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VOLUME I GERENCIAMENTO DO SISTEMA DE DRENAGEM URBANA

Manual Drenagem v1

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  • VOLUME I

    GERENCIAMENTO DO SISTEMA DE

    DRENAGEM URBANA

  • Plano Municipal de Gesto do Sistema de guas Pluviais de So Paulo

    DRENAGEME M A N E J O D E G U A S P L U V I A I S

    So Paulo, 2012

    Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano

    M A N U A L D E

    GErENcIAMENtO DO SIStEMA DE DrENAGEM UrbANA

    VOLUME I

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  • S241m So Paulo (cidade). Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano.Manual de drenagem e manejo de guas pluviais: gerenciamento do sistema de drenagem urbana. So Paulo: SMDU, 2012.

    168p. il. v.1

    ISBN 978-85-66381-01-6 ISBN 978-85-66381-00-9 (Coleo)

    1. Drenagem 2. gua pluvial I.Ttulo

    CDU 626(816.11)

    ndice para catlogo sistemtico:

    1. So Paulo:cidade:drenagem:gua pluvial

    Proibida a reproduo total ou parcial sem a autorizao prvia dos editores

    Direitos reservados e protegidos (Lei n 9.610, de 19.02.1998)

    Foi feito o depsito legal na Biblioteca Nacional (Lei n 10.994, de 14.12.2004)

    Impresso no Brasil 2012

    Prefeitura de So PauloSecretaria Municipal de Desenvolvimento UrbanoRua So Bento, 405 17o e 18o andares CentroSo Paulo SP CEP 01008-906Tel: 11 3113-7500http://www.prefeitura.sp.gov.br//cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/

    2012 Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano

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  • ndice

    Prefcio As guAs e A cidAde de so PAulo .................................................................... 7

    1. Viso gerAl de PlANeJAMeNTo dA dreNAgeM urBANA .............................................. 11

    2. PriNcPios AdoTAdos PArA o PlANeJAMeNTo dA dreNAgeM urBANA ..................... 29

    3. ProgrAMA de dreNAgeM ................................................................................................... 33

    4. MAPA Hidrogrfico dA cidAde de so PAulo .............................................................. 51

    5. coNsolidAo dA legislAo APlicVel dreNAgeM urBANA .............................. 595.1 CONSTITUIO FEDERAL .................................................................................................. 61

    5.1.1 Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado ........................................... 615.1.2 Garantia da funo socioambiental da propriedade urbana .................................... 615.1.3 Ordem econmica ................................................................................................. 625.1.4 Sade .................................................................................................................... 625.1.5 O papel do municpio na tutela do meio ambiente urbano ..................................... 635.1.6 Competncias municipais legislativas e materiais .................................................... 635.1.7 Domnio da gua ................................................................................................... 655.1.8 Saneamento bsico ................................................................................................ 66

    5.2 ESTATUTO DA CIDADE ...................................................................................................... 665.2.1 Objetivos e diretrizes da poltica urbana ................................................................. 675.2.2 Instrumentos da gesto democrtica da cidade ...................................................... 67

    5.3 POLTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE ........................................................................ 685.3.1 Conceitos .............................................................................................................. 695.3.2 Princpios, objetivos e diretrizes da poltica ............................................................. 705.3.3 Licenciamento ambiental ....................................................................................... 71

    5.4 CDIGO FLORESTAL, PLANO DE DRENAGEM E APP URBANA ........................................... 735.4.1 reas de preservao permanente (APP) ................................................................ 755.4.2 Rios, cursos dgua e nascentes ............................................................................. 755.4.3 A evoluo do regramento das APPs ao longo de corpos dgua no Cdigo Florestal ... 775.4.4 APP em zona urbana ............................................................................................. 785.4.5 O Municpio e as APPs urbanas .............................................................................. 795.4.6 Faixa no edificvel e APP urbana .......................................................................... 795.4.7 Supresso de vegetao em APP ............................................................................ 80

    5.5 PLANO DIRETOR ESTRATGICO ......................................................................................... 825.6 LEI No 13.885 DE 25 DE AGOSTO DE 2004 (PDE, PRE E ZONEAMENTO) ............................ 885.7 CDIGO DE OBRAS DO MUNICPIO DE SO PAULO .......................................................... 895.8 LEI DAS PISCININHAS ........................................................................................................ 905.9 OUTORGA DE RECURSOS HDRICOS ................................................................................. 91

    6. gereNciAMeNTo de coNTiNgNciAs ................................................................................. 956.1 Monitoramento em tempo real e previses ....................................................................... 97

    6.1.1 Sistema de alerta ................................................................................................... 976.1.2 Equipamentos de monitoramento em tempo real utilizados pelo SAISP .................. 1026.1.3 Radar meteorolgico .............................................................................................. 104

    6.2 Diretrizes para plano de contingncias .............................................................................. 1066.2.1 Diretrizes para a elaborao do Plano de Contingncia .......................................... 107

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  • 7. gereNciAMeNTo de oPerAo e MANuTeNo ............................................................. 1097.1 Diretrizes para operao e manuteno dos sistemas de micro e macrodrenagem ............. 111

    7.1.1 Sistema de drenagem inicial ................................................................................... 1117.1.2 Sistema de macrodrenagem ................................................................................... 1137.1.3 Manuteno .......................................................................................................... 1137.1.4 Diagrama funcional da manuteno....................................................................... 1147.1.5 Plano de ao operacional ..................................................................................... 1167.1.6 Procedimentos e rotinas ......................................................................................... 1177.1.7 Fiscalizao ............................................................................................................ 120

    7.2 Organizao de um servio de manuteno ...................................................................... 1207.2.1 Setor de execuo.................................................................................................. 1217.2.2 Setor de servios internos ...................................................................................... 1227.2.3 Setor de controle administrativo ............................................................................. 1227.2.4 Rotina de funcionamento....................................................................................... 122

    7.3 Indicadores de desempenho do sistema de guas pluviais ................................................. 1257.3.1 Indicadores para o sistema de drenagem do Municpio de So Paulo ...................... 126

    8. A cAPAciTAo de recursos HuMANos e A coMuNicAo sociAl .......................... 1378.1 Capacitao de recursos humanos .................................................................................... 1398.2 Comunicao social e educao ambiental ........................................................................ 146

    9. referNciAs BiBliogrficAs .............................................................................................. 161

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  • ndice de Figurasfigura 1.1 - Bacia em estudo e zona de inundao para Tr = 2 anos (situao atual) ...................... 25

    figura 1.2 - Zona de inundao para 50 anos (situao atual) ....................................................... 26

    figura 1.3 - Zona de inundao para 100 anos (situao atual) ..................................................... 26

    figura 3.1 - Representao esquemtica de um conjunto de medidas estruturais de controle ........ 42

    figura 3.2 - Fluxo de Atividades do Processo de Escolha da Alternativa de Controle de Cheias

    num Programa de Drenagem e Manejo de guas Pluviais ........................................... 45

    figura 3.3 - Proposta de critrios e subcritrios para hierarquizao das alternativas ...................... 46

    figura 6.1 - Indicao das estaes telemtricas da rede do DAEE ................................................. 101

    figura 6.2 - Pluvimetro de cuba basculante ................................................................................. 102

    figura 6.3 - (A) Sensor de nvel ultrassnico; (B) Sensor de nvel de presso ................................... 102

    figura 6.4 - Vista de um posto instalado ....................................................................................... 103

    figura 6.5 - Fluxograma de informaes de uma estao telemtrica ............................................ 103

    figura 6.6 - Exemplo de grfico de medies pluviomtricas da rede telemtrica do SAISP ............ 104

    figura 6.7 - Exemplo de grfico de medies fluviomtricas da rede telemtrica do SAISP ............. 104

    figura 6.8 - Exemplo do produto CAPPI ........................................................................................ 105

    figura 6.9 - Exemplo dos produtos: (A) ECHO-TOP; (B) ACUMM; (C) GUST; (D) VIL ........................ 106

    figura 7.1 - Modelo de ficha de cadastro de manuteno ............................................................. 112

    figura 7.2 - Servio de manuteno .............................................................................................. 121

    figura 8.1 - O enfoque do saneamento ambiental centrado no lote .............................................. 149

    eNcArTes - Mapa hidrogrfico do Municpio de So Paulo

    Mapa hidrogrfico do Municpio de So Paulo com diviso de bacias

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  • ndice de TabelasTabela 3.1 - Anlise das Enchentes da Bacia (Exemplo) .................................................................... 39

    Tabela 3.2 - Medida de Desempenho das Alternativas Diante dos Critrios Propostos ..................... 47

    Tabela 4.1 - Bacias totalmente contidas do Municpio de So Paulo ................................................ 54

    Tabela 4.2 - Bacias parcialmente contidas do Municpio de So Paulo ............................................. 57

    Tabela 6.1 - Relao das estaes pluviomtricas e fluviomtricas do SAISP ..................................... 98

    Tabela 7.1 - Procedimento de inspeo para as estruturas do sistema de drenagem ........................ 118

    Tabela 7.2 - Procedimento de limpeza para as estruturas do sistema de drenagem .......................... 119

    Tabela 7.3 - Procedimento de manuteno para as estruturas do sistema de drenagem .................. 119

    Tabela 7.4 - Indicadores de desempenho do sistema de drenagem urbana e manejo das

    guas pluviais para o Municpio de So Paulo .............................................................. 126

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  • Prefcio 7

    Prefcio

    As guas e a cidade de so Paulo

    O processo de desenvolvimento da cidade de So Paulo foi marcado pela intensidade e dinamis-mo ao longo do sculo XX. Reflexo de uma das transies rural-urbano mais aceleradas do mundo, carac-terstica marcante da urbanizao brasileira, a cidade, com pouco mais de pouco mais de 31 mil habitantes em 1872, viu sua populao se multiplicar sete vezes at a virada do sculo e tornou-se a principal metr-pole do pas e da Amrica do Sul na segunda metade do sculo XX. Conta, atualmente, segundo o Censo demogrfico do IBGE, com mais de 11 milhes habitantes.

    O desenvolvimento intenso em termos temporais traduziu-se, em contrapartida, em uma urba-nizao extensiva e espraiada do ponto de vista territorial. Esse processo levou a grandes desequilbrios estruturais, como a distribuio desigual entre populao e oportunidades econmicas. Notadamente, trou-xe tambm problemas ambientais extremamente graves com destaques para: (I) a ocupao de reas de mananciais e ambientalmente frgeis, trazendo uma presena significativa de moradores em reas de risco; (II) a ocupao dos fundos de vales, especialmente para a implantao de grandes avenidas; (III) a alta imper-meabilizao do solo urbano, que resultou no aumento da velocidade do escoamento superficial das guas e no assoreamento dos rios. A questo das enchentes, intensificada nos veres paulistanos, apresenta-se como um dos principais sintomas desses desequilbrios estruturais, afetando a vida de todos, com enormes prejuzos sociais e econmicos.

    Tais desafios viram-se bastante agravados medida que o recente ciclo de crescimento econmico ampliou, sobremaneira, a presso sobre o meio ambiente. Partindo do presente e olhando para o futuro, a retomada de uma convivncia harmnica com as guas coloca-se como um desafio estratgico: tanto em funo das mudanas climticas que se avizinham, como em funo da melhora da qualidade de vida que se almeja para todos os habitantes. importante dizer que muito se fez para melhorar a drenagem urbana, com destaque para um amplo escopo de obras relacionadas ao controle das cheias. No entanto, evidente que o enfrentamento de um problema estrutural como a drenagem urbana s pode ser completamente equacionado no longo prazo.

    Buscando constituir uma forma moderna e ambientalmente correta de manejar as guas pluviais e reduzir drasticamente a vulnerabilidade de So Paulo s chuvas intensas, a Prefeitura Municipal de So Paulo vem desenvolvendo, desde o final de 2010, o Plano Diretor de Drenagem e Manejo de guas Pluviais de So Paulo (PMAPSP). Este projeto liderado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano SMDU e conta com a colaborao das vrias secretarias municipais, em especial, da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras SIURB, Secretaria Municipal de Coordenao das Subprefeituras SMSP, Se-cretaria Municipal de Habitao SEHAB e da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente SVMA. Para apoio ao desenvolvimento do PMAPSP foi contratada a Fundao Centro Tecnolgico de Hidrulica (FCTH), entidade de apoio a projetos de pesquisa e desenvolvimento com reconhecido histrico de exce-lncia na rea. importante destacar que este projeto ocorre em paralelo e de forma aderente ao Terceiro Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do alto Tiet (PDMAT3), em execuo pelo Departamento de guas e Energia Eltrica DAEE do Governo do Estado de So Paulo.

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    As solues buscadas pelo PMAPSP no passam exclusivamente pela ao dos gestores da cida-de. Elas esto e devero ser produzidas ao longo do processo em parceria com a populao, uma vez que exigem uma nova postura da sociedade diante do meio urbano. Alm disso, so solues que devero ser implantadas ao longo de muitos anos, exigindo continuidade e controle por parte dos cidados para seu bom desenvolvimento.

    O PMAPSP se assenta em trs pilares: a regulamentao do uso e da ocupao do solo, o desen-volvimento dos programas de drenagem das bacias do municpio de So Paulo e a elaborao do manual de drenagem urbana e manejo de guas pluviais.

    As questes ligadas ao uso e ocupao do solo so tratadas no Plano Diretor Estratgico do Municpio de So Paulo (PDE), nos Planos Regionais Estratgicos das Subprefeituras (PREs) e na Lei de Uso e Ocupao do Solo (LUOS). O PMAPSP criar os subsdios para que essa regulamentao possa ser continu-amente aprimorada, contemplando o estado da arte das tcnicas de manejo de guas pluviais.

    Os programas de drenagem das bacias do municpio de So Paulo, a serem desenvolvidos na continuidade da implantao do PMAPSP, tm como objetivos, para cada bacia, diagnosticar e analisar o atual sistema de macrodrenagem da regio e propor um conjunto hierarquizado de solues estruturais e no estruturais capazes de reduzir os efeitos das cheias com resultados para horizontes de curto, mdio e longo prazo, tendo como meta atingir, em 2040, o grau de proteo hidrolgica para cheias em um perodo de retorno de 100 anos. Os programas devero considerar implantao de medidas de curto (at 5 anos), mdio (at 15 anos) e longo prazo (at 2040), acompanhadas de anlises de custo-benefcio e de avaliao ambiental estratgica. Alm disso, os programas fornecero subsdios para a implantao de um sistema de gesto sustentvel do sistema de guas pluviais e para a articulao das aes de drenagem com o plane-jamento territorial e os servios de saneamento bsico do municpio de So Paulo. Os principais produtos dos programas de drenagem de cada sub-bacia sero: cartografia bsica de referncia para os planos de informao georreferenciados, modelos computacionais de simulao hidrulica, mapeamento das reas de inundao para diversos riscos hidrolgicos, programa de controle de cheias e portflio hierarquizado de medidas estruturais e no estruturais.

    O terceiro pilar do PMAPSP este livro Manual de Drenagem e Manejo de guas Pluviais que disponibilizado para a sociedade em trs volumes e ter como funo orientar e subsidiar os profissionais da PMSP, os prestadores de servio e os empreendedores que atuam nas reas de planejamento e projetos de drenagem urbana, planejamento e controle do uso do solo, e projeto, anlise e aprovao de novos empreendimentos. Este trabalho foi estruturado de tal forma que possa tambm ser utilizado como um texto informativo para no especialistas do setor e, assim, propiciar a participao dos cidados na busca de solues para os problemas de drenagem urbana visando melhoria da qualidade de vida de todos os muncipes.

    A Fundao Centro Tecnolgico de Hidrulica FCTH elaborou e a responsvel pelo contedo tcnico deste livro Manual de Drenagem e Manejo de guas Fluviais, como parte das atividades desen-volvidas durante a prestao de servios de consultoria tcnica especializada para a elaborao do Plano Municipal de Gesto do Sistema de guas Pluviais.

    O contedo deste livro est dividido em trs volumes.

    O volume 1 Gerenciamento do Sistema de Drenagem Urbana aborda o planejamento e a gesto da drenagem urbana, fundamental para todos os profissionais que, de uma forma ou outra, tra-balham com a gua na cidade. O principal objetivo informar gestores pblicos, urbanistas, ambientalis-tas, engenheiros, etc. sobre como o PMAPSP deve ser conduzido, gerido e atualizado ao longo dos anos. Discute tambm a importncia das atividades de gesto, envolvendo aspectos de manuteno, operao, monitoramento e informao sobre a drenagem urbana. Apresentam-se neste volume o mapa hidrogrfico

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    e o mapa hidrogrfico com diviso de bacias do municpio, ambos elaborados com base no Mapa Digital da Cidade (MDC), e fundamentais para o planejamento urbano de So Paulo.

    Os volumes 2 Aspectos Tecnolgicos: Fundamentos e 3 Aspectos Tecnolgicos: Diretrizes para Projetos constituem a parte tcnica deste livro e foram elaborados para subsidiar a atuao de enge-nheiros e outros especialistas que trabalham em projetos de drenagem urbana. O volume 2 apresenta aspec-tos fundamentais de hidrologia, hidrulica, qualidade da gua, transporte de sedimentos e de medidas de controle de escoamento superficial. O volume 3 apresenta diretrizes para o desenvolvimento de atividades de viabilidade de obras em drenagem urbana e para projetos de obras de microdrenagem, de macrodre-nagem e de medidas de controle na fonte. Este documento tcnico assume uma viso de desenvolvimento de projeto de drenagem urbana com a necessria perspectiva de se implantar conceitos de sustentabilidade tcnica, social, econmica e ambiental nas aes propostas.

    Por fim, importante destacar que no se trata de uma iniciativa isolada. Os projetos urbanos desenvolvidos entre 2009 e 2012 e a viso estratgica de longo prazo contida no Plano SP2040 se desenvol-veram dentro de uma perspectiva sistmica e articulada, buscando integrar pequenas iniciativas e grandes intervenes, com grande nfase na factibilidade das diretrizes e na sua viabilidade financeira. Nesse senti-do, o conjunto de iniciativas desenvolvidas procura incorporar solues para o grave desequilbrio estrutural que o rpido e intenso processo de urbanizao introduziu nas dinmicas das guas na cidade. O plano apresentado busca estruturar uma estratgia capaz de reverter este quadro e de apontar as principais etapas e as iniciativas que faam de So Paulo, na sua relao com as guas, uma cidade mais prxima daquela que queremos deixar para as prximas geraes.

    Miguel luiz BucalemSecretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano

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  • 1. Viso geral de planejamento da drenagem Urbana

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  • Gerenciamento do Sistema de Drenagem Urbana Volume i

    Viso geral de planejamento da Drenagem Urbana 13

    O projeto e a gesto de sistemas de gua urbanos baseados na anlise de todo o sistema conduzir a solues mais sustentveis do que o projeto e gesto de elementos do sistema (Integrated Urban Water Management in the City of Future- ICLEI- European Secretariat, 2011)

    A ideia de planejar uma bacia urbana com vistas questo das inundaes nasce da percepo de que tanto existem problemas a serem resolvidos quanto oportunidades a serem exploradas. Existe hoje a convico, baseada principalmente em experincias estrangeiras e algumas nacionais, de que a forma mais racional, econmica e sustentvel de equacionar estas questes atravs de uma abordagem ampla e integrada no tempo e no espao. A realizao prtica desta abordagem so os Planos de Drenagem Urbana.

    O trabalho de Gilbert F. White-Human Adjustment to Floods (1945) inspirou a poltica dos Estados Unidos de Gesto de Inundaes e influenciou inmeros estados e cidades daquele pas a desenvolverem polticas pblicas do setor, baseadas em planos de drenagem urbana. A cidade de Denver e outras cidades do Estado do Colorado so exemplares nesta rea, tendo iniciado suas atividades aps as cheias catastr-ficas de 1965. Em todas estas cidades, a atuao das entidades que trabalham com inundaes urbanas baseia suas atuaes em planos de drenagem urbana de bacias hidrogrficas.

    Portanto, estas ideias no so novas e vm sendo praticadas em grande parte do mundo desen-volvido. No Brasil, estes conceitos esto se impondo gradativamente e j se registram exemplos impor-tantes. Grandes cidades como So Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Braslia e outras esto trabalhando nesta direo. Alm de grandes reas metropolitanas, outras cidades de mdio e de pequeno porte tambm possuem planos de drenagem urbana ou desenvolvem esforos para realiz-los.

    No continente europeu aes de planejamento e controle da drenagem urbana remontam h sculos, notadamente em locais como os Pases Baixos. O Plano de Obras do Delta constitui-se num dos maiores planos de defesa contra as inundaes que se tem conhecimento no Ocidente, acumulando inves-timentos vultosos desde a dcada de 1950.

    O Reino Unido, a Frana, a Alemanha, a Itlia e a Blgica acumulam experincias importantes na drenagem urbana e no controle da poluio hdrica, sendo possvel encontrar na literatura diversos exemplos de prticas que associam o controle das cheias melhoria da qualidade ambiental das bacias hidrogrficas.

    A partir dos anos 1980 possvel tambm identificar vrias experincias de controle de cheias urbanas em pases do Oriente. No Japo os planos de drenagem urbana esto normalmente associados a medidas de contingncia e preveno contra os desastres naturais. No incio da dcada de 1990 uma experincia deste tipo foi bem-sucedida no Estado de So Paulo, no municpio de Cubato. Trabalhos de cooperao internacional financiados pela Japan International Cooperation Agency (JICA) produziram um Plano Diretor de Combate s Inundaes e Deslizamentos na Serra do Mar, resultando em intervenes es-truturais e no estruturais implantadas nos vales dos rios Cubato, Mogi e Perequ e nas vertentes afluentes a grandes complexos industriais.

    Ainda no Oriente, pases como a China, a Coreia do Sul e a ndia apresentam em seus grandes centros urbanos problemas muito similares aos observados em metrpoles brasileiras, agravados por efeitos de grandes tormentas e outros fatores climticos. Prticas como a denominada renaturalizao (ou revi-talizao) dos cursos dgua esto sendo exemplos de sucesso nesses pases densamente urbanizados, na busca pela restaurao de reas de vrzeas perdidas durante o intenso processo de urbanizao.

    A atuao de pases em desenvolvimento na prtica do planejamento das medidas de defesa con-tra as inundaes em reas urbanas est se consolidando, resultado de inmeros fatores, como a crescente valorizao do conceito de sustentabilidade ambiental.

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  • ManUal De DrenaGeM e Manejo De GUaS PlUViaiS

    14 Viso geral de planejamento da Drenagem Urbana

    Neste trabalho busca-se consolidar as melhores prticas passadas e presentes na aplicao das tcnicas de controle das inundaes, como medida para aumentar a segurana contra riscos de eventos hidrolgicos extremos e garantir a melhoria da qualidade de vida para a sociedade.

    Princpios e Objetivos

    Um plano de drenagem urbana uma pea tcnica, voltada para o futuro, que tem como escopo orientar as aes e o processo decisrio a respeito dos problemas de inundaes de uma bacia. Como tal, deve basear-se em informaes suficientes e confiveis e nas melhores tecnologias disponveis, para enfren-tar os problemas que se apresentam.

    Entretanto, um bom plano depende da considerao de muitos outros fatores. Os mais comuns so aqueles que se referem a aspectos institucionais, legais, culturais, gerenciais, econmicos, polticos, fiscais e outros. Estes aspectos podem representar restries importantes ao desenvolvimento de um bom plano, mas podem tambm oferecer oportunidades a explorar. Desta forma, planos acabam sendo influen-ciados pelo ambiente, regio ou pas onde so desenvolvidos.

    Em que pesem as citadas influncias dos fatores ambientais, a estrutura lgica e a metodologia que regem o desenvolvimento destes planos so bastante semelhantes e consolidadas pela prtica.

    Os objetivos e princpios desempenham papel central no processo de planejamento, no s por-que definem as principais caractersticas do plano, mas tambm porque conduzem e estruturam todo o desenvolvimento do trabalho.

    Princpios so declaraes que formam a estrutura conceitual e do sustentao ao plano. Em outras palavras, so conceitos e valores essenciais para o desenvolvimento do plano, que so amplamente aceitos como verdadeiros.

    Planejamento da Drenagem Urbana

    O sistema de drenagem urbana faz parte do conjunto de melhoramentos pblicos existentes em uma rea urbana, quais sejam: redes de abastecimento de gua, de coleta de esgotos sanitrios, de cabos de transmisso de energia, de servios de comunicaes, alm da iluminao pblica, pavimentao de ruas, guias e passeios, parques, reas de recreao e lazer.

    conveniente para a comunidade que a rea urbana seja planejada de forma integrada, isto , que todos os melhoramentos pblicos sejam planejados coerentemente. Se existirem planos setoriais, re-gionais, quer municipais, estaduais ou federais, desejvel que haja perfeita compatibilidade entre o plano de drenagem urbana e esses planos. Quando o sistema de drenagem no considerado desde o incio da formulao do planejamento urbano, bastante provvel que esse sistema, ao ser projetado, revele-se ao mesmo tempo de alto custo e ineficiente.

    Em relao aos outros melhoramentos urbanos, o sistema de drenagem tem uma particularidade: o escoamento de guas pluviais sempre ocorrer independentemente de existir ou no sistema de drena-gem adequado. A qualidade desse sistema que determinar se os benefcios ou prejuzos populao sero maiores ou menores.

    Sempre possvel, atravs de estudos mais amplos, planejar o sistema de drenagem de forma a diminuir os custos, e aumentar os benefcios resultantes. Por exemplo, a construo de reservatrios de reteno a montante ou a concepo de parques nos quais se admitam inundaes peridicas so possibilidades bastante interessantes. O projeto de canais abertos, diminuindo, ou mesmo eliminando

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  • Gerenciamento do Sistema de Drenagem Urbana Volume i

    Viso geral de planejamento da Drenagem Urbana 15

    a necessidade de tubulaes enterradas, merece anlise pormenorizada, pois resulta em investimentos de menor vulto.

    Outro aspecto a considerar diz respeito urbanizao de reas altas, o que pode resultar no aumento do escoamento de guas pluviais para as reas baixas. O empreendimento de montante deve ser projetado de forma a conservar as condies naturais atravs de reservatrio de acumulao das cheias ou de outras medidas, ou ento ser onerado pelos custos de adequao do sistema de drenagem das reas a jusante.

    Fica, ento, de incio, caracterizado que o sistema de drenagem deve ser includo no plano urba-no de desenvolvimento integrado. Em decorrncia, na equipe multidisciplinar responsvel pela elaborao desse plano, ao lado dos urbanistas, economistas, socilogos, ambientalistas, etc. devero sempre estar presentes os engenheiros hidrlogo e hidrulico.

    Com tal procedimento na concepo do sistema de drenagem, podero ser pesquisadas solues que eliminem interferncias do sistema de drenagem com outros melhoramentos pblicos, definam os ga-baritos para pontes e travessias, minimizem as tubulaes enterradas e levem em conta possibilidades de conteno ou retardamento das cheias.

    Em sentido amplo, o planejamento a atividade destinada a resolver os problemas de uma comu-nidade atravs de consideraes ordenadas, que envolvem desde uma concepo inicial at um programa de intervenes, considerando um espao determinado e fixado um perodo de tempo.

    O planejamento da drenagem urbana, conforme a exposio inicial, deve ser feito de forma inte-grada, considerando os outros melhoramentos urbanos e os planos de bacia ou regionais, quando existirem. Aps estarem determinadas as interdependncias entre o sistema de drenagem urbana e outros sistemas urbanos e regionais, pode-se desenvolver um planejamento especfico da drenagem urbana.

    Tal planejamento deve ser feito com critrios bem estabelecidos, oriundos de uma poltica da administrao pblica, apoiada em regulamentos adequados e nas sustentabilidades econmica, financei-ra e ambiental. Essa poltica e esses regulamentos devem sempre atender s peculiaridades locais, fsicas, econmicas e sociais. O planejamento deve sempre levar ao projeto de um sistema de drenagem exequvel, tcnica e economicamente eficiente maximizando os benefcios, minimizando os custos, coerente com os planos de bacia e outros planos setoriais, e que atenda aos anseios da sociedade.

    O sistema de drenagem deve ser considerado como composto por dois sistemas distintos, que devem ser planejados e projetados com critrios diferenciados.

    O sistema de drenagem inicial, ou de microdrenagem, ou ainda coletor de guas pluviais, aquele composto pelos pavimentos das ruas, guias e sarjetas, bocas de lobo, galerias de guas pluviais e tambm canais de pequenas dimenses. Esse sistema dimensionado para o escoamento de guas pluviais cuja ocorrncia tem um perodo de retorno de at 10 anos. Quando bem projetado, elimina praticamente os alagamentos na rea urbana, evitando as interferncias entre as enxurradas e o trfego de pedestres e de veculos, e danos s propriedades.

    O sistema de macrodrenagem constitudo, em geral, por estruturas de maiores dimenses, pro-jetado para cheias cujo perodo de retorno deve estar prximo de 100 anos. Quando este sistema bem projetado pode-se obter diminuio considervel do custo do sistema inicial, reduzindo-se, por exemplo, a extenso das tubulaes enterradas. Do seu bom funcionamento dependem, essencialmente, a segurana urbana e a sade pblica. Quando este sistema no projetado, ele existe naturalmente, pois as cheias escoam pelas depresses topogrficas e pelos cursos dgua naturais. Se a rea urbana no se desenvolver de forma coerente com essas condies, so grandes os riscos de prejuzos materiais, e mesmo de perdas de vidas humanas. A urbanizao das reas baixas marginais aos cursos dgua deve ser feita cautelosamente. Sem um projeto adequado de drenagem dessas reas a sociedade ser onerada, no futuro, por altos custos

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    decorrentes de manuteno e correo do sistema de drenagem inadequado. Por outro lado, desejvel que essas reas baixas se prestem melhor ao uso como reas verdes com fins de recreao e lazer.

    Fundamentos dos sistemas de drenagem

    O sistema de drenagem urbana e, portanto, de preveno de inundaes fundamenta-se no s em planos, projetos e obras, mas tambm em legislao e medidas no estruturais que compreendem:

    Cdigos, leis, regulamentos e normas sobre edificaes, zoneamento, parcelamento e lotea-mento do solo e tambm medidas de controle sanitrio e de preservao ambiental.

    Fiscalizao da administrao pblica nas reas urbanizadas e edificadas, bem como planos de reurbanizao e renovao de reas degradadas.

    Declarao de utilidade pblica e desapropriao de reas ociosas ou assoladas por inunda-es frequentes.

    Esses dispositivos so particularmente importantes quando se referem s reas baixas constitudas por plancies sedimentares marginais aos cursos dgua. Como podem ser inundadas durante as cheias, a sua ocupao deve ser restringida atravs dos seguintes meios:

    Zoneamento com delimitao clara das reas frequentemente inundadas. Fixao de cotas aqum das quais a ocupao desaconselhada ou mesmo vedada. Restrio de acesso s reas sujeitas a inundaes. Restrio por parte de rgos pblicos de licenciamento ambiental e de financiamento para

    empreendimentos de ocupao das reas inundveis.

    Limitao expanso de outros servios pblicos nas reas sujeitas a inundaes frequentes. Estudo de reas alternativas para os empreendimentos em cogitao em reas inundveis. Fixao de incentivos fiscais para que os terrenos permaneam ociosos.Outras medidas podem ser tomadas para minimizar os efeitos das inundaes, como:

    Obras hidrulicas de controle, amortecimento ou armazenamento de cheias. Recursos de proteo local contra inundaes, como comportas, vlvulas, etc. Planos de contingncia contra inundaes, compreendendo sistemas de alerta, diques provi-

    srios, esquemas de desvio de trfego e de evacuao da populao, etc.

    Planos de assistncia social, compreendendo socorro populao pelo fornecimento de abri-go, alimentao, ajuda financeira, etc.

    Iseno de impostos e taxas s pessoas e s propriedades atingidas.Por outro lado, os planos urbansticos e de expanso dos servios pblicos devem se orientar pelo

    plano de manejo e drenagem de guas pluviais, de forma que:

    As reas potencialmente inundveis sejam bem conhecidas e perfeitamente delimitadas em mapas oficiais.

    A expanso de servios pblicos nessas reas seja controlada ao mximo. importante que se disponha de uma organizao tcnica e administrativa voltada para a implan-

    tao, operao e manuteno do sistema de drenagem urbana, o que possibilitar:

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    A incluso nas leis de zoneamento, nos cdigos de edificaes e em mapas oficiais, de indica-es claras a respeito das reas sujeitas a inundaes.

    Manuteno e atualizao permanente de cadastro dos projetos e das obras executadas, com pormenores.

    Participao na elaborao dos planos de bacia e nos planos setoriais que possam interferir com o sistema de drenagem e conhecimento pleno de tais planos.

    Cooperao com entidades responsveis por previses meteorolgicas, medies hidrolgicas e previses de cheias.

    Desenvolvimento de programas de aquisio de dados a respeito de prejuzos causados por inundaes.

    Orientao e superviso dos servios de construo, operao e manuteno do sistema de drenagem.

    Evidentemente, a criao dessa organizao depende do comprometimento poltico, do pessoal tcnico e de recursos financeiros.

    Vantagens do Planejamento

    A principal vantagem do planejamento aplicado ao sistema de drenagem urbana e manejo de guas pluviais refere-se obteno simultnea de menores custos e melhores resultados.

    A elaborao de um bom plano de drenagem e manejo de guas pluviais um assunto complexo, pois logo de incio devem ser adotados critrios bsicos de planejamento para o sistema de microdrenagem, para o sistema de macrodrenagem e para o programa de desenvolvimento de medidas estruturais e no estruturais. Frequentemente existem interferncias com outros planos, bem como restries oramentrias, fatores que podem prejudicar a implantao das medidas de controle das inundaes.

    Quando do projeto de novas edificaes importantes ou de loteamentos, antes mesmo do pro-cesso de licenciamento, o sistema de drenagem deve ser estudado minuciosamente, adotando-se alguns critrios bsicos. Nesta etapa de estudo so tomadas decises que influiro bastante no custo do sistema de drenagem e manejo de guas pluviais. Se existirem reas frequentemente inundveis por processo hi-drolgico e hidrulico natural, tal fato dever ser prudentemente considerado antes de se decidir sobre a interveno prevista.

    Quanto mais cedo as questes de drenagem forem examinadas, melhores resultados podero ser obtidos do plano urbanstico. Ao se estudar tardiamente o sistema de drenagem, ou se ele for projetado considerando-se objetivos de curto prazo, as repercusses para a sociedade sero sempre negativas.

    A aquisio de dados e informaes para o planejamento de um sistema de drenagem e manejo de guas pluviais uma fase importante, mas deve sempre desenvolver-se em paralelo com a formulao de esquemas iniciais do sistema, de critrios bsicos de dimensionamento, e do exame de problemas de operao e manuteno. Com tal procedimento evita-se a execuo de levantamentos desnecessrios ou de menor importncia.

    O sistema de drenagem e manejo de guas pluviais proporciona benefcios importantes quando bem projetado. A rea urbana desenvolve-se de forma ordenada, a salvo de inundaes e de prejuzos ao trfego de pedestres e de veculos. Alguns benefcios a serem considerados no planejamento so os seguintes:

    Reduo do custo de construo e manuteno das ruas. Melhoria do trfego de veculos durante as chuvas.

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    Benefcios sade, ao meio ambiente e segurana urbana. Menor custo de implantao de parques e reas de recreao e lazer. Recuperao de reas degradadas. Menor custo de implantao de projetos habitacionais. Rebaixamento do lenol fretico e melhoria das reas de vrzeas.Um plano de drenagem e manejo de guas pluviais de grande valia para a administrao p-

    blica, para os empresrios e para a comunidade em geral. Ele possibilita a todos o conhecimento das obras que sero executadas, dos respectivos prazos, e, portanto, do potencial de uso do solo urbano, em suas vrias regies.

    O plano de drenagem e manejo de guas pluviais no deve se basear exclusivamente em projetos hidrulicos, mas tambm em critrios ambientais, sociais e econmicos. Deve ser elaborado em paralelo ao plano de drenagem um detalhado projeto oramentrio para ser apresentado aos rgos de planejamento e aos provedores de recursos financeiros. Outros planos, como os relativos ao zoneamento, ao sistema virio, s reas verdes, etc. devero ser coerentes com o plano de drenagem.

    Um plano diretor de drenagem e manejo de guas pluviais baseado em anlise abrangente traz melhores resultados do que projetos de drenagem isolados, desenvolvidos com critrios diferentes para cada bacia hidrogrfica.

    Planejamento da microdrenagem

    O planejamento de sistemas de escoamento de guas pluviais deve considerar tanto as chuvas mais frequentes, cujo perodo de retorno estimado em at 10 anos, como as chuvas mais crticas de per-odo de retorno da ordem de 100 anos.

    O sistema de drenagem inicial ou de microdrenagem, que compreende o pavimento das ruas, guias e sarjetas e galerias de guas pluviais de menor porte, deve ser dimensionado para as chuvas que ocorram em mdia a cada 10 anos. Todavia, durante a ocorrncia de chuvas mais crticas esse sistema deve comportar parte do escoamento superficial, de forma que os riscos de prejuzos materiais ou de perdas de vidas humanas sejam pequenos. O alagamento do pavimento de ruas, e mesmo de passeios pode ser ad-missvel desde que no seja frequente. Os nveis dgua que resultem na inundao de vias de intenso fluxo de veculos e pedestres, de residncias e de estabelecimentos comerciais ou industriais, devem ser ainda mais raros.

    O bom funcionamento do sistema de microdrenagem depende essencialmente da execuo cui-dadosa das obras conforme projetadas, alm de manuteno permanente, com limpeza e desobstruo das bocas de lobo e das galerias antes dos perodos chuvosos.

    As ruas servem como importante elemento do sistema de drenagem inicial, com escoamento das guas pluviais pelo pavimento e pelas sarjetas, at a sua admisso ao sistema de galerias atravs das bocas de lobo. Em decorrncia, seu dimensionamento dever levar em conta, tambm, seu funcionamento como conduto hidrulico.

    Entretanto, antes desse dimensionamento devem ser fixados critrios bsicos, que dependem essencialmente da classe de uso da via. As ruas secundrias admitem alagamentos mais frequentes do que as vias expressas. Porm, uma rua com pequena circulao de veculos, mas de intenso uso por pedestres, merece uma proteo maior contra alagamentos.

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    Galerias de guas pluviais

    O sistema de galerias de guas pluviais integra as bocas de lobo, as tubulaes, os poos de visita e estruturas acessrias, e projetado tendo em vista a conduo de guas pluviais desde a sua captao, nas ruas, at a sua disposio no sistema de macrodrenagem. Pertence, portanto, ao sistema de micro-drenagem, isto , projetado para chuvas cujo perodo de retorno estimado em at 10 anos. O seu bom funcionamento depende essencialmente de um sistema de macro- drenagem adequado, e parcialmente intil se a drenagem das ruas no for bem projetada. possvel, atravs de projeto adequado da drenagem das ruas e do sistema de macrodrenagem, diminuir a extenso das galerias de guas pluviais ou substitu-las por canais abertos, o que traz sensvel diminuio dos investimentos nas obras.

    Em reas de urbanizao mais antiga, frequente que as galerias sejam insuficientes para a conduo de guas pluviais, em razo do aumento do escoamento superficial, provocado pela imperme-abilizao progressiva do solo. Nesse caso os excessos de escoamento superficial permanecem nas ruas provocando prejuzos e incmodos populao at o ponto em que se torne aconselhvel a ampliao do sistema de galerias ou de retenes.

    Atravs de critrios usuais de projeto de drenagem urbana, devem ser estudados diversos traa-dos da rede de galerias, considerando os dados topogrficos existentes e o dimensionamento hidrolgico e hidrulico preliminar. A concepo inicial que for escolhida como a mais adequada mais importante para assegurar a economia global do sistema do que estudos que se realizem a posteriori de detalhamento do projeto, de especificaes de materiais, etc.

    Esse trabalho deve desenvolver-se sempre que possvel simultaneamente com o plano urbanstico das ruas e das quadras, pois em caso contrrio ficaro impostas ao sistema de drenagem restries que levaro sempre a maiores custos. O sistema de galerias deve ser planejado de forma homognea, propor-cionando a todas as reas estudadas condies adequadas de drenagem.

    Aps o dimensionamento do sistema deve ser feita verificao sobre as repercusses da ocor-rncia de chuvas mais intensas que a de projeto. Por vezes recomendvel a ampliao da capacidade das galerias se os prejuzos potenciais forem altos e os investimentos adicionais no se tornarem excessivos.

    necessrio que se faa uma distino entre uma chuva de perodo de retorno de 100 anos e uma cheia do mesmo perodo de retorno. A precipitao pluviomtrica que ocorre em mdia uma vez a cada 100 anos um valor calculado estatisticamente, mediante valores observados em um nico ponto. A cheia de perodo de retorno de 100 anos pode ocorrer sem que tenha sido observada a chuva de 100 anos, pois depende de outros fatores como: distribuio espacial da chuva, umidade antecedente do solo, etc. A anlise estatstica de uma srie de vazes mximas observadas pode proporcionar estimativa dessa cheia, mas em regies em processo de urbanizao essa amostra no homognea, em razo da alterao das condies hidrolgicas.

    A seleo do sistema de galerias mais adequado para uma rea urbana deve considerar sempre aspectos mais amplos do que somente os relativos preveno das inundaes. H outras consideraes a examinar, conforme indicadas em captulos especficos deste manual.

    Planejamento da macrodrenagem

    O planejamento adequado do sistema de macrodrenagem fundamental para um bom plano de desenvolvimento urbano. Em geral, nas reas j urbanizadas, o mau funcionamento desse sistema a principal causa das inundaes mais srias, e do alto custo das galerias de guas pluviais. Quando no existe

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    planejamento desse sistema, o escoamento das cheias se faz por depresses topogrficas e pelos canais naturais, de forma desordenada, quase sempre colocando em risco propriedades e vidas humanas.

    Existe uma interao entre a rea urbana e os canais principais de drenagem. A urbanizao au-menta o escoamento superficial e diminui o tempo de concentrao das cheias. Frequentemente os canais so obstrudos por material slido carreado pelas enxurradas, e ocorrem inundaes atingindo as reas marginais.

    O conduto final das guas pluviais pode ser tanto um canal natural, como um artificial atravs de retificao e revestimento do canal natural. Em alguns casos esse canal pode ser uma galeria de grandes dimenses, ou seja, um canal coberto que frequentemente aproveitado como base para construo de ruas ou avenidas.

    Os canais principais so s vezes projetados em etapas, deixando-se, por exemplo, o revestimento em concreto armado para o futuro, quando as cheias aumentarem com a urbanizao progressiva. Quando se estudam os canais principais, so muitas as alternativas e possibilidades envolvendo o traado, a seo transversal e o seu tipo de revestimento. Em reas j urbanizadas existem restries a serem observadas, mas sempre se deve pesquisar a alternativa de menor custo, que seja eficiente e ao mesmo tempo estetica-mente agradvel e ambientalmente justificada. A seleo da alternativa mais conveniente envolve grande responsabilidade, pois da eficincia dos canais principais depende o funcionamento de todo o sistema de drenagem.

    necessria uma primeira estimativa da vazo de projeto para avaliar preliminarmente as dimen-ses dos canais principais. Essa estimativa pode ser feita rapidamente adotando-se vazes especficas de cheias, ou mediante clculos utilizando-se modelagem matemtica especfica para esse fim.

    As diretrizes dos canais principais, em geral, devem seguir os fundos de vale. Nesse caso basta lan-las em plantas cartogrficas. Entretanto, em muitos casos, os fundos de vale no so bem definidos como em cidades muito planas, ou que j foram urbanizados. Ento o traado dos canais depender de outros fatores, dentre os quais o relativo a custos de desapropriao de imveis particulares. Quando isso ocorre, a seleo da melhor alternativa deve ser amplamente justificada para os administradores pblicos, de forma a se tornar politicamente aceitvel.

    Os canais, como elementos de macrodrenagem, so solues que permitem tratamento urba-nstico interessante, costumam ser mais baratas que as grandes galerias subterrneas e, conforme suas caractersticas geomtricas, possuem efeito atenuador das ondas de cheia. As suas principais desvantagens referem-se s interferncias com o sistema virio e ao custo de manuteno, fatores que podem ser minimi-zados adotando-se um projeto e um programa mantenedor adequado.

    Um canal considerado bem projetado aquele cujas caractersticas permitam associar maior volu-me de acumulao no prprio leito e baixas velocidades para as descargas de cheias, resultando em tempos de concentrao relativamente longos, que contribuiro para atenuar as descargas de pico a jusante.

    As reas marginais dos canais podem se constituir em interessante alternativa de reas de re-creao e lazer, mediante a criao de parques lineares. Em muitas reas em fase de urbanizao onde as declividades so baixas, os canais naturais podem no ser bem definidos, existindo apenas depresses topogrficas. Ao longo desses pequenos vales podem ser projetados canais artificiais sendo que tal possibili-dade, bem explorada, pode levar diminuio da extenso das galerias de guas pluviais. H que se atentar sempre, nesses casos, tambm aos aspectos de qualidade da gua e ao transporte slido.

    A estabilidade dos canais em reas urbanas um fato importante a considerar, pois o regime hidrolgico, medida que aumenta o processo de urbanizao, pode ser totalmente modificado. As va-zes de estiagem e de cheias so alteradas de tal forma que devem ser estudadas medidas para evitar o assoreamento, a eroso do leito e o solapamento das margens dos canais, de forma a diminuir o custo de manuteno.

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    O projeto do canal depende dos critrios de projeto, do exame das condies topogrficas, do custo das alternativas, das repercusses ambientais, etc. A escolha do tipo de revestimento do canal um ponto importante, pois repercute sensivelmente no custo global do canal. A adoo do canal em terra, ou simplesmente gramado, interessante considerando-se o baixo investimento inicial, mas precisa ser com-putada a elevao das despesas com a sua manuteno e conservao. Canais com taludes protegidos por enrocamento ou gabies so comumente empregados, mas h que considerar tambm os custos de sua conservao, nem sempre considerados nos oramentos pblicos. Da decorre o uso difundido de reves-timentos mais resistentes, como o concreto projetado ou o concreto armado, de investimento inicial mais elevado, mas com custos de manuteno e conservao menores.

    De forma mais pormenorizada, a escolha do canal deve basear-se nos seguintes fatores:

    Hidrulicos: declividade longitudinal, travessias, vazo de projeto, sedimentao, topografia, drenagem das reas marginais.

    Estruturais: estabilidade de taludes laterais, custo de escavao e revestimentos, mtodos construtivos, manuteno e conservao.

    Ambientais: reas protegidas, zoneamento ecolgico, reas verdes, aspectos cnicos, reas de emprstimo e de disposio, uso do solo nas reas adjacentes, medidas de monitoramento e controle.

    Sociais: participao pblica, comunicao social, padres de vizinhana, trfego de pedes-tres, uso recreacional, sade e segurana urbana.

    Legais: restries da legislao de uso e ocupao do solo e dos regulamentos ambientais e de outorga, consonncia com as leis de zoneamento, o plano diretor municipal e outros disposi-tivos correlatos.

    Antes da escolha definitiva do projeto do canal, os vrios especialistas devem concordar que a soluo encontrada a mais adequada, atendendo aos requisitos de cada campo de especializao.

    Sempre que possvel, o canal deve ter escoamento lento, ser largo e raso e de aspecto cnico agradvel. Quando houver transporte de material slido em suspenso nas pocas de vazes baixas, a seo do canal dever ser composta a fim de garantir velocidades mnimas adequadas e que evitem o seu assoreamento.

    Sempre que se alterarem as condies de um canal natural, devem ser esperadas repercusses ne-gativas. Quando se trata de um canal estvel, de baixa declividade, a sua retificao pode desencadear proces-sos de eroso e sedimentao que tendem a fazer com que o canal retorne ao seu estgio natural. Em canais naturais com leito arenoso, o aumento do escoamento superficial pode dar incio a um processo erosivo muito rpido, de graves repercusses. Em ambos os casos devem ser previstas medidas preventivas que evitem essas tendncias inconvenientes, como a construo de degraus e de bacias de dissipao de energia.

    As decises relativas ao projeto dos canais principais devem ser tomadas em conjunto pela equipe de planejamento. Quando elas so fundamentadas apenas nos aspectos hidrulicos e estruturais, podem ser perdidas boas oportunidades de realizar um projeto mais econmico e integrado no ambiente urbano.

    Armazenamentos naturais em vrzeas e em reservatrios

    A regulamentao do uso das vrzeas decorre do poder disciplinador do uso do solo pela admi-nistrao pblica. Como essa mesma administrao responsvel pela expanso de outros servios pbli-cos, inclusive pela implantao do sistema virio, pelo menos em tese a ocupao das reas baixas ou das vrzeas est sob seu inteiro controle.

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    22 Viso geral de planejamento da Drenagem Urbana

    A inundao temporria das vrzeas (ou baixadas aluvionares) um fato natural associado ao processo geomorfolgico. Ao tentar impedir essa ocorrncia, o homem encontra a oposio da natureza, de forma que as inundaes podem se agravar, tanto no prprio local ocupado, como nas reas a montante e a jusante.

    A administrao pblica tem a responsabilidade de salvaguardar a segurana e a sade pblica, de assegurar o livre trnsito de pessoas e veculos e de proteger as propriedades pblicas e privadas. Assim, se for permitida a ocupao das vrzeas, as autoridades colocam em risco o desempenho pleno de suas funes e obrigaes.

    A urbanizao das bacias hidrogrficas altera significativamente a forma de escoamento das guas pluviais e as reas potencialmente inundveis. Se essa urbanizao se processa conforme as leis de zoneamento e de uso do solo promulgados pelo poder pblico, ele se torna agente dessas transformaes. Conclui-se, portanto, que este no pode permitir, ao acaso, alteraes no sistema de drenagem se no assumir, ao mesmo tempo, a responsabilidade de suas consequncias. A ocupao das vrzeas, ao longo dos cursos dgua naturais, se inevitvel, pode ser feita de forma a assegurar razovel proteo contra as inundaes. A questo fundamental, para obter-se tal resultado, a implantao e a manuteno de canais que permitam o escoamento livre das cheias. Sempre que possvel devero ser mantidas condies as mais prximas das naturais.

    Portanto, a regulamentao do uso das vrzeas precisa especificar quais as condies naturais a serem mantidas, e quais os usos que a comunidade pode fazer do solo sem maiores riscos.

    Os reservatrios previstos para a conteno, amortecimento ou retardamento das cheias devem ser estudados, logo de incio, na concepo do sistema de drenagem da bacia hidrogrfica. Em geral apre-sentam excelentes possibilidades, com grande potencialidade tcnica, econmica e ambiental, principal-mente se foram dimensionados prevendo-se aproveitamento para outros usos e considerarem a melhoria da qualidade ambiental da bacia.

    A construo de pequenos reservatrios, comumente denominados de piscines, junto a par-ques e jardins, mesmo no centro de reas urbanas outra possibilidade interessante. A reteno temporria das guas pluviais nesses reservatrios reduz o custo do sistema de drenagem.

    Nos canais principais de drenagem, conforme suas caractersticas geomtricas e hidrulicas pode haver tambm uma pondervel atenuao das cheias atravs de seu armazenamento temporrio. Os volu-mes acumulados podem ser relativamente pequenos. Porm, como as cheias nas reas urbanas so rpidas e nem sempre de grande volume, essa possibilidade deve ser analisada. Quando for possvel contar com extravasamentos laterais, o potencial desse tipo de soluo ainda maior.

    Frequentemente as solues que envolvem a construo de reservatrios so de carter regional, e implicam a colaborao entre rgos municipais e estaduais de planejamento.

    Plano Diretor de Drenagem e Manejo de guas Pluviais

    O Plano Diretor de Drenagem Urbana a referncia tcnica para que a gesto da drenagem do municpio possa ser executada. Ele pode ser considerado estratgico, uma vez que nele consta um conjunto de documentos que apresentam os programas de aes, envolvendo medidas estruturais, no estruturais, medidas estruturais de controle do escoamento superficial, alm do cronograma de implantao do plano e o acompanhamento das aes propostas (monitoramento).

    O plano concebido para um determinado horizonte de planejamento. Os principais objetivos de um Plano Diretor de Drenagem e Manejo de guas Pluviais so:

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    Viso geral de planejamento da Drenagem Urbana 23

    Reduo das inundaes Zoneamento Minimizar os efeitos da poluio difusa Eficincia econmica Desenvolvimento da regio Preservao e melhorias ambientais Satisfao das necessidades sociais e de recreaoEsses objetivos, ou a combinao deles, podem ser modificados devido s necessidades especfi-

    cas de cada regio.

    Definio das Premissas Bsicas e Estruturao

    As premissas tcnicas bsicas que devem nortear o Plano Diretor so:

    O espao de planejamento e gesto da drenagem urbana deve ser a bacia hidrogrfica. A segmentao da bacia em sub-bacias dever ser avaliada em cada caso, tendo em vista prin-cipalmente o tamanho das reas envolvidas.

    Interferir no escoamento dos canais de tal forma a manter volume e velocidade o mais prxi-mo possvel das condies naturais da bacia, sendo possvel em alguns casos a reduo destas caractersticas a valores inferiores aos naturais.

    Considerar que o escoamento superficial transporta a poluio difusa e, portanto, so neces-srias medidas para controle e/ou tratamento da sua qualidade.

    As aes devem seguir os princpios de sustentabilidade. As medidas estruturais de controle do escoamento superficial e as medidas no estruturais

    devero ser consideradas conjuntamente.

    Considerar devidamente, dentro de um horizonte de planejamento, as condies futuras de uso e ocupao do solo. Para tal, a anlise da eficcia do sistema de drenagem dever ser bem avaliada, segundo diferentes cenrios de ocupao e uso do solo da bacia.

    Recuperar e/ou preservar, na medida do possvel, as reas de vrzea. Delimitar as zonas de inundao diante do risco hidrolgico. Isto , as medidas estruturais de

    controle de cheias devem ser projetadas em conjunto com o zoneamento de reas sujeitas a inundaes.

    Medidas Estruturais e No Estruturais

    As medidas de controle de cheias podem ser de dois tipos: estruturais e no estruturais. O Plano Diretor de Drenagem e Manejo de guas Pluviais necessita de obras e intervenes para a conduo das guas. As medidas estruturais representam interferncias nas caractersticas do escoamento. Estas so res-ponsveis pelo direcionamento e controle do fluxo das guas pluviais, atribuindo novas estruturas e fazem uso da implantao de obras que modificam o sistema natural para a reteno ou conteno do escoamen-to, como, por exemplo, a construo de reservatrios, diques e canalizaes abertas e fechadas.

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    24 Viso geral de planejamento da Drenagem Urbana

    As medidas estruturais de controle na fonte so aquelas que apresentam a nova viso de convi-vncia com as cheias urbanas, propondo a reduo e o tratamento do escoamento superficial gerado pela urbanizao. O papel das medidas estruturais de controle na fonte o de proporcionar solues para a reteno, infiltrao e abatimento do escoamento superficial. Os sistemas de drenagem mal projetados aca-bam por acelerar o escoamento e conduzem rapidamente os volumes de escoamento aos grandes canais fluviais. As medidas estruturais de controle na fonte visam retardar e reduzir o escoamento com a ajuda dos dispositivos de controle, canalizaes bem dimensionadas e estruturas de reteno dos deflvios.

    Ao planejar a drenagem necessrio considerar a integrao entre os dispositivos tradicionais de drenagem com as medidas estruturais de controle na fonte.

    Essas medidas contm dispositivos que atuam na reduo dos volumes escoados, introduzem alternativas que se integram harmoniosamente com a paisagem e tambm tratam da poluio difusa, me-lhorando a qualidade da gua que escoa para os canais.

    Fundamentalmente, os dispositivos propostos pelas medidas estruturais de controle na fonte so classificados em funo de sua atuao, na infiltrao e no armazenamento, ou na combinao desses processos. Alguns dos exemplos tpicos de dispositivos de infiltrao so as valas de infiltrao, pavimentos porosos, trincheiras de infiltrao e valas gramadas. Estes dispositivos tm a funo de destinar a gua para a sua absoro pelo solo, o que reduz a quantidade de gua no sistema pluvial.

    O objetivo principal do dispositivo de armazenamento a reteno do escoamento, para posterior liberao do volume. Entre eles esto bacias de deteno, reteno nos lotes e microdrenagem de forma linear.

    Os dispositivos mistos influem na infiltrao e no armazenamento, podendo em algumas situ-aes ser mais eficientes do que os dispositivos isolados. Sua utilizao recomendada em regies com pouca rea disponvel para obras, permitindo a melhor utilizao do espao e se adequando melhor s caractersticas da bacia.

    As medidas no estruturais so medidas de carter legal e institucional e que procuram disciplinar a urbanizao de tal forma a minimizar os seus efeitos no regime hdrico das bacias. Estas procuram, sem alterar a morfologia, reduzir os impactos com a aplicao de medidas e princpios que visam reduzir o risco hidrolgico e a interferncia causada por aes antrpicas s condies naturais. As medidas incluem aes como o zoneamento das reas de inundao, previses de cheias, seguros de inundaes, legislao per-tinente e sistema de alerta a inundaes. Este ltimo envolve o monitoramento e um sistema de previso hidrolgica. Sua efetividade depende da participao da populao e da fiscalizao constante do cresci-mento da cidade e da ocupao de reas de forma irregular.

    A seguir, so apresentadas as descries das medidas no estruturais mais relevantes:

    Normas e critrios tcnicos para construo de obras: visa estabelecer as caractersticas tc-nicas das estruturas que esto em reas suscetveis a alagamentos. Algumas destas tcnicas permitem a desocupao da rea ou a adequao das estruturas para a passagem da gua, como no caso de estruturas elevadas e resistentes a inundaes.

    Legislao apropriada: seguindo a mesma linha das normas e critrios tcnicos, a legislao relacionada ocupao do solo e construo previne que as reas afetadas pelas enchentes e reas ainda no impermeabilizadas sejam ocupadas.

    Seguro-enchente: um seguro que visa cobrir os gastos com a recuperao dos danos causa-dos pelas inundaes.

    Sistema de alerta: so sistemas de monitoramento hidrolgico em tempo real que permitem processar modelos de previso de chuva e de inundaes. Estes so sistemas que devem estar

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    Viso geral de planejamento da Drenagem Urbana 25

    acoplados a programas de aes emergenciais (remoo de populao em situao de risco, controle do trnsito, operao de obras de controle de cheias, etc.).

    Educao ambiental: programas de formao em questes ambientais para conhecimento e participao dos cidados.

    Zoneamento das reas com Risco de Inundao

    Uma questo bsica envolvendo o programa de drenagem urbana de uma bacia hidrogrfica : qual o critrio que deve nortear os projetos das obras de controle de cheia, ou em outras palavras, de que forma a regio suscetvel s inundaes deve ser protegida? Qual o grau de proteo adequado para as zonas inundveis?

    A primeira fase de um programa de bacia diagnosticar a situao atual, isto , conhecido o es-tado presente de ocupao e uso do solo urbano em questo, de que forma as inundaes ocorrem? Com que frequncia? Qual o grau de vulnerabilidade das reas inundveis? Quem est na rea de inundao?

    Na figura 1.1, a rea de drenagem em questo, delimitada pela linha verde, pode ser perfei-tamente identificada em termos de suas caractersticas fsicas, principalmente em termos de ocupao e uso do solo. Uma vez conhecidas as suas caractersticas hidrulicas, tanto dos canais como de outras obras hidrulicas existentes, possvel modelar o comportamento da bacia, tanto em termos hidrolgicos como hidrulicos. Um modelo matemtico hidrolgico/hidrulico bem calibrado uma ferramenta de clculo ex-tremamente importante para esse tido de anlise. Tcnicas de hidrologia permitem estabelecer cenrios de chuva nesta bacia associados a probabilidades de ocorrncia ou perodos de retorno.

    figura 1.1 - Bacia em estudo e zona de inundao para Tr = 2 anos (situao atual)

    Os cenrios de chuva estimados em funo dos perodos de retorno permitem estimar as zonas de inundao em funo dessas frequncias. A figura 1.1 apresenta a zona de inundao para 2 anos, a figura 1.2 para 50 anos e a figura 1.3 para 100 anos.

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    26 Viso geral de planejamento da Drenagem Urbana

    Com esse tipo de informao perfeitamente vivel estimar os danos tangveis para cada zona de inundao, dispondo de informaes de uso e ocupao do solo e de outros dados demogrficos dessas regies. Em geral essas informaes esto disponveis em sistemas de informaes geogrficas, que podem ser perfeitamente acoplados aos modelos de simulao hidrolgica e hidrulica. Ou seja, possvel avaliar uma srie de variveis importantes como: o nmero de diferentes tipos de domiclios afetados, sistemas de infraestrutura, principalmente transporte, destrudos e/ou impactados pelas inundaes. Portanto, poss-vel estimar com alguma preciso os danos provocados pelas inundaes, tanto danos diretos como danos indiretos, neste ltimo caso destacam-se os impactos na sade pblica.

    figura 1.2 - Zona de inundao para 50 anos (situao atual)

    figura 1.3 - Zona de inundao para 100 anos (situao atual)

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    Viso geral de planejamento da Drenagem Urbana 27

    Desse modo, possvel mapear uma funo extremamente importante para o planejamento que a funo de danos versus frequncia de inundaes. Pode-se ento obter um quadro realista dos impactos negativos sociais, econmicos e ambientais gerados pelas chuvas intensas. Essa funo fundamental para balizar os benefcios advindos das obras de controle de cheias a serem implantadas, uma vez que estes so mensurados pelos danos evitados por estas obras.

    Em geral um Plano Diretor de Drenagem estabelece trs horizontes de tempo para propor as suas aes: curto (at 5 anos), mdio (de 5 a 15 anos) e longo prazo (de 15 a 30 anos). A situao de referncia a de mais longo prazo, ela que serve para balizar a implantao do sistema em etapas, definindo um cro-nograma de obras e outras intervenes ao longo do tempo. Para isso fundamental desenvolver cenrios de desenvolvimento da bacia at o horizonte de longo prazo.

    A construo de cenrios da ocupao da bacia pode ser feita por diversos mtodos de extrapola-o, em geral representados por um cenrio tendencial e por outros cenrios que podem ser favorveis ou no para a drenagem da bacia. O cenrio mais desfavorvel o que apresenta um aumento significativo do percentual de impermeabilizao da bacia. Nesta fase de desenvolvimento do trabalho fundamental con-tar com especialistas em anlise prospectiva e em demografia para compor os diversos cenrios urbanos. Do mesmo modo, esses cenrios sero analisados em termos hidrolgicos para se determinar os seus impactos nos processos de escoamento da gua no ambiente.

    Com esses cenrios, as zonas de inundao podem ser recalculadas e os danos correspondentes reavaliados. Pode-se, desse modo, estabelecer diferentes quadros de ocupao e estabelecer as novas zo-nas de inundao esperadas em funo dos perodos de retorno. Esse material permite aos planejadores estabelecerem o quadro crtico para o qual as obras de drenagem sero projetadas nos trs horizontes de tempo preestabelecidos.

    Tambm fundamental estabelecer um perodo de retorno de referncia para os eventos hidrol-gicos que iro nortear o projetar das obras de controle de cheias. Conforme foi mencionado anteriormente, o padro internacional recomenda para a macrodrenagem a recorrncia de 100 anos.

    Dando continuidade ao Plano, o prximo passo produzir alternativas de aes estruturais e no estruturais para tratar das inundaes. Em outras palavras: Que obras devem ser projetadas para proteger as reas inundveis admitindo a recorrncia hidrolgica de 100 anos? De que forma elas sero implantadas ao longo dos horizontes de tempo?

    Esta fase crucial no planejamento, envolve um time multidisciplinar de profissionais principal-mente nas reas de: hidrologia, hidrulica, construo civil, estrutura, urbanismo, habitao, transporte, saneamento bsico, sociologia, medicina e servio social, direito, paisagismo e ecologia urbana. Projetar um sistema de drenagem urbana num espao ocupado com a diversidade de problemas exibida pelas grandes metrpoles implica em analisar a questo sob o enfoque de todas essas reas do conhecimento.

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  • 2. prinCpios adotados para o planejamento da drenagem Urbana

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    Princpios adotados para o Planejamento da Drenagem Urbana 31

    O planejamento da drenagem urbana desenvolve-se com base em um conjunto de princpios fundamentados inicialmente na adoo das bacias hidrogrficas como unidade de planejamento. O Plano de Manejo de guas Pluviais compreender programas associados sub-bacias hidrogrficas, definidas ao longo do processo de planejamento em funo do seu grau de prioridade pela administrao. Estes progra-mas devero ser desenvolvidos tendo em vista os princpios, objetivos e premissas que seguem.

    Dotar a prefeitura do municpio de um instrumento de planejamento que possibilite resolver, em um prazo predefinido, os graves problemas de inundao e de poluio hdrica difusa que assolam a cidade.

    Sugere-se um horizonte de planejamento de no mnimo 30 anos. Porm, este deve ser de-finido em conjunto com todos os partcipes do Plano e de acordo com os demais planos e programas estratgicos da cidade e regionais. Os programas devem prever metas de curto, mdio e longo prazos.

    Reduzir paulatinamente os riscos de inundao na bacia at o nvel correspondente a precipi-taes de perodo de retorno definido em conjunto com todos os planejadores.

    Proposio de medidas de convivncia com o regime hdrico compatveis com o grau de proteo hidrolgica para cheias de perodos de retorno determinados para os horizontes do Programa.

    Sugere-se um perodo de retorno de 100 anos para a macrodrenagem. Levar em conta as principais conexes hidrulicas intrassub-bacias e intersub-bacias. O Programa deve considerar os planos setoriais e parcialmente integrados j elaborados

    ou em elaborao para o municpio e para a bacia, avaliando-se todas as obras hidrulicas existentes e projetadas, porm passveis de reviso e de adaptao face s novas medidas que vierem a ser propostas.

    As intervenes propostas no podem agravar as condies de drenagem a jusante, por-tanto, devem respeitar as capacidades hidrulicas dos corpos dgua receptores.

    As medidas propostas devem prever a facilidade e economia da manuteno futura. Sustentabilidade.

    Possibilitar uma convivncia segura com as cheias que excederem a capacidade do sistema de drenagem.

    Aplicar tecnologias de modelagem hidrolgica e hidrulica que permitam mapear as reas de risco de inundao considerando diferentes alternativas de intervenes.

    Proposio de medidas estruturais combinadas com medidas no estruturais e medidas de controle do escoamento superficial para que a cidade possa se adaptar dinmica hdrica.

    Reorganizar a ocupao territorial possibilitando a recuperao de espaos para o controle do escoamento pluvial e implantao de obras que promovam a reduo da poluio h-drica.

    Destaque a medidas de recuperao de reas de preservao permanente e de cobertura vegetal das bacias.

    A ningum deve ser facultado agravar as inundaes de terceiros. A ningum deve ser facultado externalizar seus custos em prejuzo de terceiros.

    Desenvolver critrios urbansticos e paisagsticos que possibilitem a integrao harmnica das obras de drenagem com o meio ambiente urbano.

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    32 Princpios adotados para o Planejamento da Drenagem Urbana

    Preservao e valorizao das vrzeas de inundao. Integrao do sistema de drenagem urbana de forma positiva ao ambiente da cidade. Valorizao de rios, crregos e suas margens como elementos da paisagem urbana.

    Estimar os custos e os benefcios das medidas propostas e estabelecer um cronograma de investimentos, desenvolvendo-se detalhado projeto oramentrio a ser submetido aos rgos de planejamento e finanas.

    Estabelecer um sistema de comunicao e participao da populao das bacias visando o consenso entre a prefeitura do municpio e a comunidade em relao s propostas do Plano de Drenagem.

    Propor medidas de gerenciamento, estratgicas e contingenciais compreendendo sistemas de alerta e de aes de emergncia, divulgao de mapas de reas de risco entre outras.

    Realizar a avaliao ambiental estratgica dos Programas preparando as bases do futuro licen-ciamento ambiental.

    A disponibilidade e gesto dos espaos urbanos so essenciais para o controle das inundaes e mitigao de suas consequncias; drenagem urbana um problema de uso e ocupao do solo.

    Controle de qualidade das guas pluviais.Ressalta-se que o planejamento da drenagem urbana deve ser integrado, isso significa compati-

    bilizar os diversos planos diretores e regionais de urbanizao, drenagem e saneamento. Neste enfoque, necessria a articulao entre o planejamento da drenagem urbana e outros Planos, estratgicos e setoriais.

    O planejamento da drenagem urbana deve se articular com entidades municipais, estaduais e federais para que os diversos aspectos legais e tcnicos relacionados a outros planos de infraestrutura se-jam considerados quando da elaborao do Plano, o caso, por exemplo, do Plano Diretor da Cidade, do Cdigo de Edificaes, do Plano do Sistema Virio, do Plano de Habitao, etc. Salienta-se a importncia da articulao entre os planos diretamente associados aos recursos hdricos, como, por exemplo, o Plano Estadual de Recursos Hdricos, o Plano de Bacia Hidrogrfica do Alto Tiet, onde a cidade de So Paulo est localizada, o Plano Diretor de Macrodrenagem do Alto Tiet, nas suas diferentes verses, o Plano de Abas-tecimento de gua, o de Coleta e Tratamento de Esgotos, o Plano de Saneamento Bsico, etc.

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  • 3. programa de drenagem

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    Programa de Drenagem 35

    O Programa deve prever a implantao de medidas imediatas, de curto prazo (at 5 anos), con-siderando aes como remoo de interferncias, desobstruo de galerias e recuperao e adequao de estruturas hidrulicas deficientes ou condenadas estruturalmente; de mdio (at 15 anos) e de longo prazo (at 30 anos), desenvolvendo propostas de expanso de capacidade de controle de cheias nos intervalos de tempo citados, avaliadas com a aplicao de anlises de benefcio/custo, com elementos tangveis e intan-gveis, considerando tambm sua avaliao ambiental estratgica (AAE).

    ATiVidAdes TcNicAs de uM ProgrAMA de dreNAgeM e MANeJo de guAs PluViAis

    Para o desenvolvimento de um Programa de Drenagem e Manejo de guas Pluviais deve-se prever o desenvolvimento do conjunto de atividades apresentadas a seguir.

    ATiVidAde 1 PlANo de TrABAlHo

    O Plano de Trabalho, que deve detalhar as metodologias a serem empregadas, bem como a estru-tura organizacional prevista para o desenvolvimento das atividades tcnicas. O Plano de Trabalho constituir o documento-base norteador de todo o desenvolvimento das atividades que se seguirem.

    ATiVidAde 2 leVANTAMeNTo de iNforMAes BsicAs

    Recomenda-se que no levantamento do conjunto de cartografias temticas das bacias considerem--se tambm os levantamentos mais antigos, pois sero importantes para o estudo das intervenes j realiza-das nas bacias. Ressalta-se que nos planos e projetos desenvolvidos anteriormente encontram-se registros de inundaes e propostas de intervenes que devem ser consolidadas e consideradas nas anlises que vierem a ser desenvolvidas. Trata-se de material indispensvel para ter conhecimento dos problemas a serem tratados.

    Deve-se considerar e analisar detalhadamente os projetos mais relevantes para o controle de cheias na bacia hidrogrfica e que se refletiram na configurao atual dos sistemas de macro e de microdre-nagem da cidade. Em especial, naquelas bacias onde j existirem planos e projetos de aes pertinentes ao Programa de Drenagem e Manejo de guas Pluviais essencial que se leve em considerao estes estudos. Deve-se ter o cuidado para que os estudos existentes estejam em conformidade com os critrios e diretrizes gerais do Programa.

    Devem-se analisar planos, estudos e projetos considerados pertinentes, propondo-se medidas de integrao com as instituies responsveis pelo seu desenvolvimento.

    Entre as informaes bsicas a serem levantadas e utilizadas, destacam-se:

    Levantamentos cadastrais dos sistemas de drenagem. Uso e Ocupao do Solo Atual (elementos que permitam caracterizar o grau de impermeabi-

    lizao da bacia e a ocupao das reas marginais aos corpos de gua principais).

    Geologia e geotecnia.Nesta atividade deve-se realizar o mapeamento das reas de risco geolgico e geotcnico, cruzan-

    do-se essas informaes com as reas inundveis que sero obtidas pelo Programa. Considerar os potenciais

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    36 Programa de Drenagem

    de produo de assoreamento e eroso nas bacias onde for aplicvel e possibilitar o estudo da capacidade de infiltrao e armazenamento das diversas feies pedolgicas e geolgicas para que seja possvel deter-minar os parmetros de escoamento que sero utilizados na modelagem hidrolgica.

    Caracterizao da cobertura vegetal atual e passada.

    Populao atual e previso de seu crescimento realizada por estudos recentes. Dados pluviomtricos e dados fluviomtricos (nveis dgua e descargas) oriundos de progra-

    ma de monitoramento das bacias.

    Dados atualizados das obras hidrulicas (cadastros da micro e da macrodrenagem). Estudos hidrolgicos e hidrulicos das obras executadas e das previstas. Dados de curvas de descarga das estruturas (as built) hidrulicas existentes. Pontos de alagamento e de inundao observados para os eventos selecionados.Neste caso os pontos de alagamento referem-se aos sistemas de microdrenagem e os pontos (ou

    manchas) de inundao referem-se aos sistemas de macrodrenagem. Recomenda-se que os pontos levan-tados sejam caracterizados quanto sua frequncia e impactos, e sejam inseridos em um banco de dados georreferenciados.

    Projetos mais recentes relativos ao setor habitacional, ao setor virio e de transporte e aos servios de abastecimento de gua e de coleta e tratamento de esgotos.

    Projetos Integrados de Controle de Cheias das Bacias Hidrogrficas. Dados de monitoramento da qualidade da gua. Dados de monitoramento hidrolgico e hidrulico.

    ATiVidAde 3 leVANTAMeNTo de cAMPo PArA coMPleMeNTAo dos cAdAsTros

    Em conjunto com o levantamento e a anlise dos dados cadastrais, referentes ao sistema de macrodrenagem das bacias, devem-se levantar os dados e elementos topolgicos adicionais que forem necessrios modelagem hidrulico-hidrolgica do sistema. Devem ser considerados os diversos cenrios que sero estudados no Programa.

    O cadastro final deve apresentar sees transversais suficientes para bem caracterizar o leito de escoamento do canal ou galeria, incluindo todas as singularidades existentes, tais como: curvas, inflexes, transies, estreitamentos bruscos, mudanas de declividades, entradas de afluentes, desemboques, etc.

    Deve-se incluir ainda a caracterizao topolgica de reservatrios de amortecimento de cheias, lagos e represas que, de alguma forma, interfiram no regime hidrulico-hidrolgico do sistema.

    Tambm se devem cadastrar os trechos crticos dos sistemas de microdrenagem que drenam reas sujeitas inundao ou que de, alguma forma, interfiram no desempenho do sistema de macrodrenagem. Os traados e principais caractersticas das redes existentes devem ser indicados em planta.

    Aconselha-se que a preciso do cadastro seja compatvel com a preciso dos demais dados de entrada dos modelos de simulao. Sugere-se tambm que os cadastros e nivelamentos sejam georreferen-ciados ao mesmo sistema de referncia da base cartogrfica adotada.

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    Programa de Drenagem 37

    ATiVidAde 4 cArTogrAfiA dAs BAciAs A sereM esTudAdAs

    Nesta atividade deve ser preparada a cartografia bsica de referncia para os planos de informa-o (layers) georreferenciados dos diversos temas que devem ser abordados na elaborao do Programa de Drenagem e Manejo de guas Pluviais.

    Recomenda-se que os dados e informaes coletados, bem como os produtos gerados nas de-mais atividades do Programa, sejam armazenados e tratados em bancos de dados georreferenciados.

    Para a modelagem hidrulico-hidrolgica do sistema de macrodrenagem, associado ao cadastro do sistema de canais/galerias/estruturas existentes devem ser utilizados mapas em escala compatvel com o padro de documentao exigido pelo Programa. Os estudos hidrodinmicos devem ser realizados em escala mais detalhada compatvel com a delimitao precisa da plancie de inundao.

    Para os estudos de ocupao territorial devem ser utilizadas imagens recentes de satlite, retifica-das e georreferenciadas.

    ATiVidAde 5 diAgNsTico Hidrolgico e Hidrulico deseNVolViMeNTo dos Modelos coMPuTAcioNAis de siMulAo

    Sugere-se a utilizao dos modelos computacionais de simulao hidrolgica e hidrulica para a verificao do desempenho do sistema de drenagem atual, para o dimensionamento das obras futuras e para verificar os resultados das diversas alternativas de interveno estudadas.

    Para o horizonte de planejamento, o sistema de drenagem deve ser dimensionado para um risco hidrolgico equivalente ao perodo de retorno. Para as etapas intermedirias de implantao deve ser feita a verificao dos riscos hidrolgicos correspondentes.

    A seguir so descritas as atividades que compreendem o desenvolvimento dos modelos de simulao.

    ATiVidAde 5.1 MoNiTorAMeNTo Hidrulico-Hidrolgico dA BAciA

    Deve ser realizado um programa de monitoramento, iniciando pela especificao detalhada dos pontos de instalao das estaes para coleta de dados pluviomtricos e fluviomtricos. Devem ser adqui-ridas, instaladas e operadas as estaes de monitoramento, as quais devem ser integradas ao sistema de alerta a inundaes da cidade.

    Na Atividade 2 (Levantamento de Informaes Bsicas) deve ser pesquisado o que existe de moni-toramento hidrulico e hidrolgico nas bacias. Caso exista monitoramento, deve ser analisada a consistn-cia dos dados, perodos de observao, localizao das estaes e a possibilidade de se utilizar esses dados para a calibrao e validao dos modelos hidrolgicos e hidrulicos.

    Se a srie de dados disponveis no incio dos trabalhos no permitir a calibrao precisa dos modelos, a calibrao dos parmetros de interesse na bacia deve ser em passos sequenciais, medida da obteno de novos dados monitorados. Complementarmente, podem-se utilizar dados de outras bacias monitoradas da cidade, com caractersticas fsicas e hidrolgicas semelhantes.

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    38 Programa de Drenagem

    ATiVidAde 5.2 deseNVolViMeNTo de Modelo Hidrolgico PArA siMulAo de eVeNTos coNTNuos No TeMPo

    A modelagem hidrolgica das bacias, assim como a modelagem hidrodinmica dos respectivos sistemas de drenagem, deve utilizar o estado da arte em ferramentas computacionais conforme apresenta-do no Volume Tecnologia Aplicada Drenagem Urbana deste Manual.

    O modelo hidrolgico deve ter concepo fsica que permita simular os diversos cenrios estuda-dos, caracterizados pelo padro de uso do solo e pelo conjunto de obras existentes e propostas. Este deve tambm ser capaz de simular condies de armazenamento naturais em vrzeas, bem como o efeito de medidas estruturais de controle na fonte que forem propostas, tais como estruturas de retardamento, in-terceptao, armazenamento e infiltraes avaliadas no Programa. Os parmetros de transformao chuva--vazo devem pressupor condio de saturao das bacias. Os critrios de desagregao temporal e de distribuio espacial das chuvas crticas devem ser fundamentados em observaes das sries dos eventos crticos nas bacias em estudo.

    ATiVidAde 5.3 deseNVolViMeNTo de Modelo Hidrulico PArA siMulAo de liNHAs de iNuNdAo

    O modelo hidrulico ser utilizado para simulaes hidrodinmicas (regime de escoamento no permanente) e deve ser capaz de gerar linhas de inundao em reas drenadas por redes de canais abertos e fechados, considerando todos os termos das equaes de conservao da massa e de quantidade de movimento.

    As linhas de inundao devem ser geradas, ao longo do sistema de macrodrenagem, para cada cenrio estudado.

    O estado da arte da modelao hidrulica ser apresentado no Volume sobre Tecnologia Aplicada a Drenagem Urbana deste Manual.

    ATiVidAde 5.4 cAliBrAo e VerificAo dos Modelos

    O desenvolvimento ou a aplicao de modelos de transformao chuva-vazo deve ser pre-cedido por exaustiva anlise de todos os dados de monitoramento de eventos de cheias observadas nas bacias. Recomenda-se que esses eventos sejam adquiridos a partir da montagem de um banco de dados hidrolgico e hidrulico que processe e analise cada evento chuvoso e cada onda de cheia em princpio, considerando a parametrizao fsica desses eventos, conforme exemplificada na Tabela 3.1 apresentada a seguir.

    Devem ser escolhidos os eventos com a maior srie contnua de observaes, e com a maior dis-ponibilidade simultnea de informaes das redes de monitoramento operadas atualmente e no passado pelas principais instituies.

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    Programa de Drenagem 39

    Tabela 3.1 - Anlise das Enchentes da Bacia (Exemplo)

    Evento 1

    Evento 2

    Evento 3