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Manual do professor Mark P. Moore – Universidade da Califórnia, Irvine Macroeconomia Oliver Blanchard

Manual Macroeconomia Oliver Blanchard (Do Professor)

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Macroeconomia

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  • Manual do professor

    Mark P. Moore Universidade da Califrnia, Irvine

    Macroeconomia

    Oliver Blanchard

  • Sumrio

    Captulo 1 Um passeio pelo mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

    Captulo 2 Este livro: Viso geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

    Captulo 3 O mercado de bens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

    Captulo 4 Mercados financeiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

    Captulo 5 Mercados de bens e financeiros: a IS-LM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

    Captulo 6 O mercado de trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

    Captulo 7 Agregando todos os mercados. O modelo AS-AD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

    Captulo 8 A curva de Phillips. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

    Captulo 9 Inflao, atividade econmica e expanso monetria. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

    Captulo 10 A realidade do crescimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

    Captulo 11 Poupana, acumulao de capital e produto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

    Captulo 12 Progresso tecnolgico e crescimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

    Captulo 13 Progresso tecnolgico, desemprego e salrios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

    Captulo 14 Expectativas: Ferramentas bsicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

    Captulo 15 Mercados financeiros e expectativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

    Captulo 16 Expectativas, consumo e investimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

    Captulo 17 Expectativas, poltica econmica e produto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

    Captulo 18 A abertura dos mercados de bens e financeiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

    Captulo 19 O mercado de bens em uma economia aberta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

    Captulo 20 O produto e as taxas de juros e de cmbio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

    Captulo 21 Taxas de cmbio: Ajustamentos, crises e regimes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

    Captulo 22 Patologias I: Desemprego elevado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

    Captulo 23 Patologias II: Inflao alta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

    Captulo 24 Patologias III: A transio na Europa Oriental e a crise asitica . . . . . . . . . . 123

    Captulo 25 Deve-se limitar a atuao dos formuladores de polticas econmicas?. . . . . . . . . 128

    Captulo 26 Poltica monetria: Um resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132

    Captulo 27 Poltica fiscal: Um resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136

    Captulo 28 A histria da macroeconomia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140

    Respostas s perguntas e problemas de final de captulo . . . . . . . . . . . . . . . 144

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  • Captulo 1. Um passeio pelo mundo

    I. Pergunta motivadora

    O que macroeconomia?O captulo no apresenta uma resposta explcita ou formal. Ao invs disso, descreve as questes quepreocupam os macroeconomistas que estudam os Estados Unidos, a Europa e a sia. Neste ponto,uma definio preliminar o estudo do produto, do desemprego e da inflao, termos que sero de-finidos com mais exatido no Captulo 2.

    II. Por que a resposta importanteEste captulo destina-se a incentivar os estudantes a dominarem o material terico que se segue norestante do texto. A promessa implcita que o modelo terico desenvolvido no texto permitir aosestudantes entender os problemas econmicos atuais de bvia importncia em todo o mundo.

    III. Ferramentas, conceitos e hipteses fundamentais

    1. Ferramentas e conceitosO Captulo 1 no apresenta qualquer ferramenta analtica. Contudo, obriga os estudantes a se defron-tarem com alguns dados bsicos e mostra algumas fontes de dados para vrias regies do mundo.Alm disso, o captulo expe e define resumidamente os conceitos de produto, crescimento, taxa dedesemprego e taxa de inflao. Estes termos sero definidos com mais preciso no Captulo 2.

    2. HiptesesNo Passeio pelo mundo est implcito o pressuposto de que possvel utilizar as mesmas ferra-mentas macroeconmicas para analisar economias de todo o mundo. Pode ser interessante explici-tar isto. O esquema macroeconmico desenvolvido no texto no seria nem muito til nem atraentecomo teoria se se aplicasse apenas aos Estados Unidos e no a outras economias de mercado.

    IV. Sumrio do contedo

    1. Desempenho macroeconmico dos Estados UnidosAps a recesso (um perodo de crescimento negativo do produto) encerrada em 1991, os EstadosUnidos vivenciaram um longo perodo de expanso (crescimento positivo do produto). Na pocaem que escrevemos, as taxas de desemprego e inflao encontravam-se em patamares relativamentebaixos quando comparados a seus valores mdios a partir de 1960. Ao mesmo tempo, a bolsa de va-lores passava por uma fase de intensa euforia.

    Um passeio pelo mundo 3

  • A questo a provvel durao dessa combinao de circunstncias. Muitos economistas acre-ditam que o prolongado perodo de baixas taxas de desemprego acabar por criar presses de sal-rios e preos e aumentar a inflao o aumento dos preos. Nesse caso o Fed pode decidir apertar apoltica monetria, o que pode levar a uma recesso. Do mesmo modo, se as aes estiverem sobre-valorizadas nas bolsas de valores, como acreditam alguns economistas, uma queda pode provocaruma recesso.

    Outra preocupao a crescente desigualdade salarial. A partir do incio da dcada de 1980 eat meados da dcada seguinte, os salrios reais (salrios monetrios corrigidos pela inflao) au-mentaram muito mais para alguns trabalhadores do que para outros. Por exemplo, os salrios reaisaumentaram em cerca de 1% ao ano no caso de trabalhadores com instruo de terceiro grau, masdiminuram em cerca de 1% para aqueles que no concluram o segundo grau. O captulo esboa al-gumas das causas para a crescente desigualdade salarial que sero tratadas de modo mais aprofunda-do no Captulo 13.

    Finalmente, mesmo que a economia americana continue em expanso, sua taxa de crescimentomdio caiu de 4% (no perodo 1950-1973) para 2,6% (no perodo 1974-1997).

    2. Desempenho macroeconmico na EuropaOs pases da Unio Europia experimentaram ao longo da dcada de 1990 um crescimento positi-vo, porm relativamente baixo, e ao mesmo tempo registraram inflao reduzida e alta taxa de de-semprego (em relao Europa da dcada de 1960 e aos Estados Unidos hoje). O debate sobre as so-lues para o alto desemprego caracteriza-se por duas opinies opostas a primeira defende umapoltica monetria mais ativa para estimular o crescimento do produto, enquanto a segunda defen-de alteraes nas instituies do mercado de trabalho no sentido de promover maior flexibilidadenesse mercado. Ao mesmo tempo a Unio Europia est em meio a uma grande experincia de cons-truo de uma moeda nica. Embora isso possa reduzir as ineficincias transacionais associadas aouso de diferentes moedas nacionais, isso eliminar a liberdade que cada pas tem de aplicar a polticamonetria para estimular a produo e reduzir o desemprego. No futuro, um nico grupo de for-muladores de poltica monetria conduzir uma poltica nica para toda a Europa, de maneira bemsemelhante adotada pelo Conselho do Fed em relao a todos os estados que formam os EstadosUnidos.

    3. Desempenho macroeconmico da siaNos ltimos trinta anos, vrias das economias asiticas alcanaram altas taxas de crescimento,quando comparadas ao resto do mundo. Contudo, em meados da dcada de 1990 vrios problemassurgiram. No Japo, o aumento do produto arrefeceu substancialmente e as taxas de desempregoatingiram nveis recorde (para o Japo). Muitos analistas atribuem o fraco desempenho da econo-mia a um colapso das bolsas de valores e dos preos dos imveis verificado no incio daquela dcada.De acordo com este argumento, a reduo nos preos dos ativos diminuiu o valor dos ativos dosbancos japoneses e limitou sua capacidade de fornecer crdito. No esto claras as solues para ofraco desempenho da economia. Polticas fiscais e monetrias expansionistas at agora no surtiramefeito.

    Em 1997, vrias outras economias asiticas passaram por crises econmicas, caracterizadas pelarpida depreciao da taxa de cmbio, a queda brusca dos preos dos ativos e das taxas de cresci-mento. Em alguns casos queda nas taxas de crescimento foi grave. O PIB real da Indonsia caiu de4,6% em 1997 para 13,7% no ano seguinte (Fonte: IMF World Economic Outlook, maio de1999). Tailndia, Malsia, Coria e Hong Kong tambm registraram profunda recesso em 1998.O debate sobre as causas da crise asitica gira em torno de dois extremos. Um dos lados culpa o com-portamento especulativo dos mercados financeiros; o outro argumenta que estes apenas estavam

    4 Um passeio pelo mundo

  • reagindo a problemas econmicos decorrentes de erros fundamentais da poltica econmica espe-cialmente no que se refere regulao bancria e corrupo daquelas economias.

    Finalmente, a China registrou rpido crescimento nos ltimos vinte anos, mas ainda permanecepobre em termos per capita. Ainda assim, dado seu tamanho, a China est se tornando uma das prin-cipais potncias econmicas do mundo.

    V. Didtica1. Pontos a esclarecerUma questo sutil apresentada na exposio dos dados macroeconmicos a diviso do perodops-guerra em duas fases, uma anterior e outra posterior a 1973. Poucos dos estudantes de gradua-o de hoje tero nascido antes de 1973; portanto, seria interessante fazer uma breve referncia crise do petrleo (bem como ao colapso final do sistema de taxas de cmbio fixas) como forma deapresentar-lhes episdios histricos fundamentais da macroeconomia.

    2. Seqncia alternativaProduto, desemprego e inflao no sero definidos precisamente at o Captulo 2. Alguns profes-sores podem preferir, ento, falar primeiro das definies apresentadas nesse captulo e dos moti-vos que levam os macroeconomistas a se preocupar tanto com essas variveis, antes de tratarem docontedo deste captulo.

    3. Dinamizao da aulaEm lugar de comear com a pergunta motivadora deste captulo, o professor poderia perguntar aosalunos o que eles esto esperando aprender na disciplina. A partir das respostas, ser possvel esbo-ar o contedo do curso e definir o escopo da macroeconomia. Da mesma forma, em vez de pren-der-se aos fatos apresentados no captulo, o professor poder pedir aos estudantes que levantem fa-tos relativos a pases de seu interesse.

    Outra alternativa comear a aula sobre este captulo (e o curso) perguntando se o Fed deveriaaumentar as taxas de juros1 e apresentar opinies alternativas ilustradas por recortes de jornal ourespostas dos estudantes. Alm de mostrar a macroeconomia como uma disciplina vvida e por ve-zes polmica, esta abordagem tambm apresenta aos alunos uma questo central da poltica macro-econmica dos Estados Unidos e relaciona o curso aos tpicos atuais.

    VI. ExtensesO Passeio pelo mundo apresentado neste captulo no inclui pases em desenvolvimento situadosfora da sia ou as economias em transio da Europa Oriental. O Captulo 24 trata das economiasem transio. Quanto s economias em desenvolvimento, as preocupaes macroeconmicas con-tinuam sendo a obteno de um crescimento econmico duradouro, a reduo da pobreza, e a com-binao entre ajustamento externo e estabilidade cambial. Em princpio, o Banco Mundial cuidadas duas primeiras questes e o Fundo Monetrio Internacional da terceira. Ambas instituies tmsido bastante criticadas em anos recentes. O FMI, em particular, foi condenado por vrios destaca-dos economistas internacionais pela maneira com que lidou com a crise asitica. O Captulo 24 tra-ta da questo com maior profundidade.

    Um passeio pelo mundo 5

    1 Quando estvamos escrevendo (agosto de 1999), o Fed tinha acabado de implementar um esperado aumento das taxas dejuros. Se e como o Fed agiria para apertar, no futuro, a poltica monetria foi um ponto de debate.

  • Embora no seja rigorosamente uma extenso, os professores podem desejar suplementar ocontedo do Captulo 1 com uma reviso das distines entre economia positiva e normativa ecomo esta ltima pode levar os economistas que concordam com os fatos a apresentar prescriesde poltica diferentes. Os professores tambm podem lembrar aos estudantes as dificuldades en-frentadas por economistas e outros cientistas sociais dada a impossibilidade de conduzir experi-mentos controlados. Na primeira edio do livro, o Captulo 1 tratava destas questes.

    VII. Observaes e exercciosAs taxas mdias de crescimento caram nos Estados Unidos, na Europa e no Japo. Talvez seja maisdo que coincidncia. Uma questo em aberto se a queda nas taxas de crescimento se aplica s eco-nomias asiticas exceto ao Japo. A crise asitica ter sido um desvio temporrio das altas taxas decrescimento ou as taxas mdias de crescimento da regio sero menores aps a crise do que antes?

    6 Um passeio pelo mundo

  • Captulo 2. Este livro: Viso geral

    I. Perguntas motivadoras

    1. Como os economistas definem produto, taxa de desempregoe taxa de inflao, e por que os economistas se preocupamcom essas variveis?Produto e taxa de desemprego so definidos da forma costumeira. Quanto taxa de inflao, soapresentadas duas definies alternativas: variao percentual do deflator do PIB e variao per-centual do IPC. No captulo, a relao entre produto e padro de vida fica implcita. Os economis-tas se preocupam com a taxa de desemprego porque os desempregados sofrem, sobretudo quandopermanecem nessa situao por longos perodos e porque essa taxa permite verificar se a economiaest crescendo muito rpido ou muito devagar (os conceitos sero definidos com maior preciso emcaptulos posteriores). A inflao apresenta trs conseqncias principais: reduz a renda dos que re-cebem quantias nominais fixas, distorce os preos relativos at o ponto em que algumas variveisnominais no mais se ajustam e cria incerteza quanto ao nvel dos preos relativos.

    2. Que fatores afetam o produto no curto, no mdioe no longo prazos?Este captulo apresenta o marco de referncia temporal do livro. No curto prazo (um horizonte depoucos anos), a demanda o principal determinante do produto. No mdio prazo (uma ou duas d-cadas), o produto determinado pelo nvel tecnolgico e pela dimenso do estoque de capital, queso, ambos, mais ou menos fixos. No longo prazo (meio sculo ou mais), o produto determinadopelo progresso tecnolgico e pela acumulao de capital.

    II. Por que a resposta importanteOs estudantes precisam de uma definio formal das principais variveis macroeconmicas antes depoderem analis-las. O captulo oferece informaes suficientes para que os estudantes comecem aexaminar os dados macroeconmicos de forma rudimentar. Alm disso, algum conhecimento dosmotivos que levam os economistas a se preocupar com estas variveis, particularmente a inflao, til para orientar os estudantes. Sem que se tenha tratado dos custos da inflao, por exemplo, oatual debate sobre o fato da taxa de desemprego estar baixa demais parece absurdo.

    III. Ferramentas, conceitos e hipteses fundamentais

    1. Ferramentas e conceitosa. O Captulo 2 apresenta duas ferramentas econmicas gerais: diagramas de disperso e nme-ros-ndices.

    Este livro: Viso geral 7

  • b. O captulo define formalmente os conceitos bsicos de PIB nominal e real, crescimento doPIB, deflator do PIB, taxa de desemprego, IPC e taxa de inflao bem como conceitos associa-dos como valor agregado, insumos intermedirios, fora de trabalho e taxa de participao.Todos estes conceitos so definidos da maneira habitual.

    c. Dois mtodos empricos a Lei de Okun e a Curva de Phillips so apresentados na forma dediagramas de disperso. Estas relaes empricas ligam as trs variveis primrias da macroeco-nomia o produto, a taxa de desemprego e a taxa de inflao e estabelecem as difceis escolhascom que se deparam os formuladores de poltica econmica que tentam reduzir a inflao ou odesemprego.

    d. O captulo apresenta as distines entre curto prazo, mdio prazo e longo prazo da maneiradefinida na Parte I. A distino constitui a estrutura terica do livro.

    IV. Sumrio do contedo

    1. Produto agregadoAt o Captulo 18, o livro considera uma economia fechada; portanto, o produto igual ao PIB. Oproduto tem trs definies equivalentes: (1) valor dos bens e servios finais produzidos durantedado perodo; (2) somatrio do valor adicionado durante dado perodo; e (3) somatrio das rendasprovenientes do trabalho e do capital, mais impostos indiretos.

    Partindo da primeira definio, o PIB nominal calculado a preos correntes. O PIB real oproduto calculado a preos constantes. Se a economia produzisse apenas um bem digamos, auto-mveis e esses bens permanecessem inalterados ao longo do tempo, seria possvel medir o PIB realsimplesmente pela contagem do nmero de automveis produzidos a cada ano. Ou se pode multi-plicar o nmero de automveis por algum preo constante digamos, o preo em algum ano-base.Assim, no ano-base, o PIB real e o nominal seriam idnticos. Na prtica, a construo do PIB real en-volve duas implicaes. Primeira, como a economia produz muitos bens, preciso decidir comoponderar o valor das quantidades produzidas de cada bem para chegar ao PIB real agregado. Segun-da, o leque de bens produzidos muda ao longo do tempo bem como a qualidade dos bens. O Apn-dice ao Captulo 2 discute a questo com mais pormenores. Os economistas que calculam o PIB ten-tam se dar conta da mudana na qualidade dos bens por meio da determinao hednica dos preos,uma tcnica economtrica que estima o valor de mercado das caractersticas de um bem velocida-de, durabilidade e assim por diante.

    A taxa de crescimento do PIB real (nominal) a taxa de variao do PIB real (nominal). Os pe-rodos de crescimento positivo do PIB so chamados expanso; os perodos de taxas negativas soas recesses.

    2. Desemprego e inflaoa. A taxa de desemprego e a lei de OkunUma pessoa desempregada algum que no tem emprego, mas procura um. A fora de trabalho osomatrio dos que tm empregos, os empregados, e dos desempregados. A taxa de desemprego oquociente dos desempregados em relao fora de trabalho. As pessoas em idade de trabalhar queno tm emprego nem o esto procurando esto fora da fora de trabalho. A taxa de participao o quociente entre a fora de trabalho e a populao em idade de trabalhar.

    Os economistas preocupam-se com o desemprego por duas razes. A primeira que os desem-pregados sofrem. O quanto sofrem depende de uma srie de fatores, incluindo a generosidade doauxlio desemprego e a durao do mesmo. Nos Estados Unidos, a durao mdia do desemprego

    8 Este livro: Viso geral

  • relativamente curta, mas alguns grupos (como minorias tnicas, jovens e pessoas menos qualifica-das) tendem a ser mais suscetveis ao desemprego e a permanecer nessa situao por mais tempo. Se-gunda razo, a taxa de desemprego ajuda os formuladores da poltica econmica a avaliar o ritmoem que a economia cresce. Na maioria dos pases h uma relao entre a taxa de crescimento doproduto e a mudana na taxa de desemprego. Quando o produto cresce muito, a taxa de desempre-go se reduz; quando o crescimento do produto lento, a taxa de desemprego diminui. Esta relao chamada lei de Okun, o economista que a verificou oferece aos formuladores da poltica algumaorientao quanto velocidade do crescimento do produto. Se esses formuladores acreditam que ataxa de desemprego muito alta, eles precisam gerar crescimento relativamente alto do produto,para reduzi-la Quando consideram que a taxa de desemprego muito baixa precisam tomar medi-das para desacelerar o crescimento a fim de aumentar o desemprego. Uma discusso mais profundado que seja uma taxa de desemprego demasiado alta ou demasiado baixa ser feita em captulo pos-terior.

    b. Taxa de inflao e curva de Phillips

    A taxa de inflao a taxa de crescimento do nvel agregado dos preos. Como a economia produz econsome muitos produtos, calcular o nvel geral de preos no uma tarefa trivial. Os macroecono-mistas recorrem a duas medidas principais do nvel de preos agregado. A primeira, o deflator doPIB, o quociente entre PIB real e nominal. Como o PIB nominal difere do real apenas porque ospreos de qualquer ano dado so diferentes daqueles vigentes no ano base, o deflator do PIB ofereceuma medida do nvel mdio de preos em relao ao ano-base. Dada a construo do PIB, o deflatordo PIB ser igual a um no ano-base. Como a escolha do ano-base arbitrria, o nvel do deflator doPIB no bem definido. Contudo, a taxa de variao do PIB est bem definida. Uma das medidas deinflao a taxa de variao do deflator do PIB. Medidas com nveis arbitrrios, mas cujas variaesso bem definidas, so chamadas nmeros-ndices. O deflator do PIB um nmero-ndice.

    Uma medida alternativa do nvel de preos o ndice de Preos ao Consumidor outro nme-ro-ndice. Nos Estados Unidos, esta medida se alicera em pesquisas de preos feitas em vrias cida-des. Os preos de vrios bens so ponderados de acordo com sua participao na mdia das despe-sas de consumo. A construo do IPC e a do deflator do PIB envolvem problemas semelhantes.Tambm possvel medir a inflao como taxa de variao do IPC.

    A relao entre inflao medida pelo deflator do PIB e inflao medida pelo IPC prxima masno perfeita. Intuitivamente, j que o PIB se refere produo, o deflator do PIB mede o preo m-dio dos bens produzidos num pas. O IPC, por outro lado, tenta medir o preo de uma cesta repre-sentativa do consumo privado. Nem todos os bens so produzidos internamente (alguns so impor-tados de pases estrangeiros), e nem todos os bens produzidos no pas so consumidos pelas famliasresidentes no pas (alguns so consumidos pelo governo, outros por estrangeiros e h ainda os queso consumidos por empresas como bens intermedirios).

    Os economistas se preocupam com a inflao porque ela distorce os preos relativos, cria incer-teza quanto aos preos relativos e redistribui a renda. A inflao distorce os preos relativos porquealgumas variveis nominais (como as faixas de tributao) no se ajustam imediatamente ao aumen-to do nvel agregado de preos. A inflao redistribui renda porque algumas transaes envolvempagamentos nominais fixos. Por exemplo, alguns aposentados recebem rendas nominais fixas (em-bora o texto destaque que nos Estados Unidos as pessoas da terceira idade em geral se tenham sadomelhor, em mdia, do que outras pessoas, durante os perodos inflacionrios). Alm disso, algunsemprstimos (como as hipotecas comuns) envolvem pagamentos nominais fixos. Quando as presta-es so fixas nominalmente seu valor real cai com a inflao, de modo que quem tomou o emprs-timo ganha e os credores perdem.

    H uma relao emprica entre taxas de inflao e de desemprego. Quando a taxa de desempre-go supera dado patamar, a taxa de inflao diminui. Quando a taxa de desemprego cai abaixo desse

    Este livro: Viso geral 9

  • patamar, a taxa de inflao aumenta. Nos Estados Unidos, essa relao, chamada de curva de Phil-lips, tem funcionado desde 1970. A curva de Phillips o tema do Captulo 8.

    3. O quadro de referncia bsico da macroeconomiae a organizao do livroOs macroeconomistas observam a economia em termos de trs horizontes. No curto prazo poucosanos a demanda por bens e servios determina o produto. No mdio prazo uma ou duas dcadas o nvel de tecnologia e a grandeza do estoque de capital determinam o produto. Como estas vari-veis se alteram lentamente, uma simplificao til pensar que so fixas no mdio prazo. Finalmen-te, no longo prazo, o progresso tecnolgico e a acumulao de capital so os determinantes funda-mentais do crescimento do produto.

    Os captulos de 3 a 13 esto organizados em torno desses horizontes temporais. O restante do li-vro apresenta extenses (expectativas, a economia aberta) do quadro de referncia bsico, analisaepisdios de desempenho macroeconmico incomumente fraco e estuda o escopo das polticas mo-netria e fiscal.

    V. Didtica1. Pontos a esclarecerO uso de subscritos para indicar tempo ser uma novidade para muitos estudantes. Poder ser tildedicar alguns minutos para esclarecer o assunto logo no incio.

    2. Seqncia alternativaO captulo no detalha a contabilidade da renda nacional. As identidades contbeis relevantes soapresentadas no texto principal medida que se tornam relevantes para a formulao do modeloanaltico. Por exemplo, o Captulo 3 apresenta o lado da despesa das contas, ao explicar a composi-o da demanda agregada. No Apndice 1 apresentado um tratamento completo da renda nacio-nal e das contas sob a tica do produto. Pode ser interessante expor o contedo do Apndice 1 logoaps a primeira seo deste captulo.

    3. Dinamizao da aula difcil tornar animado um captulo que define termos macroeconmicos. Uma das formas de redu-zir o nmero de definies concentrar-se, neste ponto, no produto e deixar as definies de desem-prego e inflao para o Captulo 6, que apresenta o mercado de trabalho e a oferta agregada. A vanta-gem desta abordagem um avano mais rpido rumo cruz keynesiana do Captulo 3. Seu custo oabandono da curva de Phillips, que se relaciona com questes atuais de poltica econmica e a necessi-dade de falar alguma coisa sobre o nvel agregado de preos ao tratar da curva LM no Captulo 5.

    VI. Extenses1. PIB como medida do bem-estarO captulo debate brevemente as razes da preocupao dos economistas com inflao e desempre-go, mas no faz o mesmo em relao ao PIB. Provavelmente, parece bvio que os economistas re-correm ao PIB como um indicador aproximado do bem-estar agregado, mas os professores que de-sejarem podero destacar trs limitaes dessa prtica:

    10 Este livro: Viso geral

  • a. O PIB contabiliza preos e servios a preos de mercado, j que estes refletem o valor relativoque os consumidores lhes atribuem. Contudo, algumas coisas valiosas no so vendidas no mer-cado e, por conseguinte, seus valores devem ser imputados, o que sem dvida introduz algumadistoro. Dois importantes servios que no tm preo de mercado so aqueles fornecidos pelogoverno e as moradias ocupadas por seus proprietrios.

    b. Alguns bens e servios no comercializados no mercado so totalmente excludos do clculodo PIB. Por exemplo, o valor do lazer e o valor dos servios realizados dentro do domiclio noesto includos no PIB. De um ponto de vista mais amplo, poderamos citar liberdades civis eoutros bens polticos.

    c. O PIB no leva em considerao o fato de que parte da riqueza da nao exaurida no proces-so de produo. O PNB corrige isto parcialmente ao subtrair o valor da depreciao do capitalfsico, mas a exausto dos recursos naturais e ambientais ainda omitida. O Departamento deComrcio e outros rgos estatsticos tentaram ajustar o PIB para se darem conta da exaustodos recursos naturais e ambientais, mas no h consenso entre os economistas quanto metodo-logia adequada.

    2. Estoques e fluxos: riqueza e PIBO texto no apresenta os conceitos de estoques e fluxos at o Captulo 4 (Mercados Financeiros).Os professores poderiam faz-lo j neste captulo, distinguindo riqueza nacional (um estoque) dePIB (um fluxo). Uma definio natural de riqueza nacional o valor das terras nacionais (incluindoos recursos naturais) mais o capital fsico e humano e direitos sobre ativos no estrangeiro, em dadoponto do tempo.

    VII. Observaes1. Observaes conceituaisO valor do PIB no lado da despesa igual a seu valor sob a tica da renda. Em outras palavras, a des-pesa agregada idntica renda agregada. Ao destacar este ponto, estaremos preparando os estu-dantes para o Captulo 3, em que Y desempenha dois papis o valor da produo e a renda potencialdas famlias que detm a propriedade dos fatores de produo. Como Y desempenha dois papis,ele aparece dos dois lados da equao do equilbrio do mercado de bens.

    2. Observaes empricasEntre 1960 e 1997, a participao dos servios (em contraposio aos bens) no PIB nominal dosEstados Unidos aumentou de 39% para 54%. Algumas explicaes quanto ao crescimento mais len-to da produtividade e o aumento da desigualdade destacam o aumento na participao dos servios.Por outro lado, em termos de dlares encadeados em 1992, a participao dos servios no PIB semanteve a mesma naquelas duas datas (52%). O uso da metodologia do encadeamento resultou emdiferenas nos clculos. Nos velhos clculos, alicerados no ano-base, a participao dos servios,em dlares de 1982, era de 45% em 1960 e de 51% em 1993. Com a nova metodologia, encadeada,os dados passaram para 52% em 1960 e 54% em 1993. Naturalmente, essas alteraes tambm re-fletem revises nos dados brutos do PIB (Fonte: Economic Report of the President, 1995, 1999).

    Este livro: Viso geral 11

  • Captulo 3. O mercado de bens

    I. Pergunta motivadora

    Como se determina o produto no curto prazo?O produto determinado pelo equilbrio no mercado de bens, isto , pela situao em que a oferta(produo de bens) seja igual demanda. Esta condio sempre determina o produto, mas no curtoprazo, pressupomos que a oferta de bens seja perfeitamente elstica em relao ao preo. Assim, nocurto prazo, o produto efetivamente determinado pela demanda. Alm disso, neste captulo o in-vestimento considerado uma varivel independente da taxa de juros de modo que no h necessi-dade de considerar o equilbrio simultneo no mercado de bens e no mercado financeiro.

    II. Por que a resposta importanteA determinao do produto a principal questo em jogo na teoria macroeconmica. Este captuloapresenta o modelo da cruz keynesiana, que v o mercado de bens isoladamente. A cruz keynesianapermite intuir a formulao e resoluo do modelo, a determinao do produto e o papel da polticafiscal. Os resultados qualitativos, de curto prazo, geralmente sobrevivem em modelos mais compli-cados. O Captulo 4 examina os mercados financeiros isoladamente e no Captulo 5 os dois merca-dos, de bens e financeiro, so combinados para constituir o lado da demanda da economia.

    III. Ferramentas, conceitos e hipteses fundamentais1. Ferramentas e conceitos

    a. O captulo apresenta a notao funcional. Um apndice expe funes com maiores detalhes.

    b. O captulo apresenta a terminologia da modelagem: variveis exgenas e endgenas, equa-es de comportamento, identidades e condies de equilbrio.

    c. O captulo descreve o modelo da cruz keynesiana e termos associados, como propenso(marginal) a consumir, renda disponvel e gastos autnomos.

    d. O captulo apresenta a poltica fiscal.

    2. Hiptesesa. O texto pressupe que a economia gera um nico bem. No livro, esta hiptese mantida du-rante a maior parte do trabalho.

    b. Aps apresentar a identidade da renda nacional, o texto trata da economia fechada. Esta hi-ptese mantida at o Captulo 18.

    c. Para a anlise formal de curto prazo, o texto pressupe que a produo ajusta-se automatica-mente, sem variaes no preo, isto , que a curva da oferta perfeitamente elstica em relaoao preo. Esta hiptese implica um nvel fixo de preos. Embora este captulo no trate do nvel

    12 O mercado de bens

  • de preos, conveniente esclarecer a hiptese dos preos fixos antes de tratar da curva LM nosCaptulos 4 e 5. Esta hiptese ser mantida at o Captulo 6.

    d. Dentro do contexto do curto prazo, a hiptese fundamental do captulo que o investimentono responde taxa de juros. Isto isola o mercado de bens, do mercado financeiro. A hipteseser relaxada no Captulo 5.

    e. Na verdade, o captulo vai alm e pressupe que o investimento seja exgeno. No dependedo produto, nem h investimento em estoques, planejados ou no planejados. O Captulo 5apresenta a dependncia do investimento em relao ao produto. Este captulo apresenta, ver-balmente, as implicaes dinmicas de um ajustamento no planejado nos estoques, emborano o faa de modo profundo.

    IV. Sumrio do contedo1. Composio do PIBDo lado das despesas, o PIB pode ser decomposto em consumo (C), gasto do governo (G), investi-mento fixo (I), exportaes lquidas (X-Q) e investimento em estoques (Is).

    2. Demanda por bensImagine que s haja um bem, e utilize a decomposio do PIB para pensar na demanda por esse bem.Considere que a economia seja fechada, de modo que as exportaes lquidas sejam iguais a zero, eignore o investimento em estoques, que geralmente uma pequena parte do PIB. Ento a demanda(Z) pode ser representada por

    Z = C + I + G (3.1)

    Faa o consumo uma funo linear da renda disponvel (YD), que a renda menos os impostos (T):

    C = c0 + c1(YD) = c0 + c1 (Y T) (3.2)

    O parmetro c0, que representa o quanto ser consumido mesmo que a renda disponvel sejazero, denominado consumo autnomo. O parmetro c1, que representa o aumento do consumopara cada unidade adicional de renda disponvel, denominado de propenso (marginal) a consu-mir. Suponha que as famlias no consumam cada dlar de sua renda adicional, poupando parte, demodo que 0

  • te elstica em relao ao preo. Assim, no curto prazo, o produto totalmente determinado pelademanda. Portanto, podemos escrever a condio de equilbrio Y = Z, como

    Y = c0 + c1(Y T) + I + G (3.4)

    A varivel Y aparece em ambos os lados da equao. Do lado esquerdo, Y representa a produo.Do lado direito, a renda nacional. O Captulo 2 explicou por que essas duas variveis so iguais. O ob-jetivo deste modelo determinar Y, uma varivel endgena. Para resolver o modelo necessrio es-crever Y como funo das variveis exgenas, isto , aquelas que so determinadas fora do modelo.

    Y = [1/(1c1)][c0c1T + I +G] (3.5)

    A equao (3.5) mostra a soluo algbrica e a Figura 3.1 a soluo grfica. No grfico, o equil-brio ocorre no ponto em que a demanda (a curva ZZ) cruza a linha de 45 (isto , a linha ao longo daqual Y = Z).

    A renda de equilbrio o produto de dois fatores o gasto autnomo (o segundo termo entrecolchetes da equao (3.5) e um multiplicador (o primeiro termo entre colchetes). Considere queo gasto autnomo seja positivo1, o que (como c1 < 1) ser verdade a menos que o supervit ora-mentrio, T G, seja muito grande. O multiplicador, que depende do valor da propenso a consu-mir, aparece porque o consumo afetado pela renda. Considere que haja um aumento no consumoautnomo digamos devido a um aumento na confiana dos consumidores. O aumento inicial doconsumo, decorrente da elevao de c0, provoca um aumento na renda. Este aumento na renda pro-voca novo aumento no consumo, o que provoca outro aumento da renda e assim por diante. Assim,o aumento inicial na confiana dos consumidores multiplicado. O efeito multiplicador captaeste efeito. O texto apresenta um modo mais formal de pensar no multiplicador como o limite deuma srie de aumentos fracionrios no consumo. Um quadro mostra tambm que uma queda naconfiana dos consumidores foi responsvel pela recesso de 1991.

    Figura 3.1: Equilbrio no mercado de bens

    14 O mercado de bens

    1 Observe que esta suposio implica que a curva ZZ corta o eixo vertical num ponto maior do que zero. A restrio quec1 < 1, implica que a curva ZZ corta a linha de 45.

    Ponto de equilbrio

    Dem

    anda

    (Z),

    Prod

    uo

    (Y)

    Renda, YY

    Y

    Gastoautnomo

    Inclinao = C1

    ZZDemanda

    Y = Z

    45

  • 4. Investimento igual poupana: uma forma alternativa de pensarsobre o equilbrio do mercado de bensA poupana privada definida como renda disponvel menos consumo, ou

    S = Y T C (3.6)

    Partindo desta definio, podemos expressar a condio de equilbrio do produto (Y = C + I + G)como sendo:

    I = S + (T G) (3.7)

    Numa economia fechada, o investimento igual poupana (dos consumidores) privada (S) maisa poupana do governo (T G). A quantidade T G denominada supervit oramentrio. A quan-tidade (G T) denominada dficit oramentrio.

    5. O governo ser realmente onipotente? Uma advertnciaA condio de equilbrio do produto (3.5) parece implicar que o governo, ao escolher G e T, temcontrole total sobre o nvel do produto. O texto destaca que neste captulo s feita uma anlisepreliminar da poltica fiscal. Captulos posteriores deixaram claras muitas limitaes capacidadede o governo controlar o produto por meio de gastos e impostos.

    6. Apndice: uma introduo econometriaO Apndice 3 faz uma apresentao informal dos mnimos quadrados ordinrios e das variveis ins-trumentais e estima a propenso marginal a consumir, de acordo com cada um dos mtodos.

    V. Didtica1. Pontos a esclarecer

    a. Na fala comum, o termo investimento usado em geral para indicar a aquisio de um ativofinanceiro. Em macroeconomia, investimento refere-se em geral ao investimento fixo, defi-nido como a aquisio de um bem de capital fsico recentemente produzido. Alm disso, em ge-ral investimento refere-se apenas ao investimento em capital fsico das empresas, e no ao in-vestimento fixo residencial a compra de imveis novos para a famlia.

    b. O captulo pressupe que a economia produz apenas um item e o chama de bem. Contudo,o modelo no se limita aos bens fsicos em oposio a servios. Muitas vezes se usa bens parafalar tanto de bens fsicos quanto de servios.

    2. Seqncia alternativaPara simplificar, considera-se que o investimento seja exgeno. O Captulo 5 descreve os efeitos doproduto e da taxa de juros sobre o investimento ao expor o modelo IS-LM. Uma alternativa seriaapresentar, j neste captulo, a dependncia do investimento na taxa de juros e ento pressupor umataxa de juros fixa. Dado que considerar uma taxa de juros fixa essencialmente equivalente a pres-supor que o investimento seja exgeno, esta abordagem afasta um passo (possivelmente) desneces-

    O mercado de bens 15

  • srio no desenvolvimento da estrutura IS-LM. Isso tambm permite tratar precocemente dos efei-tos de variaes na taxa de juros sobre o produto, como uma preparao deduo da curva IS. Poroutro lado, introduzir neste ponto de taxa de juros complica a simplicidade da cruz keynesiana.

    Poderamos ir alm e mostrar, tambm, que o investimento depende do produto. Conceitual-mente, este passo seria um pouco pesado para estudantes que esto vendo pela primeira vez a cruzkeynesiana. Parece que mais adequado comear com o impacto da taxa de juros sobre o investi-mento e ento falar do impacto do produto.

    3. Dinamizao da aulaEste captulo no trata explicitamente de experincias de poltica fiscal. Tratar deles em sala de aularefora conceitos e oferece a oportunidade de relacionar o modelo a debates atuais de poltica eco-nmica. Por exemplo, os professores poderiam discutir os provveis efeitos de uma reduo dos im-postos para devolver s famlias parte do supervit oramentrio. Dependendo da situao econ-mica, o tema poderia ser retomado ao longo do curso. A reao do Fed poderia ser incorporada aoCaptulo 6 que desenvolve o modelo IS-LM; o impacto sobre o desemprego, no Captulo 7, onde seexamina o modelo AD-AS; e mais adiante no Captulo 8, quando se trata da curva de Phillips. Con-tudo, os professores devem ter em mente que exemplos de poltica econmica rapidamente ficamdatados nas mentes dos jovens estudantes de graduao.

    VI. Extenses1. Modelos macroeconmicosAlguns professores podem querer complementar a exposio relativa construo de modelosapresentada no texto fazendo a distino entre forma estrutural e forma reduzida dos mesmos e ex-plicando a exigncia de que o nmero de equaes seja igual ao nmero de variveis exgenas. Aforma estrutural de um modelo organiza seus postulados quanto a comportamento, definies econdies de equilbrio. A forma reduzida de um modelo expressa as variveis endgenas do mes-mo, em termos de variveis exgenas. O nmero de equaes deve ser igual ao nmero de incgni-tas se desejamos que oferea uma explicao completa (no indeterminada) e coerente (no sobre-determinada) do fenmeno em pauta.

    2. Investimento em estoquesComo foi observado na Seo III, alm de algumas poucas palavras, o modelo formal deste captulodeixa de lado o investimento em estoques. Isso simplifica a apresentao e permite identificar a de-manda agregada s vendas finais. Como alternativa, o professor poderia apresentar e fazer distinoentre investimento em estoques desejado e indesejado e caracterizar o equilbrio no mercado debens pela condio de que o investimento indesejado em estoques seja igual a zero. Nesta aborda-gem, de modo geral a demanda agregada no igual s vendas finais.

    3. Poltica fiscalO texto omite vrias questes comuns de poltica fiscal, incluindo o multiplicador do oramentoequilibrado, o papel do imposto de renda e o supervit de pleno emprego como indicador de polti-ca fiscal.

    Os resultados do multiplicador do oramento equilibrado ajudam a ilustrar o conceito de multi-plicador. O efeito imediato de um aumento em G aumentar, no mesmo montante, o produto. Se,contudo, os impostos aumentarem tanto quanto G, no haver impacto sobre a renda disponvel

    16 O mercado de bens

  • (Y-T) e, portanto, nenhuma repercusso sobre o consumo. Assim, o processo do multiplicador se in-terrompe aps o efeito inicial sobre o produto. Em outras palavras, o multiplicador do oramentoequilibrado igual a um.

    A introduo do imposto de renda, definindo T como T = t0+t1Y, implica uma reviso do mul-tiplicador (para 1/[1-c1(1-t1)]) e, portanto, refora a noo de que o multiplicador no uma cons-tante por natureza, mas sim que depende da estrutura do modelo. Alm disso, a introduo do im-posto de renda ilustra o papel do oramento federal como estabilizador automtico e conduznaturalmente a uma apresentao antecipada dos efeitos de uma emenda de oramento equilibradonuma reforma tributria. Finalmente, ao demonstrar que o oramento do governo tem um compo-nente endgeno, o acrscimo do imposto de renda ao modelo levanta questes relativas ao uso dosupervit fiscal como indicador de poltica fiscal.

    Este ltimo ponto motiva debates relativos ao supervit de pleno emprego como indicador al-ternativo de poltica fiscal. O supervit de pleno emprego uma extenso do supervit fiscal co-mum que tenta dar conta dos componentes cclicos do oramento do governo. Contudo, tambmtem suas limitaes; por exemplo, no reflete os diferentes efeitos dos gastos e da tributao sobreas despesas autnomas.

    VII. Observaes1. Observaes conceituais

    i. Os gastos do governo incluem a compra de bens e servios recm-produzidos, mas no os de-sembolsos totais do governo. As transferncias, em particular pagamentos da seguridade so-cial e os juros sobre a dvida pblica , esto excludas. Observe-se ainda que os gastos do gover-no incluem desembolsos em todos os nveis do governo (federal, estadual e municipal) e queparte dos gastos destina-se a bens de capital. Do mesmo modo, os impostos no incluem transfe-rncias e consideram a arrecadao de todos os nveis do governo.

    ii. As importaes so subtradas do PIB, no lado das despesas, porque as categorias de despesasabrangem todas as despesas, incluindo aquelas em bens e servios estrangeiros. Para isolar asdespesas em bens e servios produzidos internamente necessrio subtrair as importaes. Domesmo modo, as exportaes so somadas porque representam gastos em bens e servios pro-duzidos internamente.

    2. Observaes empricasO consumo responde por algo em torno de dois teros do PIB nominal (68% em 1997).

    O mercado de bens 17

  • Captulo 4. Mercados financeiros

    I. Pergunta motivadoraNo curto prazo, como a taxa de juros determinada?A taxa de juros determinada pelo equilbrio no mercado de moeda, isto , pela condio de que aoferta de moeda seja igual sua demanda. Como o texto ignora todos os ativos, exceto ttulos da d-vida e dinheiro, o equilbrio no mercado financeiro equivalente ao equilbrio no mercado de ttu-los de dvida. Neste captulo, a renda nominal considerada como dada, de modo que no precisopreocupar-se com equilbrio simultneo nos mercados de bens e financeiro.

    II. Por que a resposta importanteO investimento funo da taxa de juros (como se ver no Captulo 5), de modo que o produto afetado pela taxa de juros. Alm disso, a determinao da taxa de juros est estreitamente relaciona-da com a poltica monetria. Este captulo considera o PIB nominal, que afeta a demanda por moe-da, como dado, de modo que os mercados financeiros podem ser observados isoladamente do mer-cado de bens. O Captulo 5 tratar da determinao conjunta do produto e da taxa de juros, nocurto prazo.

    III. Ferramentas, conceitos e hipteses fundamentais1. Ferramentas e conceitos

    a. O captulo define variveis de estoque e de fluxo e distingue riqueza (um estoque) de renda(um fluxo).

    b. O captulo apresenta a poltica monetria e descreve as operaes de mercado aberto.

    c. O captulo recorre aos balancetes do Banco Central e dos bancos privados.

    d. O captulo apresenta vrios termos e conceitos associados ao sistema bancrio. Dentre elespodemos mencionar dinheiro, depsitos vista, reservas, moeda do Banco Central (moeda dealta potncia, a base monetria), e o multiplicador da moeda.

    2. Hiptesesi. O captulo pressupe que o PIB nominal seja dado. Mais exatamente, o captulo mantm a hip-tese do nvel de preos fixo do Captulo 3 e acrescenta a hiptese de que a renda real seja dada. OCaptulo 5 tratar da determinao conjunta da taxa de juros e da renda real.

    ii. Para clareza, o captulo supe que dinheiro, ou moeda manual, e ttulos de dvida so os ni-cos ativos disponveis e que o dinheiro no rende juros. Na seo em que trata do sistema banc-rio, a moeda se divide em dinheiro e depsitos vista. A hiptese de que o dinheiro no rendejuros mantida em todo o livro, exceto por alguns breves comentrios e exerccios. Os captulosposteriores trataro de outros ativos financeiros aes e ttulos com diferentes prazos de ven-cimento e capital fsico.

    18 Mercados financeiros

  • IV. Sumrio do contedo

    1. Moeda versus ttulosImagine que o mercado financeiro s inclua dois ativos moeda, que pode ser utilizada para a aqui-sio de bens e servios e no rende juros, e ttulos que no podem ser utilizados em transaes masque rendem uma taxa de juros positiva, i. A riqueza financeira igual soma de moeda e ttulos.

    A riqueza financeira uma varivel de estoque, isto , uma varivel cujo valor pode ser medidoem qualquer ponto do tempo. A riqueza financeira de uma pessoa varia ao longo do tempo pelapoupana e pela despoupana, mas em qualquer momento dado a riqueza financeira fixa. A pou-pana uma varivel de fluxo, isto , uma varivel cujo valor s tem sentido se expressa por unidadede tempo. A renda tambm um fluxo. Falamos de renda anual ou renda mensal.

    A cada momento, as famlias precisam decidir como alocar sua dada riqueza financeira entremoeda e ttulos. Como a riqueza financeira fixa, uma vez conhecida a riqueza financeira, tambmconhecemos a demanda por ttulos, e vice-versa. Assim, o captulo restringe nossa ateno deman-da por moeda.

    Por hiptese, a moeda necessria para as transaes. Embora seja difcil medir o nvel geral dastransaes da economia, parece razovel considerar que o nvel de transaes seja proporcional renda nominal, denotada por $Y. Portanto, a demanda por moeda deveria ser proporcional a $Y.Por outro lado, quando se aloca riqueza moeda, abre-se mo dos juros. Em conseqncia, a de-manda por moeda deveria diminuir com o aumento da taxa de juros. Relacionando estas observa-es, o captulo especifica que a demanda por moeda

    Md = $YL(i) (4.1)

    onde a funo L diminui com o aumento da taxa de juros.

    2. Determinao da taxa de juros IImagine que toda a moeda seja dinheiro; logo, no h nem depsitos vista nem bancos. Considereque a oferta de moeda esteja sob total controle do Banco Central e que a renda nominal seja dada.Ento o equilbrio no mercado financeiro ocorre quando a oferta de moeda (M) igual demandapor moeda (Md) dada na equao (4.1). A Figura 4.1 ilustra a soluo.

    Um aumento na oferta de moeda desloca a linha vertical para a direita, resultando num novoequilbrio a uma taxa de juros menor. A fim de induzir o setor privado a deter mais moeda, os ttulosdevem se tornar menos atrativos (a taxa de juros deve cair). Um aumento na renda nominal (paradada oferta de moeda) desloca a curva de demanda para a direita e determina um novo equilbrio auma taxa de juros mais elevada. O aumento da renda nominal aumenta a demanda por moeda taxade juros original. Uma vez que a oferta de moeda no se altera, algo deve ocorrer para compensar oaumento na demanda. O aumento na taxa de juros torna os ttulos mais atraentes e compensa o au-mento na demanda por moeda provocado pelo aumento da renda.

    Como o Banco Central controla a oferta de moeda? Considere o balancete do Banco Central. Odinheiro em poder do pblico constitui o passivo do Banco Central. Os ativos do Banco Central soos ttulos que este possui. Para aumentar a oferta de moeda, o Banco Central cria dinheiro paracomprar ttulos, aumentando assim seus ativos (mediante o acrscimo de ttulos) e passivos (me-diante a nova moeda criada e sua troca por ttulos). Para reduzir a oferta de moeda, o Banco Centralvende ttulos em troca do dinheiro existente, reduzindo assim os ativos (pela venda dos ttulos) e ospassivos (pela reduo do dinheiro em poder do pblico em geral). As compras e vendas de ttulosdo Banco Central so chamadas operaes de mercado aberto.

    Mercados financeiros 19

  • Figura 4.1: Equilbrio no mercado de moeda

    3. Determinao da taxa de juros IIAmplie a definio de moeda a fim de incluir dinheiro (CU), mais depsitos vista (D). Defina moe-da do Banco Central (tambm conhecida como moeda de alta potncia ou base monetria) como H= CU+R, onde R representa as reservas bancrias. Supondo que o pblico mantm uma proporofixa, c, de moeda sob a forma de dinheiro e que os bancos mantenham uma frao fixa, dos depsi-tos, como reserva, reescreva a base monetria como

    H = CU+R = cMd+(1-c)Md = [c+(1-c)]$YL(i)

    O que implica que

    M =H/[c+(1-c)] = $YL(i) (4.2)

    A expresso 1/[c+(1-c)] denominada multiplicador monetrio. A oferta de moeda igual moeda do Banco Central vezes o multiplicador. Como se considera que c e no variam, o BancoCentral pode controlar a oferta de moeda controlando H. A oferta de moeda uma reta vertical noespao M-i, e a anlise do mercado financeiro pode prosseguir conforme a Figura 4-1.

    V. Didtica

    1. Pontos a esclarecerProvavelmente, ser prudente considerar que muitos estudantes de graduao nunca viram um ba-lancete. Algumas palavras explicativas sero teis.

    20 Mercados financeiros

    Taxa

    deju

    ros,

    iMs

    M = $YL( )d i

    MMoeda, M

  • 2. Seqncia alternativaA taxa de juros no foi includa na apresentao do mercado de bens (Captulo 3). Portanto, nesteponto do texto, parece que a taxa de juros est separada da determinao do produto real. Como foivisto na Seo V do Captulo 3 do Manual do Professor, uma alternativa apresentar a dependnciado investimento da taxa de juros j no Captulo 3, e pressupor uma taxa de juros fixa.

    Outra opo apresentar parte do contedo do Captulo 26, dedicado poltica monetria, jnas aulas dedicadas ao presente captulo. Alguns dos fatos bsicos sobre a estrutura da reserva fede-ral podem ser teis para orientar os estudantes. Alm disso, o professor pode preferir apresentar ataxa de redesconto como uma ferramenta de poltica monetria e distingui-la de outras ferramentas operaes de mercado aberto e exigncia de reservas. Os professores podem tambm tratar do ex-cesso de reservas e da taxa de juros dos fundos federais.

    3. Dinamizao da aulaA experincia mostra que os estudantes de graduao se interessam mais por contedos relaciona-dos aos mercados financeiros do que ao produto, inflao e ao desemprego principalmente quan-do a inflao ou o desemprego so reduzidos. Um debate relacionando o contedo do captulo po-ltica monetria atual (talvez com alguma rpida meno reao das bolsas a essa poltica) poderiainteressar os estudantes.

    Outra sugesto trazer para a aula a seo de taxa de juros de algum jornal econmico. Alm detornar essas informaes um pouco mais acessveis aos estudantes, esta estratgia daria oportunida-de de se falar na relao inversa, entre preos e taxa de juros. Essa relao consta do texto.

    VI. Extenses

    1. Restrio do balanoPara esclarecer a relao entre o mercado de ttulos e o equilbrio no mercado de moeda, pode serinteressante explicitar mais um pouco as implicaes da restrio do balano. Esta restrio podeser assim definida

    Md+Bd = Riqueza financeira = M+B, ou

    (Md M) = (B Bd)

    Em outras palavras, o excesso de demanda por moeda deve ser igual ao excesso de oferta de t-tulos. Quando um dos mercados se ajusta, o outro tambm deve se ajustar.

    2. Funo de demanda por moedaEste captulo pressupe uma funo de demanda por moeda na forma Md = $YL(i) = PYL(i). Umaalternativa mais geral seria Md = L($Y, i). A forma funcional considerada no captulo permite umarpida converso para demanda real de moeda atravs da diviso da expresso pelo nvel de preos.A apresentao de uma forma mais geral exige explicar aos estudantes que a demanda por moedadeveria ser homognea de grau um em P. Por outro lado, essa alternativa torna claro o que est sen-do pressuposto, e refora o entendimento de uma prtica bsica de economia, a saber, a seleo deformas funcionais convenientes.

    Mercados financeiros 21

  • VII. Observaes1. Observaes conceituais

    a. O captulo trata de decises de portflio do pblico no-bancrio. A oferta de moeda refe-re-se quantidade de moeda em mos do pblico no-bancrio (isto , nem governo, nem Ban-co Central, nem bancos comerciais).

    b. A demanda de moeda refere-se a uma deciso de portflio, a quantidade de riqueza dada queo pblico no-bancrio deseja manter sob forma de moeda, em oposio a ttulos. A demandapor moeda no se refere demanda por renda ou por riqueza.

    c. O Banco Central no cria ttulos, apenas moeda. Conduz operaes de mercado aberto comttulos do governo. O estoque de ttulos do governo, em circulao, a dvida do governo (nalinguagem popular, nacional), que conseqncia de dficits fiscais passados. As operaes emmercado aberto rateiam esta dvida entre o Banco Central e o setor privado.

    2. Observaes empricasa. O texto observa que a relao de M1 para o PIB nominal caiu de 27% em 1960 para 13% em1997. No mesmo perodo, a razo de M2 para o PIB nominal tambm caiu (de 59% para 50%),mas a relao entre M3 e o PIB nominal aumentou (de 60% para 66%). Esses agregados mone-trios so mencionados neste captulo e tratados com mais profundidade no Captulo 26.

    b. Como observa o texto, o Fed pode fixar o coeficiente de reservas entre 7% e 22%. Atualmen-te, esse coeficiente de cerca de 10%.

    c. Em julho de 1999, o dinheiro respondia por cerca de 44% de M1. (Fonte: Federal ReserveRelease H.6) Junto com um coeficiente de reservas de 10%, isto implica 0um multiplicador mo-netrio de cerca de 2.

    22 Mercados financeiros

  • Captulo 5. Mercados de bens efinanceiros: a IS-LM

    I. Pergunta motivadora

    Como produto e taxa de juros so determinados simultaneamente nocurto prazo?O produto e a taxa de juros so determinados pelo equilbrio simultneo nos mercados de bens e fi-nanceiro. No curto prazo, supomos que a oferta seja infinitamente elstica em relao ao preo (isto, o preo fixo), de modo que o produto determinado pela demanda.

    II. Por que a resposta importanteA determinao do produto a questo fundamental da macroeconomia. A taxa de juros afeta oproduto (por meio do investimento) e o produto afeta a taxa de juros (por meio da demanda pormoeda), por isso necessrio considerar a determinao simultnea do produto e da taxa de juros.

    III. Ferramentas, conceitos e hipteses fundamentais

    1. Ferramentas e conceitosi. O captulo apresenta o modelo IS-LM.

    ii. O captulo apresenta a opo da escolha de combinaes de polticas alternativas para atingirobjetivos macroeconmicos.

    iii. O captulo apresenta o uso de + e acima (ou abaixo) dos argumentos de uma funopara indicar o efeito de um aumento no valor do argumento sobre o valor da funo.

    2. Hiptesesi. O captulo mantm as hipteses de preos fixos dos captulos anteriores, mas relaxa ashipteses de que o investimento independe da taxa de juros (como considerava o Captulo3) e de que a renda nominal dada (mantida no Captulo 4). Agora o investimento depen-de do produto. O que este captulo procura mostrar como se relacionam os mercados debens e financeiro e, portanto, como o produto e a taxa de juros so determinados simulta-neamente.

    ii. O captulo continua pressupondo que o investimento em estoques nulo e que a economia fechada.

    Mercados de bens e financeiros: a IS-LM 23

  • IV. Sumrio do contedo1. O mercado de bens e a relao ISPrimeiro, relaxe-se a hiptese de que o investimento endgeno. Em termos do modelo exposto ataqui, o investimento deveria depender de dois fatores: vendas e taxa de juros. Uma empresa que sedepara com aumento das vendas ter que comprar novas instalaes, equipamentos, ou ambos,para aumentar a produo. Conseqentemente, o investimento aumenta quando aumentam as ven-das. Um aumento na taxa de juros aumentar o custo dos emprstimos necessrios para a compra denovas instalaes e equipamentos. Ento, o investimento diminui quando a taxa de juros aumenta.Estes pontos descrevem uma funo de investimento da seguinte forma:

    + I = I(Y, i) (5.1)

    Embora a exposio sugira que o investimento depende mais das vendas do que da renda, o in-vestimento continua mantendo a hiptese de que o investimento em estoques nulo, de modo que arenda seja igual s vendas.

    Com a funo de investimento revista, a condio do equilbrio no mercado de bens, em umaeconomia fechada, se torna

    Y = C(YT)+I(Y,i)+G (5.2)

    Dada a taxa de juros, a anlise da cruz keynesiana do Captulo 3 se mantm com duas ressalvas.Primeiro, a demanda por bens e servios (o lado direito da equao (5.2)) no mais linear. Segun-do, para assegurar o equilbrio (isto , que a curva ZZ cruze a reta de 45) necessrio uma pressu-posio adicional. Para este propsito uma hiptese suficiente que a soma da propenso (margi-nal) a consumir e a propenso (marginal) a investir sejam menores do que um.

    A equao (5.2) denominada relao IS, porque (como mostra o Captulo 3) o equilbrio nomercado de bens equivale condio de que o investimento seja igual poupana. Para plotar umacurva IS, comece pela cruz keynesiana a uma taxa de juros dada, depois varie essa taxa. Uma redu-o na taxa de juros aumenta o nvel dado de investimento para qualquer nvel de produto, e por-tanto desloca para cima a curva ZZ. Em conseqncia, o produto aumenta. Deste modo, a curva IStem uma inclinao negativa no espao Y-i (Figura 5.1).

    2. Mercado financeiro e relao LMComece pela condio de equilbrio no mercado de moeda do Captulo 4, a renda nominal pode serrepresentada por PY (onde P o nvel de preos) e divida por P para obter a condio de equilbrioem termos reais:

    M/P = YL(i) (5.3)

    O equilbrio no mercado real de moeda representado pelo mesmo grfico apresentado no Ca-ptulo 4, mas a oferta nominal de moeda (M/P) substituda pela oferta real de moeda (M). O captu-lo mantm a hiptese do preo fixo e, exceto por detalhes de poltica monetria, considera que Mseja controlada pelo Banco Central.

    24 Mercados de bens e financeiros: a IS-LM

  • A equao (5.3) chamada de relao LM (Liquidez-Moeda). Para represent-la graficamentecomece com o grfico do equilbrio do mercado financeiro e varie Y. O Captulo 4 demonstrou queum aumento na renda nominal aumenta a taxa de juros. Como os preos so dados, bvio que umaumento na renda real ter o mesmo efeito. Portanto, a curva LM tem uma inclinao positiva noespao Y-i (Figura 5.1).

    3. O modelo IS-LM: exercciosOs valores de equilbrio de i e de Y so aqueles que satisfazem simultaneamente s condies deequilbrio do mercado de bens (5.2) e financeiro (5.3). Graficamente, esses valores so determina-dos pelo ponto de interseo de IS e de LM, como ilustra a Figura 5.1.

    Figura 5.1: Modelo IS-LM

    As variaes nos valores de equilbrio do produto e da taxa de juros (Y* e i*) s so atingidas emconseqncia de deslocamentos da curva IS, da curva LM, ou de ambas. Um aumento na oferta demoeda, que desloca para a direita a curva LM, aumenta o produto de equilbrio e reduz a taxa de ju-ros de equilbrio. Um aumento nos impostos (ou uma reduo nas despesas do governo), que deslo-ca a curva IS para a esquerda, reduz o produto de equilbrio e a taxa de juros de equilbrio. O textodestaca que um aumento nos impostos ter um efeito ambguo sobre o investimento, pois o efeitosobre o produto tende a reduzir o investimento mas o efeito da taxa de juros tende a aument-lo. Demodo mais geral, embora a reduo do dficit aumente a poupana pblica (do governo), no au-menta necessariamente o investimento, porque a poupana privada endgena.

    4. Uso de uma combinao de polticasO texto considera as conseqncias da combinao de polticas fiscais e monetrias por meio dedois exemplos. A reduo do dficit no primeiro mandato do presidente Clinton oferece um exem-plo de poltica fiscal contracionista combinada a poltica monetria expansionista. A reunificaoalem oferece um exemplo de poltica fiscal acoplada poltica fiscal contracionista.

    Mercados de bens e financeiros: a IS-LM 25

    Produto, Y

    LM

    IS

    Taxa

    deju

    ros,

    i

    i*

    Y*

  • 5. Dinamizando a descrioPara apresentar dinmica, o texto considera que o mercado financeiro ajusta-se s perturbaesmuito mais rapidamente do que o mercado de bens. Mais exatamente, o texto supe que a econo-mia sempre opera na curva LM, mas que pode operar fora da curva IS enquanto se ajusta a um novoequilbrio. Assim, se houver um deslocamento da curva IS (mas a curva LM se mantiver invarivel),a economia se mover gradualmente ao longo da curva LM, do equilbrio inicial para o novo equil-brio. Se a curva LM se deslocar (sem que IS se mova), a taxa de juros imediatamente pular para anova curva LM. Com o correr do tempo, a economia deslizar ao longo da nova curva LM at che-gar ao novo equilbrio. Est ltima anlise implica que uma mudana na poltica monetria (ouqualquer deslocamento da curva LM) levar a taxa de juros a ultrapassar* seu equilbrio final. O ca-ptulo observa este fato, sem usar o termo ultrapassagem, que s ser apresentado no Captulo 21,onde se discutem taxas de cmbio.

    6. O modelo IS-LM capta realmente o que ocorre na economia?Como prova da relevncia emprica do modelo IS-LM, o texto comenta os resultados apresentadosem Christiano, Eichenbaum e Evans, The Effects of Monetary Policy Shocks: Evidence From theFlow of Funds, em Review of Economics and Statistics, fevereiro de 1996. O artigo descreve as res-postas dinmicas de vrias importantes variveis macroeconmicas, ao aumento de 1% na taxa dejuros interbancria.

    V. Didtica

    1. Pontos a esclarecer fcil para os economistas experientes passar por cima da sutileza do modelo IS-LM. Os estudantesde graduao que cursam uma disciplina de macroeconomia de nvel intermedirio esto apenasapreendendo a noo de equilbrio num nico mercado, portanto o equilbrio simultneo em doismercados ainda lhes estranho. Dois pontos de ordem geral merecem ateno especial.

    Primeiro, os estudantes precisaro de tempo para entender como funcionam as curvas IS e LM. importante destacar que cada um dos pontos da curva IS representa um equilbrio no mercado debens e que cada ponto da curva LM um equilbrio no mercado financeiro. Em outras palavras, onvel de Y na curva IS associada a qualquer taxa de juros dada resultante da interseo da cruz key-nesiana para essa taxa de juros. Do mesmo modo, o valor de i na curva LM associada a qualquer n-vel de produto dado o ponto onde se cruzam a demanda (real) por moeda e a oferta (real) de moe-da, no grfico do equilbrio do mercado financeiro.

    Segundo, os estudantes podem ficar imaginando por que um aumento na taxa de juros nodesloca a curva LM, uma vez que a taxa de juros afeta a demanda por moeda, ou a curva IS, umavez que a taxa de juros afeta o investimento. Vale a pena destacar que as variveis que aparecemnos eixos do diagrama no podem deslocar curvas nesse mesmo diagrama. Somente as variveisque no aparecem nos eixos podem deslocar curvas. Alm disso, no caso de IS-LM, as variveisdos eixos so variveis endgenas. Mudanas em variveis exgenas, ou parmetros, deslocam ascurvas IS e LM.

    26 Mercados de bens e financeiros: a IS-LM

    * o que o pessoal do mercado financeiro denomina muitas vezes de overshooting, recorrendo expresso em ingls.(N. T.)

  • VI. Extenses1. Parmetros comportamentais, inclinao das curvas IS e LMe eficcia das polticasO texto no trata da inclinao das curvas IS e LM e da influncia dos parmetros comportamentaissobre a eficcia da poltica. Em relao inclinao das curvas, quanto mais sensvel for a demandapor moeda relao entre renda e taxa de juros, tanto mais inclinada ser a curva LM. De formaanloga, quanto mais sensvel for a demanda por bens (C+I+G) relao entre renda e taxa de ju-ros (por meio do investimento), tanto mais inclinada ser a curva IS.

    Quanto eficcia das polticas, h duas opes para ressaltar os pontos bsicos. A primeira es-colher uma simples especificao linear e trabalhar a relao entre o efeito das polticas e dos par-metros comportamentais sobre o produto. A segunda expor a questo de forma heurstica. Porexemplo, considere um aumento nos gastos do governo e avance em trs etapas.

    a. Para cada taxa de juros dada, o efeito da poltica fiscal sobre o produto depender do multi-plicador, modificado agora para incluir o investimento endgeno. Quanto maior o multiplica-dor, isto , quanto mais sensveis forem consumo e investimento ao produto, maior a respostainicial do produto.

    b. Como um aumento em G aumentar Y, elevar tambm a quantidade de moeda demandada acada taxa de juros, e assim aumentar a taxa de juros, a fim de manter o equilbrio no mercadofinanceiro. O aumento da taxa de juros ser pequeno se a demanda por moeda no for muitosensvel renda, mas for muito sensvel taxa de juros. Se a demanda por moeda no for muito sen-svel renda, ento o excesso de demanda por moeda, provocado pela elevao de G, ser pe-queno. Se a demanda por moeda for muito sensvel taxa de juros, o aumento na taxa de jurosnecessrio para restaurar o equilbrio no mercado financeiro ser pequeno.

    c. Finalmente, o aumento na taxa de juros tender a reduzir os investimentos e portanto a com-pensar parte do aumento inicial do produto. Este efeito ser pequeno se o investimento no formuito sensvel taxa de juros.

    Em resumo, a poltica fiscal ter um maior impacto sobre o produto quando o multiplicador foralto, a demanda por moeda no for muito sensvel renda, a demanda por moeda for muito sensvel taxa de juros e o investimento no for muito sensvel taxa de juros.

    Pode-se fazer o mesmo exerccio em relao poltica monetria. Um aumento na oferta de moe-da afeta o produto ao reduzir a taxa de juros e aumentar o investimento. Portanto, um aumento naoferta de moeda tender a exercer grande impacto sobre o produto quando tiver um forte efeito so-bre a taxa de juros, o que ser verdadeiro se a demanda por moeda no for muito sensvel taxa dejuros. Esta ter um grande impacto sobre o produto quando o investimento for muito sensvel taxade juros, o que refora a resposta inicial do produto e, novamente, quando o multiplicador foir alto.O aumento no produto eleva a quantidade de moeda demandada a cada taxa de juros dada, e tendea elevar essa taxa, compensando parte do efeito inicial do aumento na oferta de moeda. Este efeitoser pequeno quando a demanda por moeda no for muito sensvel renda.

    Em suma, a poltica monetria ter maior impacto sobre o produto na medida em que a deman-da por moeda no for muito sensvel taxa de juros, o investimento for muito sensvel taxa de ju-ros, o multiplicador for grande e a demanda por moeda no for muito sensvel renda.

    Esses exerccios so relativamente sofisticados, mas eles deixam claras as relaes entre merca-do de bens e mercado financeiro que se estabelecem por meio da taxa de juros.

    2. Metas para a taxa de jurosDurante a maior parte deste captulo, a poltica monetria descrita implicitamente em termos demetas para a oferta de moeda. Contudo, os resultados da simulao descritos na Seo 5 referem-se

    Mercados de bens e financeiros: a IS-LM 27

  • a um aumento na taxa interbancria. A transio pode ser feita apontando o fato de que o Fed podeoptar por conduzir a poltica monetria fixando uma meta para a taxa de juros e ajustando a ofertade moeda para compensar as alteraes da demanda por moeda provocadas pelas mudanas em Y.Com efeito, esta poltica tornaria a curva LM horizontal taxa de juros visada. Poderamos entoinvestigar quais as conseqncias da alterao na meta para a taxa de juros. esta a anlise que se fazna Seo 5.

    VII. Observaes1. Observaes conceituais

    a. A taxa de juros desempenha um papel fundamental no modelo IS-LM em economia fechada.Primeiro, a taxa de juros o meio pelo qual a poltica monetria afeta o produto. Segundo, o im-pacto da poltica fiscal sobre a taxa de juros limita a capacidade desta para influenciar o produ-to. Quanto a isto, vale a pena comparar os efeitos sobre o produto, de um aumento em G recor-rendo ao modelo da cruz keynesiana (modificado para incluir o investimento endgeno), comos efeitos da mesma poltica no modelo IS-LM. Um aumento em G desloca a curva IS para a di-reita. O deslocamento horizontal taxa de juros inicial a variao do produto a partir da cruzkeynesiana (ver Figura 5.2). Obviamente, este maior do que a variao do produto vista nomodelo IS-LM, a menos que a curva LM seja horizontal. Nos modelos IS-LM, o aumento em Gprovoca um aumento na taxa de juros que tende a reduzir o investimento. O efeito da taxa de ju-ros no est presente no modelo simples da cruz keynesiana.

    Figura 5.2: Poltica fiscal nos modelos da cruz keynesiana e IS-LM

    b. A anlise da poltica fiscal no modelo IS-LM no faz referncia s implicaes dos gastos dogoverno financiados por ttulos. O texto pressupe que os efeitos de fluxo (sobre o estoque dettulos) do financiamento do dficit so suficientemente pequenos para serem ignorados. Aquesto mais ampla da equivalncia ricardiana se h ou no, em termos macroeconmicos en-tre financiamentos mediante impostos ou mediante endividamento retomada no Captulo27 que trata da poltica fiscal.

    28 Mercados de bens e financeiros: a IS-LM

    Taxa

    deju

    ros,

    i

    LM

    IS

    Aumento em Y de acordo como modelo da cruz keynesiana

    Aumento em Y segundo o modelo IS-LM

    Produto, Y

  • Captulo 6. O mercado de trabalho

    I. Pergunta motivadora

    Como se determina, no mdio prazo, a taxa de desemprego?No mdio prazo, a taxa de desemprego tende a retornar chamada taxa natural, determinada peloequilbrio no mercado de trabalho quando o nvel de preos esperado igual ao nvel de preos cor-rentes. Condicionado a expectativas corretas quanto ao nvel de preos, o equilbrio no mercado detrabalho se verifica quando o salrio real decorrente do comportamento de determinao de salrios(influenciado pelo poder de barganha dos trabalhadores e das empresas) for igual ao salrio real de-corrente do comportamento de determinao de preos (influenciado pelo grau de concorrncia nomercado de bens).

    II. Por que a resposta importanteO esquema analtico do texto gira em torno do equilbrio em trs mercados: bens, moeda e traba-lho. Seguindo a abordagem dos Captulos 3 e 4, este captulo comea com uma apresentao domercado de trabalho isoladamente. A hiptese que permite isolar o mercado de trabalho dos outros que o nvel de preos esperado igual ao nvel de preos correntes. Nessas circunstncias, o esque-ma apresentado no livro resulta em uma taxa de equilbrio de desemprego e em um salrio real deequilbrio, independentemente dos mercados de bens e financeiro. Contudo, ao contrrio dos ou-tros mercados, o mercado de trabalho visto isoladamente relevante no s no curto prazo, mastambm no mdio prazo, um horizonte temporal no qual podemos supor razoavelmente que as ex-pectativas de preo so corretas. A tarefa do Captulo 7, que trata da demanda e da oferta agrega-das, reunir os trs mercados num equilbrio geral, tanto no curto quanto no mdio prazos e consi-derar a transio do curto para o mdio prazo.

    III. Ferramentas, conceitos e hipteses fundamentais

    1. Ferramentas e conceitosa. O captulo reexamina a definio dos termos bsicos do mercado de trabalho j vistos no Ca-ptulo 2 e apresenta outros novos, como taxa de desempregos, trabalhadores desalentados, de-misses, desligamentos e empregados demissionrios.

    b. O captulo utiliza uma funo de produo

    c. O captulo apresenta as relaes de determinao de salrios e fixao de preos.

    d. O captulo define analiticamente a taxa natural de desemprego e o nvel natural de produto.

    e. O captulo apresenta o conceito de nvel de preos esperado, a primeira expectativa que apa-rece no livro.

    O mercado de trabalho 29

  • 2. Hiptesesa. O captulo pressupe que a mo-de-obra seja o nico fator de produo. Esta hiptese sermantida at o Captulo 10, que trata do crescimento.

    b. O captulo pressupe uma funo de produo com retornos de escala constantes. Isto signi-fica que, dada uma tecnologia invarivel, o salrio real constante.

    IV. Sumrio do contedo1. Um passeio pelo mercado de trabalhoO captulo se abre com uma descrio do mercado de trabalho dos Estados Unidos. O ponto maisimportante a discusso dos fluxos que ocorrem entre os trs estados da atividade dentro do merca-do de trabalho: emprego, desemprego e fora da fora de trabalho. O texto observa que os fluxosque se do de fora da fora de trabalho para o emprego sugerem que algumas das pessoas classifica-das como estando fora da fora de trabalho podem ser trabalhadores desalentados, isto , pessoasque desistiram de procurar emprego, mas que se empregariam se encontrassem um posto. Nesta hi-ptese, a taxa de desemprego poder subestimar o nmero de pessoas disponveis para o trabalho.Alguns economistas preferem recorrer taxa de exigidade de emprego como medida do estado domercado de trabalho.

    2. Variaes do desempregoO captulo examina trs fatos relativos taxa de desemprego dos Estados Unidos. Primeiro, aps aSegunda Guerra Mundial, registrou-se tendncia a uma ligeira alta na taxa de desemprego. Segun-do, quando a taxa de desemprego elevada, a proporo de desempregados que consegue emprego pequena. Finalmente, quando a taxa de desemprego alta, a proporo de trabalhadores que per-de o emprego alta.1

    3. Determinao dos salriosA negociao salarial entre empregados e empregadores assume muitas formas diferentes. Em algu-mas ocupaes, os salrios so determinados coletivamente mediante negociao entre sindicatos eempresas. Nos Estados Unidos, menos de 25% dos empregados so cobertos por acordos coletivosde trabalho. Trabalhadores altamente qualificados ou com habilidades muito especficas (comoatletas, artistas) negociam individualmente com seus empregadores. No caso de empregos que exi-gem pouca qualificao, os empregadores podem fazer ofertas do tipo pegue-ou-largue.

    O texto resume esse complexo processo de negociao concentrando-se em dois fatos. Primei-ro, os salrios obtidos dependem das condies do mercado de trabalho, que podem ser representa-das pela taxa de desemprego. Quando a taxa de desemprego alta, relativamente fcil para as em-presas substituir trabalhadores e difcil para estes encontrar novo emprego, de modo que o poder debarganha dos trabalhadores relativamente pequeno. Segundo, dada a taxa de desemprego, h fa-tores institucionais e estruturais que afetam o poder de barganha dos trabalhadores em relao aseus empregadores. Dentre estes fatores pode-se citar a generosidade do seguro desemprego e amagnitude dos fluxos para dentro e para fora do estoque de desempregados. Quando esses fluxos

    30 O mercado de trabalho

    1 As evidncias relativas a trabalhadores que perdem seus empregos se referem, de fato, a desligamentos que incluem fluxosdo emprego para o desemprego e do emprego para fora da fora de trabalho. Em princpio, os desligamentos incluem tantoaqueles que se demitem quanto os que so demitidos. Contudo, o texto argumenta que provvel que a maioria dos desliga-mentos esteja associada a pessoas que saem de um emprego diretamente para outro, e assim a maioria dos que se demitemno so contados como desligados.

  • so grandes digamos, porque muitos postos de trabalho so criados e suprimidos em perodos demudana estrutural substancial menos custoso estar desempregado, j que mais fcil conseguirnovo emprego.

    Tudo isto sugere uma relao agregada de negociao salarial da seguinte forma:

    +W = PeF(u, z)

    (6.1)

    O salrio nominal depende do nvel de preos, porque tanto trabalhadores quanto empresas es-to preocupados com salrios reais. O salrio nominal depende do nvel de preos esperados, por-que os salrios variam com pouca freqncia, de modo que o nvel de preos que importa o que vi-gora durante o perodo contratual, que desconhecido quando o salrio acordado.

    4. Fixao de preosConsidere que a mo-de-obra seja o nico fator de produo e que as empresas operam com econo-mias de escala constantes. Ento a funo de produo tem a forma:

    Y = N (6.2)

    Como o texto pressupe que a tecnologia no varia no mdio prazo, a equao (6.2) estabeleceuma produtividade marginal do trabalha igual a um.

    Suponha-se agora que a concorrncia no mercado de bens seja imperfeita, de modo que as em-presas tenham algum poder de mercado. Isto implica que as empresas fixam seu preo de acordocom:

    P = (1+)W (6.3)

    W o custo marginal do produto e uma margem de lucro que reflete o grau de poder de mer-cado das empresas. Num ambiente perfeitamente competitivo, =0.

    5. A taxa natural de desempregoSe as expectativas forem corretas (isto , P = Pe), as equaes (6.1) e (6.3) geram duas expresses di-ferentes para o salrio real:

    W/P = F(u,z) (6.1)

    W/P = 1/(1+) (6.3)

    O texto denomina a primeira destas equaes de relao de determinao de salrios (WS) e asegunda, de relao de fixao de preos (PS). Condicionado a P +Pe, o equilbrio do mercado detrabalho requer que o salrio real decorrente de WS seja igual ao salrio real decorrente de PS, ou

    F(u,z) = 1/(1+) (6.4)

    O mercado de trabalho 31

  • O valor de que satisfaz a equao (6.4) chamado taxa natural de desemprego. A soluo gr-fica apresentada na Figura 6.1. Observe-se que WS se inclina para baixo, j que um aumento nataxa de desemprego tende a reduzir o poder de barganha relativo dos trabalhadores nas negociaessalariais. A curva PS horizontal dada a hiptese de retornos de escala constantes da funo de pro-duo. Se esta apresentasse retornos de escala decrescentes, a relao de fixao de preos teria in-clinao ascendente.

    A taxa natural de desemprego a taxa de desemprego que torna WS e PS compatveis quandoP=Pe. Trata-se de um conceito de mdio prazo, porque, de modo geral, os economistas acreditamque trabalhadores e empresas no mantm expectativas sistematicamente equivocadas por longosperodos. O texto no pressupe que no curto prazo P=Pe, de modo que a taxa de desemprego cor-rente no precisa igualar-se taxa natural.

    Alm disso o adjetivo natural enganoso. A taxa natural de desemprego depende das institui-es do mercado de trabalho e da estrutura de mercado. Por exemplo, um aumento na concorrnciano mercado de bens (uma reduo em ) deslocaria a linha PS para cima e reduziria a taxa natural dedesemprego. Um aumento no ndice z em decorrncia, digamos, de um aumento do benef-cio-desemprego ou um aumento da rotatividade no mercado de trabalho deslocaria a curva WSpara cima e aumentaria a taxa natural de desemprego.

    Observe que o desemprego N dado por N = (1-u)L, onde L a fora de trabalho. Supondo queL seja fixo, a taxa natural de desemprego (un) define o nvel natural de emprego, Nn = (1-un)L, queimplica em um nvel natural de produto Yn = Nn. O nvel natural de produto aquele que vigorariase as expectativas de preo fossem corretas e o mercado de trabalho estivesse em equilbrio. Como ataxa natural de desemprego, o nvel natural de produto um conceito de mdio prazo. No curtoprazo, o nvel corrente de preos pode diferir do nvel esperado, a taxa de desemprego correntepode ser diferente da taxa natural e o nvel de produto corrente pode afastar-se de seu nvel natural.

    Figura 6.1: Taxa natural de desemprego

    6. Daqui para a frenteEste captulo trata da determinao da taxa de desemprego e do produto no mdio prazo, quando razovel supor que o nvel de preos corrente igual ao nvel de preos esperado. No curto prazo,

    32 O mercado de trabalho

    Sal

    riore

    al, W

    /P

    11 +

    PS

    WS

    Taxa de desemprego,

    n

  • quando o nvel de preos esperado no precisa ser igual ao nvel corrente, os fatores de demanda ex-postos nos captulos anteriores afetam a taxa de desemprego. Os prximos trs captulos incorpo-ram o mercado de trabalho ao modelo desenvolvido nos captulos anteriores e analisam a determi-nao do produto, da taxa de desemprego e a taxa de juros no curto e no mdio prazos.

    V. Didtica

    1. Pontos a esclarecerA introduo do nvel de preos esperado, ainda que da forma simples como faz o texto, um saltogrande para os estudantes. O texto descarta rapidamente o nvel de preos esperado, ao igual-lo aonvel de preos corrente. Em conseqncia, os estudantes comeam a pensar nos grficos de deter-minao de salrios e de fixao de preos como o mtodo para determinar o desemprego em qual-quer ocasio. Valeria a pena destacar que a taxa natural um conceito de mdio prazo e que no h,no curto prazo, qualquer hiptese de que o nvel de preos corrente seja igual ao esperado, ou que ataxa de desemprego se iguale a seu nvel natural.

    2. Seqncia alternativaA segunda edio do texto passa diretamente do modelo IS-LM para a demanda e a oferta agrega-das. A primeira edio apresentava, logo aps ter exposto IS-LM, as expectativas e ento expandiao esquema IS-LM em uma economia aberta. O contedo da segunda edio ainda permite ao pro-fessor optar por tratar das expectativas e da economia aberta no curto prazo, antes de passar para ademanda e a oferta agregadas.

    3. Dinamizao da aulaDo ponto de vista do professor, a vantagem deste captulo que os estudantes sem dvida conhe-cem o mercado de trabalho, provavelmente melhor do que outros mercados, pelo menos em termosdo nvel de abstrao relevante. Alguns dos estudantes j tero tido empregos, outros, ainda, esta-ro atentos s oportunidades de trabalho aps a formatura e praticamente todos eles tero familia-res ou amigos que j entraram e saram do mercado de trabalho por vrias razes. Alm disso, mui-tos deles tero conhecimento das comentadas negociaes salariais de atletas e artistas. De modoque h um rico alicerce de experincias pessoais e cultura popular onde se apoiar para tornar asquestes focadas neste captulo mais atraentes para os estudantes. Um maior esforo para obter par-ticipao da turma pode valer a pena neste captulo mais do que em qualquer outro. Possivelmenteo mtodo mais efetivo de apresentar este captulo seja pedir aos estudantes para falarem de suas ex-perincias de trabalho e utiliz-las para ilustrar o mximo de aspectos possveis.

    VI. Extenses

    1. Oferta e demanda no mercado de trabalhoUm dos quadros em foco deste captulo mostra como a anlise WS-PS pode ser interpretada em ter-mos de oferta e demanda de trabalho. Os professores tambm podem considerar uma apresentaoalternativa, onde P no seja igual a Pe. Reformulando a equao (6.1) em termos de taxa de empre-go, N/L, e a equao (6.3) em termos de salrio nominal temos:

    W = Pe (1-N/L,z) (6.5)

    O mercado de trabalho 33

  • W = P/(1+) (6.6)

    A primeira equao pode ser interpretada como um esquema de oferta de trabalho no espaoN-W. Representa o salrio que as empresas tero que pagar para atingir certo nvel de emprego, su-jeitas s condies impostas pelos fatores institucionais z e o nvel de preos esperado. A equao(6.5) descreve a quantidade de trabalho que os trabalhadores esto dispostos a oferecer a vrios sa-lrios. Contudo, esta caracterizao um pouco enganadora, porque a equao (6.5) no se refereao salrio de restrio, mas ao salrio que resulta do processo de negociao. A segunda equao es-pecifica o salrio que as empresas esto dispostas a pagar, dado o nvel de preos e o grau de concor-rncia no mercado de produto. Esta equao pode ser interpretada como o esquema da demandapor trabalho. Ela independe do nvel de emprego, porque o texto pressupe uma funo de produ-o com retornos de escala constantes. Se a funo de produo registrasse retornos de escala de-crescentes, a curva de demanda por trabalho teria uma inclinao negativa.

    A Figura 6.2 representa graficamente as equaes (6.5) e (6.6), esta ltima para dois nveis depreos. Dado z, a curva de oferta de trabalho se desloca quando as expectativas de preos so revis-tas. Dado , a curva de demanda por trabalho se desloca quando os preos variam. Quando P = Pe, ainterseo da oferta e da demanda por trabalho determinam o nvel natural de emprego, Nn.

    Figura 6.2: Oferta e demanda de trabalho

    Como se ver no Captulo 7, a hiptese de trabalho do texto que alteraes na demanda tmefeitos iniciais, de curto prazo, sobre o nvel de preos, mas no no nvel de preos esperado, o qualse ajusta no correr do tempo. Portanto, alteraes na demanda deslocam a curva de demanda portrabalho e mudam o nvel de emprego. Por exemplo, partindo de um equilbrio em que o empregose situa em seu nvel natural, um aumento na demanda aumenta o nvel de preos e desloca paracima a curva de demanda de trabalho, de modo que P/(1+)>Pe/(1+). Este exemplo est repre-sentado graficamente na Figura 6.2. No curto prazo, quando a demanda por trabalho se desloca, oemprego supera seu nvel natural e a taxa de desemprego fica abaixo de seu nvel natural. Com otempo, o nvel de preos esperado se ajusta, deslocando a curva de oferta de trabalho, e o nvel depreos volta a se ajustar, continuando a deslocar a curva de demanda por trabalho. No mdio prazo,

    34 O mercado de trabalho

    Sal

    riono

    min

    al, W

    P F 1 ,Ze ( )

    P1 +

    P1 +

    e

    Nn L

    Emprego, N

    NL

  • quando o nvel de preos esperado igual ao nvel de preos corrente, a oferta e a demanda por tra-balho se cruzam na taxa natural de desemprego.

    No contexto do Captulo 6, uma caracterizao completa da oferta e da demanda por trabalhopode ser avanada demais para os estudantes. Contudo, pode ser til voltar a esta caracterizao noCaptulo 7, que trata da oferta e da demanda agregadas. A caracterizao esboada anteriormentedeixa claro que o emprego (e, por conseqncia, a taxa de desemprego) nem sempre est em seu n-vel natural, um aspecto que muitas vezes os estudantes tm dificuldade de apreender.

    VII. Observaes1. Observaes conceituais

    a. No modelo apresentado neste captulo, o salrio real sempre determinado pela relao defixao de preos, mesmo que o nvel de preos corrente no seja igual ao nvel esperado. Por-tanto, o salrio real sempre determinado pelo grau de concorrncia nos mercados de produtose pelo produto marginal do trabalho, considerado, neste captulo, como sendo igual a um. Con-siderando que a estrutura de mercado e a tecnologia mudam lentamente, a implicao do mode-lo que os salrios reais so fixos no curto e mdio prazos.

    b. A taxa natural de desemprego aquela que satisfaz duas exigncias: equilbrio no mercado detrabalho e expectativas corretas quanto ao nvel de preos. um conceito de mdio prazo, por-que em geral os economistas acreditam que as expectativas de nvel de preos no so sistemati-camente incorretas com o passar do tempo. Contudo, no curto prazo, essas expectativas podemser imprecisas. Portanto, no curto prazo, a taxa de desemprego corrente no precisa ser igual taxa natural de desemprego.

    2. Observaes empricasAs observaes empricas mais importantes deste captulo referem-se aos fluxos no mercado de tra-balho dos Estados Unidos. Por exemplo, no perodo de 1968 a 1986, os desligamentos representa-ram 3% do total do emprego, a cada ms.

    O mercado de trabalho 35

  • Captulo 7. Agregando todos osmercados. O modelo AS-AD

    I. Pergunta motivadora

    Como o produto, a taxa de desemprego e a taxa de jurosso determinados no curto e mdio prazos?Produto, taxa de desemprego e taxa de juros so determinados pelo equilbrio simultneo nos trsmercados (bens, moeda e trabalho). O equilbrio simultneo nos mercados de bens e financeiro sintetizado em uma relao de demanda agregada; o equilbrio no mercado de trabalho sintetiza-do em uma relao de oferta agregada. O equilbrio no mercado de trabalho est condicionado aonvel de preos esperado. No curto prazo, o nvel de preos esperado pode no ser igual ao nvel depreos corrente e, portanto, a taxa de desemprego pode no se situar em seu nvel natural. O textopressupe uma viso retrospectiva das expectativas quanto a preos, de modo que, no correr dotempo, o nvel de preos esperado tende a convergir para o nvel de preos corrente e a taxa de de-semprego tend