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MANUAL DE ECOLOGIA J OSÉ LUTZENBERGER L&PM POCKET www.lpm.com.br DO JARDIM AO PODER VOLUME 2

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Manual de ecologia

josé lutzenberger

L&PM POCKETwww.lpm.com.br

Do jarDim ao poDer

Volume 2

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JoSÉ luTZenBeRgeR (1926-2002)

José lutzenberger é o mais destacado ambienta­lis ta que o Brasil já conheceu. Nascido em Porto

Alegre em dezembro de 1926, Lutzen berger estudou agronomia e poucos anos depois de formado tornou­se executivo graduado de uma multinacional europeia da agroquímica, ocupando cargos de chefia da empresa nas sedes da Venezuela, de onde comandava operações no norte da américa do Sul e caribe, e depois no Marrocos, para operações no norte da África. Inconformado com a enxurrada química na agricultura, pelo advento dos modernos agrotóxicos, demitiu­se da empresa e voltou para sua cidade natal, buscando atuação profissional coerente com sua formação de naturalista e ecólogo, aperfeiçoada nos anos em que atuou no exterior. Em Porto alegre passou a liderar a associação gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, a Agapan, em 1971, e a partir de então viria a tornar­se mais conhecido como lutz, um ativista de tempo integral que mudou a face da luta ecologista no Brasil e no mundo.

Primeiro brasileiro a conquistar o “livelihood award” da academia sueca que concede o “nobel alter­nativo”, lutzenberger foi durante dois anos ministro do Meio ambiente, e nessa condição participou da organi­zação da conferência Mundial para o Meio ambiente da ONU no Rio de Janeiro, a famosa Eco-92. Poliglota, fluente em cinco idiomas, Lutz tornou-se conferencista internacional, inter locutor obrigatório de centenas de

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organizações não governamentais, universidades, in­stituições de pesquisa e governos de todo o planeta. Mas nunca mais abandonou o Brasil, onde instituiu a Fundação Gaia, para desenvolver sua concepção de cultura ecológica e constituir­se em centro de educação para a vida sustentável.

excêntrico e libertário como sempre, lutz morreu aos 75 anos, no mesmo bairro Bom Fim em que nasceu. Foi restituído à terra no Rincão Gaia, no município de Pantano grande, e sobre sua sepultura, plantado a seu pedido, cresce um umbu – a árvore símbolo do Rio Grande do Sul.

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Índice

Apresentação – Lilian Dreyer ................................. 7Folha seca não é lixo .............................................13em defesa do águapé ............................................ 16Como construir fossa séptica eficiente ..................23Saneamento básico: uma proposta ........................29inundações, suas causas e consequências .............38lixo: uma proposta de solução ............................. 47Ou o Brasil acaba com a saúva, ou...? .................. 76Colheitas e pragas: a resposta está nos venenos? ... 83Princípios básicos da agricultura ecológica ........104Repensando o cultivo do arroz ............................125Álcool combustível: um engodo .........................128como melhorar a produção de álcool ................. 136As florestas tropicais e o clima ...........................141Perniciosa cegueira cultural ................................150

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aPReSenTação

Lilian Dreyer

José lutzenberger tinha uma capacidade prodigiosa de perceber conexões, e tentou como pôde levar seus

companheiros de espécie a percebê-las também. Ele foi um dos primeiros ecólogos de projeção mundial a in­sistir, incansavelmente, na urgência de compreendermos que os processos da natureza se complementam uns aos outros e que cada espécie, mesmo a mais localizada ou “insignificante”, desempenha um papel importante na manutenção do equilíbrio desse sistema. Por que essa compreensão seria urgente? Porque o equilíbrio é muito delicado, e porque os humanos interferem nele com uma tecnologia poderosa – e bem pouco sábia. Toda vez que desestabilizamos uma espécie, toda vez que interferimos em ecossistemas e biomas cuja funcionalidade ainda nem compreendemos, acabamos por causar transtornos que se acumulam e que acabarão por alcançar dimensões planetárias.

Passaram­se quatro décadas desde que lutzenberger e mais alguns visionários começaram a alertar para uma perigosa alteração no clima da Terra – e, a propósito, com as informações de que dispunha até próximo do ano de 2002, quando morreu, ele se alinhava entre os que tinham dúvidas sobre se a Terra estaria caminhando para um aquecimento ou para um novo ciclo de resfriamento, mas tinha certeza de que, qualquer que fosse a tendência natural, estávamos exercendo sobre ela uma pressão que em nenhuma das hipóteses traria resultados favoráveis

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para nós. Nós, quem? Quem sai prejudicado por esses desequilíbrios impostos à natureza? O planeta Terra? lutzenberger bem pouco se preocupava com o futuro do planeta. “A Terra tem muito tempo”, ele costumava dizer. o planeta, sem a interferência humana, rapidamente recuperaria seus equilíbrios. Mas os humanos, sem os equilíbrios do planeta, rapidamente perderão o futuro.

os governos nacionais ainda demonstram grande dificuldade em assimilar essa noção. Na prática, a maioria continua agindo como se o tempo para colocar limites à insensatez ainda não tivesse se apresentado. Entre os países ansiosos por se tornarem “emergentes” continua em voga a ideia – nem sempre injustificada, é verdade – de que os países ricos querem usar a proteção à natureza como instrumento para limitar o crescimento econômico dos demais. Ainda se fala da natureza como algo que, em nome da erradicação da pobreza, deve ser arredado ou então explorado até a exaustão. Entretanto, no dizer de lutzenberger, a pobreza não será erradicada pelo nosso atual modelo de progresso. A pobreza é causada pelo nosso modelo de progresso.

a biodiversidade do território brasileiro ainda é tão espetacular que só pode despertar admiração e, provavel­mente, cobiça entre aqueles que entendem o seu valor. O que só torna mais lastimável que até hoje, em praticamente nenhum nível da administração pública, nem no imagi­nário da população, essa riqueza seja em primeiro lugar reverenciada e, em segundo, vista como um incomparável trunfo. “A maioria dos governantes e dos políticos não enxerga porque não lhes interessa enxergar”, afirmava Lutzenberger. “Soluções descentralizadas, baratas, que não exigem liberação de polpudas verbas e grandes em­

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préstimos, como algo assim pode interessar aos grandes e pequenos traficantes de influências que infestam a vida nacional?”

ainda assim, lutzenberger acalentava o sonho de ver o Brasil se transformar em “berço de um re­nascimento cultural da humanidade.” Conclamava os brasileiros, especialmente os que buscam inserção na atividade econômica, a inspirar­se nos métodos e mo­delos dos sistemas naturais. Estava convencido de que aí se encontra a chave do progresso justo e consistente. ele próprio dedicou seus melhores esforços a esse ca­minho, desenvolvendo propostas de soluções ecológicas para os mais diversos aspectos da atividade humana. Parte desse trabalho é apresentado neste Manual de Ecologia – Do Jardim ao Poder, de que se lança agora o segundo volume.

o autor destes textos nunca quis que eles fossem lidos como verdades ou receitas acabadas. Ele desejava que servissem como um princípio de caminho, sinali­zadores para outro tipo de possibilidades. Neste novo momento histórico, em que a internet e as redes sociais começam a deslocar o poder de informação e decisão, talvez falte isso – sinalizações apropriadas – para devol­ver aos cidadãos a capacidade de recuperar equilíbrios e definir um bom futuro.

agosto de 2012