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28 MAPEAMENTO MORFOLÓGICO DA BACIA RIBEIRÃO ESPIRITO SANTO, JUIZ DE FORA, MG: RELAÇÕES ENTRE O RELEVO E O PLANEJAMENTO MORPHOLOGICAL MAPPING OF BASIN RIBEIRÃO ESPIRITO SANTO, JUIZ DE FORA,MG: CONNECTIONS BETWEEN RELIEF AND PLANNING Carolina Campos Eduardo Discente no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora Rua José Lourenço Kelmer, s/n - Martelos, Juiz de Fora - MG, 36036-330 email: [email protected] Roberto Marques Neto Professor Adjunto do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora Rua José Lourenço Kelmer, s/n - Martelos, Juiz de Fora - MG, 36036-330 email: [email protected] Resumo O mapeamento dos conjuntos de sistema de relevo, por meio das técnicas da cartografia geomorfológica assegura a transmissão de informações sobre forma, a idade e a gênese do relevo, convertendo-se em documento cartográfico de interesse direto no planejamento do uso da terra. Nesse sentido, o presente trabalho mapeou as unidades morfológicas da bacia hidrográfica do Ribeirão Espírito Santo, MG. Para a delimitação morfológica, utilizou-se de documentação cartográfica composta pela malha de curvas de nível, pela rede de drenagem, as imagens aerofotogramétricas e pela carta de declividade. Na realização das análises espaciais e interativas dos materiais disponíveis, a ordenação dos mesmos ocorreu através de recursos gráficos, lançando mão do Sistema de Informação Geográfica (SIG). Quanto à sistematização as feições de relevo, essa foi confeccionada com base metodológica na proposta do Instituto de Pesquisas Tecnológicas em que a conjugação das informações quanto as declividades predominantes e as amplitude do relevo estabeleceram conjuntos de formas de relevo associadas. De acordo com a interpretação taxonômica proposta por Jurandir Ross, as unidades de relevo mapeadas se inscrevem na interpretação do 5 nível, dos tipos de vertentes. Palavras-chave: cartografia geomorfológica, feições geomorfológicas, Sistema de Informação Geográfica. Abstract: The mapping of relief system sets, through the techniques of geomorphologic mapping, ensures the transmission of information about form, age and genesis of relief, becoming a cartographic document of direct interest in the planning of land use. In this sense, this work has mapped the morphological units of the hydrographic basin of Ribeirão Espírito Santo, MG. For the morphological delimitation, it has been used cartographic documentation consisting of a mesh of contour lines, a drainage network, aerophotogrammetric images and a declivity chart. In carrying out the spatial and interactive analysis of the available materials, their ordering occurred through graphic resources, making use of the Geographic Information System (SIG). As for systematizing the relief features, this was made on the methodological basis of the proposal of Technological Research Institute in which the combination of information related to the predominant declivity and the amplitude of the relief established sets of associated landforms. According to the taxonomic interpretation of Jurandir Ross, the mapped units of relief are inserted in the interpretation of the fifth level, of the types of slopes. Keywords: geomorphologic charting, geomorphological features, Geographic Information System.

MAPEAMENTO MORFOLÓGICO DA BACIA … · 28 mapeamento morfolÓgico da bacia ribeirÃo espirito santo, juiz de fora, mg: relaÇÕes entre o relevo e o planejamento morphological mapping

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MAPEAMENTO MORFOLÓGICO DA BACIA RIBEIRÃO ESPIRITO SANTO, JUIZ DE FORA, MG:

RELAÇÕES ENTRE O RELEVO E O PLANEJAMENTO

MORPHOLOGICAL MAPPING OF BASIN RIBEIRÃO ESPIRITO SANTO, JUIZ DE FORA,MG:

CONNECTIONS BETWEEN RELIEF AND PLANNING

Carolina Campos Eduardo

Discente no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora

Rua José Lourenço Kelmer, s/n - Martelos, Juiz de Fora - MG, 36036-330

email: [email protected]

Roberto Marques Neto

Professor Adjunto do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade

Federal de Juiz de Fora

Rua José Lourenço Kelmer, s/n - Martelos, Juiz de Fora - MG, 36036-330

email: [email protected]

Resumo O mapeamento dos conjuntos de sistema de relevo, por meio das técnicas da cartografia geomorfológica

assegura a transmissão de informações sobre forma, a idade e a gênese do relevo, convertendo-se em

documento cartográfico de interesse direto no planejamento do uso da terra. Nesse sentido, o presente trabalho

mapeou as unidades morfológicas da bacia hidrográfica do Ribeirão Espírito Santo, MG. Para a delimitação

morfológica, utilizou-se de documentação cartográfica composta pela malha de curvas de nível, pela rede de

drenagem, as imagens aerofotogramétricas e pela carta de declividade. Na realização das análises espaciais e

interativas dos materiais disponíveis, a ordenação dos mesmos ocorreu através de recursos gráficos, lançando

mão do Sistema de Informação Geográfica (SIG). Quanto à sistematização as feições de relevo, essa foi

confeccionada com base metodológica na proposta do Instituto de Pesquisas Tecnológicas em que a conjugação

das informações quanto as declividades predominantes e as amplitude do relevo estabeleceram conjuntos de

formas de relevo associadas. De acordo com a interpretação taxonômica proposta por Jurandir Ross, as

unidades de relevo mapeadas se inscrevem na interpretação do 5 nível, dos tipos de vertentes.

Palavras-chave: cartografia geomorfológica, feições geomorfológicas, Sistema de Informação Geográfica.

Abstract: The mapping of relief system sets, through the techniques of geomorphologic mapping, ensures the transmission

of information about form, age and genesis of relief, becoming a cartographic document of direct interest in the

planning of land use. In this sense, this work has mapped the morphological units of the hydrographic basin of

Ribeirão Espírito Santo, MG. For the morphological delimitation, it has been used cartographic documentation

consisting of a mesh of contour lines, a drainage network, aerophotogrammetric images and a declivity chart. In

carrying out the spatial and interactive analysis of the available materials, their ordering occurred through graphic

resources, making use of the Geographic Information System (SIG). As for systematizing the relief features, this

was made on the methodological basis of the proposal of Technological Research Institute in which the

combination of information related to the predominant declivity and the amplitude of the relief established sets of

associated landforms. According to the taxonomic interpretation of Jurandir Ross, the mapped units of relief are

inserted in the interpretation of the fifth level, of the types of slopes.

Keywords: geomorphologic charting, geomorphological features, Geographic Information System.

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1.Introdução

As discussões acerca dos processos de análise ambiental e diagnóstico do meio físico

recorrem a diferentes metodologias e abordagens devido à complexidade intrínseca aos sistemas

ambientais. Sob a perspectiva de entender tais integridades, Ross (2005) argumenta que os

componentes da natureza precisam ser interpretados segundo a relação de interdependência dos

mesmos. Dada a sua importância integrativa, pela composição da superfície terrestre e capacidade

em promover respostas às alterações naturais ou induzidas pelo homem, as formas de relevo, quando

postas conjuntamente aos demais elementos, exercem papel relevante nos estudos aplicados ao

planejamento ambiental.

A importância do mapeamento geomorfológico nos estudos ambientais avulta-se na apreensão

e representação dos processos e formas de relevo, e, consequentemente, nas valiosas informações

de cunho genético, estrutural e dinâmico. Para Cunha et al (2003), a espacialização do relevo, quando

assegura a transmissão de informações sobre as formas, a idade e a gênese do relevo, se converte

em documento cartográfico de interesse direto no planejamento do uso da terra.

Dado o papel de comunicação da informação sobre o relevo, seu estudo assume importância

nos processos de ocupação do espaço, uma vez que configuram propriedades que respondem pelo

comportamento da paisagem e suas interações (CASSETI, 1990). Além disso, as feições de relevo

em suas diferentes expressões de tamanho e forma figuram como produtos da relação mútua entre

os componentes da natureza, como rochas, solos, vegetação, recursos hídricos e o próprio homem

(ROSS, 1992).

A análise geomorfológica, segundo Goulart (2001), mira o reconhecimento e interpretação dos

fenômenos, cuja expressão reside nas formas do relevo terrestre, que tem na cartografia um

importante aporte técnico.

Com base no exposto, a cartografia do relevo figura como importante meio de comunicação

gráfica, ao passo que a completude de um mapa geomorfológico se consubstancia na conjugação de

elementos morfológicos, morfométricos, morfoestruturais, morfodinâmicos e morfocronológicos. A

conjugação desses dados em um único documento constitui uma tarefa complexa, conforme

argumenta Cunha, Mendes e Sanchez (2003). Ainda segundo os autores, a diversidade de

procedimentos técnicos pode variar conforme as características da área, da escala e de acordo com

o objetivo do pesquisador.

A produção de uma cartografia geomorfológica, à luz de uma leitura eficaz dos sistemas

geomorfológicos estudados, engendra preocupações acerca do uso e aplicabilidade das informações

frente aos serviços públicos, da alocação da estrutura viária e do planejamento das bacias

hidrográficas, como já destacava Moreira (1969) em caráter pioneiro no Brasil. A autora enfatiza que

a cartografia do relevo deveria fundamentar-se no conceito da disciplina, e não ser um meio de

descrição ou enumeração das formas existentes. Para tanto, justifica que uma carta que indique o

aspecto descritivo da forma não contribui ao estudo geomorfológico, pois este "[...] busca, através da

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gênese, intensidade e cronologia dos fatos e a própria dinâmica dos processos” (MOREIRA, 1969,

p.3).

Diante da relevância do relevo e de sua representação cartográfica para o planejamento e

gestão territorial, o presente trabalho tem por objetivo levar a efeito um mapeamento morfológico na

bacia do Ribeirão Espírito Santo, que congrega unidades de uso da terra de cunho urbano e rural, e

que poderá servir de base e pedra de toque para mapeamentos geomorfológicos a serem levados a

efeito na área e ulteriores propostas de uso da terra.

2. Materiais e Métodos

A documentação cartográfica utilizada foi obtida do acervo cartográfico disponibilizado pela

Prefeitura de Juiz de Fora, referente ao recorte territorial da bacia hidrográfica. O banco de dados foi

composto pela malha de curvas de nível disposta em intervalo de 5 metros, pela rede de drenagem,

ortofotocartas do ano de 2007 com resolução espacial de 50 cm, e pela carta de declividade construída

segundo as seguintes classes: 0-6%; 6-15%; 15-30%; 30-45%; acima de 45%.

Ainda referente aos materiais, suas respectivas análises espaciais e interativas foram

ordenadas lançando mão dos recursos gráficos do Sistema de Informação Geográfica (SIG). Todo o

mapeamento foi realizado no software ArcGIS, com a criação de polígonos representativos dos

modelos agradacionais e denudacionais, bem como as camadas de pontos, indicando as letras-

símbolo. O software possibilitou a manipulação dos dados vetoriais e as inter-relações dos mesmos.

A utilização das geotecnologias e a organização do banco de dados através do Sistema de

Informação Geográfica (SIG) são ações que visam contribuir para as análises integrativas em uma

perspectiva de planejamento ambiental. Nesse sentido, os mapas, cartogramas, gráficos, tabelas e

dados obtidos por imagens de sensores e fotografias aéreas podem ser trabalhados nos processos

informatizados das geotecnologias (ROSS, 1995). Para Florenzano (2005), através de imagens de

satélite, os ambientes de mais difícil acesso podem ser alcançados e pesquisados. A autora

acrescenta que os avanços logrados com as novas tecnologias de sensores remotos e melhores

resoluções espaciais permitem a obtenção de dados aprimorados, tangíveis de ser mapear e

representar os fenômenos geomorfológicos. Argento (2009) enfatiza que o uso dos SIG's viabiliza a

elaboração dos projetos ambientais, sendo uma técnica indispensável para os mapeamentos

geomorfológicos.

O mapeamento das formas de relevo da bacia do ribeirão Espírito Santo lançou mão da

abordagem metodológica pautada nos sistemas taxonômicos de Tricart (1965), adaptados por Ross

(1992). Em complemento, para o estabelecimento da nomenclatura dos modelados de dissecação

foram utilizados os parâmetros morfométricos propostos pelo IPT(1981), enfaticamente a

profundidade de dissecação e a declividade das encostas.

A profundidade de dissecação foi quantificada mediante a subtração entre a altimetria das

curvas de nível mais elevadas ou do ponto cotado e a altimetria daquelas mais próximas do talvegue,

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sempre estabelecendo a relação entre os topos e o fundo de vale de referência. Simultaneamente,

atrelado a este cálculo, a variável declividade foi agrupada em intervalos de 0 a 15% e acima de 15%,

que foram sobrepostos na base topográfica. A extração da declividade foi realizada de forma

automatizada, pelo uso do software ArcGIS, através do ferramental SpacialAnalyst

Tools>Surface>Slope .

Com as caixas de elaboração do mapa, inseriu-se os dados de hipsometria de 5 em 5 metros,

e definiu-se o pixel na resolução de 2 metros. Esses parâmetros configuraram um resultado que

ilustrou de forma mais concisa o reconhecimento da inclinação da superfície local. Essa conjugação

permitiu a definição das características das unidades de relevo, de acordo com a Tabela 1.

TABELA 1

Critérios utilizados para o estabelecimento das categorias do relevo

Conjuntos de Sistemas de

Relevo Declividades Predominantes Amplitudes Locais

Relevo colinoso 0 a 15 % < 100 m

Relevos de morros com

encostas suavizadas 0 a 15 % 100 a 300 m

Relevo de morrotes > 15 % < 100 m

Relevo de morros > 15 % 100 a 300 m

Relevo montanhoso > 15 % >300 m Fonte: IPT, 1981 .

As feições de relevo de agradação, expressas por planícies alúvio-coluvionares e terraços,

foram reconhecidas pela ação construtiva fluvial, estando associadas à presença de canais de

drenagem na bacia. As feições referentes aos processos denudacionais, representadas pelas

categorias de morrotes e morros, foram reconhecidas pelos critérios de declividade das encostas e

amplitudes locais predominantes.

As letras-símbolo, representando e distinguindo os aspectos morfológicos e genéticos,

seguiram uma ordem pela qual a primeira letra (maiúscula) indica o processo genético dominante e a

letra minúscula indica os modelados resultantes. Assim, a título de exemplo, o símbolo Dmr,

significa tratar-se de um tipo genético denudacional (D) dissecado em padrões de formas dados por

morrotes (mr).

3. Caracterização da área

A bacia do Ribeirão Espírito Santo partilha do sistema de drenagem da bacia do Rio Paraibuna,

no município de Juiz de Fora, Zona da Mata Mineira (figura 1). Está situada na porção noroeste do

município, cujos limites banham parte do distrito de Rosário de Minas e parte da sede municipal.

Estruturalmente, insere-se nos domínios do Planalto Atlântico, na região da Mantiqueira

Setentrional, na unidade das Serranias da Zona da Mata Mineira, caracterizada por modelados com

formas alongadas em cristas e morros majoritariamente convexos. Ainda, identificam-se escarpas de

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falha, sulcos estruturais, grandes linhas de cumeadas e cristas simétricas alinhadas, que são

justificadas pela direção dos dobramentos e falhamentos (GATTO et al. 1983).

FIGURA 1: Localização da Bacia do Espírito Santo no município de Juiz de Fora (MG), Fonte: Eduardo,2012.

O município de Juiz de Fora está inserido nos embasamentos do Complexo Mantiqueira e do

Complexo Juiz de Fora (DUARTE, et al, 2002). No Complexo Mantiqueira são reconhecidos biotita-

hornblenda-gnaisses e gnaisses cinzentos. Duarte (1998) define o complexo como o conjunto de

ortognaissestonalíticos a graníticos, bandados e migmatíticos. Para o Complexo Juiz de Fora, Duarte

(1998) engloba o conjunto de ortognaisses, por vezes migmatíticos, com presença de metabasitos

com paragêneses para a fáciesgranulito. Acrescenta-se ainda a presença de composições

enderbíticas e charnockíticas (DUARTE et al, 2002).

O arranjo espacial dos cursos fluviais presentes na bacia configuram-na com um padrão de

drenagem dendrítico ou arborescente. Segundo Christofoletti (1980), esse padrão é desenvolvido

sobre rochas de resistência uniforme ou em estruturas sedimentares horizontais.

O mapeamento de solos proposto pelo Estado de Minas Gerais (FEAM, 2010), indicauma

cobertura pedológica com predomínio de LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO. As cabeceiras dos

principais afluentes do Ribeirão Espírito Santo, os córregos Taquaras e Gouveia, apresentam

LATOSSOLO AMARELO, enquanto que as regiões marginais do Ribeirão Espírito Santo são

pedologicamente caracterizadas pela presença copiosa de LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO.

A fitofisionomia originalmente dominante no município era dada por Floresta Estacional

Semidecidual, sob influência do clima tropical de altitude em parte da bacia (DUARTE, et al,2002).

Contudo, com a implantação e crescimento da cultura cafeeira do final do século dezenove até a

terceira década do século vinte a cobertura vegetal região foi profundamente modificada. Os

levantamentos por fotografias aéreas, contextualizados por Valverde (1958), apontaram uma remoção

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generalizada da mata nativa, salvo apenas nos cumes elevados onde algumas machas foram

poupadas. Na bacia do ribeirão Espírito Santo, em específico, significativas extensões encontram-se

atualmente cobertas por vegetação rasteira, aproveitadas para a pecuária extensiva, cultivo de

Eucalyptus e extração mineral (saibro) (OLIVEIRA, 2007). Concomitantemente ao processo de

desmatamento, o que se observa é a ausência de proteção das nascentes localizadas na bacia.

O uso da terra na área de estudo é predominantemente rural, porém com áreas urbanizadas

na porção do distrito sede, atendendo a ocupação industrial e dando aporte a uma malha que se

espraia ao longo da BR-040, principal rodovia que secciona a bacia. Concentra também o núcleo de

Penido, pertencente ao distrito de Rosário de Minas. Outra estrutura viária relevante na bacia é a BR-

267, que, juntamente à outra rodovia supramencionada, converteu-se em área atrativa do ponto de

vista imobiliário, comimplementação de vários empreendimentos industriais e residenciais (OLIVEIRA,

2007).

4. Resultados

De acordo com os pressupostos metodológicos aqui adotados, as morfologias denudacionais

tiveram suas vertentes e topos classificados segundo o predomínio de suas formas: convexas,

retilíneas e côncavas no que concerne às vertentes, e arredondados e aplainados no que se refere

aos topos, inscrevendo integridades inerentes ao 5° táxon proposto por Ross (1992, 2005), as seções

de formas, no contexto dos padrões de formas mapeados. A figura 2 representa a proposta de

compartimentação geomorfológica proposta para a bacia do ribeirão Espírito Santo.

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FIGURA 2: Compartimentação geomorfológica da Bacia do Ribeirão Espírito Santo. Fonte:Eduardo, 2012.

Em campo foram observadas características quanto ao uso e ocupação da terra, apresentadas

no estudo levado a efeito pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico (SPDE).

Nesse trabalho foram identificados usos diversos, como a agricultura, as áreas de matas, os solos

expostos, plantação de eucalipto, dentre outros destinos dados pela produção do espaço.

O sistema geomorfológico que se encerra na bacia do ribeirão Espírito Santo tem nas

morfologias denudacionais seus tipos genéticos predominantes, representados pelos morrotes

ocupando aproximadamente 31% da área total, e pelos morros, que perfazem 56% da área total da

bacia. A figura 3 mostra algumas feições dessas formas de relevo.

FIGURA 3: Feições de Morfologias Denudacionais (D) na área de estudo.

Na imagem (A) da figura 3, bem como nas demais formas denudacionais dessa classificação,

as feições de morrotes possuem formas convexo-retilíneas suavizadas e topos aplainados. São

feições posicionadas nas adjacências das planícies, com uso da terra destinado a práticas de

pastoreio e cultivo de eucalipto. Já na imagem (B) da mesma figura, as feições de morros amostradas

revelam uma tendência à morfologia convexo-retilínea. De forma geral, os tipos genéticos

denudacionais são fortemente representativos dos sistemas de relevo mamelonizados recobertos por

materiais argilosos provenientes da alteração das rochas cristalinas do Planalto Atlântico.

No tocante às morfologias agradacionais, conforme é visualizado pela figura 4, compreendem

as planícies alúvio-coluvionares associadas ou não a terraços, que ocupam cerca de 13% da área da

total da bacia. São essencialmente áreas extensivamente cobertas por gramíneas, geralmente

voltadas para o apascentamento bovino.

A B

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FIGURA 4: Feições de Morfologias Agradacionais (A)

Na imagem (C) da figura 4 visualizamos a planície alúvio-coluvionar do Ribeirão Espírito Santo,

cujas margens estão cobertas por mata ciliar expressiva (ao fundo). Nas adjacências dessa planície

de inundação a paisagem é tipificada por um conjunto de morros também recobertos por vegetação

rasteira. Já na imagem (D), verifica-se a presença de terraços e o conjunto de morrotes com vertentes

convexas de topos arredondados, também com vegetação rasteira. Essas feições também são

aproveitadas pelos empreendimentos imobiliários, fundamentalmente na forma de condomínios que

se valemdos desníveis altimétricos inexpressivos, oferecendo vantagens para a incorporação de uma

infraestrutura básica para o fomento da urbanização.

5. Considerações Finais

A contribuição da geomorfologia aos estudos ambientais, na leitura e interpretação dos

compartimentos topográficos, na caracterização dos processos morfogenéticos vigentes e das

alterações provocadas pelo processo histórico de ocupação, constitui instrumento valioso na

organização do espaço.Enquanto agente modificador dos sistemas geomorfológicos e da paisagem,

o homem ao provocar alterações nas formas de relevo, problematiza as relações entre os processos

morfodinâmicos, resultando em consequências adversas como movimentos de massa, processos

erosivos e assoreamento de canais fluviais.

Quando os estudos de cunho geomorfológico resultam em documentos cartográficos

representativos do relevo e dos fenômenos de superfície com nexo na geomorfologia, oferecem um

subsídio ainda mais direto para o ordenamento territorial. Nesse sentido, cartografia do relevo requer

a produção de cartas que apresentem melhor legibilidade na representação gráfica das informações

fundamentais de morfografia, morfometria, cronologia e morfodinâmica. Enquanto instrumento de

apoio à gestão ambiental, a cartografia geomorfológica deve se empenhar na geração de um

documento o mais resoluto possível para profissionais de outras áreas que atuam na atividade

gestora, muito embora tal empresa nem sempre seja exequível em função da complexidade que tais

produtos cartográficos podem assumir na representação de determinados sistemas geomorfológicos.

C D

TERRAÇO

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Agradecimentos

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de

mestrado concedida.

Referências

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ANÁLISE ESPACIAL DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DO MUNICÍPIO DO RIO DE

JANEIRO/RJ.

SPATIAL ANALYSIS OF THE SURFACE TEMPERATURE OF THE MUNICIPALITY OF RIO DE JANEIRO / RJ.

Daniel Taboada Placido

Aluno de Mestrado em Engenharia Cartográfica - IME

Praça General Tibúrcio, 80 - Praia Vermelha, Rio de Janeiro - RJ, 22291-270 E-mail: [email protected]

Resumo Este artigo tem por objetivo analisar comparativamente a temperatura superficial dos bairros do município do Rio de Janeiro, tanto em sua média geral, quanto em relação a média somente da área urbana de cada bairro. Com isso usar-se-á de técnicas de análise espacial para determinar se há um padrão espacial na temperatura superficial do município. Os estudos sobre a qualidade ambiental das áreas urbanas vêm ganhando destaque nas últimas décadas, como forma de mensurar a qualidade de vida dos moradores nas cidades. O forte crescimento das cidades brasileiras não foi acompanhado da atenção necessária à preservação de espaços verdes. Os grandes centros urbanos brasileiros transformaram-se em grandes áreas impermeáveis, elevando a temperatura e criando microclimas urbanos. Cabe aos planejadores urbanos munir-se de ferramentas para atuar na construção das nossas cidades, garantindo a redução da temperatura nas áreas urbanas, aumento das áreas verdes e redução da impermeabilização do solo. Palavras-chave: Sensoriamento Remoto, Planejamento Urbano, Análise Espacial

Abstract This article aims to compare the surface temperature of the neighborhoods of the city of Rio de Janeiro, both in its global average, compared with the average of the urban area of only each neighborhood. With such use must be spatial analysis techniques to determine whether there is a spatial pattern in the temperature of the municipal surface. Studies on the environmental quality of urban areas have gained prominence in recent decades, as a way to measure the quality of life of residents in cities. The strong growth of Brazilian cities was not accompanied by the necessary attention to the preservation of green spaces. Brazil's main urban centers have become large impervious areas, raising the temperature and the creation of urban microclimates. It is up to city planners to equip itself with tools to work on the construction of our cities, ensuring the reduction of temperature in urban areas, increasing green areas and reduce soil sealing. Keywords: Remote Sensing, Urban Planning, Landsat 8 , Spatial Analysis

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1. Introdução

O crescimento das cidades industriais, gerou um espaço urbano desprovido de árvores e áreas

verdes (SIEBERT, 2008). Em especial o acelerado crescimento das áreas urbanizadas no Brasil gerou

grandes áreas sem levar em consideração a necessidade de arborização e a preocupação do conforto

térmico. Nas periferias das grandes cidades foram criados loteamentos de alta densidade, com

pequenos lotes, e que hoje verifica-se um processo de verticalização, acentuando ainda mais a

redução das áreas verdes nestes municípios. Em termos ambientais, as árvores urbanas contribuem

para a redução da erosão, para o controle do clima e economia de energia com o sombreamento.

Contribui ainda para a redução da temperatura, retenção da água no solo, aumento da umidade

relativa do ar e para o controle da poluição com a amenização de ruídos e da poluição atmosférica

(SIEBERT, 2008). Neste contexto, as cidades acabam inseridas em microclimas específico, diferente

do seu entorno. Os climas urbanos apresentam alterações significativas em relação ao clima das áreas

periféricas das cidades, devido ao grande número de fontes térmicas e ao efeito cumulativo de fatores

como poluição, impermeabilização do solo, alteração do albedo urbano médio, inércia térmica dos

materiais, entre outros (SOUZA et al, 2009). Estes fatores reforçam a necessidade de conhecimentos

sobre os elementos físico-ambientais das cidades, e de fortalecer os estudos no âmbito do

planejamento urbano municipal.

Em 1981, o Rio de Janeiro passou a utilizar uma nova divisão setorial para coordenação e

planejamento utilizando a codificação institucional das Áreas de Planejamento (figura 2). Neste

sentido, o município foi divido em cinco Áreas de Planejamento.

Segundo Lamego (1964) a geológica regional entre o maciço da Pedra Branca e o da Tijuca

mais a sul e a serra do Mendanha no extremo norte do município do Rio de Janeiro tem topografia

definida por várias séries de pequenos serrotes, onde hoje se localizam as AP3 e parte da AP5. Este

região acaba não recebendo os ventos provenientes de sul e sudeste, gerando uma diferente na

temperatura da superfície em comparação com as AP2 e AP4 (figura 2).

A velocidade e a direção dos ventos estão associadas às diversas escalas de circulação

atmosférica. No município do Rio de Janeiro predominam os regimes de mesoescala na área litorânea,

em virtude, principalmente, das brisas marítimas originadas pelo aquecimento diferencial entre o

continente e o oceano. Isto ocorre pelo fato de que cada um deles possuir distinta capacidade calorífica

(MAIA et al, 2004).

Observa-se também um acentuado predomínio de calmarias, que se estendem desde as

baixadas da Região da Bacia Hidrográfica da Baía de Sepetiba até o Centro da cidade do Rio de

Janeiro, principalmente, nos setores mais interiorizados ao norte (MAIA et al, 2004). Estas calmarias

ocorrem devido as barreiras naturais encontradas no relevo do Rio de Janeiro. Os maciços costeiros

da Pedra Branca e da Tijuca funcionam como barreira à circulação atmosférica normal. A influência

da topografia acidentada e compartimentada do município do Rio de Janeiro é fator decisivo na

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definição da diversidade climática na cidade. É certo que a topografia acidentada e compartimentada

afeta o clima local (Silva, 2007).

2. Material e Métodos

Para a realização do artigo proposto foram definidas etapas para se alcançar o resultado

proposto. Em primeiro lugar foi obtida a imagem de satélite Landsat 8, no portal da USGS (Serviço

Geológico dos Estados Unidos). As características da imagem são, órbita 217, ponto 76. A banda

utilizada para a identificação da temperatura da superfície foi a Banda 10 (Termal) do sensor TIRS

(Thermal Infrared Sensor), resolução espacial 100m, sensibilidade espectral 10600-11190 nm. O dia

da passagem do satélite foi 20 de abril de 2016 as 9:51, visto que, todas as imagens Landsat são

capturadas no período da manhã, por ser o horário com menor probabilidade de nuvens. Uma das

vantagens do sensoriamento remoto termal, é de proporcionar em tempo sincronizado uma densa

rede de dados de temperatura de áreas sobre a superfície terrestre, além de permitir o monitoramento

e o estudo multitemporal das mesmas (PIREZ E FERREIRA JR, 2015).

A base de dados georreferenciada foi adquirida do Censo Demográfico do IBGE / 2010 para a

indicação dos bairros e das áreas de planejamento do Rio de Janeiro. Destaca-se que o município do

Rio de Janeiro utiliza os conceitos de Bairro, Região Administrativa (RA) e Área de Planejamento (AP).

A área urbana foi adquirida no projeto Estado do Ambiente do INEA / 2010. A base do mapa é

composta por imagem de radar sombreada do projeto TOPODATA, que serve de apoio ao resultado

para a verificação do relevo. As camadas vetoriais, e imagens estão padronizadas com projeção em

UTM, DATUM SIRGAS 2000, Zona 23 Sul. O software de geoprocessamento utilizado nos

procedimentos computacionais foi o ArcGis 10.3.

Para se determinar a temperatura da superfície do solo para a área de estudo, em primeiro

lugar, foi preciso determinar a radiância, sendo dado pela fórmula:

𝐿𝜆 = 𝑀𝐿𝑄𝑐𝑎𝑙 + 𝐴𝐿

onde:

Lλ = Radiancia Espectral em sensor de abertura em Watts/( m² sr μm) ML Fator multiplicativo de redimensionamento da banda 10 = 3.3420E-04 AL Fator de redimensionamento aditivo especifico da banda 10 = 0.10000 Qcal Valor quantizado calibrado pelo pixel em DN = banda 10

Em seguida foi preciso determinar a constante de calibração da imagem utilizada de acordo

com método determinado em estudo como os de (PIREZ E FERREIRA JR, 2015) e (COELHO, 2013), de

acordo com a fórmula da constante de calibração da imagem Landsat-8:

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𝑇𝜆 =𝐾2

ln(K1𝐿𝜆

+ 1)

onde:

T Temperatura efetiva no satélite em Kelvin (K) K2 Constante de calibração 2 = 1.321.08 (K) K1 Constante de calibração 1 = 774.89 (K) Lλ Radiância espectral em Watts/( m2 sr μm)

De acordo com a metodologia proposta pela USGS, utilizou-se a ferramenta Raster Calculator,

que consiste em um tipo de álgebra de mapa existente no software Arcgis 10.3, com o intuito de se

obter uma imagem reclassificada considerando os valore em (°C), sendo dado pela fórmula:

TC= (1321.08/Ln(774.89/(3.3420E-04* “banda10.tif” + 0.10000)+1))-273.15

O avança das técnicas e das análises em ambientes SIGs permite a análise em diversas

áreas do conhecimento. Entre algumas ferramentas de análise espacial destacam-se as funções

locais, zonais, globais e específicas. Com este resultado foi possível obter um mapa geral do município

com a temperatura da superfície. Para este artigo, usou-se a ferramenta zonal. Esta ferramenta

consiste em calcular uma série de estatísticas a partir da leitura de uma base de dados matricial

(raster) para uma ou mais “zonas” geográficas definidas pelo usuário (SOUZA, 2013). A ferramenta

zonal permite a espacialização dos valores da mediana, média, menor valor, maior valor, variação,

majoritário, minoritário, desvio padrão e somatório. Utilizou-se a média dos valores de temperatura por

bairro e a média da temperatura da área urbana de cada bairro para a posterior comparação. O índice

de Moran Global é dado pela fórmula:

I =n(Xi − X̅)∑i∑jwij(Xj − X)

∑i∑jwij∑i(Xi − X̅)²

Onde: n = número de áreas da amostra Xi = Valor do atributo da área

Wij = pesos atribuído conforme relação de áreas i e j.

Por fim determinar-se-á o Índice de Moran Local (LISA), que é um indicar de autocorrelação

espacial local, ou seja, detecta a autocorrelação espacial entre os valores das variáveis espaciais. A

autocorrelação local avalia o valor de um determinado polígono e o valor da sua vizinhança em função

da distância, dado pela fórmula:

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Ii = zi∑𝑊ÿ

n

i=1

Onde: Ii = índice de autocorrelação espacial para cada região i

A figura 1 apresenta um exemplo de diagrama de dispersão de Moran, onde o valor de um

ponto identificado no quadrante Alto-Alto, representa o ponto com o valor acima da média e onde os

vizinhos deste polígono também encontram valores acima da média.

FIGURA 1: Diagrama de dispersão de Moran

Fonte: Rocha (2015)

Por fim com os dados resultantes das médias da temperatura foi utilizada outra ferramenta de

análise espacial, para a verificação da autocorrelação espacial local e verificar a existência de padrões

espacial utilizou-se a ferramenta LISA (Local Indicator of Spatial Association), também conhecido

como índice de Moran local, que consiste na presença de bairros com valores positivos, e no seu redor

valores positivos, chamados de hotspots, ou o inverso, bairros com valores baixos e vizinhos

igualmente baixos chamados de coldspots, ou outros valores Altos - Baixos e Baixos - Altos, são

chamado potential spatial outliers (ROCHA, 2015).

3. Resultados

Com a aplicação da metodologia desenvolvida, obteve-se como resposta a temperatura da

superfície do município do Rio de Janeiro. A figura 2 apresenta dois mapas (2A e 2B) com as classes

de temperatura obtidos com base na imagem de satélite Landsat 8, e com processada para a definição

das classes em graus Celsius. O mapa 2A mostra as classes de temperatura observadas a partir da

média da temperatura total de cada bairro do Rio de Janeiro, considerando o valor da temperatura da

superfície tanto da área urbana como dos outros tipos de usos, como as áreas vegetadas, de pasto

ou de afloramentos rochosos, no mapa 2B foi verificado apenas a média da temperatura da superfície

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da área urbana. Com o expostos, verifica-se que a acentuada diferença de temperatura dos bairros

no reverso da floresta da Tijuca e do Maciço da Pedra Branca em relação aos bairros costeiros.

Os bairros da Zona Norte (AP3) possuem áreas urbanas consolidadas e a variação entre os

dois mapas se mostrou pouco acentuado. Os bairros da Zona Sul (AP2), apesar de apresentar

aumento na temperatura média na comparação dos mapas, quando comparado ao restante do

município ainda são os bairros com menor temperatura.

FIGURA 2: Mapa comparativo de temperatura da superfície

Onde a temperatura não ultrapassou os 28°C de média, mesmo considerando apenas as áreas

urbanas. As áreas no reverso da Serras da Tijuca e da Pedra Branca possuem menor circulação de

ventos, e influenciada pelo uso do solo apresentam uma elevação acentuada na temperatura média

do bairro. O relevo acidentado, tem se revelado como uma grande barreira que dificulta tanto

expansão da cidade como a circulação dos ventos (Farias, 2013).

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A temperatura média na AP2 e AP4, que são as áreas voltadas para sul (Oceano Atlântico),

possuem temperaturas menores com bairros tendo sua média inferior a 25°C. É importante frisar que

os bairros da AP2 e AP4 são aqueles que apresentarão maior arborização e possuem maior renda

domiciliar média no município (Censo Demográfico do IBGE / 2010). O uso do solo para esses bairros

são exclusivamente residenciais e de serviço, o que exclui em quase sua totalidade o uso industrial.

Este fato reforça a importância dada à arborização e a não existência de galpões, que eleva a

temperatura média do bairro.

A análise da temperatura média da superfície do solo vai ao encontro dos estudos sobre

qualidade ambiental em áreas urbanas. Em especial quando se observa a temperatura média das

áreas urbanas., A temperatura se torna mais elevada com destaque a para área da Barra da Tijuca

(Bacias de Jacarepaguá). Os bairros da AP4 e AP5 foram os bairros que apresentaram maior

diferença quando compara-se os dados gerais e os dados de temperatura das áreas urbanas.

A autocorrelação média da área urbana teve resultado superior a média da autocorrelação total

do bairro, o que comprova que a urbanização e a redução das áreas verdes eleva a temperatura média

dos bairros.

Autocorrelação média bairro Autocorrelação média da área urbana dos bairros FIGURA 3: Boxplot comparativo de autocorrelação espacial

O valor considerando o total da temperatura da superfície dos bairro foi de 0,747, enquanto

que ao considerar a área urbana apenas esta autocorrelação sobre para 0,772. Ao analisar os dados

de autocorrelação espacial local verifica-se que a média da temperatura da área urbana mostra-se

muito semelhante e elevada. Ou seja, as áreas urbanas do município, e em especial as dos bairros

da AP3 mostraram-se semelhantes.

Na figura 4, no mapa 4A, observa-se a análise espacial de autocorrelação espacial da

temperatura média do bairro completo, no mapa 4B observa-se a análise espacial de autocorrelação

espacial temperatura médias das áreas urbanas bairro a bairro.

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FIGURA 4: Mapa de auto correlação espacial

Ao se dar destaque a uma parte da AP4 do município do Rio de Janeiro, buscou-se de forma

breve analisar as características da temperatura da superfície dos bairros da Barra da Tijuca,

Jacarepaguá e nos bairros limítrofes. Neste sentido, é possível notar que algumas áreas se destacam

com a elevação da temperatura. O aeroporto de Jacarepaguá é facilmente observado no mapa. Outros

pontos como o Parque Olímpico, Rio Centro e o Barra Shopping foram outras áreas com elevação

abrupta da temperatura (figura 5). Em contra partida a região nordeste do mapa se destaca pela

reduzida temperatura superficial, onde se encontra o maciço da Pedra Branca. Esta representação

reforça a importância da preservação das áreas verdes para o controle da temperatura superficial nas

cidades.

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FIGURA 5: Mapa de temperatura da superfície do solo da região da Barra da Tijuca - AP4

A tabela 1 apresenta a temperatura média e a temperatura media da área urbana da AP4.

Nestes bairros foram encontradas as maiores diferenças na temperatura, chegando ao aumento de 3

°C quando se comparou as médias.

TABELA 1

Diferença na temperatura da superfície

Bairro Temperatura da Superfície (°C)

Média do bairro Média da área

urbana do bairro Diferença

Camorim 25.22 28.30 3.08

Jacarepaguá 26.24 28.72 2.48

Vargem Grande 24.65 26.89 2.24

Vargem Pequena 25.73 27.10 1.37

Barra da Tijuca 27.00 28.16 1.17

Taquara 28.63 29.27 0.64

Curicica 29.63 29.68 0.05

A figura 6 mostra o parque olímpico do Rio de Janeiro no bairro da Barra da Tijuca na AP4,

nesta imagem é possível verificar a ausência de vegetação tanto no interior do parque como na

margem da Avenida Abelardo Bueno. Neste contexto, fica claro o exemplo da falta de atenção do

poder público com os conceitos de qualidade ambiental e a possibilidade de redução da temperatura

da superfície do solo na região que tem por intuito receber um elevado número de pessoas para utilizar

as infraestruturas existentes. Com o exposto, evidencia-se que em um município que apresenta

temperaturas elevadas durante grande parte do ano, é de suma importância o uso de técnicas de

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medição da temperatura da superfície da cidade para o pleno planejamento urbano, e a melhoria da

qualidade de vida dos moradores garantindo o máximo de áreas verdes dentro do sítio urbano da

cidade.

FIGURA 6: Foto da região do parque olímpico - Barra da TIjuca

O município do Rio de Janeiro se destaca pela presença da maior floresta verde do mundo,

entretanto, quando se considera as áreas já urbanizadas, o município não levou em consideração o

conforto térmico dos seus moradores. As áreas de expansão do município possuem as mesmas

características dos bairros já consolidados, com grandes áreas impermeabilizadas, poucos espaços

verdes e alta densidade de ocupação.

4. Conclusões

Este artigo teve por finalidade apresentar o uso de imagens Landsat 8 para o apoio ao

planejamento público municipal, garantindo uma caracterização da temperatura da superfície do solo

e o emprego de técnicas de análise espacial para a mensuração por bairros do município do Rio de

Janeiro. Esta caracterização, apoiado no conhecimento geomorfológico e climático do município,

permite que os gestores públicos atuem de maneira mais eficiente na melhoria da qualidade ambiental

de áreas específicas do município e nas estratégias para zonas de ocupação preferenciais.

Referências

COELHO, A. L. N. Distribuição das Classes de Temperatura de Superfície a Partir da Faixa do Infravermelho Termal do Sensor TM/Landsat-5 no Município de Vitória (ES). Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR - INPE. Foz do Iguaçu/PR. 2013.

FARIAS, H. S., Bacias Aéreas: uma proposta metodológica para o estudo da qualidade do ar em áreas influenciadas pelo relevo. Revista Brasileira de Climatologia, ano 9, vol. 12, 2013

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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. (2010). Censo Demográfico - 2010. Rio de Janeiro: IBGE.

LAMEGO, A. R. O homem e a Guanabara. 2. ed. IBGE, Rio de Janeiro, 1964

MAIA, L. F. P. G. Indicações obersavacionais de ocorrências de brisas marítmas na cidade do Rio de Janeiro. Anais XIII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Fortaleza-CE, 2004.

PIREZ E FERREIRA JR, Mapeamento da temperatura de superfície a partir de imagens termais dos satélites Landsat 7 e Landsat 8, Anais XVII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR - INPE, João Pessoa-PB, 2015

ROCHA M. M. Análise Espacial de Acidentes de Trânsito no Contexto de Variáveis Agregadas em Áreas: Proposta Metodológica e Aplicação na Cidade do Rio De Janeiro. 2015. Tese (Doutorado em Engenharia de Transportes) - COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2015.

SOUZA, L. G. Ferramenta SIG de cálculo de estimativa populacional para o planejamento urbano na cidade do Rio de Janeiro. Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR - INPE. Foz do Iguaçu/PR. 2013.

SIEBERT, C. A. F. Arborização Urbana - Conforto Ambiental e Sustentabilidade: O caso de Blumenau – SC. NUTAU/USP - Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em: www.usp.br/nutau/CD/120.pdf. Acessado em julho de 2016.

SILVA, N. T. C. S. Diagnóstico do clima: estação ecológica da Guanabara e região. Plano de Manejo da Estação Ecológica da Guanabara, 2007. Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/imgs_unidades_coservacao/diagnostico_clima_ga.pdf. Acessado em Abril de 2016

SOUZA. R. G. V. et al, Sustentabilidade e Eficiência Energética no Ambiente Construído, Belo Horizonte/MG, 2009.

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BANCOS DE DADOS GEOGRAFICOS NA ADMINISTRAÇAO PÚBLICA MUNICIPAL: UM

ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE JUIZ DE FORA-MG

GEOGRAPHIC DATABASES APPLIED TO MUNICIPAL PUBLIC ADMINISTRATION: A CASE

STUDY IN JUIZ DE FORA-MG

Eduardo de Oliveira

PUC Minas, Prefeitura de Juiz de Fora Av: Dom José Gaspar, 500 Coração Eucaristíco - Belo Horizonte - MG - CEP 30535-901

[email protected]

Sandro Laudares PUC Minas

Av: Dom José Gaspar, 500 Coração Eucaristíco - Belo Horizonte - MG - CEP 30535-901

[email protected]

Resumo O objetivo deste artigo é demonstrar o uso de bancos de dados geográficos, apresentando a extensão espacial PostGIS e sua utilização no âmbito municipal, bem como possibilidades diversas de análise espacial, utilizando dados do tipo vetorial, “raster” e tabular para extração e/ou confecção de dados espaciais para alimentar com informações os diversos segmentos que integram a estrutura organizacional de uma prefeitura. Como produto final, as análises podem ser revertidas em uma inesgotável fonte de informações, com baixo custo de investimento para implantação. Com objetivos em análises macro, os dados podem ser obtidos gratuitamente em diversas fontes de dados no Brasil ou exterior. Para extração de informações mais detalhadas resta a alternativa de aquisição de imagens de alta-resolução. O resultado deste trabalho apresenta algumas informações úteis para a administração pública municipal, que podem ser extraídas das imagens de alta-resolução. Palavras-chave: Sensoriamento remoto, processamento de imagens, banco de dados geográfico, PostGIS, raster.

Abstract The aim of this paper is to demonstrate the use of geographic databases, presenting PostGIS spatial extension and its applicability to the municipal level, as well as the different possibilities of spatial analysis. Using sample data types such as vector, raster and tabular data to the extraction and / or generating of various spatial data with information aiming to feed different segments comprising the secretariat structure of a municipality. As a final product, the analysis of these data can be reversed into an endless source of information, with low investment cost for deployment. With goals in macro analysis free data can be obtained from various data sources in Brazil or abroad. For more detailed information there's an alternative that is the acquisition of high-resolution images. As one of the objectives of this study, we'll explore some useful information to public administration that may be extracted from high-resolution images. Keywords: Remote sensing, image processing, geographic database, PostGIS, raster.

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1. Introdução

O uso de bancos de dados geográficos vem sendo amplamente estudado e divulgado por

diversos pesquisadores e profissionais das áreas de geotecnologia. A proposta deste trabalho é

apresentar algumas funções destes bancos de dados e suas possíveis aplicações no setor público

municipal, que é carente em informações atualizadas e precisas, além de explorar funções de

pesquisa do tipo “raster” e vetorial, sendo que a primeira é relativamente nova em se tratando de

aplicações com bancos de dados espaciais, especificamente a extensão espacial PostGIS, do

gerenciador de banco de dados PostgreSQL. A extensão espacial PostGIS tem sido utilizada para

auxiliar nos trabalhos de levantamento de informações relevantes a base de dados cadastral do

município de Juiz de Fora-MG. Propostas para correção utilizando dados obtidos com esta extensão

espacial estão sendo estudadas. Informações antes necessárias para atualização de tal base

necessitavam de análise e intervenção manual lote a lote do município. Com base na nova proposta,

os dados poderão ser atualizados com o auxílio de informações espaciais e analisados de forma

semiautomática, reduzindo a interferência humana no processo.

A crescente demanda por informação espacial esbarra no custo, muitas vezes

proibitivo, na aquisição dos dados em alguns municípios. A capacidade de arrecadação, a

infraestrutura existente, a mão de obra qualificada para o estudo, a necessidade de processamento e

análise dos dados reduz as possibilidades de utilização eficaz de dados disponíveis aos municípios

de forma gratuita a partir das diversas fontes existentes. Manter a base de dados cadastral atualizada

hoje demanda grande esforço. Estratégias devem ser desenvolvidas para que sejam encontrados

cada vez menos problemas provenientes de erros humanos, que levam a perda de arrecadação,

acarretando divulgação de dados errados tanto aos setores que se utilizam destes quanto para os

contribuintes. E por que não utilizar um ferramental e até dados disponíveis gratuitamente?

A introdução de tais possibilidades pode gerar um fluxo mais constante na atualização

de informações vitais, tais como ao setor de fiscalização municipal que pode concentrar esforços em

áreas de maior crescimento urbano. Com base em informações espaciais, estudos viários, estudos

socioassistenciais podem tirar vantagem da disponibilidade de dados espaciais para os diversos fins

a que se destinam. A partir da necessidade de se obter, de forma sistemática, dados espaciais para

as mais variadas aplicações, a utilização de um ferramental voltado para o setor público municipal se

faz necessária. Os aplicativos existentes muitas vezes não contam com tais capacidades, pois

somente há poucos anos viabilizou-se o acesso a imagens de alta resolução e periódicas. Mesmo

imagens de média resolução são boas fontes de dados para os municípios que necessitam fazer

trabalhos de monitoramento de grandes áreas, como no caso dos municípios amazônicos que tem

grandes extensões de terra e grandes áreas para monitorar desmatamento, municípios costeiros

podem utilizar também tais imagens para monitorar a qualidade das águas. Outras informações, tais

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como ocupação do solo, não podem ser fornecidas a partir de tais imagens e a verificação em imagens

de melhor resolução é necessária.

Utilizar banco de dados para extração e análise de dados espaciais pode ser a princípio

trabalhoso por não contar com ferramentas gráficas, mas torna o trabalho em alguns casos muito mais

produtivo, sendo que estas rotinas podem ser implementadas de forma sistemática em aplicações

(web, por exemplo). O usuário não necessita ter conhecimento prévio sobre geotecnologias para

realizar tal tarefa, mas muitas vezes reconhece o benefício de possuir tal informação em mãos. Estas

informações são relevantes para a boa administração de um município, evitando desperdícios e

auxiliando na fiscalização diária, áreas como saúde, educação, obras e fazenda podem ser beneficiar

de forma direta com dados espaciais e a análise destes. Manter uma base cadastral atualizada com

estas informações é um dos benefícios. Evitam-se fraudes e podem ser utilizadas para justiça fiscal.

O objetivo principal deste trabalho é explorar a utilização da extensão espacial PostGIS

para obtenção de informações relevantes de bases de dados vetoriais (ou “raster”) existentes. O

software livre é visto em alguns momentos como sendo desnecessário na administração pública

municipal, visto que os dados até hoje foram criados e mantidos com softwares proprietários na

Prefeitura de Juiz de Fora-MG por exemplo.

Segundo KRIEGEL et al., a quebra do paradigma que software livre não tem capacidade de

geração de informação confiável começa a ser modificada com a utilização destes estudos para a

criação de informações novas e antes não exploradas (KRIEGEL et al., 2003):

Comparação automática da existência de edificações em lotes

cadastrados como lotes vagos na base de dados.

Determinação da interseção das curvas de nível e logradouros, para criar

perfil ou visualização tridimensional do terreno.

Extração de informação por processamento digital de imagens.

As informações que serviram de subsídio para este trabalho foram adquiridas no ano

de 2007. Com a grande capacidade de análise que pode ser implementada pela extensão espacial do

PostgreSQL, denominada PostGIS, algumas das funções básicas são exploradas, demonstrando um

novo patamar de extração e análise de informações espaciais.

2. Referencial Teórico

Com o rápido e contínuo crescimento da demanda por informações geo-referenciadas

segue o desenvolvimento dos bancos de dados geográficos e seus sistemas de gerenciamento. Cada

vez mais as aplicações de geotecnologia tem tornado mais rápida a curva de aprendizado dos

iniciantes no mundo dos chamados “SGBDs Espaciais”. Entre os sistemas mais conhecidos temos o

Oracle Spatial, SQLServer, PostgreSQL/PostGIS e o MySQL Spatial. Destes, os dois primeiros são

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softwares proprietários, e os outros são livres, o último é mais facilmente encontrado em hospedeiros

gratuitos, podendo ser utilizado para pequenas aplicações web que necessitem manipular

informações espaciais, mas como ainda não apresenta a mesma gama de funcionalidades que o

PostgreSQL/PostGIS, decidimos concentrar esforços para explorar este, por conter maior quantidade

de tutoriais e suporte a softwares para a visualização e análise dos resultados, tais como QGIS e

GVSIG.

O aprendizado sobre consultas em um banco de dados não apresenta dificuldades,

pois diversos livros e tutorias disponíveis são uma fonte abundante de informações, alguns com foco

mais teórico outros em uma abordagem mais prática. O usuário iniciante não sentirá dificuldades em

iniciar seus estudos escolhendo assim a linguagem mais favorável ao aprendizado do SQL. Dentre as

práticas mais comuns para o aprendizado de SQL, os vídeo-cursos são uma opção bastante atraente,

pois ao contratar algum destes, além de todo o suporte, o usuário ainda terá uma certificação no

assunto.

Para quase todo o material de referência deste trabalho deverá ser feita analogia destes

resultados com as possíveis aplicações em um município devido à pouca informação disponível sobre

o suporte matricial (WKT raster) da extensão PostGIS. Foram utilizadas imagens de alta resolução

para extração de informações pertinentes aos trabalhos realizados. Exemplos: ocupação urbana,

cadastro territorial, etc. Os tópicos abordados por este trabalho visam o melhor aproveitamento da

extensão espacial PostGIS, utilizando o mesmo em aplicações de processamento digital de imagens,

sensoriamento remoto e análises espaciais diversas (Vinhas; Ferreira, 2013).

O projeto de um sistema de informação requer, como passo inicial, a escolha das entidades e

tipos de dados a serem representados e, se possível, a descrição organizada destas entidades por

meio de conceitos. Esta descrição forma uma ontologia de aplicação, definida como “um conjunto de

conceitos compartilhados por uma comunidade” (STONEBRAKER et al., 1995).

O cruzamento dos dados do tipo “raster” e vetor para extração de contornos de

edificações por exemplo deve ser avaliado quando estes são de fontes e datas diferentes (Lima;

Costa; Santos; Queirós, 2008). A avaliação das técnicas e algoritmos aplicados para extração das

informações deve ser cuidadosamente analisada para a correta escolha dos mesmos (Centeno;

Botelho, 2005). A integração de funcionalidades de processamento digital de imagens com a extração

de dados das imagens disponíveis aos usuários não precisa necessariamente depender de softwares

desktop para avaliação das mesmas (Maciel; Vinhas; Câmara, 2015), as funções disponibilizadas no

PostGIS permitem a integração das mesmas a aplicativos web (Macário; Nakai; Cruz; Pereira, 2015).

3. Metodologia

Para exemplificar os problemas em que podem ser utilizados dados vetoriais e do tipo “raster”,

foram utilizados também alguns dados disponíveis gratuitamente nas diversas fontes existentes. Na

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medida da necessidade destes dados os endereços da fonte de informação serão disponibilizados ao

longo do texto.

O software QGIS foi utilizado para visualização dos resultados e apreciação da entrada de

dados. Algumas imagens poderão ser geradas a partir deste aplicativo, com exceção daquelas que

serão geradas diretamente a partir das consultas espaciais. Algumas imagens foram disponibilizadas

para demonstração ao longo do desenvolvimento deste trabalho de modo que o leitor fique sempre

familiarizado com os locais de estudo.

As etapas seguirão um grau de dificuldade crescente, onde algum conhecimento sobre bancos

de dados faz-se necessário. Para a interpretação dos dados, a simplicidade e didática na forma de

apresentação será priorizada, de forma a deixá-los o mais claro possível para que não haja dúvidas

quanto a finalidade e análise dos resultados, sejam eles tabulares, vetoriais ou “raster”.

Com a utilização de um banco de dados específico para cada problema a ser estudado pode-

se fazer uma grande variedade de estudos fornecendo informações mais precisas, atuais e com fluxo

constante.

A sequência de estudos proposta segue:

1. Explorar consultas básicas de um banco de dados (PostgreSQL).

2. Explorar funções espaciais vetoriais e a extensão WKT Raster da extensão espacial

PostGIS.

3. Criar consultas de maior complexidade para obtenção de informações do tipo “raster” e

vetorial.

4. Criar funções para tornar a entrada e saída de dados mais simples (a partir de algumas

das consultas apresentadas).

Para o item 1, são realizadas as etapas iniciais de aprendizado sobre SQL e suas

particularidades, testando as mais variadas formas de seleção dos dados sem preocupação com as

possíveis aplicações geográficas que estes podem atender. No Item 2, a proposta visa estudar as

funções que exploram os dados vetoriais e “raster”, iniciando nas mais simples aplicações para

verificar as relações espaciais que podem existir entre as feições estudadas.

Ao iniciar o estudo proposto no item 3, iniciamos a construção do conhecimento relativo a

extração de informações contidas nas diversas relações espaciais aprendidas no item 2 e agrupando

estas funções em scripts, de forma a obter dados mais trabalhados e com menor possibilidade de

erros.

O item 4 é a continuidade do desenvolvimento mais avançado dos scripts anteriormente

escritos; transformando os mesmos em formas de utilização menos trabalhosas ao usuário, podendo

os mesmos ser utilizados com maior desenvoltura e possibilitando o uso em outras funções ou scripts

mais complexos. Sem a etapa de criação de funções alguns trabalhos podem ser muito mais árduos,

pois exigirá análise ou manipulação dos dados fora do âmbito da linguagem SQL, o que dificulta a

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automatização de alguns processos, tais como a criação de gráficos a partir dos dados obtidos em

uma consulta.

4. Desenvolvimento

4.1 Carga dos dados do tipo vetorial

De posse dos dados vetoriais e matriciais procede-se à carga dos dados de duas formas

distintas. Após todo o processo de instalação, que não será descrito aqui, utilizou-se os aplicativos

disponíveis no sistema para realizar a carga destes dados. Primeiro selecionou-se todos os dados do

tipo vetorial para carga, para isto foi criado antecipadamente um banco de dados “imagens.

4.2 Carga de dados do tipo “raster”

Neste processo foram carregados a imagens de satélite dos anos de 2010 e 2011, que

formam a imagem mais recente disponível na Prefeitura de Juiz de Fora.

4.3 Informações preliminares dos dados

Abaixo temos o exemplo de alguns dados armazenados no banco de dados “imagens”.

Figura 1: Feição de lotes e seus identificadores únicos e os “centerlines” logradouros. Fonte: Prefeitura Municipal

de Juiz de Fora, 2010/2011

A feição de logradouros mostrada acima foi extraída do site (OpenStreetMap). Como é

parte deste trabalho a utilização de dados públicos, demonstra-se aqui uma opção viável de utilização

destas informações.

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Figura 2: Área selecionada para exportação dos dados de logradouros.

Fonte: OpenStreetMap

4.4 Consultas geográficas

Uma das tarefas mais utilizadas em qualquer trabalho da área de geoprocessamento é realizar

o recorte de um vetor ou imagem “raster”. Para exemplificar esta funcionalidade, segue abaixo um

recorte das curvas de nível no município de Juiz de Fora, feito a partir de um vetor. Na imagem também

temos as feições de lotes. Esta tarefa serve para duas atividades diferentes, a primeira é reduzir a

quantidade de dados a ser trabalhada pelo usuário, a outra é a criação de uma imagem com menor

poluição visual e menor tamanho, demonstrando maiores detalhes de uma determinada região.

Para criar a feição de curvas de nível reduzida foi utilizada a seguinte consulta: select

row_number() over() as gid, elevation, st_intersection(a.geom,b.geom) as geom from recorte a, t_2000 b where

st_intersects(a.geom,b.geom);

Figura 3: Imagem com recorte da feição de curvas de nível.

Fonte: Dados da Pesquisa/ Prefeitura Municipal de Juiz de Fora, 2010/2011

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Figura 4: Pontos de interseção das curvas de nível com a feição de logradouros. Fonte: Dados da pesquisa. Prefeitura de Juiz de Fora, 2010/2011.

Na figura 4 é possível visualizar os pontos onde as curvas de nível fazem interseção com os

logradouros. Isto é útil para uma análise preliminar de implantação de rede de águas pluviais,

procurando o melhor caminhamento para a drenagem, reduzindo custos e impactos no trânsito por

ocasião de realização do empreendimento. Da mesma forma que utiliza-se as funções para manipular

dados vetoriais é possível que sejam realizadas operações com imagens “raster” e para isto é

necessário criar a função para extrair os resultados do banco de dados com maior facilidade. Para

tornar mais fácil a visualização dos resultados sem a necessidade de software específico tais como

ArcGIS e QGIS, podem ser realizadas consultas espaciais.

A primeira ação a ser tomada é o recorte da imagem utilizando um vetor que neste caso será

a camada de lotes. Nesta feição temos um campo chamado “loteid” que podemos ver na Figura 1 no

centro de cada lote. Portanto a consulta de recorte da imagem ficou:

drop table if exists img_puc; create table img_puc as select row_number() over()::integer as rid, st_union(st_clip(rast,b.geom)) as rast from imagem a, lotes b where st_intersects(a.rast,b.geom) and b.loteid = XXX; UPDATE img_puc SET rast = st_band(rast, ARRAY[3,2,1]); select write_file(st_astiff(rast), 'c:/temp/puc/img_puc'||'.tiff') from img_puc;

Quadro 01: Linha de comando para consulta espacial no PostGIS.

Fonte: Dados da pesquisa. Prefeitura de Juiz de Fora, 2010/2011.

Antes da extração da imagem é utilizado o comando “update” do campo “rast” da tabela que

acaba de ser criada. O motivo para tal é que as imagens foram criadas com as bandas RGB trocadas

(para a imagem de 2010/2011).

Como resultado temos os recortes abaixo:

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Figura 5: RGB321 Figura 6: RGB123 Figura 7: RGB234.

Fonte: Dados da pesquisa. Prefeitura de Juiz de Fora, 2010/2011.

Tais dados podem ainda ser utilizados para obter outras informações dos dados “raster”, tal

como o NDVI - Normalized Difference Vegetation Index, que é um índice que analisa a condição da

vegetação no campo através de sensoriamento remoto. Podemos ver o resultado na imagem abaixo.

No quadro 02 abaixo) segue a sequência de consultas utilizadas.

drop table if exists ndvi; create table ndvi as SELECT row_number() over() as rid, loteid, ST_MapAlgebra( ST_MapAlgebra(rast, 4, rast, 3, '[rast1] - [rast2]', '32BSI'), ST_MapAlgebra(rast, 4, rast, 3, '[rast1] + [rast2]', '32BSI'), '[rast1] / [rast2]', '32BF') as rast FROM img_2011; SELECT write_file(ST_AsTIFF(st_colormap(a.rast,'bluered'), array[1,2,3]), 'C:/Temp/puc/ndvi.tiff') FROM ndvi a;

Quadro 02: Consultas espaciais para demonstração de NDVI. Fonte: Dados da pesquisa

Figura 8: NDVI.

Fonte: Dados da pesquisa. Prefeitura de Juiz de Fora, 2010/2011.

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Para obtenção de um histograma da imagem acima, o comado aplicável pode ser: SELECT

(ST_Histogram(rast,1)).* FROM NDVI;

Tabela 1

Resultado do histograma (alguns dados foram suprimidos desta tabela).

Fonte: Dados da pesquisa. Prefeitura de Juiz de Fora, 2010/2011.

min max count percent

-0.986394584178925 -0.86950633302331 484 0.0223062033367131 -0.86950633302331 -0.752618081867695 1492 0.0687620978892064 -0.752618081867695 -0.63572983071208 51 0.00235044704581067 -0.63572983071208 -0.518841579556465 160 0.00737395151626878

De posse destas informações podemos iniciar um estudo mais aprofundado das funções de

análise espacial do PostGIS e criar scripts ordenando as informações de acordo com a necessidade.

A seguir é demonstrado o protótipo desenvolvido para a extração de dados vetoriais a partir da

imagem, e com isto determinar a existência ou não de edificações. Abaixo podemos ver na interface

os parâmetros que podem ser ajustados para a extração das informações. O mesmo encontra-se em

fase de desenvolvimento e testes e poderá vir a ser utilizado como ferramenta auxiliar a tomada de

decisão em relação à tarefa de busca de imóveis edificados em uma determinada região.

Figura 9 Protótipo com imagem do lote e feição vetorial extraída da imagem de 2010/2011.

Fonte: Dados da pesquisa. Prefeitura de Juiz de Fora, 2010/2011.

Figura 10: Imagem do lote e vetor de edificações extraídas a partir da nuvem de pontos do ano de 2007. Fonte: Dados da

pesquisa. Prefeitura de Juiz de Fora, 2007.

Como podemos observar, apesar de não apresentar exatidão milimétrica, as figuras 9

e 10 apresentam certa concordância em relação às feições vetoriais. A feição de edificações foi

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adquirida pela PJF-Prefeitura de Juiz de Fora - no ano de 2007, juntamente com uma imagem aérea

de todo o perímetro do município (rural e urbano com resolução de 20 cm). As imagens apresentadas

neste trabalho e que foram utilizadas para a extração das informações mencionadas são imagens

orbitais dos anos de 2010/2011 (rural e urbano com resolução de 60 cm).

5. Análise dos resultados e discussão

Verificou-se que certas ações de análise dos dados foram benéficas em relação à

economia de tempo na obtenção dos mesmos. Não foi realizado um estudo sobre o impacto de

consultas mal formuladas que resultam em perda de tempo no processamento.

Restringiu-se a área de estudos a loteamentos onde as áreas envolvidas eram maiores,

em relação à grande maioria dos lotes do município de Juiz de Fora, pois assim tem-se a garantia de

uma imagem de boa visualização por parte do leitor, ainda não foram realizados testes em áreas de

grande densidade habitacional.

Ao longo do desenvolvimento das diversas consultas foi possível observar aspectos

negativos quanto à construção dos dados. Falta de padronização prejudica a elaboração de certas

análises espaciais e consequentemente os dados resultantes.

Um estudo mais amplo sobre alguns assuntos ainda pode ser feito, pois neste campo

ainda existem muitos pormenores a serem explorados com maior detalhamento. Temas que mais

chamam atenção são os dados que envolvem manipulação de imagem “raster” em bancos de dados

geográficos, e tais análises devem ser exploradas com maior frequência em um futuro próximo, pois

softwares proprietários que fazem estes tipos de análise normalmente tem preços elevados e

impossibilitam sua aquisição por parte de municípios de pequeno porte.

Um dos grandes problemas enfrentados no desenvolvimento deste trabalho foi a pouca

bibliografia voltada para utilização de técnicas e funções espaciais em bancos de dados geográficos

voltadas para resolução de problemas no âmbito municipal, visto que a grande maioria dos trabalhos

na área de geoprocessamento é direcionada para estudos de grandes regiões como bacias

hidrográficas e gestão ambiental. No decorrer do desenvolvimento, experimentaram-se diversas

possibilidades de utilização das funções espaciais para explorar os dados, tais como o laser scanner,

que continham informação de altura das edificações, mas na feição de edificações este dado não

constava. Foi realizada a tarefa de introduzir tal informação para detecção de edificações de maior

porte, visando atualizar a base cadastral.

A extração e manipulação de informações de imagens orbitais e vetoriais por meio de

banco de dados ainda não faz parte do cotidiano de muitos profissionais da área de

geoprocessamento, pois para tal é necessário um conhecimento prévio que muitas vezes não é

passado ao longo dos cursos de graduação. Esta deficiência leva a um atraso e a falta de visão das

possibilidades de utilização de uma ferramenta tão poderosa como o software utilizado neste trabalho

– PostGIS.

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Para viabilizar o suporte e divulgação de práticas e aplicações deste software, foi criada uma

comunidade sobre PostGIS na rede social Facebook (PostGIS Brasil), e em aproximadamente um ano

foi atingido um total de 273 membros sendo que parte destes membros são estrangeiros e

encontraram o grupo através de divulgação em outros grupos da área de geoprocessamento. Em

comparação a um software mais conhecido como QGIS (ambiente gráfico) que também conta com

grupos na mesma rede social o número de membros é surpreendentemente maior, contando com

5202 membros na mesma data. Outro grupo, denominado ArcGIS-Brasil conta com 4176 membros.

6. Conclusão

O estudo busca integrar funcionalidades de processamento digital e análise espacial para

extração de atributos contidos nas feições vetoriais e matriciais. A abordagem simplista utilizada aqui

visa mostrar que as possibilidades de utilização destas funções espaciais são diversas; e que

apresentam bom desempenho, baixo tempo de aprendizado e possibilidade de integração com

linguagens de programação.

A possibilidade de utilização de dados de diversas fontes diferentes, gratuitas ou não,

fornece aos usuários uma ampla fonte de informação que, se bem avaliada, pode fornecer por um

longo período de tempo; dados que irão desde simples aspectos físicos do ambiente ao redor, até

importantes mudanças ocorridas no entorno dos municípios.

Certos aspectos dos levantamentos envolvidos podem mostrar aos usuários outros

meios de obtenção de informações que podem ser cruzadas com as informações tradicionais e estas

análises podem render aos municípios possibilidades tais como; aumento da arrecadação sem

aumento de taxas, pois uma base de dados atualizada gera justiça fiscal aos contribuintes que mantém

em dia seus tributos.

Dentre tantas possibilidades que este ferramental proporciona vale ressaltar que tais

dados podem ser utilizados de forma a coibir certas ações que ao longo dos anos podem prejudicam

os municípios, como desmatamentos, poluição de mananciais que são utilizados para abastecimento,

implantação de loteamentos irregulares entre outros.

Nas várias facetas que podem ser exploradas com a utilização destes tipos de dados,

os estudos ambientais, sócio educacional, planejamento urbano, saúde pública, riscos geotécnicos.

Estes e outros aspectos podem receber um grande apoio com dados geográficos pertinentes a boa

administração municipal.

Referências

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CENTENO, Jorge; BOTELHO, Mosar Faria. Identificação de Edificações Presentes em Imagem de Alta Resolução Utilizando Redes Neurais e Dados do Laser Scanner . Curitiba: UFPR, 2004.

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MACIEL, Adeline Marinho; VINHAS, Lúbia; CÂMARA, Gilberto. Aplicação de técnicas de processamento digital de imagens usando a extensão espacial PostGIS Raster em imagens de sensoriamento remoto. São José dos Campos, INPE, 2015. MACÁRIO Carla Geovana do N.; NAKAI, Alan Massaru; CRUZ, Sergio Aparecido B.; PEREIRA, Thiago de Siqueira. Integrando dados Raster à Plataforma da Embrapa de dados de Recursos Naturais dos Biomas Brasileiros: avaliação do uso da extensão PostGIS Raster. Recife: UFPE, 2004. STONEBRAKER, M.; ROWE, L. A.; HIROHAMA, M. The implementation of Postgres. IEEE Transactions on Knowledge and Data Engineering, v. 2, n. 1, p. 125-142, mar. 1990. VINHAS, Lúbia; FERREIRA, Karine Reis. Explorando a extensão WKT Raster do PostGIS para armazenamento e manipulação de imagens de sensoriamento remoto. São José dos Campos: INPE, 2013.

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MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO SÃO FIDÉLIS,

ZONA DA MATA MINEIRA

GEOMORPHOLOGICAL MAPPING OF RIBEIRÃO SÃO FIDÉLIS BASIN, ZONA DA MATA

MINEIRA

Felipe Pacheco Silva Discente do Curso de Geografia – Universidade Federal de Juiz de Fora

José Lourenço Kelmer, s/n- Campus Universitário, Bairro São Pedro – CEP: 36036-900 – Juiz de Fora (MG), Brasil.

E-mail: [email protected]

Rodiney Almeida Fernandes

Discente do Curso de Geografia – Universidade Federal de Juiz de Fora José Lourenço Kelmer, s/n- Campus Universitário, Bairro São Pedro – CEP: 36036-900 – Juiz de Fora (MG), Brasil.

E-mail: [email protected]

Roberto Marques Neto Prof. Adjunto do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal

de Juiz de Fora – Rua José Lourenço Kelmer, s/n – Campus Universitário – Bairro São Pedro – CEP: 36036-900 – Juiz de

Fora, MG

E-mail: [email protected]

Resumo

Este trabalho busca a partir do arcabouço metodológico acumulado, no âmbito da ciência geomorfológica para representação dos fatos geomorfológicos, elaborar o mapa geomorfológico na escala de 1/50.000 para a bacia hidrográfica do ribeirão São Fidélis, localizado na Zona da Mata de Minas Gerais. Nesse sentido, como base metodológica para a presente pesquisa pode se destacar os princípios contidos no Manual Técnico de Geomorfologia, conjuntamente com outras propostas. O resultado do estudo apresentou-se satisfatório,

permitindo conhecer os modelados, a partir de suas correlações com a base litológica e os dados morfométricos, assim como a dinâmica engendrada pelos processos vigentes no relevo da área de estudo, sendo esses fatos primordiais adoção de ações de planejamento territorial coerentes com as vulnerabilidades e potencialidades bacia. Palavras-chave: bacia hidrográfica; planejamento territorial; morfometria.

Abstract

This paper seeks from the accumulated methodological framework within the geomorphological science for the

representation of geomorphological facts elaborate geomorphological map in scale of 1/50.000 for the river

watershed São Fidélis, located in the Zona da Mata of Minas Gerais. In this sense, as a methodological basis for

this research can highlight the principles contained in the Technical Manual of Geomorphology (NUNES et al.,

1994), together with other proposals. The results of the study presented was satisfactory, allowing know the

modeled from their correlation with lithological basis and morphometric data as well as the dynamics engendered

by the processes prevailing in the relief of the study area , and these primordial facts adopting actions territorial

planning consistent with the vulnerabilities and potential basin.

Keywords: hydrographic basin; territorial planning; morphometry.

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1. Introdução

O presente paper tem por objetivo empreender a interpretação do sistema geomorfológico e

sua respectiva representação cartográfica na bacia hidrográfica do ribeirão São Fidélis (FIGURA 1),

adstrita às porções territoriais dos municípios de Chácara, Juiz de Fora e Matias Barbosa, ambos

localizados na Zona da Mata Mineira. Ainda, assume a incumbência de discutir questões

metodológicas inerentes à cartografia geomorfológica no que concerne à representação de aspectos

morfológicos, morfogenéticos, morfocronológicos, morfométricos e morfodinâmicos em um mesmo

documento cartográfico, cerne dos compromissos cartográficos de representação do relevo.

FIGURA 1. Localização da Bacia Hidrográfica do Ribeirão São Fidélis.

De acordo com Christofoletti (1980) as formas do relevo constituem o objeto da Geomorfologia,

sendo essas formas emolduradas a partir de processos específicos. A compreensão das formas e dos

processos e de sua indissociabilidade, portanto, se projetam como principal objetivo dos estudos

geomorfológicos. Nesse contexto, a cartografia geomorfológica almeja apresentar o relevo no plano

cartográfico em sua forma, estrutura, idade e processos vigentes, projetando-se o imperioso desafio

de parir um documento cartográfico que ao mesmo tempo seja resoluto e eficiente, e que não deixe

de congregar o plano considerável e complexo de informações inerentes aos fatos geomórficos.

No que tange à importância do mapeamento geomorfológico é imprescindível destacar o

protagonismo da cartografia geomorfológica para diversas áreas, tendo implicações na esfera

ambiental, econômica e social, dado a intrínseca correlação dos fatos geomorfológicos com as

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diferentes esferas espaciais. Nesse sentido, valorizando o mapa geomorfológico Tricart (1965) refere-

se ao mesmo como a base da pesquisa, e não a concretização gráfica da mesma. Entretanto, a

apresentação dos fatos geomorfológicos em um único documento se mostra como um grande desafio,

dado que, conforme frisado por Argento (1995), os procedimentos operacionais para sua elaboração

não seguem um modelo estabelecido, tanto no tocante aos níveis escalares padrão a serem adotados

em mapeamentos sistemáticos, como no que concerne à adoção de bases taxonômicas a eles

ajustados.

Em uma bacia hidrográfica, as condições climáticas, litológicas, biogeográficas e outras vão

condicionar o desenvolvimento de determinada rede de drenagem e de determinadas formas de

relevo; assim como nos demais sistemas abertos, se tem uma relativa tendência à estabilidade, desde

que as forças atuantes e provindas do ambiente possam ser absorvidas a partir de uma reorganização

endógena ao sistema (CHRISTOFOLETTI, 1980). Nesse sentido, Ross (1992, p.17) afirma que “o

entendimento do relevo e sua dinâmica passa obrigatoriamente pela compreensão do funcionamento

e da inter-relação entre os demais componentes naturais, e isto é de significativo interesse ao

planejamento físico-territorial”. Em suma, o mapeamento geomorfológico pode partilhar das práticas

de diagnóstico ambiental para programas de planejamento, como planos diretores e planos de manejo,

bem como ser levado em conta diretamente em zoneamentos voltados para o planejamento do uso

da terra, posto que se projeta como atributo capaz de assinalar com veemência quadros de

vulnerabilidade e determinar diferentes potencialidades e restrições de uso do espaço.

2. Material e Métodos

A base de dados foi composta por folhas topográficas (Juiz de Fora, SF-23-X-D-IV-1; Matias

Barbosa, SF-23-X-D-IV-3; São João Nepomuceno, SF-23-X-D-IV-2; Mar de Espanha, SF-23-X-D-IV-

4) elaboradas pelo IBGE (escala de 1/50.000), e imagens de satélite Landsat (bandas 5, 4, 3),

utilizadas na compartimentação geomorfológica, tomando por base os pressupostos metodológicos

de Nunes et. al. (1994), assim como os avanços introduzidos por Cunha (2011). É valido destacar os

vínculos dessas abordagens com o sistema taxonômico de Tricart (1965), adaptado por Ross (1992)

ao contexto brasileiro. As unidades de compartimentação foram os padrões de formas semelhantes

(sensu ROSS, 1992).

Na perspectiva de se introduzir informações morfométricas no mapa foi calculada a

profundidade de dissecação (amplitude altimétrica entre topo e fundo de vale) e também a dimensão

interfluvial (distância entre duas nascentes ou linhas de drenagem posicionadas na base de duas

vertentes opostas) permitindo se elaborar a matriz de dissecação conforme a proposta de Nunes et

al. (1994). A matriz é construída atribuindo valores de 1 a 5 (sendo que quanto maior o valor, mais

acentuado é o potencial morfodinâmico). O cruzamento dos dígitos forma um sistema binário que

auxilia a interpretação do quadro de fragilidade vigente a partir de 25 correlações possíveis, nas quais

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a situação 1/1 é representativa do quadro de fragilidade mais baixa discernível (dimensão interfluvial

muito grosseira e entalhe vertical muito fraco), ao passo que a maior fragilidade potencial se

materializa no cruzamento 5/5 (dimensão interfluvial muito fina e entalhe vertical muito forte)

(MARQUES NETO et al. 2015).

Com auxílio do software ArcGis 10.3 (ESRI, 2015) elaborou-se a carta de declividade da bacia

tendo como base a imagem de radar SRTM (Shuttle Radar Topography Mission). De posse desse

arquivo de entrada se adotou a seguinte rotina: ArcToolBox>Spatial Analyst>Surface>Slope. Em

seguida, se classificou o produto gerado nas seguintes classes < 6%; 6 - 15%; 15 - 30%; 30 - 45%; 45

– 75%; > 75%; posteriormente, a declividade foi sobreposta com transparência de 75%, de modo que

fosse possível visualizar a base planialtimétrica disposta na camada inferior, permitindo assim,

conjuntamente com a profundidade de dissecação, definir a nomenclatura do modelado, conforme a

proposta de Ponçano et al. (1981). Sincronicamente à definição da nomenclatura dos modelados,

amparado pelas informações clinográficas, foram definidas as formas dos topos das morfologias

inseridas em porções denudacionais, classificando segundo a ocorrência de topos aguçados (a),

aplainados (ap), convexos (c) e tabulares (t).

No intuito de abarcar elementos da base estrutural se adaptou para área de estudo, com auxílio

do geoprocessamento, o mapa geológico de Juiz de Fora - Folha SF-23-X-D-IV, elaborado a partir da

escala 1/100.000 desenvolvido pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais

(CODEMIG, 2013). Elementos da base litológica foram incorporados no mapa geomorfológico a partir

de rampas de cores, discutindo suas inter-relações com os modelados. Os aspectos do arcabouço

geológico em escala 1/100.000 foram fundamentais para interpretação da friabilidade do regolito e

para determinar os aspectos inerentes as diferentes feições geomorfológicas, porém o mapa

geomorfológico foi elaborado tomando por base as cartas topográficas do IBGE na escala de 1/50.000,

sendo a compartimentação empreendida a partir desta referência.

Na perspectiva de contemplar elementos de ordem cronológica foi estabelecida a hierarquia

fluvial dos canais, discernindo-se as linhas mais recentes de dissecação fluvial das mais antigas

conforme a ordem do canal. Ainda, as morfologias agradacionais do Neopleistoceno e Holoceno se

distinguem claramente dos modelados de dissecação quaternária.

A inserção de simbologias pontuais e lineares permitiu representar os elementos

correspondentes à quinta ordem de grandeza, previamente identificados nas cartas topográficas,

assim como os alinhamentos serranos presentes na bacia; em decorrência da restrita dimensão

espacial, as respectivas feições foram representadas por símbolos lineares e pontuais. Optou-se por

preservar as curvas mestra com equidistância de 100 em 100 metros, com intuito de não se prejudicar

o aspecto visual do mapa final. Com o propósito de se incorporar no mapa as morfologias

antropogênicas - definidas no presente estudo como àquelas em que a ação antrópica se faz presente

e consubstancia significativas mudanças na paisagem - se admitiu como estratégia a representação

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de tais setores através de hachuras com cores diferentes, na perspectiva de se diferenciar tais

morfologias cingidas em modelados agradacionais das dispostas em modelados de dissecação

3. Resultados e Discussão

A bacia de drenagem do ribeirão São Fidélis, localizada pelas coordenadas 21o41’59” e

21o53’98” de latitude sul (S) e 43o12’93” e 43 o19’40” de latitude oeste (W), possui uma área de

aproximadamente 144 km² e se encontra inserida na porção territorial dos municípios de Chácara,

Juiz de Fora e Matias Barbosa, compreendendo grande parte do assentamento urbano desse último.

O clima da região pode ser definido como tropical típico (quente e semiúmido), com chuvas no

verão e secas no inverno, onde as temperaturas na maior parte do ano se distribuem acima dos 18o

C. Em resposta a atividade climática a vegetação original da área de estudo pode ser definida,

segundo Veloso et al. (1991), como Floresta Estacional Semidecidual (ou Floresta Tropical

Subperenifólia). Contudo, atualmente pode-se pontuar apenas a presença de fragmentos florestais

em poucos setores, sobretudo nas porções serranas, onde as imposições clinográficas não permitiram

o avanço de usos mais intensivos, mantendo-se poupadas das pastagens que majoritariamente dão

a tônica aos mosaicos ocorrentes na bacia.

Em consonância ao levantamento feito pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de

Minas Gerais - CODEMIG (2013), pode-se afirmar que a bacia hidrográfica é constituída por litologias

de idade paleoproterozóica (2,5 - 1,6 Ga), vinculadas ao Complexo Juiz de Fora, basicamente

constituído por ortogranulitos enderbíticos a charnockitos, com tipos graboicos subordinados, e

neoproterozóicas (1,6 – 0,54 Ga), com litologias gnáissicas vinculadas a Megassequência Andrelândia

e hornblenda-biotita-gnaisses e leucognaisses referentes à Suíte Matias Barbosa. Nos respectivos

levantamentos também se representou os depósitos sedimentares cenozoicos referentes

basicamente aos sedimentos fluviais e coluviais, conforme é apresentado na Figura 2. De imediato,

pode-se observar a estreita relação da orientação dos litotipos e das falhas no sentido NE-SW, sendo

esse sentido correlato ao das principais serranias, assim como do interflúvio e da rede de drenagem,

estando o canal principal em grande parte controlado por essa orientação.

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FIGURA 2: Mapa geológico da bacia hidrográfica do ribeirão São Fidélis.

Dando enfoque ao mapeamento geomorfológico empreendido para a bacia foi possível

discernir três tipos genéticos a seguir apresentados: (1) modelados de dissecação em controle

estrutural (DE), (2) modelados de dissecação homogênea (D) e (3) modelados de agradação (A),

tendo o produto final firmado íntima correlação com as informações do mapa de declividade (Figura

3), sendo as informações clinográficas essenciais para a definição dos modelados mapeados na área

de estudo, permitindo diferenciar os tipos gerais de modelado, o que auxilia sobremaneira o

procedimento de compartimentação. Em geral, os declives superiores a 45% correspondem aos

modelados de dissecação em controle estrutural, estando praticamente restritos a estes tipos

genéticos. Abaixo de 6% ocorrem morfologias agradacionais, ao passo que o relevo mamelonizado,

do tipo “mar de morros”, tem seus declives distribuídos nos intervalos intermediários. Ainda, a

clinografia dialoga com o sistema metodológico de Ponçano et al. (1981) e facilita, associadamente à

profundidade de dissecação, o estabelecimento da nomenclatura dos modelados de dissecação,

sendo possível correlacionar, por esse prisma, as porções de morros aos setores que apresentaram

declividade entre 15% e 45%, os morrotes ao intervalo de 15% a 30% e as colinas em setores com

predomínio de declividade inferior a 15% e superior a 6%.

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FIGURA 3. Mapa de declividade da bacia hidrográfica do ribeirão São Fidélis.

Doravante, apresenta-se o mapa geomorfológico da bacia hidrográfica do ribeirão São Fidélis

(Figura 4), pelo qual se evidencia os seguintes tipos genéticos mapeados: Modelados de Agradação

(A) - referente as planícies fluviais associadas a terraços (Apft) e rampas de colúvio (Arc); Modelados

de Dissecação Homogênea (D) – englobando morros (Dm), morrotes (Dmr) e colinas (Dc); e Modelado

de Dissecação em controle Estrutural (DE) – corresponde exclusivamente ao modelado de crista

estruturais rebaixadas e morros alinhados (DEcrm).

FIGURA 4. Mapa geomorfológico da bacia hidrográfica do ribeirão São Fidélis.

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Dando início a interpretações dos compartimentos e seus arranjos presentes no mapa

geomorfológico, pode-se destacar que o modelado de crista estruturais rebaixadas e morros alinhados

(DEcrm) congregam as maiores altimetrias da bacia e delimitam grande parte do interflúvio, onde

claramente se defronta com uma drenagem consequente, vinculada ao controle morfoestrutural do

substrato enderbítico, que se mostra mais resistente às investidas dos agentes meteorológicos. As

principais elevações contínuas correspondem às serras do Guerra e do Mina. A primeira estrutura

citada, localizada na margem direita do ribeirão São Fidélis, apresenta configuração assimétrica e

intenso retrabalhamento erosivo. A Serra do Mina, disposta na margem esquerda, é marcadamente

simétrica, e encontra-se controlada em falhas de empurrão que engendraram notável interdigitação

entre diferentes litotipos.

Os modelados de dissecação homogênea congregam morfologias mamelonizadas, como

morros (Dm), morrotes (Dmr) e colinas (Dc), estando fundamentalmente emoldurados em substrato

gnáissico e capeados por mantos de alteração argilosos e bem desenvolvidos, com dissecação em

padrão subdendrítico a subparalelo. Claramente pode-se discutir que esses compartimentos

atualmente dão aporte ao desenvolvimento de atividades agrossilvopastoris e a quase totalidade das

edificações relacionadas ao perímetro urbano de Matias Barbosa, onde se defronta com inúmeras

alterações nas vertentes, sendo possível identificar terraceamento em vertentes e topos aplainados.

Tais feições marcadas por alterações profundas estão representadas pelas hachuras referentes às

morfologias antropogênicas.

Os modelados de agradação encontrados na área correspondem a rampas de colúvio (Arc) e

planícies fluviais associadas a terraços (Apft). Ambas as morfologias são preenchidas com materiais

de composição argilo-arenosa, e se distribuem de maneira desuniforme pela bacia. As rampas de

colúvio ocorrem no contato do conjunto de morros alinhados e serras rebaixadas da porção leste da

área de estudo, denotando de modo claro a atuação dos processos de retrabalhamento desses

modelados; as planícies fluviais associadas a terraços se desenvolve a partir de estreitas relações

com os modelados adjacentes, sobretudo nos setores de cristas estruturais rebaixadas, que

engendram claras circuncisões em alguns trechos das planícies, assim como reorganizações da

drenagem, essas ultimas representadas por feições de relevo simbolizadas.

Nesse sentido, é possível interpretar imposições estruturais a esse compartimento, sendo

válido destacar o desenvolvimento de planícies associadas a terraços fazendo referência a um

significativo entalhe do vale, assim como inúmeras deflexões abruptas, e presença de corredeiras em

quase todo curso do rio principal. Com relação ao ribeirão São Fidelis em específico, pode-se afirmar

que o mesmo percorre longo trecho em um claro controle estrutural, vindo a desenvolver uma

incipiente planície somente após transpor as porções mais escarpadas do alto curso, conformando

uma expressiva deflexão de NE-SW para NW-SE, no contato litológico do embasamento

enderbito/gnáissico. Este ponto marca o início do desenvolvimento de uma planície mais expressiva,

visto que o substrato de litologias gnáissicas se apresenta menos hostil ao ímpeto da erosão fluvial e

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aos processos deposicionais, permitindo a deposição de sedimentos de ordem granulométrica inferior

que até então eram carreados pelo canal. No exutório do ribeirão São Fidélis, próximo a confluência

com o rio Paraibuna, pode-se observar o rompimento das funções geoecológicas da planície, dado

que a mesma se encontra impermeabilizada dando aporte a inúmeras edificações.

4. Considerações Finais

A rotina metodológica empreendida se mostrou pertinente para a compreensão dos fatos

geomorfológicos da bacia do ribeirão São Fidélis em escala de 1/50.000, bem como para o

entendimento de aspectos da dinâmica intrínseca aos modelados. O uso de produtos de

sensoriamento remoto concomitantemente às bases planialtimétricas permitiram lograr avanços na

inserção de feições pontuais, admitindo a incorporação no documento cartográfico de níveis

taxonômicos mais detalhados. A representação das morfologias antropogênicas a partir de hachuras

permitiu tecer considerações acerca das pressões a que estão submetidas determinadas porções da

bacia, revelando no plano cartográfico os efeitos danosos na planície, que tem sua função

geoecológica rompida nas extensões submetidas à impermeabilização. Também foi factível tanger

elementos de ordem cronológica (ainda que relativos) a partir da incorporação da hierarquia fluvial,

informações estas que, apesar de significativa relevância para a cartográfica geomorfológica, são

comumente negligenciadas em decorrência das limitações tecnológicas em se estipular valores

absolutos para a idade do relevo.

Em tom de finalização, cabe enfatizar a importância da representação cartográfica do relevo

para o planejamento territorial, dado que os elementos presentes nos mapas geomorfológicos reúnem

informações indispensáveis a uma gestão condizente com as reais potencialidades e restrições da

paisagem em seu estrato superficial.

5. Agradecimentos

Ao CNPq e a PROGRAD-UFJF pelo apoio financeiro para o desenvolvimento do presente

estudo.

6. Referências Bibliográficas

ARGENTO, M. S. F. Mapeamento Geomorfológico. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. da (Org.)

Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil. 1995.

BRASIL. MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA; Projeto RADAMBRASIL. Folhas SC. 23/24 Rio de

Janeiro/Vitória: geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro:

O Projeto, 1983. 780 p.

CASSETI, V. Geomorfologia. Livro digital. Disponível em:

<http://www.funape.org.br/geomorfologia/pdf/index.php>. Acesso em: 02 fev. 2016.

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2ª ed. São Paulo: Edgard Blucher Ltda., 1980.

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COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DE MINAS GERAIS (CODEMIG). Mapa Geológico

Folha S F.23-X -D-IV– JUIZ DE FORA. [Belo Horizonte], 2013. Escala 1:100.000.

CUNHA, C. M. L. A. A cartografia a geomorfológica em áreas litorâneas. Tese (Livre Docência em

Geografia): Rio Claro, UNESP. 2011.

IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 1981. Carta topográfica da folha de Juiz

de Fora (MG). Rio de Janeiro: Fundação IBGE. 1 mapa. Escala 1:50.000.

IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 1983. Carta topográfica da folha de Mar

de Espanha (MG). Rio de Janeiro: Fundação IBGE. 1 mapa. Escala 1:50.000.

IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 1976. Carta topográfica da folha de

Matias Barbosa (MG). Rio de Janeiro: Fundação IBGE. 1 mapa. Escala 1:50.000.

IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 1975. Carta topográfica da folha de São

João Nepomuceno (MG). Rio de Janeiro: Fundação IBGE. 1 mapa. Escala 1:50.000.

MARQUES NETO, R., ZAIDAN, R. T., MENOR JUNIOR, W. Mapeamento Geomorfológico do Município de

Lima Duarte (MG). Revista Brasileira de Geomorfologia 16, 2015, 123-136.

NUNES, B. A. (coord.); JULIANTES, R. L.; CALDEIRON, S. S. Manual técnico de geomorfologia. Rio de

Janeiro: IBGE, 1994. 111p

PONÇANO, W. L; CARNEIRO, C. D. R; BISTRICHI, C. A; ALMEIDA, F. F. M; PRANDINI, F. L. Mapa

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Geologia Aplicada, 1981. 94p

ROSS, J. L. S O registro cartográfico dos fatos geomórficos e a questão da taxonomia do relevo. Revista do

Departamento de Geografia, n. 6, 1992.

STRAHLER, A. N. Dynamic basis of geomorphology. Geological Society of American Bulletin, v. 63, p. 923-

938, 1952.

TRICART, J. Principés et méthods de la géomorphologie. Mason: Paris, 1965. 496p.

UNITED STATES GEOLOGICAL SURVEY (USGS). BASE SRTM JUIZ DE FORA - MG. 2001. Disponível em:

http://earthexplorer.usgs.gov/. Acesso em 20 abr. 2015.

VELOSO, H. P.; RENGEL FILHO, RANGEL FILHO, A. L. R.; LIMA, J. C. A. Classificação da vegetação

brasileira, adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro IBGE, Departamento de Recursos Naturais e

Estudos Ambientais, 1991. 124 p.

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USO DE CLASSIFICADOR MAXVER NA GERAÇÃO DE MAPA DE USO DO SOLO EM ÁREAS URBANAS

USE OF MAXVER CLASSIFIER IN THE GENERATION OF SOIL USE MAP IN URBAN

AREAS

Hostilio maia de Paula Neto

Instituto Federal de educação, Ciência e Tecnologia – IFG Rua 75, 46 - Setor Central, Goiânia - GO, 74055-110

[email protected]

Jorge Luis Silva Brito

Universidade Federal de Uberlândia – UFU

Av. João Naves de Ávila, 2121 –Bloco 1H, Campus Santa Mônica, Uberlândia - MG, 38408-100 [email protected]

Resumo Os ambientes urbanos vêm se mostrando cada vez mais alterados, essa alteração necessita de uma análise rápida e eficaz. O uso de técnicas de geoprocessamento auxilia e dinamiza essas informações. Esta pesquisa utiliza técnicas de processamento digital de imagens dados obtidos por câmeras a bordo de VANT para o mapeamento do uso do solo em área urbana no município de Goiânia. Os resultados mostraram que as paisagens urbanas são complexas e muitas vezes difíceis de classificar utilizando apenas o classificador automático MAXVER. Diante disto, foi proposto e utilizado o modelo integrado entre um classificador automático e uma edição manual, tornando assim, o processo mais confiável. Essa integração mostrou rapidez e confiabilidade na criação e modelagem das informações. Uma sugestão para analise futura, seria a utilização de um classificador orientado ao objeto, pois assim seria feito um direcionamento para as classes requeridas. Palavras Chaves: Geoprocessamento, classificação de imagens, imagens VANT.

Abstract Urban environments have shown themselves increasingly changed, this change requires a quick analysis and effective. The use of geoprocessing techniques assists and streamlines the information. This research uses techniques of digital processing of image data obtained by cameras UAV board for the mapping of land use in urban areas in the city Goiania. The results showed that urban landscapes are complex and often difficult to classify using only automatic classifier MAXVER. Therefore, it was proposed and using the integrated model between an automatic classifier and a manual editing, thus making the process more reliable. This integration showed speed and reliability in the creation and modeling of information. One suggestion for future analysis, would be to use a classifier object-oriented, as it would be done guidance to the required classes. Palavras Chaves: geoprocessing, image classifiers, VANT

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1. Introdução

Os ambientes urbanos vêm se tornando uma ferramenta de transformação cada vez

acentuada, dentro destes, existe a necessidade de mais espaço, isto vem colocando as áreas verdes

cada vez mais a mercê dessa necessidade de espaço.

Segundo (MOYSÉS, 2004), o processo de urbanização de Goiânia, ocorreu em áreas de

expansão de uma forma desordenada. Sendo, conhecida por um processo de urbanização chamado

de Planejado (des) urbanizador.

Esse processo não foi uma panaceia, porem os problemas para uma cidade que nasceu

planejada foram muito importantes. Nesse sentido esse planejamento gerou grandes dificuldades ao

município, dentre esses pode-se determinar que neste processo a cidade gerou espaços segregados

e descontínuos no município.

Nesse contexto o uso de ferramentas que auxiliem na organização e conhecimento das áreas

de alteração urbana se torna fundamental na utilização de dados provenientes de Sistemas de

Informação Geográfica (SIG). Com isso a relação com meio ambiente está cada vez mais fiel a

realidade, demonstrando como o uso do solo veem se tornando cada vez mais útil na determinação

de políticas de transformações urbanas.

Outro aspecto, e que em áreas urbanas a utilização de imagens de alta resolução facilita cada

vez mais a descrição das formas e da determinação de classes de usos, maximizando cada vez mais

o seu uso. Possibilitando identificar com mais clareza os impactos decorrentes da ocupação urbana.

Porém o uso de imagem de alta resolução, geram informações que contém muito mais detalhes

que podem alterar a percepção do meio. Com isto a utilização de classificadores que produzem

informações mais confiáveis, demonstrando mais confiabilidade a análise do uso do solo. Nesse

contexto, o artigo vem mostrar o uso de ferramentais de análise que possibilitam a extração de

informações confiáveis e demonstrar uma metodologia de geração de mapa de uso e ocupação do

solo.

1.1 Área de estudo

Para o desenvolvimento do trabalho, foi realizado o estudo piloto no município de Goiânia,

correspondendo a uma parte da área do projeto PUAMA – Parque Urbano Macambira / Anicuns,

localizado na região metropolitana do município de Goiânia, situado na nascente do córrego do

Cedro. (Figura 01).

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Figura 1: Mapa de localização da área da pesquisa.

1.2 Matéria e métodos

Para execução da classificação, foram utilizados os dados de voo de Veículos Aéreos Não

Tripulados – VANT, fornecido por Alves Jr, Cortês, Ferreira, & Silva (2015), levantados em 26/11/2013

na região do parque Macambira/Anicuns. Neste o modelo de VANT utilizado foi o Swinglet CAM,

fabricado pela empresa suíça Sensefly.

O processamento digital das imagens foi realizado no SPRING 5.4.1. Foram definidas 8

classes de uso do solo urbano, conforme os dados do quadro 01. Para a classificação da imagem foi

escolhido o algoritmo - Máxima Verossimilhança (MAXVER). Segundo Santos e Peluzio, (2010), o

MAXVER é um classificador supervisionado por pixel, onde amostras previamente selecionadas são

utilizadas para o treinamento do classificador.

Com as informações contidas nos dados de VANT, pode se determinar qual as classes de usos

que seriam separadas, essa definição foi escolhida de acordo com as características da região, e

assim separadas as seguintes classes temáticas do uso e ocupação do solo urbano (Quadro 01).

QUADRO 01

Exemplo de amostra das categorias de uso da imagem VANT, obtida em 26/11/2013, da área de pesquisa.

Categoria de uso e simbologia Amostra

1) Telhados de zinco (TZ)

2) Telhados de barro (TB)

3) Telhados de concreto (TC)

4) Áreas verdes: vegetação rasteira, gramas e áreas com pouca vegetação (AV)

5) Áreas verdes: vegetação arbórea, arvores de médio e grande porte (AG)

6) Solo exposto: áreas de lotes vazios, e áreas sem vegetação (SE)

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7) Vias as asfaltadas (V)

8) Sombras: nas sombras essas podem ser provenientes de cada classe (S)

Esse procedimento permitiu uma boa avaliação dos dados, para a separação das informações

foi feito um treinamento com o aplicativo SPRING, com o intuito de coletar o maior número de

informações da área, conforme as classes pré-definida no quadro 01.

3. Resultados e discussão

Com o treinamento executado foi necessário a avaliação dos resultados da coleta de dados.

Esse resultado pode ser observado na Figura 02, onde podemos notar a classificação executada após

o treinamento.

FIGURA 02: Área classificada após o uso do MAXVER.

Na área classificada pode-se observar uma variação nos dados observados, dentre estes uma

confusão entre algumas classes. Um exemplo é o que se pode notar na Figura 03, onde as áreas de

solo exposto se confundiram com as áreas de telhados de barro.

Nesse exemplo foi necessário um reamostragem dos elementos de cada classe, e assim

organizar os dados de forma mais eficaz e com uma coincidência maior dos dados coletados.

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(a) (b)

FIGURA 03: classificação MAXVER (a) e a imagem do VANT (b)

Com essa confusão, foi necessária uma análise da amostra dos dados coletados, e assim foi

necessário a geração de uma matriz de confusão e assim gerar um índice KAPPA, com o intuito de

verificar o grau de confiança do classificador.

Com o treinamento executado foi possível analisar as amostras, esse processo foi o índice

KAPPA, onde o mesmo verifica qual a confiabilidade dos dados coletados. Segundo Congalton (1991)

apud SUAREZ e CANDEIAS (2012), uma das técnicas mais utilizadas de avaliação da acurácia da

classificação, pode ser determinada empregando uma matriz de erro, onde essa pode ser utilizada

para efetuar a correção dos dados coletados, essa matriz e determinada de matriz de confusão.

Segundo LOBÃO, FRANÇA-ROCHA, & SILVA( 2005), no calculo do coeficiente Kappa é

necessario a construção de um mapa de verdade de campo, assim é possivel estabelcer uma

correlação entre os dados coletados e os dados classificados.

Na Tabela 01, pode-se observar o resultado da análise das amostras da área, neste sentido

nota-se que houve uma confusão entre duas classes: telhado de barro e solo exposto e vias e telhado

de zinco.

TABELA 01

Distribuição dos pixels

Classes AV AG SE TB TZ TC V S Soma

AV 18962 4682 0 0 0 7 0 461 24112

AG 1035 4637 2 0 0 2 0 0 5676

SE 0 20 483 0 0 65 142 0 8720

TB 0 0 7106 305 0 9 0 0 17420

TZ 0 0 4 0 14054 984 3575 0 18707

TC 1 0 2 0 478 6853 82 0 7416

V 7 76 5 0 8828 1808 28512 0 39676

S 74 1 0 0 9 0 2 4943 5029

Soma 20079 9416 6132 315 23369 9728 32313 5404 126756

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Classes: Av= Área Verde; AG=Área com Gramas; SE= solo Exposto; TB= Telhado de Barro; TE=Telhado de Concreto; V=Vias; S=Sombra.

Segundo COLGATON e GREEN (2009), o cálculo do índice KAPPA e efetuado com a seguinte

relação:

𝐾 =𝐷−𝑄

𝑇−𝑄 (1)

Onde:

𝑄 =∑ 𝑋𝑖𝑟𝑖=1 × 𝑋1+𝑖 (2)

Em que:

Xi = Total da linha total da coluna para uma dada categoria funcional;

X1+i = Total da coluna para uma dada categoria funcional.

A Tabela 02, mostra o resultado da matriz de confusão das amostra da área em porcentagem

de acordo com a equação 1.

TABELA 2

Porcentagem de área ocupada pelas classes estudadas.

Classe AV AG SE TB TZ TC V S Soma

AV 78,64 19,42 0 0 0 0,03 0 1,91 24112

AG 18,23 81,69 0,04 0 0 0,04 0 0 5676

SE 0 0,23 97,28 0,11 0 0,75 1,63 0 8720

TB 0 0 98,20 1,75 0 0,05 0 0 17420

TZ 0 0 0,50 0 75,13 5,26 19,11 0 18707

TC 0,01 0 0,03 0 6,45 92,41 1,11 0 7416

V 0,02 0,19 1,12 0 22,25 4,56 71,86 0 39676

S 1,47 0,02 0 0 0,18 0 0,04 98,29 5029

Soma 20079 9416 26132 315 23369 9728 32313 5404 126756

Classes: Av= Área Verde; AG=Área com Gramas; SE= solo Exposto; TB= Telhado de Barro; TE=Telhado de Concreto; V=Vias; S=Sombra.

Com os resultados apresentados nota-se uma grande confusão nos dados, e com isto foi

necessário a edição dos dados em um outro aplicativo com o intuito de organizar melhor as

informações.

Essa edição foi executada no aplicativo QGIS 2.15.2, essa mudança se deu pela facilidade e

rapidez na análise das amostras e fácil edição dos resultados. Como visto na tabela 04 houve uma

grande confusão na classificação de duas classes, solo exposto e vias, e que, no caso de solo exposto

obtivemos uma confusão de 98,20% e vias 22,25%.

Assim foi necessária uma análise do grau de confiança das amostras. Segundo Colgaton e

Green (2009), as classificações das imagens geradas, são geradas em determinados intervalos de

valores, contendo um nível de aceitação, conforme especificado na Tabela 03.

TABELA 03

Índice de aceitação do teste KAPPA.

ÍNDICE KAPPA CARACTERÍSTICAS

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78

K ≥ 40% Pobre

40 < K ≤80% Razoável

K ≥ 80% Excelente Fonte: LOBÃO, FRANÇA-ROCHA, & SILVA (2005)

Assim como visto na tabela 3, essas duas classes obtiveram uma classificação pobre para solo

exposto e razoável para vias, sendo assim a necessidade de fazer uma filtragem manual da área

classificada.

Esse procedimento foi determinante para uma melhor visualização dos dados, como o

aplicativo QGIS, possibilita uma edição rápida da tabela de atributo foi convertido as classes com um

grau de confiança baixo. Nessa edição foi reclassificado cada classe que não correspondia a com

verdade, sendo assim, realizado uma verificação de todos os elementos classificados. Na figura 04,

foi executado a reclassificação dos objetos confusos, e para isso as mesmas classes foram criadas

no aplicativo.

FIGURA 04 : exemplo de edição de atributos no aplicativo QGIS.

Para essa edição, foi necessário a edição da tabela de atributos e da propriedade de cada

elemento classificado. No aplicativo QGIS, esse procedimento permite a troca de classe, edição de

novas classes e união de várias classes. Na figura 5, e possível observar a tabela de atributo após a

classificação.

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79

FIGURA 05 : Mapeamento dos atributos e sua reclassificação

Na tabela de atributo as classes foram codificadas para números, pois assim o processamento

e edição das novas classes foram mais ágil. E como o QGIS atribui um número para cada polígono,

esses foram classificados conforme a figura 06.

FIGURA 06 : Tabela de propriedade contendo a codificação de cada classe.

Após a classificação executada no SPRING e sua Reclassificação, chegou-se ao mapa de uso

do solo (figura 07), nesse a classificação ficou mais coerente com a realidade.

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80

FIGURA 07 : Mapa de Uso do Solo da área de pesquisa.

4. Conclusões

As paisagens urbanas são complexas e muitas vezes difíceis de classificar. Com o uso do

MAXVER, este se mostrou eficiente para áreas com boa separação entre as classes. Porem quando

as classes são formadas por regiões muito semelhantes esse se torna pouco eficaz.

Neste sentido, a utilização de modelo integrado entre um classificador automático – MAXVER

e uma análise manual o processo se torna muito eficaz. E com o uso combinado dos aplicativos

SPRING e QGIS, essa integração mostrou rapidez e confiabilidade na criação e modelagem das

informações.

Uma sugestão para analise futura, seria a utilização de um classificador orientado ao objeto,

pois assim seria feito um direcionamento para as classes requeridas.

Agradecimentos

Agradecimentos a Fundação de amparo à pesquisa do Estado de MinasGerais (FAPEMIG) pelo

auxílio na Pesquisa através do projeto nº CRA-APQ-01542-14 e á Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior(CAPES) pelo apoioatravés do projeto DINTER UFU/IFG nº 023/2014.

Referências

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ortomosaicos e Modelos Digitais de Superfície utilizando fotografias obtidas com câmera digital não

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2164. Fonte: http://www.dsr.inpe.br/sbsr2015/files/p0436.pdf

Page 54: MAPEAMENTO MORFOLÓGICO DA BACIA … · 28 mapeamento morfolÓgico da bacia ribeirÃo espirito santo, juiz de fora, mg: relaÇÕes entre o relevo e o planejamento morphological mapping

81

COLGATON, R., & GREEN, K. (2009). Assessing the accuracy of remotely sensed data: principles and

practices. New York, USA: Lewis Publishers.

LOBÃO, J. S., FRANÇA-ROCHA, W. d., & SILVA, A. d. (16-21 de abril de 2005). Aplicação dos Índices KAPPA

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PANCHER, A. M., & ROSSETTI, A. F. (2013). Analise do desenpenho da clasificação digital de imagens

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SANTOS, A. R., PELUZIO, T. M., & SAITO, N. S. (2010). SPRING 5.1.2: passo a passo: aplicações práticas.

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MAPEAMENTO DE VOÇOROCA UTILIZANDO GEOTECNOLOGIA DE LEVANTAMENTO POR DRONE

VOÇOROCA MAPPING USING DRONE SURVEILLANCE GEOTECHNOLOGY

Juliano Godoy Salgado

Geógrafo – Belo Horizonte, MG E-mail: [email protected]

Resumo O trabalho tem como objetivo mapeamento de voçoroca utilizando geotecnologia de levantamento do Drone. As principais vantagens do levantamento do Drone são a agilidade e a possibilidade de monitoramento mensal ou anual da evolução do processo erosivo conhecido como voçoroca, constituindo uma poderosa ferramenta para tomada de decisões futuras. A metodologia divide-se em duas partes: trabalho de levantamento de campo com a coleta dos pontos de controle e voo, e posteriormente trabalho de processamento dos dados obtidos em campo com a construção da base cartográfica, confecção dos mapas e análise. Através dos dados coletados é possível gerar modelo digital de elevação 3D, ortofoto e confeccionar mapas de curvas de nível, declividade, acúmulo e fluxo hídrico, com intuito de caracterizar a área da voçoroca. Desta maneira, a tecnologia drone possibilita estudos sequenciais com a finalidade de identificar a evolução do processo erosivo, uma vez que esse levantamento tem um alto nível de detalhamento. Palavras-chave: fotogrametria, monitoramento e erosão

Abstract The work is to gully mapping using objective Drone lifting geotechnology. The main advantages of lifting the Drone are agility and the possibility of monthly or annual monitoring of the evolution of the erosive process known as gullies, providing a powerful tool for future decision-making. The methodology is divided into two parts: field survey work to the collection of control points and flight, and then the data processing work from the field with the construction of cartographic base, preparation of maps and analysis. Through the data collected can generate digital 3D model of elevation, orthophoto and construct maps of contours, slope, accumulation and water flow, in order to characterize the area of the gully. Thus, the drone technology enables sequential studies with the aim of identifying the progress of the erosion process, since the survey has a high level of detail. Key words: photogrammetry, tracking and erosion

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1 . Introdução

A voçoroca é um processo erosivo natural que pode ser intensificado pelo meio antrópico

através do mal-uso do solo e da retirada de cobertura vegetal das vertentes. Traz prejuízos para

sociedade como dificuldade de deslocamento da população pelas áreas atingidas, risco de acidentes,

perda de área que poderia ser utilizada para atividade agrícola, pecuária ou mesmo para construção

civil, entre outros impactos na economia.

Para Cassetti “As erosões por voçorocas constituem o estágio mais avançado da erosão,

sendo caracterizadas pelo avanço em profundidade das ravinas até atingirem o lençol freático ou o

nível d´água do terreno”.

Segundo GUERRA e GUERRA (1997), ”voçoroca pode ser compreendida por escavação ou

rasgão do solo ou de rocha decomposta, ocasionado pela erosão do lençol de escoamento superficial.”

É necessário mapear a voçoroca devido aos graves danos causados por esse processo

erosivo. Dessa forma, é de suma importância desenvolver métodos de monitoramento e

caracterização, para isso, o drone surge como uma ferramenta acessível para o estudo.

O mapeamento por drone, que é uma aeronave remotamente pilotada, tem sua tecnologia

baseada por aquisição de dados por fotogrametria.

Segundo Temba (2000) “a fotogrametria é a arte, ciência e tecnologia de obter informações

de confiança sobre objetos e do meio ambiente com o uso de processos de registros, medições

e interpretações das imagens fotográficas. “

Também segundo Temba (2000) a fotogrametria pode ser dividida em duas áreas: a primeira

métrica (medições, elevações, volumes e etc) e a segunda interpretativa (objetos como riachos,

florestas e etc).

O objetivo do trabalho, é o mapeamento de voçoroca situada no distrito de Miguel Burnier

município de Ouro Preto, utilizando técnicas de fotogrametria tanto as áreas métricas (declividade,

acúmulo e fluxo hídrico) e interpretativas (ortofoto, e um modelo 3D).

A principal vantagem do levantamento com drone é a agilidade e a precisão do monitoramento

de áreas pequenas, da ordem de alguns hectares. Mais este método também evita o contato dos

pesquisadores em atividades arriscadas que envolvem grandes altitudes e calor, correndo o risco de

acidentes. Importante ressaltar a possibilidade de monitoramento mensal ou anual da evolução do

processo erosivo, tornando assim, uma poderosa ferramenta para tomada de decisões futuro.

2. Localização

A voçoroca situa-se nas coordenadas E 635.711 N 7740792, 23S no Distrito de Miguel Burnier,

município de Ouro Preto MG.

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84

Principal ligação MG030 que interliga Rodovia dos Inconfidentes (BR – 356), que por sua vez

a BR040 que liga à Capital do Estado, Belo Horizonte, que se encontra a 72 km de distância. Próximo

da voçoroca passa a estrada de Ferro Vitoria - Minas. Como demonstrando no mapa.

Figura 1: Localização

3. Metodologia

O presente estudo iniciou com pesquisa da área e análise bibliográfica sobre erosão por

voçoroca. Para dessa forma definir as duas etapas de trabalho: levantamento de campo e

processamento dos dados.

3.1 Trabalho de levantamento de campo

O primeiro passo foi a demarcação dos pontos de controle no solo com cal virgem em forma

de X, tamanho 1m por 1m como na imagem.

Figura 2: A imagem demonstra o sinal em forma de cruz com o cal virgem em campo para demarcação com GPS.

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Para o levantamento dos pontos de controle foi utilizado o sistema GNSS com a portadora L1

e L2/ RTK, que permite leitura aos mesmo tempo de dados L1eL2 para implantação do ponto de

referência, numa duração de leitura de 4h no ponto, quanto dos pontos de controle levantados

simultaneamente com GPS RTK (posicionamento cinemático em tempo real) num total de 8 pontos.

As correções do ponto de referência coletado no L1 e L2 foram processadas IBGE PPP. Os

dados foram baixados em arquivo RINEX, compactado em arquivo Zip e processado pela página do

IBGE http://www.ppp.ibge.gov.br/ppp.htm.

Com a coordenada de referência corrida pelo IBGE se faz a substituição da coordenada de

referência coletada pelo alto posição do levantamento o RTK. A coletora faz a correção dos oito pontos

coletados pelo RTK, melhorando a precisão.

O passo seguinte é o planejamento do voo, que deve ocorrer antes mesmo de ir a campo. O

planejamento foi definido previamente, realizando o plano de voo para cobrir toda a área com o auxílio

da ferramenta Google Earth ™.

Em seguida, foi realizado o reconhecimento da área e o Levantamento com drone foi realizado

no dia 29/06/2016, no total de 30 min para voo.

Durante o voo foram obtidas 15 imagens numa altitude de 225, com resolução de 7.31cm/pix,

no sistema de coordenadas UTM, SIRGAS 2000, zona 23S.

3.2 Trabalho de processamento

Na primeira etapa foram processadas 15 imagens e georreferenciadas utilizando os dados do

RTK, gerando ortofoto e um arquivo de nuvem de pontos tridimensional.

Em seguida, na segunda etapa foi criado o MDT (Modelo Digital do terreno). A nuvem de pontos

foi tratada com filtros para eliminação da cobertura vegetal, buscando retratar apenas o terreno.

Segundo SANTOS (2009) o MDT é um conjunto de pontos tridimensionais regularmente ou

irregularmente espaçados, geometricamente estruturados que representa numericamente os pontos

e elevações contidos em uma área da superfície física.

Por fim foram gerados através dos dados no ArcGis: mapas de declividade, curva de nível,

fluxo de drenagem, acumulado de drenagem e os perfis longitudinais.

Através de ortofto foi criado o mapa para análise de uso e ocupação da área da voçoroca com

10 cm GSD (Ground Sampling Distance). O quadro mostra a relação GSD e escala segundo SANTOS

(2009):

Figura 3: relação GSD com escala

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Conforme SANTOS (2009) é a distância entre os centros de dois pixels consecutivos medidos

no solo. Quanto menor o GSD, maior é a resolução espacial e maior é a qualidade de imagem, ou

seja, haverá mais detalhes visíveis na imagem.

4. Resultados Obtidos

A partir da análise da base cartográfica extraída do mapeamento com o drone foi possível

identificar vários aspectos da voçoroca.

Figura 4: Ortofoto- Uso e ocupação

Conforme se observa a área da voçoroca é cercada por pastagem. A seta vermelha mostra a

formação de pequenos canais visíveis, mais bem definidos, ravinas. Dependendo das condições

hidrogeológicas da área, tal formação pode desencadear o surgimento de outra voçoroca, vindo a unir

com a área em estudo.

A seta azul marca a área solo exposto, após a retirada da camada vegetal são propicias a

erosão, os impactos diretos provocam os rompimentos dos agregados.

A seta verde demonstra corte da estrada que gera outro fluxo de drenagem, o qual intensifica

o processo erosivo.

Segundo a classificação dos formatos de voçoroca de Augustin e Aranha 2006, a voçoroca do

estudo tem formato composta. Como demonstrada no quadro.

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Figura 5: Representação dos 4 tipos predominantes das formas das voçorocas por Augustin e Aranha 2006

A voçoroca tem 143m de comprimento e tem largura entre 9m a 43m. A profundidade máxima

de 6m. Seguindo os parâmetros de Furlani (1980), podemos definir a voçoroca como média.

Para Furlani (1980), os parâmetros adotados para estabelecer a definição dos tipos

discriminados não são rígidos. A tabela abaixo apresenta os valores.

Figura 6: Representação dos parâmetros das voçorocas por Furlani (1980)

Figura 7: Curva de nível e delimitações dos perfis da voçoroca.

A seta em azul mostra os sentidos dos perfis das principais linhas de drenagens. São quartos

perfis, sendo três que convergem para o perfil principal da voçoroca. O perfil 1 o fluxo da drenagem

da voçoroca. 3 e 4 nota-se os taludes íngremes e o 2 o perfil criado pelo abatimento da estrada.

1

2

3

4

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88

Figura 8: Perfil Longitudinal

Figura 9: Declividade

Os taludes da voçoroca têm declividade acima de 60%, muito íngremes com trechos de 45%

nas encostas. Nos topos das vertentes e no fundo do vale são mais suavizados.

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Figura 10: Fluxo de drenagem

A drenagem é o sistema responsável pela captação, manejo e condução das águas de chuvas

até o curso d’água.

De acordo com Guimarães (2010) direção de fluxo são os cálculos das áreas de maior

declividade, o fluxo é direcionado no meio ambiente, naturalmente. A água flui naturalmente pelo

caminho de menor esforço. Sendo assim, quanto maior a declividade existente, menor será o esforço

da água e desta forma, serão estes valores de célula na imagem gerada e selecionados como

caminhos das redes drenagem.

Figura 11: Acumulo de drenagem

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A dinâmica da voçoroca fez o escoamento superficial acumular em direção ao centro. Nota-se

na seta vermelha que a margem da estrada desprotegida criou um fluxo de drenagem concentrando

a água em direção a borda da voçoroca, intensificando o processo erosivo.

Na seta azul aponta os sulcos das ravinas. Ainda conforme Fendrich et al. (1997, p. 32) “a

erosão em sulcos, ou córregos, consiste essencialmente no desenvolvimento de pequenos canais,

nos quais o fluxo superficial se concentra”. Quando não controlado, esse escoamento tende a expandir

a área erodida, transformando os sulcos em ravinas e, posteriormente, em voçorocas. Modelo 3D

evidencia a mudança do relevo ocasionado pelo desenvolvimento da drenagem.

Figura 12: Imagem criada a partir do PDF 3D, compatível para ser aberto e analisado em qualquer computador.

5. Considerações Finais

O levantamento com drone permitiu gerar modelos digitais de elevação 3D, mostrando a

eficácia para estudo das voçorocas, que identifica vários aspectos físicos.

Abre a possibilidade de estudos sequenciais com finalidade de identificar a evolução do

processo erosivo, uma vez que esse levantamento tem um alto nível de detalhamento.

A utilização da tecnologia drone para atualização de base cartográfica diminui o problema de

defasagem temporal. Possibilita um mapeamento rápido, com uma boa resolução, muito vantajoso

para estudo em um trecho menor.

Referências

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Augustin C.H.R.R., Aranha P.R.A., Pires Fo . J.L. et al. 2005. Relatório Técnico-científico Final: Dinâmica Ambiental em Trópico Úmido, Espinhaço Meridional, MG. Projeto de Pesquisa, CRA 975/01, FAPEMIG. Belo Horizonte, MG, 362p. BACELLAR, L. de A. P. Processos de formação de voçorocas e medidas preventivas e corretivas. Ouro Preto: UFOP, 2006. CASSETI, V. Ambiente e apropriação do relevo. São Paulo: Contexto, 1991 CASSETI, Valter. Geomorfologia. [S.l.]: [2005]. Disponível em: <http://www.funape.org.br/geomorfologia/>. EMBRAPA. SOLOS. Relatório técnico e plano de monitoramento do projeto de recuperação de áreas degradadas. Rio de Janeiro, 2002. FURLANI, G. M. Estudo Geomorfológico das voçorocas de Casa Branca. FFLCH/USP, São Paulo, Dissertação de Mestrado, 1980. TEMBA, Plínio. Fundamentos da Fotogrametria. Departamento de Cartografia UFMG,2000. GUIMARÃES, A. A. Gestão dos recursos Hídricos. .Net. Disponível em: http://blog.geoprocessamento.net/2010/07/delimitacao-de-bacias-hidrograficas-e-a-extracaode-redes-de-drenagem/>.. Acesso em: 14 set. 2016. GUERRA, A.T. e GUERRA A.J.T. Dicionário Geológico-Geomorfológico. Editora Bertrand Brasil. Rio de Janeiro, 1997. SANTOS, D. R. Apostila de Fotogrametria I. Curitiba, 2009. Setor de Ciências da Terra, Universidade Federal do Paraná. https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/629509/recuperacao-de-vocorocas-em-areas-rurais http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/manual_nocoes/processo_cartografico.html

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REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA VARIABILIDADE ESPAÇO-TEMPORAL DA PLUVIOMETRIA

ACUMULADA MENSAL NA ÁREA URBANA DE JUIZ DE FORA-MG

GRAPHIC REPRESENTATION OF THE SPACE-TEMPORAL VARIABILITY OF MONTHLY

ACCUMULATED RAINFALL IN THE URBAN AREA OF JUIZ DE FORA-MG

Thayana Vandanezi do Nascimento

Campus da UFJF – Faculdade de Engenharia - NAGEA

Rua José Lourenço Kelmer, s/n – Martelos, CEP: 36036330

[email protected]

Demétrius Vasconcelos

Campus da UFJF – Faculdade de Engenharia - NAGEA

Rua José Lourenço Kelmer, s/n – Martelos, CEP: 36036330

[email protected]

Antoine Philippe Casquin

Campus da UFJF – Programa de Pós Graduação em Ecologia - NAGEA

Rua José Lourenço Kelmer, s/n – Martelos, CEP: 36036330

[email protected]

Lucas do Vale Souza

Campus da UFJF – Faculdade de Engenharia - NAGEA

Rua José Lourenço Kelmer, s/n – Martelos, CEP: 36036330

[email protected]

Cezar Henrique Barra Rocha

Campus da UFJF – Faculdade de Engenharia - NAGEA

Rua José Lourenço Kelmer, s/n – Martelos, CEP: 36036330

[email protected]

Resumo O estudo do comportamento da pluviosidade é de extrema importância, pois os principais desastres ambientais são consequência tanto do excesso quanto da escassez de chuva. O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a variabilidade espacial e temporal da pluviosidade na área urbana de Juiz de Fora e propor uma escala para representação pluviométrica, destacando que não foi encontrado nenhum tipo de proposta satisfatória para uma padronização cartográfica na representação deste tipo de distribuição. Para esse estudo foram calculadas as pluviometrias mensais acumuladas, período de janeiro de 2015 a dezembro de 2015, de 21 estações automáticas monitoradas pelo Centro Nacional de Monitoramentos e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), localizadas de forma não equânimes na área urbana do município de Juiz de Fora e nas cidades limítrofes. Após a obtenção dos dados, foi necessário fazer uma filtragem manual e um tratamento automático para uso em um Sistema de Informações Geográficas (SIG). Para o cálculo das pluviometrias acumuladas foi utilizado o software MATLAB. O cartograma temático foi gerado no software ArcGIS após interpolação dos dados. A representação gráfica proposta evidenciou bem a variabilidade temporal e espacial da pluviometria local. Palavras-chave: Pluviometria, cartografia temática, interpolação, sistema de informação geográfica.

Abstract The study of rainfall behavior is extremely important, the major environmental disasters often being

consequences of excess or shortage of rain. This study aims to display the spatial and temporal variability of

rainfall in the urban area of Juiz de Fora-MG and propose an innovative representation, highlighting that it was

not found any cartographic standard for this kind of representation. In this study, monthly accumulated rainfall

was computed between January 2015 to December 2015, for 21 automatic stations monitored by the National

Center of Monitoring and Alerts of Natural Disasters, CEMADEN, located in a not equitable way in the urban area

of Juiz de Fora, and in the neighboring cities. After retrieving the data, it was necessary to make a manual filtering

due to data flaws. Monthly accumulated rainfall was automatically computed with MATLAB software. The

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93

cartogram was generated in the ArcGIS software (v. 10.2.1), after data interpolation. The graphic representation

proposal showed well the temporal and spatial variability of local rainfall.

Keywords: Rainfall, thematic mapping, interpolation, geographic information system.

1. Introdução

A precipitação, segundo Pinto (1995), é a água proveniente do vapor d’água da atmosfera

depositada na superfície terrestre, e que se manifesta em forma de chuva, granizo, neblina, neve,

orvalho ou geada, sendo a atuação da chuva um dos elementos climáticos que exerce maior influência

sobre as condições ambientais. O conhecimento espaço-temporal da precipitação é fundamental para

o gerenciamento de recursos hídricos em bacias hidrográficas, além de dar suporte a estudos

meteorológicos, climatológicos e no monitoramento de riscos físico-ambientais.

A chuva é o tipo de precipitação mais importante em hidrologia e os principais desastres

ambientais são consequência tanto do excesso de água, que causam movimentos de massa e

enchentes, quanto da sua escassez, gerando problemas de abastecimento e interferindo em sua

qualidade, por isso é de extrema importância o estudo do comportamento pluviométrico. A

pluviosidade é a precipitação da água sobre a superfície e, sua quantidade e distribuição, só tem

significado quando associada à duração e frequência. A unidade básica usada para medida de

precipitação é o milímetro (mm), onde a pluviosidade de 1mm corresponde ao volume de 1 litro de

água de chuva que se acumulou sobre uma superfície de 1m2.

Para a proposta da padronização na representação cartográfica no mapeamento de

distribuição pluviométrica, foram utilizados dados de estações automáticas no período de janeiro de

2015 a dezembro de 2015, monitoradas pelo CEMADEN, a fim de gerar cartogramas temáticos. O

Centro Nacional de Monitoramentos e Alertas de Desastres Naturais, CEMADEN, foi criado em julho

de 2011, e tem como principal objetivo realizar o monitoramento e emitir alertas de desastres naturais

com o intuito de prevenir ou minimizar os efeitos referentes a esses eventos.

A área do estudo escolhida foi a área urbana do município de Juiz de Fora - Minas Gerais –

que está localizado na Unidade Serrana na Zona da Mata mineira, pertencente à Região Mantiqueira

Septentrional, de acordo com a PJF – Prefeitura de Juiz de Fora. Segundo Machado (2000), o tipo

climático predominante no município, conforme a classificação climática proposta por W. Köppen

(1900-1918) e tendo como base os dados coletados pela Estação Climatológica Principal da

Universidade Federal de Juiz de Fora (n° 83.692)/5° Distrito de Meteorologia (5° DISME – Belo

Horizonte) é o Cwa, ou seja, um tipo climático mesotérmico, que apresenta concentração destacada

das chuvas no período do verão, e verões quentes, tendo por definição, de acordo com Ayoade (1991),

“o seu mês mais quente com temperatura superior a 22°C”. Entretanto, a Lei Municipal 9.811/2000 -

Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano – PDDU (JUIZ DE FORA, 2000), baseada em médias

históricas oficiais para Juiz de Fora, afirma que a cidade apresenta uma sazonalidade bem definida,

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sendo a estação chuvosa de outubro a abril, com temperaturas mais elevadas e maiores precipitações

e a estação seca de maio a setembro, período mais frio e com menor presença de chuvas.

Figura 1: Mapa de localização do município de Juiz de Fora.

Torres (2006) cita que este clima também pode ser definido, genericamente, como Tropical de

Altitude, por corresponder a um tipo tropical influenciado pelos fatores altimétricos, em vista do relevo

local apresentar altitudes entre 700m e 900m (IBGE 1976), que contribuem para a amenização de

suas temperaturas.

Ainda conforme Machado (2000), o índice pluviométrico apresenta um valor médio anual em

torno de 1.539mm, sendo que as precipitações mais intensas ocorrem em janeiro, atingindo este mês

a maior precipitação média mensal, com cerca de 296mm.

Segundo estudos do Plano Diretor de Juiz de Fora (1996):

Uma das características do verão local, além dos elevados índices de calor e umidade, é a presença de chuvas de tipo convectivo, típicas de final da tarde e início da noite, acompanhadas de elevadas e concentradas precipitações pluviométricas. Com relação à distribuição dos deslocamentos de massas de ar, os dados mostram a presença marcante de ventos do quadrante norte. Esta característica, aliada à existência de uma depressão alongada ao longo do fundo de vale do Rio Paraibuna, com direção aproximadamente coincidente, forma um corredor preferencial de deslocamento de massas de ar que se dirigem para o centro urbano da cidade, localizado ao sul. Por outro lado, a existência de um relevo, cujos desníveis

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95

topográficos alcançaram mais de 200m, associada aos fatores antrópicos causados pela intensa urbanização, produziram microclimas diferenciados dentro do próprio Perímetro Urbano.

A proposta desse estudo teve como objetivo demonstrar a variabilidade espacial da

pluviometria na área urbana de Juiz de Fora e propor uma escala de representação pluviométrica.

Não foi encontrado nenhum tipo de proposição para uma padronização cartográfica na representação

deste tipo de distribuição.

2. Metodologia

No presente trabalho foram utilizados dados de precipitação acumulada mensal das estações

automáticas monitoradas pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais,

CEMADEN, no período de janeiro de 2015 a dezembro de 2015. Foram identificadas 34 estações não

distribuídas de forma equânime para o estudo, localizadas no município de Juiz de Fora, e nas cidades

limítrofes de Ewbank da Câmara, Chácara e Matias Barbosa. Desse total, 13 apresentaram ausência

parcial de dados, sendo desconsideradas para este estudo. Logo, foram utilizadas as informações de

dezesseis (16) pluviômetros com concentração na área urbana de Juiz de Fora, três (03) no município

de Matias Barbosa, um (01) no município de Chácara e um (01) no município de Ewbank da Câmara,

totalizando vinte e uma (21) estações de coleta de dados dos percentuais de chuva.

Além da identificação da ausência de dados de alguns meses em certos pluviômetros,

verificou-se ainda a necessidade da padronização da formatação dos dados coletados disponíveis.

Só no ano de 2015 havia três modelos diferentes de planilhas contendo milhares de leituras por

pluviômetro, além de planilhas com diferenças na ordem das colunas e nos separadores decimais,

com algumas células contendo ponto, vírgula e outras ponto e vírgula, tornando a filtragem, a

classificação e o processamento dos dados, uma árdua tarefa, impossibilitando de se realizar uma

filtragem simplificada para a obtenção dos dados finais.

Foi necessário realizar uma padronização com uso de diversos algoritmos, utilizando como

recurso o software MATLAB para calcular automaticamente as pluviometrias acumuladas mensais e

organizar os dados para importação no ambiente de um Sistema de informações Geográficas (SIG).

Os cartogramas temáticos foram gerados no software ArcGIS (v. 10.2.1), após interpolação

dos dados. O interpolador utilizado no presente estudo foi o Topo to Raster, baseado nos trabalhos

desenvolvidos por Hutchinson (2009), em seu algoritmo ANUDEM. Segundo Marcuzzo et al. (2011):

O programa interpola os dados de elevação em uma grade regular, de modo interativo,

gerando grades sucessivamente menores, minimizando a soma de penalização de

rugosidade (roughness penalty) e a soma dos quadrados dos resíduos (diferenças das

elevações medidas e calculadas pela função).

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Em seu estudo, Marcuzzo et al. (2011) lembra que a ferramenta Topo to Raster foi

desenvolvida para a criação de Modelos de Elevação Digital (DEM) hidrologicamente corretos.

Para uma melhor interpretação dos cartogramas foi desenvolvida uma legenda que

representasse ciclos sazonais de Juiz de Fora – MG no intervalo de um ano baseado em diversos

outros anos anteriores dos dados mensais na cidade.

Neste estudo foram utilizados os dados acumulados das 21 estações automáticas

possibilitando de forma compreensível a representação da variação sazonal e espacial da precipitação

pluvial.

Para a legenda, baseado nas quantidades máximas e mínimas de pluviosidade no município

durante o período, foi utilizado o método do intervalo igual como forma de representação oferecido

pelo software ArcGIS, que consiste na divisão do intervalo total dos valores dos atributos em

subintervalos iguais, assim, foram geradas 30 classes, fornecendo uma melhor representação da

distribuição pluviométrica no espaço. Essas classes foram divididas em intervalos que variaram de

5mm, para a pluviosidade de 0 a 30mm, de 10mm para a pluviosidade de 31 a 90mm, de 20mm para

a pluviosidade de 91 a 210mm, de 30mm para a pluviosidade de 211 a 390mm, e intervalos de 40mm

para a pluviosidade de 391 a 630mm. A escala de cores adotada na representação do cartograma

variou do dégradé de amarelo, para simbolizar os meses com menores quantidades de chuva, até

azul marinho, simbolizando os maiores valores acumulados no período.

Nas últimas décadas do século XX, com o aperfeiçoamento, disseminação e acesso das

ferramentas computacionais nas diversas ciências, ocorreu uma verdadeira revolução nas técnicas

cartográficas.

Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG), programas específicos para cartografia foram

desenvolvidos sob um novo conceito. Os elementos espaciais na cartografia temática são

representados por meio de documentos, sejam analíticos, sejam sintéticos, frutos do pensamento e

das escolhas conforme os critérios a serem estudados. Os produtos gráficos resultam da superposição

de níveis de informações que ocupam um mesmo espaço, na íntegra ou parcialmente, agregando-se

um peso ou um significado relevante ao estudo em questão.

A cartografia, quando traz significados além da trilogia latitude, longitude, altitude, se torna

mais rica em informações, logo lhe é atribuída a nomenclatura “temática”. A cartografia “temática” é

uma forma de representação dos resultados adquiridos através dos múltiplos dados associados ao

espaço analisado; é uma técnica para projetar no espaço qualquer noção ou ação que se torne

necessária representar espacialmente em forma de cartogramas, sem que necessariamente essa

noção ou ação faça parte de um sistema geográfico. (GEORGE, 1970).

A cartografia temática pode representar diferentes situações com ou sem expressão física no

espaço. Mesmo ideias abstratas podem ser representadas por meio de mapas, por exemplo, as áreas

de influência de uma indústria, a densidade populacional, a produtividade agrícola, dentre outras

possibilidades.

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97

Porém, o desconhecimento ou a inadequada utilização das propriedades dos símbolos

utilizados para traduzir visualmente os dados do cartograma pode transmitir informações errôneas e

confusas.

Para BERTIN (1967), a cartografia temática, como meio de representação, leva,

obrigatoriamente, o pesquisador a fazer escolhas. Principalmente ao que se refere a criação e/ou

estruturação de uma legenda específica, que necessita de propriedades comparáveis ao texto. São

necessários critérios bem definidos e adequados ao tema proposto. Logo, estes critérios precisam

categorizar e priorizar a inteligibilidade acessível capaz de fazer entender para transmitir a informação

desejada.

Esse processo se iguala ao da construção de um texto, onde o autor precisa pensar na

percepção do leitor. Além de avaliar os critérios escolhidos no contexto de cada especialidade, é

necessária também uma coesão com a lógica dos significados das informações a serem

representadas.

3. Resultados

De acordo com os dados das 21 estações automáticas do CEMADEN descritos na Tabela 1,

verificam-se diferentes quantidades de chuvas distribuídas ao longo do período considerado.

Os meses de junho, julho e agosto são os que apresentaram os menores valores de

pluviosidade, o que é característico no período de inverno na região de estudo. O mês de junho,

transição entre as estações de outono e inverno, é o que apresenta o menor valor de precipitação

acumulada, com a estação de Monte Castelo (JF) indicando o valor mínimo acumulado de 6mm, e

máximo de 43mm na estação de Santa Rita (JF).

Já o mês de novembro, que é o período de transição entre as estações de primavera e verão,

foi o que apresentou a maior quantidade de precipitação acumulada, com o valor mínimo de 171mm

na estação de Monte Castelo (JF) e máximo de 366mm na estação da Represa (JF). Os meses de

dezembro e janeiro são os subsequentes nos valores de máximos acumulados de chuva no período,

sendo característico da estação de verão na região.

De acordo com Machado (2000), o índice pluviométrico apresenta um valor médio anual em

torno de 1.539mm, sendo que as precipitações mais intensas ocorrem em janeiro, atingindo este mês

a maior precipitação média mensal, com cerca de 296mm. Porém, para o período estudado de janeiro

a dezembro de 2015, houve um comportamento fora do padrão calculado. O valor médio anual de

chuva das 21 estações consideradas foi de 2.170,3mm, ficando acima do valor da média esperada.

Já as precipitações mais intensas no ano de 2015 não ocorreram em janeiro, mas sim em novembro,

com média mensal de 255,7mm.

TABELA 1: Pluviometria mensal acumulada em 2015 nos pluviômetros da área urbana de Juiz de Fora e entorno.

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Nome Longitude

Latitude

ID Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

Centro (EC) -43,510 -21,551 312500201

140

174

232

35 58 21 20 54 112

107

228

327

Chapéu D Uvas (JF)

-43,506 -21,594 313670228

154

197

244

16 47 35 32 24 122

80 243

295

São Pedro (JF)

-43,408 -21,777 313670213

169

126

106

79 47 33 23 25 121

57 288

328

Aeroporto (JF)

-43,384 -21,793 313670214

68 114

101

54 51 17 23 23 122

57 273

272

Monte Castelo (JF)

-43,384 -21,744 313670218

102

75 109

36 24 6 22 25 114

22 171

236

Dom Bosco (JF)

-43,364 -21,770 313670223

144

103

163

31 52 34 28 24 130

64 249

259

Grama (JF) -43,353 -21,694 313670215

56 99 125

34 39 6 94 25 244

112

346

291

Figueiras (JF)

-43,325 -21,682 313670208

35 136

172

33 47 8 48 23 113

64 183

122

Centro (MB) -43,313 -21,868 314080302

154

77 128

42 36 11 15 13 95 34 311

180

Cedofeita (MB)

-43,313 -21,841 314080304

117

120

122

46 45 10 15 17 117

55 341

217

Monte Alegre (MB)

-43,312 -21,878 314080301

156

46 125

21 36 13 3 14 103

34 299

197

Filgueiras (JF)

-43,306 -21,667 313670209

74 132

194

43 49 9 36 29 119

60 257

202

Floresta (JF)

-43,285 -21,759 313670219

156

124

172

39 67 24 30 22 125

47 197

196

Centro (CH) -43,220 -21,672 311590401

85 129

180

47 48 19 38 21 113

35 187

266

Santa Efigênia (JF)

-43,357 -21,800 313670220

188

117

175

56 49 18 17 25 116

74 222

235

São Mateus (JF)

-43,347 -21,776 313670205

154

94 132

46 49 19 21 15 102

49 185

228

Lourdes (JF)

-43,327 -21,770 313670230

130

109

154

45 66 27 21 26 122

61 243

249

Santa Rita (JF)

-43,342 -21,733 313670201

77 110

140

20 55 43 48 24 100

38 205

182

Nova Era (JF)

-43,412 -21,709 313670204

84 119

167

36 45 7 42 16 107

51 311

198

Represa (JF)

-43,404 -21,684 313670224

162

118

179

50 45 8 40 32 122

75 366

252

Paula Lima (JF)

-43,488 -21,580 313670229

146

172

161

101

46 16 21 37 121

124

263

335

Fonte: Dados do CEMADEN (2016), cálculos e organização pelos autores.

Na legenda estão definidas 30 classes para uma melhor representação da distribuição

pluviométrica no espaço. Essas classes estão distribuídas em diferentes intervalos que variam de

5mm, 10mm, 20mm, 30mm e 40mm, conforme a Tabela 2.

TABELA 2

Classes e intervalos da legenda

Classes (mm) Intervalo (mm)

Quantidade de Classes

0-30 5 6

31-90 10 6

91-210 20 6

211-390 30 6

391-630 40 6

Total: 30

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Pelo cartograma temático, Figura 2, gerado através do interpolador Topo to Raster, no software

ArcGIS (v. 10.2.1), podemos confirmar que foi adequada a escolha de se fazer uma legenda com 30

classes, deixando seus intervalos bem definidos, conforme Tabela 2, conseguindo demonstrar

visualmente a informação desejada da variabilidade na distribuição espaço temporal de índices

pluviométricos na área urbana de Juiz de Fora, no período de janeiro a dezembro de 2015,

demonstrando nitidamente que os meses de abril a outubro, com cores em dégradé de amarelo, são

os que ocorreram uma menor quantidade de precipitações, caracterizando o período de seca, e os

meses de novembro a março, com cores em dégradé de azul, são os que indicaram as maiores

precipitações, caracterizando períodos úmidos, o que já era esperado segundo a classificação

climática proposta por W. Köppen (1900-1918).

Figura 2: Mapa de distribuição pluviométrica mensal do ano de 2015 no município de Juiz de Fora.

4. Conclusão

Ficou ratificada a classificação climática proposta por W. Köppen (1900-1918), que cita a

ocorrência de duas “estações” bem definidas. Os meses de abril a setembro são os de menor

pluviosidade, com destaque para o mês de junho com menor pluviosidade média, e para o mês de

setembro, com maior pluviosidade média (mês de transição), caracterizando uma estação de

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100

estiagem. Os meses que vão de outubro a março são os de maior pluviosidade, destacando segundo

cartograma nesse período, o mês de outubro com menor pluviosidade média e os meses de novembro

e dezembro, com maior pluviosidade média, caracterizando a estação chuvosa. Nesse estudo de caso

no ano de 2015, percebe-se uma atipicidade no mês de outubro que ficou com as tonalidades amarelo-

esverdeadas como os meses de seca.

O cartograma gerado conseguiu demonstrar, conforme proposto, a variabilidade sazonal e

espacial da pluviosidade na área urbana de Juiz de Fora durante o ano de 2015. Foi comprovado a

necessidade da utilização adequada das propriedades dos símbolos cartográficos, afim de representar

as diferenças espaciais e as quantidades com o objetivo de traduzir visualmente os dados espaciais

e temporais, facilitando o entendimento e a interpretação dos usuários.

Referências

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CENTRO NACIONAL DE MONITORAMENTO E ALERTAS DE DESASTRES NATURAIS (CEMADEN). Dados

Pluviométricos. Disponível em: < http://www.CEMADEN.gov.br/mapainterativo/#>. Acesso em: 10 set.de 2016.

GEORGE, P., Les méthodes de la Géographie. Paris: PUF, Coll. Que sais-je?, 1970.

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Disponível em: <http://ibge.gov.br/cidadesat/painel/historico.php?lang=_EN&codmun=313670&search=minas-

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HUTCHINSON, M.; XU, T.; STEIN, J. Recent Progress in the ANUDEM Elevation Gridding Procedure

Geomorphometry 2011. Anais...2011.

JUIZ DE FORA. Lei nº 9.811 de 27 de junho de 2000. Institui o plano diretor de desenvolvimento urbano de

Juiz de Fora. Disponível em: < http://www.jflegis.pjf.mg.gov.br/c_norma.php?chave=0000023630 >. Acesso em:

26 jul. 2016.

MARCUZZO, F. F. N.; ROCHA, H. M.; MELO, D. C. R. Mapeamento da precipitação pluviométrica no bioma

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MACHADO, P. J. O. Climatologia – “Notas de Aula”. Apostila 01S/00. UFJF, ICHL, DGEO. Disciplina:

Climatologia. 2000.

PINTO, F.A. Chuvas intensas no Estado de Minas Gerais: análises e modelos. 1995. Tese (Doutorado em

Engenharia Agrícola) -Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1995.

TORRES, F. T. P. Relações entre Fatores Climáticos e Ocorrências de Incêndios Florestais na Cidade de

Juiz de Fora (MG). Caminhos de Geografia v.7 (18), p.162-171. 2006.

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ESTUDO DA QUALIDADE DO AMBIENTE A PARTIR DE INDICADORES AMBIENTAIS: ESTUDO NA BACIA DE CONTRIBUIÇÃO DO CÓRREGO MATIRUMBIDE, JUIZ DE

FORA /MG

ENVIRONMENTAL QUALITY STUDY THROUGH OF INDICATORS: STUDY ON WATERSHED OF MATIRUMBIDE STREAM, JUIZ DE FORA/MG

Marcelle Gualtieri Honório Pechincha

PPGEO/UFJF – ICH – Sala B-III-03

Rua José Lourenço Kelmer, s/n – Campus Universitário

Bairro São Pedro – CEP: 36036-900 – Juiz de Fora – MG

E-mail: [email protected]

Ricardo Tavares Zaidan

Depto Geociências/UFJF – ICH – Sala B-III-03

Rua José Lourenço Kelmer, s/n – Campus Universitário

Bairro São Pedro – CEP: 36036-900 – Juiz de Fora – MG

E-mail: [email protected]

Resumo Com o intuito de contribuir para o planejamento da paisagem e futura mitigação de impactos em áreas urbanas, este trabalho teve como objetivo apresentar indicadores que caracterizassem a qualidade do ambiente, tendo como área de estudo a bacia de contribuição do Córrego Matirumbide, Juiz de Fora/MG. Para representar a qualidade ambiental, foram representadas espacialmente cinco variáveis que pudessem mostrar a realidade da paisagem local e a dinâmica urbana. Uma destas variáveis, o risco a ocorrência de escorregamentos, seria uma novidade em relação a representação da qualidade ambiental. Palavras–chave: Escorregamentos, Geoprocessamento, Riscos Ambientais

Abstract This study has the purpose to help planning and avoid future impacts in urban areas, and it has goal to use indicators that featured the environmental quality. The study area is Watershed Matirumbide Stream, in Juiz de Fora – Minas Gerais. To perform the environmental quality, it was represented in geographic space five variables that could show the reality at local landscape and the urban dynamics. One of this variables, the risk of landslides occurrence, would be a novelty regarding to environmental quality, lined on Nucci methodology (1998). Keywords: Environmental risks, Landslides, Geoprocessing.

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102

1. Introdução

Com o crescimento acelerado e com o adensamento populacional de centros urbanos,

percebe-se que ao longo das últimas décadas tais áreas não passaram por um processo infraestrutural

adequado, gerando problemas ambientais que afetam a população residente. O uso de indicadores

ambientais pode apresentar um panorama de reconhecimento dos principais problemas que uma

região apresenta, sendo assim uma alternativa para estudos espaciais e para tomada de decisão

pública. Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo tecer um quadro de indicadores

ambientais para a região contemplada pela Bacia de Contribuição do Córrego Matirumbide, no

município de Juiz de Fora/MG e, assim, criar um mapa síntese caracterizando a qualidade do ambiente

desta região, através da metodologia elaborada por Nucci (1998). Neste estudo foi inserida uma

variável ainda não estudada nesta metodologia, o risco a ocorrência de escorregamentos.

2. Material e Métodos

Para que o objetivo deste trabalho pudesse ser alcançado, foi necessário gerar mapas-base

de indicadores que pudessem representar a área de estudo, para que ao final, a síntese destes mapas

pudesse gerar um mapa com a qualidade do ambiente. Esta síntese foi feita de acordo com a

metodologia elaborada por Nucci (1998), pautada na Ecologia da Paisagem e no Planejamento da

Paisagem. Todos os dados foram gerados por meio do software SIG ArcGIS®.

O primeiro mapa a ser gerado foi o de densidade de cobertura vegetal arbórea, através de

imagens aerofotogramétricas de 2007, disponibilizadas pela prefeitura municipal, e a utilização da

ferramenta de densidade de Kernel. O mapa de densidade de cobertura vegetal arbórea prevê a

representação de qualquer espaço vegetado, dando real atenção à densidade da vegetação de

determinada área. Este mapa foi produzido através da interpolação de pontos em ambiente SIG,

sendo estes pontos plotados em áreas com vegetação, tanto públicas, quanto privadas.

O segundo mapa a ser gerado foi o de espaços livres de edificações, através de imagens

aerofotogramétricas e o auxílio de visitas em campo. Com a delimitação das áreas via SIG, foram

consideradas como um indicador de alta qualidade os espaços livres com mais de 5m² por habitante

(NUCCI, 1998). Para a caracterização destas áreas foram consideradas todas nas quais fossem

públicas e que não houve nenhum tipo de adensamento de domicílios, estabelecimentos comerciais

e indústrias, além de vias públicas que estiveram inseridas no perímetro urbano.

O terceiro mapa a ser gerado foi o de densidade populacional, através dos dados coletados

pelo Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2010) e o uso da delimitação regional de “bairros”,

denominada região urbana. Os valores de densidade populacional utilizado como ideais foram os

considerados abaixo de 100 hab/ha.

O quarto mapa a ser gerado foi o de densidade de renda, através dos dados coletados pelo

Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2010) e, assim como para o mapa anterior, o uso da delimitação

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103

das regiões urbanas. A representação da densidade populacional foi efetuada seguindo o critério

estabelecido por Nucci (1998). Áreas com maiores valores de rendimentos mensais por domicílios

foram consideradas áreas com melhores condições infraestruturais, assim como as áreas com

menores rendimentos mensais com piores condições infraestruturais.

O quinto mapa a ser gerado foi o de risco a ocorrência de escorregamentos, a partir do

cruzamento de dois mapas: o primeiro elaborado em ambiente SIG, através do uso de dados

secundários sobre o terreno e, assim, da geração do mapa de probabilidade a escorregamentos,

através do modelo SINMAP (PACK et al, 1998), e o segundo pela geração de um mapa de cobertura

da terra, através de metodologia elaborada pelo IBGE (2006). A ponderação dos dois mapas na

sobreposição se deu em 50% para cada uma delas. Além disso, as classes dos mapas foram

valorados de 1 a 9, de acordo com o grau de risco, do menor para o maior (Tabela 1). Este mapa é

importante para destacar áreas inapropriadas à construção de moradias, como áreas de encostas que

não apreciam um terreno estável e têm maior chances da ocorrência de acidentes.

TABELA 1

Valores de classes para sobreposição e criação do mapa de risco à ocorrência de escorregamentos.

Mapa Classes Valores ponderados Instabilidade Alta instabilidade 9 Média instabilidade 8

Baixa instabilidade 7 Uso, ocupação e cobertura da Corpos d'água 1 terra Área edificada 9 Vegetação rasteira 3 Solo exposto 7 Vegetação arbórea 1 Vegetação mista 1 Uso agrícola 5

Por fim, todos os mapas-base citados anteriormente foram sobrepostos um a um para ser

gerado o mapa-síntese de Qualidade Ambiental, através de ambiente SIG. Este mapa apresentou

valores negativos para cada região urbana contida na bacia em estudo. Para cada mapa-base que

apresentasse alguma condição negativa para a área, foi atribuído um valor negativo.

3. Resultados e Discussão

Os resultados das sobreposições podem ser visualizadas na figura 1. O primeiro mapa

corresponde a sobreposição dois primeiros mapas: o de cobertura vegetal arbórea e o de espaços

livres de edificações. Áreas com duas atribuições negativas significam que não apresentaram espaços

livres públicos e presença de vegetação. Já o segundo mapa representa a primeira sobreposição

adicionada ao mapa de densidade populacional, onde áreas com três atributos negativos teriam, além

das características citadas, a presença de alta densidade (acima de 100hab/ha). O terceiro mapa

representa a segunda sobreposição adicionada ao mapa de densidade de renda. As áreas com quatro

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atributos negativos teriam, além das características já citadas, a baixa densidade de renda. Estes três

mapas de sobreposição adicionada ao mapa de risco a escorregamentos gerou o mapa síntese de

Qualidade Ambiental, visualizado em destaque à direita. As áreas com cinco atributos negativos

representam todas as características já citadas além das as áreas com alto risco a ocorrência de

escorregamentos.

Figura 1: Mapas-base (densidade vegetal arbórea, espaços livres de edificações, densidade populacional, densidade de

renda e risco a ocorrências de escorregamentos) e respectivas sobreposições (à esquerda) e mapa-síntese da Qualidade Ambiental (à direita).

O mapa síntese representou a espacialização de áreas que mostram maior necessidade de

apoio. Identificou-se que 8% da área de estudo foi caracterizada por conter todos os atributos

negativos; 25% da área foi caracterizada por ter quatro atributos negativos; 38% da área foi

caracterizada por ter três atributos negativos, 16% da área foi caracterizada por ter a presença de dois

atributos negativos, 12% da área foi caracterizada por ter a presença de, pelo menos, um atributo

negativo e 1% de toda a bacia foi caracterizado por apresentar ausência de atributos negativos.

Pode-se perceber que as áreas com menor qualidade do ambiente estão concentradas na

porção leste da área de estudo. Importante destacar que esta região é a área com maior risco a

escorregamentos e configura como a região mais pobre, devido aos resultados do indicador de

densidade de renda e mais populosa, de acordo com o indicador de densidade populacional. Áreas

com alta densidade populacional (porção sul da bacia) está mais próxima ao centro urbano do

município e as áreas com alta densidade de renda estão contidas em porções do terreno mais

estáveis. Áreas a montante são menos adensadas e a conformação do terreno, mesmo com alta

probabilidade a ocorrência de escorregamentos, não criou a presença do alto risco. Porém são áreas

que merecem atenção para que possa evitar um futuro adensamento.

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4. Conclusões

Um dos pontos de contrariedade entre as regiões de melhor e pior qualidade ambiental está

atrelada a condição de renda. Identificando que a condição de renda está relacionada ao poder para

escolher locais de moradia, conclui-se que a maior discrepância no resultado da qualidade ambiental

é devido à condição de renda e a escolha de áreas com melhores condições para se viver. Portanto,

a inserção de um atributo ainda não utilizado em trabalhos anteriores de Qualidade Ambiental, como

o risco a ocorrência de escorregamentos, representa áreas onde as condições de moradias são, na

maioria dos casos, incondizentes com a estabilidade do terreno, gerando risco e caracterizando de

forma contudente áreas que necessitam de planejamento e maior monitoramento.

5. Referências

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manual técnico de uso da terra. 2A ed. Manuais técnicos em Geociências, número 7. Rio de Janeiro, 2006. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sinopse do Censo Demográfico de 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default_sinopse.shtm. Acesso em 18 Out 2012. NUCCI, J. C. Metodologia para a determinação da qualidade ambiental urbana. Revista do departamento de Geografia, número 12, 209 –224, 1998. PACK R.T., TARBOTON D.G., GOODWIN C.N.. Terrain stability mapping with SINMAP, technical description and users guide for version 2.00. Report Number 4114-0, Terratech Consulting Ltd., Salmon Arm, Canada, 1998. (68 p.).

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EVOLUÇÃO TEMPORAL E ESPACIAL DO USO, OCUPAÇÃO E COBERTURA DA TERRA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO TAPERA (JUIZ DE FORA-MG)

EVOLUTION TEMPORAL AND SPATIAL USE OF OCCUPATION AND LAND COVER IN STREAM

BASIN TAPERA (JUIZ DE FOR A-MG)

Bruno de Jesus Fernandes

Universidade Federal de Juiz de Fora

Rua José Lourenço Kelmer; s/n. Campus Universitário 36036-330, Juiz de Fora - MG

E-mail: [email protected]

Rômulo Montan Costa Universidade Federal de Juiz de Fora

Rua José Lourenço Kelmer; s/n. Campus Universitário 36036-330, Juiz de Fora - MG

E-mail: [email protected]

Gustavo Amaral Barbosa Universidade Federal de Juiz de Fora

Rua José Lourenço Kelmer; s/n. Campus Universitário 36036-330, Juiz de Fora - MG

E-mail: [email protected]

Ricardo Tavares Zaidan Universidade Federal de Juiz de Fora

Rua José Lourenço Kelmer; s/n. Campus Universitário 36036-330, Juiz de Fora - MG

E-mail: [email protected]

Resumo Nas últimas décadas ocorreu em Juiz de Fora um forte processo de crescimento urbano que, em grande parte,

aconteceu de forma caótica e está associado a inúmeras problemáticas como os processos de escorregamentos

nas áreas urbanas e consequentemente têm elevado significativamente o número de ocorrências que trazem

enormes prejuízos econômicos, e, com frequência, levam à perda de muitas vidas. Desta forma, o objetivo

central deste estudo foi interpretar o crescimento urbano na Bacia Hidrográfica do Córrego Tapera (BHCT) entre

os anos de 1968 e 2007 a partir da evolução temporal e espacial do uso, ocupação e cobertura da terra. Para a

execução deste estudo foram utilizados os mapas de uso, ocupação e cobertura da terra dos anos de 1968 e

de 2007, elaborados a partir dos levantamentos aerofotogramétricos cedidos pela Prefeitura de Juiz de Fora.

Como resultado foi encontrado a evolução do crescimento urbano da BHCT, entre 1968 e 2007, principalmente

em direção às encostas das porções norte e sudeste, que em sua maior parte são áreas que apresentam

incongruência de uso devido ao conflito entre a declividade e a não conformidade com a legislação vigente.

Palavras-chave: bacia hidrográfica do Córrego Tapera; crescimento urbano; uso, ocupação e cobertura da

terra.

Abstract In recent decades occurred in Juiz de Fora a strong process of urban growth that largely happened chaotically

and is associated with numerous problems such as landslides processes in urban areas and consequently have

significantly increased the number of occurrences that bring huge economic losses, and often lead to the loss of

many lives. Thus, the main objective of this study was to interpret the urban growth in the Basin Stream Tapera

(BHCT) between 1968 and 2007 from the temporal and spatial evolution of the use, occupation and land cover.

For the execution of this study were used the maps to use, occupation and land cover the years 1968 and 2007,

prepared from aerophotogrammetric surveys assigned by the Juiz de Fora City Hall. As a result found the

evolution of urban growth BHCT between 1968 and 2007, particularly towards the slopes of the northern and

southeastern portions, which mostly are areas with incongruity of use due to the conflict between steepness and

non-compliance with current legislation.

Keywords: watershed stream Tapera; urban growth; use, occupation and land cover.

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1. Introdução

Historicamente, a relação do homem com as condições do meio ambiente tem sido conflituosa.

Durante muitos séculos tais condições se mantiveram em limites aceitáveis sem causar impacto

ambiental significativo. Sabe-se, entretanto, que décadas de ações nocivas ao meio ambiente

mascaradas pelo tão aclamado desenvolvimento e progresso (pós-revolução industrial), nos remetem

ao atual panorama, que bem pode ser chamado de catastrófico (GUERRA e CUNHA, 1998).

Neste contexto, o quadro de exclusão territorial e degradação ambiental de nossas cidades,

além de submeter a maioria da população a uma inserção precária e vulnerável, gera graves situações

de risco de morte por ocasião dos períodos chuvosos mais intensos, atingindo principalmente os

habitantes das favelas e loteamentos inadequados instalados nas encostas de morros urbanos e em

baixadas junto às margens de cursos d’água (IPT, 2006).

Desta forma, o uso indiscriminado do solo urbano, que não leva em conta os limites e riscos

impostos pela natureza, tem sido responsável pelo surgimento de vários processos de movimentos

de massa que, além de causarem prejuízos econômicos, têm comprometido a qualidade da vida da

população e levado à perda de vidas humanas em várias partes do mundo (FERNANDES et al., 2001).

O município de Juiz de Fora localiza-se na Zona da Mata Mineira, inserido no contexto dos

“mares de morros”. Registra-se com certa frequência a ocorrência de alguns tipos de movimentos de

massa, muitos deles, com danos associados, tanto em termos econômicos quanto em perda de vidas.

A área escolhida para este estudo refere-se à Bacia Hidrográfica do Córrego Tapera (BHCT),

por se tratar de uma área com importância considerável nos processos de vertente (Erosão e

movimentos de massa) dentro do município.

Devido ao elevado número de ocorrências de escorregamentos nesta bacia, e de sua

importância como via de ligação de Juiz de Fora para outros municípios da microrregião da Zona da

Mata (Ubá, Rio Pomba e Viçosa) e pela falta de estudos relevantes na mesma, torna-se importante o

desenvolvimento do presente trabalho.

Desta forma, o objetivo central deste estudo foi interpretar o crescimento urbano na Bacia

Hidrográfica do Córrego Tapera (BHCT) entre os anos de 1968 e 2007 a partir da evolução temporal

e espacial do uso e ocupação da terra.

2. Área de Estudo

A BHCT está situada na região nordeste da área urbana do município de Juiz de Fora, na bacia

do médio Paraibuna, que, por sua vez, pertence à bacia do rio Paraíba do Sul contando com uma área

de 5 km², contendo uma população aproximada de 25 mil habitantes. Situada na região da Mantiqueira

Setentrional, em específico na área das Serranias da Zona da Mata Mineira, a BHCT faz parte do

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mosaico que compõe o domínio de “mares de morros” (PJF, 2004). Além disso, localiza-se a

aproximadamente 200 km da cidade do Rio de Janeiro através da rodovia BR 040 e a 262 Km de Belo

Horizonte, capital do estado (Figura 1).

Com relação ao histórico de ocupação, os bairros Eldorado e Santa Terezinha (áreas de

planície do córrego do Tapera) apresentam uma ocupação mais antiga, ao passo que na vertente do

Bairro Vale dos Bandeirantes, o processo é mais recente e ocorre expandindo-se em direção as

encostas mais próximas, onde as declividades são mais acentuadas. Até meados da década de 1960,

os limites da mancha urbana não ultrapassavam a Garganta do Dilermando, via que liga a região

nordeste com o centro do município (PJF, 2004).

FIGURA 1: Mapa de Localização da Bacia Hidrográfica do Córrego do Tapera (Juiz de Fora – MG).

A bacia hidrográfica em questão encontra-se associada a vertentes que apresentam um

considerável desnível altimétrico (230m), sendo o ponto mais alto 900m e o ponto de menor altitude

situado na cota de 670m. Esta característica atribui uma grande influência na alta incidência dos

escorregamentos na bacia, principalmente aliado a convergência do fluxo d’água resultando no

aumento da energia e velocidade da água ao longo da encosta durante os eventos chuvosos.

Portanto, é uma bacia hidrográfica que apresenta constantes registros de ocorrências de

escorregamentos e intensa intervenção de caráter antrópico com destaque para: desmatamento

voltado à pastagem e a atividades relacionadas à agricultura familiar; corte e aterro de encostas feitas

de forma inadequada.

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3. Metodologia

3.1. Elaboração das Cartas de Uso e Ocupação e Cobertura da Terra

Para a elaboração das cartas de uso e ocupação da terra e cobertura vegetal foram feitas

classificações por interpretação visual do mosaico de imagens aerofotogramétricas da BHCT dos

levantamentos de 1968 e 2007 cedidos pela prefeitura de Juiz de Fora.

O processo de vetorização das classes foi feito manualmente – através da ferramenta “edição

de polígonos” do software de geoprocessamento ArcGIS. Tal procedimento foi utilizado devido a

possível ocorrência de erros e problemas na geração das classes do mapa, caso fosse feito de forma

automatizada. Para a determinação das classes de cobertura e uso da terra foi utilizado como

referência o Manual de Uso da Terra, (IBGE, 2006). Diante da utilização do mosaico de imagens,

foram definidas as seguintes classes de uso e ocupação da terra: áreas edificadas, que representam

os locais com consolidação da ocupação urbana; área de cultivo, que constituem pequenas plantações

de cultivo familiar; gramíneas, áreas que compuseram cobertura vegetal arbórea pretérita, mas, que

devido ao uso extensivo, deram lugar à agricultura e pecuária; vegetação mista (capoeira), composta

por vegetação de porte médio (rasteira, arbustiva e arbórea espaçada); floresta estacional

semidecidual (vegetação Arbórea), a qual é oriunda da Mata Atlântica, além de solo exposto e cursos

d’água.

4. Resultados e Discussão

4.1. Uso, ocupação e cobertura da terra (1968)

A Bacia Hidrográfica do Córrego Tapera (BHCT) tem 5km² de extensão territorial sendo estes

compreendidos entre as seguintes formas de uso e ocupação no ano de 1968: área edificada, área

de cultivo, capoeira, curso d’água, floresta estacional semidecidual, gramíneas e solo exposto (Figura

2).

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FIGURA 2: Figura representando o uso, ocupação e cobertura da Terra da Bacia Hidrográfica do Córrego Tapera (1968).

No que se refere ao uso, ocupação e cobertura da terra de 1968, a BHCT é caracterizada por

um percentual de 17,57% de áreas edificadas, sendo esta ocupação concentrada na porção sul e

sudoeste.

A porção sul da BHCT compreende o bairro Santa Terezinha, ocupação mais antiga que está

relacionada a morfologia predominante de planície e a questão da proximidade da área central de Juiz

de Fora (aproximadamente 3 km do Parque Halfeld).

Já a porção sudoeste da BHCT compreende o bairro Eldorado que apresenta morfologia

caracterizada por planícies e morros, porém com declividades variando entre 15 e 30%.

Outros destaques são os percentuais de gramíneas (51,75%) e de solo exposto (9,1%) nas

porções centro-norte e leste da BHCT o que evidencia uma expansão urbana (área edificada) futura,

o que se concretizou ao observarmos o mapa de uso, ocupação e cobertura da terra de 2007. Além

da expansão das áreas edificadas, este percentual significativo de gramíneas e solo exposto tem

relação com o declínio da economia cafeeira na zona da mata mineira. De forma inversamente

proporcional temos um baixo percentual de Floresta Estacional Semidecidual (0,82%) e de capoeira

(18,63%) corroborando a devastação promovida pela cultura cafeeira.

4.2. Uso, ocupação e cobertura da terra (2007)

Já em 2007 o uso e ocupação nos 5 km² de área da bacia em estudo sofreu modificações

sendo percebidas as seguintes classes: áreas edificadas, área de cultivo, gramíneas, vegetação mista

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(capoeira), floresta estacional semidecidual (vegetação arbórea), solo exposto e cursos d’água (Figura

3).

No que se refere ao uso, ocupação e cobertura da terra de 2007, a Bacia Hidrográfica do

Córrego Tapera (BHCT) é caracterizada por uma ocupação bastante adensada, principalmente na sua

porção centro-sul. A classe área edificada (47,34) é configurada por uma heterogeneidade entre

assentamentos subnormais/precários, ou seja, ocupações inadequadas e até mesmo invasões,

convivendo com moradias de médio e alto padrão.

Além do significativo percentual de área edificada na BHCT, cabe destacar a presença de

33,18% de vegetação rasteira (gramíneas) que sofrem pressão por parte da especulação imobiliária

para fins de moradia e 5,44% de floresta estacional semidecidual (vegetação arbórea) preservada

devido à proximidade com a Mata do Krambeck, porém sem a devida proteção pela legislação vigente.

Desta área, 291,9 hectares foram decretados Área de Proteção Ambiental (APA) em 1993, através da

lei estadual nº 11.336, sendo o Instituto Estadual de Florestas o órgão responsável pela sua gestão.

FIGURA 3: Figura representando o uso, ocupação e cobertura da Terra da Bacia Hidrográfica do Córrego Tapera (2007).

Segundo Geertsema e Pojar (2014), o uso e ocupação da terra foi utilizado recentemente como

fator predisponente em estudos de avaliação da susceptibilidade e é considerado um fator importante

de instabilidade em áreas propensas aos escorregamentos, principalmente em áreas que evidenciam

a presença de atividade humana, como os cortes nas encostas e supressão da vegetação arbórea em

detrimento da vegetação rasteira. Este panorama vem ocorrendo na bacia hidrográfica do córrego

Tapera como podemos verificar nas figuras a seguir (Figuras 4 e 5).

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FIGURA 4: Cortes de terreno e pontos de escorregamentos no bairro Quintas da Avenida.

FONTE: do autor, 2015.

FIGURA 5: Cicatriz de escorregamento (pontilhado na cor amarela) no bairro Vale dos Bandeirantes. FONTE: do autor,

2015.

4.3. Análise comparativa do uso, ocupação e cobertura da terra entre os anos de 1968 e 2007

Os resultados obtidos a partir da análise do crescimento urbano mostraram que no período

entre 1968 e 2007, a área edificada da BHCT aumentou de 878,5 m² (17,57%) da área total da bacia

hidrográfica para 2.367 m² (47,34%), isso significa um aumento percentual de aproximadamente 270%

em relação ao período anterior. Cabe destacar que a área edificada em 1968 é caracterizada por uma

ocupação bastante concentrada na sua porção centro-sul, principalmente nas áreas de planície que

correspondem ao bairro de Santa Terezinha. Já no ano de 2007 observa-se um crescimento

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expressivo em direção à porção centro-norte da bacia, seguindo as margens do córrego Tapera e nas

encostas da referida bacia, com destaque para os bairros do Vale dos Bandeirantes, Vivendas da

Serra, Bom Clima e Quintas da Avenida.

Outro ponto de destaque foi a diminuição expressiva das áreas de solo exposto e gramíneas

que deram lugar às áreas edificadas.

No caso do solo exposto, em 1968 correspondiam a 9,10% e estava associado à exaustão do

solo devido a prática do cultivo de café na área. Já em 2007 verificou-se apenas 0,12%, relacionados

a especulação imobiliária.

Já as áreas de gramíneas, em 1968, correspondiam a 51,75% e, em 2007, diminuíram para

33,18%.

Por outro lado, os percentuais de Floresta Estacional Semidecidual e Capoeira aumentaram

entre os anos de 1968 e 2007. A explicação para tal panorama reside no fato da proximidade e

extravasamento da Área de Preservação Permanente da Mata do Krambeck, criada em 1993, através

da lei estadual nº 11.336, estando sua gestão atualmente vinculada a Universidade Federal de Juiz

de Fora (UFJF). Tal Área de Preservação Permanente margeia as porções oeste e noroeste da BHCT.

Outros pontos de Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Mista (Capoeira) estão situados

ao norte da BHCT, mais precisamente na encosta que divide os bairros Bandeirantes e Parque

Guarani, sendo observado que nesta área as declividades acentuadas das encostas foram um fator

preponderante para aumento da cobertura vegetal nessas três décadas e fator limitador para a

ocupação (áreas edificadas).

A Figura 6, reproduzida abaixo, busca de forma resumida e comparativa, demonstrar a

evolução das classes e a evolução temporal (1968 e 2007) do uso, ocupação e cobertura da terra na

Bacia Hidrográfica do Córrego Tapera, Juiz de Fora – MG.

FIGURA 6: Gráfico e quadro demonstrando as classes e a evolução temporal (1968 e 2007) do uso, ocupação e cobertura

da terra na Bacia Hidrográfica do Córrego Tapera, Juiz de Fora – MG.

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5. Considerações finais

As ocupações na Bacia Hidrográfica do Córrego Tapera datam de meados do século passado,

tendo gerado entre os anos de 1980 e 1990 um crescimento expressivo de aproximadamente 18 mil

habitantes, chegando aos atuais 25 mil habitantes, implicando em ocupações desordenadas e

negligentes nas encostas, uma vez que as áreas de difícil acesso e sem infraestrutura básica dos

morros e morrotes foram recebendo a população excedente das áreas centrais da cidade, ou melhor,

a classe menos favorecida deslocada para as áreas tidas como periféricas. Além desta explicação, é

importante salientar que este fenômeno se dá devido à necessidade criada pela população de ocupar

áreas periféricas e próximas a região central e comercial da cidade, onde existe a maior parte dos

empregos.

No que tange ao uso e ocupação da BHCT, esta caracteriza-se essencialmente residencial e

comercial sem uso industrial e é a responsável pela forte pressão de ocupação e começa a avançar

sobre as demais classes de uso como as áreas de floresta estacional semidecidual.

Comparando-se os mapas de uso, ocupação e cobertura da terra dos anos de 1968 e 2007,

observa-se que houve um aumento significativo da área urbanizada em direção as porções norte e

sudeste da BHCT.

Por fim, é notória a necessidade de estudos mais aprofundados sobre a dinâmica e produção

do espaço urbano, pois é evidente a atuação dos gestores municipais na tentativa de controlar e/ou

impedir a expansão urbana para locais inadequados. Porém, a ocupação se dá de maneira muito mais

acelerada, potencializando e acelerando processos naturais, porém negativos para a população.

Desta forma, se faz necessária a adoção de medidas eficazes a fim de que se possa orientar a

ocupação de novas áreas que ainda não representem risco a população e uma possível readequação

das áreas já ocupadas.

Referências

FERNANDES, N. F. GUIMARÃES, R. F. GOMES, R. A. T. VIEIRA, B. C. MONTGOMERY, D. R. GREENBERG, R. Condicionantes Geomorfológicos dos Deslizamentos nas Encostas: Avaliação de Metodologias e Aplicação de Modelo de Previsão de Áreas Susceptíveis. Revista Brasileira de Geomorfologia, V. 2, Nº 1, 2001, p. 51-71.

GEERTSEMA, M. POJAR, J.J. Influence of landslides on biophysical diversity — A perspective from British Columbia. Geomorphology. N°.89, 2007, p. 55–69. Disponível em: 02 de junho de 2014.

GUERRA, A. J. T. & CUNHA, S. B. Geomorfologia: uma Atualização de Bases e Conceitos. 3 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

IBGE. Manual Técnico de Uso da Terra/ Coordenação de Recursos Naturais e Estudos Ambientais. – 2. ed. - Rio de Janeiro: IBGE, 2006. 171p.

INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS (IPT). Curso de capacitação, mapeamento e gerenciamento de risco. Brasília DF: 2006.

PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Plano Diretor de Desenvolvimento de Juiz de Fora - Diagnóstico. Juiz de

Fora, 2004.