Manual de Metodologia Da Pesquisa Cientifica

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HORTNCIA DE ABREU GONALVES licenciada plena e bacharel em Histria, com ps-graduao stricto sensu (mestrado) em Sociologia, tendo sido classificada em quarto lugar, e em Geografia, com aprovao em primeiro lugar, pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde lecionou a disciplina Introduo Metodologia Cientfica.Foi bolsista de Iniciao Cientfica pelo Conselho Nacional de Pesquisa e Tecnologia (CNPq), convnio UFS/UFAL/CNPq, por quatro anos, com premiao na 46 Reunio Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia (SBPC) durante a I Jornada Nacional de Iniciao Cientfica.Atualmente encontra-se cursando o doutorado em Geografia, na Universidade Federal de Sergipe (UFS), tendo sido classificada em primeiro lugar na seleo para ingresso no referido curso.Leciona as disciplinas Seminrio de Pesquisa, Metodologia da Pesquisa Cientfica, Metodologia da Cincia, Monografia e Mtodos e Tcnicas de Pesquisa I em cursos de graduao e de ps-graduao da Universidade Tiradentes (UNIT). Tambm ministra as disciplinas Metodologia do Trabalho Cientfico e Iniciao ao Trabalho Cientfico na Faculdade de Sergipe (FaSe) e Faculdade Atlntico (FA) respectivamente.

A Wilson, Pedro, Pricles e Luciano, que meacompanham nessa jornada acadmica.A meus alunos e ex-alunos, que, com suasdvidas e indagaes constantes sobre a realizaode pesquisas cientficas, propiciaram meuaprofundamento no assunto, de forma a repass-lo,pautado no rigor cientfico e metodolgico quenorteia essa atividade.A meus colegas de trabalho e de estudo, queutilizam essas orientaes em sala de aula e na vida universitria.Mais uma vez, obrigada!

ApresentaoA necessidade crescente de preparo e execuo de pesquisas cientficas, por parte de professores, pesquisadores e estudantes universitrios de graduao e de ps-graduao, originou este manual, que demonstra, de forma clara, simples e precisa, as etapas de realizao dessa atividade, baseado no rigor metodolgico que confere veracidade e cientificidade aos mtodos e s tcnicas de investigao, bem como aos seus resultados. Com esse objetivo, ele apresenta tambm, de forma didtica, alguns exerccios que possibilitaro a realizao da Oficina de Pesquisa Cientfica, por meio de explanao diagramada que permite ao estudante a concreo de pesquisa pautada nas exigncias de uma investigao cientfica. Essa prtica foi iniciada na sala de aula com a disciplina Metodologia da Pesquisa; por meio dela os alunos de graduao tm a oportunidade de elaborar o projeto de pesquisa sobre a temtica da rea em que esto inseridos e, em seguida, de executar uma pesquisa bibliogrfica, acompanhada da documental ou da de campo, a ser apresentada no Seminrio de Pesquisa na forma de painis, psteres, banners e comunicaes orais. A concretizao dessa atividade exigiu a participao de outras disciplinas, que tiveram importncia fundamental no acompanhamento e na realizao de todas as suas etapas. Durante a execuo deste trabalho, houve constante preocupao em repassar para os alunos as contribuies da pesquisa e o papel atual do jovem pesquisador, bem como o da iniciao cientfica e sua importncia futura em nvel de ps-graduao. Essa metodologia desenvolveu entre os participantes a responsabilidade pela pesquisa e sua valorizao nos perodos iniciais dos cursos de graduao, promovendo o ensino pela pesquisa, coma construo do conhecimento direcionado realidade, a partir de questionamentos sobre determinado tema. Nesse processo pela busca do saber, aluno e professores estabeleceram uma cumplicidade valorizada por curiosidade, motivao, exigncia e incerteza com significados prprios, propiciando a finalidade principal do ensino universitrio: o exerccio da crtica na pesquisa, no ensino e na extenso.A autora

Lista de Quadros1 Cincia-Metodologia-Mtodo272 Estrutura Organizacional da Graduaoe da Ps-graduao303 Caracterizao, Esquematizao e Funo das Cincias Formais e Fatuais.........................................334 Os Mtodos e suas Diversas Aplicaes por rea de Conhecimento505 Estrutura e Organizao da Pesquisa Cientfica1096 Sumrio1 INTRODUO112 CINCIA: METODOLOGIA E MTODOS152.1 Caracterizao do Conhecimento Cientfico162.2 Cincia e Metodologia Cientfica192.3 Iniciao Cientfica e Ps-graduao242.4 Cientista: Cincia, Tcnica e Domnio do Saber282.5 Mtodos Cientficos33

2.5.1 Mtodos gerais (mtodos de abordagem)342.5.2 Mtodos especficos (mtodos de procedimento) 432.5.3 Outros mtodos452.54Relao entre os mtodos cientficos esuas aplicaes453 PESQUISA CIENTFICA: CONSTRUO DO SABER473.1 Objetivo483.2 Caractersticas493.3 Critrios de Cientificidade503.4 Antecedentes da Pesquisa513.5 Planejamento da Pesquisa524 PESQUISA CIENTFICA: TIPOS E MODALIDADES554.1 Classificao das Pesquisas554.2 Tipos e Estruturaes Bsicas574.2.1Pesquisa bibliogrfica584.2.1.1 Etapas da pesquisa bibliogrfica594.2.2Pesquisa documental604.2.2.1 Locais de pesquisa, tipos e utilizaode documentos624.2.3 Pesquisa terica, aplicada e de campo634.2.4 Pesquisa de motivao e atitudes834.2.5 Pesquisa sobre a propaganda834.2.6 Pesquisa sobre o produto83

10Manual de Metodologia da Pesquisa Cientfica4.2.7 Pesquisa sobre as vendas834.2.8 Pesquisa de mercado844.2.9 Pesquisa experimental844.2.10 Pesquisa-ao874.2.11 Pesquisa expost facto894.2.12 Pesquisa descritiva914.2.13 Pesquisa participante924.2.14 Pesquisa histrica954.2.15 Pesquisa etiolgica974.2.16 Pesquisa exploratria984.2.17 Pesquisa explicativa....994.2.18 Estudo de coorte994.2.19 Levantamentos1004.3 Diferena entre Pesquisa Quantitativa e Qualitativa1015 ETAPAS DE REALIZAO DE UMA PESQUISA CIENTFICA 1035.1 Estrutura e Organizao da Pesquisa Cientfica1035.2 Escolha do Tema e Referencial Terico1045.3 Delimitao do Tema1055.4 Estabelecimento do Problema e Justificativa1055.5 Definio das Hipteses de Trabalho e dasQuestes Norteadoras1075.6 Determinao dos Objetivos da Pesquisa1115.7 Seleo das Fontes de Pesquisa1125.8 Categorias de Anlise1125.9 Instrumentos de Coleta de Dados1155.10 Coleta e Representao dos Dados Obtidos1165.10.1 Amostragem1175.10.1.1 Amostra quantitativa1185.10.1.2 Amostra qualitativa1215.11Anlise, Crtica e Interpretao dos Resultados Obtidos1226 EXERCCIO PRTICO PARA AOFICINA DEPESQUISA CIENTFICA1256.1 Questes Bsicas1256.2 Oficina de Pesquisa Cientfica128REFERNCIAS137

CAPTULO 1IntroduoO ingresso na vida universitria representa, para o estudante de graduao e de ps-graduao, um novo patamar a ser alcanado na esfera do conhecimento cientfico. Isso significa que, a partir de ento, ter incio uma nova etapa de estudos e pesquisas que resultaro em sua formao profissional ou especificao cientfica (lato sensu, stricto sensu) no mbito acadmico.A cada dia, a cada aula e a cada atividade didtica percebe-se que aumenta a responsabilidade acadmica e, de forma rpida, objetiva e simplificada, o estudante deve absorver o mximo possvel das informaes repassadas pelos docentes, para que possa atingir a qualidade e a excelncia nos estudos.Isso requer, em primeiro lugar, uma vida universitria organizada, com mtodo e disciplina, objetivando atingir as metas que necessitam ser alcanadas,[...] [seja] pelo seu prprio desenvolvimento psquico e intelectual, seja pela prpria natureza do processo educacional desse nvel, as condies de aprendizagem transformam-se no sentido de exigir do estudante maior autonomia na efetivao da aprendizagem, maior independncia em relao aos subsdios da estrutura do ensino e dos recursos institucionais que ainda continuam sendo oferecidos (SEVERINO,2002,p.23).

12Manual de Metodologia da Pesquisa CientificaEsse conjunto de recursos disponibiliza ao discente as ferramentas necessrias para que assuma uma posio voltada para a auto-atividade didtica, crtica e rigorosa, repleta de trabalhos prticos, tericos, de laboratrio ou de campo, culminando em habilidades profissionais e competncias inerentes s especificaes de cada rea, representadas pelo referencial terico bsico e complementar, que formar sua bagagem de conhecimentos acerca de determinado assunto.Manuais, livros, peridicos cientficos e /ou especializados passaro ento a constituir a biblioteca pessoal do graduando e do ps-graduando que ser complementada por dicionrios, compndios e tratados especficos. A medida que o curso avana, novos referenciais so adquiridos, freqentemente, na forma de trabalhos monogrficos em seus diversos nveis, ampliando assim, cada vez mais, o saber na rea, completado pelos textos especializados, elaborados por pesquisadores, estudiosos e especialistas, com os quais os estudantes passaro a conviver diariamente.Na busca do saber, "[...] [o] universitrio deve passar por um 'encaminhamento lgico' que o inicie ao pensar, por mais que o professor no goste de executar essa tarefa" (Op. cit, p. 26). Cabendo, ento, a ele, desvincular-se de seu papel de mero transmissor de idias para assumir a postura de mestre, que conduzir seu aluno no caminho da cincia, ajudando-o nesse processo de descoberta dos caminhos da aprendizagem.Entre os instrumentos de trabalho utilizados na vida universitria, destacam-se, especialmente, o recurso eletrnico, rede mundial de computadores, Internet e multimdia (CD-ROM, disquete etc), o qual permite acesso fcil a sites (endereos) de distrao de cultura geral, informativo e formativo, inclusive no mbito do conhecimento cientfico (sites especficos), diretamente relacionados rea de interesse do estudo ou pesquisa. No nvel da pesquisa cientfica e do mbito acadmico mais avanado,[...] diversas instituies pblicas e privadas, incluindo as de ensino superior, tm armazenada e disponvel para consulta uma base de dados da produo intelectual e do acervo de documentos. Tambm pode-se encontrar um farto material para universitrios e pesquisadores em sites de publicaes cientficas que mantm uma verso eletrnica, bem como em banco de dados de rgos do governo, no necessariamente ligados ao ensino e pesquisa (ANDRADE, 2003, p. 53).

Introduo13Entretanto, importante mencionar a existncia de sites ligados s agncias do governo que do apoio cincia e pesquisa nacionais, como o caso do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) (www.cnpq.br) e da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes) (www.periodicos.capes.gov.br), com a possibilidade de acesso fcil e rpido a textos cientficos, especializados e atualizados, relacionados rea de interesse.Em segundo lugar, aparecem as preocupaes ligadas disciplina de estudo, etapa que requer do aluno desde a organizao do tempo para estudar at a preparao e a reviso das aulas.A aula representa para o estudante grande oportunidade para a elucidao de dvidas pendentes e a primeira aproximao com os contedos de disciplinas. Ele deve aproveitar ao mximo esse momento, procurando compreender os assuntos, por meio da participao ativa, mesmo em disciplinas ministradas on-line ou de ensino a distncia.O tempo para estudar deve ter a durao ideal para a leitura, a reviso dos assuntos apreendidos anteriormente, o fichamento e o resumo ou a esquematizao dos textos, de forma a possibilitar aprendizagem eficiente. O estudante deve se programar em relao ao nmero de disciplinas e s tarefas a serem cumpridas em um determinado espao de tempo, observando as datas preestabelecidas para a execuo de todas essas atividades.A preparao para a aula representa um aspecto importante do processo de estudo. o momento em que, de posse do referencial terico da disciplina e com base em seu contedo programtico, realizada uma anlise dos assuntos que sero discutidos posteriormente nas aulas, servindo, assim, para que haja preocupao prvia com os contedos que compem determinada matria.Nesse prisma, encontram-se as revises do que j foi ministrado. Elas podem ser imediatas (dirias) ou globalizadas (semanais), desde que haja uma preocupao constante com a atualizao desses contedos, individualmente ou por meio do estudo em grupo.Outro aspecto relevante a leitura, agente fundamental do processo de aprendizagem, que garante o xito nos estudos. E fundamental que

14Manual de Metodologia da Pesquisa Cientficao estudante selecione o que vai ler, para economizar tempo e desgaste fsico. Convm consultar os professores das respectivas reas, antes de decidir sobre a leitura ou no de uma obra ou parte dela (captulo). Tambm faz parte dessas observaes a velocidade e sua eficincia, ou seja, a necessidade de se ter um ritmo satisfatrio de leitura que permita a compreenso, a captao, a reteno e a integrao de conhecimentos contidos no referencial terico da disciplina. Ele deve, ainda, escolher um ambiente que rena comodidade e higiene, para que a leitura seja eficaz, observando se a iluminao, a ventilao e o silncio so suficientes para o bom rendimento e a aprendizagem do que foi definido como propsito e metas a serem atingidas para que obtenha sucesso nos estudos acadmicos.

CAPTULO 2Cincia: Metodologia e MtodosA palavra cincia, ao longo dos estudos desenvolvidos sobre ela, recebeu vrios significados, entre eles (MARCONI; LAKATOS, 2000, P-21): 'Acumulao de conhecimentos sistemticos'. 'Atividades que se propem a demonstrar a verdade dos fatos experimentais e suas aplicaes prticas'. 'Caracteriza-se pelo conhecimento racional, sistemtico, exato, verificvel e, por conseguinte, falvel'. 'Conhecimento certo do real pelas suas causas'. 'Conhecimento sistemtico dos fenmenos da natureza e das leis que o regem obtido pela investigao, pelo raciocnio e pela experimentao intensiva'. 'Conjunto de enunciados lgicos e dedutivamente justificados por outros enunciados'. 'Conjunto orgnico de concluses certas e gerais, metodicamente demonstradas e relacionadas com o objeto determinado'. 'Corpo de conhecimentos consistindo em percepo, experincias, fatos certos e seguros'. 'Estudos de problemas solveis, mediante mtodo cientfico'.'Forma sistematicamente organizada de pensamento objetivo'.

16Manual de Metodologia da Pesquisa CientficaEsses conceitos so ampliados por Trujillo (1974 apud Op. cit., p. 22), quando acrescenta que "[...] [a] cincia todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemtico conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido verificao", entendendo que a cincia "uma sistematizao de conhecimentos, um conjunto de preposies logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenmenos que se deseja estudar". Assim, ela compreendida em duas acepes: a lato sensu, que representa apenas o significado de conhecimento; e a stricto sensu, referindo-se no a um conhecimento qualquer, mas quele que obtido por meio da apreenso e do registro dos fatos, com a demonstrao de suas causas constitutivas ou determinantes.2.1 Caracterizao do Conhecimento CientficoO conhecimento cientfico distingue-se de outras formas de conhecimento por ter origem[...] na observao minuciosa e objetiva dos fatos, de modo a permitir uma compreenso de sua natureza e de suas causas, sem que as interpretaes do observado sejam influenciadas pelos desejos ou preconceitos do observador. Busca-se, mais do que tudo, conhecer as relaes existentes entre os fatos e os fenmenos observados, isto , suas leis (REY, 1998, p. 7).Nesse sentido, ele se apia no raciocnio lgico para fazer dedues com base nas informaes alcanadas, com o objetivo de proceder a novas aplicaes a partir do cumprimento de leis e normas gerais que regem a cincia, decorrentes da aplicao correta do mtodo cientfico. Tudo isso pressupe ainda a aceitao (consciente ou no) de alguns conceitos bsicos, como:a) a objetividade dos fatos empricos, ou seja, a existncia de um mundo real;b) a existncia de ordem no universo, pela qual os fatos ocorrem na natureza de forma regular e no catica [...];

Captulo 2: Cincia: Metodologia e Mtodos17c) o determinismo, que implica existir, para cada fenmeno observado, uma causa determinante; ed) a possibilidade de se conhecerem ou se descobrirem as relaes causais existentes entre os fatos observados (Op. cit., p. 9).Para Marconi; Lakatos (2000, p. 18-20), so quatro as formas de conhecimento, assim especificadas:a) Conhecimento popular (senso comum): fundamenta-se nas informaes adquiridas na convivncia familiar e social, e possui as seguintes caractersticas:

b) Conhecimento filosfico: caracteriza-se pelo esforo da razo pura para questionar os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unicamente recorrendo s luzes da prpria razo humana, com as seguintes caractersticas:

18Manual de Metodologia da Pesquisa Cientifica

c) Conhecimento religioso: parte do princpio de que as verdades tratadas so infalveis e indiscutveis por consistirem em revelaes de uma divindade (sobrenatural), com a seguinte caracterizao:

d) Conhecimento cientfico: lida com ocorrncias ou fatos, isto , com toda forma de existncia que se manifesta de algum modo, estando pautado nas caractersticas relacionadas a seguir:

Captulo 2: Cincia: Metodologia e Mtodos19

Isso significa que "o aperfeioamento do conhecimento comum e ordinrio obtido atravs de um procedimento metdico; o qual mobiliza explicaes rigorosas e/ou plausveis sobre o que se afirma sobre um objeto ou realidade" (BARROS; LEHFELD, 2000a, p. 10). Portanto, ele deve ser produzido pela investigao cientfica.2.2 Cincia e Metodologia CientficaDe acordo com Rey (1998, p. 8-9), a cincia moderna nasceu "na Renascena, [resultante] da fuso das tradies intelectuais com as artesanais, dando origem ao mtodo experimental-matemtico, indispensvel soluo dos problemas tericos e prticos da nova sociedade mercantilista em transio para o sistema capitalista de produo", passando a significar, desde Galileu, a aplicao correta do mtodo cientfico. Ao longo da Histria, foi adquirindo algumas caractersticas, sendo elas (RUIZ, 2002, p. 129-131):

20Manual de Metodologia da Pesquisa Cientfica

O esprito cientfico (mentalidade ou atitude) faz parte da cincia; ele possibilita a construo do conhecimento, assim especificado (Op. cit,p. 132-133):Esprito crtico: analisa, questiona, submete a exame, julga a validade e a fundamentao das solues estabelecidas;Esprito de confiana na cincia: sente entusiasmo pela cincia, no cedendo ao ceticismo ou ao dogmatismo;Busca de evidncias: procura as evidncias dos fatos; interroga e busca explicaes; preocupa-se em conhecer o "como" e os "porqus" dos fenmenos (curiosidade intelectual);Esprito de anlise: decompe, desdobra e segmenta um todo complexo em seus componentes ou elementos simples;Esprito positivo de apego objetividade: guarda o veridictum da evidncia dos fatos, acatando-o mesmo contra seu desejo ou custa de seu prestgio momentneo;

Captulo 2; Cincia: Metodologia e Mtodos21Esprito criativo: usa a criatividade na elaborao das hipteses, instrumentos e processos de pesquisa e nunca nas concluses que s devem brotar das evidncias dos fatos;Esprito indagador: duvida do peso das razes j conhecidas e ponderadas; duvida para aprofundar a ponderao das razes, para chegar certeza com o apoio da evidncia.Esse esprito deve ser direcionado para a pesquisa, que, para ser conduzida com responsabilidade, necessita do desejo do pesquisador para saber e informar-se sobre as coisas e os fenmenos que o cercam e se mostram, em determinado momento, relevantes para o conhecimento do mundo em que vive. Para alcanar esse resultado, ele deve responder s seguintes perguntas:O que pesquisar?Por que realizar essa atividade?Para que servir?Que contribuies trar?Como execut-la?O que necessrio?Com que pesquisar?Onde pesquisar?Essas indagaes caracterizam uma ao metodolgica - repassada na universidade por meio da disciplina Metodologia Cientfica, da Pesquisa ou da Cincia - partindo-se da definio etimolgica do termo: "a palavra metodologia vem do grego meta que significa ao largo [ao longo de]; odos [hods], caminho [via]; logos, discurso, estudo". Assi m, ela entendida * 'como uma disciplina que se relaciona [diretamente] com a epistemologia1 [e que] consiste em avaliar os vrios mtodos disponveis, [...] identificando suas limitaes ou no em nvel das implicaes de suas utilizaes" (BARROS; LEHFELD, 2000b, p. 1). Essa1 Do grego episteme - cincia. "Estuda a validade do conhecimento cientfico, das cincias particulares" (OLIVEIRA, 1997, p. 56).

22Manual de Metodologia da Pesquisa Cientficadisciplina fornece ao aluno de graduao e de ps-graduao os subsdios necessrios ao desenvolvimento e realizao de uma pesquisa cientfica, examinando, avaliando, sugerindo e aperfeioando as tcnicas de pesquisa, bem como gerando ou verificando novos mtodos que conduzam captao e ao processamento de informaes com vistas resoluo de problemas de investigao. Portanto, entende-se mtodo como agente de ao e metodologia como procedimento concreto de operacionalizao.Nesse sentido, a pesquisa serve para se conseguir os dados necessrios ao estudo de um fenmeno da realidade. Para realiz-la, entretanto, deve-se seguir alguns passos, entre eles: a definio do tipo de amostra; a elaborao e a aplicao de instrumentos (coleta de dados); a tabulao dos dados e sua leitura e interpretao, sendo cada um deles definitivo para a descrio da problemtica analisada.A esses passos acrescenta-se ainda a importncia do referencial terico, que contribui para o desdobramento de cada um deles, promovendo o estudo aprofundado do tema, de forma a facilitar seu entendimento e possibilitar, ao mesmo tempo, o contato com o que j foi escrito at ento sobre a temtica que est sendo analisada.Esse procedimento didtico-metodolgico deve ser praticado diariamente por intermdio da ao docente, revelando a concepo conhecimento - cincia - saber, caracterstica da atividade didtica, que associa o ensino pesquisa cientfica em sala de aula.Com essa viso, a Metodologia Cientfica assume o papel de disciplina norteadora da produo cientfica universitria, correspondendo "a um conjunto de procedimentos a serem utilizados na obteno do conhecimento, [...] [significando] a aplicao do mtodo, atravs de processos e tcnicas, que garantem a legitimidade do saber obtido" (BARROS; LEHFELD, 2000b, p. 2). Por meio dela, "o aluno, o professor e o pesquisador conseguem um contato mediador do conhecimento [...] [pautado no] questionamento construtivo e reconstrutivo do objeto de pesquisa, possibilitando a colocao do saber no plano scio-histrico e poltico" (Op. cit, p. 2). Esse direcionamento pode ser observado no Quadro 1, que faz uma distino entre cincia, metodologia e mtodo:

Captulo 2: Cincia: e Metodologia23

Quadro 1: Cincia - Metodologia - MtodoFonte: Baseado em BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos da metodologia cientfica: um guia para a iniciao cientfica. 2. ed. ampl. So Paulo: Pearson Educatiort do Brasil, 2000, p. 3.Por essa esquematizao, o mtodo entendido tanto em seu processo operacional (organizao da seqncia de atividades para chegar ao fim almejado), quanto intelectual (abordagem e anlise prvia e sistemtica do problema para a identificao das vias de acesso que permitem solucion-lo).Ao cursar a disciplina Metodologia Cientfica, o estudante universitrio desenvolve habilidades tericas e prticas, que facilitam o desenvolvimento do processo de investigao diante da necessidade de tomar decises oportunas na busca do saber e na formao do estado de esprito crtico, alm de adquirir hbitos inerentes ao processo de investiga-

24Manual de Metodologia da Pesquisa Cientficao cientfica, da sua importncia no meio universitrio. Os objetivos dessa disciplina so assim discriminados:a) anlise das caractersticas essenciais que permitem distinguir Cincia de outras formas de conhecer, enfatizando o mtodo cientfico e no o resultado;b) anlise das condies em que o conhecimento cientificamente construdo, abordando o significado de postulados e atitudes da Cincia hoje;c) oportunidades especiais para o aluno comportar-se cientificamente, levantando e formulando problemas, coletando dados para responder aos questionamentos, analisando-os e interpretando-os e comunicando resultados;d) capacitao do aluno para que ele leia criticamente a realidade e produza conhecimento;e) vetor de informaes e referenciais para montagem formal e substantiva de trabalhos cientficos: resenhas, monografias, artigos cientficos etc.f) fornecimento de processos facilitadores adaptao do aluno, integrando-o universidade, minimizando suas dificuldades e apreenses quanto s formas de estudar e, conseqentemente, de encontrar os meios de extrair o maior proveito do estudo (Op. cit., p. 7).Ela serve, ainda, para fornecer as diretrizes bsicas que promovem no aluno o interesse pela pesquisa cientfica, levando-o a inserir-se em projetos desenvolvidos por docentes ou sob sua orientao. Nesse momento, o trabalho do estudante passa a fazer parte da iniciao cientfica universitria.2.3 Iniciao Cientfica e Ps-graduaoA Iniciao Cientfica caracteriza-se como um instrumento de apoio terico e metodolgico, realizado nas universidades por meio de Programas Institucionais de Bolsas de Iniciao Cientfica (PIBIC), "que possuem cotas institucionais de bolsas de rgos como o Conselho Nacional

Captulo 2: Cincia: Metodologia e Mtodos25de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico - CNPq - e a Fundao de Amparo Pesquisa dos Estados - FAPES" (Op. cit., p. 13).A participao em programas de iniciao cientfica, por meio de bolsa ou como voluntrio, coloca o aluno em contato com o ambiente da produo cientfica acadmica, levando-o futuramente a ingressar em cursos de ps-graduao lato sensu e stricto sensu. Assim, a aprendizagem ocorrer nas aulas e durante a execuo de pesquisas cientficas, acompanhadas por orientadores experientes e especializados nas linhas de pesquisa (temticas) que norteiam os estudos que esto sendo realizados. Eles so os responsveis pelo repasse da prtica adquirida com a pesquisa para seu orientando, de forma que este consiga realizar satisfatoriamente o encaminhamento da pesquisa, comprovando o que foi proposto, com posterior defesa pblica, perante banca examinadora, visando aos ttulos de especialista, mestre, doutor e ps-doutor (Quadro 2).Na ps-graduao, a Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes) oferece bolsas que financiam a realizao de pesquisas no Brasil e no exterior. "Os ps-graduandos utilizam, [...] [na pesquisa], mais de 60 horas de dedicao semanal, enriquecendo seus prprios processos formativos". Nessa perspectiva, "a iniciao cientfica tem se mostrado um instrumento eficaz no processo formativo, despertando no aluno o interesse pela busca continuada do saber" (GUIMARES, 2004, p. 19) no somente na sala de aula, como tambm em atividades de pesquisa e produo cientfica, podendo ob-ter, inclusive, a publicao desses resultados em peridicos cientficos nacionais e internacionais, e sua apresentao em eventos (seminrios, congressos etc.) com o objetivo de demonstrar o que foi alcanado com a pesquisa, de submeter o trabalho avaliao de seus pares, aceitando, em muitos casos, suas contribuies/sugestes. O estudo cientfico, resultante dessa atividade, elaborado e apresentado na forma de trabalhos acadmicos (relatrio de pesquisa, monografia, trabalho de concluso de curso -TCC), dissertao e tese, antecedidos pelo projeto de pesquisa, necessrio no momento de se iniciar a pesquisa,

26Manual de Metodologia da Pesquisa Cientfica

Quadro 2: Estrutura Organizacional da Graduao e da Ps-graduaoFonte: Adaptado do artigo cientfico de RUIZ, Antnio Ibnez. Estrutura e gesto da educao superior. Cadernos do MEC. Braslia, Ministrio da Educao, p. 25-34, jun. de 2004.

Captulo 2: Cincia: Metodologia e Mtodos27por apresentar o roteiro bsico de sua realizao. Esses trabalhos so assim identificados:

Monografia um termo de origem grega, que etimologicamente significa: uma s (monos) e escrever (graphein). Na monografia, o estudante realiza o estudo aprofundado de um s assunto. Para a NBR 14724 (2002), trata-se de um documento que apresenta a descrio exaustiva de determinada matria, abordando seus aspectos cientficos, histricos, tcnicos, econmicos, artsticos etc. A dissertao - que tambm de origem grega, em que dis um prefixo indicador de separao e afastamento e sertare significa ajuntar, ligar, entrelaar - designa "um estudo terico de natureza reflexiva, que consiste na ordenao de idias sobre um determinado tema. Exige, por isso, a capacidade de sistematizao dos dados coletados, sua ordenao e interpretao" (SALVADOR, 1980, p. 35). Nela, realizado um amplo levantamento das referncias disponveis atualizadas, observando-se o rigor cientfico e metodolgico, sem, entretanto, a exigncia da originalidade e do ineditismo.A tese (tsis - ao de pr, de colocar) um estudo que aborda "um nico tema, que exige pesquisa prpria da rea cientfica em que se situa, com os instrumentos metodolgicos especficos'' (SEVERINO, 2002, p. 150). Salomon (1999, p. 267) completa essa explicao afirmando que se trata de "um trabalho [...] de alto nvel de qualificao, de contedo original, de profunda reflexo no tratamento das questes tericas, mes-

28Manual de Metodologia da Pesquisa Cientficamo quando se identifica com pesquisa emprica".2 Acrescenta, ainda, que ela contribui para "o avano do conhecimento cientfico naquela rea da especializao escolhida" e revela sua cientificidade pelo uso correto do mtodo cientfico. Exige-se da tese uma contribuio original e indita sobre determinado tema.Esses estudos so completados ao se alcanar os objetivos propostos, levando o pesquisador a experimentar a satisfao pessoal refletida na felicidade e na euforia do xito. Outro motivo de alegria o benefcio que eles podem trazer para a rea em que se inserem, contribuindo para o avano do conhecimento cientfico e, conseqentemente, da cincia.Durante essa jornada acadmica, o estudioso vai adquirindo experincia de pesquisa, que, em muitos casos, faz emergir o embrio do futuro cientista, pressupondo-se uma preparao acadmica, que teve seu incio na iniciao cientfica. Esse processo se desenvolve medida que ele executa as atividades de pesquisa, acumulando experincia e novas conquistas cientficas a cada estudo.2.4 Cientista: Cincia, Tcnica e Domnio do SaberPara Barros; Lehfeld (2000b, p. 46)"[...] [os] objetivos da Cincia so ainda determinados pela necessidade que o homem possui de compreender e controlar a natureza das coisas e do universo, compreendendo-as naquilo que elas encerram de certo, evidente e verdadeiro". Nesse sentido, a cincia realiza trs funes: descreve, explica e prev. Atualmente, tem ainda outros papis a desempenhar, como proporcionar: "[...] [aumentos] e melhoria de conhecimento; descoberta de novos fatos ou fenmenos; aproveitamento espiritual; aproveitamento material do conhecimento; estabelecimento de certo tipo de controle sobre a natureza" (FERRARI, 1982 apud Op. cit, p. 47), subdividindo-se em dois grupos: cincias formais e cincias fatuais (Quadro 3).2 "[...] emprica (que demanda mtodo indutivo: experimento, observao de campo. survey etc.)"- J a no-emprica, implica em processo dedutivo, recorrendo por isso demonstrao (SALOMON, 2001, p. 300).

Captulo 2: Cincia: Metodologia e Mtodos29

Quadro 3: Caracterizao, Esquematizao e Funo das Cincias Formais e FatuaisFonte: BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de metodologia cientfica: um guia para a iniciao cientifica. 2. ed. ampl. So Paulo: Pearson Education do Brasil, 2000, p. 49.A lgica e a matemtica compem as cincias formais, norteadas pelo mtodo dedutivo e seus objetos de estudo que "so aqueles que realizam imagens mentais, correspondentes s simbologias", estabelecidos por noes abstratas de grandeza e quantidade, e tendo como escopo a busca cientfica. Para elas, "uma proporo x demonstrada quando deduzida de proposies j assumidas como verdadeiras, como necessariamente decorrentes dos precedentes" (Op. cit., p. 48).

30Manual de Metodologia da Pesquisa CientficaJ as cincias fatuais englobam a fsica, a qumica, a biologia etc, que so precedidas de causas naturais; e a antropologia, a sociologia, a histria, a geografia, a filosofia, o direito etc. representam as causas humanas. Pelo princpio indutivo, essas cincias consignam a passagem de alguns para todos; ou seja, "de um presente conhecido para um futuro previsto", sendo impossvel a exigncia da certeza, como ocorre no caso das cincias formais, que elaboram conexes lgicas gerais para examinar casos particulares (Op. cit., p. 49). No aspecto cincia e tcnica,[...] [a] cincia emana da autoridade do conhecimento obtido por procedimentos metdicos, estabelecidos entre o mundo da realidade existente e o mundo mental, para obter o conhecimento do fenmeno. A tcnica revestida da autoridade da interveno profissional prpria de um dever, procedente da competncia da prestao de servios necessrios, da natureza da profisso como tal e das solicitaes da realidade (Op. cit., p. 50).A tcnica cientfica representa, ainda, uma prtica "racional, casual, explicativa e compreensiva justificada na respectiva Cincia que formaliza a formao profissional. Trata-se da utilizao dos conhecimentos expressos pelas teorias e leis sistematizadas para a obteno de resultados desejados" (Op. cit., p. 50). Nesse sentido, "constata-se que entre Cincia e Tcnica no h uma ruptura epistemolgica, mas h um encadeamento [...]. A tcnica utiliza as orientaes fornecidas pela Cincia sobre a realidade e transforma-as em programas e planos de execuo". Os processos de renovao e de inveno permitem o progresso cientfico mediante o "desenvolvimento e aperfeioamento dos instrumentos, tericos e prticos, utilizados nas pesquisas cientficas" (Op. cit., p. 50,51), orientados pelo paradigma do pensamento vigente.Do interior do conhecimento cientfico, emerge o cientista, que, por meio de suas atividades de pesquisa, contribui para a ampliao do conhecimento j acumulado, bem como para a construo, a reformulao e a transformao de teorias cientficas. Assim, "a principal necessidade para a formao dos cientistas contemporneos a ampliao considervel da comunicabilidade, em suas diferentes formas, nveis e processos, no cotidiano desses profissionais" (TRIGUEIRO, 2003, p. 5), incluindo-se nessa abordagem no apenas o uso de computadores e Internet, como

Captulo 2; Cincia: Metodologia e Mtodos31

tambm a ampliao dos canais de comunicao "nas instituies de ensino superior e na formao dos cientistas, atingindo desde as relaes interpessoais e o contato direto entre profissionais de diferentes reas e formaes, facilitando a troca de informaes e a compreenso de diferentes linguagens e concepes [...]" (Op. cit., p. 5).Essa interdisciplinaridade facilita a divulgao efetiva dos resultados das pesquisas realizadas para a sociedade como um todo. Alm disso, a prtica de seminrios e discusses temticas estimula a produo e a divulgao cientfica, incrementando a dimenso do intercmbio, propcio busca de novas solues de pesquisa para problemas j conhecidos.O cientista, em sua prtica e vivncia diria, deve lanar um olhar estratgico, "a partir da sua rea de atuao especfica, desenvolvendo esquemas de planejamento e avaliao [...] no contexto atual do desenvolvimento cientfico - tecnolgico" (Op. cit., p. 7), ultrapassando as barreiras do laboratrio e participando das discusses globais institucionais, buscando novas oportunidades, recursos e visibilidades.A sua capacidade criativa ocupa um lugar importante na vida acadmica, permitindo a inovao e a descoberta de novos caminhos pela pesquisa. A sua experincia acadmica, a sua prtica de trabalho de produo cientfica e a orientao de alunos na graduao e na ps-graduao, e os estudos regulares, acrescentando-se ainda o talento natural desenvolvido para a pesquisa, fazem do cientista algum privilegiado por utilizar o raciocnio diante da manipulao experimental e da mente em lugar dar mos, indicando a superioridade presente em sua ao (NEVES; LEITE, 2002, p. 172-173).Historicamente, essa profisso originou-se no sculo XVII, "quando a cincia moderna ou ocidental [...] [surgiu] com a revoluo copernicana, que [...] [explicava] o mundo natural, fsico, a partir de elementos racionais, frutos da inteligncia do homem [...]" (CALAZANS, 2002, p. 164).No incio, o cientista foi visto como um indivduo que estava frente de uma sociedade que se pretendia renovada, e naquele momento ele

32Manual de Metodologia da Pesquisa Cientifica[...] [representava] a possibilidade humana de negao do mundo das trevas, da superstio, do medo, dos desejos e desgnios divinos incontrolveis [...] [aparecendo] como agente promotor do progresso e do empreendimento coletivo rumo a uma sociedade utpica (Op.cit.,p. 171).De modo geral, sua figura era carismtica e pensava-se ser ele o condutor da civilizao para uma nova fase. Pautadas em uma responsabilidade social, cientfica e na coletividade, as sociedades construram uma imagem superdimensionada desse personagem, como se ele tivesse a capacidade de resolver todos os problemas da humanidade.Sob esse esteretipo, resistiu o cientista at o sculo XX, quando, nos anos 1930, passou a representar uma congregao regida apenas pelas leis da razo, significando-se pelo progresso e pela evoluo cientfica (JAPIASSU, 1997 apud Op. cit, p. 172). Algumas caractersticas lhe foram atribudas, entre as quais:1. Amor e dedicao pesquisa; 2. honestidade; 3. inteligncia; 4. imaginao; 5. curiosidade; 6. organizao (disciplina); 7. capacidade de trabalho; 8. interesse pelo estudo (leituras cientficas); 9. esprito critico; 10. esprito aberto novidade; 11. preocupao com seu papel na sociedade e com os efeitos de seu trabalho; 12. poder de concentrao; 13. rapidez no trabalho; 14. capacidade para trabalhar em equipe; 15. capacidade de redao; 16. desinteresse por outras atividades que sejam conflitantes com a tarefa do pesquisador; 17. desejo de reconhecimento e prestgio no meio cientfico internacional; 18. desinteresse por popularidade no meio leigo (MAIA, 1991 apud Op. cit, p. 172).No incio do sculo XXI, percebeu-se que essa viso do senso comum, que transformava o cientista em um ser humano diferente, foi estereotipada. Hoje, ele considerado uma pessoa que carrega consigo os mesmos problemas e as mesmas preocupaes relativas vida prtica do homem comum (Op. cit., p. 173). Entretanto, faz da dedicao pesquisa um dos principais objetivos de sua vida, abrindo mo de muitas outras atividades em nome do amor pesquisa, desenvolvendo uma satisfao pessoal que se reflete em sua conduta como pesquisador, pautando seu dia-a-dia em uma tica pessoal de responsabilidade social, objetivando a melhoria da qualidade de vida e assumindo papel fundamental no caminho das novas descobertas cientficas.

Captulo 2: Cincia: Metodologia e Mtodos332.5 Mtodos CientficosNa pesquisa cientfica, os termos "fatos" e "fenmenos" so utilizados com freqncia, havendo certa dificuldade em diferenci-los. Para Barros; Lehfeld (200b, p. 55), "os fatos acontecem na realidade, independentemente de haver ou no quem os conhea, mas, quando existe um observador, a percepo que ele tem do fato que se chama fenmeno", podendo inclusive ser observado de variadas formas, dependendo do paradigma do pesquisador.De acordo com Kuhn (1970, p. 232), o paradigma uma espcie de teoria formada por leis, conceitos, modelos, analogias, valores e regras para a avaliao de teorias e a formulao de problemas, princpios metafsicos e por exemplares (exemplos partilhados - estrutura comunitria da cincia), que so "solues concretas de problemas que os estudantes encontram desde o incio de sua educao cientfica, seja nos laboratrios, exames ou no fim dos captulos dos manuais cientficos".A forma do paradigma percebida pelo cientista. Na universidade, "os estudantes so estimulados a aplic-los na soluo de problemas e tambm a modificar e estender os modelos para a soluo de novos problemas" (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 25).Dessas consideraes, emerge o mtodo cientfico, que significa "um conjunto de processos mediante os quas se torna possvel chegar ao conhecimento de algo", acrescentando-se, ainda, que trata-se de um "conjunto de processos que o esprito humano deve empregar na investigao e demonstrao da verdade" (CERVO; BERVIAN, 1996 apud SOARES, 2003, p. 14). Nas concepes atuais (filosficas, fsicas e sociais), ele deve cumprir as seguintes etapas (BUNGE, 1974 apud BARROS; LEHFELD, 2000b, p. 60):a) descobrimento do problema ou lacuna em um conjunto de conhecimentos;b) colocao precisa do problema ou, ainda, a recolocao de um velho problema luz de novos conhecimentos;c) 34Manual de Metodologia da Pesquisa Cientificac) procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes do problema (dados empricos, teorias, aparelhos de medio, tcnica de medio etc);d) tentativa de uma soluo (exata ou aproximada do problema com o auxlio de instrumento conceitual ou emprico disponvel);e) investigao da conseqncia da soluo obtida;f) prova (comprovao da soluo, isto , confronto da soluo com a totalidade das teorias e das informaes empricas pertinentes);g) correo das hipteses, teorias, procedimentos ou dados empregados na obteno da soluo incorreta.Para Nascimento (2002, p. 17), a preocupao com o uso do mtodo cientfico no nova. Segundo ela,[...] desde a poca antiga os filsofos procuraram definir os meios que levariam ao fim almejado. Scrates se referia maiutica como o meio de encontrar conceitos universais. Plato usava a dialtica para superar a doxa (opinio) e chegar ao conhecimento verdadeiro (episteme), Aristteles construiu o silogismo lgico cujo princpio a deduo.Com esse direcionamento, os mtodos cientficos assumem papis primordiais na pesquisa cientfica, servindo para direcion-la no sentido da identificao dos caminhos a serem seguidos para o alcance dos objetivos almejados.2.5.1 Mtodos gerais (mtodos de abordagem) Mtodo DedutivoParte de verdades universais para obter concluses particulares, e muito requisitado na lgica e na matemtica, "as quais usando o raciocnio lgico partem de um princpio apriori, tido como verdadeiro, para chegar a verdades simples" (Op. cit, p. 17).A deduo pode ser analtica e formal ou silogstica. A silogstica "constituda por raciocnio composto de trs juzos ou proposies (duas

Captulo 2: Cincia: Metodologia e Mtodos35premissas e uma concluso), no oferecendo novos conhecimentos, no sentido investigativo, porque o seu ponto de partida sempre uma verdade universal" (Op. cit, p. 18), conforme sua regra geral:

Exemplo:

Todos os gatos possuem quatro patas. Se Xanduba um gato, Logo, ele possui quatro patas.Principais Tipos de Deduo: Regra de Modus Ponens(ou afirmao do antecedente-condicional)Tambm chamada de afirmao do antecedente, essa regra consiste em apresentar na primeira premissa "um enunciado condicional, sendo que [...] [na] segunda coloca o antecedente desse mesmo condicional; a concluso o conseqente da primeira premissa" (MARCONI; LAKATOS, 2000, p. 65), formando, com esse encadeamento, um argumento assim estruturado:Regra GeralSe A, ento B (antecedente geral condicional). Ora, A (conseqente afirmativo simples), Ento, B (concluso particular).

36Manual de Metodologia da Pesquisa CientficaExemplo:Rose no estudar, ser reprovada nas provas do concurso para professora. Ora, Rose no estudou. Ento, Rose ser reprovada.Regra de Modus Tollens(ou negao do conseqente-condicional)Denominada tambm de negao do conseqente, essa regra deriva "do fato de que a primeira premissa um condicional, sendo a segunda uma negao do conseqente desse mesmo condicional" (Op. cit, p. 66), conforme sua regra geral:Regra GeralSe A, ento B (antecedente condicional).Ora, no-B (negao do conseqente). Ento, no-A (concluso particular).Exemplo:

Se a gua for potvel, ento far bem sade. Ora, a gua no fez bem sade. Ento, a gua no era potvel.Em Soares (2003, p. 23), "a essncia da deduo est na relao lgica estabelecida entre as proposies e a concluso", acrescentando que isso ocorre, "de tal maneira que, ao se admitir as premissas, deve-se admitir tambm a concluso". Essa afirmao baseia-se, segundo ele, na regra lgica: "se as premissas so verdadeiras, ento, a concluso deve ser verdadeira".Mtodo Indutivo o mtodo cientfico caracterizado pelo seu tipo de argumento, que, partindo "de premissas particulares, conclui por uma geral [...] [possibilitando] o desenvolvimento de enunciados gerais sobre as observa-

Captulo 2: Cincia: Metodologia e Mtodos37es acumuladas de casos especficos ou proposies que possam ter validade universal" (OLIVEIRA, 1997 apud Op. cit., p. 32), constituindo-se na base do fazer cientfico, a partir do estabelecimento da "diferena entre os enunciados cientficos, das outras formas de expresso de conhecimento do mundo construdas pelo homem". Esse mtodo "[...] nasceu com a filosofia moderna e sua inteno de superar os critrios de verdade aceitos at o momento: a autoridade, a tradio, o preconceito, o hbito e a conjectura" (NASCIMENTO, 2002, p. 18), ultrapassando a simples observao. Diferentemente da deduo, "no parte de princpios e sim dos fatos resultantes de observaes, visando obteno de leis gerais, capazes de explicar a realidade" (Op. cit., p. 18).Quanto ao tipo, a induo pode ser: formal, analgica, estatstica e cientfica. A induo formal, tambm denominada induo completa, "equivale ao inverso da deduo e submetida unicamente s leis do pensamento, tendo como ponto de partida todos os casos de uma espcie ou de um gnero e no apenas alguns" (SOARES, 2003, p. 34), de acordo com o exemplo:Regra GeralSe H, Cv C2, C3,..., Cn (antecedente particular), ora, Cj, C2, C,..., Cn (conseqente mais geral), logo, H (concluso geral).Se o calor apodrece a laranja,Se o calor apodrece a banana,Se o calor apodrece a manga,ora, laranja, banana e manga so frutas,logo, o calor apodrece as frutas.Na induo analgica, tambm reconhecida como "induo por analogia", supe-se que "se duas ou mais coisas se parecem em certo sentido, tambm se parecero em outros" (HEGENBERG, 1975 apud Op. cit., p. 36). J a estatstica tem seu argumento sustentado "pelas premissas por razes puramente matemtica ou estatstica" (Op. cit., p. 37), conforme a frmula:

38Manual de Metodologia da Pesquisa CientificaFrmula:n% de F G.x Rx G.Soares (2003, p. 37) explica que F e G "so substitudas por predicados, x por um nome e n por um nmero entre 0 e 100, de forma tal que a probabilidade indutiva de um argumento estatstico n/100", como pode ser verificado:Exemplo:80% das mulheres casadas pretendem ser mes.Maria casada,logo, Maria pretende ser me.No caso da induo cientfica, criada por Galileu e aperfeioada por Bacon, tambm denominada induo incompleta, verifica-se que[...] no deriva de seus elementos inferiores, enumerados ou provados pela experincia, mas permite induzir, de alguns casos adequadamente observados (sob circunstncias diferentes, sob vrios pontos etc), e s vezes de uma s observao, aquilo que se pode dizer (afirmar ou negar) dos restantes elementos da mesma categoria (LAKATOS; MARCONI, 1983 apud Op. cit., p. 35).Para que ocorra a induo, alguns critrios devem ser observados, entre os quais: o nmero de observaes deve ser grande; as observaes devem ser repetidas sob ampla variedade de situaes; nenhuma proposio de observao deve conflitar com a lei universal derivada.Convm acrescentar que possvel um argumento indutivo ser falso, embora suas premissas sejam verdadeiras e, ainda assim, no

Captulo 2: Cincia: Metodologia e Mtodos39haver contradio. Isso ocorre quando h uma proposio de observao (hiptese) ou um conjunto delas logicamente possvel, porm inconsistentes, isto , se estabelecidas como verdadeiras, falsificariam o argumento.Exemplo 1:Todas as frutas que caem das rvores frutferas esto maduras.Exemplo 2:O gato 1 possui cinco patas.O gato 2 possui cinco patas. O gato 3 possui cinco patas. Xanduba um gato, logo, Xanduba possui cinco patas. Mtodo Hipottico-dedutivoDesenvolvido por Karl Popper e reproduzido em sua obra A lgica da investigao cientfica (1935), esse mtodo representa uma tentativa de equilbrio entre os mtodos indutivo e dedutivo, como pode ser observado no diagrama que segue:

40Manual de Metodologia da Pesquisa CientficaSua explicao baseia-se na experimentao e consiste[...] na construo de conjecturas, as quais deveriam ser submetidas a testes, os mais diversos possvel [sic], crtica intersubjetiva e ao controle mtuo pela discusso crtica, publicao crtica e ao confronto com os fatos para ver nos quais as hipteses que sobrevivem como mais aptas na luta pela vida, resistindo s tentativas de refuta-o e falseamento (SOARES, 2003, p. 39).Alm disso, para que ele possa ser usado na pesquisa, necessrio que o pesquisador observe suas etapas. So elas:O mtodo hipottico-dedutivo deve partir de um problema (Pt) ao qual se d uma soluo provisria, chamada (TT) teoria-tentativa, passando-se depois a criticar a soluo com o objetivo de se eliminar o erro (EE). Depois, renova-se esse

processo ao qual se seguem novos problemas (P2; P3; P4etc.) (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 95).Esse mtodo tem papel decisivo na cincia, especialmente nas reas humanas e sociais, sobretudo no aspecto da observao, entendida como "atividade com um objetivo (encontrar ou verificar alguma regularidade que foi pelo menos vagamente vislumbrada); trata-se de uma atividade norteada pelos problemas e pelo contexto de expectativas ('horizonte de

Captulo 2: Cincia: Metodologia e Mtodos41expectativas')" (POPPER, 1977 apud Op. cit, p. 97). Esse posicionamento permite concluir que as conjecturas ou hipteses precedem observao ou percepo, assim como que o problema est em quem, na verdade, desencadeia a pesquisa. Assim, toda investigao nasce de um problema terico ou prtico que, por meio das conjecturas, deve ser solucionado, e, quando isso ocorre, surge um novo problema que tambm deve ser solucionado, e assim sucessivamente. Mtodo DialticoA dialtica surgiu da necessidade de se perceber a realidade em suas diversas facetas, estando pautada em leis fundamentais. So elas:a) Mudana dialtica: a anttese a negao da afirmao tese, sendo por sua vez negada pela sntese que, por ser negao da negao, torna-se uma nova afirmao, diferente da tese.

A nova afirmao (tese) possui as propriedades da tese inicial, mas diferente dela.b) Ao recproca: nenhuma coisa est acabada, mas tudo se encontra em constante mudana, transformao e desenvolvimento, todas as coisas esto interligadas e so interdependentes.Na dialtica, "as coisas no so analisadas na qualidade de objetos lixos, mas em movimento: nenhuma coisa est acabada, encontrando-se sempre em vias de se transformar, [se] desenvolver; o fim de um processo sempre o comeo de outro" (Op. cit., p. 101). Alm disso, nada

42Manual de Metodologia da Pesquisa Cientficaexiste isoladamente, de forma independente, tudo est interligado, em uma situao de interdependncia.c) Contradio (interpenetrao dos contrrios): as coisas, por possurem um lado positivo e um negativo, contm em si mesmas o princpio da contradio ou do movimento (luta entre os contrrios).Essa lei se encontra pautada em alguns princpios; so eles (Op. cit.,p.l05):a) a contradio interna - toda realidade movimento e no h movimento que no seja conseqncia de uma luta de contrrios, de sua contradio interna, isto , essncia do movimento considerado e no exterior a ele.[...].b) a contradio inovadora - no basta constatar o carter interno da contradio. necessrio, ainda, frisar que essa contradio a luta entre o velho e o novo, entre o que morre e o que nasce, entre o que perece e o que se desenvolve. [...]c) unidade dos contrrios - a contradio encerra dois termos que se opem: para isso, preciso que seja uma unidade, a unidade dos contrrios. [...] apresentando-se em sua unidade indissolvel.Alm disso, nessa ligao recproca, esse processo, em um dado momento, converte um contrrio em outro, por exemplo, o dia (12 horas) e a noite (12 horas), o dia se transforma em noite, e vice-versa (Op. cit., p. 105), representando, assim, uma luta constante no desenvolvimento e no movimento, baseada na contradio.d) Passagem da quantidade para a qualidade: a explicao de como acontece a transformao. H mudanas contnuas que, acumulando-se, acabam por produzir uma mudana brusca.Isso significa, em outras palavras, que a mudana das coisas no podem ser indefinidamente quantitativa; mas que, em um determinado momento, sofrem mudanas qualitativas, ocorrendo na forma de transformaes contnuas (Op. cit., p. 104).

Capitulo 2: Cincia: Metodologia e Mtodos432.5.2 Mtodos especficos (mtodos de procedimento)Esses mtodos tm como finalidade explicar os fenmenos de forma menos abstrata.Mtodo ComparativoEsse mtodo foi desenvolvido por Tylor e procura identificar similitudes e diferenas entre grupos, pessoas, sociedades, organizaes etc. Seu objetivo entender o comportamento humano no s no presente, como tambm no passado. Ele se prope a explicar o fenmeno por meio da anlise completa de seus elementos,Mtodo HistricoO mtodo histrico foi elaborado por Franz Boas e preocupa-se em estudar o passado das atuais formas de vida social, as instituies e os costumes para compreender o passado, entender o presente e predizer o futuro, verificando no apenas a influncia do fato e do fenmeno, como tambm sua formao, modificao e transformao durante determinado espao de tempo.Mtodo MonogrfcoEsse mtodo originou o trabalho monogrfico que hoje conhecemos. Foi elaborado por Frederico Le Play, e preocupa-se em executar um estudo aprofundado e exaustivo sobre determinado assunto, buscando sua generalizao.Mtodo EstatsticoO princpio da estatstica foi desenvolvido por Quetelet e permite a transformao dos dados qualitativos em resultados quantitativos por meio de representaes que demonstram a constatao de relaes entre os fenmenos, objetivando generalizaes sobre sua natureza, ocorrncia e significado.Mtodo TipolgicoNeste mtodo, elaborado por Max Weber, so confrontados fenmenos sociais complexos. Nele, o pesquisador cria modelos ideais, com base na anlise de seus aspectos essenciais. Como no existem na rea-

44Manual de Metodologia da Pesquisa Cientificalidade, esses modelos estabelecem caractersticas que determinam o tipo ideal para um caso concreto. FuncionalistaEm seus estudos, Bronislaw Malinowski considera "que a sociedade formada por partes componentes, diferenciadas, inter-relacionadas e interdependentes, satisfazendo, cada uma, funes essenciais da vida social, e que as partes so mais bem entendidas compreendendo-se as funes que desempenham no todo" (Op. cit., p. 110), dando origem, assim, a um mtodo que estuda a sociedade do ponto de vista de um sistema organizado, reunindo uma trama de aes, de relaes sociais e de instituies correlacionadas, que agem e reagem umas em relao s outras, de forma dependente e equilibrada.Entretanto, ele acrescenta que, se uma dessas partes perde o controle, ela entra em disfuno ou anomia, e isso se reflete sobre o todo (sistema), causando, conseqentemente, a desorganizao e o desequilbrio social. Mtodo EstruturalistaMtodo desenvolvido por Lvi-Strauss, que "parte da investigao de um fenmeno concreto, eleva-se a seguir ao nvel abstrato, por intermdio da constituio de um modelo que represente o objeto de estudo retornando por fim ao concreto, dessa vez, como uma realidade estruturada e relacionada com a experincia do sujeito social" (Op. cit,p. 111), servindo para a anlise do fenmeno sob seus diversos aspectos. Mtodo FenomenolgicoA fenomenologia, representada por esse mtodo, foi desenvolvida por Edmund Husserl e preocupa-se em entender o fenmeno como ele se apresenta na realidade. No deduz, no argumenta, no busca explicaes (porqus), satisfaz-se apenas com seu estudo, da forma que constatado e percebido no concreto (realidade). Para Oliveira (1997, p. 66), ele "consiste em isolar num fenmeno influncias para estud-lo e us-lo, embora suas ligaes abandonadas possam, mais tarde, ser leva-

Captulo 2: Cincia: Metodologia e Mtodos45das em considerao" durante a verificao e a comprovao dos resultados obtidos. Mtodo de Pesquisa-aoEste mtodo, elaborado por Michel Thiollent, possibilita a participao dos investigados na pesquisa, do incio at o final, de tal forma que os resultados analisados possam levar a comunidade a perceber e a superar seus desequilbrios, identificando-os, e, em um segundo momento, propondo aes de mudana que venham a benefici-los.2.5.3Outros mtodos Mtodo ClnicoEm sua realizao, esse mtodo utiliza estratgias metodolgicas que permitem o acesso indireto aos fenmenos da conscincia, chegando ao inconsciente. Ele muito empregado na Psicologia, no possibilitando, entretanto, generalizaes, j que seus estudos so individuais. Mtodo ExperimentalEsse mtodo procura comprovar o fenmeno por meio da experimentao provocada, consistindo em observao, manipulao e controle de seus efeitos, em uma dada situao, "introduzindo uma modificao voluntria de uma varivel dependente" (NASCIMENTO, 2002, p. 26). Ele muito adotado em Cincias Fsicas e Naturais.2.5.4Relao entre os mtodos cientficos esuas aplicaesUma das preocupaes da Metodologia Cientfica a relao entre os mtodos de investigao e os fenmenos, considerando a cincia estudada, conforme segue:

46Manual de Metodologia da Pesquisa CientficaMTODOSCARACTERSTICASAPLICAO

Dialtico[...] [constri] um novo sistema de hipteses a partir da negao da anterior (tese, anttese, sntese)Pesquisas de carter qualitativo nas reas sociais

FenomenolgicoConsiste em colocar um fenmeno entre parnteses, ou seja, isolado, para estud-lo como se [...] [estivesse livre] de qualquer influncia, a no ser as consideraes do sujeito que conhecePesquisas nas reas de educao, artes, qumica

ExperimentalPermite o estabelecimento de relaes de causa e efeito, [...] [por meio] da induoPesquisas fsico-qumicas

AnalgicoPermite, com base em certas semelhanas observadas, concluir outras, ainda no observadasPesquisas na rea de zoologia e botnica

Monogrfico (estudo de caso)Permite, mediante o estudo de casos isolados ou de pequenos grupos, entender determinados fatos sociaisPesquisassociolgicas e educacionais

ComparativoViabiliza a comparao de variveis sociais, econmicas, polticas e histricas para prever a eficcia de medidas socioeconmico-polticasPesquisas econmicas, sociolgicas, histricas e jurdicas

CompreensivoPermite o estudo do contedo de aessociais, seus significados e motivosPesquisas sociolgicas

MorfolgicoPermite a determinao de grupos de elementos que podem ser parte de um conceito morfolgico ou de uma mquinaPesquisas de inovao tecnolgica e astronmica

Quadro 4: Os Mtodos e suas Diversas Aplicaes por rea de ConhecimentoFonte: NASCIMENTO, Dinalva Melo do. Metodologia do trabalho cientfico. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 28.Assim, para o encaminhamento satisfatrio de uma pesquisa, necessrio que sejam estabelecidos os mtodos que a nortearo; por meio deles que os resultados da investigao estaro garantidos. Esse o caminho para se buscar as verdades cientficas.

CAPTULO 3Pesquisa Cientfica; Construo do SaberPesquisar significa encontrar novos saberes cientficos que permitam o avano da cincia, ao mesmo tempo que se soluciona uma dificuldade que no se pode resolver automaticamente, mas apenas por meio de estudo conceituai ou emprico,3 com base em fontes de informao.Em Salomon (2000, p. 149), pesquisar significa[..,] buscar novos conhecimentos cientficos [...] que podem conduzir averiguao do novo no mundo do saber. Seja no nvel individual, seja no institucional, a pesquisa ser sempre uma fora propulsora que nos impulsiona do mundo conhecido para o desconhecido, daquilo que j sabemos (ainda que limitado e vago) para aquilo que vemos e conseguiremos conhecer. Nunca portanto, um ato gratuito de criao, pois ningum cria algo a partir do nada, do zero absoluto.Para ele, a pesquisa requer esforo, imaginao criativa e dedicao. Entretanto, em qualquer de seus nveis, ela "supe sempre mtodo, reflexo analtica e crtica, tanto em relao ao objeto que est sendo pesquisado como em relao aos mtodos postos em prtica no descobrimento e na prova dos resultados". Acrescente a isso que, metodologicamente, ela opera em trs nveis. So eles: "1- o da procura, da descoberta; 2 - o da justificao, da demonstrao, da prova; e 3 - o da aplicao do conhecimento' Termo de origem grega, empeiria, que significa experincia. " uma doutrina que afirma que a nica fonte de nosso conhecimento a experincia recebida e experimentada pelos nossos sentidos" {OLIVEIRA, 1998, p. 52).

48Manual de Metodologia da Pesquisa Cientficaencontrado e/ou comprovado" (Op. cit, p. 150), exigindo sempre a presena de um problema para que se possa dar incio investigao cientfica. De forma genrica, o termo pesquisa significa um "trabalho empreendido metodologicamente, quando surge um problema, para o qual se procura a soluo adequada de natureza cientfica"(SALOMON,2001,p. 152).3.1 ObjetivoA pesquisa cientfica permite a formao e a ampliao do esprito cientfico e da conscincia crtica do investigador, por consistir na observao dos fatos tal como ocorrem de forma espontnea, na coleta dos dados e no registro de variveis presumivelmente relevantes para as anlises posteriores. As variveis so decorrentes das hipteses e "servem para mostrar as alteraes em termos de valores, aspectos, propriedades, quantidades, qualidades, magnitudes, traos, peso, forma, que se alteram na hiptese, possibilitando que estas sejam submetidas a testes" (OLIVEIRA, 1998, p. 86). Elas podem ser independentes e dependentes. A independente existe naturalmente em decorrncia da hiptese e influencia a dependente, que, por sua vez, sofre essa ao (necessidade) para que os resultados sejam obtidos e, em conseqncia, possam ser descobertos, explicados e testados.Sem pesquisa, no h progresso. A pesquisa " um processo reflexivo, sistemtico, controlado e crtico que conduz descoberta de novos fatos e das relaes entre as leis que regem o aparecimento ou a ausncia deles" (BARROS; LEHFELD, 2000b, p. 68).Isso quer dizer, em outras palavras, que "toda pesquisa parte da observao da realidade e deve retornar a ela para aplicar e testar seus resultados ou para delimitar novos fenmenos para o estudo" (Op. cit., p. 68). Assim, os objetivos da pesquisa so o estudo e a compreenso do fato ou do fenmeno da realidade com a finalidade de encontrar respostas novas para questes j formuladas que necessitam de solues, superando "o simples levantamento de fatos e coleo de dados, buscando articul-los no nvel de uma interpretao terica" (SEVERINO, 2002, p. 149), para assim demonstrar e desenvolver um raciocnio lgico, condio necessria para a construo do conhecimento.

Captulo 3: Pesquisa Cientfica: Construo do Saber493.2 CaractersticasDe modo geral, a pesquisa pode ser caracterizada de forma qualitativa, considerando os seguintes aspectos (Op. cit, p. 145-149): Interesse pessoal: o pesquisador, ao escolher sua temtica, deve considerar seu envolvimento com o que deseja investigar, sobretudo porque, durante a realizao da pesquisa, o objeto selecionado passa a fazer parte de sua vida, independentemente de seu nvel, tornando-se uma problemtica que ser vivenciada desde o levantamento das fontes e a coleta de dados at sua anlise e apresentao dos resultados, constituindo-se, portanto, em um ato poltico; Relevncia social: ao determinar o objeto de pesquisa, delimitar o tema e formular o problema, o pesquisador dever ter em mente os benefcios diretos e/ou indiretos de seu trabalho para a humanidade; Relevncia cientfica: ao iniciar a pesquisa, importante que seja estabelecida sua relevncia cientfica, determinando as contribuies que ela trar para o campo da investigao cientfica, que permitiro o avano da cincia; Autonomia: o investigador, com sua iniciativa, desenvolve a capacidade de interao com as fontes de informao, com outros pesquisadores e com outras pesquisas j realizadas sobre o assunto abordado, mas a pesquisa requer, ainda, um grande esforo individual e habilidade para se lidar de forma clara, simples e objetiva com as pessoas e os dados obtidos, por meio de uma inter-relao enriquecedora; Postura dialtica: medida que a pesquisa se desenvolve, o pesquisador assume uma conduta dialtica, representada pelas negaes e afirmaes que incrementam seu pensamento, estabelecendo um debate entre o objeto de pesquisa e as fontes consultadas, que resultar no surgimento de novas idias, nascidas da observao, da experimentao e da experincia unida intuio; Audcia: o pesquisador audaz aquele que inova no mbito do conhecimento cientfico, criando, avanando, e no apenas repetindo o que j foi dito e discutido anteriormente. Ele no tem medo das

50Manual de Metodologia da Pesquisa Cientficacrticas, quer do orientador, quer da banca avaliadora, ou mesmo de colegas e de outros pesquisadores e/ou estudiosos do assunto;Criatividade: em qualquer nvel de realizao da pesquisa (graduao ou ps-graduao), a imaginao criativa do investigador pode contribuir no desenvolvimento da cincia, desde que baseada emfontes precisas de investigao e de forma disciplinada; Ineditismo: a vertente do tema que ser objeto de investigao, at ento no estudado ou aprofundado em trabalhos anteriores, apesar de tratar-se de um assunto j conhecido, proporcionando assim uma idia nova, que represente um progresso para a rea cientfica em que se situa;Originalidade: a forma e a viso terica e/ou prtica que ser dada ao tema, possibilitando uma abordagem diferente.Ao iniciar-se uma pesquisa, algumas indagaes bsicas ficam subjacentes:Sobre o que pesquisar?Qual pergunta responder? Que passos so necessrios para respond-la? Quais as provveis respostas a essa pergunta? Qual a confiabilidade e a garantia das respostas? De que ngulo, perspectiva, o assunto ser abordado? Qual a tese ou ponto de vista que se pretende defender?3.3 Critrios de CientificidadeExternos: reconhecimento do objeto pela comunidade cientfica; contribuio com idia nova e tica diferenciada para o objeto estudado;

Captulo 3: Pesquisa Cientfica: Construo do Saber51 utilidade cientfica, ao acrescentar algo novo ao que j se sabe no meio acadmico; descrio minuciosa das etapas, mtodos e tcnicas da pesquisa, de forma que outros pesquisadores possam continu-los ou contest-los; referencial terico atualizado (ltimos cinco anos), com o uso de fontes diversificadas (livros, artigos cientficos, monografias, dissertaes, teses, relatrios etc).Internos: apresentao dos resultados de forma coerente, sem contradies, conflitos de informaes, argumentao imprecisa ou concluses congruentes; a argumentao e a demonstrao devem ser suficientes para resistir s discusses contrrias; produes no repetitivas a respeito do assunto, possibilitando uma contribuio importante ao campo cientfico; manuteno da subjetividade nos limite da objetividade, controlando preferncias e preceitos pessoais.3.4 Antecedentes da PesquisaO desenvolvimento e a realizao de uma pesquisa cientfica seguem alguns passos que compem suas fases de elaborao:escolha e delimitao do tema; definio, diferenciao e estabelecimento do problema; determinao das hipteses de trabalho ou questes norteadoras (de acordo com a forma de abordagem); seleo e especificao das fontes primrias, secundrias ou tercirias (dependendo do tipo de pesquisa) para a coleta de informaes; definio das tcnicas e dos instrumentos de coleta de dados;

52Manual de Metodologia da Pesquisa Cientifica estabelecimento dos mtodos cientficos que nortearo a pesquisa; determinao da anlise e da interpretao dos dados e da forma de abordagem (qualitativa/quantitativa) que ser dada pesquisa.A partir desse momento, j pode ser elaborado o projeto de pesquisa,4 por meio do qual estabelecido um roteiro de todas as etapas necessrias realizao da pesquisa.3.5 Planejamento da PesquisaDeciso de pesquisar o desejo pessoal ou interesse institucional de realizar uma pesquisa por meio ou no de rgo financiador ou, ainda, em decorrncia de cursos de graduao e de ps-graduao.Estabelecimento dos objetivos (Por qu? Para qu? Para quem?) o momento em que o pesquisador define o que de fato deseja alcanar com a pesquisa. Os motivos podem ser: intrnsecos ou extrnsecos, tericos ou prticos, gerais ou especficos, a curto ou a longo prazo.Determinao de fontes e locais de pesquisa (Onde? Como? Quais?)Nesse momento, o pesquisador seleciona as fontes (primrias, secundrias e/ou tercirias) de consulta e/ou de coleta de dados, e determina suas localizaes e a forma de acesso a elas.Formao de equipes para a pesquisa (Quem? De que maneira?)Se a pesquisa requer uma equipe de trabalho, ento demanda o recrutamento e o treinamento de pessoas, com a conseqente determinao e especificao de tarefas e locais de pesquisa, bem como de instrumentos e equipamentos necessrios.4 Ver GONALVES, Hortncia de Abreu. Manual de projetos de pesquisa cientfica.So Paulo: Avercamp, 2003.

Captulo 3: Pesquisa Cientfica: Construo do Saber53 Recursos necessrios e cronograma (Quanto? Quando?) a previso dos gastos necessrios realizao da pesquisa e sua durao. importante que o pesquisador determine o prazo para finaliz-la e os recursos humanos e materiais para program-la e implement-la, com a definio de seu financiamento, relacionando-o com cada etapa de sua execuo.

CAPTULO 4Pesquisa Cientfica:Tipos e ModalidadesA finalidade da pesquisa "resolver problemas e solucionar dvidas, mediante a utilizao de procedimentos cientficos" (BARROS; LEHFELD, 2000a, p. 14) e a partir de interrogaes formuladas em relao a pontos ou fatos que permanecem obscuros e necessitam de explicaes plausveis e respostas que venham a elucid-las. Para isso, h vrios tipos de pesquisas que proporcionam a coleta de dados sobre o que se deseja investigar.Algumas razes para eleger uma pesquisa especfica so evidenciadas na determinao do pesquisador em realiz-la, entre as quais: as intelectuais, baseadas no desejo de ampliar o saber sobre o assunto escolhido, "atendendo ao desejo quase que genrico do ser humano de conhecer-se a si mesmo e a realidade circundante" (NASCIMENTO, 2002, p. 55). Nessa jornada, "chega-se a um conhecimento novo ou totalmente novo, isto , [...] [ele] pode aprender algo que ignorava anteriormente, porm j conhecido por outro, ou chegar a dados desconhecidos por todos. Pela pesquisa, chega-se a uma maior preciso terica sobre os fenmenos ou problemas da realidade" (BARROS; LEHFELD, 2000b, p. 68).4.1 Classificao das PesquisasDe acordo com Demo (1989 apud ANDRADE, 1997, p. 14), as pesquisas variam conforme seus gneros, podendo ser:a) terica, dedicada a estudar teorias;

56Manual de Metodologia da Pesquisa Cientficab) metodolgica, que se ocupa dos modos de se fazer cincia;c) emprica, dedicada a codificar a fase mensurvel da realidade social; ed) prtica ou pesquisa-ao, voltada para intervir na realidade social.Para Rey (1978 apud Op.cit, 1997, p. 14-15), as pesquisas podem ser:a) observaes ou descries originais de fenmenos naturais, espcies novas, estruturas e funes, mutaes e variaes, dados ecolgicos etc;b) trabalhos experimentais, que submetem o fenmeno estudado s condies controladas da experincia, abrangendo os mais variados campos; ec) trabalhos tericos, de anlise ou sntese de conhecimentos, levando produo de conceitos novos, por via indutiva ou dedutiva, apresentao de hipteses, teorias etc.H ainda uma classificao das pesquisas quanto sua natureza, objetivos, procedimentos e objeto (Op. cit, p. 15-16): Quanto naturezaPode constituir-se em um trabalho original ou resumo de assuntos preexistentes. Quanto aos objetivosPode apresentar-se em trs nveis: exploratria, descritiva e explicativa, assim discriminados: Exploratria: quando a pesquisa se encontra na fase preliminar, possibilitando sua definio e delineamento. Descritiva: quando o pesquisador apenas registra e descreve os fatos observados sem interferir neles. Explicativa: quando o pesquisador procura explicar os porqus das coisas e suas causas, por meio do registro, da anlise, da classificao e da interpretao dos fenmenos observados.

Captulo 4: Pesquisa Cientfica: Tipos e Modalidades57 Quanto ao procedimentoProcedimento a maneira pela qual so obtidos os dados necessrios para a elaborao da pesquisa; ele pode ser de campo (local da ocorrncia dos fatos) e de fontes de papel (bibliogrfica e documental). Quanto ao objetoClassifica-se em bibliogrfica, de laboratrio e de campo: Bibliogrfica: quando se utiliza as fontes secundrias e a tcnica de fichamento. De laboratrio: realizada de forma rgida e controlada, sem, porm, ser sinnimo de pesquisa experimental. Em Cincias Sociais, pode ser executada em campo. De campo: utilizada principalmente em Cincias Sociais, no tem o objetivo de produzir ou reproduzir fenmenos, embora isso seja possvel sob determinadas circunstncias.Segundo Vergara (2003, p. 46), a pesquisa, quanto aos fins, pode ser:a) exploratria;b) descritiva;c) explicativa;d) metodolgica;e) aplicada; ef) intervencionista.Assim, so vrias as classificaes que constam na literatura pertinente, conforme os critrios utilizados pelos autores.4.2 Tipos e Estruturaes BsicasH vrios tipos de pesquisas para a obteno de dados, e, de acordo com seus objetivos e propsitos, podem ser: Pesquisa bibliogrfica; Pesquisa documental;

58Manual de Metodologia da Pesquisa Cientfica Pesquisa terica, aplicada e de campo; Pesquisa de motivao e atitudes; Pesquisa sobre propaganda;

Pesquisa sobre produto; Pesquisa sobre vendas; Pesquisa de mercado;Pesquisa experimental;

Pesquisa-ao; Pesquisa expostfacto;Pesquisa descritiva;Pesquisa participante; Pesquisa histrica; Pesquisa etiolgica; Pesquisa exploratria; Pesquisa explicativa; Estudo de coorte; e Levantamentos.4.2.1 Pesquisa bibliogrficaTrata-se do primeiro passo em qualquer tipo de pesquisa; sua finalidade conhecer as diferentes contribuies cientficas sobre o assunto que se pretende estudar. O objetivo tambm revisar a literatura existente e no repetir o tema de estudo ou experimentao. Entende-se, assim, o motivo da reviso bibliogrfica ou reviso de literatura, que consiste em um levantamento do que existe sobre um assunto e em conhecer seus autores. Acrescentando-se ainda a necessidade do estado da arte (verificao do que j se produziu e publicou at o momento sobre o assunto).

Captulo 4: Pesquisa Cientfica: Tipos e Modalidades59Para Santos (2004, p. 20), a pesquisa bibliogrfica " aquela que desenvolvida a partir de material j elaborado, constitudo principalmente de livros e artigos cientficos [...]". Segundo Gil (2002, p. 59), "como qualquer outra modalidade de pesquisa, [ela] desenvolve-se ao longo de uma srie de etapas. Seu nmero, assim como seu encadeamento, depende de muitos valores, tais como a natureza do problema, o nvel de conhecimento que o pesquisador dispe sobre o assunto, o grau de preciso que se pretende conferir pesquisa etc", aliados facilidade de acesso a esse material e sua disponibilidade.4.2.1.1 Etapas da pesquisa bibliogrficaConsideraremos, aqui, a experincia vivenciada nessa rea pelos pesquisadores (Op. cit., p. 59):a) escolha do tema;b) levantamento bibliogrfico preliminar;c) formulao do problema;d) elaborao do plano provisrio do assunto;e) busca das fontes;f) leitura do material;g) fichamento;h) organizao lgica do assunto; e i) redao do texto.Os dados bibliogrficos so registrados em fichas documentais ou em arquivos (pastas) na memria do computador, distinguindo-se os mais significativos. Em seguida, o pesquisador organiza a redao provisria do trabalho (independente do tipo, nvel ou natureza), colocando em ordem os dados obtidos, a partir da preparao de um pr-sumrio. Convm lembrar que o texto deve ser redigido para ser entendido tanto pelo leitor visado (orientador/banca), como pelo pblico em geral, utilizando-se citaes que sustentem as afirmaes, atentando s normas formais de apresentao de trabalho acadmico e aos princpios de comunicao e expresso da lngua portuguesa. Para a coleta dessas fontes, emprega-se a tcnica de fichamento.

60Manual de Metodologia da Pesquisa Cientifica4.2.2 Pesquisa documentalEntende-se por documento "qualquer registro escrito que possa ser usado como fonte de informao" (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 169), por meio de investigao, que engloba: observao (crtica dos dados na obra); leitura (crtica da garantia, da interpretao e do valor interno da obra); reflexo (crtica do processo e do contedo da obra); crtica (juzo fundamentado sobre o valor do material utilizvel para o trabalho cientfico). Assim,[...] [regulamentos], atas de reunio, livros de freqncia, relatrios, arquivos, pareceres etc, podem nos dizer muitas coisas sobre os princpios e normas que regem o comportamento de um grupo e sobre as relaes que se estabelecem entre diferentes subgrupos. Cartas, dirios pessoais, jornais, revistas, tambm podem ser muito teis para a compreenso de um processo ainda em curso ou para a reconstituio de uma situao passada. No caso da educao, livros didticos, registros escolares, programas de curso, planos de aula, trabalhos de aula, trabalhos de alunos so bastante utilizados (Op.cit.p. 169).De origem latina, documentam significa todo material escrito ou no, que serve de prova, constitudo no momento que o fato ou fenmeno ocorre, ou depois, ampliando, assim, muito mais seu campo de atuao, pois considera tambm documentos como fotos, filmes e audiovisuais, quando forem necessrios. Nesse caso, so registros que possibilitam o acesso a processos de desenvolvimento, mudana de comportamento, vida diria etc, que compem as fontes primrias no-escritas. Lembrando-se, ainda, que referncias so fontes de coleta de dados documentais.O instrumento de coleta de dados da pesquisa documental a ficha, elaborada em papel A4 branco (210 X 290 mm), na qual o pesquisador define os tpicos mais importantes para a pesquisa. Em seu cabealho devem constar indicaes precisas sobre o documento utilizado.

Captulo 4: Pesquisa Cientifica: Tipos e Modalidades61

Fonte: Ficha documental da pesquisa: Condies exigidas e implicaes na preveno, controle e tratamento do Cholerae morbus no Brasil: o caso de Sergipe (1855-1865/1992-1998).A ficha deve ser direcionada para as necessidades da pesquisa e seu nmero de pginas depender da quantidade de informaes de que o investigador precisa, podendo ser digitada ou datilografada e preenchida de forma manuscrita. Aps a coleta, as fichas so organizadas cronologicamente em uma pasta-arquivo para posterior anlise e interpretao. Se o pesquisador preferir, podem ser arquivadas na memria do computador.Todo documento deve passar por uma avaliao crtica por parte do pesquisador, que levar em considerao seus aspectos internos e externos. No caso da crtica externa, sero avaliadas suas garantias e o valor de seu contedo. Normalmente, ela aplicada apenas as fontes primrias e compreende a crtica do texto, da autenticidade e da origem. Pode ser:

62Manual de Metodologia da Pesquisa Cientfica Crtica do texto: verifica se o texto autgrafo (escrito pela mo do autor). Trata-se de um rascunho? original? Cpia de primeira ou de segunda mo? Crtica de autenticidade: procura determinar quem o autor, o tempo e as circunstncias da composio. Pode-se utilizar testemunhos externos ou analisar a obra internamente para se descobrir sua data. Crtica da origem: investiga a origem do texto em anlise, j que ela fundamenta a garantia da autenticidade.No caso de um texto traduzido, convm ressaltar a necessidade de identificao do original, a fim de verificar a fidelidade da traduo. Segundo Fragata (1981, p. 40), a crtica externa aprecia o sentido e o valor do contedo e pode ocorrer em duas etapas. Na primeira, a crtica da interpretao - tambm denominada hermenutica, que significa interpretar, explicar - requer do investigador algumas qualidades. So elas:a) Domnio do vocabulrio e linguagem do autor. [...]b) Conhecimento das circunstncias, do ambiente e da influncia em que surgiu a obra. [...]c) Conhecimento da mentalidade do autor, seu carter; educao, formao, preconceito. [...]d) Atitude sincera de quem se deixa orientar s pela busca da verdade. [...]e) Penetrao para entender bem o texto e saber encontrar e ponderar as razes que se exigem para defender determinado sentido. [...]Na segunda, a crtica do valor interno da obra aprecia e forma um juzo de valor sobre a autoridade do autor.4.2.2.1 Locais de pesquisa, tipos e utilizao de documentosa) Arquivos pblicos (municipais, estaduais e nacionais): Documentos oficiais: anurios, editoriais, ordens regias, leis, atas, relatrios, ofcios, correspondncias, panfletos etc.

Capitulo 4: Pesquisa Cientfica: Tipos e Modalidades63 Documentos jurdicos: testamentos post mortem, inventrios e todos os materiais oriundos de cartrios. Colees particulares: ofcios, correspondncias, autobiografias, memrias etc. Iconografia: imagens, quadros, monumentos, fotografias etc. Materiais cartogrficos: mapas, plantas etc.b) Arquivos particulares (instituies privadas ou domiclios particulares): igrejas, bancos, indstrias, sindicatos, partidos polticos, escolas, residncias, hospitais, agncias de servio social, entidades de classe etc.Documentos eclesisticos, financeiros, empresariais, trabalhistas, educacionais, memrias, fotografias, dirios, autobiografias etc.Os documentos de primeira mo so aqueles que no receberam qualquer tratamento analtico; enquadram-se nessa categoria "os documentos conservados em arquivos de rgos pblicos e instituies privadas, tais como associaes cientficas, igrejas, partidos polticos etc.". J os de segunda mo so os "que de alguma forma j foram analisados" (GIL, 2002, p. 46) ou publicados.423 Pesquisa terica, aplicada e de campoO objetivo da pesquisa terica (ou pura) "ampliar generalizaes, definir leis mais amplas, estruturais, sistemas e modelos tericos, relacionar e enfeixar hipteses numa viso mais unitria do universo e gerar novas hipteses por fora de deduo lgica. Exige sntese e reflexo" (OLIVEIRA, 1998, p. 123). J a pesquisa aplicada tem por objetivo "pesquisar, comprovar ou rejeitar hipteses sugeridas pelos modelos tericos e fazer a sua aplicao s diferentes necessidades humanas" (Op.cit, 1998, p. 123).A pesquisa de campo - muito empregada em Sociologia, Psicologia, Poltica, Economia, Relaes Pblicas, Publicidade e Propaganda, Marketing e Turismo, Administrao e em outras reas do conhecimento cientfico - "consiste na observao dos fatos tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de dados e no registro de variveis [...] para posteriores anlises [...]" (Op. cit, p. 124).

64Manual de Metodologia da Pesquisa CientficaEsse tipo de pesquisa pode ou no incluir o survey (enqute) e se interessa pelo levantamento ou pela indagao sobre determinada comunidade, sociedade, instituio ou grupo social, caracterizado por uma estrutura suficientemente explicitada. Ela pode desenvolver-se nas seguintes formas:Estudo de casoObservaes controladas (estruturadas, padronizadas ou sistemticas e livres) Entrevistas Aplicao de formulrios Aplicao de questionrios Aplicao de testes e escalasEm alguns casos, convm adotar a anlise estatstica na avaliao e representao dos dados obtidos, conseguindo assim uma imagem mais completa e real dos fatos investigados, para solucionar o problema que se est estudando. Estudo de caso um tipo de pesquisa qualitativa, entendido como uma categoria de investigao que tem como objeto o estudo de uma unidade de forma aprofundada, podendo tratar-se de um sujeito, de um grupo de pessoas, de uma comunidade etc. So necessrios alguns requisitos bsicos para sua realizao, entre os quais: severidade, objetivao, originalidade e coerncia.De acordo com Bogdan (1982 apud TRIVIOS, 1995, p. 134-136), h vrias categorias de estudos de casos. So elas:a) Estudo de casos histrico-organizacionaisPreocupa-se com o estudo da vida de uma instituio, denominada unidade, como uma escola, um clube, uma universidade etc. Para realiz-lo, alguns passos devem ser seguidos:1 passo: partir do que j se conhece sobre o assunto;2 passo: coletar os dados (arquivos pblicos e/ou particulares);

Captulo 4: Pesquisa Cientfica: Tipos e Modalidades653 passo: levantar a bibliografia.Aps a concluso desses passos, deve-se elaborar o trabalho de pesquisa, cruzando os dados coletados e as referncias selecionadas.b) Estudo de casos observacionaisUtiliza como tcnica de coleta de dados a observao participante e ocorre em uma unidade pr-selecionada (escola, igreja, clube, sindicato, consultrio, cooperativa etc).Durante a coleta de dados, o pesquisador levanta informaes relevantes sobre a unidade, como:1 - O que faz?4 - Quais so os resultados?2 - Como faz?5 - Do que necessita?3 - Por que faz?6 - Como solucionar?E interessante que, aps as solues plausveis dos questionamentos anteriores, o pesquisador mantenha contato direto com as unidades e solucione de pronto, de comum acordo, as resolues imediatas dos considerados mais importantes.c) Estudo de caso denominado histria de vidaAqui, a tcnica empregada a da entrevista semi-estruturada. Normalmente, realizada com uma pessoa de relevo social (escritor, compositor, cientista, poltico, professor etc), podendo, entretanto, tambm ser feita com uma pessoa comum. Seu objetivo descobrir a histria de vida do pesquisado.O mesmo autor completa que, para a segurana do pesquisador, convm verificar a validade dos fatos apresentados. Quando necessrio, ele pode utilizar outras tcnicas de coleta de dados, como complementares (Op. cit., p. 136).d) Estudo de caso de uma comunidadeOcorre sempre com o auxlio de uma equipe de investigadores e d nfase a uma unidade em exame, ressaltando os pontos mais importantes e relacionando-os com o todo.

66Manual de Metodologia da Pesquisa Cientficae) Anlise situacionalRefere-se a eventos especficos que podem ocorrer em uma organizao; por exemplo, uma greve de professores (Op. cit., p. 136).f) Estudo microetnogrficoPreocupa-se em focalizar os aspectos especficos de uma realidade maior, como o comportamento dos alunos nos cursos de Direito de instituies particulares.g) Estudo comparativo de casosApresenta os casos de uma perspectiva histrico-estrutural, por meio do mtodo comparativo e de descries. Emprega procedimentos iguais em reas ou locais diferentes, repetindo os mesmos questionrios, e, aps a coleta, verificam-se as similitudes e as divergncias.h) Estudo multicasoEstuda um ou mais sujeitos ao mesmo tempo sem, contudo, compar-los. "Exemplo: estudo de duas escolas tcnicas que formam tcnicos contbeis (aspectos fsicos, histrias de suas vidas, evoluo, matrcula, tipo de professores, nmero de tcnicos formados, perspectivas dos estudantes em relao a seu futuro no mercado ocupacional)" (Op. cit., p. 136). Observaes controladas (estruturadas, padronizadas ou sistemticas e livres)Tanto no campo da Biologia quanto no das Cincias Sociais, a observao cientfica adquire importncia, principalmente quando o experimento difcil ou mesmo impossvel de se aplicar ao fenmeno estudado. Ela exige que o pesquisador seja curioso, paciente, objetivo e imparcial, devendo ser registrada, repetida e quantificada, com procedimentos rigorosos que facilitem a anlise estatstica dos dados.A observao apresenta algumas vantagens que fazem dela uma forma de pesquisa e tcnica de coleta de dados; a ela so atribudas algumas caractersticas. So elas (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 164):a) independe do nvel de conhecimento ou da capacidade verbal dos sujeitos;

Capitulo 4: Pesquisa Cientfica, Tipos e Modalidades67b) permite 'checar', na prtica, a sinceridade de certas respostas que, s vezes, so dadas s para 'causar boa impresso';c) permite identificar comportamentos no-intencionais ou inconscientes e explorar tpicos que os informantes no se sentem vontade para discutir; ed) permite o registro do comportamento em seu contexto temporal-espacial.No que se refere sua flexibilidade, as observaes podem ser estruturadas ou sistemticas e no-estruturadas ou as sistemticas, antropolgicas ou livres. Nas primeiras,[...] os comportamentos a serem observados, bem como a forma de registro, so preestabelecidos. So geralmente usadas quando o pesquisador trabalha com um quadro terico a priori que lhe permite propor questes mais precisas, bem como identificar categorias de observao relevantes para respond-las. Este tipo de observao muito usado para identificar prticas que a teoria indica que so eficazes e eventualmente pode usar alguma forma de quantificao (Op. cit., p, 164-165). [Nas segundas, essas exigncias no so necessrias].

Quanto ao nvel de quantificao, aparecem algumas variaes:1. sistema de sinal: quando registra-se apenas a presena ou a ausncia de um comportamento durante um perodo preestabelecido, sem preocupar-se com o ndice de freqncia ou o grau em que ocorre; [...]2. registro de freqncia: registra-se o comportamento cada vez que ele ocorre; [...]3. escalas: permitem estimar o grau de ocorrncia de determinado comportamento e julgar qualitativamente esse comportamento ou atividade observado (Op. cit, p. 165-166).Esses instrumentos podem ser combinados nas pesquisas qualitativas com observaes livres. Por fazer parte da pesquisa qualitativa, entende-se que observar "no simplesmente olhar. Observar destacar de um conjunto de objetos, pessoas, animais etc. (algo especificamente, prestando, por exemplo, ateno em suas caractersticas [cor, tamanho, idade, sexo etc.])". O fenmeno social observado pode ser um determi-

68Manual de Metodologia da Pesquisa Cientficanado evento social, simples ou complexo, que "tenha sido abstratamente separado de seu contexto para que, em sua dimenso singular, seja estudado em seus atos, atividades, significados, relaes etc." (TRIVINOS, 1995, p. 153).A observao controlada ou estruturada mais usada na pesquisa quantitativa, principalmente quando se deseja destacar traos especficos do fenmeno que se est estudando, verificando ao mesmo tempo as hipteses de trabalho. Ela utilizada sobretudo nos estudos experimentais, aliada a aparelhos de medio e registro.Outra modalidade de observao a livre que, ao contrrio da padronizada, ajusta-se tanto pesquisa quantitativa quanto qualitativa. Ela conta ainda com a amostragem de tempo (delimitao temporal da observa