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2021 2ª edição revista, atualizada e ampliada Mauro Schiavi Manual didático de DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Manual didático de DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO...DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO VI DA PETIÇÃO INICIAL E DA RESPOSTA 1. DA PETIÇÃO INICIAL NO PROCESSO DO TRABALHO A petição

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  • 2021

    2ª ediçãorevista, atualizada e ampliada

    Mauro Schiavi

    Manual didático de

    DIREITOPROCESSUAL DO TRABALHO

  • VI

    DA PETIÇÃO INICIAL E DA RESPOSTA

    1. DA PETIÇÃO INICIAL NO PROCESSO DO TRABALHO

    A petição inicial é a peça formal de ingresso do demandante em juízo,na qual apresenta seu pedido, declina a pessoa que resiste ao seu direito, explica os motivos pelos quais pretende a atuação jurisdicional e pede ao Estado-Juiz a tutela do seu direito.

    Do conceito que adotamos, a petição inicial apresenta as seguintes características:

    a) peça formal: a petição inicial é peça formal, pois deve ser elabo-rada observando-se os requisitos previstos em lei (arts. 840 daCLT e 319 do CPC). Ainda que a CLT admita a petição inicialverbal, deve ser reduzida a termo, conforme o § 2º, do art. 840da CLT;

    b) rompe a inércia do Judiciário: pela petição inicial se provoca oexercício da jurisdição, que deve dar uma resposta à pretensãoque foi trazida a juízo;

    c) individualiza os sujeitos da lide: é estabelecido o limite subjetivoda lide, ou seja, em face de quais pessoas a jurisdição atuará;

    d) apresenta o motivo da lide e do pedido: o demandante devedizer os motivos pelos quais há resistência de seu direito e emrazão dos quais pede a tutela jurisdicional.

    Também deve o demandante fazer o pedido, que é o objeto da lide, o bem da vida pretendido. O pedido balizará toda a atuação jurisdicional.

    A importância da inicial é vital para o processo, pois é ela que baliza a sentença, que não pode divorciar-se dos limites do pedido (arts. 141 e

  • MANUAL DIDÁTICO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO • Mauro Schiavi 268

    492 do CPC), e é em cima dela que o réu formulará sua resposta, resis-tindo ao direito do autor.

    Pelo princípio do dispositivo que norteia o processo, todas as pretensões que o reclamante nele pretende postular devem ser articuladas no corpo da inicial (princípio da eventualidade da inicial), sob consequência de, salvo quando a lei permitir (aditamento ou emenda da inicial), não poder mais alegar qualquer outra matéria na mesma causa (preclusão consumativa). Em contrapartida, se a matéria não estiver prescrita, o reclamante poderá, em outro processo, mesmo com suporte em idêntica causa de pedido do processo anterior, aduzir novas pretensões, mediante nova petição inicial.

    2. REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL TRABALHISTA

    Os requisitos da inicial são os elementos que ela deve conter, discipli-nados na lei, como condição de validade da inicial e viabilidade de prosse-guimento da relação jurídica processual. A petição inicial apta, ou seja, a que preenche os requisitos legais, constitui pressuposto processual de validade e desenvolvimento do processo (ver art. 840 da CLT e art. 319 do CPC).

    São requisitos da petição inicial trabalhista:

    a) Endereçamento: O endereçamento está previsto no art. 840 da CLT.Nos termos do § 1º, do art. 840, da CLT, “a reclamação deverá contera designação do Presidente da Junta, ou do Juiz de Direito a quemfor dirigida [...].”

    No endereçamento, indica-se a Vara do Trabalho ou órgão judiciário (Tribunal Regional do Trabalho ou Tribunal Superior do Trabalho) para o qual a ação se dirige. A invocação é dirigida ao órgão, e não ao seuocupante, dado o caráter impessoal do exercício da jurisdição.

    Com o endereçamento, o reclamante já declina a competência em razão da matéria, do lugar e funcional.

    b) Qualificação das partes: a CLT exige que as partes sejam qualificadas,devendo o reclamante indicar seu nome completo, CPF, RG, númeroda CTPS, endereço, nome do reclamado, endereço, CNPJ da empresa,o endereço eletrônico etc.10, etc.

    10. No aspecto, o art. 19, da Resolução n. 185/17 do CSJT: “A distribuição da ação e a juntada da resposta, dos recursos e das petições em geral, todos em formato digital, nos autos de

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    Com a qualificação, individualizam-se reclamante e reclamado, fixan-do-se o elemento subjetivo da lide e as partes sobre as quais a jurisdição irá incidir.

    c) Causa de pedir (breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio): adoutrina costuma denominar a exposição dos fatos e fundamentosjurídicos do pedido como causa de pedir ou causa petendi. É constituídada: a) narrativa dos fatos que, segundo o autor, geraram as consequênciasjurídicas pretendidas; b) proposta de enquadramento do fato numanorma jurídica ou no ordenamento jurídico.

    Não há necessidade de indicar os dispositivos legais, pois o Juiz co-nhece o direito (juria novit curia). Além disso, não fica o Juiz vinculado à qualificação jurídica dos fatos dada pela parte, pois pode qualificá-los de outra maneira.

    Segundo a doutrina, os fundamentos de fato são a causa próxima e os fundamentos de direito, a causa de pedir remota.

    O Código de Processo Civil brasileiro, segundo entendimento domi-nante da doutrina, adotou, quanto à causa de pedir, a teoria da substan-ciação, pois exige os fundamentos de fato e jurídicos do pedido.

    processo eletrônico, serão feitas diretamente por aquele que tenha capacidade postula-tória, sem necessidade da intervenção da secretaria judicial, de forma automática. (Artigo alterado pela Resolução CSJT n° 241/2019 – DeJT 6/6/2019.§ 1º A petição inicial conterá, além dos requisitos do art. 840, § 1º, da CLT, a indicação doCPF ou CNPJ das partes, na forma do art. 15, caput, da Lei nº 11.419/2006.§ 2º É de responsabilidade exclusiva do autor cadastrar corretamente todos os assuntosabordados na petição inicial, bem como indicar a correta e precisa atividade econômicado réu exercida pelo autor, conforme opções disponibilizadas pelo Sistema.§ 3º No lançamento de dados do processo pelo usuário externo, além dos dados contidos no § 2º, sempre que possível serão fornecidos, na forma do art. 31, II, da Consolidaçãodos Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho (CPCGJT) e do art. 2º doProvimento nº 61/2017 da Corregedoria Nacional de Justiça:I – o CEI (Cadastro Específico do INSS contendo número da matrícula do empregador pes-soa física); II – o Número de Identificação do Trabalhador (NIT) perante o INSS; III – o PISou PASEP; IV – o número da CTPS do empregado; V – o CNAE (Classificação Nacional deAtividades Econômicas – código do ramo de atividade) do empregador; VI – profissão; VII– nacionalidade; VIII – estado civil, existência de união estável e filiação; IX – e-mail(correio eletrônico) § 4º O PJe fornecerá, na distribuição da ação, o número atribuído ao processo, o órgão julgador para o qual foi distribuída e, se for o caso, o local, a data e o horário derealização da audiência, da qual estará a parte autora imediatamente intimada.”

  • MANUAL DIDÁTICO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO • Mauro Schiavi 270

    Teoria da individualização: exige apenas os fundamentos jurídicos do pedido.

    Os fundamentos de fato compõem a causa de pedir próxima. São o inadimplemento, a ameaça ou a violação do direito (fatos) que caracteri-zam o interesse processual imediato. Os fundamentos jurídicos compõem causa de pedir remota, autorizando mediatamente o pedido. Constituem, também, a autorização e a base que o ordenamento dá ao autor para que possa deduzir pretensão junto ao poder judiciário. São, em suma, o título do pedido. Basta que o autor dê concretamente os fundamentos de fato para que o Juiz possa dar-lhe o direito.

    Quanto à causa de pedir, o § 1º do art. 840 da CLT apenas exige uma breve exposição dos fatos, sem a necessidade de se indicarem os fundamentos jurídicos do pedido.

    Desse modo, vários autores sustentam que a Consolidação das Leis do Trabalho adotou a teoria da individualização quanto à causa de pedir da inicial trabalhista.

    Outros autores defendem a aplicação da teoria da substanciação da causa de pedir na inicial trabalhista.

    De nossa parte, embora o art. 840 da CLT exija apenas uma breve exposição dos fatos, há necessidade de se indicarem os fundamentos jurídicos dos pedidos, aplicando-se à hipótese, de maneira subsidiária, pois compatível com o Processo do Trabalho (art. 769 da CLT), con-forme disposto no art. 319, III, do CPC. Em contrapartida, dificilmente o reclamante conseguirá individualizar sua pretensão em juízo e obtersucesso na sua demanda sem aduzir os fundamentos jurídicos do pedido.Além disso, todo fato declinado na inicial deve gerar uma consequênciajurídica que dê suporte ao pedido. Sem a qualificação jurídica dos fatoshá grandes transtornos para o reclamado elaborar a defesa e o Juiz doTrabalho apreciar o pedido – por exemplo, quando postula horas extras,não basta declinar que trabalhou em sobrejornada, mas, sim, detalhara jornada cumprida, demonstrando, assim, o fundamento jurídico dopedido.

    Pensamos que a adoção da teoria da substanciação no Processo do Trabalho encontra os seguintes fundamentos: 1) complexidade das rela-ções de trabalho; 2) possibilitar a exata compreensão da lide pelo Juiz; 3) possibilitar ampla oportunidade defensiva para a reclamada; 4) facilitar a produção da prova; 5) Conferir mais seriedade e honestidade à pretensão.

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    d) Do pedido e do princípio da extrapetição no Processo do Trabalho: opedido é o objeto da inicial. No dizer de Dinamarco, é o bem da vidapretendido, que está sendo resistido pela parte contrária – o próprioobjeto do processo.

    O pedido baliza o provimento jurisdicional (arts. 141 e 492 do CPC), pois é ele a razão de existir do processo e o objetivo da decisão. Em razão disso, a lei lhe impõe alguns requisitos e condições.

    A doutrina costuma subdividir o pedido em mediato e imedia-to. Pedido imediato é o provimento jurisdicional pedido (declaratório, constitutivo ou condenatório), ao passo que o pedido mediato é o bem pretendido (pagamento), entrega de coisa certa ou incerta, obrigação de fazer ou não fazer.

    Diz o § 1º, do art. 840, da CLT, com a redação dada pela Lei n. 13.467/17, que o pedido deverá ser certo, determinado e com indicação de seu valor.

    Não se trata de novidade, pois, no rito sumaríssimo, a CLT já dispõe a respeito no art. 852-H, que assim dispõe:

    “Nas reclamações enquadradas no procedimento sumaríssimo: (...) I – o pedido deverá ser certo ou determinado e indicará o valor correspondente.”

    Os pedidos que não sejam certos, determinados e não estejam com valores individualizados, segundo o § 3º do art. 840, da CLT, serão extintos sem resolução de mérito.

    Argumentam os defensores da lei, que o pedido sendo certo, deter-minado e com o valor, revelerá maior seriedade à pretensão, e facilitará a conciliação, e também contribuirá para a celeridade processual.

    Não se trata de alteração negativa, mas deve ser vista com sensibi-lidade pelo Judiciário Trabalhista. Antes de extinguir o pedido que não esteja de acordo com o § 1º do art. 840, da CLT, pensamos ser possível a correção, com atribuição de prazo para emenda (art. 321 do CPC e Súmula n. 263 do TST).

    Acreditamos que o pedido da inicial trabalhista também deve conter suas especificações, por aplicação do inciso IV do art. 319 do CPC, que assevera que a inicial deve conter o pedido, com as suas especificações.

  • MANUAL DIDÁTICO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO • Mauro Schiavi 272

    Desse modo, a inicial trabalhista deve conter o pedido de forma detalhada e também as especificações deste.

    O pedido deve ser certo e determinado, somente se admitindo pedido genérico quando houver autorização legal. De outro lado, a inicial que não apresenta pedido não está apta a ser conhecida, pois falta um pressuposto processual de existência da relação jurídica processual.

    Há alguns autores que admitem a possibilidade de o Juiz do Trabalho julgar fora do pedido ou até mesmo além do pedido, em razão dos princí-pios da celeridade, informalidade e simplicidade do Processo do Trabalho.

    No nosso sentir, pensamos que o Juiz do Trabalho não possa julgar fora do pedido ou além dele. Somente em casos excepcionais se admite o julgamento ultra petita, como a aplicabilidade de ofício do art. 467 da CLT e a possibilidade de conversão do pedido de reintegração em indenização (art. 729 da CLT). Além disso, tem a jurisprudência admitido, nos casos em que se postula a solidariedade de determinada empresa tomadora de mão de obra, que o Juiz do Trabalho, presentes os requisitos, possa con-ceder a condenação subsidiária.

    Em razão do contraditório e da ampla defesa, o julgamento fora do pedido ou além dele, pela Justiça do Trabalho, somente pode ser levado a efeito pelo Juiz do Trabalho quando a lei expressamente permitir ou, então, não causar qualquer prejuízo ao reclamado, como nas hipóteses de conversão da reintegração em indenização ou concessão de responsa-bilidade subsidiária quando houve pedido de responsabilização solidária.

    Conforme o art. 324 do CPC: “O pedido deve ser determinado. § 1º É lícito, porém, formular pedido genérico: I – nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados; II – quando não forpossível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato; III– quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depen-der de ato que deva ser praticado pelo réu. § 2º O disposto neste artigoaplica-se à reconvenção.”

    Nas reclamações trabalhistas, como regra geral, exige-se que o pe-dido seja certo e determinado, pois se trata de direitos patrimoniais, e o pedido indeterminado pode dificultar em demasia a compreensão da lide e a oportunidade de defesa. Nesse sentido, a seguinte ementa:

    Não obstante, em algumas hipóteses, admite-se o pedido genérico, quando não for possível determinar o montante de eventual indenização, como acontece nos pedidos de reparação por danos morais.

  • Cap. VI • DA PETIÇÃO INICIAL E DA RESPOSTA 273

    Conforme as regras de hermenêutica, o pedido se interpreta restri-tivamente, pois, diante do princípio do dispositivo, o reclamante não é obrigado a pedir o que não pretende, tampouco pode o juiz julgar fora do que foi postulado. De outro lado, na interpretação do pedido, devem ser consideradas a causa de pedir, bem como a boa-fé objetiva.

    Nesse sentido, dispõe o art. 322 do CPC, in verbis: “O pedido deve ser certo. § 1º Compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios. § 2º A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé.”

    Não obstante, a doutrina tem admitido os chamados pedidos im-plícitos, quais sejam: não estão postulados expressamente, como juros e correção monetária e também os honorários advocatícios que decorrem da sucumbência, uma vez que tais parcelas decorrem da própria proce-dência do pedido.

    Assevera o art. 327 do CPC:

    “É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão.§ 1º São requisitos de admissibilidade da cumulação que:I – os pedidos sejam compatíveis entre si;II – seja competente para conhecer deles o mesmo juízo;III – seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.§ 2º Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, será admitida a cumulação se o autor empregar o procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas previstas nos procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem incompatíveis com as disposições sobre o procedimento comum.§ 3º O inciso I do § 1º não se aplica às cumulações de pedidos de que trata o art. 326.”

    O referido dispositivo encaixa-se perfeitamente ao Processo do Tra-balho, que adota como regra geral a cumulação de pedidos num único processo (cumulação objetiva), pois diversas parcelas trabalhistas derivam de um mesmo contrato de trabalho.

    Diz-se alternativo o pedido quando o autor pretende um ou outro bem como objeto do processo.

  • MANUAL DIDÁTICO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO • Mauro Schiavi 274

    Nesse sentido, dispõe o art. 325 do CPC, in verbis:

    “O pedido será alternativo quando, pela natureza da obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo. Pará-grafo único. Quando, pela lei ou pelo contrato, a escolha couber ao devedor, o juiz lhe assegurará o direito de cumprir a prestação de um ou de outro modo, ainda que o autor não tenha formulado pedido alternativo.”

    Como exemplos, temos os pedidos alternativos de adicionais de insa-lubridade ou periculosidade, nulidade da alteração contratual ilícita (art. 468 da CLT) ou rescisão indireta do contrato de trabalho (art. 483 do CLT).

    Dispõe o art. 326 do CPC:

    É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o juiz conheça do posterior, quando não acolher o anterior. Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que o juiz acolha um deles.

    Os pedidos sucessivos, na expressão do CPC/73, e subsidiários na ex-pressão do CPC atual, são comuns no Processo do Trabalho, nas hipóteses de estabilidades provisórias no emprego em que se postula a reintegração e, suces-sivamente, caso já transcorrido o prazo estabilitário, indenização pelo período estabilitário.

    Também diante da EC n. 45/04, que dilatou a competência da Jus-tiça do Trabalho para as lides que envolvem a relação de trabalho (art. 114, I, da CF), é possível formular-se um pedido de reconhecimento de vínculo de emprego, com as verbas dele decorrentes, e, sucessivamente, caso não reconhecido o vínculo de emprego, postular verbas decorrentes da relação de trabalho (contrato de prestação de serviços, representação comercial etc.).

    e) Do valor da causa no Processo do Trabalho: Valor da causa é a expressão econômica dos pedidos formulados pelo reclamante no processo. A exigência de declará-lo no ato da propositura da reclamação tem duas finalidades, quais sejam: a) servir de base de cálculo para as custas e demais taxas judiciárias; b) indicar o procedimento a ser seguido (sumário ou ordinário ou sumaríssimo).

  • Cap. VI • DA PETIÇÃO INICIAL E DA RESPOSTA 275

    Determina o art. 291 do CPC:

    “A toda causa será atribuído valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediatamente aferível.”

    Diante do que dispõe a nova redação data pela Lei n. 13.467/17 ao § 1º do art. 840, da CLT, doravante, o valor da causa passa a ser um requisito da inicial trabalhista, bem como a individualização dos valores de cada pedido.

    A lei não exige que o pedido esteja devidamente liquidado, com apresentação de cálculos detalhados, mas que indique o valor.

    De nossa parte, não há necessidade de apresentação de cálculos deta-lhados, mas que o valor seja justificado, ainda que por estimativa. Isso se justifica, pois o reclamante, dificilmente, tem documentos para cálculo de horas extras, diferenças salariais etc. Além disso, muitos cálculos demandam análise da documentação a ser apresentada pela própria reclamada. Por outro lado, não há exigência de que a sentença seja líquida, e o procedi-mento de liquidação por cálculos continua mantido no art. 879, da CLT.

    O Tribunal Superior do Trabalho, corretamente, em sintonia com os princípios do processo do trabalho, e também os direitos fundamentais do trabalhador de acesso à justiça e duração razoável do processo, por meio da IN n. 41/2018 fixou entendimento de que o valor da causa previsto no art. 840, § 1º, da CLT não exige valores liquidados e sim estimados. Com efeito, dispõe o art. 12, da referida instrução:

    “Os arts. 840 e 844, §§ 2º, 3º e 5º, da CLT, com as redações dadas pela Lei n. 13.467, de 13 de julho de 2017, não retroagirão, aplicando-se, exclusivamente, às ações ajuizadas a partir de 11 de novembro de 2017 (...). § 2º Para fim do que dispõe o art. 840, §§ 1º e 2º, da CLT, o valor da causa será estimado, observando-se, no que couber, o disposto nos arts. 291 a 293 do Código de Processo Civil.”

    Os pedidos que não sejam certos, determinados e não estejam com valores individualizados, segundo o § 3º do art. 840, da CLT, serão ex-tintos sem resolução de mérito. No entanto, antes de extinguir o pedido que não esteja de acordo com o § 1º do art. 840, da CLT, pensamos ser possível a correção, com atribuição de prazo para emenda (art. 321 do CPC e Súmula n. 263 do TST).

  • MANUAL DIDÁTICO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO • Mauro Schiavi 276

    Para cálculo do valor da causa no Processo do Trabalho, deve ser aplicado o art. 292 do CPC, que tem a seguinte redação:

    “O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será:I – na ação de cobrança de dívida, a soma monetariamente corrigida do principal, dos juros de mora vencidos e de outras penalidades, se houver, até a data de propositura da ação;II – na ação que tiver por objeto a existência, a validade, o cum-primento, a modificação, a resolução, a resilição ou a rescisão de ato jurídico, o valor do ato ou o de sua parte controvertida;III – na ação de alimentos, a soma de 12 (doze) prestações mensais pedidas pelo autor;IV – na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, o valor de avaliação da área ou do bem objeto do pedido;V – na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido;VI – na ação em que há cumulação de pedidos, a quantia corres-pondente à soma dos valores de todos eles;VII – na ação em que os pedidos são alternativos, o de maior valor;VIII – na ação em que houver pedido subsidiário, o valor do pedido principal.§ 1º Quando se pedirem prestações vencidas e vincendas, consi-derar-se-á o valor de umas e outras.§ 2º O valor das prestações vincendas será igual a uma prestação anual, se a obrigação for por tempo indeterminado ou por tempo superior a 1 (um) ano, e, se por tempo inferior, será igual à soma das prestações.§ 3º O juiz corrigirá, de ofício e por arbitramento, o valor da causa quando verificar que não corresponde ao conteúdo pa-trimonial em discussão ou ao proveito econômico perseguido pelo autor, caso em que se procederá ao recolhimento das custas correspondentes.”

    De grande importância no Processo Trabalhista, o inciso V do citado art. 292 do CPC, que exige que a parte indique o valor pretendido nas ações de reparação por danos morais, o que, de nossa parte é o correto e não, simplesmente, deixar para o arbitramento judicial, uma vez ninguém

  • Cap. VI • DA PETIÇÃO INICIAL E DA RESPOSTA 277

    melhor do que o próprio lesado para dizer o quanto pretende, bem como qual a dimensão econômica de seu dano. Nesse sentido também o art. 3º, IV da IN n. 39/16 do C. TST, in verbis:

    “Sem prejuízo de outros, aplicam-se ao Processo do Trabalho, em face de omissão e compatibilidade, os preceitos do Código de Processo Civil que regulam os seguintes temas: (...) IV – art. 292, V (valor pretendido na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral).”

    f) Assinatura da petição inicial: A CLT exige que a petição inicial esteja assinada pelo reclamante ou por seu advogado (§ 1º do art. 840 da CLT).

    g) Requisitos não exigidos na inicial trabalhista: não se exige que na inicial trabalhista conste o requerimento de provas, pois essas são produzidas em audiência (arts. 787 e 845 da CLT), tampouco o requerimento de citação do reclamado, pois, no Processo do Trabalho, a notificação inicial, que equivale à citação, é realizada automaticamente, por ato do Diretor de Secretaria ou por funcionário por ele designado (art. 841 da CLT).

    3. DA EMENDA E DO ADITAMENTO DA INICIAL NO PROCESSO DO TRABALHO

    Emendar a inicial significa corrigi-la. Aditar significa adicionar. Adi-ta-se a inicial para acrescentar pedidos.

    No Processo do Trabalho, ao contrário do Processo Civil, o Juiz do Trabalho, como regra, toma contato com a inicial em audiência, uma vez que a citação (rectius – notificação) é ato do Diretor de Secretaria (art. 841 da CLT). Portanto, ao contrário do que ocorre no Processo Civil (art. 329), o reclamante poderá aditar ou emendar a inicial até o momento da própria audiência, mas antes do recebimento da defesa, sem anuência da parte contrária. Após o recebimento da defesa (art. 847, da CLT), somente com a anuência da parte contrária. Entretanto, ao reclamado deverá ser concedido o prazo para complementar defesa, devendo a audiência ser adiada para tal finalidade, e a nova audiência ser designada em prazo não inferior a cinco dias (art. 841 da CLT).

  • MANUAL DIDÁTICO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO • Mauro Schiavi 278

    4. DOCUMENTOS QUE DEVEM ACOMPANHAR A INICIAL TRABALHISTA

    São documentos indispensáveis à propositura da demanda apenas aqueles sem os quais o mérito da causa não possa ser julgado, como a certidão de casamento na separação judicial, a escritura pública, a norma coletiva, o instrumento de contrato quando pedir a anulação etc.

    A CLT dispõe sobre a questão no art. 787, in verbis:

    “A reclamação escrita deverá ser formulada em duas vias e desde logo acompanhada dos documentos em que se fundar.”

    No mesmo diapasão, dispõe o art. 845 da CLT, assim redigido:

    “O reclamante e o reclamado comparecerão à audiência acom-panhados das suas testemunhas, apresentando, nesta ocasião, as demais provas.”

    5. DO INDEFERIMENTO E INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL

    Indeferir a inicial significa rejeitá-la liminarmente, antes do recebi-mento da defesa.

    Dispõe o art. 321 do CPC:

    “O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisi-tos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz inde-ferirá a petição inicial.”

    O referido dispositivo legal determina que o juiz, verificando que a inicial contém nulidade sanável (que pode ser corrigida facilmente, sem alteração da substância da inicial, como: erros materiais, falta de juntada de documentos, qualificação errônea das partes, endereçamento incorreto, esclarecimento sobre qual parte pretende o vínculo de emprego, quando não estiver especificado e houver mais de um reclamado no polo passivo etc.), deverá conceder à parte prazo para emendá-la. Segundo a jurisprudência, a concessão do prazo para a emenda não fica ao critério discricionário do juiz, sendo um direito subjetivo processual da parte.

  • Cap. VI • DA PETIÇÃO INICIAL E DA RESPOSTA 279

    Quando for determinar a emenda, deverá o juiz esclarecer à parte qual o ponto incorreto que deverá ser corrigido, a fim de propiciar maior eficiência ao processo, evitar dilações indevidas e implementar um diálogo mais efetivo entre juiz e parte no processo.

    O recente Código de Processo Civil consagra o referido posiciona-mento doutrinário e jurisprudencial, no art. 321, que dispõe:

    “O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisi-tos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz inde-ferirá a petição inicial.” (o destaque é nosso)

    Nesse sentido, é a Súmula n. 263 do C. TST, in verbis:

    “PETIÇÃO INICIAL. INDEFERIMENTO. INSTRUÇÃO OBRI-GATÓRIA DEFICIENTE. Salvo nas hipóteses do art. 330 do CPC de 2015 (art. 295 do CPC de 1973), o indeferimento da petição inicial, por encontrar-se desacompanhada de documento indis-pensável à propositura da ação ou não preencher outro requisito legal, somente é cabível se, após intimada para suprir a irregula-ridade em 15 (quinze) dias, mediante indicação precisa do que deve ser corrigido ou completado, a parte não o fizer (art. 321 do CPC de 2015)”.

    Conforme a referida Súmula, a inicial somente deverá ser indeferida, sem possibilidade de emenda, se contiver os vícios insanáveis. Os vícios insanáveis são os constantes do art. 330 do CPC.

    Dispõe o art. 330 do CPC:

    “A petição inicial será indeferida quando:I – for inepta;II – a parte for manifestamente ilegítima;III – o autor carecer de interesse processual;IV – não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321.§ 1º Considera-se inepta a petição inicial quando: I – lhe faltar pedido ou causa de pedir;

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    II – o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico;III – da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;IV – contiver pedidos incompatíveis entre si.§ 2º Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de inépcia, discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, além de quantificar o valor incontroverso do débito.§ 3º Na hipótese do § 2º, o valor incontroverso deverá continuar a ser pago no tempo e modo contratados.”

    Conforme já mencionado, inclusive com suporte na Súmula n. 263 do C. TST, se a inicial trabalhista contiver os vícios mencionados no art. 330 do CPC, o Juiz do Trabalho deverá indeferi-la de plano, sem concessão do prazo mencionado no art. 321 do CPC.

    Caso o juiz não indefira de plano a inicial, poderá, na sentença final, decretar a extinção do processo sem resolução de mérito no aspecto (art. 485, I, do CPC), por conter a inicial um defeito previsto no art. 330 do CPC.

    Como no Processo do Trabalho dificilmente o Juiz do Trabalho toma contato com a inicial antes da audiência, pois não há o despacho sanea-dor, costumeiramente, a apreciação dos vícios da inicial é deixada para a sentença final, após a dilação probatória.

    Quando a inicial for inepta; quando a parte for manifestamente ile-gítima; quando o autor carecer de interesse processual; quando o tipo de procedimento, escolhido pelo autor, não corresponder à natureza da causa, ou ao valor da ação, caso em que só não será indeferida se puder adaptar-se ao tipo de procedimento legal; quando não atendidas as prescrições dos arts. 106, parágrafo único, primeira parte, e 321, ambos do CPC, o Juiz do Tra-balho extinguirá o processo sem resolução de mérito (art. 485, I, do CPC).

    Quando pronunciar prescrição ou decadência, extinguirá o processo, com resolução de mérito, nos termos do art. 487, IV, do CPC.

    A petição apta é aquela que contém os requisitos do art. 840 da CLT e não contém os vícios do art. 33011 do CPC. Inépcia da inicial significa

    11. Art. 330 do CPC: “A petição inicial será indeferida quando: I – for inepta; II – a parte for manifestamente ilegítima; III – o autor carecer de interesse processual; IV – não atendidas

  • Cap. VI • DA PETIÇÃO INICIAL E DA RESPOSTA 281

    defeito, falta de aptidão da inicial, impedindo que a relação jurídica pro-cessual prossiga com o pronunciamento sobre o mérito da causa.

    Quando a inicial se apresenta inepta, não há como corrigi-la ou emendá-la, pois o vício apresentado é insanável, devendo o Juiz do Tra-balho indeferi-la desde logo.

    As hipóteses do § 1º do art. 330 do CPC se aplicam ao Processo do Trabalho (art. 769 da CLT), entretanto, a jurisprudência tem tido tolerância maior para declarar a inépcia da inicial, principalmente na aferição do inciso III do parágrafo único do art. 330 do CPC, considerando-se o jus postulandi da parte e os princípios da simplicidade e informalismo do Processo do Trabalho, não obstante a inicial trabalhista inepta, além de prejudicar todo o andamento do processo, tornam a compreensão da inicial muito dificultosa e, muitas vezes, inviabilizam a defesa do reclamado. Por isso, no nosso sentir, se a inicial trabalhista contiver os vícios do parágrafo único do art. 330 do CPC, deverá o Juiz do Trabalho indeferi-la de plano.

    A inicial contém pedidos incompatíveis entre si quando um pedido formulado excluir outro também formulado na inicial. Por exemplo: o autor pretende rescisão indireta do contrato de trabalho e em seguida reintegração no emprego.

    Quando da narração do fato não decorrer logicamente a conclusão, deverá o Juiz do Trabalho decretar inépcia – por exemplo, o autor narra na causa de pedir que sofre danos de ordem moral, pois fora ofendido e, no pedido, postula danos materiais.

    Se a inicial não contiver pedido ou causa de pedir, a parte contrária não poderá defender-se, e o Juiz do Trabalho não poderá compreender a lide, razão pela qual deverá decretar a inépcia.

    A jurisprudência trabalhista, entretanto, não tem sido rígida ao apreciar a congruência entre a causa de pedir e o pedido. Se for possível compreender, da narração dos fatos, o pedido, e possibilitar a defesa do

    as prescrições dos arts. 106 e 321. § 1º Considera-se inepta a petição inicial quando: I – lhe faltar pedido ou causa de pedir; II – o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; III – da narração dos fatos não decorrer lo-gicamente a conclusão; IV – contiver pedidos incompatíveis entre si. § 2º Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de inépcia, discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, além de quantificar o valor incontroverso do débito. § 3º Na hipótese do § 2º, o valor incontroverso deverá continuar a ser pago no tempo e modo contratados.”

  • MANUAL DIDÁTICO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO • Mauro Schiavi 282

    demandado, os Tribunais Trabalhistas costumam afastar as arguições de inépcia da inicial.

    A decisão que indefere a inicial tem natureza terminativa, pois extingue o processo, sem resolução de mérito (art. 485, I, do CPC). Desse modo, no Processo do Trabalho, tal decisão desafia a interposição de Recurso Ordinário (art. 895 da CLT).

    Pensamos, em razão da omissão da CLT e compatibilidade com os princípios do Processo do Trabalho como os da efetividade e celeridade (art. 769 da CLT), o art. 331 do CPC aplica-se ao Processo do Trabalho que assim dispõe:

    “Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de 5 (cinco) dias, retratar-se. § 1º Se não houver retratação, o juiz mandará citar o réu para responder ao recurso. § 2º Sendo a sentença reformada pelo tribunal, o prazo para a contestação começará a correr da intimação do retorno dos autos, observado o disposto no art. 334. § 3º Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença.”

    Desse modo, se o Juiz do Trabalho indeferir a inicial, o reclamante poderá recorrer, no prazo de oito dias (art. 895 da CLT), facultando-se a retratação do juiz, deferindo o rece-bimento da inicial.

    Cabe destacar que a aplicabilidade do art. 331 do CPC se refere ape-nas ao indeferimento liminar da inicial. Se a inicial for indeferida após designação da audiência e oferecimento da defesa, o recurso cabível será apenas o Ordinário, sem possibilidade de retratação do Juiz do Trabalho. Se o juiz decretar a inépcia de eventual pedido depois da devida instrução do processo, a parte poderá interpor recurso ordinário questionando a inépcia, juntamente com as demais matérias recursais.

    6. DA RESPOSTA NO PROCESSO DO TRABALHO

    Uma vez citado sobre a existência de um processo, como decorrên-cia do princípio do contraditório e ampla defesa (art. 5º, LV, da CF), o reclamado tem a faculdade de responder à pretensão posta em juízo pelo reclamante, ou até mesmo se manter inerte.

    A resposta, no processo do trabalho, consiste no conjunto de faculda-des, previstas na lei processual, que o reclamado pode tomar para resistir de forma ativa à pretensão do reclamante.

  • Cap. VI • DA PETIÇÃO INICIAL E DA RESPOSTA 283

    Se optar por responder, o reclamado poderá tomar uma das posturas previstas na lei, ou seja, poderá contestar, apresentar exceções ou reconven-ção. Poderá, cumulativamente, apresentar as três modalidades de respostas.

    7. DA CONTESTAÇÃO

    A contestação é a peça defensiva por excelência, em que o reclamado terá a oportunidade de impugnar a pretensão aduzida na inicial e também aduzir toda a matéria de defesa que entende pertinente.

    A CLT disciplina a contestação no art. 847, que tem a seguinte redação:

    “Não havendo acordo, o reclamado terá 20 (vinte) minutos para aduzir sua defesa, após a leitura da reclamação, quando esta não for dispensada por ambas as partes.”

    Conforme o citado dispositivo legal, a contestação, no Processo do Trabalho, é aduzida de forma oral, no prazo de vinte minutos. Se houver mais de um reclamado no polo passivo, cada um deles terá vinte minutos para aduzir a resposta. Não obstante, a praxe forense consagrou a contes-tação apresentada de forma escrita. Dificilmente se apresenta a contestação de forma oral em razão do grande número de audiências na pauta, da cumulação de pedidos na petição inicial e também da complexidade das matérias. A contestação é aduzida de forma oral, normalmente quando o reclamado está sem advogado ou, quando está assistida por ele, o advogado esquecer a contestação. Mesmo sendo aduzida de forma oral, a contestação será reduzida a termo na própria ata de audiência.

    No processo judicial eletrônico, a contestação deve ser encaminhada, como regra, antes da audiência (art. 10 da Lei n. 11.419/06), podendo ser protocolada no PJe até a relização da proposta conciliatória infrutífera. Nesse sentido, dispõe o art. 22, da Resolução n. 185/17, do CSJT, in verbis:

    “Art. 22. A contestação ou a reconvenção e seus respectivos docu-mentos deverão ser protocolados no PJe até a realização da pro-posta de conciliação infrutífera, com a utilização de equipamento próprio, sendo automaticamente juntados, facultada a apresentação de defesa oral, na forma do  art. 847, da CLT.  (Artigo alterado pela Resolução CSJT n° 241/2019 – DeJT 6/6/2019)§ 1º No expediente de notificação inicial ou de citação constará recomendação para que a contestação ou a reconvenção e os

  • MANUAL DIDÁTICO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO • Mauro Schiavi 284

    documentos que as acompanham sejam protocolados no PJe com pelo menos 48h de antecedência da audiência.§ 2º O autor poderá atribuir segredo de justiça ao processo no momento da propositura da ação, cabendo ao magistrado, após a distribuição, decidir sobre a manutenção ou exclusão dessa si-tuação, nos termos do art. 189 do CPC e art. 770, caput, da CLT.§ 3º Com exceção da petição inicial, as partes poderão atribuir sigilo às petições e documentos, nos termos do parágrafo único do art. 773 do CPC.§ 4º Com exceção da defesa, da reconvenção e dos documentos que os acompanham, o magistrado poderá determinar a exclusão de petições e documentos indevidamente protocolados sob sigilo, observado o art. 15 desta Resolução.§ 5º O réu poderá atribuir sigilo à contestação e à reconvenção, bem como aos documentos que as acompanham, devendo o magistrado retirar o sigilo caso frustada a tentativa conciliatória.§ 6º A partir de 1º de janeiro de 2020, quaisquer cálculos deverão obrigatoriamente ser juntados por meio do PJe-Calc, vedado o uso de PDF ou HTML para essa finalidade.”Nos termos do art. 847, parágrafo único, da CLT, com a redação dada pela Lei n. 13.467/17:“A parte poderá apresentar defesa escrita pelo sistema de processo judicial eletrônico até a audiência.”

    Diante da novel previsão legislativa, que está em compasso com o art. 22 da Resolução n. 185/17 do CSJT a contestação pode ser apresentada até o momento da audiência, inclusive após a primeira proposta conciliatória, sendo uma regra processual protetiva em benefício do reclamado.

    O ideal seria, mesmo no procedimento trabalhista, que a defesa fosse apresentada antes da audiência, sem prejuízo do comparecimento do re-clamado em audiência, e se franqueasse ao reclamante a oportunidade de manifestação sobre ela em prazo razoável antes da audiência. Isso propi-ciaria implementação do contraditório pleno no procedimento trabalhista, com o efetivo conhecimento dos elementos da causa pelas partes e pelo Juiz do Trabalho, maior celeridade nos autos de audiência, redução das hipóteses de adiamento de audiência e potencialidade mais acentuada de obtenção da conciliação.

  • Cap. VI • DA PETIÇÃO INICIAL E DA RESPOSTA 285

    Embora se possa argumentar que, tendo o reclamante acesso à defesa antes da audiência, poderá deixar arquivar o processo não comparecendo a audiência e, posteriormente, alterar sua tese inicial, pensamos que no atual estágio da teoria geral do processo e do direito constitucional processual, há mecanismos para se coibir tal conduta (tais como as sanções por falta de boa-fé processual), pois se for franqueado o acesso à contestação, caso o autor não compareça na audiência, o processo não será mais arquivado, aplicando-se, no aspecto, a Súmula n. 74, do TST (confissão ficta) .

    O art. 22 da Resolução n. 185/17, bem como o parágrafo único do art. 847 da CLT, em nossa opinião, deveriam ser aperfeiçoados, disciplinando um prazo para o reclamado enviar a contestação antes da audiência e, após encaminhada, abrir vistas ao reclamante para manifestação. Nâo há motivo para se manter sigilo da contestação até a realização da audiência, salvo hipóteses excepcionais de segredo de justiça.

    Nos termos do § 3º do art. 841, da CLT, com a redação dada pela Lei n. 13.467/17, “oferecida a contestação, ainda que eletronicamente, o recla-mante não poderá, sem o consentimento do reclamado, desistir da ação”.

    Trata-se de providência que tem por finalidade prestigiar a boa-fé processual, impedindo que o autor, uma vez tendo contato com a defesa, possa intencionalmente, desistir da ação e, posteriormente, alterar sua tese.

    O dispositivo exige uma interpretação razoável, corretiva e sistemáti-ca, desse modo, somente após ter contato com a contestação, o autor não poderá desistir da ação, sem consentimento do reclamado. Se a contestação estiver em sigilo, ainda que apresentada, o autor poderá desistir da ação sem consentimento do reclamado.

    Deve ser destacado que o § 3º do art. 841, da CLT menciona desis-tência intencional e expressa, não impedindo o arquivamento do processo pelo não comparecimento do autor à audiência, caso a contestação já tenha sido encaminhada pelo PJe.

    Nos termos dos arts. 336 e 434 do CPC e 845 da CLT, a contestação deve estar acompanhada dos documentos da defesa e também da referi-da peça. No nosso sentir, tanto a inicial como a contestação trabalhista prescindem do requerimento de provas, pois estas serão produzidas em audiência, independentemente de requerimento prévio.

    A contestação segue dois princípios fundamentais que estão previstos no Código de Processo, perfeitamente aplicáveis ao Processo do Trabalho

  • MANUAL DIDÁTICO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO • Mauro Schiavi 286

    (art. 769 da CLT). São eles: a) princípio da eventualidade da defesa (art. 336 do CPC); e b) princípio da impugnação específica (art. 341 do CPC).

    a) princípio da eventualidade: está previsto no art. 336 do CPC, que tem a seguinte redação: “Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de direito, com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir.”

    O princípio da eventualidade consiste no ônus do réu em aduzir todas as defesas que tiver contra o processo (atacar diretamente a relação jurídi-co-processual) e contra o pedido do autor, a fim de que, na eventualidade de o juiz não acolher a primeira alegação, acolha a segunda.

    As defesas processuais, arguidas como matéria preliminar, estão previstas no art. 337 do CPC. Não se dirigem diretamente aos pedidos do autor, buscando a extinção da relação jurídico-processual, ou seja, que o processo seja extinto sem resolução do mérito. São também chamadas de defesas indiretas, porque não vão à essência do litígio, limitando-se a aduzir fundamentos para que ele não seja julgado.

    Segundo a doutrina, as defesas processuais indiretas podem ser dilatórias ou peremptórias. As dilatórias apenas dilatam o curso do pro-cesso, sem extingui-lo, como as incompetências material e funcional. Já as peremptórias visam a extinguir o processo, como a coisa julgada, a perempção e a litispendência.

    Quanto à matéria de mérito, esta deve ser deduzida integralmente no corpo da contestação. A doutrina costuma denominar a defesa de mérito como defesa substancial, que pode ser direta ou indireta. Será direta quando atacar diretamente os fatos declinados na inicial, negando a existência do fato constitutivo do direito do autor. Outrossim, será indireta quando não consistir em negar os fundamentos do autor, mas em trazer fundamentos novos de direito material (pagamento, prescrição etc.). Também será indi-reta quando o reclamado, sem negar o fato constitutivo do direito do autor, aduzir fatos modificativos, impeditivos ou extintivos do direito do autor.

    Nos termos do art. 767 da CLT, a compensação, ou a retenção, só pode ser arguida como matéria de defesa.

    Portanto, diante da previsão expressa da CLT, tanto a compensação como a retenção devem ser invocadas em defesa, estando precluso esse direito se for invocado após a fase defensiva.

  • Cap. VI • DA PETIÇÃO INICIAL E DA RESPOSTA 287

    b) princípio da contestação específica: esse princípio está previsto no art. 341 do CPC, que tem a seguinte redação:

    “Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas, salvo se: I – não for admissível, a seu respeito, a confissão; II – a petição inicial não estiver acom-panhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato; III – estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto. Parágrafo único. O ônus da impugnação especificada dos fatos não se aplica ao defensor público, ao advogado dativo e ao curador especial.”

    Diante da redação do citado art. 341 do CPC, não é permitida a contestação genérica ou por negação geral. Cabe ao réu impugnar um a um os fatos narrados pelo autor. Os fatos não impugnados são presumi-dos verdadeiros. Entretanto, tal presunção é relativa, podendo ser elidida por prova em contrário. A CLT não contém disposição a respeito. Desse modo, por força do art. 769 da CLT, o princípio da contestação específica é compatível com o Direito Processual do Trabalho.

    Desse modo, deve o reclamado contestar tanto a causa de pedir próxima como a remota. Não pode, por exemplo, simplesmente dizer que o reclamante nunca foi empregado ou que nunca realizou horas extras. Deve declinar se o autor prestou serviços ou não e, se prestou, qual era a modalidade de trabalho. Quanto à jornada, deve decliná-la em defesa, ou fazer menção à jornada dos cartões de ponto, sobre a existência ou não de horas extras pagas etc.

    Não se aplica a regra da impugnação especificada nas exceções do art. 341 do CPC, quais sejam:

    I. Se não for admissível, a seu respeito, a confissão (art. 341, I, do CPC): O presente dispositivo se aplica ao Direito Processual do Trabalho, por força do art. 769 da CLT. No nosso sentir, o fato de existirem normas de ordem pública no Direito do Trabalho não significa dizer que os Direitos Trabalhistas são indisponíveis. Pertencendo ao Direito Privado e contando com uma elevada gama de normas de ordem pública e ainda considerando-se o estado de subordinação a que está sujeito o empregado, os Direitos Trabalhistas, durante a

    Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 3Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 267Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 268Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 269Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 270Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 271Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 272Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 273Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 274Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 275Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 276Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 277Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 278Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 279Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 280Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 281Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 282Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 283Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 284Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 285Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 286Miolo-Schiavi-Manual Didatico de Dir Proc Trab-2ed 287