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1 1 MANDADO DE SEGURANÇA PARA RESTABELECIMENTO DE SERVIÇO ESSENCIAL – PETIÇÃO E SENTENÇA Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ________Vara Cível de Belém- Pará, MARIA DA GLORIA RABELO COSTA, brasileira, casada,dona de casa, RG n º 1557247-Sepup-Pa, CIC n º 22843230225 residente e domiciliada sito nesta Capital na Rua Nova n º 1081, bairro da pedreira, por advogado e procurador subscrito, com escritório profissional abaixo impresso, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência para impetrar por seu procurador in fine assinado, qualificado no instrumento ut acostado que passa a integrar esta (doc.01), com escritório profissional consignado no cabeçalho, onde em atendimento à diretriz do artigo 39, inciso I, do Código de Processo Civil, indica-o para as intimações necessárias, vem perante Vossa Excelência, com o habitual e merecido respeito, requerer os benefícios da justiça gratuita, por ser pobre nos termos da Lei nº 1.060, de 05.02.50, com as alterações da Lei nº 7.310/86, para impetrar MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE LIMINAR INALDITA ALTERA PARS contra coação, constante e renovável, a cada fatura mensal, do DIRETOR - PRESIDENTE da COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARÁ - COSANPA, o qual tem sede na Avenida Magalhães Barata nº 1201 - Belém - PA, visando compeli-lo imediatamente a restabelecer o fornecimento de água da impetrante, conforme passa a expor e, ao final, requerer:

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MANDADO DE SEGURANÇA PARA RESTABELECIMENTO DE SERVIÇO ESSENCIAL – PETIÇÃO E SENTENÇA

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ________Vara Cível de Belém- Pará,

MARIA DA GLORIA RABELO COSTA, brasileira, casada,dona de casa, RG nº

1557247-Sepup-Pa, CIC nº 22843230225 residente e domiciliada sito nesta Capital na Rua Nova nº1081, bairro da pedreira, por advogado e procurador subscrito, com escritório profissional abaixo impresso, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência para impetrar por seu procurador in fine assinado, quali ficado no instrumento ut acostado que passa a integrar esta (doc.01), com escritório profissional consignado no cabeçalho, onde em atendimento à diretriz do artigo 39, inciso I, do Código de Processo Civil , indica-o para as intimações necessárias, vem perante Vossa Excelência, com o habitual e merecido respeito, requerer os benefícios da justiça gratuita, por ser pobre nos termos da Lei nº 1.060, de 05.02.50, com as alterações da Lei nº 7.310/86, para impetrar

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE LIMINAR INALDITA ALTE RA PARS

contra coação, constante e renovável, a cada fatura mensal, do DIRETOR - PRESIDENTE da COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARÁ - COSANPA, o qual tem sede na Avenida Magalhães Barata nº 1201 - Belém - PA, visando compeli-lo imediatamente a restabelecer o fornecimento de água da impetrante, conforme passa a expor e, ao final, requerer:

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I . DO CABIM ENTO DO MANDADO DE SEGURANÇA

Os atos administrativos, em regra, são os que mais ensejam lesões a direitos individuais e coletivos; portanto, estão sujeitos à impetração de mandado de segurança.

Segundo explica Coqueijo Costa, "cabe mandado de segurança contra ato administrativo executório, de autoridade de qualquer dos três poderes, que violente a esfera jurídica do indivíduo, isto é, que revista uma ilegalidade ou um abuso de poder" ("Mandado de Segurança e controle constitucional", São Paulo, LTr, 1982, p. 47).

Acórdão AGA 248297/SE ; AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO (1999/0 055461 - 2)

Fonte DJ DATA:11/09/20 00 PG:00246

Relator(a) Min. NA NCY ANDRIGHI (1 118)

Data da Decisão 15/08/2 000

Orgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA

Ementa AGRAVO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO - PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO - ATO DE REPRESENTANTE DE CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO – CORTE DE ENERGIA ELÉTRICA - MANDADO DE SEGURANÇA - CABIMENTO. É cabível o Mandado de Seguran ça contra ato praticado por rep r esentante de concess i onária de serviço público que determinou o corte do fo r necimento de energi a e l étrica so b alegaçã o de prática de fraude por parte do consumi dor.Agravo a qu e se nega provi mento.

Decisão Vistos, re l atados e discutidos este s autos, acordam os Minist r os da Segunda Turma do Super i or Tribunal de Justiça, na conformida de dos votos e das notas taquigr áficas constant es dos autos, p or unanimi dade, negar provimento ao agra vo r egimental, nos termo s d o voto da Sra. Ministra - Relator a. Votaram com a Sra. Minist r a- Relator a os Srs . Ministr os Eliana Calmon, Paulo Gallotti e Franciulli Netto. Ausente , ju s tificadamente, o Sr. Ministro Francis co Peçanha Mart i ns.

Indexação CABIMENTO, MANDADO DE SEGURANÇA, IMPUGNAÇÃO, ATO DE AUTORIDADE,

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ATO DE AUTORIDADE, CONCESSI ONARIA, SERVIÇO PUBLICO, AUTO DE INFRAÇÃO, INTERRUPÇÃO, FORNECIMENTO, ENERGI A ELETRICA, ALEGAÇÃO, FRAUDE, CARACTERIZAÇÃO, AUTORIDADE COATORA.

Referências Legislativas

LEG:FED PRT:000222 ANO: 1987 (DNAEE - DEPARTAMENTO NACIONAL DE ÁGUA E ENERGIA ELÉTRICA)

Veja RESP 84082- RS, RESP 174085 - GO (STJ )

Desse modo, é cabível o mandado de segurança com pedido para que seja concedido liminarmente, e ao final, a segurança, para determinar à autoridade coatora que proceda o restabelecimento do fornecimento de água em sua residência

II. DOS FATOS

No mês de dezembro a impetrante foi surpreendida por funcionários da Cosanpa que, sem darem maiores explicações, interromperam o serviço de fornecimento de água, não deixando a impetrante nem sequer procurar por sua residência os comprovantes de pagamento.

Assim sendo, o fato está a merecer a tutela jurisdicional, posto que a autoridade coatora, apesar dos insistentes apelos dos órgãos consumeristas, resiste em se adequar a realidade fática, econômica e jurídica no que diz respeito aos cortes no fornecimento de água.

III - DO DIREITO (*)

Sumár io: 1-O fornecimento de água como serviço essencial; 2-O consumidor como par te frágil tutelada pela norma do consumidor ;

(*) Fundamentação jurídica extraída do artigo do Professor Plínio Lacerda Martins intitulado “Corte de Energia elétrica por falta de pagamento – prática abusiva – Código do Consumidor – publicado pela Revista de Informação Legislativa de julho/setembro de 2000, Brasília, ano 37, n 147.

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3-A qualidade do serviço público e o atendimento ao consumidor 4-Da abusividade das práticas comerciais nas relações de consumo; 5- A interr upção do fornecimento de água e o constrangimento do consumidor ; 6-O direito fundamental do consumidor e o pr incípio da proibição de retrocesso; 7-A prática abusiva do cor te de serviço essencial pala COSANPA.

1- O FORNECIMENTO DE ÁGUA COMO SERVIÇO ESSENCIAL

O serviço de fornecimento de água é, sem dúvida, uma relação de consumo, considerado fornecedor a empresa de Saneamento COSANPA, na forma do artigo 3º do Código de Defesa o Consumidor, e os seus usuários são consumidores na forma do artigo 2º e parágrafo único da norma consumerista.

O serviço de fornecimento de água é público e essencial, subordinado ao princípio da continuidade, na forma do artigo 22 do Código do Consumidor, da mesma forma que o serviço de telefonia e energia elétrica.

(1) Hermam Benjamim afiança que “ o Código não disse o que entendia por serviços essenciais. Essencialidade, pelo menos neste ponto, há que ser interpretada em seu sentido vulgar , significando todo serviço público indispensável ‘a vida em comunidade, ou melhor, em uma sociedade de consumo. Incluem-se aí não só os serviços públicos stricto sensu (os de polícia, os de proteção, os de saúde), mas ainda os serviços de utilidade pública (os de transpor te coletivo, os de energia, fornecimento de água, os de telefonia)...” (gr ifo nosso). Antônio Herman de Vasconcellos Benjamin et.al. Comentár ios ao Código de Proteção ao Consumidor , São Paulo: Saraiva, 1991, p.111.

Enuncia o artigo 22 e seu parágrafo único do CDC que: “os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos” .

Cumpre registrar que a Portaria nO. 3/99 da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (publicada em 19-03-99) reconheceu como serviço essencial o fornecimento de água.

(2) estabelece a Por tar ia do M inistér io da Justiça no item 3: “ 3. Permitam ao fornecedor de serviço essencial (água) incluir na conta....”

2-O CONSUMIDOR COMO PARTE FRÁGIL TUTEL ADA PELA NORMA DO

CONSUMIDOR É cediço que o consumidor é reconhecido na relação de consumo como sendo a parte mais

fraca, a merecer a tutela da norma do consumidor no artigo 4, I, do CDC. (3) A 106O. Sessão plenár ia da ONU editou em 09 de abril de 1985 a Resolução nO. 39/248, que retrata no ar tigo 1O. que o

consumidor é par te mais fraca nas relações de consumo.

O 40O. Congresso Brasileiro de Direito do Consumidor, realizado em Gramado, conclui pelo reconhecimento jurídico da desigualdade do consumidor perante o fornecedor.

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(4) O item 4 das conclusões aprovadas pelo Congresso prescreve: “ Como direito social, a proteção ao consumidor tem como princípio a vulnerabili dade do consumidor que exige o reconhecimento jur ídico de sua desigualdade.

É de bom alvitre destacar que a Organização das Nações Unidas-ONU editou, em 1985, a Resolução nO. 39/248, reconhecendo no artigo 1O. que o consumidor é a parte mais fraca na relação de consumo. O nosso CDC estabeleceu o princípio da vulnerabilidade, reconhecendo essa fragibil idade na sociedade de consumo, possuindo a favor do consumidor a boa-fé objetiva (artigo 4O., III, do CDC).

Verif ica-se em muitos casos que o consumidor não efetua o pagamento não porque não quer, mas porque há situações imprevisíveis que fogem a esfera de sua vontade, tais como o atraso do salário, problemas de saúde, etc..inviabilizando o pagamento da conta de água.

Arrimadas a esse fato existem hipóteses de débitos indevidos praticados pelo fornecedor, que, com a ameaça de desligamento, impossibilitam o direito de revisão como no caso da impetrante.

Destarte, o Código do Consumidor tutela a parte mais frágil, que é o consumidor, contra abusos praticados pelos fornecedores.

3- A QUALIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO E O ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR

O artigo 6º, X, do Código de Defesa do Consumidor, consigna que é direito básico do consumidor “ a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral”

O artigo 4º do CDC estabelece a política nacional das relações de consumo, cujo o objetivo é atender às necessidades dos consumidores, respeitando a sua dignidade, saúde e segurança, providenciando a melhoria de sua qualidade de vida.

Prescreve ainda a legislação consumerista a ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor, garantindo que os produtos e serviços possuam padrões adequados de qualidade e segurança, durabilidade e desempenho (artigo 4º, II, d), devendo o Estado ainda providenciar a “harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (artigo 170 da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores” (artigo 4º, III).

O artigo 175 parágrafo único, inciso IV da Constituição Federal estabelece: “Artigo 175 – Incumbe ao Poder Público, na forma da lei diretamente ou sob regime de

concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo-único- A lei disporá sobre: (...) IV-a obrigação de manter serviço adequado” A Lei nº 8.987/95, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão de serviços públicos,

estabelece no artigo 6º, que “ toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários” , afirmando no parágrafo 1º o conceito de serviço adequado como sendo” o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia nas sua prestação e modicidade das tarifas”

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Por fim registra-se que o artigo 4º, inciso VII, do CDC imputa ao Estado o dever da melhoria dos serviços públicos.

4- DA ABUSIVIDADE DAS PRÁTICAS COMERCIAIS NAS RELAÇÕES DE CONSUMO

O CDC consagra a ação governamental de coibição e repressão eficiente de todos os abusos praticados no mercado do consumo (artigo 4º, VI).

Cada dia torna-se mais comum reclamações contra o fornecedor pelos serviços prestados. Não são raras as vezes que o consumidor/usuário é surpreendido com um débito indevido

em sua conta, e a solução outorgada pelo fornecedor consiste na orientação de o consumidor pagar a conta indevida após discutir, sob pena de corte do fornecimento.

Prescreve o artigo 39, inciso IV, do CDC que se prevalecer da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhes seus produtos ou serviços constitui prática abusiva repudiada pela norma do consumidor.

O CDC traz preceito expresso a respeito do Princípio da boa-fé (artigo 4º, inciso III, da norma do consumidor) concretizando assim o Princípio a boa-fé objetiva:

No dizer da doutrinadora Cláudia Lima Marques: “Boa-fé significa aqui um nível mínimo e objetivo de cuidados, de respeito e de tratamento

leal com a pessoa do parceiro contratual e seus dependentes. Este patamar de lealdade, cooperação, informação e cuidados com o patrimônio e a pessoa do consumidor é imposto por norma legal, tendo em vista a aversão do direito ao abuso e aos atos abusivos praticados pelo contratante mais forte, o fornecedor, com base na liberdade assegurada pelo princípio da autonomia privada” .

O CDC , presumindo o consumidor como parte contratual mais fraca, impõe aos fornecedores de serviços no mercado um mínimo de atuação conforme a boa-fé. O princípio da boa-fé nas relações de consumo atua limitando o princípio da autonomia da vontade e combatendo os abusos praticados no mercado.

O corte de fornecimento de água da impetrante reveste-se de uma prática comercial que ocasionou desequilíbrio na relação contratual atentando contra o patamar mínimo de boa-fé na relação contratual de consumo, devendo ser declarada abusiva e ilegal.

O CDC prevê, no artigo 6º, IV, como direito básico do consumidor, a proteção contra cláusulas abusivas. Também prevê como direito básico do consumidor, no mesmo dispositivo legal, a proteção contra práticas abusivas impostas no fornecimento de produtos e serviços.

Há que se observar que o CDC enumera, no artigo 39, uma lista de práticas abusivas, sendo certo que a lista não é taxativa, admitindo outras práticas comerciais como sendo abusivas, desde que figure o significativo desequilíbrio entre os direitos do consumidor, a manifesta vantagem e a ofensa ao princípio da boa-fé objetiva.

Infere-se que o ato de interromper o fornecimento de água da impetrante foi praticado sem boa-fé, ferindo flagrantemente o princípio que norteia o sistema, e se configurando como uma prática abusiva.

5-A INTERRUPÇÃO DO FORNECIM ENTO ÁGUA E O CONSTRANGIM ENTO DO CONSUM IDOR

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Conforme leciona Hélio Gama, a “Constituição Federal traz dispositivo de proteção d honra da pessoa, enquanto o Código Penal comina crime ao ato de exacerbação no exercício arbitrário das próprias razões” .

Assevera Hélio Gama que era comum submeter-se os devedores à execração pública ou constrangê-las até pagarem os seus débitos” ; afiançando que certos credores se aproveitam dos mecanismos de cobrança “para aviltar as dignidades dos seus devedores” .

O CDC, contudo, veda a prática do constrangimento na cobrança de dívidas, determinando que o consumidor não pode ser submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça e nem exposto a ridículo pela cobrança de dívida.

Consagra o artigo 42 do CDC: “na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto ao ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça” .

Como se sabe, a lei do consumidor repudiou a cobrança vexatória a tal ponto de tipif icar como criminosa a conduta que expõe o consumidor a constrangimento em razão de dívida.

Estabelece o artigo 71 do CDC: “Artigo 71- Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou

moral, afirmações falsas, incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer:

Pena- Detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa.” Vale transcrever as lições do Professor Hélio a respeito do conceito de constrangimento,

sustentando in verbis: “Ao nosso ver, o constrangimento de que fala o CDC é aquela imposição de situações que

venham a atormentar o devedor, fazendo com que as agruras da cobrança que sofra se transformem em condenação adicional ou acessória”

Seria o caso de indagarmos: será que a cobrança do fornecedor de água que ameaça de interromper o serviço público essencial do usuário/consumidor/impetrante inadimplente não configura para o consumidor um constrangimento ? Será que essa cobrança não dificulta o acesso à Justiça?

O fornecimento de água é serviço essencial. A sua interrupção acarretou o direito da impetrante postular em juízo, buscando que se condene a Administração a fornecê-la. Importa assinalar que tal medida judicial tem em mira a defesa de um direito básico d a impetrante a ser observado quando do fornecimento de produtos e serviços (relação de consumo), a teor do artigo 6º, VI, X, e artigo 22 do CDC.

6-O DIREITO FUNDAMENTAL DO CONSUMIDOR E O PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO

É cediço que o CDC surgiu atendendo a um comando constitucional, estabelecendo a um

comando constitucional, estabelecendo um sistema de defesa do consumidor. Conforme já registrado anteriormente, se há relação de consumo, os direitos dos usuários/consumidores são regulados e tutelados pelo CDC.

O artigo 1O. do CDC é bem claro ao dispor que:

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“o presente Código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos artigos 5O., inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal, e artigo 48 de suas Disposições Transitórias,

Atendendo assim ‘a política nacional de relação de consumo, que tem por objetivo: “o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito ‘a sua dignidade, saúde e

segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria de sua qualidade de vida, bem como a transferência e harmonia das relações de consumo (artigo 4O., caput)

Com conhecimento jurídico sólido sobre o assunto, o jurista Marcos Maselli Gouvêa afirma que “a defesa do consumidor é uma garantia fundamental previstas no artigo 5O., XXXII, e um princípio da ordem econômica, previsto no artigo 170, V”

A Constituição Federal estabelece como princípio fundamental a dignidade da pessoa humana, como um fundamento básico (artigo 1O.,III da CF). No artigo 170, V, estabelece:

“ Artigo 170- A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

(...) V-defesa do consumidor;” No mesmo sentido, o direito do consumidor está elencado entre os direitos fundamentais da

constituição. José Geraldo Brito Filomeno esclarece a respeito do artigo 1O. do CDC que sua

promulgação se deve a “ mandamento constitucional expresso. Assim, a começar pelo inciso XXX II do artigo 5O. da mesma Constituição, impõe-se ao Estado promover, na forma da lei, a defesa do consumidor” .

O 40O. Congresso do Consumidor, realizado em Gramado, conclui que o direito de proteção ao consumidor é cláusula pétrea da Constituição Federal (artigo 5O., XXX II, CF/88).

Conforme demonstrado, o CDC erigiu do comando Constitucional, estabelecendo expressamente no artigo 1O. do CDC a despeito da norma constitucional.

Nesse sentido, é correta a premissa que qualquer norma infraconstitucional que ofender os direitos consagrados pelo CDC estará ferindo a Constituição e, mutatis mutandis, deverá ser declarada como inconstitucional.

Nessa direção estabelece Arruda Alvim: “Garantia constitucional desta magnitude, possui, no mínimo, como efeito imediato e

emergente, irradiado da sua condição de princípio geral da atividade econômica do país, conforme erigido em nossa Carta Magna, o condão de inquinar de inconstitucionalidade qualquer norma que nossa consistir em óbice ‘a defesa desta figura fundamental das relações de consumo, que é o consumidor”

Sem embargo dessas considerações, faz necessário comentar o princípio da proibição do retrocesso em face das garantias fundamentais.

Com efeito, o direito do consumidor possui o status de direito constitucional e, como tal, não pode o legislador ordinário fazer regredir o “grau de garantia fundamental” , conforme leciona Marcos Gouvêa.

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A lei da concessão do serviço público (Lei no. 8.987/95), ao afirmar que não se caracteriza como descontinuidade do serviço público a sua interrupção “ por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade” (artigo 6O., parágrafo 3O., II), na realidade está praticando o autêntico retrocesso ao direito do consumidor, haja vista que o artigo 22 do CDC afirma que os fornecedores de serviço essencial são obrigado a fornecer serviços adequados, eficientes e “ contínuos” .

Arrimado a esse fato, acrescente-se que o direito do consumidor possui garantia fundamental na Constituição e que a interrupção do fornecimento, além de causar uma lesão, afeta diretamente, a sua dignidade, sem embargo da dificuldade de acesso a Justiça que o dispositivo apresenta, consolidando assim a autotutela do direito do fornecedor.

Admitir a possibilidade do interrupção no fornecimento de água da consumidora/impetrante implica flagrante retrocesso ao direito do consumidor, consagrado em nível constitucional. Por isso, o princípio de retrocesso veda que lei posterior possa desconstituir qualquer garantia constitucional. Ainda que lex posteriori estabelaça nesse sentido, a norma deverá ser considerada inconstitucional.

Por tais razões, é manifesta a inconstitucinalidade do dispositivo legal previsto no artigo 6O., parágrafo 3O., II da Lei nO. 8.987/95, que autoriza a interrupção de serviço essencial, em razão do princípio da proibição do retrocesso.

7- A PRÁTICA ABUSIVA DO CORTE DE SERVIÇO ESSENCIAL PELA

COSANPA O reconhecimento da ilegalidade do corte em relação ao serviço essencial é patente nos

casos de fornecimento de água, a exemplo da sentença da Juíza Aparecida Oliveira, de Anápolis, Goiás, que expressamente considerou o corte ilegal, porque “a água é de necessidade da população, de consumo imprescindível e não pode ser cortada sob nenhum propósito”.

Nesse sentido o Superior Tr ibunal de Justiça já se pronunciou entendendo que: “ Seu fornecimento é serviço público, subordinado ao princípio da continuidade, sendo impossível a sua interrupção e muito menos por atraso no seu pagamento” (Decisão unânime da Pr imeira Turma do STJ, que rejeitou o recurso da Companhia Catar inense de Águas e Saneamento- CASAN. Proc. RESP 201112)

Dessa forma, o aresto do E. STJ decidiu, por unanimidade, que o fornecimento de água não pode ser interr ompido por inadimplência, fundamentando:

“ O fornecimento de água, por se tratar de serviço público fundamental, essencial e vital ao ser humano, não pode ser suspenso pelo atraso no pagamento das respectivas tar ifas, já que o Poder Público dispõe dos meios cabíveis para a cobrança dos débitos dos usuár ios” .

Para o M inistro Garcia Vieira, relator do processo, “ a Companhia Catar inense de Água cometeu um ato reprovável, desumano e ilegal. É

ela obr igada a fornecer água ‘ as população de maneira adequada, eficiente, segura e contínua e, em caso de atraso por par te do usuár io, não poder ia cor tar o seu fornecimento, expondo o consumidor ao r idículo e ao constrangimento” ,

casos previstos no CDC.

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Segundo o M inistro Garcia Vieira a empresa fornecedora de água deve utilizar -se dos meios legais de cobrança:

“ não podendo fazer justiça privada porque não estamos mais vivendo nessa época e sim no império da lei, e os li tígios são compostos pelo Poder Judiciário, e não pelo particular . A Água é bem essencial e indispensável ‘a saúde e higiene da população”

No mesmo sentido, o fornecimento de água é serviço essencial. A sua interrupção acarreta o direito da impetrante/consumidora postular em juízo, buscando que se condene a Administração a fornecê-la, sem prejuízo da condenação do fornecedor pelo dano moral e patrimonial sofrido pela consumidora.

Importa assinalar que tal medida judicial tem em mira a defesa de um direito básico da consumidora/impetrante, a ser observado quando do fornecimento de produtos e serviços (relação de consumo), na forma como prescreve o artigo 6, X do CDC (adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral), sem prejuízo da reparação dos danos provocados ( a teor do artigo 6, VI, do CDC, “ a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos”

A respeito, claríssima a lição de Mario Aguiar Moura: “ A continuidade dos serviços essenciais significa que devem ser eles prestados de modo

permanente, sem interrupção, salvo ocorrência de caso fortuito ou força maior que determine sua paralisação passageira. A hipótese é a de o particular já estar recebendo o serviço. Não pode a pessoa jurídica criar descontinuidade. Serviços essenciais são todos os que se tornam indispensáveis para a conservação, preservação da vida, saúde, higiene, educação e trabalho das pessoas. Na época moderna, exempli ficativamente, se tornam essenciais, nas condições de já estarem sendo prestados, o transporte, água, esgoto, fornecimento de eletricidade com estabil idade, linha telefônica, limpeza urbana, etc...

Leciona Mário de Aguiar que: “ Uma inovação trazida pela atual Constituição é a extensão do mesmo critério ‘as

concessionárias ou permissionárias do serviços públicos. Assim, no caso dos serviços concedidos de transporte, fornecimento de água, eletricidade, etcc.., as empresas respondem perante terceiro segundo os critérios da responsabil idade sem culpa nas mesmas condições do que ocorre com a pessoa jurídica pública”.

O ilustre jurista Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin, comentando o artigo 22 ressalta o seguinte:

“A segunda inovação importante é a determinação de que os serviços essenciais- e só eles- devem ser contínuos, isto é, não podem ser interrompidos. Cria-se para o consumidor um direito ‘a continuidade do serviço.

Tratando-se de serviço essencial e não estando ele sendo prestado, o consumidor pode postular em juízo que se condene a Administração a fornecê-lo”

Na esteira do entendimento pretoriano, a jurisprudência tem firmado como vimos acima, o entendimento que o corte de fornecimento de água é ilegal, afirmando que deve a concessionária aguardar o pronunciamento da Justiça, não podendo exigir de imediato o pagamento do alegado

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débito sob ameaça de corte de fornecimento de água, sendo o serviço prestado bem indispensável, não pode ser ele suspenso bruscamente sem motivo justif icado.

Em idêntica direção, decidiu a Terceira Câmara Civil do Tribunal de Justiça Catarinense, em reexame de sentença de Ação de Mandodo de Segurança, pela confirmação da sentença a quo, fundamentando que se :

“ houver débito a cobrança deverá ser feita pela via própria. O que não pode é o usuário ser coagido a pagar o que julga razoavelmente não dever sob teor de ver interrompido o fornecimento de água, bem indispensável a vida humana” .

Com efeito, não há justificativas para a prática abusiva do corte no fornecimento água por falta de pagamento por parte da fornecedora COSANPA na cobrança de dívidas, expondo o consumidor a constrangimento, sendo certo que existem mecanismos legais de cobrança, não sendo possível referendar a autotutela.

Há que se referir que aos juízes é permitido o controle das cláusulas e práticas abusivas. Destarte, faz-se necessário a providência jurisdicional, em prol da consumidora/impetrante, para que o direito consagrado no CDC não seja violado com o corte no fornecimento de água, que é considerado serviço essencial, coibindo o abuso na cobrança, que deve ser efetuada pelos meios legais em direito admitidos.

Estabelece o artigo 5, XXXXV , da CF que: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”

Se a lei não pode excluir da apreciação do Judiciário a simples ameaça a direito, como admitir-se que o fornecedora de água COSANPA se arrogue o poder de fazer “ justiça com as próprias mãos?”

Nos casos de inadimplência, portanto, cabe á ré-COSANPA, com resguardo do Princípio da Isonomia, ingressar em juízo para cobrar quanto lhe é devido. Porque o juiz, que representa o Estado e diz o direito (jurisdição), pode determinar a providência, se assim lhe parecer.

Por outro lado, o fornecimento de água é serviço essencial. A sua interrupção como no caso em epígrafe acarretou o direito da impetrante postular em juízo, buscando que se condene a COSANPA a fornecê-la. Importa assinalar que tal medida judicial tem em mira a defesa de um direito básico da consumidora/impetrante, a ser observado quando do fornecimento de serviços (relação de consumo), a teor do artigo 6O., VI e X, do CDC.

IV - DO PEDIDO LIMINAR

A via eleita, portanto, para obtenção da prestação jurisdicional almejada é o mandado de segurança com pedido de liminar inaldita altera pars, ante a ofensa ao direito líquido e certo a água da impetrante.

O "fumus boni iuris" afigura-se-nos suficientemente demonstrado pela impetrante, onde se comprova a existência do direito do consumidor no sentido de ver respeitado o seu direito ao fornecimento de água previsto na legislação consumerista.

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Quanto ao eventual dano e o gravame daí decorrente, é de se levar em consideração que a questão atinge a impetrante, e toda a sua família usuária do fornecimento de água.

A demora na prestação jurisdicional ou " periculum in mora" é fator indiscutível, já que a impetrante pode vir a se tornar devedora de valores ilegítimos, injustos, exigidos a título de multa moratória, de custo do reaviso, que, se não forem pagos, serão obrigados a continuar com a interrupção do fornecimento do produto, essencial para a vida humana, animal e vegetal.

A concessão da providência só ao final da demanda poderá ser inócua, e as conseqüências desastrosas para a saúde da impetrante e de seus famil iares.

Neste sentido, é oportuna as seguintes decisões:

A Co mpanhia Catar i nense de Água e S aneamento ne gou- se a parcela r o débito do usuário e c ortou - lhe o forn ecimento de água, cometen do ato reprováve l , desum ano e ilegal. Ela é obrig ada a fornece r água à populaç ão de maneira ad equada, eficien t e, segura e contínu a, não expondo o consumidor ao ridículo e ao constra ngiment o. Re curso improvido". (Decisão no RE 201.112-SC(99/0004398-7), da Primeira Turma do STJ, no voto do relator Ministro Garcia Vieira, de 20/04/99, unânime)

Presentes, pois, os pressupostos do art. 7º, inc. II, da Lei nº 1.533, de 31.12.51, por via de ordem liminar.

Portanto, manifesto o perigo de dano patrimonial, e certa a necessidade de reparação pela interrupção do fornecimento e/ou cobrança indevida.

V. CONCLUSÃO E PEDIDO FINAL

ISTO POSTO, a impetrante requer a V. Exa. digne-se deferir a segurança, LIMINARMENTE INALDITA ALTERA PARTS e ao final, para determinar à autoridade coatora:

Deferida a liminar, suspendendo o ato abusivo e ilegal, requer-se seja notificada a autoridade coatora de sua concessão e para que preste informações.

Que seja concedido o benefício da gratuidade da justiça, abrangendo também autenticação dos documentos.

Após, dando-se vistas ao Dr. Promotor de Justiça para manifestar-se, requer-se seja deferido em definitivo a presente segurança como medida de justiça.

Dá-se à causa, para efeitos fiscais e de alçada, o valor de R$ 100,00 (cem reais).

Nestes termos,

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pede deferimento.

Belém 20 de dezembro de 2000

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Mário Antônio Lobato de Paiva

Advogado-OAB-8775 Documentação em anexo: Procuração Cópia simples do RG e CIC da impetrante Copia simples das contas de água pagas Peça pub l icad a n a Rev i sta C onsul ex . A no V, nº 112 15 d e sete mbro d e 2001 , Teoria & Prá t ica, pág 42.

SENTENÇA EM MANDADO DE SEGURANÇA ONDE CONSIDEROU-SE ILEGAL O ATO DE CORTAR O FORNECIMENTO DE ÁGUA EM RAZÃO DE INADIMPLÊNCIA

DO CONSUMIDOR

Sentença inédita do Estado do Pará onde a Juíza Ruth do Couto Gurjão, em julgamento de Mandado de Segurança, considerou ilegal o ato de suspender o fornecimento de água em razão de inadimplência do consumidor. A decisão foi enviada pelo Dr. Már io Antônio Lobato de Paiva, advogado do impetrante, que fundamentou-se no Código de Defesa do Consumidor para obter a segurança.

A decisão destacou o fato do fornecimento de água ser um serviço público essencial e contínuo, necessário à preservação da vida, não podendo ser suspenso, mesmo estando o consumidor em situação de inadimplência.

SENTENÇA

Juíza: Dra. Ruth do Couto Gurjão Impetrante: Maria da Glória Rabelo Costa Advogado: Dr. Már io Antônio Lobato de Paiva Impetrado: Diretor-Presidente da Companhia de Saneamento do Pará- COSANPA Ação de Mandado de Segurança Autos de nº: 2000131144-6 Vistos, etc...

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MARIA DA GLÓRIA RABELO COSTA, devidamente quali ficada e legalmente representada, impetra MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE LIMINAR INALDITA ALTE RA PARS, contra DIRETOR- PRESIDENTE DA COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARÁ- COSANPA, pelos fatos e fundamentos: Alega a impetrante que no mês de dezembro de 2000 foi surpreendida por funcionários da COSANPA que, sem maiores explicações, interromperam o serviço de funcionamento de água, não permitindo que a impetrante fosse procurar os comprovantes de pagamento. Ressalta que o serviço funcionamento de água é uma relação de consumo, considerado fornecedor a empresa de Saneamento- COSANPA, na forma do art.3º do código de defesa do consumidor, e os seus usuários são consumidores na forma do art. 2º, parágrafo único da mesma norma. Aduz que o art. 6º,ínciso x, do código da defessa do consumidor, consigna que é direito básico do consumidor "a adequada é eficaz prestação dos serviço público em geral". O art. 4º do CDC estabelece a política nacional das relações de consumo, cujo objetivo é atender às necessidades dos consumidores, respeitando a sua dignidade, saúde e segurança, providenciando a melhoria de sua qualidade de vida, citando ainda o art. 175, parágrafo único, inciso IV da constituição Federal . Destaca o art. 4º, inciso VI do CDC, o qual consagra a ação governamental de coibição e repressão eficiente de todos os abusos no mercado de consumo, pois cada dia torna -se mais comum relações contra o fornecedor pelos serviços prestados, sendo muitas vezes o consumidor surpreendido com o débito indevido em sua contas, recebendo a orientação de pagar para depois discutir, sobre pena de corte do fornecimento. Ao final, requer a concessão da medida liminar, suspendendo o ato abusivo e ilegal de corte de fornecimento de água , com notificação da autoridade como coatora para prestar as devidas informações. Concluso, foi concedida a liminar. A autoridade coatora, COSANPA, ao prestar suas informações alega que: No mandado da citação da liminar, ocorreram fatos processuais capazes de tumultuar o regular andamento do feito, pois contava no mesmo, ordem não proferida no despacho de fls.23, sendo entre tanto obedecido. A natureza Jurídica da remuneração exigida pelo fornecimento da água aos usuários de tal serviço, não e taxa específica do gênero tributo, mas sim pagamento de um serviço .é preço de serviço que só aparece com a sua util ização, com tipificação diferente de taxa. O STF tem admitido que a remuneração de serviços prestados por departamentos. Companhia ou empresa de saneamento, constitui preço público I e também consagrou legitimidade da interrupção do fornecimento de água por falta de pagamento da tarifa 2. O serviço publico é prestado mediante a remuneração de tarifas, sendo essa remuneração que sustenta a comunidade do serviço. Sem a cobrança de tarifas, o sistema de fornecimento de água não existe. Determinar a "religação" do fornecimento de água ao consumidor inadimplente, impede à autoridade impetrada um óbice mortal à prestação dos serviços. O serviço publico não é gratuito e se assim fosse, assistiria razão a impetrante, contudo tal gratuidade não pode ser presumida em função de essencialidade do serviço prestado, ao contrário, deve ser definitivamente afastada para manutenção e continuidade do serviço.

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Estando caracterizada a mora do usuário, o corte do fornecimento de água não pode estar eivado de qualquer ilegalidade, pois o Regulamento das Instalações Prediais de águas e Esgotos Sanitários da cidade de Belém, homologado pelo decreto nº 60656,de 09.05.1969, assim autorizada. O contrato de prestação de serviços de fornecimento de água e esgoto, na verdade tem natureza de contrato de adesão, onde o usuário de serviço adere as clausulas contratuais automaticamente, com a simples autorização do serviço . A relação Jurídica entre a contratante e o contratado, pressupõe um contrato liberal, de cunho oneroso, prevalecendo o previsto no art. 1.092 do código civil . Que, com o advento do código do consumidor, o art. 22 prescreveu um fator do consumidor obrigatoriedade dos órgãos público, por si ou empresas concessionárias ou permissionárias de fornecer serviços adequados, seguros e, quantos aos essenciais continuos, o que desconsidera espancado este equivoco do código do consumidor. Invoca o art. 3º, parágrafo 2º da lei nº 8.078/90 do mesmo código, porque tais serviços de remuneração pelo pagamento de taxas ou tarifas, portanto, não tem remuneração específica e por isso não pode ser prestigiado o consumidor inadimplente que os serviços essenciais sejam suspensos por motivos injustif icados. Assim, os órgãos públicos ou entidades paraestatais estão obrigados a fornecer os serviços essenciais como água e energia elétrica, desde que sejam pagos, dependendo disto a sua continuidade. Considera que estando em casos interesses individuais de determinado usuário, a oferta de serviço pode sofrer solução de continuidade, caso não estejam observadas as normas administrativas, porque a norma visa interesse da coletividade e não do indivíduo consumidor. Ao final, requer a denegação do mandado e a condenação da impetrante nas custas e normas de advogado. Junto aos autos documentos de fls. 57/58. Às fls. 59, o Recurso de Agravo interposto pela impetrada, nos termos dos art. 529 do CPC, sem tudo juntar a cópia do agravo Com vista ao Ministério Publico, entende que sendo o serviço de água específico, divisível, facultativo e de execução indireta, o seu fornecimento pode ser interrompido mormente pela inadimplência, devendo o usuário ser comunicado dessa interrupção com o prazo mínimo de 15 dias de antecedência. Ao final, por entender que o serviço de água domiciliar não goza do caráter de essencialidade obrigatória, indivisibilidade e nem de obrigatoriedade de um poder publico o prestar de maneira direta, opina pelo indeferimento do mandado de segurança, uma vez que não houve violação a direito liquido e certo a reclamar pela interrupção desse serviço em domicilio comum, por inadimplência do usuário. Ë o relatório. Ao Mérito. Na verdade, o serviço de água é, indubitavelmente relação de consumo , considerada fornecedora a COSANPA, na forma do art. 2º, parágrafo único e 3º do CDC, sendo os seus usuários os comunicadores.

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" O serviço de fornecimento de água é PÚBLICO E ESSENCIAL, subordinado ao pr incípio da continuidade (o gr ifo é nosso), na forma do ar t. 22 do código do consumidor , da mesma forma que o serviço de telefonia e energia elétr ica" . Enuncia o art. 22 e seu parágrafo único do CDC que: "Os órgãos públicos, por ou suas empresas, concessionárias, permissionária ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, continuos". Examinado os autos, constato que a liminar concedida, embasada nos arts. 5º, inciso XXX II e 170, inciso V da Constituição Federal, c/c o art.. 7º, inciso II da Lei nº1.533/51, inquinou-se necessária, haja visto que : É a própria jurisprudência pátria que vem determinando em seus julgados como consta na EMENTA :

MANDADO DE SEGURANÇA. CORTE NO FORNECIMENTO DE ÁGUA, EM VIRTUDE DE ATRASO NO PAGAMENTO DE CONTAS. QUESTÕES PRÉVIAS REJEITADAS. ABASTECIMENTO DE ÁGUA É SERVIÇO PÚBLICO, POR SER UMA UTILIDADE FRÍVEL PELOS ADMINISTRADOS E POR ESTAR JUNGINDO A UM REGIME JURIDICO DE DIREITO PÚBLICO. ESSENCIALIDADE DO BEM (ÁGUA) QUE DESAUTORIZA O CORTE, MANU MILITAREI , COM FEITO DE OBRIGAR O DEVEDOR A PAGAR. CREDITO QUE HÁ DE SER BUSCADO EM OUTRAS VIAS. ORDEM CONCEDIDA.

1. Mandado de Segurança ajuizado com o azo de assegurar ao independente a ligação do fornecimento de água de seu imóvel, cortado em virtude de atraso no pagamento.

2. Matéria prévia de inadequação da via eleita e de interesse de agir afastadas, posto que cabível o writ, desde que aja direito liquido e certo a ser tutelado, e que há necessidade da tutela jurisdicional e util idade da via eleita

3. Ausência do direito liquido e certo e inexistência de impossibilidade de discussão de matéria fática no writ que se confundem com o mérito, onde devem ser analisados.

4. Questões previas rejeitadas.

5. O serviço de abastecimento de água e saneamento é serviço público (por ser uma util idade por todos frivél-substrato material de sua noção- e por estar junjindo a um regime jurídico próprio, de direito público, erigido pela Constituição Federal e pelas leis nº 8.987/95- traço formal de sua noção).

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6. O fornecimento de água é hoje em dia, para quem já teve acesso ao mesmo, uma assencialidade. Com relevo, denominado "liquido precioso" serve para a higiene do ser humano, para sua alimentação, para saciar sua sede, enfim, para tudo o mais que sabemos e ressabemos da maior importância.

7. Ante essa conjuntura, é desarrazoada a ruptura no fornecimento para compelir o consumidor a arcar com as tarifas em atraso, valores estes que haverão de ser buscados em outras vias idôneas. Inteligência, ademais do art. 22, da Lei nº 8.078/90 (Código do consumidor).

8. Procedência do writ.

Notif icada a autoridade coatora, pede vista dos autos, enquanto que o cartório, desavisadamente faz a remessa dos autos ao Ministério Público, o qual na sua manifestação, inicialmente pede a revelia da parte suplicada por entender que a mesma não se manifestou nos autos em tempo hábil, e em sua exposição opina pelo indeferimento de writ, por entender que o serviços de água domiciliar não tem o caráter de essencialidade obrigatória, acompanhando corretamente doutrinária e referindo-se em especial, neste aspecto, nos estudos esposados por HELLY MEIRELES e JOSÉCRETELLA JÚNIOR. Obsta-se entretanto a este entendimento, a norma do consumidor no art.4º, inciso I da CDC. O fato de que a impetrante se encontrava em débito para com a recorrida, não lhe autorizava submete-la a qualquer constrangimento ou ameaça, coação ou qualquer outro procedimento que exponha ao ridículo ou interfira com o seu trabalho, descanso ou lazer. A ÁGUA É REALMENTE NECESSÁRIA PARA A SOBREVIVÊNCIA DO SER HUMANO. É um direito natural a vida. A água é vida, portanto, o CDC se impõe nos seus art. 42 e 71, proibindo que a cobrança do fornecedor de água, possa interromper o serviço o serviço publico essencial do usuário consumidor. É portanto, o fornecimento de água serviço essencial, o que concede a qualquer ofendido pleitear a medida judicial a defesa do seu direito básico, para que seja observado o fornecimento de produtos e serviços (relação de consumo) a teor de art. 6º, incisos VI e X, c/c o art. 22 do CDC. Tal principio proíbe o retrocesso, porque o seu art. 5º, inciso XXXII, 170 e art. 48 e suas disposições transitórias, vem protegidos pelo art.1º do CDC, o que atende à política a política nacional de relação de consumo, cujo o objetivo é o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito a dignidade, saúde4 e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria de sua qualidade de vida, bem como a transferência e harmonia de relações de consumo (art.4ºcaput, do CDC). Assim é que o jurista Marcos Maselle Gouveia afirma: "A defesa do consumidor é uma garantia fundamental prevista no art. 5º, inciso XXX II, bem como um princípio de relação econômica, previsto no art. 170, item V da CF" O direito do consumidor possui garantia fundamental na constituição e, a interrupção no fornecimento, alem de causar uma lesão, afeta diretamente a sua dignidade e flagrante retrocesso ao direito do consumidor .

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Assim é que a prática abusiva do corte já vem sendo conhecida em casos de fornecimento de água, pois a água é de necessidade da população, de consumo imprescindível e não pode ser cortada sob nenhum propósito. Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça assim se pronunciou:

" Seu fornecimento é serviço público subordinado ao pr incípio da continuidade, sendo impossível a sua inter rupção e muito menos por atraso em seu pagamento " (Decisão unânime do stj , que rejeitou o recurso da Companhia Catar inense de Água e Saneamento- CASAN. Proc. RESP. 201112).

Esta decisão do STJ fundamentou-se em que:

" O fornecimento de água, por se tratar de serviço público fundamental, essencial e vital ao ser humano, não pode ser suspenso pelo atraso no pagamento das respectivas tar ifas, já que o poder público dispõe dos meios cabíveis para a cobrança dos débitos dos usuár ios" .

Para o Ministro Garcia Vieira, a água deve ser servida a população de maneira adequada, eficiente, segura e continua e, em caso de atraso por par te do usuár io, não pode ser cor tado o seu fornecimento porque expõe o consumidor ao r idículo e ao constrangimento " não podendo fazer j ustiça pr ivada porque não estamos mais vivendo nessa época e sim no impér io da lei, sendo os litígios compostos pelo Poder Judiciár io e não pelo par ticular . A água é bem essencial a saúde e higiene da população" . Neste sentido é o inteiro entendimento deste Juízo por se tratar da defesa de um direito básico da consumidora, não podendo a pessoa Jurídica criar descontinuidade , pois os serviços essenciais se tornam indispensáveis para a conservação, preservação da vida, saúde, higiene, educação e trabalho das pessoas, o que, ainda para o Ministro Garcia Vieira, "na época moderna exemplif icadamente se tornam essenciais, nas condições de já estarem sendo prestados, o transporte, água, esgoto, fornecimento de eletricidade com estabilidade, linha telefônica, limpeza urbana, etc". Para o jurista Mário de Aguiar, "uma inovação trazida pela atual constituição é a extensão do mesmo critério às concessionárias ou permissionárias dos serviços públicos. Comentando o art.22 do CDC, o jurista Antônio Herman de Vasconcelos e Benjamim, assim se expressa: "A Segunda inovação importante é a determinação que os serviços essenciais- e só eles- devem ser contínuos, isto é ,não podem ser interrompidos. Cria-se para o consumidor um direito à continuidade do serviço, podendo o consumidor postular em juízo que se condene a administração a fornecê-lo". Tal situação está reconhecida por nossas Câmaras Civis, como por exemplo do tribunal Catarinense, cujo reexame de sentença de ação de mandado de segurança confirmou a sentença a qual, fundamentado-se em que: "Se houver débito a cobrança devera ser feita pela via própria. O que não pode é o usuário ser coagido a pagar o que julga razoavelmente não deve sob teor de ver interrompido o fornecimento de água, bem indispensável para a vida humana".

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Entendendo este Juízo que o art. 5º, inciso XXXXV da Constituição Federal que: "A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário, lesão ou ameaça a direita e, a ré está resguardada pelo Principio da Isonomia para ingressar em juízo e cobrar o que lhe é devido. Isto Posto, JULGO PROCEDENTE O MANDADO DE SEGURANÇA impetrado por MARIA DA GLÓRIA RABELO COSTA contra ato do DIRETOR PRESIDENTE DA COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARÁ- COSANPA, declarando a ilegalidade do ato ruptura do fornecimento de água no imóvel da impetrante, fundamentando esta decisão nos termos do art. 6º, inciso VI e X e art. 22, ambos do código de defesa do consumidor, c/c o art. 170 e art.5º, inciso XXXXV da lei básica prática. E para que surta seus efeitos legais, P.R.I.C. Belém, junho de 2001 Ruth do Couto Gur j ão Juíza da 22º Vara Cível de Belém