24
Governo do Estado de São Paulo Secretaria do Meio Ambiente Fundação Florestal Revegetação matas ciliares e de proteção ambiental

Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

  • Upload
    vudien

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

Governo do Estado de São PauloSecretaria do Meio AmbienteFundação Florestal

Revegetaçãomatas ciliares e deproteção ambiental

Page 2: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULOSECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE

FUNDAÇÃO FLORESTAL

Revegetaçãomatas ciliares e deproteção ambiental

Elaborado porEng. Agr. Antônio Carlos de Macedo

Revisado e ampliado porProf. Dr. Paulo Y. Kageyama

Prof. M.S. Luiz G. S. Costa

São Paulo1993

Page 3: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

Revegetaçãomatas ciliares e de proteção ambiental Fundação Florestal, 1993

Produção EditorialCoordenadorJosé Venâncio de RezendeIvanisa Alcântara

Planejamento/Edição de TextoVera Helena Farinas Tremel

DigitaçãoGrizelda Serrano

Capa e editoração eletrônicaLiliana Iris Buccianti

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índice para catálogo sistemático:1. Reflorestamento : São Paulo : Estado : Silvicultura 634.95681612. São Paulo : Estado : Reflorestamento : Silvicultura 634.9568161

DistribuiçãoFundação Florestal

Macedo, A. C.REVEGETAÇÃO: matas ciliares e de proteção

ambiental / A. C. Macedo; revisado e ampliado porPaulo Y. Kageyama, Luiz G. S. da Costa.- São Paulo: Fundação Florestal, 1993

Acima do Título: Governo do Estado de SãoPaulo. Secretaria Estadual do Meio Ambiente.Fundação Florestal

Bibliografia

1. Florestas 2. Florestas - São Paulo (SP)

I. Título

Page 4: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

Sumário

INTRODUÇÃO

A FLORESTAL TROPICAL: BASES PARA A REVEGETAÇÃO

Diversidade de Espécies

Dinâmica da Floresta

AS ESPÉCIES E OS GRUPOS ECOLÓGICOS

REVEGETAÇÃO COM ESPÉCIES NATIVAS: Modelos

Esquemas de modelos de revegetação

Esquemas de modelos para enriquecimento de capoeiras

ADAPTAÇÃO DOS MODELOS ÀS ÁREAS DE PLANTIO

O cuidado permanente

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Page 5: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

IntroduçãoEm função da crescente consciência sobre a

importância da preservação ambiental, e do avanço das leis quedisciplinam a ação humana nas florestas de proteção, um altointeresse vem sendo despertado para os programas derevegetação em áreas degradadas, exigindo que osconhecimentos técnico-científicos sejam rapidamenterepassados aos potenciais usuários desses programas.

Assim, o presente trabalho foi elaborado com vistas adar subsídios para os programas de reflorestamento misto comespécies nativas, visando à recuperação da estrutura e dafunção das chamadas matas de proteção ambiental,principalmente as matas ciliares. Em razão da diversidade ecomplexidade das matas tropicais, é fundamental o uso deconceitos e modelos específicos, os quais são apresentados ediscutidos com a finalidade de apoiar iniciativas e ações derevegetação de áreas degradadas.

As florestais naturais primárias são aquelas que poucosofreram com a ação do homem, conservando suascaracterísticas de alta diversidade e auto-regeneração. Aquelasque sofreram a intervenção humana, - as chamadas florestasperturbadas, por sua vez, ainda têm condições de retornar àuma condição próxima da original, anterior ao processo deperturbação. Finalmente, as florestas degradadas, são as queperderam sua capacidade de se auto recuperar, necessitando dotrabalho de revegetação e/ou enriquecimento.

As chamadas florestas de proteção ambiental, diferentedas de produção, são aquelas que fornecem bens indiretos aohomem: por meio das florestas de proteção ambiental, é possívelproteger as nascentes e os cursos d'água, minimizar a erosão,preservar a fauna etc. O Código Florestal considera como depreservação permanente as matas ciliares, nome que se dá àvegetação ao redor de nascentes, assim como de picos demorros e encostas íngremes.

As matas ciliares degradadas, que margeiam os cursosd'água, são áreas que demandam prioridade para as ações derevegetação e/ou enriquecimento. Essas matas têm um papel

Page 6: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

estratégico na conservação da biodiversidade, na preservação daqualidade da água e para a formação de corredores entre aspoucas reservas de matas primárias ainda existentes em nossoEstado.

O processo de regeneração na floresta natural atravésdas clareiras (sucessão secundária) tem sido usado comofundamento para o plantio misto de espécies nativas, visando àrevegetação de matas ciliares e outras florestas de proteção.Nesse sentido, o uso de espécies pioneiras, assim como aseparação do grande número de espécies de espécies da florestatropical em grupos ecológicos, tem sido fundamental para esseprocesso.

Page 7: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

A florestal tropical:bases para a revegetação

Diversidade de espécies

O processo de desmatamento nos trópicos tem levado àfragmentação das florestas e à extinção de espécies animais evegetais. A fragmentação ocorre quando uma grande extensãode habitats é transformada em numerosas manchas menores,com áreas totais pequenas e isoladas uma das outras, como seapresenta atualmente o Estado de São Paulo.

A floresta tropical é extremamente complexa e suadinâmica está assentada na interação planta x animal. Osanimais são responsáveis pela manutenção das diferentesespécies de plantas nos ecossistemas, através de suaparticipação nos processos de polinização e dispersão desementes.

A polinização é a transferência do pólen da flor de umaárvore para outra árvore da mesma espécie. Para o perfeitofuncionamento desse processo, as plantas desenvolveramatrativos nas flores para os animais. Insetos, pássaros emorcegos, ao se alimentarem e visitarem diversas flores,executam o processo de polinização na floresta tropical.Aproximadamente 95% das espécies arbóreas têm comopolinizadores esses animais.

A dispersão é o transporte e distribuição das sementespelos animais e pelo vento, tendo influência direta na estruturada floresta. Os animais enterram, regurgitam ou defecam assementes, que vão fornecer novos indivíduos. Em matas ciliarese em outras áreas de florestas do nosso Estado, observou-seque a dispersão por animais é de aproximadamente 95% e 75%,respectivamente.

Uma das principais características da floresta tropical éo fato de as espécies apresentarem poucos indivíduos porunidade de área. Essa característica permite a alta diversidadede espécies nessas florestas: em 1,0 ha da florestal tropical,podem ocorrer mais de 200 espécies arbóreas diferentes.

Page 8: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

Essa diversidade pode ser reduzida pelas modificaçõescausadas pelo processo de fragmentação e sua recuperação emanutenção são promovidas através de práticas de revegetaçãoe proteção ambiental das áreas. No processo de revegetação,deve-se levar em conta que tanto a alta diversidade como ospolinizadores e dispersores devem estar presentes paraassegurar a continuidade da floresta no futuro.

Dinâmica da floresta

A dinâmica da floresta tropical é o processo pelo qual asespécies se regeneram e se desenvolvem naturalmente. Isso sedá através da queda das árvores, provocando a formação declareiras de diferentes tamanhos, que são ocupadas por novosindivíduos de diferentes espécies. A variação das clareiras noespaço e no tempo dá origem a um mosaico de diferentesestágios sucessionais.

O fator principal que influencia a colonização dasclareiras é a luz. Algumas espécies são bastante tolerantes àsombra e têm seu crescimento inibido quando expostas a níveiselevados de luz. Outras espécies adaptam-se à plena luz,enquanto outro grupo exige luz somente num estágio de seuciclo de vida. Diferentes tamanhos e formas de clareirasproduzem situações diversas de microclima, possibilitando quediferentes grupos de espécies se estabeleçam.

Page 9: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

As espécies e osgrupos ecológicos

A separação das espécies arbóreas em gruposecológicos é uma maneira de possibilitar o manuseio do grandenúmero de espécies da floresta tropical, mediante seuagrupamento por funções semelhantes e de acordo com asexigências. Diferentes critérios para a classificação das espéciestêm sido utilizados, com base principalmente na resposta à luzdas clareiras ou ao sombreamento do dossel.

As diferentes classificações compreendem três grupos.O primeiro grande grupo, que é o das pioneiras, têm rápidocrescimento, germinam e se desenvolvem a pleno sol, produzemprecocemente muitas sementes pequenas, normalmente comdormência, as quais são predominantemente dispersadas poranimais. São também denominadas de especialistas de grandesclareiras (> 200m2). Na floresta tropical, ocorrem em pequenonúmero de espécies, com um grande número de indivíduos.

As principais espécies arbóreas pioneiras que ocorremno Estado de São Paulo e que têm sido utilizadas em plantios deflorestas de proteção são: Trema micrantha, Cecropia sp, Crotonfloribundus, Croton urucurana, Mimosa scabrella, Miconiacinamomipholia, Solanum sp, Mimosa bimucronata, Citarexylunmyrianthum, Inga sp, Piptadenia sp, Gudnzuma ulmifolia, dentreoutras.

O segundo grande grupo, que é o das climácicas, têmcrescimento lento, germinam e se desenvolvem à sombra eproduzem sementes grandes, normalmente sem dormência. Sãodenominadas também tolerantes, ocorrendo no sub-bosque ouno dossel da floresta. As espécies deste grupo ocorrem tambémem pequeno número, com médias e altas densidades deindivíduos.

São espécies características do grupo das climácicas emnosso Estado as seguintes: Esenbeckia leiocarpa, Euterpe edulis,Copaifera langsdorffii, Hymenaea stilbocarpa, Securinegaguaraiuva, Ilex paraguayensis, Entorolobium contortisiliquum,dentre outras.

Page 10: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

Entre esse dois grupos, está a maioria das espécies,classificadas como o grupo das secundárias, tambémdenominadas de especialistas de pequenas clareiras,oportunistas, nômades ou intermediárias. Essas espéciesapresentam, como principal característica, a capacidade desuas sementes germinarem à sombra, mas requerendo apresença da luz para seu desenvolvimento. São espéciescaracterísticas do dossel ou do estado emergente. Na florestatropical, ocorrem em grande número de indivíduos por área.São as secundárias as responsáveis pela alta diversidade dessasflorestas.

Neste grupo destacam-se, dentre outras, as espéciesCariniana legalis, Cabralea canjerana, Cedrela fissilis, Tabebuasp, Balfourodendron riedelianum, Centrolobium tomentosum,Astronium urundeuva, Jacaratia spinosa, Chorisia speciosa.

Deve-se observar que essa classificação tem sentidopuramente de orientação para os plantios mistos e não deve serentendida de forma rígida e definitiva. Isto porque ainda érestrita a compreensão sobre o processo de dinâmica da florestatropical, assim como também são escassas as informaçõessilviculturais das espécies em plantios mistos.

Page 11: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

Revegetação comespécies nativas: modelos

A revegetação objetiva criar condições para que umaárea degradada recupere algumas características da florestaoriginal, criando uma nova floresta com característicasestruturais e funcionais próximas às das florestas naturais.

Na revegetação deve-se envolver os diferentes gruposecológicos sucessionais, arranjados de forma tal que suasexigências sejam atendidas pelos modelos. As espécies doestágio inicial de sucessão - as pioneiras ou sombreadoras - sãoimportantes para que as espécies dos estágios finais (nãopioneiras ou sombreadas) tenham condições adequadas paraseu desenvolvimento.

Os resultados de experimentos e observações de campo,em plantios mistos de espécies nativas, permitem algumasgeneralizações sobre a silvicultura, que podem ser assimresumidas:

a) As diferentes espécies pioneiras fornecem níveis diversosde sombreamento, podem ser subdivididas em pioneiras decopa densa e pioneiras de copa rala. As pioneiras devemser plantadas em número restrito de espécies (de 2 a 5),envolvendo os dois subgrupos, com grande número deindivíduos por área (de 200 a 500/ha);

b) As espécies do grande grupo das não pioneiras(secundárias e climácicas) deverão ocupar os diferentesgraus de sombreamento promovido pelas pioneiras. Assecundárias deverão ser plantadas em um grande númerode espécies (mais de 30), com pequeno número deindivíduos por área (de 5 a 20/ha); as climácicas, por suavez, com um médio número de espécies (de 5 a 10/ha) eum médio número de indivíduos por área (de 50 a100/ha).

No trabalho de revegetação, alguns procedimentosgerais devem ser seguidos, independente das características decada local:

Page 12: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

1) uso exclusivo de espécies nativas de ocorrência regional;

2) existência de informações silviculturais sobre as espécies;

3) utilização do maior número de espécies, para promover adiversidade e a conservação dos recursos genéticos; e

4) preferencialmente, usar sementes de no mínimo 10 árvorespara cada espécie, colhidas se possível de florestas naturais,para minimizar os efeitos de consangüinidade.

Podem ser utilizados diferentes modelos nos programasde revegetação, visando à recuperação e à manutenção dasflorestas de proteção. Esses modelos apresentam formas dedistribuição dos diferentes grupos ecológicos no local onde sepretende a revegetação, assim como apresentam diversasproporções entre as espécies empregadas.

Porém, somente a aplicação dos modelos não garante osucesso da revegetação. A escolha do melhor modelo deve serfeita cuidadosamente, levando-se em conta vários fatores. Asexigências das espécies e a sua adaptação às condições locaisde solo, clima e umidade, por exemplo, são elementosimportantes para a escolha do modelo. Outro fator relevante é oconhecimento prévio da área a ser revegetada, o que pode serobtido mediante o levantamento de informações tais como:

1) levantamento histórico da área quanto à sua utilização,preparo do solo, cultivo etc.;

2) caracterização do local a ser revegetado, quanto a condiçõesde clima, fertilidade, textura, permeabilidade e profundidadedo solo, topografia e presença de água (altura do lençolfreático, umidade, encharcamento, inundações periódicasetc.);

3) caracterização do tipo de formação vegetal existenteoriginariamente e aferição das espécies de ocorrênciaregional;

4) seleção das espécies nativas regionais adaptáveis ao local aser revegetado; e

Page 13: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

5) determinação do percentual de participação em função dacobertura vegetal existente originalmente no local a serrevegetado, do grupo ecológico ao qual pertence elevantamento da freqüência ou raridade com que cadaespécie ocorre naturalmente.

Esquemas dos modelos de revegetação

Modelo I

Este modelo consiste na implantação de uma linha depioneiras alternada com uma linha de não pioneiras. O plantiopode ser simultâneo ou em épocas diferentes. A distribuição dasplantas nas linhas pode ser ao acaso, misturando-as antes doplantio, ou numa forma sistemática, colocando as espéciesdisponíveis numa seqüência estabelecida.

A principal vantagem deste método está na facilidade deimplantação, pois incorpora a rotina do produtor no cultivo dequalquer cultura, só exigindo o cuidado de separar os doisgrupos nas linhas alternadas. Como desvantagem, se forutilizado o plantio simultâneo, as plantas das não pioneiraslevarão mais tempo para receber sombreamento.

Page 14: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

Modelo II

Neste modelo os grupos de pioneiras e não pioneirassão alternados na linha de plantio. Na linha seguinte, altera-sea ordem em relação à linha anterior. Dentro de cada um dosgrupos, pode-se distribuir as espécies ao acaso ousistematicamente, da mesma forma que no modelo anterior.

A grande vantagem desse modelo é a distribuição maisuniforme dos dois grupos na área, promovendo umsombreamento mais regular. No entanto, exige um cuidadomaior na implantação dentro da e entre as linhas.

/

Page 15: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

Modelo III

Este modelo consiste na separação das pioneiras emdois subgrupos, as pioneiras de copa mais densa (ex. Cecropiasp). O plantio sistemático dos dois subgrupos vai criar umgradiente de luz para diferentes tipos de não pioneiras.

A vantagem deste modelo reside na criação dediferentes microclimas para satisfazer as exigências dosdiferentes tipos de não pioneiras. Este modelo exige doprodutor, além do conhecimento sobre os dois grupos, quesaiba proceder à separação das espécies, dentro de cada umdeles. Além disso, requer muito mais cuidado na implantação,por se tratar de modelo mais sofisticado.

Page 16: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

Esquemas dos modelos de enriquecimento decapoeiras

Modelo I

Este modelo é constituído por um conjunto de 13plantas, na forma de um cruzeiro, sendo oito pioneirasdistribuídas na borda, e cinco não pioneiras no interior. Dascinco não pioneiras, o indivíduo central é uma climácica, quefica rodeada por quatro secundárias. Cada um desses conjuntospoderá ser colocado nos locais abertos, dentro da vegetaçãoexistente. Para formar um conjunto, excetuando o indivíduocentral, é possível utilizar uma ou mais espécies dentro de cadagrupo.

A vantagem desse modelo é de controle individual docomportamento das espécies não pioneiras da parte central doconjunto, principalmente da planta climácica. A restrição nessecaso é que a sua utilização é possível somente em pequenasilhas de não vegetação.

Page 17: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

Modelo II

Este modelo consiste em implantar linhas de espéciesnão pioneiras, regularmente espaçadas entre si, em picadasabertas no meio da vegetação secundária (capoeira). Naimplantação da linha de não pioneiras, pode-se distribuir asespécies ao acaso ou sistematicamente.

Este modelo é restrito à atividade de enriquecimento devegetação secundária.

Page 18: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

Adaptação dos modelosàs áreas de plantio

Dependendo das características locais, algumassituações típicas exigirão medidas específicas e, em certoscasos, adaptação dos modelos propostos.

Áreas cultivadas

As áreas que já vêm sendo cultivadas apresentamalgumas vantagens para os plantios de recuperação de áreasdegradadas, uma vez que, em geral, o solo apresenta boascondições para o desenvolvimento das plantas e nessascondições as plantas invasoras encontram-se sob controle.

Neste caso, aproveita-se o adubo e o preparo do solo dacultura anterior. Pode-se utilizar os modelos I, II e III, sendoviável o plantio de maior número daquelas pioneiras que sãolongevas e não agressivas, pois há, nessas condições, maiorcontrole das invasoras. Nesta situação, o modelo III é o maisadequado, pois é compatível com as ótimas condições da área.

O espaçamento geral para todas as espécies pode ser de2,5 x 2,0m (2.000 plantas/ha) para uma rápida cobertura dosolo, ou de 3,0 x 3,0m (1.100 plantas/ha) para uma coberturamais lenta.

Áreas com gramíneas invasoras

Nesta situação, deve-se utilizar um modelo de altadensidade de pioneiras agressivas e sombreadoras para recobrirrapidamente o solo, assim como controlar as gramíneasinvasoras. O modelo I é o mais indicado e a densidade de 2.000a 2.500 plantas/ha é desejável. Neste caso, pode-se plantar noprimeiro ano as pioneiras e no segundo as não pioneiras.

Áreas de capoeira

Page 19: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

Existem duas sugestões para essa situação. A primeiraserá o enriquecimento, com não pioneiras, nas linhas, distantesentre si 5 metros e com 3 metros entre as plantas. A aberturada picada para o plantio deve ser a mais estreita possível, sendodesejável uma largura de 1 metro. Uma segunda maneira será aimplantação do modelo em forma de cruzeiro (13 plantas) nasilhas sem vegetação, com espaçamento de 2,0 x 2,0 m para ostrês grupos sucessionais de espécies.

Áreas muito degradadas

As áreas muito erodidas, em que foi retirado o solo,assim com em áreas pedregosas, deve-se primeiro recuperar osolo com espécies pioneiras agressivas, preferencialmenteleguminosas, com alta densidade (de 2.000 a 2.500 plantas/ha).O plantio deve ser feito em curva de nível, com terraços quandofor o caso. O modelo I de revegetação é o mais adequado paraesse caso. Deve-se efetivar o plantio inicial das pioneiras e,somente depois de recuperado e protegido o solo, entrar com asnão pioneiras. Em áreas de afloramento de rochas deve-seplantar gramíneas, ciperáceas e leguminosas herbáceas(Stylosanthes sp, Indigofera sp etc.). Nos dois casos pode-seutilizar a semeadura direta, quando houver grande quantidadede sementes disponível.

Page 20: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

O cuidado permanente

Ao dar início à atividade de revegetação em áreas deflorestas de proteção, é importante considerar que, atravésdeste trabalho, somente se estará fornecendo os ingredientesiniciais necessários para o início de um processo de restauraçãoda área. A manutenção e proteção das matas, após essa fase,dará condições para que a natureza se encarregue dacontinuidade do processo.

Page 21: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

É importante destacar também que a formação demudas, para o plantio nos moldes aqui preconizados, exige umcuidado muito especial, para que os propágulos tenhamcondições adequadas para a continuidade de crescimento edesenvolvimento da nova floresta.

As propostas apresentadas baseiam-se em resultadosde plantio em grande escala no campo, e que têm mostrado serviável o plantio misto com espécies nativas. Essas plantações,com o uso de pioneiras como sombreadoras, têm recoberto osolo na maioria das vezes no prazo de um ano. As pioneirascresceram até mais do que 4 metros de altura, no primeiro ano.Esses resultados alentadores motivam os pesquisadores, aomesmo tempo que mostram aos produtores ser plenamenteviável o plantio de espécies nativas.

Nas áreas de proteção com floresta perturbada, mas emque ocorrem a chegada de sementes de outros fragmentosvizinhos, é aconselhável proteger-se a área com cerca paraevitar a entrada de animais. Para proteção contra fogo, é precisoestabelecer aceiros e mantê-los limpos. Deve-se tambémdesenvolver atividades de manutenção da área, tais como aeliminação de espécies invasoras agressivas (bambú, capimcolonião etc.) e liberar as plantas jovens de cipós agressivos. Oscipós não pioneiros não interferem no desenvolvimento dasplantas suporte, devendo ser mantidos como parte dadiversidade.

Finalmente, vale enfatizar que o modelo buscado éaquele em que as matas ciliares e de proteção sejam corredoresde ligação das reservas médias e grandes existentes na baciahidrográfica do local em questão. Assim, nos programas derevegetação, a unidade de trabalho deve ser a baciahidrográfica.No que se refere aos substratos, o mais usado é terra de

Page 22: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

Bibliografia consultada

BAZZAZ, K. S. e PICKETT, S. T. 1980. Physiological ecology oftropical succession: a comparative review. Ann. Ver. Ecol.Syst., 11:287-310.

BUDOWSKI, G. 1965. Distribution of tropical american rainforest species in the light of sucession processes. Turrialba,(15):40-2.

CARPANEZZI, A. A.; COSTA, L. G. S.; KAGEYAMA, P. Y. eCASTRO, C. F. A. 1990. Espécies pioneiras pararecuperação de áreas degradadas: a observação delaboratórios naturais. In: CONGRESSO FLORESTALBRASILEIRO, 6º, Campos do Jordão, de 22 a 27/9/1990,v. 3, p.216-221.

DENSLOW, J. S. 1980. Gap partioning among tropical rainforest trees. Biotropica, 12: 47-55 (Suplement).

DURIGAN, G. 1991. Análise comparativa do modo de dispersãodas sementes das espécies de cerradão e de mata ciliar nomunicípio de Assis/SP. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DETECNOLOGIA DE SEMENTES FLORESTAIS. 2º. Atibaia,de 16 a 19/10/1989. Anais. São Paulo, SMA/InstitutoFlorestal, 1989. p. 278.

GIBBS, P. E. e LEITÃO FILHO, H. F. 1978. Floristic compositionof na area of gallery forest ner Mogi-Guaçu, State of SãoPaulo. S.E. Brazil. Ver. Bras. Bot., 1(2):151-6.

KAGEYAMA, P. Y. (coord.). 1986. Estudo para implantações dematas ciliares e proteção na bacia hidrográfica do PassaCinco, visando à utilização para abastecimento público.Piracicaba. DAEE/USP/FEALQ. 236P. (Relatório dePesquisa).

Page 23: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

KAGEYAMA, P. Y.; CASTRO, C.F.A. e CARPANEZZI, A. A. 1989.Implantação de matas ciliares: estratégias para auxiliar asucessão secundária. In: SIMPÓSIO SOBRE MATA CILIAR,São Paulo, 1989. Anais. Campinas, Fund. Cargill, 1989. p.130-43.

KAGEYAMA, P. Y.; BIELA, L. C. e PALERMO JÚNIOR, A. 1990.Plantações mistas com espécies nativas com fins deproteção a reservatórios. In: CONGRESSO FLORESTALBRASILEIRO. 6º, Campos do Jordão, de 22 a 27/9/1990.

KAGEYAMA, P. Y.; CARPANEZZI, A. A. e COSTA, L. G. S. 1991.Diretrizes para a reconstituição da vegetação florestalripária de uma área piloto da bacia de Guarapiranga.Relatório apresentado à Coordenadoria de PlanejamentoAmbiental da Secretaria do Meio Ambiente. Piracicaba.1991. 40p.

KAGEYAMA, P. Y e SANTARELLI, E. 1993. Reflorestamentomisto com espécies nativas: classificação silvicultural eecológica de espécies arbóreas. Apresentado no CongressoFlorestal Brasileiro, Curitiba/PR.

LEITÃO FILHO, H. F. 1987. Considerações sobre a florística deflorestas tropicais e subtropicais do Brasil. IPEF,Piracicaba, 35: 41-46.

VIANA, V. M.; TABANEZ, A. J. A. e MARTINEZ, J. L. A. 1992.Restauração e manejo de fragmentos florestais. In:CONGRESSO NACIONAL SOBRE ESSÊNCIAS NATIVAS,2º, São Paulo, de 29/3 a 3/4/1991. Anais. São Paulo.SMA/Instituto Florestal (e: 400-406).

Page 24: Manual "Revegetação - matas ciliares e de proteção ambiental"

Maiores informações

Para obter maiores informações sobre atividades de revegetação nasdiferentes regiões do Estado, entre em contato com algum desses órgãos:

Fundação FlorestalRua do Horto, 931 - Horto Florestal02377-000 São Paulo - SPTel. 11-6997.5000

IBAMAAl. Tietê, 63701417-020 São Paulo - SPTel. 11-

Instituto FlorestalRua do Horto, 931 - Horto Florestal02377-000 São Paulo - SPTel. 11-6231.8555

Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais - IPEFAv. Pádua Dias, 1113418-260 Piracicaba - SPTel.

CESP - Companhia Energética de São PauloDiretoria de Meio AmbienteAl. Ministro Rocha Azevedo, 2501410-900 São Paulo - SPTel.

Centro de Adaptação e Transferência de Tecnologia dePreservação dos Recursos Naturais - CATIAv. Brasil, 2340 - Jardim Brasil13073-001 Campinas - SPTel.

IBt - Instituto de BotânicaAv. Miguel Stéfano, 3687 - Água Funda04301-012 - São Paulo - SPTel.