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Maoismo en Portugal

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l i s b o a :tinta ‑da ‑china

M M X I

Margem de Certa Maneira

Miguel Cardina

O maoismo em Portugal,

1964-1974

© 2011, Edições tinta -da -china, Lda.Rua João de Freitas Branco, 35A,

1500 -627 LisboaTels: 21 726 90 28/9 | Fax: 21 726 90 30

E -mail: [email protected]

Título: Margem de Certa Maneira.O maoismo em Portugal: 1964-1974

Autor: Miguel CardinaRevisão: Paula Almeida

Composição e capa: Tinta -da -china

1.ª edição: Outubro de 2011

isbn 978‑989‑671‑105‑4Depósito Legal n.º 335357/11

As imagens reproduzidas nesta edição foram gentilmente

cedidas pelo Centro de Documentação 25 de Abril.

Índice

Siglas 9 Introdução: Rubra impaciência 13

Parte I O Complexo da Organização 1. A génese do maoismo português 33 2. Refundar o partido: da FAP e do CMLP ao PCP (m -l) 53 3. MRPP: criar na luta o partido que nunca existiu 75 4. Voluntarismo e populismo na OCMLP 97 5. A URML e a crítica da deserção 117 6. A luta dos CCR (m -l) contra o «atraso ideológico» 127 7. Da vontade de unificar ao exílio italiano: O Bolchevista 137 8. Outros grupos «marxistas -leninistas» 143

Parte II A Trama do Imaginário 9. O Império do Meio e outras visões 157 10. Camponeses e operários 179 11. Em busca do proletariado 193 12. Servir o povo: a «implantação» 207 13. O revolucionário em construção 217 14. A arte da política 235 15. Guerra à guerra: oposições e anticolonialismo 251 16. Da deserção ao exílio 263 17. Tortura e silêncios 281 18. A política na prisão 295 Conclusões 305

Notas 315 Fontes e bibliografia 371 Índice Onomástico 387 Agradecimentos 397

«Dentro da margem de fora/não há sombra na demoraestatelada na história/fica a margem divisória

e no meio da viagem/a voz do vento é memóriade acreditar na vitória/de rebentar a barragem»

José Mário Branco«Margem de Certa Maneira»,

do álbum Margem de Certa Maneira (1972)

Siglas

AAC Associação Académica de Coimbra AAFDUL Associação Académica da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa AE Associação de Estudantes AEIST Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico ANTT Arquivo Nacional da Torre do Tombo ARA Acção Revolucionária Armada ARCO Acção Revolucionária Comunista ART Associação Resistência e Trabalho ASP Associação Socialista Portuguesa BR Brigadas Revolucionárias CAE Comissões Anti -Eleitorais CARP (m -l) Comité de Apoio à Reconstrução do Partido (marxista -leninista) CBS Comissões de Base Socialistas CC Comité Central CCP Célula Comuna de Paris CCP Comité Comunista de Portugal CCR (m -l) Comités Comunistas Revolucionários (marxistas -leninistas) CD Comissão Directora CD25A Centro de Documentação 25 de Abril CDE Comissões Democráticas Eleitorais CDI Centro de Documentação Internacional CDP Comité de Desertores Portugueses CE Comissão Executiva CEDUC Centro de Estudos para o Desenvolvimento da Unidade Comunista

[10] margem de certa maneira siglas [11]

CGP Comités Guerra Popular CGT Confédération Générale du Travail [Confederação Geral do Trabalho, França] CICUTA Círculo Cultural de Trabalho e Acção CIMADE Comité Inter -Mouvements Auprès des Evacués [Comité Inter -Movimentos de Apoio aos Evacuados, França] CIP Círculo de Iniciativas Políticas CLAC Comités de Luta Anti -Colonial CMLP Comité Marxista -Leninista Português CML de P Comité Marxista -Leninista de Portugal CPLAI Comité Português de Luta Anti -Imperialista CPP Comité Pró -Partido CPR Comité de Propaganda Revolucionária CP ‑UEP Comités Pró -União dos Estudantes Portugueses CRAE Comités Revolucionários Anti -Eleitorais CRC (m -l) Comité Revolução Comunista (marxista -leninista) CREC Comités Revolucionários de Estudantes Comunistas CRML Comité Revolucionário Marxista -Leninista CULIC Comités Unitários para a Libertação Imediata das Colónias DGS Direcção -Geral de Segurança EDE Esquerda Democrática Estudantil ESBAP Escola Superior de Belas -Artes do Porto FAP Frente de Acção Popular FEC (m -l) Frente Eleitoral de Comunistas (marxistas -leninistas) FEML Federação de Estudantes Marxistas -Leninistas FLN Frente de Libertação Nacional FLUP Faculdade de Letras da Universidade do Porto FPLN Frente Patriótica de Libertação Nacional FRAIN Frente Revolucionária dos Movimentos das Colónias Portuguesas FREP Federação Revolucionária de Estudantes Portugueses FUR Frente de Unidade Revolucionária GAP Grupos de Acção Popular GATE Grupo de Arte Teatro e Ensaio GP Gauche Prolétarienne [Esquerda Proletária, França] GRPL Grupo Revolucionário Português de Libertação ISCEF Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras IST Instituto Superior Técnico JAPPA Junta de Acção Patriótica dos Portugueses na Argélia

JEC Juventude Escolar Católica JSN Junta de Salvação Nacional JUC Juventude Universitária Católica KFML Kommunistiska Förbundet Marxist -Leninisterna [Federação Comunista Marxista -Leninista, Suécia] KFML (R) Kommunistiska Förbundet Marxist -Leninisterna (revolutionärerna) [Federação Comunista Marxista- -Leninista (Revolucionária), Suécia] LCI Liga Comunista Internacionalista LUAR Liga de Unidade e Acção Revolucionária MAC Movimento Anti -Colonialista MAEESL Movimento Associativo dos Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa MAR Movimento de Acção Revolucionária MC Movimiento Comunista [Movimento Comunista, Espanha] MES Movimento de Esquerda Socialista MJC Movimento das Juventudes Comunistas MMLP Movimento Marxista -Leninista Português MPAC Movimento Popular Anti -Colonial MPLA Movimento Popular de Libertação de Angola MRPP Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado MTPE Movimento dos Trabalhadores Portugueses Emigrados MUD ‑J Movimento de Unidade Democrática Juvenil MUNAF Movimento de Unidade Anti -Fascista NATO North Atlantic Treaty Organization [Organização do Tratado do Atlântico Norte] NJS Núcleo José de Sousa OCI Organization Communiste Internationaliste [Organização Comunista Internacionalista, França] OCMLP Organização Comunista Marxista -Leninista Portuguesa OGMA Oficinas Gerais de Material Aeronáutico OPR Organização Popular Revolucionária ORPC (m -l) Organização para a Reconstrução do Partido Comunista (marxista -leninista) PAIGC Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde PCA Partido Comunista de Angola PCC Partido Comunista da China PCF Parti Communiste Français [Partido Comunista Francês]

[12] margem de certa maneira

IntroduçãoRubra impaciência

A expressão «Meninos Rabinos que Pintam Paredes» foi ampla e pe-jorativamente usada nos anos quentes de 1974 e 1975 para nomear os militantes do Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (MRPP), um dos grupos mais activos na galáxia da extrema -esquerda portuguesa da década de 1970. Como em todas as caricaturas, tam-bém aqui um pequeno pedaço de verdade era ampliado até se tornar legível apenas à luz da ironia e do humor. Com efeito, não deixa de ser legítimo associar o MRPP a um estilo frenético e amiúde sectário de fazer política que por essa altura encontrava eco significativo nos am-bientes universitários. E é certo também que estes «meninos rabinos» dedicavam uma parte da sua intervenção pública à execução de enor-mes murais, em geral com óptima qualidade gráfica e de invariável tonalidade triunfalista. Acontece que o carácter jocoso da expressão tanto deixa ver uma parte da realidade como coloca na sombra o que foge à simplificação. Definindo o grupo como uma fauna agitada e de duvidosa origem de classe, rasura -se o facto de o MRPP ter igual-mente dinamizado uma componente operária e, mais lateralmente, acaba por se reduzir a intervenção mural a um inócuo atrevimento juvenil de um dado grupo político1.

Expressões como aquela que abre esta introdução, comuns ao con-texto político do imediato pós -25 de Abril, feito de acesos conflitos verbais e até físicos, acabaram por se alojar nos interstícios da memó-ria social, forjando uma imagem bastante limitada do que foi em Por-tugal o complexo maoista ou «marxista -leninista» (m -l). Ao pretender analisar o mapa organizativo e os traços do imaginário maoista entre 1964 e 1974, este livro é também uma forma de diluir lugares -comuns como esse. Na verdade, não só o fenómeno em causa foi bem mais

PCI (m -l) Partido Comunista da Índia (marxista -leninista) PCMLF Parti Communiste Marxiste -Leniniste de France [Partido Comunista Marxista -Leninista de França] PC (m -l) P Partido Comunista (marxista -leninista) de Portugal PCP Partido Comunista Português PCP (e.c.) Partido Comunista de Portugal (em construção) PCP (m -l) Partido Comunista de Portugal (marxista -leninista) PCP (R) Partido Comunista Português (Reconstruído) PCTP Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses PCUS Partido Comunista da União Soviética PIDE Polícia Internacional de Defesa do Estado PRP Partido Revolucionário do Proletariado PSU Parti Socialiste Unifié [Partido Socialista Unificado, França] PTA Partido do Trabalho da Albânia PUP Partido da Unidade Popular RAF Rote Armeé Fraktion/Baader Meinhof [Fracção do Exército Vermelho, Alemanha Ocidental] RPAC Resistência Popular Anti -Colonial SED Sozialistische Einheitspartei Deutschlands [Partido Socialista Unificado da Alemanha, Alemanha Oriental] SNI Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo TLP Telefones de Lisboa e Porto TUP Teatro Universitário do Porto UAR União de Acção Revolucionária UCF (m -l) União dos Comunistas de França (marxista -leninista) UCML União Comunista Marxista -Leninista UCRP (m -l) União Comunista para a Reconstrução do Partido (marxista -leninista) UDP União Democrática Popular UEC União de Estudantes Comunistas UEC (m -l) União dos Estudantes Comunistas (marxistas -leninistas) UEPF União dos Estudantes Portugueses em França UJCML Union des Jeunesses Communistes Marxistes -Leninistes [União das Juventudes Comunistas Marxistas- -Leninistas, França] UNEP União Nacional dos Estudantes Portugueses URML Unidade Revolucionária Marxista -Leninista

[14] margem de certa maneira introdução: rubra impaciência [15]

plural do que a referência continuada ao MRPP permite supor, como a sua compreensão exige um olhar atento sobre a origem e estrutura-ção deste terreno no decénio que antecede a queda do Estado Novo, enquadrando -o no clima dos debates que então animavam a esquerda mundial e na especificidade da situação do país.

A ruptura chinesa

Depois do corte anarquista na I Internacional, da ruptura consuma-da com a social -democracia no final da Primeira Guerra Mundial, e do dissídio trotskista durante a década de 1930, o maoismo representou o quarto grande cisma na história do socialismo e do comunismo. Con-jugando divergências ideológicas com problemas de política nacional dos respectivos países, o conflito sino -soviético viria a transformar -se num momento político marcante num tempo dominado pela Guerra Fria — a par da construção do muro de Berlim, da crise dos mísseis em Cuba ou da guerra do Vietname. Ao longo da década de 1960 e nos inícios da década seguinte, a disputa alimentou a construção em vários países de um campo ideológico pró -chinês, afastado dos partidos co-munistas tradicionais alinhados com Moscovo.

As divergências de Mao com a URSS já se tinham manifestado antes de 1949, ano em que foi proclamada a República Popular da China. Em 1926 e 1927, Estaline havia forçado a aliança entre os co-munistas chineses e os nacionalistas do Kuomitang. Essa união foi alvo de críticas por parte de Mao, vindo a ser desfeita na sequência do massacre de comunistas em Xangai, levado a cabo em 12 de Abril de 1927, pelas tropas de Chiang Kai -Chek — um acontecimento que servirá de pano de fundo ao livro A Condição Humana, de André Mal-raux. Poucos meses antes, Mao havia apresentado um relatório sobre as condições do campesinato na região de Hunan, no qual afiançava ser esta classe o motor da revolução, tese contraditada por Chen Du-xiu, um dos fundadores do PCC e seu secretário -geral até 1927, e no ano seguinte pela Internacional Comunista.

A liderança fáctica de Mao emerge a partir de 1935, no contex-to da Longa Marcha, expressão pela qual é designada a travessia de perto de dez mil quilómetros empreendida entre Outubro de 1934 e Outubro de 1935 pelo exército comunista, em fuga às tropas do Kuo-mitang. Christophe Bourseiller estabelece, no entanto, a data de Fe-

vereiro de 1942 como correspondendo ao nascimento do maoismo enquanto ideologia independente2. É nessa altura que, em Yenan, se inicia a «campanha de rectificação», que atingiria os adversários de Mao no partido. A origem assim datada parece demasiado rígida, mas é efectivamente durante o período que a liderança de Mao se forma-liza dentro do PCC e começa a despontar um interesse orientado pe-las suas obras. A 1 de Outubro de 1949 seria proclamada em Pequim a República Popular da China, após anos de guerra contra os japoneses (1937 -45) e de conflito com o Kuomitang. No seguimento da visita de Mao e Chu En -Lai à União Soviética dá -se a assinatura do tratado de cooperação, que levaria à deslocação de dez mil técnicos soviéti-cos para a China e à disponibilização de substancial ajuda financeira, transformando a URSS no grande modelo e aliado dos chineses.

A morte de Estaline, em 1953, e a denúncia do «culto da personali-dade», três anos mais tarde, no decorrer do XX Congresso do PCUS, marcaram o início do afastamento entre chineses e soviéticos. Para além da «destalinização» iniciada por Kruschev e da defesa soviética da «coexistência pacífica» com os Estados Unidos da América, a lide-rança chinesa vinha também questionar o modo como se processara o auxílio técnico e científico dos soviéticos ao primeiro plano quin-quenal chinês (1952 -57). Em 1958, o programa seria substituído pelo chamado Grande Salto em Frente (1958 -61), um gigantesco plano de obras públicas que seria ainda acompanhado pela elevação das co-munas populares a uma espécie de forma prioritária de organização social. As comunas populares, juntamente com a linha geral socialista e o Grande Salto em Frente, eram agora definidas pelo partido como as «três bandeiras vermelhas» que o deveriam guiar.

Embora as divergências remontassem a anos anteriores, somente em Abril de 1960, por ocasião do nonagésimo aniversário do nasci-mento de Lenine, o conflito se tornaria evidente aos olhares exte-riores, com a publicação, no jornal Hongqi («Bandeira Vermelha»), de Viva o Leninismo!3 Neste manifesto, que questionava abertamente o «caminho pacífico para o socialismo», a mira das críticas estava apon-tada para a Jugoslávia de Tito. Todavia, ao interrogar -se o «pacifismo burguês» contido nas teses jugoslavas, não se deixava incólume a «coexistência pacífica» dos soviéticos e o abandono do «marxismo--leninismo» em nome do receio de uma guerra nuclear generalizada4. Os soviéticos reagiram furiosamente a esta demonstração pública de independência e retiraram, em Julho de 1960, o apoio a importantes

[16] margem de certa maneira introdução: rubra impaciência [17]

projectos industriais e militares que se encontravam em planeamen-to ou em execução na China.

Em Novembro de 1960, um encontro de 81 partidos comunistas em Moscovo revelou uma atitude conciliatória para com os chine-ses. No entanto, em Outubro de 1961, no XXII Congresso do PCUS, um forte ataque soviético à Albânia fez com que o primeiro -ministro chinês Chu En -Lai abandonasse a reunião em protesto. Meses de-pois, a União Soviética recusaria apoiar a China no breve conflito que opôs esta última à Índia. A partir desta data, as divergências entre a China e a União Soviética agravam -se até à ruptura total. Simultanea - mente, emergem críticas sonantes à Jugoslávia de Tito e às posições de Palmiro Togliatti e Maurice Thorez, líderes, respectivamente, dos partidos comunistas italiano e francês. Em Junho de 1963, os sovié-ticos são claramente criticados na «Proposta sobre a Linha Geral do Movimento Comunista Internacional» (ou «carta dos 25 pontos»), na qual os chineses condenam publicamente o «revisionismo»5 soviéti-co, recusam a estratégia da «transição pacífica para o socialismo» e desenham um balanço global positivo da actuação de Estaline6.

Como o próprio nome do documento indica, tratava -se de deli - near uma estratégia alternativa para o movimento comunista interna-cional. Não obstante o apelo final à unidade no combate ao imperia-lismo, o texto chinês lançava duros reparos à URSS. Apresentava -se repleto de citações dos clássicos, nomeadamente de Lenine, visando assim legitimar as afirmações proferidas recorrendo à autoridade má-xima do comunismo soviético. A sugestão de que o país deixara de ser socialista aparecia ali sob a forma de pergunta: «ao chamar a um Esta-do socialista o “Estado de todo o povo”, não se está a tentar substituir a teoria marxista do Estado pela teoria burguesa do Estado? Não se está a tentar substituir o Estado da ditadura do proletariado por um Estado de carácter diferente?»7.

Os soviéticos viriam a responder no mês seguinte com uma «Carta Aberta do Partido Comunista da União Soviética», que assinalou a última comunicação formal entre os dois partidos. Genericamente, para os soviéticos, a posição chinesa revelava -se imprudente, tendo em conta a correlação de forças no contexto internacional e fomen-tava no limite um conflito nuclear generalizado. Para os chineses, a tese soviética da «coexistência pacífica» significava um abandono efectivo da luta entre comunismo e imperialismo. No auge do cisma, em 1969, chegou mesmo a configurar -se um confronto militar entre

os dois países a pretexto das suas linhas de fronteira. As leituras da disputa rapidamente extravasaram os territórios de origem e foram apaixonadamente divulgadas pelas hostes em conflito, com destaque para o embrionário movimento pró -chinês, que ia ganhando algum lastro um pouco por todo o mundo8.

Tal eco viria a ser fortemente amplificado na sequência da Gran-de Revolução Cultural Proletária. A campanha, lançada em 1966 por Mao, tinha como base a convicção de que mesmo num regime so-cialista subsistiam classes e conflitos de classe entre comunistas e apoiantes da via restaurativa do capitalismo no interior do partido. O ataque a estes deveria ser feito de fora do partido, mobilizando--se para isso as massas. Marcada pela tentativa de recuperar a pureza revolucionária, a Revolução Cultural serviu também para neutralizar os sectores contrários à linha maoista, que vinham ganhando força no interior do partido e do aparelho de Estado. Os numerosos episó-dios de violência, na sua maioria levados a cabo pelos jovens guardas vermelhos, constituem hoje um dos principais anátemas lançados contra o fenómeno9.

O maoismo como fenómeno internacional

Os únicos estudos sistemáticos até agora publicados sobre o impacto global do maoismo são os dois volumes de Robert Alexander dedi-cados à sua influência internacional no «mundo desenvolvido» e no «mundo em desenvolvimento». Não obstante analisar caso a caso di-ferentes países, os trabalhos de Alexander padecem de alguma falta de atenção relativamente aos contextos nacionais nos quais cada cor-te se opera. Se é indesmentível que as rupturas maoistas se fizeram em torno da incorporação pelos grupos emergentes dos postulados de Mao e das consequências do corte sino -soviético, a sua compreen -são exige um olhar específico sobre a realidade de cada país e a his-tória e situação dos diferentes partidos comunistas. Por outro lado, os trabalhos incorrem em vários erros e omissões, em boa medida originados pelo carácter exíguo das fontes, confinadas quase exclu-sivamente ao Yearbook on International Communist Affairs, publicado pelo Instituto Hoover, e à documentação oriunda do SED (Sozialis-tische Einheitspartei Deutschlands), o antigo partido comunista da Alemanha Oriental10.

[18] margem de certa maneira introdução: rubra impaciência [19]

Nas décadas de 1960 e 1970, a ressonância do maoismo nos países do então chamado «Terceiro Mundo» foi extraordinariamente signi-ficativa, inspirando a definição de alguns movimentos de libertação africanos, a acção armada de grupos latino -americanos, como o pe-ruano Sendero Luminoso, o rasto violento dos Khmers Vermelhos, no Camboja, ou as insurreições camponesas indianas impulsionadas pelos naxalitas11. No «mundo desenvolvido», para utilizar a expressão de Alexander, o impacto do maoismo em alguns países ocidentais foi evidente e passou a alimentar alguma produção historiográfica e jornalística, esta última geralmente centrada no percurso de alguns antigos activistas com relevo actual no mundo político, académico, social ou empresarial12.

O maoismo francês tem sido claramente o mais referido, origi-nando trabalhos como os de Belden Fields, Marnix Dressen e Chris-tophe Bourseiller. Belden Fields elabora um sólido estudo compara-tivo sobre o maoismo e o trotskismo em França e nos Estados Uni-dos, estudo esse que contém não apenas uma análise minuciosa das organizações oriundas destes espectros ideológicos, mas também um confronto entre as teorias de Mao Tsé -Tung e de Leon Trotsky13. Marnix Dressen, por seu turno, mostra como o maoismo, enquanto forma extrema de ódio à burguesia e de culto dos dominados, esti-mulou a irrupção de um imaginário militante que o autor analisa à luz da noção de «religião política»14. A exaltação do povo e a vontade de ligação às massas levou assim ao desenvolvimento de centenas de processos de «proletarização» por opção, envolvendo na sua maioria jovens que, não tendo sido socializados para trabalhar em fábricas, decidiram fazê -lo em nome do ideal revolucionário. É sobretudo na análise desses percursos que se concentra o esforço interpretativo de Dressen.

O livro de Christophe Bourseiller procura mapear os principais traços do maoismo ocidental — que o autor, não resistindo a um certo chauvinismo cultural, reputa de «ideologia francesa» —, sintetizáveis em torno de quatro pilares. Em primeiro lugar, a vontade de exportar o modelo chinês, particularmente as práticas de inquérito no seio do povo, a «implantação» nas fábricas e nos campos e os movimentos de rectificação acompanhados de pungentes autocríticas. Em segundo lugar, o fascínio pelo Terceiro Mundo, tendo assumido papel de des-taque nesse imaginário a luta conduzida pelos vietnamitas contra a potência norte -americana. Em terceiro lugar, o anti -sovietismo, que

levou os maoistas — diferentemente dos trotskistas — a considerar os países do «socialismo real» não como estados socialistas (ainda que «degenerados», como os definia o trotskismo), mas como países «social -imperialistas» dotados de um capitalismo de Estado. Por fim, o populismo, com a exaltação do papel transformador do povo e a concomitante difusão de um «ódio de classe». Embora Bourseiller note a existência de várias gerações de maoistas, os tópicos acima enunciados remetem para o que se pode definir já como uma segunda vaga do maoismo global15.

Na verdade, enquanto a dissensão entre a União Soviética e a Chi-na, ocorrida nos alvores da década, alimentou rupturas ocorridas no interior dos partidos comunistas dos diferentes países, uma segunda vaga — mais declaradamente «maoista» — veio a afirmar -se no final da década de 1960, particularmente motivada pelo impacto da Revo-lução Cultural chinesa e pela ideia de que a transformação do mundo era um processo alimentado pelo questionamento permanente das estruturas hierárquicas constituídas nas várias esferas de poder. Esta segunda vaga teve grande expressão nos meios juvenis radicais, junto de sectores que, em regra, nunca haviam militado nos partidos comu-nistas tradicionais e que, apesar do discurso fortemente apoiado num vasto arsenal de citações de Lenine, mantinham uma difusa sintonia com o activismo voluntarista de um certo anarquismo histórico.

Esta dupla filiação levou a que o militantismo «pró -chinês» se inscrevesse de maneira oscilante entre o «protesto disciplinar» e o «protesto antidisciplinar» que, segundo a australiana Julie Stephens, caracterizou o radicalismo dos «longos anos sessenta»16. Aplicando um conceito de reminiscências «foucaultianas», Stephens considera que o carácter «antidisciplinar» da época resulta da invenção de uma nova linguagem contestatária, marcada pela celebração da ambigui-dade e por uma recusa da «disciplina do político», tradicionalmente feita em torno de noções como organização, hierarquia e liderança. Seguindo esta linha argumentativa, a contestação — nomeadamen-te nas suas vertentes mais festivas — não foi apolítica mas inspirada, isso sim, pela vontade de transgredir a fronteira rígida que separaria combatividade política e agitação cultural. O modo como o movi-mento contestatário propunha uma «ética do prazer» contraposta à «ética do trabalho» levou a que se difundisse uma imagem pública que o associava à mera exaltação do hedonismo. Essa característica tê -lo -ia tornado extremamente dócil e facilmente apropriável pela

[20] margem de certa maneira introdução: rubra impaciência [21]

lógica de consumo do capitalismo tardio. Num sentido diferente, Stephens ressalva que o esforço de ultrapassar a linguagem e a ra-cionalidade disciplinar aponta para uma clara consciência dos peri-gos de uma cooptação pelo sistema17.

A consciência desta tensão conduziu a duas respostas diferen-ciadas no seio do movimento. A primeira foi elaborada por grupos como o Provo holandês18 ou os Yippies norte -americanos19, através do desenvolvimento de uma linguagem baseada na paródia, no hu-mor e na ironia, e que, ao invés de procurar anular os paradoxos, os amplificava intencionalmente. A segunda foi proveniente de or-ganizações ultramilitantes como o Weather Underground, que, in-fluenciadas pelo terceiro -mundismo e pela crença na necessidade de uma revolução violenta, trocaram a guerrilha teatral pela guerrilha real. Stephens utiliza justamente o exemplo dos Weathermen para ilustrar a tensão entre uma política disciplinar e antidisciplinar no seio do movimento: por um lado, consideravam -se uma vanguarda composta por células secretas prontas para a acção armada contra o Estado, com tudo o que isso tem de devedor ao autocontrolo e ao sacrifício pessoal; por outro, definiam -se como uma antiorganização, encaravam a revolução como um jogo perigoso e usavam LSD como forma de libertar os membros do grupo de qualquer tipo de controlo interno ou externo20.

As noções de «protesto disciplinar» e «protesto antidisciplinar» são conectáveis com o que Luc Boltanski e Eve Chiapello denomi-nam «crítica social» e «crítica artística». Segundo estes autores, desde meados do século xix que se desenvolveram esses dois tipos distin-tos de oposição ao capitalismo, ambos revolucionários no sentido em que propunham a criação de uma nova personalidade, liberta de constrangimentos desumanizadores. A «crítica social» enfatizava a iniquidade da exploração, reivindicava a noção de progresso e enten-dia a libertação como dependente da mudança no regime de proprie-dade e no modo de produção. A «crítica artística» possuía um forte cunho anti -industrial, baseando -se no romantismo revolucionário e condenando o capitalismo por originar uma sociedade assente na mecanização e na massificação. Em Le Nouvel Esprit du Capitalisme, os autores atribuem às duas críticas uma importância semelhante du-rante os eventos condensados em redor de Maio de 68. No entanto, a «crítica artística» — que vêem como produto de limitados círcu-los culturais — acabou por ser cooptada pelo sistema e deu origem,

a partir da década de 1980, a um «novo espírito do capitalismo», mar-cado pelo elogio da criatividade, da autenticidade, da flexibilidade, da liberdade laboral e do trabalho em rede21.

Um autor que tem investigado com profundidade o tema do «ro-mantismo revolucionário», como é o caso de Michael Löwy, enjeita a forma demasiado restrita como Boltanski e Chiapello lêem a noção. Para Löwy, o romantismo não é apenas uma corrente cultural do sé-culo xix, mas uma visão de mundo que acompanha a modernidade e se constitui, relativamente a ela, numa espécie de «autocrítica». Com fortes laivos anticapitalistas, o «romantismo revolucionário» aponta o dedo à mecanização do mundo e à perda dos valores qualitativos, sen-do detectável no socialismo utópico ou no surrealismo e em autores tão diversos como Georg Lukács, Walter Benjamin, Theodor Adorno,Ernst Bloch, Herbert Marcuse, Guy Debord ou Henri Lefebvre. Enquanto protesto contra o «desencantamento do mundo» ao qual se referiu Max Weber, ele navega num limbo contraditório que pode combinar a nostalgia do passado pré -capitalista com a esperança re-volucionária num novo porvir22.

Michael Löwy salienta a aproximação possível entre a «crítica ar-tística» do capitalismo, tal como a definem Boltanski e Chiapello, e a noção de «romantismo revolucionário». Considera, porém, que este fenómeno — nomeadamente no contexto de 68 — não pode ser re-duzido a um «estilo de vida boémio» próprio de artistas, tendo ecoado amplamente em intelectuais, mulheres, estudantes e outros grupos sociais que refutaram a modernização capitalista e os seus efeitos. Por outro lado, nota como a ideia de cooptação da «crítica artística» — criando uma ligação directa entre os rebeldes de 1968 e os yuppies da década de 1980 — acaba por perder no processo um elemento ver-dadeiramente central, o anticapitalismo. Reconhecendo pertinência à análise, Michael Löwy opta por acentuar a funda distância ética e política entre ambas as margens. Se o capitalismo pode integrar ele-mentos «românticos» e «artísticos» no seu discurso, afirma Löwy, é porque simultaneamente desarma o seu conteúdo social e anestesia a sua carga revolucionária23.

É interessante reparar como o maoismo não foi imune à influên-cia desse lastro «romântico revolucionário», patente, por exemplo, na sedução pelos povos oprimidos do Terceiro Mundo e na tónica colocada na ideologia e na capacidade humana de realização. Mas à influência «romântica» — ou «antidisciplinar» (Stephens) e «artística»

[22] margem de certa maneira introdução: rubra impaciência [23]

(Boltanski/Chiapello) — deve igualmente juntar -se uma pulsão mais «clássica». Assim, no interior dos vários grupos e por vezes no próprio íntimo dos militantes, o imaginário da rebelião como «festa» debateu--se com a afirmação de comportamentos ascéticos; a experimenta-ção pessoal e a abertura em termos de costumes confrontaram -se com o puritanismo e a «moral proletária»; a visão leninista do operá-rio como sujeito histórico fundamental cruzou -se com a exaltação do camponês e dos povos oprimidos do Terceiro Mundo; a recepção das heterodoxias teóricas teve pela frente o dogmatismo e a vulgata ideo-lógica; a sedução vanguardista das armas conflitou com a necessidade de desenvolver uma paciente ligação às «massas».

De facto, é necessária alguma atenção para não se homogeneizar excessivamente este campo político. Belden Fields fala da existência, no contexto francês, de um «maoismo hierárquico» e de um «maois-mo anti -hierárquico»24. Na mesma direcção, Marnix Dressen divide as organizações em «lenino -maoistas» — entre as quais se enquadram as mais antigas Union des Jeunesses Communistes Marxistes -Leninistes (UJCML) e o Parti Communiste Marxiste -Leniniste de France (PCMLF) — e «anarco -maoistas» — caso da Gauche Prolétarienne e da sua efémera cisão Vive la Révolution!25. Uma outra catalogação pas-saria pela definição do primeiro momento como «marxista -leninista», no qual o conflito ideológico, centrado na questão das alianças estra-tégicas e do papel da violência revolucionária, se deu em regra dentro dos partidos comunistas tradicionais. Resultando invariavelmente em rupturas, ele permitiu a existência de momentâneas linhas cinzentas entre as duas correntes comunistas. Um segundo momento, mais de-claradamente «maoista», ocorreu após a sedimentação da ruptura e já sob o influxo da Revolução Cultural, caracterizando -se pela adopção de um modo mais voluntarista de intervenção e por um maior antago-nismo relativamente aos partidos comunistas tradicionais.

Sobre a história oral

A investigação que dá corpo a este livro sustenta -se em documenta-ção escrita — sobretudo publicações clandestinas e material oriun-do dos arquivos da PIDE/DGS —, mas também em testemunhos de antigos activistas. Convém por isso dedicar algum espaço inicial à fundamentação da chamada «história oral», de tardia introdução em

Portugal e cujo recurso ainda enfrenta resistências e desconfianças várias26. Embora de seguida se faça uso da expressão, convém situar o entendimento da «história oral», não como uma disciplina particular mas, na senda de Lutz Niethammer, como uma técnica específica de investigação contemporânea27.

Nas palavras de Paul Thompson, a história oral apresenta -se si-multaneamente como a mais antiga e a mais recente forma de fazer história28. No século v a.C., Heródoto usou testemunhos orais e Tucídides recorreu à experiência de quem presenciou as guerras do Peloponeso para traçar o relato do conflito entre Esparta e Atenas. Também o historiador francês Jules Michelet colheu depoimentos e registou impressões de contemporâneos seus sobre a Revolução Francesa. No fundo, foi apenas com o advento do positivismo, a par-tir da segunda metade do século xix, que o documento escrito se im-pôs como a única fonte legítima capaz de produzir um conhecimento estritamente apoiado nos factos e que se queria neutro e objectivo29.

A história oral desponta nos anos imediatamente a seguir à Segun-da Guerra Mundial, ainda que o recurso ao testemunho e à entrevista se fizesse já em áreas disciplinares como a antropologia e a sociolo-gia. A expressão apareceu pela primeira vez em 1948, quando Allan Nevins criou o Columbia Oral History Office, na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Concentrada na história política e di-plomática, a instituição dedicava -se sobretudo à tarefa de conservar os testemunhos dos «grandes homens». Uma linha diferente, menos elitista, começa a esboçar -se a partir da década de 1950, utilizando fontes orais para reconstituir e compreender a cultura popular. Esta história alternativa — na época frequentemente militante e situada amiúde fora do terreno académico — foi importante na revaloriza-ção dos vencidos, dos marginalizados e dos silenciados: camadas po-pulares, indígenas, mulheres, crianças, migrantes, minorias culturais, políticas e sexuais.

Mais recentemente, assistiu -se a uma mudança paradigmática no campo da história oral, que consistiu na passagem de uma atitude de-fensiva, preocupada em questionar o estatuto da objectividade, para uma atitude de celebração das suas características específicas. Esta postura teve desde cedo um lugar privilegiado de ensaio e desenvolvi-mento na chamada «história oral italiana»30. No uso que lhe dão Luisa Passerini e Alessandro Portelli, por exemplo, as fontes orais servem não só para fornecer elementos sobre o passado que outras fontes

[24] margem de certa maneira introdução: rubra impaciência [25]

omitem, mas possibilitam conjuntamente a análise dos sentidos da-dos aos acontecimentos. Com efeito, se os testemunhos nos podem alertar para factos desconhecidos, eles permitem igualmente abordar temas como a subjectividade, a imaginação, o desejo, a estrutura da memória e a relação entre o indivíduo e os contextos sociais, políti-cos, económicos e culturais que o circundam31.

Não obstante a existência de diferentes práticas historiográficas e olhares metodológicos, o campo da história oral tem ajudado a cons-truir um espaço de compreensão dos processos históricos contem-porâneos que, por um lado, já não entende as fontes escritas como auto -suficientes e, por outro, se lança no resgate de vozes silenciadas. O estudo da antropóloga Paula Godinho sobre a chamada «Guerra de Cambedo» atesta como a recolha de testemunhos orais permite suprimir a carência e adulteração das fontes escritas. Este caso con-creto refere -se ao cerco e bombardeamento da aldeia de Cambedo da Raia, no concelho de Chaves, em Dezembro de 1946, quando a Guarda Nacional Republicana e a Guarda Civil espanhola atacaram a aldeia e prenderam cerca de um terço dos habitantes sob a acusação de acolherem supostos salteadores. Na verdade, tratava -se de maquis — guerrilheiros que se dedicavam à luta armada contra o franquis-mo — oriundos do lado galego da fronteira e que detinham relações afectivas e laborais com o lado português. Com o recurso a entrevis-tas, Paula Godinho pôde desenhar, à margem dos documentos es-critos, uma imagem que os recupera para o campo da resistência ao franquismo, desocultando uma memória banida do espaço público durante décadas32.

A historiadora Fátima Patriarca assinala igualmente algumas atenções críticas necessárias a quem recorre a fontes policiais, como sejam os arquivos da PIDE/DGS. Se é certo que este acervo é in-contornável para quem pretenda estudar o Estado Novo e os opo-sicionismos, é de evitar uma posição que tome essa documentação como mais relevante, fiável ou «verdadeira». Reflectindo sobre o tra-balho de pesquisa realizado nesse arquivo durante a preparação do estudo sobre a revolta de 18 de Janeiro de 1934, Patriarca chama a atenção para o facto de os autos de declarações — que resumem em linguagem burocrática e estereotipada as informações que a polícia conseguia extrair em interrogatório — estarem longe de fornecer uma transcrição literal do que se passou na inquirição. Não só estão ausentes as entoações, gestos e silêncios, como se omite o recurso à

violência física e psicológica. Se o procedimento inquisitório plas-mado nos autos visa extrair a confissão enquanto elemento de prova, os inquiridos não deixam de desenvolver estratégias de fuga e defesa que passam por elidir responsabilidades, falsificar datas e nomes ou escamotear factos e relacionamentos33.

Também por isso, nem sempre os autos primam pela exactidão. São, como qualquer outra fonte, uma elaboração produzida num dado contexto e servindo determinados fins, o que obriga o historia-dor a uma vigilância crítica que o recurso cruzado a diferentes fontes pode ajudar a aguçar. No desenvolvimento deste trabalho foi possí-vel perceber como alguns elementos presentes nos autos da PIDE/DGS apenas se clarificaram falando com os antigos protagonistas e confrontando -os com o conhecimento que foi possível obter do que eram as organizações políticas em causa. O que, aliás, a polícia polí-tica nem sempre tinha. Como exemplo, basta atender ao documen-to da PIDE/DGS que faz um resumo das organizações marxistas--leninistas, constante em vários processos, e que se apresenta rechea do de erros e imprecisões34.

Para além do material oriundo da PIDE/DGS, um outro tipo de documentos escritos é aqui usado, ainda que sobre ele também sejam necessários cuidados específicos. Refiro -me à documentação produ-zida pelas organizações políticas. Muitos destes textos, em regra não assinados, são marcados por um notório triunfalismo que por vezes tomava desejos por realidades e amplificava determinados factos com intenções propagandísticas. Por outro lado, mesmo que não se apresentem assinados, esses textos eram sempre resultado da visão de quem os escreveu, das informações que tinha em sua posse e do que queria ou não revelar. De facto, o recurso às fontes orais pode permitir um retrato mais pormenorizado de um dado fenómeno, iluminando um documento escrito ou cotejando -o com leituras al-ternativas, que por vezes o completam e corrigem. Uma experiência concreta diz respeito à história da Unidade Revolucionária Marxista--Leninista (URML) tal como é apresentada perto do 25 de Abril no seu jornal teórico. Mesmo sem mencionar nomes, traça um retrato credível, cuja exactidão, porém, foi possível matizar confrontando -o com relatos de antigos activistas35.

Isto não significa, obviamente, que as fontes orais possuam maior fiabilidade ou que sobre elas não se devam exercer rigorosas caute-las hermenêuticas. Tal como os jornais, a documentação oriunda das

[26] margem de certa maneira introdução: rubra impaciência [27]

organizações ou os autos da PIDE, também os testemunhos orais exigem ser lidos de forma crítica, se possível cruzados, e com um olhar atento ao seu contexto de produção e ao percurso pessoal do informante. A maneira como as fontes orais são construídas — as únicas criadas por solicitação do historiador e destinadas ao seu uso directo — tem sido, aliás, um dos mais frequentes anátemas lançados contra a história oral. Curiosamente, memórias e biografias também resultam de um esforço voluntário e pessoal de ordenação dos acon-tecimentos e ambas têm sido usadas pelos historiadores sem tantas reservas. Se é verdade que o recurso a testemunhos e entrevistas im-plica cuidados adicionais, o facto de o historiador participar no pro-cesso de construção da fonte pode ser visto como uma vantagem, na medida em que possibilita o diálogo com o entrevistado na presen-ça de outros dados, abre campo ao esclarecimento de certos pontos menos claros e permite confrontar determinadas leituras com outras interpretações existentes.

A dimensão específica da oralidade tem sido igualmente motivo de debates que, entre outras temáticas, tocam na questão da trans-crição. Portelli considera que entre a gravação e a transcrição não existe uma passagem neutral, já que mesmo a transcrição o mais literal possível implica sempre uma dose de criação. Segundo o au-tor, a entoação e a velocidade são dois dos limites da transcrição. No primeiro caso, podemos introduzir sinais de pontuação mas estes «dificilmente coincidem com os ritmos e as pausas empregues pelo sujeito, e acabam por confinar o discurso ao interior de regras lógi-cas e gramaticais que não foram necessariamente seguidas»36. No que concerne à velocidade, ela associa -se à emotividade narrativa e a sua interpretação está ligada ao contexto: abrandar pode significar uma ênfase em certos pontos ou dificuldade em abordá -los, como a acele-ração pode revelar uma grande familiaridade com determinados as-pectos ou vontade de camuflar a sua importância37. O mesmo se pode dizer relativamente às expressões faciais ou à exteriorização de emo-ções. Mesmo que se convencione uma notação para indicar o choro ou o riso, por exemplo, as demonstrações de mágoa, alegria, tristeza, impaciência ou saudade são claramente difíceis de sinalizar.

Tendo consciência destes limites, o certo é que a transcrição é absolutamente necessária se se quiser proceder ao seu uso num texto, que é por natureza escrito. No âmbito desta investigação, e a seguir ao diálogo com os antigos activistas e à sua transcrição,

optou -se assim por enviar o documento para o informante de modo que este pudesse efectuar correcções, rasuras ou acrescentos. De-volvendo a palavra aos narradores, atribuiu -se -lhes um controlo so-bre a produção da fonte, ao mesmo tempo que se concedeu mais algum à -vontade aos entrevistados, uma vez que poderiam discor-rer com alguma liberdade sem que a palavra fosse necessariamente a definitiva. Por outro lado, essa opção trouxe limites assinaláveis, já que no acto de «correcção» se retiraram forçosamente elementos considerados problemáticos, rasuraram -se nomes e omitiram -se in-terjeições, pausas, gaguezes, eliminando -se assim alguma da carga espontânea da conversa.

Sobre a história do imaginário

Sob a designação de «história das mentalidades» desenvolveram -se relevantes trabalhos que vieram chamar a atenção para a importância das formas mentais na definição do ser social. Um dos seus expoen-tes, o medievalista Georges Duby, sustenta que a compreensão das sociedades humanas implica uma atenção idêntica aos fenómenos económicos e aos fenómenos mentais, já que estes têm um carácter tão determinante como aqueles. Nas palavras de Duby, os seres hu-manos «não regulam as suas condutas em função da sua situação real, mas da imagem que têm desta, imagem que nunca é um simples re-flexo da realidade»38.

Não obstante as diferenças consideráveis ao nível dos recursos me-todológicos — que foram desde o uso privilegiado da demografia e da análise quantitativa até uma orientação mais qualitativa —, a «história das mentalidades» virou -se tendencialmente para a busca das perma-nências, algo que o historiador Michel Vovelle denominou «força de inércia das estruturas mentais»39. A noção de «mentalidade» evoca, as-sim, uma dimensão de constância e até de imobilidade que tem sido alvo de objecções. António Torres Montenegro alude ao facto desta característica fazer com que o historiador acabe por desconhecer ou desvalorizar documentos que apontam numa direcção oposta àquela que se busca estabelecer40. Carlo Ginzburg sublinha como a noção de «mentalidade» pode levar a extrapolações indevidas, confundindo--se as representações de um sector da sociedade com o seu todo e um período delimitado com uma longa extensão temporal41.

[28] margem de certa maneira introdução: rubra impaciência [29]

No que se refere concretamente à «história do imaginário», registe -se a abordagem pioneira efectuada por Evelyne Patlagean e o impacto do trabalho de autores consagrados, como Georges Duby ou Jacques Le Goff42. Em O Imaginário Medieval, Le Goff procura de-finir um lugar para o conceito de «imaginário» que não se confunda com os domínios da «representação», do «simbólico» e do «ideológi-co». Distinguindo -se destas instâncias pela presença da «imagem», o estudo do imaginário teria, como ciências auxiliares, a filologia e a iconologia, e, como fontes privilegiadas, as obras literárias e artísti-cas. Apesar desta noção algo restritiva, Le Goff parece também en-tender o imaginário num sentido mais lato, enquanto substrato cuja exteriorização dá lugar a formas de representação que permitem afe-rir um dado «universo mental»43.

As semelhanças entre «mentalidade» e «imaginário» são eviden-tes, o que aliás levou Lucian Boia a perguntar ironicamente se fazia sentido duplicar um domínio já existente. Para Boia, o imaginário distinguir -se -ia precisamente por fazer referência a algo mais profun-do e menos vago. Na esteira de Carl Jung e Gilbert Durand, Boia fala de arquétipos como elementos constitutivos do imaginário. Uma vez que o ser humano é «programado» para pensar, sentir e sonhar de ma-neira semelhante, estas estruturas seriam «permanências mentais» de carácter universal. Como afirma o autor romeno, «a história do imaginário é uma história estrutural», porque «mesmo as mais sofis-ticadas construções do espírito podem ser simplificadas, decompos-tas ou reduzidas ao arquétipo». Simultaneamente, esta é uma história dinâmica, porque os arquétipos são estruturas abertas, que evoluem e se combinam entre si44.

Uma leitura da história ideológica da França, recorrendo ao que Gilbert Durand denominou «constelações mitológicas»45, foi efec -tuada por Raoul Girardet. O mito condensa, segundo Girardet, uma visão global do presente e do futuro colectivo, submetendo o caos dos acontecimentos a uma ordem imanente. Para além deste carácter or-denador, o mito assume um carácter mobilizador: «à função de rees - truturação mental do imaginário político corresponde uma outra, de reestruturação social», que promove a coesão e a identidade do grupo. Girardet aponta a existência de três grandes mitos políticos. O primeiro corresponde à denúncia da conspiração maléfica tenden-te a submeter os povos ao domínio de forças obscuras e perversas. O segundo diz respeito às imagens de uma Idade do Ouro, onde se

encontraria a felicidade ou uma revolução redentora que asseguraria para sempre o reino da justiça. O terceiro estipula o apelo ao chefe salvador, restaurador da ordem e conquistador de uma nova grandeza colectiva46.

Importa notar que o carácter estrutural destas tipologias pode não só cair num essencialismo inapto para compreender a diferença, mas está igualmente pouco preparado para perceber os fenómenos de mudança. Para superar esta dificuldade, o historiador e filósofo polaco Bronislaw Baczko fala da existência de «tempos quentes» na produção de imaginários, o que remete para a dinâmica transforma-dora existente em momentos históricos precisos. De facto, o proces-so de individualização e de construção do sujeito não se faz no abs-tracto, mas a partir de um campo de determinações historicamente situado, do qual fazem parte valores, modelos retóricos, comporta-mentos e convicções. Baczko menciona a existência de «identidades de imaginação», capazes de agregar esses dispositivos e de canalizar acções colectivas47.

Assim sendo, as significações imaginárias materializam -se ao ní-vel da produção simbólica, mas também ao nível da convivência e da acção quotidiana. Na verdade, acção e reflexão, activismo e con-templação, ser e consciência interagem num fluxo constante sem que se possa estipular a antecedência de um vector sobre o outro. A ade-são a um ideário radical, os modelos de militância adoptados ou os comportamentos em contexto de tortura e prisão, por exemplo, não são independentes de motivos sociais, económicos e políticos, nem das dinâmicas que se estabelecem no interior dos grupos, das convic-ções partilhadas dos sujeitos e dos percursos singulares de cada actor social. Deste modo, mais do que agregar representações e práticas em redor de «constelações mitológicas», a segunda parte deste livro procurará fazer com que o olhar acompanhe movimentos e trajectos, desenhando linhas de semelhança sem ceder à tentação de suprimir a individualidade.

Abecassis, António Pedro: 100, 107 ‑8

Abreu, António: 131Abreu, José Aurélio de Martins: 48, 160Abreu, José Manuel Picão de: 56, 325Abreu, Mário: 326Abreu, Pedro Ferraz de: 68Abreu, Pio de: 186Abreu, Rita: 158Abrunhosa, Maria José: 69Achino‑Loeb, Maria‑Luisa: 282Adorno, Theodor: 21Adriano (Correia de Oliveira): 107Afonso, Inácio: 50, 284, 291Afonso, Zeca: 107, 248Albuquerque, Afonso de: 283, 358, 366 Alcobia, José Manuel: 339Aldeia, João: 85Aleixo, Filipe Viegas: 300, 303Alexander, Robert: 17 ‑8, 316Alfaiate, Joaquim: 289Almeida, António Maria de Sousa: 325Almeida, João Marques de: 55Almeida, Pedro Ramos de: 38Althusser, Louis: 207Alves, Elmano: 331Alves, Felicidade: 253, 274Alves, Fernanda: 35 ‑6Alves, Francisco: 45, 273Alves, João Carlos Coelho: 110Alves, Pedro: 329Alves, Pedro Campos: 140, 302, 342Alves, Soares: 131Amorim, Filipe: 274Amorim, Tito Agra: 114, 212 Andrade, José Carlos: 47, 65Andrade, Maria Helena: 47Andrade, Mário Pinto de: 158 ‑9

Andrade, Sílvia: 325André, Pereira: 284Andringa, Diana: 221, 236, 259,

366 ‑7António, Carlos: 131, 133Aquino: 364Areias, Manuel: 365Arouca, Domingos: 300Arruda, Diógenes: 150Ataíde, Álvaro: 152Aurélio, Diogo Pires: 315

Babo, Alexandre: 171-2Bação, Manuel: 319Baczko, Bronislaw: 29Badiou, Alain: 207Baez, Joan: 238Baginha, Maria de Lurdes: 105Balso, Judith: 81, 329Baltazar, António: 267Baltazar, Maria da Graça: 105Baptista, António Alçada: 89, 229Baptista, Francisco Antunes: 84Baptista, João: 260, 300Baptista, Pedro: 99, 100, 106 ‑7, 112 ‑5,

210, 236, 291 ‑2, 336 ‑7, 357Barbosa, Ana: 344Barbot, Clara: 101, 211Bárcia, Paulo: 330Barradas, Ana: 140, 233, 258 ‑9Barreira, Isabel: 139, 230Barreiros, Acácio: 133, 135, 224Barreiros, José Colaço: 139Barreno, Maria Isabel: 358Barrias, José: 365Barros, Fernando: 45 ‑6, 59, 65Barros, Germano: 277Barros, João: 100

Índice Onomástico

[388] margem de certa maneira índice onomástico [389]

Barros, José: 246Barroso, Alfredo: 76Barroso, José Manuel Durão: 316Basto, Carlos Alberto Oliveira Maga‑

lhães: 150Beauvoir, Simone de: 162Bebiano, Rui: 335Belo, Humberto: 44, 46, 59, 65, 157, 160,

169, 177, 324Bendit, Daniel Cohn: 193Benjamin, Walter: 21Bernardes, Fernando Miguel: 301 ‑3Bernardo, João: 54 ‑6, 63, 127 ‑30, 133 ‑4,

235 ‑6, 324Bernstein, Eduard: 170, 315Bertolucci, Bernardo: 272Bethune, Norman: 86, 331Bettelheim, Charles: 162, 347Bloch, Ernst: 21Boia, Lucian: 28, 161Boltanski, Luc: 20 ‑2, 209, 317Bom, João Carreira: 89Bordiga, Amadeo: 334Borges, Luís: 68, 327Botelho, João: 101Bourdieu, Pierre: 287Bourg, Julian: 352Bourseiller, Christophe: 14, 18 ‑9, 322Boussel, Pierre («Lambert»): 326Bragança, Nuno: 89Braga, Paula: 102, 332Branco, Fernando: 299 ‑300, 302Branco, José Mário: 7, 54, 235, 247, 265,

270, 273, 324, 364Bray, Vítor: 267Brecht, Bertolt: 246Brejnev: 171 ‑2Brito, Fernando: 131, 133Bronze, Francisco: 119 ‑20

Cabedal, Francisco: 119Cabral, Amílcar: 158, 278Cabral, Eurico Pina: 106Cabral, Fernando: 278Cabral, Manuel Villaverde: 273, 340Caetano, Marcelo: 33, 77, 112, 199, 301Caixinhas, João: 151, 260, 266, 270

Caixinhas, Raul: 106, 260, 261, 302Cal, Francisco: 145, 147Camacho, Carlos: 258, 325Campos, José Manuel Penafort: 99 ‑100,

113, 115, 201, 357Capilé, Cândido: 47Capilé, José: 45, 47, 59, 65, 160, 226, 336Capilé, Sebastião: 47, 49, 300, 323Caraça, Bento de Jesus: 163Cardeira, Fernando: 110, 267, 277Cardeira, Joaquim: 68, 83, 131 ‑2Cardia, Sottomayor: 89Cardoso, António Monteiro: 86, 254Cardoso, Barbieri: 365Cardoso, Carlos Alberto Quintas: 302,

325Cardoso, Fernando: 110, 245, 364Cardoso, Lopes: 274Cardoso, Óscar: 284, 290Cardoso, Raul Lopes: 325Carmo, Rui do: 98, 102, 237, 335Carvalho, Adriano de: 89Carvalho, Fernando: 342Carvalho, Frederico: 131 ‑2Carvalho, João Duarte de: 144, 147Carvalho, Rogério de: 36, 42, 46Casaco, Rosa: 113Casas, Raymond: 354Casquilho, João Paulo: 83Castanheira, Alexandre: 37, 158Castilho, Manuel: 54, 238Castilho, Miguel: 236Castro, Adelino Moreira e: 237Castro, Alberto de: 278, 366Castro, Fidel: 130, 157, 173Castro, José Luís: 120, 123, 225Castro, Mariano: 135Castro, Miguel: 265, 278Castro, Vasco de: 110, 273Cerqueira, Silas: 364Chakrabarty, Dipesh: 350Chancerel, Leon: 334Chardin, Teilhard du: 265Charrua, Deolinda: 342Chatelet, François: 269Chen Duxiu: 14Chiang Kai‑Chek: 14

Chiapello, Eve: 20 ‑2, 209Chico, Manuel: 110, 151Chu En‑Lai: 15 ‑6Cipriano, Fernando: 47Claro, Manuel: 40 ‑1, 44, 46, 57, 60, 65,

139, 296, 307, 324Cleto, José Ferreira: 49Codinha, Elpídio: 336Codinha, José Carlos: 110, 225Coelho, Antonieta: 236Coelho, António: 100, 106, 302Coelho, Artur Mora: 342Coelho, Fernando: 145Coelho, José Dias: 33Coelho, Lamberto: 119Coelho, Luís Pedro: 302Coelho, Mário Brochado: 99Cohen, Leonard: 238Coimbra, António da Costa: 152Conceição, José da: 106 ‑7Condeço, António José: 300Cordeiro, José Manuel Lopes: 68, 88,

94, 355Costa, Albino: 267Costa, Alexandre Alves: 99Costa, Carlos: 37Costa, Carlos: 132Costa, Carlos Saraiva da: 105, 302Costa, Hélder: 48, 55 ‑7, 104, 107, 109‑

‑10, 115, 173, 243 ‑4, 328, 337, 365Costa, Helena Bruto da: 76Costa, João Bénard da: 78, 89Costa, José Alberto Caeiro: 87Costa, José Mário: 105, 302Costa, Maria Velho da: 358Coutinho, Carlos: 291Coutinho, Fernanda: 59Crato, Nuno: 66 ‑8, 72Crespo, Horácio: 85, 92, 289, 332Crisóstomo, João: 54, 134, 236Cruzeiro, Celso: 186Cruz, Gastão: 359Cruz, Rui Paulo da: 106Cruz, Viriato da: 45, 158, 159, 174Cunhal, Álvaro: 34, 36 ‑8, 44, 53, 60, 64,

83, 130, 185, 198, 256, 285, 287 ‑8, 320, 321, 324 ‑5, 330, 335 ‑6

Curto, Ramada: 252Custódio, Jorge: 326

Dacosta, Fernando: 252Dâmaso, Fernanda: 292, 331Damsté, Sinninghe: 365Dáskalos, Sócrates: 158Debord, Guy: 21Debray, Régis: 128, 188, 351Delesque, Michel: 326Delgado, Carlos: 104Delgado, Humberto: 33, 43, 48, 252, 258,

318, 322, 337, 348Delgado, Rita: 133 ‑4Dias, António: 78Dias, António Manuel Silva: 335Dias, José Vicente da Silva: 106Dias, Júlio: 107, 143 ‑7, 335 ‑6Dias, Augusto Costa: 238Dimitrov, Georgi: 196Diniz, Alfredo: 64Dirlik, Arif: 157Domingos, Luís Ruivo: 356Donovan: 238Dragún, Osvaldo: 243Dressen, Marnix: 18, 22, 209, 214Duarte, José: 68Duarte, José: 238Duby, Georges: 27 ‑8Durand, Gilbert: 28Duras, Marguerite: 269Dylan, Bob: 236, 238

Engels, Friedrich: 62, 80, 172, 174 ‑5, 180, 196, 204, 231, 273, 279

Espada, João Carlos: 68Esperto, José Manuel: 104, 226Espiney, Cláudio d’: 137, 341Espiney, José Luís d’: 137, 299, 300,

341Espiney, Rui d’: 40 ‑2, 45, 47 ‑51, 65, 137,

139, 150, 160, 169, 173, 284, 299 ‑300, 302 ‑3, 321, 323 ‑4, 341

Espiney, Sérgio d’: 55 ‑6, 137, 150, 341, 368Estaline: 14 ‑5, 80, 94, 160, 170, 172, 174‑

‑6, 187, 204, 306Esteves, António Paixão: 315

[390] margem de certa maneira índice onomástico [391]

Esteves, António Ramos: 45Eufémia, Catarina: 235, 246

Fanon, Franz: 181 Faria, Filipe: 110Fausto: 238 ‑9Fernandes, Carlos Almeida: 78Fernandes, Ferreira: 110Fernandes, Jorge Almeida: 89Fernandes, José Eurico: 302Fernandes, José Manuel: 68Fernandes, Manuel Matos: 69Fernandes, Marcelo: 45Fernandes, Mário: 110, 278Fernandes, Orlando: 204Feronha, José Luís Machado: 48, 323Ferrante, Stefano: 184Ferrão, Manuel: 300Ferreira, Armando: 47Ferreira, Georgette: 38, 40Ferreira, Isabel: 133Ferreira, José Maria Carvalho: 340Ferreira, Medeiros: 89Ferreira, Vidaul: 79, 86, 91, 329Ferry, Luc: 209Fialho, Luísa: 45Fields, Belden: 18, 22Figueiredo, João Natividade de: 50 ‑1Figueiredo, Manuel da Cunha Lopes: 84First, Ruth: 259Florêncio, Augusto Rentes: 152Flores, Tino: 110, 245, 248, 249Fogaça, Júlio: 34, 36, 185Fonseca, Loreta: 109, 337Fonseca, Paula: 129, 132 ‑4, 221 ‑2, 341, 358Fonseca, Serafim da: 150Foucault, Michel: 352Fraga, Luís Filipe: 140, 302, 342Fragateiro, Carlos: 356Frank, Robert: 157Freire, João: 273, 340Freire, Paulo: 186Freitas, João: 148Freitas, José de: 163 ‑4

Gago, Carlos: 79Gago, José Mariano: 131, 133 ‑4

Galvão, Henrique: 33Gama, Jaime: 76Gandra, Pedro: 278Garção, José Manuel: 117, 119, 120, 124,

225, 339Garrido, Margarida: 321, 325Gaspar, Alexandre: 55Gil, Fernando: 47Gil, Manuela: 342Ginzburg, Carlo: 27Girardet, Raoul: 28Godard, Jean‑Luc: 155Godinho, Paula: 24, 318, 333, 368, 375Gomes, Acácio: 72Gomes, Ana: 86Gomes, Heduíno («Vilar»): 48, 58 ‑9, 62,

64 ‑5, 67, 70, 72 ‑3, 161, 247, 324, 328Gomes, Joaquim: 36, 38Gomes, Jorge Marques: 212Gomes, José Pedro: 374Gomes, José Teixeira: 100Gomes, Rui: 67, 68, 70, 219, 327Gomes, Varela: 33Gonçalves, Bento: 273Gonçalves, Egito: 359Gonçalves, Jorge: 152Gonçalves, José: 323Gonçalves, Rita: 45, 47 ‑50, 137, 291, 323Gorz, André: 194Graça, Eduardo: 143Gramsci, Antonio: 350Granado, Maria Fernanda Serra: 59, 62Grandão, Aurora: 211 ‑4Gregório, José: 64, 246, 361Grippa, Jacques: 45, 321Guerra, Henrique: 300, 302Guerreiro, João: 68, 131Guerreiro, Joaquim: 342Guevara: 61, 105, 128, 130, 157, 173, 188,

189, 229, 260, 273, 310, 326, 351Guinote, Carlos: 146 ‑7, 161, 343Guinot, Vladimiro: 339, 398Gusmão, Fernando: 243

Hardt, Michael: 183Henriques, Júlio: 134, 240 ‑1Henriques, Rui Teives: 131, 133, 302, 340

Heródoto: 23Ho Chi Minh: 80, 105, 157, 310Hodja, Enver: 169Hofheinz, Roy: 182Hofmann, Abbie: 317Honwana, Luís Bernardo: 258 ‑9Horta, Maria Teresa: 358

Iglésias, José Manuel: 87, 302Inácio, Camilo: 86Inácio, José: 300Inácio, Palma: 369Isaac, Norberto: 225, 369Isidro, João: 76, 79, 86, 89

Jameson, Frederic: 317Janeiro, António: 45, 48, 63, 65Janeiro, Carlos: 64 ‑5, 72 ‑3Jasmins, Miguel: 342Jdanove, Andrei: 242Jorge, Guerreiro: 84, 89 ‑91, 164Jorge, Pires: 36Juncal, Manuela: 98, 101, 211 ‑4, 236, 336Jung, Carl: 28Júnior, Domingos: 335Júnior, Fernando Reis: 105, 150, 302Jurquet, Jacques: 354Justino, Joffre: 145, 147

Kautsky, Karl: 180 ‑1, 315, 349Kerouac, Jack: 236Kossiguine: 172Kruschev, Nikita: 15, 158, 175 ‑6, 196

Lacerda, Vasco: 47Lage, Jorge: 152Laia, Vladimir Roque: 78Lamas, Maria: 274, 364Lamego, José: 82, 86, 88, 92, 291, 332Lamego, José Ribeiro: 57Lança, Carlos: 45, 174, 321Lança, José Maria Silvestre: 139, 342Landun, Aleixo: 146Lara, Lúcio: 158Lavado, Manuel: 323Leal, José Liberto: 171Le Dantec, Jean‑Pierre: 207

Lefebvre, Henri: 21Le Goff, Jacques: 28Leitão, António Arriscado: 269Lenine: 15 ‑6, 19, 31, 34, 39, 55, 79, 170,

172, 174 ‑6, 180 ‑1, 185, 187, 196 ‑7, 204, 231 ‑2, 242, 318 ‑9

Lennon, John: 238Leonardo, Bento: 47, 323Leonel, José: 35Levy, Benny: 207Lew, Roland: 183Leys, Simon (Pierre Rykmans): 162Lima, Acácio Barata: 47, 50, 59, 284Linhart, Robert: 207, 354Lipovetsky, Gilles: 209Lisboa, João Luís: 92Lobato, Serafim: 120, 121Lopes, João: 85Lopes, João Vieira: 131, 133 ‑4Lopes, Manuel: 144Lopes, Óscar: 238Loureiro, Rui: 322Lourenço, Custódio: 44, 47, 49, 64 ‑5,

72, 160, 226Löwy, Michael: 21, 191, 310Loza, Rui: 100 ‑1, 106, 114 ‑5Lucas, Constantino: 267Lucena, Manuel: 89Luciano, Joaquim: 117, 119, 120, 124Lukács, Georg: 21

Macchiocchi, Maria Antonietta: 162

Machado, João: 79, 84, 329Macias, Berta: 355Madeira, João: 53Madeira, José: 278Madureira, Fernando: 57Magalhães, Miguel: 144, 147Magro, José: 36Malho, Pedro: 302Malraux, André: 14Maltez, capitão Américo: 70, 93Mandela, Nelson: 259Manso, António: 70Manuel, António: 131Manuel, Joaquim: 133

[392] margem de certa maneira índice onomástico [393]

Mao: 14 ‑5, 17 ‑8, 59, 61, 76, 80, 92, 94, 157 ‑8, 162 ‑4, 166 ‑8, 170, 174 ‑7, 179, 182 ‑3, 187, 189, 193, 204, 207, 239, 251, 306, 310 ‑1, 315 ‑6, 350

Marcuse, Herbert: 21, 358Margarido, Alfredo: 274, 340Marighella: 149Marmor, François: 182Marques, Carlos: 220, 224Marques, Fernando Pereira: 273, 300Marques, J.A. Silva: 107 ‑8, 285, 336Marques, Jorge Manuel Galamba: 325Marques, José Vieira: 220Marques, Luís: 86, 289Martins, António Lopes: 48, 323Martins, Arsélio: 218Martins, João Evaristo de Jesus: 48 ‑9, 323Martins, João Paulo: 322Martins, Joaquim: 226Martins, Vasco: 109, 274, 336Marty, François: 354Marx, Karl: 80, 144, 174 ‑5, 179, 180, 183,

194, 196, 204, 231, 273Massada, Jorge: 98, 237, 359, 363Mateus, Mário: 49, 50, 323Matias, Jacinto: 85Matias, Joaquim: 152Matias, Joaquim Monteiro: 56 ‑7, 300, 325Matias, José Paulo Lima: 152, 345Matos, Alberto: 68, 132Matos, António: 48Matos, Arnaldo: 76, 78 ‑81, 89, 91, 316,

329Matos, Danilo: 85 ‑6Matos, Luís Salgado: 127Matos, Norton de: 252Matoso, Luís: 89Medeiros, Fernando: 340Meisner, Maurice: 183, 349Melo, Alberto: 340Melo, Jorge Silva: 89, 238Mendes, António Cruz: 88, 332Mendes, Fernando: 267Mendes, Ferreira: 83Mendès‑France, Pierre: 209Mendes, Ohen: 332Mendonça, José Tito: 48

Menezes, Beatriz: 83Metello, António Perez: 144 ‑7, 291Michelet, Jules: 23Miguel, Francisco: 36, 38 ‑9, 287Millon, Jean Pierre: 326Mocho, Manuel João: 47Monginho, Jaime: 45, 65, 160Moniz, Botelho: 33Monjardino, Pedro: 260Monteiro, Damião Pinto: 269Monteiro, José Charters: 106, 302Montenegro, António Torres: 27Morais, Fernando: 57, 110Morais, Francisco: 100, 114 ‑5Morais, José: 53Morais, Nuno: 114 ‑5, 212Morgado, Maria José: 86, 93Moscovici: 272Mota, Mário Pedroso da: 57Mota, Rui: 110, 275 ‑7Moura, Fernando: 150, 301Moura, Olga: 82Moura, Serra e: 139Mucznik, Esther: 270, 352Muller, Daniel: 68

Napoleão: 179, 183Nave, Gil: 247Negri, Antonio: 183Neto, Agostinho: 159Neto, Domingues: 365Neto, Joaquim Raimundo: 323Neuparth, Conceição: 315Neves, Eduarda: 101, 331Neves, Jorge: 140, 258 ‑9Neves, José: 185Neves, Manuela: 101, 211, 331Nevins, Allan: 23Niethammer, Lutz: 23Nixon, Richard: 172 ‑3Noales: 364Noronha, Ricardo: 321Novais, Ana Maria: 342Nunes, Fernando de Sousa: 84, 331Nunes, Isabel: 120Nunes, Saul Rodrigues: 300, 323

Oliveira, Alexandre Alhinho de: 54 ‑5, 127, 236, 238, 300, 325

Oliveira, Aquiles de: 340Oliveira, Helena Veiga de: 129, 236Oliveira, João: 100, 113, 115Oliveira, José: 100, 115Oliveira, Mário de: 253Oliveira, Veiga de: 38, 284, 291Ornelas, José Manuel: 139, 342Orwell, George: 285Otelo: 316Oulman, Alain: 47, 50Overney, Pierre: 274

Paisana, Carlos: 90Paiva, José: 98, 149 ‑50, 298, 301Palhinha, Pedro: 79, 86Palma, José António: 302Palma, Tito: 120Passerini, Luisa: 23Patlagean, Evelyne: 28Pato, Octávio: 36Patriarca, Fátima: 24, 199Patrocínio, Isabel: 147Peixinho, Jorge: 238Pequeno, Joaquim Branquinho dos

Santos: 45, 160Pereira, António: 300Pereira, Biló: 300Pereira, Francisco Gonçalves: 78Pereira, João Martins: 89Pereira, José Pacheco: 42, 45, 66, 68 ‑9,

100, 152, 158, 220, 236, 287Pereira, Manuel Joaquim da Silva: 152Pereira, Marília: 140Pereira, Miguel Serras: 134Pereira, Natália Teotónio: 266Pereira, Nuno Álvares: 54, 324Pereira, Nuno Teotónio: 266Pereira, Victor: 264, 271Pestana, Aurélio: 82Piao, Lin: 183, 189Piçarra, Mário: 144, 147Pimentel, Irene: 106, 271, 285, 367Pinheiro, Patrícia McGowan: 45, 322,

345, 348Pintassilgo, Maria de Lurdes: 186

Pinto, António Costa: 68Pinto, Cremilde Raposo: 342Pinto, Jorge da Conceição Ribeiro: 47Pires, Abílio: 291Pires, Eduardo: 224Pires, Joaquim Maurício: 105Pires, Vítor: 267Pita, Artur: 267Pita, Manuel António: 86Pollak, Michael: 286Polo, Marco: 161Ponte, João Pedro da: 133Portelli, Alessandro: 23, 26Porto, Nuno da Cunha: 105, 302Poupa, António: 299Praça, José Luís: 101, 335

Queirós, Carlos: 98, 100 ‑1, 211 ‑2, 214, 335, 359

Queirós, José: 98, 100 ‑3, 113, 115, 237, 335, 355

Quintanilha, Regina: 47Quintas, António: 302Quintela, João: 47, 57, 59, 63, 65, 324Quirós, Manuel: 47, 147 ‑8, 323, 344

Ramalho, Glória: 68, 70, 82, 220, 330Ramalho, Vítor: 78, 86 ‑7, 90Ramos, André: 171 ‑2Ramos, Joaquim: 300Raptis, Michel («Pablo»): 326Rauschenberg: 236Rebelo, Sá Viana: 268Rebocho, Dúlia: 93, 147 ‑8, 232, 236Rebocho, Nuno: 57 ‑8, 148, 300, 324Rego, Luís: 263Rego, Sebastião Lima: 87, 89 ‑91, 232,

302Reich, Wilhelm: 230Reigado, Felisberto Marques: 277, 365Reininho, Jaime: 69Renaud, Alain: 209Resende, Manuel: 98Ribeiro, Félix: 143, 343Ribeiro, Marcelo: 228 ‑9, 266Ribeiro, Militão: 64Ribeiro, Octávio Curado Correia: 57, 325

[394] margem de certa maneira índice onomástico [395]

Ribeiro, Teixeira: 103Rigor, António Joaquim: 365Rivera, Diego: 315Roberto, Holden: 159Rocard, Michel: 209Rocha, Afonso: 109, 274, 336 ‑7, 365Rocha, António: 129, 132 ‑4, 341Rocha, Canais: 301Rocha, Jorge: 336Rodrigues, Amália: 47Rodrigues, Ana Cristina Rosenheim: 212Rodrigues, Aurora: 86, 292Rodrigues, Ferro: 143Rodrigues, Francisco Martins: 35 ‑6, 38 ‑41,

44 ‑7, 50 ‑1, 64 ‑5, 138 ‑9, 150, 159, 173, 176, 186, 188, 200, 283 ‑4, 291, 297, 300, 302, 303, 305 ‑6, 320 ‑1, 323 ‑4, 351

Rodrigues, Jacinto: 47, 59, 63, 65, 160, 169, 188, 265, 271 ‑2, 324

Rodrigues, Jorge Nascimento: 147 ‑8Rodrigues, Luís Vilan: 106Rodrigues, Urbano Tavares: 171, 238Rolin, Olivier: 185Roque, Manuel: 79Rosas, Fernando: 54, 76, 79 ‑80, 89, 91,

285, 300, 324, 357Rosas, Filipe: 91, 329Ross, Kristin: 193, 209Rubin, Jerry: 317Ruivo, Fernando: 237

Sabino, Amadeu Lopes: 54, 75 ‑6, 78 ‑9, 84, 87, 89, 236, 277, 324

Sabino, Luís Filipe: 236Sachetti: 284, 290 ‑1Sacramento, Mário: 238Said, Edward: 161Sá, José César de: 356Salavisa, Isabel: 105Salazar, António de Oliveira: 33, 35 ‑6,

40, 48, 251, 343Sampaio, Jorge: 89Sanches, José Luís Saldanha: 81, 86, 93,

127, 300, 324, 330, 333Santo, Moisés Espírito: 71, 269Santos, António Antunes: 269Santos, Carlos: 224

Santos, Emanuel: 92Santos, Fernando Brederode Rodrigues:

56, 299 ‑300, 325Santos, Fernando dos: 106Santos, José António Ribeiro dos: 79,

82 ‑3, 86, 88, 92, 94, 167 ‑8, 205, 228, 330

Santos, José Francisco Martins dos: 323Santos, José Hipólito: 42, 321, 340, 342 Santos, Luís: 144, 147Santos, Marcelino dos: 159Santos, Marques: 364Santos, Raimundo: 93Sanvoisin, Jean Bernard: 50Sá, Pinto de: 132 ‑3, 285, 339, 341, 367Saraiva, António José: 163, 189 ‑90, 240,

364Saramago, Violante: 86, 93Sá, Raul César de: 69, 220Sardinha, José Alberto: 92Sarmento, Alberto: 267Sarmento, Jacinta: 58Sarmento, Manuel: 332Sartre, Jean‑Paul: 269Sayre, Robert: 191, 310Schweitzer, J.B. von: 179Scott, James: 350Seabra, José Alberto: 139, 231, 342Semprun, Jorge: 281Sequeira, Amílcar: 355Serpa, José Luís: 133Serra, Jaime: 36, 158Serra, Manuel: 34Sertório, Manuel: 109 ‑10, 337Seth, Sanjay: 184Shanin, Teodor: 349Shwarz, Carlos: 70Silva, Alberto Vaz da: 89Silva, António: 330Silva, Armindo: 145 ‑6Silva, Artur: 117, 119 ‑21, 339Silva, Baptista da: 323Silva, Bela Laurinda da: 106Silva, Helena Vaz da: 89Silva, João: 133, 223Silva, Joaquim Palminha: 140, 342Silva, Joaquim Pinto da: 111

Silva, José Augusto da: 48Silva, José Marta e: 267Silva, José Vigário Santos: 237Silva, Licínio da: 106Silva, Mário: 45 ‑6, 65, 160Silva, Octávio Fonseca: 247Silva, Sebastião Santos: 323Silva, Victor Catanho da: 47 ‑8, 299 ‑300,

323Silveira, Onésimo da: 158Simão, Veiga: 219Sironi, Françoise: 282Slovo, Joe: 259Soares, Francisco Abreu: 150Soares, José Maria Martins: 89Soares, Mário: 89Soares, Victor: 300Soeiro, Renato: 356Sousa, Alcino de: 98, 334Sousa, Américo de: 37Sousa, João Ferreira de: 143Sousa, José de: 108 ‑9, 197Sousa, Teresa de: 144, 147Stephens, Julie: 19 ‑21, 235Stevens, Cat: 238Sweezy, Paul: 347

Tamen, Pedro: 89Tchekov, Anton: 334Teives, Duarte: 78 ‑9Teixeira, Blanqui: 37 ‑8Teles, Luís Galvão: 238Thompson, Paul: 23Thomson, Alistair: 286Thorez, Maurice: 16, 196Tinoco: 291Tito: 15 ‑6, 48Tocqueville: 161Togliatti, Palmiro: 16, 322Tomás, Américo: 55Tomás, Carlos: 133, 302Torres, Anália: 339Torres, João: 278Torres, José: 245, 270Torres, Luís Mendonça: 106Torres, Nuno: 278Trindade, Alfredo Manuel: 269

Trotsky, Leon: 18Tucídides: 23

Valadas, Jorge: 340Valente, João Pulido: 40 ‑3, 45 ‑7, 49 ‑51,

55, 57, 65, 139, 150, 290 ‑1, 296 ‑7, 299‑‑302, 307, 323 ‑4

Varela, Fernando: 68, 70Vasconcelos, Álvaro: 71 ‑2Vasconcelos, António Pedro: 238Vasconcelos, Carlos: 85Vasconcelos, Pedro Bacelar de: 103, 113,

168, 212 , 214, 220, 335, 355Vasques, Tomás: 145 ‑7, 195Vaz, Manuel: 45Veiga, Virgínia da Silva: 86Veloso, Manuel Jorge: 238Veludo, Teresa: 102Ventura, Isabel Pinto: 344Veríssimo, Alberto José: 269Veríssimo, Fernando da Silva: 323Vian, Boris: 263, 363Vicente, Fernando: 48Vieira, Joaquim: 133, 302Vilarigues, Sérgio: 38, 40Vilar, José Carvalho: 50 ‑1Vilas‑Boas, Pedro: 344Vintém, António Bento: 58, 137, 139 ‑40,

326Vintém, Maria Adelaide: 139Viola, Lynne: 181Viseu, António: 55, 119, 124Vovelle, Michel: 27

Wada, Haruki: 349Weber, Max: 21Wengorovius, Vítor: 89

Xiaoping, Deng: 157

Zancarini-Fournel, Michelle: 209Zanotti, Carlos: 72Zasulich, Vera: 349Zenha, Salgado: 89

Agradecimentos

Este trabalho corresponde, com alguns cortes e alterações, à tese de doutoramento que defendi na Universidade de Coimbra a 22 de Mar­ço de 2011. As minhas primeiras palavras de agradecimento dirigem­­se ao júri das provas, composto por Fernando Rosas, José Manuel Lopes Cordeiro, Amadeu Carvalho Homem, Paula Godinho e Rui Bebiano, não só pelas importantes observações efectuadas em sede de defesa, mas também pela capacidade de transformar um momen­to académico numa verdadeira sessão de debate e julgamento crítico.

Gostaria também de deixar algumas palavras de sincero apreço e reconhecimento a todos aqueles e aquelas que me deram um apoio especial ao longo desta caminhada. Em cada texto habitam sempre mais vozes do que a singular assinatura deixa decifrar, e este não é excepção.

Em primeiro lugar, cabe ­me efectuar um agradecimento público aos antigos activistas que acederam a reconstruir pedaços da sua vida e que assim foram duplamente responsáveis pela possibilidade deste estudo. Primeiro, como activistas; depois, como narradores. A dis­ponibilidade para partilhar memórias, para ceder documentos, para estabelecer contactos ou para elucidar episódios foi uma constante: tenho para com eles e elas uma enorme dívida que nenhum texto po­derá inteiramente saldar. São quase uma centena de mulheres e ho­mens cujos nomes aparecerão ao longo da tese e que se encontram listados no final.

Queria de igual modo agradecer a quem respondeu a e ‑mails, pos­sibilitou contactos ou deu esclarecimentos: é o caso de Alberto Ma­tos, Amadeu Lopes Sabino, Aurora Rodrigues, Carlos Gaspar, Eduar­do Graça, Joana Lopes, João Madeira, Horácio Crespo, José Charters

[398] margem de certa maneira

Monteiro, José Manuel Correia, Jorge Nascimento Fernandes, Luís Chambel, Luís Fazenda, Luís Filipe Rocha, Paulo Bárcia, Pedro Alves, Pedro Martins Rodrigues, Raimundo Santos, Rui Cardoso e Vladimi­ro Guinot. Estou especialmente grato a José Manuel Lopes Cordeiro, Paula Godinho e António Monteiro Cardoso, com quem partilhei ân­sias e de quem recebi pistas abnegadas e incentivos valiosos.

Devo também sublinhar o acolhimento que me foi concedido no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES), do qual é um privilégio fazer parte. Para além dos colegas e investi­gadores, pródigos nos exemplos de profissionalismo, colaboração e amizade, compete ­me mencionar a ajuda pronta e constante do staff da biblioteca: Maria José Carvalho, Acácio Machado e Ana Correia. Também no Centro de Documentação 25 de Abril encontrei uma dis­ponibilidade que cumpre registar, indispensável para que este estudo pudesse ter visto a luz do dia. Tendo recebido um apoio constante de todos os profissionais que ali trabalham, beneficiei especialmente do auxílio e do conhecimento de Natércia Coimbra, José Carlos Patrício e Fernanda Ventura. Quero igualmente sublinhar o suporte impres­cindível que me foi proporcionado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, ao conceder ­me uma bolsa (SFRH/BD/22796/2005) que permitiu levar a cabo este projecto de doutoramento. Uma palavra ainda de agradecimento para o Instituto de História Contemporâ­nea da FCSH/UNL e para os colegas com quem mantive alguns pro­veitosos diálogos.

Gostaria, a terminar, de assinalar a minha profunda dívida para com duas pessoas sem as quais, por diferentes motivos, esta cami­nhada nunca teria arrancado. Refiro ­me, em primeiro lugar, a Rui Bebiano, orientador científico do projecto de doutoramento, que desde sempre o acompanhou com entusiasmo e proximidade. A ele estou grato pelos trabalhos inspiradores, pelas observações críticas, pelo estímulo pessoal e pelo impagável exercício da amizade. Além disso, o facto de ter sido um dos actores do universo estudado facili­tou aproximações ao tema e permitiu alguns contactos com antigos activistas.

A finalizar, queria ainda agradecer à Carla — pelo acompanha­mento, pela paciência, pelo conforto. E também pelo resto, que é o essencial.

Este livro foi composto em caracteres Hoefler Text e impresso pela Guide, Ar‑tes Gráficas, sobre papel Coral Book de 80 gramas, no mês de Outubro de 2011.