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Pelotas, RS Dezembro, 2011 119 ISSN 1516-8832 Manejo de Azevém Anual e Rendimento de Bovinos de Corte em Integração Lavoura- Pecuária nas Terras Baixas do Bioma Pampa Lá onde as cabeças loiras margeiam a estrada... Mendes Ribeiro. Introdução A rotação de culturas agrícolas para produção de grãos com espécies forrageiras acelera a construção de sistemas sustentáveis para produção animal e vegetal, e possibilita melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, pelo não revolvimento e pela diversidade de resídu- os para renovar a matéria orgânica. Entretanto, o sucesso de um sistema de integração lavoura-pecuária depende de diversos fatores os quais, por sua vez, são dinâmicos e interagem entre si. Moraes et al. (2002) citam alguns conceitos básicos priorizados na adoção do sistema de integração lavoura-pecuária: o plantio direto, a rotação de cultivos, o manejo correto das pastagens e a produção animal intensiva em pastejo, preconizando a manutenção de estruturas de pasto que otimizem a colheita de forragem pelo animal em pastejo e o mantenham sob lota- ções que não venham a comprometer o sistema. Um dos pontos-chave da sustentabilidade do sistema de integração lavoura-pecuária diz respeito à intensidade de pastejo empregada, ou seja, a estrutura do pasto varia consideravelmente em relação ao manejo Foto: Jamir Luís Silva da Silva Autores Jamir Luís Silva da Silva Eng. Agrôn., Dr., Pesqui sador da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS [email protected] Giovani Theisen Eng. Agrô n., M.Sc., Pesqu isador da Embrapa Clima Temperado Pelotas, RS [email protected] Maria Cecília Florisbal Damé Méd. Vet., M.Sc., Pesquisadora da Embrapa Clima Temperado Pelotas, RS [email protected] Jorge Schafhauser Junior Zootecnista, Dr. Pesquisador da Embrapa Clima Temperado Pelotas, RS [email protected]

Manejo de Azevém Anual e Rendimento de Bovinos de Corte em ...€¦ · palhada à cultura da sequência. Para o ajuste da carga animal no início do pastejo, dividiu-se a massa seca

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Pelotas, RSDezembro, 2011

119

ISSN 1516-8832

Manejo de Azevém Anual e Rendimento deBovinos de Corte em Integração Lavoura-Pecuária nas Terras Baixas do Bioma Pampa

Lá onde as cabeças loiras margeiam a estrada... Mendes Ribeiro.

Introdução

A rotação de culturas agrícolas para produção de grãos com espéciesforrageiras acelera a construção de sistemas sustentáveis para produçãoanimal e vegetal, e possibilita melhorar as propriedades físicas, químicase biológicas do solo, pelo não revolvimento e pela diversidade de resídu-os para renovar a matéria orgânica. Entretanto, o sucesso de um sistemade integração lavoura-pecuária depende de diversos fatores os quais,por sua vez, são dinâmicos e interagem entre si. Moraes et al. (2002)citam alguns conceitos básicos priorizados na adoção do sistema deintegração lavoura-pecuária: o plantio direto, a rotação de cultivos, omanejo correto das pastagens e a produção animal intensiva em pastejo,preconizando a manutenção de estruturas de pasto que otimizem acolheita de forragem pelo animal em pastejo e o mantenham sob lota-ções que não venham a comprometer o sistema.

Um dos pontos-chave da sustentabilidade do sistema de integraçãolavoura-pecuária diz respeito à intensidade de pastejo empregada, ouseja, a estrutura do pasto varia consideravelmente em relação ao manejo

Foto: Jamir Luís Silva da Silva

Autores

Jamir Luís Silva da SilvaEng. Agrôn., Dr., Pesqui sador da

Embrapa Clima Temperado,Pelotas, RS

[email protected]

Giovani TheisenEng. Agrôn., M.Sc., Pesqu isador da

Embrapa Clima TemperadoPelotas, RS

[email protected]

Maria Cecília Florisbal DaméMéd. Vet., M.Sc., Pesquisadora da

Embrapa Clima TemperadoPelotas, RS

[email protected]

Jorge Schafhauser JuniorZootecnista, Dr. Pesquisador da

Embrapa Clima TemperadoPelotas, RS

[email protected]

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2 Manejo de Azevém Anual e Rendimento de Bovinos de Corte em Integração Lavoura-Pecuária nas Terras Baixas do Bioma Pampa

imposto, com consequências na produçãoanimal durante o ciclo da pastagem, bemcomo nas condições de solo e na palhada paraa produção de grãos. Segundo Carvalho et al.(2006) e Carvalho et al. (2010), pastagens deinverno manejadas com lotações moderadas(20 cm a 30 cm de altura do pasto) podempermitir maiores ganhos individuais devido aoaumento da forragem disponível para cadaanimal e à melhor qualidade da forragemconsumida. Nessas condições, o animal pos-sui à sua disposição uma estrutura de pastoem que otimiza o processo de pastejo, o queconduz a uma melhor oportunidade de seleçãode sua dieta.

Outro aspecto importante diz respeito ao efei-to da intensidade de pastejo no período deinverno sobre a produtividade da cultura se-guinte, onde os principais determinantes sãoo nível de palhada que permanece sobre osolo após a retirada dos animais, e as altera-ções nas propriedades físicas do solo devidoao efeito do pisoteio. O desafio, portanto, emsistemas integrados, é encontrar um nível in-termediário de biomassa que beneficie tanto acultura de verão instalada no sistema plantiodireto, quanto a produção animal no ciclo dapastagem, de forma a garantir alta produtivi-dade e sustentabilidade ao sistema (MORAESet al., 2002). Esse nível de biomassa pode serdefinido pelo ajuste de oferta de forragem aosanimais em pastejo (SILVA, 2009). A disponi-bilidade de forragem no sistema está direta-mente associada ao crescimento da biomassano pasto, esse determinado pela quantidadede carbono fixada a cada dia, dependente daenergia interceptada, que por sua vez dependeda radiação solar incidente e da área foliarexistente (MARASCHIN, 2001).

A quantidade de forragem disponível condici-onada pela intensidade de pastejo pode propi-ciar diferentes ambientes para a implantaçãoda cultura de verão. Essa condição pode influ-enciar a produtividade da cultura, em razão dealterações dos atributos físicos e químicos dosolo promovidos pelo pastejo anterior (CAR-VALHO et al., 2010).

A utilização das terras baixas com pastagens

cultivadas de estação fria apresenta enormepotencial para aumentar a produçãoagropastoril no Rio Grande do Sul, conside-rando-se que existem cerca de cinco milhõesde ha potencialmente aptos a esse fim. Anual-mente, em torno de um milhão de ha são usa-dos pela lavoura orizícola. Visando a pecuáriano período de inverno, o azevém anual é agramínea forrageira de maior importância nascondições edafoclimáticas do Sul do Brasil, eatualmente é responsável por grande parte daalimentação da pecuária de corte e de leite(REIS e RAUPP, 2006; SILVA, 2009).

Na atualidade, existe uma tendência de redu-zir os anos de pousio, assim intensificando aexploração do solo, principalmente nas terrasarrendadas, manejo que provoca importantesalterações negativas tanto na estrutura físicaquanto nas propriedades químicas nos solosde várzeas (SAIBRO; SILVA, 1999). As primei-ras recomendações para o sistema arroz-pas-tagem eram cultivar arroz por um ou doisanos, seguindo-se de três, quatro ou maisanos de pastagens de inverno e pousio noverão. O limite de tempo mínimo de rotaçãocom pastagens deve ser de três anos, paraocorrer maior resposta econômica do sistemacom as pastagens. Por outro lado, há produ-tores rurais utilizando essas áreas com culti-vos de soja, de milho e sorgo durante o perío-do de pousio do arroz, culturas bem apropria-das para integração com pastagens de inver-no.

Na integração lavoura-pecuária sobre os solosde terras baixas é imprescindível, para bomestabelecimento das espécies forrageiras deinverno e/ou para retorno rápido das espéciesnativas, que ocorra boa drenagem, correçãoda acidez e recuperação da fertilidade natural.Outro aspecto importante é o destorroamentodo terreno, visando auxiliar na drenagem efacilitar o trânsito de máquinas e equipamen-tos.

Este trabalho, conduzido em terras baixas,objetivou quantificar a produção animal e areceita obtida com a mesma, em pastagem deazevém anual submetida ao pastejo contínuocom carga animal variável e ajustada para

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oferta de forragem de 15% do peso vivo emintegração lavoura-pecuária.

Manejo da adubação e histórico da área, avali-ação da massa de forragem e ajuste de cargaanimal na pastagem

O estudo foi realizado na Estação Experimen-tal Terras Baixas, da Embrapa Clima Tempera-do, em Capão do Leão, RS, durante períodode inverno-primavera de 2010, em área de 5,7ha. O solo da área experimental, umPlanossolo Háplico Eutrófico Solódico, unida-de de mapeamento Pelotas (SANTOS et al.,2006), foi adubado com 170 kg/ha da fórmula05-25-25 de NPK no dia 28 de maio. Houveduas aplicações de uréia de 100 kg/ha cada, aprimeira na mesma data, quando o azevémestava com três a quatro folhas expandidas ea segunda no dia 17 de agosto.

A área foi conduzida com arroz irrigado até asafra 2005/06, a qual, após a colheita do ar-roz, foi drenada com a construção decamalhões de base larga (7 a 8 metros delargura) visando o estabelecimento de pasta-gens e culturas de sequeiro. No inverno de2006 ficou em pousio, seguindo com sojasemeada em dezembro de 2006. No inverno2007, semeou-se aveia+azevém+ervilhaca,seguidos de milho no final da primavera. Em2008, a sequência foiaveia+azevém+ervilhaca (provindos daressemeadura natural), com predominância deazevém, seguidos de soja. No período de in-verno-primavera de 2009 houve pastejo contí-nuo com novilhos da raça Charolesa durante35 dias, o qual gerou rendimento animal de225 kg/ha de peso vivo e permitiuressemeadura natural do azevém. O últimocultivo de soja (safra 09/10) ocorreu entre oinício de dezembro de 2009 e abril de 2010,proporcionou o rendimento de 45,8 sc/há, eazevém anual se restabeleceu viaressemeadura natural antes da colheita dasoja (Figura 1).A pastagem de azevém anual(Lolium multiflorum), de ressemeadura natu-ral, teve o pastejo contínuo com carga animalvariável conforme a técnica “put and take”(MOTT; LUCAS, 1952), ajustada para manter15% de oferta de forragem em relação ao

peso vivo (15 kg de matéria seca para cada100 kg de peso vivo) iniciado em 12 de julho efinalizado em 27 de outubro. O pastejo foiiniciado quando a pastagem apresentava mas-sa de forragem em torno de 2000 kg/ha deMS. A massa seca de forragem foi avaliadaantes do início do pastejo, em período inter-mediário e ao final do pastejo, utilizando-se atécnica da dupla amostragem (estimativa vi-sual da massa seca, além do corte e da seca-gem de amostras emparelhadas), lançando-semão de análise de regressão para o ajuste damassa de forragem média (GARDNER, 1986).As amostragens com cortes foram realizadasao nível do mantilho com o auxílio de um arocom diâmetro de 33,5cm (Figura 2). Do pontode vista prático, a massa seca de forragempode ser estimada da mesma maneira descritaanteriormente, multiplicando-se a massa ver-de determinada a campo pela percentagem dematéria seca. Após o levantamento da massaseca de forragem, os animais foram pesados ecolocados em pastejo, ajustando-se a lotaçãode acordo com o peso vivo individual e a cargaanimal determinada.

Figura 1. Detalhe da ressemeadura do azevém anual no momen-

to da colheita da cultura da soja em sistema de integração

lavoura-pecuária. Estação Experimental Terras Baixas, Embrapa

Clima Temperado, Capão do Leão, RS, 04 de maio de 2010.

Para o cálculo da carga animal a ser utilizada,ajustada à oferta de forragem desejada,utilizou-se a seguinte equação:

CA =FD disponível (kg . ha-1.dia-1 de MS)_________________________________ ________ _____

OF (kg MS oferecido por 100 kg PV )

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Onde:

CA = carga animal em peso vivo por área(kg/ha PV);

FD = forragem disponível em massa secapor área por dia (kg/ha/dia de MS); e,

OF = oferta de forragem em massa seca poranimal por dia (kg de MS oferecida por 100kg PV/dia).

A forragem disponível constava da massaseca de forragem residual estimada instanta-neamente por dupla amostragem, divididapelo número de dias entre as avaliações eacrescida da taxa de acúmulo (TA) diário demassa seca para aquele período, conformefórmula a seguir:

FD = MF/dias entre reajustes + TA

No caso desse estudo desconsiderou-se ataxa de acúmulo de massa seca no cálculo dacarga animal, o que gera maior oferta deforragem real aos animais e permite maiorresíduo de massa de forragem gerando maispalhada à cultura da sequência.

Para o ajuste da carga animal no início dopastejo, dividiu-se a massa seca de forragemde 2.470 kg/ha (Tabela 1) por 30 dias, o queresultou em 82,3 kg/ha/dia de forragemdisponível. Esse valor da forragem disponívelfoi então dividido pela oferta de forragem de15% do PV (82,3/0,15), o que resulta emuma carga animal de 549 kg de peso vivo porhectare (não se considerando a taxa deacúmulo). Esse valor multiplicado pela áreadisponível (5,7 há, no caso) indica a cargaanimal total, prevista em 3.129 kg de pesovivo, a qual dividida pelo peso médio dosanimais (246,8 kg) demandou 12,67 animaispara serem colocados no potreiro, lotaçãoque se arredondou para 12 animais, gerandoos dados apresentados na Tabela 1. Osanimais receberam tratamentos sanitários de

acordo com protocolo já utilizado pelo setorde bovinocultura de corte.

Foram utilizados animais da raça Charolesacom idade em torno de 18 meses, pesados noinício, num período intermediário e ao final doperíodo de pastejo do experimento. Os dadosobtidos serviram para os cálculos dodesempenho diário (ganho médio diário) porperíodo e total, para os cálculos da cargaanimal, da produtividade animal por unidadede área e da receita bruta.

Figura 2. Disco de amostragem, aro, régua e tesoura

utilizados para amostragem da massa de forragem do azevém

anual. Estação Experimental Terras Baixas, Embrapa Clima

Temperado, Capão do Leão, RS, 11 de agosto de 2010.

Resultados da massa de forragem,desempenho e carga animal eprodutividade da pastagem

Nesse experimento foi possível fazer algumasinferências importantes sobre a integraçãolavoura-pecuária com azevém anual comoforrageira de inverno nos planossoloshidromórficos das terras baixas do BiomaPampa. A grande capacidade deressemeadura natural do azevém anual édestacada, considerando que esse fatoresulta em benefício aos produtores rurais,uma vez que possibilita economia comsementes e disposição de pastagens maiscedo no outono seguinte (Figura 1). Outroaspecto a ser destacado é a fertilização dosolo no momento adequado, ou seja, noinício do restabelecimento da pastagem no

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O bom desempenho dos animais é explicadopelo manejo do pasto e ganho compensatórioinicial, que permitiu alta seletividade da dietae consumo de forragem de alta qualidade semlimitação do potencial de desempenho.Chama-se a atenção na Tabela 1 para odesempenho individual que variou de 122 a205 kg de ganho de peso vivo. Essa diferençapode ser explicada por diferenças genéticasou por faixas etárias, pois os animaisavaliados tinham idades diferentes, de até 4meses, em função do período reprodutivo dorebanho. É importante destacar que emsistemas intensivos de produção animal apasto, os lotes devem ter boahomogeneidade, tanto na escolha por idade,por peso ou por padrão genético. Issopotencializa a uniformidade do desempenho ea resposta positiva na qualificação dascarcaças dos animais, no frigorífico.

A produtividade animal por unidade de áreano período foi 344 kg/ha de peso vivo,considerando-se que, individualmente, osanimais ganharam 164 kg. Esses valores sãobastante significativos dentro de sistemas deintegração lavoura-pecuária no Bioma Pampa,uma vez que essas pastagens podem sermanejadas com baixo investimento.

O ajuste da carga animal, com oferta deforragem total inicial de 15% do peso vivo,permitiu que os animais atingissem excelentedesempenho e que a pastagem apresentasseuma taxa de acúmulo de forragem maior doque uma taxa de desaparecimento (consumodos animais e perdas por danos), pois amassa de forragem seca foi aumentando aolongo do período de pastejo (Tabela 1), comvalores entre 2.470 kg/ha ao início do pastejoe 3.110 kg/ha ao final. Esse aumento damassa de forragem ocorreu devido à taxa deacúmulo de matéria seca diária e aoincremento no teor de matéria seca daforragem devido ao amadurecimento dasplantas, e foi potencializado pela adequadaadubação do azevém. A oferta real deforragem, considerando-se as médias demassa seca disponível a cada 30 dias deajuste e a carga animal média presente napastagem nesses mesmos períodos foi de

outono. Nesse sentido, ressalta-se aimportância da adubação nitrogenada quandoas plantas do azevém apresentarem três aquatro folhas expandidas, momento em que aplanta otimiza o uso do nitrogênio paraaumentar a sua área foliar. O suprimentoadequado de nitrogênio no início doestabelecimento permite, em síntese, o iníciodo pastejo mais cedo. Outro pontoimportante é o período de produção doazevém no intervalo das culturas,destacando-se que logo ao final da cultura doarroz irrigado deverá haver um trabalho dedrenagem do solo, visando o bomestabelecimento da cultura forrageira, o qualpode ser realizado com a construção decamalhões, importante tecnologia para umarotação de culturas de sequeiro com aspastagens de inverno.

Na Tabela 1 estão apresentados os resultadosobtidos durante o período de pastejo. Oganho médio diário no período foi de 1,529kg/dia, resultado importante, pois animaisque conseguem esse desempenhoapresentam, normalmente, boa terminação,com bom rendimento de carcaça nofrigorífico. Essa variável deve ser consideradade maior importância em produção animal apasto, pois interfer irá positivamente naprodutividade animal obtida por unidade deárea. No Rio Grande do Sul, durante o períodode inverno, os bovinos de corte normalmenteperdem peso em pastagens nativas,considerando-se que há paralisação docrescimento e perda de qualidade daforragem. A produtividade animal, média aolongo do ano, em campo nativo fica em tornode 50 a 90 kg/ha de peso vivo. Esses dadosreforçam o uso de pastagens de invernovisando à terminação de animais para atenderà demanda de carne por parte do mercadoconsumidor. As tecnologias sustentáveis demanejo da integração lavoura-pecuáriatornam-se importantes, pois, além de utilizaráreas de culturas do verão que ficam ociosas,permitem a produção de carne de qualidadenum período crítico pelas condiçõesclimáticas no inverno.

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6 Manejo de Azevém Anual e Rendimento de Bovinos de Corte em Integração Lavoura-Pecuária nas Terras Baixas do Bioma Pampa

Tabela 1. Resultados das pesagens dos animais, carga animal total e média por hectare, desempenho dos animais nosperíodos, massa de forragem, dias de pastejo, produtividade animal por hectare e receita bruta numa pastagem de azevémanual em integração lavoura-pecuária em terras baixas do Bioma Pampa. Estação Experimental Terras baixas, EmbrapaClima Temperado, Capão do Leão, RS. 2011.

Ident ificação do animal Pesagem dos animais / data Desempenho dos animais Número do brinco 12/07/2010 19/08/2010 27/10/2010 GMD GMD GMD G/animal

(kg PV) (kg PV) (kg PV) Jul-Ago Ago-Out final final (Kg/ani/dia) (Kg/ani/dia) (Kg/ani/dia) (Kg/animal)

549 248 331 453 2,184 1,768 1,916 205 553 238 307 416 1,816 1,580 1,664 178 554 268 343 464 1,974 1,754 1,832 196 567 251 285 379 0,895 1,362 1,196 128 581 248 298 390 1,316 1,333 1,327 142 583 257 314 424 1,500 1,594 1,561 167 608 256 309 404 1,395 1,377 1,383 148 631 263 315 410 1,368 1,377 1,374 147 661 268 323 430 1,447 1,551 1,514 162 667 178 230 300 1,368 1,014 1,140 122 668 256 328 442 1,895 1,652 1,738 186 686 231 304 413 1,921 1,580 1,701 182

Carga animal – kg/ha PV 2.962 3.687 4.925 Peso vivo médio – kg/animal 246,8 307,3 410,4 1,590 1,495 1,529 164 Carga animal média - kg/ha 494 647 821 Massa de forragem – kg/ha MS 2.470 2.650 3.110 Dias de pastejo 38 69 107 Produtividade por hectare - kg de peso vivo/ha 127 217 344

Considerações finais

A busca de alta produtividade em pastagensestá embasada no melhor desempenhoindividual dos animais, com carga animal(taxa de lotação) ajustada à capacidade desuporte do pasto. Quando os animais têm àsua disposição uma quantidade de forragemquatro a cinco vezes maior do que o consu-mo, têm a possibilidade de obter bom ganhomédio diário, atingindo possivelmente ascaracterísticas desejáveis do ponto de vistacomercial.

O ajuste de carga animal com alta oferta deforragem resulta em maior massa de resíduoou palhada disponível ao cultivo de suces-são, o que pode permitir condições adequa-das de umidade no solo, melhor atividadebiológica e melhores condições de estabele-cimento das culturas implantadas nasequência.

15% até a segunda pesagem dos animais e13,1% do peso vivo entre a segunda eterceira pesagem dos animais.

Destaca-se também (Tabela 1) que a cargaanimal foi aumentando durante o período depastejo, resultado do aumento de peso vivodos animais. É importante considerar esse

fato, pois esse é um indicador de que o ajustede carga está adequado à capacidade desuporte do pasto. O máximo desempenho dosanimais é obtido, normalmente, quando aoferta de forragem for entre quatro a cinco

vezes maior do que o consumo.

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Referências

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Exemplares desta edição podem ser adquiridos na:Embrapa Clima TemperadoEndereço: BR 392, Km 78, Caixa Postal 403 Pelotas, RS - CEP 96010-971Fone: (0xx53)3275-8100Fax: (0xx53) 3275-8221E-mail: www.cpact.embrapa.br [email protected] edição1a impressão (2011) 30 cópias

Pr e s i de nte : Ariano Martins de Magalhães

Júni or

S e c r e tá r i a - Ex e c uti v a : Joseane Mary Lopes

Garcia

M e m br os : Márcia Vizzotto, Ana Paula Schneid

Afonso, Giovani Theisen, Luis Antônio Suita de

Castro, Flávio Luiz Carpena Carvalho, Christiane

Rodrigues Congro Bertoldi, Regina das Graças

Vasconcelos dos Santos, Isabel Helena Vernetti

Azambuja, Beatriz Marti Emygdio.

Supervisor editorial: Antônio Luiz Oliveira HeberlêRevisão de texto: Bárbara Chevallier CosenzaEditoração eletrônica: Juliane Nachtigall (estagiária)

Comitê depublicações

Expediente

GOVERNOFEDERAL

Circular

Técnica, 119