178
Manual de Saúde Escolar da SOPERJ 2009 Comitê Científico de Saúde Escolar da SOPERJ

Manual de Saúde Escolar da SOPERJ 2009 - …€¦ · A proposta de construção de um Manual de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria ... a Superintendência Geral de Educação

Embed Size (px)

Citation preview

  • Manual de Sade Escolar da SOPERJ

    2009

    Comit Cientfico de Sade Escolar da SOPERJ

  • Diretoria SOPERJ Trinio 2007 2009

    Presidente: Maria de Ftima Goulart Coutinho

    Vice Presidente: Maria Elizabeth Lopes Moreira

    Secretrio Geral: Jos Roberto de Moraes Ramos

    Primeiro Secretrio: Silviano Fiqueira de Cerqueira

    Segundo Secretrio: Ana Alice Amaral Ibiapina Parente

    Diretoria Financeira: Carmen Lucia Leal Ferreira Elias

    Primeiro Tesoureiro: Paulo Srgio da Silva Branco

    Diretoria de Cursos e Eventos: Maria de Ftima Monteiro P Leite

    Diretoria de Publicaes: Flavio Roberto Sztajnbok

    Comit de Sade Escolar da SOPERJ 2007 2009

    Presidente:

    Abelardo Bastos Pinto Jnior

    Membros:

    Daniella Santini de Souza Lemos

    Isabella de Assis M. Ballalai

    Jair Luiz de Moraes

    Joel Conceio Bressa da Cunha

    Olga Oliveira Passos Ribeiro

    Paulo Cesar de A. Mattos

    Silvia Coelho Camara

    Vanessa Beatriz Passos Espindola

  • Apresentao:

    Durante a infncia e a adolescncia, pocas decisivas na construo de hbitos e

    atitudes, a escola assume um importante papel na educao em sade, quando

    atravs de seu trabalho sistematizado e contnuo, transmite valores em sua vivncia

    diria.

    A proposta de construo de um Manual de Sade Escolar da Sociedade de Pediatria

    do Estado do Rio de Janeiro - SOPERJ traz a oportunidade de fortalecimento de

    parcerias intersetoriais, integrando toda a expertise de cada setor. O desenvolvimento

    de aes e atividades educativas de sade em escolas e creches, possibilita a reflexo

    sobre vida saudvel e sobre o papel da comunidade escolar na melhoria da qualidade

    de vida.

    A funo da escola no pode ser a de substituir uma famlia ausente; precisa

    suplementar e ampliar a ateno familiar, promovendo a construo de uma rede de

    apoio infncia e adolescncia, construindo ambientes saudveis que atentem para

    relaes harmnicas e solidrias na comunidade escolar e que valorizem a diversidade

    cultural.

    Presidente da SOPERJ - Trinio 2007-2009 Maria de Ftima Goulart Coutinho

  • Manual de Sade Escolar da SOPERJ 2009 Colaboradores: ABELARDO BASTOS PINTO JR Especialista em Pediatria pela SBP Presidente do Comit Cientfico de Sade Escolar da SOPERJ nos trinios 2006 -2008 e 2007 - 2009 Membro do Departamento de Sade Escolar da SBP Professor do Curso de Sade Mental e Desenvolvimento Infanto-Juvenil do Servio de Psiquiatria da Santa Casa da Misericrdia do Rio de Janeiro. Especialista em Recursos Humanos na rea de Sade pela ENSP/FIOCRUZ CARMEN FERREIRA ELIAS Diretora Financeira da SOPERJ Pediatra com Habilitao em Neonatologia Membro do Comit Cientfico de Aleitamento Materno da SOPERJ Membro do Comit Cientfico de Perinatologia da SOPERJ Mestre em Sade Coletiva - NESC/UFRJ Coordenadora do Mtodo Canguru SMS-RJ Prof Pesquisadora da UNIGRANRIO- Disciplina de Pacientes com Necessidades Especiais Instrutora Regional Do Curso de Reanimao Neonatal - SBP DANIELLA SANTINI DE SOUZA LEMOS Especialista em Pediatria pela SBP Membro do Comit Cientfico de Sade Escolar Membro do Comit Cientfico de Adolescncia ISABELLA BALLALLAI Membro do Comit Cientfico de Sade Escolar Vice- Presidente Nacional da Sociedade Brasileira de Imunizaes Membro do Departamento de Imunizaes da Sociedade Brasileira de Infectologia Membro do comit assessor em imunizaes do Estado do RJ

  • JAIR LUIZ DE MORAES Neurologista Infantil Mestre em Neurologia / UFF Responsvel pelo setor de Neurologia Infantil do Hospital Municipal Salgado Filho Membro dos Comits Cientficos de Neurologia e de Sade Escolar da SOPERJ Membro da Diretoria da ABENEPI Nacional e do Captulo RJ JOEL CONCEIO BRESSA DA CUNHA Especialista em Neonatologia pela Universidade de Tohoku , Japo. Membro do Departamento Cientfico de Sade Escolar da Sociedade Brasileira de Pediatria. Membro do Comit Cientfico de Sade Escolar da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ). JOS EDUARDO DA SILVA OFTALMOLOGISTA MARIA DE FTIMA GOULART COUTINHO Presidente da SOPERJ Trinio 2007 2009 Mestre em Medicina na rea de Pediatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Especialista em Pediatria, com Habilitao em Medicina do Adolescente pela Sociedade Brasileira de Pediatria Mdica do Ambulatrio de Adolescentes do IPPMG/UFRJ Assessora do Programa de Sade do Adolescente da Secretaria Municipal de Sade e Defesa Civil do Rio de Janeiro OLGA OLIVEIRA PASSOS RIBEIRO Mdica com especializao em Pediatria e Psicopedagogia Diferencial pela PUC/RJ. Formao em Medicina Psicossomtica/IMPSI. Mestre em Educao/UERJ. Professora Universitria-pesquisadora e docente em- Psicomotricidade, Desenvolvimento Humano, Estimulao Precoce e Educao Inclusiva. Membro da Equipe da Secretaria Municipal de Educao no Programa Interdisciplinar de Apoio s Escolas Municipais/PROINAPE MR3 e do Instituto de Solues Avanadas/ISA_ADRS (Coordenando o Curso de

  • Ferramentas de Mediao de Conflitos e os Grupos de Estudos de Justia restaurativa e de Ateno e Escuta Familiar no Contexto da Separao.

    PAULO CSAR MATTOS Mdico Pediatra.Especialista em Administrao hospitalar hospitalar e planejamento de Sade pela ENSP-FIOCRUZ Membro do Comit Cientfico de Sade Escolar Presidente do Departamento Cientfico de Sade Escolar da SBP RICARDO DO REGO BARROS Chefe do Servio de Adolescentes da UFRJ( Universidade Federal do Rio de Janeiro) Especialista em Pediatria e Medicina de Adolescentes pela SBP / AMB Especialista em Medicina do Esporte pela SBMDE / AMB Coordenador do Grupo de Trabalho em Medicina do Esporte da Sociedade Brasileira de Pediatria ROBERTO ELIAS Coordenador da Disciplina Pacientes Necessidades Especiais da UNIGRANRIO e Universidade Veiga de Almeida - Brasil Coordenador Geral do Curso de Especializao de Pacientes Necessidades Especiais da UNIGRANRIO RJ Prof. Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial da Universidade Salgado de Oliveira RJ Coordenador do Servio de Estomatologia do Hospital Municipal do Andara -RJ Especialista em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial UERJ-Rio de Janeiro Especialista em Odontologia Paciente com Necessidades Especiais-Conselho Federal de Odontologia Ms Semiologia Campinas Membro Academia de Odontologia- cadeira 33 SILVIA COELHO CAMARA Especialista em Pediatria pela SBP Membro do Comit Cientfico de Sade Escolar da SOPERJ

  • VANESSA BEATRIZ PASSOS ESPNDOLA Psicloga Clnica e Hospitalar Formao e Experincia no Magistrio em Educao Infantil Psicloga do Servio de Cardiologia da Criana e do Adolescente e do Programa de Preveno de Febre Reumtica (PREFERE) do Instituto Nacional de Cardiologia (MS-RJ)

    VIVIANE LANZELOTTE Membro do Comit Cientfico de Ateno ao Desenvolvimento e Reabilitao da SOPERJ WALTER TAAM FILHO Presidente do Comit Cientfico de Nutrologia da SOPERJ Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria Membro efetivo da Associao Latino-Americana de Pediatria Curso de Formao em Medicina Ortomolecular Doutorando em Cincia dos Alimentos, Instituto de Qumica, UFRJ

  • Manual de Sade Escolar da SOPERJ 2009 Sumrio 1- Introduo ABELARDO BASTOS PINTO JR 2 - Um breve histrico da Sade Escolar no Rio de Janeiro PAULO CSAR MATTOS 3- Por uma Escola inclusiva OLGA OLIVEIRA PASSOS RIBEIRO 4- Transtornos de comportamento e rendimento escolar JAIR LUIZ DE MORAES 5- Educao Infantil: funes e responsabilidades JOEL CONCEIO BRESSA DA CUNHA SILVIA COELHO CAMARA 6- Sexualidade Infantil VANESSA BEATRIZ PASSOS ESPNDOLA 7- Sexualidade na Adolescncia MARIA DE FTIMA GOULART COUTINHO 8- Bullying ABELARDO BASTOS PINTO JR DANIELLA SANTINI DE SOUZA LEMOS 9- Atividade Fsica para crianas e adolescentes RICARDO DO REGO BARROS 10- Alimentao e Nutrio do Escolar WALTER TAAM FILHO 11- A Odontologia no contexto da sade escolar CARMEN FERREIRA ELIAS ROBERTO ELIAS 12- A Viso no escolar VIVIANE LANZELOTTE JOS EDUARDO DA SILVA 13- Doenas infecciosas na escola: como prevenir e controlar ISABELLA BALLALLAI

  • 14- Legislao e procedimentos norteadores a escola Comit de Sade Escolar da SOPERJ

    Introduo

    A sociedade cada vez mais se transforma atendendo aos constantes desafios e o

    pediatra, parte fundamental de todo esse processo, como formador de opinio e ator.

    Com a demanda cada vez mais constante dos assuntos ligados a Sade Escolar, o

    manual representa mais um recurso para o pediatra com a inteno de ser prtico e

    objetivo. A idia foi do Comit, conseguimos congregar apaixonados pelo tema de

    reas as mais distintas de atuao, no mbito pblico e particular e com isso os

    assuntos tem maior abrangncia e realidade, convidamos outros especialistas sob a

    influncia dinmica de Maria de Ftima Goulart Coutinho, Presidente da SOPERJ,

    sempre pronta a nos ajudar.

    O mais importante que est clara a mensagem de esperana, de evoluo que sade

    e educao representam no desenvolvimento pessoal e da comunidade e como dizia

    Paulo Freire, "Educao no transforma o mundo. Educao muda pessoas. Pessoas

    transformam o mundo".

    Abelardo Bastos Pinto Jr

    Presidente do Comit de Sade Escolar da SOPERJ

  • Um Breve Histrico da Sade Escolar no Rio de Janeiro

    Paulo Cesar de Almeida Mattos A histria da Sade Escolar no Rio de Janeiro se confunde com a do Brasil, pois

    foi no ento Distrito Federal que aconteceram as primeiras atividades regulamentadas

    nessa rea (Souza et al, 1994). No dia 31/01/1903, o prefeito Pereira Passos criou,

    atravs do Decreto 383, a Assistncia Mdica ao Escolar na estrutura da Secretaria de

    Educao.

    A Higiene Escolar

    Atravs do Decreto 778 de 09/05/1910, o prefeito Serzedelo Correia criou o

    Servio de Inspeo Mdica Sanitria Escolar, que teve como primeiro Diretor o Dr.

    Moncorvo Filho. Este Servio tinha como objetivos a vigilncia higinica das escolas e

    do seu material, a profilaxia das molstias transmissveis e evitveis, a inspeo mdica

    individual dos alunos e do pessoal, a educao sanitria dos alunos e dos professores e

    a sistematizao e a fiscalizao do exerccio fsico escolar (Silva, 1991).

    Posteriormente, em 1916, foram criados os Servios Mdicos Escolares, a Merenda

    Escolar e a Associao de Pais e Mestres; a disciplina de Educao Higinica foi

    includa no currculo das escolas e houve uma reformulao do currculo da Escola

    Normal (Silva Neto, 1979)

    Em 1924, baseado no modelo alemo da Polcia Mdica, Carlos S instituiu os

    Pelotes de Sade, dos quais, o primeiro surgiu em So Gonalo (Souza, et al, 1994).

    Os alunos que formavam os pelotes eram submetidos a exames mdicos e

    odontolgicos para a identificao de defeitos ou doenas a serem corrigidos. Entre os

    objetivos destes Pelotes estavam: criar hbitos fsicos e mentais, estimulando os

    escolares a se igualarem ou superarem os colegas e, de acordo com a disciplina militar,

    eram definidos deveres a serem adotados para a formao de hbitos sadios. Entre os

    deveres, por exemplo, incluam-se: Hoje escovei os dentes; Hoje tomei banho;

  • Ontem me deitei cedo; Ontem e hoje no menti; Ontem comi ervas ou frutas e

    bebi leite (Silva, 1991)

    Em 1933, a Inspeo Mdica Escolar foi transformada em Superintendncia

    Geral de Educao de Sade e Higiene Escolar (Souza et al, 1994)

    A Sade Escolar

    Em 14/03/1940, a Superintendncia Geral de Educao de Sade e Higiene

    Escolar, atravs do Decreto 6641, foi transformada em Departamento de Sade

    Escolar da Secretaria Geral de Educao e Cultura. A regulamentao desse

    Departamento s ocorreu em 1947, atravs do Decreto 9025, que definiu como

    objetivos principais a defesa sanitria dos alunos, dos corpos docentes e demais

    servidores dos estabelecimentos de ensino da Secretaria de Educao e Cultura e

    daqueles do ensino particular do primeiro grau, bem como, dos servidores tcnicos e

    administrativos daquele Departamento que tivessem contato com o meio escolar

    (Trindade, 1985).

    O perodo iniciado na dcada de 40 e que vai at a primeira metade dos anos

    60 foi considerado como a poca urea da Sade Escolar, por aqueles que priorizavam

    o modelo assistencial (Silva, 1991). Nessa poca, o Rio de Janeiro dispunha de 22

    distritos regionais de Sade Escolar, um Servio de Sade de Ginsios e Escolas

    Tcnico-Profissionais e institutos e hospitais especializados para o atendimento aos

    escolares como, por exemplo, o Hospital Barata Ribeiro (ortopedia, cirurgia e

    fisioterapia), o Hospital Nossa Senhora do Loreto (cirurgia), o Instituto Mdico

    Pedaggico Oswaldo Cruz (clnica mdica, pediatria, cardiologia, dermatologia, Raio X e

    laboratrio), o Instituto Oscar Clark (pediatria, dermatologia e otorrinolaringologia), o

    Pavilho Hilrio de Gouveia (oftalmologia e otorrinolaringologia) e o Instituto Odonto-

    Pedaggico Zeferino de Oliveira (ortopedia funcional dos maxilares, endodontia,

    prtese e radiologia) (Silva, 1991).

    Nessa concepo da Sade Escolar, as aes eram desenvolvidas dentro das

    escolas, a partir da inspeo de sade, vacinao, tratamento e orientao sobre

    hbitos para uma vida saudvel. Quando necessrio, os alunos eram encaminhados s

    clnicas especializadas.

  • Aps a criao do Estado da Guanabara, em 1960, foi inaugurada em Vila

    Isabel, pelo mdico Floriano Stoffel, uma policlnica escolar destinada a ser o Servio

    de Sade das escolas secundrias. Mais tarde, com e extino desse Servio, a

    policlnica, j como o nome de Pavilho Floriano Stoffel, foi redirecionada para o

    atendimento dos escolares da rea de Vila Isabel (Souza et al, 1994). Atualmente, ali

    funciona a Clnica de Adolescentes da UERJ.

    Em julho de 1964, atravs do Decreto 253, o Departamento de Sade Escolar

    passa a ser uma Diviso de Sade Escolar, perdendo trs unidades de sade, a saber, o

    Instituto Oscar Clark (para a Secretaria de Servios Sociais) e os hospitais Barata

    Ribeiro e Nossa Senhora do Loreto (para a Secretaria de Sade) (Souza et al, 1994)

    No incio da dcada de 70, a Diviso de Sade Escolar, assim como as unidades

    de sade vinculadas a ela, passam para a Secretaria de Sade, ali permanecendo at a

    fuso dos estados da Guanabara e Rio de Janeiro. Somente o setor de Orientao

    Psicolgica permaneceu na rea da Educao (Silva, 1991).

    A Medicina Escolar

    Aps a fuso, a Sade Escolar foi colocado dentro da estrutura do

    Departamento Geral de Sade Pblica da Secretaria Municipal de Sade do Rio de

    Janeiro, sendo criadas Sees de Medicina Escolar e de Odontologia Escolar nos 22

    Centros Municipais de Sade, que tinham como atribuies fazer o Registro de Sade

    dos alunos que ingressavam na escola, o exame peridico de sade do escolar, o

    atendimento dos alunos com dficit do rendimento escolar e distrbio de

    comportamento, o controle dos servidores e do prdio escolar (Silva, 1991).

    Em virtude da ampliao do nmero de escolas e alunos e do aumento da

    repetncia e da evaso escolar, foram criados Programas Especiais de Medicina Escolar

    (PROEME I, em 1976 e PROEME II, em 1978). Devido ao grande volume de alunos

    encaminhados pelas escolas aos Centros Municipais de Sade, com problemas de

    aprendizado e comportamento, foram institudas Comisses Multiprofissionais

    (pediatra, psiclogo, psiquiatra, assistente social, enfermeiro e logopedista) em todas

    as unidades de sade, tendo como objetivo diagnosticar e tratar distrbios do

    comportamento que estivessem interferindo na aprendizagem do paciente, bem como

  • na sua adequao sala de aula. Alm disso, foram tambm criados quatro Plos de

    Atendimento Especializado (oftalmologia, otorrinolaringologia e neurologia), situados

    nos centros de sade do Catete, da Penha, de Iraj e de Campo Grande.

    Apesar de todo o investimento feito para ampliar a assistncia aos escolares,

    essa proposta apresentou baixo poder resolutivo pois, ao medicalizar questes

    pedaggicas e sociais, estigmatizava os alunos e contribua para o aumento da evaso

    escolar. Em decorrncia disso, em 1987, pelo Decreto 6814, o Servio de Medicina

    Escolar da Secretaria Municipal de Sade foi extinto e as aes de sade na escola

    passaram a integrar o Programa de Ateno Integral Sade da Criana e do

    Adolescente.

    Cabe ressaltar que, em 1982, o governo do estado do Rio de Janeiro criou o

    Programa Especial de Educao, centrado nos Centros Integrados de Educao Pblica

    (CIEPs). Tratava-se de escolas de horrio integral que ofereciam assistncia sade de

    toda a comunidade escolar, atravs de equipe multiprofissional. Os alunos passavam

    por uma avaliao clnica por ocasio da matrcula e tinham acompanhamento de suas

    condies de sade nas prprias unidades escolares (Ribeiro, 1985).

    Essa proposta misturava os modelos de sade escolar tradicional (anos 40 e 50)

    com o da medicina escolar (anos 70 e 80). Em nenhum momento se conseguiu uma

    articulao que adotasse uma proposta metodolgica nica para o conjunto das

    escolas da rede pblica, tanto a nvel pedaggico como de assistncia sade dos

    escolares.

    A Promoo da Sade na Escola

    Em 1992, atravs da Lei 1888, foi criada na Secretaria Municipal de Sade do

    Rio de Janeiro, a gerncia do Programa de Sade Escolar, na Superintendncia de

    Sade Coletiva. Aps anlise crtica das diferentes concepes que permearam as

    aes de sade na escola, essa Gerncia iniciou suas atividades sob a tica da

    desmedicalizao do fracasso escolar (SMSRJ, 1999).

    Entendendo sade como qualidade de vida e a partir da percepo da escola

    como um espao importante para o desenvolvimento de aes de promoo da sade,

    a Gerncia do Programa de Sade Escolar adotou, a partir do ano 2000, a iniciativa

  • OPAS de Escolas Promotoras da Sade, que se constitui numa parceria entre setores e

    instituies, com prioridade para aes integradas e articuladas, buscando otimizar

    recursos locais para o desenvolvimento de prticas de promoo da sade (SBP, 2004).

    nessa tica que vem sendo desenvolvidas as atividades de Sade Escolar no

    municpio do Rio de Janeiro at a presente data.

    A Sade Escolar e as entidades civis

    Em 13 de julho de 1968, foi criada a Associao de Sade Escolar do Estado do

    Rio de Janeiro (ASERJ), entidade que congregava profissionais de diferentes formaes

    das reas de sade e educao e que durante sua existncia realizou cinco Congressos

    de Sade Escolar (Souza et al, 1994). Somente em 1984, foi criada a Associao

    Brasileira de Sade Escolar (ABRASE), durante a realizao do V Congresso de Sade

    Escolar, realizado no Rio de Janeiro. A ABRASE organizou mais quatro Congressos de

    Sade Escolar, sendo o ltimo realizado no Rio de Janeiro, em 1992.

    O Comit de Sade Escolar da Sociedade Brasileira de Pediatria foi criado na

    dcada de 70, sendo transformado, na dcada seguinte, em Departamento Cientfico

    de Sade Escolar, quando foi organizado um Congresso Brasileiro de Sade Escolar em

    So Paulo. No incio dos anos 90, foram realizadas duas Jornadas de Sade Escolar na

    regio Nordeste (Aracaju e Macei) e a partir de 1995, o Departamento de Sade

    Escolar passou a organizar, juntamente com os Departamentos de Pediatria

    Ambulatorial e Cuidados Primrios, os Congressos Integrados.

    Na Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro, o Comit de Sade

    Escolar foi criado em 1988 e continua em atividade at os dias de hoje.

    Referncias bibliogrficas:

    SECRETARIA MUNICIPAL DE SADE DO RIO DE JANEIRO. 1999. Programa de Sade do Escolar numa perspectiva crtica. SILVA, CS (org). 3a

    edio Rio de Janeiro.

    SILVA, CS. 1991. O fracasso do (a) escola (r): questo de tica. Rompendo o ciclo fechado de educao e sade com a anamnese. Dissertao de Mestrado. Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense.

  • SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. 2004. Manual Escola Promotora de Sade. HARADA, J (org). Rio de Janeiro. SOUZA, GCF; MATTOS, PCA; HARRIS, WM. 1994. Histria da Sade Escolar no Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Sade Escolar, 3: 1-4. SILVA NETO, JA. 1979. Urbanizao e Sade Escolar no Municpio do Rio de Janeiro. In: BINSZTOK, J. (org). Regionalizao e Urbanizao. Civilizao Brasileira, Rio de Janeiro. RIBEIRO, D. 1986. O livro dos CIEPs. Bloch Editores, Rio de Janeiro. TRINDADE, JC. 1985. Pequena histria da Sade Escolar. Pediatria Moderna, 20(9): outubro.

  • POR UMA ESCOLA VERDADEIRAMENTE INCLUSIVA

    Olga Oliveira Passos Ribeiro

    oportunizar com diferena discriminar ao quadrado.

    Buscar solues paliativas de resultado minoritrio negar a

    continuidade e universalizao. Nomear alguns exemplos

    manter o processo de excluso. (Santos, Celby 2005).

    Tendo em vista que a funo da escola estender-se para o alm das oportunidades

    sociais, uma vez que como espao pedaggico, sua importncia para o

    desenvolvimento harmnico de suas crianas cada vez mais relevante, a simples

    idia do cuidar, provir e alimentar pode acompanhar-se do Educar em sua idia mais

    ampla e educao tanto para si (ecologia interior), quanto para o mundo e seus

    sistemas (ecologia social) a meta para cidadania plena.

    Numa proposta de atendimento s necessidades psicossociais das crianas,

    colaborando para o desenvolvimento destas, nos aspectos fsicos, socio-emocionais e

    intelectuais, a escola o espao adequado para o desenvolvimento infantil, uma vez

    que vem de encontro s demandas deixadas com a modificaes do papel da mulher e

    da famlia na sociedade, cada vez mais desigual, substituindo-a temporariamente.

    Para uma competente funo educativa, a escola requer um planejamento curricular

    de atividades, o qual dever considerar tanto o grau de desenvolvimento da criana

    quanto os conhecimentos culturais bsicos a serem por ela apropriados.

    Mas essa escola que surge to nova e ao mesmo tempo to antiga... Precisa ser, acima

    de tudo, uma escola que pretenda ser inclusiva, capaz de reformular-se dia a dia, com

    a funo de adequar-se a novos paradigmas, onde a diversidade faz parte do

    conviver...

    O momento cultural vivido por nossa sociedade favorvel incluso social e escolar

    das minorias historicamente excludas e, conseqentemente crescente a demanda

    por uma sociedade inclusiva. Entretanto as escolas devem se reestruturar desde a

    formao de professores, para que atendam a diversidade dos alunos que apresentam

  • dificuldades como as deficincias fsicas, cognitivas e sensoriais. Mas tambm outras

    situaes que levam ao estigma e excluso.

    Reflexes sobre o processo de incluso:

    Os primeiros anos na vida de uma criana so muito importantes. Neste

    perodo fundamental construir uma relao de dignidade, respeitando a

    singularidade de cada criana, com falas e olhares sinceros. A partir destas interaes,

    cada criana construir um conhecimento de si e do outro pois ela falada/ significada

    como menino/ menina, difcil/ dcil, quieta/ levada, etc. Desde o nascimento a fala

    do outro que nos d um lugar na famlia, um nome. a fala do outro que diz quem

    somos.

    Ao entrar na escola, cada criana traz consigo caractersticas prprias, um

    processo nico de crescimento, com potencialidades e limitaes tambm nicas, que

    devem ser respeitadas e trabalhadas. Cabe ao processo de educao auxiliar na

    descoberta das diversas possibilidades de interao criana-criana, adulto-criana,

    criana-mundo.

    Para pensar em mudana no processo de incluso se faz necessria uma

    reflexo no processo de educao anterior a matrcula de crianas com limitaes

    fsicas. Incluir deve estar alm das deficincias ou das diferenas e ancorado no tornar-

    se pessoa, processo individual. As crianas precisam ser respeitadas em suas

    diferenas por menor e aparentemente inofensiva que paream.

    Somos um ser de linguagem, por isso desde a educao infantil fundamental

    a fala do adulto direcionada criana, mesmo quelas que ainda no possuem

    aquisio da fala. O lugar que o adulto designar criana, poder ajudar no processo

    de humanizao, gerando nela confiana em si mesma e no espao escolar ou, ao

    contrrio, trazendo limitaes, inibio no processo de aprendizagem, gerando

    sofrimento e bloqueando a capacidade de acreditar em si mesma e de sentir-se

    valorizada. Se lhe oferecem um lugar de segurana e confiana no ambiente escolar,

    respeitando sua singularidade e suas limitaes mas estimulando-a em seu

    crescimento, a criana capaz de transitar do lugar do EU POSSO para EU APRENDO.

  • Para uma escola verdadeiramente inclusiva importante refletir que, diante da

    limitao do outro, nos deparamos com nossos prprios limites e so esses limites que

    nortearo nossa atitude interior e o comportamento na interao com as crianas.

    comum adultos terem pena das crianas, superprotegendo-as (coitadinho) o que

    inibe sua capacidade de conquista, crescimento e desenvolvimento. Ocorre, de outro

    modo, situaes em que as escolas negligenciam as diferenas, deixando as crianas

    com limitaes junto s atividades tambm sem estimul-las (ele no consegue

    mesmo). As crianas com altas habilidades correm o risco pelo mesmo motivo da

    diferena, de ficarem sem estmulo para novas descobertas e principalmente para a

    socializao. Porm no processo de incluso no se trata de colocar as crianas nas

    salas e atividades. Cada diferena, cada dificuldade, cada diagnstico de uma criana,

    implicar em novas descobertas do processo de aprendizagem, buscando-se formas

    alternativas das tradicionais no cotidiano escolar. Mesmo diante de limites, sejam eles

    fsicos, sociais ou cognitivos, deve-se estimular a curiosidade e as possibilidades de

    ao.

    A maior transformao, portanto, quando se fala em incluso, no est na

    adaptao do espao fsico da escola. A maior transformao deve ocorrer no mundo

    interno de cada profissional. Desta forma cada profissional em sua escola poder re-

    inventar e recriar situaes de aprendizagem promovendo um desenvolvimento scio-

    cognitivo-afetivo de todas as crianas envolvidas, sem negar as diferenas e tambm

    sem propor um normalizao dos alunos.

    O estabelecimento de condies adequadas para a sociabilidade est pautado

    tanto nas questes emocionais e afetivas quanto cognitivas. As interaes de crianas

    com capacidades sociais e cognitivas diversas assim como com conhecimentos

    especficos diferenciados so fatores de desenvolvimento e aprendizagem quando se

    criam situaes de ajuda mtua e cooperao. Portanto as caractersticas de cada

    criana, seja no

    mbito afetivo, seja no emocional, social ou cognitivo devem ser levadas em conta

    quando se organizam situaes de trabalho ou jogo em grupo ou em momentos de

    brincadeira que ocorrem livremente.

    (Ref. Curricular Nacional / 98)

  • A educao escolar precisa desconstruir suas prticas tradicionais,

    predominantemente conteudsticas, para reconstru-las sobre a diversidade

    biopsicossocial dos alunos e da cultura, com um currculo que leve em considerao a

    vida e o mundo fora da escola. ( Carvalho, R.)

    Pensar em incluso pensar em desenvolvimento. O desafio no deixar que

    cada diagnstico de cada criana, com alguma limitao, constitua um encarceramento

    de suas potencialidades. necessrio extrapolar o adaptar-se, construindo um suporte

    para um caminho de descobertas em cada criana de forma singular.

    Pensar em incluso , desde a educao infantil, pensar para alm da satisfao

    das necessidades bsicas, pensar na qualidade da interao adulto-criana desde os

    momentos de higiene aos de investigao e explorao do ambiente atravs das

    brincadeiras, jogos, atividades rtmicas e literrias, passando pelo conforto emocional

    necessrio em situaes de frustrao. As diferenas devem ser ressignificadas.

    Um novo PARADIGMA a ser vivenciado na escola inclusiva

    Quanto a alunos com deficincia, sob o ponto de vista

    legal, educacional, poltico e filosfico, o direito ao acesso

    aos recursos disponveis na sociedade, com base nas

    Diretrizes Estaduais para a Educao Especial na Educao

    Bsica, Deliberao n 291/2004/CEE/RJ, garante-se a

    igualdade de acesso, de participao e de permanncia nas

    escolas regulares. Fazer acontecer totalmente a tarefa

    no s do legislador, mas de qualquer profissional que

    educa. E isso pede mudana de paradigmas.

    Para Foucault (1987), a sociedade moderna desenvolveu uma srie de mecanismos de

    controle e punio dos desviantes. Da mesma forma foi constitudo um forte esquema

    de identificao das pessoas, de modo que as mesmas possam ser facilmente

    reconhecidas quando se afastam dos padres de normalidade socialmente aceitos,

    portanto o termo "incluso" desafiante, porque fala do paradigma inclusivo e

    consequentemente da emergncia de leis que garantam a ao para a mudana de

  • pensar e agir, mas que ainda no se implantam talvez pela influncia da descrena dos

    prprios profissionais que ento se tornam desqualificadores.

    o profissional da rea de sade, em especial o pediatra, que tem contato primrio

    com muitas crianas de risco sendo preciso de sua parte uma ao neutra e avaliao

    profunda sobre quais crenas e mitos ainda repercutem no seu imaginrio. No

    incomum saber-se de profissionais gabaritados que por palavras repletas de

    preconceitos, mais pessoais do que profissionais, levaram ao descrdito e desanimo

    famlias que iniciavam a responsabilidade de acolher e educar crianas com algum tipo

    de diferena por fatores genticos, genticas, congnitos ou adquiridos como seqelas

    de doenas com repercusses neurolgicas.

    Precisamos fazer nascer ento o no to novo paradigma holstico que considerava a

    diferena como algo inerente na relao entre os seres humanos. E onde cada vez mais

    a diversidade deveria ser vista como algo natural, porque j

    estamos abandonando o paradigma clssico da cincia que

    arrancava o fenmeno do seu ecossistema, analisando-o e

    explicando-o pela reduo e simplificao baseada na lgica

    da identidade. Est emergindo o paradigma da lgica

    dialgica, uma lgica includente da complexidade, o

    pensamento ecolgico tendo como referencial a vida, um

    estilo de pensar e agir num contexto de interconexo

    ecolgico e histrico, levando em considerao a

    multidimensionalidade de tudo. BOFF (1996).

    preciso portanto que a educao se faa tanto na escola quanto na clnica

    mobilizando o potencial gerador de solues para os impasses que j atingem as

    nossas vidas e a de nossos semelhantes. Para isso muitas vezes necessrio

    transgredir e deixar de postergar e ento ultrapassar os limites demarcados por aes

    e opinies limitadoras visando transformar o espao relacional, vital para o bom

    aprendizado.

    INCLUSO: Da histria s Leis e perspectivas fundantes:

  • Erradamente pensa-se incluso como fazer includo um

    deficiente, diferente fsico ou mental.... Mas incluir uma

    outra e grande histria social...

    Quando em 1988, a Constituio Federal instituiu as bases para uma sociedade sem

    preconceito e sem discriminao, trazia, acima de tudo, a busca dignidade da pessoa

    humana. E os indivduos com deficincia requerem esse olhar inclusivo de toda a

    sociedade.

    A incluso real a possibilidade de cada cidado fazer

    escolhas para sua vida. Entretanto, preciso que sejam

    opes verdadeiras, porque todas recebem o mesmo apoio e

    tm o mesmo valor social ( Izabel de Loureiro Maior CORDE)

    Uma nova tica se prope conferindo a todos igualdade de

    valor, igualdade de direitos particularmente de equidade

    e a necessidade de superao de qualquer forma de

    discriminao por questes ticas, scio-econmicas, de

    gnero, de classes sociais, ou de peculiaridades individuais

    mais diferenciadas (Rosita Edler de Carvalho-Doutora em

    Educao)

    At o sculo XV: Conta-se que as crianas deformadas eram jogadas nos esgotos da

    Roma Antiga.

    Na Idade Mdia: os deficientes encontram abrigo nas igrejas ou ganham a funo de

    bobos da corte.

    Do Sculo XVI ao XIX: Pessoas com deficincias fsicas e mentais continuam isoladas

    do resto da sociedade, em asilos, conventos e albergues. Surge o primeiro hospital

    psiquitrico na Europa. Tais instituies no passam de prises, sem tratamento

    especializado nem programas educacionais.

  • Sculo XX:: Pessoas com deficincia passam a ser vistos como cidados com direitos e

    deveres de participao na sociedade, mas sob uma tica assistencial e caritativa. A

    primeira diretriz poltica dessa nova viso aparece em 1948 com a Declarao

    Universal dos Direitos Humanos. "Todo ser humano tem direito educao."

    Nos anos 60: Os Pais e parentes de pessoas deficientes organizam-se. Surgem as

    primeiras crticas segregao. Tericos defendem a normalizao. A Educao

    Especial no Brasil aparece pela primeira vez na LDB 4024, de 1961. A educao dos

    excepcionais deve, no que for possvel, enquadrar-se no sistema geral de educao.

    Nos anos 70: Nos Estados Unidos a educao inclusiva tem incio via Lei 94142, de

    1975, que estabelece a modificao dos currculos e a criao de uma rede de

    informao entre escolas, bibliotecas e hospitais. No Brasil, uma emenda

    Constituio trata do direito da pessoa deficiente: " assegurada aos deficientes a

    melhoria de sua condio social e econmica especialmente mediante educao

    especial e gratuita".

    Nos anos 80 e 90: Declaraes e tratados mundiais passam a defender a incluso em

    larga escala. Em 1985, a Assemblia Geral das Naes Unidas lana o Programa de

    Ao Mundial para as Pessoas Deficientes. Em 1988 - No Brasil, o interesse pelo

    assunto provocado pelo debate antes e depois da Constituinte. A nova Constituio

    garante atendimento educacional especializado aos portadores de deficincia,

    preferencialmente na rede regular de ensino. Em 1989 - A Lei Federal 7853, no item

    da Educao, prev a oferta obrigatria e gratuita da Educao Especial em

    estabelecimentos pblicos de ensino e prev crime punvel com recluso de um a

    quatro anos e multa para os dirigentes de ensino pblico ou particular que recusarem

    a matrcula de um aluno.

    Em 1990 - A Conferncia Mundial sobre Educao para Todos, realizada em maro

    na cidade de Jomtien, na Tailndia, prev que as necessidades educacionais bsicas

    sejam oferecidas para todos ( mulheres, camponeses, refugiados, negros, ndios,

    presos e deficientes ). Ainda em 1990 - O Brasil aprova o Estatuto da Criana e do

    Adolescente, que reitera os direitos garantidos na Constituio: o atendimento

  • educacional especializado para portadores de deficincia, preferencialmente na

    rede regular de ensino.

    Em 1994- Em junho, dirigentes de mais de oitenta pases se renem na Espanha e

    assinam a Declarao de Salamanca, um dos mais importantes documentos de

    compromisso de garantia de direitos educacionais. Ela proclama as escolas

    regulares inclusivas como o meio mais eficaz de combate discriminao.

    E determina que as escolas devem acolher todas as crianas,

    independentemente de suas condies fsicas, intelectuais, sociais, emocionais ou

    lingsticas.

    Depois das grandes Conferncias Mundiais dos anos

    noventa e, em particular, depois da Conferncia de

    Copenhague (1995) sobre o desenvolvimento social, a luta

    contra a excluso social reconhecida por todos os governos

    do mundo. Entretanto isto no quer dizer que existam

    prticas coerentes em todos os lugares. Ao contrrio, o

    fenmeno da excluso social cada vez maior e difuso.

    Apesar de inmeros programas tais como o "Programa das

    Naes Unidas para o Desenvolvimento" (PNUD), alm da

    colaborao da Organizao Mundial da Sade (OMS) e a

    Organizao Mundial do Trabalho (OIT) e outras que se

    ocupam da luta contra a excluso social das pessoas mais

    frgeis. A partir de 1998, vrios pases se engajaram na

    prtica dos princpios de Copenhague relativos excluso

    social. Nesta ocasio foi elaborado um documento-base de

    reflexo sobre a oportunidade de se constituir uma rede, que

    foi discutido e aprovado no Seminrio Internacional de

    Trieste (1998). O foco de ateno desta rede seriam as

    pessoas que, por motivos fsicos ou psicolgicos, esto em

    desvantagem na competio geral pelo sucesso individual.

    Desde que existe excluso social, sempre existiram pessoas e

  • grupos que lutaram contra este fenmeno. Existem

    experincias que demonstram como possvel superar as

    motivaes tcnicas ou sociais que so usadas para justificar

    a excluso. O quadro poltico-social sempre foi desfavorvel a

    essas prticas. No entanto, recentemente, pela primeira vez,

    parece haver uma transformao cultural e poltica que

    poderia criar condies favorveis para o processo de

    incluso social. Ana Sheila de Uricoechea

    Sobre o Decreto n 3.298/99 - em seu artigo Regulamenta a

    (Mestre em

    Educao Musical-IPCEP/RJ).

    Em 1996- A Lei de Diretrizes e Bases, no 9394, se ajusta legislao federal e aponta

    que a educao dos portadores de necessidades especiais deve dar-se

    preferencialmente na rede regular de ensino.

    Em 1998 - o MEC lana documento contendo as adaptaes que devem ser feitas nos

    Parmetros Curriculares Nacionais a fim de colocar em prtica estratgias para a

    educao de alunos com necessidades educacionais especiais.

    Em 2001 - o ministrio publica as Diretrizes Nacionais para a Educao Especial na

    Educao Bsica.

    Lei n 7.853, de 24 de

    outubro de 1989, dispe sobre a Poltica Nacional para a Integrao da Pessoa

    Portadora de Deficincia, consolida as normas de proteo, e d outras providncias.

    Do acesso a educao: ressaltamos os artigos Art. 24 e 25 :

    Art. 24: Os rgos e as entidades da Administrao Pblica Federal direta e indireta

    responsveis pela educao dispensaro tratamento prioritrio e adequado aos

    assuntos objeto deste Decreto, viabilizando, sem prejuzo de outras, as seguintes

    medidas:

    * Musicoterapeuta clnica, docente do Curso de Formao e Especializao em Musicoterapia e Mestre em Educao Musical

    http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1989/7853.htmhttp://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1989/7853.htmhttp://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1989/7853.htm
  • I - a matrcula compulsria em cursos regulares de estabelecimentos pblicos e

    particulares de pessoa portadora de deficincia capazes de se integrar na rede

    regular de ensino;

    II - a incluso, no sistema educacional, da educao especial como modalidade de

    educao escolar que permeia transversalmente todos os nveis e as modalidades

    de ensino;

    III - a insero, no sistema educacional, das escolas ou instituies

    especializadas pblicas e privadas;

    IV - a oferta, obrigatria e gratuita, da educao especial em

    estabelecimentos pblicos de ensino;

    V - o oferecimento obrigatrio dos servios de educao especial ao

    educando portador de deficincia em unidades hospitalares e congneres

    nas quais esteja internado por prazo igual ou superior a um ano; e

    VI - o acesso de aluno portador de deficincia aos benefcios conferidos aos

    demais educandos, inclusive material escolar, transporte, merenda escolar

    e bolsas de estudo.

    Art. 25. Os servios de educao especial sero ofertados nas instituies de

    ensino pblico ou privado do sistema de educao geral, de forma transitria ou

    permanente, mediante programas de apoio para o aluno que est integrado no

    sistema regular de ensino, ou em escolas especializadas exclusivamente quando

    a educao das escolas comuns no puder satisfazer as necessidades educativas

    ou sociais do aluno ou quando necessrio ao bem-estar do educando.

    Assumir, portanto a idia de incluir, na globalidade, interrogando continuamente o

    que o social delega s pessoas socialmente relegadas ao plano de irrecuperabilidade,

    reverter processos, ampliar possibilidades, operando na descrena e fazendo

    acontecer o justo e bom momento transcendente e transformador...

    Somamos a isto o fato da Educao Especial ter um cabedal

    de metodologias e tcnicas que podem permitir a efetivao

  • de um trabalho pedaggico que possibilite a sua clientela

    ganhos no mbito de sua aprendizagem e desenvolvimento. A

    Educao Inclusiva prope, portanto, uma escola que possa

    atender s demandas de sua clientela (possua ou no

    necessidades educativas especiais) seguindo os princpios da

    democratizao do ensino. Assim, o enfoque inclusivo

    pretende lidar com as necessidades educativas temporrias ou

    permanentes dos alunos. Rita De Cssia Barbosa Paiva

    Magalhes (UECE/CED)

    Enfim abrindo as portas para incluso:

    No se muda a escola sem mudar as pessoas da escola. E mudar pessoas

    transformar alguns pensamentos, crescer em sentimentos incorporar

    responsabilidades, querer outras formas de fazer e de ser. A escola que prepara para o

    futuro inclusivo, de certo levar suas crianas a conviverem e aprenderem a valorizar

    a diversidade nas suas salas de aula, pois estas sero adultos bem diferentes no

    amanh. Tero outros paradigmas que encaminharo os seus pares e redimensionaro

    os papis, valores e atitudes.

    Sendo o homem resultado da ao de transformao da realidade e de sua adaptao

    a ela, seguido da conscincia de sua capacidade de transform-la... Porque no lhe

    oferecer possibilidades de chegar a ser sujeito de sua prpria ao, em harmonia com

    o si mesmo e no apenas objeto de outros sujeitos?

    Para tal uma escola de Educao inclusiva, buscar ser

    visionria, voltada a transmutar toda e qualquer

    ignorncia em descobertas e inovaes. Os sentidos

    (audio, tato, olfato, viso) serviro para as descobertas e

    a ao servir para inveno (redescoberta). Todo e

    qualquer ser humano pela educao passar a encontrar-

  • se consigo mesmo, com suas capacidades e

    impossibilidades, descobrindo com segurana, confiana e

    coragem de ser, formas de experimentar, agir, inventar,

    criar, fazer coisas novas, criticar e buscar caminhos.( Olga

    Passos Ribeiro e Mestre em Educao (ISA_ADRS e ISERJ)

    Uma escola inclusiva enquanto visionria, sensibiliza o professor, atravs do seu olhar,

    sentir, tocar e ter o que dizer criana. Pois reeditando sua importncia, como o outro,

    na construo de uma identidade e na estruturao da linguagem.

    dela que vir a compreenso e ao sobre o mundo, que seja uma ao construda

    sob valores permanentes numa relao scio-histrica e resiliente.

    Fontes de apoio:

    - A Coordenadoria Nacional para Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia CORDE, o rgo de articulao da poltica definida na Lei n 7.853/89 e no Decreto n 3.298/99 do gabinete da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidncia da Repblica. Sua posio pela incluso educacional como base para a incluso social. Seu papel acompanhar a poltica imprimida pelo MEC e por todo o sistema educacional. seu compromisso garantir que os direitos e a equiparao de oportunidades das pessoas com deficincia estejam atendidos, guardadas as especificidades das deficincias: fsica, auditiva, visual, mental e mltipla.

    Referncias Bibliogrficas: AMARANTE, P. (org.) A loucura da Histria 2000, LAPS/ENSP/RJ., Fund.

    Oswaldo Cruz.

    BOFF, L. Ecologia: Grito da terra, grito dos pobres. 1996, RJ, tica.

    CARVALHO, Rosita Edler , Uma promessa de futuro aprendizagem para todos e por toda a vida,

    Ed. Meditao, Porto Alegre, 2002.

    DELEUZE, G., GUATTARI, F. Mil Plats: Capitalismo e esquizofrenia. 1996, RJ.

    FEURSTEIN, REUVEN. LPDA Evaluacin dinmica del potencial de aprendizaje.

    Madrid, Bruo, 1993.

  • FONSECA, V. Aprender a aprender: a Educabilidade Cognitiva 1998, Porto

    Alegre, Artmed.

    FOREST, M. & PEARPOINT, J. Incluso: um panorama maior. In A integrao de pessoas com

    deficincias, de Mantoan, E. e colaboradores. 1997, SP, Ed. Memnon.

    FOUCAULT, M. Microfsica do poder. 1985, RJ., Graal.F

    MAIOR, Izabel de Loureiro, (2005).Educar, texto inserido em 6/07/2005 site

    www.sentidos.com.br

    MANTOAN, Maria.Tereza.E. (1988). Compreendendo a deficincia mental:

    novos caminhos educacionais. So Paulo: Editora Scipione.

    REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL para Ed. Infantil, MEC, Jan./ 1998.

    RIBEIRO, Olga Passos. (2003) Reflexes Sobre a Estimulao e Tratamento do Beb de Alto-Risco

    Rio de Janeiro: Revista Espao, n 2 , Instituto Nacional de Surdos.

    SANTOS, R. M. de Simo. A natureza da aprendizagem musical e suas implicaes

    curriculares. Dissertao de Mestrado UFRJ, 1986.

    Contatos para mais informes:

    http://portal.mec.gov.br

    http://www.educacaoonline.pro.br

    http://www.planetaeducacao.com.br

    http://www.educacional.com.br

    http://portal.mec.gov.br/http://www.educacaoonline.pro.br/http://www.planetaeducacao.com.br/http://www.educacional.com.br/
  • TRANSTORNOS DO COMPORTAMENTO E RENDIMENTO ESCOLAR

    Jair Luiz de Moraes

    Ainda nos dias de hoje h controvrsias em relao a uma definio dos

    transtornos do comportamento, que varia em diferentes culturas e por isso dificulta o

    diagnstico precoce.

    O desenvolvimento infantil no ocorre somente com mudanas nas estruturas

    fsicas, mas tambm comportamentais resultados das interaes entre o biolgico e o

    ambiente.

    Durante o desenvolvimento fetal, o ambiente tem grande influncia em sua

    evoluo. Estresse, m qualidade de relao conjugal e pouco suporte social, so

    fatores que interagem com a sensibilidade materna, contribuindo para o

    desenvolvimento de transtornos comportamentais. H relatos na literatura que as

    crianas nascidas de mes deprimidas, infelizes, tm maior probabilidade de nascerem

    pr-termos ou de baixo peso; hiperativas; irritveis; com distrbios do sono e

    alimentares.

    Os Pediatras devem estar atentos na deteco precoce de um transtorno do

    comportamento, j que, em alguns casos, intervenes precoces podem melhorar a

    evoluo, levar ao diagnstico de doenas genticas, alm de contribuir na orientao

    dos pais em relao ao prognstico.

    Quando o Pediatra deve considerar um transtorno do comportamento?

    O primeiro ano marcado por mudanas em que as influncias

    familiares e sociais desempenham papel fundamental nos transtornos

    comportamentais;

    Quando houver prejuzos no rendimento escolar no explicado por

    fatores intelectuais, sensoriais ou outras incapacidades;

    Quando houver dificuldade na interao social com os iguais,

    professores ou mesmo familiares;

  • Ao ser observadas reaes comportamentais inapropriadas diante de

    situaes corriqueiras, ou tristeza e depresso contnuas;

    Quando h tendncia a desenvolver sintomas fsicos ou fobias

    associadas a problemas comuns;

    As condies que produzem transtornos do comportamento so de interesse

    prtica cotidiana de Pediatras, por produzirem limitaes significativas no rendimento

    escolar e na interao social dessas crianas.

    Dentre as manifestaes clnicas de algumas condies habitualmente

    observadas na idade pr-escolar ou no incio da vida escolar, que cursam com

    transtornos do comportamento abordaremos dois transtornos muito comuns: TID -

    Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (ou condies pertencentes ao espectro

    autstico) e o TDAH Transtorno do Dficit de Ateno/ Hiperatividade.

    (A) TID Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (ou condies

    pertencentes ao espectro do autismo):

    um distrbio do desenvolvimento humano estudado h vrias

    dcadas, mas sobre o qual ainda permanecem divergncias e grandes questes por

    responder; Ultimamente no s vem aumentando o nmero de diagnsticos, como

    tambm estes vm sendo concludos em idades cada vez mais precoces;

    Os sintomas podem se manifestar desde os primeiros dias de vida, mas

    em geral, so observados a partir dos 2 anos de idade e caracterizado por uma trade

    de sintomas:

    Repertrio limitado de atividades, interesses e comportamentos;

    Comprometimento do desenvolvimento da linguagem (comunicao)

    verbal e no verbal;

    Pobre ou nenhuma interao social, incluindo contato visual;

    Reconhecimento das manifestaes precoces:

  • Entre as manifestaes precoces as que so mais facilmente observadas so

    aquelas relacionadas ao desenvolvimento da linguagem. Logo, recomenda-se que

    o Pediatra avalie com maior profundidade quando:

    Aos (12 meses) a criana ainda no balbucia nem demonstra algum

    tipo de linguagem gestual, como apontar;

    Aos (16 meses) ainda no fala palavras soltas;

    Aos (24 meses) ainda no constri pequenas frases de duas palavras;

    As que apresentam qualquer perda na linguagem ou em capacidades

    sociais em qualquer idade;

    Falta de interesse em relao a pessoas e objetos (so crianas que

    no voltam a ateno quando chamadas pelo nome e que no buscam compartilhar

    interesses);

    Falta de interesse por brinquedos;

    Desinteresse em compartilhar objetos e experincias de que goste;

    Pobre contato visual;

    Intolerncia a contato fsico;

    Posturas e medos inusuais;

    Problemas alimentares;

    Necessidade de rotinas e rituais;

    Movimentos e comportamentos estereotipados;

    Pouca ateno a adultos;

    Crises de birra;

    Regresso ou atraso da linguagem;

    Deficincia na linguagem no-verbal (como apontar);

    Comportamentos obsessivos;

    Falta de brincadeiras imitativas;

    Interesses restritos e estereotipados;

    Como feito o diagnstico de AUTISMO?

  • feito basicamente atravs da avaliao do quadro clnico;

    No h testes laboratoriais especficos para a deteco do autismo;

    Ainda no h marcador biolgico;

    Em geral, solicitam-se exames para investigar condies que podem

    apresentar um quadro de autismo, como, por exemplo: (Sndrome do X-Frgil,

    Fenilcetonria, Esclerose Tuberosa);

    Instrumentos para diagnosticar o AUTISMO: (Usam-se os critrios diagnsticos)

    CID-10 - Classificao Internacional de Doenas da OMS.

    DSM IV - Manual de Diagnstico e Estatstica de Doenas Mentais da AAP.

    CHAT Checklist de autismo em bebs (Baron-Cohen; Allen e Gillberg, 1992).

    Obs: Este ltimo uma escala de investigao aos 18 meses de idade, realizada

    pelos pais e pelo pediatra.

    Critrios diagnsticos para o Transtorno Autista (DSM IV / 4ed) O autista ter, no mnimo, 6 dessas caractersticas, sendo pelo menos duas do item (1); uma do item (2) e uma do item (3): (1) Problemas de Interao Social: Tem dificuldade para entender expresses faciais ou gestos corporais;

    Tem dificuldade para fazer amizade ou se relacionar com outras pessoas de sua

    idade ou grau de desenvolvimento intelectual;

  • Raramente procura, espontaneamente, compartilhar interesses ou atividades

    prazerosas com outras pessoas;

    No corresponde a manifestaes de afeto ou aproximaes sociais;

    (2) Dficits na Comunicao: Falta ou atraso do desenvolvimento da linguagem, no compensada por outros

    meios (apontar, usar mmica);

    Inicia ou, em indivduos com linguagem adequada, mantm uma conversao;

    Repete palavras sem sentido aparente e em situaes estranhas, ou fala de

    forma estereotipada;

    Incapaz de participar de brincadeiras de faz de conta;

    (3) Comportamento, atividades e interesses restritos e estranhos: excessivamente interessado e preocupado por um tema estranho;

    Apega-se a rotinas e rituais;

    Faz movimentos repetitivos e estranhos (estereotipias);

    Interessa-se demais por partes de objetos;

    Critrios diagnsticos para a Sndrome de Asperger (DSM IV)

    Os Aspergers tem pelo menos, duas das caractersticas do item (A), uma do item (b)

    a e resposta positiva para o item (c):

    (A) Dificuldade na Socializao:

    Dificuldade de olhar nos olhos ou de usar a expresso facial e os

    gestos para comunicar seus sentimentos;

    Grande dificuldade em fazer amizade ou mesmo manter uma

    conversao com pessoas de sua idade;

  • No demonstra desejo de compartilhar situaes agradveis ou

    interesses (como apontar para objetos);

    No corresponde a aproximaes sociais ou manifestaes de afeto;

    (B) Comportamento, atividades e interesses restritos e estereotipados:

    Preocupao com assuntos muito especficos e pouco ligados a sua

    realidade (como Dinossauros, nomes de planetas);

    Muito apegado a rotinas ou rituais;

    Preocupao excessiva com partes de objetos;

    (C) Suas limitaes causam srias dificuldades sociais, profissionais ou em outras

    reas importantes de sua vida.

    A integrao das crianas autistas na escola constitui uma preocupao relevante,

    pois apesar de todo o esforo no sentido de aprimorar os critrios diagnsticos, o

    grupo formado a partir destes critrios ainda extremamente heterogneo, pois:

    Algumas crianas falam frases e outras no falam nenhuma palavra;

    Algumas aprendem sozinhas a ler com trs anos e outras nunca vo

    aprender;

    H crianas com desenvolvimento motor normal e outras que s

    andaram com quatro anos;

    Existem crianas com alguma deficincia sensorial (surdez ou

    cegueira), associada a outras sem nenhuma, assim como h crianas com diferentes

    doenas associadas a outras sem qualquer patologia concomitante;

    Atualmente admite-se que existem diferentes graus ou formas de autismo:

    No autismo leve os sintomas relacionados com a dificuldade de

    comunicao, socializao e as manias esto presentes, porm de forma branda. A

  • criana adquire fala a se alfabetiza. Algumas conseguem freqentar uma escola

    regular, podendo, inclusive, concluir um curso universitrio.

    No autismo severo, a criana dificilmente adquire linguagem. Tende a

    manter o isolamento social e, com freqncia, apresenta intensa estereotipia motora e

    automutilao.

    Neste contexto, o papel da Escola fundamental, pois neste momento que a

    criana tem contato natural com outras crianas. Destaca-se ento o papel do

    Professor enquanto mediador das relaes da criana com o contexto escolar,

    adquirindo uma importante funo. Da emergem questes relativas a como o

    Professor pode estabelecer um vnculo positivo que contribua para o desenvolvimento

    da criana autista? E de que forma ele pode ajudar a facilitar a comunicao da criana

    autista com o meio?

    Atualmente, tem-se proposto que as crianas com sintomas do espectro

    autstico freqentem uma escola regular inclusiva, estruturada em funo das suas

    necessidades. Porm, no basta coloc-las no grupo. Sem interveno adequada, a

    criana tende a permanecer isolada, sem dirigir a ateno para a atividade e se auto-

    estimulando com objetos ou brincadeiras repetitivas.

    Em nossa prtica, temos tido bons resultados quando a criana acompanhada

    por um (facilitador / mediador), com o objetivo de atuar como intermedirio nas

    atividades de interao social (relacionamento com os iguais) e de linguagem,

    tentando traduzir as informaes auditivas (ordens verbais) em informaes visuais,

    (apontando ou mostrando figuras relacionadas com o que foi dito) pelo professor.

    Sugestes e Estratgias na abordagem Escolar:

    Manuteno das rotinas de classe bem estruturadas e previsveis

    (mudanas, feriados, frias, etc...);

    Aplicao das regras de forma cuidadosa, bem explicadas (por escrito)

    sem ser as mesmas para toda a classe;

    Usar reas de interesse ao processo de ensino;

  • Procurar usar: Esquemas / Mapas / Listas / Figuras etc.;

    Tentar ensinar sempre baseado no concreto, evitando linguagem que

    possa ser interpretada (sarcasmo, figurada e confusa);

    O ensino explcito e didtico de estratgias, ajuda no ganhar eficincia

    em Funes Executivas como organizao e habilidades;

    Proporcionar adequado treinamento aos profissionais de fora de sala de

    aula (Prof. de Ed. Fsica, Motorista, Cantina, Biblioteca);

    Evitar luta de foras / confrontaes (no entendem demonstraes

    rgidas de autoridade ou raiva);

    Promover a Interao Social:

    Sistema amigo (til para desenvolver habilidades sociais, fazer

    amizades e reduzir a estigmatizao);

    Proteo da criana de ser importunada;

    Tirar vantagens das altas habilidades acadmicas / tero melhor

    aceitao;

    Ateno para problemas comrbidos (ansiedade, depresso, TOC, Tdah,

    comportamento ritualista) uso de frmacos;

    Trabalho em conjunto com a famlia, pessoal de apoio e equipe

    multidisciplinar;

    Atualmente ainda no h tratamento curativo para os TID. Algumas tcnicas

    comportamentais tm sido usadas com resultados satisfatrios quando iniciadas

    precocemente antes dos 4 anos de idade.

    (B) Transtorno do Dficit de Ateno / Hiperatividade

    O TDAH descrito oficialmente em 1902 (George Still), j recebeu vrias

    denominaes ao longo do tempo como, por exemplo: sndrome da criana hiperativa,

    leso cerebral mnima, disfuno cerebral mnima, transtorno hipercintico,

    transtorno primrio da ateno.

  • definido como um transtorno neurobiolgico, de origem gentica de longa

    durao, persistindo por toda a vida, com incio na infncia, comprometendo o

    funcionamento do indivduo em vrios setores de sua vida. uma condio de alta

    prevalncia em crianas em idade escolar, no s pelo impacto funcional e social,

    como tambm pela alta incidncia de comorbidades.

    Caracteriza-se basicamente por 3 grupos de alteraes:

    DESATENO / HIPERATIVIDADE / IMPULSIVIDADE.

    As manifestaes desse transtorno sempre tm incio na infncia. muito

    freqente em idade escolar, e os critrios diagnsticos so mais bem definidos em

    crianas a partir dos 6 anos, especialmente porque, nessa idade, os problemas na

    escola se tornam mais claros, tanto na aprendizagem como no relacionamento com os

    colegas. Varia de 3 a 10% da populao mundial, sendo mais comuns em meninos.

    Atribui-se a dois componentes etiolgicos:

    Fatores Genticos mostram que h risco 2 a 8 vezes maior, entre filhos

    de pais com TDAH;

    Fatores Ambientais adversidades psico sociais, lar adotivo, discrdia

    marital, famlia numerosa, prematuridade, abuso de lcool, tabagismo,

    baixo peso, etc.

    difcil estabelecer o diagnstico em crianas pequenas (abaixo dos 6 anos),

    pois em geral, so naturalmente desatentas impulsivas e ativas, dificultando

    determinar as fronteiras entre os padres normal e anormal de comportamento, a no

    ser naquelas crianas com comportamentos muito anormais causando-lhes prejuzos

    no aprendizado, na socializao e no convvio familiar. de grande importncia a

    deteco precoce, no sentido de evitar que essas questes tomem propores

    maiores.

  • Como diagnosticar o TDAH?

    No h nenhum exame complementar que seja fidedigno ao

    diagnstico;

    O diagnstico exclusivamente clnico, baseado na histria da vida da

    pessoa geralmente com a ajuda dos pais (quando crianas) e com ajuda de familiares

    (no caso de adultos);

    A investigao diagnstica feita por intermdio de questionrios ou

    escalas de avaliao estabelecida pela Associao Americana de Psiquiatria atravs do

    Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais (DSM IV) ou pela Organizao

    Mundial de Sade atravs da Classificao Estatstica Internacional de Doenas e

    Problemas Relacionados Sade (CID 10).

    Critrios diagnsticos do DSM IV e CID-10 para TDAH:

    Sintomas presentes nos ltimos 6 meses;

    Alguns sintomas presentes antes dos 7 anos;

    Os prejuzos ocorrem em mais de um ambiente;

    Prejuzos importantes: social, acadmico e ocupacional;

    Em nosso meio usa-se os critrios diagnsticos proposto pela AAP (DSM IV), os quais

    propem que para se diagnosticar TDAH devem estar presentes no mnimo 6 de uma

    lista de 9 sintomas de DESATENO e/ou no mnimo de 6 de uma lista de 9 sintomas

    de HIPERATIVIDADE e IMPULSIVIDADE.

  • Critrios Diagnsticos para o Transtorno de Dficit de Ateno/Hiperatividade (DSM

    IV)

    Seis ou mais dos seguintes sintomas de DESATENO persistiram por pelo menos 6

    meses:

    Freqentemente tem dificuldade em prestar ateno a detalhes, ou errar por

    descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras;

    Com freqncia tem dificuldade em manter a ateno nas tarefas ou atividades

    ldicas;

    Com freqncia parece no escutar ao lhe dirigirem a palavra;

    Freqentemente tem dificuldade para seguir instrues e terminar tarefas (no

    por incapacidade de compreender ou comportamento de oposio);

    Com freqncia tem dificuldade de organizao;

    Com freqncia evitam tarefas que exijam esforo mental constante;

    Freqentemente perdem coisas necessrias (brinquedos, lpis, livros, etc.);

    facilmente distrado por estmulos alheios tarefa;

    Com freqncia apresenta esquecimentos em atividades dirias;

    Seis ou mais dos seguintes sintomas de HIPERATIVIDADE / IMPULSIVIDADE

    persistiram por pelo menos 6 meses:

    Freqentemente agita as mos ou os ps ou se remexe na cadeira

    Sempre abandona a cadeira escolar ou em outras situaes;

    Freqentemente corre ou escala em demasia, em situaes inapropriadas;

    Com freqncia tem dificuldade em brincar silenciosamente;

    Est freqentemente a mil ou age como se estivesse a todo vapor;

    Com freqncia fala em demasia;

  • Freqentemente d respostas antecipadas antes das perguntas terem sido

    completadas;

    Freqentemente tem dificuldade para aguardar a sua vez;

    Com freqncia interrompe ou se mete em assuntos de outros;

    Prejuzos freqentes causados no indivduo com TDAH:

    Dificuldades no rendimento escolar;

    Dificuldades nos relacionamentos

    Desenvolvimento de um sentimento de baixa auto-estima;

    Problemas profissionais, como mudanas freqentes de trabalho,

    demisses, nvel de realizao abaixo da sua capacidade;

    Maior propenso ao uso de lcool e drogas;

    Maior propenso a acidentes;

    Maior risco de contrarem outros transtornos (depresso, transtornos

    ansiosos);

    Existem condies que podem se confundir com TDAH. Por exemplo:

    Situaes familiares desfavorveis;

    Dificuldades sensoriais (dficit auditivo ou visual), no detectados;

    O uso de medicamentos com substncias usadas no tratamento da

    Asma ou Alergias;

    Hipertireoidismo;

    Transtornos psiquitricos como (Depresso, Transtorno do Humor

    Bipolar, Ansiedade);

    COMORBIDADES:

  • Uma das caractersticas do TDAH a alta incidncia (70%) com outros

    transtornos simultneos exemplificados abaixo:

    Transtornos do aprendizado (leitura, escrita e matemtica);

    Transtorno de Desafio e Oposio e de Conduta;

    Transtornos ansiosos (Pnico, Fobia Social, Tr. de Ansiedade

    Generalizada);

    Transtorno de Humor (depresso, distimia, transtorno bipolar);

    Abuso de drogas e alcoolismo;

    Transtorno de Tiques;

    Recursos para o tratamento:

    Informao e conhecimento sobre o TDAH;

    Tratamento medicamentoso (Metilfenidato como droga de escolha);

    Recursos psicoterpicos (Terapia Cognitiva Comportamental);

    Princpios bsicos para o incio do tratamento pelo Pediatra:

    Reconhecimento do TDAH como condio crnica;

    Estabelecer objetivos a serem alcanados com a famlia, escola e a criana;

    Utilizar o tratamento adequado (Metilfenidato / Terapia Cognitivo

    Comportamental);

    Se os objetivos no forem alcanados, revisar o diagnstico, opes de

    tratamento, aderncia e possibilidade de co-morbidades;

    Manter o tratamento sistemtico do paciente;

    BIBLIOGRAFIA:

    American Academy of Pediatrics-Clinical practice guideline: diagnosis and evaluation of

    the child with atention-deficit hyperactivity disorder. Pediatrics. 2000; 105 (5):1158-70.

  • Assumpo Jnior, F. B. Kuczynski, E. Autismo Infantil: Novas Tendncias e

    Perspectivas. SP ed: Atheneu, 2007.

    Barkley, R.A-TDAH. RS ed: artmed,2002

    Biederman, J. et. al. Attention deficit hyperactivity disorder and juvenile mania: an

    overlooked comorbidity. Psychiatry, 35:997-1008; 1996.

    CID 10 Classificao Estatstica Internacional de Doenas e Problemas relacionados

    Sade. 10 reviso/OMS, ed: Alande, 2006.

    DSM IV - Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais. 4 ed. RS ed: Artes

    Mdicas, 1995.

    Frith, U. (Ed.) (1991). Autism and Asperger Syndrome. Cambridge University Press.

    Gillberg C. & Coleman M. Biology o the Autistic Syndromes. Cambridge University

    Press. New York and Cambridge (2000).

    Gillberg C. A guide to Asperger syndrome.Cambridge University Press. New York and

    Cambridge (2002).

    Ozonoff, S.; Cathcart, K. Effectiveness of a home program intervention for young

    children with autism, 1998; 28(1): 25-32.

    Volkmar, F.R, Lord C, Bailey A, Schultz RT, Klin A. Autism and pervasive developmental

    disorders. J. Child Psychol Psychiarty.

    Informaes sobre TDAH: www.tdah.org.br

    Informaes sobre Autismo: www.ama.org.br

    http://www.tdah.org.br/http://www.ama.org.br/
  • EDUCAO INFANTIL: FUNES E RESPONSABILIDADES

    Joel Bressa da Cunha

    Silvia Camara

    1- A CRECHE E A PR-ESCOLA A Lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB) disciplina a educao escolar no Brasil.

    Vigora a Lei n 9.394, promulgada em 20 de dezembro de 1996, que determina que A

    educao escolar compe-se de: I Educao Bsica, formada pela educao infantil,

    ensino fundamental e ensino mdio; II Educao superior. A referida lei e a

    modificao introduzida pela lei federal n 1.114, de maio de 2005, que ampliou o

    Ensino Fundamental para nove anos, estabelecem que a educao infantil ser

    oferecida em:

    Creches ou entidades equivalentes, para crianas de at 3 anos de idade;

    Pr-escolas, para crianas de 4 a 5 anos de idade.

    A primeira etapa da educao bsica tem como finalidade o desenvolvimento integral

    da criana, considerando a seus aspectos: fsico, psicolgico, intelectual e social. A Lei

    salienta que a educao infantil complementa a ao da famlia e da comunidade,

    numa referncia clara inter-relao da escola com as demais instituies sociais

    envolvidas com a educao e o bem-estar das crianas. Como consequncia da LDB, as

    creches, que antes tinham autorizao para funcionamento e fiscalizao pela

    Secretaria de Sade, passaram a ser vinculadas Secretaria de Educao.

    Historicamente, no entanto, as instituies que recebiam crianas pequenas estiveram

    muito associadas ao atendimento de famlias das classes sociais mais pobres. A

    histria da creche paralela ao desenvolvimento do papel da mulher na sociedade.

    Tambm intimamente ligada histria das lutas sociais em defesa das classes

    trabalhadoras e das crianas. O atendimento tinha como principal objetivo cuidar para

    que as crianas no morressem, em tempos de alta mortalidade infantil. Em outros

    momentos, a creche adquiriu um carter compensatrio, para diminuir a defasagem

  • de conhecimentos entre as crianas pobres por ela atendidas e as outras, de famlias

    mais abastadas. Continuava sendo um local de guarda de crianas. A ateno sade

    acompanhava esse pensamento, tendo um cunho higienista e medicalizante

    predominante.

    Felizmente, a modernizao da sociedade e novos estudos em Psicologia, Pedagogia,

    Medicina e outras reas mudaram o foco dos objetivos da creche, trazendo,

    especialmente, um novo olhar sobre a criana, suas necessidades e seus direitos (e no

    apenas um direito da me trabalhadora). O carter educativo da instituio ganhou

    prioridade a partir do reconhecimento de sua importncia no desenvolvimento

    infantil. Pesquisadores e profissionais de diversas reas esto mobilizados no sentido

    de preparar as instituies da forma mais adequada para receber, acolher e educar

    crianas de zero a cinco anos (inclusive).

    A creche e a pr-escola ainda so socialmente malvistas, em certo grau. Carregam o

    estigma de lugares de guarda de crianas, com incidncia aumentada de doenas. Mas

    cresce o conhecimento da sociedade sobre os benefcios da instituio, vista como um

    espao educacional, preparado especificamente para essa funo, capaz de dar

    ateno ao desenvolvimento integral da criana. A Educao Infantil cada vez mais

    uma opo das famlias para a educao dos filhos. Trata-se de uma forma nova de

    educ-los, que passa por rpidas e importantes mudanas.

    A educao coletiva de crianas pequenas mexe com conceitos, prticas e saberes.

    dinmica e necessariamente passa pela integrao de profissionais de vrias reas,

    entre elas os profissionais de sade.

    Investe-se muito na formao dos educadores com atuao na Educao Infantil, no

    s nas universidades e cursos de especializao, mas tambm, de forma importante,

    nos prprios locais de trabalho (formao em servio).

    O mdico tem, portanto, um novo desafio. Precisa adaptar seus saberes e construir

    conhecimentos sobre a sade e o desenvolvimento das crianas na sociedade

  • contempornea, com tantas transformaes e inovaes, entre elas, as instituies de

    Educao Infantil.

    grande a demanda por informaes e aes ligadas sade e doena por parte das

    famlias e dos educadores. Os profissionais de sade, quando so chamados a atender

    tal demanda, tendem a estabelecer normas com certa rigidez. Por serem abrangentes,

    as normas no conseguem prever a especificidade de muitas situaes. A presena

    rotineira do mdico na instituio permite a viso individualizada de cada caso ou

    situao e, consequentemente, seu melhor encaminhamento. Fica claro que suas

    aes devem ser realizadas de forma integrada com todos os demais profissionais da

    comunidade escolar. Mais ainda, quando se busca melhorar a qualidade de vida,

    outras instncias, como a famlia e parcerias locais fora da escola podem e devem

    estar envolvidas em decises, enfrentamento de problemas e atitudes que, tomadas

    coletivamente, sero mais efetivas. Os determinantes de qualidade de vida, como

    habitao, alimentao, gerao de renda e outros, devem ser sempre considerados

    nessa equao.

    Pensamos na Educao Infantil como instituio que promova qualidade de vida. So

    eixos bsicos, para tal objetivo ser alcanado, a educao em sade, a construo de

    ambientes saudveis e articulao e reorientao dos servios de sade, que atendam

    s demandas de ateno integral sade da comunidade escolar, nos diferentes graus

    de complexidade.

    2 O PEDIATRA 2.1 Atuando na Creche e na Pr-Escola

    A atuao do pediatra em instituies de Educao Infantil voltada promoo de

    sade. Predominantemente preventiva e educativa, ela contempla as crianas, suas

    famlias e toda a equipe da instituio, em um processo de educao continuada.

  • O mdico no pode trabalhar isoladamente, mas agir de forma integrada e harmnica

    com todos os profissionais de sade e de educao da escola, atravs de aes

    conjuntas que priorizem a qualidade de vida. E mais ainda, tais aes devem estar

    articuladas com todos os recursos existentes na comunidade, em particular os servios

    de sade.

    Devemos considerar que a atuao em sade dinmica, podendo mudar de acordo

    com novas contribuies no campo da Medicina, da Psicologia, da Nutrio, da

    Pedagogia e de outras reas, alm de necessariamente valorizar os aspectos culturais

    locais e regionais, bem como as demandas especficas de cada instituio.

    Observados esses aspectos, enumeramos atividades e funes do pediatra:

    Construo de ambientes saudveis, do ponto de vista de higiene e segurana.

    Isso inclui as instalaes, os brinquedos, os objetos e as atividades

    desenvolvidas na instituio, envolvendo as crianas e os adultos. tambm

    importante que os ambientes sejam adequados aos objetivos educacionais, isto

    , que favoream o desenvolvimento infantil. Os espaos precisam ser bem

    ventilados, iluminados, bem equipados e corretos do ponto de vista da

    ergonomia. O pediatra deve contribuir tambm com a qualidade do ambiente

    emocional da escola, que deve estar voltado para a harmonia e para a

    construo de uma cultura de paz.

    Superviso da instituio e concomitante orientao da equipe em questes de

    vigilncia epidemiolgica (preveno, deteco e controle de doenas

    transmissveis, que ocorram na creche / pr-escola, na comunidade ou em

    mbito maior, como no caso de epidemias); interveno em situaes de

    doena e de prestao de primeiros socorros, com os necessrios

    encaminhamentos e providncias; uso de medicamentos na escola, valorizando

    a receita mdica e combatendo a medicao por conta prpria.

  • Orientao e avaliao de triagens de acuidade visual e auditiva, bem como de

    avaliao odontolgica.

    Interveno em situaes de dificuldades escolares, contando com a posio

    privilegiada de observao da criana em seu contexto pedaggico, nas suas

    interaes com os colegas e os educadores.

    Interao com os pais e responsveis pelas crianas, atravs de reunies,

    entrevistas, esclarecimento em caso de doenas ou dificuldades. Nessa

    interao, consideramos de grande importncia fortalecer o vnculo entre a

    famlia e o pediatra da criana.

    Valorizao de temas de Sade nas aes pedaggicas, propondo projetos com

    temas de sade e inserindo crticas e reflexes sobre aspectos relacionados

    sade contidos em textos, programas e atividades.

    Formao em servio dos funcionrios da instituio, com o objetivo de

    aprimoramento profissional, em atividades como reunies, grupos de estudo,

    dinmicas de grupo, projetos.

    Orientao aos educadores e comunidade escolar para a valorizao da

    alimentao saudvel, da prtica regular de atividades fsicas, do controle do

    stress, da vacinao, do vnculo com mdico / servio de sade e do combate a

    hbitos nocivos e violncia.

    2.2 Atuando no Consultrio ou na Unidade Bsica de Sade

    O pediatra tem responsabilidade cada vez maior na orientao s famlias que optam

    pelas creches para a educao de seus filhos pequenos. E, para opinar, ele precisa

    conhecer melhor essa instituio, a respeito da qual poucos tm vivncia pessoal.

    imperativo conhecer as vantagens que a Educao Infantil pode oferecer qualidade

    de vida das crianas, em oposio ao conhecido fator de aumento da ocorrncia de

    infeces. Visitar algumas instituies pode ser uma experincia muito esclarecedora a

  • respeito da educao e dos cuidados de crianas pequenas em ambientes coletivos.

    Tambm mostra a grande diversidade de prestao de servios, com reflexos na sua

    qualidade.

    O pediatra da criana, esteja ele no consultrio ou na Unidade de Sade, ser sempre

    a referncia da famlia e um parceiro importante no sucesso das aes da Educao

    Infantil. Por um lado, participa do processo de preveno e controle de infeces,

    estando atento aos critrios para afastamento e retorno de crianas doentes. Por

    outro lado, depara-se com uma demanda nova, que diz respeito s avaliaes do

    desenvolvimento e do comportamento feitas pela escola. Em todas as questes, o

    pediatra precisa levar em considerao as peculiaridades da instituio.

    Reconhecemos a exigncia de um envolvimento maior do pediatra nas questes

    especficas relativas aos seus clientes que frequentam a creche ou pr-escola.

    importante conhecer a qualidade das propostas pedaggicas e como so orientadas as

    atividades de brincar, de comunicao oral e corporal, de formao de hbitos, de

    construo da identidade, da formao de laos afetivos e de relaes sociais, de

    msica, matemtica, artes visuais, leitura e escrita, dentre outras.

    Destacamos a demanda em funo de dificuldades escolares ou de comportamento,

    identificadas na Educao Infantil, em contextos e situaes novos, s vezes muito

    diferentes daqueles vivenciados pela criana no ambiente familiar.

    A parceria dos pediatras refora a instituio e a sociedade passa a defender a

    Educao Infantil da mesma forma que defende o acesso a outros bens.

    3- A CRIANA

    Toda criana tem direito de receber especial ateno a seu crescimento e

    desenvolvimento. De fato, o que a caracteriza como organismo vivo: crescer e

    desenvolver habilidades em ritmo muito intenso. As instituies de educao infantil

    devem, portanto, ser capazes de atender plenamente a essa necessidade bsica,

  • oferecendo ambientes e atividades adequados a tal objetivo. O currculo da educao

    infantil consta de dois eixos: o de Formao Pessoal e Social, que trabalha os

    contedos de identidade e autonomia, e o de Conhecimento de Mundo, com os

    contedos de Movimento, Msica, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e

    Sociedade, e Matemtica.

    Estruturado dessa forma, o currculo desencadeia atividades diversificadas,

    abrangentes, estimulantes para o desenvolvimento integral da criana em tantas

    reas. claro que o desenvolvimento cognitivo e das habilidades sociais muito

    importante, mas costuma ser subestimado, especialmente quando se trata de crianas

    muito pequenas. Afinal, atividades de leitura e escrita, matemtica e artes visuais, por

    exemplo, no so claramente entendidas como apropriadas para essa faixa etria.

    comum pensar-se que ainda cedo para a criana aprender tais coisas. No entanto, a

    Pedagogia acumulou evidncias suficientes para apoiar essas atividades. Executadas de

    forma adequada, elas resultam em grandes benefcios para a criana.

    Contrapondo-se aos benefcios, destaca-se a maior freqncia de doenas

    transmissveis em crianas que convivem fora de casa, de forma coletiva. O aumento

    do nmero de contatos pessoais o fator decisivo, aliado a outros, inerentes prpria

    idade, que podem tornar a criana suscetvel a infeces em qualquer ambiente:

    Perda dos anticorpos maternos circulantes no sangue do beb;

    Diminuio relativa da proteo do leite materno, a partir da introduo de

    novos alimentos;

    Imaturidade do sistema imunolgico.

    A proteo dos anticorpos maternos e da amamentao (se houver) alta nos

    primeiros seis meses e cai a partir da. At que o sistema imunolgico torne-se mais

    amadurecido, h uma queda fisiolgica da imunidade. So doenas com risco

    aumentado ou provavelmente aumentado em creches e pr-escolas, de acordo com

  • recente artigo de reviso, amplamente baseado em trabalhos realizados fora do

    Brasil:

    Infeces respiratrias;

    Doena diarrica e hepatite A;

    Doenas por vrus (citomegalovirose, varicela zoster, herpes simples);

    Doenas de pele (escabiose, impetigo, pediculose);

    Doena bacteriana invasiva (por Haemophilus influenzae, Neisseria meningitidis

    e Streptococcus pneumoniae)

    As aes em sade na instituio tm uma grande interface com a educao.

    Devem valorizar e intensificar os benefcios da educao infantil e, ao mesmo

    tempo, minimizar o prejuzo sade das crianas e dos adultos da comunidade

    escolar.

    Equivocadamente, muitas pessoas pensam que a funo da creche se resume aos

    cuidados de troca de fraldas, alimentao, banho e sono. Tais cuidados tm

    realmente grande importncia e so relacionados especialmente com a sade. Mas

    no basta cuidar, simplesmente, sem envolvimento, sem criao de vnculos entre

    quem cuida e quem cuidado. Cuidar de uma criana em contexto de educao

    exige a integrao de vrias reas de conhecimento. Aliando de forma adequada as

    funes de educar e cuidar pretende-se enriquecer o desenvolvimento infantil e a

    insero social. As aes devem proporcionar aprendizagens diversificadas,

    realizadas em situaes de interao, ampliando os conhecimentos da realidade

    social e cultural. Os cuidados tm, portanto, grande potencial pedaggico. As

    rotinas so importantes para a criana, pois a ajudam a organizar-se e a sentir-se

    mais segura.

    Troca de fraldas e Banho do beb

    Para completa segurana e maior eficincia, a organizao dessas atividades

    fundamental. Em primeiro lugar, separar todo o material necessrio, para evitar

  • afastar-se da criana durante a troca da fralda ou o banho. Na troca de fralda de uma

    criana que estiver urinada, a pele deve ser limpa com algodo embebido em gua. Se

    forem fezes, alm de lavar com gua e sabonete, revisar a genitlia, para remover

    resduos. Nos raros casos em que no for possvel usar fraldas descartveis, nunca

    utilizar alfinetes de fraldas, mas usar fita crepe para fixar. Secar bem a pele, aplicar

    pomada, se indicado, e vestir a criana. Aps o procedimento, lavar bem as mos, alm

    de limpar e desinfetar a superfcie de troca.

    O banho segue organizao semelhante. Antes de levar a criana ao local, todo

    o material necessrio deve estar separado. Verificar a temperatura da gua. Ao retirar

    as roupas, ver se a criana urinou ou evacuou, procedendo a uma limpeza prvia, antes

    de colocar na banheira. Segurar com firmeza o beb; proporcionar apoio para o

    lactente maior. Lavar primeiro o rosto, com gua limpa. Banhar o corpo, usando

    espuma do sabonete na mo do adulto (no passar a barra de sabonete direto no

    corpo da criana). Secar bem, prestando ateno especial s dobras, aos dedos e aos

    cabelos. Revisar e completar a limpeza da genitlia. Vestir, de acordo com a

    temperatura ambiente. Cuidar correntes de ar e exposio demorada ao frio, com o

    corpo molhado. Aps o procedimento, lavar bem as mos e higienizar a banheira e o

    trocador.

    Quem troca a fralda ou d banho precisa compreender a riqueza desses

    momentos para o desenvolvimento do beb, que passa a conhecer seu corpo atravs

    dos movimentos, dos sons, da viso, do olfato e dos estmulos tteis envolvidos. um

    erro grave cuidar da criana mecanicamente, sem as demonstraes de afeto e os

    estmulos mencionados, mesmo que os procedimentos sejam tecnicamente bem

    executados. A criana aprende nessas atividades e os aprendizados mais simples so a

    base para os mais complexos e elaborados.

    Com a retirada das fraldas a criana passa a usar o vaso sanitrio de tamanho

    adaptado. Quando no houver vaso sanitrio de tamanho adaptado, e for necessrio o

    uso do urinol, este deve ser limpo e desinfetado em local apropriado aps cada mico

    ou evacuao. A criana inicia uma srie de progressos, orientada pelo adulto. No

    princpio, o adulto a incentiva a usar o banheiro e a se limpar, mas obrigatoriamente

    ter que completar a limpeza, reforando as orientaes. Com o tempo, ao observar

  • que a criana j faz o procedimento corretamente, passa a supervisionar, at ter

    certeza de que a atividade acontece de forma autnoma. Da mesma forma com o

    banho: aos poucos o educador vai permitindo criana executar partes da atividade,

    at domin-la por inteiro. Ao final da Educao Infantil, a criana dever despir-se,

    vestir-se, utilizar o banheiro e tomar um banho completo, com autonomia, sem

    necessidade da interveno do adulto. Trata-se de aprendizados em contextos sociais

    reais. Podem e devem ser realizados de forma prazerosa. Sendo encarados

    naturalmente pela criana, levam formao de hbitos saudveis. Tambm no

    exagero afirmar que os aprendizados assim contextualizados so a base para os

    conhecimentos mais complexos. O destino das fraldas, por exemplo, pode ser

    estudado, levando compreenso da importncia do lixo no meio ambiente, suas

    implicaes sociais, econmicas e para a sade. O contato com a gua, especialmente

    se for prazeroso para a criana, ir favorecer a compreenso do seu ciclo na natureza,

    da sua importncia para a sade, do problema da poluio, e assim por diante.

    Banho de sol

    Dada a sua importncia para a formao dos ossos, a equipe dever estar bem

    orientada. O melhor horrio das 8 s 10 horas ou aps as 16 horas. No necessrio

    muito tempo para a desejada ativao da vitamina D (cerca de dez minutos so

    suficientes), mas interessante expor a pele (usar pouca roupa). Considerar o uso de

    filtro solar para atividades ao ar livre mais demoradas. importante que o solrio

    tenha uma rea coberta, para alternar perodos de exposio ao sol com perodos na

    sombra.

    Sono

    importante respeitar o ritmo biolgico de cada criana, considerando que o nmero

    de horas de sono para restaurar o completo bem-estar varivel. Recomendamos o

    sono em local arejado (ventilao essencial), com beros e colchonetes afastados uns

    dos outros, para diminuir a chance de transmisso de vrus ou bactrias. Se no houver

  • muito espao, alternar a posio das crianas, ficando ps-cabea-ps. O sono,

    especialmente aps o almoo, deve ser um momento relaxante e prazeroso. A criana

    deve deitar-se descala, com roupas folgadas e limpas. O rosto e as mos tambm

    devem estar limpos. Lenis e fronhas so de uso individual, respeitando-se os

    cuidados de higiene. O piso deve permanecer livre de objetos (calados e brinquedos)

    que possam favorecer queda de quem se desloque entre os beros e colchonetes. O

    ambiente no precisa estar totalmente escuro, para permitir visibilidade do local.

    Manter atividade para crianas que no dormem ou que acordam antes das outras.

    Acordar com carinho, tranquilidade, podendo usar msica calma.

    Como segurar a criana

    comum observarmos a tendncia de suspender as crianas segurando-as pelos

    braos ou antebraos. Recomendamos que o procedimento, repetido tantas vezes,

    seja feito com as mos espalmadas ao redor do trax, mantendo os membros

    superiores da criana totalmente livres.

    Alimentao

    As atividades de alimentao e educao nutricional so de extrema relevncia e

    ganham um captulo separado nesta publicao.

    Outros cuidados importantes

    Durante o dia, oferecer lquidos com frequncia, para manter a hidratao e a

    fluidificao de secrees. Conservar o nariz limpo, assim como mos e rosto lavados.

    As unhas deve