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M211 - Elementos de Armamento Manual do Aluno Edição 2010/11 Elaborado por: Cor Cav Rogério Santos

ManualDoAluno2007 Completo Revisao 2011.1

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M211 - Elementos de Armamento

– Manual do Aluno –

Edição 2010/11

Elaborado por: Cor Cav Rogério Santos

Este Manual do Aluno foi elaborado no ano lectivo de 2010-2011 pelo Cor Cav Rogério Santos. Como é

óbvio, apenas pretende actualizar os conteúdos, incluir novas tecnologias que estejam já consolidadas e

trazer algum rigor às matérias ministradas no âmbito do armamento geral e em particular, nas armas ligeiras.

Muitos dos conteúdos transitam, não só do anterior manual da Unidade Curricular (UC), mas também de

outros que o precederam, onde se foi recuperar um “fio condutor”.

Assim sendo, é de elementar justiça referir o trabalho dos professores que ao longo de várias décadas,

contribuíram para os apontamentos escritos das cadeiras de armamento geral. Desde o longínquo trabalho do

Cor Armando Páschoa, ainda hoje uma das maiores referências da UC, passando pelo do Cor Marques de

Abreu e Cor Lourenço Guedes, terminando no do Major Carlos Macieira, Capitão Rodrigues Alves e

coadjuvados pelo Sargento-Chefe Edgar Martins, ficam no anonimato muitos outros nomes que, decerto

contribuíram para a qualidade e a evolução de ensino do armamento na Academia Militar.

Como as actuais tecnologias de informação permitem, este pretende ser um manual “vivo”, contando com

o contributo, não só dos docentes, mas também dos alunos, numa postura que se pretende cada vez mais

participativa no processo da aquisição e da transmissão do conhecimento.

Assim, todas as pertinentes propostas de alteração/inovação devem ser dirigidas para o professor-regente

da UC M211 – Elementos de Armamento.

Quadro de anotação de eventuais alterações

Página Assunto Linha Alteração

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

1

ÍNDICE

PARTE I INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO ARMAMENTO

CAPÍTULO 1 Divisão e classificação geral das armas Pág. I - 1

CAPÍTULO 2 Breve evolução histórica do armamento Pág. I - 11

CAPÍTULO 3 Características fundamentais das armas de mão Pág. I - 23

CAPÍTULO 4 Condições a que devem obedecer as armas de fogo Pág. I - 26

PARTE II ARMAS DE FOGO ORDINÁRIAS

CAPÍTULO 1 Organização das armas de fogo Pág. II - 1

CAPÍTULO 2 Cano Pág. II - 2

CAPÍTULO 3 Caixa da culatra Pág. II - 10

CAPÍTULO 4 Aparelho de pontaria Pág. II - 11

CAPÍTULO 5 Culatra móvel Pág. II - 20

CAPÍTULO 6 Mecanismos Pág. II - 29

CAPÍTULO 7 Coronha Pág. II - 35

CAPÍTULO 8 Guarnições e acessórios Pág. II - 37

CAPÍTULO 9 Revólveres Pág. II - 40

PARTE III ARMAS DE FOGO AUTOMÁTICAS

CAPÍTULO 1 Introdução Pág. III - 1

CAPÍTULO 2 Sistemas de automatismos Pág. III - 3

CAPÍTULO 3 Organização da arma automática Pág. III - 10

CAPÍTULO 4 Pistolas Pág. III - 30

CAPÍTULO 5 Estudo comparativo entre pistolas e revólveres Pág. III - 33

CAPÍTULO 6 Pistolas-metralhadoras Pág. III - 34

PARTE IV OUTRAS ARMAS DE FOGO LIGEIRAS

CAPÍTULO 1 Armas de Franco Atiradores Pág. IV - 1

PARTE V ARMAS DE LETALIDADE REDUZIDA

CAPÍTULO 1 Generalidades Pág. V - 1

CAPÍTULO 2 Tipos de armas de letalidade reduzida Pág. V - 2

CAPÍTULO 3 Emprego de armas de letalidade reduzida Pág. V - 4

PARTE VI MUNIÇÕES DAS ARMAS PORTÁTEIS

CAPÍTULO 1 - Munições das armas ligeiras Pág. VI - 1

CAPÍTULO 2 - Munições especiais Pág. VI - 9

PARTE VII GRANADAS DE MÃO E DE ESPINGARDA

CAPÍTULO 1 - Organização das granadas de mão Pág. VII - 1

CAPÍTULO 2 - Granadas de mão em uso no Exército Português Pág. VII - 7

CAPÍTULO 3 - Dilagrama M/965 Pág. VII - 13

GLOSSÁRIO DE DEFINIÇÕES LEGAIS Pág. G - 1

BIBLIOGRAFIA Pág. B - 1

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 1

Armas de Portugal

Fig. I-1-1

Arma de Cavalaria

Fig. I-1-2

PARTE I

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO ARMAMENTO

CAPÍTULO 1

DIVISÃO E CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS ARMAS

1. GENERALIDADES

O emprego do vocábulo “ARMA” é vasto e pode ser utilizado tanto no campo filosófico, como no da

heráldica ou da ciência militar.

No campo filosófico temos como exemplo:

- “A sua melhor arma é a consciência do dever.”

- “As armas espirituais da igreja…”

- “A língua é uma arma mais perigosa que outras armas…”

No campo da heráldica temos:

- Armas de domínio, que correspondem a um país, província, cidade ou vila e

indicam os direitos que elas têm no território sujeito à sua jurisdição.

“…a qual pedra é um mármore com armas de Portugal.”

Gaspar Correia - Lendas da Índia III - 42

- Armas pessoais , distintivo adoptado ou concedido a um indivíduo e que quando se tratava de

cavaleiros, as faziam pintar no seu escudo.

“…na qual vos deu por armas e deixou ao que ele para si ma cru tomou”

Camões - Lusíadas I - 7

- Armas de família, distintivo usado pelos membros de uma família.

No campo militar, além do conceito orgânico do Exército (Armas de Infantaria, Cavalaria, Artilharia,

Engenharia e Transmissões), temos, no conceito científico do armamento e do tiro, que nos interessa

particularmente, ARMA como: ―Qualquer objecto, instrumento ou aparelho destinado a atacar, a

defender ou com o duplo fim de atacar e defender simultaneamente do adversário‖ .

Considerando que certas armas são utilizadas quando associadas a outros equipamentos necessários para a

sua sustentação no campo de batalha, ou a outras armas, surge também o conceito de SISTEMA DE

ARMAS: ―A combinação de uma ou mais armas, com todos os equipamentos, materiais, serviços,

pessoal e meios de transporte e projecção (se aplicável), necessários para a sua auto-sustentação.‖1

1 NATO AAP-6 - Glossary of Terms and Definitions (2010).

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 2

2. CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS ARMAS

As armas podem classificar-se segundo variados critérios. Abordemos alguns dos critérios de

classificação mais pertinentes e usuais: finalidade, peso, manejo, emprego táctico, forma de utilização,

letalidade e jurídico-legal.

a. Finalidade

(1) Armas Ofensivas - As que se destinam a atacar o adversário.

- Espingarda automática Colt M16A25,56 mm; Punhal; Míssil de cruzeiro Tomahawk.

(2) Armas Defensivas – As que se destinam a defender os golpes ou os efeitos das armas dos

adversários.

- Colete antibala; Capacete; Escudo; Mantelete; Lança-fumígenos.

(3) Armas Ofensivas / Defensivas - As

que se utilizam com o duplo fim de

atacar e defender dos golpes dos

adversários.

- Carro de combate (CC); Viatura

blindada de combate de Infantaria

(VBCI).

b. Emprego Táctico e Peso (relacionada com o seu transporte e utilização táctica)

(1) Armas Portáteis Ligeiras - Aquelas cujo transporte é feito por um só homem ou com um peso

total inferior a 18 kg.

- Metralhadora Ligeira HK21 7,62 mm M/67; Morteiro 60 mm M/65 FBP.

(2) Armas Portáteis Médias - Aquelas que exigem para o seu transporte mais do que um homem

(para o que são decomponíveis em cargas), fáceis e rápidas de montar e de operar, com pesos

totais entre 18 e 70 kg.

- Morteiro 81 mm L16A2; Canhão Sem Recuo Carl Gustav 84 mm M2 M/94.

(3) Armas Pesadas - Aquelas que para serem transportadas necessitam de uma plataforma automóvel

ou de um atrelado auto ou

hipo, com pesos acima dos 70

kg.

- Canhão sem recuo 10,6 cm

M/40A1 M/979; Morteiro

120 mm Tampella;

Metralhadora Browning M2

HB12,7 mm M/52.

c. Manejo (relacionada com a máxima rentabilidade que se consegue da arma)

(1) Armas Individuais - Aquelas que podem ser manejadas com eficiência por um só homem, tirando

assim o máximo rendimento da arma.

- Revólver Smith & Wesson Model 64; Espingarda Colt M16A2

5,56 mm.

(2) Armas Colectivas - As que necessitam, de vários homens (uma

guarnição) para tirar o máximo rendimento da arma.

- Metralhadora ligeira HK-21 7,62 mm M/67; Morteiro 10,7 cm

M30 M/952.

Fig. I-1-3 – Arma ofensiva (1), defensiva (2) e ofensiva-defensiva (3)

Fig. I-1-4 – Arma portátil ligeira (1), portátil média (2) e pesada (3)

Fig. I-1-5 – Arma individual (1) e

colectiva (2)

1 2 3

2 1 3

2 1

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 3

e. Forma de Utilização (essencialmente aplicável às armas ofensivas e ofensivas/defensivas)

(1) Armas de Mão - Aquelas que se utilizam sem se separarem de quem as utiliza.

(a) Contundentes ou de Choque – Actuam pelo choque.

- Clava; Maça de armas; Martelo; Bastão; Boxer2.

(b) Corte ou Gume – Actuam pela cutilada.

- Acha de armas; Machado.

(c) Estocada ou Ponta – Actuam pela

perfuração.

1. De Haste

- Pique; Lança; Partazana;

Baioneta.

2. De Punho

- Florete; Rapieira; Estilete.

(d) Gume e Ponta – Actuam

simultaneamente pela cutilada e

pela perfuração.

1. De Haste

- Alabarda.

2. De Punho

- Sabre, Espada.

(2) Armas de Arremesso e de Sopro3 (ou de Projecção Humana) - As que actuam à distância, depois

de projectadas, utilizando somente a força muscular.

(a) De Arremesso – As que utilizam a força muscular do braço.

- Pedra; Granada de Mão; Dardo; Funda; Zagaia;

Bumerangue.

(b) De Sopro4 - As que utilizam a força muscular do

diafragma e a capacidade pulmonar. Estas armas,

presentes em muitas sociedades primitivas, utilizam-se,

projectando um pequeno dardo, através de um tubo

comprido.

- Zarabatana; Fukiya.

(3) Armas de Projecção - As que lançam o projéctil à distância,

sob o impulso de determinada força, que não a muscular.

(a) De Tiro (ou neurobalísticas) - As que usam a elasticidade

de determinados materiais ou a força da gravidade, para

lançar o projéctil à distância.

- Arco; Balista; Catapulta; Trabuco5.

2 Instrumento metálico ou de outro material duro destinado a ser empunhado, encaixando os dedos em quatro orifícios,

de forma a ampliar o efeito resultante de um soco. 3 Alguns autores (Wolff, Eldon, 1958) classificam as armas de sopro como de projecção pneumát ica.

4 Note-se que as armas de sopro tinham efeitos limitados, impelindo projécteis pouco pesados a alcances relativamente

curtos. Desenvolvidas por sociedades primit ivas, não eram armas bélicas mas antes destinadas à caça, necessitando

muitas vezes de ampliar os seus efeitos, embebendo as pontas dos seus projécteis com veneno paralisante, suficiente

para neutralizar a presa até à sua eliminação posterior. 5 O trabuco não funciona pela elasticidade mas antes pela acção da gravidade na libertação de um contrapeso, fazendo

rodar uma haste onde se encontra o projéctil.

Fig. I-1-6 – Arma contundente ou de choque (1), de corte ou gume

(2), de estocada ou ponta de haste (3), estocada ou ponta de punho

(4), de gume e ponta de haste (5), de gume e ponta de punho (6)

Fig. I-1-7 – Arma de arremesso (1)

e de sopro (2)

Fig. I-1-8 – Arma de projecção de tiro

2 1 3 4 5 6

2 1

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 4

(b) De Pressão de Ar (ou pneumobalísticas) - As que lançam o projéctil à distância, pela

libertação de ar ou gás previamente

comprimido.

- Espingarda pneumática Girandoni M1780;

Pistola TASER6.

(c) De Fogo (ou pirobalísticas) – As que utilizam a

combustão de produtos químicos, sólidos, líquidos ou gasosos como força propulsora.

1. Ordinárias - As partes móveis são operadas por acção humana.

a. Tiro Simples – Após cada disparo, tem de se introduzir nova munição.

- Mosquete Brown Bess; Espingarda Chassepot 11 mm M/886.

b. Repetição – Podem ser carregadas com várias munições.

- Carabina Kropatchek 8 mm M886; Revólver Smith & Wesson Model 64.

2. Automáticas - Aproveitam a acção dos gases para fazer recuar as partes móveis.

a. De Tiro Semi-Automático ou de carregamento automático - As que foram concebidas

para disparar tiro a tiro.

- Espingarda automática G3 7,62 mm M/63; Pistola Parabellum 9 mm M/43.

b. De Tiro Automático - As que foram concebidas para fazer fogo de rajada.

- Metralhadora pesada Browning M2 HB 12,7 mm; Pistola-metralhadora 9 mm HK

MP5KA1.

3. Especiais - Aquelas que pelas suas características não se enquadram nas duas anteriores.

a. Peças - armas de grande calibre, cano comprido e velocidades iniciais elevada,

adequadas a bater alvos com trajectórias tensas a grandes distâncias;

b. Obuses - armas de grande calibre e velocidades iniciais moderadas, adequadas a bater

zonas com trajectórias curvas mergulhantes, em tiro indirecto;

c. Morteiros - armas de grande calibre, cano curto e velocidades iniciais mais reduzidas,

adequadas a bater zonas com trajectórias curvas verticais, em tiro indirecto;

d. Canhões sem Recuo - peças de culatra aberta que, permitindo que parte dos gases

propulsores seja direccionado para a retaguarda, geram uma força equilibrada de recuo

sem exercer acção sobre o corpo da própria arma;

e. Granadas Foguete - projécteis lançados em tiro directo por tubos singulares (engenhos

de acompanhamento de Infantaria) ou em tiro indirecto por tubos múltiplos

(Artilharia), em que a carga propulsora está na granada e vai sendo consumida ao

longo da trajectória;

f. Torpedos7 - projécteis de grande carga explosiva e carcaça estanque, providos de

e

l

e

m

e

6 Embora funcione por efeito de uma descarga eléctrica, os respectivos eléctrodos são projectados para o alvo pela

descompressão de uma cápsula de azoto comprimido. 7 Nem todos os torpedos são propulsados pela combustão de produtos químicos. Muitos torpedos actuais têm motores

eléctricos. Os mais antigos eram de ar comprimido.

Fig. I-1-9 – Arma de projecção de pressão de ar

Fig. I-1-10 – Arma de projecção de fogo ordinária (1), automática (2) e especial (3)

2 3 1

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 5

elemento propulsor que, depois de lançados no meio aquático, os impulsiona de

encontro a alvos flutuantes ou obstáculos navais;

g. Mísseis Guiados - engenhos balísticos providos de carga explosiva ou outra, de uma

carga propulsora própria ou de um motor e ainda de um sistema de guiamento até ao

alvo que se pretende bater.

(d) Electromagnética - As que utilizam energia eléctrica ou forças electromagnéticas para

propulsionar um projéctil.

1. Por motores eléctricos - Variante de torpedos que utiliza um motor eléctrico alimentado

por baterias para mover uma hélice e, consequentemente, propulsionar o engenho.

2. Por Carris (Rail guns) - Canhões de

propulsão gerada por campos

electromagnéticos opostos criados

entre dois carris.

3. Por Bobinas (Coil guns) - Armas de

propulsão gerada por campos

electromagnéticos gerados no interior

de bobinas sequenciais.

(e) De Energia Directa - As que projectam alguma forma de energia directamente sobre os

alvos, seja por feixes, por raios unidireccionais ou mesmo omnidireccionais. Com excepção

dos lança-chamas e dos empasteladores, a maioria destas armas está ainda em fase

experimental, de consolidação, ou são secretas.

1. Lança-Chamas - equipamentos mecânicos concebidos para projectar chamas longas e

controláveis, ou, literalmente, para lançar

chamas. Alguns lança-chamas militares

projectam um líquido inflamável,

enquanto outros, projectam um gás

inflamável.

- Lança-Chamas Individual M2A1; Carro

de Combate Lança-Chamas M67 Zippo.

2. Lasers - Equipamentos, ainda de carácter

experimental, capazes de emitir feixes de

radiação electromagnética de potências e finalidades variadas. Os mais potentes podem

destruir aeronaves e mísseis balísticos. Outros, pela intensidade da luz amplificada,

podem causar incapacidade temporária pelo deslumbramento ou variação de calor.

- Laser aerotransportado [Airborne Laser Test Bed (ALTB)]; Arma de Laser Térmico

[Thermal Laser Weapon]

3. Emissores de Microondas - Equipamentos que emitem feixes de microondas de potências

e frequências variáveis consoante as finalidades, que podem ir desde incapacitantes anti-

pessoais a anti-materiais, neutralizando equipamentos electrónicos de microondas ou

provocando a inflamação de determinados combustíveis.

- Arma de microondas para controlo de tumultos [Active Denial System (ADS)].

4. Armas Acústicas – Equipamentos emissores de ondas acústicas direccionadas e de alta

intensidade, causando dor, desorientação e outras perturbações fisiológicas, sem provocar

morte ou lesões graves e permanentes.

Fig. I-1-11 – Arma de Projecção Electromagnética

Fig. I-1-12 – Arma de Projecção de Energia Directa

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 6

- Dispositivo Acústico de Longo Alcance [Long Range Acoustic Device (LRAD)].

5. Empasteladores - Equipamentos electrónicos emissores de sinais rádio, infravermelhos ou

microondas, uni ou omnidireccionais, capazes de neutralizar equipamentos de

comunicações (rádios, telefones celulares, controlos remotos), radares de pesquisa e

vigilância ou equipamentos de guiamento (mísseis, bombas, veículos, aeronaves, GPS)

que funcionem na mesma gama de frequências.

- Empasteladores tácticos JAMPAK (contra telefones celulares ou de satélite, controlos

remotos e ondas rádio VHF/UHF); Empastelador de infravermelhos SHTORA do carro

de combate T-90 (contra sistemas de guiamento de mísseis anti-carro).

6. Armas de Impulso Electromagnético (EMP). Engenhos concebidos para causar uma

fortíssima descarga eléctrica que, por sua vez, irá gerar fortes campos eléctricos e

magnéticos variáveis, culminando num rebentamento com emissão de radiação

electromagnética. Essa radiação irá induzir a criação de fortes correntes eléctricas e

elevadíssimas voltagens nos circuitos eléctricos e electrónicos existentes no seu raio de

acção, provocando a sua destruição ou grave avaria. As armas nucleares também podem

criar impulso electromagnético, embora nestes casos este impulso seja muito mais intenso

e, por conseguinte, com efeitos muito mais dramáticos.

(4) Outras Formas de Utilização - Outras armas que, não sendo de projecção, não se enquadram nas

anteriores categorias de forma de utilização.

(a) Engenhos Explosivos – Engenhos que utilizam efeitos explosivos para causar danos ou

outros efeitos sobre os alvos respectivos.

1. Minas – Artefactos explosivos anti-pessoal, anti-carro ou anti-navio, dissimulados no

solo, associados a armadilhas ou disseminados em rotas marítimas, destinados a causar

baixas, destruir viaturas danificar embarcações e evitar, canalizar ou retardar o avanço de

forças inimigas. Geralmente são detonadas por acção involuntária do alvo, mas também o

podem ser por proximidade deste ou por controlo remoto.

- Mina anti-pessoal de controlo remoto M18 Claymore.

2. Bombas aéreas - Artefactos largados por aeronaves, contendo no seu interior cargas

explosivas, cargas especiais ou ainda bombas ou minas mais pequenas. Têm múltiplo

emprego, contra tropas, viaturas, infra-estruturas, interdição de áreas, etc. As bombas

aéreas modernas podem ser guiadas por sistemas laser ou GPS.

3. Cargas de profundidade - Artefactos explosivos de alta potência concebidos para destruir

ou danificar submarinos pela sua onda de choque, utilizando espoletas reguláveis de

profundidade aquática

Fig. I-1-13 – Engenhos Explosivos: Bomba aérea (1), Mina (2) e Carga de Profundidade (3)

4. Cargas de destruição e demolição - Engenhos explosivos por excelência, preparados,

colocados e activados por especialistas (sapadores), a fim de consumar destruições e

demolições deliberadas e específicas de infra-estruturas.

2 3 1

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 7

5. Engenhos explosivos improvisados – Artefactos improvisados com explosivos, munições,

matérias-primas e meios de iniciação disponíveis, utilizados geralmente de forma

dissimulada em conflitos assimétricos, destinados a causar baixas e a diminuir o moral da

força inimiga, geralmente mais poderosa. Podem ser implantados no terreno, em vias de

comunicação, associados a armadilhas, em infra-estruturas, em veículos e mesmo em

pequenas aeronaves não tripuladas.

(b) Armadilhas - artefactos dissimulados não

explosivos8, utilizados para prender, capturar ou

causar danos a alvos humanos ou materiais.

- Redes; Valas; Estacas, Dispositivos de prisão,

choque, penetração ou queda de projécteis.

(c) Aerossóis – Agentes químicos vaporizados de um

contentor, gerando conjuntos de partículas suspensas

num gás com alta mobilidade, com efeitos

incapacitantes (ou mesmo letais) sobre alvos

humanos.

(d) Outras armas – todas as outras a considerar e que não se enquadrem nas categorias anteriores.

- Armas de efeito por electrochoque (ex: bastões eléctricos), armas nucleares, biológicas,

químicas, radiológicas, armas improvisadas ou adaptadas, etc.

f. Letalidade

(1) Armas de Letalidade Normal – As armas ofensivas normalmente consideradas, destinadas a

produzir baixas individuais ou múltiplas mas num raio de acção consideravelmente reduzido.

- Espingarda automática G3 7,62 mm; Carro de Combate M60A3TTS 105 mm.

(2) Armas de Letalidade Reduzida (ou Armas Não Letais) – Armas ofensivas concebidas de modo a

incapacitar pessoal ou material, com reduzida probidade de causar morte ou incapacidade grave.

- Aerossóis incapacitantes; Granadas lacrimogéneas; Espumas imobilizantes.

(3) Armas de Destruição Massiva9 - Armas capazes de um elevado grau de letalidade, passíveis de

ser usadas para destruir as pessoas, infra-estruturas ou de outros recursos em grande escala.

(a) Nucleares – Armas que utilizam o extremo poder destrutivo da energia libertada por reacções

nucleares em cadeia. Consoante os fins, podem ser de tipos e potências diferentes, sendo as

mais usuais as atómicas (de fissão) e as termonucleares (de fusão). Uma moderna bomba

termonuclear com o peso de cerca de 1 tonelada, pode produzir uma explosão equivalente a

mais de um bilião (10¹²) de quilogramas de explosivo convencional (ex: TNT). Produzem

catastróficas destruições, por efeito de sopro, térmico, radioactivo e de impulso

electromagnético.

- Bomba Atómica; Bomba de Hidrogénio; Bomba de Neutrões.

Fig. I-1-15 – Arma de letalidade normal (1), letalidade reduzida (2) e destruição massiva (3)

8 Podem estar associados a outros engenhos explosivos, como por exemplo, minas ou granadas.

9 Alguns autores classificam-nas de “Armas Não Convencionais”. Esta opção é redutora, já que existem armas não

convencionadas de letalidade normal (ex: munições expansivas e de fragmentação) ou mesmo reduzida (ex: boxers).

Fig. I-1-14 – Armadilha (1) e Aerossol (2)

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Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 8

(b) Radiológicas - Amas concebidas para espalhar material radioactivo com a intenção de causar

mortes em massa e causar o colapso de uma cidade ou nação. São conhecidas como “bombas

sujas”, porque não sendo armas nucleares, usam explosivos convencionais para espalhar

material radioactivo, mormente os desperdícios de combustíveis das centrais nucleares ou de

resíduos médicos radioactivos.

- Bombas “sujas”.

(c) Químicas – Armas contendo agentes químicos de elevada toxidade, empregues com a

finalidade de aniquilar, lesar gravemente, incapacitar pessoal ou danificar e contaminar

gravemente o meio ambiente (florestas, infra-estruturas, centros populacionais). Os vectores

de lançamento são geralmente outros engenhos de projecção balística (bombas, mísseis,

granadas, etc.). Podem ser temporários ou persistentes. São proibidas por convenções

internacionais devido à sua elevada letalidade e efeitos. Os principais agentes químicos

podem ter efeitos neurotóxicos, hematóxicos, vesicantes, asfixiantes e herbicidas

(desfolhantes).

- Gás mostarda (neurotóxico); Sarin (gás neurotóxico).

(d) Biológicas – Artefactos ou materiais que projectam, dispersam ou disseminam agentes

patogénicos, como sejam vírus, bactérias, toxinas e outros microrganismos, a fim de

provocar elevadas baixas em pessoas e animais bem como de danificar, contaminar e

interditar o meio ambiente e em especial as culturas agrícolas. De fabricação e preparação

relativamente barata, podem ter efeitos catastróficos por efeito de propagação rápida. De

utilidade quase nula em operações militares, constituem uma ameaça nas mãos de

organizações terroristas, sendo igualmente proibidas por convenções internacionais.

- Aerossóis de esporos de carbúnculo (anthrax).

g. Jurídico-Legal

Além dos critérios de classificação supra apresentados, urge considerar ainda a classificação jurídica,

que é aquela que os Estados adoptam através da promulgação de leis específicas. Em Portugal, essa

classificação encontra-se regulada pela Lei n.º 5/2006, de 23 de Fevereiro com as alterações

introduzidas pela Lei n.º 17/2009 de 6 de Maio (Regime Jurídico das Armas e suas Munições),

traduzindo-se em oito categorias legais distintas (A, B, B1, C, D, E, F e G), de acordo com o grau de

perigosidade, o fim a que se destinam e a sua utilização:

(1) Armas da classe A:

(a) Equipamentos, meios militares e material de guerra;

(b) Armas de fogo automáticas;

(c) Armas químicas, biológicas, radioactivas ou susceptíveis de explosão nuclear;

(d) Armas brancas ou de fogo dissimuladas sob a forma de outro objecto;

(e) Facas de abertura automática, estiletes, facas de borboleta, facas de arremesso, estrelas de lançar

e boxers;

(f) Armas brancas não afectas a práticas venatórias, comerciais, agrícolas, industriais, florestais,

domésticas ou desportivas, ou que não sejam objecto de colecção histórica ou artística;

(g) Engenhos ou instrumentos construídos para serem utilizados como arma de agressão;

(h) Aerossóis de defesa não constantes da classe E e armas lançadoras de gases que estejam

dissimuladas de forma a ocultarem a sua configuração;

(i) Bastões eléctricos ou extensíveis;

(j) Outras armas que emitam descargas eléctricas não constantes da classe E;

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 9

(l) Armas de fogo transformadas ou modificadas;

(m) Armas de fogo fabricadas sem autorização;

(n) Réplicas de armas de fogo, armas de alarme ou salva passíveis de conversão em armas de fogo;

(o) Espingardas e carabinas facilmente desmontáveis em componentes de reduzida dimensão com

vista à sua dissimulação;

(p) Espingardas cujo comprimento de cano seja inferior a 46 cm;

(t) Armas longas semiautomáticas com a configuração das armas automáticas, para uso militar ou

das forças de segurança.

(2) Armas da classe B:

Armas de fogo curtas de repetição ou semiautomáticas.

(3) Armas da classe B1:

(a) Pistolas semiautomáticas de calibre 6,35 mm Browning (.25 ACP ou .25 Auto);

(b) Revólveres de calibre.32 S & W Long e .32 H & R Magnum.

(4) Armas da classe C:

(a) Armas de fogo longas semiautomáticas, de repetição ou de tiro a tiro, de cano de alma estriada;

(b) Armas de fogo longas semiautomáticas, de repetição ou de tiro a tiro com dois ou mais canos, se

um deles for de alma estriada;

(c) Armas de fogo longas semiautomáticas ou de repetição, de cano de alma lisa, em que este não

exceda 60 cm;

(d) Armas de fogo curtas de tiro a tiro unicamente aptas a disparar munições de percussão central;

(e) Armas de fogo de calibre até 6 mm unicamente aptas a disparar munições de percussão anelar;

(f) Réplicas de armas de fogo, quando usadas para tiro desportivo;

(g) Armas de ar comprimido de aquisição condicionada.

(5) Armas da classe D:

(a) Armas de fogo longas semiautomáticas ou de repetição, de cano de alma lisa com um

comprimento superior a 60 cm;

(b) Armas de fogo longas semiautomáticas, de repetição ou de tiro a tiro de cano de alma estriada

com um comprimento superior a 60 cm, unicamente aptas a disparar munições próprias do cano

de alma lisa;

(c) Armas de fogo longas de tiro a tiro de cano de alma lisa.

(6) Armas da classe E:

(a) Aerossóis de defesa com agentes de capsaicina ou oleoresina de capsicum (gás pimenta) em

concentrações não superiores a 5 %, e que não possam ser confundíveis com armas de outra

classe ou que não estejam dissimulados de forma a ocultarem a sua configuração;

(b) Armas eléctricas até 200 000 V, com mecanismo de segurança e que não possam ser

confundíveis com armas de outra classe ou que não estejam dissimuladas de forma a ocultarem a

sua configuração;

(c) Armas de fogo e munições unicamente aptas a disparar projécteis não metálicos ou a impulsionar

dispositivos, homologadas pela Direcção Nacional da PSP.

(7) Armas da classe F:

(a) Matracas, sabres e outras armas brancas destinadas às artes marciais ou a ornamentação;

(b) Réplicas de armas de fogo quando destinadas a ornamentação;

(c) Armas de fogo inutilizadas quando destinadas a ornamentação.

(8) Armas da classe G:

(a) Armas veterinárias;

(b) Armas de sinalização;

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 10

(c) Armas lança-cabos;

(d) Armas de ar comprimido desportivas e de aquisição livre;

(e) Reproduções de armas de fogo para práticas recreativas;

(f) Armas de starter10

;

(g) As armas de alarme ou salva que não estejam incluídas na alínea n) do n.º 2 do presente artigo;

(h) As munições para armas de alarme ou salva e para armas de starter.

10

Dispositivo com a configuração de arma de fogo, destinado unicamente a produzir um efeito sonoro, para ser

utilizado em actividades desportivas e treinos de caça.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 11

Fig. I-2-2

1 2 3 5 6

4 7

CAPÍTULO 2

BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ARMAMENTO

A evolução das armas é uma consequência imediata da evolução do homem. A história prova-o como

facto incontroverso. Um dos primeiros e mais importantes vestígios resultantes da actividade humana é,

sem sombra de dúvida, a produção de armas necessárias para caçar e para conferir protecção e

sobrevivência.

1. DO PALEOLÍTICO ATÉ À IDADE DO BRONZE (de 600.000 a.C. até 2.000 a.C.)

O homem surge na terra pela primeira vez no período quaternário que abrange o desenvolvimento das

alterações climáticas até ao fim das eras glaciais e o surgimento do estado climático actual. Nessa altura o

homem não tinha local de residência fixo e não usava qualquer espécie de vestuário, pouco se

distinguindo de outras espécies animais. No entanto, supõe-se que o Homo Habilis, considerado como o

verdadeiro ancestral do homem moderno, porque caminhava em posição erecta e possuía cérebro maior

que qualquer símio, fosse o primeiro a fabricar utensílios de pedra mal talhados (Fig. I-2-1) (1) com

arestas ligeiramente afiadas e que pesavam aproximadamente 2 quilos. Eram usados como arma de mão

ofensiva ou como instrumento de trabalho.

No final do Paleolítico Inferior, aparece o Homo

Neanderthalensis (350.000 a.C. a 30.000 a.C.), bem

como o primitivo Homo Sapiens (200.000 a.C.),

contemporâneos do mamute. O homem aprende a

fazer uso do fogo, garantindo protecção para o frio e

possibilitando cozinhar alimentos. É nesta altura que se dá a transformação gradual para uma comunidade

de tipo mais avançada em que a estrutura dos padrões de vida começam a mudar. O homem passa a

habitar em cavernas e desenvolve indústrias de talha de pedra ou do calhau troncado. Esta indústria era

representada por unifaces (2) e bifaces (3) (4) trabalhadas em calhaus. Estes instrumentos eram utilizados

como armas de caça ou de combate.

No final do Paleolítico Inferior e no Mesolítico, o Homo Sapiens moderno vivia dos produtos da caça ou

pesca, utilizando o arpão dentado (5) talhado a

primor nos ossos de rena. Usa igualmente

pequenos utensílios de pedra (micrólitos) talhados

por compressão.

No Neolítico, o homem adopta novas técnicas que

consistem em variantes polidas da talha de

pequenos instrumentos de pedra (Fig. I-2-3).

Improvisa-se assim uma acha (1) ligando uma

pedra bruta à extremidade de um pau, por meio de

resinas ou tiras de pele, o punhal (2), uma ponta de

lança (3) ou de flecha (4).

Os pesados troncos de árvores inspiram também o

homem primitivo no fabrico da clava (6).

Por esta altura aparecem as primeiras armas

Fig. I-2-1

1 2 3 4

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 12

defensivas que não eram mais do que escudos feitos da pele dos animais e conchas de tartaruga, que

serviam de protecção contra as armas de mão.

O Neolítico ou período da Pedra Polida encerra com o início da utilização dos metais pelo homem. O

primeiro a ser empregue foi o cobre, estima-se que por volta de 9000 a.C. A elevada ductilidade e

maleabilidade deste metal, bem como a sua rápida oxidação, tornam-no menos próprio para ser empregue

em armas na sua forma pura. Ainda assim, foram

elaborados na China e na Europa machados de cobre

fundido (Fig. I-2-3) (1), usados como utensílios

contundentes. Com a adição de pequenas quantidades de

arsénico ao processo de fusão, conseguiu reduzir-se a

oxidação bem como aumentar a sua dureza, o que

permitiu fabricar algumas armas de corte e gume, como

por exemplo adagas ou pontas de lança (2).

2. IDADE DO BRONZE (de 2000 até 1000 a.C.)

Por esta altura introduz-se a metalurgia do bronze (ligas de cobre e estanho) que transmite

à arma uma maior dureza. Aparece então a ponta de lança (Fig. I-2-2) (7). Surge a espada

com lâmina e punho em cruz. Com o emergir do povo sumério, na actual Baixa

Mesopotâmia, aparecem os carros de guerra puxados por animais. As suas tropas

marchavam em fileiras de seis homens, armados com machados, lanças, dardos (Fig. I-2-4)

(1) e azagaias (2). Usavam capacete e capa de couro (armadura primitiva).

Em 1826 a.C., os hititas conduziram com grande mestria o carro ligeiro do cimo do qual

utilizavam o arco. Esta arma permitia bater as tropas inimigas às longas distâncias,

principalmente as que se apresentavam montadas.

3. IDADE DO FERRO (1000 a.C. a 476 d.C.)

Neste período o armamento de ferro sobrepôs-se ao de bronze. Combatia-se espada contra

espada, escudo contra escudo, punhal contra punhal. Exemplos disto são as cimitarras (Fig.

I-2-5), posteriormente usadas pelos turcos. Às longas distâncias continuava-se a combater

com o arco e com uma nova arma, a funda (tira de couro com que se arremessavam pedras).

Neste período sobressaíram pelo seu poder os romanos. A par dos gregos, introduziram as

grevas (que se destinava a proteger os joelhos e as pernas) e a lorica, protecção do tronco

feita de couro sobre o qual assentavam lâminas metálicas. Os romanos tornaram-se

especialistas na táctica do cerco. Utilizavam torres móveis com aríetes na base e archeiros no

cimo. Deram um grande incremento à área das fortificações.

4. IDADE MÉDIA (476 a 1453)

No século IV, os romanos, os gregos e os chineses conheciam composições químicas que se

assemelhavam à pólvora de guerra, a mais célebre delas conhecida como o “fogo grego”.

No século V, o exército bizantino introduz a adaga.

No século VIII e IX foram aparecendo outras armas de mão tais como (Fig. 6), as maças (1) as achas (2) e

os açoites (3).

Fig. I-2-3

Fig. I-2-5

1 2

1

2

2 2

2 1

Fig. I-2-4

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 13

Fig. I-2-6

Para fazer face ao desenvolvimento das armas de mão, apareceu no século IX a “cota de armas”. Era uma

túnica com pequenas tiras quadradas de couro, ligadas umas às outras por anéis metálicos, que o soldado

vestia para se proteger.

Com vista a associar o poder de choque à penetração com o objectivo de atravessar as armaduras surge no

século X a maça de armas eriçada (4 e 5), o escorpião (6) e o chicote de armas (7).

A “cota de armas” foi sendo aperfeiçoada dando origem no século XIII à cota de malha ou loriga em que

os anéis de ferro se sobrepunham em fileiras, à túnica que os suportava.

Por esta altura a Cavalaria, cujo cavaleiro e montada se encontravam

protegidos respectivamente, pelas armaduras e arnês, dominavam os campos

de batalha.

Só o aperfeiçoamento do arco (Fig. I-2-7), (que nas mãos dos archeiros

ingleses conseguiam uma precisão e alcance de 400 m) e o aparecimento no

Séc. XIV de armas de haste como (Fig. I-2-8) a alabarda (1), a partazana (2),

o roncão (3), o falcão (4), o esporão (5), o forcado (6) e, principalmente, o

pique (7), fizeram com que a Cavalaria deixasse de ter o poder que possuía

outrora.

A autoria do invento da pólvora de guerra é incerta. Numa epístola datada de

1248, o monge inglês Roger Bacon, refere com

precisão a sua composição, recomendando o seu uso

militar e como explosivo. Outros historiadores

referem o monge alemão Bertoldo Schwarz, na cidade

de Friburgo, que terá sido contemporâneo de Bacon,

embora haja disso muitas dúvidas11

. Outros ainda

atribuem aos chineses a invenção de uma composição

usado em engenhos pirotécnicos, trazida para o

ocidente por mercadores persas, onde os árabes terão

refinado a fórmula da sua composição.

11

Outros ainda referem o monge grego Marcus Graecus, que viveu no séc. IX, sendo eventual fonte de Bacon, o frade

hispânico Ferrarius e o bispo Albertus Magnus de Ratisbona, ambos do século XIII (Smith, W.H.B. e Smith, Joseph,

1948).

Fig. I-2-7

Fig. I-2-8

Fig. 3

1 2 3 4 5 6 7

6 7 1 2 3 4 5

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 14

Também se desconhece com precisão onde e quando foram inventadas as primeiras armas de fogo.

Consoante as perspectivas dos historiadores, terão surgido em meados ou finais do século XIII, nas

regiões germânicas da actual Alemanha e Suíça ou ainda da Península Itálica. Outros referem que terão

sido os árabes a introduzi-las em batalhas travadas na mesma época na Península Ibérica. De concreto

sabe-se apenas foram utilizadas pela primeira vez, durante o cerco de 1334 da cidade-estado de

Meersburgo (hoje na província alemã de Bade-Vurtemberga), pelos defensores, sob partido do bispo

Nicolau I de Constança. Este facto dá força à alegação de que terá sido efectivamente Schwartz a

conceber a arma de fogo, dada a proximidade das cidades de Friburgo e Meerburgo. Também na Guerra

dos 100 Anos, foram pelos ingleses estreadas na batalha de Crécy em 1346, contra os franceses.

Consistiam em simples tubos de ferro, cujo peso variava entre 20 a 30 kg, manejados por 2 ou 3 homens.

Nesta batalha deu-se a derrota da mais famosa cavalaria da Europa, devido em grande parte à actuação

dos archeiros ingleses.

As primeiras armas de fogo, bombardas, colubrinas, serpentinas e escopetas eram de fabrico algo

imperfeito e rudimentar, mercê das incipientes técnicas de metalurgia da altura, bem como do

desconhecimento da ciência balística.

A bombarda (Fig. I-2-9) (1), usada para tiro curvo,

não era mais que uma tosca peça de chapa de aço

forjada em forma de tubo e reforçada com cintas de

metal que podia ou não ser montada sobre um reparo

rodado.

A colubrina (Fig. I-2-9) (2), para executar tiro mais

tenso, era de menor calibre e podia ser carregada

pela culatra por intermédio de uma cavilheta que se

ajustava à pressão por intermédio de uma cunha. No

entanto as dificuldades de ajustamento das diferentes

peças levam esse equipamento ao fracasso. Mais tarde, os portugueses e as repúblicas italianas retomaram

esta concepção de retrocarga, muito vantajosa para remuniciar as bocas de fogo dos navios (pedreiros,

falconetes, etc.).

No final deste século o arco tinha-se tornado moroso

na preparação do tiro. Surge então a besta (Fig. I-2-

10) (1) e a arbaleta (2) que possibilitava o tiro

imediato, estando permanentemente armadas.

Posteriormente apareceu o arcabuz (3) com um

hastil maior,

formando

uma espécie

de cano.

Ainda em

finais do

séc. XIV, apareceram as primeiras armas de fogo portáteis,

conhecidas por canhões de mão ou pequenas bombardas (Fig.

I-2-11).

Fig. I-2-9

Fig. I-2-10

Fig. I-2-12

Fig. 8

1

2

1 2

3

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 15

Às bombardas que se apoiavam numa forquilha fixada no arção da

sela e que se encostavam ao peito para disparar, foi dado o nome

de petrinal (Fig. I-2-12).

Inicialmente, a deflagração da pólvora fazia-se, comunicando o

fogo à pólvora que saía por um orifício chamado ouvido existente

na extremidade posterior da geratriz superior do cano, por meio de

um ferro incandescente chamado bota-fogo ou de uma mecha que

tinha o nome de vela.

Posteriormente, e para garantir a inflamação da pólvora criou-se à

volta do ouvido uma concha chamada caçoleta, onde se deitava

uma pequena porção de pólvora chamada escorva, que inflamava,

comunicando o fogo à carga interior, através do ouvido.

No final do séc. XIV fez o seu aparecimento o arcabuz

(Fig. I-2-13), nome que lhe foi dado devido à semelhança

com o arcabuz –

arma de projecção de

tiro – de que já

falámos, e como este,

provido de coronha,

que apresentava a

novidade do ouvido e

da caçoleta estarem

colocados à direita do cano para não prejudicarem a pontaria.

Posteriormente, adaptou-se uma tampa à caçoleta para evitar que a

escorva se molhasse com a chuva e a vela foi substituída pelo

morrão que não era mais do que uma corda de estopa que ardia

sem chama e era transportada enrolada ao braço direito do

arcabuzeiro.

O grande desenvolvimento das armas de mão, fez aumentar ainda

mais a protecção da cavalaria.

Assim, no início do século XV, a cota de malha dá lugar à

armadura metálica (Fig. I-2-14) em que os anéis de cota foram

substituídos por escamas de metal sobrepostas. O cavaleiro pesava

agora, desde o elmo até aos sapatos de ferro cerca de 150 kg.

Ainda no início do século XV inventou-se o porta-mecha que

permitia ao atirador, disparar sem tirar a mão direita da arma.

O porta-mecha, a que foi dado o nome fecho de

serpentina (início do século XVI) (Fig. I-2-15),

constava de uma peça chamada serpe (1), que

transportava o morrão, mantida por meio duma

mola sempre afastada da caçoleta (3). Quando se

exercia pressão no gatilho (2), baixava

rapidamente e ia inflamar a escorva alojada

naquela. Com o invento da serpentina, foi

Fig. I-2-11

Fig. I-2-14

Fig. I-2-13

Fig. I-2-15

3

1

2

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 16

possível o petrinal passar a dispor de uma coronha

curva, isto é, foi possível passar a empunhá-lo, tomando

o nome de pistola (Fig. I-2-16) (1).

A presença do arcabuz reorganiza o emprego dos

exércitos em combate adaptando quatro tipos básicos de

soldados apeados: o alabardeiro, equipado com

alabarda; o piqueiro, equipado com pique; o

arcabuzeiro, equipado com arcabuz; o lansquenete – Equipado com espadão (espada de duas mãos).

Caminhava-se a passos largos para a Idade Moderna. A tomada de Constantinopla pelos turcos (1453)

marca, de facto, o fim da Idade Média e o fim da capacidade inventiva das armas de mão.

5. IDADE MODERNA (1453 a 1789)

Em 1498 Gaspar Zöllner inventa as primeiras estrias que eram rectilíneas e paralelas ao eixo do cano.

Esta invenção, porém não se chega a generalizar devido à falta de justeza do projéctil, que se deformava

devido às pancadas recebidas para entrar nas estrias.

No início do século XVI, os espanhóis, seguidos depois por outras nações, adoptam o mosquete (Fig. I-2-

16) (2), uma arma maior, mais pesada e mais potente que o arcabuz, disparando um projéctil maior e mais

eficaz contras as igualmente mais pesadas couraças das tropas inimigas.

Nas armas de fogo primitivas, o projéctil tinha um diâmetro muito inferior ao do cano para ser possível a

execução do tiro com a arma incrustada de resíduos de pólvora. Esta diferença de diâmetro tinha o nome

de vento e era fixada pela condição de se poderem fazer 30 tiros sem ser preciso limpar a arma.

Em 1517, Kiefuss , relojoeiro de Nuremberga, para obviar os inconvenientes dos fechos de serpentina,

inventa os fechos de roda12

(Fig. I-2-17), nos quais substituía o morrão por um pedaço de pirite de ferro

(1) colocado entre as maxilas da serpe, que tomou o nome de cão (2). No fundo da caçoleta (3) apareciam

os dentes de uma roda (4). Com uma chave (5)

que se colocava no eixo (6) da roda, preparava

esta, fazendo-a girar menos de uma volta.

Escorvada a caçoleta, baixava-se o cão à mão

até a pirite tocar os dentes da roda. Quando se

premia o gatilho, a roda soltava-se, girando

contra a pirite produzindo faíscas que

inflamavam a escorva. Este invento dava

possibilidades ao atirador de efectuar um

disparo, em qualquer momento, sem

necessidade de manter uma mecha acesa.

Em 1520, Augustin Kotter, um armeiro de Nuremberga, constrói uma arma com estrias helicoidais que

ao imprimir ao projéctil um movimento de rotação em torno do seu eixo, proporcionava um maior

alcance, penetração e justeza, pela menor resistência sofrida pelo ar ao longo da sua trajectória. Todavia,

o carregamento desta arma é problemático e a mesma só se desenvolverá para competições de tiro local.

Em meados do século XVI, a cavalaria começa a aparecer equipada com armas de fogo mais curtas que

os mosquetes, as clavinas ou carabinas , para poderem ser disparadas e carregadas pelas tropas a cavalo.

As armas continuavam a ser carregadas pela boca sendo chamadas de antecarga.

12

Os historiadores dividem-se quando à autoria deste invento. Para alguns, terá sido inventado por Leonardo da Vinci,

ca 1509. Para outros ainda, terá sido Löffelholz, ca 1505,

Fig. I-2-16

Fig. I-2-17

2

1

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 17

Como era necessário que os projécteis entrassem nas estrias e sendo de calibre inferior ao do cano,

tornava-se por isso necessário, bater-lhes repetidas vezes com a vareta, para que entrassem nas estrias.

Para evitar a sua deformação protegiam-se com sarja, couro ou qualquer pano ensebado. A este projéctil

deu-se o nome de calepim.

No início do século XVII apareceram os fechos de sílex ou pederneira. Embora não fossem mais

eficazes que os fechos de mola, estes eram de fabricação mais complexa e onerosa, além de demorar

muito tempo a armar a mola da roda, pelo que aqueles se tornaram mais difundidos.

Compunha-se o fecho de sílex de duas peças principais (Fig. I-2-18): o cão (1) e o fuzil (2), peça

inteiramente nova que deu o nome às armas que adoptaram este sistema.

O cão retinha entre os dentes (3) e (4) a

pederneira (5) envolvida num pedaço de

chumbo ou couro para melhor poder ser

apertada pelo parafuso (6). Pressionando o

gatilho (7), o armador (8) libertava-se do

entalhe da noz (9) que por acção da mola

(10) rodava e com ele rodava o cão. Este

feria o fuzil (2) dando-se a faísca ao mesmo

tempo que a caçoleta (11) era aberta pelo

levantamento do fuzil.

Em finais do século XVII aparece a

baioneta, supõe-se que usada pelos

contrabandistas gascões, para carregar os

espanhóis, perto de Bayonne, atando as navalhas nas bocas dos seus mosquetes.

Posteriormente evoluiu-se para a baioneta primitiva (Fig. I-2-19) que não era mais

que uma espada-baioneta (1) com um cabo de madeira que era introduzido no cano

da arma impedindo-a de fazer fogo.

Para contornar este inconveniente, em 1703, Vauban um engenheiro francês

inventou a baioneta de alvado (2) que dispunha de uma manga para adaptação ao

cano, invenção essa que provocou o desaparecimento dos piqueiros em todos os

Exércitos.

Esta baioneta de menores dimensões permitia que a arma pudesse fazer fogo

enquanto se utilizava a baioneta.

Do sabre-baioneta resultou o punhal-baioneta (3) por diminuição do seu peso e

comprimento.

Nas armas actuais, a ligação faz-se por

meio do grampo existente na parte

posterior do cano e por um fecho

existente no sabre-baioneta.

No início do século XIX aparecem as

pólvoras fulminantes e o fecho de

percussão (Fig. I-2-20). O cão foi

substituído por uma só peça que

funcionava como martelo (1), sendo o

fuzil, a mola e a caçoleta substituídos

Fig. I-2-18

Fig. I-2-19

Fig. I-2-20

2 3 1

5

3

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 18

por uma peça chamada chaminé (2), furada interiormente, a qual enroscava noutra peça chamada

borracha (5), igualmente furada interiormente, a qual, por sua vez, se enroscava no ouvido da espingarda.

A cápsula fulminante (2) colocava-se na parte superior da chaminé e era detonado ao receber a pancada

do cão, após acção do gatilho (4) sobre o armador, indo a sua chama, através da chaminé e da borracha,

inflamar a carga.

Embora a maioria das armas de percussão fosse de antecarga, já nessa altura havia armas de retrocarga

com fecho de percussão.

6. IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 até à actualidade)

Estava-se em plena Guerra Napoleónica (1796-1815) e o fecho de sílex ainda se encontrava

bastante generalizado. Por esta altura também começou a generalizar-se o uso de canos

estriados. Mas só em 1826, ficou minimamente resolvido o problema de travar o projéctil

nas estrias, ou seja, fazer com que o projéctil entrasse nas estrias, reduzindo o vento e

adquirindo o movimento de rotação.

Foi Delvigne , que apresentou uma solução em 1826, aumentando a rapidez de

carregamento, pela adopção do sistema de travamento por compressão (Fig. I-2-21). O

cano terminava numa câmara de calibre inferior ao da alma. Depois de lançada a pólvora

na câmara, introduzia-se a bala que era travada por sucessivas pancadas com a vareta, de que resultava

um aumento da sua secção transversal e deformação da curvatura da sua superfície superior.

A deformação assim sofrida pelo projéctil tinha como consequência o aumento da resistência do ar e o

deslocamento do seu centro de gravidade, ao mesmo tempo que se prejudicava a sua velocidade com o

calcamento da carga, que era reduzida a polverim.

Em 1831, o Capitão Berner de Brunswick, aperfeiçoou uma carabina

com alma sulcada por duas estrias em forma de espiral, quase ovais (Fig.

I-2-22) (1), em que se introduzia um projéctil esférico, dotado de uma

cintura e um alongamento na parte de maior diâmetro (2). O projéctil era

introduzido com apoio de um pano oleado não sendo necessário o

atacamento. O projéctil teve aplicação em algumas armas inglesas,

alemãs e russas.

Em 1836, o coronel francês Pontcharra, aperfeiçoou o sistema de Delvigne,

fixando o projéctil esférico a um taco de madeira (Fig. I-2-23), com cerca de 11

mm de espessura, com a parte anterior semi-esférica e a

posterior lisa (para apoio no escalão). Este processo

permitia a dilatação do projéctil, mas a pólvora na câmara

não era comprimida. O resultado era um tiro mais preciso

porque era mais difícil que o projéctil se dilatasse

irregularmente durante o carregamento.

Delvigne em 1841 propõe a adopção do projéctil cilíndrico-ogival, conhecido pelo

nome de projéctil primitivo (Fig. I-2-24) que dispunha de uma canelura onde se

introduzia um fio ensebado para lubrificar o cano.

O capitão do exército francês, Tamisier, demonstrou em 1842 a importância da canelura do projéctil de

Delvigne, mostrando que essa gola, colocada na parte posterior do projéctil, servia para o projéctil manter

o seu eixo longitudinal segundo a linha de trajectória. Verificava-se que qualquer afastamento do eixo

Fig. I-2-21

Fig. I-2-22

Fig. I-2-23

Fig. I-2-24

1 2

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 19

segundo a direcção tangente à trajectória, era compensando pela resistência do ar sobre a canelura,

obrigando-o a voltar à posição primitiva.

Em 1842 surgiu o travamento ―Thouvenin‖ (Fig. I-2-25), em que a câmara da arma tinha um diâmetro

igual ao do cano, mas dispunha a meio duma haste aparafusada ao fundo da

culatra, em torno da qual se colocava a carga. O travamento continuava a executar-

se por pancada da vareta.

A aplicação do projéctil primitivo levou Thouvenin a utilizar uma vareta especial

cuja a cabeça tinha uma cavidade igual à ogiva do projéctil, alargando o projéctil

sem lhe roubar a forma original. O travamento feito pela vareta, as incrustações

entre a haste e o cano, a dificuldade e morosidade na limpeza, os acessórios

especiais que carecia e a deterioração da haste, tudo isto não obstou que grande

parte das nações Europeias adoptassem esse sistema.

Em 1849, para evitar os inconvenientes da

deformação do projéctil, o capitão francês Claude

Minié propõe a adopção de um projéctil de calibre

inferior ao da arma e que na parte inferior tinha uma cavidade tronco-

cónica na qual se alojava um taco de ferro (Fig. I-2-26).

Em 1854, por se ter mostrado de difícil fabrico foi suprimido o taco ficando

apenas a cavidade, onde os gases resultantes da explosão exerciam acção,

comprimindo as paredes do projéctil contra o cano.

As armas que utilizavam este projéctil ficaram conhecidas pelo nome de carabinas Minié e este sistema

de travamento pelo nome de travamento por expansão.

Em 1851, o britânico Wilkinson, obteve o travamento só pela inércia, em que

o projéctil se opõe à acção dos gases. O projéctil (Fig. I-2-27) (1) tinha duas

profundas caneluras circulares, de secção tal que, sob a pressão dos gases, a

parte posterior do projéctil avança, comprimindo a parte anterior, que em

virtude da inércia, se mantém imóvel o suficiente para se produzir a dilatação

do projéctil que entrava assim nas estrias. Em 1855, o capitão austríaco Lorenz

associa-se a Wilkinson, para patentear uma espingarda que utilizará a munição deste, mas algo

modificada (2). A espingarda irá equipar o exército da Áustria.

Entretanto, Johann Nikolaus

von Dreyse patenteia uma arma,

cujo carregamento era feito pela

culatra e empregava um cartucho

completo (Fig. I-2-28), ou seja,

continha carga (2), bala (4) e

escorva (3) num invólucro de

papel (5). Essa arma é adoptada

em 1841 pelo exército prussiano,

com o nome de espingarda de agulha Dreyse, por causa do seu percutor com forma de agulha (1). Apesar

do seu excessivo peso, deficiente equilíbrio e constante fractura do percutor que destemperava

rapidamente ao ser sujeito a sucessivas explosões da carga propulsora, a Dreyse irá tornar obsoletas as

espingardas e carabinas de antecarga, conforme se constataria nas guerras austro-prussiana (1860-1864) e

franco-prussiana (1870-1871).

Fig. I-2-25

Fig. I-2-26

(Fig. I-2-27)

Fig. I-2-28

1 2 3 4 5

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 20

Em 1860 generalizaram-se as armas de retrocarga ou carregamento pela culatra, usando-se o cartucho

com invólucro combustível o que permitia que o atirador conseguisse disparar deitado.

Esta generalização permitiu a evolução para o travamento do projéctil nas estrias por via

do forçamento por ductilidade , obtido através do emprego de um projéctil de diâmetro

superior ao da alma do cano, feito de metal mais dúctil e maleável (Fig. I-2-29) que o

deste. Este tipo de travamento ainda é o que hoje se emprega.

Todavia, esta generalização das armas de retrocarga veio trazer um problema, que era o de

evitar a fuga de gases para a retaguarda. Foram utilizados quatro processos para se

conseguir a obturação:

a. Por Justaposição

É o mais antigo. Consiste na justaposição de duas superfícies, uma existente na entrada

da câmara, outra na culatra, cujo

ajustamento provocava a obturação. Essas

superfícies eram em geral tronco-cónicas ,

como no caso da espingarda Dreyse de

1841 (Fig. I-2-30) para que os gases, ao

dar-se a explosão, as obrigassem a apertar

uma de encontro à outra. Era um sistema

imperfeito por nunca ser possível um

contacto íntimo entre as superfícies.

b. Por Dilatação-Compressão

Consistia no emprego de uma peça - obturador, ligado à cabeça da culatra que quando esta se fecha,

fica comprimida entre ela e a câmara. Ao dar-se o tiro, a pressão dos gases aumenta a compressão

dessa peça que dilatando-se, produz a obturação.

Na arma Chassepot M/886 (Fig. I-2-31) os

gases (1) actuam directamente sobre um

cilindro metálico (2) ligado à cabeça da

culatra que vai comprimir um anel de cauchu

(3) que o envolve contra a superfície interna

da câmara (4), dilatando-o e por isso

provocando a obturação.

c. Por Dilatação-Expansão

Começou a ser empregue na década de 1860, quando se generalizaram as armas de retrocarga com

cartuchos totalmente metálicos.

Consiste no emprego do cartucho que ao dar-se o tiro, se expande em todos os sentidos e se ajusta à

superfície da câmara, retomando depois a sua forma primitiva devido a elasticidade do metal.

Empregam-se invólucros de latão (liga de cobre e zinco) flexíveis para permitir a referida expansão

sob pressão, mas suficientemente robustos para permanecer intactos perante as pressões máximas

desenvolvidas.

É o processo mais perfeito por permitir uma obturação completa e o que é hoje universalmente

adoptado.

d. Por Sistema-Misto (justaposição e dilatação-compressão).

É uma combinação dos dois sistemas anteriores. Foi utilizado em poucas armas, mais propriamente

nas armas de obturação por justaposição, entretanto transformadas, como foi o caso da espingarda

Fig. I-2-29

Fig. I-2-30

Fig. I-2-31

1 2 3 4

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 21

transformada Dreyse mod. 1870, como forma de tentar resolver as deficiências de obturação das

mesmas.

Com a adopção das armas de retrocarga e do cartucho completo, o carregamento foi simplificado

resumindo-se a três tempos:

- Abrir culatra;

- Introduzir o cartucho na câmara;

- Fechar culatra.

Entretanto, nos Estados Unidos da América em 1860, são registadas as patentes das duas primeiras armas

de repetição a ser fabricadas com grande êxito: a carabina Spencer, com um depósito tubular amovível

introduzido na coronha, e a carabina Henry (mais tarde Winchester), com um depósito tubular no fuste.

A sangrenta guerra civil que se seguiu, permitiu que estas duas armas equipassem grandes unidades do

Exército Unionista, evidenciando a sua grande superioridade face às armas de tiro simples e em especial

as de antecarga. Os militares do Exército Confederado referiam-se a elas como “as armas de se carregam

ao domingo e se disparam durante toda a semana”.

Em 1862, Richard Gatling patenteia uma arma de 6 canos rotativos

por acção de uma manivela, cujas câmaras são sucessivamente

alimentadas a partir de carregadores verticais, por acção da gravidade.

Com uma incrível cadência de 200 tiros por minuto, esta arma

materializaria um passo importante na evolução das metralhadoras,

apesar de não ser ainda uma arma automática.

Em 1866, o coronel Hiram Berdan nos Estados Unidos patenteia um

cartucho totalmente metálico de percussão central. Paralelamente, o

coronel Edward Boxer na Grã-Bertanha patenteia, no mesmo ano, um

cartucho análogo (Fig. I-2-32). Estes cartuchos resolvem os anteriores

problemas havidos com os sistemas de obturação e de percussão,

conferindo um grande impulso ao desenvolvimento das armas de fogo.

Em 1870 generalizou-se o uso do cartucho completo metálico, das armas de retrocarga e das armas de

repetição. É a época dos grandes calibres:

- Espingarda Dreyse (transformada) 15,43 mm (Prussiana)

- Espingarda Gras Mod. 1874 11 mm (Francesa)

- Espingarda Carcano (transformada) 17,5 mm (Italiana)

- Espingarda Springfield Mod. 1873 11,6 mm (Americana)

- Carabina Winchester 1873 10,8 mm (Americana)

- Espingarda Mauser Mod. 71 11 mm (Prussiana)

- Espingarda Martini-Henry 11,6 mm (Britânica)

Em 1884 o francês Paul Vieille inventa uma pólvora sem fumo, a pólvora B. Este invento

é logo aplicado à nova arma francesa, a espingarda Lebel 8 mm M1886, evitando

denunciar a posição do atirador e melhorando a pontaria nos disparos sucessivos. Em 1887

em Paris, Alfred Nobel inventa a balistite , Em 1889 na Grã-Bretanha, Frederick Abel e

James Dewar patenteiam a cordite (Fig. I-2-33). Entrava-se na era das pólvoras sem

fumo, que tornaram a pólvora negra rapidamente obsoleta. Em Portugal, o capitão

Correia Barreto inventa igualmente uma pólvora sem fumo, patenteada com o seu nome,

Fig. I-2-32

(Fig. I-2-33)

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 22

de elevada qualidade, permitindo acabar com a dependência da pólvora de Nobel, bem mais onerosa para

o país.

Entretanto, em 1883 Hiram Maxim desenvolve a sua metralhadora

Maxim (Fig. I-2-34) de calibre 7,7 mm e uma cadência de 600 tiros por

minuto, que é a primeira arma a

resolver o problema balístico do

automatismo, utilizando um

sistema de alavancas articuladas

para travar e destravar a culatra.

Em 1884 Maxim desenvolve

igualmente uma espingarda

semi-automática, a partir de uma Winchester alterada (Fig. I-2-

35), embora a mesma não chegue a ser produzida.

Em 1893, Hugo Borchardt, na Alemanha, patenteou a

C-93 (Fig. I-2-36), a primeira pistola semi-automática

de produção industrial, baseada no sistema de

alavancas articuladas da metralhadora Maxim.

Nesta mesma década de 1890, são introduzidas,

consecutivamente, três inovações que irão conduzir às

modernas e ainda

actuais munições das armas de fogo estriadas: os projécteis

encamisados , mais resistentes ao atrito no cano, os projécteis

pontiagudos, com maior poder vulnerante, e os projécteis bi-ogivais

(Fig. I-2-37) com trajectórias mais justas, estes também conhecidos por

projécteis de “cauda de barco”. As evidentes melhorias balísticas em

termos de alcance, justeza e poder vulnerante, fazem aumentar

drasticamente a letalidade das armas de fogo ligeiras.

A partir de 1900 começa o grande desenvolvimento das armas

automáticas e semi-automáticas que se estendeu até aos nossos dias e que

em capítulo próprio estudaremos.

Fig. I-2-35

Fig. I-2-34

Fig. I-2-36

Fig. I-2-37

camisa

núcleo

ogiva

anterior

“cauda de

barco”

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 23

CAPÍTULO 3

CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DAS ARMAS DE MÃO

Sendo as armas de mão destinadas à luta a pequenas distâncias, ao corpo a corpo, aproveitam a própria força

do combatente para a produção do efeito desejado.

A sua eficácia obedece às seguintes condições: potência de choque e penetração, facilidade de manejo,

resistência e raio de acção.

1. GRANDE POTÊNCIA DE CHOQUE OU DE PENETRAÇÃO

Depende do produto e será tanto maior quanto mais pesada for a

arma (m) e maior for a velocidade (v) de que vai animada no momento do

choque.

Contudo, sendo a arma manejada pelo homem cuja força muscular é

limitada, fácil é constatar que os valores de m e v terão que ser igualmente

limitados.

A energia de choque terá o seu valor máximo quando o centro de gravidade

da arma passar pela direcção de resistência que o meio chocado opõe.

Existe então a necessidade de afastar o punho do centro de gravidade da

arma, o que contraria a facilidade de manejo.

Só nas armas que actuam rodando em torno de uma das extremidades, como

as de choque e algumas de corte, pode ser aumentado o comprimento por forma a aumentar o raio de

rotação (Fig. I-3-1).

2. FACILIDADE DE MANEJO

A arma deve ter forma e peso adequado ao seu emprego, com o centro de gravidade próximo do punho,

sem contrariar, no entanto, o poder de choque ou de penetração.

3. GRANDE RESISTÊNCIA

A resistência da arma depende, além da sua forma e dimensões, também do grau de dureza, tenacidade e

elasticidade do material de que é feita.

Determinadas formas bem como dimensões maiores concorrem para o aumento da resistência, reduzindo,

todavia, a manejabilidade desejada para a arma.

O material não deve ser excessivamente duro porque a dureza excessiva é causa de fragilidade. Também

não deve ser demasiado tenaz porque uma grande tenacidade facilita deformações permanentes.

Convém, igualmente, que a arma tenha uma grande elasticidade porque só assim a arma terá uma maior

resistência, para além de uma superior capacidade de manejo.

4. MÁXIMO RAIO DE ACÇÃO

O raio de acção deve ser o maior possível sem contrariar a facilidade de manejo.

Não sendo possível obter uma arma que satisfaça plenamente todas estas condições que se contrariam

entre si, a construção de qualquer arma obriga a um estudo cuidadoso e metódico, atento ao fim a que

aquela se destina.

Fig.

I-3-1

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Direcção – aprox. 45º

Direcção – aprox. 15º

Vejamos como se conciliam estas condições, de forma a obter delas o máximo efeito.

a. Armas contundentes ou de choque

O efeito da destruição obtém-se pela potência do choque .

Assim os valores da massa (m) e velocidade (v) são obtidos dando à arma o

máximo peso e comprimento (que aumenta o seu raio de rotação e

consequentemente a velocidade), desde que compatíveis com a facilidade de

manejo.

Por sua vez, adelgaçando o extremo em que se segura e engrossando o outro,

obtém-se maior energia de choque pela aproximação do centro de gravidade da

arma com o ponto chocado (Fig. I-3-2).

b. Armas de corte ou de gume

Como se disse, estas armas actuam pela

cutilada e o efeito que se pretende obter é o de

penetração e não o de esmagamento.

Para uma mesma força, a penetração será

tanto maior quanto menor for o ângulo de

cunha (Fig. I-3-3). No entanto, compreende-se

facilmente que a diminuição desse ângulo não

pode ir além de um certo limite, variável com

a resistência da arma, sem perigo desta ser

facilmente destruída.

O efeito da penetração depende ainda da

direcção em que se dá o golpe, sendo

preferível que a lâmina em vez de actuar perpendicularmente

às fibras do corpo, que neste caso aumentam a resistência à

penetração por se apoiarem umas nas

outras, actue obliquamente, pois

desta maneira as mesmas fibras são

atacadas sucessivamente umas após

outras. Além disso o ângulo de cunha

é, deste modo, diminuído e será tanto

mais agudo quanto mais oblíquo for o golpe (Fig. I-3-4).

De igual forma e para que uma arma com lâmina recta produza o máximo de

penetração no corte, é necessário incliná-la em relação ao antebraço, de modo

que encontre obliquamente o objecto a cortar. Sendo dif ícil essa operação dá-

se uma curvatura à lâmina facilitando a acção de corte, como se verifica no

caso de armas como o sabre ou a cimitarra (Fig. I-3-5).

c. Armas de estocada e de ponta

Como se disse, estas armas actuam somente pela ponta, o que permite

aumentar o efeito de penetração.

A arma deve ser recta e a bissectriz do ângulo de ponta deve coincidir com o eixo do punho a fim de

que toda a força exercida pelo combatente, seja utilizada.

As pontas mais usuais são (Fig. I-3-6):

Fig. I-3-2

Fig. I-3-3

Fig. I-3-4

Fig. I-3-5

Fig. 1

P Corte

R Rasgamento

R

P F 2

Cota da Lâmina

Gume da Lâmina

Ângulo Cunha Folha

F 1

F

I - 24

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

(1) Ponta de florete ou de estoque [1], sendo a mais própria para a

penetração, é contudo a mais fraca.

(2) Ponta de bisel ou de pico [2], com o inconveniente de apresentar

uma mudança brusca à penetração, mas sendo bem resistente.

(3) Ponta de língua de carpa [3], de todas a melhor porque, sendo a

mais sólida, dá uma penetração suficiente

d. Armas de Gume e Ponta

Caracterizam-se, como se disse, pela combinação das propriedades das armas da

corte com as de estocada e fundamentalmente, pela possibilidade de colocação do

dedo indicador para alem da guarda.

As armas mais tradicionais e antigas, de guarda recta, quando empunhadas

possibilitam uma variação de 90º (Fig. I-3-7) a 130º (Fig. I-3-8) em relação ao

antebraço, o que permite que 90% da

força se exerça na cutilada e apenas

10% na estocada. As espadas do início da Renascença são

caracterizadas pela existência de guardas em forma de

“pergaminho” a que chamamos copo, permitindo que o

polegar e parte da mão actuem ao longo do punho, para

alem do eixo de actuação da anterior guarda recta. O dedo

indicador é colocado numa anel á frente da guarda,

permitindo uma amplitude maior, até cerca de 160º (Fig. I-3-9). Nestas condições a força empregue

pode então dividir-se igualmente entre a cutilada e a estocada.

Nestas armas, a espessura da lâmina deve

diminuir do punho para a ponta, o que

facilita a esgrima pelo facto do centro de

gravidade da arma se aproximar do punho,

mas não tanto que a potência de choque da

cutilada fique muito reduzida.

Fig. I-3-6

Fig. I-3-7

Fig. I-3-8

Fig. I-3-9

1

2

3

I - 25

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

I - 26

CAPÍTULO 4

CONDIÇÕES A QUE DEVEM OBEDECER AS ARMAS DE FOGO

Antes de entrarmos neste estudo vamos apresentar algumas definições indispensáveis para melhor se

compreender o desenvolvimento da matéria.

Alcance Útil: É o alcance permitido pelas possibilidades técnicas da arma, em geral traduzido pelo

máximo alcance do aparelho de pontaria. Ex: Esp Aut FAMAS 5,56 mm – 300 m.

Alcance Eficaz: Alcance para além do qual os projécteis já não traduzem efeitos especiais, o que

corresponde a dizer que é aquele para além do qual os projécteis já não fazem ricochete. Ex: Esp Aut

G3 7,62 mm M/63 – 1700 m.

Alcance Máximo: É a máxima distância que o projéctil pode alcançar. Ex: Met Lig MG3 7,62 mm –

4500 m.

Alcance Normal ou Prático: É a distância a que normalmente se faz fogo e que é determinada

exclusivamente por razões de ordem táctica. Ex: Esp Aut G3 7,62 mm M/63 – 200 m.

Trajectória: É a linha curva que o centro de gravidade do projéctil descreve no espaço,

considerando-se mais ou menos tensa, conforme se aproxima mais ou menos da linha recta.

Tensão: É a máxima ordenada da trajectória.

Quanto menor a ordenada maior a tensão da

trajectória.

Zona Perigosa: Extensão de terreno (OB+CD) na

qual um alvo vertical CE, de altura h, é sempre

batido pela mesma trajectória (Fig. I-4-1). A

trajectória é tanto mais tensa quanto maior a velocidade inicial do projéctil.

Poder Vulnerante : Energia mínima que um projéctil deve possuir para colocar um homem fora de

combate. Nas espingardas automáticas actuais é de 8 kg/cm², quando o projéctil chega ao alvo com

uma velocidade restante de 50m/s.

Poder Derrubante : Energia mínima que um projéctil deve possuir para eliminar imediatamente um

homem. Nas armas de defesa actuais a energia é de 30 kg/cm². Com estas armas de defesa pretende-se

não uma grande força de penetração, mas sim, a produção de lesões que eliminem imediatamente um

homem.

A organização de uma arma de fogo depende de muitos e variados factores que por vezes se contrariam mas

que entre os quais tem que existir uma perfeita ligação.

Assim toda arma deve ser:

1. EFICAZ

Diz-se eficaz quando o seu projéctil atinge o adversário e o põe fora de combate, o mais rapidamente

possível, à maior distância possível e com o menor número de munições.

Uma arma, para ser eficaz, deve satisfazer às chamadas CONDIÇÕES DE TIRO. Estas condições

podem ser de carácter balístico ou mecânico.

a. Condições de tiro de carácter balístico

Depende dos elementos que constituem a munição e da organização balística da arma (cano, aparelho

de pontaria e sistemas de apoio).

(1) Potência

Fig. I-4-1

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Exprime-se pela força viva que imprime ao projéctil, isto é, ao produto em que:

m - massa do projéctil

v0 - velocidade inicial à boca do cano

A velocidade inicial tem grande importância pois é dela que depende o alcance , a tensão da

trajectória e a potência do projéctil, traduzida no poder derrubante e poder vulnerante.

A potência depende também da velocidade restante , que é a velocidade do projéctil às

diferentes distâncias.

Embora o alcance não se revista de uma grande importância uma vez que a pontaria é directa, o

mesmo não sucede nas armas colectivas, que podem fazer tiro a grande distância e que fazem

pontaria indirectamente.

(2) Justeza

A justeza de uma arma de fogo depende de duas características concorrentes, a precisão e a

regulação.

(a) Precisão

Uma arma é precisa quando a amplitude de dispersão dos impactos é

pequena, isto é, quando o grupamento de tiro para a mesma posição da

arma é muito denso (Fig. I-4-2).

A precisão de uma arma depende das suas características, principalmente :

1. Traçado interior da câmara e do cano;

2. Estrias;

3. Forma e qualidade do projéctil;

4. Rigor e qualidade do aparelho de pontaria;

5. Alinhamento do aparelho de pontaria.

As armas actuais, devido à excelência da qualidade dos seus constituintes,

atingem uma precisão considerada de tal modo satisfatória, que não há

vantagens em melhorá-la.

(b) Regulação

Uma arma é regulada quando o ponto médio do agrupamento dos impactos

coincide com o centro do alvo (Fig. I-4-3).

A regulação da arma não depende da arma mas sim de condições exteriores

à mesma. Os desvios à regulação mais comuns referem-se à deficiente

instrução do atirador, à sua falta de serenidade, à fadiga, ou a

considerações tácticas como sejam a mobilidade e a visibilidade.

Obviamente, uma arma diz-se justa quando o seu tiro é preciso e regulado (Fig. I-4-4).

(3) Mobilidade de tiro

Consiste na facilidade de mudar rapidamente o tiro de um alvo para o outro, ou seja fazer o

transporte de tiro. Depende do sistema de apoio da arma. Para que haja precisão do tiro é

necessário que o órgão de apoio possua estabilidade.

b. Condições de tiro de carácter mecânico

As condições de tiro de carácter mecânico referem-se à possibilidade do atirador poder efectuar, num

determinado espaço de tempo, um maior ou menor número de tiros sobre o alvo.

Traduzem-se em:

(1) Velocidade de tiro (cadência de tiro)

Fig. I-4-2

Fig. I-4-3

Fig. I-4-4

I - 27

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

Número de tiros que um atirador em condições ideais pode executar num minuto. É expresso em

tiros por minuto (t.p.m.).

(2) Velocidade prática de tiro

Número de tiros que um atirador pode executar num minuto, tendo em consideração as seguintes

limitações práticas:

(a) Trepidação da arma que implica paragem de tiro para correcção de pontaria.

(b) Evitar grande consumo de munições.

(c) Poupar a arma.

(d) Evitar o aquecimento excessivo do cano.

Todas estas limitações fazem com que a velocidade prática de tiro seja inferior à velocidade de

tiro. Contudo as armas actuais atingem uma velocidade prática de tiro considerável. Ex: Esp Aut

Aut GALIL SAR 5,56 mm - 700 t.p.m.

2. UTILIZÁVEL

Uma arma diz-se utilizável quando pode ser facilmente transportada e servida, isto é quando se encontrar

sempre em boas condições de funcionamento, ou seja deve ser simples, manejável e segura. Ao

conjunto destas características dá-se o nome de CONDIÇÕES DE SERVIÇO.

a. Simplicidade

A simplicidade traduz-se na sua fácil manobra e conservação.

(1) Uma arma é de fácil manobra quando as operações a efectuar para a execução do tiro são fáceis e

em número reduzido.

(2) Uma arma é de fácil conservação quando é fácil de armar, desarmar, limpar e substituir peças,

mesmo em combate.

b. Manejabilidade

A manejabilidade consiste no conjunto de requisitos que uma arma de fogo deve obedecer para que

possa ser transportada e empregue com facilidade durante o combate. Para tal deve ter recuo

suportável, coronha utilizável, pesos, dimensões e formas adequadas.

(1) Recuo suportável

Para que uma arma tenha um recuo suportável, face a uma desejada potência balística, recorre-se

à fórmula de Saint Robert.

– velocidade de recuo da arma

– velocidade inicial do projéctil

– peso da carga

– peso do projéctil

– peso da arma

Do estudo desta fórmula verifica-se que o recuo aumenta quando o peso da arma diminui.

Actualmente, no caso das espingardas individuais, para se conseguir uma boa manejabilidade da

arma o recuo não deve ser superior a 3 m/s.

(2) Coronha utilizável

Deve ser leve (presentemente são feitas de ligas de plástico) mas robusta para suportar todo o

recuo da arma.

Deve ter um ângulo de coronha (ângulo formado entre o eixo do cano e o eixo da coronha) entre

4º e 10º.

A energia de recuo é dada pela fórmula:

I - 28

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

– energia de recuo da arma

– velocidade inicial do projéctil

– massa da arma

– ângulo da coronha

(3) Pesos, dimensões e formas adequadas

Uma arma de fogo ligeira deve ser leve sem deixar de ser robusta. Os materiais a empregar na sua

construção devem, pois, ser criteriosamente escolhidos de modo a cumprir este requisito. O uso

de metais densos (aços pobres em carbono, alumínio, magnésio, titânio, etc.) ou prensados, bem

como outros materiais leves mas resistentes, nomeadamente os plásticos, baquelites concorrem

para este fim.

Actualmente, para se conseguir uma boa manejabilidade da arma, o peso não deve ser superior a

4 kg no caso das espingardas individuais. A maioria das espingardas de calibre 7,62 mm entradas

ao serviço nos anos 1960 cumpriam à risca este requisito, como foi o caso da Esp Aut FN FAL

7,62 mm (4 kg) ou da Esp Aut G3 7,62 mm (3,95 kg). Entretanto, já a Esp Aut AKM 7,62 mm,

versão modernizada de 1958 da famosa AK-47, ultrapassava de longe este desiderato com o seu

peso de 3,1 kg. As espingardas mais modernas, de calibres 5,56 e 5,45 mm, mantendo a desejada

robustez, não ultrapassam os 3,7 kg, o que, aliado ao menor peso das munições destes calibres,

lhes confere elevada manejabilidade, para uma potência balística deliberadamente reduzida, face

ás armas de calibres superiores. Por sua vez, as modernas pistolas não devem ter pesos superiores

a 1 kg, como é o caso das Pist Walther 9 mm M/61 (0,8 kg) e Pist Glock 17 9 mm (0,63 kg).

O peso dos acessórios, como por exemplo, a baioneta, também deve ser obviamente considerado.

As modernas baionetas, do tipo faca ou punhal, não excedem 0,25 m.

Para além do peso, a forma e o comprimento do couce, bem como a facilidade de utilização do

aparelho de pontaria, todos com influência no tiro, terão de ser forçosamente considerados.

Na forma, há igualmente que atender a uma distribuição do peso da arma, com o centro de

gravidade a ficar ligeiramente atrás da alça, pois é aí que a mão do atirador a irá empunhar.

c. Segurança

A segurança inclui todos os requisitos que uma arma de fogo deve possuir para que seja manejada,

sem que o atirador corra qualquer risco.

Deve ser robusta e garantir um bom funcionamento. Por isso depende da qualidade dos materiais

empregues, na fabricação e na facilidade de conservação.

Deve possuir mecanismos de imobilização ou de aviso que minimizem os disparos acidentais ou

fortuitos.

Deve, igualmente ser estanque , factor relevante no campo de batalha moderno.

3. REALIZÁVEL

Uma arma diz-se realizável quando se tornar possível a organizar a sua produção em grande série,

obedecendo a uma série de condições a que se dá o nome de condições de fabrico e que podem incluir:

(1) O fabrico e a montagem fáceis das armas e seus componentes;

(2) A intermutabilidade de peças de armas afins;

(3) O baixo custo e a fácil aquisição das matérias-primas, máquinas ferramentas e tecnologia.

I - 29

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 1

PARTE II

ARMAS DE FOGO ORDINÁRIAS

CAPÍTULO 1

ORGANIZAÇÃO DA ARMA DE FOGO

Os diferentes órgãos de que se compõe uma arma de fogo, podem classificar-se em três grandes grupos:

1. PARTES PRINCIPAIS

Agrupamento de peças destinado a executar uma operação elementar indispensável ao funcionamento da

arma.

2. PEÇAS

Órgãos formados por um só elemento e que reunidos em grupos constituem as partes principais.

3. PORMENORES OU PARTES DE PEÇAS

Particularidade de forma das diferentes peças, indispensáveis não só para a montagem da arma, como

para o seu funcionamento.

4. ORGANIZAÇÂO DA ARMA EM PARTES PRINCIPAIS

A decomposição de uma arma de fogo ordinária nas suas partes principais pode variar conforme o critério

de estudo a efectuar. No entanto, de uma maneira geral, inclui sempre as seguintes partes:

Cano;

Caixa da culatra;

Aparelho de pontaria;

Culatra móvel;

Mecanismos:

De extracção;

De ejecção;

De percussão;

De segurança;

De detenção;

De disparar;

De repetição ou alimentação.

Coronha ou armadura;

Guarnições e acessórios.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 2

CAPÍTULO 2

CANO

1. GENERALIDADES

O cano destina-se a conter o cartucho e a dirigir o projéctil. É sem dúvida, a parte mais importante duma

arma de fogo. Consta de um tubo metálico de espessura, comprimento e calibre convenientes, cujo

interior é formado por duas partes:

- A anterior, designada por alma com forma cilíndrica e de diâmetro constante, na qual estão abertas as

estrias que constitui o espaço a percorrer pelo projéctil;

- A posterior, chamada câmara que serve para alojar o cartucho do qual tem a forma.

Para ligar a câmara à alma existe uma superfície cónica chamada concordância.

Exteriormente tem em geral a forma tronco-cónica, excepto na altura da câmara em que é cilíndrica e com

espessura maior. A esta parte chama-se reforço.

A abertura anterior do cano chama-se boca; a posterior designa-se por entrada da câmara.

A organização interna dos canos tem a mais fundamental importância pois é da sua judiciosa aplicação

aos princípios da balística, que resulta o bom funcionamento da arma. O seu estudo irá incidir sobre:

- o metal;

- a forma externa;

- a forma interna.

2. O METAL

A pressão elevada, produzida pela explosão da carga, obriga ao emprego de um metal cujas moléculas

possuam a coesão suficiente para se oporem com êxito aos abalos provocados, que tendem a deformá-lo

ou mesmo a rompê-lo.

A estes abalos se opõe a coesão, pelo desenvolvimento de tensões entre as moléculas sob a acção da

pressão dos gases e assim quanto maior for o valor da RESISTÊNCIA ELÁSTICA do metal, maior a

pressão que pode suportar.

Podendo as pressões elevar-se de modo anormal, convém para evitar desastres que os canos na pior das

hipóteses se deformam mas não rompam, isto é, o metal empregue deve ter um LIMITE DE ROTURA

muito superior ao LIMITE DE ELASTICIDADE.

À diferença entre estes dois limites chama-se GRAU DE TENACIDADE do metal.

Um bom metal para os canos deve possuir as seguintes características:

- Grande resistência elástica;

- Grande resistência à rotura;

- Elevado grau de tenacidade ;

- Grande resistência à corrosão;

- Grande resistência ao desgaste provocado pelo atrito do projéctil no interior do cano;

- Grande facilidade de laboração e de conservação;

- Baixo custo.

Até meados do século XIX utilizou-se o ferro forjado, mas com a generalidade do estriamento, adoptou-

se o aço fundido e temperado, mais resistente a pressões maiores e ao desgaste do forçamento dos

projécteis nas estrias.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 3

A procura de melhores aços, mais resistentes ao desgaste do forçamento dos projécteis, bem com à

corrosão dos gases, dos resíduos das pólvoras e intempéries.

Hoje, embora se continue a adoptar em alguns casos o aço fundido, este já não corresponde às exigências

balísticas das armas, pelo que empregam aços especiais com níquel, volfrâmio, vanádio, crómio, etc., de

preferência inoxidáveis ou com a superfície interna cromada. Todavia, canos com estas características

aumentam a resistência ao desgaste e à corrosão mas podem perder tenacidade, sendo igualmente mais

caros e difíceis de fabricar.

Pode dizer-se, então que actualmente se empregam preferencialmente aços niquelados na produção da

maioria das armas de fogo ordinárias. Os aços inoxidáveis são empregues mais frequentemente em armas

de elevada precisão, como sejam as de competição desportiva ou de atirador especial (sniper).

O cano é, na generalidade, coberto exteriormente por um composto de ferro oxidado, de cor escura,

destinado a evitar limpezas excessivas e desgastantes, bem como a retirar-lhe o brilho, que teria efeitos

nefastos ao revelar a posição do atirador e encadeá-lo com reflexos solares. Ao processo de cobertura com

esse composto dá-se o nome de oxidação, atacando o metal com uma substância oxidante. A oxidação

pode ser a quente , através de um sal cáustico diluído em água e sob acção da temperatura (135-140ºC),

ou a frio, através de uma solução ácida diluída em água e através de uma reacção química. Ambas produzem um

acabamento preto, aderente e uniforme na superfície exterior do cano.

3. FORMA EXTERNA

A forma externa é tronco-cónica, reforçada na altura da câmara que é cilíndrica.

Quanto à forma consideram-se os seguintes aspectos:

a. Perfil

O perfil é determinado pela espessura a dar às paredes do cano em correspondência com os sucessivos

pontos do eixo da alma.

Para tal torna-se necessário conhecer a lei da variação da pressão dos gases ao longo desse eixo, isto é

determinar previamente o que em balística se designa por CURVA DAS PRESSÕES (Fig. II-2-1) e

que se obtém da seguinte forma:

Fig. II-2-1

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 4

Conhecidos os valores das pressões dentro da alma num sistema de eixos coordenados rectangulares,

tomam-se para abcissa os espaços percorridos pelo projéctil na alma, expressos em calibres e para

ordenada, os valores das pressões expressos em kg/mm².

Geralmente é suficiente conhecer a pressão máxima P medida pela ordenada , o percurso om que

lhe corresponde feito pelo projéctil, a pressão P1 medida pela ordenada que se verifica no instante

em que termina a combustão da carga e as pressões em mais dois ou três pontos.

Assim, verifica-se que do fundo da alma ao ponto de pressão máximo, cujo valor geralmente varia

entre os 35 e os 50 kg/mm² nas pólvoras actuais13

, as paredes estão sujeitas ao máximo esforço.

Neste troço, a espessura deve ser constante e mais elevada. Nos troços seguintes a pressão vai

diminuindo pelo que a espessura vai decrescendo até à boca.

Assim, o PERFIL TEÓRICO que em rigor deveria ter um primeiro troço curvilíneo com andamento

semelhante ao da curva das pressões até ao ponto de pressão máxima e decrescer depois, é substituído

por um PERFIL PRÁTICO, em virtude do perfil teórico não dar garantias para um funcionamento

anormal da carga.

No perfil prático, para o cálculo das espessuras aumenta-se 1/4 o valor das pressões teóricas e supõe-

se o ponto de pressão máxima dois calibres à frente da posição teoricamente determinada. A partir

desta posição substitui-se o perfil teórico por uma ou mais rectas conforme os troços da curva do

perfil, donde resulta para o cano a forma tronco-cónica ou uma série de troncos de cone.

É de referir que variando a resistência elástica dos canos, com:

- a coesão molecular, portanto com a natureza do metal;

- o número de moléculas, portanto com a espessura das paredes;

- o valor da pressão dos gases.

É necessário, para evitar deformações permanentes do cano que a sua resistência elástica tenha um

valor tal que não seja ultrapassado pelos abalos provocados pela pressão interna dos gases.

Na prática, toma-se para cada metal um coeficiente de segurança (), dado pela experiência e faz-se

trabalhar o metal nesse limite, que tem um valor muito inferior ao seu limite de elasticidade.

Os coeficientes de segurança, geralmente adoptados são:

- aço ordinário ............... = 56 kg/mm²

- aço e níquel ................. = 60kg/mm²

- aço e volfrâmio ........... = 70kg/mm²

b. Comprimento do cano (Fig. II-2-2)

O comprimento do cano é função das condições de tiro e das condições de serviço. Se pelas primeiras

devia ser grande, as segundas aconselham que seja curto.

Determinada a curva das pressões, a área compreendida entre a curva e o espaço dos eixos (abcissa)

mede o trabalho de carga.

Determinada a curva das resistências que o projéctil encontra no seu percurso dentro da alma,

(expressas tal como as pressões em kg/mm²), a área compreendida entre a curva das resistências e o

eixo dos espaços, mede o trabalho resistente feito pelo projéctil.

OV----------------------Diagrama da velocidade

OIR---------------------Diagrama da resistência

OPR--------------------Diagrama da pressão

T------------------------Limite teórico do comprimento da alma

13

Ex: 7,62 mm NATO - 35 kg/mm²; 5,56 mm NATO - 39 kg/mm²; .30-06 Springfield - 43 kg/mm².

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 5

O a PRT---------------Trabalho da carga

a - PRI-----------------Trabalho útil

O a IRT----------------Trabalho resistente

Assim o trabalho útil de que são capazes os gases da carga, é medido pela área compreendida entre as

duas curvas (das pressões e das resistências).

O comprimento teórico do cano é dado pelo valor da abcissa correspondente ao ponto de

encontro das duas curvas.

Como este comprimento era excessivo e tornava a arma pouco manejável, toma-se o comprimento do

cano pela abcissa correspondente ao ponto em que pelo andamento das duas curvas, se verifica que

o trabalho útil passa a ser pouco significativo e pelo diagrama das velocidades se verifica que o

projéctil ainda vai animado de aceleração.

A este comprimento chama-se comprimento prático.

Fig. II-2-2

O comprimento da parte estriada da alma das armas actuais é aproximadamente o seguinte:

- até 16 cm ............... pistola

- até 30 cm ............... pistola-metralhadora

- até 50 cm ............... espingarda

- até 65 cm ............... metralhadora-ligeira

- até 75 cm ............... metralhadora

4. FORMA INTERNA

Já vimos, duma maneira muito sucinta a forma interna dos canos. Vejamo-la com

mais pormenor.

A câmara tem a forma do cartucho e as suas dimensões dependem da densidade de

carregamento que nos é dada pela relação , em que representa o peso da carga

em kg e o volume inicial do invólucro (à retaguarda do projéctil) expresso em

litros.

Fig. II-2-3

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 6

Na alma há a considerar: as estrias e o calibre .

a. Estrias

São sulcos cavados em forma de hélice, nas paredes internas dos canos (Fig. II-2-3) e nos quais os

projécteis são forçados a entrar.

Destinam-se a comunicar ao projéctil movimento de rotação em torno do seu eixo, em virtude do qual

o projéctil mantém sempre a ponta virada para a frente, apresentando por isso uma superfície mínima à

resistência do ar, obtendo assim maior alcance e maior justeza.

À nervura resultante da formação de duas estrias consecutivas dá-se o nome de intervalo.

Ao diâmetro da alma, medido entre dois intervalos

opostos, dá-se o nome de calibre da arma.

Nas estrias há a considerar: (Fig. II-2-4)

- O perfil da arma, que é a figura geométrica que se

obtém cortando o cano perpendicularmente ao eixo da

alma;

- Um fundo, geralmente concêntrico com o da alma;

- Dois flancos, que são as linhas que formando os

limites laterais da estria, ligam o fundo desta à

superfície interna da alma.

Dá-se o nome de flanco de tiro, ao

flanco que apresenta obliquamente a sua superfície ao movimento de translação e

cuja pressão faz mover o projéctil com rotação; e de contra-flanco ao oposto, o qual

serve para limitar o movimento.

(1) As características dum perfil são:

(a) A forma do flanco e do fundo das estrias.

Quanto à forma existem os seguintes perfis:

1. Concêntrico

O perfil concêntrico, mais empregue actualmente, pode apresentar as

seguintes formas:

a. Perfil italiano (Fig. II-2-5)

O fundo é concêntrico com a alma e os flancos são rectilíneos e

paralelos ao raio tirado do ponto médio do fundo.

b. Perfil francês (Fig. II-2-6)

O fundo é concêntrico com a alma mas os flancos são

dirigidos segundo o raio, portanto, convergentes ao eixo da

alma.

Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937-A.

c. Perfil convergente exterior (Fig. II-2-7)

O fundo é concêntrico com a alma mas os flancos são

divergentes em relação ao raio e por isso convergem exteriormente.

2. Dentes de serra (em Arco ou Americano) (Fig. II-2-8)

Também conhecido por “perfil de Lenk”.

O fundo não é concêntrico com a alma, o flanco de tiro é dirigido

segundo o raio e o contra flanco forma com o fundo um arco de

círculo excêntrico em relação ao fundo da alma.

Fig. II-2-4

Fig. II-2-5

Fig. II-2-6

Fig. II-2-7

Fig. II-2-8

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 7

Foi concebido ao constatar-se que, nos perfis concêntricos, o contra-flanco se gastava

muito menos que o flanco, decidindo-se pela supressão daquele.

3. Poligonal

Neste perfil a secção recta é uma figura poligonal.

a. Withworth

A secção é um hexágono regular e a alma é formada por uma secção prismática

hexagonal torcida em torno do seu eixo.

b. Westley-Richards

A secção é um octógono regular, em que os ângulos são substituídos por umas

nervuras de secção curva.

c. Henry

A secção é derivada do heptágono regular, em que os ângulos são substituídos por

pequenos trapézios, constituindo os intervalos e a ligação ao fundo é feita por

superfícies planas.

d. Lee-Metford

A secção é derivada do octógono regular, sendo limitada por oito arcos de

circunferência, cujos centros estão sobre uma circunferência concêntrica com a alma.

(b) Largura e profundidade da estria.

1. Uniformes

Quando têm a largura e profundidade constante.

2. Cuneiformes

Quando a sua largura vai diminuindo em relação à sua proximidade da boca da arma.

3. Profundidade decrescente

Quando a sua profundidade vai diminuindo da origem para boca da arma.

(2) Número de estrias

Normalmente emprega-se o sistema poli-estriado mas a tendência actual é para a redução do

número de estrias.

Há armas com 3 [Esp Schmidt-Rubin 7,5 mm M889 (SWI)], 5 [Esp Lee-Enfield 7,7 mm M917, 6

[Esp Krag-Jorgensen 8 mm M889 (DEN)] sendo o número de 4 o mais vulgar [Esp Mauser 7,9

mm M/937].

O seu número depende do perfil, do calibre e da tenacidade do metal do projéctil.

(3) Sentido das estrias

Nas armas de fogo considera-se o sentido pela direcção que toma a estria superior quando se olha

a alma pela boca ou pela câmara. (Fig. II-2-11)

Assim, um cano diz-se estriado para a direita

quando a estria superior vem da esquerda para a

direita (sentido dextrorsum).

Um cano diz-se estriado para a esquerda

quando a estria superior vem da direita para a

esquerda (sentido sinistrorsum).

Fig. II-2-11

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 8

(4) Traçado das estrias (Fig. II-2-12)

Considerando a estria reduzida à

intercepção do seu flanco de tiro

com a superfície cilíndrica da

alma e supondo esta superfície

segundo a geratriz da origem da

estria e desenvolvida sobre um

plano, a estria apresentar-se-á

como uma linha a que se chama

traçado.

(5) Inclinação das estrias

Inclinação é o valor do ângulo formado pela tangente ao traçado nos seus vários pontos, com a

geratriz da alma.

(a) Se a inclinação é constante o traçado é uma recta e diz-se que a estria é de inclinação

constante ou helicoidal (Fig. II-2-13).

(b) Se a inclinação cresce à medida que se aproxima da boca diz-se de inclinação variável ou

estria progressiva (Fig. II-2-14).

Fig. II-2-13

(6) Passo das estrias

Dá-se o nome de passo de uma estria ao comprimento

da geratriz do cano sobre o qual ela faz uma volta completa (duas passagens consecutivas).

O passo exprime-se em centímetros ou calibres e anda ligado à inclinação. Ambos definem o

traçado.

(a) Estria helicoidal ou de passo constante

Quando a inclinação for constante.

(b) Estria progressiva ou de passo variável

Quando a inclinação for variável.

Actualmente todas as espingardas empregam as estrias helicoidais.

O passo nas diferentes armas só pode ser determinado pela experiência, mas tanto o passo como a

inclinação têm um limite imposto pela qualidade dos metais do cano e do projéctil.

O aumento da inclinação implica o aumento da resistência passiva ao projéctil. Por isso

aumentam as vibrações do cano e as pressões dos gases uma vez que o projéctil leva mais tempo

a percorrer a alma. Por consequência as estrias gastam-se mais rapidamente.

Fig. II-2-12

Fig. II-2-14

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 9

É a inclinação final da estria que determina a velocidade de rotação do projéctil ao longo da

trajectória.

Embora raras, há armas que utilizam o estriamento misto, com inclinação constante entre a

origem e o ponto onde se dá a pressão máxima dos gases e posteriormente, inclinação variável.

b. Calibre

O calibre de uma arma de fogo refere-se, grosso modo, à medida do diâmetro interno dos canos ou

tubos mas com significados algo diferentes conforme a natureza e configuração da arma:

(1) Armas de cano estriado

Nas armas de cano estriado, o calibre de um cano, por definição, é o diâmetro da alma medido

entre 2 intervalos de estria opostos, normalmente medido em milímetros, embora haja

excepções.

(2) Armas pesadas de alma lisa e tubos lançadores de granadas-foguete (LGF)

Neste tipo de armas, o calibre é dado pelo diâmetro interno do tubo do LGF ou da alma do cano.

(3) Armas de alma lisa (de caça)

Nas armas de caça de alma lisa, o calibre é dado pelo adarme , que consiste simplesmente no

número de projécteis esféricos de chumbo com o mesmo diâmetro da alma da arma que se obtém

com o peso uma libra de chumbo. Assim o calibre 12, significa que com uma libra de peso de

chumbo se obtiveram 12 projécteis esféricos com o diâmetro da alma da arma. Havendo diferentes

medidas de libra (nomeadamente inglesas e francesas), havia, pois diferentes calibres com o

mesmo adarme. Só em 1911, uma comissão internacional acordou em definir o calibre unificado

em milímetros segundo a tabela que se segue:

Adarme Diâmetro Adarme Diâmetro

Calibre 4 23,75 mm Calibre 20 15,62 mm

Calibre 8 21,21 mm Calibre 24 14,70 mm

Calibre 10 19,69 mm Calibre 28 13,97 mm

Calibre 12 18,52 mm Calibre 32 13,36 mm

Calibre 16 16,81 mm Calibre 36 12,85 mm

Para dentro do mesmo calibre há diferentes e variadas formas de classificar e diferenciar as munições,

como veremos mais à frente em capítulo próprio.

Na incessante ânsia do progresso e para satisfação das necessidades tácticas têm sido conseguidos

valores balísticos apreciáveis, atingindo-se presentemente com o calibre de 5,56 mm velocidades de

1000 m/s em Espingardas Automáticas.

Na continuidade deste constante progresso, há já fabricantes de armamento a testar outros calibres para

as suas armas, como por exemplo o 5,7x28 mm (FN) e 4,7x21 mm (HK).

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 10

CAPÍTULO 3

CAIXA DA CULATRA

A caixa da culatra (Fig. II-3-1) (1) é geralmente considerada como fazendo parte do cano (2), em virtude

de estar a ele permanentemente enroscada e ligada, não sendo permitida a separação entre estas duas peças,

excepto se efectuada por mecânicos de armamento.

Destina-se a alojar, travar e a guiar a culatra móvel (3), pelo que a sua forma se subordina à desta, seja ela

de ferrolho ou de bloco.

Possui um prolongamento posterior, a cauda (4) , com furos para alojar os parafusos que a ligam à coronha,

e anteriormente um furo roscado para a sua união ao cano.

Em algumas armas de repetição, a caixa da culatra possui na sua parte inferior o alojamento para o

mecanismo de repetição. Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937.

Quando a coronha é formada por duas peças, a caixa da culatra tem a função complementar de as ligar,

apresentando então formas concordantes com aquelas. Ex: Carabina Winchester 10,8 mm 1873 (USA); Esp

Lee-Enfield 7,7 mm M917.

As armas de culatra fixa, como as caçadeiras de báscula, não possuem obviamente caixa da culatra.

A caixa da culatra deve possuir a necessária robustez para resistir sem se deformar, aos choques

longitudinais transmitidos pela culatra móvel e evitar deformações desta.

Inicialmente elaborada em bronze, passou a ser feita de ferro cimentado e temperado com carbono para,

devido à grande tenacidade deste material, poderem ser feitas com facilidade as múltiplas guias e aberturas

que a mesma apresenta, ao mesmo tempo que, pela cimentação e têmpera, adquire a dureza e elasticidade

suficientes para suportar, sem se deformar, os choques transmitidos pela culatra móvel.

À semelhança do cano, é também coberta por um composto escurecido, obtido por oxidação a quente ou a

frio.

Fig. II-3-1

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 11

CAPÍTULO 4

APARELHO DE PONTARIA

1. GENERALIDADES

O aparelho de pontaria destina-se a apontar a arma, isto é, dirigi-la de forma que a trajectória do projéctil

intercepte o alvo.

Os aparelhos de pontaria normal (Fig. II-4-1) constam de uma alça (1) na retaguarda, com uma ou várias

ranhuras de mira e de um ponto de mira (2) na parte dianteira.

Chama-se linha de mira (3) ao raio visual que passa pela ranhura de mira e pelo vértice do ponto de

mira. Quando esta linha passa pelo alvo (4) diz-se que a arma está apontada. Então, a trajectória (5) real

irá intersectar a linha de mira exactamente sobre o alvo.

Linha de mira natural de uma arma é a que corresponde à ranhura de mira de menor altura.

Comprimento da linha de mira natural é a distância da ranhura de mira de menor altura ao vértice do

ponto de mira.

A arma terá tantas linhas de mira quantas as posições que a ranhura de mira possa tomar, correspondendo

a cada uma delas, um alcance.

2. TIPOS DE APARELHOS DE PONTARIA

OS aparelhos de pontaria classificam-se geralmente de duas formas distintas relacionadas com as

respectivas linhas de mira.

a. Quanto ao tipo de linha de mira:

(1) Ordinária

Os que são constituídos por dois elementos fundamentais. Ponto de mira e ranhura de mira, esta

normalmente colocada num dispositivo – alça – que permite variar a altura da ranhura de mira.

(2) Óptica

Quando obtidas por aparelhos de pontaria ópticos.

b. Quanto à sua colocação na arma:

(1) Normal ou axial

Quando a linha de mira está contida no mesmo

plano vertical que contém o eixo do cano.

(2) Lateral ou independente

Quando a linha de mira está contida num outro

plano.

Algumas armas podem possuir mais do que um aparelho

de pontaria em simultâneo. É o caso, por exemplo, de espingardas com linhas de mira ordinárias e

ópticas, sendo estas, na maioria dos casos, amovíveis.

Algumas espingardas possuíam em simultâneo um aparelho de pontaria axial e outro lateral, este

último destinado a efectuar tiro de salva a longas distâncias. A grande inclinação que era necessária

Fig. II-4-1

Fig. II-4-2

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 12

dar à arma, colocando o couce debaixo do braço, impossibilitava a pontaria normal. A solução,

inventada pelo general russo Frolov, consistia em montar um aparelho de pontaria auxiliar lateral, com

menor comprimento da linha de mira natural, o que se traduzia numa diminuição da altura da alça. A

menor precisão deste tipo de aparelhos de pontaria e a reduzida eficácia do tiro de salva a longas

distâncias, levaram ao abandono de ambos, no decorrer da 1ª Guerra Mundial. Ex: Espingarda Enfield

7,7 mm M1917 (USA) (Fig. II-4-2).

3. TIPOS DE PONTOS DE MIRA E DE RANHURAS DE MIRA

Embora não existindo propriamente uma classificação específica tanto para os pontos como para as

ranhuras de mira, podem distinguir-se ambos quanto à figura geométrica que as sua faces posteriores

apresentam.

Assim, os pontos de mira podem ser rectangulares , triangulares , quadrangulares , trapezoidais ,

circulares , elipsoidais , etc. (Fig. II-4-3).

Várias Formas de Pontos de Mira

RECTANGULAR CIRCULAR TRIANGULAR ELIPSOI DAL TRAPEZOI DAL

Fig. II-4-3

As ranhuras de mira distinguem-se também pela figura geométrica que a sua face posterior apresenta, dividindo-se em abertas ou fechadas. As ranhuras de mira abertas usam-se geralmente quando a alça está mais afastada do olho do atirador (30

cm ou mais). Permitem uma visão mais desobstruída para a zona de alvos, perdendo, todavia, em termos de

precisão. As mais comuns têm entalhes de secção em U, em V, rectangular ou trapezoidal (Fig. II-4-4).

Várias Formas de Ranhuras de Mira Abertas

EM U RECTANGULAR EM V TRAPEZOI DAL EXPRESS

Fig. II-4-4

As ranhuras de mira fechadas foram usadas num tipo de alças múltiplas, entretanto caído em desuso. Têm

aberturas em forma rectangular, em estrela, em cruz, em X e circular (Fig. II-4-5).

Várias Formas de Ranhuras de Mira Fechadas

RECTANGULAR EM ESTRELA EM CRU Z

Fig. II-4-5

EM X CIRCULAR

(DIÓPTER)

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 13

4. CARACTERÍSTICAS DOS APARELHOS DE PONTARIA

Os aparelhos de pontaria devem ser precisos, sólidos e cómodos.

a. Precisão

Uma boa precisão só pode obter-se com armas cujo comprimento da

linha de mira natural seja grande e cujos órgãos de pontaria facilitem

a nitidez da visão.

Assim, não só a ranhura de mira e ponto de mira devem estar o mais

afastado possível um do outro, mas também ter forma adequada, afim

de facilitar a visão e evitar tanto quanto possível as imagens confusas

a que se dá o nome de círculos de difusão, (Fig. II-4-6) resultantes da

imagem simultânea de três pontos a diferentes distâncias do olho

do atirador.

Assim, as ranhuras de mira devem ter as

formas de corte e os pontos de mira formas

salientes (Fig. II-4-7).

A posição da alça, órgão mais próximo do

olho do atirador, situa-se geralmente à

distância de 0,30m (distância média da visão

distinta) da vista do atirador e portanto a cerca de 0,50m do couce

da arma.

Os órgãos de pontaria que melhor satisfazem, são aqueles em que na alça não

existe efectivamente uma ranhura mas sim uma abertura circular a que se dá

impropriamente o nome de ranhura circular, pois neste caso o olho do atirador

apenas tem que se adaptar ao ponto de mira e ao alvo que deve visar

colocando-os no centro do círculo.

Empregando o diópter (Fig. II-4-8) – círculo de dimensões muito reduzidas –

os erros de alinhamento quase desaparecem. No entanto, uma abertura

demasiado pequena reduz a luz e pode dificultar a visão quando o tiro é

executado em condições desfavoráveis. Estas alças, ao contrário das abertas, devem ser colocadas o

mais perto possível do olho do atirador razão porque são montadas sobre a caixa da culatra,

aparecendo algumas vezes sobre a parte posterior da culatra móvel.

Ex: Carabina M1 7,65 mm (USA); Carabina M1 Underwood 7,62 mm (GBR).

b. Solidez

Além da precisão, o aparelho de pontaria deve também ser sólido e estar

protegido por órgãos protectores metálicos para evitar deslocamentos

acidentais que alterariam a posição da linha de mira. Assim, na

Espingarda Ross 7,7 mm M/905m (CAN) o ponto de mira aparece

abrigado dentro duma manga de aço (Fig. II-4-9). Na Esp Lee-Enfield

7,7 mm M/917 é protegido de um e outro lado por grossas placas (Fig.

II-4-10).

c. Comodidade

Na comodidade do aparelho de pontaria há a considerar:

Fácil manejo, boa leitura e colocação.

Fig. II-4-6

Fig. II-4-7

Fig. II-4-8

Fig. II-4-10

Fig. II-4-9

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 14

5. CLASSIFICAÇÃO DAS ALÇAS DE LINHA DE MIRA ORDINÁRIA

a. Alças de ranhuras múltiplas

São caracterizadas por serem rectilíneas e apresentarem ao atirador mais do

que uma ranhura:

(1) De orifícios (Fig. II-4-11)

São as mais antigas. Dispõem de orifícios de diferentes formas (círculo,

rectângulo, cruz) sendo cada um dos quais uma ranhura de mira.

A alça pode encontrar-se “ levantada “ para o tiro ou “ abatida “ para

transporte.

O seu principal inconveniente é encobrir o alvo e ser descontínua, isto é não permitir variar a alça

para distâncias intermédias daquela para que estava construída.

Ex: Esp Chassepot 11 mm M/886

(2) De lâminas (Fig. II-4-12)

São formadas por um certo número de lâminas de alturas desiguais,

tendo cada uma delas, cortado no seu bordo superior, uma ranhura de

mira.

O seu principal inconveniente é dar um pequeno número de linhas de

mira.

Ex: Esp Dreyse 15,43 mm M/841

(3) De lâmina com cursor (Fig. II-4-13)

São compostos por uma lâmina móvel em torno de um eixo

perpendicular ao plano de simetria da arma e que uma mola mantém

na posição “ levantada “ ou “ abatida “.

Nela desliza um cursor onde está colocada a ranhura de mira que

pode ter a forma circular e que por meio de uma mola pode ser

fixado, na graduação correspondentes aos vários alcances, que se

encontra gravada na lâmina.

A lâmina tem ranhuras, tanto na parte superior como na inferior.

Ex: Esp Albini 11 mm M/876

As lâminas são mais ou menos cheias, tendo algumas a forma de caixilho,

a que se dá o nome de grade.

(4) De cursor-lâmina (Fig. II-4-14)

São aquelas em que o cursor é substituído por uma lâmina que corre ao

longo da primeira lâmina.

Eram empregues nas armas de grande alcance e fraca tensão da

trajectória.

Ex: Esp Guedes 11 mm M/886

Fig. II-4-11

Fig. II-4-12

Fig. II-4-13

Fig. II-4-14

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 15

Esp Grás 11 mm M/874

Carabina Kropatchek 8 mm M/886.

(5) Rotativa (Fig. II-4-15)

Constituídas por duas a quatro ranhuras a 90º, apoiadas num eixo

perpendicular à linha de mira, de modo a permitir a sua rotação para a

frente ou para trás.

Ex: Esp Lee-Enfield SMLE Nº 4 7,7 mm M/42

(6) De tambor rotativo (Fig. II-4-16)

Constituídas por um tambor de rotação transversal ao eixo do cano,

com 3 a 4 ranhuras de mira.

Ex: Esp Aut G3 7,62 mm M/63

b. Alças de ranhura simples

Dispõem apenas de uma ranhura, que pode ser fixa para uma só distância ou móvel, tomando para

cada posição, que é geralmente graduada, uma diferente linha de mira.

Podem ser fixas, circulares ou de quadrante, rectilíneas e de tambor.

(1) Alças fixas

São as alças mais simples, com uma ranhura de mira fixa numa lâmina ou num apoio,

directamente por cima da caixa da culatra. Algumas podem ser dobradas ou alteradas por um

armeiro, modificando a respectiva linha de mira, como acontecia com alguns modelos de

carabinas Colt e Winchester do século XIX, aferidas para uma distância intermédia e permitindo

pontarias homotéticas. São igualmente usadas em armas curtas de mão, tais como as pistolas e os

revólveres, onde a necessidade de um aparelho de pontaria é mais psicológico do que balístico e

apenas se faz sentir em direcção e não em alcance.

Nas espingardas caçadeiras, que disparam um cartucho com múltiplos projécteis, a alça serve

apenas para indicar uma direcção geral, consistindo geralmente num ligeiro cavado na parte

superior e posterior do(s) cano(s).

(2) Alças circulares ou de quadrante

Dispõem de uma lâmina móvel em torno de um eixo horizontal ligado à base, com uma ranhura

de mira do lado oposto ao eixo, a qual descreve durante o movimento da lâmina um arco de

círculo.

Dentro deste tipo podemos considerar os seguintes modelos:

(a) De Quadrante com Guardas Laterais e Entalhes Graduados (Fig. II-4-17)

As guardas laterais têm entalhes graduados que estabelecem

as várias inclinações da lâmina, que se apoia naqueles

entalhes.

Ex: Esp Paravicini-Carcano 6,5 mm M/891

Esp Veterli 10,35 mm M/892.

Fig. II-4-15

Fig. II-4-16

Fig. II-4-17

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 16

(b) De quadrante com cursor e apoios curvos (Fig. II-4-18)

Da base nascem duas guardas de traçado curvo especial,

nas quais se apoia o cursor que corre ao longo da lâmina

graduada.

Um sistema de entalhes e mola, fixa o cursor à lâmina

na graduação desejada.

Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937-A

Esp Schmidt-Rubin 7,5 mm M/889.

(c) De quadrante com cursor e apoios rectilíneos (Fig. II-

4-19)

Na base da alça, plana e graduada, corre o cursor. A

lâmina é curva e tem lateralmente umas nervuras onde

entram as garras do cursor.

Ex: Esp Mauser 7,92 mm M/898 (GER).

(d) De cursor e apoios em escaletes (Fig. II-4-20)

É uma variante da alça de cursor e apoios curvos. A parte

superior destes é cortada em degraus sobre os quais, em virtude

da acção da mola, se apoia o cursor.

Ex: Carabina Lebel 8 mm M/1886 (FRA).

(3) Alças Rectilíneas

Consistem numa barra com entalhes graduados fixa por cima da

caixa da culatra, com inclinação, na qual corre um cursor solidário

com a ranhura de mira

Ex: Espingarda Automática FN-FAL 7,62 mm M/61

(4) Alças de Tambor

Constam de um tambor lateral que é manobrado de forma a

elevar ou baixar a haste inferior da ranhura de mira, pelo

que a mesma pode ocupar posições sucessivas

correspondentes a alcances graduados no tambor. A rotação

do tambor pode fazer rodar a ranhura de mira em torno de

um eixo perpendicular (alças de quadrante de tambor) (Fig.

II-4-21) ou simplesmente elevá-la ou baixá-la num plano

vertical ou oblíquo (alças rectilíneas de tambor)

Ex: Metralhadora Ligeira Vickers Berthier 7,7 mm M/931 (alça

de quadrante de tambor);

Espingarda Semi-automática M1 Garand 7,62 mm (alça

rectilínea de tambor).

c. Alças mistas

Quase todas as armas que usam alças de lâmina com cursor usam

modelos rebatíveis para transporte.

Algumas delas, utilizam nessa posição uma alça alternativa que pode

ser uma alça de quadrante com cursor (Fig. II-4-22) ou uma simples

ranhura de mira, neste caso chamada “alça de combate”.

A alça de quadrante (ou a alça de combate) destina-se à execução da

Fig. II-4-18

Fig. II-4-19

Fig. II-4-20

Fig. II-4-21

Fig. II-4-22

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 17

pontaria a curtas distâncias. Para maiores distâncias recorre-se então à alça de lâmina com cursor.

Estas alças são chamadas de mistas mas, como também possuem várias ranhuras de mira, enquadram-

se nas alças de ranhuras múltiplas.

Ex: Esp Mosin-Nagant 7,62 mm Mod 1891/30 (RUS).

6. APARELHOS DE PONTARIA ÓPTICOS

Reconhecida a dificuldade da pontaria por meio dos aparelhos vulgares de pontaria, os inventores, no

intuito de melhorar e facilitar esta, procuram primeiramente, conseguir levar ao mesmo foco os três

pontos que têm de ser alinhados, e, mais tarde, para se aumentar a precisão, procuraram ampliar a imagem

do alvo.

a. Colimadores

O colimador é um aparelho óptico que procura focar o ponto de mira e o alvo, sem a ampliação deste.

Consta de um tubo comprido e estreito (Fig. II-4-23), fechado numa das extremidades por um vidro

liso e na outra por uma lente. Entre esta e o seu foco é colocado um retículo opaco. O atirador vê,

então, através da lente, uma imagem ampliada R’ do retículo, sem erro de paralaxe . A linha de mira é

determinada pelo centro óptico da lente e pelo cruzamento dos traços do retículo, chamados linhas de

fé .

Utiliza-se colocando o olho o mais longe possível da lente e deslocando a cabeça para cima e para

baixo, desviando a arma até que a linha de fé vertical passe pelo alvo. De seguida, deslocando a cabeça

lateralmente, desvia-se a arma para cima ou para baixo até que a linha de fé horizontal também passe

pelo alvo.

D

e

d

u

z

-

s

e

rapidamente que a pontaria na prática é bastante difícil e morosa, razão pela qual, as armas ligeiras não

os utilizam. Todavia, são muito empregues para alinhar aparelhos de pontaria com os eixos das

respectivas almas do cano, ou para calibrar outras alças ópticas. São ainda utilizados em armas de tiro

indirecto como os morteiros ou os obuses.

b. Lunetas de pontaria

Os aparelhos em que a imagem do alvo é ampliada são chamados de lunetas de pontaria que se

podem dividir em dois grupos :

(1) As lunetas de Galileu

A luneta de Galileu (Fig. II-4-24) é formada

por uma lente convergente funcionando como

a objectiva (1) e uma lente divergente

servindo como ocular (2). A lente ocular

intercepta os raios convergentes provenientes

Fig. II-4-23

Fig. II-4-24

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 18

do alvo, tornando-os paralelos e formando assim uma imagem virtual, ampliada e recta.

Foi utilizada pelos primeiros snipers aliados durante a 1ª Guerra Mundial. Todavia, como não

dava uma definição perfeita do alvo focado com o ponto de mira, foi rapidamente substituída por

outros tipos de luneta mais potentes e sofisticados. Actualmente só se empregam em algumas

armas de tiro desportivo.

(2) As alças telescópicas

Os aparelhos ópticos que usam o princípio da luneta de Kepler ou luneta ordinária são chamados de alças telescópicas (Fig. II-4-25).

Fig. II-4-25

Os raios luminosos vindos do alvo atravessam sucessivamente:

(a) Uma objectiva O (cuja distância focal é inferior a comprimento da linha de mira natural) e

que dá no seu plano focal uma imagem a b pequena e invertida do alvo A B. No mesmo

plano está colocado o ponto de mira que consiste num ponteiro ou num vidro transparente

onde se encontre um cruzamento de traços) cujo vértice (ou intercepção) b, determina, com o

centro óptico da objectiva, a linha de mira do aparelho.

(b) Uma lente E que endireita a imagem a b e dela dá, bem como do ponto de mira, uma

imagem real e pequena a’ b’.

(c) Uma ocular L, graças à qual o olho vê uma imagem virtual A’ B’ direita e aumentada do

alvo e do ponto de mira.

Nalguns modelos, em vez da lente E, existe um prisma, como nos binóculos prismáticos

ordinários.

Nestas alças, como a imagem real invertida do alvo e o ponto de mira se encontram no mesmo

plano focal, o alvo e o ponto de mira aparecem ao atirador perfeitamente distintos. Por esta

razão e ainda por possuírem um campo de visão muito superior a obtido com a luneta de

Galileu, são aqueles que actualmente se utilizam nas armas portáteis militares.

A sua luminosidade é de tal magnitude que permite o tiro contra alvos que, mercê da sua fraca

iluminação, não podem ser visados com aparelhos de pontaria ordinários. Só quando a luz solar

incide sobre a objectiva e o alvo está na sombra é que as alças telescópicas se revelam inferiores

àqueles.

Estas alças são concebidas de forma a ser envoltas em tubos com comprimentos que variam

geralmente entre 20 e 40 cm, montados, por sua vez, em bases rigidamente ligadas à caixa da

culatra da arma, através de dispositivos de fixação rápida.

Para permitir o deslocamento da linha de mira, em função das distâncias requeridas, ou de

ajustamentos laterais, em função do vento ou da derivação, apresentam exteriormente um ou mais

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 19

tambores graduados que rodam em frente de uma referência. Para a correcção do alinhamento da

alça com o eixo do cano da arma, possui igualmente outros dispositivos, geralmente manobrados

com ferramenta especial.

Fig. II-4-26

As alças telescópicas são dispositivos caros e muito exigentes de manter, sendo transportadas em

estojos e colocadas apenas quando seja necessário o seu emprego. Simples choques mecânicos

podem fazer alterar a posição de eixo óptico, incapacitando o seu emprego eficiente.

Uma alça telescópica moderna e relativamente simples terá os seguintes componentes principais

(Fig. II-4-25): objectiva (1), ocular (2), lente para reverter a imagem (3), retículo (4), tubo

principal (5), tambor de ajustamento em elevação (6), tambor de ajustamento em direcção (7),

base do suporte de fixação (8), lentes de zoom (9) e fixadores rápidos (10).

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 20

CAPÍTULO 5

CULATRA MÓVEL

1. GENERALIDADES

Culatra móvel é o agrupamento de peças destinadas a fechar o cano pela parte posterior e a obter,

conjuntamente com o invólucro do cartucho, uma obturação completa e perfeita, desde que se dá a

explosão da carga até que o projéctil abandona a arma.

Em virtude da sua função principal ser a obturação, dá-se-lhe também o nome de obturador.

A culatra é normalmente constituída por:

- ferrolho

- punho

- percutor

- mola do percutor

- cão

Ao estudarmos os processos de obturação nas primeiras armas de retrocarga, dissemos que a obturação

perfeita só se obteve com a adopção dos cartuchos metálicos.

Para um mecanismo de obturação ser perfeito deve:

- dar apoio seguro e estável ao fundo do cartucho;

- fechar perfeitamente a parte posterior do cano, durante o tempo em que o projéctil percorre a alma;

- executar rapidamente o “movimento de fechar” introduzindo o cartucho na câmara e ajustando-o

progressivamente.

As duas primeiras condições realizam-se pelo travamento, que consiste em tornar a culatra solidária com

o cano ou com a caixa da culatra; a última pela organização mecânica da culatra, da sua caixa e do

mecanismo de repetição.

2. CLASSIFICAÇÃO DAS CULATRAS

As culatras podem agrupar-se:

a. Quanto à forma

(1) Culatra de cilindro ou de ferrolho

São aquelas que têm a forma alongada, cilíndrica ou prismática, no sentido do eixo da alma, e são

em geral, munidas de um punho para a sua manobra.

Também se lhes dá o nome de culatras de ferrolho por no seu manejo se deslocarem no sentido

do prolongamento do cano.

São as mais usadas por serem de funcionamento simples e resistentes, darem bom apoio ao

cartucho, facilitarem a repetição e por conterem os mecanismos de percussão, de segurança e

de extracção.

Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937-A

(2) Culatras de bloco

São aquelas que não têm a forma bem definida e a sua dimensão longitudinal não é notavelmente

superior às outras . Foram muito usadas no início das armas de retrocarga, mas hoje são somente

aplicadas em armas de cano curto e em armas de caça por desenvolverem pressões internas mais

baixas.

Ex: Esp Snider 14 mm M/875

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 21

b. Quanto ao movimento

(1) Culatras fixas

Como o nome indica, mantêm-se fixas, obrigando à manobra do respectivo cano para efectuar o

destravamento, a desobturação, a extracção, a ejecção, a introdução de novo cartucho, a obturação

e o travamento. Não se usam nas armas de guerra mas são comuns na caça. Os canos podem ser

manobrados de três maneiras:

(a) Escorregamento frontal (corrediça). Ex: Esp Ghaye 1870 (BEL);

(b) Rotação superior. Ex: Pist Løbnitz 1840 (DEN);

(c) Báscula. Esp caça Ugartechea Royal Cal. 20 (ESP).

(2) Culatras de rotação (em torno de um eixo)

Este tipo de movimento foi muito usado com as antigas culatras de bloco, tendo caído em desuso

com sistemas mais eficientes. O movimento de abertura da culatra é feito em torno de um eixo

que pode ser longitudinal ou transversal ao eixo do cano.

(a) Culatras de rotação em torno de eixos longitudinais

1. Sistema de caixa. Ex: Esp 14 mm Snider (GBR);

2. Sistema de barril. Ex: Esp 11,15 mm Werndl (AUT).

(b) Culatras de rotação em torno de eixos transversais

1. Sistema de fecho. Ex: Esp Albini-Braendlin 11 mm M1876 (BEL);

2. Culatra cadente. Ex: Esp Martini-Henry 11,6 mm (GBR);

3. Culatra levantada. Ex: Esp Reilly-Comblain 14 mm M1876 (BEL);

4. Sistema retrógrado. Ex: Esp Remington 12 mm M1867 (USA).

(3) Culatras de escorregamento simples

As culatras de escorregamento simples são armas que se manobram, impelindo o obturador

longitudinal ou transversalmente.

(a) As de escorregamento transversal são chamadas culatras de gaveta. Esp Sharps 11 mm

M1867 (USA);

(b) As de escorregamento longitudinal estão geralmente associadas a culatras de ferrolho e

podem ser accionadas através de:

1. Punho ou Anel existentes no corpo da culatra Ex: Esp Breveti-Scotti 7,95 mm (ITA); Esp

Schimdt-Rubin 7,5 mm M/889-896 (SWI).

2. Alavanca. Ex: Carabina Winchester 10,8 mm 1873 (USA);

3. Corrediça (ou Sistema de Bomba). Ex: Carabina Colt Lightning 10,8 mm M1867 (USA).

Nestas culatras basta manobrar o obturador à retaguarda, efectuando-se com este movimento, o

destravamento, desobturação, extracção e ejecção do invólucro.

Ao levar-se à frente o obturador faz-se a introdução de novo cartucho, a obturação e o

travamento. São de manejo simples exigindo para o travamento, a adopção de uma cabeça

móvel, (Esp Breveti-Scotti 7,95 mm), de um anel de travamento (Esp Schimdt-Rubin 7,5 mm

M/889-896) ou de travadores articulados (Carabina Winchester 10,8 mm 1873 e Carabina Colt

Lightning 10,8 mm M1867).

(4) Culatras de escorregamento e rotação

Nestas dá-se primeiro um movimento de rotação à culatra sendo depois puxada à retaguarda.

O movimento de rotação faz-se sobre superfícies helicoidais adequadas, durante o qual o percutor

é armado, permitindo remediar qualquer falha do cartucho e armar de novo o percutor sem

necessidade de abrir a culatra.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 22

Quase todas as armas de fogo ordinárias actualmente em uso utilizam culatras deste tipo.

Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937

Carabina M1 Underwood 7,62 mm (GBR)

3. MODERNOS SISTEMAS DE CULATRAS DE FERROLHO (de escorregamento e rotação)

Nas modernas armas ordinárias de escorregamento e rotação com culatras de ferrolho, as peças de que se

compõe uma culatra móvel podem agrupar-se segundo os seguintes sistemas mais comuns:

a. Sistema Mauser e derivados

É o mais usado. As culatras são fortes e de manobra fácil, têm travadores na parte anterior do ferrolho

e os extractores são fortes e não participam no movimento de rotação da culatra.

Na parte posterior do ferrolho, existe a abertura de entrada do percutor e respectiva mola e é fechada

pela tampa do ferrolho.

Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937-A; Esp Parker Hale 7,62 mm M82 (GBR).

b. Sistema Mannlicher e outros

As culatras têm também os travadores na parte anterior do ferrolho, mas à frente destes existe a

cabeça móvel que serve para fechar a abertura de entrada do percutor e respectiva mola.

Ex: Esp Mannlicher 6,5 mm M/895; Esp Mauser-Vergueiro 6,5 mm M/904.

c. Sistema Lee-Enfield e derivados

As culatras são fortes e com travadores localizados na parte central/posterior. Por causa desse

travamento posterior, geram, com o uso, folgas na caixa da culatra. Por isso, têm uma cabeça

enroscada que pode ser substituída facilmente quando a folga se tornar inconveniente. Ao contrário

dos anteriores, neste tipo, o percutor só arma quando se fecha a culatra.

Ex. Esp Lee-Enfield 7,7 mm M917; Esp Ishapore 2A1 7,62 mm (IND).

4. SISTEMA DE TRAVAMENTO

Em virtude de ser preciso manter a obturação pelo menos enquanto o projéctil percorre a alma, surge a

necessidade de travamento da culatra.

Nas armas de ferrolho existem dois sistemas:

a. Em direcção perpendicular ao eixo do cano (Fig. II-5-1) É empregue na maior parte das espingardas e é efectuado, ou

pelo movimento da culatra - sistema de escorregamento e

rotação, ou pela transformação do movimento longitudinal

rectilíneo da culatra em movimento de rotação de uma peça

especial, cabeça móvel ou anel de travamento, destinada exclusivamente ao travamento - sistema de

escorregamento simples.

Em qualquer dos casos, existem no obturador ou na referida peça especial uns dentes denominados

travadores que entrando nos alojamentos situados na caixa da culatra, impedem o obturador de vir à

retaguarda por acção dos gases da carga.

Os referidos travadores podem estar colocados:

- Na frente – Esp Mauser 6,5 mm M/904

- No meio – Esp Schmidt-Rubin 7,5 mm M/889-896 (SWI)

- Na retaguarda – Esp Vetterli-Vitali 10,35 mm M/892 (ITA)

- Na frente e na retaguarda – Esp Mauser 7,9 mm M/937-A

Fig. II-5-1

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 23

A colocação dos travadores a meio ou à retaguarda tem o inconveniente de facilitar a deformação do

obturador e da caixa da culatra, por acção da pressão dos gases. Em geral são em número de dois, mas

existem armas com um (Ex: Esp Kropatchek 8 mm M/886) e outras com três (Ex: Esp Mauser 7,9 mm

M/937A) ou mesmo quatro.

O travamento pode ser bilateral e simétrico (Ex: Carabina Mannlicher 6,5 mm M/896 e Esp Mauser-

Vergueiro 6,5 mm M/904) ou unilateral e assimétrico (Ex: Esp Kropatchek 8 mm M/886).

O segundo tem o inconveniente de transmitir o choque de recuo de maneira desigual, o que origina

vibrações no cano.

O travamento anterior e simétrico é o preferido porque evita a compressão duma parte importante do

cilindro e impede a produção de vibrações irregulares.

A amplitude de rotação útil para produzir o travamento e o destravamento é variável, sendo de 90º nas

culatras de escorregamento simples com cabeça móvel ou anel de travamento e de 45º nas de

escorregamento e rotação, servindo os restantes 45º para aproximar ou afastar brandamente a culatra

da câmara.

Ao movimento de rotação corresponde a recolha da ponta do percutor, afastando-a da escorva e a

compressão preliminar da mola do percutor.

Algumas armas de alavanca usam travadores perpendiculares exteriores à culatra, comandados por

aquela, que apenas efectuam um movimento transversal. Ex: Esp Winchester 7,7 mm M1895 (USA).

b. Na direcção do eixo do cano (Fig. II-5-2)

É pouco usado nas armas de fogo de culatra de ferrolho.

Consiste em apoiar na caixa da culatra uma ou duas

cunhas ou alavancas móveis ligadas ao obturador por

um eixo. É portanto um sistema de travadores

articulados.

Ex: Esp Mannlicher 8 mm M/887 (AUT).

Nas armas de escorregamento simples por acção de

alavanca, os travadores são do tipo alavancas articuladas, cuja joelheira de união fica imobilizada por

acção da própria alavanca.

Ex: Carabina Winchester 10,8 mm 1873 (USA).

5. SISTEMA DE PERCUSSÃO

a. Generalidades

Nas armas de cartucho combustível completo (Ex: Esp Dreyse 15,43 mm M/841 e Esp Chassepot 11

mm M/886), empregava-se a agulha como órgão principal de percussão, a qual, atravessando a carga e

a escorva, fazia detonar esta, mais por fricção do que por percussão.

Estas agulhas apresentavam o inconveniente de se inutilizarem com frequência devido à alta

temperatura a que eram sujeitas, por ficarem em contacto com a carga.

Nas armas actuais, a inflamação efectua-se pelo choque do percutor, que está alojado no interior da

culatra, contra a escorva do cartucho.

b. Mecanismo de Percussão

As condições a que deve satisfazer um mecanismo de percussão são:

- não permitir o disparo sem que a culatra esteja fechada;

- ser de funcionamento seguro;

- não originar desvios da arma;

Fig. II-5-2

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 24

- ser simples, robusto, fácil de armar e desarmar.

O sistema de inflamação deve satisfazer às seguintes condições:

- produção de fogo instantânea e certa;

- comunicação rápida do fogo à carga.

O sistema de percussão actualmente usado é conhecido por

percussão com mola espiral (Fig. II-5-3), tendo como órgãos

principais o percutor (1) e a mola (2), inseridos num canal da

culatra (3), ficando o primeiro armado pela prisão num dente

do mecanismo de disparar, o armador (4).

As molas devem ser muito resistentes e muito elásticas para

que se não dobrem nem deformem e devem assegurar uma força viva suficiente para obter a detonação

da escorva.

c. O Percutor

O percutor deve igualmente ser muito resistente e elástico para não sofrer deformações permanentes. É

geralmente de aço macio temperado. A sua energia de choque depende da violência da distensão da

mola e da sua própria massa, razão que leva a aumentá-la, aplicando-lhe uma outra peça, a que se

chama cão.

Actualmente, ainda existem, em armas de caça e em algumas pistolas e metralhadoras, mecanismos de

percussão com mola laminar.

Ao abrir a culatra, o percutor arma pelo escorregamento de duas superfícies helicoidais existentes,

uma no percutor ou no cão (peça ligada a ele intimamente) outra no obturador, de modo que se

produza o retrocesso do percutor enquanto o obturador executa o movimento de rotação.

Ao fechar a culatra, o percutor arma pela prisão de um dente do percutor ou do cão, num dente

existente no fundo da caixa da culatra – dente do armador – de forma que quando aquela avança o

percutor é obrigado a ficar para trás.

Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937-A.

A ponta do percutor deve ser esférica para evitar a perfuração da escorva.

O comprimento da parte da ponta que se salienta da cabeça do obturador deve ser rigorosamente

constante para que a percussão nem seja insuficiente (caso do percutor gasto ou amolgado na ponta)

nem a escorva seja perfurada (se é demasiado comprido), em vez de percutida, dando origem a fuga de

gases pela retaguarda.

Como se compreende, estes efeitos de má percussão podem não ser devidos apenas ao percutor pelo

que deve ser rigorosamente determinada a chamada folga da câmara-culatra que é fundamental para

o bom funcionamento da arma.

d. O Cão

Como anteriormente dissemos, o cão é a peça do mecanismo de percussão que se destina a aumentar a

massa do percutor ou a estabelecer a ligação entre este e o armador, permitindo que aquele se arme

automaticamente com a rotação da culatra, ficando depois retido pelo armador.

Vimos também que nas antigas armas com fecho de percussão, o cão era a peça que accionada pela

mola real, ia ferir a cápsula fulminante.

Ex: Carabina Enfield 14 mm M/960 (GBR).

Mais tarde, com a adopção do cartucho completo, passou a ser a peça que ia actuar no percutor,

fazendo-o avançar.

Ex: Carabina Snider 14 mm M/873 (GBR).

Fig. II-5-3

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 25

Nalgumas armas, o cão tem um dorso que se desloca numa fenda da caixa da culatra e impede que ele

tenha movimento de rotação e onde, em certos modelos, está alojado o mecanismo de segurança.

Ex: Carabina Mannlicher 6,5 mm M/96 (AUT).

Noutras, como por exemplo a Esp Mauser Esp 7,9 mm M/937-A, o cão não tem aquele dorso mas o

seu movimento de rotação é impedido por um talão que tem inferiormente e que desliza num entalhe

cavado no fundo da caixa da culatra, destinado a estabelecer a ligação do percutor com o armador.

Nesta arma a diminuição da massa do percutor é compensada pelo aumento de força da sua mola.

6. SEGURANÇA

O mecanismo de segurança destina-se a evitar os disparos

fortuitos da arma, quando esta se encontra carregada ou

armada.

Os sistemas usados são os que a seguir se descrevem:

a. Por imobilização do percutor (Fig. 53)

A mola do percutor fica impedida de funcionar mas

comprimida, consistindo o sistema na utilização de

uma peça (aba da patilha do fecho de segurança (1) )

que se interpõe entre o percutor (2) e o cão, ou entre aqueles

e o obturador (3).

Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937-A

b. Por distensão da mola

(1) Para a frente

Por deslocamento para a frente de uma das suas

superfícies de apoio. A mola do percutor fica

parcialmente distendida e sem força para fazer o

percutor avançar.

Ex: Esp Paravicini Carcano 6,5 mm M/891 (ITA).

(2) Para a retaguarda (Fig. 54)

Por deslocamento para a retaguarda de uma das suas superfícies de apoio. A mola do percutor fica

parcialmente distendida e sem força para fazer o percutor avançar.

Ex: Esp Schmidt-Rubin 7,5 mm M/889 (SWI)

c. Por imobilização do cão e/ou ferrolho

O mecanismo de segurança encontra-se montado na caixa da culatra. Uma peça que se torna saliente

dentro da caixa da culatra, impede o avanço do cão, se este estiver armado, ou do próprio ferrolho,

mesmo que manobrado pelo atirador.

Ex: Esp Lee-Enfield 7,7 mm M/917; Esp Winchester-Hotchkiss 11,6 mm M/879 (USA).

d. Por imobilização do mecanismo de disparar

Há armas em que o mecanismo de segurança não se encontra na culatra móvel nem actua sobre ela.

Encontrando-se na caixa da culatra, actua imobilizando o gatilho ou o armador.

Esp Guedes-Steyr 8 mm M/886 (POR).

e. Por indicador de carregamento

Algumas armas não empregam mecanismos de segurança mas apenas um indicador, para se verificar

se o percutor está, ou não, armado.

Ex: Esp Martini-Henry 11,6 mm (GBR).

Fig. II-5-4

Fig. II-5-5

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 26

f. Por posição intermédia do cão

As armas de fechos de pederneira, de percussão e algumas das primeiras armas de retrocarga possuíam

um entalhe intermédio na noz do cão. Puxando o teiró para essa posição intermédia, o entalhe

imobilizava o gatilho. Era utilizado para prevenir disparos involuntários durante as operações de

carregamento ou antes de ser necessário disparar a arma. Ainda é usado nalgumas armas com cão.

Carabina Snider 14 mm M/873 (GBR); Esp Winchester 7,7 mm M1895 (USA)

7. EXTRACÇÃO

É a operação pela qual o invólucro do cartucho detonado é retirado da câmara. Este mecanismo deve

obedecer às condições normais de simplicidade solidez e segurança.

Deve estar organizado de tal forma que a extracção se faça, de início progressivamente, para melhor

vencer a aderência do invólucro às paredes da câmara e depois com maior velocidade para facilitar a

ejecção.

Os extractores podem classificar-se em:

a. De garra

(1) De mola

São constituídos por uma mola laminar disposta segundo a geratriz do obturador e a este ligada.

Na face anterior está aberta a garra que é oblíqua para que possa passar por cima da base do

cartucho e introduzir-se na garganta ou no rebordo e fixá-lo à cabeça do obturador.

Ex: Esp Albini 11 mm M/867 (BEL)

(2) Com mola

São constituídos por duas peças, um extractor e uma mola flexível para permitir à garra fixar o

cartucho e simultaneamente rígida para que a garra não largue o cartucho.

Ex: Esp Lee-Enfield 7,7 mm M/917

b. De alavanca

São formados por uma alavanca inter-fixa de que um dos braços constitui a garra e outro sirva para

receber a acção, em geral da culatra que lhe dá o movimento.

Ex. Carabina Guedes Steyer 14 mm M/885

c. De mola

São pouco usados por o seu funcionamento depender da acção de uma pequena mola que em pouco

tempo perde a força, encontrando-se quase exclusivamente nas armas de caça.

Ex: Esp Berdan II 10,65 mm M/871 (RUS)

LG 40 mm M/79 (USA)

8. EJECÇÃO

É a operação pela qual, o invólucro, uma vez extraído, é expulso da arma.

Na maioria das armas este mecanismo encontra-se alojado na caixa da culatra.

Como todos os mecanismos deve ser sólido, simples e de funcionamento garantido, devendo produzir a

expulsão rápida do invólucro detonado de forma que o atirador não seja atingido.

Tipos de Ejectores:

a. Ponta saliente na caixa da culatra

Consiste em geral num dente saliente na parte interna da caixa da culatra, que desliza por uma fenda

no cilindro do obturador, de forma a vir aparecer na cabeça deste, encostando-se à base do cartucho,

antes de terminar o recuo da culatra.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 27

Como se encontra em posição oposta ao extractor, o invólucro ao encontrá-lo é obrigado a fazer uma

rotação em torno da garra daquele.

Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937-A.

b. Alavanca

Podem ser alavancas inter-fixas ligadas à caixa da culatra, sendo a culatra móvel, (que durante o seu

movimento de recuo faz subir um dos braços), que vai bater de encontro ao invólucro, expulsando-o.

Ex: Carabina Mannlicher 6,5 mm M/896.

Na Espingarda Carcano 6,5 mm M/891 (ITA), o ejector está ligado à cabeça do armador e fica saliente

no fundo da caixa da culatra.

c. Ligado à culatra móvel

Quando se encontra na culatra móvel, consta em geral duma peça que no final do movimento, se abre

e torna saliente, dando então a pancada no invólucro.

Ex. Esp Mannlicher-Schönauer 6,5 mm M/903 (AUT).

Como veremos ao estudarmos as armas automáticas, quando o sistema de extracção é o de alavanca,

esta desempenha as funções de extractor e de ejector.

A direcção de saída do invólucro é determinada pela posição relativa do extractor e do ejector,

devendo ficar num plano oblíquo - cerca de 45º - para evitar que atinja o atirador ou quem lhe estiver

próximo.

9. DETENÇÃO

É a operação pela qual a culatra é detida no seu movimento para a retaguarda e que impedindo-lhe a saída

a faz parar na posição correcta que permite o carregamento.

Podem existir os seguintes tipos de detenção:

a. Nas culatras de bloco

Nestas culatras, o papel do detentor é desempenhado por uma cavilha ou um ressalto da caixa da

culatra que limita o movimento de rotação.

Ex. Esp Albini M/867 11 mm (BEL); Esp Snider 14 mm (GBR).

b. Nas culatras cilíndricas ou de ferrolho

Nestas o detentor pode encontrar-se:

(1) Na culatra

O detentor é formado por uma anilha aparafusada ao corpo do ferrolho – o batente – sendo a

espera constituída pelos topos das guias do dorso do cão existente na parte superior e posterior da

caixa da culatra.

Ex: Esp Kropatchek 8 mm M/885.

(2) Na caixa da culatra

O detentor consta de um dente – a espera – que se encontra saliente dentro da caixa, no qual um

dos travadores da culatra se vem encostar, desempenhando o papel de batente.

Este detentor pode ser recolhido por meio da pressão exercida, num botão especial, permitindo

assim a extracção voluntária da culatra.

Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937.

No caso da Esp Berdan II 10,67 mm (RUS), a espera está integrada no braço do ejector, sendo

este de alavanca,

(3) Na cabeça da culatra

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 28

O detentor é um ressalto da cabeça da culatra que choca com a espera na caixa da culatra. É

necessário pressionar a cabeça da culatra, no sentido perpendicular ao do eixo da arma, para a

libertar da acção de uma mola da prisão que se encontra na caixa da culatra:

Ex: Esp Lee-Enfield 7,7 mm M/917.

(4) No mecanismo de disparar

Neste caso o detentor é o próprio armador, tendo a culatra um veio cavado à frente do entalhe do

cão, para possibilitar a manobra da mesma. Para retirar a culatra da sua caixa, basta pressionar o

gatilho e retirar a culatra pela retaguarda.

Ex: Esp Mosin-Nagant 7,62 mm Mod 1891/30.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 29

CAPÍTULO 6

MECANISMOS

1. MECANISMO DE DISPARAR

Dá-se o nome de mecanismo de disparar ao conjunto de peças destinadas a provocar o disparo

voluntário da arma.

Este estudo anda ligado ao de percussão. Alguns autores juntam os dois mecanismos, disparar e

percussão, sob o nome de aparelho inflamador.

Este mecanismo de disparar compõe-se de gatilho, armador e mola obedecendo às seguintes condições:

- Não dar lugar a disparos fortuitos;

- Ser de funcionamento seguro;

- Avisar o atirador da iminência do disparo;

- Permitir o disparo sem oscilações da arma;

- Ser simples e robusto.

Quando estudámos o mecanismo de percussão, vimos que nas armas actuais a mola do percutor é

automaticamente comprimida e o percutor

automaticamente armado, quando se abre a culatra.

Para que o percutor de mantenha nessa posição é ele,

ou o cão, provido na parte inferior de um dente

chamado entalhe de armar, que se encosta a um

outro existente no armador, chamado dente do

armador, que se acha saliente no interior e fundo da

caixa da culatra.

Assim, estando a mola do percutor comprimida, basta

fazer recolher o dente do armador para que o percutor

avance. O armador é mantido no seu lugar por meio

de uma mola de modo que aquele efeito só se obtém se a resistência dessa mola for vencida, o que se

consegue actuando no gatilho (Fig. II-6-1).

O armador é uma alavanca (1) tendo numa das extremidades um dente (2) - Dente do armador - que uma

mola (3) chamada mola do armador, obriga a estar sempre saliente no fundo e no interior da caixa da

culatra. A parte anterior desse dente é cortado em plano muito inclinado para a culatra móvel poder

escorregar livremente sobre ele. A parte posterior é cortada verticalmente para poder executar a prisão do

percutor por intermédio do entalhe de armar (4). A outra extremidade de armar está ligada ao gatilho (5).

Este é formado por uma alavanca interfixa situada no plano de simetria da arma, tendo uma das

extremidades (6) encostada à parte inferior da caixa da culatra e a outra (7) livre. Esta, de forma especial,

tem o nome de cauda do gatilho; actuando nela, obriga-se o dente do armador a baixar e liberta-se o

percutor.

Fig. II-6-1

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 30

Para que não se desfaça a pontaria no momento do disparo, a

extremidade superior do gatilho é geralmente talhada com a

forma duplamente curvilínea, - corcovas - de modo que, o

atirador ao apontar, deve primeiro “tirar a folga ao gatilho” (Fig.

II-6-2) que corresponde a encostar também à caixa da culatra a

segunda curva do gatilho ou corcova posterior (8).

Nesta posição, a prisão entre o dente do armador e o entalhe de

armar é mínima, pelo que é suficiente um ligeiríssimo

esforço sobre o gatilho para que o percutor fique livre (Fig.

II-6-3).

Algumas armas de precisão utilizam com o mesmo fim dois

gatilhos: um de segurança e outro de tiro; o primeiro leva o

armador, por intermédio de um sistema de alavancas, a prender-se

no segundo numa posição que está quase a libertar-se dele, pelo

que este só precisa de um esforço muito pequeno para libertar o

armador.

Este sistema é conhecido pelo nome “de cabelo” por empregar

molas como as de cabelo dos relógios.

Nos mecanismos de percussão com mola laminar, o mecanismo de

disparar está intimamente ligado àquele, mas faremos o seu estudo quando tratarmos dos revólveres.

2. MECANISMO DE REPETIÇÃO

a. Generalidades

Dá se o nome de mecanismo de repetição ao conjunto de peças de uma arma que permite ao atirador

executar o carregamento e o disparo de vários tiros, sem que para cada um seja necessário ir buscar o

cartucho às cartucheiras, do que resulta um aumento considerável da velocidade de tiro.

A alimentação duma arma compreende um ciclo composto pelas seguintes operações:

- Carregamento: colocação de um certo número de cartuchos no depósito da arma;

- Transporte : deslocação dos cartuchos, dentro do

depósito, até à sua entrada;

- Distribuição: operação pela qual, apenas um

cartucho de cada vez fica em condições de poder

entrar na câmara;

- Apresentação: colocação do cartucho em frente da

peça (geralmente a culatra) que o introduz na câmara;

- Introdução: colocação do cartucho na câmara.

b. Sistema de alimentação

Conforme a sua organização para a alimentação, as armas

podem classificar-se:

(1) Armas de canos múltiplos.

Foi um sistema muito divulgado nas primeiras armas

de fogo. Os diversos canos moviam-se em torno de um

eixo comum, indo colocar o respectivo ouvido em

correspondência com o mecanismo de percussão que servia cada cano. As pistolas deste tipo eram

Fig. II-6-2

Fig. II-6-3

Fig. II-6-4

Fig. II-6-5

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 31

chamadas de pimenteiros (pepperbox) (Fig. II-6-4), dada a sua semelhança com os moinhos

pimenteiros domésticos da altura. A metralhadora Gatling M861 (USA) (Fig. II-6-5), sendo,

apesar da sua elevada cadência de tiro, uma arma ordinária de repetição, usava também um

sistema de rotação manual de 10 canos.

Actualmente, este sistema tem aplicação nas armas de caça, com 2 a 4 canos sobrepostos e/ou

justapostos.

Ex: Pistola Mariette Pepperbox 1837 de seis canos (GBR).

(2) Armas de câmaras múltiplas (Fig. II-6-6)

Este sistema acha-se limitado aos revólveres. Consiste

num único cano sem câmara e na retaguarda um

tambor, com várias câmaras. O movimento de rotação

do tambor coloca as câmaras, sucessivamente, em

correspondência com o cano.

Ex. Revólver Americano 7,65 mm

(3) Armas de depósito

É o sistema hoje usado em todas as espingardas.

Podem classificar-se em dois grupos:

(a) Depósitos independentes

São transportados nas cartucheiras e só no

momento oportuno se juntam à arma.

Compreendem dois sub-grupos:

1. Aceleradores (Fig. II-6-7)

Não suprimem nenhuma operação de

carregamento mas simplificam a mais

morosa que é a de tirar o cartucho da

cartucheira e introduzi-la na arma.

Consistiam essencialmente, em colocar a

cartucheira próximo da câmara da arma, por

meio de um dispositivo apropriado.

Ex: Esp Berdan I 10,65 mm M/868 (RUS), utilizou como acelerador, a cartucheira Kruka

com capacidade par 10 cartuchos.

2. Carregadores automáticos

Exigem para a sua adopção, modificações nas

armas que com a sua adaptação se

transformam em armas de repetição

funcionando de forma que a introdução do

cartucho é feita automaticamente.

Como exemplos citam-se os carregadores

Lowe (Fig. II-6-8), com capacidade para 12

cartuchos e os carregadores Lee com

capacidade para 8 cartuchos (Fig. II-6-9).

(b) Depósitos fixos

Fig. II-6-7

Fig. II-6-6

Fig. II-6-8

Fig. II-6-9

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 32

Este sistema que o cartucho metálico permitiu desenvolver, é de origem americana tal como

as primeiras armas de repetição.

Os depósitos fixos classificam-se, segundo a sua posição em relação à arma, em:

1. Depósito no fuste (Fig. II-6-10)

Consiste num ou em dois tubos encaixados no fuste, colocados respectivamente, ou por

baixo e paralelamente ao cano, ou num lado e outro do cano.

Neste tubo ou tubos se

introduzem os cartuchos,

de modo que a base do

cartucho anterior assenta

sobre a ponta do cartucho

seguinte.

Uma mola (1) e um êmbolo

(2) constituindo um

impulsor, impelem os

cartuchos para o elevador

colocado à entrada do

depósito, isto é, executam o

transporte .

Uma peça especial, vulgarmente chamada detentor (7) executa a distribuição impedindo

que, de cada vez, saia mais do que um cartucho do depósito.

O elevador (5) coloca o cartucho no caminho da culatra (4), fazendo a apresentação e é a

culatra móvel, no movimento em que se fecha, que vai introduzir o cartucho na câmara

executando, portanto, a introdução.

Os elevadores podem ser:

a. De Gaveta

São um espécie de bloco de forma prismática, que superiormente tem um cavado para

receber o cartucho, e inferiormente está ligado a uma alavanca que lhe dá o

movimento, por forma a ficar na posição superior quando a culatra está aberta.

A alavanca que dá o movimento ao elevador, pode ser accionada pela alavanca de

manobra (Ex: Carabina Winchester 10,8 mm 1873) ou pela própria culatra.

b. De Cucharra

Constam duma espécie de colher móvel em torno de um eixo horizontal perpendicular

ao eixo do cano, cujos movimentos são comandados pela culatra, elevando-se quando

esta abre e baixando quando a culatra fecha (Fig. 63).

Para o efeito, a cucharra dispõe de um dente (8) e uma lingueta (10) contra os quais

vem bater um entalhe da culatra.

Ex: Esp Kropatcheck 8 mm M/886.

O sistema de depósito no fuste , além dos inconvenientes relativos à morosidade de

qualquer sistema de carregamento sucessivo, tem mais os seguintes:

- Torna as armas demasiado pesadas;

- Exige uma organização complexa do mecanismo de repetição;

- Desloca o centro de gravidade da arma provocando fadiga ao atirador;

- Origina variações no equilíbrio da arma produzindo irregularidade no tiro;

Fig. II-6-10

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 33

- Aquece os cartuchos devido à proximidade do cano;

- Não permite o emprego de cartuchos com projéctil pontiagudo.

2. Depósito no couce (Fig. II-6-11)

Consiste num tubo embutido no couce em todo o comprimento deste e que se abre

anteriormente na caixa da culatra,

à altura da câmara.

Algumas armas, para aumentar o

número de cartuchos, têm o couce

inteiramente cavado alojando-se

os cartuchos longitudinalmente,

uns sobre os outros, os quais, por

acção duma mola, vão descendo

de forma a ocupar o lugar dos que se vão gastando, no tubo que conduz à caixa da culatra.

3. Depósito central ou sob a caixa da culatra

Foi Mannlicher, em 1888 que realizou o depósito fixo na caixa da culatra, para

carregamento simultâneo.

Consiste o sistema de

depósito central, numa caixa

metálica, aplicada ao fuste da

arma numa cavidade inferior

à caixa da culatra, onde se

introduzem os cartuchos, ou

soltos - Sistema Mauser -

(Ex: Esp Mauser 7,9 mm

M/937-A) (Fig. II-6-12), ou

colocados num carregador - Sistema Mannlicher - (Ex: Carabina Mannlicher 6,5 mm

M/896) (Fig. II-6-13).

O depósito pode estar recolhido no fuste ou ser saliente; quando os cartuchos entram no

depósito com o carregador, um

fixador, constituído por um dente

saliente na parede do depósito,

fixa o carregador na devida

posição.

Dentro do depósito há um

elevador que consta de uma peça

– o transportador – onde se

apoiam inferiormente os

cartuchos e que uma mola ou

sistema de molas apoiadas no

fundo do depósito, obriga a subir levando os cartuchos até à altura da câmara, isto é,

executa o transporte e a apresentação.

Para que os cartuchos não saiam do depósito e para garantir a distribuição, há ainda o

detentor que ou é uma espera móvel colocada na parte superior do depósito [Ex: Esp

Fig. II-6-11

Fig. II-6-12

Fig. II-6-13

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 34

Mannlicher-Schönauer 6,5 mm M/903 (AUT)] ou um estrangulamento das paredes

superiores do depósito (Ex: Esp Mauser 7,9 mm M/937-A).

Nas armas em que o carregador entra no depósito – Sistema Mannlicher – o detentor é

constituído pela dobragem dos bordos do carregador aos quais se dá o nome de orelhas

do carregador.

Os cartuchos são levados para a câmara – introdução – pela culatra móvel.

O sistema mais utilizado é o depósito central fixo de carregamento simultâneo.

O carregamento faz-se geralmente pela parte superior do

depósito, depois de aberta a culatra móvel, por intermédio de

transportadores que na Mauser se chamam lâminas

carregadoras (Fig. II-6-14). Cada lâmina leva cinco cartuchos

e entra no chanfro de carregamento existente na caixa da

culatra. Os cartuchos entram para o depósito por pressão

exercida sobre eles com os dedos e a culatra ao fechar ejecta

automaticamente a lâmina.

É de toda a vantagem que os mecanismos de repetição tenham

um dispositivo destinado a avisar que não existem mais

cartuchos no depósito. O avisador de carregamento mais simples é o utilizado na Mauser

que consiste numa nervura colocada no transportador do elevador e contra a qual a culatra

móvel vai bater, não podendo fechar, quando o depósito está

vazio.

No sistema Mannlicher, o depósito é aberto no fundo o que

permite a queda do carregador logo que consumido o último

cartucho.

Geralmente, para que a introdução dos cartuchos na câmara

seja facilitada, encontram-se na caixa da culatra ou na entrada

da câmara, rampas ou planos inclinados que os guiam.

Alguns modelos de depósitos centrais utilizavam um

sistema rotativo, com alvéolos individuais [Ex: Esp

Steyr-Spitalsky M/879 (AUT)] (Fig. II-6-15) ou com

um alojamento em espiral [Ex: Esp Mannlicher-

Schönauer 6,5 mm M/903 (AUT)] (Fig. II-6-16). Este

último, apesar de bastante eficiente, era muito

dispendioso e complexo, apenas sendo adoptado em

pequenas quantidades pelo exército grego.

Não obstante, como se disse, o carregamento se fazer geralmente

pela parte superior do depósito, depois de aberta a culatra móvel, há

modelos em que o carregamento do depósito é feito com a culatra

fechada tendo neste caso uma abertura lateral.

Ex: Esp Krag-Jorgensen M/894 6,5 mm (NOR) (Fig. II-6-17).

Fig. II-6-14

Fig. II-6-15

Fig. II-6-16

Fig. II-6-17

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 35

CAPÍTULO 7

CORONHA

1. GENERALIDADES

A coronha é a parte da espingarda destinada a alojar e a proteger todas as peças que a constituem,

permitindo ao mesmo tempo o seu fácil manejo.

São em geral de madeira de boa qualidade , sem nenhum tipo de nó, sendo a de nogueira a preferida,

porque embora cara, é resistente e leve, apesar de se alterar com a humidade.

Uma boa alternativa são as coronhas de madeira laminada e colada depois com resinas epoxídicas, que

permite o emprego de madeiras mais baratas e leves, além evitar empenamentos por acção da humidade e

defeitos internos.

As coronhas de plástico moldado por injecção são também muito comercializadas, oferecendo menores

pesos, menores alterações à chuva e à humidade, a par de uma boa resistência e durabilidade, a custos

inferiores às coronhas de madeira. Todavia, alteram-se com elevadas temperaturas e são menos estéticas.

Actualmente, adoptam-se também coronhas de materiais compósitos , como sejam a fibra de vidro, a

espuma de poliuretano, fibras de carbono, kevlar, resinas epoxídicas, entre outros. São muito leves,

precisas e inalteráveis às condições meteorológicas. Todavia, são muito mais dispendiosas, mais

demoradas de elaborar e mais frágeis, necessitando igualmente de “esqueletos” internos de alumínio ou

outros metais, para ganhar resistência. Usam-se geralmente em armas de precisão para tiro desportivo e

franco-atiradores.

2. DIVISÃO

As coronhas dividem-se em três

partes (Fig. II-7-1):

a. Fuste (1)

É a parte que aloja o cano, a

caixa da culatra e os vários

mecanismos a esta ligados,

para o que tem na parte superior um cavado destinado ao cano e várias montagens destinadas às outras

peças.

A sua forma exterior deve permitir o manejo da espingarda como arma de mão de estocada ou ponta,

de haste e facilitar a pontaria dando boa pega à mão esquerda.

b. Delgado (2)

Serve para segurar a arma com a mão direita, sendo em geral de secção oval.

Na parte que o separa do couce deve ter inferiormente uma saliência a que se dá o nome de corcova

(3), cuja a finalidade é dar bom apoio à mão do atirador e superiormente, um ressalto para o apoio do

dedo polegar, a que se chama dedeira (4).

O ângulo que o eixo do delgado faz com o eixo do cano, chama-se ângulo de coronha.

c. Couce (5)

O couce serve para apoiar, com firmeza, a arma contra o ombro do atirador e para o apoio da arma no

solo. É a parte mais reforçada da coronha, terminando posteriormente por uma face de grande

superfície chamada soleira (6).

Fig. II-7-1

1 2

3

4 5

6

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 36

O couce pode ser cavado interiormente para alojamento de alguns acessórios da arma, destinados ao

serviço de limpeza e conservação.

As coronhas são geralmente feitas de uma só peça. Todavia, podem também ser constituídas por duas

partes distintas, em que a caixa da culatra separa o fuste do resto da coronha, o que as torna mais

económicas e facilita o seu fabrico e montagem.

Ex: Esp Lee-Enfield 7,7 mm M/917; Carabina Winchester 10,8 mm 1873 (USA).

3. CONDIÇÕES

As coronhas devem satisfazer as seguintes condições:

- Permitir um bom manejo da arma, tanto como arma de fogo como arma de estocada;

- Permitir uma pontaria fácil;

- Atenuar o efeito do recuo;

- Serem robustas sem ser pesadas.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 37

CAPÍTULO 8

GUARNIÇÕES E ACESSÓRIOS

1. GUARNIÇÕES

Guarnições duma arma são todas as peças secundárias que completam a sua constituição e que a sua

utilização faz aumentar o rendimento da arma.

As principais guarnições nas armas ordinárias são as seguintes:

a. Braçadeiras

Destinam-se a ligar o cano ao fuste.

Geralmente são anéis de aço, fechados para não alterar as vibrações do cano. Podem também ser de

charneira, o que implica a existência de um parafuso para maior ou menor aperto.

Para evitar que as braçadeiras saiam do seu lugar, entalham-se no fuste umas molas chamadas esperas

das braçadeiras .

b. Parafusos de fixação da caixa da culatra ao fuste

Conjuntamente com as braçadeiras, fazem estes parafusos a ligação da arma à coronha.

Os furos da coronha por onde passam os parafusos devem ser revestidos de pequenos tubos metálicos

para protecção da madeira e fixação das partes aparafusadas.

c. Chapa do couce

Serve para reforçar e proteger a soleira da coronha, impedindo que parta nos choques inevitáveis no

solo. A sua forma é variável conforme os modelos das armas mas geralmente tem um revestimento na

parte superior chamado frente ; segue-se uma parte curva, o talão, depois a soleira que termina pelo

bico. Para dar um melhor apoio ao ombro, a soleira pode ser serrilhada.

Algumas armas, como por exemplo, muitas espingardas caçadeiras, possuem uma chapa de couce em

borracha ventilada, com a função adicional de amortecer parte da força de recuo que chega ao

ombro do atirador.

Ex: Carabina Springfield 7,65 mm M/926.

d. Zarelhos

Servem para a fixação da bandoleira; a sua posição é variável, encontrando-se na parte inferior e no

plano simétrico da arma, ou nas faces laterais.

A Esp Mauser 7,9 mm M/937-A, dispõe de dois zarelhos, um lateral e outro axial, fixos à braçadeira

inferior; combinados com duas pastilhas existentes no couce da coronha permitem duas posições de

transporte da arma utilizando a bandoleira.

A Esp 7,7 mm Lee-Enfield M/917, além dos dois zarelhos para a bandoleira, possui um terceiro para

permitir o ensarilhar das armas.c

e. Apoio de desarmar

Em certas armas existe uma cavidade metálica, embutida na coronha, destinada a servir de apoio ao

percutor, para armar ou desarmar a culatra.

f. Protector do ponto de mira

Destina-se a proteger o ponto de mira.

g. Bandoleira

É destinada a facilitar o transporte da arma, podendo ser de couro ou de tela.

2. ACESSÓRIOS

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 38

São os objectos destinados ao serviço, limpeza, conservação e manutenção das armas e ainda as

ferramentas indispensáveis para montar e desmontar a arma.

Os principais são:

a. A vareta

Destina-se, a extrair um invólucro detonado, ou cartucho que o extractor não conseguiu retirar da

câmara.

Uma das extremidades da vareta chama-se cauda e tem aberta uma rosca para a sua fixação ao fundo

do canal do fuste.

A outra extremidade chama-se cabeça e tem um calibre quase igual ao do cano. Nela está aberta uma

fenda para facilitar o seu desenroscamento; normalmente usam-se varetas feitas de vários pedaços que

se aparafusam uns aos outros.

A Esp Mauser 7,9 mm M/937-A, emprega só meia vareta, havendo necessidade de reunir duas armas

para se obter uma vareta completa.

b. Estojo de limpeza

Consta em geral de:

(1) Uma espátula em aço, que serve para a limpeza interior da caixa da culatra e também para re tirar

e pôr o fundo do depósito;

(2) Uma almotolia em aço e contendo óleo;

(3) Uma corrente de limpeza formada por elos de aço destinada a fazer passar pelo interior do cano

os escovilhões ou mecha de limpeza;

(4) Dois escovilhões, um em cerdas para a lubrificação e outro de cerdas e arame de latão para a

limpeza;

(5) Quatro mechas de limpeza.

c. Protector de boca

Destina-se a tapar a boca do cano quando a arma não está em serviço.

Pode ser metálico, de materiais polímeros ou resinosos, de lona ou

mesmo de couro. Algumas armas que não possuem protector do ponto

de mira fixo, possuem um protector amovível de ponto de mira e de

boca. É o caso da Esp Mauser 7,9 mm M/937 (Fig. II-8-1).

d. Capa da culatra

De lona ou de couro, são apenas usadas quando a estanquicidade não esteja garantida.

e. Silencioso

Destina-se a diminuir o efeito sonoro produzido pela detonação. Constituindo a detonação uma

consequência do choque violento dos gases da pólvora

à saída da boca do cano com o ar, estudaram-se várias

soluções tendentes ao enfraquecimento daquele

choque.

Assim, nos silenciosos de válvula (Fig. II-8-2), os

gases, logo que o projéctil P abandona o dispositivo,

actuam sobre o mecanismo M que está ligado a uma válvula V, que tapa o orifício de saída. Os gases

escapam-se então, lentamente, pelos orifícios que

existem no corpo do aparelho.

No sistema de câmaras há várias modalidades.

Fig. II-8-1

Fig. 65

Fig. 66

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 39

Umas, em que além das câmaras há também orifícios de escape. Ex: Silencioso Borreson (Fig. II-8-1).

Outras, só com câmaras, onde os gases se vão expandindo, diminuindo progressivamente a sua tensão.

Um dos silenciosos, considerado mais perfeito, é o Maxim, em que o movimento rectilíneo dos gases

é transformado em movimento de rotação, criando-se verdadeiros remoinhos dentro de cada uma das

câmaras para que ao escapar-se da última, a sua velocidade e capacidade de dilatação são fracas,

fazendo-se suavemente a mistura com o ar.

f. Freio de boca

Destina-se a atenuar o recuo da arma. Os freios de boca foram inventados com a finalidade de se

obterem menores velocidades de recuo da arma, aumentando assim as suas condições de precisão. A

sua aplicação, não se generalizou a todas as armas portáteis devido aos seguintes inconvenientes:

- Difícil conservação;

- Provocarem o desequilíbrio da arma;

- Produzirem fenómenos de refrangibilidade devido ao ar quente em volta do aparelho;

- Não permitirem o armar da baioneta.

Apresentam contudo algumas vantagens importantes, nomeadamente “coices” bastantes mais fracos e

por isso menor fadiga do atirador.

g. Tapa chamas

Atenua a formação do clarão à boca da arma, resultante do encontro dos gases que se formam no

interior do cano com a atmosfera.

h. Supressores combinados

Acessórios recentemente concebidos, que combinam as características dos silenciosos e dos tapa-

chamas. São utilizados nas armas de precisão dos atiradores especiais, onde se torna especialmente

importante não revelar a sua posição, seja pelo som, seja pelo clarão à boca.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 40

CAPÍTULO 9

REVÓLVERES

1. GENERALIDADES

Os revólveres são, como vimos, armas de repetição do sistema de câmaras múltiplas, destinados a fazer

fogo instintivamente a curtas distâncias, empregando um grande poder derrubante.

O revólver nasce com a necessidade de criar uma arma de projecção de fogo, portátil e ligeira, que dote o

combatente, no combate próximo, com capacidade de repetição.

Este novo tipo de arma, numa fase inicial, confunde-se com outra,

caracterizada por alguma capacidade de repetição através de canos

múltiplos rotativos (4, 5, 6 ou mais canos), denominada de pepperbox

(pimenteiro) (Fig. II-9-1).

O funcionamento do revólver resume-se, na prática, a um conjunto de

câmaras abertas num cilindro móvel colocado numa posição paralela ao eixo do cano para que, através

de um mecanismo simples, as mesmas (câmaras) sejam colocadas em concordância com a alma do cano.

Para se realizar o tiro exige-se que o cilindro móvel gire mas que pare no momento preciso em que se faz

a coincidência do eixo da câmara a disparar com o do cano para que, nesse instante, o cão efectue a

percussão sobre a escorva, produzindo a sua detonação e posterior inflamação da carga do projéctil.

Os primeiros revólveres que se conhecem surgem no final do século

XVI - início do século XVII, produzidos na região do actual Sul da

Alemanha, com fechos de roda (Fig. II-9-2) e pederneira.

No entanto, 1818, é o ano onde pela primeira vez se da o emprego do

primeiro revólver com sistema de rotação de cilindro de forma não

manual. O seu inventor foi o americano Elisha Collier, de Boston,

que obteve em 1818 a patente inglesa nº 4315, válida por catorze anos, para uma arma de fogo que

combinava um só cano com várias câmaras permitindo uma sucessão de disparos com um só

carregamento (Fig. II-9-3).

A rotação do cilindro era conseguida por meio de uma mola que

estava ligada a este e que ficava em tensão quando, de forma

manual, se rodava o cilindro, em sentido contrário ao que este

assumia durante a fase do disparo. No momento de armar o cão

martelo o cilindro rodava automaticamente procedendo ao

alinhamento, de forma sucessiva, das câmaras com o cano.

Este sistema, apesar de manter os grandes inconvenientes dos fechos de pederneira, foi uma

importantíssima fonte de inspiração para Samuel Colt desenvolver o primeiro revólver de tambor com

rotação automática e fecho de percussão.

O aparecimento das pistolas semi-automáticas, no final do século XIX, retirou protagonismo a este tipo

de armas. Presentemente, quase todos os países preferem as pistolas aos revólveres, não obstante serem

atribuídas a estes algumas vantagens como arma de defesa pessoal, que justificam uma análise mais

pormenorizada.

2. CLASSIFICAÇÃO DOS REVÓLVERES

Os revólveres podem classificar-se quanto ao sistema de percussão e ao sistema de funcionamento.

Fig. II-9-1

Fig. II-9-2

Fig. II-9-3

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 41

a. Segundo o sistema de percussão, os revólveres podem ser de:

(1) Cápsula fulminante

Este tipo de revólver nasce com a generalização dos fechos de percussão nas armas de fogo

ligeiras, na primeira metade do século XIX, como já vimos. Entre 1840 e 1850 todos os principais

exércitos adoptam, oficialmente, o sistema de percussão.

Apesar duma operação de carregamento mais longa que nas armas de pederneira, por ser

necessário com alguma precisão, colocar a cápsula na chaminé, o sistema de percussão tinha

menor custo e menor sujeição aos agentes atmosféricos.

O Colt Paterson (Fig. II-9-4) patenteado em 1836

por Samuel Colt em New Jersey, EUA foi o primeiro

revolver com este sistema, possuindo o cilindro com

seis câmaras de antecarga, com as respectivas

chaminés para colocação das cápsulas fulminantes.

Esta arma embora de fabrico e funcionamento

complexo é a primeira em que a rotação do cilindro se dá pelo movimento de armar o cão não

sendo necessária a armação manual do mesmo.

O carregamento dos revólveres deste tipo comporta três fases:

(a) Carregamento das câmaras com pólvora através de um polverim;

(b) Carregamento dos projécteis nas câmaras, um a um, com apoio da alavanca de carregamento;

(c) Colocação das cápsulas nas chaminés do cilindro.

Este sistema de percussão permite quer a utilização de cilindro ogival, quer a utilização do

projéctil tradicional esférico. O sistema de carregamento leva cerca de 1 minuto. Com a adopção

dos cartuchos completos em cartão canelado, essa acção de carregamento passa para cerca de 20

segundos.

(2) Cartucho metálico de percussão lateral;

Este tipo de revolver é caracterizado por uma acção

lateral do cão sobre o cartucho metálico completo,

inventado pelo francês Casimir Lefaucheux que, em

simultâneo, criou o famoso revólver Lefaucheux (Fig.

II-9-5) em 1853.

No revólver de percussão lateral a percussão é obtida

mediante uma haste (Fig. II-9-6), alojada no rebordo

ou garganta do cartucho, que ao golpear a cápsula fulminante

alojada no interior da base do cartucho, origina a deflagração da

carga propulsora.

A acção da haste é garantida pelo cão que se abate sobre ela

depois de accionado o gatilho. Estes cartuchos, pelas suas

especificidades obrigam, além de uma particular atenção no seu

manuseamento, a algum cuidado no processo de carregamento

da arma.

(3) Cartucho metálico de percussão anelar;

Este tipo de revolver, patenteado pela primeira vez em 1857, com o Smith & Wesson Model 1

(Fig. II-9-7), evita a percussão lateral e seus inconvenientes. Continua a ser utilizado um cão

martelo que actua

Fig. II-9-4

Fig. II-9-5

Fig. II-9-6

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 42

sobre o rebordo saliente da base da munição. O cartucho

adopta uma cápsula fulminante que passa a ocupar todo o

espaço do rebordo ou garganta do cartucho (Fig. II-9-8) (1).

Apesar dessa vantagem que

facilita e acelera o

carregamento, apresenta o

inconveniente de não poder

ser utilizado em munições demasiado potentes pois as paredes do

rebordo sendo, necessariamente, finas, romperiam com cargas

propulsoras mais fortes.

(4) Cartucho metálico de percussão central

Este tipo de tipo de revólver, aparecido pela

primeira vez em 1873, com o Colt Peacemaker

(Fig. II-9-9), é dotado de um cão percutor em vez

de cão martelo, após a descoberta da percussão

central. O cartucho de percussão central (Fig. II-

9-8) (2), inventado por Hiram Berdan em 1866,

mantém-se perfeitamente actual. Hoje equipa

parte substancial dos revólveres em uso, podendo adoptar diferentes calibres e comprimentos.

b. Segundo o sistema de funcionamento, os revólveres podem ser de:

Na execução do tiro de repetição com revólver é necessário armar o cão e girar em simultâneo o

cilindro, até que o eixo de uma das câmaras fique no prolongamento do eixo da alma do cano,

imobilizando-se então o cilindro até que o cão se abata sobre a cápsula fulminante. Estas operações

podem ser organizadas de três maneiras:

(1) Tiro intermitente ou simples (Fig. II-9-10).

Nestes revólveres as operações a efectuar

manualmente são:

(a) Armar o cão;

(b) Disparar.

Ao exercer uma pressão manual retrógrada sobre o

teiró (9), o cão arma, ao mesmo tempo que o

cilindro gira automaticamente até ficar imobilizado.

Depois, é necessário premir o gatilho.

O cão (1), põe em movimento uma haste chamada

impulsor (2) que engrena numa cremalheira (3)

existente no cilindro (4) fazendo-o girar, até a

câmara coincidir com o cano.

O cão é retido pelo armador (5) que por sua vez é accionado pelo gatilho (6). A imobilização do

cilindro para a execução do tiro, é obtida por meio de um dente chamado a espera do cilindro (7)

existente no gatilho que encosta a uns batentes (8) existentes no cilindro. O cão ao ser armado

comprime a mola real (9).

Fig. II-9-7

Fig. II-9-8

Fig. II-9-9

Fig. II-9-10

1 2

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 43

Ex : Revólver Nagant Brevete

(2) Tiro contínuo (Fig. II-9-11)

Estes revólveres exigem um só movimento:

Disparar.

Do movimento do gatilho depende o do cão, o que

se consegue por meio da alavanca ou de um tirante

chamado peça de armar (9), de forma que o recuo

do gatilho provoque o recuo do cão, comprimindo

a mola real (10).

O impulsor (2) que faz girar o cilindro, está

também articulado com o gatilho, o qual possui,

como no anterior a espera do cilindro (7).

O cão ao chegar à sua posição mais recuada, como

não há armador e é, por meio de um dispositivo especial, abandonado pelo gatilho, vai, sob a

acção da mola real, ferir a cápsula fulminante.

(3) Duplo movimento ou sistema misto (Fig. II-9-12)

Nestes revólveres podem executar-se as duas

espécies de tiro:

Simples , armando o cão manualmente.

Contínuo, accionando simplesmente o gatilho.

São, na generalidade, revólveres de tiro contínuo a

que se juntou um armador. São os revólveres mais

usados pois reúnem as vantagens dos dois primeiros,

favorecendo a rapidez obtida pelo tiro contínuo

contra os alvos próximos, e a precisão obtida pelo

tiro simples contra alvos mais distantes, em que a

pontaria deve ser executada com cuidado.

Ex: Revólver Abadie Brevete

3. ORGANIZAÇÃO DOS REVÓLVERES

Normalmente um revólver apresenta as seguintes partes principais (Fig. II-9-13):

a. Cano

O cano (1) é um tubo de aço fundido, com cerca

de 15 calibres de comprimento, com formas

externas muito variadas (cilíndrica, poligonal,

etc.) tendo posteriormente uma parte roscada

para a sua ligação à carcaça e anteriormente o

ponto de mira.

A alma é estriada, sendo variável o número de

estrias.

O que se pretende obter com os revólveres é um

grande poder derrubante, que se obtém com o

emprego de projécteis de chumbo macio e de

Fig. II-9-11

Fig. II-9-12

Fig. II-9-13

1

2

3

4

5

6

7

9

8

10

11

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 44

grande calibre (superior a 8 mm), animados de uma velocidade inicial não muito elevada. O calibre

mínimo geralmente adoptado é, por razões de manejabilidade, o calibre 9 mm.

A velocidade inicial que depende das pressões desenvolvidas e do comprimento do cano, é também

condicionada pela manejabilidade, variando entre 200 a 350 m/s.

b. Carcaça

A carcaça (2) é a parte que reúne todas as outras e que corresponde à coronha das espingardas.

É de aço fundido e pode considerar-se dividida em três partes.

(1) Caixilho

O caixilho (3) é a parte anterior onde se rosca o cano e dentro do qual se move o cilindro.

Tem a forma rectangular dando-se o nome de faixa ao lado superior (4), soleira ao inferior (5),

frente ao anterior (6) e espalda ao posterior (7).

A faixa não existe em todos os modelos, mas é aí, que frequentemente se encontra aberta a

ranhura de mira.

O gatilho é montado na soleira, nesta existe uma fenda (8) para a passagem da espera do

cilindro.

Nos revólveres de extractor sucessivo, uma parte da espalda é móvel para deixar a descoberto a

entrada de uma das câmaras, permitindo o carregamento e a extracção e à qual se dá o nome de

porta carregamento.

(2) Caixa dos mecanismos

A caixa dos mecanismos (9) é a parte que fica entre o caixilho e a armação do punho e onde se

encontram alojados quase todos os mecanismos.

A sua face esquerda é, em geral móvel e chama-se chapa de cobertura.

(3) Armação do punho

A armação do punho (10) é a parte onde se fixam as platinas. Tem no seu ramo superior uma

corcova (11) para apoio da forquilha do cão.

c. Cilindro (Fig. II-9-14)

É de aço, tem um número variável de furos ligeiramente tronco-cónicos, dispostos simetricamente em

torno do seu eixo, que constituem as câmaras.

Na face anterior do cilindro e em torno do orifício central para o

eixo, há uma cremalheira (1), com tantos dentes quantas câmaras,

em forma de dentes de serra, sobre os quais actua o impulsor.

Na superfície cilíndrica estão abertos uns entalhes (2) – os

batentes – onde entra a espera do cilindro para o imobilizar.

d. Aparelho inflamador e impulsor (Fig. 69)

Este aparelho compõe-se do mecanismo de percussão e do mecanismo de disparar.

É nesta parte que vários modelos apresentam maiores diferenças.

(1) O Mecanismo de percussão compõe-se de cão-percutor (1) e mola real (2).

Esta é em geral, laminar e apoia-se por um dos extremos na armação do punho e pelo outro, no

cão.

(2) O Mecanismo de disparar compõe-se de armador (3), mola de armador (4), peça de armar (5),

mola da peça de armar (6), gatilho (7) e mola do gatilho.

O armador e a sua mola servem para o tiro intermitente (tiro a tiro). A peça de armar e a sua

mola para o tiro contínuo.

Fig. II-9-14

1

2

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 45

É ao gatilho que em geral, se liga o impulsor (8), destinado a dar movimento ao cilindro por

intermédio de um dente de que dispõe no seu extremo superior e que vai engrenar na cremalheira.

e. Extractor

Os extractores podem ser sucessivos ou simultâneos;

(1) Extractor sucessivo:

É o mais simples. É constituído por uma vareta montada num alojamento apropriado paralelo ao

eixo do cano, que pode ser colocado em frente a uma das câmaras da arma.

Ex: Revólver Nagant Brevette.

(2) Extractor simultâneo:

Obriga a um sistema que afaste o cilindro da espalda. Segundo o modo de se obter esse

afastamento, temos dois grupos de extractores:

(a) De Translação (Fig. 72)

É constituído por um disco (1) de pequena espessura,

com o mesmo diâmetro que o cilindro e com um número

de furos igual ao das câmaras, ligado a um tubo que

penetra no eixo do cilindro.

O cano, o cilindro e o extractor, têm movimento no

sentido do eixo do cano, por acção de uma alavanca que

serve igualmente de guarda-mato (2).

Como neste sistema os invólucros não eram ejectados, há

modelos em que o disco foi substituído por uma estrela que

entra num entalhe aberto na parte posterior do cilindro.

(b) De Rotação

No sistema de rotação o extractor é também de disco ou de

estrela mas o movimento é feito em torno de um eixo:

1. Perpendicular ao eixo do cilindro (Fig. 73)

Ex: Revólver Smith & Wesson .32

2. Paralelo ao eixo do cilindro (Fig. 74)

Ex: Revólver Colt .38

Este é o sistema de extracção utilizado nos

revólveres actuais.

f. Mecanismo de segurança

Sendo armas extremamente fiáveis, poucos revólveres têm o

mecanismo de segurança bem definido e independente do resto

dos mecanismos.

Ainda assim, pode aparecer de quatro maneiras:

(1) Através de um comutador ou alavanca que imobiliza o:

(a) Cão;

(b) Gatilho;

(c) Cilindro.

(2) Através de uma peça especial entre o cão e a câmara:

(a) Presente (ou seja, bloqueante da acção do cão);

(b) Ausente (que age como placa de transferência entre o cão e a cápsula fulminante).

(3) Através de uma chave imobilizadora que pode actuar no cão, no caixilho ou na carcaça).

Fig. 72

Fig. 73

Fig. 74

1

2

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

II - 46

(4) Através de uma posição intermédia do cão, semelhante à já referida para outras armas ordinárias.

g. Aparelho de pontaria

Consta de um ponto de mira, na parte anterior do cano e de uma ranhura de mira situada na faixa,

no prolongamento do cano, ou ainda no cão. Ex: Revolver Lefaucheux 9 mm (FRA).

h. Punho

Corresponde ao couce das espingardas mas é muito mais curvo para facilitar o manejo.

No punho há a considerar a armação e as platinas.

i. Guarnições e Acessórios

(1) As guarnições constam de essencialmente do guarda-mato e da argola de suspensão.

(2) Os acessórios mais importantes englobam o conjunto de limpeza, o coldre e fiador, além de

dispositivos aceleradores de carregamento: carregadores rápidos e clipes.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 1

PARTE III

ARMAS AUTOMÁTICAS

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1. GENERALIDADES

Com o aperfeiçoamento das armas de repetição, nasceu nos construtores a ânsia de obter uma arma que

num curto espaço de tempo fizesse um elevado número de tiros. E assim, apareceram na segunda metade

do século XIX, como vimos, as primeiras armas automáticas. No início, de func ionamento mecânico e

com vários canos evoluindo depois para o funcionamento automático e com um só cano.

Entre os muitos criadores que contribuíram para a entrada na era das armas automáticas, podem

considerar-se três deles, todos norte-americanos por sinal, como os mais marcantes:

i. Richard Gatling (1818-1903), pela autoria de uma metralhadora de accionamento manual com

elevado poder de fogo, em 1861.

ii. Hiram Maxim (1840-1915), como o criador em 1883 da primeira metralhadora de funcionamento

totalmente automático.

iii. John Browning (1855-1926), o cérebro mais fértil de todos os desenhistas de armas norte-

americanos, a quem se deve a paternidade em 1892, da primeira metralhadora com um sistema de

automatismo baseado na actuação directa dos gases num êmbolo, fazendo assim recuar a culatra.

Daí para a actualidade, o progresso das armas portáteis automáticas tem sido contínuo, tendo concorrido

para o seu desenvolvimento os grandes conflitos bélicos do século XX, em especial, as duas guerras

mundiais.

A Primeira Guerra Mundial viu generalizar-se o emprego da metralhadora como arma de apoio à

infantaria e como armamento das aeronaves de combate e dos primeiros carros de combate , bem como

das pistolas semi-automáticas .

Na Segunda Guerra Mundial, a pistola-metralhadora passa a ser a arma individual de grande parte das

tropas beligerantes. O exército norte-americano dota a totalidade da sua Infantaria com a espingarda

semi-automática M1 Garand, de calibre 7,62 mm. Generalizam-se os canhões de tiro automático para

equipar viaturas pesadas, aeronaves, navios e embarcações.

Durante a Guerra-Fria, passa a generalizar-se a espingarda de assalto como arma padrão da Infantaria,

permitindo o tiro automático e semi-automático.

A evolução das armas automáticas ligeiras (pistolas, pistolas-metralhadoras, espingardas automáticas e

metralhadoras) continua nos dias de hoje, procurando satisfazer necessidades crescentes relativas às já

abordadas condições de tiro, de serviço e de fabrico.

Armas automáticas são armas nas quais, uma vez carregadas e disparado o primeiro tiro pela acção do

dedo sobre o gatilho, as operações de destravar, abrir a culatra, extrair e ejectar o cartucho, armar o

percutor, introduzir novo cartucho na câmara, fechar e travar a culatra, se sucedem rápida e regularmente

para cada um dos tiros seguintes, sem intervenção do atirador, apenas pelo aproveitamento da acção dos

gases da carga.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 2

Assim, nas armas automáticas a energia desenvolvida pelos gases da pólvora não é só aproveitada para

impulsionar o projéctil como também para possibilitar o funcionamento da arma. Para isso, a força de

expansão dos gases é aplicada em determinadas partes do mecanismo da arma, ou em molas, que

armazenam a energia necessária para o completo funcionamento automático.

Resumidamente, o processo geral de funcionamento das armas automáticas é o constante do quadro

seguinte:

AGENTE MOTOR MOVIMENTO EFECTUADO OPERAÇÕES EXECUTADAS

Pressão dos gases Recuo das partes móveis

- Destravamento e desobturação;

- Extracção e ejecção do invólucro;

- Armar do percutor;

- Transporte e apresentação do novo

cartucho;

- Compressão, distensão ou enrolamen-

to da mola recuperadora.

Mola recuperadora Avanço das partes móveis

(recuperação)

- Introdução de um novo cartucho;

- Obturação da câmara e travamento da

culatra;

- Percussão (nas armas de tiro auto-

mático)

2. DEFINIÇÕES

Antes de iniciarmos propriamente o estudo das armas automáticas, devem conhecer-se algumas

definições indispensáveis para uma melhor compreensão da matéria:

Cadência de tiro ou velocidade de funcionamento, é o número máximo de tiros que se pode obter duma

arma, em funcionamento consecutivo, durante um minuto.

Velocidade prática de tiro, é o número de tiros que na prática, uma arma realiza num minuto,

considerando as pausas provenientes da substituição de carregadores, do cano, das rectificações de

pontaria, da resolução expedita de avarias, etc..

Regime de tiro, é a relação entre o tempo realmente utilizado nas rajadas e o tempo de repouso da arma,

durante um minuto.

Acção directa de gases – Uma arma diz-se de acção directa de gases quando os gases resultantes da

percussão da munição actuam directamente sobre a culatra, regra geral através de um êmbolo ligado a

esta.

Acção indirecta de gases – Uma arma diz-se de acção indirecta de gases quando os gases resultantes da percussão da munição actuam sobre o invólucro que por sua vez vai actuar sobre a culatra, obrigando-a a recuar.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 3

CAPÍTULO 2

SISTEMAS DE AUTOMATISMO

Como se disse, as armas automáticas compreendem as de carregamento automático e as de tiro

automático. Como estas últimas são também de carregamento automático, verifica-se assim que as duas

categorias de armas têm um ponto comum que é o modo de carregamento, diferindo essencialmente, no

mecanismo de disparar uma vez que as primeiras só podem executar o tiro simples (tiro a tiro).

Obedecendo as duas categorias ao mesmo processo geral de funcionamento, podem classificar-se as

armas automáticas quanto aos sistemas de automatismo em:

- Sistema em que recua toda a arma;

- Sistema em que recua o cano e a culatra;

- Sistema em que recua só a culatra;

- Sistema em que o cano avança, mantendo-se firmes as restantes peças .

1. SISTEMA EM QUE RECUA TODA A ARMA

Este sistema foi concebido por Hiram Maxim, que o

patenteou em 1884. Consistia basicamente numa

espingarda de repetição Winchester 10,8 mm modelo

1973, em que a acção da alavanca era substituída por

uma haste articulada ligada à soleira e accionada

quando a arma recuava, ao mesmo tempo que a mola

de recuperação era comprimida.

Nestas armas (Fig. III-2-1), a chapa de couce (1) é

separada da coronha (2) e ligada por uma haste (3) e

uma mola (4) a uma alavanca (5) que põe em

movimento a culatra (6). Uma mola recuperadora

conserva a chapa do couce separada da coronha.

No momento do disparo, toda a arma recua vindo a

coronha chocar com a chapa do couce que se encontra

apoiada no ombro do atirador. A haste, por intermédio

da alavanca, faz recuar a culatra, executando-se a

extracção e a ejecção do invólucro do cartucho e

armando-se o percutor. Logo em seguida, a mola

recuperadora que fora anteriormente comprimida,

distende-se e a arma avança, realizando-se a

introdução do cartucho e a obturação, ficando a arma

pronta para novo disparo.

A inércia, devido ao peso da arma, faz com que o

projéctil abandone o cano antes da abertura da câmara.

Estas armas funcionam sob a acção indirecta dos

gases.

Este sistema, além de complexo, exigia muitos

Fig. III-2-1

Fig. III-2-2

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 4

cuidados especiais, não se tendo, por isso, generalizado em armas de guerra. Ex: Esp Maxim M/1884.

Em 1968, a empresa Benelli, patenteou um sistema de automatismo para espingardas caçadeiras semi-

automáticas, em que recua toda a arma, baseada na 1ª lei de Newton.

Neste sistema (Fig. III-2-2), quando se dá o disparo, toda a arma recua inevitavelmente (1+3), com

excepção do corpo da culatra (2) que, pela inércia da sua massa, tende a ficar no mesmo sítio, reforçando

o travamento da cabeça da culatra (4), auxiliada por uma guia basculante. Ao mesmo tempo, comprime

uma mola, chamada “mola de inércia” (5). Quando o recuo da arma cessa, a mola de inércia

descomprime-se, forçando a cabeça da culatra a destravar, desobturar e a recuar com o corpo da culatra.

Nessa altura dão-se as operações de extracção e ejecção do cartucho detonado e de transporte e

apresentação da nova munição. A mola recuperadora, comprimida entretanto pelo recuo do corpo da

culatra, distende-se, forçando a culatra a voltar a entrar em bateria, fazendo a introdução do novo

cartucho, a obturação e o travamento.

2. SISTEMA EM QUE RECUA O CANO E A CULATRA

Nas armas que utilizam este sistema, ao dar-se o

disparo, a pressão dos gases ao mesmo tempo que

impele o projéctil para a frente impele também a

culatra e o cano para a retaguarda. Estes, que antes do

tiro se encontravam intimamente ligados, recuam

solidários e só se desligam quando o projéctil

abandona a alma, efectuando-se em seguida a

abertura da câmara, a extracção, a ejecção do

invólucro e o armar do percutor.

A mola recuperadora que durante este movimento foi

comprimida (distendida ou enrolada), distende-se

(comprime-se ou desenrola-se) fazendo avançar o

cano e a culatra, introduzindo novo cartucho e

obturando a câmara.

Este sistema, como aproveita a pressão que os gases

exercem sobre a culatra caracteriza-se como o sistema

anterior, pela acção indirecta dos gases.

Assim podem classificar-se em dois tipos:

a. Armas de curto recuo do cano (Fig. III-2-3)

Nas armas deste tipo, o movimento retrógrado do cano é inferior ao comprimento do cartucho, o

que torna necessário acelerar o movimento da culatra em relação ao do cano afim de poderem ser

executadas as operações de extracção, ejecção e alimentação da arma.

A culatra destrava-se antes do final do movimento do cano para a retaguarda.

Assim, a culatra (1) é ligada ao cano (2) por qualquer sistema de travamento.

Sob a acção dos gases, o cano e a culatra recuam inicialmente juntos, distendendo (ou comprimindo)

aquele, uma mola (3), cujo ponto fixo está na armadura da arma. Durante o recuo, a culatra destrava-se

e o cano, ou um seu prolongamento (4), encostando à armadura (10) é detido.

Seguidamente o cano, sob a acção da sua mola, volta à posição de tiro enquanto a culatra, já

destravada e devido à força viva de que vai animada, continua o seu recuo, realizando então a

extracção, a ejecção e o armar do percutor.

Fig. III-2-3

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 5

Finalmente a culatra, impelida por uma mola ou por outro sistema qualquer, avança ligando-se ao

cano, realizando a introdução do novo cartucho,

obturando a câmara e se a arma é de tiro

automático, a percussão.

Utilizam este sistema armas tão distintas entre si

como sejam a Metralhadora Pesada Browning 12,7

mm M/951, a Metralhadora Ligeira Dreyse 7,9

mm M/938, a Pistola Parabellum 9 mm M/943 e a

Pistola 9 mm Glock 17 (AUT).

b. Armas de longo recuo do cano (Fig. III-2-4)

Nestas armas o recuo é superior ao comprimento

de um cartucho e o destravamento e desobturação

só se efectuam após o total recuo do cano e culatra.

Nestas armas a culatra (1) é por qualquer sistema

de travamento, ligado ao cano (2). Sob a acção dos

gases o cano e a culatra recuam juntos

comprimindo cada um a sua mola (4) e (3) cujos pontos de apoio fixos estão na armadura da arma.

Com o recuo, o cano liberta uma peça, ligada à armadura (8), que pela acção de uma mola sobe, indo o

dente da mesma peça (6) fixar a culatra por um dente (5), logo que ela chega ao fim do seu movimento

retrógrado.

Depois, sob a acção da sua mola (4) o cano volta à sua posição anterior, dando-se durante este

movimento a extracção, ejecção e armar do percutor. O cano ao chegar à sua posição de tiro, actuando

com a cauda (7) sobre a peça especial, faz baixar o dente (6) e liberta desta forma a culatra.

Por fim, impelida pela sua mola (3), a culatra vai de

encontro ao cano introduzindo novo cartucho, obturando a

câmara e se a arma for de tiro automático, fazendo a

percussão.

Ex: Met Lig CSRG 8 mm Mle 1915 (FRA);

Met Lig Madsen 7,9 mm M/930.

Para que a força viva do recuo seja suficientemente forte

para fazer mover o conjunto cano-culatra, pode aproveitar-

se a acção directa dos gases sobre um dispositivo chamado

reforçador do recuo14

, para, por meio de um impulso

suplementar, completar a acção indirecta dos gases (acção

de recuo).

Tal dispositivo, fixo à manga que envolve o cano e anteposto à boca deste (Fig. III-2-5), termina à

frente por um estrangulamento, constituindo-se uma câmara (1) onde os gases se expandem, actuando

na face anterior do cano (2) que para o efeito é ampliada, atirando-o para a retaguarda.

3. SISTEMA EM QUE RECUA SÓ A CULATRA

Neste sistema, o cano acha-se ligado à armadura, mas no momento do disparo só a culatra retrocede.

14

O reforçador de recuo também pode existir em armas de curto recuo do cano, como por ex: Met Pes 7,7 mm Vickers

M/917; Met Lig 7,62 mm MG3 M/962.

Fig. III-2-4

Fig. III-2-5

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 6

O recuo da culatra pode obter-se por dois modos completamente

distintos, ou pela acção indirecta ou pela acção directa dos gases.

a. Funcionamento pela acção indirecta dos gases:

Nestas armas (Fig. III-2-6), a culatra (1) está apenas fortemente

encostada ao cano pela acção da mola recuperadora (2) que tem o

seu ponto fixo na armadura.

Ao dar-se a inflamação da pólvora a pressão dos gases actua ao

mesmo tempo e com a mesma impulsão, de um lado sobre o

projéctil e do outro sobre o conjunto invólucro-culatra, imprimindo

a cada um, velocidades na razão inversa das massas respectivas.

Assim, o principal problema a resolver nas armas que adoptam este

sistema, é conseguir que ao dar-se o disparo, o movimento de

recuo da culatra só se inicie quando o projéctil abandona o

cano.

b. Funcionamento pela acção directa dos gases

As armas deste subgrupo aproveitam uma parte dos gases

fazendo-os actuar directamente sobre a culatra ou, mais

frequentemente, sobre uma peça especial chamada êmbolo,

que comanda a culatra.

Existem três variantes15

diferentes, duas em que os gases são

captados num ponto da alma, com ou sem êmbolo, e uma

terceira, à boca do cano.

(1) Tomada de gases num ponto do cano (com êmbolo):

Nestas armas (Fig. III-2-7) o cano (1) é furado na parte

inferior. Este furo (2) comunica com um cilindro

chamado câmara de gases (3) que por sua vez está em

comunicação com um tubo, no interior do qual se move um êmbolo (4) ligado à culatra (5) por

uma haste (6). Uma mola recuperadora (7) cujo ponto fixo está na armadura, empurra o êmbolo

para a frente.

Ao dar-se o tiro, a culatra, achando-se ligada ao cano e travada, não se desloca até o projéctil

ultrapassar o furo. Logo que isso acontece uma parte dos gases entra na câmara dos gases e actua

directamente sobre a cabeça do êmbolo, obrigando-o a recuar, o mesmo sucedendo à culatra

depois de destravada. Dá-se então a extracção, a ejecção e o armar do percutor ao mesmo tempo

que a mola recuperadora do êmbolo é comprimida.

Seguidamente a mola recuperadora leva o êmbolo à frente, e este arrasta a culatra, dando-se a

introdução do novo cartucho, o travamento da culatra e se a arma é de tiro automático, a

percussão.

Este sistema, muito generalizado, apresenta algumas variantes.

A posição do furo de passagem dos gases no cano, deve ser bem estudada, pois se ficar muito

perto da câmara, como as pressões são muito elevadas, o funcionamento da arma seria brusco e

15

Armando Paschoa, na sua obra Armamento (1951) refere uma variante com tomada de gases à entrada da câmara,

usada na pistola Roth M/96, por intermédio de um cartucho especial em que a cápsula fulminante era projectada de

encontro ao percutor, forçando o seu recuo e consequentemente da culatra. Esta variante, para além de não confirmada,

revela-se extremamente inverosímil de ap licação prát ica, motivo pela qual deixa de ser considerada na cadeira.

Fig. III-2-6

Fig. III-2-7

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 7

dificilmente se conseguiria a obturação durante o tempo que o projéctil percorre a alma. Se ficar

muito perto da boca, a pressão dos gases poderá já ser insuficiente para o funcionamento da arma

a não ser que as peças móveis sejam de peso reduzido.

Para que o furo não tenha interferência no movimento do projéctil, é essencial que seja aberto no

fundo de uma estria evitando-se assim, possíveis arestas vivas que poderiam originar depósitos de

metal da camisa do projéctil.

Utilizam este sistema, além de outras armas, as Esp Aut AKM Kalashnikov 7,62 mm (RUS), Esp

Aut Galil 5,56 mm M/94 e a Met Lig Lewis 7,7 mm M/917.

Nestas armas, a obturação é completa porque, estando já o projéctil próximo da boca quando os

gases actuam sobre o êmbolo, a inércia do conjunto êmbolo-culatra dá tempo ao projéctil para

sair do cano antes da desobturação.

Porém, o sistema apresenta vários inconvenientes nomeadamente:

- Funcionamento brusco em virtude do tempo restrito em que os gases actuam sobre o êmbolo

- Acréscimo de peso constituído pelo conjunto êmbolo-haste

- Impossibilidade de empregar o sistema em armas pequenas onde o orifício de passagem dos

gases teria também que ser pequeno e por isso facilmente obstruído pelos resíduos dos gases

- Possibilidade de fractura de algumas peças devido às elevadas pressões e temperaturas a que são

sujeitas, tornando-se por isso necessário regular a pressão dos gases sobre a cabeça do êmbolo.

A regulação exigida, seja pelo aquecimento do uso

da arma, seja pelo emprego de outra munição,

obtém-se por vários processos, a saber:

(a) Aumentando ou diminuindo o volume da

câmara de gases à medida que a temperatura e a

pressão aumentam ou diminuem (Fig. III-2-8)

Ex: Met Hotchkiss 7,7 mm

(b) Abrindo na câmara de gases, um canal de derivação de diâmetro variável, de forma a deixar

escapar para o exterior maior ou menor

quantidade de gases, conforme a pressão

aumentar ou diminuir. (Fig. III-2-9) Ex: Esp

Aut FN FAL 7,62 mm M/961.

(c) Regulando as dimensões do orifício de

comunicação da câmara de gases com o tubo

do êmbolo (Fig. III-2-10).

Há necessidade de expulsar os gases do tubo,

depois de exercerem a sua acção sobre o êmbolo.

Para esse efeito, algumas armas apresentam uns

orifícios abertos no próprio tubo, no ponto onde

fica a cabeça do êmbolo na sua posição mais à

retaguarda. Nas armas em que o tubo é todo

fechado, esta expulsão é obtida pela expansão dos

gases à boca da arma, a qual produz uma sucção no

cano.

Para que o funcionamento das armas não seja

prejudicado, logo que efectuada qualquer sessão de tiro devem ser cuidadosamente limpos, todos

Fig. III-2-8

Fig. III-2-10

Fig. III-2-9

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 8

os furos de passagens dos gases, as câmaras dos gases, as cabeças dos êmbolos e os respectivos

tubos, afim de evitar a acumulação de resíduos.

(2) Tomada de gases num ponto do cano (sem êmbolo):

Este sistema (Fig. III-2-11) é uma variante simplificada do anterior, em que não existe êmbolo,

mas apenas um estreito canal (2) por onde os gases fluem desde a tomada de gases (1),

embatendo directamente num alojamento (3) existente no corpo da culatra (4). O corpo da culatra,

actuando como êmbolo, é forçado a recuar,

obrigando a destravar a cabeça da culatra (5)

por rotação. Depois, solidários, o corpo e a

cabeça da culatra recuam juntos.

As espingardas semi-automáticas MAS 40

7,5 mm (FRA) em 1940 e Ag 6,5 mm m/42

(SWE) em 1942 foram as primeiras armas

com este tipo de automatismo, a ser

produzidas em série.

Este sistema foi melhorado por Eugene

Stoner em 1956, que o aplicou nas

espingardas automáticas ArmaLite AR-10 7,62 mm e AR-15 5,56 mm. Esta última,

posteriormente adquirida pela Colt e fabricada com a designação M16, passou a ser a espingarda

padrão do exército americano, a partir de 1961.

As principais vantagens são a simplicidade do mecanismo com a ausência do êmbolo, bem

como a redução do peso. Todavia, tem duas desvantagens consideráveis. A primeira consiste na

rápida acumulação de detritos provenientes da condensação dos gases, na cabeça da culatra e

nos mecanismos primários de operação, gerando encravamentos da culatra e obrigando a uma

frequente e rigorosa limpeza das partes móveis, caixa da culatra e câmara. A segunda

desvantagem consiste no aquecimento anormal que as partes móveis sofrem, podendo gerar a

secagem do lubrificante e a destêmpera do corpo e da cabeça da culatra, do extractor e sua mola,

etc., com a consequente ruína prematura das mesmas.

(3) Tomada de gases à boca do cano

É um sistema pouco generalizado, que precedeu o

sistema de tomada de gases num ponto do cano. Estas

armas aproveitavam a pressão dos gases à saída da boca,

a qual tem ainda um valor apreciável (Fig. III-2-12).

À boca do cano adopta-se um cone (1) móvel, com um

orifício de diâmetro ligeiramente superior ao do projéctil

para permitir a sua passagem, o qual está ligado por uma

haste (2) a uma alavanca interfixa (3), que comanda a

culatra.

Ao dar-se o tiro, a obturação mantém-se até o projéctil

sair do cano. Logo que os gases se projectam de encontro

ao disco obrigam-no a avançar, dando-se a abertura da culatra, a extracção, a ejecção e o armar do

percutor. Seguidamente, a mola recuperadora (4) que no tempo anterior foi comprimida, distende-

se, dando-se a introdução do novo cartucho, o travamento da culatra e a percussão, se a arma for

de tiro automático.

Fig. III-2-11

Fig. III-2-12

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 9

Algumas armas possuem uma

roda dentada ligada a

cremalheiras na haste do cone

e na culatra em vez da

alavanca (Fig. III-2-13).

Nestas armas, a obturação é perfeita, sendo a velocidade inicial aumentada em virtude do disco

funcionar como um prolongamento do cano. Porém, os movimentos repetidos do disco

prejudicam a estabilidade da arma em virtude das sacudidelas que provocam e contribuem para

um maior aquecimento do cano de que resulta um aumento de pressão.

Ex: Esp Semi-automática Bang 7,62 mm m/922 (USA);

Esp Semi-automática G41 7,9 mm m/941 (GER).

4. SISTEMA EM QUE AVANÇA SÓ O CANO

Durante o seu trajecto no cano, o projéctil experimenta uma resistência ao seu avanço provocado pelo

forçamento e pelo travamento, exercendo sobre as paredes do cano um impulso para a frente.

Assim (Fig. III-2-14), o obturador (1) é uma espécie de contra-forte, ou culatra fixa, ligado à armadura,

contra o qual o cano se apoia por acção da mola recuperadora (2).

Ao dar-se o tiro, o forçamento faz avançar o cano separando-

o da culatra, ficando o invólucro fixo a esta, sendo a seguir

ejectado. A mola recuperadora que foi comprimida, leva o

cano de novo à retaguarda, dando-se a introdução do cartucho

que o alimentador apresentou.

Neste sistema, tal como nas armas de acção indirecta de gases

em que recua só a culatra, não existe travamento. O cano

está fortemente encostado ao obturador, por acção de uma

forte mola recuperadora, que exerce assim um retardamento

na desobturação por inércia.

O extractor está geralmente ligado à manga que envolve o

cano, enquanto que o ejector é de alavanca, comandado pelo

movimento do cano.

Não têm estas armas vantagens apreciáveis, antes enfermando de um recuo demasiado forte para

munições semelhantes, mercê da força da mola recuperadora, razão pela qual se deixaram de fabricar.

Ex: Pistola Schwarzlose 7,65 mm, Model 1908 (AUT);

Pistola Steyr Mannlicher 7,65 mm M1894 (AUT).

Fig. III-2-13

Fig. III-2-14

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 10

CAPÍTULO 3

ORGANIZAÇÃO DA ARMA AUTOMÁTICA

1. ORGANIZAÇÃO

Duma maneira geral, podemos considerar numa arma de fogo automática as seguintes partes principais:

Cano;

Caixa da culatra;

Aparelho de pontaria;

Culatra móvel;

Mecanismos:

De extracção;

De ejecção;

De disparar;

De percussão;

De segurança;

De detenção;

De carregamento e alimentação.

Sistemas de refrigeração dos canos

Sistemas de armazenar energia

Órgãos de apoio;

Coronha;

Guarnições e acessórios.

2. CANO

Em relação ao cano, pouco há a acrescentar ao que já foi dito relativamente às armas de fogo ordinárias.

É porém de referir que geralmente, os canos das armas automáticas são mais espessos e de perfis

variados, o que se deve à necessidade de lhes aumentar a sua superfície externa para facilitar, como

veremos, o seu arrefecimento.

Também o metal, devido à natureza especial do tiro das armas automáticas, deve ser cuidadosamente

escolhido e trabalhado.

Normalmente, os canos têm menor duração do que as restantes partes das armas, o que leva a atribuir a

cada arma um ou mais canos de reserva, que se vão substituindo à medida que for necessário.

Os canos são geralmente estriados com 4 ou 6 estrias no sentido dextrorsum.

Esp Aut AKM 7,62 mm - 4 estrias

Esp Aut COLT M16 5,56 mm - 6 estrias

Esp Aut GALIL 5,56 mm - 6 estrias

O tiro automático prolongado vai gerar um

crescente aumento de temperatura no cano e da

câmara, dificultando a extracção que não é

progressiva, especialmente nas armas de acção

indirecta de gases em que recua só a culatra. Para

minimizar este problema lubrificavam-se as

Fig. III-3-1

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 11

munições com óleo, como era o caso da Met Pes Schwarzlose 8 mm /907 (AUT) ou com cera, no caso da

Esp Semi-automática Pedersen 7 mm 1923 (USA).

Actualmente é comum o estriamento longitudinal da câmara, usando a pressão dos gases para impedir que

o invólucro se “cole” à câmara (Fig. III-3-1).

3. CAIXA DA CULATRA

As caixas da culatra variam conforme o tipo da arma.

Nas Espingardas automáticas são algo semelhantes às das armas de fogo ordinárias.

Nas Metralhadoras têm o aspecto de verdadeiras caixas, por vezes completamente estanques.

Ex: Met Pes Browning M2 HB 12,7 mm M/951.

Nalgumas armas automáticas não existe caixa da culatra mas em sua substituição aparece-nos a caixa dos

mecanismos. Nestas armas, para guiar os movimentos da culatra, existe a armadura.

Assim, a caixa dos mecanismos destina-se a alojar a armadura e normalmente, o mecanismo de disparar e

o sistema de recuperação. Ex: Met Lig Dreyse 7,9 mm M/938.

4. APARELHO DE PONTARIA

De um modo geral, as armas automáticas utilizam os mesmos aparelhos de pontaria que as armas de fogo

ordinárias.

Porém, inúmeras armas automáticas são concebidas para ser utilizadas de modo bem diferente das armas

ordinárias já estudadas. Daqui resultam necessidades de pontarias a maiores distâncias, com correcções

laterais, em condições de visibilidade adversas e em regimes de tiro distinto, seja indirecto, seja contra

alvos muito móveis.

Para satisfazer estas necessidades distintas, conceberam-se aparelhos de pontaria específicos, de maior

complexidade, geralmente classificados da seguinte forma:

a. Alças deriváveis

Nalgumas armas automáticas destinadas a fazer fogo a distâncias maiores, como acontece com as

metralhadoras pesadas, surge a necessidade de correcção de desvios, como o da derivação e o da acção

do vento. Geralmente, a derivação é corrigida pela construção da arma, deslocando o ponto de mira de

modo a fazer-se a correcção para uma distância média. Para contrariar a acção do vento, usa-se um

dispositivo que permite deslocar lateralmente a ranhura de mira; a estas alças chamam-se alças

deriváveis.

Ex: Met Pes Browning 12,7 mm M/951.

b. Aparelhos de pontaria para tiro indirecto, referenciado e mascarado

Para o tiro indirecto, referenciado e mascarado, possuem as metralhadoras pesadas, normalmente,

aparelhos de pontaria independentes, constituídos por limbos, clinómetros e alças goniométricas .

(1) Limbos

Os limbos, são constituídos por sectores graduados ligados aos reparos que permitem, com o

auxílio de limitadores, dar às armas, em relação a um plano de referência, qualquer desvio

angular, seja no sentido horizontal (sector de direcção) seja no vertical (arco de elevação). São

adequados para efectuar tiro mascarado e referenciado, para o qual se registam previamente os

elementos numa carta de tiro.

(2) Clinómetros

Os clinómetros, são constituídos por níveis móveis que permitem dar às metralhadoras, no tiro

indirecto, o ângulo de tiro preciso para atingir o alvo que se quer bater.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 12

Ex: Clinómetro M/932, utilizado na metralhadora Breda 7,9 mm M/938.

(3) Alças goniométricas

As alças goniométricas, são aparelhos constituídos fundamentalmente por um limbo de direcção,

um clinómetro e um colimador ou um óculo.

c. Aparelhos de pontaria ópticos e optrónicos

(1) Alças telescópicas

Já referimos as alças telescópicas quando analisámos as armas ordinárias. Obviamente que, com a

evolução das armas ligeiras automáticas, as suas condições de tiro melhoram, possibilitando a sua

utilização para tiro de precisão. Aqui aparece então a necessidade de apontar com rigor para além

dos limites impostos à vista humana.

(2) Alças reflexivas

(3) Alças holográficas

(4) Alças de visão nocturna

(5) Alças combinadas

(6) Alças digitais

d. Aparelhos de pontaria com feixe laser

e. Aparelhos de pontaria para tiro contra alvos em movimento

5. CULATRA MÓVEL

A culatra tem as mesmas funções já enunciadas para as armas de fogo ordinárias mas como os

movimentos de abrir e de fechar são muito mais rápidos. O tipo mais usado, quanto ao movimento, é o de

escorregamento simples.

Quanto à forma, podem ser, igualmente, de cilindro e de bloco.

Os movimentos da culatra estão intimamente ligados com o

travamento que estudaremos seguidamente.

a. Sistemas de travamento

Os vários sistemas ou processos utilizados nas armas

automáticas podem reunir-se formando os seguintes grupos

mais comuns:

(1) Travamento por transformação do movimento

Consiste este processo em transformar o movimento

de translação do êmbolo em movimento de rotação da

culatra (Ex: Esp Aut Colt M16 5,56 mm; Met Lig Lewis 7,7 mm M/917), ou transformar o

movimento de translação da culatra em movimento de rotação de uma peça especial (Ex: Met

Francesa M915).

Na Met Lig Lewis 7,7 mm M/917 (Fig. III-3-2) o percutor (1) está montado num embasamento

(2) existente na parte posterior do êmbolo (3). Este embasamento move-se dentro duma fenda (4)

existente na culatra (5), cuja parte anterior é recta e cuja parte posterior é curva. Quando, sob a

acção da mola recuperadora o êmbolo avança, o embasamento então alojado na parte curva da

fenda da culatra, arrasta consigo a culatra, que não pode rodar por os seus travadores (6) se

acharem alojados nas guias respectivas da caixa da culatra.

A culatra, assim arrastada, vai encostar ao cano ficando nesta altura os seus travadores em frente

dos respectivos alojamentos. Então, em virtude da pressão que o embasamento continua a exercer

Fig. III-3-2

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 13

na fenda da culatra, esta é forçada a rodar introduzindo-se os travadores nos alojamentos

respectivos, ficando assim travada.

Continuando o seu movimento dentro da parte recta da fenda, o embasamento leva o percutor a

ferir a cápsula fulminante.

Ao dar-se o recuo, efectua-se o destravamento, originado por movimentos inversos aos que

acabamos de descrever.

Este processo é assim igual ao obtido na maioria das

armas de repetição – culatra de escorregamento e

rotação. É um travamento bilateral e simétrico com o

inconveniente, na Metralhadora Lewis, de apresentar

os travadores na parte posterior do ferrolho.

Na Met Lig Hotchkiss 8 mm M/909 (Fig. III-3-3), o

movimento de translação do êmbolo (1) é

transformado em movimento de rotação de um travador articulado (2) existente inferiormente, na

parte posterior da culatra (5).

O movimento de rotação do travador é obtido, pelo deslizar do seu perno (4) na ranhura (3), parte

rectilínea e parte helicoidal, e que também o faz levantar ou baixar.

Na posição de levantado, fica preso por dois ressaltos existentes na caixa dos mecanismos e

assim, a culatra travada. É o movimento de avanço do

êmbolo que produz primeiro o avanço da culatra e em

seguida a rotação do travador. Inversamente, com o recuo

do êmbolo, dá-se primeiramente a rotação do travador e

depois a translação da culatra.

(2) Travamento por lingueta

É o processo usado nas Met Pes Browning 7,62 mm

M1919A4 M/52 e Met Pes Browning M2 HB 12,7 mm

M/51.

Quando o conjunto cano e armadura vai à frente (Fig. III-3-

4), o perno da lingueta de travamento (5) é libertado pelo recuo dos destravadores (4), soltando-se

destes, ao mesmo tempo que a lingueta (2) é obrigada a subir ao encontrar a rampa do bloco de

travamento (3) situada na parte inferior da caixa dos mecanismos.

Neste momento, a culatra (1) tem o seu cavado para a lingueta (8) em correspondência com esta

que por sua vez se introduz no cavado, tornando-se a culatra solidária com cano e a armadura.

Durante o restante movimento para a frente, a culatra mantém-

se travada devido ao deslizar da lingueta de travamento sobre

o ressalto da rampa do bloco de travamento.

No final da primeira fase do recuo (Fig. III-3-5), a lingueta

que deslizou sobre o ressalto de travamento, atinge a rampa de

travamento ao mesmo tempo que o seu perno encontra as

rampas dos destravadores, que a obrigam a descer, saindo do

seu alojamento na culatra e soltando esta.

Para evitar que a culatra se solte bruscamente da armadura, o

que poderia provocar a rotura do invólucro, a lingueta tem a

sua aresta superior anterior cortada em rampa. Deste modo o destravamento é suave e

Fig. III-3-3

Fig. III-3-4

Fig. III-3-5

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 14

progressivo. Logo após o destravamento, a culatra sofre um impulso do acelerador (7) uma

alavanca dupla em forma de “orelhas de martelo”, que é forçada a rodar para retaguarda devido à

acção da armadura sobre a sua parte anterior, ao mesmo tempo que o freio recuperador do cano é

totalmente comprimido. Enquanto a cauda da armadura, ligada ao cano é detida, a culatra recurá

deste modo mais 15 cm.

(3) Travamento por travadores articulados

Este sistema consiste em apoiar na caixa da culatra uma ou duas cunhas ou alavancas móveis,

ligadas ao obturador por um eixo. Utiliza este sistema a Met Lig Dreyse 7,9 mm M/938, cujo

travamento se efectua por um travador articulado.

Durante a recuperação, a parte anterior do travador, libertada da acção do respectivo detentor,

desliza sobre a sua rampa de apoio existente na caixa dos mecanismos e é forçada a subir, indo o

seu ressalto superior apoiar-se na parte posterior da culatra.

O travador é mantido nessa posição por estar assente no apoio do travador da caixa dos

mecanismos, efectuando-se assim o travamento.

Este mantém-se durante a primeira fase do recuo, só se realizando o destravamento quando a

parte posterior do travador sobe ao encontrar a rampa do bloco do fundo da caixa dos

mecanismos, o que faz baixar a parte anterior do travador, libertando a culatra.

(4) Travamento por bielas articuladas

Este sistema consiste no emprego de duas

bielas articuladas (1) (2) entre si e articuladas

igualmente, uma contra a outra, sobre um

prolongamento do cano.

Quando a arma está pronta para o tiro, as duas

bielas estão no prolongamento uma da outra,

achando-se o eixo da sua articulação (3)

ligeiramente abaixo (ou acima) da linha recta

que une os eixos de ligação de cada uma com

o cano e com a culatra (Fig. III-3-7).

Ao dar-se o tiro, o choque sofrido pela culatra

(4) transmite-se pela ligação da culatra à biela

anterior e pela ligação entre elas à biela posterior e ao cano, arrastando este.

O eixo intermédio tem tendência a baixar (ou a subir), o que não é possível por se achar

encostado a uma peça fixa (5) existente na caixa da culatra.

Em determinado momento, a intervenção de uma peça especial, em forma de rampa (6), obriga a

ligação média a subir (ou a descer) e modificando as posições relativas dos três eixos das bielas,

permite que a culatra se separe do cano.

É o sistema usado, por exemplo, na Met Vickers-Maxim 7,7 mm M/917 e na Pistola Parabellum 9

mm M/943.

(5) Travamento por inclinação da culatra

Consiste este sistema (Fig. III-3-8), em fazer subir ou descer o extremo posterior da culatra (4) na

altura em que se liga ao cano, de forma a apoiar parte da sua parede posterior num alojamento

especial (5) existente na caixa da culatra.

Fig. III-3-7

1 3

2

4 5

6

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 15

O êmbolo (1) ao arrastar a culatra (2) no seu movimento de avanço,

depois de esta ter encostado ao cano, continua ainda a avançar de

forma a colocar debaixo dela o prolongamento (3), o que a obriga a

subir.

Dado o tiro, o êmbolo recua, passando o prolongamento (3) para a

retaguarda da culatra o que permite que ela baixe, só depois

recuando o conjunto.

O processo de inclinação da culatra, hoje muito usado, embora muito

simples, tem o inconveniente próprio dos sistemas de travamento

oblíquos e unilaterais. Utilizam este sistema a Met Lig Vickers

Berthier 7,7 mm M/931, a Met Lig Bren, 7,7 mm M/943 e a Esp Aut

FN FAL 7,62 mm M/961.

(6) Travamento por elevação da culatra

Este sistema é um variante do anterior.

Como ele, é também empregue nas armas

de cano fixo com tomada de gases num

ponto do cano.

Consiste (Fig. 97), na realização do

travamento por meio de uma peça da

culatra, o bloco, que é comandado nos seus

movimentos de elevação e descida, junto à

câmara do cano, pelo movimento

longitudinal de avanço e recuo do êmbolo.

Utiliza este sistema a Met Pes Breda 7,9 mm M/938.

(7) Travamento por oscilação da culatra

É o processo usado na Met Lig Madsen 7,9 mm M/930, cujo esquema se indica nas Fig. 98, 99 e

100.

Ao dar-se o tiro, a culatra move-se em torno de um

eixo colocado no prolongamento do cano e

perpendicular a este, arrastando-o consigo para a

retaguarda.

Um perno da culatra é obrigado a deslizar numas

guias de forma especial abertas numa placa, fixa na

arma. Enquanto o perno caminha no ramo horizontal

dessa ranhura, o cano e a culatra continuam unidos

mas logo que entra no ramo ascendente a cabeça da

culatra levanta-se, abrindo a câmara e dando-se a

extracção e a ejecção do invólucro.

Chegada ao fim da ranhura superior, devido ao peso e

à acção de uma mola, a culatra baixa, entrando o

perno na ranhura vertical e indo nesta altura o cano

encostar à armadura.

Como entretanto tem sido comprimida a mola, esta

leva agora o cano novamente à frente que por sua vez

Fig. III-3-8

Fig. III-3-9

Fig. III-3-10

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 16

arrasta a culatra.

Enquanto o perno

escorrega ao longo

da ranhura

inferior, dá-se a

introdução do

cartucho.

Quando entra no ramo ascendente, a culatra fecha de

modo que quando o cano entra no seu lugar já a introdução e a obturação estão feitas.

(8) Travamento por roletes

Este sistema é caracterizado pela

utilização de duas peças especiais,

denominadas roletes de travamento.

Ao dar-se o tiro (Fig. III-3-13),

durante a primeira fase do recuo, por

acção indirecta dos gases, a culatra

mantém-se solidária com o cano, por

acção da parte central dos roletes (1),

mais larga, que encaixa no canhão de

travamento (2) até o projéctil

abandonar a alma do cano. Por acção

resistente da base do percutor (3),

em forma de cunha, os roletes

mantêm-se pressionados para fora. Em determinado momento deste recuo, os roletes de

travamento são obrigados a percorrer as rampas de destravamento (4) das placas da caixa dos

mecanismos, saem dos alojamentos respectivos no canhão de travamento e entram nos

alojamentos da cabeça da culatra, forçando a base do percutor a recuar e permitindo assim a

separação da culatra e do cano. O cano entra, então, em bateria, enquanto a culatra continua a

recuar.

No movimento de fechar, por acção da mola recuperadora, o bloco da culatra avança, solidário

com a base do percutor, que força os roletes de travamento a sair e entrar nos alojamentos do

canhão de travamento. É o sistema utilizado pela Met Lig M42 7,92 mm (GER) e derivadas,

como a Met Lig MG3 7,62 mm M/962.

(9) Travamento por bloco de travamento

Este sistema, usado em algumas pistolas (Fig. III-3-

14), consiste no emprego de uma peça encaixada no

cano, o bloco de travamento (1), que fixa a corrediça

àquele, através de dois dentes laterais. Quando o

cano e a corrediça avançam, o talão (2) - a parte

inferior e posterior do bloco - é forçado a subir para

cima, devido à rampa existente na parte anterior que

o precede. Os dentes laterais obstruem as guias do

cano (3) impedindo a corrediça de recuar. Depois do

disparo, o cano é forçado a recuar, até que uma cavilha (4) na sua parte posterior embate na

Fig. III-3-11

Fig. III-3-12

Fig. III-3-13

Fig. III-3-14

1 2

3

4

5

2

3

4

5

1

2

3

4

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 17

carcaça e avança, forçando o bloco a descer e a

alinhar os seus dentes com as guias do cano (5),

permitindo à corrediça recuar. Nesta altura já o

projéctil saiu à boca. Utilizam este sistema a

Pistolas Walther 9 mm M/961 e Beretta F-92 9 mm.

Variantes deste sistema são usados na Pistola

Mauser C-96 e Esp Aut Fedorov M1916 (Fig. III-3-

15). Em todos estes casos a semelhança consiste na

existência de uma peça que bloqueia o recuo da

culatra, obrigando ao recuo do cano, até que essa

mesma peça, por falta de um apoio inferior, bascule

e liberte então a culatra.

(10) Travamento por inclinação do cano.

Este sistema, foi concebido por John M.

Browning em 1906 (Fig. III-3-16). Consiste na

aplicação de dois travadores em forma de

ressaltos existentes na parte posterior do cano,

que encaixam em alojamentos no interior da

corrediça, que fica travada quando ambos vão

à frente. Depois do disparo, o cano, ligado à

carcaça através de uma biela, é forçado a

recuar até que essa biela o obriga a inclinar,

rebatendo a parte posterior e libertando os

travadores dos respectivos alojamentos na corrediça. A corrediça pode então continuar o recuo,

liberta do cano. Utilizam este sistema as pistolas Colt M1911 11,43 mm (USA) e Tokarev TT-33

7,62 mm (RUS).

Variantes: Em 1926, o mesmo John

Browning, ao serviço da Fabrique

National, concebe uma nova pistola, a

FN Browning Hi-Power 9 mm (BEL),

alterando ligeiramente o seu sistema de

travamento, em que substitui a biela

por um excêntrico e uma guia oblíqua

na parte posterior do cano. Em 1982, a

empresa Glock patenteia a pistola 9mm Glock 17 (AUT) que simplifica ainda mais este sistema

(Fig. III-3-17), ao substituir os ressaltos travadores por uma parte posterior do cano mais saliente

(1) que se aloja e trava na própria janela de ejecção (2), na parte superior da corrediça. Esta

pistola mantém a guia oblíqua (3) para forçar a inclinação do cano.

(11) Travamento por rotação da cabeça da culatra.

Este sistema foi usado na Met Lig MG34 7,9

mm M/944. Consiste na rotação independente

da cabeça da culatra (Fig. III-3-18) (1), por

acção de dois roletes opostos (2) que, quando

a culatra avança, deslizam nas rampas curvas

Fig. III-3-15

Fig. III-3-16

Fig. III-3-17

Fig. III-3-18

1 2 3

1

2

3

1

2 3

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 18

do canhão de travamento existente no final do cano. No final desse movimento de rotação, os dois

travadores de cada lado (3), localizados à frente dos roletes, entram nos respectivos alojamentos,

no canhão de travamento.

O travamento mantém-se até ao final do recuo cano, que

irá ser detido na sua parte posterior pelos topos das

placas de apoio da caixa dos mecanismos. Dá-se então o

destravamento quando os roletes exteriores deslizam nas

rampas curvas da caixa dos mecanismos e os roletes

interiores deslizam nas rampas curvas do canhão de

travamento, forçando a cabeça da culatra a rodar e os

travadores a sair dos seus alojamentos.

(12) Travamento por rotação do cano.

Este sistema foi usado na pistola Roth-Steyr 8mm M1907

(AUT), sendo recuperado pela casa Beretta, que o

emprega, entre outras, na pistola Beretta Px4 Storm 9mm

(ITA) (Fig. III-3-19). Funciona de modo algo semelhante

ao/do sistema anterior, rodando o cano ao invés da cabeça da culatra. O cano, cm dois travadores

ligados à corrediça, tem uma guia oblíqua terminada por uma secção frontal. No seu final está

encaixado um dente saliente dum bloco inserto na retaguarda da guia da mola recuperadora.

Quando se dá o disparo, o cano e a corrediça são forçados a recuar até que o dente avance na guia

e force o cano a rodar 90º no sentido retrógrado. Nessa altura, a corrediça separa-se e continua o

recuo, enquanto o cano recupera.

b. Sistemas de retardamento na desobturação

Como já vimos, as armas que funcionam sob acção indirecta dos gases, não têm as culatras travadas. A

obturação é então garantida por um processo de retardamento da abertura da culatra, até que a munição

saia à boca do cano.

Este retardamento na abertura da culatra obtém-se por vários processos que podem agrupar-se da

seguinte forma:

(1) Por inércia

Utilizando o princípio da inércia, auxiliada ou não

pela resistência à compressão de molas e outros

factores, podemos considerar três processos:

(a) Aumentando a massa da culatra, a força da

mola recuperadora ou ambas.

Ex: Pist Met Steyr 9 mm M/942, Pist Met FBP

9 mm M/963, Pist Met. UZI 9 mm M/961.

Quanto mais pesada for a culatra e mais forte

for a mola, tanto mais comprido pode ser o

cano e melhor será portanto a utilização das

pressões. Maiores serão a velocidade inicial, o

alcance e a penetração.

(b) Utilizando um sistema de alavancas

Auxiliando a resistência ao movimento, obtida

como no caso anterior, por meio de um sistema de duas alavancas ligadas uma à culatra e

Fig. III-3-19

Fig. III-3-20

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 19

outra à armadura e ainda ligadas entre si de forma que a sua articulação se encontre quase no

ponto morto (Fig. III-3-20).

O movimento retrógrado da culatra (1) obriga o eixo das duas alavancas (4) e (5) a descrever

o arco CC1. Devido ao pequeno ângulo existente entre elas, quando a culatra está fechada,

uma grande porção da força do recuo é transmitida ao eixo (5) da alavanca anterior que se

encontra ligado à armadura (2) da arma. À medida que o eixo se levanta, o ângulo entre as

duas alavancas aumenta e a resistência encontrada pela culatra diminui. Assim, o movimento

retrógrado da culatra continua mas depois de absorvida a principal força do recuo, apesar da

resistência oferecida pela mola recuperadora (3).

Ex: Met Schwarzlose 8 mm M/07 (AUT).

(c) Aproveitando a inércia duma peça especial (Fig. III-3-21.

A culatra (1) é envolvida por uma manga (2)

sobre a qual actua a mola recuperadora (3). Ao

dar-se o tiro, o invólucro arrasta a culatra e a

manga, para a retaguarda, mas a primeira é

detida por um travador (4) de forma especial.

A manga, devido à inércia, continua o seu

movimento de recuo obrigando o travador a

subir o seu plano inclinado (5), levando depois

consigo a culatra. A mola (3) que foi

comprimida, leva seguidamente todo o sistema

ao seu lugar. Ex: Pist Remington Model 51 7,65

mm (USA).

(2) Por atrito

Vejamos como a demora na abertura da culatra é obtida por atrito.

É uma aplicação do princípio da mecânica que diz que o coeficiente de atrito aumenta com a

pressão.

Este processo ficou conhecido pelo nome de

travamento Blish, nome do Oficial da Armada dos

USA que em 1915 concebeu a pistola-metralhadora

Thompson (Fig. III-3-22).

A culatra (1) tem um cavado inclinado onde se

encaixa uma cunha (2) com uma face também

inclinada, a qual pode ter movimento vertical

dentro de um alojamento próprio existente na caixa

da culatra. Sob a acção duma pressão elevada, a

força de aderência entre estas superfícies

inclinadas, imobiliza completamente a culatra

garantindo a obturação. Mas sob uma pressão fraca

(quando o projéctil chega junto da boca) a força de

aderência desaparece e a cunha (2) começa a subir libertando o conjunto invólucro-culatra que

pode deslocar-se para a retaguarda.

Ex: Pist Met Thompson .45 (USA).

(3) Por lançamento da culatra (Fig. III-3-23)

Fig. III-3-21

Fig. III-3-22

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 20

Nestas armas, a percussão é efectuada antes

de fechada a culatra, sendo parte da energia

de recuo absorvida pela quantidade de

movimento que possui a culatra, em pleno

movimento de avanço.

O retardamento da desobturação assim

obtido, permite que o projéctil percorra e

abandone a alma.

Ex: Pist Met Bergman 9 mm M/918.

(4) Por acção dos gases

Pistola HK P7 9 mm (GER)

(5) Por roletes de retardamento

Na Espingarda Automática G-3 7,62 mm

M/961, a obturação é assegurada pela

imobilização da cabeça da culatra, por acção

conjunta, não só dos roletes de retardamento,

salientes por se encontrarem apoiados à parte superior das rampas da peça de comando de

travamento e alojados no do canhão de travamento, mas também por acção resistente do detentor,

a fixar a cabeça da culatra, por acção da inércia (devido à grande massa da culatra), e por acção

da mola recuperadora.

(6) Por acção de uma alavanca

Esp Aut FAMAS 5,56 mm (FRA)

Pist Metr Danuvia 43M 9 mm (HUN)

b. Extracção

Nas armas automáticas, a extracção não é progressiva como nas armas ordinárias, em virtude da

rapidez do movimento de recuo da culatra.

Devido ao esforço que se pede ao extractor, nestas armas encontramos, por vezes, duplicação desta

peça.

Os tipos de extractores que encontramos nas armas

automáticas, são dum modo geral, semelhantes aos que já

estudámos nas armas de fogo ordinárias, sendo de uso

bastante frequente o extractor de garra com mola (Fig. III-3-

24).

Tipos de extractores

(1) De garra

(a) De mola: Pist Met FBP 9 mm M/963; Met Lig

Dreyse 7,9 mm M/938.

(b) Com mola: Esp Aut. G3 7,62 mm M/961; Esp Aut FN FAL 7,62 mm M/961; Esp Aut Colt

5,56 mm M16 (USA); Met Lig FN Minimi 5,56 mm (BEL).

(2) De alavanca: Met Madsen 7,9 mm M/930-41.

(3) Duplos

(3) De dupla calha: Met Browning M2 HB 12,7 mm M/951

(4) De dupla garra: Met Lig Lewis 7,7 mm M/917; FAMAS F1 5,56 mm (FRA)

Fig. III-3-23

Fig. III-3-24

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 21

c. Ejecção

A ejecção nas armas automáticas pode fazer-se pelo lado ou pelo fundo da caixa da culatra (ou dos

mecanismos) e pode obter-se por:

(1) Ejector fixo, ligado à caixa ou à armadura da culatra.

Ex: Pist Met FBP 9 mm M/963; Esp Aut Galil 5,56 mm M/94; Esp Aut AKM 7,62 mm.

(2) Ejector de alavanca, móvel na caixa de culatra, cujo movimento é comandado pela culatra.

Ex: Met Lig Lewis 7,7 mm M/917; Met Vickers-Berthier 7,7 mm M/931; Esp Aut G3 7,62 mm

M/63.

(3) Abandono do invólucro, dando-se sempre, a saída pelo fundo.

Ex: Met Pes Browning M2 HB 12,7 mm M/951.

(4) Ejector móvel na culatra. Ex: Met Lig MG3 7,62 mm M/92; Esp Aut 5,56 mm Colt M/16 (USA).

d. Detenção

Como as armas automáticas têm as caixas da culatra, ou dos mecanismos, fechadas pela retaguarda,

não existe detenção análoga às armas de fogo ordinárias, sendo o movimento de recuo limitado pelo

choque da culatra com a parte posterior daquelas caixas.

Algumas armas automáticas possuem um órgão a que se dá o nome de detentor da culatra que no

entanto tem uma missão diferente da do detentor das espingardas ordinárias. O detentor da culatra das

armas automáticas tem por fim aumentar a velocidade de tiro, detendo a culatra à retaguarda com a

câmara na posição de aberta, quando se esvazia o carregador.

Funciona assim como avisador de carregamento, não havendo necessidade de trazer a culatra à

retaguarda para substituir o carregador, bastando actuar no detentor para que a culatra vá à frente e

faça a introdução do cartucho apresentado. Ex: Esp Aut FN FAL 7,62 mm M/961.

Nas armas que permitem que a culatra vá à frente com o carregador vazio, há necessidade de puxá-la à

retaguarda para carregar de novo. É o que acontece com a Esp Aut G3 7,62 mm M/961 que não dispõe

propriamente de detentor da culatra, mas sim, de um detentor da cabeça da culatra com vista à

obturação e travamento daquela.

5. MECANISMO DE DISPARAR

Os mecanismos de disparar diferem, conforme aqueles que são de carregamento automático ou de tiro

automático.

a. Armas de Carregamento Automático

Nestas armas a acção do dedo sobre o gatilho deve determinar a partida de um só tiro. Se estes

mecanismos fossem como os das armas ordinárias, atendendo a que os movimentos de recuo e avanço

da culatra são muito rápidos, o atirador não teria tempo para abandonar o gatilho antes do cão, no seu

avanço poder ficar preso no armador, dando-se portanto outro tiro e funcionando a arma como em tiro

automático.

O gatilho é ligado ao armador por uma forma tal que uma vez a culatra liberta, aquelas duas peças se

separam, sendo preciso abandonar o gatilho para que elas novamente se liguem.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 22

Assim (Fig. III-3-25) o gatilho (1) tem um dente (2) e é actuado por uma mola própria (3).

O armador (4) termina por um bloco (5) de forma especial que

uma mola (6) obriga a manter-se apoiada na cauda do armador

e a ter saliente o dente (7) deste no fundo da caixa da culatra.

Quando o atirador actua sobre o gatilho, o dente (2) deste vai

encostar-se ao bloco (5) (Fig. III-3-26), levantando-se a cauda

do armador, comprimindo a mola (6) e baixando

consequentemente o dente (7) que liberta a culatra, partindo o

tiro. Logo que o dente

(7) baixa, o bloco (5), devido à sua forma e sob a acção da mola

(6), escapa-se (Fig. III-3-27), ficando o armador novamente

livre, voltando à sua posição primitiva, de modo que a culatra

no seu avanço é novamente detida pela mola. Tirando-se o dedo

do gatilho, este, sob a acção da sua mola, volta à posição inicial,

ficando de novo em condições de fazer fogo.

b. Armas de tiro automático

Nestas armas este mecanismo tem que ser organizado de forma diferente, porque um tiro só deve partir

depois da culatra estar travada, ou nas armas em que não há travamento, só depois de assegurar a

obturação e naquelas que o cano é móvel só depois deste ter chegado ao seu lugar. O travamento da

culatra, ou a obturação do cano e a chegada deste à sua posição de tiro, são então funções que nas

armas de tiro automático, devem comandar ou permitir a percussão.

Nestas condições a percussão é comandada:

(1) Por uma acção exterior (dedo sobre o gatilho) para o 1º tiro.

(2) Pela própria arma, para os tiros seguintes.

Actualmente a maioria das armas de tiro automático está

organizada de maneira a poder efectuar-se tanto o tiro

automático como o tiro semi-automático, dispondo para isso,

de um comutador de tiro.

6. MECANISMO DE PERCUSSÃO

Para que as caixas da culatra não sejam muito compridas, a percussão nas armas automáticas obtém-se de

maneira diferente da das armas de fogo ordinárias onde o percutor (haste de grande comprimento) é

prolongado pelo cão que para o armar, recua quando se abre a culatra.

Vejamos alguns casos típicos da realização da percussão nas armas automáticas:

a. O percutor (1) (Fig. III-3-28), montado sobre o êmbolo (2), tem movimento dentro dum canal (3)

aberto na culatra (4).

Não tem mola especial, sendo a própria mola

recuperadora (5) que desempenha o papel de mola do

percutor.

É o sistema utilizado, entre outras armas, na Met Lewis

7,7 mm M/917 e na Hotchkiss M/909.

Fig. III-3-35

Fig. III-3-26

Fig. III-3-27

Fig. III-3-28

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 23

b. O percutor (1) (Fig. III-3-29), girando dentro de um canal (2) aberto na culatra (3), tem na parte

inferior um dente (4) que na altura em que a culatra

avança, fica seguro pelo armador (5), comprimindo a

mola do percutor (6).

Este sistema que só se emprega nas armas de tiro semi-

automático, é utilizado pelas Pistolas Automáticas

Parabellum 7,65 mm M/908, Savage 7,65 mm M/915

entre outras.

c. O percutor (1) (Fig. III-3-30) alojado na culatra (2),

tem dentro desta um movimento muito limitado,

achando-se a ponta permanentemente recolhida em virtude da acção duma mola (3) que o veste.

A percussão é determinada pelo choque na cauda (4) do

percutor:

(1) De uma peça ligada ao êmbolo. Ex: Met Vickers

Berthier 7,7 mm M/931.

(2) De um cão martelo. É o sistema mais generalizado e

usado e temos como exemplo as Met Lig MG3 7,62

mm M/92 e a Esp Aut AKM 7,62 mm.

(3) De um ressalto do êmbolo. Ex: Met Pes Breda 7,9 mm

M/938.

d. O percutor é fixo e saliente na parte anterior da culatra, Ex: Pist Met UZI 9 mm M/961, FBP 9 mm

M/963.

e. O percutor é móvel dentro de um caixilho, comandado por uma alavanca.

Ex: Met Pes Browning M2 HB 12,7 mm M/951

Outros sistemas podem ser ainda utilizados, mas os indicados são os mais generalizados.

7. MECANISMO DE SEGURANÇA

A segurança tem, nas armas de fogo automáticas, as mesmas funções a que já nos referimos no estudo das

armas de fogo ordinárias.

Podemos considerar os seguintes sistemas de segurança:

a. Por imobilização do mecanismo de disparar

Ex: Met Lig Dreyse 7,9 mm M/938 (imobilização do armador)

b. Por imobilização do gatilho

Ex: Esp Aut FN FAL 7,62 mm M/961, Esp Aut G3 7,62 mm M/961 etc.

A maioria das armas actuais tem este tipo de segurança.

c. Por imobilização da culatra

Ex: P ist Met Steyr 9 mm M/942; Pist Met FBP 9 mm M/963; Pist Met UZI 9 mm M/961; Met Lig

M60 7,62 mm

d. Por imobilização do manipulo ou manobrador

Ex: Met Lewis 7,7 mm M/917; Pist Met Vigneron 9 mm M/961 etc.

e. Por imobilização do percutor

Ex: Pist Walther 9 mm M/961 (também possui indicador de carregamento)

8. MECANISMO DE CARREGAMENTO E ALIMENTAÇÃO

Fig. III-3-29

Fig. III-3-30

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 24

Este sistema compreende nas armas automáticas os mesmos órgãos que nas armas ordinárias e a

alimentação tem o mesmo ciclo de operações.

a. Armas de tiro semi-automático:

Usam carregadores amovíveis cuja capacidade não excede normalmente 10 cartuchos.

O depósito é quase sempre central. Nas espingardas é organizado como o das armas de repetição,

executando portanto o transporte, a apresentação e a distribuição dos

cartuchos, se a arma emprega o transportador ou só as duas primeiras

operações se a arma emprega carregador, o qual executa a

distribuição. Nalgumas espingardas e na grande maioria das pistolas, o

depósito é uma simples caixa que dispõe de um órgão para fixar o

carregador (fixador) organizada de forma a executar o transporte, a

distribuição e a apresentação dos cartuchos.

Estes carregadores são metálicos e de forma paralelepipédica (Fig. III-

3-31), no interior dos quais se encontra uma mola encimada por uma

lâmina, constituindo ambas o transportador.

A dobragem (arredondamento) das paredes laterais do carregador na

sua parte superior formando orelhas, faz a distribuição dos cartuchos.

Esta variedade de carregadores, entram completamente no depósito

que nas pistolas, é o próprio punho da arma. Este sistema satisfaz, se o combatente transportar consigo

vários carregadores que são rapidamente colocados e extraídos da arma.

b. Armas de tiro automático

Devido à sua grande velocidade de tiro, o processo porque se realiza o carregamento é um pouco

diferente utilizando-se:

(1) Carregadores externos de grande capacidade - 15 a 50 cartuchos

Os carregadores fazem parte do próprio mecanismo da arma e desempenham um papel activo na

alimentação.

Têm formas muito variadas mas podem agrupar-se da seguinte maneira:

(a) Lâminas

As lâminas, são tiras rectangulares de aço com capacidade de 15 a 30 cartuchos, nas quais

estes se fixam por meio de urnas, levantadas da própria lâmina.

Exige este sistema que as armas possuam um organismo especial - o alimentador - onde a

lâmina seja introduzida, ficando horizontal e perpendicular ao eixo do cano e onde recebe

automaticamente movimento de translação (transversal) para que se realize o transporte e a

apresentação sucessiva dos cartuchos.

Este movimento é obtido por transformação do movimento longitudinal da culatra ou do

êmbolo. A distribuição é feita pela própria lâmina e a introdução pela culatra.

(b) Tambores

São depósitos de forma circular, que podem ter movimento de rotação - que é dado por uma

alavanca manobrada pela própria arma - , ou ser fixos. Neste caso os cartuchos são levados à

posição de apresentação por uma mola interna, do tipo de relógio, a que se dá corda quando

se faz o carregamento do tambor.

(c) Carregadores propriamente ditos

Fig. III-3-31

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 25

São caixas metálicas de secção rectangular ou trapezoidal dentro das quais se encontra, como

nos carregadores das pistolas, uma mola e uma lâmina – o transportador – destinadas a

executar o transporte e a apresentação dos cartuchos.

A distribuição, na maioria dos casos, é feita pelo próprio carregador por meio das suas

orelhas.

A sua forma deriva do cartucho utilizado. Se o cartucho tem um perfil tronco-cónico

acentuado e é de garganta, o carregador é rectilíneo; se o cartucho tem ainda um perfil

tronco-cónico pouco acentuado mas é de rebordo, então o carregador é curvilíneo, sendo

porém fraca a curvatura. Os carregadores fixam-se à arma por meio de dentes existentes nas

suas faces externas, que se introduzem em montagens feitas no alojamento na caixa da

culatra, sendo a sua introdução e extracção facilitadas por meio de fechos especiais.

Podem ser colocados superior, inferior ou lateralmente, mas sempre no caminho da peça

destinada à introdução que é, em geral, a culatra.

A sua capacidade varia de 20 a 30 cartuchos.

Ex: Esp Aut Colt M16 5,56 mm (USA) - 20 Cartuchos

Esp Aut AKM 7,62 mm (RUS) - 30 Cartuchos

Nota: Actualmente existe uma norma OTAN que normaliza os carregadores, fazendo com

que eles sejam intermutáveis entre as diversas armas.

(d) Caixas:

São carregadores múltiplos organizados de modo que quando se esvazia um deles, o

imediato é levado automaticamente à posição de carregamento. São pouco utilizadas pelo

que o seu estudo não se reveste de interesse.

(2) Fitas

(a) De tecido

São geralmente formadas por duas tiras de linho forte sobreposto de espaço a espaço por

uma pequena chapa de metal, de forma a constituírem uns pequenos alvéolos onde se

introduzem os cartuchos.

Têm porém o inconveniente de os alvéolos encolherem com a humidade, ou de se alargarem

ao fim de um curto tempo de uso, o que torna difícil a extracção do cartucho da fita, ou, pelo

contrário, permitirem a queda fácil dos cartuchos, descarregando-se a fita. Por este motivo,

alguns construtores apresentam tecidos plásticos.

(b) Metálicas

As fitas metálicas ou rígidas são formadas por pedaços de lâminas metálicas articuladas.

Em geral são enroladas e contidas em cunhetes – no caso de funcionamento da arma como

Met Ligeira – ou em carregadores com a forma de tambor – no caso de funcionamento da

arma como Met Pesada. Apresentam estas fitas, o inconveniente de ser pesadas, frágeis e

difíceis de extrair da arma, provocando demoras nas mudanças de posição, razões porque o

seu emprego, apesar de ensaiado em todos os Exércitos, não se tem generalizado.

A bordo dos aviões e dos carros de combate, onde o espaço disponível é sempre fraco, para

evitar que fique pendurada na arma a parte da fita vazia, emprega-se, em vez destas fitas a

que podemos chamar contínuas, outras formadas por lâminas para um só cartucho, e em que

este desempenha o papel de eixo da articulação, de modo que uma vez extraído, a lâmina

fica livre e cai, em geral, dentro de uma caixa ou saco devidamente disposto para esse fim

debaixo da arma, não causando portanto embaraço.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 26

A estas fitas dá-se o nome de fita de elos. A Met Pes

Browning M2 HB 12,7 mm M/951 usa também

cunhetes metálicos com 120 cartuchos em fita de

elos. Têm o inconveniente de ser difícil a sua

introdução, mas por outro lado apresentam a

vantagem de capacidade ilimitada.

A figura Fig. III-3-32 mostra quatro tipos de fita

desta natureza.

9. MEIOS DE REFRIGERAÇÃO DOS CANOS

No tiro contínuo, os canos sofrem em média, um aumento de

temperatura de 1 grau por tiro, para os primeiros 300 tiros. A

partir deste ponto até aos 600 tiros, o aumento é de 1 grau por cada dois tiros. Seguidamente esse aumento

de temperatura passa a ser menos rápido. Quando envolvido em água, a temperatura do cano não sobe

além de 150 graus.

Combater o aquecimento é pois, imperioso e como não é possível actuar sobre a quantidade de calor que à

partida de cada tiro é comunicada ao cano, procura-se retardá-lo por vários processos que na prática se

agrupam conforme as armas, mas que podemos distinguir:

- Por irradiação;

- Por aumento da massa do cano;

- Por substituição do cano;

- Por diminuição da cadência de tiro;

- Por renovação do ar junto ao cano.

a. Refrigeração por irradiação

Este processo consiste em aumentar a superfície de arrefecimento do cano.

Aumenta-se essa superfície, abrindo no cano caneluras transversais que lhe dão o aspecto de estar

envolvido por discos. Estes podem ser em pequeno número mas muito largos, como acontece na Met

Hotchkiss 7,7 mm ou em grande número mas pouco profundos e muito juntos, tal como nos canos das

Metralhadoras Vickers Berthier 7,7 mm M/931 e Madsen 7,9 mm M/930-41. No primeiro caso essa

superfície limita-se quase à câmara; no segundo estende-se a todo o cano como acontece na Pist Met

Vigneron 9 mm M/961.

Algumas armas apresentam as caneluras no sentido longitudinal. Outras, em vez de as terem abertas

no cano têm-nas numa manga, que o veste, constituída de um metal leve e muito bom condutor de

calor. É o que se passa na Met Lig Lewis 7,7 mm M/917.

Presentemente todas as armas fazem o arrefecimento por irradiação pelo ar.

b. Refrigeração por aumento da massa do cano

Aumenta-se também a superfície de arrefecimento, aumentando a massa do cano, isto é, dando-lhe

uma espessura superior à exigida pela curva das pressões, o que lhe permite, ainda, armazenar muito

calor. Ex: Met Pes Breda 7,9 mm M/938.

As armas que utilizam este meio de refrigeração devem normalmente fazer o tiro por pequenas rajadas

e excepcionalmente, executar tiro contínuo.

c. Refrigeração por substituição dos canos

Este processo, que à primeira vista parece seduzir, tem inconvenientes vários, designadamente:

Fig. III-3-23

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 27

- Dificuldade de executar a substituição dos canos nas primeiras linhas, porque os movimentos

efectuados, mesmo simples, poderem descobrir o pessoal;

- Demora no arrefecimento do cano substituído em comparação com o aquecimento do cano utilizado;

- Dificuldade em aumentar o número de canos que acompanham a arma, por a capacidade de

transporte da respectiva guarnição ser limitada.

Não obstante os inconvenientes apontados, este sistema é o mais vulgar, pelo que as metralhadoras

dispõem geralmente de um ou mais canos de reserva. Ex: Met Pes Browning 12,7 mm

É o sistema de refrigeração utilizado pela maior parte das metralhadoras, sendo corrente porém, a

utilização de mais do que um sistema.

d. Refrigeração por diminuição da cadência de tiro

Consiste em executar correctamente a regulação do funcionamento das armas de forma a fazer baixar a

sua cadência de tiro, retardando, no tempo, o aparecimento da temperatura crítica.

e. Refrigeração por renovação do ar junto do cano

Consiste no emprego de uma manga, com furos de ventilação, que envolve o cano da arma

Ex: Met Lig Dreyse 7,9 mm M/938, Met Lig Madsen 7,9 mm M/930-41.

10. MEIOS DE ARMAZENAR ENERGIA

Como já vimos, os gases desenvolvidos pela carga do cartucho são o agente motor que movimenta as

partes móveis. Para as levar às suas posições iniciais utilizam-se normalmente, uma ou mais molas que

para o efeito, armazenam uma parte da energia desenvolvida pelos gases da pólvora e que durante o

recuo, podem ser comprimidas, distendidas, dobradas ou enroladas.

Devido ao trabalho intenso que se lhes exige, as molas aquecem, podendo mesmo chegar a perder

elasticidade, o que exige bons aços, perfil correcto e tratamentos térmicos especiais, além da possibilidade

de serem reguláveis.

11. ÓRGÃOS DE APOIO

Os órgãos de apoio das armas automáticas desempenham um papel importantíssimo na execução do tiro.

A sua organização depende do peso da arma e das suas características próprias.

Assim, podemos classificá-los da seguinte forma:

a. Suportes ligeiros

São destinados às armas ligeiras às quais andam permanentemente ligados. Devido ao seu reduzido

peso não impedem que a arma seja transportada por um só homem.

Servem apenas para o tiro terrestre.

Subdividem-se em:

- hastes;

- bipés;

- tripés;

- berços.

Presentemente encontra-se generalizado o uso do bipé.

b. Reparos móveis

São destinados às armas pesadas. Para a execução do tiro terrestre, e em virtude do seu peso elevado,

são transportados separados da arma, podendo, em caso de necessidade, ser transportados juntamente

com elas mas exigindo para isso dois ou mais homens.

Subdividem-se nos seguintes tipos:

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 28

- tripés;

- tetrapés;

- reparos rodados.

c. Reparos de posição

Destinados ao tiro terrestre e à utilização da arma em posições fixas, como fortes, entrincheiramentos,

navios, etc.

Subdividem-se nos seguintes tipos:

- cónicos;

- de elipse;

- de trincheira.

d. Reparos anti-aéreos

São destinados ao tiro anti-aéreo.

Subdividem-se nos seguintes tipos:

- ligeiros;

- pesados;

- de posição.

f. Reparos de viatura

Utilizados em viaturas tácticas e viaturas de combate

Subdividem-se nos seguintes tipos:

- pedestais;

- reparos de suspensão universal e boleados;

- reparos de anel;

- berços.

f. Reparos navais

Utilizados em navios e embarcações. Subdividem-se em dois tipos:

- Reparos antiaéreos;

- Reparos para tiro de superfície.

h. Reparos de aeronave

São utilizados em aeronaves de combate. Podem ser guarnecidos directamente por um apontador ou

por controlo remoto.

Podiam ser montados em diversos tipos de torres, nos aviões mais antigos. (Ex: Bombardeiro Boeing

B-17G Flying Fortress).

Actualmente podem ser montados em alguma parte da fuselagem, ou das asas, bem como suspensos

de ambas (Ex: Helicóptero Boeing AH-64 Apache, Caça Boeing F/A-18E/F Super Hornet).

Algumas aeronaves do tipo helicóptero podem também permitir a montagem em reparos de pedestal

(Ex: Helicóptero Bell UH-1D Iroquois Gunship).

12. CORONHA

As espingardas automáticas têm coronhas semelhantes às das ordinárias, obedecendo às mesmas

condições.

São comuns, todavia, coronhas metálicas, retrácteis, permitindo a redução do seu comprimento para um

transporte mais fácil e dissimulado.

As metralhadoras ligeiras empregam sempre coronha limitada ao couce, ou ao delgado e couce, ligando-

se por meio duma armação metálica à caixa da culatra.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 29

Algumas metralhadoras pesadas ou destinadas a fazer fogo de viaturas ou aeronaves não possuem

coronha. Umas têm em seu lugar uma empunhadura dupla (Met Pes Browning M2 HB 12,7 mm)

permitindo a pontaria de um reparo pesado, Outras, manobradas remotamente, são apenas montadas nos

seus reparos de viatura ou aeronave, com a parte posterior coincidindo com a caixa da culatra e

mecanismos [Met Pes M85 12,7 mm (USA), montada em berço na cúpula da torre do carro de combate

M60A3TTS].

13. GUARNIÇÕES

O estudo das guarnições feito nas armas ordinárias mantém-se válido, no aplicável, para armas

automáticas.

14. ACESSÓRIOS

Entre os variadíssimos acessórios destas armas merecem menção especial os seguintea, para além dos já

referidos no capítulo das armas ordinárias :

a. Aparelhos de tiro simulado ou batentes de instrução

São indispensáveis para dar a ilusão de fogos reais. Utilizam cartuchos simulados em manobras de

tempo de paz e servem para facilitar a instrução.

São aparelhos que se aplicam na extremidade do cano afim de diminuir o seu calibre, diminuindo

assim a câmara de explosão, uma vez que o projéctil simulado se volatiliza quase completamente no

momento do tiro.

Para evitar desastres, têm normalmente um aspecto exterior muito diferente dos tapa-chamas ou

reforçadores de recuo.

b. Calhas para montagem de dispositivos extra e acessórios

As também chamadas calhas tácticas são acessórios que permitem a fixação às armas de diversos

dispositivos acessórios e extraordinários, de uma maneira rápida e segura e padronizada. Consiste na

fixação à arma, por cima ou nos lados da caixa da

culatra, do fuste ou do cano, de calhas com ranhuras

transversais, que permitirão a fixação simples e rápida

de diversos equipamentos como sejam, alças

telescópicas, reflexivas ou de visão nocturna, lanternas

tácticas, lasers, empunhaduras, bipés, baionetas, etc.

Usam-se calhas com ranhuras de medidas padrão, de forma a que os construtores dos diversos

acessórios a ser utilizados, lhes possam adicionar dispositivos de fixação adequados a estas medidas.

Actualmente estão generalizados dois tipos de calhas, semelhantes mas de medidas diferentes: o tipo

Picatinny (Fig. III-3-27) e o tipo Weaver. As calhas Picatinny mais generalizadas, obedecem às

exigências de normalização aprovadas pelos países da NATO.

Fig. III-3-27

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 30

CAPÍTULO IV

PISTOLAS

1. BREVE HISTÓRIA E EVOLUÇÃO

A pistola acompanhou a evolução das espingardas. Para a obtenção de pistolas com mecanismos de

repetição, surgiu a pistola de canos múltiplos e posteriormente o sistema de depósito. Surge o depósito no

fuste e depois central, com carregadores internos e externos.

As pistolas primitivas funcionavam por acção do guarda-mato ou do percutor, sendo de difícil manejo,

impondo ainda dimensões reduzidas ao cartucho, sendo por isso uma arma inferior ao revólver.

O princípio de automatismo aplicado às pistolas constituiu um notável aperfeiçoamento. A primeira

pistola com este princípio surgiu em 1893. Foi uma pistola de calibre 11,45 mm e cujo cano era ligado a

um tubo onde trabalhava um êmbolo que por acção dos gases da pólvora captados num ponto do cano,

realizava a ejecção do invólucro.

Três anos depois surge a Pist “Clair” com o mesmo sistema de tomada de gases num ponto do cano. Este

sistema foi posto de parte devido ao pequeno comprimento do cano.

Em 1893 surge a Pist “Brochardt”, predecessora da Pist “Parabellum” com sistema complicado e

inconveniente pela sua delicadeza, embora manifeste já alguma das características das armas actuais.

Em 1894 surge a Pist “Mannlicher”, arma bastante curiosa, em que o cano era levado à frente pelo

forçamento do projéctil nas estrias do cano. Nesse mesmo ano aparece a Pist “Bergmann” e em 1897 a

Pist “Charola-anitua” e a Pist “Simplex”.

Em 1898 surge a Pist “Mauser” que podia ser utilizada como pistola ou como carabina.

Em 1900 surgem as Pistolas “Brochardt-Luger” também conhecida por “Parabellum”; “Roth”; “Dreyse”;

“Mannlicher”; etc. Em 1903 a fábrica “Colt” apresenta a “Browning” de algibeira de grande categoria

técnica devido às suas reduzidas dimensões.

Em 1908 surge a Pist “Parabellum” 9 mm. Em 1911 surge a Pist “Colt” nos E. U. A.

As pistolas, são armas de grande calibre e de grande poder derrubante, utilizadas como armas de defesa

pessoal, utilizadas a curtas distâncias.

2. PROCESSO DE FUNCIONAMENTO

As pistolas classificam-se no seu processo geral de funcionamento, dentro dos seguintes sistemas de

automatismo:

a. Sistema em que recua cano e culatra, por acção indirecta dos gases

Dentro destes, o processo de funcionamento mais empregue é:

- Curto recuo cano

Este processo é usado nas pistolas de maior calibre.

Funcionamento

1ª Fase

Recua o cano solidário com a corrediça/culatra.

Compressão das molas recuperadoras.

2ª Fase

Inicia-se o destravamento da culatra/corrediça do cano.

Compressão da mola recuperadora da culatra.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 31

Extracção e Ejecção.

3ª Fase

Avanço da culatra/corrediça, introdução de nova munição

Travamento da culatra/corrediça.

As armas que funcionam por este sistema utilizam culatras travadas. Os sistemas de travamento mais

comuns, já descritos, são:

(1) Por bielas articuladas. Ex: Pist Parabellum 9 mm M/943, Pist Borchardt C-93 7,65 mm (GER);

(2) Por inclinação do cano. Ex: Pist Glock 9 mm (AUT), Pist Colt M1911 11,43 mm (USA);

(3) Por roletes de travamento. Ex: Pist CZ-52 7,62 mm (CZE);

(4) Por bloco de travamento. Ex: Pist Walther 9 mm M/61, Pist Beretta 92F 9 mm (USA);

(5) Por rotação do cano. Ex: Pist Beretta Px4 Storm 9 mm (ITA);

b. Sistema em que recua só a culatra

(1) Por acção indirecta de gases

É usado nas pistolas de menor calibre que funcionam por acção indirecta de gases. O travamento

é por inércia através de um retardamento na desobturação. As armas com este sistema utilizam

cargas moderadas e por isso o peso da culatra e a força da mola recuperadora são suficientes para

impedir a abertura da câmara antes da saída do projéctil do cano.

Ex: Pistola 7,65 mm Savage M/915.

(1) Por acção directa de gases

De difícil aplicação, dadas as reduzidas dimensões das pistolas e a complexidade de montagem de

com canal com êmbolo. É apenas usado em pistolas de grande calibre, em que o

excepcionalmente elevado recuo inviabiliza um sistema por acção indirecta de gases.

Ex: Pistola 12,7 mm Desert Eagle (ISR).

b. Sistema em avança o cano

Como já vimos, foi um sistema experimentado aquando do aparecimento da pistola semi-automática,

em finais do século XIX, inícios do século XX.

Foi abandonado por não trazerem armas vantagens apreciáveis, antes enfermando de um recuo

demasiado forte para munições semelhantes.

Ex: Pistola 7,65 mm Schwarzlose, Model 1908 (AUT);

Pistola 7,65 mm Steyr Mannlicher M1894 (AUT).

3. SEGURANÇA DE FUNCIONAMENTO

Para aumentar a segurança de funcionamento, as pistolas têm sido objecto de vários aperfeiçoamentos que

as tornam mais complexas.

No tocante à segurança do atirador, o mecanismo consiste regra geral num botão ou alavanca que

imobiliza o gatilho ou o separa do armador e que é facilmente manejável pelo polegar direito.

Cada arma terá o seu próprio sistema de segurança, contudo os mais importantes são:

a. Imobilização da corrediça

b. Imobilização do cão Ex: Pistola Star 7,65 mm

c. Imobilização do gatilho Ex: Pistola Browning 9 mm HP M3

d. Imobilização do armador Ex: Pistola 9 mm Parabellum

e. Imobilização do percutor Ex: Pistola 9 mm Walther

Existem pistolas com um indicador de carregamento que indica que existe uma munição introduzida na

câmara, funcionando como sistemas auxiliares de segurança. Ex: Pist 9 mm Walther M/961.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 32

4. ORGANIZAÇÃO DAS PISTOLAS

a. O cano

O cano das pistolas é semelhante aos canos das armas ordinárias pois tem o mesmo fim; encaminhar o

projéctil na sua trajectória, após o disparo. O cano é no entanto agora mais espesso devido à maior

velocidade de tiro, para ter uma maior resistência à ruptura.

O cano nas pistolas não ultrapassa os 16 cm de comprimento, sendo estriado num número que

geralmente vai de 4 a 6 estrias. A maioria das pistolas actuais utiliza um calibre entre os 7,65 mm e os

9 mm. A tendência actual é para a manutenção dos calibres estandardizados, mercê dos requisitos de

munições padronizadas para as forças armadas e de segurança que as adquirem e também para o

mercado civil.

b. Caixa da culatra

A caixa da culatra destina-se a alojar, a travar a culatra móvel e a facilitar e guiar os seus movimentos

pelo que se subordina à forma desta. Normalmente nas pistolas tem o nome de corrediça.

c. Aparelho de pontaria

As pistolas têm um aparelho de pontaria de mira ordinária e possuem normalmente uma única linha de

mira pois as alças que utiliza são alças de ranhuras simples fixas. Têm normalmente a alça regulada

para distâncias inferiores a 50m.

d. Culatra

Como já sabemos, a culatra móvel é o agrupamento de peças destinado a fechar o cano pela parte

posterior e a obter conjuntamente com o invólucro uma obturação completa e perfeita. Nas pistolas, a

reduzida massa que as culatras têm, aliada à dificuldade de as manobrar, faz com que as mesmas sejam

envoltas numa manga, a corrediça, que também cobre parcialmente o cano. A culatra e a corrediça são

solidárias, movendo-se sempre juntas.

Algumas pistolas, porém, possuem uma culatra realmente móvel dentro da corrediça, fazendo esta as

vezes da caixa da culatra como nas espingardas automáticas e de manobrador manual.

e. Percussão

A percussão, na maioria das pistolas, é efectuada pelo mecanismo de disparar e é composto pelo

gatilho, percutor, mola do percutor, cão e armador.

A percussão nas pistolas realiza-se quando o percutor uma vez armado sofre o choque do cão, que é

solto quando se prime o gatilho.

f. Extracção

Os extractores mais usados são de garra com mola, contudo existem pistolas com extractores de garra

de mola.

g. Ejecção

Os ejectores mais usados nas pistolas são:

(1) Ejector fixo, ligado à corrediça.

(2) Ejector da alavanca, cujo movimento é comandado pela corrediça/culatra.

A ejecção é quase sempre lateral, estando o ejector colocado do lado oposto à janela de ejecção.

h. Mecanismo de carregamento e alimentação

As pistolas usam carregadores amovíveis cuja capacidade não excedem normalmente 15 munições.

O depósito é quase sempre central.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 33

CAPÍTULO 5

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE PISTOLAS E REVÓLVERES

Ao longo do tempo as pistolas tiveram que competir com os revólveres pelo que uns defendiam/defendem

as pistolas e outros os revólveres.

O automatismo aplicado às pistolas veio dar-lhes uma grande supremacia sobre os revólveres, não

deixando estes porém, de ter grande número de admiradores. Justifica-se por isso, uma breve comparação

das vantagens e inconvenientes entre estas duas armas individuais.

Analisando as condições de carácter balístico não há dúvida de que as pistolas são superiores aos

revólveres, porque, não havendo descontinuidade entre a alma do cano e a câmara, não há fuga de gases e

consequentemente não há perda de velocidade se utilizados projécteis encamisados. Estes projécteis são

indispensáveis também nas pistolas por causa das operações de alimentação, em especial a introdução,

que é sempre brusca e deformaria o projéctil se o mesmo não fosse revestido.

Vantagens das pistolas:

- maior velocidade inicial do projéctil;

- maior velocidade de tiro;

- menor esforço na execução do tiro (cerca de 4Kg, enquanto os revólveres, para a rotação do cão e do

tambor, exigem cerca de 7Kg – actualmente há revólveres que se aproximam dos valores das

pistolas);

- melhor continuidade de tiro (caso se disponha de novo carregador).

Vantagens dos revólveres:

- maior poder derrubante (em igualdade de calibre e de carga, usando projéctil uni-metal);

- maior simplicidade, não exigindo tantos cuidados;

- maior segurança no funcionamento (se um cartucho falha, a pistola fica incapaz durante alguns

segundos enquanto o revólver pode efectuar novo tiro em meio segundo).

- os cartuchos podem ser recolhidos pelo atirador (não fica referenciado o local dos disparos).

Que conclusões se podem tirar desta comparação?

A arma de defesa individual é uma arma de oportunidade que se utiliza em caso de emergência e,

portanto, a segurança de funcionamento deve ser a condição a atender em primeiro lugar. É por este facto

que algumas pessoas preferem o revólver, afirmando que mais vale ter uma arma que garanta a execução

de seis tiros (carga normal do revólver), do que dispor de outra carregada com o dobro dos cartuchos mas

cujo funcionamento seja duvidoso.

Actualmente, como a segurança de funcionamento das pistolas é quase igual à dos revólveres, a

preferência vem, cada vez mais, sendo dada àquelas.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

III - 34

CAPÍTULO 6

PISTOLAS-METRALHADORAS

1. BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA

As pistolas-metralhadoras aparecem pela 1ª vez em fins de 1916 durante a 1ª Guerra Mundial, no Exército

Italiano (Fiat M/915). Era um modelo constituído por duas pistolas acopladas, ligadas anteriormente por

um travessão e posteriormente por uma coronha única, podendo disparar independente ou

simultaneamente. Tratava-se de uma arma automática de cano fixo.

Em 1917 o Exército alemão é dotado da “Parabellum” com cano comprido e coronha, mas a execução do

disparo automático não dá resultados.

Em 1918, Petersen consegue realizar um novo tipo de Pistola Metralhadora à custa dum dispositivo de

calibre .30 adaptado à Springfield. Não foi, porém feliz porque não resultou na prática.

Neste mesmo ano Hugo Schmeisser consegue a sua Pistola-metralhadora (Bergman Mushete M/18-I).

Tratava-se de uma arma automática, de cano fixo, utilizando o cartucho “Parabellum”. É uma arma ideal

para utilização no assalto.

E de tal forma o valor prático das Pistolas-metralhadoras era considerado, que pelo tratado de Versailles,

foi imposta a proibição do seu uso pela Reichswehr, sendo somente permitida à polícia mas em número

reduzido.

Estava assim lançada a semente para futuros estudos de aperfeiçoamento e para a generalidade do seu uso

em todos os Exércitos do Mundo.

Colocadas entre as armas ordinárias e as metralhadoras, as pistolas-metralhadoras aliavam a uma boa

manejabilidade uma grande cadência de tiro.

Devido às velocidades serem pequenas (V0-360m/s em média) e os canos curtos (25 cm

aproximadamente), adoptou-se para o automatismo o princípio da acção indirecta dos gases com culatra

não travada.

Como as velocidades práticas a empregar são reduzidas (50/60 t.p.m. - em tiro-a-tiro - para uma cadência

de tiro de 600 t.p.m., em média), não foi preciso criar qualquer sistema de arrefecimento.

Assim, têm um peso aproximado de 3,5 kg e empregam o cartucho das pistolas. O calibre é geralmente 9

mm, o que vem facilitar o remuniciamento devido ao fraco peso da munição.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

IV - 1

PARTE IV

OUTRAS ARMAS DE FOGO LIGEIRAS

CAPÍTULO 1

ARMAS DE FRANCO-ATIRADOR

1. GENERALIDADES

Desde os tempos mais primitivos, o ser humano teve de lutar e caçar para sobreviver. No início as

distâncias a que se matava a caça eram pequenas (apenas alguns metros). Contudo, com o

desenvolvimento do armamento, ele irá conseguir caçar a maiores distâncias.

Irá desenvolver armas que lançam o projéctil à distância a par da utilização de camuflagem. São duas

descobertas que mantêm a sua vigência até aos nossos dias.

Enquanto as armas de fogo evoluíram com grande rapidez, os sistemas de pontaria permaneceram

inalterados. Durante muitos anos, o sistema de miras abertas foi o único equipamento de pontaria que o

atirador dispunha. Contudo, havia necessidade de não só atirar mais longe mas também com maior

precisão. Como consequência começaram a aparecer atiradores que conseguiam acertar com precisão no

alvo a grandes distâncias.

A palavra anglo-saxónica sniper, correspondente à expressão

portuguesa de franco-atirador é a designação mais comum

internacionalmente. O termo sniper teve origem no século XIX,

com o Exército Britânico, na Índia, onde existia um pássaro, a

narceja (snipe) (Fig. IV-1-1) de pequena cauda e bico longo que

se alimentava de insectos, pequeno e rápido, alvo extremamente

difícil para qualquer caçador. O atirador para lhe acertar, tinha

que ser realmente muito bom e aqueles que conseguiam eram chamados de snipers (forma contraída de

snipe, e killer).

Esta “caça” transformou-se num jogo, que rapidamente se transformou num jogo favorito entre

determinadas elites.

O caçador de snipe de sucesso era um perito no tiro e proficiente noutras artes de caça. Por conseguinte, o

termo sniper apareceu a significar aquele que possuía todas as capacidades de um caçador de snipe de

sucesso.

Todavia, a proficiência do franco-atirador militar desenvolveu-se mais como uma arte, à medida que os

avanços no armamento, no equipamento e nas técnicas foram surgindo.

Na I Guerra Mundial, o Exército Britânico defrontou-se com atiradores alemães peritos equipados com

espingardas especiais e aparelhos telescópicos. O termo “sniper” foi-lhe aplicado e popularizado. Os

franco-atiradores alemães “forçaram” o Exército Britânico a empregar as mesmas técnicas e, sob

liderança do Major Hesketh Pritchard, foi organizado um curso de sniper (a primeira escola do exército

de sniper, Observação e Exploração).

Depois da I Guerra Mundial, a ênfase dada ao franco-atirador decresce, excepto na União Soviética. Em

1930, URSS começou a treinar e equipar franco-atiradores. Na II Guerra Mundial, os soviéticos já tinham

Fig. IV-1-1

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

IV - 2

cuidadosamente integrado tácticas de franco-atirador no seio da sua doutrina táctica e os seus atiradores

especiais podiam operar em equipas bem preparada. Cada franco-atirador sabia exactamente para onde ir

e o que fazer.

Durante a II Guerra Mundial, o Exército Americano armou unidades de atiradores especiais com a

finalidade de conduzir actividades de sniper. O seu emprego efectivo, bem com os respectivos resultados

e efeitos diferiam entre comandantes e unidades.

Uma lição específica apreendida no emprego de franco-atiradores foi a de que a utilização dum franco-

atirador não é só um factor de oportunidade: um atirador típico não pode ser arbitrariamente designado

para uma missão superior crítica.

Todo o bom atirador não é obrigatoriamente, um franco-atirador, mas todo o franco-atirador é,

obrigatoriamente, um bom atirador.

Com a Guerra da Coreia, os Americanos chegaram a algumas conclusões entre as quais a necessidade de

centralizar escolas de franco-atiradores, de flexibilizar a organização de franco-atiradores e de treinar

comandantes sobre a utilização correcta das capacidades dos franco-atiradores.

Como resultado em 1955, à Escola Prática de Infantaria dos Estados Unidos foi dada a missão de

organizar uma escola de franco-atiradores. O programa reiterava:

i. As capacidades requeridas a um franco-atirador devem ser superiores a um atirador médio;

ii. Um franco-atirador deve ser um atirador nato, com uma arma especial;

iii. Um franco-atirador deve ser altamente treinado nas técnicas individuais de combate;

iv. A inexistência de uma estrutura, o treino incompleto e a falta de doutrina inibe o uso de franco-

atiradores;

v. A mentalização da formação dos comandantes é vital para assegurar o uso correcto de um sniper.

Um franco-atirador tem, pois, aptidões, treino e equipamentos especiais.

A sua função é a de executar discriminadamente tiro com alta precisão contra alvos inimigos que devido

ao alcance, tamanho, local, natureza móvel ou visibilidade, não pode ser efectuado com sucesso por um

atirador normal.

A “arte de franco-atirador” requer o desenvolvimento das aptidões básicas de Infantaria a um alto nível de

perfeição.

O seu treino engloba uma grande variedade de matérias com o objectivo de aumentar o seu valor como

força multiplicadora e de assegurar a sua sobrevivência no campo de batalha.

O seu domínio requer uma prática de aprendizagem e repetição dessas matérias até absoluto domínio das

mesmas.

Um franco-atirador deve ser altamente treinado em tiro de longo alcance e técnicas de combate, a fim de

assegurar uma máxima probabilidade de sucesso e o mínimo risco de detecção.

A perfeição deve ser atingida antes de se tomar parte em operações de combate.

Em 1983, durante a operação “Fúria Urgente”, os Rangers do Exército Americano empregaram franco-

atiradores em Granada. O sucesso foi enorme na eliminação de alvos inimigos em posições de morteiros a

distâncias superiores a 800 metros. A redução de fogos dessas posições era essencial para o sucesso da

missão e ilustra a importância do emprego do franco-atirador.

Actualmente, e em todas as forças do Mundo, o franco-atirador é visto como uma peça fundamental no

campo de batalha.

É intenção de treino do franco-atirador de produzir atiradores especialistas que actuem isolados ou em

grupo por bastante tempo.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

IV - 3

Os franco-atiradores do Exército são formados no Centro de Operações Especiais (COE) em Lamego,

enquanto que os franco-atiradores da Marinha são formados no Destacamento de Acções Especiais

(DAE) do Corpo de Fuzileiros. Estas unidades são responsáveis por gerar equipas de franco-atiradores

para emprego táctico e operacional.

Os franco-atiradores das Forças de Segurança são formados e empregues pelo Centro de Operações

Especiais (COE) da Polícia de Segurança Pública.

2. CARACTERÍSTICAS DO FRANCO-ATIRADOR

Poder de concentração, determinação, resistência, agilidade física e mental, alto nível de treino, paciência

e perspicácia.

Para desenvolver estas qualidades o treino deve ter em especial atenção:

a. Aquisição de alvos e estimativas de alcances.

b. Camuflagem e disfarce.

c. Utilização do terreno de forma eficaz.

d. Preocupação na escolha da posição.

3. PRINCÍPIOS DE EMPREGO TÁCTICO E OPERACIONAL

a. O franco-atirador bate preferencialmente: franco-atiradores, comandantes, oficiais, observadores

avançados, guarnições de armas pesadas, operadores de transmissões.

b. Um franco-atirador deve poder bater:

(1) Um alvo de tamanho de uma cabeça a 400 m.

(2) Um alvo de tamanho de um tronco humano a 600 m.

(3) Um alvo de tamanho de um homem de pé a 1000 m.

c. Os franco-atiradores actuam:

(1) Isolados;

(2) Em parelhas (preferencialmente e o mais usual);

(3) Em equipas de composição variável (em áreas urbanas e missões de segurança de área ou de

protecção a altas entidades.

4. LUTA ANTI SNIPER

No moderno campo de batalha o franco-atirador, como foi visto no capítulo anterior, adquire uma

importância vital. Com os conflitos mundiais a ficarem cada vez mais reduzidos a focos de instabilidade

regional, os franco-atiradores saem claramente beneficiados, pois o seu “modus operandi” adapta-se

perfeitamente a este tipo de conflito. Temos como exemplo num “passado-recente”, os conflitos da

Bósnia-Herzgovina e da Chechénia. Assim, os exércitos estão cada vez mais a tomar consciência deste

aspecto e estão a encontrar formas de o combater.

Presentemente, o combate anti-sniper apresenta as seguintes formas:

- Detecção do franco-atirador;

- Detecção e localização do franco-atirador após o disparo;

- Protecção do atirador.

a. Detecção do franco-atirador

Pode ser utilizado um sistema de vigilância óptica do Campo de Batalha, (Battlefield Optical

Surveillance System) “Boss”. É um sistema montado e operado num veículo que detecta armas de

franco-atirador que utilizem sistemas ópticos.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

IV - 4

Utiliza a energia do veículo no qual está montada. Tem um alcance efectivo de 1500 m. Emprega um

sistema passivo de infravermelhos.

Adquire o alvo através de retro-reflexão do aparelho óptico do sniper, antes do disparo.

b. Detecção e localização do franco-atirador após disparo.

É um sistema ainda em estudo. Explora os seguintes parâmetros:

(1) Velocidade acústica do projéctil

É composto por um aparelho com microfones localizados de uma maneira precisa, ligado a um

computador, com um processador de sinais.

Já foram testados com resultados positivos nas espingardas de franco-atirador 5,56 mm M16 e 7,62

mm Remington.

Apresenta como limitações:

(a) Baixa performance em áreas edificadas;

(b) Não detectar armas com silenciador;

(c) Não detectar todos os disparos efectuados a distâncias superiores a 500 m.

(2) Onda de choque

É baseada na medição da onda de choque do projéctil, que fornece as seguintes informações:

- Trajectória do projéctil em relação ao sensor

- Ângulos de direcção e elevação do projéctil em relação ao sensor

- Velocidade do projéctil

Este sistema tem uma alta taxa de detecção.

(3) Forma humana

(4) Canos quentes das armas sniper

(5) Aparelhos ópticos usados pelos franco-atiradores

c. Protecção do atirador

É um colete Anti-bala usado por baixo do fardamento.

Foi redesenhado a partir dos coletes Anti-Balas normais, mas fazendo face ao grande poder penetrante

das espingardas.

Tem um peso de 6 a 8 libras, com uma composição de titânio. Enquanto os modelos actuais só

protegem contra fragmentos, testes efectuados com este colete provam que à mesma distância

conseguem proteger contra a penetração das munições.

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V - 1

PARTE V

ARMAS DE LETALIDADE REDUZIDA

CAPÍTULO 1

GENERALIDADES

― A importância das Armas não Letais é crítica nos conflitos de baixa intensidade‖

Esta é a opinião do General Anthony Zinni do Corpo de Marines dos USA, Comandante-chefe das forças

da ONU na Somália.

Esta operação constitui, até aos dias de hoje o melhor teste no terreno, deste tipo de armamento.

Não é simples definir o que são Armas não Letais.

O termo não letal, quando conotado com um determinado tipo de armas, é de fácil aceitação, se

comparado com as armas letais convencionais, uma vez que a sua utilização, mesmo indiscriminada, de

ambas sobre militares e civis, à partida sugere que as primeiras tenham consequências menos gravosas

que as segundas.

Segundo a OTAN, Arma não Letal é definida como:

― Arma especificamente concebida e empregue de forma a incapacitar pessoal ou material com

baixa probabilidade de causar morte ou danos graves e com o mínimo de efeitos colaterais ou

impactos no meio ambiente ‖.

O desenvolvimento destas armas tem sido baseado em algumas tecnologias das quais se salientam:

a. Sistemas electromagnéticos

Os sistemas electromagnéticos são responsáveis pelas armas laser. Podem ainda utilizar a emissão de

microondas com grande potência, capaz de inutilizar dispositivos electrónicos que não estejam

protegidos, afectando o comando e controlo, bem como todas as armas que dependem de sensores

electrónicos.

b. Sistemas Acústicos e Ópticos

Utilizam sons de baixa frequência, podendo penetrar facilmente em edifícios e viaturas.

c. Agentes Biológicos e Químicos

Utilizam uma grande variedade de agentes químicos e biológicos.

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V - 2

CAPÍTULO 2

TIPOS DE ARMAS DE LETALIDADE REDUZIDA

Existem diversos tipos de Armas não Letais. As formas como podem ser agrupados são várias, em função

do seu destino (anti-pessoal / anti-material) em função da tecnologia utilizada ou por grupos funcionais.

Vamos classificá-las em função do destino. Assim podem ser:

a. Anti-pessoal

Afectam exclusivamente o homem. Podem ser de vários tipos:

(a) Lasers de encadeamento

Lasers emitindo na parte visível do espectro, são usados no adversário, cegando-o

momentaneamente. São usados para prevenir ataques de franco-atiradores, forçar condutores de

viaturas a parar ou deter possíveis agressores.

(b) Bastões Eléctricos, Armas de Atordoamento e Taser’s

São exemplos do emprego desta tecnologia, os choques eléctricos de grande voltagem e baixa

amperagem, que provocam nas vítimas, espasmos, contracções musculares involuntárias, até

queimaduras eléctricas resultantes de aplicações contínuas.

Estes dispositivos podem ser empregues quer a curta distância, como as primeiras duas referidas,

como a maior distância, como o Taser. São as Forças de Segurança que mais utilizam estes meios

para restabelecer a ordem.

(c) Canhões de Água

Esta arma utiliza um jacto de água muito forte. É utilizado para dispersar multidões. Se for

utilizado muito perto do alvo pode tornar-se letal.

(d) Projécteis não penetrantes

Há já alguns anos que têm sido usados pelas Forças de Segurança. São balas de borracha cujo

objectivo é causar dor ou derrubar o adversário. Tem velocidades iniciais na ordem dos 50 a 100

m/s. O efeito depende de vários factores, tais como a distância a que se encontra o alvo, a parte do

corpo atingida e a roupa que a pessoa veste.

(e) Sons de Alta Intensidade

Provocam nas suas vítimas desorientação, dor e inclusive morte. Os reparos mais comuns ao

emprego desta arma prendem-se com o sofrimento desnecessário que poderão causar com o uso

indiscriminado da sua aplicação.

(f) Os Infra Sons

Podem atravessar edifícios e viaturas, a sua aplicação pode ser localizada, uma vez que são

direccionais e reguláveis. A sua área de aplicação mais provável será a interdição do acesso a

determinadas zonas, em que o seu efeito se fará sentir de forma inversa ao da distância.

(g) Odor

Actuam pelo sentido do cheiro. São particularmente importantes na dispersão de multidões.

Contudo são difíceis de controlar em espaços abertos.

(h) Espuma colante

Líquido espesso que prende e imobiliza o alvo.

(i) Marcadores

São produtos químicos que podem ser aplicados num homem (na pele ou na roupa) para posterior

detecção, através de aparelhos detectores.

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V - 3

b. Anti-material

(a) Vírus informático

A introdução de vírus em sistemas informáticos é por todos conhecida como possível e com

implicações gravíssimas, no funcionamento, controlo e coordenação dos equipamentos

informáticos actuais.

(b) Modificadores de combustíveis

Agentes químicos que modificam a combustão, destruindo o sistema propulsor das viaturas.

(c) Agentes Anti-tracção

Agentes químicos que impeçam a tracção dificultando a mobilidade dos veículos.

(d) Anti-pneus

Agentes químicos que consomem rapidamente a borracha dos pneus.

(e) Lasers Anti-sensores

Lasers que actuam no espectro de modo a tornar inoperacionais os sensores.

c. Anti-material/Anti-pessoal

(a) Armas de Microondas

Podem interromper a funcionalidade de aparelhos electrónicos. Podem afectar também o cérebro.

(b) Dispositivos imobilizadores

Vários dispositivos como redes, arames, super-cola, que fecham por exemplo a saída de uma

janela, uma porta, impedindo a sua utilização.

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V - 4

CAPÍTULO 3

EMPREGO DE ARMAS DE LETALIDADE REDUZIDA

a. Tumultos/controlo de multidões

Existem diversos cenários em que as Armas não Letais poderão ser empregues, como negar o acesso a

instalações criticas:

- Embaixadas

- Paióis

- Prisões

- Instalações nucleares

b. Sanções

O emprego integrado destas armas com sanções a um determinado país, como por exemplo, um

bloqueio económico associado ao emprego de um produto, que atacasse pneus e borrachas, aumentaria

o efeito do bloqueio, uma vez que as alternativas por meios terrestres seriam escassas.

c. Interdição de recursos táctico/estratégicos

É possível diminuir a capacidade de sustentar ou provocar um conflito por parte de um adversário com

emprego de Armas não Letais. Um Estado beligerante pode ser desencorajado nos seus intentos,

através da inutilização da sua capacidade industrial, mas de forma a que seja possível reutilizar as suas

instalações, sem grandes obras de reconstrução, que um ataque com armas letais provocaria.

d. Intervenção num conflito

O emprego destas armas antes ou durante um conflito entre dois países, evitará a mobilização de

esforço de guerra por parte dos contentores e permitirá o ganho de tempo necessário para negociações.

Este tipo de intervenção terá melhor aceitação não só por parte dos países envolvidos como pela

própria opinião pública.

e. Incursões militares

A realização de operações secretas, em países onde se pretende obter informações ou atingir um

objectivo único, como a destruição de fábricas de armas químicas ou capturar armas nucleares,

permitem um bom emprego das Armas não Letais, impedindo que as forças locais possam actuar em

tempo.

f. Resgate de reféns

É desejável e possível a utilização de Armas não Letais, em situações onde se pretende neutralizar

forças hostis misturadas entre civis ou forças amigas. Situações como a referida, ocorrem nas

operações realizadas na Somália e no Kuwait.

O emprego das referidas armas poderia isolar uma área, impossibilitando a fuga ou reforços das forças

hostis, criando o tempo necessário para conversações e libertação dos reféns.

g. Operações Anti-terrorista e Anti-droga

O emprego de aeronaves ou viaturas, em regiões remotas e isoladas, por traficantes de droga ou

terroristas, poderá ser monitorizada por sensores e o emprego de um produto nessas áreas imobilizaria

os aparelhos, permitindo uma intervenção eficaz das forças da ordem.

Como outro exemplo, poderíamos referir o emprego de redes especiais lançadas por avião, que

detivessem as lanchas rápidas que transportam o narcotráfico de embarcações em águas internacionais

para o continente.

h. Operações militares em áreas urbanizadas

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V - 5

Neste tipo de áreas, em que existem diversos obstáculos e esconderijos, o emprego de espumas para

isolar determinados locais, impedindo reforços ou canalizando forças, contribui para que se minimize

o emprego de meios que possam colocar em perigo as vidas de civis ou forças amigas.

i. Operações convencionais

A inutilização de recursos estratégicos vitais, como instalações eléctricas, reservas de petróleo e

lubrificantes, podem encurtar ou impedir a realização de um conflito. A introdução de vírus nos

sistemas informáticos, assim como, a inutilização dos sistemas de comunicação, afectará de forma

decisiva, o comando e controlo do adversário.

j. Manutenção da ordem pública

Através dos canhões de água, projécteis não penetrantes, gás lacrimogéneo.

O crescimento populacional que se prevê, aliada à natural propensão para a concentração em grandes

áreas urbanas irá condicionar as zonas de acção em que os conflitos se irão realizar.

Os combates serão efectuados em grandes zonas urbanas, onde militares e civis estarão presentes.

Os princípios do direito internacional, têm vindo a revelar-se cada vez mais importantes. Este facto

aumentou a selectividade dos alvos, ou seja, não podem ser batidos indiscriminadamente o que conduziria

a um elevado número de baixas civis.

As experiências na Bósnia, Somália e o conflito no Golfo comprovam este facto.

Verificamos que em termos operacionais, o emprego destes equipamentos poderá ser direccionado para

duas vertentes, a vocação já referida para Missões de Apoio à Paz (armas com características para a

manutenção da ordem pública) e o apoio às missões convencionais, complementando o potencial de

combate, dando maior flexibilidade ao comandante.

O aproveitamento que as Forças de Segurança poderão dar, a estes meios, estará relacionado, para além

da manutenção da segurança interna, com as ameaças internacionais, como o terrorismo e o crime

organizado, onde a alternativa dada por estas armas poderá ser útil, sobretudo se pensarmos que poderão

existir reféns ou feridos envolvidos.

Um aspecto preocupante na utilização destas armas, está relacionado, com o possível emprego, menos

escrupuloso, que alguns regimes poderão fazer na repressão de civis.

Não existem medidas de controlo para este tipo de armamento. No entanto, a Convenção de Armas

Químicas e a Convenção de Armas Biológicas contém algumas limitações que poderão ser alargadas a

algumas Armas não Letais, limitando-as no seu desenvolvimento e utilização.

Super ácidos, super colas e muitos outros produtos químicos que poderiam ser considerados no grupo das

Armas não Letais, estão a infringir os objectivos e determinações das referidas convenções.

Estas armas virão a desempenhar um papel importante e fundamental na conduta das futuras operações,

estando os Exércitos atentos à sua evolução, apostando no seu desenvolvimento e investigação de uma

forma coordenada.

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VI - 1

PARTE VI

MUNIÇÕES DAS ARMAS PORTÁTEIS

CAPÍTULO I

MUNIÇÕES DAS ARMAS LIGEIRAS

1. GENERALIDADES

Para se estudar devidamente uma arma portátil deve examinar-se primeiramente os seus projécteis,

porque a sua organização é orientada no sentido de poder utilizar uma determinada munição que tem

(desde 1860) o nome de cartucho. Estes, tiveram a evolução que a seguir se apresenta:

1.º Cartuchos de papel;

2.º Cartuchos de papel combustível;

3.º Cartuchos não combustíveis com iniciação externa (armas

de agulha – “needle guns” - 1850);

4.º Cartucho completo (com espoleta iniciadora já montada);

5.º Cartucho completo com sistemas patenteados de ignição:

a) Pinfire (tipo pino) – Lefaucheaux (1920);

b) Lipfire (tipo lábio);

c) Teatfire (tipo teta);

d) Rimfire (ignição circular);

e) Centerfire (ignição central):

i. Boxer – (a bigorna é uma peça independente da

escorva);

ii. Berdan – (a bigorna faz parte da escorva).

Compõe-se o cartucho de quatro partes (Fig. VI-1-1):

- A bala ou projéctil;

- O invólucro, estojo ou caixa;

- A escorva, cápsula ou fulminante;

- A carga.

2. BALA (ou PROJÉCTIL)

Ao fazermos o estudo das condições a que deviam satisfazer as armas de fogo, dissemos que uma arma

para ser eficaz tinha de satisfazer um certo número de condições de carácter balístico, algumas das quais

se obtinham graças aos elementos constitutivos da sua munição. Na realidade, o alcance, a tensão da

trajectória e precisão do tiro são dependentes não só da organização balística da arma, mas também da

organização da bala e da carga empregue, variando com:

- As qualidades estáticas do projéctil;

- As qualidades dinâmicas do projéctil.

A natureza, a quantidade da carga e a força viva do projéctil tomam o nome de qualidades dinâmicas da

bala e serão estudadas na área da balística.

Fig. VI-1-1

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VI - 2

Trataremos agora das qualidades estáticas, que se dividem da seguinte forma:

a. Composição

(1) O metal da bala deve ser:

- Denso para facilmente adquirir grande energia;

- Infusível para não se fundir com o atrito na alma;

- Pouco deformável para possuir um bom poder vulnerante.

Devido à sua densidade, o metal primitivamente usado foi o chumbo puro. Quando as velocidades

iniciais ultrapassaram os 400 m/s, teve de ser posto de parte porque os projécteis fundiam à

superfície e amoleciam numa grande espessura, tendo-se então passado a usar o chumbo ligado a

um outro metal mais duro: zinco, cobre, estanho, arsénio ou bismuto.

Nas armas estriadas, não havia só o inconveniente da fusão, havia também o dos projécteis

saltarem sobre as estrias, chumbando os canos, isto é, encherem as estrias de chumbo, o que

obrigou a comprimir os projécteis para se tornarem mais densos e homogéneos.

Com o aumento das velocidades iniciais, voltaram a dar-se estes fenómenos. Resolveu-se o

problema revestindo a parte cilíndrica do projéctil com um invólucro de papel engordurado na

parte anterior. Este sistema não evitava a chumbagem e tinha o inconveniente de levar a

humidade ao interior do estojo pelo que a camisa de papel foi substituída por outra metálica, de

cobre ou de latão, com a mesma forma, mas que também não deu resultado porque não evitava a

chumbagem.

O problema só teve solução perfeita com a adopção da camisa metálica completa, um dos maiores

progressos do projéctil que passou a ser conhecido por bala bi-metal.

A parte interna, a essencial, tem o nome de núcleo, ao passo que a externa destinada a revestir o

núcleo, tem o nome de camisa.

(2) O núcleo pode ser de chumbo, de bronze, ou de aço mas por razões de preço e peso prefere-se o

primeiro que no entanto é quase sempre endurecido ligando-o com estanho ou antimónio.

O núcleo, para se obter uma maior homogeneidade e densidade deve ser introduzido por

compressão dentro da camisa.

(3) A camisa deve ser resistente para não se rasgar, suficientemente espessa para evitar a fusão do

núcleo e pouco dura para não deteriorar as estrias. Os metais hoje mais empregues são o cobre, o

aço e o maillechort (liga de cobre e níquel). A sua espessura varia de 0,45 a 0,55 mm.

b. Forma

A forma foi sujeita a grandes evoluções (Fig. VI-1-2).:

Até 1898 a forma universalmente adoptada foi a cilindro-

ogival (1) Era um corpo cilíndrico, terminado à retaguarda

por um plano e à frente por uma ogiva. A ogiva terminava

em geral por uma calote esférica com um calibre de altura.

Com o fim de diminuir a resistência do ar e aumentar o

alcance, a ogiva passou a ser muito afilada dando origem

às chamadas balas pontiagudas (2).

Depois de alguns estudos e experiências, executados

primeiramente em França e em seguida na Alemanha,

alguns países, acompanhando estes, abandonaram a forma

cilindro-ogival para adoptarem a forma bi-ogival (3), também chamada de “cauda de barco”, com a

Fig. VI-1-2

1 2 3

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VI - 3

parte anterior em ogiva muito afilada, a posterior de forma tronco-cónica ou ogival e a parte média

cilíndrica para dar uma boa fixação ao invólucro e impedir a fuga de gases.

Consegue-se assim obter maiores alcances por ser diminuída em grande proporção a resistência do ar,

isto é, com melhores condições aerodinâmicas.

Hoje todos os países empregam projécteis desta natureza, entre eles Portugal.

Comparados com os cilindro-ogivais, os projécteis bi-ogivais apresentam as seguintes vantagens:

- Melhor conservação da velocidade inicial, devido à redução de peso;

- Diminuição da resistência devido ao forçamento e ao travamento, por se ter reduzido a zona

destinada à acção das estrias;

- Maior poder derrubante;

- Uma força mais própria para se compensar em parte a diminuição do coeficiente balístico.

c. Comprimento

De forma a maximizar as suas condições balísticas, em termos de alcance e justeza, o comprimento da

bala está relacionado com dois factores, o seu peso e o passo das estrias a que é sujeito, durante o

disparo.

Actualmente, nas modernas armas automáticas de guerra de calibres ligeiros, o comprimento máximo

da bala não ultrapassa os cinco calibres.

d. Peso

Um projéctil leve terá uma trajectória muito tensa às pequenas distâncias. Um projéctil pesado tê-la-á

às grandes, porque em igualdade nas outras condições, o projéctil mais leve tem maior velocidade

inicial mas sofre um retardamento maior.

Assim, o ideal seria ter dois tipos de projéctil: um leve, animado de grande velocidade inicial para as

pequenas distâncias; um outro pesado, e de forma adequada para obter maiores alcances. Mas como

esta solução acarretaria uma dificuldade importante, a do municiamento, é-se obrigado a adoptar um

projéctil único, de peso intermédio, que concilie as duas condições contraditórias, obtendo ao mesmo

tempo as duas vantagens. Assim, tem-se adoptado um projéctil com um peso variável entre 9 e 13

gramas com o qual se conseguem trajectórias aceitáveis a todas as distâncias.

e. Calibre

O calibre está estreitamente ligado com o peso.

O diâmetro dos projécteis deve ser de 0,20 a 0,30 mm superior ao diâmetro da alma do cano medido

no fundo das estrias, para que se dê o forçamento inicial, razão porque o conjunto núcleo-camisa deve

apresentar um certo grau de elasticidade.

Tem sido ultimamente dedicado particular estudo aos projécteis das armas portáteis, não só quanto ao

calibre, como quanto à forma e natureza dos materiais empregues (metais e plásticos), na intenção

duma profunda e generalizada reforma da munição das mesmas armas.

Reconheceu-se que as tradicionais munições 7,62 mm Nato e 7,62 mm Pacto de Varsóvia das armas

ligeiras eram demasiadamente potentes para as distâncias do combate, concluindo-se que poderia pois,

ser reduzida essa potência, dentro é claro, de certa medida.

Por outro lado, o emprego generalizado das armas automáticas e as exigências do combate moderno,

atendendo-se ao peso que o homem tem que transportar e ainda ao problema do remuniciamento,

encaminharam os estudos no sentido dum aligeiramento que de facto se impunha.

Depois de vários anos de experiências as munições 7,62 mm Nato e Pacto de Varsóvia, foram

substituídas pelas 5,56 mm e 5,45 mm respectivamente, com os ganhos que a seguir se discriminam:

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VI - 4

NATO Pacto Varsóvia

7,62 mm 5,56 mm 7,62 mm 5,45 mm

838 m/s 1005 m/s 710 m/s 900 m/s

3276 J 1798 J 1993 J 1383 J

Comprimento 71 mm 57 mm 56 mm 57 mm

Peso Munição 24,3 g 11,7 g 16,64 g ~ 6 g

Como se constata houve uma melhoria significativa. Aumentou a velocidade inicial, diminuiu a força

viva à boca do cano, mas ainda suficiente para no moderno campo de batalha garantir um bom poder

vulnerante e derrubante e diminuiu o comprimento e o peso do cartucho. Estes avanços melhoram as

condições de tiro.

Resumindo as considerações que temos vindo a fazer, podemos estabelecer que o projéctil das armas

portáteis deve satisfazer às seguintes condições:

- Ter grande densidade transversal;

- Ser bi-metal;

- Possuir um núcleo muito denso mas maleável, uma camisa inoxidável e suficientemente dura para

resistir à pressão das estrias, mas não tão dura que danifique a alma do cano, entrando nas estrias

apenas o suficiente para assegurar o movimento de rotação e evitar fugas de gases entre o projéctil e

a alma, sendo bem unida ao núcleo e não deixando pedaços ou rastos nas paredes da alma;

- Possuir uma forma oblonga que conserve bem a velocidade e seja apta à penetração, desenvolvendo

uma potência vulnerante tal que o alvo atingido seja imediatamente posto fora de combate;

- Ser de fabrico fácil e de baixo custo.

3. INVÓLUCRO

Os invólucros modernos das armas portáteis são metálicos e constituídos por uma só peça que se obtém

por sucessivas estiragens (diminuição de espessura) e estampagens (aumento de espessura) que obrigam

uma rodela de metal a tomar a forma do cartucho e por isso se lhes dá o nome de invólucros estirados.

Como a obturação se faz por expansão do invólucro, é preciso que a diferença entre o diâmetro da câmara

e do invólucro seja pequeníssima – 0,1 mm – para que não seja excedido o limite de elasticidade do

metal, nem se dificulte a extracção.

Para que o invólucro possa reunir todas as condições que lhe são exigidas é preciso atender

principalmente, ao metal e à forma.

a. O metal

Para que o invólucro se adapte bem às paredes da câmara é preciso que o metal seja maleável. Para

que não rebente sob a acção dos gases da pólvora é necessário que seja resistente. Para retomar depois

do tiro as suas dimensões primitivas de forma a tornar fácil a sua extracção, é preciso que seja muito

elástico. Para facilitar a sua conservação é conveniente ainda que o metal seja inoxidável.

Os metais empregues têm sido o latão, o cobre, o bronze e o ferro.

b. A forma

A densidade de carregamento (relação entre o peso da carga e a capacidade do estojo) influi na forma

interna do invólucro. Este, uma vez determinada a densidade de carregamento, pode ser curto e largo

ou comprido e estreito. Um invólucro comprido exige uma câmara da caixa da culatra grande o que

aumenta o peso da arma. O invólucro largo tem o inconveniente de se apoiar sobre a cabeça do

obturador numa grande superfície e de exigir uma forma difícil de fabricar para se ligar ao projéctil.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VI - 5

A forma exterior influi na alimentação e na organização dos diferentes dispositivos de reunião dos

cartuchos.

A forma interna do invólucro acompanha a externa, mas a espessura das paredes diminui da base para

o colo, devendo ser calculada de maneira a evitar a possibilidade de rotura, especialmente na ligação

entre o colo e o corpo.

No invólucro actual distinguem-se o colo, a concordância, o corpo e a base

(Fig. VI-1-3).

O colo é a parte anterior, mais estreita, onde se fixa o projéctil. Esta fixação

pode obter-se por várias maneiras. O colo é, em geral cilíndrico, tanto

interior como exteriormente.

A ligação, de perfil geralmente curvo, que une o colo ao corpo e a que se

chama a concordância, facilita a acção dos gases quando o projéctil entra

em movimento.

O corpo encerra a carga. O seu traçado é tronco-cónico para facilitar a

introdução do invólucro na câmara e a sua extracção depois do tiro.

A forma do corpo tem grande importância, principalmente na alimentação

das armas. A base , de maior espessura, apresenta sempre um dispositivo para permitir a extracção e a

reunião dos cartuchos. Esse dispositivo pode tomar duas formas: rebordo

ou garganta.

Se o invólucro é de rebordo, a base tem um diâmetro superior ao do corpo,

formando a diferença do diâmetro um ressalto -

o rebordo - para ficar preso à garra do extractor

(Fig. VI-1-4).

Se o invólucro é de garganta, a base tem o

mesmo diâmetro do que o corpo, sendo o rebordo substituído por uma

canelura anelar perto da base (Fig. VI-1-5). Actualmente a maioria dos

países emprega o sistema de garganta. No centro da base encontra-se o

alojamento da escorva que tem no fundo dois furos para a passagem da

chama que se chamam os canais de inflamação.

4. ESCORVA

A escorva, cápsula fulminante, ou apenas fulminante , é o nome dado ao artifício destinado a produzir

a inflamação da carga e consta de um pequeno vaso metálico chamado cápsula que contendo uma

substância explosiva que detona pelo choque, dá origem à inflamação da carga. Nalguns cartuchos, uma

outra cápsula de maiores dimensões preserva a cápsula-fulminante e por isso se chama guarda-cápsula.

A cápsula é de cobre ou de latão suficientemente dúctil para poder ser esmagada pelo percutor e com a

rijeza bastante para resistir à perfuração, devendo ainda poder dilatar de modo a obturar completamente o

alojamento da escorva no momento da detonação, impedindo a saída de gases para retaguarda. Tem a

forma cilíndrica, raras vezes cónica e é colocada no alojamento, aberto no centro da base do invólucro,

em frente à bigorna contra a qual se esmaga sob a acção do percutor. Os canais abertos aos lados ou no

centro da bigorna permitem a inflamação da carga colocada no interior do invólucro.

A guarda-cápsula de emprego actual muito raro, justificava-se nas armas de depósito no fuste, pois o seu

fim era tornar a escorva menos sensível.

Fig. VI-1-3

Fig. VI-1-4

Fig. VI-1-5

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VI - 6

A matéria detonante deve ser tal que não se altere com o tempo, nem dê origem ao fenómeno da

combustão lenta, não devendo ainda atacar o metal da cápsula. Em geral, emprega-se o fulminato de

mercúrio ou o cloreto de potássio ou ainda uma mistura destes dois explosivos.

Às vezes junta-se à substância detonante uma pequena dose de sulfureto de antimónio, enxofre ou outras

substâncias e ainda vidro moído, para lhe diminuir a sensibilidade e facilitar o esmagamento. Todas estas

substâncias, cujas proporções variam à vontade dos fabricantes, formando uma massa com o peso total de

aproximadamente 0,04 g, são reunidas por goma-arábica.

Sobre a matéria detonante, que deve ser comprimida contra as paredes da cápsula, coloca-se um disco, de

estanho, de latão prateado (espessura de 0,03 mm), de uma liga de estanho e chumbo (espessura de 0,05 a

0,07 mm) ou mesmo de papel, que é mantido no seu lugar por meio de goma-laca. Este disco tem por fim

proteger a matéria fulminante da influência da humidade atmosférica evitando as falhas, e aumentar a

segurança.

A escorva compreende a contra cápsula, a

cápsula fulminante, a bigorna, a guarda

cápsula e a matéria detonante (Fig. VI-1-6).

A contra cápsula é uma caixa cilíndrica,

fechada anteriormente e aberta

posteriormente, onde forma um rebordo

para se adaptar num rebaixo do seu

alojamento na base do cartucho. No fundo estão abertos os canais da inflamação.

A bigorna é uma pequena peça de latão achatada com a forma de mitra e contra a qual se esmaga a

composição fulminante. Tem dois ressaltos que se apoiam nos bordos da cápsula (Boxer) de forma que a

ponta fique afastada da matéria detonante. Em alguns modelos o próprio fundo da contra cápsula,

recurvado, forma a bigorna (Berdan).

A cápsula, é uma cápsula vulgar que se introduz, juntamente com a bigorna, no alojamento respectivo,

sendo forçada até a bigorna se encostar ao fundo deste.

Os canos das armas têm uma tendência grande para enferrujar depois de terem feito fogo.

Atribui-se muitas vezes o facto aos gases produzidos pela combustão da carga, o que é falso, pois é

devido aos produtos da combustão da matéria detonante que se depositam no cano, que absorvem a

humidade e originam a oxidação do metal adjacente.

Estes produtos são, em geral, solúveis na água, de modo que um dos melhores processos de evitar a

ferrugem consiste em, após o tiro, lavar o cano com água, enxugando-se depois cuidadosamente.

5. CARGA

Carga é o nome que se dá à porção de substância explosiva que se introduz no invólucro para dar

movimento ao projéctil.

As substâncias explosivas podem ser sólidas, líquidas ou gasosas. Nas armas de fogo só se empregam as

primeiras, pois as restantes, devido aos grandes volumes que ocupam e dos cuidados que o seu emprego

exige, tornam o seu uso, neste caso, pouco prático.

Ao fenómeno originado pelo desenvolvimento muito rápido e violento de uma grande quantidade de

gases ou de corpos no estado gasoso, com elevada temperatura e num espaço relativamente pequeno,

acompanhado de enérgicas acções mecânicas, devido às fortes pressões que os gases exercem sobre as

paredes das câmaras que os contém e sobre os corpos vizinhos, dá-se o nome de explosão.

As substâncias explosivas, segundo a sua aplicação podem ser:

Fig. VI-1-6

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VI - 7

- Explosivos propriamente ditos, empregues no carregamento das granadas;

- Pólvoras, que servem para constituir as cargas propulsoras dos projécteis;

- Detonantes, utilizados na confecção de vários artifícios (escorvas, espoletas, etc.).

A carga propulsiva dos projécteis deve satisfazer a um conjunto de condições, das quais algumas se

contrariam e que são:

- dar lugar a pressões e velocidades regulares e iguais;

- ter grande potência balística;

- ter uma fraca força expansiva;

- funcionar a uma temperatura relativamente pouco elevada;

- possuir fraco poder corrosivo e não originar gases deletérios;

- não ser higroscópica;

- ser de inflamação rápida e segura;

- ser de combustão progressiva;

- não dar origem nem a fumos nem a resíduos;

- ser de conservação fácil;

- ser estável, isto é, não se alterar sob a acção do clima, dos corpos ou metais com que está

habitualmente em contacto;

- ser de fácil fabrico;

- poder ser transportada sem perigo;

- ser seguro o seu emprego;

- ser de fraco custo e utilizar ingredientes que se possam obter sem dificuldade em tempo de guerra.

A pólvora primitivamente empregue e que se conservou até 1886, foi a pólvora negra composta de salitre,

carvão e enxofre.

Quando se reconheceu a necessidade de diminuir o calibre e aumentar a velocidade inicial, verificou-se

que as pólvoras negras produziam pressões demasiadas e um recuo insuportável, sendo necessário

recorrer a um outro explosivo. Experimentou-se primeiramente o algodão pólvora, descoberto em 1845

por Schonbein, químico alemão, e depois os cloratos e os picratos. Todos deram velocidades superiores,

mas como a variabilidade dos efeitos obtidos tornava o seu emprego perigoso nas armas de guerra e

alguns desastres se deram, foram postas de parte.

Quando se trabalhava no aperfeiçoamento desta pólvora, o engenheiro químico francês Vieille (1884)

apresentou um explosivo cuja base era o algodão pólvora, mas sem o aspecto fibroso deste. Este

explosivo, patenteado como ―pólvora B‖, era uma substância compacta, sem poros, capaz de arder do

exterior, camada por camada, para o centro. Como não dava origem a fumos ficou conhecido pelo nome

de pólvora sem fumo.

As suas características gerais são: sob um volume igual e um peso sensivelmente menor, fornece uma

quantidade de gases muito maior. O desenvolvimento de gases pode dar-se gradualmente durante todo o

tempo da passagem do projéctil através do cano, e portanto produz uma distribuição mais uniforme de

pressão e é pequeno o seu ruído. O fumo é muito ténue e quase invisível. É pouco higrométrica e arde

completamente, não deixando resíduos. Com ela conseguem-se grandes e constantes velocidades e

pressões regulares, não apresentando perigos no seu fabrico, manuseamento e transporte.

Adoptada esta pólvora pela França, em 1886, todos os outros países se lançaram ao estudo destes

explosivos, e hoje, depois de longas e cuidadosas experiências, todos possuem pólvoras sem fumo, sendo

por isso já numerosíssima a relação deles.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VI - 8

Praticamente todas as modernas pólvoras sem fumo contêm nitrocelulose; é costume classificá-las em

dois grupos, a saber:

- Pólvoras nitroglicéricas – aquelas que contêm além de nitrocelulose, uma certa proporção de

nitroglicerina;

- Pólvoras nitrocelulósicas – aquelas que não contêm nitroglicerina.

Outros ingredientes se juntam, quer para aumentar a estabilidade do explosivo, quer para reduzir o calor

desenvolvido na explosão, quer para diminuir a velocidade de combustão, quer para tornar a pólvora

menos higroscópica, quer ainda para evitar a aderência dos grãos.

As pólvoras nitroglicéricas, em relação às nitrocelulósicas, têm maior energia potencial. São menos

higroscópicas, têm maior velocidade específica de combustão, são mais homogéneas, são mais estáveis,

são de combustão mais regular e completa, são de custo menos elevado, têm maior densidade, são de

fabrico fácil, mas mais perigoso.

Apesar de todas estas vantagens dá-se a preferência às pólvoras nitrocelulósicas porque as nitroglicéricas

têm uma temperatura de deflagração muito superior (nitroglicéricas = 2800º, nitrocelulósicas = 2300º) e

principalmente porque o seu poder erosivo é muito maior.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VI - 9

CAPÍTULO II

MUNIÇÕES ESPECIAIS

1. GENERALIDADES

O aparecimento de novos meios ofensivos, tais como viaturas blindadas, aviões, etc., com protecção

suficiente para lutar contra as armas portáteis, obrigou ao estudo de meios de dureza que anulassem a

protecção daqueles, dando origem às armas anti-carro, antiaéreas, etc.

Como as condições a que devem satisfazer estas armas (grandes velocidades iniciais, trajectórias rasantes,

leveza, simplicidade, etc.) se encontram nas armas ligeiras, pensou-se, no intuito de simplificar o

armamento e a instrução, em aproveitar estas armas, dando meios de defesa a todos os combatentes,

criando projécteis adequados à luta contra aqueles novos meios. Era, pelo menos, uma solução económica

e por isso se adoptaram os seguintes cartuchos, os quais constituem o municiamento especial das armas

portáteis:

Cartuchos especiais de guerra:

- Cartucho com bala perfurante;

- Cartucho com bala luminosa;

- Cartucho com bala mista (luminosa e perfurante);

- Cartucho com bala incendiária;

- Cartucho com bala explosiva;

- Cartucho com bala expansiva;

- Cartucho sem bala (dilagrama);

Cartuchos especiais para instrução:

- Cartucho com bala:

- para tiro reduzido;

- reduzida;

- simulada.

- Cartucho simulado;

- Cartucho de salva.

2. CLASSIFICAÇÃO

a. Cartuchos especiais de guerra:

(1) Cartucho com bala perfurante

Com o aperfeiçoamento das blindagens das viaturas de transporte de pessoal e dos C.C., tornou-se

necessário o desenvolvimento das munições de modo a que pudessem penetrar nas respectivas

blindagens. Assim apareceram as munições com balas perfurantes.

Tendo-se reconhecido que o poder de penetração do projéctil perfurante dependia quase

inteiramente da energia de choque do núcleo de aço, procurou-se dar a este, o máximo peso e

velocidade possíveis. Como o peso só pode ser aumentado dando ao núcleo o maior diâmetro

possível, o que força a reduzir ao mínimo a camada de substância plástica que o reveste e como a

velocidade só pode ser aumentada à custa de um aumento de pressão, sujeitando portanto a arma, a

um trabalho muito mais violento, concluímos que o emprego desta munição provoca um desgaste

maior da arma, razão porque a sua utilização deve ser o mais limitada possível.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VI - 10

Reconheceu-se ainda que o poder de penetração dependia também da forma do núcleo; um projéctil

muito aguçado penetra mais se a incidência for normal, mas se esta for oblíqua, uma ponta

achatada dará melhor resultado e assim tem de se adoptar uma forma intermédia. Quanto à forma

externa do projéctil, conquanto este, em geral, não seja utilizado a mais de 400 metros, deve ser tal,

que sofra um mínimo de perda de velocidade sob a acção da resistência do ar.

(2) Cartucho com bala luminosa

Concebidas para facilitar a pontaria contra alvos móveis animados de grande velocidade, as balas

luminosas deixam um rasto luminoso à sua retaguarda, desenhando perfeitamente no ar a sua

trajectória, razão porque também lhes dão o nome de tracejantes. Porém, as trajectórias das balas

ordinárias e perfurantes diferem bastante das da luminosa e portanto as indicações que estas dão

não são de grande confiança. O rasto é obtido enchendo a base do projéctil com uma composição

que arda durante o trajecto. O resultado é que o projéctil desde a saída da boca da arma até que a

composição luminosa esteja consumida, vai continuamente diminuindo de peso.

(3) Cartucho com bala mista

Como o poder vulnerante das balas luminosas é muito fraco, pensou-se para as tornar mais

eficazes, em combiná-las com as balas perfurantes formando uma bala única, perfurante e

tracejante, e a que se deu o nome de bala mista.

(4) Cartuchos com bala incendiária

A bala com núcleo de chumbo só na parte inferior, tem camisa vulgar, onde lateralmente se nota

um orifício coberto com solda Darcet que funde a 94º, de forma que ao dar-se o tiro se abra.

Na parte anterior contém 0,65 gramas de fósforo branco e um pequeno bloco livre, de chumbo e

com caneluras. Ao dar-se o choque este bloco por inércia, é projectado para a frente da bala,

activando a projecção do fósforo no espaço, que à saída se oxida e arde.

(5) Cartucho com bala explosiva

Como o tiro contra objectos aéreos é difícil, devido à grande velocidade dos mesmos e como os

efeitos dos projécteis ordinários ou mesmo perfurantes são muito limitados, devido às reduzidas

dimensões das partes sensíveis dos referidos objectos, pensou-se na criação de um projéctil que

produzisse efeitos apreciáveis em qualquer parte do alvo, o que deu origem às balas explosivas.

A característica mais importante destes projécteis é a sua extrema sensibilidade, para que a

explosão se dê antes de se ter atravessado o objectivo completamente.

(6) Cartucho com bala expansiva

Há ainda uns projécteis que têm tido emprego nas armas de caça, e cujo poder derrubante é muito

grande. Este poder é obtido pela expansão do núcleo das balas bi-metais, quer revestindo-as

incompletamente, quer enfraquecendo-lhe a camisa em alguns pontos, de modo que ao dar-se o

choque do projéctil contra qualquer obstáculo, mesmo pouco resistente, a variação brusca da

velocidade origina a expansão do núcleo, provocando consequentemente feridas muito largas.

Com os projécteis maciços pode obter-se o mesmo resultado cavando-lhes um canal na sua parte

anterior. Erradamente tem sido muitas vezes aplicado o adjectivo explosivo a estes projécteis, cuja

verdadeira designação é a de expansivos. Projécteis explosivos são apenas aqueles que contêm uma

substância explosiva que actua na ocasião de ferir o alvo.

b. Cartuchos especiais para instrução

(1) Cartucho com bala

(a) Para tiro reduzido

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VI - 11

Para ser possível a execução frequente e sem grande despesa de exercícios de pontaria e de

tiro, emprega-se o que se chama o tiro reduzido.

Este tiro deve ser suficientemente preciso até 50 metros

pelo menos. Podem empregar-se para este tiro as próprias

armas de guerra utilizando munições especiais, de peso

muito reduzido, com projécteis facilmente deformáveis

(Fig. VI-1-7).

(b) Reduzida

Para tornar a instrução de tiro mais económica empregam-

se estas munições semelhantes às reais, com o mesmo

invólucro e escorva mas em que a carga é de menor peso e

a bala descamisada.

(c) Simulada

Estas munições utilizam balas de madeira ou de papel comprimido que se destroem antes de

sair do cano.

(2) Cartucho simulado

Para o treino dos soldados nos movimentos de carregar, extrair e ejectar e ainda para o treino do

movimento de disparar, sem prejuízo para a arma, são indispensáveis cartuchos completamente

inertes mas semelhantes aos de guerra.

Compõe-se este cartucho em geral, de um invólucro com falsa escorva. Não têm carga.

(3) Cartucho de salva

Para o treino das tropas utiliza-se um cartucho, sem projéctil, chamado de salva.

3. IDENTIFICAÇÃO

Na descrição de munições, o termo calibre exprime, grosso modo, o diâmetro dos seus projécteis mas

aqui quer se trate de munições destinadas a sistemas de arma de cano estriado ou destinadas a sistemas de

arma de cano liso, o calibre designa sempre o diâmetro máximo do corpo do projéctil, mesmo que inclua

projécteis sub-calibrados, envoltos em socos destacáveis.

Calibre nominal é a designação por que são conhecidas internacionalmente as munições a usar num dado

sistema de arma. No mesmo calibre nominal as munições só têm de ter em comum as características e

dimensões do invólucro. Ou seja, cada calibre especificado é conhecido por um nome que é o seu calibre

nominal.

Essa designação pode ser numérica ou alfanumérica (por exemplo: .380, 30-06, 7.62x51, 7.62x39, .38

special), suficiente para designar sem ambiguidades a munição a que se aplica.

Do que foi dito pode-se, é claro, inferir que nas munições de cada calibre nominal, se pode usar cargas de

pólvora diferentes e projécteis de diferentes configurações e/ou pesos mas todos os seus invólucros têm

de ser rigorosamente iguais, sendo que as especificações dimensionais do invólucro de cada calibre

nominal, são dadas em termos do seu calibre especificado.

É também usual dizer-se de uma dada arma que “é de calibre tal” empregando-se então para designar o

calibre, o calibre nominal da munição usada, por exemplo, 30.06 ou 40L70.

A identificação dos cartuchos (munições), aparece-nos segundo dois grandes sistemas:

a. Sistema Americano (em polegadas)

Fig. VI-1-7

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VI - 12

(1) Uso de letras:

(a) .22 BB (Bullet Breech); (b) .22 CB (Comical Bullet); (c) .32 ACP (Automatic Colt Pistol); (d) .45 AR (Auto Rim);

(2) Tamanho: (a) .22 Short; (b) .22 Long; (c) .22 Long Rifle;

(3) Fabricantes: (a) .270 Winchester; (b) .223 Remington;

(4) Armas a que se destinam: (a) .303 savage; (b) .30 Luger; (c) .30 Mauser;

(5) Puramente publicitárias: (a) .218 Bee; (b) .219 Hornet; (c) .357 Magnum; (d) .357 Maximum;

(6) Publicitárias + fabricante: (a) .38 S&W Special; (b) .32 Colt New Special; (c) .44 S&W Russian; (d) .22 Remington Jet; (e) .221 Remington Fire-Bull; (f) .300 Weatherby Magnum;

(7) Ano de adopção: .30-03 (calibre oficial adoptado pelos USA em 1903); (8) Características técnicas:

.250-3000 Savage (V0 = 3000pes/seg).

b. Sistema Europeu – continental (em milímetros) Ex.: 7,62x51 mm (7,62 – calibre x 51 mm – comprimento do invólucro) Base: (1) Sem letras: Sem rebordo ou garganta – “Rimless” (2) Com letras:

(a) R – Rimmed (C/ rebordo); (b) SR – Smirimmed (Smirebordo); (c) B – Belted (Cinturado); (d) RB – Rebated (Rebatido).

Aparece ainda vulgarmente, quando em calibres muito conhecidos:

(1) 7,65 mm Parabellum;

(2) 6,5x54 mm Mannlicher Schoenauer;

(3) 6,5 mm Mannlicher Carcano;

(4) 6,5x58 mm Mauser Vergueiro.

Existem ainda atiradores que fabricam as próprias munições, ou por não existirem os calibres à venda no mercado ou por querem alterar as características normais das que vulgarmente existem, que vulgarmente se denominam por WILDCATS.

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VII - 1

PARTE VII

GRANADAS DE MÃO E DE ESPINGARDA

CAPÍTULO 1

ORGANIZAÇÃO DAS GRANADAS DE MÃO

1. GENERALIDADES

Granada de mão é definida como uma arma de arremesso de tiro curvo, destinada a bater ângulos mortos.

Actua por efeito:

- Moral, através do som, sopro ou clarão

- Material, através dos estilhaços

- Especial, através da utilização de determinados produtos químicos.

As granadas, como todas as armas, devem obedecer às condições enumeradas na Secção I, isto é devem

ser eficazes contra o adversário, utilizáveis no campo de batalha e realizáveis em série.

2. ORGANIZAÇÃO

Na organização das granadas há a considerar os seguintes

aspectos (Fig. VII-1-1):

- Artifício de fogo (1)

- Carga de rebentamento (2)

- Corpo da granada (3)

a. Artifício de fogo

(1) Os artifícios de fogo encarados sob o ponto de vista do

seu funcionamento, podem dividir-se em dois grandes

grupos, que dão o seu nome à granada:

(a) De tempos: se o artifício de fogo da granada é

posto a funcionar imediatamente antes do

lançamento desta ou no próprio momento em que é

lançada e vai funcionando durante o trajecto da

mesma, dando-se a explosão desta passado um

certo tempo, previamente determinado,

correspondente à duração do trajecto.

(b) De percussão: se o artifício de fogo da granada é organizado de forma que só é posto a

funcionar no momento em que esta embata contra qualquer corpo resistente provocando a

imediata explosão da granada.

(2) Um artifício de fogo de tempos (Fig. VII-1-2) compõe-se geralmente de:

(a) Espoleta com:

1. Cápsula fulminante (3);

2. Misto retardador (4).

3. Detonador (5);

Fig. VII-1-1

1

3

2

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VII - 2

(c) Mecanismo de inflamação com:

1. Percutor (2);

2. Mola do percutor (1).

(d) Mecanismo de segurança com:

1. Alavanca de segurança (6);

2. Cavilha de segurança (7).

b. Carga de rebentamento (8)

Destina-se a quebrar o corpo da granada,

projectando os fragmentos com maior ou

menor violência.

A carga da granada é o elemento fornecedor

de energia para a actuação da mesma.

c. Corpo da granada (9)

Refere-se a toda a estrutura da granada. Pode

ter várias formas: cilíndrica, esférica, ovóide,

etc.

Os materiais mais empregues são o ferro

fundido, o aço e a gusa acerosa (mistura de

gusa e aço).

O corpo pode ser organizado de forma a

facilitar a sua fragmentação em pedaços de

tamanho determinado, possuindo linhas de

rotura que tanto podem ser interiores como exteriores, caso mais geral, como ainda simultaneamente

internas e externas. Os sulcos podem ser anulares ou quadriculares e de forma a darem um número

variável de estilhaços conforme o seu número.

As linhas de roturas internas são preferíveis nas granadas cujo lançamento normal seja feito por meio

de lança granadas, a fim de evitar fugas de gases; as externas convêm às granadas de mão para facilitar

a sua conservação na mão até ao momento do lançamento.

3. CLASSIFICAÇÃO

As granadas podem classificar-se quanto ao emprego táctico, finalidade, artifício de fogo e efeitos (tipo

de carga).

a. Emprego táctico

Podem ser:

(1) Ofensivas

São granadas de fraco raio de acção que em geral, não excede 15 metros e que actuam

principalmente pelo efeito moral através do som, ou do choque violento do ar sobre os seres

animados que alcança (sopro).

O seu corpo é sempre de muito fraca espessura, de folha de ferro ou de zinco ou de plástico, de

modo que devido ao seu reduzido peso, os estilhaços não têm nunca alcances superiores a 15

metros. Empregam-se quando as tropas que as lançam se encontram a descoberto.

Ex: G.M. Of. M/962.

(2) Defensivas

Fig. VII-1-2

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VII - 3

São granadas cujo raio de acção perigoso pode atingir cerca de 200 metros, muito embora o raio de

acção eficaz não ultrapasse 20 metros e que actuam fundamentalmente pela acção dos estilhaços do

próprio corpo que é em geral espesso e feito de ferro ou aço e pela acção de fragmentos que se

encontram no seu interior.

Destinam-se a ser empregues quando as tropas que as lançam se encontram abrigadas de obstáculos

que as defendam dos efeitos da própria granada.

Ex: G. M. Def. M/962

b. Finalidade

Podem ser:

(1) De guerra

São as que respondem às necessidades da realidade da guerra e só se utilizam em campanha ou em

exercícios com fogo reais. Podem ser de fabrico ou de circunstância.

As de fabrico são as regulamentares, as de circunstância, também chamadas de fortuna,

improvisadas ou auxiliares, são em geral preparadas em pequena escala, pelas forças em operações,

com os elementos de que dispõem.

Os tipos são, como é de calcular, muito variados e dependem da abundância de meios (recipientes,

carga, artifício de fogo, etc.) que é possível obter.

(2) De instrução

São destinadas à familiarização do método de introduzir o detonador, de retirar a cavilha de

segurança e efectuar lançamentos. São em princípio, idênticas às de guerra no peso, forma e

artifício de fogo.

Não possuem, qualquer carga de rebentamento, a qual é substituída por uma tara de areia que lhes

dá o mesmo peso daquelas.

Embora se trate de granadas inertes, há que considerar uma remota possibilidade de haver

projecção de fragmentos de pedras ou de componentes do artifício de fogo pelo que é conveniente

guardar-se, como medida de precaução, uma distância de segurança que não deverá ser inferior a

20 metros.

Ex: G. M. Of. Instr. m/962

(3) Inertes

As granadas inertes propriamente ditas são exclusivamente destinadas a ensinar a prática de manejo

das granadas de mão ofensivas de guerra. Semelhantes a estas, são iguais às granadas de instrução

no que respeita à carga de rebentamento, diferindo delas apenas na espoleta que é também inerte,

não possuindo cápsula fulminante, misto retardador e detonador.

Ex: G. M. Of. Inerte m/962.

c. Artifício de fogo

(1) Tempos

(a) Inflamação directa (Fig. 122)

O artifício de tempos de inflamação directa, de todos o mais simples e

mais antigo, consiste numa espoleta formada apenas de dois elementos:

a mecha e o detonador.

A mecha é um pavio vulgar, comunicando-se-lhe o fogo directamente

com um objecto em ignição, como acontece na maioria dos modelos de

circunstância, ou por meio de uma cabeça fosfórica ligada à parte

anterior da mecha, que se fricciona numa lixa própria, como acontece,

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VII - 4

por exemplo, na granada m/918, espanhola. O detonador é formado por uma cápsula cheia de

explosivo de grande poder detonante que se encontra em contacto com a carga e que está

ligado a um extremo da mecha, que tem a duração de 7 segundos.

(b) Fricção prévia mecânica (Fig. 123)

O artifício de tempos de fricção prévia mecânica emprega

uma espoleta com os mesmos três elementos do artifício de

percussão prévia mecânica. Porém, a sua escorva é diferente porque não

funciona pelo choque mas por fricção. A escorva é então, formada por um

tubo metálico cheio de uma substância que se

inflama quando friccionada, no meio da qual se

encontra embutido um ferro torcido ou dois

pedaços de arame enrolado um no outro e a que

se dá o nome de frictor.

O frictor sai do tubo formando uma argola por

onde se puxa quando se quer fazer friccionar a

escorva. No outro extremo, o tubo é ligado à

mecha.

O granadeiro actua sobre o frictor, directamente antes do

lançamento. Estas granadas estão obsoletas.

(c) Fricção prévia automática (Fig. 124)

Idêntica à anterior, com a diferença de que nesta, a escorva,

inflama-se sem ser necessário o atirador puxar o frictor, bastando-lhe retirar a tampa de

segurança.

(d) Percussão prévia mecânica (Fig. 125)

O artifício de tempos de percussão prévia mecânica emprega uma

espoleta na qual se encontram três elementos; uma escorva

constituída por uma cápsula fulminante; uma mecha vulgar ligada à

escorva e que recebe o fogo desta; um detonador, igual ao do

artifício de inflamação directa, e que é posto a funcionar pela mecha.

Faz-se detonar a escorva mecanicamente, por meio de uma pancada

dada sobre qualquer corpo duro, num percutor, que existe na parte

superior da granada.

(e) Percussão prévia automática (Fig. 188)

Nestas granadas o artifício de fogo é em tudo idêntico às de percussão prévia mecânica

excepto na detonação da escorva.

Nestas, a escorva é detonada automaticamente libertando um percutor ou porta cápsula

fulminante no momento em que a granada abandona a mão do atirador.

As de percussão prévia automática, caracterizam-se pelo facto de serem inteiramente inertes

enquanto se conservam na mão do lançador, começando a funcionar só depois desta se ter

abandonado.

Este tipo de granadas é usado actualmente.

(2) Percussão

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VII - 5

Nestas, o artifício de fogo é posto a funcionar quando a granada embate em qualquer corpo

resistente.

Nas granadas de percussão não há misto retardador, compondo-se o seu artifício de fogo, na sua

forma mais simples, de um percutor, uma cápsula fulminante e um detonador transmitindo-se a

chama daquela directamente a este. Estas granadas estão obsoletas.

d. Efeitos (tipo de carga)

(1) Explosivas

São as granadas que utilizam na carga substâncias explosivas.

Podem ser ofensivas ou defensivas.

(2) Especiais

Estas possuem uma carga não explosiva. Em seu lugar dispõem de uma carga que de harmonia

com o fim a que se destinam, correspondem a um fim especial e por isso se denominam granadas

especiais. A carga explosiva quando existe, serve apenas para provocar a rotura do invólucro,

permitindo a livre saída da carga especial.

Podem ser de dois tipos.

(a) Vulnerantes

Destinam-se a provocar baixas ao adversário ou deteriorar o seu material.

1. Asfixiantes

Destinam-se a forçar o inimigo a evacuar determinadas posições ou lugares, por a

permanência nas imediações do ponto de explosão se tornar impossível.

2. Irritantes

a. Lacrimogéneas

São carregadas com tóxicos irritantes das terminações nervosas externas da

conjuntiva, como o cianeto de bromobenzilo, os brometos de benzilo e de xililo, as

cloroacetofenonas, as acetonas bromadas e a cloropicrina, causando fadiga e dores que

impossibilitam o homem para o combate.

Actualmente estas granadas têm grande aplicação na manutenção da ordem pública,

sendo, porém escolhidos os gases que exercendo acção sobre as glândulas lacrimais,

não têm acção mortífera sobre os pulmões, coração, etc.

Os gases produzidos por estas granadas causam intensa irritação dos olhos e em tempo

quente podem irritar a pele. Os efeitos são passageiros e raramente duram mais de

uma hora. Sob a acção dos gases, a pessoa atingida deve retirar-se para o ar puro

enfrentando o vento e nunca esfregar os olhos.

b. Esternutatórias

As granadas esternutatórias são carregadas com gases irritantes das terminações

nervosas da mucosa respiratória, como por exemplo, a difenilcrinarsina,

difenilcloroarsina, a difenilamino-cloroarsina. São pouco empregues como granadas

de mão.

3. Incendiárias

Projectam estas granadas, no momento da explosão, produtos inflamados muito

perigosos para o pessoal e também para o material, quando contém partículas

metálicas que entram em fusão, no momento do seu emprego e cuja temperatura tem

intensidade suficiente para fundir os objectos sobre os quais caem.

(b) Não Vulnerantes

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VII - 6

Destinam-se a obedecer a uma função táctica não vulnerante.

1. Fumígenas

Têm como fim principal a formação de cortinas de fumos densos e opacos que

impeçam a visibilidade. Servem para distrair a atenção do inimigo e ocultar-lhe os

movimentos próprios.

2. Caloríferas

São formadas em geral, por um corpo de cartão que encerra uma carga produtora de

grande quantidade de calor.

3. Iluminantes

Têm por fim iluminar o campo de batalha.

4. Ignífugas

São usadas contra incêndios.

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VII - 7

CAPÍTULO II

GRANADAS DE MÃO EM USO NO EXÉRCITO PORTUGUÊS

1. GRANADA DE MÃO OFENSIVA DE GUERRA M/62 (Fig. 126)

a. Destino

É uma arma de arremesso, de tiro curvo, destinada ao combate próximo, batendo ângulos mortos, que

actua por efeito moral (grande estrondo) e por acção de sopro (deslocação do ar).

b. Características gerais

Peso total: 310 gramas

Carga: 190 gramas de T.N.T.

Raio de acção: 10 a 15 metros

Alcances: Variam com a potência do braço do atirador

Espoleta: De tempos, de percussão prévia automática.

Duração de combustão do misto retardador 4,5s

0,5s o que perfaz 4 a 5s.

Pintura: Verde azeitona

c. Organização

(1) Artifício de fogo

De tempos e percussão prévia automática

(a) Dispositivo de inflamação

É constituído pelo conjunto do percutor,

cavilha, eixo do percutor e mola do

percutor. Por sua vez o conjunto do

percutor é constituído pelo percutor

propriamente dito e pelo suporte do

percutor.

(b) Espoleta

1 Porta cápsula

2 Cápsula fulminante

3 Misto retardador

4 Detonador

No detonador encontramos:

a Carga ignidora

Tem como função criar à carga

iniciadora a temperatura

necessária para esta detonar.

b Carga iniciadora

A sua função é detonar a carga base.

c Carga base

1-Alavanca de segurança

2-Cavilha de segurança

3-Argola de segurança

4-Corpo do detonador

5-Detonador

6-Corpo da granada

7-Cápsula

8-Porta cápsula

9-Carga de atraso

10-Cavilha do percutor

11-Mola do percutor

12-Percutor

13-Suporte do percutor

14-Anilha

15-Tampa

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VII - 8

É através da sua detonação que rebenta a carga.

(c) Dispositivo de segurança

1 Alavanca de segurança

2 Cavilha de segurança

(2) Carga de rebentamento

A carga da granada é o elemento fornecedor de energia para actuação da mesma. É constituída por

190 g de T.N.T. comprimido o qual está dividido em três cilindros iguais de 63,3 g.

(3) Corpo da granada

O corpo da granada é de plástico com cor verde azeitona. É essencialmente constituído por duas

partes:

(a) Uma exterior

O corpo propriamente dito, é cilíndrico, com cerca de 10 cm de altura por 1,5 cm de base.

(b) Outra interior

Também cilíndrica e coaxial com cerca de 5cm de altura por 1cm de base a que se chama

bainha.

d. Funcionamento

Retirada a cavilha de segurança a qual se destina a evitar o deslocamento do conjunto do percutor este

fica imobilizado apenas pela alavanca de segurança, enquanto a granada estiver na mão do atirador.

Uma vez lançada a granada a alavanca de segurança salta devido à acção da mola do percutor, que

simultaneamente obriga o percutor a rodar em torno da sua cavilha eixo e a ferir a cápsula fulminante.

Nesse momento inicia-se a combustão do misto retardador o qual provoca a explosão do detonador

passados 4 a 5 segundos e por simpatia o rebentamento da carga da granada.

2. GRANADA OFENSIVA DE INSTRUÇÃO M/62

a. Destino

É uma arma de arremesso, de tiro curvo, destinada ao treino de lançamento em exercícios.

b. Características principais

Idênticas à da granada de mão ofensiva de guerra M/62 diferindo apenas na carga, cor e raio de acção.

Carga: não tem

Côr: azul claro

Raio de acção: não tem

c. Descrição e nomenclatura

Idêntica à da granada de mão ofensiva de guerra M/62. O artifício de fogo é o da granada de mão

ofensiva M/62. Não possui qualquer carga de rebentamento sendo os estilhaços provocados pelo efeito

do detonador. Em vez da carga possui o mesmo peso (190 g) de areia o que faz que a granada pese o

mesmo que a ofensiva M/62.

O corpo da granada tem a mesma forma da granada ofensiva de guerra M/62 diferindo apenas na cor.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VII - 9

Embora se trate de uma granada inerte deverá considerar-se uma remota possibilidade de haver

projecção de fragmentos de pedra ou de componentes do artifício de fogo. Assim, deverá guardar-se

como medida de precaução uma distância de segurança de 30 metros (sensivelmente a mesma que para

a granada real).

d. Funcionamento

Idêntico ao da granada de mão ofensiva de guerra M/62 diferindo apenas no seguinte:

O rebentamento do corpo da granada é provocado apenas pelo detonador uma vez que não possui

carga de rebentamento.

3. GRANADA DEFENSIVA DE GUERRA M/62 (Fig. 127)

a. Destino

É uma arma de arremesso, de tiro

curvo, destinada ao combate

próximo, batendo ângulos mortos. É

empregue contra pessoal, limpeza de

abrigos, ninhos de metralhadoras,

etc., actuando por estilhaços

provenientes do próprio corpo.

b. Características principais

Anotamos apenas as diferenças

existentes entre esta e as da granada

de mão ofensiva M/62.

Peso total: 517 g

Carga: 60 g de T.N.T.

Raio de acção eficaz: 10 m

Raio de acção perigoso: 185 m

Grandes efeitos materiais.

c. Organização

(1) Artifício de fogo:

O artifício de fogo é igual ao da granada de mão ofensiva de guerra m/62 considerando-se,

portanto, como válido tudo quanto foi dito em 1.c.(1) da referida granada.

(2) Carga de rebentamento

1-Alavanca de segurança 2-Cavilha de segurança 3-Argola de segurança 4-Corpo do detonador 5-Detonador 6-Anilha 7-Cápsula 8-Porta cápsula 9-Carga de atraso 10-Cavilha do percutor 11-Mola do percutor 12-Percutor 13-Suporte do percutor 14-Corpo da granada 15- Baínha

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VII - 10

A carga da granada é o elemento fornecedor de energia para a actuação da mesma.

É constituída por 60 g de T.N.T. em palhetas.

A carga enche totalmente o corpo da granada o que está dividido em septos separando a mesma.

(3) Corpo da granada

O corpo da granada é de ferro fundido, com sulcos de fragmentação.

Tem a cor verde azeitona e as marcas identificadoras são a amarelo vivo, estando estas no corpo da

granada. Tem a forma de pinha.

Como o corpo da granada é de ferro fundido dá origem a estilhaços, com um raio de acção eficaz

de 10m.

O raio da zona perigosa é no entanto da ordem dos 185 metros (podendo acidentalmente haver

estilhaços ou fragmentos de corpos duros que atingem distâncias superiores a 185m), pelo que

atendendo a que o alcance normal do atirador é 35 m, obrigará que o lançamento se faça com as

necessárias precauções.

d. Funcionamento

Idêntico ao da granada ofensiva de guerra M/62.

4. GRANADA DEFENSIVA DE GUERRA M/63 (Fig. 128)

a. Destino

É uma arma de arremesso e de tiro curvo destinada ao combate próximo, batendo ângulos mortos. É

empregue contra pessoal, limpeza de abrigos, ninho de metralhadoras, etc. Actuando por estilhaços do

corpo provenientes de uma espiral de fragmentação.

b. Características principais

Anotamos apenas as diferenças dos da granada de mão ofensiva M/62.

Peso total: 455 g

Carga: 156 g de composição B

Raio de acção eficaz: 15 m

Raio de acção perigoso: 185 m

c. Organização

A granada de mão é essencialmente constituída por:

(1) Artifício de fogo

O artifício de fogo é igual ao da granada de mão ofensiva de guerra M/62.

(2) Carga de rebentamento

A carga da granada é o elemento fornecedor de energia para a actuação da mesma.

É constituída por 156 gramas de composição B.

A carga está comprimida e em forma de barril.

(3) Corpo da granada

O corpo da granada tem a forma de barril e é constituída essencialmente pelas seguintes partes:

(a) Corpo metálico

O corpo metálico divide-se em dois copos iguais que se ligam a meio da granada, fazendo um

rebordo no corpo da mesma.

(b) Bainha

A bainha tem forma cilíndrica. Está ligada ao copo superior da granada e constitui o alojamento

do detonador.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VII - 11

(c) Espiral de fragmentação

A espiral de fragmentação é constituída por uma mola de aço em forma de barril de dimensões

pouco inferiores às do corpo da

granada.

A mola está segmentada para que

seja mais fácil a sua divisão em

pequenos pedaços, quando do

rebentamento da carga.

Esta espiral de fragmentação dá

origem a estilhaços com um raio

de acção eficaz de 15 metros. O

raio da zona perigosa é da ordem

de 185 metros.

Podendo acidentalmente haver

estilhaços ou fragmentos de

corpos duros que atinjam

distâncias superiores a 185

metros pelo que, atendendo a que

o alcance normal do lançamento

é de cerca de 35 metros, obrigará

a que o lançamento se faça com

as necessárias precauções.

Estes estilhaços são bastantes mais perigosos que os da granada de mão defensiva de guerra

M/62.

d. Funcionamento

O mesmo que se disse para a granada de mão ofensiva de guerra m/62.

5. GRANADA DE MÃO DEFENSIVA M312 (Fig. 129)

1- Alavanca de segurança 2- Cavilha de segurança 3- Argola de segurança 4- Cápsula 5- Porta cápsula 6- Carga de atraso 7- Cavilha do percutor 8- Mola do percutor 9- Percutor 10- Suporte do percutor 11- Detonador 12- Anilha 13- Copo 14- Bucha 15- Bainha 16- Espiral de fragmentação 17- Copo inferior 18- Reforço 19- Disco base 20- Tampa

1-Espoleta 2-Cavilha de segurança 3-Alavanca de segurança 4-Detonador 5-Espiral de fragmentação 6-Corpo metálico 7-Explosivo (Comp. B) 8-Tampão

Fig. 20

2

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VII - 12

CARACTERÍSTICAS

Origem: Portugal (SPEL)

Tipo: Explosiva de fragmentação

Cor de código: Verde com marcas a amarelo

Peso: 450 g

Comprimento: 109 mm

Carga explosiva: 150 g de COMP. B

Espiral de fragmentação: 150 g ( 900 Fragmentos)

Raio eficaz: 10,5 m

Raio de segurança: 30 m

ESPOLETA

Designação: C131

Atraso: 4 A 5s

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VII - 13

CAPÍTULO 3

DILAGRAMA M/965

1. GENERALIDADES

O Dilagrama é um dispositivo que conjuntamente com a granada de mão defensiva M/63 ao qual se fixa,

permite obter - utilizando a Espingarda Automática G3 - alcances

superiores aqueles conseguidos pelo combatente, diminuindo assim

o perigo para as nossas tropas.

O Dilagrama permite bater ângulos mortos, sendo possível o seu

emprego contra tropas abrigadas.

2. ORGANIZAÇÃO

O dilagrama é constituído por três partes (Fig. 130):

a. Adaptador da granada

É constituído por

(1) Apoio tronco cónico para a granada (A)

Adapta-se perfeitamente à parte inferior da granada.

Apresenta três cortes rectangulares e três fendas no bordo

superior onde passam os braços fixadores, evitando que

estes oscilem.

(2) Três braços fixadores (E)

São constituídos por molas de aço curvilíneas, em que a

curvatura superior desempenha a função de garra para

adaptação à parte superior da saliência existente no meio da granada. Assim se garante uma perfeita

fixação desta ao Dilagrama. Um dos braços é mais comprido e tem cravado um ramo exterior (H)

onde desliza o grampo de armar, o qual termina por um retentor (I). O grampo de armar é impedido

de se mover pelo papel Kraft (J).

(3) Grampo de armar (F)

É um arco em aço e pode percorrer todo o ramo exterior do braço fixador mais comprido.

(4) Parafusos de fixação

Estes parafusos prendem os braços fixadores e o apoio tronco cónico ao tubo cilíndrico.

A fixação do apoio tronco cónico é feita por intermédio de três abas metálicas resultantes do corte

rectangular feito, no mesmo apoio.

b. Tubo cilíndrico (B)

É um tubo liso, fechado na parte anterior e ao qual se fixam o adaptador e a empenagem.

c. Empenagem (C)

É metálica e constituída por três partes iguais ligadas nos seus extremos, formando um anel interior

que envolve o extremo posterior do tubo cilíndrico (fixo por soldagem), um anel exterior e três aletas

(2) ou empenagens propriamente ditas (o M/974 não as possui).

Vem com a respectiva munição (1).

3. CARACTERÍSTICAS

a. Segurança

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

VII - 14

É garantida por dois sistemas:

Cavilha de segurança da granada

Grampo de armar

b. Velocidade inicial

A velocidade inicial é de aproximadamente 50m/s

c. Cartucho propulsor

O cartucho propulsor sem bala, tem uma carga de 2,2 gramas de uma mistura pólvora esférica e

pólvora tipo 1.

Não se pode empregar qualquer outro tipo de cartucho.

4. FUNCIONAMENTO

Colocada a granada no Dilagrama e colocado este na arma quando se prime o gatilho, o binómio

Dilagrama – granada é projectado pela acção dos gases que actuam no topo anterior do tubo. Em virtude

da inércia, o grampo de armar recua, parte o retentor e solta a alavanca de segurança da granada,

momento em que começa a funcionar a espoleta. O Dilagrama que se mantém solidário com a granada ao

longo da trajectória, fragmenta-se, normalmente, quando da explosão daquela.

Às distâncias maiores, a explosão dá-se alguns metros acima do solo, em virtude da duração do trajecto

ser superior ao tempo gasto pela combustão do misto retardador.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

G - 1

GLOSSÁRIO DE DEFINIÇÕES LEGAIS

1 . Tipos de armas:

a. Aerossol de defesa - todo o contentor portátil de gases comprimidos cujo destino seja unicamente o de

produzir descargas de gases momentaneamente neutralizantes da capacidade agressora, não podendo pela

sua apresentação e características ser confundido com outras armas ou dissimular o fim a que se destina;

b. Arco - a arma branca destinada a lançar flechas mediante o uso da força muscular;

c. Arma de acção dupla - a arma de fogo que pode ser disparada efectuando apenas a operação de accionar o

gatilho;

d. Arma de acção simples - a arma de fogo que é disparada mediante duas operações constituídas pelo armar

manual do mecanismo de disparo e pelo accionar do gatilho;

e. Arma de alarme ou salva - o dispositivo com a configuração de uma arma de fogo destinado unicamente a

produzir um efeito sonoro semelhante ao produzido por aquela no momento do disparo;

f. Arma de ar comprimido a arma accionada por ar ou outro gás comprimido, com cano de alma lisa ou

estriada, destinada a lançar projéctil metálico;

g. Arma automática a arma de fogo que, mediante uma única acção sobre o gatilho ou disparador, faz uma

série contínua de vários disparos; ~

h. Arma biológica - o engenho susceptível de libertar ou de provocar contaminação por agentes

microbiológicos ou outros agentes biológicos, bem como toxinas, seja qual for a sua origem ou modo de

produção, de tipos e em quantidades que não sejam destinados a fins profilácticos de protecção ou outro de

carácter pacífico e que se mostrem nocivos ou letais para a vida;

i. Arma branca todo o objecto ou instrumento portátil dotado de uma lâmina ou outra superfície cortante,

perfurante, ou corto-contundente, de comprimento igual ou superior a 10 cm e, independentemente das suas

dimensões, as facas borboleta, as facas de abertura automática ou de ponta e mola, as facas de arremesso,

os estiletes com lâmina ou haste e todos os objectos destinados a lançar lâminas, flechas ou virotões;

j. Arma de antecarga a arma de fogo em que a culatra não pode ser aberta manualmente e o carregamento

da carga propulsora e do projéctil só podem ser efectuados pela boca do cano, no caso das armas de um ou

mais canos, e pela boca das câmaras, nas armas equipadas com tambor, considerando-se equiparadas às de

carregamento pela boca as armas que, tendo uma culatra móvel, não podem disparar senão cartucho

combustível, sendo o sistema de ignição colocado separadamente no exterior da câmara;

k. Arma eléctrica todo o sistema portátil alimentado por fonte energética e destinado unicamente a produzir

descarga eléctrica momentaneamente neutralizante da capacidade motora humana, não podendo, pela sua

apresentação e características, ser confundida com outras armas ou dissimular o fim a que se destina;

l. Arma de fogo todo o engenho ou mecanismo portátil destinado a provocar a deflagração de uma carga

propulsora geradora de uma massa de gases cuja expansão impele um ou mais projécteis;

m. Arma de fogo transformada o dispositivo que, mediante uma intervenção mecânica modificadora, obteve

características que lhe permitem funcionar como arma de fogo;

n. Arma lançadora de gases - o dispositivo portátil destinado a lançar gases por um cano;

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

G - 2

o. Arma lança-cabos - o mecanismo portátil com a configuração de uma arma de fogo, destinado unicamente

a lançar linha ou cabo;

p. Arma química - o engenho ou qualquer equipamento, munição ou dispositivo especif icamente concebido

para libertar produtos tóxicos e seus precursores que pela sua acção química sobre os processos vitais possa

causar a morte ou lesões em seres vivos;

q. Arma radioactiva ou susceptível de explosão nuclear - o engenho ou produto susceptível de provocar

uma explosão por fissão ou fusão nuclear ou libertação de partículas radioactivas ou ainda susceptível de,

por outra forma, difundir tal tipo de partículas;

r. Arma de repetição - a arma de fogo com depósito fixo ou com carregador amovível que, após cada

disparo, é recarregada pela acção do atirador sobre um mecanismo que transporta e introduz na c âmara

nova munição, retirada do depósito ou do carregador ou que posiciona a câmara para ser disparada a

munição que contém;

s. Arma semiautomática - a arma de fogo com depósito fixo ou com carregador amovível que, após cada

disparo, se carrega automaticamente e que não pode, mediante uma única acção sobre o gatilho, fazer mais

de um disparo;

t. Arma de sinalização - o mecanismo portátil com a configuração de arma de fogo destinado a lançar um

dispositivo pirotécnico de sinalização, cujas características excluem a conversão para o tiro de qualquer

outro tipo de projéctil;

u. Arma submarina - a arma branca destinada unicamente a disparar arpão quando submersa em água;

v. Arma de tiro a tiro - a arma de fogo sem depósito ou carregador, de um ou mais canos, que é carregada

mediante a introdução manual de uma munição em cada câmara ou câmaras ou em compartimento situado

à entrada destas;

w. Arma veterinária - o mecanismo portátil com a configuração de uma arma de fogo destinado unicamente

a disparar projéctil de injecção de anestésicos ou outros produtos veterinários sobre animais;

x. Bastão eléctrico - a arma eléctrica com a forma de um bastão;

y. Bastão extensível - o instrumento portátil telescópico, rígido ou flexível, destinado a ser empunhado como

meio de agressão ou defesa;

z. Besta - a arma branca dotada de mecanismo de disparo que se destina exclusivamente a lançar virotão;

aa. Boxer - o instrumento metálico ou de outro material duro destinado a ser empunhado e a ampliar o efeito

resultante de uma agressão;

ab. Carabina - a arma de fogo longa com cano de alma estriada16

;

ab. Espingarda - a arma de fogo longa com cano de alma lisa17

;

ac.Estilete - a arma branca, ou instrumento com configuração de arma branca, composta por uma haste

perfurante sem gumes e por um punho;

ad. Estrela de lançar - a arma branca, ou instrumento com configuração de arma branca, em forma de estrela

com pontas cortantes que se destina a ser arremessada manualmente;

16

Nas Forças Armadas Portuguesas, uma carabina é uma arma de fogo ligeira de cano mais curto que a espingarda,

estriada ou de alma lisa, tendo geralmente um comprimento de cano abaixo dos 25 calib res. 17

Nas Forças Armadas Portuguesas, uma espingarda é uma arma de fogo ligeira de cano longo, estriada ou de alma lisa,

tendo geralmente um comprimento de cano acima dos 25 calibres.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

G - 3

ae. Faca de arremesso - a arma branca, ou instrumento com configuração de arma branca, composta por uma

lâmina integrando uma zona de corte e perfuração e outra destinada a ser empunhada ou a servir de

contrapeso com vista a ser lançada manualmente;

af. Faca de borboleta - a arma branca, ou instrumento com configuração de arma branca, composta por uma

lâmina articulada num cabo ou empunhadura dividido longitudinalmente em duas partes também

articuladas entre si, de tal forma que a abertura da lâmina pode ser obtida instantaneamente por um

movimento rápido de uma só mão;

ag. Faca de abertura automática ou faca de ponta e mola - a arma branca, ou instrumento com configuração

de arma branca, composta por um cabo ou empunhadura que encerra uma lâmina, cuja disponibilidade

pode ser obtida instantaneamente por acção de uma mola sob tensão ou outro sistema equivalente;

ah. Pistola - a arma de fogo curta, de tiro a tiro, de repetição ou semiautomática;

ai. Pistola-metralhadora - a arma de fogo automática, compacta, que utiliza munições para arma de fogo

curta;

aj. Revólver - a arma de fogo curta, de repetição, com depósito constituído por tambor contendo várias

câmaras;

al. Arma de starter - o dispositivo tecnicamente não susceptível de ser transformado em arma de fogo, com a

configuração de arma de fogo, destinado unicamente a produzir um efeito sonoro, para ser utilizado em

actividades desportivas e treinos de caça;

2. Partes das armas de fogo:

a. Alma do cano - a superfície interior do cano entre a câmara e a boca;

b. Alma estriada - a superfície interior do cano com sulcos helicoidais ou outra configuração em espiral, que

permite conferir rotação ao projéctil, dotando-o de estabilidade giroscópica;

c. Alma lisa - a superfície interior do cano não dotada de qualquer dispositivo destinado a imprimir

movimento de rotação ao projéctil;

d. Báscula - parte da arma de fogo em que se articula o cano ou canos e que obtura a câmara ou câmaras

fazendo o efeito de culatra;

e. Boca do cano - a extremidade da alma do cano por onde sai o projéctil;

f. Caixa da culatra - a parte da arma onde está contida e se movimenta a culatra;

g. Câmara - a parte do cano ou, nos revólveres, a cavidade do tambor onde se introduz a munição;

h. Cano - a parte da arma constituída por um tubo destinado a guiar o projéctil no momento do disparo;

i. Cão - a peça de um mecanismo de percussão que contém ou bate no percutor com vista ao disparo da

munição;

j. Carcaça - a parte da arma curta de que faz parte ou onde se fixa o punho e que encerra o mecanismo de

disparo;

l. Carregador - o contentor amovível onde estão alojadas as munições numa arma de fogo;

m. Coronha - a parte de uma arma de fogo que se destina a permitir o seu apoio no ombro do atirador;

n. Corrediça - a parte da arma automática ou semiautomática que integra a culatra e que se movimenta em

calhas sobre a carcaça;

o. Culatra - a parte da arma de fogo que obtura a extremidade do cano onde se localiza a câmara;

p. Depósito - o compartimento inamovível de uma arma de fogo onde estão alojadas as munições;

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

G - 4

q. Gatilho ou cauda do gatilho - a peça do mecanismo de disparo que, quando accionada pelo atirador,

provoca o disparo;

r. Guarda-mato - a peça que protege o gatilho de accionamento acidental;

s. Mecanismo de disparo - o sistema mecânico ou outro que, quando accionado através do gatilho, provoca o

disparo;

t. Mecanismo de travamento - o conjunto de peças destinado a bloquear a culatra móvel na posição de

obturação da câmara;

u. Partes essenciais da arma de fogo - nos revólveres, o cano, o tambor e a carcaça, nas restantes armas de

fogo, o cano, a culatra, a caixa da culatra ou corrediça, a báscula e a carcaça;

v. Percutor - a peça de um mecanismo de disparo que acciona a munição, por impacte na escorva ou

fulminante;

x. Punho - a parte da arma de fogo que é agarrada pela mão que dispara;

z. Silenciador - o acessório que se aplica sobre a boca do cano de uma arma destinado a eliminar ou reduzir o

ruído resultante do disparo;

aa. Tambor - a parte de um revólver constituída por um conjunto de câmaras que formam um depósito rotativo

de munições;

ab. Sistema de segurança de arma - mecanismo da arma que pode ser accionado pelo atirador, destinado a

impedir o seu disparo quando actuado o gatilho.

3. Munições das armas de fogo e seus componentes :

a. Bala ou projéctil - a parte componente de uma munição ou carregamento que se destina a ser lançada

através do cano pelos gases resultantes da deflagração de uma carga propulsora ou outro sistema de

propulsão;

b. Calibre da arma - a denominação da munição para que a arma é fabricada;

c. Calibre do cano - o diâmetro interior do cano, expresso em milímetros ou polegadas, correspondendo, nos

canos de alma estriada, ao diâmetro de brocagem antes de abertas as estrias, ou equivalente a este diâmetro

no caso de outros processos de fabrico;

d. Carga propulsora ou carga de pólvora - a carga de composto químico usada para carregar as munições

ou a carga de pólvora preta ou substância similar usada para carregar as armas de carregamento pela boca;

e. Cartucho - o recipiente metálico, plástico ou de vários materiais, que se destina a conter o fulminante, a

carga propulsora, a bucha e a carga de múltiplos projécteis, ou o projéctil único, para utilização em armas

de fogo com cano de alma lisa;

f. Bucha - a parte componente de uma munição em plástico ou outro material, destinada a separar a carga

propulsora do projéctil ou múltiplos projécteis, podendo também incorporar um recipiente que contém

projécteis;

g. Cartucho carregado - a munição para arma de fogo com cano de alma lisa contendo todos os seus

componentes em condições de ser disparado;

h. Cartucho vazio - o cartucho para arma de fogo com cano de alma lisa não contendo nenhum dos

componentes necessários ao disparo;

i. Cartucho de letalidade reduzida - o cartucho carregado com projéctil ou carga de projéctil não metálicos

com vista a não ser letal;

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

G - 5

j. Cartucho carregado com bala - a munição carregada com projéctil único, para arma com cano de alma

lisa, ou arma com cano raiado para utilização de munições para arma com cano de alma lisa;

l. Chumbos de caça - os projécteis, com diâmetro até 4,5 mm, com que se carregam os cartuchos de caça;

m. Componentes para recarga - os cartuchos, invólucros, fulminantes ou escorvas, carga propulsora e

projécteis para munições de armas de fogo;

n. Fulminante ou escorva - o componente da munição composto por uma cápsula que contém mistura

explosiva, a qual, quando deflagrada, provoca uma chama intensa destinada a inflamar a carga propulsora

da munição, não fazendo parte da munição nas armas de carregamento pela boca;

o. Invólucro - o recipiente metálico, de plástico ou de outro material, que se destina a conter o fulminante, a

carga propulsora e o projéctil para utilização em armas com cano de alma estriada;

p. Munição de arma de fogo - o cartucho ou invólucro ou outro dispositivo contendo o conjunto de

componentes que permitem o disparo do projéctil ou de múltiplos projécteis, quando introduzidos numa

arma de fogo;

q. Munição com projéctil desintegrável18

- a munição cujo projéctil é fabricado com o objectivo de se

desintegrar no impacte com qualquer superfície ou objecto duro;

r. Munição com projéctil expansivo - a munição cujo projéctil é fabricado com o objectivo de expandir no

impacte com um corpo sólido;

s. Munição com projéctil explosivo - a munição com projéctil contendo uma carga que explode no momento

do impacte;

t. Munição com projéctil incendiário - a munição com projéctil contendo um composto químico que se

inflama em contacto com o ar ou no momento do impacte;

u. Munição com projéctil encamisado - a munição com projéctil designado internacionalmente como full

metal jacket (FMJ), com camisa metálica que cobre o núcleo em toda a sua extensão, com excepção, ou

não, da base;

v. Munição com projéctil perfurante - a munição com projéctil destinado a perfurar alvos duros e

resistentes;

x. Munição com projéctil tracejante - a munição com projéctil que contém uma substância pirotécnica

destinada a produzir chama, ou chama e fumo, de forma a tornar visível a sua trajectória;

z. Munição com projéctil cilíndrico - a munição designada internacionalmente como wadcutter de projéctil

cilíndrico ou de ponta achatada, destinada a ser usada em tiro desportivo, provocando no alvo um orifício

de contorno bem definido;

aa. Munição obsoleta - a munição de fabrico anterior a 1 de Janeiro de 1891, ou posterior a essa data, que

tenha deixado de ser produzida industrialmente e que não é comercializada há pelo menos 40 anos;

ab. Percussão anelar ou lateral - o sistema de ignição de uma munição em que o percutor actua sobre um

ponto periférico relativamente ao centro da base da mesma;

ac. Percussão central - o sistema de ignição de uma munição em que o percutor actua sobre a escorva ou

fulminante aplicado no centro da base do invólucro;

ad. Zagalotes - os projécteis, com diâmetro superior a 4,5 mm, que fazem parte de um conjunto de múltiplos

projécteis para serem disparados em armas de fogo com cano de alma lisa;

18

Conhecida como munição frangível.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

G - 6

ae. Munição de salva ou alarme - a munição sem projéctil e destinada unicamente a produzir um efeito

sonoro no momento do disparo.

4. Funcionamento das armas de fogo:

a. Arma de fogo carregada - a arma de fogo que tenha uma munição introduzida na câmara e a arma de

carregar pela boca em que seja introduzida carga propulsora, fulminante e projéctil na câmara ou câmaras;

b. Arma de fogo com segurança accionada -, a arma de fogo em que está accionado o mecanismo que

impede o disparo pela pressão no gatilho;

c. Arma de fogo municiada - a arma de fogo com pelo menos uma munição introduzida no seu depósito ou

carregador;

d. Ciclo de fogo - o conjunto de operações realizadas sequencialmente que ocorrem durante o funcionamento

das armas de fogo de carregar pela culatra;

e. Culatra aberta - a posição em que a culatra, a corrediça ou a báscula de uma arma se encontra de forma

que a câmara não esteja obturada;

f. Culatra fechada - a posição em que a culatra, corrediça ou báscula de uma arma se encontra de forma a

obturar a câmara;

g. Disparar - o acto de pressionar o gatilho, accionando o mecanismo de disparo da arma, de forma a

provocar o lançamento do projéctil.

5. Outras definições:

a. Armeiro - qualquer pessoa singular ou colectiva cuja actividade profissional consista, total ou

parcialmente, no fabrico, compra e venda ou reparação de armas de fogo e suas munições;

b. Campo de tiro - a instalação exterior funcional e exclus ivamente destinada à pratica de tiro com arma de

fogo carregada com munição de projécteis múltiplos;

c. Cedência a título de empréstimo - a entrega de arma a terceiro, para que este se sirva dela durante certo

período, com a obrigação de a restituir f indo o mesmo, saindo a arma da esfera de disponibilidade do seu

proprietário;

d. Carreira de tiro - a instalação interior ou exterior, funcional e exclus ivamente destinada à prática de tiro

com arma de fogo carregada com munição de projéctil único;

e. Casa forte ou fortificada - a construção ou compartimento de uso exclusivo do portador ou detentor,

integralmente edificada em betão, ou alvenaria, ou com paredes, soalho e tecto reforçados com malha ou

estrutura metálica, sendo em todos os casos dotado de porta de segurança com fechadura de trancas e, caso

existam, janelas com grades metálicas;

f. Data de fabrico de arma - o ano em que a arma foi produzida ou, sendo desconhecido, quando iniciada a

sua produção;

g. Detenção de arma -, o facto de ter em seu poder ou na sua esfera de disponibilidade uma arma;

h. Disparo de advertência - o acto voluntário de disparar uma arma apontada para zona livre de pessoas e

bens;

i. Equipamentos, meios militares e material de guerra - os equipamentos, armas, engenhos, instrumentos,

produtos ou substâncias fabricados para fins militares e utilizados pelas Forças Armadas e forças e serviços

de segurança;

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

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j. Estabelecimento de diversão nocturna - entre as 0 e as 9 horas, todos os locais públicos ou privados,

construídos ou adaptados para o efeito, na sequência ou não de um processo de licenciamento municipal,

que se encontrem a funcionar essencialmente como bares, discotecas e similares, salas de jogos eléctricos

ou manuais e feiras de diversão;

l. Explosivo civil - todas as substâncias ou produtos explosivos cujo fabrico, comércio, transferência,

importação e utilização estejam sujeitos a autorização concedida pela autoridade competente;

m. Engenho explosivo civil - os artefactos que utilizem produtos explosivos cuja importação, fabrico e

comercialização está sujeito a autorização concedida pela autoridade competente;

n. Engenho explosivo ou incendiário improvisado - todos aqueles que utilizem substâncias ou produtos

explosivos ou incendiários de fabrico artesanal não autorizado;

o. Guarda de arma - o acto de depositar a arma, no domicílio ou outro local autorizado, em cofre ou armário

de segurança não portáteis, casa-forte ou fortificada, bem como a aplicação de cadeado, accionamento de

mecanismo ou remoção de peça que impossibilite disparar a mesma;

p. Porte de arma - o acto de trazer consigo uma arma branca ou uma arma municiada ou carregada ou em

condições de o ser para uso imediato;

q. Recinto desportivo - o espaço criado exclusivamente para a prática de desporto, com carácter fixo e com

estruturas de construção que lhe garantam essa afectação e funcionalidade, dotado de lugares permanentes e

reservados a assistentes, após o último controlo de entrada;

r. Transporte de arma - o acto de transferência de uma arma descarregada e desmuniciada ou desmontada

de um local para outro, de forma a não ser susceptível de uso imediato;

s. Uso de arma - o acto de empunhar, apontar ou disparar uma arma;

t. Zona de exclusão - a zona de controlo da circulação pedestre ou viária, definida pela autoridade pública,

com vigência temporal determinada, nela se podendo incluir os trajectos, estradas, estações ferroviárias,

fluviais ou de camionagem com ligação ou a servirem o acesso a recintos desportivos, áreas e outros

espaços públicos, dele envolventes ou não, onde se concentrem assistentes ou apoiantes desse evento;

u. Cadeado de gatilho - o dispositivo aplicado ou fazendo parte da arma que impede o accionamento do

gatilho e o disparo da arma;

v. Importação - a entrada ou introdução nos limites f iscais do território nacional, de quaisquer bens, bem

como a sua permanência em estância alfandegária ou zona internacional, a aguardar os procedimentos

legais aduaneiros, quando provenientes de países terceiros à União Europeia;

x. Exportação - a saída dos limites fiscais do território nacional de quaisquer bens com destino a país terceiro

à União Europeia, bem como a sua permanência em estância alfandegária ou zona internacional a aguardar

os procedimentos legais aduaneiros;

z. Trânsito - a passagem por território nacional, a aguardar os procedimentos legais aduaneiros, de quaisquer

bens oriundos de país terceiro e que se destinam a exportação ou transferência para outro Estado;

aa. Homologação de armas e munições - a aprovação de marca, modelo, bem como demais características

técnicas de armas pelo director nacional da PSP;

ab. Transferência - a entrada em território nacional de quaisquer bens previstos na presente lei, quando

provenientes de Estados membros da União Europeia tendo Portugal como destino final, ou a saída de

quaisquer bens de Portugal tendo como destino final Estados membros da União Europeia;

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

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ac. Norma técnica - a informação emitida pela Direcção Nacional da PSP destinada a comunicar instrução

técnica ou procedimental aos titulares de licenças e alvarás emitidos ao abrigo da presente lei;

ad. Arma de aquisição condicionada - a arma que só pode ser adquirida por quem tenha licença habilitante e

autorização da Direcção Nacional da PSP;

ae. Ornamentação - a exposição de arma em local a indicar pelo requerente e identificado na correspondente

licença F.

Manual do Aluno ELEMENTOS DE ARMAMENTO

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BIBLIOGRAFIA

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TESES, DISSERTAÇÕES E PROVAS ACADÉMICAS

VIEIRA, Maj Ramos, Concepção e Emprego de Armas não Letais no Futuro Campo de Batalha; TILD do CEM 97/98

TRABALHOS DE GRUPO NO ÂMBITO DA DISCIPLINA DE ARMAMENTO DOS

3º ANOS DE INF/CAV/GNR DOS CURSOS: D. Sancho Manuel, Gen de Divisão Fontes Pereira de Melo, Duarte de Almeida, António da Silveira, D. Cristóvão de Gama, D.

Francisco de Almeida, D. Luis de Meneses, D. Miguel Pereira Forjaz, Paiva Couceiro e General Sebastião de Sousa Telles

RELATÓRIOS CIENTÍFICOS E TÉCNICOS

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