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Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO MSCol 0000729-36.2018.5.05.0000 PARA ACESSAR O SUMÁRIO, CLIQUE AQUI Relator: RENATO MÁRIO BORGES SIMÕES Tramitação Preferencial -Lei 13.467/17 - Reforma Trabalhista Processo Judicial Eletrônico Data da Autuação: 12/06/2018 Valor da causa: R$ 1.000,00 Partes: IMPETRANTE: SINDICATO DOS EMPREGADOS NO COMERCIO DE FEIRA DE SANTANA - CNPJ: 13.614.821/0001-60 ADVOGADO: ISABELLA DELMONDES PINTO DA SILVA - OAB: BA0045368 ADVOGADO: REGINALDO FERREIRA BORGES - OAB: BA0016776 ADVOGADO: GEORGE VIEIRA RIBEIRO - OAB: BA0024969 ADVOGADO: LIVIA DA SILVA LOBO - OAB: BA0030994 IMPETRADO: JUIZA DA 3 Vara do Trabalho de Feira de Santana TERCEIRO INTERESSADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO - CNPJ: 26.989.715/0005-36 TERCEIRO INTERESSADO: SINDICATO DO COMERCIO DE FEIRA DE SANTANA - CNPJ: 16.445.355/0001-24 TERCEIRO INTERESSADO: FLORATA DISTRIBUIDORA DE COSMETICOS LTDA - CNPJ: 14.410.566/0001-04 TERCEIRO INTERESSADO: CERVEJARIA PETROPOLIS DA BAHIA LTDA - CNPJ: 15.350.602/0001-46 TERCEIRO INTERESSADO: COBAPA COMERCIAL DE BATERIAS PECAS E ACESSORIOS LTDA - CNPJ: 16.055.535/0001- 08 TERCEIRO INTERESSADO: FEIRA DE SANTANA COMERCIO DE LIVROS E CURSOS

MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO MSCol 0000729 … · Trata-se de Mandado de Segurança Coletivo ... por manter o modelo sindicalista brasileiro ... a reforma trabalhista "desinstitucionaliza

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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho

Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região

MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO MSCol 0000729-36.2018.5.05.0000

PARA ACESSAR O SUMÁRIO, CLIQUE AQUI

Relator: RENATO MÁRIO BORGES SIMÕES

Tramitação Preferencial-Lei 13.467/17 - Reforma Trabalhista

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 12/06/2018 Valor da causa: R$ 1.000,00

Partes:

IMPETRANTE: SINDICATO DOS EMPREGADOS NO COMERCIO DE FEIRA DE SANTANA -CNPJ: 13.614.821/0001-60 ADVOGADO: ISABELLA DELMONDES PINTO DA SILVA - OAB: BA0045368 ADVOGADO: REGINALDO FERREIRA BORGES - OAB: BA0016776 ADVOGADO: GEORGE VIEIRA RIBEIRO - OAB: BA0024969 ADVOGADO: LIVIA DA SILVA LOBO - OAB: BA0030994 IMPETRADO: JUIZA DA 3 Vara do Trabalho de Feira de Santana TERCEIRO INTERESSADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO - CNPJ:26.989.715/0005-36 TERCEIRO INTERESSADO: SINDICATO DO COMERCIO DE FEIRA DE SANTANA - CNPJ:16.445.355/0001-24 TERCEIRO INTERESSADO: FLORATA DISTRIBUIDORA DE COSMETICOS LTDA - CNPJ: 14.410.566/0001-04 TERCEIRO INTERESSADO: CERVEJARIA PETROPOLIS DA BAHIA LTDA - CNPJ: 15.350.602/0001-46 TERCEIRO INTERESSADO: COBAPA COMERCIAL DE BATERIAS PECAS E ACESSORIOSLTDA - CNPJ: 16.055.535/0001-08 TERCEIRO INTERESSADO: FEIRA DE SANTANA COMERCIO DE LIVROS E CURSOS

LTDA - CNPJ:16.876.367/0001-03 TERCEIRO INTERESSADO: GOLFARMA DISTRIBUIDORA FARMACEUTICA LTDA - CNPJ: 07.644.746/0001-87 TERCEIRO INTERESSADO: JORGE PAULO PEREIRA NUNES - CNPJ: 03.384.888/0001-00 TERCEIRO INTERESSADO: REIS DO NORDESTE CAMA MESA E BANHO LTDA - CNPJ: 05.697.368/0001-74 TERCEIRO INTERESSADO: W S O MATOS & CIA LTDA - CNPJ: 07.869.096/0001-78 TERCEIRO INTERESSADO: ZUCK PAPEIS LTDA - CNPJ: 23.232.280/0001-69 TERCEIRO INTERESSADO: MSR FARMA COMERCIAL LTDA - CNPJ: 05.458.634/0001-06

PAGINA_CAPA_PROCESSO_PJE_0000729-36.2018.5.05.0000

PODER JUDICIÁRIOJUSTIÇA DO TRABALHOTRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 5ª REGIÃOGab. Des. Renato Mário Borges SimõesMSCol 0000729-36.2018.5.05.0000IMPETRANTE: SINDICATO DOS EMPREGADOS NO COMERCIO DEFEIRA DE SANTANAIMPETRADO: JUIZA DA 3 VARA DO TRABALHO DE FEIRA DE SANTANA

Vistos etc.

 

 

Trata-se de Mandado de Segurança Coletivo impetrado pelo SINDICATO

contra ato do Juízo da 3ª Vara doDOS EMPREGADOS NO COMÉRCIO DE FEIRA DE SANTANA

Trabalho de Feira de Santana, proferido no bojo do Ação Civil Pública tombada sob o

nº 0000363-97.2018.5.05.0193 movida pelos ora litisconsortes 01) SINDICATO DO COMÉRCIO DE

FEIRA DE SANTANA; (02) FLORATA DISTRIBUIDORA DE COMÉRCIO LTDA, pessoa jurídica de

direito privado, inscrita no CNPJ nº. 14.410.566/0001-04, situada na rua Felinto Marques de Cerqueira,

nº. 169, bairro Ponto Central, CEP: 44.075-405, Feira de Santana/Ba; (03) CERVEJARIA PETRÓPOLIS

DA BAHIA LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº. 15.350.602/0004-99, situada

na Avenida Eduardo Froes da Mota, S/N, KM 103, bairro Aviário, CEP: 44.096-486, Feira de

Santana/Ba; (04) COBAPA COMERCIAL DE BATERIAS PEÇAS E ACESSÓRIOS, pessoa jurídica de

direito privado, inscrita no CNPJ nº. 16.055.535/0001-08, situada na Praça da República, nº. 102/106,

bairro Centro, CEP: 44.001-784, Feira de Santana/Bahia; (05) FEIRA DE SANTANA COMÉRCIO DE

LIVROS E CURSOS LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº. 16.876.367/0001-03,

situada na Av. Senhor dos Passos, nº. 935, salas 225/227, bairroCentro, CEP: 44.002-035, Feira de

Santana/Ba; (06) GOLFARMA DISTRIBUIDORA FARMACÊUTICA LTDA, pessoa jurídica de direito

privado, inscrita no CNPJ nº. 07.644.746/0001-87, situada na Travessa Rio de Contas, nº. 34, bairro

Brasilia, CEP: 44.088-408, Feira deSantana/Bahia; (07) JORGE PAULO PEREIRA NUNES, pessoa

jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº. 03.384.888/0001-00, situada na Av. Presidente Dutra, nº.

781, bairro Centro, CEP: 44.001-615, Feira de Santana/Ba; (08) REIS DO NORDESTE CAMA MESA E

BANHO LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº. 05.697.368/0001-74, situada na

Av. Senhor dos Passos, nº. 1318, bairro Centro, CEP: 44.002-200, Feira de Santana/Ba; (09) WSO

MATOS & CIA LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº. 07.869.096/0001-78,

situada na Av. Banco do Nordeste, S/Nº, Centro Industrial Subaé, CEP: 44.010-665, Feira de

Santana/Bahia; (10) ZUCK PAPÉIS LTDA,pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº.

23.232.280/0001-69, situada na Rua Buenopolis,nº. 200, Acesso Br 324, bairro 35 BI, CEP: 44.094-594,

Feira de Santana/Ba; (11) MSR FARMA COMERCIAL LTDA, pessoa jurídica de direito privado,

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inscrita no CNPJ nº. 05.458.634/0001-06, situada na Rua Tutoia, nº. 286, bairro Parque Ipê, CEP:

44.054-674, Feira de Santana/Ba, onde pretende, inclusive liminarmente, a concessão de tutela de

urgência no sentido de determinar a 10 dos 11 Litisconsortes indicados no libelo que cumpram com a

obrigação de fazer "para que descontem de cada um dos seus empregados e trabalhadores um dia de

remuneração de trabalho, conforme estabelece o art. 582, da CLT ou, sucessivamente, se esse não for o

entendimento de Vossa Excelência, que seja deferido 60% do valor de um dia de trabalho (arts. 582 c/c

589, inciso II, d, da CLT), independentemente de autorização prévia e expressa, no mês de março (agora

mês de junho em face da data de impetração do MS), nos termos da redação anterior do art. 582, da CLT

e recolhidos para o código sindical nº 15116-9, de titularidade do sindicato/impetrante, na Caixa

Econômica Federal, bem como seja assinado prazo para o adimplemento da obrigação com o

arbitramento de multa diária até que a obrigação seja satisfeita, nos termos do art. 11, da lei 7.347/85 e,

por fim, que o SINDICATO DO COMÉRCIO DE FEIRA DE SANTANA (representante da categoria

econômica - primeiro litisconsorte) seja compelido a orientar todas as empresas do comércio a

descontarem as contribuições sindicais dos empregados e recolherem para o código sindical já acima

." Juntou prova documental e acostou cópia dos autos eletrônicos.apontado

Deu à causa o valor de R$ 1.000,00.

É o relatório.

 

Passo a decidir.

Discorre o impetrante, em apertada síntese, que "a lei ordinária

13.467/2017, não poderia promover alterações nos artigos 545, 578, 579, 582, 583, 587 e 602, da CLT,

em face da natureza tributária e, assim, como se sabe as alterações só poderiam ser implementadas

mediante lei complementar, por imposição constitucional (arts. 146, 149 e 150, da Constituição Federal

de 1988), assim nenhum juiz ou Tribunal poderá deixar de declarar a inconstitucionalidade, inclusive, ex

."officio, fazendo o controle incidental pelo método difuso de constitucionalidade

Observo, ainda, que a inclusão do primeiro litisconsorte, SINDICATO DO

COMÉRCIO DE FEIRA DE SANTANA, contou com a justificativa de ser o mesmo "compelido a

orientar todas as empresas do comércio a descontarem as contribuições sindicais dos empregados e

."recolherem para o código sindical já acima apontado

Pois bem.

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Cabe analisar, de plano, se a presente ação mandamental encontra nesta

Subseção de Dissídios Coletivos, à luz do Regimento Interno deste Quinto Regional, a competência para

julgamento. E penso que sim.

Destarte, quando do julgamento do Conflito de Competência de nº

0000316-62.2014.5.05.0000, de minha Relatoria, nos mesmos moldes ali delineados, quando a matéria

posta é afeta a uma coletividade, uma categoria profissional, e porquanto seja a contribuição sindical

(compulsória e/ou voluntária) condição de manutenção do próprio sindicato, as disposições do art. 35 do

Regimento Interno deste Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região asseguram a competência originária

desta Subseção de Dissídios Coletivos.

Ultrapassada esta questão, passo à análise do mandamus.

E de partida, excluo liminarmente o primeiro litisconsorte (SINDICATO

DO COMÉRCIO DE FEIRA DE SANTANA) desta lide mandamental, porquanto a pretensão de que este

seja "compelido a orientar todas as empresas do comércio a descontarem as contribuições sindicais dos

" caracterizaria intervenção do Poderempregados e recolherem para o código sindical já acima apontado

Público na orientação sindical, o que é manifestamente vedado pelo art. 8º, I da CF.

A decisão impugnada, datada de 12.06.2018, deixou de antecipar a tutela

de urgência com base no seguinte fundamento, literis:

"É público e notório que, a reforma trabalhista, advinda da Lei 13.467/2017, vigente apartirde 11 de novembro de 2017, alterou diversos dispositivos da CLT e, dentre eles, oartigo 579, cuja redação condicionou o desconto da contribuição sindical à autorizaçãoprévia e expressa dos integrantes de uma determinada categoria econômica ouprofissional, ou de uma profissão liberal.

Art. 579. O desconto da contribuição sindical está condicionado à autorização prévia eexpressa dos que participarem de umadeterminada categoria econômica ou profissional,ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoriaouprofissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591 destaConsolidação. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de2017).

Também é de conhecimento geral que entidades representativas de diversas categoriasprofissionais movem ações judiciais nas quais questionam, junto ao STF, se taisalterações inseridas na Consolidação das Lei do Trabalho relativas ao recolhimento dacontribuição sindical, seriam inconstitucionais e, em primeiro plano, pedem, viaconcessão de liminar, a suspensão dos dispositivos atacados e, no mérito, a declaraçãode inconstitucionalidade dos mesmos.

Acerca deste fato, o ministro Edson Fachin, do E. Supremo Tribunal Federal, afirmou emdecisão proferida na ADI 5794, no dia 30/5/2018, a existência de elementos quejustificam uma decisão monocrática para suspender a contribuição sindical facultativa,prevista pela reforma trabalhista. No entanto, não concedeu a liminar porque previsto,para o dia 28 de junho próximo, o julgamento da questão pelo plenário.

Ao enfrentar o tema, o Ministro Fachin destacou: "É, pois, relevante o fundamentoarguido pela requerente, no sentido de que há possível enfraquecimento dos direitossociais com a redução da capacidade de financiamento das atividades sindicais". O

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ministro reconhece, outrossim, a existência de motivos para conceder a liminar comefeitos retroativos. O ministro afirma que a Constituição fez uma "opção inequívoca"por manter o modelo sindicalista brasileiro sustentado em três premissas: unicidadesindical, representatividade obrigatória e custeio das entidades sindicais por meio deum tributo. Este último, diz Fachin, faz referência justamente à contribuição sindical,"expressamente autorizada pelo artigo 149, e imposta pela parte final do inciso IV, doart. 8º, da Constituição da República".

Concluindo, destacou o d. Magistrado, ser "relevante o fundamento arguido pelarequerente, no sentido de que há possível enfraquecimento dos direitos sociais com aredução da capacidade de financiamento das atividades sindicais". Pois segundo oministro, a reforma trabalhista "desinstitucionaliza de forma substancial a principalfonte de custeio das instituições sindicais, tornando-a, como se alega, facultativa".Afirma ainda que o Congresso pode "não ter observado, ao menos 'prima facie', oregime sindical estabelecido pela Constituição de 1988 em sua maior amplitude,desequilibrando as forças de sua história e da sua atual conformação constitucional, esem oferecer um período de transição para a implantação de novas regras relativas aocusteio das entidades sindicais".

Ou seja, não obstante o reconhecimento da relevância do tema e de motivos que, em tese,podem induzir ter havido a inobservância do Texto Constitucional, e até por estasmesmas razões,a liminar não foi concedida naquela ação, considerando a proximidadedo julgamento da ADI, pelo Plenário daquela Excelsa Corte. Desse modo, em que pese arelevância do pedido da parte Autora, mesmo com o efeito inter partes, o tema merece amesma cautela, razão pela qual, por ora, não antecipo os efeitos da tutela, o que nãoimpede venha este juízo a reapreciar a questão."(destacamos)

A Lei 13.467/2017 pretendeu modificar substancialmente as disposições

sobre a Representação Sindical, sobremodo as regras de custeio e manutenção de todo o sistema sindical,

estabelecendo que:

"Art. 545. Os empregadores ficam obrigados a descontar da folha de pagamento dos seusempregados, desde que por eles devidamente autorizados, as contribuições devidas aosindicato, quando por este notificados.

Art. 578. As contribuições devidas aos sindicatos pelos participantes das categoriaseconômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas pelas referidasentidades serão, sob a denominação de contribuição sindical, pagas, recolhidas eaplicadas na forma estabelecida neste Capítulo, desde que prévia e expressamenteautorizadas."

Art. 579. O desconto da contribuição sindical está condicionado à autorização prévia eexpressa dos que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional,ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ouprofissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591 destaConsolidação.

Art. 582. Os empregadores são obrigados a descontar da folha de pagamento de seusempregados relativa ao mês de março de cada ano a contribuição sindical dosempregados que autorizaram prévia e expressamente o seu recolhimento aos respectivossindicatos.

Art. 583. O recolhimento da contribuição sindical referente aos empregados etrabalhadores avulsos será efetuado no mês de abril de cada ano, e o relativo aosagentes ou trabalhadores autônomos e profissionais liberais realizar-se-á no mês defevereiro, observada a exigência de autorização prévia e expressa prevista no art. 579desta Consolidação.

Art. 587. Os empregadores que optarem pelo recolhimento da contribuição sindicaldeverão fazê-lo no mês de janeiro de cada ano, ou, para os que venham a se estabelecerapós o referido mês, na ocasião em que requererem às repartições o registro ou alicença para o exercício da respectiva atividade.

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Art. 602. Os empregados que não estiverem trabalhando no mês destinado ao descontoda contribuição sindical e que venham a autorizar prévia e expressamente orecolhimento serão descontados no primeiro mês subsequente ao do reinício dotrabalho."

 

A contribuição sindical teve sua origem no DL 2.377/40, sendo

posteriormente disciplinada pela CLT em 1943 nos artigos 578 a 610, assegurando a prestação de serviços

assistenciais a toda a categoria, independentemente da condição de filiado do empregado, pois as

vantagens trabalhistas conquistadas por um sindicato estendem-se a todos os integrantes, seja o

trabalhador associado ou não.

A referida contribuição sindical compulsória foi resguardada pela

Constituição Federal, como se avista na última figura do inciso IV do art. 8º, c/c 578 e 579 da CLT, de

modo que devida por todos aqueles que integram uma determinada categoria (profissional ou econômica),

em parcela anual única (ainda que não sindicalizados), quer seja empregado, empregador ou profissional

liberal.

O deslinde da questão passa, necessariamente, pelo exame da natureza

jurídica da contribuição sindical estabelecida no art. 578 e seguintes da CLT em sua anterior redação.

Definida a sua natureza, definida estará a discussão em torno da matéria.

Em que pese não restarem dúvidas que "O STF fixou entendimento no

sentido da dispensabilidade de lei complementar para a criação das contribuições de intervenção no

domínio econômico e de interesse das categorias profissionais. (AI 739.715 AgR, rel. min. Eros Grau, j.

26-5-2009, 2ª T, DJE de 19-6-2009.).", tal jurisprudência não se aplica ao caso concreto, pois não tratou,

na hipótese, da análise de contribuição expressamente prevista no texto Constitucional, a teor do art. 8º,

IV, da CF/1988.

Assim também, a matéria objeto da nova lei não trata de criação das

contribuições de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais. É certo

que se a hipótese fosse essa, deveriam as mesmas ser criadas através de lei ordinária. Houve, entretanto

no presente caso, a alteração do conceito jurídico de "tributo", que se encontra disciplinado no CTN, o

que não é possível por lei ordinária, como será detalhadamente demonstrado adiante.

Duas coisas assomam do cenário já definido pela mais Alta Corte do Poder

Judiciário e do próprio STF: a natureza tributária da contribuição sindical e a sua recepção, como tal, pela

CF.

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Significa dizer, a partir da recepção do dispositivo pela CF de 1988,

nenhuma outra natureza jurídica poderia ser atribuída à mesma, senão a de tributo integrante da receita

pública derivada (exigível do patrimônio do particular) consequente do poder fiscal do Estado.

Para que uma norma pré-constitucional seja recepcionada pela

Constituição, necessita não colidir com as suas disposições, estar vigorando e ser com ela materialmente

compatível. Essa compatibilidade material dispensa a formal, admitindo a recepção de uma Lei Ordinária,

como Lei Complementar, no novo regramento. Foi exatamente o que ocorreu com o Código Tributário

Nacional, publicado originalmente como Lei Ordinária, na vigência da Constituição anterior, mas

recepcionado pela Constituição de 1988 como Lei Complementar.

Uma vez recepcionada como Lei Complementar, em vista da matéria nela

tratada, seu grau hierárquico aí se fixa, não podendo, sem obediência aos parâmetros traçados na própria

Constituição (que exige Lei Complementar para modificação), ser alterada por lei ordinária. O art. 578 da

CLT, anteriormente criado também por lei ordinária, foi recepcionado pela mesma forma que o Código

Tributário Nacional, porquanto se refere a tributo.

O art. 8º, IV da CF prevê a existência de duas contribuições: a

confederativa (autorizada por assembléia da categoria profissional, sem natureza tributária, conforme

Súmula Vinculante nº40) e a prevista em lei (à época da sua entrada em vigor, que era a estabelecida no

art. 578 na sua redação anterior), com natureza tributária e para o custeio das atividades atribuídas ao

sistema sindical. Tem, esta última, portanto, patamar constitucional, só podendo ser modificada na forma

do art. 146,III, a,b.

Como ressalta Bernardo Ribeiro de Moraes , "A lei complementar não é

lei ordinária, mas uma lei integrativa da Constituição, que complementa esta, caracterizando-se como "lei

sobre leis" de tributação. A lei complementar, assim, é lei dirigida ao legislador, que deve obedecê-la,

pois sua matéria é constitucional"..."Se a Constituição prevê expressamente a necessidade da lei

complementar, mister se faz, à evidência, lei complementar para a aplicabilidade do texto constitucional

em pauta".

Se o legislador, data venia, não obedeceu à CF, desprezando na discussão

os ritos e formas adequados à elaboração de uma lei complementar para alterar o tributo, comprometeu a

constitucionalidade das modificações intentadas através de lei ordinária.

ID. 3504560 - Pág. 6

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Não é demais ressaltar, ainda, que tratando-se de tributo, jamais poderiam

ser realizadas modificações que submetessem a sua eficácia à concordância das partes com a sua cobrança

ou não, como estabelecido nos arts. 545, 578,579,582,583,587 e 602 da CLT , com a nova redação da Lei

13.467/17. Também daí emerge absoluta inconstitucionalidade.

Valem ser transcritas as lições do mesmo Bernardo Ribeiro de Moraes -

Compêndio de Direito Tributário, 2ª Ed.vol. 1,págs. 359, 362/363 (com destaques):

"Uma das características do conceito jurídico de tributo, acentua Anchille DonatoGiannini, é justamente o seu fundamento "no poder de império do Estado". O elementoprimordial do tributo "é a coerção por parte do Estado, uma vez que é criado pelavontade soberana deste, prescindindo da vontade individual", leciona Carlos M. GiulianiFonrouge.

A Constituição, norma ápice do ordenamento jurídico, ao estabelecer a

competência tributária (art. 145), parte, evidentemente, do pressuposto de existência do poder fiscal do

Estado (poder de penetrar no patrimônio do particular, exigindo prestações compulsórias) e do dever de

cidadania das pessoas que vivem no seu território (dever de concorrer para o atendimento das despesas

públicas). O elemento essencial do tributo atesta Hector B. Villegas, é a coatividade, isto é "a faculdade

de compelir o particular ao pagamento da prestação requerida e que o Estado exerce em virtude de seu

poder de império". Esse poder fiscal do Estado se concretiza quando é elaborada e decretada a norma

jurídica tributária. O poder fiscal pode ser exercido "unicamente através de lei", diz Dino Jarach. Assim,

necessitando custear as suas atividades para obtenção de seus fins, o Estado utiliza sua soberania fiscal

(parcela da soberania total) decretando a norma jurídica (tributária), que cria a possibilidade de se

exigirem prestações compulsórias (tributo) de certas pessoas. Não podemos nos esquecer do fato de que

todo cidadão acha-se submetido à soberania estatal, havendo dever de cidadania de concorrer para o gasto

público na medida da lei.;"

E prossegue o mesmo autor, com propriedade, lecionando que:

"Por decorrer, o tributo, do comando da norma jurídica tributária, podemos dizer que otributo emana da vontade do contribuinte para a formação da respectiva obrigação.Dentro de tal ponto de vista, Ramon Valdes Costa afirma que o tributo é uma "prestaçãoque o Estado exige unilateralmente de seus súditos para cobrir seus gastos". Dizemosassim, ser o tributo uma prestação compulsória, em que a origem da obrigação que aconstitui não se encontra na vontade das partes , mas, sim, no texto legal que a impõe. Otributo, oriundo da ocorrência de certo pressuposto de fato previsto em lei, não está aosabor da vontade das partes, sendo, pois, caracterizado como compulsório. Um tributonão compulsório será até contraditório ou ilógico ( a prestação estaria na dependênciada vontade do contribuinte). O tributo é devido em razão de obrigação instituída em lei,como emanação da soberania do Estado, não se levando em conta, na formação dessaobrigação, o elemento vontade do contribuinte. Basta ocorrer o fato gerador darespectiva obrigação tributária para que o tributo seja devido, independentemente davontade do obrigado. Devemos ver que, embora todo tributo seja uma prestaçãocompulsória, nem toda prestação compulsória é um tributo, como é o caso da multapecuniária administrativa ou da multa pecuniária fiscal. Explica Vitor Antônio DuarteFaveiro que "o caráter da obrigatoriedade contrapõe-se ao da voluntariedade".Esclarece o autor que a apessoa é livre para aceitar ou não aceitar, voluntariamente

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situações que provocam incidência do imposto, afirmando que tal voluntariedadedecorre antes da incidência tributária. Uma vez criada a obrigação tributária, já avontade do sujeito deixa de ter qualquer relevância em relação aos efeitos tributários".

Não restam dúvidas, seja no âmbito da doutrina, seja no âmbito da

jurisprudência, da natureza tributária da contribuição em debate.

Em sendo tributo, as pretendidas alterações deveriam se submeter aos

ditames da Constituição Federal e do Código Tributário Nacional, sem olvidar os demais diplomas que

regem a legislação tributária. Por conseguinte, ainda que seja de caráter parafiscal, não pode prescindir da

aplicação das regras estabelecidas especialmente nos arts. 146 e 149 todos da CF/1988.

A Lei complementar que trata do conceito de tributo é o CTN que

estabelece no art. 3º: "Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se

possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade

administrativa plenamente vinculada.", ou seja, a cobrança de um tributo, conforme fixado em lei

complementar (CTN) não depende de filiação ou escolha. É compulsória, desde que caracterizado o fato

gerador..

Não há possibilidade de se admitir tributo "facultativo".

Sobre o tema, bem fixou o Ministro Maurício Godinho Delgado que a

edição de lei ordinária para regulamentar a matéria "parece esbarrar em determinados óbices

constitucionais.", concluindo que:

É que a constitucionalização, pelo art. 149 da CF, desse tipo de

contribuição social "de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou

econômicas" (texto do art. 149, CF; grifos acrescidos) confere a essa espécie de instituto regulado por Lei

um inequívoco caráter parafiscal. Esta relevante circunstância, sob a perspectiva constitucional, pode

tornar inadequado o caminho da simples supressão, por diploma legal ordinário (lei ordinária), do velho

instituto, sem que seja substituído por outro mais democrático.

Ora, o art. 146 da Constituição Federal, ao fixar os princípios gerais do

Sistema Tributário Nacional, explicitou caber à lei complementar (mas não à lei meramente ordinária)

"regular as limitações constitucionais ao poder de tributar" (inciso II do art. 146 da CF). Explicitou

igualmente caber à lei complementar "estabelecer normas gerais em matéria tributária, especialmente

sobre: (...) a) definição de tributos e suas espécies...; (...) b) obrigação, lançamento, crédito,... (art. 146 da

CF, em seu inciso III, alíneas "a" e "b"). Em síntese: a lei ordinária não ostenta semelhantes atribuições e

poderes. (DELGADO, Maurício Godinho; DELGADO, Gabriela Neves. A reforma trabalhista no Brasil:

com os comentários à Lei 13.467/2017. São Paulo: LTr. 244 p."

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Bem discorreu o ministro que, por se tratar de lei ordinária, a Lei

13.467/2017 não poderia versar sobre a matéria tributária, sobremodo ceifando sua dimensão

compulsória, porquanto invada seara restrita à lei complementar.

Não houve alteração do modelo sindical previsto no ordenamento.

Permanece válida a unicidade e, também, a atuação solidária do sindicato, que age em proveito de toda a

categoria, com a obrigação da "defesa dos direitos e interesses coletivos e individuais da categoria,

inclusive em questões judiciais ou administrativas" (art. 8°,III da CF).

A Lei 13.467/2017, além de tratar de matéria reservada à lei

complementar, também afastou a compulsoriedade do tributo, mantendo a obrigação legal de negociação,

pelos sindicatos, de instrumentos coletivos em benefício de toda a categoria, sendo o trabalhador

associado ou não. Retirou-se, portanto, o custeio assegurado constitucionalmente, previsto em lei

complementar, garantidor da sobrevivência dos sindicatos e do sistema sindical, sem observância do

devido processo legislativo.

Atualmente, os recursos da contribuição sindical são distribuídos da

seguinte forma: 60% para os sindicatos, 15% para as federações, 5% para as confederações e 20% para a

chamada "conta especial emprego e salário", administrada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Parte

dos recursos é destinado ao Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT), que custeia programas de

seguro-desemprego, abono salarial, financiamento de ações para o desenvolvimento econômico e geração

de trabalho, emprego e renda.

Nada menos que 5 Ações Diretas de Inconstitucionalidade tramitam

perante o STF sobre o tema. São as ADIs 5794, 5810, 5811, 5813 e 5815, propostas por entidades

representativas de categorias profissionais (inclusive patronais) que buscam questionar as alterações

relativas ao recolhimento da contribuição sindical.

Em matéria Constitucional, fixa o art. 149 da CF/1988:

Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervençãono domínio econômico e de interesse das categorias, como instrumento profissionais oueconômicas de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146,III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente àscontribuições a que alude o dispositivo.

Assim, as contribuições de interesse das categorias, profissionais ou

econômicas, compreende matéria de competência exclusiva da União, atentando-se, entretanto, ao

regramento do art. 146, III do Texto Constitucional:

Art. 146. Cabe à lei complementar:

(...)

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III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,

especialmente sobre:

a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostosdiscriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo econtribuintes;

b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;

(...)

Não são poucos os precedentes sobre a matéria. Colaciono alguns do

Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, fazendo minhas as razões ali deduzidas:

SEÇÃO DE DISSÍDIOS COLETIVOS

PROCESSO TRT 15ª REGIÃO Nº: 005385-57.2018.5.15.0000

MANDADO DE SEGURANÇA

IMPETRANTE: SINDICATO DOS TRABALHADORES INSTRUTORES DIRETORES EMAUTO ESCOLA CENTRO DE FORMAÇÃO DE CONDUTORES A E BDESPACHANTES E ANEXOS DE RIBEIRÃO PRETO E REGIÃO

TERCEIRO INTERESSADO: CARLOS ALBERTO ALVES DE LIMA - ME

TERCEIRO INTERESSADO: CENTRO DE FORMAÇÃO DE CONDUTORES DEALTINOPOLIS LTDA

TERCEIRO INTERESSADO: CENTRO DE FORMAÇÃO DE CONDUTORES SIGABEM S/S - ME

TERCEIRO INTERESSADO: CENTRO DE FORMAÇÃO DE CONDUTORES BRASILIADE BATATAIS LTDA - ME

TERCEIRO INTERESSADO: CENTRO DE FORMAÇÃO DE CONDUTORES MODELOS/C LTDA - ME

IMPETRADO: EXMO SR JUIZ FEDERAL DA VARA DO TRABALHO DE BATATAISAUTORIDADE CATORA: PAULO AUGUSTO FERREIRA

Trata-se de pedido de liminar, formulado em MANDADO DE SEGURANÇA, impetradopor SINDICATO DOS TRABALHADORES INSTRUTORES DIRETORES EM AUTOESCOLA CENTRO DE FORMAÇÃO DE CONDUTORES "A" E "B" DESPACHANTESE ANEXOS DE RIBEIRÃO PRETO E REGIÃO, contra ato praticado pelo MM Juízo daVara do Trabalho de Batatais, que indeferiu pedido de tutela provisória, apresentado emface dos terceiros interessados, para que fosse determinado o recolhimento dodenominado imposto sindical, p.101.

Alega a presença dos requisitos "fumus boni iuris" e "periculum in mora", conformetranscrito:

"A fumaça do bom direito está evidenciada na inconstitucionalidade da alteração daContribuição Sindical, feita por Lei Ordinária e não por Lei Complementar e o Perigoda demora está na supressão da sua principal receita, irregularmente tornadafacultativa, levará a falência da entidade autora, que não terá mais com se manterfuncionando. Por sua vez, o periculum in mora encontra-se caracterizado, especialmenteporque o indeferimento da liminar causaria ao Demandante, dano de difícil ou atemesmo de impossível reparação, pois sua atividade sindical depende economicamentedos valores da contribuição sindical, sendo que, desse modo, não há outra forma dearrecadação, considerando que os atos de sua previsão orçamentária, conforme dispostoem regras de seus estatutos compreendendo encargos e obrigações a serem pagas aolongo dos anos, foram totalmente atingidos de modo sorrateiro

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pela aprovação na velocidade da luz sem qualquer discussão com o setor envolvido deuma lei de caráter eminentemente inconstitucional."

Teceu outras considerações, colacionou decisões em amparo à sua tese e, ainda, deu àcausa o valor de R$6.000,00, juntando procuração e documentos.

Deliberação:

O único remédio processual ao alcance do ora impetrante diz respeito ao Mandado deSegurança, por não dispor de outro recurso imediato e eficaz contra o ato reputadocoator, não se justificando, pois, se cogitar de deixar de admitir a ação de segurança,mesmo porque, após a colheita das informações da autoridade considerada coatora,possível, em tese, a revisão da decisão liminar aqui decidida.

Portanto, presentes os elementos necessários ao processamento da ação, que, por nãoser um recurso, apenas pode ser acolhida nos estritos limites do art. 1º da Lei n.12.016/2009, ou seja, tão somente quando destinada a proteger direito líquido e certoviolado ou sob ameaça de violação.

De tal modo, o exame a ser efetuado em sede de mandado de segurança está limitado àaferição da existência de ilegalidade e/ou abusividade do ato atacado, sem adentrar nomérito da demanda.

No caso, o ato coator é aquele que indeferiu a tutela provisória destinada a compelir osterceiros interessados ou os litisconsortes ao recolhimento da contribuição sindical,vulgo imposto sindical, do seguinte teor:

(...) omissis

Ocorre que a sobredita norma é de evidente inconstitucionalidade.

Nos termos do artigo 146 da CF/1988 cabe exclusivamente à União

instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse dascategorias profissionais ou econômicas.

Noutra vertente, o art. 3º da Lei n. 5.172/1966 - CTN, estabelece que tributo é todaprestação pecuniária , em moeda ou cujo valor nela se possa compulsória exprimir, quenão constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividadeadministrativa plenamente vinculada.

E dúvida não há que a contribuição sindical em questão, antigo imposto sindical, temnatureza parafiscal, mesmo porque parte dela é destinada aos cofres da União erevertida ao Fundo de Amparo do Trabalhador - FAT, que custeia programas deseguro-desemprego, abono salarial, financiamento de ações para o desenvolvimentoeconômico e geração de trabalho, emprego e renda.

Definida tal contribuição como imposto, ou, tributo, inafastável a conclusão de que temcaráter obrigatório ou compulsório, por outras palavras, não-facultativo.

Assim, a modificação levada a efeito nos moldes da Lei n. 13.467/2017 deveria, emrespeito à hierarquia das normas, ser realizada através de lei complementar, e não porlei ordinária, como é o caso da Lei n. 13.467/2017.

Lado outro, abstração feita à gritante inconstitucionalidade, de todo modo,desnecessário tecer maiores digressões a respeito da importância e/ou dependência daagremiação sindical em relação às contribuições pretendidas, indispensáveis para a suasobrevivência, mormente considerando que abrupta a sem qualquer período e/oucondições transitórias que preparassem a retirada de sua obrigatoriedade.

Enfatizo que a própria Constituição estabelece no seu art. 8º, III e VI, que "ao sindicatocabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive emquestões judiciais ou administrativas", sendo aliás "obrigatória a participação dossindicatos nas negociações coletivas de trabalho".

Bem é de ver que, se a visão e a análise forem seriamente feitas, não

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podem ser aceitos argumentos - balofos - de que, com a mera substituição daobrigatoriedade pela autorização, não restaria afrontada a Lei Maior, porquanto nãoteria sido a contribuição sindical extirpada do ordenamento , mas apenas recebido novoe mais moderno fato, esse sim, a melhor vesti-la, já que,

como se não desconhece, não é lícito obstar, por meios especiosos, o que a leidiretamente estatui.

Por fim, consigno as valiosas observações da Eminente Juíza do Trabalho PatríciaPereira de Sant'anna, titular da 1ª vara de Lages/SC, que, em análise de casosemelhante, ao

dispor sobre o necessário respeito à técnica legislativa, assim observou:

"Hoje, a discussão é sobre a contribuição sindical, de interesse primeiro e direto dossindicatos. Amanhã, a inconstitucionalidade pode atingir o interesse seu, cidadão, e vocêpretenderá do Poder Judiciário que a Carta Magna seja salvaguardada e o seu direito,por conseguinte, também. Está, neste ponto, o motivo pelo qual o Poder Judiciárioaparece, neste momento político crítico de nosso País, como o guardião da Constituiçãoda República Federativa do Brasil de 1988, pela declaração difusa dainconstitucionalidade." (ACP 0001183-34.2017.5.12.0007).

Assim, reputados presentes os requisitos e ante o direito líquido e certo do impetranteviolado, defiro o pedido liminar, na presente ação mandamental. Ciência ao impetrante.

Ciência à D. Autoridade reputada coatora, para que preste as informações.

Ciência aos litisconsortes passivos necessários, integrados à lide. Ciência, ainda, aoMinistério Público do Trabalho.

Campinas, 02 de março de 2018.

FRANCISCO ALBERTO DA MOTTA PEIXOTO GIORDANI

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO Gabinete do DesembargadorLuis Henrique Rafael - SDC MS 0005494-71.2018.5.15.0000

IMPETRANTE: SINDICATO DOS TRABALHADORES INSTRUTORES DIREITORESEM AUTO ESCOLA CENTRO DE FORMAÇÃO DE CONDUTORES A E BDESPACHANTES E ANEXOS DE RIBEIRÃO PRETO E REGIÃO

AUTORIDADE COATORA: DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 2ª VARA DO TRABALHODE JABOTICABAL

Trata-se de Mandado de Segurança interposto pelo SINDICATO DOSTRABALHADORES INSTRUTORES DIRETORES EM AUTO ESCOLA CENTRO DEFORMAÇÃO DE CONDUTORES A E B DESPACHANTES E ANEXOS DE RIBEIRÃOPRETO E REGIÃO contra ato do EXMO. JUÍZ DO TRABALHO VINÍCIUSMAGALHÃES CASAGRANDE, da 2ª Vara do Trabalho de Jaboticabal, nos autos doProcesso nº 0010106-80.2018.5.15.0120.

O impetrante, asseverando a inconstitucionalidade da Lei 13.467/2017 no que dizrespeito a alteração relativa à contribuição sindical (art. 582 da CLT), propôs Açãoperante o Juízo impetrado a fim de assegurar o recebimento das contribuições que lheseriam devidas. Alega que há fumaça de bom direito e perigo de demora a ensejarantecipação de tutela, que requereu.

Inicialmente, em vista do pedido de distribuição por dependência ao MS/SDC nº005385-57.2018.5.15.0000, em razão de alegada continência, verifica-se inexistir acoincidência de partes e não estar comprovado o objeto daquela ação, não se cogitandoa redistribuição do processo, portanto.

Ultrapassada a questão, verifica-se a regularidade de representação da parte autora,assim como a observância do prazo de interposição do mandamus.

Pois bem.

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O Juízo de origem, deparando-se com o pedido de antecipação da tutela, assim decidiu:

"Em apertada síntese afirma o sindicato reclamante que a extinta contribuição sindicalpossui natureza jurídica de imposto parafiscal e por isso não poderia ser alterada porLei Ordinária.

Incorreto o raciocínio eis que tributo é toda "é toda prestação pecuniária compulsória,em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito,instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada"(CTN, artigo 3º), sendo irrelevante "a destinação legal do produto da sua arrecadação"(inc. II, artigo 4º do CTN).

A destinação legal do produto da arrecadação distingue imposto de contribuição, sendoque nesta há uma destinação específica.

Sendo a contribuição sindical um tributo com destinação específica de custear aatividade dos sindicatos, não há que se falar em natureza jurídica de imposto para fiscalou imposto, já que se trata de verdadeira contribuição. O imposto não possui destinaçãoespecífica, o produto de sua arrecadação destina-se à União ou aos demais entesfederados.

A atribuição a um terceiro ente pela responsabilidade da cobrança de um tributo,denomina-se parafiscalidade. O fato de um tributo ser cobrado pelo ente sindical para ocusteio de sua atividade lhe dá a natureza jurídica de contribuição e por isso pode seralterado mediante lei ordinária. INDEFIRO a tutela requerida".

O Mandado de Segurança é ação adequada para atacar o ato tido por inquinado, já quenão há recurso específico contra a decisão exarada pela autoridade dita coatora.

De outro lado, dispõe o art. 1º da Lei 12.016/2009 queconceder-se-á para proteger nashipóteses do inquinado mandadodesegurança direitolíquidoe certo ato haver sidocometidoilegalmente ou com abuso de poder, verbis:

Art. 1o Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, nãoamparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso depoder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio desofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem asfunções que exerça.

Não se verifica qualquer abuso no entendimento adotado pela autoridade dita coatora,entretanto, a teor da jurisprudência há muito consolidada, verifica-se que desconsideroua natureza tributária da contribuição sindical pleiteada. Nesse sentido, vale transcreveras decisões do Supremo Tribunal Federal:

"CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. NATUREZA JURÍDICA DE TRIBUTO.COMPULSORIEDADE. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SENEGA PROVIMENTO." (RE496456, publicado em 21/08/2009, Relatora MinistraCarmem Lúcia). "TRIBUTÁRIO. RECURSOS ORDINÁRIOS EM MANDADO DESEGURANÇA. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL CONFEDERATIVA. CONTRIBUIÇÃOSINDICAL COMPULSÓRIA. DIFERENÇAS. INCIDÊNCIA DESSA ÚLTIMA PARATODOS OS TRABALHADORES DE DETERMINADA CATEGORIAINDEPENDENTEMENTE DE FILIAÇÃO SINDICAL E DA CONDIÇÃO DE SERVIDORPÚBLICO CELETISTA OU ESTATUTÁRIO.1. A Carta Constitucional de 1988 trouxe,em seu art. 8º, IV, a previsão para a criação de duas contribuições sindicais distintas, acontribuição para o custeio do sistema confederativo (contribuição confederativa) e acontribuição prevista em lei (contribuição compulsória). 2. A contribuição confederativaé fixada mediante assembleia geral da associação profissional ou sindical e, naconformidade da jurisprudência do STF, tem caráter compulsório apenas para osfiliados da entidade, não sendo tributo. Para essa contribuição aplica-se a Súmula n.666/STF: "A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição, só éexigível dos filiados ao sindicato respectivo". 3. Já a contribuição compulsória é fixadamediante lei por exigência constitucional e, por possuir natureza tributária parafiscalSua previsão legal está nos artigos respaldada no art. 149, da CF/88, é compulsória. 578e ss. da CLT, que estabelece: a sua denominação ("imposto sindical"), a sua sujeiçãopassiva ("é devida por todos aqueles que participarem de uma determinada categoria

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econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal representada por entidadeassociativa"), a sua sujeição ativa ("em favor do sindicato representativo da mesmacategoria ou profissão ou, inexistindo este, em favor da federação correspondente àmesma categoria econômica ou profissional") e demais critérios da hipótese deincidência.4. O caso concreto versa sobre a contribuição compulsória ("impostosindical" ou "contribuição prevista em lei") e não sobre a contribuição confederativa.Sendo assim, há que ser reconhecida a sujeição passiva de todos aqueles queparticiparem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de umaprofissão liberal representada por entidade associativa, ainda que servidores públicos eainda que não filiados a entidade sindical. 5. Recursos ordinários providos paraconceder o mandado de segurança a fim de determinar que a autoridade impetradaproceda ao desconto anual da contribuição sindical compulsória." (RMS 38416 SP2012/0126246-5, Segunda Turma, DJe 04/09/2013, Rel. Ministro Mauro CampbellMarques) Como registro de entendimento jurisprudencial de destaque, tem-se a Arguiçãode Descumprimento de Preceito Fundamental nº 126 - DF, em que se pretendia discutirda compulsoriedade da contribuição sindical em face da liberdade sindical insculpida naConstituição da República Federativa do Brasil, constando da ementa do acórdão, cujoRelator foi o Ministro Celso de Mello, a natureza tributária da contribuição, conforme setem a seguir transcrito: "AUSÊNCIA, NO CASO, DE QUALQUER INCERTEZA OU DEINSEGURANÇA NO PLANO JURÍDICO,NOTADAMENTE PORQUE JÁRECONHECIDA, PELO STF, MEDIANTE INÚMEROS JULGAMENTOS JÁPROFERIDOS EM FACE DA CONSTITUIÇÃO DE 1988, A PLENA LEGITIMIDADECONSTITUCIONAL DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL, QUE SE QUALIFICA COMOMODALIDADE DE TRIBUTO EXPRESSAMENTE PREVISTA NO PRÓPRIO TEXTODA LEI FUNDAMENTAL." ADFP nº 126 - DF, DJe 22.02.2013, Relator Ministro Celsode Mello.

Assim, como se pode constatar a partir do teor da jurisprudência transcrita e largamenteconsolidada, a Lei 13.467/2017 pretendeu alterar matéria tributária por meio de LeiOrdinária, atribuindo caráter facultativo ao tributo, o que, segundo art. 146, III, daConstituição Federal, cabe à Lei Complementar, o que deixou de ser observado peloMagistrado impetrado. Verifica-se:

Art. 146. Cabe à lei complementar:

I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, osEstados, o Distrito Federal e os Municípios;

II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar;

III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre:

a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostosdiscriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo econtribuintes;

b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;

c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedadescooperativas.

d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para asempresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso doimposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, eda contribuição a que se refere o art. 239. (omissis)

De outro lado, não se pode deixar de referir que a alteração legislativa havida, em meioa intensa reação social e desconformidade da comunidade jurídica laboral, tem claroobjetivo de desorganizar sistema sindical vigente no Brasil há mais de setenta anos e queserviu de lastro para a consolidação dos direitos sociais no país, sistema que tem nessascontribuições de natureza tributária um dos pilares de sustentação.

Para além da ausência de debate público, a ausência de regularidade formalevidenciada na pretensão de alterar Lei Complementar por meio de Lei Ordinária ferede morte a alteração procedida no art. 582 da CLT, ora declarada inconstitucional emcontrole difuso de constitucionalidade.

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E como se tudo que se disse até aqui não bastasse, observo que, não obstante afacultatividade arrecadatória incluída no art. 582 da CLT, todo o sistema dearrecadação foi mantido - destacando os artigos 583 e 589 da CLT - , sem que tenha sidoprevisto pelo legislador ordinário, inclusive porque não poderia, qual a fonte de custeioque substituiria a parte da arrecadação destinada à União Federal.

Aliás, o presente entendimento não é inédito nesta Corte, seguindo aquele brilhantementeprolatado pelo Exmo. Desembargador Francisco Alberto da Motta Peixoto Giordani, noProcesso nº 005385-57.2018.5.15.0000, que transcrevo:

(...) Omissis

Nesses termos, defiro o pedido liminar assegurando ao impetrante o direito aorecebimento das contribuições sindicais reivindicadas na ação originária. Intime-se oimpetrante.

Dê-se ciência à autoridade impetrada para que preste as informações pertinentes, noprazo de 10 (dez) dias, e dê ciência da presente decisão a todas as partes do Processo nº0010106-80.2018.5.15.0120, informação que também deverá ser prestada nestes autos.

Campinas, 08 de março de 2018.

LUÍS HENRIQUE RAFAEL

DESEMBARGADOR RELATOR

 

Também já houve pronunciamento sobre o tema perante a Seção de

Dissídios Coletivos do E. TRT15ª Região, consoante decisão da lavra do Juiz Marcus Menezes Barberino

Mendes, nos seguintes moldes:

"Trata-se de pedido de liminar formulado em sede de mandado de segurança impetradopor Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e de Derivados dePetróleo, Lava-Rápidos e Troca de Óleo de Sorocaba e Região- SINPOSPETRO contraato do MM. Juízo da Vara do Trabalho de Tatuí, que indeferiu o requerimento de tutelade urgência, pleiteada nos autos da Ação de Obrigação de Fazer - RT nº0010367-57.2018.5.15.0116, por meio da qual pretendia ver declarada ainconstitucionalidade de determinados artigos da CLT.

Argumenta o impetrante, em síntese, que referida decisão feriu direito líquido e certo, emespecial diante da inconstitucionalidade da Lei nº 13.467/2017.

Requer, assim, a concessão de liminar para que seja determinada ao litisconsorte queproceda ao desconto de um dia de trabalho de todos os seus trabalhadores a contar domês de março/2018, independentemente de autorização prévia e expressa.

De início, cumpre registrar que a decisão que indeferiu a antecipação de tutela é denatureza interlocutória, não desafiando neste momento outro remédio processual para adefesa do direito do impetrante, conforme dispõe a Súmula nº 414, inciso II, do C. TST.

Por sua vez, a Lei nº 12.016/2009, que rege o Mandado de Segurança prescreve em seuartigo 1º:

"Art. 1º Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, nãoamparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso depoder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio desofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem asfunções que exerça. (...)"

 

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E o art. 7º, inciso III, da aludida lei estabelece que o ato que deu motivo ao pedido serásuspenso quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar aineficácia da medida.

Portanto, em sede de mandado de segurança, a medida liminar está jungida ao examedos seus pressupostos indispensáveis, relevância de fundamento e probabilidade deineficácia da medida.

No presente caso, O DD. Juízo de origem indeferiu a tutela provisória, sob os seguintesfundamentos:

"Vistos. Pretende o Sindicato-autor, em sede de tutela de urgência, a declaração deinconstitucionalidade da Lei nº 13.467/2017, relativamente às alterações processadasnos artigos 545,578, 579, 582, 583, 587 e 602 da CLT, por estarem em dissonância comos artigos 8º, IV, 146 e 149 da Constituição Federal, para, então, determinar aorequerido a obrigação de processar o desconto compulsório da contribuição sindical detodos os seus funcionários e posterior repasse ao requerente, a contar de março/2018,independentemente de autorização prévia e expressa. Para que se possa usufruir daantecipação dos efeitos da sentença, é imperativa a existência de elementos queevidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco do resultado útil doprocesso (art. 300 do CPC). No caso em apreço, entendo que não se encontram presentesos requisitos legais para deferimento da tutela, em especial a probabilidade do direito.Insta consignar que existem várias ADI's interpostas perante o STF sobre o assunto, sem,contudo, que a liminar tenha sido apreciada, em razão do especial significado para aordem social e a segurança jurídica. Pelas razões expostas, INDEFIRO a tutela deurgência pretendida. Intimem-se as partes. Tatuí, 2 de abril de 2018.AZAEL MOURAJUNIOR Juiz do Trabalho" (ID. d35ea51)

De fato, a Lei nº 13.467/2017, que implantou a recente reforma trabalhista, alterou osartigos 545, 578, 579, 582, 583 e 602 da CLT, de modo que o recolhimento dacontribuição sindical passasse a depender de autorização prévia e expressa dosintegrantes da categoria. Dessa forma, a contribuição sindical deixaria de serobrigatória.

Ora, a contribuição sindical tem origem legal e natureza tributária determinadas pelaCarta Magna (art. 149) e, portanto, reveste-se de compulsoriedade.

Nesse sentido, a jurisprudência do C. TST:

"AGRAVO DE INSTRUMENTO. 1. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE A QUO. NEGATIVADE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. NÃO PROVIMENTO. Oartigo 896, § 1°, da CLT autoriza a Presidência do Tribunal Regional a denegarseguimento ao recurso de revista com base na análise dos seus pressupostos intrínsecos,o que significa examinar a existência de divergência jurisprudencial e de violação depreceito de lei ou da Constituição Federal. Desse modo, a denegação do seguimento dorecurso de revista pelo Juízo de admissibilidade a quo, porque não comprovado opreenchimento dos seus pressupostos específicos, não constitui negativa de prestaçãojurisdicional. Agravo de instrumento a que se nega provimento. 2. DENUNCIAÇÃO DALIDE. INAPLICABILIDADE AO CASO CONCRETO. OFENSA AO ARTIGO 70, III, DOCPC. NÃO CONFIGURAÇÃO. NÃO PROVIMENTO. Anteriormente ao advento daEmenda Constitucional nº 45/2004, o entendimento desta Corte Superior, consagrado naOrientação Jurisprudencial nº 227 da SBDI-1, era pela incompatibilidade dadenunciação da lide nesta Justiça Especializada, porquanto se reconhecia aincompetência desta para analisar a segunda lide. Contudo, com a reforma do TextoConstitucional, a competência da Justiça do Trabalho, prevista no artigo 114 daConstituição Federal, teve o seu rol ampliado, razão pela qual se passou a discutir aaplicabilidade daquela intervenção de terceiros caso a caso, devendo-se verificar ointeresse do trabalhador em ver o denunciado como parte integrante do pólo passivo darelação processual, em observância aos princípios norteadores do processo do trabalho,assim como à competência para julgamento da lide surgida entre o denunciante e odenunciado. No caso concreto, a aplicação do instituto não traria qualquer benefício aotrabalhador, não havendo falar em violação do artigo 70, III, do CPC. Precedentes.Agravo de instrumento a que se nega provimento. 3. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL.CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. CRÉDITO TRIBUTARIO. NÃO PROVIMENTO. Acontribuição sindical é devida por todos aqueles que participem de determinadacategoria econômica ou profissional e o seu recolhimento é obrigatório, tem natureza

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tributária e, por isso, compulsória, nos termos da previsão contida no artigo 149 daConstituição da República. A prescrição incidente, portanto, é quinquenal, prevista noartigo 174, caput, CTN. Agravo de instrumento a que se nega provimento 4.CONTRIBUIÇÃO SINDICAL PATRONAL. EMPRESA QUE NÃO POSSUIEMPREGADOS. RECOLHIMENTO. INDEVIDO. NÃO PROVIMENTO. A respeito dacontribuição sindical patronal, este egrégio Tribunal Superior vem firmando oentendimento no sentido de que as Empresas participantes de uma determinadacategoria econômica, quando não empregadoras, não se encontram obrigadas aorecolhimento do imposto sindical previsto no artigo 579 da CLT. Precedentes destaCorte nesse sentido. Agravo de instrumento a que se nega provimento." - TribunalSuperior do Trabalho. 5ª Turma; Acórdão do processo Nº AIRR -243-38.2013.5.02.0088; 05/11/2014.

Ainda, no mesmo sentido, a jurisprudência do STF:

" Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Tributário. ContribuiçãoSindical Rural. Recepção do Decreto-Lei nº 1.166/1971 pela CF/88. Natureza tributária.Bitributação. Não ocorrência. Ausência de violação dos arts. 145, § 2º e 154, I, daCF/88. Precedentes. 1. A Contribuição Sindical Rural (instituída pelo DL n 1.166/71)tem natureza tributária e foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988.Precedentes da Corte. 2. Não procede a alegação de bitributação em decorrência daidentidade entre as bases de cálculo e os fatos geradores da Contribuição Sindical Rurale do Imposto Territorial Rural ITR. O inciso I do art. 154 da CF/88 não é aplicável àreferida contribuição. 3. Agravo regimental não provido. Não se aplica ao caso dosautos a majoração dos honorários prevista no art. 85, § 11, do novo Código de ProcessoCivil, uma vez que a parte ora recorrida não apresentou contrarrazões ao recurso."(ARE 971500 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em19/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-114 DIVULG 30-05-2017 PUBLIC31-05-2017)

 

A disciplina constitucional acerca da regulação do sistema tributário buscousalvaguardar os contribuintes e a própria solvabilidade da União e dos seus programaspermanentes da formação de maiorias apaixonadas e circunstanciais. Daí porque asregras fundamentais do sistema tributário foram reservadas para a espécie legislativa "lei complementar", conforme artigo 146, incisos II e III da Constituição da República.

Especialmente sobre as contribuições destinadas a intervir no domínio econômico e as deinteresse das categorias profissionais e econômicas é indene de dúvidas que seconstituem em espécie tributária, submetidas aos mesmos mecanismos de processolegislativo e de espécie legislativa, consoante artigo 149 da Constituição da República.

Ora, se a própria Constituição prescreve a existência de contribuições especiaisrelacionadas com os interesses das categorias profissionais e econômicas, e ajurisprudência formada nos últimos 31 anos de vigência da Carta Constitucional nãodeixa margem à dúvida sobre o aspecto tributário de tais contribuições, resta evidenteque a reserva legal especial é aplicável a tais contribuições.

Desse modo, entende esse Relator que referida mudança, através de lei ordinária, abalaa segurança jurídica e a confiança do cidadão na Constituição e no sistema de limitaçãotributária, afetando, também, a organização do sistema sindical, na medida em que criaempecilhos ao exercício da liberdade sindical, por fazer cessar abruptamente a suaprincipal fonte de custeio.

Viola literalmente o artigo 149 da Constituição Federal a tentativa de tornar umaespécie tributária sujeita a recolhimento facultativo, além de violar literalmente o artigo146 da Constituição da República, que remete a disciplina das matérias tributárias comohipóteses de incidência e não incidência, concessões de isenções e outros aspectos geraisdas espécies tributários à lei complementar, consoante seus incisos II e III.

Igualmente presente o perigo da demora, pois faz cessar abruptamente a principal fontede custeio das organizações sindicais, desestruturando sua ação sindical e a prestaçãode assistência sindical em sentido lato.

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Estabelecer a facultatividade do recolhimento de tributo destinado a organizaçãosindical e ao cumprimento de deveres institucionais e legais impostos aos sindicatos peloartigo 592, inciso II, da Consolidação das Leis do Trabalho, dentre eles o dever deprestar assistência jurídica, assistência médica, creches, obrigações que são próprias doEstado, constitui grave assimetria na imposição de encargos legais, a violar outradimensão constitucional da liberdade sindical, já que lhes impõe ônus e encargos quesão próprios das pessoas jurídicas de direito público interno.

É evidente que toda a estrutura sindical brasileira pode e deve ser atualizada, mormentepara refletir o ambiente de representação competitiva já praticado pelas centraissindicais e que guarda mais adequação com uma sociedade complexa e democrática,além de aproximar-se das disposições da Convenção 87 da Organização Internacionaldo Trabalho. É mesmo relevante que se debata a extinção da contribuição sindical e, aomesmo tempo, o uso e destinação das escolas profissionalizantes erigidas ao longo davigência do sistema sindical brasileiro e das suas fontes de custeio, inclusive o sistema S.

Mas essa autêntica reengenharia social, política e jurídica não pode prescindir daadequação à moldura constitucional, nem pode se basear em legislação de vingança ouexceção.

Portanto, presentes os requisitos de relevância de fundamento e da probabilidade deineficácia da medida, defiro parcialmente o pedido liminar, na presente açãomandamental, nos termos do art. 7º, III, da Lei nº 12.016/2009, para determinar que areclamada elencada na exordial como LITISCONSORTE providencie o recolhimento dacontribuição sindical em conta judicial, até a prolação da sentença no âmbito da açãocivil pública.

Ciência ao impetrante.

Oficie-se à autoridade dita coatora para que preste as informações que julgarnecessárias, no prazo de 10 dias, nos termos do art. 7º, I, da Lei nº 12.016/2009.

Cite-se como litisconsorte, AUTO POSTO TATUIMAR LTDA, para, querendo,apresentar manifestação do prazo 10 (dez) dias.

Após, encaminhem-se os autos ao Ministério Público do Trabalho.

Campinas, 10.04.2018.

MARCUS MENEZES BARBERINO MENDES

Juiz Relator"

 

Na 2ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho patrocinada

pela ANAMATRA, houve a aprovação do Enunciado de número 47, com a seguinte redação:

CONTRIBUIÇÃO SINDICAL: NATUREZA JURÍDICA TRIBUTÁRIA. NECESSIDADEDE LEI COMPLEMENTAR PARA SUA ALTERAÇÃO A CONTRIBUIÇÃO SINDICALLEGAL (ART. 579 DA CLT) POSSUI NATUREZA JURÍDICA TRIBUTÁRIA,CONFORME CONSIGNADO NO ART. 8º C/C ART. 149 DO CTN, TRATANDO-SE DECONTRIBUIÇÃO PARAFISCAL. PADECE DE VÍCIO DE ORIGEM A ALTERAÇÃO DOART. 579 DA CLT POR LEI ORDINÁRIA (REFORMA TRABALHISTA), UMA VEZ QUESOMENTE LEI COMPLEMENTAR PODERÁ ENSEJAR SUA ALTERAÇÃO.

 

Por fim, ilustrando com mais propriedade ainda tudo quanto já exposto,

em recentíssimo despacho exarado em sede de ADI 5794 MC/DF, o Excelentíssimo Ministro Edson

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Fachin, dando as primeiras impressões do Excelso Supremo Tribunal Federal acerca do tema

"Contribuição Sindical", assim se pronunciou, literis:

"DESPACHO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL: Por meio da Petição n.25.429/2018 (eDOC 270), a requerente, Confederação Nacional dos Trabalhadores emTransportes Aquaviário e Aéreo, na Pesca e nos Portos - CONTTMAF, formula pedidopara o provimento in limine da suspensão ex tunc da eficácia do art. 1º da Lei13.467/2017, no que se refere aos artigos 545, 578, 579, 582, 583, 587 e 602.

O pedido formulado é ainda amparado pela manifestação de diversos amici curiae, nosentido de que seja reconsiderada a decisão que aplicou o rito do art. 12 da Lei9.868/99, a fim de que a liminar possa ser deferida ad referendum do Plenário doSupremo Tribunal Federal.

Nesse sentido, são relevantes as informações trazidas à guisa de se comprovar o perigode lesão grave. A Confederação Nacional dos Trabalhadores das Indústrias deAlimentação e Afins - CNTA, por exemplo, argumenta que "as consequência serãotamanhas, haja vista que as entidades sindicais se verão compelidas a demitir em massaos seus trabalhadores" (eDOC 169, p. 4).

A Federação Paulista dos Auxiliares de Administração Escolar - FEPAAE, por sua vez,adverte que "sem a contribuição sindical será o fim do sistema confederativo" (eDOC228, p. 4).

A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria da Construção e doMobiliário aduz que "números reais e atuais da arrecadação da contribuição mostramque elas tiveram redução de cerca de 80% em 2018 na comparação com o ano passado,considerando as maiores confederações e federações setoriais, além das 20 entidadesempresariais que mais arrecadam". Expõe, ainda, que "pequenos sindicatos e grandesconfederações são atingidos pelas novas regras introduzidas pela reforma trabalhista"(eDOC 232, p. 3).

A Central Única dos Trabalhadores, reiterando os argumentos trazidos em sua petiçãode admissão como amicus curiae, afirma que a lei impugnada "desprestigia o campo deação sindical na lógica da excessiva individualização e exposição do trabalhador frenteao empregador, impondo sérios prejuízos à ação sindical e à solidariedade que decorreda representação sindical de toda a categoria" (eDOC 267, p. 4).

A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde - CNTS alega que "a existênciade dano irreparável ou de dificílima reparação à representatividade sindical também éevidenciada por força do ato normativo que compromete sobremaneira a fonte de rendada entidade sindical, podendo prejudicar a sua manutenção bem como seu misterconstitucional de defesa da categoria dos trabalhadores na saúde" (eDOC 272, p. 2).

A Federação Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Rádio, Televisão Abertaou por Assinatura - FITERT registra que "a ausência de inclusão em pauta dejulgamento desta matéria não pode ensejar a falta de prestação jurisdicional, que deveser implementada através da concessão, de forma monocrática, da tutela de urgência,até que seja referendada pelo plenário desta Suprema Corte" (eDOC 277, p. 4).

A Confederação Nacional dos Notários e Registradores - CNR informa que "se de umlado dados revelam que os valores arrecadados pelos sindicatos diminuíramdrasticamente (estima-se que, em relação às entidades patronais, categoria que faz partea Peticionária, este valor diminuiu em 80%); de outro demonstram que os sindicatos nãomais têm logrado êxito em cumprir os deveres que lhes foram outorgados pela legislação(houve súbita queda das negociações coletivas, por exemplo) (eDOC 279, p. 3).

A Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações eOperadores em Empresas de Telecomunicação e Operadores de Mesas Telefônicas -FENATTEL alerta o seguinte (eDOC 281, p. 9):

"No mesmo período de apuração, ou seja, 01/03/ 2017 a 03/05/2017 em comparação aeste ano de 2018, houve uma queda de arrecadação da monta de 97% (noventa e sete).Na mesma esteira a situação das suas entidades filiadas, que, de maneira geralobtiveram arrecadação de somente 2 a 3 % no que tange a seus representados. Somente

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nesta categoria a média de demissão de trabalhadores que prestavam serviços acategoria foi uma média de 50% de seus quadros. Houve ainda o fechamento dedepartamentos voltados ao atendimento social e restrição na fiscalização documprimento das normas coletivas já que os sindicatos possuem base estadual, o queauxilia no quadro de precarização do trabalho aumenta pelo distanciamento eenfraquecimento das negociações coletivas e estrutura da entidade sindical. Assim,dependem sim da matéria ventilada, ao menos até que se ajuste outra forma de custeio,pelas vias adequadas."

O Sindicato dos Químicos, Químicos Industriais e Engenheiros Químicos do Estado deSão Paulo informou que (eDOC 286, p. 9):

"No mesmo período de apuração, ou seja, 01/01/2017 em razão dos profissionais liberaisque possuem data de pagamento diferente dos empregados registrados, a 03/05/2017 emcomparação a este ano de 2018, houve uma queda de arrecadação da monta de 95,3%(noventa e cinco). A entidade especifica foi obrigada a proceder a demissão de 90% (noventa) dos trabalhadores que prestavam serviços para categoria, pois caso contrarioinviabilizaria o seu funcionamento. Está havendo por conta desta situação abrupta,restrição na fiscalização do cumprimento das normas coletivas, pois possui baseestadual, o que auxilia no quadro de precarização do trabalho, em razão dodistanciamento. Assim, depende sim da matéria ventilada, ao menos até que se ajusteoutra forma de custeio, pelas vias adequadas."

A Federação Nacional dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis eDerivados de Petróleo - FENEPOSPETRO externou, na mesma linha de preocupações,que (eDOC 284, p. 9):

"No mesmo período de apuração, ou seja, 01/03/ 2017 a 03/05/2017 em comparação aeste ano de 2018, houve uma queda de arrecadação da monta de 93% (noventa e tres). Oque foi fator de extrema importância, para que esta federação esteja providenciando adesativação ao menos 4 sub sedes, por impossibilidade de sua manutenção.

Ainda, segue na mesma esteira a situação das suas entidades filiadas, que, de maneirageral obtveram arrecadação de somente 13,89% no que tange a seus representados.

Somente nesta categoria a média de demissão de trabalhadores que prestavam serviços acategoria foi uma média de 65% de seus quadros. Desse total, 13% estão comdificuldade em quitar as verbas rescisórias.

Houve ainda o fechamento de departamentos voltados ao atendimento social, fechamentode departamentos de aposentados, restrição na fiscalização do cumprimento das normascoletivas já que os sindicatos em sua maioria possuem base estadual, com longasdistâncias a serem percorridas. Neste sentido, o quadro de precarização do trabalhoaumenta pelo distanciamento e enfraquecimento da estrutura financeira das entidades.

Bom que se note ainda, que muitas entidades representativas possuem TAC assinado como MPT, que no passado próximo, possuía entendimento de que havendo o recebimento doImposto Sindical, descabia o recebimento de qualquer outra contribuição."

Finalmente, a Federação dos Taxistas Autônomos do Estado de São Paulo alega que "amorosidade no julgamento da presente ADI, somente vem causando enorme prejuízo àsorganizações sindicais, quer no âmbito laboral, quer no âmbito patronal" (eDOC 296, p.1).

Como se depreende das informações trazidas pelos diversos amici curiae é significativo oimpacto das alterações legislativas nas atribuições constitucionais dos sindicatos.Somam-se a essas considerações, as relevantes razões que emprestem à pretensão plenaplausibilidade.

Com efeito, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte Aquaviário eAéreo, na Pesca e nos Portos - CONTTMAF, assevera, em suma, a inconstitucionalidadeda norma impugnada em virtude de suposta violação dos artigos 146, II e III, 149 e 150,§6º, da Constituição da República Federativa do Brasil. Em sua ótica, portanto, serianecessária lei complementar e norma específica para promover alterações naregulamentação da contribuição sindical, nos termos dos arts. 146 e 150, § 6º, CRFB.Argumenta, ainda, que a alteração legislativa promovida desrespeitaria direitos e

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garantias fundamentais dos trabalhadores, eis que os sindicatos têm dever de assisti-losjuridicamente e que tal direito ficaria desatendido. Aduz, por fim, que haveria ofensa aoprincípio da proporcionalidade, pois o Estado teria legislado de maneira abusiva nahipótese.

Depreendo, por razões lógicas e sistemáticas, que, relativamente ao fumus boni juris, háfundamento relevante para a concessão da medida cautelar, com efeitos ex tunc, na ADI5794.

O regime sindical estabelecido pela Constituição de 1988 está sustentado em três pilaresfundamentais: a unicidade sindical (art. 8º, II, da CRFB), a representatividadecompulsória (art. 8º, III, da CRFB) e a contribuição sindical (art. 8º, IV, parte final, daCRFB):

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:

(...)

II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau,representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, queserá definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo serinferior à área de um Município.

III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais dacategoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas;

IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoriaprofissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo, darepresentação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei.

A história constitucional brasileira que conduz ao regime sindical atualmente em vigorremonta ao início do século XX. Mas a doutrina tem alertado que "o direito sindicalbrasileiro ainda está à procura de um sistema de leis que o fundamentem em basesdemocráticas depois de percorrer um longo caminho na sua história política etrabalhista." (NASCIMENTO, Amauri Mascaro; NASCIMENTO, Sônia Mascaro;NASCIMENTO, Marcelo Mascaro. Direito sindical. 8ª ed. São Paulo: LTR, 2015, p. 99).

Como ocorreu em diversos outros países, também no Brasil, as corporações de ofícioprecederam os sindicatos e o direito de associação, o qual num primeiro momento eraproibido, e depois foi restabelecido, sendo fortemente influenciado pelo movimentocorporativista do Estado Novo, durante a década de 30 do século XX e, finalmente,renovado e revigorado com o fim da ditadura militar, na década de 80 do século XX.(NASCIMENTO, Amauri Mascaro; NASCIMENTO, Sônia Mascaro; NASCIMENTO,Marcelo Mascaro. Direito sindical. 8ª ed. São Paulo: LTR, 2015, p. 99).

A doutrina registra que as primeiras associações de trabalhadores no Brasil foram asligas operárias, uniões e sociedades, cujas bandeiras, ainda difusas, focavam osmelhores salários, a redução das jornadas de trabalho e a assistência social.(NASCIMENTO, Amauri Mascaro; NASCIMENTO, Sônia Mascaro; NASCIMENTO,Marcelo Mascaro. Direito sindical. 8ª ed. São Paulo: LTR, 2015, p. 99).

A primeira Constituição Republicana do Brasil, de 1891, apesar de não tratarespecificamente sobre as entidades sindicais, assegurou, expressamente, o direito dereunião e associação:

Art. 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no paiz ainviolabilidade dos direitos concernentes á liberdade, á segurança individual e ápropriedade, nos seguintes termos:

(...)

§8º: A todos é lícito associarem-se e reunirem-se livremente e sem armas, não podendointervir a policia senão para manter a ordem pública.

Ainda na Primeira República, as organizações sindicais existiam apenas de formaincipiente, ecoando o momento pelo qual passava o país, recém-saído de um modelo

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escravagista, como forma de produção, e com a economia centrada na agricultura, comfocos muito regionalizados de uma frágil industrialização (LEAL, Carla Reita F.,MARTINAZZO, Waleska M. Piovan. A plena liberdade sindical no Brasil como resultadoda aplicação da Convenção 87 da OIT e outros documentos internacionais. In: FRANCOFILHO, Georgenor De Sousa; MAZZUOLI, Valério de Oliveira (org.) DireitoInternacional do Trabalho: O estado da arte sobre a aplicação das convençõesinternacionais da OIT no Brasil. São Paulo: LTR, 2016, p. 78).

Nada obstante, em 1903, foi editado o Decreto 979, que teve como objetivo regular apossibilidade de profissionais da agricultura e das indústrias rurais organizaremsindicatos com o intuito de defender interesses das respectivas categorias. As disposiçõesdesse diploma foram reforçadas pelo Decreto 1.637 de 1907, que, a seu turno, tambémregulamentou a criação e funcionamento dos sindicatos urbanos. (PEREIRA NETO, JoãoBatista. O sistema brasileiro de unicidade sindical e compulsoriedade de representação.São Paulo : LTR, 2017, p.28).

O Decreto 979/1903 permitiu a sindicalização dos profissionais da agricultura e dasindústrias rurais, tanto pequenos produtores como empregados e empregadores, os quaisdetinham liberdade de escolha acerca das formas de representação. Bastava, para afundação do sindicato, a existência de sete sócios e cada indivíduo tinha o direito deingressar ou de se retirar do sindicato, destacando-se, entre suas atribuições, a funçãoassistencial: criação de caixas para os sócios, cooperativas de crédito e facilitação docomércio da produção (NASCIMENTO, Amauri Mascaro; NASCIMENTO, SôniaMascaro; NASCIMENTO, Marcelo Mascaro. Direito sindical. 8ª ed. São Paulo: LTR,2015, p. 101).

O Decreto 1.637/1907 organizou o sindicalismo urbano de trabalhadores de profissõessimilares ou conexas, preservando a liberdade de constituição dos sindicatos, bem comoa fórmula simplificada de seu registro, para o que bastava o depósito de cópia dosestatutos no órgão competente. No que tange às funções do sindicato, estabeleceu oestudo, a defesa e o desenvolvimento dos interesses gerais da profissão e dos interessesindividuais de seus membros, bem como previu a criação de Conselhos Permanentes deConciliação e Arbitragem para dirimir controvérsias entre empregadores e empregados,capital e trabalho, respectivamente (NASCIMENTO, Amauri Mascaro; NASCIMENTO,Sônia Mascaro; NASCIMENTO, Marcelo Mascaro. Direito sindical. 8ª ed. São Paulo:LTR, 2015, p. 101).

Na década de 1930, é possível registrar um fortalecimento do movimento sindicalbrasileiro, especialmente com a edição dos Decreto 19.770/1931, Decreto 22.239/1932,Decreto 23.611/1933 e o Decreto 24.694/1934. Segundo a doutrina especializada, apartir da década de 1930, o "Estado resolveu pautar a sua política social na ideologia daintegração das classes trabalhistas e empresariais, organizando, sob a forma decategorias por ele delimitadas, um plano denominado enquadramento sindical."(NASCIMENTO, Amauri Mascaro; NASCIMENTO, Sônia Mascaro; NASCIMENTO,Marcelo Mascaro. Direito sindical. 8ª ed. São Paulo: LTR, 2015, p. 106).

O que se percebe, a partir de então, foi uma ruptura com o modelo anterior à década de1930, pois que, antes, os sindicatos eram pessoas jurídicas de direito privado, depois,apresentavam natureza quase pública; antes, os sindicatos eram livremente constituídospelos interessados, depois, passaram a ser órgãos de colaboração do Governo, tuteladospelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio; antes, seus estatutos eramautoelaborados, depois, tomaram forma padronizada; antes, os sindicatos tinhamautonomia de atuação, depois, eram obrigados a apresentar relatórios de suas atividadesaos órgãos fiscalizadores competentes (NASCIMENTO, Amauri Mascaro;NASCIMENTO, Sônia Mascaro; NASCIMENTO, Marcelo Mascaro. Direito sindical. 8ªed. São Paulo: LTR, 2015, p. 107).

Para que melhor fossem organizadas as funções dos sindicatos, "adotou-se comoestrutura de representação dos trabalhadores a do sindicato único em cada baseterritorial, de modo que ficou comprometida a liberdade de fundação de mais de umsindicato dos trabalhadores da mesma categoria e base territorial. O critério deagrupamento foi o de profissões idênticas, similares e conexas em bases territoriaismunicipais." (NASCIMENTO, Amauri Mascaro; NASCIMENTO, Sônia Mascaro;NASCIMENTO, Marcelo Mascaro. Direito sindical. 8ª ed. São Paulo: LTR, 2015, p.107).

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A Constituição de 1934 trouxe importante inovação para o sistema sindical brasileiro,reconhecendo em seu artigo 120, caput e parágrafo único, a pluralidade e completaautonomia dos sindicatos, nos seguintes termos:

Art. 120 Os syndicatos e as associações profissionais serão reconhecidos deconformidade com a lei.

Paragrapho único. A lei assegurará a pluralidade syndical e a completa autonomia dossyndicatos.

O sindicato, nos termos do que estabelecido pela Constituição de 1934, passou a ser,ainda que teoricamente, uma pessoa jurídica de direito privado, com liberdade de ação,de constituição e de administração. No entanto, este regime não conseguiu repercutir narealidade sindical brasileira, pois, dias antes da promulgação da Constituição, foieditado o Decreto 24.694/1934, que se adiantou à Constituição para antecipar aregulamentação dos sindicatos no novo regime, estabelecendo, entre inúmeras medidasrestritivas, a proibição de criação, em uma mesma base territorial e por categoria, demais de um sindicato. Anota, sobre este ato normativo, Mascaro Nascimento:

Foi aprovado dias antes da Constituição, adiantou-se a ela, antecipando alguns dos seusprincípios. Foi um decreto bastante detalhista e interferente. Previu três níveis deorganizações sindicais: os sindicatos, federações e confederações. Autorizou ossindicatos com sede no mesmo Município a formar uniões para coordenar os interessesgerais das profissões. Estipulou as funções dos sindicatos. Fixou os requisitos exigidospara a criação dos sindicatos. Proibiu a sindicalização dos funcionários públicos. Exigiudos sindicatos a obrigatoriedade do pedido de reconhecimento. Enumerou certasexigências a serem observadas na elaboração dos estatutos sindicais. Impôs algumascondições essenciais para o funcionamento do sindicato e deliberações da assembleia.Deu garantias aos empregados sindicalizados e fixou penalidades, estas previstas para ahipótese de inobservância dos seus dispositivos, com o que, pela dimensão dessaregulamentação legal, não é possível situá-la entre os ordenamentos que favorecem amaior espontaneidade e a formação natural do modelo sindical. (NASCIMENTO, AmauriMascaro; NASCIMENTO, Sônia Mascaro; NASCIMENTO, Marcelo Mascaro. Direitosindical. 8ª ed. São Paulo: LTR, 2015, p. 110).

Em 1937, com o ditatorial Estado Novo, a Constituição instituiu um modelo de unicidadesindical em que se agrupavam categorias, sob a possível representação de apenas umsindicato, que seria controlado pelo Estado, tendo sido editado, na sequência, o Decreto1.402/1939, o qual estabeleceu expressamente ser privativa dos sindicatos reconhecidospelo Estado a representatividade de categorias e a celebração de convenções coletivas.(PEREIRA NETO, João Batista. O sistema brasileiro de unicidade sindical ecompulsoriedade de representação. São Paulo : LTR, 2017, p. 33).

Segundo registra a doutrina especializada, "é possível concluir que esse conjunto denormas jurídicas atingiu o epílogo de um processo de dirigismo estatal sobre aorganização sindical (...)." Neste período, o Estado também fixou regras sobre aadministração dos sindicatos, seus órgãos, sobre as eleições sindicais, bem como proibiua greve e o lockout, considerando-os "antissociais, nocivos ao trabalho e ao capital",além de "incompatíveis com os superiores interesses da produção" (NASCIMENTO,Amauri Mascaro; NASCIMENTO, Sônia Mascaro; NASCIMENTO, Marcelo Mascaro.Direito sindical. 8ª ed. São Paulo: LTR, 2015, p. 113).

Este modelo é, com algumas mudanças, o que sustenta o regime sindical brasileiro, tendosido reforçado pela Consolidação das Leis Trabalhistas, conforme anota João BatistaPereira Neto:

"A aprovação da CLT em 1943 aperfeiçoou o intervencionismo estatal na estruturasindical e nos sindicatos em si, apresentando-se diversas condições para suaorganização e administração e sobre as eleições, o enquadramento e a contribuiçãosindicais." (PEREIRA NETO, João Batista. O sistema brasileiro de Unicidade Sindical eCompulsoriedade de Representação. São Paulo : LTR, 2017, p. 33).

No que diz respeito às Constituições de 1946 e de 1967 (e assim da alcunhada Emendade 1969), é preciso registrar que pouco alteraram o panorama estabelecido em 1937,

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restabelecendo alguns direitos (como o direito de greve, por exemplo), mantendo, porém,o regime de unicidade, da representação e contribuição compulsórias. Segundo registrouMascaro Nascimento:

"(...) Contraditória foi a Constituição de 1946 que restituiu a liberdade política no País eatribuiu aos sindicatos funções delegadas pelo Poder Público, de modo que o que trouxeem favor da liberdade sindical foi a restituição do direito de greve que o Estado Novosuprimira. -- Os Governos militares não tiveram muita coisa a fazer para o controle dossindicatos com a herança que receberam da lei intervencionista do Estado Novo, apenasa mantiveram porque se prestava aos seus propósitos em relação aos sindicatos e maisdiretamente proibiram movimentos dos trabalhadores considerados contrários àsegurança nacional." (NASCIMENTO, Amauri Mascaro; NASCIMENTO, SôniaMascaro; NASCIMENTO, Marcelo Mascaro. Direito sindical. 8ª ed. São Paulo: LTR,2015, p. 115)

Não se pode perder de vista que com o fim do regime militar, já na década de 1980 doséculo XX, confirmou-se um movimento que vinha acontecendo desde a década de 1940,"os sindicatos se fortaleceram na luta pelos direitos trabalhistas, que tinham umadimensão utópica irrecusável para trabalhadores miseráveis, que fugiam do campo embusca de melhoria de vida, atraídos também pelos direitos." (CARDOSO, AdalbertoMoreira. Dimensões da crise do sindicalismo brasileiro, in Cadernos CRH, v. 28, n. 75,p. 493-510 , set/dez 2015, p. 502-503).

Por fim, registre-se, com apoio na doutrina especializada, que: (...) no período devigência do regime militar, o Marechal Castelo Branco anunciou iniciativa de medidalegal tendente a acabar com o imposto (contribuição sindical). Essa expectativa acabounão se concretizando. No governo Fernando Collor de Mello chegou-se a encaminhar aoCongresso Nacional projeto de lei nesse sentido, que se perdeu, por falta de empenho.Da mesma forma, quando a Presidência da República foi ocupada por FernandoHenrique Cardoso, 'anunciou-se que repousava em sua mesa uma minuta de medidaprovisória dispondo sobre a tardia extinção do tributo, que, apesar da mudança de nome,não perdera a sua natureza'."(GUNTHER, Luiz Eduardo. O fim da contribuição sindicalobrigatória: a crônica de uma morte anunciada, in DALLEGRAVE NETO, José Affonso;KAJOTA, Ernani (Coord). Reforma Trabalhista ponto a ponto. São Paulo: Ltr, 2017, p.210-211, citando AROUCA, José Carlos. Curso básico de Direito Sindical, 3ª ed, SãoPaulo: Ltr, 2012, p. 229).

É importante lançar, "quantum satis", luzes sob o percurso histórico do movimentosindical brasileiro, para reconhecer que o texto de 1988 trouxe inovações ao sistemasindical brasileiro, mitigando, em alguma medida, o modelo corporativo altamentecontrolado pelo Estado, desde o Estado Novo. Entre as medidas adotadas, podedestacar: o direito à livre fundação de sindicatos, dispensada a aprovação do Ministériodo Trabalho; o reconhecimento constitucional da investidura sindical narepresentatividade da categoria; a liberdade de filiação (e desfiliação) dos sindicatos; aobrigatoriedade da participação sindical nas negociações coletivas; a possibilidade deinstituição, via assembleia, de contribuição confederativa (PEREIRA NETO, JoãoBatista. O sistema brasileiro de unicidade sindical e compulsoriedade de representação.São Paulo : LTR, 2017, p. 36).

A par disso, o constituinte de 1988 também fez opção inequívoca pela manutenção de ummodelo de sindicalismo sustentado no seguinte tripé: unicidade sindical,representatividade obrigatória e custeio das entidades sindicais por meio de um tributo,ou seja, a contribuição sindical, expressamente autorizada pelo artigo 149, e impostapela parte final do inciso IV, do art. 8º, da Constituição da República.

Assim sendo, na exata dicção do texto constitucional, é preciso reconhecer que amudança de um desses pilares pode ser desestabilizadora de todo o regime sindical, nãosendo recomendável que ocorra de forma isolada sob pena de "ao tocar apenas em umdos pilares da estrutura sindical, a reforma preserva uma das fontes de fragmentação eimpede os sindicatos de buscar formas de organização mais eficazes para defender osdireitos dos trabalhadores e resistir à ofensiva patronal." (GALVÃO, Andrea (Coord).Movimento sindical e negociação coletiva. Texto para discussão nº 5. CESIT,U N I C A M P , 2 0 1 7 . D i s p o n í v e l e m :http://www.cesit.net.br/apresentacao-dos-textos-de-discussao-doprojeto-de-pesquisa-subsidios-para-a-discussao-sobre-a-reformatrabalhista-no-brasil/ acesso em 25.05.2018).

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Releva salientar, ainda, que a Constituição de 1988 é apontada como precursora dediversos tempos no que tange ao direito sindical, principalmente em virtude do princípioda não intervenção e não interferência do Estado na organização sindical (art. 8º, I, daCRFB), que permitiu a ampliação do número de entidades sindicais, estimulou a extinçãoda Comissão de Enquadramento Sindical e propiciou a criação do Cadastro Nacionaldas Entidades Sindicais do Brasil.

Nada obstante, é importante insistir que o modelo jurídicoconstitucional sindicalbrasileiro deve ser considerado em sua integralidade, especialmente em face danecessidade de harmonização das regras essenciais que sustentam o referido sistema e asalvissareiras diretrizes nacionais e internacionais acerca do tema.

Nesse contexto, mesmo que a unicidade sindical e, consequentemente, a representaçãosindical compulsória por categoria não sejam consideradas as melhores característicasde um modelo sindical, é preciso reconhecer que tiveram uma função histórica relevante,especialmente na década de 1940 do século XX, quando a classe operária, aindadispersa em um território continental, e sem densidade e coesão para negociar com opatronato, tinha a voz de uma entidade, cujas prerrogativas foram úteis para marcar aposição e defesa dos interesses de seus substituídos. (SAAD, Eduardo Gabriel.Federação, confederação e central sindical, apud PEREIRA NETO, João Batista. Osistema brasileiro de unicidade sindical e compulsoriedade de representação. São Paulo: LTR, 2017, p. 53).

Não se pode perder de vista que uma das principais consequências da compulsoriedadeda representação repousa no efeito erga omnes das normas que resultam de negociaçõescoletivas, conforme previsto no artigo 611 da Consolidação das Leis Trabalhistas. Aautoaplicabilidade das normas coletivas para toda a categoria profissional, bem como oreconhecimento constitucional dos acordos e convenções coletivas (artigo 7º, XXIX, daCRFB) também reforçam a importância da função das entidades sindicais na negociaçãocoletiva (PEREIRA NETO, João Batista.

O sistema brasileiro de unicidade sindical e compulsoriedade de representação. SãoPaulo : LTR, 2017, p. 60-61).

Assim sendo, a discussão sobre a constitucionalidade, ou não, da desconstituição dacompulsoriedade da contribuição sindical há que ser ambientada nessa sistemáticasindical integral, sob pena de desfiguração do regime sindical constituído em 1988 e dafrustração de toda uma gama de direitos fundamentais sociais, os quais de forma diretaou indireta, nele estão sustentados.

É, pois, relevante o fundamento arguido pela requerente, no sentido de que há possívelenfraquecimento dos direitos sociais com a redução da

capacidade de financiamento das atividades sindicais.

A natureza tributária da referida contribuição não é mais objeto de maior controvérsia,estando há muito pacificada tanto na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,quanto na doutrina especializada. Nesse sentido, em artigo doutrinário, Ives Gandra daSilva Martins, lembra que "os constituintes convenceram-se da existência de cincoespécies tributárias e, na seção dos princípios gerais, colocaram-nas, a saber: impostos(art. 145, inciso I), taxas (art. 145, inciso II), contribuição de melhoria (art. 145, incisoIII), empréstimos compulsórios (art. 148) e contribuições especiais (art. 149)"(MARTINS, Ives Gandra da Silva, in Revista TST, Brasília, vol. 81, n. 2, abr/jun 2015, p.91). E esclarece, no ponto específico:

"A contribuição especial no interesse das categorias profissionais ou econômicas, comoinstrumento de sua atuação nas respectivas áreas, tem como nítido, claro e cristalinoobjetivo garantir a atuação de categorias profissionais e econômicas em defesa dosinteresses próprios destes grupos, ofertando, pois, a Constituição, imposição tributáriaque lhes garanta recursos para que possam existir e atuar.

Esta é a natureza jurídica da contribuição, que fundamenta o movimento corporativo ousindical no Brasil, na redação da Lei Suprema de 1988, constitucionalizada que foi suaconformação tributária. Não é mais uma contribuição parafiscal ou fora do sistema, masuma contribuição tributária, com objetivo perfil na lei maior." (MARTINS, Ives Gandrada Silva, in Revista TST, Brasília, vol. 81, n. 2, abr/jun 2015, p. 93).

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Também a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal segue a mesma linha:

SINDICATO DE SERVIDORES PÚBLICOS: DIREITO À CONTRIBUIÇÃOCOMPULSÓRIA (CLT, ART. 578 SS), RECEBIDA PELA CONSTITUIÇÃO (ART. 8º, IV,IN FINE), CONDICIONADO, PORÉM, A SATISFAÇÃO DO REQUISITO DAUNICIDADE.

1. A Constituição de 1988, a vista do art. 8., IV, in fine, recebeu o instituto dacontribuição sindical compulsória, exigível, nos termos dos arts. 578 ss. CLT, de todos osintegrantes da categoria, independentemente de sua filiação ao sindicato (cf. ADIn1.076, med. cautelar, Pertence, 15.6.94).

2. Facultada a formação de sindicatos de servidores públicos (CF, art. 37, VI), não cabeexclui-los do regime da contribuição legal compulsória exigível dos membros dacategoria (ADIn 962, 11.11.93, Galvão).

3. A admissibilidade da contribuição sindical imposta por lei e inseparável, no entanto,do sistema de unicidade (CF, art. 8., II), do qual resultou, de sua vez, o imperativo de umorganismo central de registro das entidades sindicais, que, a falta de outra solução legal,continua sendo o Ministério do Trabalho (MI 144, 3.8.92, Pertence).

4. Dada a controvérsia de fato sobre a existência, na mesma base territorial, de outrasentidades sindicais da categoria que o impetrante congrega, não há comoreconhecer-lhe, em mandado de segurança, o direito a exigir o desconto em seu favor dacontribuição compulsória pretendida. (RMS 21.758 DF, Relator Min. SEPÚLVEDAPERTENCE, Primeira Turma, DJ 04-11-1994)

SINDICATO: CONTRIBUIÇÃO SINDICAL DA CATEGORIA: RECEPÇÃO.

A recepção pela ordem constitucional vigente da contribuição sindical compulsória,prevista no art. 578 CLT e exigível de todos os integrantes da categoria,independentemente de sua filiação ao sindicato, resulta do art. 8º, IV, in fine , daConstituição; não obsta à recepção a proclamação, no caput do art. 8º, do princípio daliberdade sindical, que há de ser compreendido a partir dos termos em que a LeiFundamental a positivou, nos quais a unicidade (art. 8º, II) e a própria contribuiçãosindical de natureza tributária (art. 8º, IV) - marcas características do modelocorporativista resistente -, dão a medida da sua relatividade (cf. MI 144, Pertence, RTJ147/868, 874); nem impede a recepção questionada a falta da lei complementar previstano art. 146, III, CF, à qual alude o art. 149, à vista do disposto no art. 34, §§ 3º e 4º, dasDisposições Transitórias (cf. RE 146733, Moreira Alves, RTJ 146/684, 694). (RE 180745SP, Relator SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, DJ 08-05-1998) (grifamos).

CONSTITUCIONAL. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. SERVIDORES PÚBLICOS. Art. 8º,IV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

I. - A contribuição sindical instituída pelo art. 8º, IV, da Constituição Federal constituinorma dotada de autoaplicabilidade, não dependendo, para ser cobrada, de leiintegrativa.

II. - Compete aos sindicatos de servidores públicos a cobrança da contribuição legal,independentemente de lei regulamentadora específica.

III. - Agravo não provido. (AI-AgR 456.634 RJ, Relator Min. CARLOS VELLOSO,Julgamento: 13.12.2005, Segunda Turma, DJ 24-02-2006).

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO.CONTRIBUIÇÃO SINDICAL: NATUREZA JURÍDICA DE TRIBUTO.COMPULSORIEDADE. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SENEGA PROVIMENTO. (RE 496.456/RS, Relatora Ministra CÁRMEN LÚCIA, Dje21.08.2009).

Algumas consequências devem ser destacadas dessas decisões da Suprema Corte,especialmente no que diz respeito à dependência recíproca entre unicidade sindical econtribuição sindical obrigatória que delas emerge, bem como a distinção entre as duas

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espécies de contribuição destinadas ao custeio do regime sindical: uma de naturezanegocial e outra de natureza fiscal expressamente previstas do texto constitucional(artigos 8º, IV, "in fine", c/c 149 da CRFB).

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a par de reconhecer que há uma certarelativização ao princípio da liberdade sindical no regime estabelecido pelo constituintede 1988, evidenciou, especialmente no voto do Ministro Sepúlveda Pertence, ascaracterísticas do modelo sindical brasileiro:

(...)

A relatividade da liberdade sindical como efetivamente concretizada na Lei Fundamentalderiva sobretudo da preservação de duas marcas características do modelocorporativista resistente: a unicidade (art. 8º, II) e a contribuição sindical de naturezatributária (art. 8º, IV, in fine), que só com a unicidade poderia subsistir.

(...)

Em síntese: se a inequívoca manutenção do regime tributário da contribuição sindical(arts. 8º, IV, e 149) é que dá, na Constituição, as dimensões reais da muito relativaliberdade sindical afirmada, não se pode tomar isoladamente a afirmação desta, nocaput do art. 8º e tentar negar o que, no inciso IV, in fine, está patente e há de ser levadoem conta para reduzir o alcance efetivo da proclamação retórica da liberdade dosindicato." (RE 180745 SP, Relator SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, DJ08-05-1998, p. 721-722)

No que diz respeito às contribuições confederativa e sindical, assim ficou registrado emprecedente paradigma relatado pelo Ministro Carlos Velloso:

(...)

Primeiro que tudo é preciso distinguir a contribuição sindical, contribuição instituídapor lei, de interesse das categorias profissionais - art. 149 da Constituição - com carátertributário, assim compulsória, da denominada contribuição confederativa, instituída pelaassembleia geral da entidade sindical - CF, art. 8º, IV. A primeira, conforme foi dito,contribuição parafiscal ou especial, espécie tributária, é compulsória. A segunda,entretanto, é compulsória apenas para os filiados do sindicato.

No próprio inc. IV do art. 8º da Constituição Federal, está nítida a distinção: "aassembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional,será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representaçãosindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei. (Grifei)

José Afonso da Silva, dissertando a respeito, escreve que "há, portanto, duascontribuições: uma para custeio de confederações e outra de caráter parafiscal, porquecompulsória estatuída em lei, que são, hoje, os arts. 578 e 610 da CLT, chamada"contribuição sindical", paga, recolhida e aplicada na execução de programas sociais deinteresse das categorias representadas. (José Afonso da Silva, Curso de Dir. Const.Positivo, Malheiros Ed., 12ª ed. 1996, pag 293)

Como dizíamos, a contribuição confederativa, que não é tributo, não é compulsória paraos empregados não filiados à entidade sindical.

O tributo é que tem caráter compulsório. A compulsoriedade, aliás, é traçocaracterizador do tributo (CTN, art. 3º). A sua instituição depende de lei. Já acontribuição confederativa, por não ser tributo, por não ser instituída por lei - C.F., art.8º, IV - é obrigatória apenas para os filiados ao sindicato, convindo esclarecer que aConstituição, em seguida à instituição da contribuição confederativa - art. 8º, IV -dispôs, no inciso V do citado art. 8º, que "ninguem será obrigado a filiar-se ou amanter-se filiado a sindicato", na linha, aliás, de que "é plena a liberdade de associaçãopara fins lícitos" (C.F., art. 5º, XVII) e que "ninguém poderá ser compelido a associarseou a permanecer associado". (C.F., art. 5º, XX). (RE 198.092/SP, Relator MinistroCarlos Velloso, Segunda Turma, DJ 11.10.1996, p. 847-849)

Importante, nesse contexto, anotar, com Ives Gandra da Silva Martins, a inequívocafinalidade constitucional dessas contribuições: "a contribuição, portanto, objetiva

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garantir a existência dos movimentos sindicais de trabalhadores e patronais, sendo, nadicção do art. 8º, inciso IV, a exata razão de sua exigência como perfil de naturezatributária." (MARTINS, Ives Gandra da Silva, in Revista TST, Brasília, vol. 81, n. 2,abr/jun 2015, p. 95).

A denominada 'reforma trabalhista' vem a lume em novel legislação, e se projeta, aindaque de forma mediata na força coletiva dos direitos fundamentais sociais trabalhistas; nopoder negocial dos sindicatos, ao conferir quitação geral do contrato de trabalho noplano de demissão voluntária celebrado por meio de negociação coletiva (art. 477-A); naquitação anual das obrigações trabalhistas (art. 507-B); e no assegurar a prevalência danegociação coletiva sobre a lei, em relação à extensa gama de direitos indicados noartigo 611-A.

Por outro lado, desinstitucionaliza, de forma substancial, a principal fonte de custeio dasinstituições sindicais, tornando-a, como se alega, facultativa, nos termos dos artigos 578e 579 da Consolidação das Leis Trabalhistas. A doutrina especializada, atenta a estefenômeno, observa:

"Ora, as entidades sindicais foram acostumadas, durante várias décadas, a conviver comesse modelo do dinheiro fácil, e é certo que o hábito do cachimbo costuma deixar a bocatorta.

Presenciamos um caso real, no qual o sindicato tinha cerca de 4.500 associados e, porpura falta de interesse, esse número acabou sendo reduzido para menos de 500associados.

Agora, é necessário fazer o caminho inverso, e para isso será necessário algum tempo,para que os sindicatos se reestruturem e possam sair à luta, mostrando serviço para osintegrantes da categoria e mostrando que efetivamente existe vantagem em ser associadoà entidade sindical. Além do mais, a acomodação que se viu foi da direção do sindicato,e não se mostra coerente fazer com que toda a categoria pague por isso."(DANTASJÚNIOR, Aldemiro Rezende. Fim da Contribuição Sindical Obrigatória - Consequênciaspara as entidades sindicais e categorias representadas, in Revista do Tribunal Regionaldo Trabalho da 3ª Região, Belo Horizonte, nov. 2017, p. 271-287, p. 283).

O legislador infraconstitucional reformador pode, assim, não ter observado, ao menos"prima facie", o regime sindical estabelecido pela Constituição de 1988 em sua maioramplitude, desequilibrando as forças de sua história e da sua atual conformaçãoconstitucional, e sem oferecer um período de transição para a implantação de novasregras relativas ao custeio das entidades sindicais.

Assim, sob a perspectiva da inconstitucionalidade material, o argumento também ganharelevo em face da real possibilidade de frustrar e fazer sucumbir o regime sindicalreconhecido como direito fundamental social pelo constituinte de 1988.

Isso porque, ao manter-se, na sistemática constitucional vigente, a unicidade sindical e aobrigação de representação de toda a categoria, incluindo associados e não-associados,a inexistência de uma fonte de custeio obrigatória inviabiliza a atuação do próprioregime sindical.

Nesse sentido, a abalizada doutrina de Valdyr Perrini:

Trocando em miúdos, das duas uma: ou se elimina de uma vez por todas a unicidadesindical e seus desdobramentos remanescentes mediante alteração constitucional quetraslade o ordenamento jurídico para as bandas da pluralidade, elegendo comoresponsáveis pelo custeio da organização do sindicato exclusivamente aqueles que sebeneficiam com sua atuação; ou se mantém o sindicato único com a excrecênciarepresentada pelo dever de representar e defender os direitos de associados e nãoassociados, mantendo-se a única fonte de custeio existente para propiciar essa hercúleatarefa sobre os ombros de todos os beneficiários, sob pena de fragilizar a organizaçãosindical de forma incompatível com o delineado constitucionalmente e propiciar oenriquecimento sem causa dos não associados que paradoxalmente continuariam sebeneficiando com a atuação do sindicato sem precisarem custeá-la. (PERRINI, Valdyr. Ainconstitucionalidade do fim da contribuição sindical obrigatória compulsória e oquadripé do peleguismo, in DALLEGRAVE NETO, José Affonso; KAJOTA, Ernani(Coord). Reforma Trabalhista ponto a ponto. São Paulo: Ltr, 2017, p. 222)

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As palavras lúcidas e certeiras do ilustre professor paranaense presta homenagem lógicae racional ao princípio aristotélico da não contradição. E tem razão, com efeito. Aunicidade sindical e a representatividade obrigatória, por consequência, sem o custeioestatal, por meio de um tributo, mais do que simplesmente autorizadoconstitucionalmente, expresso no artigo 8º, IV, in fine, notadamente para esse fim,arrostam o próprio modelo sindical brasileiro, caracterizando-se, ainda que de formadiferida, como restrição ao âmbito de proteção do direito constitucionalmenteestabelecido ao regime sindical.

Se não há controvérsia acerca do reconhecimento da existência desse direitoconstitucional a um regime sindical pelo poder constituinte originário, também é possívelreconhecer, por decorrência lógica, o dever fundamental, dirigente e vinculante aospoderes constituídos, da obrigação impositiva de exercer seu múnus, no caso, o exercícioda competência legislativa impositiva de manter a contribuição sindical, essencial àexistência e atuação dessas entidades. As lições de Ives Gandra Silva Martins sãopertinentes nesse contexto:

"Há, pois, para esta imposição, uma delegação constitucional legislativa impositiva doPoder Público para os sindicatos, que se tornaram, pois, inspetores de uma contribuiçãoque lhes permite existir e atuar." E continua: "A contribuição, portanto, objetiva garantira existência dos movimentos sindicais de trabalhadores e patronais, sendo, na dicção doart. 8º, inciso IV, a exata razão de sua exigência como perfil de natureza tributária."(MARTINS, Ives Gandra da Silva, in Revista TST, Brasília, vol. 81, n. 2, abr/jun 2015, p.94-95)

A liberdade de associação deve, nessa dimensão, ser harmonizada com o direito de umacategoria ser defendida por um sindicato único, de modo que admitir a facultatividade dacontribuição, cuja concepção constituinte tem sido historicamente da obrigatoriedade,pode, ao menos em tese, importar um esmaecimento dos meios necessários à consecuçãodos objetivos constitucionais impostos a estas entidades, dentre os quais destacam-se adefesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria (artigo 8º, III, daCRFB), a participação obrigatória nas negociações coletivas de trabalho (artigo 8º, VI,da CRFB), a denúncia de irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contasda União (artigo 74, §2º, da CRFB), e o ajuizamento de ações diretas e açõesmandamentais coletivas perante a jurisdição constitucional (artigos 5º, LXX, e 103, IX,da CRFB).

Não à toa, portanto, o constituinte buscou dar especial proteção às entidades sindicais,elegendo-as destinatárias da imunidade de impostos, como previsto no art. 150, VI, "c",da CR/88.

A percepção de que a unicidade sindical e as contribuições sindicais compulsórias,portanto, de natureza tributária, são elementos sustentadores do regime sindicalbrasileiro encontra eco na doutrina constitucionalista:

"Se a unidade sindical é um dos esteios sobre os quais se alicerça a nossa vetustaestrutura sindical, a cobrança de quantias obrigatórias, levadas a efeito com a forçaprópria da atuação estatal, constitui-se no outro. Inicialmente cobrava-se apenas oimposto sindical, cuja capitulação constitucional vem agora feita no art. 149 da LeiMaior: 'Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervençãono domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, comoinstrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146,III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, §6, relativamente àscontribuições a que alude o dispositivo'. A sua natureza é tributária, dependendo de leipara sua instituição, sujeitandose, outrossim, ao princípio da anterioridade e a outrosque cercam a atividade arrecadadora do Estado. Essa contribuição, no caso dostrabalhadores, corresponde ao salário de um dia por ano. Quanto aos empregadores, oseu montante é variável, segundo o respectivo capital." (BASTOS, Celso Ribeiro;MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo:Saraiva, 2004, v. 2, p. 553).

 

Também a doutrina trabalhista registra a mesma percepção: Mantida intocada aunicidade sindical e o espectro amplo da representatividade que lhe é compatível naforma constitucionalmente estabelecida, a contribuição que decorre da necessidade de

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cumprimento desta imposição constitucional é compulsória de associados e de nãoassociados, tal que existente na época em que foi chancelada pelo texto constitucional.Em consequência, deve ser reputada inconstitucional a facultatividade pretendida, pois,na contramão de unicidade e da representatividade ampla constitucionalmenteintocadas. (PERRINI, Valdyr. A inconstitucionalidade do fim da contribuição sindicalobrigatória compulsória e o quadripé do peleguismo, in DALLEGRAVE NETO, JoséAffonso; KAJOTA, Ernani (Coord). Reforma Trabalhista ponto a ponto. São Paulo: Ltr,2017, p.222)

Diante disso, o novo modelo eleito pelo legislador infraconstitucional, de contribuiçãosindical facultativa, choca-se com o direito a um regime sindical, diante das duas outraspremissas desse regime, quais sejam, a unicidade sindical e a representação obrigatóriade toda a categoria.

A doutrina especializada tem afirmado a inadequação da supressão da vetustacontribuição sindical obrigatória sem que outro instituto, mais democrático, tenha sidocriado para equalizar o sistema sindical brasileiro:

Ou seja, não buscou a Lei n. 13.467/2017 aperfeiçoar o sistema de custeio das entidadessindicais, substituindo a antiga contribuição sindical obrigatória, há décadas reguladapela CLT, pela mais democrática, equânime e justa contribuição negocial ou assistencial(cota de solidariedade), resultante da negociação coletiva trabalhista e estimuladoradesta. Ao invés disso, a nova Lei eliminou a antiga contribuição e, ao mesmo tempo,inviabilizou, juridicamente, a institucionalização da mais equânime contribuição deinteresse das categorias profissionais e econômicas. (DELGADO, Maurício Godinho;DELGADO, Gabriela Neves. A reforma trabalhista no Brasil: com os comentários à Lein. 13.467/2017. São Paulo: LTr, 2018. p. 247)

Sem o pluralismo sindical, e a persistência de representação obrigatória de toda acategoria por parte dos sindicatos, a facultatividade da contribuição destinada aocusteio dessas entidades pode se tornar um instrumento de obnubilação do direito àsindicalização, que, inequivocamente reconhecido pelo constituinte de 1988, não poderiaser restringido, a esse ponto de atingir-se seu núcleo essencial (existência e cumprimentode suas obrigações constitucionalmente previstas), mesmo porque, se também foi olegislador infraconstitucional quem reafirmou e reforçou o poder de negociação sindical,não poderia, por outro lado, atingir sua capacidade concreta de existência efuncionamento institucional.

O financiamento das entidades sindicais deve ser debatido a partir das premissasestabelecidas na Constituição de 1988, pois enquanto o sistema sindical estivervinculado à unicidade sindical, que considera representativo apenas um único sindicatopor categoria em determinada base territorial, e, por outro lado, enquanto a negociaçãocoletiva espargir seus efeitos para além dos trabalhadores associados, é necessárioestabelecer-se um tributo para custear esse sistema, sob pena de inviabilização dofuncionamento desse sistema. Nesse sentido, conclui o eminente professor e magistradoparanaense Luiz Eduardo Gunther: "Exigir dos sindicatos de trabalhadores uma posturaativa (negociado sobre o legislado) sem que existam condições materiais para essedesempenho é enfraquecer o movimento sindical e criar insegurança jurídica,(...)"(GUNTHER, Luiz Eduardo. O fim da contribuição sindical obrigatória: a crônica deuma morte anunciada, in DALLEGRAVE NETO, José Affonso; KAJOTA, Ernani(Coord). Reforma Trabalhista ponto a ponto. São Paulo: Ltr, 2017, p. 214).

É, portanto, relevante o fundamento que suscita a inconstitucionalidade da Lei13.467/2017, quando torna facultativa a contribuição sindical prevista no artigo 8º, IV,in fine, da CRFB, sem que também tenham sido alteradas as demais disposições doartigo 8º, especialmente no que se refere à unicidade contratual (artigo 8º, II, da CRFB)e à representatividade do sindicato extensiva a toda categoria (artigo 8º, III, da CRFB).

Há, por fim, um segundo relevante fundamento relativamente ao fumus boni iuris. Não sepode deixar de reconhecer que a alteração da natureza jurídica da contribuição sindicalde típico tributo para contribuição negocial facultativa importa em inequívoca renúnciafiscal pela União. Ocorre, porém, que, por não ter sido acompanhada de seu impactoorçamentário e financeiro, nos termos do artigo 113 do Ato das DisposiçõesConstitucionais Transitórias acrescido pela Emenda Constitucional 95/2016, haveriapossível inconstitucionalidade formal, ante o descumprimento de requisitoconstitucionalmente fixado.

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De fato, considerando que a contribuição sindical obrigatória tem destinação específicaestabelecida por lei, qual seja, nos termos do artigo 589 da CLT, 10% (dez por cento) dovalor arrecadado é destinado à Conta Especial Emprego e Salário (FAT), constituindo,portanto, nesse particular, receita pública, era obrigação constitucional expressamenteimposta indicar, para sua renúncia, estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro(artigo 113 do ADCT, acrescido pela Emenda Constitucional 95/2016), o que não foidemonstrado nos autos.

Assim, afigurar-se-ia, em tese, a inconstitucionalidade formal das alterações legaisindigitadas nas ações diretas de inconstitucionalidade ora analisadas.

Presente o fundamento jurídico relevante, cumpre examinar a possibilidade de atuaçãomonocrática do Relator e a presença do risco de grave lesão.

Não se desconhece, como bem apontou a Presidência da República nas informações queforam trazidas aos autos, que, a teor do disposto no art. 10 da Lei 9.868/99, o exame damedida cautelar é de competência do Tribunal Pleno. Na mesma linha de compreensão,o eminente professor e jurista Clèmerson Merlin Clève aduz que: "Não parece sercompatível com o disposto no art. 97 da Constituição Federal a concessão de medidaliminar em ação direta de inconstitucionalidade por decisão monocrática. Assim como oato normativo do Poder Público somente pode ser declarado inconstitucional com amanifestação da maioria absoluta dos membros do STF, a concessão da liminar, queimplica a sustação dos efeitos prospectivos da normativa impugnada, deve seguir amesma sistemática. Não parece ser razoável a concessão de liminar, por um únicoMinistro do STF, sustando os efeitos de lei aprovada por mais de quinhentos deputados,mais de oitenta senadores e sancionada pelo Presidente da República. É evidente que apossibilidade de concessão de liminares por um único Ministro pode dar lugar a abusos,bem como a atritos desnecessários entre os Poderes da República, quando não a crisesde natureza política". (CLÈVE, Clèmerson Merlin. Ação Direta de Inconstitucionalidade.Revista de Informação Legislativa a. 45, n. 179, jul./set. 2008).

Este Tribunal, no entanto, tem admitido a atuação dos Relatores, em diversos referendosa liminares monocraticamente por eles concedidas, sempre que, nos termos da exceçãolegal do art. 10 da Lei 9.868/99, a apreciação da matéria pelo Plenário estivesseinviabilizada. Assim, na ADI 4.190, ante a proximidade do recesso forense, o e. MinistroCelso de Mello deferiu medida cautelar para suspender a eficácia da norma impugnada.Em sentido semelhante, a e. Ministra Cármen Lúcia, na ADI 4.307, concedeumonocraticamente com efeitos ex tunc medida cautelar ad referendum do Plenário, parasuspender a eficácia da Emenda Constitucional n. 58/2009, ao fundamento decomprovada "urgência qualificada e dos riscos objetivamente comprovados de efeitos dedesfazimento difícil pela pluralidade de posses de novos vereadores já ocorridos apenasnaquele primeiros sete dias de vigência da nova regra".

As considerações expostas pela e. Ministra Cármen Lúcia nesse precedente são de todopertinentes para revelar o alcance do poder de cautela conferidos aos Ministros doSupremo Tribunal Federal quando da apreciação de ações diretas deinconstitucionalidade.

Se, de um lado, é certo que as decisões de mérito da ação direta de inconstitucionalidadepossuem efeitos ex tunc ante a nulidade dos atos inconstitucionais; de outro, a demora nopronunciamento de eventual inconstitucionalidade é um dos fatores que tem levado oTribunal a modular os efeitos da declaração, nos termos do art. 27 da Lei 9.868/99,mitigando, por consequência, o alcance pretérito da decisão.

Esses dois limites impostos pela lei sublinham a complexa tarefa do Tribunal nainstrução das ações diretas: o tempo do processo é um elemento que, ao converter-se emsegurança jurídica, pode obrigar a Corte a proceder a análise de argumentos que, emprincípio, não estaria destinada a examinar. Para se desvincilhar de tal ônus, todas aspartes devem colaborar e os relatores são copartícipes desse processo. O exame, a tempoe modo, de medidas cautelares têm o condão de desonerar o Tribunal do exame deargumentos de segurança jurídica.

É, assim, em auxílio e ad referendum do Plenário do Supremo Tribunal Federal que aatuação monocrática se legitima: sempre que inviabilizado o pronto pronunciamento doórgão colegiado e, concomitantemente, sempre que haja perigo de lesão grave.

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In casu, é forçoso assentar, mormente ante a plena plausibilidade das alegações, que alesão a ocorrer é grave e repercute, negativamente, na esfera jurídica dos trabalhadores,à luz do regime constitucional vigente sobre a contribuição sindical.

É preciso reconhecer, porém, que, a inclusão da presente ação direta no calendário dejulgamento da sessão convocada para o dia 28.06.2018, atenua, por ora, as razões que,em tese, autorizariam a atuação singular do Relator.

Sob essa perspectiva, deve-se consignar que foram envidados esforços para que ojulgamento desta ação fosse feito, de modo célere, pelo Plenário do Supremo TribunalFederal. Distribuída a ação em 18.10.2017, em 23.11.2017, adotou-se o rito do art. 12da Lei 9.868/99. Em 19.02.2018, o processo foi incluído em pauta e, em 23.03.2018, foi,nos termos do art. 129 do RISTF, indiquei preferência para julgamento.

Divulgados os calendários de julgamento em 28.05.2018, restou designada pelaPresidência desta Corte sessão de julgamento dentro do próximo trintídio, prevista para28.06.2018.

Faço o registro dessas movimentações processuais, para (i) manter ao menos até28.06.2018 a submissão, sob crivo do Plenário do Supremo Tribunal Federal, do examedo mérito da presente ação direta; e (ii) ressaltar que este Relator examinará aexcepcional premência dos pedidos formulados pela requerente, na eventualidade dequedar impossibilitada a atuação do órgão colegiado, para o fim de análise daconcessão da medida cautelar.

Publique-se.

Brasília, 30 de maio de 2018.

Ministro EDSON FACHIN

Relator"

 

Do exposto, considerando que cabe à autoridade do primeiro grau a

realização do controle difuso, atentando aos preceitos da Constituição, reputo ilegal a decisão monocrática

que mesmo diante destas constatações, ao não antecipar os efeitos da tutela de urgência, termina por

reconhecer a constitucionalidade das alterações promovidas pela Lei 13.467/2017 quanto aos artigos 545,

578, 579, 582, 583, 587 e 602 da CLT.

Considerando o quanto decidido em provimento liminar no processo nº

TST 1000219-44.2018.5.00.0000, da lavra do E. Ministro - Corregedor Geral da Justiça do Trabalho,

Lelio Bentes Corrêa, afastando-se a possibilidade da existência de dano irreparável ou de difícil

reparação, determino que se efetue o depósito do valor correspondente à obrigação tributária no juízo de

primeiro grau, até o julgamento da ACP 0000357-81.2018.5.05.0196, facultando-se, nos termos do art.

300,§1º do CPC, a apresentação de caução idônea, inclusive fidejussória, para o respectivo recolhimento e

repasse.

Patente a evidência do direito, bem como o risco da demora (eis que se

trata de parcela que deveria ser deduzida na folha de pagamento do mês de março). Consectário disso, os

Litisconsortes devem ser compelidos ao cumprimento da obrigação que emana da anterior redação dos

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artigos 545 e 582 da CLT, repassando ao Impetrante a contribuição sindical compulsória, de modo a que a

demora no cumprimento da ordem legal não comprometa a subsistência da agremiação sindical operária,

revelando-se atendidos os requisitos do art. 300 do CPC.

Diante do exposto, CONCEDO A LIMINAR PLEITEADA para

determinar que os litisconsortes:  (02) FLORATA DISTRIBUIDORA DE COMÉRCIO LTDA, pessoa

jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº. 14.410.566/0001-04, situada na rua Felinto Marques de

Cerqueira, nº. 169, bairro Ponto Central, CEP: 44.075-405, Feira de Santana/Ba; (03) CERVEJARIA

PETRÓPOLIS DA BAHIA LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº.

15.350.602/0004-99, situada na Avenida Eduardo Froes da Mota, S/N, KM 103, bairro Aviário, CEP:

44.096-486, Feira de Santana/Ba; (04) COBAPA COMERCIAL DE BATERIAS PEÇAS E

ACESSÓRIOS, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº. 16.055.535/0001-08, situada na

Praça da República, nº. 102/106, bairro Centro, CEP: 44.001-784, Feira de Santana/Bahia; (05) FEIRA

DE SANTANA COMÉRCIO DE LIVROS E CURSOS LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita

no CNPJ nº. 16.876.367/0001-03, situada na Av. Senhor dos Passos, nº. 935, salas 225/227, bairroCentro,

CEP: 44.002-035, Feira de Santana/Ba; (06) GOLFARMA DISTRIBUIDORA FARMACÊUTICA

LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº. 07.644.746/0001-87, situada na Travessa

Rio de Contas, nº. 34, bairro Brasilia, CEP: 44.088-408, Feira deSantana/Bahia; (07) JORGE PAULO

PEREIRA NUNES, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº. 03.384.888/0001-00, situada

na Av. Presidente Dutra, nº. 781, bairro Centro, CEP: 44.001-615, Feira de Santana/Ba; (08) REIS DO

NORDESTE CAMA MESA E BANHO LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº.

05.697.368/0001-74, situada na Av. Senhor dos Passos, nº. 1318, bairro Centro, CEP: 44.002-200, Feira

de Santana/Ba; (09) WSO MATOS & CIA LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº.

07.869.096/0001-78, situada na Av. Banco do Nordeste, S/Nº, Centro Industrial Subaé, CEP: 44.010-665,

Feira de Santana/Bahia; (10) ZUCK PAPÉIS LTDA,pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ

nº. 23.232.280/0001-69, situada na Rua Buenopolis,nº. 200, Acesso Br 324, bairro 35 BI, CEP:

44.094-594, Feira de Santana/Ba; (11) MSR FARMA COMERCIAL LTDA, pessoa jurídica de direito

privado, inscrita no CNPJ nº. 05.458.634/0001-06, situada na Rua Tutoia, nº. 286, bairro Parque Ipê,

CEP: 44.054-674, Feira de Santana/Ba PROCEDAM IMEDIATAMENTE ao desconto de um dia de

trabalho de todos os seus trabalhadores, considerando a folha salarial do mês de março/2018,

independentemente de autorização prévia e expressa, sob pena de multa diária a cada um pelo

descumprimento no importe de R$ 500,00, até o limite de R$ 15.000,00 que reverterá em prol dos

Impetrantes. O valor descontado (correspondente à obrigação tributária) deve ser depositado à disposição

do juízo impetrado até o julgamento da ACP 0000357-81.2018.5.05.0196, facultando-se, nos termos do

art. 300,§1º do CPC, a apresentação de caução idônea, inclusive fidejussória, para o respectivo

recolhimento e repasse.

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Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO MÁRIO BORGES SIMÕEShttps://pje.trt5.jus.br/segundograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=18061408204874500000010894294Número do processo: MSCol 0000729-36.2018.5.05.0000Número do documento: 18061408204874500000010894294Data de Juntada: 14/06/2018 15:11

Documento assinado pelo Shodo

Cumpra-se com urgência

Oficie-se à autoridade para prestar as informações.

Notifique-se e citem-se, valendo esta decisão como mandado e como

ofício de encaminhamento.

Salvador, 14 de junho de 2018

SALVADOR, 11 de Junho de 2018

Renato Mário Simões

Desembargador Relator

SALVADOR, 14 de Junho de 2018

Renato Mário SimõesDesembargador Relator

ID. 3504560 - Pág. 34

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO MÁRIO BORGES SIMÕEShttps://pje.trt5.jus.br/segundograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=18061408204874500000010894294Número do processo: MSCol 0000729-36.2018.5.05.0000Número do documento: 18061408204874500000010894294Data de Juntada: 14/06/2018 15:11

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3504560 14/06/201815:11

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