manual de gerenciamento de residuos sólidos

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Manual Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos

GESTO INTEGRADA DE RESDUOS SLIDOS Manual Gerenciamento Integrado de Resduos SlidosPublicao elaborada pelo Instituto Brasileiro de Administrao Municipal IBAM , sob o patrocnio da Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidncia da Repblica SEDU/PR.

SEDUMinistro da Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidncia da Repblica Ovdio Antnio de Angelis Secretria de Poltica Urbana - Substituta Mirna Quinder Belmino Chaves

IBAMSuperintendente Geral Mara Biasi Ferrari Pinto Superintendente de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente Ana Lcia Nadalutti La Rovere

FICHA TCNICA SEDUGerente de Projetos, Coordenadora Tcnica do Programa Nadja Limeira Arajo Acompanhamento Institucional e Financeiro Ctia Ferreira dos Santos Colaborao Andr Afonso Vanzan

IBAMCoordenao Tcnica Victor Zular Zveibil Contedo Tcnico Jos Henrique Penido Monteiro Carlos Eugnio Moutinho Figueiredo Antnio Fernando Magalhes Marco Antnio Frana de Melo Joo Carlos Xavier de Brito Tarqunio Prisco Fernandes de Almeida Gilson Leite Mansur Organizao e Reviso Sergio Rodrigues Bahia Reviso do Texto Ftima Caroni Projeto Grfico Clan Design Prog. Visual e Desenho Industrial Ltda. Diagramao Claudio Fernandes Emmanuel Khodja Coordenao Editorial Sandra Mager Normalizao Bibliogrfica Biblioteca do IBAM

FICHA CATALOGRFICAManual de Gerenciamento Integrado de resduos slidos / Jos Henrique Penido Monteiro ...[et al.]; coordenao tcnica Victor Zular Zveibil. Rio de Janeiro: IBAM, 2001. 200 p.; 21,0 x 29,7cm Patrocnio: Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidncia da Repblica SEDU/PR. 1 - Resduos slidos. I - Monteiro, Jos Henrique Penido, II - Zveibil, Victor Zular (coord.). III - Instituto Brasileiro de Administrao Municipal. 628.4 (CDD 15.ed.)

Sumrio1. Gesto de Resduos Slidos no Brasil ........................................................................... 2. O Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos ......................................................... 3. Modelos Institucionais ................................................................................................... 3.1. Objetivos ........................................................................................................... 3.2. Formas de administrao ................................................................................... 3.3. Remunerao dos servios ................................................................................ 3.4. O clculo da Taxa de Coleta de Lixo TCL ........................................................ 4. Legislao e Licenciamento Ambiental .......................................................................... 5. Resduos Slidos: Origem, Definio e Caractersticas ................................................. 5.1. Definio de lixo e resduos slidos ................................................................... 5.2. Classificao dos resduos slidos ..................................................................... 5.2.1. Quanto aos riscos potenciais de contaminao do meio ambiente ......... 5.2.2. Quanto natureza ou origem .................................................................. 5.3. Caractersticas dos resduos slidos .................................................................. 5.3.1. Caractersticas fsicas .............................................................................. 5.3.2. Caractersticas qumicas .......................................................................... 5.3.3. Caractersticas biolgicas ......................................................................... 5.4. Influncia das caractersticas dos resduos slidos no planejamento do sistema de limpeza urbana ............................................................................................. 5.5. Fatores que influenciam as caractersticas dos resduos slidos ........................ 5.6. Processos de determinao das principais caractersticas fsicas ....................... 6. Projeo das Quantidades de Resduos Slidos Urbanos .............................................. 1 8 10 10 11 14 17 20 25 25 25 26 26 33 33 36 36 37 38 40 43

7. Acondicionamento ........................................................................................................ 7.1. Conceituao ..................................................................................................... 7.2. A importncia do acondicionamento adequado ................................................ 7.3. Caractersticas dos recipientes para acondicionamento .................................... 7.4. Acondicionamento de resduo domiciliar .......................................................... 7.5. Acondicionamento de resduo pblico ............................................................... 7.6. Acondicionamento de resduos em imveis de baixa renda .............................. 7.7. Acondicionamento de resduos de grandes geradores ...................................... 7.8. Acondicionamento de resduos domiciliares especiais ...................................... 7.9. Acondicionamento de resduos de fontes especiais ........................................... 8. Coleta e Transporte de Resduos Slidos ...................................................................... 8.1. Coleta e transporte de resduos slidos domiciliares ........................................ 8.1.1. Conceituao ........................................................................................... 8.1.2. Regularidade da coleta domiciliar ............................................................ 8.1.3. Freqncia da coleta ................................................................................ 8.1.4. Horrios de coleta ................................................................................... 8.1.5. Redimensionamento de itinerrios de coleta domiciliar .......................... 8.1.6. Veculos para coleta de lixo domiciliar ..................................................... 8.1.7. Ferramentas e utenslios utilizados na coleta do lixo domiciliar ............. 8.2. Coleta e transporte de resduos slidos pblicos ............................................. 8.2.1. Veculos e equipamentos utilizados na coleta do lixo pblico ................. 8.3. Coleta de lixo em cidades tursticas .................................................................. 8.4. Coleta de resduos slidos em favelas .............................................................. 8.5. Coleta de resduos de servios de sade .......................................................... 8.5.1. Conhecimento do problema .................................................................... 8.5.2. Segregao de resduos de servios de sade ......................................... 8.5.3. Coleta separada de resduos comuns, infectantes e especiais ................. 8.5.4. Viaturas para coleta e transporte de resduos de servios de sade ............. 8.5.5. Freqncia da coleta ............................................................................... 8.5.6. Coleta de materiais perfurocortantes ...................................................... 9. Transferncia de Resduos Slidos Urbanos ................................................................. 9.1. Conceituao .................................................................................................... 9.2. Tipos de estaes de transferncia ................................................................... 9.3. Viaturas e equipamentos para estaes de transferncia .................................. 10. Limpeza de Logradouros Pblicos ............................................................................... 10.1. A importncia da limpeza de logradouros pblicos ........................................

45 45 45 47 48 50 52 53 54 57 61 61 61 61 62 63 64 71 74 74 75 78 79 80 80 81 82 82 83 84 85 85 86 88 90 90

10.1.1. Aspectos histricos ............................................................................... 10.1.2. Aspectos sanitrios ................................................................................ 10.1.3. Aspectos estticos ................................................................................. 10.1.4. Aspectos de segurana .......................................................................... 10.2. Resduos encontrados nos logradouros .......................................................... 10.3. Servios de varrio ........................................................................................ 10.3.1. Aspectos construtivos das vias urbanas ................................................. 10.3.2. Redimensionando roteiros de varrio manual ...................................... 10.3.3. Utenslios, ferramentas e vesturio ........................................................ 10.3.4. Tarefas do varredor ............................................................................... 10.3.5. Varrio mecanizada ............................................................................. 10.4. Servios de capina e raspagem ........................................................................ 10.5. Servios de roagem ....................................................................................... 10.5.1. Equipamentos mecnicos para roagem de mato .................................. 10.6. Servios de limpeza de ralos ........................................................................... 10.7. Servios de limpeza de feiras .......................................................................... 10.8. Servios de remoo manual e mecnica ....................................................... 10.9. Servios de limpeza de praias ......................................................................... 10.10. Como reduzir o lixo pblico ......................................................................... 10.11. Limpeza de logradouros em cidades tursticas .............................................. 11. Recuperao de Reciclveis ......................................................................................... 11.1. Coleta seletiva porta a porta ........................................................................... 11.2. Pontos de entrega voluntria PEV ................................................................. 11.3. Cooperativa de catadores ................................................................................ 12. Tratamento de Resduos Slidos Urbanos .................................................................. 12.1. Conceituao .................................................................................................. 12.2. Tratamento de resduos slidos domiciliares .................................................. 12.2.1. Reciclagem ............................................................................................. 12.2.2. Compostagem ....................................................................................... 12.2.3. Consideraes sobre tecnologia de tratamento ..................................... 12.3. Tratamento de resduos domiciliares especiais ............................................... 12.3.1. Tratamento de resduos da construo civil ........................................... 12.3.2. Tratamento de pilhas e baterias ............................................................. 12.3.3. Tratamento de lmpadas fluorescentes .................................................. 12.3.4. Tratamento de pneus ............................................................................. 12.4. Tratamento de resduos de fontes especiais .................................................... 12.4.1. Tratamento de resduos slidos industriais ...........................................

90 90 91 91 92 93 93 94 95 97 97 100 101 102 105 107 108 108 110 111 113 113 115 116 119 119 119 120 124 127 130 130 136 136 137 138 138

12.4.2. Tratamento de resduos radioativos ....................................................... 12.4.3. Tratamento de resduos de portos e aeroportos ................................... 12.4.4. Tratamento de resduos de servios de sade ....................................... 13. Disposio Final de Resduos Slidos ......................................................................... 13.1. Disposio dos resduos domiciliares ............................................................. 13.2. Aterro sanitrio ..............................................................................................

139 139 139 149 150 151 151 158 163 165 170 182 182 183 185 186 186 186 187 187 187 187 192 192 192

13.2.1. Seleo de reas para a implantao de aterros sanitrios ..................... 13.2.2. Licenciamento ....................................................................................... 13.2.3. Projeto executivo .................................................................................. 13.2.4. Implantao do aterro ........................................................................... 13.2.5. Operao de aterros mdios e grandes ................................................. 13.2.6. Equipamentos utilizados ........................................................................ 13.3. Aterros controlados ......................................................................................... 13.4. Recuperao ambiental de lixes .................................................................... 13.5. A situao dos catadores ...............................................................................

13.6. Disposio de resduos domiciliares especiais ................................................ 13.6.1. Disposio de resduos da construo civil ........................................... 13.6.2. Disposio de pilhas e baterias ............................................................. 13.6.3. Disposio de lmpadas fluorescentes .................................................. 13.6.4. Disposio de pneus .............................................................................. 13.7. Disposio de resduos de fontes especiais .................................................... 13.7.1. Disposio de resduos slidos industriais ............................................ 13.7.2. Disposio de resduos radioativos ........................................................ 13.7.3. Disposio de resduos de portos e aeroportos .................................... 13.7.4. Disposio de resduos de servios de sade .......................................

ApresentaoConscientes da grave problemtica quanto Gesto dos Resduos Slidos Urbanos no pas, desde sua produo, coleta e disposio final, e do desafio colocado aos municpios e sociedade como um todo no equacionamento dos problemas, a Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano SEDU/PR tem ampliado sobremaneira seus programas, linhas de financiamento e apoio nesta rea. Entretanto, considerando que a capacitao de agentes municipais responsveis pelos servios de limpeza urbana e a existncia de um referencial tcnico para auxili-los na preparao e implementao dos seus programas de resduos slidos constituem fatores essenciais para a aplicao adequada dos recursos e soluo dos problemas, a SEDU/PR tem o prazer de disponibilizar, aos municpios brasileiros, este Manual de Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos. O Manual de Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos ser utilizado como instrumento didtico nos programas de treinamento e capacitao em Gesto de Resduos Slidos promovidos pela SEDU e pelo IBAM, podendo servir de referncia para os tomadores de deciso nas diferentes esferas de governo e para projetistas e agentes financeiros/operadores destes servios. O referido documento contm orientaes para elaborao de Plano Local de Gesto dos Resduos Slidos Urbanos, incluindo os arranjos institucionais necessrios ao gerenciamento adequado dos servios, orientaes para elaborao de planos de operao e manuteno, abrangendo a coleta e servios congneres, e ainda orientaes para a elaborao de planos de tratamento e/ou destinao final dos resduos slidos. Esperamos que essas iniciativas contribuam para a melhor organizao das prefeituras e dos servios de limpeza urbana, vistos como aspectos-chave das questes ambientais urbanas e da sade pblica.

Ovdio Antnio de Angelis Ministro da Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidncia da Repblica

Nota ExplicativaO tema da limpeza urbana est assumindo papel de destaque entre as crescentes demandas da sociedade brasileira e das comunidades locais. Seja pelos aspectos ligados veiculao de doenas e, portanto, sade pblica; seja pela contaminao de cursos d'gua e lenis freticos, na abordagem ambiental; seja pelas questes sociais ligadas aos catadores em especial s crianas que vivem nos lixes ou ainda pelas presses advindas das atividades tursticas, fato que vrios setores governamentais e da sociedade civil comeam a se mobilizar para enfrentar o problema, por muito tempo relegado a segundo plano. A mdia est atenta, o Ministrio Pblico e os rgos ambientais atuam voltados especialmente na busca de solues negociadas com as prefeituras em relao erradicao dos lixes e do trabalho infantil que neles ocorre. Programas governamentais, nos nveis federal e estadual, vm-se consolidando, com linhas de financiamento a projetos e Planos de Gesto Integrada de Resduos Slidos, em paralelo aos esforos para a formulao de polticas e legislao correspondentes a esse tema. Nesse cenrio, pressionados por tais demandas, esto os Municpios, os principais responsveis e o nvel competente a prestar os servios de limpeza urbana e garantir condies adequadas de disposio final do lixo. A despeito dos esforos de muitas prefeituras na implementao de programas, planos e aes para melhoria dos sistemas de limpeza urbana e de seu gerenciamento, e apesar de vrias iniciativas realizadas pelas comunidades, em especial na direo de projetos de coleta seletiva e reciclagem, sabido que o quadro geral bastante grave: alm de recursos, so necessrios o aprimoramento e a capacitao das administraes municipais para enfrentar o problema. O IBAM manteve, ao longo de seus 50 anos de atuao, programas de capacitao e produo de material didtico voltados para apoiar os municpios brasileiros interessados em se estruturar e avanar na melhoria do gerenciamento de seus sistemas de limpeza urbana. O Programa de Treinamento e Capacitao em Gesto Integrada de Resduos Slidos, patrocinado pela SEDU, do qual este Manual parte, traz novo impulso e novas oportunidades nessa direo. O programa inclui um Curso a Distncia em Gesto Integrada de Resduos Slidos, oferecido no apenas a tcnicos e decisores municipais, mas estendendo-se a participantes de Cmaras e Conselhos Municipais, de ONGs, universidades e empresas

prestadoras de servio (maiores informaes na pgina eletrnica www.ibam.org.br). O programa envolve tambm oficinas presenciais direcionadas, estas sim, especialmente a servidores dos executivos municipais. Este Manual de Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos foi elaborado por profissionais do setor, com larga experincia tambm como professores nos cursos oferecidos pelo IBAM. Como parte da metodologia de trabalho, sua verso preliminar foi testada junto aos alunos de uma primeira oficina presencial, aps a qual foi revisto e finalizado. Pretende-se que ele possa ser instrumento didtico bsico, orientador de futuras oficinas a serem oferecidas pela SEDU/IBAM. Fazem parte de seu contedo os temas fundamentais compreenso e melhoria dos sistemas e servios de limpeza urbana, que envolvem os aspectos institucionais, organizacionais, legais, e os aspectos tcnico-gerenciais desde o acondicionamento at a disposio final dos resduos. Especial nfase dada s cidades tursticas. A indstria do turismo um dos setores da economia que mais cresce e gera empregos em todo o mundo. A movimentao financeira decorrente da expanso do turismo vem demandando, tanto do setor pblico quanto do privado, o desenvolvimento de novos produtos a fim de atender s novas demandas impostas pelas atividades tursticas. Um dos objetivos do servio de limpeza dos logradouros evitar prejuzo ao turismo. Essa afirmativa se faz no s em funo das questes estticas associadas s atividades de limpeza urbana, mas tambm dos aspectos ambientais e de sade pblica ligados disposio final dos resduos. A imagem da cidade visitada pelo turista ser mais positiva quanto mais limpo esse espao urbano ele encontrar. Alm da preocupao com a manuteno da limpeza dos logradouros, h que se considerar a sazonalidade de visitantes. Geralmente essas cidades recebem um fluxo maior de visitantes durante eventos ou festividades e sobretudo nos meses de frias escolares. Isso demanda um reforo nas atividades de rotina e intensifica a necessidade do planejamento e dos servios. Ou seja, o gerenciamento dos servios de limpeza urbana solicitar total integrao com os acontecimentos externos ao setor, bem como com as demais polticas pblicas setoriais. Reconhecendo o especfico campo de atuao que os servios de limpeza urbana ocupam em cidades onde o movimento turstico intenso, este Manual, ao longo de seus captulos, destacar chamadas sempre que o assunto tratado apresentar estreita relao com o tema turismo. No se trata, pois, de um Manual de

Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos para cidades tursticas, mas sim da identificao, a ttulo de exemplo, como o papel da atividade turstica pode intervir de forma prtica no gerenciamento integrado das aes de limpeza urbana. necessrio que os recursos destinados limpeza urbana, por serem sempre menores que o desejado, sejam muito bem aproveitados; para isto, fundamental que as equipes encarregadas do planejamento e da operao dos servios nas prefeituras estejam capacitadas e apliquem os recursos disponveis com bom senso, utilizando tecnologias e mtodos adequados e respeitando as peculiaridades econmicas, sociais e culturais da populao local. O objetivo deste Manual se insere nesta perspectiva: ser uma ferramenta til para a capacitao de todos aqueles que lidam com os resduos slidos, dentro do enfoque do Gerenciamento Integrado, e suficientemente flexvel para que, a partir do conhecimento das diversas formas de "como fazer", se possa escolher a que melhor se adeqe s condies de cada cidade.

Ana Lcia Nadalutti La Rovere Superintendente de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente

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Gesto de Resduos Slidos no BrasilNo Brasil, o servio sistemtico de limpeza urbana foi iniciado oficialmente em 25 de novembro de 1880, na cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro, ento capital do Imprio. Nesse dia, o imperador D. Pedro II assinou o Decreto n 3024, aprovando o contrato de "limpeza e irrigao" da cidade, que foi executado por Aleixo Gary e, mais tarde, por Luciano Francisco Gary, de cujo sobrenome origina-se a palavra gari, que hoje denomina-se os trabalhadores da limpeza urbana em muitas cidades brasileiras. Dos tempos imperiais aos dias atuais, os servios de limpeza urbana vivenciaram momentos bons e ruins. Hoje, a situao da gesto dos resduos slidos se apresenta em cada cidade brasileira de forma diversa, prevalecendo, entretanto, uma situao nada alentadora. Considerada um dos setores do saneamento bsico, a gesto dos resduos slidos no tem merecido a ateno necessria por parte do poder pblico. Com isso, compromete-se cada vez mais a j combalida sade da populao, bem como degradam-se os recursos naturais, especialmente o solo e os recursos hdricos. A interdependncia dos conceitos de meio ambiente, sade e saneamento hoje bastante evidente, o que refora a necessidade de integrao das aes desses setores em prol da melhoria da qualidade de vida da populao brasileira. Como um retrato desse universo de ao, h de se considerar que mais de 70% dos municpios brasileiros possuem menos de 20 mil habitantes, e que a concentrao urbana da populao no pas ultrapassa a casa dos 80%. Isso refora as preocupaes com os problemas ambientais urbanos e, entre estes, o gerenciamento dos resduos slidos, cuja atribuio pertence esfera da administrao pblica local. As instituies responsveis pelos resduos slidos municipais e perigosos, no mbito nacional, estadual e municipal, so determinadas atravs dos seguintes artigos da Constituio Federal, quais sejam: Incisos VI e IX do art. 23, que estabelecem ser competncia comum da Unio, dos estados, do Distrito Federal e dos municpios proteger o meio ambiente e combater a poluio em qualquer das suas formas, bem como promover programas de construo de moradias e a melhoria do saneamento bsico; J os incisos I e V do art. 30 estabelecem como atribuio municipal legislar sobre assuntos de interesse local, especialmente quanto organizao dos seus servios pblicos, como o caso da limpeza urbana.

Gesto: ato de gerir, gerncia, administrao, negociao.

A Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT define "lixo" ou "resduos slidos" como os "restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como inteis, indesejveis ou descartveis, podendo-se apresentar no estado slido, semi-slido ou lquido, desde que no seja passvel de tratamento convencional".

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1. Gesto de Resduos Slidos no Brasil

Tradicionalmente, o que ocorre no Brasil a competncia do Municpio sobre a gesto dos resduos slidos produzidos em seu territrio, com exceo dos de natureza industrial, mas incluindose os provenientes dos servios de sade. No que se refere competncia para o licenciamento de atividades poluidoras e ao controle ambiental, o art. 30, I, j mencionado, estabelece a principal competncia legislativa municipal, qual seja: "legislar sobre assuntos de interesse local", e d, assim, o caminho para dirimir aparentes conflitos entre a legislao municipal, a federal e a estadual. O Municpio tem competncia para estabelecer o uso do solo em seu territrio. Assim, ele quem emite as licenas para qualquer construo e o alvar de localizao para o funcionamento de qualquer atividade, que so indispensveis para a localizao, construo, instalao, ampliao e operao de qualquer empreendimento em seu territrio. Portanto, o Municpio pode perfeitamente estabelecer parmetros ambientais para a concesso ou no destas licenas e alvar. A lei federal que criou o licenciamento ambiental, quando menciona que a licena ambiental exigvel "sem prejuzo de outras licenas exigveis", j prev a possibilidade de que os municpios exijam licenas municipais. A gerao de resduos slidos domiciliares no Brasil de cerca de 0,6kg/hab./dia e mais 0,3kg/hab./dia de resduos de varrio, limpeza de logradouros e entulhos. Algumas cidades, especialmente nas regies Sul e Sudeste como So Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba , alcanam ndices de produo mais elevados, podendo chegar a 1,3kg/hab./dia, considerando todos os resduos manipulados pelos servios de limpeza urbana (domiciliares, comerciais, de limpeza de logradouros, de servios de sade e entulhos). Grande parte dos resduos gerados no pas no regularmente coletada, permanecendo junto s habitaes (principalmente nas reas de baixa renda) ou sendo vazada em logradouros pblicos, terrenos baldios, encostas e cursos d'gua. De acordo com a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE , realizada em 1989 (Pesquisa Nacional do Saneamento Bsico PNSB), os domiclios particulares permanentes urbanos representavam 78,1% do total das moradias brasileiras; desses, 80,0% tinham seu lixo recolhido direta ou indiretamente pelos servios municipais de coleta de lixo, restando, portanto, 19,9% dos domiclios fora do atendimento dos servios municipais de coleta. As diferenas regionais apontam para as regies Sul e Sudeste como as que detm a maior cobertura de atendimento de seus domiclios, com 87,0% e 86,6%, respectivamente, enquanto as regies Norte e Nordeste tm apenas 54,4% e 44,6%, respectivamente, de domiclios atendidos por tal servio. Ainda de acordo com a PNSB, alguns dados evidenciam a dimenso da gravidade da situao do setor no pas: dos ento 4.425 municpios brasileiros no ano de 1989, 3.216 possuam servios de coleta apenas no distrito-sede, enquanto 280 no dispunham de qualquer tipo de atendimento.

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1. Gesto de Resduos Slidos no Brasil

Integram o sistema de limpeza urbana as etapas de gerao, acondicionamento, coleta, transporte, transferncia, tratamento e disposio final dos resduos slidos, alm da limpeza de logradouros pblicos.

Apesar desse quadro, a coleta do lixo o segmento que mais se desenvolveu dentro do sistema de limpeza urbana e o que apresenta maior abrangncia de atendimento junto populao, ao mesmo tempo em que a atividade do sistema que demanda maior percentual de recursos por parte da municipalidade. Esse fato se deve presso exercida pela populao e pelo comrcio para que se execute a coleta com regularidade, evitando-se assim o incmodo da convivncia com o lixo nas ruas. Contudo, essa presso tem geralmente um efeito seletivo, ou seja, a administrao municipal, quando no tem meios de oferecer o servio a toda a populao, prioriza os setores comerciais, as unidades de sade e o atendimento populao de renda mais alta. A expanso da cobertura dos servios raramente alcana as reas realmente carentes, at porque a ausncia de infraestrutura viria exige a adoo de sistemas alternativos, que apresentam baixa eficincia e, portanto, custo mais elevado. Os servios de varrio e limpeza de logradouros tambm so muito deficientes na maioria das cidades brasileiras. Apenas os municpios maiores mantm servios regulares de varrio em toda a zona urbanizada, com freqncias e roteiros predeterminados. Nos demais municpios, esse servio se resume varrio apenas das ruas pavimentadas ou dos setores de comrcio da cidade, bem como ao de equipes de trabalhadores que saem pelas ruas e praas da cidade, em roteiros determinados de acordo com as prioridades imediatistas, executando servios de raspagem, capina, roagem e varrio dos demais logradouros pblicos. O problema da disposio final assume uma magnitude alarmante. Considerando apenas os resduos urbanos e pblicos, o que se percebe uma ao generalizada das administraes pblicas locais ao longo dos anos em apenas afastar das zonas urbanas o lixo coletado, depositando-o por vezes em locais absolutamente inadequados, como encostas florestadas, manguezais, rios, baas e vales. Mais de 80% dos municpios vazam seus resduos em locais a cu aberto, em cursos d'gua ou em reas ambientalmente protegidas, a maioria com a presena de catadores entre eles crianas , denunciando os problemas sociais que a m gesto do lixo acarreta.

A participao de catadores na segregao informal do lixo, seja nas ruas ou nos vazadouros e aterros, o ponto mais agudo e visvel da relao do lixo com a questo social. Trata-se do elo perfeito entre o inservvel lixo e a populao marginalizada da sociedade que, no lixo, identifica o objeto a ser trabalhado na conduo de sua estratgia de sobrevivncia. Uma outra relao delicada encontra-se na imagem do profissional que atua diretamente nas atividades operacionais do sistema. Embora a relao do profissional com o objeto lixo tenha evoludo nas ltimas dcadas, o gari ainda convive com o estigma gerado pelo lixo de excluso de um convvio harmnico na sociedade. Em outras palavras, a relao social do profissional dessa rea se v abalada pela associao do objeto de suas atividades com o inservvel, o que o coloca como elemento marginalizado no convvio social.

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1. Gesto de Resduos Slidos no Brasil

Gerenciar o lixo de forma integrada demanda trabalhar integralmente os aspectos sociais com o planejamento das aes tcnicas e operacionais do sistema de limpeza urbana. Com relao aos resduos dos servios de sade, s nos ltimos anos iniciou-se uma discusso mais consistente do problema. Algumas prefeituras j implantaram sistemas especficos para a coleta destes resduos, sem, entretanto, atacar o ponto mais delicado da questo: a manipulao correta dos resduos dentro das unidades de trato de sade, de forma a separar os com real potencial de contaminao daqueles que podem ser considerados lixo comum. A forma adequada de destinao final ainda no consensual entre os tcnicos do setor, e a prtica, na maioria dos municpios, a disposio final em lixes; os catadores disputam esses resduos, tendo em vista possurem um percentual atrativo de materiais reciclveis. Com relao ao tratamento do lixo, tem-se instaladas no Brasil algumas unidades de compostagem/reciclagem. Essas unidades utilizam tecnologia simplificada, com segregao manual de reciclveis em correias transportadoras e compostagem em leiras a cu aberto, com posterior peneiramento. Muitas unidades que foram instaladas esto hoje paralisadas e sucateadas, por dificuldade dos municpios em oper-las e mant-las convenientemente. As poucas usinas de incinerao existentes, utilizadas exclusivamente para incinerao de resduos de servios de sade e de aeroportos, em geral no atendem aos requisitos mnimos ambientais da legislao brasileira. Outras unidades de tratamento trmico desses resduos, tais como autoclavagem, microondas e outros, vm sendo instaladas mais freqentemente em algumas cidades brasileiras, mas os custos de investimento e operacionais ainda so muito altos.

Algumas grandes unidades de tratamento de resduos slidos, teoricamente incorporando tecnologia mais sofisticada de compostagem acelerada, foram instaladas no Rio de Janeiro e tambm se encontram desativadas, seja por inadequao do processo s condies locais, seja pelo alto custo de operao e manuteno exigido.

Os dados estatsticos da limpeza urbana so muito deficientes, pois as prefeituras tm dificuldade em apresent-los, j que existem diversos padres de aferio dos vrios servios. A nica informao em nvel nacional fruto da Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico PNSB , ainda que nova pesquisa tenha sido realizada no ano de 2000, porm, sem a divulgao de seus dados at o presente momento. Com relao aos custos dos diversos servios, as informaes tambm no so confiveis, pois no h parmetros que permitam estabelecer valores que identifiquem cada tarefa executada, a fim de compar-la com dados de outras cidades.

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1. Gesto de Resduos Slidos no Brasil

Por outro lado, o manejo e a disposio final dos resduos industriais, tema menos discutido pela populao que o dos resduos domsticos, constituem um problema ainda maior que certamente j tem trazido e continuar a trazer no futuro srias conseqncias ambientais e para a sade da populao. No Brasil, o poder pblico municipal no tem qualquer responsabilidade sobre essa atividade, prevalecendo o princpio do "poluidor-pagador". Os estados interferem no problema atravs de seus rgos de controle ambiental, exigindo dos geradores de resduos perigosos (Classes I e II) sistemas de manuseio, de estocagem, de transporte e de destinao final adequados. Contudo, nem sempre essa interferncia eficaz, o que faz com que apenas uma pequena quantidade desses resduos receba tratamento e/ou destinao final adequados. As administraes municipais podem agir nesse setor de forma suplementar, atravs de seus rgos de fiscalizao, sobretudo considerando que a determinao do uso do solo urbano competncia exclusiva dos municpios, e assim, eles tm o direito de impedir atividades industriais potencialmente poluidoras em seu territrio, seja atravs da proibio de implantao, seja atravs da cassao do alvar de localizao.O princpio do "poluidorpagador" encontra-se estabelecido na Lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente (Lei n 6.938, de 31/8/1981). Isso significa dizer que "cada gerador responsvel pela manipulao e destino final de seu resduo".

No tocante ao gerenciamento dos servios de limpeza urbana nas cidades de mdio e grande portes, vem se percebendo a chamada privatizao dos servios, modelo cada vez mais adotado no Brasil e que se traduz, na realidade, numa terceirizao dos servios, at ento executados pela administrao na maioria dos municpios. Essa forma de prestao de servios se d atravs da contratao, pela municipalidade, de empresas privadas, que passam a executar, com seus prprios meios (equipamentos e pessoal), a coleta, a limpeza de logradouros, o tratamento e a destinao final dos resduos. Algumas prefeituras de pequeno e mdio portes vm contratando servios da limpeza urbana, tanto de coleta como de limpeza de logradouros, com cooperativas ou microempresas, o que se coloca como uma soluo para as municipalidades que tm uma poltica de gerao de renda para pessoas de baixa qualificao tcnica e escolar. Como a gesto de resduos uma atividade essencialmente municipal e as atividades que a compem se restringem ao territrio do Municpio, no so muito comuns no Brasil as solues consorciadas, a no ser quando se trata de destinao final em aterros. Municpios com reas mais adequadas para a instalao dessas unidades operacionais s vezes se consorciam com cidades vizinhas para receber os seus resduos, negociando algumas vantagens por serem os hospedeiros, tais como iseno do custo de vazamento ou alguma compensao urbanstica, custeada pelos outros consorciados.

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1. Gesto de Resduos Slidos no Brasil

Um dos exemplos mais bem-sucedidos no campo do consrcio aquele formado pelos municpios de Jundia, Campo Limpo Paulista, Cajamar, Louveira, Vrzea Paulista e Vinhedo, no Estado de So Paulo, para operar o aterro sanitrio de Vrzea Paulista. A sustentabilidade econmica dos servios de limpeza urbana um importante fator para a garantia de sua qualidade. Em quase todos os municpios brasileiros, os servios de limpeza urbana, total ou parcialmente, so remunerados atravs de uma "taxa", geralmente cobrada na mesma guia do Imposto Predial e Territorial Urbano IPTU , e tendo a mesma base de clculo deste imposto, ou seja, a rea do imvel (rea construda ou rea do terreno). Como no pode haver mais de um tributo com a mesma base de clculo, essa taxa j foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, e assim sua cobrana vem sendo contestada em muitos municpios, que passam a no ter como arrecadar recursos para cobertura dos gastos dos servios, que podem chegar, algumas vezes, a mais de 15% do oramento municipal. De qualquer forma, em todos os municpios, a receita proveniente da taxa de limpeza urbana ou de coleta de lixo sempre recolhida ao Tesouro Municipal, nada garantindo sua aplicao no setor, a no ser a vontade poltica do prefeito.

No Rio de Janeiro, a Companhia de Limpeza Urbana da Cidade do Rio de Janeiro COMLURB/RJ , empresa de economia mista encarregada da limpeza urbana do Municpio, praticou, at 1980, a cobrana de uma "tarifa" de coleta de lixo TCL , recolhida diretamente aos seus cofres. O Supremo Tribunal Federal, entretanto, em acrdo de 4/9/1980, decidiu que aquele servio, por sua ligao com a preservao da sade pblica, era um servio pblico essencial, no podendo, portanto, ser remunerado atravs de tarifa (preos pblicos), mas sim por meio de taxas e impostos. No ano de 2000 a Prefeitura do Rio de Janeiro terminou com a taxa de limpeza urbana e criou a taxa de coleta de lixo, tendo como base de clculo a produo de lixo per capita em cada bairro da cidade, e tambm o uso e a localizao do imvel. Conseguiu-se, com a aplicao desses fatores, um diferencial de sete vezes entre a taxa mais baixa e a mais alta cobrada no Municpio. De um modo geral, a receita com a arrecadao da taxa, que raras vezes cobrada fora do carn do IPTU, representa apenas um pequeno percentual dos custos reais dos servios, advindo da a necessidade de aportes complementares de recursos por parte do Tesouro Municipal. A atualizao ou correo dos valores da taxa depende da autorizao da Cmara dos Vereadores, que de um modo geral no v com bons olhos o aumento da carga tributria dos muncipes. A aplicao de uma taxa realista e socialmente justa, que efetivamente cubra os custos dos servios, dentro do princpio de "quem pode mais paga mais", sempre implica nus poltico que nem sempre os prefeitos esto dispostos a assumir. O resultado dessa poltica desanimador: ou os servios de limpeza urbana recebem menos recursos que os necessrios ou o Tesouro Municipal tem que desviar verbas oramentrias de

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1. Gesto de Resduos Slidos no Brasil

outros setores essenciais, como sade e educao, para a execuo dos servios de coleta, limpeza de logradouros e destinao final do lixo. Em qualquer das hipteses, fica prejudicada a qualidade dos servios prestados e o crculo vicioso no se rompe: a limpeza urbana mal realizada, pois no dispe dos recursos necessrios, e a populao no aceita um aumento das taxas por no ser brindada com servios de qualidade. Felizmente, o que se percebe mais recentemente uma mudana importante na ateno que a gesto de resduos tem recebido das instituies pblicas, em todos os nveis de governo. Os governos federal e estaduais tm aplicado mais recursos e criado programas e linhas de crdito onde os beneficirios so sempre os municpios. Estes, por seu lado, tm-se dedicado com mais seriedade a resolver os problemas de limpeza urbana e a criar condies de universalidade dos servios e de manuteno de sua qualidade ao longo do tempo, situao que passou a ser acompanhada com mais rigor pela populao, pelos rgos de controle ambiental, pelo Ministrio Pblico e pelas organizaes no-governamentais voltadas para a defesa do meio ambiente. Entretanto, em todos os municpios brasileiros, faz-se uma constatao definitiva: somente a presso da sociedade, ou um prefeito decididamente engajado e consciente da importncia da limpeza urbana para a sade da populao e para o meio ambiente, pode mudar o quadro de descuido com o setor. E esse fato s se opera mediante deciso poltica, que pode resultar, eventualmente, num nus temporrio, representado pela necessidade do aumento da carga tributria ou de transferncia de recursos de outro setor da prefeitura, at que a situao se reverta, com a melhoria da qualidade dos servios prestados, o que poder, ento, ser capitalizado politicamente pela administrao municipal.

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2.

O Gerenciamento Integrado de Resduos SlidosGerenciamento Integrado de Resduos Slidos Urbanos , em sntese, o envolvimento de diferentes rgos da administrao pblica e da sociedade civil com o propsito de realizar a limpeza urbana, a coleta, o tratamento e a disposio final do lixo, elevando assim a qualidade de vida da populao e promovendo o asseio da cidade, levando em considerao as caractersticas das fontes de produo, o volume e os tipos de resduos para a eles ser dado tratamento diferenciado e disposio final tcnica e ambientalmente corretas , as caractersticas sociais, culturais e econmicas dos cidados e as peculiaridades demogrficas, climticas e urbansticas locais. Para tanto, as aes normativas, operacionais, financeiras e de planejamento que envolvem a questo devem se processar de modo articulado, segundo a viso de que todas as aes e operaes envolvidas encontram-se interligadas, comprometidas entre si. Para alm das atividades operacionais, o gerenciamento integrado de resduos slidos destaca a importncia de se considerar as questes econmicas e sociais envolvidas no cenrio da limpeza urbana e, para tanto, as polticas pblicas locais ou no que possam estar associadas ao gerenciamento do lixo, sejam elas na rea de sade, trabalho e renda, planejamento urbano etc. Em geral, diferentemente do conceito de gerenciamento integrado, os municpios costumam tratar o lixo produzido na cidade apenas como um material no desejado, a ser recolhido, transportado, podendo, no mximo, receber algum tratamento manual ou mecnico para ser finalmente disposto em aterros. Trata-se de uma viso distorcida em relao ao foco da questo social, encarando o lixo mais como um desafio tcnico no qual se deseja receita poltica que aponte eficincia operacional e equipamentos especializados. O gerenciamento integrado focaliza com mais nitidez os objetivos importantes da questo, que a elevao da urbanidade em um contexto mais nobre para a vivncia da populao, onde haja manifestaes de afeto cidade e participao efetiva da comunidade no sistema, sensibilizada a no sujar as ruas, a reduzir o descarte, a reaproveitar os materiais e recicl-los antes de encaminh-los ao lixo. Por conta desse conceito, no gerenciamento integrado so preconizados programas da limpeza urbana, enfocando meios para que sejam obtidos a mxima reduo da produo de lixo, o mximo reaproveitamento e reciclagem de materiais e, ainda, a disposio dos resduos de forma mais sanitria e8

Pode-se considerar o gerenciamento integrado do lixo quando existir uma estreita interligao entre as aes normativas, operacionais, financeiras e de planejamento das atividades do sistema de limpeza urbana, bem como quando tais articulaes se manifestarem tambm no mbito das aes de limpeza urbana com as demais polticas pblicas setoriais. Nesse cenrio, a participao da populao ocupar papel de significativo destaque, tendo reconhecida sua funo de agente transformador no contexto da limpeza urbana.

"O manejo ambientalmente saudvel de resduos deve ir alm da simples deposio ou aproveitamento por mtodos seguros dos resduos gerados e buscar desenvolver a causa fundamental do problema, procurando mudar os padres no-sustentveis de produo e consumo. Isto implica a utilizao do conceito de manejo integrado do ciclo vital, o qual apresenta oportunidade nica de conciliar o desenvolvimento com a proteo do meio ambiente."Agenda 21, captulo 21

2. O Gerenciameto Integrado de Resduos Slidos

ambientalmente adequada, abrangendo toda a populao e a universalidade dos servios. Essas atitudes contribuem significativamente para a reduo dos custos do sistema, alm de proteger e melhorar o ambiente. O gerenciamento integrado, portanto, implica a busca contnua de parceiros, especialmente junto s lideranas da sociedade e das entidades importantes na comunidade, para comporem o sistema. Tambm preciso identificar as alternativas tecnolgicas necessrias a reduzir os impactos ambientais decorrentes da gerao de resduos, ao atendimento das aspiraes sociais e aos aportes econmicos que possam sustent-lo. Polticas, sistemas e arranjos de parceria diferenciados devero ser articulados para tratar de forma especfica os resduos reciclveis, tais como o papel, metais, vidros e plsticos; resduos orgnicos, passveis de serem transformados em composto orgnico, para enriquecer o solo agrcola; entulho de obras, decorrentes de sobra de materiais de construo e demolio, e finalmente os resduos provenientes de estabelecimentos que tratam da sade. Esses materiais devem ser separados na fonte de produo pelos respectivos geradores, e da seguir passos especficos para remoo, coleta, transporte, tratamento e destino correto. Conseqentemente, os geradores tm de ser envolvidos, de uma forma ou de outra, para se integrarem gesto de todo o sistema. Finalmente, o gerenciamento integrado revela-se com a atuao de subsistemas especficos que demandam instalaes, equipamentos, pessoal e tecnologia, no somente disponveis na prefeitura, mas oferecidos pelos demais agentes envolvidos na gesto, entre os quais se enquadram: a prpria populao, empenhada na separao e acondicionamento diferenciado dos materiais reciclveis em casa; os grandes geradores, responsveis pelos prprio rejeitos; os catadores, organizados em cooperativas, capazes de atender coleta de reciclveis oferecidos pela populao e comercializ-los junto s fontes de beneficiamento; os estabelecimentos que tratam da sade, tornando-os inertes ou oferecidos coleta diferenciada, quando isso for imprescindvel; a prefeitura, atravs de seus agentes, instituies e empresas contratadas, que por meio de acordos, convnios e parcerias exerce, claro, papel protagonista no gerenciamento integrado de todo o sistema.

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3.

Modelos Institucionais

3.1.

ObjetivosO sistema de limpeza urbana da cidade deve ser institucionalizado segundo um modelo de gesto que, tanto quanto possvel, seja capaz de: promover a sustentabilidade econmica das operaes; preservar o meio ambiente; preservar a qualidade de vida da populao; contribuir para a soluo dos aspectos sociais envolvidos com a questo. Em todos os segmentos operacionais do sistema devero ser escolhidas alternativas que atendam simultaneamente a duas condies fundamentais: sejam as mais econmicas; sejam tecnicamente corretas para o ambiente e para a sade da populao. O modelo de gesto dever no somente permitir, mas sobretudo facilitar a participao da populao na questo da limpeza urbana da cidade, para que esta se conscientize das vrias atividades que compem o sistema e dos custos requeridos para sua realizao, bem como se conscientize de seu papel como agente consumidor e, por conseqncia, gerador de lixo. A conseqncia direta dessa participao traduz-se na reduo da gerao de lixo, na manuteno dos logradouros limpos, no acondicionamento e disposio para a coleta adequados, e, como resultado final, em operaes dos servios menos onerosas. importante que a populao saiba que ela quem remunera o sistema, atravs do pagamento de impostos, taxas ou tarifas. Em ltima anlise, est na prpria populao a chave para a sustentao do sistema, implicando por parte do Municpio a montagem de uma gesto integrada que inclua, necessariamente, um programa de sensibilizao dos cidados e que tenha uma ntida predisposio poltica voltada para a defesa das prioridades inerentes ao sistema de limpeza urbana. Essas defesas devero estar presentes na definio da poltica fiscal do Municpio, tcnica e socialmente justa, e, conseqentemente, nas dotaes oramentrias necessrias sustentao econmica do sistema, na educao ambiental e no desenvolvimento de programas geradores de emprego e renda.

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3. Modelos Institucionais

A base para a ao poltica est na satisfao da populao com os servios de limpeza urbana, cuja qualidade se manifesta na universalidade, regularidade e pontualidade dos servios de coleta e limpeza de logradouros, dentro de um padro de produtividade que denota preocupao com custos e eficincia operacional. A ao poltica situa-se no envolvimento das lideranas sociais da cidade, de empresas particulares e de instituies estaduais e federais atuantes no Municpio com responsabilidades ambientais importantes. A instrumentao poltica concretiza-se na aprovao do regulamento de limpeza urbana da cidade que legitima o modelo de gesto adotado e as posturas de comportamento social obrigatrias, assim como as definies de infraes e multas. O regulamento dever espelhar com nitidez os objetivos do poder pblico na conscientizao da populao para a questo da limpeza urbana e ambiental.

3.2.

Formas de administraoA Constituio Federal, em seu art. 30, inciso V, dispe sobre a competncia dos municpios em "organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concesso ou permisso, os servios pblicos de interesse local, includo o transporte coletivo, que tem carter essencial". O que define e caracteriza o "interesse local" a predominncia do interesse do Municpio sobre os interesses do Estado ou da Unio. No que tange aos municpios, portanto, encontram-se sob a competncia dos mesmos os servios pblicos essenciais, de interesse predominantemente local e, entre esses, os servios de limpeza urbana. O sistema de limpeza urbana da cidade pode ser administrado das seguintes formas: diretamente pelo Municpio; atravs de uma empresa pblica especfica; atravs de uma empresa de economia mista criada para desempenhar especificamente essa funo. Independentemente disso, os servios podem ser ainda objeto de concesso ou terceirizados junto iniciativa privada. As concesses e terceirizaes podem ser globais ou parciais, envolvendo um ou mais segmentos das operaes de limpeza urbana. Existe ainda a possibilidade de consrcio com outros municpios, especialmente nas solues para a destinao final dos resduos.

O servio pblico uma atividade assumida por uma coletividade pblica, com vistas satisfao a uma necessidade de interesse geral.

O que distingue e caracteriza o servio pblico das demais atividades econmicas o fato de ser essencial para a comunidade. Por essa razo, a prestao do servio pblico de obrigao do poder pblico e a sua gesto est submetida a diversos princpios do Direito Pblico, especificamente voltados sua prestao eficiente a comunidades.

O servio pblico se define como toda atividade material que a lei atribui ao Estado para que a exera diretamente ou por meio de seus delegados, com o objetivo de satisfazer efetivamente s necessidades coletivas, sob regime jurdico parcial ou totalmente pblico.

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3. Modelos Institucionais

CONCESSO

Na concesso, a concessionria planeja, organiza, executa e coordena o servio, podendo inclusive terceirizar operaes e arrecadar os pagamentos referentes sua remunerao, diretamente junto ao usurio/beneficirio dos servios. As concesses em geral so objeto de contratos a longo termo que possam garantir o retorno dos investimentos aplicados no sistema. Mas a grande dificuldade est nas poucas garantias que as concessionrias recebem quanto arrecadao e o pagamento dos seus servios e na fragilidade dos municpios em preparar os editais de concesso, conhecer custos e fiscalizar servios. A terceirizao consolida o conceito prprio da administrao pblica, qual seja, de exercer as funes prioritrias de planejamento, coordenao e fiscalizao, podendo deixar s empresas privadas a operao propriamente dita. importante lembrar que a terceirizao de servios pode ser manifestada em diversas escalas, desde a contratao de empresas bem estruturadas com especialidade em determinado segmento operacional tais como as operaes nos aterros sanitrios , at a contratao de microempresas ou trabalhadores autnomos, que possam promover, por exemplo, coleta com transporte de trao animal ou a operao manual de aterros de pequeno porte. O consrcio caracteriza-se como um acordo entre municpios com o objetivo de alcanar metas comuns previamente estabelecidas. Para tanto, recursos sejam humanos ou financeiros dos municpios integrantes so reunidos sob a forma de um consrcio a fim de viabilizar a implantao de ao, programa ou projeto desejado. Quaisquer dessas alternativas, ou de suas numerosas combinaes possveis, devem ser escolhidas com base no binmio baixo custo-tcnica correta para o meio ambiente, sempre visando a um sistema auto-sustentvel, resistente s mudanas de governo. No servio pblico delegado a terceiros, atravs de concesso, o poder concedente detm a titularidade do servio e o poder de fiscalizao. Isso pressupe uma capacitao tcnica e administrativa, para executar todos os atos atinentes ao processo, desde decises tcnicas, elaborao de termos de referncia, elaborao de edital e contrato, at a fiscalizao e o controle dos servios prestados. A escala da cidade, suas caractersticas urbansticas, demogrficas, econmicas e as peculiaridades de renda, culturais e sociais da populao devem orientar a escolha da forma de

TERCEIRIZAO

CONSRCIO

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administrao, tendo sempre os seguintes condicionantes como referncia: custo da administrao, gerenciamento, controle e fiscalizao dos servios; autonomia ou agilidade para planejar e decidir; autonomia de aplicao e remanejamento de recursos oramentrios; capacidade para investimento em desenvolvimento tecnolgico, sistemas de informtica e controle de qualidade; capacidade de investimento em recursos humanos e gerao de emprego e renda; resposta s demandas sociais e polticas; resposta s questes econmicas conjunturais; resposta s emergncias operacionais; resposta ao crescimento da demanda dos servios.A forma de administrao dos servios de limpeza urbana em cidades tursticas dever dar especial ateno questo da resposta ao crescimento da demanda dos servios, considerando o aspecto da sazonalidade que sobretudo cidades de veraneio vivenciam.

A administrao direta operando todo o sistema de limpeza urbana uma forma freqente em cidades de menor porte. Nesses casos, o gestor normalmente um departamento da prefeitura ou de uma de suas secretarias, compartilhando recursos com outros segmentos da administrao pblica. Esse tipo de administrao, compartilhada com outros segmentos da prefeitura, em geral tem custo bastante reduzido quando comparado com o custo de um rgo ou de uma instituio especificamente voltada para a gesto da limpeza urbana da cidade. Mas todos os demais condicionantes referidos anteriormente tornam-se difceis de serem superados e o servio tende a perder prioridade tambm para outras reas compartilhadas da prefeitura que possuem, eventualmente, maior visibilidade poltica. A prefeitura poder promover a terceirizao dos servios de coleta e limpeza urbana a empresas especializadas, cuidando apenas da administrao dos contratos e da qualidade dos servios. O ncleo administrativo na prefeitura pode ser reduzido e as empresas devem cobrar do governo municipal preos que abrangem as despesas tanto de custeio como de capital, liberando o Municpio de ter que investir recursos na aquisio e reposio de veculos e equipamentos. Nesses casos, algumas questes podem no ser resolvidas, tais como as vinculadas s demandas sociais e polticas, as de carter econmico conjunturais, as emergncias operacionais ou as de crescimento da demanda, que exigiriam renegociao dos contratos, uma vez que tais fatos no podem ser valorados, previstos ou pr-dimensionados. Conseqentemente, mesmo terceirizando os servios, prudente que a prefeitura conte com alguma reserva prpria operacional, constituda de veculos, equipamentos e recursos humanos, para fazer frente a essas

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3. Modelos Institucionais

necessidades contigenciais e que possam, eventualmente, suprir ou complementar algum servio deixado a descoberto pelas empresas contratadas. A Companhia de Limpeza Urbana da Cidade do Rio de Janeiro COMLURB/RJ uma empresa de limpeza urbana autnoma e, portanto, em condies de definir seu prprio oramento, estabelecer sua prpria poltica de recursos humanos e, principalmente, o planejamento, a estratgia e a logstica operacional. Pode tambm terceirizar servios operacionais, gerenciais e administrativos, e definir os termos de referncia tcnicos para os contratos. A companhia pode desenvolver ou subsidiar pesquisas e tecnologias vinculadas prtica da limpeza urbana em todos os seus segmentos operacionais e, por ser uma instituio somente voltada para a limpeza urbana, oferece maior visibilidade ao foco da prefeitura no tocante ao asseio da cidade e do ambiente urbano. Em todos os casos e possibilidades de administrao, seja direta ou indireta, a prefeitura tem que equacionar duas questes: remunerar de forma correta e suficiente os servios; ter garantia na arrecadao de receitas destinadas limpeza urbana da cidade.

3.3.

Remunerao dos servios

Tarifa um preo pblico cobrado por um servio prestado de forma facultativa. A tarifa somente devida quando da efetiva utilizao do servio pelo usurio, servio este que dever ser bem definido e mensurado.

Em termos da remunerao dos servios, o sistema de limpeza urbana pode ser dividido simplesmente em coleta de lixo domiciliar, limpeza dos logradouros e disposio final. Pela coleta de lixo domiciliar, cabe prefeitura cobrar da populao uma taxa especfica, denominada taxa de coleta de lixo. Alguns servios especficos, passveis de serem medidos, cujos usurios sejam tambm perfeitamente identificados, podem ser objeto de fixao de preo e, portanto, ser remunerados exclusivamente por tarifas. A remunerao do sistema de limpeza urbana, realizada pela populao em quase sua totalidade, no se d de forma direta, nem os recursos advindos do pagamento de taxas de coleta de lixo domiciliar podem ser condicionados exclusivamente ao sistema, devido legislao fiscal. Da mesma forma, a prefeitura no pode cobrar dos moradores a varrio e a limpeza da respectiva rua por ser um servio indivisvel. preciso, portanto, que a prefeitura garanta, por meios polticos, as dotaes oramentrias que sustentem adequadamente o custeio e os investimentos no sistema. No tocante inadimplncia dos contribuintes ou usurios, so parcas as solues legalmente possveis para contornar a situao. Os cortes comumente adotados no fornecimento de luz ou gua, pela falta de pagamento da tarifa, no podem ser aplicados na coleta ou remoo de lixo. A falta de pagamento da taxa de coleta

Taxa um imposto resultante da disponibilidade de um servio pblico por parte do poder pblico, quer o contribuinte use-o ou no. O valor da taxa dever revelar divisibilidade entre os contribuintes em funo dos respectivos potenciais de uso.

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de lixo, por exemplo, no pode ser combatida com a suspenso do servio e do atendimento ao contribuinte inadimplente, simplesmente porque o lixo que ele dispe para a coleta tem que ser recolhido de qualquer maneira por razes de sade pblica. Restam, assim, poucas armas. Embora de aplicao legalmente duvidosa, em alguns casos adotada a inscrio do imvel do devedor na dvida pblica do Municpio. Mesmo assim esse ato tem pouco poder punitivo, porque apenas ameaa o devedor na ocasio da eventual alienao do imvel. O sistema de limpeza urbana, de um modo geral, consome de sete a 15% do oramento do Municpio. H uma tendncia, no pas, de as prefeituras remunerarem os servios de limpeza urbana atravs de uma taxa, geralmente cobrada na mesma guia do Imposto Predial e Territorial Urbano IPTU , quase sempre usando a mesma base de clculo, que a rea do imvel. Essa uma prtica inconstitucional, que vem sendo substituda por diversas outras formas de cobrana, no havendo ainda um consenso quanto maneira mais adequada de faz-lo. Tem-se tentado correlacionar a produo de lixo com consumo de gua, de energia eltrica, testada do terreno etc. S mesmo uma reforma tributria poder instrumentalizar os municpios a se ressarcirem, de forma socialmente justa, pelos servios de limpeza urbana prestados populao. A empresa gestora do sistema de limpeza urbana da cidade do Rio de Janeiro praticou, at 1980, a cobrana de uma tarifa de coleta de lixo, recolhida diretamente aos seus cofres. Entretanto, o Supremo Tribunal Federal, em acrdo de 4/9/1980, decidiu que aquele servio, por sua ligao com a preservao da sade pblica, era um servio pblico essencial, no podendo, portanto, ser remunerado mediante uma tarifa (preos pblicos), mas sim por meio de taxas e impostos. Esse acrdo continua em vigor at hoje, at que as proposies de modificao dessa legislao tenham efeito em uma reforma tributria. A COMLURB, na cidade do Rio de Janeiro, acabou definindo os valores da taxa com base nos censos realizados no Municpio e a produo per capita de lixo identificada em cada regio administrativa da cidade. Mesmo assim, a receita proveniente dessa taxa recolhida ao Tesouro Municipal, nada garantindo sua aplicao no setor, a no ser a vontade poltica da prefeitura. De qualquer forma, representa apenas parte dos custos reais dos servios. A atualizao ou correo dos valores da taxa depende da autorizao da Cmara dos Vereadores, que geralmente resiste a aumentos da carga tributria dos muncipes. Alm disso, a aplicao de uma taxa realista e socialmente justa, que esteja dentro da capacidade de pagamento da populao e que efetivamente cubra os custos dos servios, dentro do

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princpio de "quem pode mais, paga mais", implica uma ao poltica que requer habilidade e empenho por parte do prefeito. Torna-se necessrio, ento, contrariar a tendncia de relegar a planos no prioritrios os servios de limpeza urbana que, por conta disso, recebem menos recursos que os necessrios. Se no for possvel a remunerao adequada do sistema, ficar prejudicada a qualidade dos servios prestados e o crculo vicioso no se romper. A limpeza urbana ser mal realizada, pois no dispor dos recursos necessrios, e a populao poder no aceitar as taxas por no contar com servios de qualidade. A prefeitura precisa arcar, durante algum tempo, com o nus de um aumento da carga tributria, se isso for necessrio, at que o quadro se reverta com a melhoria da qualidade dos servios prestados. Para realizao de investimentos, seja a compra de equipamentos, seja a instalao de unidades de tratamento e disposio final, as prefeituras podem recorrer a fontes de financiamento externo. Ainda que haja pouca clareza legal que oriente a concesso do servio pblico de limpeza urbana, a terceirizao, atravs da contratao de empresas privadas para execuo, com seus prprios meios (equipamentos e pessoal), da coleta, limpeza de logradouros, tratamento e disposio final, uma soluo possvel para as prefeituras que no tenham recursos disponveis para investimentos. Quanto situao financeira para a gesto dos resduos industriais, o equilbrio e a sustentabilidade tm que ser buscados dentro do universo dos prprios geradores e dos centros de tratamento e disposio final, tambm operados pela iniciativa privada. Como os investimentos nessas unidades so elevados e seu licenciamento junto aos rgos de controle ambiental um processo complexo, o sistema ainda no est equilibrado. De qualquer forma, supe-se que, quando uma indstria prepara um determinado produto, em seu preo de venda esteja embutido o valor necessrio cobertura dos custos com a disposio final adequada dos resduos provenientes do seu processo produtivo.A remunerao dever ser igual s despesas do sistema. As despesas devem incluir os gastos de pessoal, transporte, manuteno, reposio, renovao de veculos e equipamentos; servios de apoio, inspeo e apoio; despesas de capital, pesquisa e desenvolvimento tecnolgico e administrao.

Seja como for, a remunerao do sistema de limpeza urbana se resolve na seguinte equao: Remunerao = Despesas = Recursos do Tesouro Municipal + Arrecadao da Taxa de Coleta de Lixo (TCL) + Arrecadao de Tarifas e Receitas Diversas. Independentemente da forma de gesto, os recursos do Tesouro Municipal e a arrecadao de tarifas possveis devem equivaler ao oramento do custeio e despesas de capital de todas as operaes que abrangem a limpeza da cidade.

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A arrecadao da Taxa de Coleta de Lixo TCL dever, tentativamente, cobrir o custeio e os investimentos das operaes de coleta, transporte, tratamento e disposio final do lixo, bem como a limpeza de logradouros. A remunerao dos servios de coleta de lixo dos grandes geradores (restaurantes, hotis), assim como os servios passveis de serem tarifados (medidos), como remoes especiais, a coleta de lixo hospitalar e remoo de entulho e bens inservveis, pode ser sustentada pelas prprias empresas coletoras, credenciadas pela prefeitura. sempre bom lembrar que todas as atividades operacionais que no forem autosustentadas por tarifas adequadas e por um sistema eficiente de arrecadao sero por recursos do Tesouro Municipal e, portanto, devem ser previstas no oramento do Municpio, especificamente na rubrica de despesas com limpeza urbana, sob pena de obrigar a prefeitura a remanejar recursos preciosos de outras reas. sempre bom lembrar que uma forma de reduzir os custos com o sistema de limpeza urbana, sobretudo com as atividades de coleta, tratamento e disposio final, sensibilizar a populao a reduzir a quantidade de lixo gerado, assim como implantar programas especficos como a segregao do lixo na fonte geradora com fins de reciclagem, ou at mesmo a criao de bolsas de resduos para a reciclagem.

3.4.

O clculo da Taxa de Coleta de Lixo TCLO valor unitrio da Taxa de Coleta de Lixo TCL , pode ser calculado simplesmente dividindo-se o custo total anual da coleta de lixo domiciliar pelo nmero de domiclios existentes na cidade. Todavia, esse valor unitrio pode ser adequado s peculiaridades dos diferentes bairros da cidade, levando em considerao alguns fatores, tais como os sociais (buscando uma tarifao socialmente justa) e os operacionais.

Para a sustentabilidade econmica do sistema, a unidade padro da Taxa de Coleta de Lixo TCL o quociente da diviso do total do oramento de custeio dos servios de coleta de lixo domiciliar pelo nmero de domiclios da cidade.

O fator social funo do poder aquisitivo mdio dos moradores das diferentes reas da cidade. O fator operacional reflete o maior ou menor esforo, em pessoal e em equipamentos, empregado na coleta, seja em funo do uso a que se destina o imvel (comercial, residencial etc.), seja por efeito de sua localizao ou da necessidade de se realizar maiores investimentos (densidade demogrfica, condies topogrficas, tipo de pavimentao etc.).

No se deve negligenciar, no oramento, parcelas dos custos de transferncia, transporte, tratamento e destino final, assim como administrao, gerenciamento, sistemas de controle, despesas de capital e desenvolvimento tecnolgico vinculados coleta.

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3. Modelos Institucionais

Apenas para ilustrar a ordem de grandeza dos custos das operaes de coleta domiciliar, realizou-se um exerccio, mostrado na Tabela 1 a seguir, para uma cidade hipottica com 50 mil habitantes, com determinadas caractersticas urbansticas que so tpicas de cidades brasileiras desse porte. Os custos apresentados (calculados em agosto de 2001) so bastante realistas e incluem despesas de custeio e capital, incluindo pessoal e encargos sociais, uniformes, auxlio de alimentao e transporte, seguros e impostos. Os custos dos veculos e equipamentos englobam preo de aquisio, depreciao, reposio, consumo de combustveis e lubrificantes, pneus, baterias, manuteno e peas de reposio. O salrio de motorista foi estimado em R$300,00 e o do empregado coletor, o salrio mnimo, em R$180,00. Nesses valores no esto includos os custos relativos a estaes de transferncia e sistemas de tratamento (reciclagem, compostagem e incinerao).Tabela 1

Componentes de custos de um servio tpico de coleta domiciliar e fatores que os influenciam em uma cidade hipottica de 50 mil habitantes

DESCRIO Populao Densidade urbana mdia rea urbana Sistema virio Extenso dos logradouros Distncia do aterro sanitrio ao centro da rea de coleta Produo de lixo domiciliar (incluindo grandes geradores e hospitalar) Velocidade dos veculos em operao de coleta Velocidade dos veculos de transferncia ao aterro Freqncia da coleta Capacidade mdia de carga dos veculos de coleta (compactador de 12m) Durao do turno Nmero de viagens dirias ao aterro sanitrio Tempo estimado para percurso dos roteiros de coleta

QUANTIDADE 50.000 200 250 50 42 25 30

UNIDADE Habitantes hab./ha ha ha km km t/dia til (2 a sb.) km/h km/h Diria

4 40

5,50 7,33 6 10

t/viagem horas/dia til Viagens Horas

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3. Modelos Institucionais

DESCRIO Tempo de carga (15min), transporte e descarga (15min) no aterro sanitrio Tempo total de operao Quantidade de compactadores necessrios, operando um turno, com folga, fazendo a transferncia ao aterro Nmero de motoristas Nmero de empregados na guarnio Nmero de empregados coletores, incluindo reserva de 20% Total de empregados na coleta Custo mdio de operao em aterro Custo mensal dos veculos coletores com motoristas Custo mensal dos coletores Subtotal custos diretos Custo anual Administrao Total anual Custo anual por habitante

QUANTIDADE 1,13 11,54

UNIDADE Hora Horas

2

Veculos

4 3 8 12 R$6.240,00 R$12.600,00 R$5.600,00 R$24.440,00 R$293.280,00 R$35.193,60 R$328.473,60 R$6,57

Motoristas Coletores Coletores Empregados R$/t R$/ms R$/ms

Em geral, o custo da coleta, incluindo todos os segmentos operacionais at a disposio final, representa cerca de 50% do custo do sistema de limpeza urbana da cidade. Na coleta, o emprego da mo-de-obra pouco intensivo, e a incidncia dos custos de veculos e equipamentos muito grande. Na limpeza de logradouros acontece o inverso, com aplicao de mo-de-obra intensiva, abrangendo os garis varredores e menos equipamentos. Portanto, nessa cidade hipottica, razovel supor que o sistema de limpeza urbana custaria aos cofres municipais algo em torno de R$600 mil a R$700 mil anuais, devendo esse volume estar dentro de uma faixa de 9% a 12% do oramento total do Municpio. Admitindo quatro habitantes por domiclio, esta cidade contaria com 12,5 mil domiclios, os quais teriam, a seu encargo, uma quantia em torno de R$50,00 por ano para sustentar a limpeza urbana. Esse valor no significa muito, mas depende fundamentalmente da firme ao da prefeitura em defender e preservar esse oramento, apoiada pela importante receita poltica que certamente um sistema de limpeza urbana bem gerido proporcionar.

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4.

Legislao e Licenciamento AmbientalA gesto integrada do sistema de limpeza urbana no Municpio pressupe, por conceito e fundamentalmente , o envolvimento da populao e o exerccio poltico sistemtico junto s instituies vinculadas a todas as esferas dos governos municipais, estaduais e federal que possam nele atuar. A integrao da populao na gesto realizada de duas formas: participando da remunerao dos servios e sua fiscalizao; colaborando na limpeza, seja reduzindo, reaproveitando, reciclando ou dispondo adequadamente o lixo para a coleta, seja mesmo no sujando as ruas. A colaborao da populao deve ser considerada o principal agente que transforma a eficincia desses servios em eficcia de resultados operacionais ou oramentrios. A populao pode ser estimulada a reduzir a quantidade de lixo e tornar a operao mais econmica. As aes que tornam o sistema de limpeza urbana excelente e a populao colaboradora formam um poderoso binrio capaz de solucionar os principais problemas vinculados ao sistema de limpeza urbana. Essas aes, que atuam no desenvolvimento das operaes com qualidade e em um programa bem estruturado de educao ambiental, necessitam de instrumentos legais que as fundamentem. H trs vertentes legislativas importantes para a instrumentalizao do sistema de limpeza urbana, quais sejam: a primeira, de ordem poltica e econmica, estabelece as formas legais de institucionalizao dos gestores do sistema e as formas de remunerao e cobrana dos servios; a segunda, conformando um cdigo de posturas, orienta, regula, dispe procedimentos e comportamentos corretos por parte dos contribuintes e dos agentes da limpeza urbana, definindo ainda processos administrativos e penas de multa; a terceira vertente compe o aparato legal que regula os cuidados com o meio ambiente de modo geral no pas e, em especial, o licenciamento para implantao de atividades que apresentem risco para a sade pblica e para o meio ambiente. Existe, no Brasil, uma coleo numerosa de leis, decretos, resolues e normas que evidenciam enorme preocupao com o meio ambiente e, especificamente na questo da limpeza urbana, h ainda iniciativas do Legislativo municipal nas leis orgnicas e demais instrumentos legais locais.

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4. Legislao e Licenciamento Ambiental

Sem mencionar lixo, a Constituio Federal dispe: "A sade direito de todos e dever do Estado, garantida mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco da doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio a aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao". "Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e as futuras geraes". " competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios: proteger o meio ambiente e combater a poluio em qualquer de suas formas; promover programas de construo de moradias e a melhoria das condies habitacionais e de saneamento bsico; combater as causas da pobreza e os fatores de marginalizao promovendo a integrao social dos setores desfavorecidos". (Constituio Federal, arts. 196, 225 e 23, incisos VI, IX e X, respectivamente)

O Sistema de Licenciamento Ambiental est previsto na Lei Federal n 6.938, de 31/8/1981, e foi regulamentado pelo Decreto Federal n 99.274, de 06/6/1990. Por outro lado, a Resoluo CONAMA n 01/86 define responsabilidades e critrios para avaliao de impacto ambiental e define as atividades que necessitam de Estudo de Impacto Ambiental EIA e Relatrio de Impacto Ambiental RIMA , entre as quais se inclui a implantao de aterros sanitrios. No sentido de facilitar o licenciamento de novos aterros e a recuperao de lixes em municpios de pequeno e mdio portes, est sendo finalizada uma nova resoluo CONAMA (com previso para incio do ano 2002), pois, nos moldes vigentes, muitas vezes a elaborao de EIA/RIMA e o atendimento aos ritos do licenciamento ambiental encontram-se alm das possibilidades econmicas do Tesouro Municipal. H ainda outras resolues CONAMA e normas tcnicas da Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT que tratam de resduos slidos, quais sejam: Resolues CONAMA 008/91 006/91 Ementa: Veda a entrada no Brasil de materiais residuais destinados disposio final e incinerao. Ementa: Desobriga a incinerao ou qualquer outro tratamento de queima dos resduos slidos provenientes dos estabelecimentos de sade, portos e aeroportos, ressalvados os casos previstos em lei e acordos internacionais.

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4. Legislao e Licenciamento Ambiental

011/86

Ementa: Altera o art. 2 da Resoluo CONAMA n 001 de 23 de janeiro de 1986, que estabelece definies, responsabilidades, critrios bsicos e diretrizes gerais para uso e implementao da Avaliao de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Poltica Nacional de Meio Ambiente. Ementa: Dispe sobre o sistema de licenciamento ambiental, a regulamentao de seus aspectos na forma do estabelecido na Poltica Nacional de Meio Ambiente, estabelece critrio para o exerccio da competncia para o licenciamento a que se refere o art. 10 da Lei n 6.938/81 e d outras providncias. Ementa: Cria reas de segurana aeroporturias ASA para aerdromos, proibindo a implantao, nestas reas, de atividades de natureza perigosa que sirvam como foco de atrao de aves. Ementa: Define responsabilidades e critrios para avaliao de impacto ambiental e define atividades que necessitam de Estudo de Impacto Ambiental EIA e Relatrio de Impacto Ambiental RIMA. Ementa: Estabelece critrios para exigncias de licenciamento para obras de saneamento. Ementa: Determina procedimentos para manuseio de cargas deterioradas, contaminadas, fora de especificao ou abandonadas que sero tratadas como fontes potenciais de risco ao meio ambiente, at manifestao do rgo do meio ambiente competente. Ementa: Disciplina o descarte e o gerenciamento ambientalmente adequado de pilhas e baterias usadas, no que tange coleta, reutilizao, reciclagem, tratamento ou disposio final. Ementa: Dispe sobre o processo de Licenciamento Ambiental de Atividades Industriais, sobre os resduos gerados e/ou existentes que devero ser objeto de controle especfico. Ementa: Trata da destinao final de pneumticos inservveis. Ementa: Estabelece definies, classificao e procedimentos mnimos para o gerenciamento de resduos slidos oriundos de servios de sade, portos e aeroportos, terminais ferrovirios e rodovirios. Ementa: Estabelece o cdigo de cores para os diferentes tipos de resduos, a ser adotado na identificao de coletores e transportadores, bem como nas campanhas informativas para a coleta seletiva. Dispe sobre o tratamento e a disposio final de resduos de servios de sade.

237/97

004/95

001/86

005/88 002/91

257/99

006/88

258/99 005/93

275/01

283/01

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4. Legislao e Licenciamento Ambiental

NORMAS TCNICAS DA ABNT NBR 10.004 Ementa: Classifica resduos slidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e sade pblica, para que estes resduos possam ter manuseio e destinao adequados. Ementa: Fixa condies mnimas exigveis para projeto, implantao e operao de aterros de resduos no perigosos, de forma a proteger adequadamente as colees hdricas superficiais e subterrneas prximas, bem como os operadores destas instalaes e populaes vizinhas. Ementa: Aterros de resduos perigosos Critrios para projeto, construo e operao. Ementa: Apresentao de projetos de aterros controlados de resduos slidos urbanos. Ementa: Apresentao de projetos de aterros de resduos industriais perigosos. Ementa: Apresentao de projetos de aterros sanitrios de resduos slidos urbanos. O art. 9, inciso IV, da Lei n 6.938/81, estabelece como um dos instrumentos da Poltica Nacional de Meio Ambiente o licenciamento e a reviso de atividades "efetiva" ou "potencialmente poluidoras", e o art. 10 prev que a construo, instalao, ampliao e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais considerados "efetivo" e "potencialmente poluidores", bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar "degradao ambiental" , dependero de prvio licenciamento do rgo estadual competente, integrante do Sistema Nacional de Meio Ambiente SISNAMA. O Decreto n 99.274/90, a partir do art. 17, explica o processo de licenciamento, determinando que as atividades efetiva ou potencialmente poluidoras e aquelas capazes de causar degradao ambiental dependero de prvio licenciamento do rgo estadual competente integrante do SISNAMA, sem prejuzo de outras licenas cabveis, repetindo o texto da Lei Poltica Nacional de Meio Ambiente. J o art. 19 (Decreto n 99.274/90) dispe que o poder pblico, no exerccio de sua competncia de controle, expedir as seguintes licenas: prvia, de instalao e de operao. A Constituio Federal de 1988 elevou o Municpio categoria de ente poltico como se depreende dos arts. 1 e 18, que prevem que a Federao Brasileira constituda da Unio, estados e municpios.23

NBR 13.896

NBR 1.057; NB 1.025 NBR 8.849; NB 844 NBR 8.418; NB 842 NBR 8419; NB 843

4. Legislao e Licenciamento Ambiental

Os municpios j podiam legislar, prestar servios e instituir e cobrar os prprios tributos, alm de eleger prefeito e vereadores. Alm disso, os municpios tm a competncia comum do art. 23, incisos VI e VII de proteger o meio ambiente, combater a poluio e preservar as florestas, a fauna e a flora. O art. 30, inciso I, lhes permite legislar sobre interesse local, logo elaborar leis de poltica municipal de meio ambiente, e pelo art. 30, inciso II, suplementar a legislao federal e estadual, no que couber, alm, do art. 30, inciso VIII, que confere competncia exclusiva para legislar sobre ordenamento territorial, mediante planejamento e uso do solo. O art. 225 da Constituio Federal tambm ajuda a esclarecer que o Municpio tem o dever de proteger o meio ambiente, uma vez que impe ao poder pblico (Unio, Estado e Municpio) e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes. Logo, o Municpio pode legislar sobre proteo ambiental e exercer o poder de polcia administrativa. O Municpio do Rio de Janeiro, em sua Lei Orgnica Municipal (art. 463, inciso VI, pargrafo 4) prev o licenciamento do rgo municipal competente para a explorao de recursos hdricos e minerais. Enquanto o art. 463, inciso I, estabelece, entre os instrumentos do poder pblico para preservar o meio ambiente, a assinatura de convnios para aperfeioar o gerenciamento ambiental. Ainda no Rio de Janeiro, o Plano Diretor da Cidade, no art. 112, estabelece a poltica de meio ambiente e valorizao do patrimnio cultural, e no art. 113 prev que ser institudo um sistema de gesto ambiental para a execuo de sua poltica (Conselho Municipal de Meio Ambiente, Fundo de Conservao Ambiental e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente). O art. 117 explicita que o sistema de gesto compreender, entre outros instrumentos, a formulao de projetos de proteo do meio ambiente diretamente ou mediante convnio, implantao do processo de avaliao de impacto ambiental, exame de projetos, obras ou atividades efetiva ou potencialmente causadoras de degradao ambiental, e dever exigir, quando for o caso, EIA/RIMA ou garantia de recuperao ambiental para o licenciamento da atividade em questo. Portanto, as prefeituras devero se respaldar em suas leis orgnicas a fim de decidir, em funo de sua escala urbana (determinada pelo tamanho de sua populao), sua situao socioeconmica e cultural, alternativas possveis para institucionalizao do sistema de limpeza urbana, formas de gesto, cobranas de taxas e tarifas e associaes com outras entidades que possam atuar ou convergir esforos, independentemente de sua natureza institucional no pas. Especificamente, o regulamento de limpeza urbana deve ser a espinha dorsal do sistema de limpeza urbana da cidade, expressando todos os princpios fundamentais que devem orientar o comportamento do poder municipal e de sua populao.24

5.

Resduos Slidos: Origem, Definio e CaractersticasDefinio de lixo e resduos slidosDe acordo com o Dicionrio de Aurlio Buarque de Holanda, "lixo tudo aquilo que no se quer mais e se joga fora; coisas inteis, velhas e sem valor." J a Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT define o lixo como os "restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como inteis, indesejveis ou descartveis, podendo-se apresentar no estado slido, semi-slido 1 ou lquido 2 , desde que no seja passvel de tratamento convencional." Normalmente os autores de publicaes sobre resduos slidos se utilizam indistintamente dos termos "lixo" e "resduos slidos". Neste Manual, resduo slido ou simplesmente "lixo" todo material slido ou semi-slido indesejvel e que necessita ser removido por ter sido considerado intil por quem o descarta, em qualquer recipiente destinado a este ato. H de se destacar, no entanto, a relatividade da caracterstica inservvel do lixo, pois aquilo que j no apresenta nenhuma serventia para quem o descarta, para outro pode se tornar matria-prima para um novo produto ou processo. Nesse sentido, a idia do reaproveitamento do lixo um convite reflexo do prprio conceito clssico de resduos slidos. como se o lixo pudesse ser conceituado como tal somente quando da inexistncia de mais algum para reivindicar uma nova utilizao dos elementos ento descartados.

5.1.

5.2.

Classificao dos resduos slidos

So vrias as maneiras de se classificar os resduos slidos. As mais comuns so quanto aos riscos potenciais de contaminao do meio ambiente e quanto natureza ou origem.

1 Entende-se como substncias ou produtos semi-slidos todos aqueles com teor de umidade inferior a 85%. 2 Vlido somente para resduos industriais perigosos.

25

5. Resduos Slidos: Origem, Definio e Caractersticas

5.2.1.

Quanto aos riscos potenciais de contaminao do meio ambienteDe acordo com a NBR 10.004 da ABNT, os resduos slidos podem ser classificados em:

CLASSE I OU PERIGOSOS

So aqueles que, em funo de suas caractersticas intrnsecas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade, apresentam riscos sade pblica atravs do aumento da mortalidade ou da morbidade, ou ainda provocam efeitos adversos ao meio ambiente quando manuseados ou dispostos de forma inadequada. So os resduos que podem apresentar caractersticas de combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade, com possibilidade de acarretar riscos sade ou ao meio ambiente, no se enquadrando nas classificaes de resduos Classe I Perigosos ou Classe III Inertes. So aqueles que, por suas caractersticas intrnsecas, no oferecem riscos sade e ao meio ambiente, e que, quando amostrados de forma representativa, segundo a norma NBR 10.007, e submetidos a um contato esttico ou dinmico com gua destilada ou deionizada, a temperatura ambiente, conforme teste de solubilizao segundo a norma NBR 10.006, no tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentraes superiores aos padres de potabilidade da gua, conforme listagem n 8 (Anexo H da NBR 10.004), excetuando-se os padres de aspecto, cor, turbidez e sabor.

CLASSE II OU NO-INERTES

CLASSE III OU INERTES

5.2.2.

Quanto natureza ou origemA origem o principal elemento para a caracterizao dos resduos slidos. Segundo este critrio, os diferentes tipos de lixo podem ser agrupados em cinco classes, a saber: Lixo domstico ou residencial Lixo comercial Lixo pblico Lixo domiciliar especial: Entulho de obras Pilhas e baterias Lmpadas fluorescentes Pneus

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5. Resduos Slidos: Origem, Definio e Caractersticas

Lixo de fontes especiais Lixo industrial Lixo radioativo Lixo de portos, aeroportos e terminais rodoferrovirios Lixo agrcola Resduos de servios de sade LIXO DOMSTICO OU RESIDENCIAL So os resduos gerados nas atividades dirias em casas, apartamentos, condomnios e demais edificaes residenciais. So os resduos gerados em estabelecimentos comerciais, cujas caractersticas dependem da atividade ali desenvolvida.

LIXO COMERCIAL

Nas atividades de limpeza urbana, os tipos "domstico" e "comercial" constituem o chamado "lixo domiciliar", que, junto com o lixo pblico, representam a maior parcela dos resduos slidos produzidos nas cidades. O grupo de lixo comercial, assim como os entulhos de obras, pode ser dividido em subgrupos chamados de "pequenos geradores" e "grandes geradores". O regulamento de limpeza urbana do municpio poder definir precisamente os subgrupos de pequenos e grandes geradores. Pode-se adotar como parmetro: Pequeno Gerador de Resduos Comerciais o estabelecimento que gera at 120 litros de lixo por dia. Grande Gerador de Resduos Comerciais o estabelecimento que gera um volume de resduos superior a esse limite. Analogamente, pequeno gerador de entulho de obras a pessoa fsica ou jurdica que gera at 1.000kg ou 50 sacos de 30 litros por dia, enquanto grande gerador de entulho aquele que gera um volume dirio de resduos acima disso. Geralmente, o limite estabelecido na definio de pequenos e grandes geradores de lixo deve corresponder quantidade mdia de resduos gerados diariamente em uma residncia particular com cinco moradores. Num sistema de limpeza urbana, importante que sejam criados os subgrupos de "pequenos" e "grandes" geradores, uma vez que a coleta dos resduos dos grandes geradores pode ser tarifada e, portanto, se transformar em fonte de receita adicional para sustentao econmica do sistema.

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