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MAPEAMENTO TEMÁTICO PARA SUPORTE À TOMADA DE DECISÃO: BACIA DO RIO DOCE APÓS ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE FUNDÃO.
Fernanda Alice Ferreira Gonçalves Henrique de Araújo Brantes
Projeto de Graduação apresentado ao
Curso de Engenharia Ambiental da
Escola Politécnica, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do
título de Engenheiro Ambiental.
Orientador:
Prof. Fernando Rodrigues Lima, D. Sc.
Rio de Janeiro
Março de 2016
MAPEAMENTO TEMÁTICO PARA SUPORTE À TOMADA DE
DECISÃO: BACIA DO RIO DOCE APÓS ROMPIMENTO DA
BARRAGEM DE FUNDÃO.
Fernanda Alice Ferreira Gonçalves
Henrique de Araújo Brantes
PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE
ENGENHARIA AMBIENTAL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO AMBIENTAL.
Examinado por:
Prof. Fernando Rodrigues Lima, D. Sc.
Profª Angela Maria Gabriella Rossi, D.Sc.
Profª Gisele Silva Barbosa, D.Sc.
RIO DE JANEIRO, RJ BRASIL
MARÇO DE 2016
iii
Brantes, Henrique De Araujo; Gonçalves, Fernanda Alice
Ferreira
Mapeamento Temático Para Suporte À Tomada De
Decisão: Bacia Do Rio Doce Após Rompimento Da
Barragem De Fundão/ Fernanda Alice Ferreira
Gonçalves/ Henrique De Araujo Brantes – Rio de Janeiro:
UFRJ / Escola Politécnica, 2016.
x, 106 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Prof. Fernando Rodrigues Lima, D. Sc.
Projeto de Graduação – UFRJ / POLI / Engenharia
Ambiental, 2016.
Referências: 97-105 p.
1. Geoprocessamento. 2. SIG. 3. Bacia do Rio Doce.
4. Barragem de Fundão
I. Lima, Fernando Rodrigues. II. Universidade Federal
do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de Engenharia Ambiental.
III. Mapeamento Temático Para Suporte À Tomada De
Decisão: Bacia Do Rio Doce Após Rompimento Da
Barragem De Fundão
iv
AGRADECIMENTOS – Fernanda Gonçalves
Agradeço primeiramente a todos os amigos que fiz na UFRJ. A certeza que tenho
hoje é que essa monografia não existiria sem o apoio diário e a amizade de todos
com quem compartilhei meus anos acadêmicos. Em especial agradeço a Ana Beatriz
Pradel, Raphaela Paiva e Emelay Bispo. Nunca esquecerei todos os momentos que
compartilhamos juntas em salas de aula, festas ou bandejões, extraindo alegrias
mesmo nas dificuldades.
Agradeço também a todos os amigos que construí ao longo da vida, no colégio, no
intercâmbio, no trabalho ou em situações inusitadas, todos que me deram força
enviaram pensamentos positivos ou contribuíram de alguma forma para finalização
deste trabalho. Cada um de vocês que não aguentava mais ouvir falar da minha
monografia, obrigada pela paciência e pela amizade carrego todos no coração. Em
especial agradeço a Marina Azevedo, Ana Beatriz Fernandes, Kate Antoniazzi
Gonçalves, Gabriela Gonzaga e Pedro Simões.
Também agradeço ao Prof. Fernando pela oportunidade de ser monitora da matéria
de SIG onde o interesse para desenvolvimento deste trabalho foi despertado.
Obrigada por ter sido o orientador deste projeto de graduação e pelo suporte ao longo
do tempo.
À minha dupla de projeto de graduação Henrique Brantes agradeço imensamente
pela parceria. Só nós sabemos o quanto esse projeto deu trabalho e sou muito grata
pela parceria e amizade. Sinto que produzimos algo muito melhor juntos do que
havíamos imaginado.
Por último, porém mais importante, agradeço a minha família pelo apoio e paciência
nestes longos anos de faculdade. Ao meu irmão Felipe, pela ajuda nas matérias que
tive dificuldade e por todas as conversas sobre a vida, minha admiração por sua
inteligência e paciência é infinita. A minha vó, que infelizmente não pôde presenciar a
conclusão deste curso deixo o meu agradecimento por todo amor e fé que sempre
depositou em mim, obrigada vó Sibal. E ao meu pai João agradeço o apoio, o carinho
e as oportunidades que me proporcionou, sou uma pessoa melhor hoje por isso e há
uma parte de você em tudo aquilo que faço de bom.
v
AGRADECIMENTOS – Henrique Brantes
Graduar em engenharia pela UFRJ vai além dos anos cursados na universidade. É
resultado de um projeto que teve início antes mesmo de eu desbravar a profunda
complexidade das ciências exatas e das ciências humanas. Dessa forma, gostaria de
primeiramente agradecer às pessoas que fizeram parte dessa caminhada por todos
esses anos.
À minha mãe, Junilda, por todo carinho, por sempre incentivar meus estudos e por me
servir como um exemplo de dedicação devido à enorme atenção à nossa família. Sem
dúvidas isso foi algo fundamental para as minhas conquistas acadêmicas.
Ao meu pai, Homero, por sempre estar presente e por me servir como exemplo em
razão da compreensão e caridade dedicada às pessoas a nossa volta.
À minha irmã, Carolina, por toda amizade e companheirismo. Desejo que sigamos
dessa forma ainda por muitos anos.
Aos meus amigos do círculo pessoal. Incluo aqui toda a minha grande família e todos
aqueles com quem construí fortes lanços ao longo dos anos. Seria impossível citar
cada um de vocês, mas vocês de alguma forma participaram dessa caminhada.
Gostaria de agradecer pelo carinho, amizade e pela compreensão nos momentos que
tive que me ausentar para me dedicar a compromissos acadêmicos.
Aos meus amigos da UFRJ, em especial do Ciclo básico, da Engenharia Ambiental e
Engenharia Civil. Gostaria de agradecer por todos os momentos nessa grande
aventura que embarcamos juntos. Obrigado pelas risadas, viagens, almoços no
bandejão, e pelos bons fins de semana. Agradeço minha dupla de projeto final
Fernanda Alice pela amizade e desejo que possamos repetir essa grande parceria
novamente.
Aos meus professores. Estendo esse agradecimento a todos os professores, do nível
escolar ao nível acadêmico, que me mostraram novas formas de enxergar o mundo.
Em especial, agradeço ao Prof. Fernando pela orientação nesse trabalho.
Finalmente, não poderia deixar de citar duas pessoas que me deram oportunidades
decisivas no meu avanço acadêmico e profissional. Agradeço à Sonia Fontes e à
Liliane Brantes por investirem na minha formação e, assim, me abrirem portas.
vi
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ
como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de
Engenheiro Ambiental.
MAPEAMENTO TEMÁTICO PARA SUPORTE À TOMADA DE DECISÃO:
BACIA DO RIO DOCE APÓS ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE FUNDÃO.
Fernanda Alice Ferreira Gonçalves
Henrique de Araújo Brantes
Março/2016
Orientador: Prof. Fernando Rodrigues Lima, D. Sc.
Curso: Engenharia Ambiental
As tecnologias que envolvem Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s),
geoprocessamento e cartografia digital são cada vez mais utilizadas e difundidas
como instrumentos de suporte à tomada de decisão (STD), tanto em setores
estratégicos do planejamento como na gestão de recursos naturais. As bases de
dados georreferenciávies, públicas e privadas, estão avançando em diversidade e
em acessibilidade, o que permite ao gestor dispor de um leque cada vez maior de
informações espacializadas.
O campo do conhecimento de interesse para o presente trabalho é o da gestão de
impactos ambientais, no âmbito das bacias hidrográficas, a fim de empregar a
tecnologia de SIG no mapeamento temático de uma bacia em face de um grave
impacto ambiental. Para tal foram considerados apenas documentos, relatórios e
bases de dados governamentais disponíveis ao acesso público e gratuito.
Como estudo de referência, esse trabalho utilizou a Bacia do Rio Doce e abordou o
rompimento da Barragem de Fundão ocorrido em 05 de novembro de 2015. O
levantamento de informações baseou-se em pranchas digitais com dados
cartográficos da Bacia do Rio Doce e no levantamento de dados de diversas fontes
oficiais como IBGE e ANA, sendo utilizado como software de SIG para mapeamento
e organização de dados o pacote ArcGIS da empresa Esri.
vii
A obtenção de informações acerca da bacia, a organização e a estruturação destas
informações culminou no desenvolvimento de mapas temáticos em três âmbitos
(social, ambiental e econômico) e no desenvolvimento de um indicador de impacto
socioambiental, de modo que os resultados obtidos possam ser utilizados como
base para priorização de ações e tomada de decisão na gestão de uma bacia.
Palavras-chave: SIG, Geoprocessamento, Gestão Hídrica, Barragem de Fundão, Bacia do Rio Doce
viii
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI / UFRJ as a partial
fulfillment of the requirements for the degree of Environmental Engineer.
THEMATIC MAPPING FOR SUPPORTING DECISION MAKING: RIO DOCE
BASIN AFTER THE COLLAPSE OF FUNDÃO DAM
Fernanda Alice Ferreira Gonçalves
Henrique de Araújo Brantes
March/2016
Advisor: Prof. Fernando Rodrigues Lima, D. Sc.
Course: Environmental Engineering
Technologies involving Geographic Information Systems (GIS), geoprocessing and
digital mapping are increasingly being used and disseminated as tools to support the
decision-making (STD), both in strategic sectors of the planning and management of
natural resources. The bases of georeferenced data, public and private, are increasing
in diversity and accessibility, which allows the manager to have a growing range of
spatialized information.
The field of knowledge to this study is the management of environmental impacts within
hydrographic basin in order to apply GIS technology in thematic mapping of a basin
facing a serious environmental impact. For this it was considered only free documents,
reports and government databases available to the public..
As a reference study, this project used the Doce River Basin and addressed the
disruption of Fundão Dam occurred on November 5, 2015. The acquisition of data was
based on digital boards with cartographic data from the Rio Doce Basin, data from
various official sources such as IBGE and ANA. For mapping and organization of these
data, it was used the GIS software ArcGIS from Esri company.
ix
The obtained information about the basin, the organization and the structuring of this
information culminated in the development of thematic maps in three areas (social,
environmental and economic) and the development of a socio-environmental impact
indicator. The results can be used as basis for prioritizing emergency measures and
decision making in the management of a basin.
Keywords: GIS, Geoprocessing, Water Management, Fundão Dam, Rio Doce Basin
x
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1
1.1. Tema ............................................................................................................ 1
1.2. Objetivos ...................................................................................................... 3
1.3. Justificativa .................................................................................................. 3
2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 4
2.1. Sistema de Informações Geográficas (SIG) ................................................. 4
2.1.1. Histórico ................................................................................................ 5
2.1.2. Componentes ........................................................................................ 7
2.1.3. Software ArcGIS .................................................................................... 8
2.1.4. Aplicações de SIG em Causas Ambientais .......................................... 10
2.2. Conceitos Ambientais................................................................................. 11
2.2.1. Bacias Hidrográficas ........................................................................... 12
2.2.2. Unidades de Conservação .................................................................. 13
2.2.3. Impacto Ambiental............................................................................... 13
2.2.4. Enquadramento de Corpos D’água ..................................................... 14
2.3. Evolução da Gestão dos Recursos Hídricos no Brasil ................................. 14
3. METODOLOGIA ................................................................................................ 20
3.1. Criação da base de dados geográficos ....................................................... 23
3.1.1. Levantamento de Informações e Obtenção de Dados .......................... 23
3.2. Edição, Manipulação e Análise de Dados Geográficos ................................. 26
3.3. Mapeamento Temático, Análises e Resultados ............................................. 28
3.3.1. Mapeamento do Habitat de Espécies em Extinção ............................... 29
3.3.2. Mapeamento da Qualidade de Água .................................................... 32
3.3.3. Geração de Indicador de Impacto Socioambiental ............................... 33
4. ESTUDO DE REFERÊNCIA .............................................................................. 38
4.1. A Bacia Hidrográfica do Rio Doce ............................................................... 38
4.2. Mineração na Bacia do Rio Doce ................................................................ 43
4.3. Considerações Preliminares sobre o Rompimento da Barragem de Fundão...................................................................................................................47
4.3.1. Panorama Geral do Desastre ............................................................... 47
4.3.2. Possíveis Causas do Rompimento ....................................................... 48
4.4. O Desastre .................................................................................................. 51
4.5. Classificação do Desastre e do Resíduo Liberado ...................................... 55
4.6. Áreas Impactadas Pela Lama de Rejeitos .................................................. 55
4.7. Trajetória do Rejeito Através do Rio Doce .................................................. 57
4.7.1. Rio Gualaxo do Norte ........................................................................... 59
4.7.2. Rio do Carmo ....................................................................................... 59
4.7.3. Rio Doce .............................................................................................. 59
xi
5. ANÁLISES E RESULTADOS ........................................................................... 62
5.1. Área de Influência ..................................................................................... 62
5.2. Âmbito Ambiental ...................................................................................... 64
5.2.1. Declividade da Bacia ........................................................................... 64
5.2.2. Qualidade de Água .............................................................................. 64
5.2.3. Unidades de Conservação .................................................................. 70
5.2.4. Espécies ............................................................................................. 70
5.2.4.1. Espécies em Extinção .................................................................... 70
5.2.4.2. Espécies Coletadas ........................................................................ 73
5.3. Âmbito Social ............................................................................................ 74
5.3.1. População ........................................................................................... 74
5.3.2. Abastecimento de Água ...................................................................... 79
5.4. Âmbito Econômico .................................................................................... 82
5.4.1. Hidrelétricas ........................................................................................ 82
5.4.2. Produto Interno Bruto (PIB) ................................................................. 84
5.4.3. Barragens de Rejeito ........................................................................... 90
6. INDICADOR DE IMPACTO SOCIOAMBIENTAL ................................................ 94
7. CONCLUSÃO ................................................................................................... 104
7.1. SIG como Suporte à Tomada de Decisão ................................................. 104
7.2. Conclusões Sobre o Estudo de Referência ............................................... 105
8. REFERÊNCIAS ................................................................................................ 107
ANEXO I ................................................................................................................ 116
xii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Componentes de um SIG. ................................................................................ 5
Figura 2 - Avanço da Instituição das políticas estaduais dos recursos hídricos. .............. 18
Figura 3 - Evolução do processo de instalação de comitês de bacia no Brasil ................ 19
Figura 4 - Situação dos Planos estaduais de recursos hídricos em 2013 . ...................... 19
Figura 5 - Fluxograma da Metodologia Empregada no Trabalho .................................... 21
Figura 6 – Sobreposição de layers em ambiente SIG para criação de mapas digitais ... 26
Figura 7 – Esquematização de procedimentos de manipulação/edição de dados em
SIG ................................................................................................................................. 27
Figura 8 – Representação do comando join, realizado através do software ArcGIS ....... 28
Figura 9 - Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Doce.............................................. 39
Figura 10 - Mapa da Bacia Hidrográfica do Rio Doce ..................................................... 41
Figura 11 – Hierarquia Fluvial da Bacia do Rio Doce calculada com uso do SIG. ........... 43
Figura 12 – Localização da Região Metropolitana do Vale do Aço, RMVA . ................... 44
Figura 13 - Barragem de Fundão em 2011 .................................................................... 49
Figura 14- Barragem de Fundão em 2013 ..................................................................... 49
Figura 15 - Barragem de Fundão em 2015 .................................................................... 49
Figura 16 – Complexo Minerário de Germano antes do rompimento da barragem ........ 51
Figura 17 – Complexo Minerário de Germano após rompimento da barragem. ............. 51
Figura 18– Esquema do rompimento da barragem de Fundão no subdistrito de Bento
Rodrigues, Minas Gerais ............................................................................................... 52
Figura 19- Área impactada imediatamente à jusante da barragem de Santarém ........... 53
Figura 20- Distrito de Bento Rodrigues antes e depois do rompimento da barragem ..... 53
Figura 21- Rio Doce no município de Baixo Guandu/ES. ................................................ 54
Figura 22- Mapa de passagem da lama ......................................................................... 54
Figura 23– Imagem obtida através do sensor OLI/LANDSAT 8, da área entre a
barragem de Santarém e a Usina Hidrelétrica de Candonga ......................................... 56
Figura 24– Distrito de Bento Rodrigues antes do rompimento da barragem . ................. 56
Figura 25– Distrito de Bento Rodrigues após o rompimento da barragem, com
classificação em cores das áreas impactadas
...............................................................57
Figura 26- Percurso da onda de lama desencadeada pelo rompimento da barragem do
Fundão.. ......................................................................................................................... 58
Figura 27– Desague na foz do Rio Doce de águas contendo material da mina da
Samarco ........................................................................................................................ 61
Figura 28– Municípios afetados pelo rompimento da barragem de Fundão ................... 63
xii
Figura 29 – Declividade da Bacia Hidrográfica do Rio Doce .......................................... 65
Figura 30 – Pontos de Coleta de Água captados na 2ª campanha da CPRM ................ 66
Figura 31– Trechos classificados de acordo com a qualidade da água após o
rompimento da barragem do Fundão ............................................................................. 69
Figura 32 - Unidades de Conservação ........................................................................... 71
Figura 33 – Localização das Espécies Endêmicas na Bacia do Rio Doce ..................... 72
Figura 34 – População Total dos Municípios Afetados pelo rompimento da barragem
de Fundão na Bacia do Rio Doce .................................................................................. 75
Figura 35 – Densidade Urbana e Rural dos Municípios Afetados . ................................. 76
Figura 36 – Proporção de população urbana e rural nos municípios afetados pelo
rompimento da barragem. .............................................................................................. 77
Figura 37– Classificação territorial dos municípios afetados pelo rompimento da
barragem ....................................................................................................................... 78
Figura 38 – Domicílios com Abastecimento de Água da Rede Geral ............................. 80
Figura 39 – Municípios com dependência total do Rio Doce para abastecimento de
água de acordo com ANA 2015 ..................................................................................... 81
Figura 40 – Hidrelétricas localizadas no Rio Doce ......................................................... 83
Figura 41 – PIB dos Municípios Afetados pelo Rompimento da Barragem de Fundão .... 85
Figura 42 – Municípios Afetados com maior contribuição de PIB na Bacia do Rio Doce
. ...................................................................................................................................... 86
Figura 43 – Usos de água dos municípios afetados pelo rompimento da barragem ....... 89
Figura 44 – Volume Total em m³ contido nas barragens de rejeito da bacia do Doce
que estão dentro da PNSB ............................................................................................ 91
Figura 45 – Dano Potencial Associado às Barragens Localizadas na Bacia do Rio
Doce .............................................................................................................................. 92
Figura 46 – Mapa com o resultado da matriz de impacto do âmbito ambiental ............. 100
Figura 47 – Mapa com o resultado da matriz de impacto do âmbito social ................... 101
Figura 48 – Mapa com o resultado da matriz de impacto do âmbito econômico. ............ 92
Figura 49 – Mapa com o resultado consolidado da matriz de impacto relativo aos três
âmbitos de análise ........................................................................................................ 103
Figura 50 – Renda Nominal Mensal dos Municípios Afetados pelo Rompimento da
barragem de Fundão .................................................................................................... 116
Figura 51– Empresas Responsáveis pelas barragens de mineração na bacia do Rio
Doce ............................................................................................................................ 116
Figura 52 – Barragens de mineração e os respectivos minérios produzidos ................. 117
xii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1- Aquisição do habitat de espécies em extinção . .............................................. 30
Tabela 2– Habitat dos Peixes em Extinção . ................................................................... 31
Tabela 3 – Habitat dos Crustáceos em Extinção . ........................................................... 31
Tabela 4– Habitat das Tatarugas em Extinção . .............................................................. 32
Tabela 5– Trechos de qualidade de água . ..................................................................... 33
Tabela 6– Faixas de quantidade populacional. ............................................................... 35
Tabela 7– Representatividade de pesca artesanal . ....................................................... 36
Tabela 8- Representatividades dos setores de Agricultura, Indústria e serviços no PIB
municipal ....................................................................................................................... 36
Tabela 9– Municípios Inseridos nos circuitos turísticos .................................................. 37
Tabela 10– Peso máximo aferido a cada elemento ....................................................... 37
Tabela 11 – Parâmetros de qualidade de Água medidos em cada ponto de coleta do
Rio Doce. ........................................................................................................................ 67
Tabela 12– Parâmetros de qualidade de água referentes a metais, medidos em cada
ponto de coleta do Rio Doce. .......................................................................................... 68
Tabela 13– Composição do PIB dos municípios afetados pelo rompimento da
barragem, de acordo com o censo do IBGE de 2010 ..................................................... 87
Tabela 14- Classificação de Barragens.............................................................................90
Tabela 15 – Matriz de impacto gerada a partir da relação dos municípios e de seus
elementos socioambientais(A) ....................................................................................... 95
Tabela 16 - Matriz de impacto gerada a partir da relação dos municípios e de seus
elementos socioambientais (B) ...................................................................................... 96
Tabela 17 - Classificação dos municípios impactados após resultado da matriz de
impactos. ....................................................................................................................... 98
xii
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1– Principais afluentes do Rio Doce e respectivas áreas de drenagem . ........... 39
Quadro 2 – Características por trecho da bacia do rio Doce .......................................... 40
Quadro 3 – Características gerais da bacia do Rio Doce . .............................................. 42
Quadro 4- Panorama Geral da população diretamente impactada pela enxurrada de
lama de rejeitos, da barragem de Fundão ...................................................................... 52
Quadro 5– Total das áreas impactadas, remanescentes florestais e vegetação natural
de Mata Atlântica removidas por município .................................................................... 57
Quadro 6- Resumo da Hidrografia Impactada . ............................................................... 58
Quadro 7– Unidades da Espécie Oligosarcus spp coletadas no Rio Doce após
rompimento da barragem. ............................................................................................... 73
Quadro 8 – PIB Total dos Estados afetados com o rompimento da barragem, e PIB
total do Brasil .................................................................................................................. 87
1
1. INTRODUÇÃO
1.1. Tema
Os impactos indesejáveis da dominação humana sobre os recursos naturais e
um modelo de desenvolvimento socioeconômico incompatível com uma ética
ecológica se tornam cada vez mais precursores de desastres ambientais. Em
tempos de mudanças globais é evidente a necessidade de medidas e ferramentas
eficazes na mitigação desses impactos, através de uma gestão adequada do meio
ambiente e do espaço urbano.
As bacias de drenagem são consideradas a melhor unidade de planejamento
e gestão de recursos naturais e recursos hídricos, pois a rede hidrográfica via de
regra ultrapassa os limites políticos territoriais entre municípios, estados e em
muitos casos países. Dessa forma, as bacias hidrográficas se apresentam como
unidades de fundamental importância no planejamento e uso racional dos recursos
naturais, principalmente no manejo eficaz da água, um recurso de vital importância
aos seres vivos. A administração desse recurso garantirá a preservação e
conservação ambiental e consequentemente o desenvolvimento sustentável da
bacia, criando meios mais eficazes para a tomada de decisão dos gestores.
A ferramenta tecnológica que mais cresce no quesito gestão ambiental e
gestão de recursos hídricos está ligada ao geoprocessamento, com a utilização de
Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s) e imagens de satélite. Um SIG é uma
ferramenta importante a ser usada na gestão de bacias hidrográficas, pois auxilia
diversos processos como o Controle e Monitoramento Ambiental, a elaboração de
Estudos de Impactos Ambientais (EIA), Relatórios de Impactos Ambientais (RIMA),
Diagnósticos e Prognósticos Ambientais, Gestão de Riscos Ambientais, entre
outros.
Um SIG pode ser considerado um instrumento para mapear e indicar
respostas às várias questões sobre planejamento urbano e regional, meio rural e
levantamento de recursos renováveis. Além de permitir o armazenamento de
imagens e informações o SIG possibilita o cruzamento dessas informações,
proporcionando uma visão integrada e mais precisa do local de estudo.
2
As informações adquiridas pelo SIG auxiliarão no conhecimento e no exame
da situação ambiental da região estudada, apoiando a tomada de decisões para
prevenir, controlar ou corrigir os problemas ambientais encontrados (políticas
ambientais e programas de gestão ambiental). Logo, o mapeamento temático de
uma região através da utilização de um SIG se torna, nos dias de hoje, uma
ferramenta importante para estabelecer as bases para ações e estudos futuros.
Devido à vasta aplicabilidade do SIG na Gestão Ambiental esse trabalho visa
demonstrar a importância desse sistema no Mapeamento Temático de uma Bacia
Hidrográfica, vítima de um grande impacto socioambiental. A Bacia em questão é a
Bacia Hidrográfica do Rio Doce, localizada na região Sudeste do Brasil, abrangendo
parcialmente territórios do Estado de Minas Gerais e Espírito Santo.
No dia 05 de Novembro de 2015 ocorreu o rompimento da barragem de
Fundão, uma barragem de rejeito de minério de ferro localizada no Município de
Mariana em Minas Gerais, dentro dos limites da Bacia do Rio Doce. Uma onda de
lama de rejeitos foi liberada atingindo não só as planícies e os corpos hídricos das
proximidades, mas também o principal curso d’água da bacia, o Rio Doce.
As consequências do desastre se estenderam desde o rompimento da
barragem até a foz do Rio Doce, o que causou consequências diversas no meio
ambiente e na população atingida. A qualidade da água do Rio Doce foi gravemente
alterada, causando tanto problemas de abastecimento de água nas cidades, como
também afetando as atividades econômicas de diversas regiões.
É importante salientar que para critérios de avaliação e gestão ambiental o
mapeamento temático de uma bacia hidrográfica, ou de uma região, deveria se dar
anteriormente à ocorrência de um desastre ambiental. Porém o uso de um SIG
também se estende ao contexto de mitigação de impactos, e de gestão de ações
após a ocorrência de eventos críticos. Nesse contexto, a fins demostrar a relevância
do SIG esse trabalho optou como estudo de referência uma situação de pós-impacto
ambiental, na Bacia Hidrográfica do Rio Doce.
3
1.2. Objetivos
O objetivo deste trabalho foi produzir mapas temáticos relativos à Bacia
Hidrográfica do Rio Doce nos âmbitos social, ambiental e econômico, e extrair deles
informações que auxiliem na produção de um indicador para ser utilizado como
suporte à tomada de decisão. Os mapas temáticos desenvolvidos têm como objetivo
agregar informações relevantes acerca do rompimento da barragem de Fundão, e
principalmente, do impacto causado aos municípios integrantes da bacia. Espera-se
que as informações levantadas e mapeadas possam ser úteis para consulta e
suporte à tomada de decisão tanto de gestores públicos quanto da população.
De forma abrangente o caso do rompimento da barragem de Fundão em
Mariana/MG foi utilizado como estudo de referência da aplicação de SIG como uma
ferramenta de suporte para definição de áreas prioritárias e para levantamento das
ações prioritárias na mitigação dos impactos ambientais. Ou seja, como SIG pode
auxiliar na tomada de decisão através da espacialização dos dados obtidos da área
de estudo.
Os objetivos específicos deste trabalho são:
Organização e espacialização de dados em ambiente SIG;
Geração de novos dados a partir do cruzamento de diferentes informações;
Diagnóstico das áreas diretamente e indiretamente afetadas;
Análise dos mapas temáticos gerados e conclusões acerca do tema;
Produção de indicador que funcione como suporte à tomada de decisões.
1.3. Justificativa
As tecnologias SIG, o geoprocessamento e a cartografia digital são cada vez
mais utilizados e difundidos como instrumentos de suporte à tomada de decisão. No
curso da Engenharia Ambiental foi possível aprender algumas utilidades da
ferramenta de SIG e sua importância na gestão ambiental, tanto na prevenção
quanto na mitigação de impactos. Dessa forma, o trabalho se justifica na
necessidade de aprofundar os conhecimentos em SIG e em seus modelos de
mapeamento para aplicação em casos reais.
4
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Neste capítulo serão abordados temas e conceitos que são fundamentais para
a compreensão do trabalho desenvolvido. É pertinente ressaltar que não foi possível
localizar trabalhos com o mesmo objetivo que este na literatura existente. Desta
forma, as referências são de fontes que discutem temáticas variadas, com conceitos
essenciais para introdução deste trabalho.
2.1. Sistema de Informações Geográficas (SIG)
Geoprocessamento é um conceito importante para compreensão do Sistema
de Informação Geográfica. Sendo assim, geoprocessamento pode ser entendido
como:
“Disciplina do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento da informação geográfica e que vêm influenciando de maneira crescente as áreas de Cartografia, Análise de Recursos Naturais, Transportes, Comunicações, Energia e Planejamento Urbano e Regional”. (CÂMARA; DAVIS, 2004, p.1)
Segundo Burrough e Mcdonnell (1998), o sistema de informações geográficas
(SIG’s) é a estrutura mais importante em termos de viabilização do
geoprocessamento, sendo esse último um conjunto de procedimentos
computacionais que, operando sobre uma base de dados integrada, possibilita a
realização de análises e cálculos. Assim, o geoprocessamento permite a elaboração
de mapas politemáticos, que podem vir a conter dados qualitativos e quantitativos,
constituindo-se em um instrumento de grande potencial para o estabelecimento de
estudos integrados.
A relevância de SIG está na sua superior capacidade de estabelecer relações
espaciais entre elementos gráficos se comparado aos demais sistemas
computacionais, sendo esse sistema mais adequado para análise e tratamento de
dados geográficos. De uma forma mais simples SIG pode ser entendido como:
“A ligação técnica e conceitual das ferramentas desenvolvidas pela informática para capturar, armazenar e processar dados e apresentar informações espaciais georreferenciadas. Para a formação de um banco de dados para um SIG os mesmos são coletados através de mapas cartográficos, dados de campo como tipo de solo, precipitação, imagens de satélite, fotografias aéreas, que serão armazenados e manipulados segundo a informação que se deseja obter”. (CASTRO; CAMPOS, ZIMBACK; KAISER, 2014, p.657)
5
O SIG geralmente integra diversos outros sistemas como processamento
digital de imagens, análises estatísticas e análises geográficas, tendo como ponto
central um banco de dados, com o objetivo de realizar diversas operações e dispor
de entrada e saída de dados em diversos formatos. A Figura 1 a seguir mostra os
sistemas que podem integrar um SIG.
Figura 1 - Componentes de um SIG (Fonte: EASTMAN, 1997).
2.1.1. Histórico
Um importante estudioso, responsável pelo impulso e desenvolvimento do
SIG foi o Dr. Roger Tomlinson, comumente conhecido como o "pai do SIG". Nascido
em Cambridge, Inglaterra, Dr. Tomlinson imigrou para o Canadá em 1957, onde se
tornou um geógrafo visionário que concebeu e desenvolveu o SIG para sua
utilização, através do Inventory Canada Land.
Na década de 60 ele começou um trabalho pioneiro que mudou a face da
geografia como disciplina, e pelo mesmo foi premiado com a Ordem do Canadá, a
maior honraria civil do Canadá. Os governos e cientistas de todo o mundo se
voltaram para seu estudo na ânsia de entender melhor o ambiente e mudanças nos
padrões de uso da terra, e para melhor gerir o desenvolvimento urbano e do uso de
recursos naturais. Dentre as contribuições do Dr. Tomlinson pode-se destacar a
presidência da Comissão GIS da União Geográfica Internacional por 12 anos, onde
ele foi pioneiro nos conceitos de disponibilidade de dados geográficos em todo
mundo (URISA, 2016).
6
A década de 60 foi um período crucial para o desenvolvimento dos sistemas
de informações geográficas (SIG’s). Nessa década ocorreu o surgimento dos
primeiros modelos de SIG, tendo como marco o desenvolvimento do Canada
Geographic Information System (CGIS), em 1962, pelo Federal Department of Rural
and Foretry Development, no Canadá. O Sistema surgiu para apoio à tomada de
decisões relativas ao controle da utilização do solo, em áreas rurais e de florestas
(RODRIGUES; SILVA; CASADO; et al., 2010).
Existia uma grande dificuldade no desenvolvimento do geoprocessamento,
que devia ser realizado por cada demandante, pois nessa época o custo envolvendo
os recursos computacionais e a mão-de-obra era extremamente alto. Não havia
recursos gráficos de alta resolução e os computadores possuíam baixa capacidade
de processamento e armazenamento.
Já na década de 70, pôde ser observado o desenvolvimento dos primeiros
SIG’s devido às melhorias de hardware e ao surgimento de programas baseados em
CAD (Computer Aided Design – Projeto Assistido por Computador). Os custos
elevados e a necessidade de espaço e computadores de grande porte limitavam o
uso desses sistemas às grandes empresas.
A diminuição de custos de hardware e o surgimento dos sistemas
gerenciadores de bancos de dados na década de 80 permitiram um crescimento da
tecnologia dos sistemas de informações geográficas. Também surgiram centros de
estudos sobre o assunto, como o NCGIA (National Centre for Geographical
Information and Analysis) nos Estados Unidos (CÂMARA; DAVIS, 2004). Desde
então essa tecnologia vem sendo amplamente difundida e tem se desenvolvido a
um ritmo cada vez maior alicerçando-se no constante desenvolvimento tecnológico.
No Brasil, o professor Jorge Xavier da Silva da UFRJ foi um dos pioneiros no
estudo do geoprocessamento na década de 80. De acordo com Moraes (2014) tal
professor orientou o grupo do Laboratório de Geoprocessamento, do Departamento
de Geografia da UFRJ, no desenvolvimento do SAGA (Sistema de Análise Geo-
Ambiental).
7
2.1.2. Componentes
O SIG é composto de uma variedade de elementos. Embora nem todos os
elementos sejam sempre os mesmos encontrados, um grupo essencial deve estar
presente para que tenhamos verdadeiramente um SIG (EASTMAN, 1997).
Sistemas de entrada de dados
Podem-se agregar novas informações ao banco de dados a partir da
digitalização de mapas, onde mapas em papel podem ser convertidos para uma
forma digital, através de scanners e impressoras multifuncionais. Atualmente a
maneira mais eficiente para obtenção de mapas digitais é a partir do sistema de
posicionamento global (GPS). A internet também dispõe diversas fotografias obtidas
por satélites que facilitam a utilização desses dados gráficos, em softwares de SIG.
Além da entrada de dados gráficos, é essencial a obtenção de dados
numéricos e tabulares, disponíveis em tabelas, planilhas eletrônicas e bancos de
dados, que podem ser encontrados na internet e também em sites de órgãos
públicos, como IBGE, ANA, entre outros.
Sistemas de armazenamento de dados
O banco de dados é o centro que acumula as informações obtidas: uma
coleção de mapas e informações associadas a eles na forma digital. Dessa forma, o
banco de dados compreende dois perfis de informações: o primeiro são dados
espaciais descrevendo a geografia, a forma e a posição (mapas digitais), e o
segundo são dados de atributo conferindo as características e qualidades das
feições (dados alfanuméricos).
Sistemas de análise de dados
Um dos componentes do SIG é um sistema de gerenciamento do banco de
dados. Geralmente esse termo se refere a um software utilizado para entrada,
gerenciamento e análise de dados de atributo. O sistema de análise geográfica e o
sistema de análise estatística são formas de interação entre os bancos de dados e
podem contribuir de modo a oferecer resultados desta análise como um acréscimo
ao banco de dados.
8
Sistemas de saída de dados
Como saída de dados tem-se a criação de arquivos digitais e os sistemas de
exibição cartográfica que podem ser desde apresentação de mapas virtuais através
de telas, assim como a utilização de dispositivos para impressão e plotagem.
2.1.3. Software ArcGIS
O software utilizado para a elaboração dos mapas temáticos deste trabalho foi
o ArcGIS, produzido pela empresa norte americana ESRI (Environmental Systems
Research Institute).
O ArcGIS consiste em um pacote integrado de softwares de Sistema de
Informação Geográfica, para a elaboração e manipulação de informações vetoriais e
matriciais, que fornece ferramentas baseadas em padrões para realização de
análise espacial, armazenamento, manipulação, processamento de dados
geográficos e mapeamento (SILVA, 2010).
A ESRI começou a desenvolver produtos GIS na década de 1980, época na
qual muitos programas já haviam sido desenvolvidos, com funcionalidades
sobrepostas e paralelas. Havia o ArcView com uma grande interface de usuário e
tecnologia fácil de usar, o MapObjects com uma biblioteca de componentes de
software para desenvolvedores, e o ArcSDE que possibilitava o usuário a trabalhar
com um sistema de gerenciamento de banco de dados relacionais e tinha uma
arquitetura com foco em TI, para a entrega de grandes quantidades de dados de
forma rápida.
Então a ESRI desenvolveu e lançou em seguida seu primeiro software
comercial chamado SIG ARC/INFO. Essa implementação combinava e
informatizava características geográficas como pontos, linhas e polígonos, com uma
ferramenta de gestão de base de dados para atribuir atributos a esses elementos.
A grande dificuldade da companhia era conseguir conciliar funcionalidades
importantes em um único pacote de sofwares: facilidade de uso, poder do programa,
gerenciamento de grande quantidade de dados e utilização tanto por parte de um
usuário final quanto por desenvolvedores. Dessa forma, foi definido que havia a
necessidade de um sistema fácil de usar e complexo ao mesmo tempo para
abrangência de dados. Assim, foram integrados todos os produtos em uma única
arquitetura de software integrado, chamado ArcGIS (SMITH, 2004).
9
O ArcGIS permite o desenvolvimento de elementos que compõem o sistema de
informações geográficas (SIG) como a entrada, armazenamento e análise de dados.
O pacote ArcGIS é constituído por:
ArcCatalog: Programa para realizar o gerenciamento dos dados a serem
trabalhos (conectar, pré-visualizar, criar arquivos, modificar, etc).
ArcMap: Principal programa do ArcGIS, no qual pode-se gerar mapas e
trabalhar com questões relacionadas à análise espacial, através dos dados e
informações geográficas fornecidas.
ArcToolBox: Possui variadas ferramentas, extensões do ArcMap, que
possibilitam diversas operações mais elaboradas com dados geográficos.
ArcReader: Software que permite visualizar e explorar arquivos já
desenvolvidos no ArcMap.
ArcScene: Permite o desenvolvimento de dados geográficos em 3D,
permitindo a criação de vídeos e animações.
ArcGlobe: Esse programa possuiu um globo terrestre onde se pode navegar
em três dimensões.
Os arquivos no ArcGIS estão dispostos em diferentes formatos como forma de
organizar os variados tipos de informações. Entre esses formatos, pode-se
ressaltar:
Shapefile (shp): é um arquivo vetorial: polígono, linha e ponto. Sempre está
acompanhado de mais dois arquivos que são do formato dbf (arquivo que
possui o banco de dados/atributos) e shx (arquivo que cria vínculo entre o shp
e o dbf).
Grid, Jpg, Tiff, MrSid e outros: são arquivos do tipo raster. Compreendem
fotografias aéreas, imagens por satélites, cartas topográficas, entre outros.
Layer: arquivo responsável por armazenar especificações (rótulos, fonte, cor,
etc) para a apresentação em outros conjuntos de dados. Esse arquivo possui
extensão (lyr).
Base de dados: abrangem dados variados, sendo os mais comuns dados
tabulares, feições e imagens. Esses arquivos possuem a extensão
geodatabase (mdb).
Tabela: são tabelas de atributos, geralmente tem o formato (dbf).
10
MXD: arquivo em que o projeto é salvo. Ou seja, permite visualizar todos os
dados trabalhados em uma sessão específica. Contudo, este somente indica
onde estes dados se encontram dentro do computador. Além disso, neste
arquivo consta ainda a ordem, a edição de legendas, os objetos inseridos, os
Data Frames e o layout criado. É importante salientar que esse arquivo não
possui os dados em si caso os arquivos de dados sejam deletados,
renomeados ou deslocados para outra pasta, o arquivo MXD não exibirá o
mapa corretamente.
2.1.4. Aplicações de SIG em Causas Ambientais
Existe um histórico de utilização de SIG para auxiliar o planejamento urbano,
a gestão ambiental e a gestão dos recursos hídricos. Pode-se ressaltar a
formulação de indicadores ambientais elaborados, com a utilização de um Sistema
de Informação Geográfica (SIG).
Em Castro et al (2014) se pôde observar o desenvolvimento de indicadores
ambientais, relativos ao uso e ocupação do solo e uso dos recursos hídricos, na
Bacia do Rio Lençóis. Essa formulação de indicadores foi possível porque o Fundo
Estadual para Recursos Hídricos – FEHIDRO desenvolveu um Diagnóstico
Ambiental da Bacia baseado em técnicas de geoprocessamento, que permitiram
então a quantificação e espacialização da área, para a formulação dos indicadores
ambientais.
O geoprocessamento e SIG também são utilizados como instrumentos de
suporte à tomada de decisão (STD) em relação os recursos hídricos. Algumas
observações, no entanto são necessárias quanto à utilização de tais ferramentas,
especialmente, com relação aos critérios metodológicos necessários. Podem ocorrer
confusões e equívocos relacionados ao uso das ferramentas de STD quando os
objetivos da aplicação dos modelos, a disponibilidade de softwares e a qualidade
das informações que alimentarão as análises não estão claros ou são incertos.
Dessa forma, Giusti F.B et al (2011) realizaram um artigo com objetivo de
discutir a necessidade de uma definição teórico-metodológica mais acurada quanto
aos objetivos das ferramentas de um SIG e, sobretudo, quanto a escolha das
variáveis selecionadas, apontando suas possibilidades e limitações como ferramenta
de STD.
11
Nesse estudo, foi pressuposto que são necessários para um sistema de
suporte a tomada de decisão o conhecimento, informações e dados sobre outros
temas correlatos à hidrologia, como uso e cobertura do solo, infraestrutura viária e
transportes, energia, meteorologia, sócio-economia e legislação. Para tal, devem ser
verificadas fontes de confiança para obtenção de dados primários e secundários
sobre os temas identificados, como referência ao planejamento e gestão integrada
dos recursos hídricos. Assim, foram selecionados apenas bancos de dados de
órgãos e agências públicas de acesso gratuito e irrestrito.
Foi observado que as instituições brasileiras estão em franca evolução no
sentido de ampliar os temas, a área de abrangência e as formas de divulgação dos
dados. Contudo, há ainda lacunas a serem preenchidas, principalmente
relacionadas à periodicidade e abrangência territorial dos dados coletados e
produzidos. Outra questão relevante é quanto às formas de sistematização e
disponibilização dos dados, que ainda são predominantemente carentes de
homogeneidade.
Pode-se encontrar na literatura autores que relatam a importância do uso do
SIG como diagnóstico do meio físico (Beltrame, 1994; Cavalieri et. al., 1997 e 1998),
ferramenta de análise de sistemas (Grigg, 1996), modelamento (Bacellar et. al.,
1994; Lima, 1997,) e planejamento de bacias hidrográficas (Lima, 1997; Cavalieri et.
al., 1997 e 1998). Todas as bibliografias citadas apresentam resultados significativos
na integração, visualização e geração de dados, e como sistema de suporte a
decisão.
2.2. Conceitos Ambientais
O SIG tem sido vastamente utilizado como suporte de gestão ambiental e de
bacias hidrográficas. Para tal utilização, é necessário o conhecimento de conceitos
ambientais tanto para alimentação de dados do sistema, quanto para a análise dos
resultados e suporte a tomada de decisão. É importante que cada conceito esteja
bem definido e consolidado na mente do gestor. Através da revisão da legislação
ambiental brasileira e de artigos científicos pode-se obter tais definições de forma
clara.
12
2.2.1. Bacias Hidrográficas
Segundo a Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei nº 9.433
em 8 de janeiro de 1997, a gestão de recursos hídricos adota a definição de bacias
hidrográficas como unidade de estudo e gestão. Assim, é de grande importância
para gestores e pesquisadores a compreensão do conceito de bacia hidrográfica e
de suas subdivisões.
Pode-se entender como bacia hidrográfica a área da superfície terrestre,
limitada pelos divisores de água, e que converge todo escoamento natural de água
(e materiais arrastados pelo mesmo) para o rio principal, que por sua vez leva-os
para uma saída em comum. Três elementos básicos formam a bacia: os divisores de
água, as vertentes e a rede de drenagem (BOTELHO, 1999).
O conceito de bacia hidrográfica segundo Barbosa (1994, in MACIEL, 2000),
considera os sistemas que compõe uma bacia tal que:
“Uma bacia hidrográfica é um sistema terrestre e aquático geograficamente definido e composto por sistemas físicos, biológicos, econômicos e sociais. Contém, portanto, uma grande diversidade de ambientes onde se desenvolvem diferentes atividades econômicas, as quais exercem uma influência direta na vegetação, nos solos, na topografia, nos corpos d’água e na biodiversidade em geral. Esta unidade geográfica tem no seu rio formador o ponto central para onde convergem os remanescentes de todas as atividades ali desenvolvidas”.
A partir de curvas de nível e critérios técnicos é possível definir os limites da
bacia. A partir da identificação das cabeceiras dos canais de primeira ordem pode-
se chegar à separação dos divisores e à delimitação dos rios que formam a rede de
drenagem principal (STRAHLER, 1951).
O planejamento ambiental e territorial do Brasil considera a legislação
brasileira vigente a qual aborda diversas vezes o conceito “bacia hidrográfica”.
Devido a esse motivo e em função das suas características naturais, esse conceito
atualmente é uma das referências espaciais mais comuns nos estudos físico-
territoriais ou de projetos (Rodrigues e Adadi, 2005).
A Política Nacional de Recursos Hídricos é quem tem estabelecido os critérios
e normas gerais para este modelo de gestão sendo o norteador das ações, para que
haja uma sistematização dos recursos em todas as esferas: federal, estadual e
municipal.
13
Assim, as bacias hidrográficas são consideradas excelentes unidades de
gestão dos elementos socioambientais, pois possibilita uma visão integrada do
comportamento das condições naturais, como também, das mudanças introduzidas
pelo homem e as respectivas respostas da natureza. Dessa forma, o conhecimento
sobre a legislação ambiental é fundamental para uma boa gestão dos recursos
hídricos.
2.2.2. Unidades de Conservação
A partir do Novo Código Florestal (LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012),
pode-se compreender as seguintes definições:
“I - Amazônia Legal: os Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso e as regiões situadas ao norte do paralelo 13° S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste do meridiano de 44° W, do Estado do Maranhão;
II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas;
III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa;”.
2.2.3. Impacto Ambiental
Impacto Ambiental pode ser entendido a partir da CONAMA No 001/86 como:
“qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V - a qualidade dos recursos ambientais.” (CONAMA Nº001, 1986)
14
2.2.4. Enquadramento de Corpos D’água
No estudo de bacias hidrográficas, o enquadramento de corpos d’água é um
ator relevante definido como:
“Estabelecimento da meta ou objetivo de qualidade da água (classe) a ser, obrigatoriamente, alcançado ou mantido em um segmento de corpo de água, de acordo com os usos preponderantes pretendidos, ao longo do tempo“. (CONAMA N°357, 2005)
A CONAMA N° 357/05 também nos fornece o conceito de vazão de referência
como:
“Vazão do corpo hídrico utilizada como base para o processo de gestão, tendo em vista o uso múltiplo das águas e a necessária articulação das instâncias do Sistema Nacional de Meio Ambiente-SISNAMA e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos-SINGRH”. (CONAMA N°357, 2005)
2.3. Evolução da Gestão dos Recursos Hídricos no Brasil
A gestão dos recursos hídricos encontra-se em evolução em todo mundo. No
Brasil tem-se a Política Nacional de Recursos Hídricos já instituída, contudo,
observa-se que a implementação de suas ações ainda está em andamento. A
Agência Nacional de Água (ANA) emite periodicamente relatórios, como o relatório
“Cojuntura dos Recursos Hídricos do Brasil - ANA 2013”, que permite a divulgação
do progresso de implementação das ações e políticas, inerentes aos recursos
hídricos do Brasil.
Década de 1970
A Conferência das Nações Unidas sobre a Água, foi uma das primeiras
discussões internacionais chamando a atenção para a necessidade de
modernização da gestão dos recursos hídricos, realizada em Mar del Plata no ano
de 1977. Tal conferência definiu um Plano de Ação que recomendava para cada
país a formulação e analise de uma declaração geral de políticas em relação ao uso,
à ordenação e a conservação da água. Os planos e políticas de desenvolvimento
nacional deveriam especificar os objetivos principais da política de uso da água. A
mesma deveria ser implementada através de diretrizes e estratégias, subdividindo-
se em programas de uso ordenado e integrado deste recurso natural (A evolução da
gestão dos rescursos hídricos no Brasil; ANA; 2002).
15
No Brasil, foi constituído o Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias
Hidrográficas CEEIBH, em 1978, que foi responsável pela da criação de comitês
executivos em diversas bacias hidrográficas de rios da União, a exemplo do Paraíba
do Sul e do São Francisco. Contudo esses comitês só tinham atribuições
consultivas, o que dificultou a implantação de suas decisões.
Década de 1980
A ideia de reformulação do sistema de gestão de recursos hídricos brasileiro
começou a fortalecer ao longo da década de 80. Havia um consenso por parte de
setores técnicos do governo, de que era chegado o momento de se proceder à
modernização do setor, que estava desatualizado, pois atuava com base no Código
de Águas de 1934. O Código de Águas foi um importante marco jurídico para o país,
inclusive tendo permitido o notável desenvolvimento do sistema hidroelétrico
brasileiro, entretanto, o país demonstrava a demanda por uma política mais
participativa e que contemplasse o uso múltiplo das águas.
No início da década de 80, os setores técnicos do governo, formularam as
diretrizes estabelecidas no III Plano Nacional de Desenvolvimento para os exercícios
de 1980 a 1985, que incluíam a necessidade do estabelecimento de uma Política
Nacional de Recursos Hídricos por parte do Governo.
A Comissão Mundial do Desenvolvimento e Meio Ambiente, organizada pelas
Nações Unidas, em 1984, introduziu o conceito de desenvolvimento sustentável:
atender às necessidades da geração presente sem comprometer a habilidade das
gerações futuras de atenderem às próprias necessidades. Tal conceito também se
aplica na evolução do setor de gerenciamento de recursos hídricos, cuja
necessidade reflete na integração de objetivos econômicos, sociais e ambientais.
A organização de um sistema de gerenciamento de recursos hídricos foi
proposta em 1986 pelo Ministério de Minas e Energia, com a participação de órgãos
e entidades federais e estaduais. O relatório final recomendou a criação de um
sistema em âmbito nacional e estadual.
16
Em 1987, dez anos depois da Conferência de Mar del Plata, o Brasil começou
a colocar em prática uma de suas recomendações fundamentais: o debate sobre a
gestão participativa dos recursos hídricos. Houve também, através da Carta de
Salvador, a manifestação da Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH),
sobre a necessidade premente da criação de um sistema nacional de recursos
hídricos e do aperfeiçoamento da legislação pertinente, de modo a contemplar o uso
múltiplo dos recursos hídricos, a gestão descentralizada e participativa, a criação do
sistema nacional de informações de recursos hídricos e o desenvolvimento
tecnológico e a capacitação do setor.
No mesmo ano, após intensos debates realizados dentro do Governo do
Estado de São Paulo, foi criado o Conselho Estadual de Recursos Hídricos com a
responsabilidade de propor a Política Estadual de Recursos Hídricos, a formulação
do Plano Estadual de Recursos Hídricos e a estruturação do Sistema Integrado de
Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Em 1988, surgiram os Comitês das Bacias do rio dos Sinos e Gravataí, no
Estado do Rio Grande do Sul, que foram iniciativas pioneiras, uma vez que surgiram
a partir das próprias comunidades das bacias hidrográficas, com o apoio do Governo
do Estado. Os comitês possuíam apenas atribuições consultivas, entretanto, a
grande mobilização os tornou produtivos e assim foram incorporados ao sistema de
gestão daquele estado.
Década de 1990
O Estado de São Paulo finalmente encaminhou à Assembleia Legislativa, em
1990, o Projeto de Lei que instituiu a Política Estadual de Recursos Hídricos e criou
o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Essa lei, instituída em
1991, consolidou a participação da sociedade civil no processo decisório, criou a
cobrança pelo uso da água, e determinou que valores recolhidos pela política seriam
administrados pelo Fundo de Recursos Hídricos - FEHIDRO para utilização direta
nos Comitês de Bacia. No mesmo ano, o Governo Federal encaminhou ao
Congresso Nacional o Projeto de Lei criando o Sistema Nacional de Recursos
Hídricos e definindo a Política Nacional de Recursos Hídricos.
17
Devido à demora da aprovação da legislação federal, os Estados da
federação começaram a instituir seus sistemas estaduais de gerenciamento de
recursos hídricos: São Paulo em 1991, Ceará em 1992, Santa Catarina e o Distrito
Federal em 1993, Minas Gerais e o Rio Grande do Sul, em 1994, Sergipe e Bahia
em 1995.
Ocorreu em 1995 à criação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), dos
Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, em meio à tramitação do Projeto de Lei
Federal sobre recursos hídricos.
Finalmente, a Lei N° 9.433 que criava a Política Nacional de Recursos
Hídricos (PNRH) foi sancionada em 8 de janeiro de 1997 pelo Presidente Fernando
Henrique Cardoso. O país passou então a dispor de um instrumento legal, que
quando efetivamente implementado poderia garantir uma gestão adequada dos
recursos à geração atual e proporcionar a preservação dos recursos hídricos às
gerações futuras.
A Política Nacional dos Recursos Hídricos se baseou nos seguintes
fundamentos, já traçados pela (Lei N° 9.433; 1997):
“I - a água é um bem de domínio público;
II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais;
IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas;
V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.”.
A mesma política instituiu os seguintes instrumentos de gestão:
“I - os Planos de Recursos Hídricos;
II - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água;
III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;
V - a compensação a municípios;
VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos”.
18
Um ponto relevante do sistema de gestão aplicado pela PNRH é a
importância dada à participação pública. Garantiu-se a participação de usuários e da
sociedade civil em todos os plenários, como no Conselho Nacional de Recursos
Hídricos e nos Comitês de Bacia Hidrográfica. Dessa maneira a sociedade pode
legitimar a decisão e também garantir sua implementação. A partir desse marco, os
Estados avançaram rapidamente na criação dos Comitês de Bacia.
Década de 2000
Em 2000, o Projeto de Lei para criação da Agência Nacional de Águas (ANA)
foi aprovado pelo Congresso Nacional, resultando na Lei nº 9.984. A ANA, vinculada
ao Ministério do Meio Ambiente. O objetivo para criação da ANA era controlar a
gestão dos rios, de forma a centralizar em um órgão a autoridade de concessão de
outorgas sobre uso dos recursos hídricos, permitindo assim maior controle da
poluição e do desperdício dos recursos hídricos. (A evolução da gestão dos recursos
hídricos no Brasil; ANA; 2002). Pode-se observar na Figura 2, Figura 3 e Figura 4 a
evolução da implementação de políticas e ações referentes à gestão dos recursos
hídricos.
Figura 2 - Avanço da Instituição das políticas estaduais dos recursos hídricos Fonte: Conjuntura ANA 2009).
19
Figura 3 - Evolução do processo de instalação de comitês de bacia no Brasil (Fonte: Conjuntura ANA 2010).
Figura 4 - Situação dos Planos estaduais de recursos hídricos em 2013 (Fonte: Conjuntura ANA 2014).
20
3. METODOLOGIA
O tema abordado neste trabalho, como já foi apresentado, se refere à
utilização de um SIG e de seu potencial de mapeamento digital para suporte a
tomada de decisão na gestão de impactos ambientais.
O software utilizado para realização deste trabalho foi o ArcGis da Empresa
ESRI, especificamente selecionado devido ao amplo pacote de ferramentas
disponíveis, e pela facilidade de acesso proporcionada pela universidade.
A região utilizada como estudo de referência da aplicabilidade de um SIG foi a
Bacia Hidrográfica do Rio Doce, tendo como foco o estudo dos municípios afetados
pelo rompimento da Barragem de Fundão. A ruptura da barragem ocorreu em 5 de
novembro de 2015 e a partir de então tornou-se o maior desastre socioambiental já
ocorrido no país, tendo até a presente data o contínuo planejamento e tomada de
ações de contramedida.
A metodologia utilizada contempla as seguintes macro etapas: Criação da
base de dados geográficos; Edição, manipulação e análise de dados geográficos; e
Mapeamento temático produzindo análises e resultados. O fluxograma da
metodologia está representado na Figura 9, a seguir.
21
Figura 5 - Fluxograma da Metodologia Empregada no Trabalho (Fonte: Autoria Própria).
Geração de Novos
Banco de Dados
Levantamento
de Informações
Obtenção
de Dados
Edição, manipulação e análise de dados
geográficos
Padronização
de Datum
Seleção da região de
interesse
Necessita de Tratamento ou Atualização
de Dados?
Tratamento de
Dados no ArcGis
Criação de Mapas
Temáticos
(Sim)
Análise de Mapas
Temáticos
(Não)
Mapeamento temático,
análises e resultados
Banco de Dados
Criação da base de
dados geográficos
Criação de Banco
de dados
Inserção de Dados das Variáveis do
Censo IBGE 2010
Inserção de Dados do Censo
SNIS 2013
Inserção de Dados
da ANA 2015 Inserção de Dados
do DNPM 2014
Inserção de Dados de campanhas da
CPRM / UnB 2015
Inserção de Dados do Relatório do IBAMA
2015
Inserção de Dados do SOS Mata Atlântica
2014
Geração da Matriz de Impactos e
Resultados
22
A seguir será apresentada uma descrição breve do que representa cada
etapa empregada neste trabalho:
1ª Macro etapa: Criação da Base de Dados Geográficos
1. Levantamento de informações: levantou-se informações acerca do desastre do
rompimento da barragem de Fundão, através de pesquisas em jornais, revistas
e relatórios oficiais sobre o incidente; verificou-se também a utilidade das
informações disponíveis; e por fim a partir das informações obtidas verificou-se
quais dados geográficos sobre a Bacia do Rio Doce seriam necessário na
elaboração de mapas temáticos sobre o desastre.
2. Obtenção de dados: ocorreu a aquisição de arquivos em formato shapefile, da
Bacia do Rio Doce e dos municípios afetados; ocorreu também a aquisição de
dados em formato de tabela sobre os temas que seriam desenvolvidos nos
mapas (análise de qualidade da água, densidade populacional, PIB e renda
dos municípios, entre outros).
3. Padronização de Datum: ocorreu à padronização dos dados obtidos em
formato shapefile para um mesmo sistema de coordenadas geográficas, o
SIRGAS2000.
2ª Macro etapa: Edição, Manipulação e Análise de Dados Geográficos
4. Seleção da região de interesse: ocorreu a seleção dos municípios diretamente
impactados pelo rompimento da barragem e os indiretamente impactados, de
acordo com a proximidade física do município com o Rio Doce (curso d’água
atingido).
5. Criação de banco de dados: Através da aquisição prévia de dados tabelares foi
possível criar um banco de dados em ambiente SIG utilizando o comando join,
que é uma ferramenta dentro da própria plataforma do software; os dados
agregados em SIG foram obtidos em diversas fontes e no fluxograma estão
representados de acordo com a fonte/órgão onde foram adquiridos.
6. Tratamento de dados: verificou-se a necessidade de tratar os dados tabelares
em ambiente SIG para fins de um mapeamento específico ou em caso de
necessidade de atualização do dado.
23
3ª Macro etapa: Mapeamento Temático, Análises e Resultados
7. Criação de Mapas Temáticos: desenvolvimento de mapas temáticos que
permitissem uma análise integrada do incidente envolvendo os municípios
afetados pelo rompimento da barragem e as consequências sobre os mesmos;
ocorreu também a contemplação de três âmbitos temáticos para o
mapeamento: ambiental, econômico e social.
8. Análise de Mapas Temáticos: ocorreu a análise dos mapas temáticos
desenvolvidos acerca dos âmbitos comtemplados.
9. Geração da Matriz de Impactos e Resultados: desenvolveu-se uma matriz de
impacto a partir da sobreposição das informações mapeadas; foi obtido o
rankeamento dos municípios de acordo com sua classificação de impacto
obtida na matriz; e por fim os resultados foram expostos em mapas temáticos
nos três âmbitos abordados e em um mapa temático consolidado.
3.1. Criação da base de dados geográficos
A primeira fase na construção do SIG passou pela criação de uma base de
dados geográficos, cuja função foi armazenar os dados vetoriais em formato
shapefile, assim como os atributos (sob a forma de tabelas) associados a estes tipos
de dados, de forma que sempre que ocorresse adição, ou remoção de dados, esta
fosse atualizada.
Antes dos dados serem enviados para o ArcMap, estabeleceu-se qual o
sistema de projeção que lhes seria atribuído. Neste caso, foi utilizado o
SIRGAS2000, Sistema Geodésico Brasileiro oficial, estabelecido pelo IBGE.
3.1.1. Levantamento de Informações e Obtenção de Dados
Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos de diversas fontes. Dessa
forma, para melhor compreensão e organização dos dados em ambiente SIG os
mesmos foram previamente agrupados, de acordo com a fonte de origem. Os dados
geográficos utilizados se encontram abaixo e estão identificados de acordo com o
órgão que o disponibiliza publicamente para uso através de suas plataformas online.
24
ANA – Agência Nacional de Águas:
Mapas digitais com formato de extensão de arquivo shapefile, relativos à
Bacia Hidrográfica do Rio Doce e seus recursos hídricos como formato de
cursos d’água, massas d’água, limites da bacia hidrográfica, entre outros.
Dados tabulares com relação à outorga de uso da água; qualidade da água
no Rio Doce após o rompimento da barragem; e disponibilidade hídrica ao
longo do Rio Doce.
SNIS – Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento:
Dados tabulares em nível de município com relação ao diagnóstico do
serviço de água e esgoto para o ano de 2013, apresentando dados de
demanda hídrica anual para abastecimento dos municípios.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística:
Mapas digitais com formato de extensão de arquivo shapefile relativos aos
limites territoriais do País, dos Estados, Municípios, Setores Censitários,
Capitais e Cidades.
Dados tabulares do Censo Demográfico de 2010 divulgado através do sítio
da Web do IBGE e divido em nível de setores censitários.
DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral:
Mapa digital com formato de extensão de arquivo shapefile relativo à
localização pontual das barragens de rejeito de mineração que se
encontram dentro da Política Nacional de Segurança de Barragens de 2014.
Dados tabulares dessas barragens com informação acerca do volume total
outorgado para a barragem, classificação quanto ao risco e ao dano
potencial, empresa responsável e o tipo de minério produzido.
SOS Mata Atlântica:
Mapa digital com formato de extensão de arquivo shapefile relativo às
vegetações remanescentes de Mata Atlântica e vegetação nativa, localizadas
na Bacia do Rio Doce e em suas proximidades.
MMA – Ministério do Meio Ambiente:
Mapa digital com formato de extensão de arquivo shapefile relativo ao limite
territorial de unidades de conservação localizadas na bacia.
25
CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
Mapas digitais com formato de extensão de arquivo shapefile relativos à
batimetria oceânica nas proximidades da foz do Rio Doce e altimetria da bacia,
a partir do mapa digital de curvas de nível.
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
Dados tabulares contidos no relatório oficial sobre o rompimento da barragem
emitido pelo IBAMA em novembro de 2015. Esses dados foram transformados
em tabelas em ambiente SIG e em conjunto ocorreu à criação de feições
poligonais que foram espacializadas para localização geográfica da
informação.
É importante salientar que o levantamento prévio de informações também
envolveu a pesquisa em jornais, revistas e relatórios oficiais acerca do caso do
rompimento da barragem de Fundão. Essa consulta foi de extrema importância
para verificação dos temas relevantes ao desastre, para priorização dos dados a
serem levantados e até para posterior desenvolvimento da matriz de impactos.
3.1.2. Padronização de Datum
O tratamento prévio realizado foi à adequação dos arquivos em formato
shapefile que se encontravam projetados em um sistema de coordenadas diferente
do padronizado pelo IBGE. Logo, o tratamento prévio consistiu em transformar o
sistema de projeção original de alguns dados, em SAD69, para o padronizado pelo
IBGE, o SIRGAS2000.
O método a ser realizado com tal objetivo se baseia no método Simplificado
de Molodensky, divulgado em documento disponível no portal da Web do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - INDE.
Para a criação deste método de transformação entre os sistemas geodésicos
foi utilizado o aplicativo ArcCatalog da Esri. A formulação matemática a ser aplicada
nas transformações também se encontra no arquivo de referência do (INDE, 2005) e
apresenta os seguintes parâmetros de transformação entre o SAD69 para
SIRGAS2000 listados a seguir.
26
SAD 69 para SIRGAS2000
a1 = 6.378.160 m
f1 = 1/298,25
a2 = 6.378.137 m
f2 = 1/298,257222101
3.2. Edição, Manipulação e Análise de Dados Geográficos
A informação geográfica disponível foi organizada em layers, grupos ou
temas, onde cada layer representava uma entidade com atributos bem definidos. A
Figura 10 abaixo demonstra como cada layer pode ser sobreposto em ambiente SIG
para representar uma região.
Figura 6 – Sobreposição de layers em ambiente SIG para criação de mapas digitais (Fonte: ArcGIS guide book, 2015).
A edição e manipulação de shapefiles permitem a retificação de pequenos
erros na posição e dimensão dos atributos, assim como a criação novos
atributos. Os processos de edição/manipulação de dados que mais foram
utilizados neste trabalho encontram-se representados esquematicamente na
Figura 11.
Onde:
a1, f1 = parâmetros geométricos do elipsóide do sistema de origem.
a2, f2 = parâmetros geométricos do elipsóide do sistema de destino.
(∆X, ∆Y, ∆Z) = parâmetros de transformação entre os sistemas.
∆X = − 67,35 m
∆Y = + 3,88 m
∆Z = − 38,22 m
27
Interseção de Feições
União de Feições
Soma de Feições
Figura 7 – Esquematização de procedimentos de manipulação/edição de dados em SIG. (Fonte: ArcGIS guide book, 2015).
A análise dos dados geográficos pode ser feita por consultas ao mapa
digitalizado, utilizando-se a ferramenta Identify Tool que permite a obtenção dos
atributos de uma determinada entidade. A consulta aos mapas pode ser efetuada
a partir dos atributos das entidades geográficas, ou das relações espaciais que
estas apresentam com outras entidades.
Na consulta por localização são selecionadas todas as entidades que
satisfaçam um critério de localização, como por exemplo, a seleção de
municípios que se encontram a certa distância de um curso d’água. A grande
vantagem desses dois processos reside na possibilidade de exportar as
entidades selecionadas, o que permite a criação de novos arquivos digitais em
formato shapefile.
3.2.1. Criação de Banco de Dados
A criação de banco de dados baseou-se prioritariamente na inserção em
ambiente SIG dos dados levantados sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Doce e
sobre os municípios afetados pelo desastre. Tais dados foram manipulados
previamente em Excel, desenvolvido pela empresa Microsoft, com objetivo de
selecionar as informações que seriam adicionadas em SIG as quais fossem
relevantes à temática do rompimento da barragem.
Clip de Feições
28
A ferramenta utilizada para inserção dessas informações foi o comando Join
do ArcGIS. A Figura 12 ilustra de que forma se pode agregar dados tabelares a
dados digitais disponíveis em ambiente SIG.
Figura 8 – Representação do comando join realizado através do software ArcGIS. (Fonte: Autoria Própria).
Para aplicar o comando Join é preciso indicar a camada alvo na qual se
deseja agregar os dados tabelares. A camada alvo é o arquivo shapefile de
destino, ou seja, a feição cuja tabela receberá os atributos importados de outra
tabela. Esse método é o mais comum para se estabelecer a ligação entre duas
bases de dados fazendo uso de identificadores comuns a cada uma delas, como
apresentado na Figura 12. Estes identificadores são denominados geocódigos e
de acordo com o IBGE cada Estado, Município, Setor Censitário ou entidade
territorial apresenta um geocódigo (numeração) padronizado o que permite que
dados externos sejam agregados a dados tabelares em ambiente SIG.
3.3. Mapeamento Temático, Análises e Resultados
A capacidade de organizar os temas em camadas de informação é muito útil
na criação de mapas temáticos que basicamente são o resultado da
sobreposição de layers de imagens com layers vetoriais ou apenas de layers
vetoriais, que é o caso deste trabalho.
A complexidade do mapa é dependente apenas das necessidades do
utilizador e em alguns casos das capacidades de processamento do computador.
Após a criação dos mapas temáticos é possível visualiza-los em monitor sendo
todas as consultas e análises feitas diretamente em ArcMap, ou prepara-los para
impressão sendo necessário a criação de layouts que contenham os mapas e
todos os elementos necessários à sua interpretação, como escalas e legendas.
ID Atributo X ID Atributo Y ID Atributo X Atributo Y
1 A 1 A 1 A A
2 B 3 B 2 B
3 C 4 D 3 C B
Tabela para realização de JoinTabela em ambiente SIG Tabela Gerada
29
Dessa forma, o trabalho desenvolvido e os dados geográficos trabalhados
foram transformados em mapas para impressão e se encontram disponíveis no
tópico de análises e resultados. Esses mapas permitem a análise da região sob
os diversos âmbitos em nível municipal. Um dos resultados gerados a partir da
interpretação dos mesmos foi uma matriz de impacto, onde ocorreu a graduação
de cada tema para verificação dos municípios que foram mais impactados.
A criação de banco de dados em ambiente SIG envolveu a inserção das
informações levantadas em órgãos públicos, como citado no tópico 3.1.1.
Levantamento de Informações e Obtenção de Dados.
Essa análise de informações também permitiu o desenvolvimento específico
de certas metodologias. Assim as metodologias específicas utilizadas no
mapeamento de alguns temas se encontram descritas a seguir.
3.3.1. Mapeamento do Habitat de Espécies em Extinção
Foram verificadas espécies em extinção presentes na Bacia do Rio Doce.
Segundo IBAMA (2015) existem 11 espécies ameaçadas de extinção na bacia.
Entretanto esse documento não apresenta informações sobre a localização
exata do habitat dessas espécies. Além disso, foram utilizados como referência
artigos consideravelmente antigos que podem apresentar informação
desatualizada e, portanto alguma dessas espécies já pode estar extinta.
Dessa forma, cruzaram-se os fornecidos por esse relatório com outras
referências recentes objetivando a obtenção de informações mais atualizadas,
como o habitat atual de cada espécie dentro da bacia.
No livro “O livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de Extinção”,
disponibilizado pelo Ministério do Meio Ambiente, foi possível encontrar as
regiões geográficas da Bacia onde algumas espécies estão localizadas. Além
dessa referência, outras duas espécies não descritas no livro citado,
Pareiorhaphis nasuta e Pareiorhaphis Scutula, foram descobertas recentemente
e estão presentes em dois artigos (Pereira, Vieira & Reis, 2007) e (Pereira, Vieira
& Reis, 2010).
30
Na tabela abaixo foi feito o check-list das espécies em extinção
mencionadas no relatório do IBAMA (2015) e aquelas cujo habitat específico foi
identificado através de outras referências.
Espécie em Extinção Encontrada na Bacia do Rio
Doce
Leporinus thayeri (hypomasticus) Sim
Brycon devillei Sim
Henochilus wheatlandii Sim
Steindachneridion doceanum Sim
Microlepidogaster Não
Pareiorhaphis mutuca Sim
Pareiorhaphis nasuta Sim
Pareiorhaphis Scutula Sim
Prochilodus Vimboides Não
Rachoviscus Graciliceps Não
Xenurolebias Izecksohni Não
Tabela 1 – Aquisição do habitat de espécies em extinção (Fonte: Relatório do IBAMA, 2015).
Atualmente, pode-se considerar que a espécie Rachoviscus Gracilicep só é
encontrada do norte do Espírito Santo até Porto Seguro na Bahia acima dos
limites da Bacia do Rio Doce (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2008). Dessa
forma, tal espécie foi desconsiderada no georreferenciamento. Em contrapartida,
no resultado final foi adicionado duas outras espécies que não estavam
presentes no relatório do IBAMA (2015), porém são encontradas na Bacia do Rio
Doce: Brycon opalinus (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2008) e Oligosarcus
solitarius (INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS- MG, 2014).
O relatório MG biota (2009), desenvolvido pelo Instituto Estadual De
Florestas-MG foi utilizado para confirmar a endemecidade das espécies em
extinção georreferenciadas. O cruzamento desses dados fornece de forma mais
acurada e atualizada a localização das espécies em extinção dentro da bacia do
Rio Doce, como apresentado nas Tabelas 2, 3 e 4 a seguir.
31
Peixes
Espécie em Extinção Região da Bacia do Rio Doce Endêmica
Leporinus thayeri (hypomasticus)
Exclusivamente na região do médio e alto rio Santo Antônio.
Sim
Brycon Devillei
Lagos do médio Rio Doce, especificamente o lago Dom Helvécio e a lagoa Carioca. Essa espécie ocorria no Parque Estadual do Rio Doce (MG), mas sua ocorrência atual nessa localidade é incerta.
Sim
Brycon Opalinus Rio Piranga e na bacia do rio Santo Antônio, sendo que na última existem populações ainda bastante expressivas.
Sim
Henochilus wheatlandii
Bacia do rio Santo Antônio, afluente da margem esquerda do rio Doce (MG). Nessa drenagem, a espécie possui distribuição restrita a seu curso médio, a montante da Usina Hidrelétrica de Salto Grande. (A espécie é conhecida na reserva florestal da Companhia Vale do Rio Doce e reserva florestal da EMCAPA (ES).
Sim
Steindachneridion doceanum
Somente três localidades na bacia do rio Doce, todas em Minas Gerais: médio rio Santo Antônio, próximo à cidade de Ferros, baixo rio Manhuaçu e no rio Piranga, acima e abaixo da cidade de Ponte Nova. O maior número de exemplares provém dessa última localidade.
Sim
Pareiorhaphis mutuca
Conhecido apenas da localidade tipo: córrego Mutuca, sistema do rio das Velhas, Nova Lima, Minas Gerais. Não se conhecem registros recentes. Todos os espécimes conhecidos foram coletados em 1987 e tentativas recentes de localizar a espécie não tiveram êxito.
Sim
Pareiorhaphis nasuta Ribeirão Areia Branca, contribuinte ao Rio Matipó e no próprio rio Matipó.
Sim
Pareiorhaphis Scutula Córrego Prainha, um córrego contribuinte ao Rio Piracicaba na parte superior do Rio Doce.
Sim
Oligosarcus solitarius Lagos na região do médio Rio Doce; lago Gambazinho.
Sim
Tabela 2 – Habitat das Espécies de Peixes em Extinção (Fonte: Autoria Própria).
Crustáceos
Espécie em Extinção Região da Bacia do Rio Doce Endêmica
Cardisoma Guanhumi Vegetação manguezal, estuário da foz do rio doce.
Não
Tabela 3 – Habitat das Espécies de Crustáceos em Extinção (Fonte: Autoria Própria).
32
Tartarugas
Espécie em Extinção Região da Bacia do Rio Doce Endêmica
Caretta Caretta Foz do Rio Doce Não
Dermochelys Coriacea Foz do Rio Doce Não
Tabela 4 – Habitat das Tartarugas em Extinção (Fonte: Autoria Própria).
3.3.2. Mapeamento da Qualidade de Água
A realização de coletas de água em pontos ao longo Rio Doce e sua
posterior análise pela CPRM e pela UnB permitiu a identificação da variação da
qualidade de água do rio, antes e após o incidente.
Os parâmetros analisados pela CPRM e legislados pela CONAMA que
apresentaram alterações significantes após o contato com o rejeito foram a
turbidez e o oxigênio dissolvido. Os resultados de metais dissolvidos não
apresentaram alterações significantes (CPRM 1 e 2, 2015). A UnB constatou
que o parâmetro legislado Manganês Total estava acima do permitido (UnB,
2015). Contudo, devido a pouca quantidade de pontos de coleta realizada pela
UnB não foi possível identificar um padrão no aumento do valor de Manganês
total ao longo do Rio Doce, de Mariana á foz em Linhares. Dessa forma, como o
objetivo do mapeamento é apresentar o grau de impacto de forma comparativa
entre os municípios, esse parâmetro não pode ser utilizado.
É possível verificar a tabela completa no tópico 6.2.2. Qualidade de Água
(Capítulo Análises e Resultados) que relaciona os pontos de captação,
parâmetros de qualidade e padrões estabelecidos pela CONAMA 357 (1986).
Vale ressaltar que a CPRM realizou duas campanhas em datas diferentes e
os valores de turbidez e oxigênio dissolvido utilizados na geração do indicador
foram aqueles obtidos na primeira campanha logo após o incidente, quando a
degradação máxima da qualidade do rio desencadeou o auge de impactos, como
morte de diversos exemplares de vida aquática. Comparando os valores dos
parâmetros obtidos em cada ponto de coleta foi possível identificar três
diferentes trechos de qualidade no Rio Doce.
33
Pontos de Coletas Turbidez OD Mn total Classificação
de Impacto (NTU) (mg/l) (mg/l)
Gesteira >400000 <=0,1
I (maior)
Barra Longa >400000 <=0,1 0,1 a 1
Rio Doce >400000 <=0,1 1 a 3
Faz. Cachoeira D'Antas >400000 <=0,1
Cachoeira dos Óculos (Marliéria) >400000 <=0,1 1 a 3
Ponte Rodovia Ipatinga/Belo Oriente >400000 <=0,1 1 a 3
Periquito / Belo Oriente/ Naque >400000 <=0,1 1 a 3
Governador Valadares 100 mil a 400 mil
0,1 a 1 0,1 a 1
II (médio)
Tumiritinga 50 mil a 100 mil
0,1 a 1
Conselheiro Pena/ Resplendor 1 mil a 50 mil
1 a 5 II (menor)
Tabela 5 – Trechos de qualidade de água (Fonte: Autoria Própria).
O ponto de coleta pela CPRM mais próximo à barragem (após chegada da
onda contaminada pelo rejeito) foi em Governador Valadares. Dessa forma foi
possível inferir que valores de oxigênio dissolvido em pontos a montante de
Governador Valadares, ainda mais próximos ao local do rompimento, eram
menores ou iguais ao valores obtidos nesse município.
É valido ressaltar que todo Rio Doce foi altamente impactado pelo aumento
de turbidez, sólidos dissolvidos e pela queda de oxigênio dissolvido. Assim, as
classificações de Maior, Médio e Menor só são válidas de modo comparativo
entre os trechos e não em absoluto.
3.3.3. Geração de Indicador de Impacto Socioambiental
Os indicadores são parâmetros ou valores derivados de parâmetros
desenvolvidos para objetivos específicos, que descrevem ou dão informação acerca
de um determinado fenômeno (OECD, 1993).
A partir da identificação dos elementos socioambientais que compõem uma
bacia é possível relacionar seus elementos e obter um indicador do impacto
socioambiental, sofrido por cada município integrante da bacia. Desse modo foi
possível realizar a classificação dos municípios mais afetados, pela degradação da
qualidade do rio, decorrente do colapso de uma barragem de rejeito. Os indicadores
de impactos ambientais podem ser utilizados como ferramentas de suporte à
tomada de decisão.
34
Neste trabalho onde foi utilizado como estudo de referência o rompimento da
Barragem de Fundão, os seguintes elementos foram adotados:
Municípios Afetados
Municípios que foram afetados em algum grau, físico ou social, pela degradação
da qualidade de água do recurso hídrico, seja porque são atravessados pelo Rio,
estão à margem dele ou tem a população abastecida pelo mesmo. Nessa análise
foram excluídos os municípios de Mariana e Barra Longa, pois esses foram os
municípios incomparavelmente mais afetados pelo desastre devido à perda de bens
materiais e de vidas. Dessa forma, a seleção dos 38 municípios foi feita de modo
agrupar os municípios que somente foram impactados através da degradação da
qualidade do Rio Doce.
Qualidade de água
O mapeamento da variação da qualidade de água ao longo Rio permitiu a
identificação de três diferentes trechos de qualidade do rio após o incidente. Dessa
maneira, foi possível relacionar a localização dos municípios com os trechos
identificados.
Unidades de Conservação (UC’s)
Foi possível realizar o reconhecimento de unidades de conservação dentro dos
limites municipais, através do georreferenciamento. Sendo a unidade de
conservação um elemento regulado por lei de modo a conservar os recursos
ambientais, a chegada de fluxo de água contaminada deve ser observada com
atenção devido ao dano potencial à fauna, à flora e aos recursos ali presentes.
Espécies Ameaçadas de Extinção
Os mapas produzidos nesse trabalho permitiram a identificação dos trechos das
bacias nos quais se localizam os habitats de cada espécie ameaçada de extinção,
permitindo assim relacionar essa localização com um município da bacia.
35
Abastecimento de Água
Dentro dos municípios afetados pela degradação da água do Rio Doce, oito
municípios foram especialmente prejudicados por dependerem totalmente desse rio
para o abastecimento.
População
A quantidade da população afetada foi considerada para geração do indicador.
Foram definidas três faixas de quantitativos populacionais, atribuindo-se diferentes
pesos a cada uma delas.
Quantidade Populacional
Faixas
< 10.000 10.000 a 70.000 > 70.000
Pesos
1 2 3
Alpercata Aimorés Caratinga
Bugre Baixo Guandu Colatina
Córrego Novo Belo Oriente Governador Valadares
Dionísio Bom Jesus do Galho Ipatinga
Fernandes Tourinho Iapu Linhares
Galiléia Ipaba Timóteo
Itueta Marilândia
Marliéria Ponte Nova
Naque Raul Soares
Periquito Resplendor
Pingo-d'Água Rio Casca
Rio Doce Santana do Paraíso
Santa Cruz do Escalvado São Domingos do Prata
São José do Goiabal Conselheiro pena
São Pedro dos Ferros
Sem-Peixe
Sobrália
Tumiritinga
Tabela 6 – Faixas de quantidade populacional (Fonte: IBGE).
Pesca
Apesar da falta de dados referente à significância da pesca no PIB dos municípios,
o desastre no Rio Doce pode ter desencadeado reflexos sociais mais graves devido à
queda de renda e qualidade de vida das comunidades pesqueiras, do que
consequências econômicas para os municípios. Foi realizado um levantamento da
quantidade de pescadores artesanais profissionais cadastrados no Sistema
Informatizado do Registro Geral da Atividade Pesqueira – SisRGP.
36
Dessa forma, foi definido um peso de alta representatividade para os municípios
que possuem mais de 50 pescadores cadastrados.
Profissionais Cadastrados Município Peso
56 Aimorés 1
92 Conselheiro Pena 1
172 Governador Valadares 1
101 Resplendor 1
76 Tumiritinga 1
Tabela 7 – Representatividade de pesca artesanal (Fonte: SINPESQ).
Apesar do acesso de dados ser limitado aos profissionais cadastrados esses
valores podem indicar aproximadamente o potencial dos municípios para pesca,
incluindo os profissionais informais.
PIB
Para a geração do indicador de impacto foi considerado o PIB dos municípios que
dependem do abastecimento total do Rio Doce. Com o déficit de água, diversas
atividades foram suspensas o que desencadeará reflexos no PIB dos municípios.
Analisando a composição do PIB dos municípios foram identificados setores que
dependem diretamente da utilização de água como indústria, agricultura e serviços.
Dessa forma, segmentos do PIB que não dependem diretamente do abastecimento
como arrecadação de imposto e PIB do setor público foram excluídos nessa
metodologia. Assim, foram definidas duas faixas que indicam a importância de tais
setores da composição total do PIB municipal.
Representatividades dos setores de Agricultura, Indústria e serviços no
PIB municipal.
49 a 60 % 61 a 72%
Pesos
2 3
Galiléia Governador Valadares
Itueta Colatina
Alpercata Baixo Guandu
Tumiritinga Resplendor
Tabela 8 – Representatividade dos setores de Agricultura, Indústria e Serviços no PIB municipal (Fonte: IBGE).
37
Turismo
Apesar de não depender diretamente do abastecimento de água, o turismo é um
setor gravemente impactado pela degradação da qualidade da água do Rio Doce.
Foi realizado o levantamento dos municípios inseridos dentro dos circuitos
turísticos.
Circuito Turístico
Trilhas Do Rio Doce
Circuito Turístico
Mata Atlântica De
Minas
Região Doce
Pontões Capixabas
Região Do Verde
E Das Águas
Aimorés Belo oriente Colatina Linhares
Conselheiro Pena Bugre
Governador Valadares Dionísio
Galiléia Ipatinga
Resplendor Marliéria
Santana do Paraíso
São domingos do Prata
São José do Goiabal
Timóteo
Tabela 9 – Municípios Inseridos nos circuitos turísticos (Fonte: PIRH, 2010).
Após identificar os elementos que serão responsáveis por gerar o indicador, é
necessário definir os pesos relativos a cada elemento ou a cada faixa dentro de um
mesmo elemento. Para a Bacia do Rio Doce, a tabela a seguir apresenta o critério
de definição dos pesos máximos aferidos a cada elemento.
Peso Máximo Características do Elemento Elementos
Elementos que influenciam
diretamente e indiretamente na qualidade de vida da população,
considerando saúde, lazer e economia.
Qualidade da Água do Rio
3 Abastecimento
Tamanho Populacional
PIB
Elementos relacionados diretamente a saúde da fauna e
flora e indiretamente a saúde humana
2 U.C.
Espécies em Extinção
Setores sociais ou econômicos que são especialmente impactados pelo
incidente
1 Turismo
Pesca
Tabela 10 – Peso máximo aferido a cada elemento (Fonte: Autoria Própria).
A matriz de impacto gerada a partir da correlação entre os municípios e seus
elementos, assim como os resultados finais obtidos podem ser observados no tópico
6.5 Indicador de Impacto (Capítulo 6 - Análises e Resultados).
38
4. ESTUDO DE REFERÊNCIA
4.1. A Bacia Hidrográfica do Rio Doce
A Bacia Hidrográfica do Rio Doce está localizada na Região Sudeste do Brasil
entre os paralelos 17°45’ e 21°15’ de latitude sul e os meridianos 39°55’ e 43°45’ de
longitude oeste, integrando a região hidrográfica do Atlântico Sudeste. Possui uma
área de drenagem com cerca de 86.715 km², (PIRH, 2010), dos quais 86%
pertencem ao Estado de Minas Gerais e o restante ao Estado do Espírito Santo,
sendo, portanto, uma bacia de domínio federal.
O Rio Doce nasce no município de Ressaquinha (MG) a partir do encontro do
Rio Piranga com o Rio do Carmo, seus formadores. Suas nascentes situam-se nos
limites sudoeste da Bacia na Serra da Mantiqueira (município de Ressaquinha) e no
Complexo do Espinhaço em Minas Gerais, região de altitudes superiores de 1.200
metros. No que se refere aos aspectos físicos, o Rio Doce é caracterizado como um
extenso rio que penetra profundamente no planalto mineiro e suas águas percorrem
cerca de 850 km (PIRH, 2010) até atingir o oceano Atlântico, junto ao povoado de
Regência (Figura 5).
Pela margem esquerda do Rio Doce, os principais afluentes são os rios do
Carmo, Piracicaba, Santo Antônio, Corrente Grande e Suaçuí Grande, em Minas
Gerais; São José e Pancas no Espírito Santo. Já pela margem direita são os rios
Piranga, Casca, Matipó, Caratinga/Cuieté e Manhuaçu em Minas Gerais; Guandu,
Santa Joana e Santa Maria do Rio Doce no Espírito Santo. Os principais afluentes
da bacia do rio Doce, com as correspondentes áreas de drenagem são
apresentados no Quadro 1, extraído de (ANEEL/FUMEC- 2001).
39
Figura 9 – Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (Fonte: PIRH Volume I, 2010).
Quadro 1 – Principais afluentes do Rio Doce e respectivas áreas de drenagem (Fonte: Inventário Hidrelétrico da Bacia do Rio Doce, ANEEL/FUMEC, 2001).
Conforme Diagnóstico Consolidado da Bacia (2005) em função das
características morfoestruturais variadas que ocorrem no interior da bacia, o traçado
do Rio Doce é dividido em três Unidades Regionais:
Alto Doce: da nascente até a confluência com o rio Piracicaba, afluente do Rio
Doce pela margem esquerda, nas proximidades da cidade de Ipatinga, em
Minas Gerais;
Médio Doce: da confluência com o Rio Piracicaba até a divisa entre Minas
Gerais e Espírito Santo, nas proximidades da confluência com o Rio Guandu
no Espírito Santo;
Baixo Doce: da divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo até a foz no
Oceano Atlântico.
40
No Alto Doce o Rio Doce atravessa o Parque Estadual do Rio Doce, numa
extensão de cerca de 50 km. Essa região é caracterizada por um importante sistema
lacustre. Esse sistema ocupando terras dos municípios de Ipatinga, Caratinga, São
Pedro dos Ferros, Timóteo, Marliéria e distribuído em ambas às margens do Rio
Doce é formado por cerca de 42 lagoas naturais. Dentre estas deve ser mencionada
a maior delas, a Lagoa Dom Helvécio com 6,7 km² de área e cerca de 30 m de
profundidade máxima.
O Quadro 2 a seguir sumariza as características gerais da Bacia do Rio Doce, de
acordo com a delimitação de cada trecho da bacia: Alto, Médio ou Baixo Doce.
Quadro 2 – Características por trecho da bacia do rio Doce (Fonte: PIRH Volume I, 2010).
De acordo com o Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Doce
(2010) no estado de Minas Gerais a bacia é subdividida em seis Unidades de
Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos (UPGRHs), com Comitês de Bacia
estruturados conforme a seguinte relação:
DO1 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Piranga;
DO2 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Piracicaba;
DO3 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Santo Antônio;
DO4 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Suaçuí;
DO5 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Caratinga; e
DO6 – Comitê de Bacia Hidrográfica Águas do rio Manhuaçu.
No Estado do Espírito Santo, embora inexistam subdivisões administrativas, têm-
se os Comitês das Bacias Hidrográficas do Rio Santa Maria do Doce, do Rio
Guandu e do Rio São José, bem como os Consórcios dos Rios Santa Joana e
Pancas.
41
A Figura 6 mostra o mapa da Bacia Hidrográfica do Rio Doce e a área de atuação
dos comitês de bacias estaduais.
Figura 10 – Mapa da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (Fonte: PIRH Volume I, 2010).
A Bacia Hidrográfica do Rio Doce abrange, total ou parcialmente, áreas de
230 municípios (PIRH 2010), sendo 202 em Minas Gerais e 28 no Espírito Santo e
possui uma população total da ordem de 3,3 milhões de habitantes conforme dados
fornecidos pelo Censo IBGE (2010).
O desmatamento generalizado e o mau uso dos solos, tanto para monocultura
do eucalipto como para agricultura e pastagem, tem levado a bacia a um intenso
processo de erosão, cujos sedimentos resultantes tendem a assorear os cursos
d'água. O assoreamento é um dos problemas críticos que atinge a bacia, em
especial o baixo rio Doce, que recebe carga de sedimentos provenientes das áreas
a montante. Deve-se salientar que o problema da erosão é ainda maior nas áreas
em que as rochas e o solo têm em sua composição química grandes concentrações
de alumínio.
A urbanização da bacia também contribui significativamente para os impactos
nos cursos d'água, principalmente pelo quase inexistente sistema de tratamento de
esgotos. As inundações são também outro grande problema ambiental evidenciado
na bacia.
42
O desmatamento e o manejo inadequado do solo favoreceram a formação de
processos erosivos, que somados aos despejos inadequados advindos da
mineração e de resíduos industriais e domésticos, deram origem ao contínuo
processo de assoreamento dos leitos dos rios da bacia (Diagnóstico Consolidado da
Bacia, 2005). O diagnóstico chama a atenção para o fato de algumas cidades
ocuparem a planície de inundação dos rios e de tempos em tempos, períodos de
chuva mais severos provocam o alagamento de parte destas planícies, trazendo
graves prejuízos à região. O Quadro 3 apresenta um resumo das características
gerais da Bacia do Rio Doce.
Características Gerais da Bacia do Rio Doce
Área de drenagem da bacia 86.715 km²
Extensão do curso principal (Rio Doce) Aprox. 850 km
Nº de municípios 230 municípios
População na bacia Aproximadamente 3.294.000 habitantes
Principais atividades econômicas
Mineração
Siderurgia
Silvicultura
Agropecuária
Principais problemas relacionados à gestão dos recursos hídricos
Contaminação por esgotos domésticos
Erosão e assoreamento
Quadro 3 – Características gerais da bacia do rio Doce (Fonte: PIRH Volume I, 2010).
A Figura 7 apresenta a delimitação da Bacia Hidrográfica do Rio Doce e sua
hierarquia fluvial, calculada com uso do SIG por Coelho (2007) e apresentando os
cursos de rios a partir da 5ª ordem conforme Strahler (1951).
43
Figura 11 – Hierarquia Fluvial da Bacia do Rio Doce calculada com uso do SIG (Fonte: Coelho, 2007).
Considerando que a definição dos limites de uma bacia está diretamente
associada ao relevo da mesma, atualmente este pode ser representado
computacionalmente como sendo uma matriz de pixels (menor elemento de uma
imagem), que contêm valores de altimetria para cada célula. Esta matriz é
geralmente denominada Modelo Numérico de Terreno (MNT) e pode ser obtida
mediante a vetorização e interpolação de curvas de nível de uma folha topográfica
(DIAS et al, 2004).
4.2. Mineração na Bacia do Rio Doce
Conforme descrito em COELHO (2009) a bacia passou por um processo de
industrialização no final da década de 30 com a chegada da Ferrovia, no município
mineiro de Itabira (sub-bacia do Piracicaba), que na década seguinte passou a
escoar regularmente o minério em direção ao porto de Vitória. O fato de recursos
naturais terem sido encontrados na região adjacente à Itabira, associados à rede
ferroviária existente, favoreceu as condições para implantação de um pólo
siderúrgico, conhecido hoje como “Vale do Aço”.
44
O Vale do Aço é oficialmente denominado Região Metropolitana do Vale do
Aço (RMVA), localizado no interior do estado de Minas Gerais, na Região
Sudeste do país (INCT, 2012). Foi reconhecido pela lei complementar nº 51, de 30
de dezembro de 1998, sendo efetivada como região metropolitana em 12 de janeiro
de 2006. Além de Ipatinga, que sedia a agência metropolitana desde janeiro de
2012, é composta pelos municípios de Coronel Fabriciano, Santana do Paraíso e
Timóteo, além das 24 cidades do colar metropolitano.
Figura 12 – Localização da Região Metropolitana do Vale do Aço, RMVA (Fonte: Diário do Aço, 2012).
Segundo o Relatório de Gestão do Exercício da ANA (2014), atualmente na
região encontra-se instalado o maior complexo siderúrgico da América Latina, com
destaque para a Companhia Siderúrgica Belgo Mineira, a ACESITA, a
Cenibra (em Belo Oriente) e a USIMINAS. Algumas empresas de mineração ainda
estão associadas de forma presente, com destaque para a Companhia Vale do Rio
Doce - CVRD e empresas reflorestadoras que cultivam o eucalipto para fornecer
matéria-prima para as indústrias de celulose.
45
Esse complexo industrial é responsável por grande parte das exportações
brasileiras de minério de ferro, aço e celulose, sendo assim de grande importância
para a região onde estão instaladas. Existe uma significativa geração de capital na
bacia em função da existência desse complexo siderúrgico, contudo, também se
verifica a desigualdade no interior da bacia. Somente algumas áreas foram
contempladas com o maior desenvolvimento das atividades econômicas, como o
Vale do Aço e a região de influência dos municípios de Governador Valadares,
Caratinga, Colatina e Linhares. Os indicadores sociais e econômicos de uma parte
significativa dos municípios da bacia mostra que quase uma centena deles são
classificados como municípios pobres (PIRH, 2010).
4.2.1. Empresa Samarco Mineração S.A.
A Samarco Mineração S.A. é uma mineradora brasileira fundada em 1977 e
atualmente controlada através de uma joint-venture entre a Vale S.A. e a anglo-
australiana BHP Billiton, cada uma com 50% das ações da empresa (VEJA, 2015). A
área teve a sua concessão transferida da Sociedade Anônima Mineradora Trindade
(Samitri) para a Samarco.
Segundo RAMALHOSO (2015) a empresa obteve um lucro de R$ 13,3 bilhões
entre 2010 e 2014, sendo o lucro isolado do ano de 2014 de R$ 2,8 bilhões. Esses
dados também podem ser encontrados no próprio portal da empresa na internet.
Em 5 de novembro de 2015 a mineradora ganhou destaque após o desastre
do rompimento de barragem de Fundão no subdstrito de Bento Rodrigues.
A barragem de rejeito fazia parte da Mina de Germano que integra o
chamado Complexo de Alegria, situado no município de Mariana, estado de Minas
Gerais.
4.2.2. Mineração de Ferro: Características da produção e do rejeito
De acordo com o relatório anual de sustentabilidade da Samarco (Samarco,
2013), as atividades interligadas no processo de produção do minério de ferro têm,
como um dos objetivos, gerar o menor impacto ambiental possível, com segurança e
eficiência operacional. A empresa afirma que mantém o controle sobre todas as
etapas do processo de produção das pelotas de minério de ferro – desde a extração
na mina até o beneficiamento, pelotização e embarque.
46
Na unidade de Germano, situada nos municípios de Mariana e Ouro Preto
(MG), o minério de ferro é extraído em minas a céu aberto e conduzido até um
sistema de correias transportadoras, por meio do qual é lavrado cerca de 70% do
recurso mineral que é transportado até os concentradores sem recorrer ao uso de
caminhões.
Nos concentradores, no processo de beneficiamento do minério, o material
com 46% de teor de ferro passa pelos processos de britagem, moagem,
deslamagem e flotação para adequação das especificações físicas e químicas e
transformação em polpa para o transporte pelos minerodutos. Nesses processos
ocorre a redução da quantidade de minerais dispensáveis, transformando o minério
em um concentrado com 67% de ferro. Os rejeitos e estéreis gerados nesses
processos são armazenados em barragens e pilhas de estéril, estruturas que devem
ser continuamente monitoradas e controladas.
Já em forma de polpa, o material passa pela etapa de espessamento, na qual
é ajustada a porcentagem de sólidos da polpa (aproximadamente 30% de água e
70% de sólidos), e segue para nossos minerodutos, que fazem o transporte entre as
unidades de Germano e Ubu, em Anchieta (ES).
Segundo Samarco (2013) os minerodutos atravessam 25 municípios mineiros
e capixabas, sendo considerada uma tecnologia pioneira no País, evitando o uso de
outros modais viários. Além disso, por meio de sistemas de recirculação, cerca de
90% da água utilizada nos dutos é reaproveitada nas operações. De acordo com
todo o descritivo da Samarco o processo de beneficiamento praticado pela empresa
é considerado um dos mais eficazes no mercado atualmente.
Já o rejeito, proveniente do processo de beneficiamento do minério de ferro,
não é tóxico segundo Samarco (2016) e não representa risco para a saúde humana,
uma vez que não disponibiliza contaminantes para a água, mesmo em condições de
exposição à chuva. Ele é composto basicamente de água, partículas de óxidos de
ferro e sílica (ou quartzo).
Análises feitas pela SGS Geosol, empresa especializada em análises
ambientais e geoquímicas do solo, confirmam que o rejeito da Barragem de Fundão
não oferece perigo para as pessoas, com base na classificação da periculosidade do
material (ABNT 1004). As amostras foram colhidas em diversos pontos próximos ao
local do acidente.
47
Os testes simularam situações como manuseio do rejeito por qualquer pessoa
sem cuidados especiais, exposição a chuvas por vários anos e contato com águas
correntes, como enxurradas. O material também foi analisado considerando seu
índice de acidez, neutralidade ou alcalinidade (PH), sua corrosividade e a
possibilidade de gerar reação violenta.
Também foi verificada a presença das seguintes substâncias: alumínio,
arsênio, bário, cádmio, chumbo, cianeto, cloreto, cobre, cromo, ferro, fluoretos,
manganês, mercúrio, nitrato, prata, selênio, sódio, sulfato, zinco, fenóis, coagulantes
e floculantes.
Logo, de acordo com a empresa Samarco, para o caso específico do
rompimento da barragem de Fundão foi ressaltado que os metais encontrados, por
meio do monitoramento, sempre estiveram presentes no curso do Rio Doce e que
com a passagem da pluma eles se movimentaram e vieram à superfície. De acordo
com empresa os índices que estão acima do limite estabelecido pela legislação têm
a tendência de voltar ao normal, à medida que a pluma se acomodar.
4.3. Considerações Preliminares sobre o Rompimento da Barragem de Fundão
Os itens a seguir têm como objetivo caracterizar o desastre envolvendo o
rompimento da barragem de Fundão, apresentando de forma geral o que foi o
acidente e como os eventos consequentes a ele se desencadearam. Os dados
apresentados neste capítulo foram obtidos através de documentos e laudos oficiais,
produzidos após o desastre, por órgãos públicos e privados.
4.3.1. Panorama Geral do Desastre
A barragem de Fundão se localiza no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 km
do centro do município brasileiro de Mariana, em Minas Gerais. Trata-se de
uma barragem de rejeitos de mineração provenientes da extração do minério de
ferro. A barragem é controlada pela Samarco Mineração S.A., sendo
um empreendimento conjunto das maiores empresas de mineração do mundo, como
mencionado anteriormente.
48
O rompimento da barragem de Fundão foi considerado o maior desastre
ambiental da história brasileira e o maior do mundo envolvendo barragens de rejeito,
segundo especialistas ambientais brasileiros. Os rejeitos liberados chegaram ao Rio
Doce, cuja bacia hidrográfica abrange 230 municípios dos estados de Minas Gerais
e Espírito Santo, muitos dos quais abastecem sua população com a água do rio.
No panorama geral os rejeitos afetaram gravemente o subdistrito de Bento
Rodrigues, que foi encoberto por uma onda de lama de rejeitos. Também afetou
gravemente a qualidade de água de todo o Rio Doce desde sua nascente, nas
cidades de Santa Cruz do Escalvado e Rio Doce, Região Central de Minas, até a foz
em Linhares no Espírito Santo. Os rejeitos liberados provocaram a morte de peixes
e animais, o colapso no abastecimento de água de grandes cidades, como
Governador Valadares e Colatina, além de afetar as atividades de pesca e irrigação
em algumas localidades (ANA, 2015b).
4.3.2. Possíveis Causas do Rompimento
O jornal “O Estado de S. Paulo”, no dia 03/02/2016 divulgou trechos do
relatório realizado pela polícia federal, o qual incumbia à empresa Samarco a
responsabilidade pelo rompimento da barragem de Fundão. Tal relatório aponta
motivos técnicos entre eles uma taxa de alteamento de 15 metros por ano, superior
às recomendadas pela Deliberação Normativa nº 87 (COPAM, 2005), de 5 a 10
metros por ano.
Segundo a edição do “Jornal Nacional” do mesmo dia, o Ministério Público de
Meio Ambiente de Minas Gerais declarou que o alteamento para aumentar a
capacidade de Fundão estava dentro do que foi licenciado no que se refere à altura,
não no que se refere ao recuo da estrutura que foi realizado, o qual pode ter
contribuído para a instabilidade da barragem.
As imagens a seguir exibem o alteamento para barragem a partir do ano de
2011. Na Figura 15, relativa à situação da barragem em 2015, é possível observar
uma curva bem definida no alteamento.
49
Figura 13 - Barragem de Fundão em 2011 (Fonte: Google Earth).
Figura 14 - Barragem de Fundão em 2013 (Fonte: Google Earth).
Figura 15 – Barragem de Fundão em 2015 (Fonte: Google Earth)
50
Ainda de acordo com a mesma reportagem, problemas no monitoramento
podem ter contribuído para verificação de instabilidade. O coordenador técnico de
planejamento e monitoramento da Samarco citou que a última leitura manual nos
equipamentos que mediam a estabilidade da barragem de Fundão tinha sido feita no
dia 26 de outubro, dez dias antes do rompimento. E os outros equipamentos que
enviavam dados automaticamente estavam em manutenção nos dias três, quatro e
cinco de novembro, dia do rompimento da barragem de Fundão (GLOBO, 2016a).
Em entrevista à TV Globo o engenheiro Joaquim Pimenta de Ávila que
projetou a barragem de Fundão disse que a alteração do projeto não foi feita por ele.
O engenheiro afirma que além de projetar a barragem prestou consultoria para a
mineradora em 2014 e disse que nesse período alertou à Samarco sobre um
princípio de ruptura, na margem esquerda da barragem de Fundão. O engenheiro
afirmou que uma trinca apareceu no recuo feito na barragem, o qual não estava no
projeto original (GLOBO, 2016b). A recomendação do especialista na época foi que
realizassem o redimensionamento do reforço na estrutura e a instalação de ao
menos nove piezômetros. Contudo, ele não tem conhecimento se as
recomendações foram de fato executadas.
No dia 23/02/2016 a Polícia Civil afirmou que a causa do rompimento da
barragem de Fundão foi o efeito de liquefação, o qual ocorre devido ao acúmulo de
água no solo. A polícia explicou que houve elevada saturação de rejeitos arenosos
depositados na barragem, falhas no monitoramento, equipamentos com defeito,
número reduzido de equipamentos de monitoramento, elevada taxa de alteamento
anual da barragem e deficiência junto ao sistema de drenagem (GLOBO, 2016c).
A perícia realizada pela Polícia Civil revelou que nos dois lados da barragem
havia um grande acúmulo de água ao invés de lama, mostrando que a drenagem
era ineficiente. O delegado Rodrigo Bustamante, responsável pelo inquérito, afirmou
sobre o alteamento da barragem "É como se o aumento do eixo (da barragem) fosse
construído em cima de uma gelatina". Além disso, Segundo a polícia civil, estudos
da UnB (Universidade de Brasília) e da USP (Universidade São Paulo) apontam que
abalos sísmicos não foram responsáveis pela ruptura, como a Samarco chegou a
cogitar após o incidente.
51
4.4. O Desastre
Na tarde de 05/11/2015 ocorreu o rompimento da barragem de Fundão, no
subdistrito de Bento Rodrigues. A barragem, como já mencionado, faz parte de um
complexo de barragens de rejeito de mineração de ferro, composto ainda pelas
barragens de Santarém e Germano (ver Figuras 16 e 17).
Figura 16 – Complexo Minerário de Germano antes do rompimento da barragem (Fonte: Google Earth, de 20/07/2015).
Figura 17 – Complexo Minerário de Germano após rompimento da barragem. (Fonte: Google Earth, de 11/11/2015).
O rompimento causou uma enxurrada de lama que atingiu inicialmente a
barragem de Santarém, a jusante de Fundão, causando seu galgamento e
provocando a passagem de uma onda de lama do material contido em Fundão para
além do domínio das barragens.
52
O subdistrito de Bento Rodrigues, localizado cerca de 2,5 km vale abaixo foi o
mais afetado pelo rompimento e totalmente inundado pela enxurrada de lama.
Outros vilarejos e distritos situados no vale do Rio Gualaxo do Norte também foram
atingidos pela onda de lama.
Figura 18 – Esquema do rompimento da barragem de Fundão no subdistrito de Bento Rodrigues, Minas Gerais (Fonte: OpenStreetMap).
Segundo relatório do CENAD, produzido em 07/11/2015, os outros
subdistritos e povoados diretamente atingidos pela onda de lama foram: Paracatu de
Baixo, Paracatu de Cima, Camargos e Gesteras. Um panorama geral da população
diretamente impactada foi divulgado por esse relatório, e os dados relativos a óbitos
e desaparecidos foram atualizados em 22/11/2015.
Município Residências
Atingidas Pessoas
Desabrigadas Feridos Desaparecidos Óbitos
Mariana/MG Não Contabilizado 550 4 2 17
Barra Longa Não Contabilizado 252 -
Quadro 4 – Panorama geral da população diretamente impactada pela enxurrada de lama de rejeitos (Fonte: Relatório CENAD, 07/11/2015).
Segundo relatório publicado pelo IBAMA, em novembro de 2015, estima-se
que o volume liberado pelo rompimento da barragem seja da ordem de 50 milhões
de m³ de rejeitos de mineração de ferro. Estima-se também, que cerca de 34
milhões de m³ tenham galgado a barragem de Santarém e lançados no meio
ambiente, o resto teria sido retido acima.
53
Parte dos sedimentos ficou espalhada nas zonas planas do distrito de Bento
Rodrigues, nos taludes atingidos pela onda de lama e nas margens dos rios a
jusante (Figura 19 e 20). O volume de sedimentos espalhado nas cercanias não foi
contabilizado, mas estima-se que no mínimo 16 milhões de m³ tenham sido
carreados aos poucos para jusante em direção ao mar, no estado do Espírito Santo.
Figura 59 – Área impactada imediatamente à jusante da barragem de Santarém (Fonte: Relatório IBAMA, 2015).
Figura 20 – Distrito de Bento Rodrigues antes e depois do rompimento da barragem (Foto: DigitalGlobe e Globalgeo Geotecnologias).
Após causar a destruição dos locais por onde passou, a onda de lama de
rejeitos atingiu o Rio Gualaxo do Norte, que deságua no Rio do Carmo. Foi através
do Rio do Carmo que a lama de rejeitos finalmente alcançou o Rio Doce, principal
curso d’água da Bacia do Vale do Rio Doce.
54
Por toda a extensão do Rio Doce nos estados de Minas Gerais e Espírito
Santo, observou-se a mudança do aspecto do rio, demonstrando os altos níveis de
turbidez gerados pela onda de lama de rejeitos, conforme Figura 21.
Figura 21 – Rio Doce no município de Baixo Guandu/ES (Fonte: IBAMA, 2015).
O mapa a seguir, divulgado no boletim da CPRM em novembro de 2015,
indica o cronograma da passagem da lama e as localidades atingidas no percurso.
Figura 22 – Mapa da passagem da lama de rejeitos (Fonte: CPRM, 2015).
55
4.5. Classificação do Desastre e do Resíduo Liberado
O relatório do IBAMA (2015) classifica o resíduo liberado pela barragem como
não perigoso e inerte para ferro e manganês, baseando-se na classificação da NBR
10.004.
De acordo com o Decreto nº 7.257 de 4 de agosto de 2010 “desastre”
significa:
“Resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem sobre um ecossistema (vulnerável), causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais”. (Glossário da Defesa Civil Nacional, 2010)
Os desastres classificam-se quanto à intensidade, evolução e origem. O
desastre em análise, quanto à intensidade, classifica-se como Desastre de Nível IV,
“desastre de muito grande porte”, conforme classificação da Defesa Civil. Os
desastres desse nível são caracterizados quando os danos causados são muito
importantes e os prejuízos muito vultosos e consideráveis. Nessas condições eles
não são superáveis ou suportáveis pelas comunidades, mesmo quando bem
informadas e preparadas, a menos que recebam ajuda de fora da área afetada,
como foi o caso. Nessas condições, o restabelecimento da situação de normalidade
depende da mobilização e da ação coordenada dos três níveis de governo
(municipal, estadual e federal).
Quanto à evolução, o rompimento da barragem de Fundão classifica-se como
súbito, ou seja, caracteriza-se pela velocidade com que o processo evolui e pela
violência dos eventos adversos.
Quanto à origem esse desastre é classificado como de origem Humana ou
Antropogênica, visto que foi um empreendimento humano que afetou a qualidade do
meio ambiente.
4.6. Áreas Impactadas Pela Lama de Rejeitos
A Fundação SOS Mata Atlântica, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) e empresa Arcplan de geotecnologia analisaram as áreas impactadas pela
lama de rejeitos. O relatório de SOS Mata Atântica (2015) revela o total de áreas
afetadas entre a barragem de Santarém, galgada pelos rejeitos de Fundão, até a
Usina Hidrelétrica de Candonga localizada no início do Rio Doce.
56
O relatório tem como objetivo calcular a área total impactada pela deposição
de rejeitos lamosos e estimar as áreas de remanescentes florestais e áreas naturais
de Mata Atlântica devastadas na passagem da onda de rejeitos. A Figura 23 a
seguir demostra o caminho percorrido pela lama entre a barragem de Fundão e a
Usina Hidrelétrica de Risoleta Neves, também conhecida como Usina Candonga.
Figura 23 – Imagem obtida através do sensor OLI/LANDSAT 8, da área entre a barragem de Santarém e a Usina Hidrelétrica de Candonga (Fonte: SOS Mata
Atlântica/INPE, 2015).
As Figuras 24 e 25 são parte integrante do Relatório de SOS Mata Atlântica
(2015) e representam a área impactada no entorno do Distrito de Bento Rodrigues.
Tais áreas foram analisadas através de imagens de alta resolução disponíveis no
Google Earth, na escala 1:10.000. Na Figura 24 as áreas em verde escuro
representam as remanescentes florestais de Mata Atlântica e em verde claro têm-se
as áreas de vegetação natural.
Figura 24 – Distrito de Bento Rodrigues antes do rompimento da barragem (Fonte: SOS Mata Atlântica/INPE, 2015).
57
Figura 25 – Distrito de Bento Rodrigues após o rompimento da barragem, com classificação em cores das áreas impactadas (Fonte: SOS Mata Atlântica/INPE, 2015).
Na Figura 25 apresentada tem-se o somatório das áreas afetadas nas cores
vermelho, roxo e rosa de acordo com os dados a seguir:
Área Total Afetada (em vermelho) = 1.775 hectares
Área de Remanescentes Florestais Removida (em roxo) = 236 hectares
Área de Vegetação Natural Removida (em rosa) = 88 hectares
Quadro 5 – Total das áreas impactadas, remanescentes florestais e vegetação natural de Mata Atlântica, removidas por município (Fonte: SOS Mata Atlântica/INPE, 2015).
4.7. Trajetória do Rejeito Através do Rio Doce
Após o rompimento da barragem de Fundão o rejeito lamoso que foi liberado
invadiu a barragem de Santarém, que continha maior teor de água. Após galgar a
barragem de Santarém a onda de lama percorreu 4 km até encontrar com o rio
Gualaxo do Norte. Neste rio a onda de lama percorreu 68 km até desaguar no rio do
Carmo, por onde percorreu mais 29 km até seu encontro com o rio Doce.
58
Através do Rio Doce os resíduos foram carreados até a foz no Oceano
Atlântico, chegando no município de Linhares no estado do Espírito Santo em
21/11/2015, totalizando 663 km de corpos hídricos diretamente impactados.
Todo trajeto e as distâncias percorridas foram calculadas em ambiente SIG
através do software ArcGis 10.2 e estão representados na Figura 26.
Figura 26 – Percurso da onda de lama desencadeada pelo rompimento da barragem do Fundão. (Fonte: Auditoria Própria).
Quadro 6 – Resumo da Hidrografia Impactada (Fonte: Auditoria Própria).
Hidrografia Afetada Quilômetros Impactados
Trecho entre a barragem de Santarém e Rio Gualaxo do Norte
4 km
Rio Gualaxo do Norte 68 km
Rio Carmo 29 km
Rio Doce 566 km
Total (Barragem à Foz) 667 km
59
4.7.1. Rio Gualaxo do Norte
O primeiro curso d’agua diretamente atingido pelo impacto da onda lamosa foi
o Rio Gualaxo do Norte, um pequeno rio na parte superior da bacia do Rio Doce. A
onda lamosa percorreu cerca de 68 km até seu desague no Rio do Carmo.Os
relatórios oficiais sugerem que largos depósitos de sedimentos foram armazenados
na calha, nas várzeas e áreas planas marginais, ao longo do percurso impactado do
Gualaxo do Norte.
4.7.2. Rio do Carmo
O Rio do Carmo sofreu um grande impacto na confluência com o Rio Gualaxo
do Norte. Nesse encontro a onda lamosa conseguiu subir cerca de 4 km, para
montante da confluência. Somando os 25km percorridos pela onda lamosa através
do Rio do Carmo, o total afetado é da ordem de 29 km.
4.7.3. Rio Doce
Na passagem da onda de rejeitos pela junção dos Rios Carmo e Piranga,
houve diluição relevante da onda lamosa por conta da contribuição da vazão do Rio
Piranga, de maior porte que o Carmo. O percurso total da onda lamosa fluida pelo
Rio Doce foi de aproximadamente 566 km até a foz. De acordo com o relatório do
IBAMA (2015), dos 34 milhões de m³ liberados no meio ambiente, estima-se que 16
milhões de m³ tenham avançado até o Rio Doce.
O Rio Doce, por ser bem mais largo e por ter recebido uma onda lamosa muito
mais fluida e com velocidade reduzida, não aparenta ter sofrido danos na vegetação
marginal, como relatado oficialmente.
No Rio Doce encontram-se quatro usinas hidrelétricas com reservatórios que
amorteceram a onda lamosa fluida e, provavelmente, retiveram parcelas
consideráveis de sedimentos: Usina Hidrelétrica de Risoleta Neves (Candonga); A
Usina de Baguari; Usina de Aimorés; e a Usina de Mascarenhas. Todas essas
podem ser identificadas na Figura 26.
60
1o Trecho: Confluência dos rios Piranga e Carmo à UHE Candonga
O primeiro reservatório, a UHE de Risoleta Neves também chamada de Usina
Candonga, deve ter retido a parte mais grosseira dos sedimentos. Ela se localiza
logo no início da formação do Rio Doce, aproximadamente a 14 km de distância da
confluência do Rio Piranga e Rio Carmo, seus formadores.
A Usina Hidrelétrica Candonga (Risoleta Neves) é de responsabilidade do
Consórcio Candonga, constituído pelas empresas Aliança Energia (50%) e Vale
(50%), e possui potência de 140 MW.
Em razão da quantidade de rejeitos que chegaram à usina, duas das suas
três comportas ficaram não operacionais por alguns dias. Após trabalhos de
dragagem, todas as comportas da usina voltaram a operar. Atualmente, o
reservatório opera a fio d'água, ou seja, as vazões que são liberadas são da mesma
ordem de grandeza das vazões que chegam ao reservatório, sem geração de
energia.
2o Trecho: Da UHE Candonga à UHE Baguari
O segundo trecho corresponde ao trecho que vai da usina de Candonga à
usina de Baguari. Nele se observa intensa deposição do rejeito na calha do Rio
Doce e ausência de depósitos na planície de inundação. Este trecho foi
profundamente afetado pelo material procedente da mina e teve a morfologia da
calha modificada por estes depósitos. Destaca-se neste trecho o Parque Florestal
Estadual do Rio Doce, cujo limite oriental é dado pelo Rio Doce até seu encontro
com o rio Piracicaba.
A UHE Baguari pertence ao Consórcio UHE Baguari, constituído pelas
empresas Neoenergia (51%), Cemig (34%) e Furnas (15%), com potência de 140
MW.
Baguari é a segunda estrutura hidráulica encontrada no percurso do rio Doce.
Atualmente, o reservatório opera a fio d'água, próximo de sua cota mínima
operacional, sem geração de energia, devido a problemas decorrentes da qualidade
de água (ANA, 2015b).
61
3o Trecho: Da UHE Baguari à UHE Mascarenhas
O terceiro trecho se estende da usina de Baguari até a usina de
Mascarenhas, incluindo a usina de Aimorés, e é marcado por numerosas Cidades,
sendo Governador Valadares a mais populosa. Nele está concentrado o maior
número de sedes municipais que captam água bruta diretamente no rio Doce. A
deposição de rejeitos parece mais reduzida em relação ao trecho anterior,
aparentando - nas usinas de Aimorés e Mascarenhas - ser composto de material em
suspensão de granulometria mais fina.
A UHE Aimorés pertence à Aliança Energia e possui potência de 330 MW.
Atualmente, o reservatório opera a fio d'água, próximo de sua cota mínima
operacional (89,60 m), sem geração de energia, devido a problemas decorrentes da
qualidade de água.
A UHE Mascarenhas pertence à EDP, com potência de 198 MW. Atualmente, o
reservatório opera a fio d'água, próximo de sua cota mínima operacional, sem
geração de energia, devido a problemas decorrentes da qualidade de água
(turbidez).
4o Trecho: Da UHE Mascarenhas à Foz do rio Doce
A UHE Mascarenhas, mesmo que assoreada em grande parte do seu
reservatório, reteve também parte do material proveniente da mina da SAMARCO,
mas não o suficiente para impedir que a lama atingisse o oceano. Neste trecho, o rio
Doce possui uma grande planície de inundação.
Figura 27 – Desague na foz do Rio Doce de águas contendo material da mina da Samarco (Fonte: O Globo online, 30/11/2015).
62
5. ANÁLISES E RESULTADOS
O rompimento da barragem e o conhecimento de sua a influência na qualidade
dos recursos hídricos é um fator relevante para a gestão da Bacia do Rio Doce.
Para auxiliar a tomada de decisões um importante passo é o mapeamento dos
atores impactados pelo incidente. Pode-se então fazer uma avaliação dos impactos
sofridos por tais agentes no âmbito ambiental, social e econômico.
5.1. Área de Influência
A Figura 28 apresenta os municípios que foram afetados em algum grau físico
ou social pelo rompimento da barragem. Os municípios selecionados estão à margem
ou são cruzados pelo Rio Doce e dessa forma sofreram impactos diretos e indiretos
com o rompimento da barragem. No total são 40 municípios começando pelo
município de Mariana em Minas Gerais, local do rompimento da barragem, até o
município de Linhares no Espírito Santo onde se encontra a foz do Rio Doce.
64
5.2. Âmbito Ambiental
5.2.1. Declividade da Bacia
O mapa da Figura 29 foi idealizado para apresentar a declividade da Bacia do
Rio Doce através de curvas de nível. É possível verificar que as regiões oeste e sul
da bacia são compostas por altas elevações responsáveis pela formação de
córregos e rios afluentes ao Rio Doce. A região norte também apresenta manchas
com altitudes mais elevadas e é possível notar que o curso do Rio Doce flui pela
região mais baixa da bacia.
5.2.2. Qualidade de Água
Algumas entidades realizaram coletas e análises da qualidade de água da
Bacia do Rio Doce. Nesse trabalho foram consideradas as análises feitas entre 2008
e 2010 (CPRM) antes do incidente de rompimento e análises feitas após o incidente
(CPRM e UnB). Durante as campanhas anteriores ao rompimento, a CPRM verificou
diversos parâmetros de qualidade de água, dentre eles ph, oxigênio dissolvido e
ferro dissolvido, cujos valores são legislados pela CONAMA n° 357/2005. Logo após
o incidente a CPRM realizou novas campanhas para coletas e análises da qualidade
de água que se repetiram por dias, durante o período entre 07/11/2015 a
25/11/2015. Os resultados podem ser verificados em dois relatórios nomeados
“Monitoramento Especial da Bacia do Rio Doce (relatórios I e II)”.
No mapa apresentado na Figura 30 foram georreferenciados os pontos
dessas coletas de água realizadas pela CPRM em 2015.
67
Como descrito no capítulo de Metodologia, a deterioração da qualidade da
água ocorreu de modo diferente ao longo do Rio Doce. No mapa a seguir (Figura 31)
está representada a pior qualidade de água observada, em cada trecho do rio, após o
rompimento da barragem, baseados principalmente nos parâmetros turbidez e
oxigênio dissolvido.
As tabelas a seguir relacionam os pontos de coleta localizados no mapa com
os parâmetros de qualidade de água medidos em cada ponto. As colunas em azul
representam os valores destes parâmetros medidos em campanhas anteriores ao
rompimento da barragem. As colunas em rosa representam respectivamente: 1º 2015
– Valores do 1º relatório de monitoramento especial da Bacia do Rio Doce, produzido
pela CPRM, após a campanha de coleta de 7 a 25 de novembro de 2015; 2º 2015 –
Valores do 2º relatório da CPRM, após campanhas de coleta de 14 a 22 de novembro
de 2015; e 3º 2015 – Valores do relatório da Unb, para campanhas realizadas no início
de dezembro de 2015.
Tabela 11 – Parâmetros de qualidade de água medidos em cada ponto de coleta do Rio Doce.
2010 1° 2015 2013 1° 2015 2010 1° 2015 2° 2015 CONAMA 2010 1° 2015 2° 2015 CONAMA
LocalCor da
água
Cor da
água
Turbidez
padrão local
(NTU)
Turbidez
(NTU)pH pH pH ph
OD
(mg/L)
OD
(mg/L)
OD
(Mg/L)OD (Mg/L)
Gesteira laranja 7,12 6 a 9 <0,1 3,88 >=5
Barra Longa laranja 7,19 6,96 6 a 9 5,75 <0,1 3,78 >=5
Rio Doce laranja 6,9 7,04 6 a 9 5,08 <0,1 3,92 >=5
Faz. Cachoeira D'Antas laranja 6,94 6 a 9 <0,1 3,88 >=5
Cachoeira dos Óculos (marliéria) amarela marrom 43 822000 6,91 7 6 a 9 8,51 <0,1 6,23 >=5
Ponte Rodovia Ipatinga/Belo Oriente amarela marrom 67 446800 5,82 7,42 7,02 6 a 9 8,94 <0,1 6,26 >=5
Periquito / Belo Oriente/Naque amarela marrom 67 446800 6,8 7,42 7,06 6 a 9 7,87 <0,1 6,45 >=5
Governador Valadares verde marrom 10 119360 6,78 7,02 7,14 6 a 9 6,35 0,11 5,31 >=5
Tumiritinga verde marrom 71 75880 6,71 6,86 6,92 6 a 9 5,87 0,21 3,7 >=5
Conselheiro Pena/ Resplendor clara marrom 9260 6,55 6,84 6,9 6 a 9 5,64 2,09 3,99 >=5
Baixo Guandu verde marrom 11620 6,64 6,34 6,61 6 a 9 6,44 3,18 2,69 >=5
Colatina marrom 6740 6,1 6,71 6 a 9 3,39 3,65 >=5
Linhares clara 6,97 7,07 6 a 9 4,54 5,52 >=5
68
Tabela 12 – Parâmetros de qualidade de água referentes a metais medidos em cada
ponto de coleta do Rio Doce.
Vale ressaltar que os parâmetros turbidez e oxigênio dissolvido destoaram
significativamente dos valores determinados pela legislação. Já os valores de ferro
dissolvido permaneceram dentro da margem determinada por lei (CPRM, 2015).
Outros valores que sofreram elevação após o rompimento foram os
relacionados ao ferro total e o manganês total, sendo o último legislado. Apesar do
aumento, não foi verificado nenhum padrão de variação gradual ao longo do rio, no
sentido barragem do Fundão à Foz do Rio Doce, o que impediu sua utilização na
análise comparativa entre os trechos. Entretanto, esses valores estavam
extremamente altos em todos os pontos de coleta afetados pelo rejeito e podem
causar impactos em médio e longo prazo, visto que a biodisponibilidade desses
elementos pode aumentar ou diminuir com o passar do tempo (UnB, 2015).
2010 2° 2015 CONAMA 2010 2° 2015PIRH
20103° 2015 CONAMA
LocalFe dissol
(mg/L)
Fe dissol
(mg/L)
Fe dissol
(mg/L)
Mn dissol
(mg/L)
Mn
dissol
(mg/L)
Mn total
(mg/L)
Mn total
(mg/L)
Mn total
(mg/L)
Gesteira 0,012 0,3 0,501 0,1 a 0,3 0,1
Barra Longa 0,377 0,076 0,3 0,02 0,486 0,1 a 0,3 0,96 0,1
Rio Doce 1,4 0,049 0,3 0,01 0,576 0,1 a 0,3 2,65 0,1
Faz. Cachoeira D'Antas 0,4 0,3 0,156 0,1 a 0,3 0,1
Cachoeira dos Óculos (marliéria) 0,286 0,081 0,3 0,0035 0,118 0,1 a 0,3 1,53 0,1
Ponte Rodovia Ipatinga/Belo Oriente 0,315 0,08 0,3 0,0035 0,068 0,1 a 0,3 2,65 0,1
Periquito / Belo Oriente/Naque 0,207 0,063 0,3 0,0035 0,068 0,1 a 0,3 1,49 0,1
Governador Valadares 0,113 0,038 0,3 0,0035 0,098 0,1 a 0,3 0,923 0,1
Tumiritinga 0,074 0,052 0,3 0,0035 0,042 0,1 a 0,3 0,1
Conselheiro Pena/ Resplendor 0,001 0,045 0,3 0,0035 0,063 0,1 a 0,3 0,1
Baixo Guandu 0,001 0,197 0,3 0,0035 0,085 0,1 a 0,3 0,1
Colatina 0,126 0,3 0,064 0,1 a 0,3 0,1
Linhares 0,012 0,3 0,013 0,1 a 0,3 0,1
69
Figura 31 – Trechos classificados de acordo com a qualidade da água após o rompimento da barragem do Fundão (Fonte: Autoria própria).
70
5.2.3. Unidades de Conservação
Pode-se notar a presença de unidades de conservação na Bacia do Rio Doce.
O mapa a seguir (Figura 32) localiza todas as Unidades de Conservação na Bacia,
diferenciando as Unidades de Proteção Integral das Unidades de Proteção
Permanente. Esse mapa foi desenvolvido utilizando as informações disponíveis no
site do Ministério do Meio Ambiente, sobre a localização das UC’s na Bacia. As
localizações das remanescentes de Mata Atlântica foram obtidas no site do SOS
Mata Atlântica, onde o último levantamento realizado em 2014 foi disponibilizado
para uso público.
Destaca-se especialmente o Parque Estadual do Rio Doce às margens do Rio
Doce e o Parque Estadual dos Setes Salões nas proximidades do mesmo rio. Isso
indica que dentre UC’s da região, essas unidades de conservação provavelmente
sofrerão algum tipo de impacto e, consequentemente, necessitam de atenção
especial.
5.2.4. Espécies
5.2.4.1. Espécies em Extinção
A partir das informações obtidas como descrito no capítulo Metodologia, foi
possível realizar a espacialização das espécies em extinção dentro da Bacia do Rio
Doce. O mapa, com essa espacialização e localização aproximada das espécies na
bacia do Rio Doce, se encontra na Figura 33.
A partir do georreferenciamento observar-se que a maioria das espécies em
extinção estão localizadas em afluentes do Rio Doce e dessa forma, não sofreram
impactos negativos decorrentes do rompimento da barragem. Entretanto pode-se
verificar cinco espécies em extinção que provavelmente sofreram impacto devido à
degradação da qualidade de água do Rio Doce: os peixes Brycon deVillei e
Oligosarcus solitarius, ambos localizados em lagos e lagoas na região do médio Rio
Doce; o crustáceo Cardisoma Guanhumi que possui como habitat a região de
manguezal na foz no Rio Doce; as tartarugas Caretta Caretta e Dermochelys
Coriacea que utilizam a costa do Espírito Santo nas proximidades da foz do Rio
Doce como sítio de desova, totalizando mais de 1.500 ninhos por ano (Ministério do
Meio Ambiente, 2008).
72
Figura 33 – Localização de Espécies em Extinção e Endêmicas na Bacia do Rio Doce (Fonte: Autoria Própria).
73
5.2.4.2. Espécies Coletadas
O IBAMA, através de um relatório produzido após o incidente (IBAMA, 2015),
indicou que dentre as espécies endêmicas da bacia do rio doce, a única que
possivelmente foi coletada como exemplar morto após o desastre é o peixe do
gênero Oligosarcus. Nesse documento foi considerado somente o gênero
“Oligosarcus spp” para efeito de reconhecimento do exemplar coletado. Contudo,
dentro desse gênero existem três espécies nativas do rio doce, Oligosarcus
acutirostria, Oligosarcus argenteus e Oligosarcus solitarius, sendo somente a última
considerada como endêmica pelo relatório. No quadro abaixo apresentamos um
resumo da quantidade de exemplares Oligosarcus spp encontrados em municípios
da bacia do rio doce.
Unidades Região
43 Resplendor
29 Itueta
Quadro 7– Unidades da Espécie Oligosarcus spp coletadas no Rio Doce após rompimento da barragem.
Foi investida uma quantidade de tempo diferente em cada coleta e, além
disso, elas ocorreram em datas diferentes. Dessa forma, a quantidade de
exemplares encontrada em cada região não pode ser considerada como referência
para inferirmos o grau de degradação da região ou o tamanho da população da
espécie alí presente. Porém, é possível deduzir que o gênero “Oligosarcus spp” está
difundido pelas regiões do Rio Doce e que existe a morte potencial de uma espécie
endêmica.
A espécie Oligosarcus Solitarius encontra-se em um sistema isolado de lagos
(Instituto Estadual de Florestas - MG, 2009) no médio Rio Doce inclusive no Parque
Estadual do Rio Doce (PERD), local onde foi realizada a coletada dessa espécie
pelo Projeto PELD/UFMG. Essa espécie somente existe em corpos d’água onde não
há presença de espécies invasoras. Seu nome é originário do latim solitarius que
significa “isolado”, pelo fato da espécie ter sido encontrada em um sistema isolado
de lagos.
Apesar da coleta de poucos exemplares mortos de espécies em extinção, o
número totalizado não demonstra em grau qualitativo ou quantitativo o quanto elas
foram afetadas. Devido a limites técnicos pode-se considerar que a maior parte da
população animal que pereceu nesse período não foi catalogada, logo a
probabilidade de se obter um exemplar de espécie em extinção é ainda menor.
74
5.3. Âmbito Social
5.3.1. População
O mapa desenvolvido na Figura 34 dispõe a quantidade populacional total dos
municípios afetados, na Bacia do Rio Doce. Entre os municípios mais populosos
destacam-se: Ipatinga, Governador Valadares, Colatina e Linhares.
Logo após tem-se o mapa da Figura 35 que apresenta a densidade
demográfica dos municípios, separando-se a densidade da região rural e da região
urbana. A região urbana é caracterizada por centros urbanos de alta concentração
demográfica identificados no mapa pela coloração vermelha. Pode-se ressaltar em
especial as aglomerações populacionais no entorno do Rio Doce nos municípios de
Timóteo, Ipatinga, Governador Valadares, Colatina e Linhares.
Foi possível destacar também a proporção da população rural e urbana de
cada município na Figura 36. A localização dos polos urbanos também foi
espacializada em outro mapa na Figura 37, através da junção de setores censitários
rurais e urbanos de cada município. As regiões urbanas e rurais se subdividem em
demais classes e de acordo com a classificação do censo demográfico de 2010,
realizado pelo IBGE, é possível identificar essas classes no mapa.
75
Figura 34 – População total dos municípios afetados pelo rompimento da barragem de Fundão na Bacia do Rio Doce
(Fonte: Autoria Própria).
77
Figura 36 – Proporção de população urbana e rural nos municípios afetados pelo rompimento da barragem (Fonte: Autoria Própria).
78
Figura 37 – Classificação territorial dos municípios afetados pelo rompimento da barragem (Fonte: Autoria Própria).
79
Como esperado os maiores polos urbanos estão localizados em torno do Rio
Doce, onde também está concentrada a maior parte da população urbana municipal,
com elevada densidade populacional.
5.3.2. Abastecimento de Água
O mapa da Figura 38 foi desenvolvido para apresentar a quantidade de
domicílios beneficiados por abastecimento da rede geral. Destacam-se em
hachurado os municípios cujo abastecimento depende integralmente do Rio Doce.
Provavelmente o abastecimento sofreu um dos maiores impactos gerados pelo
rompimento da barragem. Existem oito municípios que captam água exclusivamente
do Rio doce, segundo o relatório técnico da ANA (2015a), e consequentemente
estes foram prejudicados pela degradação da qualidade da água do rio.
A água é um bem valioso e de importância extrema para uso domiciliar.
Diante da necessidade de abastecimento grande parte da população optou por
soluções mais onerosas para suprir necessidades imediatas, como caminhões pipa.
Na Figura 39 a seguir pode-se verificar a demanda por água dos municípios que
dependem totalmente do Rio Doce.
No dia 8/11/2015 quando o pico de água contaminada chegou à cidade de
Governador Valadares o serviço de abastecimento de água foi interrompido.
Segundo a prefeitura, 300 caminhões pipas seriam necessários para atender a
demanda. Isso é quase dez vezes mais que a quantidade disponível na região (38
caminhões), além de representar uma despesa alarmante. O abastecimento de
Governador Valadares só pôde ser retomado pelo Serviço Autônomo de Água e
Esgoto (SAAE) dia 19/11, aproximadamente dez dias após sua interrupção.
Esses fatos indicam que tais municípios não possuem planos de emergências
efetivos para casos de contaminação do Rio Doce. A dependência total sobre esse
rio limita a flexibilidade quanto ao abastecimento. Análises de risco seriam úteis para
determinar a relação custo-benefício da construção de pontos de captação
alternativos.
81
Figura 39 – Municípios com dependência total do Rio Doce para abastecimento de água de acordo com ANA 2015 (Fonte: Autoria Própria).
82
5.4. Âmbito Econômico
5.4.1. Hidrelétricas
O mapa na Figura 40 identifica e localiza as hidrelétricas presentes ao longo
do Rio Doce. Sabe-se que a hidrelétrica de Risoleta Neves (mais conhecida como
Candonga) foi responsável por reter grande parte da lama proveniente da Barragem
do Fundão. Devido a essa sobrecarga de sólidos, atualmente ela se encontra
assoreada e não há previsão para retomada de operação.
A diretora da Engenho Consultoria, Leontina Pinto, aponta em reportagem a
UOL que irá demorar muito tempo para que as turbinas dessas hidrelétricas possam
rodar em condições mínimas de segurança, sem comprometer a vida útil dos
equipamentos (UOL, 2015a). Ainda que, a qualidade da água do Rio Doce seja
significativamente recuperada, as hidrelétricas podem ter perdas na capacidade
devido ao acúmulo de sedimentos e resíduos no fundo dos reservatórios.
No dia 11/11/2015, a prefeitura de Baixo Guandu (ES) solicitou a Aliança
Energia, responsável pela Usina Hidrelétrica de Aimorés, a retirada de água limpa
para abastecimento de hospitais e escolas da região, utilizando o que ficou
armazenado nas turbinas, enquanto os sedimentos liberados pelo rompimento de
duas barragens em Mariana ainda não chegassem à usina (UOL, 2015b).
84
A ANA está sendo cuidadosa em autorizar o retorno das atividades das
usinas, especialmente, para avaliar o impacto do uso do recurso na geração de
energia em detrimento os demais usos da água, de forma a minimizar os conflitos,
em um momento que volumes de água com boa qualidade encontram-se escassos.
As usinas paradas somam um total de cerca de 808 megawatts em potência
instalada (o que representa cerca de 1% da capacidade hidrelétrica do país) (ANA,
2015b), isso indica que o incidente não é uma ameaça a segurança do suprimento
energético. O maior custo será referente aos investimentos necessários para
recuperação da estrutura das usinas.
Contudo, é valido ressaltar que, dependendo da bacia, o impacto de um
rompimento de barragens de rejeito pode ser altamente significativo sobre a geração
de energia do país. A Bacia do Rio Paraná possui o maior potencial hidrelétrico
instalado no Brasil gerando 39200 megaWatts, equivalendo a 59% da produção
energética do país (ANEEL, 2015). Na mesma bacia há presença de barragens de
rejeito como a barragem no município de Fiqueira/PR que possui capacidade de
90000 m³ (DNPM, 2015). O rompimento de barragens de rejeito nessa bacia poderia
acarretar em grave falha na geração no sistema nacional de energia.
5.4.2. Produto Interno Bruto (PIB)
Um fator relevante é a necessidade de água para atividades industriais e
comerciais e o entendimento de como o déficit de água pode afetar o PIB dos
municípios. Na Figura 41 a seguir pode-se comparar a importância do PIB dos
municípios em questão.
É valido também verificar a importância de cada setor na composição do PIB.
Assim, a Figura 42 foi desenvolvida para ilustrar a composição do PIB, dos
municípios afetados que apresentam maior PIB total: Mariana, Timóteo, Ipatinga,
Belo oriente, Governador Valadares, Colatina e Linhares.
85
Figura 41 – PIB dos Municípios Afetados pelo Rompimento da Barragem de Fundão (Fonte: Autoria Própria).
86
Figura 42 – Municípios Afetados com maior contribuição de PIB na Bacia do Rio Doce (Fonte: Autoria Própria).
87
A seguir foi tabelada em ordem decrescente de PIB total a composição do PIB
dos 40 municípios afetados na Bacia do Rio Doce. Também foi representado para
critério de análise o percentual de contribuição que o PIB total de cada município
exerce, sobre o PIB total de seu Estado de origem e do Brasil.
Quadro 8 – PIB Total dos Estados afetados com o rompimento da barragem, e PIB total do Brasil (Fonte: IBGE 2010).
Tabela 13 – Composição do PIB dos municípios afetados pelo rompimento da barragem, de acordo com o censo do IBGE de 2010 (Fonte: IBGE 2010).
PIB TOTAL
Minas Gerais 1.679.800.666
Espírito Santo 425.046.183
Brasil 18.381.871.957
Estado Município PIB
Agropecuário
PIB
Industrial
PIB Setor
de
Serviços
PIB Setor
Público Imposto PIB Total
%
Contribuição
Estado
%
Contribuição
País
Minas Gerais Ipatinga 2.216 3.166.553 2.547.738 634.400 1.187.741 7.538.648 0,4488% 0,0410%
Minas Gerais Mariana 10.648 2.588.218 808.837 162.218 127.534 3.697.454 0,2201% 0,0201%
Minas Gerais Governador Valadares 26.146 595.938 1.864.367 620.704 354.029 3.461.184 0,2060% 0,0188%
Espírito Santo Linhares 164.793 1.151.512 1.052.278 467.003 422.904 3.258.491 0,7666% 0,0177%
Minas Gerais Timóteo 454 886.382 632.105 220.269 314.563 2.053.773 0,1223% 0,0112%
Espírito Santo Colatina 32.481 373.828 879.530 339.826 269.920 1.895.585 0,4460% 0,0103%
Minas Gerais Belo Oriente 11.948 925.298 141.543 65.696 80.638 1.225.124 0,0729% 0,0067%
Minas Gerais Conselheiro Lafaiete 4.775 128.627 638.606 243.918 111.885 1.127.811 0,0671% 0,0061%
Minas Gerais Caratinga 41.373 108.573 453.827 176.789 81.218 861.780 0,0513% 0,0047%
Minas Gerais Ponte Nova 16.077 142.397 401.545 134.062 89.796 783.877 0,0467% 0,0043%
Espírito Santo Baixo Guandu 18.678 108.850 103.029 91.363 22.900 344.819 0,0811% 0,0019%
Minas Gerais Santana do Paraíso 4.548 108.407 76.385 56.931 29.617 275.887 0,0164% 0,0015%
Minas Gerais Aimorés 25.323 72.883 96.604 59.133 13.555 267.498 0,0159% 0,0015%
Minas Gerais Resplendor 14.050 38.018 65.965 38.223 12.535 168.792 0,0100% 0,0009%
Minas Gerais Raul Soares 21.989 8.668 60.254 52.039 8.251 151.201 0,0090% 0,0008%
Espírito Santo Marilândia 7.492 39.912 47.051 36.197 20.517 151.170 0,0356% 0,0008%
Minas Gerais Rio Casca 11.745 28.788 52.889 31.912 8.220 133.555 0,0080% 0,0007%
Minas Gerais São Domingos do Prata 11.594 16.494 47.503 35.684 10.604 121.878 0,0073% 0,0007%
Minas Gerais Bom Jesus do Galho 16.265 4.876 19.555 30.955 2.589 74.241 0,0044% 0,0004%
Minas Gerais São Pedro dos Ferros 12.443 11.018 20.282 18.684 4.221 66.648 0,0040% 0,0004%
Minas Gerais Ipaba 1.043 5.040 21.218 34.224 2.671 64.197 0,0038% 0,0003%
Minas Gerais Iapu 4.426 2.719 16.054 22.837 1.733 47.769 0,0028% 0,0003%
Minas Gerais Periquito 1.782 3.697 20.429 17.746 3.957 47.610 0,0028% 0,0003%
Minas Gerais Dionísio 7.291 1.922 12.878 18.144 1.499 41.734 0,0025% 0,0002%
Minas Gerais Galiléia 5.821 1.847 14.392 16.063 1.773 39.896 0,0024% 0,0002%
Minas Gerais Itueta 10.452 2.699 9.823 15.014 1.450 39.438 0,0023% 0,0002%
Minas Gerais Alpercata 3.022 4.383 13.066 16.756 1.955 39.181 0,0023% 0,0002%
Minas Gerais Naque 2.187 1.937 12.866 14.663 1.189 32.842 0,0020% 0,0002%
Minas Gerais Barra Longa 5.669 2.307 9.496 13.816 1.239 32.528 0,0019% 0,0002%
Minas Gerais Tumiritinga 4.365 2.612 8.061 14.039 1.562 30.639 0,0018% 0,0002%
Minas Gerais Sobrália 3.128 2.855 8.968 13.277 1.108 29.336 0,0017% 0,0002%
Minas Gerais Santa Cruz do Escalvado 8.766 1.236 5.482 12.523 1.112 29.119 0,0017% 0,0002%
Minas Gerais São José do Goiabal 4.897 1.568 8.616 12.926 1.017 29.023 0,0017% 0,0002%
Minas Gerais Pingo-d'Água 4.159 1.279 5.942 11.915 1.687 24.982 0,0015% 0,0001%
Minas Gerais Marliéria 2.757 951 5.808 11.487 810 21.813 0,0013% 0,0001%
Minas Gerais Córrego Novo 6.364 999 4.308 8.955 641 21.266 0,0013% 0,0001%
Minas Gerais Fernandes Tourinho 2.540 932 5.052 8.947 636 18.106 0,0011% 0,0001%
Minas Gerais Bugre 3.234 775 3.898 8.986 494 17.388 0,0010% 0,0001%
Minas Gerais Rio Doce 1.828 1.472 4.316 8.123 680 16.420 0,0010% 0,0001%
Minas Gerais Sem-Peixe 2.720 504 3.358 7.341 894 14.817 0,0009% 0,0001%
88
Observa-se que as atividades industriais e de serviço apresentam grande
importância no PIB. Tais segmentos necessitam de abastecimento de boa qualidade
de água para seu funcionamento. Geralmente as indústrias utilizam água como um
recurso fundamental para processos como resfriamento, limpezas de maquinário,
caldeiras, dentre outros. Nota-se também, que a importância do PIB industrial nessa
bacia é fruto em grande parte da atividade de mineração, a qual utiliza elevado
volume de água em diversas fases do seu processo, como no beneficiamento do
mineral.
É útil também verificar-se o grau de demanda de água de cada atividade
econômica e assim entendermos quais deles seriam mais afetados pelo déficit de
abastecimento. Dessa forma pode-se observar as outorgas concedidas para
diferentes usos de água nos municípios na Figura 43 a seguir. A agricultura, a
indústria e a mineração representam o maior volume outorgado para captação de
água, logo estão suscetíveis a um grande impacto com a interrupção do
abastecimento.
Analisando estritamente os municípios que possuem dependência total de
abastecimento do Rio Doce, pode-se verificar a importância de cada atividade
econômica na composição do PIB. Verifica-se que o setor de serviços possui peso
significativo na composição do PIB dos municípios, entre 25% e 55%. Já a indústria
e a agropecuária somados representam entre 15% e 40% do PIB dos municípios.
Desse modo, pode-se inferir que durante os dias sem abastecimento de água o
valor municipal do PIB arrecadado sofrerá declínio (considerando o pior cenário, no
qual indústrias e comércio não possuem reservatórios particulares ou fontes de
abastecimento alternativas de água e assim necessitaram interromper suas
atividades).
Quanto à arrecadação do PIB relacionados aos impostos e ao setor público,
apesar da possibilidade de sofrerem impactos indiretos, não são diretamente
afetados com o déficit de abastecimento de água. Segundo o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA), para a realização do cálculo da produtividade anual
na administração pública desde 1995, utiliza-se o valor agregado definido
pelas contas nacionais (investimentos) e a força de trabalho ocupada
(quantidade de servidores) (IPEA, 2009).
89
Figura 43 – Usos de água dos municípios afetados pelo rompimento da barragem (Fonte: Autoria Própria).
90
O frigorífico Mafrial, em Governador Valadares, fechou as portas nos dias
10/11/2015 por três dias devido à incapacidade de tratar a água do Rio Doce
adequadamente. Três dias antes, a fábrica de celulose Cenibra, localizada em Belo
Oriente, foi umas das primeiras indústrias a fechar as portas. A previsão é que os
prejuízos, até então não calculados, sejam de grande proporção (Folha, 2015).
A renda da população municipal, a título de comparação com o PIB, foi
também mapeada e se encontra em anexo neste documento.
5.4.3. Barragens de Rejeito
A bacia de Rio Doce possui uma vocação natural para mineração e, dessa
forma, atualmente apresenta uma grande concentração de barragens de rejeitos. No
cenário atual, após o incidente da barragem do Fundão, é de grande importância
analisar a localização das barragens de rejeitos na Bacia do Rio Doce, em especial
aquelas que apresentam dano potencial associado.
As classificações atuais das barragens de rejeito, realizadas pela DNPM, é
feita a partir do cruzamento de dois fatores chamados Categoria de Risco e Dano
Potencial Associado. Enquanto o fator Categoria de Risco baseia-se em
características técnicas inerentes à barragem (altura da barragem, planos de
emergência, estado de conservação, entre outros), o fator Dano Potencial Associado é
relacionado ao dano causado por um possível rompimento (Impacto ambiental,
impacto socioeconômico, volume derramado e existência de população a jusante),
(CNRH N° 143, 2012).
Tabela 14 - Classificação de Barragens (Fonte: CNRH N° 143, 2012).
DANO POTENCIAL ASSOCIADO
CATEGORIA DE RISCO
ALTO MÉDIO BAIXO
ALTO A B C
MÉDIO B C D
BAIXO C D E
91
Figura 44 – Volume Total em m³ contido nas barragens de rejeito da bacia do Doce, que estão dentro da PNSB (Fonte: Autoria Própria).
92
Figura 45 – Dano Potencial Associado às Barragens Localizadas na Bacia do Rio Doce (Fonte: Autoria Própria).
93
Apesar de classificada em um nível médio “C” (DNPM, 2015), a Barragem do
Fundão teve colapso de sua estrutura. Isso pode ser interpretado como um erro de
cálculo do fator “Riscos associados”. Tal fator se baseia em características técnicas
inerentes à barragem (altura, planos de emergência, dentre outros) e essas
informações podem sofrer interferências devido a dificuldades na gestão, deficiências
de execução ou falhas de comunicação.
Dessa forma, uma sugestão para aprimorar a gestão da bacia, especialmente
na realização de análises de riscos e planos de emergência, é que ao invés de
considerar a classificação da Barragem, ela considere o fator “Dano potencial
associado”. Essa nova abordagem revela a dimensão do impacto que a bacia sofrerá
em um eventual colapso de barragem, e permite que a gestão guie os planos de
emergência de forma minimizar tais efeitos.
Espacializar as barragens de rejeito, nos permite também prever as
consequências de rompimentos, ao considerarmos a topográfica e o fluxo
hidrodinâmico da região e assim realizar a formulação de planos, com objetivo de
amenizar as consequências sobre a população e sobre o meio ambiente.
94
6. INDICADOR DE IMPACTO SOCIOAMBIENTAL
A partir das análises realizadas nos âmbitos ambiental, social e econômico, foi
desenvolvido um indicador do impacto sofrido por cada município da bacia. Como
visto, a degradação da qualidade de água do Rio Doce desencadeou impactos
negativos sobre os municípios. O objetivo do indicador é apresentar o grau relativo de
impacto sobre cada um deles. O indicador foi obtido a partir de elementos e faixas de
valores que estão detalhados no capítulo Metodologia.
Na matriz a seguir, é possível observar a relação entre os municípios e a
importância dos elementos socioambientais presentes nos mesmos. Para cada
elemento foi aferido um peso de acordo com sua importância dentro do município.
Como resultado, foi obtido o somatório de valores referentes a cada município.
95
Ambiental Social Econômico
Municípios Qualidade de
Água U.C. Espécies Extinção Abastecimento População
Comunidade Pesqueira
PIB Turismo Somatório
Valores 1 a 3 0 ou 2 0 ou 2 0 ou 3 1 a 3 0 ou 1 0 ou 2 ou 3 0 ou 1 2 a 18
Aimorés 1 0 0 0 2 1 0 1 5
Alpercata 2 0 0 3 1 0 2 0 8
Baixo Guandu 1 0 0 3 2 0 3 0 9
Belo Oriente 3 0 0 0 2 0 0 1 6
Bom Jesus do Galho 3 0 2 0 2 0 0 0 7
Bugre 3 0 0 0 1 0 0 1 5
Caratinga 3 0 2 0 3 0 0 0 8
Colatina 1 0 0 3 3 0 3 1 11
Conselheiro Pena 1 2 0 0 2 1 0 1 7
Córrego Novo 3 0 2 0 1 0 0 0 6
Dionísio 3 2 2 0 1 0 0 1 9
Fernandes Tourinho 3 0 0 0 1 0 0 0 4
Galiléia 2 0 0 3 1 0 2 1 9
Governador Valadares 2 0 0 3 3 1 3 1 13
Iapu 3 2 0 0 2 0 0 0 7
Ipaba 3 0 2 0 2 0 0 0 7
Ipatinga 3 0 2 0 3 0 0 1 9
Itueta 1 0 0 3 1 0 2 0 7
Linhares 1 2 2 0 3 0 0 1 9
Marilândia 1 0 0 0 2 0 0 0 3
Marliéria 3 2 2 0 1 0 0 1 9
Naque 3 0 0 0 1 0 0 0 4
Tabela 15 – Matriz de impacto gerada a partir da relação dos municípios e de seus elementos socioambientais (A) (Fonte: Autoria Própria).
96
Ambiental Social Econômico
Municípios Qualidade de Água U.C. Espécies Extinção Abastecimento População Comunidade
Pesqueira PIB Turismo Somatório
Valores 1 a 3 0 ou 2 0 ou 2 0 ou 3 1 a 3 0 ou 1 0 ou 2 ou 3 0 ou 1 2 a 18
Periquito 3 0 0 0 1 0 0 0 4
Pingo-d'Água 3 0 2 0 1 0 0 0 6
Ponte Nova 3 0 0 0 2 0 0 0 5
Raul Soares 3 0 0 0 2 0 0 0 5
Resplendor 1 0 0 3 2 1 3 1 11
Rio Casca 3 0 0 0 2 0 0 0 5
Rio Doce 3 0 0 0 1 0 0 0 4
Santa Cruz do Escalvado 3 0 0 0 1 0 0 0 4
Santana do Paraíso 3 0 2 0 2 0 0 1 8
São Domingos do Prata 3 0 0 0 2 0 0 1 6
São José do Goiabal 3 0 0 0 1 0 0 1 5
São Pedro dos Ferros 3 0 0 0 1 0 0 0 4
Sem-Peixe 3 0 0 0 1 0 0 0 4
Sobrália 3 0 0 0 1 0 0 0 4
Timóteo 3 2 2 0 3 0 0 1 11
Tumiritinga 2 0 0 3 1 1 2 0 9
Tabela 16 - Matriz de impacto gerada a partir da relação dos municípios e de seus elementos socioambientais (B) (Fonte: Autoria Própria).
97
As definições dos elementos socioambientais e seus respectivos valores
podem ser observados a seguir.
Qualidade da água
Grau de poluição da água do Rio Doce em três diferentes trechos, pontuados
de 1 a 3 de forma crescente de acordo com grau de poluição.
U.C.
Existência de unidade de conservação dentro do território do município,
pontuando-se 0 para ausência e 1 para presença.
Espécies em Extinção
Existência de espécies ameaçadas de extinção dentro do território do
município, pontuando-se 0 para ausência e 2 para presença.
Abastecimento de Água
Dependência total do Rio Doce para o abastecimento de água, pontuando-se 0
para não ocorrência e 3 para ocorrência.
População
Quantidade de população do município, pontuando-se de 1 a 3 de forma
crescente de acordo com a quantidade populacional.
Comunidade Pesqueira
Elevada representatividade de pescadores artesanais no município, pontuando-
se 0 para não ocorrência e 1 para ocorrência.
PIB
Grau de impacto sobre o PIB oriundo do déficit de abastecimento de água nos
municípios que possuem dependência total do Rio Doce para abastecimento.
Pontuou-se 0 para não ocorrência, 2 para grau de impacto elevado e 3 para
grau de impacto elevadíssimo.
Turismo
Existência de circuito turístico nos municípios, pontuando-se 0 para não
ocorrência e 1 para ocorrência.
98
A seguir pode-se observar a classificação em ordem decrescente dos
municípios impactados, de acordo com o resultado obtido pela matriz.
Tabela 17 - Classificação dos municípios impactados após resultado da matriz de impactos. (Fonte: Autoria Própria).
Analisando a matriz, observa-se que, em relação aos parâmetros analisados, o
município mais impactado pelo rompimento da Barragem do Fundão é Governador
Valadares. Isso ocorre principalmente devido a dependência total do município para
abastecimento de água sobre o Rio Doce, devido à elevada quantidade populacional e
ao elevado impacto sobre o PIB que a interrupção de abastecimento pode causar.
Outros municípios com os impactos mais significativos são Colatina, Timóteo e
Resplendor. É valido ressaltar que os municípios de Mariana e Barra Longa foram
excluídos dessa análise
Em casos de análises de risco de uma bacia, a adoção dessa mesma
metodologia para produzir indicadores permite ao gestor identificar ações que podem
diminuir a vulnerabilidade dos municípios a partir de um episódio de rompimento de
uma barragem de rejeito. Alguns elementos são estáticos e aumentam a fragilidade
dos municípios como a existência de unidades de conservação, espécies ameaçadas
de extinção e quantidade populacional.
Classificação
Classificação
Governador Valadares 13 Belo Oriente 6
Colatina 11 Córrego Novo 6
Timóteo 11 Pingo-d'Água 6
Resplendor 11 São Domingos do Prata 6
Baixo Guandu 9 Aimorés 5
Dionísio 9 Bugre 5
Galiléia 9 Ponte Nova 5
Ipatinga 9 Raul Soares 5
Linhares 9 Rio Casca 5
Marliéria 9 São José do Goiabal 5
Tumiritinga 9 Fernandes Tourinho 4
Alpercata 8 Naque 4
Caratinga 8 Periquito 4
Santana do Paraíso 8 Rio Doce 4
Bom Jesus do Galho 7 Santa Cruz do Escalvado 4
Conselheiro Pena 7 São Pedro dos Ferros 4
Iapu 7 Sem-Peixe 4
Ipaba 7 Sobrália 4
Itueta 7 Marilândia 3
99
Em contrapartida, ações que flexibilizam a dependência do abastecimento de
água, através de pontos de captação alternativos ou reservatórios de acumulação,
proporcionam benefícios sociais tanto para a população abastecida, como benefícios
econômicos para as atividades que dependem, direta ou indiretamente, do
abastecimento de água, minimizando o reflexo do colapso de uma barragem sobre o
PIB municipal.
Para uma análise pós-rompimento, como realizado nesse trabalho (utilizando
como efeito demonstrativo a Bacia do Rio Doce), a geração desse indicador permite
avaliar quais municípios necessitam prioridade de assistência e especificamente quais
elementos dentro dos âmbitos ambiental, social e econômico foram mais prejudicados.
Dessa forma, ações emergenciais podem ser tomadas de forma que a abrandar os
efeitos negativos.
Foram produzidos quatro mapas relacionados respectivamente aos resultados do
somatório da matriz de impacto em cada âmbito (ambiental, social e econômico) e um
mapa consolidado dos três âmbitos. Tais mapas se encontram a seguir (Figuras: 46,
47, 48 e 49).
100
Figura 46 – Mapa com o resultado da matriz de impacto do âmbito ambiental (Fonte: Autoria Própria).
101
Figura 47 – Mapa com o resultado da matriz de impacto do âmbito social (Fonte: Autoria Própria).
102
Figura 48 – Mapa com o resultado da matriz de impacto do âmbito econômico (Fonte: Autoria Própria).
103
Figura 49 – Mapa com o resultado consolidado da matriz de impacto relativo aos três âmbitos de análise (Fonte: Autoria Própria).
104
7. CONCLUSÃO
7.1. SIG como Suporte à Tomada de Decisão
Este trabalho voltado ao uso das ferramentas SIG para suporte à tomada de
decisão, partiu-se do princípio de que um impacto precisa ser analisado de forma
integrada e que invariavelmente três âmbitos necessitam ser analisados: âmbito
ambiental, social e econômico.
Diante disso, buscou-se fazer um levantamento das fontes de dados primários
(arquivos em formato shapefiles) e secundários (dados tabelares) sobre os temas
identificados como relevantes, em relação à Bacia do Rio Doce e seus municípios
afetados. Para isso, como opção metodológica, foram selecionados apenas portais
e bancos de dados de órgãos e agências públicas, de acesso gratuito e irrestrito.
A contribuição do trabalho foi desenvolver mapas temáticos, dos aspectos
mais relevantes para construção de análises, identificação de áreas prioritárias e
desenvolvimento de graus de impacto diferenciados. Uma vez que este trabalho foi
baseado, quase que integralmente, em informações disponibilizadas por instituições
públicas brasileiras, a primeira conclusão que apontamos diz respeito às
potencialidades e limitações da utilização desses dados, para fins de Suporte à
Tomada de Decisão, em ambiente SIG. Sabe-se que os órgãos públicos ligados ao
planejamento estão em evolução no sentido de ampliar os temas, a área de
abrangência e as formas de divulgação dos dados. Entretanto, há ainda certos
gargalos a serem solucionados, sobretudo, no tocante à periodicidade e
abrangência territorial dos dados coletados e produzidos. Outra questão
fundamental que pode-se colocar é relativa às formas de sistematização e
disponibilização dos dados, que ainda são predominantemente carentes de
homogeneidade.
Já em relação aos resultados obtidos, observou-se que o mapeamento
temático permitiu uma compreensão muito ampla do caso do rompimento da
barragem, visto que para a construção dos mapas todas as informações obtidas
passaram por uma triagem e reflexão quanto a sua veracidade, importância e
adequação ao tema.
105
O usuário final, este podendo ser um gestor de ações ou a própria população,
que interpretará os mapas gerados, conseguirá compreender de forma muito mais
clara as informações espacializadas. Dessa forma, o mapeamento temático com o
uso de SIG permite uma análise mais fácil, objetiva e com a potencialidade da
informação geograficamente referenciada.
A utilização da metodologia descrita nesse trabalho permite ao gestor
identificar os riscos de uma bacia antes mesmo de um evento de colapso de uma
barragem. A maioria dos elementos utilizados para gerar a matriz são elementos
estáticos em longo prazo e independem de qualquer incidente. Portanto, o
mapeamento dos elementos socioambientais e a geração do indicador de impacto
possibilitam a realização de análises de riscos e planos de emergência com o
objetivo de fornecer maior segurança na gestão da bacia, antecipando-se a um
desastre potencial.
Já em uma análise pós-rompimento de barragem como o realizado no estudo
de referência, os resultados permitem identificar os municípios que necessitam
assistências prioritárias como forma de minimizar os impactos sentidos pela
população e pelo meio ambiente.
7.2. Conclusões Sobre o Estudo de Referência
Com relação ao tema específico do espalhamento de rejeitos no Rio Doce
após o rompimento da barragem, verificou-se que modificações importantes
ocorreram com relação à qualidade de suas águas como atestado pelas análises
realizadas pela CPRM e UnB. A qualidade da água do Rio Doce ainda está sujeita a
variações turbulentas, decorrentes da sedimentação da massa de rejeitos, em caso
de ocorrência de chuvas fortes. Logo, a captação de água do Rio Doce se encontra
em estado vulnerável e impreciso quanto a sua utilidade.
Logo, com a intenção de reunir esforços para priorização de recursos e
medidas, que resultem na mitigação e redução da dependência ao Rio Doce, foram
mapeados e classificados os municípios segundo o grau de impacto sofrido sob a
ótica dos diversos aspectos ambientais, sociais e econômicos.
106
O resultado gerado foi uma matriz de impacto em relação aos parâmetros
analisados. De acordo com o indicador de impacto socioambiental desenvolvido
neste trabalho, o município mais impactado pelo rompimento da barragem de
Fundão foi Governador Valadares. Tal fato ocorreu principalmente devido a três
aspectos: dependência total de abastecimento pelo Rio Doce; elevado quantitativo
populacional localizado principalmente as margens do rio; e elevado impacto que o
PIB pode sofrer devido à interrupção do abastecimento de água.
De forma a reduzir a intensidade do impacto sofrido pelos municípios e
consequentemente o valor do indicador obtido, é possível a adoção de algumas
medidas sociais e estruturais. Entre elas destacam-se a flexibilização dos pontos de
captação de água com objetivo de reduzir a dependência total de um município
sobre um único rio ou corpo d’água, nesse caso o Rio Doce; a construção de
reservatórios de água artificiais de modo que as indústrias possam dar continuidade
à sua produção enquanto o abastecimento de água não for normalizado; a
dragagem dos trechos mais assoreados para restaurar o fluxo hidrodinâmico da
região; a preservação dos afluentes do rio degradado de modo a favorecer a
recuperação da qualidade de água e o repovoamento de espécies; a assistência
econômica à população mais atingida pela degradação da qualidade de água como
os pequenos agricultores e a comunidade pesqueira; a construção de diques a
jusante da barragem que sofreu colapso para estancar o vazamento constante da
lama retida em trechos da bacia.
Como conclusão geral, o mapeamento temático através da ferramenta de SIG
consegue proporcionar análises relevantes que atuam como base a ações de
gestão. Dentro do escopo no qual este trabalho foi proposto demonstrou-se que a
ferramenta de SIG é hoje de grande importância no suporte à tomada de decisão,
principalmente nos momentos em que é necessária a priorização de medidas e a
identificação dos locais mais adequados para aplica-las.
107
8. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRAS DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 10004.
Resíduos sólidos – Classificação. 2° edição. 2004.
BACELLAR, A.A.A. Estudo da erosão na microbacia hidrográfica do Ribeirão
Cachoeirinha - Município de Iracemápolis, utilizando um sistema de informação
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Campinas, SP. 1994.
BELTRAME, A.V. Diagnóstico do meio físico de bacias hidrográficas: modelo e
aplicação. Editora da UFSC, Florianópolis, SC, 112p. 1994.
BOTELHO, R.G.M. Planejamento Ambiental em Microbacia Hidrográfica. In: GUERRA,
A.J.T.; SILVA, A.S.; BOTELHO, R.G.M. Erosão e Conservação dos Solos: Conceitos,
Temas e Aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, pg 269-300, 1999.
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Reservatórios Do Rio Doce. v. 10, n. 11, p. 1-22. 2015a.
BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Conjuntura dos recursos hídricos no
Brasil 2009. Brasília. 2009. 204 p.
BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Conjuntura dos recursos hídricos no
Brasil 2010. Brasília. 2010. 76 p.
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2014. Contrato De Gestão 072/Ana/2011. Disponível em:< http://arquivos.ana.gov.br/
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BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Relatório Técnico- Análise Preliminar
Sobre a Qualidade d’Água e seus Reflexos Sobre os Usos da Água. 2015b.
108
BRASIL. AGENCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Inventário Hidrelétrico da
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ANEXO I
Figura 50 – Renda Nominal Mensal dos Municípios Afetados pelo Rompimento da barragem de Fundão (Fonte: Autoria Própria).
Figura 51 – Empresas Responsáveis pelas barragens de mineração na bacia do Rio Doce (Fonte: Autoria Própria).