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THAS PROTA HUSSEIN PINCELLI
Manifestaes orais da doena inflamatria intestinal: estudo clnico-patolgico retrospectivo
Dissertao apresentada Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Cincias
rea de Concentrao: Dermatologia Orientador: Prof. Dr. Marcello Menta Simonsen Nico
So Paulo 2010
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
Preparada pela Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo
reproduo autorizada pelo autor
Pincelli, Thas Prota Hussein Manifestaes orais da doena inflamatria intestinal : estudo clnico-patolgico retrospectivo / Thas Prota Hussein Pincelli. -- So Paulo, 2010.
Dissertao(mestrado)--Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo. Programa de: Dermatologia.
Orientador: Marcello Menta Simonsen Nico.
Descritores: 1. Doena de Crohn 2.Estomatite aftosa 3.Pnfigo 4.Doena inflamatria intestinal 5.Retocolite ulcerativa 6.Pioestomatite vegetante 7.Manifestaes bucais
USP/FM/DBD-124/10
Esta tese est de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento
desta publicao:
Referncias: sistema autor-data; adaptado de International Committee of
Medical Journals Editors (Vancouver).
Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina. Servio de Biblioteca e
Documentao. Guia de apresentao de dissertaes, teses e monografias.
Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi,
Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Arago, Suely Campos Cardoso,
Valria Vilhena. 2a ed. So Paulo: Servio de Biblioteca e Documentao;
2005.
DEDICO ESTA TESE...
Aos meus pais
Mamed,
que onde estiver, com certeza estar orgulhoso e
Maria Beatriz,
exemplo de trabalho e determinao,
sem o esforo e a dedicao de vocs, eu jamais teria chegado at aqui.
Vocs so os grandes responsveis por minha formao moral e
profissional.
Ao meu irmo Guilherme,
pelo carinho e amizade.
minha irm Renata,
pelo apoio, cumplicidade e carinho,
que este trabalho sirva de estmulo para sua vida profissional.
Ao meu marido Andr,
pelo companheirismo e apoio constantes,
e pela compreenso nos momentos difceis.
minha tia Rita,
pelo amor e presena em todos os momentos.
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Doutor Marcello Menta Simonsen Nico, orientador dessa
dissertao e exemplo de mestre, agradeo pelos ensinamentos, dedicao
e pacincia no desenvolvimento deste trabalho, alm do constante incentivo
ao meu progresso acadmico.
Professora Doutora Slvia Vanessa Loureno, pela amizade, carinho
e dedicao e pela imensa ajuda na confeco desta tese.
Ao Professor Doutor Evandro Ararigbia Rivitti, por sua importncia
no meu aprendizado dermatolgico e por ter me permitido iniciar o mestrado
em Dermatologia durante o ano complementar de minha formao.
s Professoras Doutoras Valria Aoki, Celina Wakisaka Maruta, Zilda
Najjar Prado de Oliveira e Neusa Yuriko Sakai Valente, pelas valiosas
sugestes.
Dona Eli Maria, pela pacincia e fundamental ajuda nas questes
da ps-graduao.
Doutora Sheyla Batista Bologna, pela enorme contribuio na
seleo de doentes para esse trabalho.
minha querida sogra Angelina Pugliese Pincelli, pela brilhante
correo desta tese.
A todos os meus mestres do Departamento de Dermatologia do
Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So
Paulo, exemplos de sabedoria, dedicao e seriedade, agradeo pelos
valiosos ensinamentos e pela fundamental participao na minha formao
dermatolgica.
A todos os meus colegas de residncia, na pessoa da Dra. Juliana
Dumt Fernandes, que me auxiliou na confeco final desta tese.
Aos doentes, pois sem a participao deles, este trabalho no teria
acontecido.
Ao Hospital das Clnicas e Faculdade de Medicina da Universidade
de So Paulo, por me proporcionarem aprendizado constante e
enriquecimento intelectual dirio.
SUMRIO
SUMRIO
Resumo
Summary
1. INTRODUO 01
2. OBJETIVOS 06
3. REVISO DA LITERATURA 08
3.1 Retocolite ulcerativa 10
3.2 Doena de Crohn 11
3.3. Manifestaes extra-intestinais da doena
inflamatria intestinal 13
3.4. Manifestaes tegumentares da doena
inflamatria intestinal 14
3.4.1. Leses cutneas especficas 16
3.4.1.1. Fissuras, abscessos e fstulas perianais 16
3.4.1.2. Doena de Crohn por contigidade
e metasttica 17
3.4.2. Leses orais especficas 17
3.4.2.1. lceras lineares e leses polipides 18
3.4.2.2. Hiperplasia da mucosa com aspecto em
paraleleppedo 18
3.4.2.3. Queilite granulomatosa 19
3.4.3. Leses cutneas no-especficas 19
3.4.3.1. Eritema nodoso 19
3.4.3.2. Pioderma gangrenoso 21
3.4.3.3. Sndrome de Sweet 22
3.4.4. Leses orais no-especficas 23
3.4.4.1. Afta 23
3.4.4.2. Edema labial e gengival 24
3.4.4.3. Pioestomatite vegetante 25
3.5. Tratamento da doena inflamatria intestinal 27
4. CASUSTICA E MTODOS 30
5. RESULTADOS 33
6. DISCUSSO 54
6.1. Manifestaes cutneo-mucosas de doenas sistmicas 55
6.2. Anlise geral dos casos 57
6.3. Afta 59
6.4. Pioestomatite vegetante 60
6.5. Doena de Crohn oral 65
6.6. Consideraes finais 66
7. CONCLUSES 68
8. ANEXOS 70
9. REFERNCIAS 72
APNDICE
RESUMO
Resumo
Pincelli, TPH. Manifestaes orais da doena inflamatria intestinal: estudo
clnico-patolgico retrospectivo. [dissertao]. So Paulo: Faculdade de
Medicina, Universidade de So Paulo; 2010.
O termo doena inflamatria intestinal engloba duas doenas inflamatrias
crnicas, imunologicamente mediadas, envolvendo o trato gastrointestinal: a
doena de Crohn e a retocolite ulcerativa. Os sintomas intestinais so
predominantes, porm, durante o curso da doena, podem ocorrer
manifestaes extraintestinais, incluindo o envolvimento da cavidade oral. O
envolvimento oral na doena inflamatria intestinal pode se dar por
diferentes tipos de leses, sendo o tipo mais comum a afta. Leses menos
frequentes incluem, entre outras, a pioestomatite vegetante e as leses
granulomatosas da doena de Crohn. Apresentamos dez casos de doentes
com manifestaes orais de doena inflamatria intestinal, sendo que, em
alguns desses casos, essas foram essenciais para o diagnstico definitivo
da doena, alm de reviso detalhada da literatura. O envolvimento da
cavidade oral pode ser prvio ou simultneo aos sintomas gastrointestinais.
Porm, na maior parte dos casos, a doena inflamatria intestinal precede o
incio das leses orais em meses ou anos. Em muitos doentes, a
sintomatologia intestinal pode ser mnima ou mesmo ausente, o que justifica
exame minucioso do trato gastrointestinal em todos os doentes com leses
orais suspeitas, mesmo na ausncia de sintomas evidentes. Geralmente, o
curso clnico das leses orais paralelo atividade da doena inflamatria
intestinal, por isso as manifestaes orais so consideradas bons
marcadores cutneos da doena.
Descritores: 1.Doena de Crohn 2.Estomatite aftosa 3.Pnfigo 4.Doena
inflamatria intestinal 5.Retocolite ulcerativa 6.Pioestomatite vegetante
7.Manifestaes bucais
SUMMARY
Summary
Pincelli, TPH. Oral manifestations of inflammatory bowel disease:
retrospective clinical-pathologic study. [dissertation]. So Paulo: Faculdade
de Medicina, Universidade de So Paulo; 2010.
Inflammatory bowel disease comprises two chronic, tissue-destructive,
clinical entities: Crohns disease and ulcerative colitis, both immunologically
based. Bowel symptoms are predominant, but extra-intestinal complications
may occur, including involvement of the oral cavity. Oral involvement during
Inflammatory bowel disease includes several types of lesions: the most
common are aphthae; uncommon lesions include, among others,
pyostomatitis vegetans and granulomatous lesions of Crohns disease.
Starting with a presentation of ten patients with oral manifestations, which
were crucial for the final diagnosis of inflammatory bowel disease, a review
on the subject is presented. Oral involvement in inflammatory bowel disease
may be previous or simultaneous to the gastrointestinal symptoms. However,
in the majority of cases, bowel disease precedes the onset of oral lesions by
months or years. In many patients, the intestinal symptoms may be minimal
and can go undetected; thus, most authors believe that the bowel must be
thoroughly examined in all patients with suspected inflammatory bowel
disease even in the absence of specific symptoms. Usually, the clinical
course of oral lesions is parallel to the activity of inflammatory bowel disease;
therefore, oral manifestations are a good cutaneous marker of inflammatory
bowel disease.
Descriptors: 1.Crohn disease 2.Aphtous stomatitis 3.Pemphigus
4.Inflammatory bowel disease 5.Ulcerative colitis 6.Pyostomatitis vegetans
7.Oral manifestations
1. INTRODUO
2
1. INTRODUO
Sob o termo doena inflamatria intestinal estudam-se duas
doenas inflamatrias crnicas, imunologicamente mediadas, que envolvem
as diferentes pores do tubo digestivo: a doena de Crohn e a retocolite
ulcerativa.
A retocolite ulcerativa acomete primariamente a mucosa colnica,
com extenso e gravidade variveis. A inflamao tipicamente no
transmural e pode provocar quadro de proctite ou pancolite, dependendo da
extenso do envolvimento. Raramente, pode ser observada inflamao ileal,
o que torna difcil a diferenciao com a doena de Crohn (BAUMGART e
SANDBORN, 2007). Os sintomas intestinais caractersticos incluem dores
abdominais em clica e diarreia muco-sanguinolenta. O comprometimento
sistmico pode estar presente, com perda de peso e anemia.
A doena de Crohn uma doena granulomatosa que envolve
geralmente a poro terminal do leo e inicial do clon, porm, qualquer
poro do trato gastrointestinal pode estar acometida. O acometimento
transmural descontnuo de vrias pores do trato caracterstico. A
apresentao clnica depende da localizao da doena, e pode se
caracterizar por diarreia, dor abdominal, febre e obstruo intestinal. O
desenvolvimento de complicaes como fstulas, abscessos e doena
3
perianal grave frequente na doena de Crohn (BAUMGART e
SANDBORN, 2007).
Os sintomas intestinais so predominantes nas duas doenas, porm,
durante seu curso, podem ocorrer manifestaes extraintestinais, incluindo o
envolvimento da pele e da cavidade oral. Vinte e cinco por cento a um tero
dos doentes com doena inflamatria intestinal iro desenvolver
manifestaes ou complicaes extraintestinais (BAUMGART e
SANDBORN, 2007).
O envolvimento da cavidade oral pode ser prvio ou simultneo aos
sintomas gastrointestinais. Na maior parte dos casos, a doena inflamatria
intestinal precede o incio das leses orais em meses ou anos. s vezes,
porm, o doente se apresenta com importante comprometimento da mucosa
oral, com sintomatologia intestinal mnima ou mesmo ausente, o que justifica
exame minucioso do trato gastrointestinal em todos os doentes com leses
orais suspeitas. Geralmente, o curso clnico das leses orais paralelo
atividade da doena inflamatria intestinal, por isso as manifestaes orais
so consideradas bons marcadores tegumentares (TROST e MCDONNELL,
2005).
A cavidade oral mais comumente envolvida na doena de Crohn,
com um comprometimento que varia de 0,5% a 20% (GREGORY e HO,
1992). Tais manifestaes podem ser especficas (granulomatosas) e no-
4
especficas (no granulomatosas, podendo ocorrer tambm em outras
situaes clnicas). Estas ltimas incluem as aftas, a pioestomatite vegetante
e o edema gengival, bucal ou labial difuso (HARTY et al, 2005).
Leses orais especficas (diagnsticas) da doena de Crohn
apresentam aspecto granulomatoso histopatologia, so incomuns e
incluem as lceras lineares profundas com margens hiperplsicas, a
hiperplasia da mucosa bucal com aspecto em paraleleppedo e a queilite
granulomatosa (BASU e ASQUITH, 1980; PLAUTH et al, 1991). Essas
leses podem ocorrer em qualquer momento durante o curso da doena
intestinal, podendo preceder os sintomas intestinais por muitos anos
(GREENSTEIN et al, 1976; BERNSTEIN e MCDONALD, 1978; TALBOT et
al, 1984; EKBOM et al, 1991; LISCIANDRANO et al, 1996).
No curso da retocolite ulcerativa podem ser observadas
manifestaes de afta e, mais raramente, pioestomatite vegetante, sendo
esta ltima considerada como sendo importante marcador da doena.
(THORNHILL et al, 1992; PHILPOT et al, 1992; STORWICK et al, 1994;
CALOBRISI et al, 1995; SORIANO et al, 1999).
A pioestomatite vegetante um achado oral raro e exclusivo
caracterizado por abscessos pustulosos miliares e eroses acometendo a
mucosa oral (THORNHILL et al, 1992). As pstulas podem se tornar
confluentes, formando ulceraes lineares caractersticas (SORIANO et al,
5
1999). Os locais mais comumente envolvidos so a mucosa bucal e labial, o
palato duro e mole e a mucosa gengival, enquanto o assoalho da boca e a
lngua so tipicamente poupados (SORIANO et al, 1999).
No Ambulatrio de Estomatologia da Diviso de Dermatologia do
Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So
Paulo temos observado vrios casos de manifestaes orais ligadas a
doena inflamatria intestinal, inclusive alguns casos onde tais
manifestaes foram as primeiras a ocorrerem, tendo sido assim indicativas
para que se realizasse investigao colonoscpica. Dessa forma, decidimos
realizar o presente estudo.
6
2. OBJETIVOS
7
2. OBJETIVOS
1. Apresentar os casos de manifestaes orais ligadas doena
inflamatria intestinal diagnosticados e acompanhados na Diviso de
Dermatologia do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de So Paulo.
2. Correlacionar os aspectos clnicos, histopatolgicos e endoscpicos
com a atividade e evoluo da doena inflamatria intestinal.
8
3. REVISO DA LITERATURA
9
3. REVISO DA LITERATURA
A etiopatogenia da doena de Crohn e da retocolite ulcerativa
complexa e apenas parcialmente compreendida, mas acredita-se que
decorra de uma ativao inapropriada e sustentada do sistema imunolgico
da mucosa do trato gastrointestinal (PODOLSKY, 2002; GAYA et al, 2006).
Fatores genticos parecem contribuir apenas parcialmente para seu
desenvolvimento. Parentes de primeiro grau de doentes afetados
apresentam um risco absoluto de 7% de desenvolverem a doena em
qualquer das formas, enquanto que a concordncia entre gmeos
monozigticos de 45% para a doena de Crohn e de 10% para a retocolite
ulcerativa (CHUTKAN, 2001; GAYA et al, 2006; BAUMGART e SANDBORN,
2007). Nota-se que a contribuio gentica para o desenvolvimento de
doena inflamatria intestinal parece ser mais importante na doena de
Crohn que na retocolite ulcerativa. A ausncia de um padro mendeliano de
herana entre gmeos indica que outros fatores genticos ou ambientais
ainda no identificados participem do desenvolvimento da doena. O
tabagismo parece exercer efeito protetor na retocolite ulcerativa, porm
aumenta o risco de desenvolver doena de Crohn (PODOLSKY, 2002).
Tem sido proposto ultimamente um modelo multifatorial para a
etiopatogenia da doena inflamatria intestinal, estando possivelmente
envolvidos fatores genticos, ambientais e imunolgicos (imunidade inata X
10
adaptativa), com ampliao da resposta imune seguida de perpetuao e
regulao atravs dos linfcitos T reguladores (MAYER, 2010).
Tanto a retocolite ulcerativa quanto a doena de Crohn demonstram
um padro de distribuio etria bimodal, com um pico na segunda ou
terceira dcada de vida e outro durante a sexta dcada. Trinta por cento dos
doentes com doena inflamatria intestinal so diagnosticados durante a
infncia (PONSKY et al, 2007).
3.1. Retocolite ulcerativa
A retocolite ulcerativa acomete quase exclusivamente a mucosa
colnica e a inflamao extensa, porm superficial (MOSES et al, 1998;
CHUTKAN, 2001; XAVIER e PODOLSKY, 2007). Uma combinao de
fatores genticos e ambientais parece estar envolvida em sua causa.
Estudos recentes demonstraram uma taxa de 44% de concordncia entre
gmeos monozigticos, em contraste com 3,8% de concordncia entre
gmeos dizigticos (TYSK et al, 1988). A histria familiar se mostrou um
fator de risco importante para o desenvolvimento de retocolite ulcerativa, e
sugere-se que a incidncia da doena seja maior em judeus Ashkenazi
(ROTH et al, 1989). A mucosa retal invariavelmente envolvida, e a
inflamao se estende no sentido proximal de maneira contnua e
confluente. A extenso proximal da retocolite ulcerativa com o acometimento
11
de todo o intestino grosso (pancolite) ocorre em at 20% dos casos (MOSES
et al, 1998). Sinais e sintomas comuns da retocolite ulcerativa incluem
diarreia sanguinolenta, dor abdominal, perda de peso, anemia e urgncia
retal (CHUTKAN, 2001). A gravidade dos sintomas paralela atividade da
doena. O diagnstico pode ser suspeitado pela radiografia contrastada do
intestino que demonstra ulceraes mucosas, pseudoplipos e perda de
haustraes. Entretanto, o mais importante procedimento diagnstico o
exame colonoscpico seguido de biopsia da mucosa. Os achados
histopatolgicos incluem a presena de mucosite ulcerativa com
microabscessos no epitlio e numerosos neutrfilos na lmina prpria e nas
criptas (XAVIER e PODOLSKY, 2007; PONSKY et al, 2007).
3.2. Doena de Crohn
A doena de Crohn uma doena inflamatria crnica que afeta mais
comumente o trato gastrointestinal baixo, porm todas as pores do tubo
digestivo podem estar envolvidas, do reto cavidade oral. Mais raramente,
pode haver manifestaes na pele, no sistema msculo-esqueltico e nos
olhos. Sua causa permanece desconhecida, apesar de diversos
mecanismos terem sido propostos (KORZENIK, 2005). Acredita-se que o
desenvolvimento da doena de Crohn resulte da exposio da mucosa do
trato gastrointestinal a fatores ambientais que, num hospedeiro
geneticamente susceptvel, desencadeariam uma ativao inapropriada do
12
sistema imune da mucosa, provocando inflamao transmural
granulomatosa (BOUMA e STROBER, 2003). Uma alta taxa de
concordncia entre gmeos monozigticos tem sido observada (TYSK et al,
1988). Alm disso, parentes de primeiro grau de doentes com doena de
Crohn apresentam risco 4 a 20 vezes maior de desenvolverem a doena
quando comparados populao geral (TYSK et al, 1988; ORHOLM et al,
1991). Anlises genticas detalhadas em famlias afetadas identificaram
vrios loci de susceptibilidade para a doena de Crohn (BRANT e
SHUGART, 2004). A mais importante associao atribuda ao gene
CARD15 localizado no lcus IBD1 (OGURA et al, 2001). O gene CARD15
codifica uma protena citoplasmtica, a NOD2, que se expressa nos
fagcitos mononucleares (INOHARA et al, 2003). Polimorfismos no gene
CARD15 inibem a via NOD2, provocando um desvio para a via da resposta
imune inata (MARKS et al, 2006). A mucosa de indivduos com doena de
Crohn dominada por uma populao de linfcitos T CD4, que produzem
interferon gama e interleucina 2. A ativao da imunidade celular
acompanhada pela produo de ampla variedade de mediadores
inflamatrios. Tais mediadores intensificam o processo inflamatrio e
provocam dano tecidual, que ser responsvel pelas manifestaes clnicas
da doena (FIOCCHI, 1998). A doena de Crohn se caracteriza tipicamente
por ulceraes transmurais regionais (PONSKY et al, 2007), com formao
de fstulas e ulceraes mucosas (RUOCCO et al, 2007). As lceras so
comuns na doena de Crohn inicial e geralmente ocorrem sobre as placas
de Peyer no intestino delgado. Elas podem coalescer formando ulceraes
13
longitudinais. Inflamao crnica em placas, irregularidade focal das criptas
e granulomas so os achados microscpicos que permitem o diagnstico de
doena de Crohn (STANGE et al, 2006). A doena de Crohn est restrita ao
intestino delgado em aproximadamente 30% dos indivduos, sendo que 95%
apresentam apenas acometimento do leo terminal (ilete regional). Quarenta
por cento dos doentes apresentam envolvimento do intestino delgado e
grosso e, em 27% dos casos, a doena de Crohn restrita ao clon. Doena
de localizao gstrica ou duodenal incomum. Envolvimento jejunal
descrito em at 10% dos casos (STANGE et al, 2006). Diarreia crnica o
sintoma inicial mais frequente. Dor abdominal e perda de peso so
observados em 60 a 70% dos doentes antes do diagnstico. A presena de
sangue ou muco nas fezes ocorre em at 50% dos indivduos.
Frequentemente, sintomas sistmicos como febre, anorexia e anemia esto
presentes. Fstulas perianais ocorrem em 10% dos doentes no momento do
diagnstico (SCHWARTZ et al, 2002). As caractersticas histopatolgicas da
doena de Crohn incluem infiltrado inflamatrio com agregao macrofgica
e granulomas no caseosos (XAVIER e PODOLSKY, 2007).
3.3. Manifestaes extra-intestinais da doena inflamatria
intestinal
Numerosos achados extraintestinais tm sido observados em
associao com a doena inflamatria intestinal e so eles, muitas vezes,
14
que motivam o doente a procurar ajuda mdica (GITNICK, 1989). As
principais manifestaes incluem alteraes articulares (semelhantes
artrite reumatoide, espondilite anquilosante e atrite das grandes
articulaes), irite, eritema nodoso, pioderma gangrenoso, dficits
nutricionais, colecistopatia calculosa, nefrolitase, alteraes hepticas e
doena tromboemblica. Muitas vezes, o controle dessas condies
associadas obtido com o tratamento adequado da doena intestinal
associada (HUBER, 2008).
A ocorrncia de uma manifestao extraintestinal na doena de Crohn
parece aumentar a predisposio para o aparecimento de outras (RUOCCO
et al, 2007; ARDIZZONE et al, 2008). Algumas manifestaes
extraintestinais, tais como: artrite perifrica, eritema nodoso, aftas orais e
episclerite, esto temporalmente relacionadas atividade da doena de
Crohn. Outras, como pioderma gangrenoso, uvete, espondiloartropatia e
colangite primria esclerosante, seguem usualmente um curso independente
da atividade da doena intestinal (RUOCCO et al, 2007).
3.4. Manifestaes tegumentares da doena inflamatria
intestinal
Um espectro de achados cutneo-mucosos tem sido relatado em
associao com a doena inflamatria intestinal e postula-se que essas
15
leses possam servir como marcadores da presena e atividade da doena
(BEITMAN et al, 1981; ROONEY, 1984; LISCIANDRANO et al, 1996; KATZ
et al, 2003).
A cavidade oral mais frequentemente acometida na doena de
Crohn com um comprometimento que varia de 0,5 a 20% (GREGORY e HO,
1992). As leses orais podem se apresentar como manifestao inicial da
doena em at 10% dos indivduos. Acredita-se que a incidncia de leses
orais seja maior quanto mais precoce o incio da doena (HARTY et al,
2005). Alguns estudos demonstraram 48% de envolvimento oral na
populao infantil com doena de Crohn (PITTOCK et al, 2001; HARTY et al,
2005).
A predominncia da doena de Crohn oral em doentes masculinos j
est bem estabelecida (PLAUTH et al, 1991), em contraste com a maior
incidncia de doena de Crohn em mulheres.
As leses cutneas e orais relacionadas doena de Crohn podem
ser classificadas em manifestaes especficas, quando a histologia
demonstra um padro de inflamao granulomatoso no caseoso com
predomnio de clulas epiteliides, ou no especficas, quando o substrato
histolgico no do tipo granulomatoso (RUOCCO et al, 2007).
16
3.4.1. Leses cutneas especficas
3.4.1.1. Fissuras, abscessos e fstulas perianais
As fissuras anais, os abscessos isquioretais e as fstulas perianais
so as leses cutneas mais comuns da doena de Crohn. As fstulas
geralmente precedem a doena intestinal clinicamente sintomtica em
aproximadamente 4 anos. As leses perianais esto mais frequentemente
associadas doena de Crohn de localizao colnica do que doena do
intestino delgado. As leses geralmente se iniciam com eritema anal ou
perianal que se torna progressivamente edematoso com colorao
eritmato-violcea. Em casos mais avanados, a inflamao das criptas
anais provoca o surgimento de plipos eritmato-edematosos, que podem
progredir para a formao de fstulas anais e mltiplos abscessos
acometendo a regio do perneo, base do pnis ou vulva, coxas e parede
abdominal (BURGDORF, 1981). A regio umbilical, conectada ao intestino
por uma estrutura vestigial, tambm pode estar envolvida (MCLELLAND e
GRIFFIN, 1996). Na periferia das fstulas e abscessos, a pele se apresenta
eritematosa, ulcerada e com cicatrizes irregulares (RUOCCO et al, 2007).
17
3.4.1.2. Doena de Crohn por contiguidade e metasttica
Cicatrizes na parede abdominal, como de laparotomias, colostomias
ou ileostomias tambm podem ser eventuais localizaes da doena de
Crohn, caracterizando a doena de Crohn por contiguidade. A doena de
Crohn cutnea tambm pode acometer locais separados do trato
gastrointestinal por tecido normal, situao denominada doena de Crohn
metasttica. Esse tipo de leso cutnea pode ou no seguir curso paralelo
atividade gastrointestinal. As leses aparecem como lceras, ndulos e
placas eritematosas envolvendo as regies inframamria, axilar e
retroauricular, a face e as extremidades, especialmente inferiores (RUOCCO
et al, 2007). A vulva e a regio escrotal podem ser acometidas por lceras
solitrias ou mltiplas sobre base eritmato-edematosa.
3.4.2. Leses orais especficas
As leses orais podem ocorrer em qualquer momento durante o curso
da doena inflamatria intestinal, podendo preceder os sintomas intestinais
por muitos anos (GREENSTEIN et al, 1976; BERNSTEIN e MCDONALD,
1978; TALBOT et al, 1984; EKBOM et al, 1991; LISCIANDRANO et al,
1996). Por isso, o diagnstico de leses orais isoladas com alteraes
granulomatosas histologia, pode ser bastante difcil (LOURENO et al,
2006).
18
3.4.2.1. lceras lineares e leses polipoides
Dentre as leses especficas, as lceras lineares e as leses
polipoides hiperplsicas so as mais frequentemente observadas (DUPUY et
al, 1999; PITTOCK et al, 2001; ALAWI, 2005). As lceras lineares de bordas
hipertrficas so mais comuns na mucosa vestibular, podendo se apresentar
com aspecto multifocal. Raramente, leses polipoides podem ser
observadas na mucosa bucal (VERBOV, 1973; NOBLE et al, 1983).
Plauth revisou 79 casos de manifestaes orais da doena de Crohn
de diversas publicaes prvias, encontrando um total de 228 leses orais.
Segundo esse autor, o edema bucal o tipo de leso oral mais comum,
seguido pelas lceras orais e pela hiperplasia mucosa. Os locais mais
frequentemente acometidos so os lbios, a gengiva, o sulco vestibular e a
mucosa bucal, nesta ordem. A deteco de granulomas bastante elevada
nas leses orais (67-77%) (PLAUTH et al, 1991).
3.4.2.2. Hiperplasia da mucosa com aspecto em paraleleppedo
Mltiplas leses papulosas ou polipoides envolvendo a mucosa bucal
e os vestbulos tambm so caractersticas e, quando alinhadas com grande
proximidade, do mucosa um aspecto em paraleleppedo (ALAWI, 2005).
Tambm conhecida por nodularidade mucosa ou cobblestoning, a
hiperplasia em paraleleppedo pode ser bastante dolorosa, dificultando a fala
19
e a alimentao. Constitui manifestao rara, porm altamente especfica da
doena de Crohn (PLAUTH et al, 1991; HALME et al, 1993; LISCIANDRANO
et al, 1996). Geralmente, o tratamento da doena intestinal suficiente para
o controle das leses orais (TROST e MCDONNELL, 2005).
3.4.2.3. Queilite granulomatosa
A queilite granulomatosa se caracteriza clinicamente por edema firme,
no doloroso e persistente dos lbios, da mucosa bucal ou da face. Fissuras
labiais verticais podem estar presentes, como consequncia do intenso
edema labial. A queilite granulomatosa pode se apresentar de forma isolada
(queilite granulomatosa de Miescher) ou associada a diversas condies
clnicas, como a doena de Melkerson-Rosenthal, a doena de Crohn e a
sarcoidose (granulomatose orofacial) (ALAWI, 2005).
3.4.3. Leses cutneas no-especficas
3.4.3.1. Eritema nodoso
Caracteriza-se por placas e ndulos eritmato-violceos inflamatrios
localizados na superfcie extensora das extremidades, particularmente na
regio pr-tibial das pernas. Pode se acompanhar de febre, mal estar e dor
articular (YKSEL et al, 2009). dermatose sindrmica de mltiplas causas;
quando relacionado doena inflamatria intestinal, est intimamente
20
relacionado atividade da doena (ARDIZZONE et al, 2008) e presena
de artrite (TROST e MCDONNELL, 2005). De acordo com alguns estudos,
a manifestao cutnea mais comum das doenas inflamatrias intestinais,
sendo mais comum em mulheres (APGAR, 1991; TROMM et al, 2001;
MENDOZA et al, 2005). Est associado doena inflamatria intestinal em
11% dos casos, e mais frequente em doentes com doena de Crohn que
naqueles com retocolite ulcerativa (GREENSTEIN et al, 1976; YKSEL et al,
2009).
Jose e colaboradores estudaram retrospectivamente 1649 indivduos
com doena inflamatria intestinal quanto prevalncia de manifestaes
extraintestinais e observaram prevalncia de eritema nodoso de 7,5% (JOSE
et al, 2009).
Histologicamente se caracteriza por paniculite predominantemente
septal, com infiltrado inflamatrio composto principalmente por neutrfilos na
fase aguda. Nas fases mais tardias, os neutrfilos so substitudos por
linfcitos e histicitos, com o desenvolvimento de infiltrado inflamatrio
granulomatoso com clulas gigantes. Hemorragia comum. Leses mais
antigas podem apresentar fibrose septal (WINKELMANN e FRSTRM,
1975; WHITE e HITCHCOCK, 1999).
21
3.4.3.2. Pioderma gangrenoso
As leses so geralmente precedidas por trauma local, caracterizando
fenmeno de patergia. O quadro tem incio como ppula eritematosa ou
pstula, nica ou mltipla, que evolui com necrose da derme e surgimento
de lceras profundas com bordas solapadas e centro purulento estril
(ARDIZZONE et al, 2008).
A incidncia de pioderma gangrenoso nos 700 indivduos com doena
inflamatria intestinal estudados por Greenstein de 5% no grupo com
retocolite ulcerativa e de 1,4% no grupo com doena de Crohn
(GREENSTEIN et al, 1976).
Yksel e colaboradores encontraram prevalncia de 2,3% em 352
indivduos com doena inflamatria intestinal.
Jose e colaboradores estudaram retrospectivamente 1649 indivduos
com doena inflamatria intestinal quanto prevalncia de manifestaes
extraintestinais e observaram prevalncia de pioderma gangrenoso de 7,5%
(JOSE et al, 2009).
Histologicamente nota-se ulcerao, necrose e infiltrado inflamatrio
neutroflico proeminente, com supurao. Pode ser observada
leucocitoclasia (BLITZ e RUDIKOFF, 2001).
22
3.4.3.3. Sndrome de Sweet
doena do espectro das dermatoses neutroflicas. Caracteriza-se
por surtos agudos de placas e ndulos eritmato-edmato-infiltrados de
aspecto suculento, acometendo mais frequentemente os membros
superiores, a poro superior do tronco e a face. Tem forte predileo pelo
sexo feminino (87%) (TRAVIS et al, 1997; ARDIZZONE et al, 2008). Ocorre
em distintas situaes clnicas e, quando relacionado doena inflamatria
intestinal, parece ser mais comum na doena de localizao colnica, sendo
mais frequentemente associado com outras manifestaes extraintestinais
(TRAVIS et al, 1997; YTTING et al, 2005; ARDIZZONE et al, 2008). A
sndrome de Sweet se associa atividade da doena intestinal em at 80%
dos casos, mas pode preceder o incio dos sintomas intestinais em 21% dos
doentes (ARDIZZONE et al, 2008).
Histologicamente a sndrome de Sweet se caracteriza por intenso
infiltrado inflamatrio predominantemente neutroflico na derme reticular, de
distribuio difusa e tambm perivascular. A derme papilar mostra edema
importante, que pode resultar em vesiculao subepidrmica. Nota-se ainda
vasodilatao e edema endotelial (GOING et al, 1987; JORDAAN, 1989).
23
3.4.4. Leses orais no-especficas
3.4.4.1. Afta
Cinco a dez por cento dos doentes com doena de Crohn apresentam
ulceraes aftosas orais. A dor e dificuldade alimentar por elas ocasionada
piora o quadro de desnutrio (RUOCCO et al, 2007).
A afta observada em at 10% dos doentes com doena inflamatria
intestinal e geralmente ocorre durante a fase ativa da doena intestinal
(DANESE et al, 2005). Caracteriza-se clinicamente por lceras
arredondadas com halo eritematoso e pseudomembrana central de fibrina.
Tem carter recorrente e normalmente apresenta boa resposta ao
tratamento da doena intestinal (DANESE et al, 2005). As aftas associadas
doena inflamatria intestinal so clinicamente idnticas s aftas comuns
(GREGORY e HO, 1992). Tambm podem se associar a outras doenas,
como doena celaca, HIV, doena de Behet e sndrome de Reiter. O
diagnstico diferencial inclui o herpes simples oral e as lceras orais pelo
vrus Coxsackie (TROST e MCDONNELL, 2005).
Greenstein e colaboradores estudaram as manifestaes
extraintestinais especficas e no especficas da doena de Crohn e da
retocolite ulcerativa em 700 doentes e as aftas orais representam o tipo mais
comum de leso oral nesses doentes. A incidncia de 4%, semelhante
24
incidncia de 6% observada em estudo similar realizado por Croft e
Wilkinson. Greenstein e colaboradores observaram ainda, que as aftas so
mais comumente encontradas em doentes com outras manifestaes
extraintestinais, tais como leses articulares e cutneas (GREENSTEIN et
al, 1976).
Basu e Asquith relataram incidncia de aftas orais de 9% na doena
de Crohn e de 2% na retocolite ulcerativa (BASU e ASQUITH, 1980).
Histologicamente observa-se ulcerao da mucosa recoberta por
espessa camada de fibrina entremeada por neutrfilos. O leito da lcera
consiste de tecido de granulao com infiltrado inflamatrio misto, rico em
neutrfilos (SCHROEDER et al, 1984).
3.4.4.2. Edema labial e gengival
Plauth e colaboradores observaram, em sua reviso de 79 casos de
manifestaes orais da doena de Crohn, que o edema bucal o tipo de
leso mais comumente observado, representando 27% do total de leses
orais estudadas (PLAUTH et al, 1991).
Harty e colaboradores, por sua vez, encontraram edema labial em
apenas trs dos 20 doentes com doena de Crohn oral includos em sua
srie, o que representa 15% dos casos. As ulceraes e as leses
25
polipoides da mucosa so os achados orais mais frequentes nesses doentes
(HARTY et al, 2005).
3.4.4.3. Pioestomatite vegetante
A pioestomatite vegetante um quadro oral raro, caracterizado por
leses mucosas vegetantes e pustulosas (RUIZ-ROCA et al, 2005). Foi
descrita pela primeira vez em 1898 por Hallopeau, sendo atualmente
considerada anlogo mucoso do pioderma gangrenoso cutneo
(MARGOLES e WENGER, 1961; AL-RIMAWI et al, 1998). Uma forte
associao com doena inflamatria intestinal bem documentada,
principalmente com a retocolite ulcerativa (RUIZ-ROCA et al, 2005).
Pioestomatite vegetante associada doena de Crohn rarssimo, havendo
poucos relatos (CATALDO et al, 1981; HANSEN et al, 1983; NEVILLE et al,
1985; FICARRA et al, 1993). As leses consistem de mltiplas pstulas
miliares estreis sobre uma mucosa oral eritmato-edematosa, resultando
em eroses superficiais alongadas, aspecto que tem sido comparado, na
literatura, a um caminho de caracol (snail track). As leses podem afetar
qualquer rea da mucosa oral, sendo os locais menos envolvidos a lngua e
o assoalho da boca (MEHRAVARAN et al, 1997; RUIZ-ROCA et al, 2005).
Leses cutneas de pioderma gangrenoso podem estar presentes nos
doentes com pioestomatite vegetante, corroborando a hiptese de
identidade entre esses processos (PLAUTH et al, 1991; DELAPORT et al,
1998; HEGARTY et al, 2004). Leses cutneas vegetantes podem estar
26
presentes nas reas intertriginosas, cuja denominao, na literatura, tem
variado: pioderma vegetante, piodermite vegetante e pnfigo vegetante,
havendo confuso na classificao, inclusive com o pnfigo vulgar em sua
variante vegetante (BALLO et al, 1989; SORIANO et al, 1999; RUIZ-ROCA
et al, 2005). Mehravaran e Hegarty consideram a negatividade das provas
de imunofluorescncia direta essencial na diagnose diferencial com o
pnfigo vegetante (MEHRAVARAN et al, 1997; HEGARTY et al, 2004).
Geralmente, o curso clnico paralelo atividade da doena intestinal, por
isso a pioestomatite vegetante um bom marcador cutneo de atividade
intestinal (MEHRAVARAN et al, 1997). Segundo Ruiz Roca e colaboradores,
a histopatologia da pioestomatite vegetante revela acantose do epitlio com
ulcerao superficial. Na lmina prpria, nota-se infiltrao de neutrfilos e
eosinfilos, com presena de abscessos miliares em alguns casos (RUIZ-
ROCA et al, 2005). De acordo com Mehravaran e colaboradores, os
microabscessos intra e subepiteliais, com predomnio de neutrfilos e
eosinfilos representam o achado mais importante. Infiltrado inflamatrio
perivascular intenso na regio da lmina prpria, com neutrfilos, linfcitos e
eosinfilos tambm so um achado frequente (MEHRAVARAN et al, 1997).
Storwick e Mehravaran observaram tambm hiperplasia epitelial e acantlise
focal, sendo eles os nicos autores a descreverem esse ltimo achado.
(STORWICK et al, 1994; MEHRAVARAN et al, 1997). Mc Carthy e Cataldo
relatam a presena de infiltrao eosinoflica em leses antigas (MC
CARTHY e SHKLAR, 1963; CATALDO et al, 1981).
27
3.6. Tratamento da doena inflamatria intestinal
O manejo da doena inflamatria intestinal deve ser baseado no
diagnstico correto da mesma e na avaliao da gravidade do quadro e
envolvimento de locais especficos (BEITMAN et al, 1981; ROONEY, 1984;
GITNICK, 1989; THORNHILL et al, 1992; PHILPOT et al, 1992; STORWICK
et al, 1994; CALOBRISI et al, 1995; LISCIANDRANO et al, 1996; MOSES et
al, 1998; SORIANO et al, 1999; PODOLSKY, 2002; KATZ et al, 2003;
XAVIER e PODOLSKY, 2007; PONSKY et al, 2007).
Os compostos com 5-aminosalicilato ainda representam a principal
linha de tratamento para a doena inflamatria intestinal leve a moderada
(PODOLSKY, 2002). Estes agentes parecem atuar em vrias fases do
processo inflamatrio e diferentes formulaes esto disponveis. Os
corticoesteroides so geralmente reservados para os casos de falha
teraputica aos 5-aminosalicilatos. Podem ser utilizados na forma tpica
(leses orais) ou sistmica, e o seu emprego se limita aos surtos agudos da
doena. A terapia de manuteno com corticoesteroides no se mostrou
benfica e se associa a efeitos colaterais srios, tais como hipertenso,
diabetes e osteoporose (CHUTKAN, 2001; PODOLSKY, 2002).
Drogas imunomoduladoras e imunossupressoras, como azatioprina,
metotrexate, ciclosporina, tacrolimus e micofenolato mofetil so utilizadas
quando h necessidade de reduo da corticoterapia (PODOLSKY, 2002;
28
PONSKY et al, 2007). A azatioprina e o seu metablito ativo a
mercaptopurina so os agentes imunossupressores mais comumente
utilizados (RUOCCO et al, 2007). O mecanismo de ao dessas drogas
envolve a supresso de subgrupos de clulas T especficos, o que explica o
tempo prolongado necessrio para uma resposta teraputica (GOULDING,
2004). O metotrexate tambm se mostrou eficaz no tratamento da doena de
Crohn ativa cortico-dependente e na manuteno da remisso (FEAGAN et
al, 2000).
Os agentes biolgicos so as mais novas drogas em estudo para o
manejo das doenas inflamatrias intestinais. A disponibilidade dessas
novas molculas ofereceu um importante avano para os doentes. O
infliximab um anticorpo monoclonal quimrico anti-TNF-, cujo mecanismo
de ao ainda no est totalmente compreendido (VAN DULLEMEN et al,
1995). Acredita-se que ele se ligue ao precursor do TNF da superfcie
celular, provocando a apoptose dos moncitos (LUGERING et al, 2001).
Diversos estudos demonstraram a eficcia do infliximab em doentes com
doena de Crohn, principalmente naqueles com fstulas e com doena
refratria ou cortico-dependente (PRESENT et al, 1999; HANAUER et al,
2002). As possveis complicaes decorrentes do uso do infliximab incluem
hipersensibilidade e reaes infuso, tuberculose e sepse (GARDAM et al,
2003; COLOMBEL et al, 2004).
29
At 30% dos doentes com retocolite ulcerativa e 75% daqueles com
doena de Crohn requerem interveno cirrgica para o manejo de sua
doena (CHUTKAN, 2001). As indicaes de cirurgia nos casos de retocolite
ulcerativa incluem transformao neoplsica, hemorragia abundante e
perfurao. Nesses casos, a proctocolectomia geralmente curativa. J na
doena de Crohn, a cirurgia no curativa e a necessidade de sucessivas
intervenes cirrgicas comum. As indicaes cirrgicas incluem
obstruo intestinal, perfurao, fstulas e abscessos (CHUTKAN, 2001).
Os corticoesteroides tpicos e sistmicos representam o tratamento
de escolha para os doentes com doena inflamatria intestinal e
pioestomatite vegetante (SORIANO et al, 1999). Alm disso, o bom controle
da doena inflamatria intestinal contribui para a remisso da pioestomatite
vegetante.
O tratamento das manifestaes orais das doenas inflamatrias
intestinais depende da intensidade da manifestao intestinal. Geralmente, o
tratamento da doena intestinal associada suficiente para o controle das
leses orais e cutneas (MEHRAVARAN et al, 1997; RUIZ-ROCA et al,
2005). Na ausncia de doena inflamatria intestinal, corticoesteroides e
imunomoduladores tpicos podem ser empregados, mas a maioria dos
autores considera como tratamento de escolha os corticoesteroides
sistmicos em doses moderadas a elevadas, com rpida remisso (TROST
e MCDONNELL, 2005; DANESE et al, 2005).
30
4. CASUSTICA E MTODOS
31
4. CASUSTICA E MTODOS
Os casos includos neste estudo resultaram do atendimento de
doentes na Diviso de Dermatologia do Hospital das Clnicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de So Paulo (HCFMUSP).
O perodo de coleta de casos foi de Janeiro de 2005 a Janeiro de
2009.
Foram includos doentes com manifestaes orais que levaram
diagnose de doena inflamatria intestinal ou com doena inflamatria
intestinal previamente diagnosticada que, no curso de sua enfermidade,
vieram a apresentar leses orais, cuja investigao demonstrou estarem
relacionadas atividade da doena.
Dez doentes foram includos, sendo anotados os seguintes dados:
sexo, cor, idade, tipo de leso oral, histopatologia, imunofluorescncia direta
da leso oral (quando realizada) e imunofluorescncia indireta (quando
realizada). Foi tambm estudada a presena de outros achados clnicos
relacionados doena inflamatria intestinal, assim como anormalidades
laboratoriais, tratamento realizado, resposta clnica ao tratamento e tempo
de remisso das leses orais.
As leses orais foram analisadas quanto morfologia, disposio e
topografia, dando-se nfase s leses elementares e frequncia com que
ocorreram. Foram obtidas fotografias clnicas dos aspectos gerais ou de
detalhes de interesse, utilizando-se cmera Nikon.
32
Obtiveram-se biopsias das leses orais com punch nmero quatro em
todos os casos, procedendo-se s tcnicas histolgicas de rotina
(hematoxilina-eosina) e de imunofluorescncia direta em trs casos.
Foi realizada investigao sistmica do trato gastrointestinal atravs
de exame colonoscpico com biopsia da mucosa em todos os doentes.
Os doentes em que a diagnose da doena inflamatria intestinal foi
feita a partir das manifestaes mucosas foram encaminhados para
tratamento na Diviso de Gastroenterologia do Hospital das Clnicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo. Os doentes
previamente diagnosticados com doena inflamatria intestinal foram
reencaminhados para adequao do tratamento, sendo todos eles
posteriormente reavaliados quanto s leses orais e sintomas intestinais.
33
5. RESULTADOS
34
5. RESULTADOS
CASO 1
Doente feminina branca de 41 anos, com diagnstico prvio de retocolite
ulcerativa.
Apresentava mltiplas ulceraes aftoides na mucosa oral, alm de mltiplas
placas eritmato-edematosas suculentas acometendo a pele da face, tronco
e extremidades. Apresentava tambm febre, queda do estado geral e
diarreia.
A anlise histopatolgica da biopsia da leso oral revelou ulcerao com
intenso infiltrado inflamatrio neutroflico na lmina prpria.
A histopatologia das leses cutneas revelou dermatose neutroflica.
Foi iniciado tratamento com prednisona 60mg/dia, mesalazina 3g/d e
infliximabe uma vez a cada dois meses trs doses, com melhora completa
das leses.
Durante quatro anos de seguimento, no foi observada recidiva.
Diagnose: afta e sndrome de Sweet associadas retocolite ulcerativa.
36
CASO 2
Doente feminina branca de 23 anos, apresentando, h trs semanas,
mltiplas ulceraes aftoides na mucosa oral, acompanhadas de eritema
nodoso nos membros inferiores, perda de peso de 13 quilos em seis meses
e dores abdominais.
Foi realizada biopsia de uma leso da mucosa oral, cuja anlise
histopatolgica revelou mucosite ulcerativa com infiltrado inflamatrio
neutroflico na lmina prpria.
O exame colonoscpico do trato gastrointestinal associado ao exame
histopatolgico da biopsia da mucosa intestinal levou diagnose de
retocolite ulcerativa.
Foi iniciado tratamento com infliximabe uma vez a cada dois meses trs
doses, ciprofloxacino 1g/dia, cido flico e triamcinolona tpica, com melhora
completa das leses.
Durante trs anos de seguimento, no foi observada recidiva.
Diagnose: afta associada retocolite ulcerativa.
38
CASO 3
Doente feminina branca de 25 anos, apresentando fraqueza, perda de peso
de 20 quilos em seis meses, vmitos e diarria muco-sanguinolenta.
O exame colonoscpico associado ao exame histopatolgico da biopsia da
mucosa intestinal favoreceu a diagnose de doena de Crohn.
Foi iniciado tratamento sistmico com metronidazol (1,5g/dia) e
ciprofloxacino (1,0g/dia), assim como infliximabe a cada dois meses.
Durante o tratamento, apresentou mltiplas ulceraes aftosas na mucosa
do lbio inferior.
O exame histopatolgico da bipsia de uma das leses orais revelou
ulcerao com intenso infiltrado inflamatrio misto na lmina prpria.
O tratamento foi modificado por infliximabe uma vez a cada dois meses
trs doses, metronidazol 1,5g/dia e ciprofloxacino 1g/dia, com melhora
completa das leses.
Durante dois anos de seguimento, foi observado um episdio de recidiva
aps um ano.
Diagnose: afta associada doena de Crohn.
40
CASO 4
Doente masculino pardo de 35 anos, apresentando mltiplas ulceraes na
mucosa bucal e do lbio inferior, associadas a surtos de diarreia e perda de
peso, relacionados a crise de retocolite ulcerativa previamente
diagnosticada.
Relatava ainda perda de peso e diarreia importante.
A anlise histopatolgica da biopsia de uma leso oral revelou mucosite
ulcerativa com intenso infiltrado inflamatrio misto na lmina prpria.
Foi iniciado tratamento com prednisona 70mg/dia, com melhora completa do
quadro.
Durante trs anos de seguimento, no foi observada recidiva.
Diagnose: afta associada retocolite ulcerativa.
42
CASO 5
Doente feminina branca de 38 anos, com diagnose de retocolite ulcerativa
h seis meses.
Apresentava mltiplas ulceraes aftoides na mucosa labial superior e
inferior, no palato mole a na regio da vula. Concomitantemente
apresentava piora do quadro intestinal com diarreia.
O exame colonoscpico em associao com o exame histopatolgico de
leso da mucosa intestinal favoreceu a diagnose de retocolite ulcerativa.
Foi realizada biopsia de uma leso oral e a anlise histopatolgica revelou
mucosite ulcerativa com infiltrado inflamatrio neutroflico na lmina prpria.
Diagnstico: afta associada retocolite ulcerativa.
44
CASO 6
Doente masculino branco de 16 anos, apresentando leses orais dolorosas
h cinco meses. Relatava ainda perda de peso de trs quilos em trs meses
e artralgia do quadril ocasional h um ano.
O exame oral revelou duas lceras de configurao linear de bordas
vegetantes localizadas nos sulcos vestibulares bilateralmente.
A histopatologia das leses revelou a presena de granulomas no
caseosos na lmina prpria. A pesquisa de fungos e bactrias por
coloraes especficas resultou negativa.
A anlise endoscpica do trato gastrointestinal revelou ulceraes e eroses
em vrias pores, cuja anlise histopatolgica mostrou infiltrado
granulomatoso, compatvel com doena de Crohn.
Foi iniciado tratamento com mesalazina 3g/dia, azatioprina, budesonida
9mg/dia, sulfato ferroso, cido flico e zinco, com melhora completa do
quadro.
Durante trs anos de seguimento, no foi observada recidiva.
Diagnose: doena de Crohn oral e intestinal.
46
CASO 7
Doente feminina branca de 22 anos, apresentava, h dois anos, leses
cutneas e orais.
O exame oral mostrou uma rea de aderncia mucosa, linear e de aspecto
cicatricial, circunscrevendo uma pequena cavidade epitelizada, localizada no
sulco vestibular.
Ao exame dermatolgico apresentava lceras profundas lineares de bordas
induradas localizadas nas pregas das regies inframamria, axilar, inguinal,
intergltea e coxogltea.
O exame histopatolgico da biopsia da borda de uma lcera cutnea revelou
dermo-epidermite crnica com esboo granulomatoso focal. A pesquisa de
fungos e bactrias por coloraes especficas resultou negativa.
O exame histopatolgico da leso oral revelou infiltrado inflamatrio misto
com esboo de granuloma na lmina prpria, alm de fibrose.
Na vigncia das leses orais e cutneas foi diagnosticada doena de Crohn
intestinal atravs de colonoscopia com biopsia colnica.
Diagnose: doena de Crohn intestinal e cutnea.
48
CASO 8
Doente feminina branca de 63 anos, apresentando, h trs meses, leses
nos lbios associadas a dor importante e dificuldade em se alimentar.
O exame dermatolgico revelou extensas leses vegetantes exofticas com
pequenas pstulas confluentes e eroses superficiais sobre base
edematosa, acometendo o vermilio e a mucosa labial superior e inferior,
recobertas por pseudomembranas friveis e crostas.
Apresentava ainda uma placa vegetante ulcerada e destrutiva sobre a
falange distal do hlux esquerdo, associada a onicodistrofia.
A histopatologia da biopsia da leso mucosa revelou acantlise suprabasal
focal, com microabscessos neutroflicos no epitlio e intenso infiltrado
inflamatrio misto rico em eosinfilos.
A imunofluorescncia direta revelou depsitos de IgM em corpos citoides na
lmina prpria papilar. A imunofluorescncia indireta resultou negativa.
A avaliao laboratorial demonstrou anemia e eosinofilia.
A colonoscopia mostrou colite crnica leve e retite crnica leve.
Foi iniciado tratamento sistmico com prednisona 70mg/d e dapsona
100mg/d.
Aps uma semana foi observada melhora significativa e aps 15 dias de
tratamento houve cicatrizao completa das leses.
Aps um ano, houve recidiva do quadro oral. Nova investigao
colonoscpica nessa ocasio revelou pancolite compatvel com retocolite
ulcerativa.
Diagnose: pioestomatite vegetante associada retocolite ulcerativa.
50
CASO 9
Doente feminina branca de 33 anos, com diagnstico de retocolite ulcerativa
h oito anos. Queixava-se de leses orais dolorosas h oito meses
acompanhando quadro de intensa diarreia.
O exame da cavidade oral demonstrou pstulas e eroses superficiais sobre
base edematosa acometendo os lbios, alm de exulceraes e edema na
mucosa jugal, gengivas e base da lngua.
A anlise histopatolgica de uma leso da mucosa labial revelou mucosite
acantoltica suprabasal.
A imunofluorescncia direta e indireta revelaram depsito de IgG intercelular
(ttulo - 1/320).
O exame colonoscpico revelou processo inflamatrio difuso do clon e reto.
A anlise histopatolgica das biopsias de mucosa intestinal revelou colite e
retite crnicas erosivas.
Foi iniciado tratamento com prednisona 60mg/dia, com melhora completa do
quadro.
Durante trs anos de seguimento, houve recidivas ocasionais responsivas a
baixas doses de medicamentos.
Diagnose: pnfigo / pioestomatite vegetante associada retocolite
ulcerativa.
52
CASO 10
Doente masculino branco de 34 anos, apresentando leses orais h um ano.
O exame oral revelou mltiplas pstulas miliares isoladas e confluentes
acometendo as gengivas, base da lngua e palato, alm de edema mucoso.
Apresentava retardo mental importante, sendo a me a informante. Esta
referia que o doente apresentava diarreia muco-sanguinolenta havia mais de
dez anos, sem diagnose.
O exame colonoscpico seguido de biopsia da mucosa intestinal, realizado
na vigncia das leses orais, revelou colite e retite crnica intensa com
eroso, criptite aguda e eosinofilia, compatveis com retocolite ulcerativa.
A biopsia de uma leso gengival revelou mucosite com clivagem suprabasal.
A imunofluorescncia direta demonstrou depsito de IgG e C3 intercelular e
a imunofluorescncia indireta mostrou-se positiva para IgG intercelular
(ttulo - 1/2560).
Foi iniciado tratamento com prednisona 70mg/dia, com melhora completa do
quadro.
Durante trs anos de seguimento, no foi observada recidiva.
Diagnose: pnfigo/ pioestomatite vegetante associada retocolite
ulcerativa.
54
6. DISCUSSO
55
6. DISCUSSO
6.1. Manifestaes cutneo-mucosas de doenas sistmicas
O estudo das manifestaes tegumentares das doenas sistmicas
tem ganhado grande impulso nas ltimas dcadas e tem contribudo
significativamente para a insero da Dermatologia em sua inter-relao
com as diversas especialidades mdicas. As formas como a pele e as
mucosas reagem aos processos patolgicos tm se mostrado por muitas
vezes similares s dos outros rgos; sendo assim o tegumento, por seu
fcil acesso, um excelente indicador clnico e til ferramenta para o estudo
das doenas sistmicas. Alis, nesse sentido, o termo doena sistmica
pode ser prefervel a doena interna, j que o tegumento (externo)
tambm est envolvido. Em nossa viso, a existncia dessas manifestaes
inclusive depe contra a clssica separao entre doena cutnea e
doena sistmica, se encararmos o sistema tegumentar como um
componente ativo e participante no funcionamento do organismo.
A manifestao dermatolgica pode ser devida ao do processo
geral diretamente no tegumento, apresentando ento aspecto
histopatolgico superponvel ao que se apresenta nos outros rgos
(manifestao doena-especfica); ou se dever atividade geral da doena,
por liberao de mediadores inflamatrios, mediadores vasoativos ou por
fenmenos imunolgicos secundrios ao processo geral. Essas ltimas
56
podem ser observadas ocorrendo durante a evoluo de diferentes doenas
sistmicas no relacionadas, sendo, ento, consideradas manifestaes
doena no-especficas. Exemplos abundam nos dois grupos:
manifestaes cutneas especficas de sarcoidose, lpus eritematoso e
sfilis exemplificam bem o primeiro grupo; assim, como sendo pertencentes
ao segundo grupo, podemos elencar vasculite leucocitoclsica, eritema
nodoso e fenmeno de Raynaud.
Na prtica clnica h duas principais situaes onde o mdico se
depara com manifestaes dermatolgicas de doenas sistmicas. A
primeira, algo mais frequente, quando um doente j previamente
diagnosticado com uma enfermidade e, no decorrer de seu processo, vem a
apresentar um quadro cutneo-mucoso, sendo solicitada ao dermatologista
uma opinio sobre se este tem ou no relao com o processo geral. A
segunda, mais desafiadora, a diagnose de uma doena sistmica
previamente no suspeitada, a partir de um quadro tegumentar. Tal
oportunidade no muito frequente, pois necessria a conjuno de
alguns fatores para que ocorra: a doena sistmica deve estar manifestada
de forma mais intensa (ou caracterstica) no tegumento em um doente ainda
sem sintomas gerais, ou com um quadro geral ainda incaracterstico,
devendo a correta diagnose dermatolgica e sua consequente correlao
com um quadro geral ser suspeitada com presteza. Para isso, o
dermatologista e o patologista responsvel devem ser precisos na diagnose
57
e ter um conhecimento abrangente quanto insero do sistema tegumentar
na economia geral do organismo.
6.2. Anlise geral dos casos
As manifestaes cutneo-mucosas das doenas do sistema
digestrio so mltiplas, sendo objeto de estudos de diversas publicaes e
captulos de livros (CALLEN e JORIZZO, 1995; BRAVERMAN, 1998). As
publicaes dermatolgicas sobre esse assunto tratam-se, em sua grande
maioria, de casos isolados ou sries diminutas; as maiores casusticas vm
de estudos retrospectivos e compilaes de vrios artigos em publicaes
de Gastroenterologia ou Odontologia (BERNSTEIN e MCDONALD, 1978;
PLAUTH et al, 1991). Um estudo prospectivo em crianas foi recentemente
publicado (HARTY et al, 2005). Os casos aqui estudados compareceram
todos Clinica Dermatolgica do Hospital das Clnicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de So Paulo, independentemente de terem ou
no sua doena inflamatria intestinal previamente diagnosticada. Com o
intuito de tentar aumentar nossa casustica, um dos membros do nosso
Grupo frequentou a Clnica de Gastroenterologia por vrios meses
examinando a cavidade oral dos doentes com doena inflamatria intestinal;
curiosamente, porm, nenhum outro caso foi detectado. Esse dado em
nossa opinio refora a importncia do dermatologista na abordagem dessas
manifestaes.
58
Dos nossos 10 casos, em cinco as leses orais foram observadas em
doentes j previamente diagnosticados com doena inflamatria intestinal, e
apresentaram tais leses na vigncia de surtos dessa. No entanto, em
quatro, a correta diagnose da leso oral levou suspeita de doena
inflamatria intestinal ainda no diagnosticada, com posterior confirmao.
Em um desses (caso dois), a suspeita se deveu associao do quadro oral
exuberante com uma sintomatologia geral sugestiva (febre, perda de peso,
edema). Nos casos seis e oito, porm, as leses orais vinham
desacompanhadas de qualquer sintoma geral bvio que levantasse suspeita,
sendo a investigao conduzida com base em slida hiptese clnico-
patolgica.
No caso seis, a correlao da dor no quadril (sintoma significativo,
porm relatado de forma pouco objetiva pelo doente) com a atividade da
doena de Crohn foi feita apenas aps a confirmao colonoscpica da
diagnose.
No caso sete, a diagnose de doena de Crohn foi suspeitada a partir
das leses cutneas; seu comprometimento oral era clinicamente discreto,
porm foi observado esboo de granuloma histopatologia, apesar do
predomnio de quadro fibro-cicatricial.
No caso oito, a diagnose de retocolite ulcerativa se fez apenas aps
um ano da caracterizao do quadro dermatolgico como pioestomatite/
59
piodermite vegetante, j que a primeira colonoscopia mostrava apenas sinais
de colite leve no especfica, considerada no diagnstica. Aps um ano,
frente a um novo surto de leses orais, acompanhada de diarreia mais
intensa, uma nova colonoscopia confirmou a diagnose. Esse caso
exemplifica bem a possibilidade de, frente a uma diagnose clnico-patolgica
bem constituda, se suspeitar fundamentadamente de uma doena sistmica
mesmo antes de uma sintomatologia caracterstica se instalar.
O doente 10 apresentava retardo mental grave, sua me relacionava
sua diarreia de longa evoluo a uma incapacidade de reter as fezes, nunca
tendo procurado assistncia para esse sintoma. A diagnose de pioestomatite
vegetante levou investigao colonoscpica e correta diagnose.
6.3. Afta
As lceras aftosas representam um distrbio na reatividade da
mucosa oral, e mais raramente de outras mucosas ou at da pele, a diversos
estmulos patognicos conhecidos ou no (FIELD e ALLAN, 2003). Diversas
doenas sistmicas podem cursar com aftas na sua evoluo, como doena
de Behet, neutropenia cclica, AIDS e doena inflamatria intestinal
(TROST e MCDONNELL, 2005). Em todas essas situaes, o espectro
clnico-patolgico da afta o mesmo, podendo ento ser ela considerada
uma manifestao cutneo-mucosa caracterstica, mas no especfica, de
atividade daquelas doenas. Acreditamos que da mesma forma devemos
60
considerar outros padres clnico-patolgicos de distrbios da reatividade
cutneo-mucosa, como o pioderma gangrenoso, a piodermite/ pioestomatite
vegetante e a sndrome de Sweet. Todos esses processos se caracterizam
inicialmente por um afluxo macio de polimorfonucleares neutrfilos que iro
provocar destruio tissular em maior ou menor grau, ocorrendo em
perodos de atividade de diversas doenas sistmicas (FIELD e ALLAN,
2003). A possvel identidade entre a afta, o pioderma gangrenoso, a
piodermite/ pioestomatite vegetante e a sndrome de Sweet levantada
quando se analisam no s seus substratos histopatolgicos como tambm
as situaes clnicas em que ocorrem, sendo a doena inflamatria intestinal
uma das mais caractersticas (NIGEN et al, 2003; TROST e MCDONNELL,
2005; ARDIZZONE et al, 2008;). Em nossa doente nmero um, inclusive, as
aftas orais eram acompanhadas de um quadro cutneo tpico de sndrome
de Sweet. Quanto histopatologia nesse caso, tanto na pele quanto na
mucosa observou-se um infiltrado inflamatrio rico em neutrfilos, cuja nica
diferena foi a ulcerao presente na leso da mucosa. O aparecimento
simultneo das leses cutneas e mucosas, e o quadro histopatolgico
quase idntico das aftas e das leses da pele contribuem ainda mais para a
nossa impresso quanto similaridade patogentica entre esses quadros.
6.4. Pioestomatite vegetante
Formas superficiais de pioderma gangrenoso so descritas na
Literatura como semelhantes sndrome de Sweet (GIBSON, 2005), assim
61
como a piodermite vegetante considerada a forma vegetante do pioderma
gangrenoso, sendo a pioestomatite vegetante sua expresso mucosa (AL-
RIMAWI et al, 1998). Esses nomes refletem provavelmente diferentes
expresses morfolgicas de um mesmo processo patolgico, caracterizado
por uma reatividade cutneo-mucosa alterada e mediada por neutrfilos,
devido a uma doena sistmica subjacente. Em nossa doente oito, a
coexistncia da pioestomatite vegetante com uma leso destrutiva no hlux,
que pode ser diagnosticada tanto como pioderma gangrenoso ou piodermite
vegetante, refora essa hiptese.
Como dissemos, a pioestomatite vegetante pode ser considerada o
anlogo mucoso do pioderma gangrenoso. Porm, ao contrrio do pioderma
gangrenoso cutneo, que observado na vigncia de diversos processos
sistmicos (desde artrite reumatide, discrasias plasmocitrias, at doena
inflamatria intestinal) (BENNETT et al, 2000; TROST e MCDONNELL,
2005), a pioestomatite vegetante tem sido descrita quase sempre associada
retocolite ulcerativa, o que ocorreu nos nossos trs doentes (MARGOLES
e WENGER, 1961; MCCARTHY e SHKLAR, 1963; FORMAN, 1965; BALLO
et al, 1989; CHAN et al, 1991; HEALY et al, 1994; CALOBRISI et al, 1995).
Na Literatura, principalmente em publicaes mais antigas, a
pioestomatite vegetante possivelmente confundida com formas vegetantes
de pnfigo vulgar (pnfigo vegetante) (HALLOPEAU, 1898). O quadro
histopatolgico da pioestomatite vegetante caracteriza-se por infiltrado
62
inflamatrio rico em neutrfilos e eosinfilos, podendo ser observados graus
variveis de acantlise (STORWICK et al, 1994; MEHRAVARAN et al, 1997).
A incluso em nossa casustica dos casos nove e dez pode ser considerada
controversa por vrias razes. Nesses dois casos foi observada acantlise
suprabasal do epitlio, alm de presena intensa de anticorpos IgG
intercelulares no exame de imunofluorescncia direta, achados
caractersticos de pnfigo vulgar. Acantlise ocorrendo em casos de
pioestomatite vegetante foi observada por Storwick e Mehravaran, sendo
esses os nicos autores a descreverem tais achados e, mesmo assim, num
padro focal (STORWICK et al, 1994; MEHRAVARAN et al, 1997). Em
nosso caso oito, a acantlise era focal, porm, nos casos nove e dez, era
extensa. A imunofluorescncia indireta nesses dois casos revelou tambm a
presena de auto anticorpos do tipo IgG circulantes em ttulos elevados.
Essas caractersticas so diagnsticas do pnfigo vulgar, e dessa forma
esses doentes tenderiam a ser categorizados como tal; no entanto algumas
peculiaridades clnico-evolutivas merecem uma reflexo mais
pormenorizada. Nos dois casos o quadro clnico se caracterizava por leses
obviamente pustulosas por toda a mucosa, onde o sinal de Nikolsky no era
obtido, e no por eroses e bolhas como no pnfigo. Alm disso, os dois
apresentavam as leses havia bastante tempo, sendo essas sempre
restritas mucosa e nunca progredindo para a pele, como se esperaria em
casos de pnfigo no tratado. Mais significativamente ainda, o quadro
mucoso tinha ntido paralelismo clnico com a atividade da doena
inflamatria intestinal, inclusive respondendo ao tratamento da mesma com
63
as drogas antiinflamatrias. Quando se utilizaram os corticoesteroides
sistmicos, fez-se em doses baixas, o que provavelmente no levaria a
melhora em se tratando de pnfigo, que exige doses imunossupressoras de
ataque.
Esses dois casos levam-nos a tecer algumas especulaes quanto
surpreendente observao da ocorrncia de autoanticorpos em casos de
pioestomatite vegetante, e mesmo sobre uma possvel identidade entre essa
e o pnfigo vulgar. Como j dissemos, autores antigos utilizavam uma
nomenclatura confusa para manifestaes clinicamente semelhantes cuja
natureza era desconhecida, como: pnfigo vegetante de Neumann,
pnfigo vegetante de Hallopeau, piodermite vegetante de Azua, alm de
pioderma vegetante e pioestomatite vegetante (HALLOPEAU, 1898;
MCCARTHY, 1949; NELSON et al, 1977; NEVILLE et al, 1985). O advento
das reaes de imunofluorescncia contribuiu em muito para a adequada
distino entre essas doenas no sentido de se reconhecer quais seriam
mediadas por autoanticorpos (portanto, variantes de pnfigo) e quais no
(NELSON et al, 1977; NEUMANN e FABER, 1980; STORWICK et al, 1994;
MEHRAVARAN et al, 1997; SORIANO et al, 1999). Casos como os nossos
podem explicar a confuso dos antigos autores, assim como traz-la aos
dias de hoje. Podemos conjecturar tambm que algumas formas do fentipo
pioestomatite vegetante possam representar manifestaes mucosas
mediadas por neutrfilos (e a anlogas ao pioderma gangrenoso), enquanto
outras possam ser variantes de pnfigo.
64
Na Literatura, acantlise tem sido observada em alguns casos de
pioestomatite vegetante (STORWICK et al, 1994; MEHRAVARAN et al,
1997), sendo considerada um epifenmeno possivelmente devido
exposio do epitlio mucoso ao de enzimas proteolticas do infiltrado
inflamatrio; tais enzimas agiriam nas molculas que promovem a coeso
epitelial, provocando a acantlise. Porm, a deteco de autoanticorpos anti-
epiteliais em nossos casos nove e 10 indica que, ao menos em alguns
casos, essa acantlise deva ser imunologicamente mediada, com significado
patolgico distinto. Os ttulos elevados imunofluorescncia indireta, aliados
acantlise significativa ao exame histopatolgico, indicam fortemente que
tais achados possam no ser simplesmente um epifenmeno, sugerindo
existir mesmo uma reao tipo pnfigo com expresso clnica de
pioestomatite vegetante e relacionada doena inflamatria intestinal. O
significado da coexistncia da doena inflamatria intestinal e produo de
autoanticorpos antiepiteliais ainda desconhecido, mas a observao dessa
ocorrncia levanta diversos questionamentos que merecem ser investigados.
Pode-se especular que uma exposio de antgenos epiteliais da mucosa
intestinal ao sistema imune durante a atividade da doena inflamatria
intestinal poderia levar formao, atravs de um mecanismo de epitope-
spreading, de autoanticorpos contra a desmoglena presente nos epitlios
escamosos estratificados. Outra hiptese, um tanto simples, porm, no
deve deixar de ser considerada: a da simples coexistncia da doena
65
inflamatria intestinal com o pnfigo vulgar, que se apresentaria clinicamente
de forma no usual, devido a uma reatividade mucosa j alterada.
Tais achados levam-nos a propor novas perspectivas. Para dar
continuidade a essa nova observao ainda no descrita, nosso grupo se
propor a realizar um estudo experimental com o soro desses doentes, j
estocado, com o intuito de se verificar o real significado patognico desses
autoanticorpos circulantes. Paralelamente, tentaremos identificar a natureza
do antgeno epitelial ao qual tais autoanticorpos esto dirigidos, no intuito de
se confirmar ou no a identidade desse com o antgeno do pnfigo clssico
(desmoglenas).
6.5. Doena de Crohn oral
A ocorrncia de leses granulomatosas histopatologia, localizadas
distncia das pores terminais do tubo digestivo bem documentada em
alguns casos de doena de Crohn (RUOCCO et al, 2007). Leses como a do
nosso doente seis, caracterizadas como lceras de bordas hipertrficas
seguindo o sulco vestibular so muito raras, sendo, porm, muito
caractersticas (DUPUY et al, 1999; PITTOCK et al, 2001; ALAWI, 2005).
Sua observao, mesmo na ausncia de sinais sistmicos significativos,
como ocorreu nesse doente, deve levantar suspeitas fortes e indicar
investigao apropriada. O aspecto morfolgico dessas, lembra em muito as
leses de doena de Crohn na pele, que se apresentam frequentemente
66
como lceras de formato linear comprometendo as pregas cutneas
(RUOCCO et al, 2007). A doente sete apresentava extensas lceras
flexurais com tal aspecto; no sulco vestibular observava-se uma leso de
configurao semelhante, porm pequena. A histopatologia dessa leso
revelou um pequeno esboo de granuloma em uma lmina prpria de
aspecto predominantemente cicatricial. Interpretamos que nesse caso o
aspecto observado possa representar a resoluo de uma leso especfica
idntica do doente seis, no s por seu formato e topografia, como pela
presena, na mesma doente, de mltiplas leses cutneas de aspecto
similar, tanto ativas quanto cicatrizadas.
6.6. Consideraes finais
No foi objetivo do presente trabalho estudar detalhadamente os
esquemas teraputicos utilizados, mesmo porque foram todos institudos
pela equipe de Gastroenterologia; porm significativo observar que, em
todos os doentes, a abordagem da doena de base foi suficiente para que
fossem controladas as leses orais, ressaltando a relao das leses orais
com o quadro geral.
A observao e apresentao desses casos tm como intuito salientar
o papel da pele e das mucosas como parte integrante do funcionamento do
organismo, podendo ser alvo, como qualquer outro rgo, dos processos
patolgicos gerais. Alm disso, o reconhecimento dessas manifestaes
67
mostra-se importante na prtica clnica: algumas dessas leses apareceram
na vigncia de doena sistmica j diagnosticada; porm, em diversos deles,
a correta diagnose clnico-patolgica da manifestao mucosa foi
determinante na revelao da doena sistmica subjacente.
De modo a nosso ver ainda mais significativo, interessantes questes
foram levantadas, que devero ser investigadas e elucidadas por futuros
estudos: so elas a aparente sntese de autoanticorpos antiepiteliais durante
a atividade da doena inflamatria intestinal, alm de uma possvel
heterogeneidade no mecanismo fisiopatolgico da pioestomatite vegetante.
Nessa ltima, alguns casos parecem estar relacionados ligao de
autoanticorpos circulantes ao epitlio da mucosa, aproximando-os assim do
pnfigo vulgar, mas dele aparentemente diferindo pelo aspecto nitidamente
pustuloso e pelo paralelismo clnico-evolutivo com a atividade do processo
sistmico.
68
7. CONCLUSES
69
7. CONCLUSES
1. Apresentamos 10 casos de manifestaes orais ligadas doena
inflamatria intestinal: trs ligados doena de Crohn e sete ligados
retocolite ulcerativa. As manifestaes orais foram: afta (cinco casos),
pioestomatite vegetante (trs casos) e doena de Crohn oral/cutnea
(dois casos).
2. Em dois casos, as leses orais apareceram e foram diagnosticadas,
levando suspeita de doena inflamatria intestinal clinicamente
oculta, sendo diagnosticada somente por colonoscopia.
Em um caso, a correta diagnose das leses orais levou suspeita de
doena inflamatria intestinal, porm essa se manifestou apenas aps
vrios meses.
Em dois casos, as leses orais apareceram concomitantemente aos
sinais e sintomas sistmicos, que levaram diagnose de doena
inflamatria intestinal.
Em cinco casos, as leses orais apareceram durante surto de doena
inflamatria intestinal previamente diagnosticada.
Em todos eles, o tratamento da doena de base controlou as leses
orais.
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