44
 1 CIDADANIA E EMPREGABILIDADE (CE) B2 MÓDULO I: A ORG ANIZAÇÃO POLÍTICA DOS ESTADOS DEMOCRÁTICOS Formadora: Sofia Sá Fernandes Julho de 2010 UNIÃO EUROPEIA Fundo Social Europeu GOVERNO DA REPÚBLICA PORTUGUESA

MANUAL MÓDULO 1

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 1/44

 

1

CIDADANIA E EMPREGABILIDADE (CE) B2

MÓDULO I: A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DOS ESTADOS

DEMOCRÁTICOS

Formadora: Sofia Sá Fernandes

Julho de 2010

UNIÃO EUROPEIAFundo Social Europeu

GOVERNO DA REPÚBLICAPORTUGUESA

Page 2: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 2/44

 

2

MÓDULO I:

ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DOS ESTADOS

DEMOCRÁTICOS

TEMA I ² A CIDADANIA E O CIDADÃO

  Conceito de Cidadania / Cidadão:

³ A cidadania é responsabilidade perante nós e perante os outros, consciência de deveres

e direitos, impulso para a solidariedade e para a participação, é sentido de comunidade e

de partilha, é insatisfação perante o que é injusto ou o que está mal, é vontade de

aperfeiçoar, de servir, é espírito de inovação, de audácia, de risco, é pensamento que age

e acção que se pensa.´  

Jorge Sampaio, in Educar para a Cidadania, Maria de Lourdes L. Paixão, Lisboa Editora

 

A história da cidadania confunde-se em muito com a história das lutas

pelos direitos humanos.

A cidadania esteve e está em permanente construção; é um referencial de

conquista da humanidade, através daqueles que lutam por mais direitos, maior 

liberdade, melhores garantias individuais e colectivas, e não se conformam frente

às dominações, seja do próprio Estado ou de outras instituições ou pessoas. 

Ser cidadão é ter consciência de que é sujeito de direitos. Direitos à vida, à

liberdade, à propriedade, à igualdade, enfim, direitos civis, políticos e sociais.

Mas este é um dos lados da moeda.

Page 3: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 3/44

 

3

Cidadania pressupõe também deveres. O cidadão deve ter consciência das

suas responsabilidades enquanto parte integrante de um grande e complexo

organismo que é a colectividade, a nação, o Estado, para cujo bom funcionamento

todos têm de dar sua parcela de contribuição.

Somente assim se chega ao objectivo final, colectivo: a justiça em seusentido mais amplo, ou seja, o bem comum (Estado Natureza vs Estado Civil).  

Neste contexto, vamos tentar esclarecer melhor a definição da palavra

³cidadão .́O que é ser cidadão? 

Ser cidadão é:� ter e exercer a cidadania;

� gozar dos direitos civis e políticos;

� cumprir os deveres que temos para com o Estado e a comunidade.

A cidadania define a pertença a um Estado. Ela dá ao indivíduo um estatuto

 jurídico, ao qual se ligam direitos e deveres. Esse estatuto depende das leis próprias

de cada Estado, e pode afirmar-se que há quantos tipos de cidadãos quantos tipos de

Estados. Nesta perspectiva, a cidadania não confere valor ou dignidade suplementar ao

indivíduo, apenas sanciona uma situação de facto: a de que, ao nascer, se herda uma

nacionalidade.

O Estado é uma criação humana, cultural e instrumental; costuma admitir-se que é

um mal necessário. Ressalta então a ideia de que a educação para a cidadania é um bem

necessário e indispensável como estimuladora da capacidade individual de análise e

intervenção em função dos valores fundamentais da comunidade em que se está inserido

e da organização estatal que lhe subjaz.

O conceito de cidadania é um conceito evolutivo, que tem vindo a conhecer,

desde os primórdios do liberalismo, que o reabilitou, um progressivo enriquecimento.

Page 4: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 4/44

 

4

  A moderna concepção da cidadania liberal assenta na igualdade de todos os

homens perante a lei. Os direitos serão, nesta concepção de cidadania, perspectivados

como direitos do indivíduo em sua defesa perante a eventual prepotência do Estado.

Porém, na prática, revelaram-se essencialmente reservados à burguesia, porque

assentava em direitos cívicos (de liberdade de expressão, de livre opinião, depropriedade) não extensíveis a todos. Esta concepção remonta à Revolução Francesa

e à Declaração Universal dos Direitos do Homem e do cidadão de 1789.

Assim, se for considerado o conceito de cidadania da antiguidade clássica,

veremos que contrasta com a moderna concepção de cidadania liberal.

 A concepção grega de cidadania  fazia a distinção entre o cidadão e o

súbdito, considerando-os desiguais e dando primazia ao cidadão-homem, reservando à

cidadania direitos como o de participação na vida da cidade, a possibilidade de ser eleito

para cargos públicos, e excluindo do direito de cidadania as mulheres, os escravos e osestrangeiros. Na Roma antiga, o cidadão romano gozava de privilégios que lhe eram

atribuídos por estatuto legal.

  No séc. XX, o conceito de cidadania como que se alarga, podendo até, talvez,

falar-se em democratização da cidadania.

Como questão axiológica crucial, urge perguntar se tudo no homem é evolutivo ou

se nele podemos identificar, em paralelo com as transformações da História, algo depermanentemente e estável; algo que seja um valor de referência que estimule a sua

capacidade de desejar um certo mundo melhor e, simultaneamente, contenha a vontade

necessária para participar na sua construção. Trata-se, afinal, de encontrar um sentido

para a vida.

Actualmente os referenciais de cidadania estão a mudar . Porquê?

  A abertura dos espaços implica-nos num problema mundial.

  Os processos migratórios, a mestiçagem progressiva da humanidade colocou a

ideia do indivíduo singular como ser de direito.

Page 5: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 5/44

 

5

  O Estado fragilizou-se e tornou-se mais necessária a intervenção dos

cidadãos com objectivos sociais, não só prevenindo o aumento dos excluídos,

como contribuindo para a sua eliminação, ainda que gradual, se necessário.

 Começa a tornar-se insustentável que os privilégios, só de alguns e para alguns,

sejam a razão de injustiças para muitos.

  Pensa-se numa redistribuição de privilégios equitativamente mais justa num

contexto de privilégios que legitimem os direitos sociais, cívicos e políticos de

todos.

TEMA II: DIREITOS, DEVERES E LIBERDADES FUNDAMENTAIS

Uma definição taxativa de Cidadania não parece fácil, nem será porventura o

mais importante neste contexto.

Para Barbalet (1989: 12) a ³cidadania poderá ser descrita como participação

numa comunidade ou como a qualidade de membro dela´. 

Podemos desde já considerar que a cidadania pressupõe a existência de uma

comunidade política, isto é, um conjunto de indivíduos com uma autoridade política

comum, que gozam de igual estatuto definido em leis gerais previamente estabelecidas e

que participam no governo dessa comunidade.

Esta definição está no entanto incompleta porque não especifica que tipo de

participação nem a qualidade de integração.

A participação de cidadania realiza-se nas seguintes condições:

� Igualdade dos cidadãos perante a lei, sem discriminação com base no

sexo, religião, ideologia, classe social ou origem étnica,

Page 6: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 6/44

 

6

� Existência de leis gerais e de órgãos políticos que as executem e façam

cumprir (tribunais, parlamento, governos), bem como de instituições públicas que

concretizem as políticas definidas (organismos públicos, hospitais, escolas e outras

instituições e serviços públicos de implementação das políticas adoptadas),

� Liberdade de expressão e condições para os cidadãos manifestarem a

sua vontade e imporem as orientações políticas a seguir pelo Estado, através de

eleições livres.

O Estado tem obrigações relativamente aos cidadãos, mas estes não têm

apenas direitos, têm também deveres, tais como:

� Respeitar as leis democraticamente estabelecidas

� Cumprir as obrigações face ao Estado, nomeadamente o pagamento de

impostos e taxas legalmente estabelecidos,

� Respeitar os direitos dos outros cidadãos, nas condições definidas na lei

(a liberdade de cada um acaba onde começa a do outro),

� Participar na vida comunitária.

EVOLUÇÃO DOS DIREITOS DE CIDADANIA

Os direitos de cidadania foram-se alargando a partir dos direitos cívicos,primeiramente estabelecidos, e que recobrem os designados valores humanos

fundamentais, nomeadamente: direito à vida e integridade física, direito a escolher 

livremente o emprego, a residência e a constituir família, direito a ter a religião que

livremente escolher e a praticar o respectivo culto, direito à liberdade e defesa judicial se

for incriminado, direito à liberdade de expressão.

Page 7: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 7/44

 

7

  Alguns destes direitos começaram a vigorar ainda antes da existirem direitos

políticos, mas a sua plena concretização exige um regime democrático, isto é, poder 

político livremente eleito pelos cidadãos. De facto, os cidadãos terão mais garantias de

verem respeitados os seus direitos fundamentais na medida em que lhes sejareconhecido o direito de elegerem os poderes políticos que elaboram as leis e as fazem

cumprir. Surgiram, assim, os direitos políticos.

A evolução das sociedades demonstrou que não era suficiente a igualdade

formal perante a lei para que todos pudessem participar com igual estatuto na vida

comunitária.

Em grande parte por razões económicas e culturais, parte da populaçãocontinuava excluída da vida comunitária, sem condições efectivas de poder participar 

socialmente, por carência de meios e recursos. Surgiu, assim, a reivindicação dos

direitos económicos e sociais, que se concretizaram no direito à segurança social, ao

emprego, à saúde, à educação, à habitação, entre outros.

Estes últimos direitos são mais recentes e de natureza diferente. A sua plena

realização depende dos recursos disponíveis do Estado. Terão que ser concretizados

à medida que cresça a economia do país e, consequentemente, os recursos do Estadopara aplicar nas políticas sociais.

  Quais os Princípios e Valores que estão na base da Cidadania?

Nas sociedades tradicionais, como as sociedades de ordens ou de castas, os

indivíduos nascem desiguais e assim permanecem toda a vida. As leis, se existem, são

³ privi-leges´, isto é, só se aplicam a certos grupos ou indivíduos. As situações são aceites

com base na tradição.

Page 8: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 8/44

 

8

Exemplo: nas sociedades medievais aos membros da nobreza não podiam ser 

aplicados castigos ou penas corporais, que eram usualmente aplicados aos estratos

sociais mais baixos.

Com o advento das sociedades modernas verifica-se uma mudança de valores.

  As desigualdades de nascença deixam de ser aceites como válidas. Os novos valores

assentam na igualdade de nascença dos indivíduos e na liberdade de cada um procurar 

a felicidade no respeito pelos outros e pelas normas estabelecidas.

Estes valores tiveram consagração na Declaração dos Direitos do Homem

proclamada em França em 1789, aquando da Revolução Francesa.

Posteriormente, já no século XX, surgiram os direitos económicos, sociais eculturais. Eles poderão ser entendidos como um prolongamento do direito à vida. Sem

condições mínimas de existência os indivíduos deixam efectivamente de poder gozar os

seus direitos cívicos e políticos. O direito à saúde, à segurança social. à habitação, ao

ensino, por exemplo, incluem-se nesses direitos. O estado deve diligenciar, na medida

das suas possibilidades financeiras, para que os cidadãos estejam socialmente

integrados na comunidade, com recursos e protecção social adequados.

Em 1948, depois do final da II Guerra Mundial, foi aprovada na Assembleia Geral

das Nações Unidas a Declaração Universal dos Direitos do Homem, que incluía agoraos direitos económicos e sociais, cujos princípios vieram a ser incorporados nas

Constituições dos estado democráticos.

Em Portugal os primeiros direitos individuais modernos surgiram com as

constituições liberais do século passado, alargados com a I República e restringidos

durante o período do Estado Novo. A plena consagração desses direitos só foi

estabelecida em 1976, data de entrada em vigor da Constituição da República

Portuguesa, aprovada em Assembleia Constituinte.

 À conquista dos direitos cívicos sucedeu-se a reivindicação dos direitos políticos, que se

concretizam na possibilidade de os cidadãos participarem, directamente ou através dos

representantes eleitos, nos poderes que geram as leis e a sua aplicação. A estes direitos

estão associadas as liberdades políticas: de associação nomeadamente em partidos e

Page 9: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 9/44

 

9

sindicatos, de expressão pública de ideias políticas, incluindo a comunicação social, etc.

(ver Constituição da República, Princípios Fundamentais).

Em Portugal, alguns direitos sociais foram instituídos antes do 25 de Abril, como o

sistema de reformas e pensões e o ensino básico obrigatório, mas foi efectivamentedepois do 25 de Abril que se afirmaram estes direitos, dentro do modelo do Estado

Providência, nomeadamente com as seguintes medidas:

  criação do salário mínimo (DL nº 49-A/77) e subsídio de desemprego 

(DL nº 169-D/75 de 31 de Março),

  criação do Serviço Nacional de Saúde (Lei 56/79 de 15 de Setembro),

  reforma da segurança social (Lei de bases da Segurança social, Lei

28/84 de 14 de Agosto), que passou a abranger as diversas situações deprecariedade económica e social,

  alargamento do ensino obrigatório e sua democratização.

Os direitos cívico-políticos exigem menos recursos do Estado (regras, instituições

e recursos materiais) do que os direitos económicos, sociais e culturais. No entanto,

todos eles assentam nos mesmos valores de dignidade da pessoa humana.

O alargamento e aprofundamento dos direitos tem-se realizado segundo um

processo gradual, envolvendo lutas reivindicativas e a construção de uma nova

consciência social, que se veio a reflectir na ordem política estabelecida.

Exemplo prático:

  A criação do rendimento mínimo garantido inscreve-se nas políticas de

concretização dos direitos económico-sociais, mas com implicações noutros

campos.

Page 10: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 10/44

 

10

Questões a reflectir:

� o RMG não é uma dádiva de caridade, que sempre existiu nas sociedades

tradicionais, mas um direito conferido aos cidadãos que implica também deveres,

� os usufrutuários do RMG comprometem-se contratualmente com o Estado acumprirem certas obrigações:

� enviarem os filhos à escola,

� fazerem desintoxicações no caso de serem toxicodependentes,

� frequentarem cursos de formação profissional,

� aceitarem um emprego quando estiverem em condições de o fazer, etc.

� o RMG não se restringe a um apoio financeiro para os que estão em condições

de maior pobreza; pretende ser também um meio para os indivíduos acederem

plenamente à cidadania e integrarem-se socialmente.

  Os Direitos e Liberdades do Campo Cívico

Os direitos e deveres do campo cívico correspondem aos direitos fundamentais da

pessoa humana. Neles se incluem:

� Direito à vida e integridade física,

� Direito a igual dignidade e tratamento perante a lei,

� Direito à vida pessoal e privacidade, nomeadamente a casar e escolher livremente o local de residência, bem como a sua profissão,

� Direito a não ser privado da liberdade excepto com decisão judicial,

� Direito de defesa judicial,

Page 11: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 11/44

 

11

� Liberdade de expressão, de reunião e de escolha de religião (ver 

Constituição Portuguesa).

Na nossa Constituição estes direitos estendem-se ao campo laboral, com aliberdade sindical, o direito à greve e à segurança no emprego.

Para fazer valer os seus direitos os cidadãos devem conhecer as condições de

aplicação e as instituições que os podem ajudar quando esses direitos são violados.

Para fazer valer os seus direitos os cidadãos podem agir individualmente, mas em

muitos casos a maneira mais eficaz é através de associações (sindicatos, associações de

moradores, associações de defesa do consumidor e do ambiente, associações de pais,

etc.).

Os cidadãos dispõem também do apoio de instituições públicas ou semi-públicas,

em certas questões específicas, como por exemplo, o Provedor da Justiça, a CITE -

Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, a Inspecção do Trabalho, a

Comissão para a Igualdade e os Direitos das Mulheres, o Gabinete do Alto Comissário

para a Imigração e Minorias Étnicas, etc.

Em último recurso os cidadãos podem recorrer aos Tribunais, que têm o poder de

decidir em termos legais.

Os limites dos direitos de cidadania são os direitos dos outros, nas condições

legalmente estipuladas. Vejamos alguns exemplos:

� A liberdade de expressão fica limitada quando atentamos contra o bom nome de

outrem, mas só o tribunal poderá ajuizar da falta, segundo as leis existentes,

� O direito à greve exige que se cumpram determinados quesitos, nomeadamente

o pré-aviso e, em certos casos, que sejam assegurados serviços mínimos,

� A ordem de prisão policial tem um limite de 48 horas, depois do qual só um juiz

poderá confirmar a prisão por um período de tempo limitado por lei,

� O direito à propriedade pessoal, inclusive à sua habitação, não impede a

expropriação pelo Estado, no caso de estar em causa um bem comum para toda a

comunidade (lançamento de uma estrada, ponte, por exemplo), ainda que o cidadão

tenha o direito de apresentar queixa no tribunal se considerar que ficou lesado.

Page 12: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 12/44

 

12

  Os Direitos e Liberdades do Campo Político

Estes direitos relacionam-se com a participação dos cidadãos na vida política.

Desde logo, há a considerar o direito de sufrágio, isto é, de participar em todas as

eleições, desde que maior de 18 anos e ressalvadas as incapacidades previstas na leigeral.

 A participação também abrange os cargos não eleitos, isto é, cargos públicos da

administração, a cujo acesso todos devem ser tratados em condições de igualdade. Se

um homem ou mulher for eleito para um cargo político não poderá por esse facto ficar 

prejudicado no seu emprego.

Os direitos políticos englobam, também, o direito de associação: criar e

participar em partidos políticos ou associações (a lei ordinária defina as condições para a

criação de partidos políticos) e através deles concorrer democraticamente para aformação da vontade popular.

Nem sempre os cidadãos necessitam de estar filiados em partidos para

concorrerem a órgãos eleitos ou manifestarem a sua posição. Para as Juntas de

Freguesias e para as Câmaras Municipais (esta última situação ainda não está

regulamentada) podem concorrer grupos de cidadãos independentes.

  A Constituição reconhece também o direito de petição aos órgãos de poder 

político, nomeadamente à Assembleia da República. No art.º 52º diz-se que ³ todos os

cidadãos têm o direito de apresentar, individual ou colectivamente, aos órgãos desoberania ou quaisquer autoridades, petições, representações, reclamações ou queixas

 para defesa dos seus direitos...´  

Interessa ainda dizer que a Constituição concede o direito de voto aos cidadãos

estrangeiros, para os órgãos de poder local, em certas condições.

  Os Direitos do Campo Económico e Social

Como já foi referido os direitos económicos e sociais surgem quando se

reconheceu que o Estado não poderia ignorar as condições económicas e sociais de vida

dos cidadãos, relegando totalmente essas questões para o âmbito privado.

Page 13: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 13/44

 

13

O direito à vida, reconhecido pelo Estado, tinha de prolongar-se no direito ao

trabalho, direito à saúde e segurança social, direito à protecção social relativamente aos

cidadãos mais dependentes, quer por deficiência, quer pela idade.

Em primeiro lugar esses direitos assentam em valores fundamentais que terão de

ser assegurados a todos os cidadãos. Em segundo lugar, sem estarem asseguradosesses direitos dificilmente os cidadãos poderão integrar-se socialmente e terem

participação política.

Também já se disse que estes direitos têm uma natureza diferente. Em alguns

casos, como no direito à saúde e à segurança social, a sua plena realização depende dos

recursos financeiros do Estado. Daqui advêm também deveres para os cidadãos e as

empresas de contribuírem financeiramente, de acordo com a lei, para os sistemas sociais

que gerem e distribuem esses benefícios.

Em Portugal os direitos económicos e sociais foram substancialmente

alargados depois do 25 de Abril. Esses direitos estão genericamente enunciados na

nossa Constituição (Título III, cap. I, II e III), em que se poderão destacar os seguintes:

� Direito ao trabalho (art.º 58) - incumbindo ao Estado promover o emprego e a

igualdade de oportunidades na escolha da profissão, sem discriminações de sexo,

ideologia ou religião;

� Direitos dos trabalhadores  - englobando o direito à justa retribuição dotrabalho, salvaguardando as condições de higiene, segurança e saúde e com garantias

de assistência em situações de precaridade (doença profissional, acidente de trabalho);

� Direito à segurança social e solidariedade - incumbindo ao Estado a criação

de um sistema de segurança social unificado e descentralizado;

� Direito à saúde - através da criação de um sistema nacional de saúde universal

e geral, tendencialmente gratuito;

� Direito à habitação  - em que se reconhece que todos têm direito a uma

habitação digna, e as instituições públicas deverão apoiar os mais necessitados na suaobtenção;

� Direitos do ambiente e qualidade de vida - incumbindo ao Estado prevenir e

evitar a poluição, ordenar o território e garantir a conservação da natureza;

� Direito à educação e cultura - incumbindo ao Estado assegurar o ensino básico

universal e gratuito, democratizando e alargando os outros graus de ensino.

Page 14: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 14/44

 

14

 A Constituição define estes direitos genericamente, pois, como já dissemos, os

direitos económicos e sociais deverão ser concretizados de acordo com os recursos

financeiros disponíveis.

Várias medidas foram tomadas depois do 25 de Abril para concretizar estes

direitos. Vejamos algumas:

� Institucionalização da concertação social, com liberdade de actuação dos

parceiros sociais, através da criação em 1984 do Conselho Permanente da Concertação

Social

� Criação do salário mínimo (DL nº49-A/77)

� Criação do subsídio de desemprego (DL nº 169-D/75)

� Criação do Rendimento Mínimo Garantido (Lei nº 19-A/96)

� Promulgação da lei de bases da segurança social e seus desenvolvimentos na

melhoria das prestações sociais (Lei 28/84, lei de bases da segurança social)

� Criação do Serviço Nacional de Saúde extensivo a todos os cidadãos ((Lei

56/79)

� Alargamento do ensino obrigatório para 9 anos (estabelecido na Lei de Bases do

Sistema Educativo, Lei 46/86)

� Criação da rede de ensino pré-escolar (DL nº66/VII)

� Leis de ordenamento do território e programas de luta contra a poluição.

  Os Direitos do Campo Cultural

No campo dos direitos e deveres culturais a nossa Constituição enuncia à

cabeça que ³todos têm direito à educação e à cultura´ (art.º 73º) e que cumpre ao Estado

promover a democratização da educação de modo a contribuir para a igualdade de

oportunidades.

O acesso ao ensino é fundamental como condição base de cidadania. Em

primeiro lugar porque os conhecimentos aí adquiridos conferem competências

Page 15: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 15/44

 

15

indispensáveis para a participação social e política. Em segundo lugar, porque esses

conhecimentos são cada vez mais indispensáveis para que os homens e as mulheres

adquiram posições no mercado de trabalho e por via disso, ganhem autonomia

económica e reconhecimento social.

 A nossa sociedade assenta cada vez mais no conhecimento científico e técnico,em grande parte adquirido no sistema de ensino, cabendo ao Estado a responsabilidade

pela democratização do acesso dos indivíduos a esse meio de valorização dos cidadãos.

Esses objectivos estão bem expressos no art.º 74 da Constituição, quando diz

que ³todos têm direito ao ensino como garantia do direito à igualdade de oportunidades

de acesso e êxito escolar ́. Assim ³incumbe ao Estado a) assegurar o ensino básico e

universal, obrigatório e gratuito; b) criar um sistema público e desenvolver o sistema geral

de educação pré-escolar; c)...´.

Neste campo dos direitos culturais também se incluem o ³direito à fruição ecriação cultural, bem como o dever de preservar, defender e valorizar o património

cultural (art.º 77º).

  A Cidadania e as Desigualdades Sociais

Os direitos e deveres de cidadania enquadram as relações sociais mas,obviamente, não são a única fonte de orientação dos comportamentos, nem determinam,

só por si, as posições sociais dos indivíduos em sociedade. Quer no campo privado, quer 

público, os indivíduos seguem as suas orientações em liberdade, desde que os

comportamentos não colidam com as regras estabelecidas.

Um dos condicionamentos principais de regulação da vida dos indivíduos,

nomeadamente na esfera do trabalho, tem a ver com o mercado. Contrariamente ao

campo da cidadania, nos diversos mercados (do trabalho, das qualificações, da luta e

competição económica) geram-se e reproduzem-se desigualdades sociais.

Neste campo de relações de mercado, em que domina a competitividade e o

poder dos que têm mais recursos, o papel da cidadania é, fundamentalmente, fazer 

respeitar a igualdade de oportunidades e apoiar os mais fracos ou em situações de

maior vulnerabilidade.

Page 16: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 16/44

 

16

 As regras de cidadania impõem, assim, limites ao funcionamento do mercado no

sentido do respeito por valores fundamentais (direito ao trabalho e consequentes regras

no referente aos despedimentos e condições de trabalho, por exemplo) ou para

assegurar direitos económicos e sociais de base (salário mínimo, rendimento mínimo

garantido, pensões e reformas, etc.).

  A Cidadania e as Instituições Sociais (Públicas e Privadas)

Os direitos de cidadania foram inicialmente propostos e exercidos numa

perspectiva individualista. Hoje em dia não só os próprios direitos englobam o campo

social, como na sua concretização se apela para contribuição de entidades públicas e

privadas.

O Estado reconheceu que, em muitas situações, os indivíduos isoladamente

poucas possibilidades tinham de fazer valer os seus direitos. Tratou-se, em primeiro

lugar, de reconhecer o papel dos sindicatos e outras associações, nomeadamente as

ONG (organizações não governamentais), na defesa dos direitos cívico-políticos e

económicos dos cidadãos.

No entanto, para situações específicas, o próprio Estado criou agências, como a

Comissão para a Igualdade e a Família, a CITE - Comissão para a Igualdade no Trabalho

e na Empresa, Alto Comissariado para a Imigração e as Minorias Étnicas, por exemplo,

para apoiar os cidadãos na defesa dos seus direitos.

Quando se tratou de concretizar os direitos económicos e sociais as estruturas do

Estado cresceram exponencialmente, por exemplo nos sistemas de segurança social,

saúde e acção social. Neste caso não se trata simplesmente de fornecer apoios formais

ou jurídicos, mas de fornecer bens e serviços, ou os meios financeiros para os obter.

Estes esquemas de segurança e solidariedade social concretizam direitos dos

cidadãos, enquanto beneficiários, mas também impõem deveres aos cidadãos enquantocontribuintes.

Page 17: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 17/44

 

17

TEMA III ² A DEMOCRACIA

  Democracia vem da palavra grega ³demos´ que significa povo. Nas democracias,

é o povo quem detém o poder soberano sobre o poder legislativo e o executivo .

Embora existam pequenas diferenças nas várias democracias, certos princípios

e práticas distinguem o governo democrático de outr as formas de governo.

  Democracia é o governo no qual o poder e a responsabilidade cívica são

exercidos por todos os cidadãos, directamente ou através dos seus

representantes livremente eleitos.

  Democracia é um conjunto de princípios e práticas que protegem a

liberdade humana; é a institucionalização da liberdade.

  A Democracia baseia-se nos princípios do governo da maioria associados

aos direitos individuais e das minorias . Todas as democracias, embora

respeitem a vontade da maioria, protegem escrupulosamente os direitos

fundamentais dos indivíduos e das minorias.

  As democracias protegem de governos centrais muito poderosos e fazem a

descentralização do governo a nível regional e local , entendendo que o

governo local deve ser tão acessível e receptivo às pess oas quanto

possível.

  As democracias entendem que uma das suas principais funções é proteger 

direitos humanos fundamentais como a liberdade de expressão e de

religião; o direito a prote cção legal igual; e a oportunidade de organizar e

participar plenamente na vida política, económica e cultural da sociedade.

  As democracias conduzem regularmente eleições livres e justas, abertas a

todos os cidadãos. As eleições numa democracia não podem ser fachadas

atrás das quais se escondem ditadores ou um partido único, m as

verdadeiras competições pelo apoio do povo.

   A democracia sujeita os governos ao Estado de Direito e assegura que

todos os cidadãos recebam a mesma prote cção legal e que os seus direitos

sejam protegidos pelo sistema judiciário.

Page 18: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 18/44

 

18

   As democracias são diversificadas, reflectindo a vida política, social e

cultural de cada país. As democracias baseiam -se em princípios

fundamentais e não em práticas uniformes.

  Os cidadãos numa democracia não têm apenas direitos, têm o dever de

participar no sistema político que, por seu lado, protege os seus direitos e

as suas liberdades.

  As sociedades democráticas estão empenhadas nos valores da tolerância,

da cooperação e do compromisso. As democracias reconhecem que

chegar a um consenso requer compromisso e que isto nem sempr e é

realizável. Nas palavras de Gandhi, ³a intolerância é em si uma forma de

violência e um obstáculo ao desenvolvimento do verdadeiro espírito

democrático´.

TEMA IV ² HISTÓRIA DA DEMOCRACIA

O regime de governo democrático surgiu em Atenas, na Grécia da Antiguidade

Clássica, conhecendo seu apogeu no século V A.C . Tratava-se precisamente de um

regime em que o "povo" se manifestava directamente, reunindo-se e votando em

assembleias, para tomar as decisões a respeito da vida da sua cidade.

Todos os cidadãos atenienses tinham não só o direito, como também o dever 

de participar nas assemble ias. Todos os cidadãos eram iguais perante a lei e tinham o

direito não só a votar, como também express ar sua opinião e defender o seu ponto de

vista, argumentando e, eventualmente, convencendo os restantes acerca das suas

ideias.

Este pode parecer ser o melhor dos mundos mas, não era bem assim. Ser um

cidadão ateniense não era uma condição de que usufruíam todos os habitantes de

  Atenas. Naquela sociedade, as mulheres, os escravos e os estrangeiros não eram

considerados cidadãos. Por isso, estavam totalmente excluídos das grandes decisões.

Desse modo, somente 10% do povo de Atenas estavam aptos a participar da

democracia.

Page 19: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 19/44

 

19

De qualquer maneira, o simples surgimento do ideal democrático é

importantíssimo: tratava-se de um novo valor, que se contrapunha aos regimes de

governo anteriores que, segundo Aristóteles, seriam a monarquia (o governo de um

só, o rei) e a aristocracia, o governo de um grupo de elite (seja económica, militar,

tecnológica). Ou seja, tipos de governo em que um ou alguns mandam e os restantes

obedecem.

 Apesar da experiência democrática ateniense, os principais filósofos gregos,

como Sócrates, Platão e o próprio Aristóteles, viam com certa reserva, quando não

com desprezo, a Democracia. Bem, no fundo, eles eram ³sábios´ (estudiosos,

filósofos, teóricos«) e, por isso mesmo, acreditavam que só os sábios deveriam

exercer o governo, numa ordem social que poderia ser monárquica ou aristocrática...

Historicamente, depois da Grécia e de Roma, as ideias democráticas só irão

reaparecer com maior força na Idade Moderna, a partir dos séculos XVII e XVIII . Nesta

época, os abusos de poder dos monarcas levaram os intelectuais a discutir os poderes

absolutos do governante, questionando o que tornava legítimo qualquer poder de

qualquer governo. Contra o absolutismo em vigor, ergueu-se o liberalismo.

 As ideias liberais conduziram à revolta contra a ordem aristocrática que vinha da Idade

Média, quando o poder político e a propriedade tinham transmissão heredit ária: os

herdeiros do rei e dos nobres recebiam não só as terras e os bens de seus

antepassados, como também o poder sobre os homens que viviam nas suas

propriedades.

O pensamento liberal, ao contrário, estabeleceu uma distinção entre a esfera

pública e a privada, entre a sociedade política e a sociedade civil . Para um filósofo

liberal, como John Locke, o poder só é exercido com legitimidade se tiver origem

parlamentar. O que isso signif ica? Isso significa que ninguém tem o direito de ocupar 

um cargo político só porque nasceu numa família nobre.

O direito ao poder, para Locke, depende de um mandato popular. Nesse

sentido, a representação política só adquire legitimidade se tiver surgido da vontade

dos cidadãos, expressa pelo voto . Os cidadãos elegem representantes para defender 

seus interesses junto ao governo.

Page 20: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 20/44

 

20

Mais uma vez, porém, a representação popular a que se ref ere o liberalismo

dos séculos XVII e XVIII, não deixava de ser elitista. Abrangia somente os grupos

sociais mais favorecidos. O voto era censitário, isto é, dependia de um censo (imposto

pago para se obter a condição de eleitor ). Com isso, a grande maioria da população

estava excluída do processo político e as decisões contin uavam restritas àqueles que

possuíam renda e propriedades.

  Ainda no século XVIII, enquanto se levantava e valorizava a questão da

legitimidade da representação, um outro filósofo, Jean-Jacques Rousseau defendia

um novo enfoque para a democracia dire cta da velha Grécia.

Para ele, as sociedades humanas são construídas a partir de um  pacto ou

contrato social . Por meio desse acordo, cada indivíduo aliena seu poder em favor dacolectividade. Entretanto, a vontade geral não poderia jamais ser alienada nem

representada. Ou seja, para Rousseau, os deputados e governantes não são

representantes do povo, mas apenas seus agentes. Assim, devem estar subordinados

à soberania popular, que to ma decisões através de assembleias, plebiscitos e

referendos.

Vontade geral é o conceito básico para compreender como Rousseau encarava

a democracia. Do seu ponto de vista, todo indivíduo é (ao mesmo tempo) uma pessoa

privada e uma pessoa pública (cidadão ): enquanto pessoa privada, trata dos seusinteresses particulares; enquanto pessoa pública faz parte de um corpo cole ctivo que

tem interesses comuns.

Mas nem sempre o interesse de um coincide com o de outro , pois muitas vezes

o que beneficia uma pessoa em particular pode ser prejudicial ao interesse cole ctivo.

Nesses termos, aprender a ser cidadão é justamente saber distinguir qual é a vontade

geral, típica do interesse de todos , mesmo que à revelia dos seus próprios interessespessoais/particulares.

Rousseau não era ingénuo a ponto de desconhecer as difi culdades de

implantação de uma Democracia directa, sobretudo em nações com um extenso

território e grande densidade populacional. No mundo de hoje, de fa cto, esta parece

inviável. Imagine que fosse necessário colher a opinião de todas as pessoas

Page 21: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 21/44

 

21

recenseadas (cerca de 8 milhões de pessoas) em Portugal de cada vez que uma

decisão governamental tiver de ser tomada...

Por outro lado, alguns instrumentos da democracia dire cta (como os plebiscitos

e os referendos) são muitas vezes fundamentais para a vontade da maioria prevalecer 

sobre os interesses minoritários. Para haver participação popular no exercício do

poder, é necessário que os cidadãos sejam politizados: saibam o que querem ou do

que precisam e conheçam aqueles que agirão a bem do interesse comum.

Caso contrário, a manipulação, a corrupção e o jogo de interesses acabam por 

transformar a maioria da população numa massa de manobras, que agirá em

detrimento dos seus próprios interesses e necessidades. Na verdade , a cidadania e a

democracia aprendem-se no seu próprio exercício. Como dizia Aristóte les, "só

construindo nos podemos tornar mestres de obra". É um processo de tentativ a e erro,no qual os portugueses, por sinal, parecem ter errado mais do que acertado nos

últimos anos... De qualquer modo, a única alternativa é co ntinuar a tentar .

TEMA V ² O CASO PORTUGUÊS: DO AUTORITARISMO À

DEMOCRACIA

 

Com o fim da 2ª Grande Guerra, os regimes democráticos saíram vitoriosos.

 

Porém, em Portugal o regime autoritário e repress ivo mantinha-se, apesar de Salazar 

 

procurar dar a entender que o paí s estava a mudar e que a oposição tinha liberdade

de se organizar e afirmar livremente:  

1º - Em 1945 dá-se a criação do MUD (Movimento de Unidade Democrática)

líder da oposição ao regime, depois declarado ilegal;  

2º - Em 1949, temos eleições presidenciais. O candidato da oposição, Norton

de Matos, desiste; 

3º - No ano de 1958, de novo eleições presidenciai s. O candidato da oposição,

General Humberto Delgado, obtém largo apoio da população m as é derrotado. 

Humberto Delgado conhecido como o General Sem Medo (1906 ² 1965) foi

um general português da Força Aérea que corporizou o principal movimento de

Page 22: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 22/44

 

22

tentativa de derrube da ditadura salazarista através de eleições, tendo contudo sido

derrotado nas urnas em 1958, num processo eleitoral fraudulento que desta forma deu

a vitória ao candidato do regime, Américo Tomás. 

Em 1959, na sequência da derrota, vítima de represálias por parte da polícia

política, pede asilo político na Embaixada do Brasil, seguindo depois para o exílio na

 Argélia.

Engrossando clandestinamente a Portugal, ao seu en contro, na fronteira Espanhola , é

enviado um comando da PIDE que o assassinou a tiro, bem como à sua secretária.

Morre assim na fronteira, sem ter conseguido regressar a Portugal, no dia 13 de

Fevereiro de 1965.  

 Até à década de 1950, o nível de desenvolvimento económico do nosso país

era dos mais baixos da Europa.

  A agricultura, apesar de ocupar 50% da população activa era de carácter tradicional e pouco produtiva. A indústria, por sua vez, conheceu um grande

incremento, em particular a metalurgia, adubos, celulose, química e construção naval.  

Em resultado da estagnação agrícola e do fomento industrial, as cidades

cresceram e, ao mesmo tempo, a emigração para Fran ça, Alemanha e EUA. Na

origem da emigração estava os melhores salários oferecidos nestes países da Europa,

mas também a fuga a uma vida de miséria, à guerra colonial e às perseguições

políticas movidas pela PIDE.  

 Após a 2ª Grande Guerra, afirmou -se o movimento de descolonização. Na Ásia

e, depois em África, as potências coloniais concederam a independência aos seus

territórios ultramarinos.

Portugal não o fez porque considerava que o país não possuía colónias mas

sim províncias e que, portanto, não era n ecessário torná-las independentes.

Em consequência formaram-se nas colónias portuguesas movimentos de

autonomia que, através da luta armada, contestavam a presença portuguesa no

território: em Angola o MPLA (1956), a FNLA (1962) e a UNITA (1966), na Guiné o

PAIGC (1960) e em Moçambique a FRELIMO, desencadearam acções de guerrilha.  Do confronto entre 1961 e 1974, resu ltaram cerca de 10 mil mortos ( de 900 mil

mobilizados), elevado número de deficientes e prejuízos económicos consideráveis.  

Em 1968, por incapacidade de Salazar, Marcelo Caetano foi nomeado chefe de

governo, criando uma grande expectativa entre os portugueses, que esperavam a

Page 23: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 23/44

 

23

resolução de dois grandes problemas: a questão da guerra colonial e a restauração

das liberdades democráticas.  

Marcelo Caetano introduziu algumas alterações a fim de efectuar uma

"renovação na continuidade": extinguiu a PIDE e criou a Direcção Geral de Segurança

(DGS), apesar de as pessoas e dos métodos não terem mudado; "aligeirou" a acção

da censura, permitindo também o regresso de alguns exilados políticos. Foi a

chamada "Primavera Marcelista", uma fraca liberalização que não agradou a ninguém

por ser insuficiente e não ter resolvido os problemas da nação. 

No dia 24 de Abril de 1974, um grupo de militares comandados p or Otelo

 

Saraiva de Carvalho instalou secretamente o posto de comando do movimento

 

golpista no quartel da Pontinha, em Lisboa . 

 

O golpe militar do dia 25 de Abril teve a colaboração de vários regimentos

 

militares que desenvolveram uma acção concertada . 

 

  À Escola Prática de Cavalaria, que partiu de Santarém, coube o papel mais

importante: a ocupação do Terreiro do Paço. As suas forças eram comandadas pelo

então Capitão Salgueiro Maia. O Terreiro do Paço foi ocupado às primeiras horas da

manhã. Salgueiro Maia moveu, mais tarde, parte das suas forças para o Quartel do

Carmo onde se encontrava o chefe do governo, Marcelo Caetano, que ao final do dia

se rendeu, fazendo, contudo, a exigência de entregar o poder ao General António de

Spínola, para que o "poder não ca ísse na rua". Marcelo Caetano partiu, depois, para a

Madeira, rumo ao exílio no Brasil.  

No dia seguinte, forma-se a Junta de Salvação Nacional, constituída por 

 

militares, e que procederá a um governo de transição. O essencial do programa do

 

MFA é resumido no programa dos três D: Democratizar, Descolonizar,

 

Desenvolver .

Entre as medidas imediatas da revolução contam-se a extinção da polícia política

(PIDE/DGS) e da Censura. Os sindicatos livres e os partidos foram legalizados. Só a

26 (de Abril) foram libertados os presos políticos, da Prisão de Caxias e de Peniche.

Os líderes políticos da oposição no exílio volta ram ao país nos dias seguintes.Passada uma semana, o 1º de Maio foi celebrado legalmente nas ruas pe la

primeira vez em muitos anos.

Portugal passou por um período conturbado que durou cerca de 2 anos,

referido como PREC (Processo Revolucionário Em Curso), marcado pela luta entre a

esquerda e a direita.

Page 24: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 24/44

 

24

No dia 25 de Abril de 1975 realizara m-se as primeiras eleições livres, para a

 Assembleia Constituinte que foram ganhas pelo PS.

Na sequência dos trabalhos desta assembleia foi elaborada uma nova

Constituição que estabelecida uma democracia parlamentar de tipo ocidental . A guerra

 

colonial acabou e as colónias africanas tornaram -se independentes.

  Portugal Antes do 25 de Abril:

 

O governo de Marcelo Caetano não autorizava a existência de

partidos políticos nem de opiniões discordantes da ditadura em que

Portugal vivia e que Salazar baptizou d e Estado Novo.

A Censura: Os jornais, os livros, o cinema e o teatro eram

visados por censores que proibiam as palavras que não agradavam ao

regime. Muitos escritores, jornalistas, cantores e músicos eram proibidos de

divulgar as suas obras.

A PIDE: A Polícia Internacional de Defesa do Estado existia para

perseguir, vigiar, prender e torturar todas as pessoas que tinham opiniões

diferentes do governo. Muitos antifascistas foram assassinados pela PIDE.

As Prisões da Ditadura : Os opositores ao Estado Novo eram

presos em Prisões como Peniche e Caxias, onde permaneciam com

péssimas condições e eram torturados, só porque não concordavam com

aquele regime político.

O Exílio: Muitos portugueses foram obrigados a ir viver para o

estrangeiro para não serem presos ou por recusarem ir combater na injusta

guerra colonial. Nos países do exílio, continuaram a sua luta contra a

ditadura.

A Mocidade Portuguesa : Os jovens a partir dos 7 anos, eram

obrigados a pertencer a esta organização militarista de juventude, que

exigia que andassem fardados, marchassem como soldados e fizessem a

saudação nazi. A Resistência: Como estavam proibidos os partidos políticos,

lutava-se na clandestinidade pela liberdade. A oposição democrática

participou em eleições, mas os resultados eram falsi ficados e os candidatos

presos.

A Guerra Colonial: Os territórios de Angola, Guiné e

Moçambique, para alcançarem a sua independência, foram obrigados a

Page 25: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 25/44

 

25

fazer a guerra a Portugal. Em consequência, morreram milhares de

africanos e portugueses em África.

O Poder Autoritário: Quem nomeava os presidentes das

Câmaras Municipais e das Juntas de Freguesia eram os governantes, que

não ouviam a opinião das populações, nem tinham de cumprir um

programa.

  Portugal Isolado do Mundo : O nosso país era conhecido por 

organizações internacionais como a ONU, que não aceitava que

continuássemos a colonizar os territórios que tinham exigido a sua

independência.

  Portugal depois do 25 de Abril:

 

  O 25 de Abril de 1974 : Os capitães rejeitaram a guerra colonial

e resolveram organizar-se no Movimento das Forças Armadas (MFA) para

acabar com a guerra e restabelecer a Democracia.

  Liberdade de Expressão e Manifestação : O MFA extinguiu a

censura prévia. No 1º de Maio de 1974, milhões de portugueses saíram à

rua em manifestações livres por todo o país, comemorando a conquista da

liberdade.

  Liberdade de Reunião e Associação : Foram legalizados, os

sindicatos, as associações de estudantes e os partidos políticos, aceitando -

se a livre associação para a difusão de ideias e propostas.

  A Libertação dos Presos Políticos : Os presos políticos foram

libertados, pondo-se fim à prática de se prender as pessoas que não

concordem com o governo ou que pertençam a partidos de oposição.

  O Regresso dos Exilados : Após o 25 de Abril, os exilados

regressaram a Portugal, podendo integrar -se na sociedade democrática e

contribuindo para a construção de um ³novo país´.

  Escola para Todos : A escolaridade obrigatória até ao 9º ano e aproibição do trabalho infantil permitem a todos os jovens darem o devido

valor à escola e aos estudos, preparando-se melhor para a vida activa.

  A Democracia: As eleições passaram a ser livres e os partidos

políticos podem divulgar os seus programas eleitorais para a eleição de

deputados à Assembleia da República. O Povo também elege o Presi dente

da República.

Page 26: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 26/44

 

26

  O Nascimento de Novos Países : O MFA acabou com a guerra

colonial, o que originou novos países: Angola, Cabo Verde, Guiné,

Moçambique e São Tomé e Príncipe. Timor começa agora a dar os

primeiros passos.

  O Poder Local: As Câmaras Municipais e as Juntas de

Freguesia são eleitas pelas populações locais, que podem fiscalizar o

cumprimento das propostas eleitorais dos respectivos autarcas.

  Portugal na União Europeia : A Democratização de Portugal e a

Independência das ex-colónias foram bem recebidas pelas organizações

internacionais e abriram-nos as portas para integrarmos a EU.

 

TEMA VI ² A UNIÃO EUROPEIA

União Europeia (EU), anteriormente designada por Comunidade

Económica Europeia (CEE), é uma organização internaciona l constituída

actualmente por 27 Estados-Membros, estabelecida com este nome pelo Tratado

da União Europeia (normalmente conhecido como Tratado de Maastricht) em1992, mas muitos aspectos desta união já existindo desde a década de 1950. A

UE tem sedes em Bruxelas, Luxemburgo e Estrasburgo.

 A União Europeia (UE) foi criada originalmente por 6 Estados fundadores em

1958, cresceu até aos actuais 27 Estados membros. Houve cinco alargamentos

sucessivos, o maior ocorreu em 1 Maio, de 2004, quando 10 estados aderiram.

 A UE tem 27 Estados membros desde 2007, quando a Roménia e a Bulgária

aderiram. Há negociações em curso com outros estados. O processo de alargamentoé algumas vezes referido como Integração Europeia. Contudo este termo é também

usado para referir a intensificação da cooperação entre os estados.

Para aderir à União Europeia, um estado precisa de satisfazer as critérios

económicos e políticos, conhecidos como Critérios de Copenhaga . De acordo com o

Page 27: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 27/44

 

27

Tratado da União Europeia , cada estado membro e o Parlamento Europeu têm de

estar em acordo com qualquer alargamento.

  A União Europeia tem muitas facetas, as mais importantes sendo omercado único europeu (ou seja uma união aduaneira), uma moeda única

(adoptada por 12 dos 27 Estados membros) e políticas agrícola, de pescas,

comercial e de transportes comuns. A União Europeia desenvolve também várias

iniciativas para a coordenação das actividades judiciais e de defesa dos Estados

Membros.

Os Tratados de Paris (1951), estabelecendo a Comunidade Europeia do

Carvão e do Aço, e o de Roma (1957), instituindo a Comunidade Económica

Europeia e a Comunidade Europeia da Energia Atómica ou Euratom, foram

assinados por seis membros fundadores: Alemanha, Bélgica, França, Itália,

Luxemburgo e Países Baixos. Depois disto, a UE levou a cabo seis alargamentos

sucessivos: em 1973 Dinamarca, Irlanda e Reino Unido; em 1981 Grécia; em

1986 Espanha e Portugal ; em 1995 Áustria, Finlândia e Suécia; a 1 de Maio de

2004, República Checa, Chipre, E slováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia,

Lituânia, Malta e Polónia; e em 2007, a Bulgária e a Roménia.

Em 1972 e 1994, a Noruega assinou também trata dos de adesão à União

Europeia. No entanto, nas duas ocasiões, através de referendos, a população

norueguesa rejeitou a adesão do seu país. Macedónia, Croácia e Turquia são

candidatos à adesão à UE.

  A UE (União Europeia) é um bloco económico, político e social de 27

países europeus que participam de um projecto de integração política e

económica. Os países integrantes são: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária,

Chipre, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França,

Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Holanda,

Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Roménia e Suécia. Estes

países são, tendencialmente, politicamente democrát icos, com um Estado de

Direito.

Page 28: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 28/44

 

28

  A União Europeia conta com instituições básicas como o Parlamento,

Comissão, Conselho e o Tribunal de Justiça. Todos estes órgãos possu em

representantes de todos os países membros.

Com o propósito de unificação monetária e facilitação do comércio entre

os países membros, a União Europeia adaptou uma única moeda . A partir de

Janeiro de 2002, os países membros (excepção da Grã -Bretanha) adaptaram ao

euro para livre circulação na chamada zona do euro. Ou seja, aderiram ao Euro:

  Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia,

Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Portugal e Suécia.

  Objectivos da União Europeia : 

y  Promover a unidade política e económica da Europa;

y  Melhorar as condições de vida e de trabalho dos cidadãos

europeus;

y  Melhorar as condições de livre comércio entre os países

membros;

y  Reduzir as desigualdades sociais e económicas entre as

regiões;

y  Fomentar o desenvolvimento económico dos países em fase de

crescimento;

y  Proporcionar um ambiente de paz, harmonia e equilíbrio na

Europa.

Fig.1: Indicação da UE no mapa mundial

Page 29: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 29/44

 

29

O que hoje se denomina União Europeia iniciou -se após a 2ª Guerra

Mundial. O nosso continente necessitava de paz e de uma urgente Reconstrução.

 Alguns países da Europa uniram -se em organizações de Cooperação económica

e política. A primeira medida nesse sentido foi concretizada com a criação da

Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (C.E.C.A.) constituída em 1951.

  Cidadania Europeia:

  A cidadania europeia foi instituída pelo Tratad o de Maastricht, em 1992, e

confere direitos e deveres aos cidadãos da União Europeia.

³É  instituída a cidadania da União. É  cidadão da União qualquer pessoa que

tenha a nacionalidade de um Estado -Membro. A cidadania da União é complementar 

da cidadania nacional e não a substitui.´ Artigo º 17 Tratado da EU 

  Direitos dos Cidadãos da EU: Direitos

A Livre Circulação de Pessoas  

O Direito dos Consumidores  

A Capacidade Eleitoral  

O Direito à Protecção Diplomática e o Direito de Petição  

O Acesso ao Provedor de Justiça 

O Direito à Transparência  

A Protecção dos Dados  

Page 30: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 30/44

 

30

TEMA VII ² A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU)

  A Segunda Guerra Mundial relançou a ideia da criação de um organismo

supranacional capaz de:

Arbitrar conflitos,

Impedir a resolução de problemas de relacionamento entre es tados

pelo recurso às armas,  

Garantir a igualdade entre os estados,  

Fazer respeitar os direitos humanos.

Todos estes objectivos, que eram uma reedição dos propósitos que haviam

norteado a criação da Sociedade das Nações a pós a Primeira Guerra Mundial,estavam consignados numa Carta, aprovada em Outubro de 1945 na Conferência de

S. Francisco.

Para a implementação dos seus objectivos, a ONU criou organismos

especializados diversos, dedicados a desenvolver esforços em áreas

específicas, como:

A FAO (Food and Agriculture Organisation), que se ocupa de problemas da

fome e do subdesenvolvimento,

A UNESCO,

  Organização Mundial de Saúde , que intervêm no campo da ciência, da

cultura, da educação e da saúde e outros que se ocupam de questões do

trabalho, financeiras e económicas, etc.

É grande o prestígio de que estas ramificações da organi zação desfrutam,

particularmente em países do Terceiro Mundo que têm beneficiado de programas

educacionais, de promoção económica e social das suas populações ou de

campanhas de erradicação de doenças, de educação sanit ária ou de combate a

epidemias.

Na sua vertente política, no entanto, a vida da ONU tem sido atribulada, em

razão precisamente dos conflitos que pretendia controlar ou evitar .

Desde a sua fundação, registaram -se, de facto, conflitos entre as grandes

potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial, que dispõem de lugar permanente

Page 31: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 31/44

 

31

no Conselho de Segurança, com direito a veto: a ONU foi, neste aspecto, vítima dos

confrontos entre os blocos político-militares que se constituíram em torno dos EUA e

da URSS, o que levou a que prevalecessem sobre todas as outras questões as

preocupações com a segurança internacional. Por outro lado, particularmente na

década de 60, a entrada em cena de nume rosos países do Terceiro Mundo, muitos

deles ex-territórios coloniais recém-chegados à independência, introduziu no seio da

ONU problemas relacionados com a desigualdade económica e o direito dos povos à

independência e à autodeterminação, com os quais as grandes potências por vezes se

preocupavam bem pouco.

No âmbito das Nações Unidas, foram empreendidas ao longo de décadas

acções com resultados positivos na defesa da paz, como é o caso da interposição de

forças militares entre contendores, como sucedeu n a dividida Ilha de Chipre ou em

  Angola. Não quer isto dizer que a ONU tenha eliminado totalmente os conflitos,

embora tenha contribuído grandemente para os atenuar e encaminhar para umasolução negociada, no sentido da paz. Nos últimos anos, a organização tem-se visto

confrontada com a necessidade de intervir em numerosos conflitos regionais, nem

sempre tendo sabido manter uma atitude claramente neutral em relação às forças que

se enfrentam em cada situação, o que levanta reservas por parte dos que se

consideram lesados.

  A ONU é neste momento uma organização em crise de credibilidade,

aparentemente com muitas dificuldades para acompanhar a alteração profunda da

política mundial após o fim da guerra fria e o desmantelamento dos blocos político -

militares, mas é sobretudo uma organização em crise financeira , dado que os países

membros protelam o pagamento das quotizações a que são obrigados (o maior 

devedor, ou pelo menos um dos maiores, são os Estados Unidos), sab endo-se que

esta atitude de não cooperação é igualmente resultante da perda de credibil idade que

afecta a organização.

Apesar da organização enfrentar situações difíceis, todo o esforço e todo

o trabalho desenvolvido nos últimos anos para a conservação da paz e dos

direitos humanos proporcionaram -lhe o prémio Nobel da Paz em 2001, prémio

partilhado com Kofi Annan (secretário-geral da organização de 1997 a 2007) quedemonstrou sempre uma grande dedicação ao trabalho desempenhado pela

organização. Esta atribuição da Academia das Ciências sueca serve não só para

valorizar o desempenho como também para dar a devida importância à maior 

organização internacional de apel o à paz e estabilidade mundial.

 A 24 de Outubro, comemora-se o Dia das Nações Unidas.

Page 32: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 32/44

 

32

TEMA VIII ² PARTICIPAÇÃO ORGANIZADA E SOLIDARIEDADE

SOCIAL

O Século XX, após a primeira Guerra Mundial, assiste ao renascer de Estados

reafirmados na sua posição geopolítica. A tendência mundial da descolonização obriga

estes Estados a envolverem-se nos seus assuntos internos, a reconquistar mercados

e posições estratégicas.

Como já vimos, a evolução dos Governos Europeus tende para a Democracia.

 Ao cidadão, figura que evoluiu jurídica e socialmente durante o fim do século

XIX e princípios do século XX, é reconhecido um papel maior na sociedade e na

manutenção do Estado-nação.

No entanto, depois do desenvolvimento industrial e da rápida evolução do

mercado livre, as ³crises sociais´ graves sucedem-se de forma mais ou menos

avassaladora em cada país.

Não se trata apenas de gerir interesses particulares dos cida dãos, mas entre

estes e as formas organizadas de trabalho, mercado, segurança, direito.

Tratava-se de reconstruir a Europa a todos os níveis.

Se num Estado democrático os cidadãos tem direitos iguais de acesso é, na

falta desta igualdade, obrigação do Est ado (Estado Providência) prover que ascondições sejam equilibradas .

  Assiste-se a uma crescente desresponsabilização de outras instituições no

projecto comum de uma sociedade estável e solidária.

Desta fragmentação social, tanto a nível geral como local, nascem

problemas acumulados, aos quais o Estado não consegue dar respostas

adequadas no tempo.

Uma vez mais, e desde o início da década de 70, com o agravamento e a

mundialização dos fenómenos que afectam os Estados, a Solidariedade é insultada e

relegada para um plano muito na retaguarda das prioridades político económicas.

Os cidadãos são embalados nesse processo e durante as duas últimas

décadas do séc. XX não encontramos grandes movimentos sociais solidários, no

mundo ocidental.

Page 33: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 33/44

 

33

Contudo, para fazer face a esta lacuna do Estado, tem vindo a formar-se

associações com diversos objectivos, que resultam da comunhão de atitudes e de

sentimentos, visando constituir uma unidade sólida, capaz de resistir às forças

exteriores e mesmo de tornar-se ainda mais forte e defender os interesses de um

determinado grupo, causa, ou minoria . São as chamadas Instituições Particulares de

Solidariedade Social (IPSS).

  História das Instituições Particulare s de Solidariedade Social:

Até à criação das misericórdias no final do século XV e desde os primórdios da

nacionalidade, as necessidades da população portuguesa, em matéria de assistência,

tinham dado origem a uma multiplicidade de iniciativas . Muitas delas eram de âmbito

local, ligadas não apenas a ordens militares e religiosas (que tiveram um importante

papel na reconquista e no repovoamento do território) como também aos municípios e

às confrarias de mestres ou a simples particulares (mercadores ricos, etc.); outras,

pelo contrário, deveram a seu nascimento à devoção de vários reis, rainhas e demais

gente da nobreza e do alto clero.

No final do século XV existiam quatro tipos de estabelecimentos assistenciais :

 Albergarias, Hospitais (como hospedarias para os pobres), Gafarias ou Leprosarias e

Mercearias (obrigação religiosa de fazer o bem pela alma ou saúde de alguém).

Apenas os hospitais, agora com uma função declaradamente de prestação de

cuidado de saúde, subsistem hoje em dia .

A partir do século XVII a solidariedade começa a desmarcar-se do sentido

puramente religioso da caridade para se assumir como um dever social do Estado e

da sociedade civil .

A criação da Casa Pia nos finais do século XVIII pode ser considerada como

uma referência para o lançamento da assistência social com origem pública/estatal em

Portugal.

A Lei 2120 de 19 de Julho de 1963 instituiu as Instituições Particulares de

  Assistência, que eram consideradas Pessoas Colectivas de Utilidade Pública  Administrativa (PCUPA) e assumiam as formas de Associações de Beneficentes,

Institutos de Assistência (religiosos ou não) ou Institutos de Utilidade Local

(Fundações).

  Foi com a Constituição de 1976 (artigo nº 63) que s urgiu pela primeira vez

o termo IPSS, Instituição Particular de Solidarie dade Social.

Page 34: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 34/44

 

34

As principais formas jurídicas de IPSS são:

o  As Santas Casas da Misericórdia ou Irmandades da

Misericórdia foram fundadas em 15 de Agosto de 1498 , aquando da criação na

Sé de Lisboa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, por iniciativa d a Rainha

D. Leonor e de Frei Miguel Contreiras.

o Em 1500 já existiam 23 SCM.

o As restantes tiveram origem maioritariamente na Igreja e nas

Confrarias.

o Estão hoje inscritas na DGSSS, 332 SCM, todas constituídas

sob ordem jurídica canónica, que se encontram reunidas na União das

Misericórdias Portuguesas (392 associadas) criada em 1974 e confederadascom as Misericórdias internacionais na Confederação Internacional das

Misericórdias desde 1979.

o As SCM têm uma tradição multissecular e têm por via do seu

peso institucional já consolidado, um crescimento mais reduzido em número de

instituições.

o Esta diminuição do número de instituições (usualmente uma

SCM por concelho) não é sinónimo de imobilismo, pelo contrário as SCM têm

crescido em actividades e no melhoramento do seu vasto património

imobiliário.

o 85% das SCM têm, pelo menos uma valência para idosos. Por 

exemplo a Misericórdia do Porto, considerada "a maior do Mundo", possui 80

milhões de activos imobiliários dentro e fora do País, em 1993 empregava mais

de 800 pessoas e movimentava anualmente mais de 25 milhões de euros. A

Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) não foi incluída neste estudo por 

ainda não estar totalmente clarificada a sua forma jurídica. A SMCL foi criada

como associação privada, sendo como todas as SCM vindouras apoiada

inicialmente pela Igreja. Em 1919 passou para a tutela do Estado, tendo em1991 assumido o estatuto de PCUPA. Presentemente a SCM de Lisboa é uma

entidade privada, nomeadamente na gestão do pessoal e na gestão financei ra,

embora tenha características de instituição pública nos planos estrutural,

orgânico e administrativo (SCML, 1998).

Page 35: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 35/44

 

35

o  Os Centros Sociais Paroquiais , os Centros Paroquiais de Bem-Estar Social

ou outras congregações religiosas, fortemente ligadas à Igre ja Católica, são as

segundas IPSS mais antigas, denominadas antes de 1983 por Institutos de

 Assistência.

o A Igreja é a instituição que em Portugal mais atenção prestou e de um modo

mais persistente à acção social.

o A Igreja sempre foi um agente determinant e e uma força fundamental na

gestão das pessoas e dos meios relacionados com a solidariedade social.

o De notar que 25% dos Centros Sociais Paroquiais são presididos por um

sacerdote.

o  As Associações de Socorros Mútuos ou Mutualidades, que tiveram um

papel bastante importante no início da intervenção social, mas que entretanto e

fruto da deslocação para outras entidades do seu principal fim , o fundo, vieram

a perder continuamente importância.

o O melhor exemplo actual de uma Mutualidade em funcionamento é o Montepio-

Geral (Valério, 1994).

o  As Associações de Solidariedade Social de iniciativa privada ou associativa

surgiram depois de 1974 como resultado do impulso de participação na

democratização da sociedade portuguesa.

o São estas novas IPSS que estão mel hor preparadas e mais vocacionadas para

lidar com os novos problemas sociais (toxicodependência, exclusão social)

enquanto as IPSS mais antigas estão bastante ligadas às respostas

tradicionais (Pré-escolar, Centros de Dia, Lares).

o Há em Portugal um défice de mobilização das principais forçasimpulsionadoras do movimento das instituições particulares para os novos

domínios da luta cont ra a exclusão.

o Isto deve-se não só à inércia institucional das IPSS, principalmente das mais

antigas, como ao Estado que te m privilegiado a instalação das valências

tradicionais.

Page 36: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 36/44

 

36

o As principais respostas sociais onde as IPSS trabalham, além das respostas

vocacionadas para idosos (Centro de Convívio, Centro de Dia, Serviço de

 Apoio Domiciliário, Lares, etc.), são na área da infância e juventude (Creche,

Estabelecimento de Ensino Pré -escolar, Centro de Actividades de Tempos

Livres, Lares de jovens, etc.); na área da deficiência (Lares e Centros de

  Actividades Ocupacionais); na área da família (Centro Comunitário, etc.); na

área da toxicodependência; dos sem -abrigo e outras (Cuidados Médicos,

Ensino, etc.).

o Actualmente são 53 as respostas sociais reconhecidas pela DGSS e praticadas

pelas IPSS que assistem diariamente 438.556 pessoas e onde trabalham perto

de 20.000 voluntários e 45.000 empregados.

  O que são IPSS?

De acordo com o artigo 1.º do Estatuto das Instituições Particulares de

Solidariedade Social (EIPSS) aprovado pelo Decreto -Lei n.º 119/83, de 25 de

Fevereiro, são instituições particulares de solidariedade social (IP SS), as

constituídas por  iniciativa de particulares , sem finalidade lucrativa , com o propósito

de dar expressão organizada ao dever moral de solidariedade e de justiça entre os

indivíduos, que não sejam administradas pelo Estado ou por um corpo autárquico,

para prosseguir, entre outros, os seguintes objectivos , mediante a concessão de

bens e a prestação de serviços:

y   Apoio a crianças e jovens;

y   Apoio à família;

y  Protecção dos cidadãos na velhice e invalidez e em todas as

situações de falta ou diminuição de meios de subsistência ou de capacidade

para o trabalho;y  Promoção e protecção da saúde, nomeadamente através da

prestação de cuidados de medicina preventiva, curativa e de reabilitação;

y  Educação e formação profissional dos cidadãos;

y  Resolução dos problemas habitacionais das populações

Page 37: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 37/44

 

37

Estes objectivos são concretizados nomeadamente, através de respostas de

acção social em equipamentos e serviços bem como de parcerias em programas e

projectos.

 As IPSS, nos casos em que os objectivos se enquadram no âmbit o da acção

social/segurança social, podem celebrar acordos de cooperação com os Centros

Distritais do Instituto de Segurança Social (ISS), tendo em vista a promoção do acesso

a serviços e equipamentos sociais, ou acordos de gestão através dos quais assumem

a gestão dos equipamentos pertencentes ao Estado

Para além dos apoios financeiro e técnico previstos nestes acordos, as

instituições têm ainda acesso a outros apoios financeiros destinados a investimentos

na criação ou remodelação dos estabelecimentos s ociais. Uma vez registadas, as IPSS adquirem o estatuto de pessoas colectivas de

utilidade pública, advindo daí, por parte do Estado, a atribuição de benefícios

(isenções fiscais, apoios financeiros) e encargos (prestação de contas, obrigação de

cooperação com a Administração Pública).

As instituições particulares de solidariedade social podem ser de natureza

associativa ou de natureza fundacional.

São de natureza associativa:

 As associações de solidariedade social. São, em geral associações com fins de

solidariedade social que não revestem qualquer das formas das associações a seguir 

indicadas:

y   As associações de voluntários de acção social;

y   As associações de socorros mútuos ou associações mutualistas;

y   As irmandades da Misericórdia.

 As associações mutualistas dispõem de um regime autónomo ± Decreto-Lei n.º

72/90, de 3 de Março que aprovou o Código das Associações Mutualistas e

Regulamento de Registo aprovado pela Portaria n.º 135/2007, de 26 de Janeiro.

São de natureza fundacional:

y   As fundações de solidariedade social;

Page 38: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 38/44

 

38

y  Os centros sociais paroquiais e outros institutos criados por 

organizações da Igreja Católica ou por outras organizações religiosas, sujeitos

ao regime das fundações de solidariedade social.

Por sua vez, as IPSS, podem agrupar-se em:

y  Uniões;

y  Federações;

y  Confederações.

  Como se constitui uma IPSS e como adquire personalidade

 jurídica?

y    Associações - constituem-se por escritura pública, através da

qual adquirem personalidade jurídica;

y  Fundações - podem constituir-se por uma de duas formas:

o  Por acto entre vivos, através de escritura pública do acto

de instituição;

o  Por testamento ou ³mortis causa´ - As fundações,

qualquer que seja a forma como se constituem, só adquirem

personalidade jurídica pelo reconhecimento, da competência do

ministro da tutela, que pressupõe, nomeadamente, a verificação da

suficiência do património afectado à realização dos seus fins.

y    Associações e Fundações da Igreja Católica - são criadas

canonicamente pelo bispo da diocese da sua sede, adquirindo personalidade

Page 39: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 39/44

 

39

  jurídica civil pela simples participação escrita de respectiva constituição aos

Centros Distritais de Segurança Social da área da sede das IPSS, quando

prossigam fins de acção social/segurança social .

TEMA IX ² JUSTIÇA E EQUIDADE SOCIAL PARA TODOS

Um povo só se torna realmente justo quando conhece, de forma clara e

objectiva, o real significado da palavra justiça.

O termo  justiça (do latim iustitia), diz respeito à igualdade de todos os

cidadãos. É o princípio básico de um acordo (Pacto Social) que objectiva manter a

ordem social através da preservação dos direitos (constitucionalidade das leis) ou na

sua aplicação a casos específicos.

Infelizmente, o princípio de justiça ainda não é muito bem c ompreendido pelo

povo português. Uma das causas é que, na Língua Portuguesa, a palavra justiça

também é utilizada para referir-se a órgãos Judiciais (Direito). Esta duplicidade na

linguagem ajuda a confundir os cidadãos menos esclarecidos.

  A palavra justiça refere-se, antes de mais, a um princípio de equidade, de

igualdade proporcional; um princípio de sabedoria qu e deveria ser utilizado pelo

Governo em todas as áreas e, princ ipalmente, pelo Poder Legislativo .

 A maioria dos cidadãos conhece apenas duas situações: ser beneficiado ou ser 

prejudicado. Infelizmente, muitas vezes não sabemos discernir entre estes extremos e

a adoptar situações intermediárias. É no ponto intermédio , entre o benefício e o

malefício, que encontramos o que é justo para todos.

Em linhas gerais, ser justo é não oprimir nem privilegiar, não menosprezar nem

endeusar, não subvalorizar nem sobrevalorizar. Ser justo é saber dividir corre ctamente

sem subtrair e sem adicionar (sem roubar o u subornar). Ser justo é não nos

Page 40: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 40/44

 

40

apropriarmos de pertences alheios e dar o correcto valor a cada coisa e a cada

pessoa. Ser justo é estabelecer regras claras sem beneficiar uns em detrimento de

outros. Ser justo é encontrar o equilíbrio que satisfaz ou sacrifica, por igual, sem deixar 

resíduos de insatisfação que possam resultar em desforras posteriores.

  A ausência de uma boa educação, nesse sentido, tem propiciado

comportamentos extremistas (ora omisso, ora violento) por parte de inúmeros

cidadãos. Aliás, ainda hoje, muitos cidadãos portugueses, europeus e mundiais,

preferem calar-se diante das inúmeras explorações de que são vítimas no dia a dia.

Comportar-se de forma realmente justa, tanto na hora de dar ou de vender,

quanto na hora de cobrar ou de receber, é condição primordial para um povo se tornar 

pacífico e bem-sucedido.

Em suma, a justiça e a equidade s ão fundamentais para o bem-estar social.

TEMA X ² A SOCIEDADE DEMOCRÁTICA EM PORTUGAL

A cronologia da evolução social difere da política , e para se perceberem as

continuidades e transformações da sociedade democrática é necessário recuar até à

década de 60, a partir da qual se verificaram importantes m udanças, algumas das

quais se contam entre os factores que deram origem à revolução . É o caso da

emigração, por exemplo. A sua evolução foi multifacetada, reg istando, por vezes,

acelerações bruscas.

  A emigração acompanha a História portuguesa como um facto r estrutural. À

grande emigração dos anos 60, sobretudo em direcção a França, seguiu -se umabrandamento. Nos anos 80 os portugueses migraram muito menos e os destinos

alteram-se: emigraram em direcção aos EUA, Venezuela, Canadá e Austrália.

Contudo, o movimento mais espectacular, após o 25 de Abril, foi o do

regresso dos portugueses das ex -colónias africanas; é este aspecto que

caracteriza a imigração dos meados da década de 70, entrando em Portugal m ais de

meio milhão de pessoas.

Page 41: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 41/44

 

41

  A zona do litoral - Lisboa e Vale do Tejo - recebeu quase metade dos

retornados, mas alguns distritos do centro e interior, como Viseu, Vila Real e Guarda,

acolheriam também muitos dos portugueses das ex-colónias.

Este fenómeno gerou algum mal -estar social, mas, globalmente, saldou-se

como integração pacífica. Esta integração ficou a dever-se, por um lado, ao facto da

maioria dos retornados ter ido recentemente para as colónias (anos 60), e, por outro, a

sociedade portuguesa estar ainda muito ligada à agricultura, bem como às prát icas

que se lhe associam, nomeadamente a solidariedade familiar. Importante também foi o

facto da maioria destas pessoas serem jovens, em idade activa e escolarizadas.

Desta forma, os retornados contribuíram para o crescimento e o

rejuvenescimento da popu lação em geral, da qualificação média da população activa,

das iniciativas empresariais (sobretudo médias e pequenas empresas) e para a

difusão de novos valores.

Um outro movimento a destacar é o regresso contínuo de emigrantes daEuropa, mas este fenómeno, com início mesmo antes de 74 e que a partir de 80 atinge

valores mais significativos, teve muito menos impacto, quer pelo número de pessoas

que regressaram, quer pelo facto de ser gradual.

Da mesma ordem de importância foram os fluxos de africanos, migrações

sazonais, e os de fixação definitiva. Trata -se de um movimento que se iniciou nos

anos 60, ganhando mais intensidade nos anos 80 .

Portugal tornou-se, assim, recentemente, um país receptor de imigrantes, não

só de africanos dos PALOP, mas também (des de 80) do Zaire, Senegal, Brasil, Índia e

China. É a emigração clássica de força de trabalho não qualificado .

Nos trinta anos que se s ituam entre 1971 e 1991, registou -se um aumento da

população portuguesa (a residir em Portugal) de cerca de 1 milhão de pe ssoas, para

depois, entre 1981 e 1991, se verificar uma estabilização da população, em torno dos

10 milhões.

Portugal apresentou, na década de 70, uma taxa de crescimento médio anual

da ordem dos 1,30%. Este forte crescimento ficou a dever -se, em grande medida, ao

regresso de portugueses das colónias, e, em menor escala, ao regresso de nacionais

da Europa. A década seguinte caracterizou -se, sobretudo, por uma situação deestagnação, que espelha o real envelhecimento da população.

 A evolução registada entre 60-91 revela, pois, um progressivo envelhecimento

da população no topo e na base da pirâmide etária. Entre 1970 e 1991, verifica -se

uma diminuição do grupo etário situado entre os 0 e os 15 anos, um aumento do grupo

etário entre os 15 e os 64, bem como um aumento do número de pessoas com mais

de 65 anos. Isto é, verificou-se um duplo envelhecimento, que traduz a quebra da

Page 42: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 42/44

 

42

natalidade e da fecundidade, e também o aumento da esperança de vida (entre 74 e

91, verificou-se um aumento da esperança de vida de cerc a de 3 anos para ambos os

sexos).

É de referir, ainda, a extraordinária evolução da taxa de mortalidade infantil

que, em 1974, era da ordem dos 58% e que passou para os 10% em 1991. As taxas

brutas de nupcialidade desceram (9% em 1971 para 7,3% em 1991), tendo-se

verificado um aumento das taxas de divórcio e de separação (0,12% em 1974 para

1,03% em 1991), como também um aumento da taxa de nascimentos fora do

casamento.

Contudo, é necessário considerar que as taxas aqui apresentadas têm

variações regionais que se relacionam com os fenómenos de urbanização e

litoralização da população.

No que respeita à evolução dos níveis de escolaridade, refira -se que em 1960

a maioria da população portuguesa não havia ultrapassado o nível básico deescolaridade (nem sequer 5% da população atingia o ensino secundário e apenas 1%

o ensino médio ou superior), andando a taxa de analfabetismo pelos 30% . Contudo, a

partir dos anos 60, assiste-se à duplicação das percentagens de indivíduos que vão,

sucessivamente, atingindo os vários graus de ensino, sobretudo no que diz respeito ao

ensino médio e superior . Este fenómeno está na origem de um processo c omplexo de

recomposição social.

Novas lógica sociais encontram expressão na procura e frequência de novos

cursos profissionais e especializações que o sistema actual de ensino passou a

proporcionar. O nível de ensino da população em geral e o aumento de mulheres no

ensino superior cresceu de forma acelerada, embora a taxa de analfabetismo seja

ainda elevada, comparativamente aos pa íses da União Europeia . Contudo, o sistema

de ensino tem alguns problemas graves, como, por exemplo, certa ineficácia do ensino

experimental e a alta taxa de abandonos.

 A procura de instrução e formação é actualmente considerada normal, mas é

um fenómeno relativamente recente.

  As transformações que referimos envolveram processos complexos de

recomposição social e socioprofissional. A taxa de actividade global subiu no últimosdez anos, mas um dos aspectos que mais transformaram e continuaram a transformar 

a sociedade portuguesa é a crescente participação da mulher na actividade

profissional, que alterou o seu estatuto, a par da alteração das relações conjugais e da

quebra da natalidade. O crescimento da taxa de actividade feminina em Portugal

duplicou nos últimos 20 anos, sendo maior do que nos outros países europeus (a taxa

média de mulheres na população activa, em 1990 e em Portugal, era da ordem dos

Page 43: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 43/44

 

43

64%, e na Comunidade pouco ultrapassava os 60%). É a procura de realização

profissional e independência pes soal por parte das mulheres .

Este processo gera um movimento de recomposição socioprofissional onde a

mulher tem cada vez mais um papel importante, e só ao nível dos dirigentes e

operários é que ainda permanece um desequilíbrio a favor dos homens. Contudo , à

mulher cabe ainda a maioria do trabalho doméstico.

  Acompanhando as alterações, ou melhor, a redistribuição nos diferentes

sectores da actividade económica, vai -se operando uma reestruturação das exigências

de qualificação, das características e pesos relativos entre as diversas actividades

profissionais.

  A litoralização e a urbanização são processos que em Portugal já se

começaram a desenvolver há algum tempo, e que na época contemporânea passam

por um reforço e intensificação. Dos anos 60 em diante acentuam-se as assimetrias

regionais. O litoral urbaniza-se e industrializa -se, enquanto o interior se desertifica. Em1991, 80% da população concentrava-se no litoral - entre o Minho e o Algarve (à

excepção do Alentejo) - 15% no interior - de Bragança a Beja. Esta dualidade

expressa e reproduz desigualdades regionais, que se referem ao envelhecimento

populacional, a níveis de escolaridade, qualificação, industrializaç ão e actividades

profissionais.

Uma das grandes alterações sociais dos últimos 30 anos é o c rescente peso

dos profissionais que desenvolvem a sua actividade no sector terciário . A agricultura,

tradicionalmente o sector mais produtivo e que empregava a maioria da população,

subalternizou-se em relação à indústria e serviços. A indústria reorganiza -se, mas não

mostra grande capacidade para oferecer mais emprego, ao passo que o sector 

terciário absorve actualmente mais de metade da população activa portuguesa.

 Assim, verifica-se uma diminuição do peso de profissionais dedicados à agricultura e à

pesca, e um aumento, sobretudo a partir dos anos 80, quer dos directores e cargos

dirigentes, quer dos profissionais da ciência e técnica. Este crescimento foi muito

acelerado nos últimos decénios, e refira -se que o grupo dos profissionais da ciência e

da técnica constitui o grupo com maior capa cidade de protagonismo social.

  A mobilidade social, isto é, o conjunto de alterações das possibilidades dosindivíduos e famílias, tomando como ponto de referência a classe social de origem, é

um dos aspectos positivos da evolução da sociedade portuguesa. A evidência de

trajectos de mobilidade social ascendente (23% dos empresários dirigentes são

oriundos da classe operária) não pode, contudo, fazer -nos esquecer outras evidências,

como a persistência da pobreza e o aumento do número de excluídos.

Page 44: MANUAL MÓDULO 1

5/9/2018 MANUAL MÓDULO 1 - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/manual-modulo-1 44/44

 

44

  A sociedade portuguesa está a passar por transformações, por um lado,

aceleradas e, por outro, complexas, mas que se inserem em dinâmicas que

ultrapassam as fronteiras nacionais.

UNIÃO EUROPEIAFundo Social Europeu

GOVERNO DA REPÚBLICAPORTUGUESA