Manual de Preparação

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    Porque Projectamos A Sombra Em 10 Lies

    Como criamos o Eu Falso

    Os pais utilizam variadas tcnicas e tentativas nos seus objectivos de reprimir

    determinados pensamentos, sentimentos e comportamentos nos seus filhos. Por vezesavanam com pedidos muito directos: os homens no choram!, ou mexer a (areferindo-se aos genitais) feio!, ou ainda no voltes a dizer essas coisas!

    Podem ainda faz-lo de maneira mais agressiva, como podemos observar numa lojaquando a me ralha com a criana, ou d umas palmadas ou bofetadas porque acriana mexe onde no deve.

    Mas a maior parte das vezes os pais moldam a criana de maneiras subtis, numprocesso a que se chama invalidao limitam-se simplesmente a no testemunharum comportamento ou a mostrar agrado por algo que a criana diz. Por exemplo, se ospais no do qualquer valor ao desenvolvimento intelectual, oferecem aos seus filhosbrinquedos ou inscrevem-nos em actividades ldicas, mas no lhes oferecem livrosnem estimulam a leitura. Se acreditam que as mulheres devem ser sossegadas efemininas e os homens fortes e assertivos, s mostram apreo por comportamentosrelacionados com o sexo da criana. Se o menino de 4 anos entra na sala com umenorme camio nos braos, podem afirmar algo como que homem forte!, mas se foruma menina a carregar o mesmo camio podem dizer cuidado! Olha que podesmagoar-te e sujar o teu lindo vestido!

    Contudo, a forma como os pais mais influenciam os seu filhos atravs do exemplo.

    As crianas, instintivamente, observam as escolhas que os pais fazem, as liberdades eos prazeres que se permitem, os talentos que desenvolvem, as capacidades queignoram, e as regras e valores que seguem. Tudo isto tem um efeito profundo nascrianas. O que as crianas vem : assim que ns vivemos. assim queconseguimos sobreviver. Esta socializao inicial importante, independentemente deas crianas aceitarem os modelos dos pais ou de se revoltarem contra os mesmos.

    A reaco de uma criana aos convencionalismos da sociedade segue um padrobastante previsvel. Inicialmente, a primeira resposta esconder os comportamentosproibidos pelos pais. A criana tem pensamentos de raiva mas no os expressa.Prefere explorar o seu corpo na privacidade do seu quarto. Pode implicar com osirmos mais novos quando os pais no esto presentes (ou abusar deles de muitasmaneiras). Com o decorrer do tempo, a criana chega concluso que alguns dospensamentos e sentimentos so to inaceitveis que deveriam ser simplesmenteeliminados. Assim, constri um pai imaginrio que policie os seus pensamentos eaces, criando aquilo que muitos psiclogos referem como o superego. A partir daqui,sempre que a criana tem um pensamento proibido ou tem um comportamentoinaceitvel, ir experienciar uma dor causada pela ansiedade do superego. Estaexperincia pode ser to desagradvel que a criana decide meter dentro de um sacoalguns dos seus aspectos proibidos. Ou seja, reprime certos pensamentos e aces. Opreo que paga por faz-lo a perda do ser total ou completo que .

    Para preencher o vazio criado, a criana cria um Eu Falso, uma estrutura psicolgicaque serve dois objectivos: ir camuflar as partes de si reprimidas e tambm proteg-la

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    de mais danos.

    Uma criana criada por uma me que reprime a sua sexualidade e distante, porexemplo, poder tornar-se no homem duro. A criana dir a si mesmo: No querosaber se a minha me distante e no me mostra afecto. Eu no preciso dessaslamechices. Eu desenrasco-me bem sem ajuda. E mais uma coisa: sexo uma coisasuja! Com o passar do tempo o menino ir aplicar esta resposta padro a todas assituaes. Independentemente de quem se queira aproximar dele, ir sempre criar amesma barreira. Mais tarde, quando por fim consegue ultrapassar a sua relutncia emrelao aos relacionamentos humanos amorosos muito provvel que critique a suacompanheira devido ao desejo desta de querer intimidade e um contacto sexual.Porque raio queres tu tantos carinhos e mimos? E porque s to obcecada com osexo?! Isto no normal!

    No entanto outra criana pode reagir mesma me, distante e sexualmente reprimida,de maneira oposta. Exagerando os seus problemas na esperana de algum a ajudar.Coitado de mim! Estou ferido, os outros magoam-me continuamente! Preciso que

    algum cuide de mim!

    Uma outra criana pode tornar-se gananciosa, tentando agarrar-se a cada pedao deamor, comida e objecto que veja, na certeza que nunca haver o suficiente.

    Independentemente da natureza do Eu Falso, o seu propsito sempre o mesmo:minimizar a dor de perder uma parte da criana original. O seu ser completo e divino.

    Contudo, a determinada altura do desenvolvimento da criana, esta forma engenhosade auto proteco torna-se na causa de mais danos, medida que a criana criticadapor possuir estas caractersticas negativas. Os outros iro criticar o seu distanciamento

    e frieza, ou a sua atitude de coitadinho, ou o ser gordo, ou o ser ganancioso. Os queatacam esta criana no conseguem ver as feridas que ela tenta proteger, e no ficammuito entusiasmados pela maneira astuta com que o faz: tudo o que vem a suanatureza neurtica. considerada inferior, menos que completa. Eventualmente acriana pode encontrar na mentira a nica forma de se proteger.

    aqui que a criana se sente numa encruzilhada. Por um lado tem que se agarrar aosaspectos de adaptao do seu carcter, porque servem um propsito til, mas poroutro lado no quer ser rejeitada. O que pode esta criana fazer? A soluo negar ouatacar a atitude dos que a criticam. Eu no sou frio e distante!, poder dizer em auto-

    defesa, na verdade sou forte e independente!. Ou eu no sou um coitadinho frgil,sou simplesmente muito sensvel. Ou ainda eu no sou ganancioso e egosta, soupoupado e prudente!. Por outras palavras, no de mim que esto a falar. Vocsapenas esto a ver-me sob uma perspectiva negativa.

    At certo ponto a criana tem razo. Os seus aspectos negativos no fazem parte dasua natureza original. So criados a partir da dor e tornam-se parte de uma identidadeassumida, um outro eu que a ajuda a viver num mundo complexo e muitas vezeshostil. Isto no quer dizer, contudo, que ela no possui estes aspectos negativos.Haver sempre um nmero de pessoas que afirmaro a sua existncia. Mas parapoder manter uma imagem positiva de si mesma, e aumentar as probabilidades de

    sobrevivncia, ela ter que negar a sua existncia.

    Estes aspectos negados iro tornar-se aquilo a que se chama de Eu Deserdado,

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    aqueles aspectos do Eu Falso que so demasiado dolorosos para serem reconhecidos.

    Vamos parar aqui por alguns instantes e ver em pormenor esta proliferao de Eus.At agora conseguimos criar com sucesso vrias fracturas no Eu Verdadeiro e Original,a natureza de amor e ser completo com a qual todos nascemos, em trs partesdistintas:

    1. O Eu Perdido, aquelas partes do nosso ser que reprimimos devido s exigncias dasociedade;

    2. O Eu Falso, a fachada que construmos para poder preencher o vazio criado por estarepresso e por uma falta de afecto;

    3. O Eu Deserdado, os aspectos negativos do Eu Falso que encontram reprovao nomeio que nos envolve e que, assim sendo, so negados.

    A nica parte desta colagem complexa que mantemos consciente aquela que fazparte da criana original e completa e que ainda se mantm intacta, assim como certosaspectos do Eu Falso. Estes aspectos juntos formam aquilo a que chamamospersonalidade a forma como nos descrevemos aos outros. o Eu Perdido encontra-sequase totalmente ausente da nossa conscincia: cortamos quase na totalidade todasas ligaes com estas partes reprimidas do nosso Eu. O Eu Deserdado (a Sombra), aspartes negativas do Eu Falso, fica alojado muito prximo da conscincia e ameaaconstantemente vir superfcie. Para o manter escondido, temos que o negaractivamente ou ento project-lo em outros.

    Eu no sou egosta! Tu que s pensas em ti! diremos veementemente. Ou Eu,preguioso?! Tu que no tens nunca tempo para desfrutar da vida!

    E dizemos isto com tanta energia quanta conseguimos utilizar.

    E assim, a pouco e pouco, a criana original, completa e divina, comea o processo deseparao e sofrimento. Eventualmente, por volta dos quarenta anos, comea aquestionar os seus relacionamentos, o seu trabalho, a sua famlia. Sem que seaperceba que tudo sua volta so projeces de si mesmo.

    A nica forma de, ento, libertar-se de todo o sofrimento que sente e que tambmcausa a outros, atravs de um abrao. Um abrao com amor por quem e por quemtem negado em si. Um abrao sentido a partir do corao. S aqui comea o

    verdadeiro retorno a quem sempre foi.

    Agora que comeamos a estar mais conscientes das razes porque a nossa vida como , podemos fugir e continuar a fingir que a vida complicada e difcil, oupodemos dar incio a um processo de cura interior.

    A solido

    Vivemos num planeta com mais de sete mil milhes de habitantes e, todavia, sentimo-

    nos cada vez mais s.

    Os motivos que nos levam a sentirmo-nos cada vez mais solitrios so vrios, mas ascausas so sempre as mesmas. Sentimo-nos na solido ou pelas coisas que

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    aconteceram nas nossas vidas, e gostaramos que voltassem a acontecer. Ou sentimo-nos envolvidos na solido pelas coisas que ainda no aconteceram e desejamosardentemente que aconteam. Em ambos os casos tudo um trabalho interior.

    Como podemos estar ss quando vivemos num mar de gente? Como podemos afirmarque os outros no nos compreendem quando ns prprios no sabemos quem somose muito menos sabemos pedir aquilo que desejamos?

    Conheo muitas pessoas que vivem em relacionamentos mortos, onde no h qualquerpartilha, excepto aqueles momentos em que a sombra comea a fazer algum barulho.Quando o marido chega tarde a casa. Quando os filhos tiram ms notas na escola.Quando a esposa se senta em frente televiso espera que sejam horas de ir dormir.E nunca, mas mesmo nunca, conseguimos arranjar uma hora para partilhar a nossavida com aqueles que so de facto importantes. E nunca, mas mesmo nunca, temos acoragem para dizer que no gostamos do caminho que estamos a percorrer comaqueles que nos deveriam dizer algo ao corao.

    O motivo est directamente escondido na nossa Sombra. Temos a sombra deescurido, em que projectamos tudo aquilo que rejeitamos em ns nos outros. Econseguimos assim um marido infiel, uma esposa prepotente, um filho preguioso, umpai dspota, uma me mrtir, um sogro frio e distante, uma sogra bisbilhoteira, umaamiga viperina e um patro sdico. E no temos tempo para nos aperceber que todasestas pessoas, que mexem emocionalmente connosco, com a nossa essncia, sosimples projeces dos nossos aspectos negados, rejeitados e atirados para o saco dainconscincia.

    Mas temos tambm a nossa sombra de luz. E a sombra de luz ainda mais pesada edifcil de carregar aos ombros. Ento atiramos com o que de melhor h em ns paracima dos outros. Para cima do marido que um exemplo da honestidade, a esposaque a pessoa mais carinhosa que conhecemos, o filho que um gnio, o pai quesabe ouvir os nossos problemas, a me que nos prepara as refeies mais saborosasdo mundo, o sogro que nos ajuda quando estamos preocupados, a sogra que pintaquadros maravilhosos, a amiga que capaz de uma empatia extraordinria, o patroque criativo como mais ningum.

    E mais uma vez estamos a projectar todas as nossas qualidades. E, eventualmente,temos que resgatar essas qualidades, traz-las para o nosso consciente e aplic-laspara uma vida mais.

    Mas como podemos ns resgatar a criatividade genial do nosso patro quando noestamos minimamente preparados para a pr em prtica? No podemos. necessriotodo um treino mental para que nos seja possvel abraar a nossa luz, o nosso OuroInterior.

    O trabalho do resgate do nosso Ouro Interior tem que comear sempre por um estudo,uma observao. Em que situaes seria de benefcio, para mim, possuir a criatividadedo meu patro? Em que situaes me seria til possuir o afecto da minha esposa?

    Para avanar neste processo iremos encontrar o maior obstculo de todos: o medo.

    o medo de sermos autnticos, verdadeiros nossa essncia, que nos impede debrilhar. E temos medo porque fomos ensinados h muitas geraes atrs, a ter medodo desconhecido. E, assim, perpetuamos este medo de nos descobrir, de nos

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    revelarmos a ns mesmos.

    Ento, o primeiro passo que temos que dar o de verificar quais as qualidades quevemos nos outros que tm um significado especial para ns. S o facto de estarmosconscientes destes aspectos ir ajudar-nos a dar o prximo passo.

    Atreva-se a sentir o medo de ser quem .

    A nossa histria

    Um dos motivos, seno o motivo principal, porque desenvolvemos uma sombra pessoale projectamos tudo o que rejeitado, prende-se com a nossa histria.

    Aquilo que nos aconteceu no passado e identificamos como sendo o que nos define.As aventuras e desventuras a que chamamos a nossa vida. Todos os eventos dopassado so por ns aceites como tendo ocorrido de uma maneira especfica,

    segundo, claro, a nossa perspectiva.Tente recordar-se de pelo menos 5 eventos do seu passado, da sua infncia, que o /atenham marcado de maneira negativa. Pode ser algo com uma carga emocional forte,como por exemplo o ser fisicamente castigado por ter partido uma jarra. Mas tambmpode ser algo sem muita importncia, como ter perdido um livro e um dos progenitoresdizer-lhe que s no perdeu a cabea porque estava agarrada ao corpo.

    Depois de escrever os eventos, verifique qual a lio que aprendeu devido a cada umdeles. Deixo-lhe o caso de uma cliente minha, para que fique com uma ideia.

    Teresa- Aos cinco anos o pai esqueceu-se de a ir buscar ao infantrio. Quando a me a

    foi buscar sentia-se abandonada. A lio que aprendeu aqui foi: eu no souimportante.

    - Por volta dos sete anos a me enganou-se no seu dia de aniversrio. A lioque aprendeu: no era ningum, no contava.

    - A sua melhor amiga mudou de cidade quando ela tinha 12 anos, sem teremtempo de se despedir. A lio que aprendeu: ningum d importncia aos meussentimentos.

    - Quando tinha 15 anos foi a melhor aluna da turma dela. Quando contou emcasa, a resposta do pai foi podias ter feito melhor. A lio que aprendeu aqui:nunca conseguirei agradar s pessoas que me so importantes.

    - Aos 18 anos entrou para a faculdade, para o curso que queria. No entanto ame ficou amuada com ela por ter escolhido um curso que no tinha muitassadas profissionais. A lio?... Nunca fao boas escolhas.

    Na verdade o que a Teresa aprendeu foi uma das trs lies que constituem a base davida de cada um de ns: Eu no sou importante.

    Ao longo da vida adulta, a Teresa foi provando a ela prpria que estava certa. E nesseprocesso conseguiu vingar-se dos adultos sua volta. Quando pedi Teresa para

    imaginar que escrevia um livro sobre a histria da vida dela, o ttulo que surgiu foiComo sofrer na vida sendo um Z-ningum.

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    Qual seria o ttulo do livro da histria da sua vida? Enquanto no souber exactamentequal o tema da sua vida, da sua histria, ser-lhe- muito difcil abandonar os seus actosde auto-sabotagem.

    As lies que os eventos da nossa vida nos ensinaram iro estar sempre entre osseguintes:

    - Ningum gosta de mim;- Eu no perteno em lado nenhum;- Eu sou estpido/a;- Eu sou incompetente;- Eu no sou bem-vindo/a;- Eu no sou especial;- Eu no sou merecedor/a;- Eu sou um/a inadaptado/a;- Eu sou insignificante;- A minha vida no conta para nada;- Eu sou um Z-ningum;- Eu no presto;- Eu sou um erro;- Eu sou mau/m;- Eu sou incompleto/a;- Eu no mereo ser amado/a;- Eu sou um/a falhado/a;- Ningum gosta de mim;- Eu no posso confiar em ningum.

    Estas lies so variadas mas todas elas iro encaixar-se em apenas um de trs

    grandes temas que fazem parte da vida de qualquer pessoa:

    - No sou suficientemente bom /boa;- Eu no sou importante;- H algo de errado comigo.

    E claro que cada um destes temas ir cair no Grande Tema de cada ser humano:Coitadinho de Mim!

    H coitadinhos mais coitadinhos que outros, claro! H pessoas cuja vida parece nosofrer grandes desafios e pessoas cujo dia-a-dia uma batalha. Mas que h um

    coitadinho em cada um de ns h espera de nos provar que tem razo, l isso h.Em que rea da sua vida se sente vtima? Onde que tem mais desafios, ouproblemas? Que tipo de emoo sente quando pensa nesse problema? Recorda-se daprimeira vez na sua vida em que sentiu a mesma emoo? O que tinha acontecido naaltura? Hoje tem o problema que tem para provar a si mesmo que, na altura tinharazo, que os outros no tinham o direito de o magoar, e ir criar continuamentesituaes que provoquem a mesma resposta emocional para poder punir os culpados.(Claro que se estivesse consciente deste processo seria capaz de o interromper).

    Para saber se est a viver a sua histria verifique o seu estado emocional. Quando

    estamos dentro da nossa histria podemos sentir:- Resignao;- A sensao que falta algo;

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    - Privao;- Ressentimento;- Vitimizao;- Solido;- Culpa;- Raiva;-

    Vergonha;- Desespero;- Falta de esperana;- Tristeza;- Medo;- Inveja;- Arrependimento;- Pena de si mesmo;- dio de si mesmo.

    Comece por identificar qual o tema da sua histria. S assim conseguir sair dela e

    mostrar ao mundo toda a sua luz, o seu brilho magnificente.

    A Histria Da Minha Vida

    Um dos motivos porque projectamos prende-se com A Histria Da Minha Vida.

    Esta histria a grande responsvel por no conseguirmos sair da rotina, dos conflitose das situaes de desalento. Quando ainda crianas crimos uma ideia sobre quemramos e aderimos de tal maneira a esta ideia que passamos o resto das nossas vidasa repetir padres de pensamento, hbitos, emoes e comportamentos.

    Para que comece a tornar-se consciente da Sua Histria deixo-lhe o exemplo da Minha.

    Ao analisar vrios eventos da minha infncia e adolescncia consegui ver que o temada Minha Histria : Eu No Sou Merecedor.

    Mais tarde irei mostrar-lhe todos os benefcios de acreditar que no era merecedor.Mas primeiro temos que ver o que acontece como resultado deste tema.

    Porque no me sentia merecedor deixei que outros abusassem de mim, me utilizasseme ainda ficasse sempre para segundo lugar. Por exemplo, sacrifiquei muitos momentos

    em que podia descansar para poder estar disponvel aos outros. Deixei que outrosutilizassem o meu nome para benefcio prprio. Perdi dinheiro, para que outrospudessem sentir-se melhor. Lembro-me, por exemplo, de ser convidado para jantares efestas onde nunca me divertia porque estava sempre em modo de consulta: adispensar conselhos e fazer tratamentos aos convidados com problemas de sade. Eracapaz de sair de casa s onze da noite para ir ver algum que estava mal! E apesar deestar na verdade a trabalhar, nunca tinha coragem de cobrar pelos meus servios.Porque... No era merecedor!

    Algumas das situaes mais cmicas (hoje, na altura no o foram!): pediram-me mileuros emprestados embora ao certo seriam mais cinquenta ou cem euros... E eupassei um cheque em branco! Claro que aconteceu o mais provvel: a pessoaescreveu no cheque mais de dois mil euros! Que nunca devolveu! Hoje rio-me dasituao porque ela me foi til. Mas na altura... Doeu!

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    Ainda hoje tenho momentos em que mergulho completamente na minha histria. Porexemplo, esta manh! Enquanto cortava a barba, olhando-me ao espelho, comecei omonlogo que sou capaz de reconhecer como fazendo parte da minha histria: Pois,j que vou a Itlia podia aproveitar para ser Iniciado em .... Mas preciso de mil eoitocentos euros... Fica muito caro... melhor deixar para outra altura... No sei comovou fazer isto...

    De repente a luzinha vermelha comeou a piscar! Ok, Emdio. Ests completamentedentro da tua histria! Vamos l sair!

    E como samos da nossa histria? Uma das formas alterando o monlogo interior.Mas para mudar este monlogo temos que ser capazes de discernir quando estamosdentro da nossa histria. Temos que questionar cada pensamento.

    O que voc pode fazer: em primeiro lugar tente recordar-se de quatro ou cinco eventosda sua infncia e/ou adolescncia e veja o que aprendeu em cada um deles. Assim,comear a ver qual o tema da sua histria. Descobrir o tema um passo importante,sem o qual no conseguir avanar.

    Temos que possuir a humildade suficiente para saber que na verdade no sabemosque experincias precisamos para sermos o ser completo e divino que reside dentro dens.

    Com cada experincia negativa temos que nos perguntar:

    - Porque preciso desta experincia?- O que posso aprender com esta experincia?- De que maneira posso ser til a outros agora que passei por esta

    experincia?

    Uma coisa pode aceitar j como garantida: nos ingredientes negativos da sua histriaque se esconde a sua sabedoria.

    Comece por aceitar o facto de que a sua histria no m. Antes pelo contrrio! Mas sempre limitadora.

    Depois de descobrir o tema da sua histria identifique dez padres de pensamento,hbitos, emoes e comportamentos que lhe digam sem sombra de dvida estar dentroda sua histria.

    Por exemplo, quando estou dentro da minha histria, eu:- Preocupo-me com situaes financeiras;- Penso s nos outros e esqueo-me do meu bem-estar;- Como chocolates;- Bebo muito caf;- Sou extremamente simptico;- Deixo para amanh o que podia fazer hoje;- No tenho tempo para planificar o dia;- Preocupo-me com o que os outros podero dizer de mim;- Estou muito tempo a viajar na internet;- Sinto-me insatisfeito com o que j tenho.

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    Quando estou fora da minha histria, eu:

    - Sei que o dinheiro que preciso aparece no momento certo;- Penso no meu bem-estar antes de ajudar outros;- Fao uma alimentao saudvel;- Bebo no mais que um caf;- Bebo muita gua;- Digo s pessoas o que precisam de ouvir, e por vezes no sou nada

    simptico;- Consigo fazer tudo o que tinha planeado para o dia;- Nem penso no que os outros podero dizer de mim;- Vou internet buscar o correio e viajo durante um mximo de trinta

    minutos;- Sinto-me grato e contente pela minha vida.

    Assim, fcil saber quando estou dentro da minha histria e quando estou fora. Mas opasso tambm importante escrever 10 padres de comportamento, pensamento,

    hbitos e emoes que posso utilizar para sair da minha histria sempre que meapanho dentro dela. Isto importante porque apesar de saber que estou dentro daminha histria, uma vez dentro difcil sair. Ento temos que criar gestos positivos parasair. Pode ser to simples como afirmar Ah! C estou eu na minha histria! Vamos lsair!. Mas pode ainda ser fazer uma meditao, yoga, gritar, danar... O importante ter pelo menos dez maneiras de sair da sua histria!

    No caia na asneira de, agora que leu isto, pensar que est livre da sua histria. Noest. O Ego e o Corpo de Dor so dois aliados poderosos que iro fazer tudo para nosmanter dentro da nossa histria. Tem mesmo que tirar um tempo, escrever os padresde mostram estar dentro e fora da sua histria. E tem mesmo que saber qual o tema da

    sua histria. Ir ver como a sua vida comea a mudar.

    E a sua histria tem mesmo um final feliz!

    Os empurres do Universo

    Da maior dor, da maior escurido, do maior sofrimento, chega-nos sempre a maiorrecompensa. Se estivermos preparados para deixar partir a nossa histria.

    Quanto mais carregada for a nossa sombra de escurido, maior a luz com que

    podemos iluminar o mundo. O inverso tambm verdade.

    A nossa histria est envolta por sofrimento, vergonha, medo, culpa, raiva, fantasias.Mas tudo isto serve unicamente para nos ajudar a despertar se estivermos dispostos aabrir os olhos.

    Enquanto apontarmos o dedo indicador na direco dos outros estaremos adesresponsabilizarmo-nos e a dar todo o nosso poder a outros.

    No curso de Educao Emocional cada um dos participantes ter uma oportunidade deabraar cada grama deserdada de si. Cada gro de culpa, vergonha, medo, raiva, dio.

    Eu, para dar o exemplo, fao-o para mais de mil pessoas, sabendo que ficocompletamente despido de qualquer desculpa, e colocando-me numa posio em queestou sujeito a qualquer ataque pessoal.

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    Quando algum nos ataca, seja por que motivo for ou de que maneira for, essa pessoaest na verdade a projectar em ns as suas partes rejeitadas e que gritamdesesperadamente por amor. Podem ter a certeza que a pessoa que mais grita que foiinjustiada, vitimizada, mal tratada, a que mais necessidade tem de abraar, de amarquem de verdade. E enquanto apontar o dedo a outros (com trs a apontar na suaprpria direco) no ter qualquer poder sobre a sua vida. A vida destas pessoas

    parece simplesmente acontecer sua volta, transformando-as em mrtires sofredorase merecedoras do Cu quando deixarem esta realidade.

    E agora mais um pedao da minha vergonha.

    Em 1996 estava em Portugal quando o filho de um casal amigo dos meus pais mepediu ajuda. No importam os pormenores. Mas o jovem, de 19 anos, estava decididoa abandonar a casa, por motivos vrios. E eu ajudei-o. Levei-o para Londres. Arranjei-lhe emprego. Comeou assim a seguir um futuro no mundo da fotografia (quedesejava). Estes so os factos. Mas as perspectivas podem variar de acordo comquerer ser predador ou vtima (uma pista til: a maioria das vtimas so predadores

    disfarados e a maioria dos predadores so vtimas disfaradas).Desde que regressei definitivamente a Portugal, em 2000, nunca mais voltei a ternotcias deste jovem. Sempre soube que os pais dele tinham contrado emprstimosem bancos e colocado o filho como o beneficirio desses emprstimos (na altura existiaum juro bonificado para jovens). Com a partida do filho para Londres, este casalpassou por bastantes dificuldades financeiras. Na verdade acho que perderam tudo,desde a empresa que tinham at ao apartamento onde viviam. (V tecendo os seusjuzos).

    Entretanto, de 1996 at ontem nunca mais soube nada deste casal. Ontem recebi um

    e-mail da me a acusar-me de lhe ter destrudo a vida da sua famlia. Acusou-me aindade eu ser uma fraude. Na verdade soube que enviou emails para todos os terapeutasde reflexologia, cujos endereos se encontravam num website que eu criei, a inform-los que andou a investigar as minhas habilitaes literrias e descobriu quebasicamente eu tenho como passatempo fazer diplomas e certificados para mim nomeu computador.

    Tinha acabado de chegar de Itlia, estava cansado e deixei o meu ego solta. A minhaatitude foi pior que catastrfica... Durante alguns minutos.

    Estava completamente imerso na minha histria. A histria do coitadinho a quem todos

    querem fazer mal. E depois sa. No foi fcil. Mas foi muito bom. Ajudou-metremendamente a compreender as pessoas que tm dificuldades a sair das suashistrias.

    Comecei por escrever os benefcios deste nico evento: h muito que queria deixarcompletamente a rea da sade. Cansado de tantas tcnicas e processos. Em Janeirocomecei a preparar uma pessoa para me substituir no IRIEC e tinha decidido que atMaio faramos a transio. Mas estava com receio. Isto significaria deixar de parte omeu currculo.

    E esta parte da minha histria veio em meu auxlio. Ok, agora posso abandonar tudo.

    Abrao o fraudulento, mentiroso, maquiavlico, dspota, traidor... Todos de umaassentada! No final fiquei apenas com um sentimento por expressar de compaixo para

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    com esta mulher. Porque ir continuar a procurar um bode expiatrio para a sua faltade amor-prprio.

    Assim a nossa sombra. Cria situaes dramticas com o nico objectivo de nosobrigar a mudar.

    Como que a sua histria o/a pode ajudar a mudar?

    Os quatro aspectos da Sombra

    Eu costumava ter uma ideia de mim como pessoa boa que ajudava muitas outraspessoas. E esforava-me como um louco para que todos minha volta andassem beme felizes. Claro que esta atitude s podia conduzir frustrao total, para alm demuitos dissabores.

    H perguntas que temos que enfrentar, e responder, to honestamente quanto nos sejapossvel. Por exemplo, quantos relacionamentos j tive? Em cada relao, o nicofactor que nunca alterado sou eu. As pessoas que entram e saem da minha vida so

    sempre diferentes, eu sou o nico que nunca novidade. Ento porque atraio sempre omesmo tipo de relacionamentos? A pergunta, neste caso, simples: porque motivotenho o tipo de relao que tenho com esta pessoa? O que tenho que mudar em mim?

    No passado Sbado estive com algumas pessoas que frequentaram O Processo DaSombra, e fiquei a saber de que maneira este processo alterou os seusrelacionamentos e as suas vidas. Por exemplo, fiquei a saber de uma participante quecontemplava a possibilidade de divrcio h uns meses antes do seminrio (porque omarido era ausente, no dava importncia ao que ela fazia, no era carinhoso, etc.) efiquei a saber que a relao mudou radicalmente! Ao ponto de o marido desta pessoaandar a ler livros do Paulo Coelho (antes no lia o que quer que fosse!), tornou-se mais

    comunicativo e carinhoso. Na verdade o que aconteceu que esta pessoa, quefrequentou o seminrio, resgatou a sua sombra e, neste processo, autorizou o marido amostrar-lhe quem ele de verdade. Ps um fim a muitas das projeces, aspectosnegados de si, que atirava para cima do marido.

    Uma outra pessoa contou-me como comeou a perder peso, coisa que havia tentadoinmeras vezes sem sucesso. Outra ainda falou-me da forma como alterouradicalmente de planos a nvel profissional, e como agora a sua vida parecia finalmenteseguir o trajecto que h tanto tempo ansiava.

    Todas estas coisas s so possveis depois de abraarmos a totalidade que somos.

    Sempre que tiver uma reaco emocional ao comportamento de outra pessoa, tenha acoragem de afirmar eu sou assim!

    Ns agarramo-nos a velhos comportamentos, hbitos, pensamentos, porque nossentimos seguros no conhecido. E atiramos para cima dos outros tudo o que noaceitamos, rejeitamos e negamos em ns mesmos. E passamos a vida a apontar odedo aos outros. Esquecemo-nos que os outros esto meramente a mostrar-nos aquiloque j est em ns.

    Eu no digo que sou mentiroso, desonesto, ladro, arrogante, etc. metaforicamente.

    Digo-o porque a verdade. Eu minto, por exemplo, quando digo que estou bem e noestou. Eu sou desonesto quando fao de conta que sou um exemplo a seguir, e no osou. Eu sou ladro quando me atraso para um encontro. Eu sou arrogante quando

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    ouo outros a falar e, mentalmente, desdenho do que dizem. Ainda ontem recebi um e-mail de uma amiga que me dizia maravilhas sobre PNL! A minha primeira atitude?PNL?! Hello! Aprendi isso h 4 anos, est desactualizada! Isto ou no arrogncia?

    A diferena est entre assumir que somos iguais a todas as pessoas que vemos, ouapontar o dedo aos defeitos dos outros. Os defeitos dos outros so sempre os nossosdefeitos. A vida perfeita, calma, de sonho, est dentro de ns e nunca fora, no exterior.Jamais ir aparecer o prncipe valente ou a bela adormecida para dar mais encanto snossas vidas. Mas h um prncipe valente e uma bela adormecida em cada um de ns.A dificuldade est em encontrar ambos.

    Quando algum nos deixa ficar mal, quando sentimos que nos enganaram, quandoalgum mau para ns. Teremos a coragem suficiente para ver que tudo um trabalhointerior, nosso? Quando somos atraioados. Quando nos magoam tanto que camosnuma depresso. Quando nos insultam. Quando inventam mentiras sobre ns.Seremos o suficientemente audazes para reconhecer que tudo isso um trabalho danossa sombra?

    A maior dificuldade com abraar a nossa sombra que esta est escondida nosubconsciente. Como podemos tornar-nos conscientes de algo inconsciente? A nicamaneira olhando para aqueles que nos rodeiam. S a teremos as respostas.

    Mas enquanto no abraarmos a totalidade de quem somos a nossa sombra irsempre mostrar-se, dificultar a nossa vida, criar conflitos e caos.

    H uma necessidade urgente de resgatar a nossa sombra. O tempo parece avanarmais acelerado que nunca. E pode estar a esgotar-se.

    A nossa sombra pode manifestar-se de quatro maneiras distintas:

    1. A Sombra Inconsciente permanece no inconsciente, embora activa e amanifestar-se nas nossas vidas. Sempre que nos justificamos perantedeterminado comportamento ou pensamento. Quando criticamos grupos depessoas, ou culturas, sociedades e grupos de indivduos. Desfrutar do mal queacontece aos outros (por exemplo, rir quando algum tropea e cai);

    2. A Sombra Deserdada tambm conhecida por projeco. Quando dizemos queo Manuel arrogante, mau, ganancioso, hipcrita (quem tem a coragem deacrescentar como eu?);

    3. A Sombra Possessiva quando somos possudos na totalidade pela nossasombra. Por exemplo, o bom pai de famlia que tem uma amante. Ou arespeitada presidente de uma associao caritativa que consome drogas duras.Quando a nossa sombra nos possui causar danos irreparveis a ns e a todosos que nos rodeiam;

    4. A Sombra Integrada aquela que somos capazes de abraar e reconhecer natotalidade. esta ltima a que nos dar paz e poder.

    A Sombra Inconsciente

    A pergunta qual nenhum de ns tem resposta : o que guardamos no nosso

    subconsciente?

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    Por definio, jamais poderemos saber o que permanece inconsciente. Ou seja, noconhecemos algo que nos conhece a ns. E, muito pior, aquilo que no conhecemossobre ns persiste e infiltra-se subtilmente nos nossos valores e escolhas.

    Uma das formas de comearmos a reconhecer a nossa Sombra a forma como muitoprontamente racionalizamos ou justificamos as nossas atitudes, comportamentos eescolhas. -nos to fcil criticar outros indivduos, ou grupos de indivduos. to fcilajudar os sem-abrigo, mais que no seja para que a nossa Sombra absorva maisdaquele sentimento de superioridade. Notei j diversas vezes que as pessoas que seenvolvem em projectos de apoio aos sem-abrigo abandonam os mesmos em muitopouco tempo. Sem se aperceberem, as suas sombras indicaram-lhes que no tmnecessidade de se sentirem superiores. claro que importante ajudar quem precisade ajuda, mas mais importante verificarmos os nossos verdadeiros motivos. Muitasdas pessoas envolvidas em projectos humanitrios tm uma necessidade de sentir queprestam, que so boas ou que valem enquanto seres humanos. Este motivo iralimentar a sombra e criar projeces monstruosas. Mas faz-lo pelo simples facto dequerer ter a experincia, de ser til sem esperar algo em troca, a vale a pena.

    Se voc est envolvido num qualquer projecto de ajuda aos mais carenciados verifiquese comenta o seu envolvimento com outros. Se tem necessidade de fazer saber aosoutros que est neste projecto prefervel que o abandone imediatamente pois estapenas a alimentar a sua Sombra. Mas se o trabalho que faz passa despercebido, seno sente necessidade de informar os seus amigos e conhecidos, ento continue! Esta prestar um ptimo servio.

    A sombra inconsciente manifesta-se de muitas maneiras. Quando contamos umaanedota sobre os Alentejanos. Ou quando criticamos os produtos das lojas Chinesas.Ou quando manifestamos a nossa veemente oposio a um poltico. Ou temos pena da

    famlia que sofre a tortura de um patriarca alcolico. Quando lemos meia dzia de livrosde auto-ajuda e acreditamos ter a resposta para os problemas dos nossos amigos(alguma vez se ouviu a dizer Se ela fizesse as coisas como eu lhe tinha dito...). Ou,entre as pessoas espirituais: O meu mestre disse que o melhor era...

    A Sombra inconsciente leva-nos a procurar a nossa espiritualidade em muitos lugares,excepto naquele onde sempre esteve: dentro de ns.

    Mantenha sempre presente que a complexidade do universo, assim como acomplexidade das nossas vidas, nunca ser completamente compreendida nemrevelada. Mas ns podemos viver a fantasia de que sabemos muito bem quem somos

    e o que queremos. E criamos um conjunto de situaes problemticas no processo detentar compreender tudo nossa volta. E o nosso problema apenas um: no aceitarAquilo Que .

    A nossa Sombra contm tudo aquilo que nos causa preocupaes, aquilo que estranho ao ideal do ego, tudo o que contrrio aquilo que desejamos que os outrospensem de ns. Tudo aquilo que ameaa criar instabilidade no ambiente seguro quenos esforamos tanto por criar.

    Da mesma maneira que o ego formado a partir dos pedaos quebrados de muitasexperincias, assim tambm ameaado pelo seu prprio lado mais escuro. Tudo o

    que contradiga o ego uma ameaa. A Sombra a maior ameaa ao nosso ego. E operigo verdadeiro surge quando esta Sombra comea a ter mais energia do que oprprio ego. Eventualmente ir tomar posse dele.

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    Por este motivo, este sentimento de ameaa desconhecida, que o nosso ego nosabe nada sobre a sua sombra. A sombra inconsciente. Ser que os peixes sabemque nadam na gua? No creio. So um com o elemento que os rodeia. Ser que oego sabe que nada num mar de contradies que competem por ateno? Raramente.

    Quem, de entre ns, tem a coragem de admitir que por vezes (ou muitas vezes), faz oque faz por motivos menos ntegros? Quem capaz de admitir que por vezes d aosamigos os conselhos que o prprio precisa urgentemente de colocar em prtica? Quem capaz de admitir que por vezes tem inveja de um amigo? A nossa sombra tem umaagenda diferente da do nosso ego. E tudo far para conseguir os seus objectivos.

    Quem, de entre ns, no se sente por vezes necessitado, vaidoso, narcisista, hostil,dependente ou manipulativo? Pergunto-me se as esposas dos grandes homens daHistria seriam felizes partilhando as suas camas com amantes poderosas como eramas causas dos seus maridos.

    Ser que as pessoas que dedicam toda a sua vida ao servio dos outros, vivendo semqualquer conforto ou prazer, no o faro movidas apenas por uma enorme insatisfao,depresso e raiva? Ser que o seu sacrifcio uma coisa assim to boa? Ser que mesmo uma escolha? Ser que a pessoa que ganha o prmio Nobel da paz no ter anecessidade de ser necessrio? Ser que estamos a ser cnicos ao tornarmo-nosconscientes dos valores opostos aqueles que expressamos conscientemente, ou seruma forma muito profunda de honestidade?

    Ser que uma pessoa foi santa porque sacrificou a sua viagem nesta realidade emservio aos outros? Ser que a sua vida poderia ser to tenebrosa que a nica opoera no a viver? Ser que um dos aspectos dos santos que de facto no so capazesde viver a sua prpria aventura nesta vida? E quem, entre ns, poder fazer este tipo

    de juzo?Ser possvel que uma vida de boas obras pode existir lado a lado com uma vidainterior carregada de sentimentos torturados? No ser possvel que uma vida interiorrejeitada, apesar de no exterior aparentar muita iluminao, possa mascarar umasombra poderosa?

    Para responder questo anterior basta olharmos para qualquer noticirio. O padreacusado de pedofilia, o lder poltico acusado de corrupo, o bom samaritano que batenos filhos. No podemos cair na tentao de subestimar o poder da sombra do serhumano.

    Ser que o fundamentalista que tenta desesperadamente converter todos suaideologia est convencido que isto para o melhor bem de todos, ou ser que o que oleva a agir assim so sentimentos de culpa, frustrao, ansiedade e dvidasexistenciais?

    Um autor que muito admiro, Nicholas Mosley, afirma que pessoas como os catlicosou islamitas, so-no muito mais para poder pertencer a um grupo que oferea um apoioemocional num mundo conturbado, do que por motivos de escolha feita depois de umabusca da verdade e significado na vida. E l se vai por terra a teoria das revelaesdivinas e da integridade individual! Repare ainda que este tipo de questo levanta de

    imediato, em muitas pessoas, um sentimento de ofensa. Naturalmente lutamos paradefender os nossos valores morais (mesmo que nunca tenham sido nossos). Ao

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    defendermos as nossas escolhas, justificando-nos por cada deciso, estamos a darpoder sombra. Lembre-se apenas que a verdade nunca precisou de ser defendida.

    E mesmo assim, e porque a sombra se mantm inconsciente, longe da nossa vista, emoceanos demasiado profundos para nos atrevermos a mergulhar, no compreendemoscomo que ela brinca com as nossas vidas. E onde que est a nossa rectido? Serque a humanidade inerentemente boa? Seremos pessoas boas apenas porque anossa cultura nos criou assim? Ser que possvel existir a bondade sem o seuoposto? Ser que uma bondade constante, ao longo de muitos anos, no pode tornar-se numa fora demonaca? Basta-nos olhar para a histria da humanidade para verque muitos dos actos bondosos tiveram o seu peso e preo.

    Quantas pessoas no chegam segunda parte das suas vidas sem uma certaquantidade de arrependimentos, rancores, ressentimentos, culpas e desculpas? Econtudo, na altura, pensmos que estvamos a agir para o melhor bem de todos, coma melhor das intenes. Fazer um levantamento da nossa histria pessoal o primeiropasso para reconhecer aquilo que permanece no inconsciente: a presena e actividade

    da nossa sombra.Quem, de entre ns, poder afirmar: Eu estou consciente da vida do meuinconsciente?

    O que permanece no inconsciente como um segundo governo, ou governo-sombra,capaz de a qualquer momento destruir toda uma vida, assim como a vida daqueles quemais ama.

    A Sombra Projectada

    Pense na pessoa que, quanto a si, prepotente, preguiosa, desonesta e corrupta. capaz de dizer fulano/a prepotente, preguioso/a, desonesto/a e corrupto/a... Talcomo eu!?

    Pense na antipatia volta dos homossexuais... que parte destas pessoas, que rejeitamde uma forma mais ou menos velada a homossexualidade, que nunca se sentiucompletamente confortvel na sua prpria sexualidade? Pense na convenincia deconhecer os seus inimigos a todo o momento se o inimigo est l fora, ento noest c dentro. Logo, no tenho que carregar esse peso na conscincia, nenhumaobrigao de me auto-examinar.

    A conscincia do ego, aquele pedao de bolacha Maria a flutuar num vasto e profundooceano, desconhece por completo o que se esconde nas guas profundas sob si. Averdade que aquilo que est contido no subconsciente so um sem fim de sistemasenergticos, dinmicos e activos, capazes de invadir e controlar na totalidade a menteconsciente.

    Ser possvel que um homem, qualquer homem, mesmo o mais sincero de todos, sejacapaz de erradicar toda a sua sexualidade? E se , qual o preo a pagar? fcilresponder a esta questo: basta olhar para todos os escndalos volta do clero, desdeos filhos bastardos at pedofilia. E quem so os mais puros que exigem estesacrifcio do clero? Que Deus esse que apregoam e que aniquilam em simultneo aonegar uma parte da natureza humana? Que sombra poderemos encontrar nesteshomens?

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    Limitar-se a negar algo nunca ir funcionar a seu favor. Os nossos componentesinconscientes englobam um quantumenergtico que possui o poder para abandonar ooceano profundo e entrar no nosso mundo, completamente livre de qualquer interdioda mente consciente. Se isto no fosse verdade os nossos polticos, propagandistas eagncias de publicidade ficariam rapidamente sem emprego. Na verdade as tcnicas eferramentas utilizadas durante a Segunda Guerra Mundial para desinformar, manipular

    e esconder informao no teriam sido adquiridas pelos acima referidos. O objectivo sempre o mesmo: apelar ao subconsciente e provocar projeces positivas sobreprodutos, de um simples caramelo ao detergente da roupa, do carro de luxo ao polticoque quer chegar a primeiro-ministro.

    Ningum projecta conscientemente. Isso seria pura e simplesmente uma contradio.Ningum acorda pela manh com a inteno de sair rua e projectar os seus aspectosnegados, rejeitados e escondidos. E, contudo, a energia psquica em cada um de ns,principalmente a que se encontra fora do nosso alcance, no subconsciente, manifesta-se atravs de uma dinmica que o prprio ego no consegue compreender, nemconter. assim que nos apaixonamos, que tememos um estranho na rua, e recriamos

    as histrias dos nossos relacionamentos uma e outra vez.

    A mente como um computador analgico capaz de funcionar apenas devido nossahistria pessoal. At certo ponto, a mente procura situaes anlogas para poderatribuir significado a algo ou algum. Quando que no passado senti o que estou asentir agora?, O que sei eu sobre esta situao, O que posso ir buscar ao passadopara melhor processar este evento?. Apesar de cada momento na nossa vida serabsolutamente nico, o nosso sistema psquico, funcionando a partir de dados daexperincia do passado, como a ansiedade, inunda o campo da nova experincia coma informao antiga. E assim projectamos a nossa vida interior, ou aspectos dela, paracima de indivduos, grupos, naes. desta mesma maneira que os propagandistas,os publicitrios e os polticos procuram invocar em ns respostas positivas ounegativas. Com frequncia a capacidade de crtica do ego consciente suplantadapelos poderes da programao histrica e os novos momentos da nossa vida sofremem benefcio do passado.

    Tenho um vizinho que apelida todos os polticos e homens com poder de deciso debananas. Para ele so todos uns bananas! Est a ver televiso, surge um politico ea reaco dele, colrica, sempre a mesma: Olha para aquele banana! O curiosodeste meu vizinho que a sua esposa, enquanto foi viva, tratou-o sempre porbanana. Ele no consegue ver a ironia nem a projeco. Uma vez que a esposa

    partiu, o banana deixou de estar nele e passou a ser projectado em todos os homenscom poder de deciso. Este exemplo ilustra o que disse at agora.

    Assim, aquilo que no somos capazes, ou no queremos, ver em ns prprios, ouaquilo que perturba a imagem que queremos mostrar ao mundo de ns, muitas vezesdistanciada do ego consciente atravs de um mecanismo de projeco que desassociaestes aspectos negados. Uma vez que a energia, a maldade, se encontra agora lfora, eu no tenho que lidar com ela c dentro.

    Mais uma vez, ns no projectamos conscientemente, motivo pelo qual as nossasprojeces so to poderosas, to capazes de reaces desproporcionais ao que est

    a acontecer. Quem seria capaz de imaginar que aquilo l fora a que eu reajo tem asua origem c dentro? Quem seria capaz de imaginar que a realidade que eu vejo l

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    fora mais um aspecto de quem eu sou? No admira que eu tenha a reaco quetenho, e que sinta uma enorme atraco pela situao ou pessoa!

    Ns estamos continuamente a correr em direco nossa Sombra, e acreditamos seralgo l fora da qual podemos distanciar-nos. Com cada projeco da Sombra, a nossaalienao potencial daquilo a que se chama realidade aumenta. Quanto maisdespejarmos os nossos detritos sobre os outros, mais iremos ganhar uma visodistorcida da realidade. Muito raramente conseguimos ver o mundo, e os outros, talcomo so de verdade. Guerras foram feitas, romances conquistados, relacionamentosiniciados e terminados sobre as projeces da Sombra. No final perguntamo-nos paraqu tanto esforo...

    Quantas pessoas projectaram na Princesa Diana as suas vidas por viver? Os seussonhos, os seus sorrisos, a sua bondade? Tudo projeces da Sombra. E depois, nasua morte prematura, choraram as suas prprias vidas por viver. Quanta da vidasofrida desta mulher no foi apenas um carregar aos ombros as Sombras de milhares,seno milhes, de pessoas? De que se alimenta a bisbilhotice e a inveja se no da

    fuga de ns prprios?Aquilo que no conhecemos, ou temos receio de conhecer, magoa-nos de verdade. Emuitas vezes magoa ainda os que nos rodeiam. Muito frequentemente aquele querecebe a projeco da Sombra dos outros seja ele um bruxo, pedfilo,toxicodependente, ladro, judeu, chins, homossexual, ou qualquer outro mrtir donosso inconsciente ir ser acusado, humilhado, marginalizado, morto, ou ignorado.Mas estes so apenas os corajosos que carregam a nossa vida secreta, a nossaSombra, e por este motivo iremos odi-los, humilh-los e destrui-los, porquecometeram o pior dos crimes: mostraram-nos o que se esconde dentro de ns.

    Infelizmente, quanto mais fraco for o estado do ego mais intolervel se torna, e maior opotencial para julgar os demais de maneira categrica. O mesmo dizer: maior opreconceito e a intolerncia.

    Exerccio:

    Arranje um caderno e durante uma semana, todos os dias, aponte as vrias formas emque gasta a sua energia e tempo a queixar-se dos outros. Todas as vezes que apontao dedo aos outros. Todas as vezes que critica o comportamento dos outros. Sem sejustificar! Ir assim comear a ver o que esconde a sua Sombra.

    A Sombra Possessiva

    Alguma vez assistiu a um concerto de rock e deu por si aos saltos e a gritar, envolvidona atmosfera catica do espectculo? Talvez at tentando libertar-se doscondicionamentos do ego educado, atravs de lcool e/ou drogas recreativas? Algumavez deu por si a gritar insultos a um rbitro durante um jogo de futebol? Ou alguma vezchorou a ver uma cena de uma qualquer telenovela?

    Alguma vez se sentiu cheio de razo ao ponto de julgar outro ser humano e dizer aquem queria ouvi-lo que determinado criminoso deveria ser enforcado? Ou alguma vezdesfrutou do facto de perder todas as inibies impostas pela sociedade e fez algo delouco? Alguma vez vociferou as suas queixas em detrimento de uma minoria, como osciganos ou negros? Ou alguma vez comentou que deveramos bombardear os rabes?

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    Alguma vez desfrutou de um acto que considera mau, convencido que na verdadeestava a ter prazer nesse acto? Alguma vez passeou num local cheio de pessoas dediferentes culturas (em frias) e comparou-se com essas pessoas apenas para sesentir superior?

    Se alguma vez experienciou um dos eventos acima, teve na verdade a experincia deser possudo pela sua sombra. No s foi possudo pela sua sombra, mas identificou-se completamente com ela.

    Os grupos de rock activam e canalizam nos jovens a necessidade psicolgica daseparao dos progenitores (provavelmente os seus pais gostariam que vocdesfrutasse dos Beattles ou Plcido Domingo e voc preferia os AC/DC ou os TheCure).

    Quando somos possudos pela sombra sentimos uma enorme quantidade de energia afluir pelo nosso corpo. Da a nossa reaco a um evento ser sempre desproporcional aesse mesmo evento. Esta energia um aspecto da nossa mente que quando activadatem o poder de usurpar o ego e levar-nos a lugares que jamais iramosconscientemente. J reparou que em contos e filmes de terror, onde surge a presenade um qualquer Satans, este personagem sempre o que tem mais energia, o queparece divertir-se mais e ainda o mais assustador? Quanto mais malvolo opersonagem que incarna Satans mais poder e energia possui.

    Quanta maldade, intencional ou no, surge num cidado normal e bem-educado,quando possudo pela sua sombra? Aquilo que temos negado em ns ir fazer-nosuma visita, mais cedo ou mais tarde. E ser possudo pela sombra trazer ao mundoquantidades inacreditveis de energia. Por algum motivo nos deixamos seduzir pelasombra em momentos de completa distraco. E depois temos que apanhar os

    fragmentos do que resta aps a interveno desta energia sombria.Nenhum de ns menos perigoso que a pessoa certinha que aponta o dedo aosmales do mundo, pensando que est certo e todos os demais esto errados. Seapenas os outros fossem como eu costuma ser o mantra da pessoa que mais danos capaz de causar uma vez possuda pela sombra. E isto porque estas pessoas so asque mais inconscientes esto e as que menos so capazes de imaginar os danos queesto aptas a infligir a elas mesmas e aos outros.

    Por acaso no foram os americanos quem destruiu a maior parte do Vietname ecausou a maior parte das baixas, para levar o bem a um povo distante? Repetindo

    depois o mesmo episdio no Iraque?Quando somos possudos pela sombra no conseguimos ver as nossas prpriascontradies, as falhas dos valores que defendemos, as injustias que praticamos.

    Na verdade, um dos primeiros sinais de estarmos a ser possudos pela sombra anossa rpida racionalizao, e/ou justificao, para tornar o nosso comportamento maisaceitvel perante os outros.

    Algumas das justificaes que utilizamos no dia-a-dia e que so um sintoma inequvocode possesso da sombra (lembre-se, a nossa reaco desproporcional ocorrncia):

    Fui para a cama com a colega porque a minha mulher j no me ama da mesmamaneira. o facto: foi para a cama com outra mulher.

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    Levo os agrafos do trabalho para casa porque a empresa merece ser roubada. Nome paga o que mereo. o facto: est a roubar bens alheios.

    No te cumprimentei no outro dia porque a cheio de pressa. o facto: no te vi, ouno te queria ver.

    Odeio aquele fulano! Como pode ele roubar tanto dinheiro e no ser apanhado?! o

    facto: algum roubou outrem.

    Sou contra a prostituio porque vender o corpo sujo! o facto: h pessoas queganham a vida prostituindo-se.

    Gostava muito de te visitar, mas tenho a minha me doente. O facto no te querovisitar.

    Quando somos possudos pela nossa sombra sentimos vergonha, culpa, medo, raiva.No fundo, odiamo-nos pelo acto. E depois, para tentar curar estes sentimentos txicos,justificamos as nossas aces. Temos sempre um motivo. E o nosso motivo sempre

    correcto.Normalmente so as pessoas mais correctas, bondosas, honestas, eficientes e bem-educadas as que so capazes de verdadeiras atrocidades contra a humanidadequando possudas pela sombra. Ou contra si prprias! No significa isto que temos queser prevaricadores apenas estar conscientes que no contexto adequado seramoscapazes de tudo.

    Todos ns, sem excepo, somos capazes de tudo. Aquilo que mais critica noutro,aquilo a que reage de uma maneira emocionalmente desequilibrada, aquilo que vocest a fazer a outros neste momento. S que de uma maneira velada e justificada.

    Faa o seguinte exerccio, com a mxima honestidade que lhe for possvel:

    Pea a amigos e familiares para ajudar. Diga-lhes que no levar a mal a suahonestidade. Na verdade ir agradecer-lhes a frontalidade e honestidade. E se algumamigo no quiser ajudar pode ter a certeza que isso apenas porque ele/a encontra-sea fazer o mesmo, a ter o mesmo comportamento e a justificar-se da mesma maneira.

    Faa uma lista de trs pessoas cujo comportamento o incomodam profundamente. Eno se permita afirmar algo de espiritual como o comportamento dos outros no meafecta. Estar a mentir. Ou ento no faz parte desta realidade.

    E depois veja como voc tem o mesmo tipo de comportamento, mas justificado evelado. Deixo-lhe o meu exemplo em duas situaes especficas.

    - No suporto pessoas que amuam!(claro que eu no amuo! Por vezes fecho-me em silncio, mas s porque nogosto de gente amuada minha volta. E normalmente o meu silncio no duramais que uma ou duas horas... Ok, pode durar um ou dois dias... Mas silncio,no amuar!)

    - No entendo como algumas pessoas so lentas a compreender coisas simples.Fico irritado com a ignorncia!

    (Na verdade fico irritado porque no aceito as pessoas como elas so. A vida muito mais simples do que imaginamos. Mas como no acredito no que digo,tenho que atrair pessoas complicadas, que me compliquem a minha vida paraque me possa queixar. Ah! E se algum me disser algo simples, terei que

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    obrigatoriamente complicar tudo, s para mostrar que sei mais! Mas no sabermais, ser mais inteligente que o comum dos mortais... )

    Como pode ver, pelas minhas prprias explicaes em relao ao meucomportamento, eu tenho uma justificao para o que fao mas no aceito asjustificaes dos outros. Isto ser possudo pela sombra. At me tornar consciente do

    que estou a fazer.Claro que prefervel ser possudo pela sombra em pequenas doses dirias, e irdestruindo a minha vida e a dos que me rodeiam, lenta e progressivamente. O opostoseria um comportamento exemplar durante anos a fio e depois agir de uma maneiracompletamente absurda e destruir de um s golpe a minha vida e a daqueles que merodeiam.

    Que filmes passam na nossa cabea diariamente? Como interpretamos a realidade nossa volta? Como nos atrevemos a racionalizar a realidade dos outros? E quando que comeamos a aceitar que na verdade no sabemos nada?Esteja atento a todas as situaes em que tem uma reaco que desproporcional aoque est a acontecer. A sua sombra anda prximo.

    A Sombra Integrada

    Como nos sentiramos se o inimigo que est a olhar directamente para ns tivesse anossa face? Quem no fugiria de um encontro marcado com o inimigo ao descobrir queesse inimigo somos ns?

    Depois de uma vida a culpar os outros, extremamente difcil para ns conseguir porfim reconhecer que a nica pessoa que esteve sempre presente em todos os eventos,bons e maus, da nossa vida fomos ns. E, fruto da necessidade, carregar aos ombrosa responsabilidade pelos dramas que ocorreram. Quem que no ficarenvergonhado, humilde, e at mesmo humilhado por este reconhecimento?

    este o motivo porque adiamos o reconhecimento da nossa sombra por tanto tempoquanto nos for possvel.

    Quem que quer reconhecer que o seu cnjuge ou filho ou amigo talvez conheamelhor certos aspectos de ns do que ns mesmos? Quem que quer carregar a

    responsabilidade de atirar para cima dos outros todos os seus aspectos negados?Todavia, como os grandes mestres nos ensinaram ao longo do tempo, e como aprpria histria o demonstra, aquilo que ignoramos e rejeitamos ir sempre surgir nanossa vida e nas vidas daqueles que nos rodeiam.

    Protestamos que temos boas intenes, e afirmamos que procuramos o conhecimentoe a espiritualidade. Mas quem capaz de observar o espectro total da humanidade emsi mesmo? Aqueles que mais luz possuem so tambm aqueles que mais escuridoprojectam. E aqueles que mais luz vendem so os que mais escurido impingem nosoutros. Aqueles que mais respostas aparentam possuir, e esto prontos a elucidar os

    outros sobre os caminhos da luz, mais insignificantes e escuros so. Quanto maismoralmente correctos, maior o peso da sombra que descarregada para cima dosoutros. Especialmente aqueles que se manifestam corajosamente contra o aborto, e

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    contra as drogas, e contra a guerra, e contra os polticos corruptos, e contra aprostituio, e contra a homossexualidade, e contra a preguia, e contra a ganncia, econtra ______________ (preencha com os seus contras), so os que mais escuridodistribuem pelo mundo. Esquecemos que Aceitar Aquilo Que no sinnimo deapontar o dedo a terceiros. Sempre que apontamos o dedo a outro de ns quefalamos, das partes de ns que negamos e rejeitamos, das partes de ns que somos

    incapazes de aceitar e amar.Aquilo a que resistimos persiste. Sempre. Ser contra algo ir simplesmente roubar-nospoder e ao mesmo tempo reforar a nossa sombra. E assim nos encontramos nummundo onde a riqueza mal distribuda, onde h abuso e desrespeito pela natureza,onde eu estou certo e tu ests errado.

    capaz de aceitar que na natureza humana no h verdadeiros segredos? capaz deaceitar que somos todos iguais? Todos escondemos as mesmas vergonhas, medos,culpas, raivas, rancores.

    capaz de aceitar que estpido? Se algum lhe chamar estpido, porque haveria deficar ofendido? capaz de se recordar de uma situao em que foi estpido? Eu no.Eu sou capaz de me recordar de centenas de situaes em que fui estpido. Porquehaveria de ficar ofendido com esta palavra dirigida a mim?

    capaz de aceitar que j se prostituiu? Se algum o comparar a uma prostituta capaz de ficar ofendido? Eu no. J me prostitui de tantas maneiras ao longo dotempo! De cada vez que vai a uma festa para agradar, apesar de no fundo no lheapetecer ir, est a prostituir-se. De cada vez que aceita um emprego que no seja asua vocao, o seu dom, est a prostituir-se.

    Como podemos ento chamar estpido a algum? Como podemos ento ser contra aprostituio? de ns que falamos sempre.

    A nossa sombra, o mar vasto que est para alm da nossa mente consciente, nuncaser totalmente abraado. Mas algumas partes, certos aposentos, certas correntes,podem ser abertas ao nosso consciente. Aquilo que eu nego em mim ir, mais cedo oumais tarde, aparecer no meu mundo exterior. Quantos mais aspectos do meu mundointerior eu for capaz de identificar, menores as probabilidades de aparecerem na minhavida como parte de uma partida do destino, ou do karma. Quem seria capaz deimaginar que o destino e o karma esto intimamente ligados a aspectos do nossosubconsciente?

    Alguma vez deu por si a relacionar-se com o seu cnjuge exactamente da mesmaforma que se relacionava, quando criana, com o seu pai ou me? Quo reconfortanteque tomar conscincia da nossa auto-sabotagem em prol das relaes queconstrumos quando ainda crianas! Utilizando as mais diversas mscaras para que osoutros, e ns prprios, no consigamos ver que no somos pessoas boas, ou que nosomos importantes nem especiais, que no prestamos. Esquecendo-nos que aquilo aque resistimos persiste. E vamos ento criar as situaes para provar a ns mesmosprecisamente aquilo que mais medo temos de descobrir sobre quem pensamos ser!Ou, ainda pior, atirando para cima dos filhos, do cnjuge ou dos amigos todos estesaspectos que negamos em ns.

    Se pensar, e tomar conscincia, de que sempre que fala de algum apenas de si queest a falar... Ento estar preparado para despertar do longo sono da inconscincia.

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    Tornar a nossa sombra consciente sempre um gesto de enorme humildade. Mas tambm um gesto de enorme crescimento. Pois assim que comeamos a resgatar atotalidade que somos e a tomar conscincia do nosso dom e da razo para estar aquiagora.

    Este crescimento da nossa humanidade ir pedir de ns muito mais do que aquilo quese encontra dentro dos limites da nossa zona de conforto. Mas ir garantir a nossarealizao plena como seres humanos, seres espirituais e seres completos.

    Foi Jung quem afirmou que todos ns caminhamos com sapatos pequenos demaispara o tamanho dos nossos ps. Mudar de sapatos, e calar nmeros maiores, sempre um desafio para qualquer ser humano. Exige um crescimento mais acelerado. um desafio contnuo.

    Isto pode parecer simples e algo que todos desejamos mas na verdade pedir muitode ns. Como o prprio Jung afirmou, o nosso objectivo no sermos pessoas boas ouatingir a bondade plena. Porque o bem que fazemos pode na verdade surgir de umcomplexo da sombra ou ter consequncias que no prevamos. O nosso objectivo sermos completos. E ser completo nunca poder ser possvel enquanto noabraarmos todos os opostos presentes. impossvel saber a bondade sem amaldade, o altrusmo sem o egosmo, o belo sem o feio. Da que o crescimento do Eucomea sempre pelo conflito. Como podemos aceitar sem rejeitar? Este o problemade muitas pessoas ditas espirituais. Aceitam tudo e todos. As suas vidas sopreenchidas por um sofrimento silencioso. E continuam a aceitar. Mas impossvelexistir a aceitao sem a rejeio. Ento rejeitamos parte da nossa vida, do nossopotencial, para podermos ser pessoas boas que aceitam tudo e amam tudo e todos. Eno processo criamos sofrimento para ns.

    Todos carregamos esta enorme polaridade dentro de ns. Algumas pessoas fogem datenso, outras abraam-na. Como o poeta americano Walt Whitman afirmou num dosmelhores poemas dedicados sombra: Eu contradigo-me? Ento, eu contradigo-me,e?... E sou infinito, contenho em mim multides. No h duas pessoas iguais.Contradigo-me.

    E ns contradizemo-nos. Mas tememos que algum descubra as nossas contradies.Esquecemo-nos que este aspecto que nos torna humanos, interessantes. medidaque vamos resgatando estas pontas perdidas de ns, estas partes enterradas,rejeitadas, negadas, projectadas, e as abraamos como uma parte da totalidade quesomos, enriquecemos a nossa experincia humana. E enriquecemos a experincia

    humana dos que nos rodeiam.

    Apesar de poder parecer uma tarefa problemtica, este abraar da nossa sombra, anica forma de conseguirmos a cura das nossas vidas, assim como a cura dos nossosrelacionamentos e do nosso trabalho. Este trabalho no nos aproxima de um ego maissatisfeito consigo, mas a um ego mais prximo da totalidade que o ser humano. Otrabalho da sombra a que queremos fugir o caminho da cura da nossa vida. A cura domundo comea com a nossa cura, comea com aquilo que no queremos conhecersobre quem somos.

    Com o correr do tempo as ondas que este escrutnio consciente provoca iro tocar

    naqueles que nos rodeiam. Abraar a nossa sombra o caminho dos corajosos paracriar um mundo melhor. No por acaso que os participantes do Processo da Sombraconstatam que depois do seminrio as pessoas com quem tinham um relacionamento

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    difcil mudam. As projeces so resgatadas e os outros ficam automaticamente livrespara serem quem so de verdade. Completos.

    Mas para isto acontecer temos que ter a coragem de ser autnticos. Enfrentar asnossas histrias. Aceitar que somos honestos. E mentirosos. Somos amigos einimigos. Criativos e destrutivos.

    Espero que estas dez lies sobre a sombra o/a tenham ajudado um pouco mais adescobrir-se. No preparei estas lies a pensar na utilidade para outros. Fui egosta.Tudo o que escrevi foi sempre para mim. E sinto-me feliz pelo meu egosmo se esteajudou algum para alm de mim.

    Um abrao amigo,

    Emdio Carvalho