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Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos

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Manual de

Turismo Sustentávelem Recifes e Ambientes Coralíneos

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Manual de

Turismo Sustentável

INSTITUTO CORAL VIVO

Realização Copatrocínio Patrocínio oficial

em Recifes e Ambientes Coralíneos

Rio de Janeiro, 2016

Primeira edição

Organizadora: Maria Teresa de Jesus Gouveia

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Ficha Catalográfica

Diagramação, ilustrações e artes: Gabriela Dias - Projeto Coral Vivo

M294 Manual de turismo sustentável em recifes e ambientes coralíneos / Projeto Coral Vivo. – 1. ed. - Rio de Janeiro: SAMN, 2016..

32 p. : il. color ; 28 cm

Bibliografia: p.32.

ISBN: 978-85-89128-09-4

1. Ecoturismo. 2. Recifes. 3. Recifes de corais. 4. Corais. 5. Conservação da Natureza. I. Projeto Coral Vivo. II. Associação Amigos do Museu Nacional.

CDD 551.42

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ÍndiceApresentação ....................................................... 5

Capítulo 1: Recifes, Ambientes Coralíneos, Recifes de

Coral e Ambientes Recifais ........................................................ 7Clovis Barreira e Castro, Débora de Oliveira Pires, Emiliano Nicolas Calderon, Gustavo Adolpho Santos Duarte

Capítulo 2: O Turismo e o Turismo Sustentável ..................................................... 11

Maria Teresa de Jesus Gouveia

Capítulo 3: Os Peixes Recifais e o Turismo ...................................................... 17

Yuri Cruz de Paula, Emiliano Nicolas Calderon, Alexandre Schiavetti

Capítulo 4: A Conservação dos Recifes de Corais .................................................... 23

Bárbara Segal, Clovis Barreira e Castro

Capítulo 5: O Turismo em Recifes e

Ambientes Coralíneos ..................................................... 27

Bárbara Segal, Clovis Barreira e Castro, Fábio Negrão, Maria Teresa de Jesus Gouveia, Thaís Hokoç Moura de Melo

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ALEXANDRE SCHIAVETTIDepartamento de Ciências Agrárias e Ambientais, Área de Recursos NaturaisUniversidade Estadual de Santa CruzInstituto Coral VivoE-mail: [email protected]

BÁRBARA SEGALDepartamento de Ecologia e ZoologiaUniversidade Federal de Santa CatarinaInstituto Coral VivoRede SISBIOTA MarE-mail: [email protected]

CLOVIS BARREIRA E CASTROMuseu NacionalUniversidade Federal do Rio de JaneiroInstituto Coral VivoE-mail: [email protected]

DÉBORA DE OLIVEIRA PIRESMuseu NacionalUniversidade Federal do Rio de JaneiroInstituto Coral VivoE-mail: [email protected]

EMILIANO NICOLAS CALDERONMuseu NacionalUniversidade Federal do Rio de JaneiroInstituto Coral VivoE-mail: [email protected]

FÁBIO NEGRÃOSecretaria de Meio Ambiente de Caravelas, BAE-mail: [email protected]

GUSTAVO ADOLPHO SANTOS DUARTEE-mail: [email protected]

MARIA TERESA DE JESUS GOUVEIAInstituto Coral VivoE-mail: [email protected]

THAÍS HOKOÇ MOURA DE MELOTurismo de Observação de Baleias.E-mail: [email protected]

YURI CRUZ DE PAULA Programa de Pós-Graduação em Sistemas Aquáticos TropicaisDepartamento de Ciências Agrárias e Ambientais, Área de Recursos NaturaisUniversidade Estadual de Santa CruzE-mail: [email protected]

Autores

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Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos 5

ApresentaçãoO Projeto Coral Vivo atua na conservação de recifes e ambientes coralíneos sob as

vertentes de pesquisa, educação, políticas públicas e sensibilização da sociedade. No planejamento e execução de suas ações essas quatro vertentes, sempre que possível, se fazem presentes.

Entende que é fundamental promover momentos de formação específica, em processos educativos oferecidos a diferentes grupos sociais que diretamente ou indiretamente se relacionam com aqueles ecossistemas.

Entre os segmentos com o qual o Projeto atua está o segmento do Turismo.

Para tanto realizou no ano de 2007, em Arraial d’Ajuda/Porto Seguro, um Curso voltado à Guias de Turismo e agentes similares de atuação na Costa do Descobrimento. Para aquele momento produziu, especialmente para os cursistas, a publicação “Turismo Sustentável em Ambientes Recifais” (disponível em www. coralvivo.org.br).

No ano de 2015 realizou o evento “Diálogos com a Sociedade: Turismo Sustentável”, em parceria com o SENAC / Porto Seguro e com os Projetos Albatroz, Baleia Jubarte, Golfinho Rotador e Tamar, que juntos formam a rede Biomar de projetos patrocinados pela Petrobras. O evento contou com a presença de 182 participantes dos setores do turismo local e regional, de estudantes dos níveis médio e superior, de autoridades governamentais e membros da sociedade local. A programação do evento apresentou experiências de sucesso no campo do ecoturismo, do turismo de base comunitária e do turismo de observação, bem como perspectivas governamentais e de negócios sustentáveis.

No ano de 2016 realiza mais um momento de formação para profissionais do segmento turístico em Arraial d’Ajuda/ Porto Seguro, quando mais uma vez reforça a comunhão de suas vertentes ao apresentar os conhecimentos que a ciência vem produzindo sobre recifes e ambientes coralíneos, num curso de formação, e objetivando, com essa ação, o fortalecimento de atores sociais na conservação ambiental. Repetindo sua prática, para esse momento, produziu esta publicação para os cursistas, a qual anseia que seja igualmente interessante a todo e qualquer leitor.

O patrocínio da Petrobras vem permitindo a gratuidade para a participação do público nas ações realizadas, bem como o acesso aos materiais impressos.

Maria Teresa de Jesus GouveiaCoordenadora de Educação do Projeto Coral Vivo

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Capítulo 1

Recifes, Ambientes Coralíneos,

Recifes de Coral e Ambientes Recifais

Clovis Barreira e Castro, Débora de Oliveira Pires, Emiliano Nicolas Calderon, Gustavo Adolpho Santos Duarte

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8 Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos

Capítulo 1

Recifes, ambientes

coralíneos, recifes de coral

e ambientes recifais

1

Recifes são toda e qualquer formação rígida no fundo do mar, de origem orgânica (acúmulo de esqueletos de corais, algas calcárias e outros organismos) e/ou inorgânica (rochas ou estruturas artificiais), incluindo-se ainda a área de fundo de areia, cascalho e/ou lama adjacente à estas formações. Em qualquer tipo de recife podemos ver uma concentração de seres agregados na estrutura. Quando entre estes seres encontramos uma grande quantidade de corais (corais-pétreos, corais-de-fogo, octocorais ou gorgônias e/ou corais negros) temos um ambiente coralíneo. Os recifes de coral são ambientes coralíneos especiais, em que a estrutura é composta de esqueletos calcários depositados uns sobre os outros ao longo de muitos anos (ver o vídeo “Vida nos Recifes”, disponível em www.coralvivo.org.br). É importante lembrar

que outros organismos além dos corais formam estes recifes de coral. Por exemplo, as algas calcárias normalmente atuam reforçando a estrutura formada pelos corais. Estes organismos conseguem absorver o carbonato de cálcio da água do mar e edificar estruturas rígidas enquanto crescem. A taxa de crescimento recifal é resultado da taxa de crescimento dos mais diversos organismos e da taxa de erosão natural destas estruturas. Via de regra o aumento da estrutura recifal é lenta, mas como ele vem ocorrendo há milhares de anos, muitos dos recifes de coral são hoje imensas estruturas submersas que servem de abrigo para os mais diversos organismos.

Quando falamos em ambiente recifal nos referimos à comunidade de seres que vive em um recife (independentemente de seu material de origem), incluindo todos os organismos que são encontrados dentro ou sobre sua estrutura e em seu entorno. Portanto um recife de coral, juntamente com todos os organismos que são encontrados nele como esponjas, algas, crustáceos, peixes e até os microrganismos, constitui um tipo de ambiente recifal.

Para facilitar o entendimento, podemos comparar de maneira simplificada a construção de um recife de coral a de uma casa. Numa casa os tijolos formam a maior parte da estrutura. O cimento tem o importante papel de manter todos os tijolos juntos.

1. Extraído de: Castro, C. B.; Pires, D. o.; CalDeron, e. n.; Duarte, G. a. s. Recifes e Ambientes Coralíneos. Pp. 9-11. In: Gouveia, M. T. J. (org.). Educação para a conservação de recifes e ambientes coralíneos: manual de formação de jovens: uma nova geração do coletivo jovem da Costa do Descobrimento. Rio de Janeiro: SAMN, 2015. 50 p.

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Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos 9

Na maior parte da costa da Bahia encontramos ambientes coralíneos sobre recifes de arenito ou em recifes de coral, os quais possuem grande biodiversidade.

A diversidade nos ambientes coralíneos

Aproximadamente 70% da superfície de nosso planeta é coberta pela água salgada dos oceanos. Sua extensão e diversidade de tipos de seres (grupos taxonômicos) lhes conferem grande importância biológica. Este extenso ambiente apresenta grandes variações físicas, como por exemplo de salinidade, pressão (pela profundidade), temperatura e penetração da luz. Além das diferenças físicas na água, encontramos também diferentes tipos de fundo marinho, desde o substrato inconsolidado (macio e móvel), como o constituído por areias e lamas, até o consolidado (sólido e estável), como o dos costões rochosos e recifes. É neste ambiente diverso que encontramos uma grande variedade de organismos adaptados a este meio e suas variações. No mar encontramos uma quantidade de filos muito maior que a do ambiente terrestre. Porém, dentre a diversidade de organismos do ambiente marinho, é no recife de coral que pode ser encontrada a maior diversidade. Daí sua comparação com as florestas tropicais, pois ambos possuem grande complexidade física e biológica e elevado grau de diversidade e especialização.

Os recifes de coral possuem uma extraordinária quantidade e variedade de organismos, embora seja comum estarem localizados em águas tropicais pobres em nutrientes. De cada quatro espécies marinhas, uma vive em ambientes recifais. Estes ambientes possuem a maior diversidade de vertebrados por metro quadrado de nosso planeta. Dentre estes, os mais representativos são os peixes, com mais de 4.000 espécies, representando 65% das espécies de peixes do mar. Os coloridos peixes-anjo, peixes-papagaio(budiões) e peixes-borboleta são exemplos de habitantes característicos dos recifes brasileiros. Nestes ambientes, são encontradas também tartarugas marinhas como a tartaruga-verde (Chelonia midas) e a tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata). Mamíferos são relativamente raros nos recifes de coral, mas cetáceos, como baleias em rota migratória e golfinhos, também podem ser encontrados. Nos recifes de coral também encontramos uma grande variedade de invertebrados, incluindo esponjas, corais, gorgônias, anêmonas-do-mar, camarões, lagostas, caranguejos, polvos, lulas, estrelas-do-mar, ouriços-do-mar, pepinos-do-mar, vermes-de-fogo e milhares de outros organismos.

Mas no recife de coral os organismos não estão presentes apenas sobre o recife e na água circundante. Um certo número de invertebrados, coletivamente denominados criptofauna, vivem escondidos em microhabitats protegidos, como por exemplo dentro do esqueleto de corais ou entre os grãos de areia do fundo marinho. Esses animais

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10 Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos

incluem algumas espécies de esponjas e moluscos bivalves. Um exemplo é a esponja Cliona, que perfura o esqueleto dos corais e habita seu interior.

Os microrganismos, como vírus, fungos e bactérias, tem tamanho microscópico, mas grande variedade de espécies e importância no recife de coral. Possuem papel relevante na ciclagem de nutrientes que mantem a vida do ambiente recifal. Além disso, alguns destes microrganismos são responsáveis pelo aparecimento de doenças nos corais e em outros invertebrados, enquanto outros atuam em mecanismos de defesa ou de ajuda na realização de funções biológicas do mesmo, atuando como a flora bacteriana de nosso intestino.

Toda diversidade de organismos que ocorre em um recife de coral vive de uma maneira integrada neste ambiente mantendo o fluxo de energia no sistema biológico. A cadeia alimentar ou trófica é a sequência de transferências de energia, de organismo para organismo, através da alimentação. As cadeias tróficas normalmente se entrelaçam formando redes tróficas, uma vez que a maioria das espécies consomem mais de um tipo de alimento e servem de alimento para mais de uma espécie. Desta maneira, o bom funcionamento das redes tróficas é responsável pela existência e perpetuação dos recifes de coral.

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Capítulo 2

O Turismo e o Turismo Sustentável

Maria Teresa de Jesus Gouveia

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12 Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos

Capítulo 2

O turismo e o turismo

sustentável

O ecoturismo e turismo sustentável

O conceito de Ecoturismo refere-se a um segmento do turismo, sendo que nele está vinculada a sustentabilidade ambiental em seus processos e procedimentos afetos ao desenvolvimento de suas atividades turísticas. O Ecoturismo alia a conservação ambiental ao envolvimento das comunidades locais e seu desenvolvimento, respeitando a sustentabilidade em suas variadas, mas complementares, vertentes, como a social, econômica e cultural. Objetiva por fim harmonizar o crescimento econômico com a promoção da igualdade social e preservação do patrimônio natural. Assim, os benefícios econômicos associados ao uso racional dos recursos naturais manterão ou ampliarão as oportunidades de trabalho, receitas e inclusão social.

O Ministério do Turismo recomenda que os princípios e os critérios para o desenvolvimento deste segmento considerem a gestão socioambiental dos recursos naturais. Desta forma, espera-se que os impactos positivos do Ecoturismo sejam maximizados, e os negativos sejam minimizados, em especial aos relacionados às Unidades de Conservação que permitem a visitação pública e aos sítios naturais brasileiros.

Para o adequado crescimento e fortalecimento do ecoturismo no Brasil recomenda-se investimentos na capacitação técnica, tanto para os agentes privados como para os agentes públicos, bem como para segmentos das comunidades dos locais ou das regiões onde a atividade turística é desenvolvida.

O conceito de Turismo Sustentável, por outro lado, abrange políticas públicas, práticas e programas que consideram, além das expectativas do turista quanto ao manejo responsável dos recursos naturais na atividade, as necessidades das comunidades que suportam ou são afetadas pelos projetos turísticos.

O turismo e os serviços ambientais

O turismo é uma atividade econômica que envolve direta e indiretamente uma quantidade e variedade considerável de beneficiários. Os turistas, os guias de turismo, os prestadores de serviços nos ramos da alimentação, transporte e hospedagem, para tratar daqueles diretamente envolvidos. Indiretamente são inúmeras as vantagens encontradas nas economias local, regional, nacional e internacional. O turismo no sul da Bahia reforça esse entendimento, pois reveste-se de extrema importância social e econômica.

Assim torna-se um item a ser considerado quando se observam os serviços ecossistêmicos e ambientais.

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Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos 13

São considerados quatro tipos de serviços ecossistêmicos:

• Serviços de provisão – relacionados com a capacidade de prover bens como alimentos, matéria-prima para geração de energia, fibras, fitofármacos e água.

• Serviços reguladores – relacionados com a regulação das condições ambientais, como a purificação do ar, regulação do clima, controle de enchentes e erosão, e controle de doenças.

• Serviços culturais – relacionados ao fornecimento de benefícios, como sociais, recreativos, culturais, educacionais, estéticos e espirituais.

• Serviços de suporte – aqueles relacionados aos processos naturais para que os outros serviços existam, como a ciclagem de nutrientes, a formação dos solos, a polinização e a dispersão de sementes.

Contudo, o termo geral “serviços ambientais” têm sido o mais utilizado, entendendo-o sinteticamente os benefícios providos pelos ecossistemas que garantem a sobrevivência da vida, satisfazendo direta ou indiretamente as necessidades humanas.

Em 2007 foram atribuídas estimativas de valores monetários aos serviços ecossistêmicos do turismo, por hectare/ ano. Para sistemas costeiros foi atribuído o valor de 41.416 dólares, para rios e lagos o valor foi de 2.733 dólares, e para florestas tropicais o valor de 1.460 dólares1.

Já para recifes de corais, pelas oportunidades que a visitação oferece em termos recreativos e de turismo, foi atribuído, aproximadamente, o valor de 68.500 dólares por hectare / ano, também em valores de 20071.

1. teeB. The Economics of Ecosystems and Biodiversity: Ecological and Economic Foundations. Edited by Pushpam Kumar. London and Washington: Earthscan, 2010. P. 425.

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14 Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos

Peixes do Sul da Bahia Invertebrados do Sul da Bahia

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Peixes do Sul da Bahia Invertebrados do Sul da Bahia

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Capítulo 3

Os Peixes Recifais e o Turismo

Yuri Cruz de Paula, Emiliano Nicolas Calderon, Alexandre Schiavetti

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18 Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos

Capítulo 3

Os peixes recifais e

o turismo

1

Os ambientes recifais ocupam um lugar de destaque entre os ecossistemas de maior riqueza e abundância de espécies marinhas. Dentre os organismos que habitam os recifes de coral, os peixes estão entre os mais abundantes e característicos desses ambientes, representando grande parte da diversidade e biomassa nos recifes mais bem conservados. As espécies existentes neles apresentam uma grande diversidade de comportamentos, formas e cores, que integram a beleza cênica desses ecossistemas.

É de conhecimento geral que os peixes, em sua maioria, possuem o corpo coberto por escamas, apresentam nadadeiras e formato corporal fusiforme, que facilitam sua locomoção na água, e respiram o gás oxigênio dissolvido na água através de brânquias. Esses organismos podem ser divididos em dois grupos: os peixes ósseos, que correspondem a mais de 22 mil espécies; e os peixes cartilaginosos, com cerca de mil

espécies. Essa classificação é baseada na estrutura esquelética desses organismos. Espécies como os badejos (Família Epinephelidae) e os vermelhos (Família Lutjanidae) – comuns nos pratos oferecidos em restaurantes do litoral brasileiro – apresentam esqueleto ósseo calcário, aquilo que chamamos popularmente de “espinhas”, por isso, são denominados peixes ósseos. Já os tubarões e raias apresentam um esqueleto mais leve e flexível constituído de cartilagem, semelhante a que forma orelhas e nariz humanos, por isso, são chamados de peixes cartilaginosos.

No Brasil, os peixes recifais correspondem a cerca de 400 espécies, o que equivale a um quarto do total de espécies de peixes marinhos identificados até o momento. Esses animais são elementos-chave para o equilíbrio dos ecossistemas recifais. Nos recifes, os peixes exercem diversas funções ecológicas, compondo diferentes níveis tróficos2 dentro da cadeia alimentar recifal. Algumas espécies se alimentam do plâncton, composto por microalgas e animais microscópicos que constituem a base da cadeia alimentar no ambiente aquático. Outras espécies, como os budiões (Famílias Labridae e Scaridae) e os peixes-cirurgiões (Família Acanthuridae) se alimentam de macroalgas, tendo um papel fundamental na manutenção do equilíbrio das

1. Extraído de: Paula, Y. C.; CalDeron, e. n.; sChiavetti, a. Peixes Recifais e Turismo. Pp. 285-298. In: Zilberberg, C.; Abrantes, D. P.; Marques, J. A.; Machado, L. F.; Marangoni, L. F. B. (eds.). Conhecendo os recifes brasileiros: Rede de Pesquisas Coral Vivo. Rio de Janeiro: Museu Nacional, UFRJ, 2016. 360 p.

2. Níveis tróficos: são os níveis de organização hierárquica das teias tróficas em categorias de acordo com os hábitos alimentares e sua organização na cadeia alimentar.

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Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos 19

relações entre algas e corais. Também encontramos nos ambientes coralíneos peixes carnívoros, como os meros (Família Epinephelidae), as barracudas (Família Sphyraenidae) e os tubarões, que ocupam o topo dessa cadeia alimentar.

Os peixes recifais podem ser encontrados em diversas partes do mundo, principalmente nas águas quentes e rasas das regiões tropicais. A Grande Barreira de Corais da Austrália, que é a maior formação recifal do mundo, assim como os recifes do Caribe e da Indonésia, abriga uma grande diversidade de espécies desses peixes. Comparado a esses locais, o Brasil apresenta uma diversidade menor de peixes recifais. Nas águas brasileiras, podemos encontrar peixes em recifes costeiros, que se distribuem do Maranhão até Santa Catarina, e também em ilhas oceânicas, como Fernando de Noronha (PE) e Atol das Rocas (RN).

Uma característica marcante dos peixes recifais é o elevado número de espécies endêmicas, ou seja, espécies que são encontradas exclusivamente em determinadas regiões. No Brasil, até o momento, foram identificadas 50 espécies endêmicas, entre as quais está o Gramma brasiliensis (Figura 1). Esse pequeno peixe se alimenta do plâncton e apresenta um comportamento interessante: é encontrado de cabeça para baixo no teto de buracos que ele usa como abrigo nos recifes, assim como ficam os morcegos nas cavernas. Outra espécie endêmica é o budião-azul (Scarus trispinosus), um dos maiores e mais belos herbívoros dos recifes brasileiros, que, pelo apreciado sabor de sua carne, é alvo constante da pesca.

Figura 1. Gramma brasiliensis registrado no Parque Municipal Marinho do Recife de Fora, Porto Seguro (BA).Créditos: Clovis Castro.

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20 Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos

Mas como surge o endemismo em peixes recifais se esses ecossistemas estão conectados pela água do mar? O primeiro fator a ser levado em conta é a capacidade de dispersão das espécies. Existem peixes, como os tubarões, que nadam livremente pelo oceano aberto e, por isso, podem apresentar uma ampla distribuição geográfica. Já outras espécies, como os peixes-donzela (gênero Stegastes), que dependem dos recifes para obter alimento e abrigo, deslocam-se pouco e acabam apresentando uma distribuição restrita. Outro fator importante para o surgimento de endemismos em ambientes recifais é a história dos eventos tectônicos, climáticos e oceanográficos, que ao longo das eras geológicas podem ter promovido especiações nesses locais.

Apesar do nome, os peixes recifais não habitam apenas os recifes. Algumas espécies, como o dentão (Lutjanus jocu), em seus primeiros estágios de vida são encontradas em verdadeiros berçários da vida marinha: os manguezais. Localizados em estuários, os manguezais estão nas proximidades do encontro entre os rios e o mar e abrigam entre as raízes e os rizomas submersos de suas árvores uma grande quantidade de peixes juvenis. Esses jovens organismos, quando atingem um tamanho maior, migram para os recifes, onde continuam seu ciclo de vida. Os bancos de gramas marinhas podem estabelecer a conectividade entre os manguezais e os recifes, formando um mosaico ecossistêmico fundamental para a sobrevivência dessas espécies.

Implicações do turismo para a conservação dos peixes recifais

Nas últimas décadas, foi registrado um aumento das atividades turísticas realizadas em ambientes recifais em todo o mundo. Os turistas buscam nesses locais um contato mais próximo com a exuberante vida marinha. Os peixes estão entre os organismos mais procurados3, seja pelo excitante encontro com os tubarões, seja pela contemplação das cores vivas dos pequenos peixes. No extenso cardápio de atividades, o turista pode optar por fazer um passeio sobre os recifes a bordo de barcos com fundo de acrílico, que permite uma visão panorâmica da paisagem subaquática. O turista pode escolher também alugar nadadeiras, máscara e snorkel e flutuar nas águas tranquilas e cristalinas das piscinas naturais formadas nos recifes. A alimentação recreativa de peixes é outro forte atrativo. O fornecimento de alimento pelo turista atrai um maior número de peixes, que se aproximam, podendo ser vistos de mais perto e, até mesmo, acariciados. Caso o turista queira conhecer os recifes mais a fundo, pode também fazer um mergulho autônomo e percorrer trilhas subaquáticas, acompanhado por instrutores de mergulho.

Atualmente, uma das principais fontes de distúrbio do turismo é a alimentação recreativa dos peixes (Figura 2). Essa atividade é estimulada pelas operadoras de turismo com o objetivo de atrair o público com a possibilidade de um contato maior com diferentes espécies. O turista pode alimentar desde os pequenos peixes até os grandes tubarões. Durante a alimentação, podem ser oferecidos camarões, peixes, pão, biscoito, rações para cães e peixes e, em alguns casos, até restos de comida.

3. Floeter, s.r.; halPern, B.s.; Ferreira, C.e.l. 2006. Biological Conservation, 128(3):391-402.

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Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos 21

Figura 2. Alimentação recreativa e uma aglomeração de sargentinhos. Créditos: Banco de imagens Projeto Coral Vivo.

A alimentação recreativa dos peixes pode provocar alterações no comportamento das espécies que consomem o alimento oferecido e, indiretamente, afetar outras espécies. Uma das principais alterações comportamentais é o condicionamento dos peixes à oferta de comida por humanos4. Nesse caso, os peixes podem deixar de consumir seus alimentos naturais, ficando dependentes dos alimentos artificiais. Caso a alimentação recreativa seja interrompida, muitos

peixes podem morrer, até que a população estabeleça seu equilíbrio. Outra consequência desse condicionamento é que os peixes ficam habituados à presença humana5 e se aproximam muito das pessoas, o que aumenta o risco de captura desses organismos. Nos recifes do Nordeste do Brasil, peixes acostumados com a alimentação recreativa associam a presença humana à oferta de alimento e seguem os turistas mesmo que eles não lhes ofereçam comida.

Grandes aglomerações de peixes recifais podem ser formadas durante a alimentação recreativa, o que promove uma competição intensa pelo alimento entre indivíduos da mesma espécie e de espécies diferentes. Isso promove o aumento da agressividade nos peixes6, que resulta em ferimentos provocados por mordidas, exclusão das espécies menos agressivas das áreas de alimentação e aumento de ataques aos humanos. Existem muitos registros de turistas sendo mordidos por peixes enquanto os alimentam com as próprias mãos.

A alimentação recreativa em áreas específicas dos recifes pode alterar os padrões de distribuição dos peixes, devido às migrações de algumas espécies para as áreas de alimentação. Além disso, peixes como os tubarões-de-cabeça-chata (Carcharhinus leucas) dos recifes de Fiji7, no Oceano Pacífico, costumam explorar grandes áreas em busca de alimento e passaram a ter uma distribuição mais restrita. Outras espécies podem até inverter seus padrões de comportamento noturno, como ocorreu com a raia-prego (Dasyatis americana) das Ilhas Cayman8, nos recifes do Caribe, visto que as atividades turísticas acontecem durante o dia.

4. Pereira, P.h.C.; Moraes, r.l.; Dos santos, M.v.B.; liPPi, D.l.; Feitosa, J.l.l.; PeDrosa, M. 2014. Ichthyological Research, 61(4):375-384.

5. ilarri, M.i.; souza, a.t.; MeDeiros, P.r.; GreMPel, r.G.; rosa, i.l. 2008. Neotropical Ichthyology, 6(4):651-656.

6. Hammerschlag, N.; Gallagher, A.J.;Wester, J.; luo, J.; ault, J.s. 2012. Functional Ecology, 26(3):567-576.

7. BrunnsChWeiler, J.M.; aBrantes, K.G.; Barnett, a. 2014. PLoS ONE, 9(4):e94148.

8. CorCoran, M.J.; WetherBee, B.M.; shivJi, M.s.; PotensKi, M.D.; ChaPMan, D.D.; harveY GM 2013. PLoS ONE, 8(3): e59235.

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22 Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos

Alguns impactos indiretos da alimentação recreativa podem atingir outras espécies de peixes recifais. No Brasil, é comum encontrar grandes aglomerações de sargentinhos (Abudefduf saxatilis) nas áreas de alimentação de recifes costeiros. No Parque Natural Municipal do Recife de Fora, em Porto Seguro (BA), o comportamento agressivo do sargentinho parece afetar a distribuição de outras espécies, como as cocorocas (Haemulon aurolineatum), que não se aproximam durante o fornecimento de alimento, pelo menos até que a aglomeração de sargentinhos seja desfeita. Nessa mesma área, alguns sargentinhos, durante a alimentação recreativa, aproveitam para “furtar” as fazendas de algas cultivadas por donzelinhas (Stegastes fuscus). As donzelinhas, na tentativa de expulsar o grande número de peixes que entram em seus territórios atraídos pelo alimento artificial, deixam suas fazendas expostas, o que facilita a ação dos sargentinhos. Aparentemente, as aglomerações de peixes promovidas pela alimentação recreativa induzem a um aumento do comportamento de defesa do território e a uma diminuição da taxa de alimentação das donzelinhas.

A alimentação recreativa também gera impactos negativos na estrutura das comunidades de peixes. O fornecimento de alimentos suplementares favorece o aumento das populações que os consomem. Sabe-se que a alimentação suplementar aumenta a taxa de sobrevivência e de reprodução desses organismos. No Brasil, a alimentação recreativa favoreceu o aumento das populações de sargentinhos nos recifes de Picãozinho9 (PB), Maragogi10 (AL) e Recife de Fora (BA). Nesses locais, os sargentinhos dominam a comunidade de peixes – o que não é a condição natural dessas comunidades. Essa alteração, em longo prazo, pode provocar mudanças nas relações ecológicas e na cadeia alimentar desses ecossistemas.

O colapso desses ambientes recifais pode gerar prejuízos econômicos e sociais às populações humanas que dependem dos recursos fornecidos pelos recifes.

Existem outras fontes de impacto do turismo que podem atingir os peixes recifais. Nos recifes, a presença de um grande número de turistas se movimentando na água pode revolver o sedimento do fundo, aumentando a turbidez da água. Esse sedimento em suspensão na água pode dificultar a orientação espacial de peixes jovens, o que os torna mais susceptíveis à ação de predadores, visto que os peixes possuem uma orientação visual.

Outro fator preocupante é o lixo plástico lançado no mar por turistas, e que pode prejudicar os peixes recifais, além de tartarugas, golfinhos e aves marinhas. Os plásticos podem matar os animais marinhos pela ingestão e pelo aprisionamento. As sacolas plásticas, devido ao aspecto mole e transparente, são facilmente confundidas com águas-vivas, e podem matar os peixes asfixiados ao tentarem se alimentar. Outros materiais plásticos podem aprisionar os peixes, o que caracteriza um tipo de pesca fantasma11. Os peixes aprisionados não conseguem obter alimento e morrem de fome.

9. MeDeiros, P.r.; GreMPel, r.G.; souza, a.t.; ilarri, M.i.; saMPaio, C.l.s. 2007. Pan-American Journal of Aquatic Sciences, 2(3):288-300.

10. Feitosa, C.v.; Chaves, l.D.C.t.; Ferreira, B.P.; De arauJo, M.e. 2012. Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom, 92(07):1525-1533.

11. Pesca-fantasma: capturas de organismos marinhos provocadas por aparelhos ou artes de pesca perdidos ou abandonados no mar. Por exemplo, os animais podem se prender acidentalmente em redes, não conseguir se livrar e acabar morrendo de fome ou asfixiamento.

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Capítulo 4

A Conservação dos Recifes de Corais

Bárbara Segal, Clovis Barreira e Castro

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24 Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos

Capítulo 4:

A conservação dos recifes

de corais

1

Ações para a conservação de ambientes recifais

Devido ao reconhecimento dessa grande importância socioeconômica que os recifes representam para o homem e ao fato da existência deles estar ameaçada em todo o mundo, têm surgido diversas tentativas de protegê-los. Os primeiros esforços para a preservação das áreas recifais no mundo e consequentemente no Brasil também, se deram através da criação de Unidades de Conservação (UC). No Brasil, o Atol das Rocas foi a primeira UC marinha brasileira, criada em 1979. O Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, criado em 1983, é o mais importante em termos de área recifal protegida, pois dentro de seus limites estão os recifes de coral mais ricos do Atlântico Sul. Este Parque Nacional completou este ano seus 25 anos de criação, a qual foi um marco na história da conservação marinha brasileira.

Ainda hoje os governos, nas esferas federal, estadual ou municipal, têm empenhado esforços na implementação de Unidades de Conservação, como Parques, Áreas de Proteção Ambiental ou Reservas Extrativistas, entre outros.

Atualmente, há um maior número de UCs protegendo áreas recifais no Brasil, nas três esferas govenamentais, tais como:

• Federais (Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, BA, Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, PE, Reserva Biológica do Atol das Rocas, RN, Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, PE-AL, Reserva Extrativista Marinha do Corumbau, BA.

• Estaduais (Parque Estadual Marinho do Parcel de Manuel Luís, MA, Área de Proteção Ambiental Costa dos Recifes, RN, Parque Estadual Marinho da Areia Vermelha, PB, Área de Proteção Ambiental Estadual da Baía de Todos dos Santos, BA, Área de Proteção Ambiental Estadual Tinharé-Boipeba, BA, Área de Proteção Ambiental da Ponta da Baleia, BA);

1. Extraído de: seGal, B.; Castro, C. B. PP. 23-25. in: Gouveia, M. t. J. (org.). Educação para a conservação de recifes e ambientes coralíneos: manual de formação de jovens: uma nova geração do coletivo jovem da Costa do Descobrimento. Rio de Janeiro: SAMN, 2015. 50 p.

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Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos 25

• Municipais (Área de Proteção Ambiental Municipal Recife das Pinaúnas, Itaparica, BA, Parque Municipal de Preservação Marinha de Coroa Alta, Santa Cruz Cabrália, BA, Parque Natural Municipal do Recife de Fora, Porto Seguro, BA).

Os exemplos desta lista demonstram a importância dos recifes de coral no Estado da Bahia. A própria Constituição do Estado da Bahia prevê a proteção integral destes ecossistemas.

Reserva Extrativista Marinha do Corumbau, BA Créditos: Enrico Marone.

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Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos 27

Capítulo 5

O Turismo em Recifes e

Ambientes Coralíneos

Bárbara Segal, Clovis Barreira e Castro, Fábio Negrão, Maria Teresa de Jesus Gouveia, Thaís Hokoç Moura de Melo

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28 Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos

Capítulo 5

O turismo em recifes e

ambientes coralíneos

1

Diversas atividades turísticas praticadas nesses ambientes causam impactos negativos diferenciados. A seguir estão relacionadas as atividades seguidas de ações praticadas que minimizam os danos aos ambientes.

Mergulho livre (“snorkelling’’) e autônomo (“scuba”)

Os principais danos causados por estas atividades são:

• Quebra do recife por âncoras das embarcações;

• Poluição pelo esgoto das embarcações;

• Quebra de corais diretamente pelos visitantes. Por exemplo: batendo nadadeiras nos animais, caindo ou roçando no recife, em geral pela falta de habilidade para controlar a flutuabilidade; ficando de pé sobre o recife submerso;

• Perturbação aos animais marinhos geralmente por toque.

Em todo o mundo, algumas ações são sugeridas para minimizar este tipo de dano:

• Utilização de poitas com bóias para amarração das embarcações;

• Adoção de sistema de tratamento de esgoto ou caixa de resíduos em um circuito fechado nas embarcações;

• Checagem, pelo “dive master” ou condutor de turismo subaquático, da flutuação dos mergulhadores no início dos mergulhos;

• Desencorajar a utilização de luvas e facas, pois assim os mergulhadores irão evitar tocar nos animais;

• Atenção especial (por parte do condutor) aos iniciantes, que devem ser mantidos mais distantes do recife, não só para minimizar danos ao ambiente, como também para garantir maior segurança do turista;

• Boas informações para ajudar o turista antes de entrar (“briefings”) e depois de sair (“debriefings”) na/da água são muito importantes para esclarecer e alertar o visitante;

1. Extraído de: seGal, B.; Castro, C. B.; neGrão, F.; Gouveia, M. t. J.; Melo, t. h. M. Turismo Sustentável em Ambientes Recifais. Rio de Janeiro, Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN - Projeto Coral Vivo), 2007. 15 p..

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Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos 29

• Se possível, monitorar o impacto dos turistas e limitar o tamanho do grupo (quando houver), permitindo maior controle e minimizando quebra de corais ou outro tipo de distúrbio;

• Apresentação aos turistas de guias de identificação da fauna e flora marinha e de como agir no ambiente recifal, em forma de pranchetas,cartazes, painéis, vídeos e livros ilustrados;

• Quando a atividade for realizada em Unidade de Conservação (UC), apresentar a importância da área para conservação, assim como materiais específicos sobre a mesma.

Trilhas submarinas

As trilhas submarinas conferem um valor a mais à visita ao recife. A área deve ser abrigada de ondas e fortes correntes por razões de segurança. O condutor deve estudar a área,observando formas de vida, corais e outras formações interessantes e mapeá-los. Antes do mergulho, durante a palestra informativa, ou “briefing”, o mapa com o percurso a ser percorrido e os pontos interessantes e suas curiosidades devem ser apresentados ao visitante.

Quando forem utilizadas placas de sinalização, estas devem ser fixadas de forma a causar o mínimo dano ao recife, preferencialmente na areia. No entanto, sua utilzação é difícil devido à dificuldade de leitura (principalmente no caso de mergulho

livre), à necessidade de limpeza constante para remoção de algas e outros organismos incrustantes, e também à legislação específica de cada Unidade de Conservação (UC). O ideal é providenciar uma prancheta com as informações sobre a trilha desenhadas em um mapa ou roteiro a ser seguido.

E para miminizar:

• É importante limitar o número de visitantes por trilha e o tamanho dos grupos, para não impactar demais a área. Danos excessivos ao ambiente da trilha podem fazer que ela se torne desinteressante para o visitante.

• Deve-se utilizar uma área rasa, onde se tem maior visibilidade. No entanto, deve-se manter uma certa distância do fundo para evitar que as nadadeiras quebrem os corais e outros organismos ou promovam suspensão do sedimento. A lém da suspensão causar danos aos corais, a água turva atrapalha o grupo seguinte e o visitante perde o interesse pela atividade, pois esta é prejudicada pela pouca visibilidade.

• Caso se perceba que a trilha está impactada, deve-se fechar esta área para recuperação e retomá-la tempos depois.

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30 Manual de Turismo Sustentável em Recifes e Ambientes Coralíneos

Caminhada sobre o platô recifal

Esta atividade permite que pessoas que não mergulham possam conhecer o ambiente recifal, promovendo uma visita agradável e educativa. Esta atividade deve ser estudada cuidadosamente, pois de forma desordenada pode causar grandes danos por pisoteio, como a morte de partes inteiras do recife.

Pesquisadores do Egito observaram que quando há uma forte pressão de pisoteio sobre o recife, além dos danos biológicos, ocorre uma redução do apelo estético para o visitante. Ou seja, os turistas preferem visitar áreas onde a comunidade coralínea está mais preservada. Portanto, deve haver uma série de cuidados por parte do condutor de visitantes sobre o platô recifal para minimizar os danos aos organismos recifais e também para garantir a segurança do visitante. Em algumas UC’s é proibido o contato físico com o platô recifal.

As principais recomendações para estas atividades são:

• O posicionamento do percurso pode aproveitar rotas já existentes, como aquelas usadas por pescadores, ou canais de areia no recife, ou áreas sem corais vivos - como por exemplo áreas expostas na maré baixa.

• Lembramos que muitas vezes existem centenas de pequenas poças de maré que abrigam organismos, que ficam protegidos da exposição ao ar livre, e que o pisoteio indiscriminado pode causar danos de grandes proporções a estas populações;

• Os visitantes devem ser instruídos a andar em fila indiana e não espalhados pelo recife;

• Nenhum organismo deve ser retirado de seu ambiente para ser exposto em quaisquer outros locais. Existem restrições nesse sentido na legislação e, especialmente, o guia ou monitor não tem direito de ignorá-las. Organismos fixos ao recife jamais devem ser retirados, pois não conseguem se fixar novamente e morrem. Não se pode esquecer que o maior atrativo da visita a um recife é ver como as coisas estão em seu ambiente natural;

• Uma forma sugerida pela equipe do Projeto Coral Vivo, em alternativa ao manuseio dos animais, é a utilização de visores de PVC com fundo de vidro. Estes visores funcionam como uma máscara de mergulho “a seco”, utilizada de fora d’água. Com ele, o visitante tem uma melhor visão dos organismos dentro d’água, sem necessidade de mergulhar ou retirar os animais do seu ambiente.

Observação e alimentação de peixes

Os peixes em piscinas de maré podem ser facilmente observados com visores ou máscaras. Se o visitante tiver um pequeno guia de identificação em prancheta de PVC poderá aproveitar mais ainda a atividade, reconhecendo as espécies de peixe observadas e curiosidades do seu comportamento, que podem ser apresentadas pelo condutor.

Há danos caso ocorra a alimentação de peixes no recife, já que não é uma prática aceitável, pois altera o comportamento dos animais e sua dieta, em alguns casos tornando os peixes agressivos. Além disso, pode promover maior exposição aos predadores naturais - peixes menores atraídos pela oferta “fácil” de alimento podem se expor em situações de alto risco.

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Barcos com fundo de vidro

Esta também é uma excelente opção para visitantes que não mergulham ou nadam.

No entanto, os barcos também oferecem algum perigo de dano ao recife, pois navegam em águas muito rasas. Desta forma, os barqueiros devem ser devidamente treinados para esta atividade, os locais cuidadosamente selecionados, as embarcações devem receber manutenção apropriada e devem ser fundeadas em bóias próximas ao recife. Além disso, é interessante que os guias ou monitores sejam bem treinados para darem explicações sobre a fauna e flora recifal para os visitantes. Não conhecemos qualquer operadora com este tipo de atividade em recifes brasileiros.

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Literatura recomendada e consultada

Guimarães, r.Z.P.; GasParini, J.L.; rocha, L.a.; Ferreira, c.e.L.; FLoeter, s.r.; ranGeL, c.a.; nunan, G.W. 2001. Peixes recifais brasileiros: riqueza desconhecida e ameaçada. Ciência Hoje, 28(168):16-23.

Ministério do Meio Ambiente, MMA, 2005. Consumo Sustentável. Manual de Educação. Brasília: MMA/MEC/IDEC

orams, M.B. 2002. Feeding wildlife as a tourism attraction: a review of issues and impacts. Tourism Management, 23(3):281-293.

samPaio, c.L.s.; nottinGham, m.c. 2008. Guia para Identificação de Peixes Ornamentais. v.I: espécies marinhas. Brasília: Ibama. 205p.

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