Manual Basico Acordos

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Manual Bsico de Acordos de Parceria de PD&I(Aspectos Jurdicos)

Frum Nacional de Gestores de Inovao e Transferncia de TecnologiaDiretrio NacioNal Do FORTEC 2008-2010Coordenao naCional Marli Elizabeth Ritter dos Santos (PUCRS) Coordenadora Alexandre Stamford da Silva (UFPE) Ana Lcia Vitale Torkomian (UFSCar) Luiz Otvio Pimentel (UFSC) Roberto de Alencar Lotufo (UNICAMP) Coordenaes regionais Francisca Dantas de Lima (FUCAPI) Norte Jos Everton da Silva (UNIVALI) Sul Lus Afonso Bermudez (UNB) Centro-Oeste Maria Rita de Morais Chaves Santos (UFPI) Nordeste Rubn Dario Sinisterra (UFMG) Sudeste

Ana Maria Lisboa de Mello Elaine Turk Faria rico Joo Hammes Gilberto Keller de Andrade Helenita Rosa Franco Jane Rita Caetano da Silveira Jernimo Carlos Santos Braga Jorge Campos da Costa Jorge Luis Nicolas Audy (Presidente) Jos Antnio Poli de Figueiredo Jurandir Malerba Lauro Kopper Filho Luciano Klckner Maria Lcia Tiellet Nunes Marlia Costa Morosini Marlise Arajo dos Santos Renato Tetelbom Stein Ren Ernaini Gertz Ruth Maria Chitt Gauer EDIPUCRS Jernimo Carlos Santos Braga Diretor Jorge Campos da Costa Editor-chefe

Chanceler Dom Dadeus Grings Reitor Joaquim Clotet Vice-Reitor Evilzio Teixeira Conselho Editorial

Frum Nacional de Gestores de Inovao e Transferncia de Tecnologia

Manual Bsico de Acordos de Parceria de PD&I(Aspectos Jurdicos)

Luiz Otvio Pimentel (FORTEC) OrganizadorAutores Adriano Leonardo Rossi (UFRGS) Jos Everton da Silva (UNIVALI) Juliana Correa Crepalde Medeiros (UFMG) Luiz Otvio Pimentel (UFSC) Marcelo Andr Marchezan (STELA) Pedro Emerson de Carvalho (UNICAMP) Sabrina Oliveira Xavier (PUCRS)

Porto Alegre, 2010

Frum Nacional de Gestores de Inovao e Transferncia de Tecnologia, 2010Todos os direitos reservados Proibida a comercializao distribuio restrita aos afiliados do FORTEC

Diretrio NacioNal Do FORTEC 2008-2010Coordenao naCional Marli Elizabeth Ritter dos Santos (PUCRS) Coordenadora Alexandre Stamford da Silva (UFPE) Ana Lcia Vitale Torkomian (UFSCar) Luiz Otvio Pimentel (UFSC) Roberto de Alencar Lotufo (UNICAMP) Coordenaes regionais Francisca Dantas de Lima (FUCAPI) Norte Jos Everton da Silva (UNIVALI) Sul Lus Afonso Bermudez (UNB) Centro-Oeste Maria Rita de Morais Chaves Santos (UFPI) Nordeste Rubn Dario Sinisterra (UFMG) Sudeste

CAPA EDIPUCRS Editora Universitria da PUCRS Av. Ipiranga, 6681 Prdio 33 Caixa Postal 1429 CEP 90619-900 Porto Alegre RS Brasil Fone/fax: (51) 3320-3523 e-mail: [email protected] www.pucrs.br/edipucrs

Vincius Xavier Imagem: Neliana Kostadinova Fotolia Fernanda Lisba Marli Elizabeth Ritter dos Santos

REVISO TExTUAl REVISO FInAl EDITORAO

Supernova

ImPRESSO E ACABAmEnTO

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)F745m Frum Nacional de Gestores de Inovao e Transferncia de Tecnologia Manual bsico de acordos de parceria de PD&I : aspectos jurdicos / Frum Nacional de Gestores de Inovao e Transferncia de Tecnologia ; org. Luiz Otvio Pimentel. Porto Alegre : EDIPUCRS, 2010. 158 p. ISBN 978-85-7430-967-5 1. Transferncia de Tecnologia. 2. Propriedade Intelectual. 3. Direito Autoral. I. Pimentel, Luiz Otvio. II. Ttulo. CDD 342.27Ficha Catalogrfica elaborada pelo Setor de Tratamento da Informao da BC-PUCRS. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reproduo total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas grficos, microflmicos, fotogrficos, reprogrficos, fonogrficos, videogrficos. Vedada a memorizao e/ou a recuperao total ou parcial, bem como a incluso de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibies aplicam-se tambm s caractersticas grficas da obra e sua editorao. A violao dos direitos autorais punvel como crime (art. 184 e pargrafos, do Cdigo Penal), com pena de priso e multa, conjuntamente com busca e apreenso e indenizaes diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).

Participantes da reunio de consulta pblica realizada em Florianpolis, no Curso de Ps-Graduao em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, dias 4 e 5 de maro de 2010

Adriano Leonardo Rossi (UFRGS) Aline M. F. de Souza (MCT/MPEG) Aluizia Aparecida Cadori (EGC/UFSC) Andyara Maria Muniz Reback (AGU/PF/UFPR) Antonio Pinheiro (MCT/MPEG) Camila A. Muniz (UnB) Cluber Gonalves dos Santos (UFPEL) Cleberson das Neves (Bunge Alimentos) Edvaldo Antonio das Neves (DCTA/IFI) Elizabeth Marugeiro Falzoni (AGU/PF/ IF/Sudeste/MG) Everaldo Rocha Bezerra Costa (AGU/PF/UFG) Fabia Aparecida Aigner (UNOCHAPEC) Flavio Pinheiro (UVA) Gilson Manfio (Natura) Izabel Cristina da Silva (UFOP) Jos Everton da Silva (UNIVALI) FORTEC/Sul Jos Maurlio Barbosa da Costa Pereira (AGU/PF/IFPR) Juliana Correa Crepalde Medeiros (UFMG) Jlio Santiago da Silva Filho (CERTI) Ktia Teivelis (UFRJ) Leopoldo Campos Zuaneti (UNESP) Leslie de Oliveira Bocchino (AGU/PF/UFPR) Lvia Bernardino Garcia (DCTA/IFI) Luiz Antonio Marcon (UCS) Luiz Otvio Pimentel (UFSC) membro da coordenao nacional do FORTEC Marcela Krger Corra (IFSC) Marcela Martinelli (Natura) Marcelo Andr Marchezan (STELA) Maria Cristina Csar de Oliveira (UFPA)

Maria Elizabeth Rodrigues (IF/Sudeste/MG) Mario de Noronha Neto (IFSC) Mauro Sodr Maia (AGU/PF/INPI) Nilto Parma (AGU/PF/UFSC) Pedro Emerson de Carvalho (UNICAMP) Ricardo Mendes (NUTEC/CE) Roberto Porto (AGU/PF/SC) representando AGU Roberto Ritter Von Jelita (AGU/PF/IFSC) Rogrio Filomeno Machado (AGU/PF/IFSC) Rosa Maria Vidal Pena (PG/UFPA) Sabrina Oliveira Xavier (PUCRS) Sebastio Marcelice Gomes (UFAM) Suzerly Moreno Farsetti (UNESP) Tas Nasser Villela (PUC/Rio) Zeneida Machado Silveira (AGU/PF/UNIPAMPA)

Comentrios recebidos por correio eletrnico:Artur Stamford da Silva (UFPE) Daniela de Abreu Santos (UNIVILLE) Denis Borges Barbosa (Denis Borges Barbosa Advogados) Gilson Manfio, Marcela Martinelli e Paula Silva (Natura) Graa Ferraz e Antonio Pinheiro (MPEG/ECFPn) FORTEC/Norte Marcus Lessa (Denis Borges Barbosa Advogados) Roberto A Lotufo (UNICAMP), membro da coordenao nacional FORTEC Rosana C. Di Giorgio (CNPEM/CTBE) Sheila da Silva Peixoto (Paulo Afonso Pereira PI) Shirley Virgnia Coutinho e Tas Nasser Villela (PUC/Rio)

Manual Bsico de Acordos de Parceria de PD&I

Sumrio

Prefcio ................................................................................................. Apresentao ......................................................................................... Primeira Parte ASPECTOS CONCEITUAIS DA PARCERIA DE PD&I 1 1.1 1.2 1.3 1.4 Conceito, natureza e diferena do acordo de parceria de PD&I de outros tipos de contratos previstos na lei de inovao ........... Noo de PD&I e do seu resultado ............................................. Acordo de parceria e contrato ..................................................... Acordo de parceria e convnio .................................................... Diferena do acordo de parceria de outros contratos que visam inovao ...................................................................................... a) Contratos de permisso e compartilhamento de laboratrios, equipamentos, instrumentos, materiais e instalaes de ICTs b) Contratos de transferncia de tecnologia e de licenciamento c) Contrato de cesso .................................................................. d) Contratos de prestao de servios ........................................ Natureza jurdica do acordo de parceria ...................................... Negociao de acordo de parceria ............................................... a) Oferta de parceria ................................................................... b) Requisitos da oferta de parceria ............................................. c) O contrato prvio de confidencialidade para negociao de parceria (non disclosure agreements NDA) ......................... d) Alguns itens a serem observados nas negociaes de parceria e) Averbao do acordo de parceria de PD&I no INPI ............. f) Pr-acordo de parceria ............................................................ Validade do acordo de parceria ................................................... Principais clusulas dos acordos de parceria .............................. Contrato de acesso a patrimnio gentico e conhecimento tradicional associado ..........................................................................

11 13

19 19 26 29 30 30 31 34 35 38 39 39 40 41 42 42 43 44 45 47

1.5 1.6

1.7 1.8 1.9

7

PIMENTEL, Luiz Otvio (Org.)

Segunda Parte O ACORDO DE PARCERIA DE PD&I 1 1.1 1.2 2 3 4 4.1 5 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 5.6 6 7 7.1 7.2 7.3 7.4 7.5 8 8.1 8.2 As partes no acordo de parceria .................................................. Precaues para assegurar a garantia do cumprimento de obrigao ........................................................................................... Da licitao .................................................................................. n Gesto relacionada relao entre as partes .......................... Os considerandos no acordo de parceria ..................................... A clusula do objeto .................................................................... A clusula das definies ............................................................ Comunicaes ............................................................................. n Gesto da clusula das definies .......................................... A clusula da alocao dos recursos ........................................... Lugar de alocao dos recursos para a PD&I ............................. Tempo de alocao dos recursos para a PD&I ........................... No alocao dos recursos acordados para a PD&I ................... Mora ou demora na alocao dos recursos para a PD&I ............ Alocao dos recursos financeiros e responsabilidade tributria Alocao dos recursos financeiros e inflao .............................. n Gesto da clusula dos recursos para a PD&I ....................... A clusula do prazo ..................................................................... A clusula da confidencialidade .................................................. A confidencialidade ..................................................................... Clusula de confidencialidade ..................................................... Contrato de confidencialidade (NDA) ......................................... Declarao de confidencialidade ................................................. Prazo da confidencialidade e autoridades responsveis .............. n Gesto da clusula de confidencialidade ................................ A clusula de titularidade da propriedade intelectual ................. Titularidade e cotitularidade dos direitos de propriedade intelectual .......................................................................................... A propriedade intelectual das partes anterior ao acordo de parceria ............................................................................................. n Gesto da clusula de titularidade da propriedade intelectual 51 53 53 56 58 59 61 65 65 66 68 68 68 69 69 69 70 71 72 72 74 76 77 77 79 81 82 92 94

8

Manual Bsico de Acordos de Parceria de PD&I

9 9.1

A clusula de explorao dos direitos de propriedade intelectual .......................................................................................... Critrios de avaliao da tecnologia para fins de definio da participao na explorao comercial ......................................... a) Proteo por um regime jurdico de propriedade intelectual .. b) Exclusividade de explorao em mercado relevante .............. c) Processo tecnolgico indito mundialmente .......................... d) Sustentao de benefcio principal do produto ...................... e) Substituio de alguma espcie de matria-prima ................. f) Impacto positivo na estratgia de sustentabilidade ecolgica da empresa, do ponto de vista de contribuio da tecnologia que resulta da PD&I .............................................................. g) Dificuldade na reproduo da tecnologia ............................... h) Maturidade tecnolgica .......................................................... Exclusividade de uso da tecnologia ............................................ A clusula da divulgao dos resultados da PD&I ..................... A clusula das responsabilidades ................................................ A clusula das outras obrigaes ................................................. A clusula da alterao e extino da parceria ............................

95 96 97 97 98 98 98 98 99 99 99 102 104 106 108 108 108 109 109 112 112 113 114 114 116 117 118 118 119 119

9.2 10 11 12 13

13.1 Alterao do acordo .................................................................... 13.2 Autonomia das clusulas ............................................................. 13.3 Transferncia de posio no acordo ............................................ 13.4 Extino do acordo ...................................................................... 13.5 Da evico ................................................................................... n Gesto clusula de alterao e extino do acordo ................ 14 15 A clusula penal .......................................................................... A clusula do foro, da lei aplicvel e do fechamento ..................

15.1 Eleio de foro ............................................................................ 15.2 Lei aplicvel ................................................................................ 15.3 Meno expressa eficcia dos considerandos e anexos ............ 15.4 Publicao do extrato do acordo na imprensa oficial .................. 15.5 Fechamento do instrumento de acordo ....................................... 16 Os anexos ao acordo de parceria de PD&I ................................. 16.1 Plano de trabalho e protocolo de entrega de resultados da PD&I ..........................................................................................

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PIMENTEL, Luiz Otvio (Org.)

17 Comentrios ................................................................................ 17.1 Acordo de cooperao de P&D Petrobras/Universidade: anlise da clusula de propriedade intelectual Ricardo Pereira, Luiz Otvio Pimentel, Juliana Correa Crepalde Medeiros, Adriano Leonardo Rossi, Joo Marcelo de Lima Assafim ........................ 17.2 Titularidade e explorao de resultados: aspectos importantes que devem ser considerados Pedro Emerson de Carvalho ....... 17.3 In the public interest: nine points to consider in licensing university technology Juliana Correa Crepalde Medeiros e Pedro Emerson de Carvalho ........................................................ 17.4 Pontos a serem considerados nas atividades de licenciamento Adriano Leonardo Rossi ............................................................. 17.5 Parcerias com observncia s regras do Manual de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnolgico do Setor de Energia Eltrica da Agncia Nacional de Energia Eltrica ANEEL: problemas a serem sanados do ponto de vista da ICT Juliana Correa Crepalde Medeiros e Pedro Emerson de Carvalho ..................... 17.6 P&D ANEEL: problemas a serem sanados Adriano Leonardo Rossi ............................................................................................ 17.7 A regulao do acesso ao patrimnio gentico, a realidade das pesquisas na Amaznia e o artigo 16 da CDB: transferncia de tecnologia Antnio Pinheiro ................................................ Referncias ............................................................................................ Sobre os Autores ...................................................................................

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122 132

138 141

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144 149 157

SiglaS utilizadaSICT Instituio Cientfica e Tecnolgica Pblica ou Privada. As ICTs esto previstas na Lei de Inovao. FORTEC Frum Nacional de Gestores de Inovao e Transferncia de Tecnologia. O primeiro Estatuto foi discutido na UFSC, Florianpolis, em 1 de maio de 2006, e aprovado na Reunio Plenria realizada na IX REPICT, Rio de Janeiro, em 19 de junho de 2006; o Estatuto atual foi aprovado na Reunio Plenria do dia 29 de abril de 2009, realizada no III Encontro, UNICAMP, Campinas. NDA Non Disclosure Agreements. Sigla em ingls utilizada para designar os contratos de confidencialidade. NIT Ncleo de Inovao Tecnolgica. a instncia gestora de inovao e transferncia de tecnologia das universidades e instituies de pesquisa pblicas e privadas sem fins lucrativos, sendo responsvel institucionalmente pelo gerenciamento das polticas de inovao e das atividades relacionadas propriedade intelectual e transferncia de tecnologia. Os NITs esto previstos na Lei de Inovao. PD&I Pesquisa e Desenvolvimento para a Inovao.

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Manual Bsico de Acordos de Parceria de PD&I

Prefcio

O

Frum Nacional de Gestores de Inovao e Transferncia de Tecnologia (FORTEC) tem a satisfao de colocar disposio dos gestores de NITs de ICTs brasileiras o presente Manual Bsico de Acordos de Parcerias de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovao. Este Manual visa a atender a uma demanda dos gestores, no sentido de prover uma ferramenta de gesto para o encaminhamento de projetos de pesquisa para desenvolvimento conjunto com parceiros, atravs de sua formalizao por meio dos instrumentos jurdicos adequados. Para sua organizao e publicao, o Manual contou com o substancial apoio do Ministrio da Cincia e Tecnologia, por meio do projeto CV 088/08, que viabilizou a reunio de especialistas nos temas de propriedade intelectual e transferncia de tecnologia para, em conjunto, discutir e sistematizar os principais modelos de instrumentos jurdicos adotados pelas ICTs, nesta rea especfica de atuao. De acordo com seu objetivo, alm dos aspectos conceituais e de definies jurdicas, o Manual contm elementos prticos para que o gestor possa aplicar em sua rotina no NIT, sendo-lhe possvel identificar as situaes e as possveis solues a serem encaminhadas, com base na experincia dos profissionais que participaram de sua elaborao. Assim, o Manual aborda os principais conceitos jurdicos e a natureza dos Acordos de Parceria de PD&I, bem como os tipos de contratos previstos na Lei de Inovao (Lei n 10.973/2004). Do ponto de vista de sua aplicao prtica, o Manual prov uma anlise detalhada das principais clusulas utilizadas nos Acordos de Parceria, de modo a contribuir para a soluo das principais dvidas que surgem no dia a dia do gestor. Dada complexidade dos aspectos envolvidos, e considerando que cada situao apresenta aspectos particulares que precisam ser adequadamente expressos num instrumento jurdico, o Manual no prope modelos ou padres previamente estabelecidos (defaults), mas sugere um conjunto de itens que devem ser contemplados em cada uma das situaes descritas.

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PIMENTEL, Luiz Otvio (Org.)

Ao disponibilizar este Manual, o FORTEC tem a certeza de estar preenchendo uma importante lacuna na gesto dos NITs, alm de dar uma importante contribuio para a disseminao de boas prticas nesta fundamental rea de atuao dos NITs das ICTs brasileiras.

marli elizabeth ritter doS SantoSCoordenadora Nacional do FORTEC

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Manual Bsico de Acordos de Parceria de PD&I

Apresentao

O

FORTEC apresenta o Manual Bsico de Acordos de Parceria de Pesquisa e Desenvolvimento para a Inovao (PD&I), focalizando os aspectos jurdicos, que parte do Projeto MCT-CV-088/08, Disseminao de Boas Prticas de Gesto nos Ncleos de Inovao Tecnolgica, meta 4. objetivo especfico do projeto, no qual se enquadra a meta em questo, a formulao de polticas, definio de tcnicas de elaborao e de gesto de acordos das instituies de pesquisa, pblicas e privadas, nas atividades orientadas para a inovao tecnolgica com as empresas, especialmente PD&I. O manual ora apresentado cumpre a poltica do Diretrio Nacional do FORTEC de oferecer um referencial jurdico mnimo para suprir as dificuldades dos Ncleos de Inovao Tecnolgica (NITs) que desejem elaborar suas polticas internas de PD&I, regulamentar e criar seus prprios checklists ou modelos de acordos, o que ser possvel a partir das orientaes aqui expostas. O gestor dos NITs juntamente com sua assessoria jurdica, ao utilizar esta ferramenta, deve ter o cuidado de ressalvar, no caso da publicao de seu checklist ou modelos de acordo de parceria de PD&I, que se trata de uma referncia e no de uma proposta vinculante de autorregulamentao de contrato. importante ressaltar, com efeito, que cada acordo tem suas peculiaridades e deve ser negociado minuciosamente com os parceiros de forma a se ajustar s demandas especficas de cada caso concreto. Ademais, as orientaes aqui apresentadas devero ser adaptadas s prticas polticas e jurdicas de gesto da propriedade intelectual de cada instituio. Para a elaborao deste manual, consideramos o atual contexto do ordenamento jurdico brasileiro, em especial a Lei de Inovao Lei n 10.973, de 2 de dezembro de 2004, e o seu regulamento, o Decreto n 5.563, de 11 de outubro de 2005. Portanto, no pretendemos sugerir alteraes julgadas necessrias para melhor adequao da legislao deste tipo de parceria. Observando que parte significativa dos acordos de parceria de PD&I envolve pelo menos um rgo da administrao pblica, precisamos levar em conta que a autonomia da vontade fica bastante relativizada, o que exige ateno redobrada com as prescries da legislao vigente.

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PIMENTEL, Luiz Otvio (Org.)

O livro partiu do alicerce j desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Propriedade Intelectual, Transferncia de Tecnologia e Inovao do Curso de Ps-Graduao em Direito e do Programa de Ps-Graduao em Engenharia e Gesto do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina no Arranjo Produtivo Local Tecnologia, Informao e Comunicao (Projeto Platic), financiado pela FINEP. Trata-se de um manual bsico, que aborda os requisitos legais considerados essenciais para a celebrao de acordos de parceria. O manual no pretende esgotar o assunto, que extremamente complexo e dinmico. De fato, os acordos de parceria envolvem pesquisas em reas tecnolgicas distintas, algumas disciplinadas por marcos legais diferentes. Considerado esse contexto, alm de muitos requisitos essenciais aqui tratados, sero exigidos ajustes em cada acordo, a ser celebrado, para atender s demandas especficas de cada rea do conhecimento. Assim, o FORTEC ficar aberto para ampliao, aperfeioamento e criao de outros manuais especficos para Instituies Cientficas e Tecnolgicas (ICTs), considerando a natureza pblica ou privada, bem como os setores especficos, como o farmacutico, mecnico, eletrnico, informtica, energia, aeroespacial, entre outros no menos importantes. Neste manual bsico, destinado aos assessores jurdicos e gestores dos NITs, define-se o que acordo de parceria de PD&I, enquanto espcie de convnio ou contrato privado, os requisitos necessrios para a sua validade e eficcia, conforme o regime jurdico brasileiro, os elementos que so comuns a todos os contratos e as suas principais clusulas. Entendemos que o contedo aqui exposto tem o carter de orientao, possibilitando que cada NIT a partir de sua poltica e normas administrativas internas (estatuto, regimento, etc.) e de sua realidade local, poder adapt-lo da forma que melhor lhe aprouver. Aps intensa discusso, o grupo entendeu que um manual com nfase em modelos, teria um efeito limitador muito forte, ante a dinmica de cada campo tecnolgico, alm claro do srio risco de tornar-se obsoleto rapidamente, devido dinamicidade dos assuntos. Optamos, portanto, por um manual baseado nas boas prticas de arranjo dos elementos de um acordo de PD&I (partes, considerandos, objeto, definies, preo e prazo, confidencialidade, propriedade intelectual, divulgao e publicaes, responsabilidades, outras obrigaes, casos de resciso, foro e anexos, como o plano de trabalho), usando os itens que permitem a elaborao de futuros instrumentos de acordo. O grupo entendeu que vrias so as possibilidades futuras para dar seguimento ao trabalho j realizado, como a produo de manuais por reas especifica (farmacutico, mecnico, eletrnico, informtica, energia,

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Manual Bsico de Acordos de Parceria de PD&I

aeroespacial, etc.), conforme a natureza da ICT, pblica, comunitria, privada, universidade, centro, instituto ou empresa de pesquisas. O FORTEC e o grupo encarregado de escrever o manual agradecem as excelentes sugestes, comentrios e crticas recebidas. Na reunio de consulta pblica realizada no CPGD/UFSC compareceram 44 pessoas com interesse especfico no tema, entre eles assessores de assuntos legais de NITs, procuradores federais e de ICTs, o procurador-chefe do INPI, a representao da Advocacia-Geral da Unio e de empresas que j realizam parceria e sistematizaram suas polticas de acordos de PD&I. Foram recebidas, tambm, vrias mensagens por correio eletrnico. As opinies expressas representam o entendimento alcanado pelo grupo de autores participantes, muitas vezes distintos da orientao profissional pessoal de cada um. As contribuies e a participao na reunio de discusso do manual no vinculam, nem as pessoas fsicas e nem as instituies que representam, o mesmo em relao s contribuies enviadas por via epistolar ou telefone. Ainda como fruto da elaborao deste Manual importante ressaltar a criao de um frum jurdico para discusso online dos instrumentos contratuais relacionados atividade de gesto da propriedade intelectual. Assim, concluda a meta do projeto, por ora, fica nossa contribuio discusso do tema, esperando que o futuro nos permita aprofund-lo com o amadurecimento do assunto e as contribuies da doutrina especializada. Agradecemos por todo o apoio recebido dos colegas do FORTEC, Advocacia-Geral da Unio, empresas e do Ministrio da Cincia e Tecnologia. Recife, 28 de abril de 2010.

luiz otvio Pimentel

Organizador

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Primeira Parte ASPECTOS CONCEITUAIS DA PARCERIA DE PD&I

Manual Bsico de Acordos de Parceria de PD&I

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Conceito, natureza e diferena do acordo de parceria de PD&I de outros tipos de contratos previstos na Lei de Inovao

1.1 Noo de PD&I e do seu resultadoOs acordos de parceria de PD&I tm o objetivo de alcanar resultados voltados para a inovao tecnolgica. O que implica a utilizao na empresa,1 que o ambiente produtivo ou social, atravs do comrcio, como veremos adiante. Visando compreender o marco jurdico que regula essa parceria, a primeira indagao a ser respondida qual o alcance da expresso atividades de inovao tecnolgica, e qual o papel da PD&I no processo de inovao tecnolgica. A resposta pode ser encontrada no manual de Frascati:2As atividades de inovao tecnolgica so o conjunto de etapas cientficas, tecnolgicas, organizativas, financeiras e comerciais, incluindo os investimentos em novos conhecimentos, que levam ou que tentam levar implementao de produtos e de processos novos ou melhorados. A P&D no mais do que uma destas atividades e pode ser desenvolvida em diferentes fases do processo de inovao, no sendo utilizada apenas enquanto fonte de ideias criativas, mas tambm para resolver os problemas que podem surgir em qualquer fase at a sua implementao.

importante destacar preliminarmente, tambm, a diferena de P&D de outras atividades afins que visam inovao, que segundo o manual de Frascati3 podem ser resumidas no seguinte:Empresa: a atividade econmica organizada para a produo ou a circulao de bens ou de servios. Sendo obrigatria a inscrio do empresrio no Registro Pblico de Empresas Mercantis (Cdigo Civil, artigo 966 e 967). MANUAL DE FRASCATI: Proposta de prticas exemplares para inquritos sobre investigao e desenvolvimento experimental, p. 17. [Original: Organization for Economic Co-operation and Development (OCDE): The measurement of scientific and technological activities. Proposed standard practice for surveys on research and experimental development Frascati Manual, 2002.] MANUAL DE FRASCATI, p. 48.

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PIMENTEL, Luiz Otvio (Org.)

O critrio bsico que permite distinguir a P&D de atividades afins a existncia no seio da P&D de um elemento aprecivel de novidade e a resoluo de uma incerteza cientfica e/ou tecnolgica; ou seja, a P&D aparece quando a resoluo de um problema no evidente para algum que tenha o conjunto bsico de conhecimentos da rea e conhea as tcnicas habitualmente utilizadas nesse setor.

Portanto, a novidade, a resoluo de uma incerteza na cincia e tecnologia (C&T), cincia ou tecnologia, e destinao do resultado para atividades empresariais, so os elementos-chave do conceito de PD&I. A propsito a Lei de Inovao define inovao como a introduo de novidade ou aperfeioamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou servios.4 O primeiro elemento destacado na lei justamente a novidade ou aperfeioamento. Seguindo-se o ambiente produtivo ou social, quer dizer na empresa ou mercado.5 Observa-se tambm que a novidade requisito da proteo de muitos dos institutos da propriedade intelectual, por exemplo, a Lei de Propriedade Industrial, dispe que patentevel a inveno que atenda aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicao industrial.6 Aqui tambm o primeiro elemento a novidade.7 Existem outras fontes de inovao, conforme o manual de Oslo:8Alm da P&D, as empresas podem adquirir tecnologia e know-how de diversas formas e de vrias fontes juntamente com o desenvolvimento e a implementao de inovaes. Isso tambm inclui as aquisies originrias de unidades estrangeiras de empresas multinacionais. A aquisio de conhecimentos e de tecnologias externos pode assumir a forma de patentes, invenes no patenteadas, licenas, divulgao de conhecimentos, marcas registradas, designs e padres. A aquisio de conhecimentos externos pode tambm incluir os servios computacionais e outros servios cientficos e tcnicos para as atividades de inovao de produto e de processo.

A PD&I um processo que pode envolver a pesquisa bsica (pesquisa cientfica) e a pesquisa aplicada (pesquisa tecnolgica), mais o desenvolvimento4 5 6 7

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Lei n 10.973/2004, artigo 2, inciso IV. Mercado entendido como o espao do ambiente social onde so postos a disposio da populao os produtos e servios para a satisfao de necessidades e desejos (PIMENTEL, 1999). Lei n 9.279/1996, artigo 8. A inveno e o modelo de utilidade so considerados novos quando no compreendidos no estado da tcnica. E que o estado da tcnica constitudo por tudo aquilo tornado acessvel ao pblico [...] por descrio escrita ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou no exterior [...] - Lei n 9.279/1996, artigo 11, 1. MANUAL DE OSLO: Diretrizes para coleta e interpretao de dados sobre inovao. [Tambm desenvolvido no projeto para Mensurao das Atividades Cientficas e Tecnolgicas da OCDE] Item que trata das atividades para as inovaes de produto e de processo, p.106-107.

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Manual Bsico de Acordos de Parceria de PD&I

experimental, sempre consiste no cumprimento de uma agenda, de um plano de trabalho, tem um oramento, tem uma equipe de pesquisadores e, por visar a inovao, logicamente, exige um contrato de confidencialidade. O manual de Frascati9 inclui no conceito de P&D trs atividades a pesquisa bsica, a pesquisa aplicada e o desenvolvimento experimental:A pesquisa bsica consiste em trabalhos experimentais ou tericos iniciados principalmente para obter novos conhecimentos sobre os fundamentos dos fenmenos e fatos observveis, sem ter em vista qualquer aplicao ou utilizao particular. A pesquisa aplicada consiste tambm em trabalhos originais realizados para adquirir novos conhecimentos; no entanto, est dirigida fundamentalmente para um objetivo prtico especfico. O desenvolvimento experimental consiste em trabalhos sistemticos baseados nos conhecimentos existentes obtidos pela pesquisa e/ou pela experincia prtica, e dirige-se produo de novos materiais, produtos ou dispositivos, instalao de novos processos, sistemas e servios, ou melhoria substancial dos j existentes. A P&D engloba tanto a P&D formal realizada nas unidades de P&D como a P&D informal ou ocasional realizada noutras unidades.

A chamada Lei do Bem,10 que disciplina a utilizao dos incentivos fiscais por empresas, tambm traz os conceitos que focalizamos, da seguinte forma:I. Inovao tecnolgica: a concepo de novo produto ou processo de fabricao, bem como a agregao de novas funcionalidades ou caractersticas ao produto ou processo que implique melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade, resultando maior competitividade no mercado; II. Pesquisa tecnolgica e desenvolvimento de inovao tecnolgica, as atividades de: a) pesquisa bsica dirigida: os trabalhos executados com o objetivo de adquirir conhecimentos quanto compreenso de novos fenmenos, com vistas ao desenvolvimento de produtos, processos ou sistemas inovadores; b) pesquisa aplicada: os trabalhos executados com o objetivo de adquirir novos conhecimentos, com vistas ao desenvolvimento ou aprimoramento de produtos, processos e sistemas; c) desenvolvimento experimental: os trabalhos sistemticos delineados a partir de conhecimentos preexistentes, visando a comprovao ou demonstrao da viabilidade tcnica ou funcional de novos produtos, processos, sistemas e servios ou, ainda, um evidente aperfeioamento dos j produzidos ou estabelecidos;9 10

MANUAL DE FRASCATI, p. 43. Lei n 11.196, de 21 de novembro de 2005, regulamentada pelo Decreto n 5.798, de 7 de junho de 2006, artigo 2.

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d) tecnologia industrial bsica: aquelas tais como a aferio e calibrao de mquinas e equipamentos, o projeto e a confeco de instrumentos de medida especficos, a certificao de conformidade, inclusive os ensaios correspondentes, a normalizao ou a documentao tcnica gerada e o patenteamento do produto ou processo desenvolvido; e e) servios de apoio tcnico: aqueles que sejam indispensveis implantao e manuteno das instalaes ou dos equipamentos destinados, exclusivamente, execuo de projetos de pesquisa, desenvolvimento ou inovao tecnolgica, bem como capacitao dos recursos humanos a eles dedicados; III Pesquisador contratado: o pesquisador graduado, ps-graduado, tecnlogo ou tcnico de nvel mdio, com relao formal de emprego com a pessoa jurdica que atue exclusivamente em atividades de pesquisa tecnolgica e desenvolvimento de inovao tecnolgica.

No sendo objeto deste manual se debruar exaustivamente na definio de PD&I e sim nos principais elementos jurdicos do acordo que tem por objeto regular uma parceria de PD&I, por entendermos fundamental o entendimento sobre o assunto, que essencial para os gestores e advogados de NITs, remetemos os leitores para o manual de Frascati e o manual de Oslo, que podero ajudar bastante no entendimento do assunto. A pesquisa, cientfica e/ou tecnolgica, objeto do acordo de parceria, demanda a realizao de etapas e metas predefinidas, que devero estar claramente previstas no plano de trabalho que integra o acordo. As partes devero definir como cada uma ir contribuir efetivamente para e execuo da pesquisa. Esta participao pode ocorrer de diferentes formas, como por meio de aportes financeiros e no financeiros, esforo intelectual, dentre outras.11 Uma vez que o acordo de parceria objetiva o alcance de resultados de valor tecnolgico agregado, que podem gerar inovao, a confidencialidade sobre os resultados questo extremamente sensvel, pois est relacionada com o atendimento ao requisito de novidade visto anteriormente. Assim, se a meta a inovao (P&D) + I, as partes devero zelar, desde o incio da pesquisa, pelo segredo das informaes obtidas da execuo da pesquisa. Por isso no acordo de parceria de PD&I, ser imprescindvel constar uma clusula ou anexo com todas as particularidades relacionadas com a confidencialidade e a propriedade intelectual dessas informaes e dos dados disponibilizados e aportados pelos parceiros, indicando a extenso e o grau de segredo que requerem.11

Observar o que estabelece a Conveno da Diversidade Biolgica (CDB) quando se reporta ao acesso a patrimnio gentico por meio de Conhecimento Tradicional Associado (CTA), e a conexo com o Art. 8, alnea j, sobre repartio de benefcios, e art. 16, sobre a transferncia de tecnologia.

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importante destacar que depois de alcanado o objetivo da inovao,12 que foi definida como a introduo de novidade ou aperfeioamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou servios ser possvel a publicao dos resultados. Entretanto, qualquer publicao dever ser acordada previamente pelas partes e atender s disposies previstas na obrigao de confidencialidade. Ademais, desejvel que qualquer divulgao esteja condicionada prvia proteo dos resultados por um dos ttulos de propriedade intelectual. Via de regra, as pesquisas so acompanhadas por um responsvel tcnico de cada instituio parceira. Os parceiros, a partir da definio do escopo da pesquisa, definem com os especialistas e pesquisadores de ICTs os problemas a resolver com a PD&I, observando o estado da tcnica e o que necessrio para a busca de resoluo de uma incerteza da C&T, C ou T, os resultados sero conhecimentos sobre um processo, produto ou servio, seja completo ou parcial. Antes da realizao da pesquisa, importante que seja feita uma busca detalhada de anterioridade. A busca poder ser realizada em bases de dados, como documentos de patentes, e pela reviso da bibliografia impressa e digital. Esta medida capaz de evitar esforos para o desenvolvimento de pesquisas que j estejam disponveis no estado da tcnica. muito importante, para o xito da parceria, identificar, dentro da instituio de pesquisa, quem so os grupos e os laboratrios habilitados para atingir o objetivo pretendido. O objeto do acordo de parceria pode objetivar o alcance de resultados distintos, como acesso a patrimnio gentico por meio de conhecimento tradicional associado, estudo de viabilidade, realizao de testes, construo de prottipos, construo de planta-piloto, dentre outros. O objetivo da pesquisa e desenvolvimento dever ser bem definido no objeto do acordo de parceria, como ser visto adiante. A PD&I requer, geralmente, dados e informaes detalhados do problema a resolver, das necessidades do projeto, por isso to importante a elaborao do Plano de Trabalho, pois nele estaro discriminados as metas, indicadores, relatrios e o cronograma detalhado da pesquisa e do desenvolvimento. Cabe observar que o instrumento principal do acordo o documento com as obrigaes jurdicas, enquanto o plano de trabalho contm as obrigaes tcnicas. O acordo deve conter tambm disposies relativas titularidade de toda a propriedade intelectual pertencente a cada parceiro, anterior a PD&I, que12

No se confunde inovao com inveno. A inovao significa que o produto foi introduzido no mercado; enquanto a inveno uma novidade, revestida de atividade inventiva e que tem aplicao industrial, no faz parte do seu conceito a comercializao.

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ser alocada para utilizao na execuo do projeto da parceria. Podendo incluir licenas cruzadas ou recprocas. No que se refere titularidade sobre os resultados obtidos da execuo de acordos de parceria de PD&I, esta dever ser partilhada entre os partcipes de forma proporcional sua contribuio no projeto, nos termos da Lei de Inovao, que estabelece:Art. 9. facultado ICT celebrar acordos de parceria para realizao de atividades conjuntas de pesquisa cientfica e tecnolgica e desenvolvimento de tecnologia, produto ou processo, com instituies pblicas e privadas. [...] 3o A propriedade intelectual e a participao nos resultados [...] sero asseguradas, desde que previsto no contrato, na proporo equivalente ao montante do valor agregado do conhecimento j existente no incio da parceria e dos recursos humanos, financeiros e materiais alocados pelas partes contratantes.

Por esta razo, essencial prever detalhadamente a contrapartida de cada um para o projeto, pois esta contrapartida ser utilizada como parmetro para a definio do percentual de cotitularidade de cada instituio envolvida. Destaca-se que os pesquisadores da ICT envolvidos na execuo do projeto no sero cotitulares dos resultados, uma vez que titular pode ser a instituio na qual esto vinculados. No obstante, eles figuraro como criadores.13 O criador, membro do grupo de PD&I de ICT ou de empresa, via de regra, cede antecipadamente os seus potenciais direitos patrimoniais relativos aos resultados futuros da sua participao no projeto, mantendo sempre o reconhecimento da autoria, permitindo que a ICT ou empresa utilize a criao conforme o ajuste para a realizao da PD&I. Mesmo sem um documento de cesso, por fora da lei14, norma interna15 ou de contrato de trabalho com clusula expressa, a criao que resultar do trabalho do pesquisador ser da ICT ou da empresa qual ele estiver13

Decreto n 5.563/2005: Art. 2 Para os efeitos deste Decreto, considera-se: [...] II - criao: inveno, modelo de utilidade, desenho industrial, programa de computador, topografia de circuito integrado, nova cultivar ou cultivar essencialmente derivada e qualquer outro desenvolvimento tecnolgico que acarrete ou possa acarretar o surgimento de novo produto, processo ou aperfeioamento incremental, obtida por um ou mais criadores; III - criador: pesquisador que seja inventor, obtentor ou autor de criao; [...]. 14 Lei n 9279/1996: Art. 88. A inveno e o modelo de utilidade pertencem exclusivamente ao empregador quando decorrerem de contrato de trabalho cuja execuo ocorra no Brasil e que tenha por objeto a pesquisa ou a atividade inventiva, ou resulte esta da natureza dos servios para os quais foi o empregado contratado. [...] 15 UFSC, Resoluo n 14/CUn/2002: Art. 8 - Ser propriedade da Universidade a criao intelectual [...] desenvolvida no seu mbito, decorrente da atuao de recursos humanos, da aplicao de dotaes oramentrias com ou sem utilizao de dados, meios, informaes e equipamentos da Instituio, independentemente da natureza do vnculo existente com o criador. [...]

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vinculado. Chamamos a ateno, todavia, que o pesquisador dever estar ciente, informado e prestar o seu consentimento expresso para evitar litgio futuros sobre os direitos patrimoniais de propriedade intelectual. Se o resultado tecnolgico da PD&I puder ser protegido por patente, registro ou certificado de propriedade intelectual ou know-how, a cesso incluir a obrigao do fornecimento de todos os dados, documentos e elementos de informao pertinentes tecnologia, conforme prescrito para o setor pblico nos termos do artigo 111, da Lei n 8.666/1993.16 Nesse sentido, o Tribunal de Contas da Unio (TCU), em auditoria dos contratos de informtica do Banco do Brasil, perodo de 1998 a 2003, entendeu que a falta de clusula prevendo a cesso dos direitos patrimoniais do contratado ao Banco era uma irregularidade:Verificamos no contrato que o Banco concorda em estabelecer futuramente, em data incerta, as questes sobre direito de propriedade de patentes, prottipos, equipamentos, programas de computador e outros resultados do trabalho, em desacordo com artigo 111 da Lei 8666/93, que prev que a Administrao pblica s poder contratar servios tcnicos desde que o autor ceda os direitos patrimoniais a ele relativos. [...]. [...] o dispositivo em questo deve ser aplicado em todos os contratos celebrados para a prestao de servios tcnicos especializados, inclusive aqueles que envolvam o desenvolvimento de softwares. Esse entendimento confirmado pela leitura do pargrafo nico do artigo 111 [...].17

Acrescenta-se que o Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto publicou a Instruo Normativa n 4, 19/05/2008, dispondo sobre a contratao de servios de Tecnologia da Informao para a Administrao Pblica Federal direta, autrquica e fundacional. Essa instruo dispe sobre a possibilidade de se justificar os casos em que os direitos de propriedade intelectual no pertencero Administrao Pblica:

Artigo 14. A Estratgia da Contratao, elaborada a partir da Anlise de

Viabilidade da Contratao, compreende as seguintes tarefas: [...] III definio, pela rea de Tecnologia da Informao, da estratgia de independncia do rgo ou entidade contratante com relao contratada, que contemplar, pelo menos: [...] b) direitos de propriedade intelectual e direitos autorais da Soluo de Tecnologia da Informao, documentao, modelo de dados e base de dados, justificando os casos em que tais direitos no vierem a pertencer Administrao Pblica [...].16 17

Lei n 8.666/1993, artigo 111. Relatrio de Auditoria n 006.697/2003-3, Relator: Lincoln Magalhes da Rocha, 10/09/2003.

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Concluindo o tpico, podemos afirmar que a PD&I uma atividade realizada sob confidencialidade, um servio que consiste num processo especializado que pode abranger a pesquisa bsica e a pesquisa aplicada mais o desenvolvimento experimental, tendo por resultado a resoluo de uma incerteza cientfica ou tecnolgica, que pode incluir ambas (C&T), sendo geralmente esse resultado protegido por direitos de propriedade intelectual para potencializar seu valor no mercado, j que destinado ao comrcio.

1.2 Acordo de parceria e contratoPodemos conceituar o acordo de parceria como uma espcie de contrato, porque o contrato definido como um acordo de vontades, celebrado entre duas ou mais pessoas jurdicas, entre duas ou mais pessoas fsicas, ou entre pessoas fsicas e jurdicas. Quando realizado com a participao de um sujeito de direito pblico ser um convnio. Os contratos exercem importante papel na sociedade moderna, foi por meio deles que os indivduos aprenderam a criar direitos e respeitar deveres. Como disse Orlando Gomes:Precisa o homem desses instrumentos jurdicos para alcanar fins determinados por seus interesses econmicos. mediante um desses contratos que ele se desfaz de um bem, por dinheiro ou em permuta de outro bem; que trabalha para receber salrio; que coopera com outrem para obter uma vantagem pecuniria; que a outros se associa para realizar determinado empreendimento; que previne risco; que pe em custdia coisas e valores; que obtm dinheiro alheio; em suma, que participa da vida econmica.18

No que se refere ao vocbulo parceria, o mesmo tem sido utilizado na terminologia jurdica para designar uma forma sui generis de sociedade, em que seus participantes se apresentam com deveres diferentes, tendo, embora, participao nos lucros auferidos.19 Sobre a parceria, De Plcido e Silva, dizia ainda queNo , pois, modalidade de sociedade, que esta, em princpio, se evidencia, em relao aos scios, fundada em direitos e obrigaes mais ou menos anlogos e responsabilidades econmicas acerca de composio do capital social. Na parceria no se faz mister a composio do capital, pois que, em regra, o objeto do negcio, oferecido por um dos parceiros, enquanto outros, apenas, executam servios necessrios sua explorao.

18 19

GOMES, Orlando. Contratos, p.19. De Plcido e Silva. v. III, p. 313-314.

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A previso do acordo de parceria da Lei de Inovao (artigo 9) se enquadra no conceito geral encontrado no tradicional vocabulrio jurdico, antes citado, ao dispor que acordos de parceria podem ser celebrados para realizao de atividades conjuntas de pesquisa cientfica e tecnolgica e desenvolvimento de tecnologia, produto ou processo, entre instituies pblicas e privadas; as partes devero prever, em contrato, a titularidade da propriedade intelectual e a participao nos resultados da explorao das criaes resultantes da parceria, assegurando aos signatrios o direito ao licenciamento; a propriedade intelectual e a participao nos resultados sero asseguradas, desde que previsto no contrato, na proporo equivalente ao montante do valor agregado do conhecimento j existente no incio da parceria e dos recursos humanos, financeiros e materiais alocados pelas partes contratantes. Logo, objetivamente, a caracterizao da parceria de PD&I est na conjugao dos seguintes elementos intangveis e tangveis alocados pelas partes contratantes ou parceiras: recursos humanos e seus conhecimentos, inclusive a propriedade intelectual j existente o capital intelectual (servio de pessoas e bens intangveis); recursos financeiros; recursos materiais, como o laboratrio, os equipamentos, os instrumentos e as instalaes necessrias para o servio de PD&I, seus testes e ensaios (bens tangveis). As pessoas que integram a relao contratual so chamadas de partes ou parceiros, se a relao for regulada por convnio podero ser chamadas de convenentes ou partcipes. Cabem tambm os intervenientes e anuentes, quando a relao assim o exigir. No acordo ajustam-se interesses que convergem para alcanar o negcio almejado pelas partes, tecnicamente designado objeto, ou seja, a realizao de uma P&D, aqui neste manual voltada para a inovao, por isso designada PD&I. No acordo de parceria de PD&I, o objeto a realizao de atividades conjuntas de pesquisa cientfica e/ou tecnolgica e desenvolvimento de tecnologia, produto ou processo, entre instituies pblicas e privadas, onde os parceiros agregam conhecimento, recursos humanos, recursos financeiros e recursos materiais. No direito pblico brasileiro, considera-se contrato todo e qualquer ajuste entre as partes, em que haja acordo de vontades para a formao de vnculo e

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estipulao de direitos e de obrigaes recprocas, seja qual for a denominao utilizada no documento como, por exemplo, acordo, compromisso, protocolo, termo, conforme esclarece a Lei de Licitaes e Contratos da Administrao Pblica.20 Devemos salientar, que o contrato se estrutura na vontade humana, os princpios de segurana e a liberdade volitiva so sua base. O contrato tem sempre sua estrutura calcada na lei, como no poderia deixar de ser, ou na licitude de seu objeto, dado que o contrato, como suporte das relaes jurdicas, repele as condutas ilcitas. o que a lei prescreve ou o que a lei no probe. No Brasil, a Lei de Licitaes e Contratos da Administrao Pblica aplicvel no mbito das relaes regidas pelo Direito Administrativo, mbito do Direito Pblico. Quer dizer que se subordinam ao seu regime jurdico os rgos da administrao direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundaes pblicas, as empresas pblicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios (Lei n 8.666/1993, artigo 1, pargrafo nico). Tambm esto subordinadas a esse regime jurdico as pessoas de direito privado ao contratarem com a administrao pblica (Lei n 8.666/1993, artigo 2, caput). O acordo de vontades bilateral, mas tambm pode ser plurilateral; nesse caso, envolve vrias partes e estabelece obrigaes recprocas e diversas, como ocorre nas parcerias entre empresas e ICTs com o financiamento de agncia de fomento ou financiadores e intervenincia de uma fundao de apoio administrativo. Existem obrigaes que no so contratos como, por exemplo, as declaraes unilaterais de vontade, em que basta a manifestao de uma pessoa para que seja exigida a prestao, como o caso dos ttulos de crdito (cheque, promissria, carta de crdito etc.) e das declaraes ou obrigaes de confidencialidade. Cabe indicar que o regime jurdico brasileiro dos contratos compreende quatro grandes grupos: i) Contratos empresariais privados: aqueles celebrados entre empresas privadas, permitindo um maior poder de arranjo das clusulas, decorrente da autonomia na composio da vontade das partes; ii) Contratos administrativos: aqueles celebrados pelos rgos da administrao pblica com pessoas de direito privado que, em decorrncia das vrias limitaes impostas pelo direito pblico, visam preservar o patrimnio pblico e a igualdade de acesso a esse patrimnio;20

Lei n 8.666/1993, artigo 2, pargrafo nico.

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iii) Contratos trabalhistas: aqueles que visam dotar rgos pblicos e empresas privadas da fora de trabalho, na sua interpretao incidem princpios e regras que tutelam o hipossuficiente sendo, por isso mesmo, geralmente mais favorvel ao empregado, por fora da proteo extracontratual do trabalhador; e iv) Contratos com consumidores: so aqueles que trazem incorporados a proteo extracontratual dos consumidores e, por extenso, seus princpios e suas regras podem tambm ser empregadas para embasar a proteo dos economicamente mais fracos ou dos que no tm condies tcnicas de avaliar bem o produto ou o servio fornecido, como as microempresas e as pessoas fsicas que contratam com grandes empresas; a proteo contratual aqui tambm tem o objetivo de tutelar os hipossuficientes. O contrato um instrumento que regula a circulao de riquezas, desempenhando importante funo econmico-social. O reconhecimento da relevncia deste instrumento para a sociedade a razo determinante para a sua proteo jurdica. No caso dos acordos de parceria de PD&I, seu papel preponderante est associado ideia de representar um instrumento capaz de dar segurana jurdica e incentivar as parcerias entre os centros produtores de conhecimento e o setor produtivo privado, com vistas ao desenvolvimento e autonomia cientfica e tecnolgica do pas, propsito maior da Lei de Inovao, prevista na Constituio Federal, nas Constituies dos Estados, e foco da Poltica de Desenvolvimento Produtivo.21

1.3 Acordo de parceria e convnioO convnio uma espcie de contrato, regido pelo Direito Administrativo Brasileiro, celebrado entre rgos pblicos ou que conta, entre os partcipes, com pelo menos um agente ou rgo pblico (governo, autarquia, etc.). Teoricamente, um tipo de contrato em que o interesse dos partcipes o mesmo, portanto, comum. Segundo Meirelles, a Lei n 9.790/1999 instituiu o que determinou Termo de Parceria. Essa figura jurdica, instituda pela Reforma Administrativa do21

A PDP, Poltica de Desenvolvimento Produtivo, coloca nfase na inovao e no desenvolvimento tecnolgico, foi lanada em 12/05/2008, num momento muito importante para o governo e para a sociedade brasileira, pois marca a retomada da elaborao de polticas abrangentes e coordenadas entre as diferentes esferas do governo e do setor privado. Em 2004, o governo Lula, depois de vrios anos em que no se falava em poltica industrial, lanou as diretrizes para a Poltica Industrial, Tecnolgica e de Comrcio Exterior. Depois, foram aprofundadas aquelas diretrizes e resgatada a capacidade do governo de coordenar suas aes e seus instrumentos para alavancar o desenvolvimento (Ministro Miguel Jorge, MDIC, 2008). Inovar saber fazer melhor algo para ter mais competitividade (Ministro Srgio Rezende, MCT, em 29/05/2008, Rio, Frum INAE/ BNDES).

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Estado, objetivava o estabelecimento de um programa de trabalho, com a fixao dos objetivos a alcanar, prazos de execuo, critrios de avaliao de desempenho, limites para despesas, assim como o cronograma da liberao dos recursos financeiros previstos. Incluindo a previso legal de responsabilizao de eventual malversao do dinheiro pblico envolvido nos acordos, com denncia ao Tribunal de Contas respectivo e ao Ministrio Pblico, sob pena de responsabilidade solidria.22 Geralmente o convnio o instrumento que regula a transferncia de recursos pblicos, visando execuo de programas de trabalho, projetos, atividades ou eventos de interesse pblico; entendendo-se que o convnio atende tambm o interesse social quando inclui uma empresa privada, quando resulta em algum benefcio para a sociedade, como o caso da PD&I. Uma vez que os acordos de parceria PD&I so firmados, via de regra, com a participao de pelo menos um agente pblico, devem estar rigorosamente adstritos ao cumprimento do que a lei estabelece. comum ouvir que os agentes pblicos s podem fazer o que a lei permite, enquanto os agentes privados no podem fazer o que a lei probe.

1.4 Diferena do acordo de parceria de outros contratos que visam inovaoO acordo de parceria de PD&I se difere de outros instrumentos jurdicos previstos na Lei de Inovao que regulam a interao entre as ICTs e o setor privado. De fato, a Lei de Inovao apresenta diversas possibilidades de contratos, sendo eles:

a) Contratos de permisso e compartilhamento de laboratrios, equipamentos, instrumentos, materiais e instalaes de ICTsSegundo o artigo 4 da Lei de Inovao, as ICTs podero, mediante remunerao e por prazo determinado, nos termos de contrato ou convnio: i) compartilhar seus laboratrios, equipamentos, instrumentos, materiais e demais instalaes com microempresas e empresas de pequeno porte em atividades voltadas inovao tecnolgica, para a consecuo de atividades de incubao, sem prejuzo de sua atividade finalstica; ii) permitir a utilizao de seus laboratrios, equipamentos, instrumentos, materiais e demais instalaes existentes em suas prprias dependncias por empresas nacionais e organizaes de direito privado sem fins lucrativos voltadas para atividades de pesquisa, desde que tal permisso no interfira diretamente na sua atividade-fim, nem com ela conflite.22

MEIRELLES, H. L. Direito administrativo brasileiro. 25. ed. So Paulo: RT, 2000, p. 251-252.

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Prevendo a referida lei, que nesses contratos, a permisso e o compartilhamento, obedecero a prioridades, critrios e requisitos aprovados e divulgados pelo rgo mximo da ICT, observadas as respectivas disponibilidades e assegurada a igualdade de oportunidades s empresas e organizaes interessadas. Ademais, esses contratos no podem prejudicar a realizao das atividades fins das universidades, a saber pesquisa, ensino e extenso. Portanto cada universidade dever criar suas regras de forma a estabelecer as condies para realizao deste tipo de contratao, com adequado equilbrio dos interesses envolvidos. Logo, os contratos de permisso e compartilhamento so mais restritos que o acordo de parceria de PD&I. Nos acordos de parceria de PD&I pode ser includa a alocao de laboratrios, equipamentos, instrumentos, materiais e instalaes das partes, alm da participao de capital intelectual. Nos contratos de permisso e compartilhamento, entretanto, no se incluem o uso, gozo e disposio do capital intelectual, conhecimentos (C&T) e recursos humanos, nem financeiros da ICT. Nestes contratos a empresa interessada apenas passa a ter a acesso a infraestrutura da ICT para a realizao de pesquisas de seu interesse. Esta uma modalidade contratual interessante porque coloca disposio das empresas a infraestrutura de alta qualidade concentradas nas ICTs brasileiras. Este contrato dever prever detalhadamente as condies de contratao, inclusive remunerao a ser paga ICT. No acordo de parceria de PD&I, ressaltamos, pode ser includa a alocao de laboratrios, equipamentos, instrumentos, materiais e instalaes das partes. Mas nos contratos de permisso e compartilhamento no se incluem o uso, gozo e disposio do capital intelectual, conhecimentos (C&T) e recursos humanos, nem financeiros das ICTs.

b) Contratos de transferncia de tecnologia e de licenciamentoSegundo os artigos 6 e 7 da Lei de Inovao, facultado ICT celebrar contratos de transferncia de tecnologia e de licenciamento para outorga de direito de uso ou de explorao de criao por ela desenvolvida e, tambm, para obter o direito de uso ou de explorao de criao protegida de terceiros. Transferncia de tecnologia, como ressaltou Denis Borges Barbosa, aqui no sinnimo de cesso e sim de contrato de saber fazer,23 ou de know-how, implicando uma obrigao de dar e fazer, entregar detalhes especificados da tecnologia e comunicar experincias.BARBOSA, Denis Borges. Direito da inovao. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p. 60.

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O legislador separou os contratos de transferncia de tecnologia e de licenciamento. Cabendo indicar que no mbito dos pases-membros da Unio Europeia24 a transferncia de tecnologia um gnero, que tem entre as suas espcies cesso, licenas e saber fazer.25 A Lei n 9.279/1996 estabeleceu queArt. 211. O INPI far o registro dos contratos que impliquem transferncia de tecnologia, contratos de franquia e similares para produzirem efeitos em relao a terceiros. [...]

No Ato Normativo do INPI n 135, de 15/04/1997, que normaliza a averbao e o registro de contratos de transferncia de tecnologia e franquia, ficou regulado administrativamente no item I, 2 queO INPI averbar ou registrar, conforme o caso, os contratos que impliquem transferncia de tecnologia, assim entendidos os de licena de direitos (explorao de patentes ou de uso de marcas) e os de aquisio de conhecimentos tecnolgicos (fornecimento de tecnologia e prestao de servios de assistncia tcnica e cientfica), e os contratos de franquia. [Grifo nosso.]

Fornecimento de tecnologia:Contratos que objetivam a aquisio de conhecimentos e de tcnicas no amparados por direitos de propriedade industrial, destinados produo de bens industriais e servios. Esses contratos devero conter uma indicao perfeita do produto, bem como o setor industrial em que ser aplicada a tecnologia.26Sobre o assunto ver: ASSAFIM, 2005, e REYNARD, 2004. Unio Europeia: Regulamento (CE) n 772/2004 da Comisso, de 27/4/2004, sobre acordos de transferncia de tecnologia, entre um licenciante e um licenciado, Artigo 1, 1. Para efeitos do presente regulamento, entende-se por: [...] b) Acordo de transferncia de tecnologia, um acordo de concesso de licenas de patentes, um acordo de concesso de licena de saber-fazer [know-how], um acordo de concesso de licena de direitos de autor sobre programas informticos ou um acordo misto de concesso de licenas de patentes, de saber-fazer ou de direitos de autor sobre programas informticos, incluindo qualquer acordo desse tipo que contenha disposies respeitantes venda e compra de produtos ou concesso de licenas relativas a outros direitos de propriedade intelectual ou cesso de direitos de propriedade intelectual, desde que essas disposies no constituam o objeto principal do acordo e estejam diretamente relacionadas com o fabrico dos produtos contratuais. igualmente equiparada a acordos de transferncia de tecnologia a cesso de patentes, saber-fazer, direitos de autor sobre programas informticos ou uma conjugao dos mesmos, sempre que parte do risco associado explorao da tecnologia incumba ao cedente, nomeadamente quando o montante a desembolsar pela referida cesso depender do volume de negcios realizado pelo cessionrio relativamente aos produtos fabricados com base na tecnologia cedida, da quantidade de tais produtos fabricados ou do nmero de operaes realizadas com base na utilizao da tecnologia. [...] i) Saber-fazer, um conjunto de informaes prticas no patenteadas, decorrentes da experincia e de ensaios, que : i) secreto, ou seja, que no geralmente conhecido nem de fcil obteno, ii) substancial, ou seja, importante e til para o fabrico dos produtos contratuais, e iii) identificado, ou seja, descrito de forma suficientemente completa, de maneira a permitir concluir que o saber-fazer preenche os critrios de carter secreto e substancial. 26 Disponvel em: http://www.inpi.gov.br/menu-esquerdo/contrato/tipos-de-contrato/fornecimentode-tecnologia-ft, acesso em 15 mar. 2010.24 25

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Assim, se exclumos as licenas da norma administrativa citada, se exclumos tambm a prestao de servios que tipificada no artigo 8 da Lei de Inovao, e observarmos a conceituao europeia, poderemos sugerir que podem ser objeto do contrato de transferncia de tecnologia, ou saber fazer, a aquisio de conhecimentos tecnolgicos:Um conjunto de informaes prticas no protegidas por ttulo de propriedade intelectual, decorrentes da experincia e de ensaios, que : secreto; substancial; e, identificado de maneira a permitir concluir que o saber-fazer preenche os critrios de carter secreto e substancial. Cujo pagamento do preo poder ficar condicionado ao volume de negcios realizado relativamente aos produtos fabricados com base na tecnologia disponibilizada, da quantidade de tais produtos fabricados ou do nmero de operaes realizadas com base na utilizao da tecnologia.

Nos casos de contratos de transferncia de tecnologia e de licenciamento de direitos da ICT, existe restrio na contratao com clusula de exclusividade, que deve ser precedida da publicao de edital.27 Isto com o objetivo de dispor de critrios para qualificao e escolha do contratado. Para a contratao sem exclusividade, permitida a negociao direta entre as partes.28 Quando se tratar de contrato de licenciamento para explorao de criao cujo objeto interessar defesa nacional observar-se- a Lei de Propriedade Industrial.29 No caso de contrato de transferncia de tecnologia e de licenciamento paraexplorao de criao reconhecida, em ato do Poder Executivo, como de relevante interesse pblico, somente podero ser efetuados a ttulo no exclusivo.30 Portanto, nestas duas espcies tpicas de contratos da Lei de Inovao, a ICT licencia e/ou transfere conhecimentos cientficos e tecnolgicos que resultaram de pesquisas e desenvolvimentos realizados antes da contratao, j existem na ICT conhecimentos e servios cientficos e tecnolgicos que resultaram de pesquisas e desenvolvimentos anteriores, cujos resultados esto integrados no patrimnio intangvel da ICT, do seu capital intelectual, fazendo parte dos seus direitos de propriedade intelectual ou posse, e, por isso, podem ser usados pelos interessados que contratarem com esse objetivo. O contrato de transferncia e de licenciamento dever prever detalhadamente as condies para a explorao comercial da tecnologia pelo interessado e deve estar respaldado nos princpios de equilbrio contratual e de boa-f, alis, o que baliza para todo e qualquer contrato, convnio e acordo.Artigo 6, 1 da Lei de Inovao. Artigo 6, 2 da Lei de Inovao. 29 Lei de Inovao, artigo 6, 4: Lei n 9.279/1996, artigo 75, 3. 30 Lei de Inovao, artigo 6, 5.27 28

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No caso de acordo de parceria para obteno de nova cultivar entende-se ser possvel conceder uma licena com exclusividade empresa parceira, por um perodo determinado, aps o desenvolvimento da cultivar protegida e preexistente. Geralmente, por meio de contrato de licenciamento, visando multiplicao e comercializao de sementes de categoria subsequente bsica de cultivar que seja obtida no mbito do aludido convnio, mediante pagamento de royalties.

c) Contrato de cessoA cesso a disposio dos direitos de propriedade intelectual. No contrato de cesso, ao contrrio da transferncia e do licenciamento vistos anteriormente, o titular dos direitos de propriedade intelectual transfere a outrem a sua propriedade (como ocorre na venda de bens materiais). O cessionrio ou adquirente ser o novo titular (proprietrio) do bem. A Lei de Inovao prev apenas a possibilidade de transferncia e licenciamento de criao, no contemplando a possibilidade de cesso patrimonial, a exceo a hiptese prevista no artigo 11, que permite a cesso para o prprio criador.31 O contrato deve ser escrito; no se presume a cesso. Se no houver nenhum dispositivo no contrato, a respeito do mbito territorial da cesso, a disposio valer para todo o territrio nacional. A cesso pode efetivar-se por meio de negcio realizado pelo prprio titular dos direitos, por seus sucessores, por representantes com poderes especiais para proceder cesso ou disposio dos direitos, no sendo suficiente uma procurao com poderes gerais. Em caso de cesso de direitos autorais, o contrato englobar apenas os direitos patrimoniais envolvidos, porque os direitos morais so irrenunciveis e inalienveis.32 No que se refere ao prazo da cesso de direitos autorais patrimoniais, se no for previsto que a cesso total e definitiva, ela ter validade pelo prazo mximo de cinco anos.33 Tratando-se de propriedade industrial patenteada ou registrada e de programas de computador registrado no INPI, ou de software cuja documentao tcnica e/ou material de apoio tenham sido registradas na Biblioteca Nacional, ou de Cultivares com certificados expedidos pelo MAPA, para que tenham efeitos em relao a terceiros, o contrato dever ser levadoArtigo 11, da Lei de Inovao. A ICT poder ceder seus direitos sobre a criao, mediante manifestao expressa e motivada, a ttulo no oneroso, nos casos e condies definidos em regulamento, para que o respectivo criador os exera em seu prprio nome e sob sua inteira responsabilidade, nos termos da legislao pertinente. 32 Lei n 9.610/1998, artigo 27 e Lei n 9.609/1998, artigo 2, 1. 33 Ver Lei n 9.610/1998, artigos 49 a 52.31

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ao rgo respectivo, valendo como instrumento hbil para a mudana de titularidade.34 A cesso pressupe a existncia de um conhecimento envolvendo C&T ou a possibilidade de ele vir a existir. No acordo de parceria de PD&I o conhecimento cientfico e tecnolgico resultara da realizao das atividades que so objeto do acordo, abrangendo a pesquisa e o desenvolvimento. A cesso utilizada como requisito da participao dos recursos humanos alocados na PD&I, geralmente condio, sine qua non, que os pesquisadores cedam os direitos das suas criaes futuras para participarem dos projetos. Exemplo de disposio legal nesse sentido o artigo 111 da Lei n 8.666/1993, conforme j observamos anteriormente.

d) Contratos de prestao de serviosSegundo o artigo 8 da Lei de Inovao, tambm facultado ICT prestar servios a instituies pblicas ou privadas, nas atividades voltadas inovao e pesquisa cientfica e tecnolgica no ambiente produtivo. Engloba parte da prestao de servios de assistncia tcnica e cientfica, prevista na Lei n 9.279/1996, artigo 211, regulada pelo Ato Normativo do INPI n 135/1997, item I, 2, j citado, cujo contrato ser registrado:O INPI [...] registrar [...] os contratos que impliquem transferncia de tecnologia, assim entendidos [...] os de aquisio de conhecimentos tecnolgicos [...] prestao de servios de assistncia tcnica e cientfica [...]35

Prestao de servios de assistncia tcnica e cientfica:Ver: BARBOSA, D. B. Inventos industriais: a patente de software no Brasil I. Revista da ABPI, Rio de Janeiro, v. 88, p. 17-38, 10 out. 2007. 35 Por no caracterizarem transferncia de tecnologia, nos termos do Art. 211 da Lei n 9.279/1996, alguns servios tcnicos especializados so dispensados de averbao pelo INPI. Segue lista no exaustiva desses servios: 1. Agenciamento de compras, incluindo servios de logstica (suporte ao embarque, tarefas administrativas relacionadas liberao alfandegria, etc.); 2. Servios realizados no exterior sem a presena de tcnicos da empresa brasileira, que no gerem quaisquer documentos e/ou relatrios, como por exemplo, beneficiamento de produtos; 3. Homologao e certificao de qualidade de produtos; 4. Consultoria na rea financeira; 5. Consultoria na rea comercial; 6. Consultoria na rea jurdica; 7. Consultoria visando participao em licitao; 8. Servios de marketing; 9. Consultoria realizada sem a vinda de tcnicos s instalaes da empresa cessionria; 10. Servios de suporte, manuteno, instalao, implementao, integrao, implantao, customizao, adaptao, certificao, migrao, configurao, parametrizao, traduo, ou localizao de programa de computador (software); 11. Servios de treinamento para usurio final ou outro treinamento de programa de computador (software) que no caracterize transferncia de tecnologia para a fabricao ou desenvolvimento de programa de computador (software), conforme Art. 11 da Lei n 9.609/98; 12. Licena de uso de programa de computador (software); 13. Distribuio de programa de computador (software); 14. Aquisio de cpia nica de programa de computador (software). Disponvel em: http://www.inpi.gov.br/menu-esquerdo/ contrato/pasta_oquee/serv.dispensados_html, acesso em 15 mar. 2010.34

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Contratos que estipulam as condies de obteno de tcnicas, mtodos de planejamento e programao, bem como pesquisas, estudos e projetos destinados execuo ou prestao de servios especializados. So passveis de registro no INPI os servios relacionados a atividade fim da empresa, assim como os servios prestados em equipamentos e/ou mquinas no exterior, quando acompanhados por tcnico brasileiro e/ou gerarem qualquer tipo de documento, como por exemplo, relatrio.36

A alocao de recursos humanos para os servios ser realizada mediante o pagamento das horas de trabalho e, logicamente, dos encargos tributrios e sociais e de seguro para cobrir acidentes. O custo incluir, assim, o reembolso das horas da ICT e o adicional varivel do pesquisador, acrescido dos custos administrativos. O pesquisador pblico envolvido na prestao de servio poder receber retribuio pecuniria, diretamente da ICT ou de instituio de apoio com que esta tenha firmado acordo, sob a forma de adicional varivel e desde que custeado exclusivamente com recursos arrecadados no mbito da atividade contratada. O mesmo no sendo previsto para os pesquisadores das instituies privadas, cuja regra pode ser aplicada perfeitamente a eles se for previsto por regulamento interno. O valor do adicional varivel, antes referido, ficar sujeito incidncia dos tributos e contribuies aplicveis espcie, sendo vedada a incorporao aos vencimentos, remunerao ou aos proventos, bem como a referncia como base de clculo para qualquer benefcio, adicional ou vantagem coletiva ou pessoal, configurando ganho eventual. O contrato de prestao de servios pode ser celebrado de forma independente ou como obrigao acessria (clusula) das outras modalidades de contratos referidos antes. As obrigaes contratadas podem se referir s atividades como: encomenda de pesquisa ou parte dela; assistncia tcnica e cientfica; assessoria; consultoria; manuteno; suporte tcnico; implantao de tecnologia, de programa de computador; treinamentos; hospedagem de site, de base de dados, de software. Esclarecemos que foram referidos apenas alguns dos contratos possveis de prestao de servios, pois tudo que no processo ou produto servio. Os contratos de prestao de servios esto relacionados soluo de uma demanda pontual, que utiliza tecnologia disponvel no estado da tcnica. Portanto, no objetivam o desenvolvimento de novos conhecimentos cientficos e tecnolgicos, como o que ocorre no acordo de parceria de PD&I.36

Disponvel em: http://www.inpi.gov.br/menu-esquerdo/contrato/tipos-de-contrato/prestacao-deservicos-de-assistencia-tecnica-e-cientifica, acesso em 15 mar. 2010.

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Geralmente as universidades no esto interessadas na prestao de servios de pesquisa, uma vez que a parceria de PD&I mais interessante do ponto de vista econmico e social, pois estimula o verdadeiro avano cientfico e tecnolgico do pas. Permitindo a ICT auferir benefcio financeiro da participao na comercializao de resultados de projetos. Entretanto, no se objetiva aqui retirar o mrito deste tipo de contrato, que tambm importante para a indstria nacional e para a ICT aplicar seu labor especializado e contribuir para a formao de recursos humanos.37 A prestao de servios visando inovao tambm difere da parceria de PD&I. Na prestao de servios h uma encomenda de atividade face aos recursos humanos que possui uma ICT. Na parceria h uma alocao de diferentes recursos para se alcanar um resultado almejado na definio do plano de trabalho da PD&I. No que se refere ao pessoal alocado por instituies de pesquisa pblicas, na prestao de servios o pesquisador pblico envolvido poder receber retribuio pecuniria, na parceria poder receber bolsa. Diferena esta que pode reduzir significativamente o custo de pessoal de um projeto, devido aos encargos envolvidos, e a alocao de outros recursos facilitados pela Lei de Inovao para a PD&I. A modalidade de contrato de prestao de servios dever estar em consonncia com a poltica e normas internas de apoio inovao e propriedade intelectual de cada instituio. Algumas instituies na definio da sua poltica interna entenderam que o contrato de prestao de servios no seria adequado para contemplar as atividades de PD&I e nem para tratar de apropriao dos resultados passveis de proteo por direitos de propriedade intelectual. Nesse sentido, embora exista uma interpretao de que relaes de prestao de servio entre ICT e empresas no visam gerao de resultados passveis de proteo pela propriedade intelectual, na prtica sabemos que, em casos especiais, uma soluo desenvolvida para um problema pontual da empresa poder ser inovadora. Destarte, para no sermos surpreendidos, importante que o NIT tenha conscincia dessa possibilidade e a considere em suas anlises. Caso reste dvida quanto aos resultados pretendidos na relao, cabe recorrer ao pesquisador encarregado da execuo do servio, que poder assessor-lo de maneira muito precisa. A pesquisa contratada, ou seja, aquela que a empresa visa apropriar todos os resultados , por vezes, repelida, pelo entendimento de que se trata de uma situao difcil, especialmente para universidades pblicas, mensurar e decidir caso a caso a cesso total dos direitos, correndo-se o risco de37

Lei de Inovao, artigo 26.

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bloquear pesquisas futuras. Especialmente se o resultado amplo, semente, raiz ou tronco para facilitar o surgimento de novos ramos e frutos tecnolgicos. E, em se tratando de pesquisa, a preferncia pela parceria, apresentase mais adequado do que um contrato de prestao de servios, eis que certamente a ICT colaborar com recursos humanos, materiais, equipamentos e instalaes, implicando uma cotitularidade de propriedade intelectual resultante do projeto. Se a prestao de servios, por sua vez, incluir o uso de equipamentos, laboratrios e outros bens, estes sero computados no preo. Caso uma fundao de apoio, no mbito da Lei 8958/94, esteja na relao de prestao de servios com a universidade e a empresa, ser necessria a previso de uma prestao de contas no trmino do contrato, e, caso permaneam recursos financeiros desta relao, o saldo dever ser depositado na conta nica da universidade.38

1.5 Natureza jurdica do acordo de parceriaA natureza jurdica do acordo de parceria de PD&I mista: obrigao de dar e fazer. A obrigao de dar consiste na alocao dos conhecimentos e dos recursos humanos, financeiros e materiais necessrios PD&I, logo ser inadimplente a parte obrigada que no aportar os recursos comprometidos. A obrigao de fazer a PD&I uma obrigao de meio e no de resultado. Quer dizer, se ao final, depois de consumidos os recursos alocados e terminado o prazo, no houver um resultado suficiente para a resoluo de uma incerteza cientfica ou tecnolgica que possa gerar inovao, ou mesmo um resultado que possa ser protegida por direitos de propriedade intelectual, a obrigao ser considerada cumprida. Portanto h um risco inerente a este tipo de acordo. Nessa modalidade o objeto do acordo parte da prpria atividade da ICT, realizar pesquisa, cabendo a ICT demonstrar que fez todos os esforos possveis, e utilizou todo seu conhecimento tcnico para cumprir o plano de trabalho, mas no estaria implcito neste esforo garantir um resultado. Em se tratando de obrigao de meio, independente de ser a responsabilidade de origem delitual ou contratual, incumbe ao contratante provar a culpa do contratado. O parceiro obrigado s atividades de PD&I somente poder ser demandado por perdas e danos se tiver agido com dolo ou culpa. Para que no haja a caracterizao do dolo ou da culpa, para efeitos de responsabilidade por perdas e danos, necessrio que a ICT adote na vigncia38

Deciso do TCU n 3067/2005.

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do acordo de parceria de PD&I ferramentas de gesto de projetos visando documentar, gerenciar e resguardar a memria histrica da PD&I, de forma a comprovar formalmente o adimplemento da obrigao. O importante ficar clara essa caracterstica da responsabilidade no acordo, para que possveis demandas futuras no ocorram.

1.6 Negociao de acordo de parceriaAs atividades reguladas por um acordo de parceria de PD&I se iniciam com uma proposta ou oferta de projeto, formalizada em funo de necessidade, oportunidade e potencialidade dos futuros parceiros. Havendo interesse comum, a primeira providncia, antes de se iniciarem as negociaes, ser avaliar se as parte tm condies de garantir a alocao dos conhecimentos e dos recursos humanos, financeiros e materiais necessrios realizao da PD&I. Nesse momento a negociao relevante ser para a definio de como cada parceiro ir alocar seus recursos, do problema a ser solucionado na execuo do projeto e de como sero tratados os eventuais resultados obtidos da execuo do acordo. Estas questes devem estar bem esclarecidas desde o incio da parceria. Para a definio das metas, etapas e contrapartidas, os parceiros devero elaborar um plano de trabalho de forma conjunta, o qual ser parte integrante do instrumento do acordo de parceria de PD&I. A parceria de PD&I poder iniciar de vrias formas. Por exemplo, para o atendimento de uma demanda espontnea de uma empresa que procura a ICT para a soluo de um problema tcnico de seu interesse; para buscar o apoio concedido por agncias de fomento, aproximando necessidades empresariais e a potencialidade da ICT, dentre outras. Nessa fase inicial de aproximao, cabe ressaltar a importncia de utilizar atas de reunies, que facilitaro os ajustes alcanados na elaborao do acordo. Eventualmente, os parceiros podero celebrar acordos prvios de confidencialidade, conforme item c abaixo.

a) Oferta de parceriaA oferta de parceria de PD&I uma declarao unilateral de vontade, vivel para a ICT buscar novos parceiros e otimizar a alocao de recursos humanos e seus meios. Conforme o Cdigo Civil, artigo 427, a proposta de contrato obriga o proponente a cumprir aquilo a que se props, salvo se o contrrio no resultar dos seus termos, da natureza do negcio ou das circunstncias do caso.

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Uma proposta deixa de ser obrigatria, se feita sem prazo pessoa presente e se no foi imediatamente aceita, considera-se presente quem contrata por telefone ou meio semelhante, como internet/chat ou skype; feita sem prazo pessoa ausente e se tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; feita pessoa ausente e se no tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; se, antes da resposta, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratao do proponente.39 A oferta ao pblico como edital,40 anncios em home page e folhetos equivale a uma proposta, como est acima definido, quando traz os requisitos essenciais do acordo, salvo se o contrrio resultar das circunstncias. Uma oferta pblica pode ser revogada pela mesma via de sua divulgao, sempre que ressalvada essa faculdade na oferta realizada.41 A oferta confere obrigaes ao proponente. No caso de descumprimento da oferta o interessado pode, alternativamente e sua livre escolha, se aplicvel o Cdigo de Proteo e Defesa do Consumidor:42 Exigir o cumprimento forado da obrigao, nos termos da oferta, apresentao ou publicidade; Aceitar outros servios equivalentes; Pleitear perdas e danos.

b) Requisitos da oferta de parceriaA oferta deve assegurar informaes corretas, claras, precisas, ostensivas e em lngua portuguesa, sobre os recursos humanos, o grupo de pesquisa e seu currculo, a propriedade intelectual j existente, equipamentos, laboratrios e outras instalaes disponveis, bem como as caractersticas, qualidades, quantidade, composio, garantia, preo, prazos de validade e origem, bem como sobre os riscos que apresentam aos usurios, se for o caso.43 Podem ser apresentadas, com ressalva, linhas gerais dos elementos indicados acima, firmando um contrato de confidencialidade (prximo item) com os interessados para a apresentao de mais detalhes das possibilidades de projeto de PD&I.Cdigo Civil, artigo 428. Ver os pargrafos do artigo 7 do Decreto n 5.563/2005, que regulamenta a Lei de Inovao. 41 Cdigo Civil, artigo 429. 42 Lei n 8.078/1990. 43 Cdigo de Proteo e Defesa do Consumidor, artigo 31.39 40

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c) O contrato prvio de confidencialidade para negociao de parceria (non disclosure agreements NDA)Nos casos em que a negociao da parceria de PD&I requer o acesso mais especfico a dados, informaes e conhecimentos, que envolvem segredos, de suma importncia elaborar um contrato que garanta a confidencialidade dessas informaes antes de as partes terem acesso a elas. Podemos dizer que a confidencialidade est intimamente ligada ao conceito de informao privilegiada. Tendo em vista, o carter cada vez mais globalizado do mundo dos negcios comum as empresas e ICT j apresentarem o seu NDA, quando da inteno preliminar de negcio que envolva a apresentao de dados e informaes ou a demonstrao de algum produto ou processo, ou mesmo de projeto. Os NDA so importantssimos para as ICTs, tambm, quando pretendem testar alguma tecnologia em escala industrial, nestes casos sempre importante uma clusula proibindo a engenharia reversa. Podemos salientar algumas caractersticas essenciais desses instrumentos, como por exemplo, definir: informao confidencial, o que no so informaes confidenciais, sigilo, quem so as pessoas com o dever de confidencialidade, estipular um prazo para a obrigao de confidencialidade44 e estabelecer as sanes aplicveis. comum ICTs e empresas que negociam habitualmente entre si estabelecerem um contrato de confidencialidade, vlido para um determinado perodo e para a anlise de sucessivos projetos ou de programas conjuntos, sendo usual a incluso de aditivos ao contrato de confidencialidade, definindo as matrias especficas discutidas e os pontos relevantes que sero mantidos em sigilo. importante observar que, para a validade da obrigao de confidencialidade entre pessoas jurdicas, deve-se providenciar a emisso de declarao de compromisso, assinada pelas pessoas fsicas envolvidas na sua discusso e avaliao, declarando que os dados, as informaes e os conhecimentos cientficos e tecnolgicos fornecidos para anlise encontram-se protegidos por cpias e depositados em lugar seguro, sob dever de guarda de segredo.44

Sobre prazo indicamos a aplicao do Decreto n 4.553/2002, sobre a salvaguarda de dados, informaes, documentos e materiais sigilosos de interesse da segurana da sociedade e do Estado, no mbito da Administrao Pblica Federal: Art. 7. Os prazos de durao da classificao a que se refere este Decreto vigoram a partir da data de produo do dado ou informao e so os seguintes: I ultrassecreto: mximo de trinta anos; II secreto: mximo de vinte anos; III confidencial: mximo de dez anos; e IV reservado: mximo de cinco anos. Pargrafo nico. Os prazos de classificao podero ser prorrogados uma vez, por igual perodo, pela autoridade responsvel pela classificao ou autoridade hierarquicamente superior competente para dispor sobre a matria. (Modificado pelo Decreto n 5.301/2004)

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Se o proprietrio no cuidar, no poder reclamar se vierem a ser revelados indevidamente a terceiros.

d) Alguns itens a serem observados nas negociaes de parceriaConhecer os requisitos legais gerais dos contratos e dos acordos de parceria de PD&I no Brasil: Cdigo Civil Brasileiro, Lei n 10.406/2002; Lei n 8.666/1993; Leis de inovao federal e estadual e seus decretos de regulamentao; Normas administrativas como estatuto, regulamento, diretrizes e resolues da ICT; instrues normativas dos Ministrios, como Planejamento Oramento e Gesto, Fazenda, Minas e Energia, Cincia e Tecnologia, Agricultura, Sade, tambm de rgos dos ministrios como o Tesouro Nacional e o Banco Central, e de agncias reguladores como a ANEEL, ANATEL e ANP; Decises do TCU; Averbao e registro de contratos e de ttulo de propriedade intelectual no INPI, MAPA, Biblioteca Nacional, etc. E, ainda, observar pelo menos algumas regras oriundas das boas prticas de negociaes de parceria de PD&I: Deixar parte os problemas pessoais do negociador; Definir interesses da ICT e no posies pessoais do negociador; Descobrir alternativas que possam oferecer ganhos mtuos aos parceiros; Usar e exigir critrios objetivos; Conhecer bem as prprias alternativas da ICT, o que pode e no pode ser oferecido, todas as instncias decisrias, seus trmites e prazos; Definir claramente os objetivos e o objeto da parceria; Definir como cada parceiro ir colaborar efetivamente para a execuo do projeto e na alocao dos recursos; Definir questes de propriedade intelectual e de explorao de resultados obtidos.

e) Averbao do acordo de parceria de PD&I no INPIO Ato Normativo n 116, de 27/10/1993, do INPI, hoje revogado, dispunha especificamente sobre averbao de contratos de participao nos custos de pesquisa e desenvolvimento tecnolgico, que estabelecia fluxo de tecnologia entre empresas domiciliadas no pas e centros de pesquisa, ou empresas com capacidade de gerao de tecnologia no pas ou no exterior.

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No Ato Normativo n 135, de 15/04/1997, do INPI, vigente, j referido antes, ficou previsto que, ite