconhecido pelos inúmeros prêmios que recebeu. Entre

1986 e 2001, o programa já havia conquistado 10 prêmios no Canadá e nos EUA. Em 1992,

durante a Conferência do Rio-92, Sudbury recebeu das Nações Unidas um prêmio pelo seu

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programa de recuperação de áreas degradadas pela atividade mineral. somente foi possível

a partir das parcerias formadas. Até o ano de 2004, havia 37 parceiros, entre grupos

voluntários, organizações científicas, de ensino, de governo e demais grupos sociais.

Fotografia 11: Sudbury: paisagem nos anos 1981 Fonte: Laurentian University (Sudbury) e CEM (Environmental Monitoring) - imagem gentilmente cedidas pelo professor Graeme Spiers

Fotografia 12: Sudbury: a mesma paisagem nos anos 2000 Fonte: Laurentian University (Sudbury) e CEM (Environmental Monitoring) - imagem gentilmente cedidas pelo professor Graeme Spiers

Durante o período 1978 a 2004, foram investidos por volta de CAD$ 23 milhões nos

programas de recuperação ambiental de Sudbury (Gráfico 3); 91% desse valor foi

prpveniente dos governos. Chama atenção a pequena parcela de contribuição das principais

responsáveis pelos danos ambientais – as companhias mineradoras. A participação mais

efetiva das companhias mineradoras passou a ocorrer apenas no período recente (Gráfico

4)

Gráfico 3: Dispêndios realizados pelos parceiros para os programas de recuperação ambiental de Sudbury (1978-2004) Fonte: Annual Report , 2004 (Land Reclamation – Great Sudbury, Dec, 2004

Gráfico 4: Dispêndios realizados pelos parceiros para os programas de recuperação ambiental de Sudbury (2004) Fonte: Annual Report , 2004 (Land Reclamation – Great Sudbury, Dec, 2004

O caso de Sudbury é ilustrativo como demonstração da força do capital social

existente no Canadá e das redes de colaboração que se formaram entre as diversas

organizações parceiras. Ao invés de a sociedade ficar se lamentando pela falta de iniciativa

2004

Outros3%

Governo provincial 18%

Companhias mineradoras20%

Governo Federal 25%

Governo municipal34%

1978-2004

Companhias mineradoras ; 3,50%

Outros; 5,50%

Governo municipal; 11,90%

Governo provincial ; 39,80%

Governo Federal ; 39,30%

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dos principais responsáveis pelo quadro ecológico do município (as companhias

mineradoras), foi a própria comunidade quem tomou a decisão de iniciar um processo de

reversão do quadro caótico da cidade. Essa iniciativa acabou se expandido e ganhando

status de um programa oficial, amplamente reconhecido e patrocinado. No entanto, mesmo

sendo um programa de governo, a comunidade continua com as suas ações e com os seus

trabalhos voluntários.

Aliado a essa força social, a legislação ambiental canadense, até mesmo por causa

dos graves passivos ambientais existentes, evoluiu bastante no sentido de adotar

salvaguardas para evitar que se repitam casos de abandono de minas com desastroso

legado ambiental para as futuras gerações.

Na província de Ontario, por exemplo, desde 1991, a legislação ambiental voltada

para mineração exige que as novas companhias mineradoras apresentem um plano de

fechamento de mina. Porém, aliado ao plano, a companhia deve depositar em um fundo de

fiança (denominado trust fund) o valor equivalente ao que ela vai gastar no final da vida útil

da mina, a título de recuperação da área degradada. O dinheiro depositado permanece em

uma conta específica da empresa e é aplicado de acordo com as regras do mercado

financeiro. Se a empresa cumprir rigorosamente com o que está previsto no seu plano, ela

recebe de volta o que investiu no fundo, devidamente corrigido. No entanto, se ele não

cumprir o estabelecido, os valores aplicados ficam retidos com o objetivo de compensar os

gastos que o governo terá de fazer. Em British Columbia, o fundo é denominado Mine

Reclamation Fund e, da mesma forma, capta recursos financeiros das empresas

mineradoras, como uma espécie de seguro. Esse modelo é adotado por todas as outras

províncias canadenses e por países com base mineral forte, como a Austrália e a África do

Sul.

Em outras cidades monoindustriais, cujas minas não se localizam na sede do

município e onde não ocorrem operações metalúrgicas, não se verifica esse tipo de impacto.

Esse foi o casos de Logan Lake (Fotografia 13), que a abriga uma das maiores minas de

cobre e molibdênio de British Columbia (Fotografia 14), mas que não realiza atividade de

concentração mineral (não há fundição). Os impactos se restringem às áreas da mina e

estão sendo devidamente “remediado”, o maior problema que Logan Lake (BC), assim como

Kirkland Lake (ON), terá de enfrentar é encontrar alternativas econômicas para não se

transformarem em cidades-fantasmas.

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Fotografia 13: Centro de Logan Lake – província de British Columbia (outubro de 2005) Fonte: Fotografia feita pela autora durante os trabalhos de campo (outubro de 2005)

Fotografia 14: Highland Valley Copper – vista da principal frente de lavra (outubro de 2005) Fonte: Fotografia feita pela autora durante os trabalhos de campo (outubro de 2005)

A Tabela 4, a seguir, apresenta algumas informações relacionadas à dimensão

ecológica da gestão das companhias mineradoras canadenses estudadas. Um fato

surpreendente foi constatar que nenhuma delas têm o certificado ISO 14.000, em contraste

com as grandes empresas mineradoras que operam no Brasil.

Tabela 3: Ações ambientais das companhias mineradoras estudadas no Canadá (2005)

companhia mineradora

certificações ambientais

valor da produção mineral* CAD$ mil**

gastos com meio ambiente

CAD$ mil**

ações voltadas para o meio ambiente (ecológico ou biofísico)

INCO*** (Sudbury) não 4.300.000 5.000

Estudos de solos, auxílio ao programa de recuperação das áreas degradadas, monitoramento da qualidade de ar, apoio às organizações sociais voltadas para o meio ecológico

Placer Dome (Timmins) não 241.000 Ações para se ajustar à política

ambiental canadense Kirkland Lake

Gold (Kirkland Lake)

não 23.000 40 Ações para se ajustar à política ambiental canadense

Highland Valley Copper

(Logan Lake) não 470.000 3.000 Reabilitação de áreas degradadas

(*) valores estimados a partir dos Relatórios Anuais das Companhias (2004) (**) valores relativos ao ano de 2004 (***) Valor relativo às receitas brutas, no ano de 2004, de todos os seus negócios. Fonte: Pesquisa de campo (setembro e outubro de 2005)

Para o então superintendente de meio ambiente da INCO, Dave Taylor, a certificação

ISO 14.000 é apenas um “pedaço de papel”. Contudo, a companhia apresentava a

certificação ISO 9.000 para as refinarias de níquel e cobre. O superintendente de meio

ambiente da Highland Valley Copper, Mark Freberg, também não considera importante o

certificado ISO 14.000 - “é uma gravura para pendurar na parede”, afirma ele. Para o

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presidente da Kirland Lake Gold, José Oro, “as certificações não são importantes porque as

empresas canadenses já adotam princípios éticos e ambientais em suas condutas”. No

entanto, o que se pode deduzir é que essas empresas não sentem a pressão do mercado

internacional, pois não precisam comprovar que são ética e ambientalmente corretas, já que

estão operando em um país norte-americano. Os principais mercados para os quais os seus

produtos estão voltados (EUA e Ásia) não fazem esse tipo de exigência de um país norte-

americano; distintamente do que ocorre com os mercados europeus, por exemplo.

De uma forma geral, os gastos com o meio ambiente ecológico são bem pequenos

como proporção da receita bruta e estão direcionados para ações de ajuste às normas

ambientais. A única empresa que declarou o valor depositado em bônus no trust fund foi a

Kirkland Lake Gold (por volta de CAD$ 2 milhões). Questionamentos relativos aos valores

financeiros não são muito bem recebidos pelas companhias mineradoras, ao contrário do

que ocorreu com a maioria das empresas estudadas no Brasil (com exceção da CVRD). Os

valores relativos à produção mineral apresentados neste estudo são os que estão

disponíveis nos relatórios anuais das empresas e que são de domínio público.

Na breve visita ao Canadá, percebemos que no passado o comportamento ambiental

de muitas grandes empresas mineradoras gerou graves passivos ambientais, conforme o

caso de Sudbury. em Ontário, ilustrou muito bem. No presente, empresas e governo

afirmam que as novas minas no Canadá procuram seguir os princípios do desenvolvimento

sustentável, a partir da edição de uma legislação ambiental mais severa. Esse processo

abre importantes janelas de oportunidades para que regiões de base mineira mais recentes

consigam captar os benefícios da mineração sem pagar preços tão elevados, como

aconteceu com as antigas regiões mineradoras.

Essa trajetória vivenciada pelo Canadá se assemelha em grande parte com a que

existe no Brasil, conforme será possível verificar no capítulo seguinte, há dois diferentes

modelos de mineração nas regiões Norte (pró-ativo) e no Centro Sul (reativo).

Todavia, um dos grandes problemas intrínsecos à atividade mineradora é que ela

opera com recursos exauríveis, cujo esgotamento ocorrerá mais cedo ou mais tarde. Nesse

sentido, além de estar comprometida com a qualidade ambiental, a mineração deve também

estar empenhada na ampliação e na manutenção da qualidade de vida de sua área de

influência. Nesse aspecto há uma profunda diferença entre o Canadá e o Brasil. No Canadá,

não se verificam grandes disparidades na estrutura da sociedade, uma vez que os

indicadores socioeconômicos de províncias e municípios são bastante homogêneos,

conforme será visto na próxima seção. No Canadá, são as províncias as responsáveis pelos

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serviços sociais básicos de educação, saúde e diversos programas de bem-estar social dos

municípios. Isso talvez contribua para essa uniformidade no padrão social. A província

centraliza os benefícios e os distribui de forma eqüitativa entre os municípios.

Distintamente do Brasil, no Canadá as províncias têm plena autonomia para definir

suas políticas sobre o uso e tributação de seus recursos naturais. Assim, embora o

município não receba nenhum tipo de tributo específico da mineração, ele também não

necessita arcar com dispêndios extras para atender as novas demandas que o setor mineral

requer. Porém, é um equívoco pensar que, mesmo com essa estrutura social homogênea, a

instalação e o fechamento de um empreendimento mineiro não causam transtornos

socioeconômicos locais. Conforme destaca Roberts (2005), ao analisar a percepção dos

stakeholders quanto ao plano de fechamento da Highland Valey Copper, em Logan Lake

(BC), ainda são muito díspares as exigências para os meios biofísicos e as dos meios

socioeconômicos. Em British Columbia, segundo ele, são bastante rigorosas as exigências

para os primeiros e muito débeis para os segundos.

3.2.2 A dimensão econômica

O Gráfico 5 exibe a renda média anual da população maior de 15 anos, as

informações são baseadas no Censo de 2001, para todo o Canadá, por província.

Gráfico 5: Renda média anual da população maior de 15 anos para as cidades mineradoras visitadas, suas províncias e para o Canadá, ano 2001. Fonte: Censo de 2001 (disponível em http://www12.statcan.ca/english/Profil01/CP01/Index.cfm?Lang=E)

24.816

22.262 22.120 22.09521.485

20.648

18.216

-

10.000

20.000

Ontario Sudbury Canada British Columbia Logan Lake Timmins Kirkland Lake

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Das cidades mineradoras visitadas, Sudbury (ON) é a que apresenta a melhor renda,

superando até mesmo a média nacional. A mais baixa renda é a de Kirkland Lake (ON). No

entanto, a diferença de renda entre essas duas cidades é de apenas 20%. Chama atenção o

fato de a renda média das províncias serem muito semelhantes à média do Canadá, por

volta de 22 mil dólares canadenses.

Kirkland Lake (ON) é uma cidade monoindustrial, geograficamente distante e sem

alternativas econômicas. Afora a mineração, há apenas atividades de extração madeireira

que é inviabilizada, em grande parte do ano, por causa do rigoroso frio do inverno do norte

canadense. A melhor situação é a de Sudbury (ON) que, de uma cidade bi-industrial, no

início do século XX, logrou desenvolver um modelo de cluster (aglomeração) mineiro e se

integrar a outros núcleos populacionais de seu entorno, formando a Grande Sudbury, em

2001. Essas ações não ocorreram de forma fortuita. Foram resultados de um planejamento

sistemático e racional, conforme se pode constatar pelo BOX 3.

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BOX 3 - Sudbury : um exemplo de cluster mineiro

Sudbury é considerado um exemplo de sucesso de agrupamento (cluster) mineiro, talvez o

mais exitoso do Canadá, e um ícone global. O desenvolvimento desse projeto ocorreu a partir de

ação racional de diferentes atores sociais. Originalmente, as companhias mineradoras INCO e

Falconbridge eram as únicas no município. Nos anos 2000, havia por volta de 17 minas ativas e mais

de 300 empresas fornecedoras de bens e serviços voltados para mineração. No início de 1980, vários

órgãos governamentais provinciais e federais se transferiram para Sudbury, tais como o Ministério de

Desenvolvimento de Minas do Norte (Ministry of Northerm Development and Mines – MNDM) e o

Ministério de Minas de Ontario. Esses órgãos são responsáveis pelo desenvolvimento da indústria

mineira, pela legislação minerária e pelo controle de reabilitação e recuperação de áreas degradadas

pela atividade mineral na província. Em 1989, foi também transferido para Sudbury o órgão

responsável pela Pesquisa Geológica e Desenvolvimento Mineiro de Ontario (Ontario Geological

Survey). Assim, além de uma vigorosa indústria mineral, Sudbury consolidou também uma forte

presença de entidades governamentais que definem “as regras do jogo” da atividade mineradora.

Afora o forte setor produtivo mineiro e as instituições governamentais de apoio, Sudbury,

desenvolveu também esforços para se expandir no campo da ciência e da tecnologia. Nos anos

1970, foi construída a Laurentian University, que atualmente comporta 15 mil estudantes. É outra

presença federal, com pesquisa muito forte em mineração e áreas correlatas, comprometida com o

desenvolvimento de habilidades e capacitação profissional de alto nível. Assim se formou o tripé

básico para o desenvolvimento do cluster mineiro em Sudbury: indústria, governo e ciência &

tecnologia.

Todas essas características têm contribuído para o sucesso das ações do cluster. Um dos

êxitos importantes foi a política ambiental de reabilitação das áreas degradadas pela atividade

metalúrgica, além de outras facilidades criadas pela localização dos órgãos de governo na cidade,

como a aproximação dos fabricantes com os altos níveis de governo, gerando um clima favorável à

tomada rápida de decisões.

As boas parcerias e a estreita colaboração entre indústria, governo e academia ajudam tanto

na pesquisa quanto na inovação tecnológica. Todas essas presenças fortes geram importantes

sinergias, que se refletem nos bons resultados do cluster como, por exemplo, a ampliação do número

de pequenos e médios empreendimentos.

Os recursos financeiros para o desenvolvimento das políticas do cluster provêm de fundo,

cujo maior contribuinte é a província de Ontario. Todavia, há outros provedores, como o Governo

Federal e as próprias empresas. As decisões são tomadas por um Conselho do cluster (Ontario

Mineral Industry Cluster Council - OMIC), formado por representantes do governo, das empresas, das

instituições de ensino e pesquisa e demais membros da sociedade, que também decide sobre o uso

dos recursos do fundo. Fonte: Entrevista feita pela autora com Jeff Sewell, responsável pelo Centro de Excelência em Inovações Mineiras de Sudbury (Pesquisa de campo em outubro de 2005).

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176

Não obstante o evidente vigor da atividade de mineração e de bens e serviços

acessórios, a cidade não se limita às atividades minerais. Em Sudbury, há uma preocupação

explícita em diversificar a economia. Uma dessas alternativas foi a de constituir a Grande

Sudbury, em 2001, como recomendação do Ministro de Negócios Municipais, em 1999. A

Grande Sudbury é o resultado da aglutinação de 17 cidades e distritos integrantes das áreas

de influência da cidade; tem posição privilegiada por causa da convergência de três rodovias

principais. Assim, funciona como um pólo de compras da região nordeste de Ontário. De

acordo com dados censitários, a área metropolitana de Sudbury é a 5ª classificada de 34

mercados urbanos canadenses com mais de 100.000 habitantes. Quanto à renda per capita

das cidades canadenses, o mercado local é classificado como o 2º de 34 centros urbanos

principais do Canadá.

Na área da educação, Sudbury ostenta três importantes instituições de ensino

superior: Cambrian College (existente desde 1966), Laurentian University e o Collège Boréal

(criado em 1995). Todos provêem excelentes serviços educacionais e cobrem uma vasta

área de conhecimentos. No campo da saúde, Sudbury abriga dois centros de referência: o

Hôpital régional de Sudbury (Hospital Regional de Sudbury) e o Northeastern Ontario

Regional Cancer Center (Centro Regional de Câncer de nordeste de Ontário), permitindo à

cidade ser a mais importante provedora de serviços de saúde do nordeste de Ontário. No

campo das ciências, destacam-se o Science North (centro de ciência interativo popular) e o

Dynamic Earth, um novo pólo de atração em ciências de terra recentemente inaugurado

(2003). Eles também funcionam como âncoras da atividade turística regional.

Além do já mencionado esforço de diversificação de ciência e tecnologias voltados

para a recuperação de áreas impactadas por atividade metalúrgica, a cidade desenvolve

pesquisas astrofísicas, com o criação do Neutrino Observatory. Sudbury foi também um dos

primeiros municípios da região a estabelecer uma infra-estrutura de telecomunicações

avançada, baseada em rede de fibra ótica de alta velocidade.

A Grande Sudbury, portanto, evoluiu para se tornar um centro de inovação e

pesquisa aplicada em muitos campos, além de ser um dos centros mineiros mais

importantes do mundo, famoso por sua expertise em vários campos da área mineral.

3.2.2.1 A dinâmica populacional

No que se refere à dinâmica populacional, as cidades mineiras canadenses visitadas

parecem reproduzir o ciclo mineral de boom and bust. Ou seja, a população cresce na fase

de implantação do empreendimento e se reduz à medida em que as jazidas vão se

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esgotando. No Canadá há também um componente regional, pois existe a tendência de

decréscimo populacional das comunidades mais ao norte do país, por causa do frio rigoroso.

O Gráfico 6 apresenta o movimento populacional recente dos municípios de base

mineira visitados. No período de 1996 a 2006, segundo os censos populacionais do Canadá,

houve decréscimo populacional em todos eles, o contrário do que ocorreu com as províncias

de Ontario e British Columbia e com o país como um todo.

Gráfico 6: Índice de crescimento populacional das cidades mineradoras visitadas, suas províncias e Canadá - 1996-2006 (1996=100). Fonte: Censos de 2001 e 2006 (disponível em http://www12.statcan.ca/english/Profil01/CP01/Index.cfm?Lang=E)

Como muitas cidades do norte do Canadá tradicionalmente voltadas para a extração

de recursos naturais, a população de Sudbury experimentou altas e baixas durante as

últimas três décadas. O Censo populacional de 1971 registrou o pico de 169.580 habitantes.

Em 1986, a população recuou para 152.470, devido à crise do setor mineiro, às condições

econômicas adversas e à emigração resultante. Esta tendência foi invertida entre 1986 a

1996, quando a população alcançou 164.049. O censo de 2006 aponta para um contingente

populacional de 157.857 habitantes.

Os maiores decréscimos populacionais, no entanto, foram de Kirkland Lake (ON) e

Logan Lake (BC). Em 1996, Kirkland Lake tinha uma população de quase 10 mil habitantes,

que se reduziu para 8.200, em 2006. Nesse mesmo período, a população de Logan Lake

passou de 2.500 para 2.100 habitantes. Em ambos os municípios a atividade mineradora

0 20 40 60 80 100 120

Sudbury

Timmins

Kirkland Lake

Logan Lake

Ontario

British Columbia

Canada

1996 2001 2006

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está com os dias contados, pois na melhor das hipóteses restam cinco anos para o primeiro

e oito anos para o segundo município. Portanto, o acentuado decréscimo populacional já é

provavelmente um reflexo da exaustão mineral.

Distintamente do Brasil, os municípios de base mineira do Canadá não recebem

nenhum tipo de recurso específico oriundo da atividade mineradora que, se bem utilizado,

possa contribuir para a diversificação econômica. No Canadá, os municípios são totalmente

dependentes da província.

Robinson & Bishop (1999, p. 220) constatam que os governos locais são

crescentemente dependentes de fundos das províncias. De 1960 a 1990, os recursos de

captação próprios dos governos locais da província de Ontario se reduziram de 65% para

30% de suas receitas. Entre 1926 e 1988, a participação de todas as esferas de governos

no PIB canadense subiu de 15% para 44%, ao mesmo tempo em que a participação das

províncias passou de 20% para 33,4% e a dos municípios decresceu de 44% para 17%.

Isso tem implicações importantes na distribuição do poder fiscal e na capacidade fiscal dos

municípios.

Os governos locais gozam de autonomia limitada para gerir as suas finanças. Dessa

forma, afirmam Robinson & Bishop (1999), a província tem o direito constitucional de taxar e

a responsabilidade de provir todos os serviços para os municípios. A província determina

deveres específicos aos municípios, ao mesmo tempo em que os abastece com os recursos

necessários, sob a forma de transferências ou outros tipos de repasses. Assim, legalmente

os governos locais são meras criaturas de seus governos provinciais.

Embora tendo um forte sistema de seguridade social, o Canadá é uma economia de

mercado e usa os seus instrumentos de política visando alcançar os seus objetivos de

competitividade global. No setor da mineração, a atual legislação tributária mineral do

Canadá concede muitos incentivos às companhias. De um sistema que, nos anos 1980,

segundo as companhias mineradoras, restringia sobremaneira os lucros da atividade

mineral, a atual tributação minerária passou a ser favorável aos interesses do setor, pois

incide sobre o resultado financeiro, e não sobre a produção. Como as empresas têm

atuação global, elas podem deduzir suas despesas de exploração mineral em outros países

como custo e, via de regra, apresentam resultado financeiro negativo, pagando muito pouco

ou nada de impostos mineiros.

Os municípios de base mineira se ressentem de que, além da baixa contribuição, os

valores são centralizados nas províncias, cabendo ao município recolher da atividade

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mineradora apenas os impostos sobre a propriedade e sobre o uso de recursos como água,

por exemplo, como se ela fosse uma atividade produtiva qualquer.

Com essa falta de autonomia orçamentária, os governos locais podem fazer muito

pouco para enfrentar um dos mais sérios problemas que as cidades monoindustriais

enfrentam, principalmente, quando vai se encerrando o ciclo da extração mineral – que é o

desemprego. O Gráfico 7, apresenta a taxa de desemprego do universo pesquisado.

Gráfico 7: Taxa de desemprego nas cidades mineradoras visitadas, nas suas províncias e no Canadá - 2001. Fonte: Censos de 2001 (disponível em http://www12.statcan.ca/english/Profil01/CP01/Index.cfm?Lang=E)

Os municípios de base mineira estudados, com exceção de Logan Lake (BC),

provavelmente pela baixa densidade populacional, são os que apresentam as mais altas

taxas de desemprego. Kirkland Lake (ON) apresenta uma taxa de quase o dobro da média

nacional, seguido por Timmis (ON).

Sudbury (ON) é o que mais se aproxima da média nacional, muito embora esteja

bem acima da média de sua província. No entanto, os indicadores do censo de 2001

revelam que o perfil da força de trabalho da cidade se diversificou significativamente durante

as últimas três décadas. Em 1971, as companhias mineradoras INCO e Falconbridge

empregavam por volta de 25.000 pessoas (mais de 80% da força de trabalho). Nas três

décadas seguintes, a adoção de tecnologias mineiras inovadoras ajudou a aumentar a

13,5

11,2

9,1

8,5

7,4

6,46,1

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

Kirkland Lake Timmins Sudbury British Columbia Canada Logan Lake Ontario

%

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produtividade ao mesmo tempo em que reduziu o emprego. Apesar do declínio no número

de empregados nas minas, a demanda por produtos e por serviços tecnológicos, aliadas ao

desenvolvimento do cluster mineiro, contribuíram significativamente para a redução da

dependência da cidade em relação à mineração e para a diversificação produtiva local. Nos

anos 2000, 80% da força de trabalho de Sudbury estão alocadas no setor terciário, em

atividades de varejo e de serviços.

3.2.3 A dimensão social

Os padrões de desenvolvimento humano das províncias e dos municípios

canadenses são os que mais se assemelham. Os dados sobre educação, disponíveis no

censo de 2001, revelam um quadro bastante homogêneo (Gráfico 8), não obstante as

diferenças na base produtiva.

75%

69%

75%

35,4% 34,5% 33,7% 33,4% 32,6%30,9%

22,2%

78% 77% 77% 77%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Sudbury British Columbia Ontario Timmins Kirkland Lake Canada Logan Lake

% pop 15-19 anos no ensino secundário % pop 20 -34 anos com nível pós-secundário

Gráfico 8: Acesso ao ensino secundário da população de 15 a 19 anos e população na faixa dos 20 aos 34 anos com nível pós-secundário para o ano de 2001 Fonte: Canada, Censo de 2001 (disponível : http://www12.statcan.ca/english/Profil01/CP01/Index.cfm?Lang=E)

Distintamente do Brasil, não há informações sobre a taxa de analfabetismo para

municípios e províncias canadenses, possivelmente pelo fato de que lá não haja

analfabetismo. Os indicadores apresentados são para a realização de ensino médio, para a

faixa etária de 15 a 19 anos e para os níveis pós-secundário (curso técnico ou universitário)

na faixa etária de 20 a 34 anos, entre outros indicadores de educação mais sofisticados.

Dessa forma, 77% dos adolescentes freqüentam o nível médio e entre 30 a 35% dos jovens

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têm nível superior no Canadá. Os indicadores de Sudbury (ON) superam os outros

municípios de base mineradora e até mesmo as províncias e a média nacional,

provavelmente por ter um centro universitário e de pesquisa científica e tecnológica bem

desenvolvidos.

No entanto, isso não verdade para as diversas etnias indígenas79 que vivem,

principalmente, no norte do Canadá e que, na atualidade, são as proprietárias das principais

jazidas minerais do Canadá. Ritter (2003, p. 243) relata que a situação social e econômica

dos indígenas é geralmente percebida como inadequada. O desemprego é alto, a renda é

baixa, daí a necessidade de significativo apoio governamental de seguridade social nessas

zonas. A base de impostos da comunidade é débil e, portanto, elas dependem fortemente

do Departamento de Assuntos Indígenas e do Departamento de Desenvolvimento do Norte.

Apesar de manterem as suas atividades tradicionais, estas não proporcionam renda

suficiente para sustentar satisfatoriamente toda a população.

No Canadá, assim como Brasil, as empresas têm que obter licenças para operar (no

Canadá é denominada de “licença social”). A Tabela 5 sintetiza as principais ações voltadas

para a esfera social nos municípios onde as empresas de mineração estudadas operam.

Tabela 4: Ações sociais das companhias mineradoras estudadas no Canadá (2005) companhia mineradora/ município

gastos com meio social

CAD$ mil** ações voltadas para o meio social

INCO (Sudbury) nd nd

Placer Dome (Timmins) nd

• Doações para fundos • Apoio ao Dome Watchful Eye, espécie de fundação que pá

apoio financeiro a diversas inicitaivas da comunidade, além de dar esclarecimento à comunidade sobre as atividades da empresa.

Kirkland Lake Gold

(Kirkland Lake)

5% a 6% das despesas correntes

• Apoio financeiro ao time de hockey local. O Hockey North Heritage Center foi construído pela empresa.

• Abre possibilidade de emprego, durante o verão para 50 estudantes, pós-nível médio.

• Disponibiliza serviços médicos da empresa para a comunidade (três dias da semana).

• Programas de treinamento dos funcionários. • Convivência social dos chefes com os empregados

subordinados. Highland Valley

Copper (Logan Lake)

96,2 • Hospital regional de Kanloops. • Fundação Hospital da Criança em Vancouver. • Fundo para a diversificação econômica de Logan Lake*

(*) Em 2003 o valor de CAD$ 20.000 e em 2005 foi de CAD$ 55.000 (**) valores relativos ao ano de 2004 Fonte: Pesquisa de campo (setembro e outubro de 2005)

79 Há pouca informação estatística oficial a respeito do nível educação das 600 etnias indígenas, que representam em torno de 5% população do Canadá. Segundo uma organização de defesa dos direitos indígenas, como a Assembly of First Nations, as condições de vida dessa população se equivalem a dos países pobres e se elas fossem incluídas nas estatíscas nacionais a posição do Canadá declinaria sensivelmente (http://www.afn.ca/article.asp?id=764 ).

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Há 25 anos a INCO adota o seu Guia para Conduta dos Negócios (Guidelines on

Business Conduct), no qual são estabelecidas as normas de comportamento social da

companhia, baseadas em altos padrões de integridade e de conduta ética. A empresa

afirma ter compromisso com a sociedade que concedeu a licença para ela operar. Isso

significa que o comportamento ético e os padrões sociais definidos (por escrito) devem

nortear as ações da empresa. Significa tolerância zero com suborno, corrupção e conflitos

de interesse. De acordo com relatório da empresa, responsabilidade social significa

permanência de práticas e políticas que contribuem para o bem-estar comum, trabalhar de

forma aberta e transparente, contribuindo para a prosperidade de seus stakeholders.

Contudo, durante a entrevista ela não apresentou seus gastos e ações voltadas para o

social.

Em seu Relatório Anual (2004), a companha mineradora Placer Dome afirma estar

comprometida com a construção de parcerias com as comunidades hospedeiras e com

outros stakeholders nos países em que opera. Essas parcerias devem estar assentadas na

confiança mútua e devem ser consistentes com os valores da companhia e com os

interesses das comunidades, pois apenas juntos é possível alcançar a sustentabilidade.

De acordo com o seu Relatório Anual (2005), a companhia Kirlkand Lake Gold

implementa várias políticas sociais consideradas fundamentais para as suas operações,

como as voltadas para o seu relacionamento com a comunidade. Ela tem estabelecido, por

escrito, uma política de “portas abertas” em relação aos seus empregados e de direitos

humanos, em concordância com as legislações federal e provincial.

Para a companhia Highland Valey Copper, responsabilidade social significa

promover parcerias com as comunidades nas quais opera.

A partir dessa amostra, percebe-se que as companhias mineradoras que operam no

Canadá, da mesma forma a maioria das companhias mineradores que operam globalmente,

não adotam um padrão uniforme quanto às ações sociais desenvolvidas junto às

comunidades. As ações variam muito de empresa para empresa. Há uma tendência de

ampliar o apoio aos programas sociais da comunidade, quando a mina está em fase de

esgotamento. Um elemento comum para todas as empresas é a importância de que suas

regras e normas estejam escritas em documento com ampla publicidade.

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Para as novas minas que estão se implantando no norte do país, a exigências

sociais são bem maiores, uma vez que as companhias precisam da licença dos proprietários

das jazidas, que são as comunidades indígenas, ou First Nations, como denominam os

canadenses. Ritter (2003) relata os casos das novas minas de níquel de Voisey’s Bay80, na

Província de Newfoundland e Labrador, e de diamante (mina de Diavik), no Nortwest

Territories, ambas localizadas em comunidade indígenas. No caso de Voisey’s Bay, as

comunidades indígenas (Innu e Innuit) estabeleceram vários condicionantes para conceder

a licença, tais como: compromisso, por parte da empresa, de prover educação e qualificação

profissionais, metas de contratação - 29% dos postos de trabalho (na etapa da mina a céu

aberto) e 21% (na etapa subterrânea) - adoção de medidas para assegurar que a falta de

educação formal não seja uma barreira para o emprego, a contratação de um Innu para a

coordenação de emprego, um ambiente de trabalho respeitoso para com os valores

tradicionais dos Innu, um programa antidiscriminação, entre outros. (RITTER, 2003, p. 240).

No caso da mina Diavik a meta é que 100% dos empregados da empresa sejam

provenientes do Território, inclusive das comunidades indígenas (Inuit, Dene e Metis). Da

mesma forma, a empresa se comprometeu a desenvolver programas de capacitação

especial para a mão-de-obra local, apoiar o desenvolvimento das empresas locais, contribuir

para o aumento da competitividade das empresas da região, comunicar as suas

necessidades de abastecimento de forma clara, conceder créditos comerciais e desenhar e

comunicar estratégias de negócios para os grupos afetados, entre outros. (RITTER, 2003, p.

244).

3.3.4 A dimensão da governança (política minerária)

Ampla extensão geográfica, economia baseada, em grande parte, na exploração de

recursos naturais81, vastas áreas ainda preservada, grande potencial mineral, mineração

mais antiga no sul e mais recente no norte do país; depositários de grande parte das águas

doces do globo, matriz energética em larga escala baseada na hidroeletricidade. Essas são

algumas das semelhanças entre o Canadá e o Brasil. Todavia, no que se refere ao sistema

de regulamentação e tributação do sistema mineral há profundas diferenças (Quadro 12).

80 Segundo Ritter (2003), é um dos maiores projetos mineiro do Canadá, desde a II Guera-Mundial. 81 De acordo com o Banco Mundial 69% da riqueza do Canadá provem diretamente de seus recursos naturais, 9% de sua produção industrial e 22% de seus recursos humanos (estimativa para o ano de 1995) apud Hessing et al. (2005).

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Item Canadá Brasil Propriedade dos recursos minerais Províncias e Territórios Governo Federal

Companhias mineradoras Grandes multinacionais que começaram com atuação local. Muitas juniors companies.

Poucas companhias nacionais.

Ambiente institucional pró-mineração Forte fraco

Sistema tributário mineral

Descentralização entre Governo Federal e província, mas centralizado entre província e município.

Centralizado entre Governo Federal e Estado e descentralizado em relação aos municípios.

Principal beneficiário dos impostos e taxas sobre a atividade mineral

Província Município minerador

Responsabilidade pelo sistema de saúde, educação e segurança.

Província

Município executa com os repasses de outras esferas de governo (Federal e Estadual).

Quadro 12: Aspectos comparados da política minerária: Brasil e Canadá (2005) Fonte: elaboração da autora

Distintamente do Brasil, no Canadá são as províncias as proprietárias dos recursos

minerais82. Portanto, cabe a elas definir a sua política mineral, em todos os aspectos

(ambiental, tributária, social etc.). Há uma tentativa de harmonização de políticas entre as

províncias, no entanto, elas têm ampla autonomia de decisão.

Não obstante as recentes tendências da globalização que têm favorecido fusões e

aquisição de tradicionais empresas canadense, como a INCO (CVRD) e Falconbridge

(adquirida pela européia Xtrata), o Canadá é um verdadeiro celeiro de companhias

mineradoras que se transformaram em grandes multinacionais, como a Placer Dome,

Barrick Gold, Noranda, Inmet Mining Corporation e tantas outras, além das quase 2.000

junior companies83. Essa profusão de empresas mineradoras é, em grande parte, o

resultado de um ambiente institucional favorável ao setor produtivo minerador. Organizações

sociais, sindicatos, organismos governamentais, instituições financeiras, instituições

científicas e tecnológicas e outras geram uma forte sinergia pró-mineração. Afora o

ambiente institucional, as companhias júniors, além de contar com créditos subvencionados

provenientes do “flow through shares” (BOX 4), nada pagam de tarifa tributária.

82 Ou o Governo Federal, no caso de as jazidas estarem localizadas nos Territórios, ou as comunidades indígenas, no caso de jazidas estarem localizadas em terras indígenas. 83 Junior companies são pequenas empresas cujo foco principal não é a produção, mas a pesquisa mineral. No Canadá, essas empresas gozam de vantagens como o acesso facilitado a linhas de financiamento subsidiados e a fundo perdido. Os gastos em suas explorações pode variar de 50 mil a um milhão de dólares. Elas se diferenciam das senior companes que são empresas de maior escala com mais de uma mina produzindo (NRCan).

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BOX 4 - Super Flow Trough Program

O super flow trough (fluxo por programa) é uma espécie de crédito tributário de investimento para exploração mineral (a sigla em inglês é ITCE – Investment Tax Credit for Exploration). O ITCE é um incentivo fiscal para a exploração mineral de campo. Foi introduzido no Canadá em outubro de 2000, como uma medida temporária para ajudar a contrabalançar os fracos resultados da exploração mineral nos anos 1990. O programa, originalmente previsto para três anos, estendeu por duas vezes o seu prazo de encerramento, ambos para períodos adicionais de um ano. O programa está previsto para se encerrar em março de 2007, mas há grande mobilização, por parte das companhias mineradoras, no sentido de adiar, mais uma vez, o seu prazo de validade.

De acordo com a MAC (Associação de Mineradores do Canadá), os efeitos positivos do programa para o setor de exploração mineral foram quase imediatos, uma vez que: 1) as despesas de exploração no Canadá subiram de CAD$ 300 milhões, no início dos 1990, para mais de CAD$ 800 milhões, em 2004. 2) o Canadá se tornou o destino número um para investimento de exploração mineral no mundo. 3) a oferta deste tipo de crédito (flow through equity) subiu de CAD$ 75 milhões, em 1999, para mais de CAD$ 450 milhões, em 2004.

Por causa da natureza da mineração e dos prazos longos entre a descoberta mineral e a efetiva extração (até dez anos), estima-se que os benefícios para a economia canadense e para as pessoas fora da indústria mineira serão bem mais amplos. Segundo a MAC, o ITCE tem um custo mínimo em termos de imposto federais não repassados, além do que esses recursos permanecem no Canadá. O orçamento federal de 2004 estimou em CAD$ 10 milhões a redução de impostos associadas com a prorrogação de um ano adicional de ITCE. O ITCE gera o benefício de manter dólares em pesquisa no Canadá, particularmente, em áreas remotas e pouco exploradas do norte do país. Nesse sentido, várias províncias canadenses já harmonizaram os seus programas com o programa federal e outras estão considerando a introdução de um crédito tributário. Estima-se que a continuidade do ITCE ajudará a contrabalançar o declínio, há muito existente, no nível das reservas de metais básicos no Canadá. Assim, as novas descobertas ajudarão a manter a infra-estrutura mineira existente, inclusive, dos fundidores e refinarias, bem como as comunidades por eles apoiadas. Fonte: Prospectors & Developers Association of Canadá (www.pdac.ca)

A trajetória do sistema tributário do Canadá tem acompanhado o movimento cíclico

do mercado de bens minerais. No final dos anos 1970, após o boom do petróleo e a alta nos

preços dos metais, muitas províncias canadenses procuraram elevar a sua participação nos

ganhos minerários. De acordo com Parsons (1990), a província de Quebec, por exemplo,

elevou o seu imposto sobre a mineração que oscilava entre 4% - 7% das receitas entre 1925

a 1966, para 9% - 15%, entre os anos 1966 e 1975, até chegar a 15%-30%, entre os anos

1975 e 1979. Parsons (1990) afirma que tributação mineral cresceu de tal forma que, em

alguns casos (Saskatchewan e British Columbia), chegou a ser equivalente ao lucro das

companhias mineradoras. Como o pagamento dos tributos provinciais era dedutível dos

tributos a serem pagos ao Governo Federal, os tributos federais provenientes da mineração

sofreram um processo de erosão. Isso provocou um conflito de interesses entre as

províncias e Governo Federal, principalmente quando este proibiu que o imposto pago às

províncias fosse abatido do imposto federal.

Com o desentendimento fiscal entre as províncias e o Governo Federal, as empresas

mineradoras se sentiram prejudicadas e deram início a uma série de protestos e

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reivindicações, que resultaram em profundas reformas na legislação tributária mineral, a

partir de meados dos anos 1980. No ano de 1988, houve uma importante reforma na

legislação do imposto de renda do Canadá, o que impactou todas as indústrias e todos os

setores, inclusive o setor de mineração. Essa reforma veio no sentido de diminuir as

alíquotas tributárias efetivas.

A visão dos órgãos públicos do Canadá a respeito da mineração é de que se trata de

uma indústria altamente cíclica, capital-intensiva e de longo tempo de maturação entre o

investimento inicial e a produção efetivamente comercializável. Os principais argumentos

apresentados no Canadá para que a tributação minerária receba um tratamento especial

são:

• alto risco nos empreendimentos de exploração e de produção minerais;

• a natureza finita, ou depreciável, característica (raw materials) das operações

mineiras;

• a importância socioeconômica da indústria para o Canadá;

• a operadora recebe apenas a concessão para minerar.

Dessa forma, o sistema tributário deve estar em consonância aos três diferentes

estágios da atividade:

1. extração (ou mineração propriamente dita)

2. beneficiamento (primeiro estágio)

3. processamento metalúrgico (indústria de transformação) – vai além do

primeiro estágio, incluindo a semi-manufatura e operações de manufatura (esse

estágio está sujeito a diferentes regras tributárias, distintas de mineração).

Nesse sentido, os sistemas de impostos de renda federal e provinciais, assim como

os impostos provinciais específicos sobre a mineração, devem conceder (e, de fato,

concedem) um tratamento generoso para a exploração e outras despesas intangíveis, além

de possibilitarem às companhias mineradoras recuperar a maioria do investimento de capital

inicial antes de começarem a pagar totalmente os impostos. O regime de imposto de renda

também concede amplas deduções para perdas decorrentes da flutuação de preços.

Finalmente, uma característica ímpar do imposto de mineração provincial e dos regimes de

royalties (ou impostos mineradores) é que eles estão baseados, principalmente, nos lucros

líquidos e não na produção, o que significa o quase não-recolhimento de impostos mineiros.

Consideradas como atividade de mineração para fins tributários

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É provável que esse tratamento diferenciado esteja ligado a questões mais

estratégicas, como por exemplo, a de assegurar o crescimento das reservas nacionais, que

estão declinando rapidamente. De acordo com o ultimo relatóriio do MAC, as reservas de

metais básicos e de metais preciosos são as que mais tem caído. No período de 1980 e

2005, as reservas de cobre declinaram de 17 para 6 milhões de toneladas, as de zinco de

25 para 5 milhões de toneladas, assim como as reservas de prata e de chumbo que também

registraram uma queda de 80%, nesse mesmo período. (FACTS & FIGURES, 2006, p. 1).

Tabela 5: Receitas públicas: Canadá, Ontario, British Columbia e municípios estudados (2004) Canada Ontario British

Columbia Logan Lake

Kirkland Lake

Timmins Sudbury Tipo de receita

em CAD$106 em CAD$103 Total de receita 300.884 98.934 37.234 4.041 24.033 91.164 468.000 Imposto de renda 79.627 32.368 7.622 - - - - Imposto sobre mineração e atividade madeireira

490 56 173 - - - -

Imposto sobre o consumo 84.554 34.300 11.292 - - - -

Rendas de investimento 35.456 3.637 5.755

Imposto sobre a folha de pagamento 9.444 4.205

Imposto sobre a propriedade 9.837 2.628 2.655 1.950 6.983 25.372 164.000

Impostos sobre o uso de recursos naturais e licenças

768 10 29 489 3.571 - 72.000

Transferências Intergovernamentais 499 11.954 - 171.000

Taxas e licenças municipais 245 1.029 - 8.700

Reservas 858 - - 13.700 Receita governamental per capita (CAD$ 1,00)

9.518 8.136 9.052 1.869 2.914 2.120 2.965

Fonte: Canadá e Províncias : Statistics Canada, CANSIM, table (for fee) 385-0001 (disponível em http://cansim2.statcan.ca/cgi-win/cnsmcgi.exe?Lang=E&RootDir=CII/&ResultTemplate=CII/CII_pick&Array_Pick=1&ArrayId=385-0001) Municípios: informações coletadas durante a pesquisa de campo (setembro e outubro de 2005)

A Tabela 6 se refere às principais fontes de receitas públicas no Canadá. Como se

pode observar, a base preferencial para cobrança do imposto no país como um todo e nas

províncias é sobre a renda (26% no Canadá, 33% em Ontario em 20% British Columbia) e

sobre o consumo (28% no Canadá, 35% em Ontario e 30% em British Columbia). Nos

municípios, a principal base de incidência tributária é sobre a propriedade (48% Logan Lake,

29% Timmis, 28% Kirkland Lake e 35% Sudbury). Esse perfil revela uma preferência pelo

financiamento público por receitas que não sobrecarregem o setor produtivo. As receitas

que incidem diretamente sobre a produção (imposto sobre a folha de pagamento e sobre os

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investimentos) têm um peso pequeno no total das receitas (15% no Canadá, 8% em Ontario

em 15% British Columbia).

Os tributos específicos sobre a mineração são lançados no balancete consolidado

juntamente com os tributos sobre a atividade madeireira e eles representam uma parcela

insignificante do imposto sobre a renda (0,6% no Canadá, 0,2% em Ontario em 2,3% British

Columbia). Além de pequeno, o imposto mineiro fica concentrado nas províncias e no

Governo Federal (em caso de terras federais). Os municípios, portanto, não recebem

impostos diretos da atividade mineradora, mas apenas os impostos sobre a propriedade e

algumas licenças, como ocorre com qualquer outra atividade produtiva. Ou seja, nos

municípios a mineração não está sujeita a qualquer tributação especial. A contribuição da

mineração à economia local fica, portanto, restrita à renda dos salários e às compras

realizadas localmente, além dos programas voluntários implantados pelas companhias. Isso

significa que o arranjo institucional do sistema tributário canadense voltado para a atividade

extrativa mineral dispensa a contribuição direta deste setor como fonte relevante de

financiamento do setor público, em todas as esferas. Isso só é possível porque o Canadá

logrou desenvolver estágios bem mais avançados da cadeia produtiva de bens minerais.

Certamente a atividade mineral foi e ainda é de grande importância para formação

social e econômica do Canadá. A intensificação dessas atividades ocorreu no final do século

XIX e, principalmente, no início do século XX. As regiões mineradoras visitadas tiveram

grande impulso, no período entre as guerras mundiais, como fornecedoras de insumos tanto

para a indústria bélica como para a reconstrução dos países no período de paz.

Ao longo do século XX, a indústria mineral canadense cresceu em tamanho, se

expandiu espacialmente para diversas partes do globo e se desenvolveu para segmentos de

maior agregação de valor. No entanto, a atividade extrativa mineral tem recebido

importantes incentivos governamentais, tais como o super flow trough share, deduções e

isenções de impostos, entre outros. As possíveis razões para isso talvez estejam

relacionadas à redução da vida útil das minas, às distâncias crescentes em relação aos

centros consumidores e exportadores (rumo ao norte), o que significa maiores custos de

produção, requerendo, portanto, maiores incentivos para a sua continuidade, além da

redução de importantes reservas, conforme mencionado anteriormente. Essas novas minas,

via de regra, estão em áreas indígenas ou próximas às áreas especialmente protegidas, o

que exige maiores cuidados sócio-ambientais. Tanto o Governo Federal quanto os das

províncias fazem questão de apoiar e incentivar todos os elos da cadeia produtiva, porém há

segmentos sociais que vêem a continuidade da mineração de forma muito crítica, como o

MiningWatch Canada.

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De acordo com Kneen (2006), um dos fundadores do MiningWatch Canada, os

marcos regulatórios da mineração no Canadá são inadequados e frágeis em sua

capacidade de imposição. Isso gera uma série de problemas ambientais e sociais para as

comunidades. Nesse sentido, ela defende a imediata retirada dos subsídios às companhias

mineradoras, o fim dos programas de apoio financeiro às empresas e o fim do papel acrítico

e pró-indústria que o Canadá sempre assume em organizações como o Banco Mundial, a

OCDE e a Convenção de Rotterdam, entre outros fóruns onde se discute o papel dos países

e das políticas voltadas para a mineração em todo o mundo.

Kuyek (2004, p. 5) destaca que o sistema tributário canadense tem mudado bastante

ao longo do tempo, no sentido de satisfazer as demandas da indústria que recebe milhões

sob a forma de subsídios perversos e não paga quase nada de imposto. De fato, a partir dos

dados dos balanços das quatro maiores companhias de mineração canadenses, compilados

por Kuyek (2004), observamos grande desproporção entre a receita gerada por essas

companhias e os impostos pagos. No ano de 2002, ao invés de recolherem, todas as

empresas da amostragem obtiveram reembolso de impostos (Tabela 7).

Tabela 6: Valor das vendas e dos impostos recolhidos pelas quatro maiores companhias mineradoras canadenses (2002/2003) em US$ milhões

companhia mineradora

valor das vendas

impostos pagos em 2003

impostos pagos em 2002

Barrick Gold 2.035 5 (16)

Placer Dome 1.763 44 (34)

INCO 2.474 (49) (639)

Noranda 4.657 24 (168)

Obs: os números entre parênteses correspondem a reembolso de impostos. Fonte: Kuyek (2004)

Não obstante as críticas, o Canadá é globalmente considerado uma economia

mineral sólida que logrou formar importantes aglomerações produtivas no rastro da indústria

mineira84. Destaca-se o forte segmento da indústria de máquinas e de equipamentos de

mineração, que desenvolve desde modernos instrumentos de prospecção que envolve

desde equipamentos aéreos aos complexos programas computacionais para

dimensionamento e controle de reservas.

A prestação de serviços no setor mineração é também um segmento muito forte que

se desenvolveu a partir da indústria mineral e é um componente fundamental da

aglomeração mineira (cluster). Há uma ampla gama de serviços relacionado às atividades 84 Em relação do PIB canadense, a participação do setor mineral em todas as suas etapas (da exploração ao produto semi-acabado), incluindo a produção de petróleo e gás natural, passou de 34,5%, em 1998, para 39,7% em 2005 (FACTS & FIGURES, 2005, p. 4)

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de prospecção, perfuração, consultorias diversas, serviços de engenharia, de exploração,

entre outros. Ritter (2001, p. 27) enumerou, em 1998, a existência de 609 empresas de

exploração mineral (129 senior e 408 junior), além de inúmeras outras empresas

independentes. O último relatório da MAC (FACTS & FIGURES, 2005, p. 6) estima a

existência de 2.360 firmas produtoras de bens e de serviços especialmente voltados para a

indústria mineira. O conhecimento especializado que essas empresas adquiriram em todos

esses anos de atividade é de um imenso valor, porque permite reduzir os gastos e aumentar

a eficácia das atividades de exploração, além de possibilitar a descoberta de novos filões e,

conseqüentemente, a conversão de jazimentos especulativos em projetos mineiros reais. A

Figura 6 ilustra a geografia do cluster mineiro na província de Ontario. A capital da província,

Toronto, é o centro financeiro e empresarial, com estreitas ligações com a capital do país,

Ottawa, e para os distritos mineiros de Sudbury, Timmins e Kirkland Lake e North Bay.

Figura 6: Geografia do cluster mineiro de Ontario Fonte: http://www.omicc.ca/about-3.html

Outros importantes serviços e atividades que compõem as economias de

aglomeração mineira do Canadá são (baseado em RITTER, 2001):

• serviços financeiros – um dos elementos fundamentais para o surgimento de

aglomerações mineiras no Canadá. A Bolsa de Toronto é atualmente o

principal centro de comercialização de ações, especialmente das companhias

junior. A Bolsa de Vancouver (CNDX), em torno da qual transita toda uma

rede de administradores financeiros, abriga por volta de 75% das empresas

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mineiras de todo o mundo. Em 1998, por volta de 1.500 companhias

operavam na CNDX;

• serviços de transportes – serviços áreos para as novas minas do tipo fly in fly

out;

• serviços de comunicação e difusão de informações, periódicos especializados

em mineração, entre outros, são vitais para a existência e o funcionamento de

aglomerações. Ritter (2001) destaca que o exame minucioso e constante das

atividades das numerosas companhias mineradoras, aliado à crítica

incessante de todos os atores são dois fatores de vital importância para

transparência e eficiência na aglomeração;

• organizações sociais:

imprensa especializada, o jornal The Nortern Miner foi fundado em

1915, o Canadian Mining Journal revista mensal existe desde 1879,

além de outros como o Canadian Miner, denominado o peiódico

canadense para negócios mineiros em todo o mundo, entre outros;

associações corporativas: há 16 associações de prospectores e

construtores de minas. Apenas o PDAC (Prospectors and Developers

Association of Canadá) tem 5.000 associados. A Canadian Mining

Association, fundada em 1935, abriga as minas mais importantes do

Canadá. A CAMESE (Canadian Association of Mining Equipment and

Services) tem a missão de promover a comercialização internacional

de bens e serviços produzidos por empresas canadenses do setor

mineiro, ela foi fundada em 1981 com 230 empresas associadas;

associações de profissionais ligadas ao setor mineral que figuram na

lista do Natural Resource Canadá.

• promoção de eventos especiais e feiras internacionais para a exposição dos

produtos e serviços relacionados ao setor. São famosas as feiras realizadas

pelo PDAC - a International Convention, além do Trade Show and Investors

Exchange, outro importante evento que reúne empresas e investidores do

setor mineral. Outro evento destacado são as reuniões anuais do Canadian

Institute of Mining, Metallurgy and Petroleum;

• ensino e capacitação, desempenha um papel vital na economia de

aglomeração. O ensino no Canadá é referência nas áreas de geologia,

engenharia de minas, mineração e metalurgia. Os departamentos de

engenharia civil, engenharia ambiental, engenharia mecânica e a sua

interação com os departamentos de informática têm possibilitado a criação de

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novos programas computacionais, tanto para a atividade de exploração como

para explotação de minas.

A política pública exerce um papel primordial na provisão de bens e serviços públicos

necessários às economias de aglomeração, entre os quais se destacam:

• serviços de topografia e cartografia geológicos, que se iniciaram em 1842

com a criação do Geological Survey of Canada (Comissão Geológica do

Canadá). A partir de então tem se desenvolvido todo um aparato institucional,

com a criação de órgãos como: Canada Center for Remote Sensing, National

Geological Surveys Comittee, além de várias comissões de geólogos

provinciais e outros;

• dotação de infra-estrutura necessária em áreas remotas, além de facilitação

da atividade mineradora que gera externalidades positivas beneficiando

segmentos sociais mais amplos;

• apoio à comercialização internacional, especialmente às pequenas e médias

empresas que participam das economias de aglomeração, por intermédio dos

acordos e negociações para acesso aos mercados estrangeiros,

particularmente, para produtos processados e semi-processados.

• serviços de ensino e de pesquisa científica e tecnológica, por intermédio de

financiamento público

• apoio geral à aglomeração. Segundo Ritter (2001) o governo federal é

consciente da importância da aglomeração há pelo menos 25 anos, ou seja,

muito antes que Michael Porter tivesse cunhado o termo cluster. Analistas

canadenses já destacavam também a importância de muitas das atividades

do entorno da mineração para o desenvolvimento integral da economia

mineira canadense. Entre os incentivos governamentais se destacam: política

para promoção e reforço do vínculo entre a mineração e a indústria de bens

de capital; incentivos para integração com a indústria de equipamentos com

vistas a facilitar o processo de inovação e criação de novos produtos; criação

de linhas de financiamento especiais para a mineração.

Certamente a densidade do tecido social e o fortalecimento das organizações da

sociedade foram e são de importância decisiva para o desenvolvimento, não apenas do

setor mineral, mas de toda a economia canadense. No Canadá, todo pequeno município

dispõe de pelo menos uma bem equipada biblioteca. Kirkland Lake, por exemplo, município

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com 8.900 habitantes, tem uma grande biblioteca desde 1929, o que revela a importância

que a sociedade atribui à educação.

Coloumbe e Tremblay (2006) realizaram um estudo econométrico com base nos

indicadores de escolaridade do Canadá, durante o período de 1951 a 2000, e concluiram

que cada ano adicional médio de escolaridade da população canadense repercutiu em um

acréscimo de 8,5%, em média, na renda per capita nacional.

O breve relato sobre realidade canadense permitiu extrair algumas considerações:

1. a legislação ambiental relativa à dimensão ecológica avançou significativamente

nos últimos 30 anos. Atualmente, o Canadá é referência para muitos países

quanto ao modelo do trust fund exigido antes da implantação do

empreendimento, já com a perspectiva do fechamento de mina. O mesmo ocorre

em questões relativas aos níveis máximos e emissões, à saúde e segurança e à

recomposição das áreas degradadas pela mineração;

2. esse avanço resulta de uma longa experiência com a atividade mineral e,

consequentemente, com os danos que ela provocou;

3. por outro lado, os trabalhos de campo e os estudos científicos (ROBERTS, 2005;

ROBINSON & BISHOP, 1999) apontam para o fato de que, no que se refere à

dimensão socioeconômica, a legislação mineral não é tão rigorosa assim;

4. uma das hipóteses é de que a sociedade no Canadá é relativamente homogênea,

uma vez que não se verificam grandes disparidades nos indicadores

socioecômicos entre províncias e municípios;

5. no entanto, as cidades monoindustriais de base mineira estão desprovidas de

instrumentos para realizar a transição pós-fechamento da mina. Esse problema já

está sendo sentido por cidades que estão em vias de encerrar suas atividades de

mineração, como Logan Lake (BC) e Kirkland Lake (ON).

6. portanto, mesmo em uma economia rica e desenvolvida, como a do Canadá, que

já atingiu estágios mais avançados da cadeia produtiva mineral, a questão da

distribuição e uso da renda mineira, como um meio para promoção de

alternativas à dependência da mineração e, consequentemente, atender à

dimensão socioeconômica é assunto da maior importância para as economias

municipais;

7. casos de sucesso na tentativa de diversificação, como em Sudbury (ON), não

ocorreram espontaneamente, mas sim foram frutos de uma ação articulada em

prol do desenvolvimento local.

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As demandas de Timmins (ON) revelam isso. No processo de planejamento

realizado pelo município, as principais prioridades listadas para o setor mineral foram as

seguintes:

1. examinar e influenciar os governos a implementar (melhorar) os incentivos fiscais

que possam ser usados para financiamento de indústrias de base mineiras

(influenciar a extensão do programa federal flow-through share) e apoiar a

atração de pessoas e novos negócios para o desenvolvimento da área;

2. determinar se a percentagem do royalty mineral ou do imposto sobre os

combustíveis ou se um novo imposto poderia ser implementado para ajudar os

governos municipais a melhorar a sua infra-estrutura;

3. estabelecer um Centro de Pesquisa Ambiental voltado para a indústria mineral

que desenvolva estudos sobre a qualidade das águas e do ar, além da criação de

um banco de dados sobre os problemas ambientais locais;

4. continuar o apoio à iniciativa do programa Discover Abitibi com o objetivo de

gerar novas minas e ampliar a vida útil das minas atuais.

Distintamente do Canadá, o Brasil tem experimentado uma política inovadora na

tentativa de captação da renda mineral - a experiência da CFEM, uma espécie de royalty

mineral que beneficia majoritariamente o município produtor (Capítulo 6). Na prática, é um

recurso relativamente livre que o poder público local dispõe para implementar projetos de

diversificação da economia, os quais, se bem utilizados, poderão contribuir para

manutenção do bem-estar socioeconômico quando a mineração se exaurir.

O principal foco da nossa pesquisa no Canadá foi identificar o papel que a indústria

mineral exerce, principalmente, na esfera do município, visando fundamentar comparações

com os municípios mineradores brasileiros. O que será feito no capítulo seguinte. A idéia

inicial era a de conhecer as estratégias e os instrumentos utilizados pelos governos locais

para captar a renda econômica, além de conhecer como elas têm sido utilizadas para a

promoção do desenvolvimento local. Porém, essa comparação foi inviabilizada por causa

dos regimes fiscais distintos – no Canadá o município não recebe renda mineira e as

províncias, quando recebem, não têm um plano de uso especial para elas.

O capítulo seguinte apresenta os indicadores das dimensões clássicas do

desenvolvimento sustentável - ambientais, econômicos, sociais e de governança - dos 15

maiores municípios mineradores do Brasil e de 35 municípios não-mineradores que estão

nos entornos. O objetivo é captar os efeitos da minreação para a dinâmica do

desenvolvimento dos municípios de base mineira.

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4 MINERAÇÃO DE LARGA ESCALA NOS MAIORES MUNICÍPIOS-MINERADORES DO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM AS DIMENSÕES CLÁSSICAS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Conhecer a base concreta onde ocorrem os fenômenos físicos, econômicos, sociais,

culturais, políticos e outros tantos decorrentes do processo civilizatório é um dos principais

desafios da proposta do desenvolvimento sustentável, pois sem isso estratégias para

promoção do desenvolvimento são falhas pela falta de aderência à realidade. Daí a

importância fundamental do uso de indicadores, a fim de verificar a influência da mineração

nessas dimensões “clássicas” do desenvolvimento sustentável. É nessa perspectiva que

este capítulo objetiva apresentar um conjunto de indicadores econômicos, ambientais,

sociais e de governança visando conhecer as associações existentes entre eles e a

atividade de mineração.

Indicadores que revelem a trajetória do município minerador são importantes para

verificar as transformações que sofreu ao longo do tempo. No entanto, como saber se essas

mudanças se devem à existência de atividade mineral ou a outros fatores? Como uma

alternativa para contornar essa dificuldade, recorreu-se à comparação dos mesmos

indicadores para os municípios não-mineradores do entorno do município estudado. Por

estarem estabelecidos na mesma região geográfica, é provável que esse conjunto de

município minerador e entorno receba influências espaciais semelhantes. No entanto, por ter

uma atividade de extração mineral, é admissível que municípios de base mineradora

apresentem características próprias. Quais são essas peculiaridades? Como elas afetam as

dimensões clássicas do desenvolvimento desses espaços?

Observada a partir da ótica da sustentabilidade forte, Manfred Nitsch (1995), assim

como Cleveland & Ruth (1997) argumentam que a mineração é intrinsecamente

insustentável. Portanto, não faz sentido falar de mineração e sustentabilidade e, dessa

forma, esta tese não teria razão de existir. Mas se forem consideradas outras perspectivas,

como a da Escola de Londres e da própria sustentabilidade fraca de Solow (1993), é

possível estabelecer alguns indicadores que captem as transformações ambientais dos

municípios mineradores e do seu entorno. Mas, será que é possível afirmar categoricamente

que a mineração se associa com os danos ou com a melhora das condições ambientais?

Essa pergunta aparentemente trivial é de difícil resposta, pois as informações secundárias

disponíveis, que permitiriam formar esse quadro, são insuficientes e, em alguns casos,

pouco consistentes quando confrontadas com a realidade. Contudo, a partir das

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informações disponíveis e das pesquisas em campo, foi possível elaborar alguns

indicadores que demonstraram coerência. Um desses indicadores foi o da criação

institucionalização do meio ambiente, a partir das informações disponibilizadas pelo IBGE

(Anexos 3 e 4). Esses e outros indicadores foram conferidos com os levantamentos feitos

em campo para os municípios de base mineradora, com o propósito de verificar se o tipo de

minério explotado ou se a região geográfica onde a mina está instalada estão, de alguma

forma, associados aos indicadores ambientais municipais.

Para a dimensão econômica, a evolução no tempo do PIB, e do PIB per capita dos

municípios mineradores vis-à-vis o seu entorno, e a média de seus Estados, permitirá saber

se, em nível municipal, a mineração é um fator que contribui favoravelmente para o

crescimento econômico, sendo um “trampolim para o desenvolvimento”, como atestam as

teses clássicas de crescimento, respaldadas pelas políticas de organizações internacionais

tais como o Banco Mundial. Ou, ao contrário, é uma maldição, e municípios mineradores

apresentam atrasos em relação ao demais não-mineradores, como atestam as teses de

Bunker (1988) e dos setorialistas (SHAFER, 1994), amparados pelas teorias de enclave dos

dependencistas e outros.Os indicadores de dimensão econômica trazem importantes

contribuição às teorias que tratam de mineração e desenvolvimento, pois a maioria delas é

feita para nações e comunidades. Essa abordagem de examinar conjuntamente a cidade

mineira e seu entorno, a partir de uma perspectiva nacional, é inovadora.

Aliada à dimensão econômica, verificar o comportamento dos indicadores de

crescimento populacional dos municípios mineradores vis-à-vis o seu entorno e à média de

seus Estados ajuda a estabelecer associações entre a mineração e a dinâmica

populacional. A variação populacional influencia o PIB per capita e, conseqüentemente, a

dinâmica de crescimento econômico, com bem ressaltam as primeiras teses de Solow

(1956). Ainda nessa perspectiva, é importante verificar o comportamento, ao longo do

tempo, das informações sobre população ocupada. Será que as oportunidades de

crescimento estão, de fato, se materializando em emprego? Conforme explorado na revisão

teórica sobre o desenvolvimento, Hirschman (1977) e outros vêem com ceticismo a

possibilidade de geração de emprego a partir de uma base mineradora, por causa dos

fracos encadeamentos da produção para frente e para trás, da possibilidade de efeitos nulos

sobre o consumo (se a renda for gasta em outras localidades) e da falta de competência de

os governos gerirem adequadamente os encadeamentos fiscais. Será que eles estão

certos?

Para a dimensão social, os indicadores de desenvolvimento humano municipal

(IDHM) e sub-índices de educação, de longeividade e de renda, permitem verificar até que

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ponto a mineração está positivamente associada à expansão do desenvolvimento humano

nos municípios de base mineira e seus entornos. Essa criação de Amartya Sen representou

um enorme avanço para mensuração da dimensão humana do desenvolvimento, mas, por

ser um índice-síntese, não consegue captar detalhes que podem fazer muita diferença, em

nível municipal. Nesse sentido, foram incluídos outros indicadores na análise da dimensão

social (Anexos 3 e 4), objetivando apresentar um quadro mais consistente dessa esfera do

desenvolvimento municipal. Indicadores de pobreza – percentual de pobres em relação ao

total da população - e de concentração de renda – índice de Gini - dos municípios

mineradores vis-à-vis o seu entorno e à média de seus Estados ajudam a conhecer até que

ponto a mineração é um fator que contribui, ou não, para a redução da pobreza e para a

maior eqüidade na distribuição de renda.

Para a dimensão da governança foram utilizados indicadores das finanças públicas

municipais, em diferentes períodos, com o objetivo de conhecer a trajetória das receitas e

das despesas públicas dos municípios mineradores vis-à-vis os municípios não-

mineradores. A partir deles é possível saber até que ponto a mineração contribui

favoravelmente para o equilíbrio financeiro das receitas públicas? Se é certo que a

mineração incrementa, não somente a quantidade como a qualidade do gasto público? Será

que o perfil da arrecadação e dos dispêndios dos municípios mineradores está associado ao

desempenho dos indicadores de outras dimensões?

Antes de apresentar os indicadores será feita uma breve caracterização

socieoeconômica do Brasil e dos seus mais expressivos estados de mineradores.

4.1 A MINERAÇÃO E A SOCIEOECONÔMIA DO BRASIL E DOS SEUS MAIS EXPRESSIVOS ESTADOS DE MINERADORES

Com uma população de 187 milhões de habitantes (projeção do IBGE para 2006), a

taxa de crescimento populacional brasileira, entre 1991-2000, foi 1,4% ao ano, com grandes

variações interestaduais. No estado da Paraíba, por exemplo, essa taxa foi de apenas 0,7%,

enquanto que no Amapá foi de 5,1%. Resultado de um longo histórico de exclusão social e

concentração de renda, o Brasil exibe uma das piores distribuições de renda do mundo;

muito embora o índice de Gini venha caindo nos últimos anos (de 0,614, em 1990, para

0,569, em 2005), em 2002, ocupou a quarta posição entre os paises com renda mais

concentrada do mundo, perdendo apenas para Serra Leoa, República Centro Africana e

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198

Suazilândia (BANCO MUNDIAL, 2005). Os indicadores sociais estão bem distantes dos

padrões aceitáveis para os países considerados desenvolvidos. A taxa de analfabetismo da

população de mais de 15 anos é de 11,5%, o número médio de anos de estudo é 6,5 e 31%

da população brasileira estão abaixo da linha da pobreza (PNUD/IPEA, dados de 2005).

Esses indicadores se agravam de acordo com a região geográfica, uma vez que são

marcantes no Brasil as disparidades regionais. Em 2000, a renda média da região Sudeste

foi quase duas vezes e meia maior do que a das regiões Norte e Nordeste (Mapa 3). Nesse

mesmo ano, o Distrito Federal apresentou um IDH de 0,844, enquanto que no Maranhão

esse mesmo indicador foi de 0,636. A média brasileira é de 0,757 (IPEA/PNUD).

Mapa 3: Renda per capita dos estados brasileiros (R$1,00 de 2000) Fonte: IPEA/PNUD (Atlas do Desenvolvimento Humano, 2000).

Por outro lado, em termos de PIB, a posição do Brasil tem oscilado entre a nona e a

décima quarta economia mundial. Em 2006, o PIB brasileiro alcançou os US$ 900 bilhões.

De acordo com o DNPM, o Brasil ocupa a primeira posição mundial em reserva de nióbio

(96,9%) e tantalita (46,3%), a segunda de grafita natural (26,8), a terceira de bauxita

metalúrgica (8,3) e vermiculita (5,7), a quarta de estanho (11,7%) e magnesita (8,9%) e a

quinta de minério de ferro (7,2%) e manganês (2,5%) (SUMÁRIO MINERAL, 2005). A

Tabela 7 apresenta os principais produtos minerais primários que compõem a pauta de

exportações brasileiras e o destaque maior é para o minério de ferro (em suas diferentes

formas), que isoladamente responde por 6,2% do total. (SUMÁRIO MINERAL, 2005).

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199

Tabela 7: Brasil - exportações de minerais (2005)

mineral valor US$ 1.000

Participação nas exportações minerais

minério de ferro 7.296.631 6,167% rocha ornamental, gesso, cimento, amianto.

829.076 0,701%

cobre 334.986 0,283% manganês 139.625 0,118% caulim 224.887 0,190% bauxita metalúrgica 229.913 0,194% cromo 29.423 0,025% chumbo 14.346 0,012% nióbio 4.773 0,004% tungstênio 2.925 0,002% prata 2.370 0,002% ilmenita 1.301 0,001% zirconita 48 0,000% antimônio 23 0,000% outros 42 0,000% exportação de minerais 9.110.369 7,701% exportações brasileiras 118.308.270

Fonte: Sistema Alice (SECEX).

No entanto, o Brasil não é considerado uma economia de base mineradora, uma vez

que a participação dos minerais no PIB nacional é pouco mais que 4%85 e nas exportações

responde por apenas 7,7% (SUMÁRIO MINERAL, 2006). Contudo, alguns estados da

federação são tipicamente mineradores, como o Pará, por exemplo, pois em torno de 50%

das suas exportações provém da indústria extrativa mineral, percentual que passa para 81%

incluindo-se os produtos minerais transformados (SECEX, 2006). Minas Gerais, embora já

tenha diversificado bastante a sua economia, tem 24% das suas exportações oriundas da

mineração, percentual que passa para 52% se incluídos os produtos minerais

transformados. Os estados da Bahia e de Goiás estão também se assemelhando às

características das economias de base mineira.

O Gráfico 9, a seguir, mostra a participação dos mais importantes Estados

mineradores (não-petróleo) do Brasil no valor da produção mineral (VPM) nacional em dois

momentos. Ao longo de quase uma década - 1996 e 2004 - percebe-se que houve

significativas mudanças na posição relativa desses Estados. Em 1996, um terço do VPM era

proveniente de Minas Gerais; uma parcela significava (17%) foi procedente São Paulo, com

sua produção de não-metálicos; o Pará já começava a despontar no cenário nacional

também com 17% do VPM. Em 2004, registrou-se uma queda relativa na posição dos

maiores produtores e um aumento da participação de outros Estados. Os maiores

85 Dados relativos ao ano de 2004, inclusive petróleo e gás natural.

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200

destaques foram para Goiás, que dobrou sua participação, e Pará que passou a responder

por 24% do VPM nacional, superado apenas por Minas Gerais que, por sua vez, continua

respondendo pela maior parcela do VPM nacional.

32%

17%

6%5%

17%

23%29%

24%10%

5%

2%

30%

Minas Gerais Pará Goiás Bahia São Paulo Outros

2004

1996

Gráfico 9: Brasil: participação dos estados no valor da produção mineral brasileira – 1996- 2004 Fonte: DNPM (Anuário Mineral Brasileiro -1997 e 2005)

O VPM é um indicador importante, porém quanto ponderado por outros indicadores

como mão-de-obra diretamente empregada no segmento mineral, número de minas

existentes e o valor da CFEM recolhida, exibe um quadro nacional diferente que, de certa

forma reflete as acentuadas disparidades regionais brasileiras (Gráfico 10).

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201

-

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

Pará Goiás Bahia Minas Gerais Brasil Outros São Paulo

em R

$

0,0%

0,5%

1,0%

1,5%

2,0%

2,5%

em %

vpm/n.minas vpm/mão-de-obra cfem/vpm

Gráfico 10 Brasil e alguns estados, indicadores de produtividade da mineração: mão-de-obra, número de minas, CFEM (2004) Fonte: DNPM (Anuário Mineral Brasileiro, 2005)

Não obstante o Pará estar na segunda posição em termos de VPM nacional, quando

são considerados outros indicadores que têm o potencial de dinamizar a renda regional,

como a mão-de-obra empregada no setor, por exemplo, verifica-se que esta é apenas 20%

da empregada em Minas Gerais (Tabela 8). Isso faz com que a produtividade da mão-de-

obra do Pará seja quatro vezes superior que a de Minas Gerais. No Pará, cada trabalhador

no setor mineral de larga escala gera, em média, R$ 694 milhões, enquanto que em Minas

Gerais esse coeficiente é de R$ 174 milhões.

Tabela 8: Brasil Unidades da federação: VPM, mão-de-obra, número de minas, CFEM (2004)

unidade da federação

valor da produção mineral (VPM)

(R$ 1.000)

mão-de-obra empregada na

mineração

número de minas

CFEM (R$ 1.000)

Minas Gerais 6.640.930 38.107 357 152.971 Pará 5.374.084 7.747 41 95.090 Bahia 1.115.675 9.102 56 8.986 Goiás 2.244.150 7.741 109 14.315

São Paulo 2.170.383 15.990 530 8.595 Outros 5.314.413 56.080 1.274 46.137 Total 22.859.634 134.767 2.367 326.093

Fonte: DNPM (Anuário Mineral Brasileiro, 2005)

Verifica-se também que, dado o reduzido número de minas existentes, a

produtividade por mina (relação VPM/número de minas) no Pará é sete vezes superior a

Minas Gerais - R$ 131 milhões (PA) e R$ 19 milhões (MG). A despeito do valor relativo que

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202

a gera mineração no Pará, a CFEM recolhida por unidade de VPM é bem menos favorável

ao Pará (1te,8%) que em Minas Gerais (2,3%).

A partir da caracterização das linhas gerais da mineração no Brasil constatou-se que o

país não é uma economia de base mineradora, muito embora alguns Estados apresentem

explicitamente esse perfil. Além disso, no interior desses Estados há municípios cuja base

produtiva é totalmente assentada na mineração. Como é o desempenho soecoeconômico e

ambiental desses municípios mineradores? Para eles, a mineração é dádiva ou maldição?

As próximas seções apresentam indicadores ambientais, econômicos, sociais e de

governança para os 15 municípios selecionados, assim como para os seus entornos não-

mineradores, a comparação da trajetória desses dois conjuntos de municípios pode lançar

luzes sobre esse dilema.

4.1 A DIMENSÃO AMBIENTAL

Uma das hipóteses desta tese é que a institucionalização da dimensão ambiental86 no

mundo e, em particular, no Brasil (acompanhando a dinâmica global), tem proporcionado um

marco regulatório (particularmente as resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente –

CONAMA - 001/1986 e 237/1997), instrumentos coercitivos e de controle – estudos de

impactos ambientais (EIAs), relatórios de impactos ambientais (RIMAs) planos de controle

ambientais (PCAs), relatórios de controle ambientais (RCAs), planos de monitoramentos,

planos de fechamento de mina, apresentação e avaliação dos EIA/RIMAs em audiências

públicase nos Conselhos de Meio Ambiente, entre outros - além dos instrumentos de mercado

(cotação das ações em bolsas de valores) e demais instrumentos voluntários (como a adesão

aos programas de certificação ambiental da série ISO 14.000, por exmplo), exerceram forte

pessão para que as grandes companhias mineradoras assumissem um maior compromisso

com a dimensão ambiental da sustentabilidade, muito embora, conforme o exemplo das

minas abandonadas do Canadá, da região carbonífera de Santa Catarina e de outras regiões,

já tivesse acontecido grande parte do estrago ambiental.

Adicionalmente, no Brasil, o direcionamento ao mercado exportador é um dos maiores

fatores de pressão para uma atitude mais pró-ecologia por parte das companhias

86 Em seu sentido amplo, a dimensão ambiental deve comportar além o meio ecológico ou biofísico (água, ar , terra e biodiversidade) o meio socioeconômico. No entanto, para fins deste estudo a expressão “meio ambiente” fica restrita ao meio biofísico.

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203

mineradoras. No entanto, o mesmo não ocorre com a dimensão socioeconômica, que não

conta com o mercado exportador como um aliado e, tampouco, com marcos regulatórios

adequados para garantir que a exaustão dos recursos minerais de hoje se converta em renda

sustentável para as futuras gerações.

Os indicadores ambientais que serão analisados, longe de exaustivos, são os

acessíveis a partir de informações secundárias que permitiram formar um quadro

comparativo entre o conjunto de municípios mineradores e os seus entornos não-

mineradores. Nesse sentido, foram considerados cinco conjuntos de indicadores: 1)

institucionalização da dimensão ambiental, 2) municípios mineradores e desmatamento

(apenas para os municípios da Amazônia), 3) municípios mineradores e incidência de

doenças, 4) condições do meio ambiente em municípios mineradores e 5) políticas de meio

ambiente das empresas nos municípios mineradores.

4.1.1 Indicadores de institucionalização da dimensão ambiental

Os indicadores sobre a institucionalização do meio ambiente, elaborados pelo IBGE

para todos os municípios brasileiros, em 2002, ainda que parciais, oferecem bases para

fazer um interessante quadro comparativo entre os municípios mineradores e o seu entorno

(vide Anexo 1, Tabela B).

Para a elaboração deste quadro, foram consideradas a existência das seguintes

variáveis: Conselho municipal de meio ambiente (CMMA) ativo (que se reuniu nos últimos

12 meses); despesa per capita com o meio ambiente87; existência de órgão ambiental, lei

ambiental e unidades de conservação (UCs) municipais (vide Anexo 2). Foi atribuído um

ponto para a existência de cada uma das variáveis e zero para a sua não-existência. A

pontuação máxima que um município pode ter é cinco, caso existam nele todas as variáveis.

A pontuação mínima é zero, na inexistência total. As Figuras 7 e 8 a seguir apresentam os

resultados para cada conjunto de municípios mineradores e não-mineradores.

87 Essa variável foi obtida a partir dos planos de prestação de contas dos municípios mineradores disponibilizados pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e do projeto Finanças do Brasil (FINBRA), para o ano de 2003 (http://www.stn.fazenda.gov.br/estados_municipios/index.asp ).

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204

0

1

2

3

4

5Itabira

Mariana

Corumbá

Minaçu

Paracatu

Santa Bárbara

Parauapebas

ForquilinhaVitória do Jari

Crixás

Ipixuna do Pará

Rosário do Catete

Jaguarari

Canaã dos Carajás

Oriximiná

0

1

2

3

4

5Laranjal do Jari

PirangaAquidauana

Nova Era

Maracajá

Nova Veneza

Andorinha

Mozarlândia

Nova Crixás

Jaboticatubas

Unai

Porto Murtinho

Santo Amaro das Brotas

Mazagão

Campo Formoso

UauáCampinaçu

AlvinópolisÁgua Azul do NorteCurionópolis

Capela

Maruim

Trombas

Barra Longa

Dom Bosco

Miranda

Aurora do Pará

Eldorado dos Carajás

Terra Santa

Meleiro

Antonio Dias

Santa Fé de Minas

Capitão Poço

FaroNova Esperança do Piriá

Figura 7: Institucionalização do meio ambiente nos municípios mineradores Fonte: Elaborado a partir do Anexo 3

Figura 8: Institucionalização do meio ambiente nos municípios não-mineradores Fonte: Elaborado a partir do Anexo 3

Os municípios mineradores foram os que receberam as maiores pontuações, com

destaque para Itabira (MG), Mariana (MG) e Corumbá (MS). O único município minerador

que recebeu a pontuação zero foi Oriximiná (PA). A média para o conjunto de municípios

mineradores foi de 3,2, enquanto que para o conjunto de municípios não-mineradores foi de

2, ou seja, uma diferença de 60%.

Esses resultados são um forte indício de que a existência da atividade de mineração

contribui positivamente para a institucionalização da dimensão ambiental nos municípios

onde ela ocorre. No entanto, quando se observa as pontuações no interior dos municípios

mineradores, verifica-se um componente regional forte: os municípios da regiões Norte e

Nordeste com os menores pontos e os municípios das Regiões Sul e Sudeste com pontos

maiores. A única exceção é Parauapebas (PA).

O Mapa 4 e os Gráficos I e II, a seguir, ilustram a distribuição geográfica dos

municípios, a partir da interrelação dessas variáveis.

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205

Mapa 4: Instituições ambientais nos municípios mineradores do Brasil e entorno não-minerador (2002) Fonte: Elaboração própria com base no IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros – Meio Ambiente, 2002 (Anexo 3)

O Gráfico I relaciona a existência de CMMA ativo e despesa per capita com o meio

ambiente. Entre os que têm CMMA ativo, o município de Itabira se destaca como o de maior

despesa per capita com o meio ambiente. Entre os municípios mineradores da região Norte,

apenas o município de Parauapebas (PA) tinha CMMA, muito embora todos tenham

registrado gastos com o meio ambiente, isto é, realizaram despesa sem uma prévia

discussão em Conselhos sobre gastos e prioridades.

O Gráfico II relaciona a existência de órgão ambiental e UCs. Mais uma vez, Itabira

(MG) se destaca como o município que apresentou órgão ambiental próprio e o maior

número de UCs municipais (sete). Do lado oposto, o município de Vitória do Jari (AP)

registrou despesa com o meio ambiente, mas não tem CMMA, UCs e órgão ambiental.

Esses resultados apontam para o fato de que os maiores escores estão justamente

naqueles municípios mais fortemente afetados pela atividade mineradora, como Itabira

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206

(MG), e/ou que têm área de especial interesse ecológico, como o caso dos municípios de

Corumbá, no Pantanal (MS).

4.1.2 Municípios mineradores e os indicadores de desmatamento

Informações disponíveis e sistematizadas sobre desmatamento municipal existem

apenas para os municípios da Amazônia - projeto PRODES do Instituto Nacional de

Pesquisas Espaciais (INPE). Nesse sentido, a Tabela 9 e o Mapa 5 apresentam as

estatísticas de desflorestamento (% em relação à área municipal), de 2000 e de 2005, e a

taxa de desmatamento dos municípios mineradores do Estado do Pará 88 e seus entornos.

Tabela 9: Área desflorestada (% da área total) dos municípios mineradores do Pará e de seus entornos (2000 e 2005)

municípios desflorestamento até 2000

desflorestamento até 2005

taxa média anual de variação do

desflorestamento 2000/2005

Nova Esperança do Piriá

6% 54% 44%

Capitão Poço 37% 62% 9% Aurora do Pará 28% 42% 7% Ipixuna do Pará* 33% 48% 6% ESTADO DO PARÁ 12% 17% 6% Eldorado dos Carajás 74% 88% 3% Água Azul do Norte 56% 64% 2% Terra Santa 15% 17% 2% Parauapebas* 16% 18% 2% Canãa dos Carajás* 51% 54% 1% Curionópolis 84% 86% 0% Faro 2% 2% 0% Oriximiná* 1% 1% 0%

* municípios de base mineira Fonte: Projeto PRODES (INPE) http://www.dpi.inpe.br/prodesdigital/prodesmunicipal.php (Anexo 3)

Os dados da Tabela 5 revelam que há uma grande assimetria nas taxas de

desmatamento dos municípios mineradores do Pará, assim como em seu entorno. É

provável que essas taxas sigam muito mais um padrão microrregional de uso e ocupação do

solo do que sejam determinadas pela existência de atividade de mineração.

Oriximiná foi o primeiro município paraense a abrigar um empreendimento minerador

de larga escala voltado principalmente para o mercado exportador. Isso ocorreu no final dos

anos 1970. Todavia, tanto ele como o seu entorno apresentam uma das mais baixas taxas

88 Nesse período não houve alteração dos índices de desmatamento dos municípios mineradores do Amapá e entorno. Em 2000 e 2005, Vitória do Jari apresentou o mesmo percentual de 7%, assim como Laranjal do Jari (0%), somente Mazagão passou de 0% para 1%.

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207

de desmatamento do Estado. Isso é contrário do que ocorre com a região de Carajás que,

com exceção de Parauapebas (por causa da política de áreas reservadas da CVRD),

registra uma das taxas mais elevadas de desmatamento do Estado.

No nordeste paraense, uma das regiões de mais antiga ocupação do Estado e, por

conseguinte, uma das mais desflorestadas, está se verificando uma rápida expansão do

desmatamento, isso tem sido provocado, principalmente, pela expansão do agronegócio

(soja). Portanto, é muito provável que Ipixuna do Pará, assim como o seu entorno, esteja

seguindo um padrão de desmatamento determinado por outra dinâmica produtiva que não a

mineração.

Mapa 5: Índices de desflorestamento nos municípios mineradores do Pará e entorno não-minerador (2000-2005) Fonte: Tabela 5

Quando se compara o mapa acima com o Mapa 6, de desflorestamento da Amazônia

Legal, essa dinâmica é perceptível claramente. A região de Ipixuna do Pará, já estava

bastante desflorestada quando os projetos do caulim iniciaram, em 1996. Existe uma

pequena mancha de floresta, no meio do “arco do desmatamento”, representada pela área

de Carajás e UCs, e a região Oeste do Estado, ainda bastante preservada.

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208

Mapa 6: Desflorestamento na Amazônia Legal (1997-2005) Fonte: Projeto PRODES, op cit, (Anexo 3)

A possibilidade de que a mineração de larga escala possa contribuir para o

desenvolvimento da Amazônia e que seja ambientalmente não agressiva, já tem sido

debatida por vários autores por autores. Hope (1992) condena as formas de exploração

madeireira e pecuária da Amazônia e afirma que a mineração é a atividade que oferece a

melhor chance para acessar a riqueza da região sem destruir o patrimônio natural e a

diversidade única de plantas e animais ali encontrados. Smith et al afirmam que os impactos

ambientais dos empreendimentos mineiros de larga escala são localizados e de “mínima

significância ambiental” (SMITH et al, 1995, p. 30). Entretanto, esses autores pouco dizem a

respeito do desafio de viabilizar mecanismos eficientes de transferência dessa riqueza para

a superação da pobreza da população local.

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209

4.1.3 Municípios mineradores e incidência de doenças

Informações sobre incidência de morbidade hospitalar, segundo a distribuição

percentual das internações por grupos de causa, disponibilizadas para todos os municípios

brasileiros pelo Banco de dados de Sistema Único de Saúde (DATASUS), para o ano de

2005, são indicadores interessantes que permitem verificar se há associação entre certos

tipos de doenças típicas de mineração nos municípios mineradores do estudo. As

informações sobre morbidade hospitalar estão sintetizadas nas Tabelas 10 e 11 e no Mapa

7. As seis categorias de doenças selecionadas foram aquelas mais mencionadas na

literatura sobre o tema e nas entrevistas realizadas em campo. As informações se referem

às médias observadas para o conjunto de municípios mineradores e não-mineradores, além

dos valores efetivos (mínimo e máximo) para cada conjunto, bem como a diferença (em

termos percentuais) observada entre as médias. A avaliação das médias amostrais foi feita

com o teste “estatística t”, com o nível de significância de 5%.

Tabela 10: Incidência de morbidade hospitalar, por causa de internação – média dos municípios mineradores e não-mineradores (em % do total de internações). (2005)

categoria/motivo da morbidade

infecto-contagiosas

neoplasias transtorno mental

respiratória má formação

lesão

municípios mineradores 10,90 3,49 1,14 12,75 0,44 6,29 mínimo 2,40 0,90 - 3,90 - 3,50 máximo 33,40 7,90 4,90 22,50 0,80 9,70

municípios não- mineradores 11,18 2,99 1,03 16,79 0,50 7,11 mínimo 3,20 - - 5,30 - 2,10 máximo 27,70 9,70 4,10 39,30 3,10 18,40

diferença (minerador/não-minerador)

-2% 17% 11% -24% -12% -12%

teste t -0,10939804 0,69385953 0,2590925 -2,04119151 0,51264033 0,98665

Fonte: Elaboração da autora a partir de informações do DATASUS (2005) (Anexo 3)

Os testes estatísticos revelaram não haver diferenças significativas entre as médias

das doenças do conjunto de municípios mineradores e não-mineradores, mas reveleram

diferenças entre o conjunto de municípios mineradores das regiões Norte e Nordeste em

relação aos municípios mineradores das demais regiões apenas quanto às doenças infecto-

contagiosas.

Tabela 11: Incidência de morbidade hospitalar, por causa de internação de doenças infecto-contagiosas – média dos municípios mineradores das regiões Norte e Nordeste e das demais regiões (em % do total de internações). (2005)

indicador municípios mineradores das regiões Norte e Nordeste

municípios mineradores das regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste

Média 15,78 6,29

teste t 2,221341 Fonte: Elaboração própria a partir de informações do DATASUS (2005)

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210

As doenças infecto-contagiosas (infecciosas e parasitárias) estão intimamente

relacionadas às condições socioeconômicas, especialmente, à renda e à educação.

Portanto, era previsível que o conjunto de municípios mineradores das regiões Norte e

Nordeste apresentasse média de internação hospitalar para esse tipo de doença superior à

dos municípios mineradores das demais regiões.

Quanto às doenças do aparelho respiratório, causou surpresa o “teste t” não acusar

diferenças significativas de médias, nem entre o conjunto de municípios mineradores e não-

mineradores e nem entre o conjunto de mineradores das duas regiões. Supreende também

Itabira (MG) não estar encabeçando a lista de municípios mineradores mais afetados por

doenças respiratórios, uma vez que esse problema foi mencionado durante a visita no

município. Todavia, este resultado está de acordo com a análise epidemiológica sobre o

impacto da poluição do ar na saúde da população de Itabira (MG) que foi realizado pelo

Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental (LPAE) da Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo (FMUSP), em 2005. O estudo conclui que :

[...]os níveis de poeira com diâmetro capaz de penetrar nos pulmões (igual ou menor que 10 milésimos de milímetro), são da ordem de grandeza dos centros urbanos de nosso país que realizam ete tipo de medição. Em Itabira estes níveis foram de 39 milésimos de miligrama por mil litros de ar. Para fins de comparação, a média anual de São Paulo oscila em torno de 50, Rio de Janeiro tem níveis de 35 e Curitiba apresenta valores ao redor dos 40. Os níveis de poeira observados mostram que a poluição do ar é uma realidade na cidade de Itabira, visto que o seu nível de poeira aproxima-se àqueles medidos em grandes centros urbanos. O aspecto positivo é que os valores observados são similares àqueles que milhões de brasileiros estão expostos, a despeito da grande proximidade da lavra de minérios em relação à região urbana. (LPAE/FMUSP, 2005, p.31).

O Mapa 7, a seguir, ilustra a incidência de doenças infecciosas e respiratórias nos

dois conjuntos de municípios. No que se refere às doenças infecto-contagiosas (Gráfico A)

os extremos ficaram com os municípios de base mineira: Canaã dos Carajás (PA) com

33,4% dos casos de internação e Forquilhinha (SC) com apenas 2,4%, muito próximo a

Itabira (MG) com 2,8%.

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Mapa 7: Incidência de doenças respiratórias e infecciosas nos municípios mineradores do Brasil e entorno não-minerador (2005) Fonte: Elaboração própria com base no DATASUS, 2005, (Anexo 3)

Quanto às doenças respiratórias (Gráfico B), os extremos ficaram com os municípios

não-mineradores. Do conjunto de mineradores, as maiores incidências ficaram com Crixás

(GO) (22,5%) e Forquilhinha (SC) (19,2%) e a menor ficou com Rosário do Catete (SE)

(3,9%).

A partir dos indicadores apresentados, é possível deduzir que a incidência das

doenças selecionadas está muito mais associada ao componente regional – se o município

está localizado na região Norte ou Sul do país, o que, por sua vez se reflete nas condições

socioeconômicas dos municípios - do que à condição de o município ser ou não minerador.

Isso não significa afirmar que municípios de base mineira estejam livres de algum

tipo específico de doença, ou que não tenham apresentado doenças “típicas da mineração”

em algum outro momento, como no caso de Itabira (MG). Significa apenas que as doenças

selecionadas para um determinado ano, para o conjunto de municípios mineradores e não-

mineradores, não revelaram algum tipo específico associado com a mineração. Muito pelo

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212

contrário, esperava-se encontrar maior incidência de doenças respiratórias entre o conjunto

de municípios mineradores, o que não ocorreu.

4.1.4 As condições do meio ambiente em municípios mineradores

As informações sobre as condições do meio ambiente nos municípios do estudo

basearam-se nos indicadores elaborados pelo IBGE, em 2002 e nas pesquisas de campo

(apenas para os 15 municípios mineradores). Elas se referem às alterações ambientais

relevantes e às atividades que as provocaram. As informações indicam também se o meio

ambiente alterado prejudicou o desenvolvimento de alguma atividade econômica. A Tabela

12 ainda mostra os dados sobre a institucionalização do meio ambiente nos municípios,

anteriormente comentados; a partir dessa tabela foi possível observar três padrões de

respostas para os conjuntos de municípios mineradores e não-mineradores:

• grupo 1 - municípios de base mineira que sequer mencionam a existência de

mineração em seu território, muito embora reconheçam que outras atividades têm

provocado problemas ambientais (Amapá, Goiás e Mato Grosso do Sul);

• grupo 2 - municípios não-mineradores que foram afetados em seu meio ambiente

pela atividade de mineração (Santa Catarina);

• grupo 3 - municípios de base mineira que percebem problemas gerados pela

atividade mineral (Minas Gerais e Pará).

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213

Tabela 12: Indicadores sobre a condição do meio ambiente nos municípios mineradores e dos entornos não-mineradores (2002) - Continua

município (UF)

área (km2) tem UC CMMA

ativo convênios de cooperação

órgão de MA

pessoal em MA

gastos com

MA (2) alterações ambientais relevantes atividade (s) que provocaram alterações

no meio ambiente

atividade econômica prejudicada pela

degradação ambiental

Laranjal do Jarí (AP)

30.966 sim (1)

sim sim sim 29 - desmatamento, contaminação hídrica escassez de água, inundação, doença endêmica, presença de vetor, redução do estoque pesqueiro.

ocupação desordenada do território esgoto a céu aberto, queimadas

pesqueira e agrícola

Mazagão (AP) 13.131 não não sim sim 4 0,60 nd - -

Vitória do Jarí* (AP)

2.483 não não sim não 18 22,50 desmatamento, contaminação hídrica, doença endêmica, poluição ar, sonora, presença de vetor, esgoto aberto,

queimadas, ocupação desordenada do território, presença de lixão

agrícola

Andorinha (BA)

1.208 sim (1)

não não sim 2 0,98 desmatamento, contaminação de rio, baia, doença endêmica, redução do estoque pesqueiro.

queimadas presença de lixão, esgoto a céu aberto.

pesqueira e pecuária

Campo Formoso (BA)

6.806,1

não não sim não 7 - contaminação de rio, baia, escassez de água,

ocupação desordenada do território, esgoto a céu aberto.

agrícola e pecuária

Jaguarari * (BA)

2.567,2

não não naõ sim 3 0,04 escassez de água não agrícola e pecuária

Uauá (BA) 2.950 sim (1)

não não sim 36 - nd - agrícola e pecuária

Campinaçu (GO)

1.974,4

não não sim não 2 - nenhuma - pecuária

Crixás * (GO) 4.661 não sim sim não 1 - nenhuma - -

Minaçu * (GO)

2.860,7

não sim sim sim 8 - contaminação de nascente, inundação, doença endêmica, presença de vetor assoreamento dos corpos d’água, degradação da mata ciliar

atividade de construção de infra-estrutura

pecuária

Mozarlândia (GO)

1.734,4

não sim sim não não se aplica

7,51 alteração de paisagem desmatamento -

Nova Crixás (GO)

7.298,8

não sim sim não 1 - nenhuma- - -

Trombas (GO) 799,2 não não sim não não se aplica

- nenhuma- - -

Aquidauana (MS)

1.6958,5

sim (4)

sim sim não 3 -- assoreamento de corpo d’água, de gradação da mata ciliar ou de manguezais alteração de paisagem, contaminação do solo, assoreamento de corpo d’água, poluição a água.

pesca predatória, ocupação irregular de áreas frágeis, extração vegetal por pesca não autorizada, agropecuária, chorume, sumidouros, desmatamento, erosão/ deslizamento de encostas, lixo.

Pesca

Aquidauana (MS)

1.6958,5

sim (4)

sim

sim

não

3

--

assoreamento de corpo d’água, de gradação da mata ciliar ou de manguezais alteração de paisagem, contaminação do solo, assoreamento de corpo d’água, poluição a água.

pesca predatória, ocupação irregular de áreas frágeis, extração vegetal por pesca não autorizada, agropecuária, chorume, sumidouros, desmatamento, erosão/ deslizamento de encostas, lixo.

pesca

213

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município (UF) área

(km2) tem UC CMMA ativo

convênios de cooperação

órgão de MA

pessoal em MA

gastos com

MA (2) alterações ambientais relevantes atividade (s) que provocaram alterações

no meio ambiente

atividade econômica prejudicada pela

degradação ambiental

Corumbá * (MS)

64.961 sim (2)

sim sim sim 12 12,96 assoreamento de corpo d’água, poluição do ar, degradação da mata ciliar. desmatamento, indústrias, queimadas. lixão -

Miranda (MS) 5.477 não não não sim 3 - alteração de paisagem, desmatamento. pesca predatória, extração vegetal queimadas.

pesca

Porto Murtinho (MS)

17.735 sim (2)

não sim não 3 11,77 assoreamento de corpo d’água. escassez da água, contaminação da água por, desmatamento

esgoto doméstico, prática de pesca predatória, degradação da mata ciliar, erosão de encostas.

pesca e pecuária

Alvinópolis (MG)

599,343

sim (1)

não sim não não se aplica

0,63 assoreamento de corpo d’água e poluição da água, degradação da mata ciliar, erosão

despejo de resíduos industriais despejo de esgoto.

-

Antônio Dias (MG)

877,8 não não não não não se aplica

1,70 - -

-

Barra Longa (MG)

386 não não não sim 5 - poluição da água despejo de esgoto doméstico --

Dom Bosco (MG)

821,8 não não sim não não se aplica

0,15 alteração de paisagem, assoreamento de corpo d’água, poluição da água.

desmatamento, uso da agropecuária, degradação da mata ciliar, expansão da atividade agrícola, ocupação irregular do curso d’água.

-

Itabira * (MG)

1.256,5

sim (7)

sim

sim

sim

13

46,90

alteração de paisagem, desmatamento, contaminação do solo, assoreamento de corpo d’água, poluição da água e poluição do ar, degradação da mata ciliar. degradação de área legalmente protegida

extração mineral, caça, queimadas, ocupação irregular, empreendimento imobiliário, infra-estrutura viária, sumidouros, resíduos de unidades de saúde. aterro das margens, expansão da atividade agropecuária, despejo de resíduos industriais, ocupação irregular de áreas de lençóis subterrâneos e cursos d’água. atividade industrial, veículos, vias não pavimentadas.

-

Jaboticatubas (MG)

1.114 não não sim sim 2 - contaminação de recurso solo, presença de vetor, esgoto a céu aberto,

queimadas, ocupação desordenada do território, desmatamento.

-

Mariana *(MG)

1.193,3

sim (1)

sim sim não 4 - alteração de paisagem, contaminação do solo, assoreamento de corpo d’água, poluição da água.

extração mineral, desmatamento, garimpo, construção de infra-estrutura, aterro das margens.

-

Nova Era (MG)

363,2 sim (1)

sim sim não 9 25,52 assoreamento dos corpos d’água, degradação da mata ciliar,

queimadas, desmatamento, expansão da atividade agrícola.

agrícola

Piranga (MG) 657,5 sim

(1) sim sim sim 2 8,40 assoreamento de corpo d’ água e

poluição da água, degradação da mata ciliar, desmatamento.

mineração/garimpo, criação de animais, despejo de esgoto doméstico.

-

Santa Bárbara (MG)

sim sim não sim não se aplica

0,76 contaminação hídrica, doença endêmica, presença de vetor, alteração da paisagem.

ocupação desordenada do território. esgoto a céu aberto. queimadas. mineração/garimpo. resíduo sólido. despejo industrial

-

Tabela Indicadores sobre... (Continuação)

214

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município (UF) área

(km2) tem UC CMMA ativo

convênios de cooperação

órgão de MA

pessoal em MA

gastos com

MA (2) alterações ambientais relevantes atividade (s) que provocaram alterações

no meio ambiente

atividade econômica prejudicada pela

degradação ambiental

Santa Fé de Minas (MG)

2.917 não não não não não se aplica

- alteração de paisagem, assoreamento de corpo d’ água, degradação da mata ciliar

escassez da água, erosão do solo, aterro espelho da água, desmatamento, aterro das margens, atividade agrícola.

pecuária, agrícola-

Unaí (MG)

8.464 não sim sim sim 3 0,27 escassez e poluição da água, alteração de paisagem esgotamento, contaminação e erosão do solo, desmatamento, desertificação, proliferação de pragas, assoreamento de corpo d’água, salinização do solo, degradação da mata ciliar.

resíduos de sólidos, extração vegetal, queimadas, construção de infra-estrutura, chorume, resíduos de unidades de saúde, uso de fertilizantes e agrotóxicos. mineração/garimpo, expansão agropecuária.

agrícola e pecuária

Paracatu * (MG)

8.232 sim (1)

sim sim sim 25 - alteração de paisagem extração mineral -

Água Azul do Norte (PA)

7.577 não sim não sim 4 - esgotamento, erosão e compactação do solo, escassez e poluição da água, desertificação, degradação da mata ciliar e manguezais, proliferação de pragas, assoreamento de corpo d’água, desmatamento,alteração de paisagem, contaminação do solo, assoreamento de corpo d’água, poluição da água e poluição do ar.

emissão de resíduos industriais, pesca predatória, caça/animais, queimadas, extração vegetal e mineral, construção de infra-estrutura, ocupação irregular do solo, empreendimento imobiliário, pecuária, chorume, sumidouros, resíduos de unidades de saúde, erosão/deslizamento de encostas, expansão da atividade agrícola, despejo de esgoto doméstico.

pesca agrícola e pecuária.

Aurora do Pará (PA)

1.812 não não não sim 4 - contaminação de nascente, de rio, baia, desmatamento, doença endêmica, queimadas, proliferação de pragas

ocupação irregular dos cursos d’água, queimadas, esgoto à céu aberto, lixão

agrícola

Canaã dos Carajás (PA)

3.147 não não não não 1 - contaminação do solo, poluição da água. extração mineral, mineração/garimpo -

Capitão Poço 2.900 não não não não - - -assoreamento de corpo d’água. aterro das margens

Curionópolis (PA)

2.369 não não não sim 30 - assoreamento de corpo d’água e poluição do ar. mineração/garimpo, queimadas. -

Eldorado dos Carajás (PA)

2.957 não não não não não se aplica

- alteração de paisagem, poluição do ar. esgotamento do solo, desmatamento, queimadas.

pecuária

Faro (PA) 11.7665

não não não não - - alteração de paisagem extração mineral pesca predatória, desmatamento.

pesca

Ipixuna do Pará (PA)

5.217 não não sim sim 4 - erosão do solo, degradação da mata ciliar, erosão/deslizamento de encostas, alteração de paisagem, assoreamento de corpo d’água, poluição da água.

desmatamento,presença de lixão, trafego pesado em área urbana, queimadas despejo de resíduos industriais

-

Oriximiná * (PA)

107.603

não não não não - - poluição da água mineração/garimpo -

Tabela Indicadores sobre... (Continuação)

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município (UF) área

(km2) tem UC CMMA ativo

convênios de cooperação

órgão de MA

pessoal em MA

gastos com

MA (2) alterações ambientais relevantes atividade (s) que provocaram alterações

no meio ambiente

atividade econômica prejudicada pela

degradação ambiental

Parauapebas* (PA)

7.008 não sim sim sim 13 1,91 alteração de paisagem, desmatamento contaminação do solo, erosão do solo,assoreamento de corpo d’água, poluição do ar, degradação da mata ciliar

extração mineral e vegetal, ocupação irregular de áreas frágeis, aterro espelho d’ água, chorumes, resíduos de unidades de saúde, aterro das margens, queimadas.

-

Nova Esperança do Piriá

2.810 não não não não - - alteração de paisagem, assoreamento de corpo d’água poluição da água, poluição do ar.

compactação do solo, pecuária, queimadas, vias não pavimentadas, combustível e óleo, esgoto doméstico, ocupação irregular do curso d’água, queimadas.

Agrícola

Nova Esperança do Piriá

2.810 não não não não - - alteração de paisagem, assoreamento de corpo d’água poluição da água, poluição do ar.

compactação do solo, pecuária, queimadas, vias não pavimentadas, combustível e óleo, esgoto doméstico, ocupação irregular do curso d’água, queimadas.

Agrícola

Terra Santa (PA)

1.901 não não sim não - - nenhuma* - -

Forquilinha* (SC)

294 não sim sim não 12 3,92 assoreamento de corpo d’água. mineração/garimpo, degradação da mata

ciliar, erosão/deslizamento de encostas. -

Maracajá (SC) 63,4 sim

(1) não sim sim 16 - alteração da paisagem, contaminação do

solo, poluição da água e do ar, vias não pavimentadas.

extração mineral, pecuária, uso de fertilizantes e agrotóxico,, despejo de esgoto domestico,

-

Meleiro (SC)

187 não não não não 2 - poluição da água, escassez da água, alteração de paisagem, contaminação do solo, assoreamento de corpo d’água, poluição da água, degradação da mata ciliar, erosão/deslizamento de encostas,

extração mineral, caça/animais, disposição de resíduos sólidos, ocupação irregular de áreas frágeis, agropecuária, sumidouros, aterro das margens, expansão da atividade agrícola.

agrícola e pecuária

Nova Veneza (SC)

182 sim (1)

não sim não 2 - contaminação do solo, assoreamento de copo d’água, degradação da mata ciliar, desmatamento, erosão/deslizamento de encostas,

pecuária, chorume, sumidouros, uso de fertilizantes e agrotóxicos, expansão da atividade agrícola.

-

Capela (SE) não não sim sim 3 1,51 desmatamento, alteração de paisagem,

poluição da água e do ar.

despejo de vinhoto, agropecuária, indústrias, odores de lixo, vias não pavimentadas, veículos automotores.

-

Maruim (SE) não não não sim 3 - assoreamento de corpo d’água, poluição

da água e do ar , degradação da mata ciliar/manguezais, desmatamento,

aterro das margens, despejo do esgoto doméstico, agropecuária, indústria, vias não pavimentadas.

pesca

Rosário do Catete (SE)

não nao sim não 2 - desmatamento, degradação da mata ciliar, erosão/deslizamento de encostas, contaminação do solo, assoreamento de corpo d’água, poluição da água.

sumidouros, expansão da atividade agrícola, mineração/garimpo, despejo de resíduos industriais, despejo de esgoto domestico, lixo, uso de agrotóxicos e fertilizantes.

-

Santo Amaro das Brotas (SE)

sim (2)

sim não sim 3 - alteração de paisagem, contaminação do solo, poluição da água, degradação da mata ciliar ou de manguezais.

extração mineral, esgoto doméstico, pesca predatória, desmatamento, despejo de resíduos industriais.

pesca

* municípios de base mineradora (1) Projeto Prodes (INPE); (2) Finbra(STN), % da receita orçamentária municipal, despesas relativas a 2003; (3) Datasus Fonte: IBGE, Perfil dos municípios brasileiros – meio ambiente 2002.

Tabela Indicadores sobre... (Continuação)

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Grupo 1 - Municípios de base mineira que não se referem à existência de mineração

Durante as visitas de campo ao município de Vitória do Jari (AP), não foram

mencionados problemas ecológicos provenientes da extração de caulim da mina do Filipe

(Fotografia 15) pela mineradora CADAM, mas sim problemas urbanos relacionados à falta

de saneamento básico (Fotografia 16), de água tratada, de pavimentação das ruas etc. É

provável que o tipo de minério e a forma de extração sejam mesmo pouco impactantes,

além do fato de a empresa destinar o seu produto ao exigente mercado europeu, muito

rigoroso com normas ecológicas.

Fotografia 15: Mina de caulim da CADAM, no Morro do Filipe, município de Vitória do Jari – AP Fotografias de Maria Amélia Enríquez Fonte: (pesquisa de campo realizada em abril de 2006)

Fotografia 16: Município de Vitória do Jari (AP) – más condições de saneamento da população que vive sobre a várzea Fotografias de Maria Amélia Enríquez Fonte: (pesquisa de campo realizada em abril de 2006)

De acordo com o Secretário Municipal de Meio Ambiente de Vitória do Jari (AP), o

município não apresenta problemas de ordem ambiental provocados pela CADAM. O

Secretário desconhece também qualquer tipo de denúncia por parte da sociedade. A grande

queixa do município é em relação à empresa Jari Celulose89 (despejo de dejetos no rio e

poluição atmosférica). Para a área ambiental, a CADAM propôs parceria com o município,

no sentido de que a Secretaria de Meio Ambiente inspecione, juntamente com os técnicos

da CADAM, o mineroduto da empresa, que fica a céu aberto. Para isso, a Secretaria não

recebe qualquer tipo de auxílio financeiro da empresa. A Secretaria já propôs alguns tipos

de projetos à CADAM, tais como: usinas de reciclagem (a empresa daria as máquinas e a

prefeitura daria o galpão e o terreno) e lixeiras públicas, porém a empresa até então não deu

qualquer resposta.

89 Fábrica de celulose que fica localizada no estado do Pará, nas margens do rio Jari, em frente ao município de Vitória do Jari (AP).

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O caso dos municípios goianos é distinto. Em Crixás (GO), sede da Mineração Serra

Grande (MSG), grupo Anglo Gold, a extração de ouro é feita em mina subterrânea, o que

evita o impacto visual. Minaçu (GO) vivenciou um grande impacto provocado pela

construção das usinas hidrelétricas Cana Brava e Serra da Mesa (Fotografias 17 e 18). A

atividade mineradora, que existe desde a origem da cidade, sequer foi mencionada.

Fotografia 17: Área inundada pela barragem da Usina Hidrelétrica Serra da Mesa, Minaçu (GO) Fotografia de Maria Amélia Enríquez Fonte: (pesquisa de campo realizada em abril de 2005)

Fotografia 18: Praia do Sol – praia artificial construída às margens do lago da barragem Cana Brava, Minaçu (GO) Fotografia de Maria Amélia Enríquez Fonte: (pesquisa de campo realizada em abril de 2005)

No caso de Corumbá (MS), de acordo com o Secretário Municipal de Governo do

município de Corumbá (MS), José Antônio Assad, a mineração é uma atividade positiva

para o município, mas é preciso que se estabeleçam as regras e os limites para que ela seja

exercida. Em primeiro lugar, é preciso ter cuidado com a preservação ambiental, uma vez

que o município está localizado dentro de santuário ecológico, que é o Pantanal. Mas não é

por isso que não se deva exercer a atividade de mineração em Corumbá, pois se trata de

uma riqueza imensa que precisa ser explorada.

[...] vivemos numa cidade pobre, há muitas favelas e não podemos, de forma nenhuma, deixar de exercer a atividade de mineração. Teremos que implementar tudo o que for possível, mas sempre com a preservação do meio ambiente”, afirma o Secretário. (entrevista realizada pela autora).

O Secretário ressalta que a mineração não conflita com o turismo, pois o turismo que

é feito no Pantanal é contemplativo e a mineração não afeta a paisagem pantaneira, pois é

uma atividade muito restrita. O Secretário reconhece que a idéia difundida a partir de um

debate muito mais ideológico é de que:

[...] deixaríamos de ser o Pantanal e passaríamos a ser Cubatão, é essa a idéia que se propaga na mídia. Mas se você observar a grandeza do Pantanal e verificar a atividade extremamente restrita da mineração, não há como esta danificar o meio, a menos que se exerça uma atividade

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desregrada e descontrolada. Mas isso nós não permitiremos. (entrevista realizada pela autora).

O Secretário afirma que, não obstante o escoamento da produção ser feito através

no Rio Paraguai, por meio de barcaças, raramente ocorrem acidentes. Se houver, “ele se

restringe ao afundamento de uma barcaça de um minério inerte que é recuperável e que

não causa uma poluição de impacto ambiental significativo”, diz o Secretário.

A percepção do Secretário é confirmada em entrevista com o representante da

Mineração Corumbaense, Marcelo Coelho, para o qual a mineração é uma atividade positiva

para Corumbá. Porém, ele reconhece que há uma visão negativa dessa atividade,

principalmente, em Minas Gerais, na região do quadrilátero ferrífero. Como naquela região a

mineração começou há muitos anos, afirma o representante da Corumbaense, as técnicas

empregadas não consideravam os aspectos ambientais e sociais. A mineração mal atendia

as questões técnicas (de engenharia) e econômicas; portanto, foram criados graves

passivos ambientais e trabalhistas. Assim, a mineração se ampliou em quantidade e

tamanho, afetando não apenas o município minerador, como também o seu entorno.

No caso de Corumbá, a mineração não é ambientalmente impactante, isso é favorecido pelas próprias condições geológicas da formação da jazida de ferro – o minério é superficial e está em camadas de 30 metros; portanto, ele não afeta o lençol freático, não usa explosivo (ele é muito poroso) e é fácil de revegetar (faz a recuperação ambiental no mesmo tempo em que está minerando), afetando o mínimo possível a paisagem. Por outro lado, o município possui 65.000 km2 e população de cem mil habitantes, o que gera uma densidade demográfica baixa e a mina está muito distante dos centros densamente povoados. (Marcelo Coelho, em junho de 2006).

O gerente da Mineração Corumbaense admite que Corumbá está localizada numa

área de grande sensibilidade ambiental, que é o Pantanal. A Rio Tinto já adota padrões

internos bem mais rigorosos para a emissão de resíduos e efluentes, consumo de água etc.

Praticamente a mesma visão é compartilhada pelo gerente da Mineração Urucum, do Grupo

CVRD (Fotografias 19 e 20).

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220

Fotografia 19: Mina de ferro (Mineração Urucum - CVRD), Corumbá (MS) Fotografia de Maria Amélia Enríquez Fonte: (pesquisa de campo realizada em junho de 2006)

Fotografia 20: Vista panorâmica da Mina de Ferro (Mineração Urucum - CVRD), Corumbá (MS) Fotografia de Maria Amélia Enríquez Fonte: (pesquisa de campo realizada em junho de 2006)

Grupo 2 - Municípios não-mineradores afetados pela atividade mineral

Entre os municípios não-mineradores que se sentem ambientalmente impactados

pela atividade mineradora se destacam os municípios de Santa Catarina, especialmente,

Meleiro. Os municípios catarinenses são de pequena extensão territorial e a atividade

mineral praticada durante anos gerou uma enorme “pegada ecológica”, comprometendo os

cursos d’água, além do próprio solo e águas subterrâneas.

A história da mineração do carvão em Santa Catarina é antiga. Remonta aos anos

1950, quando os colonos italianos que ali se instalaram procuravam trabalho nas minas

“para assegurar uma aposentadoria” (depoimento de um morador local), ao mesmo tempo

em que mantinham as suas atividades agrícolas. Nessa época, a questão do meio ambiente

não era considerada seriamente. Aliada ao tipo de mineralização própria do carvão (que

contém pirita90), a atividade provocou sérios passivos ambientais para a região, dos quais se

destacam: acidificação da maioria dos rios e córregos, grandes áreas degradadas com o

estéril, comprometimento das águas subterrâneas em algumas localidades, entre outros

(Fotografias 21 e 22). Segundo Bortot (2002), a região carbonífera de Santa Catarina é

considerada uma das regiões mais críticas em termos de poluição de água, solo e ar, em

todo o Brasil.

90 Substância que quando entra em contacto com o oxigênio provoca acidificação das águas, combustão e outros danos ecológicos.

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221

Fotografia 21: Rio Sangão contaminado com drenagem ácida das minas de carvão – Forquilhinha (SC) Fotografia de Maria Amélia Enríquez Fonte: Pesquisa de campo realizada em abril de 2006

Fotografia 22: Área degradada com rejeitos das minas de carvão – Forquilhinha (SC) Fotografia de Maria Amélia Enríquez Fonte: Pesquisa de campo realizada em abril de 2006

Em contrapartida, conforme será melhor explorado na seção 4.4.1, os municípios

catarinenses apresentam um dos mais altos escores de IDH do Brasil. Será que os novos

municípios mineradores terão que repetir essa trajetória? A suposição desta tese é de que

isso não precisa se reproduzir novamente, se, aliado à regulação ambiental já existente,

forem reforçados os mecanismos de controle e criados instrumentos para o aumento da

contribuição social da mineração.

Grupo 3 - Municípios de base mineradora que percebem problemas gerados pela mineração

Os municípios mineradores de Minas Gerais, particularmente, Itabira e Paracatu,

reconhecem plenamente os problemas ecológicos provocados pela mineração, pelas

evidentes marcas em suas paisagens (Fotografias 23 e 24) e pela atividade comprometer

grandes áreas, em um território onde o custo de oportunidade do uso do solo é alto, por

causa do uso alternativo no agronegócio (Paracatu) e da própria área urbana (Itabira)

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222

Fotografia 23: Vista aérea da mina da RPM S/A, Paracatu (MG), ocupando uma vasta área urbana Fotografia da RPM Fonte: RPM

Fotografia 24: Centro de Itabira – ao fundo mina de ferro da CVRD (maio/2005) Fotografia da RPM S/A Fotografia de Maria Amélia Enríquez Fonte: Pesquisa de campo realizada em maio de 2005

De acordo com Silva (2004, p. 225) “a questão ambiental em Itabira tomou

proporções alarmantes pela degradação da paisagem, poluição de toda ordem, decorrente

do modelo de desenvolvimento baseado na atividade extrativa mineral por mais de

cinqüenta anos”. Logo na entrada da cidade é impactante a alteração da paisagem em

Itabira (Fotografia 24).

No início dos anos 1980, o município de Oriximiná, no Pará, foi penalizado com o

problema do assoreamento do Lago Batata, provocado pelos resíduos da lavagem da

bauxita metalúrgica extraída pela Mineração Rio do Norte (MRN). Além de comprometer a

imagem da empresa, esse passivo ambiental onerou significativamente os seus dispêndios

nessa área. Silva (1999) demonstrou que a MRN tem um dos mais altos custos ambientais,

entre as empresas míneri-metálicas instaladas no Pará, por causa dos dispêndios com a

recuperação das lago e das áreas que foram degradadas pelos despejos indevidos dos

rejeitos da bauxita. A partir desse episódio, a empresa se modernizou e inovou em seus

métodos de descarte, conquistando muitos prêmios de qualidade ambiental e passando a

ser um modelo para outras empresas mineradoras. Todavia, apesar disso, o passivo

persiste.

Ipixuna do Pará é uma exceção ao conjunto de municípios paraenses. Ele não

percebe nenhum problema ambiental associado a mineração, possivelmente, por causa do

tipo de minério extraído – o caulim, com método de extração muito semelhante ao da Mina

do Filipe, em Vitória do Jari (AP) e também pelo fato de a mineração estar muito distante do

centro urbano.

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223

Em Parauapebas e Canaã dos Carajás a presença da atividade mineral é bem mais

ostensiva, pela proximidade da mina em relação aos centros urbanos. Porém, tanto em

Carajás como no Sossego, os locais da atividade mineradora estão cercados por áreas

legalmente protegidas.

Fotografia 25: Vista aérea da mina de cobre da MSS (CVRD), Canaã dos Carajás (PA), ao fundo a Floresta Nacional de Carajás. Fotografia de Maria Amélia Enríquez Fonte: Pesquisa de campo realizada em julho de 2006

Fotografia 26: Mina Ferro-Carajás (CVRD) . Parauapebas (PA) Fotografia de Maria Amélia Enríquez Fonte: Pesquisa de campo realizada em julho de 2006

Conforme foi possível perceber pelos indicadores do IBGE e pela pesquisa de

campo, a condição do meio ambiente das cidades mineradoras não é homogênea. O maior

ou menor grau de impacto depende de vários fatores, entre os quais: o tipo de minério, a

forma de extração, as técnicas adotadas, o período de implantação do projeto e outros. De

uma forma geral, percebe-se queprevaleceu um padrão ambiental reativo nas regiões Sul e

Sudeste do Brasil, ou seja, a mineração existente há muitas décadas teve de se adequar às

novas normas ambientais, e um padrão bem mais pró-ativo no Norte, com as suas minas

bem mais jovens, que já nasceram incorporando novas tecnologias ambientais e, em muitos

casos, adotando padrões de emissão acima dos determinados pela legislação nacional.

Essa constatação vem ao encontro da tese de Cavalcanti (1996), cujos estudos de caso

sobre a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), em Carajás (PA) e Itabira (MG) demonstram

esse comportamento.

4.1.5 Políticas de meio ambiente das empresas nos municípios mineradores

A Tabela 13 foi elaborada a partir de informações fornecidas pelas empresas

mineradoras, que foram entrevistadas durante os trabalhos de campo realizados nos

municípios de base mineira, em 2005 e 2006. Ela apresenta informações sobre o tipo de

minério extraído, ano da instalação do projeto, expectativa de vida útil da mina, destino da

produção e informações gerais sobre a política ambiental da companhia.

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224

Tabela 13: Programas ambientais das companhias mineradoras estudadas (2005-2006). Continua município (estado)

companhia mineradora

minério (s) extraídos

ano de instalação do

projeto destino da produção

previsão de esgotamento

tipo de certificação e

ano de obtenção

iniciativa para a busca das

certificações valor principais ações

ambientais

Vitória do Jarí (AP)

Cadam (controlado pela CVRD)

caulim 1974 exportação 2025 ISO 14000 – em 2003

Dirigentes da empresa

US$1 milhão Não respondeu

Minaçu (GO) SAMA amianto crisotila 1967 exportação 2028

ISO 14001 Publica o Balanço Social - fase de adaptação ao modelo IBASE ISO 9000

ISO 14001 – entre R$700 a 800 mil (1996) ISO 9000 – por volta de R$600 mil

Crixás (GO)

Mineração Serra Grande (MSG) – Grupo Anglo Gold Ashanti

ouro – mina subterrânea 1989 exportação

2012 - vida útil reduzida por aumento da escala de produção

ISO 14000 – em 2003 e NOSA

Dirigentes da empresa

Custo total U$1.645.000 (consultoria, treinamento e capacitação)

-

Paracatu (MG)

Rio Paracatu Mineração (Kinross, ex Rio Tinto)

ouro e prata (subproduto) – mina a céu aberto

1986 exportação 2020

ISO 14001 SGA Integrado padrão Rio Tinto

Dirigentes da empresa

nd

Instrumento de Gestão (AIA, PCA, Monitoramento, Auditoria Interna e Externa, Plano de Fechamento) Parque Ecológico (R$150 mil/2004) Reserva Acangaú (R$190 mil/ano)

Mina Córrego do Sítio (Anglo Gold Ashanti)

ouro a céu aberto 1990 exportação 2019

Não tem ISO. Tem NOSA, publica o Balanço Social

Dirigentes da empresa. Ações na bolsa

nd

Santa Bárbara (MG) São Bento

Mineração S/A ouro 1987 exportação 2008 nd

Mariana (MG)

Samarco – Unidade Germano(Grupo CVRD)

ferro 1977 exportação 2030

ISO 14001 (1998)–para todas as etapas Publica Balanço Social Ibase e os indicadores do Ethos

Dirigentes da empresa

nd

Modelo do Global Reporting Initiative (GRI) Comitês internos de Gestão Auditorias Prestação de contas públicas

Itabira (MG CVRD ferro 1942 exportação 2020 ISO 14001 em 2002

nd

Corumbá (MS) Urucum Mineração (Grupo CVRD)

ferro e manganês 1970

ferro - Argentina (85%) e Paraguai (15%) manganês - Europa (20%) e Brasil (80%)

2035

Não tem. Está em processo de implantação do sistema ISO

Dirigentes da empresa

nd

Procedimento para renovação das licenças ambientais obtidas via Ibama

224

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Tabela . Programas ambientais...(Continuação) município (estado)

companhia mineradora

minério (s) extraídos

ano de instalação do

projeto destino da produção

previsão de esgotamento

tipo de certificação e

ano de obtenção

iniciativa para a busca das

certificações valor principais ações

ambientais

Corumbá (MS)

Mineração Corumbaense (Grupo Rio Tinto)

ferro – mina a céu aberto 1977 exportação -

Argentina (2) 2030

Não. Publicam o Balanço de Desenvolvimento Sustentável

Dirigentes do grupo controlador nd

Política corporativa da empresa

Forquilhinha (SC)

Carbonífera Criciuma- capital privado nacional

carvão – mina subterrânea

1982 (reabriu), mas mineração existe desde a

década de 1940

mercado doméstico –termoelétrica

“Eletrosul”

2020

Não. Mas estão implantando um SGA

Condenação Judicial. Exigências legais do TAC nd

Explicitação da política ambiental. Melhoria de treinamento, Gestão e, Monitoramento de Resíduos. Adoção de medidas de controle, Convênio com o CETEM

Jaguarari (BA)

Caraíba Mineração – capital privado nacional

cobre – mina subterrânea 1979 mercado

doméstico 2012

Não. Apenas certificação de qualidade ISO 9000

Qualidade – iniciativa dos dirigentes da empresa

nd

Apenas com o projeto PROMOVER gastam R$500 mil/ano..

Rosário do Catete (SE)

CVRD - Mina Taquari-Vassouras

potássio – mina subterrânea 1985 mercado

doméstico

Mais de 30 anos (frente de lavra se expandindo pata outro município)

Não tem certificações socioambientais

Quando foi instalada não era necessário o licenciamento ambiental(3)

2005: Investimento: R$2.553 mil Custeio R$1.674 mil

Monitoramento das emissões e controle de poluentes(3)

Parauapebas (PA)

CVRD – Carajás.

ferro e manganês 1985 exportação

2050 ISO 14001 -1996 Dirigentes da empresa, clientes e compradores

Por volta de R$ 20 milhões

Oriximiná (PA) MRN -Trombetas

bauxita metalúguca 1979

exportação e mercado

doméstico 2025

ISO 14001 -2001 Publica o Balanço Social Ibase e os Indicadores Ethos

Dirigentes da empresa

Canaã dos Carajás (PA) MSS - CVRD cobre – mina a

céu aberto 2002 exportação 2035 Em fase de implantação da ISO 14001

RCCSA -Ymeris Rio Capim _ (Ymeris)

caulim – mina a céu aberto 1996 exportação 2020

Ipixuna do Pará (PA)

PPSA (CVRD) caulim – mina a céu aberto 1996 exportação 2020 ISO 14001 -2001

(4)

(1) NOSA é um sistema integrado, desenvolvido pela África do Sul que integra diferentes sistemas de certificação (ISO14000, 9000, 18000) (2) O principal mercado é a Argentina e as empresas não exigem certificação de suas empresas fornecedoras, exige penas o cumprimento de uma série de processos. No entanto, quando a empresa já tem a certificação, isso evita que ela tenha de cumprir com uma série de requisitos que são solicitados (3). Na área de 100 ha (que pertence à Petrobras), funciona um contrato de gestão iniciado em 1992, com duração de 25 anos. (a empresa paga royalty à Petrobras). Dispersão atmosférica (encontra-se abaixo dos limites legais) Poluição hídrica - a empresa tem um salmoroducto, que despeja o sal no mar. A empresa tem um convênio com a Petrobras. (4) primeira empresa de caulim no mundo a obter a certificação ambiental ISO 14001 em todas as suas áreas de produção, em 2001. Solo – a empresa já recebeu um auto de infração – um fazendeiro local fez denúncia ao órgão ambiental, pois encontrou folhas necrosadas, (a avaliação agronômica associou à presença de sódio no solo). Fonte: Elaboração própria, a partir de entrevistas em campo.

225

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A visão agregada das informações da tabela acima pode ser feita a partir de três

perspectivas:

1) o padrão de qualidade ambiental (ecológico) adotado pelas empresas;

2) a iniciativa de adoção dos padrões ambientais;

3) a relação entre o padrão ambiental, a idade da mina e a região geográfica em que

está situada.

1) padrão de qualidade ambiental (ecológica) adotado pelas empresas

Das 18 companhias mineradoras entrevistadas, 50% são diretamente ligadas ao

Grupo CVRD. Destas, oito destinam a sua produção ao mercado exportador e apenas uma

– a mina Taquari/Vassouras de potássio, em Rosário do Catete (SE) – vende

exclusivamente para o mercado interno. Das nove empresas não-CVRD visitadas, apenas

duas não vendem para o exterior – a Carbonífera Criciúma, em Forquilhinha (SC), e a

Caraíba Mineração, que produz cobre no município de Jaguarari (BA). As três empresas –

CVRD e não-CVRD – que destinam suas vendas para o mercado doméstico não têm

certificações ambientais (ISO 14001 - BOX 5).

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BOX 5 - o sistema ISO 14000 A International Standard Organization (ISO), sediada em Genebra, é uma federação mundial

de organismos padronizadores nacionais. A série ISO 14000 foi criada a partir da necessidade de se estabelecer parâmetros comuns para a gestão ambiental, ela é constituída por diversas normas, dais quais se destaca a ISO 14001, especialmente voltada para o sistema de Gestão Ambiental (SGA) no interior das empresas. Ela foi lançada em 1997, a partir da colaboração de centenas de países

A série ISO 14000 pode ser vista como um reflexo das demandas ambientais expressas no Relatório Brundtland, uma vez que foi nesse documento que pela primeira vez a indústria foi chamada para desenvolver efetivamente sistemas de gerenciamento ambiental. A ISO 14000 pode ser resumida como o reconhecimento dos impactos ambientais negativos causados pela atividade produtiva e a necessidade de elaboração de um plano de mitigação e melhoria. No entanto, isso não significa que uma empresa certificada não esteja poluindo, pois é o plano de prevenção/mitigação ou melhoria que é exigido.

No Brasil, é o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO) que credencia e avaliza os certificados ISO 14000. A marca de credenciamento do INMETRO indica que o certificado pertence ao Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade (SBAC) e que o processo de certificação e recertificação poderá ser auditado pelo INMETRO (www.inmetro.gov.br).

Figura A: América do Sul – total de certificados ISO 14000

Segundo dados do INMETRO, o Brasil é o país que mais empresas certificadas possui, entre os países latino-americanos (Figura A, dados de 2001).

Fonte: Enríquez & Drummond, 2006

Das 15 empresas que destinam as suas vendas para o exterior apenas três não têm

certificação ISO 14001: a Mineração Serra do Sossego em Carajás (que inicou sua

produção em 2004, mas estava em fase de certificação), a Urucum Mineração (CVRD),

produz ferro e manganês e a Mineração Corumbaense (Grupo Rio Tinto), produz ferro,

ambas no município de Corumbá (MS). Essas duas empresas destinam as suas vendas

prioritariamente ao Mercosul (Argentina e Paraguai) e não sentem fortes pressões para se

certificarem. No entanto, todas adotam Sistemas de Gerenciamento Ambiental (SGA) e a

certificação ISO 14001 está em seus planos.

Portanto, 80% das empresas que vendem para o exterior têm certificação ISO

14001. Isso é um forte indício de que o mercado exportador é um importante fator pró-

ecologia. O mecanismo dessa influência, não é perceptível diretamente via ampliação de

1 2 3 3 915 17

2941

175

350

0

50

100

150

200

250

300

350

Paraguai Equador Bolivia Guiana Venezuela

Peru Chile Uruguai Colômbia Argentina Brasil

América do Sul - Total de Certificados ISO 14000

Fonte. INMETRO *Dados coletados até 31/12/2001

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mercado, mas principalmente, por intemédio de diferencial competitivo, custos evitados

(com acidentes de trabalho, passivos ambientais, precessos judiciais etc), manutenção de

mercados, reputação e outros que resultam em uma mudança cultura proativa em favor do

meio ecológico.

O Quadro 13 é uma síntese de algumas declarações dos gerentes das companhias

mineradoras visitadas (vide a relação dos entrevistados no Anexo 5), quanto aos ganhos e

novas oportunidades abertas a partir da adoção de um sistema de certificação ambiental.

companhia mineradora

exemplo de ganhos econômicos e novas oportunidades de negócio

MSG Segundo as palavras do diretor geral da empresa “Quem acha que investir em segurança e meio ambiente é um custo, está enganado”.No entanto, não há uma relação de causa e efeito imediata. Os resultados são colhidos a longo prazo.

SAMA A certificação facilitou acesso a novos mercados. Mas o ganho de mercado foi maior com a ISO 9000. A ISO 14001 deu um diferencial competitivo à empresa.

CVRD - Carajás Houve ganhos econômicos, pois a empresa tem ações em bolsa de valores e melhorias na gestão da empresa se refletem na valorização de suas ações.

CVRD - Itabira Não há ganhos financeiros, mas um maior comprometimento do corpo administrativo com a qualidade ambiental.

Mineração Corumbaense

Não é possível perceber ganhos, mas, no futuro, a certificação evitará com que se percam alguns mercados. Muitas vezes o ganho não é financeiro, mas pode ser valorado sob a forma de custos que deixam de ocorrer e de valorização financeira das ações da companhia, entre outros. Há outros ganhos como: boa reputação, padronização de processos, gestão ambiental (as ferramentas da norma são muito eficientes para isso).

Carbonífera Criciúma

Foi possível observar ganhos e novas oportunidades a partir da decisão de implantar o SGA, mas não em termos financeiros e sim em termos de reconhecimento externo. Houve também redução de desperdício a partir dos programas de monitoramento de gastos de energia, de água, de acompanhamento de resíduo, coleta seletiva. Como exemplo de nova oportunidade de negócios, a empresa cita o desenvolvimento de uma nova tecnologia originariamente feita para resolver um problema de ordem ecológica, mas que resultou no desenvolvimento de um novo produto - o Carbotrat (resultado de uma pesquisa de mestrado em Engenharia Química) que é um produto inovador de alto valor agregado, usado para o tratamento e purificação da água.

Quadro 13: Ganhos econômicos e novas oportunidades de negócios decorrentes do processo de certificação ambiental e gestão ambiental Fonte: Entrevistas com empresas, concedidas à autora em pesquisa de campo realizadas em 2005 e 2006

2) Iniciativa de adoção dos padrões ambientais

As decisões sobre a adoção de práticas ambientais nas empresas visitadas partiram

de decisões judiciais (Carbonífera Criciúma, Forquilhinha/SC e CVRD, Itabira/MG) ou do

corpo dirigente da empresa, porém induzidos por perspectivas de ganhos em bolsa de

valores, pela pressão dos financiadores, compradores e outros grupos de pressão, conforme

foi mencionado na seção 2.4.1.

Um exemplo contundente de implantação de um sistema de gestão ambiental

provocado por decisões da Justiça é o da CVRD, em Itabira (Box 6).

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BOX 6 - O caso da Licença Operacional Corretiva (LOC) da CVRD - Itabira (MG)

Desde a implantação das minas, na década de 1940, até os anos 1980 não houve qualquer ação

sistematizada em favor do meio ecológico de Itabira, quer seja por parte da CVRD quer seja por parte do poder

público. Silva (2004, p. 228) destaca que foi graças à exploração mineral de Carajás que a CVRD começou a

instituir programas de controle ambiental nas minas de Itabira. Esse novo comportamento se deveu à criação das

Comissões Internas de Meio Ambiente (CIMAS), em 1980. As ações mais efetivas ocorreram no anos 1990 com

a instauração de ações civis e audiências públicas. No entanto, de fato, foram as pressões promovidas por

atores sociais locais, por organismos internacionais como o Banco Mundial e órgãos de defesa do meio ambiente

como o Conselho Estadual de Política Ambiental de Minas Gerais (COPAM) e a Fundação Estadual de Meio

Ambiente de Minas Gerais (FEAM), os principais fatores da mudança da cultura da empresa, como, por exemplo,

a implantação da divisão de meio ambiente, com a incumbência de gerenciar as questões relativas à poluição e

à degradação ambiental.

As atividades da CVRD em Itabira começaram em 1942, mas foi apenas em 1997 que ela teve que

passar por um processo de licenciamento ambiental – a licença ambiental corretiva (LOC). Os debates e

negociações para a obtenção da LOC, durante as audiências públicas, foram momentos históricos desse

processo que resultou no estabelecimento de condicionantes que estão sendo cumpridos pela empresa sob o

olhar vigilante da sociedade de Itabira.

Em 1996, a empresa entrou com o pedido de licenciamento na Fundação Estadual do Meio Ambiente

(FEAM). A administração pública municipal concedeu anuência prévia para que a empresa recebesse a licença.

Porém, em 1997, a nova administração municipal encaminhou um pedido de esclarecimento à FEAM, solicitando

um estudo minucioso do caso e alertando que a concessão da licença deveria estar condicionada à correção e

compensações pelos danos ambientais que a empresa causou ao município. A FEAM convocou uma audiência

pública para discutir as condições da liberação da LOC. Mais de 600 pessoas compareceram à audiência, em 12

de fevereiro de 1998. Em seu pronunciamento, o prefeito assim se manifestou: “estamos pedindo a Conselho

Estadual de Política Ambiental (COPAM) que não conceda o licenciamento porque o relatório apresentado pela

CVRD é insuficiente, não tem substância e não aponta caminhos. Nós queremos que esse licenciamento não

saia sem que, antes, haja um entendimento maior e mais profundo entre a Vale, a comunidade de Itabira e os

técnicos do COPAM e da FEAM”*. Esse foi o tom dos debates, que contaram com cerca de 60 intervenções.

Com base nesses depoimentos, a Feam pediu à CVRD que elaborasse um novo relatório, com informações

complementares, que dessem resposta às questões levantadas na Audiência. O novo Plano de Controle

Ambiental apresentado pela Vale à FEAM foi considerado insatisfatório. Foram nomeadas duas comissões para

dar prosseguimento ao processo, uma composta pelos membros das CVRD e outra pela prefeitura. Dos diversos

encontros entre as comissões com a comunidade ficou decidido que caberia à comunidade definir uma lista de

condicionantes que levassem a empresa a indenizar a cidade pelos danos causados ao meio ambiente de

Itabira. As reuniões produziram 52 condicionantes, analisadas e aceitas pela FEAM. Esses condicionantes são

originários dos passivos ambientais: 1) nas águas subterrâneas – muitas nascentes foram destruídas pela

atividade de mineração e atualmente o município sofre com problemas de escassez de água. A questão hídrica é

apontada como uma das razões de o município não ter conseguido verticalizar sua produção para a indústria

siderúrgica; 2) poluição atmosférica - mitigada pela empresa e monitorada simultaneamente pela empresa e pela

Secretaria Estadual de Meio Ambiente, em pontos selecionados do município e 3) poluição de córregos –

Conceição e Bacia do Rio do Peixe; além das graves questões sociais. Fonte: Pequisa de campo em maio de 2005 e Informativo da Prefeitura Municipal de Itabira (PMI) /Codema – Licença Ambiental, maio de 2000

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230

Um outro caso é o da Carbonífera Criciúma, Forquilhinha (SC), que ilustra a adoção

de um sistema de gestão ambiental a partir de pressões legais. Diferentemente das

empresas mineradoras exportadoras que atuam na Amazônia, na Carbonífera Criciúma a

motivação para buscar certificações veio das exigências legais, primeiramente da sentença

solidária, de 2000, e mais recentemente do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), de

setembro de 2005 (BOX 7).

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BOX 7 - O caso da Carbonífera Criciúma S/A – Forquilhinha (SC)

A Carbonífera Criciúma foi instalada em 1982. No entanto, a mina que explora existe há mais de 40 anos. A origem do capital é privado nacional, constituído por empresários locais. A data prevista para o esgotamento das jazidas é 2022, porém a empresa adota um programa amplo de sondagem e pesquisa mineral que pode ampliar a vida útil da mina. O principal produto vendido é o “C-4.500”, um tipo de carvão destinado à geração de energia elétrica. A sua produção é praticamente toda destinada para a companhia de eletricidade - ELETROSUL, localizada a 70 km de Forquilhinha, no município de Tubarão.

No ano de 2000, as mineradoras e os órgãos públicos responsáveis pelo controle e fiscalização da atividade da região carbonífera foram processados judicialmente, por intermédio da atuação pelo Ministério Público Federal, através de uma “sentença solidária”. O Ministério Público partiu do princípio de que houve omissão ou atos contrários à norma ou anuência dos órgãos fiscalizadores. Por isso, empresas e órgãos receberam a sentença solidária.

Até 1990, todo o carvão produzido era vendido para um único órgão governamental. Era esse órgão que estipulava os preços do carvão. Acontece que a sua planilha de custos não incorporava os custos com o meio ambiente. Por isso, o Governo Federal também foi condenado. A sentença determinou prazos restritos para que todas as empresas extratoras de carvão na região iniciassem um processo de implantação de Sistema de Gestão Ambiental (SGA). A sentença estabeleceu prazos mais curtos e responsabilidades maiores do que aquele que as empresas já vinham praticando. A sentença foi contestada por muitos. Por isso está havendo certa flexibilidade no cumprimento dos prazos.

Atualmente, a Carbonífera Criciúma está funcionando com base em mandado de segurança, pois está sem Licença Ambiental. Até setembro de 2006 ela deveria ter se adaptado às exigências do TAC expedido pelo o Ministério Público Federal e Estadual, com a interveniência da FATMA, IBAMA e DNPM, entre outros.

A Carbonífera Criciúma ainda não tem certificações socioambientais, porém desde 2002 está implantando o SGA, visando o credenciamento para a ISO 14001. Ela está adotando um sistema indicado pelo CETEM, que tem oferecido apoio tecnológico às diversas carboníferas de Santa Catarina.

De acordo com a direção técnica que atua na área ambiental, a rotina da empresa sofreu profundas mudanças após a decisão de implantar o SGA. Essa decisão desencadeou muitas melhorias, tais como: explicitação da sua própria política ambiental, melhoria dos treinamentos de pessoal (foi criado um centro de treinamento e recentemente o pessoal do meio ambiente passou a fazer parte da equipe que dá treinamento), adoção de medidas de controle (planos de manutenção para melhorar a prática ambiental, em termos operacionais), adaptações, melhorias contínuas etc.

A equipe do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) recomendou à Carbonífera Criciúma uma política de tratamento de rejeitos líquidos, para servir de modelo para outras mineradoras de carvão de Santa Catarina. Essa recomendação rendeu prêmios à Carbonífera.

Segundo o engenheiro de minas da empresa, de modo geral todas as empresas melhoraram o seu desempenho ambiental, algumas mais, outras menos. Há 30 anos não havia verde próximo à boca da mina de carvão e hoje o cenário é bem diferente.

Questionados sobre ganhos econômicos decorrentes do processo de implantação do SGA, os técnicos afirmam que eles ainda não ocorreram em termos financeiros, mas sim em termos de reconhecimento externo, como a recomendação do BID, por exemplo. Após a implantação do SGA, eles começaram a monitorar gastos de energia, de água, de acompanhamento de resíduos, de coleta seletiva (há coleta seletiva no subsolo também) etc. Ou seja, eles ainda não estão mensurando esses indicadores em termos financeiros, mas já é possível notar uma significativa economia em termos de material e insumos utilizados.

De acordo com a Carbonífera, com a implantação do SGA e o conseqüente compromisso com uma agenda ambiental, foram abertas também novas oportunidades de negócios para a empresa, como o caso do Carbotrat, um produto inovador de alto valor agregado, que foi desenvolvido a partir de tecnologia nacional no âmbito da empresa. O produto serve para tratamento da água. Esse produto foi o resultado de uma dissertação de mestrado de Engenharia Química.

Um dos outros benefícios percebido foi o ajustamento aos padrões de fornecedores e de clientes que são certificados e que exigem que os seus pares também sejam. A Carbonífera assumiu o compromisso com a Votorantin e com a Alcoa, empresas já certificadas, de que em breve irá obter a cerificação ISO 14000 ou que já está próxima disso. Segundo o engenheiro de minas, “eles poderiam estragar o credenciamento deles se a gente não tiver práticas ambientais corretas”. A própria Carbonífera já mudou de fornecedor por conta de suas próprias práticas ambientais inadequadas.

Atualmente, a empresa investe em C&T para recuperação e tratamento dos resíduos. A empresa tem muitos passivos, mas está tentando não gerar novos passivos. O estéril é depositado em uma área de 33 ha (o rejeito tem pirita e outros metais que, no contato com o oxigênio, pegam fogo, e que na água provocam acidez).

Fonte : Pequisa de campo em abril de 2006

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Como experiência diamentralmente oposta se destacam os empreendimentos

mineradores da região Norte do Brasil, particularmente em Carajás, em Parauapebas (PA).

O caso de Parauapebas (PA) - Projeto Ferro Carajás – CVRD

Nos anos 1980, a criação de seis áreas reservadas no entorno da CVRD (Mapa 8), em

Carajás (PA), foi uma hábil estratégia que a empresa ajudou a implantar para a defesa de suas áreas

de mineração. Cercada de espaços especialmente protegidos, em um contexto histórico e regional

que não valorizava fortemente esse tipo de ação, a CVRD foi inovadora e ousada em sua política

ecológica. Essa iniciativa possibilitou a proteção de suas jazidas por um “cinturão verde”, evitando

assim as constantes invasões de garimpeiros, devastação dos madeireiros ou ocupação dos sem-

terra, entre outros, nas sua áreas e em áreas adjacentes.

Mapa 8: Áreas reservadas no entorno da CVRD Fonte: CVRD

Tipo de UC área (ha) Flona Carajás 395.826,70 Flona Tapirapé-Aquiri 196.351,42 Reserva Indígena Xikrin 439. 150,50 Flona Itacaiúnas 84.896,56 Rebio do Tapirapé 103.000,00 APA do Gelado 106.000,00

Essa estratégia foi de grande importância para a manutenção de espaços preservados em

uma região fortemente afetada pela agressiva ação antrópica, pois ela está dentro da faixa do

denominado “arco do desmatamento”. As Fotografias 27 e 28, a seguir, mostram que sem essa ação

da CVRD seria pouco provável que esses espaços tivessem sido preservados.

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Fotografia 27: Processo de antropização da área de influência de Estrada de Ferro Carajás/Ponta da Madeira (imagem Landsat – 1975) Fonte: CVRD/Carajás

Fotografia 28: Processo de antropização da área de influência de Estrada de Ferro Carajás/Ponta da Madeira (imagem Landsat - 1995) Fonte: CVRD/Carajás

No entanto, o que era, nos anos 1980, um “cinturão verde” para a proteção das jazidas

acabou se transformando, nos anos 2000, em uma “amarra ecológica” à extração minerária e um

complicador extra para a obtenção das licenças ambientais das novas minas que estão dentro da

Floresta Nacional (FLONA) de Carajás (Mapa 9). Muito embora a legislação que criou a FLONA

Carajás (Decreto nº 2.486, de 2 de fevereiro de 1998) tenha garantido os direitos minerários pré-

existentes, o licenciamento ambiental que, na hipótese de não-existência da FLONA, poderia ser feito

no âmbito estadual, passou a ser de competência federal, por intermédio do Instituto Brasileiro do

Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Além disso, todo o procedimento deve

estar em conformidade ao plano de manejo, que deve ter a anuência do IBAMA.

Mapa 9: Zoneamento da Flona de Carajás Fonte: CVRD (Divisão de Meio Ambinete de Carajás)

Dessa forma, de acordo com a empresa, as dificuldades de se obter licenças ambientais têm

aumentado muito e, embora esse processo não impeça que a produção continue, ele torna mais lenta

a obtenção das licenças ambientais.

19751975

HISTÓRICO DE DESMATAMENTO NA REGIÃO AMAZÔNICA

HISTÓRICO DE DESMATAMENTO NA REGIÃO AMAZÔNICA

19951995

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A adoção de padrões ambientais mais restritos e a adesão aos programas

voluntários de certificação são percebidas como um importante valor por parte das

companhias mineradoras, conforme se pode verificar pellas declarações do Quadro 14.

empresa/grupo discurso

CADAM - CVRD

(Vitória do Jari)

Houve melhoria na qualidade da mão-de-obra, maior comprometimento dos funcionários com a organização da empresa, é possível identificar e mensurar onde ocorrem riscos, além de maior atenção à parte da segurança, enfim foi possível “arrumar a casa”.

SAMARCO - Mariana

A certificação gera um diferencial competitivo para a empresa.

CVRD – Carajás A empresa tem ações negociadas em Bolsa de Nova York e precisamos cumprir os requisitos da Lei Sarbox.

CVRD – Itabira Mudou a visão de meio-ambiente (antes visto apenas como uma “florzinha”) e gerou maior comprometimento das áreas operacionais. Melhorou o relacionamento da empresa com a comunidade.

MSG – Anglo Gold (Crixás)

Não há exigência do mercado, no caso do ouro, para que as empresas mineradoras sejam certificadas. Porém, a empresa atua no mundo todo e ter uma certificação é um atrativo a mais. Além disso há uma diretriz do grupo de ter uma política ambiental dentro de um programa sustentável. Outros benefícios das certificações: – conscientização da empresa – envolvendo os diferentes grupos de interesse; – motivação interna muito forte – os empregados saíram da teoria e foram para a

prática. Não faltou recurso financeiro para nada, quando o assunto é saúde, segurança e meio ambiente;

– gestão de resíduos fortíssima. Gastamos mais do que arrecadamos com resíduos não sabiamos a extensão dos danos que podería causar;

– há um reflexo da política ambiental da empresa na comunidade e parcerias com as diferentes secretarias do município;

– a legislação é apenas o ponto de partida, no entanto isso começou a ganhar mais dimensão.

SAMA Minaçu

Não mudou nada na imagem que seja quantificável, porém mudou a atitude interna. Saiu do discurso para entrar na prática, p.ex., preocupação em re-circular a água etc. A SAMA é a única mineradora de amianto do mundo que tem ganhos internos – melhoria contínua – segurança etc. A partir do momento em que a ISO foi implantada, foram adotados procedimentos escritos e transparentes para todos, o que traz vantagens tanto para o público externo, quanto para o público interno.

CARBONÍFERA CRICIUMA –

Forquilhinha (SC)

A decisão de implantar o SGA provocou muitas melhorias para empresa, tais como: explicitação da própria política ambiental, melhoria do treinamento (implantaram um centro de treinamento e recentemente o pessoal do meio ambiente passou a fazer parte da equipe que dá treinamento), adoção de medidas de controle (planos de manutenção para melhorar a prática ambiental, em termos operacionais), adaptações, melhorias contínuas etc. A equipe do BID recomendou a política de tratamento de rejeitos líquidos da Carbonífera Criciúma como modelo para outras mineradoras de carvão que atuam na região de Santa Catarina. Com essa recomendação, a prática ambiental da empresa ganhou visibilidade e rendeu prêmios à Carbonífera. De modo geral, todas as empresas da região que foram autuadas melhoraram as suas práticas ambientais, algumas mais, outras menos. Há 30 anos não havia verde próximo à boca da mina de carvão. Hoje isso é uma realidade.

Quadro 14: Exemplos de mudanças na rotina das companhias mineradoras após a obtenção das certificações Fonte : Pequisa de campo em maio de 2006

Maior comprometimento da mão-de-obra, diferencial competitivo, cumprimento de

requisitos legais para negociar ações em bolsas, atrativo adiconal, melhorias na gestão de

resíduos, mudança de postura quanto às questões ambientais e a própria explicitação da

política ambiental são alguns dos aspectos positivos destacados pelas empresa que aderem

aos programs de certificação ambiental.

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235

3) a relação entre o padrão ambiental, a idade da mina e a região geográfica

No Brasil, a atividade mineradora de larga escala é recente. Do universo estudado, a

mina mais antiga é a da CVRD de Itabira (MG) e a mais jovem é a de Canaã dos Carajás

(PA), também da CVRD. Há uma forte associação entre a idade da mina, o seu potencial de

impacto ambiental e a localização geográfica. As minas mais velhas têm muito mais

passivos, não somente por causa da idade, mas, principalmente, pelo descaso com o meio

ambiente , conforme ficou evidenciado pelas diversas entrevistas realizadas. As minas mais

jovens, via de regra, já nascem incorporando todos os princípios da gestão ambiental e,

portanto, teoricamente têm menor potencial de impacto.

A tendência histórica da atividade mineradora no Brasil é se expandir para a região

Norte, cujo território ainda está pouco explorado. Muitas das minas das regiões Sudeste e

Sul já estão em fase de esgotamento. No entanto, com os crescentes preços obtidos pelas

commodities minerais nos últimos anos tem crescido a expectativa de vida últil da mineração

nessas regiões.

As entrevistas revelaram que, no Brasil, distintamente do Canadá, parece ser que bem

mais importante que o tempo da mina e da localização geográfica do empreendimento é o

destino das vendas o principal motivador para uma gestão ambiental mais efetiva. Os casos

das minas da CVRD ilustram essa situação. A mina de potássio Taquari Vassouras, em

Rosário do Catete (SE), por exemplo, iniciou as suas atividades em 1985, mesma época em

que a mina de ferro de Carajás, em Parauapebas (PA), entrava em operação. Toda a

produção da mina de potássio é vendida para o mercado interno, enquanto a de Carajás é

toda exportada, principalmente para a Europa e o Japão. Em Carajás, a CVRD foi uma das

primeiras empresas mineradoras do mundo a obter a certificação ISO 14000 (em 1997),

enquanto a mina de potássio, até então, não tem nenhum certificado ambiental. Embora os

seus dirigentes reconheçam a importância das certificações – “no momento em que você é

certificado, o órgão ambiental te vê com outros olhos”, afirma o gerente de meio ambiente

da empresa, Heleno Almeida, eles não sentem urgência em obter tais certificações.

Dessa forma, ainda que longe do ideal, os indicadores ambientais apresentados

foram aqueles que estão acessíveis a consulta pública e que permitiram formar um quadro

comparativo entre o conjunto de municípios mineradores e os seus entornos não-

mineradores. A partir dessas observações, pode-se concluir que os problemas ecológicos

provocados pela atividade mineradora dependem:

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• do tipo de minério extraído, das características físicas da mineralização, da

tecnologia existente etc;

• do destino da venda dos minérios (mercado exteno ou doméstico):

• da data em que se iniciou a sua explotação, se antes ou depois das exigências

legais;

• da região geográfica. De forma ampla, o padrão ambiental da indústria de

mineração é reativo nas regiões Sul e Sudeste e é pró-ativo no Norte do Brasil.

Portanto, não se pode afirmar que existe um único padrão de impactos ecológicos da

atividade mineradora, assim como não é possível estabelecer uma associação direta entre

certos tipos de doenças e as regiões mineradoras. Os indicadores sobre o desmatamento,

também não permitiram garantir se a mineração contribui ou não para o desmatamento.

Assim, como reflexão prospectiva entende-se que não é possível pensar em um modelo

único de gestão ambiental para a mineração, tendo em conta as profundas assimetrias entre

os municípios brasileiros. Ela precisa ser contextualizada, a partir de uma base de

conhecimento da realidade na qual a atividade será implantada.

Como regra geral, a mineração de larga escala destina sua produção ao mercado

exportador. A crescente concorrência e as exigências desse mercado requerem padrões

ambientais rigorosos. Não raras vezes, as companhias mineradoras adotam padrões acima

das normas legais vigentes. Um exemplo disso é a adesão voluntária aos programas de

certificação ambiental, como os da série ISO 14000. Esse comportamento está de acordo

com o que verificaram Hilson & Murk (2000), ao ressaltarem que o arcabouço regulatório

difere significativamente entre países em todo o mundo e que países subdesenvolvidos têm

regras muito mais frouxas e menos rigor que os países desenvolvidos. Portanto, estar em

conformidade com a legislação local não significa que ocorra uma excelente prática

ambiental. Assim, a venda externa funciona como um verdadeiro freio às práticas

ambientais predatórias.

No entanto, com a diversificação dos mercados globais e o intenso crescimento de

economias, como a da China, por exemplo, que não apresentam padrões ambientais

rigorosos, é necessário estar alerta para possíveis retrocessos. Isso seria muito negativo,

por duas principais razões: 1) a mineração está se expandindo para regiões ricas em

recursos naturais e ambientais que carecem de proteção e 2) ainda há necessidade de

aperfeiçoamento dos instrumentos hoje existentes. Uma das principais críticas a esses

instrumentos, especialmente do Ministério Público, é a falta da fiscalização sistemática e

contínua dos órgãos estaduais e federais de meio ambiente. A discussão dos estudos de

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impacto ambiental nas audiências públicas e subseqüente aprovação pelos Conselhos

Ambientais parecem ser etapas finais de um processo quando, na realidade, ele apenas

está se iniciando, critica o representante do Ministério Público do Pará, Raimundo Moraes,

em entrevista. Portanto, é necessário aprimorar os mecanismos de controle e fiscalização

para que, de fato, as companhias mineradoras cumpram os condicionantes e os sucessivos

planos de controle ambientais.

Os municípios mineradores, por sua vez, criticam a excessiva tutela do Estado e o

pouco espaço que deixam para uma ação mais atuante do município, como ocorreu em

Canaã dos Carajás (PA), BOX 8.

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BOX 8 - Mineração de cobre da CVRD e a relação Estado/município em Canaã dos Carajás (PA)

De acordo com o Assessor da Secretaria de Meio Ambiente de Canaã dos Carajás, Sr. Eder

Buruka, a mineração é um mal necessário. É necessário porque a jazida possui rigidez locacional e não se pode impedir que a região cresça; mas é um mal, por causa da degradação ambiental que provoca. Além do que: 1) a empresa não esclarece à sociedade quais os seus reais níveis de poluição; 2) as análises ambientais não são acessíveis à população e não há contraprova, por parte do órgão ambiental estadual; 3) há utilização de produtos que contaminam o solo e; 4) o plano de monitoramento não é facilmente acessível.

Nesse sentido, segundo o assessor, o município precisa se capacitar para gerir o licenciamento ambiental das empresas que estão instaladas em seu território e adotar ações que se antecipem aos problemas que a mineração causa. O assessor questiona o quê fazer da área com os rejeitos, quando a mineração se esgotar. O desenvolvimento da tecnologia ambiental criou muitos elementos de contenção de impactos, mas os impactos nunca vão deixar de existir, pois os produtos químicos utilizados no processo produtivo permanecerão no solo, degradando as águas subterrâneas e contaminando o meio ambiente. O custo de tratamento é muito alto, muitas vezes mais oneroso do que a empresa está gastando para extrair o minério Além disso, não é interesse da empresa compensar a sociedade, se ela não for demandada. Daí a necessidade de o município reforçar o seu sistema municipal de licenciamento, afirma o assessor.

No que se refere à relação Estado/município quanto às responsabilidades no licenciamento ambiental, para o Assessor, “é uma covardia” o gestor público cobrar apenas 0,5% de compensação ambiental se a lei determina que possa ser cobrado até 3%. Para ele o governo estadual deveria estipular o percentual máximo, já que o município convive com vários problemas de pobreza e exclusão e que são agravados com a vinda dos projetos de mineração. Para o Assessor, a mineração provoca impactos em todas os setores da sociedade e a companhia mineradora deveria ter mais compromisso com o território no qual ela está atuando e apoiá-lo com maior aporte de recursos.

O Assessor, entretanto, reconhece que a empresa cumpre com as responsabilidades firmadas no processo de licenciamento: sistema de tratamento de água e consultorias especializadas. O município tem uma cópia dos condicionantes das licenças ambientais e procura acompanhar o cumprimento deles. No entanto, a empresa encaminha os documentos pertinentes diretamente para a Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (SECTAM), sem a anuência do município. Em certos casos, os condicionantes foram apenas parcialmente efetivados. Isso exige que o município também se direcione à SECTAM, para provar que, de fato, a empresa não cumpriu o que estava previsto. Isso gera um desgaste que poderia ser evitado se houvesse maior interação entre Estado e município, no que se refere às questões ambientais. A CVRD tem uma boa política de aproximação com o governo do Estado. Toda semana eles enviam a Belém um representante para estreitar os vínculos, afirma o Assessor. Porém, há uma grande distância entre o que é documentado e aquilo que, de fato, é feito. Um dos acordos se refere à concessão de uma área de preservação ambiental para Canaã dos Carajás. Isso ainda não foi cumprido, segundo o representante da Secretaria de Meio Ambiente de Canaã dos Carajás, por descaso do Estado (“vão enrolando”).

Para o Assessor, os municípios não precisam conveniar com o Estado. A Resolução 237 do CONAMA orienta isso, mas o Estado quer tutelar os direitos do município. O Assessor é partidário da municipalização da gestão ambiental, ele afirma que os artigos 23 e 30 da Constituição Federal asseguram isso e que a Resolução 237 é inconstitucional. Os Estados não vão querer perder esse poder. Um exemplo disso é o Fundo Estadual de Meio Ambiente do Estado do Pará, que arrecada mais de R$ 10 milhões/ano. Esses recursos não são repassados para os municípios. Não há interesse do Estado em repassar esse poder para os municípios, pois isso significaria o seu próprio enfraquecimento. “Politicamente, vamos fazer o Convênio com o Estado para compartilhar do Licenciamento Ambiental, mas isso não nos vai impedir de avançar no Licenciamento via município. O Estado deve ter um compromisso moral de viabilizar tecnicamente o município”, enfatiza o assessor.

Fonte: Entrevista concedida à autora, em julho de 2006

Não obstante a necessidade de aprimoramento dos instrumentos de gestão e de

controle do meio ambiente ligado a mineração, foi possível constatar que essa dimensão

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está razoavelmente institucionalizada, no sentido de definição de leis (Resoluções do

CONAMA, dos COEMAS, IBAMA etc), códigos de conduta normativos (EIA/RIMA, PCA,

RCA, PRAD, LOC, TAC etc) e voluntários (ISO 14.000, NOSA, SGA etc) órgãos

especialmente criados para lidar com o assunto (IBAMA, Secretarias Estaduais e Municipais

de Meio Ambiente, Conselhos Estaduais e Municipais de Meio Ambiente), mecanismos de

indução e outros. Essa institucionalização é uma tendência global. Nos municípios

brasileiros estudados, verificamos que ela é maior nas regiões de base mineradora.

A partir da revisão bibliográfica feita no Capítulo dois e das entrevistas realizadas em

campo apresentadas neste, foi possível identificar que essa institucionalização da questão

ambiental no mundo e no Brasil impacta a prática das empresas de mineração a partir de

diferentes aspectos, tais como:

• exigência dos acionistas. As grandes empresas mineradoras, via de regra,

negociam as suas ações nas bolsas de valores. Empresas ambientalmente

responsáveis são mais dignas de credibilidade. Isso incentiva a incorporação da

dimensão ambiental nas práticas gerenciais das empresas;

• exigências dos financiadores. No Brasil, os bancos públicos, por intermédio do

Protocolo Verde, já fazem esse tipo de exigência. Os bancos internacionais,

liderados pelo Banco Mundial, além de incorporarem critérios ambientais para a

concessão dos financiamentos, estão reavaliando seu papel no financiamento da

atividade mineral;

• avanço e consolidação das instituições ambientais no Brasil. Órgãos

federais, estaduais, municipais, conselhos etc.;

• estruturação e consolidação da legislação ambiental. Definição dos marcos

regulatórios (governo federal), com a determinação dos instrumentos de gestão

ambiental: avaliação de impactos ambientais, plano de controles ambientais,

relatórios de controle ambiental, monitoramento de emissões, plano de

fechamento, e outros. Implantação de organismos de controle (governos

estaduais) por intermédio do processo de institucionalização da gestão ambiental

municipal (governos locais);

• atuação do Ministério Público. Um dos principais atores sociais, canalizador e

porta-voz do interesses da sociedade, o Ministério Público sempre está presente

nos momentos importantes que dizem respeito à relação indústria mineral e

comunidade ;

• o despertar da consciência sócio-ambiental das populações afetadas.

Conforme o caso que bem Itabira ilustrou.

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• exigências dos condicionantes sócio-ambientais, para liberação das licenças

por parte do órgão ambientais;

• ação vigilante da sociedade civil organizada, denunciando os problemas e

cobrando soluções;

• adesão aos programas voluntários de certificação, como, por exemplo, a ISO

14000.

Enfim, todos esses fatores têm tido uma profunda influência na atuação das

empresas mineradoras, o que contribui amplamente para coibir práticas predatórias comuns

no passado recente da mineração e limitar as possibilidades do legado de passivos

ambientais que deixavam um legado de “terra arrasada” para as atuais e futurasgerações.

Especialistas reconhecem que é mais fácil e menos dispendioso tratar do meio

ambiente de forma preventiva. Nesse sentido, os novos empreendimentos mineiros têm se

beneficiado do desenvolvimento de tecnologias modernas e de mais baixo custo. Tratar o

meio biofísico é também muito mais objetivo, uma vez que há parâmetros definidos

(qualidade de ar, de águas, limites para emissões de resíduos etc).

Por outro lado, até então, não se verifica a mesma institucionalização para tratar de

questões socioeconômicas relativas à mineração. Não há “regras do jogo” claras, no sentido

de Douglass North, para lidar com os problemas sociais que acompanham a implantação de

empreendimentos mineiros, especialmente, na região Norte do Brasl91. E tampouco há

institucionalização para tratar de um aspecto fundamental que os diversos autores do

desenvolvimento ressaltam, que é o uso sustentável das rendas da mineração. Se bem

geridas, essas rendas minerais podem fazer a ponte entre o bem mineral finito e outras

formas permanetes de riquezas que podem ser legadas para as futuras gerações.

Os organismos financiadores internacionais apenas recentemente estão se dando

conta da importância de se cuidar da dimensão socioeconômica de processos de

desenvolvimento que se baseiam no uso de recursos naturais não-renováveis. As

instituições locais ainda estão adormecidas para essa importância.

91 Iniciativas voltadas para a responsabilidade social são quase todas de caráter voluntário. Uma das mais importantes ainda está em pleno processo de debate. Trata-se da ISO 26000, cujos primeiros esboços iniciaram em 2005 e espera-se que passe a vigorar a partir de 2009.

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4.2 A DIMENSÃO ECONÔMICA

Sem viabilidade econômica, qualquer proposta de desenvolvimento sustentável fica

comprometida. Sachs (2004) e Fauchex & Nöel (1995) chamam atenção para o fato de que,

quando se fala de desenvolvimento sustentável, fundamentalmente se trata de um

desenvolvimento econômico durável, respeitando as restrições ecológicas. Portanto, não se

pode ignorar a dimensão econômica, mas sim atentar para o que crescimento seja

“virtuoso”, capaz de gerar o “desenvolvimento endógeno”, como diz Sachs (2004), e ampliar

as liberdades constitutivas e instrumentais, como ressalta Sen (2000).

4.2.1 Município minerador e crescimento econômico

Qual o comportamento dos indicadores de crescimento econômico (PIB e PIB per

capita) dos municípios mineradores vis-à-vis o seu entorno não-minerador e a média de

seus Estados? Pode-se afirmar que a mineração é um fator que contribui favoravelmente

para o crescimento econômico?

Com a utilização do pacote estatístico SPSS, as variáveis disponíveis (Anexo 3), para

o ano de 2000, foram reunidas e geraram em três agrupamentos (clusters) a partir da

afinidade existente entre elas (Anexo 6). No que se refere ao índice econômico (Gráfico 11),

verificou-se que:

– sete entre os dez primeiros municípios (do universo dos 50 estudados), que

apresentaram as maiores pontuações no quesito crescimento, são mineradores;

– apenas um entre os últimos vinte municípios com as menores pontuações no quesito

crescimento, é agora minerador, mas em 2000 (ano da análise) ele não o era.

– quando comparado com o conjunto de seu entorno e com a média de seu Estado o

crescimento de cada município minerador se sobressai;

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Parauapebas (PA)

Itabira (MG)

Paracatu (MG)

Mariana (MG) Corumbá (MS) Minaçu (GO)

Oriximiná (PA)

Santa Bárbara (MG)

Ipixuna do Pará (PA)

Forquilinha (SC) Canaã dos Carajás (PA)

Jaguarari (BA)

Crixás (GO)

Rosário do Catete (SE)

Maracajá (SC) -1

0

1

2

3

4

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

índi

ce d

e cr

esci

men

to

Gráfico 11: Índice de crescimento econômico, gerado a partir de análise de cluster (2000) Fonte: Análise de cluster (Anexo 6)

A Tabela 14 exibe o PIB per capita médio de 1980 e de 2003 para os dois conjuntos

de municípios desagregados por região de origem. Os indicadores reforçam a constatação

de que os municípios de base mineradora têm um maior nível de crescimento. A avaliação

das médias amostrais foi feita com o teste “estatística t”, com o nível de significância de

5%92.

Tabela 14: PIB per capita médio – 1980 e 2003 – municípios mineradores e não mineradores das regiões Norte e Nordeste e das regiões do Centro-Sul (em R$ 1,00 constante de 2000)

1980 2003 origem dos municípios minerador não-minerador teste t minerador não-minerador teste t

Norte-Nordeste 5.508 1.589 1,04276* 8.502 2.355 2,768232 Centro-Sul 6.006 3.000 2,86408 7.670 5.564 1,591925*

(*) o nível de significância foi de 20% Fonte: Anexo 3

Nas regiões Norte e Nordeste são bem mais evidenciadas as diferenças do PIB per

capita entre os municípios mineradores e não-mineradores. E essas diferenças tem se

ampliado ao longo do tempo de 3,4%, em 1980, para 3,6% em 2003. Nos municípios das

92 Para os municípios da regiões Norte e Nordeste, referente ao ano de 1980, não foi possível realizar essa comparação em virtude da reduzida amostragem, uma vez que há informações para apenas três dos sete municípios municípios mineradores estudados, pois os demais são de criação posterior.

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regiões Centro-Sul, o PIB per capita dos municípios mineradores se mostrou mais elevado

em todos os períodos, porém essa diferença tem se reduzido de 2%, em 1980, para 1,4%,

em 2003, em relação ao entorno não-minerador.

Dessa forma, ponto de vista exclusivo do crescimento econômico, pode-se inferir que

a mineração é uma atividade positiva para os municípios mineradores. No Capítulo 2 essa

questão foi discutida, a partir da revisão da literatura internacional. Pelo menos em nível de

país, não há um consenso a respeito da efetiva contribuição do setor mineral para o

crescimento econômico. Se o desenvolvimento fosse limitado ao crescimento econômico,

como sugerem Davis (1998) e os teóricos da economia convencional, seria possível afirmar

que a mineração é um meio muito eficaz para alcançá-lo nos municípios mineradores do

Brasil. No entanto, muitas outras variáveis precisam sem consideradas para fazer esse tipo

de afirmação.

Na seção seguinte será feita uma análise sobre a evolução do PIB per capita, dos

anos 1970 a 2003, deflacionados para o ano de 2000, para os conjuntos de municípios

mineradores e não-mineradores, por Estado. Ela objetiva verificar se esse crescimento

agregado, revelado pela análise de cluster, ocorre individualmente nos municípios de base

mineira. Os dados estatísticos utilizados estão disponíveis no Anexo 3.

4.2.1.1 Comportamento do PIB per capita dos municípios de base mineira e seus entornos, por Estado

Estado do Amapá

No período 1999-2003 o PIB de Vitória do Jari cresceu a uma taxa média anual de 8%,

bem acima da taxa média do estado, que foi de 6%, e dos municípios do entorno. Mesmo de

criação recente (1997), Vitória do Jari sobrepujou rapidamente seu vizinho bem mais antigo,

o município de Mazagão (Gráfico 12). Considerando o seu entorno não-minerador, o

desempenho de Vitória do Jari é apenas superado pela média estadual93.

93 Um dos municípios do entorno, Pedra Branca do Amapari, foi retirado da análise porque nele está sendo implantado um empreendimento de ouro do grupo MMX, cuja produção efetiva está prevista para iniciar em 2008. Por este motivo, o município tem apresentado intenso crescimento, desde o final dos anos 1990.

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244

Gráfico 12: Evolução do PIB per capita de Vitória do Jari (AP) e dos municípios do entorno (1970, 2000, 2003) R$ 1,00 de 2000. Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE (Anexo 3)

Estado da Bahia

É bastante expressiva a transformação promovida pela atividade mineral no semi-árido

baiano. Em 1970, o PIB per capita do município de Jaguarari equivalia a um terço do PIB

per capita médio do estado da Bahia e era o segundo menor da região do estudo94. Em

2003, ele superou em 50% a média estadual e passou à dianteira dos municípios de seu

entorno. Considerando a inexistência de outra atividade de peso no município, essa

dinâmica pode ser atribuída somente à mineração (Gráfico13).

94 Denominaremos “região de estudo” os conjuntos de municípios mineradores e seus entornos não-mineradores.

2.571

1.105

4.126

2.725

2.429

2.628

4.235

2.8502.700 2.660

-

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

4.000

4.500

Estado do Amapá Vitória do Jari * Mazagão Laranjal do Jari

1970 2000 2003

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245

Gráfico 13: Evolução do PIB per capita de Jaguarari (BA) e dos municípios do entorno (1970, 2000, 2003). R$ 1,00 de 2000. Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE (Anexo 3)

Estado de Goiás

Os dois municípios mineradores selecionados no estado de Goiás são exemplos

interessantes do ciclo da mineração e, possivelmente, da conduta política do

desenvolvimento municipal. No que se refere ao ciclo da mineração, consideramos a

Mineração Serra Grande (MSG), em Crixás, com previsão para encerramento em 2012, e a

SAMA, em Minaçu, em plena atuação com reservas provadas para mais de 30 anos. Nos

anos 1980, quando a MSG entrou em operação, o crescimento de Crixás era nitidamente

superior à média de seu entorno (Mozarlândia) e do estado de Goiás. Nos anos

subseqüentes, o desempenho de Crixás ficou abaixo de seu entorno. O oposto se verificou

em relação a Minaçu. Nos anos 1980, o município teve um crescimento bem acima da

média do Estado e do entorno, apresentou uma ligeira queda em 2000, mas voltou a subir

desde então (Gráfico 14). No que se refere à conduta política do desenvolvimento municipal,

é possível que o direcionamento dos gastos públicos e as políticas locais possam ter

influenciado na dinâmica do crescimento e do desenvolvimento desses municípios,

conforme será melhor explorado nas seções subseqüentes.

527

1.332

702

210

2.425

3.688

1.946

1.280 1.255

5.701

4.002

2.642

2.230

1.035

-

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

Jaguarari Estado da Bahia Campo Formoso Andorinha Uauá

1970 2000 2003

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246

Gráfico 14: Evolução do PIB per capita de Crixás e Minaçu (GO) e dos municípios do entorno (1970, 1980, 2000, 2003) R$ 1,00 de 2000 Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE (Anexo 3)

Estado do Mato Grosso do Sul

Muito embora o turismo e a pecuária sejam setores importantes na dinâmica do

crescimento de Corumbá e região, o setor mineral é um dos mais expressivos no processo

de expansão recente do município. Corumbá tem superado a média de crescimento de seu

entorno, sendo suplantado apenas por Porto Murtinho (Gráfico 15).

-

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

Minaçu Mozarlândia Nova Crixás Estado de Goiás Crixás Campinaçu Trombas

pib pcta 1970 pib pcta 1980 pib pcta 2000 pib pcta 2003

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247

Gráfico 15: Evolução do PIB per capita de Corumbá dos municípios do entorno (1970, 2000, 2003) R$ 1,00 de 2000 Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE (Anexo 3)

Estado de Minas Gerais

A dinâmica de crescimento econômico dos municípios mineradores de Minas Gerais

reafirma a noção de que a atividade mineral induz a um desempenho acima da média do

entorno, principalmente se a atividade está em fase de implantação ou de expansão. Desde

o início da série em análise (anos 1970), o crescimento do PIB per capita de Itabira

manteve-se bem acima da média estadual, bem como de seu entorno. Mariana, cuja

dinâmica de crescimento do PIB per capita, nos anos 1970, se assemelhava à média

estadual e de seu entorno, iniciou um processo de intenso crescimento com a revitalização

da atividade mineradora, nos anos 1980, diferenciado-se tanto da média estadual como da

de seu entorno imediato.

No município de Paracatu, é baixo o peso da mineração na economia local. O

município de Santa Bárbara é exceção; apesar do peso razoável da atividade mineral, o

município não apresenta o mesmo dinamismo dos outros municípios mineradores (Gráfico

16).

2.914

6.047

1.9612.132

5.098

3.171 3.215

7.5307.336

6.421

3.823

5.7085.829

3.836

-

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

8.000

Porto Murtinho Corumbá Mato Grosso do Sul Miranda Aquidauana

1970 2000 2003

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248

4.537

1.8561.313

1.891 1.7262.161

1.2391.721

1.180 1.065 896612 617

11.058

8.200

6.648

5.7215.088

4.405 4.3814.073

3.186 3.078 2.877

2.139 2.092 2.039 1.824

-

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

Itabir

a *

Marian

a * Unaí

Minas G

erais

Paraca

tu *

Nova E

ra

Antônio

Dias

Santa

Bárbara

*

Alvinó

polis

Don B

osco

Jabo

ticatu

bas

Catas A

ltas

Barra L

onga

Pirang

a

Santa

Fé de M

inas

1970 2000 2003

Gráfico 16: Evolução do PIB per capita de Itabira, Mariana, Paracatu e Santa Bárbara (MG) e dos municípios do entorno (1970, 2000, 2003) R$ de 2000 Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE (Anexo 3)

Estado do Pará

No Pará, a dinâmica de crescimento dos municípios mineradores é muito diferenciada

em relação ao entorno e à média do Estado. Nos anos 1970, o ritmo do PIB per capita de

Oriximiná estava abaixo da média estadual e dos municípios do entorno (Faro e Terra

Santa). Nos períodos subseqüentes, o PIB per capita de Oriximiná superou

significativamente essas referências.

Os dados disponíveis do PIB per capita de Parauapebas e Canaã dos Carajás, de

2000 e 2003, demonstram a desproporcional projeção desses municípios em relação ao

entorno (Curionópolis, Eldorado dos Carajás) e à média estadual. Canaã dos Carajás

apresenta tendência expansiva (implantação do projeto do cobre), enquanto Parauapebas

um comportamento contrário. Ambos ultrapassaram, porém, quase três vezes o PIB per

capita do município que lhes deu origem (Marabá).

O caso de Ipixuna do Pará, embora com crescimento acima da média do estado e

muito superior ao de seu entorno (Nova Esperança do Piriá, Aurora do Pará e Capitão

Poço), não alcançou o mesmo dinamismo dos outros municípios mineradores analisados,

apesar de ter duas importantes minas de caulim em seu território (Rio Capim Caulim e

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249

PPSA). Os motivos estão relacionados à ausência de infra-estrutura de apoio que garantisse

a instalação do escritório das companhias mineradoras na sede municipal, bem como ao

uso dos recursos provenientes dos royalties da mineração (Gráfico 17).

10.639

5.983

4.185 4.016 3.8563.268

2.635 2.6341.943

1.537989 908942 1.329

1.621

6801.364

1.581

10.457

-

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

Canaã

dos C

arajás

*

Paraua

peba

s*

Orixim

iná *

Água A

zul d

o Nort

e

Ipixu

na do

Pará

*

Marabá

Pará

Curion

ópoli

s

Aurora

do Pará

Eldorad

o dos

Cara

jás

Capitã

o Poç

o

Terra S

anta

Nova E

spera

nça d

o Piriá Faro

1970 2000 2003

Gráfico 17: Evolução do PIB per capita de Canaã dos Carajás, Parauapebas, Oriximiná e Ipixuna do Pará (PA) e dos municípios do entorno (1970, 2000, 2003) R$ de 2000 Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE (Anexo 3)

Estado de Santa Catarina

De forma bem distinta do Norte do Brasil, a dinâmica de crescimento do PIB per capita

dos municípios da região de Criciúma, em Santa Catarina, é muito mais afetada pelo ritmo

da indústria de transformação do que pela expansão da indústria extrativa mineral. A CFEM

paga pela mineração de carvão em Forquilhinha representa apenas 5% da receita pública

municipal, mas, mesmo assim, em 2000, o PIB per capita de Forquilhinha era inferior

apenas ao do município de Nova Veneza e estava acima da média estadual (Gráfico 18).

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250

Gráfico 18: Evolução do PIB per capita de Forquilhinha (SC) e dos municípios do entorno (1970, 2000, 2003) R$ de 2000 Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE (Anexo 3)

Estado de Sergipe

Na década de 1970, o PIB per capita de Rosário de Catete estava abaixo da média

estadual e era o segundo menor do conjunto de municípios analisados. Três décadas após,

em 2003, passou a ter média quatro vezes maior que a do estado, enquanto que os outros

municípios do conjunto que, em 1970, estavam um pouco acima, em 2003, ficaram muito

abaixo da média do estado (Gráfico 19).

1.792 1.7702.421

1.379

12.139

6.863

9.303

7.921

5.856

17.050

11.912

10.533

8.151

5.462

-

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000

Nova Veneza Meleiro Forquilinha Santa Catarina Maracajá

1970 2000 2003

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251

Gráfico 19: Evolução do PIB per capita de Rosário do Catete (SE) e dos municípios do entorno (1970, 2000, 2003) R$ de 2000. Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE (Anexo 3)

Como foi possível observar, o comportamento individualizado ao longo das três

décadas demonstrou que a dinâmica do PIB per capita dos municípios mineradores superou

seu entorno e, em alguns casos, a própria média estadual. Esse é um forte indício de que a

mineração é, sim, um potente fator de crescimento econômico.

4.2.2 Município minerador e dinâmica populacional

Qual o comportamento dos indicadores de crescimento populacional dos municípios

mineradores vis-à-vis o seu entorno e a média de seus estados? Pode-se afirmar que a

mineração é um fator de adensamento populacional ou que a dinâmica populacional

independe da base produtiva assentada na mineração?

O Mapa 10, a seguir, apresenta dados de população (IBGE) para os anos 1980 e

2003, para os conjuntos de municípios mineradores e não-mineradores.

1.071 1.2571.849

7411.579

7.027

3.318 3.057 2.642

1.508

19.871

4.586 4.287 4.076

1.644

-

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

Rosário do Catete Sergipe Maruim Santo Amaro das Brotas Capela

1970 2000 2003

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252

Mapa 10: Variação populacional nos municípios mineradores do Brasil e entorno não-minerador (1980 e 2003) Fonte: Elaboração própria com base no IBGE (Censo de 1980 e estimativa para o ano de 2003) (Anexo 3)

O mapa demonstra um padrão bem diferenciado entre a região Norte e as demais

regiões do Brasil. Na região Norte, a frente minerária tem sido um fator de mudança na

dinâmica socioespacial, manifestada pela criação e revitalização de novos municípios e

povoados, aumento da densidade populacional, redirecionamento dos fluxos migratórios,

entre outros. Nas demais regiões, cuja fronteira de ocupação já está consolidada, esse

comportamento não ocorre da mesma forma. É certo que os movimentos populacionais não

deixam de estar vinculados ao ciclo mineral. No entanto, as variações não são tão intensas,

conforme constatado pela análise individualizada de cada município minerador e dos seus

entornos, no contexto de seus Estados.

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253

4.2.2.1 Dinâmica populacional dos municípios de base mineira e seus entornos, por estado

Estado do Amapá

Certamente que a existência de uma mina de caulim alterou as dinâmicas

populacional e territorial do Amapá. Entrevistas feitas durante os trabalhos de campo

sugeriram uma forte associação entre a criação do município de Vitória do Jari (em 1997) e

o recolhimento da CFEM. Em 2003, o peso da CFEM nas receitas públicas municipais foi de

31%. No período 2000/2003, a taxa de crescimento populacional de Vitória do Jari, estimada

pelo IBGE, para superou a média estadual e de seu entorno (Gráfico 20).

Gráfico 20: Evolução das taxas de crescimento populacional de Vitória do Jari (AP) e dos municípios do entorno não-minerador (1970 - 2003) Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE (Anexo 3)

O crescimento desordenado da população é considerado um dos mais sérios

problemas enfrentados por Vitória do Jari, já que compromete qualquer tipo de planejamento

de políticas públicas, especialmente nas áreas da educação, da saúde e do planejamento

urbano. Durante a visita à Secretária Municipal de Educação, foi citado um exemplo que

ilustra bem essa situação. No ano de 2005, foram construídas creches, planejadas para

abrigar 60 crianças. Porém, depois de concluídas as obras, formou-se uma fila de espera de

4%

7%

5%

-8%

3%

6%

3%

5%4% 4%

3%

-10%

-8%

-6%

-4%

-2%

0%

2%

4%

6%

8%

Vitória do Jarí Laranjal do

JaríEstado do Amapá Mazagão

tx 1970/80 tx1980/91 tx 1991/00 tx 2000/03

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254

mais de 120 crianças. Os representantes do poder público local afirmam que é a existência

de grandes empreendimentos que atrai essa população. Todos os dias chegam novas

pessoas ao município.

Estado do Bahia

Na década 1980, período de implantação do projeto cobre da Caraíba Mineração, o

crescimento populacional de Jaguarari esteve acima de média do estado e de seu entorno

(com exceção de Campo Formoso). Com o esgotamento das reservas de cobre e o

conseqüente encerramento da mineração, prevista para 2012, houve uma expressiva

redução do contingente populacional em Jaguarari (Gráfico 21).

Gráfico 21: Evolução das taxas de crescimento populacional de Jaguarari e dos municípios do entorno não-minerador (1970 - 2003) Fonte:bElaboração própria com base nos dados do IBGE (Anexo 3)

Com exceção de Uauá, a tendência à redução populacional é um fenômeno

observável em todos os municípios do entorno de Jaguarari, provavelmente por causa da

seca e da conseqüente dificuldade de sobrevivência em uma região que não permite a

emergência de outras atividades produtivas. Porém, em Jaguarari o decréscimo

populacional é mais agudo, revelando, de fato, o final do ciclo da mineração no semi-árido

baiano.

2,4%

4,3%

2,8%

1,6%

2,3%

0,9%

3,1%

1,8%

1,1%

-0,9%

-1,4%

0,7%0,9%

-0,9%

-1,4%

0,6%

0,0% 0,0%

-2,0%

-1,0%

0,0%

1,0%

2,0%

3,0%

4,0%

5,0%

Estado da Bahia Campo Formoso Andorinha Jaguarari * Uauá

tx 1970/80 tx1980/91 tx 1991/00 tx 2000/03

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255

Estado de Minas Gerais

A dinâmica de crescimento populacional dos municípios mineradores de Minas Gerais

reflete a tendência geral do Estado, porém com taxas ligeiramente superiores. Chama a

atenção o expressivo crescimento populacional de Santa Bárbara, bem como o de Mariana,

nos anos 1980, período em que foram implantados os principais projetos de mineração

(Gráfico 22).

1,7%

2,9%

2,4%

1,5%

2,6%

1,1%

-0,5%

0,4%

-3,4%

-2,1%

2,6%2,5%

1,9%

0,3%

3,7%

0,9%

0,3%

1,8%2,0%

0,0%

2,3%2,0%

1,6% 1,4%

0,1%

0,7%0,5%

0,3%0,1%

-1,0%

-1,8%

-0,3%

-0,9%

-0,4%

1,6%

0,2%

-0,9%

0,2%

-0,8%

-3,5%

-2,5%

-1,5%

-0,5%

0,5%

1,5%

2,5%

3,5%

Marian

a *

Paraca

tu *

Itabir

a *

Estado

de M

inas G

erais

Unaí

Santa

Bárbara

*

Jabo

ticatu

bas

Pirang

a

Antônio

Dias

Alvinó

polis

Nova E

ra

Don Bos

co

Santa

Fé de M

inas

Barra L

onga

tx 1970/80 tx1980/91 tx 1991/00 tx 2000/03

Gráfico 22: Evolução das taxas de crescimento populacional de Itabira, Mariana, Paracatu, Santa Bárbara e dos municípios do entorno não-minerador (1970 - 2003) Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE (Anexo 3)

Estado do Mato Grosso do Sul

O recente crescimento de atividade mineral em Corumbá não tem sido um fator de

expressivo crescimento populacional (Gráfico 23). As taxas de crescimento populacionais

têm se mantido bem abaixo da média do Estado e de seu entorno imediato. Município

histórico, Corumbá já passou por diversos ciclos econômicos. A tendência de suas taxas de

crescimento populacional é decrescente nas três últimas décadas.

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256

Gráfico 23: Evolução da taxa de crescimento populacional de Corumbá e dos municípios do entorno não-minerador (1970, 2000, 2003) Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE (Anexo 3)

Estado do Pará

Com exceção de Oriximiná, os demais municípios mineradores do Pará, objeto deste

estudo, apresentaram taxas de crescimento populacional acima da média do Estado.

Entretanto, os municípios de seus entornos foram os que apresentaram as maiores taxas.

Isso é um indício de que a dinâmica populacional pode estar muito mais relacionada à

“expansão da fronteira” que, por sua vez, é provocada por outras atividades produtivas

(assentamentos, atividade pecuária etc.), além da mineração.

No entorno de Parauapebas e Canaã dos Carajás, há dois extremos: decréscimo

populacional em Curionópolis (-4,2%), no período 2000 a 2003, e intenso crescimento em

Água Azul do Norte (6,6%), no mesmo período. Considerando a inexistência de atividade

mineradora nesses municípios, é provável que esses fenômenos estejam mais associados a

outras dinâmicas.

No entorno de Ipixuna do Pará, foi o município de Nova Esperança do Piriá que mais

cresceu (6,3% ao ano). No entorno de Oriximiná o município de Faro foi o que mais cresceu,

possivelmente (Gráfico 24).

2,6%

1,8%

-0,1%

0,0%

2,7%

-1,8%

1,3%

0,9% 0,9%

1,7%

1,5%

1,1%

0,9%

0,4%

1,5%1,2%

1,0%0,8%

0,4%

3,2%

-2,0%

-1,0%

0,0%

1,0%

2,0%

3,0%

Estado do Mato Grosso do Sul Miranda Aquidauana Corumbá * Porto Murtinho

tx 1970/80 tx1980/91 tx 1991/00 tx 2000/03

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257

2,3%

4,6% 4,5%

2,5%

0,7%

7,5%

3,8%3,4% 3,3%

-3,3%

3,3% 3,5%

2,5%

1,0%

-7,3%

6,6% 6,5% 6,3% 6,1% 5,9%

4,4%3,7% 3,6%

2,6% 2,6%2,0%

-4,2%

9,4%

1,8%1,6%

0,9%

-8,0%

-6,0%

-4,0%

-2,0%

0,0%

2,0%

4,0%

6,0%

8,0%

10,0%

Água A

zul d

o Nort

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Nova E

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o Piriá

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na do

Pará *

Eldorad

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Marabá

Terra S

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Estado

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Orixim

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Capitã

o Poç

o

Curion

ópoli

s

tx 1970/80 tx1980/91 tx 1991/00 tx 2000/03

Gráfico 24: Evolução das taxas de crescimento populacional de Parauapebas, Canaã dos Carajás, Oriximiná, Ipixuna do Pará e dos municípios do entorno não-minerador(1970 - 2003) Fonte: Elaboração própira com base nos dados do IBGE (Anexo 3)

No caso específico de Parauapebas, os representantes do poder público local

afirmam que as estimativas populacionais feitas pelo IBGE para o município estão

subestimadas. Baseados nas estatísticas sobre o intenso movimento migratório da região, a

prefeitura estima que a real população do município esteja em torno de 120.000 habitantes,

ao invés de 81.500, que é a calculada pelo IBGE para o ano de 2003. Durante um

levantamento realizado pela prefeitura, constatou-se que semanalmente chegam, em média,

100 pessoas a Parauapebas. O crescimento desordenado da população (Fotografias 29 e

30) é considerado um dos mais sérios problemas da administração da cidade, uma vez que

compromete qualquer tipo de planejamento de políticas públicas.

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258

Fotografia 29: Crescimento desordenado das aglomerações humanas em Parauapebas (bairro Altamira – 2004) Fotografia de Maria Amélia Enríquez Fonte: Pesquisa de campo (julho/2006)

Fotografia 30: Crescimento desordenado das aglomerações humanas em Parauapebas (bairro Altamira - 2006) Fotografia de Maria Amélia Enríquez Fonte: Pesquisa de campo (junho/2004)

Estado de Santa Catarina

Forquilhinha tem registrado taxas anuais médias de crescimento populacional bem

acima da média do estado e de seu entorno (Gráfico 25). No entanto, é preciso considerar

que se trata de um município de criação recente (1990), em um entorno já constituído há

muitas décadas. Além da atividade mineradora, que agrega 5% (CFEM) à receita

orçamentária municipal, Forquilhinha tem outras atividades produtivas, baseadas no

agronegócio e na indústria.

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259

Gráfico 25: Evolução da taxas de crescimento populacional de Forquilhinha e dos municípios do entorno não-minerador (1970 - 2003) Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE (Anexo 3)

Estado de Sergipe

A taxa de crescimento populacional de Rosário do Catete tem se mantido acima da

média estadual e bem acima da taxa de seu entorno não-minerador (Gráfico 26). Não

obstante a desaceleração das taxas médias anuais de crescimento, especialmente a partir

da última década, é muito provável que esse fenômeno esteja relacionado com a atividade

industrial. Pela facilidade da oferta de matéria-prima (potássio), Rosário tem atraído

indústrias de fertilizantes e outras associadas.

0,2%

2,3%

1,2%

-0,6%

1,1%

2,3%

1,3%

-0,9%

3,0%

2,0%1,8%

1,2%

2,3%

1,6% 1,5%1,4%

-0,4%

-3,5%-3,5%

-2,5%

-1,5%

-0,5%

0,5%

1,5%

2,5%

3,5%

Forquilhinha Maracajá Estado de Santa Catarina Nova Veneza Meleiro

tx 1970/80 tx1980/91 tx 1991/00 tx 2000/03

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260

Gráfico 26: Evolução das taxas de crescimento populacional de Rosário do Catete e dos municípios do entorno não-minerador (1970 - 2003) Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE (Anexo 3)

Em síntese, pode-se concluir que a atividade mineral é um fator de atração

populacional, o que amortece o potencial da mineração de acelerar o crescimento do PIB

per capita, conforme ficou bem explícito no modelo de crescimento de Robert Solow (seção

1.2.1). Porém, essa atração está sujeita às flutuações do ciclo mineral, isto é, a população

cresce nas fases de implantação e decresce na fase do encerramento. Todavia, a

intensidade dessa atração é regionalizada. A atração populacional mais forte no Norte do

Brasil revela muito mais uma expansão da frente pioneira de ocupação dos “refugiados

econômicos do Brasil”95 do que a existência exclusiva de atividade mineral.

4.2.3 Mineração e população ocupada

Até que ponto o maior crescimento econômico e populacional dos municípios de

base mineradora está se convertendo em efetiva ocupação para a população local? Para

responder a essa pergunta utilizamos o indicador “população ocupada”96 como proporção do

total da população, calculado pelo IBGE para os anos 1970, 1980, 1991 e 2000.

95 Expressão adotada por Ademar Romeiro durante reunião da ECOECO com o Ministério do Meio Ambiente (MMA). 96 O IBGE considera “população ocupada” a pessoa que trabalhou nos últimos 12 meses anteriores à data de referência do Censo. A pessoa que não trabalhou nos últimos 12 meses anteriores à data de

0,0%

2,4%

1,4%

2,1%

3,7%

2,7%

0,9%

2,6%

2,9%

2,6%

2,0%

0,6% 0,6%

0,0%

2,1%

1,7%

0,5% 0,5%

0,0%

3,9%

0,0%

0,5%

1,0%

1,5%

2,0%

2,5%

3,0%

3,5%

4,0%

Rosário do Catete Estado de Sergipe Capela Maruim Santo Amaro das Brotas

tx 1970/80 tx1980/91 tx 1991/00 tx 2000/03

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261

A Tabela 15, a seguir, apresenta as médias de população ocupada como proporção

do total da população, para os conjuntos de municípios mineradores e não-mineradores. No

ano de 1980, o perfil desses dois conjuntos de municípios era exatamente o mesmo. Ambos

tinham, em média, 20% de população ocupada. A avaliação das médias amostrais foi feita

com o teste “estatística t”, com o nível de significância de 5%.

Tabela 15: Médias do indicador população ocupada, por município minerador e não-minerador (1980 e 2000)

parâmetros municípios mineradores

municípios não-mineradores teste t

média 1980 19,9% 19,9% 0,308394 máximo 1980 36% 36% mínimo 1980 0 0 média 2000 34,7% 34,4% 0,219203 máximo 2000 43% 46,5% mínimo 2000 21% 19% média Brasil 1980 36% média Brasil 2000 39%

Fonte: Elaborado a partir do Anexo 3

Os resultados da Tabela 19 também revelam que, duas décadas após, em 2000, não

obstante a mudança de base produtiva ocorrida em muitos municípios que implantaram

empreendimentos mineiros nos anos 1980, a sua estrutura em termos ocupação não se

diferenciou significativamente em relação do seu entorno não-minerador. Além do que as

médias de ambos os municípios (mineradores e não-mineradores) permaneceram abaixo da

média nacional.

Esse resultado, entretanto, mascara as diferenças entre os efeitos da mineração nos

municípios das distintas regiões brasileiras. Considerando-se as disparidades regionais no

Brasil e os padrões relativamente similares entre as regiões Norte e Nordeste, de um lado, e

as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, de outro, é conveniente desagregar os municípios

por região, com o objetivo de captar o efeito da atividade mineradora independente da

região em que está instalada.

A Tabela 16 apresenta as médias de população ocupada nos municípios

mineradores e não-mineradores, separados por região, para os anos de 1980 e 2000. A

avaliação das médias amostrais foi feita com o teste “estatística t”, com o nível de

significância de 10%.

referência do Censo, mas que nos últimos 2 meses tomou alguma providência para encontrar trabalho, foi considerada como “população desocupada”.

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262

Tabela 16: População ocupada média, como proporção do total da população, nos municípios mineradores e não-mineradores estudados – 1980 e 2000

municípios de base mineira

municípios não-mineradores

teste “estatatística t”

estatísticas médias regiões Norte e

Nordeste

demais regiões

regiões Norte e

Nordeste

demais regiões

regiões Norte e

Nordeste

demais regiões

Média de população ocupada 1980

14% 27% 14% 27% 0,009457 0,002939

– mínimo 0% 0% 0% 0% – máximo 29% 36% 30% 36%

Média de população ocupada 2000

32% 37% 29% 39% 1,430004 -0,97511

– mínimo 28% 34% 19% 30% – máximo 36% 43% 35% 46%

Diferença 1980/00 132% 39% 114% 45% Fonte: IBGE (Anexo 3)

Nos dois momentos estudados, observa-se que o nível de ocupação é bem maior

nos municípios do Centro-Sul do que nas regiões Norte e Nordeste. No entanto, há uma

tendência de redução da diferença, de 13 pontos percentuais, em 1980, para apenas cinco,

em 2000. Ou seja, o nível de ocupação está tendendo a nivelar-se entre os municípios de

base mineira das distintas regiões.

Em 1980, a média da ocupação populacional para os dois grupos de municípios das

regiões Norte e Nordeste era exatamente a mesma, de 14%. Em 2000, entretanto, os

mineradores superaram em três pontos percentuais os não-mineradores. No período

1980/2000, verificou-se um crescimento de 132% na taxa de ocupação dos municípios

mineradores, contra 114% dos não-mineradores. Isso demonstra que a atividade de

mineração é um importante gerador de emprego nas regiões Norte e Nordeste. Os dados

demonstram que os municípios de base mineira têm superado os municípios do entorno,

normalmente de base econômica tradicional. No entanto, esses indicadores não possibilitam

enxergar a origem dessa mão-de-obra ocupada, afirmação relevante porque se sabe que

grande parte dela provém de outros estados.

Nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, da mesma forma que nas outras regiões,

o percentual de população ocupada em 1980 era exatamente o mesmo nos dois grupos de

municípios (27%). Em 2000, os municípios não-mineradores superam os municípios

mineradores em dois pontos percentuais, embora essa diferença não tenha se mostrado

estatisticamente significante. No período 1980/2000 houve um crescimento de 39% na taxa

de ocupação dos municípios mineradores, contra 45% dos não-mineradores, em média, no

Centro-Sul. Essa dinâmica destoa fortemente da das regiões Norte e Nordeste. É importante

registrar que, nesse período, foram inaugurados diversos novos projetos de base mineira,

principalmente, no estado do Pará, ao mesmo tempo em que as outras regiões registraram

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263

o início do esgotamento e a reestruturação de seu padrão produtivo, com grande aumento

de produtividade, mas com redução do emprego.

O Mapa 11 e os Gráficos A e B também mostram que a situação verificada para o

conjunto dos municípios ocorre, de fato, em cada um deles individualmente, conforme será

detalhado nas análises para cada município minerador e de seu entorno.

Mapa 11: População ocupada nos municípios mineradores do Brasil e entorno não-minerador (1980 e 2000) Fonte: Elaboração própria com base no IBGE (Anexo 3)

4.2.3.1 Município minerador e população ocupada por Estado

Estado do Amapá

O índice de ocupação populacional do Amapá está 25% abaixo da média nacional,

Vitória do Jari, por sua vez, está 50% abaixo da média do Estado. Trinta anos de extração

mineral, além de influências do projeto Jari, do outro lado do rio (estado do Pará), não

melhoraram significativamente o quadro da ocupação regional (Tabela 17).

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264

Tabela 17: Vitória do Jari (AP) e entorno não-minerador – população ocupada 1980 e 2000 (como % da população total)

município/estado população ocupada 1980

população ocupada 2000

Brasil 36% 39% Amapá 27% 31% Laranjal do Jari - 30% Mazagão 28% 19% Vitória do Jari - 21%

(-) sem informação Fonte: IBGE (Anexo 3)

A CADAM – que extrai o caulim da mina do Filipe – gera 865 empregos (300

empregados próprios e 565 de terceiros - dados de abril/2006). A prefeitura local, por sua

vez, emprega 865 servidores. Segundo dados da RAIS/MTE, em 1o de janeiro de 2006,

havia apenas 153 pessoas formalmente empregadas em Vitória do Jari. Considerando-se

que as companhias mineradoras de larga escala mantém vínculos formais de emprego,

assim como parte do emprego da prefeitura, isso sugere que apenas um resíduo dos

empregos é oferecido à população local.

A escolaridade mínima para se candidatar a uma vaga na empresa é o segundo grau

completo. Entretanto, o município não oferece aos seus cidadãos sequer o ensino

fundamental. A comunidade reclama da falta de oportunidades e a empresa alega a falta de

capacitação. A população local reclama que até mesmo os serviços de reparo e conserto

das instalações são realizados por trabalhadores de fora da região.

De acordo com a prefeitura de Vitória do Jari, a maior parte das empresas contratadas

é oriunda de outras regiões (principalmente Salvador e Belo Horizonte). Apenas a mão-de-

obra braçal é recrutada normalmente no município.

Nesse sentido, verifica-se que há uma nítida segregação entre Monte Dourado e Vila

Munguba – do lado Pará - e Laranjal do Jari e Vitória do Jari – do lado do Amapá. Em Monte

Dourado e Vila Munguba vivem os empregados da companhia e em Vitória e Laranjal vivem

os empregados das firmas prestadoras de serviços, que pagam salários mais baixos e cujos

quadros de empregados apresentam um elevado índice de rotatividade. Essa população

atraída e descartada acaba criando raízes locais, agravando o já precário quadro de

ocupação da mão-de-obra local.

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265

Estado da Bahia

Muito embora o município de Jaguarari tenho conseguido, em duas décadas, reduzir

um pouco a distância que o separa da média estadual (de 6% para 3%), em termos de

população ocupada, sua situação relativa ao seu entorno, manteve-se exatamente a

mesma, não obstante a implantação de uma grande indústria extrativa de cobre – a

Mineração Caraíba (Tabela 18).

Tabela 18: Jaguarari (BA) e entorno não-minerador – população ocupada 1980 e 2000 (como % da população total)

município/estado população ocupada 1980

população ocupada 2000

Brasil 36% 39% Bahia 31% 35% Andorinha 0% 26% Campo Formoso 28% 35% Jaguarari 25% 32% Uauá 21% 29%

Fonte: IBGE (Anexo 3)

A Mineração Caraíba emprega 1.057 funcionários (769 empregados da companhia e

288 de firmas contratadas - dados de julho/2005). Segundo dados da RAIS/MTE, em 1º de

janeiro de 2005, havia 1.500 pessoas formalmente empregadas em Jaguarari.

Considerando-se que a mineração industrial mantém relações formais de emprego e a

hipótese de que todos os empregados da empresa residam no local, estima-se que a

empresa responda por volta de 70,5% do emprego formal do município. O restante

certamente é representado pelos funcionários da prefeitura. Entretanto, apenas uma

pequena parte desses empregos é destinada à população local, por causa do recorrente

problema da falta de capacitação.

A Mineração Caraíba contrata serviços (Tabela19) que representam uma fonte

adicional de emprego e renda para a economia local. Muito embora a maior parte das

empresas seja oriunda de outras regiões (principalmente Salvador e Belo Horizonte), a mão-

de-obra é normalmente recrutada no local. Em 2004, o valor total dos contratos com essas

empresas foi de R$ 7,7 milhões. Como proporção do total das receitas municipais, este valor

equivale a aproximadamente 40%. Isso demonstra a grande importância de uma só

companhia de mineração, já que apenas os serviços contratados representam quase a

medade do orçamento anual da prefeitura.

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Tabela 19: Serviços contratados pela Mineração Caraíba(2004) principais serviços

contratados pela mineração caraíba

origem empresa/ trabalhadores

valor dos contratos /ano R$ 1.000,00

Alimentação La Nonna 945,60

Limpeza e Conservação JTMM 926.70

Vigilância Patrimonial M & F Segurança 676,80

Transporte de Funcionário São Luiz 818,30

Manutenção Miranda 265,50 Construção Civil Queiroz Galvão 1.853,50

Sandvik 1.055,20 Manutenção Atlas Copco 273,00

Delta Serviços Educacionais 615,26 CRETEID 170,44

Escola

QRC 118,66

Total dos Contratos 7.719,00

Fonte: Elaboração própria a partir de informações fornecidas pela Mineração Caraíba S/A

Além da mineradora, o outro grande empregador é o setor público. O total estimado

de funcionários da prefeitura (maio de 2005) é de 1.200 servidores, segundo informações de

um assessor da Prefeitura. No momento da visita, a administração pública havia mudado e a

gestão anterior tinha apagado os arquivos da prefeitura. Dessa forma, não foi possível

precisar o total de servidores da prefeitura.

Até o final dos anos 1980, Jaguarari era um dos maiores produtores de mamona da

Bahia. No entanto, com as sucessivas estiagens que afetam a região, as plantações foram

dizimadas. As atuais plantações de mamona representam apenas 10% do que já foram no

passado.

O município não é muito grande em extensão e não há opções de outras atividades

produtivas. Várias regiões do município são abastecidas com carros-pipa, que buscam água

no rio São Francisco. A atividade pecuária não consegue se manter por muito tempo devido

à seca. A prefeitura afirma que a região é propícia para a caprinocultura. A companhia

mineradora desenvolve um programa no sentido de incentivar esse tipo de atividade, mas

com pouco sucesso até então.

Dessa forma, a maior e única fonte de renda e emprego, além da prefeitura, é a

mineração. Na hipótese de a mineração se esgotar, o município não tem nenhuma

alternativa de geração de emprego e renda. Os representantes do governo alegam que, sem

infra-estrutura (água), não há como fixar o homem no campo.

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Estado de Goiás

O percentual de população ocupada dos municípios mineradores goianos, em 2000,

foi um dos piores em relação aos seus entornos (Tabela 20), superando somente o pequeno

município rural de Campinaçu. Não obstante a mudança de suas bases produtivas, a

distância que separa Crixás e Minaçu da média não se alterou significativamente.

Tabela 20: Crixás e Minaçu (GO) e entorno não-minerador – população ocupada 1980 e 2000 (como % da população total) município/estado população

ocupada 1980 população

ocupada 2000 Brasil 36% 39% Goiás 34% 41% Campinaçu - 36% Crixás 30% 37% Minaçu 28% 37% Mozarlândia 33% 44% Nova Crixás - 38% Trombas - 44%

(-) sem informação Fonte: IBGE (Anexo 3)

Crixás convive com a mineração industrial de larga escala desde o final dos anos

1980. Quando a MSG iniciou a explotação de ouro em 1989, a expectativa da vida útil da

mina era de 30 anos. No entanto, com o aumento da escala de produção, o fechamento da

mina está previsto para 2012.

É grande a dependência de Crixás em relação aos empregos diretos e indiretos

oferecidos pela MSG. Em 2005, ela empregava 762 funcionários (567 empregados próprios

e 195 de firmas contratadas). Segundo dados da RAIS/MTE, em 1º de janeiro de 2005, havia

1.181 pessoas formalmente empregadas em Crixás. Considerando-se que a mineradora e

as suas terceirizadas mantêm relações formais de emprego, estima-se que a atividade seja

responsável por 65% de todo o emprego formal do município. Com a desativação iminente

da empresa, em 2012, e conhecedora da situação de dependência do município, a própria

MSG tomou a iniciativa de enviar um consultor para o município, uma vez que durante todos

esses anos de mineração nada foi feito no sentido de reduzir a dependência da comunidade

em relação à mineração.

A atual base produtiva não-mineral do município está assentada na pecuária. Existe

apenas um pequeno laticínio na região. O restante do emprego formal, provavelmente é de

responsabilidade da prefeitura. Em abril de 2005, o total de funcionários era de 1.396, o que

representava um elevado índice de 97 funcionários para cada 1.000 habitantes. O que é um

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forte indício de que os recursos públicos municipais têm sido gastos muito mais com o

custeio da máquina do que, provavelmente, com medidas alternativas de geração de renda

para evitar a dependência da mineração.

Minaçu, por sua vez, nasceu simultaneamente com a implantação da SAMA, em

1976. A SAMA emprega 568 funcionários (385 empregados próprios e 183 de firmas

contratadas). Segundo dados da RAIS/MTE, em 1o de janeiro de 2005 havia 1.741 pessoas

formalmente empregadas em Minaçu. Assim, estima-se que a mineração responda por volta

de 33% de todo o emprego formal do município. É provável que o restante do emprego

formal seja absorvido pela prefeitura. O total de funcionários da prefeitura (abril/2005) era de

1.636, o que representa um indicador de 49 funcionários para cada 1.000 habitantes (quase

a metade de Crixás).

Percebe-se, portanto, em Minaçu uma situação relativamente mais confortável, por

causa da menor dependência da mineração e também em função da distância, em relação à

média de ocupação populacional do Estado, ter dimuinuído mais expressivamente que em

Crixás. As seções seguintes irão explorar até que pónto o padrão de gasto público tem a ver

com isso.

Estado de Mato Grosso do Sul

Corumbá é o maior município em extensão territorial (65 mil km2) de Mato Grosso do

Sul e terceira maior cidade em população (100 mil habitantes). É o município-sede de seis

companhias mineradoras: 1) Urucum Mineração (manganês e ferro) – Grupo CVRD, 2)

Mineração Corumbaense (ferro) – Grupo Rio Tinto, 3) EBX (ferro) - Grupo Eike Batista, 4)

Mineração Pirâmide Participação - MPP (ferro e manganês), consórcio com a SAMA como

principal acionista, 5) Vetorial (de MG) (ferro) e 6) Itaú de Minas (calcário para cimento).

Até o final dos anos 1990 havia apenas a Urucum Mineração (CVRD), implantada em

1976, e a Mineração Corumbaense (RTZ), inaugurada em 1977. Com o crescimento dos

preços dos minerais, principalmente do minério de ferro, outras companhias vêm

viabilizando as suas minas. Juntas, essas duas companhias empregam por volta de 1.000

funcionários, o que equivale a 10% da população fomalmente empregada (RAIS/MTE).

A prefeitura tem 2.884 servidores (junho de 2006). Em dezembro de 2000, a

prefeitura contava com 1.590 servidores, o que significa que houve um aumento de 81,4%

no número de servidores, em apenas cinco anos. Apesar desse aumento, Corumbá

apresenta o indicador de 29 funcionários para cada 1.000 habitantes.

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269

Entre 1980 e 2000 piorou o quadro da ocupação populacional em Corumbá,

ampliando-se a distância que separa o município da média estadual, enquanto que os

municípios de seu entorno, mesmo que residualmente, melhoraram a sua posição (Tabela

21).

Tabela 21: Corumbá (MS) e entorno não-minerador – população ocupada 1980 e 2000 (como % da população total)

município/estado população ocupada 1980

população ocupada 2000

Brasil 36% 39% Mato Grosso do Sul 36% 41% Aquidauana 34% 35% Corumbá 36% 34% Miranda 32% 35% Porto Murtinho 33% 34%

(-) sem informação Fonte: IBGE (Anexo 3)

Estado de Minas Gerais

Observando-se o total da população ocupada em termos absolutos, os municípios de

base mineradora Itabira e Paracatu, em Minas Gerais, se destacam. Todavia, quando se

observa a evolução no tempo desse indicador em relação ao total da população (Tabela 22),

percebe-se que a situação desses municípios não é muito distinta da verificada nos outros

municípios mineradores já analisados.

Tabela 22: Itabira, Mariana, Paracatu e Santa Bárbara (MG) e entorno não-minerador – população ocupada 1980 e 2000 (como % da população total)

município/estado população ocupada 1980

população ocupada 2000

Brasil 36% 39% Minas Gerais 35% 40% Alvinópolis 30% 38% Antonio Dias 29% 33% Barra Longa 33% 35% Dom Bosco 0% 35% Itabira 30% 36% Jaboticatubas 31% 42% Mariana 29% 37% Nova Era 31% 33% Paracatu 33% 37% Piranga 30% 43% Santa Bárbara 30% 35% Santa Fé de Minas 28% 30% Unaí 31% 42%

(-) sem informação Fonte: IBGE (Anexo 3)

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Ao longo de vinte anos, os municípios de base mineradora de MG não conseguiram

superar os seus entornos no tocante aos índices de população ocupada. No entono de

Itabira, Jaboticatubas passou à dianteira. No entorno de Mariana, em 1980, Piranga tinha

quase o mesmo percentual de população ocupada. Em 2000, superou Mariana em seis

pontos percentuais. Unaí, que, em 1980 tinha um percentual bem menor, superou Paracatu

em 2000.

Estado do Pará

Distintamente dos casos analisados, o percentual de população ocupada nos

municípios de base mineira do Pará é superior ao do seu entorno não-minerador (Mapa 12).

Em alguns municípios, esse precentual supera a média do Estado, como ocorre em Canaã

dos Carajás e Parauapebas. A exceção é o município de Ipixuna do Pará.

Mapa 12: População ocupada nos municípios mineradores do Pará e entorno não-minerador, em 2000 Fonte: Elaboração própria com base no IBGE (Anexo 3)

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A Tabela 23, a seguir, mostra os percentuais de população ocupada nos anos 1980 e

2000. Destaque-se que vários municípios não existiam, em 1980. Portanto, não há um

parâmetro comparativo para eles. Tabela 23: Canaã dos Carajás, Ipixuna do Pará, Parauapebas e Oriximiná (PA) e entorno não-minerador – população ocupada 1980 e 2000 (como % da população total)

município/estado população ocupada 1980

população ocupada 2000

Brasil 36% 39% Pará 30% 34% Água Azul do Norte - 26% Aurora do Pará - 33% Canaã dos Carajás - 35% Capitão Poço 30% 33% Curionópolis - 30% Eldorado dos Carajás - 33% Faro 25% 28% Ipixuna do Para - 28% Nova Esperança do Piriá

- 35%

Oriximiná 28% 31% Terra Santa - 30% Parauapebas - 36%

(-) sem informação Fonte: IBGE Fonte: IBGE (Anexo 3)

O município de Ipixuna do Pará foi oficialmente criado em 1993. A sua origem está

relacionada à construção da rodovia BR-010 – Belém/Brasília, no final da década 1950.

Distintamente da maioria das cidades de base mineira, ele não passou pelo problema do

excesso de migração no momento da instalação de dois empreendimentos mineiros para a

extração de caulim na bacia do Rio Capim: a Pará Pigmentos S/A (PPSA), criada a partir do

consórcio das empresas CVRD (82,02%), Mitsubishi Corporation (13,84%) e a International

Finance Corporation – IFC (4,12%), e a Imerys Rio Capim Caulim S/A (RCCSA), consórcio

entre a empresa alemã de mineração AKW (83%), a brasileira Mendes Júnior S/A e a

francesa Imerys97 (17%).

Por outro lado, Ipixuna do Pará também não se beneficiou dos impactos positivos

proporcionados pelo aumento da geração de renda, pela intensificação do fluxo de comércio

e pelas melhorias na infra-estrutura proporcionadas pela instalação das companhias

mineradoras e de suas empresas contratadas. As minas de caulim estão muito distantes da

sede do município (80 km) e da BR-010, e muito próximas ao município de Paragominas

97 O grupo francês é o líder mundial na produção de pigmentos brancos. A empresa está passando por uma fase de reestruturação de seus ativos, com a desativação de plantas na Europa, em função do alto custo da energia, e ampliação da capacidade produtiva de sua unidade no Brasil.

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que, na época, foi o principal afetado pelas externalidades negativas e positivas dos

empreendimentos mineradores.

Em entrevista com o prefeito de Ipixuna do Pará, Evaldo Cunha, ele atribuiu à

inexperiência das autoridades públicas da época a falta de ações mais proativas para atrair

os escritórios das empresas ao município. Na época, destaca o prefeito, as audiências

públicas criaram muitas expectativas na população local de que os empreendimentos iriam

gerar muitos empregos. Porém, essas expectivas foram vãs, uma vez que o município não

contava com um sistema de comunicação, de telefonia fixa, de bancos, entre outros serviços

públicos essenciais para o eficiente funcionamento de um empreendimento produtivo. De

antemão, isso eliminou a possibilidade de instalação de duas empresas produtoras de

caulim para a sede do município.

Até julho de 2006, data da visita ao município, não havia em Ipixuna do Pará agência

bancária e outras economias externas necessárias para garantir a instalação de escritórios

(telefonia móvel, internet banda larga etc.), tanto das companhias mineradoras, quanto das

firmas terceirizadas, que acabaram por estabelecer as suas sedes no município vizinho de

Paragominas.

Situação radicalmente distinta é a de Parauapebas, município que surgiu como

cidade-sede da CVRD, a partir da exigência do Banco Mundial de que a mineradora

montasse uma base de apoio ao projeto Ferro – Carajás, no início dos anos 1980.

Nas minas de ferro e manganês de Carajás, a CVRD gerava, em julho de 2006, um

total 2.874 empregos diretos. Em 2002, esses empregos alcançavam pouco mais de 1.000

trabalhadores (Tabela 24). Esse número começou a crescer, principalmente, a partir de

2005, ano em que a companhia conseguiu um reajuste recorde no preço do minério de ferro

(71,5%).

Tabela 24: Números de empregados diretos da CRVD Carajás - 2002-2006

ano ferro manganês outros total 2002 943 93 45 1.081 2003 956 95 54 1.105 2004 976 98 65 1.139 2005 1.352 144 98 1.594 2006 2.579 142 153 2.874

Fonte: CVRD- Carajás (RH)

No entanto, a grande maioria dos trabalhadores da CVRD em Carajás provém de

firmas terceirizadas. Em julho de 2006, o total de empregados terceirizados era de 9.500

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trabalhadores, ou seja, para cada emprego direto na CVRD há três empregados em firmas

terceirizadas. Não obstante a maior parte dos trabalhadores ser de fora da região, esses

empregos injetam recursos e ocupação na economia local.

Há, todavia, o lado negativo dessa história - o excesso de população desqualificada

que se desloca para a região. Na visão do assessor da prefeitura de Parauapebas, sr. João

Fontana,

[...] o principal culpado disso tudo é a CVRD, que alardeia que é a empresa que mais investe no Brasil, é a terceira maior mineradora do mundo, incentivando a vinda de mais e mais migrantes para a região. Já há levantamentos que mostram que 90% do pessoal que vem para Parauapebas não têm nenhuma qualificação profissional, têm origem na lavoura e somente vêm reforçar o mercado informal”. (entrevista concedida a autora em julho, 2006).

O responsável pela entrevista da CVRD, o geólogo Aroni Monteiro, questionado

sobre o que a companhia pensa em fazer para minimizar o impacto social provocado pelo

excesso de migrantes que se dirigem para Paraupebas, informou que a CVRD vem

fomentando diversas ações no município, entre as quais: Escola do Saber, Educação nos

Trilhos, Tecendo o Saber, Vale Alfabetizar, Educação para a Cidadania, Trem da Cidadania

etc. promovidos pela Fundação Vale do Rio Doce em suas unidades de todo o Brasil.

A empresa também iniciou um processo de capacitação aos aspirantes a um

emprego na área operacional na CVRD, por intermédio do Serviço Nacional de

Aprendizagem Industrial (SENAI). O início desses cursos coincidiu com a elevação dos

preços do minério de ferro e com a necessidade de ampliação de mão-de-obra (a projeção

inicial de produção da CVRD, em 1986, era de alcançar um máximo de 35 milhões de

toneladas; a projeção para 2007 é de 100 milhões de toneladas e para 2010 é de 130

milhões de toneladas).

Um outro município paraense em que o percentual de população ocupada é maior

que a média estadual é Canaã dos Carajás. Município criado em 1994, cuja origem está

relacionada à política fundiária do governo federal para a Amazônia Oriental, no início dos

anos 1980. A companhia mineradora é também do grupo CVRD - Mineração Serra do

Sossego (MSS), que produz concentrado de cobre. O projeto começou a ser implantado em

2002, a sua capacidade de produção foi dimensionada em 400 t/dia. A primeira produção

ocorreu em 2004. Na fase de implantação, o projeto gerou por volta de três mil empregos e

na fase de operacional em volta de 500 empregos (Tabela 25).

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Tabela 25: Números de empregados da MSS – Canaã dos Carajás, 2002-2006 ano/

empregados diretos terceirizados estagiários (nível médio e superior)

2002 0 0 2003 18 0 2004 320 5 2005 515 25 2006 517 3.800 27

Fonte: CVRD – Carajás (RH)

É provável que a maior taxa de população ocupada de Parauapebas e de Canaã dos

Carajás esteja relacionada à grande quantidade de empregos indiretos gerados pelos

empreendimentos mineradores existentes.

Oriximiná foi o primeiro município paraense a sediar um empreendimento minerador

de larga escala voltado para a exportação: a Mineração Rio do Norte (MRN), que extrai

bauxita metalúrgica da região do Rio Trombetas, desde 1979. Ele gera em torno de 1.000

empregos diretos. A MRN tem uma relação de 14 empresas contratadas que geram em

torno de 1.200 empregos indiretos. Essas empresas atuam em áreas como administração

de clubes, serviço de transporte de empregados, transporte fluvial, desmatamentos,

terraplenagem, manutenção ferroviária, construção de reservatório de rejeitos, perfuração e

desmonte, fornecimento de óleos combustíveis, construção civil, serviços de

telecomunicações, manutenção de rede elétrica, administração de hotelaria, restaurantes,

supermercado, padaria e limpeza urbana, além de manutenção de veículos leves, dentre

outros. A MRN foi uma das pioneiras a adotar os serviços terceirizados em suas atividades-

meio visando concentrar esforços na sua atividade-fim, a produção de bauxita metalúrgica.

Na MRN o coeficiente emprego indireto/emprego direto é 1,35, o que significa que

para cada emprego direto oferecida pelo empresa, mais de um posto é ofertado

indiretamente.

Estado de Santa Catarina

Os municípios do sul do Brasil apresentam maior homogeneidade em seus

indicadores socioeconômicos, independentemente de suas bases produtivas. Pelos dados

da Tabela 26, percebe-se que não há grandes disparidades nas taxas de ocupação

populacional entre Forquilhinha, o seu entorno e a média do estado, tanto em 1980 quanto

em 2000. Não obstante a taxa de população ocupada de Forquilhinha ser uma das menores

(juntamente com Maracajá) de seu entorno.

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Tabela 26: Forquilhinha (SC) e entorno não-minerador – população ocupada 1980 e 2000 (como % da população total)

município/estado população ocupada 1980

população ocupada 2000

Brasil 36% 39% Santa Catarina 37% 45% Forquilhinha 0% 43% Maracajá 36% 43% Meleiro 34% 44% Nova Veneza 33% 46%

Fonte: IBGE (Anexo 3)

Forquilhinha é o município-sede da Carbonífera Criciúma S.A, está localizado na

região Sul de Santa Catarina. De acordo com a Secretária de Finanças e Administração da

prefeitura, Zuleide Westrup, a mineração é uma atividade positiva para o município, não

apenas pelos impostos que recolhe, mas pelos empregos que proporciona.

A Carbonífera Criciúma emprega 758 funcionários (620 empregados próprios e 138

de firmas contratadas - dados de abril/2006). Segundo dados da RAIS/MTE, em 1o. de

janeiro de 2006 havia 5.056 pessoas formalmente empregadas em Forquilhinha. Assim, em

tese98, a Carbonífera contribui com 15% do emprego formal do município.

De forma distinta da maioria das mineradoras, a Carbonífera Criciúma tem reduzido

a participação da mão-de-obra terceirizada no total de mão-de-obra da empresa. No

momento da visita, os terceirizados representavam 18% do total, mas já chegaram a

representar 34%, em 2003. Os principais motivadores para essa mudança foram: os custos

e as ações judiciais, que viraram uma “epidemia”, segundo relatos do gerente da empresa,

além dos passivos trabalhistas que foram crescendo. Dessa forma, os serviços de terceiros

estão restritos às áreas de alimentação e vigilância patrimonial.

O total de funcionários da prefeitura (abril de 2006) era de 409. Em junho de 2000, os

funcionários da prefeitura totalizavam 367 servidores, ou seja, de uma gestão para outra

houve um aumento de 11% no número de servidores. Para uma população calculada em 23

mil habitantes (2005), Forquilhinha apresenta um dos menores índices de 18 funcionários

para cada 1.000 habitantes, o que é forte um indício de os recursos públicos não estão

sendo majoritariamente despendidos em custeio da máquina.

98 Dada a estreita proximidade com outros municípios é provável que muitos empregados da Carbonífera residam em outras cidades.

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Estado de Sergipe

Em duas décadas, a participação da população ocupada em relação à população

total do município de Rosário do Catete regrediu em um ponto percentual, muito embora o

município mantenha a taxa mais alta em relação ao seu entorno (Tabela 27) .

Tabela 27: Rosário do Catete (SE) e entorno não-minerador – população ocupada 1980 e 2000 (como % da população total)

município/estado população ocupada 1980

população ocupada 2000

Brasil 36% 39% Sergipe 30% 34% Capela 29% 27% Maruim 23% 26% Rosário do Catete 29% 28% Santo Amaro das Brotas 20% 27%

Fonte: IBGE (Anexo 3)

O município de Rosário do Catete, localizado na região Metropolitana de Aracaju,

abriga a única mina brasileira produtora de potássio – Taquari/Vassouras, cuja concessão

pertence à Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Rosário do Catete convive com a

mineração industrial desde o ano de 1985 e a expectativa de exaustão da mina é para 2019.

A CVRD emprega 560 funcionários. Segundo dados da RAIS/MTE, em 1o de janeiro

de 2006, havia 957 pessoas formalmente empregadas em Rosário do Catete.

Considerando-se que a mineração industrial mantém relações formais de emprego, estima-

se que a empresa responda por volta de 58,5% do emprego formal do município.

O total de funcionários da prefeitura (maio de 2005) é de 752, distribuídos entre 15

Secretarias. Como é de praxe em praticamente todos os municípios, é a Secretaria de

Educação que mais absorve mão-de-obra (31%). De forma atípica, o quadro de pessoal do

gabinete do prefeito absorve o mesmo percentual de mão-de-obra (15%) que e Secretaria

de Saúde e Saneamento (normalmente a segunda maior secretaria dos municípios, em

termos de absorção de mão-de-obra). Para uma população estimada em 7.730 mil

habitantes (2005), Rosário do Catete apresenta um elevado índice de 97 funcionários para

cada 1.000 habitantes.

A tese de Hirschman (1977) parece se confirmar aqui. Economias produtoras de

matérias-primas não apresentam fortes encadeamentos de produção e de consumo.

Segundo Radetzki (1989), a renda dos salários gerados pela atividade mineral é um dos

importantes encadeamentos da mineração com o desenvolvimento regional. No entanto, a

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partir do final da década de 1980 e durante os anos 1990, este elo, que já era fraco, tornou-

se ainda mais débil devido ao processo de reestruturação e modernização das empresas.

O setor mineral absorve pouca mão-de-obra, por natureza. Os serviços terceirizados

representam uma importante janela de oportunidade para elevar o nível de ocupação local.

Contudo, geralmente eles são fornecidos por empresas especializadas, via de regra dos

Estados do Centro/Sul do país, ou proveniente de centros mais desenvolvidos do próprio

estado do município minerador. Essas empresas terceirizadas trazem os seus próprios

funcionários, deixando para contratar no local apenas a mão-de-obra pouco qualificada. Daí

o aumento da importância dos encadeamentos fiscais como elemento decisivo para uma

estratégia de desenvolvimento das economias de base mineradora.

4.2.4 Municípios mineradores e receitas públicas

Qual o comportamento de municípios mineradores e não-mineradores quanto às

receitas públicas? A Tabela 28 auxilia nessa resposta, pois apresenta as médias do total

das receitas públicas, das receitas do imposto sobre serviço de qualquer natureza (ISSQN),

do fundo de participação dos municípios (FPM) e do imposto sobre mercadorias e serviços

(ICMS) para os dois conjuntos de municípios.

Tabela 28: Itens de receita per capita média: diferença entre municípios mineradores e não-mineradores, em R$ 1,00 (2003)

itens de receita município minerador

município não-minerador diferença (%) teste t*

receita total 919,93 599,21 54% 3,133840001 ISSQN 60,85 10,84 461% 2,698052513 ICMS 293,74 137,26 114% 2,960914353

* nível de significância de 5% Fonte: Elaborada a partir do Anexo 3

Na média de 2003, os municípios mineradores tiveram uma receita total per capita de

54% acima dos não-mineradores. Essa receita maior não se originou apenas dos recursos

da CFEM, como se poderia inicialmente imaginar, mas também de outras fontes que a

atividade mineradora tem capaciade de proporcionar. Uma dessas fontes é o ISSQN que,

nesse ano, ficou 461% maior do que o a média dos municípios não-mineradores. O ISSQN

é uma fonte que o município minerador usufrui desde a fase da exploração minerária

(pesquisa), ou seja, não é preciso haver extração de fato, uma vez que toda empresa

prestadora de serviço (perfuração, construção, alimentação, consultorias, etc.) deve recolher

o tributo no local em que realiza o serviço.

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O ICMS é uma outra fonte de receita importante para o município minerador. Em

2003 ela superou, em média, 114% a dos municípios não-mineradores. Essa fonte pode ser

efetiva (quando a companhia mineradora recolhe o imposto, de fato) ou nos casos de venda

para o exterior (em que a companhia é isenta, por causa da Lei Kandir) apenas elevar o

valor adicionado fiscal (VAF). Mesmo nesse último caso, os repasses estaduais de ICMS

para os municípios mineradores sobem, porque a distribuição é feita com base no VAF.

O Mapa 13, a seguir, revela que além do ISSQN per capita ser mais elevado na

média dos municípios mineradores, sua distribuição é espacialmente concentrada. Do

conjunto dos mineradores, as maiores receitas per capita são dos municípios da região

Norte, particularmente Oriximiná (PA), Parauapebas (PA), Canaã dos Carajás (PA) e Vitória

do Jari (AP), municípios que estão passando por expansão na capacidade produtiva,

portanto, com mais atividades de prestação de serviços.

Mapa 13: Receita per capita e ISSQN per capita nos municípios mineradores do Brasil e entorno não-minerador, em 2000 Fonte: Elaboração própria, com base nas informações doa publicação Finanças do Brasil (Finbra) da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) (Anexo 3)

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4.2.4.1 Indicadores de receita e receita per capita da CFEM nos municípios mineradores

No período 1998 a 2006 (Tabela 29), os valores anuais da CFEM repassados para

os maiores municípios mineradores de todo o Brasil cresceram significativamente, variando

em termos nominais na faixa de 58% (Rosário do Catete - SE) a 933% (Mariana - MG). Esse

incremento é resultado tanto da fase ascendente dos preços dos minerais como da

intensificação fiscalizadora do DNPM. Para os dois maiores municípios arrecadadores de

CFEM, Parauapebas (PA) e Itabira (PA), a receita proveniente dessa fonte, em 2006, foi de

R$ 50,5 milhões e R$ 33 milhões, respectivamente, quantias expressivas para qualquer

município com população de 100 mil habitantes.

Tabela 29: 15 Maiores municípios mineradores do Brasil: arrecadação da CFEM e CFEM per capita – 1998 e 2003

região município/ estado

CFEM 1998 R$ mil

CFEM 2006 R$ mil

∆ CFEM

CFEM per capita 1998

R$ 1,00

CFEM per capita 2006

R$ 1,00

∆ CFEM per capita

Vitória do Jari (AP)

1.055 2.343 122% 157 212 35%

Jaguarari (BA) 469 3.911 734% 16 156 875% Canaã dos Carajás (PA)

- 12.417 - - 920 -

Ipixuna do Pará (PA)

616 3.820 520% 33 109 230%

Oriximiná (PA) 4.988 17.637 254% 112 332 196% Parauapebas (PA)

9.357 50.469 439% 151 551 265% Nor

te e

Nor

dest

e

Rosário do Catete (SE)

1.061 1.677 58% 168 209 24%

Crixás (GO) 318 1.523 379% 18 129 616% Minaçu (GO) 1.039 2.201 112% 32 64 100% Corumbá (MS) 469 3.599 667% 5 36 618% Itabira (MG) 6.243 32.943 428% 68 310 356% Mariana (MG) 2.330 25.457 993% 55 489 789% Paracatu (MG) 551 2.784 405% 8 34 319% Santa Bárbara (MG)

873 3.548 306% 35 139 298%

Cen

tro-O

este

, Sud

este

e

Sul

Forquilhinha (SC)

496 1.030 108% 31 49 58%

* Canaã dos Carajás começou a receber recursos da CFEM após julho de 2004, quando ocorreu o primeiro embarque de cobre extraído da mina do Sossego. Fonte: DNPM (Anuário Mineral Brasileiro, 1999 e Relatório CFEM 2003) (*) IBGE, projeção para 2006

Entre os anos de 1998 e 2006, os valores da CFEM per capita também registraram

aumento significativo, variando de 24% (Rosário do Catete - SE) a 875% (Jaguarari - BA). A

CFEM é uma receita instável que tem crescido nos últimos anos por causa do aumento dos

preços internacionais dos metais, particularmente. Os minerais não-metálicos e que são

vendidos para o mercado interno não apresentaram aumento tão expressivo, como os casos

do carvão de Forquilhinha (CS) e do potássio de Rosário do Catete (SE). Mas apesar dessa

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instabilidade a CFEM tem com a vantagem de ser um recurso que pode ser utilizado quase

que livremente pelo gestor público.

Como os governos municipais estão lidando com esta receita que vem apresentando

uma variação positiva tão forte nos últimos anos? Até que ponto os gestores públicos estão

preparados para lidar com aumentos tão expressivos, como o verificado em Canaã do

Carajás (PA)? Será que essas rendas estão sendo utilizadas com a perspectiva da

sustentabilidade do desenvolvimento municipal? Essas são importantes indagações deste

estudo que serão mais detalhada no Capítulo 6.

As características gerais da dimensão econômica dos municípios de base

mineradora podem ser assim sintetizadas: apresentam crescimento do PIB maior que seu o

entorno; a dinâmica populacional acompanha o ciclo da mineração; porém, há um forte

componente regional; as suas receitas são bem maiores do que as do entorno não-

minerador, com destaque para o ISSQN, ICMS e CFEM. No entanto, eles não se destacam

pela oferta de emprego. Por isso os níveis de população ocupada são iguais ou, em alguns

casos até inferiores aos dos municípios não-mineradores de seu entornos. Isso parece

confirmar a análise de Hirschman (1977) sobre os fracos encadeamentos para frente e para

trás e o peso maior nos vínculos fiscais.

Como conseqüência das altas rendas que a prefeitura recebe, ela consegue,

razoavelmente, realizar os programas sociais que se refletem em melhorias dos indicadores

de capital humano. Contudo, essas iniciativas são insuficientes para fazer face a um dos

mais sérios problemas da atualidade – o da oferta de emprego e mais ainda para resolver o

problema da iniqüidade intergeracional, uma vez que as futuras gerações estarão privadas

de utilizar os recursos minerais exauridos sem significativa contrapartida.

4.3 A DIMENSÃO SOCIAL

Nesta seção serão apresentados alguns indicadores para a dimensão social, com o

objetivo de oferecer um quadro comparativo entre os municípios mineradores e seu entorno

não-minerador. O principal foco será o capital humano, expresso pelos componentes de

saúde, renda e educação. Um pergunta recorrente é saber como se relacionam as variáveis

de crescimento econômico e de desenvolvimento humano? Elas estão positiva ou

negativamente associadas no universo estudado?

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A partir do pacote estatístico SPSS foi feita análise de cluster que permitiu que os

municípios fossem agrupados em dois fatores: Fator 1 que denominamos de “crescimento”,

por causa do maior peso das variáveis PIB e gastos públicos; e Fator 2 que denominamos

“desenvolvimento”, por causa do maior peso de variáveis de desenvolvimento humano,

conforme constam na Tabela 30, a seguir.

Tabela 30: componentes rotacionais da matriz do cluster Fator variáveis

1 2 PIB 0,922 0,300 gastos com educação (2000) 0,937 0,188 gastos com saúde (2000) 0,896 0,243 gastos com pessoal (2000) 0,907 0,305 gastos com agricultura (2000) 0,813 0,203 gastos com mineração (2000) 0,672 -0,188 população ocupada (2000) 0,809 0,200 município minerador 0,474 0,308 doenças respiratórias (2005) -0,146 0,262 conselho de meio ambiente (2002) 0,345 0,520 órgão municipal de meio ambiente (2002) 0,104 0,327 % de pobres (2000) -0,136 -0,903 taxa de analfabetismo (2000) -0,123 -0,899 anos de estudo (2000) 0,295 0,877

Fonte: Anexo 6

Na Tabela 30 os valores são interpretados como um coeficiente de correlação

simples de cada variável com o fator gerado. Assim, existe forte correlação entre as

variáveis de gastos e o Fator 1. Forte relação positiva da variável “anos de estudo” e o Fator

2; este, por sua vez, tem forte correlação negativa com “% de pobres”.

O Gráfico 27, abaixo, combina o Fator 1 (crescimento) com o Fator 2

(desenvolvimento), apenas para o conjunto dos municípios mineradores. No eixo horizontal

estão os índices de crescimento e, no vertical, os de desenvolvimento.

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282

-1,5

-1

-0,5

0

0,5

1

1,5

2

-0,56 0,44 1,44 2,44 3,44 4,44

crescimento

dese

nvol

vim

ento

Parauapebas (PA)

Itabira(MG)Paracatu (MG)

Oriximiná (PA)

Mariana(MG)

Minaçu (GO)

Corumbá (MS)

Jaguarari (BA)

Ipixuna do Pará (PA)

Santa Bárbara (MG)

Crixás (GO)

Forquilhinha (SC)

Rosário do Catete (SE)

Canaã dos Carajás (PA)

Gráfico 27: Classificação dos municípios de base mineradora de acordo com os fatores de crescimento econômico e de desenvolvimento. Fonte: análise de cluster (Anexo 6)

Do gráfico acima se pode inferir que:

• A associação entre crescimento e desenvolvimento nos municípios de base

mineira parece refletir muito mais o padrão do desenvolvimento regional brasileiro

do que o padrão “típico” do setor produtivo mineral.

• Os municípios das regiões Norte e Nordeste estão no quadrante inferior do

Gráfico 27, onde se encontram os níveis mais baixos de desenvolvimento (de

acordo com os escores do índice de -1,5 a +2,0). Entre esses municípios,

Parauapebas (PA) se destaca como o de maior crescimento e baixo

desenvolvimento. O seu nível de desenvolvimento se iguala ao do município de

Jaguarari (BA) e ambos ganham somente de Ipixuna do Pará (PA).

• Do lado oposto, Itabira (MG) tem um crescimento que se aproxima de

Parauapebas (PA); contudo, o seu desenvolvimento é positivo, no nível de

Minaçu (GO), só que este, por sua vez, apresenta um baixo nível de crescimento.

• O maior escore de desenvolvimento é Forquilhinha (SC); porém, os seus

indicadores de crescimento são negativos.

• Depois de Forquilhinha (SC), o município de Corumbá (MS) se destaca como o

de segundo maior desenvolvimento e apresenta crescimento favorável. Talvez

seja por essa razão, ou associado a isso, que as companhias mineradoras

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instaladas em Corumbá desenvolvem vários projetos sociais em parceria com a

prefeitura local (BOX 9)

• Santa Bárbara e Mariana, ambos em Minas Gerais, apresentam os mesmos

níveis de desenvolvimento, sendo que Mariana tem um crescimento mais

vigoroso, pois os seus empreendimentos mineradores são mais impactantes (o

peso da atividade mineradora em Mariana é, em média, de 50%, enquanto que

em Santa Bárbara é de 30%).

• Crixás (GO) e Paracatu (MG) têm o mesmo nível de desenvolvimento. Crixás,

assim como Forquilhinha (SC) e Santa Bárbara (MG), está atravessando um

processo de desaceleração econômica.

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BOX 9 - Interação da empresa com a sociedade local

Há em Corumbá uma relação de parceria entre as mineradoras e a prefeitura. Ela se manifesta por

intermédio do apoio das empresas aos programas sociais e impacta positivamente o município. A Mineração

Urucum (CVRD), por exemplo, tem convênio com o Senai para a oferta de cursos técnicos. A prefeitura, por seu

lado, também tem convênio com o Senai, que oferece anualmente 300 vagas em cursos técnicos. A qualificação

e a capacitação profissional é uma preocupação, tanto das empresas quanto do poder público, visando ampliar a

ocupação da mão-de-obra ociosa da cidade e bloquear o fluxo migratório.

As principais ações sociais da Urucum Mineração (CVRD) não se limitam ao atendimento de demandas

assistencialistas. Estas existem, mas são repassadas para o programa “Voluntário VALE”. A demanda por

projetos puramente assintenciais tem diminuído significativamente, afirmou a assessora de comunicações da

CVRD, por causa dos trabalhos de esclarecimento junto à comunidade, realizados por funcionários da CVRD.

Em Corumbá, a CVRD trabalha com um tripé de princípios: cultura, educação e meio ambiente - segundo a

assessora. A partir desses critérios são escolhidos os apoios que a companhia prestará às ações sociais. Há

também os programas de geração de emprego e renda nos assentamentos próximos á área da mina. No período

2003-2005, a empresa investiu quatro milhões de reais em projetos de grande impacto para melhorar as

condições sociais da população local, conforme a relação abaixo.

1) Elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável - PDS de Corumbá (beneficia toda a cidade);

2) Projeto Moinho Cultural Sul-Americano – foram incluídos os programas institucionais da CVRD: Vale

música e Vale Informática, etc – atende crianças e adolescentes de 6 a 18 anos (beneficia 250 crianças

carentes, mas a meta é atingir 500, do Brasil e da Bolívia 20%);

3) Projeto Monumenta (em parceria com o BID) – para a revitalização da orla do porto;

4) Curso de capacitação, com parceria do SENAI (beneficia adolescentes e visa formar mão-de-obra

especializada para trabalho na indústria.

A Mineração Corumbaense (Grupo Rio Tinto), por sua vez, foi eleita pela revista EXAME, como uma

das melhores empresas para se trabalhar, entre as empresas do Grupo Rio Tinto. Ela recebeu vários prêmios do

Grupo Rio Tinto, como a melhor empresa da corporação.

No que se refere ao relacionamento dessas empresas com o setor público local, foi perguntado se há

alguma diferença entre elas. De acordo como Secretário Municipal de Governo de Corumbá, Sr. José Antônio, o

relacionamento com a Mineração Corumbaense (Rio Tinto) é mais direto, pois os funcionários têm um poder de

decisão bem maior que em outras empresas. Ainda por cima, eles buscam uma maior aproximação com a

comunidade. No caso da CVRD, não existe grande proximidade, uma vez que os centros de decisão não estão

no município. No entanto, com essas duas empresas o relacionamento estabelecido com a prefeitura é o melhor

possível. “Existe uma empatia muito grande das mineradoras com a população de Corumbá”, ressalta o

Secretário. “Ambas as empresas demonstram uma grande preocupação com a pessoa, com o cidadão, e a

população retribui na forma de agradecimento”, diz o Secretário. Fonte: pesquisa de campo realizada pela autora

A análise de cluster demonstrou que não há uma associação direta entre

crescimento econômico e desenvolvimento para o conjunto de municípios mineradores

estudados. Mas mesmo assim, alguns municípios conseguiram apresentar bons indicadores

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de crescimento e de desenvolvimento. Por que alguns municípios mineradores têm logrado

esse êxito e outros não? Essa pergunta acompanhará as análises ao longo de todas as

outras seções.

4.3.1 Mineração e os indicadores de desenvolvimento humano

Qual o comportamento dos indicadores de desenvolvimento humano (IDHM), e sub-

índices de educação, longeividade e renda, dos municípios mineradores vis-à-vis o seu

entorno e a média de seus Estados? É possível afirmar que a mineração é um fator que

contribui favoravelmente para o desenvolvimento humano municipal? Ou, ao contrário, ele é

um fator de atraso na ampliação as liberdades constitutivas e instrumentais, na perspectiva

de Amartya Sen (2000)?

O Mapa 14, a seguir, relaciona informações sobre IDHM e PIB dos municípios de

estudo. De sua configuração, três aspectos se sobressaem: 1) os municípios que

apresentam os maiores PIBs não são necessariamente os que tem os maiores IDHMs, 2) há

uma nítida segmentação regional, os maiores IDHMs estão nas regiões Sul e Sudeste

enquanto que os menores estão nas regiões Norte e Nordeste; 3) Os municípios

mineradores, com raras exceções, são os que a apresentam o maior PIB e também os

maiores IDHMs de seu conjunto.

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Mapa 14: IDHM (2000) e PIB (2003) dos 15 maiores municípios mineradores do Brasil e entorno não-minerador Fonte: Elaborado com base nas informações do IPEA/PNUD (Atlas de Desenvolvimento Humano) e IBGE

A Tabela 31 reafirma a ascendência do IDHM dos municípios de base mineira sobre

o seu entorno não-minerador, tanto em 1991 como em 2000. A avaliação das médias

amostrais foi feita com o teste “estatística t”, com o nível de significância de 5%.

Tabela 31: IDHM médio para o conjunto de municípios mineradores e não-mineradores, de acordo com a região de origem (1991 – 2000)

1991 2000 origem do município

minerador não-minerador teste t minerador não-

minerador teste t

Norte e Nordeste 0,578 0,545 1,555441* 0,680 0,642 1,992671

Centro-Sul 0,696 0,644 3,148486 0,766 0,732 2,105192

(*) significância de 7% Fonte: Elaborado a partir do Anexo 3

O fato de os municípios mineradores apresentarem os maiores PIBs já foi

comentado. No entanto, não é trivial que eles também apresentem os maiores IDHMs de

seu conjunto. Isso requer uma observação mais detalhada de cada município minerador.

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4.3.1.1 Desempenho do IDHM – uma visão de conjunto entre os municípios mineradores

Os indicadores de IDHM, de pobreza e de concentração de renda, permitem ampliar

a perspectiva parcial oferecidas pelo PIB e pelo PIB per capita. Eles incluem novas

dimensões socioeconômicas para averiguação do nível de desenvolvimento dos municípios

estudados, e não apenas de seu crescimento econômico. Os indicadores de

desenvolvimento humano permitem verificar tanto a situação atual quanto a evolução

recente dos municípios mineradores, a partir da comparação das informações para os anos

1991 e 2000.

Indicadores de desenvolvimento humano municipal (IDHM)

Para todos os municípios mineradores estudados, o IDHM de 2000 se situou na faixa

intermediária do desenvolvimento, variando de 0,622 (Ipixuna do Pará) a 0,798 (Itabira – MG

e Forquilhinha - SC). Os dados da Tabela 32, reafirmam o ilustrado no Mapa 14 - os maiores

IDHMs estão no estados das regiões Sudeste e Sul e os menores estão regiões Norte e

Nordeste.

Tabela 32: 15 municípios mineradores do Brasil: IDHM 1991/2000 e ranking dentro dos Estados.

região município minerador

IDHM 1991

posição no

Estado 1991

IDHM 2000

posição no Estado 2000

variação IDHM*

municipal 2000/91

variação IDH * do Estado 2000/91

Vitória do Jari (AP) 0,549 13 0,659 13 20% 9% Jaguarari (BA) 0,548 102 0,647 117 18% 17% Canaã dos Carajás (PA)

0,552 99 0,700 37 27%

Ipixuna do Pará (PA)

0,542 109 0,622 121 15%

Oriximiná (PA) 0,637 22 0,717 22 13% Parauapebas (PA) 0,656 14 0,740 11 13%

11%

Nor

te e

Nor

dest

e

Rosário do Catete (SE)

0,559 18 0,671 8 20% 15%

Crixás (GO) 0,648 132 0,717 178 11% Minaçu (GO) 0,660 95 0,749 78 13% 10%

Corumbá (MS) 0,722 5 0,771 16 7% 7% Itabira (MG) 0,727 45 0,798 44 10% Mariana (MG) 0,707 97 0,772 157 9% Paracatu (MG) 0,680 214 0,760 205 12% Santa Bárbara (MG)

0,694 155 0,762 202 10% 10%

Cen

tro-O

este

, Sud

este

e

Sul

Forquilhinha (SC) 0,730 83 0,798 137 9% 8% * No período 1991/2000 a variação do IDH do Brasil foi de 10% Fonte: Elaboração própria com base no Atlas do Desenvolvimento Humano (IPEA/PNUD)

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Durante o período 1991/2000, o IDH do Brasil cresceu 10%, apresentando variações

para mais, em alguns estados - Bahia (17%), Sergipe (15%) e Pará (11%) - e para menos

em outros - Mato Grosso do Sul (7%), Santa Catarina (8%) e Amapá (9%). No ano de 2000,

todos os municípios mineradores estudados, com exceção de Mariana, apresentaram

crescimento do IDHM superior ou igual à média de seus Estados (Tabela 36). Por exemplo,

o IDH do estado do Amapá variou 10%, no período de 1991 a 2000; enquanto que o IDHM

do município de Vitória do Jari (AP) cresceu bem mais, em 20%.

A mudança de posição e a posição atual ocupada em seus respectivos Estados

pelos municípios mineradores, em termos de IDHM, geram um outro indicador para verificar

dinâmica do desenvolvimento municipal e para estimar a influência da atividade mineradora

e da CFEM nesse processo. Esse indicador permite comparar o desempenho do município

minerador com outros municípios de seu próprio Estado. Dos 15 municípios analisados, seis

melhoram a sua posição no ranking estadual – Canaã dos Carajás99 (avançou 62 posições),

Minaçu (17 posições), Rosário do Catete (10 posições), Paracatu (nove posições),

Parauapebas (três posições) e Itabira (uma posição). Dois permaneceram nas mesmas

posições – Vitória do Jari, e Oriximiná. Sete pioraram a sua posição no ranking estadual do

IDHM.

A perda de posição nos rankings estaduais do IDHM, não significa que o IDHM

municipal não cresceu, mas sim que outros municípios, provavelmente não-mineradores,

apresentaram melhor desempenho nesse período. Dos sete municípios das regiões Norte e

Nordeste apenas dois regrediram no ranking estadual. Dos oito municípios das regiões

Centro-Oeste, Sul e Sudeste cinco regrediram no ranking estadual. Isso é um indício de que

o potencial da mineração para ampliar o desenvolvimento humano é maior nas regiões

Norte e Nordeste do que nas outras, provavelmente, porque nessas regiões os níveis são

muitos baixos e qualquer investimento incremental gera um resultado muito favorável,

enquanto que em outras que tem maiores níveis de IDH é necessário incrementos bem mais

significativos.

Em princípio, pode-se pensar que o bom desempenho dos municípios mineradores

resultou do componente renda do IDHM, em função das altas receitas que a mineração gera

e que inflam, ilusoriamente, o IDHM. No entanto, os dados mostram não ser o componente

renda o que eleva o IDHM, uma vez que apenas um resíduo dela permanece, de fato, no

município minerador.

99 Esse avanço deve ser visto com certa prudência, pois o município foi criado em 1994. Assim, as informações relativas ao ano de 1990 são apenas estimativas.

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Quando se desdobram os componentes do IDHM dos municípios de base

mineradora, verifica-se que foi o sub-índice educação o principal responsável pelo

incremento geral do IDHM, seguido pelo de longevidade. Esse impacto é mais notável para

os municípios mineradores das regiões Norte, Nordeste, cujos incrementos para o sub-

índice de educação oscilaram entre 9% e 46%, do que para as regiões do Centro-Sul, cujos

sub-índices variaram de 6% a 15% (Tabela 33).

Tabela 33: 15 Municípios mineradores do Brasil: dimensões e variações dos componentes do IDHM 1991/2000 – educação, longevidade e renda.

região município minerador

IDHM educ 1991

IDHM educ 2000

∆ educ (%)

IDHM long. 1991

DHM long. 2000

∆ long.. (%)

IDHM renda 1991

IDHM renda 2000

∆ renda (%)

Vitória do Jari (AP)

0,555 0,808 46% 0,570 0,603 6% 0,529 0,566 7%

Jaguarari (BA) 0,532 0,756 42% 0,627 0,628 0% 0,484 0,555 15% Rosário do Catete (SE)

0,640 0,829 30% 0,526 0,627 19% 0,515 0,559 9%

Canaã dos Carajás (PA)

0,601 0,792 32% 0,544 0,679 25% 0,511 0,628 23%

Ipixuna do Pará (PA)

0,481 0,633 32% 0,642 0,743 16% 0,503 0,49 -3%

Oriximiná (PA) 0,763 0,828 9% 0,586 0,733 25% 0,561 0,591 5%

Nor

te e

Nor

dest

e

Parauapebas (PA) 0,712 0,844 19% 0,598 0,704 18% 0,661 0,674 2% Corumbá (MS) 0,812 0,862 6% 0,711 0,773 9% 0,647 0,678 5% Itabira (MG) 0,806 0,894 11% 0,712 0,797 12% 0,662 0,704 6% Mariana (MG) 0,773 0,890 15% 0,722 0,757 5% 0,629 0,670 7% Paracatu (MG) 0,752 0,844 12% 0,666 0,761 14% 0,622 0,675 9% Santa Bárbara (MG)

0,794 0,894 13% 0,678 0,742 9% 0,609 0,65 7%

Cen

tro-O

este

, S

udes

te e

Sul

Forquilhinha (SC) 0,789 0,882 12% 0,745 0,782 5% 0,654 0,727 11%

Fonte: Elaboração própria com base no Atlas do Desenvolvimento Humano (IPEA/PNUD).

Em nenhum dos municípios estudados o índice renda foi o maior responsável pelo

incremento do IDHM. Esse é um fato que chama atenção e que carece de maiores análises.

Uma hipótese a ser discutida é de que a instalação de um empreendimento minerador –

pelo menos dos mais intensivos de capital - requer um mínimo de qualificação e capacitação

de mão-de-obra, o que contribui favoravelmente para a elevação do nível geral da educação

do município minerador.

Essas informações parecem confirmar o depoimento do gerente da Samarco

Mineração S/A, de Mariana (MG), Leonardo Gandara, para quem uma das grandes

vantagens da instalação de um empreendimento minerador é a diversidade cultural que ele

promove, em função da vinda de pessoas de diferentes lugares, o que gera um “caldo

cultural” muito rico, elevando, igualmente, o nível educacional do município minerador.

Pode-se ainda especular sobre duas outras possibilidades para o crescimento do

sub-índice educação nos municípios de base mineradora. Primeiro, distintamente de

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projetos agropecuários, os empreendimentos industriais requerem e, cada vez mais estão

requerendo, capacitação formal e qualificação da mão-de-obra, tanto de seus funcionários

quanto das empresas prestadoras de serviços. Isso pode contribuir favoravelmente para a

capacitação da mão-de-obra local e, consequentemente, elevar o nível de escolaridade.

Segundo, considerando-se que os projetos mineradores não demandam grande quantidade

de mão-de-obra, as prefeituras podem estar utilizando os recursos da CFEM para fomentar

a área da educação. Contudo, para saber isso, convém analisar o comportamento do

município minerador com o seu entorno.

4.3.1.2 Desempenho da educação - uma visão de conjunto entre os municípios mineradores e não-mineradores

Um dos consensos a respeito dos meios mais eficazes de combater a pobreza e a

desigualdade social é o de se ampliar os anos de estudo da população. Rocha (2001, p. 80),

com base em dados da década de 1980, apresenta informações de que, para cada ano

adicional de escolaridade, ocorreram aumentos de renda que oscilavam entre 10% a 19%,

dependendo do nível de escolaridade alcançado. Ela acrescenta que esse efeito da

educação sobre a renda é bem mais acentuado no Brasil do que em outros países, onde é

de 10%, em média. Nesse sentido, é importante conhecer a relação que se estabelece entre

a atividade mineradora e a componente educação do desenvolvimento humano nos

municípios de base mineradora e em seus entornos. As variáveis analisada serão anos de

estudo para a população de 25 anos ou mais e a taxa de analfabetismo para a população

com mais de 15 anos.

Os gráficos exibidos por Estado, relacionam anos de estudo (colunas) e taxas de

analfabetismo (linhas) para os anos 1970, 1980, 1990 e 2000, para o conjunto de municípios

mineradores e os seus entornos. Convém relembrar que para os municípios de criação

recente não há disponibilidade de todos esses indicadores.

Estado do Amapá

Município de criação recente, a dinâmica dos componentes da educação de Vitória

do Jari tem sido superior aos outros dois municípios do entorno, ficando abaixo apenas de

Laranjal do Jari (seu município de origem) e da média estadual (Gráfico 28). Embora

apresentando significativa melhoria, ao longo do tempo, o nível educacional é baixo100, não

100 Rocha (2001) define “baixo nível educacional” a média inferior a quatro anos de escolaridade.

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alcançando sequer o mínimo de quatro anos de escolaridade101. É elevada a taxa de

analfabetismo (mais de 20%, em 2000).

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Estado do Amapá Laranjal do Jari Vitória do Jari * Pedra Branca do Amapari Mazagão

anos

de

esco

larid

ade

0

10

20

30

40

50

60

70

taxa

de

anal

fabe

tism

o (%

)

anos esc-70 anos esc-80 anos esc-91 anos esc- 00 analf-70 analf-80 analf-91 analf-00

Gráfico 28: Anos de estudo e taxa de analfabetismo de Vitória do Jari (AP) e entorno não-minerador (1970 a 2000) Fonte: Elaboração própria com base no IBGE (IPEAdata) (Anexo 3)

Estado da Bahia

É muito eloqüente a transformação no sistema educacional de Jaguarari nas últimas

quatro décadas. Isso ajuda a perceber os efeitos da atividade mineradora nessa dinâmica.

Nos anos 1970, Jaguarari apresentava um dos mais baixos indicadores de anos de

escolaridade e de alfabetização, comparativamente à média dos municípios de seu entorno

e à média estadual. Nos anos 2000, a situação se inverteu e o desempenho de Jaguarari

ficou abaixo somente da média estadual (Gráfico 29). No entanto, as mesmas observações

que foram feitas anteriormente, são válidas - é baixo o nível de escolaridade e alta a taxa de

analfabetismo.

101 A média dos anos de estudo no Brasil para a população de 25 anos ou mais é de seis anos (IBGE), enquanto que esse mesmo indicador é de 8,5 anos, na Argentina.

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Gráfico 29: Anos de estudo e taxa de analfabetismo - Jaguarari (BA) e entorno não-minerador (1970 a 2000) Fonte: Elaboração própria com base no IBGE (IPEAdata) (Anexo 3)

Estado de Goiás

Minaçu apresentou um desempenho diferenciado, aproximando-se significativamente

do estado de Goiás, da mesma forma que Crixás, que ficou ligeiramente abaixo de

Mozarlândia. Apesar de baixa escolaridade média, ela é maior que os municípios das

regiões Norte e Nordeste (Gráfico 30).

Gráfico 30: Anos de estudo e taxa de analfabetismo - Minaçu e Crixás (GO) e entorno não-minerador (1970 a 2000) Fonte: Elaboração própria com base no IBGE (IPEAdata) (Anexo 3)

0

1

2

3

4

5

6

Estado de Goiás Minaçu * Mozarlândia Crixás * Trombas Campinaçu Nova Crixás

anos

de

estu

do

0

10

20

30

40

50

60

taxa

de

anal

fabe

tism

o (%

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anos esc-70 anos esc-80 anos esc-91 anos esc- 00 analf-70 analf-80 analf-91 analf-00

0

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5

Estado da Bahia Jaguarari * Uauá Campo Formoso Andorinha

anos

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0

10

20

30

40

50

60

70

taxa

de

anal

fabe

tism

o (%

)

anos esc-70 anos esc-80 anos esc-91 anos esc- 00 analf-70 analf-80 analf-91 analf-00

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293

Estado de Minas Gerais

Itabira se destaca com desempenho superior à média de Minas Gerais, os demais

municípios mineradores ficam muito próximos à média estadual, com média de escolaridade

que supera os cinco anos e que já se aproxima da média estadual (Gráfico 31).

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

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o (%

)

anos esc-70 anos esc-80 anos esc-91 anos esc- 00 analf-70 analf-80 analf-91 analf-00

Gráfico 31: Anos de estudo e taxa de analfabetismo - Itabira, Mariana, Santa Bárbara e Paracatu (MG) e entorno não-minerador (1970 a 2000) Fonte: Elaboração própria com base no IBGE (IPEAdata) (anexo 3)

Estado Mato Grosso do Sul

Tanto no quesito anos médios de estudo, quanto no de taxas de analfabetismo, o

município de Corumbá se destaca, superando as médias de seu entorno e de Mato Grosso

do Sul, além da própria média nacional (Gráfico 32).

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294

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

Corumbá * Mato Grosso do Sul Aquidauana Porto Murtinho Miranda

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0,0

5,0

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15,0

20,0

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40,0

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anal

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tism

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)

anos esc-70 anos esc-80 anos esc-91 anos esc- 00 analf-70 analf-80 analf-91 analf-00

Gráfico 32: Anos de estudo e taxa de analfabetismo - Corumbá (MS) e entorno não-minerador (1970 a 2000) Fonte: Elaboração própria com base no IBGE (IPEAdata) (Anexo 3)

Estado do Pará

Os municípios mineradores de Parauapabas e Oriximiná ficam abaixo somente da

média do Estado nos quesitos da educação. No Gráfico 33, abaixo, Canaã dos Carajás

ainda não se destaca como um município com grandes desempenhos nos componentes da

educação, pois foi apenas em 2002, que a atividade se mineradora iniciou nesse município.

Ipixuna do Pará, por sua vez, embora conviva com a atividade mineradora desde meados

dos anos 1990, parece não ter se beneficiado desse tipo externalidade, uma vez que os

escritórios das companhias mineradoras não estão estabelecidos na sede do município.

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295

Gráfico 33: Anos de estudo e taxa de analfabetismo - Parauapebas, Oriximiná, Canaã dos Carajás e Ipixuna do Pará (PA) e entorno não-minerador (1970 a 2000) Fonte: Elaboração própria com base no IBGE (IPEAdata) (Anexo 3)

Estado de Santa Catarina

Os municípios da região Sul do Brasil são os que apresentam os melhores

indicadores de desenvolvimento. Na educação não é diferente. Entre esses municípios,

Forquilhinha se destaca do seu entorno, sendo superado apenas por Nova Veneza e pela

média estadual (Gráfico 34).

Gráfico 34: Anos de estudo e taxa de analfabetismo de Forquilhinha (SC) e entorno não-minerador (1970 a 2000) Fonte: Elaboração própria com base no IBGE (IPEAdata) (Anexo 3)

0

1

2

3

4

5

6

7

Pará

Paraua

peba

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0

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30

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anos esc-70 anos esc-80 anos esc-91 anos esc- 00 analf-70 analf-80 analf-91 analf-00

taxa

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Santa Catarina Nova Veneza Forquilhinha*Maracajá

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0

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296

Estado de Sergipe

Em Sergipe, Rosário do Catete desponta com os indicadores de educação melhores

que os do seu entorno, ficando apenas abaixo da média estadual (Gráfico 35). Observe-se

que nos anos 1970, os indicadores de anos de escolaridade de Maruim superavam os de

Rosário do Catete, situação que foi se invertendo ao longo do tempo.

0

1

2

3

4

5

6

Sergipe Rosário do Catete Maruim Santo Amaro das Brotas Capela

anos

de

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0

10

20

30

40

50

60

70

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anos esc-70 anos esc-80 anos esc-91 anos esc- 00 analf-70 analf-80 analf-91 analf-00

Gráfico 35: Anos de estudo e taxa de analfabetismo de Rosário do Catete (SE) e entorno não-minerador (1970 a 2000) Fonte: Elaboração própria com base no IBGE (IPEAdata) (Anexo 3)

Tendo em vista que os indicadores de desenvolvimento humano dos municípios

mineradores são melhores que os de seus entornos, por que essa melhor educação não

consegue se converter em maior empregabilidade? Considerando-se que, em média, são os

municípios do entorno os que mais empregam.

Isso é um forte indício de que o capital humano é uma condição necessária, mas não

suficiente para resolver o problema da desocupação nos municípios de base mineradora.

Sem políticas públicas adequadas para canalizar os efeitos propulsores do crescimento

econômico, o boom possibilitado pela mineração pode se converter em oportunidades

perdidas.

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297

4.3.1.3 Mineração, pobreza e concentração de renda

Qual o comportamento dos indicadores de pobreza e de concentração de renda dos

municípios mineradores vis-à-vis o seu entorno e a média de seus Estados? É possível

afirmar que a mineração é uma atividade que contribui para a redução da pobreza e para a

melhoria da eqüidade na distribuição de renda? Ou será que os municípios mineradores

apresentam uma distribuição de renda que reforça a desigualdade? Para responder essas

perguntas, em primeiro lugar será enfocado os municípios mineradores e, em seguida, os

municípios mineradores com os seus entornos

A Tabela 34, a seguir, permite comparar o comportamento da pobreza (percentual

de pessoas com renda abaixo de R$ 75,50, segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano

do IPEA/PNUD) e da concentração de renda (medida pelo índice de Gini) entre municípios

mineradores e não-mineradores e entre municípios de ambos os grupos das regiões Norte e

Nordeste e demais regiões do Brasil.

Tabela 34: Média de percentual de pobres e de concentração de renda (índice de Gini) entre os municípios mineradores e não-mineradores das regiões Norte e Nordeste e Centro-Sul (1991-2000)

% pobres 1991 % pobres 2000 Origem do município

minerador não-minerador teste t* minerador não-

minerador teste t*

Norte e Nordeste 63,64 70,61 -1,288366471 57,39 65,84 -2,04511 Centro -Sul 40,45 53,92 -2,765476157 32,93 41,75 -1,70648 Índice de Gini 1991 Índice de Gini 2000 Norte e Nordeste 0,54 0,52 0,737393544 0,61 0,59 1,08644 Centro -Sul 0,56 0,54 0,644031649 0,57 0,61 -1,75802

(*) significância de 5% Fonte: Elaborado a partir do Anexos 3

O teste de médias (estatística de t) feito para o conjunto de municípios mineradores e

não-mineradores demonstrou que, quanto ao percentual de pobres e o índice de

concentração de renda, as difenças entre eles não são signficativas, apesar dos indícios de

que elas existem. O tamanho da amostagem não permite afiirmar categoricamente qual a

diferença entre elas. A única exceção foi quanto ao Índice de Gini, para o ano 2000, entre os

municípios mineradores e não-mineradores das regiões Norte e Nordeste, revelando que os

primeiros têm renda bem mais concentrada que os segundos.

Todavia, a amostragem adotada permite constatar que as grandes diferenças entre

os município são interregionais (Tabela 35). Municípios mineradores das regiões Norte e

Nordeste têm, em média, 50% a mais de pobres do que os municípios mineradores das

demais regões. O índice de Gini é também maior para os primeiros .

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298

Tabela 35 : Média de percentual de pobres e de concentração de renda (índice de Gini) entre os municípios mineradores das regiões Norte e Nordeste e Centro-Sul (1991-2000)

variável Norte e Nordeste Centro-Sul teste t*

% pobres 1991 63,64 40,45 4,119308067 % pobres 2000 57,39 32,93 4,975910544 Variação % pobres -10% -19% Índice de Gini 1991 0,536 0,558 -0,86921401 Índice de Gini 2000 0,614 0,569 2,367513516 Variação % Gini 15% 2%

(*) significãncia de 5% Fonte: Elaborado a partir do Anexo 3

No período 1991 a 2000, houve uma redução no percentual de pobres para todos os

conjuntos de municípios mineradores, porém a redução maior ocorreu nos municípios do

Centro-Sul (19%), assim como a menor concentração de renda também ocorreu para esse

conjunto de municípios (2%).

Dada a limitação de informações estatísticas para a comparação das médias com o

entorno não-minerador é importante focar mais atentantamente no interior dos municípios

mineradores.

4.3.1.4 Mineração, pobreza e concentração de renda nos municípios mineradores

Os indicadores de pobreza e de concentração de renda permitem verificar como o

processo de crescimento dos municípios mineradores têm interferido na redução da pobreza

e na equidade da partilha dos benefícios minerais, expressos em renda. Há forte indício de

que a existência da atividade mineradora contribui para a redução da pobreza nos

municípios onde a atividade está instalada. No período 1991 a 2000, dos 15 municípios da

amostragem, 80% conseguiram reduzir o percentual de pessoas com renda abaixo de R$

75,50. Segundo esses critérios isso se traduz em real redução da pobreza. No entanto,

percebe-se dois padrões diferenciados dessa redução:

• um primeiro grupo, formado por nove municípios, reduziu a pobreza, mas

aumentou o nível de concentração de renda (o índice de Gini se elevou), são

eles: Forquilhinha (SC), Canaã dos Carajás (PA), Paracatu (MG), Jaguarari (BA),

Corumbá (MS), Vitória do Jari (AP), Rosário do Catete (SE), Oriximiná (PA) e

Santa Bárbara (MG);

• um segundo grupo, bem menor, formado três municípios - Minaçu (GO), Itabira

(MG) e Mariana (MG) - conseguiu combinar a redução da pobreza com uma

distribuição mais justa da renda (o índice de Gini diminuiu) (Tabela 36 ).

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299

Tabela 36: 15 maiores municípios mineradores do Brasil: percentual e variação de pobres e concentração de renda, no período 1991 - 2000.

região município/ Estado

percentual de pobres*, 1991

(%)

percentual de pobres* 2000

(%)

∆ pobreza

índice de Gini, 1991

índice de Gini, 2000

∆ índice de Gini

Vitória do Jari (AP) 64,08 57,53 -10% 0,50 0,62 24% Jaguarari (BA) 77,31 58,60 -24% 0,58 0,62 7% Canaã dos Carajás (PA) 72,00 49,48 -31% 0,52 0,62 19% Ipixuna do Pará (PA) 66,86 74,74 12% 0,47 0,62 32% Oriximiná (PA) 60,78 57,34 -6% 0,59 0,62 5% Parauapebas (PA) 38,96 44,45 14% 0,58 0,67 16%

Nor

te e

Nor

dest

e

Rosário do Catete (SE) 65,40 59,56 -9% 0,51 0,53 4% Crixás (GO) 41,14 41,49 1% 0,58 0,56 -3% Minaçu (GO) 47,00 32,60 -31% 0,55 0,54 -2% Itabira (MG) 36,31 27,11 -25% 0,57 0,56 -2% Mariana (MG) 46,20 35,57 -23% 0,59 0,57 -3% Paracatu (MG) 47,43 34,72 -27% 0,58 0,61 5% Santa Bárbara (MG) 43,20 41,82 -3% 0,53 0,56 6% Corumbá (MS) 42,88 37,70 -12% 0,61 0,62 2%

Cen

tro-O

este

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este

e

Sul

Forquilhinha (SC) 19,52 12,40 -36% 0,45 0,53 18%

*Percentual de pessoas com renda per capita abaixo de R$ 75,50 Fonte: Elaborado com base no Atlas do Desenvolvimento Humano (IPEA/PNUD)

Há ainda dois grupos de municípios que, contrariamente à tendência nacional de

redução da pobreza nos anos 1990, aumentaram esse percentual:

• o primeiro grupo é formado por Parauapebas (PA) e Ipixuna do Pará (PA), que

registraram crescimento do IDHM, mas elevaram o percentual de pobres e o nível

de concentração de renda. Convém relembrar que Ipixuna do Pará (PA) foi o

município que registrou o maior incremento do PIB no período 1996/2003 (211%).

• o segundo grupo, formado exclusivamente por Crixás (GO) que reduziu o nível de

concentração de renda, mas elevou o número de pobres.

Considerando-se essa diversidade de comportamentos pode-se concluir, à primeira

vista, que não há um padrão claramente definido entre a existência de atividade mineral e a

variação nos índice de pobreza e de concentração de renda. No entanto, quando esses

grupos são associados ao componente regional, percebe-se nitidamente que há dois

modelos:

1) nenhum município das regiões Norte e Nordeste conseguiu reduzir o índice de

concentração de renda, ao passo que 50% dos municípios das regiões Centro-Oeste,

Sudeste e Sul conseguiram;

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300

2) excluindo a variação residual de Crixás (aumento de 1% no percentual de pobres),

todos os municípios das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul conseguiram reduzir a

pobreza em percentuais acima de 20%, ao passo que dois dos sete municípios das regiões

Norte e Nordeste aumentaram a pobreza e os que reduziram a foram em menor percentual.

Assim, conclui-se que não há uma correlação direta entre a existência de um

empreendimento minerador e alterações nas condições de pobreza e de concentração de

renda. Logo, se a mineração contribui ou não para a redução da pobreza e para a melhor

distribuição de renda não é uma questão inerente ao setor mineral. Possivelmente essas

variáveis estão relacionadas a algum outro aspecto da estrutura social, política, econômica e

cultural, dos capitais intangíveis de Boisier (2002), ou do ambiente institucional de North

(1993).

O Mapa 15 e os Gráficos A e B abaixo - que associam pobreza e população ocupada

(Gráfico A) e concentração de renda e PIB per capita (Gráfico B) - talvez possam elucidar

essa questão.

Mapa 15: Associação entre pobreza, anos de estudos, população ocupada e analfabetismo nos 15 maiores municípios mineradores do Brasil e entorno não-minerador Fonte: Elaborado com base nas informações do IPEA (IBGE) (Anexo 3)

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301

A partir do cruzamento das variáveis discriminadas nos Gráficos A e B102, foram

identificados quatro grupos de municípios, assim denominados:

1) crescimento perverso - apresenta elevado grau de concentração de renda,

elevada taxa de pobreza, porém o PIB per capita e as taxas de ocupação populacional são

mais elevados (grupo de municípios nas cores vermelho e telha). Nas regiões Norte, os

municípios de base mineradora Parauapebas (PA) e Canaã dos Carajás (PA) integram o

grupo. Nas demais regiões destacam-se, parcialmente, os municípios do entorno dos

mineradores, como Dom Bosco (MG);

2) concentração de renda com desocupação – apresenta elevado grau de

concentração de renda, elevada taxa de pobreza e baixa taxa de ocupação populacional e

de PIB per capita (municípios de cor azul claro). Deste grupo fazem parte os municípios

situados nos entornos de alguns importantes municípios mineradores e Corumbá (MS);

3) repartição da pobreza - apresenta baixa de concentração de renda, elevado

número de pobres, PIB per capita baixo e baixa taxa de ocupação populacional (municípios

na cor verde). Deste grupo fazem parte municípios também situados nos entornos de

municípios mineradores, principalmente das regiões Norte e Nordeste;

4) crescimento com eqüidade - apresenta baixa de concentração de renda, baixa

taxa de pobreza, PIB per capita alto e elevada taxa de ocupação populacional (municípios

na cor pink). Deste grupo se destacam os municípios de base mineira de Itabira (MG),

Mariana (MG), Santa Bárbara (MG), Minaçu (GO) e Forquilhinha (SC); apenas um município

não-mineradores integra o gupo – Nova Veneza (SC).

A Figura 9, a seguir, é uma síntese de todos os municípios do estudo em relação à

variáveis: taxa de pobreza (2000), índice de Gini de concentração de renda (2000) e

população ocupada (2000).

102 Os indicadores de pobreza, de concentração de renda e de emprego, enquanto meios de auferir o desenvolvimento municipal vem ao encontro da noção de desenvolvimento preconizada por Dudley Seers, nos anos 1960 (vide seção 1.6.1).

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302

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0Nova Veneza

TrombasMeleiroMozarlândia

MaracajáPiranga

Forquilhinha*

Jaboticatubas

Unaí

Alvinópolis

Nova Crixás

Mariana*

Crixás*

Minaçu*

Paracatu*

Parauapebas*

Campinaçu

Itabira*

Aquidauana

Canaã dos Carajás*

Barra LongaDom Bosco

Santa Bárbara *MirandaNova Esperança do Piriá

Campo FormosoPorto MurtinhoCorumbá

Capitão PoçoAurora do Pará

Antônio Dias

Eldorado dos Carajás

Nova Era

Jaguarari*

Oriximiná*

Curionópolis

Laranjal do Jari

Santa Fé de Minas

Terra Santa

Uauá

Ipixuna do Pará*

Faro

Rosário do Catete*

Capela

Santo Amaro das Brotas

MaruimÁgua Azul do Norte

AndorinhaVitória do Jarí* Mazagão

% pobres - 2000 GINI po.ocup. - 2000 Figura 9: Associação entre pobreza, população ocupada e índice de concentração de renda (Gini) para os municípios do estudo Fonte: Elaborado com base nas informações do IPEA (IBGE) (Anexo 3)

Nota-se que os municípios das regiões Norte e Nordeste estão entre os de mais

baixo nível de ocupação populacional e mais alta taxa de pobreza – Vitória do Jari (AP),

Ipixuna do Pará (PA), Jaguarari (BA) e Oriximiná (PA) são municípios mineradores que

fazem parte dessa relação. No polo oposto, com os mais altos índices de ocupação e mais

baixas taxas de pobreza estão os municípios de Santa Catarina. Os únicos municípios

mineradores que conseguiram conciliar baixo nível de pobreza, alta taxa de ocupação e

baixa concentração de renda foram: Forquilhinha (SC), Mariana (MG), Minaçu (GO) e Itabira

(MG ), ou seja, nenhum município das regiões Norte e Nordeste.

Um exemplo de trajetória do “crescimento mineral perverso” é o de Parauapebas (PA).

O espaço territorial de Parauapebas (PA) tem sido, ao mesmo tempo, cidade-sede da CVRD

e palco de programas governamentais de reforma agrária, abrigando diversos assentamentos. De

acordo com o Secretário de Agricultura do município, Sr. José Rodrigues, o forte movimento de luta

pela terra e a penetração do Movimento Sem Terra (MST) no município, estão relacionados ao

intenso fluxo de migrantes com baixo nível de escolaridade, principalmente de maranhenses que se

dirigem para o município na expectativa de obter emprego na CVRD ou nas empresas terceirizadas,

estimulados pela facilidade de transporte que a ferrovia Carajás – Ponta da Madeira oferece. Assim, a

única saída para a maioria dessas famílias foi ingressar no MST, na esperança de conseguir o seu

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303

lote de terra (Fotografia 36). Portanto, o MST surgiu e se fortaleceu na região com o respaldo dessas

famílias.

Fotografia 31: Acampamento do MST, ao longo da estrada Marabá / Parauapebas. Fonte: pesquisa de campo (julho/2006) (Maria Amélia Enríquez)

Assim configurado, Parauapebas convive com um modelo socioeconômico dual, no qual

coexistem a grande companhia mineradora e centenas de pequenos assentamentos rurais. De

acordo com o Secretário de Planejamento de Parauapebas, Sr. José Mandré, esse modelo se

desdobra de modo bastante conflituoso, pois há pouco retorno social de uma companhia mineradora

como a CVRD, que tem mais de R$ 10 bilhões anuais de lucro. Para o Secretário, deveria haver

regras claras para que a execução de programas sociais fosse um princípio elementar para quem

extraisse os minerais nessa região, mas, lamentavelmente, isso não ocorre. As companhias

mineradoras deveriam estimular outros investimentos, não-minerários, no seu entorno, afirma o

Secretário, para promover o desenvolvimento socioeconômico a partir de setores que não

dependessem exclusivamente da mineração. A CVRD não faz isso. Até então não há nenhuma

parceria entre a comunidade local e a CVRD nesse sentido, afirma o Secretário.

Uma das alternativas sugeridas pelos movimentos sociais é de que a CVRD criasse um fundo

para dar suporte a essas políticas, inclusive para subsidiar a agricultura da região. Segundo o

Secretário, a dinamização da agricultura familiar evita impactos ambientais e garante a

sustentabilidade da exploração agrícola na região. Os recursos desse fundo deveriam ser investidos

em educação, assistência técnica e formação de um conjunto de elementos que garanta a

sustentabilidade da ocupação no entorno da CVRD.

Para o Secretário, o conjunto de problemas que ocorre no entorno dos projetos mineradores

têm natureza ecológica, social, política e econômica. Como exemplos ele cita:

• problemas sociais urbanos - migração em massa para uma cidade que não tem infra-

estrutura adequada, além de os serviços sociais ficarem muito aquém das reais

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304

necessidades. O gabinete do prefeito monitora o fluxo demográfico, mas a prefeitura ainda

não tem uma política explícita para tratar desse assunto.

• problemas ecológicos nas áreas rurais – há denúncias de que já transbordou diversas vezes

no Rio Gelado uma bacia de rejeitos que a CVRD tem na área da APA do Igarapé Gelado.

Isso teria comprometido os açaizais da região. Em Palmares 1, fica armazenado o material

que vem da mina do Sossego, provocando odores muito fortes, o que afeta a comunidade

(dizem que esse odor tem prejudicado o desempenho sexual dos homens). Toda a lavagem

do minério vai escorrendo até alcançar o lençol freático (no caso do minério de ferro).

Diversas comunidades denunciam mortes de pessoas por atropelamento no eixo da ferrovia.

Estima-se que morrem, em média, duas pessoas por mês em acidentes ferroviários.

• problemas político-econômicos mais amplos – o Secretário se ressente da falta de diálogo

com as comunidades que estão ao redor do empreendimento, para discutir qual o modelo de

desenvolvimento desejável, além da mineração. Para ele, essa ausência cria um problema

econômico, porque impossibilita que um vasto contingente populacional seja incluído em um

projeto que os agregue como seres humanos que precisam de emprego, de educação, de

saúde etc.

Dessa forma, segundo o Secretário, a iniciativa de propor as políticas necessárias deveria

partir do Estado (União). “É necessário impor condições e critérios claros, impedindo o saque a

recursos naturais que apenas deixam miséria e pobreza na região, pois isso é contra a lógica do

desenvolvimento econômico em todas as partes”, afirma o Secretário.

Segundo o Secretário, do comando da CVRD não virá a iniciativa para a solução dessas

questões, pois não é típico do capitalismo dividir o lucro e democratizar o acesso à renda. Pelo

contrário, a lógica é de concentrar capital e de reduzir custos. Essas mudanças acontecerão a partir

do momento em que a sociedade se organizar e propuser um novo modelo, dentro de uma discussão

mais ampla no seio da sociedade.

O Secretário está consciente de que é preciso levar em consideração as diferenças regionais,

pois existe uma idéia pré-concebida de que a Região Norte do país apenas dá prejuízo para a Nação

e de que o resto do Brasil é que sustenta a Amazônia. Assim, o Secretário entende que a mobilização

para as mudanças deve vir dos movimentos sociais, com o objetivo de propor um modelo diferente de

desenvolvimento regional.

De acordo com o geólogo da CVRD responsável pela entrevista, Sr. Aroni Monteiro, a

mineração é uma atividade positiva para o município, pelo desenvolvimento que promove. No início

da implantação de Carajás, as casas eram de chão batido e não havia qualquer infra-estrutura na

cidade (“tudo atrasado”). Após a implantação do empreendimento, as ruas e os bairros melhoraram

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305

significativamente103. Para o geólogo, foi o Plano Diretor que não acompanhou o crescimento de

Parauapebas, pois ninguém previu o que iria acontecer em termos de infra-estrutura.

A CVRD intenciona apenas a manutenção (e não a expansão) do núcleo habitacional de

Carajás. A diretriz atual é investir em Parauapebas, uma vez que a maioria de seus funcionários vive

na cidade. A orientação da diretoria geral de CVRD é acabar com os núcleos habitacionais próprios

da empresa. A CVRD vai implantar uma extensão do departamento de recursos humanos no

município de Parauapebas, visando facilitar o acesso das famílias dos funcionários que necessitam

de assistência social da CVRD. A CVRD divulgou na mídia nacional que Parauapebas era o paraíso

do emprego, visando atrair profissionais, principalmente dos eixo Rio de Janeiro/ São Paulo /Minas

Gerais, pois a companhia considera que os profissionais de Belém não se adaptam à região. Dessa

forma, é muito importante investir na capacitação local. Isso está acontecendo agora, a partir dos

investimentos da CVRD em cursos de geologia e engenharia de minas, em Marabá, desde 2003.

Outros exemplos de “modelos” serão apresentados ao longo das próximas seções.

4.3.1.6 Mineração e pobreza, suas interrelações e complementaridades

Distinguir os indicadores-chave para medir as dimensões clássicas do

desenvolvimento sustentável e associá-los à dinâmica de um município de base mineradora

são objetivos deste estudo. No entanto, como destaca Sen (2000), ao analisar as liberdades

instrumentais, os indicadores do desenvolvimento humano se interrelacionam e se

complementam uns aos outros.

O Mapa 16, a seguir, por exemplo, associa analfabetismo a doenças infecto-

contagiosas nos municípios mineradores e não-mineradores.

103 O conceito de desenvolvimento do entrevistado tem o viés do progresso urbano – asfalto, prédios, casas, paisagismo etc. Enfim, ele enfatiza a mudança do aspecto físico e não na qualidade de vida das pessoas que habitam a região.

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Mapa 16: Associação entre analfabetismo e doenças infecciosas nos 15 maiores municípios mineradores do Brasil e entorno não-minerador Fonte: Elaborado com base nas informações do IPEA (IBGE) e DATASUS (Anexo 3)

Conforme verificado na seção 4.1.3, as maiores incidências de doenças infecciosas

estão no grupo dos municípios das regiões Norte e Nordeste (Gráfico A). No entanto, a

maior incidência individual dessas doenças ocorre em um município minerador da região

Norte do Brasil - Canaã dos Carajás (PA). Observando-se o Gráfico B, nota-se que os

mesmos municípios mineradores que registraram altos índices de doenças infecciosas são

também os que apresentam as mais elevadas taxas de analfabetismo. Esse grupo está

situado majoritariamente nas regiões Norte e Nordeste. Do lado oposto, os menores escores

de doenças infecciosas e de taxas de analfabetismo do grupo dos municípios mineradores

se localizam nas regiões Sul e Sudeste.

Tudo leva a crer, portanto, que os “efeitos regressivos da causação circular e

cumulativa da pobreza”, conforme destaca Myrdal (1972), persistem no Norte, enquanto que

os “efeitos propulsores centrífugos” se materializam no Sul.

Dois outros tipos de interrelação ocorrem entre pobreza e anos de estudo (Gráfico A)

e entre população ocupada e analfabetismo (Gráfico B), conforme o Mapa 17 seguinte.

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Mapa 17: Associação entre pobreza, anos de estudos, população ocupada e analfabetismo nos 15 maiores municípios mineradores do Brasil e entorno não-minerador Fonte: Elaborado com base nas informações do IPEA (IBGE) (Anexo 3)

A análise dos dados permite afirmar que.

• no Gráfico A é bastante nítida a relação inversa entre pobreza e anos de estudo.

Isto é, municípios que apresentam os maiores escores para anos de estudo têm

as menores proporções de pobres;

• os municípios com menos anos de estudos e maior proporção de pobres estão,

predominantemente, nas regiões Norte e Nordeste, e, em menor incidência, nos

entornos dos municípios mineradores das regiões Centro-Oeste e Sudeste;

• nas regiões Norte e Nordeste, com exceção de Ipixuna do Pará (PA) e Jaguarari

(BA), todos os municípios de base mineradora estão em melhor situação do que

os seus entornos;

• no Gráfico B, a relação entre educação e população ocupada também apresenta

uma tendência de ser inversa, porém em grau bem menos evidente do que a

forte associação registrada no Gráfico A. Ou seja, é certo afirmar que quanto

maior a taxa de analfabetismo, menor o nível de ocupação; no entanto, uma

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menor taxa de analfabetismo não garante, necessariamente, um maior nível de

ocupação.

• esse é o caso dos municípios de base mineradora das regiões Centro-Oeste,

Sudeste e Sul. Certamente essa característica é típica de economias com

atividade mineral.

Dessa forma, contata-se que os municípios mineradores crescem mais e têm maior

renda per capita que os municípios de seus entornos; porém, eles padecem do baixo nível

de ocupação populacional, não obstante o maior nível de desenvolvimento humano,

especialmente, nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Por que isso ocorre? O capital

institucional pode fazer diferença? A qualidade dos gastos públicos influencia nesse

desempenho de alguma forma? Teoricamente sim - há vários autores que defendem essa

idéia. Mas, nos municípios brasileiros pesquisados, isso se verifica na prática? As próximas

seções enfocam essas questões.

4.4 A DIMENSÃO DA GOVERNANÇA

Até este ponto do estudo, foi verificado que, pela perspectiva ambiental, a atividade

mineradora pode ser segmentada em duas fases: antes e após as os marcos regulatórios, o

aparato institucional e as exigências legais, bem como antes e após as crescentes pressões

internacionais a favor da conservação ambiental. Nos municípios de base mineradora é

mais evidenciada a institucionalização para tratar dos problemas ambientais do que no seu

entorno não-minerador. A partir das informações disponíveis, não foi possível associar a

mineração ao desmatamento na Amazônia e, tampouco, a doenças típicas de cidades de

base mineradora.

Do ponto de vista econômico, ficou nítido que os municípios de base mineira

crescem mais em termos de PIB per capita, de população e de receitas públicas. No

entanto, eles não se sobressaem quanto à variável população ocupada, muito embora aqui

ocorra uma distinção bem clara entre as regiões. Municípios das regiões Norte e Nordeste

apresentam um determinado padrão e municípios das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul,

outro. Porém, deixando à parte essas diferenças regionais, nos municípios de base

mineradora das regiões Norte e Nordeste a taxa de ocupação populacional é

proporcionalmente maior que nos municípios não-mineradores; nas demais regiões ocorre o

contrário.

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Do ponto de vista social, verificou-se também que os municípios de base mineradora

apresentam indicadores de desenvolvimento humano superiores aos do seu entorno, muito

embora, da mesma forma, verifique-se um componente regional muito forte. Parece ser

menor o nível de pobreza nos municípios de base mineira e todas as regiões. Entretanto, há

diferenças no que se refere à concentração de renda: entre os anos 1990 e 2000, ela

cresceu nos municípios das regiões Norte e Nordeste e nas demais regiões há indícios que

decresceu.

Apesar dessas caracterizações gerais há interrelações e complementaridades entre

os indicadores da mesma dimensão e entre estes e outras dimensões do desenvolvimento

sustentável. Dessa forma, foi possível identificar quatro padrões que foram denominados:

“crescimento perverso”, “concentração da renda com desocupação”, “repartição da pobreza”

e “crescimento com equidade”.

A dimensão “governança” faz parte do campo dos capitais intangíveis (BOISIER,

2002), das construções da mente humana, como destaca North (1990), e da comunidade

cívica (PUTNAM, 2000). Nesse sentido, há poucas variáveis consensuadas e disponíveis,

com “reduzido custo de transação” no acesso para estudá-la. Todavia, retornando a North,

“até mesmo o mais convicto economista neoclássico admite a existência delas e as

considera como parâmetros”. Nessa perspectiva, são apresentados alguns indicadores com

o objetivo de captar outras influências não-ecológicas e não-econômicas que possam

auxiliar na discussão do contexto institucional favorável ao surgimento de uma mineração

sustentável. Os indicadores disponíveis escolhidos para essa análise foram “eficiência da

gestão e adminsitração pública” e os “indicadores de dispêndios público”, conforme Anexo 2.

4.4.1 Eficiência da gestão da administração pública

Um indicador interessante como proxy para avaliar a dimensão da governança é o

número de funcionários públicos por habitante. O número total de funcionários públicos,

para o período 2001 a 2005, está disponível, por município, no site do IBGE. Esse dado

possibilita uma boa leitura da percepção da administração pública quanto à gestão do

patrimônio público, da responsabilidade fiscal e, indiretamente, daquilo que as

administrações públicas municipais consideram como meios mais adequados para

desenvolver o seu município.

Aumentos desproporcionais de funcionários públicos elevam as despesas de custeio

da máquina pública, limitam a capacidade de investimento, além de, muitas vezes, criarem

ineficiência administrativa. Por trás desse indicador há também todo um debate a respeito

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dos grupos que querem elevar a sua participação da renda, muito mais por intermédio das

transferências de recursos públicos do que de criação efetiva de novos valores (os

denominados rent seekings).

O Gráfico 36, abaixo, apresenta a variação do número de funcionários públicos dos

municípios de estudo por cada 1.000 habitantes, entre 2001 a 2005, período que coincide

com mudança de gestão administrativa (houve troca de prefeitos em 2004) e com o

aumento de arrecadação da CFEM e de outras contribuições oriundas do setor mineral,

como decorrência da fase ascendente dos preços das commodities minerais.

Vitória do Jari

Canaã dos Carajás

Parauapebas

CrixásIpixuna do Pará Paracatu

Mariana Jaguarari

Oriximiná

ForquilhinhaItabira

Rosário do CateteMinaçu

Santa Bárbara

-50%

0%

50%

100%

150%

200%

250%

300%

350%

0 10 20 30 40 50

Gráfico 36: Funcionários públicos por cada 1000 habitantes, nos municípios de base mineradora – variação 2001/2005 (%) Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros – Gestão Pública, 2001 e 2005

Entre os municípios de base mineira, chega a ser espantoso o aumento do número

de funcionários da prefeitura de Vitória do Jari (AP). No período 2001/2005, o contingente

passou de 148 para 807 e o número de funcionários por 1.000 habitantes cresceu de 16

para 73. A gestão pública local talvez possa argumentar que se trate de um município novo,

criado em 1997, que ainda está estruturando o seu quadro administrativo e organizacional.

No entanto, esse argumento é pouco consistente quando comparado aos dados similares

referentes a outros municípios instituídos no mesmo ano, como Canaã dos Carajás (PA),

que, apesar de ter aumentado bastante o seu contingente de funcionários públicos, teve

crescimento menor. Em Canaã dos Carajás, nesse mesmo período, o número de

funcionários para cada 1.000 habitantes passou de 35 para 65. Em outros municípios de

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criação recente, como Forquilhinha (SC), por exemplo, instituído em 1990, o número de

funcionários para cada 1.000 habitantes, no período 2001/2005, decresceu de 22 para 17,

muito embora a população tenha se expandido em 12%.

Os escores do Gráfico 36 são também muito similares aos escores de

desenvolvimento humano: os piores indicadores na parte superior do gráfico ficam com os

municípios das regiões Norte de Nordeste e os melhores ocorrem nas demais regiões.

Dessa forma, é importante separar os dois grupos para identificar as diferenças no interior

deles, conforme demonstra a Tabela 37.

Tabela 37: Funcionários públicos por 1.000 habitantes – média de 2005 e variação (2001/2005) nos municípios mineradores e não-mineradores do estudo

Municípios mineradores Municípios não-mineradores Estatística Norte e

Nordeste Demais Regiões Norte e Nordeste Demais Regiões

Crescimento percentual e funcionários municipais por 1.000/hab (média da variação 2001/2005)

97%34 (2001)55 (2005)

24%30 (2001)38 (2005)

32%30 (2001)38 (2005)

57% 27 (2001) 42 (2005)

– mínima 1% -25% -44% 1% – máxima 90% 69% 243% 90%

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados do IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros - Gestão Pública, 2001 e 2005.

No que diz respeito aos municípios não-mineradores, houve variação positiva nas

médias do indicador “funcionários públicos por 1.000 habitantes”, porém nada de

desproporcional. No período 2001/2005, ele passou de 30 para 38, em média, nos

municípios das regiões Norte e Nordeste, e de 27 para 42, nos municípios das demais

regiões. Assim, a taxa de crescimento desse indicador foi maior nesses últimos municípios.

Quanto aos municípios mineradores, o padrão regional é totalmente distinto. No

período em análise, os municípios das regiões Norte e Nordeste aumentaram o seu

contingente de funcionários públicos de 34 para 55 por cada 1.000 habitantes, em média.

Em 2005, o maior valor registrado foi de Rosário do Catete (SE), com 83 funcionários por

cada 1.000 habitantes, e o menor foi o de Ipixuna do Pará (PA), com 28.

Os municípios mineradores das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, em muitos

casos reduziram o seu contingente de funcionários para cada 1.000 habitantes. No período

2001 a 2005, esse indicador se elevou de 30 para 38, em média. Em 2005, o maior escore

ficou com Mariana (MG), com 48, e o menor com Forquilhinha (SC), com 17. Isso significa

que, distintamente das regiões Norte e Nordeste e, até certo ponto, contrariando o mito de

que municípios de base mineira são muito mais perdulários na sua política de gastos com

pessoal, os municípios mineradores das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul apresentam

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menor proporção de funcionários públicos para cada 1.000 habitantes de que seus entornos

não-mineradores.

Os municípios das regiões Norte e Nordeste poderiam alegar que têm muitos

funcionários porque a sua extensão territorial é também maior. Mas esse argumento não

encontra amparo nos fatos: Rosário do Catete (SE), que lidera o ranking com 83

funcionários por 1.000 habitantes, tem extensão territorial de 105 km2, enquanto

Forquilhinha (SC), com 17 funcionários para cada 1.000 habitantes, tem extensão de 294

km2.

Existe, pois, uma forte diferença entre os municípios das regiões Norte e Nordeste e

os das demais regiões. Portanto, não é possível generalizar os efeitos da atividade

mineradora descontextualizada de seu marco regional. Entretanto, é necessário distinguir as

diferenças no interior de cada região para desvendar quais contextos mais favorecem uma

mineração em bases sustentáveis.

Observando-se atentamente os indicadores até aqui apresentados, nota-se que os

melhores escores em termos de governança se concentram em torno de três ou quatro

municípios, com destaque absoluto para Itabira (MG). Os piores escores, por sua vez,

oscilam entre Vitória do Jari (AP) e Parauapebas (PA)

4.4.2 Eficiência no uso de receita e nas despesas públicas

As despesas públicas dos municípios mineradores vis-à-vis os municípios não-

mineradores estão, de alguma forma, associadas aos seus indicadores de

desenvolvimento? Pode-se afirmar que a mineração contribui favoravelmente para melhorar

a qualidade do gasto público, ou o contrário?

4.4.2.1 Interrelações entre dispêndios públicos e os indicadores do desenvolvimento

O Mapa 18 e os Gráficos A e B, mostram que anos de estudo se associam

inversamente com a pobreza, conforme discutido, e diretamente com os gastos per capita

com educação.

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Mapa 18: Associação entre anos de estudo, pobreza e despesa per capita com educação nos 15 maiores municípios mineradores do Brasil e nos seus entornos (2000 e 2003) Fonte: Elaborado com base nas informações do IPEA (IBGE) e Finbra (STN) (Anexo 3)

O Gráfico A reapresenta a relação inversamente proporcional entre pobreza e anos

de estudo. Essa é uma relação freqüente para o conjunto dos municípios estudados. De

uma forma geral, os municípios mineradores se situam em uma faixa intermediária, mas a

maior diferenciação é de natureza regional: municípios das regiões Norte e Nordeste, em

geral, têm menor número de anos de estudo e apresentam maior percentual de pobres. O

contrário do que ocorre em outras regiões.

O Gráfico B exibe uma associação que não é muito evidente entre gastos per capita

em educação semelhantes e resultados expressos em número de anos de estudo. Eles são

radicalmente distintos. As maiores disparidades ocorrem entre os municípios mineradores e

o seu entorno da região Norte. O município minerador de Vitória do Jari (AP), em 2000,

apresentou o mesmo número de anos de estudos de seu vizinho Mazagão (AP), 3,5 e 3,4

anos, respectivamente. No entanto, o seu gasto per capita em educação, cujo território é

seis vezes menor, foi quase o dobro do de Mazagão: R$ 312,00 e R$ 171, respectivamente.

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No Pará, embora apresente média mais elevada (de cinco anos) de anos de estudo

que o seu entorno, o município de Parauapebas tem um gasto per capita em educação

significativamente mais elevado (R$ 391) - Curionópolis, com 3,1 anos, tem gastos per

capita de R$ 137, Água Azul do Norte (R$ 110, para 2,7 anos) e Eldorado do Carajás (R$

177, para 2,9 anos). Nas regiões Sudeste e Sul, o padrão de gasto é diferenciado. Itabira

(MG) apresenta média de escolaridade de 5,9 anos e uma despesa em educação per capita

de R$ 192104, enquanto no seu entorno imediato Jaboticatubas (MG) tem média de 4 anos e

um dispêndio per capita de R$ 181.

Qual o fator responsável por essas diferenças? São apenas as diferenças regionais,

ou diferenças na base produtiva ou outro fator ligado ao capital social e à qualidade das

instituições?

O Mapa19, a seguir, associa aos municípios do estudo as seguintes variáveis: 1) no

Gráfico A, índice de Gini de concentração de renda (2000) e despesas com saúde per capita

(2003); 2) no Gráfico B, taxa de analfabetismo (2000) e gastos em investimento per capita

(2003); e 3) no Gráfico C, índice de renda (2000) e investimento per capita (2003).

104 Quando comparado com Parauapebas (PA) é gritante a diferença: um ano a mais de escolaridade e 50% a menos de despesa per capita.

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Mapa 19: Associação entre índice de Gini de concentração de renda (2000) e despesas com saúde per capita (2003), taxa de analfabetismo (2000), gastos em investimento per capita (2003); IDHM (2000) e taxa de participação nas eleições (2006) nos 15 maiores municípios mineradores do Brasil e seus entornos Fonte: Elaborado com base nas informações do IPEA (IBGE) e FINBRA (STN) (Anexo 3)

O Gráfico A mostra uma relação inversa entre despesa com saúde e concentração

de renda. Isto é, quanto maior o gastos com saúde, menor a concentração da renda. Isso

ocorre porque as despesas públicas com saúde representam um gasto evitado para as

populações de baixa renda, além de melhorarem as condições de vida e de produtividade

das pessoas, configurando-se, portanto, um meio de melhor distribuição de renda. Os

municípios azul anil têm baixo índice de concentração de renda e realizam razoáveis gastos

em saúde; são os municípios da região Sul e os mineradores Mariana (MG) e Santa Bárbara

(MG). Os municípios pink e verde claro têm razoável nível de concentração de renda e baixo

gasto em saúde; são os do entorno dos principais municípios mineradores. Os municípios

de cor amarela - Oriximiná (PA) e Crixás (GO) - têm indicadores razoáveis de concentração

de renda e de despesa com saúde. Os municípios verde escuro têm alta concentração de

renda e gasto razoável com saúde. Entre eles estão Corumbá (MS) e Paracatu (MG).

Chamam atenção os municípios de Parauapebas (PA), com gasto elevado em saúde, mas,

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da mesma forma, com elevada concentração de renda, e Itabira (MG) com elevado gasto e

relativamente baixo índice de concentração de renda.

O Gráfico B mostra a relação inversa entre taxa de analfabetismo e dispêndios

municipais declarados como investimentos per capita nas prestações de contas. Elas são

variáveis interdependentes: uma população mais culta exige melhores condições de infra-

estrura e melhores investimentos em infra-estrutura contribuem favoravelmente para o

acesso ao ensino. Todos os municípios da região Sul do Brasil, assim como os municípios

mineradores em geral, apresentam baixa taxa de analfabetismo. Entre os municípios

mineradores Parauapebas (PA) e Oriximiná (PA) se destacam com os maiores

investimentos per capita e Itabira (MG) é o que apresenta a melhor relação entre as duas

variáveis analisadas.

Finalmente o Gráfico C indica que existe uma relação direta entre o índice de renda

com os investimentos per capita. Novamente os municípios da região Sul são os maiores

escores no indicador renda, mas, como foi visto em diversas ocasiões, eles têm baixo

dinamismo econômico. Do conjunto de municípios mineradores, Itabira (MG), mais uma vez

se sobressai, exibindo a melhor relação entre crescimento da renda e investimento per

capita.

Conforme registrado em diferentes momentos, Itabira (MG), se destaca como

exemplo de município de base mineradora que tem logrado compatibilizar uma razoável

dinâmica de crescimento econômico com fortes indicadores de desenvolvimento, não

obstante o elevado passivo ecológico e cultural gerado no passado, mas cuja dívida já está

sendo compensada. Por esse motivo, vale à pena melhor conhecer o caso Itabira, conforme

a seguir.

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4.4.3 Desconstrução e reconstrução do capital social e institucional de Itabira105

Silva (2004) relata com riqueza de detalhes a história da Itabira, cidade histórica,

fundada em 1720, oficialmente criada em 1833, e a sua saga de desconstrução e

reconstrução pelas “mãos de ferro” da CVRD. Itabira não foge à regra de grande parte das

cidades mineradoras de Minas Gerais, pois a sua origem está ligada à busca pelo ouro, cujo

descoberta data de 1705.

[...] a história das povoações que tiveram origem na presença do ouro é sempre a mesma. Florescem enquanto as minas são fáceis de explorar; quando se esgotam, os habitantes retiram-se para outra parte [...] o ouro que retiram da terra só serve à prosperidade de estranhos, e seus descendentes ficam pobres (SAINT-HILAIRE, 2000, p. 137 apud SILVA, 2004, p. 40).

Talvez como poucos municípios mineradores, Itabira exibe abertamente as marcas

da mineração: na sua paisagem, nas suas ruas, na atmosfera que a cidade respira e no

estilo de vida do itabirano. Entretanto, Itabira logrou sustentar a sua estrutura econômica e

sociocultural, consolidando-se como uma cidade próspera. Silva descreve que, entre o final

do século XIX e o início do século XX, instalaram-se em Itabira duas indústrias têxteis: a

Fábrica Gabiroba (1897) e a Fábrica da Pedreira (1904) que funcionaram até o final da

década de 1960 e início de 1970, quando, segundo Silva, “não suportam mais os efeitos da

concorrência com a CVRD, pois lhes faltam condições de proporcionar aos seus

trabalhadores as mesmas vantagens oferecidas pela mineradora, como casa para morar,

quinze salários anuais, alimentação subvencionada, assistência médica e dentária”. (SILVA,

2004, p. 45).

Na primeira metade do século XX, Silva (2004) afirma que a cidade tinha quatro

jornais: “Correio de Itabira”, “Cidade de Itabira”, “O Tempo” e “A Itabira”. Na esfera cultural,

Itabira se destacava por seus grêmios e grupos de teatro, por importantes artistas plásticos,

além de ganhar notoriedade estadual pela qualidade de suas escolas. Silva acrescenta que

“o poeta Carlos Drummond de Andrade orgulhava-se de ter feito seus primeiros estudos em

Itabira, onde foram lançadas as primeiras sementes de sua obra poética”.

No início do século XX, se iniciou também uma pequena produção de ferro para o

abastecimento de mini-siderúrgicas locais. No entanto, a vida da cidade começou de fato a

mudar com a confirmação da existência de grandes jazidas de minério de ferro, em 1910. A

partir daí, um grupo de engenheiros ingleses formou o Brazilian Hematite Syndicate que se

apropriou das principais jazidas de Itabira. Anos depois, foi constituído a Itabira Iron Ore

105 Esta seção será em grande parte baseada no excelente trabalho de Silva (2004)

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Company que, por diversas razões, entre as quais a falta de capital para custear as obras

de infra-estrutura necessárias ao aproveitamento das jazidas, além das pressões de grupos

nacionalistas, não chegou a efetivamente a produzir. Com os “Acordos de Washington”, no

início dos anos 1940, as jazidas passaram ao domínio nacional e, em 1942, foi criada a

Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), com a missão de executar a tarefa da produção,

transporte e comercialização do minério de ferro de Itabira.

Esse episódio marcou o início de uma nova etapa para Itabira. Isso resultou na

desconstrução de boa parte do capital econômico, social e institucional acumulado e na

reconstrução de uma nova dinâmica, subordinada aos interesses de uma grande empresa.

A CVRD passou a dominar completamente toda a lógica socioeconômica da cidade. Silva

relata que,

[...] a cidade passa a gravitar em torno da CVRD, fortalecendo o poder da empresa e enfraquecendo o poder público municipal. Esse é sufocado pelas decisões superiores, nesse caso pelo Estado representado pela CVRD, empresa de capital misto, cujo acionista majoritário era o próprio Tesouro Nacional. As decisões sobre a cidade agora são tomadas em âmbito federal ou estadual, pois a extração de minério de ferro muda não só a paisagem, mas também a função urbana. (SILVA, 2004, p. 53).

Não obstante as dificuldades que a empresa enfrentou nos primeiros anos de sua

existência, com falta de capitais e técnicas, ela obteve um grande impulso em suas vendas

para o mercado internacional com o Plano Marshall (1947) e com os programas de

reconstrução econômica da Europa. Na medida em que a CVRD ia se afirmando, o seu

poder sobre a cidade ia crescendo.

Itabira foi adquirindo características de uma cidade “monoindustrial”, como a

segregação espacial e social, com o seccionamento da cidade em “privada106” e “púbica”.

Nesse sentido, o status de cada um depende da categoria do bairro onde reside. “Os

dirigentes, engenheiros e chefes, os ‘doutores’ da CVRD, relacionavam-se com os outros

moradores de maneira distante e se colocavam como superiores aos demais empregados

da mineradora”, diz Silva (2004). O desestímulo às atividades econômicas locais é uma

outra característica, por causa do mercado consumidor cativo e da concorrência desleal com

produtos subvencionados pela empresa. A formação de verdadeiras “aldeias industriais” é

outra: a mão-de-obra contratada pelas empreiteiras para as obras de infra-estrutura

permanece na cidade quando as obras terminam, aumentando a densidade populacional na

106 “Cidade privada” e “cidade pública” são denominações dadas por Braga e Ferreira (1997) apud Silva (2004, p.59) para designar os espaços ordenados de habitação funcionais da CVRD (vilas residenciais dos funcionários) e os espaços de expansão espontâneas dos demais habitantes da cidade.

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“cidade pública”. Além disso, ocorre forte dependência da arrecadação em relação a uma só

empresa.

Até os anos 1970/1980, fase do boom dos preços dos minerais, a CVRD era

apelidada de “Mãe Vale”.

[...] a ‘Mãe Vale”, protetora, investidora, realizadora e, sutilmente, dominadora. Isso repercute, sobretudo nas relações da empresa com a cidade, com os empregados e com os vários atores sociais, a ponto de imobilizá-los diante das questões locais, tais como destruição dos espaços simbólicos, descaracterização do centro antigo, favelização, aumento das desigualdades social, dentre outros [...] a hegemonia da CVRD é tal que seu domínio estende-se da mina ao poder público municipal e, historicamente, observa-se que em Itabira vários cargos legislativos e até mesmos executivos municipais são ocupados por empregados ou ex-empregados da CVRD”. (SILVA, 2004, p. 85).

Esse codinome, todavia, não é gratuito, pois, de fato, a CVRD investiu maciçamente

no município, principalmente em capital humano. No campo da educação, destacam-se

algumas ações:

• criação do Centro Técnico Interescolar (CENTEC), em 1970, com cursos

ministrados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Isso foi

fruto de parceria entre CVRD e a Fundação Itabirana Difusora de Ensino (FIDE);

• construção, manutenção e administração de três escolas da primeira à quarta

séries do ensino fundamental, em locais onde habitam funcionários menos

qualificados (salário indireto e estímulo à educação dos filhos dos funcionários);

• concessão de bolsas de estudos para crianças e adolescentes de sete à

quatorze anos;

• contratação de colégios particulares para oferecer serviços de ensino médio;

• apoio financeiro às instituições sociais tais como a Associação de Proteção à

Maternidade e à Infância de Itabira (APMII), tradicionalmente dirigida por esposas

de superintendentes da CVRD.

No campo da saúde, a CVRD investiu em construção e manutenção de novos

hospitais, como o Hospital Carlos Chagas, em 1975, e na reforma e modernização de

hospitais antigos, como o Hospital Nossa Senhora das Dores. Expandiu o credenciamento

de médicos e dentistas para os seus funcionários e os dependentes. Esses e outros

investimentos realizados paralelamente pelo Governo local, permitiram que Itabira

adquirisse expressividade na área da saúde em Minas Gerais.

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Todos esses benefícios nas áreas da educação e saúde, além de outros na área de

habitação, estavam inseridos nos estatutos da empresa. Antes da privatização da empresa,

em 1997, havia normas que determinavam um percentual mínimo de 8% do lucro líquido a

ser investido para o desenvolvimento socioeconômico nas suas áreas de atuação, nos

Estados de Minas Gerais e Espírito Santo.

Todavia, simultaneamente a esses benefícios em termos de capital humano, houve

um gradativo e profundo processo de destruição de capital cultural e natural do município,

conforme destaca Silva:

É instigante o apoio do poder público e da sociedade local ao processo de desconfiguração e reconfiguração do centro histórico, mesmo que esse processo tenha ocorrido em detrimento da paisagem simbólica da cidade. De certa maneira, há conivência da população e da administração municipal na destruição do patrimônio público/cultural e simbólico da cidade. Não há, nessa época, em Itabira e em outros lugares, consciência da importância de se preservarem esses imóveis. Tudo é justificado pela idéia e sentimento do progresso presentes naquele momento e ainda (...) a água usada no processo de beneficiamento do minério e as das chuvas precipitadas nas minas carregam rejeitos que se depositam a jusante dessas, formando imensas áreas assoreadas, muitas vezes localizadas próximas a bairros. Para conter os rejeitos , a CVRD constrói barragens de contenção que assoreiam, destroem estradas, vales, solos agricultáveis, área rurais e urbana” (SILVA, 2004, p. 95-96).

Itabira vivenciou também a fase da “Vale Madastra”, iniciada com os programas de

reestruturação produtiva que resultaram em demissões e crescente retirada de apoio

financeiro a pogramas sociais. Silva destaca que:

(...) a riqueza gerada pela mineração, durante todos esses anos, não se reverte em benefícios e investimentos em infra-estrutura urbana e produtiva na mesma proporção dessa riqueza. As relações de paternalismo vigentes nesse longo período de dominância da monoindústria sobre os ‘espaços’ da cidade inibem sensivelmente a consciência política, a organização e a mobilização da sociedade. Pode-se afirmar que isso teve papel essencial na expansão e no desenvolvimento da atividade mineral no município. (SILVA, 2004, p. 118).

Nos anos 1990, com a iminência da exaustão das jazidas e do processo de

privatização da empresa, a sociedade itabirana iniciou um despertar político depois de anos

de subserviência à grande empresa. Dois importantes marcos dessa nova fase foram: 1) o

movimento liderado pelo Clube de Dirigentes Lojistas de Itabira (CDL), em 1992, que

resultou no Plano “Itabira 2025”, visando iniciar um processo de diversificação econômica no

município, e 2) a mobilização popular de 1997, durante as reuniões e audiência pública para

o licenciamento ambiental da CVRD.

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Os debates e as negociações para a obtenção da licença operacional corretiva

(LOC) muito contribuíram para a mudança na estrutura sócio-ambiental de Itabira, por

possibilitar um maior estreitamento das relações entre a CVRD e a população local. Esse

processo resultou no estabelecimento de 52 condicionantes ambientais (vide BOX 5).

De acordo com Douglass North, a história é importante, não apenas porque podemos

aprender com o passado, mas porque o presente e o futuro estão inexoravelmente

conectados ao passado por intermédio das instituições da sociedade (NORTH, 1990).

Relatar a rica experiência de Itabira é importante, pois constata-se que no município já havia

um acúmulo de capitais intangíveis bem antes da presença da grande empresa. Mas,

embora condição necessária para garantir o desenvolvimento humano e social municipal,

esse acúmulo, por sí só, não é condição suficiente. Mariana (MG), por exemplo, é também

uma cidade histórica, fundada antes mesmo de Itabira, e certamente de longa tradição

cultural. No entanto, os diversos indicadores mostram que o desempenho deste município

sempre esteve aquém do de Itabira. A ação da CVRD possivelmente tenha sido importante

para o fomentar o capital humano no município – educação e saúde, fundamentalmente –

além de sua influência política, no sentido de definir as “regras do jogo” em torno de valores

associados à criação de valor e de produtividade.

Silva (2004) deixa transparecer em sua obra os sentimentos contraditórios da

população de Itabira em relação à CVRD: ressentimento, pela dependência econômica e

pelos impactos socioambientais gerados em todos esses anos de extração mineral; e

reconhecimento da importância da empresa para a economia local e para a expansão do

capital humano do município (ponto que Silva não explora muito bem).

Conforme atestado pelos diferentes indicadores apresentados, Itabira é um dos

municípios de maior expressão entre os municípios mineradores do Brasil e entre os

próprios municípios mineradores de Minas Gerais, quando comparada com o seu entorno

não-minerador (Mapas 20, 21 e 22). Nesse sentido, não se pode menosprezar o legado que

a CVRD deixou para o município.

O Mapa 20, a seguir, focaliza apenas os municípios mineradores e os seus entornos

no estado de Minas Gerais e associa as variáveis IDHM (2000), população ocupada (2000),

anos de estudo (2000) e funcionários municipais por cada 1.000 habitantes (2001).

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Mapa 20: Municípios mineradores selecionados de Minas Gerais e os seus entornos não-mineradores: IDHM (2000), população ocupada (2000), anos de estudo (2000) e funcionários municipais por cada 1.000 habitantes (2001) Fonte: Elaboração própria a partir da bese de dados do Anexo 3

Em termos de IDHM, os municípios de base mineradora em MG estão bem acima de

seus entornos. A exceção é Unaí e, em parte, Nova Era, que ficam ligeiramente abaixo de

Itabira, mas acima dos outros. Destes municípios, Itabira se destaca com o maior IDHM.

Itabira apresenta a melhor relação IDHM e população ocupada (Gráfico A). No

entanto, essa relação cai quando se considera a população ocupada como porcentagem da

população total (Gráfico B), mas, mesmo assim, Itabira perde apenas para Unaí.

Considerando-se somente a população ocupada, Itabira está à frente de Santa Bárbara e

bem próxima de Mariana e Paracatu. Outros municípios que apresentam maior proporção

de população ocupada por habitante são municípios de menor densidade populacional e

que têm menores escores de IDHM.

O Gráfico C associa anos de estudo e funcionários municipais por cada 1.000

habitantes. Itabira também se destaca como o município com maior número de anos de

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estudos e com a menor relação de funcionários por habitante, o que sugere alta eficiência e

produtividade a administração pública municipal.

O Mapa 21, abaixo, da mesma forma que o anterior, se foca nos municípios

mineradores e nos seus entornos, em Minas Gerais. Ele associa doenças infecciosas

(2003), doenças respiratórias (2003), despesa com saúde per capita (2003) e participação

nas eleições (2006).

Mapa 21: Municípios mineradores selecionados de Minas Gerais e os seus entornos: doenças infecciosas e respiratórias (2003), despesa com saúde per capita (2003) e participação nas eleições (2006) Fonte: Elaboração própria a partir da bese de dados do Anexo 3

Em Itabira, as minas estão praticamente dentro da cidade, nesse sentido há diversas

denúncias de que são muito elevados os índices de doenças respiratórias no município. É

possível que isso tenha ocorrido no passado, provavelmente antes antes da LOC, porque os

estudo do LPAE/FMUSP, de 2003, assim como os dados de doenças de 2005 do DATASUS

não confirmaram isso. O Gráfico A, que relaciona doenças infecciosas e doenças

respiratórias, revela que Itabira é o município com a menor incidência de doenças

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infecciosas. Dos 13 municípios do estudo, apenas quatro têm incidência de doença

respiratória inferior a Itabira. A maior incidência de doenças respiratórias foi registrada no

município de Piranga, que fica ao sul de Mariana; e a menor, em Nova Era, ao sul de Itabira.

O bom desempenho dos indicadores de saúde de Itabira está certamente

relacionado à quantidade e à qualidade do gasto público (Gráfico B). Itabira é o município

que realiza o maior gasto per capita com saúde do universo pesquisado, muito acima dos

outros municípios de base mineira e, mais ainda, do seu entorno. Será mera coincidência

que Itabira tenha também o maior índice de participação nas eleições? (Gráfico B).

O Mapa 22 seguinte, associa concentração de renda (índice de Gini de concentração

de renda, 2000), PIB per capita (2000), Conselho Ambiental ativo (2002), Áreas reservadas

municipais (2002), percentual de pobres (2000) e gastos com investimento (2000).

Mapa 22: Municípios mineradores selecionados de Minas Gerais e os seus entornos: índice de Gini de concentração de renda (2000) , PIB per capita (2000), Conselho Ambiental ativo (2002), áreas reservadas municipais(2002), percentual de pobres (2000), gastos com investimento (2000) Fonte: Elaboração própria a partir da bese de dados do Anexo 3

O Grafico A não revela uma relação direta entre o crescimento do PIB per capita e a

concentração de renda. A renda mais concentrada ocorre em um município não-minerador

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(Unaí). Entre os municípios que apresentam o maior PIB per capita, Itabira é o de menor

concentração de renda, superado apenas por três municípios não-mineradores. Entre os

municípios que apresentam Conselho Ambiental ativo (se reuniu nos últimos 12 meses

antes da pesquisa) – Gráfico B – Itabira é o que tem mais áreas reservadas municipais

(sete). Finalmente, no Gráfico C, Itabira também se destaca como o município que

apresentou o menor percentual de pobres e o maior gasto com investimento.

Ainda seria possível listar uma série de outros indicadores que revelam a

superioridade do desempenho de Itabira (MG), tanto em relação ao seu entorno imediado,

quanto em comparação aos outros municípios mineradores selecionados de Minas Gerais.

No entanto, o que foi apresentado até aqui nos parece ser suficiente para dar uma idéia do

destaque desse município entre os grandes municípios mineradores do estado de Minas

Gerais.

Os indicadores apresentados evidenciaram que não é possível analisar o impacto do

setor mineral no desenvolvimento de um município descontextulazido de seu marco de

referência regional. Os indicadores de governança e o caso de Itabira (MG) permitem

especular que os impactos positivos da mineração funcionam melhor em contextos que já

têm prévio acúmulo, e a recíproca é também verdadeira, ou seja, em contextos de frágil

governança e de baixo acúmulo de capital humano são mais limitadas as possibilidades de

aproveitar os impactos benéficos da mineração. Nesse sentido, é óbvio que municípios mais

antigos e com maior tradição como os do Cantro-Sul do país levam grande vantagem em

relação aos jovens municípios da região Norte. Contudo, não é tão óbvia a diferença que

ocorre no interior de um determinado contexto regional. O que explica as diferenças entre

Itabira (MG) e Mariana (MG) e entre Rosário do Catete (SE) e Ipixuna do Pará (PA)?

Quando melhor focada, essas diferenças se voltam para o patrimônio de capital humano e

institucional acumulado previamente à atividade mineradora. No entanto, para a

manutenção e expansão desse capital a ação empresarial (apoiando atividades que

fortaleçam o capital humano e institucional) juntamente com a política pública local (não

caindo na armadilha do caixa único) são fundamentais, o caso de Itabira é emblemático por

isso.

O Capítulo seguinte trata de um aspecto de importância crucial para o

desenvolvimento de regiões de base mineradora, que é política minerária, mais

espeificamente, sobre os royalties da mineração, enquanto instrumento de política que pode

ser usado para fins de desenvolvimento regional. Ele apresenta a base conceitual e relata

experiências de alguns países de base mineradora.

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5 ROYALTY MINERAL COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA MINERÁRIA

Este capítulo trata da definição de renda mineral e de tributação minerária, com

ênfase nos royalties minerais. Ele discute os tipos de royalties, a sua base de incidência e

os níveis de cobrança. Apresenta a legislação da CFEM e as linhas gerais das políticas de

royalties de alguns países selecionados. O seu objetivo é traçar um quadro conceitual de

referência para refletir sobre os limites e as possibilidades do uso da CFEM como

instrumento de política minerária para fins de desenvolvimento regional ou local.

5.1 RENDA MINERAL E TRIBUTAÇÃO MINERÁRIA

A atividade mineral talvez seja um dos segmentos da economia mais sensível ao

movimento cíclico dos negócios. Essa natureza impõe limites à política tributária mineral. Se

o preço do bem mineral está na fase descendente do ciclo, é provável que uma elevada

carga tributária inviabilize um empreendimento em operação, bem como desestimule novos

investimentos no setor. Se, por outro lado, os preços estão em fase de ascensão, é provável

que as receitas geradas pela tributação minerária fiquem aquém da expectativa dos

governos e que eles procurem meios de elevar a sua participação nos resultados

crescentes.

Historicamente, a política tributária tem reagido com defasagem ao movimento dos

preços dos minerais. Durante os anos 1980, os preços das principais commodities estavam

em declínio; conseqüentemente, o nível dos investimentos minerais também sofreu

desaceleração. Esse movimento induziu à reavaliação da política tributária de muitos países

e resultou em redução generalizada na carga tributária mineral média. Com o aumento

gradativo dos preços, a partir do final dos anos 1990 (Gráfico 37), o que os indicadores

revelam é o aumento dos lucros das empresas, possibilitado tanto pela alta da margem

como pela redução da carga tributária.

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0,0

50,0

100,0

150,0

200,0

250,0

300,0

350,0

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

alumínio zinco chumbo cobre estanho níquel Gráfico 37: Índice de preços dos metais – 1998/2006 (1998=100) Fonte: Elaboração própria a partir de informações do DNPM (Economia Mineral)

As regiões mineradoras que concederam subvenções e incentivos no ciclo

descendente, visando compensar as perdas decorrentes da queda dos preços na fase

expansiva dos preços dos minerais, tentam recuperar a contribuição tributária que ficou

corroída, porém precisam enfrentar a resistência do segmento minerador, que passou a

contabilizar lucros mais robustos (BOX 10).

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BOX 10 - Exemplo de relação preço dos minerais, lucro e imposto

Nesse contexto, compreender os limites e os desafios atuais da política tributária

mineral é condição básica para se discutir as possibilidades de uso da renda mineral

enquanto um instrumento capaz de fazer a ligação entre a atual geração que terá os seus

recursos minerais exauridos e as gerações futuras que poderão contar com outras

possibilidades que compensem o esgotamento mineral. Portanto, nesta parte do estudo,

será feito um breve resgate teórico dos conceitos e visões sobre tributação minerária e

descentralização fiscal da mineração.

Figura A: Elevação do índice de preços dos minerais

Figura B: Redução dos Impostos e Royalties

Figura C: Elevação do Lucro Líquido

Fonte:Minerals Council of Australia (Minerals Industry Survey Report, 2005 )

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5.1.1 Conceito de Tributação Minerária

Para Otto (2001), a tributação é o meio pelo qual o capital privado é transformado em

capital público para o benefício e uso de toda a sociedade. Mas a questão da eficiência do

gasto público é controversa (BOX 11).

BOX 11 - Eficiência gasto público versus gasto privado

No primeiro semestre de 2006, os EUA isentaram as companhias petrolíferas, sediadas no

país, do pagamento dos royalties. Pelo acordo da não-bitributação, as companhias dos EUA que já são tributadas em outros países estão isentas de pagarem tributos nos EUA.

Qual a visão teórica que dá suporte a essa ação? De acordo com a percepção da corrente ortodoxa do pensamento econômico, que prevalece nos países centrais, o gasto público é sempre ineficiente. Assim, como o imposto representa uma transferência de recursos do setor privado para o setor público e, como o setor público gasta mal, do ponto de vista da eficiência econômica, é bem melhor que o setor privado fique com a maior parcela possível de renda, já que o seu gasto é eficiente. Dessa forma, a renda mineral produz melhores resultados econômicos para a sociedade, em termos de emprego e geração de renda. Essa interpretação, todavia, ignora que o setor público produz bens públicos que têm natureza oposta aos bens privados, uma vez que são não-exclusivos (o consumo de A não exclui B da possibilidade de consumi-lo), não-rivais (o consumo de A não compete com B), portanto, desinteressantes de serem ofertados pela iniciativa empresarial.

Fonte: elaborado pela autora a partir de entrevista com o professor Joshua Farley (Universidade de Vermont), em maio de 2006, em Curitiba (PR), durante o Evento da COP -08.

De acordo com Parsons (1998), há diferentes percepções de “tributação minerária”.

Os governos normalmente a definem, de forma literal, como o imposto da renda que é

gerado pela atividade mineral, ou pelos royalties e outras formas de impostos pagos pela

mineração. Para as companhias mineradoras, a tributação minerária é a parte da produção

que vai para as mãos do governo. Para Makenzie & Doggett (1996), a realização da riqueza

mineral potencial de uma economia é particularmente sensível à forma pela qual a política

pública estabelece a divisão de custos e benefícios entre a indústria e o governo. A

tributação minerária é a chave determinante desta troca (trade-off). Já para Winfiel et al.

(2002), o sistema de tributação mineral tem que se mover em direção à internalização das

externalidades ambientais e dos custos sociais associados à extração mineral.

De acordo com Otto (2001), há três importantes tarefas a realizar para o desenho de

uma política tributária mineral:

1) determinar os tipos de impostos que serão cobrados;

2) definir os níveis e a base de cálculo para cada tipo de imposto;

3) eleger a(s) esfera(s) de governo responsável(eis) pela arrecadação.

De acordo com o autor, os dois primeiros tópicos têm sido muito bem explorados e

relatados, porém o terceiro é tema de discussão corrente, por causa do crescente interesse

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em assuntos relativos à descentralização fiscal, tanto por parte dos que elaboram as

políticas, quanto dos investidores e das agências multilaterais. A descentralização é

particularmente complexa porque tem uma íntima relação e é politicamente sensível a

questões relativas com a distribuição de renda.

5.1.2 Tipos de tributação incidentes sobre o setor mineral

Com o objetivo de discutir a questão da descentralização fiscal, Otto (2001)

apresenta os diferentes tipos de impostos que incidem sobre a mineração e que têm sido

utilizados pelas economias mineradoras (Tabela 42).

Tabela 38: Tipos de impostos e sua compatibilidade com a descentralização fiscal esfera de governo

tipo de tributo/taxa nacional estadual/

provincial local

1) imposto de renda baseado em lucro s p n 2) imposto de importação s n n 3) imposto de exportação s n n 4) royalty (com base no lucro) s p n 5) royalty (ad valorem) s s p 6) royalty (por unidade) s s s 7) royalty arrecadado nacionalmente e %

distribuído s s s

8) taxas de licenças s s s 9) aluguel de superfície ou taxas pelo uso da terra s s s 10) impostos sobre empréstimos, serviços e

dividendos. s n n

11) imposto sobre valor adicionado sobre bens e serviços

s p n

12) impostos sobre vendas e excise tax s p p 13) impostos sobre legalização de títulos s s s 14) imposto sobre a propriedade s s s 15) imposto sobre a folha de pagamentos s p n 16) sobretaxas s s s 17) taxas sobre uso de facilidades ou recursos s s s

(s) sim, bem adequado; (p) possivelmente adequado; (n) não há uma boa adaptação Fonte: Otto (2001, p. 9)

Otto (2001) analisa a pertinência de cada imposto em relação a vários níveis de

governo – federal, estadual/ provincial/ departamental/territorial e local/ municipal. Ele

conclui que praticamente todos os tributos podem ser de competência federal, mas o

mesmo não ocorre com a esfera municipal. As razões disso estão relacionadas à natureza

da mineração que é intensiva em capital e de elevado risco, e pelas dificuldades de as

esferas locais lidarem com as necessidades do setor. Para Otto (2001) os royalties, por

excelência, são os que melhor se adaptam a todas as esferas de governo, desde o nível

federal até o municipal, que é o nosso foco. Dessa forma, será dado um destaque especial

para o sistema de royalties minerais.

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5.1.3 O que são royalties minerais?

A palavra royalty deriva de realeza, aquilo que é de propriedade do rei. Portanto,

etimologicamente royalty significa um pagamento pelo uso de bens ou serviços que

pertencem à coroa, ou ao governo. São três os princípios mais adotados para a cobrança

dos royalties sobre os bens minerais:

1) é o pagamento pelo uso de recursos de terceiros, os quais podem ser de

propriedade do Estado ou de um particular. A partir desse entendimento, não deve

haver vínculo entre o pagamento de royalty e o resultado financeiro de quem explora

o recurso. No caso das atividades mineradoras, é a extração do bem mineral o fato

gerador para o pagamento de royalty, independentemente de o produtor obter, ou

não, lucro;

2) é a expressão da renda mineral (mineral rent). As minas, assim como as terras

agricultáveis, proporcionam resultados diferentes, ou seja, os mesmos recursos de

capital, de tecnologia e de pessoal aplicados em diferentes minas proporcionam

retornos distintos, em função das diferenças de qualidade entre as jazidas

(localização, teor, facilidade de extração etc.), o que gera a denominada “renda

mineral”. Portanto, o royalty deverá ser pago como conseqüência de uma renda

muito acima da considerada “normal”. Tilton (2004) acrescenta que as jazidas são

resultantes de fenômenos geológicos que as formaram em milhares de anos. A

renda ricardiana107 associada a esses depósitos, por direito legítimo, pertence à

população de onde está localizada essa jazida. Portanto, cabe ao Estado captar

essas rendas para distribuí-las aos seus cidadãos;

3) é o pagamento pelo custo de oportunidade (user cost) de um recurso exaurível. Por

ser um recurso não-renovável, os bens minerais estão sujeitos a um custo de

oportunidade, o que gera uma renda de escassez, ou seja, uma renda que decorre

da natureza finita do bem mineral. Isso significa que quanto mais escasso, maior o

custo de oportunidade de uso do bem mineral. Tilton (2004) agrega que os recursos

minerais são intrinsecamente valiosos por serem não-renováveis. Por causa disto,

toda vez que um recurso é explotado, ele está sujeito a um custo de oportunidade,

em vez de ser poupado para o futuro. Os tributos devem assegurar que as

companhias mineiras compensem o Estado e o público pelo uso destes ativos não-

renováveis.

107 Relativo à teoria da renda da terra de David Ricardo, formulada no século XIX.

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Em termos práticos, o primeiro argumento é o mais adotado para pagamento de

royalties. No caso de a propriedade ser pública, é o governo o detentor dos direitos sobre

esses royalties. No caso de propriedade privada, são os particulares que detêm tais direitos.

Os royalties do governo são rendas públicas que não têm natureza tributária, pois não são

imposições do Estado, e sim contraprestações que o particular deve pagar pela obtenção de

um direito de extrair um recurso natural não- renovável. O segundo e o terceiro argumentos,

embora bastante debatidos teoricamente, ainda são de pouca penetração no âmbito

concreto das políticas públicas, pelas dificuldades práticas de sua operacionalização.

Tilton (2004) acrescenta que muitas companhias mineiras não pagam tributos

suficientes. Grande parte da riqueza criada pela mineração permanece com as empresas,

por conseguinte, muito pouco se direciona ao Estado, para promover o crescimento e o

desenvolvimento econômicos.

Partindo da concepção de renda de David Ricardo108, Henry George (apud TILTON,

2004) discute que o conceito é o mais apropriado para se propor uma política de royalties,

porque:

• taxar a renda é a melhor alternativa tributária, porque ela não altera o

comportamento dos agentes econômicos, uma vez que não provoca distorções

na alocação dos fatores produtivos, ou seja, não altera os preços relativos e,

portanto, não provoca ineficiências na economia109;

• em contraste, a tributação sobre salários, lucros ou juros provoca sérias

distorções sobre o sistema econômico;

• a tributação sobre a renda é muito mais justa.

5.1.4 As bases de incidência para a cobrança dos royalties

Baldwin (2003) faz uma ampla análise sobre os tipos de royalties minerais, com

enfoque para os adotados nos Estados Unidos. O autor parte do resgate do “teorema da

108 De forma análoga à sua teoria da renda da terra, a teoria sobre a renda das minas de David Ricardo parte do princípio que “os metais, assim como outros bens, são obtidos pelo trabalho” A mina marginal não paga renda. “As minas, como a terra, geram normalmente uma renda a seus proprietários, e essa renda, como a terra, é o efeito e não a causa do elevado valor de seus produtos”. (RICARDO, 1982, p. 75). Os minerais estão sujeitos à variação de preços como outra mercadoria qualquer. Essa variação depende da quantidade de trabalho necessária para sua extração. Nesse processo a adoção de máquinas e equipamentos pode reduzir a quantidade de trabalho e, dessa forma, aumenta a sua produtividade resultando em queda dos preços. A descoberta de novas jazidas e o esgotamento de minas também contribuem para a variação dos preços. 109 Essa idéia é bem antiga e remonta à tese dos fisiocratas sobre a taxação da renda da terra, cuja apropriação era da classe proprietária.

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avaliação do royalty”, segundo o qual, quando uma compensação, abrigada por contrato, for

baseada em uma porcentagem fixa do valor de algo, haverá uma tendência, em cada uma

das partes envolvidas, ou de minimizar ou de maximizar tal valor. Em outras palavras, todo

royalty pode ser expresso como:

% (a - b), onde:

"a" é o agregado sobre o qual deve incidir o cálculo do royalty e;

"b" é o agregado de todas as deduções permitidas para esse cálculo.

Portanto, segundo o teorema, o operador é instigado a minimizar "a" e maximizar "b",

enquanto o proprietário, que tem direito ao royalty, adota o procedimento de maximizar "a" e

minimizar "b". Ou seja, o teorema demonstra que há um conflito de interesses inerente à

política de royalties.

De acordo com Baldwin (2003), há três tipos mais comuns de royalties sobre os bens

minerais: 1) royalty baseado na taxa de retorno do smelter. 2) royalty baseado no lucro

líquido. 3) royalty sobre o resultado bruto.

1) Royalty baseado no retorno líquido do smelter (net smelter return royalty) - é

calculado sobre a quantia recebida pela venda do produto mineral que vai para a

planta de tratamento e que é conhecido como “valor na boca da mina”. Uma vez na

planta, o mineral bruto é convertido em mineral ou metal comerciável. Do total

recebido, pode haver deduções para certos tipos de custos de beneficiamento

incorridos depois que o produto deixar a mina e antes de venda, como os custos de:

transporte, seguro ou segurança, multas, amostras e testes, fundição, refino e

marketing, mas nenhuma dedução é permitida para os custos operacionais

realizados no complexo mina/moagem.

2) Royalty baseado no lucro líquido (net profit interest royalty) – é calculado como

uma percentagem da renda monetária percebida pela venda da produção mineral,

depois da dedução de todas as despesas realizadas para produzir tal renda.

3) Royalty sobre o resultado bruto (gross overriding royalty) – este tipo de royalty é

originário da indústria de petróleo e gás e atualmente tem sido bastante adotado na

indústria de diamantes brutos e de metais preciosos. É a forma de recolhimento

menos usual, porém é a de mais fácil adoção, pela simplicidade que oferece, uma

vez que seu cálculo é feito sobre o valor bruto da venda sem qualquer dedução. Este

tipo de royalty pode ser adotado em minas que produzem commodities como o

petróleo, que podem ser vendidas sem alterações de suas características básicas.

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Para bens minerais que necessitam passar por alterações antes de sua venda, os

tipos de royalties mais adotados são o (1) e o (2). É o caso, por exemplo, do ouro, cujo custo

do refino e do smelter reduz sensivelmente a parte do proprietário do bem mineral.

5.1.5 As bases de incidência da tributação minerária

Para a determinação da base de incidência e das alíquotas da tributação minerária,

dependendo do tipo, há uma grande diversidade de variáveis a serem consideradas, tais

como:

• receita bruta das vendas.

• resultado financeiro (escalonado de acordo com o valor).

• volume da produção (escalonado de acordo com a quantidade).

• valor da produção (independente das vendas).

• exportação do bem mineral.

• importação do bem mineral.

• valor agregado pela produção minerária.

• utilização do solo.

• utilização do subsolo.

• outras.

Isso demonstra que não há uma única, ou uma melhor, base de incidência que seja

universalmente aceita para a cobrança de royalties. Em princípio, todas têm legitimidade,

portanto, a base a ser usada dependerá do arranjo da política minerária de cada jurisdição.

5.1.6 Diferentes níveis de cobrança dos tributos

A propriedade dos recursos minerais varia de nação para nação. A partir da

perspectiva do proprietário desses recursos, há um forte argumento para que os tributos

sobre eles incidentes sejam usufruídos pelo detentor dos direitos minerários. Entretanto,

conforme destaca Otto (2001), na vasta maioria dos países, os recursos minerais são de

propriedade dos Estados (ou dos cidadãos coletivamente). Assim, é o governo nacional, em

grande parte das instâncias, que impõe e arrecada os royalties minerais.

Em função do elevado risco (pelo razão do longo tempo de maturação) e da natureza

capital-intensiva, a atividade mineradora, em praticamente todos os países, também recebe

diversos tipos de subvenções, incentivos e deduções para o cômputo da renda tributável,

tais como: despesas com pesquisa e exploração, custo para o desenvolvimento da mina,

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despesas com importação de equipamentos e com compras locais, despesas com

exportações, compensações por mudanças periódicas nos preços das commodities,

despesas pós-produção, negociação de acordos, entre outros. Segundo Otto (2001), a

operacionalidade desses incentivos pode ser prejudicada, no caso de haver diversos níveis

de cobrança dos tributos. Esses são os principais argumentos para que a cobrança seja

realizada na esfera federal.

Por outro lado, questões referentes à eqüidade distributiva (juntamente com o debate

sobre o desenvolvimento sustentável e a mineração), à crescente importância dos grupos de

interesse (stakeholders) e às pressões das comunidades diretamente afetadas pelas

práticas da mineração, têm motivado a revisão dos sistemas tributários de muitas nações,

com vista a promover uma partilha mais justa dos benefícios da mineração entre as distintas

esferas de governo. Alguns críticos argumentam, todavia, que promover a descentralização

é apenas “substituir a indiferença pela incompetência”. (DILLINGER, 1991, p. 29 apud

MIKESELL, 2003, p. 9).

Mikesell (2003) alerta que uma administração fiscal centralizada pode proporcionar

uma alta qualidade de serviços a baixo custo para os governos sub-nacionais, mas que isso

pode significar perda de transparência e de responsabilidade pública pela política tributária e

ainda gerar atrasos na liberação dos orçamentos, além de reduzir a autonomia local.

Bahl (1999) enumera as regras que devem ser seguidas para a promoção de uma

boa política de descentralização fiscal, em geral. Uma das mais importantes é iniciar pelo

reconhecimento dos custos e benefícios a ela associados. A principal vantagem da

descentralização fiscal é favorecer a aproximação dos governantes com as suas bases,

além de promover maior mobilização de receita e, conseqüentemente, inovação na atividade

econômica, entre outras. No entanto, o autor alerta que a descentralização deve ser vista

como um sistema abrangente. Deve haver uma forte capacidade para monitorá-la

centralmente e avaliá-la periodicamente. Requer, por parte do governo local, um significativo

esforço fiscal e deve se manter dentro de limites orçamentários restritos, entre outras regras.

5.1.7 A Tributação mineral ao longo da cadeia produtiva

Outros aspectos importantes da tributação mineral se referem à sua distribuição ao

longo da cadeia produtiva e de como os países que estão em diferentes estágios de

desenvolvimento participam dos resultados da mineração (BOX 12).

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BOX 12 - Representação esquemática da cadeia produtiva mineral

Economias Periféricas e /ou emergentes

Economias Centrais

Figura A: Representação das etapas evolutivas da cadeia produtiva mineral, de acordo com o nível de desenvolvimento dos países.

A Figura A é uma representação da cadeia produtiva do setor mineral. À medida que ela se adensa, passando para as etapas mais avançadas do processo produtivo, maiores e mais complexas são as atividades complementares, em termos de demandas por serviços, de apoio de instituições financeiras, de atividades de comunicações, de apoio institucional e de suporte da ciência e tecnologia, entre outras, necessárias ao bom desempenho do setor.

As economias periféricas enfrentam muitos problemas para alcançar etapas mais avançadas e acabam se concentrando nos primeiros elos da cadeia produtiva. As economias centrais, por sua vez, têm se beneficiado muito mais dos últimos elos, uma vez que a mineração já se diversificou para outras etapas mais avançadas e com maior nível de agregação de valor. Nessas últimas etapas, também se multiplicam empresas complementares e prestadoras de serviços especializados, o que é benéfico para a criação de mais emprego e geração de renda. São dos últimos elos da cadeia produtiva que provêm a maior parte dos tributos pagos.

As economias centrais adotam também políticas de estímulo à produção nos primeiros elos, com o objetivo de garantir fornecimento de matéria-prima aos elos subseqüentes. Essa ação provoca reduzidos retornos fiscais, por causa das subvenções, incentivos e outras formas de estímulos para que os preços não se elevem.

O mercado de bens minerais é concorrencial. Portanto, variações na carga tributária nem sempre resultam em aumento de preços, o que pode significar redução da margem de lucro. Nesse sentido, há uma tendência para a redução dos benefícios tributários incidentes sobre a etapa extrativa da mineração. Assim, regiões que estão posicionadas nos primeiros estágios da cadeia produtiva estão pressionadas, de um lado, pela dificuldade de ampliar a sua parcela na renda mineral e, de outro, pelo aumento da concorrência em torno do estímulo ao crescimento da produção, que é dado pelos países ricos.

Fonte: Elaboração da autora

indústria extrativa mineral – 1ª.

tindústria de transformação mineral – 2ª

t

transformação de semi-acabados -3ª.

tsistemas financeiros

instituições científicas e tecnológicas sistemas de

comunicação e marketing

empresas prestadoras de serviços

instituições públicas

elaboração de produtos finais

novas empresas prestadoras de serviços

outras empresas prestadoras de serviços

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5.1.8 Os royalties da mineração no Brasil – a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM)

A Figura 10 abaixo apresenta, de forma sintética, os dispositivos legais que

regulamentam a CFEM, bem como, nos destaques, os aspectos relevantes que necessitam

ser observados para uma avaliação deste instrumento.

Constituição de 1988

Art. 20 § 1º assegura direito de participação dos Estados, Distrito Federal, Municípios e órgãos da Administração Federal Direta no

resultado da produção mineral

Regulamentação - Dispositivos Legais

• Lei no 7.990/89 – instituiu a CFEM • Lei no 8.001/90 – definiu “receita líquida”, alíquotas e os

percentuais de distribuição da CFEM • Decreto no 1/91 – regulamentou o pagamento da CFEM • Portaria MME no 6/91 – aprovou a guia de recolhimento • Portaria MME no 6/92 – aprovou o modelo de recolhimento e

firmou o protocolo de intenções com o Banco do Brasil • Emendas Constitucionais n.1/94 e 10/96 – instituíram o

Fundo Social de Emergência, que se transformou em Fundo de Estabilização Fiscal e atualmente se denomina Desvinculação da Receita da União (DRU) – que desvinculou 20% da arrecadação do CFEM para a o Fundo

• Lei no 8876/94 – transformou o DNPM em Autarquia e dispôs sobre a sua função de fiscalizar e cobrar o recolhimento da CFEM

• Lei no 9.993/00 - Destina percentual dos recursos da União da CFEM para o setor de Ciência e Tecnologia

Destaques da Regulamentação da CFEM

Formulação • Fundamentação da Lei • Base de Incidência • Alíquotas

Implementação • Critérios para uso dos

recursos da CFEM

Controle e Fiscalização • Arrecadação das

Companhias Mineradoras

• Fiscalização pelo DNPM

Figura 10: Dispositivos legais e marcos refulatórios da CFEM Fonte: Elaboração da autora

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A participação no resultado financeiro da extração de recursos minerais foi

estabelecida pela Constituição de 1988 (Art. 20, § 1º), como contraprestação paga aos

Estados, Distrito Federal, Municípios e aos órgãos da administração da União pela utilização

dos seus recursos:

Art 20 § 1º. É ASSEGURADO, NOS TERMOS DA LEI, AOS Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.

Entre a sua criação, em 1989, até a sua regulamentação e efetiva arrecadação, em

1992, decorreram quase quatro anos. Outros dois anos se passaram até ser outorgada

atribuição ao DNPM de regulamentar e fiscalizar a arrecadação da CFEM.

A CFEM deve ser paga por todos que exercem a atividade de mineração em

decorrência da exploração ou extração de recursos minerais. Segundo o Código Mineral, a

exploração de recursos minerais consiste na retirada de substâncias minerais da jazida,

mina, salina ou outro depósito mineral, para fins de aproveitamento produtivo. Dessa forma,

o fato gerador da CFEM é a saída do produto mineral, por venda, das áreas de incidência. O

fato gerador pode também tomar as formas de utilização, de transformação industrial do

produto mineral ou mesmo do seu consumo por parte do próprio minerador (DNPM).

De acordo com o DNPM, a CFEM deve ser calculada sobre o valor do faturamento

líquido, obtido por ocasião da venda do produto mineral. De acordo com a legislação,

entende-se por faturamento líquido o valor da venda do produto mineral, deduzindo-se os

tributos (ICMS, PIS, COFINS) que incidem sobre a comercialização, além das despesas

com transporte e seguro. Quando não ocorre a venda, por ser o produto mineral consumido,

transformado ou utilizado pelo próprio minerador, então considera-se como valor, para efeito

do cálculo da CFEM, a soma das despesas diretas e indiretas ocorridas até o momento da

utilização do produto mineral.

De acordo com a Lei no 8.001/90, as alíquotas para o cálculo da CFEM variam de

acordo com a substância mineral, da seguinte forma:

• 3% - minério de alumínio, manganês, sal-gema e potássio.

• 2% - minério de ferro, fertilizante, carvão e demais substâncias.

• 1% - ouro.

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• 0,2% - pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonados e metais

nobres.

De acordo com a Lei no 8.001/90, os recursos recolhidos a título da CFEM devem ter

a seguinte distribuição:

• 12% para a União (DNPM, IBAMA e MCT).

• 23% para o Estado de onde for extraída a substância mineral.

• 65% para o município produtor.

O DNPM define que o “município produtor é aquele onde ocorre a extração da

substância mineral. Caso a extração envolva mais de um município, deverá ser preenchida

uma GUIA/CFEM para cada município, observada a proporcionalidade da produção

efetivamente ocorrida em cada um deles” (www.dnpm.gov.br).

Segundo a recomendação do DNPM (www.dnpm.gov.br), “os recursos originados da

CFEM deverão ser aplicados em projetos que direta ou indiretamente revertam em prol da

comunidade local, na forma de melhoria da infra-estrutura, da qualidade ambiental, da

saúde e educação”. Ressalte-se que esta recomendação é apenas uma sugestão, uma vez

que a legislação não faz qualquer referência sobre o uso da CFEM. A Lei no 7.990/89 e o

Decreto no 1 de 11/12/91 definem apenas as formas pelas quais os recursos da CFEM não

podem ser gastos, ou seja, eles não podem ser utilizados para o pagamento de dívidas e

nem para a contratação de pessoal permanente.

5.1.9 A política de royalties em países mineradores selecionados

Na atualidade, o Canadá, a Austrália e a África do Sul são consideradas economias

de sucesso e que têm forte base mineradora110. Portanto, nesta seção será dado um breve

enfoque sobre a política de rendas minerais por eles praticados. Nesses países há, já houve

ou está em vias de implantação a cobrança de royalty sobre a produção de bens minerais.

As modalidades de recolhimento dos royalties, ou impostos mineiros, variam conforme a

jurisdição.

A Austrália é o país que adota a maior diversidade de modalidades de cobrança de

royalties, em função da autonomia e da liberdade que gozam os seus estados e territórios.

Nesse país, os tipos de royalties vão desde um valor fixo por tonelada produzida, uma

fórmula que inclui, além do lucro, o valor das vendas, um percentual do valor bruto da

110 Esta seção não trata da política dos royalties de petróleo e do gás natural, pois, via de regra, essas commodities recebem um tratamento diferenciado dos demais bens minerais, em todos os países produtores.

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produção, um percentual do resultado do smelter, um percentual do valor das vendas com a

dedução dos custos de produção, até um percentual sobre o lucro líquido (ENRÍQUEZ,

2006).

Na África do Sul ainda não há pagamento de royalties para o governo, o país ainda

está rediscutindo mudanças na sua legislação relativa aos royalties (Mineral and Petroleum

Royalty Bill). No modelo proposto os percentuais variam 1% a 8%, sobre o valor bruto da

produção, conforme a substância, o teor da mina (minas “marginais” estão isentas do

pagamento de royalties) e a localização geográfica. No caso específico dos diamantes

brutos destinados à exportação, há um incremento da alíquota para 15%. Entretanto, essa

proposta de cobrar um royalty baseado no resultado bruto, ao invés de um royalty sobre o

resultado financeiro está sendo fortemente criticada pelas companhias mineradoras.

Atualmente, os únicos pagamentos de royalties que existem na África do Sul são

decorrentes de acordos entre particulares (pessoa física) ou entre companhias (quando os

direitos minerais pertencem ao setor privado), feitos a partir de negociação direta entre as

partes. A proposta de lei dos royalties (o Bill), apresentada como seqüencial à Lei de

Desenvolvimento da Mineração e do Petróleo (Ato MPRD), ainda está em discussão. Esta

lei, entre outros objetivos, visa a total conversão dos direitos minerários para o governo –

transição da “velha ordem” para a “nova ordem”. Por sua vez, o governo concederá às

companhias o direito de uso dos recursos minerais. Nesse processo, as companhias

mineradoras são obrigadas a converter para a nova ordem todos os direitos de prospecção,

concessões e outros direitos minerários. Para promover tal conversão, as companhias

mineradoras, em até dez anos, têm que demonstrar que os sul-africanos historicamente em

desvantagem (a sigla em inglês é "HDSA") têm uma participação acionária na companhia (a

meta estabelecida para os próximos 10 anos é de 26%; entretanto, para os próximos cinco

anos a exigência é de 15%). Este processo faz parte de um outro denominado

“Fortalecimento Econômico da População Negra”, a sigla em inglês é BEE (Black Economic

Empowerment).

Não obstante terem sua própria legislação minerária, as províncias e territórios

canadenses seguem alguns princípios comuns como, por exemplo, a conduta de tributar

somente a atividade lucrativa e de favorecer e subvencionar novos capitais de investimento.

Essa diretriz está de acordo com o objetivo da política minerária canadense que é o de

transformar o país em líder mundial da mineração e garantir o crescimento econômico do

país. Praticamente todas as províncias canadenses aplicam imposto apenas sobre o

resultado financeiro da extração mineral, o que significa, em grande parte das vezes, o não

recolhimento tributário ou ínfima arrecadação do segmento mineral.

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Assim, as províncias e territórios canadenses apresentam ampla modalidade de

alíquotas, que variam de acordo com: 1) o direito de propriedade do bem mineral – se

federal, provincial/territorial, privado ou terras indígenas (First Nations); 2) o tipo de bem

mineral – se petróleo ou gás, metais básicos, agregados, gemas ou metais preciosos, dentre

outros; 3) o valor da produção mineral – normalmente há uma escala progressiva de acordo

com o faturamento da companhia mineradora. Algumas províncias dividem o pagamento de

acordo com o estágio do retorno do capital investido (pré e pós-payout); e 4) outros –

localização da mina (próxima ou distante dos centros), tempo de vida útil, deduções e

subvenções permitidas a partir de acordos específicos.

Normalmente as províncias permitem que o imposto mineiro pago seja deduzido do

imposto de renda provincial. Em províncias com importante expressão na produção

minerária, como Manitoba, por exemplo, os impostos mineiros representam uma mínima

parcela da arrecadação de impostos – 2,5%, em 2000, e 1,1%, em 2001 (The Manitoba

Budget, 2001). Esse percentual diminuiu bastante, principalmente após a reformulação do

regime do imposto de renda, em 1995, quando o Canadá possibilitou às companhias

mineradoras vários tipos de deduções e incentivos, além da redução da alíquota do imposto.

Algumas províncias (Alberta) e territórios (Northwest Territories) canadenses têm promovido

uma ampla discussão sobre a necessidade de se reformular o sistema de royalties, no

sentido de gerar um melhor retorno aos cofres públicos, bem como manter a competitividade

nacional e internacional da mineração.

No que se refere à alíquota dos royalties, Austrália e Canadá utilizam o mesmo teto -

de 18% sobre o resultado financeiro da explotação mineral. As alíquotas são mais baixas

quando o royalty é calculado sobre o resultado bruto, e fica em uma faixa intermediária

quando é calculado sobre o resultado do smelter.

Usando a classificação proposta por Baldwin (2003) sintetizamos os tipos de

royalties praticados por esses países, bem como as alíquotas e os fatores responsáveis

pelas variações entre as alíquotas (Quadro15).

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base de incidência/país África do Sul1 Austrália2 Canadá4 Brasil3

royalty baseado lucro

líquido -

A alíquota é de 18% (Território do Norte) ou o valor depende de uma fórmula adotada (Tasmania)

As alíquotas variam de 2,0% a 18% de acordo com a província ou território; com o proprietário do bem mineral, com o valor do lucro e com a substância mineral.

royalties baseados no

retorno líquido do smelter

-

As alíquotas variam 2,75% a 4% de acordo com o estado ou território, com o proprietário do bem mineral, com o valor do faturamento e com a substância mineral.

As alíquotas variam de 0,2% a 3%, dependendo da substância mineral.

royalties baseados no

resultado bruto

As alíquotas previstas no projeto de lei variarão de 1% a 8%, de acordo com a substância mineral, o teor da mina e a localização. Há possibilidade de isenções e reduções.

As alíquotas variam de 2% (Austrália do Sul) a 7,5% (Austrália Ocidental) de acordo com o estado ou território e substância mineral.

Quadro 15: Base de incidência e alíquotas praticadas dos royalties sobre a mineração nos países selecionados Fontes: (1) Anexo 1 do Mineral and Petroleum Royalty Bill (Projeto de Lei dos Royalties da Mineração e do Petróleo da África do Sul, de março de 2002). (2) Department of Mineral and Energy (State Taxes and Charges Applicable to Mining in Australia), 1999. (3) DNPM (Lei n.8.001/1990). (4) NRCan.

O Brasil não adota a modalidade de royalty sobre o resultado financeiro, como

fazem o Canadá e a Austrália. O modelo da CFEM se assemelha bem mais ao

modelo do resultado do smelter, muito embora não seja exatamente assim, já que as

alíquotas incidem sobre o “faturamento líquido”.

5.1.9.1 Outras experiências na implantação de royalties nas economias latino americanas: Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile e Peru

Na Argentina os recursos minerais são de propriedade da nação ou da província,

conforme o caso. Em 1993 (Lei no 24.196) o país instituiu o sistema de royalties, por esse

instrumento cada província que aderir à referida lei tem a liberdade de cobrar, ou não,

royalties da mineração111, desde que eles não ultrapassem 3% do “valor da boca da mina”.

De acordo com a legislação, se considera “mineral boca mina” aquele extraído, transportado

111 Apenas três da oito províncias argentinas já regulamentaram a lei dos royalties.

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e/ou acumulado previamente a qualquer processo de transformação112. Desta forma, assim

como a Austrália, a Argentina convive com uma grande diversidade de formas de cobranças

de royalties. Lá também são as províncias as detentoras dos direitos sobre os recursos

provenientes dos royalties.

A Bolívia foi um dos primeiros países latino-americanos a adotar o sistema de

royalties da mineração. Em 1996 implantou o seu Novo Código de Minas. As alíquotas do

Imposto Complementário Mineiro oscilam entre 3% a 5%. Os royalties da mineração são de

competência dos Departamentos (equivalente aos Estados).

No Peru, depois de acalorada polêmica, que perdurou por anos foi implantado, em

junho de 2004, o sistema de royalties da mineração. A lei determina que o royalty é um

pagamento de contraprestação pela extração dos recursos naturais não renováveis do

Estado. As alíquotas variam de 1% a 3% ad valorem, conforme o valor anual do faturamento

da companhia - 1% até US$ 60 milhões, 2% entre US$ 60 e US$ 120 milhões e 3% acima

de US$ 120 milhões. Os royalties são arrecadados pelo governo central e distribuídos da

seguinte forma: 20% para o município produtor (destes, 50% se direcionam para a

comunidade onde está localizada a mina), 20% para a província mineradora, 40% para os

distritos e demais municípios provinciais, 15% para o governo regional e 5% para a

universidade da região onde a mina está instalada (OTTO et al., 2006, p. 204). A legislação

peruana também estabelece critérios para o uso dos royalties. Os fundos provenientes deste

recurso devem ser aplicados em “financiamento ou co-financiamento de projetos de

investimento produtivo que articulem a mineração com o desenvolvimento econômico de

cada região para garantir o desenvolvimento sustentável das áreas urbanas e rurais”, além

de que os recursos devem ser integralmente distribuídos entre as regiões e os municípios

para financiar exclusivamente projetos de investimento (Artigo 6º da “lei dos Royalties da

Mineração”, aprovado em seção de 3 de junho de 2004).

O Chile, da mesma forma que o Peru, depois de muito debate sobre a contribuição

tributária do setor mineral e de um vai-vem do projeto de lei dos royalties, aprovou, em maio

112 De acordo com a Lei no 24.161 o valor “boca mina” é aquele obtido na primeira etapa de sua comercialização, menos os custos diretos e/ou operacionais necessários para levar o mineral da boca mina até a dita etapa, com exceção dos gastos e/ou custos diretos ou indiretos inerentes ao processo de extração. Os custos a deduzir podem ser:

a. Custos de transporte, frete e seguros até a entrega do produto, menos os correspondentes ao processo de extração do mineral até a boca mina.

b. Custos de trituração, moenda, beneficiamento e todo o processo de tratamento que possibilite a venda do produto final.

c. Custos de comercialização até a venda do produto obtido. d. Custos de administração até a entrega do produto, menos os correspondentes à extração. e. Custos de fundição e de refino.

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de 2005, a lei de royalties (lei no 20.026). O país é o maior produtor mundial de cobre,

respondendo por aproximadamente 10% da oferta internacional e detendo um terço das

reservas mundiais. A alíquota dos royalties varia de zero a 5% sobre a receita operacional

compulsória (receita bruta menos custos operacionais e deduções permitidas em lei)

conforme o volume de produção. A lei abre a possibilidade de vários tipos de isenções

(baixa relação da receita operacional e o faturamento total, valor do faturamento abaixo de

um teto fixado em lei, dentre outros). Juntamente com a lei dos royalties o executivo

encaminhou outro projeto, que até então não foi aprovado e que destina os recursos

financeiros dos royalties da mineração ao Fundo de Inovação para a Competitividade. A

proposta é de que 75% dos recursos se destinem a fomentar programas de inovação

promovidos pelo Governo Federal e os 25% restantes redirecionados a projetos de

diversificação produtiva nas regiões produtoras.

Depois da Bolívia e do Brasil, a Colômbia foi o terceiro país latino americano a

implantar o sistema de royalties. A Constituição Política de 1991 (artigo 360) estabelece

“uma contraprestação econômica a título de royalties” pela exploração de um recurso natural

não-renovável e o direito dos departamentos ou municípios onde estão onde estão

localizadas estas explorações. Em 1994, foi criada a lei dos royalties (Lei no 141), que

instituiu o “Fundo Nacional de Royalties” e uma “Comissão Nacional de Royalties” com o

objetivo de aplicar os recursos provenientes dos royalties às remanescentes entidades

territoriais, com fins de promover a atividade de mineração, a preservação do meio ambiente

e o financiamento de projetos regionais de desenvolvimento. As alíquotas dos royalties

oscilam entre 3% a 12% do valor da “boca da mina”, conforme o bem mineral. (ARBELÁEZ,

2004, p. 9).

5.1.9.2 Regulamentação e uso da renda proveniente dos royalties em países selecionados

De acordo com o Quadro 16, a receita gerada pelos royalties em relação ao valor da

produção mineral, no ano de 2004, foi de 2,6% no Brasil e um percentual bastante superior

de 4,41% na Austrália. A África do Sul ainda não recolhe royalties e esse tipo de informação,

lamentavelmente, não é disponibilizada pelas estatísticas do Canadá. 113

113 A título de ilustração, em uma mina de zinco , na província de Quebec, a proporção dos royalties em relação ao valor da produção foi 2,47% (dados de 2003).

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Itens África do Sul1

Austrália2 Canadá4 Brasil3

receita gerada por royalties e tributos minerais como % do valor da produção mineral

não há 4,41% nd 2,6%

distribuição entre beneficiários

decisão do governo central.

não há vínculo entre recolhimento e uso. Os dispêndios são definidos em orçamento anual.

não há vínculo entre recolhimento e uso. Os dispêndios são definidos em orçamento anual.

união -12% estado - 23% município - 65%

restrições ao uso

- nd nd contratação de pessoal permanente e pagamento de dívidas.

instrumento legal que disciplina a cobrança e o uso

Mineral and Petroleum Royalty Bill de março de 2002 (em discussão)

varia de acordo com o estado ou território

varia de acordo com a província/território

Constituição Federal. Lei 7.990/89, Lei 8001/90; Lei 7.993/00

Quadro 16: Tributos e royalties sobre a mineração: distribuição da receita gerada, restrições ao uso, instrumentos legais que disciplinam a cobrança e o uso de royalties e outros tipos de tributação sobre o setor mineral, em alguns países selecionados nd – informação não disponível Fonte: (1) Minerals Council of Australia (Minerals Industry Survey Report, 2005 by PriceWaterhousecoopers) (2) Minerals Industry Surveys Report, 2005 (3) DNPM (DIPAR) e Anuário Mineral Brasileiro, 2005 (4) NRCan

Entre os países analisados até então, o Brasil é um dos poucos que estabelece

critérios nacionais para o uso dos royalties provenientes da mineração, conforme

anteriormente mencionado. Na Austrália, a maioria dos estados não define critérios rígidos

para o uso dos royalties, geralmente os recursos vão para uma conta única e são gastos de

acordo com as diretrizes orçamentárias, as exceções são os estados de Queensland e

Tasmania. Em Queensland, os recursos vão para o Departamento do Tesouro e são usados

para manutenção dos serviços públicos. Na Tasmânia, os recursos vão para a receita

consolidada e uma pequena parte (Au$ 350 mil ao ano) é usada para reabilitação de minas

abandonadas114.

No Canadá não há vínculo entre a origem e o uso dos recursos dos royalties ou dos

impostos mineiros. Os valores entram no caixa dos governos e são gastos de acordo com a

proposta orçamentária aprovada em Lei (KUYEK, 2004, p. 5 e http://www.nrcan-

rncan.gc.ca/com/index-eng.php). Na África do Sul, o modelo que está sendo proposto pela

Comissão Fiscal e Financeira para o uso dos royalties, quando este em vigor, obedecerá à

chamada “fórmula de concessão provincial”, que estipula os percentuais que deverão ser

114 GLOBAL LEAD ADVICE & SUPPORT SERVICE. “Lead mining royalties by States and Territory”, 2005 (disponível em http://www.lead.org.au/fs/fst30.html )

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gastos com educação, saúde, hospitais acadêmicos, equalização da capacidade fiscal e

auxílio institucional (KATS COMISSION, disponível em http://www.polity.org.za/ ).

Quanto aos mecanismos de controle sobre a fiscalização, o registro e a arrecadação

dos royalties, não há informação disponível nos sites. Na Austrália há oito legislações

diferentes, de acordo com o estado ou o território, assim como no Canadá, onde há 12

legislações conforme a província ou o território. No Brasil, o pagamento da CFEM é um “ato

declaratório”. Dessa forma, o único controle existente é a verificação, por parte do DNPM,

da regularidade dos pagamentos feitos pelas empresas mineradoras. Periodicamente há

também campanhas de fiscalização, promovidas pelo DNPM. Estas podem contar com

representantes dos Estados e dos Municípios que já tenham estabelecido convênios com

DNPM.

Na Austrália e no Canadá, o registro e arrecadação dos royalties e impostos mineiros

são feitos através do Ministério das Minas e Energia de cada Estado (Província) ou

Território. No Brasil, o controle é feito pela Divisão e Arrecadação (DIPAR), do DNPM.

A partir dessa base conceitual e descritiva do sistema de royalties em países

selecionados, o próximo capítulo enfocará exclusivamente o caso da CFEM. Como

importante parte da renda mineira que beneficia, principalmente, o município minerador, a

CFEM pode ser um instrumento valioso para a promoção de ações voltadas ao

desenvolvimento local.

Assim, serão analisados o padrão de uso da CFEM, bem como os fatores motivantes

para o seu “uso sustentável”, a percepção dos diferentes atores sobre o instrumento, os

aspectos criticáveis, além de sugestões para que o instrumento possa, de fato, ser um

diferencial em proveito do desenvolvimento municipal.

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6 O USO DA RENDA MINERAL PELOS MAIORES MUNICÍPIOS MINERADORES DO BRASIL – O CASO DA CFEM

Este capítulo é o resultado dos levantamentos feitos em campo nos 15 maiores

municípios de base mineradora, em oito Estados do Brasil. As visitas foram precedidas de

um contato, intermediado pela DIPAR/DNPM. Elas permitiram a realização de entrevistas,

com aplicação de questionários (Anexos) com representantes do poder público local, da(s)

empresa(s) mineradora(s) e de membros da sociedade local. As perguntas foram orientadas

para conhecer qual a efetividade da CFEM, enquanto instrumento indutor do

desenvolvimento local em regiões mineradoras.

Os temas tratados nas entrevistas foram agrupados em quatro tópicos: 1) grau de

dependência e vulnerabilidade, associados à mineração; 2) uso da CFEM; 3) percepção do

instrumento CFEM pelos principais envolvidos; e 4) sugestões para a melhoria do

instrumento CFEM.

6.1 GRAU DE DEPENDÊNCIA E VULNERABILIDADE ASSOCIADOS À MINERAÇÃO

O grau de “dependência” de um município em relação à atividade mineradora é

medido pela participação das rendas provenientes da mineração no total da receita do

município. Além da CFEM, os municípios mineradores recebem uma série de outras receitas

provenientes do ISSQN (recolhido pelas empresas que prestam serviços à companhia

mineradora); do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) (relativo aos imóveis utilizados

pela companhia mineradora na sede do município); do incremento do VAF e conseqüente

aumento de repasse do ICMS, do movimento produtivo gerado pelas firmas contratadas (e

por outras contratadas das contratadas) e pela massa de salários que irriga o mercado local.

Ainda pode haver outras formas de geração de renda, resultantes de acordos e convênios

de cooperação entre as companhias mineradoras, prefeituras e sociedades locais. O grau

de dependência do município minerador, portanto, é tanto maior quanto maiores forem as

proporções dessas rendas. Essa elevada proporção significa que outras atividades

produtivas têm importância restrita, o que também reforça a situação de dependência pela

falta de alternativas de emprego e de ocupação, o que torna o coeficiente % do emprego da

mineração, em relação ao emprego formal do município, muito alto.

O grau de “vulnerabilidade” de um município em relação à atividade mineradora é

medido pela iminência do esgotamento das fontes diretas e indiretas de renda proveniente

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da mineração; portanto, quanto mais próximo o esgotamento ou fechamento da mina por

quaisquer outros motivos, maior a vulnerabilidade do município em relação à mineração e

vice-versa (Tabela 39).

Tabela 39: 15 maiores municípios mineradores do Brasil e o seu grau de dependência e de vulnerabilidade em relação à mineração (2005)

região município minerador

% das receitas da mineração

na receita total*

% da CFEM

na receita

% do emprego

formal

número de anos até a

exaustão da mina

outras atividades produtivas relevantes

Vitória do Jari (AP) 40% 21% 100% 20

serviços florestais. proximidade ao projeto Jari.

Jaguarari (BA) 60% 10% 70% 3 caprinocultura. Canaã dos Carajás (PA) 74% 27% 30% 30 pecuária leiteira.

Ipixuna do Pará (PA) 40% 25% 60% 20 agricultura familiar.

Oriximiná (PA) 50% 25% 33% 10 agricultura familiar e pesca.

Parauapebas (PA) 75% 23% 81% 30

agricultura familiar e serviços, ensino técnico e universitário. N

orte

e N

orde

ste

Rosário do Catete (SE) 70% 16% 59% 15

petróleo, fábrica fertilizantes, usina de cana-de-açúcar, pecuária e agricultura de subsistência (milho, feijão e mandioca).

Crixás (GO) 14% 10% 65% 6 laticínio, pecuária de corte.

Minaçu (GO) 15% 7% 33% 30 usinas hidrelétricas.

Itabira (MG) 50% 20% 50% 25

ensino técnico, universitário, centro de desenvolvimento tecnológico, parque industrial.

Mariana (MG) 50% 26% 35% 30 turismo histórico e agroindústria.

Paracatu (MG) 4% 2% 6% 15 agroindústria de milho e cana-de-açucar

Santa Bárbara (MG) 30% 20% 50% 10

outros empreendimentos mineradores, reflorestamento e produção de mel.

Corumbá (MS) 15% 4% 15% 30

outros empreendimentos mineradores (seis), atividades turísticas, de pesca e de pecuária.

Cen

tro-O

este

, Sud

este

e S

ul

Forquilhinha (SC) 15% 5% 15% 15 agroindústria do arroz.

(*) Receitas provenientes da CFEM, ISS, ICMS e IPTU. Fonte: Os dados sobre as receitas e o emprego gerado pela mineração foram fornecidos pelas companhias mineradoras durante o trabalho de campo. As informações sobre a receita dos municípios foram obtidas no Finbra (STN) (http://www.mte.gov.br/) e no Portal da Transparência (http://www.stn.fazenda.gov.br/). As estatísticas sobre emprego formal do município foram obtidas no site do MTE (http://www.stn.fazenda.gov.br/), a partir dos dados da RAIS/CAGED.

Os dados acima repetem o forte viés regional já identificado na análise de outras

variáveis. Os municípios mineradores das regiões Norte e Nordeste são muito mais

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dependentes que os das demais regiões. Nessas regiões, o percentual de receitas oriundas

da atividade mineral em relação ao total da receita varia de 40% a 75%,enquanto que nos

municípios das demais regiões esse intervalo varia de 4% a 50%. No que se refere à CFEM,

o percentual de dependência varia de 10% a 27% para os municípios das regiões Norte e

Nordeste, enquanto oscila entre 2% a 26% para as demais regiões. A proporção dos

empregos gerados na mineração varia de 30% a 100% nos municípios das regiões Norte e

Nordeste e de 6% a 30% nas demais regiões.

A inexistência ou a limitação de outras atividades produtivas relevantes que sirvam

como alternativa à mineração agrava o problema da dependência. As atividades produtivas

não-mineradoras existentes nas regiões Norte e Nordeste se baseiam na pequena pecuária

e na agricultura familiar. A única exceção é Rosário do Catete (SE) que, além de ter uma

forte base de agricultura familiar, conseguiu atrair uma fábrica de fertilizantes que beneficia

o potássio extraído, além de outras indústrias ligadas ao petróleo e à cana-de-açúcar.

Além da forte dependência dos municípios das regiões Norte e Nordeste em ralação

à CFEM, quando se considera outras fontes de renda mineral, verifica-se que metade dos

municípios estudados tem mais de 50% de suas rendas municipais atreladas à dinâmica da

mineração. Essas outras parcelas da renda são tanto maiores quanto maiores forem:

• a quantidade de empresas prestadoras de serviços (elevação do ISSQN);

• os valores dos contratos;

• o volume de movimentação produtiva (aumento do VAF);

• a venda para o mercado interno (ICMS).

Essas outras receitas, direta ou indiretamente vinculadas ao setor mineral,

dependendo das conexões internas (efeitos de encadeamento) criadas, podem ampliar o

peso do setor mineral nas receitas municipais por um fator de duas a três vezes o valor da

CFEM.

Quando se consideram os empregos gerados pela mineração como proporção do

total dos empregos formais oficialmente registrados no município pela CAGED/MTE,

verifica-se que metade dos municípios estudados apresenta proporção superior a 50%. No

entanto, isso não significa que as pessoas empregadas pelas mineradoras sejam

necessariamente residentes ou oriundas do local. Essa proporção é apenas um indicador a

mais que reflete a situação de dependência do município. Quanto maior essa proporção,

menos diversificada e, portanto, mais dependente da mineração é a economia.

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Por causa desse forte grau de dependência, os municípios cujas jazidas estão em

vias de esgotamento e que não se prepararam para isso enfrentam uma situação de grande

vulnerabilidade. Esse é o caso de Jaguarari (BA), cujas jazidas de cobre se esgotarão em

2008, com o agravante de que o município está localizado na região pobre do semi-árido

baiano, sem muitas alternativas de geração de emprego e renda. O município de Crixás

(GO) também está em uma situação vulnerável, uma vez que as jazidas de ouro estarão

exauridas provavelmente em 2012. Esses municípios pouco fizeram, até agora, no sentido

de suprir a lacuna que será deixada pela atividade mineradora.

Mais do que o peso quantitativo dos recursos da CFEM no orçamento municipal, é

preciso que se considere a qualidade dessa receita, uma vez que é um recurso livre, ou

seja, não está vinculado a qualquer gasto específico. Portanto, mesmo sendo

aparentemente pequena a parcela da CFEM no orçamento total do município, ela é um

recurso estratégico por causa da flexibilidade de gastos que possibilita.

6.2 USOS DA CFEM

Dos países que recolhem royalties sobre a exploração minerária, o Brasil é um dos

poucos que repassa a maior parte desses recursos para os municípios produtores. Porém,

conhecer a real destinação dada à CFEM pelos municípios mineradores é uma questão

muito delicada, uma vez que não há qualquer mecanismo rotineiro de acompanhamento ou

fiscalização. A exceção seria a dos municípios auditados a partir dos sorteios da

Controladoria Geral da União (CGU). Não há instrumento capaz de verificar com precisão

qual o uso real dado a esses recursos financeiros.

O Quadro 17 sintetiza as respostas fornecidas pelos representantes do setor público

municipal durante as entrevistas realizadas nas visitas aos municípios mineradores. Do

universo pesquisado, apenas os municípios de Itabira (MG) e Forquilhinha (SC) têm planos

formalmente regulamentados para o uso da CFEM.

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região município tem plano de

uso da CFEM

fator motivante para o uso produtivo da CFEM usos da CFEM

número de funcionários públicos p/ 1.000 hab

Vitória do Jari (AP) Não -

30% vão para complementar a folha de pagamento e 70% para comprar remédios e outros gastos correntes - complementação do transporte escolar, meio ambiente, agricultura etc.

73

Jaguarari (BA) não - doação de alimentos, pequenos auxílios para agricultura familiar

59

Canaã dos Carajás (PA) não - diluído no caixa único

da prefeitura. 65

Ipixuna do Pará (PA) não - diluído no caixa único

da prefeitura. 28

Oriximiná (PA) não - diluído no caixa único da prefeitura. 45

Parauapebas (PA) não - diluído no caixa único

da prefeitura. 31

Nor

te e

Nor

dest

e

Rosário do Catete (SE)

formalmente não

há confusão com antiga lei do petróleo*, iniciativa da prefeitura, face à precariedade do emprego no município.

pavimentação, eletrificação e obras de infra-estrutura. capacitação de jovens para o primeiro emprego, bolsa-renda para 700 famílias.

83

Crixás (GO) não - diluído no caixa único da prefeitura. 74

Minaçu (GO) formalmente não

notícias sobre o possível fechamento da mina, em função da polêmica sobre a saúde dos funcionários e usuários de amianto.

diversificação produtiva: turismo, agropecuária e geração de renda.

42

Itabira (MG) sim iminente esgotamento das jazidas e encerramento das atividades da CVRD.

ciência, tecnologia e diversificação produtiva. 20

Mariana (MG) não - diluído no caixa único da prefeitura. 48

Paracatu (MG) formalmente não

interpretação equivocada da legislação da CFEM, confusão com a com a antiga lei do petróleo.

infra-estrutura- estradas, pontes etc. 42

Santa Bárbara (MG) não - diluído no caixa único

da prefeitura. 40

Corumbá (MS) não - diluído no caixa único da prefeitura. 26 C

entro

-Oes

te, S

udes

te e

Sul

Forquilhinha (SC) sim

empresas entraram com recursos contra a Lei da CFEM e perderam, a Câmara dos Vereadores vinculou os valores da CFEM ao Fundo de Meio Ambiente.

Fundo de Meio Ambiente e Agricultura. 17

Quadro 17: Uso da CFEM pelos maiores municípios mineradores do Brasil – 2005 * Lei 2.004 de 1953, que vinculava o uso dos royalties do petróleo a obras de infra-estrutura e eletrificação, entre outros. Fonte: Informações obtidas diretamente nos municípios mineradores durante os trabalhos de campo ocorridos no período de abril a setembro de 2005.

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Novamente, o quadro acima revela fortemente o viés regional. Nenhum município

das regiões Norte e Nordeste apresenta um plano específico para o uso da CFEM, enquanto

dois municípios das demais regiões têm plano formalizado. A média de funcionários públicos

para cada 1.000 habitantes é de 52, nos municípios das regiões Norte e Nordeste, e de 34,

para as demais regiões. Como já foi analisado em outras seções, gastos elevados em

custeio da máquina pública significam menos recursos para utilizar em uma estratégia de

diversificação produtiva ou em investimentos que permitam ampliar as “liberdades

substantivas”, tão essenciais para o desenvolvimento, conforme insiste Amartya Sen (vide

capítulo um).

Do universo pesquisado, os municípios de Itabira (MG), Forquilhinha (SC) e Minaçu

(GO) foram os únicos que apresentaram resultados concretos da aplicação dos recursos da

CFEM. Os relatos de casos feitos a seguir são baseados em entrevistas realizadas durante

os trabalhos de campo nesses municípios.

Itabira (MG) foi o pioneiro em vincular os recursos da CFEM a uma estratégia de

diversificação produtiva e é um dos poucos municípios mineradores a ter uma legislação

específica para o uso da CFEM115. Por isso é muito importante relatar a experiência desse

município.

O caso Itabira (MG) – vinculação dos recursos provenientes da CFEM, a partir de pressão

social provocada pelo anúncio do fechamento da mina por exaustão A notícia do encerramento das atividades da CVRD, em 2030, como decorrência do

exaurimento das minas de ferro, suscitou, no início dos anos 1990, forte reação nos segmentos da

sociedade de Itabira - Associação Comercial e Industrial e Agro-pecuária de Itabira (ACITA),

Sindicatos, Organizações Sociais, prefeitura local, entre outros, no sentido de procurar alternativas

para superar a dependência econômica do município em relação a CVRD.

Após ampla discussão, foi elaborado um plano de desenvolvimento para Itabira denominado

“Itabira 2025” e criada a Agência de Desenvolvimento de Itabira (ADI), com o apoio do Instituto de

Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais (INDI). Segundo informações da prefeitura, a ADI é

pioneira no estado de Minas Gerais, sua criação procurou consolidar experiências de gestão em

parceria com empresas e instituições, como o SEBRAE e o Banco de Desenvolvimento de Minas

Gerais (BDMG), em torno das ações para o desenvolvimento municipal. Também foi criado o Fundo

de Desenvolvimento Econômico e Social de Itabira (FUNDESI), com o objetivo de

115 Há indícios de que o município de Tapira (MG), inspirado na experiência itabirana, está em vias de formular uma lei para disciplinar o uso da CFEM.

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[...] criar condições financeiras e de gerência de recursos destinados ao desenvolvimento de ações de crescimento e diversificação econômica, executados ou coordenados pela Secretaria e Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico de Itabira que compreendem: incentivar, fomentar o desenvolvimento econômico de Itabira através da concessão de empréstimos. (Lei no 2.823/92).

O FUNDESI é presidido pelo Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico, sua

administração é responsabilidade do Conselho de Desenvolvimento Econômico do Município de

Itabira (CODECON) e a gestão da aplicação desses recursos é de responsabilidade de agentes

financeiros previamente contratados. O CODECON é composto de representantes do Executivo

Municipal, do Legislativo Municipal, da ACITA, do Sindicato de Trabalhadores de Itabira, da

Associação dos Aposentados da CVRD (APOSVALE), da Inter-Associação de Moradores de Itabira,

do Conselho de Meio Ambiente de Itabira (CODEMA) e da CVRD.

O FUNDESI passou a ser o principal instrumento da política de reestruturação econômica de

Itabira e a primeira experiência nacional de vinculação dos recursos da CFEM a projetos de

desenvolvimento e diversificação econômicos. Itabira foi o único município do universo pesquisado a

apresentar uma legislação especialmente direcionada ao uso da CFEM (Quadro18). Decorridos 12

anos desde a promulgação da Lei que instituiu o FUNDESI, Itabira acumulou uma experiência e um

aprendizado de como (não) utilizar os recursos da CFEM.

instrumento legal objetivos/destaques

Lei no 2823, de 22 de julho de 1992

Instituiu o FUNDESI e determinou que os recursos do fundo se originam da CFEM, na seguinte proporção: 1993 (50%); 1994 (60%) e 1995 (70%). Os projetos beneficiários do fundo deveriam ter aprovação do CODECOM que, por sua vez, teria a atribuição de coordenar o fundo.

Lei no 2925, de 17 de junho de 1993

Alterou a composição dos recursos do FUNDESI, nas seguintes proporções: 1993 (70%); 1994 (60%) e 1995 (50%).

Lei no 3228, de 01 de novembro de 1995

Alterou a composição dos recursos do FUNDESI na proporção de 40% da CFEM para os anos de 1996, 1997, 1998. Determinou a atualização dos contratos vigentes pelo índice de 20% da variação do IGP-M.

Lei no 3397, de 20 de novembro de 1997

Determinou que 20% da receita do FUNDESI deveriam ser aplicados no setor rural nos anos de 1998, 1999, 2000 e 2001.

Lei no 3782, de 16 de julho de 2003

Revogou as leis 2.823/92, 2.925/93, 2.950/93 e 3.397/97 e reestruturou o FUNDESI. O Fundo passa a ter duração limitada (até 2022), redirecionando seu foco para atividades produtivas de base tecnológica (50% do fundo), incubação de empresas (10% do fundo) e priorização de investimentos para as micro, pequenas e médias empresas. Os recursos do fundo não provêm exclusivamente da CFEM, mas de recursos próprios do município, recursos recebidos de terceiros, empreendedores e investidores. Os recursos integralizados da CFEM terão os seguintes valores anuais: 5% (2003); 10% (2004 e 2005); 20% (2006 a 2008); 25% (2009 a 2011) e 30% (2012 a 2022). Estabelece critérios mais rigorosos para possíveis beneficiários.

Quadro 18: FUNDESI – evolução dos marcos regulatórios Fonte: Elaborado pela autora a partir de consulta documental disponibilizada pela prefeitura em Itabira

Na primeira fase da criação do fundo, o objetivo foi o de ampliar e diversificar a base

produtiva do município. No período de 1993 a 1996, o FUNDESI proporcionou financiamento a 76

indústrias abrigadas em dois distritos industriais do município. Os ramos prioritários foram para ativos

fixos e infra-estrutura para as atividades industriais e agroindustriais. Apesar do aparente sucesso

dos primeiros anos, houve problemas de gestão e o Fundo foi reestruturado.

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De acordo com a prefeitura de Itabira (entrevista realizada em maio de 2005 com os

Secretários de Finanças e de Desenvolvimento), os problemas do fundo foram vários:

• Alternância de poder. Nem sempre vista de forma positiva, pois com a mudança de

governo, a cada quatro anos, nada garante que o sucessor dará continuidade à obra

iniciada pela gestão que o antecedeu.

• Inexperiência do governo em lidar com administração de fundos. Muitos empresários

receberam recursos, mas poucos cumpriram com suas obrigações. O agente financeiro,

do qual o município é co-responsável, encarregado de administrar o fundo nunca se

empenhou em executar as garantias, pois não cobrava com austeridade os

compromissos dos credores e o cumprimento das cláusulas contratuais. Assim, do total

de empreendimento que não tiveram sucesso, 20% foram de pessoas interessadas

apenas em tirar vantagem pessoal dos benefícios financeiros proporcionados pelo fundo;

40% foram formados por empresários fornecedores da CVRD, que entraram em colapso

após a privatização da empresa, pois não tiveram condições de competir em igualdade

de condições com outros fornecedores, quando a empresa abriu para a concorrência

externa; e, os 40% restantes, enfrentaram problemas na condução dos negócios, por falta

de qualificação e de conhecimento das noções básicas do mundo dos negócios.

Esse diagnóstico serviu de base para que o CODECOM repensasse sua política de

diversificação produtiva do município e também proporcionou as condições para a reformulação do

FUNDESI e, conseqüentemente, para a diversificação produtiva de Itabira.

Com a nova legislação, o foco do FUNDESI e das próprias políticas de diversificação

produtiva do município, se alteraram bastante:

• De aumento de capacidade produtiva, a ênfase passou a ser o aumento da capacitação e

da qualificação profissional, pois “nenhuma atividade produtiva pode prescindir de

capacitação”, afirma o Secretário.

• De apenas criação de infra-estrutura física, passaram a direcionar os recursos para a

promoção e o estímulo de infra-estrutura no sentido amplo – tecnológico, institucional,

político.

Segundo informações da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Município, até o final

de 2004, os resultados do FUNDESI foram os seguintes:

[...] Desde sua criação, o FUNDESI já beneficiou mais de 65 empreendimentos comerciais, industriais e de serviços; dentre estes, contamos atualmente com mais de 40 empresas em atividade nos Distritos Industriais, com faturamento anual acima de R$141 milhões e gerando aproximadamente 1.590 empregos” (informações fornecidas pela SDE – levantamento de campo em maio/2005).

O município tem clareza das possibilidades e dos limites de conviver com uma grande

mineradora. Pelo lado das possibilidades, os representantes do poder público são unânimes em

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afirmar que a mineração é uma atividade positiva para o município, pois gera grandes somas de

recursos financeiros, a partir das rendas dos salários, dos tributos, das compras que realiza no

município, dentre outras. Pelo lado das limitações, são apontados:

• Grande dependência de uma só atividade e de uma só empresa.

• A grande mineração é uma “atividade asfixiante, pois não deixa florescer outras

atividades e mata a cultura empreendedora” (Consultor da SDE, durante a visita ao

município em maio/2005), pois Itabira já teve duas fábricas de tecidos na primeira metade

do século XIX que sucumbiram diante da força implacável da grande indústria (não

conseguiram concorrer com a mão-de-obra, a água que movimentava as máquinas ficou

poluída).

Sabendo que o município é conhecedor dos problemas que a mineração gera e das forças

contrárias ao desenvolvimento local que promove, questionamos: qual o antídoto? Para o consultor

da SDE, a idéia da CFEM é, em princípio, admirável. No entanto, ela tem um erro de princípio, pois

não fixou os percentuais mínimos obrigatórios que deveriam ser usados visando a diversificação

econômica do município. Para o Secretário de Meio Ambiente de Itabira, a legislação é falha porque

não criou nenhum vínculo, os recursos são usados para um fim que eles não foram criados.

Acrescenta que nenhum município criou um plano de uso vinculado ao uso sustentável. Ambos

concordam que atualmente o problema está bem difícil de ser resolvido, pois esses recursos já

entraram de forma orgânica nos orçamentos dos municípios mineradores. No caso de Minas Gerais,

o Tribunal de Contas do Estado, a reboque da CGU, está exigindo dos municípios mineradores

comprovação à parte de onde foi aplicado os recursos e há casos de dois prefeitos que foram

cassados por uso irregular da CFEM.

Forquilhinha (SC) também vinculou os recursos da CFEM a uma dimensão do

desenvolvimento que foi muito prejudicada pela atividade mineradora – a ambiental.

O caso Forquilhinha (SC)– vinculação dos recursos provenientes da CFEM, a partir de pressão resultante por disputa judicial

O município de Forquilhinha (SC) vinculou os recursos da CFEM ao Fundo Ambiental, criado

especialmente para esse fim, em 1999. A decisão de criar o Fundo foi baseada nos condicionantes

da Lei 8.001/90 sobre o não-pagamento de pessoal permanente e de dívidas, e no princípio de que a

compensação deveria promover melhorias ambientais e sociais no município. A criação do Fundo foi

precedida de muita polêmica entre o poder público local e as companhias mineradoras de Santa

Catarina, pois a maioria delas só passou a recolher essa compensação em 1998, embora a lei tenha

entrado em vigor em 1992. Quatro anos depois, o Fundo Especial do Meio Ambiente passou a ser

chamado de Fundo de Agricultura e Meio Ambiente.

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Na primeira fase do Fundo, segundo o vereador Valberto Berkenbrock, que, na época, era o

Secretário de Finanças de Forquilhinha, a prefeitura desenvolveu as seguintes ações:

1. Criação do Parque Ecológico Municipal que, além de preservar uma grande área de Mata

Atlântica, é criatório de mudas para reflorestamento e arborização

2. Doação de cestas básicas aos trabalhadores da Estação Ecológica, como contrapartida

pelos serviços voluntários prestados.

3. Pavimentação dos bairros e criação de um complexo para aproveitamento de seixo bruto,

além da montagem de um pátio de britagem e um projeto de pavimentação em parceria.

4. Construção de dois núcleos Industriais (cada um com 15 hectares) em espaços de áreas

degradadas pela atividade mineradora. Para a gestão dos núcleos, foi criada uma

Comissão de Indústria e Comércio, que disponibilizava para as empresas até um hectare,

determinava sobre o prazo para implantação das indústrias, assim como a política de

incentivos e de isenções de ICMS e de IPTU.

Ainda segundo o referido vereador, que é de partido de oposição à atual gestão pública, a

Secretaria de Meio Ambiente de Forquilhinha paga os seus funcionários com os recursos da CFEM,

como serviço temporário, para não violar a legislação. Para o vereador, pagar terceirização é uma

forma maquiada de gastar os recurso da CFEM com mão-de-obra. Além do mais, a prefeitura utiliza

os recursos da CFEM para atender às demandas da Secretaria de Agricultura. A frota de veículos

que serve à Secretaria de Agricultura está sendo mantida com os recursos da CFEM. Na opinião do

vereador, os recursos devem ser destinados exclusivamente para a área do meio ambiente, uma vez

que essa é a face mais afetada pela mineração, no município.

De acordo com a Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente de Forquilhinha os recursos da

CFEM estão sendo aplicados de acordo com a Tabela 40.

Tabela 40: Usos dos recursos da CFEM pela Prefeitura Municipal de Forquilhinha (SC) - 2005 projetos valor -2005

R$1,00 numero de

beneficiários comunidades beneficiadas

Construção de galerias pluviais e esgoto 93.000 3.500 6 Manutenção do Fundo de Agricultura e Meio Ambiente

978.311 10.000 12

Fiscalização e controle do Meio Ambiente 53.218 20.000 todo o município Aquisição de equipamentos para a defesa do Meio Ambiente

34.304 20.000 todo o município

Total 1.158.834 Fonte: Prefeitura Municipal de Forquilhinha (Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente), abril de 2005

Minaçu (GO), embora não tenha um sistema de leis específicas para regulamentar o

uso da CFEM, tem utilizado este instrumento em uma tentativa de diversificação produtiva.

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O caso Minaçu (GO) - uso dos recursos da CFEM em uma estratégia de diversificação produtiva, a partir de pressão social provocada pelo anúncio do fechamento da mina por

problemas ambientais

Até o final dos anos 1990, não havia um plano específico para a utilização da CFEM. Porém,

notícias sobre o possível fechamento da mina, por causa da polêmica sobre a saúde dos funcionários

e usuários de amianto, provocaram a reação do poder público local. A prefeitura se conscientizou de

que algo precisava ser feito a fim de criar alternativas de rendas, além da mineração, e passou a

utilizar os recursos da CFEM em programas que objetivassem ampliar e diversificar a base produtiva

do município. esses projetos se desdobraram em três vertentes: 1) dinamização do turismo; 2)

estímulo às atividades agropecuárias e 3) geração de renda .

No que se refere à dinamização do turismo, Minaçu tem uma localização privilegiada em

termos de belezas cênicas e áreas de especial interesse ecológico: está ao lado da uma das mais

preservadas áreas do cerrado, que integra a denominada “reserva da biosfera”116. A formação de

lagos possibilitados pela barragem das hidrelétricas Serra da Mesa e Canabrava também abriu uma

nova perspectiva ao turismo local. Nesse sentido, a prefeitura investiu em torno de R$ 4 milhões, com

recursos da CFEM, na implantação de infra-estrutura turística para a implantação de uma praia

artificial (praia do sol) e promoção de torneios de pesca no Lago de Cana Brava.

Quanto ao estímulo às atividades produtivas, muito embora boa parte do território de Minaçu

esteja localizado em área rural, até o ano de 2000, segundo relato da Secretaria de Agricultura, a

produção agropecuária era incipiente no município. Durante o período da construção das barragens,

havia muitas pessoas empregadas e uma razoável circulação de renda no município. Com o término

das obras, grande parte dos ex-trabalhadores das hidrelétricas permaneceu no município, agravando

o quadro de desemprego local. Uma das saídas para a minimização desse quadro foi estimular o

desenvolvimento do setor agropecuário, a partir de políticas direcionadas ao aumento, à melhoria e à

diversificação da produção. Os novos projetos estão relacionados na Tabela 41.

116 A Reserva da Biosfera é uma figura instituída pela UNESCO para abrigar uma rede de áreas, no globo, de relevante valor ambiental para a humanidade.

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Tabela 41: Projetos Implementados pela Secretaria de Agricultura de Minaçu (2001 a 2004) projeto início número de

beneficiários custo/ano

R$1,00 obs

hortas comunitárias/escolas 2001 2241 8.181 área de 37.842 m2. lavouras comunitárias 2001 2451 196.086 área de 260 ha.

transporte de feirantes 2001 1231 193.687 abrange 14 associações em 9 regiões do município

cultura do abacaxi 2001 72 81.436 área de 41,4 ha.

cultura de mandioca 2003 252 94.325

área de 50 ha para fornecer mudas para os demais produtores.

melhoramento genético (inseminação artificial) 2001 6003 8.592 1.246 vacas inseminadas.

alimentação animal (silagem) 2001 15003 10.667 alimentação complementar no período da seca.

mecanização agrícola 2001 15003 17.875

preparo do solo, represas, tanques de peixe e conservação do solo.

agregação de valor ao leite 2002 701 60 melhor conservação do leite. Total 610.909 (1) famílias (2) propriedades (3) produtoras Fonte: Secretaria de Agricultura de Minaçu (pesquisa de campo abril/2005)

O orçamento anual da Secretaria de Agricultura é de R$ 1.500 mil e o custo anual dos novos

projetos é de R$ 611 mil. Esses projetos beneficiaram diretamente 662 famílias, promoveram

melhorias em 32 propriedades e contribuíram para a melhoria das condições de produção de 3.600

produtores. Segundo o prefeito da cidade, esses novos empreendimentos somente puderam ser

efetivados a partir da aplicação dos recursos da CFEM, uma vez que o orçamento corrente da

prefeitura não permitiria que se realizasse este tipo de investimento.

De fato, confrontando as informações coletadas na prefeitura de Minaçu com os indicadores

apresentados pelo IBGE (PAM e PPM), observou-se significativa melhoria da produção. Houve a

introdução da cultura do abacaxi, cuja produção é toda exportada para o Distrito Federal, Rio de

Janeiro e Campinas. Houve um significativo incremento da produção de arroz e de milho. Estas duas

culturas têm sido promovidas através do projeto de lavouras comunitárias, o que se refletiu no valor

da produção que cresceu 218% em cinco anos (Tabela 42).

Tabela 42: Quantidade produzida, valor da produção, área plantada e área colhida da lavoura temporária de Minaçu (1998-2003)

quantidade valor área plantada lavoura temporária 1998 2003 1998 2003 1998 2003

abacaxi (mil frutos) - 1.300 - 975 - 52 arroz (em casca) (tonelada) 280 1.932 64 1.030 400 1.400 cana-de-açúcar (tonelada) 900 400 54 24 45 20 feijão (em grão) (tonelada) 485 - 728 - 250 - mandioca (tonelada) 2.400 2.500 240 763 120 100 melancia (tonelada) 50 - 75 - 20 - milho (em grão) (tonelada) 2.240 5.170 336 1.965 1.250 2.000 total (s/abacaxi) 6.355 10.002 1.497 4.757 2.085 3.572 Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal (PAM)

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No caso da produção pecuária (Tabela 43), também se verificou aumento em todos os

efetivos de rebanho (com exceção das galinhas), no período 1999-2003.

Tabela 43: Efetivo dos rebanhos, por tipo de criação, Minaçu – 1999 - 2003.

tipo de rebanho 1999 2003 cresc. bovino 72.000 107.000 49% suino 7.000 8.200 17% eqüino 2.500 2.600 4% asinino 25 50 100% muar 350 420 20% bubalino 130 - - ovino 130 250 92% galinhas 27.000 20.000 -26% galos, frangas, frangos e pintos 30.000 31.000 3% caprino 100 180 80%

Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal

Há outras melhorias que não aparecem nas estatísticas do IBGE, como o projeto para

agregação de valor ao leite. Antes do projeto, os produtores vendiam o litro a R$ 0,14; depois do

projeto, o litro passou para R$0,49. Esse projeto se iniciou com a aquisição, pela prefeitura, de três

tanques para o resfriamento do leite, repassados para cooperativas de produtores assentados. Os

tanques117 mantêm o leite resfriado, o que garante a sua qualidade e facilita a coleta para posterior

entrega aos laticínios de Porangatu. Os outros produtores, observando os benefícios proporcionados

pelos tanques, também se reuniram em cooperativas e atualmente adquiriram outros 16 tanques.

Segundo estimativas da Secretaria de Agricultura, antes do projeto a receita per capita desses

produtores era de R$ 30,00; após o projeto, a receita per capita passou para R$ 100,00.

Os projetos na esfera da geração de renda e inclusão social são implementados pela

Fundação de Promoção Social do Município. Os projetos implementados não visam apenas dar

assistência social, mas principalmente capacitar as pessoas para que elas próprias criem os meios

para a superação de seus problemas, como nos projetos “Lar e Profissão” e “Criarte”. No Projeto Lar

e Profissão, ao mesmo tempo em que as pessoas receberam o treinamento para as diferentes etapas

da construção civil, elas se reúnem em mutirão para construir as suas próprias casas, com o material

doado pela prefeitura. O projeto Criarte oferece oficinas para capacitação de jovens e adultos em

mais de 15 cursos, tais como: garçom, jardinagem, corte e costura, cestaria em jornal, cestaria em

palha, pintura em tela, pintura em tecido, bordado industrial, enxoval para gestantes, entre outros. A

Fundação também promove feiras para a venda dessa produção.

As três experiências relatadas são importantes porque demonstram que é possível

dar um tratamento à parte para os recursos da CFEM e assim promover melhorias na

117 Um tanque custa por volta de R$ 26 mil; ele tem a capacidade para o resfriamento de 2.400 litros de leite por dia. Um tanque atende a necessidade de 17 produtores, em média.

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qualidade de vida e na diversificação produtiva de municípios de base mineradora, ou seja,

dar um “uso sustentado”118 à renda mineral, expressa pela CFEM. No entanto, elas também

revelam as dificuldades que os gestores enfrentam para isso. Essas dificuldades estão

relacionadas a: 1) descontinuidade das políticas, não apenas por causa da alternância do

poder, mas, principalmente, pela falta de um controle social mais firme; 2) ausência de

mecanismos formais de controle; e 3) falta de avaliação sistemática das políticas adotadas.

Nos demais municípios visitados não foram identificados planos formais de aplicação

da CFEM, muito embora alguns municípios como Paracatu (MG) e Rosário do Catete (SE)

afirmem estar utilizando os recursos da CFEM a partir de uma perspectiva de diversificação

produtiva e da redução da dependência exclusiva da atividade mineral.

Nesse sentido, foram identificados dois padrões de uso da CFEM, os quais

denominamos “armadilha do caixa único” e “uso sustentado”:

1. armadilha do caixa único - os recursos entram no caixa da prefeitura e se

“diluem” nas despesas correntes. Nesse padrão, lamentavelmente, se

enquadram dois terços do universo pesquisado – Vitória do Jari (AP), Jaguarari

(BA), Crixás (GO), Mariana (MG), Santa Bárbara (MG), Corumbá (MS), Canaã

dos Carajás (PA), Ipixuna do Pará (PA), Oriximiná (PA) e Parauapebas (PA);

2. uso sustentado - os recursos da CFEM entram no caixa da prefeitura e são

direcionados (total ou parcialmente) para determinados fins previamente

definidos. Nesse padrão encontra-se um terço do universo pesquisado – Itabira

(MG), Minaçu (GO), Forquilhina (SC) e, parcialmente, Paracatu (MG), Rosário do

Catete (SE).

No padrão “armadilha do caixa único”, os gestores públicos ainda não foram capazes

de perceber o potencial da CFEM, enquanto recurso extra que, se utilizado produtivamente,

desenvolva oportunidades de geração de emprego e renda, atacando um dos mais sérios

problemas que municípios de base mineradora enfrentam e, dessa forma, reduza a pobreza

e amplie a base de arrecadação municipal. Os recursos da CFEM entram nos caixas únicos

das prefeituras e são “engolidos” pelas necessidades imediatas e ilimitadas que todos os

municípios apresentam.

Por que os prefeitos não percebem a possibilidade de transformar os recursos da

CFEM em instrumento de diversificação produtiva e melhoria da qualidade de vida dos 118 A expressão designa continuidade no tempo e não deve ser confundida com o adjetivo “sustentável” que está relacionado com os princípios do desenvolvimento sustentável - prudência ambiental, eqüidade social e eficiência econômica (SACHS, 2004).

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municípios de base mineira? Uns afirmam que os recursos são pequenos face aos

dispêndios extras gerados pela atividade mineradora. Outros sequer têm conhecimento da

dinâmica da atividade mineradora e de que os minerais são bens exauríveis. Para estes, é

líquido e certo que a prefeitura sempre contará com os recursos da CFEM em seus

orçamentos; a mineração, que existe há tantos anos, nunca vai se acabar e os rumores

sobre esgotamento são apenas boatos. Outros não têm interesse e simplesmente se

aproveitam desses recursos extras para ampliar a sua base político-eleitoral. Mesmo frente

à iminência de exaustão da jazida, empurram o problema para a próxima gestão, na

expectativa de que a “bomba” da súbita redução da receita não estoure em seu mandato.

O padrão “uso sustentado”, por sua vez, não tem ocorrido de maneira espontânea, a

partir de uma atitude consciente e voluntária do gestor público em prol da diversificação

produtiva local. Em todos os casos analisados, o “uso sustentado” da CFEM foi motivado

por algum fator de pressão. O caso de Itabira (MG) se deu por causa de um movimento

liderado pela ACITA, que mobilizou as forças sociais locais a partir da notícia do iminente

esgotamento das jazidas de ferro e o conseqüente encerramento das atividades

mineradoras. No caso de Minaçu (GO), o fator motivante foi o possível fechamento da

SAMA, por causa das pressões de ambientalistas, provocadas após as denúncias de

contaminação de pessoas e do meio ambiente pela extração do amianto. No caso de

Paracatu (MG), o uso vinculado dos recursos da CFEM parece ser o efeito de uma

interpretação equivocada da lei, que foi confundida com a antiga legislação do petróleo119.

Situação similar ocorre em Rosário do Catete (SE), que também recebe royalties do

petróleo; e, no caso de Forquilhina (SC), a vinculação ao Fundo de Meio Ambiente foi uma

decisão da Câmara de Vereadores após o conflito de interesses que se instaurou quando a

indústria mineral se recusou a recolher a CFEM.

Independente do elemento desencadeador do uso sustentado da CFEM, os

resultados se revelam benéficos para o município e reduzem a dependência excessiva em

relação à mineração - vide o caso de Minaçu (GO). Faz grande diferença gastar os recursos

em despesas correntes e assistencialismo ou investir na diversificação produtiva e formação

de capital humano. Um real empregado em novas alternativas para criação de emprego e

renda tem a capacidade de se multiplicar, enquanto que um real empregado em despesas

correntes simplesmente se consome na hora do gasto, ou seja, não tem a capacidade de se

propagar pela economia. Ao contrário, por vezes ele cria novas obrigações que onerarão a 119 Originalmente a Lei no 2.004, de 03/10/1953, vinculava os royalties do petróleo às seguintes áreas: 1) energia, 2) pavimentação de rodovias, 3) abastecimento e tratamento de água, 4) irrigação, 5) proteção do meio ambiente e 6) saneamento básico. Essa Lei deixou de vigorar com o advento da Lei no 9.478, de 06/08/1997, e a aplicação dos recursos dos royalties do petróleo, da mesma forma que nos royalties dos demais minerais, passou a ter mais flexibilidade.

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receita futura. Essa é a grande distinção entre gastar a CFEM com consumo ou com

investimento.

6.3 PERCEPÇÃO DO INSTRUMENTO CFEM PELOS PRINCIPAIS ENVOLVIDOS

Apesar de ainda ser relativamente nova, a CFEM foi rapidamente aceita pelos

principais atores envolvidos – empresas e governos. É possível que a facilidade de

aceitação por parte das empresas esteja relacionada à extinção do Imposto Único sobre os

Minerais (IUM), já na Constituição de 1988, ou seja, as empresas não se sentiram

sobretaxadas. Além disso, nos casos em que os bens minerais são destinados à

exportação, a aceitação pode também estar relacionada à isenção do ICMS, a partir de

setembro de 1996, com a chamada Lei Kandir.

Para as empresas, de uma forma geral, a CFEM é justa e obedece ao princípio da

simplicidade, embora elas identifiquem algumas dubiedades na legislação (Quadro 19).

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região município minerador poder público local companhia mineradora representantes da

sociedade*

Vitória do Jari (AP)

Valores insuficientes, porque não atendem as necessidades do município.

Os valores pagos são excessivos, porém seriam justos se o dinheiro arrecadado fosse usado para beneficiar a comunidade.

É difícil saber se são ou não justos, uma vez que não se têm como averiguar qual é a quantidade de minério extraída do município; os recursos estão sendo mal empregados pela prefeitura.

Jaguarari (BA) A arrecadação é pouca face aos ganhos da empresa.

Faltam destinação e transparência no uso.

É muito pouco o que vai para o município.

Canaã dos Carajás (PA)

Pouco conhecimento das normas que disciplinam o uso dos recursos.

Recusou-se a comentar. -

Ipixuna do Pará (PA)

Pouco conhecimento das normas que disciplinam o uso dos recursos. Considera que os recursos são justos.

-

Oriximiná (PA) Os valores são poucos -

Parauapebas (PA)

A CFEM não cobre os custos sociais que a CVRD, direta ou indiretamente, causa no município.

É um recurso bastante expressivo. Deveria estar sendo fiscalizado pelos órgãos competentes.

É pouco transparente a forma de uso dos recursos.

Nor

te e

Nor

dest

e

Rosário do Catete (SE)

Os valores são poucos em face às demandas sociais.

Não há correlação entre o valor recolhido da CFEM e os investimentos que justifiquem esses valores.

Tem conhecimento que os valores representam 40% da receita municipal.

Crixás (GO)

Desconhece o que é a CFEM. Os recursos orçamentários não são suficientes para custear os dispêndios.

A empresa paga muito imposto, mas o município recebe pouco. -

Minaçu (GO) Há desequilíbrio na distribuição das receitas tributárias

A empresa paga muito imposto, mas é injusta a distribuição entre as esferas de governo.

-

Corumbá (MS)

Os valores são muito abaixo das necessidades do município. Há grandes distorções.

Desconhece de que forma o dinheiro é empregado. Se ele fosse bem empregado, certamente os valores não seriam excessivos.

nd

Itabira (MG) Há inconsistência na lei, resultando em perdas para os municípios.

Recusou-se a comentar. -

Mariana (MG) É pouco o que se recebe, se comparado com a margem de lucro das empresas.

A CFEM é uma cobrança justa. É preciso conhecer melhor essa fonte de receita.

Paracatu (MG)

O benefício da CFEM é inferior ao dano ambiental que a empresa produz no longo prazo.

O problema é delegar poder a alguém que não tem competência para gerenciar esses recursos.

Não há participação social nos destinos dados aos recursos da CFEM.

Santa Bárbara (MG)

É um bom sistema e os recursos voltam para o município.

A CFEM é justa, pois se extrai um recurso que é exaurível. -

Cen

tro-O

este

, Sud

este

e S

ul

Forquilhinha (SC)

A CFEM é um recurso muito importante para o município. Os valores estão atrelados ao Fundo de Meio Ambiente e Agricultura.

Os recursos deveriam retornar em benefício das companhias mineradoras. É muito o que a companhia paga de CFEM.

A sociedade deveria conhecer de forma transparente a destinação dada aos valores.

Quadro 19: Percepção dos principais atores sociais dos 15 maiores municípios mineradores do Brasil: sobre o sistema da CFEM (*) Membros do poder legislativo, associações, sindicatos etc. Fonte: Informações obtidas diretamente dos municípios mineradores durante os trabalhos de campo, ocorridos no período de abril a setembro de 2005.

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As empresas não percebem que a CFEM seja utilizada produtivamente pelos

municípios mineradores. Para elas, faltam transparência e destinação adequada para a

utilização desse instrumento.

Pelo lado do poder público dos municípios mineradores, há um generalizado e

profundo desconhecimento dos princípios norteadores, dos fundamentos e do significado da

CFEM. Os gestores municipais atentam bem mais para o montante recebido, sempre

considerado insuficiente para custear as despesas crescentes. As exceções são os

municípios de Itabira (MG), Minaçu (GO) e Paracatu (MG). Para estes municípios, a

argumentação é distinta - enfatiza o fato de que os benefícios da CFEM estão muito aquém

dos danos ambientais provocados pela mineração.

No caso dos representantes da sociedade local, é ainda maior o desconhecimento

da mineração, em geral, e da CFEM, em particular, pois não há debates que esclareçam a

população sobre o significado da renda mineira e, particularmente, da CFEM.

Embora as empresas afirmem não exercer nenhum tipo de ingerência sobre os usos

dos recursos que elas recolhem aos municípios, em muitos casos, elas interferem no

processo de desenvolvimento local por intermédio de parcerias que estabelecem, das

consultorias que disponibilizam, dos convênios e outras formas de colaboração. Essa

cooperação pode ser mais ou menos intensa, dependendo de fatores como: período de

implantação do projeto (antes ou depois dos marcos regulatórios sócio-ambientais), da força

social dos grupos de interesse (stakeholders), da filosofia da empresa quanto à noção de

responsabilidade social corporativa, do histórico da empresa e da experiência acumulada

quanto ao trato do social, entre outros. O Quadro 20, a seguir, sintetiza o entendimento de

“responsabilidade social” de algumas companhias mineradoras entrevistadas

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365

companhia mineradora

entendimento de responsabilidade social

CVRD – ex-CADAM

Vitória do Jari (AP)

o que é bom para os nossos funcionários é bom para os terceiros.

SAMA Minaçu (GO)

o conceito vai além do assistencialismo, visa dar oportunidades para o crescimento social e profissional das pessoas. Isso possibilita maior crescimento do município com menos impactos sociais e ambientais. É, acima de tudo, uma obrigação, não basta atuar numa atividade, mas esta deve estar inserida em um contexto social. O conceito deve envolver toda a cadeia de valor, dos funcionários aos acionistas, parceiros diretos e indiretos. passando pelos diferentes setores, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida. A idéia é de fazer além da obrigação. Se não se trabalha dessa forma não tem solução.

CÓRREGO DO SÍTIO

Santa Bárbara (MG)

o paternalismo não é bom. Hoje a comunidade tem um poder violento. A empresa não consegue abrir nada se não tiver um bom relacionamento com a comunidade. Por isso é importante ter uma política de abertura e parceria com a comunidade (empresa aberta).

SÃO BENTO MINERAÇÃO Santa Bárbara

(MG)

é uma forma de gestão, cujos pilares são a ética e a transparência nas relações estabelecidas com todos os públicos, inclusive a comunidade. A realização dos programas sociais melhorou muito a relação do empreendimento com a comunidade, porque a empresa adquiriu mais visibilidade e respeito da comunidade, sendo percebida como empresa cidadã, ou seja, aquela que cumpre com suas obrigações, exercendo a cidadania corporativa – que não sonega imposto e que respeita o meio ambiente.

MINERAÇÃO CORUMBAENSE

Corumbá (MS)

se baseia nos princípios de responsabilidade social do grupo Rio Tinto: respeito mútuo, parceria ativa com comprometimentos de longo prazo, reciprocidade. Exemplos de atuação: seminários de investimentos participativos e e atividades de educação ambiental.

RIO PARACATU MINERAÇÃO Paracatu (MG)

boas relações com os vizinhos são fundamentais para o sucesso do empreendimento. Sabendo que cada comunidade é diferente, a operação deve se esforçar para entender e interagir construtivamente com a comunidade e apoiar o seu desenvolvimento de acordo com os seguintes princípios: respeito mútuo; parcerias ativas, comprometimento de longo prazo (são os mesmos do Grupo Rio Tinto).

CARBONÍFERA CRICIUMA

Forquilhinha (SC)

atendimentos às demandas (não tem um conceito formado).

MINERAÇÃO CARAÍBA

Jaguarari (Bahia)

proporcionar melhor qualidade de vida para todas as partes interessadas do seu negócio. É um erro comum confundir responsabilidade social com programas assistenciais e filantrópicos. O que a empresa precisa descobrir é a forma de beneficiar, de fato, a comunidade, assumindo um balanço social positivo.

URUCUM MINERAÇÃO-

CVRD Corumbá (MS)

a empresa trabalha com um tripé de princípios que envolvem cultura, educação e meio ambiente. A partir desses critérios são escolhidos os apoios que a companhia prestará em termos de ações sociais.

CARAJÁS - CVRD Parauapebas (PA)

todo o trabalho social da CVRD é desenvolvido pela Fundação Vale do Rio Doce (FVRD). O principal foco de atuação da FVRD é a educação.

TAQUARI-VASSOURAS -

CVRD Rosário do Catete

(SE)

todo o trabalho social da CVRD é desenvolvido pela Fundação Vale do Rio Doce (FVRD). O principal foco de atuação da FVRD é a educação. O Vale Alfabetizar, que iniciou em 2003, já abrange 23 municípios em todo o Brasil. Doações no varejo não fazem parte do foco da Vale. A empresa procura evitar apoios para festas e eventos com conotações políticas. Procura patrocinar atividades que sejam mais constantes.

Quadro 20: Entendimento de “responsabilidade social”, por parte das companhias mineradoras visitadas. Fonte: elaboração da autora a partir de entrevistas realizadas nas empresas, entre 2005 e 2006

Conforme foi possível constatar pelos destaques, não há um único padrão quanto à

idéia de responsabilidade social corporativa. Para a maioria das empresas entrevistadas, a

mudança de mentalidade empresarial é muito recente, começou com a idéia de co-

responsabilidade há uns 15 anos, com os conceitos de housekeeping, “5 S” e várias outras

ferramentas que foram se adaptando à cultura das empresas. Todos concordam que a

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cidadania empresarial surgiu em decorrência de um aumento de consciência social que vem

sendo internalizado por diversas organizações globais e que vem desafiando as tradicionais

áreas de recursos humanos a se adequarem a esta nova realidade social.

Boeira (2004) distingue responsabilidade social de “alta” e de “baixa intensidade”, de

acordo com o tipo de agente social (ou stakeholder) que interage com a empresa. Dada a

diversidade de grupos e de interesses e, de igual forma, a diversidade de capital social já

adquirido por estes, é pouco provável uma prática e uma ética empresarial uniforme no trato

com esses grupos distintos. De acordo com o autor, os grupos mais beneficiados sempre

serão aqueles que tiverem um maior acúmulo de capital social e/ou que forem de vital

importância aos interesses das empresas. Essa constatação de Boeira (2004) parece se

refletir na prática social das empresas mineradoras visitadas. É possível que a própria noção

de responsabilidade social seja influenciada também pelo tipo de agente social que interage

com a empresa. O Quadro 21, a seguir, revela que esse entendimento diferenciado resulta

em práticas sociais distintas que podem gerar maior ou menor benefício para o município.

companhia mineradora

ação valor (R$1,00) 2004

CVRD – ex-CADAM Vitória do Jari (AP)

cursos a preços subsidiados para os funcionários. Possibilidade de realização de estágio na empresa. Apoio ao posto médico (disponibiliza um especialista). Construção de um posto hidroviário.

nd

SAMA Minaçu (GO)

Associação de artesãos; projeto artesanato – artesão artístico mineral do SENAI (duas turmas de 35 alunos em situação de risco); associações de vôlei ANAVOL (três times); projeto PET - atletismo (250 crianças); associação Charles Tyson de futebol (84 crianças); clube de handebol (100 jovens e adultos), grupos religiosos (Vicentinos e Assembléia de Deus), pastoral da criança – escola infantil (80 crianças) e casa da sopa, entre outros.

423.000

SÃO BENTO MINERAÇÃO

Santa Bárbara (MG)

Educação Ambiental nas escolas de 1º e 2º graus; apoio às ações de melhoria na qualidade de vida; apoio na restauração e preservação do patrimônio histórico; Melhoria da qualidade de vida das comunidades no entorno da empresa.

330.000

URUCUM MINERAÇÃO

(CVRD) Corumbá (MS)

Plano de Desenvolvimento Sustentável (PDS) de Corumbá. Projeto Moinho Cultural Sul-americano (os projetos institucionais da CVRD - Vale música e Vale Informática – foram inseridos; atende 250 crianças e adolescentes de 6 a 18 anos); projeto Monumenta (em parceria com o BID) para revitalização da orla e do porto de Corumbá; oferta de cursos de capacitação, em parceria com o SENAI.

4.000.000 (gastos entre 2004

e 2005)

CARBONÍFERA CRICIÚMA

Forquilhinha (SC)

Escolinha de futebol; Sociedade de Assistência ao Trabalhador do Carvão (SFATC) e programas “portas abertas” (visitação incentivada para as áreas de engenharia, geologia, tanto de Santa Catariana como de outros estados).

Dede 1963, investem 0,02% do

faturamento 16.000

TAQUARI VASSOURAS - CVRD

Rosário do Catete (SE)(2)

Vale Alfabetizar, Vale Informática, Voluntários Vale, apoio ao Governo de Sergipe, através do Projeto Acelera (Fundação Ayrton Sena). Excepcionalmente a CVRD destinou R$1 milhão ao projeto. 68.000

RIO PARACATU MINERAÇÃO Paracatu (MG)

Conselho de Parcerias; projeto “meu primeiro emprego” , em parceria com o Senai; projeto geração de renda (atelier de costura, etc) e projeto “portas abertas” para a comunidade.

nd

CARAJÁS - CVRD Parauapebas (PA)

Projeto açaí – na APA do Igarapé Gelado. Além dos projetos institucionais da Fundação Vale do Rio Doce. 1.500.000

Quadro 21: Exemplo de ações implementadas pelas companhias mineradoras na área social Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os anos 2005 e 2006.

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Os projetos e os dispêndios sociais realizados pelas empresas de mineração

dependem exclusivamente da deliberação das companhias. Para a determinação dos

valores, dos tipos de projetos, da abrangência das ações não há um sistema de regulação

que discipline a ação empresarial (distintamente do que ocorre como o meio ecológico).

Pode-se especular que os grupos sociais mais privilegiados com os projetos das empresas

serão aqueles que forem de maior importância para os interesses corporativos. Na falta de

um sistema de regulação, o que se percebe é certa fragilidade das comunidades locais em

conseguir que as empresas apóiem projetos que efetivamente promovam seu

desenvolvimento socioeconômico.

6.4 SUGESTÕES PARA A MELHORIA DO INSTRUMENTO CFEM

Os dados reunidos nos Quadros (22 e 23), a seguir, sintetizam as principais

sugestões apontadas para melhorar a regulamentação e a efetividade da CFEM.

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região município

minerador poder público local companhia mineradora representantes da

sociedade*

Vitória do Jari (AP)

Aumentar a parcela destinada ao município.

Os recursos financeiros deveriam ser utilizados nas áreas de educação e saúde

Realizar cursos em parceria com DNPM para capacitação sobre a legislação minerária e elaboração de indicadores para se saber o quê, de fato, se extrai.

Jaguarari (BA)

Aumentar a parcela destinada ao município.

Definir uma destinação objetiva para os recursos da CFEM. nd

Canaã dos Carajás (PA)

Definir um percentual para um fundo municipal. Ampliar as parcerias empresa-prefeitura e dar transparência às informações.

O representante não quis se pronunciar a respeito. nd

Ipixuna do Pará (PA)

A renda mineral deve ser usada em investimentos. nd nd

Oriximiná (PA) nd nd

Parauapebas (PA)

A sociedade deve participar da decisão sobre o uso

Tornar mais claros os critérios do que é custo de produção para as companhias mineradoras.

nd

Nor

te e

Nor

dest

e

Rosário do Catete (SE)

Aumentar a parcela destinada ao município.

Melhorar a redação da lei da CFEM, pois cloreto de potássio é fertilizante. Amarrar a lei. Divulgar o uso dado à CFEM. Se os impostos fossem bem canalizados, haveria um melhora significativa no município.

Os recursos deveriam ser investidos na qualificação dos jovens.

Crixás (GO) Aumentar a parcela destinada ao município.

O boleto eletrônico já representou um grande avanço. É pouca a parte que vai para o município.

nd

Minaçu (GO)

Se não houver prioridade no uso dos recursos, qualquer ganho adicional sempre será insuficiente.

Se a CFEM fosse bem aplicada, a dependência da comunidade em relação à SAMA seria bem menor.

nd

Corumbá (MS)

Aumentar a parcela destinada ao município.

Investimentos para a diversificação da economia de acordo com suas vocações. Incentivar os governos municipais a atrair novos negócios para reduzir a dependência excessiva da mineração.

nd

Itabira (MG) Resolver as dubiedades da lei (questão do que é considerado como custo de transporte).

A facilidade de obtenção da guia com código de barras via internet é um grande avanço.

nd

Mariana (MG)

Ampliar a participação social na decisão do gasto.

Respeitar o princípio da simplicidade na cobrança. nd

Paracatu (MG)

Ajustar o benefício ao custo ambiental que a atividade provoca.

Se os recursos da CFEM tivessem uma destinação clara, seria melhor.

nd

Santa Bárbara (MG)

É um bom sistema, pois ajuda na descentralização dos recursos, cada vez mais concentrados no Governo Federal.

Os repasses municipais deveriam ser mais rápidos. nd

Cen

tro-O

este

, Sud

este

e S

ul

Forquilhinha (SC)

Utilizar os recursos da CFEM de acordo com o definido em lei.

Deve ser aplicado em obras que atendam aos interesses da empresa. Deve ser dada publicidade ao que é feito com os recursos.

Deve ser usado para investimento. Deve haver mais fiscalização.

Quadro 22: Sugestões para melhoria da efetividade da CFEM, pelos principais atores sociais dos 15 maiores municípios mineradores do Brasil. (2005 e 2006) (*) Membros do poder legislativo, associações e sindicatos. Fonte: Elaborado a partir da entrevistas realizadas em campo pela autora

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No que se refere às sugestões apresentadas pelos governos municipais, uma das

mais mencionadas foi a de ampliar a participação do município no bolo total da arrecadação

da CFEM, pelo aumento da alíquota ou pela ampliação da parcela que cabe ao município.

Essa resposta veio de cinco dos 14 representantes entrevistados. Quando associada ao tipo

de uso dado aos recursos da CFEM, observamos que todos esses municípios caíram na

“armadilha do caixa único” – Vitória do Jari (AP), Jaguarari (BA), Crixás (GO), Santa Bárbara

(MG) e Corumbá (MG), ou seja, a forma rotineira de gastar a CFEM leva à reivindicação por

mais recursos.

Três municípios afirmaram a necessidade de definir prioridades no uso da CFEM.

Para o prefeito de Minaçu (GO), as necessidades são ilimitadas e o papel do gestor público

é definir prioridades. Portanto, se não houver prioridade, nunca haverá recurso suficiente.

Canaã dos Carajás (PA) ressalta a necessidade da criação de um fundo específico para

esse fim e Ipixuna do Pará (PA) reafirmou a prioridade de investimentos. Para os gestores

de Parauapebas (PA) e Mariana (MG), é necessário incluir na regulamentação da CFEM

dispositivos para ampliar o controle social sobre o uso dado aos recursos financeiros.

Mariana (MG) pratica o orçamento participativo. Para o Secretário de Finanças de Mariana,

a mineração é uma atividade positiva para o município em função de o impacto ambiental

ser pontual (“se somarmos todas as áreas de mineração do Brasil, não dá uma Tucuruí”). A

atividade gera muitos recursos públicos: CFEM, ICMS, ISSQN, IPTU etc. Porém, é preciso

ter recursos públicos no curto, médio e longo prazos, no sentido de reduzir a dependência

em relação à mineração e de desenvolver atividades novas que sinalizem saídas

alternativas.

Itabira (MG) ressaltou a necessidade de se promover uma ampla revisão na lei, para

corrigir distorções que resultam na perda de receita para os municípios. Essas distorções se

referem às dubiedades quanto ao que pode ou não ser deduzido como custos de produção.

Para o consultor da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Itabira (MG), a idéia da

CFEM é, em princípio, admirável. No entanto, ela tem um erro de princípio, pois não fixou os

percentuais mínimos obrigatórios a serem gastos na diversificação econômica dos

municípios. Para o Secretário de Meio Ambiente de Itabira, a legislação é “capenga” porque

não criou qualquer vínculo para os gastos. Os recursos vêm para um caixa único e são

aplicados em fins para os quais eles não foram criados. Acrescenta que nenhum município

criou um plano vinculado ao uso sustentado dos recursos da CFEM. Ambos concordam que

atualmente o problema está bem difícil de ser resolvido, pois esses recursos se

incorporaram de uma forma “inorgânica” ou inespecífica aos orçamentos dos municípios

mineradores.

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O representante de Paracatu (MG) ressaltou que os recursos da CFEM não

compensam o dano ambiental que a atividade mineral provoca. Nesse sentido, é imperativo

ajustar os benefícios aos danos ambientais.

As sugestões apresentadas pelos representantes das companhias mineradoras para

aprimorar o sistema da CFEM se voltam, prioritariamente, para a vinculação do uso a áreas

específicas (40%) de educação, de saúde, de infra-estrutura e outras, além de dar mais

publicidade e transparência ao que é feito com os recursos. Segundo os representantes de

companhias mineradoras, não há como saber concretamente se os valores estão sendo

bem ou mal aplicados, uma vez que eles desconhecem a real destinação dos recursos da

CFEM.

Para os representantes da Anglo Gold de Crixás (GO), da CVRD de Itabira (MG), da

São Bento de Santa Bárbara (MG) e da Samarco de Mariana (MG), a modernização na

cobrança da CFEM (boletos eletrônicos com código de barras, obtido via Internet) já facilitou

bastante o recolhimento. Nesse sentido, quanto mais moderno e ágil for o sistema, menos

custos ele gera e mais eficiente ele se torna. Algumas dessas empresas mencionaram

também a necessidade de agilizar os repasses aos municípios beneficiados, pois as

empresas fisicamente estabelecidas nos locais recebem cobranças no caso de atrasos.

Os representantes da SAMA de Minaçu (GO), da CVRD e da Mineração

Corumbaense, de Corumbá (MS) ressaltaram a preocupação com a excessiva dependência

dos municípios mineradores em relação à atividade mineral, que é provisória e esgotável.

Daí vem a sugestão de que os recursos da CFEM sejam aplicados em um plano de

diversificação econômica. Para o gerente da SAMA, os recursos da CFEM deveriam ser

destinados a criar outras atividades, como por exemplo, a agricultura e o melhor

aproveitamento dos recursos naturais locais. Para ele, a lei deveria ser mais pró-ativa. A

mineração sempre fica com a imagem de vilã, havendo até um ditado que diz que “cidade

mineira é cidade de povo pobre”.

Para os representantes da CVRD de Parauapebas (PA) e da CVRD de Rosário do

Catete (SE), é necessário clarificar as dubiedades da lei – o que é de fato custo de

transporte, qual a verdadeira alíquota do potássio, uma vez que ele é usado como

fertilizante – a fim de facilitar e tornar mais transparente o recolhimento da CFEM.

O Quadro 23 sintetiza os principais problemas e sugestões apontados pelos atores

sociais – empresas, governos e representantes da sociedade civil - da mineração nos 15

municípios de base mineira, para melhorar a regulamentação da CFEM

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aspectos da regulamentação da

CFEM tópicos problemas/sugestões

alíquota

Redação da Lei 7.990 - entendimento dúbio sobre a alíquota do potássio (3%) e dos fertilizantes (2%), considerando que mais de 90% do potássio extraído é destinado à produção de fertilizantes. Essa ambigüidade gerou um processo judicial da CVRD (mina Taquari-Vassouras) contra o DNPM, em Rosário do Catete (Sergipe).

base de incidência

Confusão quanto ao conceito de receita líquida. Quais os custos de transporte que devem ser considerados? Os custos de transporte de movimentação dentro da mina podem ser deduzidos? Clarificar os custos que podem ser deduzidos. Esse é um problema sério identificado em Itabira.

formulação

partilha

Segundo depoimento de um representante de empresa de Minas Gerais, os municípios desse estado têm direito a 25% dos 23% da CFEM que são repassadas para MG. Isso significa que os municípios mineradores recebem ainda mais recursos da mineração. O grande problema identificado é que a legislação atual não considera a área de influência da mineração para a distribuição dos benefícios da atividade mineral.

implementação uso

É o ponto mais criticado por empresas, pela sociedade e até mesmo pelos governos locais. A ausência de uma aplicação objetiva tem resultado na “armadilha do caixa único” para a maioria dos municípios visitados.

controle e fiscalização

competências/ regulamentação

Há demanda dos Estados para fiscalizar e receber diretamente das companhias mineradoras a sua parcela da CFEM (Pará Lei n.6.710, de 14/01/2005). Segundo informação de um gestor municipal de MG, dois prefeitos de municípios mineiros já foram cassados por mau uso da CFEM, pois naquele Estado o Tribunal de Contas fiscaliza o uso dado à CFEM. A Lei favorece a ilegalidade, pois só cobra das empresas que estão formalmente estabelecidas, ou seja, se a empresa é informal ela não gera passivos de CFEM. Dessa forma, para não gerarem passivos, é mais racional permanecer na ilegalidade, em alguns casos.

avaliação critérios /prazos Não há regulamentação para se fazer uma avaliação periódica desse instrumento e para sugerir correção de rota.

Quadro 23: Problemas e sugestões apontados pelos principais atores sociais da mineração nos 15 maiores municípios mineradores do Brasil para melhorar a regulamentação da CFEM. Fonte: Entrevistas realizadas pela autora com representantes de empresas, governos e sociedade civil nos municípios mineradores (pesquisa de campo: maio de 2005 a setembro de 2006).

As rendas oriundas da produção de bens minerais representam parte substancial das

receitas públicas de muitos municípios brasileiros. Além desse aspecto quantitativo, é no

aspecto qualitativo que a receita da CFEM tem o seu caráter estratégico, pois não é

vinculada a gastos previamente definidos, o que possibilita ampla flexibilidade de seu uso.

Esta característica gera um conjunto de preocupações de caráter econômico-financeiro,

social e distributivo.

Há, portanto, um descontentamento generalizado quanto à efetiva contribuição da

CFEM para a promoção do desenvolvimento local. As companhias mineradoras alegam não

perceber o uso produtivo desse instrumento. Afirmam que a lei é falha, pois não vinculou o

benefício a qualquer uso fecundo. Os governos locais, por sua vez, reclamam que os

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valores recebidos são insuficientes para custear o atendimento das demandas sociais, que

crescem significativamente com o advento da atividade mineradora. Embora a lei não

permita, muitos gestores públicos usam os valores da CFEM para custear a folha de

pagamento dos servidores municipais. Os demais representantes da sociedade civil também

afirmam desconhecer a origem e as formas de uso da CFEM.

A maioria dos municípios usa a CFEM como um recurso orçamentário qualquer,

procedimento que foi denominado de “armadilha do caixa único”. Com os valores assim

“diluídos”, o gestor não percebe as potencialidades transformadoras da CFEM. Essas

potencialidades têm se realizado em alguns municípios que a usam como instrumento para

diversificar a atividade produtiva, promover a inclusão social e elevar o nível de capacitação

científica e tecnológica de seus recursos humanos e empresas, embora ainda haja uma

grande distância entre isso e uma efetiva promoção de um desenvolvimento local

sustentável.

Esse “bom uso” da CFEM, por sua vez, em todos os casos analisados, não ocorreu

de forma voluntária e espontânea, a partir do “bom senso” ou de uma “boa formação” do

gestor público. Os municípios que, em algum momento, utilizaram a CFEM numa

perspectiva de desenvolvimento local sofreram algum tipo de pressão. Essa pressão nasceu

da proximidade do fechamento da mina (por esgotamento da jazida), da ameaça de

encerramento da atividade mineradora por pressões de ordem ambiental, por pressões

geradas a partir do questionamento da CFEM, entre outros tipos de pressão.

Um aspecto importante que merece destaque é que os municípios que adotaram o

padrão de “uso sustentado da CFEM” pertencem ao conjunto que apresentou o perfil

“crescimento com eqüidade”. Disso, pode-se especular que melhorando a governança da

CFEM, por algum “fator de pressão”, seja possível contribuir para a ampliação dos outros

benefícios que a mineração tem potencial de gerar no município. Esta melhor governança

pode contribuir para a formação de um contexto institucional baseado na atenção e na boa

gestão do patrimônio público, na visão de futuro, na eficiência no uso da receitas públicas e

na atenção com a qualidade do gasto público, entre outros. Enfim, um contexto institucional

que gere as condições capazes de transformar a possível maldição em dádiva.

Como todo recurso público sem uma destinação específica, é claro que os recursos

da CFEM estão sujeitos à má utilização. Com alguns ajustes, porém, a CFEM é um

instrumento muito interessante para fazer a ponte entre um recurso produtivo que tem vida

útil definida e a perspectiva de geração de outras atividade produtivas que possam contribuir

para um desenvolvimento sustentável das regiões de base mineradora.

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CONCLUSÃO

Esta tese teve como objetivo verificar até que ponto a mineração de larga escala é

dádiva ou maldição para o processo de desenvolvimento sustentável de municípios de base

mineradora no Brasil e constatar se a CFEM exerce alguma influência sobre essa dinâmica.

Para isso, foi utilizado um conjunto de indicadores ambientais, econômicos, sociais e de

governança, visando captar a influência da atividade mineradora nas dimensões “clássicas”

do desenvolvimento. Dessa forma, tentou-se verificar a veracidade das três hipóteses

assumidas nesta tese, quais sejam, de que 1) a dimensão ecológica do desenvolvimento

não é o principal problema que municípios de base mineradora enfrentam para seguir uma

trajetória de sustentabilidade; 2) o principal problema é de natureza socioeconômica, por

não haver um aparato legal e institucional consolidado, ou mecanismos indutores, que

disciplinem como deve ser a contribuição da atividade mineradora para a sustentabilidade

do município produtor; e 3) a CFEM é um instrumento de grande potencial para contornar os

problemas que os municípios mineradores enfrentam e, se bem aplicada, pode contribuir

para a melhoria da eqüidade intergeração na distribuição dos benefícios da extração

mineral.

Quanto à primeira hipótese, verificamos que a difusão da idéia do desenvolvimento

sustentável, a partir de meados dos anos 1980, induziu a criação de mecanismos legais em

defesa do meio ambiente, de novas normas regulatórias, de instituições e sistemas de

acompanhamento de controle do setor mineral. Isto tudo representou verdadeiro divisor de

águas entre as práticas predatórias antes adotadas pela mineração de larga escala e a

preocupação de evitá-las e/ou mitigá-las. Essa dinâmica vem se universalizando em maior

ou menor intensidade, em razão de os instrumentos adotados serem padrões globais, tais

como estudos de avaliação de impactos ambientais, programas de monitoramento e de

fixação de padrões de emissões, programas de recomposição de áreas degradadas e

adesão voluntária a ferramentas de controle ambiental, como as normas de série ISO

14.000, por exemplo, que permitem auditagem independente, entre outros.

Não obstante as lacunas existentes quanto à efetividade dessas políticas ambientais,

principalmente por causa da reconhecida fragilidade dos mecanismos de controle e de

fiscalização no Brasil, foi possível identificar dois comportamentos ambientais da indústria

mineradora nos municípios brasileiros estudados. O primeiro é um comportamento reativo a

essas normas ambientais, predominante nos municípios mineradores mais antigos,

particularmente nos da região Centro-Sul do país. Os exemplos de Forquilhinha (SC) e

Itabira (MG) são representativos. Esse mesmo padrão se verificou no Canadá; o exemplo de

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Sudbury é bem eloqüente. O segundo comportamento é pró-ativo, pois já incorpora, desde a

sua origem, essa nova “institucionalidade ambiental” e se antecipa aos problemas que

podem ser ocasionados. O padrão pró-ativo predomina em municípios de atividade

mineradora recente e de larga escala, como os da região Norte do Brasil. Da mesma forma,

no Canadá a expansão da atividade mineradora para as áreas remotas do norte do país já

incorpora fortemente, desde a sua origem, o cuidado com o meio ambiente natural.

A agregação dos indicadores ambientais produzidos pelo IBGE permitiu constatar

também que a mineração é uma atividade que favorece uma “institucionalização ambiental”

nos municípios onde ocorre. Isso é verificável quando o município minerador é comparado

ao seu entorno não-minerador. Nos municípios mineradores há mais conselhos ambientais

ativos, mais áreas protegidas, legislação pertinente e órgãos ambientais. É provável que

isso se explique pela existência dos passivos ambientais gerados pela atividade ao longo

dos anos em que a atividade mineradora funcionou sem o freio dos mecanismos

regulatórios ambientais.

Quer motivados pela força da lei, pelo mercado ou pela sociedade, é um fato que os

novos padrões ambientais contribuem concretamente para promover um maior

comprometimento da mineração com a dimensão ecológica. O avanço das tecnologias

voltadas para o abrandamento dos impactos biofísicos também contribui para atenuação de

muitos problemas gerados pela mineração, tais como a drenagem ácida, o rompimento de

barragens, a emissão de gases tóxicos e de material particulado, entre outros. Todavia,

gerar impactos ecológicos faz parte da natureza da atividade mineral. Portanto, estes

impactos precisam ser ativamente monitorados nos novos municípios mineradores da região

Norte, além de remediados e monitorados nos municípios do Centro-Sul.

Os avanços ocorridos na regulamentação e no disciplinamento da dimensão

ecológica não têm se dado com a mesma velocidade para a dimensão socioeconômica,

uma vez que as regras do que deva ser uma mineração socialmente sustentável são

inexistentes ou muito frágeis. Esse quadro pode comprometer seriamente a possibilidade de

a mineração deixar um legado de sustentabilidade para as gerações futuras - eqüidade

intergeracional.

A experiência canadense demonstrou que esse não é um problema exclusivo de

países em desenvolvimento como o Brasil. O caso de Logan Lake, uma cidade mineradora

de cobre, cujas jazidas estão em fase de exaustão, é bastante ilustrativo. Apenas os

cuidados com o meio ecológico não são suficientes para garantir o bem-estar das futuras

gerações dessa região. Dada a inexistência de estratégias para garantir rendas

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sustentáveis, o futuro da comunidade está ameaçado. Ela pode se transformar em uma

cidade-fantasma, caso medidas corretivas não forem adotadas. No Brasil, essa situação

ainda não se revela em toda sua magnitude, uma vez que o fechamento de minas ainda não

adquiriu as proporções canadenses. Porém, muitas minas brasileiras já estão concluindo o

seu ciclo de vida e, portanto, estarão em breve gerando o cortejo de problemas associados

ao fechamento. Acontece que, diferentemente do Canadá, que tem um importante

instrumento voltado apenas para a recuperação ambiental (o trust fund), o Brasil tem um

instrumento (CFEM) que pode ser utilizado para minimizar os problemas socioeconômicos

provocados pelo fechamento, se medidas corretas forem adotadas desde o início da

extração mineral.

A reboque das preocupações ambientais com a mineração, as questões

socioeconômicas passaram a eclodir e, todavia, ainda estão emergindo com muito vigor,

num grau suficiente para permitir que se questione qual o verdadeiro papel da mineração

para a superação da pobreza e para a construção de um desenvolvimento em bases

sustentáveis. O Banco Mundial tem sido um dos principais catalisadores dessas

inquietações. Ele tem financiado e apoiado estudos e organizações preocupadas com essas

questões. Essa nova atitude do Banco Mundial foi provocada, de um lado, pelos constantes

questionamentos de suas políticas de apoio às atividades de extração de recursos naturais,

especialmente nas economias pobres, e, de outro, pelos resultados decepcionantes que

essas atividades geraram em alguns países. Assim, temas que associam extração mineral à

superação da pobreza, à melhoria do capital humano, à eqüidade na distribuição de renda,

ao uso eficiente das rendas minerais e temas correlatos, fazem parte de uma ampla agenda

de discussões que estão na ordem do dia em muitas partes do mundo.

Nesse sentido, a segunda hipótese da tese também foi confirmada. Os maiores

problemas socioeconômicos enfrentados pelas economias de base mineradora estão

relacionados ao nível de ocupação populacional e à melhor eqüidade com a distribuição da

renda, provavelmente pela falta de um aparato legal e institucional consolidado, no sentido

de criar mecanismos indutores que disciplinem de que forma a atividade mineradora deve

contribuir nesse sentido. Muito embora se reconheça que a atividade mineradora tenha um

impacto favorável que vai além do mero crescimento econômico, expresso no PIB e na

receita pública, influenciando, principalmente, indicadores relacionados ao capital humano,

especificamente à educação, conforme será detalhado a seguir.

Quanto à dimensão econômica, os indicadores do PIB e do PIB per capita revelaram

que a atividade mineradora é, sim, um importante fator de crescimento econômico, pelo

menos enquanto os recursos não se exaurirem ou a mina não fechar por motivos de

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mercado ou tecnológicos. Diferentes técnicas de aferição usadas – análise de agrupamento

de fatores (cluster), médias e indicadores estático-comparativos - demonstraram que o PIB

per capita de municípios mineradores é maior e cresce mais do que no seu entorno não-

minerador. O seu potencial expansivo, entretanto, pode ser diluído se a região atrair um

grande contingente populacional. Quanto a este aspecto, verificou-se que há grandes

assimetrias entres os municípios mineradores da região Norte e das demais regiões

brasileiras. Embora a dinâmica populacional acompanhe o ciclo de implantação,

desenvolvimento, produção e fechamento dos empreendimentos mineradores, ela varia

bastante entre as regiões brasileiras, principalmente, quando estão presentes outros fatores

de atração populacional, além da mineração.

Em municípios de base mineradora, a receita municipal per capita é bem mais

elevada que no seu entorno não-minerador. Esse aumento é resultante de forças

endógenas, uma vez que o FPM per capita, principal fonte de receita que é transferida pela

União, é menor nos municípios de base mineradora. A maior receita dos municípios

mineradores vem do movimento produtivo que eleva o VAF e, conseqüentemente, a parcela

de repasse do ICMS, além do recolhimento do ISSQN das prestadoras de serviços à

mineradora e das receitas da CFEM.

Quanto à dimensão social, foi possível constatar que a mineração exerce uma

influência favorável sobre a formação de capital humano, representado pelo IDHM, uma vez

que ele é mais elevado nos municípios de base mineradora. Contrariamente ao que se

poderia supor, isso não ocorre por causa do sub-índice renda, mas sim do sub-índice da

educação, seguido pelo da longevidade. Esse comportamento foi confirmado pela redução

das taxas de analfabetismo e pelo maior número de anos de estudo que os municípios de

base mineira exibem em todas as regiões estudadas.

Os indicadores referentes à pobreza e à concentração de renda revelaram um forte

viés regional. Nos municípios mineradores das regiões Norte e Nordeste houve redução do

percentual de pobres, porém em uma proporção bem menor do que nos municípios

mineradores das demais regiões brasileiras. Contradizendo a idéia de que a mineração é

um fator de concentração de renda, o índice de Gini para essa variável decresceu nos

municípios mineradores na região Centro-Sul, mas se elevou nos municípios mineradores

das regiões Norte e Nordeste.

Embora orientem para melhores benefícios sociais, os impactos da atividade

mineradora sobre a dimensão social necessitam ser contextualizados, pois eles não são

padronizados e tampouco homogêneos. Isso implica dizer que a mesma atividade pode

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resultar em dádivas, em um determinado contexto, e em maldição, em outro. Daí se pode

extrair a importante lição de que as políticas voltadas para o setor mineral devem ser

capazes de incorporar especificidades regionais, pois parece que no Brasil os municípios se

diferenciam muito mais a partir da região geográfica onde estão localizados do que por sua

base produtiva. Portanto, os efeitos da mineração sobre o desenvolvimento dependem

largamente do contexto.

Se não há dúvidas de que a atividade mineradora contribui para o crescimento

econômico municipal e que favorece a formação de capital humano, há fortes

questionamentos quanto ao seu efetivo papel para a superação da pobreza e para a melhor

eqüidade na distribuição da renda gerada. Uma das razões disso é que a mineração não se

caracteriza por ser uma atividade intensiva de ocupação de mão-de-obra. Pelo contrário, ela

é e tem sido cada vez mais intensiva em capital e, por conseguinte, poupadora de mão-de-

obra. Isso ficou demonstrado pela evolução do indicador população ocupada que, embora

exiba o viés regional, demonstrou não ser o efeito mais significativo da atividade mineradora

em relação ao desenvolvimento municipal.

Nos municípios mineradores das regiões Centro-Sul a variável população ocupada

em relação à população total foi menor do que no seu entorno não-minerador. Nos

municípios das regiões Norte e Nordeste o comportamento foi inverso. Contudo, é preciso

ter em conta que a escassez de oferta de trabalho é bem mais aguda nessas regiões e que,

por menor que seja, a contribuição da atividade mineradora é muito relevante para a

geração do emprego local.

A visão conjunta desses indicadores é desconcertante, pois se, de um lado, a

mineração contribui para a melhoria dos indicadores da educação e, possivelmente, para a

melhor qualificação da mão-de-obra, de outro lado essa melhoria não se traduz em aumento

de seu nível de ocupação. Isso nos leva a reconhecer que, embora sendo condição

necessária, a melhoria do capital humano não é por si só condição suficiente para superar

um dos grandes desafios do desenvolvimento dos municípios de base mineradora e do

desenvolvimento, em geral, – o da geração de emprego.

O baixo nível de ocupação populacional nos municípios mineradores é um reflexo

das limitações desses municípios em gerar fortes efeitos de encadeamento da produção e

do consumo, de acordo com a análise de Hirschman. Isso faz recair sobre a administração

pública municipal grande parte da responsabilidade pela condução da trajetória de

desenvolvimento do município, considerando que os encadeamentos fiscais – as rendas

mineiras - são os vínculos mais fortes entre a mineração e o desenvolvimento local.

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Portanto, o uso dessas rendas é o elemento crítico que pode fazer diferença entre uma

mineração que se converte em dádivas ou, ao contrário, que produz maldição.

Nesse sentido, é também verdadeira a terceira hipótese de que a CFEM é um

instrumento econômico que tem grande potencial para ajudar a contornar os problemas que

os municípios mineradores enfrentam e, se bem aplicada, pode contribuir para a melhoria da

eqüidade intergeração na distribuição dos benefícios da extração mineral. Os casos de

Itabira (MG), Forquilhinha (SC) e Minaçu (GO) ilustram isso. No entanto, esse instrumento

está sub-utilizado por causa da “armadilha do caixa único”, ou seja, de problemas

associados à governança.

Os indicadores de governança apresentados, tais como eficiência da gestão pública

e da qualidade do gasto público, demonstraram fazer grande diferença quando uma

atividade de mineração surge no município.

A pesquisa empírica nos 15 maiores municípios mineradores estudados permitiu

verificar que, depois de 14 anos de efetivo recolhimento da CFEM, apenas dois deles –

Itabira (MG) e Forquilhinha (SC) – vincularam formalmente esse instrumento a uma

estratégia de desenvolvimento sustentável. Não é casual que esses municípios apareçam

entre os que apresentaram os melhores indicadores de governança. Lamentavelmente, na

maioria dos municípios mineradores estudados os recursos da CFEM caem na “armadilha

do caixa único” e, dessa forma, esvai-se a perspectiva de uma visão de longo prazo no uso

desse instrumento. Daí a necessidade de reformular esse instrumento para compatibilizá-lo

com a idéia de sustentabilidade e com o controle social de seu uso.

Os municípios mineradores que apresentaram os melhores desempenhos em seus

indicadores de desenvolvimento foram aqueles em que as rendas da mineração foram

gastas dentro de um padrão de uso sustentado e convertidas em gasto público de

qualidade. Assim, municípios com melhores indicadores na dimensão governança saem em

vantagem em relação aos municípios com indicadores ruins nessa dimensão.

Os indicadores apontam para a existência de uma forte associação entre a boa

governança e o acúmulo de capital humano que, por sua vez, está associado ao tempo de

existência do município. Dessa forma, o tempo de vida do município faz diferença e, nesse

sentido, os municípios da região Centro-Sul levam grande vantagem em relação aos novos

municípios no Norte do país. Isso é preocupante quando se leva em conta que a mineração

está ampliando o seu raio de ação para a região Norte. Entretanto, há profundas diferenças

intra-regionais que não podem ser desprezadas. Para municípios de uma mesma região, o

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acúmulo de capital humano e condições favoráveis de governança são fatores que

contribuem fortemente para a ampliação do potencial de desenvolvimento que a mineração

pode gerar. Itabira e Mariana, por exemplo, estão na mesma região de influência, e a origem

de Mariana é anterior a de Itabira, porém os indicadores de Itabira são melhores, apesar do

elevado pedágio ecológico que ele pagou e que ainda paga pelos passivos ambientais

gerados pela atividade mineradora em seu território. Uma lupa em Itabira (MG) permitiu

verificar que o contexto institucional local é importante e que a companhia mineradora

exerceu um forte papel na conformação deste contexto.

Não fez parte dos objetivos da tese discutir se os valores financeiros recebidos pelas

prefeituras locais são ou não justos, especialmente quando comparados com o valor bruto

da produção mineral extraída de seu território, pois isso é tema para uma tese à parte. A

proposta da tese foi apresentar indicadores de desempenho dos municípios mineradores

vis-à-vis o seu entorno não-minerador e verificar se há indícios de que a mineração possa

promover dádiva ou maldição.

Ficou constatado que há forte associação entre a qualidade do gasto, a qualidade da

governança e os indicadores socioeconômicos. As diferentes categorias de crescimento

identificadas – “crescimento perverso”, “concentração de renda com desocupação”,

“repartição da pobreza” e “crescimento com eqüidade” – refletem isso. Porém, como

reflexão prospectiva, é preciso destacar que há limites para a ação municipal conduzir o seu

próprio desenvolvimento. Conforme destaca Boiser, muitas vezes descer ao nível de

município implica na perda da “emergência sistêmica” que pode estar se dando em outras

esferas, talvez em nível de Estado ou da própria União, pois há decisões estratégicas para o

desenvolvimento municipal que escapam do campo de determinação de uma administração

local.

Assim, concluímos este estudo afirmando que a atividade mineral gera

oportunidades (dádivas), porém o aproveitamento delas não ocorre de forma automática.

Ela é mediada pela ação pública, por intermédio da regulação da atividade e do uso

sustentado das rendas minerais, como bem advertem diversos autores do desenvolvimento,

revisados nesta tese. Adotando uma terminologia de Perroux, por alguns considerada

ultrapassada, porém muito inspiradora para a discussão do desenvolvimento regional, os

investimentos em extração mineral de larga escala podem exercer o papel da indústria

motriz e promover a criação de um pólo de crescimento, mas, para que este se transforme

em um pólo de desenvolvimento, é necessária a promoção de transformações significativas

na estrutura regional. Ele requer adoção de outras medidas complementares, caso contrário

pode degenerar para um pólo de subdesenvolvimento (uma maldição). Ou o que afirma

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Amartya Sen sobre os impactos do cresciemento econômico, a maldição ou a dádiva

dependerá de como seus frutos forem aproveitados.

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ANEXOS

• ANEXO 1 – PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS PARA A COLETA DAS INFORMAÇÕES EMPÍRICAS

• ANEXO 2 –QUADRO DE INDICADORES AMBIENTAIS, ECONÔMICOS, SOCIAIS E DE GOVERNANÇA

• ANEXO 3 – BASE DE DADOS AMBIENTAIS, ECONÔMICOS, SOCIAIS E DE GOVERNANÇA DOS 50 MUNICÍPIOS ESTUDADOS

• ANEXO 4 - QUESTIONÁRIOS E ROTEIROS DE ENTREVISTAS UTILIZADOS DURANTE OS TRABALHOS DE CAMPO

• ANEXO 5 – RELAÇÃO DE ATORES SOCIAIS ENTREVISTADOS – EMPRESAS, GOVERSO E SOCIEDADE

• ANEXO 6 – METODOLOGIA PARA A ANÁLISE DO CLUSTER

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ANEXO 1 – PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS PARA A COLETA DAS INFORMAÇÕES EMPÍRICAS

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ANEXO 1 Procedimentos metodologicos para a coleta das informações empíricas

No Brasil, a pesquisa empírica nos municípios mineradores contou com valioso apoio logístico do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), por intermédio da Diretoria de Planejamento e Arrecadação (DIPAR). O DNPM apoiou o projeto por se tratar de um estudo pioneiro e de interesse especial para o próprio DNPM. Conhecer a efetividade da CFEM, enquanto instrumento que visa melhorar a condição social, econômica e ambiental dos municípios mineradores, serve como guia não apenas para as ações de fiscalização e controle do órgão, mas para o aperfeiçoamento da própria política minerária. Destaque-se que, depois de 14 anos de efetiva arrecadação, este é o primeiro estudo abrangente realizado com vistas a avaliar a política da CFEM.

O trabalho também tem importância internacional, pois, entre os países mineradores da América Latina, o Brasil foi um dos primeiros a implantar um sistema de partilha dos benefícios da explotação mineral com as regiões produtoras (Constituição de 1988). A Colômbia implantou a sua lei em 1991, seguida pela Argentina, em 1997, pelo Peru, em 2004, e pelo Chile, em 2005.

No Brasil, em torno de 1.700 dos 5.562 municípios brasileiros (30,6%) recebem recursos financeiros provenientes da CFEM. No entanto, deste universo apenas um número bastante restrito responde pela quase totalidade da arrecadação – 27 municípios recolhem 81% do total. Destes 27 municípios, 15 compõem a amostra da pesquisa realizada. Eles foram escolhidos a partir de três critérios: 1) valor anual da CFEM recolhida superior a R$ 1 milhão; 2) peso da CFEM na receita pública municipal – entre 5% a 30%120 e 3) região geográfica do empreendimento minerador.

Para atender ao primeiro critério, foi considerada a listagem dos municípios arrecadadores de CFEM, disponibilizada no site do DNPM121. A listagem permite recuperar informações por localidade, substância mineral e valor arrecadado, entre outras. Para atender ao segundo critério, cruzamos as informações sobre os valores da CFEM que vão para os cofres públicos municipais e os comparamos com a receita dos respectivos municípios, a partir dos dados de prestação de contas municipais, disponibilizados no site da STN)122. Para o atendimento do terceiro critério, procuramos dar representatividade às diferentes regiões do Brasil. De outra forma, o estado de Minas Gerais seria o mais focado, uma vez que 16 dos 27 maiores municípios mineradores do Brasil estão nesse estado.

Assim, a pesquisa de campo foi planejada para 15 municípios de base mineradora nos seguintes estados: Amapá, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Santa Catarina e Sergipe (Tabela 1). Os maiores destaques foram para os estados de Minas Gerais e Pará, que respondem por 29% e 23,5%, respectivamente, do valor da produção mineral brasileira (Anuário Mineral Brasileiro, 2005).

120 Esses percentuais oscilam ano a ano. 121 www.dnpm.gov.br 122 www.stn.fazenda.gov.br

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400

Tabela A: Localização, substância explotada, ano de início da produção, companhia mineradora e valor da CFEM arrecadada em 2003/06 e participação da CFEM na receita pública municipal pelos 15 maiores municípios mineradores do Brasil

CFEM arrecadado em R$ mil Região

Município Minerador (Estado)

Mineral extraído

Início da produção

Companhia Mineradora 2003 2006

Variação 2003/06

%

% da CFEM na receita municipal*

Vitória do Jari (AP)

caulim 1974 Cadam 3.036 2.343 -23% 21%

Jaguarari (BA) cobre 1977 Caraíba Mineração 1.350 3.911 190% 10%

Canaã dos Carajás (PA)

cobre 2004 Mineração Serra do Sossego

- 12.417 - 27%

Ipixuna do Pará*(PA)

caulim 1996 PPSA e RCCSA 5.586 3.820 -32% 25%

Oriximiná (PA) bauxita 1979 MRN 14.128 17.637 25% 25% Parauapebas (PA)

ferro, manganês

1985 CVRD 28.845 50.469 75% 23%

Reg

iões

Nor

te e

Nor

dest

e

Rosário do Catete (SE)

potássio 1985 CVRD 2.926 1.677 -43% 16%

Crixás (GO) ouro 1989 MSG-Anglo Gold 1.357 1.523 12% 10%

Minaçu (GO) amianto 1967 SAMA 2.277 2.201 -3% 7% Corumbá (MS) ferro 1976 Urucum

Mineração 2.089 3.599 72% 20%

Itabira (MG) ferro 1942 CVRD 27.260 32.943 21% 26% Mariana (MG) ferro 1980 CVRD e

Samarco. 11.299 25.457 125% 2%

Paracatu (MG) ouro 1987 Min.Rio Paracatu 1.841 2.784 51% 20%

Santa Bárbara (MG)

ouro, ferro anos 1980 São Bento Mineração 2.941 3.548 21% 4%

Reg

iões

Cen

tro-O

este

, Sud

este

e

Sul

Forquilhinha (SC) carvão 1982 Carbonífera Cricíuma 935 1.030 10% 5%

Total da CFEM repassada para os 15 municípios 105.870 165.359 56% % arrecadação municipal nacional 56%

(*) referente ao ano de 2005 Fonte: DNPM e entrevistas com as empresas realizadas pela autora

A penúltima coluna da Tabela A chama atenção para a grande variação dos valores da CFEM. Em curto espaço de tempo, municípios tiveram sua receita bruscamente elevada, enquanto em outros, uma repentina queda.

O Mapa A exibe os Estados e os municípios estudados. Nos destaques, imagens de algumas minas visitadas.

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Mapa A: Localização espacial dos municípios mineradores estudados Fonte: Elaboração da autora

A Tabela B exibe os municípios não-mineradores escolhidos que estão no entorno dos municpíos mineradores estudados, com o objetivo de comparar os indicadores de desenvolvimento.

Tabela B: 15 maiores municípios mineradores do Brasil e seu entorno não-minerador

região município minerador (Estado) entorno não-minerador

Vitória do Jari (AP) Laranjal do Jari e Mazagão Jaguarari (BA) Andorinha, Campo Formoso e Uauá Canaã dos Carajás (PA) Eldorado dos Carajás Ipixuna do Pará*(PA) Aurora do Pará, Capitão Poço e Nova Esperança do Piriá Oriximiná (PA) Faro e Terra Santa Parauapebas (PA) Água Azul do Norte e Curionópolis

Reg

iões

Nor

te e

N

orde

ste

Rosário do Catete (SE) Capela, Maruim e Santo Amaro das Brotas Crixás (GO) Nova Crixás e Mozarlândia Minaçu (GO) Trombas e Campinaçu Corumbá (MS) Aquidauana, Miranda e Porto Murtinho Itabira (MG) Jaboticatubas, Antonio Dias e Barão dos Cocais Mariana (MG) Piranga e Rio Piracicaba e Paracatu (MG) Unaí, Dom Bosco e Santa Fé de Minas Santa Bárbara (MG) Alvinópolis e Nova Era

Reg

iões

Cen

tro-O

este

, S

udes

te e

Sul

Forquilhinha (SC) Maracajá, Meleiro e Nova Veneza Fonte: Municípios escolhidos pela autora, a partir dos critérios de proximidade e de não-existência de atividade mineradora ativa.

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Nos municípios visitados foram feitas entrevistas com os principais atores sociais representativos das companhias mineradoras, do poder público local e de organizações sociais locais (ver relação de entrevistados no Anexo 5). As entrevistas foram previamente agendadas com o envio de questionários via e-mail. Em geral, a receptividade foi muito positiva. O fato de a viagem contar com o apoio de órgão federal foi de fundamental importância para facilitar os agendamentos das entrevistas.

As entrevistas com os representantes das companhias de mineração tiveram o objetivo de conhecer aspectos relacionados à produção, ao meio ambiente e ao relacionamento com a comunidade. As principais variáveis econômicas levantadas foram: estrutura produtiva, volume e valor produzidos, receitas geradas e sua distribuição, entre outros (ver roteiro de entrevistas e questionários no Anexo 4). Houve alguma resistência em repassar informações financeiras por parte das empresas do Grupo da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Nas companhias mineradoras também entrevistamos representantes das áreas de meio ambiente e de apoio às comunidades, com o objetivo de levantar indicadores sobre o entendimento e o gerenciamento sócio-ambiental dessas empresas (Gráfico A).

Gráfico A: Estrutura metodológica das entrevistas com os principais atores sociais nos municípios mineradores visitados Fonte: Elaboração da autora

As entrevistas com representantes do poder público local objetivaram fundamentalmente

conhecer o uso da CFEM, além de outras formas de retorno econômico e sócio-ambiental que a mineração gera para o município, em termos de contribuições fiscais, doações, projetos sociais em parceria com as mineradoras, entre outros.

As entrevistas com as organizações sociais objetivaram captar a percepção que a sociedade tem sobre a atuação social, econômica e ambiental das companhias mineradoras em relação ao município. Dada a escassez de tempo para as entrevistas em cada município, essa parte da pesquisa foi complementada por diversos estudos acessados tanto na revisão bibliográfica quanto durante os trabalhos de campo.

No Canadá os agendamentos para a visita aos municípios foram feitos a partir de contatos prévios, via e-mail, com colegas professores das Universidades de British Columbia (Professor Marcello Veiga), da Universidade de Queens (Professor Michael Doggett) e da Universidade de Guelph (Professor Peter Van Straaten). Esses contatos permitiram ampliar o leque de novos contatos que, por sua vez, possibilitaram delimitar com maior segurança o escopo da pesquisa empírica.

Principais Atores Sociais Visitados

Companhias Mineradoras

Poder público local

Organizações da Sociedade

Variáveis

econômicas

Variáveis sócio-

ambientais

Indicadores socioeconômicos

Relação comunidade

empresa

Relacionamento com a empresa

Percepção dos

benefícios/ custos sociais

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O foco principal da pesquisa foi conhecer quais os benefícios que a mineração gera para a esfera local, a partir do estudo de caso de alguns importantes municípios mineradores nas províncias de Ontario e de British Columbia. Como um dos principais produtores de minerais e metais do mundo, o Canadá acumulou ampla experiência de como se beneficiar das vantagens possibilitadas por um setor mineral forte. Nesse sentido, conhecer e avaliar esse exemplo é de grande importância para novos estudos sobre a influência da mineração no desenvolvimento regional. Assim, a pesquisa sobre a realidade canadense torna-se importante entre outros pontos, para compreender as estratégias e os instrumentos utilizados pelas províncias mineiras (Ontario e British Columbia) para captar as rendas minerais, conhecer qual o destino dado a essas rendas e como elas têm promovido o desenvolvimento municipal.

Desperta a curiosidade saber como um país rico e altamente desenvolvido como o Canadá fomenta e estimula o crescimento de uma atividade, por muitos considerada degradadora dos recursos naturais, altamente poluidora e que gera muito mais custos sócio-ambientais do que benefícios. Dessa forma, o estudo permitirá compreender de que maneira a política mineral adotada pelos empreendimentos e pelo poder público está enfrentando o desafio ambiental.

A partir de consulta bibliográfica e dos contatos feitos, foram escolhidos quatro municípios de base mineira para serem estudados (Quadro A).

Item

Província Município Companhia Mineradora Mineral

extraído Previsão de

esgotamento

Sudbury INCO cobre, níquel e cobalto

por volta de 2040

Timmis Placer Dome ouro 2020 Ontario

Kirkland Lake Kirkland Lake Gold ouro 2011 British

Columbia Logan Lake Highland Valley Copper cobre e molibdênio

2012

Quadro A: Delimitação da área de estudo sobre os municípios mineradores no Canadá Fonte: visita de campo (setembro e outubro de 2005)

Em Ontario, foram visitadas três cidades mineradoras localizadas ao norte da Província. 1) Sudbury, considerada uma das mais exitosas histórias de conversão de uma simples cidade mineradora em bem sucedido cluster mineiro. 2) Timmins, cidade mineradora intermediária que está desenvolvendo um interessante programa de inovação, cooperação e revitalização de seu setor mineral – o Discover Abitibi – com objetivo de ampliar as reservas e aumentar a vida útil das jazidas e, dessa forma, continuar viável como cidade mineradora. 3) Kirkland Lake, pequena cidade monoindustrial, cuja atividade econômica básica gira em torno de um único empreendimento mineiro que se esgotará dentro de cinco anos. Na província de British Columbia, visitamos a cidade mineradora Logan Lake, uma pequena cidade monoindustrial, que abriga um dos maiores empreendimentos mineradores de cobre e molibdênio da Província – Highland Valley Copper - que também está em vias de esgotamento.

Da mesma forma que nos municípios de base mineradora do Brasil, nos municípios canadenses também foram feitas entrevistas com os principais atores sociais representativos das companhias mineradoras, do poder público local e de organizações sociais que atuam na área da mineração. As entrevistas foram previamente agendadas, com o envio de questionários via e-mail. Em geral, a receptividade foi muito positiva, principalmente após os entrevistados conhecerem a natureza e a finalidade do estudo. O fato também de a viagem ter sido patrocinada por bolsa de estudos canadense facilitou enormemente os contatos.

O Quadro B exibe os principais atores sociais entrevistados e as fontes de dados utilizadas para o estudo dos municípios mineradores canadenses.

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Fontes de dados/ atores sociai Item

Município(s)

Companhia Mineradora

Poder Público Local Organizações da Sociedade

Sudbury INCO City of Greater Sudbury – Director of Planing

Services

Laurentian University Minarco – Mining Inovation –

Center for Environmental Monitoring

Timmis Placer Dome Project Manager Discover Abitibi

Regional Resident Geologist (MNDM);

Kirkland Lake Kirkland Lake Gold City of Kirk Land Lake - Director of Corporate

Services

-

Logan Lake Highland Valley Copper

Tese de doutorado UBC Tese de doutorado UBC

Quadro B: Principais atores sociais entrevistados nos municípios mineradores estudados no Canadá Fonte: visita de campo (setembro e outubro de 2005)

Além dos contatos diretos nos municípios, foram realizadas entrevistas com instituições

públicas e organizações civis que lidam com a temática da mineração (Quadro C).

Item Província

Município(s) Instituições Públicas e Organizações Civis

Ottawa MiningWatch Canada – Mines Alerte – ONG

Toronto Universidade de Toronto – Departamento de Economia Ontario

Sudbury Ministério das Minas e do Desenvolvimento do Norte de Ontário

Victória Ministério da Energia, Recursos Minerais e Petróleo

British Columbia Vancouver

Universidade de British Columbia – Departamento de Engenharia de Minas Associação de Mineradores de British Columbia

Quadro C: Instituições Públicas e Organizações Civis entrevistadas no Canadá Fonte: visita de campo (setembro e outubro de 2005)

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ANEXO 2 –QUADRO DE INDICADORES AMBIENTAIS, ECONÔMICOS, SOCIAIS E DE GOVERNANÇA

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ANEXO 2 : Quadro de variáveis e indicadores utilizados no estudo Tipo de

Indicador Indicador Código

no SPSS

Descrição Periodicidade Fonte

Área territorial V1 Área territorial em km2 - Atlas do Desenvolvimento Humano, 2002 – IPEA/PNUD Código do município código Código IBGE IBGE Ano de implantação do município

V12 Ano da criação oficial do município Atlas do Desenvolvimento Humano, 2002 – IPEA/PNUD Descrição geral dos municípios População total V13 População total segundo os Censos

do IBGE 1970, 1980, 1991, 1996, 2000 e 2003

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) .IPEAdata – baseado nos Censos populacuonais do IBGE (www.ipeadata.gov.br/ipeaweb.dll/ipeadata,) O ano de 2003 foi baseado nas estimativas realizadas pelo IBGE (ftp://ftp.ibge.gov.br/Estimativas_Projecoes_Populacao/ )

Existência de órgão ambiental municipal

V3 Tipo de instituição ambiental existente

Sim = 1, não = 0 IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros – Meio Ambiente (2002) disponível em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/meio_ambiente_2002/default.shtm

Existência de legislação ambiental municipal

V4 Regulamentação ambiental municipal Sim = 1, não = 0 IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros – Meio Ambiente (2002) disponível em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/meio_ambiente_2002/default.shtm

Existência de Conselho Municipal de Meio Ambiente Ativo

V Institucionalização da questão ambiental em nível de município

Sim = 1, não = 0 IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros – Meio Ambiente (2002) disponível em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/meio_ambiente_2002/default.shtm

Desflorestamento V5 % da área territorial do município desmatada

2000,2001 e 2004 Ministério de Ciência e Tecnologia. Projeto PRODES (Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite) disponível em http://www.obt.inpe.br/prodes/ Obs: Apenas para os municpipios da Amazônia Legal

Área de Floresta V6 % da área territórial do município com cobertura florestal

2000,2001 e 2004 Idem

Distribuição Percentual das Internações por Grupo de Causas

V25 % de internações por doenças infecto-contagiosas e parasitárias

2005 http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/tabfusion/tabfusion.cfm

Idem V26 % neoplasias 2005 http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/tabfusion/tabfusion.cfm Idem V27 % transtornos mentais e

comportamentais 2005 http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/tabfusion/tabfusion.cfm

Idem V28 % doenças do aparaelho respiratório 2005 http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/tabfusion/tabfusion.cfm Idem V29 % mal formação congênita e

anomalias cromossômicas 2005 http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/tabfusion/tabfusion.cfm

Ambientais

Idem V30 % lesão, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas

2005 http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/tabfusion/tabfusion.cfm

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Tipo de Indicador Indicador

Código no

SPSS Descrição Periodicidade

Fonte

PIB V2 Produto Interno Bruto 1970,1975,1980,1985,1996,1999, 2000, 2001, 2002 e 2003

Deflacionados em R$ de 2000. Para os anos de 1999 a 2003 - elaboração IBGE, e para os anos 1970 a 1996 - elaboração IPEA. Estão incluidos no PIB, a custo de fatores, os Setores Agropecuário, Industrial e de Serviços. Metodologia PIB Municipal 1970 a 1996 Deflacionado pelo Deflator Implícito do PIB nacional http://www.ipeadata.gov.br/ipeaweb.dll/ipeadata?503607750

PIB per capita V23 Produto Interno Bruto divido pela população.

1970,1975,1980,1985,1996, 1999, 2000, 2001, 2002 e 2003

Elaborado a partir das informações sobre o PIB e população

População ocupada V14 População que procurou trabalho nos últimos 12 meses anteriores ao Censo.

1970, 1980, 1991, 1996, 2000

Instituto de Pesquisa Econōmica Aplicada (IPEA) Comentário: No Censo, foi considerada como OCUPADA a pessoa que trabalhou nos últimos 12 meses anteriores à data de referência do Censo, ou parte deles. A pessoa que não trabalhou nos śltimos 12 meses anteriores à data de referência do Censo mas que, nos últimos 2 meses, tomou alguma providência para encontrar trabalho, foi considerada como DESOCUPADA. Elaboração IPEA, baseado no Censo Demográfico.

Receita Municipal per capita

V40 Receita orçamentária dividida pelo número de habitantes.

1998, 2000, 2003 e 2005

FoBanco de dados do FINBRA (Finanças do Brasil) da Secretaria do Tesouro Nacional http://www.stn.fazenda.gov.br/estatistica/est_estados.asp OBs: até o dia 30 de junho todos os municípios brasileiros são obrigados por lei – art11 e 112 da Lei n.4320 de 17/03/1964, e do art.51 da Lei Complementar n. 101 de 04/05/2000 a entregar seu Balanço Consolidado do exercício anterior para que a STN possa realizar o Balanço Consolidado Nacional e disponibilizar as informações.

Receita Tributária per capita

V41 Receita originária de impostos e taxas municipais dividida pelo número de habitantes.

1998, 2000, 2003 e 2005

Idem

Receita de IPTU per capita

V42 Receita originária do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) dividida pelo número de habitantes.

1998, 2000, 2003 e 2005

Idem

Receita do ISSQN per capita

V43 Receita originária do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) dividida pelo número de habitantes.

1998, 2000, 2003 e 2005

Idem

Econômicos

Receita Transferida de União per capita

V44 Receita originária de transferências da União para os municípios dividida pelo número de habitantes

1998, 2000, 2003 e 2005

Idem

407

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408

Tipo de Indicador Indicador

Código no

SPSS Descrição Periodicidade

Fonte

Receita de FPM per capita

V45 Receita originária de transferências da União relativa ao Fundo de Participação do Municípios (FPM), dividida pelo número de habitantes,

1998, 2000, 2003 e 2005

Idem

Receita do FUNDEF + SUS per capita

V46 Receita originária de transferências Intergovernamentais relativas ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF) e do Sistema Único de Saúde (SUS),dividida pelo número de habitantes,

1998, 2000, 2003 e 2005

Idem

Econômicos

Receita do ICMS per capita

V47 Receita originária de transferência do Estado relativa ao Imposto sobre Circulação e Mercadorias e Serviços (ICMS), dividida pelo número de habitantes,

1998, 2000, 2003 e 2005

Idem

IDHM V7 Indice de Desenvolvimento Humano Municipa,l

1970, 1980, 1991 e 2000

Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Colaboração PNUD/IPEA/ FJP/IBGE (1991 e 2000) Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 1998 (para os anos 1970,1980 e 1991). Projeto “Desenvolvimento Humano no Brasil” (BRA/97/007)- PNUD/IPEA

Sub-índice de Educação

V8 Sub-índice do IDHM de Educação 1970, 1980, 1991 e 2000

Idem

Sub-índice de Renda V9 Sub-índice do IDHM de Renda 1970, 1980, 1991 e 2000

Idem

Percentual de pobres V10 % da população considerada pobre 1970, 1980, 1991 e 2000

Idem Proporção de indivíduos com renda domiciliar per capita inferior a R$75,5, equivalente a ½ salário mínimo vigente em agosto de 2000.

Índice de Gini V11 Grau de desigualdade na distribuição de renda

1991 e 2000 Idem Mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0 (quando não há desiguldade) a 1 (quando a desigualdade é máxima – apenas um indivíduo detém a renda de toda a sociedade e renda de todos os demais indivíduos é nula)

Sociais

Taxa de analfabetismo

V49 População de acima de 15 anos de idade que não sabe ler e escrever

1970, 1980, 1991 e 2000

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) IPEAdata – baseado nos Censos populacuonais do IBGE http://www.ipeadata.gov.br/ipeaweb.dll/ipeadata, indicador componente do IDH-Educação, no qual entra com peso de 2/3. É o percentual da pessoas acima de 15 anos de idade que não são alfabetizados, ou seja, que não sabem ler e escrever pelo menos um bilhete simples. Para obter mais informações metodológicas acesse -->www.undp.org.br.

408

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409

Tipo de Indicador Indicador

Código no

SPSS Descrição Periodicidade

Fonte

Número médio de anos de estudo da população de mais de 25 anos

V24 Anos de estudo - média - pessoas 25 anos e mais - Ano

1970, 1980, 1991 e 2000

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) IPEAdata – baseado nos Censos populacuonais do IBGE http://www.ipeadata.gov.br/ipeaweb.dll/ipeadata, Razão entre o somatório do número de anos de estudo completados pelas pessoas que tem 25 ou mais anos de idade e o numero de pessoas nessa faixa etária.

Sociais

Posição do IDHM municipal nos escores estaduais

V22 Posição do município nos escores do IDHM de seu Estado

991 e 2000 Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Colaboração PNUD/IPEA/ FJP/IBGE (1991 e 2000)

Despesas totais com educação e cultura

V16 Gasto público com educação e cultura, em valores correntes

1998 e 2000 Banco de dados do FINBRA (Finanças do Brasil) da Secretaria do Tesouro Nacional http://www.stn.fazenda.gov.br/estatistica/est_estados.asp

Despesas totais com saúde e saneamento

V17 Gasto público com saúde e saneamento, em valores correntes

1998 e 2000 STN - FINBRA

Despesas totais com juros e encargos

V18 Gasto público com juros e encargos da dívida, em valores correntes

1998 e 2000 STN - FINBRA

Despesas totais com pessoal ativo

V19 Gasto público com pessoal ativo, em valores correntes

1998 e 2000 STN - FINBRA

Despesas totais com agricultura

V20 Gasto público com agricultura, em valores correntes

1998 e 2000 STN - FINBRA

Despesas totais com energia e recursos minerais

V21 Gasto público com energia e recursos minerais

1998 e 2000 STN - FINBRA

Indice de presteza orçamentária

V32 Entrega dos balanços consolidados nos prazos corretos

1998, 2003 e 2005 Banco de dados do FINBRA (Finanças do Brasil) da Secretaria do Tesouro Nacional http://www.stn.fazenda.gov.br/estatistica/est_estados.asp OBs: até o dia 30 de junho todos os municípios brasileiros são obrigados por lei – art11 e 112 da Lei n.4320 de 17/03/1964, e do art.51 da Lei Complementar n. 101 de 04/05/2000 a entregar seu Balanço Consolidado do exercício anterior para que a STN possa realizar o Balnaço Consolidado Nacional e disponibilizar as informações.

Governança

Funcionários públicos municipais

- Número de funcionários públicos que trabalham no município

2000 e 2005 IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros – Gestão Pública (2000 e 2005) disponível em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/default.shtm

409

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ANEXO 3 – BASE DE DADOS AMBIENTAIS, ECONÔMICOS, SOCIAIS E DE GOVERNANÇA DOS 50 MUNICÍPIOS ESTUDADOS

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411

município código id cons amb área reserv convênios org amb

lei amb desflor desf 01 desf 04 area flor 00

area flor 01

area flor 04

Laranjal do Jari 160080 0,000 1,000 1,000 1,000 1 1 0 0,19 0,39 0,00 6,82 78,26

Mazagão 160040 0,000 0,000 0,000 1,000 1 0 0,00 1,75 2,03 0,00 51,44 72,91

Vitória do Jari 160027 1,000 0,000 0,000 1,000 1,000 1,000 0,000 7,780 7,120 0,000 30,680 54,030

Andorinha 290135 0,000 0,000 1,000 0,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 Campo Formoso

290600 0,000 0,000 0,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Jaguarari 291770 1,000 0,000 0,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Uauá 293200 0,000 0,000 1,000 0,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Campinaçu 520465 0,000 0,000 0,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Crixás 520640 1,000 1,000 0,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Minaçu 521308 1,000 1,000 0,000 1,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Mozarlândia 521400 0,000 1,000 0,000 1,000 0,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Nova Crixás 521483 0,000 1,000 0,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Trombas 522145 0,000 0,000 0,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Alvinópolis 310230 0,000 0,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Antonio Dias 310300 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Barra Longa 310570 0,000 0,000 0,000 0,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Dom Bosco 312247 0,000 0,000 0,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Itabira 313170 1,000 1,000 7,000 1,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Jaboticatubas 313460 0,000 0,000 0,000 1,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Mariana 314000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Nova Era 314470 0,000 1,000 1,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Paracatu 314700 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Piranga 315080 0,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Santa Bárbara 315720 1,000 1,000 1,000 0,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 Santa Fé de Minas

315760 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Unaí 317040 0,000 1,000 0,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Aquidauana 500110 0,000 1,000 4,000 10,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Corumbá 500320 1,000 1,000 2,000 1,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Miranda 500560 0,000 0,000 0,000 0,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Porto Murtinho 500690 0,000 0,000 2,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

411

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412

município código id cons amb área reserv convênios org amb

lei amb desflor desf 01 desf 04 area flor 00

area flor 01

area flor 04

Água Azul do Norte

150034 0,000 1,000 0,000 0,000 1,000 0,000 54,840 0,000 62,860 42,540 0,000 35,410

Aurora do Pará 150095 0,000 0,000 0,000 0,000 1,000 0,000 71,000 0,000 43,000 1,770 0,000 11,870 Canaã dos Carajás

150215 1,000 0,000 0,000 0,000 1,000 0,000 51,140 0,000 53,840 45,080 0,000 42,740

Capitão Poço 150230 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 29,660 0,000 63,010 1,440 0,000 7,760

Curionópolis 150277 0,000 0,000 0,000 0,000 1,000 1,000 83,550 0,000 85,180 15,980 0,000 13,790 Eldorado dos Carajás

150295 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 1,000 74,160 0,000 83,420 25,860 0,000 15,190

Faro 150300 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,170 0,000 1,180 11,550 0,000 93,840

Ipixuna do Para 150345 1,000 0,000 0,000 1,000 1,000 1,000 33,130 0,000 46,180 42,940 0,000 51,940 Nova Esperança do Piriá

150495 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 52,580 0,000 0,000 19,630

Oriximiná 150530 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,880 0,000 1,190 6,120 0,000 83,250

Parauapebas 150553 1,000 1,000 0,000 1,000 1,000 1,000 15,950 0,000 17,890 82,880 0,000 80,850

Terra Santa 150797 0,000 0,000 0,000 1,000 0,000 0,000 7,260 0,000 16,270 10,460 0,000 36,620

Forquilhinha 420545 1,000 1,000 0,000 1,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Maracajá 421040 0,000 0,000 1,000 1,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Meleiro 421080 0,000 0,000 0,000 0,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Nova Veneza 421160 0,000 0,000 1,000 1,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Capela 280660 0,000 0,000 0,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Maruim 280130 0,000 0,000 0,000 0,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 Rosário do Catete

280400 1,000 0,000 0,000 1,000 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Santo Amaro das Brotas

280610 0,000 1,000 2,000 0,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

412

Page 413: Maldição ou Dádiva? Os dilemas do desenvolvimento …repositorio.unb.br/bitstream/10482/6417/1/2007_MariaAmeliaEnriquez.pdf · Isabella que tão gentilmente me hospedaram em Vancouver

413

município despesa MA pcta98

despesa MA pcta03

ano criac

área PIB 70 PIB 75 PIB 80 PIB 85 PIB 96 PIB 99 PIB 00 PIB 01

Laranjal do Jari

0 0 1989 30.966,18 - - - - 31.924 64.325 74.934 78.078

Mazagão 0 1 1841 13.130,89 11.595 12.180 29.632 36.029 39.238 28.956 29.109 30.215

Vitória do Jari 0,000 22,551 1997 2482,602 - - - - - 19073,399 23321,798 24464,394

Andorinha 0,000 0,979 1990 1207,680 - - - - 9444,614 17056,040 20189,101 25591,941 Campo Formoso

0,000 0,000 1880 6806,097 26158,021 44673,904 102591,812 137573,264 78207,402 105428,082 120516,838 138464,100

Jaguarari 0,000 0,039 1926 2567,158 9245,177 15645,386 36194,201 206206,994 147623,158 57167,966 66478,883 86488,544

Uauá 0,000 0,000 1933 2950,274 3628,377 8230,279 16911,831 36842,056 20814,028 29893,947 32623,941 33598,527

Campinaçu 0,000 0,000 1982 1974,367 - - - 11011,191 8871,288 9519,884 10440,859 11418,224

Crixás 0,000 0,001 1953 4661,077 13840,600 83648,558 119473,446 35709,084 59293,262 63690,880 68251,191 71142,428

Minaçu 0,000 0,000 1976 2860,719 - - 292833,196 239758,836 144456,621 295584,930 329292,594 517629,235

Mozarlândia 0,000 7,506 1963 1734,359 7685,442 16134,712 18561,089 28559,639 25806,098 41356,544 77741,343 89058,566

Nova Crixás 0,000 0,000 1980 7298,795 - - - 78454,467 62437,373 53084,725 59212,145 68286,411

Trombas 0,000 0,000 1989 799,123 - - - - 5562,796 7796,633 8476,122 9861,684

Alvinópolis 0,000 0,632 1891 599,343 18349,779 26628,210 42247,100 55959,209 32916,147 47446,907 51338,912 52503,611

Antonio Dias 0,000 1,700 1911 877,844 14454,424 26488,129 28517,490 24709,378 22801,116 40998,159 52171,293 46617,212

Barra Longa 0,000 0,000 1841 386,101 9887,743 14246,901 15581,110 15168,361 12369,506 15708,244 15975,150 15438,357

Dom Bosco 0,000 0,150 1997 821,755 - - - - - 13984,066 11150,745 10286,322

Itabira 0,000 46,905 1833 1256,496 255648,748 693600,015 509835,825 632866,024 976821,906 1046323,983 855918,552 918718,306

Jaboticatubas 0,000 0,000 1938 1113,774 12945,763 13522,370 19947,289 23418,270 21358,410 41993,210 41374,100 41318,227

Mariana 0,000 0,000 1711 1193,293 45998,807 169796,850 241025,701 292604,019 186371,288 351766,749 362860,932 357908,946

Nova Era 0,000 25,515 1938 363,195 30428,126 75803,953 72984,878 48170,313 69629,867 83262,593 83276,780 87214,350

Paracatu 0,000 8,399 1798 8232,233 63554,679 98584,578 135587,421 166962,222 277306,824 367101,005 359321,087 355652,846

Piranga 0,000 0,000 1868 657,484 10151,635 15827,214 21600,669 27358,778 20992,191 32357,139 34890,227 34321,655 Santa Bárbara

0,000 0,757 1839 684,210 27953,232 62692,838 81746,793 149098,812 103129,353 110619,762 97585,670 97643,636

Santa Fé de Minas

0,000 0,000 1962 2916,648 3261,532 2691,913 4853,146 4618,972 5257,443 7772,770 7861,435 7565,353

Unaí 0,000 0,268 1943 8463,579 68684,485 126051,757 207680,894 219565,113 233782,947 345652,740 378597,094 379209,679

Aquidauana 0,000 0,000 1906 16958,496 61255,159 114345,169 120085,643 103045,658 137357,821 146324,957 139656,354 153061,730

Corumbá 0,000 12,960 1871 64960,863 495189,613 379709,476 414461,772 338835,514 427931,829 404000,904 487905,516 556363,612

Miranda 0,000 0,000 1871 5478,627 36532,885 53757,320 85778,637 71083,789 53386,650 68400,427 72956,599 79036,055

Porto Murtinho 0,000 11,766 1911 17734,925 33878,251 69291,722 45422,713 57241,152 70977,584 72238,669 77621,095 84595,685

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município despesa MA pcta98

despesa MA pcta03

ano criac

área PIB 70 PIB 75 PIB 80 PIB 85 PIB 96 PIB 99 PIB 00 PIB 01

Água Azul do Norte

0,000 0,000 1993 7576,621 - - - - 20638,358 72335,704 82806,529 123861,364

Aurora do Pará

0,000 0,000 1993 1811,827 - - - - 14918,246 50209,443 53546,416 56016,891

Canaã dos Carajás

0,000 0,000 1997 3146,608 - - - - - 49218,217 45706,561 50700,848

Capitão Poço 0,000 0,000 1961 2899,532 34870,283 32121,788 43502,104 64997,347 46563,303 74460,637 87157,838 72344,375

Curionópolis 0,000 0,000 1989 2368,698 - - - - 26198,944 50607,267 45843,752 44783,293 Eldorado dos Carajás

0,000 0,000 1993 2956,708 - - - - 18898,947 44383,102 47998,145 53031,149

Faro 0,000 0,000 1935 11766,496 6835,564 10054,955 12165,592 13361,596 5245,480 9197,631 10056,374 10063,153 Ipixuna do Para

0,000 0,000 1993 5216,948 - - - - 39550,052 107121,595 104523,137 122485,858

Nova Esperança do Piriá

0,000 0,000 1993 2809,984 - - - - 11034,830 19679,450 19778,771 20156,618

Oriximiná 0,000 0,000 1934 107602,992 17885,809 23139,755 384986,758 1102424,004 337737,124 232718,990 278481,907 325530,997

Parauapebas 0,000 1,909 1989 7007,737 - - - - 707700,606 690798,426 854837,973 822369,410

Terra Santa 0,000 0,000 1993 1900,570 - - - - 10800,371 20686,301 21829,643 23859,588

Forquilhinha 0,000 3,923 1990 293,557 - - - - 84852,071 135014,478 170689,430 176919,238

Maracajá 0,000 0,000 1967 63,401 5623,965 8759,720 19443,213 21186,626 28661,594 32457,200 32449,447 30747,346

Meleiro 0,000 0,000 1961 186,618 20007,470 22597,527 37585,144 54888,187 38522,726 48601,152 48589,419 53227,614

Nova Veneza 0,000 0,000 1958 181,915 14576,646 26523,918 37182,704 44412,357 51483,596 112534,254 139734,533 156432,252

Capela 0,000 1,510 1835 440,716 31768,618 40102,334 55943,983 68524,647 24414,794 39879,348 39978,016 39595,945

Maruim 0,000 0,000 1835 94,293 17072,717 27547,432 26635,428 79683,941 42612,856 46968,967 47237,969 54715,437 Rosário do Catete

0,000 0,000 1836 105,413 4192,408 6208,313 7596,505 10994,973 166282,711 44210,845 49904,864 209416,506

Santo Amaro das Brotas

0,000 0,000 1835 234,654 4013,155 4410,496 12328,138 14234,308 8731,928 30420,040 28194,725 34851,784

Laranjal do Jari

90.254 85.459 0 0 0,635 0,732 0 0 0,63 0,852 0 0

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município

PIB 2002 PIB 2003 IDHM 1970

IDHM 1980

IDHM 1991

IDHM 2000

IN EDUC 1970

IN EDUC 1980

IN EDUC 1991

IN EDUC 2000

IN REND 1970

IN REND 1980

IN RENDA

1991 Laranjal do Jari

90.254 85.459 0 0 0,635 0,732 0 0 0,63 0,852 0 0 0,624

Mazagão 37.366 34.921 0,323 0,51 0,572 0,659 0,284 0,435 0,511 0,73 0,25 0,564 0,503 Vitória do Jari 30686,740 27873,250 0,000 0,000 0,551 0,659 0,000 0,000 0,555 0,808 0,000 0,000 0,529 Andorinha 30704,070 34217,970 0,000 0,000 0,459 0,570 0,000 0,000 0,463 0,649 0,000 0,000 0,439 Campo Formoso

146954,738 163532,859 0,272 0,392 0,472 0,613 0,269 0,310 0,498 0,715 0,132 0,394 0,445

Jaguarari 115339,486 149719,698 0,259 0,445 0,548 0,646 0,284 0,349 0,532 0,756 0,111 0,473 0,484 Uauá 31018,881 27423,621 0,254 0,387 0,509 0,616 0,282 0,373 0,557 0,748 0,063 0,236 0,429 Campinaçu 12669,500 13671,467 0,000 0,000 0,622 0,733 0,000 0,000 0,650 0,804 0,000 0,000 0,557 Crixás 76252,689 65407,091 0,330 0,469 0,648 0,717 0,348 0,449 0,680 0,835 0,224 0,537 0,641 Minacçu 346518,695 345120,003 0,000 0,563 0,660 0,749 0,000 0,483 0,752 0,849 0,670 0,600 Mozarlândia 86151,944 111279,341 0,318 0,582 0,644 0,728 0,365 0,488 0,699 0,822 0,220 0,838 0,597 Nova Crixás 89458,763 90836,132 0,000 0,000 0,593 0,686 0,000 0,000 0,594 0,750 0,000 0,000 0,604 Trombas 12044,909 12197,713 0,000 0,000 0,623 0,743 0,000 0,000 0,704 0,847 0,000 0,000 0,514 Alvinópolis 53334,977 49927,697 0,445 0,542 0,673 0,727 0,396 0,469 0,626 0,765 0,265 0,510 0,579 Antônio Dias 50161,065 44367,126 0,329 0,505 0,577 0,661 0,550 0,590 0,788 0,894 0,205 0,540 0,515 Barra Longa 15588,913 14935,045 0,357 0,515 0,588 0,668 0,000 0,000 0,751 0,838 0,222 0,443 0,529 Dom Bosco 11005,228 12236,319 0,000 0,000 0,647 0,750 0,555 0,622 0,806 0,894 0,000 0,000 0,554 Itabira 1141110,545 1130586,381 0,478 0,698 0,727 0,798 0,497 0,524 0,673 0,812 0,429 0,943 0,662 Jaboticatubas 40053,401 39647,947 0,370 0,518 0,631 0,731 0,576 0,606 0,773 0,890 0,485 0,476 0,568 Mariana 408874,482 404555,108 0,423 0,606 0,708 0,772 0,542 0,632 0,757 0,896 0,255 0,699 0,629 Nova Era 87562,655 78402,658 0,438 0,702 0,694 0,792 0,443 0,540 0,752 0,844 0,407 0,945 0,648 Paracatu 420170,990 402209,674 0,395 0,622 0,680 0,760 0,450 0,505 0,617 0,738 0,237 0,804 0,622 Piranga 35927,265 35107,731 0,348 0,434 0,595 0,661 0,560 0,600 0,765 0,856 0,126 0,270 0,469 Santa Bárbara 105474,347 101072,929 0,382 0,624 0,694 0,762 0,389 0,377 0,568 0,714 0,273 0,788 0,609 Santa Fé de Minas

7375,292 7434,273 0,332 0,422 0,546 0,622 0,449 0,486 0,678 0,811 0,122 0,341 0,495

Unaí 486241,380 482806,766 0,366 0,581 0,681 0,812 0,000 0,000 0,000 0,000 0,226 0,682 0,607

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município PIB 2002 PIB 2003 IDHM 1970

IDHM 1980

IDHM 1991

IDHM 2000

IN EDUC 1970

IN EDUC 1980

IN EDUC 1991

IN EDUC 2000

IN REND 1970

IN REND 1980

IN RENDA

1991 Aquidauana 147469,028 170880,984 0,490 0,692 0,696 0,757 0,543 0,590 0,761 0,861 0,446 0,940 0,630 Corumbá 595568,823 718587,768 0,547 0,714 0,723 0,771 0,556 0,635 0,812 0,862 0,550 0,949 0,647 Miranda 78068,788 91597,556 0,383 0,547 0,638 0,724 0,437 0,505 0,689 0,811 0,254 0,611 0,588 Porto Murtinho 84062,448 101440,900 0,425 0,560 0,620 0,698 0,457 0,490 0,673 0,789 0,295 0,629 0,547 Água Azul do Norte

124952,043 112083,228 0,000 0,000 0,513 0,665 0,000 0,000 0,454 0,722 0,000 0,000 0,532

Aurora do Pará

61126,619 57948,095 0,000 0,000 0,539 0,618 0,000 0,000 0,485 0,631 0,000 0,000 0,488

Canaã dos Carajás

71814,712 129277,404 0,000 0,000 0,552 0,700 0,000 0,000 0,601 0,792 0,000 0,000 0,511

Capitão Poço 81234,336 80772,714 0,327 0,373 0,514 0,615 0,308 0,327 0,484 0,662 0,268 0,324 0,480 Curionópolis 47820,942 45085,257 0,000 0,000 0,594 0,682 0,000 0,000 0,579 0,770 0,000 0,000 0,604 Eldorado dos Carajás

65491,217 68392,937 0,000 0,000 0,542 0,663 0,000 0,000 0,472 0,725 0,000 0,000 0,556

Faro 11127,870 11009,558 0,375 0,470 0,547 0,623 0,513 0,556 0,675 0,801 0,181 0,335 0,442 Ipixuna do Pará

131626,170 120546,244 0,000 0,000 0,542 0,622 0,000 0,000 0,481 0,633 0,000 0,000 0,503

Nova Espe-rança do Piriá

23695,772 22407,716 0,000 0,000 0,518 0,598 0,000 0,000 0,518 0,595 0,000 0,000 0,480

Oriximiná 388567,680 303277,362 0,356 0,540 0,637 0,717 0,433 0,492 0,763 0,828 0,200 0,554 0,561 Parauapebas 867024,490 851487,048 0,000 0,000 0,657 0,741 0,000 0,000 0,712 0,844 0,000 0,000 0,661 Terra Santa 25414,892 24226,176 0,000 0,000 0,614 0,688 0,000 0,000 0,786 0,831 0,000 0,000 0,471 Forquilhinha 171621,585 207174,769 0,000 0,000 0,729 0,797 0,000 0,000 0,789 0,882 0,000 0,000 0,654 Maracajá 28527,662 31780,708 0,401 0,712 0,707 0,813 0,522 0,638 0,776 0,868 0,195 0,946 0,607 Meleiro 57446,062 83408,783 0,447 0,665 0,723 0,793 0,559 0,617 0,754 0,872 0,253 0,778 0,700 Nova Veneza 160500,209 204739,603 0,435 0,734 0,743 0,813 0,573 0,677 0,798 0,891 0,217 0,947 0,671 Capela 44800,655 44323,095 0,296 0,399 0,549 0,615 0,320 0,293 0,583 0,716 0,144 0,364 0,499 Maruim 60195,945 67275,591 0,308 0,416 0,572 0,662 0,358 0,392 0,670 0,794 0,193 0,376 0,486 Rosário do Catete

133468,094 150083,363 0,304 0,471 0,560 0,672 0,300 0,441 0,640 0,829 0,162 0,463 0,515

Santo Amaro das Brotas

37465,419 43546,271 0,308 0,405 0,564 0,655 0,327 0,388 0,616 0,775 0,154 0,308 0,448

416

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município IN REND

2000 POBRES

1970 POBRES

1980 POBRES

1991 POBRES

2000 GINI 1991

GINI 2000 POP 1970 POP 1980 POP 1991 POP 1996 POP 2000 POP 2003

Laranjal do Jari 0,617 0 0 39,9 44,9 0,56 0,59 - - 21.372 29.904 28.515 32.133 Mazagão 0,519 80,98 48,87 67,9 69,7 0,51 0,62 10.497 20.433 8.911 11.353 11.986 12.933 Vitória do Jari 0,566 0,000 0,000 64,100 57,500 0,500 0,620 - - - - 8560,000 9780,000 Andorinha 0,496 0,000 0,000 85,800 69,800 0,510 0,600 - - 17170,000 17509,000 15774,000 15344,000 Campo Formoso

0,526 94,020 66,670 83,200 70,000 0,560 0,660 37263,000 56692,000 62104,000 59331,000 61942,000 61892,000

Jaguarari 0,555 95,840 69,120 77,300 58,600 0,580 0,620 17538,000 23004,000 31141,000 37365,000 27412,000 26263,000 Uauá 0,512 97,220 84,070 83,000 72,200 0,540 0,550 17297,000 20298,000 24343,000 24035,000 25993,000 26501,000 Campinaçu 0,592 0,000 0,000 59,700 51,200 0,530 0,570 - - 4483,000 3848,000 3707,000 3468,000 Crixás 0,631 85,410 57,370 41,100 41,500 0,580 0,560 18304,000 30219,000 22213,000 16011,000 14673,000 13269,000 Minaçu 0,646 0,000 47,590 47,000 32,600 0,550 0,540 - 28371,000 32288,000 35616,000 33608,000 34015,000 Mozarlândia 0,659 83,440 45,440 46,500 25,400 0,520 0,780 7393,000 8451,000 10078,000 10182,000 11186,000 11527,000 Nova Crixás 0,648 0,000 0,000 43,000 36,600 0,530 0,600 - - 11102,000 10323,000 11061,000 11048,000 Trombas 0,598 0,000 0,000 68,000 49,300 0,520 0,540 - - 6493,000 3601,000 3434,000 3250,000 Alvinópolis 0,621 78,870 57,650 64,400 41,700 0,590 0,550 15547,000 15047,000 15324,000 15039,000 15588,000 15669,000 Antônio Dias 0,569 87,000 53,680 70,000 56,700 0,520 0,540 11666,000 10663,000 9772,000 9595,000 10044,000 10128,000 Barra Longa 0,570 87,220 65,660 66,700 58,300 0,540 0,530 11037,000 8928,000 8902,000 8192,000 7554,000 7139,000 Dom Bosco 0,622 0,000 0,000 55,500 49,900 0,520 0,610 - - - - 4055,000 3976,000 Itabira 0,704 62,540 30,310 36,300 27,100 0,570 0,560 56352,000 71114,000 85606,000 95205,000 98322,000 102239,000 Jaboticatubas 0,644 91,650 56,270 58,200 42,400 0,560 0,590 12159,000 11569,000 12716,000 12409,000 13530,000 13781,000 Mariana 0,670 79,290 42,150 46,200 35,600 0,590 0,570 24786,000 29401,000 38180,000 40217,000 46710,000 49338,000 Nova Era 0,671 63,250 32,070 37,400 34,300 0,540 0,560 14080,000 14679,000 17605,000 17426,000 17754,000 17800,000 Paracatu 0,675 84,900 48,970 47,400 34,700 0,580 0,610 36821,000 49014,000 62774,000 68047,000 75216,000 79049,000 Piranga 0,538 91,590 78,180 80,700 67,300 0,600 0,620 16575,000 15928,000 16332,000 16989,000 17010,000 17219,000 Santa Bárbara 0,650 77,250 39,250 43,200 41,800 0,530 0,560 16246,000 18057,000 25931,000 27068,000 24180,000 24816,000 Santa Fé de Minas

0,513 94,290 64,540 72,400 72,100 0,470 0,580 5282,000 3744,000 4573,000 4017,000 4192,000 4075,000

Unaí 0,748 85,440 48,450 49,500 29,100 0,590 0,710 52303,000 67885,000 69612,000 73664,000 70033,000 72622,000 Aquidauana 0,690 68,240 39,380 49,700 39,500 0,610 0,660 28725,000 34493,000 39342,000 40394,000 43440,000 44702,000 Corumbá 0,678 65,390 36,230 42,900 37,700 0,610 0,620 81887,000 81129,000 88411,000 89083,000 95701,000 97947,000

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município IN REND

2000 POBRES

1970 POBRES

1980 POBRES

1991 POBRES

2000 GINI 1991

GINI 2000 POP 1970 POP 1980 POP 1991 POP 1996 POP 2000 POP 2003

Miranda 0,693 82,730 51,920 60,600 52,200 0,630 0,800 18634,000 24122,000 20176,000 20878,000 23007,000 23879,000 Porto Murtinho 0,626 77,160 54,890 58,100 44,400 0,570 0,590 11627,000 11682,000 12808,000 11342,000 13316,000 13472,000 Água Azul do Norte

0,593 0,000 0,000 64,600 54,900 0,520 0,650 - - - 20994,000 22084,000 26779,000

Aurora do Pará 0,516 0,000 0,000 73,100 69,300 0,470 0,580 - - - 15453,000 19728,000 21998,000 Canaã dos Carajás

0,628 0,000 0,000 72,000 49,500 0,520 0,620 - - - - 10922,000 12151,000

Capitão Poço 0,529 75,590 69,480 77,300 74,900 0,520 0,650 25565,000 32774,000 45452,000 41134,000 49769,000 51099,000 Curionópolis 0,555 0,000 0,000 50,300 60,500 0,580 0,590 - - 38672,000 23875,000 19486,000 17110,000 Eldorado dos Carajás

0,551 0,000 0,000 62,100 65,200 0,550 0,700 - - - 18393,000 29608,000 35195,000

Faro 0,469 88,930 74,670 81,300 79,000 0,480 0,540 10054,000 12598,000 13574,000 6322,000 10037,000 12123,000 Ipixuna do Pará 0,490 0,000 0,000 66,900 74,700 0,470 0,620 - - - 13930,000 25138,000 30020,000 Nova Esperança do Piriá

0,516 0,000 0,000 73,300 72,900 0,400 0,640 - - - 15828,000 18893,000 22665,000

Oriximiná 0,591 83,970 55,510 60,800 57,300 0,590 0,620 18994,000 29593,000 41154,000 41999,000 48332,000 50694,000 Parauapebas 0,674 0,000 0,000 39,000 44,500 0,580 0,670 - - 53335,000 74702,000 71568,000 81428,000 Terra Santa 0,500 0,000 0,000 78,200 71,600 0,490 0,560 - - - 13043,000 14592,000 15760,000 Forquilhinha 0,727 0,000 0,000 19,500 12,400 0,450 0,530 - - 14059,000 16106,000 18348,000 19669,000 Maracajá 0,742 85,330 15,510 34,200 17,500 0,460 0,620 4079,000 4165,000 4642,000 5352,000 5541,000 5818,000 Meleiro 0,759 75,840 33,140 28,700 17,600 0,560 0,620 11306,000 10697,000 9755,000 7009,000 7080,000 7002,000 Nova Veneza 0,736 83,170 21,890 21,200 7,800 0,480 0,470 8135,000 9160,000 10376,000 9968,000 11511,000 12008,000 Capela 0,501 90,800 74,970 74,900 71,500 0,580 0,570 20114,000 23008,000 25105,000 25744,000 26518,000 26953,000 Maruim 0,532 87,720 68,650 70,900 61,100 0,540 0,510 9233,000 11366,000 14683,000 14499,000 15454,000 15692,000 Rosário do Catete

0,559 90,370 62,190 65,400 59,600 0,510 0,530 3914,000 3915,000 5639,000 6570,000 7102,000 7553,000

Santo Amaro das Brotas

0,521 89,720 72,980 80,100 66,800 0,520 0,560 5415,000 7947,000 10624,000 10157,000 10670,000 10684,000

418

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município POP OC 1970

POP OC 1980

POP OC 1991

POP OC 2000

GINVEST 1998

GINVEST 2000 GEDC 1998 GEDC 2000 G SAUD 1998 GSAUD 2000 GJURO

1998 Laranjal do Jari

- - 5.807 8.572 - - - - - - -

Mazagão 2.908 5.652 2.216 2.257 - - - - - - -

Vitória do Jari - - - 1.758 - 508.831,77 - 1.666.188,02 - 582.758,66 -

Andorinha - - 5.901 4.058 677.981,50 396.696,08 1.607.687,66 1.164.579,77 680.747,05 1.164.579,77 -

Campo Formoso

10.961 15.956 18.880 21.374 3.904.588,52 1.683.210,90 6.076.541,48 1.940.550,00 2.334.730,04 1.940.550,00 81.015,97

Jaguarari 4.659 5.759 9.181 8.855 2.620.239,17 1.885.499,90 2.396.128,76 3.163.690,57 2.406.502,49 3.163.690,57 -

Uauá 4.269 4.175 6.224 7.651 1.733.473,19 489.430,47 1.833.498,30 1.410.597,17 1.660.943,10 1.410.597,17 -

Campinaçu - - 1.485 1.347 - 245.144,88 - 1.243.909,76 - 386.035,74 -

Crixás 5.834 9.140 8.709 5.445 1.386.030,00 961.148,00 1.313.179,00 2.549.791,00 870.003,00 1.348.846,00 62.811,00

Minaçu - 7.891 11.483 12.442 4.603.881,73 2.278.011,06 4.726.182,40 7.392.734,73 1.441.953,19 3.640.283,90 10.453,21

Mozarlândia 2.350 2.770 3.530 4.916 - 86.458,00 - 1.498.890,00 - 489.720,00 -

Nova Crixás - - 3.987 4.233 - 291.656,00 - 1.799.149,00 - 755.858,00 -

Trombas - - 2.287 1.521 - 156.289,21 - 909.212,61 - 191.366,88 -

Alvinópolis 5.118 4.450 5.265 5.970 612.373,17 256.429,47 1.353.824,68 1.258.449,84 779.232,76 701.387,11 4.663,41

Antônio Dias 3.267 3.088 2.829 3.339 640.756,58 245.155,95 1.426.419,07 1.812.234,75 597.853,66 502.966,56 3.482,55

Barra Longa 3.144 2.952 3.381 2.636 189.992,00 144.398,00 820.850,00 1.048.113,00 403.280,00 397.639,00 693.00

Dom Bosco - - - 1.410 233.785,68 251.079,64 766.318,60 884.339,52 431.618,46 447.816,15 2.050,45

Itabira 15.148 21.523 29.837 35.572 8.128.817,00 15.235.971,98 11.881.487,00 16.004.987,57 17.200.862,00 24.258.892,79 447.753,00

Jaboticatubas 3.366 3.592 4.708 5.638 96.870,00 2.048.283,00 793.479,00

Mariana 6.289 8.671 13.495 17.424 2.204.318,05 1.635.880,55 6.981.336,60 8.257.599,52 3.552.831,75 4.902.202,19 83.308,16

Nova Era 3.562 4.584 6.386 5.820 496.205,11 858.052,95 2.138.551,98 2.652.282,57 1.729.612,41 2.752.524,19 18.475,62

Paracatu 10.811 16.397 24.239 27.718 3.198.968,07 2.394.786,76 6.750.990,43 10.799.980,68 5.283.829,14 6.335.719,02 462.507,32

Piranga 4.630 4.740 5.069 7.300 453.461,63 553.341,00 1.164.225,53 1.639.000,00 554.516,63 757.500,00 - Santa Bárbara

4.269 5.350 9.204 8.392 3.805.457,00 1.150.364,19 3.122.748,00 3.502.849,81 4.101.318,00 2.203.960,70 30.093,00

Santa Fé de Minas

1.590 1.030 1.588 1.257 413.493,36 1.300,00 468.873,90 970.608,21 390.036,39 541.989,55 -

Unaí 15.025 21.222 27.824 29.114 4.272.832,78 2.755.699,20 5.566.102,40 7.490.802,33 6.718.515,62 9.088.876,29 194.118,32

Aquidauana 8.418 11.564 13.612 15.290 - 337.885,82 - 3.611.864,88 - 3.937.903,06 -

Corumbá 23.420 28.928 29.963 32.609 3.528.192,39 2.788.823,44 2.839.720,61 6.131.697,12 1.645.801,13 3.574.560,70 302.206,82

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420

município POP OC 1970

POP OC 1980

POP OC 1991

POP OC 2000

GINVEST 1998

GINVEST 2000 GEDC 1998 GEDC 2000 G SAUD 1998 GSAUD 2000 GJURO

1998 Miranda 6.140 7.615 6.342 7.957 - 1.884.217,00 - 5.254.199,00 - 1.474.966,00 Porto Murtinho

3.401 3.846 3.910 4.585 394.973,80 822.477,55 1.340.239,63 1.804.256,61 701.822,27 1.191.557,57 3.471,94

Água Azul do Norte

- - - 5.798 2.345.817,34 2.295.171,61 963.822,68 1.700.788,17 841.179,37 1.680.188,98 -

Aurora do Pará

- - - 6.565 - - - - - - -

Canaã dos Carajás

- - - 3.824 - - - - - - -

Capitão Poço 8.190 9.683 13.739 16.564 - - - - - - -

Curionópolis - - 14.589 5.888 - - - - - - -

Eldorado dos Carajás

- - - 9.838 2.805.453,67 1.583.503,38 3.347.090,30 5.058.341,78 954.686,59 410.500,00 149,22

Faro 2.593 3.125 2.896 2.782 - - - - - - - Ipixuna do Pará

- - - 6.988 - - - - - - -

Nova Esperança do Piriá

- - - 6.528 - - - - - - -

Oriximiná 5.343 8.345 12.873 14.758 9.120.976,00 7.691.243,00 4.736.591,00 -

Parauapebas - - 17.345 26.079 9.423.626,16 33.308.810,07 8.081.353,73 27.705.378,17 4.561.270,42 13.130.519,10 -

Terra Santa - - - 4.352 - - - - - - -

Forquilhinha - - 5.317 7.830 169.798,02 1.911.641,87 1.934.279,23 1.694.801,71 658.788,83 778.230,75 39.153,68

Maracajá 1.167 1.480 1.671 2.386 61.313,88 554.428,21 572.913,03 853.175,60 153.774,62 571.837,39 64.235,55

Meleiro 2.910 3.640 4.209 3.124 - 380.232,65 - 1.242.822,53 - 427.071,31 -

Nova Veneza 2.475 3.061 4.142 5.349 536.709,41 1.010.772,80 893.993,70 1.855.968,13 250.696,83 629.793,48 55.020,66

Capela 5.887 6.589 7.041 7.197 - 1.474.471,00 2.206.965,00 2.420.793,00 641.758,00 683.583,00 -

Maruim 2.244 2.560 3.546 4.066 - 448.602,00 1.479.421,00 1.602.735,00 348.398,00 994.079,00 -

Rosário do Catete

991 1.132 1.949 1.967 - 760.855,00 2.382.652,00 2.693.172,00 236.175,00 581.344,00 -

Santo Amaro das Brotas

1.297 1.576 2.424 2.862 - 361.111,73 1.155.054,97 1.095.789,20 551.420,05 307.022,72 -

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município GJURO 00 GPESS 98 GPESS 00 GAGRI 98 GAGR 00 GMIN 98 G MIN 00 PIB PCTA70

PIB PCTA80

PIB PCTA00

PIB PCTA03

ANOEST 1970

ANOEST 1980

Laranjal do Jari

- - - - - - - - - 2.627,89 2.659,53 - -

Mazagão - - - - - - - 1.104,57 1.450,22 2.428,56 2.700,16 1,20 1,70 Vitória do Jari - - 2.353.619,31 - 239.129,50 - - - - 2.724,51 2.850,03 - - Andorinha - 1.194.664,78 1.732.012,68 13.526,89 16.015,70 - - - - 1.279,90 2.230,06 - - Campo Formoso

1.002,90 3.392.644,24 6.386.408,42 27.910,91 34.580,36 - 116.480,46 701,98 1.809,63 1.945,64 2.642,23 0,90 1,00

Jaguarari - 3.126.635,80 3.954.507,12 49.714,42 98.447,00 206.915,96 39.553,59 527,15 1.573,39 2.425,17 5.700,78 0,30 1,30 Uauá - 1.311.882,32 1.311.882,32 88.944,91 244.237,25 - - 209,77 833,18 1.255,10 1.034,81 0,30 0,40 Campinaçu 20,41 - 765.004,42 - 6.158,00 - - - - 2.816,53 3.942,18 - - Crixás - 1.791.025,00 2.467.150,00 31.763,00 28.380,00 - - 756,15 3.953,59 4.651,48 4.929,32 0,90 1,60 Minaçu 895,57 5.061.216,49 7.735.174,80 250.247,28 395.219,43 - - 10.321,57 9.798,04 10.146,11 - 1,90 Mozarlândia 6.189,00 - 1.250.662,00 - - - - 1.039,56 2.196,32 6.949,88 9.653,80 1,10 1,80 Nova Crixás - - 1.615.763,00 - - - - - - 5.353,24 8.221,95 - - Trombas 8.432,60 - 773.820,48 - 19.875,36 - - - - 2.468,29 3.753,14 - - Alvinópolis 1.258,03 1.688.024,61 1.762.073,33 118.912,31 114.885,89 - - 1.180,28 2.807,68 3.293,49 3.186,40 2,20 2,80 Antônio Dias - 1.054.259,65 928.338,35 89.376,51 49.503,39 - - 1.239,02 2.674,43 5.194,27 4.380,64 1,40 1,80 Barra Longa 940,00 755.822,00 970.189,00 131.064,00 147.014,00 156.436,00 51.074,00 895,87 1.745,20 2.114,79 2.092,04 2,10 2,50 Dom Bosco 13.063,51 421.698,17 506.337,37 51.686,11 28.370,33 1.000,00 57.160,00 - - 2.749,88 3.077,54 - - Itabira 296.107,68 20.108.467,00 23.340.454,07 - 2.574.018,47 - - 4.536,64 7.169,28 8.705,26 11.058,27 2,70 3,60 Jaboticatubas 9.070,00 1.951.940,00 147.989,00 - 1.064,71 1.724,20 3.057,95 2.877,00 1,60 2,20 Mariana 107.427,62 6.222.077,81 9.679.365,39 154.359,78 362.562,89 - - 1.855,84 8.197,87 7.768,38 8.199,67 2,40 3,30 Nova Era 10.884,22 2.491.100,47 2.967.563,24 75.790,30 34.891,43 - - 2.161,09 4.972,06 4.690,59 4.404,64 2,60 3,70 Paracatu 373.284,28 8.400.487,89 13.107.886,37 479.042,22 587.720,84 - - 1.726,04 2.766,30 4.777,19 5.088,11 1,80 2,90 Piranga 1.200,00 1.254.774,34 1.241.948,91 45.569,96 223.000,00 - 132.500,00 612,47 1.356,14 2.051,16 2.038,89 1,70 1,90 Santa Bárbara

152.700,24 3.656.844,00 3.744.449,77 245.249,00 207.905,88 - - 1.720,62 4.527,15 4.035,80 4.072,89 1,90 2,80

Santa Fé de Minas

377,39 511.740,51 549.531,61 4.634,10 27.031,65 - - 617,48 1.296,25 1.875,34 1.824,36 1,00 1,30

Unaí 478.205,81 8.282.754,82 9.479.092,98 167.537,64 182.263,71 1.308,89 255.658,72 1.313,20 3.059,30 5.405,98 6.648,22 1,20 2,20 Aquidauana 257.033,04 - 4.940.338,59 - - 2.132,47 3.481,45 3.214,93 3.822,67 2,40 3,30 Corumbá 0.00 4.177.587,93 2.366.487,40 6.097.140,13 13.663,91 3.793,05 - 6.047,23 5.108,68 5.098,23 7.336,50 2,60 3,90 Miranda - - 2.303.628,00 - - - - 1.960,55 3.556,03 3.171,06 3.835,90 1,30 2,10 Porto Murtinho

- 1.711.698,82 2.283.952,12 - - - - 2.913,76 3.888,27 5.829,16 7.529,76 1,50 2,40

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município GJURO 00 GPESS 98 GPESS 00 GAGRI 98 GAGR 00 GMIN 98 G MIN 00 PIB

PCTA70 PIB

PCTA80 PIB

PCTA00 PIB

PCTA03 ANOEST

1970 ANOEST

1980 Água Azul do Norte

- 799.914,92 1.196.312,59 - 64.167,44 73.563,75 - - - 3.749,62 4.185,49 - -

Aurora do Pará

- - - - - - - - - 2.714,23 2.634,24 - -

Canaã dos Carajás

- - - - - - - - - 4.184,82 10.639,24 0,80 1,20

Capitão Poço

- - - - - - - 1.363,99 1.327,34 1.751,25 1.580,71 - -

Curionópolis - - - - - - - - - 2.352,65 2.635,02 - - Eldorado dos Carajás

9,40 2.007.349,24 2.314.368,13 19.079,98 242.494,10 118.111,00 538.588,77 - - 1.621,12 1.943,26 - -

Faro - - - - - - - 679,88 965,68 1.001,93 908,15 1,50 2,10 Ipixuna do Pará

- - - - - - - - - 4.157,97 4.015,53 - -

Nova Esperança do Piriá

- - - - - - - - - 1.046,88 988,65 - -

Oriximiná 96.672,00 - 6.672.199,00 - 435.599,00 229.318,00 - 941,66 13.009,39 5.761,85 5.982,51 1,30 2,30 Parauapebas - 9.278.715,96 17.402.622,88 79.756,40 946.250,46 75.124,90 1.090.088,18 - - 11.944,42 10.456,93 - - Terra Santa - - - - - - - - - 1.496,00 1.537,19 - - Forquilhinha - 2.388.025,43 5.344.995,37 166.923,38 229.019,61 - - - - 9.302,89 10.533,06 - - Maracajá 87.083,14 744.640,45 1.016.343,45 108.364,36 105.119,69 - - 1.378,76 4.668,24 5.856,24 5.462,48 1,60 2,90 Meleiro 5.790,11 - 1.361.326,37 - 73.769,38 - 1.769,63 3.513,62 6.862,91 11.912,14 2,00 2,80 Nova Veneza

629.793,48 1.487.673,13 2.094.163,83 129.966,27 129.361,46 - - 1.791,84 4.059,25 12.139,22 17.050,27 2,30 3,40

Capela - - - - - - - 1.579,43 2.431,50 1.507,58 1.644,46 1,00 1,30 Maruim - - - - - - - 1.849,10 2.343,43 3.056,68 4.287,25 1,50 1,60 Rosário do Catete

- - - - - - - 1.071,13 1.940,36 7.026,87 19.870,70 1,20 2,10

Santo Amaro das Brotas

- - - - - - - 741,12 1.551,29 2.642,43 4.075,84 1,00 1,60

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município ANOES

T 1991 ANOEST 2000 DINFEC DNEOPL DMENTAL DRESP DMAFORM DLESAO ELEIÇÕES

2006 PREST

ORÇ DPESPCT

1998 DPESPCT

2003 DPESPCT

2005 INVPCT

1998 INVPCT

2003 INVPCT

2005 Laranjal do Jari

3,0 4,4 20,3 1,8 - 9,1 0,5 6,2 81,5 2,0 - - 211,77 - - 44,15

Mazagão 1,9 3,4 14,3 0,4 - 11,2 1,2 6,2 87,0 2,0 - 166,76 323,81 - 5,72 1,75

Vitória do Jari 2,4 3,5 15,9 2,2 - 10,2 0,8 6,8 81,1 3,0 203,9 447,36 - 40,63 178,52 -

Andorinha 1,0 2,0 9,4 1,2 0,4 10,7 0,4 11,6 80,6 3,0 76,4 231,63 411,04 43,09 18,05 132,02

Campo Formoso

1,8 2,8 15,3 1,9 0,4 10,8 0,4 5,7 78,0 3,0 55,8 182,56 247,50 63,07 76,05 61,08

Jaguarari 2,3 3,3 16,1 1,2 0,5 14,1 0,4 6,8 91,8 3,0 114,1 238,62 367,74 95,65 22,25 73,80

Uauá 1,6 2,7 19,2 4,3 0,5 16,0 0,9 4,0 75,7 3,0 50,5 192,38 245,70 66,73 56,62 17,32

Campinaçu 2,6 3,4 3,2 4,0 2,8 18,2 0,4 5,1 80,7 2,0 362,96 848,67 73,15 414,27

Crixás 3,2 4,4 13,9 1,5 2,1 22,5 0,1 3,8 79,4 3,0 323,6 479,54 611,19 94,67 26,75 49,75

Minaçu 3,8 4,9 5,9 5,2 1,6 13,2 0,6 8,5 73,6 3,0 269,1 312,24 502,04 137,01 133,83 35,65

Mozarlândia 3,4 4,5 9,2 2,2 1,6 32,9 0,2 4,6 79,4 2,0 - 246,63 378,92 77,96 64,01

Nova Crixás 2,6 3,4 15,8 4,9 1,2 24,8 0,6 6,8 77,4 3,0 105,3 287,77 467,39 154,33 59,59 44,85

Trombas 2,8 4,1 15,6 1,1 0,2 17,7 0,2 2,1 81,8 2,0 - 473,40 674,37 101,99 44,72

Alvinópolis 3,9 4,6 10,2 2,0 0,3 21,2 0,2 5,8 80,6 2,0 113,2 237,47 - 39,40 38,47 -

Antônio Dias 2,5 3,4 3,4 3,2 0,5 8,2 0,9 6,2 79,6 3,0 113,2 294,45 424,00 63,79 111,46 50,13

Barra Longa 3,1 3,8 5,0 2,2 0,5 6,7 0,2 7,9 82,8 2,0 104,1 - 232,00 25,15 62,45

Dom Bosco 2,7 3,7 3,4 1,7 - 15,5 - 10,3 81,4 3,0 129,0 283,03 147,32 57,65 135,92 27,18

Itabira 4,9 5,9 2,8 6,2 0,4 11,1 0,6 8,3 86,5 3,0 233,2 417,02 - 82,98 304,18 -

Jaboticatubas 3,1 4,0 5,4 3,0 1,5 13,4 0,3 10,7 80,4 2,0 - 280,62 533,74 - 16,04 54,28

Mariana 4,7 5,6 5,4 2,4 0,5 12,2 0,8 6,3 84,5 3,0 173,1 379,26 - 47,34 144,01

Nova Era 4,6 5,6 6,7 2,7 0,8 10,6 1,0 8,2 81,1 3,0 169,4 279,98 589,73 27,95 58,49 57,66

Paracatu 4,5 5,2 13,1 6,1 0,8 5,6 0,5 4,9 83,3 3,0 208,8 282,89 2.890,59 42,55 113,20 574,14

Piranga 2,6 3,4 5,6 1,8 0,5 26,1 0,3 4,3 73,0 1,0 77,2 190,53 26,67 30,02 Santa Bárbara

4,4 5,3 5,4 3,5 0,6 14,3 0,8 5,4 84,4 3,0 168,4 307,15 907,60 157,43 25,05 234,27

Santa Fé de Minas

2,1 3,3 7,3 3,1 - 8,3 3,1 16,7 67,9 2,0 - - 164,53 - - 41,71

Unaí 3,6 4,9 6,6 5,8 1,5 10,6 0,6 6,9 79,0 3,0 119,2 320,21 3.177,62 61,04 84,19 576,76

Aquidauana 4,2 5,3 4,1 3,9 0,9 15,6 0,2 10,2 78,6 2,0 228,27 291,73 41,38 59,91

Corumbá 5,2 6,3 9,0 4,4 0,1 11,7 0,6 9,7 80,8 3,0 46,6 375,46 409,08 36,87 84,38 136,83

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424

município ANOES

T 1991 ANOEST 2000 DINFEC DNEOPL DMENTAL DRESP DMAFORM DLESAO ELEIÇÕES

2006 PREST

ORÇ DPESPCT

1998 DPESPCT

2003 DPESPCT

2005 INVPCT

1998 INVPCT

2003 INVPCT

2005 Miranda 3,3 4,2 15,1 2,0 0,9 26,3 0,9 10,0 80,9 2,0 235,61 330,38 44,26 67,06 Porto Murtinho

3,4 4,5 10,1 0,9 1,8 20,5 0,5 7,4 80,0 3,0 213,5 370,26 560,46 29,85 88,39 111,38

Água Azul do Norte

1,7 2,7 25,4 0,9 0,1 24,8 0,1 3,1 73,2 3,0 69,1 108,41 161,09 109,40 - 70,46

Aurora do Pará

1,6 2,3 8,2 1,4 0,1 16,7 0,4 10,1 76,6 1,0 - 112,81 - - 55,67 -

Canaã dos Carajás

2,1 3,4 33,4 1,4 0,4 14,2 0,5 4,2 68,4 1,0 - - - - - -

Capitão Poço 1,8 2,6 26,2 1,2 0,1 15,2 0,2 6,4 78,5 1,0 - - 60,35 - - 12,84 Curionópolis 2,4 3,1 27,7 1,4 0,1 18,6 0,3 2,2 82,3 1,0 - 171,10 - - 48,32 - Eldorado dos Carajás

1,7 2,9 15,2 0,6 0,1 32,6 0,2 3,1 76,0 3,0 80,6 183,84 - 95,93 38,31 -

Faro 2,4 4,0 25,6 - - 7,2 - 7,2 78,7 1,0 - - - - - - Ipixuna do Pará

1,6 2,1 17,0 0,9 0,3 14,5 0,1 4,4 76,5 1,0 - - 126,35 - - 335,47

Nova Esperança do Piriá

1,6 2,0 13,9 2,4 0,4 8,0 - 18,4 78,6 - - - - - -

Oriximiná 3,6 4,6 9,5 2,2 - 6,4 0,6 6,9 78,6 2,0 - 389,39 573,75 - 358,99 212,66 Parauapebas 4,6 5,0 14,6 1,5 0,2 15,6 0,3 3,5 78,9 3,0 166,9 563,27 725,08 131,52 293,53 440,31 Terra Santa 2,9 4,1 11,2 0,8 - 11,1 0,1 7,6 77,7 2,0 - 146,54 228,60 28,81 48,77 Forquilhinha 4,1 5,2 2,4 7,9 4,9 19,2 0,3 6,4 90,1 3,0 152,9 275,50 299,96 9,25 105,99 95,34 Maracajá 4,0 4,8 4,2 9,7 3,5 13,9 1,0 6,5 87,9 3,0 134,4 294,55 401,78 11,07 63,04 91,65 Meleiro 3,9 4,8 6,7 7,3 4,1 28,2 0,6 3,9 90,7 3,0 122,6 335,57 462,58 19,34 78,51 159,62 Nova Veneza 4,6 5,6 3,4 4,7 2,9 39,3 0,7 3,1 89,0 3,0 129,2 301,63 420,41 46,63 82,77 87,87 Capela 2,3 3,2 19,1 7,1 2,1 17,2 0,2 3,9 81,6 3,0 113,2 234,67 325,85 26,33 19,31 6,68 Maruim 2,9 4,1 4,7 3,8 1,6 5,3 0,4 8,0 87,2 3,0 138,2 334,09 - 85,40 11,32 - Rosário do Catete

3,1 4,4 4,1 4,4 3,6 3,9 - 9,0 85,2 3,0 367,1 470,40 - 105,17 74,97 -

Santo Amaro das Brotas

2,5 3,8 3,6 7,9 3,6 7,4 0,4 7,6 81,4 2,0 83,5 - - 102,17 - -

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425

município DEFSUP 1998

DEFSUP 2003

DEFSUP 2005

DADMPCT 1998

DADMPC 2003

DADMPC 2005

DEDPCT 1998

DEDPCT 2003

DEDPCT 2005

DSAUPCT 1998

DSAUPCT 2003

DSAUPCT 2005

RECPCT 1998

RECPCT 2003

RECPCT 2005

Laranjal do Jari

- - - - - - - - 208,31 - - 88,99 - - 440,10

Mazagão - 6,06 7,67 - 97,44 70,09 - 170,59 169,29 - 24,33 - - 323,15 491,34

Vitória do Jari 5,11 101,52 - 55,32 192,07 - 128,67 312,48 - 30,58 140,48 - 339,95 1.124,37 -

Andorinha (11,03) (17,26) 112,40 13,36 93,43 280,73 102,19 168,58 269,33 43,27 79,02 190,98 289,21 436,30 1.010,30

Campo Formoso

(15,50) (2,46) (19,75) 7,63 102,11 552,28 98,16 179,19 944,60 37,71 55,44 361,08 238,26 457,70 571,67

Jaguarari (38,87) (21,96) 0,42 16,03 199,04 500,35 87,47 189,30 560,01 87,84 98,24 303,11 357,83 563,21 980,92

Uauá (8,46) 16,94 3,61 8,38 39,93 251,51 70,58 153,25 396,14 63,93 134,44 228,42 252,50 459,13 579,89

Campinaçu - 91,85 69,75 - 187,77 338,99 - 323,61 474,01 - 189,25 417,09 - 1.248,91 1.917,67

Crixás (37,28) (18,03) (120,22) 23,89 233,78 120,69 89,69 270,92 284,78 59,42 178,17 260,70 443,21 994,57 1.028,20

Minaçu (20,87) 70,43 (67,79) 29,98 254,04 740,35 140,65 174,20 256,26 42,91 193,18 0,68 519,22 1.096,77 1.131,54

Mozarlândia - (48,43) 5,59 - 161,31 115,37 - 135,83 179,28 - 133,64 200,65 - 592,43 798,08

Nova Crixás (33,15) (31,08) 66,71 25,79 114,31 176,66 121,73 199,91 272,30 167,72 128,31 194,40 508,89 814,21 1.173,28

Trombas - 8,22 (10,25) - 284,34 272,21 - 240,14 414,96 - 199,93 337,96 - 1.066,72 1.432,46

Alvinópolis (14,16) 10,70 - 10,95 52,12 - 87,10 112,77 - 50,13 139,05 - 246,42 454,49 -

Antônio Dias (25,53) 47,21 26,21 29,07 113,98 160,99 142,00 192,01 240,79 59,52 153,44 192,55 388,70 773,01 1.001,34

Barra Longa 12,97 - 1,60 8,05 106,09 108,68 - 215,06 53,39 - 196,08 347,43 546,12 835,80

Dom Bosco (2,89) (38,88) 2,67 25,04 172,25 172,08 188,98 191,50 299,14 106,44 174,22 209,28 473,37 735,68 1.006,24

Itabira (13,07) 39,79 - 29,12 295,07 - 121,29 191,70 - 175,59 465,55 - 605,22 1.336,70 -

Jaboticatubas - 4,90 41,90 - 84,18 96,43 - 181,37 259,15 - 95,25 135,98 - 516,69 736,41

Mariana (1,70) 14,86 - 30,90 238,84 - 149,93 211,65 - 76,30 192,45 - 412,99 905,60 -

Nova Era (28,90) 38,10 282,61 15,69 88,12 107,19 120,48 148,09 165,57 97,44 169,53 190,55 361,08 588,08 780,35

Paracatu (27,65) (67,38) 326,11 23,10 100,38 104,16 89,79 147,65 189,23 70,28 210,80 176,77 287,94 547,27 713,42

Piranga 10,97 (42,26) - 8,95 44,41 - 68,46 94,91 - 32,61 128,90 - 218,48 341,76 - Santa Bárbara

(118,12) 0,36 168,23 18,67 144,07 94,00 129,18 152,80 274,18 169,67 174,06 211,94 409,46 610,97 938,40

Santa Fé de Minas

(43,54) 233,72 - 266,41 - - 260,34 467,19 1.010,85

Unaí (13,24) 0,52 298,25 12,03 117,51 78,54 79,52 113,31 192,79 95,98 134,22 228,22 285,94 604,50 848,16

Aquidauana 12,55 17,70 110,60 149,29 - 115,19 166,91 - 146,55 214,70 - 548,74 747,45

Corumbá (25,03) (32,96) 70,08 1,10 117,17 208,57 29,67 177,46 265,77 14,50 115,80 148,27 246,07 684,90 1.016,56

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município DEFSUP 1998

DEFSUP 2003

DEFSUP 2005

DADMPCT 1998

DADMPC 2003

DADMPC 2005

DEDPCT 1998

DEDPCT 2003

DEDPCT 2005

DSAUPCT 1998

DSAUPCT 2003

DSAUPCT 2005

RECPCT 1998

RECPCT 2003

RECPCT 2005

Miranda (2,72) 2,77 99,52 143,56 - 189,72 274,61 - 79,33 131,11 - 564,64 199,20 Porto Murtinho

14,18 5,34 63,76 30,70 207,33 231,90 101,30 360,08 422,32 18,49 150,03 271,45 395,25 1.108,65 1.483,87

Água Azul do Norte

(12,98) 11,08 (29,37) 9,40 120,03 116,00 44,95 110,27 105,91 39,23 64,07 73,36 243,48 373,29 379,20

Aurora do Pará

- 32,04 - - 61,94 - - 93,34 - - 41,14 - - 324,99 -

Canaã dos Carajás

- - - - - - - - - - - - - - -

Capitão Poço - - 110,73 - - 28,98 - - 40,61 - - 10,02 - - 266,33

Curionópolis - 27,18 - - 86,54 - - 136,40 - - 103,02 - - 506,60 -

Eldorado dos Carajás

(35,25) (10,00) - - 69,79 - 114,45 177,11 - 32,65 84,29 - 227,85 405,37 -

Faro - - - - - - - - - - - - - - - Ipixuna do Pará

- - 2,71 - - 57,64 - - 125,88 - - 50,95 - - 598,82

Nova Esperança do Piriá

- - - - - - - - - - - - - - -

Oriximiná - (90,14) 57,75 - 240,56 297,32 355,34 365,69 - 250,04 289,88 - 1.146,13 1.373,64

Parauapebas 55,00 17,92 72,11 41,47 335,95 344,66 112,79 391,10 436,44 63,66 327,26 379,39 599,27 1.617,14 2.077,09

Terra Santa - 18,12 (10,53) - 62,38 62,90 - 170,16 206,97 - 121,78 116,27 - 499,33 552,41

Forquilhinha 15,18 13,75 47,95 15,77 126,38 118,20 105,42 177,71 221,14 35,90 148,09 177,09 279,24 778,01 897,50

Maracajá 2,43 2,05 48,27 25,37 104,19 120,23 103,40 158,03 226,00 27,75 128,34 178,56 346,67 697,87 999,68

Meleiro 17,61 8,91 7,83 18,84 85,65 132,32 142,06 285,03 335,54 42,23 128,26 225,67 373,56 714,58 1.065,17

Nova Veneza 51,57 (3,54) 10,53 14,63 106,81 111,86 77,67 201,49 255,55 21,78 124,39 196,21 344,02 750,00 935,20

Capela 4,86 (17,31) 9,18 9,92 146,77 237,57 83,93 163,40 214,58 24,41 65,18 92,34 210,25 372,32 610,97

Maruim (2,08) 18,03 - - 97,32 - 96,05 188,43 - 22,62 116,22 - 301,52 540,18 -

Rosário do Catete

59,56 (358,12) - - 276,43 - 335,44 409,32 - 33,25 215,78 - 895,79 553,51 -

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município RECTRPCT 1998

RECTRPCT 2003

RECTRPCT 2005

IPTUPCT 1998

IPTUPCT 2003

IPTUPCT 2005

ISSPCT 1998

ISSPCT 2003

ISSPCT 2005

RECUNIPTA1998

RECUNIPTA 2003

RECUNIPTA 2005

FPMPCT 1998

FPMPCT 2003

Laranjal do Jari

- - 13,42 - - 0,05 - - 5,55 - - 206,63 - -

Mazagão - 8,73 9,20 - - 0,02 - 5,50 6,85 - 163,65 286,43 - 132,18 Vitória do Jari 14,65 55,74 - - 0,00 0,02 13,99 47,16 - 127,67 208,02 - 66,73 106,67 Andorinha 2,93 19,80 43,79 0,07 0,21 0,84 2,52 14,33 29,14 151,27 281,78 417,30 108,48 232,55 Campo Formoso

6,53 41,80 35,17 0,36 1,46 1,55 2,79 34,31 23,31 102,44 200,37 304,22 75,01 132,14

Jaguarari 8,52 41,59 59,29 0,51 1,37 1,90 7,13 29,50 43,47 117,74 223,40 429,84 95,96 184,39 Uauá 2,53 12,21 29,60 0,10 0,20 0,60 2,32 5,25 14,56 147,43 251,62 360,87 96,24 187,81 Campinaçu - 19,87 83,10 - 0,73 0,08 - 3,45 13,84 - 553,15 1.557,59 - 540,78 Crixás 15,66 67,56 93,08 4,96 14,00 14,68 3,07 23,03 39,16 271,97 422,47 361,93 179,64 309,61 Minaçu 93,83 100,91 99,42 4,52 8,47 17,69 85,35 60,22 45,09 118,88 317,02 415,89 42,07 150,44 Mozarlândia - 50,98 98,39 - 1,86 11,97 - 17,19 8,81 243,55 304,58 - 223,78 Nova Crixás 7,45 87,67 115,61 0,56 5,54 9,72 0,82 2,69 11,47 182,87 277,02 391,83 121,92 231,20 Trombas - 30,28 68,03 - 0,97 5,96 - 0,25 8,07 - 812,39 1.083,41 - 733,23 Alvinópolis 17,69 20,62 - 3,07 3,43 - 3,02 5,06 - 101,64 265,89 - 97,12 216,99 Antônio Dias 33,35 191,47 152,50 0,53 1,44 5,92 26,25 58,07 133,36 154,32 315,90 317,55 141,18 225,85 Barra Longa 7,04 21,80 17,58 0,95 1,00 1,18 0,48 0,53 3,15 200,90 365,42 550,15 172,79 313,80 Dom Bosco 9,60 25,29 23,80 0,26 0,63 0,62 3,11 7,66 8,08 228,95 562,42 807,09 184,06 509,07 Itabira 50,07 95,36 - 14,14 21,47 - 16,78 47,36 - 93,53 488,65 46,26 100,84 Jaboticatubas - 50,89 49,61 - 11,07 12,92 - 9,73 14,28 - 278,09 403,70 - 247,74 Mariana 21,49 116,45 - 0,39 4,08 - 11,86 95,79 - 100,24 414,39 - 68,95 139,96 Nova Era 41,13 55,82 77,07 9,84 14,13 18,83 15,65 16,20 38,77 143,61 263,72 368,80 116,79 229,00 Paracatu 18,27 51,98 56,78 3,53 3,90 4,86 10,69 18,06 29,41 111,29 179,67 279,69 56,73 113,40 Piranga 7,97 16,91 - 0,77 2,20 - 0,20 1,37 - 150,94 244,18 - 125,54 237,48 Santa Bárbara

35,87 51,76 72,55 4,97 3,98 5,79 15,37 20,54 50,67 90,90 358,57 433,29 61,24 193,08

Santa Fé de Minas

7,48 - 36,88 0,06 - 0,09 - 6,31 271,11 - 806,77 254,90 -

Unaí 35,35 89,99 103,16 8,21 19,70 22,33 10,25 25,81 33,85 107,77 160,44 218,56 76,16 126,34 Aquidauana - 38,52 43,75 - 7,72 8,21 - 11,24 19,99 - 269,79 378,57 - 164,63 Corumbá 37,74 91,30 130,53 11,54 15,33 29,57 17,85 39,75 70,47 116,52 127,81 204,50 63,09 109,19

427

427

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428

município RECTRPCT 1998

RECTRPCT 2003

RECTRPCT 2005

IPTUPCT 1998

IPTUPCT 2003

IPTUPCT 2005

ISSPCT 1998

ISSPCT 2003

ISSPCT 2005

RECUNIPTA 1998

RECUNIPTA 2003

RECUNIPTA 2005

FPMPCT 1998

FPMPCT 2003

Miranda - 39,81 14,65 - 3,59 0,96 - 20,87 8,27 - 227,11 378,01 - 185,42 Porto Murtinho

15,68 70,65 98,78 4,76 7,40 12,03 3,51 15,39 33,61 184,05 341,25 441,95 100,24 217,37

Água Azul do Norte

4,49 12,67 18,73 0,09 0,80 0,83 3,74 3,24 10,63 113,01 215,42 211,41 50,73 166,48

Aurora do Pará

- 5,93 - - 0,55 - - 1,50 - - 227,74 - - 169,61

Canaã dos Carajás

- - - - - - - - - - - - - -

Capitão Poço - - 5,62 - - - - - 2,44 - - 198,18 - - Curionópolis - 29,05 - - 0,06 - - 10,32 - - 354,20 - - 269,07 Eldorado dos Carajás

1,80 12,21 - - - - 1,53 6,05 - 183,49 181,46 - 51,13 143,94

Faro - - - - - - - - - - - - - - Ipixuna do Pará

- - 32,99 - - - - - 29,51 - - 200,32 - -

Nova Esperança do Piriá

- - - - - - - - - - - - - -

Oriximiná - 163,72 125,31 - 1,77 2,42 - 147,31 102,59 - 494,66 671,87 - 120,44 Parauapebas 62,84 269,86 440,46 2,10 3,95 3,47 58,20 240,59 397,51 139,31 616,51 319,34 27,16 99,87 Terra Santa - 12,43 10,98 - 0,31 0,62 - 3,35 2,81 - 289,82 325,48 - 195,34 Forquilhinha 17,16 54,21 60,72 8,30 11,82 14,09 4,28 19,89 20,77 113,52 260,55 256,24 86,50 186,97 Maracajá 10,24 37,04 49,14 4,72 5,18 6,03 0,27 2,41 18,62 192,42 376,92 483,90 171,03 311,82 Meleiro 5,23 43,53 59,31 1,89 13,71 17,31 0,28 8,25 18,35 190,96 334,79 478,44 178,18 284,64 Nova Veneza 28,92 58,96 62,53 11,31 17,32 21,67 8,17 5,79 19,80 113,24 236,59 354,37 109,60 215,55 Capela 1,55 8,62 24,38 - 0,52 1,26 1,13 3,10 11,29 132,97 215,06 344,16 84,34 177,92 Maruim 4,68 15,05 - 0,25 0,39 - 4,08 5,81 - 175,07 285,85 - 102,85 218,28 Rosário do Catete

13,25 12,52 - 0,00 0,59 - 12,32 1,89 - 234,69 374,60 - 209,91 317,28

Santo Amaro das Brotas

1,61 - - - - 1,12 - - 196,46 - - 139,62 -

428

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município FPMPCT

2005 ICMSPCT

1998 ICMSPCT

2003 ICMSP

CT 2005

DPSAUPCT200

3

ANALF70

ANALF

80

ANALF 91

ANALF

2000

pococ%

1980

popoc% 2000

Func 2001

Pop 2001

Func 2005

Pop 2005

Funhab

2001

Funhab

2005

Funhab

%0105 Laranjal do Jari

128,8 - - 39,2 100,0 - - 32,3 16,4 0% 30% 605,0 28.837,0 1.060,0 35.872,0 21,0 29,5 0,4

Mazagão 166,1 - 30,8 46,0 67,0 61,3 40,5 45,5 29,0 28% 19% 291,0 12.332,0 518,0 13.913,0 23,6 37,2 0,6 Vitória do Jari

- 32,8 84,7 - 131,0 - - 39,2 18,2 0% 21% 148,0 9.006,0 807,0 11.041,0 16,4 73,1 3,4

Andorinha 321,9 46,0 100,7

135,0 80,0 - - 50,3 39,6 0% 26% 520,0 15.617,0 635,0 14.899,0 33,3 42,6 0,3

Campo Formoso

180,1 19,6 85,1 106,5 53,0 62,6 56,9 46,9 33,3 28% 35% 1.744,0 61.925,0 1.394,0 61.841,0 28,2 22,5 (0,2)

Jaguarari 263,5 97,9 175,3

378,8 102,0 58,4 52,1 43,3 28,8 25% 32% 1.098,0 26.992,0 1.476,0 25.076,0 40,7 58,9 0,4

Uauá 260,8 9,6 48,4 56,2 130,0 58,8 45,4 46,5 30,0 21% 29% 1.126,0 26.179,0 898,0 27.027,0 43,0 33,2 (0,2)

Campinaçu 818,1 - 163,1

187,9 277,0 - - 29,7 21,8 0% 36% 90,0 3.620,0 353,0 3.221,0 24,9 109,6

3,4

Crixás 343,6 147,1 430,0

310,8 184,0 - 37,9 24,9 17,9 30% 37% 628,0 14.160,0 876,0 11.818,0 44,4 74,1 0,7

Minaçu 201,4 198,5 596,9

505,8 197,0 - 33,8 21,2 14,7 28% 37% 1.216,0 33.757,0 1.435,0 34.435,0 36,0 41,7 0,2

Mozarlândia 296,8 - 224,5

245,7 113,0 48,8 32,7 26,9 17,5 33% 44% 307,0 11.311,0 362,0 11.880,0 27,1 30,5 0,1

Nova Crixás 319,5 158,6 369,4

456,0 112,0 - - 35,2 23,2 0% 38% 305,0 11.056,0 396,0 11.035,0 27,6 35,9 0,3

Trombas 892,9 - 164,6

184,6 165,0 - - 27,5 18,7 0% 44% 171,0 3.367,0 223,0 3.061,0 50,8 72,9 0,4

Alvinópolis - 34,9 92,0 - 101,0 20,0 21,5 17,6 14,9 30% 38% 534,0 15.618,0 552,0 15.753,0 34,2 35,0 0,0 Antônio Dias 288,7 67,5 238,0 406,8 130,0 45,3 35,5 30,8 22,5 29% 33% 207,0 10.075,0 522,0 10.214,0 20,5 51,1 1,5 Barra Longa 439,6 31,7 74,1 106,1 125,0 32,0 21,7 24,4 16,7 33% 35% 208,0 7.402,0 270,0 6.709,0 28,1 40,2 0,4 Dom Bosco 725,2 64,8 124,3 165,7 168,0 - - 24,4 14,8 0% 35% 119,0 4.026,0 153,0 3.893,0 29,6 39,3 0,3

Itabira - 224,5 387,0 - 219,0 25,7 18,8 14,1 9,7 30% 36% 2.427,0 99.254,0 2.110,0 106.289,0

24,5 19,9 (0,2)

Jaboticatubas 335,1 - 82,4 103,4 103,0 30,8 28,9 27,7 16,5 31% 42% 316,0 13.622,0 499,0 10.040,0 23,2 49,7 1,1 Mariana - 168,7 271,6 - 138,0 21,5 20,0 16,0 10,3 29% 37% 1.662,0 47.670,0 2.485,0 52.054,0 34,9 47,7 0,4 Paracatu 158,6 80,2 146,5 246,7 115,0 39,6 28,5 17,2 12,2 33% 37% 1.919,0 76.617,0 3.510,0 83.011,0 25,0 42,3 0,7 Piranga - 29,4 45,1 113,0 38,0 30,4 31,4 20,7 30% 43% 309,0 17.086,0 345,0 17.435,0 18,1 19,8 0,1 Santa Bárbara

258,6 89,2 102,9 228,8 108,0 28,6 24,8 14,6 9,4 30% 35% 883,0 24.413,0 1.010,0 25.474,0 36,2 39,6 0,1

Santa Fé de Minas

714,1 60,4 172,0 147,0 45,1 47,9 37,0 26,6 28% 30% 170,0 4.149,0 208,0 3.953,0 41,0 52,6 0,3

Unaí 161,4 54,8 139,8 255,4 103,0 45,0 30,7 20,8 12,8 31% 42% 1.659,0 70.979,0 2.312,0 75.299,0 23,4 30,7 0,3 Aquidauana 216,8 121,9 157,0 143,0 26,5 22,7 18,5 13,2 34% 35% 1.050,0 43.901,0 1.076,0 46.007,0 23,9 23,4 (0,0)

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município FPMP

CT 2005

ICMSPCT

1998

ICMSPCT 2003

ICMSPCT

2005

DPSAU

PCT2003

ANALF

70

ANALF

80

ANALF 91

ANALF

2000

pococ%

1980

popoc%

2000

Func 2001

Pop 2001

Func 2005

Pop 2005

Funhab

2001

Funhab

2005

Funhab

%0105

Corumbá 148,9 67,8 270,7 354,6 111,0 25,3 17,8 13,7 9,0 36% 34% 1.815,0 96.522,0 2.595,0 100.268,0

18,8 25,9 0,4

Miranda 69,6 129,0 42,4 69,0 38,6 31,3 24,7 16,6 32% 35% 527,0 23.326,0 812,0 24.781,0 22,6 32,8 0,5 Porto Murtinho

292,6 132,9 401,2 593,2 150,0 36,5 34,4 25,0 18,0 33% 34% 417,0 13.376,0 767,0 13.634,0 31,2 56,3 0,8

Água Azul do Norte

134,7 15,1 65,0 68,0 78,0 - - 49,3 20,5 0% 26% 321,0 23.800,0 567,0 31.633,0 13,5 17,9 0,3

Aurora do Pará

- - 47,6 - 35,0 - - 49,6 36,5 0% 33% 460,0 20.558,0 605,0 24.344,0 22,4 24,9 0,1

Canaã dos Carajás

- - - - 242,0 - - 37,2 18,5 0% 35% 403,0 11.371,0 875,0 13.500,0 35,4 64,8 0,8

Capitão Poço 172,0 - - 33,3 40,0 56,6 55,0 50,2 34,9 30% 33% 745,0 50.255,0 1.040,0 52.474,0 14,8 19,8 0,3 Curionópolis - - 65,8 - 108,0 - - 38,1 26,9 0% 30% 575,0 18.617,0 889,0 14.653,0 30,9 60,7 1,0 Eldorado dos Carajás

- 4,8 38,2 - 75,0 - - 47,4 27,5 0% 33% 920,0 31.650,0 1.093,0 10.970,0 29,1 99,6 2,4

Faro - - - - 72,0 28,1 23,6 28,0 16,1 25% 28% 379,0 10.800,0 624,0 14.280,0 35,1 43,7 0,2 Ipixuna do Pará

145,9 - - 65,1 35,0 - - 48,2 35,4 0% 28% 443,0 26.922,0 965,0 35.067,0 16,5 27,5 0,7

Nova Esperança do Piriá

- - - - 52,0 - - 46,0 40,3 0% 35% 615,0 20.272,0 453,0 26.564,0 30,3 17,1 (0,4)

Oriximiná 169,8 - 322,8 409,4 210,0 39,6 33,8 19,3 14,9 28% 31% 1.511,0 49.195,0 2.411,0 53.135,0 30,7 45,4 0,5 Parauapebas 125,3 178,5 618,7 768,0 215,0 - - 22,2 16,3 0% 36% 1.217,0 75.172,0 2.822,0 91.621,0 16,2 30,8 0,9 Terra Santa 230,5 52,1 62,4 119,0 - - 18,3 13,2 0% 30% 509,0 15.019,0 666,0 16.968,0 33,9 39,3 0,2 Forquilhinha 206,6 92,7 314,7 260,5 142,0 - - 9,7 6,7 0% 43% 419,0 18.831,0 349,0 21.035,0 22,3 16,6 (0,3) Maracajá 402,4 117,0 234,7 314,6 116,0 27,0 13,8 11,7 7,5 36% 43% 131,0 5.642,0 164,0 6.104,0 23,2 26,9 0,2 Meleiro 370,4 87,2 242,3 374,5 130,0 22,9 16,9 13,9 8,9 34% 44% 167,0 7.052,0 204,0 6.921,0 23,7 29,5 0,2 Nova Veneza 261,5 79,4 351,8 441,8 123,0 21,8 9,8 8,3 5,0 33% 46% 278,0 11.693,0 397,0 12.522,0 23,8 31,7 0,3 Capela 235,1 14,4 36,4 39,2 50,0 55,3 60,5 43,5 33,4 29% 27% 786,0 26.677,0 813,0 27.403,0 29,5 29,7 0,0 Maruim - 56,5 85,2 - 46,0 51,3 46,5 34,7 23,1 23% 26% 704,0 15.541,0 673,0 15.937,0 45,3 42,2 (0,1) Rosário do Catete

- 325,5 96,6 - 280,0 58,9 40,9 37,6 21,5 29% 28% 597,0 7.267,0 668,0 8.019,0 82,2 83,3 0,0

Santo Amaro das Brotas

- 41,2 - - 99,0 54,3 47,1 38,4 26,0 20% 27% 412,0 10.675,0 497,0 10.699,0 38,6 46,5 0,2

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ANEXO 4 - QUESTIONÁRIOS E ROTEIROS DE ENTREVISTAS UTILIZADOS DURANTE OS TRABALHOS DE CAMPO

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Roteiro de Entrevistas com Representante da Empresa de Mineração Empresa:................................................................................................................................. Principal produto:.. ano de instalação..............ano previsto para exaustão:.......... Nome do entrevistado:............................................................ Função:................................................................. e-mail – telefone 1) Fornecer informações sobre: volume de produção, valor da produção, impostos e demais benefícios recolhidos desde a implantação da empresa. ........................................................................................................................................ 2) A mineração é uma atividade positiva para o município? ()sim ( )não. Por que? 3) Qual(ais) os tipos de benefícios que o município tem recebido por parte da empresa? Enumerar e relacionar valores por ano. ................................................................................................................................................... 4) A empresa exerce algum tipo de ingerência no que se refere ao uso dos recursos financeiros que são pagos ao município? ................................................................................................................................................... 5) A empresa considera a carga tributária federal/estadual que incide sobre a mineração? ( ) excessiva ( ) suficiente. Por que?...................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 6) E quanto à carga tributária municipal, em especial a CFEM é considerada pesada ou leve? Por que? ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 7) A empresa está satisfeita com a destinação que é dada aos recursos que ela paga ao município? ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 8) Na sua opinião o que precisa ser feito para aprimorar o sistema da CFEM (ou equivalente)? . ......................................................................................................................................................................................................................................................................................

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Roteiro de Entrevistas empresas de mineração: Meio Ambiente e Comunidades Município:...................................... Data da entrevista:.................................. Nome do entrevistado:............................................................................................ Função:................................................................... Telefone/e-mail:............................................... 1) Nome da empresa/site/e-mail: ............................................................................................................. 2) A empresa tem Departamento de Meio Ambiente? ( ) sim ( ) não. por que? ............................................................................................................. 3) A empresa possui certificações socioambientais? ( ) sim ( )não 4) Caso positivo qual(is) o(s) tipo(s) de certificação(ões) ? Em que ano foi(ram) obtido(s)? ( ) ISO 14001 ( ) SA 800 ( ) Publica o Balanço Social (qual modelo?) ( ) Outros – ISO9000 5) De onde veio a motivação para buscar certificações? ( )dirigentes ou do grupo controlador ( ) empregados ( )comunidade ( )fornecedores ( )clientes / compradores ( ) organizações empresariais ( )organismos ou programas governamentais ( ) Sistema S (Senai, SESI etc.) ( ) Exigências legais 6) Quanto (em termos percentuais) representou na estrutura de custos da empresa a obtenção da(s) certificação(ões) socioambiental (is)? ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 7) O que mudou na rotina da empresa após a obtenção da certificação? ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 8) Foi possível identificar ganhos econômicos decorrentes do processo de certificação? ( ) sim ( ) não 9) Você pode mencionar exemplos de novas oportunidades de negócios que foram abertas após a certificação? ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 10) O que a empresa entende por responsabilidade social? ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 11) Quais as ações que têm sido implementadas pela empresa nessa área?

Ação N. de beneficiados Valor (R$1,00) 12) Quanto (em termos percentuais) representaram na estrutura de custos da empresa estes programas sociais?

...................................................................................................................................................................

................................................................................................................... 13) A realização dos programas sociais melhorou a relação do empreendimento com a comunidade: ( )muito ( ) alguma coisa ( ) pouco ( ) nada. Por que ? ......................................................................................................................................................................................................................................................................................

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Roteiro de Entrevistas do Setor Público: Município:............................................ Data da entrevista:.......................... Nome do entrevistado:.................................................................................. Função:............................................................................................ e-mail / telefone..................... 1) Quais os instrumentos de Gestão Urbana que o município tem? ( ) Leio Orgânica do Município ( ) Plano Diretor ( ) Lei de Uso do Solo ( ) Lei de Parcelamento ( ) Lei Municipal de Meio Ambiente ( ) cadastro de edificações ( ) cadastro de empresas 2) O município já recebeu algum prêmio por políticas inovadoras? ( ) sim ( ) não. Caso positivo para qual(is) setor(es)? ( ) educação ( ) saúde e saneamento ( ) meio ambiente ( ) criação de emprego e renda ( ) boa gestão administrativa ( ) outros 3) O município participa de algum tipo de associação ou consórcio intermunicipal? ( ) sim ( )não. Em caso positivo, qual entidade? Informe os objetivos. 4) O município concedeu reajuste aos seus funcionários públicos nos últimos cinco anos/ ( ) sim ( ) não. Caso positivo informar o percentual. 5) Informar o partido das administrações públicas, passadas e atual: 2005 - 2008 (.....) 2000-2004 ( ) 1996 -1999 (.....) 6) Como essa alternância político-partidária tem se refletido na gestão administrativa, em termos de continuidade dos projetos? 7) Antes de ser o gestor público qual a atividade do prefeito? ( ) Empregado de iniciativa privada ( ) Academia ( ) Político militante ( ) Empresário ( ) Outros 8) Informar a estrutura administrativa do município e o número de funcionários por Secretaria/Órgão. 9) Quais os setores produtivos mais dinâmicos do município? Apresente alguns indicadores Indicadores 10) A mineração é uma atividade positiva para o município? ()sim ( )não. Por que? ................................................................................................................................................................... 11) O município recebe algum tipo de benefício financeiro oriundo da mineração? ( ) sim ( )não. Em caso positivo qual(ais)? .................................................................................................................................................................. 12) No caso da resposta ser positiva fornecer informações sobre tal benefício nos últimos cinco anos (receitas, contribuições, investimentos etc). ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 13) Há algum plano formalizado de aplicação dos recursos financeiros recebidos? ( ) sim ( ) não. Caso positivo anexar plano e relatório de atividades e indicar quais os setores prioritários para receber os recursos? .......................................................................................................................................................................................................................................................................................................

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14) Quais os critérios para a utilização desses recursos? Há alguma forma de participação direta da sociedade na tomada de decisões? ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 15) Como foram definidos tais critérios? ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 16) O município recebe algum outro tipo de benefício da atividade de mineração? ( ) sim ( )não. Caso positivo quais? ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 17) Você considera que esses benefícios financeiros recebidos pela prefeitura da atividade de mineração? são suficientes? ( ) sim ( ) não . Por que? ....................................................................................................................................................................

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Roteiro de entrevistas para representantes da sociedade local Município:............................................ Data da entrevista:.......................... Nome do entrevistado:.................................................................................. Função:.......................................................................................................... e-mail / telefone............................................................................................. 1) A mineração é uma atividade positiva para o município? ()sim ( )não. Por que? ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 2) O município recebe algum tipo de benefício financeiro oriundo da mineração? ( ) sim ( )não. Em caso positivo qual(ais)? ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 3) No caso da resposta ser positiva, você conhece o valor que a prefeitura recebe? ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................... ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 4) Você tem conhecimento se há algum plano formalizado de aplicação dos recursos financeiros recebidos? ( ) sim ( ) não. Caso positivo, quais áreas/setores prioritários receberm os recursos? ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................... ..................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 5) Você tem conhecimento de quais os critérios foram adotados para o uso desses recursos? Há alguma forma de participação direta da sociedade na tomada de decisões? ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................ O município recebe algum outro tipo de benefício da atividade de mineração? ( ) sim ( )não. Caso positivo quais? .............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 18) Você considera que esses benefícios financeiros recebidos pela prefeitura da atividade de mineração? são suficientes? ( ) sim ( ) não . Por que? ..........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

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ANEXO 5 – RELAÇÃO DE ATORES SOCIAIS ENTREVISTADOS – EMPRESAS, GOVERNO E SOCIEDADE

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ANEXO 5 Entrevistas realizadas durante os levantamentos em campo nos municípios de base mineira no Brasil

município ator responsável pela entrevista (nome e cargo) data e local

Rio Paracatu Mineração (RPM)

Luiz Alberto Alves (Gerente Geral) Rodrigo Dutra Amaral (Gerente de saúde, segurança e meio ambiente)

Paracatu, 02 de setembro de 2005

Paracatu (MG)

Prefeitura Municipal Flávio Cortes Ramos (Secretário de Fazenda)

Paracatu, 02 de setembro de 2005

Prefeitura Municipal Marcos Alvarenga Duarte (Secretário de Fazenda) Sérgio Amaral (Secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo) Hamilton de Penha Lages Silva (Secretário de Meio Ambiente)

Itabira, 20 de maio de 2005

Associação Empresarial Raymundo Nonato Dias Moreira (Presidente)

Itabira, 20 de maio de 2005

Itabira (MG)

CVRD Gianni Marcus Pantuza Almeida (Gerência de meio ambiente)

Itabira, 21 de maio de 2005

MBR Cláudia Inês (Chefe de Relações Públicas).

Nova Lima, 18 de maio de 2005

Nova Lima (MG) Prefeitura Municipal Délcio do Carmo Lima (Secretário Municipal de Fazenda)

Nova Lima, 18 de maio de 2005

Samarco Mineração S/A Leonardo André Gandara (Gerente da Mina do Germano)

Belo Horizonte,17 de maio de 2005

Mariana (MG) Prefeitura Municipal Glauco Rosa de Freitas (Secretário Municipal de Finanças)

Mariana, 17 de maio de 2005

Prefeitura Municipal Toninho Fontes (Secretário Municipal de Ação Social)

Santa Bárbara, 17 de maio de 2005 Santa Bárbara

(MG) Mineração São Bento Ademir Torres – Gerente Administrativo

Santa Bárbara,17 de maio de 2005

Prefeitura Municipal Olímpio Cesar de Araújo – Prefeito (2005-2008) PL

Crixás, 08 de abril de 2005

Mineração Serra Grande Rogério Carvalho da Costa (Recursos Humanos) Carlos Luiz Ramos Ribeiro (Chefe da Divisão de Segurança do Trabalho) Marco Antônio de Queiroz Casséte (Coordenador Administrativo Financeiro) Elcio Alvizi (Contador)

Crixás, 11 de abril de 2005

Crixás (GO)

Prefeitura Municipal Sr. Ailton (Secretário Municipal de Desenvolvimento)

Crixás, 08 de abril de 2005

SAMA – Mina de Cana Brava

Normando Queiroga (Geólogo - Gerente industrial) Moacir de Melo Jr (Chefe do Departamento de Pessoal) Marcélia (funcionária do Departamento de pesooal)

Minaçu, 13 de abril de 2005

Minaçu (GO) Prefeitura Municipal Joaquim da Silva Pires (Prefeito

de Minaçu) – 2005-2008 (PL) Mariosan Abreu da Silva (Assessor de Finanças Municipais)

Minaçu, 14 de abril de 2004

Parauapebas (PA)

CVRD – mina de Carajás Flávio Moreira (Geólogo – gerente de planejamento da

Parauapebas, outubro de 2004

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mina e geologia) Câmara dos Vereadores Sr Odilon (vereador há 12 anos) Parauapebas, outubro de

2004 Prefeitura Municipal Isabel Salmen (ex-prefeita)

Darci Lermen – prefeito recém-eleito na época (2005-2008) PT

Parauapebas, outubro de 2004

Associação Comercial Maria Luiza de Souza (Presidente da Associação)

Parauapebas, outubro de 2004

Secretaria de Planejamento

José Mandré (Secretário Estadual de Planejamento)

Parauapabas, 3 julho de 2006

Chefia de Gabinete da Prefeitura

João Eduardo Fontana (Chefe de Gabinete)

Parauapabas, 3 julho de 2006

CVRD – mina de Carajás Aroni Maciel Monteiro (geólogo) Daniele (Divisão de meio ambiente)

Parauapabas, 4 julho de 2006

PPSA Jo´se Andrade Oliveira (Gerente de Operações de Minas)

Julho de 2000. Ipixuna do Pará (PA) Prefeitura Municipal Evaldo Cunha – prefeito

2005 – 2008 - PMDB Ipixuna do Pará, 14 de julho de 2006

CVRD – mina do Sossego Jareston Nunes de O. Fontes (Gerente Geral de Operações)

Canaã dos Carajás, 06 de julho de 2006

Agência Canaã Leonardo Pereira de Moura Filho (Diretor Executivo)

Canaã dos Carajás, 05 de julho de 2006 Canaã dos

Carajás (PA) Prefeitura Municipal Carla Pinto (Secretária de Planejamento) Flávio Lacerda (Secretário de Finanças)

Canaã dos Carajás, 05 de julho de 2006

Carbonífera Criciúma Alfredo Febel (Gerente, engenheiro de minas)

Forquilhinha, 27 de abril de 2006

Câmara dos Veradores Valberto Berkenbrock (PDT) Forquilhinha, 28 de abril de 2006

Prefeitura Municipal Zuleide Ines Westrup (Secretária de Administração e Finanças) Ademar João Back (Assessor e ex-prefeito) Edésio Fernando Loch (Secretário de Agricultura e Meio Ambiente)

Forquilhinha, 27 de abril de 2006

População de áreas adjacente à mina

Família de agricultores nas áreas adjascentes às minas

Forquilhinha, 28 de abril de 2006

Forquilhina (SC)

DNPM – escritório de Forquilhinha

Dário (Geólogo responsável pelo escritório)

Forquilhinha, 26 de abril de 2006

CVRD – Mina Taquari-Vassouras

Heleno Almeida (Diretor da Unidade) Daniel de Oliveira Sampaio (Deartamento de Comunicação Institucional da CVRD)

Rosário do Catete, 14 de julho de 2005

Câmara dos Vereadores Edinaldo (PSDB) Rosário do Catete, 14 de julho de 2005

Rosário do Catete (SE)

Prefeitura Municipal Kalazans (Secretário Municipal de Finanças) Gilton Pitanga (Diretor do Departamento de emprego e renda )

Rosário do Catete, 15 de julho de 2005

Prefeitura Municipal Gerson José de Almeida (Secretário de Administração Geral)

Distrito de Pilar (Jaguarari), 12 de julho de 2005

Mineração Caraíba Fernando de Melo Monteiro (Diretor Superintendente) Paulo Augusto Medeiros da Silva (Gerente de Divisão de Qualidade)

Distrito de Pilar (Jaguarari), 11 de julho de 2005

Jaguarari (BA)

Sindicato dos Trabalhadores da Mineração

Antônio Xavier (Diretor do Sindicato)

Distrito de Pilar (Jaguarari), 11 de julho de 2005

Corumbá (MS) RTZ - Mineração Marcelo Pires Coelho (Chefe do Corumbá, 22 de junho de

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Corumbaense Reunida S/A

Departamento de comunicação social)

2006

CVRD - Urucum Mineração S/A

Paulo Alexandre Ribeiro (Diretor de Geologia e Planejamento) Marcos Machado (Coordenação de meio ambiente) João Cézar Rocha Pirola (Coordenador Administrativo) Michele Fernandes (Analista de comunicação)

Corumbá, 20 de junho de 2006

Prefeitura Municipal José Antônio Assad ( Secretaria de Gestão Governamental) Secretario Municipal Daniel Martins Costa (Secretário de Finanças e Administração)

Corumbá, 21 de junho de 2006

Câmara dos Vereadores Mário Kenedi (presidente da Câmara do Vereadores)

Vitória do Jari, 11 de abril de 2006

CADAM Antônio Carlos Santana (Gerente Geral) Silvio Cardoso Paraense e Andréia Teixeira (Divisão de Meio Ambiente)

Vitória do Jari, 12 de abril de 2006

Vitória do Jari (AP)

Prefeitura Municipal Vaber Luiz Mendonça Vasconcelos (Diretor de Tributos)

Vitória do Jari, 11 de abril de 2006

Relação de Técnicos do DNPM

Distrito contacto cargo Amapá- 16. Distrito Marco Antônio Palha Chefe do Distrito Cláudio Monteiro Economista Minas Gerais - 3 Distrito Luiz Eduardo Chefe do Distrito Maria Alzira Duarte Economista Sergipe - 18 Distrito Luiz Alberto Mello de

Oliveira Chefe do Distrito

Carlos Alberto Dias Economista Pará - 5 Distrito Every Aquino Chefe do Distrito Bahia - 7 Distrito Teobaldo Rodrigues Júnior Chefe do Distrito Goiás - 6 Distrito Denílson Arruda Chefe do Distrito Santa Catarina 11 Distrito Ariel Pizzolatti Chefe do Distrito Ricardo Peçanha Geólogo do Distrito Mato Grosso do Sul - 23 Distrito

Valdez Carvalho Chefe do Distrito

DNPM-sede Miguel Cedraz Nery Diretor Geral João César Pinheiro Diretor Geral Adjunto Marco Antônio Valadares Diretor da DIPAR Karenina Miranda Assessora da DIPAR Glória Salignac Secretária da DIPAR

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ANEXO 6 – METODOLOGIA PARA A ANÁLISE DO CLUSTER

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1. Nota Metodológica A análise estatística multivariada consiste de um conjunto de métodos usados para simplificar e facilitar a interpretação de grandes conjuntos de dados a partir das correlações entre cada variável original e a componente formada por eles. Com vistas a construir um instrumento analítico capaz de atender aos objetivos do trabalho, foram escolhidas as técnicas estatísticas multivariadas conhecidas como Análise de Redução de Dimensionalidade, também denominada cientificamente de Análise de Componentes Principais (ACP) e Análise de Agrupamento (Cluster Analysis). 1.1 Análise de componentes principais (ACP) Em relação à ACP a técnica aplicada foi a Análise de Fator. A ACP tem como objetivo explicar a estrutura de variância e covariância, ou seja, as correlações entre variáveis, por meio de umas poucas combinações lineares das variáveis originais. Algebricamente, componentes principais são combinações lineares pYYY ,,, 21 K formadas a

partir de um conjunto de variáveis originais pXXX ,,, 21 K , representado por:

pipiii XXXY lKll +++= 2211 (1)

com pi ,,3,2,1 K= em que 11

2 =∑=

n

jijl .

A primeira componente principal é a combinação linear com a máxima variância (Var), assim, )()()( 21 pYVarYVarYVar ≥≥≥ K . Outra característica da variável iY é que as combinações

lineares não são correlacionadas e a somatória da variância das componentes principais é igual a somatória da variância das variáveis originais. Os coeficientes ijl representam o nível de relação da variável original com a componente principal representando um efeito parcial sobre a componente gerada. A denominação ou categorização de cada componente é feita levando-se em consideração as maiores relações obtidas pelas combinações lineares para cada componente principal. O número de componentes a serem usados na análise corresponde ao número de componentes que captam pelo menos 70% da porcentagem da variância dos dados, esse percentual é uma referência prática de acordo com Johnson e Wichern (1992), Souza (2000), Zambrano e Lima (2004). 1.2.1 Análise de Fator A Análise de Fator é uma técnica estatística multivariada que tem como objetivo descrever o comportamento de um conjunto de variáveis por meio de um número menor de variáveis denominadas Fatores, cada fator apresentando um distinto padrão de movimento entre as variáveis, que será interpretado logicamente. Na análise de fator, cada fator explica uma parcela da variância do conjunto de dados, com o fator1 explicando a maior parcela da variância e os fatores seguintes explicando parcelas cada vez menores, em uma seqüência decrescente. A técnica de Análise de Fator pode ser apresentada nas quatro etapas seguintes:

a) Matriz de correlações e adequabilidade do modelo à técnica de Análise fatorial: Define-se a matriz de correlações simples entre os indicadores, dada por XXR ′= , em que:

′′

=

=

nnNnn

N

N

X

XX

xxx

xxxxxx

XL

L

LLLL

L

L

2

1

21

22221

11211

Nesta etapa é possível verificar se a amostra de dados utilizada guarda alguma adequabilidade ao método utilizado, de forma que variáveis pouco relacionadas com as demais tenderão a apresentar baixa proporção da variância explicada pelos fatores comuns. Para testar a adequabilidade foram usadas as estatísticas KMO (Kaiser-Meyer_Olkin) e o teste de esfericidade de Bartlett.

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O KMO compara a magnitude dos coeficientes de correlação observados com as magnitudes dos coeficientes de correlação parcial, e varia entre zero e um. A estatística KMO é calculada pela expressão a seguir:

∑∑∑∑

∑∑

≠≠

+=

jiij

jiij

jiij

ar

rKMO 22

2

(2)

em que ijr é o coeficiente de correlação simples entre as variáveis originais e ija é o coeficiente de correlação parcial entre elas. Neste estudo usou-se como um valor de KMO superior a 0,7 que representa uma adequação no mínimo regular em uma escala de 0 a 1, como apresentado por Pereira (2001). O teste de Bartlett é usado para testar a hipótese nula de que a matriz de correlação é uma matriz –identidade, caso a hipótese seja não rejeitada deve-se reavaliar o uso da técnica de Análise de Fator. b) Determinação do número de fatores A definição do número de fatores a serem utilizados segue como regra utilizar aqueles fatores que apresentam raízes características, ou autovalores, acima da unidade. Além desse critério, Sabbag (2000) recomenda utilizar dois ou três fatores como forma de simplificar as análises. A comunalidade é uma medida de quanto da variância de uma variável é explicada pelos fatores derivados pela análise fatorial (PEREIRA, 2001). É um indicador da eficiência dos fatores em explicar a variabilidade total do conjunto de dado e quanto mais próximo de um estiver seu valor, maior parcela da variância da variável é captada pelo conjunto de fatores considerados. c) Rotação dos fatores obtidos A geração dos fatores pela ACP é obtida por sucessivas rotações de eixos que melhor expressam a variação dos dados. Na análise de fator as variações das medidas estão maximizadas e as relações entre as medições suavizadas. Dessa forma, segundo Zambrano e Lima (2004), as medidas que apresentam correlações mais fortes entre si espera-se que estejam dentro de um mesmo fator e apresentem correlação mais fraca com os demais fatores. O método de rotação ortogonal utilizado é o varimax rotation, que busca minimizar o número de variáveis com altas cargas num fator. Esse processo de rotação ortogonal da matriz de fatores não afeta a comunalidade e nem a percentagem de variações explicadas pelos fatores d) Cálculo dos escores fatoriais É a medida assumida para cada observação do conjunto de dados observado e é obtida pela seguinte expressão:

pjpjji XWXWXWF +++= K2211 (3) em que ijW são os coeficientes dos escores fatoriais; iX variável observada e p é o número de variáveis. O escore fatorial permite identificar diferenças espaciais e desenvolver análises comparativas entre as unidades espaciais. Segundo Hair Jr (1995), como citado por Zambrano e Lima (2004), escores fatoriais elevados mostrarão que aquela observação tem alta influência daquele fator. 1.2 Análise de Agrupamento (Cluster analysis) É uma técnica de estatística multivariada utilizada para se agrupar coisas semelhantes tomas em várias dimensões. Dada a matriz de observações é possível criar grupos homogêneos de variáveis com elevada variabilidade entre os grupos e com baixa dispersão dentro de cada grupo. O desenvolvimento da análise de Cluster requer inicialmente que se escolha a medida de parecença a ser usada, neste trabalho optou-se pelas medidas de dissimilaridade com especial interesse sobre a medida da distância euclidiana dada pela expressão abaixo:

∑=

−=p

jkjijik xxD

1

22 )( . (4)

Com a matriz de distâncias euclidianas é possível criar seqüências de grupos por proximidade geométrica, para tal foi utilizado o método hierárquico aglomerativo de ligação simples.

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A partir dos escores calculados pela análise de fator será aplicada a análise de cluster na obtenção de grupos similares internamente e com isso será possível identificar como os municípios se distinguem dentro de cada fator de interesse obtido. 1.3 Seqüência de procedimentos para geração dos resultados da análise de fator e de cluster A base de dados é formada pelas variáveis contidas no Anexo 3 para cada um dos municípios participante da amostra. Após análise exploratória das variáveis foi construída uma matriz para o ano de 2000. Tabela A : Variáveis utilizadas no modelo e seus coeficientes de correlação Componentes 1 2 3 GASTO EDC 00 ,934 ,201 -,053 GASTO SAUD 00 ,891 ,255 ,178 GASTO PESS 00 ,905 ,318 ,136 POP OC 00 ,794 ,212 ,209 ANO ESTUDO 00 ,279 ,882 ,090 Muni Minerador ,460 ,316 ,456 DRESP -,136 ,258 -,820 GASTO AGR 00 ,812 ,214 ,159 Conselho MA ,341 ,524 ,008 org amb ,098 ,328 ,244 POBRES 00 -,125 -,905 ,178 GASTO MIN 00 ,685 -,180 -,502 ANALF00 -,113 -,900 ,051

Extraction Method: Principal Component Analysis. Rotation Method: Varimax with Kaiser Normalization. a Rotation converged in 5 iterations. A primeira componente pode ser denominada de “Crescimento” pública devido aos elevados valores das variáveis economia e gestão na componente. A segunda componente pode ser denominada de “Desenvolvimento”, devido ao peso das variáveis sócio-ambientais e a terceira de “base produtiva mineral” (foi descartada para nossa análise). Nessa tabela podemos interpretar os valores como um coeficiente de correlação simples de cada variável original com o fator ou componente gerado. Dessa forma, existe forte correlação entre as variáveis de gastos e o fator1; forte relação positiva da variável ANO ESTUDO 00 e a componente 2 e deste com POBRES tem forte correlação negativa.

Component Transformation Matrix

,830 ,547 ,113,521 -,831 ,195,200 -,103 -,974

Component123

1 2 3

Extraction Method: Principal Component Analysis. Rotation Method: Varimax with Kaiser Normalization.

A matriz de componentes mostra o nível de relação linear entre as componentes, ou seja, a componente 1 tem forte correlação positiva consigo mesma e com as demais, o que mostra sua preponderância sobre as outras. O software SPSS-Statistical Package for Social Science, foi usado para gerar as estatísticas referentes a análise de fatores, incluindo os testes de adequabilidade e esfericidade, bem como a matriz de cargas fatoriais e a das comunalidades e dos escores de fatores. De posse dos escores, foram gerados os grupos similares de municípios para cada um dos fatores, utilizando o método das K-médias.

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Teste de Multicolinearidade

Correlation Matrix

1,000 ,826 ,881 ,723 ,472 ,516 -,085 ,717 ,393 ,168 -,300 ,705 -,315,826 1,000 ,938 ,781 ,471 ,442 -,169 ,924 ,401 ,196 -,326 ,367 -,315,881 ,938 1,000 ,804 ,515 ,527 -,134 ,870 ,449 ,210 -,408 ,431 -,369,723 ,781 ,804 1,000 ,439 ,458 -,181 ,627 ,396 ,180 -,258 ,346 -,232,472 ,471 ,515 ,439 1,000 ,399 ,009 ,383 ,487 ,190 -,771 ,048 -,904,516 ,442 ,527 ,458 ,399 1,000 -,228 ,425 ,309 ,246 -,257 ,127 -,277

-,085 -,169 -,134 -,181 ,009 -,228 1,000 -,098 ,099 ,014 -,351 ,127 -,136,717 ,924 ,870 ,627 ,383 ,425 -,098 1,000 ,300 ,114 -,284 ,270 -,285,393 ,401 ,449 ,396 ,487 ,309 ,099 ,300 1,000 ,268 -,396 ,134 -,371,168 ,196 ,210 ,180 ,190 ,246 ,014 ,114 ,268 1,000 -,273 -,013 -,110

-,300 -,326 -,408 -,258 -,771 -,257 -,351 -,284 -,396 -,273 1,000 ,001 ,800,705 ,367 ,431 ,346 ,048 ,127 ,127 ,270 ,134 -,013 ,001 1,000 -,006

-,315 -,315 -,369 -,232 -,904 -,277 -,136 -,285 -,371 -,110 ,800 -,006 1,000

GASTO EGASTO SGASTO PPOP OC ANO ESTMuni MinDRESPGASTO AConselhoorg ambPOBRESGASTO ANALF00

Correl

GASTOEDC 00

GASTOAUD 0

GASTOESS 0OP OC 0

ANOSTUDO 0

MuniineradoDRESP

GASTOAGR 00nselho Mrg ambOBRES

GASTOMIN 00NALF0

A matriz de correlação mostra o nível de relacionamento linear entre as variáveis envolvidas no estudo e serve para identificar possíveis situações de multicolinearidade. Como vemos os gastos estão bem correlacionados entre si. Todas as vezes que for maior que 0,500 vc pode aceitar como um sinal moderado de associação linear, como o caso da relação linear positiva entre o gasto em educação e o fato do município ser minerador (0,516). No entanto, isso reflete uma relação entre

duas variáveis apenas. O teste Kaiser-Meyer-Olkin KMO é uma medida de adequação dos dados e seus valores críticos apresento na metodologia da técnica de análise dos componentes principais, no entanto, como ele é maior de 0,700 tem-se uma adequação razoável dos dados à análise fatorial, e é o

que importa. O teste de Bartelett testo f Sphericity (BTS), testa a hipótese de que a matriz de correlação é uma matriz identidade, ou seja, que não há correlação entre as variáveis. No nosso exercício essa hipótese pode ser rejeitada a 1% de significância estatística. Dessa forma fica garantida aplicação dos dados a técnica de análise fatorial.

KMO and Bartlett's Test

,749

597,49678

,000

Kaiser-Meyer-Olkin Measure of SamplingAdequacy.

Approx. Chi-SquaredfSig.

Bartlett's Test ofSphericity

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Communalities

1,000 ,9161,000 ,8911,000 ,9391,000 ,7191,000 ,8631,000 ,5191,000 ,7581,000 ,7301,000 ,3911,000 ,1771,000 ,8661,000 ,7541,000 ,826

GASTO EDC 00GASTO SAUD 00GASTO PESS 00POP OC 00ANO ESTUDO 00Muni MineradorDRESPGASTO AGR 00Conselho MAorg ambPOBRES 00GASTO MIN 00ANALF00

Initial Extraction

Extraction Method: Principal Component Analysis.

A comunalidade é a medida de quanto da variância de uma variável é explicada pelos fatores derivados pela análise fatorial. Dessa maneira, pode-se avaliar a contribuição da variável ao modelo construído pela análise fatorial, de forma que uma comunalidade baixa sugere uma contribuição modesta da variável, como é o caso das variáveis CONSELHO MA e ORG AMB, enquanto as outras apresentam valores acima de 0,500.

Total Variance Explained

5,901 45,390 45,390 5,901 45,390 45,390 4,707 36,205 36,2052,185 16,809 62,200 2,185 16,809 62,200 3,285 25,272 61,4771,263 9,715 71,914 1,263 9,715 71,914 1,357 10,438 71,9141,008 7,751 79,665

,723 5,558 85,223,648 4,986 90,209,548 4,214 94,423,354 2,720 97,143,168 1,291 98,434,081 ,626 99,060,058 ,448 99,508,035 ,267 99,775,029 ,225 100,000

Compone12345678910111213

Total% of Variancumulative %Total% of Variancumulative %Total% of Variancumulative %Initial Eigenvalues action Sums of Squared Loaditation Sums of Squared Loadin

Extraction Method: Principal Component Analysis.

A variância explicada por três componentes é de 71,914% da variância total, porém poderíamos trabalhar com quatro componentes (fica como opção sua). Dessa forma temos três componentes como pode ser observado na tabela abaixo.

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Município ClusterParacatu 1Aquidauana 1Campo Formoso 1Santa Barbara 1Nova Era 1Crixas 1Jaguarari 1Alvinopolis 1Rosario do Catete 1Eldorado dos Carajas 1Jaboticatubas 1Piranga 1Uaua 1Maracaja 1Barra Longa 1Itabira 2Parauapebas 2Unai 2Mariana 2Minacu 2Oriximina 2Forquilinha 2Nova Veneza 2Ipixuna do Para 2Capitao Poco 2Agua Azul do Norte 2Mozarlandia 2Porto Murtinho 2Laranjal do Jari 2Miranda 2Nova Crixas 2Aurora do Para 2Antonio Dias 2Meleiro 2Maruim 2Curionppolis 2Canaa dos Carajas 2Capela 2Mazagao 2Santo Amaro das Brotas 2Terra Santa 2Andorinha 2Nova Esperanca do Piria 2Pedra Branca do Amapari 2Dom Bosco 2Campinacu 2Faro 2Trombas 2Santa Fe de Minas 2Corumba 3

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Tabela A : Resultados do cluster municipio FATOR 1 FATOR2 FATOR 3 CLUSTER 1 CLUSTER 2

Paracatu 1,35392 0,93532 1,58778 1 1 Aquidauana -0,01466 1,02049 0,03697 3 1 Campo Formoso 0,57822 -1,37969 0,40939 3 1 Santa Bárbara -0,13304 1,25355 0,75882 3 1 Nova Era -0,4428 1,30213 0,3 3 1 Crixás -0,28164 0,85916 0,03573 3 1 Jaguarari 0,23873 -0,6139 0,81081 3 1 Alvinópolis -0,38691 0,61083 -0,94289 3 1 Rosário do Catete -0,43309 -0,11677 1,63289 3 1 Eldorado dos Carajás 1,00793 -1,45333 -3,13937 3 1 Jaboticatubas -0,41812 0,22251 0,10358 3 1 Piranga 0,01162 -0,1878 -1,09093 3 1 Uauá -0,04493 -1,10739 0,15297 3 1 Maracajá -0,83733 1,23229 -0,12897 3 1 Barra Longa -0,43594 -0,23272 0,59498 3 1 Itabira 3,83734 1,08036 1,64859 2 2 Parauapebas 4,51769 -0,62553 -2,2684 2 2 Unai 1,30986 0,65802 -0,15831 1 2 Mariana 0,68459 1,27331 0,96704 1 2 Minaçu 0,48637 1,02069 0,78845 1 2 Oriximiná 0,74188 -0,17532 1,13574 1 2 Forquilhinha -0,36341 1,92966 0,16754 3 2 Nova Veneza -0,76484 2,02141 -2,1813 3 2 Ipixuna do Pará -0,17686 -1,34552 0,94201 3 2 Capitão Poço -0,01015 -1,61384 -0,10514 3 2 Água Azul do Norte -0,2589 -0,03536 -0,79553 3 2 Mozarlândia -0,50939 0,94088 -2,03152 3 2 Porto Murtinho -0,48472 0,38038 -0,43285 3 2 Laranjal do Jari -0,65701 0,26586 0,52969 3 2 Miranda -0,20016 0,23691 -0,91071 3 2 Nova Crixás -0,42321 0,39393 -0,92025 3 2 Aurora do Pará -0,29434 -1,33973 0,04459 3 2 Antonio Dias -0,33577 -0,71687 0,14599 3 2 Meleiro -0,79002 1,36435 -1,27215 3 2 Maruim -0,4764 -0,39726 0,88681 3 2 Curionópolis -0,4758 -0,60004 -0,1733 3 2 Canaã dos Carajás -0,57122 0,05647 0,75136 3 2 Capela -0,19707 -1,04984 0,01098 3 2 Mazagão -0,46705 -0,53761 0,43791 3 2 Santo Amaro das Brotas

-0,44964 -0,33755 0,71264 3 2

Terra Santa -0,55206 -0,39381 0,06417 3 2 Andorinha -0,10859 -1,6366 0,49591 3 2 Nova Esperança do Piriá

-0,13633 -2,00008 0,33714 3 2

Pedra Branca do Amapari

-0,52168 -0,32221 -0,19503 3 2

Dom Bosco -0,47829 -0,18308 -0,65298 3 2 Campinaçu -0,55458 -0,18409 -0,28339 3 2 Faro -0,52153 -0,69976 0,41933 3 2 Trombas -0,54812 -0,11535 -0,64992 3 2 Santa Fé de Minas -0,33479 -1,13819 0,25665 3 2

Corumbá 0,3222 1,48071 1,16648 1 3

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Referencia bibliográfica JOHNSON, R.; WICHERN, D. Applied multivariate statistical analysis. 3th Ed. New Jersey: Prentice-Hill, 2001. 642 p. PEREIRA, J. C. Análise de dados qualitativos: Estratégias metodológicas para as ciências da saúde, humanas e sociais. 3ª Ed. São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 2001. 156 p. ZAMBRANO, C.; LIMA, J. E. Análise Estatística Multivariada de dados socioeconômicos. In: SANTOS, M. L.; VIEIRA, W. C. (Edit). Métodos quantitativos em economia. Viçosa (MG), 2004. 555-576 p. HAIR JR., J. F. Multivariate data analysis: with readings. 4.ed. New Jersey: Prentice-Hall, 1995. 758 p. SABBAG, W. J. Modernização agrícola em Pernambuco, 1950-1996. Piracicaba: ESALQ, 2000. 170 p. Tese (Doutorado) – Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz, 2000.