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Manual de medicina legal delton croce junior

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  1. 1. Rua Henrique Schaumann, 270, Cerqueira Csar So Paulo SP CEP 05413-909 PABX: (11) 3613 3000 SACJUR: 0800 055 7688 De 2 a 6, das 8:30 s 19:30 [email protected] Acesse www.saraivajur.com.br FILIAIS AMAZONAS/RONDNIA/RORAIMA/ACRE Rua Costa Azevedo, 56 Centro Fone: (92) 3633-4227 Fax: (92) 3633- 4782 Manaus BAHIA/SERGIPE Rua Agripino Drea, 23 Brotas Fone: (71) 3381-5854 / 3381-5895 Fax: (71) 3381-0959 Salvador BAURU (SO PAULO) Rua Monsenhor Claro, 2-55/2-57 Centro Fone: (14) 3234-5643 Fax: (14) 3234-7401 Bauru CEAR/PIAU/MARANHO Av. Filomeno Gomes, 670 Jacarecanga Fone: (85) 3238-2323 / 3238-1384 Fax: (85) 3238-1331 Fortaleza DISTRITO FEDERAL SIA/SUL Trecho 2 Lote 850 Setor de Indstria e Abastecimento Fone: (61) 3344-2920 / 3344-2951 Fax: (61) 3344-1709 Braslia GOIS/TOCANTINS Av. Independncia, 5330 Setor Aeroporto Fone: (62) 3225-2882 / 3212- 2806 Fax: (62) 3224-3016 Goinia
  2. 2. MATO GROSSO DO SUL/MATO GROSSO Rua 14 de Julho, 3148 Centro Fone: (67) 3382-3682 Fax: (67) 3382- 0112 Campo Grande MINAS GERAIS Rua Alm Paraba, 449 Lagoinha Fone: (31) 3429-8300 Fax: (31) 3429- 8310 Belo Horizonte PAR/AMAP Travessa Apinags, 186 Batista Campos Fone: (91) 3222-9034 / 3224- 9038 Fax: (91) 3241-0499 Belm PARAN/SANTA CATARINA Rua Conselheiro Laurindo, 2895 Prado Velho Fone/Fax: (41) 3332-4894 Curitiba PERNAMBUCO/PARABA/R. G. DO NORTE/ALAGOAS Rua Corredor do Bispo, 185 Boa Vista Fone: (81) 3421-4246 Fax: (81) 3421-4510 Recife RIBEIRO PRETO (SO PAULO) Av. Francisco Junqueira, 1255 Centro Fone: (16) 3610-5843 Fax: (16) 3610-8284 Ribeiro Preto RIO DE JANEIRO/ESPRITO SANTO Rua Visconde de Santa Isabel, 113 a 119 Vila Isabel Fone: (21) 2577- 9494 Fax: (21) 2577-8867 / 2577-9565 Rio de Janeiro RIO GRANDE DO SUL Av. A. J. Renner, 231 Farrapos Fone/Fax: (51) 3371-4001 / 3371-1467 / 3371-1567 Porto Alegre SO PAULO Av. Antrtica, 92 Barra Funda Fone: PABX (11) 3616-3666 So Paulo ISBN 978-85-02-14954-0
  3. 3. Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) Croce, Delton Manual de medicina legal / Delton Croce e Delton Croce Jr. 8. ed. So Paulo : Saraiva, 2012. 1. Medicina legal I. Croce Jnior, Delton. II. Ttulo. 10-14082 CDU-340.6 ndice para catlogo sistemtico: 1. Manual de medicina legal 340.6 Diretor editorial Luiz Roberto Curia Diretor de produo editorial Lgia Alves Editor Jnatas Junqueira de Mello Assistente editorial Sirlene Miranda de Sales Produtora editorial Clarissa Boraschi Maria Preparao de originais Maria Izabel Barreiros Bitencourt Bressan / Cntia da Silva Leito Arte e diagramao Cristina Aparecida Agudo de Freitas / Mnica Landi Reviso de provas Rita de Cssia Queiroz Gorgati
  4. 4. Servios editoriais Ana Paula Mazzoco / Vinicius Asevedo Vieira Capa Roney Camelo Produo grfica Marli Rampim Produo eletrnica Ro Comunicao Data de fechamento da edio: 23-11-2011 Dvidas? Acesse www.saraivajur.com.br Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prvia autorizao da Editora Saraiva. A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Cdigo Penal.
  5. 5. DADOS DE COPYRIGHT Sobre a obra: A presente obra disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com o objetivo de disponibilizar contedo para uso parcial em pesquisas e estudos acadmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. expressamente proibida e totalmente repudavel a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente contedo Sobre ns: O Le Livros e seus parceiros disponibilizam contedo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educao devem ser acessveis e livres a toda e qualquer pessoa. Voc pode encontrar mais obras em nosso site: LeLivros.Net ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link. Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento,e no lutando por dinheiro e poder, ento nossa sociedade enfim evoluira a um novo nvel.
  6. 6. esposa Therezinha, companheira de todas as horas, amparo seguro nos percalos de meu caminho, aos filhos Carla e Jnior e filha-nora Ana Rosa, que gerou Netto e Larissa, netinhos queridos cujo sorriso luz radiante, aquecendo o ocaso de meus dias, dedico este esforo.
  7. 7. A continuao desta obra dedicada a um grande homem, que conseguiu, como poucos, se eternizar em nossas lembranas pelo respeito, pela dedicao, pelo carinho, pela amizade incondicional e pelo exemplo. Ao companheiro das horas difceis, parceiro dos bons momentos, que viveu sempre em funo da famlia e do bem-estar do prximo: Delton Croce, meu pai e inesquecvel amigo (in memoriam). Delton Croce Jnior
  8. 8. As verdades cientficas so transitrias, certezas do momento emendadas por certezas maiores no momento prximo. (POINCAR) O Direito, como o viajante, deve estar pronto para o dia seguinte. (BENJAMIM CARDOSO, Juiz da Suprema Corte Americana)
  9. 9. AGRADECIMENTO Deixamos aqui consignado nosso agradecimento: Aos insignes mestres Damsio E. de Jesus e Fernando da Costa Tourinho Filho, que, acreditando na utilidade desta modesta obra, com suas mos amigas nos conduziram Editora Saraiva. Ao Dr. Juarez de Oliveira, que, movido por elevado esprito de incentivar e divulgar publicaes de interesse para o Direito, no poupou esforos no sentido de ver este compndio impresso. filha-nora Ana Rosa Marques Croce, nossa colaboradora, que tanto diligenciou na reviso das provas, e minha filha Carla Croce, pela reproduo das ilustraes e figuras recolhidas de fontes nacionais e peregrinas. E, finalmente, Editora Saraiva, que, arrimada na capacidade e seriedade sobejamente reconhecida como peculiar, herdada de Joaquim Igncio da Fonseca Saraiva, infatigvel disseminador, a mancheias, de obras jurdicas, mais uma vez esmerou-se na impresso ntida e clara e na notvel apresentao grfica que, incontestavelmente, valorizou em muito o Manual. Delton Croce
  10. 10. NOTA EXPLICATIVA 4. EDIO Os compndios de Medicina Legal se tomarmos em considerao os vrios e autorizados centros de estudo dessa cincia e arte auxiliar da Justia em nosso Pas e a capacidade tcnica dos seus representantes so, entre ns, em nmero reduzido. Preferem os estudiosos e competentes especialistas divulgar os seus estudos em revistas tcnicas esparsas, referentes s questes limitadas que lhes mereceram maior ateno, os quais, infelizmente, no raro, vivem em penumbra nas colees desses peridicos. Tal comportamento leva os que se dedicam ao estudo ou especializao mdico-legal a dificuldades quando buscam um novo encontro com determinados artigos, que leram h algum tempo, visando relembr-los e referi-los. Dessarte, compreende-se o vivo interesse e a curiosidade intelectual despertada nos acadmicos de Direito e de Medicina e nos profissionais que se servem dessa especialidade quando do lanamento deste Manual de Medicina Legal, em 1995. Reitera tal afirmativa a extraordinria rapidez com que se esgotaram as suas sucessivas edies, demonstrando a aceitao que desde logo a obra granjeou entre acadmicos das Faculdades de Direito, das Faculdades de Medicina, juzes de todos os graus, promotores de justia, procuradores do Estado, advogados militantes, os concursistas s carreiras de delegado estadual e federal e os mdicos-legistas, excedendo todas as previses. Ademais, a procura continua muito grande; por isso, houve por bem a Editora Saraiva editar a 4. edio com todos os captulos revistos pelos autores, sendo oportuno dizer que alguns tiveram alteraes de monta. Foram tambm includos novos assuntos referentes a embriaguez (recusa do condutor de veculo a submeter-se ao exame de doseamento alcolico, delirium tremens), leses corporais de natureza leve (crise histrica e escoriaes), leses do diafragma, fraturas da base do crnio, queimaduras trmicas, queimaduras qumicas, envenenamentos, acidentes ocorridos em atos anestsicos, indenizao acidentria, limiares da perda auditiva induzida pelo rudo (PAIR) e sua classificao, omisso de socorro, recusa do paciente em receber transfuso de sangue, exerccio ilegal da medicina, oligofrenia, morte aparente, morte de neonato consequente membrana hialina, suicdio, vaginismo, infanticdio, exame pericial de leite e colostro, inseminao e fecundao artificial, manobras abortivas, posse sexual mediante fraude, perverses sexuais (satirase, vampirismo, bestialismo), hermafroditismo psquico, correo plstica de intersexualismo, afasia, quesitos destinados investigao de paternidade. Agradecemos as generosas palavras de incentivo que nos enviaram os leitores bem como as referncias elogiosas de alguns jornais e revistas do Pas
  11. 11. e acolhemos prazerosamente muitas de suas sugestes construtivas, com o objetivo de melhorar a obra. Se esta edio continuar a despertar o interesse e a merecer a preferncia dos estudiosos, dar-se-o os autores por bem satisfeitos e pagos do que ela lhes custou em forma de escrupuloso trabalho. Bauru, 25 de setembro de 1997. Os Autores
  12. 12. PREFCIO De h muito conheo o Professor Delton Croce. Conheo-o como Mdico e como Professor na Faculdade de Direito de Bauru, onde perora h alguns anos. Toda a experincia que os largos anos do exerccio da Medicina lhe proporcionaram e proporcionam foi por ele transportada para o magistrio, onde, ao lado do seu acendrado amor aos livros, se imps pela sua cultura, pela sua inteligncia fulgurante, pela levidade do esprito, granjeando o respeito e a admirao de seus colegas e de todo o corpo discente. A Medicina Legal cincia no muito conhecida. Entre ns, poucos se dedicam ao seu estudo. Encontramos, no Imprio e na 1. Repblica, algumas monografias e estudos esparsos sobre temas de Medicina Legal, tais como a Dactiloscopia no morto, de Jos Mariano de Campos, a Docimsia heptica, de Violantino dos Santos, a Hematologia mdico-legal, de Armando de Campos Pereira, A dentada na identificao, de Almiro dos Reis, e vrios artigos de Rodrigues Dria, Junot Barreiros, dentre outros. Sobre a Medicina Legal, propriamente, destacamos um velho trabalho do Dr. J. M. Moura Lacerda, Instituies de medicina legal (1883), e de Souza Lima, Tratado de medicina legal (1894). Em seguida surgiram obras mais atualizadas de Leondio Ribeiro, Egas Moniz Jnior, Afrnio Peixoto, Flamnio Fvero, Hlio Gomes, Almeida Jnior. Os trabalhos de Flamnio e de Almeida Jnior, no obstante tenham surgido h mais de meio sculo, continuam sendo indicados nas Faculdades. Tal circunstncia demonstra tratar-se de cincia de poucos. Ademais, o campo rido. Exige conhecimentos tericos e prticos no somente da cincia de Hipcrates, como tambm do Direito Penal. Trazer para o campo jurdico uma gama de conhecimentos terico-prticos de fisiologia, anatomia patolgica, psicopatologia, psiquiatria pericial, tanatologia, sexologia, psicologia forense, por exemplo, no tarefa fcil. Exige, antes de mais nada, uma slida cultura mdico-legal. Por outro lado, como a matria pouco amena, Delton Croce soube, com maestria, transmitir todo o rigor cientfico da cincia mdica numa linguagem suave, simples, elegante, que enleva e cativa, conduzindo o leitor a dar continuidade leitura. Assim, por exemplo, ao cuidar do desejo obsessivo de pertencer ao sexo oposto, diz ele que no h de ser a cirurgia mutiladora, desnecessria e fixadora irreversivelmente da doena mental do transexual a forma ideal de tratamento e cura da ansiedade de castrao delirante, gerada de enorme inferioridade sexual de um homossexualismo coibido e cujo sentimento de culpa punido pela angstia. A cirurgia, alm de mutilante e irreversvel, no transforma mulher em homem, nem homem em mulher, apenas satisfaz a psicopatologia sexual do transexual. O Manual de medicina legal de Delton Croce no , como o nome sugere, um pequeno livro, com noes essenciais da matria, mas um pequeno grande
  13. 13. livro. Ele no se limita a transmitir os conhecimentos mdicos que interessam ao mundo jurdico, aos estudantes, peritos, advogados, promotores e juzes, mas procura, inclusive, em linguagem clara, em vernculo escorreito e que em nenhum momento descamba para o preciosismo ou prosasmo, transfundir no esprito do leitor, sem os ranos do passado, a sua experincia, as suas observaes e seu profundo conhecer a respeito dos fenmenos que interligam Medicina e Direito. Veja a elegncia como ele expe certo perodo do psicossexualismo do ser humano: A menina, quando nota a diferena de seus rgos genitais, relativamente aos do menino, sente-se prejudicada ou castrada. Responsabiliza a me pela castrao e volta-se para o pai, que lhe inspira inveja por possuir falo, que ela no tem. o chamado protesto virilde Adler, em que se cria a situao de romance familiarou situao edipiana, em que a menina ama e admira o pai, tomando-o como padro masculino ou rejeitando-o como esse modelo na adolescncia.... Trata-se de um trabalho notvel que honra sobremodo a nossa literatura mdico-legal. No livro apenas para a consulta, nos momentos de dificuldade profissional, mas para uma leitura constante, posto que proveitosa. um trabalho srio, profundamente srio, de um mdico-cirurgio que no atraioa o respeito aos cnones da sua formao e do seu pensamento. Bauru, 4 de fevereiro de 1994. Fernando da Costa Tourinho Filho
  14. 14. NDICE GERAL Agradecimento Nota explicativa 4. edio Prefcio Introduo 1. Definio de Medicina Legal 2. Sinonmia 3. A Medicina Legal como especialidade 4. Relaes com as demais cincias mdicas e jurdicas 5. Importncia de seu ensino nas Faculdades de Direito 6. Histrico 7. Histrico no Brasil 8. Diviso didtica da disciplina Captulo 1 PERCIAS MDICO-LEGAIS 1.1. Conceito 1.2. Peritos 1.2.1. Atuao 1.2.2. Nomeao 1.2.3. Escusa justificvel 1.2.4. Prestao de compromisso 1.3. Realizao da percia 1.3.1. Corpo de delito 1.3.2. Interveno dos peritos 1.3.3. Divergncia entre os peritos 1.3.4. Falsa percia 1.3.5. Incompatibilidade dos peritos 1.3.6. Credibilidade da percia 1.3.7. Percia contraditria 1.3.8. Fiscalizao das percias 1.3.9. Honorrios dos peritos 1.4. Quesitos oficiais 1.4.1. Exame de corpo de delito (leso corporal) 1.4.2. Exame cadavrico 1.4.3. Exame de corpo de delito (infanticdio)
  15. 15. 1.4.4. Exame cadavrico na gestante (aborto) 1.4.5. Exame de corpo de delito (aborto) 1.4.6. Exame de corpo de delito (estupro sem conjuno carnal) 1.4.7. Auto de corpo de delito (estupro com conjuno carnal) 1.4.8. Exame de idade 1.4.9. Quesitos em psiquiatria forense 1.4.10. Quesitos no foro civil 1.5. Documentos mdico-judicirios 1.5.1. Notificaes 1.5.2. Atestados 1.5.3. Atestado de bito 1.5.4. Relatrio mdico-legal 1.5.5. Parecer mdico-legal 1.5.6. Depoimento oral 1.6. Deontologia dos peritos Captulo 2 ANTROPOLOGIA FORENSE 2.1. Identidade e identificao 2.2. Identidade mdico-legal 2.2.1. Raas 2.2.2. Sexo mdico-legal 2.2.3. Estatura 2.2.4. Idade 2.2.5. Exame pericial radiogrfico 2.2.6. Identificao pelos dentes 2.2.7. Peso e conformao 2.2.8. Malformaes 2.2.9. Sinais profissionais 2.2.10. Sinais individuais 2.2.11. Tipos sanguneos 2.2.12. Tatuagens 2.2.13. Dinmica funcional 2.2.14. Caracteres psquicos 2.2.15. Prosopografia 2.3. Identidade policial ou judiciria 2.3.1. Processos antigos 2.3.2. Bertilonagem 2.3.2.1. Antropometria
  16. 16. 2.3.2.2. Retrato falado 2.3.2.3. Fotografia sinaltica 2.3.2.4. Impresses digitais 2.3.3. Dactiloscopia 2.3.3.1. Sistema decadactilar de Vucetich 2.3.3.2. Impresses plantares 2.3.3.3. Digitofotograma Captulo 3 O ALCOOLISMO E A LEI 3.1. Conceito de alcolatra, segundo a OMS. Ao do lcool sobre o sistema nervoso central. Estado psicolgico do alcoolista 3.2. Bebidas alcolicas e suas variedades 3.3. Classificao de alcoolismo 3.3.1. Embriaguez 3.3.2. Embriaguez patolgica 3.3.3. Diagnstico da embriaguez 3.4. Fatores que aceleram ou retardam a instalao da embriaguez 3.5. Alcoolismo crnico 3.5.1. Delrio alcolico 3.5.2. Alucinose auditiva aguda 3.5.3. Depresso alcolica aguda 3.5.4. Psicose de Korsakoff 3.5.5. Delrio de cimes 3.5.6. Epilepsia alcolica 3.5.7. Delirium tremens 3.5.8. Demncia alcolica 3.6. A embriaguez e a lei Captulo 4 TRAUMATOLOGIA FORENSE 4.1. Conceito de traumatologia forense 4.2. Leses corporais 4.2.1. Leses corporais leves 4.2.2. Leses corporais graves 4.2.2.1. Incapacidade para as ocupaes habituais por mais de 30 dias 4.2.2.2. Perigo de vida 4.2.2.3. Debilidade permanente de membro, sentido ou funo 4.2.2.4. Acelerao de parto
  17. 17. 4.2.3. Leses corporais gravssimas 4.2.3.1. Incapacidade permanente para o trabalho 4.2.3.2. Enfermidade incurvel 4.2.3.3. Perda ou inutilizao de membro, sentido ou funo 4.2.3.4. Deformidade permanente 4.2.3.5. Aborto 4.3. Leses corporais seguidas de morte 4.4. Lei Maria da Penha Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006 4.5. Percias mdico-legais nas leses corporais 4.6. Percia de sangue Captulo 5 INFORTUNSTICA ACIDENTRIA 5.1. Acidente do trabalho 5.2. Art. 20 da Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991 5.2.1. Tipos de culpa 5.2.2. Risco profissional 5.2.3. Lei e indenizao acidentria 5.2.4. Regulamento dos Benefcios da Previdncia Social (Dec. n. 3.048, de 6-5-1999) 5.2.5. Comunicao de Resultado de Exame Mdico 5.2.6. Prazo de prescrio Captulo 6 CAUSALIDADE MDICO-LEGAL DO DANO 6.1. Conceito 6.2. Energias de ordem mecnica 6.2.1. Classificao dos instrumentos mecnicos 6.2.2. Instrumentos cortantes 6.2.2.1. Leses produzidas por instrumentos cortantes 6.2.3. Instrumentos contundentes 6.2.3.1. Leses produzidas por instrumentos contundentes 6.2.3.2. Exploso 6.2.4. Instrumentos cortocontundentes 6.2.4.1. Leses produzidas por instrumentos cortocontundentes 6.2.5. Instrumentos perfurantes e perfurocortantes
  18. 18. 6.2.5.1. Leses produzidas por instrumentos perfurantes e perfurocortantes 6.2.6. Leses produzidas por instrumentos perfurocontundentes 6.2.6.1. Classificao das armas de fogo 6.2.6.2. Munio 6.2.6.3. Noes de Balstica 6.2.6.4. Estudo das leses produzidas por projteis de armas de fogo 6.2.6.5. Causa jurdica da leso 6.2.6.6. Classificao dos tiros quanto a distncia 6.2.6.7. Percia mdico-legal 6.2.6.8. Deflagrao retardada de cartucho 6.3. Energias de ordem fsica 6.3.1. Temperatura 6.3.1.1. Termonoses 6.3.1.2. Queimaduras 6.3.1.2.1. Classificao das queimaduras 6.3.1.2.2. Teorias sobre a morte por queimaduras 6.3.1.2.3. Etiologia mdico-legal das queimaduras 6.3.1.2.4. Problemas mdico-forenses 6.3.1.3. Oscilaes de temperatura 6.3.1.4. Frio 6.3.2. Eletricidade 6.3.2.1. Fulminao e fulgurao 6.3.2.2. Eletroplesso 6.3.2.2.1. Etiologia mdico-legal da morte por eletroplesso 6.3.3. Presso atmosfrica 6.3.3.1. Mal das montanhas ou dos aviadores 6.3.3.2. Doena dos caixes ou mal dos escafandristas 6.3.3.3. Luz e som 6.4. Energias de ordem qumica 6.4.1. Vitriolagem 6.4.1.1. Percia mdico-legal 6.4.2. Venenos 6.5. Energias de ordem fsico-qumica
  19. 19. 6.5.1. Asfixiologia forense 6.5.2. Asfixias em geral 6.5.3. Fisiopatologia e sintomatologia 6.5.4. Caractersticas das asfixias mecnicas em geral 6.5.5. Classificao das asfixias 6.5.5.1. Enforcamento 6.5.5.1.1. Mecanismos fisiopatolgicos no enforcamento 6.5.5.1.2. Leses anatomopatolgicas 6.5.5.1.3. Sinais externos 6.5.5.1.4. Sinais internos 6.5.5.1.5. Explicao da morte no enforcamento 6.5.5.2. Estrangulamento 6.5.5.2.1. Fisiopatologia 6.5.5.2.2. Sintomatologia 6.5.5.2.3. Sinais externos do estrangulamento 6.5.5.2.4. Sinais internos do estrangulamento 6.5.5.2.5. Sinais a distncia 6.5.5.2.6. Diagnstico mdico-legal do estrangulamento 6.5.5.3. Esganadura 6.5.5.3.1. Sinais externos a distncia 6.5.5.3.2. Sinais externos locais 6.5.5.3.3. Sinais locais profundos 6.5.5.3.4. Sinais a distncia 6.5.5.4. Sufocao 6.5.5.4.1. Sufocao direta 6.5.5.4.2. Sufocao indireta 6.5.5.5. Afogamento 6.5.5.5.1. Sintomatologia fisiopatolgica 6.5.5.5.2. Sinais da submerso Asfixia 6.5.5.5.3. Tempo da submerso 6.5.5.6. Asfixia por gases 6.6. Energias de ordem bioqumica 6.6.1. Inanio 6.7. Energias de ordem biodinmica 6.7.1. Choque 6.7.2. Classificao 6.7.3. Exame cadavrico 6.8. Energias de ordem mista
  20. 20. 6.8.1. Fadiga Captulo 7 DA PERICLITAO DA VIDA E DA SADE 7.1. Perigo de contgio venreo 7.2. Ao pericial no delito de contgio venreo 7.3. Perigo de contgio de molstia grave 7.4. Sndrome de Imunodeficincia Adquirida AIDS 7.5. Omisso de socorro Captulo 8 INCOLUMIDADE PBLICA 8.1. Exerccio legal da Medicina 8.2. Exerccio ilegal da Medicina 8.3. Charlatanismo 8.4. Curandeirismo Captulo 9 CAUSA JURDICA DA MORTE HOMICDIO, SUICDIO, MORTE ACIDENTAL 9.1. Conceito 9.2. Homicdio 9.3. Suicdio 9.3.1. Estado mental dos suicidas 9.3.2. Meio de suicdio 9.3.3. Profilaxia 9.3.4. Aspecto penal 9.4. Morte acidental 9.5. Diagnstico diferencial da causa jurdica da morte consoante o meio empregado Captulo 10 TANATOLOGIA FORENSE 10.1. Conceito 10.2. Modalidades de morte 10.3. Tanatognose 10.3.1. Fenmenos abiticos imediatos 10.3.2. Fenmenos abiticos consecutivos 10.3.3. Fenmenos transformativos 10.3.3.1. Destrutivos 10.3.3.1.1. Autlise
  21. 21. 10.3.3.1.2. Putrefao 10.3.3.1.3. Macerao 10.3.3.2. Conservadores 10.3.3.2.1. Mumificao 10.3.3.2.2. Saponificao 10.4. Cronotanatognose 10.4.1. Fenmenos cadavricos 10.4.1.1. Resfriamento do cadver 10.4.1.2. Rigidez cadavrica 10.4.1.3. Livores e hipstase 10.4.1.4. Mancha verde abdominal 10.4.1.5. Gases de putrefao 10.4.1.6. Decrscimo de peso 10.4.2. Crioscopia do sangue 10.4.3. Cristais do sangue putrefato 10.4.4. Crescimento dos pelos da barba 10.4.5. Contedo gstrico 10.4.6. Fauna cadavrica 10.5. Lei dos transplantes 10.6. Inumao 10.7. Exumao 10.8. Cremao 10.9. Embalsamamento 10.10. Morte natural. Morte violenta. Morte suspeita. Morte sbita. Morte agnica. Sobrevivncia 10.10.1. Docimasia heptica qumica 10.10.2. Docimasia heptica histolgica 10.10.3. Docimasia suprarrenal qumica 10.10.4. Docimasia suprarrenal histolgica 10.10.5. Docimasia suprarrenal fisiolgica 10.11. Diagnose diferencial das leses ante e post mortem Captulo 11 QUESTES MDICO-LEGAIS RELACIONADAS COM O CASAMENTO 11.1. O casamento. Definio 11.2. Impedimentos dirimentes absolutos ou pblicos 11.2.1. Parentesco (CC, art. 1.521, I a V) 11.3. Impedimentos impedientes ou causas suspensivas (CC, art. 1.523, I a IV) 11.3.1. Direito de sucesso de produto possvel de unio
  22. 22. anterior 11.3.2. Erro essencial sobre a pessoa do outro cnjuge (CC, art. 1.556) 11.3.3. Identidade, honra e boa fama 11.3.4. Defeito fsico irremedivel 11.3.4.1. Impotncia 11.3.4.2. Acopulia, frigidez, vaginismo, dispareunia e coitofobia 11.3.4.3. Anomalias e perverses sexuais 11.3.4.4. Molstia grave e transmissvel por contgio ou herana 11.3.4.5. Defloramento da mulher ignorado pelo marido 11.3.4.6. Disposies finais e quesitos Captulo 12 SEXOLOGIA FORENSE 12.1. Conceito 12.2. Fecundao e gravidez 12.2.1. Importncia mdico-legal do diagnstico da gravidez 12.2.2. Diagnstico da gravidez 12.2.3. Anomalias da gravidez 12.2.3.1. Superfecundao 12.2.3.2. Superfetao 12.2.3.3. Gravidez ectpica 12.2.3.4. Feto papirceo 12.2.3.5. Gravidez molar 12.2.3.6. Reteno de feto morto 12.2.4. Durao legal do tempo de gravidez 12.2.5. Reproduo humana assistida 12.3. Parto e puerprio 12.3.1. Importncia mdico-legal do parto e do puerprio 12.3.2. Diagnstico mdico-legal do parto e do puerprio 12.3.3. Parto post mortem 12.3.4. Cesariana post mortem 12.3.5. Percia 12.4. Restries procriao 12.4.1. Malthusianismo 12.4.2. Aborto legal e aborto criminoso 12.4.2.1. Conceituao do aborto em
  23. 23. Obstetrcia e em Medicina Legal 12.4.2.2. Classificao mdico-legal do aborto 12.4.2.3. Aborto criminoso 12.4.2.4. Causas determinantes do aborto 12.4.2.5. Processos abortivos 12.4.2.6. Complicaes patolgicas do aborto 12.4.2.7. Percia do aborto 12.4.2.8. Medidas coercitivas ao aborto 12.4.3. Tcnicas anticoncepcionais 12.4.3.1. Esterilizao transitria por contraceptivos hormonais 12.4.3.2. Esterilizao definitiva 12.4.3.3. Outros mtodos 12.5. Infanticdio 12.5.1. O crime de infanticdio 12.5.2. Interveno pericial 12.5.2.1. Prova de ser nascente 12.5.2.2. Prova de infante nascido 12.5.2.3. Prova de recm-nascido 12.5.2.4. Prova de vida extrauterina autnoma 12.5.2.5. poca da morte 12.5.2.6. Diagnstico da causa jurdica da morte 12.5.2.7. Exame somatopsquico da purpera 12.6. Estupro 12.6.1. Conceito 12.6.2. Estupro praticado mediante conjuno carnal 12.6.3. Violncia 12.6.4. Grave ameaa 12.6.4.1. Estupro praticado mediante outro ato libidinoso (antigo Atentado violento ao pudor) 12.6.4.2. Estupro de vulnervel 12.6.5. Interveno pericial no estupro 12.6.6. Hmen 12.6.7. Sinonmia 12.6.8. Classificao 12.6.9. Caracteres diferenciais entre entalhes e rupturas do hmen 12.6.10. Himens complacentes
  24. 24. 12.6.11. Percia do defloramento 12.7. Ultraje pblico ao pudor 12.8. Violao sexual mediante fraude 12.9. Assdio sexual Captulo 13 PSIQUIATRIA FORENSE 13.1. Conceito de normalidade e de anormalidade 13.1.1. Oligofrenia 13.1.2. Idiotia 13.1.3. Imbecilidade 13.1.4. Debilidade mental 13.1.5. Formas clnicas das oligofrenias 13.1.6. Etiopatogenia 13.1.7. Classificao das doenas mentais aprovada pelo V Congresso Brasileiro de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal (1946) 13.1.8. Importncia mdico-forense 13.1.9. Exame de sanidade mental 13.1.10. Epilepsia 13.1.11. Quesitos para exame de sanidade mental Captulo 14 PSICOLOGIA FORENSE 14.1. Conceito 14.2. Limitadores e modificadores da capacidade civil e da responsabilidade penal 14.2.1. Idade 14.2.2. Sexo 14.2.3. Emoo e paixo 14.2.4. Agonia 14.2.5. Sono e sonhos 14.2.6. Sono patolgico 14.2.7. Surdimutismo 14.2.8. Afasia 14.2.9. Prodigalidade 14.2.10. Embriaguez 14.2.11. Toxicomanias 14.2.11.1. Morfinomania 14.2.11.2. Heroinismo 14.2.11.3. Cocainomania
  25. 25. 14.2.11.4. Canabismo 14.2.11.5. Psicotrpicos 14.2.11.6. Legislao 14.2.11.7. Percia toxicolgica 14.2.11.8. Implicaes legais 14.2.12. Personalidades psicopticas 14.2.13. Civilizao (silvcolas) 14.2.14. Psicologia das multides delinquentes 14.2.15. Reincidncia penal Captulo 15 PSICOLOGIA JUDICIRIA 15.1. Classificao das provas de convico 15.1.1. Confisso ou prova verbal 15.1.2. Acareao 15.1.3. Prova documental ou escrita 15.1.4. Presunes 15.1.5. Prova testemunhal 15.1.6. Indcios 15.1.7. Depoimento de crianas 15.1.8. Depoimento de velhos Captulo 16 PSICOPATOLOGIA FORENSE 16.1. Psicossexualidade 16.2. Psicossexualidade anmala 16.2.1. Desvios sexuais 16.2.1.1. Anafrodisia 16.2.1.2. Frigidez 16.2.1.3. Erotismo 16.2.1.4. Autoerotismo 16.2.1.5. Erotomania 16.2.1.6. Exibicionismo 16.2.1.7. Narcisismo 16.2.1.8. Mixoscopia 16.2.1.9. Fetichismo 16.2.1.10. Lubricidade senil 16.2.1.11. Gerontofilia 16.2.1.12. Cromoinverso 16.2.1.13. Etnoinverso 16.2.1.14. Topoinverso
  26. 26. 16.2.1.15. Urolagnia 16.2.1.16. Coprolalia 16.2.1.17. Coprofilia 16.2.1.18. Pigmalionismo 16.2.1.19. Pedofilia 16.2.1.20. Edipismo 16.2.1.21. Masturbao 16.2.2. Aberraes ou perverses sexuais 16.2.2.1. Riparofilia 16.2.2.2. Triolismo 16.2.2.3. Vampirismo 16.2.2.4. Bestialismo 16.2.2.5. Necrofilia 16.2.2.6. Sadismo 16.2.2.7. Masoquismo 16.2.2.8. Sadomasoquismo 16.2.2.9. Homossexualismo Captulo 17 EXCLUSO DA PATERNIDADE 17.1. Provas mdico-legais genticas, mendelianas ou cientficas no sanguneas 17.1.1. Exame do pavilho auricular 17.1.2. Cor dos olhos 17.1.3. Cor da pele 17.1.4. Cabelos 17.1.5. Anomalia dos dedos 17.1.6. Hemofilia 17.1.7. Daltonismo 17.2. Provas mdico-legais genticas, mendelianas ou cientficas sanguneas 17.2.1. Hereditariedade e grupos sanguneos 17.2.1.1. Sistema O, A, B, AB 17.2.1.2. Sistema M e N 17.2.1.3. Fatores Rh e rh 17.2.1.4. Fator Hr 17.2.1.5. Causas de erro na determinao dos grupos sanguneos 17.2.1.6. Haptoglobinas 17.2.1.7. Sistema HLA 17.2.1.8. O DNA como marcador gentico
  27. 27. 17.2.1.9. Modelo de laudo pericial em ao de investigao de paternidade 17.2.1.10. Esterilidade masculina 17.2.1.11. Indicaes legais e valor das provas genticas de excluso mdico-legal da paternidade 17.2.1.12. Quesitos destinados investigao de paternidade Apndice Conselhos de Medicina Lei n. 3.268, de 30 de setembro de 1957 Cdigo de tica do Estudante de Medicina Normas para a Execuo de Atividades Prticas pelos Estudantes de Medicina Cdigo de Processo tico-Profissional Cdigo Internacional de tica Mdica e Algumas Declaraes de Princpios Cdigo de tica Mdica Cdigo de tica de Enfermagem Cdigo de tica Odontolgica Cdigo de tica e Disciplina da OAB Resoluo CFM n. 1.779, de 5 de dezembro de 2005 Resoluo da Diretoria Colegiada da ANVISA RDC n. 68, de 10 de outubro de 2007 Bibliografia
  28. 28. INTRODUO Sumrio: 1. Definio de Medicina Legal. 2. Sinonmia. 3. A Medicina Legal como especialidade. 4. Relaes com as demais cincias mdicas e jurdicas. 5. Importncia de seu ensino nas Faculdades de Direito. 6. Histrico. 7. Histrico no Brasil. 8. Diviso didtica da disciplina. 1. Definio de Medicina Legal No se definiu, at o momento, com preciso, a Medicina Legal, o que se explica pela abrangncia de seu campo de ao e ntimo relacionamento com as cincias jurdicas e sociais. Assim, os autores tm, ao longo dos anos, intentado inmeras definies. Registr-las-emos: Ambroise Par a definiu como a arte de fazer relatrios em juzo. a aplicao dos conhecimentos mdicos aos problemas judiciais (Nerio Rojas). A aplicao de conhecimentos cientficos e misteres da Justia (Afrnio Peixoto). A arte de pr os conceitos mdicos a servio da administrao da Justia (Lacassagne). A aplicao dos conhecimentos mdico-biolgicos na elaborao e execuo das leis que deles carecem (Flamnio Fvero). A aplicao dos conhecimentos mdicos a servio da Justia e elaborao das leis correlatas (Tanner de Abreu). O conjunto de conhecimentos mdicos e paramdicos destinados a servir ao Direito, cooperando na elaborao, auxiliando na interpretao e colaborando na execuo dos dispositivos legais, no seu campo de ao de medicina aplicada (Hlio Gomes). a Medicina a servio das cincias jurdicas e sociais (Genival V. de Frana). Ou, finalmente: Medicina Legal cincia e arte extrajurdica auxiliar alicerada em um conjunto de conhecimentos mdicos, paramdicos e biolgicos destinados a defender os direitos e os interesses dos homens e da sociedade. E, para faz-lo, serve-se de conhecimentos mdicos especificamente relacionados com a Patologia, Fisiologia, Traumatologia, Psiquiatria, Microbiologia e Parasitologia, Radiologia, Tocoginecologia, Anatomia
  29. 29. Patolgica, enfim, com todas as especialidades mdicas e biolgicas, bem como o Direito; por isso, diz-se Medicina Legal. 2. Sinonmia muito vasta, o que demonstra que ainda no se encontrou expresso que nomeie essa cincia e arte a servio dos interesses jurdicos e sociais, satisfatoriamente. Registr-la-emos: Medicina Legal Forense (A. Par); Questes Mdico-- Legais (P. Zacchias); Medicina Judiciria (Lacassagne); Medicina Judiciria ou dos Tribunais (Prunelle); Jurisprudncia Mdica (Alberti); Medicina Poltica (Marc); Medicina Forense (Sydney Smith); Antropologia Forense (Hebenstreit); Bioscopia Forense (Meyer); Medicina Forense Jurdica (sbios de Roma); e, ainda, Medicina Pericial; Medicina Criminal; Medicina da Lei; Biologia Legal; Medicina Crtica; Biologia Forense; Medicina Poltica e Social (Frana). O nome consagrado, por menos imperfeito, Medicina Legal. 3. A Medicina Legal como especialidade Divergem os autores sobre o assunto. H quem afirme ser a Medicina Legal especialidade mdica. Pensamos que sendo ela um conjunto de conhecimentos mdicos, paramdicos e biolgicos objetivando servir s cincias jurdicas e sociais, no especialidade, mas, sim, disciplina aplicada que admite especialismos. A Medicina Legal, Frana no-lo afirma, uma disciplina de amplas possibilidades e grande dimenso pelo fato de no se ater somente ao estudo da cincia hipocrtica, mas de se constituir na soma de todas as especialidades mdicas acrescidas de fragmentos de outras cincias acessrias, sobrelevando-- se entre elas a cincia do Direito. O perito mdico-legal h de possuir, portanto, amplos conhecimentos de Medicina, dos diversos ramos do Direito e das cincias em geral. Hlio Gomes asseverava ter o perito indispensvel educao mdico-legal, conhecimento da legislao que rege a matria, noo clara da maneira como dever responder aos quesitos, prtica na redao dos laudos periciais. Sem esses conhecimentos puramente mdico-legais, toda a sua sabedoria ser improfcua e perigosa. E, mais: o laudo pericial, muitas vezes, o prefcio de uma sentena. Com efeito, informaes periciais equivocadas, ainda que involuntariamente, podem constituir-se na chave da porta das prises para a sada de marginais ou para nelas trancafiar inocentes, pois, conforme Ambroise Par, in Oeuvres compltes, os juzes julgam segundo o que se lhes informa. O perito mdico-legal h de ter, ainda, uma conceituao universalista dos seres humanos, auxiliar, por sua cultura, indispensvel que da Justia, heri annimo capaz de deslindar crimes indecifrveis atravs de paciente e penoso
  30. 30. trabalho s conhecido das autoridades policial-judicirias. A Medicina Legal arte estritamente cientfica que estuda os meandros do ser humano e sua natureza, desde a fecundao at depois de sua morte. Exige de seus obstinados professadores, alm do conhecimento da Medicina e do Direito, o de outras cincias, para emitirem pareceres minudentes, claros, concisos e racionais, objetivando criar, na conscincia de quem tem por misso julgar, um quadro o mais preciso da realidade. 4. Relaes com as demais cincias mdicas e jurdicas A Medicina Legal serve mais ao Direito, visando defender os interesses dos homens e da sociedade, do que Medicina. A designao legal emprestada a essa cincia indica que ela se serve, no cumprimento de sua nobre misso, tambm das cincias jurdicas e sociais, com as quais guarda, portanto, ntimas relaes. a Medicina e o Direito completando-se mutuamente, sem engalfinhamentos. Ao Direito Civil empresta sua colaborao no que concerne a questes relativas a paternidade, impedimentos matrimoniais, erro essencial, limitadores e modificadores da capacidade civil, prenhez, personalidade civil e direitos do nascituro, comorincia etc. Ao Direito Penal, no que diz respeito a leses corporais, sexualidade criminosa, aborto legal e ilcito, infanticdio, homicdio, emoo e paixo, embriaguez etc. Serve ao Direito Constitucional quando informa sobre a dissolubilidade do matrimnio, a proteo infncia e maternidade etc.; ao Direito Processual Civil e Penal quando cuida da psicologia da testemunha, da confisso, da acareao do acusado e da vtima. Contribui com o Direito Penitencirio quando converge seus estudos para a psicologia do detento, no que tange concesso de livramento condicional e psicossexualidade das prises. Entrosa-se com o Direito do Trabalho quando estuda a infortunstica, a insalubridade e a higiene, as doenas e a preveno de acidentes profissionais; com a Lei das Contravenes Penais quando trata dos anncios de tcnicas anticoncepcionais, da embriaguez e das toxicomanias. A Medicina Legal engranza-se ainda, intimamente, com vrios outros ramos do Direito, a saber: Direito dos Desportos, Direito Internacional Pblico, Direito Internacional Privado, Direito Cannico, Direito Comercial. Cincia mdico-jurdico-social indispensvel em toda diligncia que necessite de elucidao mdica, em progressiva e franca ascenso, relaciona-se tambm com a Qumica, a Fsica, a Toxicologia, a Balstica, a Dactiloscopia, a Economia e a Sociologia e com a Histria Natural (Entomologia e Antropologia). 5. Importncia de seu ensino nas Faculdades de Direito
  31. 31. Sendo a Medicina Legal a nica disciplina nas Faculdades de Direito que se relaciona com a Biologia, seu estudo se reveste de fundamental importncia, pois ningum ignora que os conhecimentos biolgicos, mdicos e paramdicos ampliam aos acadmicos de Direito a conscincia universalista do homem e da gnese de suas aes. Como exemplo, o estudo das socioneuropatias, permitindo ao estudante conhecer os intrincados emaranhados da mente humana, abre-lhe maiores perspectivas de percepo sobre o seu semelhante e sobre si mesmo, j que o conceito de normalidade sobremaneira vago: normal o que funciona harmoniosa e silenciosamente em sociedade. o conhece-te a ti mesmo socrtico, ao qual acrescentamos: por ti mesmo! A Medicina Legal , portanto, verdadeiro elo de ligao entre o pensamento jurdico e a Biologia, cincia e arte cooperadora na elaborao e na aplicao das leis. Aos juristas, autoridades policiais e advogados importa Medicina Legal orientar com minudncia, conciso e clareza sobre a realidade de um fato de natureza especfica e carter permanente que interesse Justia, e como pedir, o que pedir e o modo de interpretar os laudos periciais, para evitar que suceda o ocorrido com delegado de polcia da Capital, que, segundo relatou o insigne professor Hlio Gomes, sabedor por informao pericial de que havia espermatozoides na mancha da camisa de um suicida, solicitou ao Instituto Mdico-Legal determinasse ser o gameta encontrado de homem ou de mulher! O delegado, ironiza o mestre, por no conhecer Medicina Legal, no soube interpretar a resposta simples e clara que lhe fora enviada. Ns tambm, certa feita, ouvimos, perplexos, a confuso estabelecida por um representante do Ministrio Pblico, data venia, pouco versado em Medicina Legal, sobre coito vulvar e coito interfemora, expresses para ele no similares. E mais recentemente, nova confuso sobre a fase obsttrica puerperal e o conceito mdico-legal de influncia do estado puerperal, a que alude a lei, no infanticdio. A maioria dos mdicos tambm prescinde, infelizmente, de conhecimentos de Jurisprudncia Mdica. por isso que sentenciava Hlio Gomes: Levando-se em conta o desconhecimento da legislao pelos mdicos, esta lhes dever ser ensinada, de maneira clara e resumida, o suficiente para a perfeita compreenso dos dispositivos legais referentes ao assunto da percia. A Medicina Legal estuda a vida, em sua essncia, e a morte. cincia social vivaz e realista, embasada na Verdade e na Justia, que desnuda o indivduo desde enquanto ovo e, depois, at o mago do ser e seduz e apaixona, irremediavelmente, desde o incio, os seus profissionais. 6. Histrico A histria da Medicina Legal divide-se em cinco perodos: Antigo, Romano, Mdio ou da Idade Mdia, Cannico e Moderno ou Cientfico. 1.) Perodo Antigo: Dada a importncia da Medicina Legal no conjunto das atividades sociais,
  32. 32. compreende-se a existncia de referncias esparsas e isoladas, rudimentares, despidas de carter cientfico, portanto, nas legislaes dos povos antigos. A Medicina, nessa poca, era muito mais arte que cincia, estatelada na fase desta explicativa, onde se procurava atribuir origens extraterrenas s doenas, e tida como profisso subalterna; a lei era a prpria religio aplicada aos homens pelos sacerdotes, misto de religiosos, mdicos e juzes, em sanes idnticas s cometidas pelo imputado, ou em parente prximo num arremedo de Medicina Judiciria. A necropsia e a vivisseco eram proibidas, por serem os cadveres considerados sagrados. No Egito embalsamavam-se os cadveres, e, nos crimes de violncia sexual, condenava-se o suspeito se, atado sobre o leito em uma sala do templo, apresentava ereo peniana ante a estimulao sexual desencadeada pela viso de belas virgens danando nuas ou apenas com roupas transparentes, e as leis de Mens preceituavam o exame das mulheres condenadas, pois, se grvidas, no eram supliciadas. O Hsi yuan lu, tratado elaborado por volta de 1240 a. C., na China, instrua sobre o exame post-mortem, listava antdotos para venenos e dava orientaes acerca de respirao artificial. Dissemos que a lei era a prpria religio aplicada aos homens. Era a legislao teolgica, que foi paulatinamente se transformando para, finalmente, graas ao Cristianismo e aos ideais morais que cada gerao foi nela introduzindo, emancipar tambm o Direito. 2.) Perodo Romano: Em Roma, na fase anterior reforma de Justiniano, a Lex Regia atribuda a Numa Pomplio prescrevia a histerotomia na morte da mulher grvida. Uma curiosidade: h quem afirme que o nome cesariana dado histerotomia proveio do nascimento de Csar, devido aplicao desta lei. Data venia, somos dos que pensam que o nome cesariana vem de coedo, cortar. Cesar vem da e no o oposto (Afrnio Peixoto) (vide n. 12.3.4). Antstio, mdico, examinou as muitas feridas do cadver de Jlio Csar e declarou apenas uma delas mortal. Segundo os relatos de Tito Lvio, um mdico examinou em praa pblica o cadver de Tarqunio, assassinado, e o de Germ nico, suspeito de envenenamento, exposto no Forum. Assim, os cadveres eram j examinados, nessa poca, por mdicos, porm externamente. As necropsias, como j lembrado, por respeito ao cadver, eram proscritas. Com a reforma, em Roma, emanciparam-se a Medicina e o Direito, como se depreende dos cdigos de Justiniano, que tm implcita a Medicina Legal. Assim, determinava o Digesto: Medici non sunt proprie testes, sed magis est judicium quam testimonium, ou seja, no testemunham, ajuzam. Registra ainda o Digesto que a interveno das parteiras era exigida para o exame da prenhez, suposta ou duvidosa. Nas Pandectas e Novelas, trata-se de disposies
  33. 33. relativas ao casamento, separao de corpos, impotncia, viabilidade fetal, data do parto etc. A lei Aquilia trata da letalidade dos ferimentos. 3.) Perodo Mdio ou da Idade Mdia: Nesse perodo houve contribuio mais direta do mdico ao Direito, como se nota na lei slica, na germnica e nas Capitulares de Carlos Magno, que contm detalhes de anatomia sobre ferimentos e sobre a reparao devida s vtimas, conforme a sede e a gravidade das mesmas (Hlio Gomes). Esse perodo foi indelevelmente marcado, portanto, pelas Capitulares de Carlos Magno, que estabelecem que os julgamentos devem apoiar-se no parecer dos mdicos. Infelizmente, aps Carlos Magno sobreveio na Idade Mdia a onda de vandalismo que extinguiu a Medicina Legal, substituindo-a pela prtica absurda e cruel nordo-germnica das provas inquisitoriais em que a penalidade depende do dano causado, e s provas invoca-se o Juzo de Deus (ordlias). 4.) Perodo Cannico: Compreende 400 anos (1200 a 1600). Nesse perodo foi restabelecido o concurso das percias mdico-legais, como se depreende da bula do Papa Inocncio III, em 1219, que trata dos ferimentos em juzo como revestidos de habitualidade. Chamado Cannico, o quarto perodo influenciado beneficamente pelo Cristianismo, que, pela codificao das Decretais dos Pontfices dos Conclios, d normas ao Direito Moderno dos povos civilizados. A sexologia tratada exaustivamente nas Decretais, pois a moralidade tem a seus fundamentos. A percia obrigatria, tendo sido institudo, nesse perodo, o axioma medici creditur in sua medicina: tem f pblica o mdico nos assuntos mdicos. A anulao do casamento por impotncia enseja a prova do congresso, realizada por trs parteiras e posteriormente por trs mdicos que, separados do casal por uma cortina, em aposento contguo, confirmavam a realizao ou no da conjuno carnal, em burlesca caricatura de percia. Foi proibida em 1677 pelo Parlamento de Frana. O Perodo Cannico indefectivelmente assinalado pela promulgao do Cdigo Criminal Carolino (de Carlos V), pela Assembleia de Ratisbonna, em 1532. A Constituio do Imprio Germnico impe obrigatoriedade percia mdica antes da deciso dos juzes nos casos de ferimentos, assassinatos, prenhez, aborto, parto clandestino. o primeiro documento organizado de Medicina Judiciria, imputando-lhe indispensabilidade Justia e determinando o pronunciamento dos mdicos antes das decises dos juzes. A Alemanha tem, assim, no dizer de Souza Lima, o mais legtimo e inconcusso direito de considerar-se o bero da Medicina Legal. Em 1521, foi necropsiado o cadver do Papa Leo X, por suspeita de envenenamento. Finalmente, em 1575 surge o primeiro livro de Medicina Legal, de Ambroise Par, intitulado Des rapports et des moyens dembaumer les corps
  34. 34. morts, e a Frana aclama seu autor como o pai da Medicina Forense, a despeito de a obra, de inegvel valor, no constituir corpo doutrinrio e sistemtico. 5.) Perodo Moderno ou Cientfico: Inicia-se em 1602, em Palermo, na Itlia, com a publicao do livro intitulado De Relatoribus Libri Quator in Quibus e a Omnia quae in Forensibus ac Publicis Causis Medici Preferre Solent Plenissime Traduntur, de Fortunato Fidelis. Em 1621, Paulus Zacchias publica o verdadeiro tratado da disciplina, Quaestiones Medico Legales Opus Jurisperitis Maxime Necessarium Medicis Peritilis, obra monumental com 1.200 pginas, distribudas em trs volumes, na qual compendia tudo o que se sabia e em que se estudam com discernimento e cultura numerosos problemas mdico-legais. por isso considerado pela maioria dos autores como o verdadeiro fundador da Medicina Legal. Todavia, foi no sculo XIX que a Medicina Legal se firmou no conceito que a Justia lhe emprestou a partir do momento em que o suspeitado pode, enfim, ser confirmado pelo exame necroscpico. E desde ento, graas aos nomes de Orfila, Divergie, Lacassagne, Rollet, Thoinot, Tardieu e Brouardell, na Frana; Bernt, Hoffmann, Schanesteir e Paltauf, em Viena; Telchmeyer, na Alemanha; Hunter e Cooper, na Inglaterra; Barzelloti, Martini, Perrone, Garfolo, Virglio, Nicforo, Falconi e Ferri, na Itlia; Balk, Gromev, Schmidt e Poelchan, Dragendorff e Pirogoff, na Rssia, e, no Brasil, Alcntara Machado, Alves de Menezes, Armando Canger Rodrigues, Alrio Batista, Arnaldo Amado Ferreira, Arnaldo Ramos de Oliveira, Arnaldo Siqueira, Agenor Lopes Canado, lvaro Dria, Clvis Meira, Camargo Jnior, Costa Pinto, Carneiro Belford, Celestino Prunes, Csar Celso Papaleo, Csar Francisco Ribeiro Jnior, Clvis das Neves, Ernni Simas Alves, Edgar Altino, Estcio de Lima, Flamnio Fvero, Garca Moreno, Gualter Luiz, Gerardo Vasconcelos, Genival Veloso d e Frana, Hlio Gomes, Hilrio Veiga de Carvalho, Hermes Rodrigues de Alcntara, Halley Alves Bessa, Hugo Santos Silva, Jos Hamilton, Joo Henrique de Freitas Filho, Jos Lima de Oliveira, Joo Batista de Oliveira, Joo Carlos da Silva Teles, Joo Otvio Lobo, Joaquim Madeira Neves, Jos Barros de Azevedo, Jos Lages Filho, Jos Ludovico Maffei, Jlio Afrnio Peixoto, Leondio Ribeiro, Luiz Duda Calado, Marco Segre, Nilton Sales, Napoleo Teixeira, Neiva de SantAna, Oscar de Castro, Oscar Negro de Lima, Oscar Freire, Paulo A. Prado, Ramon Sabat Manubens, Raymundo Nina Rodrigues, Souto Maior, Teodorico de Freitas, Tarcizo L. Pinheiro Cintra, Tasso Ramos de Carvalho, Telmo Ferreira, Thales de Oliveira, entre outros, a Medicina Legal est em constante e vertiginoso progresso, por aquisies cientficas, aprimoramento dos mtodos de pesquisa e encadeamento doutrinrio. 7. Histrico no Brasil A Medicina Legal nacional desfruta da admirao e respeito do mundo, conforme ficou patenteado (1985) na percia de determinao da identidade, por especialistas do IML de So Paulo e da Unicamp, do carrasco nazista Joseph
  35. 35. Mengele, conhecido pelos prisioneiros de Auschwitz como o anjo da morte, cuja ossada foi encontrada sepulta em Embu, So Paulo. Na poca colonial, a Medicina Legal nacional foi decisivamente influenciada pelos franceses e, em menor escala, pelos italianos e alemes, sendo praticamente nula a participao portuguesa, estando representada por esparsos documentos mdico-legais, compilados de trabalhos referentes Toxicologia e por um ou outro laudo pericial feito por leigos, mais interessantes pelo lado pitoresco do que pelo aspecto mdico propriamente dito (Pedro Salles). Numa fase seguinte surge Souza Lima, insigne mestre a quem reverenciamos por ter sido o iniciador, em 1818, do ensino prtico da Medicina Legal no Brasil, desenvolvendo a pesquisa laboratorial, ento reduzida Toxicologia, e por ter feito, sem ser advogado, uma tentativa de interpretao e comentrios mdico-legais em relao s leis nacionais. A verdadeira nacionalizao da nossa Medicina Legal se deve criao, por Raymundo Nina Rodrigues, de uma autntica Escola brasileira da especialidade na Bahia, constituda, entre outros, por Alcntara Machado, Jlio Afrnio Peixoto, Leondio Ribeiro, Oscar Freire e Estcio Luiz Valente de Lima, que originariamente orientou a diferenciao da disciplina, dos seus mtodos e da sua doutrina para as particularidades do meio judicirio, das condies fsicas, biolgicas e psicolgicas do ambiente (Gerardo Vasconcelos). E desde ento se sucederam sadiamente nas capitais brasileiras as escolas de Medicina Legal, interessando aos juristas, advogados, delegados de polcia, mdicos, psiclogos e psiquiatras o conhecimento dessa disciplina, tal o grau de entrosamento que ela guarda com todos os ramos do saber. 8. Diviso didtica da disciplina Por interesse didtico, a Medicina Legal admite uma parte geral, na qual se estuda a Jurisprudncia Mdica, ou seja, a Deontologia e a Diceologia Mdica, que ensejam aos profissionais da Medicina conhecimentos sobre os seus deveres e direitos, e o Cdigo de tica dos Advogados, e uma parte especial cuja diviso registraremos a seguir. 1) Antropologia Forense. Estuda a identidade e a identificao, seus mtodos, processos e tcnicas. 2) Traumatologia Forense. Trata das leses corporais e das energias causadoras do dano. 3) Sexologia Forense. Versa sobre a sexualidade normal, patolgica e criminosa. Analisa as sutis questes inerentes Erotologia, Himenologia e Obstetrcia forense. 4) Asfixiologia Forense. V as asfixias em geral, do ponto de vista mdico e jurdico. Detalha as particularidades prprias da esganadura, do estrangulamento, do enforcamento, do afogamento, do soterramento, da imerso em gases irrespirveis etc., nos suicdios, homicdios e acidentes.
  36. 36. 5) Tanatologia. Preocupa-se com a morte e o morto em todos os seus aspectos mdico-legais, os fenmenos cadavricos, a data da morte, o diagnstico da morte, a morte sbita e a morte agnica, a inumao, a exumao, a necropsia, o embalsamento e a causa jurdica da morte. 6) Toxicologia. Estuda os custicos, os envenenamentos e a intoxicao alcolica e por txicos, pelo emprego de processos laboratoriais. Graas sua notvel evoluo , atualmente, especialidade que empresta seu saber Medicina Legal. 7) Psicologia Judiciria. Versa sobre os fenmenos volitivos, afetivos e mentais inconscientes que podem influenciar na formao, na reproduo e na deformao do testemunho e da confisso do acusado e da vtima. Analisa, ainda, o depoimento dos idosos e dos menores etc. 8) Psiquiatria Forense. Estuda as doenas mentais, a periculosidade do alienado, as socioneuropatias em face dos problemas judicirios, a simulao, a dissimulao, os limites e modificadores da capacidade civil e da responsabilidade penal. 9) Policiologia cientfica. Visualiza os mtodos cientfico-mdico-legais empregados pela polcia na investigao criminal e no deslindamento de crimes. 10) Criminologia. Estuda os diferentes aspectos da gnese e da dinmica dos crimes. 11) Vitimologia. Trata da anlise racional da participao da vtima na ecloso e justificao das infraes penais. 12) Infortunstica. Preocupa-se com os acidentes do trabalho, com as doenas profissionais, com a higiene e a insalubridade laborativas.
  37. 37. CAPTULO 1 Percias Mdico-Legais Sumrio: 1.1. Conceito. 1.2. Peritos. 1.2.1. Atuao. 1.2.2. Nomeao. 1.2.3. Escusa justificvel. 1.2.4. Prestao de compromisso. 1.3. Realizao da percia. 1.3.1. Corpo de delito. 1.3.2. Interveno dos peritos. 1.3.3. Divergncia entre os peritos. 1.3.4. Falsa percia. 1.3.5. Incompatibilidade dos peritos. 1.3.6. Credibilidade da percia. 1.3.7. Percia contraditria. 1.3.8. Fiscalizao das percias. 1.3.9. Honorrios dos peritos. 1.4. Quesitos oficiais. 1.4.1. Exame de corpo de delito (leso corporal). 1.4.2. Exame cadavrico. 1.4.3. Exame de corpo de delito (infanticdio). 1.4.4. Exame cadavrico na gestante (aborto). 1.4.5. Exame de corpo de delito (aborto). 1.4.6. Exame de corpo de delito (estupro sem conjuno carnal). 1.4.7. Auto de corpo de delito (estupro com conjuno carnal). 1.4.8. Exame de idade. 1.4.9. Quesitos em psiquiatria forense. 1.4.10. Quesitos no foro civil. 1.5. Documentos mdico-judicirios. 1.5.1. Notificaes. 1.5.2. Atestados. 1.5.3. Atestado de bito. 1.5.4. Relatrio mdico- legal. 1.5.5. Parecer mdico-legal. 1.5.6. Depoimento oral. 1.6. Deontologia dos peritos. 1.1. Conceito Todo procedimento mdico (exames clnicos, laboratoriais, necroscopia, exumao) promovido por autoridade policial ou judiciria, praticado por profissional de Medicina visando prestar esclarecimentos Justia, denomina-se percia ou diligncia mdico-legal. Dispe sobre as periciais oficiais a Lei n. 12.030, de 17 de setembro de 2009. Percia ou diligncia mdico-legal , dessa forma, toda sindicncia praticada por mdico, objetivando esclarecer Justia os fatos de natureza especfica e carter permanente, em cumprimento determinao de autoridades competentes. De passagem, registramos a opinio de Julio Fabbrini Mirabete, in Processo penal, Atlas, 1991, p. 225, de que a percia mdico-legal no um
  38. 38. simples meio de prova effectus criminis corporeus mas, sim, um elemento subsidirio, emanado de um rgo auxiliar da Justia, para a valorao da prova ou soluo da prova destinada a descoberta da verdade. Assim, a autoridade policial ou judicial recorrer ao profissional de Medicina, ou, onde os houver, ao perito mdico-legal ou legista, toda vez que numa ao penal ou civil lhe deva ser esclarecido um fato mdico. Para esclarecer Justia problemas que lhe so pertinentes, a percia ou diligncia mdico-legal utiliza um conjunto de indagaes de competncia essencialmente mdica, realizadas em pessoas, em cadveres, em animais e em coisas. Sobre as pessoas, as percias visam determinar a identidade, a idade, a raa, o sexo, a altura; diagnosticar prenhez, parto e puerprio, leso corporal, sociopatias, estupro e doenas venreas; determinar excluso da paternidade, doena e retardamento mental, simulao de loucura; investigar, ainda, envenenamentos e intoxicaes, doenas profissionais e acidentes do trabalho. Nos cadveres objetiva diagnosticar a realidade, a causa jurdica, o tempo da morte, a identificao do morto; diferenciar as leses intra vitam e post mortem; realizar exames toxicolgicos das vsceras do morto; proceder exumao; extrair projteis. As percias em animais so raras. Visam identificar a sua espcie, diagnosticar leses e caracterizar elementos encontrados em seu corpo ou em seus pelos passveis de serem teis para a identificao do criminoso. Nos objetos e instrumentos tm por finalidade a pesquisa de pelos, levantamento de impresses digitais, exames de armas e projteis e caracterizao de agentes vulnerantes e de manchas de saliva, colostro, esperma, sangue, lquido amnitico e urina nos panos, mveis e utenslios. A falta de exame pericial nos instrumentos do crime no contamina de nulidade o feito, podendo ser suprida por outras provas; inaplicvel in casu o art. 175 do Cdigo de Processo Penal. Nesse sentido: RT, 454:358. As percias mdico-legais se procedem mediante exames mdico e psicolgico, necropsia, exumao e de laboratrio. As autoridades podem requisitar percias ao foro criminal para exames da vtima, do indiciado, das testemunhas ou de jurado e do local do crime; ao foro civil, para exames fsicos e mentais, de erro essencial e avaliao da capacidade civil; ao foro de acidente do trabalho, para julgar a existncia de nexos, de incapacidade, de insalubridade, indenizaes etc. O exame de corpo de delito pode ser solicitado diretamente ao perito pela autoridade policial encarregada da sindicncia, do inqurito ou da diligncia, pelo Juiz de Direito frente do processo e pela autoridade militar onde o fato ocorreu, nunca, porm, pelo advogado procurador da parte interessada. No processo penal a percia mdico-legal amide realizada na fase policial, logo que o delegado de Polcia tiver conhecimento da prtica da infrao delituosa (art. 6., VII, do CPP), ou at a concluso do inqurito, nada obstando, todavia, a sua efetuao durante a instruo criminal, mandada realizar pelo juiz
  39. 39. a quo, exempli gratia, na suposio de exame de insanidade mental. Salvo um crime que deixou vestgios, ou quando houver dvida no que concerne ao estado mental do acusado ou quando for admissvel e tempestivamente requerida, no se obriga ao juiz determinar a realizao do exame pericial. 1.2. Peritos Peritos so expertos em determinados assuntos, incumbidos por autoridades competentes de os esclarecerem num processo. todo tcnico que, por sua especial aptido, solicitado por autoridades competentes, esclarece Justia ou polcia acerca de fatos, pessoas ou coisas, a seu juzo, como incio de prova. Dessa forma, aduz-se que todo profissional pode ser perito. Perito mdico o que cuida de assuntos mdicos; evidentemente, ele s pode ser mdico. 1.2.1. Atuao Embora a atuao do perito se forre de funo oficial, ela limitada, pois ele no julga, no defende, no acusa. A ele incumbe apenas apontar s autoridades frente do processo o observado hic et nunc no local do crime ou da morte, nas armas, nas leses, no exame cadavrico e todos os sintomas detectados no vivo e a respectiva sequela natural, sem jamais sobrepor-se, atravs de uma concluso emotivada, ao prudente arbtrio do julgador. Destarte, compete ao perito somente examinar e relatar fatos de natureza especfica e carter permanente de esclarecimento necessrio num processo; v e refere: visum et repertum; visto e referido, est concluda sua nobilitante misso. 1.2.2. Nomeao A escolha do perito de alada do juiz, o qual, tanto para o penal como para o cvel, deve nome-lo dentre os expertos oficiais, como estabelece o art. 421 do Cdigo de Processo Civil: O juiz nomear o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega do laudo. No mbito criminal, para a nomeao dos expertos tambm competente a autoridade policial que presidir o inqurito, sem interveno alguma das partes (art. 276 do CPP). O juiz deve preferentemente nomear peritos oficiais (art. 159 do CPP), porm, em comarcas onde no os haja, permitido autoridade judiciria designar duas pessoas idneas, portadoras de diploma de curso superior, escolhidas preferencialmente na rea especfica, dentre as que tiverem habilitao tcnica relacionada natureza do exame (art. 159, 1., do CPP).
  40. 40. Qualquer outro pretexto que no seja a inexistncia de peritos oficiais na localidade onde deva ser realizada a percia, argumentado para a nomeao de peritos inoficiais, contamina de nulidade o relatrio mdico-legal. de supor-se, ento, imprestvel o laudo redigido por pessoas idneas que no sejam portadoras de diploma de curso superior, ainda que com algum conhecimento tcnico necessrio sua elaborao. Talqualmente, o laudo redigido por pessoas idneas, mas sem conhecimento tcnico necessrio sua lavratura, torna inidnea a prova. O juiz nomear o perito. No cvel, dentro de cinco dias, contados da intimao do despacho de nomeao do perito, faculta-se s partes indicar assistentes tcnicos, cujos nomes sero submetidos apreciao do magistrado, para aquiescncia, os quais no so expertos do juiz, mas, sim, meros assessores das partes litigantes ou interessados (art. 421, 1., do CPC). No criminal, nos termos do art. 159, II, 5. do CPP, durante o curso do processo judicial podero as partes indicar assistentes tcnicos, que podero apresentar pareceres, no prazo fixado pelo juiz; e, tanto no cvel quanto no criminal, formular quesitos. Todavia, no sendo o prazo de cinco dias preclusivo, nada obsta a indicao de assistente tcnico ou a formulao de quesitos a qualquer tempo, pela parte adversa, se ainda no foi iniciada a diligncia pericial. Uma vez que a investidura dos peritos oficiais advm da lei, podem os mesmos funcionar independentemente de nomeao da autoridade policial ou do juiz. No sentido do texto: STF, RHC 54.614, DJU, 18 fev. 1977, p. 8871, JTACrimSP, 91:342. Nessa hiptese, ser o exame solicitado pela autoridade ao diretor do IML (art. 178 do CPP), a quem cabe a designao dos expertus que iro participar do mesmo. De igual modo, quando o exame tiver por objeto a autenticidade ou a falsidade de documento, ou for de natureza mdico-legal, o juiz autorizar a remessa dos autos, bem como do material sujeito a exame, ao diretor do estabelecimento oficial especializado, ao qual cabe a indicao, preferentemente, de tcnicos especializados do prprio instituto, como se depreende da nova redao dada pela Lei n. 8.952, de 13 de dezembro de 1994, ao art. 434 do CPC. 1.2.3. Escusa justificvel A ningum dado escusar-se funo de perito injustificadamente, pois ela se reveste de dever cvico a que se deve atender de bom grado em defesa dos interesses sociais; se houver escusa motivada (suspeio, impossibilidade de desvincular-se da honrosa tarefa em tempo hbil em face de outros compromissos assumidos previamente etc.), ser dentro de cinco dias contados da intimao ou do impedimento superveniente ao acordo pelo qual os litigantes sujeitam arbitragem a deciso do pleito, sob pena de se reputar renunciado o direito de aleg-la (arts. 423 e 146, pargrafo nico, do CPC e art. 277 do CPP). Ao aceitar a escusa ou julgar procedente a impugnao, o juiz nomear novo
  41. 41. perito (art. 423 do CPC). A non-comparentia do perito, sem justa causa, poder determinar a sua conduo coercitiva, conforme o art. 278 do CPP. 1.2.4. Prestao de compromisso Nomeados, aceita a incumbncia, o perito do juzo civil, os peritos inoficiais e os assistentes tcnicos indicados pelas partes no mais assinam, todas as vezes que como tal atuarem, termo em cartrio de prestao do compromisso de bem e fielmente desempenharem o encargo, declarando com verdade e com todas as circunstncias o que encontrarem e descobrirem e o que em suas conscincias entenderem, como se depreende da leitura da nova redao dada pela Lei n. 8.455, de 24 de agosto de 1992, ao art. 422 do Cdigo de Processo Civil: o perito cumprir escrupulosamente o encargo que lhe foi cometido, independentemente de termo de compromisso. Os assistentes tcnicos so de confiana da parte, no sujeitos a impedimento ou suspeio, pois o objetivo-- mor da diligncia servir verdade (art. 159, 2., do CPP). 1.3. Realizao da percia Procede-se realizao do exame de corpo de delito, por todos os peritos, o mais breve possvel para evitar que ocorra apagamento de vestgios do crime. vantajoso o exame de corpo de delito realizado por todos os peritos concomitantemente, aos quais facultado utilizar todos os meios necessrios, ouvindo testemunhas, obtendo informaes, solicitando documentos que estejam em poder de parte ou em reparties pblicas, bem como anexar qualquer escrito utilizvel para consulta, estudo, prova, e instruir o laudo com plantas, desenhos, esquemas testemunhais microfotogrficos, e outras quaisquer peas que lhes parecerem interessantes para a elucidao do caso (arts. 165, 169, 170 do CPP e art. 429 do CPC). 1.3.1. Corpo de delito Enquanto o exame de corpo de delito registra no laudo a existncia e a realidade do delito, o corpo de delito o prprio crime na sua tipicidade. Nesse sentido: RTJ, 45:625. o resultado redigido e autuado da percia, tendo como objeto evidenciar a realidade da infrao penal e demonstrar a culpabilidade ou no do agente. o conjunto de vestgios materiais deixados pelo fato criminoso. Esses vestgios das infraes podem ser de natureza permanente (delicta factis permanentis), ou transeunte (delicta factis transeuntis). O exame de corpo de delito dito direto quando persistem os vestgios da
  42. 42. infrao (homicdio, leso corporal), e indireto quando esses vestgios materiais da infrao inexistem, ou nunca existiram, como na injria verbal, desacato, rubefao. Nas infraes que deixam vestgios, o art.158 do nosso Diploma Adjetivo Penal estatui obrigatoriedade elaborao de laudo por expertos. Efetivamente, a falta do exame de corpo de delito direto ou a sua elaborao fora do referido permissivo legal faz nula a prova de materialidade do fato criminoso, sendo vcio insanvel que no pode ser suprido nem mesmo pela confisso do acusado (vide n. 4.5 e 12.6.11). Nulo o processo em que, tendo a infrao deixado vestgios e no existindo qualquer obstculo realizao do exame de corpo de delito, este no realizado. O art. 158 do CPP encerra uma regra de observncia compulsria, cuja preterio fulminada com a pena de nulidade, no a suprindo a confisso do ru, nem a prova testemunhal (RT, 208:71), importando evidentemente a sua ausncia na absolvio por falta de prova quanto ao fato criminoso (art. 386, II, do CPP). Somente o exame de corpo de delito poder comprovar a materialidade do crime de leses corporais (RT, 457:445). No eito de todo o exposto, nos crimes que deixam vestgios, e enquanto estes permanecem, deve ser proscrita a infelizmente difundida e errnea conduta de alguns peritos a quem cabe constatar pessoalmente vista do corpus delicti ou corpus criminis os fatos de natureza permanente e pertinentes ao processo de valerem-se de informaes como as colhidas em ficha ou boletim hospitalar (que corpo de delito indireto), pois tal procedimento contamina de nulidade o feito, o qual, por isso, no merece ab initio sequer prosperar. Em tema de leso corporal, indispensvel comprovao da materialidade do crime a realizao do exame de corpo de delito, no bastando a tal desiderato simples consulta ficha hospitalar, ainda que roborado o respectivo auto pela confisso extrajudicial do ru ou pelo depoimento da vtima e de testemunhas (JTACrimSP, 53:465). Isto porque a ficha clnica documento particular que, ao contrrio do documento pblico, no tem presuno relativa de validade e, por nem sempre ser permanentemente arquivada, dificulta sobremodo a consulta para produo de prova para eventual reviso criminal. Se comprovada a necessidade de exame indireto, nada impedir, em princpio, tenha ele como alicerce diagnsticos mdicos, fichas clnicas do hospital onde fora a vtima atendida ou ainda outros elementos vlidos de informao que permitam a elaborao do laudo. Mas esses elementos de convico devero vir para os autos, acompanhando o laudo ou, pelo menos, esclarecida sua validade probante nesse mesmo laudo. Simples meno a eventual diagnstico firmado por algum mdico no identificado, assim como simples meno a uma ficha clnica, ser, por certo, insuficiente, por mais idneos que sejam os peritos, idoneidade, alis, que aqui no se discute. Transformar como tantas vezes j afirmado nesta
  43. 43. Col. Dcima Cmara o Juiz em mero homologador de laudos, o que , no resta dvida, um contra-senso (RJDTACrim, n. 1, 1989). No obstante, em 1981, a 7. Cmara do Tribunal de Alada Criminal de So Paulo aceitou, por unanimidade, boletim clnico hospitalar para comprovao de ofensa corporal. O exame de corpo de delito indireto, pelo desaparecimento dos elementos materiais, ou por recusa da vtima em submeter-se ao exame pericial a que no est obrigada e para cuja lavratura no permite a lei conduo coercitiva, sendo, nessa hiptese, inaplicvel o art. 201 do Cdigo de Processo Penal, suprido no mesmo Cdigo, art. 167, por prova testemunhal. Desse modo, nos delitos materiais de conduta e resultado, desaparecidos os vestgios da infrao, admissvel a prova testemunhal supletiva. Apesar de exaustivo, oportuno insistirmos que nos crimes que deixam vestgios a prova pericial ser sempre direta, sendo a prova supletiva testemunhal somente admitida quando impossvel a primeira e devidamente justificada. E porque nem sempre se forma com depoimentos testemunhais, o exame de corpo de delito indireto tambm requer lavratura de auto. Importa saber que o nome corpo de delito indireto imprprio, pois pelo desaparecimento ou inexistncia de elementos materiais no h corpo, embora haja o delito (vide n. 4.4). A lei autoriza que o exame de corpo de delito se proceda em qualquer dia, mesmo aos domingos e feriados, em qualquer lugar que no seja a Delegacia de Polcia (para no ensejar suspeita de coao), a qualquer hora (art. 161 do CPP), mesmo noite, desde que haja iluminao suficiente (art. 161 do CPP). Constitui exceo a necroscopia, que deve sempre ser realizada luz do dia, pois um exame cadavrico eivado no mais poder ser refeito em condies satisfatrias. A necropsia nos casos de morte violenta obrigatria por fora de lei; todavia, fica a critrio do peritus, diante de uma morte violenta, quando no houver infrao penal que apurar, ou se as leses externas permitirem precisar as causae mortis e no houver necessidade de exame visceral para a verificao de alguma causa relevante, fazer o exame interno do de cujus, conforme se depreende da leitura do pargrafo nico do art. 162 do Cdigo de Processo Penal. No ser enfadoso lembrar que: a) obrigatria a necropsia quando a morte resultou de acidente do trabalho; b) a mesma somente ser paga quando realizada por mdico no legista, fora dos Institutos de Medicina Legal; c) diante de uma consulta mdico-legal uma necropsia jamais poder ser repetida ou recomeada. Havendo necessidade de exames de laboratrio, a este sero encaminhados o material colhido (do qual se guardar quantidade suficiente para a eventualidade de nova percia, cf. o art. 170 do CPP), os objetos e as pessoas para serem examinados.
  44. 44. Findo o exame de corpo de delito, as concluses tcnico-cientficas far- - se-o criteriadas na experincia, na competncia e no equilbrio dos peritos, os quais entregaro o laudo no prazo fixado pelo juiz ou pelo menos 20 dias antes da audincia de instruo e julgamento, de acordo com a nova redao dada ao art. 433 do CPC pela Lei n. 8.455, de 24 de agosto de 1992. Os assistentes tcnicos oferecero seus pareceres no prazo comum de 10 (dez) dias, aps intimadas as partes da apresentao do laudo (pargrafo nico do art. 433 do CPC, com a redao dada pela Lei n. 10.358, de 27-12-2001). No processo penal, o laudo pericial ser elaborado no prazo mximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos, nos termos do art. 160, pargrafo nico, do CPP, com a nova redao dada pela Lei n. 8.862, de 28 de maro de 1994. J no processo civil, o art. 432 do CPC determina que Se o perito, por motivo justificado, no puder apresentar o laudo dentro do prazo, o juiz conceder-lhe-, por uma vez, prorrogao, segundo o seu prudente arbtrio. O laudo pericial pode ser juntado ao processo ao longo da instruo criminal, at as alegaes finais, inaplicvel o art. 525 do Cdigo de Processo Penal. Tem mais: a percia mdico-legal, demonstrando a materialidade de um crime, considerada quase sempre prova objetiva que pode ser motivadamente realizada at depois do julgamento, na justia criminal. Todos os peritos, concordes, assinarem o laudo a regra (art. 179, pargrafo nico, do CPP). O Supremo Tribunal Federal tem entendido, entretanto, que o laudo pericial no assinado pelos peritos no nulo, desde que se prove a sua realizao (RTJ, 50:100; JTACrimSP, 90 :283). Trata-se de uma falta meramente formal que no tem o condo de invalidar todo o processo (LEX, 90:284). Contra: A legislao processual penal no pode ser desrespeitada a ponto de o laudo sobre a materialidade da infrao no conter a assinatura dos peritos. Necessria e obrigatoriamente h de existir respeitabilidade e segurana nas provas que instruem uma ao penal. A seriedade de uma condenao judicial no se compatibiliza com a falta de um mnimo de cautela por parte dos peritos, mxime quando so mdicos de uma repartio estatual (RT, 538:366). Laudo pericial assinado por um s perito j foi considerado, pelo Supremo Tribunal Federal, corpo de delito indireto, corroborado por testemunhas. Nesse sentido: JTACrimSP, 86:414. No nula a percia realizada por um s perito oficial. No sentido do texto: RT, 443:403, 562:428. No processo penal, nulo o exame de corpo de delito realizado por um s perito leigo; a nulidade, entretanto, s ocorre em caso de prejuzo ou se invocada na ocasio a que se referem os arts. 571, 564, IV, e 572, I, do Cdigo de Processo Penal (TJSP, RT, 535:290). Tratando-se, porm, de perito oficial no se aplica a smula referida. Nesse entendimento: RT, 425:393, 443:403, 445:381; RTJ, 51:566, 67:420, 88:86. Demais, hbito ser a percia oficial realizada por um s experto relator e o laudo assinado tambm pelo perito subscritor, se concorde com as concluses iladas do processo penal. Nesse sentido: RT, 561:340.
  45. 45. Data venia, ousamos dissentir deste postulatum, por entendermos que a diligncia mdico-legal levada a cabo por um s perito louvado, ou no, contraria o art. 159 do Cdigo de Processo Penal, importando em nulidade processual, portanto, existente independentemente de indagao de prejuzo, com fundamento no art. 564, IV, por omisso de formalidade que constitui elemento essencial do ato, sem embargo da nova redao dada ao dispositivo pela Lei n. 11.690/2008. No outro o modo de ver do iluminado mestre Fernando da Costa Tourinho Filho ( Processo penal, Saraiva, 1992, v. 3, p. 126 e s.): Evidente que, em se tratando de peritos no oficiais, a exigncia de dois peritos resulta claramente do 1. do art. 159 do CPP, e, por isso, o preceito sumular no teria razo de ser, pois estaria interpretando o que sempre independeu de interpretao... A Smula 361 referia-se, pois, a peritos oficiais. Entretanto, tendo em vista que poucas so as comarcas que dispem de perito oficial (quanto mais de dois...), passou-se a entender que o verbete sumular se referia a peritos inoficiais. No nos parece assim. Bem claro, a respeito, o art. 178 do estatuto processual penal: No caso do art. 159, o exame ser requisitado pela autoridade ao diretor da repartio, juntando-se ao processo o laudo assinado pelos peritos (grifos nossos). Nem se diga que o preceito se refere a peritos inoficiais. Quanto a estes, a regra a do art. 179: No caso do 1. do art. 159, o escrivo lavrar o auto respectivo, que ser assinado pelos peritos e, se presente ao exame, tambm pela autoridade(grifos nossos). Ora, se o art. 178, aludindo percia oficial, refere-se a peritos (no plural); se o art. 179, fazendo aluso aos peritos inoficiais, usou, tambm, a palavra peritos no plural, fcil concluir-se que em ambas as hipteses a lei exige a presena de dois peritos. Alis, como reforo de argumento, est o art. 180 do Cdigo de Processo Penal cuidando da possibilidade de divergncia entre os peritos... Ante o exposto, e com a devida vnia, entendemos que a percia realizada por um s expertus, seja ele oficial, ou no, um ato atpico, defeituoso, imprestvel, passvel, pois, de nulidade (rectius: de ineficcia). Tratando-se de exame de corpo de delito guindado que foi posio de ato estrutural do processo (art. 564, III, b) , a nulidade absoluta. Tratando-se de outra percia ato acidental a nulidade prevista no inc. IV do art. 564 sanvel, segundo a frmula do art. 572, ds que no haja prejuzo s partes. Para arreglar, contrariando respeitosamente o entendimento do Supremo Tribunal Federal no sentido de ser inaplicvel a Smula 361 em se tratando de perito oficial, somos de opinio que no tem nenhum valor probatrio o laudo do exame de corpo de delito e das percias em geral, no curso de um inqurito, quando efetuadas por um s legista, leigo ou oficial, conforme se deduz do estudo
  46. 46. de outros artigos, alm dos j justamente ponderados por mestre Tourinho, adjetivados no Cdigo de Processo Penal, os quais se referem aos peritos sempre no plural. Vejamos alguns desses dispositivos: Art. 160: Os peritos descrevero.... Art. 162: ... salvo se os peritos.... Art. 165: ... os peritos.... Art. 168, 1.: No exame complementar, os peritos.... Art. 170: Nas percias de laboratrio, os peritos.... Art. 171: ... ou por meio de escalada, os peritos.... Art. 172, pargrafo nico: Se impossvel a avaliao direta, os peritos.... Art. 173: No caso de incndio, os peritos.... E, finalmente, no art. 179, lemos: No caso do 1. do art. 159, o escrivo lavrar o auto respectivo, que ser assinado pelos peritos.... 1.3.2. Interveno dos peritos A interveno dos peritos se faz em qualquer fase do processo (inqurito, sumrio e julgamento) no foro criminal. Lavrada a sentena, pode ainda ocorrer interveno pericial para ajuizar alienao mental passvel de suspenso de pena. H casos de decretao de liberdade condicional em que a justia julga necessrio ouvir peritos sobre ausncia ou cessao de periculosidade do detento (art. 710, II, do CPP). No foro civil, mediante a concesso de medida cautelar precedente pleiteada pelo requerente que se encontra na situao de titular do interesse correspondente ao alegado direito, pretendido em relao ao ru, pode o julgador determinar a feitura de exame pericial, antes do incio da lide que o conflito de interesse qualificado por pretenso resistida , como forma de produo antecipada de provas, quando houver proveito na soluo eficaz e til no processo principal (fumus boni iuris), e receio de leso em face do periculum in mora (CPC, arts. 846 e 847, II). E em uma diligncia ad perpetuam rei memoriam, e na dilao probatria (CPC, art. 181), por justa causa (CPC, art. 183, 1.), ou caso fortuito ou motivo de fora maior, como, por exemplo, uma cirurgia de urgncia. E quando o juiz ordenar, de ofcio ou a requerimento das partes, por fora do princpio da verdade real, que os expertos espanquem as brumas porventura existentes em alguma questo ou quesito. por isso que o perito e os assistentes tcnicos intimados pela autoridade judicial devem obrigatoriamente comparecer audincia e, fazendo-o, subscreverem o termo que for lavrado. 1.3.3. Divergncia entre os peritos Supondo ocorra divergncia entre os peritos, ser consignada no auto de exame de corpo de delito a opinio diagnstica de um e de outro, ou cada qual redigir separadamente a sua louvao (art. 180, 1. parte, do CPP), cumprindo autoridade nomear um terceiro experto (art. 180, 2. parte, do CPP), que emitir sua concludncia aps exame acurado das duas concluses divergentes. Se esse novo laudo tambm discordar, a autoridade indicar facultativamente nova
  47. 47. percia, que se comportar como se as anteriores no houvessem existido, embora seja dado aos competentes conhecer os pareceres em dissdio, podendo eles sobre os mesmos emitir opinio com perfeito conhecimento de causa (art. 180 do CPP). Persistindo as divergncias (art. 180, in fine, do CPP), o juiz decide por outros meios, motu proprio, fundamentando a sua opinio. 1.3.4. Falsa percia Essa divergncia infrequente na prtica mdico-forense, onde os juzes julgam geralmente de acordo com o parecer dos peritos que eles nomeiam e que sabem honestos, dedicados e competentes e que lhes so merecedores de irrestrita confiana. Todavia, em que pese a idoneidade dos peritos, seres humanos a quem se incumbe a misso de verdadeiro auxiliar da justia a cujas concluses ficam adstritas a honra, a fortuna, a famlia, e, muita vez, comprometendo em soslaio, a inocncia e a liberdade, no se h de olvidar o previsto no art. 342 do Cdigo Penal: Fazer afirmao falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemunha, perito, contador, tradutor ou intrprete em processo judicial, ou administrativo, inqurito policial ou em juzo arbitral (Lei n. 10.268, de 28-8-2001), ou em inqurito instaurado por comisso parlamentar, e no art. 147 do CPC: O perito que, por dolo ou culpa, prestar informaes inverdicas, responder pelos prejuzos que causar parte, ficar inabilitado, por 2 (dois) anos, a funcionar em outras percias e incorrer na sano que a lei penal estabelecer (vide n. 1.6). Com efeito, no constitui ilegalidade ou abuso de poder o ato do juiz que, convencido de que o perito prestou informaes inverdicas, lhe aplica a sano de inabilitao, por 2 anos, a funcionar em outras diligncias mdico-legais, expressamente prevista na lei. Nesse ajustamento, RT, 610:217. Para efeitos penais so os peritos considerados funcionrios pblicos (art. 327 do CP). A falsa percia pode resultar: a) da afirmao de uma inverdade; b) da negao da verdade; c) do silncio sobre a verdade. No se confundir a falibilidade dos exames periciais, que, a despeito do aperfeioamento de certas tcnicas, so passveis de involuntrios equvocos, quer em suas pesquisas, quer nas concluses dos seus laudos, com distoro consciente da verdade, objetivando ludibriar a autoridade judiciria com o fito de favorecer terceiro ou qualquer pessoa a quem se imputa o crime. Da a razo de ser da credibilidade da percia. No importa no atinja o perito mendaz o fim desejado; basta lei a existncia de indcios de falseamento consciente da verdade sobre dados objetivos e juridicamente relevantes e pertencentes ao objeto do processo de que
  48. 48. se trate, colhidos pelo perito, sem o que a eiva do actus ser um ato imoral, mas no antijurdico. Se antes da prolao da sentena, no processo em que foi o crime de falsa percia cometido, o prprio perito se retrata ou declara a verdade, desaparece o delito com o desdizer-se, e o fato deixa de ser punido ( 2. do art. 342 do CP). Se a reparao do dano feita posteriormente, mesmo que a deciso ainda seja passvel de recurso, a retratao ou a declarao da verdade s ter efeito atenuante (CP, art. 65, III, b). Arrematando, no incide no delito de falsa percia o assistente tcnico que simplesmente lavra parecer encomendado pela parte. Nesse sentido: RT, 641:331 (vide p. 33). 1.3.5. Incompatibilidade dos peritos Aplicam-se ao perito algumas das suspeies e incompatibilidade do juiz (art. 280 do CPP), ou seja, quando for parte ou interessado no processo ou nele j tiver atuado como experto (art. 279, II, do CPP); se amigo ntimo ou inimigo capital de qualquer das partes; se alguma das partes for dele credora ou devedora, ou de seu cnjuge ou parentes, em linha reta ou na colateral at o terceiro grau; se for empregador de alguma das partes; se porventura recebeu ddivas antes ou depois de iniciado o processo, ou subministrou meios para atender s despesas do litgio; ou praticou atos que no meream f ou se revelem desmerecedores de confiana (art. 279, I, do CPP). E, consoante o art. 279 do Cdigo de Processo Penal, esto impedidos de servir como perito os que prestaram servio no processo como testemunha ou como opinante anteriormente sobre o objeto da percia e sujeitos interdio de direitos, prevista nos arts. 47, I e II, e 92, I e II, do Cdigo Penal. Deve o prprio perito declarar o impedimento ou a suspeio logo tenha cincia da intimao, pois, no o fazendo, cabe ao indiciado ou vtima o direito de argui-la antes de iniciada a diligncia mdico-legal, decidindo o juiz de plano e sem recurso, vista da matria alegada e prova imediata (art. 105 do CPP). 1.3.6. Credibilidade da percia A credibilidade da percia baseia-se no princpio de que a opinio dos peritos, conquanto categrica e unnime, no vincula a convico do juiz (nem dele se subordina), ao qual assiste o dever de fundamentar sua divergncia e o direito de discordar do laudo pericial, recusando-o em parte ou no todo, e de determinar nova percia (CPP, art. 182; CPC, art. 437). por isso que se cognomina ao juiz peritus peritorum (perito dos peritos). En passant, tambm se faculta autoridade policial frente do inqurito determinar nova percia (art. 181, pargrafo nico, do CPP). No sentido do texto: RTJ, 53:207. Por esta forma, ao juiz dado discordar de qualquer laudo, no todo ou em
  49. 49. parte, nomear novos peritos, recusar o laudo e supri-lo por prova testemunhal, podendo livremente formar a sua convico com pareceres tcnicos ou outros fatos provados nos autos (art. 436 do CPC), sendo-lhe, todavia, vedado valer-se de conhecimentos pessoais, de natureza tcnica, para dispensar a percia (RT, 606:199). Sobreleva, entretanto, o dever de, com sua grande cultura jurdica e conhecimentos bsicos, justificar os fundamentos de sua divergncia, pois o seu arbtrio no ilimitado, mas, sim, um arbitrium regulatum (vide n. 1.5.6). Do mesmo modo, nos crimes de competncia do Jri, tambm os jurados podem rejeitar o laudo mdico-legal. No sentido do texto: RTJ, 53:207. 1.3.7. Percia contraditria a percia da Justia em que os dois peritos no chegam, no crime, a um ponto de vista comum. a que, realizada por peritos da Justia e das partes, no coincide com exatido. a concludncia procedida por um terceiro perito para corrigir ou confirmar percia anterior. 1.3.8. Fiscalizao das percias O princpio de credibilidade forma de fiscalizao das percias, que ainda se procede por adequada metodizao, pela regulamentao e pelos conselhos fiscais. A metodizao a existncia de rigor absoluto de registro de mincias tcnicas e detalhes cientficos nos exames periciais e nos laudos, obedecendo rigidamente s fases sucessivas de redao (prembulo, quesitos, comemorativo, descrio, discusso, concluses e respostas aos quesitos). A regulamentao a observao rigorosa de normas escritas fixas nos trabalhos periciais com o objetivo de evitar que omita o perito tempos importantes para o esclarecimento da Justia. Outra forma importante de fiscalizao a reviso das percias por Conselhos Mdico-Legais que agem eventualmente por solicitao de reviso de percia ou, ento, taxativamente em todos os casos ocorridos em suas circunscries. 1.3.9. Honorrios dos peritos Honorrio a paga que se faz a certos profissionais em retribuio a servios por eles prestados. a remunerao justa dos peritos e dos assistentes tcnicos que prestaram servios profissionais Justia e s partes.
  50. 50. Dignus enim est operarius mercede sua, Lucas, 10, 7. Se o juiz nomeia para a diligncia mdico-legal perito oficial, este evidentemente nada percebe pela misso que vai desempenhar, funcionrio pblico que , inteiramente dedicado funo, pago pelo Estado. Dessa maneira, sendo a percia de interesse pblico, ela se exerce sem nenhum nus para as partes e interessados, o que constitui um dos requisitos da imparcialidade. Se a nomeao de perito no oficial, este apresenta honorrios ao juiz, que pode tambm arbitr-los, o mesmo ocorrendo com os assistentes tcnicos indicados pelas partes. Na percia civil o contrato dos honorrios sempre feito por intermdio do juiz, no sendo lcito ao perito faz-lo diretamente com as partes. No ato de aceitao do encargo pericial deve-se pedir o arbitramento e o depsito dos honorrios provisrios e, no da entrega do laudo, que o juiz os arbitre definitivamente, cabendo ao perito estimar o valor do trabalho apresentado, para o que se apreciar: a) importncia e dificuldade mdico-jurdica da ao; b) costume do lugar; c) reputao profissional do perito; d) possibilidades econmicas dos envolvidos; e) tempo despendido. O assistente tcnico contrata honorrios diretamente com a parte que o procura. O pagamento da percia ao perito inoficial efetuado pelo Poder Pblico, na percia criminal. Os assistentes tcnicos recebero seus honorrios das partes indicadoras, e o perito do juzo (civil) os perceber da partis que houver requerido o exame, ou do autor, quando solicitado por ambas as partes ou de quem o Magistrado determinar (art. 33 do CPC). Destarte, o juiz poder determinar que a parte responsvel pelo pagamento dos honorrios do perito deposite em juzo o valor correspondente a essa remunerao. O numerrio, recolhido em depsito bancrio ordem do juzo e com correo monetria, ser entregue ao perito aps a apresentao do laudo, facultada a sua liberao parcial, quando necessrio, consoante o art. 33 do CPC. A lei permite ao mdico e aos assistentes tcnicos efetuar cobranas judicialmente, mediante ao ordinria, na falta de documento firmado e por ao executiva, quando houver contrato escrito; permite-lhes ainda pleitear seus honorrios em processo de inventrio, de falncia ou de arrecadao de bens do morto. A prescrio de honorrios dos profissionais de Medicina de cinco anos aps a ltima prestao dos servios, nos termos do art. 206, 5., II, do CC, perdendo eles o direito de agir, como uma forma de negligncia, pois compete ao credor e no ao devedor a iniciativa da cobrana. Por outro lado, esse prazo ser de um ano, em se tratando de recebimento de honorrios por perito (art. 206, 1, III, do mesmo codex).
  51. 51. O competente requisitado fora dos quadros funcionais da Justia no est obrigado a prestar servios gratuitos, a no ser que admita faz-lo, sponte sua, ou para ser pago, a final, pelo vencido. 1.4. Quesitos oficiais 1.4.1. Exame de corpo de delito (leso corporal) 1.) Se h ofensa integridade corporal ou sade do paciente; 2.) qual o instrumento ou meio que produziu a ofensa; 3.) se foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por outro meio insidioso e cruel (resposta especificada); 4.) se resultou incapacidade para as ocupaes habituais por mais de 30 dias; 5.) se resultou perigo de vida; 6.) se resultou debilidade permanente ou perda ou inutilizao de membro, sentido ou funo (resposta especificada); 7.) se resultou incapacidade para o trabalho ou enfermidade incurvel, ou deformidade permanente (resposta especificada); nos casos indicados, ser formulado mais o seguinte quesito: 8.) se resultou acelerao de parto ou aborto. 1.4.2. Exame cadavrico 1.) Se houve morte; 2.) qual a causa da morte; 3.) qual o instrumento ou meio que produziu a morte; 4.) se foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por outro meio insidioso e cruel (resposta especificada). 1.4.3. Exame de corpo de delito (infanticdio) 1.) Se houve morte; 2.) se a morte foi ocasionada durante o parto ou logo aps; 3.) qual a causa da morte; 4.) qual o instrumento ou meio que produziu a morte; 5.) se foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por outro meio insidioso e cruel (resposta especificada). 1.4.4. Exame cadavrico na gestante (aborto) 1.) Se houve morte; 2.) se a morte foi precedida de provocao de aborto; 3.) qual o meio empregado para a provocao do aborto; 4.) qual a causa da morte; 5.) se a morte da gestante sobreveio em consequncia de aborto ou de meio empregado para provoc-lo.
  52. 52. 1.4.5. Exame de corpo de delito (aborto) 1.) Se h vestgio de provocao de aborto; 2.) qual o meio empregado; 3.) se, em consequncia de aborto ou de meio empregado para provoc--lo, sofreu a gestante incapacidade para as ocupaes habituais por mais de 30 dias, ou perigo de vida, ou debilidade permanente ou perda ou inutilizao de membro, sentido ou funo, ou incapacidade permanente para o trabalho, ou enfermidade incurvel, ou deformidade permanente (resposta especificada); 4.) se no havia outro meio de salvar a vida da gestante (no caso de aborto praticado por mdico); 5.) se a gestante alienada ou dbil mental. 1.4.6. Exame d