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Mapa Esquemático de Apresentação - EXTENSÃO DA TUTELA PENAL DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO A MULHERES TRANSEXUAIS E TRAVESTIS - EXCERTOS RELEVANTES DA LEGISLAÇÃO CITADA: Lei nº 11.340/2006 - Lei Maria da Penha Art. 2 o Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.[...] Art. 4 o Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar. Art. 5 o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: [...] Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. Lei nº 13.104/2015 – Lei do Femincídio Art.121....................................... Feminicídio VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino :[...] § 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Conceito Jurídico de Mulher Na justificação do projeto de lei que tipifica o feminicídio assim constava: Sujeito Motivação odiosa do condição do sexo feminino= discriminação ao gênero Mulher transfobia dominação Biológico: Mulher= Fêmea (anatômico- fisiológico) Formalista: Sexo declarado no registro civil

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Page 1: Mapa esquemático

Mapa Esquemático de Apresentação

- EXTENSÃO DA TUTELA PENAL DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO A MULHERES TRANSEXUAIS E TRAVESTIS -

EXCERTOS RELEVANTES DA LEGISLAÇÃO CITADA:

Lei nº 11.340/2006 - Lei Maria da Penha

Art. 2o  Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.[...]

Art. 4 o  Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

Art. 5 o  Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: [...]

Parágrafo único.  As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.

Lei nº 13.104/2015 – Lei do Femincídio

Art.121.......................................

Feminicídio

VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:[...]

§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:

I - violência doméstica e familiar;

II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Conceito Jurídico

de Mulher

Na justificação do projeto de lei que tipifica o feminicídio assim constava:

O assassinato de mulheres pela condição de serem mulheres é chamado de "feminicídio" - sendo também chamado de “femicídio” ou “assassinato relacionado a gênero”- e se refere a um crime de ódio contra mulheres, justificado socioculturalmente por uma história de dominação da mulher pelo homem e estimulada pela impunidade e indiferença da sociedade e do Estado. [...] A importância de se tipificar o feminicídio é reconhecer, na forma da lei, que mulheres estão sendo mortas pela razão de serem mulheres, expondo a fratura da desigualdade de gênero que persiste em nossa sociedade, e é social, por combater a impunidade [...]. (Texto original, Justificativa,2013, pp.1-3) [grifei]

A violência de gênero não se funda numa suposta inferioridade biológica entre os sexos, mas antes num deságio sócio-político existente entre o campo masculino e o feminino, no arranjo da dominação masculina; Reduzir a interpretação do conceito jurídico de Mulher ao determinismo biológico resulta no esvaziamento do próprio espírito da lei no combate às formas de violência calcadas na dominação masculina;

Sujeito passivo

Motivação odiosa do crime

condição do sexo feminino= discriminação ao gênero Mulher ⊃ transfobia dominação masculina

Biológico: Mulher= Fêmea (anatômico-fisiológico) Formalista: Sexo declarado no registro civil Gênero: uma série de significados culturais que seriam inscritos sob um corpo sexuado

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Mapa Esquemático de Apresentação

- EXTENSÃO DA TUTELA PENAL DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO A MULHERES TRANSEXUAIS E TRAVESTIS - Bourdieu (in Dominação Masculina, 2010, p.156) bem disserta:

O corpo biológico socialmente modelado é[...] um corpo politizado, ou se preferimos, uma política incorporada. Os princípios fundamentais da visão androcêntrica do mundo são naturalizados sob a forma de posições e disposições elementares do corpo que são percebidas como expressões naturais de tendências naturais. [grifei]

Bourdieu assim expõe no preâmbulo da obra retro (pp. 9-10):[...]é indispensável quebrar a relação de enganosa familiaridade que nos liga à nossa própria tradição. As aparências biológicas e os efeitos, bem reais, que um longo trabalho coletivo de socialização do biológico e de biologização do social produziu nos corpos e mentes conjugam-se para inverter a relação entre as causas e os efeitos e fazer ver uma construção social naturalizada (os gêneros como habitus sexuados), como fundamento in natura da arbitrária divisão que estão no princípio não só na realidade como também na própria representação da realidade[...].

Saffioti (in Primórdios do conceito de gênero, 1999, p. 160), ao evocar a célebre frase de Simone de Beauvoir, em sua magna opus O Segundo Sexo, bem esclarece que:

A mais famosa frase de O Segundo Sexo é, inegavelmente, “On ne naît pas femme, on ledevient” (Ninguém nasce mulher, torna-se mulher)[...] aí reside a manifestação primeira do conceito de gênero. Ou seja, é preciso aprender a ser mulher, uma vez que o feminino não é dado pela biologia, ou mais simplesmente pela anatomia, e sim construído pela sociedade.(grifei)

Maria Berenice Dias, in A Lei Maria da Penha na Justiça: A efetividade da Lei 11.310/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher (2ª ed, São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2010), bem registra:

“(...) Lésbicas, transexuais, travestis e transgêneros, quem tenham identidade social com o sexo feminino estão ao abrigo da Lei Maria da Penha. A agressão contra elas no âmbito familiar constitui violência doméstica. Ainda que parte da doutrina encontre dificuldade em conceder-lhes o abrigo da Lei, descabe deixar à margem da proteção legal aqueles que se reconhecem como mulher. Felizmente, assim já vem entendendo a jurisprudência(...)” (DIAS,.)

PRECEDENTES JUDICIAIS:

Quanto ao sujeito passivo abarcado pela lei, exige-se uma qualidade especial: ser mulher, compreendidas como tal as lésbicas, os transgênicos (sic), as transexuais e as travestis, que tenham identidade com o sexo feminino. Ademais, não só as esposas, companheiras, namoradas ou amantes estão no âmbito de abrangência do delito de violência doméstica como sujeitos passivos. Também as filhas e netas do agressor como sua mãe, sogra, avó ou qualquer outra parente que mantém vínculo familiar com ele podem integrar o polo passivo da ação delituosa.

(TJMG, HC 1.0000.09.513119-9/000, j. 24.02.2012, rel. Júlio Cezar Gutierrez).

Impactos da Lei Maria da Penha na violência doméstica (BRASIL. Leila Posenato Garcia. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea. Violência contra a mulher: feminicídios no Brasil. 5. ed. Brasília, 2013)

Estudo do Ipea avaliou o impacto da Lei Maria da Penha sobre a mortalidade de mulheres por agressões, por meio de estudo de séries temporais. Constatou-se que não houve impacto, ou seja, não houve redução das taxas anuais de mortalidade, comparando-se os períodos antes e depois da vigência da Lei. As taxas de mortalidade por 100 mil mulheres foram 5,28 no período 2001-2006 (antes) e 5,22 em 2007-2011 (depois). Observou-se sutil decréscimo da taxa no ano 2007, imediatamente após a vigência da Lei[...].(grifei)

Perspectiva sobre a criminalização (KARAN, M. L., Violência de gênero: o paradoxal entusiasmo pelo rigor penal. Boletim IBCCRIM, ano 15, 2006):

[...] o enfrentamento da violência de gênero, a superação dos resquícios patriarcais, o fim desta ou de qualquer outra forma de discriminação não se darão através da sempre enganosa, dolorosa e danosa intervenção do sistema penal, como equivocadamente crêem mulheres e homens que aplaudem o maior rigor penal [...].

******** OBRIGADO! ********

Analogia in malan partem ou interpretação sistemática/extensiva? Criminalização da transfobia? Legislação Simbólica Criminalização da transfobia?

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