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DOS PROGRAMAS DE TREINAMENTO NAS EMPRESAS DE COMUNICAçãO EM 2012

Mapeamento dos Programas de Treinamento nas Empresas de Comunicação

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Este terceiro mapeamento do Rumos Jornalismo Cultural é resultado do trabalho dos oito docentes selecionados na Carteira Professor da edição 2011-2012 e mostra o rito de passagem do estudante de jornalismo à carreira profissional.

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dos programas de treinamento nas empresas de comunicação em 2012

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dos programas de treinamento nas empresas de comunicação em 2012 – uma relação necessária: academia e mercado

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ExpEdiEntE

Direção eDitorial: Claudiney Ferreira

organização: nísio teixeira

CoorDenação: Babi Borghese

Consultoria eDitorial: Maria José silveira

revisão: isabel Cury

ProDução eDitorial: Jahitza Balaniuk

textos e ensaiosalexandra aguirreCelso gayoso everton Cardoso izaura rocha lorena tárciaMarcos santuario Maria Cristina leite Peixoto nísio teixeira thaísa Bueno

Fotosandré seiti - rubens Chiri

ProJeto gráFiCo e DesignBruno thofer

Jornalista resPonsávelClaudiney FerreiraMtB 12742

Centro de Documentação e Referência Itaú Cultural Catalogação na publicação (CIP)

Mapeamento dos programas de treinamento nas empresas de comunicação em 2012 : uma relação necessária : academia e mercado / organização Nísio Teixeira. – São Paulo : Itaú Cultural, 2012. 116 p.

ISBN 978-85-7979-036-2

1. Comunicação social. 2. Jornalismo. 3. Atividade profissional. 4. Jornalismo - ensino I. Título.

CDD 70.023

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s ã o P a u l o 2 0 1 2

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sumárioAprEsEntAção ........................................................................................................................................................................... 06

1. discutindo A rElAção Por Nísio Teixeira ..................................................................................................................................................................................... 08

2. Em quE pé EstAmos? EmprEsAs trEinAm Alunos nAs cinco rEgiõEs do BrAsil Por Alexandra Aguirre e Thaísa Bueno ............................................................................................................................................ 16

3. A Visão dAs EmprEsAs: grupo FocAl Por Everton Cardoso, Maria Cristina Leite Peixoto e Nísio Teixeira .......................................................................................................28

4. A Visão dA AcAdEmiA: BrEVEs rElAtos Por Izaura Rocha, Lorena Tárcia e Marcos Santuario ..................................................................................................................52

5. lá ForA: progrAmAs no ExtErior Por Celso Gayoso ....................................................................................................................................................................................62

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6. A pAlAVrA dE cAdA um

reflexões sobre as proposta do exterior Por Celso Gayoso .....................................................................................................................................................................................71

Ensinamentos de quem já está lá Por Lorena Tárcia ...................................................................................................................................................................................... 74

do ponto de vista dos trainees Por Maria Cristina Leite Peixoto ........................................................................................................................................................ 78

Afinal, onde se aprende jornalismo? Por Izaura Rocha.......................................................................................................................................................................................82

como o mercado vê o ensino Por Alexandra Aguirre ............................................................................................................................................................................86

Jornalismo como prática consciente Por Everton Cardoso ............................................................................................................................................................................. 90

Vários crachás, um desejo único Por Marcos Santuario .............................................................................................................................................................................94

mapeamento como método de interpretação Por Thaísa Bueno .....................................................................................................................................................................................98

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AprEsEntAção

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o Mapeamento dos Programas de Treina-mento nas Empresas de Comunicação em 2012 – uma Relação Necessária: Acade-mia e Mercado é a terceira experiência do

Rumos Itaú Cultural – Jornalismo Cultural em pesquisas sobre o estado do ensino de jornalismo no Brasil. Por que o jornalismo cultural? Porque seus jornalistas e seus con-sumidores são os personagens que azeitam o motor da cadeia produtiva da economia da cultura de um país.

Esta publicação é fruto da convergência de vários elementos:

Primeiro, o Rumos Itaú Cultural possui atualmente dez segmentos nas diversas áreas de expressão artística e do conhecimento humano, entre os quais o jornalismo cultural.

Segundo, a consequência natural de outros dois mapea-mentos resultantes de edições anteriores: Mapeamento do Ensino de Jornalismo Cultural em 2008, e Mapea-mento do Ensino do Jornalismo Cultural em 2010.

Terceiro, a vontade de observar como os veículos de comunicação estão contribuindo com a formação do jovem jornalista, que começa na academia.

Quarto, o registro do trabalho dos oito docentes contem-plados na carteira Professor – edição 2011-2012, realizado por meio de um fórum virtual capaz de reunir residentes de diversos estados do país num mesmo ambiente, sob a mediação do professor Nísio Teixeira, também selecionado para o programa, na edição 2007-2008.

O quinto elemento é vocação intrínseca do Itaú Cultural em agregar gente, objetivo deste programa que articula (a)gentes culturais como artistas, técnicos, curadores, ges-tores, teóricos, estudantes, professores, jornalistas e tam-bém cidadãos comuns que se tornam midialivristas pelas mãos colaborativas das redes sociais. Todos em prol da construção de uma editoria de cultura consistente.

Este trabalho apresenta em seis capítulos o rito de passagem do estudante de jornalismo à carreira pro-fissional. Os professores-autores saem a campo apli-cando um questionário em 80 empresas ou grupos de comunicação do Brasil – tendo o excepcional retorno de 50%. Dessa forma analisam os dados, aprofundam-se em questões mais instigantes com um grupo focal e extraem suas conclusões.

No capítulo 1, Nísio Teixeira explica o processo em de-talhes. No seguinte, as professoras Alexandra Aguirre e Thaísa Bueno apresentam os dados brutos. No terceiro, os docentes Maria Cristina Leite Peixoto, Everton Car-doso e Nísio Teixeira tratam do grupo focal. O quarto capítulo é dedicado a informações levantadas na acade-mia, por conta dos professores Izaura Rocha, Lorena Tár-cia e Marcos Santuario. O professor Celso Gayoso olha para o exterior no capítulo 5 e no sexto, os selecionados assinam artigos pessoais, cada um com seu próprio foco.

Outro resultado do Rumos Jornalismo Cultural 2011-2012 é o da carteira Estudante, disponível na revista eletrônica contemporaneo.singular, em que os universitários con-templados exibem cada qual uma reportagem produzida por meio do Laboratório Online de Jornalismo Cultural sob a editoria do jornalista e escritor José Castello.

O processo de criação de ambas as carteiras e as metodo-logias usadas em cada uma estão registrados no Dossiê, junto com uma relação de todas as pessoas e as institui-ções parceiras envolvidas no trabalho deste biênio. Gente se articulando e dialogando, do jeito que a gente gosta!

itaú cultural

Este trabalho apresenta em seis capítulos o rito

de passagem do estudante de jornalismo

à carreira profissional

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cApítulo 1

Nísio Teixeira

discutindo A rElAção

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“o s jornais, mesmo sem colaborar com o curso, terão de reconhecer a superioridade de um jornalista culto. Certamente, não o recusarão por isso. Mas, sem dúvida, o preterirão se ele

não souber passar para o papel a sua cultura. Repetimos: nada adianta saber como se faz jornal – é preciso saber fazê-lo.”. Escrito em 1953, o trecho de Carlos Rizzini, recolhido pela tese de Maria Elisabete Antonioli Laurenti (2002), evidencia o dilema atual para o leitor do mapeamento desta edição do Rumos Jornalismo Itaú Cultural – Carteira Professor.

O lide é o seguinte: nota-se cada vez mais rarefeita a formação humanista dos alunos ou recém-formados que chegam aos programas de treinamento ou estágio das empresas de comunicação. Muitos chegam com uma ra-zoável experiência prática, mas que, ao final, não encon-tra a proporção equivalente e necessária em formação cultural. Observa-se uma “troca de papéis”, para usar um termo presente nas análises que encerram esta publica-ção: os cursos estão ensinando mal e, muitas vezes de forma mimética e sem experimentação, a prática.

Caberia às empresas assegurar o cabedal mínimo de for-mação necessário ao jornalista, incluindo procedimentos lógicos de redação no texto e o mínimo conhecimento e domínio da língua portuguesa (um dos cursos mais anti-gos e procurados do país teve de rebaixar a nota de corte nesse quesito, de 70% para 35%, se quisesse garantir al-gum tipo de aprovação). Há até um reconhecimento de que a origem do problema talvez não esteja na academia, mas remonte ao ensino médio e ao fundamental do país.

Em um primeiro momento, talvez o diagnóstico possa ser visto como um disparate contra o mundo acadêmico, que poderia retribuir com o seguinte argumento: programas e cursos de treinamento e estágio que querem moldar o candidato àquele pensamento institucional só confirmam a necessidade de aprimoramento da preparação e forma-ção do jornalista. Tais cursos são oferecidos muitas vezes por empresas que, paradoxalmente, negam o diploma e os cursos de preparação e formação existentes nas univer-sidades. Mas, e se a origem do problema não estiver so-mente no ensino médio e no fundamental do país, porém

em uma sociedade midiacêntrica, em que a TV e o jornal também assumem esse papel? Caberia aqui o célebre verso de John Milton: “Aqueles que arrancaram os olhos das pessoas agora reclamam de sua cegueira”.

No fundo e mais atentamente, é curioso constatar o risco das aversões no choque de versões. Quando se examina a gênese do ensino do jornalismo dentro e fora do Brasil, percebe-se a necessidade histórica de um debate entre o campo teórico-acadêmico e um campo prático-mer-cadológico. Mais que isso: há necessidade de examinar a pertinência dessa associação (am)bivalente.

A trajetória de histórias bem ou malsucedidas na construção de cursos de jornalismo, como a vivenciada por Rizzini – ou ainda Victor de Sá, Anísio Teixeira, Caio Pompeu de Souza, Costa Rego, Vitorino Prata Castello Branco, Luís Beltrão, Celso Kelly, Cásper Líbero, Edeimar Massote, José Men-donça, Arthur Veloso, entre tantos outros –, pode sugerir aqui e ali alguma falha de comunicação nessa articulação. Casa de ferreiro, espeto de pau. Mas essa articulação, vale dizer, não inclui só uma dimensão acadêmica ou de merca-do, como se, antes de serem excludentes, elas já não fossem intrínsecas. Inclui também outros atores sociais importantes, como, por exemplo, as entidades de classes (também coau-toras, em alguns casos, de cursos de jornalismo).

Mesmo aqui, em que medida quem faz a notícia e quem é a voz daqueles que a fazem, interagem com aqueles que estudam o jornalismo, e vice-versa? Em livro escrito em coautoria com Carlos Alberto de Carvalho, o jorna-lista e professor Mozahir Salomão Bruck chama atenção para a questão:

Os jornalistas profissionais e as entidades que os con-gregam são defensores da primeira coluna da forma-ção em nível superior e de qualidade para o exercício da profissão. Curiosamente, no entanto, em nenhum documento pesquisado para este artigo se fala, expli-citamente, na relevância ou qualquer nível de conexão entre o conhecimento produzido no meio acadêmico e as necessárias reflexões de que tanto se ressente a prática jornalística profissional (BRUCK, 2012)

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capítulo 1 | discutindo a relação

Primeiro ponto pacífico: no exercício jornalístico a edu-cação é apontada por todos os atores aqui citados como valor relevante para o seu aprimoramento. De fato, e por isso mesmo, é difícil não concordar com a citação reco-lhida por José Mendonça, um dos fundadores do curso de jornalismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), criado há 50 anos, durante entrevista em 1982: “Só há uma profissão para a qual você não precisa estudar. É a de idiota” (MENDONÇA, 1995).

Desprendidos desses primeiros temores, podemos reto-mar o lide proposto e perceber como quando falamos de “mercado”, falamos do quê mesmo? A diversidade de em-presas aqui presentes e a boa acolhida por esta pesquisa demonstram a necessidade de um convite maior à refle-xão e ao diálogo recíprocos entre quem ensina e quem faz jornalismo, uma vez que esses atores estão hoje tanto dentro como fora de uma redação, como tanto dentro como fora da academia.

mApEAndo o mApEAmEnto

Este mapeamento teve como base o edital do Rumos Jor-nalismo Cultural 2011-2012 – Carteira Professor. A partir dele, uma primeira discussão foi realizada já na ocasião da reunião dos aprovados na sede do Itaú Cultural em São Paulo (dezembro de 2011), quando foi delineado o objetivo geral para a pesquisa: a produção de um mapeamento que detalhasse os programas de estágio e/ou treinamento para atuar nas empresas de comunicação nacionais dedicados a estudantes de graduação de últimos semestres ou recém-formados. Um questionário seria enviado por e-mail a essas empresas, e uma primeira síntese de respostas seria produ-zida, a partir da qual algumas delas seriam selecionadas para um grupo focal aprofundar as questões levantadas. Por fim, considerando a própria experiência do mapeamento, arti-gos autorais fechariam a publicação.

Cabe ressaltar ainda que, no início das conversas, cogitou-se a hipótese de incluir também empresas estrangeiras e outras instituições que oferecessem alguma modalidade de treinamento a jornalistas (não se limitando, portanto, às

empresas de comunicação). Mas, em função do cronogra-ma e por razões operacionais, além do recorte do trabalho, optou-se pela limitação a empresas de comunicação bra-sileiras. No entanto, foi mantido o levantamento paralelo das possíveis ofertas de empresas de comunicação inter-nacionais, bem como de outras instituições, para a confi-guração de um capítulo e texto à parte (respectivamente capítulo 5 e ensaio do capítulo 6, por Celso Gayoso).

Apesar da existência de programas de treinamento fortes e há muito consolidados no país – os quais, muitas vezes, substituem ou minimizam os programas de estágio na empresa –, parte dessas empresas se detém também em programas de estágio (como se verá no capítulo 2, escrito por Alexandra Aguirre e Thaísa Bueno). Por isso, com o objetivo de ampliar o escopo, preferiu-se incluir não só os programas de treinamento, mas também os programas de estágio. No caso dos programas de treinamento, en-fatizou-se o seu direcionamento ao trainee e excluíram-se outras modalidades como oficinas, workshops, coaching, palestras, debates, cursos – a menos, claro, que estas se configurassem dentro do programa para o trainee.

Uma diferença substancial entre um e outro reside, obviamente, na limitação do estágio ao estudante, en-quanto os programas de treinamento, ao evidenciar a figura do trainee, podem incluir alunos recém-forma-dos. O estágio deve ter a mediação da instituição de ensino, pois se trata de um processo complementar de

A elaboração, aplicação e síntese

do questionário formaram o tópico que, certamente, mais ocupou as discussões entre os professores.

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aprendizagem, enquanto os programas de trainee não necessariamente dependem desse monitoramento, uma vez que o aluno pode já ter se desvinculado da instituição de ensino. Na maioria das vezes, o trainee se submete a um programa de treinamento e desenvolvi-mento e tem contato com vários setores da empresa. Além de uma apresentação formal à instituição, o es-tagiário não passa obrigatoriamente por esse tipo de programa integrado e, em geral, se insere em um setor específico da organização.

Tanto trainees como estagiários possuem programas de período determinado. Para os estagiários esse prazo nor-malmente é de seis meses, podendo ser renovado – isso em geral não acontece com o trainee, que tem um prazo mais curto e não renovável. De toda forma, ao final tanto de um processo como de outro, estagiários e trainees po-dem ser efetivados na empresa em que atuam. Além disso, esse recorte conceitual do público visado pelas empresas considera em alguns casos a graduação não exclusiva à comunicação social e/ou jornalismo. Por essa razão, mais detalhes e a contextualização dessa questão, especialmen-te no tocante ao estágio e ao diploma no âmbito do curso de comunicação social, poderão ser encontrados em todos os capítulos e, em especial, no capítulo 4 (por Izaura Rocha, Lorena Tárcia e Marcos Santuario). Pelo recorte proposto, ficaram de fora os cursos de aperfeiçoamento e aprimora-mento para profissionais já experientes e veteranos. Para o levantamento inicial das empresas de comuni-cação brasileiras, o grupo de professores contou com a ajuda da assessoria de imprensa do Itaú Cultural, que apresentou uma lista com 106 organizações. Em segui-da, imprimiu-se um caráter ainda mais abrangente à lis-ta, com a inclusão de nomes a partir do conhecimento regional de que dispunha cada professor. Em uma son-dagem de arremate, também feita pelos professores e incorporada ao final do capítulo 4 deste mapeamento, foram ouvidos coordenadores de curso de comunica-ção social de diversas escolas do país. A lista gerada foi confrontada com outras consultadas em sites de organi-zações da área, como o da Associação Brasileira de Im-prensa (ABI) e, ao fim e ao cabo, chegou-se a uma lista

final com 80 empresas de todo o Brasil. Metade delas respondeu ao questionário e, entre estas, seis participa-ram do nosso grupo focal (ver capítulo 3, por Everton Cardoso, Maria Cristina Leite Peixoto e Nísio Teixeira).

A elaboração, aplicação e síntese do questionário forma-ram o tópico que, certamente, mais ocupou as discussões entre os professores. Cabe ressaltar que todo o processo de elaboração dessa etapa da pesquisa, bem como das demais, foi produzido graças ao encontro quinzenal em chats dominicais de duas horas realizado em ambiente on-line disponibilizado pelo Itaú Cultural e à postagem de trabalhos e comentários em tópicos off-line que des-de janeiro até setembro marcaram a tônica da produção.

Salvo por um encontro presencial e pela reunião do gru-po focal, toda a pesquisa entre os professores se desen-volveu nesse ambiente eletrônico-digital – que incluiu ainda indicação de leituras, entre outras ações necessá-rias ao desenvolvimento do trabalho.

Na formatação do questionário a ser enviado (vide pág. 13), houve muito debate. No final, decidiu-se pelo envio ele-trônico de um questionário contendo cinco questões, algumas com subdivisão de perguntas, formatadas den-tro de um link ao ambiente do Google e enviadas por e-mail aos representantes das organizações. Foi realiza-do um pré-teste não só do questionário como também da eficácia do método operacional e, uma vez aprovado, passou-se à fase efetiva de envio das perguntas. Cada professor ficou responsável por um número específico de empresas e, como já dito, ante um número total de 80 organizações, o índice de resposta foi de 50% e, den-tro dele, 63% confirmaram a existência de algum tipo de programa de treinamento.

A primeira questão – Existe na sua empresa alguma moda-lidade de treinamento/formação/capacitação em jornalis-mo para estudantes de graduação de últimos semestres ou recém-formados? – procurou esmiuçar, ante uma resposta positiva, os detalhamentos do programa. Por um problema técnico, a segunda questão, que pedia aspectos do histórico do programa, não foi processada – mas, felizmente, incor-

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capítulo 1 | discutindo a relação

porada em parte na primeira questão e detalhada no grupo focal. A terceira questão – Existem formas de relacionamen-to entre a sua empresa e as universidades e/ou estudantes? Convênios de estágio? Visitas técnicas? Seções produzidas por alunos? Outras? Caso afirmativo, fineza descrevê-la(s) – buscava indícios da relação entre a empresa e a instituição de ensino e/ou alunos. A quarta – Em sua opinião, quais as principais características que um jovem jornalista deve ter (no máximo, três) – procurou identificar e enumerar valores que a instituição pesquisada julga essenciais ao jornalismo e, por fim, uma última questão – Se há alguma outra informa-ção que você acha relevante destacar, sinta-se à vontade. Só temos a agradecer – deixava em aberto eventuais com-plementos ao questionário enviado. A íntegra do questio-nário está disponível aqui, e a análise das respostas poderá ser vista no capítulo 2. O capítulo foi elaborado a partir de uma síntese dos relatórios finais de cada pergunta, escritos individualmente ou em dupla pelos professores. Foi essa discussão dos relatórios de cada pergunta nos chats que gerou as escolhas e o roteiro para o grupo focal, que pode ser visto logo no início do capítulo 3.

Por fim, todo esse percurso do mapeamento e dos resulta-dos obtidos inspirou os textos ensaios que integram o capí-tulo 6. Além do já citado texto de Celso Gayoso acerca da oferta internacional de instituições a jornalistas, Lorena Tár-cia analisa as conversações em rede geradas pelas platafor-mas on-line dos próprios programas de treinamento. Maria Cristina Leite Peixoto oferece um contraponto interessante ao abordar os programas de treinamento sob a perspectiva do trainee, enquanto Everton Cardoso, Alexandra Aguirre, Izaura Rocha e Marcos Santuario discutem, cada um a seu modo e de forma complementar, um ponto crucial eviden-te nesse mapeamento desde o início: a relação entre uni-versidade e empresa, ou entre “teoria” e “prática”, ou entre “academia” e “mercado”.

Aliás, preocupada exatamente com o que pretendem su-gerir as aspas que marcam esses termos, Alexandra Aguirre enumera pontos de visão do mercado sobre o jornalismo, ao passo que Izaura Rocha se detém na polêmica argumen-tativa em torno da legitimação do lugar de aprendizado de um e outro. Everton Cardoso aponta, entre outras, as inver-

sões sofridas no campo do jornalismo e, nelas, suas especi-ficidades e a adaptação consciente do profissional junto às organizações. Marcos Santuario traz um relato pessoal de sua própria polivalente situação como jornalista, professor, responsável por dois programas de treinamento e também, agora, integrante desta edição do Programa Rumos Jorna-lismo Cultural – Carteira Professor.

Conclui o capítulo Thaísa Bueno, que retoma uma questão central do Rumos Jornalismo Cultural: o ma-peamento. A trajetória do conceito no programa é re-dimensionada, como também as suas interfaces como metodologia para interpretação da realidade.

Parafraseando a autora, o que temos a oferecer aqui são olhares, dúvidas e muitas certezas provisórias. Que estes nossos apontamentos possam orientar os percursos em torno dos caminhos entrecruzados e contribuam com algum navegar em meio a um dos mais importantes e históricos debates da comunicação e do jornalismo.

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mApEAmEnto dos progrAmAs dE VEículos dE comunicAção pArA trEinAmEnto Em JornAlismo dE EstudAntEs ou rEcém-FormAdos

Rumos Itaú Cultural Jornalismo Cultural 2011/2012 Car-teira Professor *Obrigatório

Cadastro para posterior envio da publicação * (nome da empresa, departamento, seu nome e cargo, nesta ordem, por favor).

Endereço da empresa * Rua, nº e complemento (se houver)

Cidade da empresa *

Sigla do Estado da federação em que a empresa está sediada *

1. existe na sua empresa alguma modalidade de trei-namento/formação/capacitação em Jornalismo para estudantes de graduação de últimos semestres ou re-cém-formados? *• Não existe qualquer modalidade. (Por favor, vá direto para a terceira pergunta deste questionário).• Programa para trainee/programa de treinamento;• Workshop;• Curso;• Palestra;• Outro:

nome do programa

Público alvo

Âmbito do programa• Regional• Nacional• Internacional

o programa é:• Presencial• Virtual• Misto

Periodicidade• Anual• Semestral• Outro:

ano de implantação

número de vagas por edição

Carga horária

Duração

Há bolsa aos participantes ou alguma outra forma de benefício?• Sim• Não• Outro:

Como se dá o processo de seleção? se houver edital públi-co ou algum tipo de anúncio, agradecemos o envio de links

Qual a metodologia do programa (aulas expositivas, pro-dução de textos e/ou outros)? ela baseou-se em algum modelo científico ou houve orientação da academia?

Conteúdo estabelecido

Há obras referenciais escolhidas para o programa?• Sim• Não

em caso positivo, favor citar as principais (no máximo tres).

Quantos são os profissionais da empresa que hoje estão envolvidos no programa e qual sua formação?

a dedicação desses profissionais é exclusiva ao programa?• Sim• Não• Alguns sim, outros, não

Quem é o responsável pelo programa? (Favor anexar um currículo reduzido)

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capítulo 1 | discutindo a relação

Há o envolvimento de profissionais externos, como consultores ou convidados para ministrar palestras, por exemplo?• Sim• Não

Há um espaço físico determinado para o programa?• Sim• Não

Há computadores disponíveis para as pessoas selecio-nadas para o programa?• Sim• Não

telefones?• Sim• Não• Sim, mas não estão liberados para ligações interurbanas

viaturas?• Sim• Não• Não, mas há verba para transporte

equipamentos de fotografia e/ou audiovisual?• Sim• Não

Há algum tipo de publicação/exibição de trabalhos re-alizados durante o programa? se estiver disponível na internet, favor mandar link.

Há avaliação dos participantes sobre o programa?• Sim• Não

Há chances de aproveitamento de participantes na or-ganização após o programa?• Sim• Não

em caso positivo, quantos profissionais oriundos do programa já foram contratados pela empresa até hoje?

3. existem formas de relacionamento entre a sua empresa e as universidades e/ou estudantes? Con-vênios de estágio? visitas técnicas? seções produ-zidas por alunos? outras? Caso afirmativo, fineza descrevê-la(s) *

4. em sua opinião, quais as principais características que um jovem jornalista dever ter (no máximo, tres). *

5. se há alguma outra informação que você acha rele-vante destacar, sinta-se à vontade. só temos a agradecer.

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rEFErênciAs BiBliográFicAs

BRUCK, Mozahir Salomão; CARVALHO, Carlos Alberto. Jornalismo – cenários e encenações. São Paulo: Intermeios, 2012, p. 41.

LAURENTI, Maria Elisabete Antonioli. Liberdade curricu-lar nos cursos de jornalismo – a responsabilidade e o desa-fio na formação profissional. São Paulo: ECA/USP. Tese. Orientador: prof. José Coelho Sobrinho, 2002.

MENDONÇA, José. In: Memória do jornalismo mineiro. Belo Horizonte: PUC-MG/Prefeitura Municipal de BH, 1995, p. 119.

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cApítulo 2

Alexandra Aguirre e Thaísa Bueno

Em quE pé EstAmos? EmprEsAs trEinAm Alunos nAs

cinco rEgiõEs do BrAsil

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E sta terceira edição de Rumos Jornalismo Cul-tural – Carteira Professor se propôs a mapear os programas de treinamento para estudantes de jornalismo ou jornalistas recém-formados

em veículos de comunicação distribuídos nas cinco re-giões do país. Das 40 empresas que responderam ao questionário, 25 delas mantêm algum tipo de atividade nesses moldes, ou seja, 63% das respondentes possuem alguma modalidade de treinamento.

os progrAmAs dE trEinAmEnto concEntrAm-sE no sudEstE

Diferenças geográficas marcantes no que tange à concen-tração dos programas de treinamento para jornalistas recém-formados foram perceptíveis na análise do levantamento. O estudo mostra que as empresas que investem nesse tipo de programa se concentram no Sudeste do Brasil. Nessa região estão 60% das atividades ofertadas no país, concentrando 15 das 25 empresas que possuem alguma modalidade de trei-namento. Em seguida vem a Região Sul, com seis; Nordeste, com duas; Centro-Oeste e Norte, com uma cada. Das 25 empresas que possuem modalidades de treinamento, nove atuam com os suportes jornal impresso e on-line; seis com TV; três com TV, jornal impresso, on-line e rádio; três com rádio; duas com jornal impresso, on-line e rádio; uma com TV, jornal impresso, on-line; uma com rádio e TV.

A modAlidAdE trAinEE é A mAis AdotAdA

Das modalidades de atividade extracurricular que as em-presas ofertam, o modelo trainee/programa de treina-mento é o mais comum. Das 25 empresas que possuem alguma modalidade, 12 (48%) declararam ter programa para trainee; sete (28%) declararam ter estágios e seis (24%) afirmaram ter cursos, oficinas, palestras. O modelo trainee também é mais comum no Sudeste, que concen-tra nove dos 12 programas mapeados. Dos sete veícu-los que disseram manter estágio, três estão situados na Região Sudeste, com atuação em Minas Gerais e Rio de Janeiro (com sede no Rio, uma empresa oferece pro-grama de estágio para as filiais em SP, MG e DF). Das 25 empresas que possuem modalidades de treinamento,

seis indicaram workshop, curso, palestra, oficina. Destas, três estão no Sul, e três no Sudeste.

Onze das 25 empresas que possuem modalidades de trei-namento responderam sobre orientação acadêmica nos programas de treinamento. Destas, cinco declararam haver orientação acadêmica; uma informou que o modelo se ba-seou na experiência do próprio jornal; uma diz seguir o mo-delo de estágio oferecido pela Central Globo de Jornalis-mo; uma informa basear-se em um “modelo tradicional das redações”; e duas declararam não haver orientação acadê-mica formal/específica, mas salientaram o fato de que mui-tos dos profissionais envolvidos são também acadêmicos. Apenas uma declarou não haver orientação acadêmica.

Estágio é Visto como importAntE pArA A FormAção do JornAlistAQuanto aos nomes e formatos que os programas rece-bem dos veículos, o estágio é a nomenclatura que mais aparece para representar, inclusive o formato de trai-nee, o recurso de treinamento dos futuros jornalistas. a presença do estudante ou recém-formado na redação, participando da rotina diária dos profissionais, caracte-riza o termo estágio como o tipo de treinamento mais eficiente. Mesmo apesar de sua não regulamentação, já é ponto pacífico entre empresas, universidades e en-tidades de classe que o estágio tem eficácia e é ampla-mente praticado na formação dos profissionais, desde que haja efetivamente vivência profissional comple-mentar, e não exploração de mão de obra barata.

proVAs dE sElEção E cArgAs HoráriAs VAriAdAs cArActErizAm os cursos

Com relação ao público-alvo, a maioria desses cursos ofertados pelas empresas de comunicação é voltada para estudantes de jornalismo a partir do terceiro perío-do (58%); os demais (42%) não especificaram o curso de graduação exigido. Isso não significa necessariamente a abertura para outros cursos, podendo indicar somente a não especificação deles nas respostas.

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capítulo 2 | Em quE pé Estamos?

O número de vagas por edição oscila entre cinco e 20 (36%) e indeterminado/variável (64%). A carga horá-ria das modalidades varia muito também. As respostas mostram programas de duas horas num mesmo dia (por exemplo, no caso de palestras/oficinas) a 560 horas no total. Para a maioria dos casos, a duração é de até seis meses (39%) ou de seis meses a um ano (43%). São ofe-recidas bolsas ou outras formas de financiamento aos participantes em 77% das empresas com modalidades de treinamento.

Quanto ao processo de seleção das 25 empresas respon-dentes, nas quais existe alguma modalidade de treina-mento, 11 aplicam provas nos candidatos, dentre as quais seis também na modalidade on-line. As provas abordam, em geral, temas da atualidade e conhecimento humanísti-co como: instituições, economia, filosofia, filosofia política, cultura contemporânea, história e atualidades (citado por uma empresa); conhecimentos gerais, editoriais, específi-cos (opcionais: ciências políticas, economia, direito e his-tória) e língua estrangeira (citado por uma empresa); co-nhecimentos gerais/econômicos e exames de português, inglês (citado por uma empresa), redação e tradução.

O Grupo Folha detalhou que a prova de conhecimentos gerais avalia a formação cultural dos candidatos e o grau de acompanhamento do noticiário (nacional e interna-cional), língua portuguesa e matemática. Também pode haver questões envolvendo conhecimento de idiomas. Vale ressaltar ainda que 12 empresas utilizam entrevistas na seleção de candidatos; seis citaram análise de currícu-los como parte do processo seletivo; tres fazem seleção por análise de texto; e uma que trabalha somente com pessoas a ela vinculadas citou a validação dos candidatos inscritos por gestores da área em que atuam.

Em geral o processo seletivo é divulgado nos sites das empresas, num link específico, com anúncios enviados às escolas de comunicação, e através da própria mídia.

dAs EmprEsAs pArticipAntEs, quAtro dEtAlHArAm o procEsso sElEtiVo

grupo Folha: entre 250 e 300 candidatos são chamados para uma prova presencial de múltipla escolha, com questões de conhecimentos gerais (que avaliam a formação cultural dos candidatos e o grau de acompanhamento do noticiário nacional e internacional), língua portuguesa e matemática. também pode haver questões envolvendo conhe-cimento de idiomas. Há ainda uma prova disserta-tiva que pode ser feita no mesmo dia da prova de múltipla escolha presencial ou numa etapa seguin-te. os 40 candidatos com melhor classificação são chamados para uma semana de palestras e passam por uma entrevista. no final do processo, até 12 são selecionados para o programa.Para o programa de jornalismo gráfico há duas etapas:1) É preciso preencher e enviar a ficha de inscri-ção, que fica disponível na página do programa de treinamento da empresa quando novo processo seletivo é aberto. 2) até 50 candidatos são chamados para teste prá-tico, de conhecimentos gerais e entrevistas.

grpcom – grupo paranaense de comuni-cação: o processo de seleção acontece uma vez por ano, sempre no segundo semestre, com as seguintes etapas: • Inscrições: uma vez aberto o processo, podem ser realizadas através do site do programa. os candi-datos terão a oportunidade de indicar se possuem interesse e disponibilidade para participar do cur-so, tendo em conta a carga horária e necessidade de dedicação total durante o período. além disso, poderão indicar qual o veículo de comunicação de seu interesse: jornalismo impresso e on-line, jorna-lismo televisivo e reportagem cinematográfica.• Prova on-line: após a inscrição, o candidato pode-rá realizar a primeira prova seletiva. são perguntas relacionadas a temas da atualidade e conhecimen-tos humanísticos como: instituições, economia,

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filosofia, filosofia política, cultura contemporânea, história e atualidades.• Teste presencial: nessa etapa, o candidato realiza uma prova específica, de acordo com a opção feita na inscrição. no caso de jornalismo impresso, tele-visivo e on-line, essa prova consiste na avaliação de conhecimentos gerais, editoriais, específicos (opcio-nais: ciências políticas, economia, direito e história) e língua estrangeira. Para reportagem cinematográfi-ca há avaliação de conhecimentos gerais, editoriais, específicos (opcionais: ciências políticas, economia, direito e história), língua estrangeira e conhecimen-tos de leitura de imagem. os locais de provas são são Paulo (sP), Curitiba, londrina e Ponta grossa (Pr), podendo haver modificações de acordo com o número de inscrições em cada localidade.• Entrevista presencial: é realizada com os finalistas do processo e fica gravada para análises futuras. após essas etapas são definidos os profissionais que comporão o banco de talentos da empresa.

o estado de s. paulo: no geral, o processo de se-leção é feito em duas fases:1ª fase (on-line): análise de currículo, justificativa de interesse, testes de conhecimentos gerais/eco-nômicos e exames de português e inglês.2ª fase (presencial, em são Paulo): teste de conhe-cimentos gerais, texto jornalístico e entrevista com integrantes do grupo estado.

grupo de comunicação o povo – novos talen-tos: o processo de seleção é aberto a cada semes-tre, de acordo com o calendário a ser apresentado pelo veículo. só podem participar estudantes de jornalismo que, no início do treinamento, estejam entre o quinto e o oitavo semestres. somente são aceitas inscrições de estudantes de cursos de jorna-lismo localizados na cidade de Fortaleza.a seleção passa por sete fases:1. envio de ficha preenchida, que fica disponível no período de inscrição. as inscrições somente po-dem ser feitas on-line. 2. a partir da análise das fichas de inscrição, são

selecionados até 200 estudantes que se submetem a provas de língua portuguesa, redação e conheci-mentos gerais (memória, atualidades locais, nacio-nais e internacionais). 3. são selecionados, nesta etapa, até 20 candida-tos, com as melhores médias. 4. os selecionados na etapa das provas seguem para entrevistas com a área de recursos humanos da em-presa, nas quais são selecionadas até 12 pessoas. 5. os selecionados na etapa anterior participam de um ciclo de palestras com jornalistas do grupo de Comunicação o Povo e convidados.6. após o ciclo de palestras, os participantes fazem uma entrevista com o coordenador do curso no-vos talentos e com um diretor da unioPovo, quando são selecionados até oito estudantes que participarão do curso. 7. os selecionados desenvolvem um programa de formação nas redações do jornal, rádio, portal e tv, sob a supervisão dos editores, e têm aulas sobre técnicas jornalísticas (técnicas de redação e apuração jornalística) e língua portuguesa.

AulAs ExpositiVAs E pAlEstrAs são AdotAdAs por 40% dos progrAmAs dE trEinAmEnto

Sobre a metodologia empregada nas modalidades de treinamento, dez empresas (40%) declararam adotar aulas expositivas e palestras. Inclusive, uma empresa informou que “os alunos são apresentados a todos os preceitos éti-cos, de responsabilidade e eficiência adotados pela em-presa” e que “o programa contempla uma grade de aulas teóricas, dentre as quais são abordadas questões relacio-nadas à filosofia, à geopolítica e ao jornalismo digital”.

Ainda assim, as atividades práticas são as mais comuns nos programas de treinamento oferecidos pelos veículos – 17 (68%) declararam adotar procedimentos práticos no treinamento. • “Atividades são baseadas na prática diária dos jornalis-tas profissionais”;

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capítulo 2 | Em quE pé Estamos?

•“Produção de textos, com base na cobertura diária, em especial da editoria de cidades”;• “A oportunidade de vivenciar o cotidiano das redações”;• “Na parte prática, o aluno acompanha o trabalho dos profissionais e desenvolve atividades supervisionadas por responsáveis pelo treinamento”; • “[O programa] prioriza o aprimoramento prático, dan-do ao aluno a oportunidade de vivenciar o cotidiano da redação, de acompanhar o trabalho dos jornalistas do grupo, e desenvolver atividades práticas supervisionadas por profissionais responsáveis pelo treinamento”;• “Produção de textos”;• “A metodologia é o aprendizado na prática – on the job”;• “Treinamento prático na redação do jornalismo (edi-ção/produção/reportagem)”; • “Atividades de reportagem”;• “Os estudantes são preparados para desenvolver as atividades dos jornalistas da redação como produção, reportagem, apresentação e edição de texto”; • “O estagiário aprende a rotina diária da redação e da re-portagem de rua. Apuração, produção, edição, sempre com orientação direta da chefia de reportagem, da coordenação de jornalismo e a supervisão da gerência de jornalismo”;• “Acompanhamento do material produzido dentro da redação”;• “Produção de textos orientada pelos editores com dis-cussão de critérios de avaliação”; • “Os estagiários são alocados nas diversas editorias dos jornais do grupo e passam a acompanhar o dia a dia dos repórteres, apurando e escrevendo reportagens, para to-das as plataformas de publicação (inclusive iPad)”; • Produção de textos, saída a campo.

quAtro EmprEsAs dEtAlHArAm o procEsso dE trEinAmEnto:

grupo Folha (no website) • Reportagem – trainees acompanham o trabalho dos repórteres;– Fazem reportagens a partir de pautas sugeridas por eles;– elaboram pautas diariamente.

• redação e multimídia– os participantes acompanham todos os passos da produção do jornal;– assistem a reuniões de pauta e de edição e fa-zem exercícios diários de fechamento;– Fazem ainda exercícios de jornalismo multimídia, envolvendo a produção de áudio e vídeo.• Entrevistas– os participantes entrevistam personalidades e produzem perfis;– repórteres especiais, editores e colunistas da Fo-lha falam sobre questões ligadas à profissão.• Cursos– os professores que prestam consultoria à reda-ção dão aulas de português à turma;– o especialista em ensino de direito para jornalistas, gustavo romano, explica como tratar temas judiciais;– especialistas em reportagem investigativa ensi-nam como procurar documentos, checá-los e usá-los jornalisticamente;– a cada edição são organizados cursos especí-ficos sobre temas como história, economia, cine-ma, cultura, eleições;– os trainees aprendem ainda a trabalhar com no-vas tecnologias de comunicação, como podcasts.• Edição especialao longo do programa, pesquisam assuntos e pau-tas. nas últimas três semanas, realizam entrevistas, escolhem fotos, elaboram gráficos e tabelas, redi-gem textos, sugerem títulos e fazem o acabamento.

grpcom – grupo paranaense de comunicação:o curso tem duração de quatro meses e está di-vidido em duas partes. ao longo das aulas, os alu-nos são apresentados a todos os preceitos éticos, de responsabilidade e eficiência adotados pela empresa. também são estimulados a refletir sobre o papel da comunicação e do jornalismo na cons-trução da sociedade. ao final do curso, os alunos recebem o certificado de extensão emitido pelo instituto internacional de Ciências sociais (iiCs).• Parte teóricaBusca desenvolver o conhecimento de temas que

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permitam compreender o mundo atual e estimular a capacidade de reflexão. o programa contempla uma grade de aulas teóricas, dentre as quais são abordadas questões relacionadas à filosofia, à ge-opolítica e ao jornalismo digital. as primeiras três semanas são realizadas em são Paulo, nas instala-ções acadêmicas do iiCs. as demais aulas teóricas acontecem em Curitiba. • Parte práticaPrioriza o aprimoramento prático, dando ao aluno a oportunidade de vivenciar o cotidiano da redação, de acompanhar o trabalho dos jornalistas do grupo e de desenvolver atividades práticas supervisionadas por profissionais responsáveis pelo treinamento.

grupo estadoos dois programas (jornalismo e jornalismo eco-nômico) têm uma mescla de aulas teóricas e práti-cas, com produção de texto, pela manhã. À tarde, os alunos têm contato com as redações do grupo estado (estadão, Jornal da tarde, Portal, agência estado e rádio estadão/esPn). nos dois casos, há respaldo acadêmico. • Curso Estado de Jornalismo– Certificado válido como curso de extensão pela universidade de navarra, na espanha.• Curso Estado de Jornalismo Econômico– Certificado válido como curso de extensão em macroeconomia e finanças pela Fgv/eesP.

novos talentos o povo (por meio do site)o curso novos talentos o Povo para estudantes de jornalismo, do grupo de Comunicação o Povo, oferece treinamento sobre aspectos práticos e teó-ricos da profissão, de modo a preparar novos profis-sionais para atuarem nos meios impresso e eletrôni-co. estudantes de jornalismo têm a oportunidade de conhecer a rotina das redações dos diversos meios de comunicação (jornal, rádio, tv e Portal), partici-pando também de oficinas e cursos com jornalistas do grupo e professores contratados. o curso tem duração de três meses, aproximada-mente. nesse período, os participantes:

a) acompanham o trabalho dos repórteres, escre-vem matérias e participam das reuniões de pauta, tendo a oportunidade de conhecer todas as etapas de produção de conteúdo do jornal, portal e pro-gramas de rádio e tv, sempre com o acompanha-mento de profissionais qualificados.b) Participam de palestras, oficinas e aulas.

EmprEsAs quE mAntêm rElAcionAmEnto com uniVErsidAdEs

Das 40 empresas que responderam à pesquisa, 34 (85%) disseram manter algum tipo de relacionamento com as universidades, do convênio de estágio e organização de visitas técnicas às publicações de produções de alunos, entre outras. Esse número, ainda que considerado ape-nas em termos quantitativos, aponta para a valorização dessa relação entre academia e mercado.

Apenas seis delas, o que corresponde a 15% do total, admi-tiram não ter nenhum tipo de relacionamento entre a em-presa e universidade/alunos. As respostas negativas vieram de empresas do Sudeste e Sul. Num total de seis (100%), duas (33,3%) são do Sul e quatro (66,7%) do Sudeste. O percentual de respostas negativas também é expressivo, e mais inquietante é verificar que as mesmas partiram de veí-culos importantes. Dos seis veículos que responderam “não” a parcerias com a academia, dois (Infoglobo e O Estado de S. Paulo) têm programas de treinamento; um (Grupo Sinos) realiza oficinas, um (Correio do Povo) tem workshop; e dois (Televisão Verdes Mares e Rádio JB FM) não oferecem nenhuma modalidade de treinamento (pergunta 1). Esse é um cruzamento que pode render reflexões interessantes, já que encontramos veículos que investem em treinamentos próprios sem nenhuma interação com a academia, apesar do enorme apelo que exercem sobre os estudantes.

O maior número de respostas positivas quanto a relacio-namento com as universidades veio da Rádio Guaíba e do grupo RBS, ambos de Porto Alegre, cada qual com um total de quatro. Rádio Guaíba: uma para estágio, uma para

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capítulo 2 | Em quE pé Estamos?

visita técnica, uma para palestra e uma para “Outros”, em que o blog é o canal direto entre empresa e universidade. Grupo RBS: uma para estágio, uma para palestra, uma para publicação e uma para outros (programa Primeira Pauta de acompanhamento de reportagem por aluno). Essas empresas parecem contemplar o maior número de recursos de interação entre empresa e universidade.

Estágio E A VisitA técnicA AproximAm EmprEsAs E uniVErsidAdEs

O estágio e a visita técnica são as duas ferramentas mais comuns adotadas pelas empresas para promover a aproxi-mação com as universidades. Das empresas que responde-ram positivamente sobre algum tipo de aproximação com as instituições de ensino, a maioria apontou o estágio como sendo a modalidade mais comum. Ao todo, 26 empresas declararam manter convênio de estágio com as universida-des. As respostas que não detalharam sobre a existência ou não de convênio de estágio foram consideradas convenia-das, já que a pergunta especifica o tipo de relacionamento. A única empresa a especificar o estágio sem convênio foi o Sistema Globo de Rádio/Belo Horizonte.

A segunda atividade mais citada foi a visita técnica, sen-do esta apontada em 16 respostas. O estágio, com 26 respostas, obteve o maior número (cinco) de respostas do Rio de Janeiro (19,2% do total), seguido dos estados

de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, com quatro respostas cada, ou seja, 15,3% do total; e do Rio Gran-de do Sul, com tres respostas (11,5%). A Região Sudeste equivale a 50% do total, com 13 respostas positivas para o estágio. Seguida das regiões Centro-Oeste, represen-tada por Mato Grosso do Sul; Nordeste (com Alagoas, Pernambuco e Maranhão) e o Sul, com quatro respostas cada, o que equivale a 15,3% do total. A Região Norte, com Amazonas, obteve uma resposta, 3,8%. Das 16 respostas que apontaram a visita técnica como a modalidade praticada para aproximar a empresa das univer-sidades e alunos, quatro pertencem ao Rio de Janeiro (25%), enquanto nove pertencem à Região Sudeste como um todo, com 56,25% das respostas para essa modalidade. Esse dado mostra que nessa região há a tendência de reconhecer nessa atividade uma forma eficaz de treinar os alunos, aproximando-os da redação e da rotina diária dos profissionais.

Pelo restante do país, outras regiões também apontaram esse formato como efetivo. O Mato Grosso do Sul repre-senta a Região Centro-Oeste com três respostas positivas para a adoção da visita técnica como boa alternativa na re-lação entre mercado e universidade. Esse número represen-ta 18,75% do total. No Nordeste, os estados do Maranhão e Paraíba, cada qual com uma resposta, somam 12,5% do total, assim como o Sul, com uma resposta do Paraná e uma do Rio Grande do Sul. Já na Região Norte, o Amazonas, com uma resposta, contabiliza 6,25% do total. As respostas que consideraram o estágio (26, ou 42,6% do total) e as visitas técnicas (16, ou 26,2% total) como forma de relacionamento com as universidades somam 42 entre 61 respostas registradas, ou seja, 68,8% do total. Isso signi-fica que as duas atividades mais utilizadas pelas empresas para treinar os alunos implicam um movimento unidirecio-nal, dos alunos para as empresas. Tanto nas visitas técnicas quanto nos estágios, os alunos tendem a ficar em contato com o dia a dia da redação e não o contrário; a empresa não participa do cotidiano da universidade.

Comparadas as duas modalidades de aproximação do aluno com a realidade de uma redação jornalística, o

EmprEsAs quE não mAntêm rElAcionAmEnto com uniVErsidAdEs• Infoglobo – Rio de Janeiro (RJ); • Televisão Verdes Mares/Rádio Tamoio – rio de Janeiro (rJ);• Jornal Correio do Povo – Porto Alegre (RS);• Rádio JB FM – Rio de Janeiro (RJ);• O Estado de S. Paulo – São Paulo (SP);• Grupo Sinos – Porto Alegre (RS)

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estágio sobressai como a de maior representatividade. Os programas de treinamento da grande mídia são os mais ambicionados pelos estudantes, mas o contato da imensa maioria dos alunos de jornalismo com a reali-dade de sua futura profissão, no Brasil, se dá pela via do estágio. Tendo em vista esse dado, a modalidade suscita alguns questionamentos, como: qual o papel pedagógico do estágio na formação do jornalista? Em que condições está sendo realizado? Como se dá efe-tivamente essa relação academia-mercado? Como ela afeta a relação do estudante com a academia?

outrAs AtiVidAdEs

Além dessas, outras atividades citadas foram: publica-ção ou transmissão de produções de alunos (cinco), palestras (quatro), cursos ou programas com equiva-lência de créditos em disciplinas universitárias (duas), outros (oito). Na especificação de “Outros” foram ca-talogadas as seguintes atividades entendidas como re-lação da empresa com a universidade:• Bolsa de estudo em universidade local para funcioná-rios da empresa (2);• Estágio e visitas técnicas sem convênio (1); • Não especificou o tipo de relacionamento (1); • Contato regular com coordenadores e alunos (1);• Blog Oficina de Jornalismo (1); • Certificado do programa por universidades, sem espe-cificar se há vinculação à disciplina (1);• Projeto que seleciona estudante para acompanhamen-to de produção multimídia na redação (1).

Interessante notar aqui que, depois do estágio e das visitas técnicas, a publicação ou transmissão de conteúdo produ-zido por alunos é a modalidade com maior incidência de respostas (cinco), um total de 8,1%; seguida de palestras (quatro), que corresponde a 6,5%, enquanto equivalência a créditos de disciplinas (duas) teve 3,2% das respostas.

Nesse contexto as palestras nas universidades, que con-figuram um modelo de bidirecionalidade do movimento empresa-universidade, quando profissionais acabam co-

nhecendo o cotidiano e intervindo no dia a dia da escola, têm uma representatividade muito baixa, ocorrendo so-mente nas seguintes empresas e estados:• Grupo Folha – São Paulo (SP)• Sistema Globo de Rádio – Belo Horizonte (MG)• Rádio Guaíba – Porto Alegre (RS)• Grupo RBS – Porto Alegre (RS)

o mErcAdo procurA JornAlistA com grAmáticA E rEdAção pErFEitAs

Domínio da gramática e redação perfeita foram apontados pelos veículos como as principais características no proces-so de seleção do novo jornalista. Num total de 123 respos-tas contabilizadas para a questão sobre qual característica o jovem jornalista deveria ter, 41 indicaram o conhecimento como o quesito mais importante e, destes, 15 apontaram a gramática e a redação impecável como sendo prioridades. Ou seja, 37% das respostas mostram preocupação com as-pectos estruturais da produção do texto; seguida de forma-ção cultural e humanística, com 34% (14 respostas); e atua-lização do conhecimento (estar bem informado), com 27% (11 respostas). Ainda nesse item, o embasamento teórico apareceu em 3% dos apontamentos.

Por outro lado, domínio técnico, citado como faro jornalístico e conhecimento de ferramentas de comunicação, só aparece em nove das 123 respostas. Isso representa menos de 8% do total e mostra que o mercado está muito mais flexível para habilidades específicas da profissão e muito mais interessado num profissional que tenha amplo domínio do seu idioma, escrita coesa e embasamento cultural e humanístico.

Mas, além do conhecimento, outro aspecto muito citado pelos veículos, no que tange à expectativa sobre o perfil do novo profissional, diz respeito às suas características pessoais. Inclusive, no montante de citações, qualidades que abarcam essa categoria foram as mais citadas, estan-do presentes em 43 respostas, o que representa 35% do total. Nesse aspecto a curiosidade foi apontada como o traço mais importante no perfil desse profissional, acu-mulando 21% das respostas. Em seguida, aparecem com

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capítulo 2 | Em quE pé Estamos?

quatro indicações cada (10%) ética, criatividade, inovação e ousadia. Com 7%, ou seja, três respostas, estão empa-tadas as seguintes particularidades: comunicabilidade e agilidade. Ainda voltados para as características pessoais, aparecem com 5% vocação, gosto pela profissão, respon-sabilidade e ser questionador. Por último, com 3% das res-postas, os veículos elencaram outros pontos importantes na personalidade do novo jornalista: visão holística, ser multifuncional, ter interesse pelas pessoas, ter preocupa-ção social, perseverança, adaptação às mudanças, humil-dade, desprendimento, ter garra e ter paixão .

A quarta particularidade que o mercado busca para sele-cionar seus profissionais diz respeito à postura destes diante do seu trabalho, ou seja, sua atitude perante as atividades propostas. Respostas que apontaram esse quesito como o mais importante apareceram 33 vezes, ou seja, 26% dos ve-ículos analisam esse aspecto na hora de avaliar seus profis-sionais. A proatividade foi citada dez vezes, contabilizando 30% do total de respostas, e ocupa um lugar de destaque entre outras características procuradas nesse mesmo que-sito. Depois dela, nessa categoria, as outras marcas aponta-das não chegam a 10% das indicações, ou seja, ser proativo é, substancialmente, uma das posturas mais importantes do novo jornalista diante do seu trabalho. Em seguida são citados interesse e vontade de aprender, com 12%. Contabi-lizando 6% das respostas, aparecem: dedicação, determina-ção, comprometimento, relacionamento em equipe e bom relacionamento interpessoal. Por último, com uma citação apenas, e contabilizando 3% das respostas, estão desempe-nho, cumprimento de prazos, precisão, disponibilidade para o trabalho e disposição para viagens.

Em suA opinião, quAis As principAis cArActErísticAs quE um JoVEm JornAlistA dEVE tEr (no máximo, três)? As características foram agrupadas em quatro grandes categorias pelos pesquisadores

conHEcimEntos

nesta categoria estão contempladas as respostas dos veículos de comunicação sobre o conhecimento dos jovens jornalistas. as características mais citadas foram conhecimentos de gramática.• Conhecimentos de gramática e boa redação (15) • Formação cultural e humanística (14) • Atualização do conhecimento; ser bem informado (11) • Conhecimento teórico (1)

domínio dE técnicAsConstam aqui as duas técnicas apontadas pelos veí-culos de comunicação para os jovens: o domínio das técnicas jornalísticas e o faro jornalístico. • Domínio de técnicas jornalísticas; faro jornalístico (7) • Conhecimento de ferramentas de comunicação digital (2)

cArActErísticAs pEssoAisQuanto às características pessoais, os respondentes apontaram 18 principais. a mais citada: ter curiosidade.• Curiosidade (9) • Ética (4)• Criatividade, inovação e ousadia (4) • Comunicabilidade (3) • Dinamismo e agilidade (3) • Talento e vocação (2) • Responsabilidade (1) • Visão holística (1) • Multifuncionalidade (1)• Gosto pela profissão (1)• Interesse pelas pessoas (1)• Preocupações sociais (1)• Perseverança (1) • Adaptação a mudanças (1)• Saber ouvir (1) • Humildade (1) • Desprendimento (1) • Ser questionador (1)

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AtitudE pErAntE As AtiVidAdEsos respondentes apontam 13 atitudes fundamentais desejadas por eles. Proatividade foi a mais citada.• Proatividade (10) • Disposição para aprender (3) • Interesse (3) • Dedicação (2) • Determinação (2) • Comprometimento (2) • Relacionamento em equipe (2) • Bom relacionamento interpessoal com fontes (2) • Desempenho (1) • Cumprimento de prazos (1) • Precisão (1) • Disponibilidade para o trabalho (1) • Disposição para viagens (1)

Diferentes características marcaram os lugares de maior importância entre os respondentes em cada uma das empresas de comunicação, aqui apresentadas por esta-dos. Estão listadas em ordem decrescente de importân-cia dada pelas empresas:

AlAgoAsProatividade, curiosidade e determinação;

AmAzonAsProatividade, técnicas jornalísticas e faro jornalístico, criatividade, inovação e ousadia multifuncional;

cEAráGramática e redação perfeitas, atualização do conheci-mento e ser bem informado, curiosidade;

Espírito sAnto Atualização do conhecimento e ser bem informado;

mArAnHão Gramática e redação perfeitas, formação cultural e hu-manística, proatividade, técnicas jornalísticas e faro jor-nalístico, dinamismo e agilidade;

mAto grosso do sulGramática e redação perfeitas, atualização do conheci-mento e ser bem informado, interesse, curiosidade, co-municabilidade, disposição para aprender, comprometi-mento, dinamismo e agilidade;

minAs gErAis Formação cultural e humanística, gramática e redação perfeitas, curiosidade e proatividade, técnicas jornalísti-cas e faro jornalístico, comunicabilidade, conhecimento de ferramentas de comunicação digital, relacionamen-to em equipe, bom relacionamento interpessoal (fon-tes) e visão holística;

pArAíBACuriosidade, disposição para aprender;

pArAnáFormação cultural e humanística, técnicas jornalísticas, faro jornalístico e ética;

pErnAmBucoFormação cultural e humanística, atualização do conhe-cimento e ser bem informado;

rio dE JAnEiroProatividade, gramática e redação perfeitas, formação cultural e humanística, curiosidade, técnicas jornalísticas e faro jornalístico, atualização do conhecimento e ser bem informado, criatividade, inovação e ousadia, comunica-bilidade, conhecimento de ferramentas de comunicação digital, disposição para aprender, responsabilidade, talen-to e vocação, conhecimento teórico, relacionamento em equipe, visão holística;

rio grAndE do sulFormação cultural e humanística, curiosidade, técnicas jornalísticas e faro jornalístico, criatividade, inovação e ousadia, interesse e dedicação, dinamismo, agilidade, ta-lento, vocação e ética;

são pAuloGramática e redação perfeitas, proatividade, formação cul-

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capítulo 2 | Em quE pé Estamos?

tural e humanística, atualização do conhecimento e ser bem informado, dedicação, determinação, comprometimento.

nos diFErEntEs VEículos

•No caso de VEÍCULOS IMPRESSOS, a formação cultural e humanística é a caraterística mais apontada, seguida de gramática e redação perfeitas;• Para as EMISSORAS DE TV, gramática e redação perfeitas, formação cultural e humanística são as duas características mais valorizadas;• Em RÁDIO, proatividade e ética são as características tidas como as mais importantes;• Para GRUPOS OU REDES, atualização do conheci-mento, ser bem informado, técnicas jornalísticas e faro jor-nalístico surgem como as características mais valorizadas;• Em caso de PORTAIS E SITES, atualização do conheci-mento, ser bem informado, gramática e redação perfeitas são apontadas como as características mais importantes.

VEículos dEixAm dicAs

A última questão era um espaço aberto para os veículos que pudessem destacar alguma informação que conside-rassem relevante. Do total de veículos que responderam ao questionário, 11 fizeram algum comentário nessa questão, ou seja, 27,5% aproveitaram o espaço para complementar suas respostas. Com exceção do norte do páis, represen-tantes de quatro regiões aproveitaram o espaço para fazer alguma colocação. A maior participação foi da Região Su-deste, que contabilizou resposta de seis veículos, o que cor-responde a 54,5% do total de respostas. A segunda região mais participativa foi a Centro-Oeste, que contabilizou três respostas, o que lhe garantiu um total de 27,2%. Em segui-da, as regiões Sul e Nordeste aparecem empatadas no total de veículos que responderam à última questão: apenas um representante por região aproveitou o espaço para fazer al-gum apontamento. Cada um contabilizou 9% do total.

Em geral as respostas foram sucintas e serviram para reforçar algum aspecto da expectativa do mercado em

relação ao profissional ou mesmo para se referir a mais algum detalhe do próprio curso. De maneira didática as respostas foram categorizadas da seguinte maneira: • Dicas para o futuro profissional – respostas que refor-çaram o que o mercado espera do profissional que sai da universidade e do jovem jornalista que ingressa no programa do veículo;• Detalhes do programa de treinamento – respostas que disponibilizam dados do programa de treinamento ou sobre o que fazer para ser selecionado;• Crítica à universidade – respostas que teceram críticas à grade ofertada nas universidades;• Elogios e agradecimentos – respostas que agradeceram a participação no questionário ou teceram elogios à iniciativa.

Do total, quatro veículos usaram o espaço para deixar dicas para o futuro profissional. O que, de certa forma, demonstra a expectativa do mercado em relação ao novo jornalista. Entre as orientações e características apontadas estão: • Ouvir o outro lado;• Ser interessado;• Ser proativo;• Ser cético;• Ter assiduidade.

Além disso, cinco veículos aproveitaram o espaço para comentar detalhes do programa de treinamento, indi-cando datas de inscrição, destacando o sucesso de con-tratação entre os que passam pelo veículo etc.

No espaço, apenas um veículo teceu crítica à universi-dade, mais especificamente à grade curricular do curso. Sugeriu que o último ano fosse como uma “redação jr.”, e dois veículos elogiaram o programa Rumos Jornalismo Cultural ou agradeceram a participação.

Destacamos as dicas para o futuro profissional e deta-lhes do programa de treinamento com o objetivo de compartilhar essas informações com os leitores:• Mídia Max News – Campo Grande (MS): “Todo bom jornalista deve imaginar que do outro lado de sua repor-tagem há um público interessado, assim como ele foi um

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dia. Então busque sempre obter o máximo de informa-ção possível para esclarecer as pessoas e acima de tudo não seja apenas um repassador da informação, informe-se sobre o assunto e não deixe de cobrar informações”.• TV Bandeirantes – Rio de Janeiro (RJ): “O interessa-do em fazer parte de um programa de estágio precisa mostrar que não é apenas mais um número. Precisa se destacar em um mercado já sobrecarregado de gente”.• Rádio Guaíba – Porto Alegre (RS): “Vejo a proativi-dade como um elemento fundamental na formação de qualquer universitário”.• Jornal O Estado Mato Grosso do Sul – Campo Gran-de (MS): “Precisa ser muito desconfiado”. • Rede Minas de Televisão – Belo Horizonte (MG): “As-siduidade, comprometimento com as tarefas e iniciativa própria são fatores importantes para uma boa avaliação do estagiário que almeja um cargo na empresa. A Rede Minas tem um média de 60% a 70% de aproveitamento do corpo de estagiários formados na empresa (seja por contratação definitiva, seja para substituições temporárias)”. • Rede Gazeta de Comunicação – Vitória (ES): “Os par-ticipantes fazem uma avaliação do curso no início, so-bre as expectativas, e no final, sobre os resultados. São também avaliados, no início, por uma banca formada por profissionais de jornal, rádio, TV, internet e, no final, pela coordenação do curso”.

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cApítulo 3

Everton Cardoso, Maria Cristina Leite Peixoto e Nísio Teixeira

A Visão dAs EmprEsAs:

grupo FocAl

Benny Cohen, Diários associados

ercilene oliveira, rádio e tv amazonas

Carla Miranda, grupo estado

Plínio Bortolotti, grupo o Povo

Deize novello, rede Brasil sul

sandra gonçalves, grPCom

Fotos: andré seiti

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u m dia de intensa conversa e debate marcou o grupo focal desta edição do Rumos Jornalis-mo Cultural. Em sintonia com a diversidade que marca o programa, seis representantes

dos grupos de comunicação que responderam ao nos-so questionário foram convidados para um encontro na sede do Itaú Cultural. Procuramos não privilegiar apenas programas de treinamento já fortemente consolidados, mas também aqueles em fase de formatação, bem como não descartar empresas que só trabalham com progra-mas de estágio.

Da mesma forma, a escolha procurou abarcar a diversi-dade geográfica do país na mesma proporção da confi-guração institucional da empresa (grupos de TV e/ou jornal impresso e/ou rádio e/ou internet, com maior ou menor ênfase em algum veículo). O grupo de professo-

res selecionados, eles próprios por sua vez também um reflexo de biogeografias distintas, acabou pela escolha dos seguintes veículos e seus respectivos representantes:

• Diários Associados (MG/DF), representado por Ben-ny Cohen, editor de mídias convergentes do portal UAI;• Grupo Estado (SP), representado por Carla Miranda, coordenadora de desenvolvimento editorial do grupo e responsável pelos programas FOCAS de jornalismo e jornalismo econômico;• Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM/PR), representado por Sandra Gonçalves, diretora de reda-ção do jornal A Gazeta do Povo e uma das responsáveis pelo programa Talento Jornalismo;• Jornal O Povo (CE), representado por Plínio Bortolotti, coordenador do programa Novos Talentos e diretor ins-titucional do grupo;

Da esq. para a dir. os professores Maria Cristina, nísio e everton com o grupo focal – Carla, Benny, sandra, Plínio, ercilene e Deize. Foto andré seiti

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capítulo 3 | A Visão dAs EmprEsAs: Grupo FocAl

• Rádio e TV Amazonas (RTV/AM), representado por Ercilene Oliveira, gerente de jornalismo da TV Amazonas;• Rede Brasil Sul (RBS/RS), representada por Deize No-vello, coordenadora de desenvolvimento humano.

Acompanharam e conduziram o encontro os três profes-sores que assinam este capítulo. O roteiro de perguntas aos convidados foi balizado por uma síntese de questões igualmente discutidas entre os professores selecionados, ao longo dos meses anteriores. Esse roteiro foi dividido em duas linhas: uma específica para discutir os programas de treinamento/estágio, estruturada numa espécie de ordem “cronológica” de chegada, percurso e saída do programa; outra mais dedicada a explorar questões decorrentes, como aquelas provenientes da relação entre academia e mercado, e avaliações acerca do perfil do candidato.

Após uma breve apresentação de todos os presentes, a conversa deu início ao roteiro proposto. No caso da primei-ra linha, foram destacados os seguintes itens para discussão como “chegada”: histórico e breve perfil dos programas; a diversidade dos candidatos; critérios de seleção; caracte-rísticas e capacidades esperadas dos futuros jornalistas; a relação com o departamento de recursos humanos no pro-cesso. Como “percurso”: o envolvimento e o impacto dos candidatos junto aos profissionais de redação; o detalha-mento das atividades; as faltas graves; os modos de retorno ao estudante. Como “saída”: se os estudantes assimilam bem as práticas; percentual/estimativa de aproveitamento/contratação; procedimentos ante o caminho inverso: o pro-fissional que quer voltar aos bancos da escola; os produtos gerados e, em destaque, eventuais especificidades no que tange ao jornalismo cultural.

Na segunda linha de conversa, enfatizou-se, de início, o perfil profissional: como os convidados avaliam os alunos formados pelas universidades e que chegam às redações; se há superação ou não, por parte desses pro-fissionais, das possíveis lacunas detectadas; qual a per-cepção que eles têm do aluno que entra no programa; como avaliam o perfil do estudante nos últimos anos, além do impacto das novas tecnologias. Em seguida, a discussão foi conduzida à relação com as universidades/

faculdades e abordou, sob viés complementar, a lacuna profissional daquele que sai da escola e daquele que é idealizado pelas empresas – em especial em relação ao texto, a maior deficiência que apontam; opinião sobre a formação acadêmica dos estudantes. Por fim, questões daí derivadas, como a melhor forma de praticar o jorna-lismo; o desafio da velocidade da pesquisa universitária em relação ao mercado; estágio e diploma.

É claro que, em um universo randômico de conversa e in-terpelação, a ordem de resposta às vezes era igualmente randômica e ia, aqui e ali, antecipando ou retomando algum item do roteiro. Salvo momentos muito pontuais, a tônica foi de predominante concordância entre os argumentos dos presentes a partir dos pontos propostos. Muitas seme-lhanças também apareceram nos argumentos que pontu-am a seleção dos candidatos, bem como com relação à ne-cessidade de a academia retomar um papel mais formador do que técnico e/ou prático junto ao seu alunato.

O treinamento e o estágio em jornalismo, conforme re-latos dos participantes do grupo focal, compreendem um conjunto de ações mais ou menos formalizadas que têm por objetivo a aquisição/modificação de comporta-mentos direcionados para a melhoria do desempenho das funções jornalísticas nas empresas.

Oito horas de trabalho, transcritas em cerca de 150 pá-ginas, foram aqui reconvertidas em uma síntese possível que permita ao leitor captar um aspecto dessa enrique-cedora conversa sobre a formação em jornalismo.

cArActErísticAs gErAis (Histórico, diVulgAção, critérios, EtApAs E outros)

Com relação ao desenvolvimento específico dos programas, o representante dos Diários Associados, Benny Cohen, infor-ma não haver programa de treinamento para jornalismo, mas sim a contratação de estagiários provenientes de várias insti-tuições de ensino superior de Belo Horizonte. Hoje o grupo conta com aproximadamente 35 estagiários.

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O jornal Estado de Minas tem um convênio firmado com a PUC Minas por meio do qual seis estagiários são contrata-dos por semestre, sempre do último período de jornalismo, para trabalhar com mídia impressa durante seis meses, sendo o contrato renovável por mais seis meses. Estagiários prove-nientes de outras instituições podem permanecer na empre-sa até um ano e 11 meses. Eles recebem de 323 reais a 645 reais, além do vale-transporte e do seguro de vida, e a jornada é de cinco horas por dia. Todos são avaliados individualmente ao final de cada semestre, e o resultado dessa avaliação é en-viado às escolas de origem.

De acordo com Cohen, o estágio funciona bem, uma vez que o estudante tem a oportunidade de exercer várias atividades, além daquelas imediatamente iden-tificadas com o jornalismo mas que são importantes para o entendimento de todo o processo de trabalho numa redação. O estagiário trabalha, por exemplo, no atendimento a pessoas que ligam para fazer suges-tões, críticas, elogios. Nessa função ele pode come-çar a desenvolver o filtro jornalístico, a percepção de pautas potenciais, ao mesmo tempo que é obrigado a se inteirar dos conteúdos veiculados pelo jornalismo da TV. O trabalho de operador de caracteres, basi-camente técnico, também é exercido por estagiários em jornalismo. Assim, o exercício de uma função apa-rentemente não jornalística tem sido uma boa expe-riência, ajudando a formar pessoas mais inteiradas de todo o processo de produção. Hoje há nas empresas do grupo chefe de reportagem e editores que come-çaram como operadores de caracteres.

No jornal impresso o estagiário está sempre subordi-nado às editorias; no portal, a um editor e a um editor-assistente; e, na TV, aos editores responsáveis pelos telejornais ou à chefia de reportagem. Os textos produ-zidos para o jornal impresso são revistos em sua tota-lidade; no portal, onde o volume de produção é muito grande, nem sempre é possível revisar todos os textos do estagiário; na TV, o editor recebe e revisa todo o material produzido. Ainda segundo Cohen, não há ne-nhuma garantia de aproveitamento após o estágio, mas o índice de contratação hoje gira em torno de 15%.

Deize Novello, da RBS, informou que, apesar de não haver um programa de estágio formalmente instituído, existe no grupo a clareza da importância de contratar estagiários e desenvolver suas habilidades. No primeiro dia de trabalho, eles participam de um programa corporativo de integra-ção para todos os colaboradores no qual são apresenta-dos a missão, a visão e os valores organizacionais. A seguir, há quatro horas de treinamento, reunindo todos os novos colaboradores de diferentes áreas e cargos. Posteriormen-te, ainda ocorrem treinamentos a distância, nos quais se reforçam os temas citados anteriormente. Um “padrinho” auxilia os estagiários no conhecimento da empresa e da equipe, facilitando a sua integração na organização.

Especificamente para o estágio acontecem mensalmente palestras com profissionais de comunicação e treinamen-tos práticos, que ainda variam de acordo com cada veículo do grupo. Em geral, o trabalho na RBS é a primeira expe-riência profissional desses estudantes, especialmente para aqueles que vêm de cidades menores e podem ficar nas empresas por até dois anos, acompanhados pelo seu ges-tor ou editor. O desafio do setor de recursos humanos é propor um programa de treinamento para todo o grupo e que garanta que o estudante execute efetivamente ações de desenvolvimento corporativo. Deize enfatiza:

As ações aqui são mais voltadas para o impresso. O aproveitamento, a admissão, a contratação do estagiário para o efetivo se evidencia mais no im-presso. Na TV o número de efetivações é menor, um dado que achei interessante. Mas não consigo dizer o percentual. E aí está o nosso desafio agora: propor uma ação corporativa, desenhar um progra-ma que seja para toda a organização, que a gente consiga garantir que o estudante, quando chegar à empresa, tenha as mesmas ações de desenvolvi-mento na corporação, como nos jornais do interior.

Ainda segundo Deize, em algumas situações os candida-tos fazem provas, dependendo da função que vão realizar. O processo de seleção está cada vez mais rigoroso nos

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capítulo 3 | A Visão dAs EmprEsAs: Grupo FocAl

diferentes níveis da organização, o que torna o estágio também mais rigoroso. O número de etapas da seleção depende da vaga, mas são no mínimo três: coletiva, indivi-dual e com o gestor.

Sandra Gonçalves, do GRPCOM, recebe dois estagiá-rios por semestre, em decorrência de um convênio com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Contudo, não há interesse na ampliação do programa de estágio, uma vez que a grande porta de entrada para o jornalismo do grupo é o programa Talento Jornalismo, para o qual são selecionadas anualmente 35 pessoas. O programa existe há sete anos e nos dois últimos passou a investir efetivamente em formação humanista. Em 2012 foi feita parceria com o Instituto Internacional de Ciên-cias Sociais, o IICS . Os selecionados fazem três sema-nas de curso em São Paulo, dois meses e meio de aulas no Paraná e dois meses de vivência prática na redação, permanecendo duas semanas em cada editoria. A per-cepção de Sandra Gonçalves é de que

nosso curso tem foco humanista, sentimos que isso é o que falta em quem a gente recebe da aca-demia. [...] Os profissionais vêm, dependendo da universidade, com bons conhecimentos, têm uma cabeça muito aberta para o jornalismo integrado, conhecem muito o “ferramental”. O software está bom, mas e o hardware? Então o nosso curso tem aulas de antropologia, de filosofia, de ética, direi-tos da comunicação. Há uma cadeira que chama-mos de Reflexões sobre o Jornalismo, que é um panorama de como chegamos à nossa filosofia editorial, de como chegamos aos nossos valores e nossa missão como um grupo de comunicação. [...] Mesmo antes da nossa parceria com o IICS 1, já tra-zíamos professores de lá, professores de literatura

e humanismo, por exemplo. [...] Então, “formação humanista” é a expressão-chave do nosso curso e sentimos um feedback muito bom das pessoas. Elas tendem a dizer: ”Puxa, realmente faltava isso para minha formação, realmente é importante sa-ber um pouco de filosofia política, ter uma noção geral de história mais aprofundada e filosofia”. Todo esse conhecimento faz diferença no conteúdo.

Diante dos questionamentos que envolvem o modo de fazer jornalismo na atualidade, Sandra informou que o GRPCOM aposta na disponibilização de um conteúdo de altíssima qualidade, reforçando o conhecimento humanista não só para os trainees, mas também para os que já estão no grupo. Tal aposta foi ganhando um contorno humanista mais intenso ao longo dos últimos quatro anos, já que no começo do funcionamento do curso as funções práticas do jornalismo tinham maior peso.

Os trainees contam com o acompanhamento de editores-executivos e editores e não assinam os textos sozinhos. Na fase prática do curso os editores, além do professor de português, revisam os textos. Os participantes saem com os repórteres, colaboram, fazem o relato, sempre com o acompanhamento de editores. A cada ano, ao se esta-belecer o projeto, um editor-executivo é eleito para ser o grande gestor do Talento Jornalismo junto com a coor-denadora Sandra Gonçalves e outros gestores do curso. Nos últimos dois anos o aproveitamento girou em torno de 70%, índice elevado que se explica graças à integração on-line e à polivalência atual do perfil profissional. Sobre isso, Sandra diz que:

Imagino que esse índice possa não se repetir. É que por coincidência, nos últimos dois anos, tive-

Se vai estrear um balé novo em Londres não é porque moro em Irati, interior do Paraná, que não me interessa saber

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mos na redação da Gazeta do Povo uma série de papéis jornalísticos que se abriram com a integra-ção total do digital e do impresso, como editor de mídias sociais. [...] E as televisões que não tinham a área de internet superforte estão se ampliando. Em nosso caso são emissoras espalhadas pelo estado, o que dá um número considerável de vagas: mes-mo sendo equipes enxutas, são multiplicadas por oito e conseguimos um número bom e disputado. Porque antigamente o pessoal da televisão dizia: “Essa tem boa voz, vai bem no vídeo, é minha!”. Agora eu sou do impresso, mas também tenho ca-nal de vídeo, então também preciso de gente com boa voz e que funcione no vídeo.

Sandra afirma ainda que há outros tantos profissionais que passaram pelo programa Talento Jornalismo e que são aproveitados por outros grupos de comunicação que atu-am no Paraná. Em relação à origem geográfica dos trainees, o projeto é divulgado em todo o Brasil, e a diversidade é vista como uma marca muito positiva, na medida em que traz olhares bem diferentes para os acontecimentos, enri-quecendo a cobertura.

Atualmente o curso é custeado pelo próprio GRPCOM, com o apoio da construtora Odebrecht, também parcei-ra do IICS. Outras associações estão sendo buscadas e, independentemente do seu estabelecimento, há uma disposição muito forte do grupo em continuar com o in-vestimento em formação humanista, que tem impacta-do positivamente na qualidade dos produtos: jornais do grupo venceram o Prêmio Esso 2010 e, ainda segundo Sandra, houve aumento do volume de atributos de ima-gem, resultantes do investimento em propósitos especí-ficos, dentre os quais: ser plural, ser independente, ter um jornalismo corajoso. Sandra atribui as conquistas ao tipo de recrutamento e treinamento que o grupo tem feito.

No que tange à diversidade dos candidatos, ela reitera a perspectiva humanista e que comunicação é pôr em comum as ideias mais valiosas, sejam elas coisas que aconteceram aqui ou lá fora.

Se vai estrear um balé novo em Londres não é por-que moro em Irati, interior do Paraná, que não me interessa saber. É dessa perspectiva que conside-ramos a nossa produção jornalística. A diversidade é maravilhosa e por isso divulgamos o nosso pro-grama no Brasil todo: queremos trazer as melhores cabeças, não importa se são da universidade priva-da, pública, se mora no Oiapoque ou no Chuí. Se estiverem dispostos a trabalhar conosco, se estive-rem bem integrados à nossa filosofia editorial, se-rão bem-aceitos. Eu mesma não sou paranaense; acho que metade da redação não é paranaense ou curitibana. Então, diversidade é uma marca muito positiva porque traz olhares bastante diferentes, enriquece muito a cobertura.

Carla Miranda, do Grupo Estado, confirma que o progra-ma de estágio é restrito e vinculado ao RH. Na questão do treinamento, o destaque é mesmo o Curso Estado de Jornalismo, um dos mais tradicionais do país, criado em 1990. A cada edição anual, o curso recebe 30 jovens por três meses, de todas as regiões do Brasil e também do ex-terior. Em período integral, os chamados focas participam do cotidiano das redações do Grupo Estado e buscam enriquecer sua formação acadêmica. O programa con-fere diploma de curso de extensão pela Universidade de Navarra, na Espanha.

Em 2012 houve a criação do Curso Estado de Jornalis-mo Econômico, com duração de dois meses, que ten-de a passar para três, devido à extensão do conteúdo. Em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), o curso é realizado em período integral e oferece au-

1. O Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS) é um centro de ensino, sem fins lucrativos, constituído para formar profissionais e intelectuais nos campos do direito, comunicação, educação e ciências da saúde. Iniciou suas atividades em 1972 como centro de extensão universitária e em 1988 tornou-se a primeira instituição não uni-versitária a receber o aval do MEC para ministrar pós-graduação lato sensu na área de direito. Posteriormente passou a oferecer novos cursos de pós-graduação lato sensu como comunicação (master em jornalismo - gestão de empresas de comu-nicação, jornalismo digital e jornalismo econômico), ciências da saúde, educação e humanidades. Cf. www.masteremjornalismo.org.br e www.iics.org.br.

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capítulo 3 | A Visão dAs EmprEsAs: Grupo FocAl

las com o conteúdo de teoria econômica, ministradas pelos professores da FGV, e atividades monitoradas pela equipe de jornalistas econômicos do Grupo Es-tado, como a prática de entrevistas com especialistas em economia e o desenvolvimento de um suplemento especial de fim de curso, distribuído pela Agência Es-tado. Os trainees participam da rotina da redação e o programa é válido como curso de extensão.

Quanto ao curso de jornalismo tradicional, Carla informa que há uma base teórica forte, que inclui filosofia, econo-mia, política e ética. Não há no curso uma preocupação demasiada com o ensino das ferramentas tecnológicas aos trainees, já que, segundo ela,

eles dão aula pra gente nisso. “Ah, vamos dar aula de Tumblr? Vamos dar aula de Pinterest? Vamos dar aula de Storify?” Eles vão rir porque não é a nossa função. Então o que procuramos é ensinar jornalismo. Sabe o bom e velho jornalismo? [...] O que posso dizer depois de receber tanto jornalista novo é que, se eu pudesse sugerir alguma coisa para dar um foco nas universidades, além da ques-tão do português, claro [...], eu daria importância, por incrível que pareça, para uma disciplina cha-mada lógica. Todo homem é mortal, Sócrates é homem, logo Sócrates é mortal. Porque eles estão tão acostumados com informações fragmentadas que se eu conseguir montar esse raciocínio um pouco mais linear, tudo bem. Para a internet não precisa, mas ainda temos um monte de jornais. Acho que todos os nossos grupos ainda ganham dinheiro com jornal mesmo.

Nos cursos d’O Estado de S. Paulo há tutores de dois tipos: repórteres especiais, editores ou editores-execu-tivos voluntários que aderem à campanha Adote um FOCA, lançada em 2012 e já em funcionamento no curso de jornalismo econômico. Outra forma de tutoria mais estruturada integra o projeto Foco nos FOCAS e destina-se, no final do curso, aos cinco melhores trainees, que passam por acompanhamento durante um ano e, em geral, são contratados. Eles passarão por avaliações trimestrais dos tutores nas editorias. Avalia-se se houve disposição do treinando, se desempenhou bem a função, se evoluiu no decorrer do curso.

Carla ressalta ainda que, na avaliação do Grupo Estado, além das hard news, é necessário investir nas áreas de jornalismo cultural e de suplementos. Por isso, todo o nú-cleo cultural foi reforçado em 2012, assim como a parte de jornalismo de suplementos – Link, Estadinho, Viagem. Um bloco mais sólido para esporte também foi criado, em função da Olimpíada. Houve a necessidade de in-vestimento especial na equipe do jornalismo esportivo, que apresenta um nível geralmente um pouco baixo em relação ao do restante da redação em termos de forma-ção, sobretudo no que se refere ao texto. Nesse processo amplo de reformulação ocorreu a inclusão da disciplina reportagem com auxílio do computador, ministrada por José Roberto Toledo, blogueiro do Estadão, e de aula de Excel, ferramenta não dominada pelos trainees, apesar de sua utilidade para a montagem de banco de dados para jornalismo. Além disso, passaram a fazer parte do curso aula com representantes do Instituto Contas Abertas2 e reforço nas aulas de português. Especialmente na seleção para o jornalismo econômico, de acordo com Carla Mi-randa, as deficiências em português são significativas, o que vem obrigando ao rebaixamento das notas de corte

Para o primeiro grupo foram chamados dez universitários que tiveram aulas teóricas, ministradas pelos gestores da empresa. Oito foram contratados

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para aprovação (de forma impressionante, caíram de 70% para 35%, como se verá adiante).

Segundo Carla, a primeira fase da seleção é on-line. É um sistema de recrutamento, uma ferramenta de RH. Os candidatos passam por prova de conhecimentos gerais para quem é do curso geral e de conhecimentos econômicos para quem é do curso de economia e, ain-da, português e inglês. Têm de apresentar uma justifi-cativa de interesse pelo curso, escolher uma notícia do ano anterior. Qual foi a notícia mais importante, tanto na economia quanto no geral, justificar o porquê e inserir o currículo – tudo nessa mesma plataforma. Carla detalha:

Aí começamos um quebra-cabeça de juntar as pesso-as que têm as notas acadêmicas mais fortes, as justifi-cativas de interesse e o material. Convocamos 90, que ficam divididos em grupos de 30. Fazem nova prova de conhecimentos gerais. Daí separamos cerca de 15 por dia para entrevistar. Eu digo 15 porque, na vez pas-sada, os que chegaram a essa etapa final estavam com um nível tão parecido, em conhecimentos gerais e tex-to, que tivemos de fazer entrevista com todo mundo. Foi um processo de dia inteiro. Nos últimos cinco anos temos contratado uma média de 50%, bastante alta. E contratar com contrato. Outras empresas falam que contratam, que aproveitam 90%, mas aproveitamento é diferente de contratação. É um free-lance fixo, oca-sional, entra ali na métrica e acaba. Então, quando eu digo 50% de contrato, é de contrato.

Ercilene Oliveira, representando a RTV Amazonas, in-forma sobre a existência de dois trabalhos de estágio. Um deles, desenvolvido pela Fundação Rede Amazôni-ca, recebe universitários e tem uma estrutura formal. De 1996 até agora recebeu 550 pessoas, que fizeram inicial-mente um curso técnico, com duração de um ano, nos horários da manhã, tarde e noite, de modo a permitir a participação ampla de estudantes. Eles ficam no curso durante um ano e nos últimos três meses vão para o es-tágio. Em média são 30 pessoas, seis na redação, aloca-das em rádio, portal e TV que desenvolverão trabalhos

técnicos. Há um supervisor que os recepciona e eles co-nhecem todas as etapas da edição de imagem, edição de VT, produção, apresentação, reportagem, cinegrafia, durante três meses. Não são remunerados e ao final do curso fazem um trabalho acadêmico. Outro trabalho de estágio foi iniciado formalmente em 1995, em de-corrência da escassez de profissionais, particularmente para TV. Estabeleceu-se um convênio com a Fundação Universidade do Amazonas e, posteriormente, com o Centro de Integração Empresa Escola (Ciee)3 .

Para o primeiro grupo foram chamados dez universitá-rios que tiveram aulas teóricas, ministradas pelos gesto-res da empresa. Oito foram contratados. Os estagiários, provenientes de diversas partes do país, precisam estar matriculados em jornalismo. Cumprem uma jornada de cinco horas por dia e ganham uma bolsa de 877 reais. Um dia da semana é dedicado a cursos no Ciee, em que são tratados temas de jornalismo, administração e economia. Inicialmente esse estagiário participa de um projeto de integração na empresa: durante dois dias conhece todo o grupo, a missão, visão, valores organizacionais. Há uma pessoa que os apadrinha no período de 30 a 60 dias, e após essa etapa estarão subordinados ao chefe da equi-pe em que serão alocados. Esse chefe vai recriar uma rotina de apadrinhamento nas equipes, que, em média, realizam uma reunião por dia. Nesses momentos há o feedback para os estudantes. Além desse chefe imedia-to, outro chefe que trabalha na produção irá avaliar o de-sempenho do estagiário. No final do processo, a própria Ercilene Oliveira faz a avaliação como gestora.

O trabalho dos estagiários se concentra nas áreas de apuração e produção, já que não há estágio nas áreas “de

2. O Instituto Contas Abertas é uma entidade da sociedade civil, sem fins lucrati-vos, que reúne pessoas físicas e jurídicas, lideranças sociais, empresários, estudan-tes, jornalistas, bem como quaisquer interessados em conhecer e contribuir para o aprimoramento do dispêndio público, notadamente quanto à qualidade, à prioridade e à legalidade. Cf. http://www.contasabertas.com.br/WebSite/QuemSomos.aspx. Acesso em: 15 ago. .2012.

3. O Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee)é uma instituição filantrópica, mantida pelo empresariado nacional, cujo objetivo principal é encontrar, para os estudantes de nível médio, técnico e superior, oportunidades de estágio ou aprendizado profissional.

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ponta”, tais como reportagem e apresentação. Confor-me se avança no desempenho, novos desafios são apre-sentados, e o estágio pode durar dois anos.

Quanto ao perfil dos estudantes recebidos, para Ercile-ne Oliveira as dificuldades com a língua portuguesa são perceptíveis. A experiência em projetos de extensão universitária constitui um diferencial positivo, e os alunos que fazem outro curso superior, além do jornalismo, são considerados muito bons. A diversidade da procedên-cia dos estudantes pode se tornar um problema, con-siderando-se que as especificidades da Região Norte são ainda desconhecidas pelos provenientes de outras regiões do país. Por outro lado, também aponta que, há cerca de dois anos, o Exame Nacional do Ensino Mé-dio (Enem) tem propiciado a presença de um número elevado de paulistas e cariocas no curso de jornalismo da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Ercilene conta que dos quatro provenientes da universidade no momento, três vêm de fora: uma carioca, uma paulista e um mineiro. O índice de aproveitamento é muito grande em todas as áreas da empresa: dos atuais 93 funcionários do grupo empresarial, 28 foram estagiários.

A seleção é feita especialmente através do portal Ama-zonia.com. Ali existe um banco de talentos, para o qual as pessoas mandam currículo, e o processo tem início quando há uma oferta de vaga. Existe um perfil para aquela vaga e, em cima desse perfil, o RH participa com entrevistas. A opção é sempre trabalhar com alunos re-gularmente matriculados em cursos de jornalismo, entre o terceiro e o quinto período. Ercilene esclarece:

Eu não gosto de receber aluno do sétimo em dian-te. Por quê? Porque trabalhamos a formação dessa pessoa. Se ela é do sétimo, só vai ter ali o sétimo e o oitavo. Mas, se tiver um perfil muito bom, recebe-mos. Isso não é uma camisa de força. O RH faz essa seleção, a entrevista, uma prova de conhecimentos gerais e redação. Eu pensava que essa dificuldade de língua portuguesa era uma coisa muito isolada nossa, mas vejo que não é e entendo que não é um problema da universidade. Ela vai mais além, lá do

básico, do ensino fundamental. [...] Os candidatos passam por essa seleção e depois vêm para o jor-nalismo, onde se faz a entrevista. [...] O primeiro contrato é de seis meses ou um ano, mas com três meses eu faço uma peneira. Por quê? Porque se eu vejo que a pessoa não está no nosso perfil... é tele-visão, tem que ser superágil... tem que ter retorno. Com um mês você já percebe, com sua experiência, se aquela pessoa tem potencial de crescimento. [...] Ele é aluno, não tem experiência de mercado. Eu não posso exigir porque, quando comecei, estava com 18 anos e também não tinha experiência. Fui pro mercado sem experiência e foi a experiência do mercado que me ajudou no meio acadêmico. As-sim, em três meses checamos se aquela pessoa tem potencial de crescimento. Não tem, sai. Quando tem, vamos até o máximo.

Plínio Bortolotti, do jornal O Povo, de Fortaleza, também tem um programa de estágio, mas destaca o Novos Ta-lentos, do qual é coordenador. O jornalista lembrou que a ideia inicial foi espelhar-se no programa de treinamento em jornalismo da Folha de S.Paulo, mas a estrutura exigida direcionou as atividades para o modelo d’O Estado de S. Paulo, com aulas seguidas de prática na redação. No cur-so, criado em 2007, são aceitos estudantes do quinto ao oitavo semestre. São duas turmas por ano, com três meses de duração, sendo admitidos oito estudantes por turma. Bortolotti acompanha os estudantes e discute temas rele-vantes, o que limita o número de participantes.

Cada texto que eles escrevem eu leio [...] e depois a cada semana a gente se encontra, falamos sobre o texto e aproveito para discutir ética. Por exemplo: “Um bairro reconhecido pela violência...”. De onde você tirou isso? Tem prova, não tem? Tem alguma coisa da polícia que diz que o bairro é mais violen-to ou não é? Bom, enfim, eu aproveito esse dado, digamos “objetivo”, para entrar nessa discussão um pouco ética. [...] Eles têm aula de português, reda-ção e apuração jornalística, distribuímos material

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didático [...]. Eu os distribuo pela redação do jornal, TV e rádio, e eles passam um mês em cada. [...] Digo que um mês é pouco, podia ser um pouqui-nho mais, mas é suficiente para a pessoa conhecer como funciona aquele núcleo.

Há também no programa um blog fechado no qual a questão ética é ainda discutida, de modo a minimizar a exposição dos aprendizes. Os textos passam por três auditorias e as matérias podem ser publicadas a critério do editor. Com relação à formação cultural dos estudan-tes, Bortolotti avalia positivamente e diz não considerá-la ruim, levando-se em conta a idade. Além disso, percebe a curiosidade como característica da maioria, o que é ex-tremamente importante na formação do jornalista.

Bortolotti conta que nas primeiras avaliações do curso os estudantes tinham uma queixa recorrente: “O editor não me dá atenção”, “Fui mal recebido na editoria”. No início do programa havia certa resistência dos editores em receber os estudantes, mas, assim que começaram a perceber o poten-cial dos trainees, isso mudou bastante. Hoje eles são acom-panhados pelos editores e repórteres mais experientes, que “brigam” pela permanência no jornal de alguns dos treinan-dos. Eles conversam, explicam, acompanham o trabalho, o que fez com que praticamente se extinguissem as queixas quanto à recepção e acompanhamento dos estudantes, que entram de fato no ritmo da redação: “São atirados na arena dos leões”. Os textos produzidos sempre são lidos pelo edi-tor, pelo professor de português, depois pelo próprio Plínio Bortolotti. São três olhares diferentes, o que cria um “diálogo interessante”. Há um sistema de avaliação mensal, na qual o editor avalia o estudante e este avalia o editor.

O programa não conta com financiamento e os estudan-tes não recebem bolsa, o que não corresponde ao ideal, de acordo com o coordenador. Há alguns benefícios, como assinatura do jornal, vale-transporte, refeição, se-guro de vida, certificado de conclusão assinado pela Uni-versidade Federal do Ceará (UFC), junto com o jornal O Povo. Muitos dos inscritos, necessariamente da cidade de Fortaleza, são provenientes da UFC, mas participantes

com ótimo rendimento também são oriundos das cerca de sete universidades privadas da cidade. Bortolotti ava-lia positivamente o desempenho dos estudantes, que, no decorrer do curso, têm aprimorado a coerência e a coesão na narração de uma história, bem como a capacidade de expressá-la em texto escrito.

A inscrição é feita apenas pela internet e o programa só aceita estudantes de Fortaleza, capital do estado. Plínio ar-gumenta que, além da falta de verba, se aceitasse candida-tos de estados vizinhos, como Rio Grande do Norte, o estu-dante não teria como seguir na universidade, pois perderia o semestre por ter de frequentar os três meses do curso. Mesmo dentro do próprio estado o problema se repete: a cidade mais próxima que oferece o curso de jornalismo é Juazeiro do Norte, distante 600 quilômetros de Fortaleza.

Em seguida os selecionados fazem uma prova escrita, que inclui conhecimentos gerais, português, redação e outra criada pelo RH da empresa, na qual se mostra uma foto-grafia (Margareth Thatcher, por exemplo) e se solicita que o candidato identifique a pessoa da foto. É depois dessa etapa que em torno de 20 candidatos passam pela área de RH para as entrevistas, quando são repassadas as fichas com as respostas. Desse número saem 12 selecionados para um ciclo de dez dias de palestras com jornalistas, es-critores, políticos. Ao final desse processo, os 12 candida-tos passam por nova entrevista com Bortolotti e a gerente de RH para a escolha final dos oito candidatos que ficam durante os três meses do programa. A maioria fica como estagiário remunerado e uma parte, cerca de 15%, acaba

Eu não gosto de receber aluno do

sétimo em diante. Por quê? Porque

trabalhamos a formação

dessa pessoa

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capítulo 3 | A Visão dAs EmprEsAs: Grupo FocAl

contratada. Há talvez 10% que acabam sendo emprega-dos em algum outro meio de comunicação.

Ao contrário do relatado por Ercilene em relação à Ufam, na UFC, a maior universidade pública do estado, Plínio não detectou o fenômeno de alunos provenien-tes de várias partes do Brasil em grande proporção por causa do Enem. Segundo o coordenador, ao que parece, uma pesquisa aponta que a cifra chegou a no máximo 10% de estudantes de outros estados, o que, de acordo com ele, é pouco significativa, pois equivale ao que havia nos tempos do vestibular. Por outro lado, afirma que a redação do jornal acolhe muita gente que vem de fora.

o FAtor rH

Bortolotti lembra que hoje o programa de O Povo é de-senvolvido em parceria com a área de recursos humanos, que fornece todo o apoio de estrutura. Eles também dão um parecer, mas quem tem a palavra final são os edi-tores. Essa relação nem sempre foi harmônica, já que o perfil buscado para a contratação era orientado generi-camente para atividades administrativas das empresas.

[A área do RH] vinha e dizia: “Essa pessoa tem di-ficuldade com autoridade”, e eu falava: “Bom, então vai ser um bom jornalista!”. [Ou] “Esse aqui não gosta de obedecer a ordens”, “Então deixa comigo”. Porque a lógica deles é uma lógica para quem vai fa-zer trabalho administrativo. “Ah, mas esse aqui tem muito problema com a família.” Me digam quem não tem! Eu tinha um pouco de dificuldade com a área de recursos humanos. Hoje não. Hoje tem um pessoal com uma visão mais, chamamos assim,

moderna das coisas. [...] As pessoas um pouco mais rebeldes, que não se conforma com as coisas [...], esses são bons jornalistas, a meu ver.

Carla Miranda concorda que já houve momentos turbulen-tos em relação ao RH quando o setor queria predominar:

Aí as coisas não andavam, e eu acho que o que funciona mesmo nessas duas áreas é andar junto. Cada um com a sua experiência específica. Quem é a melhor pessoa para gerenciar essa ferramenta e fazer essa triagem inicial? Não tem nem dúvida que não sou eu, então acho que é cada um na sua... Depois que selecionamos esses 90 que virão fazer a prova presencial aqui em São Paulo, os 90 vão sentar em uma mesa de entrevista onde estamos eu, mais um jornalista e pelo menos uma pessoa do RH. No fim do curso, os candidatos fazem uma entrevista específica com o RH, que não é para se-leção, é mais pra descobrir perfil, ver em quais se-tores, editorias, poderiam se encaixar melhor. Essa avaliação do RH forma uma espécie de ranking, que junta com todas as avaliações anteriores. [...] Dificilmente os primeiros da nossa avaliação técni-ca não batem com os primeiros do RH.

Deize Novello enfatiza que o RH deve trabalhar como parceiro do negócio. “Não adianta a gente querer fazer recursos humanos de gabinete, a não ser indo pra redação, conversando e entendendo a necessidade.” Afirmou tam-bém que parte desse entendimento e conversa implica a definição de quais atividades esse profissional realizará e quais as fontes de recrutamento a serem utilizadas. Todo

“Essa pessoa tem dificuldade com autoridade” e eu falava: “Bom, então vai ser um bom jornalista!”

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o trabalho inicial de recrutamento de seleção, acionadas as fontes, recebimento de currículos, se dá a partir desse levantamento feito com o demandante. Essa operação permite que o RH defina o número de candidatos. Mas a escolha desses estagiários é feita pelo demandante, pelo gestor imediato, não pelo RH. Na RBS, o RH dá um apoio, auxilia nesse processo. Diz Deize:

O RH é o patrocinador, mas teve o envolvimento dos gestores e a aprovação da direção para instituir esse modelo. É importante passar as informações mais relevantes nessa chegada. Isso é um modelo da organização que a gente não aplica só no caso do estágio. [...] Tem um período de cerca de 90 primeiros dias de trabalho em que ele é acompa-nhado e tem as ações institucionais definidas. O dia a dia, a rotina, é feito por esse acompanhante, por esse gestor. Não temos braços suficientes para as questões mais específicas.

Deize observa que se contratam profissionais, inclusive es-tagiários, não para uma função específica, mas para o gru-po, pensando no crescimento dessas pessoas na organiza-ção. “O cuidado que temos é não olhar naquele momento só para uma necessidade pontual, mas sim pensar mais amplo, pensar na permanência de um perfil para o grupo.”

Ercilene também reitera o papel central do RH na ajuda do processo seletivo. É o RH a primeira instância do ban-co de talentos. “Eles recebem todos os currículos, fazem a triagem, trazem as pessoas que estão dentro do perfil solicitado e depois, em nosso programa de integração, há uma reunião entre os setores.” Ercilene diz que o RH tem uma área de treinamento focada tanto para funcionários contratados quanto para estagiários, e ainda há uma em-presa de consultoria que dá treinamento. Há situações, nos três meses iniciais dedicados à avaliação de um candidato, em que ele pode ser reprovado e o RH é acionado para substituir a vaga. Mas, antes de fazê-lo, há uma política de trabalho e conversa no sentido de detectar onde estão o erro e a desmotivação do estagiário. “Além da porta de

comunicação da instituição, o RH chega para salvar. O RH não gosta de dispensar, eles procuram salvar o máximo. Eles nos ajudam nisso”, conta Ercilene.

Benny Cohen aponta como, à época da definição dos perfis para cada cargo da redação, acontecem dois pro-cessos curiosos.

Um é a tendência de você desenhar o perfil do profissional que você quer buscar muito parecido com o que você é. É uma coisa subliminar, você não vai perceber. Ou então desenhar um super-homem: iniciativa, eloquência, proatividade... Aí você gasta um tempo revendo: “Não, peraí, o cara nessa função precisa ser eloquente mesmo? Talvez seja melhor que ele seja mais introspectivo”.

Cohen reitera que, no caso dos Diários Associados, exis-tem as etapas de redação, prova de conhecimento geral e a aplicação de testes pelo RH, tais como o Predictive Índex (PI) e também o “D2”, um teste de concentração. O RH faz uma entrevista comportamental e depois o jornalismo faz a prova de conhecimento geral e a de redação. O jor-nalista enfatiza essa parceria com o RH ao lembrar quando, em 2006, passou a gerenciar também os portais, parale-lamente à gestão da TV, e teria solicitado ao RH “gente nova, antenada com as novas ondas, novas ferramentas”. Diz não ter se arrependido, mas nota que hoje isso pas-sou do grau de tolerância e por isso solicita também um perfil mais “maduro”. Cohen mencionou o caso recente de uma vaga na editoria de política para a qual buscou uma candidata que conhece há mais de 15 anos. Ela não tinha intimidade com as ferramentas de internet, mas tomou a iniciativa e aprendeu em cinco dias. Para Cohen, o resul-tado mostrou-se excelente, porque, embora não tenha o mesmo ritmo dos neófitos, muito rápidos, mas às vezes superficiais, ela soube investir mais tempo na profundidade da matéria, com abordagens diferenciadas. Por isso, hoje, juntamente com o RH, procura refazer esse mix, com ta-lentos novos e com pessoas experientes que deem uma média importante e interessante para a redação.

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capítulo 3 | A Visão dAs EmprEsAs: Grupo FocAl

Percebo que estamos caminhando para esse segundo momento, de reequilibrar o perfil da redação. Acabam uns ensinando para os outros. Os mais velhos vão ensinando para os mais novos, [...] mas os mais novos também vão dando o ritmo e ensinam muita coisa para a gente.

Diretora de redação do jornal Gazeta do Povo, Sandra Gonçalves argumenta que o programa de treinamento em jornalismo no GRPCOM é formulado por ela e por outras duas pessoas: Janine Plaça Araújo (RH) e Wilson Serra, diretor de redação da TV. Desse encontro saem as disciplinas que estarão no curso, o formato da parte aplicada (prática), a primeira e a segunda fases da prova. “Depois, na hora de separar os que ficam dentro da reda-ção, procuro olhar para a necessidade de cada editoria. Se é alguém pra política, que o editor de política palpite e participe, veja qual profissional do banco de talentos ele prefere recrutar”, completa.

No que tange à questão do mercado de trabalho, Bor-tolotti aponta uma peculiaridade que observa em Forta-leza a partir da experiência de O Povo, que é a ausência de candidatos para preenchimento de vagas específicas. Para o jornalista, ao mesmo tempo que há um enxuga-mento do mercado de trabalho, há um grande número de profissionais formados formalmente, mas que não se encaixam no mercado.

Você precisa da pessoa, mas não encontra. Pode ser que tenha um monte de gente formada, mas quando você vai buscar, não acha. Hoje mesmo, agora mesmo, a gente está com essa dificuldade para contratações provisórias por causa das elei-ções, e não acha, não acha. Nem recorrendo à re-lação minha lá dos Novos Talentos... Já está todo mundo ou estudando ou trabalhando.

Cohen lembrou que para cargos definitivos por contrato é um pouco mais fácil, porque você pode encontrar às vezes mais facilmente no mercado. A situação se complica ante a demanda por contratos periódicos, como os solicitados

para especiais como, por exemplo, a produção de um ca-derno sobre a Rio+20. “Achar uma pessoa qualificada em meio ambiente é supercomplicado. Até dei muita sorte de achar uma menina que estou contratando, por sinal.”

produtos gErAdos nos progrAmAs

Os representantes dos programas de treinamento e de estágio em jornalismo foram convidados a falar sobre os produtos gerados pelos programas e sua forma de circulação e divulgação. Carla Miranda, de O Estado de S. Paulo, informou que no curso FOCAS tradicional os participantes fazem um suplemento impresso, normal-mente de oito páginas, com veiculação nacional. Há uma versão para o portal, acompanhada de uma parte multi-mídia: podcast, vídeo, infográfico. Nessa versão há maté-rias que não foram publicadas no papel. Para o curso de jornalismo econômico o sistema é um pouco diferente; não há a versão impressa.

Normalmente o processo de produção do suplemento é todo definido em conjunto com os estudantes, des-de a escolha de pauta. Em 2011, por exemplo, devido às inúmeras rebeliões virtuais e presenciais lideradas por jovens do mundo todo, o tema do FOCAS tradicional foi “E você, pelo que você se mobiliza?”. O material pro-duzido vem assinado pelos estudantes e a distribuição é feita pela Agência Estado. Durante a parte prática, se o editor achar que um material produzido merece pu-blicação no jornal, será acompanhado nos créditos da informação “Colaborou para o Estado”. Com relação à diagramação, como os sistemas editoriais do jornal são mais complexos, os alunos não participam da atividade.

Nos Diários Associados, de acordo com Benny Cohen, os estudantes estão envolvidos na linha de produção di-ária do grupo e não há um produto específico resultante do treinamento, como no caso anterior. Na TV o estagi-ário não faz matéria, somente o piloto teste.

Na RBS os treinandos trabalham nas atividades de apoio, como auxiliares de conteúdo, e não há um produto específico

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desenvolvido por eles. Já na RTV Amazonas os estudantes têm de produzir algo e normalmente fazem um videodocu-mentário de 15 a 30 minutos que conta como trabalho de fim de curso, mas não é publicado. No dia a dia os estagiários re-munerados entram na rotina da produção e apuração. Even-tualmente, em casos de urgência, vão para a rua.

Em O Povo também não há um produto específico re-sultante do treinamento. A critério do editor, algo pode ser publicado, assinado ou não; quando assinado, há também a informação “Colaboração para O Povo”.

No GRPCOM, na parte prática, os estudantes costu-mam acompanhar os repórteres e, em caso da decisão de publicar um texto ou veicular matéria televisiva, o procedimento é idêntico, explicitando a colaboração do estudante. Como trabalho de conclusão do curso, de acordo com a coordenadora Sandra Gonçalves, já houve a produção de um caderno específico, com um tema de-finido conjuntamente. Isso mudou, devido à constatação de que se tratava de um processo cansativo e que de-mandava a participação e supervisão de várias pessoas durante três semanas, sem a garantia de um produto re-gular. Adotou-se um novo modelo, testado em 2011, que funciona com a divisão da equipe em duplas, cada uma ficando responsável por um tema associado à editoria em que foi alocada. Os trainees produzem conteúdo multimídia, webcast, podcast, infografia digital, escolha de imagens e, se for o caso, publica-se o texto no jornal

impresso, página inteira, sempre na edição de sábado (de seis a sete sábados), e todo o conteúdo extra na ver-são on-line. Na TV monta-se um telejornal que fica no site do programa Talento Jornalismo. A ideia é que seja um processo efetivamente participativo, do início ao fim.

o JornAlismo culturAl nEssE contExto

Como esperado em uma atividade integrante do progra-ma, o tema jornalismo cultural foi abordado no grupo focal.

No GRPCOM há o incentivo para que todos indiquem pautas diversificadas para o caderno de cultura, além dos assuntos tradicionalmente abordados nessas publica-ções. Isso constitui um exercício para a revisão dos pre-conceitos que Sandra Gonçalves identifica como muitas vezes associados aos envolvidos com a editoria de cultu-ra, os quais privilegiariam temas clássicos em detrimento de novas expressões culturais. Para ela a “cultura é as-sunto transversal” que deve permear os outros cadernos.

Plínio Bortolotti lembra que os estudantes têm apenas qua-tro horas de aulas em um único dia e nos demais dias ficam na redação, com a preocupação de obter noções mais ge-rais sobre o fazer jornalístico. O coordenador informa ainda que há muitos pedidos para trabalhar nas editorias de cul-tura e política, o que o obriga a instaurar um rodízio, estimu-lando a experimentação de diferentes áreas do jornalismo.

Na RTV Amazonas a prática também tem sido de caráter mais generalista. Contudo há a identificação de pessoas mais afinadas com as áreas de cultura, cidade, polícia e exis-te um investimento específico na formação dessas pessoas.

De acordo com Carla Miranda, do Grupo Estado, em 2012 foram incluídas mais disciplinas no curso tradicional, de modo a criar um módulo de jornalismo cultural. Contudo, a ênfase do jornal está no aprendizado do jornalismo geral, para depois seguir em direção à especialidade. O módulo criado funciona com a presença de convidados de reno-me no campo da crítica e análise cultural para dar pales-

Você precisa da pessoa, mas não

encontra. Pode ser que tenha um monte

de gente formada, mas quando você vai

buscar, não acha

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tras, consultoria, entrevistas aos participantes. É necessário também incluir a temática no jornal como um todo, cuja vocação maior tem sido hard news, principalmente ligadas à editoria de cidades. A jornalista considera a área cultural complicada de se trabalhar, por exigir muita especialização e repertório, o que se reflete nos jornais consolidados, cujos setoristas são muito bons e antigos na profissão.

No GRPCOM a existência de um direcionamento mais humanista no treinamento faz com que haja dedicação especial à literatura e a outros conteúdos ligados à cultu-ra, segundo Sandra Gonçalves. Professores, intelectuais e escritores contribuem para o programa, ajudando na formação dos jovens. Para a coordenadora, quem chega muito jovem à redação em geral não está pronto para atuar no caderno de cultura, um “caderno da seniorida-de”, de conhecimentos sedimentados ao longo da ex-periência. Essa formação pode contribuir enormemente para o dia a dia, para o hard news, para a economia.

Opinião semelhante foi dada por Benny Cohen ao chamar atenção para o fato de que é necessário ter sensibilidade para identificar novas habilidades e apostar em novos ta-lentos, já que alguns jovens têm conhecimentos especí-ficos na área da cultura (música eletrônica, independente etc.) que são improváveis no repertório daqueles que se dedicam à cultura “tradicional”. Porém, muitas vezes o jo-vem atraído pela área cultural “gosta de cinema”, “gosta de música”, mas não tem maturidade e formação suficientes para a cobertura jornalística nessa editoria. Há uma diferen-ça entre a divulgação da agenda cultural e o conhecimento mais aprofundado dos fundamentos da cultura em suas di-versas manifestações. Para este último caso, deve-se exigir uma formação mais apurada. Essa opinião foi partilhada por todos os participantes do grupo focal, acrescida da obser-vação de Plínio Bortolotti sobre o fato de que hoje são pou-quíssimos os jornais que têm de fato um crítico teatral, um crítico de ópera, um crítico de música.

A concEpção dE culturA nos JornAis

Questionados sobre a concepção de cultura presente nas editorias da área, os participantes discutem o assun-

to. Sandra Gonçalves observa que os jornais privilegiam a concepção oficial de cultura, seguindo a mesma premissa que faz com que o Estado invista em certas áreas da cultu-ra e não em outras. A opinião da jornalista é que essa con-cepção pode ser ampliada na medida em que a aborda-gem de uma manifestação cultural nova leve em conta os seus impactos sociais, a exemplo do hip hop como forma de integração e de fortalecimento de uma comunidade ou de geração de renda. Por isso o tema cultura deve estar presente em outros cadernos.

Plínio Bortolotti acrescenta a observação de que, em ge-ral, nos cadernos culturais as matérias refletem os interes-ses da indústria do entretenimento, e isso se repete na TV, com honrosas exceções, citando o programa O Som do Vinil, exibido pelo Canal Brasil, que conta a história de um disco que marcou a música popular brasileira. Cita ainda exemplos do jornal O Povo, que publicou cadernos espe-ciais, um deles resultante do mapeamento dos açudes do Ceará e do foco na cultura do entorno na vida daqueles que vivem próximos desses locais, intitulado Mares do Ser-tão; outro, chamado Santificados, levantou mais de uma dezena de santos populares do Ceará. Repórteres espe-ciais dedicaram de dois a três meses trabalhando sobre o tema, o que resultou em uma publicação de grande valor cultural. Para Bortolotti “aquilo não foi nem jornalismo, foi antropologia”. Para este último caderno, houve ainda a gravação de vídeos com as pessoas e o registro dos enor-mes sacrifícios feitos para chegar a capelas distantes e de difícil acesso e fazer a devoção aos santos. O caderno deu destaque à religiosidade popular no Ceará, cuja importân-cia social não pode ser desmerecida.

No entanto, esse tipo de produção demanda tempo, e o tempo é de fato um problema que se reflete na qua-lidade do que é produzido nos jornais. Durante os trei-namentos em jornalismo, em geral os estudantes têm um tempo maior para a produção de matérias, diferen-temente do que acontece no dia a dia das redações. Os estudantes estão sendo treinados para as funções básicas do jornalismo e somente após dominá-las es-tarão aptos a fazer trabalhos de maior profundidade, que requerem maior duração, a exemplo do que faz um

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repórter especial. Todo o treinamento deve ser dedi-cado ao domínio dos fundamentos do jornalismo, da habilidade de construção de um texto com início, meio e fim. Conforme observa Bortolotti,

a primeira coisa que digo pra eles é o seguinte: “O lide é tipo aqueles mortos-vivos, você mata, mata, mata, ele não morre nunca, porque é uma técni-ca. A melhor técnica que tem pra fazer jornalismo ainda é o lide [...]”. E quando eles estavam quase afogando o lide, surgiu a internet e o lide ressurgiu, belo e formoso de novo.[...] O Picasso não come-çou pela fase azul. Ele começou a ser um pintor figurativista, tradicional, e depois que dominou completamente aquela técnica é que começou a fazer o que fez, se transformou no que se trans-formou. [...] Eu sempre digo para eles o seguinte: “Técnica se aprende, talento é de graça. Se eu for entrar em uma escolinha de futebol, vou aprender, mas não vou ser igual ao Neymar, não vou ser igual ao Pelé, não vou ser igual ao Maradona, mas vou aprender”. Então aprendam o simples e depois tentem dar voos mais altos.

FormAção continuAdA

A importância da formação continuada do jornalista também integrou a temática de debates do grupo focal. Os participantes falam sobre como isso ocorre nas em-presas em que trabalham.

Plínio Bortolotti disse acreditar que o número de pessoas que estão na redação e voltam a estudar é pouco expres-sivo, no caso do jornal O Povo. Nos Diários Associados, cerca de 15% da redação faz mestrado e tenta adequar os horários e incentivar os estudos. Apesar de não existir a institucionalização de períodos sabáticos para a realização de estudos, em alguns casos há a concessão de licença não remunerada. Na RTV, o apoio de uma fundação faci-lita a realização de cursos de pós-graduação, preferencial-mente na Fundação Getulio Vargas. A Fundação Rede

Amazônica, em parceria com instituições de ensino, está investindo na oferta de cursos de interesse dos jornalis-tas, como os da área de mídia eletrônica. A conclusão de cursos de pós-graduação está incluída na avaliação de de-sempenho dos funcionários.

N’O Estado de S. Paulo há dois tipos de bolsas, pratica-mente 90% custeadas pelo jornal, para o Master em Ges-tão no IICS e em Gestão de Empresas Jornalísticas da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), abertos à participação dos funcionários. Para o Master Di-gital, ligado ao IICS, a direção do jornal escolhe as pessoas anualmente. Há pessoas fazendo mestrado, doutorado ou equivalente por conta própria – hoje se estima que cinco estejam fazendo doutorado, além de outros fazendo mes-trado ou pós-graduação lato sensu. Pode-se dizer que, em geral, há o interesse do jornalista em se qualificar, o que para Carla Miranda decorre da constatação das novas exi-gências da profissão. Há n’O Estado de S. Paulo cursos de redação e de português que começaram em 2011, obriga-tórios para todos numa primeira fase, e cursos na área de informática para incrementar o uso de ferramentas úteis ao jornalismo. Aqueles que cursaram Master devem per-manecer na empresa pelo período de um ano após sua conclusão, e o não cumprimento dessa regra implica de-volução à empresa dos custos envolvidos.

No GRPCOM tem havido grande interesse na for-mação dos jornalistas, segundo Sandra Gonçalves. No

Quem chega muito jovem à redação em geral não

está pronto para atuar no caderno de cultura, um

“caderno de senioridade”, de conhecimentos

sedimentados ao longo da experiência

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Master Digital e no Master em Gestão se inscrevem duas ou três pessoas, indicadas pela empresa, editor-executivo e editores. Há também o Master em Ges-tão Econômica, para o qual é encaminhada anualmente uma pessoa. Dada a ênfase na formação humanista dos profissionais, foi criado um curso de três semanas, em período integral, no qual há literatura, filosofia, direito da comunicação, filosofia política, dentre outros temas, para que todos possam se atualizar. Além disso, há um programa de bolsas ligado à Phi Business School, uma escola de negócios com representação na América La-tina e na Europa, para a qual se oferece uma bolsa a cada ano para um jornalista, escolhido com base em uma avaliação. O GRPCOM dá 20% de apoio finan-ceiro em cursos de pós-graduação stricto sensu. Há hoje em torno de 20% de jornalistas do grupo nessa condição. No caso da pós-graduação lato sensu existe o esforço para adequar os horários de trabalho e estu-dos. Na redação há dois cursos contínuos: um de língua portuguesa, para reciclagem, e outro de espanhol. A empresa tem investido mais em cursos in company, que permitem treinar mais pessoas ao mesmo tempo.

Nos Diários Associados foi detectada a necessidade de investir na formação em jornalismo digital e foi ofere-cido um curso de seis meses com nomes reconhecidos da área: Ramon Salaverría, Marcos Palácios, Rosental Calmon, dentre outros. Para Benny Cohen houve um erro estratégico na abertura geral para participação, em lugar de escolher pessoas que pudessem multiplicar o conhecimento na redação, como editor-executivo e editores. Muitos dos que participaram do curso saíram da empresa, uma vez que não houve aval jurídico para o estabelecimento de contrapartida dos egressos, fa-zendo com que um investimento altíssimo não desse

o resultado esperado. Quatro jornalistas dos Diários cursaram o Master em São Paulo.

Na RBS há o Espaço Aprender, que oferece cursos a distância, além de cursos presenciais de português e de redação. Eventualmente a própria redação se organiza, articula treinamentos de acordo com necessidades es-pecíficas, como no caso da atuação em jornalismo mul-tiplataforma, às vezes realizados por colegas. Na educa-ção formal, a empresa trabalha com 30 bolsas por ano para toda a empresa, não só para a redação. Há também o envio de três profissionais por ano para o Master Di-gital e o Master em Gestão. O grande projeto do grupo é associar-se à NBS, escola de planejamento e gerencia-mento estratégico para a realização de um diagnóstico das necessidades atuais e investimento no profissional que atua diretamente ligado ao produto. Todos os parti-cipantes ressaltaram que, em temos financeiros, o inves-timento em formação de jornalistas é alto.

proBlEmAs rElAcionAdos à práticA do JornAlismo

Os participantes do grupo focal identificaram alguns pro-blemas recorrentes nos treinamentos e estágios: a dificul-dade de estruturação lógica de uma história, de escrever um texto com começo, meio e fim; a dificuldade de apli-cação da norma culta da língua portuguesa; a dificuldade de identificar limites entre os espaços público e privado, o que é agravado pelo uso das redes sociais; certa superficia-lidade nas coberturas (um especialista e um personagem são considerados suficientes); a prevalência de repórteres muito jovens nas redações; a ideia de que a notícia é um fato extraordinário. Vale destacar alguns dos comentários a esse respeito, emitidos pelos jornalistas:

Não podemos mais pensar a notícia só como o homem mordendo o cachorro, o fato extraordinário.

Na ordinariedade há muita notícia

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Não podemos mais pensar a notícia só como o ho-mem mordendo o cachorro, o fato extraordinário. Na ordinariedade há muita notícia [...]. Os próprios jornalistas dão conta de que o público clama por notícias menos trágicas [...]. Ainda se considera que a notícia é um fato extraordinário, quando a notícia na verdade, para mim, tem que ser um fato relevante. Às vezes o jornalista fala assim: “Não, isso não dá uma boa notícia...”. Eu sempre dou um exemplo pro pessoal do trainee: primeiro dia de aula em escola pública, se você manda o jornalista para a escola pública e estiver tudo quebrado, não tiver professor, ele volta e fala assim: “Tenho uma baita matéria”. Se tudo estiver funcionando bem, porque uma associação de bairros daquele lugar trabalhou articulado em rede com os pais, com a comunidade, estiver tudo funcionando perfeitamente, ele volta e fala: “Ah, não tem notícia”. Caiu a pauta. Então pra mim, isso é o que mais me incomoda. [...] me sinto no dever de tentar começar a mexer um pouco com essa cultura... (Sandra Gonçalves)

Já ouvi alguém se dirigindo aos leitores como “clientes”, mas é um equívoco, pois cliente você não contraria, leitor, sim. Por exemplo, muitas vezes o leitor – que vem de classe média, normalmente – não quer saber o que acontece em um bairro pe-riférico, mas temos de dizer a ele que na cidade em que mora também há aquilo. [...] Hoje, o que acontece com as redações? [...] Em todo lugar são muito jovens [...]. Eu acho que, de alguma forma, esses cursos vêm substituindo aqueles jornalistas mais antigos que tinham paciência e vontade de ensinar, que hoje é raro você encontrar na redação [...]. Os mais novos estão sobrecarregados. Então, do jeito que a matéria é entregue, ela é publicada. (Plínio Bortolotti)

A partir de sua experiência em televisão e do quanto acom-panhou o surgimento e o estabelecimento dos canais uni-versitários, Benny Cohen diz que a tentativa por parte das

escolas de jornalismo de reproduzir os modelos já utilizados pelas estações comerciais tem levado a uma uniformização do que se produz. “No começo, elas eram um espaço de experimentação, da tentativa, da ousadia, do erro, do teste”, diz. Segundo ele, essa tendência se deve principalmente à forma competitiva como o mercado de ensino superior tem se organizado, levando as universidades a adotar o modelo já usado como parâmetro de sucesso. “Começaram a fa-zer telejornais iguais aos da TV aberta, a formar repórteres iguais aos demais. Ficam, assim, moldando um monte de gente para o mercado, não experimentam, não ousam, não inovam”, critica. Sempre que é convidado a falar aos gradu-andos nas aulas de jornalismo, aconselha que aproveitem o espaço acadêmico para descobrir novas linguagens, novas formas de comunicação e uma “assinatura” muito pessoal como repórteres. “Mesmo nas grandes empresas, quem tem sucesso é quem saiu do padrão”, justifica.

Na mesma linha de pensamento, Carla Miranda diz que os estudantes que chegam às empresas jornalísticas têm uma concepção bastante antiquada do que é a mídia – “grande imprensa, burguesa, imperialista” – e de como ela se estrutura. Segundo a avaliação da jornalista, isso cria obstáculos para que os aspirantes ou iniciantes na pro-fissão pensem de forma a inovar. “Cadê o novo? Cadê o ‘fora da caixa’?”, pergunta-lhes normalmente. No Amazo-nas, Ercilene Oliveira também constata que há conserva-dorismo na maneira de encarar e de fazer jornalismo:

O que falta realmente é mais ousadia e criativida-de. Na hora da seleção, busco muito esses que são diferentes, porque os que são comuns eu já tenho muito. Só que esse perfil não se encontra fácil. Eles têm de ousar, e o universo acadêmico é o ambiente que permite isso, é onde descobrimos os talentos. Falta uma aproximação das instituições de ensino para termos acesso ao que eles produzem.

Sandra Gonçalves reforça o mesmo ponto de vista em sua percepção: apesar de dominarem ferramentas tec-nológicas, os estudantes acabam reproduzindo os mo-

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capítulo 3 | A Visão dAs EmprEsAs: Grupo FocAl

delos já existentes, não ousam. Para ela, eles precisam pensar de forma a traduzir pluralidade de ideias, e isso só seria possível a partir de uma sólida bagagem cultural, coisa que dificilmente têm.

Já Deize Novello, ao relatar os resultados de suas con-versas com editores e gestores do Grupo RBS, conta que as competências consideradas ideais para um jor-nalista estão relacionadas à paixão pelo jornalismo, à qualidade do texto e ao comprometimento com o tra-balho. Seus colegas apontam ainda a falta de vivência de redação por parte dos “focas”, sobretudo no caso dos veículos do grupo situados em cidades de menor porte. Como forma de minimizar essa dificuldade, traz o exemplo de uma atividade realizada em conjunto pela empresa, na região da Serra Gaúcha, com o cur-so de jornalismo da Universidade de Caxias do Sul (UCS): os estudantes têm uma disciplina eletiva em que profissionais do Grupo RBS lhes falam sobre seu dia a dia, numa tentativa de aproximá-los da realidade da prática jornalística.

Além das dificuldades mais gerais na formação dos es-tudantes, Ercilene Oliveira aponta uma específica: o co-nhecimento das mídias eletrônicas.

Há muito tempo estou afastada do meio acadê-mico, mas suponho que os professores que dão aula sobre esse meio não o vivenciaram. Então, ensinam a fazer TV, mas nunca trabalharam nis-so... Queremos, também, que o profissional atue em várias áreas. Não queremos explorá-lo em todas as áreas, mas procuramos pessoas capazes de migrar, conforme a necessidade, para outras. É o que chamo de multifuncional, que entenda um pouco de cada coisa.

Carla Miranda relata que, na última seleção para o cur-so de jornalismo econômico oferecido pela empresa, a questão do pouco conhecimento de língua portuguesa ficou tão evidente que eles se viram obrigados a diminuir

a exigência. “Havíamos estabelecido que a nota mínima para aprovação em português era 70%, mas tivemos de baixar esse mínimo para 35% de acertos. Na segunda fase, isso melhorou um pouco, subiu para 40%”, conta. Enfatiza que boa parte dos problemas detectados nas provas estava relacionada a temas bastante corriquei-ros e relevantes do idioma escrito, como o uso de crase. Surpreendentemente, segundo ela, esses estudantes es-tavam familiarizados com as novas regras da ortografia estabelecidas recentemente, enquanto desconheciam normas vigentes há mais tempo.

Bortolotti diz que o processo seletivo para o curso ofe-recido pelo jornal O Povo avalia sobretudo coerência e coesão. “É saber contar uma história com começo, meio e fim”, esmiúça. Entretanto, relativiza a concepção de um jornalista idealizado. Segundo ele, já seria satisfatório que os estudantes fossem pessoas curiosas, interessadas pelas coisas do mundo, e tivessem um bom texto.

noVA gErAção, mEsmo JornAlismo

Ainda pensando sobre o perfil dos estudantes de jor-nalismo que se candidatam tanto aos cursos oferecidos pelas empresas ou mesmo a vagas de estágio e de em-prego, os profissionais participantes do grupo focal ma-nifestam algumas opiniões relativas à formação ofereci-da pelas instituições de ensino superior.

Para Benny Cohen, foi a ênfase na formação para o mer-cado de trabalho que levou ao abandono da formação teórica e humanística. “Isso traz consequências muito graves na hora de contratar, porque o jornalista sabe mexer com redes sociais, ou conhece as coisas na teoria, mas não sabe nem o que é o tema de que deve tratar num texto”, explica. Ele é, inclusive, um pouco pessimista em relação a essa mudança: “A tendência é isso piorar, pois as novas gerações são cada vez mais digitais e não lineares. Não sabem organizar as coisas a partir de início, meio e fim.” Essa é, segundo Cohen, uma tendência que tem surgido a partir do que a vida tem demandado dos jovens: as ferramentas eletrônicas são dominadas desde

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muito cedo, o que faz com que se tornem excessivamen-te pragmáticos, voltados para a técnica.

A jornalista do Grupo Estado concorda com Cohen, não sem antes ter apontado que “muitas vezes quem vai dar aula de outras áreas no jornalismo – como de antropo-logia, de filosofia, de psicologia – são pessoas que não gostariam de estar lá. Então, ficamos com uma formação humanista muito deficiente”, diz Carla. Ela ainda enfatiza que as novas formas de comunicação têm acelerado esse processo, cuja consequência parece ser a dificuldade de estabelecer até mesmo relações lógicas simples, como as de causa e efeito. Para Carla, isso se deve também à maneira como esses jovens têm sido formados em geral.

Bortolotti, no entanto, apresenta um ponto de vista um pouco diferente em relação às novas tecnologias e mídias digitais. Conforme ele, essas novas ferramentas tecnológicas levaram as pessoas a escrever mais, ain-da que de forma fragmentada, e isso, por si só, já seria um mérito. Para ele, esse problema da organização das ideias deve-se, numa linha semelhante à apontada por Carla Miranda, a uma deficiência que advém do ensi-no fundamental. “Se você é bem formado, sabe como escrever para cada meio: no Twitter, você pode escre-ver abreviando; mas quando vai deixar um bilhete para a mãe, ou fazer uma redação na escola, sabe que não é daquele jeito, porque você é bem formado”, acres-

centa. Bortolotti diz que o importante seria que as fa-culdades ensinassem mais do que simplesmente fazer um blog ou redigir para o Twitter – habilidades essas já dominadas pela maioria dos jovens.

Para o jornalista de O Povo, é preciso fazer com que os jovens compreendam os efeitos do jornalismo digital. Para corroborar seu ponto de vista, ele enfatiza a permanência do que se publica na internet – já que a maioria dos si-tes e portais de notícias possui arquivos de matérias – e também a facilidade com que a informação é localizada, recuperada, apropriada e reproduzida. “Isso cria para o jor-nalista um novo conflito: ele tem de pensar mais sobre a consequência do que escreve. Quando não havia internet, a história era publicada no jornal, e ninguém ia procurar folha por folha”, justifica. Ele, porém, é enfático a respeito da natureza da atividade jornalística: “Na verdade, o fun-damento não muda, e nem mesmo a ética. Surgem novos conflitos, mas você não os resolve com uma nova ética”.

O tema da ética, aliás, é contraste entre os profissionais. Ercilene aponta o fato de o jornalismo, principalmente por meio das mídias eletrônicas, ser uma “vitrine muito mais vista”. É por isso que ela destaca que a necessidade de checar e checar de novo as informações – ação há muito exigida dos profissionais de imprensa – tem de ser cada vez mais parte inerente do processo de trabalho dos jor-nalistas. Também Sandra diz que a questão ética tem esta-do presente há muito no jornalismo, mas agora os desdo-bramentos de um equívoco podem ter novas dimensões, e as consequências são muito mais sentidas pelo jornalista que o cometeu. Para ela, essa cobrança maior representa uma evolução e leva os jornalistas a pensar um pouco mais sobre o que publicam ou veiculam. Ercilene acrescenta à reflexão a necessidade de todo jornalista ter conhecimen-tos de direito eletrônico, o que ela acredita que deveria ser discutido nas universidades.

Sandra Gonçalves reitera a importância dos critérios de seleção e hierarquização da informação em tempos de su-perexposição e de excesso de informação na internet. Para ela, essas reflexões a respeito das consequências do que se publica podem levar a um questionamento da novidade

Havíamos estabelecido que a nota mínima para aprovação em

português era 70% mas tivemos que baixar esse

mínimo para 35% de acertos

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como o valor fundamental para o jornalismo. Para expressar sua concordância, Carla pergunta: “Deve-se ceder à audi-ência?”. O debate parte para um questionamento mesmo da prática e da noção do que é jornalismo. Bortolotti e San-dra questionam, por exemplo, a noção de fonte jornalística. Se um veículo divulgou determinado fato, os demais de-vem necessariamente segui-lo? Os buscadores da internet – como o Google – podem servir como fonte de informa-ção? Carla acrescenta que existe muito entretenimento que parece jornalismo, mas não é.

Outro tema recorrente quando se discute o jornalismo a partir das novas tecnologias é o da necessidade de um profissional ter capacidade multimídia, de elaborar conte-údos simultaneamente para diversos meios e com diferen-tes linguagens. Essa, segundo Bortolotti, é uma visão que a maioria das empresas já abandonou. Isso porque uma só pessoa não daria conta de tudo. O jornalista, porém, sempre aconselha aos aprendizes do ofício que andem com uma câmera ou um telefone que faça tudo, pois, se acontecer uma coisa que o fotógrafo não está vendo, eles podem registrar para usar esse material posteriormente.

Carla e Sandra concordam com o jornalista de O Povo, mas enfatizam que, segundo as características pessoais e mesmo técnicas, cada profissional tem uma especia-lidade. É compartilhada entre os profissionais, porém, a opinião de que é preciso que o jornalista tenha noções, pelo menos, das diferentes linguagens e mídias. “O fato de saber fazer tudo não significa que o repórter é um ‘polvo’ que em uma mão segura a câmera, na outra o gravador”, aclara Sandra. Cohen acrescenta:

A ideia de convergência deve ter por trás o conceito de complementaridade. O texto que se fez para o im-presso não vai ser reproduzido na internet e gravado.

São diferentes formas de abordar um mesmo tema, de acordo com a natureza de cada veículo. Conver-gência nem sempre significa economia; pelo contrá-rio, eventualmente você vai gastar mais dinheiro. É importante, porém, que o estudante saia da faculda-de sabendo produzir para todos os veículos.

mErcAdo dE trABAlHo E FormAção AcAdêmicA

Na constatação do grupo, há uma inversão na relação entre mercado e academia. Enquanto se espera que as escolas ofereçam formação humanística, teórica e linguística aos estudantes, estas têm priorizado o co-nhecimento da técnica. As empresas, a partir disso e da consequente ausência de uma formação mais ampla por parte dos profissionais que recebem, têm oferecido cursos para compensar. “Deveria ser ao contrário!”, ex-clama Carla. Sandra expressa concordância e adiciona: “Fazer lide e as coisas mais clássicas do jornalismo apren-de-se em três meses em uma redação. Se o estudante vem com uma visão humanista, vai ser capaz de fazer boas coisas, bons lides”. Cohen acrescenta: “Se o aluno estudasse filosofia, ciências políticas, ciência econômica e não se preocupasse só em aprender a técnica, ele che-garia com essa bagagem”.

Bortolotti credita esse distanciamento entre as escolas e as empresas de jornalismo a uma tendência de demoni-zar as redações, de encarar esses locais e os profissionais que ali atuam como vilões. Isso acontece, segundo ele, sobretudo nas universidades públicas, já que as parti-culares têm obsessão pelo mercado e pelos modelos já oferecidos. Para Cohen, isso se deve à abertura do mer-cado do ensino e à transferência da tensão daí advinda para os estudantes:

Os buscadores da internet – como o Google – podem servir como fonte de informação?

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Vejo que essa coisa de abrir o mercado do ensino ampliou a concorrência entre as faculdades, que, por uma questão de sobrevivência, transferiram essa tensão para os estudantes. Então é muito provável que todos nós recebamos pedido de es-tágio de aluno de segundo período. [...] “Segundo período! O que é que você quer fazer aqui? Vai estudar teoria, não é aqui agora! Calma, você está só no segundo período! Quando estiver lá no sexto você volta aqui.” Acho que teve isso. Abriu o mercado, as faculdades começaram a compe-tir, elas precisam sobreviver, para sobreviver elas precisam botar profissional no mercado, têm de aparecer bonitas na foto, e essa tensão competi-tiva foi transferida aos alunos.

Para ele, essa relação entre mercado e academia não deve ser de ódio nem de pura imitação. É o que Carla sintetiza como “equilíbrio”. A jornalista do Grupo Esta-do levanta o fato de que, atualmente, é difícil saber com precisão os rumos do jornalismo, pois as práticas têm se modificado constantemente. Se nas empresas – âmbito da prática – é difícil ser dogmático sobre o que seria a forma ideal de trabalhar, pior ainda seria na academia – normalmente espaço da reflexão, do tempo longo e, por isso, em descompasso com o ritmo do cotidiano. Ao ten-tarem dar conta do ensino de uma prática que nem os próprios jornalistas sabem definir muito bem como deve ser, as instituições de ensino muitas vezes tomam uma direção equivocada: “Os estudantes acabam não rece-bendo nem uma formação sólida de outras áreas nem uma prática efetiva”, pondera Carla.

Ela acrescenta que essa nova realidade se deve sobre-tudo ao fato de que o modelo de jornalismo – principal-mente como negócio – ruiu. É preciso que o mundo do ensino entenda que o jornalismo está se reinventando e que os profissionais estão reaprendendo seu ofício. Nes-se sentido, Carla Miranda diz que todos ganhariam se as empresas se aproximassem mais dos locais em que são formados os jornalistas. Poderiam, assim, oferecer parâ-metros para uma formação prática mais adequada.

Os programas e cursos oferecidos por empresas jornalís-ticas aparecem, em geral, como forma de sanar algumas dessas deficiências detectadas nos aspirantes à carrei-ra jornalística. Sandra, porém, adverte que o programa idealizado e oferecido pelo GRPCOM não pretende anular a academia, mas, sim, complementar a formação por ela oferecida. “O curso tem um conteúdo específico que se afina com a nossa linha editorial. É um programa complementar”, esclarece. Bortolotti procura resumir a discussão com considerações sobre essa relação que, de alguma forma, servem de conselho a qualquer profissio-nal ou aspirante ao jornalismo:

Quem odeia o jornalismo não deveria fazê-lo. Ninguém é obrigado. O curso que oferece-mos não pretende substituir a universidade, pelo contrário. Muitos participantes dizem que aprenderam em três meses mais do que na uni-versidade. E eu respondo que eles têm de lutar para a universidade melhorar. Não deixo prospe-rar essa conversa.

Na mesma linha, Ercilene enfatiza que o jornalismo é vo-cacional: “Se você não tem paixão, não vai conseguir”. Ela, inclusive, aponta que as universidades deveriam, de alguma forma, estar atentas aos estudantes para orien-tá-los em sua escolha profissional, nem sempre um pro-cesso fácil – sobretudo para jovens que muitas vezes chegam ao ensino superior aos 17 ou 18 anos.

JornAlismo sE AprEndE nA práticA Uma reflexão sobre a formação de jornalistas passa, quase que inevitavelmente, pela discussão a respeito da obrigatoriedade do diploma universitário para o exercí-cio da profissão – tema candente nos últimos anos. Ao expor suas ideias, Ercilene diz conhecer excelentes jor-nalistas que não passaram pela academia, ainda que ela faça questão de enfatizar que reconhece a importância de uma formação em nível superior:

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capítulo 3 | A Visão dAs EmprEsAs: Grupo FocAl

Temos um compromisso com o sindicato, inclusive, de só contratar pessoas diplomadas. [...] É óbvio que alguém que passou pela universidade, teve uma formalização de conhecimento, aprendeu algumas ferramentas, aprendeu técnicas de construção de texto, é claro que vai ser um profissional melhor. Par-ticularmente, gostamos muito de quem tem segun-da graduação. Olhamos muito para isso na hora da seleção. [...] Não acho que o diploma de jornalismo não sirva para nada. Quem é a favor do diploma de-veria defender justamente que a academia melhore a entrega do profissional ao mercado: tem de pensar “fora da caixa”, ser criativo, encontrar novas lingua-gens e ter formação humanista forte.

A dificuldade de oferecer uma formação mais adequa-da aos futuros jornalistas deve-se, conforme a opinião de Sandra, à dificuldade que a instituição universitária tem, atualmente, de encantar os estudantes e de levá-los a fazer correlações e a se interessarem pelo conteúdo humanista.

Se o curso fosse pensado mesmo como algo que precisa entregar valor para o mercado, as coi-sas melhorariam. Nesse caso, eu sou a primeira a defender o diploma. Por enquanto, defendo uma pós-graduação ou uma segunda graduação junto com jornalismo.

Jornalismo se aprende na prática? À clássica pergun-ta, o jornalista de O Povo responde afirmativamente. Logo, no entanto, Bortolotti relativiza: quem estuda vai ser um jornalista muito melhor. “Se eu ensinar qualquer pessoa alfabetizada a escrever uma matéria, a ouvir uma fonte, ela vai fazê-lo. No entanto, se estudar e entender as coisas do mundo, vai ser um profissional muito melhor. Disso não tenho a menor dúvida”, afirma. Como exemplo, cita a situação dos publicitários: esses profissionais não precisam obrigatoriamente de diplo-ma para exercer suas atividades, mas a maioria das em-presas do ramo busca seus novos talentos na academia. No caso de O Povo a direção da redação decidiu que segue contratando só quem tem diploma de jornalista.

Na discussão da regulamentação da profissão, Bortolotti enquadra-se no grupo de profissionais que defendem uma via intermediária entre a regulamentação total e a desre-gulamentação completa. Segundo ele, jornalismo é uma profissão complexa e tem de ser regulamentada de alguma forma. Porém, também defende que o aspirante à carreira jornalística deveria fazer uma graduação qualquer e depois uma pós-graduação que o habilitasse a ser jornalista.

A esse sempre acalorado debate sobre a obrigatoriedade da formação universitária, Deize Novello diz que a empre-sa em que atua contrata somente jornalistas graduados. Mas imediatamente acrescenta: “Em relação à aprendiza-gem, precisamos nos dar conta de que ela acontece em momentos formais e informais. Estamos aprendendo a todo momento. É necessário estudar no decorrer da vida”.

Em sua avaliação, Benny Cohen enfatiza que a maioria das empresas não mudou seu posicionamento ao contra-tar novos profissionais após a revogação da obrigatorie-dade do diploma para atuar no jornalismo. Ele, entretanto, levanta um questionamento sobre a formação nessa área: todos têm a sensação de que as coisas não andam bem:

Vamos continuar contratando jornalistas gradu-ados porque, bem ou mal, pelo menos eles vêm sabendo as técnicas de redação. Ninguém está

Quem é a favor do diploma deveria

defender justamente que a academia

melhore a entrega do profissional ao mercado

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sErViço:

cursos EstAdo dE JornAlismo

noVos tAlEntos O POVO

progrAmA dE trAinEE grupo rBs

tAlEnto JornAlismo grupo grpcom

diários AssociAdos

pArA sABEr soBrE outros progrAmAs, consultE os sitEs dos VEículos dE sEu intErEssE sEdiAdos Em suA cidAdE.

querendo se arriscar, por exemplo, a achar pro-fissionais de direito pra fazer matérias no Fórum; ou delegados ou investigadores que queiram ser repórteres de polícia. Ninguém ousou nesse sentido, a não ser no caso dos especialistas. Mas são experiências isoladas, que não viraram regra no mercado editorial.

O caso dos especialistas sem formação específica e que atuam na imprensa, porém, é visto por alguns dos profissionais, tal como diz Cohen, como uma exceção. Ercilene explica que “esses especialistas dão um olhar diferente à notícia, não a notícia em si. Eles completam, mas a notícia não é deles”. Cohen arrisca-se a dizer que a discussão do diploma estaria vinculada à qualidade do ensino universitário. Tanto ele quanto Carla Miranda reiteram que não haveria questionamentos se a forma-ção nos bancos universitários fosse realmente boa.

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cApítulo 4

Izaura Rocha, Lorena Tárcia e Marcos Santuario

A Visão dA AcAdEmiA:

BrEVEs rElAtos

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E ntre os desafios da atualidade no universo da comunicação social está o de repensar as rela-ções entre os cursos de jornalismo e as empresas de comunicação no país. Expectativas, desejos,

necessidades, esperanças, o que dar e o que esperar, di-nâmicas de acompanhamento a estudantes em formação e acolhida a novos profissionais. Essas e outras questões surgem quando os protagonistas dessas relações, no meio acadêmico e nas redações jornalísticas, são questionados e confrontados. Para entender a contemporaneidade da discussão, torna-se importante trazer à tona elementos históricos de constituição do universo acadêmico no jor-nalismo, as discussões e a implantação de estruturas curri-culares, bem como a questão diretamente relacionada ao surgimento e regulamentação dos estágios.

ondE tudo comEçou

O primeiro curso universitário de jornalismo nas Américas surgiu em Missouri, nos Estados Unidos, em 1908. Além da formação humanística, havia uma preocupação com a prática, demonstrada em atividades laboratoriais nas quais o processo de produção de um jornal era reproduzido de ponta a ponta. No Brasil, em 1918, um congresso organiza-do pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) decidiu pela criação de um curso que jamais saiu do projeto.

Marques de Melo (1998) destaca que, em âmbito mundial, o pós-Segunda Guerra e a combinação de fatores como industrialização, modernização e alfabetização das socieda-des latino-americanas levaram ao incremento do consumo e da busca por informações e mensagens jornalísticas. Não havia, porém, recursos humanos suficientes para atender a tal demanda, apesar do esforço de treinamento empreen-dido pelas próprias empresas de comunicação.

A primeira escola de comunicação brasileira surge, portan-to, com a profissionalização da imprensa. No novo formato da indústria de mídia, excluíam-se os escritores e boêmios. Era preciso um produto que agradasse ao público consu-midor, capaz de produzir notícias utilizando técnicas que agilizavam a apuração dos fatos e a redação. O espírito de

classe que unia a categoria tornou propícia a busca pela for-mação de novos profissionais e de centros de estudo.

A primeira formação na área só se efetivou em 1935, na Universidade do Distrito Federal. Tinha um perfil euro-peu, concentrado em disciplinas como ciências sociais e ética. Com o Estado Novo, a universidade foi fechada e a iniciativa, frustrada. Em maio de 1943, o Decreto-Lei n° 5.480 finalmente criou o ensino de comunicação social em nível superior. Ele atendia às reivindicações feitas no início do século pelos profissionais atuantes no jornalis-mo impresso. (MARQUES MELO, 1998).

Porém, foi graças à ação da ABI junto ao governo getu-lista que se iniciou na Faculdade Nacional de Filosofia, na Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ), a formação superior para a área. Os primeiros alunos ingressaram na instituição em 1948, com apoio da multinacional fabricante de cigarros Souza Cruz e contra a vontade dos empresários de comunicação. (MENDES, 1999).

Em 1956, foi criada, em São Paulo, a Faculdade de Jor-nalismo Cásper Líbero, com nítida influência curricular norte-americana, voltada para a prática. Ao contrário da iniciativa anterior, a Cásper Líbero nasceu das necessi-dades de uma empresa jornalística, o jornal A Gazeta, de propriedade de seu fundador.

Organizada de acordo com os mais modernos pa-drões mundiais de empresa jornalística, A Gazeta se coloca na linha de frente dessas mudanças, pois ne-cessita de profissionais preparados para lidar com as novas técnicas. Por isso, ao valorizar o investimento na formação jornalística, Cásper também tem em vista a administração de seu empreendimento. A prática do dia a dia, aliás, teria colaborado e muito para tal posicionamento. Contam antigos funcioná-rios que ele tinha o costume de contratar jovens in-teressados em ingressar na profissão, dedicando-se, ele próprio, à sua formação. (HIME, 2003).

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capítulo 4 | a Visão da academia: BreVes relatos

Na década de 1960, houve o grande boom dos cursos de comunicação no país, sobretudo depois de 1968. Nesse ano, o número de cursos em funcionamento chegou a 20, para saltar, em 1972, para 46. O crescimento se deu muito em razão da regulamentação da profissão, em 1969, a partir de quando se passou a exigir diploma para os que se iniciavam na carreira.

Marques de Melo (1998) divide o perfil dos programas universitários dedicados ao ensino e pesquisa de comu-nicação em dois momentos: o período de 1930 a 1960, de vocação profissionalizante; e o período de 1960 a 1990, com tendência mais academicista. Os primeiros tempos estão voltados de modo quase exclusivo para as tarefas de formação de recursos humanos, enquanto nos anos mais recentes se impõe uma linha de trabalho orientada para a geração de conhecimentos. De uma ação prática muda-se para uma conduta teórica.

A reação das empresas, durante a segunda metade da década de 1980 e começo dos anos 1990, foi a criação de cursos próprios, como o de O Estado de S. Paulo, da Rede Globo, da Folha de S.Paulo e da Editora Abril, já que, para muitas empresas, o bacharelado não atendia às exigências do mercado. Os cursos universitários mal aparelhados não acompanharam a evolução tecnológica que se processou dentro das redações; os laboratórios das escolas ainda usavam máquinas de escrever quando a comunicação avançava para a informatização e a multimídia.

Convivendo com essa realidade, ressentindo-se da falta de profissionais bem preparados, as empresas de comu-nicação combateram sistematicamente a obrigatoriedade do diploma. A resposta dos jornalistas à posição adotada pelo empresariado do setor têm sido campanhas perma-nentes a favor do diploma, consolidadas na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 33/09, batalha que se en-

contra, em agosto de 2012, data deste artigo, nas mãos do Congresso, após parecer positivo do Senado Federal.

Num levantamento realizado em 1992 pela Organização Mundial do Trabalho e pela Associação dos Correspon-dentes de Imprensa Estrangeira em 35 países, 26% deles têm o acesso à profissão regulamentado. A formação dos jornalistas nos países onde há regulamentação é re-alizada por intermédio de faculdades de comunicação (34,6%), faculdades de outras especialidades (23,1%) ou via aprendizado prático (42,3%). Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), embora não haja requi-sitos legais estabelecidos em contrato coletivo, nos Esta-dos Unidos 85% dos jornalistas têm formação universitá-ria em diferentes áreas, conforme dados da Associação de Editores daquele país. (MENDES, 1999).

Assim como o sistema universitário, as escolas de comu-nicação brasileiras passam mais uma vez por um período de crise e buscam conciliar sua vocação crítica com as possibilidades de interação/cooperação com empresas públicas e privadas.

EstruturA curriculAr

Uma característica peculiar do ensino de comunicação no Brasil, se comparado ao da América Latina, esteve na rela-ção entre o Estado e a universidade, cabendo ao Ministério da Educação a definição do perfil de formação de recursos humanos e a produção de conhecimento. Essa dependên-cia significou uma uniformização dos programas educacio-nais e o distanciamento das escolas das realidades locais e regionais nas comunidades onde estavam inseridas.

O currículo mínimo, principalmente no período pós-1964, é apontado como o principal instrumento des-

Os cursos universitários mal aparelhados não acompanharam a evolução tecnológica que se processou dentro das redações

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sa política centralizadora. Por meio dele, determina-vam-se as disciplinas que integrariam o currículo de cada carreira. Todas as universidades eram obrigadas a obedecer a essa prescrição, sendo fiscalizadas pelo governo federal. Desprovidas de liberdade para inte-ragir com as comunidades nas quais estavam estabe-lecidas, as escolas deixaram de adequar o ensino às demandas locais.

Esse teria sido, segundo Marques de Melo (1998), o maior obstáculo para a interação da academia com as empresas, já que o engessamento criou um modelo único de for-mação em todo o país, não importando se o mercado de trabalho local possuía nível maior ou menor de desenvol-vimento tecnológico ou padrões culturais distintos.

A Lei de Diretrizes e Bases (n° 9.394/96) abriu novas perspectivas, em 1996, ao desobrigar o cumprimento do currículo mínimo, e gerou um clima positivo de de-bates e renovação nas instituições de ensino. “Libera-das das antigas exigências e insistentemente preocu-padas em promover uma espécie de aggiornamento de seus estudantes com a formação humanística, com a formação técnico-profissional e com a formação ética” (FARO, 2002), as escolas se envolveram numa saudá-vel discussão em torno das novas possibilidades, em sintonia com os desafios da profissão.

Essas discussões foram pautadas, a partir de 2001, pelas diretrizes curriculares dos cursos de comunicação estabe-lecidas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) para orientar as instituições de ensino superior no processo de formulação do projeto pedagógico das graduações.

noVAs dirEtrizEs curriculArEs dE JornAlismo

Apesar de as diretrizes de 2001 ainda estarem em vigor, em fevereiro de 2009 o MEC anunciou a instalação de uma co-missão de especialistas para subsidiar o ministério na revisão das diretrizes curriculares do curso de jornalismo. A iniciativa foi comemorada à época como uma inovação na metodo-

logia de renovação das diretrizes dos cursos de graduação, já defasadas em relação à realidade de diversas profissões. Também foi bem recebido o documento Referenciais Cur-riculares Nacionais, da Secretaria de Educação Superior do MEC, que passou a categorizar os cursos de jornalismo como autônomos. Com isso, deixaram de ter a denomina-ção curso de comunicação social, habilitação em jornalismo, e passaram a se chamar apenas curso de jornalismo.

O cronograma de trabalhos da comissão presidida pelo professor José Marques de Melo incluiu consulta públi-ca pela internet e realização de três audiências abertas para contribuição de diversos segmentos da sociedade civil, das universidades e de representantes do merca-do de trabalho. À época, Marques de Melo defendeu a proposta de revisão das diretrizes como uma opor-tunidade para o reconhecimento das particularidades e da relevância social da profissão. “Apesar de ser fun-damental para o exercício da democracia, o jornalismo enfrenta hoje um dilema de ser curso sem personali-dade própria, e por isso é importante que se forme um jornalista para a sociedade, e não para as empresas e corporações”, alertou em entrevista.

O relatório final da comissão foi entregue ao MEC em 2010, após sete meses de trabalho. Entre as sugestões mais importantes, está o aumento da carga horária dos cursos, de 2.800 para 3.200 horas, e a regulamentação do estágio supervisionado.

Desde então, encontra-se engavetado, correndo o risco de caducar. Conforme alerta o professor Gerson Mar-tins, ex-presidente e atual diretor do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ), “o modelo, a estrutu-ra concebida pela comissão que elaborou o documento buscou realizar um projeto que estivesse contemporâ-neo com o seu tempo. O trabalho começou em 2009 e, em 2012, pode ficar velho”. Em compasso de espera, “coordenadores e colegiados de cursos se encontram, neste momento, com um pacote de mudanças a ser pro-movidas nos projetos pedagógicos sem conseguirem realizá-las, pois estão no aguardo da aprovação das di-retrizes”, conclui Martins.

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capítulo 4 | a Visão da academia: BreVes relatos

Estágio, Histórico dE um impAssE

O estágio em jornalismo surge oficialmente no Brasil no bojo da própria regulamentação da profissão, pois é intro-duzido pelo mesmo Decreto-Lei n° 972, de 17 de outubro de 1969, que veio efetivamente regular o exercício profissio-nal do jornalismo no país. O decreto previa que, para obter o registro em órgão regional do Ministério do Trabalho e Previdência Social que lhe garantiria o direito de atuar na área, o jornalista, além do diploma de curso superior em jornalismo, deveria comprovar cumprimento de estágio através de uma declaração da empresa. De acordo com o decreto, o estágio deveria ser realizado por alunos do úl-timo ano do curso e se estender por período não inferior a um ano, durante o qual os estudantes desempenhariam qualquer uma das funções executadas por jornalistas – atri-buições essas que também eram definidas pelo decreto.

Dessa forma, o instrumento legal – embora de origem autoritária, uma vez que assinado pela Junta Militar que governava o país – consolidava simultaneamente uma antiga reivindicação da classe jornalística brasileira, que havia décadas lutava por essa regulamentação, e insti-tuía uma modalidade acadêmica de iniciação à futura profissão – o estágio. Assim, o estagiário em jornalismo vinha substituir a figura do “foca”, como se denominava o aprendiz de repórter sem formação acadêmica na área que era orientado por jornalista experiente na redação.

Portanto, a obtenção da habilitação em jornalismo em curso superior requeria obrigatoriamente a realização de estágio, que deveria proporcionar ao estudante experiência didáti-co-pedagógica de aquisição de familiaridade com as roti-nas práticas da futura profissão. Era uma imposição legal. Contudo, assim como a exigência de diploma em curso superior para o exercício profissional, a realização de estágio

em jornalismo se tornou uma questão polêmica na área. No cotidiano das redações país afora, o que se disseminou foi o abuso da força de trabalho que esse contingente de estu-dantes passou a representar para as empresas jornalísticas: era uma mão de obra que podia ser permanentemente re-novada a custos baixos, pois sua remuneração era inferior à dos jornalistas profissionais. Além disso, os estudantes eram lançados no mercado sem acompanhamento algum – nem acadêmico, nem sindical, nem profissional.

Diante desse processo de desvirtuamento dos propósi-tos do estágio e do aviltamento das condições de tra-balho profissional no setor, o estágio – visto assim como um ingresso prematuro do estudante no mercado de trabalho e uma concorrência “desleal” – passou, em con-sequência, a ser combatido pelos jornalistas profissionais e pelas entidades da classe e criticado pelos próprios es-

tudantes. Menos de dez anos depois da regulamentação da profissão, deixaria de ser requisito para obtenção do registro profissional, em 1978, por determinação da Lei n° 6.612/78, e seria efetivamente proibido em 1979, na tentativa de combater a exploração da mão de obra boa e barata que os estagiários se tornaram nas redações, sem que os fins pedagógicos fossem alcançados.

A proibição perpetrada pelo Decreto nº 83.284, de 13 de março de 1979, trouxe uma série de repercussões para o campo do jornalismo. Despreparados para cobrir a lacu-na do estágio na formação dos estudantes, os cursos de jornalismo – então essencialmente teóricos – tiveram de se adaptar e se equipar com laboratórios para prover o seu alunato de um ambiente simulado de redação. Tam-bém os projetos experimentais, atividade prática realiza-da no último semestre, pretenderam suprir parcialmente a tarefa do estágio, conforme o parecer 480/83 do Con-

Ao longo dessas mais de três décadas de proibição, jamais cessaram as pressões dos estudantes pelo retorno do estágio

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selho Federal de Educação sobre o currículo mínimo dos cursos de jornalismo. (VALVERDE, 2006).

Porém, ao tentar proteger o mercado de trabalho e os es-tudantes de jornalismo, atribuindo à academia a responsa-bilidade exclusiva de sua formação, a legislação colaborou para o abismo crescente entre o espaço acadêmico e o de mercado, entre a reflexão e a vivência profissional. Jor-nais-laboratório e projetos experimentais não poderiam substituir a experiência de mercado que só o estágio em empresa jornalística teria condições de oferecer ao estu-dante: por mais próximas da realidade que as atividades práticas disponibilizadas pelos cursos sejam, elas jamais reproduzem a vivência do dia a dia profissional em suas relações intrínsecas e em situações concretas.

Ao longo dessas mais de três décadas de proibição, ja-mais cessaram as pressões dos estudantes pelo retorno do estágio, encarado não só como experiência funda-mental de aprendizado, mas também como oportuni-dade de ingresso do futuro profissional no mercado. Além disso, dadas a acelerada transformação das técni-cas jornalísticas com a informatização das redações, nas décadas de 1980 e 1990, e as dificuldades da academia para reproduzir esse ambiente na mesma velocidade, as pressões dos estudantes pela volta do estágio recrudes-ceram nesse período. Por outro lado, constatava-se que a proibição havia falhado no seu propósito de coibir a exploração de mão de obra, pois o estágio prosseguia sendo realizado irregularmente e sem nenhuma supervi-são em empresas por todo o país.

Em razão dessa demanda do corpo discente e do reconhe-cimento, por parte da academia, da experiência do estágio como uma etapa necessária na formação do futuro jorna-lista, sindicatos e cursos de jornalismo iniciaram discussões para reintroduzir o estágio na formação do profissional da área. A questão foi um dos temas do 21º Congresso Nacio-nal dos Jornalistas, realizado em São Paulo (SP) em 1986. Reconhecia-se a necessidade do estágio para a comple-mentação da formação profissional na área, mas ressalva-va-se que o mesmo não poderia retornar nas condições em que a categoria decidiu por sua extinção. Admitia-se

discutir o estágio, porém em bases que não reproduzissem a exploração e o aviltamento da profissão. Sem consenso quanto a esse novo tipo de estágio, a tese de seu retorno foi derrotada no congresso (VALVERDE, 2006).

A proposta também não foi aprovada no congresso re-alizado em Curitiba (PR) em 1994, mas voltou a ser dis-cutida no Congresso Extraordinário de Vila Velha (ES) em 1997, ocasião em que foi desenvolvido e aprovado o Programa de Estímulo à Qualidade da Formação Pro-fissional em Jornalismo, da Fenaj, em que o estágio era um dos pontos centrais. Esse programa foi então assi-nado pela Associação Brasileira de Escolas de Comu-nicação (Abecom), Associação Nacional de Progra-mas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós), Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação (Enecos), Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom).

Em seu Congresso Nacional de 2000, realizado em Salva-dor (BA), a categoria aprovou a realização de projetos pi-loto de estágio acadêmico, implantados em vários estados por sindicatos e coordenados pela Fenaj, cujas experiên-cias deveriam nortear a discussão sobre a legalização do estágio em jornalismo no país. Em 2002, o Programa de Estímulo à Qualidade da Formação Profissional passou a ser assinado também pelo recém-criado Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FENAJ, 2007).

Desse documento, atualizado em 2004, e das discussões realizadas no Seminário Nacional de Avaliação dos Es-tágios Acadêmicos em Jornalismo, realizado em 19 de agosto de 2005, em Brasília, surgiu o Programa Nacional de Projetos de Estágio Acadêmico, que propunha situar a questão do estágio em “outro patamar”:

A partir de então, ele não mais dividiria os jorna-listas e não seria mais considerado pela categoria como panaceia para os cursos de jornalismo, mas um dos elos da intrincada corrente que compõe o ensino superior (neste caso, o de jornalismo).

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Assim, a discussão do estágio não mais seria feita sem a sua devida relação com princípios de quali-dade de ensino. (FENAJ, 2006).

Com ajustes, o Programa Nacional de Projetos de Es-tágio Acadêmico foi aprovado no XXXII Congresso Nacional dos Jornalistas, que teve lugar em Ouro Preto (MG) em 2006. Reafirmado e ajustado no XXXIII Con-gresso da categoria – realizado em agosto de 2008, em São Paulo, às vésperas do fim da exigência da formação específica em jornalismo para o exercício profissional –, é a principal referência no debate sobre o estágio no país e o documento-base para as entidades de classe avali-zarem essa modalidade de treinamento. Ele não impõe a obrigatoriedade do estágio para a formação do jorna-lista, estabelecendo, ao contrário, o seu caráter opcional (“e se realmente for necessário como instrumento para complementar a formação profissional”) e condicionan-do-o ao cumprimento de seus objetivos pedagógicos, razão pela qual se constitui como estágio acadêmico e supervisionado (FENAJ, 2006).

Desenvolvido nos termos dos projetos piloto propostos pelo programa, os estágios em jornalismo devem contar com a orientação de professores e profissionais e ser fis-calizados pelos sindicatos e pelos cursos de jornalismo, a fim de que não infrinjam a legislação nem se desvirtue o seu fundamento pedagógico:

Em hipótese alguma deve servir para atender às ne-cessidades empresariais ou do mercado. O conceito básico do estágio acadêmico aqui defendido refere-se ao fato de que, não sendo possível nem desejável reproduzir, internamente, no curso de graduação de jornalismo, todas as características do mundo do trabalho, é pertinente propiciar oportunidades e acompanhar o estudante em circunstâncias só en-contradas no espaço profissional, compatibilizando o processo de formação com uma percepção práti-ca e direta do trabalho. (FENAJ, 2008).

Com sua regulamentação prevista também pelas novas dire-trizes curriculares dos cursos de jornalismo, o estágio na área caminha para a reabilitação num momento de radical transi-ção do setor, o que pode subverter tudo o que foi discutido, refletido e aprovado em todos esses anos de congressos e seminários. De um lado, a mudança no campo das tecnolo-gias de comunicação, com a internet à frente, que emancipou os sujeitos da passividade em que se encontravam num pro-cesso de circulação unidirecional da comunicação, criando novos protagonistas e meios para o exercício do jornalismo, como os chamados jornalistas-cidadãos e o midialivrismo. De outro, a desregulamentação da profissão, com o fim da exi-gência do diploma de jornalismo, na prática redimensiona a questão: se não é sequer preciso cursar jornalismo para atuar como jornalista, qual a finalidade do estágio? É todo um novo contexto que vem tornar ainda mais complexas a discussão sobre a formação em jornalismo e a relação teoria e prática no exercício qualificado e responsável da profissão.

distAnciAmEnto mArcA rElAção EmprEsA/EscolA

Quando o assunto é a relação entre as empresas de co-municação e os cursos de jornalismo, o universo de ques-tões se torna amplo e por vezes complexo. Um dos princi-pais focos de tensão e tentativa de aproximação se dá na discussão entre prática e teoria. Numa observação mais pontual e focada na busca de soluções, percebe-se como existe uma série de discursos de (des)autorização. En-quanto a partir da academia se diz que o mercado prioriza o tecnicismo, no mercado a visão dominante é a de que a academia não propicia situações reais de aprendizado. Tal paradoxo apontaria para a existência de uma diacronia en-tre o que se aprende e como se efetiva esse aprendizado.

Não se trata aqui de menosprezar a capacitação aca-dêmica dos professores das universidades, exigindo um tecnicismo atuante, pois se percebe a necessidade de doutores na academia, com seu olhar teórico continu-ado (MEYER, 2009). Entretanto, coloca-se em questão a capacidade de diálogo das diferentes realidades, mais conectadas do que nunca e, paradoxalmente, afastadas

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por posicionamentos que, muitas vezes, não se conhe-cem na contemporaneidade. (CASTELLS, 1999).

O grupo focal desta pesquisa aponta um distanciamento entre as necessidades apresentadas pelo mercado de tra-balho e formação acadêmica. Além disso, identifica a falta de diálogo entre as partes, restrito muitas vezes a encon-tros pontuais e palestras de profissionais nas escolas. Du-rante os levantamentos, teve-se a oportunidade de ouvir o lado acadêmico, por meio de relatos de 26 coordenadores de curso. Nele, resgatam-se alguns elementos do trajeto que marca o relacionamento mercado/academia no Brasil.

Dos 26 professores ouvidos, 16 demonstraram desconhecer a ocorrência de programas de treinamento em sua região, porém apontaram o estágio, intermediado via convênios ou não pela instituição, como uma ocorrência importante na relação entre as empresas e a universidade. Já os outros 10 professores apontaram programas de treinamento, com especial destaque para empresas vinculadas ao Sistema Globo de Comunicação e – no caso da Região Sul – para o Grupo RBS, além de exemplos pontuais junto ao Grupo Re-cord RS (durante a Feira do Livro de Porto Alegre); a Rede Paranaense de Comunicação; o Diário Popular de Pelotas (durante a Feira Nacional do Doce e Feira Nacional do Livro – cadernos produzidos por trainees). Na Região Nordeste, um caso específico foi apontado junto ao jornal O Povo e, na Centro-Oeste, o Correio Braziliense. No Sudeste, ações

pontuais também junto à rádio CBN em Campinas e à rádio Gospa Mira, em Belo Horizonte, surgiram como exemplos dentro da relação universidade/mercado.

Nota-se ainda a absorção de parte da experiência de estágio e trainee em veículos dentro da própria univer-sidade na qual o curso se situa, em assessorias de co-municação e emissoras públicas de TV ligadas ao Poder Executivo e ao Legislativo (em um dos casos, TCCs de vídeo dos alunos são veiculados). Finalmente, em um caso, vinculação de experiências junto à Marinha do Brasil (simulação de coberturas de guerra) e, em outro, a rádios comunitárias (workshops de produção em rádio).

Uma das atividades que vêm ganhando importância den-tro do universo das escolas de comunicação em relação ao mercado são as visitas às empresas que se dedicam ao ramo do jornalismo. Nove dos 26 professores entrevistados men-cionaram o recurso a visitas técnicas, como são denomina-das essas ações, às redações. Em alguns casos, essa visita é mediada por disciplinas da grade curricular, ou são também realizadas com a organização de um professor responsável, designado pela coordenação do curso para desempenhar tal função. Entre os professores contatados, foi revelado um caso em que a visita ocorre de maneira regular e reincidente pelos mesmos alunos ao longo do semestre.

Em cinco depoimentos, o movimento contrário acontece também: profissionais dos veículos de comunicação são convidados a falar aos alunos. Prática cada vez mais recor-rente no universo das escolas de jornalismo, os profissionais se dispõem, mediante convite, a realizar palestras e encon-tros com estudantes. Em alguns casos, parte mesmo da em-presa de comunicação, como no exemplo do Grupo RBS, do Rio Grande do Sul, que programa, anualmente, série de palestras de profissionais de seus veículos em diferentes universidades do estado. Surge também um caso especí-fico de profissionais ligados aos programas de treinamen-to; nos demais, os profissionais são vinculados à redação. Nessa última perspectiva, há um caso que promove uma espécie de simpósio que reúne vários profissionais para fa-lar aos alunos. Nesse mesmo curso há intenção de propor uma espécie de programa de “residência” para profissionais

Com ajustes, o Programa Nacional de

Projetos de Estágio Acadêmico foi

aprovado no XXXII Congresso Nacional

dos Jornalistas, que teve lugar em Ouro Preto

(MG) em 2006

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no ambiente acadêmico. Surgiu ainda, nessa linha, exemplo curioso apontando o interesse e o desejo da empresa de comunicação de aproximar seus profissionais do universo acadêmico de forma mais permanente: profissionais de co-municação oferecem duas disciplinas optativas de quatro créditos por ano, incorporadas à grade curricular.

Ainda no tocante aos estágios, alguns cursos esperam pela regulamentação das Novas Diretrizes Curricula-res para uma efetiva implantação. Outros já explicitam e estipulam uma carga horária específica: 270 horas para estágio supervisionado (além de permitir estágios não supervisionados) em um caso; 120 horas para estágio su-pervisionado, em outro. Mas surge, também, depoimento que explicita que os alunos só podem fazer estágio após o cumprimento de metade das disciplinas do curso. Quan-do não há acompanhamento institucional, há um esforço para que os próprios alunos informem a universidade no início e no fim de cada processo seletivo.

Em três casos citados, as universidades têm um setor espe-cífico para lidar com todos os convênios de estágios – e, por isso, não são estritamente vinculados aos cursos de comu-nicação. Em um quarto caso, foi lembrado um setor externo

à própria universidade, como o Ciee, no qual o curso faria a divulgação daquelas vagas explicitamente direcionadas a funções no jornalismo. Em caso à parte, esse movimento acontece de forma ampla durante um período de tempo estipulado quando há visita das empresas para divulgação de vagas de emprego, estágio, treinamento e captação de talentos em locais determinados dentro do próprio campus.

Percebe-se, no acompanhamento das apreciações apre-sentadas nessa relação mercado/academia, a existência de uma realidade que aponta para um distanciamento entre as necessidades apresentadas pelos dois universos: as das empresas jornalísticas e as da formação acadêmica dos jor-nalistas. Além disso, identifica-se, de forma clara, a ausência de diálogo entre as partes, ficando explícita a falta de um co-nhecimento mais profundo das dinâmicas atualizadas e das exigências vividas em cada um dos lados. Em alguns casos apontados, onde se dá a relação a partir da entrada de estu-dantes de jornalismo nas redações e corporações, percebe-se a ausência de um professor ou mesmo de um profissional responsável, disponibilizado como tal, para dar acompanha-mento ao processo do estudante-estagiário. Limitam-se a si-tuações em que o aluno informa início e fim do estágio, junto à instituição ou a órgãos intermediários da relação.

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rEFErênciAs BiBliográFicAs

BRASIL. Decreto-Lei nº 972, de 17 de outubro de 1969. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/de-creto-lei/del0972.htm>. Acesso em: 18 ago. 2012.

BRASIL. Lei nº 6.612, de 7 de dezembro de 1978. Disponí-vel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6612.htm#art1>. Acesso em: 18 ago. 2012.

BRASIL. Decreto n.º 83.284, de 13 de março de 1979. Dis-ponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D83284.htm>. Acesso em: 18 ago. 2012.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

FARO, J. S. Três Movimentos. In: Observatório da Impren-sa, 20 fev. 2002. Disponível em: <http://observatorio.ultimo-segundo.ig.com.br/artigos/da201020002.htm>. Acesso em: 14 jul. 2012.

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______. Fenaj disponibiliza resoluções do Congresso de Ouro Preto. Ago. 2006. Disponível em: < http://www.fenaj.org.br/materia.php?id=1267>. Acesso em: 20 ago. 2012.

______. Programa Nacional de Projetos de Estágio Aca-dêmico em Jornalismo. 2008. Disponível em: <http://www.fenaj.org.br/educacao/programa_estagio_academico_proposta_jornalistas.pdf >. Acesso em: 20 ago. 2012.

HIME, Gisely Valentim Vaz Coelho. O Jornalista do Pro-gresso: Cásper Líbero e a Modernização da Prática Jorna-lística Brasileira. In: 1º Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho (Mídia Brasileira: 2 séculos de história), 2003. Disponível em: <http://www.jornalismo.ufsc.br/redealcar/anais.htm.>. Acesso em: 14 jul. 2012.

MARQUES DE MELO, José. Pedagogia da comunicação na América Latina: reflexões sobre o gap indústria-universidade. In: MELO, José Marques de; BRANCO, Samantha Castelo (Org.). Pensamento comunicacional brasileiro: o grupo de São Bernardo. São Bernardo do Campo: Umesp, 1998.

MENDES, Ricardo Fontes. A profissionalização do jorna-lismo no Brasil. In: revista virtual Sala de Prensa, n. 6, ano II, vol. 2, abril de 1999. Disponível em: <http://www.saladepren-sa.org/art40.htm>. Acesso em: 15 jul. 2012.

MEYER, Philip. Por que o jornalismo precisa de doutores? In Estudos em Jornalismo e Mídia – Ano VI, nº 2. Florianó-polis, UFSC, 2009.

VALVERDE, Franklin. O papel pedagógico do estágio na formação do jornalista. Tese de doutorado em ciências da comunicação – Universidade de São Paulo, 2006, 227. Dis-ponível em: <http://www.franklinvalverde.com.br/tese.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2012.

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cApítulo 5

Celso Gayoso

lá ForA: progrAmAs no

ExtErior

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n a realidade brasileira, as ações de programas de treinamento vinculadas a empresas jorna-lísticas são uma experiência ainda em difusão, na busca pela atualização e/ou complementa-

ção profissional de estudantes em via de graduação e/ou jornalistas recém-formados. Porém, para além das frontei-ras brasileiras, as práticas dessa ordem recebem uma aten-ção cada vez maior e engendram discussões acerca das proximidades entre academia e mercado; a desobrigação da graduação em jornalismo; a autor(al)idade jornalística, dentre outros aspectos. Vejamos alguns exemplos.

tHomson rEutErs

A agência de notícias inglesa Thomson Reuters, fundada em 1880, é uma das empresas que desenvolvem em sua estrutura organizacional diversos programas voltados para a formação profissional, não só da área jornalística, mas das mais variadas formações (gestão administrativa, ven-das e tecnologia), necessárias para a otimização de suas atividades enquanto produtora de conteúdos. Oferece, por exemplo, quatro programas de MBA nas modalidades de curso de verão (dez semanas) e período integral (dois anos – de três a quatro módulos com duração de seis a nove meses). Esses programas acontecem em vários lo-cais onde a Reuters possui escritórios. A agência oferece também doutorado em tecnologia nas modalidades curso de verão e período integral. No que se refere especifica-mente à formação jornalística, conta com dois programas: o Reuters Journalist Trainee Program e o Reuters Global Journalism Interships, ambos realizados anualmente.

O Reuters Journalist Trainee Program é um programa de nove meses de duração operado nos escritórios Reuters das cidades de Londres, Nova York e Cingapura. De acor-do com as informações constantes no site do programa, o número de vagas depende do nível dos candidatos e as inscrições são feitas por formulários on-line e posterior entrevista com os mais bem posicionados. Através das especificidades contidas nos requisitos de candidatura, é possível inferir que o programa busca candidatos que tenham por objetivo a produção de conteúdo jornalístico

com ênfase econômica, uma vez que estende o programa não apenas a jornalistas. São aceitos também profissionais em finanças e estudantes de jornalismo, economia, negó-cios e línguas no último ano de graduação ou recém-gra-duados, desde que apresentem interesse comprovado em notícias de ordem financeira e apreensão das tendências econômicas contemporâneas. Outro dado que consta nos requisitos é que, além da fluência em língua inglesa, há preferência por candidatos falantes nativos em outras línguas – sendo “bem-vindos” o árabe, mandarim, russo e alemão –, numa referência direta ao mercado para o qual o periódico é direcionado e por serem, na contemporanei-dade, localidades de intenso fluxo econômico.

O Reuters Global Journalism Internships, como o próprio nome sugere, se propõe a ser um programa realizado em múltiplas localidades, e cada região possui um cronogra-ma distinto. O programa tem duração de dez semanas para os escritórios localizados nas Américas, oito semanas para escritórios asiáticos e seis para as sucursais na Euro-pa. As vagas são distribuídas entre os escritórios de Nova York, Washington D.C., Los Angeles, Chicago, São Paulo, Cidade do México, Londres, Cingapura, Hong Kong, Tó-quio e Pequim. Do mesmo modo que no Reuters Journa-list Trainee Program, permite a participação de estudantes ou recém-graduados com bom desempenho acadêmico provenientes dos cursos de jornalismo, economia, gestão de negócios, direito, línguas ou ciências da computação.

Esse caráter de globalidade do programa, a partir de uma dinâmica em que o candidato transita por várias regiões para ter conhecimento das distintas realidades, fica expresso no depoimento de alguns participantes do Reuters Global Journalism Internships, como é o caso de Natsuko Saeki, da Sophia University:

Eu comecei como trainee no Japão, cobrindo o mercado de relações internacionais de Tóquio. En-tão, passei quatro meses em Londres com os outros colegas trainees, primeiro em sala de aula, depois na editoria geral. Terminei o programa como trainee em Cingapura, no escritório asiático para redação

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capítulo 5 | Lá Fora: Programas no ExtErior

da editoria geral, e depois nas finanças para cobrir as moedas. Mais tarde, voltei a Londres, onde estou lo-tada recentemente e cubro assuntos de investimen-tos globais na seção de investimento estratégico.

Financial Times

O Financial Times (FT), jornal londrino, é outro periódi-co que realiza, por meio da concessão de bolsas-prêmio, a seleção de estudantes a serem incorporados ao staff FT, através do Graduate Traineeship, e tem por objetivo encontrar recém-graduados para se tornarem jornalistas seniores. Esse programa prevê uma formação ao sele-cionado de seis meses antes de integrar o time editorial do FT, depois o treinamento pode durar até dois anos, quando o trainee recebe indicação para ser contratado.

Para concorrer, o candidato deve submeter um artigo de até 500 palavras de temática livre e o julgamento será feito a partir da originalidade da proposta, bem como da qualida-de da escrita. Aos que já possuem uma experiência em re-dação, é facultado o envio de até cinco trabalhos realizados. Um aspecto salientado nas diretrizes do programa é que o mesmo não se destina a jornalistas com vasta experiência profissional ou já iniciados em atividades junto a outras em-presas. Para o ano de 2012, o site informa que o processo está suspenso, mas em 2013 realizará nova seleção.

Além do Graduate Traineeships, o FT oferece o Peter Martin Fellowship, programa de atividades jornalísticas de três meses em Londres para o editorial de negócios com remuneração de 5 mil libras; o Nico Colchester Fellowship, direcionado especificamente a jornalistas eu-ropeus; além do Marjorie Deane Intership, com ênfase na produção de conteúdo jornalístico financeiro.

DeuTsche Welle

Também da Europa, o grupo alemão Deustche Welle (DW) possui a DW Akademie, centro de formação lo-calizado nas cidades de Bonn e Berlim que desenvolve

as ações de treinamento das práticas em comunicação: o Classic Traineeship, que oferece formação jornalística para os suportes rádio, televisão e internet; o International Trai-neeship, com o propósito de recrutar estudantes do mun-do inteiro falantes das línguas integrantes da programação da DW; e um mestrado internacional em jornalismo.

O International Traineeship da DW Akademie, realizado desde 2007, é um programa de 18 meses, remunerado, que, além de instrumentalizar os selecionados na prática jorna-lística, propõe uma vivência acerca da realidade cultural alemã. A primeira etapa do processo seletivo é realizada on-line, depois os candidatos pré-selecionados produzem uma reportagem a partir de um tema definido pela DW e só então são submetidos a entrevista. Para a candidatura faz-se necessário, além da citada fluência em uma das lín-guas da programação Deutsche Welle (árabe, russo, chinês, espanhol, português para o Brasil, pashto, dari, urdu, inglês para África e inglês para Ásia), uma certificação em língua alemã. O que chama a atenção nos requisitos é a especifi-cação do “nível de formação” dos candidatos, que devem ter necessariamente experiência jornalística, além de gradu-ação e “treinamento vocacional”. O programa aceita como parâmetro para inscrição o candidato que tenha qualifica-ção para a prática profissional confirmada por certificação. Para efetivação da proposta, o conteúdo consiste de três frentes: os seminários em que o trainee recebe treinamento básico acerca dos formatos jornalísticos, escrita e lei de im-prensa; a prática em que os selecionados são posicionados nos diversos suportes da DW numa proposta multimidiáti-ca; e por fim uma imersão na cultura alemã através de aulas, seminários e excursões. Júlia Carneiro, brasileira, selecionada na turma de 2007-2008 do DW Akademie International Trai-neeship, diz que, graças a um intercâmbio organizado pelo Internationale Journalisten-Programme (IJP), estagiou du-rante quatro meses e meio no jornal Die Wiet, em Berlim, de onde também escrevia como correspondente para O Globo. Essa primeira experiência de estágio serviu como indicativo de que deveria se inscrever no International Traineeship e, ao saber da escolha para integrar o programa, vislumbrou a pos-sibilidade de experimentar a prática do jornalismo nas mídias rádio, internet e televisão.

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Além dos programas de treinamento acima descritos, a DW Akademie possui um programa de mestrado inter-nacional em jornalismo, com realização anual do seminá-rio Media Dialogue e um programa de desenvolvimento de mídia dividido por regiões (África, América Latina, Oriente Médio, Eurásia), com produção de conteúdo específico desses países através de um blog conectado à página da DW Akademie.

Rodrigo Rodembusch, brasileiro, foi aluno do programa de mestrado em jornalismo internacional e salienta o cará-ter multicultural da turma de 2009, da qual foi integrante. Alunos de 17 nacionalidades (China, Etiópia, Iraque, Irã, Vietnã, Geórgia etc.) compunham a turma que, para esta-belecer um diálogo e discussão a partir de suas realidades, tinha uma disciplina, Medienlandschaft (panorama de mí-dia, em português), que permitia a discussão das realida-des e condições dos países de origem dos estudantes. A respeito da dinâmica do curso, Rodembusch afirma:

O mestrado International Media Studies é único na sua concepção na Comunidade Europeia porque oferece o aporte teórico e a prática em um mesmo programa. Os quatro módulos são oferecidos de for-ma que o estudante possa conciliar o que desenvolve em sala de aula na forma de discussão, seminários e aulas expositivas com a saída ao trabalho de campo.

O estudante também salienta que um dos principais focos da DW Akademie é levar o conhecimento e a técnica jor-nalística para regiões com regimes autoritários, onde a aber-tura política é restrita e o fazer jornalístico pode ser uma das formas de proporcionar esclarecimento à população.

Em 2012, firmou uma parceria com a Asociación Boliviana de Carreras de Comunicación Social (Aboccs), numa ten-tativa de superação da dificuldade de acesso à formação jornalística na Bolívia, e desenvolveu o primeiro programa de treinamento em jornalismo do país. De acordo com Petra Meier, diretora da divisão América Latina da DW Akademie, esse programa de treinamento tem por ob-jetivo estabelecer um espaço de formação em jornalismo que promova uma articulação entre os setores públicos e privados, bem como as organizações da sociedade civil, esperando-se assim, um panorama mais inclusivo na mídia boliviana. O programa durará três anos e servirá de base para as faculdades de comunicação efetivarem os currículos para inclusão de uma graduação em jornalismo, além de vi-venciarem a experiência acadêmica de modo mais prático.

intErcâmBio AlEmão

O Internationale Journalisten-Programme (IJP) é um programa que oferece anualmente cerca de 120 bolsas de estudo para jornalistas alemães e do mundo inteiro. O programa é fruto da parceria de várias empresas como Instituto Goethe, Siemens, Volkswagen, Allianz e per-mite um intercâmbio, no sentido mais estrito da palavra, entre a Alemanha e demais países do mundo, pois prevê a seleção de jornalistas alemães para outras regiões e jornalistas de outras regiões para a Alemanha. Os editais são setorizados por região (América Latina, Ásia, Orien-te Médio, Leste Europeu etc.) e realizam-se anualmente.

No caso do German-Latin American Fellowship (Glaf), o Brasil é um dos países contemplados por esse edital. O jornalista selecionado recebe um valor único de 3.300 euros para cobrir os gastos durante o período de trei-

O mestrado International Media Studies é único na sua concepção na Comunidade Europeia porque oferece o aporte

teórico e a prática em um mesmo programa

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capítulo 5 | Lá Fora: Programas no ExtErior

namento de dois meses em alguma empresa jornalística brasileira. Na parceria de intercâmbio, a revista Veja é a publicação brasileira que recebe os jornalistas alemães contemplados pelo Glaf. O programa de bolsas existe desde 1997, as chamadas são anuais, e para participar é preciso: experiência comprovada em jornalismo, carta de intenção, curriculum vitae e ter entre 25 e 35 anos.

The neW yOrk Times

O jornal estadunidense The New York Times (NYT) é outro periódico que desenvolve desde 1984 programas de treina-mento em jornalismo. São bolsas direcionadas a várias espe-cialidades como fotografia, mídias sociais, design, multímidia e, claro, reportagem. Para candidatar-se é necessário ter visto de trabalho nos Estados Unidos. Cada uma das especia-lidades tem uma dinâmica de seleção e períodos de inscri-ção específicos. No caso da categoria reportagem, são dois programas que recebem o nome de importantes jornalistas estadunidenses: David E. Rosenbaum Reporting Internship (DRRI) e James Reston Reporting Fellowship (JRRF).

A DRRI tem vigência na cidade de Washington, embora o selecionado seja submetido a um treinamento de uma sema-na na sede do jornal, em Nova York. O programa consiste em um treinamento de dez semanas durante o verão norte-ame-ricano. Essa categoria é direcionada a estudantes em via de graduação ou recém-graduados com experiência prévia em jornal diário. Tem como objetivo financiar estudantes que se interessem pela editoria política e governamental. Para con-correr, o candidato deve enviar uma carta de apresentação, currículo e clipping com seis matérias, além de um artigo de 500 palavras demonstrando o interesse em desenvolver o treinamento na cidade de Washington. A remuneração pela atividade é de 900 dólares semanais.

A JRRF, de acordo com o site, aceita quatro estudantes a cada verão para participação e tem um perfil diferente. Os selecionados desenvolvem conteúdos para as edito-rias de educação, ciência, esportes e negócios. A bolsa se destina a estudantes em via de graduação ou recém-graduados, mas estabelece como critério a participação

prévia em algum programa de treinamento em empresa de notoriedade. Durante o processo de trabalho, o se-lecionado desenvolve suas matérias sob orientação de um jornalista sênior do staff NYT, além de participar de workshops com os mais renomados repórteres e editores dos Estados Unidos. Para concorrer, o candidato deve enviar uma carta de apresentação, currículo e clipping com seis matérias. O site do programa não especifica o tempo de vigência da bolsa nem o valor.

Além dos dois programas, o NYT também possui o Di-gital Internship, voltado para a formação de profissionais para a versão on-line do periódico, o NYTimes.com; o Dow Jones News Funding Editing Internship, programa de dez semanas que prioriza a formação em edição jor-nalística; o Interactive News Internship, que se destina ao desenvolvimento de aplicativos para pacotes empresa-riais e cobertura de eventos (é necessário conhecimento de programação como JavaScript e MySQL); o Multi-media Internship, voltado para a produção de conteúdos em plataformas múltiplas do NYT; o Social Media Inter-nship, para gestão de conteúdo jornalístico nas mídias sociais Facebook, Twitter, Google+, Tumblr e Instagram; e, por fim, o Thomas Morgan Internships in Visual Jour-nalism para as categorias design, gráficos e fotografia.

grupo clArín

Em colaboração com a Universidade de San Andrés, o gru-po argentino Clarín criou um programa de mestrado em jornalismo (Maestría en Periodismo), idealizado em convê-nio com a Universidade de Bolonha, a Escola de Jornalismo

Nas Filipinas, um jornal criou uma escola de

jornalismo que oferece cursos em níveis de

graduação e extensão

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da Universidade Columbia e o Instituto Francés de Prensa (IFP). O programa se propõe a ser um espaço de excelência profissional e acadêmica de modo a suprir as necessidades de formação complementar tanto de universitários quanto de jornalistas profissionais que desejam atualizar a formação. Para esse programa de mestrado, o grupo Clarín oferece 30 vagas anuais que são ocupadas não só por argentinos. Há inclusive no site do programa uma página de orien-tação aos candidatos estrangeiros com especificação das necessidades burocráticas para permanência durante o período de estudos em Buenos Aires. Os candidatos de-vem apresentar dossiê em que consta, além de currículo, carta de intenção de ingresso no programa de mestrado e duas cartas de recomendação (de referências acadêmicas e de trabalho). O investimento para a turma de 2012 custa 38.500 pesos argentinos (cerca de 9 mil dólares), poden-do o candidato obter bolsas de estudos parciais.

O mestrado tem duração de um ano com três trimestres. As aulas iniciam-se em abril e vão até dezembro. Durante esse período os alunos têm aulas diárias de disciplinas como opinião pública, meios e cultura midiática, novas mídias e economia e política dos meios. Ao final do curso de discipli-nas, os alunos passam por uma prática profissional (pasan-tía) supervisionada em uma das empresas do grupo Clarín e parceiras (o jornal La Razón, o canal televisivo El Trece, e a rádio Mitre FM) que pode durar de um a quatro meses, to-talizando minimamente 160 horas. Depois são submetidos a uma banca para apresentação de tese a ser desenvolvida sob orientação de um dos professores do programa. Além do mestrado em jornalismo, o grupo Clarín também oferta cursos de pós-graduação em jornalismo científico e em jornalismo digital em parceria com a Universidade Pompeu Fabrat, com sede em Barcelona, na Espanha.

el País

Outra instituição de língua espanhola que possui um pro-grama semelhante ao mestrado do grupo Clarín é o jornal espanhol El País, através da Escuela de Periodismo UAM

-El País. Trata-se de uma parceria entre a Universidad Au-tónoma de Madrid e o periódico. As turmas de 40 alunos são anuais, e o curso tem duração de 12 meses com ênfase prática na produção de jornalismo digital, impresso e au-diovisual. A escola também oferece oficinas de jornalismo especializado como fotojornalismo e entrevista.

The manila Times

Nas Filipinas, um jornal criou uma escola de jornalismo que oferece cursos em níveis de graduação e extensão. O jornal The Manila Times não é o de maior tiragem (é o quarto), mas é o mais antigo em circulação em territó-rio filipino: foi fundado em 1898. A iniciativa do jornal na criação do The Manila Times College (TMTC) visa su-perar a quase inexistente oferta de cursos de graduação voltados para a formação jornalística.

A escola é dirigida por Isagani R. Cruz, doutor em literatu-ra inglesa pela Universidade de Maryland. O TMTC con-ta com um programa de junior college, direcionado para alunos de high school (correspondente ao ensino médio, no Brasil) que desejam tornar-se jornalistas sem a certifi-cação de graduação. Além disso, o centro conta com o oferecimento de um bacharelado em jornalismo, em que os estudantes utilizam a própria estrutura do jornal para desenvolvimento das atividades práticas de texto. Em uma parceria com a outra empresa do grupo, a Teleradyo, produzem conteúdo televisivo e radiofônico. O TMTC também oferece um programa de estágio que recebe o nome de intensive apprenticeship, direcionado aos estu-dantes de jornalismo da própria escola e de comunicação social que queiram utilizar a estrutura da redação do Ma-nila Times para aplicação prática de conhecimento, pos-sibilitando a esses “aprendizes” a publicação de matérias como repórteres especiais do periódico.

Em entrevista para este trabalho, o diretor Isagani R. Cruz falou sobre o programa conhecido como on-the-job training (OJT), operado pela escola do jornal, que recebe alunos em via de graduação (a partir do segundo ano de faculdade, conhecido como sophomore) para

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capítulo 5 | Lá Fora: Programas no ExtErior

acompanhamento sistemático das rotinas de produção do Manila Times. Para candidatar-se, o aluno deve ter mais de 18 anos e ser estudante das escolas de jornalismo ou comunicação social. A recepção de candidatos OJT ocorre o ano todo e é dividida em três trimestres com duração de cerca de 14 semanas, mais uma entrada no período de verão com duração reduzida de dois meses. Para ingressar nesse programa, o aluno paga uma taxa ao TMTC. É também supervisionado por um jornalista da editoria à qual é designado, mas num regime de rota-tividade entre as editorias de polícia, cultura, economia e política. A dinâmica que orienta os alunos em OJT é que submetam diariamente no mínimo um conteúdo, como fazem os repórteres. Parte do turno é dedicada a leituras sobre alguns aspectos teóricos do jornalismo.

Uma ênfase dada por Cruz acerca do processo de for-mação dos estudantes do OJT é que o trabalho não se reduz à redação, mas à obtenção de dados nas ruas e nos locais onde é possível encontrar as fontes de cada uma das editorias, como entrevistar um senador ou membro do Congresso, tendo um repórter do jornal como acom-panhante. Questionado sobre quais eram os requisitos básicos para se tornar um bom jornalista, Isagani R. Cruz afirma que deve ser um bom observador e dotado das ha-bilidades de entrevista, ser íntegro, ter bom conhecimento da língua, paciência, perseverança e boa forma física. Na atual conjuntura, Cruz diz ter um aluno alemão nas de-pendências do jornal nessa modalidade de treinamento, através de uma parceria com a escola de origem do aluno. Perguntado se já teve algum estudante brasileiro, respon-de: “Não ainda, mas estamos abertos aos brasileiros se eles quiserem juntar-se a nós”. Embora Isagani não tenha explicitado a dinâmica de recebimento de estrangeiros no programa OJT, atualmente diz estar à procura de esco-las de jornalismo estrangeiras para realização de parcerias com o programa OJT do Manila Times College.

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rEFErênciAs BiBliográFicAs

Thomsom Reuters

FT Graduate Traineeships

DW Akademie

IJP - Internacionale Journalisten-Programme

The New York Times Internship

Grupo Clarín – Formaciíon Periodística

Escuela de Periodismo UAM - El País

The Manila Times College

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cApítulo 6

A pAlAVrA dE cAdA um

Fotos: rubens Chiri

alexandra aguirre everton Cardoso Marcos santuario thaísa Bueno

Celso gayoso lorena tárcia izaura rochaMaria Cristina leite Peixoto

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m apear os programas de treinamento serviu para nós, professores, como uma forma de entender melhor a dinâmica de iniciativas dessa ordem. Creio que para os leitores

servirá como um guia das ações desse tipo em território brasileiro. Como contribuição adicional, após apresen-tar alguns programas de treinamento em empresas de comunicação estrangeiras, o que pretendo fazer aqui é uma análise das informações recolhidas de modo a iden-tificar algumas ações relevantes que possam ser obser-vadas e suscitar debates.Vejamos alguns exemplos.

A Deutsche Welle Akademie é o centro de formação em comunicação vinculado ao canal de televisão público ale-mão Deutsche Welle (DW), que atualmente ocupa o dé-cimo lugar no ranking de emissoras do mundo. O jornalista gaúcho Rodrigo Rodembusch foi um dos alunos da turma de 2009 do programa de mestrado da DW Akademie. De acordo com Rodembusch, fica evidente a interação entre os aportes teórico e prático em um mesmo programa. As disci-plinas práticas se utilizam dos suportes televisivo, radiofônico, impresso e on-line da emissora para a produção de conteúdo jornalístico. Tudo isso, aliado à expertise e ao staff da DW.

Além disso, a DW Akademie tem se preocupado com a realidade midiática de países em via de desenvolvimento, e a abertura do mestrado em estudos de mídia internacio-nal é sintoma dessa preocupação. Os estudantes do mes-trado provenientes de diversos países servem de fonte para a discussão de questões como liberdade de expres-são, direitos civis e as condições de uso da comunicação como ferramenta de esclarecimento da população.

rEFlExõEs soBrE As propostAs do ExtErior

Se pensarmos em nossa realidade, o Brasil hoje conta com uma das três maiores emissoras de televisão do mundo, a Rede Globo. É óbvio que os propósitos de uma emissora estatal e os de uma privada são distintos, mas talvez hou-vesse a necessidade de conscientização do papel social da mesma enquanto difusorade ações que ampliem o debate acerca de questões da agenda pública. Hoje, as ações de in-vestimento em “capital científico”, promovidas pela Globo, concentram-se em pesquisas de recepção das telenovelas brasileiras, em parceria com a Sociedade Brasileira de Estu-dos Interdisciplinares em Comunicação (Intercom).

Por outro lado, ações afirmativas começam a ser desen-volvidas em função da consolidação e reivindicação de grupos de menor expressividade. Um exemplo é a Fun-dação Emma Bowen, que identificou uma “ausência sim-bólica” de profissionais de minorias étnicas na indústria midiática e criou um programa de bolsas para inserção de aspirantes à carreira jornalística.

A iniciativa da Emma Bowen Foundation tem sua pecu-liaridade por algumas razões: pensa o processo de forma-ção não necessariamente pela via universitária e propõe a capacitação de técnicos. O programa aceita candidatos a partir do último ano do high school e funciona, dessa forma, ainda como uma experimentação vocacional, que pode ser de grande importância para o aluno.

No meu caso, por exemplo, minha escolha vocacional só se confirmou a partir de uma experimentação. Meu pai era investigador policial e servia de fonte para inúmeros repórteres. Quando eu lhe disse que queria ser jornalis-ta, ele pediu a um de seus conhecidos que me levasse a uma redação e me apresentasseas rotinas produtivas de um jornal. Mais tarde, por causa da representação estu-dantil no conselho editorial de um suplemento voltado ao público infantojuvenil, tive a possibilidade de enten-der a dinâmica de produção de um periódico através das reuniões de pauta e escrevi alguns artigos que me trou-xeram a certeza do caminho profissional.

Também nesse sentido, ações como o Chicago Teen Jour-nalists, promovido pelo Dow Jones News Fund, possibilitam

Celso Gayoso

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capítulo 6 | A pAlAvrA de cAdA um

ao público jovem o contato direto com a prática jornalística e o despertar de futuros jornalistas. Pois um dos maiores pro-blemas que enfrentamos em sala hoje é a visão muitas vezes distorcida que o aluno inicialmente tem da profissão.

No Brasil, difundiu-se a cultura academicista,com o aumento quantitativo de vagas em cursos universitá-rios sem acompanhamento qualitativo dessa expansão.Além disso, a adequação do ensino superior à dinâmica mercadológica também fez com que o diploma fosse associado à única forma de êxito profissional. Porém, o mercado jornalístico precisa também de técnicos quali-ficados e hoje, na realidade brasileira, eles são forjados na prática cotidiana. São inúmeros os operadores de ví-deo, encarregados de impressão, técnicos de rádio que auxiliam no processo de construção de conteúdos jor-nalísticos em distintos suportes. Quando não há recur-sos humanos suficientes,é preciso instrumentalizá-los minimamente. É o que faz, por exemplo, a Rede Ama-zônica (afiliada da Rede Globo) através da Fundação Rede Amazônica, que oferece cursos em áreas técni-cas de rádio e televisão. Essa alternativa é uma tenta-tiva de superar a falta de mãodeobra qualificada para execução de tais atividades e a inexistência de cursos de formaçãopara as áreas técnicas do jornalismo.

Outra iniciativa interessante que observei foi a proposta do The Manila Times, das Filipinas. A partir da necessi-dade de cursos de formação periodística, o jornalista e escritor Isagani R. Cruz criou um espaço de reflexão e prática jornalísticas, vinculado diretamente ao jornal.As-sim, surgiu o TMTC, um “acordo” entre as duas instân-cias de formação que, em nossa realidade, sempre é mo-tivo de conflitos.O TMTC das Filipinas parece superar

essa dualidade ao justapor essas duas vias de formação imprescindíveis ao profissional em jornalismo.

De um lado, os cursos universitários que pretendem rei-vindicar a autoridade do processo de formação do aluno, tendo em vista os referenciais teóricos instituídos, geral-mente transpostos de referências forâneas e nem sem-pre compatíveis com a realidade do mercado. Do outro, o mercado que se vale de uma pragmática destituída de conceitos e valores referenciais à prática do jornalismo. Certa vez ouvi de um aluno, que começou a estagiar em um jornal, que o “jornalista responsável” deu como primeira instrução: “Sabe tudo que você aprendeu na fa-culdade? Então esqueça; aqui o jornalismo é diferente”.

Talvez realmente o seja. A questão do estágio sempre foi delicada e inicialmente tinha a proposta de propiciar ao estudante uma experiência real da rotina produtiva das redações, mas logo os excessos e abusos tornaram a iniciativa didatico-pedagógica um aviltamento das condições do trabalho.

Temos ainda, como sintoma de tendência contempo-rânea, os cursos on-line, que são uma das opções de centros de formação estrangeiros para possibilitar espe-cialização a um número cada vez maior de jornalistas. É o caso do Knight Center for Journalism (KCJ) da Uni-versidade do Texas, em Austin.

Criado em 2002, o KCJ tem como propósito oferecer treinamento profissional a jornalistas por meio de cursos on-line. Esses cursistas funcionam como multiplicadores do conhecimento obtido pelo KCJ. Desde sua funda-ção, cerca de 6 mil jornalistas participaram dos cursos nas

Temos ainda, como sintoma de tendência contemporânea, os cursos on-line, que são uma das opções de centros de

formação estrangeiros para possibilitar especialização a um número cada vez maior de jornalistas

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áreas de jornalismo digital, cobertura de processos mi-gratórios, jornalismo interativo. Assim, é possível alcan-çar um público que muitas vezes não tem oportunida-de, por distância geográfica ou questões financeiras, de participar de treinamento. Garantem certificação e são chancelados pela Universidade do Texas. O KCJ dispo-nibiliza, através de uma biblioteca digital, conteúdo de ações desenvolvidas pelo próprio centro ou de temática relativa à sua área de interesse. Muitos dos títulos são disponíveis em português, inglês e espanhol.

Ainda a partir da realidade das Américas é possível partici-par de alguns dos cursos oferecidos pela Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano (FNPI). Com a proposta de es-tabelecer uma rede ibero-americana de jornalismo com vista à otimização do conteúdo e gestão jornalísticos, o FNPI dis-ponibiliza seminários e oficinas nas modalidades presenciais e on-line. As atividades on-line contam com a utilização de ferramentas como o Twitcam, chat ou o portal da fundação em cursos de maior duração. Os cursos e seminários (ou we-binários) versam sobre temas como cobertura de assuntos de segurança, cidadania e narcotráfico; ética e liberdade jor-nalística; utilização de ferramentas da internet para produção de conteúdo jornalístico.

Chegando ao final, vejo que este texto acabou por tor-nar-se mais um guia com impressões acerca dos progra-mas. Espero que possa indicar exemplos de possibilida-des de formação complementar, contribuindo para uma melhoria profissional da área.

rEFErênciAs BiBliográFicAs

Emma Bowen Foundacion

Dow Jones News Foundation

Fundação Rede Amazônica

Knight Center for Journalism in the Americas

FNPI – Fundación Gabriel García Márquez para El Nuevo Periodismo Iberoamericano

National Council for the Training of Journalists

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capítulo 6 | A pAlAvrA de cAdA um

n em todas as etapas de treinamento e ensina-mentos das empresas jornalísticas estão res-tritas ao seleto grupo de aprovados. Dicas e vivências importantes são compartilhadas e

podem ser acompanhadas por qualquer pessoa em sites de redes e mídias sociais como blogs, vídeos no YouTu-be, perfis no Twitter. É o que chamamos de conversações em rede:aquela parte da web em que pessoas interes-santes trocam conhecimentos e insights valiosos sobre um campo ou área do conhecimento. Basta conhecer os caminhos e investir tempo na pesquisa e leitura.

No caso dos programas de treinamento e, consequente-mente, dos fundamentos do jornalismo, as conversações em rede a ser analisadas neste texto ampliam os conheci-mentos sobre esses dois campos, por meio dos recursos disponíveis na web. Nos exemplos a seguir, podemos verifi-car e pontuar memória, hipermidialidade, atualização cons-tante, personalização de conteúdo, multimidialidade e, prin-cipalmente, interatividade como fatores que contribuem em maior ou menor grau para essa conversação em rede e o diálogo direcionado à construção do conhecimento.

Uma simples recomendação do editor do site de espor-tes da Folha de S.Paulo, por exemplo, evidencia um desses casos de construção coletiva. Primeiro ele pede aos jo-vens jornalistas que não escrevam o que não têm certeza. “Muitas vezes”, recomenda Dani Blaschkauer, “é melhor fazer um texto mais conciso, pobre em detalhes, do que fazer comentários errados ou que, para um especialista, demonstrem sua ignorância sobre o tema.” A dica, por sua vez, é compartilhada on-line por uma trainee no Novo em

Lorena Tárcia

EnsinAmEntos dE quEm Já Está lá

Folha, blog de treinamento da Folha. Diante da responsa-bilidade de escrever o texto sobre a derrota de um atleta brasileiro no boxe, na cobertura on-line da Olimpíada, ela assistiu à luta, anotou os pontos, mas não sabia o que falar sobre a disputa, como descrever os golpes, já que não do-minava a linguagem técnica sobre o tema.

O blog Novo em Folha é destino obrigatório para todo estudante de jornalismo, interessado ou não no proces-so de seleção e treinamento do jornal. A página abriga a construção coletiva por meio de dicas, ferramentas e debates sobre o convívio entre jornalistas da velha guarda e as novas gerações nas redações, além de per-mitir um passeio pelo antigo site do programa.

A memória é um dos potenciais característicos das redes sociotécnicas e nos permite acessar e contextualizar his-toricamente os registros constitutivos do conhecimento coletivo. Nesse sentido, podemos agregar o resultado do trabalho desenvolvido por jornalistas selecionados pela Folha. No endereço, é possível acompanhar as produções e conhecer quem já passou pela formação. Notícias so-bre os processos seletivos, datas, etapas e contatos com editores responsáveis são outras importantes informações disponíveis. Os especiais já produzidos também estão lá.

As linguagens múltiplas e compartilhadas de platafor-mas também aparecem como fator essencial na busca pelos bastidores das informações. Assim, as intimida-des e o árduo caminho trilhado pelos 34 pré-seleciona-dos que chegaram à etapa de palestras em 2011 estão registradas em vídeo no YouTube.

Outro exemplo, do jornal O Globo, confirma esse pon-to: um dos trabalhos desenvolvidos pelos estagiários do grupo pode ser visto no projeto Já Voto. Melhor ainda é conferir o Amanhã no Globo, blog do programa, com perfis dos participantes e textos autorais, bastidores de coberturas, rotinas produtivas e impressões dos que vivem de forma privilegiada o dia a dia da redação. A interatividade se evidencia em diferentes estratégias de personalização de conteúdo: quem não gostaria de receber um e-mail como este: ‘“Olá, Antonio Baptista!

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Você está participando do processo seletivo de estágio da Infoglobo, empresa que edita os jornais O Globo, Ex-tra, Expresso e Globo na internet”? A revelação sobre o conteúdo da mensagem de aprovação e outros detalhes intimistas do período de formação estão registrados no blog Boa Chance, assim como o endereço no Twitter de todos os participantes da edição 2011.

A porta de entrada para a Rede Globo de Televisão é o Programa Estagiar. O Twitter do Banco de Talentos di-vulga vagas em várias áreas do conhecimento. Em 2012, a empresa intensificou a atuação em feiras de estágio em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, com o objetivo de captar estudantes para 2013. O vídeo promo-cional da campanha explica o perfil procurado. Em agosto

de 2012, o programa estreou sua presença no Facebook. O site oficial, no qual é possível fazer as inscrições, indica perfil requerido do candidato a estagiário: “multimídia, blo-gueiro, plugado e hiperligado até o último fio de cabelo”.

Outra estratégia da empresa reitera a busca pela apro-ximação da conversação em rede: o projeto Passaporte SporTV recruta recém-formados em jornalismo para atuar nos quatro cantos do mundo. Nele, é possível acompanhar, por exemplo, um dos repórteres enviados ao continente euro-asiático, na reportagem “Passaporte SporTV mostra um pouco do panorama esportivo na Rússia”. O projeto tem Twitter próprio e uma coletânea de vídeos dos jovens correspondentes, reforçando os pontos anteriores do compartilhamento de linguagens.

Essa observação leva a outra sábia providência consta-tada nas plataformas de programas de treinamento: o

domínio da expressão em várias mídias é cada vez mais necessário a qualquer profissional de comunicação. Isso ficou evidente durante depoimento de Sandra Gonçal-ves, do GRPCOM (capítulo 3). No site do programa do grupo estão reunidas as produções dos participantes desde a turma de 2009.

Outro exemplo é o tradicional curso de residência em jornalismo da Rede Gazeta (ES), que completou seus 15 anos em 2012 incluindo um curso de fonoaudiologia e técnicas para falar no rádio e TV. Entre os palestran-tes, jornalistas como Elio Gaspari, Carlos Alberto Sar-denberg, Ernesto Paglia. Os alunos têm aulas de por-tuguês, discutem o jornalismo e produzem um site e um caderno especial que circula com o jornal A Gazeta

ao final do programa. Todas as produções especiais podem ser vistas no site do projeto. A interatividade é a tônica do Twitter do curso, assim como a página no Facebook. Para conhecer a rotina e os trabalhos dos participantes, com direito a foto e perfil de cada um, acesse o Blog dos Residentes.

Outra característica das redes se manifesta claramente nas plataformas ligadas aos programas de treinamento: jorna-listas experientes, estudantes, curiosos e empresas estão no mesmo ambiente e a um clique do mouse. O diretor Insti-tucional do Grupo Comunicação O Povo, Plínio Bortolotti, por exemplo, tem um blog com importantes informações sobre o Curso Novos Talentos O Povo para estudantes de jornalismo, do qual é também coordenador. Bortolotti dá detalhes do processo seletivo, como o número de alunos de cada faculdade de Fortaleza e região. Na página, estão fo-tos dos jornalistas em formação e declarações daqueles que

O blog Novo em Folha é destino obrigatório para todo estudante de jornalismo, interessado ou não no processo de

seleção e treinamento do jornal

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capítulo 6 | A pAlAvrA de cAdA um

passaram pelo curso. Já no site do programa, é possível ain-da fazer o download de pelo menos oito provas e verificar o nível de exigência do processo de seleção, ou mesmo testar seus conhecimentos gerais e específicos. Nota-se aqui mais uma possibilidade das conversações em rede, que remete a outra vantagem da web e da autoformação: a aprendiza-gem a distância em nosso tempo e espaço.

Esse aprendizado em rede também pode ser detectado no Rio Grande do Sul, onde o Grupo Record promove as chamadas Oficinas de Jornalismo em TV, Rádio, Impresso e On-Line. Na web, pode-se acompanhar o processo de se-leção e algumas produções dos cursistas, como a cobertura da Feira do Livro. Com vantagens e desvantagens, a internet nos permite observar criticamente as produções jornalísticas daqueles que ainda não concluíram sua formação. O blog no qual ocorrem as conversações de bastidores da convi-vência na Rádio Guaíba chama-se Oficina de Jornalismo. O responsável pela oficina on-line e impressa, nosso colega de pesquisa no Rumos Jornalismo Cultural, Marcos Santuario, é ativo usuário do Twitter e mantém o blog M Santuario.

Da mesma forma, acompanhar a nova página do Curso Estado de Jornalismo no Facebook é como participar do dia a dia do treinamento, com fotos e vídeos da rotina de formação. Dá para saber até o endereço do bar onde a turma se encontra. A ferramenta tem sido utilizada com eficiência, contribuindo para um efetivo diálogo em tor-no de temas importantes.

Um exemplo: a entrevista coletiva coma maestrina Na-omi Munakata, regente da Osesp. Na conversa com o correspondente internacional Lourival Sant’Anna, a orien-tação para quem quer sair da mesmice nas coberturas: “Sempre procuro ouvir o que as pessoas contam aos ami-gos e aos familiares, o que elas dizem na cozinha da casa delas. E não o que elas dizem aos jornalistas”. Para ler o que a turma anda produzindo, acesse o especial de 2011.

Como em outros casos de construção coletiva, alunos do Curso Estado de Jornalismo registram suas impres-sões no blog do programa. Descobrem-se ali curiosida-des como o “trainee profissional”, aquele que passa por

várias formações, como foi o caso da estudante que fez residência na Gazeta, depois ingressou no Estadão e re-gistrou on-line a dupla experiência.

Para não dizer que tudo são flores, não deixe de acompa-nhar os apimentados comentários de alguns desses posts. Afinal, a web pode e deve permitir as opiniões divergentes. O Estadão também mantém um banco de talentos virtual, com breve perfil dos profissionais formados pela empre-sa e e-mails para contato, além do Curso Estado de Jor-nalismo Econômico. As informações e inscrições estão no site oficial.

O caráter de hiper e multimidialidade da rede permite ainda a existência de conversações em canais próprios, no caso, fora das páginas do Estadão. No YouTube, por exemplo, há o canal Focas da 22ª turma, com 28 vídeos. Quer saber o que move essa turma de novos jornalistas? Assista a E os focas, pelo que se mobilizam? Uma série de vídeos identificados como [Blog EM FOCA] Dicas reúne depoimentos da maneira de se preparar para a seleção. Por fim, acesse fotos dessa equipe em ação no Flickr.

A página para a inscrição no Programa de Trainee RBS fica aberta apenas no período específico, mas serve como porta de entrada para o blog dos trainees e para acessarperguntas e respostas sobre o processo. Os bas-tidores e publicações dos selecionados ficam no Blog Trainees. Da atual turma, a mais nova jornalista tem 22 anos, os três mais velhos, 26. O Twitter registra atualiza-ções e responde a dúvidas sobre o programa.No YouTu-be está um vídeo oficial sobre a seleção 2012.

Indicamos ainda o vídeo do debate promovido em 2010 pela revista Cult, do qual participaram os então coorde-nadores de cursos de jornalismo Carlos Costa (Cásper Líbero), José Luiz Proença (ECA/USP), Urbano Nosoja (PUC/SP), Rodolfo Carlos Martino (Metodista) e Ana Estela Pinto e Edward Pimenta, naquela data coordena-dores dos programas de treinamento da Folha e da Edito-ra Abril. Aos interessados em um aprofundamento acadê-mico, recomenda-se a tese do professor Franklin Larrubia Valverde, O Papel Pedagógico do Estágio na Formação

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do Jornalista. E àqueles que vão encarar o desafio das provas, dez dicas infalíveis para futuros focas, de Davi Lira de Melo, trainee do Estadão em 2010.

Na reta final, uma importante observação: se o momen-to dessas conversações em rede apresentadas vem sen-do relativamente bem-sucedido, cabe lembrar, contudo, como esse caminho foi e vem sendo construído, até certo ponto, de modo árduo por algumas empresas de comunicação. Não podemos nos esquecer de que boa parte delas estava culturalmente adaptada a um discurso unilateral ao longo de décadas. Abrir diálogo amplo não deve ter (e certamente não tem) sido tarefa fácil para os grandes conglomerados de mídia.

AlgumAs dicAs dAs conVErsAçõEs on-linE

• Um bom texto deve ter poucas aspas. (Paco sanchez, jornalista espanhol)

• Cuidado para não apresentar exceções como se fossem regras, evitando mostrar falsas tendências. (Carla Miranda, jorna-lista do grupo estado)

• Além de postura, aparência pessoal é fundamental para jornalistas. (renata Melo, consultora de imagem corporativa)

• Antes de pensar numa manchete, mentalize como o google vai mapeá-la.(Margot Pavan, seo WebWriting)

• Certezas atrapalham o repórter. Temos de ter uma visão relativista das coisas. (lourival sant´anna, jornalista)

• Humildade é a virtude básica do jor-nalista. (Paco sanchez)

• Elimine “quês” e reavalie os “és”. (Chi-co ornellas, jornalista)

• A melhor matéria é aquela em que so-bram informações. (edson veiga, jornalista)

• Atitude, método e narrativa são as três principais variáveis que orientam o fazer jornalístico. (ricardo gandour, jornalista)

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capítulo 6 | A pAlAvrA de cAdA um

Maria Cristina Leite Peixoto

do ponto dE VistA dos trAinEEs

A constatação de que o jornalismo precisa ser discutido e reformulado repercute não só no debate sobre a necessidade do diploma para o exercício da profissão, mas também

em medidas práticas adotadas pelas empresas, na for-ma de programas de treinamento em jornalismo, objeto da pesquisa realizada nesta edição do programa Rumos Jornalismo Cultural.

Na pesquisa, os representantes das empresas e de seus respectivos programas de treinamento puderam expor suas opiniões por meio de um questionário e de um grupo focal. No presente texto foram privilegiadas as visões de trainees em jornalismo. Se as informações ob-tidas têm um poder de generalização limitado, dada a pequena extensão do universo de depoentes, não dei-xam de indicar pistas interessantes e servir como com-plemento válido dos depoimentos dos coordenadores de programas de treinamento.

Duas fontes serviram de base para o texto aqui apre-sentado. A primeira compõe-se de jornalistas que par-ticiparam de programas de treinamento, indicados por amigos e contatados pelo Facebook1 . As solicitações de participação foram enviadas a dez pessoas, e cinco se dispuseram a responder. A segunda é o trabalho de conclusão de curso de Filipe Mendes Motta, Recortes Avulsos – Impressões de um Trainee da Casa Pasti-lhada, apresentado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2010, no qual expõe sua experiên-cia como trainee e reflete sobre a prática profissional e a formação acadêmica2.

Os participantes de treinamentos em jornalismo que re-lataram sua experiência têm entre 25 e 30 anos, e seus nomes foram resguardados, conforme solicitado por todos. Por quatro meses participaram do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha de S.Paulo, o que acrescenta ao mapeamento geral dos programas informações sobre uma prática que é referência para o jornalismo no Brasil. Na Folha de S.Paulo os alunos acompanham os passos da produção do jornal e ao final do curso participam da produção de um caderno especial, que pode ser publi-cado. Parte considerável dos que concluem o curso é aproveitada pelo Grupo Folha.

Os cinco jovens que responderam às questões enviadas são formados em jornalismo e quatro deles tinham alguma experiência profissional na área antes da entrada no progra-ma. São provenientes de diferentes estados e universidades e ainda trabalham como jornalistas. Três se formaram em instituições federais e dois em instituições privadas.

A avaliação dos cursos de jornalismo indica pontos positivos, como a aquisição de conhecimento de par-te do universo jornalístico, a possibilidade de prática nos laboratórios, bons professores, boa quantidade de aulas teóricas (teoria da comunicação, sociologia, filo-sofia, estética, antropologia, política, história da arte) vistas como propulsoras da curiosidade intelectual e da formação cultural. É interessante notar aqui a valo-rização, por parte dos ex-trainees, de um ponto con-siderado muito importante pelos coordenadores dos programas de treinamento.

Como problemas, os depoentes citaram a inadequação, a inexperiência e o absenteísmo de parte dos professo-res. Os currículos foram avaliados como pouco voltados à prática do jornalismo e à reflexão sobre a imprensa. A ausência de uma formação consistente em estatística, economia, direito também compôs o conjunto de críticas direcionadas à graduação. O discurso geral aponta para a falta de equilíbrio entre teoria, realidade social e prática jornalística, conforme expresso por um dos depoentes.

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Ao final da faculdade, não sabia dizer quem eram as principais fontes dentro de cada setor no meu es-tado/cidade, quem era o presidente da Assembleia Legislativa, como funcionava o trâmite de um pro-jeto de lei, quais eram os principais jornais/revistas/telejornais da cidade, quais eram os pontos fortes e fracos de cada um. E isso a despeito das numero-sas lições práticas que tínhamos! Parece-me que a prática era, apesar de valiosa, muito apartada do mundo real das redações [...]. Poucos eram os pro-fessores que nos forçavam a ler algum material jor-nalístico além do jornal-laboratório, e fazer a crítica sobre como a reportagem havia sido feita.

Solicitados a responder sobre os motivos da participação em um programa de treinamento em jornalismo, o desta-que foi a vontade de suprir deficiências na formação. Tam-bém foram citados o treinamento como o melhor caminho para entrar no mercado de trabalho e conhecer a realidade da imprensa, antes de efetivamente trabalhar como jorna-lista; a vontade de aprender mais sobre a profissão, estar em contato com os melhores profissionais da área; ser uma por-ta de entrada para trabalhar na Folha de S.Paulo.

Quanto à avaliação geral do treinamento na Folha, to-dos avaliaram positivamente a experiência, considerada fundamental, uma vez que preparou para a vida prática na redação; criou laços de amizade, tidos como rele-vantes num mercado de trabalho instável; aprimorou a qualidade dos textos; permitiu a orientação por exce-lentes profissionais. Abriu também novas possibilidades no jornalismo proporcionadas pelas aulas de português, mídias digitais, uso de dados na reportagem; ofereceu excelente infraestrutura; possibilitou a reflexão sobre ética jornalista e o fazer jornalístico; criou desafios na produção diária de pauta, vista como um bom exercício de observação e de leitura atenta da imprensa; ensinou apuração cuidadosa e técnicas para se resguardar e checar informações; apresentou alto nível de exigência. Além disso, significou uma experiência cultural impor-tante na cidade de São Paulo.

As críticas e os problemas giraram em torno dos se-guintes pontos: a falta de subsídio em dinheiro, sobre-tudo para os que vêm de outras cidades; a inserção dos trainees no jornal, que, diante dos afazeres dos editores, pareceu algo incômodo, criando uma atmosfera “opres-sora” na redação, ao invés de “construtiva e pedagógica”; a ideologia da empresa, incorporada plenamente pela coordenação do treinamento, que tratava a profissão como uma missão que se deve cumprir acima de tudo

“com sangue nos olhos, sem preocupação com salários, folgas e tempo de trabalho”; o trabalho desgastante, em ritmo de “linha de produção”.

Duas observações foram apresentadas como positivas e negativas ao mesmo tempo: a exigência da produção diá-ria de pauta, vista como desafio e como “drama”; os exer-cícios práticos de fechamento de página, que prepararam para a realidade da redação, mas pareciam “ginástica de Exército”; o fato de que o curso estimulou o senso crítico, mas moldou o treinando no “formato Folha de ser cri-cri”.

1. Após várias tentativas frustradas de contato via e-mail, o Facebook mostrou-se a melhor maneira de localizar os jornalistas.2. Veja também a dissertação de mestrado de Rodrigo Gomes Lobo, intitulada Proces-sos de socialização em jornalismo: adestrando “focas” ou treinando trainees, defendida no Programa de Antropologia Social da Universidade de São Paulo (USP), em 2010.

A ausência de uma formação consistente

em estatística, economia, direito

também compôs o conjunto de críticas

direcionadas à graduação

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Após a conclusão do curso, os respondentes permane-ceram na profissão. Julgam que as atividades realizadas no programa foram fundamentais na formação e inser-ção profissionais.

Só sou o que sou hoje porque passei pelos trainees, tanto pela possibilidade de formação de alto nível dentro de uma redação quanto pela inserção no próprio mundo jornalístico, sem depender de “QI” – quem indica.

O treinamento te imbui do espírito editorial do jornal, e acho que num bom sentido – não no de “lavagem cerebral”.

O treinamento permite conhecer a fundo a empre-sa para a qual você trabalha, coisa que, talvez, em condições normais, você não tivesse tempo de co-nhecer. Acho que todo profissional que entra numa redação precisaria ter uma orientação básica inicial.

Meu nível de exigência aumentou bastante e fi-quei mais cautelosa em relação ao que escrevo. Minha técnica de apuração também melhorou.

No trabalho de conclusão de curso, Filipe Mendes Mot-ta apresenta “um apanhado de pequenos textos sobre jornalismo [...] que se faz na Folha de S.Paulo” (2010). É um interessante esforço de olhar o jornal por dentro sem perder a dimensão crítica e refletir sobre os dilemas atu-ais do jornalismo impresso. Suas impressões não diferem das que foram aqui expostas, mas expressam também outras frustrações e críticas, tais como: a pouca corres-pondência entre o esforço empreendido na produção de uma matéria e o espaço disponível no jornal; a des-confiança das máximas da ideologia institucional da ob-jetividade e do didatismo; o tempo como privilégio de poucos repórteres; o engessamento dos textos pela falta de espaço; os critérios de noticiabilidade questionáveis, dentre os quais a indissociabilidade entre novidade e notícia e aquele que obedece à máxima “OP – Otávio

pediu”; o regionalismo de um jornal que se pretende na-cional; o modelo de cobertura política que abre mão de uma dimensão ampla do termo em prol de “intrigas” que envolvem personagens da política institucionalizada; a transformação do caderno de cultura em “guia cultural”, operando no terreno da subjetividade. Merece referên-cia especial a observação sobre a dispensa do diploma em jornalismo para participar da seleção. Segundo o au-tor, as provas não cobram teoria do jornalismo, apenas avaliam se o candidato lê o que sai no jornal e se escreve nos padrões ideais para a publicação. Como em outros grandes jornais do país, na Folha a ideia é que jornalismo se aprende na prática, crença que evidencia o descom-passo entre a universidade e a prática profissional.

Motta se empenha em mostrar que determinadas exi-gências, aparentemente desnecessárias, podem ser im-portantes, como os exercícios de fechamento de edição. Evidencia que a chamada crise do jornalismo impresso tem deixado as instituições perdidas, o que leva a apos-tas discrepantes, com parcos resultados em termos de formação de público leitor. Enquanto a Folha investe em textos curtos, imagens, em maior carga analítica, na cul-tura pop e aposta no jornalismo digital (ainda de modo experimental), o Estadão destaca grandes reportagens, incorpora novos cadernos, dá maior espaço, no âmbito da cultura, ao clássico e erudito.

Motta finaliza o trabalho refletindo sobre sua formação na universidade. Valoriza os projetos extraclasse dos quais par-ticipou e a exigência curricular vigente de cursar disciplinas de belas-artes, letras, filosofia, sociologia, política e antropo-logia. Essas disciplinas, salvo as deficiências de alguns pro-fessores, “serviram para provocar alterações no registro do raciocínio [...] para uma abordagem que vê o mundo de ma-neira mais complexa, não linear” (2010). Os pontos fracos na formação foram localizados na ausência de discussões sobre o funcionamento das instituições políticas brasileiras e dos indicadores sociais e econômicos, de modo a dar sub-sídios para análises mais consistentes e realização de pro-jeções; na falta de reflexões sobre as formas diversificadas do jornalismo em diferentes veículos e as relações entre a graduação em jornalismo e a prática profissional.

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A partir dos depoimentos dos ex-trainees, os cursos de graduação forneceram bases genéricas, mas insuficien-tes, para a atuação nos veículos. Por isso, tudo indica que também para eles jornalismo se aprende mesmo é na prática. Diante disso, cada empresa ensina e “molda” os novos profissionais a praticar o jornalismo que considera ideal, evidenciando a distância entre a universidade e a prática jornalística.

A participação em um curso de treinamento teve grande valor e funcionou como marco na carreira dos “focas”, chegando a ser caracterizada como momento funda-mental no aprendizado do jornalismo, qualificação não atribuída à universidade. No entanto, os ex-trainees não negaram a validade do que aprenderam na graduação.

A experiência do treinamento serviu ao mesmo tempo como processo de afirmação da redação, vista como o lugar real do fazer jornalístico, mas também de desmis-tificação de um local onde a competitividade, a falta de tempo, a atmosfera “opressora” destoam do ideal e do discurso de autoafirmação do jornalismo.

rEFErênciAs BiBliográFicAs

MOTTA, Filipe Mendes. Recortes avulsos – im-pressões de um trainee da casa pastilhada. Traba-lho de conclusão de curso de graduação em jorna-lismo. Belo Horizonte: Fafich/UFMG, 2010.

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capítulo 6 | A pAlAvrA de cAdA um

Izaura Rocha

AFinAl, ondE sE AprEndE JornAlismo?

A pergunta acima talvez seja a grande questão que paira sobre as muitas implícitas na pes-quisa desenvolvida nesta edição. Nas refle-xões realizadas a partir do mapeamento dos

programas de estágio e trainee em jornalismo, ela surge indissociável da querela mercado-academia e da polariza-ção prática-teoria. Após um século de profissionalização e constituição da imprensa como ofício e com técnicas, procedimentos, gêneros textuais e discurso próprio, eis que essa instituição respeitável se vê em crise de identi-dade e incerta de seu futuro. A revolução das novas tec-nologias veio não só abalar todo um modelo de negócio, mas também impor a revisão de conceitos estabelecidos, desde que as ferramentas da internet e das redes sociais criaram novos recursos e plataformas para a produção e a distribuição de informação, e transformaram cada cidadão em produtor e disseminador em potencial de conteúdo.

Esse cenário de mudanças incidiu de forma avassaladora sobre os processos de atuação na área, levantando ques-tões sobre o exercício profissional: termos como jorna-lismo cidadão, jornalismo colaborativo, jornalismo 2.0, mídia livre tentam dar conta dessa nova realidade das mídias e dos sujeitos que hoje competem com a velha imprensa em sua tarefa. Um blog independente de con-teúdo noticioso é jornalismo? Curador de conteúdo nas redes sociais é jornalista? Um blogueiro pode reivindicar o mesmo amparo legal de sigilo da fonte? Que lugar e que papel passa a ocupar e exercer o jornalista profis-sional quando as fontes já não precisam de mediadores para se dirigirem à sociedade? Qual o perfil do jornalista

hoje? Quem pode ser chamado de jornalista? Os valo-res e princípios do jornalismo tradicional permanecem os mesmos? Quais são os novos paradigmas?

Todas essas questões desafiam os profissionais e os pen-sadores da comunicação, tornando ainda mais complexa a velha questão do locus de aprendizado do jornalismo. Diante do impacto que a inovação tecnológica e a revo-lução digital causaram nesse campo, como responder à pergunta do título? Convulsionado pela profundidade de tantas mudanças, o jornalismo está em processo de rein-venção, e nada garante hoje que as transformações em curso vão terminar, que um novo modelo se consolide.

Tendo essa constatação em vista, é possível especular que a academia, em geral mais lenta na absorção das mudanças tecnológicas que se processam na sociedade, talvez não seja o lugar mais apropriado para esse apren-dizado. Mas isso é só parte do problema. E é repisar a velha e falsa oposição entre teoria e prática, entre pen-samento e ação, como se fossem instâncias autônomas e exclusivas da universidade e do mercado, respectiva-mente. Não há espaço neste artigo para uma revisão, ainda que breve, da discussão filosófica sobre teoria e práxis, mas cabe, citando Norberto Bobbio, aproximar o dilema que envolve a formação dos jornalistas ao velho problema das relações entre as tarefas de compreender o mundo e as de transformá-lo, entre o plano do intelec-to e o da ação (BOBBIO, 1997).

Refletindo sobre a natureza da atividade jornalística – in-telectual ou técnica? –, Carlos Chaparro (2012) é lapidar:

pelas complexidades que o mundo de hoje impõe à atividade jornalística, o jornalista que a universidade deverá formar terá de ser um profissional com edu-cadas aptidões de intelectual, capaz de apreender, atribuir significados e dar exposição social confiável (isto é, independente, crítica e honesta) aos confli-tos discursivos da atualidade. Mas será intelectual-mente inepto se, ao mesmo tempo, não dominar, plena e criativamente, os conceitos, os recursos, as

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técnicas, as artes e as implicações da linguagem jor-nalística – ferramentas do seu ofício.

Como a corroborar a opinião do pesquisador, o mape-amento realizado junto às empresas sinalizou que, se a academia não dá conta de acompanhar a transformação que ocorre no mercado – quando este também luta para se adequar e sobreviver a ela –, deve caber aos cursos de jornalismo capacitar o estudante a interpretar esse mundo complexo em que vivemos, oferecendo-lhe uma formação de base humanista (história, filosofia, antropologia, sociolo-gia, psicologia etc.). O mercado afirma precisar de jorna-listas que saibam pensar, articular ideias e acontecimentos, contextualizar fatos, atribuir sentidos. Nesse ponto, tanto os participantes do grupo focal quanto os responsáveis pelos programas de treinamento e estágio que responderam ao questionário da pesquisa parecem concordar quando o as-sunto é a qualificação que buscam em novos profissionais: domínio do português, boa redação e formação cultural e humanística aparecem à frente do conhecimento das téc-nicas jornalísticas. Isso se reflete, inclusive, no conteúdo das provas de seleção para os programas de treinamento, com forte presença de questões de conhecimento geral, cultural e humanístico. A demanda, então, vai além do domínio das ferramentas e do discurso padronizado, embora isso seja necessário e relevante.

Instada a atender às demandas do mercado e a garantir a empregabilidade de seus egressos, a academia se pre-ocupou em ensinar os conceitos e as técnicas essenciais da profissão: lide, pirâmide invertida, linguagem direta e clara, objetividade, off... Com a proibição do estágio, fo-ram criados os projetos e os laboratórios experimentais de jornalismo para oferecer vivências das rotinas da profissão num ambiente simulado de redação. Já o mercado bo-

lou sua própria forma de preparação e recrutamento de profissionais, com os cursos de treinamento. Enquanto os laboratórios da academia proporcionam algum nível de prática nos cursos – ainda que precária e distante do ritmo, do timing, das pressões e dos conflitos da realidade da profissão –, os programas de treinamento cumprem a função de captar talentos e ajustar esses jovens e futuros jornalistas a seus projetos e filosofias editoriais. Em grande parte vinculados ao RH das empresas, que emprega suas ferramentas, os processos de seleção para esses cursos são uma triagem de profissionais, com aproveitamento de participantes nos quadros da redação após o treinamento, que inclui absorção da missão e dos valores da casa.

Os grupos que mantêm cursos de treinamento e/ou está-gio supervisionado sustentam essas iniciativas como uma complementação da formação do profissional que sai da academia. Segundo Melo (2003), atuariam como progra-mas de “reciclagem”. Para esse autor, os jovens jornalistas deixam os cursos de graduação dominando conhecimen-tos básicos da profissão, porém a “deficiência fundamental” dessa nova geração é carecer do embasamento humanís-tico e científico que seria o “lastro cognitivo” do desempe-nho do jornalista. O curioso é constatar, via mapeamento, que alguns dos treinamentos em jornalismo estão incluindo disciplinas teóricas, com o objetivo de proporcionar a base humanista de que o próprio mercado estaria sentindo falta. Diante da complexidade do mundo atual, a demanda é por habilidades mais reflexivas e críticas. O que o mercado pa-rece dizer é: ensinem a pensar; deixem que a prática a gen-te treina em algumas semanas ou em dois ou três meses. Nisso reside claramente a ideia de que o jornalismo, como técnica, se aprende em curto prazo e na prática das rotinas produtivas de uma redação. Entretanto, se é ponto pacífico que existem técnicas jornalísticas, estas não bastam para definir uma atividade intelectual e social de tão complexas

A revolução das novas tecnologias veio não só abalar todo um modelo de negócio, mas também

impor a revisão de conceitos estabelecidos

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capítulo 6 | A pAlAvrA de cAdA um

relações e repercussões. Embora seja desejável e pertinen-te oferecer prática laboratorial de jornalismo na graduação, é necessário valorizar o teórico, na perspectiva da unidade teoria-práxis, de uma relação dialética que se processe na interação entre o pensar e o fazer: de um saber-fazer não dissociado do saber-pensar.

Nessa abordagem integradora, exerceriam papel relevante as pesquisas acadêmicas realizadas tanto em nível de ini-ciação científica quanto de projetos de extensão, capazes de proporcionar reflexão e experiência. Da mesma forma, aponta Melo (2003), seria fundamental a realização de pes-quisa aplicada, voltada para a experimentação e a geração de novos produtos e formatos. Os trabalhos de conclusão de curso (TCCs) e laboratórios dos cursos podem e devem ser esse espaço de reflexão, crítica, prospecção e criativida-de. As pesquisas e experimentos produzidos na academia, porém, teriam de circular e ressoar no mercado, que, por sua vez, também deve abrir-se para as investigações acadêmi-cas e mesmo estabelecer parcerias com a academia para a construção conjunta de conhecimento.

Não desfrutamos amplamente no Brasil das condições que viabilizam, nos Estados Unidos, por exemplo, o inves-timento privado, via empresas ou fundações, em cursos e faculdades de jornalismo para equipá-las e fomentar um ensino mais qualificado e inovador de jornalismo. Cursos caros, que necessitam obrigatoriamente de infraestrutura de laboratórios para seu ensino, as escolas de jornalismo enfrentam um desafio: como não ser tecnicamente ob-soletas? Sem dar conta de oferecer uma prática atualiza-da com as novas tecnologias e de acertar o passo com a transformação veloz do mercado, restaria à academia um caminho mais curto para proporcionar a seu aluno o contato com o mundo real do jornalismo: o estágio, ferra-menta pedagógica que pode colaborar para aproximar as empresas e os cursos, garantindo ao estudante a oportu-nidade de vivenciar o jornalismo em situação.

Nada colabora menos para a diminuição do fosso entre cursos e empresas do que a manutenção dos preconcei-tos de parte a parte, quando, na realidade, ambas com-partilham da preocupação com a formação dos jornalistas.

A resposta mais sensata quanto ao lugar do aprendizado de jornalismo – alheia à discussão sobre a obrigatoriedade ou não do diploma – é a de que jornalismo se aprende na interface entre as reflexões críticas sobre a prática e as experiências ditas práticas, que devem se retroalimentar continuamente. Ou seja, a teoria não pode ser esvaziada de prática, e esta necessita do teórico para se reformu-lar a partir de sua crítica. Contudo, é importante ressaltar que, até aqui, se tratou essencialmente de um jornalismo e de mídias tradicionais. Há todo um “novo jornalismo” e novas categorias e espaços de atuação jornalística caren-tes de estudos e reflexões mais sistematizados. Esses fa-tos tornam mais complexos os desafios e impasses sobre a formação para o exercício do jornalismo no presente e no futuro, que exigirá profissionais cada vez mais habilita-dos a transitar e produzir nas diferentes mídias. Tem-se, por exemplo, a necessidade de criar a cultura do empre-endedorismo no ambiente acadêmico, a fim de estimular e desenvolver no aluno o potencial para identificar novas demandas sociais e criar possibilidades de atuação e ne-gócios em áreas novas e sem modelos, nas mídias livres, independentes. Atentas à reconfiguração do campo jor-nalístico, as empresas tradicionais também poderão se beneficiar das experiências e do conhecimento resultante.

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rEFErênciAs BiBliográFicAs

BOBBIO, Norberto. Os intelectuais e o poder. São Paulo: Editora Unesp, 1997.

CHAPARRO, Carlos. Jornalista – intelectual ou técnico? Disponível em: <http://www.obser-vatoriodaimprensa.com.br/news/view/daniel_piza__29948>. Acesso em: 31 ago. 2012. Publicado originalmente em www.comuniquese.com.br.

MELO, José Marques de. Jornalismo brasileiro. Porto Alegre: Editora Sulina, 2003.

PEREIRA, Carmen. Jornalismo: estágio pela porta da frente. Jornal Brasileiro de Ciências da Comunicação. Ano 6. Nº 226. São Paulo. 22 de agosto de 2003. Disponível em: < http://www2.metodista.br/unesco/jbcc/jbcc226completo.htm>. Acesso em 02 set. 2012.

STRELOW, Aline do Amaral Garcia. A discus-são metodológica e a construção do campo do jornalismo. Disponível em < http://www.bocc.ubi.pt/pag/strelow_bocc_2009.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2012.

VALVERDE, Franklin. O papel pedagógico do estágio na formação do jornalista. 2006. 227f. (Tese) Doutorado em Ciências da Comunica-ção – Universidade de São Paulo. Disponível em: < http://www.franklinvalverde.com.br/tese.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2012.

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Alexandra Aguirre

como o mErcAdo Vê o Ensino

s ão vários os autores da comunicação social que tentam compreender a relação entre o mercado de jornalismo e a universidade. José Marques de Melo (2003) estuda a criação das primeiras

universidades de comunicação e mostra que é possível especificar a trajetória que o conhecimento universitário faz do mercado (a prática) para as salas de aula.

Longe de estar distante da atuação profissional, o co-nhecimento acadêmico estuda o exercício cotidiano do jornalismo, publicidade, cinema, produção editorial e radialismo. Quaisquer práticas profissionais surgem da necessidade de bens e serviços da sociedade, e sua regulação e sistematização são feitas por várias insti-tuições, como as corporações profissionais e as univer-sidades. Estas têm a função também de incentivar a pesquisa e a reflexão.

Um exemplo está presente no texto de Carlos Gerbase (1998) que vê no mundo povoado por imagens eletrô-nicas, digitais e impressas a necessidade de disciplinas voltadas para seu conhecimento. Ou seja, quais recursos teóricos e técnicos a universidade pode oferecer aos es-tudantes, e disseminar por meio de pesquisa aos profis-sionais da comunicação, para uma atuação no mercado baseada na produção, análise e reflexão de imagens?

Essa questão não é muito diferente da levantada por um clássico da bibliografia sobre estudos de jornalismo, a in-vestigação de Carlos Eduardo Lins da Silva (1985) sobre a recepção do Jornal Nacional entre classes trabalhadoras. O pesquisador enumera vários recursos que contribuem

para a reflexão sobre telejornais, dentre eles o conheci-mento das técnicas de produção e edição em vídeo.

Logo percebemos que se a prática, o saber-fazer, se ori-gina no mercado, no cotidiano de empresas, redações, oficinas e agências, pela necessidade cada vez maior de informação, ela própria, a prática, demanda também regulação e sistematização desse fazer. Cumprem essa função, corporações profissionais e universidades, que também devem refletir sobre esse fazer que se dá em meio a reproduções automatizadas, sob pressão de pra-zos e poucos questionamentos. A reflexão e a sistema-tização na forma de conhecimento teórico retornam ao mercado através da formação de profissionais e de pes-quisas. Mas como o mercado percebe a sistematização e reflexão acadêmicas sobre o exercício profissional?

Alguns chavões parecem sempre prontos a ser sacados, em escolas ou empresas, tão logo a competência da uni-versidade é posta em jogo. Frases do tipo “A universidade está sempre dois passos atrás em relação ao mercado” ou “Quando chegar ao mercado esqueça tudo o que apren-deu em sala de aula” ignoram que a relação entre univer-sidade e mercado é circular, que há um trajeto de mão dupla, em que ora o mercado está à frente da academia, ora a academia é que está à frente do mercado.

Pensemos nos laboratórios universitários, onde se experi-mentam técnicas e linguagens para produtos altamente pa-dronizados, como revistas, tele e radiojornais, muitas vezes desgastados pela concorrência com a internet e sem inova-ções pelo medo que o mercado tem do risco. Enquanto a universidade estimula a criatividade, muitas vezes com base em pressupostos conceituais bem avançados, as empresas recolhem-se desqualificando as pesquisas como “inovações de alunos” e perdem a mesma oportunidade que, coinci-dentemente, tornaram o Vale do Silício referência no co-nhecimento de tecnologia: o uso da pesquisa universitária para inovação de produtos. E, nesse caso, poderíamos reto-mar os chavões e perguntar: quem está à frente de quem?

A pesquisa produzida por esta edição do Rumos Jorna-lismo Cultural colheu também impressões do mercado

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sobre o ensino universitário, embora esse não fosse o propósito principal da pesquisa. Elas aparecem no perfil desejado para jornalistas, no processo de seleção e meto-dologia dos treinamentos e nas informações consideradas relevantes pelas empresas.

No desenho do perfil ou das principais características de um jovem jornalista, por exemplo, uma editora de Per-nambuco afirma que é desejável que o estudante tenha “um interesse natural pelas linguagens artísticas e tente se aprofundar um pouco mais nelas, buscando leituras que muitas vezes entram pelo campo da academia”. Além dessa resposta, “conhecimento das disciplinas da facul-dade de jornalismo”, de uma rádio do Rio do Janeiro, e “conhecimento teórico”, de uma filial de TV no mesmo es-tado, se destacam ao reconhecer explicitamente a função sistematizadora e reflexiva da universidade. Característi-cas como “formação cultural/intelectual” e “humanística”

de outras respostas aludem ao espaço universitário, mas o excede, já que a cultura, como dimensão específica da so-ciedade, é formada também pela indústria cultural e artes.

A importância do saber acadêmico está explícita nas res-postas que pensam a continuidade entre universidade e mercado. O abismo presente nos chavões não faz sen-tido, já que a maioria dos jornalistas, hoje, passou pelos bancos da graduação, ou, se não, eles foram estimulados pelas empresas a fazer cursos de atualização e tiveram contato com funções específicas do conhecimento aca-dêmico. Em outros casos, os jornalistas dão aulas em uni-versidades e estão em contato com a cultura de reflexão e sistematização. Isso nos leva a acreditar que grande parte desses jornalistas, mesmo sem consciência, parte dessa cultura para as redações, na forma de referências

teóricas e bibliográficas, na ênfase quanto à dúvida e desconfiança e nas soluções criativas.

O processo de seleção e produção de conteúdo é onde se pode reconhecer como as vinculações da empresa em relação à uni-versidade se dão, seja por meio de parcerias com instituições de ensino que contribuem na produção de conteúdo, seja por meio de uma trajetória direta, que se inicia na escola (a qual indica os alunos a participar do programa) e se prolonga na concepção do conteúdo e avaliação em colaboração com a instituição de ensino. Em alguns casos, a relação é de ruptura, não havendo nenhuma interferência da universidade no processo de seleção ou produção de conteúdo.

Nesse sentido, especulamos que esses programas ou são percebidos como complementares aos estudos acadêmi-cos, devendo oferecer a vivência cotidiana da redação em adição à universidade, ou são desqualificados por completo

ao ser ignorados nas etapas que atravessam os treinamen-tos. São especulações, isso não é revelado pelas empresas, com exceção de uma observação feita em que as funções da universidade se perdem completamente diante das de-mandas do mercado: “As universidades devem mudar ime-diatamente a grade do último ano para jornalista. Em vez de burocráticas e cansativas aulas, seria conveniente trocar por redação virtual (jornalismo eletrônico, TV ou impresso). Nesse caso, com toda a certeza, o formando sairá do ban-co da universidade com algo mais de conhecimento e se adaptará à realidade “nua e crua” de um setor de produção de notícias com maior facilidade e velocidade”.

A percepção de que a única função da universidade é preparar quadros para o mercado desconhece inclusive o que é essa suposta formação. O saber que o aluno

A pesquisa produzida por esta edição do Rumos Jornalismo Cultural colheu também impressões

do mercado sobre o ensino universitário

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leva da universidade para as empresas é embebido em pesquisas; reflexões produzidas por leituras e discus-sões; iniciativas e experimentações nos laboratórios. A formação profissional é uma das formas pelas quais as escolas escoam de volta para o mercado o conheci-mento sistematizado e refletido.

Os cursos técnicos respondem muito bem à demanda de operação de programas e técnicas, isso quando to-mados positivamente. Pois quando não são realizados de forma adequada produzem profissionais voltados para uma prática sem reflexão, baseada na reprodução automatizada das atividades, em que “refletir” e “experi-mentar” são atitudes suprimidas em nome da velocida-de e do furo. Ora, em época de Twitter e redes sociais, acreditar que é possível ultrapassar a velocidade da luz, o tempo de uma mensagem tuitada ou enviada via celular é no mínimo ingênuo. A diferença que ganha a concor-rência já não é a velocidade, mas a qualidade da produ-ção, pois, como nos lembra Mário Erbolato (1978), desde a popularização dos meios eletrônicos o furo sumiu.

Todos hoje em dia são jornalistas em potencial. Se com um celular é possível gravar, filmar, fotografar e enviar mensagem para a rede, como ganhar a audiência das cen-tenas de milhões de celulares espalhados pelo mundo?

Algumas empresas reconhecem a presença da univer-sidade no processo de seleção dos alunos à produção de conteúdos. Por exemplo, dois veículos selecionam os candidatos em acordo com alguma instituição de ensino, embora a maioria utilize a parceria mais simples que é a de divulgar editais e processos de seleção junto às esco-las. Para um grupo de Minas Gerais, “a seleção inicia-se nas universidades e depois segue para o RH da empresa juntamente com os editores”, assim como para um jornal do Maranhão “o programa é desenvolvido em parceria com a Faculdade São Luís, que indica os estudantes para o período seletivo”. Isso significa que, em ambos os casos, as empresas delegam a função de selecionar os candidatos às escolas, criando pontes por onde o aluno e o conhecimento possam passar.

Em uma emissora de TV de Minas Gerais, embora não haja a participação direta da escola no processo de sele-ção, a empresa reconhece a presença do saber acadêmi-co em todo jornalista que passou pelos bancos das uni-versidades ou leciona em alguma. Segundo a emissora, “como muitos profissionais são também acadêmicos, as provas são elaboradas dentro dos princípios das técnicas de jornalismo aplicadas também nas escolas de comu-nicação”, o que revela o desejo de estar em acordo ou acompanhar as produções acadêmicas. Em dois casos, um grupo do Paraná e um jornal de São Paulo, reconhe-ce-se a presença de parcerias com escolas principalmen-te no desenvolvimento dos conteúdos. Em uma delas, “o programa contempla uma grade de aulas teóricas, den-tre as quais são abordadas questões relacionadas à filo-sofia, à geopolítica e ao jornalismo digital”, o que mostra a grade disciplinar do treinamento em diálogo atento ao currículo dos cursos de comunicação e jornalismo.

Longe de desprezarem a produção acadêmica como “atrasada” ou “engessada”, esses treinamentos dão con-tinuidade ao conhecimento universitário, fornecendo ao aluno certificado de extensão emitido pelas instituições parceiras. Apenas uma empresa admite não haver “orien-tação acadêmica específica” na seleção ou produção de conteúdo para o treinamento, embora reconheça a pre-sença de “profissionais e/ou acadêmicos” como “exposito-res”. Já outra afirma que “o curso foi organizado sem ajuda ou orientação da academia”, de modo que o treinamento privilegia a vivência nas redações.

É interessante reconhecer como, em respostas aos trei-namentos, as empresas deixam transparecer a percep-ção que têm da relação universidade-mercado. O assun-to não é extensamente debatido; ao contrário, é restrito ao meio acadêmico com pouca participação das empre-sas. De fato, o que cabe nessa relação é uma parceria de retroalimentação em que a prática do mercado fornece à universidade material para reflexão e sistematização, e a universidade devolve ao mercado profissionais criativos, críticos e capacitados para a função.

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rEFErênciAs BiBliográFicAs

ERBOLATO, Mário. Técnicas de codificação em jor-nalismo: redação, captação e edição em jornal diário. Petrópolis: Vozes, 1978.

GERBASE, Carlos. Por uma pedagogia da imagem. In LEVACOV, Marilia et al. Tendências na comunica-ção. Porto Alegre: L&PM, 1998.

MELO, José M. de História do pensamento co-municacional – cenários e personagens. São Paulo: Paulus, 2003.

SILVA, Carlos E. L. da. Muito além do Jardim Botânico: um estudo sobre a audiência do Jornal Nacional da Globo entre trabalhadores. São Paulo: Summus, 1985.

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Everton Cardoso

JornAlismo como práticA consciEntE

p rofissão cujo estabelecimento da área de atuação é relativamente recente se comparado ao de ou-tras muito mais tradicionais – como as da área da saúde, as engenharias ou o direito –, o jornalismo

está longe de receber definições precisas e de ter parâmetros consensuais. Essas imprecisões tendem a ser exacerbadas por certo descompasso e pela frequente oposição entre a academia – responsável pela produção de conhecimento e pelo ensino formal da profissão – e o chamado “mercado” – lugar por excelência da prática jornalística. Dessa dicotomia surge uma reclamação que é constante na voz dos profissio-nais jornalistas já atuantes: o “foca”, ao chegar a um ambien-te de trabalho, tem de ser educado, preparado, enquadrado para que seja capaz de desempenhar as tarefas cotidianas a ele designadas. E é exatamente como consequência desse descontentamento que muitas empresas têm oferecido cur-sos de formação aos iniciantes no ofício.

Nesse contexto, parece faltar um norte para a formação de um futuro jornalista: as empresas esperam profissionais com habilidades e competências que divergem de uma organi-zação para outra e, mais ainda, daquelas desenvolvidas no ambiente acadêmico; os estudantes desejam uma forma-ção que oscila entre o pragmatismo da empregabilidade e o idealismo comum na juventude; a sociedade tem um ima-ginário da profissão que se distancia da realidade a ponto de, muitas vezes, ser o seu exato oposto; e as universidades, a partir desses e de outros tantos desencontros, acabam fi-cando sem uma referência mais clara de o que ensinar. Se, por um lado, essas divergências têm gerado debates que fazem o conhecimento sobre o jornalismo avançar, por ou-tro criam um impasse difícil de ser resolvido.

O campo do jornalismo – aqui tomado tanto a partir da dimensão acadêmica, que inclui as escolas, quanto do mercado, onde se situam os profissionais já em exercício – estruturou-se, mais recentemente, de forma que os papéis acabaram sendo invertidos. As instituições de educação tomaram um rumo que as distanciou do que poderia ser o seu papel primordial: oferecer um desenvolvimento do sujeito de maneira mais ampla, mais vinculada ao que nor-malmente se define por “formação geral”. As empresas, detectando essa carência, acabaram tentando compensá-la, muitas vezes, com cursos, oficinas e outras ações edu-cativas. É preciso, no entanto, problematizar a formação de um jornalista: pode-se ensinar tudo o que é necessário ao ofício num programa acadêmico universitário? Esse questionamento tem servido de referência a vários pro-jetos pedagógicos que pretendem ensinar de tudo, mas que, no fim e sintomaticamente, não aprofundam nada. Formam-se, então, executores de tarefas.

JornAlismo E suAs EspEciFicidAdEs

Para pensar a respeito da configuração do jornalismo como profissão, parece importante trazer à baila uma reflexão proposta por John Soloski (1999): o trabalho dos jornalistas é enquadrado tanto por definições mais amplas da categoria quanto pelas diretrizes políticas es-pecíficas das empresas em que esses profissionais atu-am. A partir dessa ideia, portanto, já se pode perceber o quanto a formação de um jornalista tem de ser pensada considerando duas dimensões: uma, mais abrangente, a partir do ideal que se tem de jornalismo e de sua práti-ca; outra, mais estrita, em função do contexto do exer-cício da profissão. Tendo em vista essa premissaé que se instala um dilema que, em termos ideais e conceituais, poderia ser resolvido da seguinte maneira: na formação universitária estaria o espaço para o aprendizado desse ideal de jornalismo, para o ensino de caráter mais geral; no mercado, estaria o lugar para o desenvolvimento das técnicas jornalísticas de forma mais pontual.

Se tomada, ainda, a discussão proposta por Soloski (1999) quando este tenta definir o que determina a existência e de-

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limita uma profissão, fica ainda mais fácil pensar sobre essa polêmica: o reconhecimento de uma área específica de atua-ção profissional depende, principalmente, do controle mono-pólico sobre uma base cognitiva específica desse fazer. Esse embasamento estaria, pois, assentado sobre um conjunto de conhecimentos mínimos em possedos sujeitos enquadrados nessa categoria profissional e que seriam compreendidos somente por esses iniciados. Aqui, parece, está um dos im-passes da formação dos jornalistas: quando se fala a respeito do que diferencia esse profissional dos demais, normalmente servem de exemplo coisas muito simples, básicas e, por isso, frágeis, como as noções de lide, off, passagem sonora e ou-tras que não são capazes de reunir força suficiente para sus-tentar a argumentação. São, em sua maioria, conhecimentos técnicos. Nesse sentido, é quase como se a formação de um jornalista se resumisse a um conjunto de procedimentos que, em última instância, poderiam ser aprendidos rapidamente por qualquer sujeito alfabetizado.

Se pensada mais amplamente e com um caráter mais for-mativo, a educação direcionada à construção de um perfil ideal para o exercício do jornalismo estaria vinculada, então, a diversas áreas do conhecimento, como sociologia, direito, ética, filosofia, antropologia, história, geografia, literatura, artes e outros saberes normalmente associados à noção de “cultura geral” – isso sem contar o domínio tanto da língua materna quanto de idiomas estrangeiros. Essas são disciplinas de fundo que dão ao graduando um lastro que, mais tarde, no exercício da profissão, permitirá a articulação suficiente para dar conta tanto de circular por diversos assuntos quanto para ser capaz de fornecer ao público relatos que abram perspec-tivas mais abrangentes.

Do ponto de vista da aplicação disso à prática jornalísti-ca, o profissional com esse perfil teria a possibilidade de, tomando a proposta de Adelmo Genro Filho (1989) para pensar sobre o conhecimento produzido pelo jornalismo, partir de um acontecimento singular como cerne para, logo, abrir a possibilidade de uma dimensão maior do re-lato noticioso, levando-o à universalidade. Isso, entretanto, só parece ser possível se o sujeito responsável pelo pro-cesso de elaboração do texto ou produto jornalístico tiver o perfil que, segundo Teixeira Coelho (2001), pode ser descrito como o de um indivíduo cuja esfera da experiên-cia do ser esteja ampliada pelo conhecimento das huma-nidades e artes, e por todas as mudanças no pensamento advindas desse contato – tais como a percepção das dife-renças, a compreensão do difuso e o questionamento de crenças previamente estabelecidas.

JornAlismo como tEoriA postA Em práticA

Tema latente e sempre presente em qualquer debate so-bre a formação dos jornalistas, a relação entre as escolas de jornalismo e o chamado mercado parece ter desan-dado em boa medida em função das percepções que um tem do outro. Frequentemente, a academia tem sido associada à teoria, e essa noção, usada como o oposto do que se chama de prática. O que fica silenciado no discurso que as contrapõe é o fato de o conhecimento teórico ser, de forma geral, fruto da observação da prá-tica. Tal como propõe Braga (2008), a comunicação – e, por consequência, os estudos em jornalismo – estrutura-se a partir da interpretação de estudos de caso, ou seja, da observação de uma realidade que existe de fato, que é anterior e também geradora do conhecimento teórico. Segundo o pesquisador, é somente a formulação de in-ferências de ordem mais geral que viabiliza a formação de uma ciência comunicacional.

Para pensar sobre esse tema, pode ser bastante útil um paralelo com a pesquisa na área das ciências da saúde: uma terapia, um tratamento, um procedimento cirúrgico ou uma medicação só serão utilizados em pessoas depois

Os estudantes desejam uma formação que oscila

entre o pragmatismo da empregabilidade e o idealismo comum na

juventude

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de comprovada a sua eficácia. Ou seja, nesse caso, a ciên-cia vai à frente, substituindo por novos, mais avançados, os limites anteriormente estabelecidos. No caso das ciências da comunicação, por outro lado, essa lógica é distinta: há uma realidade que se configura independentemente da pesquisa; esta, por sua vez, observa como esses fenôme-nos acontecem, como o campo da comunicação se estru-tura e, a partir disso, formula interpretações. É, pois, uma lógica diversa daquela da saúde: conhecimento não repre-senta fronteira, mas interpretação de algo que já existe.

Sendo assim, no caso específico do jornalismo, o que de-vem as faculdades ensinar aos futuros profissionais? Tal-vez a resposta esteja exatamente no modo como se es-trutura o campo de pesquisa em comunicação, de forma mais geral, e do jornalismo, de forma mais específica: o desenvolvimento de um senso de observação crítica. Essa capacidade seria tanto no sentido da prática jornalística em si quanto do aprendizado. No caso do fazer prático do jornalismo, uma observação cuidadosa pode auxiliar tanto no processo de coleta de informações e de apreen-são do fato, ou da situação geradora da pauta, quanto na posterior redação – quando essas minúcias da observação podem, por exemplo, oferecer perspectivas menos óbvias e dar mais sabor ao texto. No sentido do aprendizado do jornalismo, um sujeito cujo senso de observação seja agu-çado e cuja formação seja suficientemente sólida – com uma esfera ampliada do ser, nos termos de Teixeira Coe-lho (2001) – terá certamente a capacidade de amoldar-se a cada um dos contextos de trabalho nos quais esteja.

AdAptAção consciEntE

Se tomada por referência a proposta de Warren Breed (1999), de que há nas redações mecanismos de controle sobre os jornalistas, ainda mais evidente fica a necessidade de uma base sólida de conhecimentos e de uma capaci-dade crítica que permitam a ele pensar mais livremente e, ainda que seguindo diretrizes a ele impostas, atuar sem perder a consciência. Como propõe Breed, o trabalho do jornalista é constrangido pela autoridade institucional, pelo sentimento de obrigação e estima para com os su-

periores, pelas aspirações de mobilidade, pela ausência de grupos de lealdade – tais como os sindicatos, ainda que no Brasil estes sejam bastante atuantes –, pelo prazer trazido pelo ofício e pela perspectiva da notícia como valor pre-ponderante. A adaptação a essas restrições, porém, pode acontecer de maneira que o profissional jamais deixe de questionar-se sobre esse processo.

Daí a importância de um conhecimento teórico-reflexivo sobre o campo de conhecimento que se tem estrutu-rado para pensar sobre o jornalismo. Num exercício de suspensão do cotidiano (MORETZSOHN, 2007), esse profissional jornalista seria aquele capaz de não encarar sua rotina como algo dado, natural, subordinado à lógica industrial de produção, mas sim como um processo refle-xivo constante e capaz de cumprir a histórica missão es-clarecedora do jornalismo.

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rEFErênciAs BiBliográFicAs

BRAGA, José Luis. Comunicação, disciplina indiciá-ria. Matrizes, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 73-88, abr. 2008.

BREED, Warren. Controlo social na redacção: uma análise funcional. In: TRAQUINA, Nelson (Org.). Jornalismo: teorias, questões e “estórias”. 2. ed. Lisboa: Vega, 1999, p. 152-166.

COELHO, Teixeira. A cultura como experiência. In: RIBEIRO, Renato Janine (Org.). Humanidades: um novo curso na USP. São Paulo: Edusp, 2001, p. 65-101.

GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo. 2. ed. Porto Alegre: Ortiz, 1989.

MORETZSOHN, Sylvia. Pensando contra os fatos–Jornalismo e cotidiano: do senso comum ao senso crítico. Rio de Janeiro: Revan, 2007.

SOLOSKI, John. O jornalismo e o profissionalis-mo: alguns constrangimentos no trabalho jornalís-tico. In: TRAQUINA, Nelson (Org.). Jornalismo: teorias, questões e “estórias”. 2. ed. Lisboa: Vega, 1999, p. 91-100.

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Marcos Santuario

Vários crAcHás, um dEsEJo Único

s éculo XXI. Percebo-nos vivendo e atuando em um mundo em constante transformação. Transformações essas produzidas em uma di-nâmica de tempo e espaço muito mais veloz

e abrangente do que em outras épocas. Jornalista, pro-fessor, pesquisador, gestor de processos e pensador. Nas teias da fragmentação do contemporâneo, dar sentido e ver sentido em cada uma das atividades realizadas tor-na-se desafio constante e aventura repleta de energia.

Quando em uma das atribuições mais prazerosas, a de pro-fessor, sempre tenho em conta que pensar a formação do estudante universitário em jornalismo é levar em conside-ração mais do que a preparação de profissionais para um mercado que tende a crescer no mundo da comunicação e do consumo. Tal formação se processa hoje em um con-texto no qual o mundo vive as contradições entre o regional e o nacional, e entre o local e o global. Uma dinâmica que traz consigo novos elementos de territorialidade e códigos.

Como representante do curso de jornalismo na universi-dade em que desempenho minhas funções acadêmicas, percebo que, às exigências de conhecimento e técnica se somam a capacidade crítica e criativa daqueles que serão os produtores/pensadores ou pensadores/produtores do jor-nalismo com formação acadêmica. E a questão repete-se, independentemente do suporte no qual esteja amparada.

No rol de pesquisador, sobretudo a partir do doutoramento, a tarefa animadora foi ir mais a fundo nas questões do “ma-crouniverso”, que incidem diretamente nas “aldeias” em que vivemos. Observar, pensar e repensar o papel do local/regio-

nal, diante do processo de globalização em curso.Ao perma-necer unicamente como espaços de reprodução do que se gera no global, está-se afastando a possibilidade de tornar-se lugar de inovação e de transformação. E é aí mesmo onde apoio alguns dos pilares do trabalho de pesquisa e docência.

Mas o desafio não se estanca na mesa de pesquisa, assép-tica e perigosamente tendente ao isolacionismo intelectual. Diariamente mergulho na realidade do jornalismo, porque “hay que intelectualizarse pero sin perder la energía de vida jamás...”.Sem afastar o olhar das elaborações acadêmicas, não foi difícil perceber quecabe a esse universo das facul-dades incentivar e, por vezes, proporcionar na prática uma aproximação real entre o jovem estudante e a atualidade das produções desse jornalismo.

Quando na redação ocupo o rol de editor de cultura, en-tendo, portanto, que o estudante, antes de tornar-se um especialista no assunto, deve ser um consumidor desses produtos culturais, entendendo suas lógicas e conhecen-do suas origens. É necessário reconhecer os contextos nos quais se processam e se estabelecem as produções e as tro-cas culturais da sociedade. Percebi logo que o jornalista que trabalha com essa editoria ganha sempre mais consistência somando a análise e a compreensão teóricas a uma profun-da experiência prática, além da formação acadêmica.

Com o olhar posto nessa importante relação entre pensar e produzir, imaginar e realizar, avaliar e construir, dois pro-jetos me permitem coordenar ações e reflexões com estu-dantes que decidem praticar jornalismo enquanto viven-ciam o universo acadêmico. Um deles nasce no mercado e se projeta para a academia. Outro é gestado no ambien-te universitário e ganha espaço midiático consolidado.

O primeiro completa, em 2012, sua 12ª edição. Trata-se da Oficina de Jornalismo do Sistema Guaíba/Correio do Povo/TV Record, que tem se transformado em exemplo concre-to de aproximação de estudantes de jornalismo, provenien-tes de várias universidades e centros universitários do Rio Grande do Sul, com as exigências da produção jornalística em rádio, jornal impresso e televisão. Ligada à realização da tradicional Feira do Livro de Porto Alegre, a oficina abre va-

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gas, anualmente, para estudantes das instituições de ensino localizadas dentro do estado do Rio Grande do Sul que, ao ser selecionados, participam de um grupo que vivencia o uni-verso das redações do jornal Correio do Povo, da Rádio Gua-íba e da TV Record. Tenho o prazer e a responsabilidade de coordenar tal oficina no jornal Correio do Povo, produzindo com os estudantes que se envolvem no projeto anualmente, ao final, um caderno especial, o Correio da Feira.

Aceitei o encargo, que já foi levado a cabo por outros colegas anteriormente, por sentir profundamente que tal experiência pode marcar para sempre a vida dos estu-dantes participantes. O grupo selecionado experimenta as práticas diárias da produção jornalística nesses veícu-los, tendo como grande foco a cobertura, como repórte-

res e redatores, da Feira do Livro de Porto Alegre. Tendo em conta os exemplos observados como resultantes das próprias oficinas mencionadas aqui, isso pode levar a uma construção mais sólida de conhecimentos, expe-riências e sensibilidades, capazes de formar um profis-sional mais preparado, ao lado do ser humano com uma visão mais ampla da sociedade.

Em mais de 20 anos de prática imersa no mundo do jorna-lismo, tenho percebido as transformações no processo de aproximação, compreensão, difusão e apreensão dos pro-dutos derivados dessa prática. A Oficina de Jornalismo do Sistema Guaíba/Correio do Povo/TV Record Sul tem se tornado espaço real de reconhecimento dos contextos nos quais se processam e se estabelecem as produções e as trocas jornalísticas da sociedade contemporânea. En-quanto vivenciam as práticas propostas pelas oficinas e

que devem resultar em produtos no campo da comunica-ção, os estudantes passam pelos diferentes processos. O contato com as fontes para suas matérias, enfrentando as dificuldades e barreiras que somente o universo da prática pode demonstrar com o realismo necessário para sua for-mação, faz parte dessa ação. A participação e a imersão no evento em questão e os olhares que surgem, ao estar internamente observando seu funcionamento, também servem como novos parâmetros para complementar o arcabouço teórico desenvolvido na universidade.

Orientados por jornalistas experientes nessas práticas e per-tencentes ao próprio grupo de comunicação, os estudantes-oficineiros começam esse processo em reuniões que apon-tam para o foco do trabalho a ser realizado. Inicialmente, eles

conhecem os próprios veículos de comunicação da rede nos quais irão desenvolver suas práticas jornalísticas. Para tanto, são realizadas visitas guiadas às dependências do jornal Cor-reio do Povo, da Rádio Guaíba e da TV Record, apresentan-do cada um dos setores envolvidos no trabalho jornalístico. A partir desse contato, os estudantes, autorizados a ingressar nas redações às quais estarão vinculados durante o tempo de duração da oficina, recebem o respaldo do próprio veículo de comunicação e têm sua circulação liberada na empresa, além do reconhecimento junto à assessoria de imprensa da Feira do Livro de Porto Alegre.

O espaço físico nas redações também acolhe os prati-cantes do jornalismo nas oficinas, proporcionando uma experiência de sentir-se parte daquele processo, perma-necendo em funcionamento e produção após o término das oficinas. O “ente vivo” redação torna-se companhei-

Cabe a esse universo de faculdades incentivar e, por vezes, proporcionar na prática uma aproximação real entre o jovem

estudante e a atualidade das produções desse jornalismo

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ro dos estudantes, que podem experimentar o pulsar da notícia a cada momento, entre repórteres, redatores, editores e chefes de reportagem. Fazer o estudante-o-ficineiro refletir sobre a própria natureza do evento a ser trabalhado produz uma enorme gama de possibili-dades. Tal experiência serve também, na visão dos jor-nalistas-orientadores, como balizadora na construção de um profissional capaz de compartilhar informações e impressões com outros, a fim de enriquecer sua própria condição de observador do cotidiano.

No ano de 2010, um novo elemento foi incorporado à Oficina de Jornalismo do Grupo Record. Em sinto-nia com os avanços tecnológicos, os jornalistas-orien-tadores ampliaram o alcance das oficinas, incluindo o uso da internet, já na edição de outubro/novembro daquele ano, durante a 56ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre. A ideia foi incluir o Portal da Record como espaço para exposição da produção jornalística das oficinas no tempo em que elas fossem se desen-volvendo, uma vez que os estudantes experimentam práticas virtuais em seus computadores e desenvolvem novos processos de comunicação através de suas redes sociais. O resultado do trabalho jornalístico, até então respondendo a uma prática temporal inerente aos pró-prios veículos em que era realizada (semanal para o im-presso e para o televisivo, diária para o rádio), passou a ser divulgado de forma mais imediata, pela página da internet de cada veículo.Resultados altamente positi-vos foram obtidos a partir dessa nova proposta.

Outro projeto acadêmico-prático, mencionado ante-riormente e cuja exposição foi selecionada pelo projeto Rumos deste ano, consiste em programas radiofônicos-transmitidos em uma emissora comercial localizada em Novo Hamburgo (RS), produzidos integralmente por es-tudantes de jornalismo da Universidade Feevale. Detalhes desse projeto estão no artigo Frequência Livre e Mídia em Foco –Unindo Teoria e Prática Jornalística, disponível no site do Itaú Cultural.

Aliás, a participação nesta edição foi fundamental para tomar contato com discussões intensas e olhares apro-

fundados sobre a relação da academia com o mercado profissional do jornalismo. O início do processo, com discussões presenciais, já apontava para o possível cres-cimento nesse universo de pensamento e reflexão. De-finir com os colegas professores e orientadores do pro-jeto no Itaú Cultural as formas de aproximação, coleta de dados, discussões virtuais e apreciação de resultados ampliou a minha percepção. Compartilhar as expectati-vas, os diferentes olhares e posicionamentos diante da questão serviu como base para a reflexão final dessa etapa. O olhar nacional, constituído pelos pesquisadores selecionados no Rumos e a amostra que contemplou os principais atores do processo investigado também foram essenciais para que um abarcar científico desse conta das relações academia/mercado de trabalho. Vivenciar, na redação do Correio do Povo, um desses programas específicos me permitiu, ainda, discutir com colegas do jornalismo diário as principais questões que foram sur-gindo durante a pesquisa.

Em resumo, as ações desenvolvidas nos âmbitos acadê-mico e mercadológico, no universo do jornalismo, têm me remetido a desafios intensos e a reflexões desafiado-ras. Um dos resultados festejados é a própria participa-ção neste lugar de discussões. Esse é o terreno no qual quero seguir pisando fundo.

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Thaísa Bueno

mApEAmEnto como método dE intErprEtAção

A nterior à própria escrita, os mapas são, de fato, uma das linguagens mais antigas de que se tem conhecimento. Basta pensar que na pré-história as sociedades que desconhe-

ciam um alfabeto, por exemplo, expressavam-se usando a linguagem gráfica e encontravam no mapa um modo efetivo de comunicação. A história da humanidade dá conta de que por razões diversas o homem continua-mente procurou representar os espaços circundantes. Por essa razão, não é arriscado dizer que os mapas são, com efeito, um guia que abarca tanto o caráter organiza-dor do espaço quanto um instrumento para dar direção. Eles se apresentam como uma forma de expressão, de orientação e, sobretudo, de comunicação.

E se o senso comum, ou até mesmo uma construção apressada da memória, associa à ideia de mapeamen-to os estudos geográficos, uma abordagem um pouco mais minuciosa vai mostrar que os mapas extrapolaram os limites da descrição da superfície terrestre. Faz pouco mais de um século que a cartografia deixou de ser exclu-sividade da geografia para contribuir em outras áreas do conhecimento. Hoje, sem muita dificuldade, é possível encontrar estudos reconhecidos nas áreas da psicologia, da informática, da política etc. que se valem da metodo-logia do mapeamento. Ou seja, nessa expansão é permi-tido, e até instigante, pensar a produção cartográfica dos mais diversos fenômenos.

O espaço do novo nomadismo não é o território geo-gráfico, nem o das instituições ou o dos Estados, mas um espaço invisível de conhecimentos, saberes, potências de

pensamento em que brotam e se transformam qualidades do ser, maneiras de construir a sociedade. (LEVY, 1998). Nessa perspectiva, o mapeamento passa a contemplar novas cenas. “A prática de um cartógrafo diz respeito, fun-damentalmente, às estratégias das formações do desejo no campo social. E pouco importa que setores da vida social ele toma como objeto” (ROLNIK, 2011). Por isso, entre tan-tos sentidos, denotativos e figurados, que a palavra mapa abarca no dicionário, está o de promover a ampliação dos limites da nossa memória para não restringir a produção de conhecimento, mas ordená-lo. A autora lembra, ainda, que a cartografia, ao contrário do mapa – que apresenta um recorte estático –, é fluida, ou seja, ela se apresenta como um contorno que se permite influenciar por vários aspectos da realidade. Esse entendimento corrobora o seu uso no campo das ciências humanas, uma vez que se trata de “um desenho que acompanha e se faz ao mesmo tempo que os movimentos de transformação da paisagem” (2011). Assim, os processos sociais, os sistemas educacionais e culturais poderiam ser cartografados.

Atualmente, nas mais diversas áreas do conhecimento, os mapas e o processo de mapear têm se tornado um recurso para construir um quadro de referências ou um esquema teórico, na tentativa de se dispor de uma pers-pectiva ampla e geral de determinado assunto ou tema. (BIEMBENGUT, 2008)

Sendo assim, também são passíveis de ser mapeadas as relações educacionais e de mercado na formação pro-fissional do cidadão, como aconteceu com o trabalho produzido em 2012 pelo programa Rumos Jornalismo Cultural, que mapeou projetos de treinamento oferta-dos pelas empresas de comunicação no Brasil, voltados para estudantes de jornalismo. Um trabalho que ratifica o papel standard da cartografia e confirma que, sim, qualquer tipo de estrutura social, que de alguma forma agregue sentido, pode ser cartografada. Tanto é assim que o Itaú Cultural tem se destacado no trabalho nos mapas educacionais voltados para o ensino superior em jornalismo desde 2008. De lá para cá, com esta últi-ma edição, já são três publicações com esse perfil, cujos

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resultados incitam discussões sobre o modelo pratica-do nas universidades em todo o território nacional. O saldo disso traça, entre outras coisas, um panorama detalhado das particularidades no modo de conduzir a formação dos futuros jornalistas nas diferentes insti-tuições de ensino, públicas ou privadas, nas diferentes regiões do país. Contribuem para ampliar o olhar so-bre a profissão para além dos muros da universidade, permitindo um diálogo, direta ou indiretamente, com o mercado, com a sociedade e com o seu tempo.

A cartografia não visa isolar o objeto de suas articula-ções históricas nem de suas conexões com o mundo. Ao contrário, o objetivo da cartografia é justamente desenhar a rede de forças à qual o objeto ou fenômeno em questão se encontra conectado (PASSOS; KAS-TRUP; ESCÓSSIA, 2010).

A primeira iniciativa no biênio 2007-2008, por exemplo, trouxe para o debate as diferenças e semelhanças no ensi-no das disciplinas voltadas para as coberturas da editoria de cultura nas universidades. O mapeamento sobre o ensino do jornalismo cultural no Brasil permitiu conhecer como as escolas de comunicação disponibilizam espaço para uma editoria que, em geral, tem grande apelo entre os estu-dantes. O estudo, mais que um levantamento quantitativo, mostrou como o tema estava inserido nos currículos univer-sitários e o modo como era trabalhado na prática.

Implicação semelhante foi alcançada na edição 2009-2010, que traçou o mapa do ensino do jornalismo digital no Brasil. O trabalho inédito levantou questões sobre as condições e o preparo das universidades frente às mudanças tecnológi-cas que inevitavelmente modificam a profissão.

Ou seja, os três estudos são publicações que ampliam o en-tendimento de mapa, que estendem seu julgamento além dos conceitos que podem apreender esse tipo de trabalho como um registro meramente quantitativo. Pelo contrário, o saldo dessas publicações ratifica os argumentos que colocam o mapeamento como uma manifestação que autentica a ex-periência vivida, os valores culturais, geográficos entre outros. Permite, ao longo desses três estudos, um olhar crítico sobre o jornalismo, partindo do paradigma educacional e ratifican-do o papel da cartografia social como ferramenta de grande relevância para os estudos no âmbito da comunicação.

mEtodologiA

Fazer um mapa da realidade pressupõe a adoção de diver-sos procedimentos. Esse ato de delinear o processo, na ló-gica da cartografia dos temas sociais, segundo Biembengut (2008), pode ser dividido em seis etapas: estrutura, traço, relevância, escala, projeção e simbolização. A primeira eta-pa é, segundo a autora, o recorte do estudo, a sua materiali-zação, ou seja, a primeira intervenção na seleção do objeto. A etapa seguinte, denominada traço, seria uma unidade menor identificável dentro da estrutura. “Traços são aque-les que evidenciam uma imagem, chamam atenção para uma situação ou fenômeno.” Um exemplo de traço nessa pesquisa cartográfica seria selecionar e analisar um ponto particular da estrutura maior. Já a relevância é uma marca que está voltada para o que quero obter na pesquisa. É o foco. É saber o que se procura no emaranhado de informa-ções que se pode obter num levantamento. Na sequência, o outro degrau dessa metodologia é a escala, momento de estabelecer a ordem dos dados de forma clara e uniforme. Em seguida vem a projeção, que significa apontar o que se entende por central no levantamento. Por último a simbo-lização, que é a expressão, o modo como o trabalho será apresentado do ponto de vista gráfico.

Um trabalho que ratifica o papel

standard da cartografia e confirma que, sim, qualquer tipo

de estrutura social, que de alguma forma agregue sentido, pode

ser cartografada

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capítulo 6 | A pAlAvrA de cAdA um

Mas além dessa questão esquemática da metodologia car-tográfica, Biembengut diz que é um modelo que se propõe relacionar o ser e o meio. Assim, a linguagem cartográfica vai além de acumular esses dados e talvez disponibilizá-los de maneira ordenada. É uma abordagem qualitativa do cenário recortado. Outro ponto a favor do mapeamento é que ele não se encerra em si, mas suscita outras perguntas. O próprio procedimento de construção do modelo de mapeamento traz um pouco desse caráter fluido, já que não faz uso de um roteiro fixo, mas se constrói a partir de diferentes aspectos da realidade. Isso não quer dizer um descontrole das variáveis, mas uma postura que se afasta do predomínio de uma busca que force o encontro do resultado.

Romagnoli (2009) defende a cartografia como uma me-todologia que não nega a subjetividade. Ao defender o método cartográfico, ela alerta para o risco do viés he-gemônico da ciência, que poderia incorrer no erro de, a partir de uma visão dualista da realidade, chegar a uma interpretação simplificada e incompleta. Isso corrobora nossa pesquisa, que não separa como dois polos opostos universidade e mercado, alunos e profissionais, pesquisa-dores e objeto, mas tenta incluir essas variáveis como um todo complementar, não dicotômico. Afinal de contas, entender a formação nessa lógica é aceitar que educação e mercado estão intrínsecos, com maior ou menor pro-ximidade, com encontros institucionalizados ou não; no fim das contas, eles se entrecortam e se transformam na formação do novo profissional. Mapear a educação é não entendê-la de forma isolada, mas compartilhada.

Passos (2010) defende que na atualidade a cartografia ga-nhou ainda mais um atributo: apresenta-se como um méto-do de “pesquisa-intervenção”. Como argumenta, o desafio, nesse contexto, é fazer dessa intervenção um caminhar de revelações e não de confirmações. Para ele, o papel do pesquisador é acompanhar o processo, conectar-se com as múltiplas “entradas” para entender o objeto. Um mapa é isto: pode ser olhado de diferentes perspectivas. A nossa pesquisa traz um pouco disso; podemos debruçar nossa re-flexão a partir de diferentes vieses – o olhar do estágio; o das distinções geográficas; o da expectativa do mercado etc. Como um mapa, cabe a cada observador deixar-se guiar

pelo aspecto que mais o atrai. “O rastreio não se identifica a uma busca de informação. A atenção do cartógrafo é, em princípio, aberta e sem foco, e a concentração se explica por uma sintonia fina com o problema”. (KASTRUP, 2010).

Inclusive, Kastrup lembra que esse entendimento vai ao encontro da concepção de Deleuze e Guattari, quando diz que “a cartografia é um método que visa acompanhar um processo e não representar um objeto”. Isso significa não apenas apresentar os dados, escolher uma forma de representação eficiente, mas entendê-lo em todo o seu processo de construção de significados. A coleta de da-dos, embora muito forte na cartografia, é só a etapa inicial de uma prática que é muito maior.

Podemos concluir que o mapeamento é um modelo de pensar a realidade além da imagem superficial da descri-ção pura. O método se mostra uma ferramenta que ajuda a dar sentido às informações, que permite uma reflexão abstrata a partir de um caminho material. Um modelo que sugere apontamentos, olhares, dúvidas e certezas provisó-rias. Assim, o mapeamento ultrapassa o alcance da nossa visão e nos ajuda a decifrar a realidade. Afinal, o mapa é uma paisagem a ser contemplada, interpretada. E em pri-meira instância serve para nos orientar.

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rEFErênciAs BiBliográFicAs

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