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MAPEAMENTO TEMÁTICO PARA SUPORTE À TOMADA DE DECISÃO: BACIA DO RIO DOCE APÓS ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE FUNDÃO. Fernanda Alice Ferreira Gonçalves Henrique de Araújo Brantes Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Ambiental da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro Ambiental. Orientador: Prof. Fernando Rodrigues Lima, D. Sc. Rio de Janeiro Março de 2016

mapeamento temático para suporte à tomada de decisão

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MAPEAMENTO TEMÁTICO PARA SUPORTE À TOMADA DE DECISÃO: BACIA DO RIO DOCE APÓS ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE FUNDÃO.

Fernanda Alice Ferreira Gonçalves Henrique de Araújo Brantes

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia Ambiental da

Escola Politécnica, Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro Ambiental.

Orientador:

Prof. Fernando Rodrigues Lima, D. Sc.

Rio de Janeiro

Março de 2016

MAPEAMENTO TEMÁTICO PARA SUPORTE À TOMADA DE

DECISÃO: BACIA DO RIO DOCE APÓS ROMPIMENTO DA

BARRAGEM DE FUNDÃO.

Fernanda Alice Ferreira Gonçalves

Henrique de Araújo Brantes

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA AMBIENTAL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO AMBIENTAL.

Examinado por:

Prof. Fernando Rodrigues Lima, D. Sc.

Profª Angela Maria Gabriella Rossi, D.Sc.

Profª Gisele Silva Barbosa, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ BRASIL

MARÇO DE 2016

iii

Brantes, Henrique De Araujo; Gonçalves, Fernanda Alice

Ferreira

Mapeamento Temático Para Suporte À Tomada De

Decisão: Bacia Do Rio Doce Após Rompimento Da

Barragem De Fundão/ Fernanda Alice Ferreira

Gonçalves/ Henrique De Araujo Brantes – Rio de Janeiro:

UFRJ / Escola Politécnica, 2016.

x, 106 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Prof. Fernando Rodrigues Lima, D. Sc.

Projeto de Graduação – UFRJ / POLI / Engenharia

Ambiental, 2016.

Referências: 97-105 p.

1. Geoprocessamento. 2. SIG. 3. Bacia do Rio Doce.

4. Barragem de Fundão

I. Lima, Fernando Rodrigues. II. Universidade Federal

do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de Engenharia Ambiental.

III. Mapeamento Temático Para Suporte À Tomada De

Decisão: Bacia Do Rio Doce Após Rompimento Da

Barragem De Fundão

iv

AGRADECIMENTOS – Fernanda Gonçalves

Agradeço primeiramente a todos os amigos que fiz na UFRJ. A certeza que tenho

hoje é que essa monografia não existiria sem o apoio diário e a amizade de todos

com quem compartilhei meus anos acadêmicos. Em especial agradeço a Ana Beatriz

Pradel, Raphaela Paiva e Emelay Bispo. Nunca esquecerei todos os momentos que

compartilhamos juntas em salas de aula, festas ou bandejões, extraindo alegrias

mesmo nas dificuldades.

Agradeço também a todos os amigos que construí ao longo da vida, no colégio, no

intercâmbio, no trabalho ou em situações inusitadas, todos que me deram força

enviaram pensamentos positivos ou contribuíram de alguma forma para finalização

deste trabalho. Cada um de vocês que não aguentava mais ouvir falar da minha

monografia, obrigada pela paciência e pela amizade carrego todos no coração. Em

especial agradeço a Marina Azevedo, Ana Beatriz Fernandes, Kate Antoniazzi

Gonçalves, Gabriela Gonzaga e Pedro Simões.

Também agradeço ao Prof. Fernando pela oportunidade de ser monitora da matéria

de SIG onde o interesse para desenvolvimento deste trabalho foi despertado.

Obrigada por ter sido o orientador deste projeto de graduação e pelo suporte ao longo

do tempo.

À minha dupla de projeto de graduação Henrique Brantes agradeço imensamente

pela parceria. Só nós sabemos o quanto esse projeto deu trabalho e sou muito grata

pela parceria e amizade. Sinto que produzimos algo muito melhor juntos do que

havíamos imaginado.

Por último, porém mais importante, agradeço a minha família pelo apoio e paciência

nestes longos anos de faculdade. Ao meu irmão Felipe, pela ajuda nas matérias que

tive dificuldade e por todas as conversas sobre a vida, minha admiração por sua

inteligência e paciência é infinita. A minha vó, que infelizmente não pôde presenciar a

conclusão deste curso deixo o meu agradecimento por todo amor e fé que sempre

depositou em mim, obrigada vó Sibal. E ao meu pai João agradeço o apoio, o carinho

e as oportunidades que me proporcionou, sou uma pessoa melhor hoje por isso e há

uma parte de você em tudo aquilo que faço de bom.

v

AGRADECIMENTOS – Henrique Brantes

Graduar em engenharia pela UFRJ vai além dos anos cursados na universidade. É

resultado de um projeto que teve início antes mesmo de eu desbravar a profunda

complexidade das ciências exatas e das ciências humanas. Dessa forma, gostaria de

primeiramente agradecer às pessoas que fizeram parte dessa caminhada por todos

esses anos.

À minha mãe, Junilda, por todo carinho, por sempre incentivar meus estudos e por me

servir como um exemplo de dedicação devido à enorme atenção à nossa família. Sem

dúvidas isso foi algo fundamental para as minhas conquistas acadêmicas.

Ao meu pai, Homero, por sempre estar presente e por me servir como exemplo em

razão da compreensão e caridade dedicada às pessoas a nossa volta.

À minha irmã, Carolina, por toda amizade e companheirismo. Desejo que sigamos

dessa forma ainda por muitos anos.

Aos meus amigos do círculo pessoal. Incluo aqui toda a minha grande família e todos

aqueles com quem construí fortes lanços ao longo dos anos. Seria impossível citar

cada um de vocês, mas vocês de alguma forma participaram dessa caminhada.

Gostaria de agradecer pelo carinho, amizade e pela compreensão nos momentos que

tive que me ausentar para me dedicar a compromissos acadêmicos.

Aos meus amigos da UFRJ, em especial do Ciclo básico, da Engenharia Ambiental e

Engenharia Civil. Gostaria de agradecer por todos os momentos nessa grande

aventura que embarcamos juntos. Obrigado pelas risadas, viagens, almoços no

bandejão, e pelos bons fins de semana. Agradeço minha dupla de projeto final

Fernanda Alice pela amizade e desejo que possamos repetir essa grande parceria

novamente.

Aos meus professores. Estendo esse agradecimento a todos os professores, do nível

escolar ao nível acadêmico, que me mostraram novas formas de enxergar o mundo.

Em especial, agradeço ao Prof. Fernando pela orientação nesse trabalho.

Finalmente, não poderia deixar de citar duas pessoas que me deram oportunidades

decisivas no meu avanço acadêmico e profissional. Agradeço à Sonia Fontes e à

Liliane Brantes por investirem na minha formação e, assim, me abrirem portas.

vi

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ

como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de

Engenheiro Ambiental.

MAPEAMENTO TEMÁTICO PARA SUPORTE À TOMADA DE DECISÃO:

BACIA DO RIO DOCE APÓS ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE FUNDÃO.

Fernanda Alice Ferreira Gonçalves

Henrique de Araújo Brantes

Março/2016

Orientador: Prof. Fernando Rodrigues Lima, D. Sc.

Curso: Engenharia Ambiental

As tecnologias que envolvem Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s),

geoprocessamento e cartografia digital são cada vez mais utilizadas e difundidas

como instrumentos de suporte à tomada de decisão (STD), tanto em setores

estratégicos do planejamento como na gestão de recursos naturais. As bases de

dados georreferenciávies, públicas e privadas, estão avançando em diversidade e

em acessibilidade, o que permite ao gestor dispor de um leque cada vez maior de

informações espacializadas.

O campo do conhecimento de interesse para o presente trabalho é o da gestão de

impactos ambientais, no âmbito das bacias hidrográficas, a fim de empregar a

tecnologia de SIG no mapeamento temático de uma bacia em face de um grave

impacto ambiental. Para tal foram considerados apenas documentos, relatórios e

bases de dados governamentais disponíveis ao acesso público e gratuito.

Como estudo de referência, esse trabalho utilizou a Bacia do Rio Doce e abordou o

rompimento da Barragem de Fundão ocorrido em 05 de novembro de 2015. O

levantamento de informações baseou-se em pranchas digitais com dados

cartográficos da Bacia do Rio Doce e no levantamento de dados de diversas fontes

oficiais como IBGE e ANA, sendo utilizado como software de SIG para mapeamento

e organização de dados o pacote ArcGIS da empresa Esri.

vii

A obtenção de informações acerca da bacia, a organização e a estruturação destas

informações culminou no desenvolvimento de mapas temáticos em três âmbitos

(social, ambiental e econômico) e no desenvolvimento de um indicador de impacto

socioambiental, de modo que os resultados obtidos possam ser utilizados como

base para priorização de ações e tomada de decisão na gestão de uma bacia.

Palavras-chave: SIG, Geoprocessamento, Gestão Hídrica, Barragem de Fundão, Bacia do Rio Doce

viii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI / UFRJ as a partial

fulfillment of the requirements for the degree of Environmental Engineer.

THEMATIC MAPPING FOR SUPPORTING DECISION MAKING: RIO DOCE

BASIN AFTER THE COLLAPSE OF FUNDÃO DAM

Fernanda Alice Ferreira Gonçalves

Henrique de Araújo Brantes

March/2016

Advisor: Prof. Fernando Rodrigues Lima, D. Sc.

Course: Environmental Engineering

Technologies involving Geographic Information Systems (GIS), geoprocessing and

digital mapping are increasingly being used and disseminated as tools to support the

decision-making (STD), both in strategic sectors of the planning and management of

natural resources. The bases of georeferenced data, public and private, are increasing

in diversity and accessibility, which allows the manager to have a growing range of

spatialized information.

The field of knowledge to this study is the management of environmental impacts within

hydrographic basin in order to apply GIS technology in thematic mapping of a basin

facing a serious environmental impact. For this it was considered only free documents,

reports and government databases available to the public..

As a reference study, this project used the Doce River Basin and addressed the

disruption of Fundão Dam occurred on November 5, 2015. The acquisition of data was

based on digital boards with cartographic data from the Rio Doce Basin, data from

various official sources such as IBGE and ANA. For mapping and organization of these

data, it was used the GIS software ArcGIS from Esri company.

ix

The obtained information about the basin, the organization and the structuring of this

information culminated in the development of thematic maps in three areas (social,

environmental and economic) and the development of a socio-environmental impact

indicator. The results can be used as basis for prioritizing emergency measures and

decision making in the management of a basin.

Keywords: GIS, Geoprocessing, Water Management, Fundão Dam, Rio Doce Basin

x

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

1.1. Tema ............................................................................................................ 1

1.2. Objetivos ...................................................................................................... 3

1.3. Justificativa .................................................................................................. 3

2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 4

2.1. Sistema de Informações Geográficas (SIG) ................................................. 4

2.1.1. Histórico ................................................................................................ 5

2.1.2. Componentes ........................................................................................ 7

2.1.3. Software ArcGIS .................................................................................... 8

2.1.4. Aplicações de SIG em Causas Ambientais .......................................... 10

2.2. Conceitos Ambientais................................................................................. 11

2.2.1. Bacias Hidrográficas ........................................................................... 12

2.2.2. Unidades de Conservação .................................................................. 13

2.2.3. Impacto Ambiental............................................................................... 13

2.2.4. Enquadramento de Corpos D’água ..................................................... 14

2.3. Evolução da Gestão dos Recursos Hídricos no Brasil ................................. 14

3. METODOLOGIA ................................................................................................ 20

3.1. Criação da base de dados geográficos ....................................................... 23

3.1.1. Levantamento de Informações e Obtenção de Dados .......................... 23

3.2. Edição, Manipulação e Análise de Dados Geográficos ................................. 26

3.3. Mapeamento Temático, Análises e Resultados ............................................. 28

3.3.1. Mapeamento do Habitat de Espécies em Extinção ............................... 29

3.3.2. Mapeamento da Qualidade de Água .................................................... 32

3.3.3. Geração de Indicador de Impacto Socioambiental ............................... 33

4. ESTUDO DE REFERÊNCIA .............................................................................. 38

4.1. A Bacia Hidrográfica do Rio Doce ............................................................... 38

4.2. Mineração na Bacia do Rio Doce ................................................................ 43

4.3. Considerações Preliminares sobre o Rompimento da Barragem de Fundão...................................................................................................................47

4.3.1. Panorama Geral do Desastre ............................................................... 47

4.3.2. Possíveis Causas do Rompimento ....................................................... 48

4.4. O Desastre .................................................................................................. 51

4.5. Classificação do Desastre e do Resíduo Liberado ...................................... 55

4.6. Áreas Impactadas Pela Lama de Rejeitos .................................................. 55

4.7. Trajetória do Rejeito Através do Rio Doce .................................................. 57

4.7.1. Rio Gualaxo do Norte ........................................................................... 59

4.7.2. Rio do Carmo ....................................................................................... 59

4.7.3. Rio Doce .............................................................................................. 59

xi

5. ANÁLISES E RESULTADOS ........................................................................... 62

5.1. Área de Influência ..................................................................................... 62

5.2. Âmbito Ambiental ...................................................................................... 64

5.2.1. Declividade da Bacia ........................................................................... 64

5.2.2. Qualidade de Água .............................................................................. 64

5.2.3. Unidades de Conservação .................................................................. 70

5.2.4. Espécies ............................................................................................. 70

5.2.4.1. Espécies em Extinção .................................................................... 70

5.2.4.2. Espécies Coletadas ........................................................................ 73

5.3. Âmbito Social ............................................................................................ 74

5.3.1. População ........................................................................................... 74

5.3.2. Abastecimento de Água ...................................................................... 79

5.4. Âmbito Econômico .................................................................................... 82

5.4.1. Hidrelétricas ........................................................................................ 82

5.4.2. Produto Interno Bruto (PIB) ................................................................. 84

5.4.3. Barragens de Rejeito ........................................................................... 90

6. INDICADOR DE IMPACTO SOCIOAMBIENTAL ................................................ 94

7. CONCLUSÃO ................................................................................................... 104

7.1. SIG como Suporte à Tomada de Decisão ................................................. 104

7.2. Conclusões Sobre o Estudo de Referência ............................................... 105

8. REFERÊNCIAS ................................................................................................ 107

ANEXO I ................................................................................................................ 116

xii

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Componentes de um SIG. ................................................................................ 5

Figura 2 - Avanço da Instituição das políticas estaduais dos recursos hídricos. .............. 18

Figura 3 - Evolução do processo de instalação de comitês de bacia no Brasil ................ 19

Figura 4 - Situação dos Planos estaduais de recursos hídricos em 2013 . ...................... 19

Figura 5 - Fluxograma da Metodologia Empregada no Trabalho .................................... 21

Figura 6 – Sobreposição de layers em ambiente SIG para criação de mapas digitais ... 26

Figura 7 – Esquematização de procedimentos de manipulação/edição de dados em

SIG ................................................................................................................................. 27

Figura 8 – Representação do comando join, realizado através do software ArcGIS ....... 28

Figura 9 - Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Doce.............................................. 39

Figura 10 - Mapa da Bacia Hidrográfica do Rio Doce ..................................................... 41

Figura 11 – Hierarquia Fluvial da Bacia do Rio Doce calculada com uso do SIG. ........... 43

Figura 12 – Localização da Região Metropolitana do Vale do Aço, RMVA . ................... 44

Figura 13 - Barragem de Fundão em 2011 .................................................................... 49

Figura 14- Barragem de Fundão em 2013 ..................................................................... 49

Figura 15 - Barragem de Fundão em 2015 .................................................................... 49

Figura 16 – Complexo Minerário de Germano antes do rompimento da barragem ........ 51

Figura 17 – Complexo Minerário de Germano após rompimento da barragem. ............. 51

Figura 18– Esquema do rompimento da barragem de Fundão no subdistrito de Bento

Rodrigues, Minas Gerais ............................................................................................... 52

Figura 19- Área impactada imediatamente à jusante da barragem de Santarém ........... 53

Figura 20- Distrito de Bento Rodrigues antes e depois do rompimento da barragem ..... 53

Figura 21- Rio Doce no município de Baixo Guandu/ES. ................................................ 54

Figura 22- Mapa de passagem da lama ......................................................................... 54

Figura 23– Imagem obtida através do sensor OLI/LANDSAT 8, da área entre a

barragem de Santarém e a Usina Hidrelétrica de Candonga ......................................... 56

Figura 24– Distrito de Bento Rodrigues antes do rompimento da barragem . ................. 56

Figura 25– Distrito de Bento Rodrigues após o rompimento da barragem, com

classificação em cores das áreas impactadas

...............................................................57

Figura 26- Percurso da onda de lama desencadeada pelo rompimento da barragem do

Fundão.. ......................................................................................................................... 58

Figura 27– Desague na foz do Rio Doce de águas contendo material da mina da

Samarco ........................................................................................................................ 61

Figura 28– Municípios afetados pelo rompimento da barragem de Fundão ................... 63

xii

Figura 29 – Declividade da Bacia Hidrográfica do Rio Doce .......................................... 65

Figura 30 – Pontos de Coleta de Água captados na 2ª campanha da CPRM ................ 66

Figura 31– Trechos classificados de acordo com a qualidade da água após o

rompimento da barragem do Fundão ............................................................................. 69

Figura 32 - Unidades de Conservação ........................................................................... 71

Figura 33 – Localização das Espécies Endêmicas na Bacia do Rio Doce ..................... 72

Figura 34 – População Total dos Municípios Afetados pelo rompimento da barragem

de Fundão na Bacia do Rio Doce .................................................................................. 75

Figura 35 – Densidade Urbana e Rural dos Municípios Afetados . ................................. 76

Figura 36 – Proporção de população urbana e rural nos municípios afetados pelo

rompimento da barragem. .............................................................................................. 77

Figura 37– Classificação territorial dos municípios afetados pelo rompimento da

barragem ....................................................................................................................... 78

Figura 38 – Domicílios com Abastecimento de Água da Rede Geral ............................. 80

Figura 39 – Municípios com dependência total do Rio Doce para abastecimento de

água de acordo com ANA 2015 ..................................................................................... 81

Figura 40 – Hidrelétricas localizadas no Rio Doce ......................................................... 83

Figura 41 – PIB dos Municípios Afetados pelo Rompimento da Barragem de Fundão .... 85

Figura 42 – Municípios Afetados com maior contribuição de PIB na Bacia do Rio Doce

. ...................................................................................................................................... 86

Figura 43 – Usos de água dos municípios afetados pelo rompimento da barragem ....... 89

Figura 44 – Volume Total em m³ contido nas barragens de rejeito da bacia do Doce

que estão dentro da PNSB ............................................................................................ 91

Figura 45 – Dano Potencial Associado às Barragens Localizadas na Bacia do Rio

Doce .............................................................................................................................. 92

Figura 46 – Mapa com o resultado da matriz de impacto do âmbito ambiental ............. 100

Figura 47 – Mapa com o resultado da matriz de impacto do âmbito social ................... 101

Figura 48 – Mapa com o resultado da matriz de impacto do âmbito econômico. ............ 92

Figura 49 – Mapa com o resultado consolidado da matriz de impacto relativo aos três

âmbitos de análise ........................................................................................................ 103

Figura 50 – Renda Nominal Mensal dos Municípios Afetados pelo Rompimento da

barragem de Fundão .................................................................................................... 116

Figura 51– Empresas Responsáveis pelas barragens de mineração na bacia do Rio

Doce ............................................................................................................................ 116

Figura 52 – Barragens de mineração e os respectivos minérios produzidos ................. 117

xii

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1- Aquisição do habitat de espécies em extinção . .............................................. 30

Tabela 2– Habitat dos Peixes em Extinção . ................................................................... 31

Tabela 3 – Habitat dos Crustáceos em Extinção . ........................................................... 31

Tabela 4– Habitat das Tatarugas em Extinção . .............................................................. 32

Tabela 5– Trechos de qualidade de água . ..................................................................... 33

Tabela 6– Faixas de quantidade populacional. ............................................................... 35

Tabela 7– Representatividade de pesca artesanal . ....................................................... 36

Tabela 8- Representatividades dos setores de Agricultura, Indústria e serviços no PIB

municipal ....................................................................................................................... 36

Tabela 9– Municípios Inseridos nos circuitos turísticos .................................................. 37

Tabela 10– Peso máximo aferido a cada elemento ....................................................... 37

Tabela 11 – Parâmetros de qualidade de Água medidos em cada ponto de coleta do

Rio Doce. ........................................................................................................................ 67

Tabela 12– Parâmetros de qualidade de água referentes a metais, medidos em cada

ponto de coleta do Rio Doce. .......................................................................................... 68

Tabela 13– Composição do PIB dos municípios afetados pelo rompimento da

barragem, de acordo com o censo do IBGE de 2010 ..................................................... 87

Tabela 14- Classificação de Barragens.............................................................................90

Tabela 15 – Matriz de impacto gerada a partir da relação dos municípios e de seus

elementos socioambientais(A) ....................................................................................... 95

Tabela 16 - Matriz de impacto gerada a partir da relação dos municípios e de seus

elementos socioambientais (B) ...................................................................................... 96

Tabela 17 - Classificação dos municípios impactados após resultado da matriz de

impactos. ....................................................................................................................... 98

xii

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1– Principais afluentes do Rio Doce e respectivas áreas de drenagem . ........... 39

Quadro 2 – Características por trecho da bacia do rio Doce .......................................... 40

Quadro 3 – Características gerais da bacia do Rio Doce . .............................................. 42

Quadro 4- Panorama Geral da população diretamente impactada pela enxurrada de

lama de rejeitos, da barragem de Fundão ...................................................................... 52

Quadro 5– Total das áreas impactadas, remanescentes florestais e vegetação natural

de Mata Atlântica removidas por município .................................................................... 57

Quadro 6- Resumo da Hidrografia Impactada . ............................................................... 58

Quadro 7– Unidades da Espécie Oligosarcus spp coletadas no Rio Doce após

rompimento da barragem. ............................................................................................... 73

Quadro 8 – PIB Total dos Estados afetados com o rompimento da barragem, e PIB

total do Brasil .................................................................................................................. 87

1

1. INTRODUÇÃO

1.1. Tema

Os impactos indesejáveis da dominação humana sobre os recursos naturais e

um modelo de desenvolvimento socioeconômico incompatível com uma ética

ecológica se tornam cada vez mais precursores de desastres ambientais. Em

tempos de mudanças globais é evidente a necessidade de medidas e ferramentas

eficazes na mitigação desses impactos, através de uma gestão adequada do meio

ambiente e do espaço urbano.

As bacias de drenagem são consideradas a melhor unidade de planejamento

e gestão de recursos naturais e recursos hídricos, pois a rede hidrográfica via de

regra ultrapassa os limites políticos territoriais entre municípios, estados e em

muitos casos países. Dessa forma, as bacias hidrográficas se apresentam como

unidades de fundamental importância no planejamento e uso racional dos recursos

naturais, principalmente no manejo eficaz da água, um recurso de vital importância

aos seres vivos. A administração desse recurso garantirá a preservação e

conservação ambiental e consequentemente o desenvolvimento sustentável da

bacia, criando meios mais eficazes para a tomada de decisão dos gestores.

A ferramenta tecnológica que mais cresce no quesito gestão ambiental e

gestão de recursos hídricos está ligada ao geoprocessamento, com a utilização de

Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s) e imagens de satélite. Um SIG é uma

ferramenta importante a ser usada na gestão de bacias hidrográficas, pois auxilia

diversos processos como o Controle e Monitoramento Ambiental, a elaboração de

Estudos de Impactos Ambientais (EIA), Relatórios de Impactos Ambientais (RIMA),

Diagnósticos e Prognósticos Ambientais, Gestão de Riscos Ambientais, entre

outros.

Um SIG pode ser considerado um instrumento para mapear e indicar

respostas às várias questões sobre planejamento urbano e regional, meio rural e

levantamento de recursos renováveis. Além de permitir o armazenamento de

imagens e informações o SIG possibilita o cruzamento dessas informações,

proporcionando uma visão integrada e mais precisa do local de estudo.

2

As informações adquiridas pelo SIG auxiliarão no conhecimento e no exame

da situação ambiental da região estudada, apoiando a tomada de decisões para

prevenir, controlar ou corrigir os problemas ambientais encontrados (políticas

ambientais e programas de gestão ambiental). Logo, o mapeamento temático de

uma região através da utilização de um SIG se torna, nos dias de hoje, uma

ferramenta importante para estabelecer as bases para ações e estudos futuros.

Devido à vasta aplicabilidade do SIG na Gestão Ambiental esse trabalho visa

demonstrar a importância desse sistema no Mapeamento Temático de uma Bacia

Hidrográfica, vítima de um grande impacto socioambiental. A Bacia em questão é a

Bacia Hidrográfica do Rio Doce, localizada na região Sudeste do Brasil, abrangendo

parcialmente territórios do Estado de Minas Gerais e Espírito Santo.

No dia 05 de Novembro de 2015 ocorreu o rompimento da barragem de

Fundão, uma barragem de rejeito de minério de ferro localizada no Município de

Mariana em Minas Gerais, dentro dos limites da Bacia do Rio Doce. Uma onda de

lama de rejeitos foi liberada atingindo não só as planícies e os corpos hídricos das

proximidades, mas também o principal curso d’água da bacia, o Rio Doce.

As consequências do desastre se estenderam desde o rompimento da

barragem até a foz do Rio Doce, o que causou consequências diversas no meio

ambiente e na população atingida. A qualidade da água do Rio Doce foi gravemente

alterada, causando tanto problemas de abastecimento de água nas cidades, como

também afetando as atividades econômicas de diversas regiões.

É importante salientar que para critérios de avaliação e gestão ambiental o

mapeamento temático de uma bacia hidrográfica, ou de uma região, deveria se dar

anteriormente à ocorrência de um desastre ambiental. Porém o uso de um SIG

também se estende ao contexto de mitigação de impactos, e de gestão de ações

após a ocorrência de eventos críticos. Nesse contexto, a fins demostrar a relevância

do SIG esse trabalho optou como estudo de referência uma situação de pós-impacto

ambiental, na Bacia Hidrográfica do Rio Doce.

3

1.2. Objetivos

O objetivo deste trabalho foi produzir mapas temáticos relativos à Bacia

Hidrográfica do Rio Doce nos âmbitos social, ambiental e econômico, e extrair deles

informações que auxiliem na produção de um indicador para ser utilizado como

suporte à tomada de decisão. Os mapas temáticos desenvolvidos têm como objetivo

agregar informações relevantes acerca do rompimento da barragem de Fundão, e

principalmente, do impacto causado aos municípios integrantes da bacia. Espera-se

que as informações levantadas e mapeadas possam ser úteis para consulta e

suporte à tomada de decisão tanto de gestores públicos quanto da população.

De forma abrangente o caso do rompimento da barragem de Fundão em

Mariana/MG foi utilizado como estudo de referência da aplicação de SIG como uma

ferramenta de suporte para definição de áreas prioritárias e para levantamento das

ações prioritárias na mitigação dos impactos ambientais. Ou seja, como SIG pode

auxiliar na tomada de decisão através da espacialização dos dados obtidos da área

de estudo.

Os objetivos específicos deste trabalho são:

Organização e espacialização de dados em ambiente SIG;

Geração de novos dados a partir do cruzamento de diferentes informações;

Diagnóstico das áreas diretamente e indiretamente afetadas;

Análise dos mapas temáticos gerados e conclusões acerca do tema;

Produção de indicador que funcione como suporte à tomada de decisões.

1.3. Justificativa

As tecnologias SIG, o geoprocessamento e a cartografia digital são cada vez

mais utilizados e difundidos como instrumentos de suporte à tomada de decisão. No

curso da Engenharia Ambiental foi possível aprender algumas utilidades da

ferramenta de SIG e sua importância na gestão ambiental, tanto na prevenção

quanto na mitigação de impactos. Dessa forma, o trabalho se justifica na

necessidade de aprofundar os conhecimentos em SIG e em seus modelos de

mapeamento para aplicação em casos reais.

4

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo serão abordados temas e conceitos que são fundamentais para

a compreensão do trabalho desenvolvido. É pertinente ressaltar que não foi possível

localizar trabalhos com o mesmo objetivo que este na literatura existente. Desta

forma, as referências são de fontes que discutem temáticas variadas, com conceitos

essenciais para introdução deste trabalho.

2.1. Sistema de Informações Geográficas (SIG)

Geoprocessamento é um conceito importante para compreensão do Sistema

de Informação Geográfica. Sendo assim, geoprocessamento pode ser entendido

como:

“Disciplina do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento da informação geográfica e que vêm influenciando de maneira crescente as áreas de Cartografia, Análise de Recursos Naturais, Transportes, Comunicações, Energia e Planejamento Urbano e Regional”. (CÂMARA; DAVIS, 2004, p.1)

Segundo Burrough e Mcdonnell (1998), o sistema de informações geográficas

(SIG’s) é a estrutura mais importante em termos de viabilização do

geoprocessamento, sendo esse último um conjunto de procedimentos

computacionais que, operando sobre uma base de dados integrada, possibilita a

realização de análises e cálculos. Assim, o geoprocessamento permite a elaboração

de mapas politemáticos, que podem vir a conter dados qualitativos e quantitativos,

constituindo-se em um instrumento de grande potencial para o estabelecimento de

estudos integrados.

A relevância de SIG está na sua superior capacidade de estabelecer relações

espaciais entre elementos gráficos se comparado aos demais sistemas

computacionais, sendo esse sistema mais adequado para análise e tratamento de

dados geográficos. De uma forma mais simples SIG pode ser entendido como:

“A ligação técnica e conceitual das ferramentas desenvolvidas pela informática para capturar, armazenar e processar dados e apresentar informações espaciais georreferenciadas. Para a formação de um banco de dados para um SIG os mesmos são coletados através de mapas cartográficos, dados de campo como tipo de solo, precipitação, imagens de satélite, fotografias aéreas, que serão armazenados e manipulados segundo a informação que se deseja obter”. (CASTRO; CAMPOS, ZIMBACK; KAISER, 2014, p.657)

5

O SIG geralmente integra diversos outros sistemas como processamento

digital de imagens, análises estatísticas e análises geográficas, tendo como ponto

central um banco de dados, com o objetivo de realizar diversas operações e dispor

de entrada e saída de dados em diversos formatos. A Figura 1 a seguir mostra os

sistemas que podem integrar um SIG.

Figura 1 - Componentes de um SIG (Fonte: EASTMAN, 1997).

2.1.1. Histórico

Um importante estudioso, responsável pelo impulso e desenvolvimento do

SIG foi o Dr. Roger Tomlinson, comumente conhecido como o "pai do SIG". Nascido

em Cambridge, Inglaterra, Dr. Tomlinson imigrou para o Canadá em 1957, onde se

tornou um geógrafo visionário que concebeu e desenvolveu o SIG para sua

utilização, através do Inventory Canada Land.

Na década de 60 ele começou um trabalho pioneiro que mudou a face da

geografia como disciplina, e pelo mesmo foi premiado com a Ordem do Canadá, a

maior honraria civil do Canadá. Os governos e cientistas de todo o mundo se

voltaram para seu estudo na ânsia de entender melhor o ambiente e mudanças nos

padrões de uso da terra, e para melhor gerir o desenvolvimento urbano e do uso de

recursos naturais. Dentre as contribuições do Dr. Tomlinson pode-se destacar a

presidência da Comissão GIS da União Geográfica Internacional por 12 anos, onde

ele foi pioneiro nos conceitos de disponibilidade de dados geográficos em todo

mundo (URISA, 2016).

6

A década de 60 foi um período crucial para o desenvolvimento dos sistemas

de informações geográficas (SIG’s). Nessa década ocorreu o surgimento dos

primeiros modelos de SIG, tendo como marco o desenvolvimento do Canada

Geographic Information System (CGIS), em 1962, pelo Federal Department of Rural

and Foretry Development, no Canadá. O Sistema surgiu para apoio à tomada de

decisões relativas ao controle da utilização do solo, em áreas rurais e de florestas

(RODRIGUES; SILVA; CASADO; et al., 2010).

Existia uma grande dificuldade no desenvolvimento do geoprocessamento,

que devia ser realizado por cada demandante, pois nessa época o custo envolvendo

os recursos computacionais e a mão-de-obra era extremamente alto. Não havia

recursos gráficos de alta resolução e os computadores possuíam baixa capacidade

de processamento e armazenamento.

Já na década de 70, pôde ser observado o desenvolvimento dos primeiros

SIG’s devido às melhorias de hardware e ao surgimento de programas baseados em

CAD (Computer Aided Design – Projeto Assistido por Computador). Os custos

elevados e a necessidade de espaço e computadores de grande porte limitavam o

uso desses sistemas às grandes empresas.

A diminuição de custos de hardware e o surgimento dos sistemas

gerenciadores de bancos de dados na década de 80 permitiram um crescimento da

tecnologia dos sistemas de informações geográficas. Também surgiram centros de

estudos sobre o assunto, como o NCGIA (National Centre for Geographical

Information and Analysis) nos Estados Unidos (CÂMARA; DAVIS, 2004). Desde

então essa tecnologia vem sendo amplamente difundida e tem se desenvolvido a

um ritmo cada vez maior alicerçando-se no constante desenvolvimento tecnológico.

No Brasil, o professor Jorge Xavier da Silva da UFRJ foi um dos pioneiros no

estudo do geoprocessamento na década de 80. De acordo com Moraes (2014) tal

professor orientou o grupo do Laboratório de Geoprocessamento, do Departamento

de Geografia da UFRJ, no desenvolvimento do SAGA (Sistema de Análise Geo-

Ambiental).

7

2.1.2. Componentes

O SIG é composto de uma variedade de elementos. Embora nem todos os

elementos sejam sempre os mesmos encontrados, um grupo essencial deve estar

presente para que tenhamos verdadeiramente um SIG (EASTMAN, 1997).

Sistemas de entrada de dados

Podem-se agregar novas informações ao banco de dados a partir da

digitalização de mapas, onde mapas em papel podem ser convertidos para uma

forma digital, através de scanners e impressoras multifuncionais. Atualmente a

maneira mais eficiente para obtenção de mapas digitais é a partir do sistema de

posicionamento global (GPS). A internet também dispõe diversas fotografias obtidas

por satélites que facilitam a utilização desses dados gráficos, em softwares de SIG.

Além da entrada de dados gráficos, é essencial a obtenção de dados

numéricos e tabulares, disponíveis em tabelas, planilhas eletrônicas e bancos de

dados, que podem ser encontrados na internet e também em sites de órgãos

públicos, como IBGE, ANA, entre outros.

Sistemas de armazenamento de dados

O banco de dados é o centro que acumula as informações obtidas: uma

coleção de mapas e informações associadas a eles na forma digital. Dessa forma, o

banco de dados compreende dois perfis de informações: o primeiro são dados

espaciais descrevendo a geografia, a forma e a posição (mapas digitais), e o

segundo são dados de atributo conferindo as características e qualidades das

feições (dados alfanuméricos).

Sistemas de análise de dados

Um dos componentes do SIG é um sistema de gerenciamento do banco de

dados. Geralmente esse termo se refere a um software utilizado para entrada,

gerenciamento e análise de dados de atributo. O sistema de análise geográfica e o

sistema de análise estatística são formas de interação entre os bancos de dados e

podem contribuir de modo a oferecer resultados desta análise como um acréscimo

ao banco de dados.

8

Sistemas de saída de dados

Como saída de dados tem-se a criação de arquivos digitais e os sistemas de

exibição cartográfica que podem ser desde apresentação de mapas virtuais através

de telas, assim como a utilização de dispositivos para impressão e plotagem.

2.1.3. Software ArcGIS

O software utilizado para a elaboração dos mapas temáticos deste trabalho foi

o ArcGIS, produzido pela empresa norte americana ESRI (Environmental Systems

Research Institute).

O ArcGIS consiste em um pacote integrado de softwares de Sistema de

Informação Geográfica, para a elaboração e manipulação de informações vetoriais e

matriciais, que fornece ferramentas baseadas em padrões para realização de

análise espacial, armazenamento, manipulação, processamento de dados

geográficos e mapeamento (SILVA, 2010).

A ESRI começou a desenvolver produtos GIS na década de 1980, época na

qual muitos programas já haviam sido desenvolvidos, com funcionalidades

sobrepostas e paralelas. Havia o ArcView com uma grande interface de usuário e

tecnologia fácil de usar, o MapObjects com uma biblioteca de componentes de

software para desenvolvedores, e o ArcSDE que possibilitava o usuário a trabalhar

com um sistema de gerenciamento de banco de dados relacionais e tinha uma

arquitetura com foco em TI, para a entrega de grandes quantidades de dados de

forma rápida.

Então a ESRI desenvolveu e lançou em seguida seu primeiro software

comercial chamado SIG ARC/INFO. Essa implementação combinava e

informatizava características geográficas como pontos, linhas e polígonos, com uma

ferramenta de gestão de base de dados para atribuir atributos a esses elementos.

A grande dificuldade da companhia era conseguir conciliar funcionalidades

importantes em um único pacote de sofwares: facilidade de uso, poder do programa,

gerenciamento de grande quantidade de dados e utilização tanto por parte de um

usuário final quanto por desenvolvedores. Dessa forma, foi definido que havia a

necessidade de um sistema fácil de usar e complexo ao mesmo tempo para

abrangência de dados. Assim, foram integrados todos os produtos em uma única

arquitetura de software integrado, chamado ArcGIS (SMITH, 2004).

9

O ArcGIS permite o desenvolvimento de elementos que compõem o sistema de

informações geográficas (SIG) como a entrada, armazenamento e análise de dados.

O pacote ArcGIS é constituído por:

ArcCatalog: Programa para realizar o gerenciamento dos dados a serem

trabalhos (conectar, pré-visualizar, criar arquivos, modificar, etc).

ArcMap: Principal programa do ArcGIS, no qual pode-se gerar mapas e

trabalhar com questões relacionadas à análise espacial, através dos dados e

informações geográficas fornecidas.

ArcToolBox: Possui variadas ferramentas, extensões do ArcMap, que

possibilitam diversas operações mais elaboradas com dados geográficos.

ArcReader: Software que permite visualizar e explorar arquivos já

desenvolvidos no ArcMap.

ArcScene: Permite o desenvolvimento de dados geográficos em 3D,

permitindo a criação de vídeos e animações.

ArcGlobe: Esse programa possuiu um globo terrestre onde se pode navegar

em três dimensões.

Os arquivos no ArcGIS estão dispostos em diferentes formatos como forma de

organizar os variados tipos de informações. Entre esses formatos, pode-se

ressaltar:

Shapefile (shp): é um arquivo vetorial: polígono, linha e ponto. Sempre está

acompanhado de mais dois arquivos que são do formato dbf (arquivo que

possui o banco de dados/atributos) e shx (arquivo que cria vínculo entre o shp

e o dbf).

Grid, Jpg, Tiff, MrSid e outros: são arquivos do tipo raster. Compreendem

fotografias aéreas, imagens por satélites, cartas topográficas, entre outros.

Layer: arquivo responsável por armazenar especificações (rótulos, fonte, cor,

etc) para a apresentação em outros conjuntos de dados. Esse arquivo possui

extensão (lyr).

Base de dados: abrangem dados variados, sendo os mais comuns dados

tabulares, feições e imagens. Esses arquivos possuem a extensão

geodatabase (mdb).

Tabela: são tabelas de atributos, geralmente tem o formato (dbf).

10

MXD: arquivo em que o projeto é salvo. Ou seja, permite visualizar todos os

dados trabalhados em uma sessão específica. Contudo, este somente indica

onde estes dados se encontram dentro do computador. Além disso, neste

arquivo consta ainda a ordem, a edição de legendas, os objetos inseridos, os

Data Frames e o layout criado. É importante salientar que esse arquivo não

possui os dados em si caso os arquivos de dados sejam deletados,

renomeados ou deslocados para outra pasta, o arquivo MXD não exibirá o

mapa corretamente.

2.1.4. Aplicações de SIG em Causas Ambientais

Existe um histórico de utilização de SIG para auxiliar o planejamento urbano,

a gestão ambiental e a gestão dos recursos hídricos. Pode-se ressaltar a

formulação de indicadores ambientais elaborados, com a utilização de um Sistema

de Informação Geográfica (SIG).

Em Castro et al (2014) se pôde observar o desenvolvimento de indicadores

ambientais, relativos ao uso e ocupação do solo e uso dos recursos hídricos, na

Bacia do Rio Lençóis. Essa formulação de indicadores foi possível porque o Fundo

Estadual para Recursos Hídricos – FEHIDRO desenvolveu um Diagnóstico

Ambiental da Bacia baseado em técnicas de geoprocessamento, que permitiram

então a quantificação e espacialização da área, para a formulação dos indicadores

ambientais.

O geoprocessamento e SIG também são utilizados como instrumentos de

suporte à tomada de decisão (STD) em relação os recursos hídricos. Algumas

observações, no entanto são necessárias quanto à utilização de tais ferramentas,

especialmente, com relação aos critérios metodológicos necessários. Podem ocorrer

confusões e equívocos relacionados ao uso das ferramentas de STD quando os

objetivos da aplicação dos modelos, a disponibilidade de softwares e a qualidade

das informações que alimentarão as análises não estão claros ou são incertos.

Dessa forma, Giusti F.B et al (2011) realizaram um artigo com objetivo de

discutir a necessidade de uma definição teórico-metodológica mais acurada quanto

aos objetivos das ferramentas de um SIG e, sobretudo, quanto a escolha das

variáveis selecionadas, apontando suas possibilidades e limitações como ferramenta

de STD.

11

Nesse estudo, foi pressuposto que são necessários para um sistema de

suporte a tomada de decisão o conhecimento, informações e dados sobre outros

temas correlatos à hidrologia, como uso e cobertura do solo, infraestrutura viária e

transportes, energia, meteorologia, sócio-economia e legislação. Para tal, devem ser

verificadas fontes de confiança para obtenção de dados primários e secundários

sobre os temas identificados, como referência ao planejamento e gestão integrada

dos recursos hídricos. Assim, foram selecionados apenas bancos de dados de

órgãos e agências públicas de acesso gratuito e irrestrito.

Foi observado que as instituições brasileiras estão em franca evolução no

sentido de ampliar os temas, a área de abrangência e as formas de divulgação dos

dados. Contudo, há ainda lacunas a serem preenchidas, principalmente

relacionadas à periodicidade e abrangência territorial dos dados coletados e

produzidos. Outra questão relevante é quanto às formas de sistematização e

disponibilização dos dados, que ainda são predominantemente carentes de

homogeneidade.

Pode-se encontrar na literatura autores que relatam a importância do uso do

SIG como diagnóstico do meio físico (Beltrame, 1994; Cavalieri et. al., 1997 e 1998),

ferramenta de análise de sistemas (Grigg, 1996), modelamento (Bacellar et. al.,

1994; Lima, 1997,) e planejamento de bacias hidrográficas (Lima, 1997; Cavalieri et.

al., 1997 e 1998). Todas as bibliografias citadas apresentam resultados significativos

na integração, visualização e geração de dados, e como sistema de suporte a

decisão.

2.2. Conceitos Ambientais

O SIG tem sido vastamente utilizado como suporte de gestão ambiental e de

bacias hidrográficas. Para tal utilização, é necessário o conhecimento de conceitos

ambientais tanto para alimentação de dados do sistema, quanto para a análise dos

resultados e suporte a tomada de decisão. É importante que cada conceito esteja

bem definido e consolidado na mente do gestor. Através da revisão da legislação

ambiental brasileira e de artigos científicos pode-se obter tais definições de forma

clara.

12

2.2.1. Bacias Hidrográficas

Segundo a Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei nº 9.433

em 8 de janeiro de 1997, a gestão de recursos hídricos adota a definição de bacias

hidrográficas como unidade de estudo e gestão. Assim, é de grande importância

para gestores e pesquisadores a compreensão do conceito de bacia hidrográfica e

de suas subdivisões.

Pode-se entender como bacia hidrográfica a área da superfície terrestre,

limitada pelos divisores de água, e que converge todo escoamento natural de água

(e materiais arrastados pelo mesmo) para o rio principal, que por sua vez leva-os

para uma saída em comum. Três elementos básicos formam a bacia: os divisores de

água, as vertentes e a rede de drenagem (BOTELHO, 1999).

O conceito de bacia hidrográfica segundo Barbosa (1994, in MACIEL, 2000),

considera os sistemas que compõe uma bacia tal que:

“Uma bacia hidrográfica é um sistema terrestre e aquático geograficamente definido e composto por sistemas físicos, biológicos, econômicos e sociais. Contém, portanto, uma grande diversidade de ambientes onde se desenvolvem diferentes atividades econômicas, as quais exercem uma influência direta na vegetação, nos solos, na topografia, nos corpos d’água e na biodiversidade em geral. Esta unidade geográfica tem no seu rio formador o ponto central para onde convergem os remanescentes de todas as atividades ali desenvolvidas”.

A partir de curvas de nível e critérios técnicos é possível definir os limites da

bacia. A partir da identificação das cabeceiras dos canais de primeira ordem pode-

se chegar à separação dos divisores e à delimitação dos rios que formam a rede de

drenagem principal (STRAHLER, 1951).

O planejamento ambiental e territorial do Brasil considera a legislação

brasileira vigente a qual aborda diversas vezes o conceito “bacia hidrográfica”.

Devido a esse motivo e em função das suas características naturais, esse conceito

atualmente é uma das referências espaciais mais comuns nos estudos físico-

territoriais ou de projetos (Rodrigues e Adadi, 2005).

A Política Nacional de Recursos Hídricos é quem tem estabelecido os critérios

e normas gerais para este modelo de gestão sendo o norteador das ações, para que

haja uma sistematização dos recursos em todas as esferas: federal, estadual e

municipal.

13

Assim, as bacias hidrográficas são consideradas excelentes unidades de

gestão dos elementos socioambientais, pois possibilita uma visão integrada do

comportamento das condições naturais, como também, das mudanças introduzidas

pelo homem e as respectivas respostas da natureza. Dessa forma, o conhecimento

sobre a legislação ambiental é fundamental para uma boa gestão dos recursos

hídricos.

2.2.2. Unidades de Conservação

A partir do Novo Código Florestal (LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012),

pode-se compreender as seguintes definições:

“I - Amazônia Legal: os Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso e as regiões situadas ao norte do paralelo 13° S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste do meridiano de 44° W, do Estado do Maranhão;

II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas;

III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa;”.

2.2.3. Impacto Ambiental

Impacto Ambiental pode ser entendido a partir da CONAMA No 001/86 como:

“qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

II - as atividades sociais e econômicas;

III - a biota;

IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V - a qualidade dos recursos ambientais.” (CONAMA Nº001, 1986)

14

2.2.4. Enquadramento de Corpos D’água

No estudo de bacias hidrográficas, o enquadramento de corpos d’água é um

ator relevante definido como:

“Estabelecimento da meta ou objetivo de qualidade da água (classe) a ser, obrigatoriamente, alcançado ou mantido em um segmento de corpo de água, de acordo com os usos preponderantes pretendidos, ao longo do tempo“. (CONAMA N°357, 2005)

A CONAMA N° 357/05 também nos fornece o conceito de vazão de referência

como:

“Vazão do corpo hídrico utilizada como base para o processo de gestão, tendo em vista o uso múltiplo das águas e a necessária articulação das instâncias do Sistema Nacional de Meio Ambiente-SISNAMA e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos-SINGRH”. (CONAMA N°357, 2005)

2.3. Evolução da Gestão dos Recursos Hídricos no Brasil

A gestão dos recursos hídricos encontra-se em evolução em todo mundo. No

Brasil tem-se a Política Nacional de Recursos Hídricos já instituída, contudo,

observa-se que a implementação de suas ações ainda está em andamento. A

Agência Nacional de Água (ANA) emite periodicamente relatórios, como o relatório

“Cojuntura dos Recursos Hídricos do Brasil - ANA 2013”, que permite a divulgação

do progresso de implementação das ações e políticas, inerentes aos recursos

hídricos do Brasil.

Década de 1970

A Conferência das Nações Unidas sobre a Água, foi uma das primeiras

discussões internacionais chamando a atenção para a necessidade de

modernização da gestão dos recursos hídricos, realizada em Mar del Plata no ano

de 1977. Tal conferência definiu um Plano de Ação que recomendava para cada

país a formulação e analise de uma declaração geral de políticas em relação ao uso,

à ordenação e a conservação da água. Os planos e políticas de desenvolvimento

nacional deveriam especificar os objetivos principais da política de uso da água. A

mesma deveria ser implementada através de diretrizes e estratégias, subdividindo-

se em programas de uso ordenado e integrado deste recurso natural (A evolução da

gestão dos rescursos hídricos no Brasil; ANA; 2002).

15

No Brasil, foi constituído o Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias

Hidrográficas CEEIBH, em 1978, que foi responsável pela da criação de comitês

executivos em diversas bacias hidrográficas de rios da União, a exemplo do Paraíba

do Sul e do São Francisco. Contudo esses comitês só tinham atribuições

consultivas, o que dificultou a implantação de suas decisões.

Década de 1980

A ideia de reformulação do sistema de gestão de recursos hídricos brasileiro

começou a fortalecer ao longo da década de 80. Havia um consenso por parte de

setores técnicos do governo, de que era chegado o momento de se proceder à

modernização do setor, que estava desatualizado, pois atuava com base no Código

de Águas de 1934. O Código de Águas foi um importante marco jurídico para o país,

inclusive tendo permitido o notável desenvolvimento do sistema hidroelétrico

brasileiro, entretanto, o país demonstrava a demanda por uma política mais

participativa e que contemplasse o uso múltiplo das águas.

No início da década de 80, os setores técnicos do governo, formularam as

diretrizes estabelecidas no III Plano Nacional de Desenvolvimento para os exercícios

de 1980 a 1985, que incluíam a necessidade do estabelecimento de uma Política

Nacional de Recursos Hídricos por parte do Governo.

A Comissão Mundial do Desenvolvimento e Meio Ambiente, organizada pelas

Nações Unidas, em 1984, introduziu o conceito de desenvolvimento sustentável:

atender às necessidades da geração presente sem comprometer a habilidade das

gerações futuras de atenderem às próprias necessidades. Tal conceito também se

aplica na evolução do setor de gerenciamento de recursos hídricos, cuja

necessidade reflete na integração de objetivos econômicos, sociais e ambientais.

A organização de um sistema de gerenciamento de recursos hídricos foi

proposta em 1986 pelo Ministério de Minas e Energia, com a participação de órgãos

e entidades federais e estaduais. O relatório final recomendou a criação de um

sistema em âmbito nacional e estadual.

16

Em 1987, dez anos depois da Conferência de Mar del Plata, o Brasil começou

a colocar em prática uma de suas recomendações fundamentais: o debate sobre a

gestão participativa dos recursos hídricos. Houve também, através da Carta de

Salvador, a manifestação da Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH),

sobre a necessidade premente da criação de um sistema nacional de recursos

hídricos e do aperfeiçoamento da legislação pertinente, de modo a contemplar o uso

múltiplo dos recursos hídricos, a gestão descentralizada e participativa, a criação do

sistema nacional de informações de recursos hídricos e o desenvolvimento

tecnológico e a capacitação do setor.

No mesmo ano, após intensos debates realizados dentro do Governo do

Estado de São Paulo, foi criado o Conselho Estadual de Recursos Hídricos com a

responsabilidade de propor a Política Estadual de Recursos Hídricos, a formulação

do Plano Estadual de Recursos Hídricos e a estruturação do Sistema Integrado de

Gerenciamento de Recursos Hídricos.

Em 1988, surgiram os Comitês das Bacias do rio dos Sinos e Gravataí, no

Estado do Rio Grande do Sul, que foram iniciativas pioneiras, uma vez que surgiram

a partir das próprias comunidades das bacias hidrográficas, com o apoio do Governo

do Estado. Os comitês possuíam apenas atribuições consultivas, entretanto, a

grande mobilização os tornou produtivos e assim foram incorporados ao sistema de

gestão daquele estado.

Década de 1990

O Estado de São Paulo finalmente encaminhou à Assembleia Legislativa, em

1990, o Projeto de Lei que instituiu a Política Estadual de Recursos Hídricos e criou

o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Essa lei, instituída em

1991, consolidou a participação da sociedade civil no processo decisório, criou a

cobrança pelo uso da água, e determinou que valores recolhidos pela política seriam

administrados pelo Fundo de Recursos Hídricos - FEHIDRO para utilização direta

nos Comitês de Bacia. No mesmo ano, o Governo Federal encaminhou ao

Congresso Nacional o Projeto de Lei criando o Sistema Nacional de Recursos

Hídricos e definindo a Política Nacional de Recursos Hídricos.

17

Devido à demora da aprovação da legislação federal, os Estados da

federação começaram a instituir seus sistemas estaduais de gerenciamento de

recursos hídricos: São Paulo em 1991, Ceará em 1992, Santa Catarina e o Distrito

Federal em 1993, Minas Gerais e o Rio Grande do Sul, em 1994, Sergipe e Bahia

em 1995.

Ocorreu em 1995 à criação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), dos

Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, em meio à tramitação do Projeto de Lei

Federal sobre recursos hídricos.

Finalmente, a Lei N° 9.433 que criava a Política Nacional de Recursos

Hídricos (PNRH) foi sancionada em 8 de janeiro de 1997 pelo Presidente Fernando

Henrique Cardoso. O país passou então a dispor de um instrumento legal, que

quando efetivamente implementado poderia garantir uma gestão adequada dos

recursos à geração atual e proporcionar a preservação dos recursos hídricos às

gerações futuras.

A Política Nacional dos Recursos Hídricos se baseou nos seguintes

fundamentos, já traçados pela (Lei N° 9.433; 1997):

“I - a água é um bem de domínio público;

II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;

III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais;

IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas;

V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;

VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.”.

A mesma política instituiu os seguintes instrumentos de gestão:

“I - os Planos de Recursos Hídricos;

II - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água;

III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;

IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;

V - a compensação a municípios;

VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos”.

18

Um ponto relevante do sistema de gestão aplicado pela PNRH é a

importância dada à participação pública. Garantiu-se a participação de usuários e da

sociedade civil em todos os plenários, como no Conselho Nacional de Recursos

Hídricos e nos Comitês de Bacia Hidrográfica. Dessa maneira a sociedade pode

legitimar a decisão e também garantir sua implementação. A partir desse marco, os

Estados avançaram rapidamente na criação dos Comitês de Bacia.

Década de 2000

Em 2000, o Projeto de Lei para criação da Agência Nacional de Águas (ANA)

foi aprovado pelo Congresso Nacional, resultando na Lei nº 9.984. A ANA, vinculada

ao Ministério do Meio Ambiente. O objetivo para criação da ANA era controlar a

gestão dos rios, de forma a centralizar em um órgão a autoridade de concessão de

outorgas sobre uso dos recursos hídricos, permitindo assim maior controle da

poluição e do desperdício dos recursos hídricos. (A evolução da gestão dos recursos

hídricos no Brasil; ANA; 2002). Pode-se observar na Figura 2, Figura 3 e Figura 4 a

evolução da implementação de políticas e ações referentes à gestão dos recursos

hídricos.

Figura 2 - Avanço da Instituição das políticas estaduais dos recursos hídricos Fonte: Conjuntura ANA 2009).

19

Figura 3 - Evolução do processo de instalação de comitês de bacia no Brasil (Fonte: Conjuntura ANA 2010).

Figura 4 - Situação dos Planos estaduais de recursos hídricos em 2013 (Fonte: Conjuntura ANA 2014).

20

3. METODOLOGIA

O tema abordado neste trabalho, como já foi apresentado, se refere à

utilização de um SIG e de seu potencial de mapeamento digital para suporte a

tomada de decisão na gestão de impactos ambientais.

O software utilizado para realização deste trabalho foi o ArcGis da Empresa

ESRI, especificamente selecionado devido ao amplo pacote de ferramentas

disponíveis, e pela facilidade de acesso proporcionada pela universidade.

A região utilizada como estudo de referência da aplicabilidade de um SIG foi a

Bacia Hidrográfica do Rio Doce, tendo como foco o estudo dos municípios afetados

pelo rompimento da Barragem de Fundão. A ruptura da barragem ocorreu em 5 de

novembro de 2015 e a partir de então tornou-se o maior desastre socioambiental já

ocorrido no país, tendo até a presente data o contínuo planejamento e tomada de

ações de contramedida.

A metodologia utilizada contempla as seguintes macro etapas: Criação da

base de dados geográficos; Edição, manipulação e análise de dados geográficos; e

Mapeamento temático produzindo análises e resultados. O fluxograma da

metodologia está representado na Figura 9, a seguir.

21

Figura 5 - Fluxograma da Metodologia Empregada no Trabalho (Fonte: Autoria Própria).

Geração de Novos

Banco de Dados

Levantamento

de Informações

Obtenção

de Dados

Edição, manipulação e análise de dados

geográficos

Padronização

de Datum

Seleção da região de

interesse

Necessita de Tratamento ou Atualização

de Dados?

Tratamento de

Dados no ArcGis

Criação de Mapas

Temáticos

(Sim)

Análise de Mapas

Temáticos

(Não)

Mapeamento temático,

análises e resultados

Banco de Dados

Criação da base de

dados geográficos

Criação de Banco

de dados

Inserção de Dados das Variáveis do

Censo IBGE 2010

Inserção de Dados do Censo

SNIS 2013

Inserção de Dados

da ANA 2015 Inserção de Dados

do DNPM 2014

Inserção de Dados de campanhas da

CPRM / UnB 2015

Inserção de Dados do Relatório do IBAMA

2015

Inserção de Dados do SOS Mata Atlântica

2014

Geração da Matriz de Impactos e

Resultados

22

A seguir será apresentada uma descrição breve do que representa cada

etapa empregada neste trabalho:

1ª Macro etapa: Criação da Base de Dados Geográficos

1. Levantamento de informações: levantou-se informações acerca do desastre do

rompimento da barragem de Fundão, através de pesquisas em jornais, revistas

e relatórios oficiais sobre o incidente; verificou-se também a utilidade das

informações disponíveis; e por fim a partir das informações obtidas verificou-se

quais dados geográficos sobre a Bacia do Rio Doce seriam necessário na

elaboração de mapas temáticos sobre o desastre.

2. Obtenção de dados: ocorreu a aquisição de arquivos em formato shapefile, da

Bacia do Rio Doce e dos municípios afetados; ocorreu também a aquisição de

dados em formato de tabela sobre os temas que seriam desenvolvidos nos

mapas (análise de qualidade da água, densidade populacional, PIB e renda

dos municípios, entre outros).

3. Padronização de Datum: ocorreu à padronização dos dados obtidos em

formato shapefile para um mesmo sistema de coordenadas geográficas, o

SIRGAS2000.

2ª Macro etapa: Edição, Manipulação e Análise de Dados Geográficos

4. Seleção da região de interesse: ocorreu a seleção dos municípios diretamente

impactados pelo rompimento da barragem e os indiretamente impactados, de

acordo com a proximidade física do município com o Rio Doce (curso d’água

atingido).

5. Criação de banco de dados: Através da aquisição prévia de dados tabelares foi

possível criar um banco de dados em ambiente SIG utilizando o comando join,

que é uma ferramenta dentro da própria plataforma do software; os dados

agregados em SIG foram obtidos em diversas fontes e no fluxograma estão

representados de acordo com a fonte/órgão onde foram adquiridos.

6. Tratamento de dados: verificou-se a necessidade de tratar os dados tabelares

em ambiente SIG para fins de um mapeamento específico ou em caso de

necessidade de atualização do dado.

23

3ª Macro etapa: Mapeamento Temático, Análises e Resultados

7. Criação de Mapas Temáticos: desenvolvimento de mapas temáticos que

permitissem uma análise integrada do incidente envolvendo os municípios

afetados pelo rompimento da barragem e as consequências sobre os mesmos;

ocorreu também a contemplação de três âmbitos temáticos para o

mapeamento: ambiental, econômico e social.

8. Análise de Mapas Temáticos: ocorreu a análise dos mapas temáticos

desenvolvidos acerca dos âmbitos comtemplados.

9. Geração da Matriz de Impactos e Resultados: desenvolveu-se uma matriz de

impacto a partir da sobreposição das informações mapeadas; foi obtido o

rankeamento dos municípios de acordo com sua classificação de impacto

obtida na matriz; e por fim os resultados foram expostos em mapas temáticos

nos três âmbitos abordados e em um mapa temático consolidado.

3.1. Criação da base de dados geográficos

A primeira fase na construção do SIG passou pela criação de uma base de

dados geográficos, cuja função foi armazenar os dados vetoriais em formato

shapefile, assim como os atributos (sob a forma de tabelas) associados a estes tipos

de dados, de forma que sempre que ocorresse adição, ou remoção de dados, esta

fosse atualizada.

Antes dos dados serem enviados para o ArcMap, estabeleceu-se qual o

sistema de projeção que lhes seria atribuído. Neste caso, foi utilizado o

SIRGAS2000, Sistema Geodésico Brasileiro oficial, estabelecido pelo IBGE.

3.1.1. Levantamento de Informações e Obtenção de Dados

Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos de diversas fontes. Dessa

forma, para melhor compreensão e organização dos dados em ambiente SIG os

mesmos foram previamente agrupados, de acordo com a fonte de origem. Os dados

geográficos utilizados se encontram abaixo e estão identificados de acordo com o

órgão que o disponibiliza publicamente para uso através de suas plataformas online.

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ANA – Agência Nacional de Águas:

Mapas digitais com formato de extensão de arquivo shapefile, relativos à

Bacia Hidrográfica do Rio Doce e seus recursos hídricos como formato de

cursos d’água, massas d’água, limites da bacia hidrográfica, entre outros.

Dados tabulares com relação à outorga de uso da água; qualidade da água

no Rio Doce após o rompimento da barragem; e disponibilidade hídrica ao

longo do Rio Doce.

SNIS – Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento:

Dados tabulares em nível de município com relação ao diagnóstico do

serviço de água e esgoto para o ano de 2013, apresentando dados de

demanda hídrica anual para abastecimento dos municípios.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística:

Mapas digitais com formato de extensão de arquivo shapefile relativos aos

limites territoriais do País, dos Estados, Municípios, Setores Censitários,

Capitais e Cidades.

Dados tabulares do Censo Demográfico de 2010 divulgado através do sítio

da Web do IBGE e divido em nível de setores censitários.

DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral:

Mapa digital com formato de extensão de arquivo shapefile relativo à

localização pontual das barragens de rejeito de mineração que se

encontram dentro da Política Nacional de Segurança de Barragens de 2014.

Dados tabulares dessas barragens com informação acerca do volume total

outorgado para a barragem, classificação quanto ao risco e ao dano

potencial, empresa responsável e o tipo de minério produzido.

SOS Mata Atlântica:

Mapa digital com formato de extensão de arquivo shapefile relativo às

vegetações remanescentes de Mata Atlântica e vegetação nativa, localizadas

na Bacia do Rio Doce e em suas proximidades.

MMA – Ministério do Meio Ambiente:

Mapa digital com formato de extensão de arquivo shapefile relativo ao limite

territorial de unidades de conservação localizadas na bacia.

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CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

Mapas digitais com formato de extensão de arquivo shapefile relativos à

batimetria oceânica nas proximidades da foz do Rio Doce e altimetria da bacia,

a partir do mapa digital de curvas de nível.

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

Dados tabulares contidos no relatório oficial sobre o rompimento da barragem

emitido pelo IBAMA em novembro de 2015. Esses dados foram transformados

em tabelas em ambiente SIG e em conjunto ocorreu à criação de feições

poligonais que foram espacializadas para localização geográfica da

informação.

É importante salientar que o levantamento prévio de informações também

envolveu a pesquisa em jornais, revistas e relatórios oficiais acerca do caso do

rompimento da barragem de Fundão. Essa consulta foi de extrema importância

para verificação dos temas relevantes ao desastre, para priorização dos dados a

serem levantados e até para posterior desenvolvimento da matriz de impactos.

3.1.2. Padronização de Datum

O tratamento prévio realizado foi à adequação dos arquivos em formato

shapefile que se encontravam projetados em um sistema de coordenadas diferente

do padronizado pelo IBGE. Logo, o tratamento prévio consistiu em transformar o

sistema de projeção original de alguns dados, em SAD69, para o padronizado pelo

IBGE, o SIRGAS2000.

O método a ser realizado com tal objetivo se baseia no método Simplificado

de Molodensky, divulgado em documento disponível no portal da Web do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística - INDE.

Para a criação deste método de transformação entre os sistemas geodésicos

foi utilizado o aplicativo ArcCatalog da Esri. A formulação matemática a ser aplicada

nas transformações também se encontra no arquivo de referência do (INDE, 2005) e

apresenta os seguintes parâmetros de transformação entre o SAD69 para

SIRGAS2000 listados a seguir.

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SAD 69 para SIRGAS2000

a1 = 6.378.160 m

f1 = 1/298,25

a2 = 6.378.137 m

f2 = 1/298,257222101

3.2. Edição, Manipulação e Análise de Dados Geográficos

A informação geográfica disponível foi organizada em layers, grupos ou

temas, onde cada layer representava uma entidade com atributos bem definidos. A

Figura 10 abaixo demonstra como cada layer pode ser sobreposto em ambiente SIG

para representar uma região.

Figura 6 – Sobreposição de layers em ambiente SIG para criação de mapas digitais (Fonte: ArcGIS guide book, 2015).

A edição e manipulação de shapefiles permitem a retificação de pequenos

erros na posição e dimensão dos atributos, assim como a criação novos

atributos. Os processos de edição/manipulação de dados que mais foram

utilizados neste trabalho encontram-se representados esquematicamente na

Figura 11.

Onde:

a1, f1 = parâmetros geométricos do elipsóide do sistema de origem.

a2, f2 = parâmetros geométricos do elipsóide do sistema de destino.

(∆X, ∆Y, ∆Z) = parâmetros de transformação entre os sistemas.

∆X = − 67,35 m

∆Y = + 3,88 m

∆Z = − 38,22 m

27

Interseção de Feições

União de Feições

Soma de Feições

Figura 7 – Esquematização de procedimentos de manipulação/edição de dados em SIG. (Fonte: ArcGIS guide book, 2015).

A análise dos dados geográficos pode ser feita por consultas ao mapa

digitalizado, utilizando-se a ferramenta Identify Tool que permite a obtenção dos

atributos de uma determinada entidade. A consulta aos mapas pode ser efetuada

a partir dos atributos das entidades geográficas, ou das relações espaciais que

estas apresentam com outras entidades.

Na consulta por localização são selecionadas todas as entidades que

satisfaçam um critério de localização, como por exemplo, a seleção de

municípios que se encontram a certa distância de um curso d’água. A grande

vantagem desses dois processos reside na possibilidade de exportar as

entidades selecionadas, o que permite a criação de novos arquivos digitais em

formato shapefile.

3.2.1. Criação de Banco de Dados

A criação de banco de dados baseou-se prioritariamente na inserção em

ambiente SIG dos dados levantados sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Doce e

sobre os municípios afetados pelo desastre. Tais dados foram manipulados

previamente em Excel, desenvolvido pela empresa Microsoft, com objetivo de

selecionar as informações que seriam adicionadas em SIG as quais fossem

relevantes à temática do rompimento da barragem.

Clip de Feições

28

A ferramenta utilizada para inserção dessas informações foi o comando Join

do ArcGIS. A Figura 12 ilustra de que forma se pode agregar dados tabelares a

dados digitais disponíveis em ambiente SIG.

Figura 8 – Representação do comando join realizado através do software ArcGIS. (Fonte: Autoria Própria).

Para aplicar o comando Join é preciso indicar a camada alvo na qual se

deseja agregar os dados tabelares. A camada alvo é o arquivo shapefile de

destino, ou seja, a feição cuja tabela receberá os atributos importados de outra

tabela. Esse método é o mais comum para se estabelecer a ligação entre duas

bases de dados fazendo uso de identificadores comuns a cada uma delas, como

apresentado na Figura 12. Estes identificadores são denominados geocódigos e

de acordo com o IBGE cada Estado, Município, Setor Censitário ou entidade

territorial apresenta um geocódigo (numeração) padronizado o que permite que

dados externos sejam agregados a dados tabelares em ambiente SIG.

3.3. Mapeamento Temático, Análises e Resultados

A capacidade de organizar os temas em camadas de informação é muito útil

na criação de mapas temáticos que basicamente são o resultado da

sobreposição de layers de imagens com layers vetoriais ou apenas de layers

vetoriais, que é o caso deste trabalho.

A complexidade do mapa é dependente apenas das necessidades do

utilizador e em alguns casos das capacidades de processamento do computador.

Após a criação dos mapas temáticos é possível visualiza-los em monitor sendo

todas as consultas e análises feitas diretamente em ArcMap, ou prepara-los para

impressão sendo necessário a criação de layouts que contenham os mapas e

todos os elementos necessários à sua interpretação, como escalas e legendas.

ID Atributo X ID Atributo Y ID Atributo X Atributo Y

1 A 1 A 1 A A

2 B 3 B 2 B

3 C 4 D 3 C B

Tabela para realização de JoinTabela em ambiente SIG Tabela Gerada

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Dessa forma, o trabalho desenvolvido e os dados geográficos trabalhados

foram transformados em mapas para impressão e se encontram disponíveis no

tópico de análises e resultados. Esses mapas permitem a análise da região sob

os diversos âmbitos em nível municipal. Um dos resultados gerados a partir da

interpretação dos mesmos foi uma matriz de impacto, onde ocorreu a graduação

de cada tema para verificação dos municípios que foram mais impactados.

A criação de banco de dados em ambiente SIG envolveu a inserção das

informações levantadas em órgãos públicos, como citado no tópico 3.1.1.

Levantamento de Informações e Obtenção de Dados.

Essa análise de informações também permitiu o desenvolvimento específico

de certas metodologias. Assim as metodologias específicas utilizadas no

mapeamento de alguns temas se encontram descritas a seguir.

3.3.1. Mapeamento do Habitat de Espécies em Extinção

Foram verificadas espécies em extinção presentes na Bacia do Rio Doce.

Segundo IBAMA (2015) existem 11 espécies ameaçadas de extinção na bacia.

Entretanto esse documento não apresenta informações sobre a localização

exata do habitat dessas espécies. Além disso, foram utilizados como referência

artigos consideravelmente antigos que podem apresentar informação

desatualizada e, portanto alguma dessas espécies já pode estar extinta.

Dessa forma, cruzaram-se os fornecidos por esse relatório com outras

referências recentes objetivando a obtenção de informações mais atualizadas,

como o habitat atual de cada espécie dentro da bacia.

No livro “O livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de Extinção”,

disponibilizado pelo Ministério do Meio Ambiente, foi possível encontrar as

regiões geográficas da Bacia onde algumas espécies estão localizadas. Além

dessa referência, outras duas espécies não descritas no livro citado,

Pareiorhaphis nasuta e Pareiorhaphis Scutula, foram descobertas recentemente

e estão presentes em dois artigos (Pereira, Vieira & Reis, 2007) e (Pereira, Vieira

& Reis, 2010).

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Na tabela abaixo foi feito o check-list das espécies em extinção

mencionadas no relatório do IBAMA (2015) e aquelas cujo habitat específico foi

identificado através de outras referências.

Espécie em Extinção Encontrada na Bacia do Rio

Doce

Leporinus thayeri (hypomasticus) Sim

Brycon devillei Sim

Henochilus wheatlandii Sim

Steindachneridion doceanum Sim

Microlepidogaster Não

Pareiorhaphis mutuca Sim

Pareiorhaphis nasuta Sim

Pareiorhaphis Scutula Sim

Prochilodus Vimboides Não

Rachoviscus Graciliceps Não

Xenurolebias Izecksohni Não

Tabela 1 – Aquisição do habitat de espécies em extinção (Fonte: Relatório do IBAMA, 2015).

Atualmente, pode-se considerar que a espécie Rachoviscus Gracilicep só é

encontrada do norte do Espírito Santo até Porto Seguro na Bahia acima dos

limites da Bacia do Rio Doce (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2008). Dessa

forma, tal espécie foi desconsiderada no georreferenciamento. Em contrapartida,

no resultado final foi adicionado duas outras espécies que não estavam

presentes no relatório do IBAMA (2015), porém são encontradas na Bacia do Rio

Doce: Brycon opalinus (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2008) e Oligosarcus

solitarius (INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS- MG, 2014).

O relatório MG biota (2009), desenvolvido pelo Instituto Estadual De

Florestas-MG foi utilizado para confirmar a endemecidade das espécies em

extinção georreferenciadas. O cruzamento desses dados fornece de forma mais

acurada e atualizada a localização das espécies em extinção dentro da bacia do

Rio Doce, como apresentado nas Tabelas 2, 3 e 4 a seguir.

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Peixes

Espécie em Extinção Região da Bacia do Rio Doce Endêmica

Leporinus thayeri (hypomasticus)

Exclusivamente na região do médio e alto rio Santo Antônio.

Sim

Brycon Devillei

Lagos do médio Rio Doce, especificamente o lago Dom Helvécio e a lagoa Carioca. Essa espécie ocorria no Parque Estadual do Rio Doce (MG), mas sua ocorrência atual nessa localidade é incerta.

Sim

Brycon Opalinus Rio Piranga e na bacia do rio Santo Antônio, sendo que na última existem populações ainda bastante expressivas.

Sim

Henochilus wheatlandii

Bacia do rio Santo Antônio, afluente da margem esquerda do rio Doce (MG). Nessa drenagem, a espécie possui distribuição restrita a seu curso médio, a montante da Usina Hidrelétrica de Salto Grande. (A espécie é conhecida na reserva florestal da Companhia Vale do Rio Doce e reserva florestal da EMCAPA (ES).

Sim

Steindachneridion doceanum

Somente três localidades na bacia do rio Doce, todas em Minas Gerais: médio rio Santo Antônio, próximo à cidade de Ferros, baixo rio Manhuaçu e no rio Piranga, acima e abaixo da cidade de Ponte Nova. O maior número de exemplares provém dessa última localidade.

Sim

Pareiorhaphis mutuca

Conhecido apenas da localidade tipo: córrego Mutuca, sistema do rio das Velhas, Nova Lima, Minas Gerais. Não se conhecem registros recentes. Todos os espécimes conhecidos foram coletados em 1987 e tentativas recentes de localizar a espécie não tiveram êxito.

Sim

Pareiorhaphis nasuta Ribeirão Areia Branca, contribuinte ao Rio Matipó e no próprio rio Matipó.

Sim

Pareiorhaphis Scutula Córrego Prainha, um córrego contribuinte ao Rio Piracicaba na parte superior do Rio Doce.

Sim

Oligosarcus solitarius Lagos na região do médio Rio Doce; lago Gambazinho.

Sim

Tabela 2 – Habitat das Espécies de Peixes em Extinção (Fonte: Autoria Própria).

Crustáceos

Espécie em Extinção Região da Bacia do Rio Doce Endêmica

Cardisoma Guanhumi Vegetação manguezal, estuário da foz do rio doce.

Não

Tabela 3 – Habitat das Espécies de Crustáceos em Extinção (Fonte: Autoria Própria).

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Tartarugas

Espécie em Extinção Região da Bacia do Rio Doce Endêmica

Caretta Caretta Foz do Rio Doce Não

Dermochelys Coriacea Foz do Rio Doce Não

Tabela 4 – Habitat das Tartarugas em Extinção (Fonte: Autoria Própria).

3.3.2. Mapeamento da Qualidade de Água

A realização de coletas de água em pontos ao longo Rio Doce e sua

posterior análise pela CPRM e pela UnB permitiu a identificação da variação da

qualidade de água do rio, antes e após o incidente.

Os parâmetros analisados pela CPRM e legislados pela CONAMA que

apresentaram alterações significantes após o contato com o rejeito foram a

turbidez e o oxigênio dissolvido. Os resultados de metais dissolvidos não

apresentaram alterações significantes (CPRM 1 e 2, 2015). A UnB constatou

que o parâmetro legislado Manganês Total estava acima do permitido (UnB,

2015). Contudo, devido a pouca quantidade de pontos de coleta realizada pela

UnB não foi possível identificar um padrão no aumento do valor de Manganês

total ao longo do Rio Doce, de Mariana á foz em Linhares. Dessa forma, como o

objetivo do mapeamento é apresentar o grau de impacto de forma comparativa

entre os municípios, esse parâmetro não pode ser utilizado.

É possível verificar a tabela completa no tópico 6.2.2. Qualidade de Água

(Capítulo Análises e Resultados) que relaciona os pontos de captação,

parâmetros de qualidade e padrões estabelecidos pela CONAMA 357 (1986).

Vale ressaltar que a CPRM realizou duas campanhas em datas diferentes e

os valores de turbidez e oxigênio dissolvido utilizados na geração do indicador

foram aqueles obtidos na primeira campanha logo após o incidente, quando a

degradação máxima da qualidade do rio desencadeou o auge de impactos, como

morte de diversos exemplares de vida aquática. Comparando os valores dos

parâmetros obtidos em cada ponto de coleta foi possível identificar três

diferentes trechos de qualidade no Rio Doce.

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Pontos de Coletas Turbidez OD Mn total Classificação

de Impacto (NTU) (mg/l) (mg/l)

Gesteira >400000 <=0,1

I (maior)

Barra Longa >400000 <=0,1 0,1 a 1

Rio Doce >400000 <=0,1 1 a 3

Faz. Cachoeira D'Antas >400000 <=0,1

Cachoeira dos Óculos (Marliéria) >400000 <=0,1 1 a 3

Ponte Rodovia Ipatinga/Belo Oriente >400000 <=0,1 1 a 3

Periquito / Belo Oriente/ Naque >400000 <=0,1 1 a 3

Governador Valadares 100 mil a 400 mil

0,1 a 1 0,1 a 1

II (médio)

Tumiritinga 50 mil a 100 mil

0,1 a 1

Conselheiro Pena/ Resplendor 1 mil a 50 mil

1 a 5 II (menor)

Tabela 5 – Trechos de qualidade de água (Fonte: Autoria Própria).

O ponto de coleta pela CPRM mais próximo à barragem (após chegada da

onda contaminada pelo rejeito) foi em Governador Valadares. Dessa forma foi

possível inferir que valores de oxigênio dissolvido em pontos a montante de

Governador Valadares, ainda mais próximos ao local do rompimento, eram

menores ou iguais ao valores obtidos nesse município.

É valido ressaltar que todo Rio Doce foi altamente impactado pelo aumento

de turbidez, sólidos dissolvidos e pela queda de oxigênio dissolvido. Assim, as

classificações de Maior, Médio e Menor só são válidas de modo comparativo

entre os trechos e não em absoluto.

3.3.3. Geração de Indicador de Impacto Socioambiental

Os indicadores são parâmetros ou valores derivados de parâmetros

desenvolvidos para objetivos específicos, que descrevem ou dão informação acerca

de um determinado fenômeno (OECD, 1993).

A partir da identificação dos elementos socioambientais que compõem uma

bacia é possível relacionar seus elementos e obter um indicador do impacto

socioambiental, sofrido por cada município integrante da bacia. Desse modo foi

possível realizar a classificação dos municípios mais afetados, pela degradação da

qualidade do rio, decorrente do colapso de uma barragem de rejeito. Os indicadores

de impactos ambientais podem ser utilizados como ferramentas de suporte à

tomada de decisão.

34

Neste trabalho onde foi utilizado como estudo de referência o rompimento da

Barragem de Fundão, os seguintes elementos foram adotados:

Municípios Afetados

Municípios que foram afetados em algum grau, físico ou social, pela degradação

da qualidade de água do recurso hídrico, seja porque são atravessados pelo Rio,

estão à margem dele ou tem a população abastecida pelo mesmo. Nessa análise

foram excluídos os municípios de Mariana e Barra Longa, pois esses foram os

municípios incomparavelmente mais afetados pelo desastre devido à perda de bens

materiais e de vidas. Dessa forma, a seleção dos 38 municípios foi feita de modo

agrupar os municípios que somente foram impactados através da degradação da

qualidade do Rio Doce.

Qualidade de água

O mapeamento da variação da qualidade de água ao longo Rio permitiu a

identificação de três diferentes trechos de qualidade do rio após o incidente. Dessa

maneira, foi possível relacionar a localização dos municípios com os trechos

identificados.

Unidades de Conservação (UC’s)

Foi possível realizar o reconhecimento de unidades de conservação dentro dos

limites municipais, através do georreferenciamento. Sendo a unidade de

conservação um elemento regulado por lei de modo a conservar os recursos

ambientais, a chegada de fluxo de água contaminada deve ser observada com

atenção devido ao dano potencial à fauna, à flora e aos recursos ali presentes.

Espécies Ameaçadas de Extinção

Os mapas produzidos nesse trabalho permitiram a identificação dos trechos das

bacias nos quais se localizam os habitats de cada espécie ameaçada de extinção,

permitindo assim relacionar essa localização com um município da bacia.

35

Abastecimento de Água

Dentro dos municípios afetados pela degradação da água do Rio Doce, oito

municípios foram especialmente prejudicados por dependerem totalmente desse rio

para o abastecimento.

População

A quantidade da população afetada foi considerada para geração do indicador.

Foram definidas três faixas de quantitativos populacionais, atribuindo-se diferentes

pesos a cada uma delas.

Quantidade Populacional

Faixas

< 10.000 10.000 a 70.000 > 70.000

Pesos

1 2 3

Alpercata Aimorés Caratinga

Bugre Baixo Guandu Colatina

Córrego Novo Belo Oriente Governador Valadares

Dionísio Bom Jesus do Galho Ipatinga

Fernandes Tourinho Iapu Linhares

Galiléia Ipaba Timóteo

Itueta Marilândia

Marliéria Ponte Nova

Naque Raul Soares

Periquito Resplendor

Pingo-d'Água Rio Casca

Rio Doce Santana do Paraíso

Santa Cruz do Escalvado São Domingos do Prata

São José do Goiabal Conselheiro pena

São Pedro dos Ferros

Sem-Peixe

Sobrália

Tumiritinga

Tabela 6 – Faixas de quantidade populacional (Fonte: IBGE).

Pesca

Apesar da falta de dados referente à significância da pesca no PIB dos municípios,

o desastre no Rio Doce pode ter desencadeado reflexos sociais mais graves devido à

queda de renda e qualidade de vida das comunidades pesqueiras, do que

consequências econômicas para os municípios. Foi realizado um levantamento da

quantidade de pescadores artesanais profissionais cadastrados no Sistema

Informatizado do Registro Geral da Atividade Pesqueira – SisRGP.

36

Dessa forma, foi definido um peso de alta representatividade para os municípios

que possuem mais de 50 pescadores cadastrados.

Profissionais Cadastrados Município Peso

56 Aimorés 1

92 Conselheiro Pena 1

172 Governador Valadares 1

101 Resplendor 1

76 Tumiritinga 1

Tabela 7 – Representatividade de pesca artesanal (Fonte: SINPESQ).

Apesar do acesso de dados ser limitado aos profissionais cadastrados esses

valores podem indicar aproximadamente o potencial dos municípios para pesca,

incluindo os profissionais informais.

PIB

Para a geração do indicador de impacto foi considerado o PIB dos municípios que

dependem do abastecimento total do Rio Doce. Com o déficit de água, diversas

atividades foram suspensas o que desencadeará reflexos no PIB dos municípios.

Analisando a composição do PIB dos municípios foram identificados setores que

dependem diretamente da utilização de água como indústria, agricultura e serviços.

Dessa forma, segmentos do PIB que não dependem diretamente do abastecimento

como arrecadação de imposto e PIB do setor público foram excluídos nessa

metodologia. Assim, foram definidas duas faixas que indicam a importância de tais

setores da composição total do PIB municipal.

Representatividades dos setores de Agricultura, Indústria e serviços no

PIB municipal.

49 a 60 % 61 a 72%

Pesos

2 3

Galiléia Governador Valadares

Itueta Colatina

Alpercata Baixo Guandu

Tumiritinga Resplendor

Tabela 8 – Representatividade dos setores de Agricultura, Indústria e Serviços no PIB municipal (Fonte: IBGE).

37

Turismo

Apesar de não depender diretamente do abastecimento de água, o turismo é um

setor gravemente impactado pela degradação da qualidade da água do Rio Doce.

Foi realizado o levantamento dos municípios inseridos dentro dos circuitos

turísticos.

Circuito Turístico

Trilhas Do Rio Doce

Circuito Turístico

Mata Atlântica De

Minas

Região Doce

Pontões Capixabas

Região Do Verde

E Das Águas

Aimorés Belo oriente Colatina Linhares

Conselheiro Pena Bugre

Governador Valadares Dionísio

Galiléia Ipatinga

Resplendor Marliéria

Santana do Paraíso

São domingos do Prata

São José do Goiabal

Timóteo

Tabela 9 – Municípios Inseridos nos circuitos turísticos (Fonte: PIRH, 2010).

Após identificar os elementos que serão responsáveis por gerar o indicador, é

necessário definir os pesos relativos a cada elemento ou a cada faixa dentro de um

mesmo elemento. Para a Bacia do Rio Doce, a tabela a seguir apresenta o critério

de definição dos pesos máximos aferidos a cada elemento.

Peso Máximo Características do Elemento Elementos

Elementos que influenciam

diretamente e indiretamente na qualidade de vida da população,

considerando saúde, lazer e economia.

Qualidade da Água do Rio

3 Abastecimento

Tamanho Populacional

PIB

Elementos relacionados diretamente a saúde da fauna e

flora e indiretamente a saúde humana

2 U.C.

Espécies em Extinção

Setores sociais ou econômicos que são especialmente impactados pelo

incidente

1 Turismo

Pesca

Tabela 10 – Peso máximo aferido a cada elemento (Fonte: Autoria Própria).

A matriz de impacto gerada a partir da correlação entre os municípios e seus

elementos, assim como os resultados finais obtidos podem ser observados no tópico

6.5 Indicador de Impacto (Capítulo 6 - Análises e Resultados).

38

4. ESTUDO DE REFERÊNCIA

4.1. A Bacia Hidrográfica do Rio Doce

A Bacia Hidrográfica do Rio Doce está localizada na Região Sudeste do Brasil

entre os paralelos 17°45’ e 21°15’ de latitude sul e os meridianos 39°55’ e 43°45’ de

longitude oeste, integrando a região hidrográfica do Atlântico Sudeste. Possui uma

área de drenagem com cerca de 86.715 km², (PIRH, 2010), dos quais 86%

pertencem ao Estado de Minas Gerais e o restante ao Estado do Espírito Santo,

sendo, portanto, uma bacia de domínio federal.

O Rio Doce nasce no município de Ressaquinha (MG) a partir do encontro do

Rio Piranga com o Rio do Carmo, seus formadores. Suas nascentes situam-se nos

limites sudoeste da Bacia na Serra da Mantiqueira (município de Ressaquinha) e no

Complexo do Espinhaço em Minas Gerais, região de altitudes superiores de 1.200

metros. No que se refere aos aspectos físicos, o Rio Doce é caracterizado como um

extenso rio que penetra profundamente no planalto mineiro e suas águas percorrem

cerca de 850 km (PIRH, 2010) até atingir o oceano Atlântico, junto ao povoado de

Regência (Figura 5).

Pela margem esquerda do Rio Doce, os principais afluentes são os rios do

Carmo, Piracicaba, Santo Antônio, Corrente Grande e Suaçuí Grande, em Minas

Gerais; São José e Pancas no Espírito Santo. Já pela margem direita são os rios

Piranga, Casca, Matipó, Caratinga/Cuieté e Manhuaçu em Minas Gerais; Guandu,

Santa Joana e Santa Maria do Rio Doce no Espírito Santo. Os principais afluentes

da bacia do rio Doce, com as correspondentes áreas de drenagem são

apresentados no Quadro 1, extraído de (ANEEL/FUMEC- 2001).

39

Figura 9 – Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (Fonte: PIRH Volume I, 2010).

Quadro 1 – Principais afluentes do Rio Doce e respectivas áreas de drenagem (Fonte: Inventário Hidrelétrico da Bacia do Rio Doce, ANEEL/FUMEC, 2001).

Conforme Diagnóstico Consolidado da Bacia (2005) em função das

características morfoestruturais variadas que ocorrem no interior da bacia, o traçado

do Rio Doce é dividido em três Unidades Regionais:

Alto Doce: da nascente até a confluência com o rio Piracicaba, afluente do Rio

Doce pela margem esquerda, nas proximidades da cidade de Ipatinga, em

Minas Gerais;

Médio Doce: da confluência com o Rio Piracicaba até a divisa entre Minas

Gerais e Espírito Santo, nas proximidades da confluência com o Rio Guandu

no Espírito Santo;

Baixo Doce: da divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo até a foz no

Oceano Atlântico.

40

No Alto Doce o Rio Doce atravessa o Parque Estadual do Rio Doce, numa

extensão de cerca de 50 km. Essa região é caracterizada por um importante sistema

lacustre. Esse sistema ocupando terras dos municípios de Ipatinga, Caratinga, São

Pedro dos Ferros, Timóteo, Marliéria e distribuído em ambas às margens do Rio

Doce é formado por cerca de 42 lagoas naturais. Dentre estas deve ser mencionada

a maior delas, a Lagoa Dom Helvécio com 6,7 km² de área e cerca de 30 m de

profundidade máxima.

O Quadro 2 a seguir sumariza as características gerais da Bacia do Rio Doce, de

acordo com a delimitação de cada trecho da bacia: Alto, Médio ou Baixo Doce.

Quadro 2 – Características por trecho da bacia do rio Doce (Fonte: PIRH Volume I, 2010).

De acordo com o Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Doce

(2010) no estado de Minas Gerais a bacia é subdividida em seis Unidades de

Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos (UPGRHs), com Comitês de Bacia

estruturados conforme a seguinte relação:

DO1 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Piranga;

DO2 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Piracicaba;

DO3 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Santo Antônio;

DO4 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Suaçuí;

DO5 – Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Caratinga; e

DO6 – Comitê de Bacia Hidrográfica Águas do rio Manhuaçu.

No Estado do Espírito Santo, embora inexistam subdivisões administrativas, têm-

se os Comitês das Bacias Hidrográficas do Rio Santa Maria do Doce, do Rio

Guandu e do Rio São José, bem como os Consórcios dos Rios Santa Joana e

Pancas.

41

A Figura 6 mostra o mapa da Bacia Hidrográfica do Rio Doce e a área de atuação

dos comitês de bacias estaduais.

Figura 10 – Mapa da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (Fonte: PIRH Volume I, 2010).

A Bacia Hidrográfica do Rio Doce abrange, total ou parcialmente, áreas de

230 municípios (PIRH 2010), sendo 202 em Minas Gerais e 28 no Espírito Santo e

possui uma população total da ordem de 3,3 milhões de habitantes conforme dados

fornecidos pelo Censo IBGE (2010).

O desmatamento generalizado e o mau uso dos solos, tanto para monocultura

do eucalipto como para agricultura e pastagem, tem levado a bacia a um intenso

processo de erosão, cujos sedimentos resultantes tendem a assorear os cursos

d'água. O assoreamento é um dos problemas críticos que atinge a bacia, em

especial o baixo rio Doce, que recebe carga de sedimentos provenientes das áreas

a montante. Deve-se salientar que o problema da erosão é ainda maior nas áreas

em que as rochas e o solo têm em sua composição química grandes concentrações

de alumínio.

A urbanização da bacia também contribui significativamente para os impactos

nos cursos d'água, principalmente pelo quase inexistente sistema de tratamento de

esgotos. As inundações são também outro grande problema ambiental evidenciado

na bacia.

42

O desmatamento e o manejo inadequado do solo favoreceram a formação de

processos erosivos, que somados aos despejos inadequados advindos da

mineração e de resíduos industriais e domésticos, deram origem ao contínuo

processo de assoreamento dos leitos dos rios da bacia (Diagnóstico Consolidado da

Bacia, 2005). O diagnóstico chama a atenção para o fato de algumas cidades

ocuparem a planície de inundação dos rios e de tempos em tempos, períodos de

chuva mais severos provocam o alagamento de parte destas planícies, trazendo

graves prejuízos à região. O Quadro 3 apresenta um resumo das características

gerais da Bacia do Rio Doce.

Características Gerais da Bacia do Rio Doce

Área de drenagem da bacia 86.715 km²

Extensão do curso principal (Rio Doce) Aprox. 850 km

Nº de municípios 230 municípios

População na bacia Aproximadamente 3.294.000 habitantes

Principais atividades econômicas

Mineração

Siderurgia

Silvicultura

Agropecuária

Principais problemas relacionados à gestão dos recursos hídricos

Contaminação por esgotos domésticos

Erosão e assoreamento

Quadro 3 – Características gerais da bacia do rio Doce (Fonte: PIRH Volume I, 2010).

A Figura 7 apresenta a delimitação da Bacia Hidrográfica do Rio Doce e sua

hierarquia fluvial, calculada com uso do SIG por Coelho (2007) e apresentando os

cursos de rios a partir da 5ª ordem conforme Strahler (1951).

43

Figura 11 – Hierarquia Fluvial da Bacia do Rio Doce calculada com uso do SIG (Fonte: Coelho, 2007).

Considerando que a definição dos limites de uma bacia está diretamente

associada ao relevo da mesma, atualmente este pode ser representado

computacionalmente como sendo uma matriz de pixels (menor elemento de uma

imagem), que contêm valores de altimetria para cada célula. Esta matriz é

geralmente denominada Modelo Numérico de Terreno (MNT) e pode ser obtida

mediante a vetorização e interpolação de curvas de nível de uma folha topográfica

(DIAS et al, 2004).

4.2. Mineração na Bacia do Rio Doce

Conforme descrito em COELHO (2009) a bacia passou por um processo de

industrialização no final da década de 30 com a chegada da Ferrovia, no município

mineiro de Itabira (sub-bacia do Piracicaba), que na década seguinte passou a

escoar regularmente o minério em direção ao porto de Vitória. O fato de recursos

naturais terem sido encontrados na região adjacente à Itabira, associados à rede

ferroviária existente, favoreceu as condições para implantação de um pólo

siderúrgico, conhecido hoje como “Vale do Aço”.

44

O Vale do Aço é oficialmente denominado Região Metropolitana do Vale do

Aço (RMVA), localizado no interior do estado de Minas Gerais, na Região

Sudeste do país (INCT, 2012). Foi reconhecido pela lei complementar nº 51, de 30

de dezembro de 1998, sendo efetivada como região metropolitana em 12 de janeiro

de 2006. Além de Ipatinga, que sedia a agência metropolitana desde janeiro de

2012, é composta pelos municípios de Coronel Fabriciano, Santana do Paraíso e

Timóteo, além das 24 cidades do colar metropolitano.

Figura 12 – Localização da Região Metropolitana do Vale do Aço, RMVA (Fonte: Diário do Aço, 2012).

Segundo o Relatório de Gestão do Exercício da ANA (2014), atualmente na

região encontra-se instalado o maior complexo siderúrgico da América Latina, com

destaque para a Companhia Siderúrgica Belgo Mineira, a ACESITA, a

Cenibra (em Belo Oriente) e a USIMINAS. Algumas empresas de mineração ainda

estão associadas de forma presente, com destaque para a Companhia Vale do Rio

Doce - CVRD e empresas reflorestadoras que cultivam o eucalipto para fornecer

matéria-prima para as indústrias de celulose.

45

Esse complexo industrial é responsável por grande parte das exportações

brasileiras de minério de ferro, aço e celulose, sendo assim de grande importância

para a região onde estão instaladas. Existe uma significativa geração de capital na

bacia em função da existência desse complexo siderúrgico, contudo, também se

verifica a desigualdade no interior da bacia. Somente algumas áreas foram

contempladas com o maior desenvolvimento das atividades econômicas, como o

Vale do Aço e a região de influência dos municípios de Governador Valadares,

Caratinga, Colatina e Linhares. Os indicadores sociais e econômicos de uma parte

significativa dos municípios da bacia mostra que quase uma centena deles são

classificados como municípios pobres (PIRH, 2010).

4.2.1. Empresa Samarco Mineração S.A.

A Samarco Mineração S.A. é uma mineradora brasileira fundada em 1977 e

atualmente controlada através de uma joint-venture entre a Vale S.A. e a anglo-

australiana BHP Billiton, cada uma com 50% das ações da empresa (VEJA, 2015). A

área teve a sua concessão transferida da Sociedade Anônima Mineradora Trindade

(Samitri) para a Samarco.

Segundo RAMALHOSO (2015) a empresa obteve um lucro de R$ 13,3 bilhões

entre 2010 e 2014, sendo o lucro isolado do ano de 2014 de R$ 2,8 bilhões. Esses

dados também podem ser encontrados no próprio portal da empresa na internet.

Em 5 de novembro de 2015 a mineradora ganhou destaque após o desastre

do rompimento de barragem de Fundão no subdstrito de Bento Rodrigues.

A barragem de rejeito fazia parte da Mina de Germano que integra o

chamado Complexo de Alegria, situado no município de Mariana, estado de Minas

Gerais.

4.2.2. Mineração de Ferro: Características da produção e do rejeito

De acordo com o relatório anual de sustentabilidade da Samarco (Samarco,

2013), as atividades interligadas no processo de produção do minério de ferro têm,

como um dos objetivos, gerar o menor impacto ambiental possível, com segurança e

eficiência operacional. A empresa afirma que mantém o controle sobre todas as

etapas do processo de produção das pelotas de minério de ferro – desde a extração

na mina até o beneficiamento, pelotização e embarque.

46

Na unidade de Germano, situada nos municípios de Mariana e Ouro Preto

(MG), o minério de ferro é extraído em minas a céu aberto e conduzido até um

sistema de correias transportadoras, por meio do qual é lavrado cerca de 70% do

recurso mineral que é transportado até os concentradores sem recorrer ao uso de

caminhões.

Nos concentradores, no processo de beneficiamento do minério, o material

com 46% de teor de ferro passa pelos processos de britagem, moagem,

deslamagem e flotação para adequação das especificações físicas e químicas e

transformação em polpa para o transporte pelos minerodutos. Nesses processos

ocorre a redução da quantidade de minerais dispensáveis, transformando o minério

em um concentrado com 67% de ferro. Os rejeitos e estéreis gerados nesses

processos são armazenados em barragens e pilhas de estéril, estruturas que devem

ser continuamente monitoradas e controladas.

Já em forma de polpa, o material passa pela etapa de espessamento, na qual

é ajustada a porcentagem de sólidos da polpa (aproximadamente 30% de água e

70% de sólidos), e segue para nossos minerodutos, que fazem o transporte entre as

unidades de Germano e Ubu, em Anchieta (ES).

Segundo Samarco (2013) os minerodutos atravessam 25 municípios mineiros

e capixabas, sendo considerada uma tecnologia pioneira no País, evitando o uso de

outros modais viários. Além disso, por meio de sistemas de recirculação, cerca de

90% da água utilizada nos dutos é reaproveitada nas operações. De acordo com

todo o descritivo da Samarco o processo de beneficiamento praticado pela empresa

é considerado um dos mais eficazes no mercado atualmente.

Já o rejeito, proveniente do processo de beneficiamento do minério de ferro,

não é tóxico segundo Samarco (2016) e não representa risco para a saúde humana,

uma vez que não disponibiliza contaminantes para a água, mesmo em condições de

exposição à chuva. Ele é composto basicamente de água, partículas de óxidos de

ferro e sílica (ou quartzo).

Análises feitas pela SGS Geosol, empresa especializada em análises

ambientais e geoquímicas do solo, confirmam que o rejeito da Barragem de Fundão

não oferece perigo para as pessoas, com base na classificação da periculosidade do

material (ABNT 1004). As amostras foram colhidas em diversos pontos próximos ao

local do acidente.

47

Os testes simularam situações como manuseio do rejeito por qualquer pessoa

sem cuidados especiais, exposição a chuvas por vários anos e contato com águas

correntes, como enxurradas. O material também foi analisado considerando seu

índice de acidez, neutralidade ou alcalinidade (PH), sua corrosividade e a

possibilidade de gerar reação violenta.

Também foi verificada a presença das seguintes substâncias: alumínio,

arsênio, bário, cádmio, chumbo, cianeto, cloreto, cobre, cromo, ferro, fluoretos,

manganês, mercúrio, nitrato, prata, selênio, sódio, sulfato, zinco, fenóis, coagulantes

e floculantes.

Logo, de acordo com a empresa Samarco, para o caso específico do

rompimento da barragem de Fundão foi ressaltado que os metais encontrados, por

meio do monitoramento, sempre estiveram presentes no curso do Rio Doce e que

com a passagem da pluma eles se movimentaram e vieram à superfície. De acordo

com empresa os índices que estão acima do limite estabelecido pela legislação têm

a tendência de voltar ao normal, à medida que a pluma se acomodar.

4.3. Considerações Preliminares sobre o Rompimento da Barragem de Fundão

Os itens a seguir têm como objetivo caracterizar o desastre envolvendo o

rompimento da barragem de Fundão, apresentando de forma geral o que foi o

acidente e como os eventos consequentes a ele se desencadearam. Os dados

apresentados neste capítulo foram obtidos através de documentos e laudos oficiais,

produzidos após o desastre, por órgãos públicos e privados.

4.3.1. Panorama Geral do Desastre

A barragem de Fundão se localiza no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 km

do centro do município brasileiro de Mariana, em Minas Gerais. Trata-se de

uma barragem de rejeitos de mineração provenientes da extração do minério de

ferro. A barragem é controlada pela Samarco Mineração S.A., sendo

um empreendimento conjunto das maiores empresas de mineração do mundo, como

mencionado anteriormente.

48

O rompimento da barragem de Fundão foi considerado o maior desastre

ambiental da história brasileira e o maior do mundo envolvendo barragens de rejeito,

segundo especialistas ambientais brasileiros. Os rejeitos liberados chegaram ao Rio

Doce, cuja bacia hidrográfica abrange 230 municípios dos estados de Minas Gerais

e Espírito Santo, muitos dos quais abastecem sua população com a água do rio.

No panorama geral os rejeitos afetaram gravemente o subdistrito de Bento

Rodrigues, que foi encoberto por uma onda de lama de rejeitos. Também afetou

gravemente a qualidade de água de todo o Rio Doce desde sua nascente, nas

cidades de Santa Cruz do Escalvado e Rio Doce, Região Central de Minas, até a foz

em Linhares no Espírito Santo. Os rejeitos liberados provocaram a morte de peixes

e animais, o colapso no abastecimento de água de grandes cidades, como

Governador Valadares e Colatina, além de afetar as atividades de pesca e irrigação

em algumas localidades (ANA, 2015b).

4.3.2. Possíveis Causas do Rompimento

O jornal “O Estado de S. Paulo”, no dia 03/02/2016 divulgou trechos do

relatório realizado pela polícia federal, o qual incumbia à empresa Samarco a

responsabilidade pelo rompimento da barragem de Fundão. Tal relatório aponta

motivos técnicos entre eles uma taxa de alteamento de 15 metros por ano, superior

às recomendadas pela Deliberação Normativa nº 87 (COPAM, 2005), de 5 a 10

metros por ano.

Segundo a edição do “Jornal Nacional” do mesmo dia, o Ministério Público de

Meio Ambiente de Minas Gerais declarou que o alteamento para aumentar a

capacidade de Fundão estava dentro do que foi licenciado no que se refere à altura,

não no que se refere ao recuo da estrutura que foi realizado, o qual pode ter

contribuído para a instabilidade da barragem.

As imagens a seguir exibem o alteamento para barragem a partir do ano de

2011. Na Figura 15, relativa à situação da barragem em 2015, é possível observar

uma curva bem definida no alteamento.

49

Figura 13 - Barragem de Fundão em 2011 (Fonte: Google Earth).

Figura 14 - Barragem de Fundão em 2013 (Fonte: Google Earth).

Figura 15 – Barragem de Fundão em 2015 (Fonte: Google Earth)

50

Ainda de acordo com a mesma reportagem, problemas no monitoramento

podem ter contribuído para verificação de instabilidade. O coordenador técnico de

planejamento e monitoramento da Samarco citou que a última leitura manual nos

equipamentos que mediam a estabilidade da barragem de Fundão tinha sido feita no

dia 26 de outubro, dez dias antes do rompimento. E os outros equipamentos que

enviavam dados automaticamente estavam em manutenção nos dias três, quatro e

cinco de novembro, dia do rompimento da barragem de Fundão (GLOBO, 2016a).

Em entrevista à TV Globo o engenheiro Joaquim Pimenta de Ávila que

projetou a barragem de Fundão disse que a alteração do projeto não foi feita por ele.

O engenheiro afirma que além de projetar a barragem prestou consultoria para a

mineradora em 2014 e disse que nesse período alertou à Samarco sobre um

princípio de ruptura, na margem esquerda da barragem de Fundão. O engenheiro

afirmou que uma trinca apareceu no recuo feito na barragem, o qual não estava no

projeto original (GLOBO, 2016b). A recomendação do especialista na época foi que

realizassem o redimensionamento do reforço na estrutura e a instalação de ao

menos nove piezômetros. Contudo, ele não tem conhecimento se as

recomendações foram de fato executadas.

No dia 23/02/2016 a Polícia Civil afirmou que a causa do rompimento da

barragem de Fundão foi o efeito de liquefação, o qual ocorre devido ao acúmulo de

água no solo. A polícia explicou que houve elevada saturação de rejeitos arenosos

depositados na barragem, falhas no monitoramento, equipamentos com defeito,

número reduzido de equipamentos de monitoramento, elevada taxa de alteamento

anual da barragem e deficiência junto ao sistema de drenagem (GLOBO, 2016c).

A perícia realizada pela Polícia Civil revelou que nos dois lados da barragem

havia um grande acúmulo de água ao invés de lama, mostrando que a drenagem

era ineficiente. O delegado Rodrigo Bustamante, responsável pelo inquérito, afirmou

sobre o alteamento da barragem "É como se o aumento do eixo (da barragem) fosse

construído em cima de uma gelatina". Além disso, Segundo a polícia civil, estudos

da UnB (Universidade de Brasília) e da USP (Universidade São Paulo) apontam que

abalos sísmicos não foram responsáveis pela ruptura, como a Samarco chegou a

cogitar após o incidente.

51

4.4. O Desastre

Na tarde de 05/11/2015 ocorreu o rompimento da barragem de Fundão, no

subdistrito de Bento Rodrigues. A barragem, como já mencionado, faz parte de um

complexo de barragens de rejeito de mineração de ferro, composto ainda pelas

barragens de Santarém e Germano (ver Figuras 16 e 17).

Figura 16 – Complexo Minerário de Germano antes do rompimento da barragem (Fonte: Google Earth, de 20/07/2015).

Figura 17 – Complexo Minerário de Germano após rompimento da barragem. (Fonte: Google Earth, de 11/11/2015).

O rompimento causou uma enxurrada de lama que atingiu inicialmente a

barragem de Santarém, a jusante de Fundão, causando seu galgamento e

provocando a passagem de uma onda de lama do material contido em Fundão para

além do domínio das barragens.

52

O subdistrito de Bento Rodrigues, localizado cerca de 2,5 km vale abaixo foi o

mais afetado pelo rompimento e totalmente inundado pela enxurrada de lama.

Outros vilarejos e distritos situados no vale do Rio Gualaxo do Norte também foram

atingidos pela onda de lama.

Figura 18 – Esquema do rompimento da barragem de Fundão no subdistrito de Bento Rodrigues, Minas Gerais (Fonte: OpenStreetMap).

Segundo relatório do CENAD, produzido em 07/11/2015, os outros

subdistritos e povoados diretamente atingidos pela onda de lama foram: Paracatu de

Baixo, Paracatu de Cima, Camargos e Gesteras. Um panorama geral da população

diretamente impactada foi divulgado por esse relatório, e os dados relativos a óbitos

e desaparecidos foram atualizados em 22/11/2015.

Município Residências

Atingidas Pessoas

Desabrigadas Feridos Desaparecidos Óbitos

Mariana/MG Não Contabilizado 550 4 2 17

Barra Longa Não Contabilizado 252 -

Quadro 4 – Panorama geral da população diretamente impactada pela enxurrada de lama de rejeitos (Fonte: Relatório CENAD, 07/11/2015).

Segundo relatório publicado pelo IBAMA, em novembro de 2015, estima-se

que o volume liberado pelo rompimento da barragem seja da ordem de 50 milhões

de m³ de rejeitos de mineração de ferro. Estima-se também, que cerca de 34

milhões de m³ tenham galgado a barragem de Santarém e lançados no meio

ambiente, o resto teria sido retido acima.

53

Parte dos sedimentos ficou espalhada nas zonas planas do distrito de Bento

Rodrigues, nos taludes atingidos pela onda de lama e nas margens dos rios a

jusante (Figura 19 e 20). O volume de sedimentos espalhado nas cercanias não foi

contabilizado, mas estima-se que no mínimo 16 milhões de m³ tenham sido

carreados aos poucos para jusante em direção ao mar, no estado do Espírito Santo.

Figura 59 – Área impactada imediatamente à jusante da barragem de Santarém (Fonte: Relatório IBAMA, 2015).

Figura 20 – Distrito de Bento Rodrigues antes e depois do rompimento da barragem (Foto: DigitalGlobe e Globalgeo Geotecnologias).

Após causar a destruição dos locais por onde passou, a onda de lama de

rejeitos atingiu o Rio Gualaxo do Norte, que deságua no Rio do Carmo. Foi através

do Rio do Carmo que a lama de rejeitos finalmente alcançou o Rio Doce, principal

curso d’água da Bacia do Vale do Rio Doce.

54

Por toda a extensão do Rio Doce nos estados de Minas Gerais e Espírito

Santo, observou-se a mudança do aspecto do rio, demonstrando os altos níveis de

turbidez gerados pela onda de lama de rejeitos, conforme Figura 21.

Figura 21 – Rio Doce no município de Baixo Guandu/ES (Fonte: IBAMA, 2015).

O mapa a seguir, divulgado no boletim da CPRM em novembro de 2015,

indica o cronograma da passagem da lama e as localidades atingidas no percurso.

Figura 22 – Mapa da passagem da lama de rejeitos (Fonte: CPRM, 2015).

55

4.5. Classificação do Desastre e do Resíduo Liberado

O relatório do IBAMA (2015) classifica o resíduo liberado pela barragem como

não perigoso e inerte para ferro e manganês, baseando-se na classificação da NBR

10.004.

De acordo com o Decreto nº 7.257 de 4 de agosto de 2010 “desastre”

significa:

“Resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem sobre um ecossistema (vulnerável), causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais”. (Glossário da Defesa Civil Nacional, 2010)

Os desastres classificam-se quanto à intensidade, evolução e origem. O

desastre em análise, quanto à intensidade, classifica-se como Desastre de Nível IV,

“desastre de muito grande porte”, conforme classificação da Defesa Civil. Os

desastres desse nível são caracterizados quando os danos causados são muito

importantes e os prejuízos muito vultosos e consideráveis. Nessas condições eles

não são superáveis ou suportáveis pelas comunidades, mesmo quando bem

informadas e preparadas, a menos que recebam ajuda de fora da área afetada,

como foi o caso. Nessas condições, o restabelecimento da situação de normalidade

depende da mobilização e da ação coordenada dos três níveis de governo

(municipal, estadual e federal).

Quanto à evolução, o rompimento da barragem de Fundão classifica-se como

súbito, ou seja, caracteriza-se pela velocidade com que o processo evolui e pela

violência dos eventos adversos.

Quanto à origem esse desastre é classificado como de origem Humana ou

Antropogênica, visto que foi um empreendimento humano que afetou a qualidade do

meio ambiente.

4.6. Áreas Impactadas Pela Lama de Rejeitos

A Fundação SOS Mata Atlântica, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

(INPE) e empresa Arcplan de geotecnologia analisaram as áreas impactadas pela

lama de rejeitos. O relatório de SOS Mata Atântica (2015) revela o total de áreas

afetadas entre a barragem de Santarém, galgada pelos rejeitos de Fundão, até a

Usina Hidrelétrica de Candonga localizada no início do Rio Doce.

56

O relatório tem como objetivo calcular a área total impactada pela deposição

de rejeitos lamosos e estimar as áreas de remanescentes florestais e áreas naturais

de Mata Atlântica devastadas na passagem da onda de rejeitos. A Figura 23 a

seguir demostra o caminho percorrido pela lama entre a barragem de Fundão e a

Usina Hidrelétrica de Risoleta Neves, também conhecida como Usina Candonga.

Figura 23 – Imagem obtida através do sensor OLI/LANDSAT 8, da área entre a barragem de Santarém e a Usina Hidrelétrica de Candonga (Fonte: SOS Mata

Atlântica/INPE, 2015).

As Figuras 24 e 25 são parte integrante do Relatório de SOS Mata Atlântica

(2015) e representam a área impactada no entorno do Distrito de Bento Rodrigues.

Tais áreas foram analisadas através de imagens de alta resolução disponíveis no

Google Earth, na escala 1:10.000. Na Figura 24 as áreas em verde escuro

representam as remanescentes florestais de Mata Atlântica e em verde claro têm-se

as áreas de vegetação natural.

Figura 24 – Distrito de Bento Rodrigues antes do rompimento da barragem (Fonte: SOS Mata Atlântica/INPE, 2015).

57

Figura 25 – Distrito de Bento Rodrigues após o rompimento da barragem, com classificação em cores das áreas impactadas (Fonte: SOS Mata Atlântica/INPE, 2015).

Na Figura 25 apresentada tem-se o somatório das áreas afetadas nas cores

vermelho, roxo e rosa de acordo com os dados a seguir:

Área Total Afetada (em vermelho) = 1.775 hectares

Área de Remanescentes Florestais Removida (em roxo) = 236 hectares

Área de Vegetação Natural Removida (em rosa) = 88 hectares

Quadro 5 – Total das áreas impactadas, remanescentes florestais e vegetação natural de Mata Atlântica, removidas por município (Fonte: SOS Mata Atlântica/INPE, 2015).

4.7. Trajetória do Rejeito Através do Rio Doce

Após o rompimento da barragem de Fundão o rejeito lamoso que foi liberado

invadiu a barragem de Santarém, que continha maior teor de água. Após galgar a

barragem de Santarém a onda de lama percorreu 4 km até encontrar com o rio

Gualaxo do Norte. Neste rio a onda de lama percorreu 68 km até desaguar no rio do

Carmo, por onde percorreu mais 29 km até seu encontro com o rio Doce.

58

Através do Rio Doce os resíduos foram carreados até a foz no Oceano

Atlântico, chegando no município de Linhares no estado do Espírito Santo em

21/11/2015, totalizando 663 km de corpos hídricos diretamente impactados.

Todo trajeto e as distâncias percorridas foram calculadas em ambiente SIG

através do software ArcGis 10.2 e estão representados na Figura 26.

Figura 26 – Percurso da onda de lama desencadeada pelo rompimento da barragem do Fundão. (Fonte: Auditoria Própria).

Quadro 6 – Resumo da Hidrografia Impactada (Fonte: Auditoria Própria).

Hidrografia Afetada Quilômetros Impactados

Trecho entre a barragem de Santarém e Rio Gualaxo do Norte

4 km

Rio Gualaxo do Norte 68 km

Rio Carmo 29 km

Rio Doce 566 km

Total (Barragem à Foz) 667 km

59

4.7.1. Rio Gualaxo do Norte

O primeiro curso d’agua diretamente atingido pelo impacto da onda lamosa foi

o Rio Gualaxo do Norte, um pequeno rio na parte superior da bacia do Rio Doce. A

onda lamosa percorreu cerca de 68 km até seu desague no Rio do Carmo.Os

relatórios oficiais sugerem que largos depósitos de sedimentos foram armazenados

na calha, nas várzeas e áreas planas marginais, ao longo do percurso impactado do

Gualaxo do Norte.

4.7.2. Rio do Carmo

O Rio do Carmo sofreu um grande impacto na confluência com o Rio Gualaxo

do Norte. Nesse encontro a onda lamosa conseguiu subir cerca de 4 km, para

montante da confluência. Somando os 25km percorridos pela onda lamosa através

do Rio do Carmo, o total afetado é da ordem de 29 km.

4.7.3. Rio Doce

Na passagem da onda de rejeitos pela junção dos Rios Carmo e Piranga,

houve diluição relevante da onda lamosa por conta da contribuição da vazão do Rio

Piranga, de maior porte que o Carmo. O percurso total da onda lamosa fluida pelo

Rio Doce foi de aproximadamente 566 km até a foz. De acordo com o relatório do

IBAMA (2015), dos 34 milhões de m³ liberados no meio ambiente, estima-se que 16

milhões de m³ tenham avançado até o Rio Doce.

O Rio Doce, por ser bem mais largo e por ter recebido uma onda lamosa muito

mais fluida e com velocidade reduzida, não aparenta ter sofrido danos na vegetação

marginal, como relatado oficialmente.

No Rio Doce encontram-se quatro usinas hidrelétricas com reservatórios que

amorteceram a onda lamosa fluida e, provavelmente, retiveram parcelas

consideráveis de sedimentos: Usina Hidrelétrica de Risoleta Neves (Candonga); A

Usina de Baguari; Usina de Aimorés; e a Usina de Mascarenhas. Todas essas

podem ser identificadas na Figura 26.

60

1o Trecho: Confluência dos rios Piranga e Carmo à UHE Candonga

O primeiro reservatório, a UHE de Risoleta Neves também chamada de Usina

Candonga, deve ter retido a parte mais grosseira dos sedimentos. Ela se localiza

logo no início da formação do Rio Doce, aproximadamente a 14 km de distância da

confluência do Rio Piranga e Rio Carmo, seus formadores.

A Usina Hidrelétrica Candonga (Risoleta Neves) é de responsabilidade do

Consórcio Candonga, constituído pelas empresas Aliança Energia (50%) e Vale

(50%), e possui potência de 140 MW.

Em razão da quantidade de rejeitos que chegaram à usina, duas das suas

três comportas ficaram não operacionais por alguns dias. Após trabalhos de

dragagem, todas as comportas da usina voltaram a operar. Atualmente, o

reservatório opera a fio d'água, ou seja, as vazões que são liberadas são da mesma

ordem de grandeza das vazões que chegam ao reservatório, sem geração de

energia.

2o Trecho: Da UHE Candonga à UHE Baguari

O segundo trecho corresponde ao trecho que vai da usina de Candonga à

usina de Baguari. Nele se observa intensa deposição do rejeito na calha do Rio

Doce e ausência de depósitos na planície de inundação. Este trecho foi

profundamente afetado pelo material procedente da mina e teve a morfologia da

calha modificada por estes depósitos. Destaca-se neste trecho o Parque Florestal

Estadual do Rio Doce, cujo limite oriental é dado pelo Rio Doce até seu encontro

com o rio Piracicaba.

A UHE Baguari pertence ao Consórcio UHE Baguari, constituído pelas

empresas Neoenergia (51%), Cemig (34%) e Furnas (15%), com potência de 140

MW.

Baguari é a segunda estrutura hidráulica encontrada no percurso do rio Doce.

Atualmente, o reservatório opera a fio d'água, próximo de sua cota mínima

operacional, sem geração de energia, devido a problemas decorrentes da qualidade

de água (ANA, 2015b).

61

3o Trecho: Da UHE Baguari à UHE Mascarenhas

O terceiro trecho se estende da usina de Baguari até a usina de

Mascarenhas, incluindo a usina de Aimorés, e é marcado por numerosas Cidades,

sendo Governador Valadares a mais populosa. Nele está concentrado o maior

número de sedes municipais que captam água bruta diretamente no rio Doce. A

deposição de rejeitos parece mais reduzida em relação ao trecho anterior,

aparentando - nas usinas de Aimorés e Mascarenhas - ser composto de material em

suspensão de granulometria mais fina.

A UHE Aimorés pertence à Aliança Energia e possui potência de 330 MW.

Atualmente, o reservatório opera a fio d'água, próximo de sua cota mínima

operacional (89,60 m), sem geração de energia, devido a problemas decorrentes da

qualidade de água.

A UHE Mascarenhas pertence à EDP, com potência de 198 MW. Atualmente, o

reservatório opera a fio d'água, próximo de sua cota mínima operacional, sem

geração de energia, devido a problemas decorrentes da qualidade de água

(turbidez).

4o Trecho: Da UHE Mascarenhas à Foz do rio Doce

A UHE Mascarenhas, mesmo que assoreada em grande parte do seu

reservatório, reteve também parte do material proveniente da mina da SAMARCO,

mas não o suficiente para impedir que a lama atingisse o oceano. Neste trecho, o rio

Doce possui uma grande planície de inundação.

Figura 27 – Desague na foz do Rio Doce de águas contendo material da mina da Samarco (Fonte: O Globo online, 30/11/2015).

62

5. ANÁLISES E RESULTADOS

O rompimento da barragem e o conhecimento de sua a influência na qualidade

dos recursos hídricos é um fator relevante para a gestão da Bacia do Rio Doce.

Para auxiliar a tomada de decisões um importante passo é o mapeamento dos

atores impactados pelo incidente. Pode-se então fazer uma avaliação dos impactos

sofridos por tais agentes no âmbito ambiental, social e econômico.

5.1. Área de Influência

A Figura 28 apresenta os municípios que foram afetados em algum grau físico

ou social pelo rompimento da barragem. Os municípios selecionados estão à margem

ou são cruzados pelo Rio Doce e dessa forma sofreram impactos diretos e indiretos

com o rompimento da barragem. No total são 40 municípios começando pelo

município de Mariana em Minas Gerais, local do rompimento da barragem, até o

município de Linhares no Espírito Santo onde se encontra a foz do Rio Doce.

63

Figura 28 – Municípios afetados pelo rompimento da barragem de Fundão (Fonte: Autoria Própria).

64

5.2. Âmbito Ambiental

5.2.1. Declividade da Bacia

O mapa da Figura 29 foi idealizado para apresentar a declividade da Bacia do

Rio Doce através de curvas de nível. É possível verificar que as regiões oeste e sul

da bacia são compostas por altas elevações responsáveis pela formação de

córregos e rios afluentes ao Rio Doce. A região norte também apresenta manchas

com altitudes mais elevadas e é possível notar que o curso do Rio Doce flui pela

região mais baixa da bacia.

5.2.2. Qualidade de Água

Algumas entidades realizaram coletas e análises da qualidade de água da

Bacia do Rio Doce. Nesse trabalho foram consideradas as análises feitas entre 2008

e 2010 (CPRM) antes do incidente de rompimento e análises feitas após o incidente

(CPRM e UnB). Durante as campanhas anteriores ao rompimento, a CPRM verificou

diversos parâmetros de qualidade de água, dentre eles ph, oxigênio dissolvido e

ferro dissolvido, cujos valores são legislados pela CONAMA n° 357/2005. Logo após

o incidente a CPRM realizou novas campanhas para coletas e análises da qualidade

de água que se repetiram por dias, durante o período entre 07/11/2015 a

25/11/2015. Os resultados podem ser verificados em dois relatórios nomeados

“Monitoramento Especial da Bacia do Rio Doce (relatórios I e II)”.

No mapa apresentado na Figura 30 foram georreferenciados os pontos

dessas coletas de água realizadas pela CPRM em 2015.

65

Figura 29 – Declividade da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (Fonte: Autoria Própria).

66

Figura 30 – Pontos de Coleta de Água captados na 2ª campanha da CPRM (Fonte: Autoria Própria).

67

Como descrito no capítulo de Metodologia, a deterioração da qualidade da

água ocorreu de modo diferente ao longo do Rio Doce. No mapa a seguir (Figura 31)

está representada a pior qualidade de água observada, em cada trecho do rio, após o

rompimento da barragem, baseados principalmente nos parâmetros turbidez e

oxigênio dissolvido.

As tabelas a seguir relacionam os pontos de coleta localizados no mapa com

os parâmetros de qualidade de água medidos em cada ponto. As colunas em azul

representam os valores destes parâmetros medidos em campanhas anteriores ao

rompimento da barragem. As colunas em rosa representam respectivamente: 1º 2015

– Valores do 1º relatório de monitoramento especial da Bacia do Rio Doce, produzido

pela CPRM, após a campanha de coleta de 7 a 25 de novembro de 2015; 2º 2015 –

Valores do 2º relatório da CPRM, após campanhas de coleta de 14 a 22 de novembro

de 2015; e 3º 2015 – Valores do relatório da Unb, para campanhas realizadas no início

de dezembro de 2015.

Tabela 11 – Parâmetros de qualidade de água medidos em cada ponto de coleta do Rio Doce.

2010 1° 2015 2013 1° 2015 2010 1° 2015 2° 2015 CONAMA 2010 1° 2015 2° 2015 CONAMA

LocalCor da

água

Cor da

água

Turbidez

padrão local

(NTU)

Turbidez

(NTU)pH pH pH ph

OD

(mg/L)

OD

(mg/L)

OD

(Mg/L)OD (Mg/L)

Gesteira laranja 7,12 6 a 9 <0,1 3,88 >=5

Barra Longa laranja 7,19 6,96 6 a 9 5,75 <0,1 3,78 >=5

Rio Doce laranja 6,9 7,04 6 a 9 5,08 <0,1 3,92 >=5

Faz. Cachoeira D'Antas laranja 6,94 6 a 9 <0,1 3,88 >=5

Cachoeira dos Óculos (marliéria) amarela marrom 43 822000 6,91 7 6 a 9 8,51 <0,1 6,23 >=5

Ponte Rodovia Ipatinga/Belo Oriente amarela marrom 67 446800 5,82 7,42 7,02 6 a 9 8,94 <0,1 6,26 >=5

Periquito / Belo Oriente/Naque amarela marrom 67 446800 6,8 7,42 7,06 6 a 9 7,87 <0,1 6,45 >=5

Governador Valadares verde marrom 10 119360 6,78 7,02 7,14 6 a 9 6,35 0,11 5,31 >=5

Tumiritinga verde marrom 71 75880 6,71 6,86 6,92 6 a 9 5,87 0,21 3,7 >=5

Conselheiro Pena/ Resplendor clara marrom 9260 6,55 6,84 6,9 6 a 9 5,64 2,09 3,99 >=5

Baixo Guandu verde marrom 11620 6,64 6,34 6,61 6 a 9 6,44 3,18 2,69 >=5

Colatina marrom 6740 6,1 6,71 6 a 9 3,39 3,65 >=5

Linhares clara 6,97 7,07 6 a 9 4,54 5,52 >=5

68

Tabela 12 – Parâmetros de qualidade de água referentes a metais medidos em cada

ponto de coleta do Rio Doce.

Vale ressaltar que os parâmetros turbidez e oxigênio dissolvido destoaram

significativamente dos valores determinados pela legislação. Já os valores de ferro

dissolvido permaneceram dentro da margem determinada por lei (CPRM, 2015).

Outros valores que sofreram elevação após o rompimento foram os

relacionados ao ferro total e o manganês total, sendo o último legislado. Apesar do

aumento, não foi verificado nenhum padrão de variação gradual ao longo do rio, no

sentido barragem do Fundão à Foz do Rio Doce, o que impediu sua utilização na

análise comparativa entre os trechos. Entretanto, esses valores estavam

extremamente altos em todos os pontos de coleta afetados pelo rejeito e podem

causar impactos em médio e longo prazo, visto que a biodisponibilidade desses

elementos pode aumentar ou diminuir com o passar do tempo (UnB, 2015).

2010 2° 2015 CONAMA 2010 2° 2015PIRH

20103° 2015 CONAMA

LocalFe dissol

(mg/L)

Fe dissol

(mg/L)

Fe dissol

(mg/L)

Mn dissol

(mg/L)

Mn

dissol

(mg/L)

Mn total

(mg/L)

Mn total

(mg/L)

Mn total

(mg/L)

Gesteira 0,012 0,3 0,501 0,1 a 0,3 0,1

Barra Longa 0,377 0,076 0,3 0,02 0,486 0,1 a 0,3 0,96 0,1

Rio Doce 1,4 0,049 0,3 0,01 0,576 0,1 a 0,3 2,65 0,1

Faz. Cachoeira D'Antas 0,4 0,3 0,156 0,1 a 0,3 0,1

Cachoeira dos Óculos (marliéria) 0,286 0,081 0,3 0,0035 0,118 0,1 a 0,3 1,53 0,1

Ponte Rodovia Ipatinga/Belo Oriente 0,315 0,08 0,3 0,0035 0,068 0,1 a 0,3 2,65 0,1

Periquito / Belo Oriente/Naque 0,207 0,063 0,3 0,0035 0,068 0,1 a 0,3 1,49 0,1

Governador Valadares 0,113 0,038 0,3 0,0035 0,098 0,1 a 0,3 0,923 0,1

Tumiritinga 0,074 0,052 0,3 0,0035 0,042 0,1 a 0,3 0,1

Conselheiro Pena/ Resplendor 0,001 0,045 0,3 0,0035 0,063 0,1 a 0,3 0,1

Baixo Guandu 0,001 0,197 0,3 0,0035 0,085 0,1 a 0,3 0,1

Colatina 0,126 0,3 0,064 0,1 a 0,3 0,1

Linhares 0,012 0,3 0,013 0,1 a 0,3 0,1

69

Figura 31 – Trechos classificados de acordo com a qualidade da água após o rompimento da barragem do Fundão (Fonte: Autoria própria).

70

5.2.3. Unidades de Conservação

Pode-se notar a presença de unidades de conservação na Bacia do Rio Doce.

O mapa a seguir (Figura 32) localiza todas as Unidades de Conservação na Bacia,

diferenciando as Unidades de Proteção Integral das Unidades de Proteção

Permanente. Esse mapa foi desenvolvido utilizando as informações disponíveis no

site do Ministério do Meio Ambiente, sobre a localização das UC’s na Bacia. As

localizações das remanescentes de Mata Atlântica foram obtidas no site do SOS

Mata Atlântica, onde o último levantamento realizado em 2014 foi disponibilizado

para uso público.

Destaca-se especialmente o Parque Estadual do Rio Doce às margens do Rio

Doce e o Parque Estadual dos Setes Salões nas proximidades do mesmo rio. Isso

indica que dentre UC’s da região, essas unidades de conservação provavelmente

sofrerão algum tipo de impacto e, consequentemente, necessitam de atenção

especial.

5.2.4. Espécies

5.2.4.1. Espécies em Extinção

A partir das informações obtidas como descrito no capítulo Metodologia, foi

possível realizar a espacialização das espécies em extinção dentro da Bacia do Rio

Doce. O mapa, com essa espacialização e localização aproximada das espécies na

bacia do Rio Doce, se encontra na Figura 33.

A partir do georreferenciamento observar-se que a maioria das espécies em

extinção estão localizadas em afluentes do Rio Doce e dessa forma, não sofreram

impactos negativos decorrentes do rompimento da barragem. Entretanto pode-se

verificar cinco espécies em extinção que provavelmente sofreram impacto devido à

degradação da qualidade de água do Rio Doce: os peixes Brycon deVillei e

Oligosarcus solitarius, ambos localizados em lagos e lagoas na região do médio Rio

Doce; o crustáceo Cardisoma Guanhumi que possui como habitat a região de

manguezal na foz no Rio Doce; as tartarugas Caretta Caretta e Dermochelys

Coriacea que utilizam a costa do Espírito Santo nas proximidades da foz do Rio

Doce como sítio de desova, totalizando mais de 1.500 ninhos por ano (Ministério do

Meio Ambiente, 2008).

71

Figura 32 – Unidades de Conservação (Fonte: Autoria Própria).

72

Figura 33 – Localização de Espécies em Extinção e Endêmicas na Bacia do Rio Doce (Fonte: Autoria Própria).

73

5.2.4.2. Espécies Coletadas

O IBAMA, através de um relatório produzido após o incidente (IBAMA, 2015),

indicou que dentre as espécies endêmicas da bacia do rio doce, a única que

possivelmente foi coletada como exemplar morto após o desastre é o peixe do

gênero Oligosarcus. Nesse documento foi considerado somente o gênero

“Oligosarcus spp” para efeito de reconhecimento do exemplar coletado. Contudo,

dentro desse gênero existem três espécies nativas do rio doce, Oligosarcus

acutirostria, Oligosarcus argenteus e Oligosarcus solitarius, sendo somente a última

considerada como endêmica pelo relatório. No quadro abaixo apresentamos um

resumo da quantidade de exemplares Oligosarcus spp encontrados em municípios

da bacia do rio doce.

Unidades Região

43 Resplendor

29 Itueta

Quadro 7– Unidades da Espécie Oligosarcus spp coletadas no Rio Doce após rompimento da barragem.

Foi investida uma quantidade de tempo diferente em cada coleta e, além

disso, elas ocorreram em datas diferentes. Dessa forma, a quantidade de

exemplares encontrada em cada região não pode ser considerada como referência

para inferirmos o grau de degradação da região ou o tamanho da população da

espécie alí presente. Porém, é possível deduzir que o gênero “Oligosarcus spp” está

difundido pelas regiões do Rio Doce e que existe a morte potencial de uma espécie

endêmica.

A espécie Oligosarcus Solitarius encontra-se em um sistema isolado de lagos

(Instituto Estadual de Florestas - MG, 2009) no médio Rio Doce inclusive no Parque

Estadual do Rio Doce (PERD), local onde foi realizada a coletada dessa espécie

pelo Projeto PELD/UFMG. Essa espécie somente existe em corpos d’água onde não

há presença de espécies invasoras. Seu nome é originário do latim solitarius que

significa “isolado”, pelo fato da espécie ter sido encontrada em um sistema isolado

de lagos.

Apesar da coleta de poucos exemplares mortos de espécies em extinção, o

número totalizado não demonstra em grau qualitativo ou quantitativo o quanto elas

foram afetadas. Devido a limites técnicos pode-se considerar que a maior parte da

população animal que pereceu nesse período não foi catalogada, logo a

probabilidade de se obter um exemplar de espécie em extinção é ainda menor.

74

5.3. Âmbito Social

5.3.1. População

O mapa desenvolvido na Figura 34 dispõe a quantidade populacional total dos

municípios afetados, na Bacia do Rio Doce. Entre os municípios mais populosos

destacam-se: Ipatinga, Governador Valadares, Colatina e Linhares.

Logo após tem-se o mapa da Figura 35 que apresenta a densidade

demográfica dos municípios, separando-se a densidade da região rural e da região

urbana. A região urbana é caracterizada por centros urbanos de alta concentração

demográfica identificados no mapa pela coloração vermelha. Pode-se ressaltar em

especial as aglomerações populacionais no entorno do Rio Doce nos municípios de

Timóteo, Ipatinga, Governador Valadares, Colatina e Linhares.

Foi possível destacar também a proporção da população rural e urbana de

cada município na Figura 36. A localização dos polos urbanos também foi

espacializada em outro mapa na Figura 37, através da junção de setores censitários

rurais e urbanos de cada município. As regiões urbanas e rurais se subdividem em

demais classes e de acordo com a classificação do censo demográfico de 2010,

realizado pelo IBGE, é possível identificar essas classes no mapa.

75

Figura 34 – População total dos municípios afetados pelo rompimento da barragem de Fundão na Bacia do Rio Doce

(Fonte: Autoria Própria).

76

Figura 35 – Densidade urbana e rural dos municípios afetados (Fonte: Autoria Própria).

77

Figura 36 – Proporção de população urbana e rural nos municípios afetados pelo rompimento da barragem (Fonte: Autoria Própria).

78

Figura 37 – Classificação territorial dos municípios afetados pelo rompimento da barragem (Fonte: Autoria Própria).

79

Como esperado os maiores polos urbanos estão localizados em torno do Rio

Doce, onde também está concentrada a maior parte da população urbana municipal,

com elevada densidade populacional.

5.3.2. Abastecimento de Água

O mapa da Figura 38 foi desenvolvido para apresentar a quantidade de

domicílios beneficiados por abastecimento da rede geral. Destacam-se em

hachurado os municípios cujo abastecimento depende integralmente do Rio Doce.

Provavelmente o abastecimento sofreu um dos maiores impactos gerados pelo

rompimento da barragem. Existem oito municípios que captam água exclusivamente

do Rio doce, segundo o relatório técnico da ANA (2015a), e consequentemente

estes foram prejudicados pela degradação da qualidade da água do rio.

A água é um bem valioso e de importância extrema para uso domiciliar.

Diante da necessidade de abastecimento grande parte da população optou por

soluções mais onerosas para suprir necessidades imediatas, como caminhões pipa.

Na Figura 39 a seguir pode-se verificar a demanda por água dos municípios que

dependem totalmente do Rio Doce.

No dia 8/11/2015 quando o pico de água contaminada chegou à cidade de

Governador Valadares o serviço de abastecimento de água foi interrompido.

Segundo a prefeitura, 300 caminhões pipas seriam necessários para atender a

demanda. Isso é quase dez vezes mais que a quantidade disponível na região (38

caminhões), além de representar uma despesa alarmante. O abastecimento de

Governador Valadares só pôde ser retomado pelo Serviço Autônomo de Água e

Esgoto (SAAE) dia 19/11, aproximadamente dez dias após sua interrupção.

Esses fatos indicam que tais municípios não possuem planos de emergências

efetivos para casos de contaminação do Rio Doce. A dependência total sobre esse

rio limita a flexibilidade quanto ao abastecimento. Análises de risco seriam úteis para

determinar a relação custo-benefício da construção de pontos de captação

alternativos.

80

Figura 38 – Domicílios com Abastecimento de Água da Rede Geral (Fonte: Autoria Própria).

81

Figura 39 – Municípios com dependência total do Rio Doce para abastecimento de água de acordo com ANA 2015 (Fonte: Autoria Própria).

82

5.4. Âmbito Econômico

5.4.1. Hidrelétricas

O mapa na Figura 40 identifica e localiza as hidrelétricas presentes ao longo

do Rio Doce. Sabe-se que a hidrelétrica de Risoleta Neves (mais conhecida como

Candonga) foi responsável por reter grande parte da lama proveniente da Barragem

do Fundão. Devido a essa sobrecarga de sólidos, atualmente ela se encontra

assoreada e não há previsão para retomada de operação.

A diretora da Engenho Consultoria, Leontina Pinto, aponta em reportagem a

UOL que irá demorar muito tempo para que as turbinas dessas hidrelétricas possam

rodar em condições mínimas de segurança, sem comprometer a vida útil dos

equipamentos (UOL, 2015a). Ainda que, a qualidade da água do Rio Doce seja

significativamente recuperada, as hidrelétricas podem ter perdas na capacidade

devido ao acúmulo de sedimentos e resíduos no fundo dos reservatórios.

No dia 11/11/2015, a prefeitura de Baixo Guandu (ES) solicitou a Aliança

Energia, responsável pela Usina Hidrelétrica de Aimorés, a retirada de água limpa

para abastecimento de hospitais e escolas da região, utilizando o que ficou

armazenado nas turbinas, enquanto os sedimentos liberados pelo rompimento de

duas barragens em Mariana ainda não chegassem à usina (UOL, 2015b).

83

Figura 40 – Hidrelétricas localizadas no Rio Doce (Fonte: Autoria Própria).

84

A ANA está sendo cuidadosa em autorizar o retorno das atividades das

usinas, especialmente, para avaliar o impacto do uso do recurso na geração de

energia em detrimento os demais usos da água, de forma a minimizar os conflitos,

em um momento que volumes de água com boa qualidade encontram-se escassos.

As usinas paradas somam um total de cerca de 808 megawatts em potência

instalada (o que representa cerca de 1% da capacidade hidrelétrica do país) (ANA,

2015b), isso indica que o incidente não é uma ameaça a segurança do suprimento

energético. O maior custo será referente aos investimentos necessários para

recuperação da estrutura das usinas.

Contudo, é valido ressaltar que, dependendo da bacia, o impacto de um

rompimento de barragens de rejeito pode ser altamente significativo sobre a geração

de energia do país. A Bacia do Rio Paraná possui o maior potencial hidrelétrico

instalado no Brasil gerando 39200 megaWatts, equivalendo a 59% da produção

energética do país (ANEEL, 2015). Na mesma bacia há presença de barragens de

rejeito como a barragem no município de Fiqueira/PR que possui capacidade de

90000 m³ (DNPM, 2015). O rompimento de barragens de rejeito nessa bacia poderia

acarretar em grave falha na geração no sistema nacional de energia.

5.4.2. Produto Interno Bruto (PIB)

Um fator relevante é a necessidade de água para atividades industriais e

comerciais e o entendimento de como o déficit de água pode afetar o PIB dos

municípios. Na Figura 41 a seguir pode-se comparar a importância do PIB dos

municípios em questão.

É valido também verificar a importância de cada setor na composição do PIB.

Assim, a Figura 42 foi desenvolvida para ilustrar a composição do PIB, dos

municípios afetados que apresentam maior PIB total: Mariana, Timóteo, Ipatinga,

Belo oriente, Governador Valadares, Colatina e Linhares.

85

Figura 41 – PIB dos Municípios Afetados pelo Rompimento da Barragem de Fundão (Fonte: Autoria Própria).

86

Figura 42 – Municípios Afetados com maior contribuição de PIB na Bacia do Rio Doce (Fonte: Autoria Própria).

87

A seguir foi tabelada em ordem decrescente de PIB total a composição do PIB

dos 40 municípios afetados na Bacia do Rio Doce. Também foi representado para

critério de análise o percentual de contribuição que o PIB total de cada município

exerce, sobre o PIB total de seu Estado de origem e do Brasil.

Quadro 8 – PIB Total dos Estados afetados com o rompimento da barragem, e PIB total do Brasil (Fonte: IBGE 2010).

Tabela 13 – Composição do PIB dos municípios afetados pelo rompimento da barragem, de acordo com o censo do IBGE de 2010 (Fonte: IBGE 2010).

PIB TOTAL

Minas Gerais 1.679.800.666

Espírito Santo 425.046.183

Brasil 18.381.871.957

Estado Município PIB

Agropecuário

PIB

Industrial

PIB Setor

de

Serviços

PIB Setor

Público Imposto PIB Total

%

Contribuição

Estado

%

Contribuição

País

Minas Gerais Ipatinga 2.216 3.166.553 2.547.738 634.400 1.187.741 7.538.648 0,4488% 0,0410%

Minas Gerais Mariana 10.648 2.588.218 808.837 162.218 127.534 3.697.454 0,2201% 0,0201%

Minas Gerais Governador Valadares 26.146 595.938 1.864.367 620.704 354.029 3.461.184 0,2060% 0,0188%

Espírito Santo Linhares 164.793 1.151.512 1.052.278 467.003 422.904 3.258.491 0,7666% 0,0177%

Minas Gerais Timóteo 454 886.382 632.105 220.269 314.563 2.053.773 0,1223% 0,0112%

Espírito Santo Colatina 32.481 373.828 879.530 339.826 269.920 1.895.585 0,4460% 0,0103%

Minas Gerais Belo Oriente 11.948 925.298 141.543 65.696 80.638 1.225.124 0,0729% 0,0067%

Minas Gerais Conselheiro Lafaiete 4.775 128.627 638.606 243.918 111.885 1.127.811 0,0671% 0,0061%

Minas Gerais Caratinga 41.373 108.573 453.827 176.789 81.218 861.780 0,0513% 0,0047%

Minas Gerais Ponte Nova 16.077 142.397 401.545 134.062 89.796 783.877 0,0467% 0,0043%

Espírito Santo Baixo Guandu 18.678 108.850 103.029 91.363 22.900 344.819 0,0811% 0,0019%

Minas Gerais Santana do Paraíso 4.548 108.407 76.385 56.931 29.617 275.887 0,0164% 0,0015%

Minas Gerais Aimorés 25.323 72.883 96.604 59.133 13.555 267.498 0,0159% 0,0015%

Minas Gerais Resplendor 14.050 38.018 65.965 38.223 12.535 168.792 0,0100% 0,0009%

Minas Gerais Raul Soares 21.989 8.668 60.254 52.039 8.251 151.201 0,0090% 0,0008%

Espírito Santo Marilândia 7.492 39.912 47.051 36.197 20.517 151.170 0,0356% 0,0008%

Minas Gerais Rio Casca 11.745 28.788 52.889 31.912 8.220 133.555 0,0080% 0,0007%

Minas Gerais São Domingos do Prata 11.594 16.494 47.503 35.684 10.604 121.878 0,0073% 0,0007%

Minas Gerais Bom Jesus do Galho 16.265 4.876 19.555 30.955 2.589 74.241 0,0044% 0,0004%

Minas Gerais São Pedro dos Ferros 12.443 11.018 20.282 18.684 4.221 66.648 0,0040% 0,0004%

Minas Gerais Ipaba 1.043 5.040 21.218 34.224 2.671 64.197 0,0038% 0,0003%

Minas Gerais Iapu 4.426 2.719 16.054 22.837 1.733 47.769 0,0028% 0,0003%

Minas Gerais Periquito 1.782 3.697 20.429 17.746 3.957 47.610 0,0028% 0,0003%

Minas Gerais Dionísio 7.291 1.922 12.878 18.144 1.499 41.734 0,0025% 0,0002%

Minas Gerais Galiléia 5.821 1.847 14.392 16.063 1.773 39.896 0,0024% 0,0002%

Minas Gerais Itueta 10.452 2.699 9.823 15.014 1.450 39.438 0,0023% 0,0002%

Minas Gerais Alpercata 3.022 4.383 13.066 16.756 1.955 39.181 0,0023% 0,0002%

Minas Gerais Naque 2.187 1.937 12.866 14.663 1.189 32.842 0,0020% 0,0002%

Minas Gerais Barra Longa 5.669 2.307 9.496 13.816 1.239 32.528 0,0019% 0,0002%

Minas Gerais Tumiritinga 4.365 2.612 8.061 14.039 1.562 30.639 0,0018% 0,0002%

Minas Gerais Sobrália 3.128 2.855 8.968 13.277 1.108 29.336 0,0017% 0,0002%

Minas Gerais Santa Cruz do Escalvado 8.766 1.236 5.482 12.523 1.112 29.119 0,0017% 0,0002%

Minas Gerais São José do Goiabal 4.897 1.568 8.616 12.926 1.017 29.023 0,0017% 0,0002%

Minas Gerais Pingo-d'Água 4.159 1.279 5.942 11.915 1.687 24.982 0,0015% 0,0001%

Minas Gerais Marliéria 2.757 951 5.808 11.487 810 21.813 0,0013% 0,0001%

Minas Gerais Córrego Novo 6.364 999 4.308 8.955 641 21.266 0,0013% 0,0001%

Minas Gerais Fernandes Tourinho 2.540 932 5.052 8.947 636 18.106 0,0011% 0,0001%

Minas Gerais Bugre 3.234 775 3.898 8.986 494 17.388 0,0010% 0,0001%

Minas Gerais Rio Doce 1.828 1.472 4.316 8.123 680 16.420 0,0010% 0,0001%

Minas Gerais Sem-Peixe 2.720 504 3.358 7.341 894 14.817 0,0009% 0,0001%

88

Observa-se que as atividades industriais e de serviço apresentam grande

importância no PIB. Tais segmentos necessitam de abastecimento de boa qualidade

de água para seu funcionamento. Geralmente as indústrias utilizam água como um

recurso fundamental para processos como resfriamento, limpezas de maquinário,

caldeiras, dentre outros. Nota-se também, que a importância do PIB industrial nessa

bacia é fruto em grande parte da atividade de mineração, a qual utiliza elevado

volume de água em diversas fases do seu processo, como no beneficiamento do

mineral.

É útil também verificar-se o grau de demanda de água de cada atividade

econômica e assim entendermos quais deles seriam mais afetados pelo déficit de

abastecimento. Dessa forma pode-se observar as outorgas concedidas para

diferentes usos de água nos municípios na Figura 43 a seguir. A agricultura, a

indústria e a mineração representam o maior volume outorgado para captação de

água, logo estão suscetíveis a um grande impacto com a interrupção do

abastecimento.

Analisando estritamente os municípios que possuem dependência total de

abastecimento do Rio Doce, pode-se verificar a importância de cada atividade

econômica na composição do PIB. Verifica-se que o setor de serviços possui peso

significativo na composição do PIB dos municípios, entre 25% e 55%. Já a indústria

e a agropecuária somados representam entre 15% e 40% do PIB dos municípios.

Desse modo, pode-se inferir que durante os dias sem abastecimento de água o

valor municipal do PIB arrecadado sofrerá declínio (considerando o pior cenário, no

qual indústrias e comércio não possuem reservatórios particulares ou fontes de

abastecimento alternativas de água e assim necessitaram interromper suas

atividades).

Quanto à arrecadação do PIB relacionados aos impostos e ao setor público,

apesar da possibilidade de sofrerem impactos indiretos, não são diretamente

afetados com o déficit de abastecimento de água. Segundo o Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada (IPEA), para a realização do cálculo da produtividade anual

na administração pública desde 1995, utiliza-se o valor agregado definido

pelas contas nacionais (investimentos) e a força de trabalho ocupada

(quantidade de servidores) (IPEA, 2009).

89

Figura 43 – Usos de água dos municípios afetados pelo rompimento da barragem (Fonte: Autoria Própria).

90

O frigorífico Mafrial, em Governador Valadares, fechou as portas nos dias

10/11/2015 por três dias devido à incapacidade de tratar a água do Rio Doce

adequadamente. Três dias antes, a fábrica de celulose Cenibra, localizada em Belo

Oriente, foi umas das primeiras indústrias a fechar as portas. A previsão é que os

prejuízos, até então não calculados, sejam de grande proporção (Folha, 2015).

A renda da população municipal, a título de comparação com o PIB, foi

também mapeada e se encontra em anexo neste documento.

5.4.3. Barragens de Rejeito

A bacia de Rio Doce possui uma vocação natural para mineração e, dessa

forma, atualmente apresenta uma grande concentração de barragens de rejeitos. No

cenário atual, após o incidente da barragem do Fundão, é de grande importância

analisar a localização das barragens de rejeitos na Bacia do Rio Doce, em especial

aquelas que apresentam dano potencial associado.

As classificações atuais das barragens de rejeito, realizadas pela DNPM, é

feita a partir do cruzamento de dois fatores chamados Categoria de Risco e Dano

Potencial Associado. Enquanto o fator Categoria de Risco baseia-se em

características técnicas inerentes à barragem (altura da barragem, planos de

emergência, estado de conservação, entre outros), o fator Dano Potencial Associado é

relacionado ao dano causado por um possível rompimento (Impacto ambiental,

impacto socioeconômico, volume derramado e existência de população a jusante),

(CNRH N° 143, 2012).

Tabela 14 - Classificação de Barragens (Fonte: CNRH N° 143, 2012).

DANO POTENCIAL ASSOCIADO

CATEGORIA DE RISCO

ALTO MÉDIO BAIXO

ALTO A B C

MÉDIO B C D

BAIXO C D E

91

Figura 44 – Volume Total em m³ contido nas barragens de rejeito da bacia do Doce, que estão dentro da PNSB (Fonte: Autoria Própria).

92

Figura 45 – Dano Potencial Associado às Barragens Localizadas na Bacia do Rio Doce (Fonte: Autoria Própria).

93

Apesar de classificada em um nível médio “C” (DNPM, 2015), a Barragem do

Fundão teve colapso de sua estrutura. Isso pode ser interpretado como um erro de

cálculo do fator “Riscos associados”. Tal fator se baseia em características técnicas

inerentes à barragem (altura, planos de emergência, dentre outros) e essas

informações podem sofrer interferências devido a dificuldades na gestão, deficiências

de execução ou falhas de comunicação.

Dessa forma, uma sugestão para aprimorar a gestão da bacia, especialmente

na realização de análises de riscos e planos de emergência, é que ao invés de

considerar a classificação da Barragem, ela considere o fator “Dano potencial

associado”. Essa nova abordagem revela a dimensão do impacto que a bacia sofrerá

em um eventual colapso de barragem, e permite que a gestão guie os planos de

emergência de forma minimizar tais efeitos.

Espacializar as barragens de rejeito, nos permite também prever as

consequências de rompimentos, ao considerarmos a topográfica e o fluxo

hidrodinâmico da região e assim realizar a formulação de planos, com objetivo de

amenizar as consequências sobre a população e sobre o meio ambiente.

94

6. INDICADOR DE IMPACTO SOCIOAMBIENTAL

A partir das análises realizadas nos âmbitos ambiental, social e econômico, foi

desenvolvido um indicador do impacto sofrido por cada município da bacia. Como

visto, a degradação da qualidade de água do Rio Doce desencadeou impactos

negativos sobre os municípios. O objetivo do indicador é apresentar o grau relativo de

impacto sobre cada um deles. O indicador foi obtido a partir de elementos e faixas de

valores que estão detalhados no capítulo Metodologia.

Na matriz a seguir, é possível observar a relação entre os municípios e a

importância dos elementos socioambientais presentes nos mesmos. Para cada

elemento foi aferido um peso de acordo com sua importância dentro do município.

Como resultado, foi obtido o somatório de valores referentes a cada município.

95

Ambiental Social Econômico

Municípios Qualidade de

Água U.C. Espécies Extinção Abastecimento População

Comunidade Pesqueira

PIB Turismo Somatório

Valores 1 a 3 0 ou 2 0 ou 2 0 ou 3 1 a 3 0 ou 1 0 ou 2 ou 3 0 ou 1 2 a 18

Aimorés 1 0 0 0 2 1 0 1 5

Alpercata 2 0 0 3 1 0 2 0 8

Baixo Guandu 1 0 0 3 2 0 3 0 9

Belo Oriente 3 0 0 0 2 0 0 1 6

Bom Jesus do Galho 3 0 2 0 2 0 0 0 7

Bugre 3 0 0 0 1 0 0 1 5

Caratinga 3 0 2 0 3 0 0 0 8

Colatina 1 0 0 3 3 0 3 1 11

Conselheiro Pena 1 2 0 0 2 1 0 1 7

Córrego Novo 3 0 2 0 1 0 0 0 6

Dionísio 3 2 2 0 1 0 0 1 9

Fernandes Tourinho 3 0 0 0 1 0 0 0 4

Galiléia 2 0 0 3 1 0 2 1 9

Governador Valadares 2 0 0 3 3 1 3 1 13

Iapu 3 2 0 0 2 0 0 0 7

Ipaba 3 0 2 0 2 0 0 0 7

Ipatinga 3 0 2 0 3 0 0 1 9

Itueta 1 0 0 3 1 0 2 0 7

Linhares 1 2 2 0 3 0 0 1 9

Marilândia 1 0 0 0 2 0 0 0 3

Marliéria 3 2 2 0 1 0 0 1 9

Naque 3 0 0 0 1 0 0 0 4

Tabela 15 – Matriz de impacto gerada a partir da relação dos municípios e de seus elementos socioambientais (A) (Fonte: Autoria Própria).

96

Ambiental Social Econômico

Municípios Qualidade de Água U.C. Espécies Extinção Abastecimento População Comunidade

Pesqueira PIB Turismo Somatório

Valores 1 a 3 0 ou 2 0 ou 2 0 ou 3 1 a 3 0 ou 1 0 ou 2 ou 3 0 ou 1 2 a 18

Periquito 3 0 0 0 1 0 0 0 4

Pingo-d'Água 3 0 2 0 1 0 0 0 6

Ponte Nova 3 0 0 0 2 0 0 0 5

Raul Soares 3 0 0 0 2 0 0 0 5

Resplendor 1 0 0 3 2 1 3 1 11

Rio Casca 3 0 0 0 2 0 0 0 5

Rio Doce 3 0 0 0 1 0 0 0 4

Santa Cruz do Escalvado 3 0 0 0 1 0 0 0 4

Santana do Paraíso 3 0 2 0 2 0 0 1 8

São Domingos do Prata 3 0 0 0 2 0 0 1 6

São José do Goiabal 3 0 0 0 1 0 0 1 5

São Pedro dos Ferros 3 0 0 0 1 0 0 0 4

Sem-Peixe 3 0 0 0 1 0 0 0 4

Sobrália 3 0 0 0 1 0 0 0 4

Timóteo 3 2 2 0 3 0 0 1 11

Tumiritinga 2 0 0 3 1 1 2 0 9

Tabela 16 - Matriz de impacto gerada a partir da relação dos municípios e de seus elementos socioambientais (B) (Fonte: Autoria Própria).

97

As definições dos elementos socioambientais e seus respectivos valores

podem ser observados a seguir.

Qualidade da água

Grau de poluição da água do Rio Doce em três diferentes trechos, pontuados

de 1 a 3 de forma crescente de acordo com grau de poluição.

U.C.

Existência de unidade de conservação dentro do território do município,

pontuando-se 0 para ausência e 1 para presença.

Espécies em Extinção

Existência de espécies ameaçadas de extinção dentro do território do

município, pontuando-se 0 para ausência e 2 para presença.

Abastecimento de Água

Dependência total do Rio Doce para o abastecimento de água, pontuando-se 0

para não ocorrência e 3 para ocorrência.

População

Quantidade de população do município, pontuando-se de 1 a 3 de forma

crescente de acordo com a quantidade populacional.

Comunidade Pesqueira

Elevada representatividade de pescadores artesanais no município, pontuando-

se 0 para não ocorrência e 1 para ocorrência.

PIB

Grau de impacto sobre o PIB oriundo do déficit de abastecimento de água nos

municípios que possuem dependência total do Rio Doce para abastecimento.

Pontuou-se 0 para não ocorrência, 2 para grau de impacto elevado e 3 para

grau de impacto elevadíssimo.

Turismo

Existência de circuito turístico nos municípios, pontuando-se 0 para não

ocorrência e 1 para ocorrência.

98

A seguir pode-se observar a classificação em ordem decrescente dos

municípios impactados, de acordo com o resultado obtido pela matriz.

Tabela 17 - Classificação dos municípios impactados após resultado da matriz de impactos. (Fonte: Autoria Própria).

Analisando a matriz, observa-se que, em relação aos parâmetros analisados, o

município mais impactado pelo rompimento da Barragem do Fundão é Governador

Valadares. Isso ocorre principalmente devido a dependência total do município para

abastecimento de água sobre o Rio Doce, devido à elevada quantidade populacional e

ao elevado impacto sobre o PIB que a interrupção de abastecimento pode causar.

Outros municípios com os impactos mais significativos são Colatina, Timóteo e

Resplendor. É valido ressaltar que os municípios de Mariana e Barra Longa foram

excluídos dessa análise

Em casos de análises de risco de uma bacia, a adoção dessa mesma

metodologia para produzir indicadores permite ao gestor identificar ações que podem

diminuir a vulnerabilidade dos municípios a partir de um episódio de rompimento de

uma barragem de rejeito. Alguns elementos são estáticos e aumentam a fragilidade

dos municípios como a existência de unidades de conservação, espécies ameaçadas

de extinção e quantidade populacional.

Classificação

Classificação

Governador Valadares 13 Belo Oriente 6

Colatina 11 Córrego Novo 6

Timóteo 11 Pingo-d'Água 6

Resplendor 11 São Domingos do Prata 6

Baixo Guandu 9 Aimorés 5

Dionísio 9 Bugre 5

Galiléia 9 Ponte Nova 5

Ipatinga 9 Raul Soares 5

Linhares 9 Rio Casca 5

Marliéria 9 São José do Goiabal 5

Tumiritinga 9 Fernandes Tourinho 4

Alpercata 8 Naque 4

Caratinga 8 Periquito 4

Santana do Paraíso 8 Rio Doce 4

Bom Jesus do Galho 7 Santa Cruz do Escalvado 4

Conselheiro Pena 7 São Pedro dos Ferros 4

Iapu 7 Sem-Peixe 4

Ipaba 7 Sobrália 4

Itueta 7 Marilândia 3

99

Em contrapartida, ações que flexibilizam a dependência do abastecimento de

água, através de pontos de captação alternativos ou reservatórios de acumulação,

proporcionam benefícios sociais tanto para a população abastecida, como benefícios

econômicos para as atividades que dependem, direta ou indiretamente, do

abastecimento de água, minimizando o reflexo do colapso de uma barragem sobre o

PIB municipal.

Para uma análise pós-rompimento, como realizado nesse trabalho (utilizando

como efeito demonstrativo a Bacia do Rio Doce), a geração desse indicador permite

avaliar quais municípios necessitam prioridade de assistência e especificamente quais

elementos dentro dos âmbitos ambiental, social e econômico foram mais prejudicados.

Dessa forma, ações emergenciais podem ser tomadas de forma que a abrandar os

efeitos negativos.

Foram produzidos quatro mapas relacionados respectivamente aos resultados do

somatório da matriz de impacto em cada âmbito (ambiental, social e econômico) e um

mapa consolidado dos três âmbitos. Tais mapas se encontram a seguir (Figuras: 46,

47, 48 e 49).

100

Figura 46 – Mapa com o resultado da matriz de impacto do âmbito ambiental (Fonte: Autoria Própria).

101

Figura 47 – Mapa com o resultado da matriz de impacto do âmbito social (Fonte: Autoria Própria).

102

Figura 48 – Mapa com o resultado da matriz de impacto do âmbito econômico (Fonte: Autoria Própria).

103

Figura 49 – Mapa com o resultado consolidado da matriz de impacto relativo aos três âmbitos de análise (Fonte: Autoria Própria).

104

7. CONCLUSÃO

7.1. SIG como Suporte à Tomada de Decisão

Este trabalho voltado ao uso das ferramentas SIG para suporte à tomada de

decisão, partiu-se do princípio de que um impacto precisa ser analisado de forma

integrada e que invariavelmente três âmbitos necessitam ser analisados: âmbito

ambiental, social e econômico.

Diante disso, buscou-se fazer um levantamento das fontes de dados primários

(arquivos em formato shapefiles) e secundários (dados tabelares) sobre os temas

identificados como relevantes, em relação à Bacia do Rio Doce e seus municípios

afetados. Para isso, como opção metodológica, foram selecionados apenas portais

e bancos de dados de órgãos e agências públicas, de acesso gratuito e irrestrito.

A contribuição do trabalho foi desenvolver mapas temáticos, dos aspectos

mais relevantes para construção de análises, identificação de áreas prioritárias e

desenvolvimento de graus de impacto diferenciados. Uma vez que este trabalho foi

baseado, quase que integralmente, em informações disponibilizadas por instituições

públicas brasileiras, a primeira conclusão que apontamos diz respeito às

potencialidades e limitações da utilização desses dados, para fins de Suporte à

Tomada de Decisão, em ambiente SIG. Sabe-se que os órgãos públicos ligados ao

planejamento estão em evolução no sentido de ampliar os temas, a área de

abrangência e as formas de divulgação dos dados. Entretanto, há ainda certos

gargalos a serem solucionados, sobretudo, no tocante à periodicidade e

abrangência territorial dos dados coletados e produzidos. Outra questão

fundamental que pode-se colocar é relativa às formas de sistematização e

disponibilização dos dados, que ainda são predominantemente carentes de

homogeneidade.

Já em relação aos resultados obtidos, observou-se que o mapeamento

temático permitiu uma compreensão muito ampla do caso do rompimento da

barragem, visto que para a construção dos mapas todas as informações obtidas

passaram por uma triagem e reflexão quanto a sua veracidade, importância e

adequação ao tema.

105

O usuário final, este podendo ser um gestor de ações ou a própria população,

que interpretará os mapas gerados, conseguirá compreender de forma muito mais

clara as informações espacializadas. Dessa forma, o mapeamento temático com o

uso de SIG permite uma análise mais fácil, objetiva e com a potencialidade da

informação geograficamente referenciada.

A utilização da metodologia descrita nesse trabalho permite ao gestor

identificar os riscos de uma bacia antes mesmo de um evento de colapso de uma

barragem. A maioria dos elementos utilizados para gerar a matriz são elementos

estáticos em longo prazo e independem de qualquer incidente. Portanto, o

mapeamento dos elementos socioambientais e a geração do indicador de impacto

possibilitam a realização de análises de riscos e planos de emergência com o

objetivo de fornecer maior segurança na gestão da bacia, antecipando-se a um

desastre potencial.

Já em uma análise pós-rompimento de barragem como o realizado no estudo

de referência, os resultados permitem identificar os municípios que necessitam

assistências prioritárias como forma de minimizar os impactos sentidos pela

população e pelo meio ambiente.

7.2. Conclusões Sobre o Estudo de Referência

Com relação ao tema específico do espalhamento de rejeitos no Rio Doce

após o rompimento da barragem, verificou-se que modificações importantes

ocorreram com relação à qualidade de suas águas como atestado pelas análises

realizadas pela CPRM e UnB. A qualidade da água do Rio Doce ainda está sujeita a

variações turbulentas, decorrentes da sedimentação da massa de rejeitos, em caso

de ocorrência de chuvas fortes. Logo, a captação de água do Rio Doce se encontra

em estado vulnerável e impreciso quanto a sua utilidade.

Logo, com a intenção de reunir esforços para priorização de recursos e

medidas, que resultem na mitigação e redução da dependência ao Rio Doce, foram

mapeados e classificados os municípios segundo o grau de impacto sofrido sob a

ótica dos diversos aspectos ambientais, sociais e econômicos.

106

O resultado gerado foi uma matriz de impacto em relação aos parâmetros

analisados. De acordo com o indicador de impacto socioambiental desenvolvido

neste trabalho, o município mais impactado pelo rompimento da barragem de

Fundão foi Governador Valadares. Tal fato ocorreu principalmente devido a três

aspectos: dependência total de abastecimento pelo Rio Doce; elevado quantitativo

populacional localizado principalmente as margens do rio; e elevado impacto que o

PIB pode sofrer devido à interrupção do abastecimento de água.

De forma a reduzir a intensidade do impacto sofrido pelos municípios e

consequentemente o valor do indicador obtido, é possível a adoção de algumas

medidas sociais e estruturais. Entre elas destacam-se a flexibilização dos pontos de

captação de água com objetivo de reduzir a dependência total de um município

sobre um único rio ou corpo d’água, nesse caso o Rio Doce; a construção de

reservatórios de água artificiais de modo que as indústrias possam dar continuidade

à sua produção enquanto o abastecimento de água não for normalizado; a

dragagem dos trechos mais assoreados para restaurar o fluxo hidrodinâmico da

região; a preservação dos afluentes do rio degradado de modo a favorecer a

recuperação da qualidade de água e o repovoamento de espécies; a assistência

econômica à população mais atingida pela degradação da qualidade de água como

os pequenos agricultores e a comunidade pesqueira; a construção de diques a

jusante da barragem que sofreu colapso para estancar o vazamento constante da

lama retida em trechos da bacia.

Como conclusão geral, o mapeamento temático através da ferramenta de SIG

consegue proporcionar análises relevantes que atuam como base a ações de

gestão. Dentro do escopo no qual este trabalho foi proposto demonstrou-se que a

ferramenta de SIG é hoje de grande importância no suporte à tomada de decisão,

principalmente nos momentos em que é necessária a priorização de medidas e a

identificação dos locais mais adequados para aplica-las.

107

8. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRAS DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 10004.

Resíduos sólidos – Classificação. 2° edição. 2004.

BACELLAR, A.A.A. Estudo da erosão na microbacia hidrográfica do Ribeirão

Cachoeirinha - Município de Iracemápolis, utilizando um sistema de informação

geográfica. Relatório Técnico. Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),

Campinas, SP. 1994.

BELTRAME, A.V. Diagnóstico do meio físico de bacias hidrográficas: modelo e

aplicação. Editora da UFSC, Florianópolis, SC, 112p. 1994.

BOTELHO, R.G.M. Planejamento Ambiental em Microbacia Hidrográfica. In: GUERRA,

A.J.T.; SILVA, A.S.; BOTELHO, R.G.M. Erosão e Conservação dos Solos: Conceitos,

Temas e Aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, pg 269-300, 1999.

BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Boletim De Monitoramento Dos

Reservatórios Do Rio Doce. v. 10, n. 11, p. 1-22. 2015a.

BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Conjuntura dos recursos hídricos no

Brasil 2009. Brasília. 2009. 204 p.

BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Conjuntura dos recursos hídricos no

Brasil 2010. Brasília. 2010. 76 p.

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116

ANEXO I

Figura 50 – Renda Nominal Mensal dos Municípios Afetados pelo Rompimento da barragem de Fundão (Fonte: Autoria Própria).

Figura 51 – Empresas Responsáveis pelas barragens de mineração na bacia do Rio Doce (Fonte: Autoria Própria).

117

Figura 52 – Barragens de mineração e os respectivos minérios produzidos (Fonte: Autoria Própria)