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MANEJO DA RESISTÊNCIA DE INSETOS EM LAVOURAS DE MILHO BT As plantas transgênicas com ativida- de inseticida representam uma alter- nativa dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP) que visa minimizar os danos causados por insetos nas lavouras. O milho transgênico com ação inseticida, popularmente co- nhecido como milho Bt, obteve esta característica por meio da introdução de genes da bactéria Baci//us thurin- giensis (Bt). A isso chamamos de evento de transformação genética ou apenas "evento". O cultivo de áreas contínuas de milho com um mesmo evento resulta em grande pressão de seleção. Isto compromete sua eficácia no controle da praga-alvo, ocorrendo a "quebra da resistência". Para evitar esse problema, os produtores devem adotar uma área de refúgio, ou seja, uma área cultivada com plantas não Bt. O refúgio tem como função pro- duzir insetos suscetíveis às proteínas inseticidas que irão se acasalar com os insetos resistentes provenientes das áreas Bt, gerando novos indiví- duos suscetíveis, preservando assim os benefícios da tecnologia Bt. Até a safra 2016/2017, foram aprova- dos na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), vinte e cinco eventos transgênicos com re- sistência a insetos, combinando cinco proteínas inseticidas com resistência a lepidópteros e cinco com resistência a coleópteros, especificamente para lar- va-alfinete Diabrotica spp., das quais apenas uma está em uso comercial.

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MANEJO DARESISTÊNCIA DEINSETOS EMLAVOURAS DEMILHO BTAs plantas transgênicas com ativida-de inseticida representam uma alter-nativa dentro do Manejo Integradode Pragas (MIP) que visa minimizaros danos causados por insetos naslavouras. O milho transgênico comação inseticida, popularmente co-nhecido como milho Bt, obteve estacaracterística por meio da introduçãode genes da bactéria Baci//us thurin-giensis (Bt). A isso chamamos deevento de transformação genética ouapenas "evento". O cultivo de áreascontínuas de milho com um mesmoevento resulta em grande pressão deseleção. Isto compromete sua eficáciano controle da praga-alvo, ocorrendoa "quebra da resistência". Para evitaresse problema, os produtores devemadotar uma área de refúgio, ou seja,uma área cultivada com plantas nãoBt. O refúgio tem como função pro-duzir insetos suscetíveis às proteínasinseticidas que irão se acasalar comos insetos resistentes provenientesdas áreas Bt, gerando novos indiví-duos suscetíveis, preservando assimos benefícios da tecnologia Bt.

Até a safra 2016/2017, foram aprova-dos na Comissão Técnica Nacionalde Biossegurança (CTNBio), vinte ecinco eventos transgênicos com re-sistência a insetos, combinando cincoproteínas inseticidas com resistência alepidópteros e cinco com resistência acoleópteros, especificamente para lar-va-alfinete Diabrotica spp., das quaisapenas uma está em uso comercial.

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A forma de se evitar o aumento aceleradodesta população de pragas resistentés épermitir que insetos suscetíveis também semultipliquem e acasalem com indivíduosresistentes. Estes insetos suscetíveis sópoderão se multiplicar em uma área sem aproteína Bt (refúgio). Por isso, deve-seplantar uma área de milho sem a presençada proteína Bt.

Qual o tamanho da área de refúgio?Existe uma recomendação do Grupo Técni-co-Científico sobre Manejo de Resistênciade Insetos-Praga a Proteínas Bt (GTMR),ligado ao Ministério da Agricultura, Pecuá-ria e Abastecimento (MAPA), que trata dasquestões de resistência de insetos em la-vouras Bt. A recomendação deste grupo éque pelo menos 10% do total da área sejaplantado com milho não Bt.

Como deve ser o plantioda área de refúgio?Preferencialmente na mesma época, comhíbridos de ciclo semelhantes, utilizando-seo mesmo sistema de produção. Todos osagricultores que utilizam tecnologia Btprecisam adotar o refúgio.

Como fazer o plantioda área de refúgio?É fundamental que o milho não Bt sejaplantado no máximo, a 800 metros dedistância do milho Bt. Esta distância foibaseada na dispersão das espécies adultasda lagarta-do-cartucho no campo. Portan-to, as recomendações visam maximizar apossibilidade de encontro (e acasalamen-to) dos possíveis adultos sobreviventes naárea de milho Bt com os insetos suscetíveisemergidos na área de refúgio. O refúgioestruturado deve ser desenhado de acordocom a área cultivada com o milho Bt e coma logística e topografia de cada propriedade.Para talhões com dimensões acima de800m cultivadas com milho Bt, serão ne-cessárias faixas de refúgio internas nos res-pectivos talhões (Figura 7).

o que pode acontecer se a área derefúgio estiver a 'mais de 800 metrosde distância do milho não Bt?Nesse caso, há uma grande probabilidadedos insetos resistentes das lavouras Bt nãoencontrarem os suscetíveis para acasala-mento. Consequentemente, a área de refú-gio não estará sendo efetiva, o que com-prometerá os benefícios da tecnologia.

É permitido controlar pragasna área de refúgio?Sim. Porém é importante lembrar que oobjetivo do refúgio é gerar insetos suscetí-veis. Portanto, deve-se fazer um uso racio-nal de inseticidas (ou outras alternativas decontrole) nas áreas de refúgio. Assim, todavez que o monitoramento indicar 20% deplantas atacadas com folhas raspadas oupequenas lesões circulares nas folhas(Figura 2), é o momento de usar outra es-tratégia, que pode ser a aplicação de bioin-seticidas à base de baculovírus, ou mesmoinseticidas químicos, de acordo com re-comendação para cultura. Desse modo, érecomendado o uso do MIP, que envolvemonitoramento para tomada de decisão,também na área de refúgio.

Pode-se plantar na área derefúgio outro milho Bt que jáapresente baixa eficiência?Não. O refúgio deve ser plantado com mi-lho não Bt (convencional ou somente comtolerância a herbicida).

Qual o risco para o produtor quenão adotar a estratégia da áreade refúgio?O produtor que não utilizar a prática domanejo da resistência pode ser a primeiravítima da quebra desta resistência, não ob-tendo controle das pragas-alvo com os hí-bridos de milho Bt. É importante lembrarque os impactos da resistência de insetosàs tecnologias Bt podem ser regionais, afe-tando diversas propriedades, por isso a im-

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portância de todos os agricultores planta-rem refúgio. A seleção de insetosresistentes às toxinas do Bt pode ser rápi-da em alguns casos. Portanto, a utilizaçãoda área de refúgio é essencial para garantira manutenção da funcionalidade e da du-rabilidade das diversas tecnologias Bt.

Manejo Integrado de Pragas(MIP): estratégia-chaveHá de se considerar que o Brasil é um dospaíses que apresentou aumento mais rápi-do na área plantada com milho genetica-mente modificado. O uso do milho Bt é umadas estratégias mais úteis para o manejo econtrole de lepidópteros-praga e larvas deDiabrotica. Cada evento Bt é eficiente nocontrole de alguns insetos, mas não de to-dos. As demais pragas que podem ocorrerde forma sazonal ou em menor intensidadepodem não ser alvo da proteína Bt, por issodevem também ser monitoradas e maneja-das. O monitoramento da lavoura é ativida-de fundamental que não deve ser negligen-ciada, tanto para as pragas-alvo do eventoBt quanto para as consideradas pragas se-cundárias. O MIP é estratégia-chave paragarantir a proteção da lavoura de maneiraeconômica e sustentável.

Figura 1 - Estruturas da área derefúgio em lavouras de milho Bt

LEGENDA:

a. As plantas de milho não Bt da área derefúgio devem estar no máximo a 800 mde distância das plantas de milho Bt;

-----800m ------o

b. Para obedecer a essa regra, o plantiopode ser feito no perímetro da lavoura ouem faixas, dentro da área de cultivo;~.,..I~ ".. ".~,( , ., ...•l4(.,' -:-~~ ~

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c, Em área de pivô central, o refúgio podeser feito em faixas ou em parte da área.

Figura 2 - Imagens de folhasraspadas ou com lesõescirculares após ataque dalagarta-do-cartucho no milho

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o que é Manejo de Resistênciade Insetos (MRI)?É um conjunto de medidas adotadas pararetardar a evolução da resistência de inse-tos às proteínas Bt. A resistência existeporque na natureza há alguns indivíduosraros que sobrevivem a exposição deagentes de controle como o Bt ou insetici-das. Dentre as estratégias de MRI se desta-ca o plantio das áreas de refúgio e o uso deeventos piramidados, ou seja, que expres-sam mais de uma proteína efetiva para ogrupo-alvo. Além disso, é importante o usode alternativas de controle (como insetici-das químicos e controle biológico), quandoa infestação da praga atingir nível de dano.

o que é área de refúgio naslavouras de milho Bt?o refúgio é uma área de milho plantadacom híbridos não Bt (convencional ou so-mente com tolerância a herbicida), em la-vouras de milho resistentes a insetos (Bt).Essa área permite a sobrevivência de inse-tos suscetíveis às proteínas inseticidas queirão acasalar com as possíveis pragas resis-tentes provenientes da cultura Bt, gerandonovos indivíduos suscetíveis à tecnologia.O objetivo de manter uma população depragas vulneráveis ao efeito inseticida davariedade transgênica é preservar os be-nefícios da tecnologia.

Por que plantar área de refúgio?o objetivo do plantio de uma área de refú-gio é retardar a evolução da resistência. Seapenas híbridos Bt forem plantados na la-voura, haverá uma grande pressão de sele-ção, permitindo a sobrevivência apenas deinsetos resistentes. Nas gerações seguin-tes, estes insetos resistentes irão cruzar en-tre si e haverá um aumento na populaçãode pragas que não são controladas pormeio da tecnologia Bt. Já quando há orefúgio e permite-se a sobrevivência de in-setos suscetíveis, a progênie do cruzamen-to desses suscetíveis com os resistentesserá suscetível à tecnologia Bt.

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Emlorapa MilHo e SorgoRodovia MG 424, km 45Sete Lagoas, MGCaixa Postal: 285CEP: 35701-970one: 31 3027 1275

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