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AGRO ENERGIA

Mapa 2008 agroenergia

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Projeto Gráfico

Ribamar Fonseca | Supernova Design

Editoração eletrônica

Henrique Macêdo e Mayra Fernandes | Supernova Design

Revisão

Alessandro Mendes | Azimute Comunicação

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SebraeSEPN Quadra 515 – Bloco C – Loja 3270770-900 – Brasília – DFFone: (61) 3348-7100 – 0800-5700800www.sebrae.com.brPortal da Agroenergia: www.sebrae.com.br/setor/agroenergia

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Presidente do Conselho Deliberativo NacionalAdelmir Santana

Diretor PresidentePaulo Tarciso Okamotto

Diretor TécnicoLuiz Carlos Barboza

Diretor de Administração e FinançasCarlos Alberto dos Santos

Gerente da Unidade de Atendimento Coletivo –Agronegócios e Territórios EspecíficosJuarez Ferreira de Paula Filho

Gerente da Unidade de Acesso à Inovação e TecnologiaPaulo César Rezende Carvalho Alvim

Consultora de ConteúdoMarília Weigert Ennes

Coordenação TécnicaWang Hsiu Ching

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Sumário

Apresentação 7

1. Cenário energético no Brasil e no Mundo 9

2. Importância das energias renováveis para o Brasil e o mundo 27

3. A agroenergia no Brasil e o Plano Nacional de Agroenergia 34

4. Os segmentos da agroenergia no Brasil 37

4.1 Biodiesel 37

4.2 Resíduos e dejetos 42

4.3 Etanol 45

4.4 Florestas energéticas 52

5. Oportunidades e desafios para os pequenos negócios na agroenergia 58

6. Glossário 69

7. Fontes de consulta 72

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Apresentação

O cenário mundial aponta para o contínuo crescimento do consumo energético, o que desperta a consciência co-letiva para a necessidade de esforços mundiais que visem o aumento da produção e a diversificação da matriz ener-gética, de forma a suprir a demanda. Ao mesmo tempo, é necessário reduzir os impactos nocivos ao meio ambien-te, em especial os relativos ao aquecimento global, e suas conseqüências ao futuro do planeta.

Dessa forma, o esforço mundial e brasileiro para suprir as demandas energéticas volta-se, com atenção especial, aos processos mais sustentáveis dos pontos de vista eco-nômico, social e ambiental, revelando-se um importante espaço para o desenvolvimento da agroenergia a partir das potencialidades e vocações locais.

O Brasil, por suas características de país tropical e seu extenso território, apresenta condições inigualáveis para ocupar um importante papel mundial na agroenergia. Comparativamente ao mundo, o país apresenta significa-tiva disponibilidade de terras agricultáveis e condições de solo, clima e tempo que permitem o cultivo de variadas culturas. Dispõe também de um importante legado tec-nológico sobre biocombustíveis, que o deixa em condição ímpar no contexto mundial.

Este trabalho tem como objetivo apresentar um panorama da agroenergia no contexto do cenário energético do Bra-sil e do mundo. Apresenta também o Plano Nacional de Agroenergia para 2006 a 2011, abordando as suas cadeias produtivas, como conceituadas e utilizadas neste plano: etanol, biodiesel, florestas energéticas, resíduos e dejetos.

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Serão abordados também aspectos gerais normativos e regulatórios do mercado, programas e documentos de apoio. O trabalho adentra em vá-rios aspectos de cada segmento e termina com um capítulo dedicado às oportunidades de inserção dos pequenos negócios nas cadeias agroener-géticas.

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1. Cenário energético

no mundo e no Brasil

A energia é um dos vetores determinantes para o desen-volvimento no mundo. O crescimento populacional e as atividades econômicas demandam, de forma contínua e crescente, energia para responder às necessidades da vida humana tal qual vemos hoje. A energia derivada de várias fontes supre necessidades de iluminação, cocção, con-forto térmico das habitações (refrigeração e calefação), transporte (terrestre, marítimo e aéreo), motores, e fornos e caldeiras para as atividades domésticas e empresariais, tanto nas áreas urbana como rural.

A energia é derivada de diferentes fontes, que podem ser de origem fóssil (petróleo e derivados, carvão mineral e nuclear) e não-fóssil, denominada renovável, tais como hí-drica, solar, eólica, geotérmica e de biomassa.

A proporção do suprimento de energia dessas fontes varia ao longo do mundo, conforme dados da International Ener-gy Agency (IEA)1 para o ano de 2005. Os dados de supri-mento primário de energia coletados pela IEA e agrupados por blocos econômicos mundiais mostram que a oferta de

1 Internacional Energy Agency (IEA). Em português, Agência International de Energia (AIE). Foi fundada no período de 1973/74, durante a primeira crise do petróleo, para coordenar, no âmbito da Organização para o Desenvolvimento Econômico (OCDE), os esforços de suprimento de petróleo para os países membros da instituição. Atualmente, opera com informações e pesquisas que subsidiam a política energética dos países membros e cooperados em três eixos: segurança energética, desenvolvimento econômico e proteção ao meio ambiente. O Brasil é um dos países que mantém cooperação internacional com a OECD/IEA.

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energia total divide-se em 87,1% de origem fóssil e 12,9% de fontes renováveis.

A distribuição do suprimento energético pelos blocos econômicos pode ser observada no mapa: América do Norte, países da União Européia, leste europeu, países asiáticos (China, Japão e Coréia), países do Pacífico, América Latina e África.

Mapa dos indicadores de suprimento primário de energia Blocos econômicos 2005

ÁFRICA

AMÉRICALATINA

AMÉRICADO NORTE

(OCDE)

PACÍFICO(OCDE)

ORIENTEMÉDIO

PACÍFICO(OCDE)ÁSIA

EX-URSS EUROPA(OCDE)

EUROPA(NÃO-OCDE)

TOTAL Suprimento Primário de Energia – 2005 – (Mtep)

2.340 a 2.920 (2) 1.780 a 2.340 (1) 1.220 a 1.780 (0)

660 a 1.220 (3) 100 a 660 (4)

Fonte: IEA, estatísticas – total suprimento primário de energia 2005

http://www.iea.org/Textbase/country/maps/world/tpes.htm

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O suprimento de energia primária varia entre os blocos econômicos e está diretamente relacionado ao grau de desenvolvimento econômico. Nos países com processos econômicos mais consolidados, a demanda energética por habitante é mais elevada do que em países com economia em fase de consolidação ou em desenvolvimento.

Dados do IEA, disponíveis no balanço energético mundial de 2005 (2007, Key World Statistics, IEA pg 48), mostram uma produção de energia de 11.468 mtep2, proveniente das várias fontes, para o atendimento das necessidades de uma população mundial de 6,432 bilhões de habitantes, com média mundial de 1,78 tep per capita. Nos países mais desenvolvidos, como os da Comunidade Européia, os Esta-dos Unidos e o Canadá, a média é de 4,74 tep per capita. Na África, de 0,68 tep per capita. Na China e na América Latina, de 1,32 e 1,11 tep, respectivamente.

Dois terços do suprimento foram utilizados da seguinte maneira: indústria (26,4%), transportes (27,6%) e outros setores, como residencial, serviços públicos, comércio, agricultura e florestas (37,1%). Usos não energéticos cor-responderam a 8,9% do total.

O terço restante foi utilizado na produção de energia em refinarias de petróleo, usinas a carvão e nucleares, hidrelé-tricas e pequenas centrais hidrelétricas (PCH) e usinas a gás e outras transformações.

2 tep – toneladas equivalentes de petróleo – medida convencio-nada mundialmente para dimensionar o volume de energia derivadas das várias fontes nos balanços energéticos dos países.

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Suprimento de energia – Balanço Energético Mundial – 2005 – % e Mtep

2.354 Mtep (21%)

251 Mtep (2%)

721 Mtep (6%)

2.892 Mtep (25%)

1.149 Mtep (10%)61 Mtep (1%)

4.000 Mtep (35%)

Petróleo

Carvão

Gás

Combustível renovável e resíduos

Nuclear

Hidro

Outros renováveis

Fonte: Dados extraídos do Balanço Energético Mundial 2005, IEA,

http://data.iea.org/ieastore/statslisting.asp

Enquanto apenas 12,9% do suprimento de energia primária no mundo vinha de fontes renováveis de energia, no Brasil, esse percentual já era de 45,8%, com destaque para as energias hidrelétrica e provenientes de bio-massa (carvão vegetal e cana de açúcar).

As projeções do crescimento da demanda energética elaboradas pela IEA para o período de 1980 a 2030 são de 1,8% ao ano, calculadas com base nas tendências do aumento populacional e das atividades econômicas.

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Demanda mundial de energia primária Milhões de toneladas equivalentes de petróleo (Mtep) – 1980 a 2030

Fontes 1980 2000 2005 2015 2030 2005-2030

Petróleo 3106 3647 4000 4720 5585 1,3

Carvão 1786 2292 2892 3988 4994 2,2

Gás 1237 2089 2354 3044 3948 2,1

Nuclear 186 675 721 804 854 0,7

Fontes não renováveis 6315 8705 9967 12556 15381

Hidro 147 226 251 327 416 2

Biomassa e resíduos 753 1041 1149 1334 1615 1,4

Outras renováveis 12 53 61 145 308 6,7

Fontes renováveis 912 1320 1461 1806 2339

Total 7227 10023 11428 14362 17720

Fonte: Tabela elaborada a partir dos dados apresentados no World Energy Outlook

2007 – Global Energy Prospects: impacts of development in China & India p. 74.

Para atender a esse crescimento, a energia ainda depende-rá de forma marcante de fontes de origem fóssil, principal-mente do petróleo e derivados, do carvão mineral, do gás natural e do material nuclear, em menores proporções.

A parcela mais significativa no aumento da demanda ener-gética será proveniente dos países em fase de consolidação do desenvolvimento, tais como China, Índia, Brasil e Rússia, principalmente no setor de transportes e em áreas residen-ciais e industriais, evidentemente condicionadas às políticas nacionais de incentivo para essas modalidades. Além disso, evidencia-se a necessidade de promover o suprimento de energia elétrica e cocção (cozimento) com fontes mais mo-dernas de energia para 2,5 bilhões de pessoas que vivem em países em vias de desenvolvimento.

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Tal panorama sinaliza excelentes perspectivas para o desenvolvimento de novas fontes energéticas renováveis, que poderão se tornar fontes de suprimento de energia para a nova demanda, tanto nos países com o processo econômico em fase de consolidação como naqueles que estão em vias de desenvolvimento.

O maior ou menor uso percentual de energia renovável presente na ma-triz energética de cada país está diretamente relacionado às estratégias adotadas por eles no que se refere a investimentos em fontes energéticas para subsidiar seus respectivos processos de desenvolvimento econômi-co. Também representa o grau de desenvolvimento econômico, consi-derando-se a maturação do parque industrial e o nível de consumo da população (renda), assim como a disponibilidade de recursos naturais e seu aproveitamento para fins energéticos.

Assim, podemos observar que países como Estados Unidos, França, Reino Unido e Alemanha, que certamente dispõem de uma economia mais sóli-da e madura, têm em sua matriz energética baixa participação percentual de energia renovável, que varia de 1,1% a no máximo 7%.

Estes mesmos países citados encontram-se entre os maiores emissores de gases de efeito estufa (segundo o levantamento realizado para a definição das metas para redução de emissões, anexo 1 ao Protocolo de Quioto3), denotando o uso intensivo de energias a partir de fontes não-renováveis – derivados de petróleo, carvão mineral, gás e outros. Um dos indicadores utilizados é a emissão de CO2 por habitante,

3 Protocolo de Quioto é um tratado internacional, discutido e negociado em Quioto, no Japão, em 1997, ratifi cado em 1999 e em vigor desde 16 de fevereiro de 2004. Esse tratado estabelece compromissos para a redução, até 2012, de 5,2% da emissão dos gases que provocam o efeito estufa. Os países signatários terão que estabelecer planos para reduzir a emissão desses gases entre 2008 e 2012.

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calculada pelo IEA com base nas medições efetuadas pelo IPCC4 em 1996.

Dados de 2005 mostram que para a produção mundial de 11.468 Mtep de energia, a emissão de dióxido de carbono5 foi de 22.136 milhões de toneladas, uma média mundial de 4,22 tCO2/hab. Nos EUA, no mesmo período, a emissão foi de 19,61 tCO2/hab. No Canadá, foi de 17 tCO2/hab e no Brasil, de 1,77 tCO2/hab.

O compromisso firmado pelos 55 países signatários do Protocolo de Quioto, em fevereiro de 2005, prevê a redu-ção de 5% das emissões, com base em 1996, com ações efetivas de redução ou compensação para o período de 2008 a 2012. Do total das emissões, 10 países eram res-ponsáveis por 87,9%, dentre eles os EUA, com 36,1%. Apesar da significativa contribuição nas emissões, sendo individualmente o maior emissor, os Estados Unidos não ratificaram o Protocolo de Quioto.

4 Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). Em português, Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, entidade criada em 1988 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) com o objetivo de analisar informações científi cas, técnicas e socioeconômicas relevantes para entender os elementos científi cos de riscos provocados pelas atividades humanas que atuam sobre as mudanças climáticas, suas possíveis repercussões e as possibilidades de adaptação e redução dos mesmos.5 CO2 (Dióxido de Carbono) - um dos gases de efeito estufa - GEE.

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Relação dos 10 países e blocos econômicos que apresentam maiores volumes de emissões de dióxido de carbono - Anexo 1 - Protocolo de Quioto (2005)

Parte Emissões(Gg) - a Redução - b % CO2/Pop

1 Estados Unidos da América 4.957.022 92 36,1 19,612 Federação Russa 2.388.720 100 17,4 10,793 Japão 1.173.360 94 8,5 9,504 Alemanha 1.012.443 92 7,4 9,87

5Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda

584.078 92 4,3 8,80

6 Canadá 457.441 94 3,3 17,007 Itália 428.941 92 3,1 7,768 Polônia 414.930 94 3,0 7,759 França 366.536 92 2,7 6,1910 Austrália 288.965 108 2,1 18,41

Total dos 10 emissores 12.072.436 87,9Nota - Os Estados Unidos da América não ratificaram o Protocolo de Quioto

A prática de medidas para a redução dos gases de efeito estufa (GEE) ten-de a mudar o perfil desses indicadores. Há um reconhecimento em âmbito mundial de que parcela considerável das mudanças climáticas deve-se às emissões desses gases por derivados de petróleo, entre outras fontes. Como as mudanças climáticas6 afetam a todos, as pressões sociais e ambientais podem contribuir de forma favorável para transformar esse quadro.

Além desse esforço coletivo mundial e das políticas e programas dos países com compromisso efetivo de redução, o efeito adicional para a redução dessas emissões dos GEE pode ser obtido com o envolvimento de países sem a obrigatoriedade de redução, mediante a adoção de medidas mitigadoras do clima, contribuindo de forma positiva já para o primeiro período de validade do Protocolo de Quioto, de 2008 a 2012, a exemplo de alguns países da América Latina.

6 Ver Relatórios das mudanças climáticas no portal do Ministério de Ciências e Tecnologia – MCT – www.mct.gov.br

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Um dos aspectos cruciais que colaboram para a redução das emissões de GEE é o desenvolvimento de energia com fontes renováveis, de menor emissão de dióxido de car-bono, para o atendimento às demandas energéticas futu-ras. Contudo, isso depende fortemente de vários fatores, como políticas de incentivo de cada país na disponibili-dade de energéticos limpos e no uso deles, e mudanças nos padrões de consumo individual e nos padrões tecno-lógicos de produção industrial e agrícola, privilegiando as tecnologias limpas e sustentáveis.

O aumento da consciência ambiental e a escalada dos pre-ços do barril de petróleo são considerados fatores impor-tantes para a reversão desse quadro. Esse movimento pode gerar, em escala mundial, uma oferta de investimentos fi-nanceiros e tecnológicos com foco em fontes de energia renováveis, menos nocivas ao meio ambiente, e que se mostram mais compatíveis com processos de desenvolvi-mento sustentável e também economicamente viáveis.

Adicionalmente aos aspectos ambientais, o petróleo, em face de sua elevada importância na matriz energética mundial, apresenta dois fatores relevantes para o futuro: o primeiro deles é a concentração geográfica de sua produ-ção e reservas, visto que parte significativa encontra-se em áreas de conflito. O segundo refere-se aos seus sucessivos aumentos de preço. Assim, considerando que o petróleo e derivados ainda respondem por parcela significativa do suprimento energético, esses fatores conjugados podem tornar-se obstáculos ao desenvolvimento de muitos países dependentes de importações de petróleo.

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A produção mundial de petróleo, em 2006, foi de 3.936 milhões de to-neladas, das quais um quarto foi proveniente do Oriente Médio (Arábia Saudita, Emirados Árabes, Kuwait e Irã) e outro quarto de quatro países (Rússia, Nigéria, Venezuela e Canadá).

Esses mesmos países foram responsáveis por 60% das exportações mundiais, e os principais importadores foram Estados Unidos, Japão, China, Coréia, Índia e União Européia (Alemanha, Itália, França, Espa-nha e Países Baixos). Em 2005, esses países responderam por 69% das importações, com o equivalente ao consumo de 1.549 milhões de to-neladas de petróleo.

Isso significa que 50% da produção e 60% das exportações de petróleo estão concentrados em poucos países, sinalizando um equilíbrio assimé-trico no suprimento energético de muitos países, que representam parcela considerável da população mundial.

O aspecto econômico, bem como a insegurança em seu fornecimento, preço e concentração de reservas e produção, revela uma condição ím-par para os investimentos em energias renováveis. Essas novas fontes, a médio e longo prazo, podem se tornar mais atrativas comparativamente aos derivados do petróleo, cujos preços vêm apresentando oscilações sem precedentes.

O preço do barril de petróleo passa de US$ 18,68, em janeiro de 2002, para US$ 92,93, em janeiro de 2008, um aumento percentual na ordem de 397% em apenas seis anos. A escalada de preço do petróleo por bar-ril, em 2008, teve um acréscimo de 47%, atingindo em julho o valor de US$ 136,32 por barril. Mas, de julho até novembro de 2008, o preço do petróleo por barril apresentou declínio abrupto, atingindo, em novem-bro, a marca de US$ 52,19, padrão equivalente aos preços praticados em 2005.

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Esse cenário de bruscas oscilações de preços do petróleo reforça a necessidade do investimento na diversificação das fontes da matriz energética mundial. As incertezas de suprimento e preços são ainda mais graves quanto maior for a dependência dos países dessa fonte em sua matriz energética e de importações de petróleo e derivados.

As lições do passado com os dois choques do petróleo que afetaram a economia mundial e as preocupações ambien-tais são fatores determinantes e orientam as novas políti-cas energéticas em curso em muitos países.

Petróleo – Preço FOB (mercado spot), estimado por volume de exportação (dolar por barril) de todos os países – período de

1978 a 2008

020406080

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US$

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Série 1

Fonte: http://tonto.eia.doe.gov/dnav/pet/pet_pri_wco_k_w.htm

A diversificação de fontes energéticas tem sido uma preocu-pação mundial desde as crises do petróleo nas décadas de 70 e 80 do século passado. Convulsionados pelo aumento dos derivados de petróleo e pela alta dependência energé-tica, muitos países promoveram um conjunto de ações para substituir parte da energia proveniente do petróleo e seus derivados. Despontam entre elas as energias hidrelétrica, nu-clear, eólica, solar (células fotovoltaicas) e a gás natural.

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O carvão mineral e o gás ocupam uma posição importante na matriz ener-gética mundial, correspondendo a 25% e 21%, respectivamente. A energia nuclear tem participação de 6% do total. Segundo a World Nuclear Asso-ciation7, em outubro de 2008, 32 países contam com 439 usinas nucleares, que asseguram a produção de 15% da geração de energia elétrica, equi-valente a 373,25 Megawatt net. Os países europeus lideram a produção de energia elétrica com base nuclear, com 198 usinas, seguidos dos países asiáticos, com 105 usinas. No que se refere à energia nuclear, ainda persiste como fator crítico ao seu desenvolvimento as questões relativas à disposi-ção do lixo radiativo e ao elevado custo no processamento do urânio.

As fontes de energias renováveis representam 12,9% do suprimento de energia primária mundial e são compostas pelo aproveitamento hídrico, so-lar, eólico e de combustíveis renováveis, além de resíduos urbanos e rurais.

Brasil

O Brasil destaca-se na produção de energia renovável por apresentar uma matriz energética mais limpa, com alta participação de fontes renováveis, que representaram, em 2007, 46,4% da oferta interna de energia. Do conjunto da oferta de energia renovável, destaca-se a energia produzida pelo aproveitamento do potencial hídrico, em função da bacia hídrica brasileira contar com grande presença de rios de planalto, e pela produ-ção de etanol (álcool anidro e hidratado), a partir do cultivo da cana-de-açúcar, que prospera com elevada produtividade por hectare nas regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste do país.

Na tabela a seguir pode ser observada a distribuição da oferta de energia primária organizada por origem das fontes – não-renováveis e renováveis. O ano de 1980 foi um marco pela entrada do etanol e, a partir do ano 2000,

7 Reactor data: WNA to 30/09/08 – http://www.world-nuclear.or/info/reactors.html

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podemos observar a participação progressiva das energias derivadas de fontes renováveis na oferta energética.

Demanda brasileira de energia primária Milhões de toneladas equivalentes de petróleo (Mtep) -

1980, 2000, 2005, 2006 e 2007

Fontes 1980 2000 2005 2006 2007 2007 (%)

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l Petróleo 55,4 86,7 84,6 85,5 87,9

Carvão 5,9 13,6 13,7 13,6 14,8 53,59

Gás 1,1 10,3 20,5 21,6 22,3

Nuclear 0 1,8 2,5 3,7 3,3

Ener

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l

Hidro 11 30 32,4 33,4 35,3

Biomassa - lenha e carvão vegetal

31,1 23,1 28,5 28,6 29,9

46,41Biomassa e resíduos - cana de açúcar

9,2 20,8 30,1 32,8 38,4

Outras renováveis 0,2 5,3 6,3 6,7 7,5

Total 113,9 191,6 218,6 225,9 239,4 100

Fontes: Tabela elaborada a partir do Balanço Energético Nacional - sumário

executivo 2007 - pg 19 e resultados preliminares do BEN 2008

O atual perfil do suprimento energético brasileiro é deri-vado de uma série de decisões políticas, adotadas, ao lon-go do século passado, em distintas etapas de seu proces-so de desenvolvimento. A dimensão continental do país, as diferenças econômicas e regionais, a necessidade de integração econômica e a alta dependência das exporta-ções de petróleo, no século passado, constituíram-se sem dúvida em um desafio que possibilitou grandes avanços na busca de auto-suficiência energética brasileira.

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Diferentemente de outros países, o Brasil apresenta indicadores muito expressivos na produção de petróleo, atingindo, em 2007, uma produ-ção de 87,9 Mtep, que lhe permite suprir a demanda interna. De 1998 a 2007, a indústria do petróleo no páis marcou importantes conquistas, com o aumento significativo de 83% na produção, que passou de 1,0 milhão de barris/dia (1998) para 1,8 milhão de barris/dia (2007). No mes-mo período, ampliou sua capacidade de refino em 12%, passando de 1,7 milhões de barris/dia para 1,8 milhões de barris/dia. Adicionalmente, receitas descobertas de reservas do pré-sal, com estimativas da Petrobrás de volume recuperável de 5 a 8 bilhões de barris para o prospecto de Tupi e de 3 a 4 bilhões para o prospecto de Iara, possibilitam que o país esteja, nos próximos anos, entre os dez maiores produtores de petróleo do mundo.

Entretanto, o país segue investindo também em fontes renováveis de energia – hidro e biomassa. A biomassa derivada da cana-de-açúcar e de resíduos atingiu 16% no provimento de energia de fontes renováveis na matriz energética brasileira, segundo dados do BEN 2008 – resul-tados preliminares. A perspectiva é de que futuramente essas fontes renováveis sejam ampliadas com o uso de biomassas processadas com tecnologias mais modernas. Nesse sentido, o Brasil está investindo em pesquisas para a produção de etanol a partir da celulose, e em pesqui-sas agropecuárias, com estudos sobre oleagionosas, aptidões agrícolas e produtividade. A finalidade é otimizar a produção de biodiesel. Essas novas fontes têm como objetivo garantir o suprimento de biocombustí-veis para o setor de transportes, que apresenta significativa importância no consumo de derivados de petróleo.

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Demanda brasileria de energia primária – 2007 (Mtep)

Gás9%

Outras renováveis3%

Biomassa e resíduos - cana-de-açúcar

16%

Biomassa - lenha e carvão vegetal

13%

Hidro15%

Nuclear1%

Carvão8%

Petróleo37%

Fonte: Resultados preliminares do Balanço Energético Nacional (BEN) 2008,

Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Ministério de Minas e Energia (MME)

As demandas de desenvolvimento socioeconômico do Brasil, a partir da década de 70, período em que o país começou a diversificar e adensar o seu parque industrial e elevar o grau de urbanização com o aumento populacional nas cidades, foram parcialmente atendidas por massivos investimentos em fontes de energia próprias renováveis (hídrica e de bio-massa) e na prospecção de petróleo em território brasileiro e na produção de derivados.

Os fatos externos que geraram essa decisão foram os dois choques do petróleo ocorridos nas décadas de 70 e 80 do século passado. A súbita elevação de preços, em 1973, de

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US$ 2,90 o barril para US$ 11,65 num curto espaço de tempo, associada ao riscos de abastecimento, constituíram-se em fatores determinantes para o redirecionamento dos investimentos da área energética, considerado o fato de que na época o Brasil apresentava alta dependência dos derivados de petróleo adquiridos no mercado internacional por preços muito elevados.

Ao longo desse processo de redirecionamento de investimentos na área energética, o Brasil adquiriu invulgar experiência e expertise na produção de etanol. O nosso país se destaca como um dos players do biotrade8 no mercado mundial, com produção de etanol altamente competitiva. Para-lelamente, investimentos na área de petróleo e gás, com prospecção de bacias petrolíferas na costa brasileira e com capacidade instalada de refi-no de produtos derivados de petróleo, garante-nos condição de subsistir às crises presentes ou futuras, seja pelo aumento ainda maior de preço, seja pelo risco de suprimento.

Outro ponto positivo foram os investimentos governamentais em progra-mas de desenvolvimento de pesquisa para fontes energéticas alternativas, que consistiram na aplicação de recursos para investimentos públicos (au-mento da capacidade tecnológica) e privados (recursos para instalação e capacidade produtiva). Dentre os investimentos realizados destacam-se os estudos de tecnologias próprias e adaptadas às condições climáticas brasileiras. Os programas que receberam recursos governamentais foram o Proálcool, o Pró-óleo e o Próbiogás, que, embora descontinuados, dei-xaram seus legados no meio científico e em organizações governamen-tais e não-governamentais.

8 "Players do Biotrade" - empresa ou países com relevante participação no mercado de bioenergia ou agroenergia.

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A seguir, listamos importantes programas brasileiros que contribuem para o desenvolvimento de energia a partir de fontes renováveis:

Área ou ProdutoProgramas, projetos e medidas de incentivo

Metas

BiodieselPrograma Nacional de Biodiesel

Produção de biodiesel com mistura obrigatória de 2%, de 2008 a 2012, e 5% a partir de 20139

Fontes renováveis – eólica, hídrica e biomassa

Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa)

Contratação de 3.300 MW de energia no Sistema Interligado Nacional (SIN), produzidos por fonte eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), sendo 1.100 MW de cada fonte.

Eficiência energética industrial e controle de poluição ambiental – cidades

Programas diversos de eficiência energética e de controle de poluição ambiental

As metas dos vários programas de eficiência energética estão condicionadas às características de cada localidade, nos quais os programas estão em execução.

Álcool anidro e hidratado

Lei nº 8.723, de 28 de outubro de 1993, eDecreto lei nº 4.317, de 31 de julho de 2002.Projeto BioEthanol for Sustainable Transport (Best)

Percentual de mistura de álcool anidro entre 20 e 25% na gasolina. Redução de alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os veículos Flexfuel. Uso de ônibus movido a álcool para transporte urbano.

No âmbito mundial e brasileiro, significa que no presente e no futuro, em que pese ainda a importância do petróleo e derivados como fonte dominante na matriz energética mun-dial, as fontes renováveis devem crescer em participação,

9 Resolução nº 2, de 13 de março de 2008, estabelece a antecipação da meta intermediária de 3% de biodiesel, percentual mínimo obrigatório de adição de biodiesel ao óleo diesel comercializado ao consumidor fi nal, a partir de 1º de julho de 2008, Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), Ministério de Minas e Energia (MME).

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influenciadas pelas políticas públicas e pelas mudanças nos padrões de consumo das atividades econômicas e do consumo individual.

Importante destacar também que esforços também se voltam na busca de maior eficiência energética e uso racional da energia no Brasil e no mundo. Alguns estudos enfatizam esses esforços como essenciais para atender ao suprimento energético futuro das nações, a exemplo do Do-cumento sobre o Cenário Brasileiro, elaborado pelo Greenpeace10.

10 www.greenpeace.org.br/energia/pdf/cenario_brasileiro.pdf

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2. A importância das energias

renováveis para o Brasil e o mundo

A sociedade contemporânea estabeleceu o seu desenvol-vimento econômico com base na utilização intensiva de fontes energéticas de origem fóssil e hoje se defronta com a necessidade de alterar substancialmente a matriz ener-gética, intensificando o investimento e o uso de energia a partir de fontes alternativas, preferencialmente renováveis e sustentáveis do ponto vista social, econômico e ambiental.

A instabilidade de preço e suprimento do petróleo, dado que as maiores reservas estão em áreas de conflito (Orien-te Médio), e o risco das alterações climáticas derivadas da liberação excessiva de gases de efeito estufa pelo elevado consumo de combustíveis fósseis recomendam a busca de alternativas energéticas menos poluentes e com perspecti-vas de renovação continuada.

O milênio que adentramos é marcado por uma nova cons-ciência ambiental mundial, revelada por uma preocupa-ção latente em todos os países de que é necessário um esforço conjunto com vistas a assegurar uma perspectiva de desenvolvimento social, econômico e ambiental basea-do numa nova ótica, ou seja, na sustentabilidade.

Uma marca histórica é o relatório produzido por cientistas integrantes do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, em inglês, Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). Criado em 1988 pela Organização Meteo-rológica Mundial (OMM) e pelo Programa das Nações Uni-das para o Meio Ambiente (Pnuma), o IPCC tem o objetivo de avaliar informações científicas, técnicas e socioeconô-micas disponíveis no campo de mudança do clima.

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O alerta ao mundo, dado pelos estudos do IPCC, sinaliza que haverá um aumento das emissões de gases de efeito estufa, se mantidas as mesmas condições de desenvolvimento socioeconômico e ambiental. Há uma preocupação crescente de que se não houver medidas de reversão do quadro climático a partir de agora, em meados ou ao final deste século, as atividades do homem terão mudado as condições básicas que possibi-litaram o aparecimento de vida sobre a Terra.

Os estudos apresentados baseiam-se na formulação de cenários que, em-bora não sejam determinísticos, suscitam a necessidade de mudanças de paradigmas por meio da adoção de medidas, políticas e programas de amplo espectro, que corrijam as distorções e as desigualdades mundiais com vistas a assegurar vida digna para as futuras gerações.

Assim, são estabelecidos tratados entre as nações, atos sem precedentes na história da humanidade, manifestados de maneira formal por um acor-do entre 175 países com a assinatura da Convenção - Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e, mais recentemente, com a assinatura e o compromisso firmado com o Protocolo de Quioto.

Convenção - Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima11

1994 – Assinada em 1992 e em vigor desde 1994, a Convenção - Qua-dro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima foi firmada por 175 países membros das Nações Unidas. O estabelecimento da convenção significa, em primeiro lugar, que há reconhecimento de que a mudança do clima é um problema ambiental real e global; e, em segundo lugar, que elas decorrem da interferência humana.

11 Textos técnicos e documentos das Conferências das Partes (COP). Ver texto na íntegra no site www.mct.gov.br, mudança do clima “Guia para iniciantes”, com cópia dos itens em negrito.

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Indica também que há necessidade de cooperação internacional na solução da emissão de gases que contribuem com o efeito estufa. É necessário redu-zir ou adequar o fluxo das emissões de forma que a ação humana não afete o clima ou que as mu-danças dela decorrentes ocorram lentamente, e por conseqüência assegurem produção de alimentos e desenvolvimento econômico sustentável.

Protocolo de Quioto12

2005 – Foi estabelecido em 1997 e entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, com a assinatura de 55 países. O Procotolo estabelece metas de redução de gases de efeito estufa para os principais países emissores, cha-mados países do anexo I do Protocolo. Além disso, o acordo estabelece mecanismos de financiamento não monetários e monetários – créditos de emissões entre países e projetos de implementação conjunta e coo-peração via Mecanismos de Desenvolvimento Limpo entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Os países, os governos e os cidadãos não demoraram em responder ao apelo. Inúmeras iniciativas, tais como medidas restritivas na emissão de gases poluentes, novos padrões de consumo e programas de incentivos à produção de energia limpa, se multiplicam em todos os cantos do mundo.

As fontes de energias renováveis apresentam significati-vos avanços em vários países. A legislação da Comunidade

12 Idem item 11

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Européia tem estimulado o desenvolvimento de fontes de energias re-nováveis para a produção de eletricidade e biocombustíveis. A política energética da União Européia tem várias diretrizes e ações destinadas ao incentivo da produção de energia com origem nas fontes renováveis – biomassa, eólica e hídrica, entre outras – e ao uso delas nos setores de transporte e residencial.

A política correspondente a biocombustíveis encontra-se descrita e delineada no Plano de Ação de Biomassa13, lançado em 2005. Esse plano estimula a utilização de florestas (reflorestamentos e resídu-os florestais), produção agrícola e resíduos agrícolas como insumos energéticos para suprir as demandas para calefação e eletricidade nos setores residencial, industrial, comercial e de transporte, com desta-que para o uso de biocombustíveis em transporte individual, de carga e urbano. Complementa o plano a disponibilização de recursos para investimento em pesquisas de segunda e terceira geração para apro-veitamento da biomassa.

A política com relação às demais fontes renováveis constitui-se de incen-tivos para a aplicação de recursos no fornecimento de energia elétrica derivada de fontes alternativas, tais como eólica, biogás e pequenas cen-trais hidrelétricas, com tarifas atrativas e que viabilizem os investimentos do setor nascente.

Essas políticas já apresentam medidas práticas, como a disponibilização de biodiesel para mistura de 2% a partir de 2005, tornando obrigatória a adi-ção de 2% em janeiro de 2008 e 3% a partir de 1º de julho.

13 http://ec.europa.eu/energy/res/biomass_action_plan/doc/2005_12_07_comm_biomass_action_plan_en.pdf – Comission of the European Communities, Bruxelas, 7.12.2005.

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A Alemanha destaca-se pela produção de energia elétri-ca com base no maior parque eólico do mundo, com 12 usinas, e previsão de expansão para 19614. No uso de bio-diesel, destacam-se Espanha, Portugal e Grécia, com eleva-dos investimentos em produções de energia tanto eólica quanto solar com sistemas fotovoltaicos. A Índia também se destaca com investimentos em energia eólica, solar e biodigestores, sendo uma das precursoras na tecnologia e uso de biogás.

Os Estados Unidos, mesmo não tendo ratificado o Pro-tocolo de Quioto, apresentam avanços no uso de fontes renováveis, com investimentos na energia eólica para a produção de eletricidade e produção de etanol, a partir do milho, como biocombustível.

A busca de alternativas rumo a uma transição segura para um ambiente de oferta energética sustentável por meio das energias renováveis, tais como a solar, hídrica e as de origem de biomassa, passa a ser considerada vital no processo.

No Brasil, as perspectivas para maior inserção das energias renováveis na oferta primária da matriz energética brasilei-ra encontram-se apresentadas no Plano Nacional de Ener-gia (PNE) 203015, elaborado pelo MME/EPE. O PNE avalia a oferta e a demanda de energia futura segundo quatro cenários, construídos a partir de premissas tais como maior

14 Belini, Leandro, A caminho das Energias Renováveis – 2006, Unesp, nota técnica apresentada no III Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade (Anppas).15 MME – Plano Nacional de Energia 2030, Empresa de Pesquisa Energética (EPE) 2005

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ou menor dinamismo econômico e integração econômica com a proje-ção de vários indicadores macroeconômicos selecionados entre eles. São eles: crescimento populacional, grau de urbanização, expansão do Produ-to Interno Bruto (PIB) e evolução da renda per capita. Esses indicadores permitem que se desenhe futuros prováveis para o país, condicionados a determinadas variáveis socioeconômicas.

A partir desses cenários, o governo e a sociedade civil estabelecem po-líticas de desenvolvimento para a infra-estrutura do país e direcionam investimentos privados.

Como o PNE avalia a oferta e a demanda energética, temos, consideran-do-se os cenários traçados, tanto no que apresenta maior dinamismo econômico como no de menor dinamismo econômico, o petróleo e seus derivados ainda com relevante participação na oferta de energia. Con-tudo, há um prognóstico de notável expansão da energia com base em fontes renováveis.

Com respeito às fontes renováveis, pelo menos duas delas são considera-das mais promissoras para a elevação da oferta de energia com processos mais sustentáveis: maior penetração dos combustíveis líquidos – etanol e biodiesel, usados no setor de transporte, e diversificação de fontes ener-géticas para o suprimento elétrico por meio do aproveitamento dos resí-duos urbanos na forma de biogás de aterros e digestão anaeróbica e da incineração e ciclo combinado otimizados.

Pelas condições climáticas brasileiras, também há boas perspectivas para a expansão da oferta elétrica com a ampliação do parque eólico e a ado-ção de sistemas fotovoltaicos, proporcionando suprimento de energia elétrica principalmente para as áreas mais isoladas das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

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Embora o cenário não trabalhe com ênfase nas cadeias agro-energéticas, sinaliza para o crescimento dos biocombustíveis. Contudo, pelas pressões sociais, pelos acordos mundiais com relação às mudanças climáticas e pelos significativos aumentos do preço do petróleo e de seus derivados, as fontes energéticas renováveis e em especial as de origem na biomassa, denominada de agroenergia, podem ganhar maior destaque neste milênio.

A definição do termo agroenergia trata do conjunto de produtos derivados da biomassa, produzidos ou liberados pela atividade humana ou animal, que possam ser trans-formados em fontes energéticas para usos distintos: eletri-cidade, calor e transporte.

O Brasil, por fatores de clima e extensão territorial, posição destacada do país na produção agropecuária no cenário mundial, apresenta vocação natural para a agroenergia. O aproveitamento desses resíduos, convertendo-os em ener-gia ou outros co-produtos, é uma política ambientalmen-te sustentável e pode significar, em muitos casos, redução de vulnerabilidade perante legislação ambiental, redução de custos para seus processos produtivos e menor depen-dência externa de outras fontes de energia.

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3. A agroenergia no Brasil e o Plano

Nacional de Agroenergia

O Brasil é signatário do Protocolo de Quioto e mesmo não tendo a obrigatoriedade, até o momento, de cumprir metas de redução de gases de efeito estufa (GEE), assumiu o compromisso de partilhar do esforço mundial para reduzir as emissões domésticas. Para isso, conta com vantagens comparativas em relação aos demais países, em função de clima e disponibilidade de área para massificar os investimentos na produção agrícola de suporte à agroenergia sem necessariamente afetar a segurança alimentar.

Como uma das medidas de apoio para mitigar os efeitos dos gases de estufa, lançou o Plano Nacional de Agroenergia para o período de 2006 a 201116, que visa estabelecer marco e rumo para as ações públicas e priva-das de geração de conhecimento e de tecnologias que contribuam para a produção sustentável da agricultura de energia e para o uso racional dessa energia renovável. Tem por meta tornar competitivo o agronegócio brasi-leiro e dar suporte a determinadas políticas públicas, como a inclusão so-cial, a regionalização do desenvolvimento e a sustentabilidade ambiental:

Garantir a interiorização e a regionalização do desenvolvimento,

com base na expansão da agricultura de energia e na agregação de valor às cadeias produtivas a ela ligadas;

Criar oportunidades de expansão de emprego e de geração de ren-

da no âmbito do agronegócio, com mais participação dos peque-nos produtores;

16 Plano Nacional de Agroenergia, 2006-2011,2ª edição revisada, Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), Secretaria de Produção de Energia, Embrapa Informação Tecnológica – 2006, documento disponível em versão pdf no site http://www.agricultura.gov.br/pls/portal/docs/page/mapa/planos/pna_2006_2011.

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Contribuir para o cumprimento do compromisso bra-

sileiro no Protocolo de Quioto e possibilitar o aprovei-tamento das oportunidades que o acordo favorece para a captação de recursos de crédito de carbono;

Induzir a criação do mercado internacional de biocom-

bustíveis, garantindo a liderança setorial do Brasil;

Otimizar o aproveitamento de áreas resultantes da

ação humana sobre a vegetação natural (áreas an-tropizadas), maximizando a sustentabilidade dos sistemas produtivos, desestimulando a expansão injustificada da fronteira agrícola e o avanço rumo a sistemas sensíveis ou protegidos. Desenvolver soluções que integrem a geração de agroenergia à eliminação de perigos sanitários ao agronegócio.

Esse Plano aborda os segmentos de etanol, biodiesel, florestas energéticas e resíduos e dejetos, a partir da sua atual estrutura produtiva e de suas potencialidades com vistas a assegurar maior participação do segmento de agroenergia na oferta primária da matriz energética nacional.

Lançado em dezembro de 2004, o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), além de sua inegável contribuição para a melhoria ambiental, traz como princi-pais diretrizes a implantação de um programa sustentável, com ações promotoras de inclusão social, e a garantia de preços competitivos, qualidade e suprimento, por meio da produção do biodiesel a partir de diferentes fontes oleagi-nosas e em regiões diversas.

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Ainda no esforço de viabilizar a produção e uso do biodiesel no país, foi criada a Embrapa Agroenergia17, com a missão de viabilizar soluções tecnológicas inovadoras para o desenvolvimento sustentável e equitativo do negócio da agroenergia do Brasil. A sua atuação se dá de acordo com as seguintes linhas estratégicas:

Integração de políticas públicas e arranjos privados;

Sistemas de produção agrícola sustentáveis x eficiência de processos

industriais;

Agricultura de alimentos e agricultura de energia;

Estudos detalhados de competitividade e oferta de longo prazo das

principais commodities agroenergéticas no Brasil e no mundo;

Balanço energético de culturas alternativas para biocombustíveis, com

enfoque regional;

Produtividade agrícola da água em termos energéticos (em curto e

longo prazos);

Estruturar redes de PD&I e de negócios tecnológicos, com enfoques

regionais.

O primeiro plano de trabalho que está sendo finalizado deve cobrir o perío-do de 2008 a 2011, com ênfase nas pesquisas de oleaginosas e de etanol.

17 A Embrapa Agroenergia foi criada pela Resolução do Conselho de Administração nº 61, de 24 de maio de 2006, e tem sede em Brasília-DF – http://www.cnpae.embrapa.br.

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4. Os segmentos da

agroenergia no Brasil

O Brasil destaca-se no panorama mundial pelo elevado uso de fontes renováveis em sua oferta primária de ener-gia. Em 2004, o governo formulou o Plano Nacional de Agroenergia para o período de 2006 a 2011, com a pers-pectiva de direcionar investimentos nas áreas tecnológicas e estimular o desenvolvimento empresarial nas cadeias de-nominadas de agroenergéticas: biodiesel, etanol, florestas energéticas e aproveitamento de resíduos e dejetos. Na seqüência, encontram-se apresentados os perfis dessas cadeias, tal como se encontram estruturadas. É importan-te salientar que, à exceção da produção de etanol (álcool anidro e hidratado), que conta com uma estrutura agroin-dustrial desenvolvida, as demais cadeias agroenergéticas estão se delineando e se conformando na medida em que novos investimentos e mercados se consolidam.

4.1 Biodiesel

O Brasil é um dos precursores na criação do biodiesel, considerando-se as fórmulas mais contemporâneas de seu uso, e desponta no mundo como um dos primeiros países a registrar uma patente.

Para alicerçar essa política, o governo criou mecanismos tributários e fiscais (isenções), que incentivam empreendi-mentos para produção de biodiesel consorciados com pe-quenos produtores, distinguindo-os com o Selo de Com-bustível Social e priorizando as compras via leilões para essas empresas como forma de acelerar os benefícios de geração de renda para a agricultura familiar.

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A regulamentação referente a mercado e incentivos começa a conformar a estrutura produtiva de biodiesel no país. São perceptíveis, pelas infor-mações obtidas até agora, pelo menos três conjuntos de empresas com características distintas com destaque no processo produtivo:

1) Produtoras de óleo de soja cuja estrutura está lastreada em gran-des empreendimentos, reconhecidos pela alta tecnologia e exten-sas áreas e já consolidados no mercado de óleo. Essas empresas vislumbraram, com a entrada do biocombustível, novas oportuni-dades para um mercado novo com demanda crescente tanto inter-na quanto externamente. Visam, portanto, melhor aproveitamen-to da sua matéria-prima (soja), comprovado pelo fato de várias empresas do setor de óleos vegetais estarem ou com usinas para o processamento de biodiesel já instaladas ou em planejamento, em associação com as plantas industriais existentes;

2) Empresas também já consolidadas no mercado de outros segmen-tos de óleo e combustíveis, que também detectaram como favorá-vel o novo mercado emergente tanto no âmbito nacional quanto internacional;

3) Novas empresas especificamente projetadas para a produção de biodiesel, das quais parcela significativa foi concebida para operar no modelo integrado a pequenos produtores, com vistas aos be-nefícios fiscais decorrentes do selo social.

O programa conta com um marco legal composto por decretos, por-tarias e instruções normativas que apóiam o disciplinamento do novo mercado. A inclusão do biodiesel na matriz energética brasileira está am-parada pela Lei n° 11.097/05, aprovada pelo Congresso Nacional em 13 de janeiro de 2005.

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A Agência Nacional do Petróleo (ANP) recebeu delega-ção para atuar na regulação do mercado do segmento biodiesel, da mesma forma que atua na regulação, na contratação e na fiscalização das atividades econômicas integrantes da indústria do petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis.

Para promover a inclusão social, o governo instituiu o Selo de Combustível Social, concedido pelo Ministério de De-senvolvimento Agrário (MDA) a empresas que possuam um projeto de produção de biodiesel com aquisições míni-mas de matéria-prima dos agricultores familiares, segun-do estabelecido na Instrução Normativa no 01, do MDA, de 05 de julho de 2005.

As empresas contempladas com o Selo Combustível Social podem ter seus projetos financiados em condições espe-ciais, a juros menores. Contam, também, com benefícios tributários, como a redução de alíquotas de PIS/Pasep e Cofins e a possibilidade de participação nos leilões de aquisições de biodiesel organizados pela ANP.

Outras duas medidas que dão suporte ao PNPB são: área de pesquisa e desenvolvimento e recursos financeiros para investimento e custeio.

A área de pesquisa e desenvolvimento, responsável pela melhoria das matérias-primas, das tecnologias de cultivo e dos processos produtivos, representa um aspecto estra-tégico para a consolidação do segmento. Assim, o PNPB garante ao segmento uma oferta de recursos com vistas ao desenvolvimento tecnológico por meio de iniciativas

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regionais e estaduais que compõem uma rede de instituições com pro-gramas de desenvolvimento nas diversas especialidades requeridas pelo biodiesel.

Além disso, existe disponibilidade de recursos financeiros para investi-mento e custeio no Programa de Apoio Financeiro a Investimentos do Biodiesel, implantado pelo BNDES, e no Programa Nacional de Fortaleci-mento da Agricultura Familiar (Pronaf).

Os avanços do setor ainda estão condicionados à instalação das unidades processadoras e à oferta das matérias-primas oriundas de oleaginosas. No período de estruturação do setor de produção agrícola destinada ao biodiesel, parte significativa do processamento está sendo abastecida por soja e sebo animal.

Os investimentos desse setor seguem um calendário criado pela regulamen-tação que estabelece a entrada do biodiesel na matriz energética brasileira, conferida pela Lei 11.097, de janeiro de 2005. Uma meta intermediária de 3% passou a valer desde primeiro de julho de 2008, de acordo com a resolu-ção no 2 do CNPE/MME. A meta de B5 (adição de 5% de biodiesel ao diesel) permanece para a partir de 2013.

O Programa Nacional de Biodiesel, em sua vertente de inclusão social, pre-vê a inserção de pequenos produtores agrícolas na cadeia agroenergética, principalmente na produção agrícola, com incentivos tributários diferen-ciados para as regiões Norte e Nordeste18.

18 Instrução Normativa do MDA nº 01, de julho de 2005, dispõe sobre os critérios e procedimentos relativos à concessão de uso do Selo Combustível Social

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Incidência de PIS/PASEP e Cofins sobre os produtores de biodiesel,

(Decreto 5.297) R$/litro de biodiesel

Matéria-prima/Região

Modalidade de produtor de biodiesel

Qualquer matéria-prima qualquer região

Palma e Mamona (Norte e Nordeste)

Sem Selo Combustível Social R$ 0,22 (67% red) R$ 0,15 (77,5% red)

Com Selo Combustível Social R$ 0,07 (89,6%red) R$ 0,00 (100% red)Fonte: site http://www.mda.gov.br/saf/index.php?sccid=362

A capacidade de produção de biodiesel é acompanhada e autorizada pela ANP e pode ser conferida no quadro a seguir:

Os dados da ANP revelam a existência de 61 usinas com capacidade autorizada para a produção de biodiesel da ordem de 3.036.846 m3/ano. O levantamento indica uma maior concentração de empreendimentos na região Centro-Oeste, com 27 empresas, responsáveis por 34% da capacidade produtiva autorizada total.

Relação de empresas autorizadas pela ANP para produção de Biodiesel, organizadas por região

Regiões EmpresasCapacidade de

produção m3/ano

Norte 6 169.200

Nordeste 8 600.420

Centro-Oeste 27 1.043.508

Sudeste 13 634.518

Sul 7 589.200

Total 61 3.036.846Fonte: ANP - capacidade autorizada até 15 de setembro de 2008. Estimativa

anual de produção para 300 dias.

A cadeia agroenergética do biodiesel deve caminhar para uma consolidação mais efetiva na medida em que se incen-tive uma produção crescente para atendimento a possíveis antecipações de prazo da entrada do B5. Outro fator que pode incrementar o mercado é a produção para uso pró-prio em frotas cativas, com a disseminação de processos e

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equipamentos para produções de pequeno porte. Portanto, a expansão está condicionada a fatores de comportamento de mercado; disponibili-dade e qualidade da matéria-prima; e acesso e disponibilização dos avan-ços no desenvolvimento tecnológico de processos e produtos associados à oferta de recursos para investimentos e custeio.

4.2 Resíduos e dejetos

Esse segmento da agroenergia apresenta como características a alta disper-são geográfica e as variadas formas de aproveitamento energético condi-cionado às matérias primas disponíveis. O fator geográfico se traduz em um aspecto altamente positivo, denotando que é possível, por meio de uma tecnologia eficiente e barata, suprir com energia propriedades agrícolas e comunidades isoladas, facilitando sua inserção nos meios produtivos e me-lhorando a qualidade de vida.

Tome-se como exemplo a produção agropecuária, mais especificamente a de bovinos, de suínos e de aves, cujos dejetos podem ser fontes para a pro-dução de gás metano, com elevado potencial energético. O gás metano, resultado da digestão anaeróbica obtida por meio de biodigestores, per-mite gerar energia nas propriedades agrícolas. Essa energia normalmente é aproveitada para o aquecimento das camas, iluminação dos galpões ou em outras atividades de suporte à criação de suínos e de aves.

Os dejetos em geral são danosos ao meio ambiente, podendo contaminar lençóis freáticos e cursos d'água quando são dispostos sem tratamento.

As vantagens do aproveitamento dos dejetos para conversão em energia, além de efeitos positivos na melhoria do meio ambiente, contribuem po-sitivamente para a redução de custos. Hoje, nesse segmento, os fatores de competitividade passam pela adoção de medidas que permitam uma gestão eficaz com responsabilidade ambiental.

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Segundo informação do Plano Nacional de Agroenergia, 70 biodigestores já foram instalados no Brasil, e mais 320 estão em construção nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Goiás. Es-ses estados apresentam presença significativa do setor de suinocultura.

Outro conjunto expressivo com elevado potencial de apro-veitamento energético provém da matéria orgânica (bio-massa) derivada das atividades agropecuárias e florestais. Entre elas estão as geradas nos cultivos de cana-de-açúcar e arroz, na indústria de papel e celulose, e serragem e gra-vetos da indústria madeireira e moveleira.

Novamente a questão da espacialidade e da gestão é im-portante para o aproveitamento dessas biomassas. Em ge-ral, o aproveitamento deve ser realizado próximo ao local de produção, pois a quantidade e o custo de transporte podem inviabilizar a atividade. Além disso, muitas vezes, os resíduos já são aproveitados para cobertura de solo e adubação, o que demonstra, portanto, que o aproveita-mento deles para conversão em energia deve ser analisado sob a ótica do custo-benefício comparativo.

O tratamento dos resíduos da agropecuária (dejetos) e do lixo orgânico por processos de biodigestão anaeróbi-ca (decomposição dos resíduos em ambiente isento de oxigênio) resulta no biogás (gás metano com poder calo-rífico). O gás metano constitui-se em uma fonte alterna-tiva de energia renovável que pode ser utilizada para as atividades de cocção e da energia elétrica tanto para uso residencial como industrial.

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Os resíduos agrícolas, embora não causem danos específicos ao meio ambiente, também são excelente fonte de energia. Há uma extensa e diversificada oferta de resíduos agrícolas potencialmente utilizáveis para a produção de energia. São eles: casca de arroz, cascas de castanhas, bagaço de cana e resíduos florestais, cujas aplicações por meio de pro-cessos tecnológicos dominados já servem como insumo energético nas agroindústrias de etanol, arroz, e papel e celulose.

Entretanto, essas agroindústrias pertencem a setores nos quais há pre-dominância de empreendimentos de grande porte. Contudo, muitos estudos, inclusive o resultado deste trabalho, revelam interessantes po-tencialidades para o desenvolvimento de pequenos negócios, como, por exemplo, a produção de briquetes – casca de arroz, bagaço de cana, resíduos de serrarias e o aproveitamento de resíduos agrícolas deriva-dos da produção de castanha. Vislumbram-se também oportunidades na adoção de tecnologias simples e eficientes que possam gerar auto-sustentação energética em pequenas propriedades agrícolas e agropecu-árias com o processamento dos resíduos para geração de energia.

Considerando-se a realidade brasileira, a utilização racional de resíduos como fonte energética tem aplicação em quase todas as pequenas pro-priedades agrícolas, e em particular, com maior evidência e importân-cia, nas comunidades isoladas, contribuindo para a redução do custo de energia, o equilíbrio do meio ambiente e a inclusão em processos econômicos e ambientalmente mais sustentáveis.

Como pode ser observado, esse segmento de resíduos não dispõe de marco regulatório e suas unidades produtivas se agrupam em concentra-ções setoriais localizadas em várias regiões do Brasil. A regulamentação normativa das atividades agropecuárias está definida pelas leis especí-ficas para a criação e produção agrícola e agropecuária (cuidados fito-sanitários) e pelas leis ambientais.

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4.3 Etanol

O etanol – juntamente com o biodiesel – compõe a oferta de biocombustíveis para nichos específicos no mercado de combustíveis. A cadeia agroenergética do etanol apresenta características peculiares, diferentes do biodiesel, pois sua estrutura produtiva vinculada ao setor sucroalcooleiro en-contra-se consolidada no país. O Brasil é o segundo produ-tor mundial de etanol e detém forte conhecimento de sua tecnologia, tanto na produção agrícola da matéria-prima, a cana-de-açúcar, como em seu processo industrial.

O setor sucroalcooleiro viveu um forte impulso nas dé-cadas de 70 e 80, alicerçado por política governamental (Proálcool19) favorável de créditos e incentivos tributários. O álcool, no período, passou a ser um biocombustível de extre-ma importância para minorar os efeitos econômicos causa-dos pelas crises do petróleo nas décadas de 70 e 80. É impor-tante ressaltar que o álcool anidro já vinha sendo adicionado à gasolina na proporção de 2% a 5% desde 1931 (decreto nº 19.717). A partir de 1976, o percentual se elevou para 10%, depois para 15% e por fim atingiu 20% em 1983. Esse per-centual se mantém até o presente com pequenas oscilações para mais ou para menos, em função da oferta de produto das safras. No mesmo período, foi incentivada a produção de veículos movidos a álcool hidratado. Tanto a demanda por álcool anidro quanto por álcool hidratado foram determinan-tes para o desenvolvimento da agroindústria sucroalcooleira.

19 Programa Nacional do Álcool (Proálcool), instituído em 14 de novembro de 1975, pelo decreto nº 76.593, coordenado pelo Ministério de Industria e Comercio (MIC) e Instituto do Açúcar e do Álcool.

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Com a redução da volatilidade dos preços internacionais de petróleo e com altos investimentos para a produção de petróleo no país, o mercado de combustíveis de origem fóssil voltou a sua utilização plena, modifican-do o mercado de carros a álcool hidratado, com decréscimo acentuado na produção desses carros.

A década de 90 foi um período de intensa reestruturação do setor e cujo ca-minho foi trilhado com recursos próprios, uma vez que o governo redirecio-nou suas prioridades para a área energética, descontinuando o Proálcool.

Em 2003, a indústria automobilística de carros leves retomou a produção de carros a álcool com o lançamento de modelos flexfuel (bicombustí-veis), a álcool e gasolina.

Participação no mercado de carros levesFlexfuel e gasolina – período 2003 a 2008

200820072006200520042003

Flexfuel

Gasolina4%

89%

22%

71%

86%

10%

78%

17%

50%43%

88%

8%

Fonte: Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comercio (MDIC) e Anfavea.

Dessa fase, o setor colheu bons frutos, como amplo domínio da tecno-logia tropical para processamento de etanol; aumentos significativos nos indicadores da produtividade agrícola da cana; domínio em tecnologias de plantio; desenvolvimento de bancos genéticos e maior oferta de cul-tivares, entre outros. O país chegou aos dias de hoje robustecido com tecnologia e capital.

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Esse excelente desempenho foi amplamente reconhecido no mundo. Pela primeira vez, o Brasil apareceu com um capítulo inteiramente dedicado ao etanol na conceituada publicação World Energy Council de 2006, editada pela International Energy Agency (IEA).

Com o fim do Proálcool, o governo manteve a regulamen-tação do setor quanto à qualidade do produto, distribuição, comercialização e informações estatísticas sobre volumes produzidos de álcool anidro hidratado e áreas plantadas (hectares) com cana-de-açúcar, além da lista de usinas au-torizadas. As informações referentes a porte e relações co-merciais intra-setor (agro e industrial) estão em poder das associações de classe e somente são disponibilizados me-diante consulta. Nos estados onde o setor sucroalcooleiro tem maior representatividade empresarial e econômica, considerando-se área plantada de cana-de-açúcar e número de usinas, tais como São Paulo, Paraná e Alagoas, existem conselhos estaduais compostos por membros indicados pe-los fornecedores de cana e produtores de açúcar e álcool. Esses órgãos privados com representação empresarial são responsáveis por estabelecer os mecanismos e regras que orientam a regulamentação das inter-relações comerciais nas duas pontas do processo.

A cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil pelos portu-gueses, por razões econômicas, no início do século XVI. As primeiras mudas foram trazidas da Ilha da Madeira e seu cultivo foi destinado principalmente à fabricação de açúcar em dois engenhos, construídos, em 1532, em São Vicente, no estado de São Paulo, e em 1535, nas proximi-dades de Olinda, no estado de Pernambuco.

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Seu cultivo e processo de fabricação estiveram presentes, inicialmente, com maior predominância, na região Nordeste, em face da maior pro-ximidade com o principal mercado consumidor, a Europa. A cultura da cana-de-açúcar expandiu-se posteriormente para outras regiões do país, orientada principalmente pela disponibilidade de infra-estrutura de trans-porte para o escoamento da produção, conjugada aos fatores climáticos. Ao longo desses mais de quatro séculos, o Brasil se manteve entre os principais produtores e exportadores mundiais de açúcar, com expressiva presença no mercado internacional.

Entretanto, a cana-de-açúcar é matéria-prima para outro importante produto, que até meados de 1975 era tratado como produto residual, o álcool ou etanol. O álcool era resultado da destilação do mel pobre, um subproduto da fabricação do açúcar.

Além da utilização do álcool em produtos alimentícios, em bebidas e para uso industrial (químicos, farmacêuticos e limpeza), a sua aplicação como combustível já era conhecida desde o século XIX. O álcool etílico (etanol) acompanha o desenvolvimento dos motores do Ciclo Otto20 e a produção de veículos desde o final do século XIX e início do século XX, mas os baixos preços do petróleo e derivados desencorajaram a sua utili-zação como combustível até o início de 1970.

Somente a partir da primeira crise do petróleo, deflagrada em 1973, com uma súbita ameaça ao seu fornecimento e com o aumento do preço do barril de US$ 2,90 para US$ 11,65 em apenas três meses, atingindo patamares de US$ 32 em 1979, é que se deu a abertura para investimentos em combustíveis alternativos. Alguns países, entre eles o

20 Os motores Ciclo Otto ou de ignição por centelha utilizam a energia da centelha elétrica da vela de ignição para dar início à combustão. Esse processo foi descrito por Nicolas A. Otto, em 1876. Varella, C. A. A, Profº da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Departamento de Engenharia.

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Brasil e os EUA, investiram fortemente na produção de álcool combustível (etanol). O primeiro com base na sua estrutura produtiva de cana-de-açúcar e o segundo com base no milho.

A súbita elevação do preço do petróleo no primeiro cho-que fez com que o Brasil entrasse para a era dos biocom-bustíveis ou combustível verde, apoiando-se na base pro-dutiva da cadeia sucroalcooleira para a produção de um combustível complementar à gasolina, o álcool.

Os fatos estimularam o governo brasileiro a desenvolver uma política econômica com o objetivo de amenizar os desequilíbrios externos da balança comercial e reduzir a dependência do país. Contaram para isso com o fato de o Brasil ter uma estrutura de transporte basicamente rodovi-ária, na qual o elevado custo do petróleo importado colo-cava em risco a economia e a mobilidade da população.

O Programa Nacional do Álcool (Proálcool), instituído em 14 de novembro de 1975, foi responsável pelo desenvolvi-mento e fortalecimento da produção agrícola e industrial do açúcar e do álcool no período de pelo menos dez anos, a contar da data de sua criação.

A produção brasileira de álcool foi amplamente estimu-lada, tornando o Brasil o único país do mundo a utilizar o álcool em substituição ao combustível fóssil nas duas versões de produtos: anidro, sem adição de água para mistura na gasolina, de 20 a 25%, ou hidratado para o abastecimento de veículos com motor a álcool.

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O Proálcool foi acompanhado de uma série de políticas de incentivo ao consumo, tais como: o protocolo de comprometimento com a indústria automobilística para expansão da produção de veículos movidos a álco-ol; zoneamento agrícola para evitar concorrência entre a cana e cultu-ras alimentares; isenções fiscais e linhas de crédito especiais, que deram ao programa uma base de sustentação mais duradoura e abrangente, envolvendo não só o setor sucroalcooleiro como também o químico, o automotivo e o de mecânica pesada.

As medidas promovidas pelo Proálcool refletiram-se em um aumento significativo de usinas, destilarias e áreas para cultivo da cana-de-açúcar, e na produção de veículos movidos a álcool, cujo número de unidades chegou a suplantar a produção de veículos a gasolina em 70%, por cinco anos consecutivos, de 1983 a 1988, segundo estatís-ticas da Anfavea.

A despeito das oscilações de abastecimento durante a década de 90, quando o preço do barril do petróleo oscilou pouco e naturalmente de-sestimulou a indústria do etanol, o setor não deixou de investir e hoje conta com tecnologias de cultivo e processamento industrial reconheci-das mundialmente.

As vantagens comparativas e competitivas do segmento no mercado mun-dial são garantidas também por um esforço continuado de pesquisa e desen-volvimento. Nesse sentido, podem ser citadas duas importantes referências tecnológicas adotadas pelas empresas do setor: a Ridesa, que desenvolve os cultivares RB, e o Centro Tecnológico Copersucar (CTC), que desenvolve os cultivares SP. A Ridesa está vinculada às universidades federais e o CTC, às instituições privadas do setor sucroalcooleiro. Ambos são de extrema importância para o segmento, trabalhando com pesquisa continuada para o desenvolvimento de cultivares mais produtivas, de melhor adaptação à condições climáticas e com melhor resistência às pragas.

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Os dados de 2008 mostram que o setor sucroalcooleiro, no Brasil, é composto de 313 unidades, das quais 72% são usi-nas mistas de açúcar e álcool, 33% são unidades produtoras de álcool e apenas 14 são unidades de produção exclusiva de açúcar. O setor ocupa 5.606 mil hectares de área cultivada, que permitem uma oferta de 488,2 milhões de toneladas de cana moída na safra de 2007/8, com uma estimativa de produção de 20,88 bilhões de litros de álcool – 8,19 bilhões de litros de álcool anidro e 12,68 de hidratado.

Perfil do setor do açúcar e do álcool no Brasil

Unidades de produção, área cultivada e energia gerada - posição safra 2007/2008

Região UnidadesÁrea cultivada

(Mha)Unidades de produção

interligadas na rede

Total de energia comercializada na

safra (MW/h)

Centro-Sul 264 4.700,20 33 420,1Norte-Nordeste 49 905,80 15 87,9

Total 313 5.606,00 48 508,0Fonte: Perfil do setor do açúcar e do álcool no Brasil, Conab, Mapa, 2008

Há previsões de investimentos em novas unidades de pro-cessamento industrial com a ampliação das áreas agrícolas para o plantio da cana-de-açúcar. A expansão está apoia-da na perspectiva de crescimento da oferta de combustíveis derivados da biomassa como forma de mitigação dos efei-tos danosos dos poluentes emitidos pelos combustíveis de origem fóssil, associada à expansão da produção de carros bicombustíveis denominados flexfuel, que permitem o abas-tecimento com combustíveis nas duas modalidades apresen-tadas pelo mercado – gasolina e álcool.

Dos anos 70 do século passado até os dias atuais, o sis-tema agroindustrial da cana-de-açúcar vem apresentado

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aumentos significativos na produtividade, tanto pelo lado agrícola como pelo industrial, especialmente na região Centro–Sul, tornando-o viável como alternativa energética na substituição dos derivados de petróleo.

E, ainda, como resultados dos investimentos no setor, pode ser obser-vada a elevada participação da biomassa derivada da cana-de-açúcar na matriz energética brasileira, representando 16% da oferta interna da energia total21 e 30% das fontes de energia renovável, segundo dados preliminares do Balanço Energético Nacional 2008. Na matriz, no tocante à biomassa derivada da cana-de-açúcar, estão computadas as duas contribuições do setor – álcool combustível e co-geração de energia pelo aproveitamento do bagaço. Ambas apresentam curva ascendente de crescimento com possibilidades de expressivos KW de energia elétrica, caso os investimentos se efetivem.

4.4 Florestas energéticas

Esse segmento apresenta uma configuração totalmente distinta dos an-teriores, com estrutura integradora presente nos setores siderúrgicos e de papel e celulose, que, historicamente, fomentaram a produção flores-tal para suprir a demanda de matérias primas para o processamento de seus produtos. Para fins energéticos, a produção florestal se desenvolveu também para suprir de carvão vegetal principalmente o setor siderúrgico, embora haja produção de carvão vegetal também de florestas nativas, e como fator limitador do uso de florestas nativas.

A produção de carvão vegetal oriunda de florestas plantadas com a espé-cie Eucaliptus, em 2006, correspondeu a 103,3 milhões de m³, dos quais 22,1% foram destinados a produção de carvão vegetal, ou seja, 34,5

21 Fonte: Dados preliminares do Balanço Energético Nacional (BEN) 2008, produzido pela Empresa de Pesquisa Energética do MME

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milhões de m³. O setor industrial absorve 85% dessa produ-ção, enquanto os setores comercial e alimentício (pizzarias, padarias e churrascarias) respondem por 15%. Uma parcela menos expressiva é absorvida pelo setor residencial.

O conceito adotado pelo Plano Nacional de Agroenergia (PNA) para o segmento de florestas energéticas atribui o termo a florestas cultivadas com a finalidade de aproveitar a biomassa como insumo para a produção de energia.

Na nova visão da política energética e de meio ambiente, o termo florestas energéticas também se aplica às ativida-des de reflorestamento em áreas degradadas com outras espécies além de pinus e eucalipto. Está sendo cogitada a ocupação destas com o cultivo de espécies perenes, tais como babaçu, dendê e macaúba, que podem desempe-nhar importante papel como matéria-prima para a produ-ção de biodiesel, principalmente na região amazônica.

As florestas plantadas que integram a atividade econômica da silvicultura correspondem a 0,67% do total das terras agrí-colas, ou 5,74 milhões de ha22 do território nacional, com plantio de pinus e de eucalipto. Em 2007, a produção de eucalipto correspondeu a 63% do total da área, seguido de 30% destinado a produção de pinus e 7% para outras espé-cies – Seringueira, Acácia, Teca e Araucária, entre outras.

As áreas predominantes de florestas plantadas destinadas a atender os segmentos industriais de papel e celulose e side-

22 2007, Fatos e Números do Brasil, editado pela Sociedade Brasileira de Silvicultura

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rurgia a carvão vegetal estão distribuídas no território nacional, com maior predominância nas regiões Sul e Sudeste.

Importantes fatos históricos dão ao Brasil significativo aprendizado, atri-buindo-lhe destaque na produção mundial de florestas plantadas, em par-ticular na produção de eucalipto. Essa experiência acumulada lhe rendeu cerca de 150 espécies de Eucaliptus estudadas, atingindo, nos dias atuais, invejáveis indicadores, medidos por m³ versus área plantada, quando com-parados aos demais países referenciais no cenário mundial do segmento florestal, tais como Canadá, Finlândia e Estados Unidos.

A silvicultura iniciou o seu desenvolvimento, no início do século passado, impulsionado pela instalação dos empreendimentos ferroviários e de ce-lulose, cuja demanda de madeira era extremamente exigente em volumes e disponibilidade de matéria-prima.

Tanto a Companhia Paulista de Estrada de Ferro, em 1904, como a Com-panhia Melhoramentos de São Paulo, em 1922, representaram um forte impulso ao desenvolvimento da silvicultura no país. A primeira com neces-sidades crescentes de madeira para atender seus planos de expansão das linhas férreas e para a alimentação das caldeiras de suas locomotivas, e a segunda com necessidades de matéria-prima para a produção de celulose e alimentação de suas caldeiras em seus processos industriais. A necessidade de madeira, crescente e contínua, acabou por impulsionar o cultivo de espé-cies de rápida maturação. Essa opção provocou uma verdadeira revolução no chamado reflorestamento, com espécies exóticas que ofereciam madeira abundante, de rápido crescimento e de qualidade para sustentar o desenvol-vimento desses empreendimentos no país.

A decisão por essas espécies foi tomada diante das respectivas rentabili-dades econômicas e físicas comparadas às das florestas nativas, que ini-cialmente se apresentavam de difícil reposição. O precursor desse pro-

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cesso, no período de 1904 a 1941, foi Edmundo Navarro de Andrade, que na função de executor da política flores-tal da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, incentivou a construção de 17 hortos, espaços destinados ao cultivo das mudas de várias espécies, para a Companhia Paulista de Estrada de Ferro.

A fonte de seus estudos foram as sementes de Eucalyptus globulus, originárias da Austrália e Indonésia, que, com-paradas ao desenvolvimento das espécies nativas peroba, cabreúva e jequitibá, apresentaram significativas diferen-ças positivas para o seu cultivo. As análises comparativas acabaram determinando que o gênero Eucalyptus, con-siderando-se crescimento e produção de madeira, mos-trou-se superior às demais espécies nativas indicadas. Esse trabalho de pesquisa permitiu o desenvolvimento de uma coleção de 150 espécies do gênero Eucalyptus e a reco-mendação de compra de terras na região de Rio Claro (SP) para a sua reprodução inicial, o que garantiria o suprimen-to de madeira para dormentes e lenha para as ferrovias e suas máquinas.

A expansão do setor com as florestas de eucalipto ganhou escala, nas décadas de 60 e 70, para garantir o suprimen-to de matérias-primas para outros setores emergentes, tais como os de celulose e siderurgia a carvão vegetal. Para atender esses setores foram selecionadas pelo menos 10 espécies com características de produção mais vantajosas, tais como: Eucalyptus grandis, E. citriodora, E. camaldu-lensis, E. saligna, E. urophilla e as espécies híbridas, como é o caso do Eucalyptus urograndis (E. urophilla x E. gran-dis), derivado de cruzamentos.

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Os programas de incentivo fiscal aos plantios florestais foram responsá-veis pela expansão territorial do plantio dos gêneros e pelo aperfeiçoa-mento na aclimatação das espécies com resultados muito positivos na produtividade florestal brasileira. Ao lado disso, as indústrias de celulose e papel e siderurgia investiram no desenvolvimento do melhoramento genético e da tecnologia clonal de eucalipto.

Segundo dados, ano base 2007, da Associação Brasileira de Florestas Plantadas23, o seu cultivo é realizado 75% em propriedades próprias das indústrias, 15% com fomento florestal (parceria com pequenas proprie-dades próximas) e 10% com arrendamento.

De 2005 a 2007, como estratégia de expansão da produção florestal, as empresas limitaram as áreas de plantio em propriedades próprias em favorecimento de áreas com fomento florestal e com arrendamento. O fomento florestal apresentou um crescimento de área de 47% e o arren-damento correspondeu a 30%. A modalidade de fomento florestal tem permitido a inclusão de pequenas propriedades rurais na industria flores-tal e que tende a ser crescente face aos planos de expansão do setor.

Diante da perspectiva de otimizar o uso da biomassa como fonte energé-tica, as florestas plantadas para essa finalidade podem e devem ser mais bem exploradas. Nesse aspecto, o Brasil dispõe de programas de apoio para o seu desenvolvimento, tais como o Programa Nacional de Florestas e o de Fomento Florestal, que associados às melhorias decorrentes das tecnologias de manejo, com otimização no aproveitamento dos resíduos de outras indústrias, tipo pontaletes e braços de eucaliptos cultivados para exploração da celulose, pode-se antever o aumento da oferta de energéticos para uso da produção de calor nos diversos setores deman-dantes (indústrias, comércio, serviços e residências).

23 Anuário Estatístico da Abraf 2008, ano base 2007

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E ainda, com perspectivas muito promissoras quanto à ex-ploração de outras espécies citadas para a produção de biodiesel, assim como a evolução tecnológica que assegu-re a produção de etanol de resíduos de madeira.

As florestas energéticas no Brasil ainda têm um largo es-paço a ser explorado como fonte alternativa de energia renovável, o que pode lhe configurar mais um importante papel no mundo com a exploração adequada de seus re-cursos e sua biodiversidade.

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5. Oportunidades e desafios para os

pequenos negócios na agroenergia

Como vimos, a sociedade contemporânea enfrenta um grande desafio para diminuir as emissões de gases de origem fóssil, com a finalidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Em decorrência, a partici-pação das fontes energéticas renováveis deve crescer substancialmente na oferta de energia mundial.

A transição da era do petróleo e combustíveis fósseis para a revolução verde estabelece a biomassa como um dos mais importantes suprimen-tos energéticos na vida humana, em diferentes aplicações, definindo um novo e importante marco pautado por novos paradigmas, com conceitos de sustentabilidade.

Isso traz olhares distintos, que vão do consumo individual responsável à pro-dução de bens e serviços de forma coletiva. Os empreendimentos existentes e futuros serão necessariamente reconceitualizados segundo a lógica da ges-tão e da estruturação e marcados pela tríade social, econômica e ambiental.

Diversas iniciativas, tanto governamentais quanto da sociedade, refor-çadas pela assinatura do Protocolo de Quioto, estão estimulando a pro-dução e o uso de biocombustíveis em transportes individuais e coletivos. Também não menos importantes são a produção e o uso do biogás em atividades urbanas e rurais.

O Brasil, com um extenso território e clima favorável, pode sem dúvida representar um diferencial nesse percurso, notadamente nos biocombus-tíveis, sem desconsiderar as excelentes oportunidades para biogás e ou-tros produtos energéticos com base no aproveitamento da biomassa.

As regulamentações existentes no território nacional estabelecidas para a produção e uso de biocombustíveis – biodiesel e etanol – asseguram um mercado interno crescente, assim como as medidas restritivas de uso de de-rivados de petróleo em países desenvolvidos também sinalizam importantes

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aberturas para a comercialização dos biocombustíveis brasi-leiros no mercado externo.

Além disso, o Brasil apresenta inegável capacidade para responder a esses desafios, seja pelo domínio de tecno-logias tropicais em âmbito governamental e privado, seja pelo vasto território com favoráveis condições edafoclimá-ticas, que possibilita uma produção agrícola e agropecu-ária suportada por uma boa base produtiva de agronegó-cios instalada, sem ameaçar a segurança alimentar.

A localização desses setores no território brasileiro está condicionada a condições edafoclimáticas e a aspectos culturais. Em função disso, há concentrações regionais bem marcantes. São exemplos a produção agropecuária e a suinocultura, nas regiões Sul e Sudeste, e a ovinoca-prinocultura, na região Nordeste. As concentrações da produção agrícola podem ser exemplificadas com a pre-sença da produção de arroz na região Sul e da produção de soja no Sul e no Centro-Oeste. Apenas a produção agrícola da mandioca é que tem uma cobertura espacial mais ampla.

Com respeito à produção agroflorestal, não há dados com-pilados referentes à participação dos pequenos empreen-dimentos. Entretanto, vários estudos apontam para a exis-tência de um expressivo conjunto desses empreendimentos associados aos grandes projetos agroflorestais.

Mesmo não havendo dados mais apurados com referên-cia à produção agroflorestal, os produtos derivados dessa produção, na forma de óleo, cascas, galhadas, gravetos e

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serragens, podem ser indicados como insumos potenciais para os proje-tos de agroenergia, observando-se as regiões em que existem projetos agroflorestais.

Considerando que a agroenergia gera impacto nos biomas24, pode-se afir-mar que, dado o expressivo número e a capilaridade ao longo do território nacional, as pequenas propriedades agrícolas desempenham importante papel para o seu equilíbrio. A disseminação, para esse segmento, de práti-cas de gestão e tecnologias que contemplem processos socialmente inclu-dentes e ambientalmente responsáveis pode fazer a diferença.

A entrada do Sebrae/NA no macrosegmento de agroenergia, com aber-tura de carteira própria de projetos, é um reconhecimento da importân-cia do tema. Também revela que os pequenos empreendimentos têm papel preponderante para a sustentabilidade, contribuindo na produ-ção de biocombustíveis, ou seja, adotando processos de produção com aproveitamento da biomassa para geração de energia. Nesse sentido, é possível subentender processos de produção dentro da propriedade com aproveitamento do resíduo (co-produto) para a geração de biogás ou com aproveitamento dos resíduos de alguns setores agroindustriais para a produção de briquetes e carvão vegetal.

Todas as regiões brasileiras apresentam produções agrícola, agroflorestal e agropecuária com excelentes perspectivas para o aproveitamento energé-tico da biomassa. Essa investigação deve ser realizada com vistas a identi-ficar em um determinado território a existência de setores e culturas mais relacionados à agroenergia, assegurando-se da presença efetiva ou poten-cial de pequenos empreendimentos de forma isolada ou consorciada.

24 Bioma é conceituado como um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identifi cáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria. IBGE

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Outro aspecto relevante é a transversalidade que a agro-energia apresenta com vários setores agroindustriais, ga-rantindo enorme potencial para a realização de ações arti-culadas como as citadas a seguir:

Potencial para aproveitamento de biomassa

derivada da produção agropecuária de ovino-caprinocultura – a produção desse setor, que se concentra majoritariamente na região Nordeste, é caracterizada por pequena produção familiar, com rebanho de ovinos ou caprinos em sistema de se-miconfinamento ou confinamento. Esse sistema é indispensável para o aproveitamento da biomassa na forma de biodigestor e para geração de energia com o uso de técnicas muito simples e de baixo cus-to, que permitem sua disseminação.

Potencial para aproveitamento de biomassa

da produção agropecuária de bovinos e suí-nos – o mesmo processo indicado no exemplo an-terior aplica-se para a produção de bovinos e suí-nos, ressalvando o fato de que o aproveitamento da biomassa só pode ser realizado se a produção for em sistema de confinamento. Também é possível o aproveitamento do sebo animal para a produção de biodiesel se o processo produtivo estiver integrado a um frigorífico. Há excelentes perspectivas de expan-são, em particular nas regiões Sul e Sudeste, que abrigam a maior concentração de produção agro-pecuária de pequenas propriedades para bovinos e suínos em sistema de confinamento.

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Potencial para aproveitamento de biomassa da produção

de mandioca. A produção de mandioca agregada às casas de farinha e fecularia tem como resíduo a manipueira, que, se libe-rada para o ambiente, gera efeitos nocivos de contaminação. En-tretanto, apresenta excelentes possibilidades para aproveitamento energético por biodigestão. Nesse caso, a preocupação da gestão ambiental, pela adoção de um tratamento adequado da mani-pueira, pode trazer redução da dependência de outras alternativas energéticas, além de possível redução dos custos produtivos.

Potencial para aproveitamento de biomassa da produção

de cana-de-açúcar. A produção de cana-de-açúcar, conforme a configuração do empreendimento e mediante análise mais apro-fundada, pode apresentar potencialidade e viabilidade econômica para co-geração energética a partir do bagaço.

Outro exemplo interessante é o aproveitamento de resíduos da produção de cachaça para a produção de álcool combustível.

Portanto, nos parecem muito significativas as possibilidades de ex-ploração da agroenergia também por pequenos empreendimentos, que, de forma integrada, podem potencializar seus resultados. Isso certamente deverá ser realizado ao enfatizar a formulação de novos processos produtivos mais eficientes do ponto de vista energético.

Premissas

As ações devem ser desenvolvidas dentro dos eixos ambiental, so-

cial, econômico e tecnológico.

Considerar as potencialidades locais, sempre que possível alinhadas

ao zoneamento agrícola. Foco em preservação de florestas (flora e

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fauna) em áreas nativas, uso de áreas degradadas quando for economicamente viável, diversidade de matéria-prima e consórcio de culturas (multisetoriali-dade ou pluriatividade).

Buscar o melhor desempenho quanto à produtivi-

dade, visando maior e melhor produção com o me-nor uso de recursos.

Para a efetiva inclusão dos pequenos negócios no

mercado de biocombustíveis, será necessário que os modelos de projetos e ações favoreçam a distribui-ção de renda e gerem ocupação dentro dos precei-tos de relações socialmente justas.

Oportunidade de empreendimentos ou projetos

a) Fomento a projetos, de acordo com as especificidades locais, com geração de emprego e renda pelo estímu-lo aos empreendedores e apoio aos empreendimentos sustentáveis nas cadeias produtivas da agroenergia, como produção de matéria-prima, esmagamento de óleo e fornecimento de insumos e serviços.

b) Produção de biocombustíveis em áreas isoladas ou distantes, com vistas a possibilitar o desenvolvimen-to dessas localidades a partir de um abastecimento regular de energia.

c) Produção de biocombustíveis para consumo pró-prio, desde que previamente aprovados pela ANP.

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d) Aproveitamento de resíduos agropecuários com vistas a agregar renda ao empreendimento existente tanto na busca de eficiência energética como para auto-sustentabilidade.

Questões relevantes a considerar na elaboração dos projetos, em especial para MPE e agricultura de pequeno porte:

a) A viabilidade econômica não apresenta números absolutos, pois depende das especificidades do território e do empreendimento.

b) Seleção de matéria-prima segundo as condições edafoclimáticas e de preferência com oferta de sementes e outros insumos, zonea-mento agrícola e estudos de apoio sobre a cultura.

c) No caso de empreendimento voltado à produção de oleaginosa para produção de biodiesel, observar o volume de produção na localidade, ponderando sobre possíveis parcerias para viabilizar a logística entre diferentes produtores e entre o local de produção e o comprador.

d) Aproveitamento de resíduos, definindo co-produto que vise me-lhor aproveitamento da biomassa e redução de resíduos do pro-cesso produtivo.

e) Balanço energético e eficiência energética com análise do energy in energy out.

f) Identificar as possibilidades de atuação transversal, consideran-do que todas as propriedades em seu processo produtivo utili-zam energia. Vislumbrar novas formas de processos tecnológicos sustentáveis, nos quais é possível trabalhar com maior eficiência energética.

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g) Analisar as potencialidades locais em que haja perspectiva de aproveitamento de biomassa intra-setorial, a exemplo: serrarias cujo excedente de ser-ragem geram briquetes para consumo no fogão a lenha de uma fábrica de doces; e manipueira com biodigestão gerando biogás para a eletricidade da propriedade rural e para cozimento. É importan-te observar que as escalas dos projetos podem ser diferentes, mas a concepção de integrar prevalece em processos dentro de uma propriedade (pequena propriedade agrícola) ou de um território (conjunto de atividades – humana, produção de serviços e co-mércio etc.) em determinado espaço físico. Os dois exemplos seguem a mesma lógica – máximo apro-veitamento da biomassa com tecnologias limpas.

h) Ampliar a profissionalização de gestão e o acesso e uso da tecnologia, lembrando que somente 16,7% das pequenas propriedades dispõem de assistência técnica.

Desafios e oportunidades

Sem dúvida nenhuma trata-se de uma nova abordagem, com mudanças de paradigmas que criam simultanea-mente inúmeros desafios e novas oportunidades. E nes-se sentido a agroenergia desponta como uma das mais desafiantes, pois significa que temos que percorrer novos caminhos, aproveitando o saber existente, no qual o país é pródigo, para a construção de um futuro que se alinhe de forma mais equânime às questões sociais, econômicas e ambientais.

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Seguramente o Brasil tem condições de despontar no cenário mundial como um país com produção eficiente e uso intensivo da agroenergia. Com respeito aos biocombustíveis, o país já ocupa uma posição de desta-que na produção e uso do etanol, baseado em grandes empreendimen-tos. Esse setor dispõe de uma estrutura agroindustrial consolidada, com elevados níveis de produtividade agrícola.

Com respeito às matérias primas para o biodiesel, especificamente quanto às oleaginosas, o Brasil deve intensificar os esforços para a melhoria da produtividade em campo e desenvolver capacidade produtiva para semen-tes de oleaginosas em quantidade e qualidade que preservem a competiti-vidade para fazer face à demanda, assim como ampliar as pesquisas sobre a potencial oferta de novas sementes frente à diversidade da nossa flora.

Para assegurar uma posição crescente no mercado mundial e de desta-que na produção de biocombustíveis, o Brasil necessita trabalhar a re-dução do Custo Brasil com investimentos na melhoria da infra-estrutura logística e com maior ênfase na tecnologia aplicada e na transferência tecnológica para o campo.

Essas condições devem ser associadas a mais duas frentes estratégicas, como o aprimoramento das políticas públicas na busca de maior clareza nas regras para atuação com os biocombustíveis e o desenvolvimento de protocolo e especificações por produto na busca de tornar os biocom-bustíveis commodities internacionais.

Outro importante espaço a ser trabalhado, com o desenvolvimento de pesquisas de produtos e processos tecnológicos agroindustriais, situa-se no campo das transformações de resíduos agrícolas e agropecuários em co-produtos, para aplicação nas propriedades rurais e diversificação da oferta de novos produtos da agroenergia ao mercado nacional e internacional.

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Com a finalidade de enriquecer o já exposto, fazemos uso da citação do cientista Ignacy Sachs, constante em um de seus artigos, tão sabiamente escrito:

É preciso reduzir drasticamente o consumo de energias fósseis, melhorando a eficiência na con-versão e no uso final da energia e aprendendo a fazer bom uso da biodiversidade e da energia solar captada pela fotossíntese25. Devemos in-ventar uma biocivilização moderna, baseada na exploração do trinômio biodiversidade-bio-massas-biotecnologias. Essas últimas aplicadas nas duas pontas dos processos produtivos – para aumentar a produtividade de biomassa e abrir, cada vez mais, o leque dos bioprodutos dela deri-vados: alimentos para consumo humano, rações para animais, adubos verdes, bioenergias, mate-riais de construção, insumos para indústrias de celulose e papel e outros derivados de madeira, matérias-primas para a química verde, fármacos e cosméticos26.

Do que foi dito, sistemas integrados de produção de alimentos e energia são a palavra-chave. Esses sistemas devem ser:

intensivos em conhecimentos e, na medida do pos-

sível, também em mão-de-obra;

25 No editorial citado, Holdren postula um aumento de efi ciência da energia de dois por cento ao ano ou mais, dobrando o ritmo atual. 26 Sachs, I. Da civilização do petróleo a uma nova civilização verde. Estudos Avançados, São Paulo, 19 (55), 2005, p. 197-214.

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poupadores do capital e dos recursos naturais (solos, água);

conforme os preceitos da revolução duplamente verde ( evergreen revolution, nas palavras de M.S. Swaminathan), conciliando a busca da produtividade com o respeito à natureza e com os interesses dos pequenos agricultores, a maioria sofrida da humanidade.

Daí a necessidade de ir além do custo/benefício tradicional na avaliação dos projetos de bioenergia, introduzindo, por um lado, critérios ecológi-cos como a redução das emissões de gases de efeito estufa, a eficiência energética (energy in/energy out), a produtividade por hectare e o consu-mo de água por tonelada, e, por outro, critérios sociais, como a geração de oportunidades de emprego e auto-emprego na produção e processa-mento das biomassas, nos serviços de acompanhamento e de transporte e no aproveitamento dos subprodutos.

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6. Glossário

Termo Descrição

AgroenergiaBioenergia produzida a partir de produtos agropecuários e florestais.

Alcool hidratado

Álcool Etílico Hidratado Combustível (AEHC): combustível automotivo obtido, no Brasil, pelo processo de fermentação do caldo da cana-de-açúcar. Quando isento de hidrocarbonetos, apresenta teor alcóolico na faixa de 92,6º a 93,8º INPM (fixado pela Portaria ANP n.º 45/01). Utilizado nos motores de ciclo Otto, especificamente no setor de transporte rodoviário.

Álcool anidro

Álcool Etílico Anidro Combustível (AEAC): obtido, no Brasil, pelo processo de fermentação do caldo da cana-de-açúcar. Apresenta teor alcóolico mínimo de 99,3º INPM (fixado pela Resolução ANP n.º 36/2005). O AEAC é utilizado para mistura com a gasolina A, especificada pela Portaria ANP n.º 309/01, para a produção da gasolina tipo C.

Biocombustível

Combustível produzido de fontes de energias renováveis, derivado de produtos agrícolas como a cana-de-açúcar, plantas oleaginosas, biomassa florestal e outras fontes de matéria orgânica, como sebo animal.

Biodiesel

Biocombustível derivado de biomassa renovável para uso em motores com combustão interna com ignição por compressão, para outro tipo de geração de energia que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil.

Biodigestão anaeróbicaProcesso de produção de biogás em ambiente isento de oxigênio.

BiodigestorRecipiente fechado que pode processar a decomposição de matéria orgânica de origem vegetal ou animal para a produção do biogás (gás metano).

BioenergiaEnergia obtida a partir da biomassa presente nos resíduos urbanos e rurais e de produção agropecuária.

BiogásGás metano mais dióxido de carbono derivado da decomposição de matérias orgânicas de origem animal ou vegetal.

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BiomassaBiomassa é todo o recurso renovável de origem animal ou vegetal que pode ser utilizado na produção de energia.

CO2

CO2 (Gás Carbônico): dióxido de carbono, composto por um átomo de carbono e dois átomos de oxigênio. Recuperado do gás de síntese na produção de amônia, de gases de chaminé (produto de combustão) e como subproduto do craqueamento de hidrocarbonetos e da fermentação de carboidratos. Usado principalmente na fabricação de gelo seco e de bebidas carbonatadas, como extintor de incêndio, na produção de atmosfera inerte e como desemulsificante na recuperação terciária de petróleo.

Combustível verdeCombustível obtido pelo processamento de produtos agropecuários, a exemplo do etanol e do biodiesel.

Ciclo OttoMotores de ignição por centelha que utilizam a energia da centelha elétrica da vela de ignição para dar início à combustão. Esse processo foi descrito por Nicolas A. Otto em 1876.

Cocção O equivalente a cozimento.

DormentesPeças de madeira especialmente talhadas para o assentamento dos trilhos nas vias férricas

Energia eólica Energia obtida pela ação dos ventos.

Efeito estufaAquecimento da temperatura terrestre provocado pela aumento de emissões de gases.

Energia geotermal Energia obtida de vapores ou água aquecida provenientes de solos subterrâneos com características vulcânicas. (Gêiser = vapor de fonte termal).

Energia solar Energia obtida pela ação solar.

Etanol

Alcool incolor, volátil, inflamável e totalmente solúvel em água, derivado da cana-de-açúcar, do milho, da uva, da beterraba ou de outros cereais, produzido por meio da fermentação da sacarose.

Florestas energéticasProdução florestal destinada à produção de energia – carvão vegetal e óleo.

Gases de Efeito Estufa (GEE)

CO2 (dióxido de carbono), CH4 (metano), N2O (óxido nitroso), SF6 (hexafluoreto de enxofre) e CF4 (um perfluorcarbono ou PFC) são cobertos pelo Protocolo de Quioto. CFC-11 e HCFC-22 (um substituto de CFC).

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Horto florestalLocal destinado ao plantio de mudas de espécies florestais e de plantas ornamentais ameaçadas.

Resíduos e dejetosBiomassa resultante de processos agropecuários ou urbanos que pode ser insumo para a produção de energia e biofertilizantes.

Silvicultura

Atividade econômica que compreende a ocupação de espaços com florestas plantadas para atendimento de determinados mercados, tais como papel e celulose, e para produção de carvão vegetal para o setor siderúrgico, entre outros.

Suprimento primárioEnergia disponível para transformar em calor e eletricidade derivada de fontes não renováveis e renováveis.

Placas fotovoltaicasSistemas de painéis construídos com cristais de sílica para captação da energia solar.

TCO2/hab

Medida utilizada em publicações técnicas sobre energia e mudanças climáticas. Toneladas de gás carbônico liberadas pelas atividades humanas de um determinado local, região ou país dividido pelo número de habitantes.

Tep Toneladas equivalentes de petróleo.

Tep per capita

Tonelada equivalente de petróleo por habitante. Indicador para medir a intensidade de energia consumida por habitante e utilizado como um dos indicadores para comparar o nível do desenvolvimento econômico das nações.

Fontes de consulta para o glossário

Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo e do Gás Natural – 2007

Cartilha sobre uso de resíduos e dejetos como fonte de energia renovável –

Sebrae/NA – 2008

Plano Nacional de Energia 2006 – 2011

Lei 11.097, de 13 de janeiro de 2005, artigo 4º inciso XXV

Ministério das Minas e Energia. Atlas de Energia Elétrica do Brasil (Aneel), 2006,

Varella, C. A. A, Profº da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,

Departamento de Engenharia.

Sociedade Brasileira de Silvicultura – www.sbs.org.br

Pólo Nacional de Biocombustíveis – www.esalq.br

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7. Fontes de consultas

Publicações e informações estatísticasInstituição responsável pela

publicação

World Energy Outlook (WEO), edições de 2006 e 2007 International Energy Agency (IEA)

Key World Energy Statistics International Energy Agency (IEA)

Balanço Energético Nacional - edições 2006 e 2007Ministério de Minas e Energia (MME) e Empresa de Pesquisa Energética (EPE)

Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), em inglês, Intergovernmental Panel on Climate Change. IPCC climáticas

Site Ministério Minas e Energia

Protocolo de Quioto e mercado de Carbono Ministério de Ciência e Tecnologia

Documento do Greenpeace Greenpeace e outros

Plano Nacional de Agroenergia 2006-2011Publicação Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)

Plano Nacional de Energia – 2030Ministério de Minas e Energia (MME) e Empresa de Pesquisa Energética (EPE)

Estatísticas sobre produção de petróleo, empresas de biodiesel, entre outras

Agencia Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)

Perfil do setor do açúcar e álcool no BrasilCompanhia Nacional de Abastecimento (Conab) - Mapa

Estatísticas sobre florestas plantadas - Anuário AbrafAssociação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf)

Programa Nacional PB Ministério de Minas e Energia (MME)

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