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INSTITUTO DO EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL, I.P. Delegação Regional do Norte Centro de Formação Profissional de Rio Meão I - Processos de mudança fundamentais na geografia das populações, os intensos fluxos de migração, emigração e imigração que ocorreram no território português, desde o início do século XX. 1 A evolução da população na segunda metade do século XX A população portuguesa residente no território nacional na segunda metade do século XX aumentou, registando no último recenseamento Geral do População em 2001, um total de 10,3 milhões de habitantes. Fig1 Evolução da população portuguesa A leitura do gráfico da Fig 1 permite ainda concluir que a evolução da população absoluta, no período, não foi regular, destacando-se: Década de 50 – Crescimento positivo da população absoluta, mas pouco significativo, como consequência de um saldo natural positivo, previsível num país acentuadamente STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 1

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I - Processos de mudança fundamentais na geografia das populações, os

intensos fluxos de migração, emigração e imigração que ocorreram no território

português, desde o início do século XX.

1 A evolução da população na segunda metade do século XX

A população portuguesa residente no território nacional na segunda metade do

século XX aumentou, registando no último recenseamento Geral do População em

2001, um total de 10,3 milhões de habitantes.

Fig1 Evolução da população portuguesaA leitura do gráfico da Fig 1 permite ainda concluir que a evolução da

população absoluta, no período, não foi regular, destacando-se:

Década de 50 – Crescimento positivo da população absoluta, mas pouco

significativo, como consequência de um saldo natural positivo, previsível num país

acentuadamente rural mas com um número reduzido de mulheres inseridas no

mercado de trabalho e sob a forte influência da Igreja Católica.

Década de 60 – Decréscimo da população absoluta portuguesa, como resultado

do mais intenso fluxo emigratório alguma vez registado e do inicio da redução da taxa

de crescimento natural, na sequência da introdução de meios contraceptivos

modernos e eficazes, que se traduziram no decréscimo da taxa de natalidade.

Década de 70 – Ruptura na tendência do declínio demográfico, observando-se

o maior aumento da população absoluta neste século. Esta situação deve-se ao

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regresso de milhares de portugueses das ex-colónias, na sequência do 25 de Abril e ao

regresso de milhares de cidadãos portugueses emigrantes na Europa, afectados pela

crise que condicionou a economia de muitos dos países receptores ou atraídos pela

melhoria das condições socioeconomias introduzidas pelo 25 de Abril.

Década de 80 – Crescimento demográfico praticamente nulo, como

consequência da diminuição da taxa de crescimento natural, resultado dos valores da

taxa de natalidade.

Década de 90 – Registou-se um crescimento ligeiro da população absoluta

como resultado de um novo fenómeno observado na sociedade portuguesa: a

imigração.

Portugal – País de Imigração?

Os movimentos migratórios têm um papel muito importante na evolução da

população em Portugal, um país, por tradição, de emigrantes, mas que, nos últimos

anos, viu a corrente migratória mudar drasticamente de direcção. De facto, desde os

anos 90 do século XX que o fluxo imigratório aumentou no nosso país, sendo

responsável pelo actual saldo migratório positivo.

A população estrangeira residente em Portugal está a crescer

substancialmente, sendo que em 2002 o número de imigrantes era de 238 746 (mais

de 14 770 do que em 2001), o correspondente a 2,3% do total da população. A

distribuição dos imigrantes por sexos demonstra que existem em Portugal 125 homens

por 1000 mulheres.

Quanto à origem dos estrangeiros que vieram para Portugal em 2002, 47,8%

eram oriundos de África. A proporção de europeus residentes em Portugal subiu

ligeiramente em 2002 para 30,2%. A maioria veio do Reino Unido (6,7%), Espanha

(6,1%), e Alemanha (5%). Os brasileiros residentes eram cerca de 10,4%.

Nos anos 90, assistiu-se a um crescimento da imigração da Europa de Leste,

especialmente da Ucrânia, Moldávia, Rússia e Roménia.

Fonte: Jornal de Notícias, 23 de Fevereiro de 2004 (adaptado)

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Actualmente, segundo as previsões do INE, a tendência de crescimento da

população portuguesa aponta para o decréscimo demográfico, à imagem na

generalidade dos países desenvolvidos da Europa e do Mundo. Esta situação coloca, a

vários níveis questões preocupantes.

1.1 O crescimento natural da população

A evolução da população depende da evolução de várias variáveis

demográficas, entre as quais se salienta a natalidade (N), a mortalidade (M), que nos

permitem calcular o crescimento natural (CN).

CN= N-M

Para possibilitar a comparação entre países e entre diferentes períodos, as

variáveis referidas devem ser apresentadas em valores relativos (em expressos

geralmente em permilagem), isto é, sob a forma de taxa de natalidade (TN), taxa de

mortalidade(TM) e taxa de crescimento natural (TCN) .

As taxas de natalidade e de mortalidade traduzem os valores da natalidade e

mortalidade por cada mil habitantes.

TN= Total de nados vivos X 1000 População absoluta

TM= Total de óbitos X 1000População absoluta

A taxa de natalidade é considerada uma variável insuficiente para analisar o

processo evolutivo duma população, já que reporta ao número de nascimentos

registados no universo da população absoluta, independente do sexo e da idade, isto

é, da possibilidade ter filhos (mulheres em idade de procriar).

Dessa forma, é cada vez mais frequente a utilização de outras variáveis como a

taxa de fecundidade e índice de fecundidade:

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Taxa de fecundidade = número de nados-vivos………………. X1000 Numero de mulheres em idade de procriar

Índice sintético de fecundidade – número de filhos que cada mulher tem, em

média, durante a sua vida fecunda (dos 15 aos 49 anos).

Fig 2 Evolução do índice sintético de fecundidade

A leitura do gráfico da Fig 2 permite concluir que o índice sintético de

fecundidade tem variado de forma semelhante à taxa de natalidade.

As causas do declínio do índice sintético de fecundidade e da taxa de natalidade

são múltiplas e, quando enquadradas num contexto social, revelam-se muito

complexas. De forma sintética apontam-se algumas:

☺ Crescente participação da mulher no mercado de trabalho;

☺ Preocupações com a carreira profissional, situação que prolonga o

período de formação e conduz ao casamento mais tardia;

☺ Precariedade crescente do emprego;

☺ Preocupação crescente com a educação e o bem-estar dos filhos,

exigindo investimentos cada vez maiores;

☺ Acesso a métodos contraceptivos cada vez mais eficazes;

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☺ Mudança de mentalidade e de filosofia de vida, incompatível com o

número elevado de filhos;

☺ Crescimento da taxa de urbanização que se traduz no aumento de

dificuldades para a aquisição de habitação e no aumento do stress

provocado pela vida da cidade.

Os factores enumerados explicam o decréscimo da taxa de natalidade e do

índice sintético de fecundidade, tendo este atingido, em 1981, o limiar mínimo de

renovação de gerações (2,1 filhos por mulher), momento a partir do qual se registou

um progressiva diminuição.

Índice de renovação de gerações – número médio de filhos que cada mulher

devia ter durante a sua vida fértil, para que as gerações pudessem ser substituídas.

Aparentemente, este índice, deveria ser de 2 filhos por mulher, mas na

realidade é de 2,1filhos, uma vez que nascem mais rapazes que raparigas.

A gravidade da situação demográfica referida tem sido ligeiramente atenuada

devido ao movimento imigratório no nosso país. Os imigrantes, geralmente jovens,

são, igualmente, responsáveis por um número significativo de nascimentos registados

nos últimos anos.

Da mesma forma que a taxa de natalidade tem vindo a diminuir, também a taxa

de mortalidade decresceu, principalmente na primeira metade do século XX,

registando desde então até à actualidade tendência para estabilizar.

Como principais factores explicativos dos baixos valores da taxa de

mortalidade, podem-se apontar:

☻ O aumento do nível da população que permitiu melhorar as condições

alimentares e habitacionais;

☻ O desenvolvimento da medicina e da farmacologia;

☻ As melhorias registada na assistência médica e nas condições sanitárias;

☻ As melhores condições de trabalho;

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☻ O aumento da informação relativamente a muitas doenças e sua

prevenção.

Na década de 80 assistiu-se a um leve acréscimo da taxa de mortalidade da

população portuguesa, consequência natural do próprio envelhecimento demográfico,

fenómeno que ocorre nos países desenvolvidos.

Por outro lado, tem-se assistido, nos últimos anos, ao aumento de doentes do

foro cardiovascular, consequência da melhoria verificada do nível de vida da

população, que conduz, frequentemente, à adopção de estilos de vida menos

saudáveis, responsáveis pela diminuição da esperança média de vida.

A melhoria das condições de vida te, também, conduzido à forte diminuição da

taxa de mortalidade infantil.

Taxa de mortalidade infantil = número de óbitos em indivíduos até um ano de vidaX1000Total de nascimentos

Esta variável é frequentemente utilizada como indicador de desenvolvimento,

já que os valores tendem a diminuir com as melhorias das condições de vida, com a

intensificação e diversificação dos cuidados materno-infantis e até com o aumento da

instrução.

1.2 O saldo migratório

A evolução da população, isto é, o seu crescimento efectivo, não se explica

unicamente pelo crescimento natural, mas sim pelo saldo migratório (SM) isto é, pela

diferença entre o número de imigrantes e o número de emigrantes, registados num

dado período de tempo.

Imigração e emigração são palavras que descrevem o fluxo de indivíduos em

um país. A imigração é o movimento de entrada de estrangeiros em um país de forma

temporária ou permanente e a emigração é a saída de indivíduos do país.

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A relação entre a imigração e a emigração resulta no “saldo migratório”,

utilizado para ajudar na caracterização da população de um determinado território

(país, continente, etc.). Se a imigração for maior que a emigração diz-se que o saldo

migratório foi positivo (pois saíram mais indivíduos do país do que entraram), se

ocorrer o contrário, o saldo migratório foi negativo. Ou ainda, o saldo migratório pode

ser nulo, quando ambos os movimentos populacionais se igualam.

Os fenômenos de emigração e imigração estão sempre relacionados com as

condições sociais dos locais nos quais se inserem a apresentam especificidades de

acordo com estas condições. O emigrante é geralmente levado a deixar seu país por

falta de condições que o permitam ascender socialmente e acaba se tornando o

imigrante de algum outro país no qual ele deposita suas esperanças de melhoria de

vida.

Mas existem outras motivações que podem levar um cidadão a se tornar

emigrante, em seu país, e imigrante, no país de destino. Como os refugiados que

abandonam seus países devido a conflitos civis, ou por causa de perseguições

raciais/religiosas, ou ainda por causa de desastres naturais/ambientais.

De qualquer forma o imigrante enfrentará quase sempre as mesmas

dificuldades de se estabelecer em um país de costumes diferentes dos seus e de língua

desconhecida enfrentando, muitas vezes, a xenofobia, as restrições impostas aos

estrangeiros pelas legislações, o trabalho escravo ou quando muito o subemprego.

Por outro lado, a mobilidade dos indivíduos sempre foi um fator importante e

presente na história da civilização. Desde os tempos primitivos em que o nomadismo

era prática comum até os tempos atuais em que a globalização tornou mais fácil (ou

pelo menos, mais comum) os movimentos migratórios.

Saldo migratória = imigração – emigração

Crescimento efectivo = crescimento natural ┼ saldo migratório

Da mesma forma se pode afirmar que a taxa de crescimento efectivo resulta do

somatório da taxa de crescimento natural com a taxa de crescimento migratório.

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Taxa de crescimento efectivo = TCN ┼ TCM

Sendo que:

Taxa de crescimento migratório (TCM)= I –E X1000 População absoluta

Tradicionalmente, Portugal pode ser considerado um país de emigração, dado

estrutural da nossa economia e do modelo de desenvolvimento.

Fig 3 Evolução do fenómeno migratório em Portugal

De acordo com os dados divulgados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros,

em 1999, existiam cerca de 4,8 milhões de portugueses ou habitantes de origem

portuguesa a residir no estrangeiro.

A grandeza dos números demonstra de forma expressiva a dimensão do

fenómeno emigratório que marcou o Portugal moderno e contemporâneo.

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Até à década

de 60 do século

passado, os

portugueses

emigravam

sobretudo para a

América, muito

especialmente para

o Brasil. As décadas

de 60 e 70

marcaram uma

alteração no sentido do fluxo migratório português. O destino preferido passou a ser

constituído por países da Europa ocidental. Um número muito significativo de

portugueses emigrou clandestinamente, indo desempenhar trabalhos poucos

exigentes em termos de qualificação profissional, mas geralmente de grande esforço

físico e mal remunerados. Os principais países de destino eram a França, a Alemanha,

o Luxemburgo e a Suíça.

Os portugueses, em número nunca anteriormente registado, emigraram, nesse

período, países em franca expansão industrial, numa época de reconstrução e

desenvolvimento pós II Guerra Mundial, mas com carência de mão-de-obra. Fugiam da

Guerra Colonial, da fome, da pobreza, do isolamento e de um sistema político

opressor, em busca de trabalho e de melhores condições de vida. Emigravam por

longos períodos de tempo (emigração permanente), mas a proximidade geográfica

dos países receptores colocava a possibilidade de regresso ao país sempre no

horizonte, ao contrário do que acontecia no período anterior, em que a saída do país

era, quase sempre, um acto definitivo.

Emigração permanente – Saída de população para outros países por período

superior a um ano.

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Fig 4 A emigração portuguesa no Mundo

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A partir da década de 70 a situação alterou-se profundamente. Os países da

Europa ocidental, em sequência do “choque petrolífero”, que desencadeou uma

subida extraordinária do preço do petróleo, entraram num período de recessão

económica que os obrigou a impor restrições à imigração. Desde modo, muitos

portugueses regressaram a Portugal.

Por outro lado, a alteração da situação política no nosso país, na sequência da

revolução de 25 de Abril de 1974, com repercussões ao nível social e económico,

melhorando as condições de vida dos portugueses, contribui para reduzir a emigração.

No mesmo período, assiste-se ao retorno de milhares de cidadãos a residir nas antigas

colónias, assim como de exilados políticos noutros países.

A partir da década de 80, a intensidade do movimento emigratório diminui, ao

mesmo tempo que passa a ter cada vez mais um carácter temporário e

frequentemente sazonal.

Emigração temporária – saída de população para outros países por um período

igual ou inferior a um ano.

Emigração sazonal – saída de população para outros países em determinadas

estações do ano, para trabalhos sazonais (por exemplo, vindimas, turismo balnear,

etc).

A saída de muitos portugueses na última metade do século XX, envolvendo,

principalmente jovens e adultos, foi um processo complexo que teve,

necessariamente, consequências também complexas, a vários níveis, umas positivas e

outras negativas.

Como consequências negativas, a diminuição da natalidade, o envelhecimento

demográfico, a diminuição do crescimento efectivo e a diminuição da população

activa. Esta última reflectiu-se de forma dramática nas regiões do interior que em

muitos casos, iniciaram um processo de despovoamento que ainda não conseguiram

inverter.

De salientar que é a partir da década de 60 que se acentuam no nosso país as

assimetrias regionais que opõem o litoral ao interior.

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De entre os aspectos positivos há a destacar, como consequência da emigração,

a remessa de divisas estrangeiras, fundamentais para o equilíbrio da balança de

pagamentos, o desenvolvimento das regiões de partida como resultado dos

investimentos dos emigrantes em vários sectores de actividade (construção civil,

agricultura, comércio, indústria), a melhoria do nível de vida dos portugueses que não

emigravam como resultado da diminuição do desemprego e do aumento dos salários,

a modernização tecnológicas de muitos sectores, como forma de fazer face à falta de

mão-de-obra.

Não deixando de se registar saídas de emigrantes, nos anos de 2000 e 2001,

contudo, o número de imigrantes foi, em Portugal, substancialmente superior, de país

de emigração, Portugal transformou-se em país de acolhimento. Desde os anos 80 que

este processo foi sendo alimentado pela forte relação estabelecida pela Comunidade

dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), ao que se veio juntar, nos anos 90, o surto de

imigração da Europa de Leste. O saldo migratório passa a registar valores positivos e o

crescimento efectivo aumenta.

A imigração em Portugal passa a ter significado após o 25 de Abril, com a

independência das ex-colónias e com a abertura do país ao exterior e é estimulada,

nos anos seguintes, pela estabilidade social e política e pelo desenvolvimento

económico que se assiste, principalmente após a adesão à CE (actual CEE), em 1996, e

que permitiu a construção de obras de grande envergadura e a realização de grandes

eventos de cariz internacional, para os quais foi necessário recorrer ao recrutamento

de mão-de-obra estrangeira.

A recepção de imigrantes revela aspectos positivos uma vez que, tratando-se

geralmente de indivíduos jovens ou adultos jovens, contribuem para o aumento da

taxa de natalidade, ajudando dessa forma, a equilibrar a taxa de crescimento natural e

a diminuir o índice de envelhecimento. Simultaneamente, ajuda a equilibrar a taxa de

população activa para valores que permitam fazer face às necessidades do país.,

nomeadamente em regiões maradas pelo despovoamento e pelo envelhecimento,

contribuindo, também, para a sustentabilidade do sistema de Segurança Social.

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2 As estruturas e comportamentos sociodemográficos

2.1 Estrutura etária

A estrutura etária fornece indicações sobre as potencialidades da população

encarada como recursos fundamental para o desenvolvimento do país,

nomeadamente, sobre o número de activos, de jovens, de idosos, proporção de

homens e mulheres entre vários aspectos a considerar. O conhecimento destes

aspectos permite administrar o território e planear o futuro de forma equilibrada,

tentando dar resposta aos problemas que se colocam e valorizar os recursos

disponíveis.

O estudo da estrutura etária de uma população considera, regra geral três

grupos etários:

Jovens – dos zero aos 14 anos;

Adultos – dos 15 aos 64 anos;

Idosos – igual ou superior a 65 anos.

O estudo da estrutura etária de uma população é feito através da análise das

pirâmides etárias, gráfico de barras que representam a distribuição da população por

idade e sexo. Permitem tirar conclusões sobre a natalidade, a esperança média de vida

ou fenómenos que marcaram a evolução demográfica, expressos através de classes

ocas.

Classe oca - Classe etária cujo número de indivíduos é inferior à classe etária

anterior e posterior. A redução do número de indivíduos tem vários motivos: guerras,

epidemias, fluxos migratórios.

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A pirâmide de 1960 representa uma população predominante jovem, já que a

base larga e o topo relativamente estreito, o que reflecte valores de natalidade

elevados e uma esperança média de vida relativamente baixa. As classes ocas

assinaladas traduzem perturbações na evolução demográfica (diminuição da

natalidade, decorrente dos efeitos da 1 Guerra Mundial).

A pirâmide etária de 2001, comparada com a anterior, revela um

envelhecimento muito significativo da população, quer pelo alargamento do topo quer

pelo estreitamento da base, que traduz uma progressiva diminuição dos valores da

natalidade, nas últimas décadas.

A Estrutura Etária da População Portuguesa apresenta acentuadas diferenças

regionais.

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Da comparação entre as pirâmides etárias do Cávado e Pinhal Interior Sul, pode

concluir-se que a população do interior se apresenta mais envelhecida do que a do

litoral, quer pela maior proporção de idosos, quer pelo menor valor do número de

nascimentos.

A relação entre os valores do grupo etário dos idosos e dos jovens permite

determinar o índice de envelhecimento (IE), expresso em percentagem.

IE = População idosa (maior ou igual a 65 anos) X100População jovem (inferior a 15 anos)

O número de idosos reflecte-se no índice de dependência de idosos (IDI), que

relaciona a população idosa com a população em idade activa e que se exprime em

percentagem.

IDI= população idosa (maior ou igual a 65 anos) X100População adulta (dos 15 aos 64 anos)

Os valores deste índice têm vindo a aumentar, existindo cada vez mais idosos

dependentes da população activa. Esta situação coloca graves problemas ao nível da

Segurança Social e do pagamento de reformas.

Os jovens representam um grupo dependente, sendo importante determinar o

índice de dependência de jovens (IDJ), que relaciona o grupo etário dos jovens com o

grupo dos adultos e que se exprime em percentagem.

IDJ = População jovem (inferior a 15 anos) X100População adulta (dos 15 aos 64 anos

O valor deste indicador tem vindo a decrescer como se pode concluir pela

análise dos valores da natalidade, que se encontram também em declínio.

O cálculo do índice de dependência total (IDT), que relaciona os grupos etários

dos dependentes com o grupo etário dos adultos, revela um aumento de valores.

IDT = População jovem + população idosa X100População adulta

2.2 Estrutura da população activa

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A população activa compreende o total de população disponível para a

produção de bens e serviços, que entram no circuito económico, podendo estar a

exercer uma profissão remunerada ou encontrando-se desempregada.

A população inactiva é constituída por jovens, idosos, inválidos, donas de casa

ou outros, que, embora exercendo uma actividade ligada à produção de bens e

serviços, não entram no circuito económico.

A taxa de actividade (TA), que relaciona a população activa com a população

absoluta e se expressa em percentagem, é condicionada por vários factores, entre os

quais a idade da reforma, a escolaridade obrigatória, a participação da mulher activa e

os movimentos migratórios.

TA = População activa X100População absoluta

Em Portugal os valores desta variável têm registado um aumento progressivo e

significativo, que se fica a dever, ao ingresso de um número crescente de mulheres na

vida activa.

A distribuição da taxa de actividade no território nacional não é uniforme,

registando-se os maiores valores no Centro e no Norte, com 57,5% e 52,3%,

respectivamente, e os menores valores na Região Autónoma dos Açores, com 41,9%.

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Fig 5 Taxa de actividade em Portugal Fig 6 Taxa de actividade, por sector de actividade

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No contexto da União Europeia, a par da Dinamarca, Suécia e Finlândia, é um

dos países com os valores mais elevados da taxa de actividade.

A distribuição da população activa por sectores de actividade evidencia que ao

longo do período considerado (1950 a 2001) verificam-se alterações, condicionadas

pela evolução social e económica do país (Fig 6).

A população activa empregue no sector primário tem vindo a diminuir,

apresentando, os valores mais reduzidos no período em estudo. Apesar desta situação

traduzir alguma modernização do sector, ela é fundamental motivada pelo abandono

do meio rural, do trabalho mal pago e do baixo nível de vida.

Contudo, apesar da diminuição observada, os valores, quando comparados com

os de outros países da União Europeia, são ainda muito elevados, indicando atraso

técnico e tecnológico.

É de salientar que os dados estatísticos não correspondem exactamente à

realidade, uma vez que não têm em consideração o trabalho desenvolvido pelas

mulheres, nem a actividade agrícola praticada a tempo parcial, que quase nunca é

declarada e tem como objectivo a produção para auto consumo.

O sector secundário

cresceu de forma

significativa nas décadas de

50, 60 e 70, período que

correspondeu a um certo

desenvolvimento do sector

ligado à indústria. No

período seguinte, regista-se

uma diminuição da

população empregue neste

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Fig 7 População activa na UE, por sector de actividade

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sector, como resultado de algum desenvolvimento e modernização tecnológica da

nossa indústria.

O sector terciário foi o que mais cresceu no período em estudo, traduzindo o

processo de crescente terciarização da economia portuguesa.

O crescimento deste sector tem a ver com a melhoria das condições de vida da

população, que se repercute no aumento do número e da diversificação de serviços.

Liga-se à proliferação de novas actividades, associadas ao turismo, a serviços

financeiros, ao desporto, à cultura ou às comunicações.

O processo de terciarização tem a ver com o aumento da taxa de urbanização e

com o aumento de mulheres inseridas na população activa.

A evolução verificada na distribuição da população activa pelos sectores de

actividade permite concluir que o nosso país caminha no sentido dos países mais

desenvolvidos, se bem que, quando comparado com alguns países da União Europeia,

os valores indicam que ainda falta percorrer algum caminho para atingirmos a média

desejável (fig. 7).

A distribuição da população activa pelos sectores de actividade revela algumas

disparidades a nível regional. Assim, há alguns aspectos a destacar:

O peso do sector primário é especialmente relevante no Centro do país.

O sector secundário é particularmente significativo no Norte, onde

ainda predominam muitas indústrias de mão-de-obra intensiva.

O sector terciário é aquele que ocupa o maior número de população

activa em todo o país, com excepção da Região Norte. De destacar o distrito de Lisboa,

onde se concentram os serviços de administração e o Algarve e a Região Autónoma da

Madeira, como as regiões onde o peso do terciário é mais significativo. Na região do

Alentejo o peso do sector terciário assume valores consideráveis, a que não é alheio o

envelhecimento da população e o aumento do número de serviços ligados ao apoio a

este grupo etário; o desenvolvimento de algumas cidades, na sequência da

implantação de estabelecimentos de Ensino Superior, também contribui para o peso

do sector terciário nesta região.

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2.3 Nível de instrução e qualificação profissional

O desenvolvimento económico de um país e a capacidade de dar resposta aos

desafios que se lhe colocam, de modo a inserir-se com competitividade na

comunidade internacional, depende, em grande medida, do grau de instrução e de

qualificação da sua população.

Apesar da evolução registada em Portugal, relativamente ao grau de instrução

e de qualificação da sua população, os níveis de instrução e de qualificação ainda estão

muito aquém do desejável, condicionando de forma negativa o crescimento e o

desenvolvimento do país.

Como se pode observar pela leitura do quadro 1, a maioria da população

portuguesa tem apenas o 1º ciclo do Ensino Básico, sendo ainda considerável o total

de indivíduos que não frequentaram nenhum grau de ensino. Os valores que

representam a população com frequência do Ensino Secundário e do Ensino Superior

são muito baixos, especialmente se comparados com os restantes países da União

Europeia, nomeadamente com os países de leste, que aderiram recentemente a esta

comunidade.

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A situação portuguesa é grave uma vez que, para além do baixo grau de

instrução e de qualificação da população, registam-se simultaneamente níveis de

qualificação profissional insuficientes para dar resposta às alterações que se têm vindo

a verificar no mundo do trabalho; essas alterações estão relacionadas com a

introdução de novas tecnologias e com o nascimento de novas actividades, que exigem

novas competências e o domínio de novas técnicas e de novas formas de organização

do trabalho.

Os baixos níveis de instrução e de qualificação da população traduzem-se em

baixos níveis de produtividade, responsáveis pela diminuição da produtividade do país.

Esta situação apresenta disparidades muito significativas entre as regiões do litoral e as

do interior, sendo nestas últimas que se registam os valores mais baixos.

2.4 Os principais problemas sociodemográficos

2.4.1 O envelhecimento da população

O envelhecimento demográfico, reflexo do índice de envelhecimento (IE),

constitui um dos maiores problemas que a sociedade portuguesa enfrenta na

actualidade.

Este problema, comum à maioria dos países desenvolvidos, tem na sua base

várias causas, das quais se salientam o aumento da esperança média de vida e a

diminuição da natalidade.

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Quadro 1 População por níveis de ensino e por níveis de NUT II, em 2000

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O envelhecimento demográfico, constituindo um fenómeno com registo em

todo o território nacional, assume, contudo, especial relevância nas regiões do interior,

muito afectadas pelo êxodo rural.

Como principais consequências do envelhecimento, apontam-se a diminuição

da população activa, a diminuição da produtividade e do dinamismo económico e

social das regiões e do país. Coloca problemas ao nível de reforma, já que o total da

população activa não garantir os descontos necessários para o seu pagamento, assim

como o aumento dos encargos do Estado e das famílias com a protecção social

nomeadamente com a saúde.

2.4.2 O declínio da fecundidade

A diminuição dos valores do índice de fecundidade representa outro problema

da sociedade portuguesa. O seu valor é, hoje, inferior ao valor necessário para garantir

a renovação das gerações. A evolução deste índice acompanha a tendência observada

nos países mais desenvolvidos, e deve-se à crescente integração da mulher no merado

de trabalho, ao prolongamento do período dedicado à instrução e ao investimento na

carreira profissional, à diminuição de natalidade com reflexos de redução de mulheres

jovens em idade fértil, à divulgação e vulgarização da utilização de métodos

contraceptivos, aumento dos encargos económicos da educação dos filhos, entre

outros vários aspectos.

2.4.3 Baixo nível de instrução e qualificação profissional

O baixo nível de instrução e de qualificação para o desempenho da profissão

são também grandes problemas que marcam a sociedade portuguesa e que explicam,

em grande medida, a baixa produtividade verificada na maior parte dos sectores

laborais; explicam ainda a fraca competitividade do nosso país, no plano internacional.

2.4.4 Instabilidade laboral

O aumento da taxa de desemprego, embora menor que noutros países

europeus, constitui um problema que tem vindo a agravar-se, afectando

especialmente as mulheres e os grupos de indivíduos com níveis de instrução e

qualificação profissional mais baixos.

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 20

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A instabilidade laboral pode assumir várias formas - desemprego de longa

duração, emprego temporário, emprego a tempo parcial, subemprego e até trabalho

ilegal.

A instabilidade laboral traduz-se

sempre em insegurança mobilidade e

precariedade ao nível das condições

de vida.

Tal como acontece noutros aspectos,

também no que concerne a este

problema as assimetrias regionais são

evidentes, apresentando-se o

Alentejo, Lisboa e o Norte como as

regiões mais afectadas.

2.5 O rejuvenescimento e a vaporização da população

Constituindo a população o recurso fundamental para o desenvolvimento do

país e, face aos graves problemas demográficos a que se assiste torna-se vital a

implementação de medidas que conduzem ao nível da natalidade e contrariem o

envelhecimento, especialmente nas regiões do interior. As medidas de incentivo

poderão revestir o carácter económico (aumento dos abonos de família, facilidades no

crédito à habitação e incentivos fiscais) ou um carácter social (aumento da duração do

período de licença pós parto, aumento do numero de creches e alargamento do

horário de funcionamento, entre vários).

Finalmente, o desenvolvimento do país exige investimentos cada vez maiores

na qualificação da população através do aumento da taxa de escolaridade e da

formação profissional.

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Fig 8 Taxa de desemprego, por NUT II

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2.6 A distribuição da população portuguesa

A densidade populacional em Portugal em 2001 era de 108 hab/km².

Densidade populacional = população absolutasuperfície

É no litoral que se registam os maiores valores de densidade populacional, com

excepção do litoral alentejano.

O norte, em média, apresenta densidades populacionais mais altas que no sul.

As áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, destacam-se entre as demais

regiões pelos elevados valores de densidade populacional.

Esta distribuição irregular da população portuguesa manifesta-se desde o início

da ocupação do território e da nacionalidade, contudo, agravou-se a partir das décadas

de 50 e 60 do século XX, com o êxodo rural.

A partir desse período, as assimetrias que opõem o litoral ao interior são cada

vez mais marcadas, agravando-se a tendência para a litoralização e para a

bipolarização.

Na última metade do século XX as áreas mais dinâmicas, relativamente à

variação da população residente, isto é, que registaram aumento populacional, se

localizam no litoral e em particular em torno de Lisboa e Porto, as áreas em perda, isto

é, as áreas regressivas, localizam-se, regra geral, no interior e no litoral alentejano. É

de salientar que algumas áreas do interior não registaram perda de população

residente, antes pelo contrário. Trata-se de algumas áreas urbanas, mais propriamente

algumas freguesias, que resistindo à perda demográfica, conseguiram inverter o

fenómeno.

É de salientar a perda da população nos concelhos do Porto e Lisboa, na

sequência do processo de terciarização que tem vindo a marcar essas áreas e que é

responsável pelo aumento do preço do solo para fins de habitação. A população

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procura nos concelhos limítrofes habitações a preços mais compatíveis com a sua

situação económica.

A irregular distribuição da população portuguesa é condicionada por factores

naturais e por factores humanos. Os factores naturais que mais influenciam essa

distribuição, podem ser o clima, o relevo e a fertilidade do solo.

O clima mais ameno e húmido do litoral constitui um factor de atracção da

população, na medida em que favorece o desenvolvimento das várias actividades

humanas. As férteis planícies do litoral atraíram desde sempre a população, ajudando

à sua fixação, na medida que facilitam a prática da agricultura e promovem o

desenvolvimento dos transportes e das comunicações.

O interior, de clima mais agreste, mais montanhoso e de solos mais pobres,

constitui um obstáculo à presença humana, dificultando o desenvolvimento de

actividades como a agricultura, o comércio ou a indústria.

São os factores humanos que melhor explicam as assimetrias regionais. É no

litoral que se localiza a maioria das cidades, verdadeiros pólos de atracção e de fixação

populacional, pelo emprego que oferecem, gerado pela actividade comercial e

industrial e pelos numerosos serviços e equipamentos que colocam à disposição da

população, criando oportunidades de trabalho e melhorando condições de vida.

A existência de uma densa rede de transportes no litoral, reforçada por intensa

actividade portuária e aeroportuária, constitui um factor de atracção para a fixação de

numerosas empresas nacionais e internacionais que vêem a sua actividade e os seus

contactos facilitados, contribuindo também para a fixação da população.

Os movimentos migratórios estão também na base da distribuição portuguesa.

Quer a deslocação da população das áreas rurais para outros países quer para as

grandes metrópoles do litoral que conduziram ao despovoamento e envelhecimento

demográfico das regiões do interior.

O aumento populacional registado no litoral deve-se ao êxodo rural, que se

intensificou a partir de meados do século XX e que está na origem de problemas que

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condicionam a qualidade de vida da população e o equilíbrio económico, social e

cultural do país.

3 Os recursos naturais de que população dispõe: usos, limites e

potencialidades

3.1 Os recursos do subsolo

Os recursos existentes no subsolo são explorados através da indústria

extractiva e constituem matérias-primas para a indústria, para a construção civil e

obras públicas, para além da geração de energia. Os recursos hidrominerais destinam-

se ao consumo imediato pela população. Em Portugal, apesar de se registar uma certa

riqueza neste tipo de recursos, patente por uma grande variedade de jazidas minerais,

este sector de actividade tem um peso económico pouco relevante quer porque, em

alguns casos, as reservas são diminutas, quer porque a conjuntura internacional

condiciona o mercado destes produtos.

Os recursos minerais, tendo em vista a sua origem e as características físicas e

químicas, podem classificar-se em diferentes tipos:

Minerais metálicos – minerais que apresentam na sua constituição

substâncias metálicas, como por exemplo, o ferro, o cobre, o estanho ou o volfrâmio.

Minerais não metálicos – minerais constituídos por substâncias não

metálicos, como por exemplo o sal-gema, o quartzo, o feldspato ou o gesso.

Minerais energéticos – minerais que podem ser utilizados para o

produção de energia, como por exemplo o carvão, o petróleo, o urânio ou o gás

natural.

Rochas industriais – rochas utilizadas sobretudo como matéria-prima

para a indústria ou para a construção civil ou obras públicas, como por exemplo o

calcário, o granito, a argila ou as margas.

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Rochas ornamentais – rochas utilizadas na decoração de edifícios, peças

decorativas ou mobiliário, como por exemplo o mármore, o granito ou o calcário

microcristalino.

Áreas subterrâneas – águas que se destinam ao engarrafamento ou ao

aproveitamento termal.

A localização das principais áreas de exploração dos recursos minerais é marcada pelas

características geomorfológicas do território. Em Portugal podemos distinguir três unidades

geomorfolóficas:

Maciço Antigo ou Maciço Hespérico - é a unidade mais antiga do

território, constituída por granito e xisto. É nesta unidade que se localizam as jazidas

mais importantes de minerais metálicos (cobre, volfrâmio e estanho), energéticos

(carvão e urânio) e rochas ornamentais (mármore e granito).

Orlas sedimentares (ocidental e meridional) – constituídas por rochas

sedimentares, os recursos minerais mais explorados são as rochas industriais (o

calcário, areias, argilas, arenitos).

Bacias do Tejo e do Sado – correspondem à unidade geomorfológica

mais recente do território, formada pela deposição de sedimentos de origem marinha

e fluvial. Os recursos minerais mais explorados são rochas industriais (areias e argilas).

Nas regiões autónomas dominam as rochas magmáticas vulcânicas (basalto e

perda-pomes), mas a sua exploração não tem relevância económica.

Apesar de a indústria extractiva ter vindo a perder peso no contexto da

economia nacional, o valor total da produção tem aumentado.

Este aumento deve-se ao crescimento dos subsectores das rochas ornamentais

e industriais e das águas minerais. O subsector dos recursos minerais não metálicos é

insignificante relativamente aos restantes e que o subsector dos minerais metálicos

registou uma diminuição do valor da produção.

Ao nível regional, a importância do sector extractivo apresenta grandes

contrastes, constituindo o Alentejo a região do país com o maior valor de produção e o

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Algarve, a par das Regiões Autónomas aquelas onde é menor. Também os diferentes

subsectores da indústria extractiva apresentam expressões regionais diversas, sendo

de destacar no Alentejo quer a importância da exploração de jazidas de minerais

metálicos, nomeadamente de cobre, de estanho e de ferro, respectivamente nas

Minas de Neves Corvo e na do Cercal, quer a exploração de rochas ornamentais, como

o mármore e o granito, em numerosas pedreiras. Nas regiões Norte e Centro, a

exploração de águas minerais e a extracção de rochas (granito e xisto) em pedreiras

destacam-se pelo peso relativo no contexto da indústria extractiva e pelo valor de

produção. Na região de Lisboa e Vale do Tejo ressalta a importância do subsector das

rochas industriais.

3.2 Minerais metálicos

Os principais minerais metálicos explorados actualmente no nosso país são o

ferro, o cobre, o estanho e o volfrâmio. Este subsector registou um decréscimo no

valor da produção.

O ferro, é actualmente explorado somente no Cercal, Alentejo, e a produção é

insuficiente face à procura, pelo que se recorre à importação deste mineral para dar

resposta às necessidades do país. A produção de ferro foi diminuindo

progressivamente, assistindo-se ao encerramento de algumas minas, devido ao baixo

teor do mineral.

O cobre é extraído nas minas de Neves Corvo, no Alentejo. Portugal possui as

maiores reservas de cobre da União Europeia e é o maior produtor deste minério no

Espaço da União Europeia.

A produção de estanho, utilizado no fabrico de folha-de-flandres e na

composição de variadas ligas metálicas, provém na sua maior parte da mina de Neves

Corvo.

O volfrâmio, utilizado principalmente no fabrico de ligas metálicas e de

filamentos para lâmpadas incandescentes. A crise observada na produção deste

minério resultou da entrada no mercado internacional de volfrâmio proveniente da

China a baixos preços.

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3.3 Minerais não metálicos

A exploração destes minerais é pouco significativa e com um valor de produção

diminuto. As substâncias mais exploradas são o sal-gema, o feldspato, o quartzo e o

caulino.

O sal-gema é utilizado na indústria química e agro-alimentar.

A produção de quartzo e feldspato destina-se quase à indústria de vidro e

cerâmica.

O caulino, matéria-prima para a indústria cerâmica, é explorado em vários

locais próximos do litoral, com especial destaque para o Norte.

3.4 Rochas industriais e ornamentais

Este subsector encontra-se em expansão. O aumento da exploração resulta do

aumento da procura, da qualidade dos produtos e do elevado número de jazidas.

As rochas industriais mais exploradas são as areias comuns, o calcário e as

argilas. Constituem importantes matérias-primas para a indústria do vidro, da

cerâmica, da construção civil e obras públicas e cimenteiras.

As rochas ornamentais de elevado valor unitário, contribuem para o aumento

do valor de produção deste subsector, apontando-se os mármores e os granitos como

as mais importantes.

Os mármores são rochas carbonatadas, localizando-se a principal área de

exploração no Alentejo, na faixa Estremoz – Borba – Vila Viçosa.

Os granitos pertencem ao grupo de rochas siliciosas e as principais áreas de

exploração localizam-se no Alentejo.

3.5 Águas subterrâneas

Este subsector engloba as águas minerais e de nascente e as águas termais.

Portugal possui importantes recursos hidrominerais, sendo de assinalar o significativo

crescimento do seu valor de produção e o aumento do número de explorações

dedicadas ao engarrafamento.

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As águas minerais naturais, gasificadas ou não, caracterizam-se pela sua

riqueza em determinados sais minerais, o que lhe confere propriedades terapêuticas,

não devendo ser consumidas de forma continuada.

As águas de nascentes destinam-se ao consumo diário, sem qualquer restrição.

O consumo de águas engarrafadas no nosso país traduz a melhoria do nível de

vida da nossa população, a alteração de hábitos de consumo e uma crescente

preocupação com a qualidade deste bem essencial.

As águas termais constituem um subsector com tendência para se expandir. As

estâncias termais são frequentadas por um número crescente de aquistas. A esta

evolução não é estranho o investimento tornando-as mais atractivas e apelativas

turisticamente. O desenvolvimento turístico que se pretende fomentar e que tem em

vista melhorar e diversificar os serviços oferecidos é encarado como factor de

dinamização regional, já que promove a criação de postos de trabalho, a construção de

infra-estruturas e a implementação de novos serviços. Pretende-se dessa forma,

estimular a fixação da população, melhorar a sua qualidade de vida, incentivar a

preservação do património e divulgar a região.

3.6 A exploração e distribuição dos recursos energéticos

A modernização e o desenvolvimento tecnológico dos vários sectores de

actividade, a evolução dos transportes e a própria qualidade de vida humana

dependem do crescente consumo de energia. O consumo de energia per capita

constitui assim uma variável utilizada como indicador de desenvolvimento.

Portugal tem vindo a registar um aumento de consumo de energia, embora

apresentando valores abaixo dos registados noutros países da União Europeia.

O território nacional é pobre em recursos energéticos, recorrendo à importação

dos mais consumidos. Petróleo, gás natural e carvão, o que se reflecte numa balança

comercial negativa para este subsector e numa forte dependência face ao exterior,

que se traduz numa situação de vulnerabilidade.

Carvão

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O carvão, mineral energético de origem fóssil, logo um recurso não renovável, é

fundamentalmente utilizado como fonte de energia primária e como matéria-prima de

algumas indústrias. Os recursos carboníferos em Portugal são escassos.

Petróleo

É o recurso energético mais utilizado no nosso país, à imagem do que se passa

no resto do Mundo, como fonte de energia primária e como matéria-prima de muitas

indústrias químicas.

Gás natural

O gás natural revela-se mais vantajoso relativamente aos recursos anteriores. É

menos poluente, as reservas mundiais são mais vastas e menos concentradas

geograficamente do que o petróleo na actualidade. É mais barato e o seu transporte

não levanta demasiados problemas.

Urânio

Trata-se um mineral pesado radioactivo utilizado na produção de energia

nuclear que pode ser transformado em energia.

A extracção de urânio no nosso país, tem vindo a diminuir e destina-se na

totalidade à exportação e fez-se unicamente na mina da Urgeiriça, no distrito de Viseu.

Energia geotérmica

Esta forma de energia renovável utiliza o calor libertado pelo interior da Terra.

Em Portugal o seu aproveitamento é feito essencialmente nos Açores, na ilha de São

Miguel, para a produção de energia eléctrica.

No território nacional, as potencialidades desta forma de energia, associada a

muitas nascentes termais, tem conduzido à dinamização de vários projectos que visam

a sua exploração.

3.7. Os problemas na exploração dos recursos do subsolo

Custos de exploração

Apesar da relativa riqueza do subsolo português em recursos minerais, água e

rochas, a sua exploração nem sempre se revela fácil e viável economicamente.

Fraca acessibilidade de jazidas

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Muitas jazidas encontram-se em áreas de difícil acesso, que elevam os custos

de transporte e portanto os custos finais do produto, o qual perde competitividade.

Qualidade do minério

O baixo teor de muitos minérios, associado à difícil extracção, devido à elevada

profundidade das jazidas, aumenta os custos de exploração e tem conduzido ao

encerramento de muitas explorações.

Dimensão das empresas

A maior parte das empresas do sector extractivo são de pequena dimensão. A

capacidade financeira das empresas insuficiente para garantir investimentos na área

da modernização tecnológica e na qualificação da mão-de-obra, o que aumenta os

custos de produção e leva ao seu colapso económico por falta de competitividade com

outras empresas, nomeadamente estrangeiras.

Indústria transformadora a jusante de extracção

A deficiente articulação da actividade extractiva com o sector da indústria

transformadora a jusante das explorações conduz à exploração dos produtos em

bruto. Nessa situação, o seu valor comercial é baixo, não se tornando rentável a sua

comercialização.

Novos produtos

As inovações associadas ao desenvolvimento tecnológico têm conduzido à

substituição, com êxito, de muitos produtos minerais por novos materiais, que se

revelam mais eficazes e com menores custos.

Dependência externa

A dependência externa face aos recursos minerais é muito elevada, com

excepção da produção de rochas, água e cobre. Contudo, é no subsector dos minerais

energéticos que a dependência se revela total. Esta dependência traduz-se numa

balança comercial negativa e numa vulnerabilidade, económica e política, face aos

mercados abastecedores e à conjuntura internacional, numa perspectiva mais ampla.

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A dependência externa é agravada pela deficiente articulação da indústria

transformadora com a indústria extractiva, que está na origem de um valor muito

elevado de produtos exportados em bruto, portanto, a baixo preço.

Impacte ambiental

A actividade ligada ao sector extractivo é altamente penalizante para o

ambiente, quer a exploração se faça ao ar livre ou no interior do subsolo.

A actividade ligada a este sector traduz-se geralmente na contaminação dos

solos e das superficiais ou subterrâneas. A destruição de solos agrícolas e florestais é

outra consequência, assim como a degradação das paisagens, acompanhada muitas

vezes da alteração das próprias características do relevo.

3.8 Novas perspectivas de exploração e utilização dos recursos do subsolo

A valorização do sector extractivo passa pela implementação de medidas, de

natureza variada, entre as quais se pode apontar:

☻ Utilização de novas técnicas de prospecção que permitem um

conhecimento mais rigoroso dos recursos do subsolo;

☻ Redimensionamento das empresas, a fim de atingirem capacidade

económica que permita a introdução de técnicas e tecnológicas mais modernas e mais

rentáveis;

☻ Desenvolvimento da indústria transformadora a jusante da extracção

que evita a exportação em bruto;

☻ Implementação de medidas de requalificação ambiental e a valorização

económica de áreas recuperadas;

☻ Investimento nos subsectores com mais potencialidades, como é o caso

das rochas e das águas, minerais e termais.

☻ Aumento da produção de energia a partir do aproveitamento dos

recursos renováveis, a fim de diminuir a dependência externa ao nível dos recursos de

origem fóssil;

☻ Racionalização do consumo de energia a fim de melhorar a eficiência

energética.

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3.9 A valorização da radiação solar

A energia solar

A elevada insolação média registada em Portugal, faz de energia solar um

importante recurso energético que importa valorizar. A energia solar permitirá

diminuir a dependência do país face ao exterior, relativamente às energias fósseis,

diminuir o défice da balança comercial e contribuir para o equilíbrio ambiental, já que

se trata de uma fonte de energia limpa e inesgotável.

A energia solar pode ser utilizada com fins térmicos ou para produção de

electricidade. A primeira aplicação é a mais vulgarizada no nosso país e consiste no

aproveitamento da energia solar para aquecimento de águas para uso doméstico,

aquecimento de edifícios e piscinas. A utilização da energia solar para produção de

electricidade é menos vulgar, mas o rápido desenvolvimento das tecnologias

necessárias fazem prever um rápido crescimento.

O turismo

O turismo constitui uma actividade de interesse económico relevante, que tem

vindo a crescer ao longo dos últimos séculos, reflectindo importantes modificações

sociais, económicas e culturais. A sua importância não se traduz nas divisas

estrangeiras que gera e que permitem equilibrar a balança de pagamentos, mas

também nos efeitos multiplicadores que origina e que se reflectem nos empregos que

cria, nas actividades que dinamiza, na dinâmica que imprime ao desenvolvimento

territorial e à preservação do património, quer ele seja arquitectónico, gastronómico,

paisagístico ou outro.

Portugal apresenta condições para o turismo balnear já que a, um clima

mediterrâneo, de longo verões quentes, secos e luminosos, alia extensas praias de

areia fina e águas tépidas.

As principais regiões de turismo balnear são o Algarve, Lisboa e a Madeira.

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O principal problema é o seu carácter marcadamente sazonal pelo que deve ser

complementada com outras que se desenvolvem de forma mais contínua ao longo do

ano.

3.10 Os recursos marítimos

3.10.1 As potencialidades do litoral

Localizado no extremo sudoeste da Europa, é no mar que Portugal encontra a

sua última fronteira. Com uma extensão de mais de 800Km, a costa portuguesa

condiciona a geografia física e humana do país e é indissociável da sua longa história.

É ao longo do litoral que se encontra a população portuguesa e as actividades

económicas, aprofundando as assimetrias com o interior despovoado. Desde sempre,

pela amenidade do clima, pela facilidade dos contactos que permite ou simplesmente

pelos recursos que oferece, o litoral exerce uma enorme atracção para a fixação da

população e de numerosas actividades económicas como a agricultura, o comércio ou

a indústria.

O litoral português apresenta-se como um traçado bastante rectilíneo, com

poucas reentrâncias naturais favoráveis ao desenvolvimento da actividade portuária. A

linha de costa evidência, sem regularidade, formas de costa alta e de costa baixa

(arenosa ou rochosa).

O mar constitui um agente erosivo, responsável pela modelação das formas do

litoral e pela dinâmica associada a este processo. A acção erosiva do mar compreende

três aspectos que se desenvolvem de forma articulada e continuada: desgaste,

transporte e acumulação.

3.10.2 A actividade piscatória

É antiga a ligação dos portugueses ao mar. A pesca tem uma expressão muito

significativa no contexto social e económico do país, apesar de todos de todos os

condicionalismos que uma costa rectilínea e muito batida pelos ventos impôs ao

desenvolvimento dessa actividade. A relevância deste sector de actividade prende-se

com o número significativo de empregos que gera, a nível local transforma-o numa

fonte de rendimento insubstituível para numerosas comunidades ribeirinhas; com as

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numerosas e diversificadas actividades que dinamiza, quer a montante quer a jusante

(como por exemplo a construção naval e o fabrico de artefactos para a pesca a

montante e a comercialização ou a transformação do pescado a jusante); e ainda, com

a importância que se reveste o pescado na alimentação da população portuguesa.

O sector pesqueiro português tem vindo a perder importância económica, a

nível nacional. Desde a década de 70 do século XX, contribuindo, actualmente, para o

VAB – Valor Acrescentado Bruto – unicamente com cerca de 1%, incluindo neste

indicador as actividades ligadas à transformação do pescado e à aquicultura (cultura de

espécies aquáticas em cativeiro, de forma controlada pelo ser humano). Ao nível do

número de postos de trabalho que gera, a sua importância diminui de forma

significativa, já que actualmente a população activa empregue no sector ronda apenas

0,5%.

Esta situação liga-se à crise que o sector atravessa e às debilidades que o

marcam, entre as quais emerge de forma significativa a diminuição progressiva da

produção pescado, e insuficiente para dar resposta à procura do mercado.

Daí decorre uma balança comercial que, de ano para ano, regista saldos

negativos cada vez maiores, na sequência de importações que superam largamente as

exportações.

As principais espécies descarregadas nos portos portugueses são a sardinha, o

carapau, a cavala, o peixe-espada e o polvo, entre várias outras.

Tendo por base as áreas onde é praticada, a pesca pode ser classificada em:

o Pesca local – pratica-se em rios, estuários, lagunas ou na costa, até 6 ou

10 milhas da costa, consoante a embarcação utilizada tiver convés aberto ou convéns

fechado.

o Pesca costeira - é praticada para lá das 6 milhas da costa por

embarcações de dimensões superiores a 9 metros de comprimento e com autonomia

que pode ir até às duas ou três semanas.

o Pesca de largo – esta actividade realiza-se para além das 12 milhas da

costa, em pesqueiros externos de águas internacionais ou em ZEE (Zona Económica

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 34

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exclusiva – zona marítima até 200 milhas marítimas da linha de costa, onde os países

ribeirinhos detêm o poder de exploração, conservação e administração dos recursos)

de outros países.

Atendendo às técnicas utilizadas, a pesca pode classificar-se em:

E Pesca artesanal – utiliza técnicas e meios tradicionais. Os períodos de

permanência no mar são curtos, geralmente inferiores a um dia, já que as pequenas

embarcações utilizadas não estão equipadas com meios de conservação do pescado.

E Pesca industrial – as técnicas utilizadas são modernas, por vezes muito

sofisticadas, tal como os meios. As embarcações, de grande dimensão, estão

equipadas com modernos de transformação e conservação, o que faz delas autênticas

fábricas flutuantes. Este tipo de pesca destina-se especialmente à pesca longínqua,

podendo a deslocação ser superior a várias semanas ou até meses.

A aquicultura - uma alternativa

A aquicultura, que consiste na criação de peixe em cativeiro, em água doce ou

salgada, constitui uma importante alternativa às formas tradicionais de abastecimento

do pescado.

A aquicultura marinha em Portugal, caracterizou-se inicialmente, pela

predominância de estabelecimentos explorados por estruturas familiares em regime

extensivo, nos últimos anos evoluído no sector da piscicultura, para unidades a

funcionar em regime de exploração semi-intensiva e em alguns casos exploradas por

empresas com alguma dimensão, por vezes de nível internacional. Na exploração semi-

intensiva destaca-se a criação de douradas e robalo, no mesmo sistema mas em

exploração de água doce a criação de trutas.

A aquicultura reveste-se de enorme importância, na medida em que permite

abastecer regularmente o mercado, diminuir a pressão sobre algumas espécies mais

ameaçadas e até revitalizar stocks em extinção, além de gerar numerosos postos de

trabalho.

As principais áreas de pesca

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Como consequência de uma estreita plataforma continental, a riqueza piscícola

do mar português foi sempre muito expressiva e determinante na evolução do sector

pesqueira nacional.

O modelo de desenvolvimento que durante muito tempo, caracterizou a pesca

nacional baseou-se numa forte dependência de pesqueiros externos, conjugada com o

esforço de pesca exercido nas águas nacionais.

Obedecendo às normas comunitárias impostas pela Política Comum de Pesca, a

frota pesqueira portuguesa actua em diversas áreas longínquas, pesqueiros externos,

de onde provém actualmente, cerca de 20% do total de capturas.

Apesar de tudo, a frota portuguesa continua a actuar em algumas áreas de

pesca internacionais:

Atlântico noroeste (NAFO) – É por tradição, uma das áreas pesqueiras

externas mais frequentadas pela frota portuguesa, especialmente para a pesca do

bacalhau.

Atlântico nordeste – a riqueza destas águas justifica a frequência e

intensidade de pesca aí realizada pela frota portuguesa, onde acorre

fundamentalmente para a captura de bacalhau.

Atlântico centro-leste – a frota portuguesa, em alternativa às áreas

anteriores, tem vindo a aumentar as capturas nesta área de águas também muito

ricas, quer em quantidade quer em diversidade de pescado.

Atlântico sul – apesar da distância a Portugal destaca-se como área de

pesca longínqua, referindo-se a pescada como principal espécie capturada.

Em síntese, a frota portuguesa é constituída essencialmente por pequenas

embarcações, que não dão resposta às necessidades do mercado, que se encontra

obsoleta em termos de equipamento e envelhecida. Estes ajudam a explicar a crise em

que mergulhou este sector, já que foi próspero, num passado relativamente recente,

assim como a sua falta de competitividade face a outros países, nomeadamente da

União Europeia.

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Contudo, nos últimos anos tem sido feito um esforço no sentido da

reestruturação da frota, através da construção de embarcações modernas e bem

equipadas, mais seguras e adequadas às necessidades do nosso mercado. O apoio

comunitário tem sido fundamental na sua concretização.

A população activa empregue neste sector apresenta uma estrutura etária

bastante envelhecida, baixo nível de instrução e baixo nível de produtividade. Ao

envelhecimento da mão-de-obra não é estranha a falta de atractividade no sector e

que afasta os mais jovens.

A incipiente formação profissional nesta área explica o baixo nível de

produtividade, da mesma forma que impede a modernização e o desenvolvimento do

sector. As modernas técnicas de pesca, as novas embarcações e os meios utilizados

exigem mais do que a mobilização de saberes tradicionais, exigem uma preparação

relacionada não só com a pesca em si mas também com a navegação, com a

preservação dos recursos, com a gestão económica da actividade, entre vários que

podiam ser apontados.

3.11 A gestão do espaço marítimo

O mar é um ecossistema fundamental do ponto de vista ecológico, económico

e social. É especialmente importante para um país como Portugal, com grande faixa

costeira, vasta ZEE e uma tradição marítima secular.

A extensão da ZEE portuguesa, representa cerca de 18 vezes a extensão do

território continental, colocando dificuldades de gestão acrescidas, difíceis de

ultrapassar e que são ainda acentuadas pela forte pressão demográfica exercida pelo

litoral e pela localização geográfica do território nacional o que coloca a nosso país

num cruzamento das principais rotas marítimas do Atlântico norte.

Os principais problemas que se colocam à gestão do nosso espaço marítimo são

a sobreexploração dos recursos piscícolas, a poluição marinha e a pressão urbanística

sobre o litoral.

Sobreexploração dos recursos piscícolas – o crescimento demográfico a que se

tem vindo a assistir associado ao desenvolvimento das frotas pesqueiras e das técnicas

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de pesca, cada vez mais sofisticadas e agressivas, tem conduzido a um esforço de

pesca excessivo, que se traduz na sobreexploração de algumas espécies. Regista-se

uma diminuição drástica de alguns stocks, que coloca em questão a sobrevivência de

algumas espécies. Esta situação exige a implementação de medidas de protecção e de

recuperação das espécies mais ameaçadas.

Poluição marinha – nas águas marítimas portuguesas o problema da poluição é

preocupante. Constitui uma situação latente que tem contribuído para a degradação

de stocks piscícolas, principalmente junto à costa, e para a destruição das áreas

costureiras, enquanto áreas de lazer.

As fontes de poluição são diversas, a descarga de efluentes não tratados de

origem doméstica ou industrial, as águas dos rios que aí vão desaguar e que registam

elevados níveis de poluição doméstica, industrial e resultante de produtos químicos

utilizados na agricultura como os fertilizantes e os pesticidas, o derrame de

hidrocarbonetos resultante de acidentes com petroleiros ou de lavagens ilegais de

tanques de petroleiros em mar alto, que com frequência dão origem a marés negras.

Pressão urbanística sobre o litoral – a orla costureira portuguesa deve ser

encarada como um recurso precioso, com múltiplas potencialidades e gerador de

riqueza. Constitui contudo uma área de grande vulnerabilidade que importa proteger e

valorizar.

Compreende-se melhor a fragilidade destas áreas quando se pensa na enorme

pressão demográfica a que estão sujeitas, cerca de três quartos da população

portuguesa vivem no litoral e aí desenvolvem a sua actividade. Uma parte significativa

da orla costeira está assim ocupada com construção imobiliária, vias de comunicação,

unidades industrial, hoteleiras e portuárias. Esta ocupação é ainda sazonalmente

reforçada com actividade turística balnear.

A orla costeira portuguesa, à imagem do que acontece noutras áreas do

Mundo, está sujeita a fortes processos de erosão que resultam no recuo da linha de

costa. A intensificação deste processo deve-se:

☺ À elevação do nível médio do mar;

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☺À diminuição da quantidade de sedimentos fornecidos ao litoral, como

resultado da elevação do nível do mar, por um lado, e das actividades humanas

desenvolvidas no interior e nas zonas ribeirinhas, por outro;

☺ À degradação antropogénica das estruturas naturais, devido ao

pisoteio das dunas, ao aumento da escorrência devido às regas, à construção de

edifícios no topo das arribas e à exploração de areias;

☺ Às obras pesadas de engenharia costureira que consistem em obras

portuárias, obra de estabilização de embocaduras que têm como função principal a de

canalizar a saída de estuários ou lagunas e obras de defesa costeira.

O crescimento da pressão demográfica sobre a faixa costureira foi

acompanhado pelo desenvolvimento do turismo balnear a partir da década de 60 do

século XX, o qual se foi expandido quase sempre de forma desordenada e caótica.

Contribui de maneira particular a descaracterização e para a degradação urbanística

das áreas costureiras.

4 Os espaços organizados pela população

4.1 As áreas rurais em mudança

4.1.1 As fragilidades dos sistemas agrários

O peso da agricultura portuguesa no sector económico

Ao longo do tempo, e à semelhança do que tem acontecido em outros países

da União Europeia, o peso da agricultura na economia nacional tem vindo a diminuir,

sendo esse valor ainda elevado quando comparado com a média europeia.

O espaço rural

O espaço rural corresponde ao espaço ocupado, preponderantemente por

actividades ligadas à agricultura, à pecuária e à silvicultura. Caracteriza-se por baixas

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densidades populacionais, por populações autóctones dispersas ou aglomeradas em

núcleos de pequena dimensão, com forte ligação à terra.

No contexto do espaço rural, destaca-se o espaço agrário, que corresponde à

área ocupada pela produção agrícola e/ou criação de gado, pastagens, floresta e

também pelas infra-estruturas e equipamentos de apoio à agricultura, como por

exemplo as casas de habitação dos agricultores, os armazéns, os caminhos, ou os

canais de distribuição de água.

4.2 As principais produções

Produção vegetal

Cereais:

ï Trigo – Cereal de sequeiro, cultivado em sistema extensivo, que ocupa a

maior parte da área dedicada às culturas cerealíferas e apresenta uma produção anual

irregular, muito dependente e vulnerável face às condições meteorológicas. O Alentejo

é a região onde se registam os maiores valores de produção, seguido de Trás-os-

Montes e do Ribatejo e Oeste.

ï Milho – Cereal de regadio, cujos valores máximos de produção são

obtidos nas regiões agrárias de Entre Douro e Minho, Beira Litoral e Ribatejo e Oeste.

ï Arroz – exige em solos alagados e temperaturas elevados, localizando-se

nas áreas de produção nas planícies aluviais dos principais rios portugueses (Mondego,

Tejo, Sado, Sorraia).

ï Batata – a sua cultura está disseminada por todo o território nacional,

registando-se os maiores valores de produção nas regiões agrárias da Beira Litoral, de

Entre Douro e Minho, de Trás-os-Montes e do Ribatejo e Oeste.

ï Vinha – cultivada por todo o país, sustenta uma produção de grande

significado económico, representando mais de metade do valor das explorações

portuguesas de produtos agrícolas. A produção vitivinícola organizada em Regiões

Demarcadas apresenta uma grande diversidade.

ï Azeite – Mediterrâneo por excelência, é um dos produtos mais

importantes da nossa agricultura, encontrando-se me todo o território continental.

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Culturas industriais

o Tomate – a sua cultura tem como objectivo, a transformação industrial

para a obtenção de concentrados.

o Girassol – cultura de introdução recente, a sua cultura destina-se à

produção de óleos alimentares.

o Tabaco - a área e o volume de produção do tabaco tem vindo a

aumentar progressivamente, sendo a Beira Interior a região onde a sua cultura tem

mais expressão.

Fruticultura - o clima português oferece óptimas condições para a cultura de

um variado leque de produtos frutícolas, apresentando-se como um dos sectores com

maiores potencialidades. Destacam-se a pêra rocha, a maçã e frutos tropicais, como a

banana, o ananás e o Kiwi.

Horticultura – Portugal tem excelentes condições para o desenvolvimento da

horticultura. Nas últimas décadas assiste-se à difusão da produção em estufa de várias

espécies.

Floricultura – produção de alto rendimento económico que se encontra em

fase de expansão no nosso país, realizada sobretudo em estufas.

4.3 Produção animal

Gado bovino – a criação de gado bovino reveste-se de grande interesse no

contexto da actividade agro-pecuária, registando-se um aumento significativo no total

de efectivos criados e na introdução de novas espécies.

Gado ovino e caprino - é o suporte de desenvolvimento de certas produções

regionais de grande quantidade (queijo da serra da Estrela).

Suinicultura – a criação de gado suíno em moldes industriais tem registado um

aumento significativo, assumindo um lugar de destaque na pecuária nacional.

Avicultura – a criação de aves em aviários, tendo em vista a produção de carne

e de ovos, tem registado um aumento significativo a nível nacional.

4.4 As características da população agrícola

Estrutura etária

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Às características da mão-de-obra sublinha-se a elevada percentagem de

população activa empregue neste sector, sinónimo de um atraso tecnológico

significativo, contudo, tem se vindo a verificar, nas últimas décadas, o seu progressivo

decréscimo, especialmente na consequência do êxodo rural e da emigração, e só mais

recentemente uma certa modernização.

Reforça-se o forte e crescente envelhecimento da população agrícola, como

resultado do abandono da actividade pelos mais jovens, o que constitui um dos

maiores obstáculos ao desenvolvimento da agricultura.

O envelhecimento da mão-de-obra traduz uma menor capacidade de abertura

às inovações, de adaptação a novas tecnologias e técnicas de produção e até de

capacidade física para o trabalho. O envelhecimento da mão-de-obra é responsável

pela manutenção dos baixos níveis de rendimento e de produtividade.

Nível de instrução e de formação profissional

Relacionados com o envelhecimento da mão-de-obra agrícola estão os baixos

níveis de instrução e de qualificação nacional, também responsáveis pelo atraso

estrutural da agricultura.

Nível de instrução em %

RegiõesAgrárias

Sem instrução

Inferior ao 2º Ciclo 2º e 3º ciclo Secundário Superior

Entre Douro e Minho 17 50 25 5 2Trás-os-Montes 17 52 20 7 4Beira Litoral 11 77 9 1 2Beira Interior 20 53 17 6 4Ribatejo e Oeste 15 53 21 7 4Alentejo 19 47 20 8 6Algarve 19 54 17 7 3Açores 14 49 28 6 3Madeira 23 48 21 6 2Portugal 18 67 10 2 3

Quadro 1 – Nível de instrução do produto agrícola, por regiões agrárias, em percentagem (fonte INE)

A análise do quadro 1 permite reter que a maioria dos agricultores portugueses

apresenta níveis baixíssimos de instrução, inferior ao 2º ciclo. Um valor significativo de

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produtores sem instrução, situação que tem vindo a atenuar devido à introdução da

escolaridade obrigatória e ao abandono da actividade pelos mais idosos.

Pluriactividade

Com os baixos salários auferidos que se revelam insuficientes para as

necessidades familiares, origina que procuram emprego noutras actividades onde

beneficiam de remunerações fixas e mais elevadas. Não abandonando as explorações

agrícolas, a agricultura passa a ser exercida a tempo parcial, na qualidade de actividade

secundária, destinada à produção de auto consumo. Esta pluriactividade que traduz ao

plurirrendimento permite melhorar a qualidade de vida do agricultor, ajudando a

travar o abandono das áreas rurais. Predomina nas regiões de pequena propriedade e

assume maior expressão na proximidade dos centros urbanos, onde são mais

abundantes as oportunidades de emprego noutras actividades.

4.5 A agricultura biológica

No âmbito da agricultura europeia, tem vindo crescentemente a impor-se a

produção biológica de produtos animais e vegetais.

A agricultura biológica constitui um sistema de produção que tende a

aproximar a agronomia da ecologia, recuperando técnicas e práticas tradicionais, mas

tendo presente algumas das novas técnicas e tecnologias. A agricultura biológica é um

sistema de produção que visa a manutenção da produtividade do solo e das culturas,

para proporcionar nutrientes às plantas e controlas as infestantes, parasitas e doenças,

com utilização de rotações de culturas, adição de subprodutos agrícolas (estrumes,

leguminosas, detritos orgânicos, rochas ou minerais triturados) e controlo biológico de

pragas, evitando-se o uso de fertilizantes e pesticidas de síntese química, reguladores

de crescimento e aditivos de rações.

4.6 As novas oportunidades para as áreas rurais

A (re)descoberta da multifuncionalidade do espaço rural

O espaço rural português, pela sua extensão que ocupa, pela população que

nele reside e pelo grande e diversificado potencial de recursos naturais, humanos e

culturais que encerra, deve ser valorizado de forma a promover o desenvolvimento

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económico e social e de acesso às condições de suporte à vida e à actividade das

empresas. Só assim será possível esbater os contrastes entre as áreas urbanas e áreas

rurais, e contribuir para um país territorialmente mais equilibrado.

As áreas rurais, apesar de apresentarem graves insuficiências e fragilidades em

relação às áreas urbanas, não são, contudo, uniformes. Exibem entre si profundos

contrastes. As que se localizam no litoral, junto aos grandes centros urbanos,

apresentam um forte dinamismo económico, proporcionado por essa proximidade, e

uma organização ao nível do território e da empresa que torna difícil, por vezes,

estabelecer limites entre os espaços urbanos e os espaços rurais. Representam áreas

densamente povoadas, urbanizadas e ocupadas, já de forma significativa, por

actividades ligadas a outros sectores de actividade, como o secundário e o terciário. A

agricultura praticada é moderna, voltada para o mercado e marcada pela

pluriactividade da mão-de-obra, proporcionada pela difusão das referidas actividades.

No interior do país, a realidade é completamente diferente. O espaço rural

apresenta características muito vincadas, permitindo estabelecer, de forma bem

nítida, as diferenças que o separam do espaço urbano.

A estas áreas rurais encontram-se associados graves problemas:

envelhecimento demográfico, despovoamento, baixo nível de instrução e de

qualificação da mão-de-obra, oferta insuficiente de equipamento (ao nível da saúde,

educação, cultura, transporte, lazer), baixo nível de vida da população, entre muitos

outros.

Estas fragilidades têm contribuído para a diminuição da população activa, para

o abandono das actividades ligadas ao sector, para a desvitalização continuada destas

áreas, cada vez com menos capacidade em atrair população e em fixá-la.

Estas áreas encerram recursos valiosos que são encarados como potenciais

vectores de desenvolvimento. Entre esses recursos aponta-se o património ao nível do

ambiente, da paisagem, da história, da cultura ou da arquitectura. Trata-se de

património cuja preservação é crescentemente acarinhada pelo valore inerente e pelo

papel que desempenha na consolidação da identidade do país e da região.

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Neste sentido, o espaço rural deixa de ser considerado exclusivamente como

um espaço de produção (agrícola, pecuária ou silvícola) e passa a ser entendido como

espaço de regulação (preservação de recursos e de qualidade ambiental, conservação

da natureza), de informação (manutenção da identidade e património cultural) e de

suporte (lazer e turismo, qualidade de vida).

A multifuncionalidade atribuída às áreas rurais pressupõe uma diversificação

ao nível das actividades económicas a desenvolver, promotora da pluriactividade. A

população activa passará a dispor de actividades alternativas e complementares, que

além de contribuírem para melhorar o seu nível e qualidade de vida, ajudarão à

preservação dos recursos, à diminuição das assimetrias nacionais, ao mesmo tempo

que determinarão a contenção do êxodo rural.

Face à diversidade funcional que pode ser assumida nas áreas rurais, variadas

são também as actividades que podem ser desenvolvidas, como por exemplo as que se

ligam ao turismo, à indústria, aos serviços, às produções locais de qualidade, à

silvicultura ou às energias renováveis.

O turismo

A partir dos meados do século XX, com o desenvolvimento dos meios de

transporte, a melhoria do nível de vida e a conquista de importantes regalias sociais

(direito a férias, subsidio de férias, etc), o turismo transformou-se num fenómeno de

massas e numa actividade de grande importância económica, não só pelo número de

empregos que dá origem, como pelos capitais que atrai. Constitui-se como um

importante sector de desenvolvimento regional. A actividade turística é encarada

como potencializadora das regiões, principalmente pelos efeitos que produz ao nível

de outras actividades, impulsiona a construção civil, promove o desenvolvimento da

restauração e hotelaria, contribui para a dinamização do sector dos transportes,

incentiva o desenvolvimento dos serviços, estimula o artesanato, contribui para a

preservação do património.

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O turismo balnear é em Portugal, o tipo de turismo que detém maior

expressão, o que se explica pelas características climáticas do país, com verões

quentes e secos, e pela extensão e diversidade da costa.

A implementação e expansão desta forma de turismo nem sempre

corresponderam a um desenvolvimento equilibrado e harmonioso do litoral. Pelo

contrário, deu origem em muitos casos a um crescimento urbano caótico,

descaracterizado e ambientalmente degradado, relativamente aos princípios de um

processo de desenvolvimento sustentável.

Como alternativa ao turismo massificado começaram a ganhar expressão

outras ofertas turísticas, enquadradas por novas perspectivas de ocupação dos tempos

livres, pelo desejo de maior contactam com a Natureza e pela procura de serviços mais

personalizados.

Estes serviços, dominados pelo alojamento, arrancaram em Portugal no inicio

dos anos 80. A designação Turismo em Espaço Rural (TER) passa a ser utilizada na

legislação de 1986, quando são definidos os principais tipos: “turismo de habitação”,

“turismo rural” e “agro-turismo”.

De acordo com a legislação publicada em 2008 os tipos existentes são os “

empreendimentos de turismo de habitação” e os “empreendimentos de turismo no

espaço rural”.

Empreendimentos de turismo de habitação são estabelecimentos de uma

natureza familiar instalados em imóveis antigos particulares que, pelo seu valor

arquitectónico, histórico ou artístico, sejam representativos de uma determinada

época, nomeadamente palácios e solares, podendo localizar-se em espaços rurais ou

urbanos.

Empreendimentos de turismo no espaço rural são estabelecimentos que se

destinam a prestar, em espaços rurais, serviços de alojamento a turista, disponho para

o seu funcionamento de um adequado conjunto de instalações, estruturas,

equipamentos e serviços complementares, tendo em vista a oferta de um produto

turístico completo e diversificado no espaço rural. Devem contribuir para preservar,

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recuperar e valorizar o património arquitectónico, histórico, natural e paisagístico dos

lugares onde se situam através da reconstrução, reabilitação ou ampliação de

construções existentes, sendo classificados em casas de campo, agro-turismo e hotéis

rurais.

As casas de campo situam-se em aldeias e espaço rurais que se integrem pela

sua raça, materiais de construção e de mais características, na arquitectura típica local.

As casas de campo quando localizadas em aldeias com uma gestão integrada são

consideradas turismo de aldeia.

O agro-turismo inclui os empreendimentos situados em explorações agrícolas

que permitam aos hóspedes o acompanhamento, o conhecimento, e em alguns casos,

a participação na actividade agrícola.

Os hotéis rurais são estabelecimentos hoteleiros situados em espaços rurais

que, pela sua traça arquitectónica e materiais de construção, respeitem as

características dominantes da região onde estão implantados.

Em Portugal, o maior número de unidades de turismo de habitação e de

turismo em espaço rural encontram-se no Norte, com cerca de 44% dos

estabelecimentos e 41% da capacidade de alojamento em 2008.

Em síntese, as principais vantagens do turismo em espaço rural residem na:

Diversificação das actividades económicas e de ordem turística;

Promoção e conservação dos recursos humanos e naturais das áreas

rurais;

Melhoria da qualidade de vida das populações residentes.

O Turismo em Espaço Rural tem sido responsável pelo potenciar dos recursos

endógenos das áreas rurais contribuindo para assegurar a melhoria da qualidade de

vida das populações residentes para estimular processos de desenvolvimento

sustentável, promovendo uma oferta turística mais respeitadora do património natural

e urbano.

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A importância atribuída na actualidade, à manutenção física e ao bem-estar

obtido com tratamentos preventivos, veio dar um novo impulso às termas e ao

contributo que dão no desenvolvimento de áreas do interior com poucas opções ou

alternativas para além da exploração de recursos naturais.

As áreas termais continuam a representar para um número reduzido de

utentes, uma forma de tratamento de problemas de saúde, sobretudo no descanso e

na fuga ao stress urbano ou no apoio a outras actividades para além das termas, que

se tem baseado a “recuperação” do turismo termal.

Um fenómeno recente relacionado com as termas, e que vem alterar a relação

entre as termas e as nascentes termais, prende-se com o aparecimento de vários

hotéis classificados nos segmentos mais altos, a exemplo de quatro estrelas, que

assentam a promoção na existência de actividades de balneário, acrescentando

serviços relacionados com a denominação spa (saúde pela água).

A indústria

O processo de industrialização no nosso país conheceu um forte crescimento da

década de 60, altura em que se modernizam e expandem sectores da indústria

tradicional (têxteis, confecção, calçado…) em que se assiste à implementação de novas

indústrias (indústria de plásticos, indústria química…), caracterizadas por sistemas de

produção assentes em técnicas e tecnologias modernas.

O crescimento do sector secundário fez-se sentir sobretudo nos distritos do

litoral ocidental, onde é mais fácil recrutar mão-de-obra onde abundam serviços de

apoio à indústria e onde os transportes e as comunicações se apresentam mais

desenvolvidos. Começam a acentuar-se as assimetrias regionais. Nas áreas rurais, a

persistência de uma agricultura tradicional, de baixo rendimento e produtividade,

incentiva ao êxodo rural e à emigração. Assiste-se ao progressivo despovoamento e

envelhecimento demográfico dessas áreas, ao mesmo tempo, nos distritos

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industrializados do litoral, onde a oferta de trabalho é maior, se conhece um período

de forte crescimento populacional e económico.

É nas áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto que se verifica a maior

concentração industrial o que se traduz na existência de numerosos postos de trabalho

e onde o sector secundário regista o maior peso no contexto económico nacional.

Outros distritos do litoral, como Braga, Aveiro e Leiria, revelam também um

desenvolvimento industrial como significativo, dominando no primeiro as indústrias

têxteis e de confecção e nos restantes as indústrias ligadas ao vidro, à cerâmica, à

celulose, aos moldes para plástico, entre várias outras.

A expansão e melhoria de rede viária, assim como a construção de infra-

estruturas de base para a indústria tem imprimido uma certa dinâmica a alguns

distritos do Centro interior, como Castelo Branco e Guarda, assistindo-se a um

significativo desenvolvimento industrial, ligado quer a indústrias tradicionais que têm

por base a exploração de recursos endógenos como é o caso de lanifícios quer a novas

indústrias.

Os restantes distritos do interior e as Regiões Autónomas apresentam-se pouco

industrializados encontrando-se as unidades existentes ligadas, frequentemente à

exploração de recursos endógenos, nomeadamente aos do subsolo (como acontece no

Alentejo, onde a exploração dos mármores, do cobre e de outros minerais, constitui o

suporte da indústria da região), ou dos produtos alimentares (caso da Região

Autónoma dos Açores, onde a indústria de lacticínios assume uma enorme importância

ao nível da economia da região).

A actividade industrial em Portugal reveste-se de grande interesse não só pelos

numerosos postos de trabalho que assegura, mas também pela contribuição do PIB e

ainda pela criação de numerosas actividades do sector terciário a que dá origem.

As áreas rurais, principalmente as que se localizam no interior do país,

apresentam um défice de desenvolvimento, quando comparadas com as do litoral, que

decorre de um vasto conjunto de factores de ordem natural e humana. A persistência

de práticas agrícolas tradicionais, explicada pela falta de investimento e inovação,

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 49

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resultou numa agricultura de subsistência de baixo rendimento e produtividade,

incapaz de dar resposta aos condicionalismos impostos pelo mercado cada vez mais

exigente e competitivo. Essa situação, traduziu-se, por sua vez, na decadência do

sector primário, que desencadeou o êxodo rural, a desertificação e o envelhecimento

demográfico, assim como a estagnação económica das regiões do interior.

Neste contexto, a implantação da actividade industrial nessas regiões, pelo

número de empregos que gera e pelo desenvolvimento de outras actividades (muitas

delas ligadas ao sector terciário) que exige, pode ajudar à fixação da população,

contribuindo para o declínio do êxodo rural e para inverter o processo de

despovoamento. Pode contribuir para a redução do envelhecimento demográfico.

Os efeitos da implantação da actividade industrial serão tanto mais

significativos quanto mais assentarem na exploração dos recursos endógenos (quer a

ao nível das matérias-primas, quer ao nível da mão-de-obra) e quanto menos

poluentes forem as indústrias.

O incentivo à implantação da actividade industrial em meio rural passa pela

adopção de algumas medidas, quer a nível nacional: atribuição de benefícios fiscais;

concessão de subsídios; formação de mão-de-obra; criação de zonas e de parques

industriais, entre outras.

Os serviços

Nas últimas décadas do século XX, assistiu-se no nosso país a um forte

crescimento do sector terciário, que se apresenta fundamental para o funcionamento

e para a competitividade do sistema produtivo.

Apesar da crescente terciarização da economia portuguesa e do que esse

processo em termos de dinamismo económico e de melhoria de vida da população, o

nosso país apresenta ainda valores muito inferiores ao da média comunitária. Por

outro lado, a distribuição da actividade activa ligada ao sector revela-se muito irregular

no território nacional, detectando-se fortes assimetrias regionais. É nos distritos do

litoral que se observam os valores mais elevados, com destaque para os distritos do

Porto e Lisboa. Os valores mais baixos ocorrem nos distritos do interior e nas regiões

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autónomas. Esta situação reflecte os contrastes observados noutros domínios no

nosso país, nomeadamente no que se refere ao desenvolvimento industrial e à

expansão urbana.

A implantação e a diversificação dos serviços nas áreas rurais revelam-se

fundamentais. Permitem melhorar as condições de vida da população, uniformizando

o acesso à utilização e contribuindo para a criação de novos empregos. Servem de

suporte ao desenvolvimento das actividades ligadas ao turismo e à indústria.

A silvicultura

A floresta, pode ser um sector a valorizar, não só sob o ponto de vista

económico, da produção obtida, mas também na perspectiva ambiental, pela

importância de que se reveste na preservação dos solos e dos recursos aquíferos,

assim como no sequestro de carbono.

Não é, também, de menosprezar a sua importância enquanto ecossistema e

sustentáculo de biodiversidade ou quando encarada como espaço de lazer e turismo.

A sua gestão implica o desenvolvimento de numerosas actividades ligadas quer

à produção quer à manutenção.

Os problemas estruturais que a floresta portuguesa encerra exigem, para uma

exploração que se quer sustentável, que se adoptem medidas que os ajudem a

solucionar.

Uma das medidas fundamentais prende-se com a criação de instrumentos de

gestão e de ordenamento da floresta, como é o caso dos Planos Regionais de

Ordenamento Florestal (PROF).

Energias renováveis

O aproveitamento de recursos naturais para produção de energias renováveis

pode constituir uma mais-valia para as áreas rurais, na medida que se cria riqueza,

gera emprego, ajuda à preservação do ambiente, porque se trata de energias limpas, e

contribui para a diminuição da despesa pública, pois permite reduzir as importações

de energias fósseis.

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A biomassa florestal, o biogás ou os biocombustíveis utilizados para a

produção de energia podem constituir bons exemplos de formas de energias

renováveis a explorar.

Produtos regionais de qualidade

Os produtos locais obtidos através de sistemas de produção “ amigos do

ambiente” podem constituir uma grande oportunidade para as áreas rurais, na medida

em que são uma fonte de rendimento e podem projectar a sua imagem no exterior,

devendo ser valorizados.

Estratégias integradas no desenvolvimento rural

A promoção do desenvolvimento rural, no quadro da União Europeia, encontra-

se consagrada como o segundo pilar da PAC e os seus objectivos visam contribuir para

o desenvolvimento da agricultura europeia multifuncional, sustentável e repartida por

todos os espaços da União, e para a diversificação económica e social dos territórios

rurais europeus. A qualidade de vida das pessoas residentes nestes territórios e a sua

participação nos processos de desenvolvimento constituirão os indicadores-chave para

avaliar o sucesso desta estratégia.

Em Portugal, os contrastes de desenvolvimento entre as áreas urbanas e as

áreas rurais são acentuados, pelo que, face às razões objectivas acima assinaladas mas

por opção às políticas de desenvolvimento rural têm vindo a ocupar um lugar

reforçado na luta por uma sociedade territorialmente mais equilibrada.

4.7 As áreas urbanas: dinâmicas internas

Espaço rural – espaço urbano

Distinguir espaço urbano de espaço rural é uma tarefa cada vez mais difícil. O

crescimento populacional e o aumento da mobilidade têm conduzido à difusão

espacial da população, das actividades económicas e do modo de vida urbano, que se

vão, de forma gradual, expandido para o espaço rural. O crescimento urbano é um

processo responsável pela dinamização das relações cidade – campo e pela crescente

diversificação funcional e profissional, registadas nas áreas rurais, ocupadas por

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residência de população crescentemente ligada a actividades dos sectores secundários

e terciários.

Já se trata de um processo global, a expansão urbana, intimamente associada a

profundas transformações económicas e sociais, traduz-se em normas formas de

organização e apropriação do espaço.

Definir cidade

Os critérios para definir cidade variam de país para país e por vezes, no mesmo

país, são aplicados de maneira diferente podendo também sofrer alterações ao longo

do tempo, como aliás tem acontecido em Portugal. Os critérios mais utilizados são a

população absoluta, a e a distribuição da população activa pelos sectores de

actividade.

População absoluta – o total de habitantes de um aglomerado constitui um dos

critérios mais vulgarmente utilizados.

Densidade populacional – De uma maneira geral, nas cidades o valor da

densidade populacional é elevado. Esse critério também não é universal, registando-se

disparidades muito grandes de país para país.

Distribuição da população activa pelos sectores de actividade – segundo este

critério, um aglomerado populacional só pode considerado cidade se a maior parte da

sua população se empregar no sector secundário ou terciário.

As cidades apresentam, alguns aspectos comuns, que permitem caracterizá-las:

E Estão dotadas de certos equipamentos sociais e culturais (hospitais,

escolas, transportes públicos, cinemas, teatros, etc).

E Apresentam uma forte concentração de imóveis;

E O preço do solo é elevado;

E Registam um movimento intenso de pessoas e veículos;

E Exercem influência económica, cultural, social e político-administrativa

na área envolvente, de acordo com a importância das suas funções, à escala local,

regional, nacional ou mesmo internacional.

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Actualmente, é a Assembleia da República e as Assembleias Regionais das

Autónomas dos Açores e da Madeira que conferem a categoria de cidade aos

aglomerados que combinem o total de 8000 eleitores com um conjunto de

equipamentos e infra-estruturas, seguindo o determinado na Lei nº. 11/82, de 2 de

Junho. É de salientar que nem sempre o processo de elevação de um aglomerado à

categoria a cidade segue esses critérios, constituindo iniciativas de carácter

fundamentalmente político-administrativo ao abrigo do artigo 14º da mesma Lei,

“importantes razões de natureza histórica, cultural e arquitectónica poderão justificar

uma ponderação diferente destes requisitos”.

A partir de 1960, o Instituto Nacional de Estatística passou a considerar como

centro urbano todos os aglomerados com mais de 10 000 habitantes ou todos aqueles

que, não atingindo essa dimensão populacional, fossem capitais de distrito.

Os termos urbanos e cidade são muitas vezes empregues com o mesmo

sentido, o que pode ser erróneo, uma vez que ao conceito centro urbano se associa

unicamente um critério ligado a um determinado total de habitantes, enquanto, que

ao conceito de cidade se prendem, para além de critérios ligados a um certo número

de habitantes, outros de carácter funcional (predomínio de actividades ligadas ao

sector secundário e terciário), politico e administrativo e também a oferta de

determinados bens e serviços, proporcionada pela existência de certos equipamentos.

A população urbana tem registado no nosso país, desde 1960, um crescimento

percentualmente superior ao da população absoluta, o que significa que, em Portugal,

os movimentos da população do meio rural para os centros urbanos foram

significativos, pelo menos até à década de 90, especialmente em direcção às cidades

do litoral e particularmente para as áreas que se localizam nas Áreas Metropolitanas

de Lisboa e Porto. Algumas cidades do interior com maior dinamismo registaram

também um considerável crescimento, destacando-se algumas capitais de distrito:

Castelo Branco, Guarda, Viseu e Évora, entre outras. Verifica-se até em alguns distritos

(como é o caso de Bragança) um aumento da taxa de urbanização, ao mesmo tempo

que se regista uma diminuição da população absoluta. Também a imigração é

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responsável pelo crescimento da taxa de urbanização, quer da parte das cidades, quer

nalgumas de menor dimensão.

Os transportes e a organização urbano

A tendência geral para o aumento da taxa de urbanização em Portugal, com

reflexos no despovoamento do meio rural é, em grande medida, o resultado da

evolução verificada nos transportes que veio melhorar a acessibilidade em todo o

território nacional.

Ao aumentar a mobilidade, aumenta a número de ligações entre as cidades e o

restante território. Constituindo pólos de elevado poder de atracção, as cidades

começaram a crescer em número e em dimensão geográfica.

A própria organização interna das cidades pode ser alterada em resultado de

novas acessibilidades criadas no interior do tecido urbano. O crescimento dos

subúrbios e o despovoamento dos centros de algumas cidades podem ser explicados

por alterações aos transportes. A renda locativa (preço do solo) aumenta de forma

proporcional ao aumento da acessibilidade dos lugares e, com ela, a especulação

fundiária, assim como o surgimento de áreas de solo expectante.

4.7.1 A organização das áreas urbanas

A distribuição das várias actividades observáveis no espaço urbano assim como

a residência da população não se processem ao acaso. É possível identificar

regularidades espaciais nessa distribuição, podendo individualizar-se áreas funcionais,

quer dizer, áreas que se apresentam uma homogeneidade da função dominante que

se destacam das restantes em virtude de apresentarem características próprias. A

individualização destas áreas resulta da variação do preço do solo, o qual, por seu lado,

depende da acessibilidade.

O preço do terreno é tanto maior quanto menor for a distância ao centro, uma

vez que á aí que se cruzam os eixos de comunicação, constituindo a área de maior

acessibilidade no interior do espaço urbano e, por isso, mais atractiva para muitas

actividades do sector terciário que aí tendem a instalar-se. Da concentração de

actividades resulta uma forte competição pelo espaço, verificando-se uma procura

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superior à oferta, criam-se as condições para a especulação imobiliária com a subida

dos preços do solo.

À medida que aumenta a distância ao centro, a acessibilidade diminui,

decrescendo a procura do solo pelas actividades terciárias e consequentemente o seu

preço. Outras actividades se vão instalando, nomeadamente as que se encontram

ligadas á indústria e à função residencial.

Apesar da distância ao centro, outros factores podem condicionar a ocupação

do solo, existindo áreas, que apesar de muito afastadas do centro, podem ser objecto

de grande procura, existindo-se à subida do preço dos terrenos. Como causas dessa

situação pode-se apontar a proximidade de boas vias de comunicação, a existência de

um bom serviço de transportes públicos, um meio ambientalmente bem conservado,

entre outras.

As áreas terciárias

CBD (Central Business District) – Esta área, mais vulgarmente designada entre

nós por Baixa ou Centro, caracteriza-se por uma elevado grau de acessibilidade, uma

vez que aí convergem os transportes públicos. Muita atractiva para numerosas

actividades do sector terciário cuja rentabilidade depende da existência de clientela

numerosa.

O CBD é considerado o centro financeiro da cidade, uma vez que aí se

concentram grande número de sedes bancárias, de companhias de seguros, de

escritórios das grandes empresas e comércio grossista e a retalho, geralmente muito

especializado e também a localização de restaurantes, hotéis e salas de espectáculos.

Muitas actividades administrativas e escritórios de profissões liberais encontram aí

uma área preferencial para se localizarem.

A procura destas áreas faz com que o solo se revele escasso, dificuldade que é

ultrapassada, em parte, pela construção em altura, um dos aspectos mais

característicos das áreas mais centrais das cidades.

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Nesta área, a distribuição das actividades apresenta-se diferenciada, quer no

plano vertical quer no plano horizontal. No plano vertical é vulgar observar-se a

ocupação dos pisos térreos pelo comércio destinando-se os últimos pisos à residência

e os pisos intermédios a escritórios e armazéns.

A análise da organização do plano horizontal revela a existência de áreas de

forte especialização no interior do CBD: destacam-se o centro financeiro, a área de

comércio a retalho, a área de comércio grossista, a área de hotéis e restauração.

Em muitas cidades tem-se assistido à descentralização de muitas actividades

terciárias do centro para outras áreas da cidade, pela crescente falta do espaço,

agravada pelos valores excessivos dos preços dos terrenos, como pelo

congestionamento do tráfego urbano, cuja intensidade se vai traduzindo em

crescentes dificuldades de deslocação e de estacionamento. Esta tendência é

reforçada pelo aumento da acessibilidade a outras áreas da cidade, associada à

construção de novas vias de comunicação e a sistemas de transportes públicos mais

eficazes. Nos últimos anos, em Portugal, em muitas cidades, a construção de

hipermercados e de gigantescos centros comerciais nas áreas periféricas, que se

constituem como uma alternativa comercial ao centro e são responsáveis pelo declínio

deste.

As áreas centrais de algumas cidades caracterizam-se, actualmente, por um

progressivo despovoamento, resultado da perda da função residencial. Durante muito

tempo considerada uma área residencial por excelência, observa-se hoje o abandono

pelos moradores, principalmente os mais jovens, que procuram na periferia habitações

com mais espaço, mais modernas e inseridas em meios ambientalmente mais

agradáveis e a preços convidativos.

Esta tendência é reforçada pela evolução das vias de comunicação, pela

modernização e desenvolvimento dos sistemas de transportes públicos e pela

capacidade de aquisição de veículos particulares que, no seu conjunto, permitem

aumentar a distância entre o local de trabalho e o local de residência. Deste modo, os

residentes de áreas centrais que ainda resistem são os mais idosos e os grupos sociais

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de fracos recursos económicos. As habitações destacam-se, na sua maioria, por uma

degradação generalizada e pela consequente falta de condições de habitabilidade e

até de segurança.

Outro aspecto característico do CBD é a flutuação de população ao longo das

24 horas do dia, que se traduz num trânsito intensíssimo de peões e veículos durante o

dia e o despovoamento durante a noite.

Assiste-se a novos fenómenos ao nível da animação cultural e nocturna nas

grandes cidades, com novos restaurantes, cafés, bares, lojas e galerias de arte, que

têm atraído para o centro populacional jovens, contribuindo para o seu dinamismo e

ajudando a combater o crescente abandono.

As áreas residenciais

A função residencial encontra-se disseminada por todo o espaço urbano. A

análise da distribuição e organização das áreas residências revela a existência de fortes

contrastes, que evidenciam a classe socioeconómica dos seus residentes. O preço do

solo, o desenvolvimento dos transportes públicos, as características ambientais é os

factores que contribuem para a individualização de áreas residenciais diferenciais.

As classes sociais de rendimentos mais elevados escolhem como área de

residência as zonas mais aprazíveis da cidade, pouco poluídas, com espaços verdes e

de lazer, bem servidas por boas vias de comunicação onde os preços do solo atingem,

em média, valores elevados. As residências podem inserir-se em bairros de moradias

unifamiliares ou em edifícios de vários andares. Têm em conjunto um aspecto

arquitectónico mais ou menos cuidado, materiais de construção de boa qualidade,

superfícies amplas. O comércio que serve estas áreas é geralmente pouco concentrado

e, frequentemente, de luxo.

A classe média ocupa a maior parte do espaço urbano e as áreas residenciais

apresentam aspectos muito diversificados. Os blocos de habitação plurifamiliares

apresentam uma certa uniformidade do ponto de vista arquitectónico e materiais de

construção de menor qualidade. Localizam-se em áreas bem servidas de transportes,

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com equipamentos sociais diversificados (escolas, centros de saúde, por exemplo) e

algum comércio de proximidade.

Assiste-se, assim, à crescente expansão das áreas residenciais da classe média

para a periferia, principalmente por famílias jovens.

As residências da população mais carenciada, ocupam regra geral, os espaços

mais degradados e insalubres das cidades. As habitações são, em muitos casos, de

construção ilegais, pelo que não dispõem de infra-estruturas e equipamentos não

oferecendo condições de habitabilidade condignas. Estão neste caso os “bairros de

lata”, onde a maior parte da população vive abaixo do limiar da pobreza, em

construções precárias.

Também na área central das cidades, abandonada pelos moradores mais jovens

e abastados, reside uma população de fracos recursos económicos em condições

degradadas.

Os bairros de habitação social construídas pelo Estado destinam-se a

acolherem as classes de menos recursos, muitas vezes com o objectivo de realojar

população afectada por calamidades ou no âmbito de programas que têm em vista a

erradicação de “barracas”. De construção económica e simples, muito semelhantes

entre si, localizam-se, por vezes, em áreas de fraca acessibilidade, caracterizando-se

pela falta de qualidade dos materiais de construção, pela pequena dimensão da área

de habitação e por deficiências ao nível das infra-estruturas.

A implantação da indústria

O espaço urbano constituiu uma área de localização preferencialmente para

numerosas indústrias, o que se justificava pela abundância de mão-de-obra, infra-

estruturas, equipamentos e serviços de apoio à produção que aí se encontravam. A

exigência das indústrias modernas em espaços cada vez mais vastos, associada à sua

crescente escassez no interior das cidades, à poluição provocada por muitas delas e às

dificuldades do trânsito urbano, actuou como factor repulsivo, obrigando à sua

deslocação para a periferia das aglomerações. A sua implantação faz-se em espaços

previamente destinados para esse efeito, isto é, em parques industriais. No interior

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das cidades subsistem indústrias não poluentes, pouco exigentes em espaço,

consumidores de matéria-prima pouco volumoso e que, para subsistirem, necessitam

de estar próximos da clientela, em lugares de grande acessibilidade, como por

exemplo as indústrias de confecção, de artes gráficas e de panificação.

4.7.2 A expansão urbana

O crescimento da taxa de urbanização em Portugal, é significativo a partir da

década de 80 e vai reflectir-se numa nova organização do espaço, é imposta pela

afirmação de novos modelos de comércio e por meios de transporte mais rápidos e

eficazes que servem um território urbano fortemente expandido.

O crescimento das cidades caracteriza-se, numa primeira fase por fase

centrípeta, pela concentração de população e das actividades económicas no seu

interior. Esta situação vai conduzir à alteração das condições de vida urbana, que se

traduz, quase sempre, na diminuição da qualidade de vida. A falta de habitação, a

poluição sonora e atmosférica, a insuficiência dos espaços verdes e de lazer e o

aumento do trânsito são exemplos que a população se passa a debater-se e que estão

na origem de um movimento de sentido contrário. Assiste-se, então, à deslocação da

população da população e das actividades económica para a periferia das

aglomerações urbanas. Este movimento corresponde à fase centrífuga do crescimento

das cidades, ou sejam à fase de desconcentração urbana.

4.7.3 Os subúrbios e as áreas periféricas

O espaço da periferia vai sendo ocupado de uma forma tentacular, a expansão

faz-se ao longo das vias de comunicação, urbanizando-se progressivamente, segundo

um processo a que se dá o nome de suburbanização.

A deslocação da população e das actividades económicas resulta da conjugação

de vários factores, nomeadamente do desenvolvimento dos transportes públicos

suburbanos e do aumento do número do aumento de automóveis particulares,

responsável pela maior mobilidade da população, tornando possível a separação entre

o local de trabalho e o local de residência. Aponta-se a maior disponibilidade de

terrenos na periferia e o menor valor do solo, como importantes factores de atracção

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 60

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para a instalação de actividades económicas exigentes em espaço, assim como para a

aquisição de habitação.

O crescimento dos subúrbios traduz-se em problemas económicos e sociais e

na diminuição da qualidade de vida da população, podendo-se salientar: crescimento

muito rápido e desordenado, que não é acompanhado pela construção, ao mesmo

ritmo, de infra-estruturas e equipamentos; intensificação dos movimentos pendulares

com todas as consequências negativas daí resultantes (aumento do consumo de

energia, da poluição e desperdício de tempo); destruição de solos com boa aptidão

agrícola; aumento da construção clandestina, realizada à margem dos processos de

planeamento.

Os subúrbios, cujo crescimento inicial resultou da função residência,

começaram a desenvolver-se à custa da implantação de um leque cada vez mais

variado de actividades económicas, tendo em vista a responder às necessidades de

uma população residente dia a dia mais numerosa.

Muitos aglomerados suburbanos, antigos povoados rurais, vão-se expandido e

ganhando vida própria. A construção de modernas vias de comunicação, a ligar os

vários centros urbanos dos subúrbios, entre si e ao centro principal e o aumento da

taxa de motorização, faz crescer as relações de complementaridade entre eles. No

caso português, este processo de crescimento urbano é marcado, também, pela

aquisição de casa própria, que tem alimentado um processo de metropolização

policêntrico.

Nalguns casos mais recentes, o planeamento cuidado que tem orientado o

crescimento de alguns subúrbios, conjugado com boas acessibilidades, com qualidade

ambiental e com oferta de serviços diversificados criou novas centralidades com

elevado poder atractivo, promovendo a competição com a cidade principal, através de

fixação da população residente pertencente a classes economicamente mais

privilegiadas.

Esta nova realidade conduz à ruptura com a imagem de subúrbios

caracterizados pelos caos urbanístico, pela função quase exclusiva de “ dormitório”,

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 61

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pela insuficiência de residentes pertencentes a classes económicas de menores

recursos.

O crescimento das cidades para além dos seus limites torna cada vez mais difícil

estabelecer fronteiras do espaço urbano e do rural, podendo observar-se, para além

da cintura formada pelos subúrbios, áreas onde actividades e estruturas urbanas se

desenvolvem, misturando-se com outras de carácter rural, processo conhecido pela

designação de periurbanização.

Estes espaços caracterizam-se pelo declínio do espaço agrícola, pela

progressiva fragmentação da propriedade agrícola, pela implantação de actividades

ligadas à indústria, pela ocupação difusa do espaço pelas construções, pelo

incremento de actividades ligadas ao comércio e aos serviços, pelas baixas

densidades de ocupação do espaço.

Neles se esbatem os limites entre a cidade e o campo, entre o modo de vida

urbano e o modo de vida rural.

A rurbanização

Nos países mais desenvolvidos assiste-se a uma nova forma de expansão

urbana., abrangendo áreas mais vastas, conhecida por rurbanização. Trata-se de uma

forma de progressão urbana mais difusa que, invadindo os meios rurais, não se traduz,

contudo, na urbanização contínua do espaço. Constitui uma nova tendência de

deslocação da população urbana para os espaços rurais, em busca de condições de

vida com mais qualidade do que as que encontra nas cidades e nos subúrbios.

Reflecte-se em alterações significativas de aspectos sociais e culturais que

caracterizam os meios rurais.

As áreas Metropolitanas

A deslocação da população e das actividades económicas para os espaços

periféricos das cidades tem conduzido ao processo de suburbanização, assistindo-se

ao crescimento de alguns aglomerados que acabam, assim, por se expandir e adquirir

alguma dinâmica própria. Decorrendo deste processo continuado, formam-se as Áreas

Metropolitanas que constituem amplas áreas urbanizadas, englobando uma grande

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 62

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cidade, que exerce um efeito polarizador sobre as restantes aglomerações urbanas.

Neste espaço desenvolve-se um complexo sistema de inter-relações entre a cidade

principal e as cidades envolventes que, por sua vez, também se encontram

interligadas.

As cidades e os centros urbanos das Áreas Metropolitanas formam um sistema

policênctrico, ligado por relações de complementaridade, que reforçam a coesão do

território e promovem maior eficácia de funcionamento e dinamismo económico.

As Áreas Metropolitanas detêm um elevado potencial polarizador do

território, uma vez que o seu dinamismo económico atrai população e emprego. O

dinamismo funcional e territorial assenta numa densa rede de transportes multimodal,

onde se concretizam intensos fluxos de pessoas e bens, quer inter, quer intra-

urbanos, motivados, para além do trabalho, por razões ligadas ao ensino, á cultura ou

ao desporto, entre outras e cada vez mais assumem maior importância. Os

movimentos pendulares constituem um dos aspectos relevantes desses fluxos que

atingem o seu auge nas horas de ponta e que traduzem uma urbanização territorial

nova, em que não se verifica coincidência entre o local de residência e o local de

trabalho.

A expansão dos subúrbios traduz-se na perda demográfica das áreas mais

centrais da cidade principal. A deslocação

da população para os subúrbios é

acompanhada pela descentralização das

actividades ligadas ao sector secundário e

terciário, que vão reforçar o dinamismo dos

centros periféricos e criar novas

centralidades.

No nosso país, o processo de

suburbanização tem sido particularmente

nas cidades do litoral, com especial

destaque para Lisboa e Porto, dando origem à

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formação das Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto. Estas duas áreas fortemente

industrializadas, registam uma grande concentração de actividades do sector terciário,

assim como de população, pelo que exercem uma intensa acção polarizadora no

território nacional.

As Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto

As Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto foram criadas administrativamente

em 1991 e em 2003 foram reorganizadas através da Lei nº. 10/2003, passando a ser

designadas por Grandes Áreas Metropolitanas (GAM).

Com base neste novo diploma, solicitaram adesão à GAM do Porto mais cinco

municípios: Arouca, Santa Maria da Feira, Santo Tirso, São João da Madeira e Trofa, e

em 2008, Oliveira de Azeméis e Vale de Cambra, passando a Grande Área

Metropolitana do Porto a ser construída por 16 municípios.

Na GAM do Porto concentra-se cerca de 15% da população portuguesa

(aproximadamente 1,5 milhões de habitantes). Tal como acontece na GAM de Lisboa,

também o concelho do Porto tem registado

uma diminuição da população residente,

enquanto os concelhos periféricos se assiste ao acréscimo.

A área Metropolitana do Porto apresenta-se como uma região relativamente

jovem, com um saldo natural superior á média nacional e europeia e com uma

proporção de idosos inferior à média registada nesses dois espaços de referência. O

tecido empresarial assenta em actividades do sector terciário, embora a proporção de

mão-de-obra empregue na indústria registe uma percentagem bastante elevada. A

população na Área Metropolitana do Porto representa níveis de escolaridade

relativamente baixos, quando comparados com o padrão europeu, o que concorre,

entre outros factores, nomeadamente ao que diz respeito à especialização produtiva

de região, para explicar o baixo valor do PIB per capita.

Predominam as indústrias de bens de consumo, sendo de realçar a presença

dominante dos ramos mais tradicionais da indústria portuguesa, nomeadamente a

indústria têxtil, de confecção, de calçado e de mobiliário. Proliferam as empresas de

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Grande Área Metropolitana do Porto

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grande dimensão, onde as tecnologias mais inovadoras têm vindo a penetrar

lentamente. As unidades industriais tendem-se a dispersar-se pela área metropolitana,

intercalando-se com os espaços agrícolas, observando-se cada vez mais uma

localização orientada pelos principais eixos de circulação.

Nos últimos anos assistiu-se a um incremento dos serviços ligados ao ensino

superior e à investigação científica. Ao nível do turismo tem existido iniciativas no

sentido de dar mais visibilidade ao Porto e sua região, tendo como referência o seu

património arquitectónico e cultural.

A distribuição da população

nesta área tem registado grandes

alterações nos últimos anos

sublinhando-se a perda da

população residente no concelho

de Lisboa e o aumento em

concelhos periféricos. Causa desta

desconcentração, aponta-se a

crescente terciarização das

actividades do concelho de Lisboa,

que se associa ao aumento do preço do solo, dificultando a aquisição de habitação, ao

aumento do trânsito urbano e á degradação ambiental. O concelho de Lisboa é o que

exerce maior poder de atracção sobre os trabalhadores residentes noutros concelhos,

o que se traduz em intensos movimentos pendulares ao longo do dia.

Quanto à distribuição da população activa pelos sectores de actividade, o

sector terciário é o que mais mão-de-obra emprega, em parte da função administrativa

desempenhada pela cidade de Lisboa, na qualidade de capital do país, assim como do

desenvolvimento ligados ao sector industrial.

A área Metropolitana de Lisboa constitui a região mais industrializada do país,

não só pela elevada percentagem dos postos de trabalho ligados a essa actividade,

como pela contribuição em termos de PIB. A indústria caracteriza-se por uma

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 65

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diversificação produtiva, assim como pela forte concentração de indústrias de bens e

equipamentos, dominam indústrias de capital intensivo, que utilizam mão-de-obra

muito qualificada e corresponde à região onde se verifica a maior dimensão de

empresas, as quais se tendem a concentrar-se nos concelhos na periferia de Lisboa,

uma vez que o processo de implantação foi orientado pela construção dos grandes

eixos de circulação rodoviária e ferroviária.

4.7.4 Problemas urbanos

As questões urbanísticas e ambientais

O intenso crescimento urbano que caracterizou a última década, realizado

muitas vezes de uma forma caótica tem-se traduzido na expansão de um espaço com

problemas económicos e sociais, nomeadamente ligados à habitação, ao desemprego

– que conduz à exclusão social -, à degradação ambiental, ao trânsito cada vez mais

intenso e aos problemas levantados pela produção e armazenamento de lixos.

A especulação imobiliária tem constituído um obstáculo ao acesso à habitação,

traduzindo-se num dos problemas que mais afectam as cidades portuguesas,

especialmente Lisboa e Porto. As áreas mais antigas caracterizam-se pela presença de

edifícios de habitação extremamente degradados, onde reside uma população

maioritariamente envelhecida e de fracos recursos. A sobrelotação das habitações

destas áreas, hoje, cada vez mais um problema ultrapassado, devido ao

despovoamento verificado.

Os “bairros de lata” são outro problema habitacional das cidades. Localizados

em áreas geralmente insalubres (doentias), neles se aglomeram construções precárias

que não dispõem de infra-estruturas essenciais (água, luz, saneamento) e albergam

grupos carenciados e economicamente, muitas vezes imigrantes pertencentes a

grupos étnicos minoritários. As “habitações” são partilhadas agregados numerosos que

vivem em situação de promiscuidade. Constituem espaços muito fechados e não raras

vezes focos de criminalidade com venda e consumo de droga, prostituição e furto,

entre outros.

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 66

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Há ainda a considerar o caso dos sem-abrigo, aqueles que não dispõem de

tecto para se abrigarem, fazendo da rua sua

verdadeira casa.

O número dos que vivem debaixo do limiar

de pobreza cresce a um ritmo preocupante nas

principais cidades portuguesas, tal como acontece

nas outras cidades europeias. Os grupos mais

atingidos são o dos imigrantes, muitos deles em situação de clandestinidade, o dos

desempregados ou situação de emprego precário, o dos idosos com pensões de

reformas claramente insuficientes e o das minorias étnicas. O dramatismo de algumas

destas situações é por vezes reforçado pela toxicodependência, que aumenta as

situações de mendicidade e incentiva ao tráfico de droga e à criminalidade.

O aumento do tráfego automóvel, especialmente durante as horas de ponta,

traduz-se em congestionamentos que aumentam o tempo de deslocação, a poluição

sonora e atmosférica e que conduzem a estados de grande ansiedade, contribuindo

para a diminuição da qualidade de vida e do bem-estar da população.

Outro problema em que se debatem as cidades e que afecta a qualidade de

vida da população é a crescente produção de resíduos sólidos que, devido à melhoria

do nível de vida da população, resultam do aumento do consumo. Todo o processo de

recolha, tratamento e deposição de resíduos assenta em infra-estruturas que se

revelam ainda mal dimensionadas para dar resposta às necessidades actuais da

população.

Idêntica situação se passa com as águas residuais que são, em alguns casos,

directamente escoadas para o mar ou para os rios, sem qualquer tratamento prévio.

As condições de vida urbana

O rápido crescimento de algumas cidades portuguesas, aliado à especulação

imobiliária e a planeamento pouco eficaz, tem conduzido ao aparecimento de espaços

sem qualidade estética, funcional e social. Constituem autênticas florestas de

cimento, onde a população vive isolada, em completo anonimato, rodeada de

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 67

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centenas de vizinhos, num espaço incaracterístico e desumanizado. A deterioração das

condições de vida urbana reflecte-se na diminuição do bem-estar e de qualidade de

vida dos cidadãos. As cidades deixaram de ser lugares atractivos para residir e para

trabalhar. É urgente inverter este processo através da implantação de medidas que

tenham em vista um desenvolvimento mais harmonioso, a preservação do património

e a recuperação e revitalização das áreas mais desqualificadas.

Torna-se imprescindível implementar processos de planeamento territorial

que, de forma eficaz, ajudem à construção de um território ordenado, tendo em vista

o seu desenvolvimento e, simultaneamente, o bem-estar de população.

Para o crescimento mais harmonioso e sustentado das cidades portuguesas

muito tem contribuído a implementação dos PMOT (Planos Municipais de

Ordenamento do Território) que variam não só segundo a área de intervenção, mas

sobretudo segundo a escala de intervenção. São eles o PDM (Plano Director

Municipal), o PU (Plano de Urbanização) e o PP (Plano de Pormenor). Os PDM

incidem a sua aplicação ao nível local, isto é, ao nível concelhio, que é promovida pela

autarquia.

Com o objectivo de adequar a cidade às novas concepções de vida urbana e

manter a dinâmica das áreas urbanas consolidadas, tem sido incrementadas várias

acções de recuperação e revitalização.

Reabilitação urbana – consiste no melhoramento das condições dos edifícios e

dos espaços públicos, verificando-se no entanto a manutenção das funções existentes,

assim como o estatuto socioeconómico dos moradores. Com este processo pretende-

se salvaguardar determinadas áreas da cidade, através da conservação do património

edificado, e também através da revitalização do seu tecido económico e social,

tornando-as áreas mais atractivas.

A reabilitação urbana tem sido apoiada por vários programas, entre os quais se

destaca o PRAUD (Programa de Recuperação de Áreas Urbanas Degradadas), que é

implementado em colaboração com as autarquias.

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 68

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Requalificação urbana – processo que consiste na adaptação da estrutura física

dos imóveis ou de uma área urbana, sem alterações significativas, a um uso diferente

daquele para que foi inicialmente concebido.

É neste contexto que surge o programa Polis (Programa Nacional de

Requalificação Urbana e Valorização

Ambiental das Cidades). O polis tem como

objectivo melhorar a qualidade de vida nas

cidades, através de intervenções nas

vertentes urbanística e ambiental, com o fim

de aumentar a atractividade e a

competitividade de pólos urbanos com papel

relevante no sistema urbano nacional.

Renovação urbana – tem como

objectivo a substituição das estruturas existentes, através da demolição e da

construção de novos imóveis e infra-estruturas. Implica alterações da morfologia

urbana, do uso do solo e da estrutura socioeconómica dos residentes.

O aumento da pobreza tem sido fonte de preocupação, procurando-se a

resolução deste problema social através da implementação do programa “Luta contra

a Pobreza” que envolve a dinamização de acções relacionadas com a formação

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 69

Parque nas Nações, Lisboa

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profissional, a inserção social e a criação de emprego, com o intuito de promover a

integração social dos cidadãos em causa.

Numa tentativa de dar resposta aos problemas decorrentes do trânsito dia a

dia mais intenso, têm vindo a ser implementadas medidas com o objectivo de os

debelar. Como por exemplo a transformação de algumas ruas em zonas estritamente

vocacionadas para a circulação de peões, o desenvolvimento dos transportes públicos

tendo em vista torná-los mais atractivos face à utilização do transporte particular,

limitação do estacionamento em algumas ruas, construção de cinturas rodoviárias na

periferia das aglomerações, túneis e viadutos.

4.8 A rede urbana e as novas relações cidade – campo

4.8.1 As características da rede urbana

As aglomerações urbanas no território

O crescimento urbano iniciado em Portugal nas últimas décadas não pára de

aumentar a um ritmo muito significativo.

Os centros urbanos continuam a atrair população, oferecendo emprego e

melhores condições de vida. As áreas rurais do interior continuam-se a despovoar-se, a

registar um envelhecimento demográfico

acentuado e a perder dinamismo,

aprofundando-se os contrastes com o

litoral, onde os centros urbanos e cidades

crescem em população e número.

A figura 1 mostra a distribuição das

cidades portuguesas, pondo em evidência

as assimetrias regionais no nosso país ao

nível da localização destes aglomerados.

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 70

Fig 1 - Distribuição espacial das cidades

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Existem um maior número de cidades junto ao litoral, especialmente na proximidade

do Porto e de Lisboa, já o interior do país apresenta um número de cidades inferior ao

litoral e algumas delas com dimensões populacionais reduzidas. Estas disparidades que

se observam entre o sul e o norte do país, reflectem contrastes da rede de

acessibilidade e transportes.

Tal como no Continente, nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira os

principais aglomerados populacionais se localizam junto ao litoral, próximo dos portos

marítimos, elos fundamentais na ligação ao exterior. O carácter acidentado do relevo

das ilhas, que se reflecte em dificuldades acrescidas nos transportes, nas

comunicações, assim como em solos mais pobres e difíceis de trabalhar, não incentiva

à fixação da população no interior.

A hierarquia dos lugares na rede

Um a cidade estabelece com o espaço envolvente um conjunto de relações de

complementaridade, de natureza muito diversificada, nomeadamente de carácter

económico, cultural e social, sendo a força atractiva e polarizadora da cidade sobre o

meio que a cerca superior à que é exercida por este último sobre ela. A área que

envolve a cidade e se encontra sobre a sua dependência directa denomina-se área de

influência ou hinterland. A delimitação das áreas de influência das diferentes cidades

é uma tarefa complexa, mas importante para o processo de planeamento,

nomeadamente no que se refere aos serviços públicos, como o ensino ou a saúde.

Definir áreas de influência em torno de todos os aglomerados tenham o

estatuto de cidade ou não, ou seja, todos os lugares que oferecem bens e/ou serviços

à população da área envolvente. Designa-se por lugar central qualquer aglomerado

onde se exerça pelo menos uma função central, entendida como qualquer actividade

económica, social e cultural que assegure o fornecimento de bens centrais (hospital,

escola, livraria, etc). Considera-se bem central o produto ou o serviço que se pode

adquirir no lugar central, podendo distinguir-se os bens vulgares de utilização

frequente, que se podem adquirir em qualquer lugar central (como por exemplo o pão,

a água, etc), dos bens raros que se caracterizam por serem de utilização menos

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 71

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frequente e portanto só possíveis de obter em lugares centrais de nível hierárquico

mais elevado (como por exemplo os serviços médicos especializados, serviços

notariais, entre muitos outros).

A área de influência de cada lugar central é determinada pelo alcance da

função central mais rara, prestada nesse lugar central, entendendo-se por alcance,

também designado por raio de eficiência de um bem central, a distância máxima que

as populações servidas estão disposta a percorrer para adquirir um bem ou serviço, em

função do tempo e do custo da deslocação.

Os lugares centrais hierarquizam-se de acordo com a sua centralidade, que se

pode definir como sendo a razão entre a quantidade de bens e serviços que o lugar

oferece à população e a quantidade de bens e serviços que essa população precisa.

Os centros urbanos hierarquizam-se, deste modo, por níveis ou ordens, com

base nos bens e serviços que fornecem: os centros de ordem inferior correspondem

aos que apresentam a menor centralidade e os de nível superior aos que, além de

disporem de bens e serviços vulgares, oferecem bens e serviços raros com um maior

raio de eficiência. Em Portugal esse ocupado por Lisboa, cidade com a máxima

centralidade e com a maior área de influência. Na hierarquia dos centros urbanos

portugueses, á cidade de Lisboa segue-se a cidade do Porto.

A população distribui-se de forma heterogénea, os rendimentos e o poder de

compra são diferentes, a acessibilidade depende da proximidade das vias de

comunicação e as divisões administrativas condicionam as deslocações das populações

servidas.

Ao conjunto de aglomerações e respectivas áreas envolventes, ligadas entre si e

a um centro urbano principal, por relações e hieráticas, dá-se o nome de rede ou

sistema urbano. Os vários sistemas urbanos integram-se em sistemas

progressivamente mais vastos, constituindo as redes regionais, nacionais e

internacionais

A da hierarquia dos centros urbanos pode ser feita tendo por base a dimensão

demográfica, uma vês que há uma relação entre o total de habitantes e as funções

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 72

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centrais que neles existem. Sublinha-se no entanto a insuficiência deste critério por

não considerar outros aspectos, normalmente de natureza funcional, mas que traduz a

importância relativa dos aglomerados urbano.

A rede urbana nacional apresenta-se desequilibrada e de padrão macrocéfalo

ou bimacrocéfalo, com duas grandes cidades, Lisboa e Porto, a dominarem um

elevado número de cidades de pequena dimensão, com áreas de influência muito

reduzidas que ocupam a base da hierarquia. O pequeno número de centros urbanos de

pequena dimensão com capacidade para dinamizarem a região onde se enquadram,

ajudando à fixação da população e evitando a sua fuga para os maiores centros do

litoral. A maior parte dos centros urbanos junto ao litoral, o seu contínuo acréscimo, o

que acentua ainda mais os desequilíbrios existentes. Além da litoralização acrescenta-

se o reforço da bipolarização que caracteriza a rede urbana portuguesa.

As actividades económicas tendem a localizar-se nas grandes aglomerações

urbanas, onde dispõe de mão-de-obra abundante e qualificada, de numerosos serviços

fornecidos por outras empresas, de grande número de fornecedores, de infra-

estruturas e equipamentos (água, energia, transportes, …).

A população é atraída pelas grandes aglomerações, onde dispõe de maiores

oportunidades de emprego, grande variedade de serviços, equipamentos sociais e

culturais, infra-estruturas. A localização nas grandes aglomerações urbanas permite às

empresas e à população beneficiar dos princípios das economias de escala, que

consistem na redução do custo médio unitário de um bem à medida que aumenta o

volume da sua produção. No caso das aglomerações, a aplicação destes princípios

designa-se por economias de aglomeração, o que significa que somente um total de

população suficientemente elevado, como se concentra nas grandes cidades, permite

rentabilizar os investimentos efectuados em infra-estruturas e equipamentos. Os

princípios das economias de aglomeração só se verificam até um certo limite. Quando

o crescimento de uma aglomeração se processa a um ritmo de tal forma acelerado que

conduz à saturação dos espaços e das infra-estruturas, entra-se numa fase designada

por deseconomia de aglomeração, por outras palavras, os equipamentos e infra-

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 73

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estruturas existentes são insuficientes para dar resposta às necessidades das empresas

e da população. Aumentam os problemas com o trânsito, aumenta o custo do solo e a

degradação ambiental. Assiste-se à falta de habitação, ao mau funcionamento dos

equipamentos sociais (centros de saúde, escolas …). Estes problemas, registados

fundamentalmente nas grandes aglomerações do litoral, traduzem-se no aumento dos

custos de produção, ao nível das empresas, e na diminuição da qualidade de vida da

população. A sua solução exige novos investimentos. Frequentemente, esses

investimentos são de tal maneira elevados que se torna mais vantajosa a deslocação

das empresas e da população para centros urbanos de menor dimensão, afastados dos

grandes centros do litoral. Torna-se imperativo reforçar e dotar os pequenos centros

urbanos de pequena e média dimensão, localizados no interior do país, de infra-

estruturas e equipamentos capazes de atraírem e ajudarem a fixar empresas e

população.

4.8.2 A reorganização da rede urbana

O papel das cidades médias

O desenvolvimento do nosso país passa pela reorganização do sistema urbano

e este pela revitalização das cidades de média dimensão.

As cidades de média dimensão pelas funções que exercem e pelas

oportunidades que oferecem à população, podem contribuir para a dinamização do

território que se inserem, reduzindo as assimetrias regionais e melhorando a qualidade

e nível de vida dos cidadãos.

Investir nas cidades médias poderá constituir uma estratégia para promover a

implantação de actividades económicas, valorizando as recursos regionais e

preservando o equilíbrio do ambiente, ajuda á fixação da população e, ao crescimento

do país, travando o despovoamento, o envelhecimento, e a estagnação das áreas

mais deprimidas.

Simultaneamente poderá contribuir para atenuar o crescimento das grandes

aglomerações que se debatem anualmente com o excesso de população, face às infra-

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 74

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estruturas e equipamentos de que dispõem, de que resultam graves problemas sociais,

económicos e ambientais, entre outros.

Através dos financiamentos permitidos pelo PROSIURB (Programa de

Consolidação do Sistema Urbano Nacional e Apoio à Execução dos Planos Directores

Municipais) pretendia-se promover acções de qualidade urbana e ambiental, tendo

em vista a valorização de cidades médias e de centros urbanos da rede complementar.

Neste âmbito foram construídas, a fundo perdido infra-estruturas essenciais, ligadas,

por exemplo, ao saneamento básico ou a recolha e tratamento de resíduos,

equipamentos de apoio à actividade produtiva e equipamentos colectivos, ligados ao

desporto, lazer e cultura, assim como foram levadas a cabo inúmeras acções de

reabilitação e renovação urbana.

O atenuar do crescimento das grandes aglomerações

A diminuição das assimetrias e o reforço da coesão e da solidariedade internas

passam pela reorganização da rede urbana, de que resulta o desenvolvimento de uma

rede policêntrica, constituída por centros de grande, média e pequena dimensão,

distribuídos de forma mais equilibrada pelo território nacional e ligados entre si de

forma articulada por relações de complementaridade.

Esta reorganização assenta na melhoria das acessibilidades entre os vários

centros urbanos e no incentivo público e privado ao investimento em actividades que

potenciem o desenvolvimento económico regional.

As condições enunciadas permitem a aumentar a capacidade de atracção das

cidades médias, aumentar a sua área de influência por contextos regionais mais

alargados, ajudando a intensificar as relações entre o meio urbano e o meio rural.

Apesar das melhorias a que se tem assistido ao nível do desenvolvimento da

rede viária, nomeadamente da rede nacional estruturante, da rede que liga as áreas

rurais e urbanas, bem como das condições para a fixação dos mais diversos serviços e

actividades que têm vindo a promover a especialização e consequentemente, a

complementaridade funcional entre os centros urbanos e a rede urbana nacional

revela-se ainda muito desequilibrada e pouco eficiente.

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 75

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O litoral continua a demarcar-se do interior, quer em número de cidades quer

na dimensão demográfica das mesmas.

A inserção na rede urbana europeia

Uma vez que os centros urbanos que dinamizam as regiões onde se integram e

que essa dinamização é tanto maior quanto maior a sua capacidade polarizadora, isto

é, de atracção de população e actividades económicas, facilmente se depreende que o

desenvolvimento do país e a projecção da sua imagem no exterior depende de uma

rede urbana policêntrica, com um número equilibrado de centros urbanos de

diferentes dimensões, distribuídos harmoniosamente pelo território.

A afirmação internacional exige a existência de cidades que exercem funções

de nível superior, que lhes permita desempenhar um papel com relevância ao nível

económico, tecnológico, cultural e científico no cenário internacional.

Portugal não possui qualquer cidade com capacidade de afirmação a este nível.

Quer Lisboa quer Porto ocupam posições secundárias nesse contexto e essa situação

tende a agravar-se com o alargamento da EU a leste.

Algumas cidades dos novos países aderentes apresentam, mais possibilidades

para se afirmarem na primeira linha da rede urbana europeia do que as cidades

portuguesas, face a uma maior proximidade geográfica ao eixo central do

desenvolvimento europeu.

As cidades não apresentam capacidade de afirmação na rede internacional.

Como principal causa desta situação, aponta-se tradicionalmente, a perificidade do

nosso território, situação que pode entretanto alterar-se, com o desenvolvimento dos

transportes e das telecomunicações. A localização geográfica de Portugal no extremo

sudoeste da Europa, poderá transformar-se numa vantagem comparativa, se o

território nacional passar a funcionar como uma porta de comunicação entre a Europa

e o resto do Mundo. Portugal poderá transformar-se numa plataforma

intercontinental de prestação de serviços, nomeadamente ao nível dos transportes,

capaz de atrair investimentos, actividades, população.

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 76

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Para projectar as principais cidades portuguesas na rede internacional, quer ao

nível ibérico quer europeu ou até mundial, é necessário continuar investir de forma a

torna-las mais atractivas e dinâmicas. As cidades de média dimensão devem continuar

a serem objecto de programas e projectos, de preferência inovadores, que contribuam

para aumentar a sua dinâmica e o seu papel polarizador da região, reforçando a

coesão nacional. A rede de transportes deve continuar a ser melhorada, permitindo

uma maior ligação entre os centros da rede nacional e os da rede internacional.

4.8.3 As parcerias entre cidades e o mundo rural

As complementaridades funcionais/ as estratégias de cooperação

O espaço urbano e o espaço rural são indissociáveis, já que se organizam e

estruturam o território através do estabelecimento de um conjunto de relações de

complementaridade funcional.

As relações de complementaridade sempre existiram, a par da evolução social,

tecnológica, económica que foi marcada a sociedade, alterações ao nível da forma

como as ligações se estabelecem, assim como dos seus efeitos.

A cidade sempre foi procurada pela população rural como local de comércio

por excelência e de concentração de serviços altamente especializados na área da

saúde, da educação ou da justiça, ou ainda como pólo de difusão cultural e de oferta

de trabalho.

As áreas rurais sempre foram fundamentais para a dinâmica urbana como

áreas produtoras de bens alimentares como reserva de mão-de-obra.

Com a evolução verificada ao nível dos meios de transporte e com os

melhoramentos das respectivas redes, as relações entre estes dois espaços têm-se

intensificado, principalmente as que se estabelecem entre as áreas urbanas e as áreas

rurais mais próximas. A intensidade das relações vai-se estabelecendo com a distância,

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 77

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com o afastamento das áreas rurais ditas “marginais”, por dificuldades que, apesar de

todos os progressos ainda se manifestam ao nível das acessibilidades.

As áreas rurais são procuradas também pela paisagem, como espaço de lazer,

de habitação e, pelas oportunidades de emprego que gera, ao nível de vários serviços

e até de alguma indústria.

O crescimento harmonioso do país passa pela redução das disparidades

internas e estas pelo desenvolvimento das áreas rurais, que se desejam mais

equilibradas e infra-estruturadas, de forma a oferecer à população residente condições

de vida mais atractivas e com mais qualidade. É fundamental promover a implantação

de serviços e potencializar os recursos endógenos, de modo a aumentar a dinâmica

económica desses espaços.

A valorização das áreas rurais, a diminuição das assimetrias e o

desenvolvimento do país, assentam numa articulação eficiente entre políticas de

ordenamento do território e de conservação da natureza, de desenvolvimento rural,

de desenvolvimento regional e de desenvolvimento urbano.

Nas grandes cidades tem-se assistido ao longo dos anos, à realização de feiras

de produtos biológicos e à abertura de lojas da especialidade.

5 – A população, como se movimenta e comunica

5.1 A diversidade dos modos de transporte e da desigualdade espacial das

redes

São cada vez mais numerosas as trocas entre os diversos países, as quais têm

na sua base a complementaridade entre as várias regiões. A crescente interacção

espacial tem como suporte a rede de transportes e os vários meios de transporte, que

ao longo deste século sofreram uma enorme evolução.

O aumento da mobilidade permitiu desenvolver o comércio, as actividades

produtivas, quer a nível regional quer a nível internacional, diminuir as assimetrias

regionais e portanto melhorar as condições de vida e bem-estar da população. Ajudou

à expansão de novas formas de organização do espaço, como por exemplo o

crescimento dos subúrbios nas cidades

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 78

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5.1.1 A competitividade dos diferentes modos de transporte

As principais redes de transportes utilizadas para o estabelecimento de ligações

são: rede rodoviária, a rede ferroviária, a rede marítima e a rede aérea. A escolha do

modo de transporte a utilizar depende de vários factores, o custo do transporte, o

tipo de mercadoria a transportar, a distância a vencer, o tempo gasto no percurso e o

tipo de trajecto a percorrer.

No tráfego interno de mercadorias e de passageiros utiliza-se, o transporte

rodoviário. Ao tráfego internacional de mercadorias, o transporte é realizado, na

maioria dos casos, por via marítima, ao qual se segue o transportaste rodoviário.

Transporte rodoviário

O transporte rodoviário tem registado em Portugal um aumento muito

significativo, quer no que respeita aos veículos pesados quer aos ligeiros. Esta situação

traduz a subida do nível médio de vida da população, desenvolvimento do comércio e

das actividades produtivas. Este meio de transporte revela-se adequado sob o ponto

de vista económico, para curtas e médias distâncias. Apresenta uma grande

flexibilidade, permitindo o transporte porta a porta, que elimina a necessidade de

transbordo e, por outro lado, revela-se rápido e cómodo. Tem sido objecto de uma

considerável evolução tecnológica que se traduz no aumento da capacidade de carga e

de especialização para o transporte de mercadorias diversificadas. Tudo se reflecte na

diminuição dos custos de transporte e no aumento da sua competitividade face a

outros meios.

O crescimento do parque automóvel tem-se traduzido no aumento excessivo

do tráfego, especialmente nos grandes centros urbanos, com todos os inconvenientes

que daí decorrem, nomeadamente no que diz respeito ao elevado consumo de

combustível, ao aumento da poluição, ao aumento do desgaste psicológico, á

dificuldade em estacionar entre outros.

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 79

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A utilização cada vez maior dos transportes rodoviários, particularmente dos

veículos particulares, conduz ao aumento do consumo de combustíveis fósseis e ao

aumento da poluição atmosférica, a qual atinge níveis preocupantes em diversas

cidades europeias. A elevada sinistralidade é outro dos grandes problemas associados

à utilização deste meio de transporte.

Transporte ferroviário

O transporte ferroviário foi durante a primeira metade do século XX, um meio

de transporte muito utilizado e constituiu um importante factor de desenvolvimento

para o país. À medida que os transportes rodoviários se foram afirmando, foi perdendo

competitividade, quer no transporte de passageiros quer no de mercadorias,

apresentando actualmente uma utilização muito modesta, tanto nas ligações nacionais

como internacionais. Alguns aspectos de carácter fixos dos seus itinerários que se

traduz numa menor flexibilidade e na exigência de transbordo, o que, além de retirar

comodidade, aumenta o custo de transporte, não só pela perda de tempo que implica,

como pelo aumento de mão-de-obra utilizada. Também se revela um meio de

transporte com elevados encargos ao nível da manutenção e funcionamento de infra-

estruturas, equipamentos, quando comparado com o transporte rodoviário.

Transporte marítimo

Em Portugal, cerca de 80% do comércio internacional de mercadorias é

realizado por via marítima. A localização geográfica do nosso país no extremo da

Europa, no cruzamento das grandes rotas marítimas, e da enorme extensão da sua

linha de costa que, favoreceu o contacto com o mar promovendo o transporte

marítimo.

5.2 A revolução das telecomunicações e o seu impacto nas relações

interterritoriais

5.2.1 A distribuição espacial das redes de comunicação

A sociedade moderna em que vivemos caracteriza-se pela crescente

internacionalização da economia, pela rapidez e facilidade de acesso à informação,

pela uniformização de padrões de vida, pela simplificação de complexos processos de

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 80

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gestão e administração. Neste contexto aparece como protagonista o sector das

telecomunicações.

As modernas telecomunicações, a par de vários meios de transporte, vieram

permitir o encurtamento das distâncias, transformando o nosso planeta numa

verdadeira “aldeia global”. As tecnologias são encaradas como um importante vector

de desenvolvimento e de qualidade de vida da população.

A partir dos anos 80 e, em parte, devido à adesão de Portugal à União Europeia,

as telecomunicações nacionais registaram uma modernização notável, apresentando-

se hoje ao nível dos países mais desenvolvidos da Europa.

Apesar dos progressos registados, observam-se em Portugal acentuadas

assimetrias regionais no acesso aos serviços de telecomunicações, apresentando-se o

litoral muito melhor servido que o interior.

As principais redes de telecomunicações cobrem todo o território nacional,

garantindo o acesso da população à informação e à comunicação, o que resultou de

avultados investimentos realizados no sector. A distribuição da rede não é uniforme,

registando-se contrastes significativos entre o litoral, onde é muito mais densa e o

interior.

O computador faz parte do dia-a-dia dos portugueses nos mais variados

serviços e para os mais diversificados fins, registando-se um progressivo aumento da

sua utilização assim como da internet.

Pode concluir-se que Lisboa e Algarve se destacam por uma utilização do

computador acima da média nacional, no que respeita à internet Lisboa apresenta a

maior proporção de utilizadores, seguindo-se as regiões do Algarve e do Centro.

5.2.2 Papel das TIC, no dinamismo dos espaços geográficos

Vivemos hoje numa sociedade chamada “sociedade de informação”, cuja

existência depende do desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação

(TIC), com reflexos na educação, na ciência, no lazer e nos transportes, entre outros. O

acesso aos TIC revela-se fundamental para o desenvolvimento equilibrado da

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sociedade e do território, desempenhando um papel novo na criação de emprego e

riqueza.

Com as TIC o mundo é cada vez mais global, sem fronteiras e os contactos entre

regiões são cada vez mais intensos e frequentes, apesar das enormes distancias que as

podem separar.

A difusão e acesso às novas tecnologias de informação e de comunicação

assentam num conjunto de infra-estruturas que tem sofrido uma profunda evolução,

responsável por verdadeiras revoluções neste sector, que constantemente se

surpreendem e mudam as nossas vivencias.

A utilização dos computadores e a ligação à internet colocam a sociedade no

meio de outra revolução. As TIC vieram mudar as relações entre pessoas e espaços, o

que se traduz em novas formas de organização espacial, social e laboral entre outras.

O teletrabalho, o telecomércio começam a fazer parte de todos nós, comparando-se

por vezes o impacto destas novas formas de trabalho, com o da primeira Revolução

Industrial.

As novas formas de comunicação, aliadas ao aumento de serviços disponíveis

online, quer das empresas quer públicas, dirigidas a um leque alargado de clientela, a

custos baixos, permite a quebra do isolamento das áreas mais periféricas, a redução

das assimetrias, a dinamização dos mercados e a coesão social.

Os sistemas de satélites mais utilizados actualmente são o GPS – Global

Positioning System (sistema do posicionamento global), de origem americana.

5.3 Os transportes, as comunicações e a qualidade de vida da população

Em Portugal os sectores dos transportes e das comunicações assumem cada vez

maior relevância em vários domínios da sociedade. Contribuem de forma significativa

para o aumento do PIB, os seus efeitos multiplicadores noutros sectores da economia

devem ser também considerados. Tem contribuído para a modernização das empresas

nacionais e para apoiar a fixação de empresas estrangeiras no território nacional. O

seu papel na aproximação das áreas mais desenvolvidas com as mais periféricas.

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 82

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Estes sectores, funcionando de uma forma indissociável e articulada,

constituem-se como um suporte fundamental para a promoção de novos factores de

crescimento e para a renovação do modelo de crescimento económico português,

assim como para a ligação de Portugal à Europa e ao resto do Mundo, permitindo uma

integração plena “aldeia global”.

Garante-se assim e proporciona-se a todos os cidadãos portugueses condições

de igualdade no acesso aos transportes e às novas tecnologias da informação, pelo que

é necessário investir nas diferentes redes, na sua modernização e também na

formação, tendo em vista o domínio das novas tecnologias.

Estes sectores não estão isentos de perigos de perigos que é necessário

minimizar.

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6 -Portugal - Da emigração à imigração

Até meados dos anos 60, Portugal era um país de emigrantes. Sobretudo de

emigrantes transoceânicos. A falta de oportunidades e o clima de pobreza que reinava

no auge do antigo regime levaram milhões de portugueses a atravessar o Atlântico em

direcção ao Novo Mundo. Brasil (22% dos 2 milhões de emigrantes portugueses entre

1950 e 1984), Venezuela (8%), Canadá (9%) e EUA (13%) foram os destinos eleitos para

refazerem as suas vidas. A partir dos anos 60, estes fluxos começaram a centrar-se nas

economias florescentes da Europa Ocidental, carentes de mão-de-obra não

especializada e com condições laborais infinitamente superiores às oferecidas em

Portugal. França (31%), Alemanha (9%) e Suíça passaram então a ser o destino de

eleição destes portugueses. Foi então que o Estado começou a abrir as portas aos

imigrantes das colónias portuguesas (sobretudo de Cabo Verde).

Com a desagregação tardia do Império ultramarino português, em 1975, cerca

de meio milhão de portugueses que viviam sobretudo em Angola e Moçambique

regressaram a Portugal para 11 anos depois, com a entrada de Portugal na então

Comunidade Económica Europeia, se voltar a incentivar a saída de trabalhadores

nacionais para um espaço europeu comum que continuava carenciado de mão-de-

obra. A integração de Portugal neste novo espaço tornou-o especialmente atractivo

como destino de imigrantes oriundos do Brasil, dos PALOP e da Europa Central e

Oriental. Os manuais de sociologia e de antropologia distinguem três modelos de

integração para as populações imigrantes: a assimilação contempla a perda de

identidade e cultura originais a favor da identidade e cultura dominantes, neste caso, a

do país receptor; melting pot em que as diferentes culturas se fundem e assimilam

umas às outras, formando uma cultura e identidades novas; e o pluralismo cultural

onde diferentes culturas não cedem a outras e convivem de forma igual e equilibrada,

formando um mosaico multicultural.

Seja de que forma se faça, a integração é inevitavelmente um processo gradual

através do qual os imigrantes participam na vida económica, social, cívica e cultural do

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país de acolhimento. No entanto, esta nem sempre ocorre, nomeadamente por causa

de factores como a pobreza, falta de trabalho, situação de ilegalidade, falta de

assistência médica e social, desestruturação familiar, clivagens culturais,

desconhecimento legal, exploração e abuso laboral, desconhecimento da língua e

xenofobia, que contribuem por seu lado para a exclusão social das populações

imigrantes. A prova disso está na diferente forma como Portugal lidou com as três

vagas de imigração recentes.

Dos PALOP ao Brasil

A esmagadora maioria dos imigrantes africanos em Portugal deixou os países

de origem sem qualquer espécie de garantia no que se refere à sua integração no

mercado de trabalho, submetendo-se frequentemente a condições de trabalho

precárias e a salários muito baixos. Ainda assim, Portugal sempre foi tido como um

destino atractivo, graças à falta de mão-de-obra e à falta de eficácia do sistema de

fiscalização que promovem a entrada e permanência em situação ilegal.

Vivendo em condições de semi-indigência e sem habitação digna, pela

exploração salarial a que são sujeitos, muitos destes imigrantes permanecem durante

anos a fio num limbo de exclusão permanente, concentrando-se em bairros pobres das

periferias das grandes cidades, pernoitando nos estaleiros de construção civil onde a

maioria trabalha, ou dormindo em abrigos e na rua.

Em plenos anos 90, a imigração volta a mudar de rosto. Com a dissolução da

União Soviética e com o desagregar do modelo económico vigente na Europa de Leste,

que cedeu definitivamente espaço ao modelo capitalista e liberal da Sociedade

Ocidental, milhões de pessoas viram-se subitamente sem trabalho e sem qualquer

espécie de assistência médica ou social.

Esta transição também foi acompanhada por conflitos étnicos, guerras civis e

movimentos repressivos que levaram ao acelerar destes fluxos migratórios dos

europeus de Leste que se começaram a espalhar pelo Velho Continente à procura de

uma vida melhor. Muitas vezes, este movimento foi impulsionado por redes de tráfico

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ilegal de pessoas, intimamente relacionado com o mercado do sexo, do trabalho

clandestino e da imigração ilegal.

A maior parte destes novos imigrantes chegaram a Portugal com um elevado

nível de habilitações literárias, mas as barreiras linguísticas e a falta de

reconhecimento das suas competências académicas e profissionais fez com que a

maioria tivesse tido pouco mais oportunidades que as que foram dadas aos imigrantes

dos PALOP. Na viragem do século, assistiu-se a uma nova vaga de imigração, desta vez,

oriunda do Brasil. Mais heterogénea do ponto de vista das qualificações literárias

profissionais que as populações africanas e da Europa de Leste, os imigrantes

brasileiros beneficiaram da abertura das autoridades portuguesas relativamente à sua

origem e rapidamente se tornaram na comunidade imigrante mais importante do país.

Apesar de todas as dificuldades, a verdade é que a comunidade brasileira teve

um acolhimento diferente das restantes. Sem dúvida graças às grandes afinidades

culturais que Brasil e Portugal partilham e ao facto dos portugueses não reconhecerem

nos brasileiros aquelas que são consideradas as principais razões para encarar a

população imigrante como ameaçadora, nomeadamente a instabilidade económica, os

preconceitos racistas e securitários e o conservadorismo social.

Independentemente dos juízos de valor que se possam fazer acerca das

questões que giram à volta da imigração, parece óbvio que o objectivo principal e

primordial da população imigrante é a estabilização e a melhoria das suas condições de

vida, mediante a aquisição de plenos direitos de cidadania que lhes permitam livre

acesso ao mercado de trabalho e à cobertura do Estado-Providência. Se esta

integração não se realizar, restam duas hipóteses às populações imigrantes: o trabalho

clandestino, sem condições, nem dignidade e factor de exploração e o desemprego

que leva inevitavelmente ao aumento da pobreza e da desagregação social

(alcoolismo, miséria, depressão, crime, suicídio) que a AMI está apostada em conter

através dos seus equipamentos sociais.

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Uma integração plena evita, pois, uma série de problemas dramáticos e

favorece a coesão social ao mesmo tempo que contribui positivamente para a

economia e para a contenção do envelhecimento demográfico.

II -Princípios psicológicos associados à integração e bem-estar, com enfoque

nos contextos de desenvolvimento e nos processos de mudança de meio envolvente

1 O funcionamento e o papel das comunidades como promotoras de

desenvolvimento e bem-estar pessoais

Existem várias organizações e ou serviços públicos ou privados que

desempenham um papel fundamental para o bem-estar das pessoas. São exemplo:

Santa casa da Misericórdia de Lisboa – Esta instituição dispõe de vários

serviços para o bem-estar das pessoas, como são os casos de: Acolhimento familiar,

centro de acolhimento e observação temporária, lar de infância e juventude, equipas

de apoio a famílias com crianças e jovens em risco, animação sócio - educativa, jardim

de infância, apoio ao cidadão, atendimento social, colónia de férias, residência de

apoio à vitima de violência doméstica, apoio domiciliário a pessoas idosas, etc.…

Hospitais – O seu objectivo principal é fornecer todos os cuidados de saúde às pessoas.

Bombeiros – São pessoas (voluntários ou profissionais) que têm formação e

equipamento adequado para fazer o transporte de pessoas doentes ou sinistradas, resgatar

pessoas em perigo, fornecer assistência em acidentes ou incidentes, apagar os fogos.

Policia – É uma força com a missão de defesa da legalidade democrática, de garantia

da segurança interna e de defesa dos cidadãos. Essencialmente, tem por missão: prevenir a

criminalidade, manter a ordem pública.

Mais recentemente tem programas especiais como: Escola segura, Idosos em

segurança, violência doméstica e o chamado policiamento de proximidade.

APAV – Esta associação sem fins lucrativos, tem por objectivo proteger, informar e

apoiar as vítimas de crimes. Fornece apoio jurídico, psicológico e apoio social.

Tem uma linha gratuita de emergência em funcionamento 24 horas por dia, 365 dias

por ano.

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Lar de Idosos – são cada vez mais e, mais serão necessários, desde que funcionem

com regras bem definidas e que o respeito pela pessoa idosa esteja sempre presente e acima

de qualquer interesse.

Um lar para idosos, é um local onde se desenvolvem actividades de apoio social a

pessoas idosas através de alojamento colectivo, temporário ou permanente, fornecem

alimentos, cuidados de saúde, higiene, conforto e fomentam o convívio.

Muitas outras associações ou simples colectividades de bairro existem e têm um papel

importantíssimo no desenvolvimento e bem-estar das populações; Por vezes fazendo o papel

que deveria estar reservado ao Estado.

2 Os diferentes contextos no modelo ecológico do desenvolvimento

Para compreender as conexões (e desconexões) entre alguns importantes

ambientes de desenvolvimento - família, escola, instituição - apresenta-se inicialmente

o modelo ecológico de Bronfenbrenner (1986, 1995a, 1995b, 1996) ou, mais

recentemente denominado, modelo bioecológico (Bronfenbrenner & Morris, 1998).

Esta teoria contempla o desenvolvimento de maneira ampla e é focalizada nas

interacções das pessoas com seus diferentes contextos.

O modelo bioecológico do desenvolvimento humano

Para pesquisadores interessados em "avaliar ecologicamente" o dinamismo das

interacções e das transições na vida das pessoas, em diferentes momentos do ciclo

vital, Bronfenbrenner e Evans (2000) têm se convertido em ponto de referência

obrigatório. Compreender ecologicamente o desenvolvimento humano possibilita que

a atenção investigaria seja dirigida não só para a pessoa e os ambientes imediatos nos

quais se encontra, mas também devem ser consideradas suas interacções e transições

em ambientes mais distantes, dos quais, muitas vezes, sequer participa directamente.

No modelo ecológico, Bronfenbrenner (1996, p.5) pressupõe que toda

experiência individual se dá em ambientes "concebidos como uma série de estruturas

encaixadas, uma dentro da outra, como um conjunto de bonecas russas". É salientado

que "os aspectos do meio ambiente mais importantes no curso do crescimento

psicológico são, de forma esmagadora, aqueles que têm significado para a pessoa

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numa dada situação" (Bronfenbrenner, 1996, p.9). Portanto, diferentes contextos

como família, instituição e escola podem ter influências diversas no desenvolvimento.

O modelo bioecológico também enfatiza o ambiente, mas propõe que o

desenvolvimento humano seja estudado por meio da interacção deste núcleo com

outros três, de forma inter-relacionada: o processo, a pessoa e o tempo, ampliando o

foco do modelo.

O contexto

O primeiro componente do modelo bioecológico, o contexto, segue o proposto

em 1979/1996, e é analisado por meio da interacção de quatro níveis ambientais,

denominados: microssistema, mesossistema, exossistema e macrossistema. É no

contexto dos microssistemas que operam os processos proximais, que produzem e

sustentam o desenvolvimento, mas a sua eficácia em implementá-lo depende da

estrutura e do conteúdo dos mesmos (Bronfenbrenner & Morris, 1998). O

microssistema é o sistema ecológico mais próximo, e compreende um conjunto de

relações entre a pessoa em desenvolvimento e seu ambiente mais imediato, como a

família, a escola, a vizinhança mais próxima. As interacções dentro do microssistema

ocorrem com os aspectos físicos, sociais e simbólicos do ambiente, e são permeadas

pelas características de disposição, recurso e demanda das pessoas envolvidas

(Bronfenbrenner & Morris, 1998).

O mesossistema refere-se ao conjunto de relações entre dois ou mais

microssistemas nos quais a pessoa em desenvolvimento participa de maneira ativa (as

relações família-escola, por exemplo). O mesossistema é ampliado sempre que uma

pessoa passa a frequentar um novo ambiente. Os processos que operam nos

diferentes ambientes frequentados pela pessoa são interdependentes, influenciando-

se mutuamente (Bronfenbrenner, 1986). Assim, a interacção de uma pessoa em

determinado lugar, por exemplo, na escola, é influenciada pelo ambiente e também

pelas influências trazidas de outros contextos, como a família.

O exossistema compreende aquelas estruturas sociais formais e informais que,

embora não contenham a pessoa em desenvolvimento, influenciam e delimitam o que

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acontece no ambiente mais próximo (a família extensa, as condições e as experiências

de trabalho dos adultos e da família, as amizades, a vizinhança). Nesse sentido, o

exossistema envolve os ambientes que a pessoa não frequenta como um participante

activo, mas que desempenham uma influência indirecta sobre o seu desenvolvimento

(Bronfenbrenner, 1996). Três exossistemas são identificados por Bronfenbrenner

(1986) como muito importantes para o desenvolvimento da criança, devido à sua

influência nos processos familiares: o trabalho dos pais, a rede de apoio social e a

comunidade em que a família está inserida. Por último, o macrossistema é composto

pelo padrão global de ideologias, crenças, valores, religiões, formas de governo,

culturas e subculturas, situações e acontecimentos históricos presentes no cotidiano

das pessoas e que influenciam seu desenvolvimento (Bronfenbrenner, 1996, 2004).

Assim, a cultura na qual os pais foram educados, os valores e as crenças transmitidos

por suas famílias de origem, bem como a sociedade actual em que eles vivem,

influenciam a maneira como educam seus filhos. O macrossistema é o sistema mais

distante da pessoa: abrange a comunidade na qual os outros três sistemas estão

inseridos e que pode afecta-los (estereótipos e preconceitos de determinadas

sociedades, períodos de grave situação económica dos países, globalização).

O processo

O processo é destacado como o principal mecanismo responsável pelo

desenvolvimento, e é visto como as interacções recíprocas progressivamente mais

complexas do sujeito com as pessoas, objectos e símbolos presentes no seu ambiente

imediato (Bronfenbrenner & Morris, 1998). O ser humano é sempre considerado nesta

teoria como um ser biopsicologicamente em evolução e, para que suas interacções

sejam consideradas como tal, ele deve ser activo. As formas de interacção no ambiente

imediato são denominadas processos proximais. Bronfenbrenner e Morris (1998)

tratam dos processos proximais como os principais motores de desenvolvimento

psicológico ou formas de interacção que operam como o substrato das actividades

conjuntas, dos papéis e das relações estabelecidas rotineiramente (entre

crianças/cuidadores/professores), e podem determinar suas trajectórias de vida, de

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maneira a inibir ou incentivar a expressão de competências nas esferas cognitiva,

social e afectiva.

A pessoa

O terceiro componente do modelo bioecológico é a pessoa. Esta é analisada

por meio de suas características determinadas biopsicologicamente (experiências

vividas, habilidades, por exemplo) e aquelas construídas (demanda social, por

exemplo) na sua interacção com o ambiente (Bronfenbrenner & Morris, 1998). No

modelo bioecológico, as características da pessoa são tanto produtoras como produtos

do desenvolvimento, pois constituem um dos elementos que influenciam a forma, a

força, o conteúdo e a direcção dos processos proximais. Ao mesmo tempo, são

resultados da interacção conjunta destes elementos - processo, pessoa, contexto e

tempo (Bronfenbrenner, 1999). Assim, no modelo bioecológico, o desenvolvimento

está relacionado com estabilidade e mudança nas características biopsicológicas da

pessoa durante o seu ciclo de vida (Bronfenbrenner & Morris, 1998).

O tempo

Finalmente, o quarto componente do modelo bioecológico - o tempo,

incorporado ao modelo em 1986 - permite examinar a influência no desenvolvimento

de mudanças e continuidades que ocorrem ao longo do ciclo de vida (Bronfenbrenner,

1986). Para Bronfenbrenner e Morris (1998) o tempo é analisado em três níveis do

modelo bioecológico: microtempo, mesotempo e macrotempo. O microtempo refere-

se à continuidade e à descontinuidade observadas dentro dos episódios de processo

proximal. Como exemplo, pode ser mencionado o tempo de duração das relações

estabelecidas entre as crianças e seus pares ou família, ou ainda, durante a realização

de determinada actividade. O modelo bioecológico condiciona a efectividade dos

processos proximais à ocorrência de uma interacção recíproca, progressivamente mais

complexa, em uma base de tempo relativamente regular, não podendo este funcionar

efectivamente em ambientes instáveis e imprevisíveis. Em um nível mais elevado, o

mesotempo refere-se à periodicidade dos episódios de processo proximal, considerado

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em intervalos de tempo como dias e semanas. O macrotempo focaliza as expectativas

e os eventos constantes e mutantes tanto dentro da sociedade ampliada como das

gerações, e a maneira como estes eventos afectam e são afectados pelos processos e

resultados do desenvolvimento humano dentro do ciclo de vida.

Assim, a análise do tempo dentro destes três níveis deve focalizar a pessoa em

relação aos acontecimentos presentes em sua vida, desde os mais próximos até os

mais distantes, como grandes acontecimentos históricos, por exemplo.

Bronfenbrenner e Morris (1998) ressaltam que as mudanças que ocorrem ao longo do

tempo, nas quatro propriedades do modelo bioecológico, são produtos e também

produtores da mudança histórica.

A abordagem ecológica do desenvolvimento humano proposta por

Bronfenbrenner (1996) é útil ao permitir que o desenvolvimento possa ser entendido

de maneira contextualizada e contemplando a interacção dinâmica das quatro

dimensões descritas. Ao fazer isso, são evitados os equívocos frequentemente

cometidos de entender o desenvolvimento de uma população, principalmente no caso

de populações em risco, a partir dos critérios de estudos realizados com grupos de

contextos diferentes (Huston, McLoyd & Coll, 1994; Jessor, 1993).

3 – Factores de risco e protecção em cada um dos sistemas

Resiliência, factores de protecção e factores de risco

Resiliência é um conceito originário da física, ciência na qual este construtor é

definido como a capacidade de um material absorver energia sem sofrer deformação

plástica. Em psicologia este conceito está superado, pois uma pessoa não pode

absorver um evento stressante e voltar à forma anterior. Ela aprende, cresce,

desenvolve e amadurece. Os estudos sobre o tema datam de menos de trinta anos

(Paula Couto, Poletto, Paludo & Koller, 2006) e as definições não são tão precisas, mas

em geral salientam os processos de enfrentamento e de superação de crises e

adversidades (Yunes & Szymanski, 2001). Inicialmente, as pesquisas utilizavam

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equivocadamente o conceito de invulnerabilidade para definir resiliência (Werner &

Smith, 1989, 1992). No entanto, resiliência não denota resistência absoluta a qualquer

adversidade; pelo contrário, pode implicar enfrentamento (Anthony & Cohler, 1987;

Masten & Garmezy, 1985).

Resiliência é um conceito multifacetado, contextual e dinâmico (Masten, 2001),

no qual os factores de protecção têm a função de interagir com os eventos de vida e

accionar processos que possibilitem incrementar a adaptação e a saúde emocional.

Rutter (1999) pondera que resiliência não é uma característica ou traço individual, mas

processos psicológicos que devem ser cuidadosamente examinados. Resiliência não é

uma característica fixa, ou um produto; pode ser desencadeada e desaparecer em

determinados momentos da vida, bem como estar presente em algumas áreas e

ausente em outras. Neste sentido, a resiliência é entendida, portanto, não somente

como uma característica da pessoa, como uma capacidade inata, herdada por alguns

"privilegiados", mas a partir da interacção dinâmica existente entre as características

individuais e a complexidade do contexto ecológico (Cecconello, 2003); P.A. Cowan,

C.P. Cowan & Schulz, 1996; Junqueira & Deslandes, 2003; Seligman & Csikszentmihalyi,

2000; Yunes, 2003; Yunes & Szymansky, 2001). Luthar (1993) propôs domínios

específicos de coping que delimitariam tipos de resiliência: social, emocional e

académica (Rutter, 1993; Zimmerman & Arunkumar, 1994). No entanto, os processos

de resiliência requerem compreensão dinâmica e inter accional dos factores de risco e

de protecção.

O foco tradicionalmente usado pela psicologia, que relaciona os factores de

risco com o que vai "mal" na vida das pessoas, faz com que muitos profissionais,

sobretudo aqueles que trabalham com populações em situação de risco pessoal e

social, enfatizem o que Junqueira e Deslandes (2003) chamam de determinismo social

e "fatalismo". Esses autores destacam a necessidade de que essas populações possam

ser vistas não simplesmente como vítimas de um sistema social injusto; ao invés disso,

reforçam a atitude de resgatar e fortalecer (empowerment - empoderamento) as

dimensões sadias dessa pessoa, as quais possibilitam luta e superação das situações de

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risco. Ultrapassam, assim, o determinismo social, o preconceito e os estereótipos

macros sistémicos, marcados por um discurso que ressalta e super valoriza deficiências

e prejuízos, e que está pouco atento às estratégias utilizadas para superar as

adversidades enfrentadas.

Actualmente, a resiliência tem sido reconhecida como um processo comum e

presente no desenvolvimento de qualquer ser humano (Masten, 2001), e alguns

estudiosos têm enfatizado a necessidade de cautela no uso "naturalizado" do termo

(Martineau, 1999; Yunes, 2001, 2003). Por isso, faz-se necessária uma análise

ecológica, a fim de investigar a maneira como as pessoas percebem e enfrentam as

adversidades decorrentes dos processos proximais, bem como a influência do contexto

e do tempo em que estão vivendo (Cecconello, 2003).

Factores de risco relacionam-se com eventos negativos de vida e, quando

presentes, aumentam a probabilidade de a pessoa apresentar problemas físicos,

sociais ou emocionais (P.A. Cowan et al., 1996). Diversos autores têm trabalhado com

experiências stressantes no desenvolvimento infantil, tais como: divórcio dos pais

(Emery & Forehand, 1996), abuso sexual/físico contra a criança (Habigzang, Koller,

Azevedo & Xavier, 2005; Lisboa et al., 2002), pobreza e empobrecimento (Cecconello,

2003; Luthar, 1999), desastres e catástrofes naturais (Coêlho, Adair & Mocellin, 2004;

Yule, 1994), guerras e outras formas de trauma (Garmezy & Rutter, 1983).

Tradicionalmente, esses stressantes eram concebidos de maneira estática, ou seja, na

presença de qualquer um deles já eram previstas consequências indesejáveis.

Tomando o exemplo da desvantagem socioeconómica, embora sabido que

pobreza, conflito familiar e abuso são prejudiciais, a evidência de que estes factores se

constituirão em risco ou não dependerá do comportamento e dos mecanismos por

meio dos quais os processos de risco operarão seus efeitos negativos na criança (P.A.

Cowan et al., 1996). Além disso, de acordo com Koller e De Antoni (2004), a relação

das pessoas com eventos stressantes passa por distintos graus de ocorrência,

intensidade, frequência, duração e severidade. Nesse sentido, o impacto dos eventos

stressantes é ainda determinado pela forma como eles são percebidos. Por exemplo, a

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maneira como uma criança que foi violentada fisicamente lidará com esta situação

dependerá do contexto no qual essa violência aconteceu, quais são os ambientes que

ela frequenta, sua rede de apoio, seu momento no desenvolvimento, suas

experiências, seus processos psicológicos e características individuais.

A identificação de factores de risco que acentuam ou inibem distúrbios,

transtornos e respostas desadaptadas, no entanto, deve ser realizada em consonância

com factores de protecção (buffers), que podem desencadear processos de resiliência.

Segundo Rutter (1985), "factores de protecção referem-se a influências que

modificam, melhoram ou alteram respostas pessoais a determinados riscos de

desadaptação" (p. 600). A característica essencial desses factores é a modificação

catalítica da resposta da pessoa à situação de risco (Rutter, 1987). Esses factores

podem não apresentar efeito na ausência de um stress, pois seu papel é o de modificar

a resposta em situações adversas, mais do que favorecer directamente o

desenvolvimento. Rutter (1987) adverte os pesquisadores para não equipararem

factores de protecção com condições de baixo risco. Protecção não é uma "química de

momento", mas o modo como a pessoa lida com as transições e mudanças de sua vida,

o sentido que ela dá às suas experiências, seu sentimento de bem-estar, auto-eficácia

e esperança, e a maneira como ela actua diante de circunstâncias adversas (Rutter,

1985, 1987, 1993). Também factores de protecção devem ser abordados como

processos, nos quais diferentes fatos interagem entre si e alteram a trajectória da

pessoa, produzindo uma experiência de cuidado, fortalecimento ou anteparo ao risco.

Definir efectivamente o que é ou não risco e protecção parece complicado, pois as

interacções e combinações de seus efeitos necessitam de uma cuidadosa análise

contextualizada (Yunes, 2001). Ou seja, uma análise ecológica do evento, dos

processos, do momento histórico e da pessoa é indispensável. Risco e protecção, assim

como o processo de resiliência, não são necessariamente entidades estáticas: podem

ser elásticas e mutáveis por natureza (Hawley & DeHann, 1996), entretanto integram o

ecossistema da pessoa em processo de resiliência.

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Alguns factores de protecção são fundamentais ao desenvolvimento, segundo

Masten e Garmezy (1985): a) atributos disposicionais das pessoas, tais como

autonomia, auto-estima, bem-estar subjectivo e orientação social positiva, além de

competência emocional, representação mental de afecto positivo e inteligência

(Cecconello, 2003); b) rede de apoio social, com recursos individuais e institucionais,

que encoraje e reforce a pessoa a lidar com as circunstâncias da vida; e c) coesão

familiar, ausência de negligência e possibilidade de administrar conflitos, com a

presença de pelo menos um adulto com grande interesse pela criança, e presença de

laços afectivos no sistema familiar e/ou em outros contextos que ofereçam suporte

emocional em momentos de stress [ao que Morais e Koller (2004) chamam de coesão

ecológica].

Poletto e Koller (2002) mencionam que a rede de apoio social e afectiva

apresenta estrutura e funcionamento projectivos. Em concordância com essa ideia, De

Antoni e Koller (2001) apontam a importância da flexibilidade dos sistemas ecológicos

para garantir a protecção; este suporte social pode ser a escola, o trabalho, os serviços

de saúde, entre outros.

A coesão ecológica é um conceito semelhante e equivalente à coesão familiar.

No entanto, este termo é utilizado quando a criança ou o adolescente vive em

contextos como a instituição de atendimento (o abrigo) e a rua. Apesar de serem

ambientes definidos a priori como de risco, também possuem, muitas vezes,

organização e estrutura que favorecem o desenvolvimento humano. O espaço da rua

não é o ambiente mais seguro e saudável para o desenvolvimento de uma criança, mas

esse ambiente também pode ter coesão ecológica quando as crianças buscam abrigos

para dormir, compartilham o alimento que conseguem, formam laços afectivos e

sabem onde buscar auxílio quando uma delas está doente, por exemplo. A coesão

ecológica caracteriza-se pela ausência de negligência, pela administração de conflitos,

pela presença de pelo menos um adulto com interesse pela criança e de laços afectivos

que forneçam suporte em momentos adversos e de stress. Uma criança

institucionalizada, a priori, é considerada uma criança em situação de risco, mas esta

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ideia é macros sistémica e não tem encontrado eco na realidade, pois diversos estudos

têm demonstrado vivências positivas e saudáveis em abrigos (Dell'Aglio, 2000; Freire,

Koller, Piason & Silva, 2005; Morais, Leitão, Koller & Campos, 2004).

Para Bronfenbrenner (1996, 2004), além da família, algumas instituições podem

servir como ambientes acolhedores para o desenvolvimento humano, como a escola e

os abrigos, a partir dos primeiros anos de vida da criança. Entretanto, o autor ressalta

que existem poucas informações sobre o complexo de actividades, papéis e relações

que caracterizam ambientes institucionais e os diferenciam ou aproximam do contexto

de desenvolvimento comum de uma família.

Para algumas crianças, a institucionalização pode constituir uma situação de

protecção e de oportunidade de fugir de dificuldades encontradas na família. Clarke e

Clarke (apud Bronfenbrenner, 1996) assinalam que o meio ambiente físico e social, em

certas famílias, é tão empobrecido e caótico, que colocar a criança em uma instituição

propícia a promoção da saúde e o crescimento psicológico. Fonseca (1995)

demonstrou que, muitas vezes, o internamento em uma instituição torna-se uma

estratégia para resolver problemas familiares. Também Santos e Bastos (2002)

assinalam que a instituição, enquanto novo contexto de desenvolvimento, pode

oferecer recursos aos adolescentes para a construção de respostas socialmente válidas

para lidar com as adversidades. No estudo de Dell'Aglio (2000) com crianças e

adolescentes institucionalizados, mais da metade dos participantes consideraram a

institucionalização um evento positivo em suas vidas. Para estas crianças, o fato de

estarem abrigadas lhes possibilitava uma melhor acomodação, com refeições

regulares, cama própria e acompanhamento escolar, que dificilmente teriam se

estivessem com suas famílias

Contextos disponíveis e nos quais há experiências constituem redes. Uma rede

social é definida como um sistema de inteiração sequencial e considerada uma

estrutura na qual cada membro, de alguma maneira, interage com os outros

(Bronfenbrenner, 1996). As redes sociais mais comuns e extensivas são aquelas que

perpassam os ambientes e, portanto, constituem elementos do mesossistema ou

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exossistema da pessoa. Segundo Brito e Koller (1999), a rede de apoio social e afectiva

é formada por sistemas e pessoas significativas com as quais a criança, de acordo com

a sua experiência e percepção, mantém relações de reciprocidade, afecto, estabilidade

e equilíbrio de poder. As redes sociais, por facilitarem o estabelecimento de novos

vínculos, desempenham funções importantes no desenvolvimento, criando um canal

indirecto para comunicação e servindo para transmissão de informações. Dessa forma,

a rede social proporciona à pessoa um efeito de desenvolvimento positivo, na medida

em que possibilita a transição ecológica e a participação em múltiplos ambientes, com

características culturais diversas.

As transições ecológicas ocorrem durante todo o ciclo vital e são características

da rede de apoio social e afectiva da pessoa. De acordo com Bronfenbrenner (1996),

quando uma criança sai de um microssistema conhecido, como a família, para

participar de um novo contexto, como a escola, há um fenómeno de movimento no

espaço ecológico. A transição ecológica acciona o funcionamento de uma rede que

existe estruturalmente e passa a ter significado no desenvolvimento. Será, então, por

meio das transições da criança por vários microssistemas, que ela absorverá o

conhecimento e legitimará sua participação nesses diversos ambientes (a família -

nuclear e extensa -, a escolinha, a vizinhança etc.), experimentando e consolidando

diferentes relações e exercitando papéis específicos e/ou variados dentro de cada

contexto. Tal mobilidade promove seu desenvolvimento, à medida que a criança se

sente apoiada, estabelece relações significativas e dá sentido às experiências.

Segundo Bronfenbrenner (1996), a rede pode ser uma entidade real, que

abrange aqueles que convivem com a criança ou que são seus conhecidos, ou também

uma entidade fenomenológica. Uma rede pode também ser composta por pessoas que

já morreram, que nunca existiram ou que nunca foram vistas, mas que são percebidas

como participantes e que oferecem, de alguma forma, apoio social e afectivo. O

desenvolvimento da pessoa baseia-se na história de suas experiências, no seu

momento actual e no das pessoas às quais ela se vincula. Portanto, é importante

considerar que o apoio social não pode ser medido apenas em termos de tamanho ou

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densidade da rede social, pois esta é uma dimensão apenas estrutural. É fundamental

atentar para o funcionamento da rede que representaria a dimensão de apoio que a

pessoa realmente possui, porque assim o percebe. Além disso, de acordo com Brito e

Koller (1999), a significação que a pessoa atribui à rede de apoio pode ser mais

importante que a rede em si. As pessoas diferem na forma de perceber ou utilizar o

apoio social disponível, dependendo de suas características, experiências e contextos.

Por exemplo, uma criança pode perceber a escola como um ambiente hostil porque é

tímida e não percebe o contexto como acolhedor; no entanto, outra pode sentir-se

bem, pois é estimulada a participar das actividades oferecidas e tem a possibilidade de

trocar experiências com outras crianças.

Independentemente dos microssistemas nos quais as pessoas estejam ou vivam

(família, instituição ou escola), o seu desenvolvimento psicológico saudável depende,

conforme Bronfenbrenner (1996), principalmente da existência de interacções. No

entanto, tais interacções precisam ser marcadas por sentimentos afectivos positivos,

reciprocidade e equilíbrio de poder. Relações negligentes ou abusivas, baseadas em

estereótipos e/ou concepções idealizadas, podem ser encontradas em práticas

educativas na família, na instituição ou na escola. A privação relacional não é exclusiva

deste ou daquele contexto ecológico. Segundo Bronfenbrenner (1991), a privação

social pode estar presente em diferentes espaços ecológicos e constituir-se na falta de

iterracções com outras pessoas.

Diante disso, seja qual for o contexto (família, instituição ou escola), este pode

se configurar como risco ou protecção. No entanto, isto dependerá da qualidade das

relações e da presença de afectividade e reciprocidade que tais ambientes

propiciarem. Quando houver conexões positivas, como algumas descritas ao longo

deste artigo, entre os contextos e/ou dentro deles, certamente haverá a possibilidade

de se accionarem processos de resiliência que favoreçam a melhoria da qualidade de

vida, da saúde e a adaptação das pessoas e da sociedade.

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III Conceitos fundamentais nos processos de construção do espaço de vivência

(arquitectura) e de ordenamento do território

1 As necessidades do Homem no seu habitat (habitação, trabalho, convívio,

deslocação, etc)

O habitat é a produção de um espaço vivido, dotado de um sentido de que

somos capazes de desenvolver nossas potencialidades, de estar bem connosco e com o

mundo que nos cerca. Numa concepção mais ampla, denominamos de lar, onde

abrigamos nossos costumes, desejos e ideais, como a nossa casa, o nosso bairro ou

mesmo a cidade em que vivemos, enfim, a apropriação de um lugar determinado por

nós.

Habitamos um espaço de diversas formas, conforme a situação e a disposição

em que nos confrontamos, de acordo com o nosso modo de ser, de ver ou mesmo de

estar. Por exemplo, em uma simples caminhada, onde o indivíduo repensa o seu

mundo, vive o seu presente, lembra-se do seu passado e projecta-se no futuro, aí

também nasce o espaço vivido, do habitat. Encontra o sonho, a desilusão, a linguagem,

o toque, o cheiro, onde se produz cultura e acontece a vida. Ele tem na vida

quotidiana, no trabalho, no lazer, na moradia, a definição de uma configuração dos

espaços, mesclados entre si, mas não necessariamente formalizados. Por isso, a

habitação, que não se resume apenas à moradia, constitui-se no lugar de nossas

certezas, através dos usos, estímulos, espaços e objectos que escolhemos, ou não, ter

ao nosso redor.

Não habitamos todos os lugares, mas somente àqueles aos quais nos

entregamos e nos sentimos completos; que reúnem a complexidade sapiens-demens1.

1 Edgar Morin compreende o ser humano constituído pela razão – Homo sapiens e indissoluvelmente emoção/loucura - Homo demens, quanto Homo faber, ao mesmo tempo Homo ludens, que Homo economicus é, ao mesmo tempo Homo mytologicus, que Homo prosaicus e´, ao mesmo tempo, Homo poeticus. (MORIN, 2005 a: 42)

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O habitar não decorre simplesmente do conforto funcional dado pela habitação em si,

mas também por acolher as dimensões do simbólico, traduzindo as dimensões do lar

como instrumento e reflexo do próprio conhecimento, formalizado através da

capacidade de contextualizar, englobar e apropriar-se.

Construir um mundo habitável e habitá-lo com consciência e conhecimento é o

sentido de toda a actividade do ser humano, de modo a compensar a condição

precária e frágil da existência e a fugacidade da vida.

Percepção da realidade urbana

A espécie humana constrói abrigos individuais ou colectivos, reúne-se

constituindo verdadeiros sistemas integrados que se diferem internamente em função

de factores económicos, sociais, culturais, políticos e mesmo naturais.

Nos centros urbanos, com seus emaranhados prédios, sistemas viários, praças e

as mais diversas relações entre os sujeitos, coexistem com relativa facilidade com

outras formas de ocupações e actividades. O ser humano entendido como triunidade

indivíduo/sujeito-cultura/sociedadeespécie/natureza, compõe a base da complexidade

humana, constituindo necessariamente uma relação dialógica entre as três unidades,

de impossível dissociação. Nesta óptica, existem, portanto, actos a serem (re)

conhecidos e (re) valorizados para a formulação de um futuro possível, no

planeamento ou análise do contexto urbano, apoiado efectivamente na ideia da união

dos saberes de uma cultura humanística e de uma cultura científica.

As cidades são sistemas constituídos de partes interdependentes entre si, que

interagem e transformam-se mutuamente. Desse modo, o sistema urbano não é

definível pela soma de suas partes, mas por propriedades inerentes as suas partes que

favorecem a emergência, no conjunto, de qualidades antes desconhecidas.

Em outras palavras, observamos que o estudo em separado de cada parte da

cidade não nos levará ao entendimento do todo. Nesta perspectiva, o todo é mais do

que a soma das partes. Por outro lado, o todo é também menos que a soma das

partes, uma vez que tais propriedades emergentes podem também inibir

determinadas qualidades das partes.

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Exemplifica-se a relação entre partes e todo, identificando o perímetro central

de uma cidade, independentemente de seu porte, contornado por seus bairros, zonas

e periferias, no qual possuem sectores distintos em suas ocupações e usos, dentro do

planeamento urbano, apresentando certa autonomia, e ao mesmo tempo,

dependência de outras regiões da cidade e/ou até mesmo do contexto todo e

submetidos às directrizes vigentes da cidade. Portanto, o contexto urbano,

independente do porte da cidade, apresenta condições antagónicas e complementares

ao mesmo tempo. Neste aspecto, as perspectivas das experiências dos distintos

sujeitos podem cooperar com projectos urbanísticos inovadores, inserindo elementos

coadjuvantes da cultura e experiência social do urbano, contribuindo no planeamento,

formação e desenvolvimento das cidades.

Para satisfazer as necessidades e demandas o homem, como sujeito actuante,

transforma a natureza, desequilibra ecossistemas, modifica o uso e a ocupação do

solo, deixando marcas no habitat por extrair da natureza materiais, alimentos, água,

ar, energia e outros bens e serviços para seu uso e consumo, provocando impactos

ambientais, em vista do seu bem-estar que está, essencialmente, relacionado a

padrões que dependem de produtos industrializados, significando a extracção de

recursos naturais renováveis e não-renováveis, envolvendo perdas e gerando as

diferentes formas de poluição.

Neste aspecto, é imprescindível garantir a sustentabilidade e qualidade de vida

do ser humano, adoptando métodos eficientes e eficazes de produção e controle de

energia, uso da água e do solo; que gerem menor impacto à qualidade ambiental. Com

isso, a acção humana responsável e prudente (ética), baseada em conhecimento e

sabedoria, pode reduzir os riscos que prejudiquem o ser humano e o meio ambiente

natural.

Historicamente, a configuração do ambiente urbano cultural por especialistas,

instituiu-se, ao longo do século XIX, abonando, teoricamente, padrões de eficiência e

salubridade física e moral. Entretanto, hoje, a realidade urbana apresenta-se alterada,

STC_6 Modelos de urbanismo e mobilidade 102

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no que tange à qualidade de vida dos seres humanos e no que diz respeito à

apropriação e ao uso dos espaços urbanos formalizados.

Por outro lado, importa perceber que, nas cidades, a crise habitacional torna-se

evidente pela falta ou “precariedade” de moradias, resultado de políticas

governamentais incapazes de atender às demandas pela qualidade de vida.

Nota-se que apesar do avanço tecnológico e da rapidez de informações não há

correspondência com as melhorias de políticas sociais efectivas. Constata-se isto

percebendo o aglomerado de pessoas morando em favelas, sem condições dignas de

habitabilidade, como consequência do aumento da pobreza podendo favorecer os

elevados índices de violência nessas populações.

O cenário urbano actual das principais cidades mostra o desequilíbrio

provocado pelas áreas edificadas sobre o meio ambiente e sobre o comportamento

humano, visto que os ambientes construídos nas cidades constituem o habitat de

parcela crescente da humanidade, sobretudo a partir da segunda metade do século XX,

onde o mundo experimenta um processo de intensa urbanização.

A actual situação mundial apresenta cenários críticos de concentração urbana e

condições de vida extremamente precárias, predatórias e até mesmo sub humanas.

Em virtude dessa realidade, prima-se pelo desenvolvimento sustentável, que

pressupõe práticas de crescimento que atendam às necessidades presentes sem

comprometer as condições de sustentabilidade das gerações futuras.

A compreensão do urbano não se dá apenas pela descrição de seus problemas,

mas, sobretudo, pelo conhecimento e vínculos entre vida urbana e a formação social, o

espaço e o ambiente, os signos e seus significados, as ideias e as linguagens, o real e o

abstracto, onde a cultura permite a reflexão para uma sociedade mais justa,

integradora, solidária e igualitária.

A vida na Terra depende de uma mudança de paradigmas, dos valores éticos e

estéticos; da condição da existência humana em todas as sociedades existentes.

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Grande parte dos ambientes urbanos construídos pelo homem parece negar

toda relação com a natureza, ao mesmo tempo em que ignora a realidade

contemporânea dos recursos limitados.

Em resposta aos sérios problemas urbanos, surgem variadas concepções para

construir e habitar, baseadas em princípios que tendem a minimizar a degradação

ambiental a partir de um desenvolvimento tecnológico controlado, almejando a

sustentabilidade da vida, conciliando o homem ao meio ambiente.

O princípio do movimento por moradias sustentáveis prioriza a conservação

dos recursos naturais e a recolecção entre as pessoas e a natureza acima do

isolamento privilegiado e do lucro privado da propriedade capitalista.

Percebe-se na arquitectura a adopção de novas maneiras na elaboração dos

projectos e execução das edificações, em propostas arquitectónicas que despertam

uma consciência eco social valorizando as questões ambientais, como no caso dos

“edifícios verdes” ou “edifícios sustentáveis”.

Nos edifícios sustentáveis, a consciência ético-social é obtida através da

combinação do engenho e da eficiência do projecto de alta tecnologia com materiais

de construção naturais como: palha, pedra e barro ou argila, utilizando também,

energia solar e eólica. Nesse movimento, tratam-se os projectos urbanísticos com

áreas livres de automóveis, ruas de trânsito lento e praças espaçosas que envolvem as

pessoas numa revitalizada vida social comum. Incorporam a necessidade de integração

do projecto arquitectónico com o seu entorno, minimizando o impacto da construção

no meio ambiente. Esses conceitos podem ser aplicados a qualquer tipo de edificação,

seja residencial, comercial, industrial ou institucional.

2 – A dimensão física do espaço de vivência, considerando as componentes de

estar e deslocar

Há 30 anos as pessoas fugiam das aldeias para as cidades em busca de

melhores empregos. E estas começaram a crescer desordenadamente e a sufocar a

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população. Neste momento há quase mais casas do que pessoas e tem as suas

vantagens e desvantagens.

Os portugueses começam a perceber as vantagens de se trocar a cidade pela

aldeia. Gente que não quer viver na cidade porque há "sinais de desqualificação do

espaço " ou seja têm vindo a ser alvo de uma construção desenfreada.

O tempo que falta

A falta de espaço na agenda para se ir a um médico, o tempo que falta para

estar com os filhos, a vida familiar que encolhe, o trânsito, os nervos, e a qualidade de

vida que vai diminuindo dão origem a grandes crises de stress. A mobilidade nas

cidades hoje em dia é mais acessível, já existem autocarros, metros e comboios a todas

as horas o que facilita a vida das pessoas na sua mobilidade.

Os principais serviços sociais encontram – se todos na cidade, tribunal, câmara,

correios, bancos etc. Já nas aldeias as deslocações são mais complicadas se não houver

transporte particular, os meios de transporte não passam a qualquer hora e em alguns

lugares nem chegam a passar o que faz com que a população que vive nas aldeias fique

mais isolada das cidades e dos serviços que estas facultam.

Procurando o bem-estar

Mesmo aqueles que não podem abandonar a cidade de vez, porque lá

trabalham, podem - caso optem por viver numa aldeia - usufruir de uma "paz que

chega pela ausência de barulho e de poluição". "Obviamente, também há os que

continuam a viver nas cidades e têm uma casa no campo para fins-de-semana.

Novos rurais

Algumas das pessoas que migram para zonas rurais não vão só à procura da paz

e tranquilidade, tendo mesmo necessidade de acabar com o anonimato e a

impessoalidade sentidas nas cidades. São pessoas que sentem o apelo da natureza e

que pretendem interagir com os locais - aqueles que sempre viveram na cidade por

falta de opção. Apenas o espaço, uma parte destes migrantes opta pela aldeia pela

qualidade de espaço. De qualquer forma, criam nas aldeias para onde vão habitar o

seu próprio espaço, mantendo um clima de impessoalidade.

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3 - Relação da organização e da Construção do Espaço Urbano, entre o estar e

o deslocar, com a satisfação das necessidades do Homem

Esta relação consiste na forma como é construída uma cidade e a satisfação do

homem. As cidades são construídas de forma organizada, de modo a rentabilizar ao

máximo o espaço. Trata-se de um aglomerado de blocos de prédios, que de certa

maneira parece um caixote de apartamentos uma vez que não existem espaços verdes

entre os edifícios. Um centro urbano só tem prédios, não existem vivendas nesses

centros.

Apesar de se querer rentabilizar o espaço e o tempo, também existe a

preocupação de satisfazer as necessidades do Homem, num só prédio podemos

encontrar, por exemplo, conservatória; registo civil; finanças, entre outros. Num outro

encontramos um shopping onde temos variado tipos de lojas sem que haja

necessidade de termos de caminhar muito e procurar em muitos lados os produtos

que estão juntos no mesmo espaço. Desta forma consegue-se em apenas algumas

horas tratar de diversos assuntos.

Também as pessoas da aldeia têm a vida um pouco mais facilitada: com este

tipo de construção vieram novos meios de transporte (e mais rápidos) que lhes facilita

a deslocação. A Construção Organizada tem a vantagem de ser feita para que quem

nelas vive tenha acesso aos mais variados novos tipos de tecnologia.

Mas nem tudo são rosas: também existem espinhos. Os espaços verdes estão a

desaparecer cada vez mais rapidamente e a poluição é cada vez maior, prejudicando a

saúde não só de quem nelas habita como quem habita nos arredores das cidades.

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IV – Princípios físicos na organização e gestão do espaço habitável

1 – Fluxos materiais e energéticos no interior dos espaços urbanos e entre

estes e os espaços adjacentes

Fluxos materiais e energéticos no interior dos espaços urbanos e entre estes e

os espaços adjacentes. Em relação á energia eléctrica, ela vem de fora do espaço

urbano, assim como a água, os combustíveis e toda a alimentação, originando uma

circulação de fluxos materiais e energéticos entre o exterior e o interior dos espaços

urbanos. Dentro do espaço urbano sai mão-de-obra para o trabalho e

fundamentalmente resíduos sólidos e líquidos. Os resíduos sólidos vão para aterros

sanitários, outros para reciclagem e os resíduos líquidos vão para centros de

tratamento de águas residuais.

Os fluxos energéticos naturais, são a energia do sol, do vento, da água e dos

nutrientes que constituem a matéria biológica. No contexto do desenho urbano

sustentável falamos da circulação de fluxos de matéria, energia e informação, num

planeamento integrado que inclui edificações, paisagens e infra-estruturas. Isso não se

refere apenas ao desenvolvimento de novos projectos, mas também à conservação de

espaços públicos, assim como áreas habitacionais, que se devem tornar mais

sustentáveis, o que é um grande desafio, já que a maior parte do planeamento

sustentável futuro será dirigido para cidades já construídas.

Uma proposta de infra-estruturas ecológicas, numa cidade sustentável, irá

captar os fluxos energéticos, criando ciclos produtivos no sistema, até neutralizar os

efeitos nocivos. Ao pensar nas cidades enquanto ecossistemas, nós minimizamos o uso

de recursos naturais, a produção de desperdícios e a emissão de poluentes, realçando

a biodiversidade. Esta atitude leva em consideração que a base física para a

diversidade da natureza, não deve e não pode, ser deteriorada.

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2 – Medição, análise e interpretação dos fluxos materiais e energéticos do lar,

associando as variáveis determinantes para a gestão eficiente daqueles

(instrumentos utilizados, construção do espaço, orientação solar, comportamentos

de utilização de energia, etc)

1 Edificado e energia

Os edifícios, constituem hoje, um dos maiores consumos energéticos de uma

cidade, sendo por isso, os grandes responsáveis pela emissão de poluentes. O homem

urbano, passa cerca de 80% da sua vida no interior dos edifícios, onde desenvolve a

maior parte das suas actividades, recorrendo ás mais variadas fontes de energia para

satisfazer as suas necessidades.

Se é inevitável que tenhamos de continuar a construir, será então necessários

que o façamos de uma forma consciente, minimizando o seu impacto no ambiente.

Seja pela informação/consciencialização, ou por imposição normativa impõe-se a

necessidade de mudança.

1.1 Materiais de construção

A selecção dos materiais de construção é fundamental para o desempenho de

um edifício. Os materiais que o constituem deveriam ser escolhidos de forma a estar

de acordo com as seguintes propriedades:

§ Baixa energia incorporada

§ Serem provenientes de fontes renováveis

§ Necessitarem de pouca ou nenhuma manutenção

§ Terem a maior duração possível e a capacidade de serem reutilizados ou

reciclados no fim da sua vida útil

1.2 Materiais resultantes de demolição

É extremamente importante regular os detritos resultantes de demolições e

recuperações, promovendo sempre que possível a sua separação, reutilização ou

reciclagem. Actualmente ainda são feitas muitas demolições em que tudo o que é

retirado é misturado, tornado impossível qualquer tipo de aproveitamento. Deveriam

ser criadas regras para a correcta separação e deposição destes resíduos.

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1.3 Energias renováveis

A utilização de energias renováveis, é também um dos princípios que

defendemos. Somos um dos países da Europa com mais disponibilidade solar durante

todo o ano, nesse sentido deveriam ser tomadas medidas que obrigassem á instalação

de painéis solares térmicos, para aquecimento de águas sanitárias. Os custos de

instalação diluem-se completamente nos custos de construção (e tem vantagens

fiscais), e o período de amortização é neste momento suficientemente baixo para que

possa ser implementado em larga escala. Na vizinha Espanha já algumas Câmaras

Municipais adoptaram esta postura, com grandes benefícios, para o país.

1.3.1 Painéis solares térmicos

Com vista a cumprir as metas estabelecidas no protocolo de Kioto em relação

às emissões de poluentes para a atmosfera, foi recentemente lançada a campanha

“Água quente solar para Portugal”. Esta campanha destina-se a incentivar o uso de

painéis solares activos, que são uma das formas mais económicas de aproveitamento

da energia solar.

Este programa reveste-se da maior importância para o nosso país, em primeiro

lugar por permitir a redução da nossa dependência externa de energia, por outro lado

promove a qualidade de vida, permitindo uma redução de muitas toneladas de CO2 na

nossa atmosfera. Para o utilizador final é também vantajoso porque lhe permite

reduzir os custos associados ao aquecimento de águas sanitárias, que corresponde, a

uma fatia considerável nos custos energéticos de um edifício. Portugal é um país

privilegiado em relação á disponibilidade de radiação solar, e no entanto a taxa de

penetração deste tipo de energias renováveis é bastante baixa quando comparada

com outros países com disponibilidades solares muito inferiores.

1.3.2 Energia eólica

As eólicas são uma fonte de energia pouco viável nas zonas urbanas, uma vez

que a turbulência e a baixa intensidade do vento provocada pela presença dos

edifícios, diminui consideravelmente o rendimento. No entanto, existem alguns

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modelos experimentais que poderiam ser utilizados em determinadas situações, ainda

que por uma questão educacional ou demonstrativa.

1.4 Climatização e ventilação

Calcula-se que - a cada 8 dias recebemos do Sol a energia equivalente a todas

as reservas de energias fosseis presentes no nosso planeta -, factos como este,

obrigam a que técnicos ligados ao sector da construção passem a ter uma nova

consciência do impacto que provocam com pequenas opções de projecto. Reduzir os

consumos em vez de procurar novas fontes de energia deveria ser uma prioridade

nacional. É flagrante a quantidade de energia desperdiçada nos edifícios com a sua

climatização, muitas vezes por opções projectuais pouco reflectidas.

1.4.1 – Exposição solar

Em climas mediterrâneos como o nosso, em que temos uma grande

disponibilidade de radiação solar, é importante incorporar sistemas que tiram partido

dessa enorme fonte de energia que é o sol. A forma mais básica de aproveitar a

energia solar é a implantação do edifício, se este aspecto for cuidado na fase

projectual é possível prever a radiação que ira incidir em cada uma das fachadas,

podendo dessa forma localizar as divisões da casa cujas necessidades térmicas se

adeqúem.

Dessa forma é também possível prever a frequência e dimensão dos vãos, e

formas de os proteger através da plantação de árvores de folha caduca, construção de

palas de ensombramento, ou estores exteriores.

1.4.2 – Inércia térmica e isolamento térmico

Melhorar as condições de isolamento térmico dos edifícios, adoptando

coeficientes de transmissão, mais baixos, permitirá reduzir milhões de toneladas de

emissões poluentes, todos os anos. A utilização de isolamento térmico evita perdas

para o exterior. Aquecer uma casa sem isolamento térmico assemelha-se a encher de

água um balde furado.

A inércia térmica tem a ver com a capacidade dos materiais de que a casa é

composta poderem absorver a temperatura ideal. É um conceito que aposta

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simplesmente na utilização de materiais com uma grande densidade, que utilizados em

simultâneo com técnicas solares passivas, permitem um grande conforto interior sem

recurso a sistemas artificiais.

1.4.3 – Qualidade do ar interior

A permanência a que estamos votados no interior dos edifícios (principalmente

no sector dos serviços) por períodos, nunca inferiores a 7 horas diárias, faz com que se

inalem grandes quantidades de substâncias nocivas, químicas e biológicas, com as mais

variadas origens. Essas substâncias são responsáveis por alergias e doenças com

diversos graus de gravidade, desde o simples desconforto, provocado por uma ligeira

irritação dos olhos ou das narinas, a perturbações mais graves, como a contaminação

pela bactéria: Legionella pneumophila, que pode ser mortal.

1.5 Iluminação

O desenho do edifício é fundamental para tirar partido da iluminação natural

existente no local e evitar-se ao máximo o recurso á energia eléctrica para iluminar.

2. Edificado e água

Promover a poupança de água, nos edifícios da cidade (incentivando e

informando os utentes), poderemos chegar a um uso mais racional desse recurso. A

título de exemplo, essa iniciativa poderia ser iniciada, implementando um plano

municipal de racionalização de consumos dentro dos edifícios e jardins propriedade do

Município da cidade do Porto.

“A falta de acesso à água provoca enormes dificuldades a mais de mil milhões

de membros da família humana”. São palavras de Kofi Annan, Secretário-Geral da

ONU. Se o actual consumo se mantiver, em 2025, duas em cada três pessoas irão ser

vítimas da falta de água11. É altura de pôr em prática medidas que permitam uma

gestão mais equilibrada destes recursos permitindo uma maior equidade na sua

distribuição.

Os próprios sistemas de rega de espaços verdes actualmente alimentados com

água da rede pública, deveriam ser remodelados de forma a poderem captar e utilizar

a água da chuva ou de cursos naturais.

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3. Edificado e realidade social

A comunidade urbana da cidade do porto, tem falta de espaços verdes de

proximidade. Estes espaços, além da função ecológica que representam, tem uma

componente social fundamental, porque permitem a socialização e o encontro de

pessoas, que, muitas vezes, apesar de vizinhas nunca se encontram. Consideramos

muito interessante que muitas vezes a simples existência de um pequeno espaço

(público) verde, torne possível o encontro de pessoas: quando passeiam o cão,

descansam, ou trocam conversas, sob a copa de uma árvore. A criação destes espaços,

deveria ser potenciada (de uma forma sustentável), incentivando pequenas

colectividades ou associações de bairro a tornarem-se responsáveis pela sua

manutenção; criando um sentimento de apropriação, e de participação cívica bastante

salutar.

Todas as formas de reinserção social, que promovam a sectorização da

população sujeita a programas de realojamento, deveriam ser evitada, encerrando o

conceito de bairro social periférico e segregador, encontrando novas formas de

alojamento subsidiado.

4. Edificado e Estrutura Urbana

Tornar uma cidade sustentável implica melhorar o seu funcionamento. Uma

estrutura urbana é um organismo vivo, que necessita constantemente de ser

observado e cuidado para conseguir crescer de uma forma saudável.

Quando uma cidade excede os seus limites, nem sempre significa progresso;

significa muitas vezes que se afasta dos problemas que não consegue resolver. A

cidade difusa (a que se expande para áreas periféricas) não é sustentável, obriga á

constante deslocação dos seus habitantes; implica uma ramificação interminável de

infra-estruturas; vai consumindo o espaço natural e necessita de um maior consumo

energético para se manter. Pelo contrário a cidade compacta, diminui as deslocações e

os gastos com transportes, os custos de manutenção e recursos humanos; diminui os

consumos de energia e água, beneficiando a poupança.

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A cidade do Porto, antes, uma cidade compacta, presencia hoje essa dicotomia,

e reflecte já as desvantagens do seu alargamento. Na impossibilidade de retrocesso,

podemos apenas esperar um futuro melhor; que implique a tomada de consciência

sobre “onde estamos”, e “para onde queremos ir”. São inúmeras as possibilidades de

melhorar o funcionamento de uma cidade; como a implementação de um sistema de

transportes integrado, introdução de novas formas de mobilidade, e a melhoria das

acessibilidades; no tema da habitação, há ainda muitas possibilidades de melhoria, (na

procura de tornar os espaços que habitamos, mais sustentáveis) tanto na

regulamentação das novas edificações como especialmente na reabilitação e ocupação

do edificado devoluto, que deveria ser uma prioridade. Dada a desertificação do

centro urbano da cidade do Porto e consequente degradação ambiental e social.

5. Edificado e espaços verdes

Na cidade do Porto, os espaços verdes foram progressivamente ocupados pelo

tecido urbano edificado, e pela importância desmedida que se confere á circulação e

estacionamento automóvel; restando algumas antigas quintas rurais, casas nobres

com grandes jardins privados (alguns já abertos ao público), os logradouros (no interior

dos quarteirões do início do século) e pequenas as franjas periféricas, “encravadas”

por questões jurídicas que afastaram a especulação imobiliária.

Torna-se por isso indispensável, a definição de uma estratégia global de

preservação e valorização dos espaços naturais essenciais ao equilíbrio ambiental da

cidade. Reduzir o “consumo” do solo disponível na cidade (incentivando a reabilitação

do parque habitacional devoluto) permitiria travar a expansão para áreas naturais,

diminuindo a área de solo impermeabilizado.

Seria interessante, se passássemos a entender, estes espaços não como pontos

e manchas verdes no mapa da cidade, mas como uma imensa rede unida por

“corredores verdes” (ruas arborizadas em que a circulação automóvel é condicionada

ao máximo, e permite uma fruição pedonal por excelência) formando um sistema

natural integrado; criando um plano de arborização que promove-se o aumento da

massa verde da cidade. A despoluição e desentubagem dos cursos de água,

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INSTITUTO DO EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL, I.P. Delegação Regional do Norte Centro de Formação Profissional de Rio Meão

nomeadamente dos ribeiros que atravessam a cidade (sabendo serem numerosos e

extensos) e a requalificação das suas margens e zonas envolventes; revela-se de uma

importância extrema tanto para o seu reconhecimento pelo público em geral (dada a

sua importância histórica no desenvolvimento da cidade) como para contribuir para o

aumento dos espaços naturais qualificados na cidade. Nesses espaços deveria existir

também a preocupação de incluir espécies vegetais autóctones, que além de

permitirem uma maior biodiversidade, tem maior resistência às condições do clima

local e um consumo de água inferior.

Incentivar o aproveitamento dos espaços das coberturas, dos edifícios (na

construção nova) como espaço de jardim dos inquilinos, representando uma outra

forma de tornar a cidade mais “verde”.

6. Edificado e resíduos sólidos urbanos

Ainda dentro da perspectiva da sustentabilidade nos edifícios, deveria ser

incentivada a separação de lixos (apoiada por uma recolha selectiva). Numa situação

ideal, deveria ser criado nas cozinhas, um módulo (que fosse parte integrante e

obrigatória) com quatro recipientes de pequena dimensão integrados no mobiliário

que possibilitassem o armazenamento, e com fácil manutenção. Em edifícios com

gestão particular de condomínio, e dependendo da dimensão do edifício, poderia ser

criado um local onde todos os condóminos fizessem a deposição dos seus resíduos, já

separados facilitando a sua recolha.

A inclusão (no programa dos edifícios), locais destinados á separação de lixos

domésticos com vista á sua revalorização, deveria ser uma recomendação de

valorização importante na aprovação dos processos camarários.

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