Manual IQ USP

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    Universidade de So Paulo

    Faculdade de Cincias Farmacuticas

    Instituto de Qumica (FCF-IQ/USP)

    Manual de Cuidados eProcedimentos com Animaisde Laboratrio do Biotrio de

    Produo e Experimentao da

    FCF-IQ/USP

    Editores

    Silvnia M. P. NevesJorge Mancini Filho

    Elizabete Wenzel de Menezes

    So PauloFCF-IQ/USP

    2013

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    Universidade de So Paulo

    Reitor: Prof. Dr. Joo Grandino Rodas

    Vice-Reitor: Prof. Dr. Hlio Nogueira da Cruz

    Faculdade de Cincias Farmacuticas

    Diretor: Profa. Dra. Terezinha de Jesus Andreoli Pinto

    Vice-diretor: Profa. Dra. Bernadette Dora Gombossy de Melo Franco

    Instituto de Qumica

    Diretor: Prof. Dr. Fernando Reis Ornellas

    Vice-diretor: Profa. Dra. Maria Jlia Manso Alves

    Produo Editorial e Grca, Diagramao: Fabiola Rizzo Sanchez

    Normalizao: Suely Campos Cardoso

    Capa: Suely Campos Cardoso e Fabiola Rizzo Sanchez

    Biotrio de Produo e Experimentao da FCF-IQ/USP

    Av. Prof. Lineu Prestes, 822

    Cidade Universitria Armando de Salles Oliveira

    So Paulo, SP

    CEP: 05508-000Tel.: 011 3091-3832 / 3091-3644

    http://www.usp.br/bioterio

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    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animaisde Laboratrio do Biotrio de Produo e

    Experimentao da FCF-IQ/USP

    AUTORES

    Silvnia M. P. Neves

    Flavia de Moura Prates Ong

    Lvia Duarte Rodrigues

    Renata Alves dos Santos

    Renata Spalutto FontesRoseni de Oliveira Santana

    So PauloFCF-IQ/USP

    2013

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    Neves, Silvnia M. P.

    Manual de cuidados e procedimentos com animais de laboratrio do

    Biotrio de Produo e Experimentao da FCF-IQ/USP / Silvnia M. P. Neves

    [et al.]. -- So Paulo : FCF-IQ/USP, 2013.

    216 p. il.

    1. Animais de Laboratrio. 2. Biotrio. 3. Biossegurana. 4.

    Experimentao Animal/tica. 5. Experimentao Animal/normas. I. Ong, Flavia

    de Moura Prates. II. Rodrigues, Lvia Duarte. III. Santos, Renata Alves dos. IV.

    Fontes, Renata Spalutto. V. Sanatana, Roseni de Oliviera. VI. Universidade

    de So Paulo, Faculdade de Cincias Farmacuticas, Instituto de Qumica,

    Biotrio de Produo e Experimentao. VII. Ttulo.

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    Sobre os editores

    Silvnia Meiry Peris Neves

    Zootecnista. Faculdade de Cincias Farmacuticas da Universidade de So Paulo(FCF-USP).

    Jorge Mancini Filho

    Professor Titular. Faculdade de Cincias Farmacuticas da Universidade de So Paulo(FCF-USP). Diretor da FCF-USP no perodo de 2010-2012.

    Elizabete Wenzel de Menezes

    Professora Associada. Faculdade de Cincias Farmacuticas da Universidade de So Pau-lo (FCF-USP). Membro da Comisso de Biotrio desde 1995 e presidente desde 2000.

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    Sobre os autores

    Flavia de Moura Prates OngMBA/USP Especialista em Cincias de Animais de Laboratrio. Certication of the

    Federation of European Laboratory Animal Science Associations (FELASA) Category C.

    Biologista e Chefe da Seo de Experimentao do Biotrio de Produo e Experimentao da

    FCF-IQ/USP.

    Lvia Duarte RodriguesMdica Veterinria e Tcnica do Biotrio de Produo e Experimentao da FCF-IQ/USP.

    Renata Alves dos SantosMBA/USP Especialista em Cincias em Animais de Laboratrio. Biologista e Tcnica do

    Biotrio de Produo e Experimentao da FCF-IQ/USP.

    Renata Spalutto FontesMBA/USP Especialista em Cincias em Animais de Laboratrio. Certication of the Federation

    of European Laboratory Animal Science Associations (FELASA) Category C. Engenheira

    Biomdica e Chefe da Seo de Produo do Biotrio de Produo e Experimentao da

    FCF-IQ/USP.

    Roseni de Oliveira SantanaTcnica Patologista e Chefe da Seo Higiene e Esterilizao do Biotrio de Produo e

    Experimentao da FCF-IQ/USP.

    Silvnia M. P. NevesEspecialista em Cincias em Animais de Laboratrio. Certication of the Federation of

    European Laboratory Animal Science Associations (FELASA) Category C. Zootecnista eChefe Tcnica de Servio do Biotrio de Produo e Experimentao da FCF-IQ/USP.

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    Apresentao

    Este Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio iniciativa

    do Biotrio de Produo e Experimentao da Faculdade de Cincias Farmacuticas e

    Instituto de Qumica da Universidade de So Paulo. Os sete captulos deste Manual tratam

    de temas centrais envolvidos na organizao e manuteno de um biotrio para criaoe experimentao animal de padro internacional. Os autores so membros da equipe

    do Biotrio, tm a experincia prtica obtida pela vivncia diria associada formao

    internacional especializada na rea e so eles que mantm os seus elevados padres

    tcnicos. Ao mesmo tempo em que se dividem em funes especializadas, compem uma

    equipe multidisciplinar, multiprossional composta de biologistas, zootecnistas, veterinrios,

    patologistas e engenheiros biomdicos, trazendo para o manual os diversos olharesprossionais e uma abordagem integrada.

    O manual comea com oportuno captulo sobre a Histria do Biotrio, sobre sua

    evoluo e sobre as gestes necessrias ao desenvolvimento no contexto universitrio,

    nas mltiplas gestes da FCF e do IQ, e da prpria USP. Ensina como chegou estrutura

    atual, informatizada eciente, com portal prprio como se v nas estatsticas da produo de

    animais e dos ensaios biolgicos de experimentao realizados.

    Ao lado de questes organizacionais e de controle de qualidade o manual

    no esquece a questo hoje to presente e importante para os pesquisadores, alunos e

    professores, relativa tica na experimentao animal.

    A organizao dos temas, a experincia dos autores, e a prpria histria do Biotrio

    tornam importante a iniciativa de tornar esse Manual num livro de divulgao mais ampla, que

    vai alm de um simples manual de procedimentos. Certamente ele ser uma leitura muito til

    para todos os que trabalham com cincia e experimentao animal.

    Prof. Titular Franco Maria LajoloFaculdade de Cincias Farmacuticas da

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    O Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio do Biotrio de

    Produo e Experimentao da Faculdade de Cincias Farmacuticas e Instituto de Qumica

    da Universidade de So Paulo muito mais que um simples manual. Trata-se de uma obra

    de inestimvel valor para todos os que criam ou usam animais de laboratrio, tanto por seu

    valor cientco quanto por sua abordagem multidisciplinar.

    Iniciando com a saga dos autores para conseguir o nvel de qualidade que obtiveram,

    algo importante para incentivar tanto os tcnicos bioteristas quanto administradores de Insti-

    tuies que trabalham com a Cincia de Animais de laboratrio.

    Seus diversos captulos abordam de forma simples e elegante todas as reas relativas

    tica, arquitetura, ao manejo, biossegurana enm, toda a gama de conhecimentos

    relativos s Cincias de Animais de Laboratrio.

    A mescla de informaes, dados informativos de padres biolgicos dos animais do

    Biotrio de Produo e Experimentao da Faculdade de Cincias Farmacuticas e Instituto

    de Qumica da Universidade de So Paulo, aliados a diversos POPs so fonte de inspirao

    para outros Centros de Produo e Experimentao seguirem o exemplo e procurarem con-

    tribuir com as informaes de forma a se ter uma padronizao em todo o Pas.

    Por m, somente a extrema dedicao, o profundo conhecimento e a vivncia dos au-

    tores poderiam ter gerado um documento to importante para todos.

    Aguardemos com ansiedade a ampliao e as prximas edies!

    Profa. Dra. Vera Maria PetersPresidente da Sociedade Brasileira de Cinciasde Animais de Laboratrio, SBCAL - 2012/2014

    Prefcio

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    Agradecimentos

    s diretorias da Faculdade de Cincias Farmacuticas (FCF) e do Instituto de Qumica (IQ)da Universidade de So Paulo (USP), pelo apoio incondicional.

    s Comisses do Biotrio da FCF-IQ/USP, pelo incentivo e apoio constantes.

    A Yara M. L. Mardegan, pelo constante apoio administrativo, carinho e incentivo.Aos funcionrios do Biotrio: Eliane J. Santos, Isael P. Araujo, Jos Galeote M. L. de Oliveira,Jos Roberto da Silva, Maria de Ftima R. Souza, Marcelo Lustosa, Matildes P. Ribeiro,Ricardo Pinheiro e Wagner Botelho, cuja colaborao foi imprescindvel na elaborao destemanual.

    Aos professores Elizabete Wenzel de Menezes e Jorge Mancini Filho, pelo incentivo ecolaborao na elaborao deste manual.

    Aos professores Alicia Kowaltowski, Clia Colli, Mari Cleide Sogayar, Maria Julia Manso

    Alves, Nadja S. P. Lardner, Primavera Borelli, Telma M. Kaneko e Terezinha de Jesus A. Pinto,pelo constante suporte no Biotrio.

    s doutoras Sueli Blames Damy e Ubimara Pereira Rodrigues, pelo apoio, estmulo ecolaborao.

    Aos pesquisadores, alunos e tcnicos da FCF-IQ/USP, usurios do Biotrio, que nos apoiamnesta jornada.

    Aos mestres doutores Adela Rosenkranze e Jean L. Gunet, sempre presentes e atuantes noensino da Cincia em Animais de Laboratrio.

    Ao senhor Luciano Leite, pelo excelente suporte na elaborao do portal do Biotrio FCF-IQ/USP.

    Ao Instituto de Qumica - USP, Faculdade de Cincias Farmacuticas - USP e ao Ncleo deApoio Pesquisa em Alimentos e Nutrio da Universidade de So Paulo (NAPAN - USP),pelo apoio na edio e distribuio deste manual.

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    Sumrio

    Captulo 1

    Histrico e Evoluo do Biotrio da FCF-IQ/USP......................................................1Silvnia M. P. Neves

    Captulo2

    tica na Experimentao Animal................................................................................9Flvia de Moura Prates Ong, Silvnia M. P. Neves

    Captulo 3

    Comportamento e Enriquecimento para Ratos e Camundongos.............................15Renata Alves dos Santos, Renata Spalutto Fontes

    Captulo 4

    Seo de Produo de Animais Specied Pathogen Free(SPF)............................43Renata Spalutto Fontes, Renata Alves dos Santos

    Captulo 5

    Seo de Higiene e Esterilizao.............................................................................73Roseni de Oliveira Santana, Lvia Duarte Rodrigues

    Captulo 6

    Seo de Experimentao........................................................................................91Flvia de Moura Prates Ong, Lvia Duarte Rodrigues

    Captulo 7

    Controle Nutricional.................................................................................................155Silvnia M.P. Neves, Flavia M.P. Ong, Renata Spalutto Fontes

    ANEXOS.................................................................................................................161

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    Captulo 1

    Histrico e Evoluo do Biotrio da FCF-IQ/USP

    Silvnia M. P. Neves

    Histrico

    Descrio do Biotrio

    Gesto

    Informatizao

    Referncias

    HISTRICO

    Em 1985, a presente gesto iniciava suas atividades no Biotrio da Faculdade de

    Cincias Farmacuticas da Universidade de So Paulo (FCF-USP), a m de instaurar os

    procedimentos necessrios para a adequao nova cincia que surgia, denominada Cincia

    em Animais de Laboratrio. Dessa forma, foram introduzidos procedimentos preconizados

    por organismos internacionais para a criao de modelos biolgicos de alta qualidade, que

    se mantm desde ento.

    Na ocasio, o Biotrio mantinha a criao de animais, classicada como padro

    sanitrio holoxnico/convencional1, ou seja, animais de statussanitrio no denido e que

    poderiam estar potencialmente contaminados com patgenos zoonticos.

    At ento, no havia treinamento tcnico adequado para os funcionrios condizente

    com a complexidade do servio desenvolvido. Tambm no existiam conceitos bsicos de

    segurana no trabalho e tica no trato com os animais, tampouco registros de produtividade,bem como controle gentico, sanitrio, nutricional e ambiental.

    Assim, foram envidados esforos para aperfeioar e modernizar o espao fsico do

    Biotrio, compartilhado entre a FCF-USP e o Instituto de Qumica da Universidade de So

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    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio

    Paulo (IQ-USP), sendo seu funcionamento calcado em reas e gestes independentes. Os

    funcionrios receberam treinamento, iniciando, assim, os primeiros conceitos de trabalho em

    equipe e de valorizao pessoal, alm de conscientizao da importncia na qualidade e nouso racional de animais de laboratrio. Nesse momento, foram imprescindveis a colaborao

    e o incentivo dos pesquisadores professores Franco Maria Lajolo, Walter Colli, Paulo Minami,

    Takako Saito e Maria Julia Manso Alves.

    Com a instaurao do controle da produo dos animais de laboratrio, o

    estabelecimento correto dos sistemas de reproduo para as diferentes espcies existentes

    no Biotrio, a aplicao dos conceitos de tica e bem-estar animal, as orientaes para a

    segurana no trabalho, alm das melhorias aplicadas na rea de higienizao dos materiais,

    inclusive com a aquisio da primeira autoclave de barreira, foi possvel, em 1988, aprimorar

    a qualidade sanitria dos animais.

    Nesse perodo, com o incentivo dos professores do Departamento de Alimentos da

    FCF-IQ/USP, iniciaram-se os primeiros estudos sobre a Avaliao Nutricional das Raes

    Comerciais para Ratos e Camundongos, procedimento fundamental na padronizao da

    higidez dos animais de laboratrio (Captulo 7).

    Em 1989, em visita a um dos maiores produtores de animais de laboratrio, Charles

    River Laboratories, Inc.nos Estados Unidos,alm de outros centros na Europa, foi possvelconhecer a tecnologia desenvolvida para a produo de animais de laboratrio segundo

    o padro de gnotobiticos1, fato que agregou novos conhecimentos para a produo de

    animais de alta qualidade, que garantissem resultados experimentais reprodutveis. Assim,

    essa gesto recorreu s diretorias e s Comisses de Biotrio da FCF-IQ/USP para solicitar

    melhorias. As solicitaes foram gradativamente atendidas, at mesmo para suprir a uma

    demanda crescente e exigente.

    Por consenso, as direes das duas unidades decidiram unicar as atividades, o espao

    e a gesto do Biotrio em 1992, mas somente a partir de 1997 efetivamente passou a existir

    uma gesto nica,que recebeu a denominao de Biotrio de Produo e Experimentao

    da Faculdade de Cincias Farmacuticas e do Instituto de Qumica da USP.

    Nesse perodo, o Biotrio foi contemplado com o Projeto FAPESP (Fundao de Amparo

    a Pesquisa do Estado de So Paulo) dentro do Programa de Infraestrutura Implementao

    do Biotrio Experimental da FCF-IQ/USP , elaborado pela Comisso de Biotrio sob a

    coordenao da professora Maria Ins R. M. Santoro, o que possibilitou a realizao da

    reforma do Biotrio. Para essa reforma, foram considerados a limitao do espao existente,

    a estrutura fsica do edifcio, os conceitos de layout da poca, bem como a necessidade de

    espao para a realizao dos ensaios biolgicos pelos pesquisadores.

    Durante a reforma, com o apoio das diretorias do FCF-IQ/USP e das assessoras

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    Captulo 1Histrico e Evoluo do Biotrio da FCF-IQ/USP

    administrativas com suas equipes, foi cuidadosamente planejado, de acordo com as

    possibilidades existentes, o remanejamento de animais e funcionrios para instalaes

    provisrias, uma delas cedida pelo Instituto Butantan. Apesar dos incontveis transtornosinerentes a qualquer reforma, o Biotrio continuou atendendo os pesquisadores, que

    mantinham projetos de pesquisas com as agncias de fomento. A Figura 1 apresenta a

    produo e o fornecimento de animais Padro Sanitrio Convencional de 1985 at 2000.

    Figura 1. Produo e fornecimento de animais Padro Sanitrio Convencional

    Em 2001, foram inauguradas as novas instalaes do Biotrio, que possibilitaram a

    introduo de novas tecnologias e, para oferecerem um trabalho altamente especializado,

    os tcnicos do biotrio receberam aprimoramento na rea de Cincia em Animais de

    Laboratrio, estabelecendo-se grupos de estudo referentes s atividades de cada funcionrio

    dentro do Biotrio. Isso resultou em melhorias no atendimento aos pesquisadores das

    unidades, otimizando a produo. Nesse mesmo ano, foram importadas vrias linhagens de

    camundongos e ratos reprodutores provenientes das empresas Taconic Quality Laboratory

    Animals e Jackson Laboratory, nos EUA, com o objetivo de iniciar a produo de animais

    Specied Pathogen Free(SPF)1(Captulo 4).

    A partir de ento, o Biotrio de Produo e Experimentao da FCF-IQ/USP vem

    seguindo diretrizes e padres preconizados por rgos nacionais e internacionais.

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    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio

    Cabe reportar que, em 2001, a coordenao do Biotrio participou ativamente para a

    formao da rede de biotrios da USP, proposta elaborada pela Pr-Reitoria de Pesquisa, por

    iniciativa do professor Hernan Chaimovich.

    DESCRIO DO BIOTRIO

    Figura 2. Sees do Biotrio: viso geral

    As instalaes do Biotrio so divididas em trs reas distintas:produo de animais

    Specied Pathogen Free(SPF); higiene e esterilizao; e experimentao. O espao fsico

    compreende 860 m2, sendo aproximadamente 200 m2para cada rea e 260 m2para o complexo

    do sistema de ar condicionado. As trs reas so separadas por barreiras sanitrias e rgido

    sistema de uxo operacional (Figura 2). Desde 2006 o Biotrio deixou de ser um setor e,

    tornou-se uma diretoria tcnica de servio, de acordo com a estrutura organizacional da FCF-

    IQ/USP. Dessa forma, as trs reas distintas passaram a ser denominadas sees, cada uma

    delas com as respectivas cheas, o que possibilitou uma melhor distribuio operacional.

    Alm disso, as cheas receberam treinamento internacional, outorgados com certicaoda Federation of European Laboratory Animal Science Associations (Felasa)2Category C,

    regulamentando suas atividades na Cincia em Animais de Laboratrio. As caractersticas

    das sees esto detalhadas nos Captulos 4, 5 e 6.

    Seo de

    Experimentao

    Seo de

    Produo

    Seo de Higinene

    e Experimentao

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    Captulo 1Histrico e Evoluo do Biotrio da FCF-IQ/USP

    A produo anual do Biotrio de 12 mil animais, que atendem a condies sanitrias,

    genticas, nutricionais e ambientais denidas e padronizadas (Figura 3). Aproximadamente

    60 pesquisadores da comunidade multiusuria da FCF-IQ/USP utilizam o Biotrio, que dsuporte, por meio da seo de experimentao, a cerca de 70 ensaios biolgicos/ano (Figura

    4).

    Figura 3. Produo de animais com padro sanitrio Specied Pathogen Free

    0

    2000

    4000

    6000

    8000

    10000

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    2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    0

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    20

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    2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    Figura 4. Ensaios biolgicos realizados na seo de experimentao

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    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio

    GESTO

    O conceito de gesto amplo e pode compreender diversos aspectos. Pode-se

    deni-lo como ao ou forma de administrar, controlar e dirigir todas as atividades de uma

    organizao que so necessrias para um funcionamento ecaz, utilizando-se de recursos

    disponveis3. Assim, para a obteno de resultados ecazes, o Biotrio tem os seguintes

    princpios norteadores:

    Misso:Atender a comunidade multiusurio da FCF-IQ/USP, segundo as exigncias

    ticas e produzindo animais com excelncia;

    Viso:Ser um centro de referncia na Cincia em Animais de Laboratrio;

    Valores:Aprimorar constantemente os procedimentos que envolvem animais por meio

    do atendimento de padres nacionais e internacionais, atualizao continuada da equipe e

    dos alunos e compartilhamento do conhecimento.

    O Biotrio apresenta um modelo de gesto estratgica de prticas e padres nos

    processos e no controle da qualidade, que contempla a gesto de pessoas, tecnologia,

    biossegurana e disponibilizao da informao e do conhecimento3, os quais esto

    apresentados nos demais captulos deste manual. Isso permitiu ao Biotrio atuar de acordo

    com as normas estabelecidas no Guide for the Care and Use of Laboratory Animals4, atendendo

    s diretrizes da Poltica Ambiental da FCF-IQ/USP, determinadas pela NBR 140015, o que o

    levou a obter a certicao pela Comisso Tcnica Nacional de Biossegurana (CTNBio) em

    nvel de biossegurana II (NB2)6.

    Atualmente, a equipe tcnica constituda por 14 prossionais, graduados e tcnicos,

    devidamente qualicados na rea de atuao e em constante processo de atualizao. Alm

    disso, esses prossionais tm clara denio de suas funes, bem como a competncia e a

    responsabilidade necessrias para cumprir seu compromisso institucional.

    O processo de planejamento, execuo e controle das atividades do Biotrio discutido,

    executado, monitorado, registrado e informatizado junto com as equipes de cada uma das

    trs sees, em um modelo de gesto compartilhada, que visa eccia e ecincia.

    INFORMATIZAO

    Com a informatizao dos registros e a divulgao de conhecimentos na rea da

    Cincia em Animais de Laboratrio, a equipe do Biotrio desenvolveu um portal em linguagem

    ASP com base HTML e acesso a um banco de dados personalizado(Figura 5)7. Dessa forma,

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    Captulo 1Histrico e Evoluo do Biotrio da FCF-IQ/USP

    foi possvel divulgar e controlar os processos de forma on-line, mantendo as informaes

    atualizadas constantemente, bem como a interatividade de usurios por meio de ferramentas

    e solues personalizadas.

    O portal permite que o usurio utilize uma rea restrita e acesse relatrios individuais

    sobre utilizao de animais e sala experimental, emisso de normas e protocolos experimentais,

    solicitao de animais por meio de formulrio padronizado, alm de informaes sobre

    biologia animal, modelos de animais produzidos no Biotrio FCF-IQ/USP e artigos cientcos

    sobre diversos assuntos referentes Cincia em Animais de Laboratrio.

    A equipe do Biotrio realiza registros e controles de cada seo por meio do portal,

    facilitando o acesso de dados e otimizando a comunicao entre as sees.

    O website apresenta os seguintes benefcios:

    Administrao on-linede cadastros, consultas e relatrios;

    Informaes atualizadas;

    Emisso de relatrios personalizados;

    Controle de solicitao e uxo de movimentao (utilizao de animais e salas

    experimentais);

    Emisso de relatrios grcos anuais das sees de produo e experimentao;

    Vdeos didticos (em construo).

    Figura 5. Layout inicial do website do Biotrio FCF-IQ/USP

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    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio

    Este manual foi elaborado pela equipe do Biotrio com o objetivo de registrar

    as principais atividades realizadas e compartilhar com outros prossionais e alunos o

    conhecimento adquirido ao longo de vrios anos. Esta primeira edio vai facilitar a contnuaatualizao e os ajustes de procedimentos medida que novos modelos e novas tecnologias

    so introduzidos.

    Apesar da excelncia conquistada na produo de animais de laboratrio, o

    Biotrio apresenta limitaes fsicas, fator impeditivo para a introduo de novos modelos

    experimentais, como os geneticamente modicados, tecnologia de ponta essencial para o

    desenvolvimento das linhas de pesquisas em expanso nas duas unidades.

    Em 2010, por solicitao das Comisses de Biotrio da FCF-IQ/USP, as diretorias das

    duas unidades aprovaram uma expanso do Biotrio de 150 m2, rea convenientemente

    localizada e anexa ao Biotrio.

    O apoio incondicional das diretorias da FCF-IQ/USP, das Comisses de Biotrio e

    das assessoras administrativas e nanceiras, em conjunto com suas equipes, possibilitou ao

    Biotrio operar de forma produtiva e eciente, cumprindo de maneira satisfatria o objetivo

    de dar continuidade aos trabalhos.

    REFERNCIAS

    1. Hedrich HJ, Bullock G. The laboratory mouse. North Carolina: Elsevier Academic Press; 2004.

    p. 409-33.

    2. Federation of European Laboratory Animal Science Associations (FELASA) [cited 2012 Aug 10].

    Available from: http://www.felasa.eu/.

    3. Vidal AR, Torrallardona AV. Organizacin, gestin de recursos y capital humano em investigacinexperimental. In: Ziga JM, Mar JAT, Milocco SN, Pieiro R. Ciencia y tecnologa en proteccin

    y experimentacin animal. Madrid: Mcgraw-Hill Interamericana; 2001. p. 643-58.

    4. National Research Council. Guide for the care and use of laboratory animals. 8th ed. Washington:

    The National Academies Press; 2011. 248p [cited 2012 July 16]. Available from: http://oacu.od.nih.

    gov/regs/guide/guide.pdf.

    5. Norma tcnica ABNT NBR ISO 14001:2004 [citado 16 jul. 2012]. Disponvel em: http://www.

    abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=1547.

    6. Comisso Tcnica Nacional de Biossegurana (CTNBio) [citado 19 set. 2012]. Disponvel em:

    http://www.ctnbio.gov.br/.

    7. Universidade de So Paulo. Faculdade de Cincias Farmacuticas. Biotrio FCF-IQ/USP: website

    [citado 19 set. 2012]. Disponvel em: http://www.usp.br/bioterio.

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    Captulo 2

    tica na Experimentao Animal

    Flvia de Moura Prates Ong

    Silvnia M. P. Neves

    Introduo

    Comit de tica em Uso Animal (CEUA)

    Princpio dos 3 Rs

    Treinamentos

    Seo de experimentao

    Referncias

    INTRODUO

    A experimentao animal tornou-se mais frequente na Europa, entre os sculos XVI e

    XVIII. Nessa poca, os cientistas baseavam-se em opinies como a do lsofo francs Ren

    Descartes (1590-1650)1e suas ideias sobre o mecanicismo. Para o lsofo, os animais no

    tinham a capacidade de sentir dor e eram considerados apenas mquinas complexas.

    O avano da tecnologia e dessa nova cincia, denominada Cincia em Animais de

    Laboratrio, vem mudando paradigmas e comportamentos de pesquisadores e prossionais

    que utilizam animais em pesquisa. Atualmente, temos plena conscincia de que a sensibili-

    dade do animal similar humana no que se refere dor, memria, angstia e instinto de

    sobrevivncia (art. 2o Princpios ticos na Experimentao Animal da SBCAL)2, devendo-

    -se utilizar de todos os meios possveis para minimizar a dor e o sofrimento do animal 3. Os

    experimentos devem ser realizados de maneira tica e justicada, no abusando do direito

    do homem sobre os animais e evitando o sofrimento destes

    4

    .A regulamentao brasileira recente, e a lei para uso de animais em experimentao

    foi sancionada a partir de outubro de 2008. A Lei Arouca5no11.794 regulamenta a criao

    e a utilizao de animais em atividade de ensino e pesquisa cientca em todo o territrio

    nacional.

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    10

    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio

    Com o advento dessa lei, foram criados o Conselho Nacional de Experimentao Ani-

    mal (Concea)6, o Sistema de Cadastro das Instituies de Uso Cientco de Animais (Ciuca)

    e as normas para funcionamento das Comisses de ticas em Uso Animal (CEUAS)7,8

    , cujoobjetivo garantir o atendimento tico e humanitrio do uso de animais para ns cientcos.

    COMIT DE TICA EM USO ANIMAL (CEUA)

    Existem normas nacionais e internacionais que regem a experimentao animal. Entre

    elas est a submisso dos projetos de pesquisa que utilizaro animais Comisso de tica

    em Uso Animal da instituio a que pertencem. Cabe comisso7,8analisar, emitir parecer e

    expedir certicado sobre os protocolos de experimentao realizados na instituio de acordo

    com critrios preestabelecidos de princpios ticos na experimentao animal e compatveis

    com a legislao vigente. Essa comisso tem o poder de aprovar ou no os protocolos expe-

    rimentais analisados segundo o cumprimento das normas ticas.

    O Biotrio atende duas unidades distintas da Universidade de So Paulo (USP): a

    Faculdade de Cincias Farmacuticas (FCF) e o Instituto de Qumica (IQ). Nesse contexto, o

    trabalho realizado em conjunto com os dois Comits7,8

    (Figura 1).Participam dessas comisses professores da instituio, veterinrios, bilogos, zoo-

    tecnistas, membros de ONG protetoras dos animais e funcionrios do Biotrio.

    Toda a documentao necessria para a submisso de projetos de pesquisa est dis-

    ponibilizada no site da instituio ao qual a comisso pertence7,8, bem como legislaes vi-

    gentes, normas e princpios ticos na utilizao de animais e formulrios de solicitao de

    aprovao do comit.

    Figura 1.Fluxograma: Procedimentos envolvidos desde a submisso de projeto ao Comit de tica noUso de Animais at a execuo do ensaio

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    11

    Captulo 2tica na Experimentao Animal

    PRINCPIO DOS 3 Rs

    Em 1959, o zoologista William M. S. Russell e o microbiologista Rex L. Burch publicaram

    o livro The Principles of Humane Experimental Technique, no qual estabeleceram o princpio

    dos 3 Rs, o que trouxe avanos para a pesquisa com animais e estabeleceu um grande

    marco para a Cincia em Animais de Laboratrio9.

    Os autores conseguiram sintetizar o princpio humanitrio de experimentao animal

    em trs palavras importantes, o qual deve ser seguido no momento da elaborao dos

    projetos de pesquisas com animais. As trs palavras originam-se do ingls e comeam com

    R, por isso passaram a ser denominadas como princpio dos 3 Rs: Replace, Reduce e

    Refne. Em sua proposta, Russel e Burch9sugerem a substituio do uso de animais por

    modelos alternativos no sensveis, a reduo do nmero de animais por experimento e o

    renamento dastcnicas e procedimentos que sero realizados nos animais.

    O Quadro 1 resume cada uma dessas trs palavras e sua importncia para a pesquisa

    com animais.

    Quadro 1. Princpio dos 3 Rs The Principles of Humane Experimental Technique

    Replace consiste na substituio do uso de animais por modelos alternativos no sensveis, sempre que possvel, ou por animaiscom sistema nervoso menos desenvolvido. Dessa forma, a lei vigente no pas criou uma cmara permanente intitulada Mtodos

    Alternativos, para a validao e a divulgao desses mtodos

    Alguns exemplos de mtodos de substituio ao uso animal so: modelos computacionais e matemticos, teste in vitro, cultura de

    clulas, modelos e simuladores mecnicos, lmes e vdeos interativos para demonstrao em aulas

    Reduce consiste na reduo do nmero de animais por experimento, sem prejudicar a qualidade do resultado experimental. Esta

    pode ser obtida, por exemplo, com clculos amostrais bem denidos e com a escolha do melhor modelo biolgico a ser utilizado

    Para o tratamento estatstico, podem ser considerados testes-pilotos, que muitas vezes, denem com mais preciso o nmero de

    animais a serem utilizados

    A escolha do modelo adequado para o experimento implicar a reduo do nmero de animais e a melhor qualidade do resultado nal

    A denio da linhagem tambm um passo importante para a reduo. Quando se utilizam animais isognicos, por exemplo,

    retira-se a variabilidade gentica do experimento, diminuindo, assim o seu n. Para isso, devem ser realizados questionamentos

    fundamentais para a escolha do melhor modelo, que so:

    1- Qual a espcie?

    2- Qual a linhagem?

    3- Qual o padro sanitrio do modelo escolhido?

    Refne Os cientistas propem que as tcnicas e os procedimentos que sero realizados nos animais sejam menos invasivos e o

    mais renados possvel, sendo capazes de reduzir a dor, a angstia e o sofrimento animal. Esse renamento abrange protocolos

    experimentais bem denidos de anestesia, analgesia, assim como a utilizao, sempre que necessrio, de anti-inamatrios e

    antibiticos, no pr e no ps-cirrgico (Captulo 6)

    Os mtodos de coleta de sangue e imunizaes tambm devem ser os menos invasivos possveis, onde alguns mtodos requerem

    a utilizao de tcnicas anestsicas e treinamentos

    O treinamento da equipe envolvida no experimento de suma importncia. Todos devem ter conhecimento das tcnicas e proce-

    dimentos que sero realizados nos animais, bem como de manuseio e mtodos de conteno

    Outro ponto importante o reconhecimento de comportamentos especcos da espcie ou comportamentos de dor e estresse do

    animal. Esse reconhecimento proporcionar ao pesquisador a introduo de mtodos de alvio, caso o animal necessite, e uma

    descrio mais precisa no monitoramento dos animais

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    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio

    As pesquisas com animais atualmente esto fundamentadas em conceitos ticos e

    humanitrios de utilizao. Para haver tica no uso dos animais, preciso haver conhecimento.

    Assim, quanto mais conhecimento sobre comportamentos especcos (Captulo 3) e siologiada espcie, bem como treinamentos sobre procedimentos prticos, mais experimentos sero

    conduzidos com o intuito de diminuir a dor, a angstia e o estresse dos animais.

    TREINAMENTOS

    O treinamento do pessoal envolvido com a experimentao animal garante o

    desenvolvimento de um trabalho tico e de melhor qualidade. O manuseio dos animais demaneira correta e uma boa conteno reetem na diminuio do estresse do animal e em um

    bom andamento do experimento10.

    Os CEUAS da FCF-IQ/USP7,8exigem treinamento dos alunos quanto aos procedimentos

    e tcnicas que sero realizados nos animais. O Biotrio realiza agendamentos de treinamento

    individual dos alunos e emite certicado, que deve ser entregue Comisso de tica da

    instituio, dando, assim, prosseguimento anlise do projeto (Anexo 24).

    Anualmente o IQ-USP oferece, em seu curso de ps-graduao, a disciplina Animais

    de Laboratrio, ministrada pela equipe do Biotrio, entre outros prossionais, que oferecem

    aulas tericas e prticas sobre os procedimentos com os animais, sendo apresentados

    tambm vdeos e fotos de procedimentos prticos (Captulo 6).

    Para a aula prtica com os alunos desse curso, realizado o agendamento prvio no

    Biotrio, que apresenta um cronograma de datas disponveis. Esses treinamentos incluem

    tcnicas de manuseio e conteno e tcnicas especcas de acordo com os procedimentos

    necessrios em cada tipo de experimento. comum o aluno apresentar certo receio ao

    manusear os animais, porm isso minimizado ao longo do treinamento11,12

    .

    SEO DE EXPERIMENTAO

    Ao iniciar o experimento no Biotrio, o pesquisador e/ou aluno responsvel pelo

    experimento recebe as normas internas de biossegurana e um protocolo que deve ser

    preenchido, com questes especcas sobre o experimento a ser realizado (Anexo 22). Ento,

    prossegue-se com o treinamento sobre a paramentao correta, uxo de entrada e sada doBiotrio, conhecimento das reas comuns e da sala onde o experimento ser realizado.

    O responsvel pela seo de experimentao recepciona o pesquisador, sanando todas

    as suas dvidas sobre normas internas, como deve ser monitorado o experimento, onde adquirir

    materiais de trabalhos de rotina, entre outras questes que surgiro ao longo do experimento.

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    Captulo 2tica na Experimentao Animal

    Aps a submisso dos projetos de pesquisa s CEUAs das duas unidades, os

    protocolos aprovados so encaminhados ao Biotrio, onde recebem um nmero de controle

    e so arquivados. Por meio das informaes contidas nos protocolos, a equipe do Biotriocontrola a sada de animais para os pesquisadores, obedecendo aos critrios de quantidade

    de animais, espcie, linhagem e sexo.

    REFERNCIAS

    1. Feij AGS, Braga LMGM, Pitrez PMC. Animais na pesquisa e no ensino: aspectos ticos e tcnicos.Porto Alegre: EDIPUCRS; 2010. 421p.

    2. Sociedade Brasileira de Cincias em Animais de Laboratrio (SBCAL/COBEA) [citado 8 ago. 2012].Disponvel em: http://www.cobea.org.br.

    3. National Research Council. Guide for the care and use of laboratory animals. 8th ed. Washington:The National Academies Press; 2011. 248p [cited 2012 Aug 22]. Available from: http://oacu.od.nih.gov/regs/guide/guide.pdf.

    4. National Institute of Health [cited 2012 Sep 5]. Available from: http://bioethics.od.nih.gov/animals.html.

    5. Brasil. Planalto. Lei Arouca. Lei n. 11.794, de 8 de outubro de 2008 [citado 12 set. 2012]. Disponvelem: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11794.htm.

    6. Brasil. Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao. Conselho Nacional de Controle de Experi-mentao Animal (CONCEA) [citado 12 set. 2012]. Disponvel em: http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/310553.html.

    7. So Paulo (Estado). Universidade de So Paulo (USP). Comisso de tica em Uso Animal doInstituto de Qumica da USP [citado 12 set. 2012]. Disponvel em: http://www2.iq.usp.br/bioterio/.

    8. So Paulo (Estado). Universidade de So Paulo (USP). Comisso de tica em Uso Animal daFaculdade de Cincias Farmacuticas da USP [citado 12 set. 2012]. Disponvel em: http://www.fcf.usp.br/Apresentacao/Colegiados/ANIMAL/Animal.asp.

    9. Russel WM, Burch RL. The principles of human experimental technique [cited 2012 Sep 12]. Avail-able from http://altweb.jhsph.edu/publications/humane exp/het-toc.htm.

    10. Lapchik VBV, Mattaraia VGM, Ko GM. Cuidados e manejo de animais de laboratrio. So Paulo:Atheneu; 2009. 708p.

    11. Andersen ML, DAlmeida V, Ko GM, Kawakami R, Martins PJF. Princpios ticos e prticos do usode animais de experimentao. So Paulo: Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP); 2004.167p.

    12. Federation of European Laboratory Animal Science Associations (FELASA). FELASARecommendations for the Education and Training of Persons Working with Laboratory Animals:categories A and C. Laboratory Animal. 1995;29:121-31.

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    bbbb

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    Captulo 3

    Comportamento e Enriquecimento para Ratos eCamundongos

    Renata Alves dos Santos

    Renata Spalutto Fontes

    Introduo

    Comportamento de ratos e camundongos

    Comportamento materno

    Alojamento e enriquecimento ambiental

    O que enriquecimento ambiental?

    Como avaliar as estratgias de

    enriquecimento?

    Refneversus padronizao

    Tipos de enriquecimento ambiental

    Enriquecimento social

    Enriquecimento com contato social

    Enriquecimento sem contato social

    Enriquecimento fsico

    Complexidade

    Enriquecimento sensorial

    Enriquecimento nutricional

    Referncias

    INTRODUO

    Um importante conceito de bem-estar dos animais a homeostase, que signica que

    o animal est em harmonia com seu ambiente interno (temperatura, contedo hdrico etc.) e

    externo (temperatura ambiente, som etc.). A homeostase exige que o animal se adapte e tenha

    controle diante de situaes diversas. Quando a homeostase no pode ser mantida, pode

    ocorrer desconforto ou estresse, com possvel manifestao de doena ou comportamento

    anormal, como estereotipias1,2.

    Estereotipiasso comportamentos repetidos de padro simples, como movimentos

    em crculos ou pulos constantes na gaiola, que parecem no ter sentido e so tpicos de

    animais alojados isoladamente1.

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    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio

    dever do ser humano promover o bem-estar dos animais, em que, juntos, contribuiro

    para o bem-estar de todos2. Segundo a Cincia em Animais de Laboratrio, o bem-estar

    dos animais deve ser assegurado tanto na produo como na experimentao, mantendo oalojamento e as condies ambientais controlados (Captulos 4 e 6).

    Fazer um manejo e um transporte cuidadoso, bem como conhecer a importncia,

    as necessidades e os comportamentos normais das espcies utilizadas como animais de

    laboratrio, tambm so fatores essenciais para que se evite o estresse e possibilite a

    promoo do bem-estar animal, obtendo, assim, dados conveis e pesquisas satisfatrias.

    COMPORTAMENTO DE RATOS E CAMUNDONGOS

    Ratos e camundongos de laboratrio sempre mostram similaridade com a reproduo

    na vida selvagem1. Na natureza, ratos so escavadores e constroem tneis para dormir durante

    a fase clara do dia. Preferem viver nos sistemas de esconderijos (tneis) localizados prximos

    gua. Os tneis terminam em um compartimento, usado para ninho e armazenamento de

    comida. So animais sociveis e desenvolvem uma hierarquia entre os grupos3.

    Os camundongos so pequenos e tm uma grande rea de superfcie por gramade peso corpreo, resultando em mudanas siolgicas em resposta s utuaes da

    temperatura ambiental. Demonstram capacidade de fazer ninho e toca, que os ajudam a

    manter a temperatura corprea. Geralmente, no conseguem regular a temperatura do corpo

    to bem como os grandes mamferos e so intolerantes ao calor1.

    Ratos e camundongos apreciam o convvio em grupo. Nos biotrios, a insero ou a

    retirada de animais de uma gaiola envolve um esforo adicional para o restabelecimento de

    novos grupos1. Isso se deve ao fato de que cada animal tem seu papel como dominantes ou

    dominados, desenvolvendo uma hierarquia social1,2,3.

    Deve-se tomar cuidado para assegurar a compatibilidade, principalmente entre machos

    adultos de camundongos, que podem brigar, a menos que sejam criados juntos desde o

    desmame e que seja obedecida a orientao de densidade populacional mxima por gaiola4,5

    (Captulo 4 Tabela 5). Mesmo assim, ainda podem ocorrer brigas entre eles depois dos

    dois meses de idade. Na linhagem de camundongos Swiss Webster e BALB/c, por exemplo,

    podem ocorrer ferimentos na cauda, na lombar ou em outras regies. As brigas tambm so

    comuns entre machos reprodutores provenientes de gaiolas diferentes e agrupados em umamesma gaiola.

    Embora a agressividade em ratos seja rara, os machos brigam mais do que as

    fmeas4,6. Machos reprodutores podem brigar se originados de gaiolas distintas e forem

    agrupados. Dependendo da linhagem, em situaes de superpopulao, podem-se observar

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    Captulo 3Comportamento e Enriquecimento para Ratos e Camundongos

    brigas por disputa de territrio4.

    Quanto s fmeas, tanto de ratos quanto de camundongos, podem ser alojadas juntas

    em qualquer idade, mesmo se forem provenientes de gaiolas diferentes ou j utilizadas comoreprodutoras, sem que ocorram incidentes desfavorveis. Em geral, as fmeas s brigam, em

    alguns casos, para defender seus lhotes7.

    Um comportamento comum nos ratos a postura em p (Figura 1), usada para explorar

    o ambiente e lutar (entre ratos jovens, uma forma de brincar) 8. Por isso, importante que

    as grades das gaiolas sejam altas, para permitir que os ratos observem fora da gaiola, alm

    de facilitar a cobertura da fmea pelo macho durante o acasalamento.

    A B

    Figura 1. A) Ratos na postura em p observando o exterior da gaiola; B) Vista aproximada

    Ratos e camundongos tm o hbito natural de coprofagia4,9,10,11, ou seja, ingerem as

    prprias fezes, o que pode alterar o efeito da dieta nos resultados experimentais relacionados

    nutrio. Existe a possibilidade de que esse comportamento seja aumentado por dietas

    decientes, porm, at mesmo com dietas adequadas, pode ocorrer a reingesto dasfezes4,11, por se tratar de um comportamento natural dos roedores. O uso de gaiolas com

    cho de arame em experimentos no previne a coprofagia, pois eles podem retirar as fezes

    diretamente do nus10. Alm disso, testes de preferncia indicaram que roedores preferem

    piso slidos com cama a pisos de arame12. Os pisos de arame no permitem que os animais

    desenvolvam seus comportamentos normais, os deixam inseguros e comprometem o seu

    bem-estar. Se for mesmo necessrio o seu uso, seu tamanho e espaamento precisam ser

    proporcionais ao tamanho do animal alojado, para minimizar o desenvolvimento de leses na

    superfcie plantar das patas5, assegurando o conforto dos animais.

    As espcies apresentam diferentes habilidades auditivas. Entre elas, ocorre uma

    variao considervel na audio de altas e baixas frequncias13. Alguns animais so

    capazes de captar frequncias de som mais elevadas do que as captadas pelos ouvidos

    humanos (ultrassons) (Figura 2), fazendo uso disso para a comunicao. Alguns ultrassons

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    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio

    produzidos pelos animais, como os ratos e os camundongos, so inaudveis pelo homem,

    como o som produzido na comunicao sexual ou para evitar que os lhotes se afastem do

    ninho. Os lhotes comunicam-se com a me por meio da emisso de vocalizaes de altafrequncia. Outras vocalizaes podem ser escutadas por ns, como no caso das emitidas

    em agresses1,2,3.

    Figura 2. Limite auditivo dos animais de laboratrio em relao ao dos humanos. (Fonte: Adaptado deHeffner13)

    Os sonsproduzidos, como o de cortejo, cuidado materno, agresso e defesa, podem ser

    afetados pelo nvel de rudo no ambiente. Os animais podem se adaptar aos rudos contnuosno ambiente, mas os rudos de longa durao e alta intensidade ou agudos so perturbadores,

    causando estresse, alteraes metablicas, reduo da fertilidade, canibalismo e danos ao

    aparelho auditivo. Alguns equipamentos utilizados nos biotrios e laboratrios emitem sons

    que podem estressar os animais sem que tenhamos conhecimento, como da gua corrente

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    Captulo 3Comportamento e Enriquecimento para Ratos e Camundongos

    ou de mangueiras de presso. Gaiolas com superpopulao tambm geram ultrassons, que

    podem dicultar a comunicao entre os animais e causar estresse2,4,14.

    Ratos e camundongos so homeotrmicos, ou seja, controlam a temperaturacorporal, independentemente da variao trmica do ambiente, variando sua taxa metablica.

    Variaes bruscas de temperatura e umidade podem causar estresse, queda de resistncia e

    maior suscetibilidade a infeces, acarretando problemas respiratrios em animais mantidos

    em alta umidade e/ou baixas temperaturas4.

    Animais mantidos abaixo da temperatura ideal apresentam constrio dos capilares

    superciais, piloereo, postura enrodilhada, aumento da ingesto de alimentos e da

    construo de ninhos4

    .Ratos e camundongos tm ciclo circadiano. O padro de ciclo claro/escuro

    geralmente de 12 h claro/12 h escuro. Esse ciclo pode ser aumentado para 14 h para

    ns de pesquisas. So animais de hbitos noturnos, porm, segundo alguns autores, o

    camundongo, diferentemente do rato, um alimentador diurno, consumindo a maioria de

    sua alimentao no perodo de luz7. Em razo do ciclo circadiano, a troca da gaiola suja dos

    animais deve ser mantida sempre no mesmo horrio, assim como o manuseio durante os

    ensaios experimentais.

    Apresentam boa viso, mas, como so animais noturnos, evitam a luminosidade

    intensa15. A luzpode afetar a siologia, a morfologia e o comportamento de diversos animais,

    e a iluminao inapropriada estressante. Os animais albinos so mais sensveis s

    altas intensidades de luz, mesmo que para ns parea confortvel. Em longo prazo, a luz

    intensa pode causar leses em suas retinas2. O perodo de exposio luz pode afetar

    o comportamento reprodutivo dos animais, assim como o peso e a ingesto de alimentos.

    Por isso, so utilizados temporizadores em biotrios para controlar os ciclos claro/escuro.

    Mudanas nesse ciclo requerem duas semanas para adaptao dos animais4e devem ser

    realizadas de maneira gradual, e no abrupta16.

    O sentido mais desenvolvido e importante dos ratos e camundongos o olfato.

    Por meio de odores naturais ou da urina, os machos demarcam territrio. So capazes

    de identicar alimentos, membros do sexo oposto, intrusos e ainda reconhecer o odor da

    pessoa que limpa a sua gaiola e lhes fornece alimento4. Por isso, o experimentador deve

    evitar o uso de perfumes, anestsicos volteis e a presena de sangue fresco em aventais ou

    sobre bancadas. Alm disso, durante um experimento, recomenda-se no mudar o tcnico

    responsvel pela troca das gaiolas. Se por acaso houver a troca do tcnico ou do pesquisador,os roedores cam mais agressivos at a adaptao aos odores da pessoa nova2. Tambm

    pode haver queda na produo dos animais.

    As longas vibrissas (Figura 3) prximo ao focinho presentes nos ratos e camundongos

    funcionam como receptores tcteis, e servem para detectar a presena de objetos ao seu

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    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio

    redor, mesmo que estes no tenham odor. Como um animal noturno, as vibrissas permitem

    orient-lo na escurido. A sensibilidade olfativa e a sensibilidade tctil (vibrissas) constituem

    os principais sentidos desses animais, o que lhes possibilita detectar os alimentos, o sexooposto e os predadores. O tato tambm exercido pela superfcie plantar das patas2,3.Quando

    estressados, os roedores se aproximam das superfcies, sentindo-se mais seguros. Gaiolas

    aramadas impedem o contato com piso slido, alterando seus comportamentos normais15.

    Figura 3. Vibrissas presentes prximo ao focinho do rato

    Os ratos e camundongos no tm glndulas sudorparas. A cauda tem papel na

    termorregulao, na qual a vasodilatao dissipa o calor e a vasoconstrio conserva o

    calor. Nos animais recm-nascidos (at o nal da primeira semana de idade), no existem

    mecanismos termorreguladores4. Aconchegam-se na me e nos outros lhotes para manter

    a temperatura ideal. Assim, se forem abandonados fora do ninho podero morrer de

    hipotermia4. Por isso, muito importante que os neonatosutilizados em experimentos sejam

    logo utilizados e posteriormente eutanasiados (Captulo 6) assim que retirados da me, pelo

    fato de no regularem a temperatura corprea (so poiquilotrmicos)3e pela ausncia do leite

    materno.

    As duas regies do estmago (grande poro aglandular ou estmago anterior, e

    a poro glandular) so separadas por uma prega limitante que previne a capacidade de

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    Captulo 3Comportamento e Enriquecimento para Ratos e Camundongos

    vomitar4,9, facilitando os procedimentos de gavagem (Captulo 6).

    Tm o hbito de limpeza(grooming), que faz com que a secreo oleosa produzida

    pelas glndulas da pele seja distribuda pelo corpo, mantendo a pelagem limpa e com brilho4.

    A falta desse hbito indica que o animal est com algum problema15.

    A cromodacriorreia causada por uma secreo de um pigmento de colorao

    avermelhada (porfrina) nos olhos e no nariz, indicando sofrimento ou estresse (Figura 4).

    Esta pode ocorrer pela liberao da amnia no ambiente decorrente da falta de troca das

    gaiolas, pela falta da ventilao ambiental ou pela liberao de gases irritantes produzidos

    por produtos de limpeza4.

    Figura 4. Secreo de porrina nos olhos de ratos

    Os roedores gostam de brincar e por meio das brincadeirasque vo desenvolvendo

    sua maturidade emocional. Portanto, deve ser proporcionado espao suciente nas gaiolas

    para o animal se esconder ou lutar, para que se preparem para situaes estressantes do

    futuro. com os pais e congneres que aprendem os comportamentos normais da espcie2.

    O enriquecimento ambiental uma forma de contribuir para essas brincadeiras e ser

    discutido a seguir.

    O barbeamento (barbearing) um comportamento dominante observado em algumas

    linhagens de camundongos que pode ser causado por excesso de animais na gaiola, idade

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    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio

    de desmame ou dieta. O camundongo dominante realiza a tricotomia dos seus companheiros

    submissos na mesma gaiola, em vrias regies como focinho, corpo ou cabea (Figura 5).

    Geralmente, observa-se somente um camundongo com os pelos normais (dominante) emrelao aos demais. Ao retirar o animal dominante, outro assumir essa funo. Apesar

    desse comportamento, deve-se entender que os camundongos so animais sociais e devem

    ser mantidos em grupos compatveis1,4 .

    Figura 5. Macho reprodutor da linhagem C57BL/6 com falha de pelo no focinho causada pela fmeadominante na mesma gaiola

    importante que se conhea o comportamento normal desses animais para que se

    possa comparar com o comportamento de dor. Ratos e camundongos podem sinalizar que

    esto com dor quando apresentam perda de peso, vocalizao, postura curvada, piloereo,

    entre outros sintomas17,18(Captulo 6).

    Fmeas alojadas juntas em grande nmero, sem a presena de machos, entraro

    em fase de anestro (ausncia de ciclos estrais), diestro ou pseudoprenhez. Esse efeito

    chamado de Lee-Boot. Se forem expostas a feromnios de machos ou ao prprio macho,

    comeam a ciclar de 48 a 72 horas. Essa reao denominada efeito deWhittenepermite a

    sincronizao da ovulao em grupos de fmeas. Tais comportamentos so mais observados

    em camundongos do que em ratos1,4,19.

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    Captulo 3Comportamento e Enriquecimento para Ratos e Camundongos

    Outro efeito frequente em camundongos o de Bruce, no qual durante o acasalamento

    das fmeas por um macho, quando estas so expostas a outro macho ou aos seus feromnios

    em at 24 horas, pode haver a reabsoro de 50% dos embries19. Isso ocorre porque oferomnio do segundo macho parece inibir a nidao, que a implantao do vulo na parede

    do tero, perturbando a secreo de prolactina4. Essas fmeas entram novamente em estro

    em quatro a cinco dias1. Esse efeito no observado em ratos.

    Comportamento materno

    Fmeas defendem seus lhotes com tenacidade e, aps o nascimento de toda a

    ninhada, principalmente durante os primeiros oito a dez dias, o comportamento da me de

    lamber os lhotes estimula as funes digestivas destes4. Aps o parto, podem-se ver as

    manchas brancas no abdmen dos neonatos, indicando quais lhotes esto ingerindo o leite.

    Este um fator importante no caso de seleo ao nascimento19,20 (Captulo 4).

    O comportamento materno em ratas muito forte e convel3(Figura 6). Os lhotes

    so amamentados 18 horas por dia na primeira semana de nascimento. A me lambe oslhotes para limpar as vias respiratrias e, aps o trmino do parto, coloca todos os lhotes

    no ninho. Ratos lambidos por suas mes ao nascer se tornam adultos mais tranquilos, menos

    medrosos e menos estressados; alm disso, ratas que foram lambidas pela me quando

    lhotes costumam adotar o mesmo comportamento quando tiverem suas crias8.

    Figura 6. Fmea amamentado

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    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio

    O manuseio dos neonatos deve ser rpido, porm com cautela, para evitar que a me

    diminua os seus cuidados e deixe de lamb-los. Nos ratos, muitas vezes, a me os carrega

    de um lado para outro durante a troca das caixas sujas ou durante a observao da ninhada(Figura 7). Quando esse comportamento ocorrer, deve ser mantida distncia da gaiola,

    reduzindo o rudo. Geralmente, a me adota esse comportamento para tentar encontrar um

    espao onde possa colocar o neonato em segurana. Se ocorrer muitas vezes, porm, isso

    pode feri-los8.

    Figura 7. Fmea do casal de ratos Wistar carregando os lhotes para proteg-los

    O canibalismo dos neonatos depende da linhagem e, em muitos casos, pode ser

    minimizado quando os animais cam em um lugar calmo, com pouca intensidade de luz

    e tenham material para fazer seu ninho1,como ser discutido a seguir. Fmeas primparas

    so mais suscetveis a rejeitar a ninhada. Neonatos fracos, natimortos ou mortos aps o

    nascimento podem ser devorados pela me3, pois servem de fonte de protena; a me

    tambm pode deix-los junto com os outros lhotes vivos ou, para manter o ninho limpo,

    rejeit-los e segreg-los no canto da gaiola8.

    Para evitar o canibalismo, ao manipular os neonatos, sugere-se friccionar as mos na

    maravalha suja da gaiola quando for recoloc-los no ninho, para que a fmea no estranhe o

    odor da luva. Alm disso, deve-se evitar manipular os neonatos no momento do nascimento,

    quando ainda esto sujos de sangue1.

    Diversos fatores, como linhagem, rudos altos no ambiente7, mes mais velhas (mais

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    Captulo 3Comportamento e Enriquecimento para Ratos e Camundongos

    de 11 meses de idade)21, manuseio inadequado, troca muito frequente das gaiolas, presena

    de tcnico novo, falta de gua ou comida, movimentos indevidos da gaiola, dieta inadequada

    e desnutrio das mes lactantes22, podem induzi-las prtica de canibalismo nos lhotes.

    ALOJAMENTO E ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL

    Como so sociveis, os ratos e os camundongos devem ser alojados em grupos,

    evitando o isolamento, para assegurar que desenvolvam comportamento e siologia normais3.

    Alojamentos adequados que considerem o ambiente fsico e social desses animais,

    assim como colnias bem supervisionadas e manejos adequados, so indispensveis para a

    produo de animais de alta qualidade23.

    As necessidades fsicas dos animais so supridas com dieta balanceada, clima

    controlado e boas condies de higiene, porm pode ocorrer estresse se o comportamento

    for restrito em condies de alojamento padro.As gaiolas de laboratrio geralmente no so

    adequadas para as necessidades comportamentais e psicolgicas dos animais. Os hbitos

    dos roedores de explorar, descansar, escalar, limpar-se, procurar alimento, fazer ninho ecomportar-se socialmente no so totalmente considerados. Nos biotrios, preocupa-se

    principalmente com o estabelecimento de normas de biossegurana e com a modernizao

    do alojamento, com o intuito de minimizar variveis, como doenas infecciosas, exposio a

    toxinas ou variaes no ambiente. Contudo, essa padronizao na manipulao dos roedores

    tem consequncias adversas para os animais em termos de falta de complexidade em seu

    ambiente, limitando a capacidade dos animais de controlar seu ambiente fsico e social 23-27.

    O que enriquecimento ambiental?

    O enriquecimento ambiental pode ser denido como uma alterao no ambiente

    dos animais cativos, fornecendo-lhes oportunidades de expressar seus comportamentos

    naturais28,29,30. o termo usado para denir aes que visam aprimorar o ambiente,

    reconhecendo o problema potencial do bem-estar associado com a restrio do comportamento

    nos sistemas de alojamento27.

    A introduo do enriquecimento ambiental para roedores um mtodo usado para

    melhorar a qualidade de vida e o bem-estar dessas espcies cativas25,30-33, permitindo-lhes

    expressar os comportamentos especcos da espcie24,34. No entanto, a mudana s pode ser

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    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio

    considerada enriquecimento se salientar o bem-estar animal e melhorar seu funcionamento

    biolgico27,35.

    Em 1959, Russel e Burch j consideraram o enriquecimento como uma necessidade

    tica no ambiente dos animais de laboratrio, com o objetivo de introduzir o refnetanto na

    criao como na experimentao28 (Captulo 2).

    Na dcada de 70, o conceito de enriquecimento foi introduzido nos zoolgicos e foi

    gradualmente adotado nos biotrios27. Atualmente, vem sendo bastante aceito em ambos os

    locais36.

    Os animais mantidos em ambientes altamente articiais so modelos menos adequados

    para extrapolar resultados experimentais para humanos. J os animais mantidos em ambientes

    enriquecidos podem ser mais estveis tanto no aspecto siolgico como psicolgico, bem

    como melhor representantes das espcies, assegurando melhores resultados cientcos32.

    Nos biotrios, o enriquecimento geralmente pouco utilizado, por representar um

    acessrio extra na rotina de manejo diria. No entanto, a ausncia de um esconderijo

    onde o animal possa se sentir seguro o impedir de expressar comportamentos tpicos e,

    consequentemente, diminuir o bem-estar.

    Como avaliar as estratgias de enriquecimento?

    Para avaliar as estratgias de enriquecimento, primeiro devem-se compreender a

    histria, o repertrio natural, o estilo de vida e a complexidade do comportamento da espcie

    em questo25,37.

    O enriquecimento ambiental no um luxo opcional, mas oferecido para atenders necessidades comportamentais dos mamferos, permitindo-lhes expressar seu

    comportamento, o que reetir na siologia e at na imunologia. Por isso, o enriquecimento

    deve satisfazer curiosidades, fornecer atividades divertidas37, permitir executar necessidades

    siolgicas e comportamentais, como manter relaes sociais, descansar, construir ninhos,

    explorar, alimentar-se, roer e se esconder1.

    extremamente importante avaliar os benefcios para o animal e as preferncias deste

    quando optar por determinado tipo de enriquecimento, bem como os efeitos que isso pode trazersobre o comportamento tpico da espcie, sobre os parmetros siolgicos, alm do impacto

    nos resultados cientcos e nas anlises estatsticas. O resultado depender da linhagem,

    do tipo de enriquecimento e do parmetro avaliado34. Por exemplo, diferentes linhagens de

    camundongos reagem de maneiras distintas em relao a um tipo de enriquecimento.

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    Captulo 3Comportamento e Enriquecimento para Ratos e Camundongos

    O enriquecimento deve permitir que os animais sintam-se totalmente seguros. Por

    exemplo, ratos e camundongos necessitam de fendas ou algum material para fazer ninho,

    de modo que possam construir esconderijos. Alm disso, essas espcies talvez se sintamseguras se tiverem contato fsico com companheiros37. Apesar de muitas geraes de

    domesticao, os hbitos de escavar e fazer ninhos persistem nesses animais25.

    Os testes de preferncia podem ser teis para avaliar os tipos de enriquecimento, pois

    permitem aos animais escolher entre vrias opes, alm de prevenir a introduo de itens

    prejudiciais ou sem interesse para os animais29,38,39.

    No Biotrio da FCF-IQ/USP, o enriquecimento tornou-se um item importante nas

    sees de produo e experimentao dos ratos e camundongos, promovendo o bem-estardesses animais. Na escolha do tipo de enriquecimento levam-se em conta, entre outros fatores,

    as necessidades comportamentais de cada linhagem, bem como, o custo, a capacidade de

    manuteno da higiene e a resistncia autoclavao. Por se tratar de um biotrio de grande

    produo de animais, alguns tipos de enriquecimento podem car inviveis, por serem muito

    caros ou dicultar o trabalho realizado pelos funcionrios e pesquisadores durante a troca

    dos animais.

    Atualmente, o Biotrio fornece como enriquecimento para ratos e camundongos: iglus,

    tubos de papelo e PVC, algodo, papel-toalha, papel em tiras e mscaras descartveis. Almdesses artefatos, a socializao desses animais permitida, evitando-se mant-los em grupos

    muito grandes ou isolados. Quando o isolamento inevitvel, algum artefato introduzido

    na gaiola, com o intuito de evitar o estresse dos animais. Na seo de experimentao, por

    exemplo, so colocados iglus nas gaiolas metablicas de camundongos isolados.

    Testes relacionados introduo de enriquecimento na produo dos ratos e

    camundongos foram desenvolvidos no Biotrio. Tubos de PVC foram introduzidos em gaiolas

    de casais de ratos Wistar, cujos resultados mostraram uma tendncia no aumento do nmero

    de lhotes nascidos em casais enriquecidos40. Em outro trabalho, o algodo foi introduzido

    em casais de camundongos C57BL/6, sendo avaliados vrios parmetros reprodutivos

    (taxa de fertilidade, intervalo entre partos, prolicidade, nmero e percentagem de lhotes

    desmamados, percentagem de mortalidade pr-desmame e ganho de peso de lhotes

    desmamados). Foram observados reduo na mortalidade pr-desmame e aumento no peso

    de lhotes mantidos em gaiola open cage enriquecida41.

    A utilizao do enriquecimento ambiental em biotrios est aumentando por razes

    ticas e cientcas, porm atualmente nenhum manual de boas prticas de laboratrio ouregulamento de bem-estar descreve o enriquecimento como um padro42.

    Pesquisas so necessrias para investigar os efeitos dos diferentes tipos de

    enriquecimento ambiental nos resultados experimentais e na variabilidade dos parmetros

    siolgicos43.

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    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio

    Refneversus padronizao

    Um exemplo de refne (Captulo 2) a estratgia de enriquecimento ambiental44,

    pela qual se obtm um melhor entendimento das necessidades dos animais e dos fatores

    ambientais envolvidos no controle do comportamento42.

    A implantao do enriquecimento um tema polmico, pelo fato de que possa

    perturbar a padronizao ambiental, apesar dos benefcios para o bem-estar do animal de

    laboratrio45,46.

    O argumento de que o enriquecimento ambiental possa aumentar a variao dos

    dados, reduzindo a preciso e a reprodutibilidade dos resultados experimentais, torna-se um

    importante obstculo na criao de uma habitao enriquecida para roedores de laboratrio.

    Isso signica que mais animais seriam necessrios para cada experimento, criando assim um

    conito entre refnee reduce46.

    Alguns autores, como Van de Weerd, Van Loo e Baumans44, entretanto, armam que,

    quando o bem-estar dos animais alcanado pelo programa de enriquecimento, estes sofrem

    menos estresse, tm mais sade, h poucas perdas durante os experimentos e, assim, reduz-

    se o uso de animais. Um exemplo o efeito benco do material para ninho.Segundo Wrbel e Garner46, provvel que as condies habitacionais de

    camundongos de laboratrio (pelo menos para as fmeas) possam ser renadas pelo

    enriquecimento ambiental, melhorando o bem-estar, sem afetar a padronizao. Esses

    autores apoiam o enriquecimento do ambiente, porque acreditam que o bem-estar a

    melhor cincia, mas, ao mesmo tempo, alegam que, para a experimentao animal ser

    verdadeiramente uma boa cincia, o conceito de padronizao do ambiente tem de ser

    profundamente revisto.

    TIPOS DE ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL

    Os tipos de enriquecimento geralmente so categorizados em sociais e fsicos30.

    Enriquecimento social

    Enriquecimento social inclui a socializao dos animais, com contato ou no

    (denominadas sem contato social) com coespeccos ou contraespeccos, inclusive os

    seres humanos34,35.

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    Captulo 3Comportamento e Enriquecimento para Ratos e Camundongos

    Os seres humanos fazem parte do enriquecimento social dos animais de laboratrio, e

    a manipulao dos animais um aspecto muito importante na rotina diria.

    Enriquecimento com contato social

    Espcies gregrias (que vivem em grupos ou em bando) devem ser alojadas em

    grupos ou pares com coespeccos, de maneira harmoniosa34. Se alojadas individualmente,

    so privadas de expressar seus comportamentos sociais tpicos36.

    Como so sociveis, ratos e camundongos devem ser alojados em grupos, evitandoo isolamento, para assegurar que desenvolvam comportamento e siologia normais. Como

    citado anteriormente, embora esta no seja uma situao natural para os machos, em

    algumas linhagens, especialmente as de camundongos, a agressividade um problema, e

    os machos precisam ser separados7,30.

    Portanto, a mais complexa incluso em uma gaiola a de outro animal, pois a

    interao entre eles pode ser imprevisvel37. Alm disso, grupos muitos grandes esto mais

    propensos a doenas e a agressividade47.

    Enriquecimento sem contato social

    Esse tipo de enriquecimento inclui a comunicao visual, auditiva e olfatria com

    coespeccos ou contraespeccos (por meio de barreiras ou grades), sem o contato

    social, quando o alojamento em grupo no possvel34. Por exemplo, se um rato alojado

    isoladamente, ele pode manter o contato visual, olfatrio e auditivo com outros ratos paraatenuar o estresse associado ao isolamento.

    Enriquecimento fsico

    O enriquecimento fsico inclui gaiolas complexas e estmulos sensoriais e nutricionais34.

    Complexidade

    Disponibilizar umaestruturao adequada na gaiola mais benco para os animais,

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    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio

    j que eles a utilizam em comportamentos especcos, do que oferecer uma grande rea,

    onde no utilizam todo o espao (exceto em atividades locomotoras)34.

    A maioria dos roedores tende a dividir a sua rea em locais para alimentao, repouso

    e excreo. Essas divises podem ser facilitadas por estruturas dentro da gaiola (exemplo:

    abrigos, caixas para ninho, tubos, materiais para fazer ninhos, plataformas etc.) 34.

    Existem vrios tipos de enriquecimento para animais de laboratrio que podem ser

    improvisados (Figuras 8 a 12) ou que so comercializados (Figuras 13 a 17) e permitem

    a autoclavao. Caixas de animais escavadores podem ser facilmente enriquecidas com

    artefatos adaptados, como tubos de tamanho apropriado e materiais para a construo deninho livres de toxinas28(como o algodo). Ainda h controvrsias quanto ao uso de tubos

    feitos de PVC.

    Os ratos, diferentemente dos camundongos, no mostram interesse em construir

    ninhos, com exceo de fmeas que acabaram de parir47. Segundo testes de preferncia,

    ratos preferem objetos que possam ser mastigados, como um pedao de madeira com furos38.

    importante oferecer para os camundongos materiais para a construo de ninhos,pois isso permite que eles criem microambientes adequados para descanso e reproduo3.

    Camundongos so capazes de modicar o prprio microambiente, pelo fato de poderem

    aconchegar-se e manipular seus ninhos, exercendo controle sobre a temperatura, a umidade

    e as condies de luminosidade1.

    Os materiais utilizados na construo dos ninhos tambm fornecem sombra, alm

    de ajudarem a regular a temperatura e servirem de abrigo para os animais se esconderem

    dos coespeccos, evitando agressividade e controlando o ambiente28,30,32. Camundongosalojados em condies laboratoriais padro (temperatura de 222 C) sero impedidos de

    manipular o seu microambiente e deix-lo nas condies preferidas se no encontrarem

    materiais adequados para a construo de seu ninho48,49.

    Os materiais utilizados na construo do ninho precisam estar de acordo com as

    necessidades dos camundongos, por isso tm de apresentar as seguintes caractersticas:

    no devem ser txicos nem causar danos ao animal; devem ser absorventes, mas no a

    ponto de desidratar os neonatos; no devem conter p excessivo; devem ser econmicos;

    no devem ser comestveis, para evitar interferncias nos experimentos1; devem ser durveis

    ou descartveis; devem ser livres de toxinas ou outros contaminantes35; e devem poder ser

    esterilizados ou descontaminados.

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    Captulo 3Comportamento e Enriquecimento para Ratos e Camundongos

    Figura 8. A) Rato no tubo de PVC; B) Fmea de rato com lhotes dentro do tubo de PVC

    A

    B

    Figura 9. Utilizao de algodo como material para a construo de ninho pelos camundongos

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    A introduo de ocos de algodo nas gaiolas permite aos camundongos construir

    seus ninhos e abrigos, como se estivessem em seu ambiente natural, melhorando o seu bem-

    estar. O algodo, alm de ser um material barato, fcil de ser trocado durante a higienizaodas gaiolas, no txico, absorvente, pode ser autoclavado e no machuca os neonatos.

    Figura 10. Papel-toalha na gaiola dos camundongos

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    Captulo 3Comportamento e Enriquecimento para Ratos e Camundongos

    Figura 11. A) Mscara descartvel amarrada na grade das gaiolas de camundongos; B) Vista sob agrade

    A

    B

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    Figura 12. Papel picado colocado na gaiola de camundongos

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    Captulo 3Comportamento e Enriquecimento para Ratos e Camundongos

    A B

    C D

    Figura 13. A) Iglu para camundongos. Disponvel em: http://www.tecniplast.it/; B) Iglu para camundongos.Disponvel em: http://www.alesco.ind.br/alesco.html; C) Iglu para camundongos com roda. Disponvel

    em: http://www.bio-serv.com. D. Iglu para ratos. Disponvel em: http://www.bio-serv.com

    Figura 14. Camundongos em iglu

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    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio

    Figura 15. Abrigos para ratos. Disponvel em: http://www.bio-serv.com

    Figura 16. Tubos de papelo para ratos e camundongos comercializados. Disponvel em: http://granjarg.com.br/insumos.php

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    Captulo 3Comportamento e Enriquecimento para Ratos e Camundongos

    Figura 17. Cabanas para camundongos. Disponvel em: http://www.bio-serv.com/Rodent_Enrichment_Devices/Bio_Huts.html

    Enriquecimento sensorial

    O enriquecimento sensorial inclui estmulos visuais, auditivos, olfativos, tteis e de

    paladar. Talvez o enriquecimento mais satisfatrio para roedores e coelhos seja o visual, o

    auditivo, o olfativo e a comunicao ttil com coespeccos ou contraespecicos, diretamente

    ou por meio das grades34.

    Tem sido sugerido que um rudo de fundo constante durante algumas horas do dia

    (por exemplo, uma msica de rdio em volume de 85 dB) oferea alguns benefcios na

    criao, diminuindo a excitabilidade dos animais e reduzindo o efeito dos sustos de rudos

    repentinos5.

    A limpeza das gaiolas rotina nas instalaes para animais; no entanto, a remoo

    das marcas olfatrias perturba a hierarquia social dos animais na gaiola, muitas vezes

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    Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratrio

    resultando em um pico de agresso entre camundongos machos. Tem sido demonstrado

    que transferir uma pequena poro do material para ninho antes da limpeza da gaiola ajuda

    a reduzir a agresso50.

    possvel realizar a estimulao ttil fornecendo materiais para ninho que possam

    servir de abrigo e ofeream oportunidade para escavao34, alm de locais nos quais eles

    possam se refugiar da luz, pois so animais noturnos30e, na maioria das vezes, albinos.

    Enriquecimento nutricional

    A mais bvia forma de enriquecimento aquela em que o animal tem alguma

    recompensa, como a comida37.

    Se a comida usada para tratamentos ou enriquecimento ambiental, devem ser

    tomados cuidados para assegurar que nenhuma variao na dieta possa afetar resultados

    experimentais, garantindo que os animais tenham uma dieta balanceada37.

    Alimentos que do ao animal a oportunidade de forragear (como um alimento

    espalhado na cama) ajudam a evitar o tdio, pois, na natureza, grande parte do tempo gasta nessa atividade30,34.

    Segundo Poole e Dawkins37, o efeito do enriquecimento no experimento insignicante

    se os benefcios para o animal so a preferncia. O enriquecimento vantajoso para o uso

    de animais, pois satisfazem as suas necessidades comportamentais. Pode ser prefervel

    a utilizao de um ou dois indivduos a mais em um experimento, por causa da variao

    adicional que o enriquecimento ambiental venha a causar, desde que haja uma completa

    perspectiva de bem-estar.

    O enriquecimento ambiental importante tanto do ponto de vista tico como cientco.

    Do ponto de vista tico, melhora o bem-estar do animal. Do ponto de vista cientco, evita que

    os animais apresentem comportamentos anormais, o que pode inuenciar siologicamente os

    resultados experimentais. Atualmente, o enriquecimento ambiental resulta em animais mais

    normais em todos os sentidos e muito mais adequados para criao e experimentao 37.

    REFERNCIAS

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    Captulo 4

    Seo de Produo de Animais Specifed

    Pathogen Free(SPF)

    Renata Spalutto FontesRenata Alves dos Santos

    Introduo

    Descrio da seo

    Atribuies dos funcionrios da seo

    Procedimentos para solicitao de animais

    Transporte de animais

    Procedimentos para acesso de funcionrios na

    seo

    Procedimentos para introduo de materiais na

    seoAnimais de laboratrio

    Caractersticas gerais de camundongos e

    ratos

    Parmetros biolgicos, siolgicos e

    reprodutivos e consumo de alimentos

    Ambiente e condies de alojamento

    Macroambiente

    Microambiente

    Reproduo

    Statusgentico

    Manuteno de colnias de ratos e

    camundongos heterognicos

    Manuteno de colnias de ratos e

    camundongos isognicosAcasalamento para obteno de embries

    Descrio dos modelos animais produzidos no

    Biotrio

    Controles sanitrio, gentico e nutricional

    Referncias